uso do software padlet no ensino-aprendizagem da língua...
TRANSCRIPT
1
Uso do software Padlet no ensino-aprendizagem da língua
inglesa: relato de uma experiência com alunos de uma
escola de idiomas*
Ana Osorio Coelho**
Resumo
O uso de tecnologias digitais pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem de uma
língua estrangeira uma vez que aproxima o conhecimento à realidade vivida pelo aluno. Este
artigo apresenta uma experiência com o software Padlet como um recurso tecnológico em sala
de aula numa escola de idiomas privada, com alunos entre 10-13 anos de nível pré-
intermediário de conhecimento. O objetivo foi verificar a percepção e interação dos alunos
quanto à introdução do Padlet como ferramenta auxiliar de produção textual, buscando
identificar de que forma esse recurso auxilia no reforço dos conteúdos. A pesquisa, de
natureza qualitativa, envolveu atividades de produção textual realizadas no Padlet com base
na Abordagem Comunicativa e Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador. Os
resultados da experimentação foram analisados com base na observação, acompanhamento
das atividades de produção textual e entrevista com os participantes. A análise se
fundamentou, também, na perspectiva sócio-interacionista de Vygotsky, a partir da ideia de
que a aquisição do conhecimento ocorre na interação do indivíduo com o meio. O
experimento forneceu indicativos de que o Padlet apresenta recursos que permitem a
realização de atividades pedagógicas de forma colaborativa e interessante para os alunos em
sintonia com a chamada Abordagem Comunicativa no ensino de língua estrangeira. A ajuda
mútua e a troca de conhecimento entre alunos, professora e pesquisadora no processo de
elaboração dos murais demonstraram a importância da interação entre os pares da
aprendizagem indicada no sócio-interacionismo.
Palavras-chave: Padlet, Tecnologias Digitais no Ensino de Língua Estrangeira, Sócio-
interacionismo, Computer Assisted Language Learning (CALL), Abordagem Comunicativa.
* Este artigo constitui-se no Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação lato sensu em Docência no
Século XXI: educação e tecnologias, cursada no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Fluminense, campus Campos Centro, nos anos de 2016/2017, desenvolvido sob a orientação da Profạ Dr
ạ Hélvia
Pereira Pinto Bastos. **
Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Pelotas/RS. E-mail:[email protected].
2
Use of software Padlet in teaching-learning processes:
report of an experiment with students of English in a
private language school
Abstract
The use of digital technologies can contribute to the teaching-learning process of a foreign
language in order to bring knowledge closer to the students’ reality. This article presents an
experiment using Padle as a technological resource with pre-intermediate students ages 10-13
in an English Language School. The purpose of the research was to verify the perception and
interaction of the students regarding the use of Padlet as an auxiliary tool of textual
production activities. The qualitative research involved textual production activities based on
the Communicative Approach of Language Learning. The results of the experiment were
based on observation, textual production, follow-up activities, and interviews with the
participants. Data analysis also considered notion given by Vygotsky's socio-interactionist
theory that the acquisition of knowledge occurs in the interaction of the individual with the
environment. The experiment provided indicators that Padlet offers resources that allows the
accomplishment of pedagogical activities in a collaborative and interesting way in line with
the Communicative Approach applied to foreign language teaching . Mutual help and
exchange of knowledge between the students, the teacher and the researcher in the process of
creating the online boards demonstrated interaction between the pairs as indicated by the
socio-interactionist theory.
Key words: Padlet, Digital Technologies in Foreign Language Teaching, Social
Interacionism, Computer Assisted Language Learning (CALL), Communicative Approach.
1 Introdução
O uso da tecnologia na educação tem estimulado pesquisas quanto à compreensão do
impacto e das mudanças pelas quais o processo de ensino-aprendizagem vem passando. A
relação entre ensino-aprendizagem e tecnologia pode levar o professor a refletir sobre seu
aluno, a compreender suas experiências em sala de aula e a desenvolver suas práticas
pedagógicas, pois como destaca Lopes (2014), o uso da tecnologia em sala de aula é uma
3
forma de promover o acesso ao conhecimento e estimular o aluno por pesquisa, leitura e
atividades interativas, colaborando assim, para o desenvolvimento do processo de
aprendizagem.
O uso de recursos tecnológicos em situações de aprendizagem é visto como
instrumento importante para que o professor promova e motive os alunos na busca pelo
conhecimento. Segundo Duqueviz (2017, p. 31), “como ferramenta educacional, o
computador tem a capacidade de aperfeiçoar e, possivelmente, mudar a qualidade do ensino,
vislumbrando uma mudança no paradigma da educação – do ensino para a aprendizagem”.
Sendo assim, no ambiente atual de ensino de língua estrangeira, percebe-se o quanto a
utilização de tecnologias digitais em sala de aula tem se tornado um fator potencializador da
aprendizagem. Isso se verifica em um estudo realizado em 2015 pelo Centro Regional de
Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade e da Informação (CETIC.br, 2015) em escolas
públicas e privadas no Brasil. O estudo identificou que 73% dos professores realizaram
atividades com o uso do computador e/ou internet com os alunos. Além disso, 50% dos
professores de escolas privadas e 23% dos professores de escolas públicas utilizaram a sala de
aula como um local de uso de internet para realizarem atividades com os alunos.
Percebe-se que a tecnologia e o ensino de língua estrangeira têm uma estreita ligação,
tendo em vista que os aparatos tecnológicos têm um papel inovador na forma como a língua é
ensinada e aprendida. Para Leffa (2006, p. 13), “o computador tem provocado muitos debates
e gerado inúmeros trabalhos na área do ensino de línguas”. Partindo desse contexto, este
trabalho levanta o seguinte questionamento: de que maneira a interação entre os alunos na
produção do mural interativo do Padlet pode influenciar neste processo de ensino-
aprendizagem da língua inglesa, especificamente no reforço de conteúdos?
Considerando o exposto, o estudo teve como objetivo identificar a percepção e
interação dos alunos em uma escola de idiomas quanto à introdução do Padlet em sala de aula
como ferramenta auxiliar no reforço da língua inglesa, através de uma atividade de produção
textual.
