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Meio ambiente, esporte, lazer e turismoestudos e pesquisas no Brasil, 1967-2007VOLUME 3

Ana Cristina P.C. de Almeida & Lamartine P. DaCosta (Editores) Editora Gama Filho, Rio de Janeiro, 2007

Meio Ambiente, Esporte, Lazer e Turismo: Estudos e Pesquisas no Brasil 1967 2007/ Editores : Ana Cristina Pimentel Carneiro de Almeida e Lamartine P. DaCosta Rio de Janeiro : Editora Gama Filho, 2007 455 p. ISBN 85-7444-062-0 1. Meio ambiente. 2. Esporte. 3. Lazer. 4. Turismo. 5. Desenvolvimento sustentvel CDD 809 CDU 82.09

Livro organizado em associao da Editora Gama Filho com a Universidade Federal do Par, 2006 - 2007"

Universidade Gama Filho REITORIA Reitor Prof. Luiz Eduardo Braune da Gama Pr-Reitor de Humanidades e Cincias Sociais Prof. Arno Wehling Pr-Reitor de Sade Prof. Gilberto Chaves Pr-Reitor de Exatas e Tecnologia Prof. Jos Leonardo Demtrio de Souza

Editora Gama Filho Editor Dante Gastaldoni Programao Visual Evlen Joice Lauer Superviso de textos Lamartine P. DaCosta

DIREITOS AUTORAIS E CPIAS A presente obra est sendo publicada sob forma de coletnea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, sem compensao financeira mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislao em vigor. Neste termos, este livro tem distribuio gratuita em CD ROM e outras mdias, como tambm est disponvel em site para download de livre acesso, sem custos para usurios. Cpias em papel do livro e dos textos esto autorizadas desde que no tenham propsito comercial e que sejam citados os autores e fontes originais em eventuais reprodues.

ENGLISH FOREWORDS AND TEXTS The Introduction of this book in English is available following the Contents section in the next pages. There are several chapters in English as far as original texts were included using this language. These texts are also listed in the above mentioned Introduction. Any part of this book may be reproduced in any form under the condition of being referred to authors and sources. All rights reserved. Commercial use of parts of this book only with permission of the authors.

Sumrio Volume III 9 Tendncias centrais dos estudos e pesquisas em Meio Ambiente, esporte, lazer e turismo no Brasil no perodo 1967 - 2007

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Research mainstreams of studies on environment, sport, leisure and tourism in Brazil within the period 1967-2007 Ana Maria Miragaya, PhD Atividades de Aventura como Contedo da Educao Fsica: Reflexes sobre seu Valor Educativo [2005] Alcyane Marinho Gisele Maria Schwartz Atividades de Aventura em Ambientes Artificiais [2005] Alcyane Marinho Esportes de Aventura na Natureza um Estudo de Caso no Par [2005] Ana Cristina P. C. de Almeida Sensaes dos Praticantes de Trekking [2005] Claudia Mnica Silva Ftima Casassola Miguel Valdo Vieira Nua Natura [2005] den Silva Pereti Ecoturismo e Turismo de Aventura como Alternativas para a Conservao do Carste de Dianpolis TO [2005] Heros Augusto Santos Lobo Marcos Luis Faleiros Loureno Atividade de Aventura e Mergulho Autnomo: Desvelando Emoes e Sensaes no mbito do Lazer [2005] Marilia Freire Gisele Schwartz Na Trilha dos Sujeitos Praticantes do Lazer na Natureza: um Debate Conceitual sobre Lazer e Meio Ambiente [2005] Mirleide Chaar Bahia Tnia Mara Vieira Sampaio

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Experimentando a sustentabilidade do turismo na Natureza [2005] Rita Mendona Educao Ambiental e Ecoturismo [2005] Rita Mendona O Corpo na Trilha e a Trilha no Corpo: a Discusso Ambiental na Formao do Profissional de Educao Fsica [2005] Simone Sendin Moreira Guimares Impactos Ambientais em Prticas Esportivas na Natureza [2005] Valdo Vieira Manoel J. G. Tubino O Turismo e o Lazer e sua Interface com o Setor de Recursos Hdricos [2005] Alessandra Daibert Couri Perfil do praticante de Esportes de Aventura [2005] Ana Cristina P. C. de Almeida David Gibb McGrath Os Impactos Ambientais e os Esportes de Aventura [2005] Ana Cristina P. C. de Almeida Esportes de Aventura e Sustentabilidade: Conscincia e tica ambiental [2005] Ana Cristina P. C. de Almeida Precarizao do Trabalho e Territorialidade da Atividade Turstica em Bonito-MS [2005] Edvaldo Cesar Moretti Gilson Kleber Lomba O equilbrio entre a atividade econmica e a sustentabilidade socio-ambiental [2005] Joo Meirelles Filho Polticas Pblicas de Turismo no Nordeste nos Anos 90: O Prodetur/NE [2005] Lillian Maria de Mesquita Alexandre O Turismo de Aventura na Regio Amaznica: desafios e potencialidades [2005] Mirleide Chaar Bahia Tnia Mara Vieira Sampaio

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A Importncia das Atividades Fsicas de Aventura na Natureza (Afan) e os Impactos Ambientais Gerados [2006] Alcides Vieira Costa O mbito dos Esportes de Aventura e a Qualidade de Vida: apontamentos sobre a aventura, o esporte e o ambiente [2006] Ana Cristina Zimermann Sidney Ferreira Farias A Comercializao das Montanhas Atravs das Prticas de Lazer a Partir do Sculo XX [2006] Arianne Carvalhedo, Fabiana Rodrigues de Sousa Cris Costa Veerman The Olympic Winter Games: The Quest for Environmental Protection and Educational Promotion an Overview [2006] Lamartine P. DaCosta Cris C. Veerman Atividade Fsica e o Meio Ambiente [2006] Lamartine P. DaCosta Lazer e Educao Ambiental na Hotelaria: um Estudo de Caso [2006] Evandro Antonio Correa Nvel de Informao de Discentes de Educao Fsica sobre Meio Ambiente, Natureza e Suas Inter-relaes com o Esporte Kalyla Maroun Valdo Veieira Turismo Comunitrio como Proposta de Resistncia e em Defesa ao Meio Ambiente: Cultura e Tradio das Velhas Mulheres da Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Estadual Ponta do Tubaro RDS [2006] Lore Fortes Lenice Lins Goulart Lazer Meio Ambiente: novas demandas da sociedade contempornea [2006] Mirleide Chaar Bahia Jossett Campagna De Gspari Lazer, Natureza e Amizade: Formas de Subjetivao na Modernidade Tardia [2006] Sandoval Villaverde Monteiro

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Copa de 70: o Planejamento Mxico [2006] Marco Santoro Antnio Jorge Soares Tiago Lisboa Bartholo Educao Fsica, Lazer e Meio-Ambiente: desafios da relao ser humano e ecossistema [2006] Tnia Mara Vieira Sampaio A Participao de Idosos em Atividades de Aventura na Natureza no mbito do Lazer: Valores e Significados [2006] Viviane Kawano Dias Viagens, Lazer e Esporte: o Espao da Natureza [2006] Alcyane Marinho Heloisa Turini Bruhns Caminhar: um relato das cinestesias e das experincias sinestsicas [2006] Jaqueline Castilho Moreira O desafio do Movimento Sharing Nature na Educao Ambiental Contempornea [2006] Rita Mendona Shin-ichi Furihata

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Introduo

Tendncias centrais dos estudos e pesquisas em Meio Ambiente, esporte, lazer e turismo no Brasil no perodo 1967 - 2007Ana Cristina P. C. de Almeida & Lamartine P. DaCosta

Relacionando meio ambiente com esporte, lazer e turismo, este livro se prope a ser uma coletnea de textos apresentados a pblico no Brasil desde 1967 - ano da provvel primeira obra no assunto segundo interpretaes atuais que sugere representar diferentes caracterizaes e tendncias assumidas por este tipo de conhecimento ao longo do tempo. Em resumo, este novo livro est basicamente proposto como um documento de memria e uma referncia para trabalhos acadmicos futuros numa rea de conhecimento que tem exibido grande impulso nos ltimos anos, no pas e no exterior. Os textos inventariados foram fornecidos voluntariamente por seus autores a partir de solicitao pblica de livros individuais e coletivos, artigos em peridicos, teses, dissertaes, contribuies em congressos e seminrios, e publicaes tcnicas diversas. Pesquisas e estudos aceitos para publicao (no prelo em 2006 - 2007) foram includos tendo em vista o objetivo de discernir tendncias semelhana das obras antecedentes. Como tal, a presente publicao destina-se distribuio gratuita e fcil acesso por vrias mdias e formatos. As tendncias centrais (research mainstreams) dos trabalhos foram assumidas na tradio cientfica de identificar convergncias por tipos de abordagens temticas e por quantidade de estudos. Entretanto, as interpretaes e snteses adiante apresentadas devem ser consideradas apenas como indicaes de uso genrico uma vez que no se baseiam em levantamentos exaustivos nem amostragens estatsticas de trabalhos publicados. Em que pese uma validade reduzida - mas todavia pertinente - priorizou-se a reproduo de trabalhos publicados em livros, um meio ainda aceitvel e til nas condies acadmicas brasileiras para caracterizar enfoques principais. Isto posto, encontra-se em seguida nesta Introduo, em ordem cronolgica, a identidade inicial de textos na temtica objetivada por este livro comAlmeida, Ana Cristina P.C. de & DaCosta, Lamartine P. Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2007

exame adicional de caractersticas e respectivos relacionamentos, quer no tempo, no espao e segundo interesses de seus autores. Esta anlise descritiva foi feita por contextualizao histrica a partir de obra publicada no Brasil em 1850 (ver adiante) no tema do meio ambiente e suas influncias em entes humanos. A observao das relaes do meio ambiente com o esporte, lazer e turismo foi feita nos anos subseqentes at 2007. Para esta tarefa textos e autores no contemplados nesta Coletnea foram citados vista de esclarecimentos sempre que convenientes para melhor compreenso e registro. Em resumo, tais disposies nesta abordagem inicial incorporam tendncias centrais e secundrias por snteses e re-interpretao dos textos arrolados. As contribuies para o livro ora em apresentao foram resumidas pelos cedentes das obras originais, procurando-se relevar aspectos essenciais dos estudos. Tambm foram mantidos os padres estabelecidos originalmente pelos autores, incluindo forma de redao e modos de referenciao bibliogrfica. Nos casos de obra publicada no exterior foi mantida a verso em ingls. Em suma, cada texto constituiu um captulo do livro tambm integrado numa ordem cronolgica geral que ao final permitiu uma primeira periodizao de tendncias centrais dos estudos e pesquisas: 1967 2000 (fase pioneira) e 2001 - 2007 (fase de maturidade). Esta mesma disposio permitiu antever dois perodos de internacionalizao independentes entre si dos estudos brasileiros em meio ambiente, esporte, lazer e turismo: 1967 1987 (enfoque maior no esporte) e 1997 2007 (enfoque prioritrio na sustentabilidade com vises integradas do esporte, lazer e turismo). Em termos epistemolgicos, para que fosse possvel identificar research maintreams dos estudos e pesquisas, os editores deste livro adotaram interpretaes e conceitos amplos (soft definitions) quer do meio ambiente por vezes identificado como natureza como do esporte, lazer e turismo, evitando definies estreitas e especializadas. Estas ltimas hard definitions inviabilizariam a observao das relaes tpicas do meio ambiente luz da sustentabilidade, distante portanto do objetivo da presente obra. Neste particular, assumiu-se como diretriz principal a concepo geral de meio ambiente estipulada pelo Comit Olmpico Internacional COI, isto : todos os fatores externos, condies e influncias que afetam um organismo ou uma comunidade (IOC, Manual on Sport and the Environment, Lausanne, 2001, p. 80). Adicionalmente, definiu-se tambm a sustentabilidade como o desenvolvimento que atende as necessidades das geraes presentes sem prejudicar as geraes futuras (Ibidem, p. 81). Por sua vez, a mesma fonte do COI (2001, pp. 13 - 14) ajusta a concepo de esporte aos problemas da proteo ambiental declarando que a prtica do esporte inclui atividades fsicas em diferentes nveis, com participao informal e ocasional ou de alto rendimento com normatizao, implicando em gesto especializada ou de livre iniciativa de praticantes. J as relaes do esporte com o turismo, sob o enfoque do meio ambiente, seguiram as proposies de

