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ISSN 1519-0412 volume VIII número 32 abril/maio/junho 2006

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ISSN 1519-0412

volume VIII número 32 abril/maio/junho 2006

Ficha catalográfica

P418 PensarContábil,v.1,n.1,ago.1998-. -RiodeJaneiro:CRC-RJ,1998-.

Trimestral ISSN1519-0412

1.Contabilidade.I.ConselhoRegionalde ContabilidadedoEstadodoRiodeJaneiro

CDU–657

Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de JaneiroPraça Pio X, 78 - 6º, 8º e 10º andares - Rio de Janeiro - RJCEP: 20091-040 • tel.: (21) 2216-9595 - fax: (21) 2516-0878www.crc.org.br Envio de artigos e assinatura: [email protected] de impressão: agosto/2006Tiragem: 2.000 exemplares

ISSN 1519-0412Distribuição: por assinatura anual (R$ 16,00)Atendimento ao assinante: tel.: (21) 2216-9544 / fax: (21) 2516-9268

ExpedienteConselho Diretor

Antonio Miguel FernandesPresidente

Carlos de La RocqueVice-presidente

Francisco José dos Santos AlvesVice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional

Lilian Lima AlvesVice-presidente de Administração e Finanças

Walter Carlos da ConceiçãoVice-presidente de Fiscalização e de Ética e Disciplina

Carlos Alberto do NascimentoVice-presidente de Registro Profissional

Cezar StagiVice-presidente de Interior

CONCEITO QUALIS/CAPES: LOCAL C

Corpo EditorialFrancisco José dos Santos AlvesRio de Janeiro - RJEditorDoutor em Contabilidade e Controladoria – FEA/USPProfessor da Universidade Estácio de Sá

Antonio Miguel FernandesRio de Janeiro - RJMestre em Ciências Contábeis – UERJProfessor da Faculdade Moraes Júnior, da EPGE da FGV Management e do CPGE da UCAM

José Alonso BorbaFlorianópolis - SCDoutor em Contabilidade - USPProfessor da UFSC

Josir Simeone GomesRio de Janeiro - RJPós-doutorado em Controle de Gestão na Universidade Carlos III de MadridProfessor da UERJ

Lílian Lima Alves Rio de Janeiro - RJPós-graduação em Direito da Concorrência e em Controle Externo – FGVProfessora do curso de pós-graduação da UCAM

Maria Thereza Pompa AntunesSão Paulo - SPDoutora em Controladoria e Contabilidade – USPProfessora Adjunta – FAAP/Universidade Presbiteriana Mackenzie

Nahor Plácido LisboaSão Paulo - SPDoutor em Controladoria e Contabilidade – FEA/USPProfessor da FEA/USP e Pesquisador da FIPECAFI

Sandra Maria dos SantosFortaleza - CEPós-Doutorado em Economia Regional e Urbana – UFPE/PIMESDoutora em Economia Industrial – UFPE/PIMES Editora Chefe da Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão

Waldir Jorge Ladeira dos SantosRio de Janeiro - RJMestre em Contabilidade Financeira – UERJProfessor da UERJ, da Faculdade Moraes Junior, do Centro Universitário Celso Lisboa e da EPGE da FGV Management

Jornalista responsável: Alessandra Vale (Mtb 21.215)Capa e diagramação: Renata AguiarRevisão: Carlos NouguéProdução editoral: Cajá - Agência de Comunicação

“As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte.”

PensarContábil

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v.8, n. 32, p. 3 - 4, abr./mai./jun. 2006

Editorial

SumárioHonorários do Perito Judicial 5João Luis AguiarGilson Vieira CabralRuiter Carlos da SilvaAntônio Torquato Silva

Formas de Controle de Investimentos no Capital Humano em Uma Agroindústria 11Ilse Maria BeurenVanessa Krepsky de MeloFabiano Maury Raupp

A Demonstração dos Fluxos de Caixa como Ferramenta de Análise Financeira 18Luiz Claudio Otranto AlvesJosé Augusto Veiga da Costa Marques

Evidenciações Financeiras na Tradução para Moeda Estrangeira com Base nas Normas Contábeis FAS 52 24Amilton Fernando CardosoCélio Corrêa dos SantosJorge Ribeiro ToledoMarianne Hoeltgebaum

O Planejamento Estratégico nas Empresas Madeireiras Roraimenses 33Francisco Gomes Filho

Francisco José dos Santos Alves Vice-Presidente de Pesquisae Desenvolvimento Profissional

Valiosas contribuições

Honoraria of The Judicial Expert 5João Luis AguiarGilson Vieira CabralRuiter Carlos da SilvaAntônio Torquato Silva

Forms of Control of Investiments in The Human Capital in Agroindústria 11Ilse Maria BeurenVanessa Krepsky de MeloFabiano Maury Raupp

The Statement of Cash Flows like Financial Analysis Tool 18Luiz Claudio Otranto AlvesJosé Augusto Veiga da Costa Marques

Disclosure Financial in The Translation of The Accouting Demonstrations in Foreign Coin with Base in The Accounting Norms FAS 52 24Amilton Fernando CardosoCélio Corrêa dos SantosJorge Ribeiro ToledoMarianne Hoeltgebaum

The Strategic Planning in The Timber Enterprises in Roraima State 33

Francisco Gomes Filho

Uma publicação do

Caro leitor, Considerando a qualidade e a importância da nossa revista

para a área contábil, estamos submetendo-a para indexação na base de dados Sciello, que é muito utilizada, principalmente, por pesquisadores.

Temos interesse em receber o maior número possível de artigos, visando aumentar cada vez mais a qualidade e a variedade dos assuntos apresentados. Prestigie a nossa revista,encaminhando-nos material!

Nesta edição, temos cinco artigos que tratam de assun-tos interessantes. Em um deles, intitulado “Evidenciações Financeiras na Tradução para Moeda Estrangeira com Base nas Normas Contábeis FAS 52”, os autores desta-cam o grande desafio do profissional em contabilidade neste século: a “Harmonização das Normas Contábeis”, em face da globalização da economia e dos negócios internacionais. “Honorários do Perito Judicial” é um tema que muito se tem discutido e, neste artigo, os autores procuram “dar uma contribuição, principalmente, àqueles que estão iniciando ou que pretendem iniciar sua atuação como perito”, consideran-do a diversidade de tratamentos com que o tema é recebido

nos tribunais. O artigo “Formas de Controle de Investimen-tos no Capital Humano em uma Agroindústria” procura evidenciar formas de controle de investimentos no capital humano, na perspectiva do capital intelectual, adotados em uma agroindústria. No artigo “A Demonstração dos Fluxos de Caixa como Ferramenta de Análise Financeira” os autores tiveram o objetivo de expor os aspectos contábeis associados à demonstração dos fluxos de caixa. Por fim, “O Planejamento Estratégico nas Empresas Madeireiras Ro-raimenses” “trata da prática do processo de planejamento estratégico na gestão das empresas industriais do setor ma-deireiro do Estado de Roraima, especificamente aquelas que exercem as atividades de desdobramento e beneficiamento de madeiras, laminados e compensados”.

Aguardamos a sua contribuição!

Summary

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CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v.8, n. 32, p. 3 - 4, abr./mai./jun. 2006

Orientações aos colaboradores da revista Pensar ContábilPerfil temático e objetivos da publicação:A revista Pensar Contábil é um periódico trimestral do Conselho Regional de Contabilidade, existente desde agosto de 1998 e tem como missão a divulgação de artigos relevantes na área de contabilidade, com o objeti-vo de fomentar a pesquisa.

Mecanismo de avaliação de artigos:Podem encaminhar artigos para a revista colaboradores do Brasil e do exterior.Os artigos recebidos são avaliados pelo Corpo Editorial, através do sistema double blind review, não sendo conhecidos os autores durante a avaliação.Os artigos são apreciados e pontuados para uma edição específica da revista.

Envio e regras para publicação de artigos:Os artigos deverão ser inéditos, podendo estar no idioma português, espanhol ou inglês. Devem ser encami-nhados para o e-mail [email protected], nos prazos e características a seguir:

Para publicação na Revista número Prazo para receber artigos 34 – Out/Nov/Dez - 2006 29/09/06 35 – Jan/Fev/Mar - 2007 29/12/06 36 – Abr/Mai/Jun - 2007 30/03/07

a) em folha de rosto, deverá constar: - o título do artigo; - identificação e qualificação do(s) autor(es) constando: o nome completo, número de registro (se for o caso), for-

mação e qualificação profissional e/ou acadêmica (no caso de citar instituição de ensino, informar também o CEP, Cidade e UF correspondente);

- endereço completo, telefone, fax e e-mail do(s) autor(es);b) a estrutura de apresentação do artigo deverá conter: título do artigo, resumo e palavras-chave, assim como os

mesmos tópicos em inglês (title, abstract, key words), introdução, desenvolvimento e conclusão;c) a bibliografia completa deverá ser apresentada em ordem alfabética no fim do texto, de acordo com as normas da

ABNT (NBR-6023 revisada);d) a formatação do artigo deve ser: - digitado em Word, tamanho A4, fonte Times New Roman; - fonte tamanho 12 para texto e tamanho menor para citações de mais de 3 linhas, notas de rodapé, paginação e

legendas das ilustrações e tabelas; - as folhas devem apresentar margem esquerda e superior de 3 cm; direita e inferior de 2 cm; - entrelinhas simples; - alinhamento justificado;e) os artigos deverão estar redigidos em português. Os artigos de autores do exterior serão publicados em inglês,

espanhol ou português, conforme o caso;f) os artigos deverão ter no mínimo 10 e no máximo 15 páginas;g) os artigos deverão ter sido completa e perfeitamente revisados;h) o autor deverá encaminhar “DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS

AUTORAIS”, devidamente assinada, para o endereço do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro (CRC-RJ), A/C da revista Pensar Contábil. O modelo da Declaração encontra-se no site do CRC-RJ, (www.crc.org.br) na parte destinada à revista.

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CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v.8, n. 32, p. 5 - 10, abr./mai./jun. 2006

Artigo recebido em 28/03/2006 e aceito em 10/05/2006.

Honorários do Perito JudicialResumo

A Perícia Judicial tem despertado grande interesse por parte de diversos profissionais habilitados das mais variadas áreas de atuação. Evidentemente, é um trabalho complexo, exige elevado grau de conhecimento e apresenta pontos cruciais, dentre eles, quando se trata do planejamento para apresentar uma justa e digna proposta de honorários. O pro-fissional em perícia depara-se com os mais variados tipos de processos, desde o mais simples até os mais complexos. Como não há uma fórmula para se determinar o montante dos honorários, a experiência, aliada à perspicácia e a uma leitura minuciosa dos autos pelo profissional, muito poderá contribuir para a formulação de uma justa proposta de hono-rários, o que reduz a possibilidade de contestação pelas par-tes e possível arbitramento pelo Magistrado de uma remune-ração não condizente com os trabalhos a serem realizados. Definidos os honorários, o douto Juiz determina que seja feito o depósito judicial. E, depois de concluídos os trabalhos e apresentado o laudo, algumas vezes, ouvindo as partes, o Meritíssimo autoriza a liberação do depósito com a devida correção monetária, por meio de Alvará Judicial.Palavras-chave: honorários do perito judicial, proposta de honorá-rios periciais, a perícia e os honorários.

AbstractThe Judicial Expertness has rousing great interest of several

qualified professionals of the most varied areas of activity. Evi-dently, that is a complex work, it demands high knowledge degree and it presents crucial points, among them, when it is related to planning on presenting a dignified and fair proposal of honoraria. The expert professional comes across the most varied types of processes, from the simplest to those more complexes, as there is not a formula to determine the amount of the honoraria, the experience allied with the perspicacity and a meticulous reading in the presented documents by the professional, can contribu-te to the formulation of a fair proposal honoraria, what reduces the contention possibility from the involved parts and possible Magistrate arbitration to define a remuneration non suitable with the job to be realized. Defined the honoraria the learned Judge determines the judicial deposit to be done. Then, after the work conclusion and final report presentation, sometimes, hearing the involved parts, the Judge authorizes the liberation of the deposit with the due indexation, through Judicial Permit.Key words: honoraria of the judicial expert, proposal of honoraria of the judicial expert, the expertise and the honoraria.

1. IntroduçãoA perícia judicial, no cumprimento de sua função primor-

dial, que é o de trazer à tona os direitos essenciais das pesso-as, tem despertado grande interesse por parte de profissionais das mais diversas áreas. Esse fenômeno expande conside-ravelmente o campo de atuação dos profissionais habilitados para sua realização. Segundo Magalhães et al.(1998, p.12) “o conceito de perícia ainda não foi objeto expresso em nossa legislação e nem em nossas escassas fontes bibliográficas so-bre o assunto”. Assim, depara-se com a escassez de literatura sobre pontos específicos ligados à área.

O conhecimento aprofundado de áreas específicas exi-ge dos profissionais alto grau de dedicação e preparo para solucionar problemas complexos. Evidentemente, o trabalho realizado por esses profissionais deverá ser remunerado de forma condizente com sua responsabilidade. O perito oficial do juízo, conhecedor do assunto e ainda sendo ele conside-rado uma extensão daquele, é possuidor de todas as prerro-gativas expostas acima, devendo ser remunerado condigna-mente com o trabalho realizado.

1UCG – Universidade Católica de Goiás – CEP 74.085-060 – Goiânia – GO.

João Luis Aguiar Itumbiara – GOContador CRC-GO 8.677/OProfessor universitário Pós-Graduação em Controladoria e Finanças, Análisee Auditoria Contábil e Perícia Judicial pela UCG/GO1

[email protected]

Gilson Vieira CabralRio Verde – GOContador CRC-GO 9.723/OProfessor universitário Pós-Graduação em Perícia Judicial pela UCG/GO1

[email protected]

Ruiter Carlos da SilvaItumbiara – GOContador CRC-GO 13.424/OProfessor universitário Pós-Graduação em Perícia Judicial pela UCG/GO1

[email protected]

Antônio Torquato SilvaGoiânia – GO Contador CRC-GO 3.120/O Prof. Universitário pela Universidade Católica de Goiás – UCG/GO1 [email protected]

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CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v.8, n. 32, p. 5 - 10, abr./mai./jun. 2006Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v.8, n. 31, p. 5 - 11, fev./mar. 2006

A proposta de honorários de um trabalho pericial, devida-mente fundamentada pode reduzir as contestações das par-tes e garantir segurança ao Magistrado no arbitramento.

Neste trabalho busca-se abordar um dos pontos cruciais da perícia. Trata-se dos honorários periciais. Diante da im-portância do tema e da diversidade de tratamentos com que ele é recebido nos tribunais, propõe-se a escrever sobre o assunto, de forma a dar uma contribuição, principalmente, àqueles que estão iniciando ou que pretendem iniciar sua atuação como perito.

a) Exemplificar como elaborar uma proposta de honorários;b) Evidenciar a importância do planejamento do trabalho

pericial para elaboração de uma proposta de honorários que seja compatível com o trabalho a ser executado e com os resultados esperados e;

c) Demonstrar a influência do planejamento da perícia sobre as contestações das propostas de honorários, a con-fiança do Juiz no arbitramento dos honorários e, conseqüen-temente, a celeridade do processo.

Antes de abordar o tema em questão, cabem aqui alguns esclarecimentos com relação à atuação do perito e à limitação deste trabalho, pois os honorários podem variar conforme a forma em que o perito está funcionando no processo. Na visão de ALBERTO (2002, p.153), deve-se levar em consideração:

[...](a) se o profissional está funcionando como perito em processo judicial; (b) se está funcionando em inquérito policial; (c) se está funcionando em comissão parlamen-tar de inquérito; (d) se está realizando perícia extrajudi-cial e (e) se está realizando perícia em juízo arbitral.

Além disso, pode ainda, o profissional atuar como perito oficial ou como assistente contratado por uma das partes. De-monstradas as diversas formas de atuação como perito, limita-se este trabalho ao exercício da função como perito oficial do juízo em processo judicial, especificamente na área cível.

2. Conceitos de Honorários e Rotinas Aplicadas à Perícia

Neste capítulo evidenciam-se os conceitos de honorários e as rotinas aplicadas à perícia, especificamente relaciona-das com a elaboração da proposta de honorários.

2.1. ConceitosA palavra honorários deriva de honra e quer dizer valor

ganho com honra, ou seja, o profissional assume o honroso dever de dar o máximo de si no trabalho a ser realizado.

Segundo FERREIRA, honorários significa:1. Remuneração àqueles que exercem uma profissão li-

beral: advogado, médico etc.; proventos. 2. P. ext.: Vencimentos, salário, remuneração.Morais (1999) definiu assim honorários: “honorários são

remunerações pecuniárias de trabalho ou estipêndios pagos por serviços prestados em cargo facultativo de qualificação honrosa, em profissão liberal.”

Honorários não se confunde com salário. Embora ambos sejam remunerações pelo serviço executado, pelo trabalho realizado. Honorário está diretamente ligado ao profissional

autônomo que utiliza conhecimentos específicos em uma atividade ou tarefa de difícil mensuração, podendo ocorrer disparidade entre o resultado e a retribuição (pagamento), enquanto salário é a retribuição por atividade contínua, pré-mensurada, na qual se dá o vínculo empregatício.

2.2. Rotinas de procedimentos da períciaApós a nomeação, o perito observará, primeiramente, em

conformidade com o artigo 138, se não lhe aplicam os casos de impedimento ou suspeição previstos nos artigos 134 e 135 do Código de Processo Civil – CPC:

Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:I - de que for parte;II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha;III - que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consan-güíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o ter-ceiro grau;VI - quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.Parágrafo único. No caso do no IV, o impedimento só se verifica quando o advogado já estava exercendo o patro-cínio da causa; é, porém, vedado ao advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do juiz.Art. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:I - amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;II - alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;III - herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de al-guma das partes;IV - receber dádivas antes ou depois de iniciado o pro-cesso; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despe-sas do litígio;V - interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.

Superada essa fase, o próximo passo é a definição dos ho-norários periciais, sendo este o primeiro de muitos pontos cru-ciais no exercício da perícia, mesmo para os mais experientes profissionais. Veja o que disse Morais (1999) sobre os honorá-rios periciais:

[...] são os honorários os primeiros entraves encontrados pelo expert, já no nascedouro do mister, pois, em princípio, eles estão diretamente vinculados a todos os itens anterio-res. Outro estorvo é aquele de planejar, preparar quadro

João Luis Aguiar Gilson Vieira Cabral Ruiter Carlos da Silva Antônio Torquato Silva Honorários do Perito Judicial

CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v.8, n. 32, p. 5 - 10, abr./mai./jun. 2006

orçamentário, oferecer honorários, desvencilhar-se das ar-madilhas encontradas na caminhada, entrar e sair ileso do processo e, por último, receber uma paga adequada pelo seu trabalho. Tudo isto fortalece o objetivo perseguido por todos os peritos - apresentar laudo suficientemente esclare-cedor, para a justa decisão judicial.

No texto acima, Morais (1999) destacou outro ponto re-levante no que diz respeito aos honorários: o planejamento. Este assunto será abordado no capítulo seguinte.

Vendrame (2005) também enfatiza as dificuldades do perito com relação à proposta de honorários, conforme se especifica a seguir:

Outro ponto controvertido na vida do Perito ainda é a questão dos honorários periciais. De um lado o Perito, como qualquer outro profissional, deve receber uma justa paga pelo seu trabalho; de outro lado, não existe qualquer dispositivo legal regulando o quantum destes honorários, exceto algumas tabelas propostas por associações, que ainda não se enquadram a todos os tipos de perícia. Pro-blema ainda maior ocorre no fórum trabalhista, onde o Perito somente recebe seus honorários após a liquida-ção da sentença, o que em alguns casos chega a uma década, fazendo com que o Perito, nos primeiros anos de trabalho, trabalhe com déficit de caixa. [...] Ainda quanto aos honorários, o pagamento destes cabe ao sucumben-te; no entanto, como é comum na Justiça do Trabalho, o reclamante raramente arca com os honorários, sempre alegando pobreza, quando não, pleiteia justiça gratuita, colocando o Perito em situação desconfortável, pois se o reclamante não tiver razão, o Perito não receberá seus honorários. Várias propostas em encontros de Peritos já foram sugeridas, como a criação de uma caixa ou fundo, constituída dos próprios honorários, com função exclu-siva de ressarcir, pelo menos, um honorário mínimo ao Perito em caso de sucumbência do reclamante. Outra proposta, ainda pouco difundida em nosso meio, é a as-sunção espontânea da responsabilidade dos honorários periciais pela reclamada, independente do resultado.

Na atuação como perito, depara-se com os mais variados tipos de processos, desde os mais simples até os mais com-plexos; processos com quesitos mal formulados, impertinentes, tendenciosos e, ainda, carência, inexistência ou excesso de quesitos. Aliás, o excesso de quesitos é um dos artifícios co-mumente utilizados pela parte contrária à realização do trabalho pericial, com o intuito de tumultuar o processo, ou confundir o perito. O excesso de quesitos pode, também, fazer com que seja elevado o valor dos honorários de forma a inibir a obtenção da prova pericial. Vendrame (2005) enfatiza ainda que:

A rigor, todos os quesitos deveriam passar pelo crivo do Juiz, que pode indeferir os impertinentes e ainda formular outros que julgar necessário; no entanto, a realidade de nosso Judiciário não permite que o magistrado dispenda parte de seu tempo lendo e indeferindo quesitos. O peri-to, por sua vez, não possui a faculdade de, ao responder um quesito, decretá-lo impertinente; apenas pode julgar o quesito prejudicado.

2.3. Metodologia para fixação dos honoráriosDesconhece-se uma receita ou fórmula para determi-

nar o montante dos honorários, pois cada processo tem sua particularidade. Mesmo que haja grandes semelhan-ças entre um processo e outro, dificilmente poderá ter ho-norários idênticos, devido a diversos fatores como: se os documentos e dados necessários à busca da prova pericial estão ou não anexados aos autos; necessidade ou não de diligências e respectivos locais; quantidade de quesitos apresentados; volume de informações a serem trabalha-das etc. Um dos poucos parâmetros que se pode dizer que se aplica a grande parte dos processos é a tabela de valores por hora que vem sendo sugerida pelas várias associações de peritos existentes atualmente pelo País, como a ASPECON – Associação dos Peritos Contadores de Goiás, que sugere o valor da hora de trabalho pericial em R$ 100,00 (cem reais). No caso específico dos peritos-contadores, o Conselho Federal de Contabilidade – CFC, através da Resolução nº. 857/99, reformulou a NBC P 2 – Normas Profissionais do Perito, e, especificamente, em seu item 2.5 estabeleceu as diretrizes a serem seguidas na determinação dos honorários periciais.

