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VOZ, TRAUMA, MEMÓRIA E REPRESENTAÇÃO NAS MARGENS DA EXPERIÊNCIA LOBOANTUNIANA, OLIVEIRA,
ROMILTON BATISTA DE, MATOS, EDILENE DIAS
Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de
dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4
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VOZ, TRAUMA, MEMÓRIA E REPRESENTAÇÃO NAS MARGENS DA
EXPERIÊNCIA LOBOANTUNIANA
OLIVEIRA, ROMILTON BATISTA DE
Estudante do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia –
UFBA [email protected]
MATOS, EDILENE DIAS
Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia –
UFBA [email protected]
RESUMO Este artigo pretende ser interdisciplinar, uma vez que se propõe dialogar com vários autores de diferentes
áreas do conhecimento, abrangendo desde contribuições de filósofos, sociólogos, historiadores e
psicólogos bem como contribuições de críticos literários, romancistas e linguistas. Trata-se, enfim, de uma pesquisa literária que compreende como o trauma faz parte da literatura loboantuniana, por meio de
seus três primeiros romances publicados entre 1979 a 1980: Memória de elefante, Os cus de Judas e
Conhecimento do inferno. Seus romances, em geral, são interpelados por um contexto histórico e social oriundo de uma voz mnemônica luso-africana. Assim, por meio da experiência obtida pelo romancista na
guerra colonial em Angola, entende-se a importância de seu testemunho como uma relevante voz
representativa que ressignifica o passado por meio de um presente historicamente situado, contribuindo,
desta forma, tanto para a literatura como para a História.
Palavras-chave: Literatura. Trauma. Representação.
ABSTRACT This article aims to be interdisciplinary, since it proposes dialogue with various authors from different
fields of knowledge, ranging from contributions from philosophers, sociologists, historians and psychologists as well as literary critics contributions, novelists and linguists. It is, in short, a literary
research that understands how trauma is part of loboantuniana literature through his first three novels
published between 1979 and1980: Elephant Memory, The cus Judas and Knowledge hell. His novels generally are challenged by a historical and social context comes from a Luso-African mnemonic voice.
Thus, through the experience gained by the novelist in the colonial war in Angola, we understand the
importance of his testimony as a relevant representative voice that reframes the past through a present
historically situated, thereby contributing both to literature and to History.
Key-words: Literature. Trauma. Representation.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa pretende ser interdisciplinar, uma vez que se propõe dialogar com vários
autores de diferentes áreas do conhecimento, abrangendo desde contribuições de filósofos,
sociólogos, historiadores e psicólogos bem como contribuições de críticos literários, romancistas
e linguistas. Trata-se, enfim, de uma pesquisa literária que compreende como o trauma faz parte
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da literatura loboantuniana. Seus romances, em geral, são interpelados por um contexto africano
de guerra, intercalada por uma voz mnemônica que parte de um lugar – Portugal –, de uma voz
portuguesa que adentra o espaço africano, proporcionando aos leitores uma consistente análise,
entre tantas outras leituras luso-angolanas que narraram este traumático acontecimento. Assim,
por meio da experiência obtida pelo romancista na guerra colonial em Angola, entende-se a
importância de seu testemunho como uma relevante voz representativa que ressignifica o
passado por meio de um presente historicamente situado, contribuindo, desta forma, tanto para a
literatura como para a História.
Achamos necessário mencionar nesta parte introdutória a trajetória acadêmica de António
Lobo Antunes. O romancista é considerado um dos mais instigantes escritores portugueses do
século XX e XXI. Nascido em Lisboa, em 1942, licenciou-se em Medicina e especializou-se em
Psiquiatria, surgindo daí sua tendência em analisar, sob o prisma da psicologia, a criação
artística, levando-o a escrever romances como Os Cus de Judas. Após sua participação na guerra
de Ultramar, exerceu a profissão de médico, em Lisboa, no Hospital Miguel Bombarda, até o ano
de 1985. Como romancista, vem publicando desde 1979. Seus três primeiros livros - Memórias
de Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979) e Conhecimento do Inferno (1980) constituem sua
trilogia autobiográfica. Em 1979 publicou os primeiros livros, “Memória de Elefante” e “Os Cus
de Judas”, que obtiveram excelente êxito e boa receptividade da critica, seguindo-se, em 1980,
do romance “Conhecimento do Inferno”. Esses romances, entre tantos outros, transformaram-no
num dos autores contemporâneos mais lidos e traduzidos, no âmbito nacional e internacional.
Os romances que fazem parte do corpus desta pesquisa direcionam-se historicamente à
Guerra Colonial e ao seu término, bem como o inevitável fim de um mundo burguês, marcado
por valores tradicionais. Os anti-heróis dos seus romances são pessoas que exercem profissões
liberais, oriundas de “boas famílias”, refletindo a própria disfuncionalidade familiar do autor. E
nesse sentido Os Cus de Judas constitui um bom exemplo, além de vários outros romances
escritos por ele, em que os personagens/narradores cruzam suas vozes nesses dois espaços:
Portugal e Angola.
O objetivo deste artigo que tem como tema Uma voz portuguesa como testemunha da
guerra colonial em Angola: experiência, trauma e representação é analisar três conceitos
importantes entre si (experiência, trauma e representação), que estão relacionados à descrição do
testemunho do escritor português António Lobo Antunes, por meio de seus três primeiros
romances publicados nos anos de 1979 e 1980, mencionados anteriormente, marcando a vida
deste escritor para sempre. Assim, percebemos que Lobo Antunes enquanto autor, “é aquele que
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dá à inquietude linguagem da ficção suas unidades, seus nós de coerência, sua inserção no real”
(FOUCAULT, 2008, p. 28). Ele consegue entrar na ordem do discurso, penetrando fundo no
interior de uma fragmentada subjetividade que advém de sua experiência, confirmando as
palavras de Foucault ao afirmar que
ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfazer a certas exigências ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo”. Mais precisamente: nem todas as
regiões do discurso são igualmente abertas e penetráveis; algumas são altamente
proibidas (diferenciadas e diferenciantes), enquanto outras parecem quase abertas a todos os ventos e postas, sem restrição prévia, à disposição de cada
sujeito que fala (Idem, p. 37).
