uso de plantas medicinais
DESCRIPTION
ArticleTRANSCRIPT
![Page 1: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/1.jpg)
Uso de Plantas Medicinais
Use of medicinal plants
Cristiane Pimentel Victório1 e
Celso Luiz Salgueiro Lage2 1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Biofísica),
Laboratório de Fisiologia Vegetal, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho,
Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2 Laboratório de Fisiologia Vegetal, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Endereço eletrônico: [email protected]
Abstract1
This study presents a summarized
bibliographic review about the use of
medicinal plant over the years and it shows
the importance of empirical knowledge and
popular use of medicinal plants directing
the discovery of new pharmaceuticals and
the obtained of systematized results of the
use of medicinal plants from in vitro and in
vivo scientific researches. The interaction
between popular and scientific knowledge
permits new resources to a therapeutic
treatment and expand the alternatives to
health area.
Keywords: alternative therapies,
phytotherapy, popular medicine, society,
therapeutic.
Revista Arquivos FOG – Saúde, Sociedade, Gestão e Meio Ambiente, vol. 5 (1): 33-41, 2008.
Introdução
Na sociedade em que vivemos é
comum o uso de plantas medicinais em
ritos religiosos, no tratamento
terapêutico popular e científico.
Recorrer à natureza como forma de
sanar enfermidades é de longa data,
até mesmo porque os recursos
sistematizados nem sempre estiveram
disponíveis a população ou ainda estão
em processo de desenvolvimento
científico. Observar a história do uso de
plantas medicinais nos atenta para a
importância que os conhecimentos das
sociedades e a interação das mesmas
com o meio ambiente gera em benefício
das sociedades presentes e futuras. Ao
mesmo tempo, urge a necessidade de
investigar as riquezas da flora e o uso
discriminado, de forma a se obter vias
![Page 2: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/2.jpg)
alternativas, mas seguras, de utilização
das plantas medicinais pela população.
Objetivo
Abordar de forma sucinta o uso
de plantas medicinais em uma escala
de tempo, no intuito de reafirmar a
importância das plantas medicinais no
tratamento terapêutico entre as
diversas etnias. E mostrar o
crescimento de estudos científicos e
interesse comercial na área de
fitoterápicos como resposta a demanda
do mundo pós-moderno.
Metodologia
Pesquisa bibliográfica em artigos
científicos relacionados às áreas de
etnobotânica, etnofarmacologia,
biologia, fitoquímica, botânica e
medicina. Esta revisão consta em parte
na introdução da dissertação de
Mestrado apresentada a Pós-Graduação
em Ciências Biológicas (Biofísica)
(Victório, 2004).
Desenvolvimento
Há milhões de anos as plantas
são utilizadas pelos homens que
perceberam e continuam a descobrir a
importância que estas possuem para o
bem estar humano. Esta interação se
traduz na religiosidade, modo de vida,
trabalho, no trato com a saúde,
conforme a compreensão dos grupos
culturais que desde antigamente até os
dias atuais praticam alguns dos
conhecimentos repassados através das
gerações.
Um dos primeiros relatos para o
uso de plantas medicinais data de
2.600 a.C., para as civilizações
mesopotâmicas que utilizavam
aproximadamente 1000 substâncias
derivadas de plantas. Na maioria óleos
essenciais obtidos de Cedrus e
Cupressus sempevirens e Papaver
somniferum. Na medicina egípcia, 700
drogas foram documentadas no “Ebers
Papyrus” em 1.500 a.C. Civilizações
antigas que habitavam a China, Índia e
Norte da África utilizavam plantas no
tratamento de uma ampla gama de
doenças. O compêndio “Matéria Medica”
da China teve seu primeiro registro em
1.100 a.C, contendo cerca de 52
prescrições. A Grécia Antiga contribuiu
de forma significativa para o
desenvolvimento consciente do uso das
plantas. As plantas eram descritas e
classificadas por Theophrastus (300
![Page 3: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/3.jpg)
a.C.), naturalista conhecido como pai
da Botânica e que foi de extrema
importância ao descrever a qualidade
das plantas, desvendar as mudanças
nas características vegetais advindas do
cultivo e anunciar a possível descoberta
dos flavonóides (Newman et al., 2000;
Phillipson, 2001). Dioscorides, físico
grego (100 d.C.), foi um dos mais
importantes representantes na ciência
das drogas vegetais. Também Galeno
(130-200 d.C.) praticou e ensinou
farmácia e medicina com base no uso
de plantas, tendo escrito em torno de
30 livros sobre este tópico (Newman et
al., 2000).
