wer neck

20
707 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 12, n. 36, Dez. 2013 Sociologia da moral como sociologia da agência Alexandre Werneck Resumo: O objetivo deste texto é refletir sobre o papel desempenhado pelo tema da agência relida do ponto de vista pragmatista como actância na sociologia da moral. Embora as teorias compreensivas sobre a moralidade privilegiem a capacidade decisória dos atores a respeito de suas próprias ações como informação antropológica basal, outra dimensão da capacidade moral se mostra especialmente relevante: a utilização da agência do agente e da agência da estrutura não como disposições e sim como dispositivos, mobilizáveis conforme as gramáticas situadas da vida social os mostrem necessários e cabíveis. Nesse quadro, os dois operadores clássicos da accountability social, a justificação e a desculpa, podem ser lidos não apenas como dispositivos linguageiros, mas como índices de cada uma dessas agências, convenientemente operáveis conforme se recorra à universalidade (justificação, forma afirmadora da agência de si) ou à circunstância (desculpa, forma afirmadora da agência externa a si), convertendo a clássica dicotomia agente- estrutura em um par de dispositivos morais de efetivação baseados no deslocamento situado da instância decisória sobre as ações/situações. Palavras-chave: sociologia da moral, agência, accounts, efetivação * A cena bíblica em que Adão e Eva são expulsos do Paraíso (Gn, 3) guarda uma riquíssima e curiosa “contradição”: como é bem conhecido, o “primeiro homem” e a “primeira mulher” estão ali a serem punidos por terem comido do fruto de uma árvore que lhes havia sido interditada. Mas, para que eles possam ser culpabilizados, é preciso, evidentemente, reconhecer o livre-arbítrio dos dois. Afinal, o Criador em pessoa os havia colocado o mandamento de não comer da “árvore que está no meio do jardim” e o fazer só poderia ser pensado como um ato de flagrante e impertinente desobediência. Entretanto, eis que o fruto que eles tomaram é justamente o da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, exatamente aquele que, se consumido, confere a quem o comeu a faculdade de conhecer o que é bom e o que é mau, de discernir entre os dois. Ora, se desconheciam os dois polos da avaliação moral, não tinham como saber, por si mesmos, se deviam ou não comer da árvore. Tudo de que dispunham, então, era a norma, uma imposição externa a suas capacidades de julgamento:

Upload: guilherme-borges

Post on 17-Aug-2015

214 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Sociologia

TRANSCRIPT

707 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 Sociologia da moral como sociologia da agncia Alexandre Werneck Resumo: O objetivo deste texto refletir sobre o papel desempenhado pelo tema da agnciarelidadopontodevistapragmatistacomoactncianasociologiada moral.Emboraasteoriascompreensivassobreamoralidadeprivilegiema capacidadedecisriadosatoresarespeitodesuasprpriasaescomoinformao antropolgicabasal,outradimensodacapacidademoralsemostraespecialmente relevante:autilizaodaagnciadoagenteedaagnciadaestruturanocomo disposiesesimcomodispositivos,mobilizveisconformeasgramticassituadas da vida social osmostrem necessrios e cabveis. Nesse quadro, os dois operadores clssicosdaaccountabilitysocial,ajustificaoeadesculpa,podemserlidosno apenascomodispositivoslinguageiros,mascomondicesdecadaumadessas agncias,convenientementeoperveisconformeserecorrauniversalidade (justificao, forma afirmadora da agncia de si) ou circunstncia (desculpa, forma afirmadoradaagnciaexternaasi),convertendoaclssicadicotomiaagente-estrutura em um par de dispositivos morais de efetivao baseados no deslocamento situadodainstnciadecisriasobreasaes/situaes.Palavras-chave:sociologia da moral, agncia, accounts, efetivao * AcenabblicaemqueAdoeEvasoexpulsosdoParaso(Gn,3)guardaumariqussimae curiosacontradio:comobemconhecido,oprimeirohomemeaprimeiramulher estoaliaserempunidosporteremcomidodofrutodeumarvorequelheshaviasido interditada.Mas,paraqueelespossamserculpabilizados,preciso,evidentemente, reconhecerolivre-arbtriodosdois.Afinal,oCriadorempessoaoshaviacolocadoo mandamentodenocomerdarvorequeestno meiodojardim eofazer spoderiaser pensado como um ato de flagrante e impertinente desobedincia. Entretanto, eis que o fruto que eles tomaram justamente o da rvore do Conhecimento do Bem e do Mal, exatamente aquele que, se consumido, confere a quem o comeu a faculdade de conhecer o que bom e o que mau, de discernir entre os dois. Ora, se desconheciam os dois polos da avaliao moral, notinhamcomosaber,porsimesmos,sedeviamounocomerdarvore.Tudodeque dispunham,ento,eraanorma,umaimposioexternaasuascapacidadesdejulgamento: 708 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 no comers do fruto sob ameaa de que morrero se o fizerem. Ao mesmo tempo, eles so punidos pela tomada de deciso de dar ouvidos serpente, o mais astuto de todos os animais dojardimqueJavDeustinhacriado.1Emsntese,opecadodecomerdarvoredo ConhecimentodoBemedoMalnopodenotercomoprincipalconsequnciaproduzir justamente a capacidade de saber que comer dessa prpria rvore pecado. Poisimpressionantementeemblemticaessacontradioentrelivre-arbtrioetenso bem/mal surgir em um texto como esse, que deseja conquistar o posto de mito de origem ao mesmotempodamoralidadeedacapacidadededecisoprpria,2emespecialdopontode vista de uma anlise da moral na vida social. Isso porque, olhada de certo ngulo, no final das contas, todasociologia da moral ser uma sociologia da agncia. Pareceser um trao central dacolocao emprticadacapacidadedeavaliao moraltoinerenteans, atoressociais: quandoalgumfazumjulgamentomoraldeoutreme/ouquandochegaalanarsobreele umacrtica oumesmoumaacusao, oqueestfazendoapontandoparaa capacidadedo outrodedecidirconscientementepelalinhadeaoqueresultounoproblemajulgadoe/ou criticado/acusado. Em outras palavras, na nossa cabea, o outro sabia muito bem o que estava fazendo. praticamentedesnecessrioapontaraimportnciadaagnciaparaasociologia: simplesmentea mais clssica das questes sociolgicas. Defato, aparececomo ponto central em todos os clssicos mesmo quando surge como questo recusada eserviu deponto de apoioparavriosmovimentospendulares(entreopolodoagenteeodaestrutura)de construodevriosmodelosposteriores,definidosjustamentepelaposionessedebate. Almdisso,nodeixadeserabasedeumasriedeenquadramentosque,desdeofinaldo sculoXIXeaolongodosculoXX,sepropuseramespecialmenteaultrapassaressa dicotomia.3 Da mesma maneira, apontar a importncia e os desenrolares da questo da moral nasociologiatodesnecessrioquantopordemaisextensoparaosobjetivosdestetexto4. Nem mesmo seria necessrio lembrar que ela tambm alimentou a observao e a imaginao decadaumdosgrandesclssicosequeserviudeelemento-chaveparaquasetodomodelo queaelesseseguiu.Masgostariaderetomaraquirapidamenteavalidadedessasduas temticas para, associando-as respectivamente a duas tradies, tambm interligadas, apontar aformapeculiarcomoelasestoarticuladasedemonstrarcomoessaarticulao extremamente reveladora para anlise do papel da moral na vida social.

