vivência de corpo e alma - relatorio tecnico

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Page 1: Vivência de Corpo e Alma - Relatorio Tecnico

SUMÁRIO:

 

1 - INTRODUÇÃO.........................................................................................8

2 - O QUE É LOUCURA..............................................................................11

2.1 - DEFINIÇÕES DE SAÚDE MENTAL...................................................14

2.2 - SAÚDE MENTAL NO MUNDO...........................................................15

2.3 - SAÚDE MENTAL NO BRASIL............................................................16

2.4 - OS NAPS NO BRASIL........................................................................17

2.5 - SAÚDE MENTAL EM SÃO PAULO....................................................19

2.6 - SAÚDE MENTAL EM SANTOS..........................................................20

3 - A TRANSFORMAÇÃO DA SAÚDE MENTAL EM SANTOS..................22

3.1 - OS NAPS EM SANTOS......................................................................25

3.2 - PROJETO TAMTAM...........................................................................27

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................30

ANEXOS.....................................................................................................32

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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1- INTRODUÇÃO

 

Este trabalho foi executado para mostrar o processo de intervenção na Casa de Saúde Anchieta de Santos, no Estado de São Paulo, em 1989. No relatório técnico faremos um panorama sobre o assunto, para, no livro-reportagem, chegarmos ao nosso foco de trabalho, os relatos de pessoas diretamente ligadas ao assunto, que são os profissionais, que trabalharam no Anchieta no momento de sua intervenção, e os pacientes internados alí. O hospital, que teve sua inauguração no ano de 1951, fazia até então um tratamento aos pacientes indo contra o artigo 196 da Constituição Federal de 1988, que estabelecia os direitos dos doentes em hospitais, dizendo: "A saúde é direito de todos e dever do Estado". A "gota d´agua" aconteceu quando um dos pacientes daquele hospital veio a falecer. Segundo o interventor Roberto Tykanori, isso gerou uma revolta na sociedade, e trouxe a Santos diversos profissionais de saúde, que formaram uma comissão a fim de dar uma vida mais humana àquelas pessoas que ali ficavam.

Ao longo de nosso trabalho, mostraremos as entrevistas feitas com ex-pacientes do Anchieta, que viveram aquele "antes e depois" da intervenção, nos contando sobre sua vida 16 anos após o ocorrido.

Resumimos também as entrevistas com alguns profissionais presentes naquele momento, como já mencionado Roberto Tykanori, a psiquiatra Suzana Robortella, uma das fundadoras do primeiro NAPS de Santos, que mais tarde passaria a ser modelo em todo o país. Entrevistamos também as terapeutas ocupacionais Fernanda Nicácio e Fátima Micheletti, que viram como eram tratados os pacientes naquele momento tão conturbado, e avaliaram como seria o melhor modo de reintegrar aquelas pessoas, perdidas durante anos, a um novo modelo de tratamento, como os já mencionados NAPS.

Fizemos, além disto, um apanhado geral da história da saúde mental no mundo, passando por São Paulo e chegando a Santos.

O levantamento considerou pesquisas bibliográficas em livros sobre psiquiatria, teses de mestrado, principalmente dos profissionais entrevistados, livros sobre o momento, como o do jornalista Paulo Matos, e livros de ex-pacientes, como o de Austregésilo Carrano, contando sua vida em um hospital psiquiátrico, onde tomou cerca de 21 sessões de eletrochoques. Pesquisamos também documentos como jornais da época, encontrados na hemeroteca de Santos, assistimos a documentários televisionados gravados naquela época, onde pudemos observar, além dos pacientes antes da intervenção, instrumentos usados para a reintegração dos pacientes à

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sociedade através da arte, como a Rádio TAMTAM, orientada por Renato Di Renzo, que também entrevistamos durante nossa pesquisa.

Nosso trabalho levou 9 meses, entre levantamentos em jornais, seleção de entrevistados e definição de pontos a serem abordados. O livro está dividido em 2 partes. Na primeira, faremos um apanhado geral sobre a saúde mental no Brasil e no mundo, chegando finalmente à intervenção da Casa de Saúde Anchieta em Santos. Juntamente com este apanhado geral, mostramos as entrevistas que fizemos com os profissionais já citados, que explicam com suas palavras aquele momento.

Na segunda parte, mostramos quem realmente viveu “de corpo e alma”, os pacientes. Eles sofriam muito com os maus tratos no Anchieta, antes da intervenção. Conseguimos a atenção de quatro deles, que abriram seus corações e nos falaram o que foi, para eles, o momento em que estavam internados ali. Não foi nada fácil para eles, pois eram muito maltratados.

