11.03 a velha mais velha (1)
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ra uma velha muito velha, muito velha, tão velha quenão havia velha mais velha do que ela.
Um dia, estava a velha a ver televisão, num aparelhotambém muito velho, quando anunciaram que iam fazerum concurso para proclamar a velha mais velha do mundo.Todas as velhas do mundo podiam concorrer.
A velha desta história encolheu os ombros e disse:– Para quê tanta complicação? Já se sabe que a velha
mais velha de todas sou eu.Mas não se deu ao trabalho de concorrer.Dias depois, começaram a desfilar, na televisão, velhas e
mais velhas, algumas apoiadas a bengalas, outras ajudadaspelos bisnetos.
A nossa velha muito velha ria-se:– Olha para aquela, que podia ser minha filha… E
aquela, quando nasceu, já eu usava dentadura… E aquela,que ridícula, tão nova, a fingir que é velha…
1© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
A VELHAMAIS VELHA
António Torradoescreveu e
Cristina Malaquias ilustrou
E
Até que o aparelho de televisão se avariou. A velhadeu-lhe uns safanões, mas o televisor não se convenceu.Continuou sem dar nem som nem imagem. Só ruídos.Estava velho.
A velha foi bater à porta de um vizinho, para continuar aver o concurso de velhas, mas o vizinho estava a ver umconcurso de misses, e não quis mudar de canal.
Então a velha, muito enervada, resolveu ir àestação de televisão, onde se realizava o concursopara apuramento da velha mais velha do mundo.Estava com curiosidade em saber quem é queescolhiam como vencedora. O azar foi que o táxi emque se meteu se enfiou por uma rua com muito trân-sito e, quando a velha chegou, já o concurso tinhaacabado.
Ia precisamente a sair, empurrada numa cadeira derodas, a velhota que tinha sido proclamada a maisvelha do mundo. Vinha com ramos e coroas de flores emuita gente à volta, a sorrir para as máquinas dosfotógrafos.
A velha da nossa história reconheceu-a.– Mirita – gritou-lhe ela.A velhota virou-se, na cadeira de rodas.– Mirita, tu sabes que não és a mais velha. Tu mentiste
ou deixaste que mentissem por ti – disse a velha.A velhota da cadeira de rodas baixou os olhos,
comprometida. À volta dela, tudo se calou.– Eu, que fui tua professora, nunca te ensinei a mentir,
pois não? – ralhou-lhe a velha.– Não, senhora – disse a velhota, a medo, como que a
pedir desculpa.
2© APENA – APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
Mas de nada lhe valeu o ar de menina que cometeu umamaldade, porque a velha muito velha, ali, sem mais nemmenos, diante de toda aquela gente, passou-lhe umraspanete e deu-lhe um valente puxão de orelhas.
FIM
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