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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Rozeli do Rocio Cosmo Massinhã ECONOMIA CRIATIVA: CONCEITO, EXPERIÊNCIAS, DESAFIOS E ALTERNATIVAS PARA O DISTRITO DE FERRARIA CAMPO LARGO - PARANÁ CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Rozeli do Rocio Cosmo Massinhã

ECONOMIA CRIATIVA: CONCEITO, EXPERIÊNCIAS, DESAFIOS E

ALTERNATIVAS PARA O DISTRITO DE FERRARIA

CAMPO LARGO - PARANÁ

CURITIBA

2012

ROZELI COSMO MASSSINHÃ

ECONOMIA CRIATIVA: CONCEITO, EXPERIÊNCIAS, DESAFIOS E

ALTERNATIVAS PARA O DISTRITO DE FERRARIA

CAMPO LARGO - PARANÁ

Monografia apresentada para o curso de Especialização em Gestão, Produção e Promoção Cultural, da Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Paraná com requisito parcial para obtenção do título de especialista.

Orientador: Prof. MS. Nilton Cordoni Junior.

CURITIBA

2012

TERMO DE APROVAÇÃO Rozeli do Rocio Cosmo Massinha

ECONOMIA CRIATIVA: CONCEITO, EXPERIÊNCIAS, DESAFIOS E

ALTERNATIVAS PARA O DISTRITO DE FERRARIA

CAMPO LARGO - PARANÁ

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de especialista em

Gestão, Produção e Promoção Cultural no

Curso de Gestão, Produção e Promoção Cultural da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 05 de novembro de 2012.

______________________________________________

Pós Graduação em Gestão, Produção e Promoção Cultural

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Professor da Disciplina Economia da Cultura

Nilton Cordoni Junior do Curso de

Gestão, Produção e Promoção Cultural

`

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao Departamento de Cultura de Campo Largo, meus

familiares e a todos que contribuíram para a realização deste.

AGRADECIMENTO

Agradeço à comunidade de Ferraria pela parceria, troca de experiência,

receptividade e compreensão de todos. Aos colegas do Departamento de Cultura de

Campo Largo, em especial Jucie Parreira e Robson Fco Costa, pelo apoio e

incentivo durante o curso de Gestão e Produção Cultural. Ao meu marido Dante Luiz

Massinhã e filhos Letícia e Leonardo Massinhã. Ao Professor Nilton Cordoni Junior,

pela orientação. A todos que colaboraram para a execução deste.

A que lugar eu pertenço? A globalização nos leva a reimaginar

a nossa localização geográfica e geocultural. As cidades, e,

sobretudo as megas cidades, são lugares onde essa questão

se torna intrigante. Ou seja, espaços onde se apaga e se torna

incerto o que antes se entendia por "lugar". Não são áreas

delimitadas e homogenias, mas espaços de interação em que

as identidades e os sentimentos de pertencimento são

formados com recursos materiais simbólicos de origem local,

nacional e transnacional. Néstor Garcia Canclini

RESUMO

A presente pesquisa analisa Economia Criativa: Conceitos, experiências, desafios e alternativas para o Distrito de Ferraria – Campo Largo – Paraná. O estudo surgiu da necessidade de gerar dados da região considerando aspectos culturais, econômicos e sociais. Pretende-se conceituar e contextualizar economia criativa; abordar experiências bem sucedidas, fomento, financiamento para o setor; mapear atividades criativas no Distrito de Ferraria. A aplicação da metodologia deu-se por meio de entrevista e acompanhamento das atividades desenvolvidas na comunidade. A análise das atividades criativas permitiu elaborar dados da região com a pretensão de auxiliar na elaboração de políticas culturais que venha a fomentar, a contemplar economia criativa para o Distrito de Ferraria.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas Culturais; Economia Criativa; Distrito Ferraria