 

 

2- O QUE É LOUCURA

 

De acordo com o dicionário do site priberam.pt, loucura é um substantivo feminino que significa alienação mental com modificação profunda da personalidade; estado de louco; ato próprio de louco; temeridade; imprudência, extravagância, doidice; tresvario.

É fácil encontrar em qualquer dicionário o sentido da palavra loucura, mas o que será que desencadeia esse processo no ser humano? O que faz com que uma pessoa fique louca? E o que é um ser louco? Para todas essas indagações existem várias respostas e estudos feitos pela psicologia e medicina psiquiátrica. Mas será que o ser louco é exatamente o que o dicionário diz? Louco é um adjetivo que se dá a quem perdeu a razão, para o doido; alienado; insensato; doidivanas; brincalhão; folgazão; apaixonado; arrebatado; furioso, é um substantivo masculino usado para o demente. Nise da Silveira contraria a explicação publicada, para ela os loucos são: “(...) aqueles que se posicionam à frente de seu tempo, quebrando padrões e expondo tabus e preconceitos sociais”. (SILVEIRA,1998:23)

Seriam então, os loucos, pessoas destemidas e audaciosas, que buscam em seu estado mental a desculpa para fugir às regras e limites impostos pela sociedade? Não, essas pessoas não mascaram suas intenções através de falsos estados de confusão mental, “(...) realmente se mostram perturbados ou emocionalmente muito vulneráveis” (SILVEIRA, 1998:23). “A loucura ou psicose, como é chamada tecnicamente, acontece quando a pessoa se perde ou diminui de forma importante o contato com a realidade, ou seja, os conteúdos da mente prevalecem sobre a capacidade de incorporar a realidade”. (ansiedade.com.br)

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Algo peculiar entre as pessoas consideradas loucas são as alterações de pensamentos, onde normalmente criam novas realidades cheias de ilusões; de percepção em que se ouve ou vê fatos inexistentes; afetivas que sempre são acompanhados de muita ansiedade e manias. “Todos nós carregamos um pouco de loucura, são as nossas cismas, as nossas manias, nossas paranóias. Se elas atrapalham a nossa vida de maneira importante, prejudicando o nosso rendimento profissional e a nossa capacidade de se relacionar, merecemos o rótulo de louco e devemos nos tratar. Se elas não atrapalham nossa vida de forma efetiva, classificamo-nos como neuróticos ou apenas de esquisitos e tocamos a vida”. (ansiedade.com.br).

Quando questionado sobre o assunto, o arte educador Renato Di Renzo diz: “Quando você está com dor de barriga você vai ao médico e manda tirar a barriga? Você tira a dor. Para mim loucura é exatamente isso, como qualquer outra coisa pode estar doendo, a gente cura a dor, mas não arranca a loucura. Se for arrancada, perderemos os sonhos, utopias, a vontade de viver e construir”. Ele afirma ainda que todas as pessoas são loucas. É por isso que para ele a sociedade castra a mente dos indivíduos, e o modelo escolar é um dos maiores agentes castradores. “Você pega uma criança na melhor fase da sua vida, no sentido de evolução, que é a fase em que ela tem toda energia do mundo, tudo funciona, ela não está com dor na cervical, não tem dor no braço nem no pé, está tudo fresquinho, e você põe trancado em uma sala de aula por cinco horas seguidas, às vezes até mesmo período integral, quando volta para a casa fica mais umas oito horas em frente a televisão ou do microcomputador. Isso é castrar, é amordaçar a loucura”. Ainda sobre loucura Di Renzo fala que a perda de atenção ou poder pode ser um fator desencadeador, então ocorre a troca, onde o indivíduo que não possui nada, passa a possuir a partir do momento em que enlouquece, passa a ter assistência, começa a colocar medo, ter poder, mesmo que sem qualificação na sociedade. Como doente ele tem uma qualificação. Por exemplo, “o louco esquizofrênico no quarto número quatro”, acontece então a requalificação através da dor.

Segundo Fernanda Nicácio, a analogia feita por antigos autores encontrada no texto de Pinel é bastante interessante “a preguiça, a indolência e a ociosidade, vícios tão naturais nas crianças diz La Bruyère, desaparecem nos seus jogos, onde elas são vivas, aplicadas, exatas, amorosas das regras e da simetria”. Essa analogia aproxima crianças e alienados, sendo que ambos são dependentes e tutelados. (NICÁCIO, 1994: 9).

