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23 II- Processo Sol-Gel II.1 Fundamentos do Processo Sol-Gel Muito empregado hoje em dia, a utilizaªo do processo sol-gel na produªo de materiais comeou ainda no sØculo XIX, atravØs de uma publicaªo de Ebelmen em 1846 [55] que preparou um metal alcoxido a partir de SiCl 4 e Ælcool. PorØm nªo foi muito usado atØ o final da 2 a Guerra Mundial, passando a ser empregado com maior freqüŒncia a partir de 1950 [56] . O processo sol-gel apresenta uma boa homogeneidade, fÆcil controle de espessura, e custo relativamente baixo comparado a outros mØtodos como Deposiªo a Vapor Qumico (Chemical Vapor Deposition CVD), Epitaxia de Feixe Molecular (Molecular Beam Epitaxy-MBE [56] ) e Sputtering. Sªo poucas desvantagens em relaªo a outros mØtodos, como grande contraªo do material durante o processo de secagem e densificaªo, e um tempo prolongado para a conclusªo do processo [55] . Sol-gel Ø um processo qumico utilizado para a sntese de uma suspensªo coloidal de partculas slidas em um lquido, sol, e subseqüentemente a formaªo de um material de fase dupla de um corpo slido ocupado com um solvente, gel œmido. Este gel Ø uma rede slida ocupada com uma segunda fase de dimensıes coloidais, ou lquido ou gÆs que tambØm forma uma rede tridimensional interconectada. Quando o solvente Ø removido, o gel œmido converte

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  • 23

    II- Processo Sol-Gel

    II.1 Fundamentos do Processo Sol-Gel

    Muito empregado hoje em dia, a utilizao do processo sol-gel

    na produo de materiais comeou ainda no sculo XIX, atravs de uma publicao

    de Ebelmen em 1846[55] que preparou um metal alcoxido a partir de SiCl4 e lcool.

    Porm no foi muito usado at o final da 2a Guerra Mundial, passando a ser

    empregado com maior freqncia a partir de 1950[56].

    O processo sol-gel apresenta uma boa homogeneidade, fcil

    controle de espessura, e custo relativamente baixo comparado a outros mtodos como

    Deposio a Vapor Qumico (Chemical Vapor Deposition CVD), Epitaxia de

    Feixe Molecular (Molecular Beam Epitaxy-MBE[56]) e Sputtering. So poucas

    desvantagens em relao a outros mtodos, como grande contrao do material

    durante o processo de secagem e densificao, e um tempo prolongado para a

    concluso do processo[55]. Sol-gel um processo qumico utilizado para a sntese

    de uma suspenso coloidal de partculas slidas em um lquido, sol, e

    subseqentemente a formao de um material de fase dupla de um corpo slido

    ocupado com um solvente, gel mido. Este gel uma rede slida ocupada com uma

    segunda fase de dimenses coloidais, ou lquido ou gs que tambm forma uma rede

    tridimensional interconectada. Quando o solvente removido, o gel mido converte

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    para um xerogel atravs de secagem a presso ambiente ou um aerogel por uma

    secagem acima de uma presso crtica e uma temperatura crtica[55,57].

    Os precursores, compostos iniciadores que consistem de um

    metal ou um elemento metalide rodeado por vrias ligaes, incluindo sais

    inorgnicos ou compostos orgnicos, passam por duas reaes qumicas na

    preparao sol: hidrlise e condensao ou polimerizao, tipicamente com um cido

    ou uma base como catalisadores, para formar pequenas partculas slidas ou cluster

    em um lquido (ou orgnico ou solvente aquoso). As partculas slidas so to

    pequenas, (1 a 1000nm) que foras gravitacionais so desprezveis e interaes so

    dominadas por foras de curto intervalo, tais como atraes de Van de Waals e cargas

    superficiais[57].

    A transio sol-gel, tambm chamada gelations, comea com

    a formao de fragmentos slidos agregados que crescem at que se estendam por

    todo o sol. Esta transio pode ser melhor visualizada acompanhando as

    transformaes na figura 6. Inicialmente o sistema constitudo por partculas

    coloidais dispersas (sol), que resultam da polimerizao do monmero (a). Estas

    partculas se ligam formando pequenas cadeias ramificadas tridimensionais (b) e

    regies de microgel, onde o ndice de refrao e a densidade so prximos aos da

    disperso, e portanto no decantam (c). O sistema passa a apresentar um

    comportamento elstico quando o crescimento destas regies estruturadas atinge

    aproximadamente a metade do volume total, ou seja, a viscosidade tende ao infinito e

    o sol alcana o ponto de gel (d). A partir deste ponto as regies estruturadas crescem

    conjuntamente, culminando na formao de uma rede que ocupa todo o volume do

    sistema (e - f) [18].