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

2 POLÍTICAS CULTURAIS: BREVE HISTÓRICO .............................................. 13

3 ECONOMIA CRIATIVA .................................................................................... 19

3.1 CRIATIVIDADE ................................................................................................. 20

3.2 CONCEITOS ECONOMIA CRIATIVA ............................................................... 21

3.3 TRAJETÓRIAS DA ECONOMIA CRIATIVA ...................................................... 23

3.4 INSTITUCIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA CRIATIVA ..................................... 25

3.5 DESAFIOS DA ECONOMIA CRIATIVA BRASILEIRA:..................................... 27

3.6 SECRETARIA DA ECONOMIA CRIATIVA E SEU PLANO .............................. 31

3.7 SETORES CRIATIVOS E CULTURAIS ........................................................... 36

3.8 INDÚSTRIAS CRIATIVAS ............................................................................... 37

3.9 CLASSE CRIATIVA ......................................................................................... 38

3.10 CIDADES CRIATIVAS ..................................................................................... 38

3.11 CADEIAS DA ECONOMIA CRIATIVA .............................................................. 40

3.12 CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO CRIATIVO ..................... 41

4 GESTÃO E ECONOMIA CRIATIVA ................................................................ 45

4.1 SISTEMA NACIONAL E MUNICIPAL DE CULTURA ....................................... 45

4.2 PLANOS DE CULTURA .................................................................................. 47

4.3 FUNDO MUNICIPAL DE CULTURA ................................................................ 48

4.4 AÇÕES DA SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DO PARANÁ ............ 48

4.5 DEPARTAMENTO DE CULTURA DE CAMPO LARGO DIVISÃO ECONOMIA

CRIATIVA .................................................................................................................. 49

4.5.1 Seção de fomento cultural ................................................................................ 50

4.5.2 Seção de Empreendedorismo Cultural ............................................................. 50

4.5.3 Seção de Desenvolvimento Comunitário .......................................................... 51

5 INDICADORES E AGENTES FINANCIADORES ........................................... 52

5.1 INDICADORES................................................................................................. 52

5.2 AGENTES FINANCIADOR ............................................................................... 56

5.3 PONTOS DE CULTURA – FINANCIAMENTO DO MinC .................................. 57

6 MERCADO - TECNOLOGIA - DESENVOLVIMENTO - SUSTENTBILIDADE 59

7 EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS - MOVIMENTOS CRIATIVOS ................ 64

7.1 BICHINHO ........................................................................................................ 64

7.2 GUARAMIRANGA ............................................................................................ 65

7.3 CARNAVAL ....................................................................................................... 65

7.4 MODA NO PARANÁ ......................................................................................... 66

7.5 LITORAL PARANAENSE ................................................................................. 67

7.6 FESTIVAL DE INVERNO EM ANTONINA ........................................................ 68

7.7 ESCOLA DE CRIATIVIDADE ........................................................................... 68

7.8 RIO CRIATIVO ................................................................................................. 69

7.9 INSTITUTO GÊNESIS ...................................................................................... 69

7.10 AMÉRICA LATINA ............................................................................................ 69

8 INSTITUIÇÕES QUE INVESTEM NO SETOR ................................................ 71

8.1 UNESCO .......................................................................................................... 71

8.2 SEBRAE ........................................................................................................... 71

8.3 SESI ................................................................................................................. 72

8.4 SENAR ............................................................................................................. 72

8.5 ALIANÇA EMPREENDEDORA......................................................................... 73

8.6 BNDES ............................................................................................................. 73

8.7. BRDE ............................................................................................................... 74

8.8 SANTANDER.................................................................................................... 74

9 EXPERIÊNCIAS, DESAFIOS E ALTERNATIVAS PARA O DISTRITO DE

FERRARIA ................................................................................................................ 76

9.1 LOCALIZAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO ................................................... 77

9.2 POTENCIAIS CRIATIVOS DE FERRARIA ....................................................... 81

9.3 TEAR ................................................................................................................ 81

9.4 CERÂMICA ...................................................................................................... 82

9.5 ENTALHE EM MADEIRA.................................................................................. 82

9.6 ESCULTURA EM CERÂMICA .......................................................................... 83

9.7 ROTA TURÍSTICA ............................................................................................ 83

9.8 ESPAÇO CULTURAL ....................................................................................... 84

9.9 DE FERRARIA PARA BATEIAS ....................................................................... 85

10 ARTESANATO - ATIVIDADE ECONÔMICA PARA FERRARIA ...................... 87

11 EXPECTATIVAS E METAS PARA FERRARIA ................................................ 88

12 DESEMPENHO E RESULTADOS ................................................................... 90

13 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 92

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 94

LISTA DE TABELAS

QUADRO 1 – SETORES CRAITIVOS NUCLEARES................................................34

QUADRO 2 – ESCOPO DOS SETORES DO MINC..................................................35

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - A ECONOMIA CRIATIVA BRASILEIRA E SEUS PRINCIPAIS NORTEADORES........................................................................................................26 FIGURA 2 - A ECONOMIA CRIATIVA E DIMÂMICA DE FUNCIONAMENTO DOS SEUS ELOS...............................................................................................................33 FIGURA 3 – SEORESCRIATIVOS.............................................................................37