1 Analiso essa aparente contradio em meu estudo sobre a desculpa (Werneck, 2012, p. 21-25). 2 Essa aluso evidentementealegrica e no possui nenhuma inteno teolgica. Mas aomesmo tempo verdade queaobservaoatentadequalquergrandereligiorevelarcertamenteomitodaconstruodamoralidadeentre seuspontosmaisbsicos.Paramaisaesserespeito,verGravesePatai(1963).Dopontodevistasociolgico,isso indica a importncia atribuda a esse par e a prpria formao dele para a forma como os atores sociais h muito constroem suas lgicas morais. 3 Entre os quais podemos destacar os interacionismos europeu (Simmel) e americano (de linhagem ps-Mead), como osmaisclssicos,almdo(ps-)estruturalismoconstrutivistadeBourdieu;ofiguracionismodeNorbertElias;a TeoriadaEstruturaodeAnthonyGiddens;e,maisrecentemente,amorfogenticadeMargarethArcher. Evidentemente,osmodelossituacionistasmetodolgicostambmultrapassamessadicotomia.Mas,como demonstrarei aqui, o modelo pragmatista oferece um elemento amais para aequao, a possibilidade de considerar que embora a dicotomia possa no ser a coisa mais relevante analiticamente, ela pode s-lo para os atores e pode ser considerada em termos de sua actncia, isto , dispositivamente. 4 Para um resumo bastante completo, ver Abend (2010).709 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 A primeira tradio, pelo lado da agncia, o situacionismo metodolgico (CICOUREL, 1964; KNORR-CETINA,1981;COLLINS,1981;JOSEPH,2000),iniciadopelopragmatismofilosficode Charles S. Peirce, William James e, na anlise do social, em George Herbert Mead e William I. Thomasesteltimo,autordamximadequeseoshomensdefinemassituaescomo reais,elassoreaisemsuasconsequncias(THOMASeTHOMAS,1938[1928],p.572), continuandocomseusseguidoresemespecialnaEscoladeChicagoequeultrapassaa dicotomiaagente-estruturacomaeleiodeumaunidadeanalticadiferentedaorigem decisriadasaes;asaber,asituao.Paraessalinhagem,asociologiasociologiada agncia dos atores. Aoutratradio,peloladodamoral,fundadaporMaxWeber,comsuaabordagem compreensiva,centradanodeslocamentodosvaloresparaaposiodeunidadeanaltica. Comosesabe,Weber(2001[1904]),aoconsiderarquetodohumanopossuivaloresequeos usarparaseaproximardomundoinevitvel, mesmoparaumcientista,questiona-secomo tornarpossvelaobjetividade(apossibilidadedeanalisarosfenmenossociaisdeforma cientfica isenta dejulgamentos morais)esugerecomo soluo a criao deum novo valor e suapromooposiodevalorsuperior,demodoatirarproveitodafaculdadevalorativa doshomensemfavorda prpriaobjetividade. Esse valor acompreenso,segundoaquala anlise considerar exatamente os valores como objeto, tornando a anlise o mapeamento de contedosqueconferemsentidosaessociais.5Podemosdizerque,paraWeber,a sociologia sociologia da moral. Essasduasvertentes,entrecruzadasemvriospontos,alimentamumaoutra,situacionistae compreensiva,emerecedoradottulodearcabouodasociologiadamoral,passandopelo trabalhodeC.WrightMills(especialmentededicadoassociaoentreWebereo pragmatismo)6, pela sociologia fenomenolgica de Alfred Schtz, a etnometodologia de Harold GarfinkeleonovopragmatismofrancsdeMichelCalloneBrunoLatoureLucBoltanskie LaurentThvenot,almdeseuscolegaseseguidores.7Eemboracadaumumaviso particular, todos esses modelos tomam como pressuposto a afirmao dos atores sociais como aexpressodeGarfinkel(1967)asntesemaisfelizagentescompetentes.Oponto central a unir todos esses enquadramentos que a agncia, neles, construda, antes de mais nada, como agncia moral: o livre-arbtrio que os atores possuem para julgar. Ejquefalamosemagnciacompetente,podemosdizerqueessaagnciamoraladquirea formadeumoperadorlgico,acompetnciaqueganharvariadosnomesemdiferentes modelos.Esseoperadorsedistendeentredoissentidos,comodadocognitivoecomoforma operativa.Oprimeirosignificadoaquelequepodesersintetizadopelaetnometodologia:a partirdeumaafirmaoquesetornouclebre,praticamenteseucartodevisitas,Harold Garfinkelfazumacrticaseveraideiadequeosatoressociaissodeterminadosporuma

5 Para uma boa explorao dos limites lgicos dessa operao que acaba por ratific-la, considerando sua extrema criatividade e efetividade, ver Brubaker (1984). 6 Ver Wright Mills (1940). Alm do artigo, baseado na problemtica dos motivos de Weber, aproximando sua leitura dadopragmatismo,eleaindaorganizouetraduziu(comH.H.Gerth)aprimeiratraduodoclssicoalemonos EUA,em1946.Sobrearelaodiretadoamericanocomopragmatismo,quefoiinclusivetemadeseuPhD,ver Wright Mills (1966). 7Almdeles,caberegistraraindaacontribuiodeIsaacJoseph(e,depoisdele,DanielCefa),maisligadosao pragmatismo americano original de James, Mead e John Dewey, e cujo trabalho igualmente municia a sociologia da moral. 710 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 estrutura: No somos dopados culturais (GARFINKEL, 1963). A abordagem etnometodolgica propequeosatoressociaispodem,comovimos,serentendidoscomoagentes competentes, ou seja, como seres dotados de capacidade de julgamento das aes.8 As deles easdosoutros.Segundoele(1967,pp.32-33),membrosdeumarranjoorganizadoesto constantementeengajadosemterquedecidir,reconhecer,persuadiroutornarevidenteo carterracional,isto,coerente,ouconsistente,ouescolhido,ouplanejado,ouefetivo,ou metdico,ouinformado,deatividadesedeseusquestionamentos.Issovoltaaanlise sociolgicaparaaideiadeque,competentes,osatoressociaiscobramlgica,coerncia, alguma forma de racionalidade, das aes uns dos outros. Diferentemente, ento, das teorias segundo as quais as pessoas tm suas aes moldadas por determinantes da estrutura social, a etnometodologia nos considera como indivduos capazes de observar as aes uns dos outros easavaliar,desenhandoumavidasocialcompostaporumafenomenologiadeaese situaesmtuaeconstantementeemquesto.Acompetncia,ento,aqui,uma informao sobre a forma como cada um de ns se constitui como ente social, a partir de uma capacidadedeolharparaosladose,enxergando-se,enxergarosoutros,semcomissoser guiado por alguma fora externa determinante.Aoutraformaaquelaquepodesersintetizadapelomodelodaeconomiadasgrandezas (conomies de la grandeur, EG) proposto por Boltanski e Thvenot nos anos 1980. Construdo apartirdeumacrticaabordagemdePierreBourdieu,queparaelesnegligenciariaas potencialidades dos atores para criticar e, com isso, opondo-se dominao, o quadro por eles propostoconstriaafirmaodaagnciapormeiodascoresdeumacapacidadecrtica (BOLTANSKIeTHVENOT,1983;1999),construindoumapassagemdasociologiacrtica (bourdieusiana)paraumasociologiadacrtica(BOLTANSKI,1990a;2009).Essacapacidade, que assume a forma de informao antropolgica que a competncia assumia em Garfinkel, aqui acessado por um tipo mecanstico de competncia: inspirados na lingustica generativa de Noam Chomsky, por meio da releitura da mesma pela antropologia da cincia de Latour (1979; 1985;1997[1987]),elesentendemcompetnciacomoumafaculdadeapresentadapelos atoresparaadesenvolturaemumadeterminadalgicadeao;ou,comopreferemeles prprios (1991, p. 183), uma capacidade de reconhecer a natureza de uma situao e de pr em ao o princpio (...)quea ela corresponde. Ou ainda, como tenho preferido apresentar, nocomotraoreconhecidocomoprincpiocognitivonaspessoas,esimcomotrao demonstradonasprpriasaeslocalizadas,apontandoparasuaalocaoemdeterminada gramtica actancial moral, com desenvoltura em regras queverificam critrios deefetividade da ao. Em outras palavras, o critrio nela procurado quando se verifica se ela pode ou no ser admitida. Essesdoisexemplosdemodeloschamamatenoparacomoaagnciadosatoresganha operacionalidadeforteemenquadramentossituacionistasquandose tratadefalardamoral. Masquerochamaratenoaquiparaumaoutradimensodessaagncia.Oobjetivodeste texto,assim,proporumoutrodeslocamentodaclssicadicotomiaagente-estrutura.Mais queisso,aideiapensarcomoasociologiadamoralconversoradessadicotomiaemuma verdadeira mecnica, segundo a qual esses polos passam a ser nem princpios explicativos nem figurasreificveis(comonasconcepesqueconsideramsociedadeeidentidadecomo