Tendo em vista alcançar o objetivo geral, alguns objetivos específicos foram
estabelecidos: i) acompanhar a criação e apresentação da produção textual realizada pelos
alunos; ii) descrever como os alunos trocam conhecimento e a forma como trabalham em
4
grupo durante o uso do Padlet; iii) identificar suas facilidades e dificuldades encontradas
durante o uso do software.
Este trabalho utilizou o Padlet1 como recurso tecnológico em sala de aula numa escola
de idiomas, para que se pudesse identificar de que forma ele auxilia como mediador no
reforço dos conteúdos. O Padlet é um software gratuito de fácil manuseio que tem como
propósito possibilitar a criação de murais interativos utilizando recursos hipermidiáticos como
textos, fotos, vídeos e links. Existe também espaço para comentários e discussões em grupo
possibilitando a participação e colaboração de todos os integrantes. Dessa forma, o Padlet
pode tornar o processo de ensino-aprendizagem mais atraente e dinâmico, por oportunizar a
aprendizagem colaborativa e ser utilizado como uma metodologia diferenciada.
Para entender como acontece a relação de aprendizagem e interação durante o uso do
Padlet pelos alunos, este estudo fundamentou-se em três aportes teóricos: i) a teoria sócio-
interacionista de Lev Semyonovich Vygostsky (1991, 1998) – que entende que a aquisição do
conhecimento ocorre na interação do indivíduo com o meio; ii) o campo CALL (Computer
Assisted Language Learning- Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador)- que
através dos trabalhos de Mark Warschauer (1996, 1997, 1998, 2005) estuda o computador
como ferramenta pedagógica mediadora do ensino-aprendizagem; iii) e a Abordagem
Comunicativa - que se caracteriza por ter foco no sentido, significado e interação propositada
entre os sujeitos que estão aprendendo uma língua estrangeira.
A pesquisa apresentada neste estudo foi motivada pelo fato da pesquisadora ter sido
instrutora da língua inglesa na escola de idiomas onde foi realizada a pesquisa de campo para
este trabalho. Neste período, pôde-se perceber que a utilização de um recurso computacional
como o Padlet na escola poderia oportunizar novas estratégias e práticas de ensino-
aprendizagem da língua inglesa.
Portanto, o resultado deste trabalho poderá ajudar professores de língua estrangeira a
refletirem na importância do uso de tecnologias digitais em sala de aula, com o intuito de criar
um ambiente motivador, participativo, interativo e de aprendizagem efetiva da língua
estrangeira.
1 URL: www.padlet.com
5
2 Referencial Teórico
Apresentam-se, a seguir, fundamentos e conceitos sobre diferentes aspectos relativos
ao uso de tecnologias digitais na educação, particularmente, no ensino-aprendizagem da
língua inglesa.
2.1 Tecnologias Digitais na Educação
Ao refletir sobre educação, um aspecto relevante a se pensar é em novos recursos
como facilitadores no processo de ensino-aprendizagem. A inserção das tecnologias digitais
na educação pode proporcionar diferentes formas de trabalhar com a informação e trazer
transformações pedagógicas. Como afirmam Batista, Barcelos e Azevedo (2015, p. 7) “[...] as
tecnologias digitais podem não só representar um conjunto de ferramentas auxiliares para o
trabalho dos professores e alunos, como podem abrir novas oportunidades de aprendizagem”.
Nessa perspectiva, as tecnologias digitais têm um papel importante nesta nova forma
de trabalho. Conforme Porto (2006, p. 45):
as tecnologias de informação e/ou comunicação possibilitam ao indivíduo ter acesso
a uma ampla gama de informações e complexidades de um contexto (próximo ou
distante) que, num processo educativo, pode servir como elemento de aprendizagem,
como espaço de socialização, gerando saberes e conhecimentos científicos.
Dessa forma, educação e tecnologia podem ser trabalhadas juntas de forma a
aproximar o conhecimento da realidade vivida pelo aluno. Segundo Duqueviz (2017, p. 38):
[...] as tecnologias digitais não se configuram como uma condição sine qua non, sem
as quais a educação contemporânea está fadada ao fracasso ou à inexistência. Porém,
compreendemos que essas tecnologias pertencem ao momento histórico de hoje e
mediam relações sociais da vida, é natural que essas tecnologias já presentes nas
vidas dos seres humanos se constituam como instrumentos mediadores nas
interações decorrentes do processo de ensino e aprendizagem nas instituições
escolares.
Para Porto (2006), a escola depara-se com o desafio de inserir ferramentas
tecnológicas em seu contexto, associando essas ferramentas ao conhecimento escolar e
possibilitando, então, a comunicação entre os indivíduos. Consequentemente, ela disponibiliza
6
aos sujeitos escolares um conjunto de saberes que, se trabalhados em perspectiva
comunicacional, promovem transformações nas relações vivenciadas no dia a dia da escola.
Pode-se pensar na possibilidade de usar tecnologias digitais como uma ferramenta
estratégica capaz de ajudar o aluno na apropriação do conhecimento. Porém, a ferramenta por
si só não atende ao propósito educacional, e sim a forma como o indivíduo a utilizará. Sendo
assim, é preciso que o uso dos recursos tecnológicos tenha um objetivo pedagógico claro.
O desenvolvimento tecnológico tem permitido a integração de tecnologias digitas com
o processo de aprendizado de línguas – campo de trabalho discutido na seção que segue.