11

1 INTRODUÇÃO

A escolha do tema Economia Criativa: Experiências, desafios e alternativas

para o Distrito de Ferraria – Campo Largo – Paraná, deu-se principalmente pela

capacidade que a temática da economia criativa tem de transformar o meio, pela

forma que vem ocupando espaço junto à economia tradicional. O terceiro setor é

visto com um novo olhar, voltado para a criatividade, inovação, levando em conta

sua contribuição como ferramenta e possibilidades para o desenvolvimento de várias

áreas da dinâmica cultural, social, econômica. Este estudo tem como objetivo:

-Conceituar e contextualizar economia criativa.

-Abordar experiências bem sucedidas, fomento, financiamento para o setor.

-Mapear atividades criativas no Distrito de Ferraria.

A presente pesquisa esta fundamentada em dados por meio de entrevistas e

observação do local. Com esses dados pretende-se provocar uma reflexão da

situação do local para auxiliar na elaboração de políticas culturais que contemple

economia criativa para o Distrito de Ferraria, levando em considerando aspectos:

geográfico, sócio-histórico e econômico, cultural.

Reconhecer as potencialidades culturais do local favorece o processo de

mudança, reforça a identidade local e conseqüentemente reflete na vida das

pessoas, tornando-a mais possível. É preciso tomar consciência e adotar uma

atitude diante da realidade para cuidar de si, dos outros, de sua comunidade, do seu

entorno, do mundo, contribuindo com a existência da humanidade.

Segundo Darcy Ribeiro (2009), cultura não pode ser entendido apenas pela

produção de bens de consumo, mas também pela produção própria do homem,

como necessidade existencial. A cultura é dinâmica e se recicla adaptando-se a

novos elementos. Cultura é sinônimo de significado, onde um grupo social vivencia

experiências.

Esta pesquisa apresenta-se em três partes: a primeira aborda aspectos

conceituais de políticas culturais com ênfase na economia criativa. A segunda,

conceitos, Secretaria da Economia da Cultura e seu Plano. A terceira parte, a mais

complexa pretende trazer a primeira e a segunda associando-as ao Distrito de

Ferraria.

O interesse pelo Distrito de Ferraria surgiu pela peculiaridade da região, seu

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contexto histórico, localização e outros aspectos da região num contexto municipal,

estadual, federal sob uma perceptiva bem recente na área da gestão cultural, a linha

de economia criativa. Analisar-se-á as decisões tomadas pela auto-organização da

comunidade, suas necessidades, objetivos e políticas culturais do município.

O material de pesquisa selecionado para desenvolvimento do tema

fundamentou-se principalmente na escolha de autores nacionais e latino-

americanos. Tal decisão deu-se pela tentativa de valorizar os recursos, as produções

locais, pelo principio da proximidade ao falar de identidades, de sustentabilidade e

comunidade local. Referências e citação de autores estrangeiros serão limitadas,

pois, seria insuficiente para dar conta da dinâmica social local, não desconsiderando

os impactos globais sob a ótica das definições de tais teóricos.

O trecho da música "Querelas do Brasil" de Aldir Blanc questiona sobre

nossa cultura, nossa identidade quando se refere: "O Brasil, não conhece o Brasil, o

Brasil, nunca foi ao Brasil”. A letra desta música nos leva a pensar: Como vemos o

Brasil? Seu potencial? O que realmente conhecemos do nosso país? Partindo desta

ótica, necessitamos de reflexão sobre as relações de pertencimento. “A que lugar eu

pertenço?” Lembrando Canclini (2008), que trata muito bem deste tema.

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2 POLÍTICAS CULTURAIS: BREVE HISTÓRICO

Um breve histórico das políticas culturais no Brasil para compreender em que

momento a economia criativa entra em cena. Segundo Isaura Botelho,

Uma política pública se formula a partir de um diagnóstico de uma realidade, o que permite a identificação de seus problemas e necessidades. Tendo como meta a solução destes problemas e o desenvolvimento de setor sobre o qual se deseja atuar, cabe então o planejamento das etapas que permitirão que a intervenção seja eficaz, no sentido de modificar o quadro atual. Por ser conseqüente, ela deve prever meios de avaliar seus resultados de forma a permitir a correção de rumos e de se atualizar permanentemente, não se confundindo com ocorrências aleatórias, motivadas por pressões específicas ou conjunturais. Não se confunde também com ações isoladas, carregadas de boas intenções, mas que não têm conseqüência exatamente por não serem pensadas no contexto dos elos da cadeia de criação, formação, difusão e consumo. (BOTELHO, 2007, p. 3-4).