O que distingue o louco do criminoso é a racionalidade, ambos transgridem leis, porém o criminoso é culpado porque é racional e responsável, enquanto o louco é incapaz na relação de trocas, isento de responsabilidades e, portanto merecedor de assistência (NICÁCIO, 1994: 7). “O cidadão louco, ou ainda os loucos de todo gênero a que se refere o código civil (artigo 5º), são considerados incapazes para a vida civil. O que determina que sejam tutelados à incapacidade civil significa não apenas um conceito jurídico instrumental, mas formaliza a relação que se estabelece com o louco ao confirmar a inexistência da sua subjetividade” (NICÁCIO,1994: 22).   

 

 

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2.1- DEFINIÇÕES DE SAÚDE MENTAL

 

A definição da OMS-ONU (Organização Mundial de Saúde) diz que saúde mental é um estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças mentais. Mas para a psiquiatra Suzana Robortella, esta não é uma verdade absoluta, porque não existe um estado de completo bem estar. Ela diz que os seres humanos estão constantemente em mudanças no corpo e na mente, e com isto é normal que sintam um certo mal estar, o que não significa doença.

Transtornos mentais e comportamentais são as condições clinicamente significativas caracterizadas por alterações do modo de pensar e do humor (emoções) ou por comportamentos associados com angústia pessoal (psiqweb.med.br).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2.2 - SAÚDE MENTAL NO MUNDO

 

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A inspiração da proposta de reforma psiquiátrica em Santos veio da Europa, com o trabalho de Franco Basaglia (1924-1980) juntamente com sua equipe na cidade italiana de Trieste.

Não podemos deixar de citar o psiquiatra Franco Rotelli, que fazia parte da equipe de Basaglia. Rotelli era diretor do Centro Psiquiátrico Regional de Trieste, e deu continuidade ao trabalho do idealizador do projeto.

Basaglia liderou importantes mudanças na saúde mental de seu país, num movimento que ficou conhecido como Psiquiatria Democrática. Em 1978 foi aprovada na Itália a lei 180, também conhecida como “Lei Basaglia”, sobre a Reforma Psiquiátrica.

No livro iremos descrever a importância desse fato para a reformulação na saúde mental em Santos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2.3- SAÚDE MENTAL NO BRASIL

 

Com base no livro Loucos pela vida: A Trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil, de Paulo Amarante (1995), vimos que o início do movimento da reforma psiquiátrica no país está entre os anos de 1978 e 1980. O movimento dos trabalhadores em saúde mental foi um fator determinante na reforma psiquiátrica brasileira. Com críticas em relação às péssimas condições de trabalho e à assistência prestada aos pacientes, o movimento deu início a uma série de assembléias que culminaram na realização do Congresso de Bauru

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(1988) – “Por uma Sociedade sem manicômios”, que norteiam a rede psiquiátrica no Brasil até os dias de hoje.

Enfatizaremos os encontros, congressos e conferências de saúde mental que tiveram grande representação para o desenvolvimento das reformulações propostas. Não esquecendo de falar dos profissionais envolvidos nessa questão, como o psiquiatra italiano Franco Basaglia que desempenhou uma revolução nas décadas de 60 e 70. A prestação de serviços em psiquiatria no setor privado foi criada em 1966, mas assumiu a qualificação atual em 1973. (AMARANTE, 1995).

Em um de nossos capítulos sobre pacientes, citamos os Hospitais:

- Sanatório Vera Cruz

R. Alto Paraguai, 362, Jaçanã – São Paulo – SP.

-Hospital Vila Mariana

Rua Azevedo de Macedo, 113, Vila Mariana, São Paulo – SP.

 

 

 

2.4- OS NAPS NO BRASIL

 

Segundo o site saudemental.med.br, os NAPS (Núcleo de Apoio Psicossocial) e os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) são regulamentados pela Portaria número 336, de 29 de janeiro de 1992, do Ministério da Saúde. O serviço é remunerado pelo SUS. O site cita alguns trechos dessa Portaria:

"Os NAPS/ CAPS são unidades de saúde locais/ regionalizadas, que contam com uma população adscrita definida pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de 4 horas, por equipe multiprofissional”.

"(...) podem constituir-se em porta de entrada da rede de serviços (...)”.

"(...) os pacientes que freqüentam o serviço por 4 horas terão direito a duas refeições, os que freqüentam por um período de 8 horas terão direito a três refeições".

"A Equipe técnica mínima para atuação no NAPS/ CAPS, para atendimento a 30 pacientes por turno de 4 horas, deve ser composta por: um médico psiquiatra, um

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enfermeiro e quatro outros profissionais de nível superior (psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional e/ ou outro profissional necessário à realização do trabalho)”.