Antigas civilizações do mundo
Oriental, como as culturas chinesa e
hindu, são tradicionais no uso de ervas.
A obra denominada Pentsao, de origem
chinesa, é constituída por 52 volumes
que registram numerosas substâncias
de origem vegetal, animal e mineral
(Ding, 1987)
Até o século XIX, os recursos
terapêuticos utilizados constituíam-se
na maior parte de plantas e extratos
vegetais. Formalmente, muitos
resultados de estudos científicos foram
agrupados na publicação da
Farmacopéia Londrina, em 1618
(Newman et al., 2000). Ainda neste
século, os cientistas Caventou e
Pelletier descobriram o primeiro
princípio ativo isolado de planta – a
quinina, marcando o início dos estudos
para isolamento de substâncias
terapêuticas. O laboratório do professor
Harbornney se tornou um centro no
isolamento de princípios biologicamente
ativos extraídos de plantas (Phillipson,
2001).
Na Segunda Guerra Mundial,
muitos produtos naturais foram
utilizados como agentes clínicos
(Phillipson, 2001). Após a grande
Guerra, os conhecimentos na área de
fitoterapia estimularam o
desenvolvimento de drogas sintéticas
que eram produzidas a partir de
moléculas encontradas naturalmente no
vegetal (Gilbert et al., 1997). O
conhecimento adquirido e acumulado
por populações, que usam as plantas no
tratamento de enfermidades,
representa a base da fitoterapia
moderna e ponto de partida para
pesquisas e produção de novos
medicamentos pelas indústrias
farmacêuticas. É consenso que
investigar plantas comumente utilizadas
por populações tradicionais aumenta as
possibilidades de obter resultados
![Page 4: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/4.jpg)
positivos quanto ao efeito das drogas
(Souza Brito, 1996).
O Brasil tem uma vasta tradição
no uso popular de plantas medicinais.
As culturas indígenas foram as
primeiras a utilizarem a flora, segundo
relatos feitos pelos portugueses que
chegaram no Brasil em 1500 (Petrovick
et al., 1999). Bertoni, um botânico do
século XIX, citou que a tribo Guarani
teve o melhor conhecimento sobre as
plantas medicinais, inclusive mais que
os europeus do século XVI. O uso de
plantas pelos nativos indígenas foi
significativo para a adoção de métodos
terapêuticos pelos brasileiros e
europeus. A partir do século XVII as
culturas africana e européia são
introduzidas no Brasil, sobrepondo a
indígena. Entre 1823 a 1831, von
Martius e outros botânicos coletaram
várias plantas brasileiras com a
posterior publicação do “Systema
Materiae Medicae Vegetabilis
Brasiliensis” que descreve 470 plantas
(Mello, 1980).
O potencial e diversidade química
das plantas são de alta relevância na
cura de doenças, sendo usufruídos
pelos povos desde tempos antigos
(Verpoorte, 1998). No entanto,
somente a partir de 1976 a medicina
tradicional passou a ser integrada ao
programa internacional OMS
(Organização Mundial de Saúde) que
reconheceu a importância do uso de
plantas pela população, apesar da
medicina alternativa ser praticada há
milhões de anos (Akerele, 1988). A
Alemanha e a França foram os
primeiros países a oficializarem o uso
de plantas medicinais que depois foi
difundido na Comunidade Européia e
nos Estados Unidos da América (Gilbert
et al., 1997). A Comissão E,
responsável por avaliar a segurança e
eficácia de plantas medicinais, foi
estabelecida na Alemanha em 1978
(Calixto, 2000).
Recentemente, tem-se vivido um
modismo naturalista, no qual o uso de
drogas fitoterápicas tem crescido em
profusão (Kapadia, 2003), apesar dos
avanços da quimioterapia (Calixto,
2000). A oferta de plantas medicinais
tem aumentado consideravelmente nos
últimos 10 anos (Capasso et al., 2000).