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Tom Robison & Sean Gammon (Revisiting and Applying the Sport Tourism Framework, Journal of Sport Tourism, Volume 9, Number 3, 2004) as quais compreendem pessoas viajando, ou com estadas em locais fora de seu ambiente usual, com participao ativa ou passiva em atividades esportivas de competio ou recreativas. Outra recomendao adotada concerne s inter-relaes entre o turismo e o lazer, segundo Guy Swinnerton (Recreation and Conservation, in Jackson, E.L. & Burton, T.L., Understanding Leisure and Recreation, Venture Publishing, State College, PA, 1989, pp. 517 - 565), que geralmente ocorrem sob forma de coexistncia, simbiose ou conflito, sendo a ltima alternativa a mais comum dada expanso do turismo em escala mundial. vista do exposto, apresenta-se em seguida anlises histricas e contextuais que fundamentam os textos reunidos para a produo deste livro, com base em revises equivalentes de DaCosta (1997) elaboradas para a Universidade do Porto Portugal (ver Introduction and Chronology, pp. 15 - 37) ; de Ana Cristina P. C. Almeida (2000) para sua dissertao de Mestrado em que fez verificaes de tendncias usando a tcnica Delphi (texto includo nesta Coletnea); e, finalmente, mas no menos importante, de Andrade da Costa para o captulo Meio Ambiente e Esporte Produo do Conhecimento, publicado no Atlas do Esporte no Brasil, 2006 (pp.720 721), organizado por Lamartine DaCosta, Ana Miragaya e Evlen Lauer Bispo. 1850 Eduardo Ferreira Frana (1809 1857) de Recife-PE, mdico formado na Frana, publica o livro Influncia dos Pntanos sobre o Homem (Tipografia Liberal do Sculo, Salvador, 1850), no qual se analisam os efeitos da insalubridade do meio ambiente sobre a moral humana. Esta obra confirma a idia dominante no Brasil de que o clima tropical produzia indolncia, vcios e doenas. 1888 A Editora Garnier do Rio de Janeiro-RJ, lana a obra do escritor e poltico Slvio Romero (1851 1914) intitulada Histria da Literatura Brasileira em cujo captulo O Meio Fisiologia do Brasileiro so descritas as teorias correntes na Europa quanto inferioridade dos povos habitantes de regies de clima quente. Slvio Romero interpretando o fato argumenta que era necessrio no generalizar a questo climtica brasileira, pois o ambiente nocivo limitava-se a determinadas reas da nao. Porm reconhecia a deteriorao fsica de grande parte de seus cidados: Temos uma populao mrbida, de vida curta, achacada e pesarosa em sua mor parte (...) O trabalho intelectual no Brasil um martrio; por isso pouco produzimos; cedo nos cansamos, envelhecemos e morremos depressa (p. 93, vol. 1 da 7. Edio, 1980). Alm destas dificuldades, Romero j como deputado federal e membro fundador da Academia Brasileira de Letras (Rio de Janeiro), denunciou em 1902, o tamanho das colnias alems no sul do pas, que j comprometiam em sua opinio a identidade cultural lusfona do Brasil. 1902 O escritor Graa Aranha, membro da Academia Brasileira de Letras, publica o romance Cana, um livro em que explora em estilo pr-modernista, a deca-

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dncia cultural de colonos alemes no estado do Esprito Santo diante das dificuldades de adaptao ao ambiente tropical. 1907 Na Frana, o Baro Pierre de Coubertin onze anos depois de resgatar os Jogos Olmpicos adotava pela primeira vez no mundo do esporte uma posio de defesa da natureza, ao mobilizar os esportistas para que limpassem seus campos de prtica. Estava inaugurada ento a definio do esporte como poluidor como tambm um envolvimento permanente do Movimento Olmpico internacional sobretudo manifestado pelos Jogos Olmpicos de Inverno e de Vero com a proteo do meio ambiente. Uma reviso histrico-analtica deste compromisso foi produzida no incio dos anos 2000, pelo brasileiro Lamartine DaCosta em captulo de livro internacional denominado de Towards an Olympic Epistemology: Sport Sciences or Theory of Sustainable Sport?, como se verifica em Olympic Studies, Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2002, pp. 131 152 (no includo nesta Coletnea). 1922 O Exrcito Brasileiro adota oficialmente o Mtodo Francs de Educao Fsica, o qual incorpora nesta verso inicial brasileira entre vrias outras tendncias de origem francesa - as concepes de George Hbert (1875 1957), lder da L cole Naturaliste criada em 1905. Esta doutrina elegia os movimentos naturais (saltar, correr, trepar etc.) como base do mtodo de prticas fsicas se aplicados em meio aos elementos naturais (gua, sol, floresta, ar etc.). Hoje, a Escola de Hebrt ainda apresenta manifestaes na Frana e na Blgica (Gleyse, J. et al., 2002). 1932 A Escola de Educao Fsica do Exrcito EsEFEx, situada no Rio de Janeiro (Urca), inaugura uma Torre de Hbert junto sua pista de atletismo, marcando a incorporao do Mtodo Natural aos currculos daquela instituio militar. A Torre de Hbert foi mantida at meados da dcada de 1960 quando o Mtodo Francs foi substitudo pelo Mtodo Calistnico na instruo fsica do Exrcito Brasileiro (ver site www.esefex.ensino.eb.br/). No Brasil da atualidade dos anos 2000, o Mtodo de Hbert ainda sobrevive em suas propostas essenciais em Curitiba-PR, em So Paulo-SP e outras cidades, por meio de pistas de treinamento de exerccios naturais, com a denominao original francesa Le Parkour. H tambm ainda uma Associao Brasileira de Parkour ABPK, cujo site www.abpk.br/. 1967 Lamartine DaCosta, professor de Educao Fsica do Centro de Esporte da Marinha-RJ, publica um livro com relatrios de pesquisas sobre atividades fsicas em clima tropicais, realizadas na cidade do Rio de Janeiro, durante trs anos (1964, 1965 e 1966). O livro foi denominado de A Atividade Desportiva nos Climas Tropicais e uma Soluo Experimental: o Altitude Training (DaCosta, 1967), em razo de terem as investigaes o objetivo de medir o gradiente redutor da performance fsica de longa durao sob impacto direto dos raios solares, como tambm os efeitos do mesmo esforo ao se realizar sombra, em meio ao ambiente florestal.

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O experimento foi feito com 10 atletas masculinos de nvel nacional e internacional do atletismo, em provas de corridas de mdia e longa distncias. Como as anlises estatsticas das observaes comprovaram uma melhoria no gradiente redutor sombra, especificamente nas subidas da Floresta da Tijuca da mesma cidade, surgiu um mtodo de treinamento como resultado adicional ao estudo. Por conseguinte, a inibio do esforo fsico devido ao calor foi relativizado pelo modo de se conduzir e dosar o exerccio. Em suma, o determinismo que definia o trabalho fsico em ambiente tropical no Brasil desde 1850, tornou-se improcedente diante dos resultados desta pesquisa. Destaque-se ainda que estas investigaes biometeorolgicas foram pioneiras na rea esportiva nacional quanto ao uso de computadores e de protocolos de rigor cientfico. O livro de DaCosta (1967) encontra-se resumido em suas partes principais na presente Coletnea, representando a inaugurao no Brasil de estudos e pesquisas sobre o meio ambiente e esporte e posteriores desdobramentos nas reas de lazer e turismo. H uma verso em ingls deste livro datada de 1966, compondo um manual tcnico da Academia do Conseil International du Sport Militaire-CISM, Brussels, sob a denominao Sport Activities in Tropical Climates and an Experimental Solution: the Altitude Training(DaCosta, L.P., 1966). Esta obra marca o incio da internacionalizao da produo cientfica brasileira na rea do esporte e possivelmente na do meio ambiente como disciplina autnoma de conhecimento. 1967 Lamartine DaCosta publica Planejamento Mxico (obra includa nesta Coletnea) pela ento Diviso de Educao Fsica do MEC, em que estuda os efeitos do meio ambiente encontrado na altitude em geral e na Cidade do Mxico em particular, a 2.240 metros, local dos Jogos Olmpicos de 1968 e da Copa do Mundo de 1970. Este pesquisador participara de um grupo de observadores de diversas nacionalidades que visitaram a Cidade do Mxico em 1967, a fim de levantar as dificuldades de competies de alto rendimento no local. DaCosta em razo de seus estudos anteriores desde 1963 - j participava na poca da Sociedade Internacional de Biometereologia e da Academia do Conselho Internacional do Esporte Militar-CISM, esta ltima uma entidade de ponta nas questes de treinamento esportivo. Nestes estudos, tal como ocorrera antes com o clima quente, demonstrou-se que o meio ambiente adverso atividade fsica representado por regies elevadas, era real porm eivado de preconceitos. Neste mesmo ano, uma verso reduzida deste livro foi publicada em artigo em lngua inglesa na revista Sport International, Da Costa, L.P., vol 3, no. 36, pp. 16 23, sob o ttulo Altitude Training. Esta publicao (no disponvel nesta Coletnea) possivelmente o primeiro texto em ingls na rea do esporte produzida por autor brasileiro para peridico cientfico de circulao internacional, e talvez um dos mais citados at hoje. 1968 Os Jogos Olmpicos do Mxico tm lugar neste ano, superando a ameaa de suspenso do evento pelo COI por existirem ameaas ambientais aos atletas pela elevada altitude da sede dos Jogos. DaCosta acompanhou o evento e fez um levantamento minucioso das condies de aclimatao para a Seleo Brasileira de Futebol no local e em outras regies do Mxico, para uso quando da Copa do Mundo de Futebol de 1970 a ser realizada no Mxico.Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo 13