Lobo Antunes expõe, por meio de uma referencial linguagem as imagens do horror
bélico, fazendo uso da representação de acordo com a sua forma de ver, sentir e escrever sobre o
que os seus olhos presenciaram na guerra, intermediada por uma memória construída
traumáticamente.
Desta forma, podemos dizer que o principal conceito norteador deste trabalho é o trauma,
fenômeno que se inscreve no corpo, em forma de “ferida”. Para o alcance de nossos objetivos
selecionamos autores de vários campos do conhecimento que dialogam com os estudos literários,
desde Henri Bergson e Maurice Halbwachs a Walter Benjamin, Beatriz Sarlo e Seligmann-Silva,
com o intuito de realizar um consistente diálogo acerca do trauma presente nos romances.
1. REPRESENTAÇÃO E MEMÓRIA
A representação comanda os acontecimentos que envolvem a vida dos homens, seus
discursos e sentimentos. O homem é norteado por este potente contínuo instrumento que
acompanha e define as coisas ao seu redor. Ainda não encontramos, por definitivo, algo que
possa substituí-la. Encontramos, sim, várias críticas feitas a esta categoria complexa por
natureza. Autores como Nietzsche, Gillis Deleuze, entre outros críticos da representação, fazem
análises profundas que nos são necessárias para entender melhor este campo minado de forças
ideológicas e discursivas. Vale, nesse sentido, citarmos o pensamento de Deleuze:
Toma-se como aurora da nossa cultura moderna a trindade: Nietzsche, Freud e
Marx. [...] Marx e Freud talvez seja a aurora da nossa cultura, mas Nietzsche é
claramente outra coisa, ele é a aurora de uma contracultura. [...] É isto que realmente constitui, no horizonte da nossa cultura, o marxismo e a psicanálise,
como as duas burocracias fundamentais, uma pública, outra privada, cuja meta é
operar bem ou mal uma recodificação daquilo que não pára de descodificar no horizonte da nossa cultura. O caso de Nietzsche, ao contrário, não é
absolutamente esse. Seu problema está em outro lugar. Através de todos os
códigos, do passado, do presente, do futuro, trata-se para ele de fazer passar
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algo que não se deixa e não se deixará codificar. Fazê-lo passar num novo corpo, inventar um corpo no qual isso possa passar e fluir: um corpo que seria o
nosso, o da terra, o do escrito... (DELEUZE, 2008, p. 320).
A linguagem é o fio condutor desse processo. É o desnudamento do trauma, o principal
foco de nossa investigação dos três primeiros romances produzidos pelo escritor português
António Lobo Antunes – Memória de elefante (1979), Os cus de Judas (1979) e Conhecimento
do inferno (1980) –, e que constituem sua trilogia autobiográfico-memorialística, oriundas de sua
experiência na guerra colonial em Angola.
O conceito de representação individual e coletiva concebida pelo sociólogo Émille
Durkheim é o ponto de partida para o diálogo com outros teóricos como Maurice Halbwachs e
Foucault, entre outros. Para o clássico sociólogo, as representações “que são a trama dessa vida
originam-se das relações que se estabelecem entre os indivíduos assim combinados ou entre os
grupos secundários que se intercalam entre o indivíduo e a sociedade total” (1970, p. 38). Afirma
ainda Durkheim que “nossos julgamentos são a cada instante mutilados e deformados por
julgamentos inconscientes; apenas vemos aquilo que nossos preconceitos permitem e ignoramos
tais preconceitos” (Idem, p. 35). Quanto à compreensão desse conceito tão complexo que é a
representação, o autor dá a seguinte explicação:
A vida coletiva, como a vida do indivíduo, é feita de representações; é pois
presumível que representações individuais e representações sociais sejam, de
certa forma, comparáveis. [...] Uma representação não se produz sem agir sobre o corpo e o espírito. [...] Qualquer representação, no momento em que se
produz, afeta, além dos órgãos, o próprio espírito, isto é, as representações
presentes e passadas que o constituem, desde que se admita, como nós, que as
representações passadas subsistem conosco. [...] O que se passa em cada um de nós é uma soma eneorme de fenômenos que são psíquicos sem que sejam
apreendidos. Dizemos que são psíquicos porque se traduzem externamente
pelos indícios característicos da atividade mental, isto é, pelas hesitações, pela indecisão, pela adaptação dos movimentos a um determinado fim (Ibidem, p.
16, 30, 31, 34)
Além da importante contribuição dada por Michel Foucault quanto à presença do poder
na formação ideológica discursiva e de Stuart Hall no tocante à posição deslocada e descentrada
dos sujeitos na modernidade tardia, apresentamos também, nesta pesquisa, oriunda da tese em
construção do Doutorado em Cultura e Sociedade, na Universidade Federal da Bahia – UFBA, a
representação da memória e sua articulação com a linguagem, citando entre outros teóricos, o
filósofo e linguista Mikhail Bakhtin, que, através do conceito de “dialogismo”, autoriza-nos a
usar termos como “vozes” em nosso trabalho. Faremos uso também de autores que alicerçam
nossas inquietações como João Carlos Tedesco, autor do importante livro Nas cercanias da
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memória: temporalidade, experiência e narração (2004), em que ele traz relevantes informações
na relação da memória com outros conceitos que com ela se integram, mostrando que a memória
nos ajuda a identificar formas de pensar no decorrer do tempo, produzindo sujeitos históricos,
revigorando e ressignificando símbolos e reconstruindo a vida pelo veio da narração e da
experiência.
Outra importante contribuição vem do livro de Maurice Halbwachs, Memória coletiva
(2006), em que o autor analisa a memória num contexto social e historicamente situado,
centralizando-se mais no espaço do que no próprio tempo. Fortemente influenciado por Émille
Durkheim, elabora dois relevantes conceitos: o de memória individual e o de memória coletiva,
direcionando seus estudos para a memória coletiva, afirmando em outras palavras que a memória
individual está circunscrita à coletiva, num contexto social e historicamente situado.