Outra questão importante é que o profissional não deve utilizar-se da perícia como uma oportunidade fácil de ganho extraordinário. Segundo Lopes (2004, p.21), “Alguns profis-sionais acreditam que a perícia é uma mina de ouro, pensam que o trabalho pericial gera muito dinheiro e que todos estão dispostos a pagar”. Não é esta a função da perícia.

O profissional com esta conduta está fadado ao fracasso, além de prejudicar moralmente toda uma classe profissional.

Na sua atuação como perito, o profissional deve sempre se pautar pela ética, honrar sua nomeação, ser imparcial e não se deixar envolver pelo processo.

A complexidade do trabalho do perito não é, proporcional-mente, equivalente ao tamanho ou ao valor da causa. Muitas vezes a causa é pequena, mas, dependendo do escopo do trabalho, dos quesitos apresentados, do volume de informa-ções a serem trabalhadas etc., os honorários do perito po-dem ser superiores ao valor principal da causa. Sendo que, neste caso, a menos que envolva uma questão de honra, não é viável a realização do trabalho pericial.

3. O Planejamento dos Trabalhos Periciais e a Proposta de Honorários

O passo fundamental que poderá determinar o suces-so ou o fracasso da realização do trabalho pericial é um planejamento de honorários bem elaborado, com emba-samentos jurídicos, com clareza nos procedimentos a se-rem adotados pelo especialista na busca da prova. Proce-dendo-se, assim, diminuir-se-ão sobremaneira possíveis contestações das partes, além de transmitir confiança no perito por parte do juízo.

Segundo Lopes de Sá (2004, p.71), “a proposta de hono-rários deve, pois, ser bem feita. [...] Portanto: fazer a proposta e pleitear o depósito são coisas que o perito pode realizar concomitantemente, mas com zelo suficiente para não co-meter erros contra si, nem contra a parte”.

João Luis Aguiar Gilson Vieira Cabral Ruiter Carlos da Silva Antônio Torquato Silva Honorários do Perito Judicial

CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v.8, n. 32, p. 5 - 10, abr./mai./jun. 2006

3.1. O planejamento dos trabalhos periciaisO planejamento tem como objetivo principal identificar o ob-

jeto da perícia e traçar o escopo e os procedimentos do trabalho a ser executado na busca da prova pericial, servindo de base para fundamentação da proposta de honorários, para demons-trar, com clareza, ao Juiz a complexidade, o tempo necessário, as diligências, a equipe técnica etc., justificando-se, assim, o quanto e o porquê dos custos, desde a leitura dos autos e co-leta das informações iniciais até a produção do Laudo Pericial. Um planejamento bem elaborado evita que o Juiz, por falta de legitimidade, acabe arbitrando um valor que não seja suficiente para cobrir os custos direto e indireto do trabalho pericial.

Para se planejar com eficiência os honorários, é funda-mental que o perito conheça com profundidade o objeto da perícia. Esse conhecimento, somado à experiência do espe-cialista, a uma leitura minuciosa dos autos e, principalmente, dos quesitos, possibilitará prever com precisão os procedi-mentos que deverão ser adotados para obtenção da prova pericial e, conseqüentemente, apresentar uma proposta de honorários que contemple todos os gastos futuros.

O Planejamento da perícia é tão importante quanto o pró-prio trabalho em si, devendo cada profissional observar as normas profissionais que lhe são aplicáveis. Nesse sentido, o Conselho Federal de Contabilidade – CFC, reconhecendo esta importância, aprovou no mês de março do ano corrente, por meio da Resolução 1021/2005, a NBC T 13.2 – Planeja-mento da Perícia. Desta forma, para a realização do planeja-mento de um trabalho pericial contábil, deverão ser observa-dos os parâmetros desta norma.

Mesmo antes da edição da NBC T 13.2, a prática já exigia do perito o desenvolvimento de um planejamento para execu-ção do trabalho pericial e determinação dos custos deste.

Sugere-se o conhecimento de Morais e França (2004, p.103), “[...] na quantificação do tempo, o perito deve segre-gar o trabalho por fases ou etapas, consignando, a cada uma delas, a carga horária que entender suficiente e descrever, na petição de honorários, a metodologia que utilizará”.

3.2. A proposta de honoráriosA justificação do valor dos honorários, embora não exigível

no rito processual, constitui-se num mecanismo que permite ao perito expor os custos para a realização da perícia, bem como servir de fundamentação para o arbitramento por parte do juiz.

Apresenta-se abaixo um quadro resumo demonstrando as horas de cada uma das fases ou etapas necessárias à execução de um trabalho pericial, que se recomenda seja inserido na proposta de honorários:

Magalhães (2004, p.82) segue um modelo de planejamen-to parecido. Deve-se observar, no modelo de petição de es-timativa dos honorários periciais apresentado abaixo, o item 4, onde menciona demonstrativo anexo contendo “as horas profissionais estimadas nas várias fases do trabalho pericial”:

EXMO. SR JUIZ DE DIREITOS DA (...) VARA CÍVEL DA COMARCA DE (...).(...), Bacharel em Ciências Contábeis, CRC/... n. (...), Peri-to nomeado nos autos n. (...) – em que são partes: (..) S.A – requerente e – (...) – requerido, vem, mui respeitosamen-te, submeter à apreciação de V. exa., em atendimento ao determinado às fls. (...), a estimativa dos honorários peri-ciais do Laudo Pericial Contábil que elaborará.O valor estimado, para arbitramento provisório, é $______(...). Para a oferta da estimativa de verba honorária, foram levados em consideração os procedimentos e condições a seguir enumerados:1. procedeu-se à leitura dos autos e ao exame da docu-mentação juntada, no sentido de buscar elementos que permitissem identificar o que demandam as partes;2. os trabalhos periciais, como emana do que consta nos autos, abrange o período de (...), envolvendo aspectos técnicos contábeis relativos a (..); 3. portanto, para cumprir o honroso mandato do Perito Ju-dicial, consubstanciado em Laudo Pericial Contábil a ser oferecido, será necessário realizar diligências à sede (..), onde serão compulsados os livros mercantis e respectivo suporte documental e demais procedimentos periciais ine-rentes ao desenvolvimento do trabalho pericial contábil;4. as horas profissionais estimadas nas várias fases do trabalho pericial, como demonstrado em anexo, que re-dundou na presente proposta de honorários periciais pro-visórios, foram valorizadas levando-se em consideração os padrões da Associação dos Peritos Judiciais do Estado de (...) homologados pelo CRC/(...).Finalmente, se aguardará o depósito, em conta judicial, da verba honorária estimada, para então se dar inicio aos trabalhos periciais.Termos em queP. juntada e deferimento.(...), ___de_____de 19xx

Perito Judicial – nomeado

Para alguns profissionais, o planejamento da perícia é uma perda de tempo; para outros, é apenas mais uma fase do processo. Observa-se que é essencial, pois é certo que qualquer trabalho previamente bem planejado é executado de forma mais ordenada e rápida. Produzindo, assim, um re-sultado final de melhor qualidade.

3.3. Contestação dos honorários periciaisAs propostas de honorários, principalmente aquelas que

não forem devidamente planejadas, podem ser contestadas. E é neste momento que o profissional que elaborou sua proposta sem embasamentos sólidos não terá argumentação convincen-te para sustentar sua proposta e ficará à mercê do juízo. Além disso, poderá estabelecer um descrédito junto ao Magistrado.

Contudo, há de se ressaltar que a proposta de honorá-

Procedimento Pericial Nº de horasLeitura, análise e levantamento de dados 10,0Diligências 24,0 Pesquisas Contábeis 61,0

Pesquisas Fiscais 20,0

Pesquisas Financeiras 15,0 Cálculos Financeiros 18,0

Planilhas e Gráficos - elaboração 15,0

Análises documentais 12,0 Laudo Interprofissional 5,0 Elaboração, conferência e revisão do Laudo Pericial 20,0 TOTAL 200,0

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rios cumpridora de todos os requisitos citados anteriormente também poderá ser contestada. E, via de regra, normalmente será contestada.

Esta contestação é mais um artifício utilizado pelas par-tes com o intuito de atrasar o processo e prolongar a decisão judicial. Nessa situação caberá ao próprio perito manter ou rever sua proposta.

Ressalte-se que, no aspecto da valorização do profissio-nal, entende-se que o perito deve evitar aviltar ou supervalo-rizar sua proposta, buscando sempre enfatizar a complexida-de do trabalho pericial e a responsabilidade ancorada sobre seus ombros.

Ocasionalmente o valor dos honorários pode superar o valor da lide. Contudo, se o profissional realizou sua propos-ta de forma criteriosa e chegou ao valor proposto para seus honorários, é porque a lide o requer.

Desta forma deverá o perito manter sua proposta até mesmo sob pena de destituição do trabalho. Entende-se que a proposta apresentada poderá ser revista apenas em casos excepcionais no intuito de preservar o valor dos honorários anteriormente fi-xados. Uma alternativa que pode ser bastante viável para todos, quando a contestação se dá efetivamente pela falta de disponi-bilidade de recursos da parte responsável, é a faculdade, por parte do perito, para que os honorários possam ser depositados de forma parcelada. Porém deve-se tomar o cuidado de não alongar por mais de duas ou três parcelas a fim de não acarretar comprometimento da celeridade do processo ou a entrega do laudo final antes do término dos depósitos.

Lembra-se ainda que esse é um posicionamento que não tem a intenção de estabelecer paradigmas a serem seguidos pelo profissional perito. Porém, mais uma vez se reforça, agora utilizando as palavras de Morais e França (2004, p.110-111):

Não pode o perito aviltar honorários, nem valorizá-los ex-cessivamente. [...] Deve o perito aplicar as sugestões de valores divulgadas pelas entidades de classe, os quais se encontram estipulados por hora trabalhada [...] e nunca con-dicionar sua verba honorária a percentual sobre a causa.

Outro fator primordial que o perito nunca deverá esquecer é de que ele não faz parte da lide. Sua participação se restringe ao auxílio que ele presta ao Juiz, por meio do laudo pericial.

Desta forma, por mais descabida que seja a contestação de sua oferta de honorários, ele nunca poderá se envolver pe-los termos que lhe forem dirigidos, evitando entrar em conflito. Cabendo lhe tão somente defender, de forma ética, a proposta apresentada. E isto poderá ser feito utilizando-se do planeja-mento elaborado, do qual, conforme Morais e França (2004, p.119) o perito deverá “[...] transcrever os mais importantes, difíceis e trabalhosos quesitos da lavra do juiz e das partes”.

3.4. ArbitramentoSendo o perito nomeado pelo Magistrado, portanto na

função judicial, compete àquele fixar sua remuneração. Na definição de Ornelas (1995, p.), ”[...] este ato processual pra-ticado pelo magistrado é conhecido por arbitramento”.

Pela definição acima se pode observar que a fixação dos honorários periciais é uma prerrogativa do juízo. Isso não impede que o perito subsidie a decisão do Magistrado via

petição de requerimento de arbitramento de honorários nos moldes descritos anteriormente nesse trabalho.

A referida petição receberá despacho do Juiz deferindo a fixação definitiva da verba rescisória. Embora não haja de-terminação processual, antes de tal fixação, é comum que o juízo determine que as partes declinem sobre o pleito do pe-rito no intuito de evitar eventuais impugnações futuras. Veja o que diz Ornelas (1995, p.92):

[...] fixados os honorários, de plano ou após terem sido ouvidas as partes, poderão acontecer alguns eventos que passamos a abordar [...]. A parte insatisfeita com o valor arbitrado poderá requerer ao magistrado que reconsidere sua decisão e, no insucesso do pleito, agravar da decisão para o tribunal, formando-se, assim, um processo deno-minado Agravo de Instrumento a ser enfrentado pela Se-gunda Instância, agravando a decisão do magistrado [...]. Independentemente de concordância, de impugnação, ou de agravo, a quantia fixada deve ser depositada à ordem do magistrado em instituição bancária autorizada a rece-ber depósitos judiciais no prazo por este determinado.

3.5. Depósito prévio e complementarO Magistrado poderá fixar que determinada quantia seja

depositada a favor do perito a título de honorários provisó-rios. O depósito efetuado sobre essas circunstâncias é deno-minado “depósito prévio”, já que é efetivado antes do início dos trabalhos periciais.

Definidos os honorários definitivos, o magistrado determi-nará que seja feito depósito judicial complementar referente à diferença entre os honorários fixados e os depósitos pré-vios já depositados.

3.6. Levantamento dos honoráriosEntende-se por levantamento dos honorários o recebi-

mento pelo perito do valor depositado. É feito por intermédio de guia de levantamento expedida pelo cartório ou ofício. Todo ato jurídico será acompanhado de petição dirigida ao Juiz do feito; portanto, no momento de requerer os honorários, não seria diferente. Este documento, no entanto, terá como base de sustentação o parágrafo único do art. 33, do CPC:

Art. 33 [...]Parágrafo único – [...] O numerário recolhido em depósito bancário à ordem do juiz e com correção monetária será entregue ao perito após a apresentação do laudo, facul-tada a sua liberação parcial quando necessária.

A efetivação e movimentação dos valores depositados somente podem ser realizadas mediante prévia determina-ção ou autorização judicial. Ornelas (1995, p.95) diz que “[...] o depósito prévio e o complementar, ou o depósito integral dos honorários periciais são sempre realizados em estabeleci-mentos bancários autorizados, à ordem do magistrado, conse-qüentemente, só este poderá autorizar sua movimentação”.

Nem sempre, na entrega do laudo pericial, o perito asse-gura o recebimento dos honorários que, porventura, estejam depositados em conta judicial. Alguns Magistrados preferem ouvir as partes sobre o conteúdo do laudo pericial.

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Sendo necessária a feitura de nova perícia por outro pro-fissional, evidentemente que os honorários ali depositados serão repatriados para o novo perito.

4. ConclusãoOs objetivos deste trabalho revelam uma breve análise

sobre o planejamento e a proposta de honorários periciais com o objetivo de oferecer, principalmente àqueles que es-tão iniciando ou que pretendam iniciar na área, informações e procedimentos úteis para sua elaboração. Apesar de não existir uma lei específica sobre o assunto, acredita-se que à medida que entidades representativas dos profissionais como, por exemplo, a ASPECON – Associação de Peritos Contadores, que têm se espalhado pelo País, passem a ado-tar procedimentos técnicos para determinação dos honorá-rios, conseguir-se-á acabar com a diversidade de decisões que vêm sendo tomadas pelos Juizes.

Na elaboração de sua proposta, o perito deve ter em mente que o valor dos honorários deve ser: para o perito, condigno com seu trabalho; para o Juiz, a justa remuneração do trabalho pericial; e para as partes, condizente com a qua-lidade do trabalho realizado.

E, com as palavras de Morais e França (2004, p.110) conclui-se que “o sucesso de uma perícia pode iniciar-se por ocasião da oferta da petição de honorários”.

5. RecomendaçõesRecomenda-se que, na petição de honorários, o perito

sempre procure demonstrar claramente a justificativa para o valor sugerido, deixando os detalhes mais minuciosos para serem utilizados numa possível contestação de sua propos-ta. Esclarecer também que o respectivo montante não co-bre os trabalhos necessários para responder aos quesitos suplementares, caso os mesmos venham a ser apresenta-dos pelas partes, e outros fatores como a correção monetá-ria até a data do efetivo depósito. Deve, ainda, requerer ao juiz a determinação do depósito prévio, na forma dos art. 19 e 33 do Código de Processo Civil. Vale ressaltar o que diz Lopes de Sá (2004, p.71):

Tal fixação prévia pode, todavia, ser reajustada se o prazo da perícia assim o exigir e nos casos de inflação (habitual em nosso país). Em casos de aumento da carga horária de trabalho do perito, mesmo ele tendo fixado previamente seus hono-rários, se teve a cautela de precaver-se contra aumento de tal carga, pode pedir reajuste.

Outra recomendação é a continuação do presente estudo ou novas pesquisas sobre o tema.

BibliografiaALBERTO, Valder Luiz Palombo. Remuneração do trabalho pericial. Características. Modelos de estimativa. Arbitramento e recursos. In:_____Perícia Contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº. 857/99 – NBC P 2 – Normas Profissionais do Perito. Disponível em: http://www.cfc.org.br. Acesso em: 15 ago. 2005.________. Resolução CFC 1021/2005 – NBC T 13.2 – Planejamento da Perícia. Disponível em: http://www.cfc.org.br. Acesso em: 15 ago. 2005.FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, De-senvolvimento MGB Informática Ltda., 1999.LOPES, José Livino Pinheiro. O perito contador. In:_____Manual do perito contador. 2. ed. Fortaleza: Editora Fortes, 2004. MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias; et al. Perícia contábil: Uma Abordagem Teórica, Ética, Legal, Processual e Opera-cional – Casos Práticos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. MORAIS, Antonio Carlos. Honorários periciais. Disponível em: <http://www. ibracpericias.com.br/skins/flash_br/artigo001.htm>. Acesso em:14 jul. 2005.MORAIS, Antonio Carlos FRANÇA, José Antonio de. Honorários periciais. In Perícia judicial e extrajudicial: uma abordagem con-ceitual e prática, teoria e prática processual. 2. ed. Brasília: A.C. Morais, J.A. de França, 2004. ORNELAS, Martinho Maurício Gomes. Perícia contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1995. SÁ, Antonio Lopes. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.VENDRAME, Antonio Carlos. A ética do perito judicial. Disponível em: <http://www.vendrame.com.br/artigos/artigos_ant10.htm>. Acesso em 25 jul. 2005._______. Elaborar quesitos ou não? Eis a Questão. Disponível em: <http://www.vendrame.com.br/artigos/artigos_ant07.htm>. Acesso em 1º ago. 2005.

João Luis Aguiar Gilson Vieira Cabral Ruiter Carlos da Silva Antônio Torquato Silva

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ResumoO artigo objetiva evidenciar formas de controle de investi-

mentos no capital humano, na perspectiva do capital intelectu-al, adotados em uma agroindústria. A pesquisa caracteriza-se como sendo do tipo exploratório, realizada por meio de um es-tudo de caso, com abordagem qualitativa. Inicia-se com uma incursão teórica nas características do capital intelectual e me-todologias de sua avaliação, contempladas na literatura. Na seqüência, apresentam-se conceituações do capital humano e indicadores de controle de investimentos no capital humano. No estudo de caso, a partir dos dados levantados na entrevista jun-to ao departamento de recursos humanos da agroindústria, são identificados os investimentos realizados no capital humano, bem como os indicadores de controle de investimentos nesse mesmo capital. Os resultados da pesquisa demonstram que o investimento no capital humano é considerado um elemento es-tratégico na empresa, ajudando-a a minimizar os impactos das turbulências do mercado, tornando-a mais competitiva.Palavras-chave: controle de investimentos; capital humano; agroindústria.

AbstractThe objective article to evidence forms of control of invest-

ments in the human capital, the perspective of the intellectual ca-pital, adopted in a agroindústria. The research is characterized as being of the exploratory type, carried through by means of a case study, with qualitative boarding. Initiates with a theoretical incursion in the characteristics of the intellectual capital and me-thodologies of its evaluation, contemplated in literature. In the sequence, one presents indicating conceptualizations of the hu-man capital and of control of investments in the human capital. In the case study, from the data raised in the together interview to the department of human resources of the agroindústria, the investments carried through in the human capital are identified, as well as the pointers of control of investments in this exactly capital. The results of the research demonstrate that the invest-ment in the human capital is considered a strategical element in the company, helping it to minimize it the impacts of the turbulen-ces of the market, being become it more competitiveKey-words: control of investiments; human capital; agroindústria.

Formas de Controle de Investimentos no Capital Humano em Uma Agroindústria

Ilse Maria BeurenFlorianópolis – SCContadora CRC–RS 34.508/O T SCDoutora em Contabilidade e Controladoria – FEA/USP1

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da FURB2

[email protected]

Vanessa Krepsky de MeloFlorianópolis – SCBacharel em Ciências Contábeis - UFSC3

[email protected]

Fabiano Maury RauppFlorianópolis – SCContador CRC-SC 23.886/OMestre em Administração – CPGA/UFSC3

Professor do ESAG/UDESC4 [email protected]

Artigo recebido em 15/12/2005 e aceito em 24/02/2006.

1. IntroduçãoNa Era Industrial os produtos eram feitos de forma padro-

nizada e em grande volume. Naquela época, as empresas entendiam que o capital físico era o recurso fundamental. To-davia, o conhecimento sempre esteve presente no decorrer do desenvolvimento da civilização. Existia na fase industrial e até mesmo quando a economia era baseada na agricultura, em que o homem dependia exclusivamente desta como meio de sustento e fonte de renda.

No entanto, atualmente percebe-se uma inversão de valores dentro das organizações, sendo que a valorização das máquinas deu lugar à valorização do conhecimento. A sociedade do conhecimento consubstancia-se, entre outros fatores, no capital intelectual.

O capital intelectual pode ser entendido como um conjun-to de conhecimentos, habilidades e experiências. Segundo Stewart (1998, p.XIII), “o Capital Intelectual é a soma do co-nhecimento de todos em uma empresa, o que lhe proporcio-na uma vantagem competitiva”.

Com o intuito de identificar o valor do capital intelectual,

1USP – Universidade de São Paulo – CEP 05.508-900 – São Paulo – SP.2FURB - Universidade Regional de Blumenau - CEP 89.010-500 – Blumenau – SC.3UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina - CEP 88.010-970 – Florianópolis – SC.4ESAG/UDESC - Escola Superior de Administração e Gerência da Universidade do Estado de Santa Catarina – CEP 88.035-001 – Florianópolis – SC.

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o profissional de contabilidade tem discutido meios de men-surá-lo. A partir do registro deste, o patrimônio da empresa passaria a ser representado por um valor mais próximo da re-alidade, passando a atender a necessidades informacionais de seus usuários internos e externos.

O conhecimento gera o capital intelectual dentro das or-ganizações, sendo ele detido exclusivamente por pessoas. Crawford (1994, p.34) destaca que “a característica mais marcante da economia do conhecimento é o surgimento do capital humano — ou seja, pessoas educadas e habilitadas — como força dominante na economia”.

Nesse sentido, o ser humano, com seu conhecimen-to, habilidade e capacidade, forma o capital humano. Os funcionários são a fonte e os detentores do conhecimen-to dentro das empresas. São eles que realizam o trabalho intelectual capaz de gerar o diferencial competitivo para a empresa, pesquisando, criando, tendo idéias e produzindo informações.

Surge, assim, a necessidade de as empresas recruta-rem, selecionarem e contratarem funcionários que contri-buam para que a mesma atinja seus objetivos e alcance os resultados planejados. Isto implica que seus conhecimentos possam agregar valor aos bens e serviços, gerando um dife-rencial competitivo para a empresa.