1968 Joo Lyra Filho publica neste ano o livro Desporto e Trpico, em que defende a teoria determinista do esporte praticado no clima prevalente na maior parte do Brasil, a qual subentende efeitos prejudiciais. Este ento famoso cultor do direito e da sociologia do esporte, props nesta obra a elaborao de um Cadastro Nacional dos Desportos com a finalidade de explicar, luz dos trpicos, em relao a um povo ou outro, as preferncias por desportos mais atuados pelo instinto, pela alma ou pelo esprito (Lyra Filho, 1968, p. 6). 1970 Realizao da Copa do Mundo de Futebol no Mxico. Lamartine DaCosta produziu um plano cientfico de adaptao usando os efeitos benficos da altitude (super aclimatao) e minimizando suas causas nocivas. Em conjunto com outras contribuies positivas, o plano biometereolgico garantiu a vitria da Seleo ao final da competio. O relatrio oficial da Federao Internacional de Futebol Amador-FIFA sobre a Copa de 1970, publicado em 1972, enfatizou o trabalho cientfico de aclimatao altitude mexicana de 2.240 metros, considerando como o mais eficaz entre os pases concorrentes (FIFA, World Cup Mxico 70 - Official FIFA Report, Zurich, 1972). A partir deste ano, vrios estudos e registros foram publicados sobre os feitos cientficos para Copa de 1970 com base em conhecimento gerado no Brasil. Este tema repercutiu mais uma vez durante a Copa de 2006 (Alemanha) como se verifica em estudo includo nesta Coletnea (Santoro, Soares e Bartholo, 2006), o que confirma ser uma das tendncias dominantes da produo de conhecimento na rea de meio ambiente no Brasil, com quatro dcadas de sobrevivncia. 1977 Publicao do livro Treinamento Desportivo e Ritmos Biolgicos (Jos Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1977) de Lamartine DaCosta, reunindo pesquisas feitas com atletas brasileiros no Rio de Janeiro e em Atvidaberg, na Sucia, quando as reaes dos sujeitos da investigao mudana de ambientes foram mensuradas e comparadas luz da aplicao de treinamento fsico. Neste estgio da produo do conhecimento j se considerava importante o cruzamento de efeitos diversos advindos do meio ambiente (calor, altitude, mudana de fuso horrio etc) buscando-se fatores de maior influncia. Neste particular, o relacionamento social destacou-se como varivel fundamental da aclimatao cruzada, fenmeno de natureza ecolgica incluindo influncias de vrios sistemas relacionados vida humana. O livro de DaCosta (1977) no esta includo nesta Coletnea, em que pese seu valor para o estmulo do esporte-turismo, hoje em ampla expanso. Esta obra, tambm pioneira, recebeu como pesquisa o Prmio MEC de Literatura Esportiva de 1976. Estes resultados sugerem tambm que a opo biolgica e ambientalista de DaCosta e associados situava-se poca em nvel similar s pesquisas internacionais. 1981 Neste ano, publica-se no Rio de Janeiro, o livro Teoria e Prtica do Esporte Comunitrio e de Massa, Lamartine P. DaCosta (Ed.), Palestra Edies. Esta obra consolidou experincias e conhecimentos do chamado Esporte para Todos (EPT) no Brasil gerados nas dcadas de 1920 a 1970 -, incluindo autores sobre-

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tudo das reas de lazer e esporte recreativo. Entre as diversas revises feitas pelo EPT brasileiro, destacou-se a valorizao da natureza como ambiente de prticas fsicas, como se verifica nos Princpios do Esporte para Todos (ver texto de DaCosta de 1981, incluso nesta Coletnea). 1981 1982 No Brasil, neste estgio, as atenes para o meio ambiente por parte dos esportistas permaneceram limitadas a interesses incidentais, tais como aos relacionados a competies em altitude na Colmbia, Equador, Bolvia e Mxico. Entretanto, a agenda de pesquisas de DaCosta em termos de influncia do meio ambiente no desenvolvimento atltico neste perodo incorporou experincias com atletas brasileiros preparando-se para os Jogos Olmpicos de Moscou (1981); planejamento in loco da adaptao altitude de 3.600 metros para a representao brasileira ao Campeonato Sul-Americano de Natao em La Paz, Bolvia (1982); reconhecimento dos locais de jogos da Copa do Mundo de Futebol-1982, na Espanha, para adaptao da Seleo Brasileira de Futebol ao calor, alimentao e mudana de fusos horrios. Em adio a estes desenvolvimentos, DaCosta fez estgio em Font Romeu, Frana, no laboratrio de pesquisas em altitude dos Pirineus (1.850m), tambm em 1981. 1983 Diekert & Monteiro da Universidade Federal de Santa Maria UFSM, publicam o possvel primeiro livro nacional incluso nesta Coletnea - sobre equipamentos e parques de lazer em que privilegiaram atividades fsico-recreativas em ambientes naturais, promovidas por trabalhos comunitrios e locais (mutiro). Jrgen Diekert era poca professor visitante na UFSM e trouxe experincias da Alemanha quanto ao uso de materiais de origem florestal. 1987 DaCosta publica em Portugal, pelo Ministrio da Educao e Cultura, o estudo A Reinveno da Educao Fsica e do Desporto segundo Paradigmas do Lazer e da Recreao, em que explora especulativamente a oposio fundamental entre a idia da natureza e a de cultura. Este nexo tradicional da filosofia, revelou-se para o autor brasileiro como um fio condutor para se re-conceituar o lazer luz das atividades fsicas organizadas de modo pedaggico ou de livre arbtrio. Possivelmente este texto inaugura o pensar ecolgico no lazer no mbito acadmico de lngua portuguesa. Dcada de 1990 Neste perodo, o eixo de compreenso das questes ambientais no esporte se deslocou da proteo do praticante para a proteo do meio ambiente em que se pratica ou se competem esportes. Este fato foi produto do esprito da poca desde que em 1992, realizava-se no Rio de Janeiro, a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento de grande impacto internacional e marcante quanto ao incio da responsabilidade dos estados nacionais, formalmente assumida, a respeito da proteo da natureza em escala global. Do lado do esporte, o COI assumiu a liderana no plano internacional e, j em 1995, esta instituio organizava a 1a. Conferncia Mundial sobre Esporte e Meio Ambiente em Lausanne, Sua. Neste evento se estabeleceram as

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bases para emendar a Carta Olmpica, documento maior de princpios do COI e das Federaes Internacionais a ele filiadas, o que ocorreu efetivamente em 1996. A partir desta data, o COI passou a assumir publicamente os seus trs pilares de sustentao: esporte, cultura e meio ambiente (Tavares, 2002). A modificao da Carta Olmpica incluiu a definio de desenvolvimento sustentvel, j consagrada na histrica Conferncia do Rio de Janeiro de 1992. Por este marco definitrio, as atividades fsicas, os jogos e competies so sustentveis quando sua instrumentalizao respeita os valores intrnsecos da natureza e do esporte (DaCosta, 2002). Em sntese, a definio ento estabelecida e hoje corrente, propunha uma adaptao mtua entre praticantes e o meio ambiente, uma posio bem distinta em perspectivas do passado no Brasil com relao ao determinismo ambiental de Lyra Filho dos anos de 1960 ou do higienismo radical de Eduardo Ferreira Frana do sculo XIX, que entendia o meio ambiente como uma ameaa sade humana. 1992 DaCosta publica em captulo de livro seu segundo estudo filosfico sobre o meio ambiente O Olhar e o Pensar Ambientalista, no qual explora sua experincia cientfica de trs dcadas no tema. Neste texto ora incorporado nesta Coletnea h um resumo de sua crtica, ao declarar que estamos incorporando, enfim, uma cultura ecolgica, mas no conseguimos compreend-la alm dos dados cientficos reducionistas ou da informao efmera da mdia. 1993 Realizao do Simpsio Internacional Cidadania, Esporte e Natureza, organizado pela Universidade do Porto, em Portugal, por proposta de Lamartine DaCosta, ento professor visitante daquela universidade. Tambm neste ano, no Brasil, Rita Mendona, especialista em Planejamento Ambiental pela UNESCO e mestre em Sociologia do Desenvolvimento pela cole des Hautes em Sciences Sociales, da Frana, publica o artigo Turismo ou meio ambiente: uma falsa oposio (includo nesta Coletnea) denunciando que no Brasil o turismo, tal como vem sendo implantado, no apresenta caracterstica de sustentabilidade a mdio e longo prazos. Este estudo pioneiro, todavia de ndole conceitual, constri preliminares ao pensamento sobre o meio ambiente, que aparentemente influenciaram autores brasileiros de temas relacionados com o lazer de atividades fsicas e turismo. Nas concluses h perspectivas futuras da parte da autora que revelam tendncias hoje razoavelmente confirmadas: H vrios indcios de que essa sustentabilidade no ficar apenas em nosso exerccio de raciocnio: os novos planos de desenvolvimento turstico vm incorporando pouco a pouco os aspectos ambientais; a legislao ambiental brasileira bastante clara e interessante em muitos aspectos; os conceitos e tcnicas em educao ambiental tm evoludo muito. claro que tudo isso precisa ser posto efetiva e completamente em prtica. Mas no podemos perder de vista que se trata de um processo, formado por etapas e pequenas conquistas individuais 1994 Realizao dos Jogos Olmpicos de Inverno de Lillehammer, Noruega, que representaram os primeiros Jogos Verdes (Green Games) da histria do Movi-