No que diz respeito ao conceito de memória, damos ênfase a dois autores: Henri Bergson
que se preocupa com o “dentro” da memória e Maurice Halbwachs que se volta para o “fora” da
memória. Cada um, a partir de suas abordagens em torno da teoria da memória, possui
importância decisiva nesta pesquisa, pois toda memória se ancora nessas duas dimensões
temporais e espaciais: o exterior e o interior. “A memória é o recurso máximo de conformação
da escritura, é o princípio mobilizador do ofício da representação” (PINTO, 1998, p. 22).
Enfim, esses e outros autores são citados aqui para tornar viável um diálogo
interdisciplinar, capaz de direcionar nosso foco em torno da memória traumática que se faz
presente no testemunho do sobrevivente do trauma de guerra: Lobo Antunes. Nesse sentido, a
voz literária loboantuniana é necessária para compreender melhor os conflitos existentes entre
Portugal e Angola, contextualizados por dois segmentos históricos que foram sendo desfeitos e
desconstruídos através desses sistemas de poder – o colonialismo e o descolonialismo –, que
culminaram em guerras ocorridas em várias colônias portuguesas, que não aceitavam mais ser
escravizadas e comandadas por um regime ditatorial ideologicamente construído e dominado por
um sistema de pensamento imperialista, centralizador, absolutista, homogêneo e hegemônico.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A literatura, diante do que propomos, fundamenta-se em dois aspectos importantes no
contexto de sua materialidade: “a de lutar contra o esquecimento e contra o recalque, isto é, lutar
contra a repetição da catástrofe por meio da rememoração do acontecido” (SELIGMANN-
SILVA, 2000, p. 352). Assim, conforme Seligmann-Silva: “a arte, nesse sentido, pode ser
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considerada uma forma de resistência e compreende uma dimensão ética, enquanto manifestação
de indignação radical diante do horror” (2000, p. 352).
Este artigo é metodologicamente bibliográfico, dialógico e interdisciplinar. Autores como
Bakhtin (1995), Stuart Hall (2006), Aleida Assmann (2011), Jeanne Marie Gagnebin (2006),
Beatriz Sarlo (2007), Márcio Seligmann-Silva (2000, 2003), Walter Benjamin (1994), entre
outros, são de suma importância na construção de um consistente diálogo com o passado,
construído sobre os pilares da memória traumática. A literatura de traço testemunhal é um forte
aliado na representação da voz daqueles que conseguem romper com os lacres da indizibilidade e
irrepresentabilidade discursiva. Esta pesquisa prisma por este caminho e contribui nesta direção,
sendo mais um trabalho que caminha pelas teias da complexa dimensão humana.
Quanto ao trauma, Aleida Assmann, Walter Benjamin, Jeane-Marie Gagnebin têm em
comum o pensamento de que ele (o trauma) é irrepresentável e que sua inscrição se dá por meio
do corpo. Utilizamos autores que dialogam com a memória individual e coletiva. Henri Bergson
(2010) e Maurice Halbwachs (2006) dão relevantes contribuições acerca da memória e de sua
relação com o tempo e o espaço, com o exterior e o interior, o social e o psicológico. “Sem
memória, seríamos incapazes de ver, de escutar ou de pensar; não teríamos uma linguagem, e de
fato, nem mesmo um sentido de nossa identidade de pessoas” (TEDESCO, 2004).
Os estudiosos citados aqui neste artigo têm em comum a ideia de que o passado só pode
ser estudado por meio do presente. É o presente o ponto de partida para se chegar ao passado, ao
evento traumático, enfim, ao trauma. Em seu livro Matéria e Memória: ensaio sobre a relação
do corpo com o espírito, Bergson afirma: “Se a matéria não se lembra do passado, é porque ela o
repete sem cessar, porque, submetida à necessidade, ela desenvolve uma série de momentos em
que cada um equivale ao precedente e pode deduzir-se dele: assim, seu passado é
verdadeiramente dado em seu presente” (2010, p. 262).
Analisar o trauma descrito pelos personagens/narradores dos romances de Lobo Antunes,
é entender que quem está por trás desses personagens é a própria voz de Lobo Antunes, que não
se sente vítima nem opressor da guerra, mas sente-se como sobrevivente que usa a literatura para
dá o seu testemunho, fazendo uso de uma linguagem fragmentada, complexa e longe dos padrões
estabelecidos pelo cânone literário. Sua linguagem é tecida por signos despojados de qualquer
presença de força de opressão. Ele escreve com a “voz grosseira” que ele ouve de seu mundo
interior, traumática por natureza, buscando por uma representação esteticamente assumida por
ele e interagida por tantos leitores que tentam compreendê-lo, por meio de sua conflituosa
escrita.
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Por que a experiência antecede o trauma, o corpo, a voz e a representação? Acreditamos
que é por meio da experiência que os sujeitos adquirem representações e necessárias condições
para falar, de seu respectivo lugar, sobre o que lhes aconteceu. Assim, sem experiência não há
narrativa, nem tampouco representações, testemunhos, memórias. Segundo Beatriz Sarlo:
A narração da experiência está unida ao corpo e à voz, a uma presença real do sujeito na cena do passado. Não há testemunho sem experiência, mas tampouco
há experiência sem narração: a linguagem liberta o aspecto mudo da
experiência, redime-a de seu imediatismo ou de seu esquecimento e a transforma no comunicável, isto é, no comum. A representação inscreve a
experiência numa temporalidade que não é a de seu acontecer (ameaçado desde
seu próprio começo pela passagem do tempo e pelo irrepetível), mas a de sua
lembrança. (2007, p. 24-25).