2.2 Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador (CALL) e a
Teoria Sócio-interacionista
Em função do desenvolvimento constante dos recursos computacionais e da difusão
de práticas pedagógicas mais centradas no aluno, verifica-se, na atualidade, uma forte relação
entre educação e tecnologias. Na literatura encontram-se estudos que abordam as
contribuições que a tecnologia tem trazido para o ensino de línguas. De acordo com
Warschauer e Healy (1998, p. 57): “[...] with the advent of multimedia computing and the
Internet, the role of computers in language instruction has now become an important issue
confronting large number of language teachers throughout the world.”1
Uma área de investigação que tem trazido contribuições quanto ao estudo da
aprendizagem mediada pelo computador é conhecida como CALL (Computer Assisted
Language Learning - Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador). O campo CALL
entende que a interação entre os aprendizes no processo de aprendizagem pode se dar através
da mediação de um instrumento, seja ele um livro, quadro negro, ou mesmo o uso do
computador. De acordo com Leffa (2006, p.12): “a Aprendizagem de Línguas Mediada por
Computador (CALL) é uma área de investigação que tem por objetivo pesquisar o impacto do
computador no ensino e aprendizagem de línguas, tanto materna quanto estrangeira.” Em seus
estudos, Warschauer (1996) identifica alguns fatores que influenciam uma atitude positiva dos
alunos em relação ao uso dos computadores: o benefício da comunicação mediada pelo
1 “[...] com o advento da computação multimídia e da internet, o papel dos computadores na instrução da
linguagem tornou-se uma questão importante confrontando o grande número de professores de línguas em todo o
mundo” (tradução nossa).
7
computador, o sentimento de capacitação pessoal e o aumento das oportunidades de
aprendizagem. Além disso, Warschauer e Healey (1998) apontam que alunos apresentam uma
atitude positiva em relação à produção textual com o uso de computadores, promovendo a
motivação e melhorando as suas habilidades na escrita, favorecendo assim, o uso da
linguagem num contexto real.
A teoria sócio-interacionista de Vygotsky (1991, 1998), por usa vez, pode contribuir
no entendimento do processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira, pois sua
questão central é a aquisição dos conhecimentos pela interação do indivíduo com o meio.
Apesar de Vygotsky ter estudado a aquisição da linguagem da criança em sua língua materna,
seus conceitos têm sido aplicados ao aprendizado de uma segunda língua.
O ambiente escolar pode ser entendido como um local de interação social. Nessa
perspectiva de interação, é dada ao aluno a oportunidade de negociação, mediação, diálogo e
troca de conhecimento. Sendo assim, a sala de aula de língua estrangeira oportuniza ao aluno
a construção do seu próprio conhecimento em conjunto com outros. Dessa forma: “[...] a
produção realizada por meio do uso da língua alvo através da tarefa colaborativa para a
solução de problemas comunicativos e para a construção do conhecimento é considerada
como um elemento que favorece a aprendizagem” (OTHAN, 2001; SWAIN, 2000;
LANTOLF, 2000; PICA, 1987 apud SEBA; QUEIROZ, 2008, p. 194).
Conforme Seba e Queiroz (2008, p.195), “sob essa ótica, a interação não é vista
apenas como um fator emocional. Ao contrário, ela é crucial para o desenvolvimento
cognitivo do aluno.” O sócio-interacionismo entende que a interação é o próprio processo de
aprendizagem. Ou seja, o desenvolvimento do aprendiz é construído, em primeiro momento,
socialmente na interação e, depois, é internalizado e torna-se integrante do indivíduo.
Segundo Seba e Queiroz (2008, p. 195):
[...] a negociação entre os participantes de pequenos grupos em tarefas colaborativas
nas quais eles desempenham um papel ativo na construção de sua aprendizagem
proporciona oportunidades para que melhor compreendam e usem adequadamente a
língua alvo.
Um dos preceitos básicos da teoria sócio-interacionista é o conceito de Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZPD), que Vygotsky (1991 p. 58) explica ser:
8
a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através
da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em
colaboração com companheiros mais capazes.
Sendo assim, na aprendizagem de uma língua estrangeira, a ZPD pode ser entendida
como a distância entre o que o aluno consegue fazer com ou sem a ajuda de uma falante mais
competente. Em outras palavras, a aprendizagem ocorre através da mediação e negociação
entre o que um professor ou aluno ensina a outro, desenvolvendo assim as competências
comunicativas do aluno.
Tendo como base as ideias de Vygotsky, o pesquisador Mark Warschauer busca
entender a relação entre os indivíduos e as ferramentas. Para ele:
sociocultural theory allows us to dialectically link these seemingly contradictory
perspectives. Yes, technology is just a tool, but, like all tools, it mediates and
transforms human activity. Both teachers and researchers need to take into account
both how this mediation occurs at the micro level, and also how it intersects with,
and contributes to, broader social, cultural, historical, and economic trends1
(WARSCHAUER, 2005, p. 11).
2.3 Abordagem Comunicativa
Segundo Jack C. Richards (2006, tradução nossa), a aprendizagem de línguas tem sido
vista como resultante: i) da interação entre o aprendiz e os usuários do idioma; ii) da criação
colaborativa de significado; iii) da interação significativa e proposital através do idioma; iv)
da negociação de significado entre o aprendiz e seu interlocutor para chegar à compreensão;
v) do aprendizado com base no feedback que os alunos recebem quando eles usam o idioma; e
vi) da atenção que se dá ao idioma que se ouve (input) e da tentativa de se incorporar novas
formas de desenvolver competências comunicativas.
Nessa perspectiva de aprendizagem da língua estrangeira, a Abordagem Comunicativa
tem sido utilizada como metodologia de ensino por focar o aprendizado do aluno,
relacionando com as situações reais vividas na língua estrangeira. Para Leffa (1988, p. 21), “o
1“A teoria sócio-cultural nos permite ligar a dialética nessas perspectivas aparentemente contraditórias. Sim, a
tecnologia é apenas uma ferramenta, mas, como todas as ferramentas, media e transforma a atividade humana.
Tanto professores quanto pesquisadores precisam levar em conta tanto a forma como essa mediação ocorre no
nível micro, como também é interceptada e contribui para tendências sociais, culturais, históricas e econômicas
mais amplas” (tradução nossa).
9
uso de linguagem apropriada, adequada à situação em que ocorre o ato da fala e ao papel
desempenhado pelos participantes, é uma grande preocupação na Abordagem Comunicativa.”