8 Para a influncia de Schtz sobre a etnometodologia, ver Werneck (2012, pp. 77-81) e Heritage (2011). 711 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 coisas).Emvezdisso,apropostadestetrabalhomostrarcomoessespolospodemser entendidoscomodispositivos,mobilizveisconformeassituaesdemandemdosactantes mais ou menos de um ou do outro. Sociologia moral como economia dos dispositivos de concentrao de actncia Aafirmao,entoaseguinte:se,tomadoscomomodelosdedescrioeexplicaoda maneira como funciona a gentica da vida social, agncia do agente e agncia da estrutura so realidades opostas mutuamente anulveis, elas podem, por outro lado, ser consideradas como representaes,queosprpriosatoressociaisdoladodeforadaanliseutilizampara entenderomundo.E,comorepresentaes,visesdemundoquehabitamnossascabeas, podemsertambmabstraesdequepodemoslanarmoparaefetivar(WERNECK,2012) nossas aes e as situaes em que estamos inseridos. Porque, afinal, perfeitamente cabvel que se diga que se fez algo, em um momento, porque algo mais forte que eu atuou sobre mim ou,emoutromomento,porqueeuqueriafazereagicomoeubementendia.Isso,conforme seja melhor, d mais certo, dizer um ou o outro. Isso permite pensar esses princpios em outra condio, como aparatos de uma caixa de ferramentas moral, isto , como dispositivos morais.Oconceitodedispositivotemdespertadograndeinteressenateoriasociolgica contempornea,emespecialaqueladecunhopragmatista,9maisespecialmenteapartirdos trabalhosdeBrunoLatoureMichelCalloncomateoriadosatores-rede,mastambmna abordagemdaEGenotrabalhopragmatistareflexivodeFrancisChateauraynaud.Ao mesmotempo,oconceitopassou,nosltimostempos,emvriosautores,porgrandes transformaes,deumaperspectivaestruturalparaumainteracionale,sobretudo, situacional.10AtmesmoemFoucault,ondediziarespeitoaaparatosdeconcretizaodas estruturasabstratasdepoder,oconceitopassouadizerrespeitoaformascadavezmenos disciplinaresepassouatraduzirumaagnciaestratgica(FOUCAULT,1994).Trata-se,ento, dedeixardeladoumaabordagembaseadanasdisposies,traosincorporados,fixose definidores dos atores sociais e que se tornam determinadores de suas aes, privilegiando-se, emvezdisso,osituacionismometodolgicoesefalandoemumagestodavidasocialpor meiodeaparatossituacionalmenteoperados,comocoisasquefuncionam(PEETERSe CHARLIER,1999).Nopragmatismo,essaperspectivaseencontraaindacomaideiade gramtica, que,como a de competncia tambm oriunda da lingustica generativa,apresenta aslgicascontextuaisnocomonormatividadesinelutveis,regramentosprescritivos,mas como desafios, conjuntos de indicaes restritivas e/ou parcialmente prescritivas que levam os atores a agir estrategicamente. Nesse sentido, o dispositivo se torna uma coisa do qual da qual sepodelanarmo,algoquepodesermobilizadoparalidarcomosdesafiosgramaticais., ento,algoqueadquireumsentidocentradonaagnciadosatores,indivduosautnomos quefazemescolhasdedirecionamentodasaes,edavidasocialcomoencontrode indivduosdotadosdeagnciacompetente(SCHTZ,194;GARFINKEL,1967;BOLTANSKIe THVENOT, 1983), sem configurar individualismo metodolgico ou uma primazia do interesse. Agir no social, dessa maneira, passa a ser se deparar com os desafios situacionais e lanar mo competentementedecoisasdomundoparadarcontadasaes/situaes.Poiscomoso

9 Para uma sntese desse interesse, ver Peeters e Charlier (1999). 10 Ver De Certeau (1994; 2000) e Thvenot (1994). 712 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 dimensesdaagncia,dacapacidadededecidirporsiocursodaao,aquelesdoispolos genticos devem ser pensados como dispositivos de uma operao especfica, aquela segundo a qual sedefineedesenha uma meta-situao formal, deavaliao moral, segundo a qual se tornaefetivaatomadadeumcaminhodedeterminaoououtroparaefetivarumaoutra situao, esta do mundo, que esteja em questo. Eles passam, assim, a ser algo que podemos chamardedispositivosdeconfiguraodaagncia. Ou,melhor,comoquero construiragora, dispositivos de configurao da actncia.Oconceitodeactante,porsuavez,ocupaumespaoprivilegiadonomodelosemiticodo linguista lituano Algirdas Greimas, em seu quadro conceitual dedicado a analisar narrativas, a narratologia. Segundo ele, o actante aquele ou aquilo que pratica um ato e que faz diferena nanarrativa.Trata-sedeumentedotadodecapacidadedeterminadoradesuasaes, influenciando as aes de outros. E esse ente pode ser de qualquer natureza, uma pessoa, um animal, um objeto, uma ideia. Latour se utiliza da ideia de Greimas no modelo dos atores-rede, afimdeconstruirlogicamenteasimetrizao,inclusodetodososentescontidosemuma situaoemummesmoplanoanaltico,noosdiferenciandoemtermosdeagncia,ou melhor,deactncia(oquepermitiuanalisarossereshumanoseosnohumanosemum mesmo quadro). Por sua vez, em sua discusso sobre a denncia pblica, Boltanski (1990b, pp. 253-356) constri uma forma abstrata para dar conta das situaes de denncia, a forma caso (formeaffaire),figurasituacionalformalsegundoaqualsedodisputasemtornoda possibilidade de generalizao de reivindicaes e constituda como um sistema actancial, com actantesdefinidose,portanto,comoreconhecimentodaactncia,apotencialidadeno simplesmentededecisoarespeitodoquefaz,mas,sobretudo,deinfluncianoquadro situacional. Essaopopelasituaocomounidadeanalticapermiteenxergaraactnciaporuma geometriadistintadaqueladaperguntasobreaorigemdasaes.Comasituao,uma configuraodeelementos,umadisposiodepeasemumplano,estamosdiantedeoutra pergunta:oquepermitequeaquelaconfigurao,postacomoest,produzaconsequncias, isto,seconcretizesocialmente?Essaperguntafazretornaraomesmotempomximade Thomas e questo-chave da sociologia weberiana, a dos sentidos das aes: com a economia dosmotivosconferindosentidotpico-idealmentevisado(comoseapriorifossem), depreende-se um modelo de anlise segundo o qual o que est em questo uma espcie de aprovao dos outros para queuma ao possa ser. Afinal, a prpria definio deao social deWeberdizrespeitoinflunciade/sobreosoutros.Asituaoinduzumaversodesse questionamentoabertaparaamultiplicidadedepossibilidadesgeradapelaconfiguraode elementos como se estivssemos diante de um tabuleiro dejogo pronto a se iniciar ecujas consequnciasqueotornamreais.Demodoqueaquestopassaasernooquetorna uma ao legtima, mas o quetorna uma situao, como tenho preferido chamar (WERNECK, 2012),efetiva,capazdeproduzirefeitos,consequncias.Asituao,dessamaneira,um settingaomesmotempodoacontecimento,daexperincia,daprpriavidasocialemsua fenomenologia,edamoral,doaparatodeverificaopelosactantesdaefetividadeem termos de bem (Idem) do que acontece. Eessaavaliaodeefetividadeestdiretamenteligadaactncia,capacidadedeinfluire, nessesentido,justamentedeinseminarconsequnciasactnciaeefetividadeesto 713 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 intimamente ligadas. O modelo da EG uma tima demonstrao disso: ao se centrar no em entesdefinidos,massimemestados(potencialmentetemporrios)ocupadospelosmesmos nassituaesdefinindo,porexemplo,nopessoas,masestados-pessoaseao reconhecer que os estados so experimentados na prtica pelos atores sociais como posies hierrquicas,oquadrodefineasposiesocupadaspelosatoresnassituaescomo grandezaseassituaesefetivascomoaquelasnasquaisasgrandezassojustificadas (BOLTANSKIeTHVENOT,1987,1991),isto,quepodemsertraduzidasemalgumaforma ideal debem comum. Em um modelo centrado na efetividade,extensivamente, as grandezas acabam por seprovar como formas concentradas da actncia, uma vez que,quando efetivas, provam-se como elementos determinantes da configurao situacional capaz de gerar efeitos, ter influncia.E uma vez que enxerguemos que o bem o princpio substantivo de efetivao e que como j demonstrei em meu trabalho sobre o papel da desculpa na vida social, no qual modelizo uma geometriapragmatistadeoutrograudeabstraoemrelaoaomodelodaEG(WERNECK, 2012)aquestodojulgamentomoralodirecionamentodobem(que,nessesentido, representaaprpriagrandeza),asociologiadamoralconfigura-secomoumaverdadeira economiadosrecursosdemobilizaodeactnciaeaefetivao,seufenmeno-chave,sua microeconomia, j que seu mote justamente a administrao de seu recurso escasso nominal o bem por meio da operacionalizao de dispositivos. Accounts como os dispositivos privilegiados de uma vida social mutuamente moralizada AformapropostaporBoltanskieThvenotcomooperadordalegitimaodassituaes,a justificao, , mais classicamente, um account, um dispositivo lingustico empregado sempre quesesujeitaumaaoaumaindagaovalorativaouumaarmaofeitaporumator socialparaexplicarumcomportamentoimprevistoouimprpriosejaestecomportamento seu ou de outra pessoa, quer o motivo imediato para a armao parta do prprio ator ou de algummais,comopropemScotteLyman(2008[1968],p.140).Essadefinio prontamente tributria da descrio inaugural de John L. Austin (1979 [1956-1957]) para esse tipo de dispositivo, em sua discusso sobre a desculpa, que forma com a justificao a galeria de tipos de accounts. Essesdoistipos,justificaoedesculpa,desenhamumavidasocialmarcadaporaquela exignciaderacionalidadecontidanastradiesqueanalisamose,maisqueisso,poruma perene operao de cobrana e prestao de contas (account) uns aos outros. Os accounts trilhamumcaminhoimportantenasociologiaamericanadesdeWrightMills,mas,passando porAustin,ecomGarfinkele,emparalelocomointeracionismoconstrucionistamaisbem representado pela labeling theory (BECKER, 2008 [1963]),11 se tornariam uma varivel analtica das mais relevantes.Poisbem,justificaoedesculpa.Essesdoisdispositivoslinguageiros12soantesdetudo dispositivos de resposta a julgamentos morais, surgem diante de crticas e/ou acusaes. E se,