Além disso, as empresas devem reconhecer o valor de um trabalhador do conhecimento e investir nele, pois as pessoas são importantes por sua capacidade de renovação e inova-ção. Esses investimentos podem ser concretizados através de treinamentos, cursos de capacitação, entre outras formas. Isto leva as pessoas a se sentirem parte do funcionamento da or-ganização e não apenas um elemento usado por ela.

Stewart (1998) diz que as organizações investem a longo prazo, por exemplo, em pesquisa, desenvolvimento e treina-mento. Ressalta que os investimentos também constituem uma forma de dispêndio de capital, embora as regras con-tábeis insistam em que normalmente sejam tratados como outro tipo de dispêndio da empresa, isto é, como despesas.

Assim, o artigo objetiva evidenciar formas de controle de investimentos no capital humano, na perspectiva do capital intelectual, adotados em uma agroindústria. A pesquisa foi realizada através de um estudo de caso, com abordagem qualitativa, em uma agroindústria. Para a coleta dos dados foi utilizada a técnica de entrevista semi-estruturada, aplica-da ao coordenador de recursos humanos da empresa.

2. Caracterização do Capital Intelectual

Na economia voltada para o conhecimento, muitas em-presas deparam com um valor de mercado superior ao lan-çado pela contabilidade. Edivinsson e Malone (1998, p.19) entendem que o capital intelectual “representa uma lacuna oculta entre o valor de mercado e o valor contábil”. O capital intelectual é definido por Stewart (1998, p.XIII) como:

a soma do conhecimento de todos em uma empresa, o que lhe proporciona vantagem competitiva. Ao contrário dos ativos, com os quais os empresários e contabilistas estão familiarizados — propriedade, fábricas, equipa-mentos, dinheiro —, o capital intelectual é intangível.

O capital intelectual está relacionado com conhecimento, criatividade, inovação, relacionamento com clientes, tecno-logia, marca etc. Corresponde à parte intangível que agrega valor aos bens e serviços de uma empresa.

Para uma melhor compreensão do assunto, Edivinsson e Malone (1998) utilizam a metáfora da árvore para descrever o capital intelectual. Explicam que a empresa pode ser com-parada a uma árvore. A parte visível — o tronco, os galhos e as folhas — reflete o organograma da empresa, bem como os relatórios e os demonstrativos financeiros, isto é, a parte física da empresa. A outra parte da árvore, que fica abaixo da superfície, compõe um conjunto de raízes, representando o capital intelectual, isto é, a parte invisível da empresa.

Em se tratando da sua composição, Stewart (1998, p.67) diz que o capital intelectual se constitui de três elementos: “ca-pital humano, estrutural e capital do cliente”. O capital humano refere-se às pessoas com seus conhecimentos, habilidades, experiências, capacidades de inovar e gerar novas idéias. Edi-vinsson e Malone (1998, p.31) tratam o capital humano como:

toda capacidade, conhecimento, habilidade e experiên-cia individuais dos empregados e gerentes estão incluí-dos no termo capital humano. Mas ele precisa ser maior do que simplesmente a soma dessas medidas, devendo, de preferência, captar igualmente a dinâmica de uma organização inteligente em um ambiente competitivo em mudança (...) deve também incluir a criatividade e a ino-vação organizacionais.

O capital estrutural pertencente à empresa é aquele que oferece infra-estrutura para o capital humano se desenvolver. Pode ser entendido como o capital que dá suporte aos fun-cionários, por exemplo, os móveis e as máquinas, ou seja, representa a estrutura física da empresa.

Edivinsson e Malone (1998, p.32) descrevem o capital estrutural como “o arcabouço, o emporwerment e a infra-es-trutura que apóiam o capital humano. Ele é também a capaci-dade organizacional, incluindo os sistemas físicos utilizados para transmitir e armazenar conhecimento intelectual”.

Por sua vez, o capital de clientes representa o relacionamen-to das pessoas de uma empresa com outras, sendo estabeleci-do um relacionamento de venda. De acordo com Edivinsson e Malone (1998, p.33), “o relacionamento de uma empresa com seus clientes é distinto das relações mantidas com os emprega-dos e parceiros estratégicos e, também, esse relacionamento é de importância fundamental para o valor da empresa”.

Nesta perspectiva, Sveiby (1998, p.140) diz que os clientes podem ser fontes de lucros intangíveis. Também entende que:

a escolha da empresa do conhecimento no que diz respei-to a clientes, portanto, tem um significado estratégico vital porque o tipo de clientes com os quais uma empresa do co-nhecimento trabalha determina tanto a qualidade quanto a quantidade de suas receitas intangíveis do conhecimento.

Diante do exposto, observa-se que a escolha estraté-gica de clientes refere-se ao potencial que estes têm de futura geração de receitas para a organização.

Neste sentido, os três elementos mencionados mos-

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tram ao investidor e demais interessados o que existe além do patrimônio físico de uma empresa. Visualizando o intangível juntamente com a parte física é possível avaliar o patrimônio da empresa.

3. Metodologias e Avaliação do Capital Intelectual

O capital intelectual pode ser medido, apesar de ser intan-gível, por meio de diversas metodologias. A presente seção aborda a metodologia de Leif Edivinsson e Michael Malone e a de Karl Erik Sveiby. A escolha da abordagem dessas duas metodologias deve-se ao fato de que esses autores preconi-zam que o valor de mercado de uma empresa é constituído por seu patrimônio visível e por seus ativos intangíveis, enfo-que esse que coaduna com os pressupostos que motivaram o direcionamento desta pesquisa.

3.1. Modelo de Leif Edivinsson e Michael MaloneA abordagem de Edivinssom e Malone (1998) representa

um modelo de avaliação do capital intelectual de uma empre-sa que não pode ser observado nas demonstrações contá-beis tradicionais. A avaliação está baseada em três tipos de capital: o capital humano, estrutural e de clientes.

Na Figura 1 apresenta-se o Navegador de Capital Intelec-tual da empresa Skandia AFS (Assurance Financial Services, em português “Serviços de Segurança Financeira”), desen-volvido e implantado por esses autores. O navegador permite avaliar o intangível, combinado com o financeiro, utilizando principalmente índices e indicadores não-financeiros.

Figura 1: Navegador de capital intelectual Fonte: Edivinsson e Malone (1998, p.60).

Este navegador é composto por cinco áreas, nas quais a empresa focaliza sua atenção. O foco financeiro está volta-do para o balanço patrimonial e fornece um momento exato do passado de uma empresa. Além disso, a contabilidade oferece também outras informações aos usuários internos e externos, auxiliando na tomada de decisão.

O foco na renovação e desenvolvimento evidencia o que a empresa está fazendo para captar oportunidades futuras. Alguns índices podem ser destacados, como: o índice de fun-cionários satisfeitos, rotatividade de empregados e recursos investidos em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

O foco no cliente busca a melhoria do relacionamento da empresa com o cliente. Alguns indicadores podem ser men-cionados, como: o número de clientes perdidos, relação do

número de clientes/empregados e participação no mercado.O foco no processo representa a infra-estrutura tecno-

lógica que dá apoio aos trabalhadores, contribuindo para a melhoria dos resultados da empresa. No processo verifica-se indicadores como o de desempenho corporativo, custo de reposição e número de contas por funcionário.

O foco humano está relacionado com o de processo e o de clientes. É um dos mais complexos a serem avaliados, em virtude do seu caráter subjetivo. Os indicadores são repre-sentados por rotatividade de pessoal, tempo de treinamento e educação por funcionário.

Esse modelo de avaliação do capital intelectual proporcio-na a avaliação dos ativos intelectuais por meio destes cinco focos, desdobrados em indicadores. Os autores afirmam que esse novo modelo vem complementar as demonstrações con-tábeis que medem o desempenho financeiro da empresa.

3.2. Modelo de Karl Erik SveibyA metodologia proposta por Sveiby (1998) tem sua estra-

tégia voltada para o conhecimento. No Quadro 1 mostra-se a divisão dos ativos em patrimônio visível e intangíveis, estes divididos em estrutura interna, estrutura externa e competên-cia do pessoal.

Patrimônio Visível Ativos Intangíveis

Ativos tangíveis (-) passivos

visíveis

Estrutura externa

Estrutura interna

Competência do pessoal

Quadro 1: O patrimônio visível e os ativos intangíveis como valor de mercado de uma empresaFonte: Sveiby (1998, p.188).

A metodologia de avaliação do ativo intangível baseada no modelo de Sveiby apresenta vários indicadores a serem utilizados, mas que devem ser adequados a cada organiza-ção específica. A estrutura externa diz respeito aos relacio-namentos dos trabalhadores da organização com os clientes e fornecedores. A estrutura interna refere-se à gerência, que deve conhecer e acompanhar o desenvolvimento da empre-sa. Por fim, a competência do pessoal refere-se diretamente às habilidades das pessoas que trabalham na organização.

Os indicadores de avaliação para as três categorias de ativos intangíveis são o crescimento e a renovação, a eficiên-cia e a estabilidade, conforme se demonstra no Quadro 2.

Competência Estrutura Interna Estrutura Externa

Indicadores de Crescimento/

Renovação

Indicadores de Crescimento/

Renovação

Indicadores de Crescimento/

Renovação

Indicadores de Eficiência

Indicadores de Eficiência

Indicadores de Eficiência

Indicadores de Estabilidade

Indicadores de Estabilidade

Indicadores de Estabilidade

Quadro 2: Indicadores de ativos intangíveis Fonte: Sveiby (1998, p.197).

Como sugere Sveiby (1998), a gerência deve selecionar um ou dois indicadores para cada subtítulo; portanto, deve selecio-

Ilse Maria Beuren Vanessa Krepsky de Melo Fabiano Maury Raupp Formas de Controle de Investimentos no Capital Humano em Uma Agroindústria

Foco Financeiro

Foco no Cliente

Foco HumanoFoco no Processo

Foco na Renovação e Desenvolvimento

Histórico

CI

hoje

aman

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nar indicadores para crescimento/renovação, eficiência e esta-bilidade para a avaliação dos três tipos de ativos intangíveis.

Como mencionado anteriormente, existem outras metodolo-gias de avaliação do capital intelectual, além das mencionadas neste estudo. Essas metodologias visam avaliar o capital inte-lectual, que, por ser intangível, não pode ser mensurado como um dos componentes do patrimônio físico de uma empresa.

Em síntese, as duas metodologias verificadas tratam o capital humano como um ativo intangível. Portanto, faz-se necessário abordar este capital como elemento formador do capital intelectual. 4. Conceituação do Capital Humano

Uma das características marcantes da economia do conhecimento é a valorização do capital humano. Na nova economia, entende-se que a tecnologia dá suporte ao de-senvolvimento do trabalho humano. Crawford (1994, p.17) comenta que:

capital humano significa pessoas estudadas e especiali-zadas — é o ponto central na transformação global (...) a expressão capital humano apareceu pela primeira vez na literatura econômica em 1961 num artigo intitulado “Investindo em Capital Humano” publicado na American Economic Review e escrito por um vencedor do Prêmio Nobel, o economista Theodore W. Schultz.

Segundo Edivinsson e Malone (1998, p.10), o capital hu-mano pode ser entendido como “o conhecimento, a experi-ência, o poder de inovação e a habilidade dos empregados de uma companhia para realizar as tarefas do dia-a-dia. In-clui também os valores, a cultura e a filosofia da empresa. O capital humano não pode ser de propriedade da empresa”.

Nesse sentido, o capital humano tem valor intrínseco e representa um conjunto de capacitações, conhecimentos, habilidades e experiências que as pessoas possuem. Entre-tanto, as pessoas não são ativos humanos, pois a empresa não pode ser a proprietária delas.

De acordo com Stewart (1998, p.77), o principal objetivo do capital humano é:

a inovação — seja sob a forma de novos produtos e ser-viços ou de melhorias nos processos de negócios —, então o capital humano é formado e empregado quando uma parte maior de tempo e do talento das pessoas que trabalham em uma empresa é dedicada a atividades que resultam em inovação.

O capital humano representa uma fonte de inovação, que

pode fazer o diferencial e atrair clientes para determinada empresa e não para os seus concorrentes. Uma das formas que a empresa encontra para isso é fazer com que o ambien-te, a infra-estrutura e os investimentos contribuam para que as pessoas sintam-se motivadas a trabalhar.

Portanto, o capital humano não pode operar sozinho, ele precisa estar aliado ao capital estrutural. O capital estrutural é aquele que dá suporte ao capital humano, haja vista que não adianta a empresa ter funcionários talentosos e não oferecer

uma estrutura adequada para eles trabalharem. Além disso, deve estar aliado ao capital de clientes, que diz respeito ao relacionamento da empresa com seus compradores/fornece-dores de bens ou serviços.

Stewart (1998, p.78) comenta que “o capital humano cresce de duas formas: quando a empresa utiliza mais o que as pessoas sabem e quando um número maior de pessoas sabe mais coisas úteis para a organização”.

Para que o capital humano não possa dissipar-se facilmen-te, a organização deve adotar práticas de administração que visem não perdê-lo. Redondo (1999, p.537) comenta que os ati-vos intangíveis são para a organização “investimentos que re-presentam direitos ou bens, que têm valor jurídico e econômico, de natureza imaterial, de caráter relativamente permanente, e necessários para a geração de receitas”. Nesse sentido, o capi-tal humano torna-se um importante ativo para uma organização. Pouco adianta a empresa possuir a última tecnologia e estar muito bem estruturada para os negócios, se não tiver pessoas talentosas e qualificadas que saibam conduzir os negócios.

Com o intuito de valorizar e desenvolver seu ativo huma-no, a empresa deve investir em treinamentos, cursos de ca-pacitação, recrutamento etc. Beuren e Beltrame (1998, p.42) afirmam que “o valor de um ativo humano consiste nos inves-timentos feitos em indivíduos, que vão reverter-se em bene-fícios para a empresa, e no valor de seus serviços prestados em relação à vida útil deste indivíduo dentro da empresa”.

Crawford (1994, p.159), referindo-se ao capital humano, explicita que:

dado que 70% dos recursos de uma empresa média se constituem de seu capital humano não é de se surpre-ender que uma melhor administração destes recursos aperfeiçoará o desempenho financeiro de uma empresa. Além disso, a identificação de empresas que efetivamen-te valorizam seus recursos humanos pode ajudar a pro-jetar um desempenho superior no futuro.

Por conseguinte, verifica-se um aumento do número de empresas que se preocupam não somente com a parte finan-ceira. Essas empresas já compreenderam que dar atenção à parte não-financeira, particularmente ao capital humano, abre caminhos, talvez não imediatos, para uma melhoria de seus resultados. Assim, o capital humano precisa ser gerenciado, e, nesta perspectiva, faz-se necessário analisar indicadores de controle de investimentos no capital humano.

5. Indicadores de Controle de Investimentos no Capital Humano

Segundo Edivinsson e Malone (1998, p.11), “o núcleo da chamada economia do conhecimento é constituído por enor-mes fluxos de investimento em capital humano bem como em informática”.

Diante disso, verifica-se que, em meio à acirrada con-corrência, as empresas que possuem pessoas que detêm conhecimentos e habilidades trazem consigo um diferencial para a empresa. São elas que promovem a eficiência, a eficá-cia e a efetividade da organização. Entretanto, é necessário que existam investimentos para o desenvolvimento, melhoria

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e capacitação dessas pessoas.Sobre investimento no capital humano, Beuren e Beltra-

me (1998, p.43) salientam que:a evidenciação desses investimentos em capital humano, bem como o valor econômico do indivíduo podem contri-buir para o desenvolvimento e sucesso dos negócios da empresa, permitindo que usuários internos e externos da informação contábil tomem conhecimento do potencial de geração de resultado dos recursos humanos.

As empresas investem nas pessoas com o intuito de obter resultados. Por sua vez, esses investimentos tendem a fazer com que as pessoas sejam impulsionadas a alcan-çar os objetivos da organização. Nesse contexto, Padoveze (2000) comenta que o investimento que as empresas fazem em seus trabalhadores tem uma via de mão dupla, pois be-neficia a ambos. O eventual descarte de um funcionário es-pecializado não deve ser visto como um problema, nem ser encarado como crueldade, pois ele poderá dispor de seus conhecimentos para atuar em qualquer outra entidade.

Portanto, os investimentos realizados não contribuem so-mente para que o funcionário possa melhorar seu desempe-nho na empresa. Através dos investimentos os funcionários adquirem conhecimentos, podendo sentir-se habilitados para aplicá-los também em outra empresa.

Padoveze (2000) diz que os gastos com o capital huma-no empresarial compreendem salários e quaisquer outras remunerações pela prestação dos serviços; encargos legais; encargos espontâneos; assistência social e à saúde; alimen-tação e transporte; recreação; treinamento; gratificações; prêmios e remunerações variáveis; previdência privada com-plementar e participação nos lucros.

Para obter-se eficácia na gestão do capital humano, é necessário um controle específico nesta área. As medidas para o gerenciamento deste capital podem se dar através de índices e indicadores relacionados ao capital humano, sendo que muitos deles são indicadores não-financeiros.

Edivinsson e Malone (1998, p.143) evidenciam indicado-res e índices para a avaliação do capital humano, destacan-do os seguintes: índice de motivação (%); índice de empo-werment (%); número de empregados (%); rotatividade dos empregados (%) tempo médio de casa; número de gerentes; idade média dos empregados; tempo de treinamento (dias/ano); rotatividade média dos empregados permanentes em período integral; e índice de liderança (%).

Nesta linha de raciocínio, de acordo com Sveiby (1998, p.201), “a competência dos funcionários não é apenas um dos três ativos intangíveis, mas também uma fonte das es-truturas interna e externa”. Na avaliação da competência dos funcionários, utiliza os seguintes indicadores:

crescimento/renovação – tempo de profissão, nível de escolaridade, custos de treinamento e educação, graduação, rotatividade e clientes que aumentem a competência;

eficiência – proporção de profissionais na empresa, o efeito alavancagem e valor agregado por profissional;

estabilidade – média etária, tempo de serviço, posição de remuneração e taxa de rotatividade.

Nota-se que a adoção da prática de gerenciamento da competência dos funcionários, considerando-os elementos

integrantes do ativo intangível, proporciona um melhoramen-to no que diz respeito à eficiência e eficácia dos funcionários de todos os setores da empresa.

De acordo com Sveiby (1998), um sistema de avaliação tem o objetivo de englobar todos os ativos intangíveis. Assim, a empresa deve selecionar indicadores para cada tipo de ati-vo intangível, sendo que as áreas de maior importância são as de crescimento e renovação, eficiência e estabilidade.

Esse mix de indicadores financeiros e não-financeiros, de ativos tangíveis e intangíveis, trouxe um equilíbrio maior para as empresas, transformando-se em elementos da gestão empresarial e fazendo com que os executivos compreendam a organização sob diferentes aspectos, não apenas na pers-pectiva do lucro.

Desse modo, monitorando os investimentos no capital humano, os gestores podem buscar estratégias e tomar ini-ciativas para obter pessoas cada vez mais competentes e motivadas. Esta motivação impulsionará os funcionários a contribuir para a otimização dos resultados da empresa.

6. Controle de Investimentos no Capital Humano na Empresa Objeto de Estudo

A empresa objeto deste estudo é uma agroindústria, cujo nome não se declina por razões diversas. Constitui-se em um complexo industrial que compreende granja de matrizes, incubatório, granjas de frango de corte, frigorífico, fábrica de ração, centrais de distribuição e uma central de compras e armazenagem de grãos.

O processo de produção é verticalizado e integrado. Todo o processo é realizado pela empresa, desde a produção de pintinhos, criação, industrialização, fabricação da ração, co-mercialização e distribuição do produto no mercado.

A empresa é composta por 11 unidades, como segue: ad-ministração, granja de matrizes, incubatório, armazenamento de grãos, fábrica de ração, granjas de corte, frigorífico e qua-tro centrais de distribuição.

Atualmente, a empresa tem sua produção mais voltada para o mercado interno. Entretanto, também exporta para países da União Européia, Ásia, África e Oriente Médio, representando quase 8% do total da produção. As exportações representam 5% do faturamento da empresa e tendem a aumentar com a conquista de novos mercados, através de investimentos na qualidade dos produtos e em todo o processo de produção.

A empresa é líder na venda de frangos no estado onde está estabelecida, não registrando até o momento da pesqui-sa qualquer prejuízo. Um dos objetivos da empresa é agre-gar valor à marca e manter-se líder na venda de frangos nas cidades onde ocupa essa posição. Para isso, investe tam-bém em campanhas publicitárias, com a finalidade de que sua marca se fortifique e se torne cada vez mais conhecida entre clientes e consumidores.

6.1. Investimentos realizados no capital humanoOs investimentos em capital humano já são percebidos

no próprio processo de recrutamento e seleção. A escolha dos funcionários é diferente para a área administrativa e a área de produção, esta última denominada “linha de frente”. Em ambas, o processo de seleção é composto por várias

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fases: entrevistas, testes, exames de saúde, entre outras.O processo de seleção da área administrativa tem um

grau maior de complexidade, devido ao nível de qualifica-ção exigido do profissional, se comparado com o da área de produção. A empresa demora, em média, dez dias para contratar uma pessoa para a área de produção. Já na área administrativa, esse tempo fica em torno de 20 dias úteis.

Após a contratação, iniciam-se os investimentos diretos nos funcionários, geralmente através de treinamentos. Exis-tem vários pontos de treinamento, desde o treinamento básico, treinamento no posto de trabalho, treinamento na qualidade.

O plano de treinamento anual é montado pelo departa-mento de recursos humanos, juntamente com as chefias. Após sua elaboração, o plano passa pela superintendência para aprovação.

Os programas de treinamento na qualidade estão rela-cionados com a ISO, 5S, HACCP (Hazard Analysis Critical Control Point, em português “Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle”) e segurança do trabalho. O 5S é um programa que estimula a mudança de atitudes das pessoas na empresa através de cinco conceitos: senso de utilização, de ordenação, de limpeza, de asseio e de autodisciplina. A empresa investe no treinamento de posto de trabalho, por ser um item exigido pela ISO 9001, em que o funcionário é treinado na função que ele executa pelo menos uma vez por ano, ou seja, é submetido a reciclagens.

Em seguida, ocorrem investimentos em treinamento es-pecífico, que são direcionados de acordo com a estratégia da empresa e o plano de carreira do funcionário. O critério adotado para investir em programas de treinamento sempre está atrelado à estratégia da empresa. Mesmo assim, o fun-cionário tem a oportunidade de fazer um plano de carreira, determinando como pretende crescer dentro da empresa.

Um exemplo de treinamento é o da área comercial, que tem como estratégia a intimidade com os clientes. A em-presa aplica um módulo de treinamento para desenvolver a equipe de vendas a fim de alcançar intimidade com seus clientes. São treinamentos voltados para a abordagem de vendas, contato com clientes, desenvolvimento, postura e técnicas de convencimento.

