validação para língua portuguesa da escala de graduação do

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MARIA IZABEL ROMÃO LOPES Validação para Língua Portuguesa da escala de graduação do paciente com hidrocefalia de pressão normal Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências. Programa de Neurologia Orientador: Prof. Dr. Fernando Campos Gomes Pinto São Paulo 2013

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  • MARIA IZABEL ROMO LOPES

    Validao para Lngua Portuguesa da escala de graduao do paciente com hidrocefalia de presso normal

    Dissertao apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias. Programa de Neurologia

    Orientador: Prof. Dr. Fernando Campos Gomes Pinto

    So Paulo 2013

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Lopes, Maria Izabel Romo

    Validao para Lngua Portuguesa da escala de graduao do paciente com

    hidrocefalia de presso normal/Maria Izabel Romo Lopes. -- So Paulo, 2013.

    Dissertao(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Programa de Neurologia.

    Orientador: Fernando Campos Gomes Pinto.

    Descritores: 1.Hidrocefalia de presso normal/patologia 2.Traduo 3.Escalas

    4.Estudos de validao 5.Questionrios 6.ndice de gravidade da doena

    7.Transtornos neurolgicos da marcha 8.Apraxia da marcha 9.Equilbrio postural

    10.Incontinncia urinria/complicaes 11.Demncia/complicaes

    USP/FM/DBD-332/13

  • AGRADECIMENTOS

    Inicio meus agradecimentos a todos que, de alguma forma, passaram

    pela minha vida e participaram da construo de quem sou hoje. Agradeo, em

    especial, a algumas pessoas que contriburam para execuo direta desse

    trabalho.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando Campos Gomes Pinto, pela sua

    exemplar orientao, sem cobranas, mas carregada de compartilhamento e

    pelo seu inestimvel valor pessoal. Ensinou-me que podemos alcanar nossos

    sonhos com pacincia e determinao.

    A minhas amigas Fernanda Letskake e Juliana Tornai, pelas experincias

    divididas, pela amizade e pelo companheirismo nos anos em que passamos

    juntas.

    querida amiga Wendry Paixo, pela fora recebida, extensa sabedoria e

    sua ajuda, sem a qual no conseguiria concluir esse trabalho.

    Aos Professores Doutores Edson Shu, Ricardo Botelho e Koshiro

    Nishikuni, pelas valiosas contribuies durante o exame de qualificao desse

    trabalho.

    A minha famlia, em especial, a minha me Lucimary, a meu av Deodato

    e a minha tia Claudimary, pelos quais eu sinto imenso amor, orgulho e carinho.

    Por estarem sempre ao meu lado, com incentivo e por estimular meu

    desenvolvimento. Saudades de minha tia Mary Lucia, que carrego no corao.

    A toda minha famlia, a minhas adoradas primas Daniela e Carolina, pela

    alegria e mesmo, s vezes, longe, se fazem presentes em todos os momentos.

    Sou muito feliz de t-los em minha vida!

    E por fim, um achado precioso em meu caminho, Leandro Maia, pela

    pacincia, pelo companheirismo e pelo carinho. Espero poder retribuir com

    toda a felicidade que merece!

  • No poderia finalizar sem agradecer a Deus, pela Sua grandeza, pelo Seu

    amor incondicional. Obrigado por nunca desistir de mim, por me amparar

    quando eu mais preciso e por me mostrar que o melhor sempre est por vir.

    http://www.mensagenscomamor.com/mensagens/mensagens_agradecimento_deus.htm

  • A grandeza no consiste em receber honras, mas em merec-las.

    Aristteles

    http://pensador.uol.com.br/autor/aristoteles/

  • NORMALIZAO ADOTADA

    Normalizao Adotada Esta tese est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicao: Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver). Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Diviso de Biblioteca e Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso, Valria Vilhena. 3a ed. So Paulo: Diviso de Biblioteca e Documentao; 2011. Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.

  • SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE GRFICOS

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    RESUMO

    SUMMARY

    1 INTRODUO .................................................................................................... 2

    2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 5

    2.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 5

    2.2 Objetivos Especficos.................................................................................... 5

    3 REVISO DA LITERATURA .............................................................................. 7

    3.1 Quadro clnico da HPN ................................................................................. 7

    3.1.1 Distrbio da marcha ............................................................................. 8

    3.1.2 Alteraes cognitivas ........................................................................... 9

    3.1.3 Incontinncia urinria ......................................................................... 10

    3.2 Escalas de avaliao .................................................................................. 11

    3.2.1 Medida de independncia funcional ................................................... 12

    3.2.2 Escala de equilbrio de Berg............................................................... 14

    3.2.3 ndice de marcha dinmica................................................................. 14

    3.2.4 Timed Up and Go ............................................................................. 15

    3.2.5 Escalas de graduao do paciente com HPN .................................... 16

    4 MTODOS ........................................................................................................ 20

    4.1 Traduo e adaptao cultural ................................................................... 20

    4.2 Validao da escala .................................................................................... 22

    4.2.1 Medida de Independncia Funcional - MIF ........................................ 23

    4.2.2 Teste de Equilbrio de Berg (Berg) ..................................................... 24

    4.2.3 ndice de marcha dinmica................................................................. 25

    4.2.4 Timed Up and Go (TUG) .................................................................. 26

    4.3 Tipo de estudo ............................................................................................ 27

    4.4 Casustica ................................................................................................... 27

    4.5 Critrios de incluso e excluso ................................................................. 27

  • 5 RESULTADOS ................................................................................................. 29

    5.1 Traduo e adaptao cultural ................................................................... 29

    5.2 Confiabilidade e reprodutividade ................................................................ 30

    5.2.1 Concordncia intra-avaliador .............................................................. 31

    5.2.2 Concordncia interavaliador ............................................................... 33

    5.3 Comparaes dos valores da escala de graduao HPN com demais escalas selecionadas .................................................................................. 35

    5.3.1 Comparao dos valores HPN com a independncia funcional (MIF) ................................................................................................... 36

    5.3.2 Comparao dos valores HPN com a escala de BERG ..................... 37

    5.3.3 Comparao dos valores HPN com a marcha dinmica (DGI) .......... 39

    5.3.4 Comparao dos valores HPN com Timed Up and Go (TUG) ......... 40

    5.4 Correlaes entre escalas sobre item incontinncia urinria ...................... 42

    5.5 Correlaes entre escalas sobre item cognio ......................................... 43

    5.6 Correlaes entre escalas sobre item marcha ............................................ 45

    6 DISCUSSO ..................................................................................................... 48

    7 CONCLUSO ................................................................................................... 53

    8 ANEXOS ........................................................................................................... 55

    8 REFERNCIAS ................................................................................................ 69

    9 APNDICE........................................................................................................ 77

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Dimenses e pontuaes da MIF.................................................... 13

    Figura 2 Sequencia da traduo da escala.................................................... 21

    Figura 3 Sequencia da avaliao funcional.................................................... 23

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Categorias e escores da Escala de Graduao do paciente com HPN, coletados durante as avaliaes.........................................22

    Tabela 2 Categorias e escores da escala medida de independncia funcional, coletados durante as avaliaes.................................. 24

    Tabela 3 Categorias e escores do teste de equilbrio de Berg, coletados durante as avaliaes.................................................................. 25

    Tabela 4 Categorias e escores do teste ndice de marcha dinmica, coletados durante as avaliaes.................................................. 26

    Tabela 5 Categorias e escores do TUG..................................................... 26

    Tabela 6 Escala de Graduao de HPN..................................................... 29

    Tabela 7 Caractersticas dos 121 pacientes segundo faixa etria e gnero, que foram avaliados no Ambulatrio do Grupo de Hidrodinmica Cerebral do IPQ-HCFMUSP, no perodo de junho de 2010 a fevereiro de 2012......................................................................... 30

    Tabela 8 Frequncias absolutas e relativas das caractersticas relacionadas aos domnios da amostra............................................................. 30

    Tabela 9 Interpretao da concordncia segundo valores da medida de Kappa.......................................................................................... 31

    Tabela 10 Valores de Kappa para as diferentes pontuaes da escala....... 31

    Tabela 11 Kappa geral do item marcha (intra-avaliador).............................. 32

    Tabela 12 Valores de Kappa para as diferentes pontuaes da escala....... 32

    Tabela 13 Kappa geral do item demncia (intra-avaliador)........................... 32

    Tabela 14 Valores de Kappa para as diferentes pontuaes da escala....... 33

    Tabela 15 Kappa geral do item incontinncia (intra-avaliador)..................... 33

    Tabela 16 Valores de Kappa para as diferentes pontuaes........................33

    Tabela 17 Kappa geral do item marcha........................................................ 34

    Tabela 18 Valores de Kappa para as diferentes pontuaes........................34

    Tabela 19 Kappa geral do item demncia (interavaliador)........................... 34

  • Tabela 20 Valores de Kappa para as diferentes pontuaes........................34

    Tabela 21 Kappa geral do item incontinncia urinria.................................. 35

    Tabela 22 Correlaes segundo valor de Pearson....................................... 35

    Tabela 23 Comparao dos valores totais das escalas HPN e MIF, por meio da Correlao de Pearson........................................................... 36

    Tabela 24 ANOVA, com tabela de mdias e desvios-padro....................... 36

    Tabela 25 Comparaes mltiplas de Tukey................................................ 37

    Tabela 26 Comparao dos valores das escalas HPN e BERG, por meio da Correlao de Pearson................................................................ 38

    Tabela 27 ANOVA, com tabela de mdias e desvios-padro....................... 38

    Tabela 28 Comparaes mltiplas de Tukey................................................ 38

    Tabela 29 Comparao dos valores das escalas HPN e DGI, por meio da Correlao de Pearson................................................................ 39

    Tabela 30 Teste t-independente, com tabela de mdias e desvios-padro.. 40

    Tabela 31 Comparao dos valores da escala HPN e TUG, por meio da Correlao de Pearson................................................................ 41

    Tabela 32 ANOVA, com tabela de mdias e desvios-padro....................... 41

    Tabela 33 Comparaes mltiplas de Tukey................................................ 41

    Tabela 34 Comparao apenas dos valores dos itens relacionados continncia das escalas HPN e MIF, por meio da Correlao de Pearson........................................................................................ 42

    Tabela 35 Comparao descritiva segundo os valores dos itens de continncia das escalas HPN e MIF............................................ 43

    Tabela 36 Comparao apenas dos valores dos itens relacionados cognio da MIF com item demncia da HPN, por meio da Correlao de Pearson....................................................................................... 43

    Tabela 37 Comparao descritiva segundo os valores dos itens relacionados cognio da HPN e MIF............................................................ 44

    Tabela 38 Comparao apenas dos valores dos itens relacionados marcha da MIF com item marcha da HPN, por meio da Correlao de Pearson....................................................................................... 45

    Tabela 39 Comparao descritiva segundo os valores dos itens relacionados marcha da HPN e MIF.............................................................. 45

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Demonstra pontuaes da MIF, segundo HPN............................ 37

    Grfico 2 Demonstra pontuaes da BERG, segundo HPN........................ 39

    Grfico 3 Demonstra pontuaes da DGI, segundo HPN............................40

    Grfico 4 Demonstra valores do TUG, segundo HPN................................. 42

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ANOVA Anlise de Varincia

    AVD Atividades de Vida Diria

    BERG Teste de Equilbrio de Berg

    CAPPesq Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa

    DGI ndice de Marcha Dinmica

    DVP Derivao Ventriculoperitonial

    HCFMUSP Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    HPN Hidrocefalia de Presso Normal

    ICIQ Questionrio Internacional de Incontinncia

    IPQ Instituto de Psiquiatria

    IU Incontinncia Urinria

    LCR Lquido Cefalorraquidiano

    MIF Medida de Independncia Funcional

    MMSE Mini Exame do Estado Mental

    NPH Normal Pressure Hydrocephalus

    SVE Encefalopatia Vascular Subcortical

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    TUG Timed Up and Go

    TVE Terceiro-Ventriculostomia Endoscpica

  • RESUMO

    Lopes MIR. Validao para Lngua Portuguesa da escala de graduao do

    paciente com hidrocefalia de presso normal [Dissertao]. So Paulo:

    Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2013. p 75.