A intenção não é se aprofundar em políticas culturais, mais sim identificar em

que momento a economia criativa começa a fazer parte destas políticas. Rever sua

trajetória, sua atuação e resultados, pois partindo de uma análise das mesmas é que

se define uma gestão pública comprometida e eficaz, que atenda os objetivos e

necessidades culturais. Políticas que leve em consideração promover o

desenvolvimento. Segundo CALABRE (2005), isso se torna possível quando um

"conjunto ordenado e coerente de preceitos e objetivos que orientam linhas de

ações públicas mais imediatas no campo da cultura". Trata-se de estratégias de

lutas, de conflitos e defesas de idéias ligadas a relação de poder para evoluções e

ações concretas no campo das políticas culturais.

Analisando políticas culturais na história do Brasil, verifica-se que na década

de 1930, foi criado processo de reforma administrativa, por meio de Decreto

Presidencial assinado em 30 de novembro de 1937, o Serviço de Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (SPHAM), preparado por Mário de Andrade, onde

definia patrimônio histórico e artístico nacional como:

O conjunto de memoráveis de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja do interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História do Brasil, valor arqueológico, etnográfico, artístico e outros (IPHAN, 2003).

Entre os anos de 1950 e 1960, o processo fica atenuado pela impossibilidade

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de desenvolvimento econômico. Em 1964 ocorre um momento de agitação cultural:

cinema, teatro, literatura, música popular brasileira, período marcado pela

repressão, mas também pela criatividade. E foi com muita criatividade é que a

classe artística se manifestou. Em 1966 é criado o Instituto Nacional do Cinema. Em

1967 surge a Escola Superior de Guerra, daí a Doutrina de Segurança Nacional,

servindo-se da cultura para difundir suas idéias entre os setores da elite e da classe

média urbana.

Em 1973 foi elaborado o Plano de Ação Cultural (PAC), onde se destaca o

processo de fortalecimento do papel da Secretaria da Cultura ainda dentro do

Ministério da Educação. Lançado em 1976 o Plano Nacional de cultura -

coordenação e ação de vários organismos no campo da cultura. Criada a Fundação

Nacional de Arte com novas diretrizes do governo, onde se estabelece relação entre

governo militar e setores intelectuais e artísticos, tente-se estabelecer novas bases

governamentais. Em 1970 temos intervenção e planejamento do estado no campo

cultural. O Brasil ganha impulso e é influenciado pela indústria cultural. Os

economistas da época apontavam estes fatos referindo-se como uma "segunda

revolução industrial". A economia cultural traz conseqüências junto ao crescimento

industrial e ao mercado interno.

Nos anos 70 a crise do petróleo induziu as pessoas a um novo

comportamento, nova prática de consumo. Surgem novos equipamentos, uma

revolução tecnológica, essa modernização favoreceu o setor de entretenimento.

A década de 80 foi um marco para a política cultual do país. Foi criada em

1986 a Lei Sarney, a primeira Lei brasileira de incentivos fiscais para financiar a

cultura. Também em 1986 a inauguração do Ministério e diversos órgãos: apoio à

Produção Cultural. Em 1987 a Fundação Nacional de Artes e Ciências; a Fundação

do cinema Brasileiro; Fundação Nacional Pró-Leitura juntando a Biblioteca Nacional

e o Instituto Nacional do Livro. No ano seguinte 1988, a Fundação Palmares.

Houve então uma ruptura da prática vigente. Pela falta de recursos o estado

reduziu o financiamento direto para a cultura, propondo que as verbas fossem

buscadas no mercado.

Em 1991, a criação da Lei Rouanet, em 1992 a Recriação do Ministério da

Cultura, em 1993 a Lei 8.565 – do audiovisual. Promulgação da Lei Rouanet nº

8.313. Programa Nacional de Apoio à cultura (PRONAC). Ao invés do governo

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investir diretamente em cultura, delegou esta função às empresas, deixando que as

mesmas decidissem quem patrocinar. Dinheiro público de renuncia fiscal nas mãos

de empresas privadas, gerenciada pelo mercado.