A empresa investe na educação continuada de seus fun-cionários, pagando 50% dos cursos de MBA, pós-graduação e inglês, sendo que este último é oferecido somente para áreas como exportação e assessoria. Na área de produção existe um programa de alfabetização que ensina 43 pessoas analfabetas a ler e a escrever. A empresa pretende, também, promover cursos como o de operador de caldeiras e curso de tecnologia de alimentos.

A empresa tem um programa para contratação de esta-giários e investe em seus funcionários, oferecendo assis-tência médico-odontológica, vale-alimentação, e paga 80% do almoço e do lanche para aqueles que fazem as refeições na empresa. Também existe um fretamento de ônibus para conduzir, principalmente, os colaboradores funcionais até o trabalho.

Algumas funções possuem gratificação, principalmente as desempenhadas no frigorífico, quando o funcionário é ele-vado a monitor ou líder de célula. Há uma política de remune-ração variável através da participação nos lucros, que é paga

anualmente para o pessoal administrativo e semestralmente para o pessoal da produção.

A empresa investe em seus funcionários desde o mo-mento do recrutamento e seleção até a função que ocupa, não apenas na admissão, mas ao longo da sua vida funcio-nal na empresa. Todos esses investimentos fazem com que as pessoas sintam-se valorizadas e motivadas, contribuindo, assim, para que escolham a empresa para trabalhar.

6.2. Indicadores de controle de investimentos no capital humano

Percebe-se que a partir das decisões que a empresa toma, os indicadores de investimento no capital humano vão ao en-contro do plano estratégico da empresa. Alguns indicadores de investimentos no capital humano estão relacionados com os requisitos da norma NBR ISO 9001:2000 e podem ser visu-alizados no Balanced Scorecard (é uma ferramenta de gestão que analisa o desempenho da empresa sob quatro perspec-tivas: financeira, aprendizado e crescimento, processos inter-nos e clientes). A avaliação dos funcionários encontra-se con-templada na perspectiva de aprendizado e crescimento.

Portanto, verifica-se que os indicadores utilizados no Ba-lanced Scorecard possuem uma interação com os requisitos a serem cumpridos na ISO 9001. Cabe ressaltar que cada gerente ou chefia traça metas para sua equipe, ou seja, cada uma dessas chefias utiliza indicadores de acordo com a área em que os profissionais atuam, além de sempre estarem re-lacionados diretamente com a estratégia da empresa.

Diante disso, no que diz respeito ao capital humano, po-dem ser identificados alguns dos indicadores utilizados pela empresa, destacando-se os seguintes: satisfação dos funcio-nários, treinamento em áreas que agregam valor ao negócio, controle de escolaridade, controle do turnover (rotatividade) e controle do absenteísmo.

a) Satisfação dos funcionáriosNo Balanced Scorecard dá-se a oportunidade ao funcioná-

rio de dizer se gosta ou não da atividade que exerce dentro da empresa. A empresa faz diagnóstico motivacional e pesquisa de clima organizacional uma vez por ano, quando verifica a satisfação com o trabalho, com o salário, com os benefícios oferecidos. O nível de satisfação dos funcionários é medido através de questionários e conversas diretas com seus supe-riores. Portanto, o indicador de satisfação dos funcionários tem o objetivo de medir o contentamento na função que exercem.

b) Treinamento em áreas que agregam valor ao negócioO objetivo desse indicador é avaliar os treinamentos em

áreas que possam agregar valor ao negócio e, também, avaliar se esses treinamentos proporcionam o crescimento profissional do funcionário na empresa. Vale destacar que um dos requisitos da ISO 9001 é avaliar a competência do funcionário com base em treinamento. Com os investimentos em treinamento, nas áreas específicas, é possível verificar se o funcionário está suficientemente apto para cumprir determi-nadas funções ou até mesmo exercer um cargo que almeje.

c) Controle de escolaridadeO nível de escolaridade dos funcionários é um dos requisi-

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tos da ISO 9001, que compreende a avaliação da competên-cia. O controle da escolaridade é utilizado para o processo de seleção dos funcionários na área administrativa. Além disso, a avaliação da escolaridade evidencia a capacidade que a em-presa tem de alcançar sucesso. Esse indicador também mos-tra se a empresa está melhorando seu nível educacional.

d) Controle de turnover (rotatividade)O departamento de recursos humanos da empresa pesqui-

sada utiliza como indicador o controle de turnover (rotatividade). Este indicador evidencia se os funcionários estão ou não satis-feitos com a empresa em que trabalham e se os investimentos que realiza estão realmente beneficiando o trabalhador.

e) Controle do absenteísmoEsse indicador refere-se às ausências, indicando os atra-

sos e o número de vezes que o funcionário se ausenta do seu posto de trabalho durante um determinado período de tempo.

Observa-se que, além dos investimentos que a empresa faz no capital humano, por entender que de nada adianta ter a melhor tecnologia se não tiver pessoas aptas para traba-lhar, também possui vários indicadores de controle de inves-timentos. Os trabalhadores são incentivados a ter uma visão holística da empresa, tendo a total liberdade de contribuir com sugestões e idéias que possam melhorar cada vez mais o modo de realização das atividades.

�. ConclusõesO trabalho objetivou verificar as formas de controle de

investimento no capital humano, na perspectiva do capital intelectual, em uma agroindústria.

O capital humano, aliado à tecnologia e estrutura da em-

presa, é indispensável, pois o conhecimento, a habilidade e a criatividade contribuem para o desenvolvimento da empresa. A agroindústria pesquisada valoriza seus funcionários, dando a eles liberdade de opinião, incentivando-os a inovar e criar, e propiciando-lhes um ambiente em que possam sentir-se importantes e participantes da organização.

Os investimentos no capital humano estão ligados ao plano estratégico da empresa e ao plano de carreira do fun-cionário. Os investimentos começam na seleção dos profis-sionais, na busca de talentos, sendo que, quando a empresa identifica pessoas talentosas, toma medidas para retê-las. Os investimentos no capital humano foram identificados como investimentos em educação, treinamento, gratificações e remunerações variáveis.

Observou-se, ainda, que os indicadores de controle de investimentos visam melhorar a capacidade de conhecimen-tos, de habilidades e experiências individuais das pessoas. Os indicadores identificados são os de satisfação dos funcio-nários, treinamento em áreas que agregam valor ao negócio, controle de escolaridade, controle de turnover (rotatividade) e controle do absenteísmo.

Devido à complexidade da empresa, não foi possível o le-vantamento detalhado de todos os indicadores utilizados por ela. Entretanto, alguns deles puderam ser identificados com base nos investimentos, e outros, por meio dos requisitos da ISO 9001, que devem ser cumpridos pela empresa.

Os resultados da pesquisa demonstram que a prática de investimento no capital humano e o monitoramento de indicadores fazem com que a empresa não olhe para o fun-cionário como mais um custo, em termos salariais, mas sim reconheça o seu valor, sabendo que é através dele que ela pode melhorar seus resultados.

BibliografiaBEUREN, Ilse Maria; BELTRAME, Beuren. Mensuração e contabilização dos recursos humanos sob o ponto de vista de seu potencial de geração de resultados. Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, n. 95, p. 40-45, out/dez. 1998.CRAWFORD, Richard. Na era do capital humano: o talento, a inteligência e o conhecimento como forças econômicas. Seu impacto nas empresas e nas decisões de investimento. São Paulo: Atlas, 1994.EDIVINSSON, Leif; MALONE, Michael S. Capital intelectual: descobrindo o valor real de sua empresa pela identificação de seus valores internos. São Paulo: Makron, 1998.REDONDO, A. Curso prático de contabilidad general y superior. 3. ed. Caracas: Centro Contable Venezoelano, 1999. vol. 1.STEWART, Tomas A. Capital intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. 7.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.SVEIBY, Karl Erik. A nova riqueza das organizações: gerenciando e avaliando patrimônios de conhecimento. Rio de Ja-neiro: Campus, 1998.

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ResumoEstudo bibliográfico e descritivo realizado com o objetivo

de expor os aspectos contábeis associados à Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), bem como apresentar alterna-tivas para aperfeiçoar o uso de suas informações disponi-bilizadas aos stakeholders, as análises de quocientes e do comportamento dos fluxos de caixa, sendo que esta última possibilita definir a fase do ciclo de vida em que as empresas e/ou setores econômicos se encontram. A pesquisa torna-se oportuna por ter sido elaborada no momento em que tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei n. 3741, propondo estabelecer a DFC como obrigatória no Brasil.Palavras-chave: contabilidade financeira, informações para investi-dores, ciclo de vida das empresas.

AbstractBibliographic and descriptive study realized to show accoun-

ting aspects associated to the statement of cash flows and pre-sents alternatives to improve the use of its information provided to the stakeholders, the ratio analysis and the bearing of cash flows analysis. The last one makes possible to define where the enterprise´s and the economic sector´s life cycle stage are. The research has been well-timed at the moment there is the law project n. 3741 in National Congress, that proposes to estabilish the statement of cash flows as obligatory in Brazil.Key words: financial accounting, informations to investors, enterprise´s life cycle stage.

IntroduçãoAlém das demonstrações financeiras obrigatórias, previs-

tas na Lei das Sociedades por Ações, relatórios e demons-trativos facultativos são emitidos pelas empresas, o que não os torna menos importantes, haja vista a Demonstração dos Fluxos de Caixa, que entre várias outras características, per-mite a conciliação entre o regime de competência — presen-te no Balanço Patrimonial e na Demonstração do Resultado do Exercício — e o regime de caixa.

Stickney e Weil (2001, p. 172) já citam como exemplo o Boston Market, a Montgomery Ward e a United Press Interna-tional, empresas que no início da década de 90 requereram

A Demonstração dos Fluxos de Caixa como Ferramenta de Análise Financeira

Luiz Claudio Otranto AlvesNatal – RNBacharel em Ciências Contábeis – UFRN1

[email protected]

José Augusto Veiga da Costa Marques Rio de Janeiro – RJProfessor do Programa do Mestrado em Ciências Contábeis – UFRJ2

Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria – USP3

[email protected]

falência, apesar de gerarem lucro (regime de competência) na maior parte dos anos anteriores a esse período.

Estudos recentes de Stickney e Weil (2001) e Marques (2004) mostram que a análise e interpretação da Demonstra-ção dos Fluxos de Caixa (DFC) também é importante para a identificação da fase do ciclo de vida de uma empresa, bem como o perfil do setor econômico em que ela está inserida.

O Pronunciamento n. 95 de novembro de 1987 do Finan-cial Accounting Standards Board – FASB, Statement of Cash Flows, simplificando, FAS n. 95, exige que as empresas nor-te-americanas incluam uma demonstração dos fluxos de cai-xa como parte do conjunto das demonstrações contábeis.

O Standard n. 7 do International Accounting Standards Board, simplificando, IAS n. 7, recomenda a preparação de uma demonstração dos fluxos de caixa que informe o fluxo de caixa associado às atividades operacionais, de investi-mento e de financiamento.

No Brasil, uma proposta de alteração da Lei das Socieda-des por Ações já prevê a obrigatoriedade da DFC. Até o pre-sente momento, o Ofício-Circular CVM/SNC/SEP n.1/2005 e a Norma de Procedimentos Contábeis – NPC n. 20, do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON, estabelecem definições, considerações sobre técnicas con-tábeis e modelos padronizados, além de incentivar sua divul-gação como informação complementar.

Em 3 de outubro de 2005, a CVM emitiu a Deliberação n. 488. Seu item 8 define um conjunto completo de demonstra-ções contábeis incluindo a DFC.

Artigo recebido em 12/01/2006 e aceito em 24/02/2006.

1UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CEP 58.072-970 – Natal – RN.2UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP – 21.941-590 – Rio de Janeiro – RJ.3USP – Universidade de São Paulo – CEP 05.508-900 – São Paulo – SP.

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2. Desenvolvimento

2.1. Conceitos introdutóriosA DFC é a demonstração financeira que tem como princi-

pal finalidade a evidenciação da variação do saldo de caixa e seus equivalentes, ao longo do exercício social, por meio da estruturação das atividades da empresa em operacionais, de investimento e de financiamento, possibilitando a integração com outros relatórios.

Segundo Marques (2004, p. 90), em sentido amplo, a DFC deve fornecer indicativos de liquidez, solvência e flexibi-lidade financeira da organização.

Fazendo-se a diferenciação entre os três indicativos:a) liquidez – capacidade da companhia de possuir ativo circu-lante (AC) em montante superior ao passivo circulante (PC);b) solvência – capacidade de pagamento de dívidas por ocasião de seus vencimentos. Enfatiza a dimensão temporal, ou seja, o ato de pagar dívidas; ec) flexibilidade financeira – habilidade da empresa em con-seguir fontes alternativas de financiamento.

Uma empresa pode até possuir liquidez, mas se por acaso seu passivo tiver grande parcela de dívidas financeiras a vencer em prazo inferior ao recebimento de créditos, acabará tornan-do-se insolvente. Por outro lado, uma empresa sem adequa-do nível de liquidez, mas com passivo constituído de grande parcela de obrigações que não envolvam saída de caixa, como adiantamentos de clientes, acabará por permanecer solvente. A flexibilidade financeira, a despeito de sua subjetividade, pode combinar-se com os indicativos anteriores; como, por exemplo, conseguir empréstimos de longo prazo em bancos para honrar compromissos de curto prazo, possibilitando, em um primeiro momento, a solvência e a melhora no nível de liquidez.

Embora, em geral, os três conceitos sejam abordados simplificadamente como “liquidez”, sem maiores rigores con-ceituais, quando se trata de DFC, torna-se importante a dife-renciação entre os mesmos.

2.2. Objetivos da Demonstração dos Fluxos de CaixaO objetivo principal da DFC é explicar as diferentes ra-

zões da alteração do saldo de caixa entre dois balanços consecutivos. Depreende-se o motivo de a DFC ser uma demonstração dinâmica, representando um “fluxo”, comple-mentando as informações referentes a caixa e equivalentes, que são apresentadas de maneira estática no Balanço Patri-monial, apenas por seus “saldos”.

Quando utilizada com dados de outras demonstrações contábeis, atende aos seus objetivos específicos, auxiliando os stakeholders a:

(a) avaliar a capacidade do negócio de gerar fluxos de caixa líquidos positivos; (b) avaliar a capacidade do empreendimento de cumprir suas obrigações, sua ca-pacidade de pagar dividendos e suas necessidades de financiamento externo; (c) avaliar as razões para as di-ferenças entre o resultado líquido e os recebimentos e pagamentos de caixa associados; (d) avaliar os efeitos sobre a posição financeira do negócio de suas transa-ções de financiamento e investimento de caixa a as que não afetam o caixa durante o período. (FAS n. 95, p. 2)

Para atender o suprimento de informações aos stakehol-ders, a DFC deve seguir determinados padrões, chamados neste trabalho de objetivos acessórios:a) apresentar-se de forma estruturada, em atividades opera-cionais, de investimentos e de financiamentos, como forma de classificação das razões de alteração no caixa e equivalentes;b) listar como informações adicionais as transações que pos-sam causar efeitos no caixa em eventos subseqüentes, mas que não representam movimentação de caixa do período; ou seja, informações que alteram a posição financeira presente (estruturas de financiamento e investimento) e os fluxos de caixa futuros; ec) conciliar o lucro líquido com o fluxo de caixa operacional, uma vez que os pagamentos operacionais em determinado período normalmente não coincidem com as despesas infor-madas na demonstração do resultado.

2.3. Conceito de caixa e seus equivalentes

Primeiramente torna-se importante diferenciar fluxo de recursos, variação do saldo de tesouraria e fluxo de caixa, relacionados por Silva (2001, p.450), como forma de evitar dúvidas e integrar os conceitos:a) fluxo de recursos – associado ao conceito de variação do capital circulante líquido (CCL). Excluem-se do lucro líquido as operações que não afetaram o CCL. Adicionalmente, in-cluem-se as operações relativas às variações ocorridas nas contas não circulantes e que afetaram o CCL;b) variação do saldo de tesouraria – variação de caixa num conceito mais abrangente que o de caixa e equivalentes de cai-xa. O saldo de tesouraria é a diferença entre o ativo circulante financeiro e o passivo circulante financeiro (ACF – PCF); ec) fluxo de caixa – associado às entradas e saídas de caixa e equivalentes de caixa durante um determinado período.

Para chegar-se ao conceito de caixa e equivalentes, deve-se definir caixa em sentido restrito, que equivale ao dinheiro em tesouraria, na sede da empresa, para custear despesas de pequeno vulto e pronto pagamento.

A denominação “caixa e seus equivalentes” ou “disponi-bilidades” representa o sentido amplo do conceito de caixa, utilizado na maior parte dos países, inclusive no Brasil.

Segundo Marques (2004, p. 93),

Para tais países, caixa, para efeito de DFC, representa disponibilidades, o total de numerário em mãos mais o somatório das contas correntes mantidas nos bancos e as aplicações financeiras de curtíssimo prazo, as quais se convertem em dinheiro a um custo irrelevante [...] No caso brasileiro, o custo de converter aplicações financei-ras em numerário é a Contribuição Provisória sobre Mo-vimentação Financeira (CPMF).

A proximidade do vencimento não credencia um investimen-to a ser classificado como uma “disponibilidade”; nem mesmo o próprio vencimento. O que vale é o seu prazo de vencimento original. Por exemplo, um título que tem um prazo nominal de 180 dias para seu resgate só poderá ser “disponibilidade” se ad-quirido até 90 dias de seu vencimento. Caso contrário, deverá compor a conta “títulos a receber”, de menor liquidez.

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2.4. Critério de classificação por atividadesMarques (2004, p. 100) afirma que o formato de divulga-

ção mais difundido contempla as atividades operacionais, de investimento e de financiamento.

As atividades operacionais estão relacionadas à manu-tenção das operações da empresa, principalmente a venda de produtos e a prestação de serviços, espelhando no caixa quase a totalidade dos resultados operacionais divulgados na demonstração do resultado do exercício (conceito de inclusão). Normalmente geram mais caixa do que utilizam. Torna-se oportuno listar o que Marques (2004, p. 102) enqua-dra nesse tipo de atividade: (a) recebimentos de clientes por vendas à vista ou cobranças; (b) pagamentos a fornecedores por compras à vista ou a prazo; (c) pagamentos de salários, encargos sociais, comissões, férias etc.; (d) pagamentos de aluguéis e fretes; (e) pagamentos de juros e encargos de dívidas; (f) recebimentos de juros e rendimentos; (g) rece-bimentos de dividendos e juros sobre o capital próprio; (h) pagamentos e antecipações de impostos e contribuições; e (i) outros recebimentos e pagamentos operacionais.

As atividades de investimento representam a segunda seção da DFC e envolvem transações que alteram a estrutura de investimento da empresa e que afetam o caixa, indepen-dentemente do prazo de realização. Normalmente provocam redução do nível de caixa. Relaciona-se aqui o enquadramen-to de Marques (2004, p. 102): (a) aplicações em títulos de curto ou longo prazo; (b) resgate e liquidação do principal de aplicações; (c) pagamentos pela aquisição de participações societárias; (d) recebimentos pela alienação de participações societárias; (e) pagamentos por compras de ativos de longo prazo; (f) recebimentos de vendas de ativos de longo prazo; e (g) outros recebimentos e pagamentos de investimentos.

Finalmente, as atividades de financiamento estão vincula-das à estrutura de capital da empresa e envolvem as modifica-ções no passivo exigível e no patrimônio líquido, que afetaram o caixa no período, excetuando-se as relacionadas às opera-ções. Normalmente, num primeiro momento, elevam o caixa; contudo, a longo prazo, a restituição dos recursos emprestados provocará a sua diminuição. Nesse momento, espera-se que os financiamentos tenham sido capazes de proporcionar entradas de caixa operacionais superiores ao custo do capital tomado. Citando, mais uma vez, os exemplos de Marques (2004, p. 102): (a) contratação de empréstimos e financiamentos novos; (b) liquidação e pagamento do principal de dívidas; (c) produto recebido na emissão de debêntures e assemelhados; (d) paga-mento do principal de debêntures e assemelhados; (e) paga-mento de dividendos e juros s/ capital próprio; (f) aumento de capital em dinheiro; (g) contribuições recebidas para reservas de capital; (h) compra, reembolso e resgate de ações próprias; e (i) outros recebimentos e pagamentos de financiamentos.

2.5. Métodos direto e indiretoUma vez que, até o momento da elaboração deste trabalho,

não havia nenhuma determinação quanto à obrigatoriedade for-mal de algum modelo de apresentação da DFC, esta poderá ser preparada usando-se tanto o método direto quanto o indireto.

O método direto, chamado por Marion (2003, p. 431) de “Fluxo de Caixa no Sentido Restrito” ou “verdadeiro fluxo de caixa”, mostra todas as entradas e saídas de caixa que efetiva-

mente provocaram a variação das disponibilidades do período. Argumenta que a sua elaboração é mais trabalhosa, pois exige controles específicos para a segregação das movimentações financeiras; porém, sua apresentação torna-se mais compreen-sível para os usuários externos, iniciando com os valores rece-bidos de clientes e pagos a fornecedores, permitindo a rápida geração de informações. A conciliação com a DRE ocorre numa seção à parte, denominada “Divulgações Adicionais”.

O método indireto, chamado por Marion (2003, p. 431) de “Fluxo de Caixa no Sentido Amplo”, mostra as entradas e saí-das de caixa com menos detalhamento do que o método direto. Por sua semelhança de estrutura com a Demonstração de Ori-gens e Aplicações de Recursos (DOAR) — possibilitando maior automação em sua elaboração — e por sua capacidade de evi-denciar variações nos prazos de pagamentos e recebimentos, este método, até o presente estudo, tem sido o escolhido pela maioria das empresas. Porém, partindo do lucro líquido e ba-seando-se em diferenças de saldos e inclusão (eliminação) de itens que não afetaram as disponibilidades, sua apresentação acaba muitas vezes por confundir os usuários externos.

Como reflexo da não obrigatoriedade de um ou outro mé-todo, a NPC n.20 – IBRACON apresentou, em seus anexos 1 e 2, modelos de métodos direto e indireto. Ato contínuo, o Ofício-Circular CVM/SNC/SEP n.1/2005, no item 4.3, orien-tou que nada impede que a companhia aperfeiçoe o modelo proposto pela regulação, recomendando apenas o esclareci-mento das modificações, para que não haja prejuízo de en-tendimento para o usuário/investidor.

2.6. Normas contábeisO FAS n. 95 e o IAS n. 7 apresentam uma série de pontos

de divergência, sendo que um dos aspectos mais polêmicos refere-se à classificação dos juros e dividendos. Enquanto a norma internacional requer que se divulgue, separadamente, os juros pagos e recebidos e os dividendos pagos e recebi-dos, a norma norte-americana permite que os juros e dividen-dos recebidos possam ser divulgados em conjunto.