Cada vez mais testes são realizados no
intuito de encontrar novas alternativas
contra o câncer, vários
microorganismos como vírus, bactérias,
fungos, doenças tropicais,
cardiovasculares, imune e outras
(Janssen et al., 1987; Moura et al.,
![Page 5: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/5.jpg)
1998; Phillipson, 2001; Luize et al.,
2005). As plantas medicinais possuem
alto valor econômico (Akerele, 1988),
adquirindo a importância por serem um
dos principais recursos na produção de
drogas (Zárate et al., 2001). Ao
contrário, as drogas sintéticas têm
despertado descrédito da população e
são consideradas agressivas ao
organismo (Phillipson, 2003). Segundo
Branquinho (1999) - “o uso das ervas
não se restringe àqueles que não
podem ter acesso à medicina científica,
sendo adotado por pessoas de todas as
classes sociais e, mais do que isso,
sendo fonte de pesquisa para a
indústria farmacêutica.” Como
conseqüência, há uma expansão das
farmácias fitoterápicas e várias
pesquisas estão sendo feitas para
avaliar novos compostos biologicamente
ativos em plantas e os efeitos na
fisiologia humana. As empresas
farmacêuticas do Brasil têm observado
um grande crescimento no mercado
mundial de fitomedicamentos.
Entre 1990 e 1995, a medicina
alternativa, entre elas o uso de plantas
medicinais, cresceu de 33,8% para
42%. Dados publicados em 1999
(Richardson) mostram que a maioria
dos pacientes com câncer, em
pesquisas feitas em 13 países, utiliza as
drogas convencionais associada à
terapia alternativa.
A União Européia possui a
primeira colocação na lista dos países
que utilizam fitomedicamentos,
movimentando um mercado de 6
milhões de dólares (Seidl, 1999). O
Brasil está entre os 10 primeiros do
mundo. Cerca de 30% das drogas
comercializadas e registradas pelo
“Federal Health Office” são classificadas
como fitomedicamentos (Petrovick et
al., 1999), que inclui os extratos brutos
obtidos de plantas e preparações
galênicas (extratos, extrato-fluido,
tinturas, etc.) (Seidl, 1999). O Brasil
exporta considerável quantidade de
plantas medicinais, extratos e
substâncias isoladas que representam
22 milhões de dólares por ano
(Petrovick et al., 1999). Magherine
(1988) relatou algumas razões para o
aumento no consumo de plantas
medicinais, uma delas é o uso de
matéria-prima vegetal na extração de
compostos farmacologicamente ativos
ou como precursores de medicamentos
a base de plantas. As variações
químicas estruturais são por vezes
inviáveis de serem reproduzidas
sinteticamente, no laboratório, por
![Page 6: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/6.jpg)
causa da complexidade estrutural, alto
custo dos reagentes ou, quando
reproduzidas os efeitos podem não ser
efetivos quando comparado ao extrato
vegetal.
Embora haja uma grande
demanda pelos produtos naturais,
incluso os fitoterápicos, a carência de
pesquisas científicas gera problemas.
Falta controle de qualidade na obtenção
e no processo de produção, bem como
metodologias adequadas de avaliação
dos produtos, conseqüentemente,
muitos dos produtos fitoterápicos
apresentam riscos diversos enumerados
por Capasso et al. (2000): identificação
errônea da planta, presença de
constituintes tóxicos, inadequada
preparação e estocagem da matéria
vegetal, adulteração durante o
condicionamento e presença de
contaminantes biológicos e abióticos.
O código genético rege a
produção de metabólitos especiais, que
em sua maioria representam a
totalidade dos princípios bioativos.
Embora os fatores ambientais induzam
respostas fenotípicas diferenciadas,
aquisições de resultados científicos na
área de produtos naturais precisam ser
realizadas para que cada vez mais a
indústria forneça fitoterápicos a base de
plantas homogêneas, padrão de
qualidade, segurança e eficiência
terapêutica. A partir do momento em
que a fitoterapia tem sido utilizada no
tratamento de enfermidades, eficácia e
segurança devem ser obrigatórias, bem
como a realização de testes para
atividades farmacológicas, toxicológicas
e clínicas (Bauer & Tittel, 1996; Calixto,
2000).
