violÊncia e agressividade na juventude

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VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NA JUVENTUDE Alice Toigo Nardi RESUMO Violência e agressividade na juventude, diz respeito ao ambiente violento que envolve os jovens na atualidade. Este artigo explicita os tipos de violência e possíveis causas. Chegando a conclusão que os jovens agridem, por serem agredidos, por uma desumana desigualdade social e que, uma sociedade solidária é possível, se houver a união de todos os segmentos sociais. Palavras-chave: Juventude; Violência; Sociedade. 1 INTRODUÇÃO A violência é um fenômeno complexo e conseqüência de múltiplos fatores. É uma relação, isto é, ninguém é violento sozinho, precisa existir sempre um outro, onde alguém causa danos a outro baseado na força do poder, ou melhor dizer, é uma reação a uma determinada ação. E a crescente onda de agressividade e violência envolvendo crianças e adolescentes, principalmente nos grandes centros urbanos, de certo, tem suas causas. Se, violência é uma reação, a quem estão reagindo? Buscar compreender esta realidade, analisando as diversas formas de violência e suas implicações é o objetivo deste estudo. 2 FORMAS DE VIOLÊNCIA

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Page 1: VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NA JUVENTUDE

VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NA JUVENTUDE

Alice Toigo Nardi

RESUMO

Violência e agressividade na juventude, diz respeito ao ambiente

violento que envolve os jovens na atualidade. Este artigo explicita os

tipos de violência e possíveis causas. Chegando a conclusão que os

jovens agridem, por serem agredidos, por uma desumana

desigualdade social e que, uma sociedade solidária é possível, se

houver a união de todos os segmentos sociais.

Palavras-chave: Juventude; Violência; Sociedade.

1 INTRODUÇÃOA violência é um fenômeno complexo e conseqüência de múltiplos

fatores. É uma relação, isto é, ninguém é violento sozinho, precisa

existir sempre um outro, onde alguém causa danos a outro baseado na

força do poder, ou melhor dizer, é uma reação a uma determinada

ação.

E a crescente onda de agressividade e violência envolvendo crianças e

adolescentes, principalmente nos grandes centros urbanos, de certo,

tem suas causas. Se, violência é uma reação, a quem estão reagindo?

Buscar compreender esta realidade, analisando as diversas formas de

violência e suas implicações é o objetivo deste estudo.

2 FORMAS DE VIOLÊNCIA

<!--[if !supportLists]--> <!--[endif]-->Violência física - é uma pratica que

pode acontecer em qualquer lugar, como no seio familiar, na rua, na

escola, e pode ocorrer através de tapas, empurrões, socos e até mesmo

armas.

<!--[if !supportLists]--> <!--[endif]-->Violência verbal – nos distinguimos

dos demais seres vivos pela capacidade de conversar e dar sentido as

palavras. Já dizia Padre Antonio Vieira em seus famosos Sermões

(citado por SILVA; PAULINI, 2007, p.68): “o homem é um animal

sociável, e nisso nos distinguimos dos brutos, embora nos considere

piores feras que as feras, porque somos feras com entendimentos e

vontade”. Devido a isso, muitas pessoas fazem uso desta capacidade,

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para ferir através de calunias, palavras de desprezo, mentiras e etc.,

machucando mais que atos físicos, pois suas marcas não saram.

<!--[if !supportLists]--> <!--[endif]-->Violência simbólica (moral) –

Grupos que usam símbolos, imagens para se destacar de outros,

discriminando e desprezado. É muito comum nas escolas, no trabalho,

onde em grupos marcam determinados colegas transformando-os em

objeto de gozação. Imposição de ações humilhantes ou o cumprimento

de tarefas impossíveis de realizar, para gerar a ridicularização pública

no ambiente de trabalho e a humilhação do profissional.

<!--[if !supportLists]--> <!--[endif]-->Violência pedagógica – é a forma

mais sutil de violência e se esconde nas práticas educativas, nas

palavras, nos olhares, nos risos, na indiferença, depreciação, em

expressões de descaso entre outras proferidas pelos professores.

Produzindo nas crianças e adolescentes sentimentos de inferioridade,

timidez e revolta, marcando-os pelo resto da vida. Henry Adams

(citado por SILVA; PAULINI, 2007 p.81) afirma que: “o professor se

liga à eternidade, ele nunca sabe onde cessa a sua influencia”.