A autora traz à tona, com exatidão e clareza, o que esta pesquisa acredita, como já
mencionamos anteriormente. No entanto, Benjamin em seu livro Magia e técnica, arte e
política: ensaios sobre literatura e história da cultura, especificamente em seus capítulos
“Experiência e pobreza” e “O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, afirma
que “com a guerra mundial tornou-se manifesto um processo que continua até hoje. No final da
guerra, observou-se que os combatentes voltavam mudos do campo de batalha não mais ricos, e
sim mais pobres em experiência comunicável” (1994, p. 198). Beatriz Sarlo discorda em parte
deste pensamento benjaminiano acreditando que a experiência enriquece os sobreviventes. “O
sujeito não só tem experiências como pode comunicá-las, construir seu sentido e, ao fazê-lo,
afirmar-se como sujeito” (SARLO, 2007, p. 39). Claro que, após vivenciar os horrores da guerra,
o sujeito volta da guerra com outros discursos em relação à vida e, mais tarde, após um período
de silenciamento, o sobrevivente comenta sobre o que ele experienciou, escolhendo, via
literatura de ficção ou literatura de testemunho, expor sua voz, seu testemunho acerca do terror
visto por seus frágeis olhos. A fragilidade do olhar se potencializa pela vontade de poder dizer ao
outro, para manter-se vivo e participante da sociedade, dando contribuições que acabam
modificando a própria história oficial que comanda o espaço da realidade que nos chega.
O autor/sobrevivente/personagem/narrador jamais conseguiria escrever o que os seus
olhos presenciaram senão por meio do imaginário, expresso através da linguagem. Sem este
importante recurso que subjetiva a voz humana, não seria possível falar de traumas oriundos das
grandes catástrofes que assolaram a vida humana durante todo o século XX.
A condição dialógica é estabelecida por uma imaginação que, abandonando o
próprio território, explora posições desconhecidas em que é possível surgir um sentido de experiências desordenadas, contraditórias e, em especial, resistentes a
se render à ideia simples demais de que elas são conhecidas porque foram
suportadas. (SARLO, 2007, p. 41).
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Assim, é relevante para o sobrevivente testemunhar, dialogando com o imaginário, para
que o que ele suportou possa ser escrito nas margens de um sentido que resista ao irrepresentável
do trauma. Este imaginário dependerá exclusivamente da experiência vivenciada pelo
sobrevivente. É desta experiência que dependerá a linguagem para expressar o trauma que se
instala no corpo deste sobrevivente.
Para João Carlos Tedesco:
O conceito de experiência é complexo: pode estar envolvido na ideia do que se
vive (só em parte consciente), no processo por meio do qual o sujeito se
apropria do vivido e o sintetiza, no exercício controlado, repetitivo, subjetivamente depurado, na via de acesso ou ter um dote de sabedoria, no
exercício e a aquisição de capacidade de elaboração, no vivido,
particularmente significativo e carregado de expectativas de competência, [...] Fala-se em experiências como passado presente, no qual eventos podem ser
recordados; incorpora-se algo do passado no presente, como faculdade de conter
os diversos vividos numa continuidade dotada de sentido. (2004, p. 98-99)
O autor explana com veemência autoridade, descrevendo a experiência como algo
complexo, afirmando que essas experiências vivenciadas no passado transformam o nosso
presente, dando a ele um novo sentido. Assim, entendemos que o ponto de partida para olharmos
o passado é o presente. É por meio do presente que se chega ao passado. “O passado é sempre
conflituoso. [...] O retorno do passado nem sempre é um momento libertador da lembrança, mas
um advento, uma captura do presente” (SARLO, 2007, p. 9). Afirma ainda a autora que os
verdadeiros testemunhos de tais atrocidades (referindo-e a qualquer catástrofe, e em especial ao
Holocausto) não podem vir à tona, não podem falar, e este silêncio imposto pelo assassinato
torna incompleto o testemunho dos “sobreviventes. A autora comenta ainda que:
De modo radical, não se pode representar os ausentes, e dessa impossibilidade se alimenta o paradoxo do testemunho: quem sobrevive a um campo de
concentração sobrevive para testemunhar e assume a primera pessoa do que
seriam os verdadeiros testemunhos, os mortos. Um caso-limite, terrível, de
prosopopeia. (SARLO, 2007, p 35)
Podemos afirmar, nesse sentido, que Lobo Antunes é um exemplo de sobrevivente que
rompe com os lacres que impediam a linguagem falar. Ele consegue falar utilizando-se de uma
potência de linguagem que emerge de seu mundo interior, carregado de imagens que seus olhos
presenciaram. Mas é, em seu corpo, que estão presentes as marcas desta irrepresentabilidade. Sua
experiência, enquanto médico e portador de um domínio linguístico psiquiátrico deu ao autor
condições de escrever sobre os horrores que presenciou na guerra colonial em Angola. No
romance “Conhecimento do Inferno”, Lobo Antunes expõe, por meio de seu personagem-
narrador, o seguinte fragmento/citação, que vem ratificar o que estamos comentando:
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Alguém começou a gritar na enfermaria: era um gemido rouco, persistente, monótono, semelhante ao do mar nas fendas das grutas ou ao do vento nas
cristas aguçadas dos penedos, biséis de granito para os beiços das nuvens, e o
seu corpo estendendo-se, tenso, na direção do som, à maneira de uma corda de arco que o dedo do gemido arrepiava. Escutava esse som nocturno na manhã do
hospital, carregado das misteriosas ressonâncias e dos impalpáveis ecos das
trevas, essa amêndoa de sombra na luz poeirenta, excessiva, da manhã, com a
mesma expectativa dolorosa, o mesmo indizível pavor com que sentia aproximarem-se de si as trovoadas de África, pesadas de uma angústia
insuportável. (ANTUNES, 2006, p. 47).
Para Jorge Larrosa Bondía,
as palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com
pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta
genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos tem sido
ensinado algumas vezes, mas sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos
acontece. E isto, o sentido ou o sem-sentido, é algo que tem a ver com as palavras. (BONDÍA, 2002, p. 21)
Concordamaos plenamente com Bondía, pois é a palavra que domina o mundo, as
pessoas e as relações humanas. Nesse sentido Mikhail Bakhtin, já afirmava que “a palavra é o
fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua função de
signo. [...] A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social” (BAKHTIN, 1995, p. 36).