11 Para uma apresentao e uma discusso sobre a labeling, ver Werneck (2013). 12Prefirochamaressetipodedispositivodelinguageiroemvezdelingustico,comoalgunsautoresnomeiame como est, alis, demarcado originalmente em Scott e Lyman e na traduo brasileira de seu texto. Afinal, enquanto linguageiroreferentelinguagem,umasubstncia,lingusticoreferentelingustica,umadisciplina.Eno 714 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 comodisseantes,todacrticaouacusaoumaafirmaodeagnciamalusada,uma sugestodequeooutrotinhacontrolesobreoqueestavaacontecendo,asrespostasaelas operamdeformareativajustamenteaessaafirmao.Seno,vejamos:segundoScotte Lyman,justificaessoaccountsemquealgumaceitaaresponsabilidadepeloatoem questo,masrenegaaqualificaopejorativaassociadaatalato(2008[1968],p.141); desculpas,porsua vez,aquelesaccounts emquealgumadmitequeoato emquestoseja ruim, errado ou inapropriado, mas nega ter plena responsabilidade sobre ele (2008 [1968], p. 141).Assim,najustificao,oatordiz:eusabiaexatamenteoqueestavafazendo,euerao actantedeactnciaefetiva,ejustamenteporissooqueeufizestavacerto;nadesculpa,ele diz:oquefizfoierrado,maseunosabiaoqueestavafazendo,notiveactnciaefetiva, porqueoutracoisa/pessoaatevee,porisso,foimaisfortequeeuparadeterminaro desenrolar da situao. Nessesdois casos, o quetemos em mente uma volta ao passado, a fimdereescreveroqueaconteceudemaneiradiferentedaqueladescritapelo crtico/acusador. E essa reescrita exatamente baseada em uma correo no item referente aocontrolesobreocursodoseventos:eutinhacontrolesobreminhasaesevocestava erradoemnarrarasituaomeapontandocomoerradooueunotinhacontrolesobre minhasaesevocestavaerradoemnarraasituaomeapontandocomoerrado.Osdois tiposdeprestaodecontas,desatisfaesdadasaosoutros,podemserlidos,assim,como ndices de cada um dos polos agenciais que j descrevemos. Mas no como demonstraes de quesoelesosprincpiosbasaisdaorigemenergticadoquefoifeito,esimcomoaparatos convenientementeoperveisconformeserecorraaosprincpiosconstitutivosdesuas mecnicas especficas. Mecnicas, ento: 1)Justificao:sesipoderenegaraqualificaopejorativadeumatoporque,nocaso, paraocriticado/acusadoumacrtica/acusaofoifeitadeformainjusta,isto,baseadaem um princpio universal que no corresponde quele usado por ele para tornar efetiva sua ao. Pois esta a base de uma justificao: a adequao entre um conjunto de dispositivos e algum princpioabstratouniversalizveldemaneirasituada,masuniversalizvelaindaassim.13 SegundoBoltanskieThvenot(1999,p.360),situaesdecrticatemcomocaracterstica primeiraofatodequeaspessoasnelasenvolvidasestosujeitasaumimperativode justificao.Aquelequecriticaoutraspessoastemqueproduzirjustificaesparasustentar suascrticas,assimcomoalgumquesejaalvodecrticastemquejustificarsuasaespara defendersuacausa.Esseimperativocontmeleprprioumimperativo,interno:na justificao, tanto a crtica quanto a defesa dependem de um procedimento decomprovao: osatoresquedefendemestardeacordocomalgumprincpiodebemcomum,precisam apresentarprovas, objetos do mundo (dispositivos, portanto)queinterliguema situao eas grandezasaseremjustificadas(oucriticadas)comumametafsicamoralreconhecida.Essas provasso,nofinaldecontas,formasincorporaisdouniversal,dispositivospreenchidosde princpios metafsicos morais, voltadas para a afirmao situada da agncia de si.

estamos aqui de posse de dispositivos de anlise da linguagem (como seria, por exemplo, qualquer categoria sinttica ou morfolgica) e sim de dispositivos cuja prpria materialidade a linguagem. 13 Boltanski e Thvenot propem um quadro mais ou menos limitado (mas potencialmente amplivel) demetafsicas moraisestabelecidas,consagradas,navidamoderna,queeleschamamdecits.Paraagaleriadessascits,que correspondem a lnguas morais de bem comum, ver Boltanski e Thvenot (1999, p. 368). 715 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 2) Desculpas: se si pode recusar a responsabilidade sobre as consequncias pejorativas de um ato,mesmoquesereconheaoquopejorativaselasso,14porqueocaso,parao criticado/acusado, corresponde a uma crtica/acusao que, ao se fixar no universalismo ideal-utpico da regra, no levou em considerao uma circunstncia, um trao especfico daquela situaooudealgumactantenelaenvolvido,queatornapeculiarosuficientepara, especificamentenaquelemomento,noserespeitaroprincpioemquesto.Conforme demonstrei (WERNECK, 2012), essa forma de prestao de contas se baseia no afastamento do universal, deslocando-se para longe do setting de discusso de princpios e provas. A desculpa operada segundo duas formas, distinguidas justamente pela substncia sobre a qual atua sua toroefetivadora.Emumtipo,adesculpadonoeraeu,acircunstnciaapontadatem lugar em uma alterao do curso de ao prevista do ator, de modo que se cria uma partio temporalentreaquelequeoatorsempreeaquelequeelefoitemporariamentequando praticou a ao por exemplo, por estar nervoso, bbado, fora de si, ou por no ser mesmo ele o responsvel pelo ocorrido, j que algum o levou a fazer o que fez (como Ado no mito bblico, que afirma ter sido Eva a culpada por ele ter comido da rvore proibida). No outro tipo, a desculpa do assim mesmo, a circunstncia apontada se manifesta em uma alterao do curso de ao prevista da prpria situao, de modo que se cria uma partio entre a situao normaleumanormalidadeoutra,reveladanadesculpa,esegundoaqualoocorrido circunstancialmente aceitvel por exemplo, quando se faz algo que todo mundo faz apesar detodomundodizersererrado(comopassarporumsinalvermelhoqueningum respeita ou ao se dizer que se chega atrasado porque nunca consigo acordar na hora). Nos dois casos, toda a operao de efetivao passa por aquele retorno ao passado para reescrev-lo em outras bases, mas mantendo o contedo substantivo do ocorrido, sua substncia: aquele que no era eu, era eu e teve apenas seuestado alterado; aquilo que ocorre de determinada maneiraimprevistaemdeterminadascircunstnciasofoiporqueassimmesmo,ouseja, um estado da realidadequesepermite manifestar circunstancialmente. Em qualquer um dos casos, trata-se de uma forma que afirma a agncia externa a si. Essasformaschamam,assim,atenoparaaflexibilidadesegundoaqualosatorespodem lanar mo da agncia no a partir do fato de ela ser uma caracterstica intrnseca deles ou da estrutura, mas sim de acordo com as condies especficas da situao. Isso no quer dizer que a accountability social corresponda a uma retrica. Ela antes uma atividade gramaticalmente orientadapelasdemandassituacionaisesegundometafsicasmoraisqueguiemeofeream sustentao a diferentes formas de efetivao, sejam elas justificaes ou desculpas. Assim, o livre-arbtrio e a determinao estrutural erguem-se como recursos de desenvoltura.Crticas x acusaes Uma acusao opera um movimento moral de estabelecimento de papis: de um lado, algum queseinvestedodireito(edodever,porqueno?)deapontarooutrocomoacausade umanegatividade.Aetimologiaajudaaterumaimagemclaradesuascapacidades:vemdo latimaccusare,formadoporad,contra,ecausari,apontarcomocausa.Mas,paraalmda