Por serem tratadas agressivamente essas crianças e adolescentes,

submissas, dependentes e inseguras, reproduzirão ao crescerem, as

mesmas práticas violentas. Como diz John Dewey (citado por SILVA;

PAULINI, 2007 p.52): “a educação não é preparação nem

conformidade. Educação é vida, é viver, é desenvolver, é crescer”.

3 AGRESSORES OU AGREDIDOS?

Não é necessário citar números estatísticos, pois, está estampado em

todos os jornais, telejornais e outros, a trágica realidade vitimando

crianças e adolescentes nos mais diversos pontos do mundo.

Por quê? Quem são os culpados? Será que da para culpar os

mesmos, por serem violentos e agressivos? Por seus viveres

destrutivos?

O jovem é agressivo? Sim, porque é agredido e violentado.

- Violenta-se o jovem ainda bebê, quando para buscar a

sobrevivência, mães são obrigadas a abandonar seus filhos em creches

(Há violência maior?)

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- Violenta-se o jovem sempre que os culpamos por seus atos

violentos, sem tentar descobrir, compreender e sanar a que agressor se

dirigem.

- Violenta-se o jovem quando a sociedade dificulta ou impede seu

ingresso e participação nos mais diversos segmentos sociais.

- violenta-se o jovem sempre que é obrigado a ver na mídia o

subornável meio político.

- Violenta-se o jovem toda vez que cor de pele, estética, situação

econômica é que faz a diferença.

- Violenta-se o jovem toda vez que a sociedade discrimina suas

preferências e estilos impedindo que construa e manifeste livremente

sua personalidade.

Já afirmava o grande filósofo Émile Durkheim (1858) (citado por

SILVA; PAULINI, 2007, p.33):

[...] se não me submeto às convenções do mundo, se ao vestir-me, não

levo em conta os costumes observados em meu pais e em minha

classe, o riso que provoco, o afastamento em que os outros me

conservam, produzem, embora de maneira mais atenuada, os mesmos

efeitos que uma pena propriamente dita.Não estariam os jovens, de várias formas, inclusive expondo suas

próprias vidas, “gritando” ao mundo “adulto” sua indignação?

Indignação com tanta indiferença, discursos vazios e leis que só

são aplicáveis aos excluídos, ou melhor aos diferentes em relação ao

estereótipo da sociedade. Está a maioria dos jovens, sem perspectivas

para o futuro, vitimas de uma sociedade excludente onde o acesso ao

trabalho, saúde, cultura e lazer é para poucos, portanto, impedidos de

conquistar a plena cidadania.

4 PROVÁVEIS CAUSAS DA VIOLÊNCIA

A sociedade está marcada pela corrupção, desrespeito à dignidade

humana e toda forma de desrespeito à dignidade humana é uma

violência e não apenas os crimes que deixam corpos ou feridos.

Dignidade é o mínimo de respeitabilidade que um ser humano merece

receber do Estado e da população em geral.

Page 4: VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NA JUVENTUDE

Todos os cidadãos são iguais, e os jovens marginais são na verdade

jovens que não aceitam desigualdade, eles não querem nada mais do

que seus verdadeiros direito.

Segundo a Professora Maria de Lourdes Rangel Turra

(citado por SILVA; PAULINI, 2007, p.64):

O individuo nasce como uma tábula rasa e cabe à sociedade, pelos

meios mais rápidos possíveis, agregar ao ser individual,egoísta e

associal – uma natureza moral e social. A tarefa por excelência da

educação é, pois, criar no homem um ser novo, que irá, com o seu

grupo, partilhar de crenças religiosas, práticas morais, tradições

nacionais e profissionais e opiniões coletivas de toda a espécie.4.1 DESESTRUTURAÇÃO FAMILIAR

Todo ser humano tem a necessidade de se sentir amado, protegido,

principalmente quando criança por não compreender o mundo que o

cerca. É na primeira sociedade familiar que encontra suporte para um

crescimento emocional sadio, sendo a família uma peça fundamental.

Uma família desestruturada, poderá gerar adultos problemáticos

para enfrentar a complexidade da violência social sendo facilmente

levados ao abuso do álcool, drogas, facilitando o ingresso no mundo

do crime.