Souza Brito & Souza Brito
(1993), ao fazerem uma retrospectiva
sobre os estudos de plantas medicinais
no Brasil entre 1949 e 1992, relatam
que a submissão de resumos em
encontros científicos, abordando o tema
plantas medicinais, ocorre regularmente
desde 1949; porém menos que 10%
dos compostos bioativos obtidos de
extratos vegetais foram quimicamente
investigados. Existe uma vasta
quantidade de plantas com
propriedades terapêuticas que ainda
não foram descobertas (Gottlieb &
Stefanello, 1991). Por exemplo, mais de
20% da flora mundial está representada
no Brasil, contudo poucos estudos estão
sendo feitos para investigar o potencial
de novas drogas ou matéria-prima para
as preparações farmacêuticas
(Petrovick et al., 1999).
![Page 7: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/7.jpg)
Relatório publicado pela OMS
confirma que as plantas utilizadas
tradicionalmente pelas comunidades
que não dispõem de conhecimentos
acadêmicos ou manuais farmacêuticos
são efetivas no tratamento de doenças,
sendo justificadas pelos metabólitos
especiais verificados, após constatação
por pesquisas fitoquímicas. A OMS
observou ser importante incorporar à
medicina moderna, a medicina
tradicional, para implementar os
sistemas de saúde e melhorar a saúde
da população. Para tanto estimula
formalmente o interesse pelas ervas
medicinais e remédios tradicionais,
propondo aos países auxílio para
promoção de programas de saúde mais
bem adaptados às suas realidades
sócio-econômicas (Matos, 1997; WHO,
1998; Akerele, 1988).
A fitoterapia é uma importante
alternativa para o tratamento de
doenças, em muitos países em
desenvolvimento. Entre as vantagens
no uso de plantas medicinais está a
redução nas taxas de importação de
medicamentos e valorização das
tradições populares (Garlet & Irgang,
2001).
Várias iniciativas têm sido
empenhadas no intuito de viabilizar o
uso de fitoterápicos na saúde pública.
Em 1983, no Ceará, foi criado o
programa Farmácias Vivas pelo
professor Dr. Francisco Abreu de Matos
da Universidade Federal do Ceará Este
programa visa ao estabelecimento da
prática da fitoterapia, principalmente na
saúde pública. E foi propagado para
vários municípios brasileiros (Matos,
1997). Atualmente, no Brasil, alguns
Estados estão introduzindo o uso de
fitoterápicos na saúde pública (Souza
Brito & Souza Brito, 1993). No Rio de
Janeiro, existe o Programa Estadual de
Plantas Medicinais (PROPLAN) que
vigora desde 1996 pela lei estadual n0
2.537 de 16 de abril, abrangendo várias
localidades, cujo objetivo é estabelecer
políticas públicas nas áreas de
preservação, pesquisa e utilização
terapêutica das plantas medicinais,
dispondo de maneira organizada dos
recursos da flora medicinal do Rio de
Janeiro (PROPLAN, 2004).
Também, pequenas e grandes
empresas têm incluído na linha de
produção fitoterápicos ou cosméticos a
base de plantas medicinais. Em vista
disso, parcerias entre Instituições de
ensino e empresas também mostram
formas positivas de interação na busca
de novos fitoterápicos (Lima et al.,
![Page 8: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/8.jpg)
2001; Silva et al., 2001; Victório et al.,
2001 e 2002).
Os recursos vegetais são
amplamente distribuídos nos
ecossistemas e diversificados quanto à
composição química, participando de
forma significativa na produção
industrial de comidas, cosméticos e
drogas farmacêuticas (Zárate et al.,
2001). Devido à vasta diversidade na
composição química, 10 a 15% das
pesquisas químicas com vegetais estão
focadas na descoberta de compostos
biologicamente ativos. Em 1995,
estimava-se que 119 derivados de
plantas eram utilizados na medicina
ocidental e dos 25 medicamentos mais
utilizados mundialmente, 12 eram
derivados de produtos naturais
(Verpoorte, 1998). Da maioria dos
medicamentos aprovados entre 1983 e
1994, 6% são considerados produtos
naturais por terem sido obtidos
exclusivamente de plantas, 24% são
derivados de plantas e 9% foram
sintetizadas tendo como precursor uma
molécula extraída da planta (Maraschin
& Verpoorte, 1999).