Ainda complementa o autor, dizendo: “a palavra funciona como elemento essencial que
acompanha toda ciração ideológica, seja ela qual for”. (BAKHTIN, 1995, p. 37).
Quanto à dialogicidade da memória Tedesco afirma que:
A noção de diálogo é fundamental na ideia de memória em Halbwachs, para quem são os outros que, frequentemente, nos incitam a relembrar. O entorno, o
meio, o engajamento, as condições objetivas são fundamentais e dialógicos na
construção e reconstrução da memória individual. É desse diálogo que se produzem/reproduzem costumes, tradições, representações, símbolos coletivos,
mentalidades, o popular, a identificação entre pensamento coletivo e memória
coletiva (grupo). São esses elementos os mecanismos mentais e materiais dos quais se servem os indivíduos e grupos para se recordar (2004, p. 167).
Desta forma, toda memória traumática remete-se a um dado contexto espacial e,
consecutivamente, temporal, tornando-se duas importantes coordenadas que sedimentam a
memória de um dado acontecimento catastrófico ou não. Segundo Geoffrey H. Hartman (apud
NESTROVSKI, SELIGMANN-SILVA, 2000, p. 223), a memória
[...] limita e possibilita ao mesmo tempo. Quando falamos de trauma, queremos
dizer eventos ou estados sentimentais que ameaçam esse limite: extrema dor
física ou psíquica, por exemplo, mas também prazer extremo. Eles perfuram o tempo vivido e existem somente como fantasmas. Mas a memória é evidência
de continuidade: de que o futuro terá um passado
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Para Peter A. Levine (2012) corpo e mente são inseparáveis na análise do trauma. Ele, o
trauma, não reside no acontecimento externo que induz dor física ou emocional, nem mesmo na
própria dor, mas no fato de nos aprisionarmos a reações primitivas a fatos dolorosos. Trauma não
é o que nos acontece, mas o que retemos dentro de nós na ausência de uma testemunha empática.
Afirma ainda o escritor que a maioria das pessoas pensa no trauma como um “problema mental”,
ou como um distúrbio cerebral, porém para o conceituado escritor, o trauma é algo que também
acontece no corpo. Os estudos mentais associados ao trauma são importantes, mas secundários.
Segundo ele, o corpo começa e a mente acompanha. Ele ressalta que o trauma não é uma doença,
mas uma experiência humana enraizada nos instintos de sobrevivência. Decifrar esse “reino não
verbal” é tarefa difícil de ser feita, mas não impossível, pois como ouvir a voz sem palavras no
corpo? Nesse sentido, Lobo Antunes consegue dá voz àquilo que segundo Levine (2012)
pertence ao reino não verbal. Os romances de traço autobiográfico de Lobo Antunes é prova
disso. Temos vários outros exemplos de homens e mulheres que sobreviveram à travessia da
zona do perigo como Primo Levi, Jorge Semprun, Paul Celan e Frida Kahlo. Como
sobreviventes conseguiram escrever, testemunhar e romper com os lacres que impediam o
trauma falar. Seus discursos são permeados por signos traumáticos, subservientes a um passado
construído nas margens de acontecimentos catastróficos e de perdas irrecuperáveis.
O conceito de trauma (proveniente de um choque vivenciado pelos sobreviventes) na
reconstrução ou mesmo desconstrução das identidades transforma o pensamento, a forma de
viver, os costumes e hábitos dos cidadãos, tornando-lhes frágeis e inseguros diante da vida.
Jeane-Marie Gagnebin, apropriando-se das palavras de Aleida Assmann, complementa o
conceito de trauma afirmando que se trata da “ferida aberta na alma, ou no corpo, por
acontecimentos violentos, recalcados ou não, mas que não conseguem ser elaborados
simbolicamente, em particular, sob a forma de palavra, pelo sujeito” (GAGNEBIN, 2006, p.
110). Segundo a autora a temática do trauma torna-se predominante na reflexão sobre a
memória. Ainda segundo Gagnebin, “a ferida não cicatriza e o viajante, quando, por sorte,
consegue voltar para algo como uma ‘pátria’, não encontra palavras para narrar nem ouvintes
dispostos a escutá-lo” (2006, p. 110). Nesse sentido, o trauma silencia a memória individual dos
sobreviventes.
Segundo Aleida Assmann, o “trauma é entendido como uma inscrição corporal que
permanece inacessível à transcodificação em linguagem e reflexão e, portanto, não pode ganhar
o status de recordação. [...] uma variante do trauma é o trauma de guerra” (ASSMANN, 2011, p.
297). Conforme ainda a autora, “o trauma não é assimilável na estrutura da pessoa, é um corpo
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estranho que estoura as categorias da lógica tradicional: ao mesmo tempo interna e
externamente, presente e ausente. [...] O trauma é a impossibilidade da narração” (2011, p. 279-
283). Entretanto, para Geoffrey H. Hartman:
As perturbações associadas com o trauma são, segundo Freud, tentativas do
sistema de se preparar retrospectivamente para um choque que já ocorrera, de
alcançá-lo e dominá-lo. A memória, e especialmente a memória usada na
narração, não é simplesmente um nascer póstumo da experiência, uma formação secundária: ela possibilita a experiência, permite que aquilo que chamamos de o
real penetre na consciência e na apresentação das palavras, para tornar-se algo
mais do que só o trauma seguido por um apagamento mental higiênico e, em última instância, ilusório (2000, p. 222-223).
Entende-se, então, que o trauma é um processo que já acontecera no passado, fato
consumado, porém ainda permanecem restos ou vestígios de sua presença agindo como
“fantasmas”, uma espécie de imagens presentificadas sem a sua real presença. Nesse sentido, o
trauma se move de seu passado e se repete no presente como um outro. De acordo com o
contexto em que está situada a trilogia autobiográfica literária de Lobo Antunes, o trauma está
circunscrito ao período em que o escritor o vivenciou, entre 1970 a 1973, mas a percepção deste
trauma se dá no período de sua consciência, ou seja, no periodo pós-colonial. Assim, entendemos
que não se pode descrever o trauma no momento de seu acontecimento. Podemos, sim, detectar
suas consequências e, de certa forma, algum resquício de suas fragmentadas imagens que podem
ser dizíveis através do imaginário de seus supostos sujeitos sobreviventes.