Portanto, a ênfase da Abordagem Comunicativa está na comunicação, no aluno saber usar a
língua para se comunicar. O saber se comunicar, passa a ser tão importante quanto ter
conhecimento da gramática, por exemplo.
Conforme Leffa (1998, p. 23), “a Abordagem Comunicativa defende a aprendizagem
centrada no aluno não só em termos de conteúdo, mas também de técnicas usadas em sala de
aula”.
De acordo com Richards (2006), a Abordagem Comunicativa possibilita que o aluno
assuma maior responsabilidade na aprendizagem. Ainda segundo o autor, seguindo essa
metodologia de trabalho, o professor assume o papel de orientador e facilitador na sala de
aula. O uso de técnicas de trabalho em pares e grupo são muito adotadas nessa abordagem.
Portanto, a Abordagem Comunicativa aliada ao uso de tecnologias digitais pode
favorecer a aprendizagem de uma língua estrangeira por possibilitar que os alunos interajam
entre si e com o mundo real, mediado por um instrumento, no caso o computador.
Na revisão de literatura para este artigo, poucos estudos científicos sobre a utilização
do Padlet na educação foram identificados. Dentre os trabalhos correlatos encontrados, cita-
se, inicialmente, o realizado por Gianini (2017) com alunos do curso de Análise e
Desenvolvimento de Sistemas da FATEC Arthur de Azevedo, Mogi Mirim/SP. A autora
buscou identificar, a partir de proposições de uso de ferramentas da internet, melhores
resultados na autonomia dos alunos através do uso do software Padlet. Dos resultados obtidos
na pesquisa, a autora identificou que os alunos que realizaram as tarefas no Padlet, tornaram-
se mais conscientes em relação ao processo de aprendizagem, colaborativos nas aulas e com
os colegas, além de terem adquirido mais autonomia.
Por sua vez, Lestari (2017) realizou um estudo na Universitas PGRI Madiun da India,
com alunos do terceiro semestre do Departamento de Educação, no qual utilizou o Padlet para
identificar de que forma o software poderia melhorar as habilidades de escrita dos alunos. O
estudo foi composto por três ciclos no qual o autor comparou a evolução das habilidades de
escrita dos alunos quantitativamente, através de avaliação escrita no Padlet, e
qualitativamente, através da descrição e implementação do uso do Padlet, análise da
observação e entrevista. Os resultados mostraram que os alunos aprimoraram suas habilidades
10
de escrita e se sentiram estimulados a explorar novas ideias no processo de criação de seus
murais.
Por último, Moreira e Kelecon (2017) realizaram um trabalho com turmas da 2ª série
do Ensino Médio do Colégio Pedro II, no qual narram o desenvolvimento de um projeto
interdisciplinar envolvendo três línguas estrangeiras (inglês, francês e espanhol). O objetivo
do estudo foi o compartilhamento das pesquisas realizadas pelos alunos, através do uso do
Padlet, com músicas temáticas em cada uma das línguas. Os resultados mostraram que, pelo
caráter multimodal do software, a construção dos murais se mostrou eficaz para a
apresentação das pesquisas dos alunos.
3 Procedimentos Metodológicos
Este trabalho descreve a realização de uma atividade de produção textual em língua
inglesa com o uso do Padlet. A abordagem escolhida foi a qualitativa, uma vez que se buscou
compreender e interpretar determinados comportamentos, opiniões e expectativas dos
indivíduos da amostra. Para Creswell (2007, p. 188) “a pesquisa qualitativa é uma pesquisa
interpretativa, com o investigador geralmente envolvido em uma experiência sustentada e
intensiva com os participantes.”
Os instrumentos de coleta de dados usados no trabalho foram observação e entrevista
semiestruturada com os participantes conforme descrito adiante nesta seção. A observação
pode fornecer ao pesquisador detalhes por basear-se na descrição e a entrevista é uma
ferramenta de coleta de dados porque possibilita a obtenção direta de informações dadas pelos
sujeitos da pesquisa. Segundo Creswell (2007), a observação da amostra consiste em tomar
nota sobre o comportamento e atividade dos participantes no local da pesquisa. Na entrevista,
o pesquisador conduz a conversa de forma a extrair ideias e opiniões dos participantes.
A pesquisa foi realizada em seis etapas: i) revisão de literatura sobre a teoria sócio-
interacionista, CALL, a Abordagem Comunicativa e o uso pedagógico das tecnologias
digitais; ii) planejamento de uma atividade de produção textual juntamente com as professoras
das turmas; iii) elaboração das perguntas para entrevista; iv) aplicação das atividades de
produção textual no Padlet; v) realização das entrevistas com os alunos; vi) e análise dos
dados levantados com os participantes da pesquisa.
11
O trabalho de campo foi realizado no segundo semestre de 2017 numa escola de
idiomas privada que desenvolve suas atividades desde 2014 na cidade de Campos dos
Goytacazes/RJ. Conforme dados informados pela coordenadora pedagógica, a escola trabalha
com a faixa etária de 02 a 15 anos, possuindo, na época da pesquisa, 100 alunos. A escola
busca desenvolver uma metodologia diferenciada, seguindo a linha de trabalho da Abordagem
Comunicativa; entretanto, ainda pouco utiliza recursos tecnológicos como prática pedagógica
em sala de aula.
A amostra da pesquisa foi composta por três turmas de nível pré-intermediário -
denominadas de Turma A (três alunos), B (três alunos) e C (dois alunos), com alunos entre 10
e 13 anos, somando um total de oito participantes. A seleção das turmas ocorreu a partir do
nível pré-intermediário de conhecimento, de modo que os alunos tivessem autonomia na
língua quanto a vocabulário e estrutura gramatical para a realização da tarefa proposta. Foram
ministradas três aulas de 1 hora e 15 minutos para a aplicação da pesquisa para cada turma.
De acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (CEFR1), o
aluno de nível pré-intermediário é capaz de: i) compreender frases e expressões relacionadas a
informações pessoais e familiares simples; ii) se comunicar em tarefas simples e em rotinas
que exigem apenas uma troca de informação simples e direta sobre assuntos que lhe são
familiares e habituais; e iii) descrever de modo simples a sua formação, o meio circundante.