Diante da diversidade biológica
brasileira, em particular entre os
vegetais, a busca por novas drogas e
seus efeitos requer uma rigorosa e
contínua pesquisa em cada região
fitogeográfica (Matos, 1997; Péret de
Sant´Ana, 2002). Muito do potencial no
uso de plantas medicinais advém dos
esforços em conhecer a farmacologia da
flora local (Souza Brito & Souza Brito,
1993). O Brasil compreende uma ampla
área com diferentes ambientes
geográficos, na qual a flora é
abundante e diversificada, constituindo
um recurso potencial em princípios
bioativos (Mello, 1980). Para Carlini
(apud Pivetta, 2001), em entrevista
dada a Revista Pesquisa FAPESP
(Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo), a busca de novas
drogas na biodiversidade brasileira é
mais lucrativa do que trabalhar com
síntese química de fármacos. Existem 4
áreas de elevada diversidade no Brasil:
Floresta Amazônica, Mata Atlântica,
Cerrado e Caatinga. Na Amazônia está
concentrada a maioria das pesquisas
etnofarmacológicas (Souza Brito &
Souza Brito, 1993), mas ainda assim
pouco conhecida (Elisabetsky &
Wannmacher, 1993). O Cerrado
brasileiro é um bioma que têm sido alvo
de crescente investigação científica pela
abundância de plantas nativas e
biodiversidade (Neto & Morais, 2003).
![Page 9: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/9.jpg)
Após vários anos de convivência
planta e homem, e apesar dos avanços
técnico-científicos na produção de
drogas, ainda se utiliza plantas de
forma primitiva. Branquinho (1999)
constatou em estudos etnográficos que
“a análise da cultura das ervas no limite
urbano revelou a metrópole como um
local de marcante ambigüidade”,
mesclada pelo popular e científico,
podendo evidenciar um risco a saúde,
quando o popular é utilizado de forma
abusiva, fora do contexto étnico-
cultural. A avaliação criteriosa e
científica das plantas medicinais fornece
subsídios para o esclarecimento do
valor terapêutico e obtenção de
conhecimentos que minimizam os
efeitos advindos das propagandas
massivas, que registram apenas os
benefícios das plantas (Akerele, 1988;
Elisabetsky & Souza, 2003). Os estudos
com plantas medicinais se sustentam
pela elevada porcentagem da população
brasileira que usa fitoterápicos e busca
nas plantas medicinais a cura
(Elisabetsky & Wannmacher, 1993).
Além disso, os estudos científicos dão
uma base confiável de informação para
evitar as complicações inerentes ao uso
indiscriminado de plantas medicinais
(Awang, 1997; Varricchio et al., 2007).
Aproximadamente 11,1% das plantas
estudadas apresentaram atividade
tóxica (Souza Brito & Souza Brito,
1993). Matos (1997) cita que o aspecto
mais importante dos estudos químicos e
farmacológicos com plantas medicinais
direciona o uso correto da planta, que
muitas vezes é utilizada de forma
empírica.
O uso de plantas medicinais se
perpetua visto que inúmeras atividades
terapêuticas são descobertas e
redescobertas pela ciência. É notável o
conhecimento tradicional herdado pela
sociedade, sobre o uso destas plantas,
bem como os estudos científicos que
ampliam as oportunidades para o uso
terapêutico. Conhecimentos de
etnobotânica e etnofarmacologia
indicam a ação farmacológica das
plantas medicinais e aproximam a
ciência da descoberta de novas drogas
(Cox & Balick, 1994).
Referências Bibliográficas
Awang, D. V. C. The lack of quality control in herbal information. Journal of Herbs, Spices & Medicinal Plants, 5(1):3-6, 1997. Akerele, O. Medicinal plants and primary health care: an agenda for action. Fitoterapia, LIX (5): 355-363, 1998. Bauer, R. & Tittel, G. Quality assessment of herbal preparations as a precondition of pharmacological and clinical studies. Phytomedicine, 2(3): 193-198, 1996.