São exatamente esses restos/resíduos do trauma, manifestado por meio de “um outro” que
o substitui e passa a falar dele e tenta simbolicamente representá-lo. A unanimidade entre os
estudiosos do trauma como algo irrepresentável e indizível é rebatida, em certo sentido, por mim,
enquanto pesquisador que procura encontrar uma resposta ou um caminho viável que possa fazer
com que o meu objeto de pesquisa torne-se perceptível pelos leitores. Acredito que nada pode se
fechar num definido pensamento e que tudo está em construção. Afirmar que o trauma, como
ferida inscrita no corpo e na alma do ser vivente é algo indecifrável, irrepresentável e indizível é
fechar por definitivo o sentido e o significado do ocorrido. Tudo é passível de ser apresentável
por meio da linguagem. Se tudo está em constante movimento e em constante construção, não
podemos fixar de forma conclusiva os estudos em torno do pensamento de que o trauma é
impossível de ser codificado ou decodificado. Ressalto a ideia de que há um “outro” que fala em
nome do lugar deste trauma irrepresentável, tornando-se representável por meio do testemunho
literário ou não de sujeitos que vivenciaram eventos catastróficos, violentos e traumáticos. Este
“outro substitutivo do trauma” funciona como um “filho recuperado” e ressignificado através do
imaginário que ronda a vida dos sobreviventes. O trauma fala não mais como “pai”, mas como
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“filho”, não mais como essência, mas como resto/resíduo de um passado que sobrevive de suas
cinzas, de seus restos.
Assim, podemos dizer que a experiência obtida pelo personagem do romance desestrutura
o pensamento e sentimento em relação ao sentido de pertencimento ou de uma identidade
construída fixamente. Tomados por uma nova forma de ver o mundo, insegura e incompleta, o
personagem se sente ameaçado pelo passado, pois teme que algo possa ainda acontecer, tenta
esquecer mas é inútil porque as estruturas mentais e sociais estão repletas de imagens e destroços
guardados em sua memória individual e coletivamente compartilhada por outros, que também se
sentem da mesma forma, ameaçados pelo passado e inseguros com o devir, gerando, com isso,
um desconforto diante da realidade, uma crise de identidade, como bem sinaliza Stuart Hall ao
afirmar que a crise
é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando
as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os
quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social” [...] Esta perda de um ‘sentido de si’ estável é chamada, algumas
vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento-
descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural
quanto de si mesmos – constitui uma crise de identidade para o indivíduo. ( 2006, p. 7- 9).
Podemos constatar e provar o que foi dito anteriormente através das palavras do próprio
narrador/personagem que exprime esse sentimento de perda e posteriormente de crise de
representação ou de identidade nos três romances em análise, em especial, Os cus de Judas. Sem
duvida, esta perda de pertencimento que culmina na crise de representação revela a
presentificação do trauma ou do que ele foi capaz de produzir nos sujeitos:
Queria perdir-lhe que não saísse daqui, me acompanhasse, ficasse comigo
deitada aguardando não só a manhã mas a próxima noite, e a outra noite,, e a
noite seguinte, porque o isolamento e a solidão se me enrolam nas tripas, no estômago, nos braços, na garganta, me impedem de me mover e de falar, me
tornam num vegetal agoniado incapaz de um grito ou de um gesto, à espera do
sono que não chega. Fique comigo até que eu, finalmente adormeça, me afaste de si numa dessas inexplicáveis reptações frouxas com que os afogados oscilam
nas vazantes, me estenda de bruço, de boca na almofada, babando na barriga da
fronha palavras indistintas, me afunde no poço pantonoso de uma espécie de
morte, a ressonar o meu grosso coma de pastilhas e de álcool. [...] O medo de voltar ao meu páis comprime-me o esófago, porque, entende, deixei de ter lugar
fosse onde fosse, estive longe demais, tempo demais para tornar a pertencer
aqui, a estes outonos de chuvas de de missas, estes demorados invernos despolidos como lâmpadas fundidas, estes rostos que reconheço mal sob as
rugas desenhadas, que um caracterizador irónico inventou. (ANTUNES, 2007,
P. 182).
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3. RESULTADOS ALCANÇADOS
Há, por trás do texto literário de Lobo Antunes, uma voz que domina seu discurso, uma
voz potencializadora e interpelada por signos traumáticos que é responsável pela narrativa
construída nas margens de um passado que ainda se faz presente, passado este oriundo de sua
experiência com o extremo-limite da condição humana. Podemos então afirmar que essa voz
nasce e se origina da experiência que o autor viveu na guerra colonial em Angola. É essa voz
dilacerada e fragmentada o elemento discursivo que possibilita representar a memória dos
tempos de horror que foi vivida pelo personagem/narrador/autor. Dessa forma, voz, memória,
representação, imaginário, subjetividade, experiência e testemunho tornam-se inseparáveis neste
processo investigativo, levando em conta que a voz protege e guarda a memória do esquecimento
e ressignfica o passado e a experiência vivenciados pelo escritor. A voz se faz ecoar no
testemunho do sobrevivente.
Esta pesquisa compreende duas partes: o primeiro momento diz respeito à analise dos
conceitos que interagem com o trauma: a voz, a representação, o discurso, a memória e a própria
experiência vivenciada pelo autor (historicamente situada); o segundo momento diz respeito à
análise dos romances de acordo com os postulados teóricos apresentados no capítulo anterior,
descrevendo, por meio de citações retiradas dos romances, os signos ou os discursos interpelados
por uma construção traumática. Pretendemos, desta forma, provar que os romances
loboantunianos são permeados por signos traumáticos, e que o autor consegue representar, por
meio da literatura, o trauma que ele experienciou, mudando, desta forma, a sua vida para sempre,
segundo consta nos seus romances autobiográficos.