O software Padlet foi selecionado por ser uma ferramenta dinâmica de aprendizagem
que possibilita o trabalho em grupo, a interação entre os participantes e o aprendizado através
da troca de conhecimento numa situação real. Além disso, é uma ferramenta que está próxima
da realidade atual dos alunos por utilizar recursos tecnológicos. O Padlet é um mural online
que funciona em diferentes suportes tecnológicos, tais como computador e dispositivos
móveis iOS, Android e Kindle. Para utilizar o software, basta acessar o site e criar uma conta.
O mural estará pronto para uso, podendo o usuário fazer algumas modificações, como:
colocar um título, mudar a imagem de fundo, alterar a exibição de mensagens, ou escolher o
nível de privacidade. Além disso, podem ser inseridos textos, imagens, vídeos, músicas e
links. O desenvolvimento dos murais pelos alunos foi realizado na versão demo que está
1 URL: www.britishcouncil.org.br/quadro-comum-europeu-de-referencia-para-linguas-cefr
12
disponível na internet1. Para este trabalho, a escola disponibilizou um computador do tipo
laptop.
As etapas de realização do experimento são listadas no quadro seguinte.
Quadro 1- Descrição das etapas de coleta de dados
Dia Atividades
Dia 1
(1h15 min)
Capacitação e familiarização dos alunos quanto aos
recursos do Padlet.
Filmagem das atividades para análise posterior.
Aplicação da primeira parte da entrevista.
Dia 2
(1h15 min)
Realização do mural no Padlet.
Filmagem das atividades para análise posterior.
Dia 3
(1h15 min)
Apresentação dos murais.
Avaliação das atividades (segunda parte da entrevista)
Fonte: elaboração própria
O trabalho começou com o planejamento de uma atividade de produção textual
juntamente com as professoras das turmas. Essas atividades estavam relacionadas com o tema
da unidade do livro texto que os alunos tinham trabalhado recentemente. As turmas A e C
haviam trabalhado com o conteúdo gramatical “Graus do adjetivo - comparativo e
superlativo”. A proposta para essas turmas foi desenvolver uma produção textual sobre: Four
Extreme Places in the World (Quatro lugares extremos no mundo). Na turma B, havia sido
trabalhado o tempo verbal do futuro, usando o verbo auxiliar will para formar previsões sobre
o que ainda pode acontecer. A proposta para essa turma era desenvolver uma produção textual
sobre: What will the Earth be in the future in 50 years from today (Como será o planeta terra
daqui a 50 anos).
Após o planejamento das atividades, foram elaboradas perguntas para a realização de
uma entrevista individual com os alunos participantes no momento da conclusão da pesquisa.
Essas perguntas tinham a finalidade de identificar a familiaridade e tempo diário de uso do
computador e internet, a percepção quanto ao uso do software Padlet e a interação entre os
colegas.
1 A versão demo não disponibiliza acesso a todos os recursos do software. Para se ter acesso ilimitado, deve-se
cadastrar e pagar o Plano Premium.
13
No primeiro encontro (dia 1) com os alunos, foi realizada uma capacitação quanto ao
uso do software de forma que os estudantes pudessem conhecer e se familiarizar com o
programa. A pesquisadora mostrou o passo a passo de como se utiliza as funções do Padlet,
como: escrever o título, inserir textos, selecionar e inserir imagens e vídeos e como configurar
o layout do mural. Após essa apresentação inicial, em grupo, os alunos tiveram o restante do
tempo de aula para trabalhar com o software de forma livre. Além disso, foram feitas
perguntas referentes aos nomes, idades, à familiaridade e tempo diário de uso do computador
e internet.
No segundo encontro (dia 2), após a familiarização com o software, a pesquisadora
repassou para cada turma a sua tarefa para a realização da produção textual (conforme
explicado anteriormente) no mural interativo. Os alunos foram instruídos a trabalhar em grupo
e orientados a utilizar o restante do tempo de aula para a execução da atividade. Além disso,
salientou-se de que poderiam solicitar ajuda da professora ou da pesquisadora quanto ao uso
do software ou tirar dúvidas quanto ao uso da língua inglesa.
No terceiro encontro (dia 3), como conclusão das atividades propostas, a pesquisadora
solicitou aos alunos que apresentassem os murais produzidos por eles. Após as apresentações,
individualmente, os alunos foram entrevistados pela pesquisadora.
4 Resultados e Discussão
As subseções seguintes apresentam dados coletados no experimento e análise dos
mesmos, incluindo a percepção da pesquisadora quanto à relação dos participantes com o
computador do tipo laptop.
4.1 Encontro 1: Introdução ao Padlet
No primeiro encontro, os alunos foram perguntados sobre seus nomes, idades, à
familiaridade e tempo diário de uso do computador e internet: Você utiliza computador no seu
dia a dia? Para quê? Quantas horas de computador você utiliza no seu dia a dia?, dos oito
alunos participantes da pesquisa, cinco responderam que utilizam o computador de duas a três
vezes por semana, um aluno utiliza todos os dias, um utiliza somente aos finais de semana e
14
outro não utiliza. Os motivos para o uso do computador são, entre eles: realizar trabalho da
escola, jogar e assistir filme.
Após essa etapa inicial, a pesquisadora mostrou aos alunos o exemplo de um mural
criado no Padlet, mostrando as possibilidades de incluir figuras, vídeos, fotos, além do texto.
Uma aluna da turma A comentou que: “gosto muito de fazer murais de papel, porque gosto de
recortar e colar figuras.” O levantamento das idades dos participantes mostra que essa aluna
era a mais nova do grupo. Além disso, a escola de idiomas tem como prática de ensino a
criação de murais de papel.
O objetivo desse primeiro contato com o software era que os alunos pudessem
conhecer e explorar os recursos disponíveis de forma a se familiarizarem com o Padlet. As
três turmas demonstraram gostar de trabalhar com recursos específicos: a turma A postou
imagens que pesquisaram na internet, a turma B pesquisou e postou vídeos e a turma C tirou
fotos deles mesmos. Os alunos ficaram o restante do tempo de aula trabalhando no mural de
maneira livre sem demonstrar qualquer dificuldade.