"Para fins de financiamento pelo sistema SIA/ SUS, o sistema remunerará o atendimento de até 15 pacientes em regime de 2 turnos ( 8 horas por dia ) e mais 15 pacientes por turno de 4 horas, em cada unidade assistencial."

Os núcleos de atendimento psicossocial já estão presentes em quase todos os estados do país. A Portaria número 428/gm, de março de 2005, do Ministério da Saúde determina no artigo II a habilitação de 168 municípios para serem sedes de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), situados em Estados com elevado número de leitos psiquiátricos. Os Estados estão inseridos abaixo conforme o número de municípios com novas sedes do CAPS.

São Paulo, 43 municípios.

Minas Gerais, 38 municípios.

Rio de Janeiro, 23 municípios.

Ceará, 22 municípios.

Bahia, 18 municípios.

Paraná, 10 municípios.

Paraíba, seis municípios.

Goiás, cinco municípios.

Pernambuco, três municípios.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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2.5-SAÚDE MENTAL EM SÃO PAULO

 

O primeiro hospício paulista foi o Juquery, fundado em 1898 pelo psiquiatra paulista Franco da Rocha. Passou pelo desenvolvimento industrial, que aumentou o número de marginalizados fazendo com que se elevassem também a quantidade de pacientes do local. Sua construção foi baseada nas recomendações do Congresso Internacional de Alienistas, que foi realizado em Paris em 1889.

Sua proposta inicial era proporcionar um tratamento coeso e digno, em um espaço agradável e bem estruturado para que fosse possível a melhora dos valores dos indivíduos que ali estivessem internados. Mas nesse mesmo ambiente, crianças também eram internadas, e só em 1922 foi inaugurado um pavilhão para menores de idade. Mesmo assim só foram totalmente barradas as internações de crianças no prédio do Juquery em 1970.

A situação começa a se agravar por volta de 1938, quando o hospital enfrenta uma grave dificuldade com a crescente superlotação. Esse problema fez com que a qualidade no tratamento tivesse uma grande queda, chegando ao descaso por parte dos profissionais que davam assistência aos doentes mentais. Falta de higiene, maus tratos e uma total desumanização. Essa era a nova face do Juquery.

  No início de 1991, 400 pacientes tinham alta assinada, mas não tinham para onde ir. Os motivos: abandono pela família ou a falta de recursos financeiros para que houvesse possibilidade de tratamento residencial. Por tudo isso, o Juquery passou a ser mais um asilo de loucos idosos, do que uma clínica de tratamento psiquiátrico.

 

2.6- SAÚDE MENTAL EM SANTOS

 

Até 1988, os serviços relacionados à saúde mental em Santos eram quase iguais aos da década de 40, o tratamento dado aos doentes não tinha nenhum progresso, existia na sociedade a falta de conhecimento da loucura, o que ocasionava o preconceito. O louco era visto como um perigo para a população, e muitas pessoas pensavam até que a loucura poderia ser transmitida se houvesse contato com o doente mental.

Por esses fatores, o louco era mantido afastado e muitas vezes trancafiado, sem contato nenhum com a sociedade, e sem perspectiva de uma futura mudança no quadro clínico.

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Fundada há aproximadamente 50 anos, a Casa de Saúde Anchieta era o único hospital psiquiátrico da região. Lá eram mantidas pessoas com vários tipos de doenças mentais, dependentes químicos e até mesmo alcoólatras. As pessoas que não possuíam família ou não conseguiam vaga para internação ficavam no chamado “chiqueirinho”, uma cela suja e sem condições de abrigar nenhum tipo de animal, muito menos seres humanos.

O Anchieta era uma instituição privada e conveniada ao SUS – Sistema Único de Saúde, e recebia pessoas de todas as cidades da região. (ROBORTELLA, 2000).

Já no ano de 1986, em reportagem no único jornal local, denominada: “Este é o panorama da Saúde mental na Baixada: estrutura insuficiente, superlotação em Santos”, o grupo de técnicos da Saúde Mental entrevistado propõe como solução para as deficiências apontadas a priorização dos ambulatórios e o aumento do número de leitos de curta permanência, além de um hospital-dia. Sendo o Anchieta de caráter privado, não havia nenhuma proposta no sentido de transformá-lo. A idéia era de esvaziá-lo, melhorando o ambulatório.

A análise que os técnicos da Saúde Mental da Prefeitura de Santos fizeram a respeito do funcionamento dos equipamentos existentes e das necessidades da atenção em Saúde Mental, quando assumiram em 1989, foi a de que os dois ambulatórios trabalhavam quase que exclusivamente como dispensários de medicamentos e o pronto socorro tinha uma baixa resolutividade.