14 Este um ponto fulcral sobre as desculpas: diferentemente do que se poderia pensar baseando-se no senso comum marcado por desculpas esfarrapadas , esse account no representa desengajamento moral. Muito pelo contrrio, ele demonstra um claro engajamento ao princpio usado para a crtica/acusao, j que reconhece o carter negativo do ato. Diferentemente do caso da justificao, a desculpa no promove uma discusso de princpios. 716 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 origemdapalavra,osentidodeacusarperceptvel:ela,parafuncionar,dependedeum dispositivo cognitivo especfico, a culpa. Sobre ela, Austin (p. 181), diz quePelo menos duas coisas parecem se confundir nesse termo. Por vezes, quando se culpa X por fazer A, digamos por quebrar um vaso, uma questo simplesmente ou principalmente deminhadesaprovaoaA,quebrarovaso,oque,semdvida,Xfez:masoqueporvezes ocorre,emvezdisso,simpleseprincipalmentemeuprofundosentimentodequeX responsvel por A, o que inquestionavelmente foi ruim15.Paraele,ento,hduasdimensesnaculpa:aindiscutibilidadeeaintensidade.Quandose atribuiculpaaalgum,est-seafirmandoquealgogravefoiinegavelmentefeitoporele.A acusao,ento,estruturadaemtornodeumoperadorquetornaacausalidadeuma operaomoralsimplificadoradacomplexidadedassituaes:shduaspossibilidadesem uma situao de acusao: culpa ou no culpa. De maneira que ela centrada na punibilidade, ouseja,emumaoperaodesimplificaodaspossibilidadesdeinteraocomaqueleque praticouaaoreduzidasreaocompensatriadosofrimentopeloatocometido:quando no h mais o que discutir, a gravidade do ato produz um imperativo de punibilidade. Porque a culpa afirma a agncia dos atores, chama a ateno para seu controle sobre a situao e para sua opo por fazer algo errado. De maneira que no resta alternativa seno puni-lo, j que indiscutvel que ele praticou uma ao negativa. Como diz McEvoy (1995, p. 17), o que uma acusao seno um meio de defender o mau tratamento do acusado? Poisquandofazemsuadefiniodedesculpa,ScotteLymanchamamaateno, relembremos, para um outro operador: a responsabilidade. E esse operador est ligado a outra prtica,distintadaacusao:justamenteacrtica,tocaraaomodelodaEG.Acrtica representaummomentoespecialnavidasocial,ummomento,comomostramBoltanskie Thvenot,dedescontinuidadeemumarotinadenoquestionamentodas aesnoentorno. Trata-se de um momento no tempo no qual, segundo eles (1999, p. 359), pessoas, envolvidas emrelaescotidianas,queestejamfazendocoisasjuntas(...)equetmdecoordenarsuas aes,chegamconclusodequealgoesterrado;dequeelesnopodemmanter-se daquela forma por mais tempo; de que algo deve mudar, e a partir do qual apessoaquesedcontadequealgonoestfuncionandoraramentepermaneceem silncio. Ela no guarda seus sentimentos para si. O momento em que se d conta de que algo no est funcionando , na maioria das vezes, aquele em que percebe no poder mais suportar esse estado de coisas. A pessoa deve, por essa razo, expressar descontentamento em relao s outras com quem estivera desempenhando, at ento, uma ao conjunta. Trata-se,ento,assimcomoaacusao,deumaformadeapontarodedoparaooutroe indicar a relao entre ele e o ocorrido, negativizando-o moralmente. Estamos diante de uma cenanaqualtemlugarumamanifestaofortedediscordncia,chamando-seatenopara uma diferena de posies.Do ponto de vista operacional, a responsabilidade diz respeito associao direta entre agente e ao, apontando-se o carter problemtico do feito, de modo que a questo aberta em uma responsabilizaorecaisobreosentidodaao.Aresponsabilidadee,portanto,acrtica pergunta ao agente que sentido ele d para uma ao a princpio sem sentido.