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mento Olmpico Internacional, pelos critrios de sustentabilidade adotados nas instalaes e organizao das competies e hospedagem de atletas e visitantes. Neste ano, Sydney Austrlia foi escolhida por eleio como sede dos Jogos Olmpicos de Vero do ano 2000, tendo privilegiado a proteo do meio ambiente em seu projeto de candidatura. Em condies similares de dar prioridade ao ambientalismo, Atenas Grcia foi eleita em 1998, a sede dos Jogos Olmpicos de 2004. Entretanto, a partir de Lillehammer tornou-se comum o uso dos Jogos Olmpicos como showcases (projetos - demonstrao) de boas prticas ambientalistas. No mbito brasileiro, autores como DaCosta, Carvalhedo e Veerman seguidores da tradio cientfica, tecnolgica e tica adotaram ento os eventos olmpicos como suporte emprico de seus estudos, incluindo no caso o turismo e o lazer. Tal opo foi reforada em 1999 quando da adeso oficial do Programa Ambiental das Naes Unidas UNEP ao trabalho em conjunto com o Comit Olmpico Internacional (ver adicionalmente Tavares et al., 2002, nesta Coletnea). 1996 Neste ano, outros autores brasileiros incluem-se na senda aberta antes por Rita Mendona, como no exemplo de Ana Cristina P.C. Almeida ao preconizar nfase na Educao Ambiental que direciona a uma atualizao voltada, principalmente, ao uso adequado dos recursos naturais, porm, geralmente, discrimina as relaes globais de causa e efeito por falta de tempo, dedicao e at experimentao cientfica que tornaria o assunto mais pr-ativo alm da simples conscientizao e, portanto, de maior importncia ao aprendizado (ver nesta Coletnea o texto A Inter-Relao do Ensino em Recreao e Lazer e a Educao Ambiental de 1996). Por sua vez, Flvio Leonel A. Silveira em seu Ecoturismo: Viagem, Lazer & Aventura (includo nesta Coletnea), adotando uma linha conceitualista e experimental, levanta perspectivas futuras indicando que o turismo ecolgico ou o ecoturismo um fenmeno recente e em evidncia, ou melhor, um evento tpico do final do sculo XX, dentro do que se poderia apontar como uma perspectiva ps-moderna de interao com os naturais. Trata-se de uma atividade turstica que se caracteriza por certo hibridismo, no qual as questes ecolgicas mesclam-se com a experincia turstica gerando um outro tipo de evaso do espao urbano, a qual prefiro denominar experincia ecoturstica. A prpria Rita Mendona retorna este ano, publicando Visitar e compartilhar a natureza (includo nesta Coletnea), uma reflexo em que se baseia em destacado pensador ambientalista que tenta combinar posies filosficas com imperativos pedaggicos: Para Joseph Cornell, a verdadeira definio de educao, que abrange a educao ambiental, sugerida por J. Donald Walters: a habilidade de se relacionar com outras realidades, e no apenas com a sua prpria. No fundo, ns estamos ligados a todas as formas de vida, s que no percebemos mais,.. No nosso dia-a-dia quase no nos damos conta deste afastamento e de quo longo o caminho para nos reencontrarmos verdadeiramente com elas. 1997 Neste ano, foi organizado um Seminrio na Universidade de Cingapura sobre os problemas ambientais dos Jogos Olmpicos de Sydney - 2000, no qual Lamartine DaCosta (Universidade Gama Filho-RJ) debateu com Richard CashmanMeio ambiente, esporte, Lazer e turismo 17

e Kristine Toohey, da Universidade de New South Wales, Austrlia, as questes centrais sobre o meio ambiente envolvendo os Jogos Olmpicos. Nesta ocasio, foi divulgado um position paper (no includo nesta Coletnea) ento referenciado como: DaCosta, L.P., The Green Dream: the Olympic Movement and the Environment, National Olympic Academy of Singapore Seminar, Singapore, 1997. Posteriormente, ainda em 1997, este autor brasileiro publicou pela Academia Olmpica Internacional, Grcia, um estudo de reviso conceitual e tecnolgica para dar suporte candidatura de Atenas para os Jogos Olmpicos 2004; tal documento (tambm no includo nesta Coletnea) est referenciado como: DaCosta, L. P., The Olympic Movement Today and the Environment Protection, I.O.A. Report of the 37th Session, Ancient Olympia, 1997, 3-6. Em resumo, no Brasil, a linha de pesquisa liderada por DaCosta neste estgio j estava consolidada como marcada por bases cientficas, filosficas e tecnolgicas ao passo que o caminho em construo exemplificado por Mendona, Pimentel e Silveira mostrava-se como de reviso conceitualista, pedaggica e auto-reflexiva diante uma realidade tpica nacional. Significativamente estas duas tendncias centrais dos anos de 1990 focalizavam igualmente o meio ambiente, o lazer e o turismo, gerando um certo hibridismo conceitual e operacional. 1997 Publica-se em Portugal, o livro Meio Ambiente e Desporto Uma Perspectiva Internacional, tendo como editor Lamartine DaCosta e como organizador Antnio Marques, professor da Universidade do Porto. O livro escrito em ingls e portugus - teve o apoio financeiro do Comit Olmpico Internacional - COI e a colaborao de 15 especialistas de vrios pases no tema proposto. A tese central do livro disps-se na condio ambivalente do esporte que tem atuado como vilo e vtima do meio ambiente. A presente coletnea inclui a Introduo deste livro como tambm um captulo de DaCosta em que se apresenta uma teoria geral sobre o meio ambiente e a prtica esportiva, ambos na verso em ingls da publicao. Esta ltima construo conceitual, filosfica, emprica de ndole cientfica e internacionalista demarcou a produo do autor em foco at 2006 quando publica um estudo sobre a proteo do meio ambiente com educao ambiental e turismo correlatos nos Jogos Olmpicos de Inverno de Turim Itlia (em associao com Cris Veerman e includo nesta coletnea). No seu significado de obra coletiva internacional, o livro da Universidade do Porto constituiu um marco para os especialistas brasileiros em meio ambiente na medida em que se expandiu o intercmbio com outros pases como se verifica nos anos seguintes desta cronologia. Este vis explica, por exemplo, o destaque dado pelo European College of Sport Sciences aos trabalhos da linha de pesquisa de DaCosta e associados em 1991 (ver adiante). 1998 Acontece o Seminrio Internacional de Esporte e Meio Ambiente, em Curitiba-PR, promovido pelo Comit Olmpico Brasileiro-COB, com a presena de representantes de pases latino-americanos e do COI. Otavio Tavares, Renato Miranda e Lamartine DaCosta organizaram um livro com os textos apresentados e as notas das discusses, que foi publicado em 2002 com o ttulo Esporte, Olimpismo e Meio Ambiente. Neste Seminrio teve destaque a Agenda 2118 Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo

como base para a revitalizao dos esportes tendo em vista as exigncias de proteo ambiental. A Agenda 21 teve tambm origem na Conferncia de 1992 do Rio de Janeiro, consistindo num compromisso de esforos conjugados de governos e instituies em projetos de conservao ou de proteo da natureza (21 refere-se ao sculo visado pela Agenda). 1999 Tem lugar no Rio de Janeiro-RJ a Terceira Conferncia Mundial sobre Esporte e Meio Ambiente, promovida pelo COI e organizada pelo COB. Este evento foi o maior at ento ocorrido no tema proposto, com a presena de 93 representantes de Comits Olmpicos Nacionais e de 19 Federaes Internacionais de esportes. O significado desta participao indita prendeu-se ao crescente envolvimento das modalidades esportivas per se nas questes ambientais, em complementao aos interesses voltados para os Jogos Olmpicos e mega eventos esportivos em geral. Segundo avaliao de DaCosta produzida em 2001 por solicitao da Universidade de Colnia, Alemanha, em 29,7% das contribuies e discusses da Conferncia de 1999, o foco se ps na tica, sobretudo em termos de comportamento pessoal e de intervenes de governo. J 27,0% dos trabalhos voltou-se para perspectivas e projees futuras do tema de proteo ambiental, enquanto 24,3% abordou tcnicas e instrumentos de manejo ecolgico. Os assuntos de promoo de eventos e os relacionados com a educao e cultura foram residuais com 18,9%. Estes resultados indicaram a existncia de ambigidade no trato das questes ambientais por parte dos gestores esportivos das entidades internacionais, o que foi posto em foco por DaCosta posteriormente no trabalho International Trends of Sport and Environment - a 2001 Overview, j aqui citado e resumido pela presente Coletnea. 1999 No Brasil, Rita Mendona amplia sua linha de reflexo e re-conceituao do turismo vinculado ao meio ambiente, publicando Sentido da Viagem, captulo de livro em que a busca de novos sentidos constitui a abordagem principal (ver texto com este ttulo na presente Coletnea) diante da crescente valorizao da natureza. Na mesma linha de conta, situam-se Cristiane Ker de Melo & Ana Cristina P. C. Almeida no estudo Nas Trilhas da Relao Educao Fsica Meio Ambiente includo nesta Coletnea inserindo os nexos das atividades fsicas organizadas ou de lazer na re-semantizao unificada da natureza. Tais resignificaes neste estgio implicaram em verificaes empricas, como o fizeram Alba Pedreira Vieira & Priscyla Assis em Turismo Ecolgico: essa possibilidade de lazer quente (ver nesta Coletnea), produzindo levantamento de campo. Para estas autoras, o desenvolvimento da Educao Ambiental passa pelo turismo ecolgico (EMBRATUR, 1994: Um segmento da atividade turstica que utiliza, de forma sustentvel, o patrimnio natural e cultural, incentiva sua conservao e busca a formao de uma conscincia ambientalista atravs da interpretao do ambiente, promovendo o bem-estar das populaes envolvidas). Este, por sua vez, oferece enquanto espao para vivncia tanto do homem com seus pares, quanto do homem com a natureza; essa vertente do turismo vem a cada dia se consolidando como potencializadora forma de se conhecer a natureza, dela fruindo e usufruindo, de maneira orientada e sustentvel. AMeio ambiente, esporte, Lazer e turismo 19

verificao prtica de propostas de lazer, atividades fsicas e Educao Ambiental foi feita tambm por Teresa Magro em Impactos do uso pblico em uma trilha no Planalto do Parque Nacional do Itatiaia (ver Coletnea), em que um estudo de caso demonstrou que fatores institucionais, ligados administrao do parque, contriburam fortemente para a degradao de parte do ecossistema estudado. Outra verificao foi feita por Alba Pedreira Vieira, Priscyla Assis & Fernanda Fernandes por meio de vivncias no municpio de Tombos-MG (ver Ecoturismo urbano nesta Coletnea) quando se comprovou que a cultura ldica dos praticantes pode alavancar um experincia de Educao Ambiental. Uma discusso destas possibilidades de integrao de fatores culturais, educacionais e gerenciais envolvendo o meio ambiente feita ainda em 1999 por Alcyane Marinho (ver nesta Coletnea Do Bambi ao Rambo ou do Rambo ao Bambi? As relaes com a (e na) natureza. Para esta ltima autora, as novas formas de se relacionar com o meio natural e com outras pessoas, manifestam-se preferencialmente por meio da prtica de atividades de aventura na natureza. No seu todo, os estudos e pesquisas inventariados em relao ao final dos anos de 1990, sugerem que a fase de re-conceituaes diminuiu progressivamente enquanto ampliavam-se as investigaes e observaes de campo. A explicao, no caso, a de que o impacto do ambientalismo em face aos fatos sociais no Brasil exigiu reflexo e ajustes conceituais no incio da dcada de 1990, dando lugar posteriormente s constataes prticas para legitimao de intervenes por parte de indivduos, grupos sociais e instituies. 2000 A fase identificada para o final da dcada de 1990 inclui sobretudo as investigaes de Ana Cristina P. C. de Almeida fazendo verificaes de tendncias, usando a tcnica Delphi reunindo especialistas diversos exercendo projees futuras. Nesta Coletnea foram arrolados dois textos da autora em foco, sendo o primeiro Consideraes sobre o Futuro das Atividades Fsicas de Lazer e Recreao Ligadas Natureza - Um estudo Delphi; e o segundo O Futuro das Atividades Fsicas de Lazer e Recreao ligadas Natureza e Educao Ambiental, ambos extrados da dissertao de Mestrado desta pesquisadora. De acordo com a metodologia usada nas pesquisas foram consultados 35 especialistas em painis sucessivos em horizontes de tempo imediato e de trs anos adiante. Ao final, concluiu-se que na opinio dos especialistas entre as prticas de ocorrncia imediata encontram-se caminhadas ecolgicas, corridas rsticas, surfe, canoagem, rodeio, as diversas modalidades esportivas nas areias das praias do litoral brasileiro e fotografia da natureza. Entre 2000 e 2001, os especialistas apontam que o crescimento do ecoturismo, em fazendas, stios, e no Pantanal; as atividades desenvolvidas pelas empresas de ecoturismo, os crescentes campeonatos em diferentes ambientes naturais, colnia de frias, acampamentos, surgimento e continuidade de eventos cientficos, publicaes acadmicas nas reas do Lazer e do Turismo e o surgimento de programas relativos s atividades ligadas ao ambiente natural. No perodo de 2000 a 2002, destacam-se o Congresso Virtual do Meio Ambiente, a construo de parques temticos, as presses do poder econmico para a transformao de ambientes naturais para o lazer de massas, a educao para o lazer e o Meio Ambiente e a construo de