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    Figura 6 - Esquema de agregao de partculas coloidais durante o processo sol-gel. Em (a) o sistemas formado primeiramente por partculas coloidais dispersas (sol). A ligao destas partculas formam pequenas cadeias ramificadas e regies de microgel (b). Tais regies possuem aproximadamente a mesma densidade da disperso e portanto no decantam (c). Passa a ocorrer um comportamento elstico quando comea o crescimento das cadeias at ser atingido o ponto de gel (d). Em seguida as regies estruturadas crescem e atingem um ponto em que a rede ocupa todo o volume (e-f). Adaptado da Ref. 18. Duas reaes importantes ocorrem com os precursores durante

    a preparao sol: hidrlise e condensao. Como nossas amostras so produzidas a

    partir de precursores inorgnicos, estas reaes so discutidas deste ponto de vista.

    Quando precursores, tais como ctions metlicos (Mz+), so

    dissolvidos em gua pura, eles so solvatados por molculas de gua de acordo com

    a equao 5. Para transies de ctions metlicos, ocorre transferncia de carga de

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    orbitais de ligao 3a1 da gua para orbitais vazios d do metal de transio, causando

    um aumento da carga parcial sobre o H tornando a molcula de gua mais cida[55].

    [ ] ++ + zZ OHMOHM 22: (5)

    Dependendo desta acidez da gua e a intensidade da

    transferncia de carga, o equilbrio estabelecido, o qual definido como hidrlise:

    M(OH2)Z+ [M-OH](z-1)+ + H+ [M=O](z-2)+ + 2H+ (6)

    A equao 6 define os trs tipos de ligantes presentes em meio

    aquoso no-complexo:

    M-(OH2) M-OH M=O

    Aquo Hidroxo Oxo

    Reaes de condensao durante o processo sol-gel, podem

    ocorrer por dois mecanismos nucleoflicos, dependendo do nmero de coordenao

    do metal. A reao de condensao ocorre por substituio nucleoflica (SN) quando

    a coordenao preferencial satisfeita (equao 7).

    M1 OX + M2 - OY M1 OX M2 + OY (7)

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    Condensao por adio acontece quando a coordenao

    preferencial no satisfeita (equao 8), com um grande aumento no nmero de

    coordenao de M2.

    M1 OX + M2 - OY M1 OX M2 OY (8)

    Essas duas reaes requerem um aumento no nmero de

    coordenao de oxignio de 2 para 3. Muitos exemplos de oxignio tricoordenados

    existem, como por exemplo rutila, sendo o mais comum[55]. Tais reaes de hidrlise

    e policondensao ocorrem simultaneamente, sendo que suas cinticas dependem de

    fatores como pH e temperatura. Da a importncia de se manter o controle de tais

    parmetros. Por exemplo, o pH e fora inica determinam a energia de repulso entre

    as partculas e a estabilidade das suspenses coloidais[18].

    II. 2 Xerogel A secagem por evaporao normal da suspenso coloidal,

    provoca o surgimento de uma presso capilar, levando ao encolhimento da rede do

    gel. Isto resulta na formao do xerogel. Da prpria palavra, xero significa secar,

    da pode-se de maneira simples, assumir que xerogel simplesmente um gel que foi

    seco sob condies normais de temperatura e presso. Quando a secagem feita

    acima de uma presso crtica, obtm-se aerogel[55].

    Depois de concluda a secagem, o xerogel tem seu volume

    reduzido de um fator de 5 a 10 comparado ao gel original. Atravs da figura 7 pode-

    se notar esta reduo do volume.

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    Figura 7 - Esquema ilustrando a reduo do volume na transio de gel para xerogel e aerogel. Com a extrao do solvente o volume do xerogel chega a reduzir de um fator de 5 a 10. Adaptado da ref. 55.

    So as tenses superficiais criadas no gel durante o processo de

    remoo do solvente que causam o entrelaamento da rede, enquanto o nmero de

    coordenao da rede aumenta. Xerogis so caracterizados por uma enorme rea

    superficial e pequeno tamanho de poros, menores que 1/10 do comprimento de onda

    de luz visvel, assim xerogis so transparentes ou translcidos. Possuem uma rea

    superficial entre 500 e 900m2/g, enquanto que aerogis podem exceder a 1000m2/g.

    A estrutura de um xerogel fortemente dependente das condies que prevalecem

    durante o processo de hidrlise. Por exemplo, silicatos catalizados atravs de base

    produzem gels que so granulares em textura e retm menos material orgnico. J os

    catalizados atravs de cidos levam os gels a uma estrutura fina e densa[55].