15 Grifos meus. 717 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 Essesentido,pensadocomoumaoperaomental,abstrata,assumeumaformalinguageira, expressiva, o motivo. Como mostra C. Wright Mills (1940), estamos falando, weberianamente, deumcomplexodesignificadosubjetivoquepareceaoprprioator ouaoobservadoruma sustentao adequada conduta em questo, sendo possvel, ento, fazer uma sociologia dos vocabulriosdemotivos,umtratamentosegundooqualsepossampensardiferentes lnguas, nas quais os motivos possam ser alocados, configurando uma tipologia de orientaes desentidoparaasaesquepodeserfacilmentepensadacomoumconjuntodeformasde falar a ao para que elas possam ser consideradas legtimas. Uma perspectiva compreensiva como essa permite pensar que uma crtica um procedimento segundooqualseapontaafaltadesentidodeumaao.Essafaltadesentidosebaseiana apostadeque,nadeterminadasituao,ocrticoimaginavaqueproduzirsentido corresponderiaaestardeacordocomdeterminadovocabulriodemotivos,ou,emoutras palavras, corresponderia a estar de acordo com uma moral. A crtica, ento, aponta para o criticado a responsabilidade de dar sentido situao, ou seja, para uma obrigao de oferecer uma resposta sobre a motivao do que fez. A etimologia do termoindicativaaquitambm:responsvelvemdofrancsresponsable,derivadodo verbolatinorespondre,afirmar,assegurar,responder.Ela,assim,estruturalmente,um jogo aberto, uma abertura negociao: se a ao parece incua, ela o porque no foi falada (ou seja, agida) na lngua de sustentao que se esperava que se usasse em determinado caso. Partimos, assim, do pressuposto de que os envolvidos reconhecem a existncia e a validade de umapluralidadedessesvocabulriosmoraiseumapossibilidadecomumdemobilizaode algunsdelesemuma mesmasituao,demodoqueaquestoaexpectativaem tornodas apresentaes de sustentaes cabveis para o que se fez, o que chama a ateno para que o horizontepotencialdacrticaapaz,jqueelaconvidanegociao.Trata-sedeum dispositivodeadministraodaconflitualidadetipicamentemoderno,umagestodas diferenasentreoshomenspormeiodeumespaodedisputasregradasemtornodos sentidosdasaes.Aresponsabilizaoumrecursododever,quelanasobreocriticado a lembrana de um compromisso: caso se queira pertencer a esse meio, a vida social, preciso se explicar, dar conta do que fez, e de forma expressiva legvel, compreensvel, para os outros. Aapostadacrtica,ento,quetodosns,diantedeumaadmoestaocomoela,somos lembrados de nossa responsabilidade com o mundo ao sermos responsabilizados pela falta de sentidodoqueaconteceuepeloprprioacontecimentoemsi:fomosnsqueocausamos, logo somos ns que devemos dar-lhe sentido. Poisbem,essaresponsabilizaopodetambmser(etalveznamaioriadasvezesseja) operacionalizadasegundoumprocedimentoparticular:umacrticapodesermobilizada adotando-secomopontodepartidaumapretensodeuniversalidadedoprincpiomoral,do vocabulriodemotivo,usadocomobasedaresponsabilidade.Ouseja,trata-sedeuma operaonaqualopluralismodegramticasmoraiscompreendidopelosatoresemgeral reduzidoaumaunidadelgicaporumareificaodeumadasgramticascomoabsoluta, indiscutvel, ideal. E justamente essa a operao mobilizada na acusao, o que mostra que ela ,na verdade,um caso particular, uma forma radicalizada, da crtica. Nesse caso, trata-se deconstruirumtomacusatorialparaaadmoestao:ali,pressupe-sequetantoocriticado (acusado)quantoaquelesnoentornoreconhecemcomolegtimoeindiscutveloprincpio 718 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 moralconsideradopelocrtico(acusador)comodesrespeitado.porcontadisso,porsua pretensoindiscutibilidade,queelaseroperacionalizad(ora/a)da/pelaculpa,ouseja,a demandapeloestabelecimentodeumnexoentreaaoesuanecessriapunio(eno apenassuaexplicao,comonaresponsabilidade).Evidentemente,oexemplo-limitea acusaodecrime:aleitemjustamenteessapretensodeuniversalidade.Dessamaneira,a crticafeitaaalgumquepraticouumatocriminalizadoestnohorizontedessa indiscutibilidade da negatividade moral do ato. E, diferentemente do caso geral da crtica, aqui noestamosdiantedeumpedidodeexplicaes.Aacusao,emvezdisso,procedeuma declarao de necessria punio. O centro da situao de acusao no a disputa em torno doselementosdeumacordo.,emvezdisso,alegitimidadeanecessidademesmoda punio.Asituaoqueresultaemumadesculpa,ento,segundoadefinioclssicade Austin, partedessapretenso acusatorial dequeseinvesteo ator ofendido. Ou seja,parte de um procedimento de reificao: aquela que busca ocultar o carter negocivel das disputas morais. Concluso:deumaperspectivacontensivaelimitadoraaumaperspectivaactanciale potencializadora Umltimopontoquegostariadeexplorarantesdeesboarumaconclusodizrespeito relaoentreamoralcomodimensodavidasocial,comodispositivoelamesmaecomo faculdade cognitiva. Tenho preferido falar emsociologia da moral, diferenciando o quadro de refernciadeduasoutrasdenominaes,maisoumenosrecorrentes,sociologiamorale sociologiadasmoralidades.Nosem motivo.Daprimeira,adiferenasefaz pelofatode a sociologiamoralteremgrandeparteseaproximadodeumavisomoralista,aproximadada filosofia, e prpria de correntes ditas crticas (o que em geral opera um prejuzo da anlise em favordaprescrio,dadennciaoudatransformaodomundo);daoutra,porqueotermo podesercompreendidocomdoissentidos:a)comoumsinnimodegramticamoralou vocabulrio de motivos, isto , de lgicas delimitadas e contextualmente discretas de moral (por exemplo, como quando se diz a moralidade dos policiais ou a moralidade local mudou pelocontatocomasmoralidadesdosvisitantes);eb)comofaculdadecognitivadefinidora das prticas morais dos atores (por exemplo, como quando se diz que os humanos possuem moralidade ou Fulano perdeu completamente a moralidade, um selvagem). Nesse ltimo sentido, a moralidade pode no ser o da sociologia da moral, mas notadamenteum de seus temas mais relevantes e basais.Ummodeloanalticoquesequerdamoralcomoesseprecisapartirdeumacapacidade cognitivabasal,acapacidademoral16(BOLTANSKIeTHVENOT,1991,p.42),ouseja,da aposta em uma faculdade cognitiva segundo a qual possvel afirmar que, se os atores podem criticar (capacidade crtica), eles precisam poder, antes disso, distinguir entre o que o bem eoquenoobem(paraeles):Umacapacidademoralestnocoraodaconstruode umaordem(...)entreaspessoas,quedevemsemostrarcapazesdeabstrairdesuas particularidades para se entender a respeito de seus bens exteriores cuja lista e a definio so

16Tenhofaladoaindaemumacapacidademetapragmtica,compondoatradecognitivadamoral.Essaterceira capacidade diz respeito a faculdade segundo a qual os atores conseguem perceber a distncia entre gramticas morais gerais e situaes especficas e, com isso, conseguem operarad hoc com as circunstncias experimentadas de forma situada. Para mais a respeito, ver Werneck (2012, pp. 267-316). 719 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 gerais.amoralidadeemsuadimensodeafirmaodeque,sendosociais,somos inevitavelmente morais. * A observao da maneira como a agncia pode ser mobilizada prtica e analiticamente no comoumadisposioincorporadapreviamentenospersonagensdavidasocialesimcomo aparato situado de efetivao de acordo com as condies localizadas permite ainda enxergar umaoutradimensodaquestodolivre-arbtrio:nofundo,quasetodateoriadaagncia estruturalumateoriadaagnciaindividualcontrolada.Asdescriesqueconferem estruturaaprimaziadecisriaprecisamemgeralpartirdeummapeamentodosmtodos utilizados pela e o trabalho que d para a estrutura a fim de controlar a primazia decisria dos atores individuais e/ou coletivos. Por essaleitura, a prioridadeestrutural acaba por ser umaresultantebem-sucedidadeumaoperaoscio-historicamentelocalizadade dominao.Da,umaformabastantetradicionaldedescreveramoralcomodispositivode conteno,ouseja,deformadelimitaraagnciaindividualemfavordamanuteno(eda actncia)docoletivo.Edaumavastatradiotrataramoralcomoaparatodecontenoe mesmo de controle narrativas, por exemplo, como as de Durkheim (1975; 1995; 2003), com sua moral como aparato de coeso social por meio da doma dos individualismos mais egostas eemfavordavidacomumcentradanasfunessociaisnadivisosocialdotrabalho;Elias (1994),com seu processo civilizador centrado justamentena conteno, no recalquemesmo; ou Foucault (1989), com suas sociedades disciplinares e seus dispositivos de internalizao da vigilncia do poder. Nessa tradio, a moral lida como um aparato a servio da estrutura e a aomoralrepresentadaporduasformasgerais,odevereoaltrusmo:serbom corresponderia a ser bem-sucedido em momentos em que seria exigido abrir mo de seu bem emfavordobemdo(s)outro(s)individual(altrusmo)oucoletivo(odever).Emambosos casos,deumaformadepotencializaodaagnciaestruturalafimdedomaraagncia pessoal que estamos falando e, segundo esse raciocnio, a moral seria entendida como aparato de redirecionamento da energia social. Masseadotamosobemcomoprincpiobsicoeseudirecionamentocomo varivelanaltica determinantedaefetivao,chegamosaummodelo(WERNECK,2012,pp.267-316)que contemplaumpluralismodedirecionamentosdessebemmaiscomplexoqueaquela dicotomiacontemplandobemdesi,bemdooutro,bemcomumebemdetodos,almda prpriarotinasemquestionamento,quechamodetudobem.Amoralsurgeanocomo dispositivodeconteno,mas,muitopelocontrrio,comodispositivodepotencializaoda agncia,umavezqueelaseoferecenocomoalnguadequemimpededefazeralgoesim comoalnguadasestratgiassegundoasquaissepodefazeralgo.Adesculpapareceriaser umaprovaexclusivadisso,jquepormeiodelaosatorespodemdizerquenoforameles que,emprimeirainstncia,decidirampelocursodeaotomado,oqueresultouemuma situaocujasdiferenasdegrandezanosoefetivveis,provandoque,emborapassemos nossas vidas tentando negar que nos controlem e reivindicando o direito de deciso, podemos muitobem,emummomentoemqueissosejaconveniente(THVENOT,1990),aceitarum lapso momentneo em que a estrutura quem manda e dizer que no se responsvel pelo que fez. Alm disso, como a forma formal da circunstncia, ela se mostra como um recurso para permitir acessar uma gama muito maior aes que poderiam ser acessadas se se seguisse 720 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 estritamente o regramento das utopias morais (WERNECK, no prelo). Mas eis que a justificao fazomesmo:aoseafirmarquesetinhacontrole,est-seprovandoumacapacidadede mobilizar princpios abstratos, metafsicas morais, de forma competente, conveniente, efetiva, o que igualmente comprova a dimenso dispositiva dessa agncia individual, uma vez que ela seracessadacomoagnciadeescolhaeoperacionalizaodecontedosestabelecidose, em certa medida, estruturados.17