Um fato não previsto pela pesquisadora foi a dificuldade mostrada pelas três turmas
quanto ao uso dos comandos do computador como, por exemplo, os comandos copiar e colar
(Ctrl+c e Ctrl+v). Esses comandos foram necessários para postar vídeos ou links nos murais.
Outro comando do computador que os alunos apresentaram dificuldade de manuseio foi
salvar a imagem. A pesquisadora havia criado uma pasta na área de trabalho do computador
onde os alunos pudessem salvar imagens da internet. Toda vez que eles tinham que salvar
uma imagem, a professora ou a pesquisadora precisavam ajudar no processo porque não
sabiam como encontrar a imagem salva por eles na pasta na área de trabalho. Um aspecto
relevante verificado na observação foi a colaboração intensa entre os participantes - a todo o
momento, os alunos se ajudavam na produção do mural. Quando um tinha mais dificuldade,
os outros colegas ajudavam e orientavam quanto à atividade. Para Vygotsky (1998, p.11), “a
zona de desenvolvimento proximal, por sua vez, abrange todas as funções e atividades que a
criança ou o aluno consegue desempenhar apenas se houver ajuda de alguém”. A ajuda
poderá vir de um aluno que já tenha desenvolvido a habilidade requerida ou até mesmo de um
professor.
Ao final do primeiro encontro, os alunos haviam criado murais bem variados, já que a
orientação da pesquisadora foi deles conhecerem e experimentarem as funções do software.
15
No encerramento deste encontro, foi perguntado aos alunos como havia sido trabalhar com o
Padlet, e todos responderam que tinham gostado da experiência.
Após esse primeiro encontro, percebendo que os alunos apresentaram dificuldades
quanto ao uso do computador, a pesquisadora acrescentou duas perguntas ao roteiro de
entrevista, de forma a identificar quais recursos tecnológicos os alunos tinham o hábito de
utilizar e quais dificuldades eles percebiam ter no uso do computador. Quando perguntados:
Quais recursos tecnológicos você utiliza no seu dia a dia?, sete participantes responderam
que utilizam o celular. Outras alternativas citadas foram computador, tablet e televisão. Os
motivos mais citados para o uso do celular são - conversar e jogar. Quanto a segunda
pergunta: Você encontrou alguma dificuldade no uso do computador?, cinco alunos
reponderam “Sim”, e três alunos comentaram que tiveram dificuldade nos comandos copiar e
colar. (Ctrl+c e Ctrl+v).
4.2 Encontro 2: Realização da produção textual no mural do Padlet
No segundo encontro, a pesquisadora explicou aos alunos que eles iriam criar os
próprios murais. Para as turmas A e C, a proposta de trabalho foi desenvolver um mural
sobre: Research and write about: “Four extreme places in the world” (Pesquise e escreva
sobre: Quatro lugares extremos no mundo). Na turma B, a proposta de trabalho foi
desenvolver um mural sobre: Research and write about: “What will the Earth be in the future
in 50 years from today” (Pesquise e escreva sobre: Como será o planeta terra daqui a 50
anos).
Quando os temas foram apresentados para os alunos, as turmas B e C realizaram
juntas as atividades de planejar, pesquisar e escrever a tarefa proposta. A turma A decidiu que
o tópico do trabalho seria desenvolvido individualmente; portanto, cada aluno planejou,
pesquisou e escreveu sobre um item que escolheu. Durante toda a realização dos murais, os
alunos se ajudaram mutuamente, solicitando a ajuda da professora e da pesquisadora para os
comandos do computador e tirando dúvidas quanto à ortografia e à estrutura das frases.
Nas turmas A e B, por solicitação dos alunos, as intervenções da professora e da
pesquisadora foram frequentes, dessa forma, as correções da estrutura das frases, gramática e
ortografia aconteceram de forma pontual. No entanto, a turma C teve uma postura mais
independente na realização da tarefa. Solicitaram ajuda nos comandos do computador, mas
16
não solicitaram ajuda quanto ao o quê e como escrever. Por esse motivo, a professora e a
pesquisadora combinaram que não iriam fazer intervenções e correções no momento em que
os alunos escreviam. As correções aconteceram no terceiro encontro, antes da apresentação do
mural. Todas as turmas conseguiram concluir o mural no Padlet no segundo encontro. A
Figura 1 apresenta o mural produzido pela turma A.
Figura 1 – Mural produzido pela turma A
Fonte: protocolo de pesquisa
Os resultados da entrevista individual evidenciaram que os alunos não tiveram
dificuldades com o Padlet. Na pergunta: Você encontrou alguma dificuldade no uso do
software Padlet?, dos oitos participantes, sete responderam que não. Para a pergunta: O que
você achou fácil no manuseio do software?, cinco alunos responderam que foi fácil inserir
textos e imagens, organizar as informações no mural e tirar foto. Quando perguntados: O que
você achou difícil no manuseio do software Padlet?, três alunos responderam que não houve
dificuldade no manuseio, outros dois identificaram os comandos copiar e colar (Ctrl+c e
Ctrl+v) como tendo sido sua dificuldade.
4.3 Encontro 3: Correções e apresentação dos Murais
No terceiro encontro o objetivo era a apresentação dos murais produzidos pelos
alunos. Os alunos das turmas A e B apresentaram os murais com clareza e demonstraram
muita descontração ao interagir com as funções do Padlet. Nessas duas turmas, conforme
17
mencionado anteriormente, as correções foram feitas durante a realização da atividade de
produção textual, por isso, esse encontro se propôs somente à apresentação dos murais.
Com a turma C, no entanto, a professora e a pesquisadora solicitaram aos alunos que
olhassem novamente o mural de forma a identificar possíveis erros na construção dos textos.