4.2 DESIGUALDADE SOCIAL

Baixo poder aquisitivo, miséria, exclusão e a dificuldade crescente

de inserção no mundo do trabalho, por falta de preparo profissional

dos pais e responsáveis por crianças e adolescentes, gera um estado de

inconformismo. Na verdade, a maior parte dos jovens infratores e

violentos são procedentes de famílias miseráveis, vivendo como

animais, crescendo em meio à fome, e a tristeza de se perceberem

excluídos da sociedade e o contraste entre sua realidade e a realidade

dos ricos e mais favorecidos.

4.3 MÍDIA

Programas de televisão banalizando a violência, ridicularizando

heróis, o uso da miséria e o

diferente como espetáculo, filmes e desenhos direcionados a crianças

e adolescentes instigando o desrespeito e a violência. A família não

Page 5: VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NA JUVENTUDE

consegue filtrar as influências e valores negativos diante ao vendaval

de informações a que as crianças e jovens são submetidas

principalmente pela internet. O avanço tecnológico, que permite o

acesso a informações e notícias de forma instantânea, provocou

mudanças na família, e os pais, devido a agressividade dos filhos, não

conseguem lhes impor limites. Como diz ES. P.57(citado por SILVA;

PAULINI, 2007, p.68):

Há uma educação não intencional, que jamais cessa. Pelo nosso

exemplo, pelas palravas que pronunciamos, pelos atos que praticamos

– influímos de maneira continua sobre a alma de nossos filhos.Talvez os meios de comunicação em geral não sejam tão

responsáveis pelo aumento da violência e criminalidade nos jovens,

mas a forma como são apresentados, os atos violentos, parecem

valorizados. Isso necessariamente não tornaria as crianças e

adolescentes mais violentos, mas contribuem para excitá-las,

difundindo alguns dos tipos de violência.

4.4 SOCIEDADE DESUMANA

Desde a revolução industrial o mundo ocidental conhece um

grande desenvolvimento e mudança do nível de vida. Vive-se de

forma que os antepassados sequer podiam imaginar. Mas, apesar dos

grandes ganhos obtidos na liberdade, saúde, bem-estar e cultura, ao

olhar para o futuro a sociedade vê o pior dos horrores. As atuais

gerações, apesar de viverem no conforto e progresso têm, uma visão

negra do amanhã frente ao quadro de violência, de impunidade, um

caos total, gerando revolta, medo e insegurança, ao qual a sociedade

se mantém calada. Como já dizia Frei Betto:

A violência é a mais primária forma de manifestação da agressão.

Toda a estrutura da sociedade, com suas leis e instituições, contém boa

dose de agressividade, assim como a disciplina que os pais impõem à

boa educação dos filhos. Ela favorece a nossa convivência social e

reprime nossas tendências auto-destrutivas. O melhor exemplo de

agressividade sem violência é o esporte.Como já foi dito o lazer sadio é para poucos, políticas públicas

preferem ocupar-se de outros

Page 6: VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NA JUVENTUDE

segmentos sociais onde os resultados são imediatos, pois crianças e

adolescentes não rendem sufrágios.

5 CONCLUSÃO

Em vista dos argumentos apresentados, percebe-se que a violência

gera mais violência e que ela é produto de um quadro de injustiças

sócias, desigualdade econômica, exclusão e falta de oportunidades que

atinge a maioria da população refletindo principalmente no jovem por

ser na adolescência a fase que ocorre a formação da identidade. Fase

que deveria ser aproveitada para educar valorizando as diferenças

humanas e valores éticos, paz, respeito e solidariedade. Somente pela

educação, combatendo a ignorância e oportunizando novas

perspectivas de vida em sociedade, onde o jovem se torne protagonista

e agente de transformação social, num esforço conjunto família,

escola, igreja e sociedade talvez se poderá mudar a sociedade e fazer

reinar a justiça social.

6 REFERÊNCIAS

F R E I B E T O , V I O L Ê N C I A E A G R E S S Ã O . D I S P O N Í V E L E M .

A C E S S O E M : 1 9 M A I 2 0 0 8 .

SILVA, E; PAULINI, I. R. Sociologia geral da educação. Indaial: Asselvi,

2007.

TURA, M. L. Rangel. Durkheim e a Educação. Rio de Janeiro: Quartet, 2002.

POSTADO POR ALICE TOIGO NARDI ÀS 08:12

MARCADORES: E