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espaos alternativos para a prtica de atividades fsicas para a terceira idade. No houve consenso quanto aos impactos considerados negativos ao ambiente natural; porm pressupe-se que estes eventos possam causar diferentes impactos ao ambiente e no estilo de vida das pessoas. Dos contedos analisados referentes aos programas de Educao Ambiental, observou-se que a disciplina no consta nos currculos e apenas 10% dos professores responderam no questionrio que trabalham a Educao Ambiental. Entre as sugestes metodolgicas apresentadas, destacaram-se em linhas gerais o trabalho interdisciplinar, o incentivo a linhas de pesquisas, a efetivao da atividade e a preparao de materiais educativos para a comunidade, entre outros. Ao final, foi possvel discernir que a disciplina Lazer e Recreao deva contemplar a Educao Ambiental devido ao crescimento dos eventos ligados natureza e seus possveis comprometimentos ao ambiente natural. Estas verificaes ainda esto hoje (2006) em aberto para confirmaes. Porm j se pode admitir que os elementos destacados na consulta Delphi esto presentes nas relaes scio-culturais atuais, mas continuam desconhecidas as propores em que se influenciam umas s outras. 2001 Uma avaliao dos principais direcionamentos da produo do conhecimento do esporte em seus relacionamentos com o meio ambiente foi feito por Lamartine DaCosta durante o Congresso do European College of Sport SciencesECSS, na Universidade de Colnia, Alemanha (28 24 de julho de 2001), a convite dos organizadores. A sntese cobriu as trs ltimas dcadas de explorao do tema e na essncia incidiu sobre o carter de resoluo de conflitos que reveste os problemas da proteo do meio ambiente, e que inclui o esporte entre vrias outras manifestaes humanas. Contudo, o esporte tem apresentado um diferencial nesta relao por expressar fatos ao passo que o meio ambiente expressa valores (ver nesta Coletnea DaCosta, 2001), explicando assim sua condio ambivalente j enfatizada no livro de 1997 antes citado. Em concluso, o pesquisador brasileiro ps em evidncia a tica como caminho apto para a soluo do dilema de ser o esporte simultaneamente vilo e vtima do entorno fsico, social e cultural. J em relao s outras tendncias identificadas no Brasil na temtica ora em exame, percebe-se a partir deste ano que a linha seguida por DaCosta em quatro dcadas de estudos do meio ambiente voltara-se progressivamente para uma viso micro de relaes privilegiando intervenes operacionais tcnicocientficas, fundadas em argumentao histrico-filosficas. Entretanto, a linha scio-pedaggica aqui descrita com maiores empenhos por iniciativas dos anos 1999-2000, situam-se numa viso de predominncia macro que visa ao desenvolvimento social e proteo da natureza. Enquanto neste estgio a opo de DaCosta e seus seguidores enfatiza a gesto do esporte, lazer e turismo dando nfase a resultados prticos, a linha scio-pedaggica revela-se comportamentalista e produtora de valores, tanto por meio de agentes como de interventores. 2000 2002 Uma outra avaliao dos dois ltimos anos desta ordem cronolgica em conjugao com 2002 confirma o surgimento de convergncia dos estudos e pesquisas nacionais abrangendo as duas linhas dominantes - no sentidoMeio ambiente, esporte, Lazer e turismo 21

de comprovaes empricas e revises tericas das propostas de sustentabilidade tpicas da dcada de 1990 no Brasil e no exterior. De fato, dos 16 trabalhos inventariados deste estgio, 18,7% so estudos de caso e relatos de experincia; 25,0% compem pesquisas de campo e levantamentos (surveys); 37,5% representam artigos de reviso e position papers, e 18,7% se referem a novas abordagens metodolgicas e de re-conceituao. Neste ltimo item, classificam-se o uso do mtodo Delphi de Almeida (2000) e a abordagem do imaginrio social em esportes de aventura na natureza de Costa (2000). Entre os surveys, inclui-se o levantamento internacional de DaCosta (2001) para o ECSS que se desenvolve a partir dos conflitos entre elementos de interveno relacionados ao meio ambiente. Desta investigao, alis, derivou-se um outro estudo de DaCosta (Conflitos Ambientalistas do Desporto e da Educao Fsica e a Nova Cidadania Ecolgica, in Vargas, A. (Ed.), Desporto e Tramas Sociais, Sprint, Rio de Janeiro, 2001, pp. 91 104) no disponvel nesta Coletnea, que incide na tica como ncora da sustentabilidade e veculo da soluo dos inevitveis conflitos ambientais envolvendo esporte, lazer e turismo. 2003 2007 Este perodo revela mais claramente a maturidade dos trabalhos inventariados em conjunto, uma tendncia j identificada desde 2001. Nestes termos, sustentabilidade e impacto ambiental so elementos de importncia consensual e como tal constituem fundamentos bsicos em estudos e pesquisas. J o perfil de caracterizao define-se com 17,9% de um total de 67 trabalhos voltados para estudos de caso e relatos de experincia (cifra prxima quela registrada em 2000-2002); 20,8% so pesquisas de campo e levantamentos (surveys), com queda de 4% em relao ao trinio anterior; 34,3% constituem artigos de reviso e position papers (reduo de 3% em relao a 2000 2002); e 23,8% se referem a novas abordagens metodolgicas e de re-conceituao, cifra aumentada em 5% comparando-se com o perodo anterior. No geral, esses quantitativos revelam uma tendncia dominante para a inovao ao se somarem os trabalhos de reviso incluindo position papers - com os de novas abordagens metodolgicas, totalizando 58,3% da produo tcnica e cientfica arrolada nesta amostra indicativa. Este resultado ao se cotejar com a teoria de SinclairDesgagn (1999) sugere a existncia de uma orientao adequada para o desenvolvimento da produo e gesto do conhecimento cientfico-ambientalista em esporte, lazer e turismo no Brasil. Segundo esta teoria, a pesquisa de inovao na rea de meio ambiente permite a identificao de intervenes seletivas que criam um melhor e mais abrangente potencial de desenvolvimento. Entretanto, para se consolidar esta interpretao h que se avaliar futuramente a qualidade das investigaes produzidas no pas na rea de saber em foco, o que demanda um desdobramento da presente apreciao com amostragem e monitorao mais precisas. 2006 2007 Este ltimo estgio classificado pela presente Coletnea como inserido no perodo 2003 - 2007, inclui trabalhos os quais por comparao sugerem haver uma convergncia entre as duas principais abordagens histricas dos

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estudos e pesquisas em meio ambiente, esporte, lazer e turismo no Brasil: a de gesto bio-tecnolgica de bases ticas e a scio-pedaggica, de ndole comportamentalista e axiolgica. De fato, a coletnea Viagens, lazer e esporte: o espao da natureza de Alcyane Marinho e Heloisa Turini Bruhns (Eds.), So Paulo: Manole, 2006, amplia o foco scio-pedaggico optando por autores e temas que trabalham nos vieses da interdisciplinaridade, de mapeamento, de impactos ambientais e de monitoramento participativo. Outro exemplo de autores clssicos, reside no texto de Lamartine P. DaCosta & Cris C. Veerman (2006), publicado em livro na Alemanha sobre os Jogos Olmpicos de Inverno de Turim, que embora se mantenha na tradio tecnolgica-cientfica privilegia a educao ambiental e posturas valorizativas. Em geral, os textos inventariados da produo 2003 2007 convergem para pontos comuns de anlise sobretudo quando abordam a temtica do eco-turismo e a dos problemas de impactos ambientais.

REFERNCIAS DaCosta, L.P., Environment and sport An international overview. Universidade do Porto-Portugal, 1997, p. 44; DaCosta, L.P., Conflitos ambientalistas do desporto e da educao fsica e a nova cidadania ecolgica. In Vargas, A., Desporto e Tramas Sociais. Sprint, Rio de Janeiro, 2001, pp. 91 104; DaCosta, Lamartine. A Atividade desportiva nos climas tropicais e uma soluo experimental: o Altitude Training. Rio de Janeiro: Imprensa do Exrcito, 1967; DaCosta, Lamartine. Planejamento Mxico. Rio de Janeiro: Ministrio da Educao e Cultura, 1967; FIFA. World Cup Mxico 70 - Official FIFA Report, 1972; Tavares, O., DaCosta, L. P. e Miranda, R., Esporte, Olimpismo e Meio Ambiente. Editora Gama Filho, Rio de Janeiro, 2002; DaCosta, L. P. Olympic Studies. Editora Gama Filho, Rio de Janeiro, 2002 (em CD ROM): disponvel em 2004 no site: www.aafla.org/search/search.htm; DaCosta, L.P. International Trends of Sport and Environment - a 2001 Overview. ECSS Congress, Cologne 24 - 28, July 2001; Gleyse, J., Pigeassou, C., Marcellini, A., Lsleuc, E, Bui-Xun, G. Physical Education as a Subject in France (School Curriculum, Policies and Discourse): the Body and the Metaphors of the EngineElements. Sport, Education and Society, Volume 7, Number 1, 2002, pp. 5 23; Sinclair-Desgagn, B. Remarks on Environmental Regulation, Firm behavior and Innovation. Centre Interuniversitaire de Recherche et Analyse de Organizations, Montral, 1999 (position paper)

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English forewords and review

Research mainstreams of studies on environment, sport, leisure and tourism in Brazil within the period 1967-2007Ana Maria Miragaya, PhD Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro

Sports and environment have been historically related through the following perspectives: (i) the environment as agent - acting on the participants body causing physical performance loss (example: excessive heat); (ii) sports as source of pollution or even destruction (example: winter sports in natural environment), and (iii) sports as agent - participants as environment guardians (example: surfers protecting local beaches). Although research tradition on human physical impairment due to hostile climate conditions started in Brazil in 1850, it was only in the 1960s that sports became part of scientific investigations that brought successful results such as Brazils conquest of the 1970 Soccer World Cup, as the main games were held in Mexico City, elevation 2,240m. The issue that dealt with the protection of the environment where sports events are held was approached in Brazil in the 1990s as a result of international action, which produced more theoretical academic research in addition to field research. After evaluating international research on sports and environment during this period, the Brazilian researcher Lamartine DaCosta concluded that while sports express facts, environment expresses values, which generates an ambivalent condition. The solution in this case would be the development of some type of ethics that could solve the dilemma permitting sports to be both a villain and a victim of the physical, social and cultural context at the same time. Among several lines of investigation in this theme, it is possible to state that Brazil has had two main groups of research over the years. The first one started up with DaCosta in 1964 and focused initially on sports, leisure, later on tourism, and their influences on the environment. This research group was already established and had scientific, philosophical and technological bases in the early 1990s. As a result, researchers sharing these same objectives have been publishing their scientific production in international periodicals since 1967. The second main research group,Almeida, Ana Cristina P.C. de & DaCosta, Lamartine P. Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2007

which began in the early 1990s, focused on revisions of concepts and of educational procedures due to the need of environmental conservation. As a result of the studies developed, this book presents contributions from 86 authors with the purpose to explore general tendencies within the proposed theme. At the turn of the millennium, Brazilian research was taken to Europe in 2001, when DaCosta made a first evaluation of the main directions of the production of knowledge in sport and its links with the environment during the 2001 Conference of the European College of Sport Sciences - ECSS, at the University of Cologne, Germany (28 24 July), as a guest of the organizers. The synthesis covered research in this area over the last three decades, focusing on conflict resolution related both to problems of environmental conservation and to sports among various other human manifestations. The Brazilian researcher indicated ethics as a way out to solve the dilemma of sport viewed at the same time as both villain and victim of physical, social and cultural delimitations. The works published in 2001 and 2002 show a convergence of studies and research in Brazil including both main research groups in terms of empirical evidence and theoretical revisions of the proposals related to sustainability that are typical of the 1990s not only in Brazil but also abroad. As a matter of fact, out of the 16 studies examined within this period, 18.7% are case studies and reports of experiences; 25.0% are field research studies and surveys; 37.5% represent review articles and position papers, and 18.7% refer to new approaches of methods and of re-conceptualization, which includes not only the use of the Delphi method by Almeida (2000) but also the social imaginary approach to sports and adventures in the great outdoors by Costa (2000). Among the surveys, it is important to include the international survey done by DaCosta (2001) for the ECSS, which was developed from the conflicts between elements of intervention related to the environment. The period 2003 2007 reveals more clearly the maturity of the studies as a whole, a tendency which was identified in 2001. In these terms, sustainability and environmental impact are elements of consensual importance and as such constitute basic principles in studies and research. In terms of profiles, it is possible to define that 17.9% out of 67 works which include case studies and reports of experiences (similar to the one registered for the period 2000-2002); 20.8% refer to field research and surveys, with a decrease of 4% related to the previous three-year period; 34.3% constitute review articles and position papers (reduction of 3% in relation to the 2000-2003 period) and 23.8% refer to new approaches of methods and of re-conceptualization, number increased in 5% if compared to the previous period. In terms of Brazil, as of 2006, it is possible to observe on the one hand that research conducted by DaCosta during the last four decades of studies on environment has been going back towards a micro vision of relations which privilege technological and scientific operational interventions based on historical and

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philosophical arguments. On the other hand, the social-pedagogical group of research, which developed initiatives between 1999 and 2000, has shared a macro vision which aims at social development and nature conservation. In other words, while DaCosta and his followers have been working on sport, leisure and tourism management emphasizing practical results, the social pedagogical group of research has been focusing on the behavior of producers of values by means of agents. In general, these numbers reveal a major tendency related to innovations if review works, including position papers, are added to works that deal with new methodological approaches, reaching 58.3% of the technical and scientific production registered in this indicative sample. If compared with the theory of Sinclair-Desgagn (1999), this result suggests the existence of an orientation that is adequate for the development of the production and management of the scientific-environmental knowledge in sport, leisure and tourism in Brazil. According to this theory, the research of innovation in the area of environment permits the identification of selective interventions which create a better and more comprehensive potential for development. Nevertheless, in order to consolidate this interpretation in the future, it is necessary to evaluate the quality of the investigations produced in Brazil in this area of knowledge This will require more detailed samples and more precise monitoring. The research works identified for 2006 and 2007 in terms of comparison suggest that there is a convergence between the two main historical approaches of studies and research on environment, sport, leisure and tourism in Brazil. Such coincidence primarily refers to bio-technological management with ethical bases, and in the second place to a social-pedagogical tendency, of behaviorist and axiological character. As a matter of fact, the classic anthology Viagens, lazer e esporte: o espao da natureza (Trips, leisure and sport: the space of nature) by Alcyane Marinho and Heloisa Turini Bruhns (Eds.), So Paulo: Manole, 2006 enlarges the social-pedagogical focus choosing authors and themes that work with different viewpoints and biases in the areas of interdisciplinarity, mapping, environmental impact and participative monitoring. Another example of classic authors resides in the text of Lamartine P. DaCosta & Cris C. Veerman (2006), published in a book in Germany about the Winter Olympic Games of Turin, which in spite of keeping itself within the techno-scientific tradition privileges environmental education and valuesled attitudes. In general, the texts surveyed for the production 2003 2007 seem to converge to common points of analysis particularly when they approach themes related to eco-tourism and environmental impacts.

SOURCES AND REFERENCES DaCosta, L.P., Environment and sport An international overview. Universidade do Porto-Portugal, 1997, p. 44;

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DaCosta, Lamartine. A Atividade desportiva nos climas tropicais e uma soluo experimental: o Altitude Training. Rio de Janeiro: Imprensa do Exrcito, 1967; DaCosta, Lamartine. Planejamento Mxico. Rio de Janeiro: Ministrio da Educao e Cultura, 1967; FIFA. World Cup Mxico 70 - Official FIFA Report, 1972; DaCosta, L. P. Olympic Studies. Editora Gama Filho, Rio de Janeiro, 2002 (em CD ROM): disponvel em 2004 no site: www.aafla.org/search/search.htm; DaCosta, L.P. International Trends of Sport and Environment - a 2001 Overview. ECSS Congress, Cologne 24 - 28, July 2001; Gleyse, J., Pigeassou, C., Marcellini, A., Lsleuc, E, Bui-Xun, G. Physical Education as a Subject in France (School Curriculum, Policies and Discourse): the Body and the Metaphors of the EngineElements. Sport, Education and Society, Volume 7, Number 1, 2002, pp. 5 23; Sinclair-Desgagn, B. Remarks on Environmental Regulation, Firm behavior and Innovation. Centre Interuniversitaire de Recherche et Analyse de Organizations, Montral, 1999 (position paper).

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Ano: 2005 Publicao original: revista digitalFormato da contribuio: artigo Fonte: MARINHO, Alcyane; SCHWARTZ, Gisele M. Atividades de aventura como

contedo da educao fsica: reflexes sobre seu valor educativo. Lecturas: Educacin Fsica y Deportes. Revista Digital, Buenos Aires, ano 10, n.88, setembro de 2005. Disponvel em: http://www.efdeportes.com/efd88/avent.htmE-mail do(s) autor(es): [email protected], [email protected] Ttulos acadmicos principais atuais: Alcyane Marinho:Graduao pelo Departamento de Educao Fsica da UNESP de Rio Claro (SP); Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Educao Fsica da UNICAMP (Campinas, SP), na rea de Estudos do Lazer, Professora do Curso de Turismo da UNISUL, Pesquisadora do Laboratrio de Estudos do Lazer (LEL) da UNESP de Rio Claro (SP). Gisele Maria Schwartz: Doutora em Psicologia da Educao e do Desenvolvimento Humano pelo IPUSP, Professora Livre Docente nos Cursos de Graduao em Educao Fsica e Ps-graduao em Cincias da Motricidade na UNESP de Rio Claro (SP), Coordenadora do Laboratrio de Estudos do Lazer (LEL) da UNESP de Rio Claro (SP).

Atividades de Aventura como Contedo da Educao Fsica: Reflexes sobre seu Valor Educativo1Alcyane Marinho Gisele Maria Schwartz

crescente o surgimento de atividades de aventura - prticas corporais, manifestadas principalmente no tempo destinado ao lazer, as quais requisitam a natureza para o seu desenvolvimento e representam de alguma forma, prticas alternativas e criativas de expresso humana. Os exemplos se estendem desde simples caminhadas aos mais sofisticados e excitantes esportes. As atividades de aventura esto sendo compreendidas, aqui, como as diversas prticas esportivas manifestadas, privilegiadamente nos momentos de lazer, com caractersticas inovadoras e diferenciadas dos esportes tradicionais, pois as condies de prtica, os objetivos, a prpria motivao e os meios utilizados para o seu desenvolvimento so outros; e, alm disso, h tambm a presena deAlmeida, Ana Cristina P.C. de & DaCosta, Lamartine P. Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2007

inovadores equipamentos tecnolgicos permitindo uma fluidez entre o praticante e o espao destinado a essas prticas - terra, gua ou ar. So atividades cercadas por riscos e perigos, na medida do possvel, calculados, no ocorrendo treinamentos intensivos prvios (como no caso dos esportes tradicionais e de prticas corporais como a ginstica e a musculao). A experimentao acontece de maneira mais direta, havendo um afastamento de rendimentos planejados (MARINHO; BRUHNS, 2003). Devido ao atual interesse por tais prticas, propulsionado com amparo mercadolgico, as mesmas tm recebido um crescente nmero de adeptos de diferentes formaes culturais, faixas etrias, nveis sociais, campos de atuao profissional, tornando-se um instigante desafio, no que tange ao respaldo e conhecimentos necessrios para uma atuao prtica com qualidade e que possa favorecer experincias verdadeiramente significativas. Elas vm, embora timidamente, porm de forma cada vez mais recorrente, recebendo ateno de profissionais de diferentes reas e sendo inseridas nos contextos escolar e universitrio, sejam por meio de cursos de extenso comunidade e aos alunos ou como disciplinas optativas. No entanto, faz-se necessrio refletir sobre esse interesse, tendo em vista as possibilidades de ganhos e perdas na convivncia com atividades de aventura, uma vez que, do mesmo modo como elas podem trazer benefcios pessoais inmeros, podem, inclusive, desencadear aes impensadas e destrutivas ao meio, consoante a inteno com a qual foram formalizadas. O que se questiona , justamente, a legitimidade de tais iniciativas e fomentase a necessidade de compreenso efetiva de como esto sendo estruturadas e realizadas; sob qual tica, com quais interesses e perspectivas, inclusive em mbito educacional, j que estas podem representar vivncias significativas. Nesse contexto, este artigo prope uma reflexo sobre as possibilidades de insero de atividades de aventura como contedo dos programas de aulas na rea de Educao Fsica, no sentido de se fomentar a educao ambiental e para o lazer.