Juntamente com a professora, eles foram identificando e corrigindo algumas falhas de
ortografia, gramática e estrutura do texto. Após essa etapa, os alunos apresentaram seu mural
também com descontração ao interagir com as funções do Padlet. Importante ressaltar que as
três turmas apresentaram erros na ortografia, gramática e estrutura das frases. Esses erros são
comuns em alunos de nível pré-intermediário, pois estão começando a trabalhar com
produção textual.
As Figuras 2 e 3 ilustram os murais produzidos pelas turmas B e C.
Figura 2 – Mural produzido pela turma B
Fonte: protocolo de pesquisa
18
Figura 3 – Mural produzido pela turma C
Fonte: protocolo de pesquisa
Foi nítida a ajuda mútua dos alunos na realização do mural, mesmo que um grupo
tenha se organizado diferente na divisão das tarefas. As respostas coletadas na entrevista
mostram o quanto a ajuda e a interatividade dos colegas são importantes para a realização das
tarefas e para a aprendizagem. Quando perguntados: Como foi realizar a tarefa com os
colegas no Padlet?, os oito participantes responderam que foi uma experiência positiva.
Cinco alunos justificaram que “fica mais fácil aprender com os colegas além de ser uma aula
divertida.” Warschauer (2005), considera que a teoria de Vygotsky contribui para entender o
campo CALL, uma vez que ela preconiza que o aprendizado ocorre, primeiramente, pelo
aprendizado social, no qual a criança aprende através do contato com outros (interpsicológico)
e depois, através do contato consigo mesma (intrapsicológico).
Outro dado importante é o quanto os alunos gostaram do Padlet pelo fato de poderem
usar várias funções do programa. Quando perguntados: O que você gostou do software
Padlet?, cinco alunos comentaram sobre poder inserir informações e vídeos além da
facilidade do manuseio do software. De acordo com Porto (2006, p. 46), “a relação interativa
com os meios permite ao usuário assumir o papel de sujeito”, ou seja, nesse processo de
interação entre indivíduo e tecnologia, o aluno assume o papel de sujeito ativo por explorar
caminhos, criar e experimentar possibilidades.
Um resultado relevante é que todos os alunos tiveram a percepção de que houve mais
facilidade na aprendizagem da língua, seja através do vocabulário ou como reforço do que foi
aprendido. O fato de ter que pesquisar em inglês na internet e todo o software estar em inglês
19
criou um ambiente de “imersão” na língua. Segundo Warschauer (1997), as atividades
colaborativas envolvem não apenas pesquisar informações, mas saber usar ativamente a
tecnologia para construir novos conhecimentos juntos.
Quando perguntados: O Padlet te ajudou na aprendizagem da língua inglesa?, os oito
participantes responderam “Sim”. Seis alunos justificaram a resposta comentando que o
Padlet ajudou na aprendizagem por estimular a pesquisa e a leitura na língua inglesa. Para um
dos alunos: “O Padlet ajudou na aprendizagem da língua porque a gente pesquisou e
escreveu em inglês. Assim, fomos aprendendo também com a ajuda dos colegas e da
professora”. Outro participante comentou: “Aprendi novas palavras na pesquisa que fiz”. A
teoria de Vygotsky tem como questão central “[...] a aquisição de conhecimento pela
interação dialética do indivíduo com o meio em um processo histórico, mediado por sistemas
simbólicos, através de instrumentos e signos (ferramentas auxiliares)” (SEBA; QUEIROZ,
2008, p. 193). Portanto, para o sócio-interacionismo, toda atividade humana pode ser
mediada por ferramentas, e essas ferramentas podem modificar o comportamento humano.
Quanto à pergunta: Você gostaria de utilizar o software Padlet novamente?, os oito
alunos responderam que “Sim”. Os motivos citados foram os mais variados, entre eles:
facilitar na aprendizagem, poder editar, conectar-se mais com os colegas, realizar atividades
divertidas e não perceber o tempo passar. Referente a essa questão, um dos alunos comentou:
“Gostaria de utilizar o Padlet novamente porque ajudou a gente a aprender várias coisas.
Me ajudou a aprender inglês porque a gente tinha que pesquisar e escrever em inglês.”
5 Conclusão
O trabalho apresentou um estudo experimental, de natureza qualitativa, sobre o uso do
Padlet como auxiliar no reforço dos conteúdos da língua inglesa com alunos de nível pré-
intermediário em uma escola de idiomas. A investigação buscou identificar como os recursos
do software fomentaram a interatividade entre alunos e professor e proporcionaram um
ambiente cooperativo de aprendizagem, em conformidade com as estratégias de ensino-
aprendizagem de idioma fundamentado na Abordagem Comunicativa e nas indicações de
Warschauer para a Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador (CALL).
20
A possibilidade de se utilizar um software para desenvolver as tarefas de produção
textual propostas pela pesquisadora representou um diferencial na construção do
conhecimento dos alunos participantes da pesquisa. Essas atividades foram planejadas
levando em conta a Zona de Desenvolvimento Proximal dos sujeitos participantes, resultando
no reforço de conhecimentos prévios e facilitação na aquisição de novos. Da mesma forma, a
ajuda mútua e a troca de conhecimentos entre todos os envolvidos no processo de elaboração
dos murais demonstraram a importância da interação entre os pares na aprendizagem, em
concordância com o pensamento de Vygotsky.
O experimento forneceu indicativos de que o software Padlet apresenta recursos que
permitem a realização de atividades pedagógicas de forma colaborativa entre os alunos. O uso
dessa ferramenta potencializou a motivação, o envolvimento dos participantes no processo de
aprendizagem e o reforço dos conteúdos como indicado nos dados apresentados. A atitude
colaborativa entre os sujeitos durante a produção dos murais foi determinante, também, na
resolução de problemas referentes ao manuseio do software e na busca e seleção de imagens
para ilustrar os textos.