Se,ento,fazerobemolharaquemjqueodirecionamentodesseprincpiooque determinaa efetividade,asociologiadamoral ea sociologiadaagncia(considerandoque as retomemos a distino entre elas, mas mesmo que unidas) ajudam a compreender um dado centralparaacompreensodavidasocial:aatuaoativa,competente,sejaelamobilizada por meio da reivindicao da agncia de si seja pela da estrutura, d trabalho. Como lembram Callon e Latour (1981, pp. 202-283), o ator precisa constantemente determinar quem quem, quem superior e quem inferior, quem lidera o grupo e quem seguidor e quem precisa se afastarparaqueelepasse.Etudodequedispeparaajuda-losoconjuntosdifusoscuja lgica moldada para avaliar centenas de elementos. A rigor, eles esto falando de babunos. Mas, como de hbito no trabalho de Latour, no escapamos de um efeito dramtico. Mas, na frase anterior, eles dizem que as sociedades desses primatas, em determinada descrio, lhes impeumavidanomenosdifcilqueanossavidacomoreveladapelostrabalhos etnometodolgicos, no que se segue essa descrio, moldada ao modelo de Garfinkel. Preferi essaapresentaoentretantasoutrasdalinhagemtericasobreaqualnosdebruamos porque esta sublinha justamente o carter trabalhoso da agncia competente dos atores. Poisofatodesermoscapazesdemobilizartantonossaagnciaquantoadeumentemuito maior que ns18 informa que a actncia um recurso ele prprio construdo ou pelo menos direcionadosituacionalmente.Pensados,ento,comodispositivos,etomadosemum sistemadevalorao19,essesdoispolossocomponentesdamaneiracomo,pormeioda

17Comisso,absolutamentenopretendocorroboraratesedeGiddens(1984)deumaestruturaomutuaentre agenteeestruturaouadeArcher(2001;2003)deumaconversaointernatambmemumamutuadeterminao entreessesdoispolosnemasnegar;noestaaquestoaqui.Estouapenasdizendoqueasmetafsicasmorais recorrentementemobilizadaspelosatores,podendoserentendidasmesmocomorepresentaes,seapresentamna vidasocialcomoformasconsolidadas,comoaparatosformaise,porissomesmo,dotadosde(previsvele) considervelactncia.Ela,entretanto,evidentementenooriundadeumaenergiaprpria,esimdamemriados prpriosatoresedaprpriahistria,queastornoureconhecidaserecorrentes.Paramaissobreessahistria,ver Boltanski e sua discusso sobre utopias (1990b, 150-151).18 Essa afirmao evidentemente parece partir da aceitao de uma diferena dimensional entre os atores micro e os macro, justamente aquela problematizada por Callon e Latour (1981) em sua teoria dos atores-rede, que respeito em suaproblematizaojustamentedoestatutodimensionaldosagentes(emespecialodoempoderamentodosatores macro). Mas o ponto de partida aqui o fato de que, independentemente da veracidade dessa partio dimensional e mesmo de seu processo de construo, os atores sociais tomam essas duas dimenses como representaes nas quais depositam sua crena e sua oposio como um verdadeiro dado problemtico da vida (Chateauraynaud, 2011) com o qual eles se confrontam (gerando toda uma gramtica de confrontao), da a construo da prpria oposio ser um elemento extremamente relevante e que deve ser levado em considerao. 19 Do ponto de vista lgico, toda comparao valorativa pode ser convertida em uma dicotomia moral. Uma valorao umaoperaosegundoaqualatribumosumaquantidade(um...valor)deumadeterminadasubstncia, constituinte do valor em questo. Essa quantidade, entretanto, relativa: existe na comparao com outra quantidade. Assim,porexemplo,pode-sefalardemaisoumenoscoragem,maisoumenosautocontrole,maisoumenos sensibilidade, mais ou menos de qualquer valor. Uma operao de julgamento moral, por sua vez, poder facilmente tomaropontosuperiornaescaladovaloreochamardepositivoousimplesmentedebom.Umavezqueo relevantenacomparaoadiferenaenoosvaloresabsolutos,termenos,nessacomparao, independentemente de quanto se tenha, significar ter nada, o que levar esse polo a ser o mau na comparao em outras palavras, por exemplo, em uma avaliao cuja competncia a justia, o mais justo ser o correto e o menos 721 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 administrao moralmentelgicaereflexiva,nosentidodeasconsequnciasdassituaes quedependemdossentidos,masindicamaposterioriaintenodosatores(ANSCOMBE, 2000) , colocamos a vida social em atividade, fazemos a vida social. Afinal, so eles quem nos permitem fazer o bem. Referncias ABEND,Gabriel.WhatsNewandWhatsOldabouttheNewSociologyofMorality.In: HITLIN,Steven[e]VAISEY,Stephen(orgs).HandbookoftheSociologyofMorality.Nova York, Springer, pp. 561-582. ANSCOMBE, Gertrude M. (2000), Intention. Cambridge, Harvard University Press. ARCHER,MargaretS.(2001),BeingHuman:TheProblemofAgency.Cambridge(RU), Cambridge University Press. ________.(2003),Structure,AgencyandtheInternalConversation.Cambridge(RU), Cambridge University Press. AUSTIN,JohnL.(1979[1956-1957]),APleaforExcuses.In:PhilosophicalPapers. Londres, Oxford University Press. BECKER,HowardS.(2008[1963]),Outsiders:Estudosdesociologiadodesvio.Riode Janeiro, Jorge Zahar. BENOIT, William L. (1995), Accounts, Excuses, and Apologies: A Theory of Image Restoration Strategies. Nova York, State University of New York Press. BOLTANSKI,Luc.(1990a),Sociologiecritiqueet sociologiedelacritique.Politix,v.3,n. 10-11, pp. 124-134. ________.(1990b),Lamouretlajusticecommecomptences:Troisessaisdesociologiede laction. Paris: Mtaili. ________.(2004),Laconditionftale:Unesociologiedelengendrementetdelavortement. Paris: Gallimard. ________. (2009), De la critique: Prcis de sociologie de lmancipation. Paris: Gallimard. ________[e]THVENOT,Laurent.(1983),FindingOnesWayinSocialSpace:AStudy Based on Games. Social Science Information, v. 22, n. 4-5, pp. 631-679. ________ [e] THVENOT, Laurent. (1987), Les conomies de la grandeur. Cahiers du Centre dtudes de lEmploi, 31. Paris: PUF. ________ [e] THVENOT, Laurent. (1991), De la justification: Les conomies de la grandeur. Paris: Gallimard. ________[e]THVENOT,Laurent.(1999),TheSociologyofCriticalCapacity.European Journal of Social Theory, Vol. 2, n. 3, pp. 359-377. BREVIGLIERI, Marc; LAFAYE, Claudette [e] TROM, Danny. (2009), Comptences critiques et sens de la justice: Colloque de Cerisy. Paris: Economica. BRUBAKER,Rogers.(1984),TheLimitsofRationality:AnEssayontheSocialandMoral Thought of Max Weber. Londres/Nova York, Routledge.