    O presente estudo validou para a Lngua Portuguesa a escala de graduao do

    paciente com hidrocefalia de presso normal (HPN) desenvolvida na Lngua

    Inglesa como Grading scale for idiopathic normal pressure hydrocephalus.

    Duas tradues independentes da escala de HPN foram feitas por mdicos

    brasileiros, fluentes na Lngua Inglesa. Aps harmonizao dessas, a traduo

    resultante foi retrotraduzida independentemente por dois outros mdicos, que

    desconheciam a escala original. Seguiu-se a ltima traduo e reviso para a

    Lngua Portuguesa por uma profissional tradutora da rea da sade. A

    comparao da verso final traduzida com a escala original foi realizada pelo

    comit multiprofissional que no estava envolvido no processo de traduo,

    pontuando-se para item distrbio de marcha: 0 ausente; 1 marcha instvel, mas

    independente; 2 anda com um apoio; 3 anda com 2 apoios ou andador e 4 no

    possvel andar. No item demncia: 0 ausente; 1 sem demncia aparente,

    mas aptico; 2 socialmente dependente, mas independente na residncia; 3

    parcialmente dependente na residncia e 4 totalmente dependente.

    Incontinncia Urinria: 0 ausente; 1 ausente, mas com polaciria ou urgncia

    miccional; 2 s vezes, apenas noite e 4 frequente. Para obteno da

    pontuao final, devem-se somar os itens, sendo que, quanto maior o escore

    final, maior comprometimento do paciente. O resultado foi pr-testado em um

    estudo-piloto. A verso final da escala de HPN para o Portugus, bem como as

    escalas de equilbrio de Berg, ndice de marcha dinmica e timed up and go

    foram aplicadas simultaneamente em cento e vinte e um pacientes

    consecutivos com diagnstico mdico de hidrocefalia de presso normal

    (setenta e trs homens e quarenta e oito mulheres) que procuraram o

    Ambulatrio de Hidrodinmica Cerebral, da Diviso de Neurocirurgia Funcional

    do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas de So Paulo da FMUSP, no

    perodo de julho de 2010 a maro de 2012. Foram testadas as propriedades

    psicomtricas do questionrio, como confiabilidade e validade. A idade

    mediana foi de 71,09 anos (intervalo de 35 a 92 anos). O perodo mdio de

    reteste para a escala de HPN foi de sete dias. Nenhuma alterao do formato

    original da escala foi observada no final do processo de traduo e adaptao

    cultural. O grau de concordncia e reprodutividade foi alta, como demonstrado

  • pela medida de concordncia Kappa, com excelente correlao

    intraobservador para itens da escala de HPN individualmente avaliados:

    marcha (0,8), demncia (0,90) e incontinncia (0,87). Na anlise

    interobservador, o resultado foi excelente, com item marcha (0,91), demncia

    (0,86) e incontinncia (0,87). A correlao entre a escala de HPN com as

    demais escalas foi considerada de moderada a satisfatria para a maioria dos

    itens, variando de -,069 a 0,55 na correlao de Pearson. A avaliao

    individual entre escalas sobre os itens incontinncia urinria, demncia e

    marcha foram tambm satisfatrias e estatisticamente significantes. A verso

    para o Portugus da escala de graduao do paciente com HPN foi traduzida e

    validada com sucesso para aplicao em pacientes brasileiros de ambos os

    sexos, apresentando satisfatria confiabilidade e validade. Descritores: Hidrocefalia de presso normal/patologia; Traduo; Escalas; Estudos de validao; Questionrios; ndice de gravidade da doena; Transtornos neurolgicos da marcha; Apraxia da marcha; Equilbrio postural; Incontinncia urinria/complicaes; Demncia/complicaes.

  • SUMMARY

    Lopes MIR. Validation to Portuguese Language of graduation scale for patients

    with normal pressure hydrocephalus [dissertation]. So Paulo: Faculdade de

    Medicina, Universidade de So Paulo; 2013. p. 75.

    The current study validated to Portuguese language the graduation scale for

    patients with normal pressure hydrocephalus (NPH) developed on English

    language as Grading scale for idiopathic normal pressure hydrocephalus. Two

    translations independent of NPH scale were done by Brazilian doctors, fluent on

    English language. After harmonization of both, the resulting translation was

    back-translated independently by two other doctors, that unaware to the original

    scale. Followed the last translation and revision to Portuguese language by a

    professional translator of health area. The comparison of last translated version

    with original scale was performed by one multiprofessional committee not

    involved on translation process. Was established specific punctuation to

    components of NPH classical triad, the punctuation to gait: 0 absent; 1 unstable

    gait, but independent; 2 walk with a support; 3 walk with 2 supports or walker an

    4 is not possible to walk. On dementia item: 0 absent; 1 without apparent

    dementia, but apathetic; 2 socially dependent, but independent on resistance; 3

    partial dependent on resistance and totally dependent. Urinary incontinence: 0

    absent, 1 absent but with pollakisuria or urinary urgency, 2 sometimes, just at

    night; 3 sometimes even during the day and 4 frequently. The obtained final

    punctuation was given by summation of three items, and the higher the final

    punctuation, greater involvement of the patient. The result was pre-tested in a

    pilot study. The last version of NPH to Portuguese, as well the Berg balance

    scales, Dynamic Gait Index and timed up and go were applied simultaneously

    in 121 consecutive patients with medical diagnostic of normal pressure

    hydrocephalus (73 men and 48 women) who sought the Ambulatory of Cerebral

    Hydrodynamics, Division of Functional Neurosurgery, Institute of Psychiatry,

    Hospital das Clnicas in Sao Paulo from FMUSP, on period July / 2010 to march

    / 2012. The psychometric properties, reliability and validity of questionnaire

    were tested. The mean age was 71,09 years, ranging from 35 to 92 years. The

    period of mean retest was 7 days. None change to the original format of the

    scale was observed at the end of the translation process and cultural

    adaptation. The rate of agreement and reproducibility was high, as confirmed by

    measure of agreement of Kappa, with excellent intra-observer correlation for

    NPH scale items individually evaluated: gait (0,80), dementia (0,90) and

    incontinence (0,87). The correlation between the NPH scale with the other

    scales was considered moderate to satisfactory for most items, ranging from -

  • 069 to 0.55 in Pearson correlation. The individual evaluation between scales on

    the items on urinary incontinence, dementia and gait were also satisfactory and

    stistically significant. The Portuguese version of the graduation scale for

    patients with NPH was successfully translated and validated for use in Brazilian

    patients of both genders, with satisfactory reliability and validity.

    Descriptors: Hydrocephalus, normal pressure; Translation; Scales; Validation studeis; Questionnaires; Severity of illness index; Gait disorders, neurologic; Gait apraxia; Postural balance; Urinary incontinece/complications; Dementia/complications.

  • 1 INTRODUO

  • 2

    1 INTRODUO

    A hidrocefalia de presso normal (HPN) uma doena neurolgica

    caracterizada por quadro progressivo de apraxia de marcha, alteraes

    cognitivas e incontinncia urinria (conhecida como sndrome de Hakim-

    Adams), associada hidrocefalia comunicante (comprovada por tomografia de

    crnio ou ressonncia magntica de encfalo) e com a presso do lquido

    cefalorraquidiano (LCR) dentro de valores normais (menos de vinte e quatro cm

    H2O)1-7.

    A HPN, primeiramente, foi reconhecida por Hakim e Adams et al. (1965),

    na dcada de 60, os quais observaram um quadro de demncia progressiva,

    alteraes na marcha e dilatao do sistema ventricular1,8.

    Dados epidemiolgicos sobre incidncia e prevalncia de HPN so

    escassos9. Acredita-se que corresponda a 5% de todas as demncias e que a

    incidncia seja de um em cada 100.000 pessoas10. Estudos mostraram que,

    aproximadamente, 50% da incidncia desta morbidade foram de origem

    idioptica e os demais 50% HPN secundria11. Em contrapartida, Poca,

    Sahuquillo e Mataro (2001)12 encontraram maior incidncia de HPN secundria.

    Ainda de acordo com Krauss, Sebastian e Stuckrad-Barre (2008)11, a HPN

    acomete ambos os sexos, com preponderncia maior, mas no significativa,

    entre as mulheres.

    Segundo a literatura, a HPN manifesta-se, geralmente, a partir dos 55

    anos, preponderantemente entre a sexta e stima dcada de vida13. Conquanto

    a HPN secundria ocorra em indivduos de todas as idades, vale ressaltar que

    a idioptica, preferencialmente, acomete indivduos idosos.

    Em relao ao quadro clnico, a HPN caracteriza-se, tipicamente, por um

    desenvolvimento gradual, de alteraes na marcha, que progride

    insidiosamente com demncia e incontinncia urinria, sendo descrito como

    trade clnica da sndrome de Hakim-Adams14,15. Essa trade considerada

    como marcador clnico da HPN, apesar da evoluo ser oscilante,

    apresentando perodos de melhora e piora. Por sua vez, Poca, Sahuquillo e

  • 3

    Mataro (2001)12 relataram que os pacientes, geralmente, no apresentavam

    cefaleia ou outros sinais de hipertenso intracraniana (HIC).