EDUCAO FSICA, ECOLOGIA E TURISMO... COMPARTILHANDO ESPAOS Mesmo com o interesse despontado e com o seu rpido crescimento em diferentes instncias (econmica, social, esportiva, religiosa, etc.), as atividades de aventura no meio natural parecem estar encontrando eco, ainda que tmido, junto ao contexto educativo.30 Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo

A pouca importncia atribuda a tais prticas parece ser o principal condicionador de sua implementao. Pereira e Monteiro (1995) indicam que os percursos de iniciao esportiva nessas reas, raramente, so feitos pela via escolar, sendo operados por meio de transmisso tcnica para grupos interessados, em entidades especializadas, estruturadas, na maioria das vezes, por agentes cuja formao, muitas vezes, procede de cursos sem habilitaes para tal. A formao profissional do agente de lazer ou turismo considerada um verdadeiro desafio. O tema que centraliza a discusso na relao seres humanos-natureza vinha sendo focalizado, at bem pouco tempo, exclusivamente na rea da ecologia, que, com subsdios tericos, tentava implementar a to sonhada conscincia ecolgica. No entanto, esse tema tomou vulto, tambm, na rea de turismo, uma vez que a proximidade dos seres humanos com a natureza tornou-se inevitavelmente um grande atrativo, fomentando o mercado com atividades tursticas cada vez mais exticas, ou mesmo, oferecendo a oportunidade de vivncias rurais. Para que sejam implementados os elementos que fazem parte das caractersticas dessas atividades, tornou-se paulatinamente necessrio o acompanhamento de profissionais que conseguissem subsidiar praticamente o desenrolar de tais atividades, tendo em vista a necessidade de alguma fundamentao terica sobre as exigncias da prtica e alguma habilidade especfica para acompanhlas, ou ainda, trabalhar com a recreao de hspedes em hotis, fazendas e outros. Percebe-se, ento, a necessidade crescente do estabelecimento de uma ligao entre essas trs reas do conhecimento (quais, sejam: Educao Fsica, Turismo e Ecologia), tendo em vista a interdisciplinaridade gerada pelas caractersticas das atividades de aventura. Porm, as reas parecem querer tomar para si apenas os lucros envolvidos, deixando de lado os verdadeiros compromissos que essas prticas exigem de todos, promotores e praticantes. Isso requer mudanas de valores e atitudes, que j so prementes, tanto em mbito pessoal, quanto em mbito institucional, havendo a necessidade dos cursos de formao nessas reas redimensionarem seus enfoques e contedos, no sentido de priorizar a sensibilizao necessria para se tornarem multiplicadores desses novos valores. Em uma reflexo sobre as relaes entre as reas de Educao Fsica e Ecologia no desenvolvimento de novas atitudes frente ao compromisso de harmonizao dos seres humanos com a natureza, Schwartz e Silva (1999) evidenciaram a inquietao sobre a conduta humana interferindo diretamente no equilbrio, ou mesmo, no desequilbrio da natureza, uma vez que o estilo de vida,

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a distribuio no eqitativa de oportunidades de formao cultural e experincias significativas, os fatores econmicos e sociais que norteiam a participao humana no ambiente, entre outros, representam elementos decisivos face ao compromisso com o meio e no tocante a mudanas axiolgicas, em todos os mbitos, sobre essa relao. Todos os indivduos albergam em suas estruturas cognitivas o interesse por mudanas dessas crenas, mas a implementao disto j se torna uma problemtica, quando se trata de apenas um indivduo, tendo em vista que, nessa imbricada rede de significados, esto envolvidos elementos primordiais, como a personalidade e suas predisposies, os componentes afetivo-cognitivos, como a segurana e domnio do conhecimento especfico e atitudes e predisposies ao pensamento mais divergente. Ao se pensar em operacionalizar mudanas em mbitos maiores que os pessoais, o processo torna-se ainda mais desafiador, tendo em vista que entram em jogo fatores como a interao com outros membros do meio social, a redefinio de papis sociais relativos aceitao no grupo, entre tantos outros. Diante de tal quadro exposto, as atividades de aventura raramente tm surgido como contedo de ensino da Educao Fsica e, quase sempre, tm sido tratadas como um apndice recreativo e de lazer. Assiste-se assim, a uma relativa marginalizao destas atividades por parte da escola, em contraponto com o interesse crescente dos alunos pela prtica destas atividades fora dela, que se traduz, muitas vezes, pelo aumento do nmero de acidentes, devido a estas prticas exigirem conhecimentos que nem sempre esto presentes ou devidamente consolidados (PEREIRA; MONTEIRO, 1995, p.113). Para que as atividades de aventura sejam propostas como contedo da Educao Fsica, conforme os autores supracitados, o primeiro passo deve ser uma anlise do contedo educativo dessas prticas, como pressuposto preliminar para a sua utilizao como prtica de desenvolvimento programtico. Nessa perspectiva, o potencial educativo dessas atividades de aventura junto natureza parece ser muito extenso, principalmente porque facilita situaes educativas em experincias pouco habituais para os participantes, possuindo um forte carter motivador, carregadas de emoo, de significado e de inteno (PEREIRA; MONTEIRO, 1995). A introduo dessas atividades de aventura surge como um ganho fundamental de inovao pedaggica, no qual, segundo os autores em questo,

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[...] um quadro metodolgico de grande relao e diferenciao motora propicia um elevado nmero de vivncias no habituais que contribuem para o desenvolvimento da estrutura motora. Induz, por isso, ao desenvolvimento de diversas capacidades condicionais, coordenativas e volitivas, que melhoram globalmente a condio fsica geral do aluno e conseqentemente a sua qualidade de vida (p.113). Nas atividades de aventura, h a possibilidade de se voltar natureza como parceira - e no mais como adversria (MARINHO, 1999) - em um jogo no qual se convive, desfrutando-se de riscos calculados, os quais se constituem em um fator de grande importncia na motivao dos participantes. O que contribui para este fato o elemento ldico ser uma constante nessas prticas, manifestado, inclusive, por meio do controle que se d em todas as esferas da atividade. A partir desse controle, o risco, embutido nas atividades, minimizado, garantindo-se, com isso, a fruio da ludicidade com todas as suas potencialidades. A natureza humana bastante adepta aos desafios, porm estes, quando ultrapassam o limite da segurana e da organizao, voltando-se unicamente para a vivncia da sensao de aventura descontrolada, deixam de caracterizar-se enquanto atividade ldica, representando outros parmetros, como a demonstrao da prevalncia de traos masoquistas de personalidade ou outros desvios. Beck (1996, p.21), em seu livro sobre as caractersticas de uma sociedade moderna avanada, aponta que a produo social de prosperidade acompanhada da produo de risco. Este autor presta sua contribuio nessa discusso, definindo risco como um meio sistematizado de lidar com perigo e insegurana induzidos e introduzidos pela modernizao mesmo. Seja na busca pelo risco, na contemplao, na prtica segura e controlada de atividades de aventura, o que se quer destacar o sentido de preservao que deve vir incorporado em tais vivncias, haja vista os seres humanos no serem mais apenas espectadores, mas participantes efetivos das decises planetrias quanto ao destino do ambiente. Porm, falta-lhes preparo interno, ou mesmo atitude, que venha a intensificar seu papel diante na manuteno do equilbrio da natureza. A intensificao de uma aproximao qualitativa dos seres humanos ao ambiente natural pode acelerar esse processo, tornando eficiente o sonho de harmonia e, nos espaos institucionais, como a escola, esta pode representar uma perspectiva excelente para a reflexo de valores catalisadores dessa relao.

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Com o foco centrado nessas atividades, tem-se a perspectiva de ampliar a gama de assuntos abordados em salas de aula e, inclusive, estender esse conhecimento para alm dos muros da sala, possibilitando aprendizados mais significativos e com maior teor motivacional. Tendo em vista que o conhecimento dessas modalidades no deve se restringir apenas a uma disciplina curricular pode-se, inclusive, contribuir para a to sonhada interdisciplinaridade, estimulando diferentes percepes em relao s condies da vida na terra. Uma outra questo pertinente ao mbito educativo a ser tratada, haja vista os locais de desenvolvimento das atividades de aventura, a importncia da rea de Educao Fsica no tratamento da Educao Ambiental, aqui entendida como processo de aprendizagem permanente baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educao afirma valores e aes que contribuem para a transformao humana e social e para a preservao ecolgica (BARROS, 2000, p.89). Pastor e Pastor (1997) enfatizam a situao privilegiada da Educao Fsica com relao aos seus contedos e quanto ao fato de ser uma disciplina baseada principalmente em experincias prticas e vivncias pessoais, facilitando o desenvolvimento de questes ambientais, porm atentando-se a possveis impactos negativos ao meio. Para o autor, a simples realizao dessas prticas no gera, por si mesma, uma sensibilizao e/ou Educao Ambiental, mas, contrariamente a isso, pode conduzir a diferentes impactos ambientais. Por sua vez, a sensibilizao e a Educao Ambiental dependem do tratamento educativo que recebem e das atitudes e dos comportamentos das pessoas e/ou grupos ao iniciarem um envolvimento com atividades ao ar livre. Portanto, faz-se necessria uma interveno pedaggica interdisciplinar. Muitas vezes, os prprios envolvidos no sabem como proceder diante de determinadas situaes na natureza e, por falta de conhecimento e no apenas por desrespeito, contribuem para os desgastes nos ambientes naturais. Alm da realizao dessas atividades propriamente ditas, Pastor e Pastor (1997) salientam a necessidade de haver planificaes e intervenes didticas interdisciplinares para que venham a legitimar uma experincia educativa, propondo a interveno nos contedos e aspectos prprios e especficos da rea de Educao Fsica. Contudo, o tratamento das atividades esportivas no meio natural, respaldando-se em uma perspectiva crtica, deve, tambm, centrar-se em aspectos importantes para a realizao da atividade, tais como: diferentes tcnicas de execuo e sistemas de segurana. E, por fim, deve relevar um aspecto bastante significativo: a experimentao pessoal - a vivncia das atividades que se constituem no eixo principal de ao sobre o qual as intervenes comearo a fazer sentido.