sensvel, o incorreto. Isso indica que a distribuio do bem ela prpria uma operao de modulao construtiva da actncia. 722 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 CALLON, Michel [e] LATOUR, Bruno. (1981), Unscrewing theBig Leviathan: How Actors Macro-StructureRealityandHowSociologistsHelpThemtoDoso.In:KNORR-CETINA, Karin[e]CICOUREL,AaronV.(orgs).TowardanIntegrationofMicro-andMacro- Sociologies. Boston e Londres, Routledge/Keegan Paul. CARDOSODEOLIVEIRA,LuisRoberto.(2002),Direitolegaleinsultomoral:Dilemasda cidadania no Brasil, Quebec e EUA. Rio de Janeiro : NuAP/Relume Dumar. CEFA, Daniel. (2007) Pourquoi se mobilise-t-on? Les thories de laction collective. Paris: La Decouverte. CHATEAURAYNAUD, Francis. (1991), La faute professionelle: Une sociologie des conflits de responsabilit. Paris: Mtaili. ________.(2011),Argumenterdansunchampdeforces:Essaidebalistiquesociologique. Paris: Ptra. CICOUREL,AaronV.MethodandMeasurementinSociology.NovaYork:TheFreePress, 1964. COLLINS,Randall.Micro-translationasaTheory-buildingStrategy.In:KNORR-CETINA, Karin [e] CICOUREL, Aaron (orgs). Advances in Social Theory and Methodology: Towards an IntegrationofMicroandMacro-Sociologies.Londres:Routledge/KeganPaul,1981a,pp.81-108. ________. On the Micro-Foundations of Macro-Sociology. American Journal of Sociology, n. 86, 1981b, pp. 984-1014. DECERTEAU,Michel.(2000),Ainvenodocotidiano,Vol.1:Artesdefazer.Petrpolis: Vozes. ________. (1994), A inveno do cotidiano, Vol. 2: Morar, cozinhar. Petrpolis: Vozes.DURKHEIM, mille. (1975), Textes 1: Elments dune thorie sociale. Paris: Minuit. ________. (1995), Da diviso do trabalho social. So Paulo: Martins Fontes. ________. (2003), tica e sociologia da moral. So Paulo: Landy. ELIAS, Norbert. (1994), O processo civilizador, Vol. 1. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. FOUCAULT, Michel. (1989), Vigiar e punir. Petrpolis: Vozes.________. (1994), Dits et cris 1954-1988, Tome III: 1976-1979. Paris: Gallimard.GARFINKEL, Harold. (1963), A Conception of, and Experiments with Trust as a Condition ofStableConcertedActions.In:HARVEY,O.J.MotivationandSocialInteraction.Nova York: Ronald Press, pp. 187-238. ________. (1967), Studies in Ethnometodology. Englewood Cliffs: The Free Press. GIDDENS, Anthony. (1984). A constituio da sociedade. So Paulo: Martins Fontes. GOFFMAN. Erving. (1963), Stigma: Notes on the Management of Spoiled Identity. Nova York: Prentice Hall. GRAVES, Robert [e] PATAI, Rapahel. (1963), Hebrew Myths: The Book of Genesis. Londres: Cassel. 723 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 HERITAGE,JohnC.(2011),Etnometodologia.In:GIDDENS,Anthony[e]TURNER, Jonathan. Teoria social hoje. So Paulo: Unesp. HONOR, Tony. (1999), Responsibility and Fault. Portland (EUA): Hart. JAMES,William.(1992),WilliamJames:Writings1878-1899:Psychology,BrieferCourse; The Will to Believe; Talks to Teachers and Students; Essays. Nova York: Library of America. ________. (1988), William James: Writings 1902-1910: The Varieties of Religious Experience; Pragmatism;APluralisticUniverse;TheMeaningofTruth;SomeProblemsofPhilosophy; Essays. Nova York: Library of America. JOAS, Hans. (1996), The Creativity of Action. Chicago: The University of Chicago Press. JOSEPH, Isaac. (1984), Le passant considrable. Paris: Librairie des Mridiens. ________. (2000), Erving Goffman e a microssociologia. Rio de Janeiro: Editora FGV. KNORR-CETINA,Karin.(1981),TheMicro-SociologicalChangeoftheMacro-Sociology: TowardsaReconstructionofSocialTheoryandMethodology.In:KNORR-CETINA,Karin [e] Cicourel, Aaron V. (orgs). Toward an Integration of Micro- and Macro- Sociologies. Boston e Londres: Routledge/Keegan Paul. LATOUR, Bruno. (1985), Pasteur, guerre contre les microobes. Paris: Nathan.________.(1997[1987]),Cinciaemao:Comoseguircientistaseengenheirossociedade afora. So Paulo: Unesp. ________[e]WOOLGAR,Steve.(1979),LaboratoryLife:TheSocialConstructionof Scientific Facts. Nova York: Saze. MEAD, George Herbert. (1934), Mind, Self, and Society. Chicago: University of Chicago Press. MISSE,Michel.(1999),Malandros,marginaisevagabundos:Aacumulaosocialda violncia no Rio de Janeiro. Tese (doutorado em sociologia), Rio de Janeiro: Iuperj. PEETERS, Hugues [e] CHARLIER, Philippe. (1999), Contributions une thorie du disposif. Herms, n. 25. PEIRCE,CharlesS.(1992),TheEssentialPeirce,Vol.1:SelectedPhilosophicalWritings (1867-1893). Bloomington (EUA): Indiana University Press. ________. (1998),TheEssentialPeirce,Vol.2:SelectedPhilosophicalWritings(1893-1913). Bloomington (EUA): Indiana University Press. SCHTZ, Alfred. (1943), The Problem of Rationality in the Social World. Economica, v. 10, n. 38, pp. 130-149. SCOTT, Marvin B. [e] LYMAN, Stanford M. (2008 [1968]), Accounts.Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 1, n. 2, pp. 139-172. SIMMEL,Georg.(2009[1908]),Sociology:InquiriesintotheConstructionofSocialForms. Leiden (Holanda)/Boston, Brill.THVENOT,Laurent.(1986),Lesinvestissementdeforme.In:Conventionsconomiques:Cahiers du Centre dtude de lEmploi, 29. Paris: PUF. ________. (1990), Laction qui convient. Les formes de laction, pp. 39-69. 724 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 ________. (1994), Le regime de familiarit: Des choses en personnes. Genses, n. 17, pp. 72-101. ________.(2006),Lactionaupluriel:Sociologiedesrgimesdengagement.Paris:La Decouverte. THOMAS,WilliamI.[e]THOMAS,DorothySwaine.(1938[1928]),TheChildInAmerica: Behavior Problems And Programs. Nova York : A. A. Knopf. THUDEROZ,Christian.(2010),Qu'est-cequengocier?Sociologieducompromisetde laction reciproque. Rennes : PU Rennes ________ [e] BOURQUE, Reynald. (2002), Sociologie de la ngociation. Paris: La Dcouverte. WEBER, Max. (1946), From Max Weber: Essays in Sociology. Nova York: Oxford University Press ________. (1994 [1910]), Economia e sociedade, v. 1. Braslia: Editora UnB. ________. (1999 [1921]), Economia e sociedade, v. 2. Braslia: Editora UnB. ________.(2001[1904]),Aobjetividadedoconhecimentonacinciasocialenacincia poltica. In: Metodologia das cincias sociais. So Paulo: Cortez. WERNECK, Alexandre. (2012), A desculpa: As circunstncias e a moral das relaes sociais. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira. ________.(2013),Rotulao,teoriada(Labelingtheory/teoriadoetiquetamento) (verbete).In:RATTON,JosLuiz;LIMA,RenatoSrgiode[e]AZEVEDO,Rodrigo Ghiringhelli de (orgs), Crime, polcia e Justia no Brasil. So Paulo: Contexto/FBSP. ________. (No prelo), A fora das circunstncias: Sobre a metapragmtica das situaes. In: VANDENBERGHE,Frederic[e]VRAN,Jean-Franois(orgs).Ateoriasocialps-bourdieusiana. Porto Alegre, Editora da UFRGS. WRIGHTMILLS,Charles.(1940),SituatedActionsandVocabularies ofMotive.American Sociological Review, v. 5, n. 6, pp. 904-913. ________.(1966),SociologyandPragmatism:TheHigherLearninginAmerica.NovaYork: Galaxy. * Abstract:Theaimofthispaperistoanalyzetheroleofagencypragmatically describedasactancyinthesociologyofmorals.Althoughinterpretivetheories aboutmoralityfocusonthedecision-makingcapacityoftheactorstowardstheir own actions as a basic anthropological feature another dimension of moral capacity proves especially relevant: the use of agents agency and structures agency rather as devicesthanasdispositions.Andsinceitisdevices,itcanbedeployed,asthe situatedgrammarsofsociallifeproveitisnecessaryandconvenient.Inthis framework, two classic devices of social accountability, justification and excuse, can beunderstoodnotonlyaslinguisticaldevicesbutalsoasindexesofeachofthose agencies, conveniently operable, be the situation proper to universality (justification, focused on individual agency) or to circumstance (excuse, focused on the agency of 725 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013 anagentotherthantheindividual).Thisshiftstheclassicaldichotomyagent-structureintoapairofmoraldevicesforeffectuationbasedonthesituatedshiftof thecenterof decision-making about theactions/situations.Keywords: sociology of morals, agency, accounts, effectuation 726 RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 36, Dez. 2013