    Fernandez et al. (2006)16 descreveram 36 pacientes com HPN e

    evidenciaram que 77,8% apresentavam dficit cognitivo, 55,6% alterao de

    marcha e 50% alterao urinria. Entretanto, somente 30,6% da populao

    investigada apresentaram a trade completa. Outros estudos descrevem a

    presena da trade clnica em, aproximadamente, 50% dos casos, todavia,

    apenas um ou a associao de dois dos sintomas devem ser igualmente

    considerados para investigao diagnstica1-7.

    O diagnstico iminentemente clnico/neurolgico, corroborado por

    exames de neuroimagem5,17,18. O tratamento clssico e universalmente

    preconizado a derivao ventriculoperitonial (DVP). Para os casos de HPN

    secundria (estenose de aqueduto, por exemplo), a terceiro-ventriculostomia

    endoscpica (TVE) indicada19,20.

    Estas manifestaes ocasionadas pela HPN a tornam uma doena que

    compromete diretamente a qualidade de vida, principalmente a autonomia do

    paciente, mas vale advertir que, na maioria dos casos, reversvel com o

    tratamento adequado que associa o cirrgico com a reabilitao

    multiprofissional21. Ainda Blomsterwall et al.22 desvelaram que os elementos da

    trade clnica podem comprometer a independncia funcional do paciente e,

    frequentemente, so causadores de desajustes familiares e sociais.

    Neste sentido, para que na avaliao inicial, no tratamento neurocirrgico

    e multiprofissional, bem como nas avaliaes subsequentes, seja possvel

    classificar as reais limitaes do paciente com critrios objetivos, a fim de

    determinar a evoluo clnica e quantificar as mudanas observadas,

    necessrio um instrumento confivel e especfico para mensurar os elementos

    trade clnica23-26.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Blomsterwall%20E%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus

  • 2 OBJETIVOS

  • 5

    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo Geral

    Validar a Grading Scale for Idiopathic Normal Pressure Hydrocephalus

    desenvolvida na Lngua Inglesa, a qual foi traduzida para a Lngua Portuguesa

    como Escala de Graduao do Paciente com Hidrocefalia de Presso Normal.

    2.2 Objetivos especficos

    1) Traduzir e adaptar culturalmente para a Lngua Portuguesa a

    Grading Scale for Idiopathic Normal Pressure Hydrocephalus;

    2) Investigar a correlao com a medida de independncia funcional

    (MIF), ndice de marcha dinmica (DGI), teste de equilbrio de Berg (BERG) e

    Timed Up and Go (TUG) nos pacientes portadores de HPN.

  • 3 REVISO DA LITERATURA

  • 7

    3 REVISO DA LITERATURA

    3.1 Quadro clnico da HPN

    A sintomatologia da HPN est relacionada com o distrbio da dinmica

    liqurica27,28. Estudos de imagem revelaram dilatao ventricular sobre

    substncia branca periventricular, sem atrofia cerebral significativa29. O volume

    liqurico circulante foi investigado por Tsunoda et al.30, em 2002, ao comparar

    medies em pacientes com HPN idioptica, HPN secundria, atrofia cerebral

    e indivduos saudveis, empregando ressonncia magntica e programa

    processador de imagens. Os resultados encontrados foram apresentados no

    quadro 1, evidenciando importante diferena entre os grupos analisados30.

    Quadro 1: Relao de volumes do lquido cefalorraquidiano intra e extraventricular conforme grupo de indivduos analisados.

    Grupos Frequncia

    Volume de LCR intraventricular e (desvio-padro

    [ml])

    Volume total de LCR e (desvio-

    padro [ml])

    Proporo entre volume

    ventricular; volume LCR e (desvio-padro

    [%])

    Hidrocefalia de presso normal

    idioptica 24 109,3 (50,7) 281,2 (73,1) 38,0 (9,5)

    Hidrocefalia de presso normal

    secundria

    17 71,3 (18,2) 196,9 (46,5) 37,3 (8,9)

    Atrofia cerebral

    21 64,9 (25,3) 284,4 (54,5) 22,8 (7,7)

    Pessoa saudvel

    18 30,8 (13,2) 194,7 (51,6) 15,6 (5,0)

    Fonte: Tsunoda et al., 2002.

    A HPN apresenta um diagnstico considerado difcil por ser uma doena

    sem sinais patognomnicos, uma vez que a trade clssica distrbio de

    marcha, incontinncia urinria e declnio cognitivo pode ser comum ao

  • 8

    envelhecimento, bem como advir de diferentes causas9. Todavia, diversas

    comorbidades prevalentes nesta faixa etria podem dificultar o diagnstico.

    Besch-azeddine et al.31 desvelaram que, aproximadamente, metade da

    populao do estudo com HPN apresentaram critrios clnicos de outras

    doenas, como alteraes cerebrovasculares ou Alzheimer31. Cerca de 40% a

    75% dos pacientes com HPN tem beta-amiloide ou outros achados tpicos de

    doena de Alzheimer, enquanto 60% possuem sinais de doena

    cerebrovascular que podem produzir achados clnicos similares HPN32.

    Ainda estudos antomo-patolgicos sugerem danos na substncia branca

    periventricular nos lobos frontais, nos tlamos e gnglios da base

    provavelmente resultante de alteraes pressricas intermitentes que causam

    dilatao ventricular e transtorno metablico33.

    3.1.1 Distrbio da marcha

    Dentre os aspectos que despertam maior preocupao quanto s

    sequelas, o distrbio da marcha emerge como predominante na clnica desses

    pacientes e, usualmente, precede de outros sintomas34.

    Na literatura, esta marcha descrita como aprxica35, a qual se manifesta

    pela incapacidade de executar uma sequncia de movimentos, na ausncia de

    sintomas motores e sensitivos ou incoordenao36. Essa dificuldade na

    locomoo e na manuteno do equilbrio corporal ocasiona o risco de quedas.

    Dependendo do grau de comprometimento da marcha, os pacientes podem

    necessitar de dispositivos auxiliares de locomoo para deambularem, ou

    mesmo so incapazes de realiz-la29,37.

    Comumente, os pacientes com HPN apresentam como caracterstica a

    base de sustentao alargada, locomoo lenta, dificuldade para iniciar o

    movimento aps estar em ortostatismo e aps mudana de direo; acrescido

    de uma diminuio da movimentao dos braos e tendncia de queda

    posterior. Perde-se a automatizao da sequncia do andar, que, diretamente,

    ocasiona um desequilbrio constante durante a marcha aumentando a

    prevalncia de queda22,38-40. Muitos pacientes relatam a sensao dos seus

  • 9

    ps estarem presos ao solo durante o caminhar, sensao esta conhecida

    como marcha magntica29,41.

    Consoante Zaaroor et al.42, em 1997, descreveram uma particularidade

    importante sobre a preservao funcional dos membros superiores, no qual

    avaliaram os quatro membros para localizar, por meio de um estudo

    eletrofisiolgico, o preditor de sucesso do procedimento cirrgico e excluiu seu

    comprometimento42. Contudo, confirmaram que sobrevm uma dificuldade nos

    movimentos sincronizados dos membros superiores e inferiores durante a

    marcha por possurem amplitude reduzida do passo40.

    Entretanto, segundo Krauss, Sebastian e Stuckrad-Barre (2008)11, apesar

    do distrbio de marcha ser um sintoma importante nessa populao, no

    patognomnico. Vale ressaltar que, na fase inicial da doena, pode ser

    impossvel distingui-la da marcha senil e, posteriormente, a marcha instvel

    pode ser confundida com outras doenas, como encefalopatia vascular

    subcortical (SVE).

    3.1.2 Alteraes cognitivas

    A HPN conhecida como um tipo de demncia tratvel, ou seja, pode

    haver reverso parcial ou completa do quadro clnico. Entretanto, apesar do

    aumento da prevalncia dessa doena e crescentes publicaes de diretrizes

    clnicas, ainda h controvrsias sobre diagnstico e tratamento desses

    pacientes43. Caracterizar detalhes da disfuno cognitiva importante para

    diferenci-la de outras demncias neurodegenerativas44.

    Segundo Iddon et al. (1999)45, a deteriorizao cognitiva nesses pacientes

    no totalmente reversvel, pois, medida que aumenta o tempo da doena,

    ocorre aumento da extenso dos danos cerebrais, afetando a substncia

    branca subcortical e a substncia cortical, o que favorece a alteraes graves

    da funo mental. Os mesmos autores observaram, em um subgrupo de HPN,

    melhora ps-cirrgica em escalas globais de demncia, todavia, no

    observaram melhora em testes psicolgicos sensveis a alteraes do lobo

    frontal45.

  • 10

    De acordo com Benejam et al.46, em 2008, os pacientes apresentaram

    quadros variados de deteriorizao cognitiva, variando desde quadros leves,

    como dificuldade para recordar fatos recentes, dficit de ateno e

    concentrao, at quadros graves, com lentido no processamento das

    informaes e desorientao tmporo-espacial. Igualmente, encontrou

    diminuio da espontaneidade, iniciativa, falta de interesse pelas atividades

    habituais e apatia46.

    Muitos estudos da disfuno cognitiva nos pacientes com HPN sugerem

    ser do tipo subcortical47, focando-se na memria, ateno e funo executiva

    como principais itens a serem afetados45,48. Saito et al. (2011) concluram que

    as alteraes pela HPN no se concentram apenas nos lobos frontais e nas

    funes executivas, mas tambm em regies corticais posteriores com

    comprometimento da percepo visual e visuoespacial. Takeuchi et al. (2007),

    em seu estudo, evidenciaram que a inabilidade construtiva se deve disfuno

    no lobo parietal, o que os diferencia dos pacientes com Alzheimer que

    apresentarem demncia tipo frontotemporal, com parietal preservado48.

    Atualmente, no h bateria de testes psicomtricos especficos para essa

    populao tanto para diagnstico como para deteco de diferenas pr e ps-

    cirrgicas. Entretanto, mesmo extensos, os testes neuropsicolgicos no

    permitem a fcil diferenciao da HPN com outras demncias subcorticais11.

    3.1.3 Incontinncia urinria

    A incontinncia urinria (IU) influencia diretamente a qualidade de vida

    dos pacientes, pois acarreta danos tanto na esfera psicolgica e social, quanto

    na econmica e fsica. H um consenso na literatura de que os prprios

    pacientes so seus melhores juzes na avaliao da interferncia sobre a

    qualidade de vida49.

    Assim, a incontinncia urinria manifesta-se na maioria dos pacientes e

    raramente presenciamos a fecal. No estgio inicial da doena, comum

    observar apenas urgncia urinria e, nos estgios avanados, muitos pacientes

    tornam-se incontinentes. Assim, a IU no deve ser considerada apenas como

  • 11

    consequncia da demncia, apesar do comprometimento cognitivo associado

    ao distrbio de marcha favorecer a perda urinria, principalmente nos

    pacientes com urgncia11.