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Partindo dessas perspectivas, compartilhamos com Pereira e Monteiro (1995) que as atividades de aventura no ambiente natural surgem, portanto, como maneiras alternativas de prticas esportivas, nas quais, alm de se educar, aprendese a valorizar tanto a relao afetiva com a natureza quanto o respeito por sua biodiversidade. Sobre estes aspectos, tendo por base a repercusso de um curso de Vivncias em Atividades de Aventura, desenvolvido pelo Laboratrio de Estudos do Lazer, no Dep. de Educao Fsica da Unesp, Campus de Rio Claro (SP, Brasil) e oferecido ao longo de 3 anos consecutivos, tem-se que a insero dessas prticas no ambiente universitrio foi considerada de grande interesse, pertinncia e aceitao, fato este que legitima as idias dos autores anteriormente expostas. Um relato sobre este curso de extenso foi apresentado por Marinho; Schwartz e Letzio (2001) no II Congresso Internacional de Educao Fsica e Motricidade Humana e VIII Simpsio Paulista de Educao Fsica, UNESP, Rio Claro (SP Brasil). As 36 horas/aula ministradas neste curso foram terico-prticas, distribudas em quatro horas semanais e ocorreram tanto no campus universitrio quanto fora dele, haja vista a necessidade, em alguns casos, de locais mais apropriados para as vivncias, oferecendo oportunidade de experimentao em alguns segmentos das atividades de aventura: caving (visitao de cavernas), mergulho, escalada em muro artificial, rapel (tcnica de descida por corda) e primeiros socorros especficos para cada atividade. No final do curso, foi solicitado aos alunos o preenchimento de um questionrio contendo onze perguntas mistas e, com base neste material, pode-se perceber a valorizao destas experincias pelos universitrios envolvidos no curso, bem como, a relevncia de tais vivncias como contedo pedaggico para o aprimoramento da educao ambiental. Toda e qualquer oportunidade cultural que venha a fomentar caminhos para um novo redimensionamento da educao, com um carter significativo , nesse momento, considerado primordial e os desafios para a concretizao de mudanas de atitudes e valores referentes s atividades de lazer representam uma premissa para se minimizar aspectos de discriminaes e aprimorar as perspectivas de interdisciplinaridade e desenvolvimento. Conforme Kleiber (2000), as noes impressas pelas atividades em contato com a natureza propiciam, especialmente ao adolescente, a oportunidade de integrao da identidade, pois tais experincias representam o contexto relativamente libertador e alternativo para a busca da identidade pessoal, facilitando a individualizao, uma vez que favorecem a expresso da imaginao e da

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experimentao criativa, componentes intrinsecamente relacionados com a individualizao ou autoconscincia, proporcionando a chance de experimentao de interesses incipientes. De novos interesses, surge a mudana do entorno, incluindo a aceitao pelo outro, o que define e refora as potencialidades da prpria pessoa. Tendo em vista a possibilidade de explorao de vias alternativas de pensar e agir, o favorecimento dessas experincias, no mbito escolar, torna-se bastante significativo, uma vez que, aps tais vivncias, os indivduos podem apresentar avanos no desenvolvimento como um todo, assumindo novas atitudes que acrescentam novas perspectivas ao estar no mundo, repercutindo profundamente nas instituies, tanto em nvel pessoal quanto coletivo. A educao detm um papel decisivo como espao socializador, podendo oferecer canais formais e informais para implementar os aprendizados experimental e criativo, promovendo, com isso, a integrao dos aspectos gerais voltados qualidade de vida. A conexo dessas experincias de aventura aos objetivos educacionais do sistema escolar pode favorecer o desenvolvimento humano em seus diversos aspectos, por envolverem processos pedaggicos especficos catalisadores de competncias cognitivas, psicomotoras e socioafetivas (PEREIRA; MONTEIRO, 1995, p.114), sendo capazes de fomentar novas atitudes de espectro interdisciplinar. A partir do contexto da Educao Fsica e destas atividades, o compartilhamento da natureza e seus elementos poder representar uma significativa forma de aproximao da sociedade a esse ambiente, permitindo, conforme evidencia Marinho (2001), que esta aproximao conduza a novas sensibilidades, mediante conhecimento e acordos de tica e respeito.

[As referncias bibliogrficas desta contribuio podem ser consultadas na fonte original]

Notas2

MARINHO, Alcyane; SCHWARTZ, Gisele M. Atividades de aventura como contedo da educao fsica: reflexes sobre seu valor educativo. Lecturas: Educacin Fsica y Deportes. Revista Digital, Buenos Aires, ano 10, n.88, setembro de 2005. Disponvel em: (ISSN: 15143465).

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Ano: 2005 Publicao original: captulo de livroFormato da contribuio: resumo Fonte: MARINHO, Alcyane. Atividades de aventura em ambientes artificiais. In:

UVINHA, Ricardo R. (Org.). Turismo de aventura: reflexes e tendncias. So Paulo: Aleph, 2005.E-mail do(s) autor(es): [email protected] Ttulos acadmicos principais atuais: Alcyane Marinho:Graduao pelo Departamento

de Educao Fsica da UNESP de Rio Claro (SP); Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Educao Fsica da UNICAMP (Campinas, SP), na rea de Estudos do Lazer, Professora do Curso de Turismo da UNISUL, Pesquisadora do Laboratrio de Estudos do Lazer (LEL) da UNESP de Rio Claro (SP).

Atividades de Aventura em Ambientes ArtificiaisAlcyane Marinho

So inmeras as formas contemporneas de estar junto natureza. Muitas escolas, por exemplo, tm, em seus programas, estudos do meio, voltados ao aprendizado em contato com a natureza, longe das salas de aula. Diversas empresas tambm j possuem, em seu calendrio, propostas de viagens a locais naturais, com o objetivo principal de estimular o esprito de liderana e de equipe (entre outras metas). Igualmente, pessoas engajadas com as mais diversas possibilidades de prticas alternativas tm, de alguma forma, includo a natureza em seus projetos, visando a aumentar a potencialidade de suas tcnicas teraputicas. Estas so apenas algumas, dentre as inmeras formas por meio das quais as pessoas tm se aproximado do ambiente natural. Nunca se falou tanto em destruio ambiental e, conseqentemente, na necessidade de uma sensibilizao (e mobilizao) visando preservao do meio ambiente, em vrios nveis. As iniciativas acima, assim como outras, surgem nesta perspectiva, de alguma forma, reconciliadora, sensibilizadora. claro que muitas propostas no condizem, nem um pouco, com os meios utilizados para sua concretizao; ou, mais ainda, muitas se constituem apenas em chamarizes para outros objetivos, nada tendo de ecolgicos ou sensibilizador em suas metas. Neste sentido, os discursos ambientais, presentes nas inmeras formas de comunicao, tm despertado, de alguma maneira, o interesse das pessoas peloAlmeida, Ana Cristina P.C. de & DaCosta, Lamartine P. Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2007

meio ambiente. Ser com base neste atual interesse e busca pelo contato com a natureza que procurarei, neste texto, delinear algumas idias que so fruto da complexidade do momento vivido e muito tm me instigado na investigao desta temtica. Os momentos de lazer esto sendo, aqui, considerados como eixo norteador para a anlise de aspectos mais amplos da vida cotidiana das pessoas. Logo de incio, preciso ressaltar que o lazer vem deixando de ser pensado como privilgio de poucos, tornando-se, cada vez mais, um direito de todos e parte integrante dos modos culturalmente diferenciados de vida, mesmo na sociedade contempornea brasileira, repleta de contrastes socioeconmicos. Partindo desta premissa, procurarei evidenciar que a instaurao de ambientes artificiais para a prtica de atividades, inicialmente e comumente desenvolvidas na natureza, tem relao direta com a degradao da qualidade de vida nos centros urbanos (poluio, ausncia de verde, violncia, trnsito, etc.); porm, no se limitando a isso. Utilizando exemplos de algumas atividades realizadas em ambientes artificiais, apresentarei uma outra perspectiva destas dinmicas. [As referncias bibliogrficas desta contribuio podem ser consultadas na fonte original]

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Ano: 2005 Publicao original: teseFormato da contribuio: resumo da Tese Fonte: ALMEIDA, Ana Cristina Pimentel Carneiro de. Esportes de Aventura na

Natureza: um estudo de caso no Par, 2005. Tese UFPA (Ncleo de Altos Estudos Amaznicos - NAEA). Orientador: David Gibb McGrathE-mail do(s) autor(es): [email protected] Ttulos acadmicos principais atuais: Professora Adjunta do Curso de Educao Fsica UFPA / Castanhal; Doutora em Cincias: Desenvolvimento ScioAmbiental; Mestre em Educao Fsica, Especialista em Psicologia dos Distrbios de Conduta; Especialista em Psicomotricidade Relacional Sistmica.

Esportes de Aventura na Natureza um Estudo de Caso no ParAna Cristina P. C. de Almeida

RESUMO As experincias adquiridas no cotidiano fazem com que o indivduo se identifique com um modelo de organizao social, afetando a construo de uma identidade por meio das relaes estabelecidas e evidenciando um estilo de comportamento. Os esportes de aventura refletem esta identidade por meio das escolhas das modalidades, das motivaes e atitudes que os praticantes adotam. O Estado possui um enorme potencial e diferentes ambientes que possibilitam o crescimento dos esportes de aventura. Como objetivo geral, este estudo visou identificar as implicaes da expanso dos esportes de aventura no Par, a partir da percepo dos praticantes e de uma comunidade envolvida, bem como o papel do Estado no ordenamento e fomento do setor. Adotou-se uma metodologia com procedimentos qualitativos e quantitativos, com enfoque em um estudo de caso, que se dividiu em dois momentos. No primeiro, os dados foram coletados entre 184 praticantes de entidades cadastradas no rgo estadual de turismo do Estado/Paratur, para representar as diferentes modalidades no Estado; isto nos dias de eventos programados, por meio de questionrio e entrevistas (estruturadas e semi-estruturadas). Os resultados da pesquisa demonstraram que entre os praticantes o grau de instruo que predomina o de nvel superior, que a maioria seAlmeida, Ana Cristina P.C. de & DaCosta, Lamartine P. Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2007

encontra na faixa etria entre 20 e 35 anos de idade e possuem, em mdia, uma renda familiar que varia entre R$1001,00 a R$3000,00 reais. Para a prtica dos esportes de aventura no Estado, destacam que os locais ideais encontram-se na mesorregio nordeste do Par, e que a regio metropolitana de Belm a mais utilizada para a prtica devido facilidade de acesso proporcionada. Acreditam obter diverso e contato com a natureza como benefcios, e o contato com a natureza aparece como o mais importante para o praticante, na opo objetiva do questionrio. Aventura, para os praticantes, significa superar limites pessoais e desbravar novos locais de prtica, o que pressupe aumento de procura por reas inexploradas. Acreditam que a natureza deva ser utilizada de forma a permitir sua reconstituio, e dizem possuir atitudes responsveis. Entretanto, acreditam que suas atividades no causam impactos ao meio ambiente, mostrando que, apesar das leituras, os informes ligados prtica dos esportes parecem no esclarecer interferncias das aes humanas na relao homem/natureza. A propaganda do Estado referente ao turismo de aventura est frente da realidade encontrada e as polticas de incentivo ainda so incipientes, no possibilitando o ordenamento do setor. No segundo momento, o estudo de caso ocorreu no municpio de So Domingos do Capim e contou com entrevistas de 37 moradores, 31 comerciantes e 18 surfistas (analisados juntos aos demais praticantes) nos dias do Campeonato de Surfe da Pororoca, referente aos anos de 2004 e 2005. Quanto possibilidade de os esportes de aventura contribuir para o crescimento local, constatou-se que existem experincias nacionais em que este fato j se tornou realidade (Brotas/SP, Bonito/MS), mas que no do estudo aqui apresentado, a falta de infra-estrutura bsica do municpio, as atuais caractersticas do fenmeno da pororoca (pequenas ondas) e a necessidade de maior envolvimento dos atores no planejamento do evento esto dificultando o crescimento de maneira a permitir reflexos significativos no desenvolvimento local, sendo estes apenas no perodo do campeonato. Portanto, para sua efetiva expanso, os esportes de