    Extrao do solvente

    Extrao do solvente

  • 29

    Portanto, so as condies de preparao das amostras que vo

    determinar peculiaridades a respeito da estrutura do xerogel ou aerogel formado.

    Nesta seo foi mostrado algumas informaes a respeito de xerogis, os quais foram

    obtidos por secagem da suspenso coloidal. Na prxima seo, ser detalhada a

    tcnica de deposio por molhamento (dip-coating), atravs da qual foram obtidos

    os filmes investigados neste trabalho.

    II.3 Tcnica de Molhamento (Dip-Coating)

    Em nossa pesquisa, utilizamos a tcnica de molhamento (dip-

    coating), na qual o substrato imergido na suspenso, e o filme formado retirando

    o substrato da mesma. Isto feito com um sistema que permite o controle de

    velocidade do substrato. Neste processo, a medida que a suspenso arrastada com o

    substrato, ocorre um aumento na rea de evaporao e na taxa de secagem, o que leva

    inicialmente, a formao de uma camada de gel constituda pelas partculas coloidais.

    Com o prosseguimento da secagem formada uma camada slida. Assim, Scriven[55]

    dividiu-o em cinco estgios: imerso, emerso, deposio, drenagem e evaporao,

    conforme pode ser visto na figura 8(a-e). Uma competio entre 6 foras ocorre

    durante este processo:

    (1) fora de atrito viscoso entre o lquido e o substrato em movimento ;

    (2) fora da gravidade;

    (3) fora resultante da tenso de superfcie devido ao menisco cncavo;

    (4) fora inercial na camada limite do lquido na regio de deposio;

    (5) gradiente de tenso superficial e

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    (6) fora de adeso.

    Quando a velocidade do substrato(V) e viscosidade do

    lquido() so altas o suficiente para diminuir a curvatura do menisco, ento a

    espessura do filme depositado (h), a espessura que equilibra a fora de atrito

    viscoso (V/h) e fora da gravidade (gh).

    h= c1(V/g)1/2 (9)

    onde a constante de proporcionalidade c1, aproximadamente 0,8 para lquidos

    newtonianos.

    Entretanto, se a velocidade do substrato e a viscosidade do

    lquido no so altas o suficiente, como freqentemente no caso sol-gel, o

    equilbrio modulado pela razo do atrito viscoso para tenso da superfcie lquido-

    vapor (LV) de acordo com a equao 10 derivada por Landau e Levich[55].

    h= 0,94(V)2/3LV1/6(g)1/2 (10)

    A figura 8(f) referente ao processo dip-coating contnuo, o

    qual separa imerso dos outros estgios, eliminando emerso e ocultando drenagem

    na deposio do filme[55,58]. Esta tcnica contnua consiste na imerso do substrato, o

    qual neste processo uma fita fina de grande comprimento. Esta fita passa por um

    cilindro localizado dentro da soluo numa velocidade constante. Ento, o filme

    forma-se na fita quando esta emerge da soluo[55].

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    Figura 8 - Estgios durante a formao de filmes finos atravs da tcnica dip-coating (a-e) e processo dip-coating contnuo (f). Imerso e emerso ocorrem seqencialmente, enquanto os trs ltimos passos, deposio, drenagem e evaporao ocorrem simultaneamente. Figura 8(f) mostra o processo de forma contnua, eliminando emerso e deixando a drenagem de forma oculta. Adaptado da Ref. 55.

    Vrios fatores influem na espessura dos filmes como por

    exemplo a prpria velocidade de emerso do substrato, concentrao das solues e

    nmero de camadas depositadas, alm de outros fatores. Da a importncia de se ter

    um bom controle sobre os parmetros de deposio.

    Alguns estudos feitos em filmes de SnO2 puro e dopados com

    flor mostram que quanto maior a velocidade de emerso do substrato, maior a

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    espessura dos filmes, da mesma forma que suspenses mais concentradas apresentam

    maior espessura que para suspenses menos concentradas para uma mesma

    velocidade de emerso[59]. Intuitivamente, fcil perceber que quanto maior o

    nmero de camadas depositadas sobre o substrato, maior a espessura dos filmes.

    A cristalinidade dos filmes tambm varia com o nmero de

    camadas depositadas. Estudos de difrao de raios X mostraram que para um maior

    nmero de camadas, a cristalinidade aumenta a partir da vigsima camada. Um nico

    depsito implica em filmes predominantemente amorfos[1]. Com relao as

    propriedades eltricas, filmes preparados com uma nica camada, em uma suspenso

    de alta concentrao, tem um valor muito maior de resistncia superficial quando

    comparado a um filme com a mesma espessura, mas preparado por mltiplos

    depsitos (multi-camadas), usando uma baixa concentrao da suspenso[1].