    Ahlberg et al. (1988) mostraram que a populao de HPN investigada no

    apresentava comprometimento cognitivo ou de marcha que justificassem a

    incontinncia, sendo estes achados clnicos independentes em cada paciente.

    Ainda durante exames urodinmicos, os pacientes apresentaram hiperatividade

    da bexiga e instabilidade do detrusor, com significativa melhora do quadro

    clnico aps tap test com remoo de cinquenta ml, ratificando que a HPN

    acomete regies cerebrais que so importantes para o controle da mico50.

    3.2 Escalas de avaliao

    As escalas de avaliao so utilizadas na prtica clnica por serem de

    fcil aplicao, baixo custo e dispensarem uso de equipamento especial21,25.

    A realizao adequada de tarefas do cotidiano demanda participao de

    funes motoras, sensitivas, cognitivas e psicolgicas, assim, para avali-las

    no idoso, bem como analisar a interferncia causada por diferentes doenas

    sobre sua independncia funcional, deve-se realizar pesquisa clnica, testes

    fsicos e aplicao de escalas, cujo conjunto denomina-se avaliao funcional.

    Itens como avaliao do equilbrio, mobilidade, marcha, funo cognitiva,

    capacidade de realizar atividades de vida diria (AVD), como andar, comer,

    vestir, ir ao toalete, e ter continncia urinria e fecal devem ser avaliados de

    maneira clara e objetiva21,25.

    A avaliao da marcha est relacionada com o equilbrio corporal, visto

    que essa gera instabilidade do controle postural e cria um desafio adaptativo

    aos sistemas, tornando-se necessrias informaes contnuas sobre posio e

    movimento das diferentes partes do corpo durante a locomoo. O controle da

    posio do corpo no espao, como forma de promover estabilidade e

    orientao, denominado de controle postural. A estabilidade postural obtida

    por meio do repouso (equilbrio esttico), do movimento estvel (equilbrio

    dinmico) ou pela recuperao do equilbrio perdido durante determinada

  • 12

    atividade. fundamental para a manuteno do equilbrio que o centro de

    massa corporal esteja projetado dentro dos limites da base de apoio, com

    integrao das informaes sensoriais com os sistemas

    neuromusculares41,36,37,51.

    Estudos mostraram que as principais queixas dos pacientes portadores

    de HPN e de seus cuidadores so em relao marcha. Deste modo, pode ser

    dada maior importncia para a caracterizao da marcha ao utilizar escalas de

    avaliao52. Todavia, para a avaliao completa de um paciente com HPN, os

    trs componentes da trade clnica devem ser considerados e, para este fim,

    podem-se utilizar associaes de escalas que analisem os sintomas

    individualmente46.

    3.2.1 Medida de independncia funcional

    A Medida de Independncia Funcional (MIF) foi desenvolvida pela

    Academia Americana de Medicina Fsica e Reabilitao e pelo Congresso

    Americano de Medicina de Reabilitao na dcada de 1980, com intuito de

    mensurar o nvel de ajuda que o portador de deficincia necessita para realizar

    tarefas motoras, como autocuidado, locomoo, vesturio, alm de tarefas

    cognitivas. Foi traduzida e adaptada para a Lngua Portuguesa em 2001, sendo

    vlida, com boa equivalncia cultural e reprodutividade53,54.

    Composta por dezoito itens classificados em seis dimenses e duas

    subdivises: motora e cognitiva. A MIF motora compreende autocuidados

    (alimentao, higiene pessoal, banho, vestir metade superior e inferior do

    corpo, uso do vaso sanitrio), controle esfincteriano (continncia urinria e

    fecal), mobilidade (vaso sanitrio, banheira ou chuveiro), locomoo (andar e

    escadas). A MIF cognitiva abrange comunicao (compreenso e expresso) e

    cognio (interao social, resoluo de problemas e memria)55 (Figura 1).

    Cada item pontuado at o nvel sete, sendo um ponto para dependncia

    total e sete independncia total (Anexo A). A pontuao total da escala varia de

    dezoito a cento e vinte e seis, e, quanto menor, indica alta dependncia.

    Independente do diagnstico, esta escala avalia como o individuo est

  • 13

    executando as atividades e no como executava em outras circunstncias ou

    ambiente53.

    Sua aplicao no se faz por meio de autoaplicao, apresenta alta

    confiabilidade, desde que aplicado por terapeuta devidamente treinado e

    qualificado para utilizao, com entrevista realizada pessoalmente com

    durao mdia de vinte a trinta minutos. Frequentemente, necessria a

    presena do familiar ou cuidador para obteno do perfil completo do paciente

    durante atividades de vida diria56.

    Na literatura, diversos trabalhos utilizam a MIF para avaliao de

    pacientes com dficit cognitivo. Talmelli et al. (2010) investigaram a

    independncia funcional dos idosos com doena de Alzheimer, por meio das

    escalas MIF e Miniexame do estado mental. Entre seus achados, evidenciaram

    que os dficits cognitivos influenciam no desempenho na realizao das

    atividades da vida cotidiana, com uma mdia de pontuao de 107,7 para

    idosos sem dficit e 63,2 para os que o apresentavam55.

    Figura 1 - Dimenses e pontuaes da MIF.

  • 14

    3.2.2 Escala de equilbrio de Berg

    Criada em 1992, considerada escala de equilbrio simples, fcil

    aplicao e largamente utilizada em pesquisa clnica, principalmente em idosos

    acima de 60 anos. Foi traduzida e adaptada para o Portugus em 2004 (Anexo

    B), demonstrando ser vlida e confivel57.

    Utilizada para determinar fatores de risco para perda, independncia e

    quedas, descreve o equilbrio funcional necessrio para atividades de vida

    diria, como marcha, levantar de uma cadeira e movimentar os membros

    superiores enquanto mantm-se na postura em ortostatismo. Igualmente,

    acompanha evoluo das intervenes clnicas58.

    Compreende quatorze domnios comuns vida diria, cada item

    pontuado de zero a quatro, com pontuao mnima e mxima variando entre

    zero e cinquenta e seis. O tempo verificado a fim de manter determinada

    posio, alcance anterior dos membros superiores e o tempo total para

    completar uma tarefa57.

    Para aplicao da escala, so necessrios um relgio, uma rgua, um

    banquinho e uma cadeira, e o tempo de execuo de, aproximadamente, 30

    minutos, ainda pode ser realizada com pacientes vestidos, descalos e fazendo

    uso de culos e/ou prteses auditivas de uso habitual57.

    3.2.3 ndice de marcha dinmica

    Avalia a marcha dinmica. Esta escala foi desenvolvida para identificar a

    probabilidade de queda em idosos. O teste constitudo das seguintes tarefas

    funcionais: caminhar em superfcie plana; caminhar com mudanas na

    velocidade da marcha; caminhar com movimentos horizontais e verticais da

    cabea; passar sobre e contornar obstculos; girar sobre o prprio eixo

    corporal e subir/descer escadas59. Sugere-se, para realizao da avaliao,

    demarcar o solo com fita adesiva no ponto de partida at atingir a marca de

    seis metros, e, nas distncias de 1,80 metros e 3,60 metros, posicionar os

    cones60.

  • 15

    Apresenta vinte e quatro pontos de escore mximo, sendo que cada item

    recebe de zero a trs pontos, sendo que o zero corresponde ao menor nvel e

    o trs o nvel mais elevado da funo (Anexo C). A interpretao dos

    resultados indica que um valor menor ou igual a dezenove pontos preditivo

    de quedas em idosos e que o indivduo apresenta marcha segura apenas para

    valores superiores a vinte e dois pontos61.

    3.2.4 Timed Up and Go

    O teste Get Up and Go desenvolvido por Mathias et al. (1986) avalia, de

    forma padronizada, rpida e prtica, a mobilidade. O teste consiste em levantar

    de uma cadeira, caminhar trs metros e retornar posio inicial. Entretanto,

    h divergncias entre observadores com relao pontuao, pois essa era

    baseada apenas na percepo individual para classific-los de acordo com

    desempenho na atividade proposta. Na dcada de 1990, foi desenvolvida

    verso modificada denominada Timed Up & Go (TUG), na qual a avaliao da

    mobilidade teve como premissa os mesmos procedimentos acrescidos de uma

    marcao de tempo por um cronmetro. Muitos estudos evidenciam boa

    correlao do TUG com outras escalas, como escala de equilbrio de Berg (r =

    -0.81) e escala Barthel (r= -0.78)62.

    As pontuaes baseavam-se de acordo com tempo utilizado para realizar

    a tarefa, valores at dez segundos foram considerados dentro da normalidade

    para adultos independentes e sem risco de queda; sendo que, em idosos na

    mesma condio, so aceitveis valores de at doze segundos. Valores entre

    onze a vinte segundos foram classificados como idoso frgil, independente

    parcial para atividades de vida diria ou com baixo risco de quedas. So

    classificados idosos com dficit de mobilidade e com risco de queda63 os idosos

    que obtm pontuao entre vinte e um trinta segundos; acima de trinta

    segundos, idoso com alta restrio de mobilidade62.

    Esta escala amplamente utilizada nas avaliaes de mobilidade e de

    performance motora em idosos. Bischoff et al. (2003) investigaram a influncia

    do ambiente sobre estes ao comparar a performance na realizao do teste

  • 16

    nos indivduos que viviam na comunidade com os institucionalizados, o estudo

    demonstrou diferena na mobilidade (54% de variao, com os idosos da

    comunidade apresentando maior mobilidade funcional)63.

    Feick et al. (2008) utilizaram o TUG, MIF, entre outras escalas para

    determinar as mudanas funcionais dos pacientes com HPN antes e aps a

    puno lombar, com a terapia ocupacional e fisioterapia, e concluram que a

    avaliao realizada foi sensvel s mudanas aps retirada do lquido

    cefalorraquidiano25.

    3.2.5 Escalas de graduao do paciente com HPN

    A primeira escala apresentada na literatura na Lngua Inglesa foi a

    Grading Scale for Idiopathic Normal Pressure Hydrocephalus (Anexo D)

    desenvolvida no Japo. Sua vantagem prtica a facilidade e a rapidez de

    aplicao, alm de avaliar a trade clnica da HPN. Cada elemento (marcha,

    demncia e incontinncia urinria) classificado em cinco pontos, que variam

    de zero a quatro, com pontuao mxima de doze e mnima de zero, sendo

    que, quanto maior o resultado, maior o grau de comprometimento do

    paciente23.