Quanto ao hospital, o mesmo não apresentava as mínimas condições de cuidados básicos: o Anchieta tinha vida própria e bastava entrar lá para ninguém do lado de fora saber o que acontecia. (CAPISTRANO 1995: 99)

Inaugurado em março de 1986, o Pronto Socorro Psiquiátrico do Hospital Guilherme Álvaro, passou a atender às crises e a centralizar as vagas para os hospitais psiquiátricos. Referência para a região, contava com 6 leitos femininos e 8 masculinos sendo que os doentes em crise circulavam num espaço muito restrito, completamente fechado, tendo como única resposta à crise a contenção e a sedação durante praticamente todo o tempo em que aguardavam vaga para um hospital psiquiátrico.

 

 

 

 

 

 

 

 

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3- A TRANSFORMAÇÃO DA SAÚDE MENTAL EM SANTOS

 

Fundado há aproximadamente 50 anos, o único hospital psiquiátrico da região estava presente na cultura da cidade como o local emblemático da exclusão e do castigo, o local era inacessível para as autoridades governamentais, e foi sofrendo um processo de deterioração crescente.

A decisão da intervenção municipal veio depois da denúncia de três mortes violentas em um período inferior a três meses e após um debate público com a população através da imprensa local.

No entanto, a Prefeitura não possuía muitos recursos legais para controlar a Casa de Saúde Anchieta, e a justiça ainda não havia sido chamada para opinar  sobre a nova Constituição, em 1988, que vinha com o artigo 196, estabelecendo os direitos dos doentes em hospitais, dizendo: "A saúde é direito de todos e dever do Estado".

Em vista disso, o então Secretário de Saúde de Santos, David Capistrano Filho, determinou o prazo de uma semana para que se corrigissem as irregularidades no local.

Como as mesmas permaneciam, a Prefeitura Municipal assumiu a administração e o seu gerenciamento, intervindo por tempo indeterminado para, a partir de dentro do manicômio e da sua desconstrução, dar origem a outro modelo.

O dia 28 de abril amanheceu com o jornal oficial do Município de Santos, o D.O. URGENTE, trazendo uma reportagem denominada "Ofensa à dignidade humana no Anchieta". Seu primeiro parágrafo nos dá uma idéia dos motivos que levaram à intervenção:

“Superlotação, pacientes acamados no chão, falta de profissionais habilitados, falta de medicação, de cuidados de higiene e uso de celas fortes são algumas das irregularidades apontadas no relatório distribuído à imprensa, ontem em entrevista coletiva pelo secretário de Higiene s Saúde, David Capistrano Filho. O documento foi feito pelo Suds/ 52... Em março havia 531 internados, atendidos somente por uma enfermeira, uma psicóloga, três auxiliares de enfermagem e uma assistente social. Em alguns plantões constatou-se que não havia médico responsável pelos doentes. Como não há camas suficientes, 128 doentes se acomodam no que o hospital chama de leitos-chão. Há ainda 12 celas fortes, com pequenas metragens quadradas, cuja única abertura consiste num orifício de 5cm X 20 cm na porta; elas não dispõem de camas e os pacientes ficam confinados e muitas vezes despidos ali.Nos quartos são proibidos de repousar das 7 às 20h, permanecendo amontoados no pátio, sem qualquer atividade de Terapia Ocupacional, com pequena pausa para as refeições.”.

Segundo Capistrano (1995:104), a equipe de Saúde Mental chegou à  conclusão de que deveriam desospitalizar e humanizar o atendimento intervindo no manicômio "(...) a

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partir dessa cidadela destruir sua cultura e suas relações, formando pessoas para atender o doente mental e aí construir a rede ambulatorial. Seria um processo simultâneo de desconstrução do hospício e de construção de rede ambulatorial". (CAPISTRANO, 1995:104)

No dia 3 de maio de 89, entraram no hospital tendo à frente a Prefeita e o Secretário de Saúde diversas entidades de defesa de direitos humanos, do Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental, líderes sindicais, representantes da OAB, da Comissão Teotônio Vilela, da Comissão Justiça e Paz, TVs, rádios e jornais.