Cabe salientar que o trabalho desenvolvido foi uma oportunidade de aprendizagem e
crescimento para a pesquisadora, assim como para os professores e alunos participantes da
pesquisa. Acredita-se que, para a escola de idiomas, a realização do experimento oportunizou
uma reflexão quanto à possibilidade de buscar novos recursos tecnológicos para a prática
pedagógica. Além disso, é importante ressaltar o quanto este trabalho pode contribuir para a
pesquisa de estudos científicos relacionados ao uso do Padlet na educação, devido a escassez
de artigos encontrados na literatura.
Como trabalho futuro, aponta-se a intenção de se utilizar o Padlet em atividades com
língua estrangeira aplicados ao celular, cujo manuseio se diferencia do computador
tradicional, e constitui a principal ferramenta de comunicação dos alunos observados.
21
6 Referências
BATISTA, S. C. F.; BARCELOS, G. T.; AZEVEDO, B. F. T. Informática na Educação:
ações de pesquisa no IFFluminense. Tecnologias Digitais na Educação: pesquisas e
práticas pedagógicas. Essentia Editora, 2015.
CETIC.br. TIC Educação 2015. Disponível em:
http://cetic.br/media/analises/tic_educacao_2015_coletiva_de_imprensa.pdf. Acesso em:
novembro 2017.
CRESWELL, J. W. Projeto de Pesquisa: método qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2007.
DUQUEVIZ, B. C. Tecnologias Digitais: Sentidos Atribuídos por Adolescentes à
Aprendizagem de Língua Estrangeira. 2017. 152 p. Tese de Doutorado em Processos de
Desenvolvimento Humano e Saúde, Universidade de Brasilia, Brasilia, DF, 2017.
GIANINI, Z. M. Padlet: Construindo a Autonomia na Aprendizagem de Inglês. Anais do
Congresso Brasileiro de Línguas Estrangeiras na Formação Técnica e Tecnológica, 2017.
Disponível em: https://revista.cbtecle.com.br/index.php/CBTecLE/article/view/24. Acesso
em: maio 2017.
LEFFA, V. J. Aprendizagem de Línguas Mediada por Computador. In Vilson J. Leffa. (Org.).
Pesquisa em Linguística Aplicada: temas e métodos. Pelotas: Educat, 2006, p.11.
Disponível em: http://www.leffa.pro.br/textos/trabalhos/B_Leffa_CALL_HP.pdf. Acesso em:
maio 2017.
LEFFA, V. J. Metodologia do Ensino de Línguas. In BOHN, H. I. VANDRESEN, P. Tópicos
em Linguística Aplicada: O ensino de Línguas Estrangeiras. Florianópolis: Editora da
UFSC, 1988. p. 211-236. Disponível em:
http://www.leffa.pro.br/textos/trabalhos/Metodologia_ensino_linguas.pdf. Acesso em: agosto
2017.
LESTARI, S. Implementing Padlet Application to Improve Writing Ability in English
Writing Skill For Non English Department Students. LET: Linguistics, Literature and
English Teaching Journal. V. 7, p. 1-16, 2017.
LOPES, L. F. Plataforma Wiggio: uma proposta de interação no ambiente virtual. Anais do
Congresso Ibero-Americano de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação. Buenos Aires,
Argentina, 2014.
MOREIRA, M. A.; KELECON, K. J. O Uso de Murais Virtuais em um Projeto
Interdisciplinar de Línguas Estrangeiras no Ensino Médio. VII Seminário Mídias &
Educação do Colégio Pdero II: Tecnologias Digitais e Transformações Educacionais. V.
3, 2017.
22
PORTO, T. M. E. As Tecnologias de Comunicação e Informação na Escola; Relações
Possíveis… Relações Construídas. Revista Brasileira de Educação. V. 11, n. 31, jan/abr
2006.
RICHARDS, J. C. Communicative Language Teaching Today. Cambridge: Cambridge
University Press, 2006. Disponível em: https://www.professorjackrichards.com/wp-
content/uploads/Richards-Communicative-Language.pdf . Acesso em: agosto 2017.
SEBA, R. G.; QUEIROZ, S. S. As Contribuições da Teoria Sócio-Cultural para o
Ensino/Aprendizagem de Inglês como Língua Estrangeira. Revista Saberes Letras, Vitória,
V. 6, n. 1, p. 190 a 199, set / dez. 2008.
YGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
VYGOTSKY, L. S. Linguagem e Pensamento. 2 ed. São Paulo, Martins Fontes, 1998.
WARSCHAUER, M.; HEALY, D. Computers and Language Learning: an overview.
Language Teaching, v. 31, p. 57-51, 1998.
WARSCHAUER, M. Motivational Aspects of Using Computers for Writing and
Communication. In Mark Warschauer (Ed.), Telecollaboration in Foreign Language
Learning: Proceedings of the Hawai’I Symposium. (Technical Report #12), p. 29-46, 1996.
WARSCHAUER, M. Socialcultural Perspective on CALL. In J. Egbert and G. M. Petries
(Eds.) CALL Research Perspectives. Mahwah, NJ: Lawrence Earlbaum, 2005. p. 41-51.
WARSCHAUER, M. Computer-Mediated Collaborative Learning: Theory and Practice, The
Modern Language Jounal. p. 470-481, 1997.
23
Apêndice A – Murais produzidos pelas turmas A, B e C
Mural produzido pela turma A
Mural produzido pela turma B
24
Mural produzido pela turma C
25
Apêndice B – Roteiro de Entrevista
1. Você utiliza computador em seu dia a dia? Para que?
2. Quantas horas de computador você utiliza no seu dia a dia?
3. Quais recursos tecnológicos você utiliza no seu dia a dia? Para que? Por quantas horas?
4. Você já havia utilizado o Padlet antes?
5. O que você gostou do software Padlet? Justificar.
6. Você encontrou alguma dificuldade no uso do computador?
7. Você encontrou alguma dificuldade no manuseio do Padlet?
8. O que você achou fácil no manuseio do Padlet?
9. O que você achou difícil no Padlet?
10. O Padlet te ajudou na aprendizagem da língua inglesa? Justificar.
26
11. Como foi realizar a tarefa com os colegas no Padlet? Justificar
12. Você gostaria de utilizar o Padlet novamente? Justificar.