    Foi desenvolvida a partir de um estudo cooperativo entre 1996 e 1999

    para determinar os critrios mais preditivos de diagnstico para pacientes com

    HPN e que poderiam se beneficiar de procedimento cirrgico. Para isso,

    questionrios sobre essa doena foram enviados para quatorze membros do

    Comit de Pesquisa Cientfica em Hidrocefalia, patrocinado pelo Ministrio da

    Sade e Bem-Estar do Japo. Posteriormente, uma anlise retrospectiva das

    respostas foi realizada, em que inclua vrios nveis de alterao de marcha,

    demncia e incontinncia urinria, sendo aplicada em cento e vinte pacientes23.

    Outras escalas foram apresentadas na literatura, porm mantendo os

    princpios bsicos da Grading Scale for Idiopathic Normal Pressure

    Hydrocephalus. Kubo et al. (2008) desenvolveram a Escala de Classificao

    de Hidrocefalia de Presso Normal Idioptica para classificar a trade

    sintomtica dos pacientes em diferentes gravidades. A pontuao foi baseada

  • 17

    na observao dos terapeutas e entrevista com pacientes e seus cuidadores,

    cada domnio foi pontuado de zero a quatro, sendo que uma pontuao alta

    indica maior comprometimento.

    O objetivo do estudo Kubo et al. (2008) foi avaliar a confiabilidade e

    validade da escala em trinta e oito pacientes com HPN idioptica. Para isso, foi

    comparada com Miniexame do Estado Mental (MMSE), o Timed up and Go,

    escala de marcha e questionrio internacional de incontinncia (ICIQ-SF).

    Ainda para avaliar as mudanas da severidade da doena, foram aplicados,

    antes e aps, os procedimentos coleta do lquido cefalorraquidiano e cirurgia. A

    confiabilidade interexaminadores da escala foi alta. O domnio cognitivo

    apresentou correlao estatisticamente significante com os escores do teste

    cognitivo, equivalente para os domnios marcha e incontinncia urinria com os

    outros testes. Os pacientes que obtiveram melhora aps coleta do lquor na

    escala de HPN tambm melhoraram nas demais escalas. Quatorze, dos trinta e

    oito pacientes, realizaram cirurgia quando houve associao significantes com

    as alteraes cognitivas e da incontinncia aps retirada do lquor64.

    Ishikawa et al. (2012) realizaram um estudo com cem pacientes de HPN

    com objetivo de determinar preditores de melhora clnica com indicao

    cirrgica. Para isso, associou a aplicao do Minimental, Timed up and go,

    Rankin e a Escala de Classificao de Hidrocefalia de Presso Normal

    Idioptica, antes e aps a retirada de trinta ml do lquido cefalorraquidiano por

    puno lombar, e antes, aps trs, seis e um ano de derivao ventrculo-

    peritonial. Os achados deste estudo apresentaram uma resposta positiva,

    sendo que as melhores pontuaes nas escalas estavam associadas

    presso de abertura do lquido cefalorraquidiano durante puno lombar maior

    ou igual a quinze cm H2065.

    Ainda Hellstrom et al. (2012) apresentaram a escala de HPN que

    classifica a gravidade da doena e analisa os resultados do tratamento,

    desenvolvida por meio da avaliao de quatro domnios: marcha, equilbrio,

    fatores neuropsicolgicos e continncia.

    A marcha foi avaliada por meio de medies do nmero de passos e o

    tempo necessrio para caminhar dez metros, o equilbrio foi analisado por meio

    da observao do esforo do paciente em manter-se ereto de forma unipodal e

  • 18

    bipodal. Para os fatores neuropsicolgicos, foram utilizados testes como o

    Grooved pegboard. Foi verificada continncia pela percepo do paciente ou

    fonte mais confivel possvel, visto que os pacientes com percepo reduzida

    podem neg-la, mesmo sendo incontinentes. Para este domnio, foi aplicada

    uma classificao ordinal, sendo que um foi considerado normal; dois,

    urgncia, sem incontinncia; trs, rara incontinncia, sem necessidade de

    absorventes/fralda; quatro, incontinncia frequente, com absorvente/fralda;

    cinco, incontinncia urinria; e seis, incontinncia urinria e fecal66.

  • 4 MTODOS

  • 20

    4 MTODOS

    4.1 Traduo e adaptao cultural

    A escala Grading Scale for Idiopathic Normal Pressure Hydrocephalus"

    (Anexo D) foi traduzida para Lngua Portuguesa de forma padronizada para

    garantir a qualidade e fidedignidade da verso original, de acordo com a

    metodologia de Guillemin et al. (1993)67, de acordo com Figura 2. A traduo

    para a Lngua Portuguesa foi realizada separadamente por dois mdicos

    brasileiros neurologistas bilngues, experientes em validao de instrumentos,

    sendo que as duas tradues finais foram comparadas pelos tradutores,

    corrigindo as inconsistncias, constituindo-se uma traduo consensual.

    Posteriormente, foi realizada a retrotraduo para Lngua Inglesa por dois

    outros mdicos neurologistas bilngues, distintos dos anteriores e que

    desconheciam a escala original, com a finalidade de verificar se a traduo

    para a Lngua Inglesa a partir da verso em Portugus resulta de um texto

    muito diferente da verso original em Ingls. Na ausncia de diferena

    significativa, pode-se afirmar que a verso final traduzida foi equivalente

    verso original.

    Com relao comparao das verses, esta foi realizada por um comit

    multiprofissional, composto por mdicos e fisioterapeutas do ambulatrio no

    envolvidos no processo de traduo, definindo que a verso final em Portugus

    da escala fosse intitulada Escala de Graduao do Paciente com Hidrocefalia

    de Presso Normal (Anexo E).

    As funes do comit foram revisar, modificar ou eliminar itens

    inadequados ou ambguos, realizar adaptao cultural, enquanto assegura o

    conceito geral dos itens excludos, visando garantir total compreenso da

    traduo.

    Desta forma, seguiu-se a ltima fase de reviso para a Lngua Portuguesa

    por uma profissional tradutora da rea da sade, a qual desconhecia a escala

    original e leiga quanto patologia de Hidrocefalia de Presso Normal. A

  • 21

    finalidade desta etapa foi detectar qualquer inadequao da verso final com

    adaptao cultural, sendo solicitada uma avaliao de equivalncia de cada

    item entre verso original e final. Assim, os itens com baixo nvel de

    equivalncia poderiam ser novamente revisados pela comisso

    multiprofissional. O resultado foi pr-testado em um estudo-piloto.

    A traduo foi realizada no Ambulatrio do Grupo de Hidrodinmica

    Cerebral da Diviso de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do

    Hospital das Clnicas em 2008, e, desde ento, tem sido sistematicamente

    utilizada neste ambulatrio em todos os pacientes com HPN para facilitar

    graduao dos diferentes quadros apresentados e acompanhamento da

    evoluo da doena ao longo do tempo. Entretanto, no havia um protocolo

    para validao dessa verso para Lngua Portuguesa a fim de verificar sua

    confiabilidade.

    Figura 2 - Sequncia da traduo da escala.

    Traduo para a Lngua Portuguesa por dois mdicos bilngues

    Retrotraduo para a Lngua Inglesa por dois

    mdicos que desconheciam escala

    original Reviso por comit multiprofissional

    Reviso por tradutora

    leiga

    Verso final

  • 22

    4.2 Validao da escala

    Os pacientes foram individualmente submetidos avaliao em dois

    momentos diferentes, com intervalo de uma semana. Os dados foram

    coletados por uma fisioterapeuta (A) e, posteriormente, outra fisioterapeuta (B)

    pontuou, sequencialmente, o mesmo paciente. Deste modo, foi possvel

    confrontar os resultados e evitar erro interobservador (Tabela 1).

    No primeiro dia, foi coletado o protocolo inicial, contendo dados pessoais

    e aplicao das escalas MIF, BERG, DGI, TUG e escala de graduao da HPN

    pela fisioterapeuta (A) para que estes resultados pudessem ser comparados de

    modo a testar a confiabilidade do novo instrumento.

    Tabela 1 - Categorias e escores da escala de graduao do paciente com HPN, coletados durante as avaliaes.

    CATEGORIAS ESCORES

    0 1 2 3 4

    Distrbio de marcha

    Demncia

    Incontinncia urinria

    No mesmo dia, a segunda fisioterapeuta (B) aplicou a escala de

    graduao da HPN a fim de verificar a reprodutividade interobservadores. Aps

    uma semana, o paciente foi submetido nova avaliao da escala de

    graduao da HPN pela fisioterapeuta inicial (A) a fim de verificar a

    reprodutividade intraobservador (teste/reteste), desde que no houvesse

    significativa diferena do quadro clnico, Figura 3.

    O presente estudo foi aprovado pela Comisso de tica para Anlise de

    Projetos de Pesquisa (CAPpesq) do Hospital das Clnicas da Faculdade de

    Medicina da Universidade de So Paulo (HCFMUSP) (Anexo F) e, teve como

    critrio no intervir na rotina hospitalar, sem realizar intervenes teraputicas,

    somente aplicao das escalas e dos testes fsicos, por meio de uma

    sequncia de avaliao:

  • 23

    Figura 3 - Sequncia da avaliao funcional.

    4.2.1 Medida de Independncia Funcional - MIF

    Escala selecionada, pois, no meio clnico, considerada completa, devido

    a englobar tanto o componente motor quanto o cognitivo, possui ampla

    aceitao na literatura nacional e internacional, bem como relevante ser

    validada em diferentes pases53.

    Atende a critrios de confiabilidade, validade, preciso, praticidade e

    facilidade68.

    composta por dezoito itens relacionados a autocuidados, controle

    esfincteriano, mobilidade, locomoo, comunicao e cognio. A pontuao

    final deve variar de dezoito a cento e vinte e seis; e, quanto menor, indica

    maior dependncia (Tabela 2), independente do diagnstico, esta escala

    avalia como o indivduo est executando as atividades atualmente e no como

    executava em outras circunstncias ou ambiente. um instrumento confivel

    desde aplicado por terapeuta devidamente qualificado para utiliz-lo53,54.

    Escala de graduao da HPN

    Fisioterapeuta A

    Fisioterapeuta B

    Escala de Graduao

    da HPN

    Aps 1 semana

    MIF, BERG, DGI, TUG

  • 24

    Tabela 2 - Categorias e escores da escala medida de independncia funcional, coletados durante as avaliaes.