Sem precisar elencar as inúmeras situações de divergên-cias entre as duas normas, percebe-se que a maior flexibilidade classificatória do IAS n. 7 facilita a manipulação de dados, de acordo com o interesse de cada empresa. Por sua vez, a maior rigidez do FAS n. 95 faz com que certas transações, de nature-zas absolutamente distintas, recebam a mesma classificação, retratando uma semelhança que, na verdade, não existe.

Considerando que dificilmente chegar-se-á a uma nor-ma “perfeita”, depreende-se que maior credibilidade deve ser dada à norma norte-americana, por preservar o princípio fun-damental da consistência e por privilegiar a comparabilidade, uma das principais razões da existência das demonstrações contábeis, incluindo a DFC.

Como preparação para o momento de sua obrigatorieda-de no Brasil, a DFC vai, aos poucos, sendo regulamentada em nosso país.

A NPC n. 20, emitida em 1999, trouxe uma série de defi-nições, considerações de técnica contábil e exemplos. Uma espécie de introdução à regulamentação da DFC no Brasil. No seu último parágrafo informa que, enquanto as disposi-ções legais mantiverem a DOAR como obrigatória, a DFC deverá ser apresentada como informação complementar. A

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referida norma não trouxe uma exigência quanto ao efetivo tratamento dos juros e dos dividendos.

Na tentativa de preencher esta lacuna, o Ofício-Circular CVM/SNC/SEP n. 1/2005, após apresentar os pontos de di-vergência entre o FAS n. 95 e o IAS n. 7, no que tange à classificação de juros e dividendos, sugere:

Uma forma de conciliação entre esses pronunciamentos poderia ser a demonstração de juros pagos e juros e divi-dendos recebidos, como item do fluxo de caixa operacional e os dividendos pagos como item do fluxo de caixa de finan-ciamento, mantendo-se cada um desses itens demonstrado em separado. (Ofício-Circular CVM/SNC/SEP n.1, 2005)

Além de permitir uma classificação semelhante à de Mar-ques (2004, p.102) para juros e dividendos, o Ofício-Circular CVM/SNC/SEP n.1/2005 apresenta sinais latentes da proxi-midade da obrigatoriedade das DFC, uma vez que já obriga a divulgação no Brasil pelas companhias que as divulgam no ex-terior; além de expressar como “situação de transição atual” ao recomendar a consistência na divulgação da DOAR e da DFC.

Mello (2003, p. 93) constatou que empresas brasileiras emissoras de American Depositary Receipts (ADRs) nos EUA, que devem ter as DFCs divulgadas de acordo com as normas daquele país, não fornecem os mesmos demonstra-tivos aos investidores brasileiros e norte-americanos.

Preenchendo mais esta lacuna, o Ofício-Circular CVM/SNC/SEP n.1/2005 determina que o fluxo de caixa em portu-guês (publicado no Brasil) “deve manter a perfeita identidade com o fluxo de caixa divulgado em língua estrangeira segun-do normas estrangeiras”.

A Deliberação CVM n. 488 define em qual base as com-panhias abertas brasileiras deverão se espelhar ao frisar, em seu enunciado:

A importância e a necessidade de que as práticas con-tábeis brasileiras sejam convergentes com as práticas contábeis internacionais, seja em função do aumento da transparência e da segurança nas nossas informações contábeis, seja por possibilitar, a um custo mais baixo, o acesso das empresas nacionais às fontes de financiamen-to externas. (deliberação CVM n. 488, 2005, p. 1)

O corolário é que a globalização tem tornado cada vez mais imperativa a unificação da normatização contábil como um todo e não só com relação à divulgação da DFC.

2.7. Análise de quocientesUma das formas de utilização das informações mostradas

na DFC diz respeito à análise de quocientes dela extraídos. Os indicadores mais importantes foram agrupados por Marques (2004, p. 116) em quatro categorias distintas, que pretendem atender aos quatro objetivos específicos da DFC, mencio-nados no FAS n. 95. O mesmo autor informou que devido à importância do fluxo líquido de caixa gerado pelas operações (FCO) no contexto das demais entradas e saídas, torna-se ne-cessário excluir do mesmo as transações não usuais.

Quocientes de cobertura de caixa (possibilitam a avalia-ção da liquidez do empreendimento):

a) cobertura de juros com caixa = FCO antes de juros e im-postos/juros;b) cobertura de dívidas com caixa = (FCO - dividendos to-tais)/exigível; ec) cobertura de dividendos com caixa = FCO/dividendos totais.

O índice de cobertura de juros com caixa informa o número de períodos em que a saída de caixa com juros são cobertos pelos FCO, devendo complementar o indicador tra-dicional (cobertura de juros), que é computado numa base de regime de competência, além de considerar a dedução de despesas não desembolsáveis, como a depreciação.

O índice de cobertura de dívidas com caixa mostra o número de anos que, no nível de FCO atuais retidos (não distribuído como dividendos), seriam necessários para quitar todo o exigível.

O índice de cobertura de dividendos com caixa evi-dencia a capacidade de pagar dividendos totais e juros sobre o capital próprio, com base no FCO normal. O conhecimento de eventuais mudanças na política de determinação do mon-tante dessas exigibilidades podem levar ao ajuste da fórmula por uma taxa esperada de crescimento.

Quocientes de qualidade do resultado:a) qualidade das vendas = caixa das vendas/vendas; eb) qualidade do resultado = FCO/resultado operacional ou FCO antes de juros e impostos/resultado antes de juros im-postos e depreciação.

O índice de qualidade de vendas mede a proporção das receitas de vendas ganhas no exercício em relação aos recebimentos e cobranças de clientes. A utilização do méto-do direto no cálculo do FCO torna-se importante por mostrar o valor exato dos recebimentos de clientes.

O índice de qualidade do resultado possui duas aborda-gens. A mais simples fornece quanto o lucro operacional líquido gerou em caixa operacional. A mais completa elimina alguns dos principais itens que não afetaram o disponível corrente, contidos na DRE (depreciação, variações monetárias e cambiais de lon-go prazo e impostos diferidos), resultando numa aproximação melhor do caixa ao resultado das operações regulares.

Quocientes de dispêndio de capital:a) aquisições de capital = (FCO – dividendos totais)/cai xapago por investimentos de capital; eb) investimento/financiamento = fluxo de caixa líquido para in-vestimentos/ fluxo de caixa líquido de financiamentos ou flu-xo de caixa líquido para investimentos/ fluxo de caixa líquido de operações e financiamentos.

O índice de aquisições de capital é calculado dividin-do-se o FCO retido (desconsiderando dividendos pagos ou a pagar e somando-se o produto da alienação de ativos pro-dutivos) pelas aquisições líquidas de permanente (imobiliza-do); sinalizando a habilidade do negócio em atender suas necessidades por dispêndios líquidos de capital (aquisições menos alienações). Convém atentar que este índice pode variar de maneira expressiva, pelo fato de as aquisições mais importantes quase sempre acontecerem por financiamentos obtidos junto à instituições financeiras, não resultando em impacto imediato nas saídas de caixa.

A relação entre investimento e financiamento com-para os fluxos líquidos necessários para finalidades de in-vestimento com aqueles gerados por financiamento. Uma

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forma mais completa seria adicionar o FCO às atividades de financiamento. Tendo em vista que, na prática, os fluxos das atividades podem sofrer variações acentuadas, a utilização de valores médios, referentes a uma série de anos, tornaria este índice mais relevante.

Retorno dos fluxos de caixa:a) fluxo de caixa por ação = (FCO – dividendos prefereciais)/qtd. ações ordinárias;b) retorno de caixa sobre os ativos = FCO antes de juros e im-postos/ativos totais;c) retorno sobre passivo ELP e PL = FCO antes de juros e impostos/PL + ELP; ed) retorno sobre o patrimônio líquido (PL) = FCO/PL.

O fluxo de caixa por ação é calculado dividindo-se o caixa disponível aos acionistas ordinários pelo número mé-dio ponderado de ações ordinárias em circulação. Importante aqui destacar que este índice, juntamente com o de cobertu-ra de dividendos com caixa, possibilita aos investidores de-terminar o quociente payout de caixa.

O retorno do caixa sobre ativos totais equivale ao re-torno sobre o investimento total, relação-chave de lucrativi-dade, fundamentada no regime de competência. A compara-ção deste índice com a taxa real de juros representa um dos critérios para a avaliação de desempenho.

O retorno de caixa sobre passivo ELP e PL é basea-do nos investimentos permanentes realizados por credores e acionistas, sinalizando o potencial de recuperação de caixa do negócio para esses investidores.

Finalizando, o retorno de caixa sobre o patrimônio lí-quido mede a taxa de recuperação de caixa dos investimen-tos realizados pelos acionistas, por isso, o FCO não deve eliminar os juros e encargos pagos.

Em suma, os conjuntos de quocientes expostos auxiliam os stakeholders no acompanhamento da situação financeira das empresas, bem como na avaliação de tendências. Estes indicadores, em regime de caixa, sofrem as mesmas limita-ções dos tradicionais, em regime de competência. A fim de minimizar as distorções, deve-se evitar sua utilização de for-ma isolada ou para um período curto de tempo.

2.8. Análise do comportamento dos fluxos de caixaUma segunda forma de utilização das DFCs consiste na

análise do ciclo de vida das empresas, por meio do estudo do comportamento dos fluxos de caixa. Os comportamentos dos fluxos de caixa das três principais categorias de atividades das empresas dependem das características dos produtos e da ma-turidade do setor econômico em que elas estão inseridas. Para demonstração dos comportamentos, será utilizado como base o exemplo apresentado por Stickney e Weil (2001, p. 198).

Objetivando compreender o exemplo, parte-se da equa-ção básica do balanço patrimonial, desmembrando o ativo em caixa e outros ativos, e consideram-se as variações de seus componentes ao longo do exercício, obtendo-se a equação de alterações no saldo de caixa:

C = P + PL - OAem que:

C = variação de caixa OA = variação de outros ativos (que não caixa)

P = variação do passivo PL = variação do patrimônio líquido

A equação estabelece que o aumento (diminuição) no sal-do caixa é igual ao aumento (diminuição) do passivo mais au-mento (diminuição) do patrimônio líquido menos aumento (di-minuição) de outros ativos. Ao buscar financiamento em uma instituição financeira, há aumento no caixa e no passivo. Ao emitir (resgatar) ações ordinárias, há aumento (diminuição) no caixa e no patrimônio líquido. Ao adquirir (alienar) bens de ca-pital, há redução (aumento) no caixa e aumento (redução) em outros ativos. Assim, podem-se identificar as causas de altera-ções no saldo de caixa de maneira indireta, ao se analisarem as alterações ocorridas em outros itens que não são caixa.

As considerações a respeito dos comportamentos dos fluxos de caixa das atividades serão apresentadas através de quatro casos, a partir dos dados do Quadro 1.

Fluxos de Caixa A B C Doperacional $ (3) $ 7 $ 15 $ 8investimento (15) (12) (8) (2)financiamento 18 5 (7) (6)fluxo de caixa líquido $ 0 $ 0 $ 0 $ 0

Quadro 1: Comportamento dos fluxos de caixa

Fonte: Stickney e Weil (2001, p. 198)

O caso A — fase introdutória — ilustra uma empresa nova e que apresenta rápido crescimento. Ela ainda não opera com lucro, e seu contas a receber e estoques crescem. O seu fluxo de caixa operacional, portanto, é negativo. Para garantir o seu rápido crescimento, ela precisa investir pesa-damente em instalação de capacidade de produção, fazendo com que seu fluxo de caixa de investimentos também seja negativo. Durante esse estágio, a empresa precisa recorrer a fontes externas para cobrir a necessidade de caixa decorren-te de suas atividades operacionais e de investimentos, justifi-cando o fluxo de caixa de financiamento positivo.

O caso B — fase de crescimento — ilustra uma empresa mais madura que a do exemplo A, mas que ainda está cres-cendo. Uma vez que já está operando de forma lucrativa, o seu fluxo de caixa operacional é positivo. A sua taxa de cres-cimento não está mais tão acelerada quanto na fase introdu-tória, mas o fluxo operacional não é suficiente para sustentar sua estrutura de investimento, o que obriga a empresa a recor-rer, ainda, a fontes externas de financiamento. Torna-se impor-tante ressaltar que o aumento no volume das vendas também aumenta o volume de compras; uma vez que, como regra ge-ral, as empresas pagam suas compras antes de receber suas vendas, é normal que as empresas ainda apresentem o fluxo de caixa operacional negativo nessa fase de crescimento.

O caso C — fase de maturidade — apresenta uma em-presa madura e estável, onde seu fluxo operacional de caixa é bastante saudável, superando, inclusive, suas necessida-des de investimentos, agora associadas apenas à manuten-ção da capacidade produtiva. O caixa excedente é então utilizado para liquidar os empréstimos contraídos durante as fases anteriores e, até mesmo, para, pagar dividendos, justi-ficando o fluxo de caixa de financiamento negativo.

O caso D — fase de declínio — mostra uma empre-sa em seu estágio inicial de declínio. O seu fluxo de caixa operacional começa a cair, mas ainda se mantém positivo,

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em função de menores necessidades de contas a receber e estoques. Seu nível de investimentos reduz-se, porque se encontra em um setor econômico em declínio; a diferença entre o fluxo operacional e o fluxo de investimentos é usada no resgate de financiamentos anteriores e em investimentos em novos produtos ou em outros setores.

A análise do ciclo de vida das empresas através da DFC exige o conhecimento das características econômicas do se-tor em que a empresa opera. O exame das demonstrações de vários anos, geralmente, é mais informativo do que o de um ano isolado.

3. ConclusãoDiversos autores já escreveram sobre a relevância das

informações de caixa para a gestão de negócios, dentre eles, Weston e Brigham (2000, p. 400): “o caixa é o óleo que lu-brifica as rodas dos negócios. Sem um óleo adequado, as máquinas rangem até parar”.

A análise do comportamento dos fluxos de caixa das em-presas, assunto praticamente inexplorado no Brasil, propor-cionará um aprofundamento no uso das informações dispo-nibilizadas aos investidores e também realçará a importância da DFC na tomada de decisão.

Através da análise das DFCs de diferentes empresas de um mesmo setor da economia — seja identificando o compor-tamento de seus fluxos de atividades ao longo de uma série histórica, seja através da análise de quocientes — pode-se estar gerando subsídios para a extração de diversas infor-mações relevantes, auxiliando analistas nas previsões de li-quidez e solvência, bem como na identificação do estágio do ciclo de vida em que as empresas se encontram.

Por fim, um melhor aproveitamento das informações ex-traídas das DFCs mostra-se oportuno no momento em que tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei n. 3741, que propõe mudanças na Lei das Sociedades por Ações, dentre elas, estabelecer esta demonstração financeira como obriga-tória para as empresas brasileiras.

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ResumoDiante de um mercado competitivo e globalizado onde

as ações decorrentes, através de tomada de decisões, são agilmente captadas em todo o globo. Essas ações são ca-racterizadas na esfera política, governamental, religiosa e, principalmente, na esfera empresarial. E é esse último en-foque que este artigo abordará. Verifica-se que as empre-sas necessitam informar, com precisão e segurança, as suas demonstrações contábeis para os diversos usuários, e esta evidenciação deve ser realizada de forma adequada e espe-lhando o máximo de realidade, tanto para o mercado interno (âmbito da empresa) quanto para o mercado externo (âmbito dos demais usuários) e isto só será possível quando ocorrer uma tradução adequada dessas Demonstrações Contábeis. A adequação dessa atividade chamada Tradução das De-monstrações Contábeis em Moeda Estrangeira é possível ao utilizar-se de um critério proposto pelo FASB – Financial Accounting Standard Board que, segundo HERNANDEZ PEREZ JUNIOR (1999, p.13): “é um órgão independente, reconhecido pelo principal órgão que regulamenta o mer-cado americano de capitais (SEC-Securities and Exchange Commission), com o objetivo de determinar e aperfeiçoar os procedimentos, conceitos e normas contábeis”. Palavras-chave: Evidenciação, Demonstrações Contábeis, Normas Contábeis.

AbstractBefore a competitive market and globalization where the

current actions, through socket of decisions are captured nim-bly in the whole globe. Those actions are characterized in the sphere political, government, religious person and, mainly, in the business sphere. And it is on that last focus that this article will approach. It is verified that the companies need to inform, accu-rately and safety, their accounting demonstrations for the several users and this disclosure should be in an appropriate way and mirroring the maximum of reality, so much to the internal market

Evidenciações Financeiras na Tradução para Moeda Estrangeira com Base nas Normas Contábeis FAS 52

Amilton Fernando Cardoso Brusque – SCMestre em Ciências Contábeis – UNIFEBE/SENAIProfessor Universitá[email protected] Célio Corrêa dos SantosBlumenau – SCMestre em Ciências Contábeis – FURB1

Professor Universitá[email protected]

Jorge Ribeiro ToledoBlumenau – SCDoutor em Ciências Contábeis – FURB1

Professor Universitá[email protected]

Marianne HoeltgebaumBlumenau – SCDoutora em Administração – FURB1

Professora Universitá[email protected]

(extent of the company) as to the external market (the other us-ers’ extent) and this will only be possible when it happens an ap-propriate translation of those Accounting Demonstrations. The adaptation of that called activity of Translation of the Accounting Demonstrations in Foreign Coin is possible when using a crite-rion proposed by FASB - Financial Accounting Standard Board that, according to HERNANDEZ PEREZ JÚNIOR (1999, p. 13): it is “an independent organ, recognized by the main organ that regulates the American market of capitals (SEC-Securities and Exchange Commission), with the objective of to determine and to improve the procedures, concepts and accounting norms”. Key words: Disclosure, Accounting Demonstrations, Accounting Norms.

Artigo recebido em 18/01/2006 e aceito em 24/02/2006.

1FURB – Universidade Regional de Blumenau Cep 89.010-971 – Blumenau – SC.

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1. IntroduçãoInterpreta-se nos artigos publicados e discussão sobre o

tema “HARMONIZAÇÃO OU CONVERGÊNCIA DAS NOR-MAS CONTÁBEIS INTERNACIONAIS” que, o grande desafio do profissional em contabilidade, neste século, será a “Har-monização das Normas Contábeis”, em face da globalização da economia e dos negócios internacionais. As empresas estão se tornando transnacionais, ou globalizadas, necessi-tando de normas harmonizadas em todo o mundo, a fim de facilitar e padronizar a consolidação de suas demonstrações econômico-financeiras.

Na atualidade, já existe um grande número de organiza-ções internacionais, na sua maioria de origem européia ou japonesa, que vêm demonstrando interesse de investimen-tos nos EUA, inclusive registrando suas ações na NYSE, de forma que se obrigam a demonstrar seus balanços consoan-te as normas do US GAAP, como, por exemplo, recentemen-te aconteceu com a Daimler-Benz. A internacionalização do mercado e da economia evidencia que o principal denomina-dor comum para divulgar numericamente as atividades eco-nômicas é a Contabilidade, dela exigindo homogeneidade universal de tratamento para registros e divulgação de fatos contábeis de uma mesma natureza.

Entende-se que o processo de harmonização das nor-mas contábeis é inevitável, estando já em pleno processo de realização em âmbitos nacionais e internacionais, no qual constatamos através dos pronunciamentos das organiza-ções que representam e normatizam as atividades contá-beis, bem como do IASC e da própria ONU (ISAR). Contudo, frente às dificuldades que surgem na conciliação das IAS com os GAAP, estrategicamente, alguns países estão arti-culando acordos provisórios entre IASC e SEC (EUA), para que aquele utilize os US GAAP.

Porém, não devemos esquecer que as normas contábeis são simples regras consensuais e compulsórias, de modo que se respeitam os princípios fundamentais, evidente forma básica de fixar tais princípios normativos, essencialmente quando se tem idéia de harmonizar estas normas. Aparentemente, a har-monização ideal não é possível de implementação, haja vista as diferenças culturais e econômicas entre as nações, podendo haver desigualdades toleráveis em algumas situações, de for-ma que nunca poderão ser admitidas opções conflitantes com os Princípios Fundamentais de Contabilidade, pois isso repre-sentaria inexistência dos conceitos básicos da ciência contábil.

A verdadeira harmonização internacional deve ser um processo realmente internacional. No momento, não se pode dizer que o processo do IASC seja verdadeiramente inter-nacional. Há dois problemas importantes. O primeiro é que nem todos os países aceitam a forma de pensar dos anglo-saxões, cujas normas contábeis atendem às considerações do mercado de capital. O segundo problema é que o proce-dimento seguido pelo IASC para aprovar as normas é o utili-zado nos países anglo-saxões, de divulgar os rascunhos de pronunciamentos, para receber comentários. Como muitos países não estão habituados ao processo, não respondem, tornando imperfeito o processo de decisão. Em virtude des-sas dificuldades, o processo não é adequado às exigências de todas as companhias do mundo. Com os entendimentos entre IASC e IOSCO, não há problemas para as companhias

adequarem suas contas para poderem registrar-se em qual-quer bolsa de valores do mundo.

Hilário Franco, no seu livro “A Contabilidade na Era da Globalização, Atlas, São Paulo, 1999”, menciona o seguin-te comentário em relação ao tema discutido no workshop 1.6 do Congresso Mundial de Contadores, reunido em Pa-ris, em outubro de 1997: “Há uma inquietação generalizada quanto à proliferação de organismos, nacionais e interna-cionais, para fixação de normas contábeis, sob o argumento de que isso, em vez de contribuir para a sonhada harmoni-zação, possa criar confusão e dificuldades na identificação de normas existentes [...]”.

Para que os países harmonizem suas normas com as internacionais, é necessário, antes de mais nada, que estas estejam sendo aceitas, incontestavelmente, e que não haja dúvida quanto à norma que deverá ser seguida. Entre esses problemas está, por exemplo, o da avaliação dos componen-tes patrimoniais, que alguns julgam dever ser feita pelo custo histórico puro, enquanto outros defendem o custo histórico corrigido e muitos optam pelo simples valor de mercado, ou ainda o fair value, muito difícil de ser conceituado. Internacio-nalmente, o IASC é aceito como autoridade suprema na fixa-ção de normas, mas a IOSCO, que representa as Comissões de Valores Mobiliários de todo o mundo (como são os casos da SEC americana, por exemplo, e da CVM brasileira) e, conseqüentemente, encarna os usuários dos serviços con-tábeis, discorda de algumas normas do IASC, estando esses dois organismos em entendimento para aparar arestas.