A Lei Rouanet passou por duas reformas no governo Fernando Henrique

Cardoso e Lula. A reforma esperada com expectativa pela classe artística ocorreu

em 2012, no governo da Dilma. As informações sobre a reforma foi apresentada

pelo MinC em material informativo sobre o Projeto Lei que cria o Programa Nacional

de Fomento e Incentivo à Cultura.

De forma sucinta, vejamos sobre os motivos e objetivos do projeto de lei para

alterar a Lei Rouanet: evitar concentração em termos territoriais e de proponentes;

distribuição de recursos para todas as áreas e segmentos e regiões do país;

dependência exclusiva de patrocinadores com retorno de imagem; concentração de

50% dos recursos captados em apenas 3% dos proponentes; falta de critérios para o

uso de dinheiro público; nenhum investimento dos patrocinadores; concentração em

uma só região.

Diante destes fatos, a nova lei adota critérios públicos: amplia o conteúdo do

artigo 22 da Lei Rouanet. Veta a análise subjetiva garantindo também a

impessoalidade da avaliação em todo o processo. A lei apresenta um Fundo com

recursos próprios com critérios e objetivos legais e novos mecanismos de apoio a

projetos culturais. Organiza Nova Comissão Nacional de Incentivo À Cultura (CNIC)

adotando critérios para distribuição dos recursos.

A nova lei fortalece o orçamento criando o Fundo Nacional de Cultura (FNC);

desburocratização; gestão em parceria com a sociedade e o setor cultural; defesa

da diversidade e fomento à criatividade cultural; desenvolvimento da economia da

cultura; novo modelo para financiamento. Será a primeira lei a incorporar a

ratificação da Convenção da Diversidade das Expressões Culturais da UNESCO.

Buscam-se melhorias na lei, porém ainda é a única forma de financiamento.

Sobre o Fundo Setorial e ações transversais, são recursos disponibilizados

para atender setores específicos, conforme estão organizados (audiovisual,

literatura, teatro, dança, música, design, moda, artes visuais, artesanato, cultura

popular, indígena, afro descendentes entre outros) cada qual com sua especificidade

e regulamentação própria. É necessária uma análise da trajetória da economia

criativa para detectar avanços e como as políticas públicas no Brasil vem

trabalhando com esse setor. É prudente rever em que momento a economia criativa

16

entra em cena. Lembrando que antes dela o foco deu-se em torno da indústria

cultural e da economia da cultura. De acordo com Rubim,

A trajetória brasileira das políticas culturais produziu tristes tradições e enormes desafios. Estas tristes tradições podem ser emblematicamente sintetizadas em três palavras: ausência, autoritarismo e instabilidade. Os enormes desafios desta "vida prejudicada"- para lembrar uma expressão tão cara a Theodor Adorno - pelas tradições construídas. (RUBIM, 2007, p.1).

Na era Vargas ausência de instituições democráticas, políticas determinantes

do modelo industrial brasileiro. Início do Projeto Desenvolvimento Econômico que

favoreceu a minoria da população. Com Juscelino Kubitscheck surge o plano de

metas que rompe com o modelo de Vargas, fica centrado em uma economia

vinculada aos interesses nacional. Com Fernando Collor a implantação do modelo

neoliberal e adesão a economia globalizada. Na administração de Itamar Franco e

Fernando Henrique Cardoso o Plano Real e a privatizações estatais, criação do

Sistema Único de Saúde (SUS) e universalização do ensino básico.

Um novo período para a cultura. No governo Lula predomina manifestações

voltadas à população, comprometimento com a classe dos desfavorecidos da

sociedade. Para a área cultural, mais atenção e avanços. No governo Dilma, a

criação da Secretaria de Economia Criativa e seu Plano. Neste período, a economia

criativa entra em cena de forma organizada, constituída. Um marco para o setor.

Fechando a trajetória das políticas culturais, conclui-se que por um

determinado período os fundamentos neoliberais da economia brasileira e a

trajetória das políticas públicas deram-se também num cenário neoliberal, com

dificuldade de programas de inclusão. Na última década o reconhecimento do

terceiro setor como fundamental para o desenvolvimento. Visto desta forma surgem

políticas públicas com projetos e experiências que auxiliam na inclusão social e

econômica.