    MIF MOTORA

    CATEGORIAS ESCORES

    1 2 3 4 5 6 7

    AUTOS CUIDADOS

    Alimentao

    Higiene Pessoal

    Banho: limpeza do corpo

    Vestir metade superior do corpo

    Vestir metade inferior do corpo

    Uso do vaso sanitrio

    CONTROLE ESFINCTERIANO

    Controle da urina

    Controle das fezes

    MOBILIDADE

    Vaso sanitrio

    Banheira ou chuveiro

    LOCOMOO

    Andar

    Escadas

    MIF COGNITIVA

    Compreenso

    Expresso

    Interao Social

    Resoluo de problemas

    Memria

    4.2.2 Teste de Equilbrio de Berg (Berg)

    Este teste avalia o equilbrio em diferentes tarefas funcionais, constitudo

    por uma escala de quatorze tarefas comuns que envolvem o equilbrio esttico

    e dinmico, tais como alcanar, girar, transferir-se, permanecer em p e

    levantar-se. A realizao das tarefas avaliada por meio da observao e a

    pontuao varia de zero a quatro, totalizando um mximo de cinquenta e seis

  • 25

    pontos (Tabela 3). Estudos demonstraram forte correlao com outros testes

    de mobilidade, como Timed Up and Go57-70.

    Tabela 3 - Categorias e escores do teste de equilbrio de Berg, coletados durante as avaliaes.

    CATEGORIAS ESCORES

    0 1 2 3 4

    Posio sentada para posio em p

    Permanecer em p sem apoio

    Permanecer sentado sem apoio nas costas

    Posio em p para posio sentada

    Transferncias: cadeira-cadeira

    Permanecer em p com os olhos fechados

    Permanecer em p sem apoio, ps juntos

    Alcance anterior

    Virar-se e olhar para trs, sobre os ombros

    Girar 3600

    Posicionar ps alternados no degrau

    Permanecer em p, sem apoio, um dos ps frente

    Permanecer em p sobre uma das pernas

    4.2.3 ndice de marcha dinmica

    Avalia a capacidade do paciente de modificar a marcha em resposta s

    mudanas nas demandas de determinadas tarefas funcionais. dividido em

    oito itens: marcha em superfcie plana, mudanas de velocidade, movimentos

    horizontais e verticais de cabea, passar sobre e ao redor de obstculos, giro

    sobre prprio eixo corporal, subir e descer escadas.

    A pontuao dada pelo nvel de disfuno, com pontuao mxima de

    vinte e quatro para pacientes independentes funcionalmente e mnima de zero

    para comprometimento grave e incapaz de realizar as atividades propostas

    (Tabela 4). Pode ser utilizado como preditor de quedas, quando a pontuao

  • 26

    igual ou inferior 19, e considerada marcha segura para pontuaes acima de

    2260,61.

    Tabela 4 - Categorias e escores do teste ndice de marcha dinmica, coletados durante as avaliaes.

    CATEGORIAS ESCORES

    0 1 2 3

    Marcha em superfcie plana

    Mudana de velocidade

    Movimentos horizontais da cabea

    Movimentos verticais da cabea

    Passar sobre obstculo

    Passar ao redor de obstculo

    Girar 3600

    Subir e descer escada

    4.2.4 Timed Up and Go (TUG)

    Segundo Loth et al. (2004), o teste denominado Timed Up and Go

    (TUG) representa um instrumento de avaliao rpida da mobilidade funcional

    em pessoas idosas71. O paciente inicia o teste sentado em uma cadeira padro

    de 46 centmetros, com encosto e apoio para brao. Ao comando verbal v,

    deveria levantar da cadeira, caminhar de forma confortvel e segura em linha

    reta por trs metros, dar meia-volta, retornar e sentar na posio inicial. O

    paciente no deve receber auxlio fsico do terapeuta e faz uso do tempo como

    unidade de medida do resultado (Tabela 5) 62.

    Tabela 5 - Categorias e escores do TUG.

    CATEGORIAS ESCORES

    10 segundos Normal

    11 20 segundos Idoso frgil

    21 30 segundos Idoso com dficit de mobilidade

    Acima de 30 segundos Idoso com alta restrio de mobilidade

  • 27

    4.3 Tipo de estudo

    O delineamento metodolgico proposto caracterizou-se por uma pesquisa

    de validao de escala por meio da comparao e utilizao com outras

    escalas.

    Foi realizado com pacientes com HPN (idioptica ou secundria)

    provenientes do Ambulatrio de Hidrodinmica Cerebral da Diviso de

    Neurocirurgia Funcional FMUSP, no perodo de julho de 2010 a maro de

    2012.

    Todos pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido (TCLE) (Anexo G) e atenderam s especificaes dos critrios de

    incluso e excluso.

    4.4 Casustica

    Foram estudados pacientes com diagnstico mdico de HPN, de ambos

    os gneros, com idade acima de dezoito anos. Os pacientes foram recrutados

    por meio de uma amostra consecutiva de convenincia, de acordo com os

    critrios de incluso e excluso.

    4.5 Critrios de incluso e excluso

    Foram includos pacientes com diagnstico de HPN idioptica ou

    secundria, acima de dezoito anos, ambos os gneros que consentiram sua

    participao por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    Foram excludos do estudo pacientes com alterao do nvel de

    conscincia (menos que quatorze pontos na Escala de Coma de Glasgow);

    portadores doenas sistmicas clinicamente descompensadas que interferiram

    na coleta da avaliao funcional.

  • 5 RESULTADOS

  • 29

    5 RESULTADOS

    5.1 Traduo e adaptao cultural

    Aps o mtodo de traduo, obteve-se a verso para Lngua Portuguesa

    da escala Grading Scale for Idiopathic Normal Pressure Hydrocephalus",

    Tabela 6.

    Tabela 6 - Escala de graduao de HPN.

    ITENS

    Distrbio de Marcha

    0 Ausente

    1 Marcha instvel, mas independente

    2 Anda com 1 apoio

    3 Anda com 2 apoios ou andador

    4 No possvel andar

    Demncia

    0 Ausente

    1 Sem demncia aparente, mas aptico

    2 Socialmente dependente, mas independente na residncia

    3 Parcialmente dependente na residncia

    4 Totalmente dependente

    Incontinncia Urinaria

    0 Ausente

    1 Ausente, mas com polaciria ou urgncia miccional

    2 s vezes, apenas noite

    3 s vezes, mesmo durante o dia

    4 Frequente

    Para verificar validao da nova verso, seguiu-se aplicao sistemtica

    do protocolo nos pacientes do Ambulatrio de Hidrodinmica.

  • 30

    As caractersticas gerais desses pacientes encontram-se na Tabela 7.

    Tabela 7 - Caractersticas dos 121 pacientes segundo faixa etria e gnero, que foram avaliados no Ambulatrio do Grupo de Hidrodinmica Cerebral do IPQ-HCFMUSP, no perodo de junho de 2010 a fevereiro de 2012.

    Categoria Frequncia % Desvio-padro

    Gnero

    Masculino

    Feminino

    73

    48

    60,33

    39,67

    Faixa etria (anos)

    Abaixo 60

    61 a 70

    71 a 80

    Acima 81

    17

    33

    46

    25

    14,05

    27,27

    38,01

    20,67

    9,1

    2,9

    2,8

    2,8

    A Tabela 7 mostra maior frequncia dos pacientes do gnero masculino.

    A variao geral da idade foi entre 35 e 92 anos, com maior concentrao de

    pacientes entre 71 e 80 anos. A idade mdia de 71,09 anos com dp = 2,8 anos.

    Quanto aos domnios, a Tabela 8 evidencia maior frequncia de

    comprometimento da marcha (96,69%).

    Tabela 8 - Frequncias absolutas e relativas das caractersticas relacionadas aos domnios da amostra.

    Domnio n %

    Marcha

    Demncia

    Incontinncia

    117

    104

    96

    96,69

    85,95

    79,33

    5.2 Confiabilidade e reprodutividade

    Para avaliao da confiabilidade e reprodutividade, a escala foi aplicada

    pelo mesmo avaliador com intervalo de uma semana (anlise intra-avaliador) e

    diferentes avaliadores no dia (anlise interavaliador).

    Os resultados foram analisados pela medida de concordncia Kappa.

  • 31

    O teste estatstico Kappa baseado no nmero de respostas

    concordantes, ou seja, no nmero de casos com mesmo resultado e determina

    o grau de concordncia alm do esperado pelo acaso. Para determinar se o

    resultado obtido satisfatrio, utiliza-se a interpretao demonstrada na Tabela

    9.

    Tabela 9 - Interpretao da concordncia segundo valores da medida de Kappa

    Valores de Kappa Interpretao da concordncia

    Abaixo 0 Ausente

    0 a 0.19 Pobre

    0.20 a 0.39 Baixa

    0.40 a 0.59 Moderada

    0.60 a 0.79 Satisfatria

    0.80 a 1.0 Excelente

    5.2.1 Concordncia intra-avaliador

    A concordncia intra-avaliador foi, inicialmente, aplicada para o item

    marcha ao confrontar como categoria a pontuao de zero a quatro, como

    demonstra a Tabela 10. Para concordncia excelente, foram obtidas as

    pontuaes quatro e um.

    Tabela 10 - Valores de Kappa para as diferentes pontuaes da escala.

    0 1 2 3 4

    Kappa por pontuao 0,698 0,824 0,729 0,696 0,95

    P-valor do Kappa da pontuao

  • 32

    O valor Kappa geral do item marcha obteve-se concordncia excelente

    (Tabela 11).

    Tabela 11 - Kappa geral do item marcha (intra-avaliador).

    Kappa geral 0,8

    P-valor geral < 0,001

    Intervalo de 95% de confiana do Kappa

    sup:0,899

    inf: 0,702

    Para anlise do item demncia, ao comparar como categoria a pontuao

    zero a quatro (Tabela 12), concordncia excelente para todas as pontuaes.

    Tabela 12 - Valores de Kappa para as diferentes pontuaes da escala.

    0 1 2 3 4

    Kappa por pontuao 0,928 0,875 0,834 0,895 0,979

    P-valor do Kappa da pontuao

  • 33

    Tabela 14 - Valores de Kappa para as diferentes pontuaes da escala.

    0 1 2 3 4

    Kappa por pontuao 0,864 0,74 0,733 0,895 0,967

    P-valor do Kappa da pontuao

  • 34

    Tabela 17 - Kappa geral do item marcha.

    Kappa geral 0,911

    P-valor geral < 0,001

    Intervalo de 95% de confiana do Kappa

    sup:1,0

    inf: 0,813

    Concordncia excelente para todas as pontuaes do item demncia na

    anlise interavaliador (Tabela 18).

    Tabela 18 - Valores de Kappa para as diferentes pontuaes.

    0 1 2 3 4

    Kappa por pontuao 0,833 0,823 0,868 0,825 0,938

    P-valor do Kappa da pontuao

  • 35

    Para o valor Kappa geral do item incontinncia urinria (interavaliador),

    obteve-se concordncia excelente, 0,87 (Tabela 21).

    Tabela 21 - Kappa geral do item incontinncia urinria.

    Kappa geral 0,871

    P-valor geral < 0,001

    Intervalo de 95% de confiana do Kappa

    sup:0,971

    inf: 0,771

    A anlise do mtodo foi bastante concordante tanto inter como intra-

    avaliador, classificando-o como vlido.