Por outro lado, não pode ser desprezado o fato de que as maiores investidoras mundiais são as companhias multi-nacionais, muitas das quais de origem norte-americana, que adotam os US GAAP (normas emitidas pelo FASB-Finantial Accounting Standard Board e adotadas pela SEC -Securities Exchange Commission) americanas, as quais diferem, em aspectos significativos, das do IASC, mas são utilizadas em várias partes do mundo onde predominam os investimentos dos Estados Unidos.

2. Contabilidade e a Harmonização das Práticas Internacionais

Harmonia significa a disposição bem ordenada entre as partes de um todo. Traduz-se também, como o acordo, a con-formidade. Nesta linha de raciocínio, harmonização, padroni-zação e uniformidade são palavras que pertencem fixamente aos objetivos dos membros filiados ao Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade (IASC) e também à Federa-ção Internacional de Contadores (IFAC), os quais pretendem ver aplicadas as normas conciliadoras das Demonstrações Contábeis evidenciadas por todos os países.

Esta questão faz-se necessária, pois todos aqueles in-teressados na área contábil serão beneficiados. Para esta profissão, o maior benefício seria o aumento da credibilidade perante os acionistas, credores, empregados, público em ge-ral e, principalmente, os investidores internacionais.

Diante das mudanças que ocorrem, tanto os Contadores como os Auditores e os Peritos Contábeis necessitam de normas claras e amplas, tendo em vista que muitos desses profissionais labutam, em muitos casos, em empresas multi-

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nacionais sediadas em países que pertencem a blocos econô-micos, tais como o Mercosul, Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), UE (União Européia), Aladi (Associação Latino-Americana de Integração), entre outros blocos, só as-sim poderão exercer com eficiência o seu trabalho.

A harmonização das normas contábeis, por exemplo, tem que ser necessária, porém essa mudança deve ocorrer de forma cautelosa, tendo em vista que cada país possui seu próprio costume, sua tradição e é diferente dos outros países nos aspectos cultural, socioeconômico e político. Todos es-ses pontos dificultam a agilização dessa harmonização, tão necessária na atualidade.

Conforme MULLER (1999, p.22): um aspecto negativo, relacionado ao investimento em empresas sediadas no exterior, seria quanto à forma ri-gorosa como são preparadas as Normas Internacionais, as quais têm base nos padrões norte-americanos, onde são muito detalhadas e exigentes, devendo ser observa-das pelos outros países, com maior atenção.

Diante disso, para os países em que praticamente não são adotadas tais normas ou não são cumpridas com tanta veemência, a dificuldade será maior em aceitar as Normas Internacionais. É salutar, portanto, que se deva procurar uma harmonização que vise beneficiar a todos, onde as mesmas possam ser revisadas e atualizadas de acordo com as mu-danças ocorridas.

Portanto, como a tecnologia é desenvolvida de modo rápido e globalizado, a própria contabilidade depende da internacionalização das suas normas e conseqüentemente das suas práticas contábeis, para que o desenvolvimento da mesma ocorra em tempo real e de forma harmonizada.

3. Importância do Contador na Busca da Harmonização

Assim como ocorreu com a globalização, a harmonização também está em andamento, porém a passos cautelosos tendo em vista que essa integração de informações envolve um processo de pesquisa e principalmente de persistência.

Quando a empresa necessitar de exportar, por exemplo, a sua marca estará sendo divulgada pelos países compradores e ela pretende deixar uma marca que identifique sua qualidade na gestão do seu negócio, visando conquistar outros países e os resultados dessa transação somente serão eficientes com o processo de harmonização dessas informações.

Os contadores e auditores possuem hoje maior res-ponsabilidade perante a sociedade, e neste momento, de competitividade e qualidade nos serviços, a informação é a ferramenta mais importante que os mesmos possuem. Se a empresa estiver ligada ao mundo, seja virtual ou fisicamente, ela terá condições de estar à frente das concorrentes, prin-cipalmente se souber utilizar estes recursos de forma quali-tativa e criativa.

Para a eficácia nessa gestão, é necessária uma educa-ção continuada como um segmento do aprendizado que to-dos os profissionais devem procurar, pois assim terão maior base nas suas atividades cotidianas.

Conforme MONTALDO (1995, p.55): assessorar, pesquisar, trazendo informações e elementos que assegurem o fluxo de informação contínua, que leve a uma decisão racional, devendo oferecer um serviço so-cialmente útil e profissionalmente eficiente, que não seja apenas fruto da experiência e da formação universitária re-cebida, mas também de seu compromisso de incrementar e renovar constantemente o caudal de seus conhecimentos.

Assim, um profissional atualizado e com informações gerais, também atualizadas, e não só de sua área de abran-gência, tem credenciais e méritos pessoais os quais irão transparecer com grau de maior segurança e conseqüente-mente irá trazer também maior confiança aos seus clientes. Por isso o profissional contador será importante na busca da harmonização.

4. O Mercado Internacional e as Tendências em Relação aos Órgãos Emissores de Normas

A contabilidade evidencia suas demonstrações utilizando-se de fórmulas diversas. A metade das empresas nacionais que observam as normas internacionais, por exemplo, pre-ferem as normas européias e as demais utilizam as normas norte-americanas. Segundo artigo publicado na revista Exa-me (2000, p.22), de Cláudio Gradilone: “(...) Das empresas que não utilizam regras de outros órgãos, muitas já pensam em adotá-las no futuro, provavelmente porque essas empre-sas foram adquiridas por controladores europeus ou para conseguir captar dinheiro mais barato no exterior”.

Contribui CARSBERG (2000 p.18): “Para muitos países como o Peru e o Quênia, por exemplo, não possuem estru-tura econômica e técnica para manter um Comitê de Har-monização de Normas, seria inviável a definição de padrões contábeis próprios, e por uma questão econômica, utilizam as normas internacionais”.

Segundo HARDING (1999, p.25), neste ano a Argenti-na iniciaria a utilização das normas internacionais adapta-das às normas do país. Também na África, sem nenhuma modificação, e em alguns outros países, serão adotadas as normas internacionais, tanto para a contabilidade como para a auditoria.

É óbvio que esses países agem dessa forma porque eles não possuem solução para seus sistemas atuais, sendo mais prático sua utilização, neste momento, porém não tão real como se esperava. Provavelmente terão que modificar mui-tos procedimentos utilizados anteriormente. O método utiliza-do dependerá de onde estão ou estarão seus investimentos, para não terem que efetuar as demonstrações de acordo com cada uma daquelas utilizadas nos países envolvidos.

Dentre alguns dos assuntos discutidos no XV Congresso Mundial de Contadores, realizado em Paris e comentado por Hilário Franco (1999, p.244), destacamos o tema “Evidência da Internacionalização”, que aborda os seguintes aspectos:

Empresa Daimler-Benz (Mercedes Benz) – Alemanha: pelo motivo de haver vendas, além da Europa, também

nos Estados Unidos, na América Latina e Ásia, a empresa necessita de empréstimos e capitalização, o que exige regis-tro em Bolsa de Valores.

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o registro na Bolsa de Valores de Nova Iorque, por exemplo, facilitou acesso aos mais importantes mercados de capitais do mundo.

a escolha por US GAAP ocorreu também porque a em-presa queria acabar com a dualidade de conjuntos de prin-cípios, tornando as demonstrações mais transparentes, que permitem uma apresentação fiel e benéfica para os acionis-tas, apesar de ser obrigatória a evidenciação nacional con-forme as normas alemãs.

essa transformação do uso das normas para US GAAP, em um exercício, converteu um lucro anual de milhões de marco, para um prejuízo elevado.

Enquanto isso, no Brasil, as empresas de capital por ações são obrigadas a utilizar a Lei 6.404 de 15 de dezem-bro de 1976, conhecida por Lei das Sociedades por Ações, estendida às demais sociedades. Por sua vez as empresas de Capital Aberto, além de seguir as regras da citada Lei, devem seguir também as normas emanadas da CVM – Co-missão de Valores Mobiliários. Existem outras empresas de atividades específicas, como é o exemplo das Instituições Financeiras e Seguradoras, as quais devem utilizar-se das normas emanadas de seus respectivos órgãos (Banco Cen-tral do Brasil e SUSEP, respectivamente).

Desta forma, podemos deduzir que, mesmo um país querendo adotar normas de outros países, necessita man-ter as normas já existentes em seu país de origem, pois a integração com outro país necessitará, obviamente, do rompimento de alguns obstáculos, que só serão resolvidos com o decorrer do tempo.

5. Tradução para Moeda Estrangeira, Conforme o Pronunciamento de Normas de Contabilidade Financeira nº 52 do FASB – FAS 52

A Tradução para Moeda Estrangeira, conforme o pronun-ciamento de Normas de Contabilidade Financeira nº 52 do FASB – FAS 52, somente se aplica para apresentação e con-tabilização financeira de transações em moeda estrangeira em demonstrações financeiras de uma empresa e na tradu-ção de demonstrações financeiras para moeda estrangeira fins de incorporação às demonstrações financeiras de uma empresa por consolidação, combinação ou pelo método de equivalência patrimonial.

Os objetivos da tradução das demonstrações financeiras para moeda estrangeira são:

fornecer informações compatíveis com os efeitos econô-micos esperados de uma alteração nas taxas de câmbio sobre o fluxo de caixa ou patrimônio líquido de uma empresa.

refletir nas demonstrações consolidadas os resultados financeiros e as relações financeiras de entidades individuais consolidadas, como medidos em suas moedas funcionais, em conformidade com os US GAAP.

Para efeitos do FAS 52, uma entidade é qualquer tipo de operação, isto é, uma subsidiária, divisão, filial ou empreen-dimento em conta de participação.

A Moeda Funcional é definida por este pronunciamento como a moeda do ambiente econômico principal em que a

entidade opera, e deve ser utilizada como base para a men-suração dos ativos, passivos e operações dessa entidade. Normalmente, será a moeda do sistema econômico em que a empresa gera e despende dinheiro. Por exemplo: a BRASMOTOR S.A., subsidiária brasileira da norte-ameri-cana WHIRLPOOL CORPORATION, pode ter o Real como Moeda Funcional.

Uma entidade pode ter operações conduzidas em sis-temas econômicos diferentes, podendo ter moedas funcio-nais diferentes. Por exemplo: EMBRACO S.A. – Brasil, com o R$ como moeda funcional, e EMBRACO S.A. – Itália, com o EUR como moeda funcional, ambas usando o US$ como moeda de relatório para consolidação com a WHIRLPOOL – norte-americana.

Se os registros de uma empresa não forem lançados em sua moeda funcional, será necessário recalculá-los nesta moeda, antes da tradução para a moeda de relatório.

Quando uma entidade operar em uma economia alta-mente inflacionária (100% ou mais em um período de três anos), suas demonstrações financeiras devem ser recalcula-das, como se a moeda funcional fosse a moeda de relatório. Por exemplo, as entidades que operavam no Brasil até 30 de junho de 1997.

A metodologia do FAS 52 trata que todos os elementos das demonstrações financeiras devem ser traduzidos com base na taxa de câmbio corrente. Para ativos e passivos, deve ser usada a taxa em vigor na data do balanço. Para as receitas, despesas, lucros e perdas, deve ser usada a taxa de câmbio nas datas da contabilização desses elementos, podendo ser usada uma média ponderada apropriada para o período.

Se a moeda funcional for uma moeda diferente da moeda de relatório, deverão ser feitos ajustes de tradução em conseqüência da tradução das demonstrações financei-ras para a moeda de relatório, ajustes estes que “Não devem ser incluídos na apuração do lucro líquido, mas devem ser apresentados separadamente e acumulados em um com-ponente separado do patrimônio líquido” (HERNANDEZ PE-REZ JUNIOR, 1999, p.134).

As Transações em Moeda Estrangeira são definidas pelo FASB como transações em uma moeda diferente da moeda funcional da entidade.

A variação nos fluxos de caixa em moeda funcional ge-rados por alterações cambiais entre as moedas funcional e da transação deverá ser considerada como um lucro ou uma perda componente do resultado do período da variação. Por exemplo, alterações geradas por exportações da BRASMO-TOR para a Alemanha, em decorrência da variação cambial entre o US$ e o EURO.

O FASB define como Taxa de Câmbio a relação entre a unidade de uma moeda e o montante de outra moeda pelo qual essa unidade pode ser trocada em certo momento.

Devem ser usadas as seguintes taxas de câmbio para a tradução de transações e de demonstrações financeiras em moeda estrangeira:

para transações em moeda estrangeira: a taxa em que a transação pode ser liquidada na data da transação;

para demonstração em moeda estrangeira: em circuns-

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tâncias normais, a taxa aplicável à conversão de moedas para fins de remessa de dividendos.

Podem ser usados métodos alternativos, como médias ou outros métodos de aproximação, desde que os resultados apurados sejam aproximados aos dos cálculos detalhados.

6. Tradução em Moeda EstrangeiraTradução é o processo de redeclarar informação de de-

monstração financeira de uma moeda corrente para outra. É necessário sempre que uma empresa com operações em mais de um país prepare consolidado ou demonstrações fi-nanceiras que combinem financeiramente com as moedas do seu país e com os outros países.

Nestas circunstâncias, torna-se um desafio para empre-endimentos multinacionais fazerem revelações informativas de resultados operacionais e situação financeira. A tradução em moeda estrangeira é um dos temas mais controversos no contexto atual, em função dos seguintes problemas:

taxas de conversão não são estáveis; moedas mantidas fortalecidas artificialmente; globalização dos mercados acionários; gestão governamental afetando o comportamento.

A situação fica mais complexa com investimento estran-geiro quando as demonstrações financeiras da companhia são expressadas na moeda local do país, porém devem ser redeclaradas para outra moeda de países diferentes.

6.1. Razões para a traduçãoAs companhias que têm unidades em outros países além

do país mãe necessitam de uma linguagem única quando estão analisando as demonstrações financeiras, ou seja, não se podem analisar as unidades monetárias REAL com DÓ-LAR norte-americano ou EURO, ambas devem ser traduzi-das numa única moeda, e eis as razões para tal: empresas multinacionais necessitam de relatórios financei-

ros consolidados de todas as afiliadas de diferentes locais para acompanhamento gerencial e geração de estatísticas. tal consolidação só é possível se as afiliadas elaborarem

demonstrativos na mesma moeda; o processo de re-apresentar várias demonstrações financei-

ras, originariamente montadas em diferentes moedas, numa única moeda é denominado tradução em moeda estrangeira. face à sua complexidade, a tradução de contas de empre-

sas independentes são diferentes da tradução de agente ou subsidiária.

Esta necessidade ocorre quando uma companhia dese-jar demonstrar o seu desempenho em uma bolsa de valores estrangeira, ou contemplar um capital estrangeiro em forma de empreendimento, ou mesmo quer comunicar seus resul-tados operacionais e sua situação financeira para os seus acionistas estrangeiros.

6.2.Terminologia utilizadaSalienta-se que tradução não é sinônimo de conversão. Pode-se entender que conversão é a mudança física de

uma moeda para outra. Tradução simplesmente é uma mudança em expressão

monetária, como um balanço expresso em reais e redeclara-do em dólar norte-americano equivalente.

Neste caso nenhuma troca física aconteceu, e nenhuma transação responsável aconteceu como acontece numa con-versão (na tradução não existe compra ou venda).

A taxa que propicia a tradução de valores de uma moeda para outra é taxa de câmbio. A taxa de conversão pode ser de compra ou de venda. Normalmente os mercados traba-lham com as seguintes taxas:

Spot – aquela disponível para transações imediatas; Futuro – taxa negociada a momento futuro, ajustado

por uma taxa de desconto ou prêmio; Swap – envolve simultaneamente compra e venda.

6.3. Problemas enfrentados na traduçãoSe as taxas de câmbio, sejam elas internas ou externas,

fossem estáveis, a tradução de moeda não seria difícil, po-rém as taxas raramente são estáveis, logo, depara-se com os seguintes problemas: que taxa utilizar na conversão das demonstrações

financeiras? é possível gerenciar o US$ translation gain/loss? o que representa o balanço traduzido? o que o acionista poderia extrair da empresa? o que os administradores deveriam obter em caso de venda

dos ativos? o que fazer com ganhos ou perdas por tradução? trata-se valores meramente escriturais? no entender de Choi, o grande problema é a falta de

estabilidade da taxa.

6.4. Efeitos de diferentes taxas sobre as demonstrações

Companhias que operam internacionalmente usam uma variedade de taxas para expressar em termos de moeda cor-rente os seus ativos. Essas taxas de tradução podem ser classificadas nas seguintes taxas: Taxa corrente – vigora por um dia; Taxa histórica – válida na data em que um dado ativo foi

adquirido ou passivo incorrido. Tal taxa se mantém inalterada enquanto o ativo estiver no patrimônio da empresa; Taxa média – representa a média de taxas de certo perío-

do, podendo ser simples ou ponderado.Uma companhia, ao assumir critérios incorretos numa

tradução dos demonstrativos financeiros, pode incorrer nos seguintes problemas: subestimar ou superestimar resultados; subestimar ou superestimar o patrimônio; atribuir ganhos ou perdas a momentos incorreto.

6.5. Métodos de traduçãoUtilizando-se de uma única taxa de câmbio tem-se como

principal característica a simplicidade. A crítica principal é que se considera que todos os valores patrimoniais são expostos à flutuação cambial, com ganhos e perdas meramente escri-turais. Utilizando-se o método de múltiplas taxas de câmbio, depara-se com as seguintes formas: método corrente e não corrente; método monetário e não monetário; método temporal; moeda funcional.

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�. Prática da Tradução de Demonstrações Contábeis para Moeda Estrangeira Método de Fechamento – FAS 52

Neste artigo será evidenciado um modelo prático da Tra-dução de Demonstrações Contábeis para Moeda Estran-geira, baseado no método de fechamento, pois segundo HERNANDEZ PEREZ JUNIOR (1999, p. 35): “Este método somente é aplicável em países de economia estável [...].”

O Brasil é um país de economia estável, pois a inflação acumulada no período de três anos está dentro dessa faixa.

contas/operação valor em R$taxa de câmbio

vigente na data da operação

valor emUS$taxa de câmbiovigente na data

do balanço

valor do saldo em R$ convertido pela taxa

corrente US$

CaixaDinheiro Referente ao Recebimento de Cliente

5.250 US$ 1,00 = R$ 1,00 5.250 US$ 1,00 = R$ 1,05 5.000

EstoqueMatéria-prima Adquirida em 15 de outubro de19xa

15.750 US$ 1,00 = R$ 1,00 15.750 US$ 1,00 = R$ 1,05 15.000

Fonte: PEREZ JUNIOR. Conversão de Demonstrações Contábeis para Moeda Estrangeira (1999, p. 35).

Exemplo de Tradução:

Geração Receita/<Despesa> Financeira: Grupo Contas Exportação/importação Março Adições Abril

conta R$ US$ R$ US$ R$ US$ contas a receber 2.546.879,54 1.160.098,18 999.675,00 447.301,89 3.546.554,54 1.607.400,07

2,2743

TC abrilmês abril

valor corrigido 3.655.709,98

valor original (3.546.554,54)

variação cambial 109.155,44

contas a pagar 1.541.568,76 702.181,27 - - 1.541.568,76 702.181,27 2,2743

TC abrilmês abril

valor corrigido 1.596.970,86

valor original (1.541.568,76)

variação cambial 55.402,10

contas a receber 109.155,44

contas a pagar 55.402,10

variação cambial 53.�53,34

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7.1. Exemplo de tradução pelo método de fechamentoAntes de ser apresentado um modelo prático da tradução

de uma Demonstração Contábil para moeda estrangeira, faz-se necessário atribuir primeiramente as taxas de atualizações para variação cambial dos ativos e passivos em moeda es-trangeira, como também corrigir esses grupos de contas ao final de cada exercício, em face da desvalorização cambial.

No exemplo abaixo, foi demonstrada a atualização pela variação cambial em moeda estrangeira de contas a receber e a pagar, e a diferença dessa variação cambial é reconhe-cida no resultado do exercício como receitas ou despesas financeiras do período.

Em seguida será verificada a mensuração da tradução do grupo de contas do Ativo, verifica-se que todas as contas do grupo de contas do Ativo estão traduzidas à taxa corrente, que é a taxa do fim do mês, que neste exemplo encontra-se representado pelo mês de abril, à taxa de R$ 2,2743.

Observa-se uma coluna chamada de US GAAP adjust, que significa Ajustes pelos Princípios Contábeis Geralmente

Aceitos nos Estados Unidos, pois em alguns casos existem diferenças entre os princípios contábeis geralmente aceitos no Brasil e nos Estados Unidos, tornando-se, assim, neces-sário realizar tais ajustes em dólares norte-americanos. Im-portante é ressaltar que é necessário manter constantes as quantidades de unidades monetárias em REAIS, obedecen-do à legislação vigente no Brasil.

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Neste grupo de contas observa-se uma diferença interessante, que é o grupo de contas do Patrimônio Líquido, onde o valor do Capital Social encontra-se com o seu registro histórico em dólar a uma taxa de R$ 1,6598 por dólar, o que significa que os Ajustes Acumulados de Tradução deverão ser mensurados em conta separada.

O seguinte exemplo é o do Demonstrativo de Resultado do Exercício, que, segundo os critérios da norma FAS 52, deverá ser mensurado pela taxa média do período, pois, segundo HERNANDEZ (1999, p. 33), “As vendas de determinado mês seriam conver-tidas pela taxa média desse mesmo mês”.