"Todos ficaram impressionadíssimos com o que viram. A degradação surpreendia até os mais pessimistas. Direto do manicômio eram transmitidos relatos apaixonados, sobretudo dos próprios pacientes. As condições lamentáveis dos doentes, em andrajos ou completamente nus, de maneira maciça e inopinada foram levadas ao conhecimento da cidade". (CAPISTRANO, 1995:104)

Os diversos setores da comunidade santista acompanharam e participaram ativamente dos momentos durante e depois da intervenção. Foram muitas as doações, algumas pessoas se ofereciam para ajudar no cuidado aos pacientes, outras no trabalho administrativo. Após três meses dentro do hospital, houve uma grande festa na praça em frente à Prefeitura em que a maioria dos internados participou. Foram expostas fotos dos momentos da intervenção que falavam por si só de violência, tristeza e dor. As denúncias das condições encontradas e os resultados do programa de reabilitação implantado ganhavam a confiança inclusive de vereadores da oposição.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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3.1- OS NAPS EM SANTOS

 

Após a intervenção da Casa de Saúde Anchieta, pensou-se em um novo modo de tratamento para os doentes mentais. A idéia era tratar essas pessoas “como gente”, passando a ouvi-las, percebendo seus gostos e tratando com respeito a sua saúde física e mental. Então surgiram os NAPS, Núcleos de Apoio Psicossocial, que obedeciam a este novo pensamento. Os primeiros NAPS foram inaugurados pelos profissionais que fizeram a intervenção do Anchieta, e significaram uma verdadeira revolução no tratamento de doentes mentais no Brasil.

Após o aparecimento dos primeiros NAPS, percebe-se o surgimento de outros centros como este em todo o país. Santos é pioneira na arte de tratar os doentes mentais com humanidade.

O Primeiro NAPS instalado na cidade foi o da Zona Noroeste em 1989, depois foram fundados mais quatro NAPS na região, que ficam respectivamente nos bairros Encruzilhada, Boqueirão, Vila Mathias e Campo Grande.

Segundo os funcionários do local, o fato de existirem estes 5 NAPS em diversos lugares da cidade, faz com que o tratamento seja bem mais fácil, pois assim fica mais individualizado. Os profissionais conseguem, assim, ter uma noção maior daquela região, e das pessoas que ali precisam se tratar.

Neste tipo de tratamento, o paciente não precisa morar no local, ele vai quando o profissional achar necessário, e, algumas vezes, pode se internar, pois estes locais têm 6 leitos para internação. Ele pode também passar o dia todo no local, e à noite voltar para sua casa. Este tratamento é chamado de HOSPITAL-DIA.

Nos NAPS os pacientes têm 4 refeições diárias, e além do tratamento com remédio assistido pelos médicos, eles têm atividades de terapia ocupacional, que tem o objetivo de tratar sem remédios, fazendo com que o paciente se sinta melhor fazendo o que gosta. Estas atividades podem ser de recreação, como exercícios físicos, teatro, cinema, ou até bazares de venda dos produtos feitos por eles, que podem funcionar dentro dos NAPS, ou em feiras pela cidade.

Algumas vezes é necessário que os profissionais vão à  casa do paciente, caso julguem importante, pois alguns pacientes não vão espontaneamente ao NAPS, mesmo precisando de tratamento. Existem também as reuniões com familiares, para que haja uma interação do estado do paciente. Segundo os funcionários dos NAPS, isto faz com que o paciente se sinta mais bem cuidado, e ajuda também quem o trata.

Em nosso livro, entrevistamos pacientes do Selab, o Serviço Lar Abrigo, que é uma espécie de NAPS, mas com a diferença de que os pacientes ali internados são crônicos,

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sua doença já dura há muito tempo. Estes pacientes são muito mais graves do que os dos NAPS.

No Selab, os pacientes têm 5 refeições por dia, estão em constante observação dos profissionais, fazem atividades de recreação, como pinturas, esculturas, entre outros. Eles ajudam também nos afazeres domésticos, como lavar a louça e varrer o chão. Tomam medicação estipulada pelos profissionais do local, com horário certo.

Os pacientes mais graves do Selab ficam na enfermaria, que se localiza no andar inferior, para que ele não precise subir escadas.

O Serviço Lar Abrigo é a casa deles, diferente dos NAPS, que podem funcionar apenas como um hospital-dia.

 

3.2- PROJETO TAMTAM

 

Segundo o site arteorgone.com.br, o projeto desenvolvido por Renato Di Renzo, iniciado no Hospital Anchieta, já existe há 17 anos. O trabalho é realizado com base no conceito artístico do ser humano, visando promover e provocar a felicidade, a alegria mental, contribuindo assim para o aumento da qualidade de vida e para a saúde mental coletiva da população. Começou com aulas de teatro para os internos do hospital, e logo se estendeu para a pintura, a música, a dança e a palavra escrita.