    5.3 Comparaes dos valores da escala de graduao HPN com demais escalas selecionadas

    A comparao da escala de graduao HPN com as demais escalas

    foram realizadas por meio do coeficiente de correlao de Pearson (c), teste

    ANOVA e comparaes mltiplas de Turkey.

    A correlao de Pearson determina o grau de associao entre duas

    variveis de mensurao numrica. A proximidade do valor um (positivo ou

    negativo) indica maior grau de associao entre as informaes, de acordo

    com a classificao (Tabela 22).

    Tabela 22 - Correlaes segundo valor de Pearson.

    Valor de Pearson Correlao

    | c | < 0,40 Fraca

    0,40 < | c | < 0,70 Moderada

    0,70 < | c | < 0,90 Boa

    | c | > 0,90 tima

    O teste de ANOVA (Anlise de Varincia) utilizado para comparar

    informaes numricas com intuito de identificar se, em mdias, os grupos so

    diferentes. J o teste de Tukey resulta em intervalos menores que qualquer

  • 36

    outro mtodo de comparao mltipla de uma etapa. A estratgia de Tukey

    consiste em definir a menor diferena significativa.

    5.3.1 Comparao dos valores HPN com a independncia funcional (MIF)

    Foram utilizados para comparao entre os valores da escala HPN e a

    escala MIF total a correlao de Pearson (Tabela 23) e o teste de Anlise de

    Varincia (ANOVA), demonstrada na Tabela 24. Para resultado significante,

    utilizaram, posteriormente, comparaes mltiplas de Tukey (Tabela 25).

    Tabela 23 - Comparao dos valores totais das escalas HPN e MIF, por meio da Correlao de Pearson.

    HPN - Total 1

    MIF Total

    Correlao de Pearson -,842(**)

    Sig.(p) 0

    N 121

    **Correlao significante a 0,01.

    A correlao pode ser considerada satisfatria.

    Tabela 24- ANOVA, com tabela de mdias e desvios-padro.

    MIF

  • 37

    Tabela 25- Comparaes mltiplas de Tukey.

    Comparaes (p) Resultado

    (

  • 38

    Tabela 26 - Comparao dos valores das escalas HPN e BERG, por meio da correlao de Pearson.

    HPN - Total 1

    BERG(0-56)

    Correlao de Pearson -,803(**)

    Sig.(p) 0

    N 121

    **Correlao significante a 0,01.

    A correlao pode ser considerada satisfatria.

    Tabela 27 - ANOVA, com tabela de mdias e desvios-padro.

    BERG

  • 39

    Grfico 2 - Demonstra pontuaes da BERG, segundo HPN.

    Intervalo de confiana para a mdia: mdia 1,96 * desvio-padro / (n-1)

    5.3.3 Comparao dos valores HPN com a marcha dinmica (DGI)

    Quanto comparao entre os valores de HPN e a escala DGI, apresenta

    a correlao de Pearson (Tabela 29) e teste t-independente (student),

    demonstrada na Tabela 30.

    Tabela 29 - Comparao dos valores das escalas HPN e DGI, por meio da Correlao de Pearson.

    HPN - Total 1

    DGI(0-24)

    Correlao de Pearson -,694(**)

    Sig.(p) 0

    N 121

    **Correlao significante a 0,01.

  • 40

    Tabela 30 - Teste t-independente, com tabela de mdias e desvios-padro.

    DGI

  • 41

    Tabela 31 - Comparao dos valores da escala HPN e TUG, por meio da Correlao de Pearson

    HPN - Total 1a

    TUG_cat Correlao de Pearson 0,557(**)

    Sig.(p) 0

    N 121

    **Correlao significante a 0,01.

    A correlao satisfatria.

    Tabela 32 - ANOVA, com tabela de mdias e desvios-padro.

    TUG

    at 12 13 a 19 20 a 29 30+ Total

    Mdia 3,14 4,82 6,06 8,32 66,95

    desvio-padro 2,107 2,281 2,772 3,183 27,468

    N 14 22 17 68 211

    ANOVA (p)=

  • 42

    Grfico 4 - Demonstra valores do TUG, segundo HPN.

    Intervalo de confiana para a mdia: mdia 1,96 * desvio-padro / (n-1)

    5.4 Correlaes entre escalas sobre item incontinncia urinria

    A anlise da comparao dos valores do item G da MIF com o item

    incontinncia urinria da HPN foi realizada por meio da correlao de Pearson

    (Tabela 34).

    Tabela 34 - Comparao apenas dos valores dos itens relacionados continncia das escalas HPN e MIF, por meio da Correlao de Pearson.

    Inc Urinria1

    G Correlao de Pearson -,884(**)

    Sig.(p) 0

    N 121

    A correlao satisfatria.

  • 43

    Tabela 35 - Comparao descritiva segundo os valores dos itens de continncia das escalas HPN e MIF.

    Inc Urinaria1

    Total 0 1 2 3 4

    G

    1 0 0 1 2 39 42

    2 0 1 5 2 15 23

    3 0 1 0 5 1 7

    4 1 2 1 1 1 6

    5 1 4 2 7 0 14

    6 4 6 0 0 0 10

    7 17 2 0 0 0 19

    Total 23 16 9 17 56 121

    Note que maiores valores do item G da MIF correspondem a valores

    mais baixos em incontinncia urinria da HPN e vice-versa (Tabela 35).

    5.5 Correlaes entre escalas sobre item cognio

    Foi utilizada para determinar a comparao dos valores apenas da MIF

    cognitiva (N, O, P, Q, R) com o item demncia da HPN para a correlao de

    Pearson (Tabela 36).

    Tabela 36 - Comparao apenas dos valores dos itens relacionados cognio da MIF com item demncia da HPN, por meio da Correlao de Pearson.

    Dem1

    NOPQR

    Correlao de Pearson

    -,741(**)

    Sig.(p) 0

    N 121

    **Correlao significante a 0,01.

    A correlao considerada boa.

  • 44

    Tabela 37 - Comparao descritiva segundo os valores dos itens relacionados cognio da HPN e MIF.

    Dem1

    Total 0 1 2 3 4

    NOPQR

    5 0 0 0 0 7 7

    6 0 0 0 2 4 6

    7 0 0 2 1 1 4

    8 0 0 0 1 2 3

    10 0 0 0 0 3 3

    11 0 0 0 0 1 1

    12 0 0 0 0 4 4

    13 0 0 0 0 2 2

    14 0 0 0 0 1 1

    15 0 0 0 0 1 1

    16 0 1 0 2 1 4

    18 0 1 1 0 0 2

    19 0 0 2 0 0 2

    20 0 2 1 0 0 3

    21 0 1 2 0 2 5

    22 0 0 1 0 1 2

    23 0 1 0 3 0 4

    24 0 2 2 1 1 6

    25 0 1 0 2 0 3

    26 0 0 1 1 2 4

    27 0 2 0 0 0 2

    28 1 4 1 0 0 6

    29 2 2 5 1 0 10

    30 0 3 1 0 0 4

    31 2 4 0 1 0 7

    32 1 1 2 0 0 4

    33 3 4 0 1 0 8

    34 3 1 3 1 0 8

    35 4 1 0 0 0 5

    Total 16 31 24 17 33 121

    Encontraram-se valores altos na MIF cognitiva que so correspondentes

    aos valores mais baixos em demncia da HPN e vice-versa, visto que as

    escalas so inversamente proporcionais (Tabela 37).

  • 45

    5.6 Correlaes entre escalas sobre item marcha

    A correlao de Pearson foi utilizada para verificar a comparao dos

    valores somados dos itens locomoo da MIF (L, M) com o item marcha da

    HPN (Tabela 38).

    Tabela 38 - Comparao apenas dos valores dos itens relacionados marcha da MIF com item marcha da HPN, por meio da Correlao de Pearson.

    Marcha1a

    LM

    Correlao de Pearson -,708(**)

    Sig.(p) 0

    N 121

    **Correlao significante a 0,01.

    A correlao satisfatria.

    Tabela 39 - Comparao descritiva segundo os valores dos itens relacionados marcha da HPN e MIF.

    Marcha1

    Total 0 1 2 3 4

    LM

    2 0 1 2 5 22 30

    3 0 0 2 1 0 3

    4 0 2 3 3 0 8

    5 0 2 1 0 0 3

    6 0 5 7 1 2 15

    7 0 2 1 2 0 5

    8 0 7 0 0 0 7

    9 1 6 0 0 0 7

    10 1 8 4 4 0 17

    11 0 4 5 1 0 10

    12 1 10 1 0 0 12

    13 1 2 0 0 0 3

    14 1 0 0 0 0 1

    Total 5 49 26 17 24 121

  • 46

    Os valores mais altos na soma dos itens locomoo da MIF

    correspondem a valores mais baixos do item marcha da HPN e vice-versa

    (Tabela 39).

  • 6 DISCUSSO

  • 48

    6 DISCUSSO

    H diversas maneiras para mensurar construtos clnicos e validao de

    instrumentos psicomtricos, que refletem a ausncia de concordncia no que

    se refere teoria das medidas nas cincias entre os pesquisadores. Somado a

    isso, a falta de instrumentos de avaliao direcionados aos pacientes com HPN

    traduzidos e validados para o Portugus tem restringido as pesquisas nesse

    campo at hoje no Brasil.

    Esta pesquisa teve como objetivo principal a validao para Lngua

    Portuguesa da Escala de graduao do paciente com Hidrocefalia de Presso

    Normal, construda a partir da traduo da Grading Scale for Idiopathic Normal

    Pressure Hydrocephalus".

    Seu construto foi elaborado visando quantificar o grau de

    comprometimento dos pacientes com HPN. A deciso pela validao dessa

    escala se deve ao fato de ser um instrumento que avalia, de forma simples e

    direcionada, o impacto do comprometimento na vida dessa populao.

    Aps a sua traduo, a escala foi aplicada em uma amostra composta por

    cento e vinte e um pacientes, com maior frequncia do gnero masculino, em

    concordncia com os achados de Mori23, que pesquisou cento e vinte

    pacientes, e predomnio de igual gnero.

    Com relao ao perfil dos pacientes, a mdia de idade mdia da

    populao pesquisada foi de 71, 1anos (dp = 2,8), variando de 35 e 92 anos,

    corroborando com os estudos de Ishikawa65, na qual a mdia de idade da

    populao foi de 75 anos.

    No tocante ao quadro clnico da HPN, de acordo com a literatura,

    trabalhos clssicos, como os de Hakim1, caracterizaram o quadro clnico por

    meio da trade, distrbio de marcha, incontinncia urinria e demncia. Vale

    salientar que a trade no ocorre em todos os casos, como demonstrada nesta

    pesquisa.