Taxa Corrente TC 2,2�43 US GAAPMonth: April Adjust

Ativo Circulante R$ US$ US$Disponibilidades 331.332,65 TC 2,2�43 145.685,55 - Contas a receber 158.264,78 TC 2,2�43 69.588,35 - Provisão para devedores duvidosos (3.205,00) TC 2,2�43 (1.409,22) - Contas a Receber Liquido 155.059,�� 6�.1�9,12 -EstoquesProdutos acabados 4.176,65 TC 2,2�43 1.836,46 - Produtos em processo 28.456,65 TC 2,2�43 12.512,27 - Matéria-prima e suprimentos 104.379,54 TC 2,2�43 45.895,24 - Total dos Estoques 13�.012,�4 60.243,96 -Total do Ativo Circulante 623.405,2� 2�4.10�,64 -Clientes Exterior Contas a receber 3.655.709,98 TC 2,2�43 1.607.400,07 - Total de Clientes Exterior 3.655.�09,9� 1.60�.400,0� -Imobilizado Terrenos 1.120.546,76 TC 2,2�43 492.699,63 - Prédios 16.798.045,80 TC 2,2�43 7.386.029,02 - Máquinas e equipamentos 8.768.329,54 TC 2,2�43 3.855.397,06 - Ativo Imobilizado Líquido 26.6�6.922,10 11.�34.125,�1 -Total do Ativo 30.966.03�,35 13.615.634,42 -

Legenda TC: Taxa Corrente/Fechamento

Balancete de Verificação Método: Câmbio de Fechamento - Países com Baixa Inflação

Taxa Corrente TC 2,2743 USGAAPMonth: April Adjust

Passivo Circulante R$ US$ US$

Títulos a pagar 591.077,57 TC 2,2�43 259.894,29 - Contas a pagar 2.446.345,65 TC 2,2�43 1.075.647,74 - Provisões Contábeis 1.444.753,42 TC 2,2�43 635.251,91 - Total do Passivo Circulante 4.482.176,64 1.970.793,94 -Fornecedores Exterior Contas a pagar 1.596.970,86 TC 2,2�43 702.181,27 - Total de Fornecedores Exterior 1.596.9�0,�6 �02.1�1,2� -Passivo de Longo Prazo 5.673.256,76 TC 2,2�43 2.494.506,78 - Passivo Total 11.�52.404,26 5.16�.4�1,9� -Patrimônio Líquido

Capital Social 18.000.000,00 TH 1,659� 10.845.000,00 - Ajustes Acumulados de Tradução - D (2.920.236,38) -Lucro do período 1.213.633,08 A 523.388,81 -Patrimônio Líquido Total 19.213.633,0� �.44�.152,43 -Passivo e Patrimônio Líquido 30.966.03�,35 13.615.634,42 -

Balancete de Verificação - Balance Sheet Método: Câmbio de Fechamento - Países com Baixa Inflação

Legenda TH:Taxa Histórica D: Diferença A: Acumulado TC: Taxa Corrente/Fechamento

Em seguida encontra-se evidenciada a mensuração do grupo de contas do Passivo, que, também obedecendo os critérios da norma FAS 52, está sendo traduzido pela taxa corrente do último dia do mês do exercício em questão, que neste caso é o mês de abril de determinado ano.

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Taxa Média TM 2,2349 US GAAPMonth: April Adjust

R$ US$ US$

Vendas Brutas 1.230.657,65 TM 2,2349 550.654,46 - Descontos e abatimentos (65.787,98) TM 2,2349 (29.436,65) - Receita de Vendas 1.164.�69,6� 521.21�,�0 -

Vendas Exportação Américas 540.879,00 TM 2,2349 242.014,86 -

Vendas Exportação Europa 458.796,00 TM 2,2349 205.287,04 - Receita de Vendas Totais 2.164.544,6� 96�.519,�0 -Devoluções e indenizações (132.768,00) TM 2,2349 (59.406,68) - Fretes (12.436,00) TM 2,2349 (5.564,45) - Vendas Líquidas 2.019.340,6� 903.54�,56 - Custo Produtos Vendidos (716.087,00) TM 2,2349 (320.411,20) - Lucro Bruto 1.303.253,6� 5�3.13�,35 -Despesas de Vendas (498.294,00) TM 2,2349 (222.960,31) - Despesas Técnicas (320.548,00) TM 2,2349 (143.428,34) - Despesas Administrativas (187.945,00) TM 2,2349 (84.095,49) - Total Despesas Operacionais (1.006.���,00) (450.4�4,14) -Lucro Operacional da Divisão 296.466,6� 132.653,21 -(Receitas)\Despesas financeiras líqui-das

53.753,34 TM 2,2349 24.051,79 -

Outras (receitas)\ despesas líquidas - TM 2,2349 -Lucro Antes do Imposto de Renda 350.220,01 156.�05,00 -Imposto de Renda e Contribuição Social (114.253,33) TM 2,2349 (51.122,35) -Lucro Líquido 235.966,6� 105.5�2,65 -

Demonstração de Resultado do Exercício

Legenda TM: Taxa Média

Observa-se que o resultado do exercício em reais — no grupo de patrimônio líquido — está sendo somado ao resultado anterior em reais, como também a quantidade de dólares. Permanecendo, portanto, o valor fixo em dólares pelo simples critério de acumula-ção de valores de um exercício para o outro, não realizando a tradução dos valores em reais por uma determinada taxa qualquer.

Em seguida, encontra-se mensurada a prova real do ajuste de tradução, explicando em termos práticos o que está ocorrendo no grupo de conta Ajustes Acumulados de Tradução.

Quantidade de Reais em Março/20XX Qtde de US$18.235.966,67

2,1954 8.306.443,78 01/03/20XX2,2743 8.018.276,69 01/04/20XX

-288.167,09 Ajuste de Tradução do períodoResultado do Período de Abril/20XX R$ Taxa US$ Lucro Líquido 235.966,67 TM 2,2349 105.582,65 Lucro Líquido 235.966,67 TC 2,2743 103.753,54

1.829,12Prova Real do Translation adjustment -2.633.898,40 Translation adjustment - Março 20XX

-2.920.236,38 Translation adjustment - Abril 20XX286.337,98

1.829,12

Prova Real da Conta Ajustes Acumulados de Tradução

No quadro anterior, verifica-se que o ajuste acumulado de tradução se dá em função das perdas por desvalorização cambial de um exercício para o outro da seguinte forma: R$ 18.235.966,67 de Patrimônio Líquido do mês de março, traduzido às taxas dos meses de março e abril respectivamente, levaram a uma redução da capacidade de poder aquisitivo em USD 288.167,09 o que significa que de um mês para o outro, mesmo aumentando o patrimônio líquido em REAIS em função de operações satisfatórias, ocorre que houve o inverso em DÓLARES, ou seja, houve uma redução da quantidade de moeda norte-americana, em função de uma desvalorização cambial.

Amilton Fernando Cardoso Célio Corrêa dos Santos Jorge Ribeiro Toledo Marianne Hoeltgebaum Evidenciações Financeiras na Tradução para Moeda Estrangeira com Base nas Normas Contábeis FAS 52

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�. Considerações FinaisCom o presente artigo, é possível compreender um pou-

co mais do que vem a ser Tradução das Demonstrações Contábeis em Moeda Estrangeira.

Existe uma norma a ser obedecida, que é o FAS 52 — Fi-nancial Accounting Standard —, que determina o que e como devem ser traduzidas e ajustadas as contas das Demons-trações Contábeis Brasileiras para uma empresa estrangeira (dos Estados Unidos, por exemplo).

Estas atividades de tradução das demonstrações con-tábeis tornaram-se comuns a partir da vinda das empresas multinacionais para o Brasil, pois seus investidores estran-geiros necessitavam conhecer como estavam seus investi-mentos no Brasil, e essa metodologia facilitou esse trabalho.

Ocorre que com o mundo globalizado essa atividade de tradução tornou-se mais freqüente, pois existem diversas empresas que investem na Bolsa de Valores de Nova Iorque, e as empresas que lá negociam precisam remeter seus de-monstrativos traduzidos de acordo com o critério FAS 52.

BibliografiaALMEIDA, Marcelo C. Contabilidade avançada. São Paulo: ed. Atlas, 1997.CARSBERG, Bryan. A Unificação das normas contábeis. Seminário Internacional Trevisan-IBEF: Nr. 146, 2000.CHOI, Frederick D.S. International accounting. 2ª edição. Prentice Hall, 1992.FRANCO, Hilário. A Contabilidade na era da globalização. XV Congresso Mundial de Contadores. Paris. São Paulo: Ed. Atlas, 1999.HARDING, Frank. A Internacionalização da profissão contábil. RBC – Revista Brasileira de Contabilidade, nr. 118, jul/ago. 1999, p.23HERNANDES PEREZ JUNIOR, José. Conversão de demonstrações contábeis para moeda estrangeira. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999.MONTALDO, Oscar. A Realidade econômica internacional e a profissão contábil. RBC - Revista Brasileira de Contabili-dade, nr. 92, mar/abr. 1995.MULLER, Aderbal N. Organismos e normas internacionais de contabilidade - um problema de padronização. Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná, nr. 126, 1999.Revista Exame. A vez da Globalização dos Balanços. Edição 718, nr. 14, de 12.07.2000.

A diferença de USD 1.829,12 ocorre em função das nor-mas do FAS 52 determinar que o grupo de contas do De-monstrativo de Resultado do Exercício seja apurado pela taxa média do dólar norte-americano, e sua diferença en-contra-se em que o mesmo resultado do exercício traduza-se pela taxa corrente do final do exercício.

E, por conseguinte, o valor da conta Ajustes Acumula-dos de Tradução passou de USD 2.633.898,40 para USD 2.920.236,38 em função de ocorrerem as variações cam-biais da taxa de câmbio da moeda norte-americana de R$ 2,1954 por cada unidade de dólar do mês de março até R$ 2,2743 por cada unidade de dólar, sobre o valor do patrimô-nio líquido dos exercícios anteriores, pois o valor do Capital Social está fixo pela taxa histórica do dólar na época em que houve a integralização do capital com uma taxa vigen-te, na data, em R$ 1,6598.

Amilton Fernando Cardoso Célio Corrêa dos Santos Jorge Ribeiro Toledo Marianne Hoeltgebaum

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ResumoEste estudo trata da prática do processo de planejamento

estratégico na gestão das empresas industriais do setor ma-deireiro do Estado de Roraima, especificamente aquelas que exercem as atividades de desdobramento e beneficiamento de madeiras, laminados e compensados. O propósito básico da pesquisa é investigar se o processo de planejamento es-tratégico formalizado pelas empresas madeireiras subsidia as tomadas de decisões dos seus gerentes. Visando, então, captar o funcionamento da gestão das madeireiras roraimen-ses, implementa-se uma pesquisa de campo em 22 madei-reiras, selecionadas de forma randômica, representando uma amostra real de 58% do universo dessa categoria eco-nômica de empresas. Os dados da pesquisa foram coletados por um questionário de 20 questões, e o seu tratamento foi feito por intermédio de técnicas estatísticas descritiva e infe-rencial. Utilizando, por sua vez, o teste de significância para proporções com um nível de confiabilidade de 95% para a aceitação da hipótese de nulidade levantada. Como resulta-do da pesquisa é revelado que 73% da amostra perscrutada não dispõem de um processo de planejamento estratégico formalizado para subsidiar as tomadas de decisões dos seus gerentes, muito embora aproximadamente dois terços dessa amostra, isto é, 64% dos gestores das madeireiras, atribuem que a vitalidade da empresa está diretamente relacionada à existência de um plano estratégico formal. Por fim, conclui que a utilização de um processo de planejamento estratégico formalizado pode contribuir com informações relevantes para a escorreita gestão das madeireiras. Palavras-chave: Planejamento estratégico, Empresas madeireiras, Competitividade.

AbstractThis study deals with strategic planning process practice in

the management of timber industries in Roraima State, more specifically, those that work in the activity of unfolding and treatment of timber, laminate and plywood. The goal of the research is to investigate if the process of strategic planning formulated by timber enterprises subsidizes their managers’

O Planejamento Estratégico nas Empresas Madeireiras Roraimenses

Francisco Gomes FilhoBoa Vista – RRMestre em Engenharia de Produção – UFAM1 Especialista em Gerenciamento de Pequenas Empresas – UFLA2

Bacharel em Ciências Contábeis – UFRR3

Professor Assistente II do Departamento de Ciências Contábeis da UFRR3 [email protected]

decision making. Then, aiming at knowing the functioning of Roraima timber industries management it was carried out a field research with 22 enterprises selected random represen-ting a real sample of 58% of the universe of this economic category of enterprise. Research data were collected through a questionnaire with 20 questions and its treatment was done by inferential and descriptive statistical techniques. Using the significance test for proportions with a level of reliability of 95% for the acceptance of the nullity hypothesis raised. As the result of the study it is seen that 73% of the sample investigated it was not found a formalized process of strate-gic planning for subsidizing the decision making of managers, though approximately two third from this sample, that is, 64% of timber industries managers attribute the enterprise vitality directly related to the existence of a formal strategic planning. Finally, it concludes that the application of a formal process of strategic planning may contribute with relevant information for a correct timber industries management.Key words: Strategic planning, Timber enterprises, Competitiveness.

1. IntroduçãoAs empresas estão sofrendo fortes pressões competitivas

com a globalização da economia em que interagem mercados mundiais e não mais simplesmente regionais ou nacionais. Este fato obriga as empresas a manter-se em um contínuo processo de alerta, adaptações e ajuste às mutáveis condi-ções ambientais, caso pretendam manter sua sobrevivência.

Conforme a filosofia darwinista, as espécies vivas que sobrevivem não são as mais fortes nem as mais inteligentes,

Artigo recebido em 19/09/2005 e aceito em 28/11/2005.

1UFAM – Universidade Federal do Amazonas – CEP 69.077-000 – Manaus – AM.2UFLA – Universidade Federal de Lavras – CEP 37.200-000 – Lavras – MG.3UFRR – Universidade Federal de Roraima – CEP 69.306-270 – Boa Vista – RR.

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mas, sim, aquelas que conseguem adaptar-se e ajustar-se às novas exigências do seu meio ambiente. Já no darwinis-mo organizacional que caracteriza o mundo empresarial mo-derno, as empresas que sobrevivem às mutáveis condições ambientais são aquelas que não somente se ajustam, mas se antecipam pró-ativamente e criam as condições de mu-danças para as outras empresas. Nos dias atuais, percebe-se, então, que as empresas de sucesso são aquelas capa-zes de se adaptar adequadamente ao processo contínuo de mudanças no mundo dinâmico e competitivo dos negócios. E o seu sucesso é maior, principalmente, à proporção que elas se antecipam de forma pró-ativa a essas mudanças.

O aumento da competitividade entre as empresas pode conduzir determinados setores de atividades empresariais que estejam deficitários em tecnologia e informações a su-cumbir e, conseqüentemente, provocar graves problemas sociais e econômicos à sociedade, como, por exemplo, o desemprego. Por meio da realização de pesquisas científi-cas, despontam condições, muitas vezes, de se antecipar à ocorrência de fatos dessa natureza, uma vez que os resul-tados dessas pesquisas podem diagnosticar problemas que afetarão situações futuras de caráter adverso à sociedade, embora estes problemas ainda estejam em estado latente.

Identificar a realidade gerencial das empresas madeireiras do Estado de Roraima é criar condições para o aprimoramen-to de técnicas avançadas de gerenciamento, visto que estas técnicas podem contribuir para a manutenção de empregos e para a oferta de novos postos de trabalho, como também para a geração de recursos econômicos, a partir da recolocação de empresas eficazes no campo de batalha da competitividade. Local este onde uma informação bem estruturada e oportu-na pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso. E por último, contribuir também com o acréscimo de novos fatos e novas informações para avanço da ciência e do Brasil.

Com essa abordagem, o presente estudo tem como pro-pósito básico investigar se o processo de planejamento es-tratégico formalizado pelas empresas madeireiras subsidia as tomadas de decisões dos seus gerentes. Para a consecução deste objetivo, busca-se, por intermédio de pesquisas literária e empírica, a resposta para o seguinte problema: o processo de planejamento estratégico formal nas empresas madeireiras subsidia as tomadas de decisões dos seus gerentes?

Como solução-tentativa para essa questão, levanta-se por hipótese de nulidade (H0) que um percentual superior a 40% das empresas madeireiras pesquisadas os gerentes le-vam em consideração o processo de planejamento estratégi-co formal para subsidiar suas tomadas de decisões, e como hipótese alternativa (H1) que esse percentual seja inferior a 40% das empresas madeireiras perscrutadas. Para isso, re-aliza-se um levantamento de campo nas empresas madeirei-ras do Estado de Roraima, objetivando, então, revelar esses aspectos expostos acima. Assim, para efeito deste estudo, é focada a área referente ao Estado de Roraima.

Por fim, apresenta-se a divisão estrutural deste trabalho. A introdução, conforme está sendo vista, e, na seqüência, apresenta-se um levantamento das principais contribuições sobre o tema, a descrição dos materiais e métodos utiliza-dos, a análise dos principais resultados e as conclusões.

2. Breve Revisão da LiteraturaSeja o futuro previsível ou incerto, a empresa necessita

preparar-se para enfrentá-lo, de modo a assumir os riscos certos e a aproveitar as oportunidades que ele oferece. O processo de preparar o futuro da empresa chama-se plane-jamento estratégico.

Para Cobra (1991, p. 19), citando Ansoff (1990), o plane-jamento permite a uma empresa “organizar competitividade e lucratividade num ambiente turbulento”. O autor complementa lembrando que o planejamento é uma questão de sobrevivên-cia para a empresa e aproveita o ensejo para fazer a seguinte analogia: “o planejamento no mundo dos negócios representa o mesmo papel que o plano de vôo para o aviador ou o plano de navegação para o comandante de uma embarcação”.

Já Chiavenato (1999) argumenta que o planejamento pode estar voltado para a estabilidade no sentido de assegu-rar a continuidade do comportamento atual em um ambien-te previsível e estável. Também pode estar voltado para a melhoria do comportamento atual, com vistas a assegurar a reação adequada a freqüentes mudanças em um ambiente mais dinâmico e incerto. Pode ainda estar voltado para as contingências no sentido de antecipar-se a eventos que pos-sam ocorrer no futuro e identificar as ações apropriadas para quando eles eventualmente ocorrerem. Assim, pode-se di-zer que o planejamento é fundamental para avaliar todas as condições a serem enfrentadas no futuro de uma empresa, ou seja, é necessário prever todas as possíveis turbulências ambientais. Por essa razão, as empresas com maior habili-dade para administrar essas turbulências se tornam vence-doras no mercado.

Outro aspecto importante em planejamento, mais pre-cisamente quando se referem às decisões estratégicas da empresa, é o planejamento estratégico. De maneira tácita ou explícita, o processo de planejar estrategicamente está presente em todas as empresas. Planejar estrategicamen-te, de forma geral, significa raciocinar para o longo prazo. O longo prazo, no entanto, nem sempre significa uma grande extensão de tempo; por exemplo, pode não ser mais que os 60 minutos de uma partida de xadrez. Pois planejar estrate-gicamente envolve a capacidade de enxergar a cadeia de eventos resultante de determinado comportamento, ou seja, é a capacidade de enxergar as conseqüências possíveis de cada decisão tomada. Por essa noção, podem-se, então, vi-sualizar vários conceitos para planejamento estratégico.

De acordo com Chiavenato & Sapiro (2003), o planeja-mento estratégico é um processo de formulação de estraté-gias organizacionais, no qual se busca a inserção da empre-sa e de sua missão no ambiente em que ela está atuando.

Nesta mesma direção, encontra-se na obra de Berti (2002) que o planejamento estratégico é um processo ge-rencial que possibilita ao executivo estabelecer o rumo a ser seguido pela empresa, com vistas a obter um nível de otimi-zação na relação da empresa com o seu ambiente.

Já Mintzberg (2004) discorre que o planejamento estraté-gico é um processo de pensar no futuro, de controlar o futuro, de tomada de decisão integrada e de procedimento formal para produzir um resultado articulado, na forma de um siste-ma integrado de decisões.

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Por sua vez, Oliveira (2004) acrescenta que planejamen-to estratégico é o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa, visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando de forma inovadora e diferenciada. Em termos gerais, o planejamento estratégico tem por finalidade maximizar os resultados e minimizar as deficiências da empresa, utilizando-se dos princípios de efi-ciência, eficácia e efetividade. Estes princípios são os princi-pais critérios de avaliação de uma gestão empresarial. Em suma, o processo de planejamento estratégico mapeia o ca-minho que a empresa deve seguir até definir os resultados desejados e direciona os esforços necessários para sua con-cretização, por meio de uma gestão estratégica eficaz.

Sobre o planejamento estratégico como suporte à tomada de decisão, Bethlem (2002) aduz que o planejamento envolve tomar decisões. Uma vez que as decisões são tomadas es-sencialmente pelo reconhecimento de que existe um proble-ma, identificando formas alternativas de resolvê-lo, analisando as conseqüências de cada alternativa e comparando essas conseqüências para decidir qual é a melhor. March & Simon (1958), também citados por Bethlem (2002, p. 110), esclare-cem que o “planejamento definido de forma genérica é sem dúvida indistinguível de outras formas de tomada de decisão”.

Nesta linha de pensamento, Granjeiro (1996) enfatiza que decisões que estão sendo tomadas no presente irão afetar o futuro da empresa. Estas decisões são baseadas nos planos estratégicos, os quais procuram determinar o comportamen-to futuro da empresa.

Já no que diz respeito à gerência estratégica, encontra-se na obra de Thompson Jr. & Strickland III (2003) que a tomada de decisão de forma descentralizada na empresa tende a um maior envolvimento por parte dos seus gerentes. Além disso, este processo encoraja os gerentes ao desenvolvimento de novas idéias, ao pensamento criativo e à inovação.

Ainda neste contexto, Oliveira (2004) assevera que o exercício do planejamento tende a reduzir a incerteza envol-vida no processo decisório e, conseqüentemente, estimular o aumento da probabilidade de alcance dos objetivos, desafios e meios estabelecidos para a empresa. Este autor comple-menta lembrando que no planejamento estratégico existem políticas que servirão como base para o processo decisório. Estas políticas representam parâmetros ou orientações que facilitarão a tomada de decisões dos executivos da empresa. Portanto, o processo de planejamento estratégico corres-ponde ao estabelecimento de um conjunto de providências a serem tomadas pelos gestores da empresa para situações futuras, que tenderão a ser diferentes do passado.

Ao discutir-se a utilização do planejamento estratégico pelas empresas, surge de imediato a seguinte pergunta: como essa ferramenta gerencial tem sido utilizada pelas em-presas no mundo e no Brasil? Para responder a essa inda-gação, faz-se necessário destacar os resultados de várias pesquisas afeitas ao tema planejamento estratégico nas em-presas.

Na obra de Costa (2002), encontram-se os resultados de duas pesquisas realizadas pela empresa de consultoria Bain & Company. Sendo a primeira realizada em 1996, com exe-cutivos de empresas da América do Norte, Europa e Ásia,

onde se revelou o planejamento estratégico com 89% de utili-zação. A segunda em 1999, agora com executivos de empre-sas dos Estados Unidos e Canadá, América do Sul e Europa, na qual se evidenciou o planejamento estratégico com 92%, 83% e 77%, respectivamente.

Já em Costa (1999), uma pesquisa realizada com 20 em-presas do setor de hotelaria localizadas no Município de São Paulo descobriu que 50% dessas organizações possuem um processo de planejamento estratégico formalizado e 15% de-las dispõem apenas de planos de ações anuais, nos quais constam aspectos estratégicos para o seu gerenciamento. Em outras palavras, 65% das empresas pesquisadas utilizam-se de ferramentas estratégicas que subsidiam sua gestão.

Por sua vez, Nascimento (2002), ao investigar a gestão de 36 empresas industriais localizadas no Estado de São Paulo, detectou que 56% delas elaboram um processo de planejamento estratégico.

Assim, pode-se depreender da análise dos resultados dessas pesquisas que a temática relacionada ao planejamen-to estratégico encontra-se relativamente difundida tanto em países de economia mais avançada, por exemplo, Estados Unidos e Canadá, como também nas empresas brasileiras.