Lobo Antunes é um escritor que, ao passar pelo trágico evento, enriquece sua forma de
escrever romances, interpelada por signos rastreados por essa experiência. Tornou-se um
sobrevivente que carrega silenciosamente marcas profundas em seu corpo físico, histórico,
semiológico, espiritual, intelectual, e sobretudo, psicológico. O passado da guerra jamais será
esquecido por ele porque está em seu corpo, materializado, enraizado e espiritualizado.
Lobo antunes consegue através de um signo que se repete várias vezes em seus romances, como
um refrão que descreve a presença constante do trauma em sua vida. O signo “apodrecer” ou
“apodrecimento” definem o sintoma que tanto lhe incomoda. Lobo Antunes consegue, através da
linguagem, representar o seu complexo mundo interior, interpelado por um passado que mudou
para sempre sua vida, sentindo-se como “uma criatura envelhecida e cínica a rir de si própria e
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dos outros o riso invejoso, azedo, cruel dos defuntos, o repulsivo riso gorduroso dos defuntos, e a
apodrecer por dentro”.
Porque foi nisto que me transformei, que me transformaram, Sofia: uma
criatura envelhecida e cínica a rir de si própria e dos outros o riso invejoso,
azedo, cruel dos defuntos, o repulsivo riso gorduroso dos defuntos, e a apodrecer por dentro, à luz do uísque, como apodrecem os retratos nos
álbuns, magoadamente, dissolvendo-se devagarinho numa confusão de
bigodes. (ANTUNES, 2007, p. 156, grifo nosso)
Sem dúvida, a aquisição deste passado faz parte de sua construção humana, moldando sua
escritura literária com a marca registrada de um “sinal” que seu corpo carrega; um
resto/rastro/resíduo1 que o capacita a escrever como sobrevivente de uma guerra que dizimou
milhares de indivíduos, tanto por parte dos colonizadores, quanto por parte dos colonizados.
Mas, como vocês podem ver, colocamos em negrito, partes que achamos importantes para serem
analisadas, à luz da teoria do trauma. Vamos à análise desta rica citação, retirada do romance Os
cus de Judas, deste emblemático romancista português. Primeiramente, foquemos nos termos
“me transformei” e “me transformaram”. Esses verbos direcionam ao sujeito em questão, o
sobrevivente. Mas quem o transformou e em que o transformaram? A experiência com a guerra
transforma-lhe nesse sujeito que ele mesmo se auto-descreve: “uma criatura envelhecida e cínica
a rir de si própria o riso invejoso, azedo, cruel dos defuntos, o repulsivo riso gorduroso dos
defuntos”. Ao trazer à baila o termo “riso”, o autor encontra neste signo a contradição da
existência humana. O ri envolve um contexto avassalador, doloroso, antagônico e contraditório.
Complementando com os adjetivos “invejoso, azedo, e cruel”, o riso mostra o seu campo
semântico metafórico: é um “riso gorduroso dos defuntos”. O adjetivo “gorduroso” reforça a
presença da matéria morta, o defunto. Desta forma, o autor, carregado por um sintoma
traumático, expressa a sua agonia, diante do quadro em que ele está envolvido. Ao usar o termo
“criatura envelhecida”, ele quer, com isso, expor o que o trauma faz em suas vítimas: as
envelhece. O envelhecimento é um signo que revela a fragilidade do corpo diante do que ele
presenciou. O corpo sente-se envelhecido, não cronologicamente nem biologicamente, mas
filosófica, histórica e psicologicamente. Depois, o autor usa o termo “apodrecer por dentro”,
trazendo à tona talvez a definição mais adequada e apropriada para atribuir ao trauma como
devastador das vidas humanas. Esse devastar ou mesmo destruir sentimentos, sentidos e
1 Para Èdouard Glissant, o rastro/resíduo supõe e traz em si a divagação do existente, e não o pensamento do ser. O advento da história está hoje entrincheirado por trás de obscuros retornos, de aparentes reinícios através dos quais os
povos e as comunidades que deram vida à ideia de História agitam suas incertezas. [...] Assim, o pensamento do
rastro/resíduo promete a aliança dos sistemas, refuta a possessão, desemboca nestes tempos difratados que as
humanidades de hoje multiplicam entre si, em choques e maravilhas. (2005, p. 82-85)
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pensamentos está ligado ao signo “apodrecer”, pois é assim que se sentem os sobreviventes
quando conseguem retornar às suas vidas, tentando de todas as formas, readaptarem-se às coisas
que lhes cercam (as pessoas, os lugares, as representações culturais, etc). “Apodrecer por
dentro”, diz o personagem/narrador, sinalizando, de forma desumana, concreta e abstrata, o agir
do trauma nos corpos e mentes dos sobreviventes. E, com isso, apodrecem também tudo aquilo
que os cerca. A validade da vida, dos álbuns de família, da lei, dos costumes, da cultura e da
dimensão espaço-temporal apodrecem em conjunto. Este “apodrecimento no interior humano” é
uma construção tardia, lenta e que causa mágoa e vergonha em suas vítimas. Daí porque o
autor/personagem/narrador faz uso dos termos “magoadamente”, “dissolvendo-se”,
“devagarinho” e “confusão”, concluindo o agir do trauma em sua existência, adquirindo, desta
forma, um aspecto desumano e mórbido, dissolvendo sua identidade e sua forma de ver e pensar
o mundo e as coisas. E isto acontece lentamente, devagarinho, produzindo no
personagem/narrador uma “confusão” que despersonifica e dessubjetiva sua representação
enquanto sujeito portador daquilo que ele aprendeu a vida inteira por meio da razão. O verbo
“transformar”, usado no início da citação modifica a vida do narrador/personagem para sempre.
A guerra é, então, o ponto de partida na desconstrução da identidade de todos os sujeitos
sobreviventes. Ela transforma pensamentos e sentimentos, produzindo novos sujeitos, discursos e
representações. É um acontecimento traumático desconstrutor de paradigmas antes dominantes e
centralizadores. Toda guerra produz uma imensa fonte de representações traumáticas, permeada
por dor, sofrimento, ódio e rancor. A guerra colonial em Angola produz, desta forma, vozes e
discursos que estão presas a esse tecido traumático que mexe na forma de ver e pensar o mundo.