  Sem sede fixa desde 1997, a principal ação da Ong TAMTAM vem sendo o Espaço Cultural Café Teatro Rolidei, um multiplicador e mantenedor das atuais ações que a Ong consegue manter.

  Desta forma, a Associação mantém acesa a discussão acerca da exclusão/ inclusão social e seus estigmas e rótulos, sob a ótica da arte e de sua ação junto à sociedade contemporânea. Não como terapia, mas sim como qualidade de vida e opção ética e estética na construção de uma "nova ordem" e na desconstrução dos saberes absolutos e indissolúveis.

O projeto é reconhecido mundialmente, e é seguido como modelo na saúde mental em várias cidades do Brasil e até mesmo no exterior.

 

 

 

 

 

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Em nosso levantamento do que seria necessário para tornar esse trabalho possível, já sabíamos que não iria ser nada fácil chegar ao final. Mesmo assim, persistimos em nossas pesquisas, pois sabemos da importância histórica e social da época em que o Hospital Anchieta sofreu intervenção.

O ano de 1989 significou um divisor de águas no tratamento psiquiátrico não só na cidade de Santos, mas em todo o país. A partir daí, os valores humanos foram revistos, os profissionais de saúde passaram a ter mais amor pelo trabalho, a situação da saúde no país passou a indagar-se sobre as pessoas com problemas psiquiátricos, deixando de tratar essas pessoas como animais.

No decorrer de nossas entrevistas com profissionais e pacientes envolvidos diretamente neste episódio nos deparamos com muitas dificuldades, não apenas para encontrar algumas pessoas que gostaríamos, e muitas delas realmente não encontramos, mas principalmente pelo alto teor de emoção e lembranças que este assunto trouxe a todas elas, e conseqüentemente a nós também.

Não há como não comentar nossas entrevistas com os pacientes. Este momento significou para nós muito mais do que o andamento de nosso Trabalho de Conclusão de Curso. Ele foi, principalmente, um momento de reflexão sobre os valores humanos. Se fosse possível, gostaríamos que cada leitor de nosso trabalho estivesse conosco naqueles momentos das entrevistas, pois somente desse modo sentiriam o que nós sentimos ao ver todo o sofrimento ocorrido. Os pacientes não esqueceram do modo como eram maltratados. E o que mais nos tocou, foi ver os estragos físicos e mentais que eles sofreram. Muitos deles nunca mais voltarão a ser pessoas normais. O que sofreram ali lhes trouxe conseqüências para toda a vida.

Sabemos da importância deste episódio para a história de Santos, e percebemos que, se não houver um trabalho de nós, jornalistas, para que ele não seja esquecido, os maus-tratos com doentes mentais continuarão. Mesmo depois de 16 anos da intervenção, ainda recebemos notícias de outros hospitais no país em condições como as do Anchieta. Temos que manter um compromisso de trazer sempre essas tristes verdades à tona.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AMARANTE,P.. Loucos pela vida : A Trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: SDE/ ENSP,1995

AMARANTE, P.. Asilos, alienados e alienistas in Amarante, P(org) -  Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 1994

ANTUNES EH, BARBOSA LHS, PEREIRA LMFO. Psiquiatria Loucura e Arte: Fragmentos da História Brasileira. São Paulo: Edusp 2002; 1-166.CAP. 2

BASAGLIA, Franco. A Instituição Negada. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.

CAMPOS, F. Contra a maré à beira- mar: a experiência do SUS em Santos. SP: Ed. Página Aberta, 1996.

CAPISTRANO FILHO, D. Da saúde e das cidades. São Paulo: HUCITEC, 1995.

CUNHA, Maria Clementina Pereira. O Espelho do Mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. São Paulo: Perspectiva S.A., 1992.

MATOS, Paulo. Anchieta 15 anos. Santos/ SP: Cegraf: Gráfica e Editora Ltda – ME. 2004.

NICACIO, Maria Fernanda de Silvio. O processo de transformação da saúde mental em Santos. Mestrado em Ciências Sociais, São Paulo: PUC/SP. 1994.

ROBORTELLA, Suzana C. Relatos de usuários de Saúde Mental em liberdade – o direito de existir. Tese de mestrado. São Paulo, Unicamp, 2000.

Revista Viver Psicologia, São Paulo: Ed. Psicologia e Saúde Ltda.,  Ano 6, Nº 61, fevereiro de 1998.

 

Internet:

 

Declaração dos Direitos Humanos. Disponível em:

  www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php.

Acesso em: 07 jun. 2005

Page 17: Vivência de Corpo e Alma - Relatorio Tecnico

Loucura– O que é loucura? Disponível em:  www.ansiedade.com.br/loucura.  Acesso em: 19 jun. 2005

Associação Projeto TamTam. Disponível em: http://www.arteorgone.com.br/tamtamfreme.htm.