3. Materiais e MétodosO trabalho realizado foi de natureza descritiva, uma vez

que visava identificar o funcionamento da gestão pratica-da nas empresas madeireiras roraimenses, o qual envol-veu uma pesquisa literária e outra empírica. Por sua vez, a pesquisa de campo foi realizada durante o mês de julho de 2004, abrangendo uma amostra de 27 madeireiras, selecio-nadas de forma randômica num universo delimitado por 38 empresas desse segmento econômico que são localizadas e operam no Estado de Roraima, especificamente aquelas que exercem as atividades de desdobramento e beneficiamento de madeiras, laminados e compensados.

O instrumento de coleta dos dados foi um questionário composto de 20 questões fechadas e indiretas, e as técnicas estatísticas empregadas para a apresentação, análise e inter-pretação dos dados coletados foi a estatística descritiva, onde se utilizou a distribuição de freqüência, bem como a estatística inferancial, utilizando-se o teste de significância para propor-ções com um nível de confiabilidade de 95% para a aceitação da hipótese de nulidade (H0) levantada para o estudo.

Os 22 questionários respondidos corresponderam aproxi-madamente a 58% da população em estudo para uma amos-tra mínima de mais de 50% necessária para o tratamento estatístico dos dados.

4. Análise dos Resultados Uma vez validados os dados dos 22 questionários rece-

bidos, a presente seção tem como objetivo apresentar, ana-lisar e discutir os principais resultados obtidos na pesquisa de campo, com vistas a solucionar o problema proposto do estudo, conforme se vê nas subseções abaixo:

4.1 Quanto ao número de funcionáriosO perfil das empresas madeireiras investigadas denotou

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a existência de nove microempresas, ou seja, 41%; de 11 pequenas empresas, isto é, 50% e de apenas duas médias empresas, ou melhor, 9%, compreendendo de 1 a 19, de 20 a 99 e de 100 a 499 funcionários, respectivamente. Ressal-ta-se, portanto, que esta classificação obedeceu à legislação vigente às empresas industriais com relação a seu número de funcionários. Por um lado, esta constatação sinaliza que a maioria das empresas madeireiras indagadas, ou melhor, 59% da amostra testada, possui um certo potencial na ge-ração de postos de trabalho que contribui para o bem-estar da sociedade local. Por outro lado, esta constatação sugere preocupação no que diz respeito aos aspectos estratégicos afeitos à gestão dessas empresas, tendo em vista se tratar de um número expressivo de empresas de pequeno porte, isto é, 91% da população pesquisada.

4.2. Quanto à adoção do planejamento estratégico formal A minoria das empresas investigadas dispôs de um plano

estratégico, constatando-se, portanto, que a prática dessa ferramenta gerencial é comum apenas em seis empresas, ou seja, 27% da amostra pesquisada, o que pode ser enten-dido como um percentual relativamente baixo, comparando com os índices de empresas nacionais de diversos setores da economia, conforme relata Nascimento (2002), este ín-dice é de 56% nas empresas industriais do Estado de São Paulo e, para Costa (1999), ele cai para 50% nas empresas de hotelaria do Município de São Paulo. Enquanto os índi-ces mundiais giram em torno de 77% a 92%, segundo expõe Costa (2002), na sua obra intitulada de Gestão Estratégica. No caso das empresas madeireiras do Estado de Roraima, o grau de formalidade do processo de planejamento estraté-gico é ainda considerado muito baixo, e as razões para isto serão apontadas pela pesquisa na última subseção. Assim, os resultados da pesquisa de campo, no entanto, indicam para fortes indícios da pouca atenção à adoção do processo de planejamento estratégico formalizado nas empresas ma-deireiras averiguadas, fato este que não é corroborado pela literatura citada, inclusive por trabalhos empíricos realizados nessa área de conhecimento.

4.3. Quanto à responsabilidade pela coordenação do plano estratégico

Verificou-se que nas empresas pesquisadas e possui-doras de um processo de planejamento estratégico formal, a coordenação desse processo ainda é predominantemen-te realizada pelo seu principal executivo, isto é, em qua-tro delas (18%), o que demonstra uma certa centralização desse processo em detrimento de outras áreas da empre-sa. Verificou-se também que em duas dessas empresas, ou seja, 9% da amostra investigada, a área administra-tiva e financeira têm destaque no papel da coordenação do plano estratégico, no lugar da área de planejamento que sequer aparece no resultado da pesquisa, embora ela constasse como item de respostas desta questão. Este fato é sintomático, pois pode sinalizar para duas situações distintas: a primeira acena para a inexistência de uma área específica de planejamento nas empresas analisadas, ten-do em vista que 91% dessas empresas são consideradas

de pequeno porte, como se observa na subseção 4.1; a segunda situação indica o início da falência de uma das características do processo tradicional de planejamento que era coordenado por departamentos específicos de planejamento. Conforme ressalta Nascimento (2002), es-ses departamentos se tornaram desnecessários, em fun-ção do baixo benefício que eles proporcionam em relação aos custos inerentes à sua manutenção.

4.4. Quanto ao envolvimento das gerências na elaboração do plano estratégico

Constatou-se que, das empresas inquiridas e possuidoras de plano estratégico formal, em três delas, ou seja, 14%, to-dos os níveis gerenciais dessas empresas são envolvidos na elaboração desse plano; em duas delas, isto é, 9%, somente a gerência superior; e apenas em uma empresa, ou melhor, 5%, a gerência superior e as principais áreas da empresa. Por um lado, estes resultados vêm corroborar a tendência da literatura emergente no que diz respeito à participação e à descentralização do processo de planejamento estratégico. Conforme relatam Thompson Jr. & Strickland III (2003), o en-volvimento dos gerentes dos escalões baixo e médio como membros integrantes da equipe de elaboração e implemen-tação do processo de planejamento estratégico da empresa é uma necessidade, principalmente à medida que as opera-ções da empresa tornam-se mais diversificadas e dispersas geograficamente. Por outro lado, os resultados apresentados contradizem os clássicos da literatura, que ainda defendem a responsabilidade do processo de planejamento estratégico como uma atividade apenas do alto escalão da empresa. As-sim, evidenciou-se que o envolvimento de todas as gerências organizacionais no processo de planejamento estratégico é uma prioridade nitidamente dos gestores das empresas ma-deireiras pesquisadas e possuidoras desse processo, entre os quais 50% indicaram ser esta a melhor metodologia para a elaboração do plano estratégico geral da empresa.

4.5. Quanto à importância do plano estratégico para a gestão da empresa

A amostra perscrutada revelou que aproximadamente dois terços dos gestores, isto é, catorze deles, entendem que a vitalidade da empresa está diretamente relacionada à existência de um processo de planejamento estratégico, contra apenas 36%, ou seja, oito gestores dizem que esse processo é irrelevante para o gerenciamento da empresa. Esta constatação é confirmada pelo resultado da pesquisa levada a cabo por Nascimento (2002), na qual consta que de 36 empresas industriais do Estado de São Paulo, 94% delas responderam que o processo de planejamento estra-tégico é considerado de vital importância para a gestão em-presarial, independentemente de essas empresas possuí-rem ou não esse processo de modo formalizado. Destarte, percebeu-se, no entanto, pelos resultados da pesquisa que existe uma forte tendência de que as empresas madeireiras perscrutadas passem a utilizar algum tipo de instrumento de análise estratégica em um futuro breve, independente-mente do nome que lhe é dado, planejamento estratégico ou, então, plano de ação anual.

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4.6. Quanto ao percentual de gerentes que tomam decisões com base no plano estratégico

Das madeireiras pesquisadas e possuidoras de um plano estratégico formal, todas elas informaram que seus gerentes tomam decisões de forma alinhada com os objeti-vos da empresa contidos nesse plano. Este resultado indica 100% de comprometimento desses gerentes com o plano estratégico das empresas analisadas. Segundo advoga Oli-veira (2004), o exercício do planejamento estratégico tende a reduzir a incerteza envolvida no processo decisório dos executivos da empresa e, conseqüentemente, tende a es-timular o aumento da probabilidade de alcance dos objeti-vos, desafios e meios estabelecidos para a mesma. Como esta questão está relacionada à hipótese de nulidade (H0) apresentada na introdução, realizou-se, então, teste de sig-nificância para proporções, o qual apresentou resultado de (-1,89), resultado este que excedeu o valor crítico tabelado de (-1,65) no nível significância de 5%, o que implicou rejei-ção dessa hipótese para a questão, e, conseqüentemente, pode ser afirmado, com um erro de 5%, que em menos de 40% das empresas madeireiras do universo pesquisado, os gerentes levam em consideração o processo de planeja-mento estratégico formal para subsidiar suas tomadas de decisões, o que significou a aceitação da hipótese alterna-tiva (H1) da pesquisa. Em face ao exposto, pode-se inferir que o nível de comprometimento dos gerentes com o plano estratégico está diretamente ligado ao grau de envolvimen-to que lhes é permitido ter na sua elaboração, conforme se observa na subseção 4.4.

4.7. Quanto à periodicidade de revisão do plano estratégico

Percebeu-se pelos resultados das pesquisas de campo que há uma preferência de 23% por parte das empresas pesquisadas e possuidoras de planos estratégicos, ou seja, cinco delas, por efetuar seus ajustes sempre que necessá-rio, independentemente do tempo já transcorrido ou ainda a transcorrer, contra apenas uma empresa. Esta constatação sugere que existe uma preocupação por parte dessas em-presas em acompanhar e controlar o seu plano estratégico. A ocorrência de revisões do plano estratégico em períodos curtos de tempo demonstra a flexibilidade das empresas in-vestigadas e é uma condição para que este plano seja de fato uma ferramenta de controle gerencial que faça o alinha-mento da empresa com seu ambiente de atuação.

4.8. Quanto à declaração da missão das madeireiras A amostra investigada revelou que 73%, ou seja, 16

empresas, possuem uma missão definida, contra apenas 27%, ou seja, seis empresas que não a possuem. Esta in-formação sinaliza que a maioria das empresas investiga-das conhece qual é a sua função no mercado. Conforme discorrem Chiavenato & Sapiro (2003), a missão da em-presa refere-se a seu papel dentro da sociedade em que está envolvida e significa sua razão de ser e de existir. Por isso, a missão da empresa deve ser definida em termos de satisfazer a alguma necessidade do ambiente externo com produtos e/ou serviços. Pois a missão está associada ao negócio da empresa.

4.9. Quanto às possíveis dificuldades enfrentadas pelas madeireiras

Das 22 empresas madeireiras indagadas, 45%, ou seja, dez delas, apontaram para a pressão dos órgãos ambientais como o maior desafio que elas enfrentam no mercado. Na se-gunda posição no ranking desses desafios, apareceu a carga tributária elevada, com um percentual de 27%, isto é, seis em-presas. Na terceira posição, despontou-se para uma concor-rência muito forte no mercado, com 14%, ou seja, apenas três empresas, e o restante das respostas está diversificado em outras dificuldades e falta de conhecimento gerencial, 9% e 5%, ou melhor, duas e uma dessas empresas, respectivamen-te. Pelas constatações da amostra testada, a pesquisa aponta fortes indícios da grande preocupação por parte das empresas madeireiras no que diz respeito ao controle dos órgãos am-bientais sobre suas atividades de atuação no mercado.

4.10. Quanto às possíveis razões da informalidade do plano estratégico

Foram constatadas, portanto, as seguintes razões argu-mentadas pelos executivos das empresas madeireiras inves-tigadas e não possuidoras de um plano estratégico formal-mente, a saber: carência de conhecimento técnico necessário para elaboração desse plano com um percentual de 23%, ou seja, cinco empresas; burocracia e custos elevados para a adoção desse plano com 18%, isto é, quatro empresas; dú-vida de que esse plano se aplica às empresas de pequeno porte, também com 18% das empresas; e descrença de que esse plano tenha aplicabilidade prática com 14%, ou melhor, três empresas. Pode-se inferir da análise desses resultados que o processo de planejamento estratégico não tem uma maior adoção por parte das empresas madeireiras indaga-das em virtude da falta de informações sobre a sua utilidade para o gerenciamento da empresa. Entendendo-se, então, que há necessidade de investimentos em treinamentos para a remoção dos obstáculos expostos acima.

5. ConclusõesEm face das constatações apresentadas na seção ante-

rior, aceita-se a hipótese alternativa (H1) que tentava solucio-nar previamente o problema levantado, a qual afirmava que em menos de 40% das empresas madeireiras pesquisadas os gerentes levariam em consideração o processo de plane-jamento estratégico formal para subsidiar suas tomadas de decisões. Resolve-se também o problema da pesquisa, uma vez que foi evidenciado que as tomadas de decisões dos gerentes das empresas madeireiras do universo pesquisado não são subsidiadas pelo processo de planejamento estraté-gico formal, com o valor percentual definido na hipótese de nulidade (H0) enunciada.

Conclui-se, portanto, que a utilização de um processo de planejamento estratégico é essencial para o gerenciamento das empresas madeireiras, tendo em vista que ele não só vislumbra o seu futuro, mas também é uma forma de asse-gurar a sobrevivência e continuidade dos seus negócios. Isto somente acontece quando planos e procedimentos são for-malizados na empresa.

Por fim, esta pesquisa vem contribuir com importantes si-nalizações para o entendimento das restrições sobre o pleno

Francisco Gomes Filho O Planejamento Estratégico nas Empresas Madeireiras Roraimenses

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emprego do processo de planejamento estratégico formal, no contexto das empresas madeireiras roraimenses. Ademais, ofe-recem-se algumas referências como ponto de partida para as próximas pesquisas científicas, a saber: a primeira delas é que novas pesquisas possam contribuir para o saneamento dos pro-blemas apresentados neste estudo, mediante novas técnicas

BibliografiaBERTI, Anélio. Custos: uma estratégia de gestão. São Paulo: Ícone, 2002.BETHLEN, Agrícola. Estratégia empresarial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999._______________ . & SAPIRO, Arão. Planejamento estratégico. Rio de Janeiro: Campus, 2003. COBRA, Marcos. Administração estratégica de mercado. São Paulo, Atlas, 1991.COSTA, Benny Kramer. Análise estratégica na gestão de empresas hoteleiras: proposição de um modelo. 1999. 221 f. Tese (Doutorado em Administração) – Curso de Pós-Graduação em Administração, Universidade de São Paulo, São Paulo. COSTA, Eliezer Arantes da. Gestão estratégica. São Paulo: Saraiva, 2002.GRANJEIRO, J. Wilson. Administração para técnicos, analistas e auditores. 5. ed. Brasília-DF: Vest-Com, 1996.MINTZBERG, Henry, Ascensão e queda do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2004.NASCIMENTO, Auster Moreira. Descentralização do processo de formulação das estratégias empresariais. 2002. 207 f. Tese (Doutorado em Controladoria e Contabilidade) – Curso de Pós-Graduação em Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo.OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e prática. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2004.THOMPSON JR, Arthur A. & STRICKLAND III, A. J. Planejamento estratégico: elaboração, implementação e execução. São Paulo: Pioneira, 2003.

metodológicas. A segunda referência visa a que esta pesquisa seja implementada em outras regiões para cotejar resultados e desenvolver novos estilos de gerenciamento estratégico. Já a terceira refere-se a que em um futuro próximo se possa con-frontar a realidade das madeireiras estudadas em duas épocas distintas, a partir da abordagem adotada neste trabalho.

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AGOSTO 04 e 05 II Encontro Estadual da Mulher Contabilista / Maceió – AL 10 IV Encontro Estadual de Estudantes e Profissionais de Contabilidade – ECIC / Rio Branco – AC 11 Encontro de Contabilidade / Cachoeira do Sul – RS 11 Encontro de Contabilidade / Bagé – RS 14 a 16 4º Encontro Catarinense de Estudantes de Ciências Contábeis / Florianópolis – SC 16 a 18 VII Convenção dos Contabilistas de Pernambuco / Boa Viagem – PE 25 Seminário de Assuntos Contábeis / Santa Rosa – RS 25 Seminário de Assuntos Contábeis / Uruguaiana – RS 28 e 29 III Fórum da Mulher Contabilista do Distrito Federal / Brasília – DF 28 a 30 VI Convenção de Contabilidade do Distrito Federal / Brasília – DF 31/08, 1 e 2/09 53ª Convenção dos Contabilistas do Estado do Rio de Janeiro – RJ

SETEMBRO 12 a 15 XXV Ciclo de Estudos Contábeis de Londrina / PR 14 I Simpósio de Contabilidade / Santa Cruz do Sul – RS 14 IV Seminário de Trabalhos Científicos / Santa Cruz do Sul – RS 14 e 15 II Encontro Paranaense da Mulher Contabilista / Maringá – PR 14 a 16 XII Encontro de Contabilidade do Tocantins / Palmas – TO 16 Encontro Estadual de Estudantes de Ciências Contábeis / Santa Cruz do Sul – RS 15 Seminário de Assuntos Contábeis / Santa Cruz do Sul – RS 20 a 22 2º Congresso Nacional de Auditoria / Rio de Janeiro – RJ – www.crc.org.br/eventos/ibracom.asp 21 a 23 VIII Jornada Piauiense de Contabilidade / Teresina – PI 22 Seminário de Assuntos Contábeis / Porto Alegre – RS 22 e 23 IV Encontro da Mulher Contabilista de Rondônia / JI Paraná – RO 23 a 27 30º ENANPAD / Salvador – BA 23 e 24 Jogos de Integração dos Contabilistas / Canoas – RS

OUTUBRO 06 Seminário de Assuntos Contábeis / Erechim – RS 06 Encontro de Contabilidade / Canela – RS 06 Encontro de Contabilidade / Santo Ângelo – RS 09 a 11 26º ENEGEP – CE. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – www.abepro.org.br/enegep/principal/index.asp 17 a 20 24º Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica – RS. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos. www.administradores.com.br 20 Seminário de Assuntos Contábeis / Santana do Livramento – RS 27 Encontro de Contabilidade / Venâncio Aires – RS 27 Seminário de Assuntos Contábeis / Novo Hamburgo – RS

NOVEMBRO 8 I Fórum de Estudantes, Professores e Profissionais de Contabilidade / Maranhão 10 Seminário de Assuntos Contábeis / Panambi – RS 10 Encontro de Contabilidade / Júlio de Castilhos – RS 16 e 17 2ª COESC/RJ – Convenção Estadual das Empresas de Serviços Contábeis do Estado do Rio de Janeiro Teresópolis – RJ – www.detaileventos.com.br/2coesc 24 Seminário de Assuntos Contábeis / Passo Fundo – RS 24 Encontro de Contabilidade / Gravataí – RS 30/11 e 01/12 II Convenção Sergipana de Contabilidade / Aracaju – SE 30/11 e 01/12 IX Fórum Sergipano de Contabilidade / Aracaju – SE

DEZEMBRO 01 e 02 X Encontro Alagoano de Contabilidade / Maceió – AL 08 Seminário de Assuntos Contábeis / Rio Grande – RS 08 Encontro de Contabilidade / Nova Prata – RS

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AGOSTO 11 a 16 Annual Meeting of the Academy of Management. “Knowledge, Action and the public Concern”. Atlanta, Geórgia, Estados Unidos. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – http://meeting.aomonline.org 28 e 29 III Congresso de Custos do Mercosul. Colônia do Sacramento, Uruguai. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – www.aurco.org.uy 28 e 29 II Congresso da Associação Uruguai de Custos. Colônia do Sacramento, Uruguai. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – www.aurco.org.uy 29 a 31 SIMPOI 2006- IX Simpósio de Administração da Produção, Logística e Operações Internacionais. São Paulo, Brasil. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – www.simpoi.fgvsp.br

SETEMBRO 8 a 12 7th International CINet Conference: “CI and Sustainability – Designing the road ahead”. Lucca, Itália. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – www.continuous-innovation.net/events/cinet2006.html 10 a 13 CLADEA 2006 – 41ª Annual Assembly. (Consejo Latino Americano de Escuelas Administracion). Montpellier, França. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – www.supdeco-montpellier.com/cladea2006 10 a 12 EUROMOT 2006 – Second European Conference on Management of Technology – “Technology and Global Integration”. Birmingham, Inglaterra. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – www.iamot.org

NOVEMBRO 09 a 11 10th World Congress of Accounting Educators. Istambul, Turquia. Encerrado o prazo para submissão de trabalhos – www.iaaer.org 13 a 16 XVII World Congress of Accountants. Istambul, Turquia. – www.wcoa2006.com

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Dia 31 quinta-feira 15h às 18h30 ENTREGA DAS CREDENCIAIS

18h30 às 19h SESSÃO SOLENE DE ABERTURA

19h às 20h30 A RESPONSABILIDADE SOCIAL E O MEIO AMBIENTE: NOVOS RUMOS PARA A CONTABILIDADE A participação da contabilidade na divulgação de informações sobre a sustentabilidade empresarial, interligando informações econômico-sociais com aspectos ambientais e sociais.Palestrante: Carmen Fernández Cuesta – Universidade de Leon – Espanha 20h30 às 22h COQUETEL com show musical

Dia 1º sexta-feira 14h às 15h30 O MEIO AMBIENTE E A CIDADANIA A consciência dos graves danos causados à natureza e a ação coletiva ou individual em sua defesa são atos de cidadania dos quais devemos ser co-responsáveis.

Palestrante: Bernardo Marcelo Brummer – UNESCO Debatedor: Representante da ONG FASE – Solidariedade e Educação

15h30 às 17h A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO PROFISSIONAL CONTÁBIL A responsabilidade da classe contábil na conscientização dos gestores e das organizações sobre a importância da divulgação de infor-mações de natureza ambiental e social.Palestrante: Fátima Freire – UFC – Universidade Federal do Ceará Debatedor: Aracéli Cristina de Sousa Ferreira – UFRJ

17h às 17h20 INTERVALO

17h20 às 18h ESPAÇO ACADÊMICOApresentação dos Programas de Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ e da UFRJ, no Estado do Rio de Janeiro.

18h às 20h PAINEL: ÁREA PÚBLICA, AUDITORIA E ESCRITÓRIOS PROJETO DE LEI Nº 1254/2003. Este projeto de lei dispõe sobre auditorias ambientais e a contabilidade dos passivos e ativos ambien-tais.Palestrante: César Medeiros – deputado federal Moderador: Antonio Miguel Fernandes – presidente do CRC-RJ

Dia 2 sábado10h às 11h30 CONTABILIDADE E MEIO AMBIENTE: REFAZENDO AS CONTAS POR UM MUNDO SUSTENTÁVEL Agir na direção de um mundo sustentável é uma necessidade que se impõe a todos os profissionais. Vamos refazer as contas e inserir o meio ambiente como parte integrante de nossas atividades.Palestrante: André Trigueiro – Rede Globo de Televisão

11h30 às 12h30 APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS E ENTREGA DE PREMIAÇÃO

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