Utilizando-se do verbo “ver”, o narrador/personagem do romance Os cus de Judas
consegue detectar a inutilidade da guerra, tecendo um olhar ferido pela experiência em face do
horror, testemunhando por via literária, sem se sentir algoz ou vítima desta catástrofe, mas sim,
sentindo-se como sobrevivente:
[...] à espera das tristes palavras apodrecidas que os mortos legam aos vivos num burbulhar de sílabas informes. [...] vi a miséria e a maldade da guerra, a
inutilidade da guerra nos olhos de pássaros feridos dos militares, no seu
desencorajamento e no seu abandono, vi homens de vinte anos sentados à
sombra, em silêncio, [...] Tão esquisito, entende, que me pergunto às vezes se a guerra acabou de facto ou continua ainda, algures em mim, com os seus
nojentos odores de suor, e de pólvora, e de sangue, os seus corpos
desarticulados, os seus caixões que me aguardam. (ANTUNES, 2007, p. 160-161, grifo nosso)
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O conceito de sobrevivente está muito presente na literatura de testemunho.
Compreendemos que toda a produção literária, em toda a sua dimensão é, de certa forma,
testemunho dado por seu autor, de acordo com sua experiência de vida. Para Seligmann-Silva, “a
literatura sempre tem um teor testemunhal” (2003, p. 48). Aquele que atravessou por esses
“escombros históricos” e conseguiu manter-se vivo é reconhecido como sobrevivente, sujeito
que, depois de algum tempo, resolve falar e sair de seu enclausuramento, de seu silêncio. “É
aquele que vivenciou uma catástrofe, um evento traumático que deixa marcas em todos aqueles
que passaram por uma experiência traumática. O sobrevivente é alguém que viu tombar
semelhantes e inimigos; foi o único a conseguir suportar a travessia” (SILVA, 2010, p. 42).
Enfim, sobrevivente é aquele que é marcado, em seu corpo, por uma “ferida”, uma “marca” que,
como “sinal traumático”, fará parte da vida dele para sempre.
Por meio do signo “ver”, o personagem/narrador descreve seu olhar cansado e sofrido, o
retrato ou o resultado de uma inútil guerra. Ele vê homens em total silêncio. Este silêncio tem um
sentido a dizer, é a prova viva do resultado do trauma na vida de homens de apenas vinte anos, já
“tombados” pelo “sinal” que levarão para sempre em suas vidas. O próprio corpo fará com que
eles jamais esqueçam do que experienciaram, porque o corpo é o lugar de inscrição do trauma e
de tudo que acontece com o ser humano.
Na citação anteriormente mencionada, colocamos em negrito, palavras que denotam a
presença ou o rastro de algo que passou e que continua ainda presente nos “corpos
desarticulados” dos sobreviventes. Novamente o autor/personagem/narrador cita a expressão
“palavras apodrecidas”, palavras que são ditas pelos sobreviventes na representação dos
ausentes, dos mortos que não conseguiram sobreviver. O personagem traz à tona outro termo que
representa o sobrevivente: “pássaros feridos”. Um pássaro quando é ferido não consegue, na
maioria das vezes, voar, ver e perceber o que sentia antes, pois foi ferido. Assim é o
sobrevivente, um sujeito abatido e ferido que jamais conseguirá “voar” como antes.
Lobo Antunes é então transformado num outro homem. Um outro toma posse de seu
antigo “eu”. A guerra o transformou num homem incompleto, em constante estado de
incompletude e insatisfação humana. Sente-se envelhecido, pois está exposto à travessia do
perigo oferecido pela verdadeira experiência, no sentido descrito por Bondía2 (2002). E passar
por este choque é perder muito de si mesmo, é envelhecer-se por dentro. Concomitantemente,
apodrecer por dentro. Apodrecer, sem dúvida, é um signo que contém dentro de si mesmo toda a
2 Segundo Jorge Larossa Bondía (2002), a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o
que se passa, não o que acontece, ou o que toca, confirmando que tanto nas línguas germânicas como nas latinas, a
palavra “experiência” contém inseparavelmente a dimensão de “travessia e perigo”.
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semântica explicativa do trauma, inscrito no corpo do sobrevivente. E com o apodrecimento
deste mundo interior, apodrecem os objetos que os cercam, os retratos nos álbuns, os objetos de
estima, as pessoas que os cercam; enfim, o mundo. Mas este “apodrecimento” contido no signo
“apodrecer” faz-se de forma lenta, dissolvendo seu sentido magoadamente. A mágoa de ter
convivido com o horror faz do sobrevivente um eterno ser incompleto, um eterno ser em
“desmanche cultural”, um eterno ser que não se agarra a nada, porque ele foi tocado
profundamente por águas amargas de um rio que nunca dorme: o trauma. Concluímos com as
palavras de Susan Sontag: “O que quer que exista, existe sempre mais. O que quer que esteja
acontecendo, algo mais está acontecendo, também.” (2008, p. 164). Portanto, assim é o trauma.
Algo sempre está sendo extraído dele porque a sua essência é frágil, insegura e fugidia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisar os romances de Lobo Antunes é tarefa que nos faz ver o grau de dimensão
mnemônica e histórica, diante do pós-colonialismo historicamente situado em nossos dias, da
ascensão de uma literatura que precisa ser mais compreendida e contextualizada por um rastro
mnemônico afro-lusófono, reprodutor de desterritorializadas e angustiantes formas de
pertencimentos e despertencimentos, construções e desconstruções identitárias e rupturas. Nesse
sentido, os narradores-personagens da trilogia autobiográfica de Lobo Antunes, ao dar
consciência às palavras na narrativa ficcional, tornam-se cônscios de sua posição no mundo e
irrompem com a invisibilidade e irrepresentabilidade do trauma, desmontando as estruturas que
lhes impediam falar, rompendo, desta forma, com os lacres que silenciavam suas respectivas
vozes, discursos e representações.
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