    Consoante com os achados, este estudo ratificou os dados da literatura

    com relao prevalncia de comprometimento ser na marcha, precedidos

  • 49

    pela demncia e incontinncia urinria. Neste estudo, a maioria dos pacientes

    apresentava distrbios motores (96,7%), seguidos de distrbios cognitivos

    (86,0%) e esfincterianos (79,3%).

    Quanto avaliao da confiabilidade e reprodutividade, ambas foram

    testadas por itens individualmente, pelo mtodo teste-reteste, analisados pela

    medida de concordncia Kappa.

    Alguns fatores devem ser levados em considerao para minimizar a

    eventual instabilidade do construto clnico, o tempo teste-reteste (sete dias),

    uma vez que o tempo no poderia ser curto, a fim de que os pacientes

    pudessem sofrer influncia pela recordao das respostas dadas inicialmente

    (respostas lembradas); tampouco ser longo, para que outras variveis no

    pudessem interferir no padro de respostas do sujeito em relao ao construto

    que estava sendo avaliado72,73.

    Na avaliao intra-avaliador, a concordncia foi de 0,80 para domnio

    marcha, 0,90 para demncia e 0,87 para incontinncia urinria, todos

    classificados como concordncia excelente. A mesma classificao foi

    encontrada para a avaliao interavaliador, na qual se obteve pontuao de

    0,91 para domnio marcha, 0,86 para demncia e 0,87 para incontinncia

    urinria, o que favorece o uso do instrumento em grande escala.

    Apesar de no ter existir um padro-ouro para avaliao da HPN, muitas

    escalas j desenvolvidas e utilizadas na literatura buscam avaliar a severidade

    da trade da HPN. Entretanto, o principal problema enfrentado a semelhana

    entre os itens dos domnios dessas, que, muitas vezes, dificulta a pontuao

    pelo entrevistador.

    Kubo (2008)64 desenvolveu a Escala de graduao da evoluo dos

    sintomas da HPN, posteriormente utilizada por Hashimoto (2010)74, embora

    existam crticas com relao aos itens do domnio cognitivo que tendem a

    pontuar de forma dbia amnsia, inateno e desorientao. Ainda no domnio

    marcha, h uma inconsistncia de classificao, pois a escala possui

    classificao diferente para o item desequilbrio, mas sem distino de distrbio

    objetivo de marcha; marcha instvel, entre outros.

    Tous et al. (2013)75 realizaram um estudo prospectivo por meio de

    escalas clnicas e achados radiolgicos para avaliar 40 pacientes com HPN,

  • 50

    tratados cirurgicamente. Os autores evidenciaram predominncia no sexo

    masculino (62%), mdia de idade 74,2 anos, comprometimento na trade

    acentuado para marcha (92,5%); seguido de 82,5% para cognitivo e 65,0%

    para esfincteriana, ratificando os dados deste estudo. As escalas selecionadas

    foram HPN crnica, Rankin e Pfeiffer. Os itens da escala de HPN envolviam, no

    domnio cognitivo, estado vegetativo; demncia grave; problema de memria e

    mudana de carter, problema de memria. Ainda no domnio marcha,

    pontuava-se o padro normal; marcha normal, contudo estvel, e instabilidade

    na marcha.

    Outra escala existente, denominada HPN modificada, foi utilizada no

    estudo de Owler et al. (2003)76 para classificao clnica dos pacientes,

    entretanto, esta escala avalia de forma subjetiva as atividades de vida diria e

    o domnio esfincteriano apenas como presente ou ausente para distrbio,

    assim, a escala validada por este estudo tende a ser mais completa e objetiva.

    A respeito da avaliao da nova escala de HPN, esta teve suas

    pontuaes comparadas com outras escalas validadas e consagradas na

    literatura, como a MIF, que tem sido utilizada desde valores totais de escores a

    fim de verificar independncia funcional, como com valores estratificados

    denominados dimenses cognitiva e motora77. Na comparao com o escore

    total da MIF, verificou-se alta concordncia dos achados, uma vez que os

    pacientes que apresentaram maior comprometimento na escala de HPN foram

    concomitantemente classificados com maiores comprometimentos na escala

    MIF, a comparao foi estatisticamente satisfatria (p = -0,842).

    Na comparao com escala de BERG, verificou-se que os pacientes que

    apresentaram maior comprometimento na escala de HPN tambm foram

    classificados com maiores comprometimentos na escala de equilbrio de

    BERG, sendo tambm verdadeira e melhores pontuaes em HPN, pontuaram

    de forma satisfatria na BERG, obtendo uma comparao estatisticamente

    satisfatria (p = -0,803).

    A comparao com escala de DGI verificou que os pacientes que

    apresentaram maior comprometimento na escala de HPN tambm foram

    classificados com maiores comprometimentos na escala DGI, sendo tambm

  • 51

    verdadeira e melhores pontuaes em HPN, pontuaram de forma satisfatria

    na DGI. A comparao foi considerada estatisticamente boa (p = -0, 694).

    Quanto comparao com a escala TUG, observou-se que os pacientes

    que apresentaram maior tempo na execuo do teste, ou seja, pior resultado

    na pontuao TUG, foram os mesmos classificados com maiores

    comprometimentos na escala HPN, sendo tambm verdadeiro que os

    pacientes com melhores pontuaes em HPN realizaram com menor tempo o

    teste (TUG) e maior mobilidade funcional (p = -0,557).

    Outro fator importante nesta validao foi a avaliao dos itens individuais

    da HPN, estes foram comparados com itens correspondentes da escala MIF,

    de maneira individualmente. Assim, obteve-se, de forma descritiva para o item

    incontinncia urinria, concordncia entre as escalas, pois os pacientes que

    apresentaram maior comprometimento na HPN foram classificados com

    maiores comprometimentos da MIF, com concordncia estatisticamente

    satisfatria (p = -0, 884).

    O item demncia da HPN foi comparado dimenso cognitiva da MIF,

    evidenciando uma concordncia estatisticamente boa (p = -0,741), porquanto

    os pacientes com maior comprometimento de HPN receberam maior pontuao

    e, por consequncia, maior comprometimento na dimenso cognitiva da MIF.

    Em relao ao item marcha da HPN, foi realizada a comparao com a

    locomoo da MIF, os pacientes que tiveram maior comprometimento na

    escala de HPN foram classificados com maiores comprometimentos na

    locomoo da MIF, sendo tambm verdadeiro que melhores pontuaes em

    HPN para este item pontuaram de forma satisfatria na MIF (p = -0, 708).

    Considera-se, assim, que este estudo um contributo relevante para a

    rea da sade, quer no contexto clnico, quer cientfico, ao disponibilizar um

    recurso para a avaliao especfica do paciente com Hidrocefalia de Presso

    Normal acerca da alterao do seu estado de sade, que pode ajudar a avaliar

    os benefcios na comparao dos resultados entre intervenes e/ou na

    identificao de diferenas clinicamente importantes na evoluo do quadro

    apresentado.

  • 7 CONCLUSO

  • 53

    7 CONCLUSO

    A verso Grading Scale for Idiopathic Normal Pressure Hydrocephalus

    foi traduzida e validada com sucesso para a Lngua Portuguesa, como Escala

    de Graduao do Paciente com Hidrocefalia de Presso Normal, de acordo

    com o resultado da anlise final de suas propriedades de medida.

    O presente estudo apresentou correlao estatisticamente significante da

    escala HPN traduzida com as escalas: Medida de independncia funcional

    (MIF), ndice de Marcha dinmica (DGI), teste de equilbrio de Berg (BERG) e

    Timed Up and Go (TUG); E satisfatria concordncia interavaliador e intra-

    avaliador na anlise da pontuao na verso traduzida.

    Sendo assim, pela sua simplicidade e brevidade, torna-se um instrumento

    prtico e disponvel para utilizao em pesquisas clnicas e em ensaios

    epidemiolgicos no Brasil.

  • 8 ANEXOS

  • 55

    8 ANEXOS

    ANEXO A: Medida de independncia funcional.

    MIF MOTORA

    AUTOS CUIDADOS

    Alimentao

    Higiene Pessoal

    Banho: limpeza do corpo

    Vestir metade superior do

    corpo

    Vestir metade inferior do

    corpo

    Uso do vaso sanitrio

    CONTROLE

    ESFINCTERIANO

    Controle da urina

    Controle das fezes

    MOBILIDADE Vaso sanitrio

    Banheira ou chuveiro

    LOCOMOO Andar

    Escadas

    MIF COGNITIVA

    COMUNICAO Compreenso

    Expresso

    COGNIO SOCIAL

    Interao Social

    Resoluo de problemas

    Memria

    ( ) Escore Total (Mximo = 126)

  • 56

    Pontuao:

    7- Independncia Completa: todas as ta re fas so rea l izadas de fo rma

    segura , dentro de um tempo razovel.

    6-Independncia modificada: capaz de realizar tarefas com recursos auxiliares,

    necessitando de tempo, porm realiza de forma segura e totalmente independente.

    5- Superviso: Necessita de superviso ou comandos verbais ou modelos para

    realizar a tarefa sem necessidade de ajuda somente o preparo da tarefa

    quando necessrio

    4-Assistncia mnima: mnima quant idade de as s i s tnci a , um s imples

    tocar , possibilitando a execuo da atividade (realiza 75% do esforo necessrio na

    tarefa).

    3- Assistncia moderada: moderada quan t idade de ass i s t nc i a , mais do

    que simplesmente tocar (realiza 50% do esforo necessrio na tarefa).

    2- Alta assistncia: utiliza menos que 50% do esforo necessrio para completar a

    tarefa, mas no necessita auxlio total.

    1- Assistncia total: necessria ou a tarefa no realizada. Utiliza-se menos que 25%

    do esforo necessrio para realizar tarefa.

  • 57

    ANEXO B: Escala de Equilbrio de Berg

    Posio sentada para posio em p ( 4 ) capaz de levantar-se sem utilizar as mos e estabilizar-se independentemente

    ( 3 ) capaz de levantar-se independentemente utilizando as mios

    ( 2 ) capaz de levantar-se utilizando as mos aps diversas tentativas

    ( 1 ) necessita de ajuda mnima para levantar-se ou estabilizar-se

    ( 0 ) necessita de ajuda moderada ou mxima para levantar-se

    2. Permanecer em p sem apoio ( 4 ) capaz de permanecer em p com segurana por 2 minutos

    ( 3 ) capaz de permanecer em p por 2 minutos com superviso

    ( 2 ) capaz de permanecer em p por 30 segundos sem apoio

    ( 1 ) necessita de vrias tentativas para permanecer em p por 30 segundos sem apoio

    ( 0 ) incapaz de permanecer em p por 30 segundos sem apoio. Se o paciente for capaz

    de permanecer