No Brasil, é pouco praticado o debate e participação comunitária em âmbito

de tomada de decisões locais. Processo lento, pois o Estado ainda mantém ações

paternalistas muito claras, com objetivo de controle das organizações. As mudanças

necessárias do Estado impactam diretamente nas transformações de políticas

públicas e também na forma de atuação da sociedade civil. Não há possibilidade de

articulação para o desenvolvimento de políticas públicas somente voltadas para a

elite, que por muito tempo se favoreceu e tenta sempre se manter.

17

Pensar em políticas públicas é pensar no poder, nas decisões de governo

para atender as necessidades da maioria da população. A sociedade civil procura

espaço de representatividade, quer mais abertura para participar de decisões junto

aos gestores na formulação de políticas públicas. Do outro lado, temos

representantes ignorando e resistindo a pressão popular direcionando políticas

públicas conforme seus interesses.

As políticas públicas se materializam por intermédio da ação concreta de sujeitos sociais e de atividades institucionais que as realizam em cada contexto e condicionamento dos processos pelos quais elas são implantadas, além da avaliação de seu impacto sobre a situação existente, deve ser permanente. (HERMET, 2002, p. 14).

Para o Estado o modelo de desenvolvimento pode significar perda do controle

e da intenção de homogeneização. Para Barreto Santos muitas vezes, é prejudicial

à maioria da população por concentrar, em vez de distribuir oportunidades e renda.

Recentemente, passamos por mais uma crise financeira, reflexo da economia

global. E como qualquer crise, acaba por atingir aspectos políticos, social, cultural e

também outros setores com maior ou menor proporção, gerando expectativas e

insegurança. Alguns países, com mais dificuldade para se recompor, outros como o

Brasil, Índia e China enfrentam a crise de forma mais rápida.

O Brasil procura superar crises e avançar. Desafio constante que requer

cuidados, mas que também pode gerar oportunidades. De acordo com José Matias

Pereira,

As transformações em curso no mundo contemporâneo, que provocam incertezas no ambiente, também estão gerando novas oportunidades e impulsionando avanços tanto no setor privado como no público. Podemos argumentar, frente a essa tendência, que os esforços para viabilizar a inclusão, redução da desigualdade, manutenção do crescimento econômico sustentável e a melhoria das condições socioambientais são os principais desafios com que grande parte dos governantes, especialmente na América Latina, se defronta nesta segunda década do século XXI. (PEREIRA, 2010, p. 27).

O mundo vem passando por várias crises e para vencê-las devemos ficar

atentos transformando-as em oportunidades, criando parceria, superando desafios,

buscando alternativas e soluções inovadoras. O setor cultural sente os efeitos da

crise assim como os demais. As parcerias podem ajudar e fortalecer o setor. De

acordo com Martins, vejamos o conceito de redes e parcerias:

18

A efetivação do desenvolvimento sustentável, que contempla não apenas o desenvolvimento econômico, mas também o social e ambiental, exige ações complexas, que não dependem apenas de um único ator, no caso, o poder público. Para tornar possível uma ação conjunta de diversos atores da sociedade se faz necessária a construção de uma nova relação entre o setor público, o privado e o terceiro setor, nos âmbitos local, regional, nacional e global. É preciso que cada indivíduo, instituição, governos e agências multilaterais reexaminem a sua forma de atuar e busque interagir de forma flexível com os demais atores. Nesse contexto, deve-se levar em conta que respeitadas as diversidades e diferenças é factível identificar interesses comuns nas atividades humanas, visto que a construção de um mundo melhor, menos desigual e socialmente justo, é de interesse de todos os atores envolvidos nessa tarefa (MATINS, 2010, p. 32).

Para análise e compreensão da economia criativa uma abordagem da

economia convencional. Conceitos, definições, sua relação e contribuição para

novas economias. Certas definições e conceitos fazem-se necessário para análise

da atuação dos profissionais da economia (economistas) e da cultura (gestores,

produtores, artistas), em fim, todos os envolvidos direta ou indiretamente.

Há resistência por parte de alguns profissionais a respeito da economia

criativa. Alguns fatores contribuem para que isso ocorra: novos conceitos, a falta de

visão, de informação por parte dos profissionais de ambas as áreas. Cultura também

trabalha com oferta e demanda, com critérios financeiros, produção, consumo,

necessidade, locação de recursos, bem-estar. No campo cultural, preço é diferente

de valor, assim como outras áreas deve visar lucro. Não podemos mais

desconsiderar os índices que a área cultural vem apresentando.