![Page 10: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/10.jpg)
Branquinho, F. T. B. (1999) Da “química” da erva nos saberes popular e científico. Tese de Doutorado. Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo. Calixto, J. B. Efficacy, safety, quality control, marketing and regulatory guidelines for herbal medicines (phytotherapeutic agents). Brazilian Jorunal of Medical and Biological Research, 33: 179-189, 2000. Capasso, R.; Izzo, A. A.; Pinto, L.; Bifulco, T.; Vitobello, C. & Mascolo, N. Phytotherapy and quality of herbal medicines. Fitoterapia, 71: S58-S65, 2000. Cox, P. A. & Balick, M. J. The ethnobotanical approach to drug discovery. Scientific American, 270(6): 82-87, 1994. Ding, G. S. Traditional Chinese medicine and modern pharmacology. International Pharmacy Journal; 11: 11-14, 1987. Elisabetsky, E. & Wannmacher, L. The status of ethnopharmacology in Brazil. Journal of Ethnopharmacology, 38: 137-143, 1993. Elisabetsky, E. & Souza, G. C. Etnofarmacologia como ferramenta na busca de substâncias ativas. In: Faramcognosia: da planta ao medicamento, Capitulo 6 (107-123), 5ª ed., Porto Alegre, Editora UFRGS e UFSC, 2003. Garlet, T. M. B. & Irgang, B. E. Plantas Medicinais utilizadas na medicina popular por mulheres trabalhadoras rurais de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil. Rev. Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, 4(1): 9-18, 2001. Gilbert, B; Ferreira, J. L. P. Almeida, M. B. S.; Carvalho, E. S.; Cascon, V.; Rocha, L. M. The official use of medicinal plants in public health. Ciência e Cultura, 49 (5/6): 339-344, 1997.
Gottlieb, O. R. & Stefanello, M. E. A. Comparative ethnopharmacology: a rational method for the search of bioactive compounds in plants. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 63(1): 23-27, 1991. Janssen, A. M. & Scheffer, J. J. C.; Svendsen, A. B. Antimicrobial activities of essential oils. A 1976–1986 literature review on possible applications. Pharmacy Week Science, 9:193–197, 1987. Kapadia, G. J. Journal of Medicinal Chemistry, 46 (23): 5095, 2003. Lima, S. S.; Esquibel, M. A.; Henriques, A. B.; Silva, F. O.; Silva, P. H. B. & Lage, C. L. S. Cultura monoclonal de erva de bicho (Polygonum acre H. B. K. var aquatile) para produção de fitoterápico em escala comercial. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 4 (1): 51-55, 2001). Luize, P. S.; Tiuman, T. S.; Morello, L. G.; Maza, P. K.; Ueda-Nakamura, T.; Dias Filho, B. P.; Cortez, D. A. G.; de Mello, J. C. P.; Nakamura, C. V. Effects of medicinal plant extracts on growth of Leishmania (L.) amazonensis and Trypanosoma cruzi. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 41(1): 85-94, 2005. Magherini, R. Le piante medicinali e aromatiche ieri e oggi. Posibilita di coltivazione delle piante medicinali e aromatiche. L´Italia Agrícola, 3: 17-22, 1988. In: Scarpa, G. M.; Milia, M. & Satta, M. The influence of growth regulators on proliferation and rooting of in vitro propagated myrtle. Plant Cell, Tissue and Organ Culture, 62: 175-179, 2000. Maraschin, D. F. & Verpoorte, R. Engenharia do metabolismo secundário. Otimização da produção de metabólitos secundários em cultura de células vegetais. Revista Biotecnología, Ciência e Desenvolvimento, 10: 24-28, 1999. Matos, F. J. A. Natural products reserach in Brazil: Living pharmacies. Ciencia e Cultura, 49(5/6): 409-412, 1997.
![Page 11: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/11.jpg)
Mello, J. F. Plants in tradicional medicine in Brazil. Journal of Ethnopharmacology, 2: 49-55, 1980. Moura R. S., Afiatpour, P.; da Silveira, A. V.; de Mello, R. G.; Neto, M. D. & Almagro, L. C. Effect of hydroalcoholic extract of colonia (Alpinia zerumbet) on rat arterial blood pressure and on the isolated human saphenous vein. Naunyn-Schmiedebergs Arch. Pharmacol. 358 (1): 3844, 1998. Neto, G. G & Morais, R. G. Recursos medicinais de espécies do Cerrado de Mato Grosso: um estudo bibliográfico. Acta Botânica Brasílica, 17(4):561-584, 2003. Newman, D. J.; Cragg, G. M. & Snader, K. M. The influence of natural products upon drug discovery. Natural Product Reports, 17(3): 215-234, 2000. Péret de Sant´Ana, P. J. 2002. A bioprospecção no Brasil – contribuições para uma gestão ética. Brasília, Paralelo 15. 220p. Petrovick, P. R.; Marques, L. C. & de Paula, I. C. New rules for phytopharmaceutical drug registration in Brazil. Journal of Ethnopharmacology, 66: 51-55, 1999. Phillipson, J. D. Phytochemistry and medicinal plants. Phytochemistry, 56: 237-243, 2001. Phillipson, J. D. 50 years of medicinal plant research – every progress in methodology is a progress in science. Planta Medica, 69: 491-495, 2003. Pivetta, M. Fitoterápicos: As lições dos Krahô. Pesquisa FAPESP, nov/dez: 14-18, 2001. Programa Estadual de Plantas Medicinais (PROPLAN). Arquivo consultado na Internet: www.saúde.rj.gov.br/proplam, 2004. Richardson, M. A. Research of complementary/alternative medicine therapies in oncology: promising but challenging. Journal of Clinical Oncology, 17(11): 38-43, 1999.