  Acesso em: 20 ago. 2005

Declaração de Caracas. Disponível em: www.inverso.org.br/index.php/content/view/5657.html.   Acesso em: 07 jun. 2005

Projeto para Implantação de um Centro de Apoio Psicossocial  em  Macaé .

Disponível em: www.saudemental.med.br/CAPS1.htm.

Acesso em: 20 ago.2005

                  www.psicopedagogia.com.br/opinião.asp?entrlD=189,

  acesso em 05 jun.2005

www.priberam.pt/dildpo, acesso em 20 ago.2005

www.psiqweb.med.br,acesso em 21 ago. 2005

ANEXOS

CIDADÃOS FALAM DO ANCHIETA

 

Os textos e depoimentos a seguir foram extraídos das edições de 11 e 13 de maio de 1989, do Jornal A Tribuna.

 

As opiniões foram ouvidas em enquetes feita por D.O. URGENTE, na Praça Mauá, instalado painéis com a situação dos pacientes da Casa de saúde Anchieta. Como descrito no livro, essa foi a fase em que a Instituição ficou sob vigilância aguardando o pedido de reconsideração da liminar da 1ª Vara dos Feitos das fazendas Públicas, Ricardo de Almeida Dias.

O desfecho dessa história teve um final feliz, pois nas duas tentativas de acabar com a intervenção, as liminares foram concedidas a favor da Prefeitura, e como podemos notar, a favor da população. 

 

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“Há cerca de um ano e meio eu estive no Anchieta, para visitar um amigo viciado em drogas. Eu percebi que ele não era feliz lá, mas jamais imaginei que o hospital fosse essa casa de horrores. A família desse meu amigo deve estar revoltada. A prefeitura fez muito bem em decretar a intervenção no hospital. Só não dá para entender a decisão do juiz” (Da cidadã Maria Aparecida Custódia, residente à rua Amador Bueno da Ribeira, em São Vicente).

 

“Os doentes vão lá para serem bem tratados. Eu tenho um irmão que esteve internado lá, há uns 20 anos, e foi bem tratado. Mas o que a gente está vendo agora é o fim do mundo. A Telma agiu corretamente e a Justiça, infelizmente, errou ao suspender a intervenção.” (Da cidadã Inésia Alves, residente à rua Duque de Caxias, em Vicente de carvalho).

 

“A prefeitura agiu certo ao intervir no hospital, mas fiquei ‘de bobeira’ com a decisão do juiz. Os doentes precisam de carinho; merecem bom tratamento.” (Do cidadão Luciano André, residente na Vila Natal, em Cubatão).

 

“A justiça foi desumana ao pôr fim à intervenção da prefeitura. Os administradores do Anchieta foram irresponsáveis e negligentes. A prefeita agiu corretamente, mas o juiz foi imprudente. Afinal, concedeu uma liminar sem ver o lado humano da questão.” (Do cidadão Marco Antônio, residente à rua Galeão Carvalhal, no Gonzaga, em Santos)

 

E os pacientes na época

 

Manoel dias Fernandes, internado há oito meses no Anchieta, não quer nem pensar na possibilidade “daquela gente nova” sair do hospital. “Se eles (a equipe da Prefeitura) saírem, isto aqui vai ser muito pior do que era. Vão querer roer a gente”, comentou, dizendo que antes a instituição era um “verdadeiro campo de concentração”. Agora, completou, a situação está muito melhor, “com médico vendo a gente todos os dias, remédios no horário, e a gente podendo ficar no quarto durante o dia”.

 

José Eduardo de Oliveira, há um mês e meio internado, está achando ótimo a “liberdade” que têm agora, pois não estão mais obrigados a permanecer no pátio durante o dia e diz que ninguém mais está se queixando. Só reclamou da comida – “acho que precisa ter um pouco mais de tempero” -, mas teve que concordar com outro paciente, reconhecendo que “o repolho de hoje estava jóia”.

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Ainda falta água quente nos chuveiros, lembra Nivaldo Odair Gutierrez, que há cinco dias iniciou sua quinta internação: “Mas pelo menos agora somos tratados feito gente”. Resta também convencer a administração de que a televisão (preta e branca) deve ficar ligada até mais tarde. Ontem, por exemplo, os pacientes estavam passando um abaixo-assinado, pedindo que o aparelho ficasse ligado mais tempo (todos queriam assistir ao jogo entre o Brasil e Peru, que seria transmitido à noite).