Seidl, P. R. Prospects for Brazilian Natural Products. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 71(2): 239-247, 1999. Silva, N. C. B.; Victório, C. P.; Oliveira Filho, A. M. ; Esquibel, M. A.. Efeitos da interação luz-hormônio sobre o desenvolvimento de Senecio cineraria in vitro. In: VIII Congresso Brasileiro de Fisiologia Vegetal, 2001, Ilhéus. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, 2001. Souza Brito, A. R. M. & Souza Brito, A. A. Forty years of Brazilian medicinal plant reserach. Journal of Ethnopharmacology, 39: 53-67, 1993. Souza Brito, A. R. M. How to study the pharmacology of medicinal plants in underdeveloped countries. Journal of Ethnopharmacology, 54: 131-138, 1996. Varrichio, M. C. B. N.; Ormelez, E. G.; Silva, S.; Moreira, C. B.; Lima, S. S.; Victório, C. P.; Lopes, J. B.; Henriques, A. B.; Sato, A.; Esquibel, M. A.; Kuster, R. M. & Lage, C. L. S. L. Contribuição multidisciplinar da biotecnologia vegetal às áreas de saúde. Arquivos FOG, 4 (1):15-22, 2007. Verpoorte, R. Reviews: Exploration of nature´s chemodiversity: the role of secondary metabolites as leads in drug development. DDT, l 3(5): 232-238, 1998. Victório, C. P. ; Lage, Celso Luiz Salgueiro ; ESQUIBEL, Maria Apparecida . Avaliação dos sucessivos subcultivos in vitro de Calendula officinalis L.. In: V Jornada Paulista de Plantas Medicinais, 2001, Botucatu, 2001. Victório, C. P.; Esquibel, M. A.; Lage, C. L. S. Morfogênese in vitro de quebra-pedra (Phyllanthus tenellus Roxb.) Mantido em Diferentes Temperaturas. In: XVII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, Cuiabá, 2002. Victório, C. P. (2004) Estudos integrados: biofísica, biotecnologia, anatomia e
![Page 12: Uso de Plantas Medicinais](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022081718/5571f1ef49795947648bd4c6/html5/thumbnails/12.jpg)
fitoquímica na avaliação de plantas de Phyllanthus tenellus Roxb. cultivadas in vitro. Dissertação de Mestrado. Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Biofísica), Instituo de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. World Health Organization Regulatory Situation of Herbal Medicines. A Worldwide Review. [WHO/TRM/98-1].p. 45, 1998. Zaraté, R.; Dirks, C.; van der Heijden, R. & Verpoorte, R. Terpenoid indole alkaloid profile changes in Catharanthus pusillus during development. Plant Science, 160: 971-977, 2001. Resumo
Este estudo apresenta uma revisão
bibliográfica sucinta sobre o uso de
plantas medicinais ao longo do tempo e
mostra a importância dos
conhecimentos empíricos e o uso
popular de plantas medicinais
direcionando a descoberta de novas
drogas e a obtenção de resultados
sistematizados do uso de plantas
medicinais, oriundos de pesquisas
científicas in vitro e in vivo. A interação
entre o conhecimento popular e
científico, viabiliza novos recursos no
tratamento terapêutico e expande as
alternativas na área de saúde.
Palavras-chave: fitoterapia, medicina
popular, sociedade, terapêutico,
terapias alternativas.
Revista Arquivos FOG , vol. 5 (1): 33-41, 2008. www.fog.br [email protected]