19

3 ECONOMIA CRIATIVA

Primeiramente abordagem da fundamentação da Economia. O tema

Economia é abrangente, a intenção não é aprofundar-se, mas sim, fazer conexões

ente economia e economia criativa.

Para a antropologia pode-se dizer que quando se fala em economia pensa-

se, imediatamente em relação à satisfação das necessidades materiais de uma

comunidade e às relativas formas institucionais de relação entre o homem e seu

ambiente natural. De acordo com Pascoal (1982), a economia seria constituída pelo

conjunto de atividades voltadas para garantir a reprodução material da existência.

A definição clássica da Economia fundamentava-se em três divisões básicas

da atividade econômica, sendo elas: formação, distribuição e consumo.

Comprometida com um conjunto de princípios, teorias e leis.

Uma nova concepção deixa os padrões pós- renascentistas no século XVIII e

passa a cuidar de aspectos da atividade econômica livre, tratando também de

fatores envolvidos no processo de formação das riquezas, nos aspectos

relacionados para sua distribuição e consumo. Conhecida como '”trilogia'” (formação,

distribuição e consumo) permanecem até as últimas décadas do século XIX quando

surge um novo conceito proposto por Alfred Marshall. Segundo ele, ”A Economia é a

ciência que examina a parte da atividade individual e social essencialmente

consagrada a atingir e utilizar as condições materiais do bem-estar”. Considerada a

linha divisória entre definição clássica e contemporânea.

A Economia passa a analisar problemas como escassez de recursos e

recessões. Investiga e busca as condições necessárias para o bem-estar dos povos.

A teoria da trilogia clássica foi substituída pela linha conceitual contemporânea

levando-se em conta a escassez de recursos e necessidades ilimitadas. Na visão

contemporânea.

Não houvesse escassez nem necessidade de repartir os bens entre os homens, não existiriam tampouco sistemas econômicos nem Economia. A Economia é, fundamentalmente, o estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes. (PASCOAL, 1982 p. 44/45).

A economia criativa junto à economia tradicional procura atender vários tipos

de escassez, inclusive a escassez na área cultural.

20

Pensava-se em Economia tratando de forma igual para todas as áreas.

Porém com o passar do tempo houve uma expansão do termo economia, surgindo

ramificações como: economia solidária, economia da experiência, economia criativa

entre outros. Enfim, várias nomenclaturas, definições, um campo vasto a ser

explorado. O que exatamente precisamos saber, ou entender de cada uma destas

"áreas"? Qual a relação entre uma e outra? Para melhor compreensão vejamos

como ambas estão relacionadas. De acordo com Ana Carla Fonseca Reis,

Economia da experiência, economia do conhecimento, economia da cultura, indústrias criativas, Economia Criativa. Tantos conceitos que se fundem e confundem na busca desenfreada por um novo paradigma que ofereça soluções aos problemas socioeconômicos que nos afligem em escala mundial. A proposta de Economia Criativa como estratégia de desenvolvimento tem, porém, contornos mais precisos e características próprias, adaptadas ao contexto brasileiro (REIS, 2008, p. 15).

A denominação dos temas causa estranhamento e dúvidas, porém cada qual

tem sua especificidade e algo em comum: momento histórico e geográfico,

concepção e finalidade, cada qual com seu contexto. Mas é preciso cuidar para não

banalizar tais áreas. O importante é compreender de que forma os temas estão

relacionados para então definir escolhas e estratégias para o alcance do que se

pretende.

3.1 CRIATIVIDADE

Segundo a Conferência das Nações Unidas Sobre Comércio e

Desenvolvimento (UNCTAD), para definir criatividade leva-se em consideração os

seguintes aspectos: estimula a geração de receita, a criação de empregos e a

exportação promovendo inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento

humano; implica aspectos econômicos, sociais e culturais que envolvem tecnologia,

propriedade intelectual e turismo; caracteriza-se por atividades transversais que

interconectam níveis macro e micro com a totalidade da economia; demanda

inovação, política interdisciplinar e ações intermináveis; tem como coração indústrias

igualmente criativa. Segundo Ana Carla a criatividade é:

Palavra de definições múltiplas, que remete intuitivamente à capacidade não só de criar o novo, mas de reinventar, diluir paradigmas tradicionais, unir pontos aparentemente desconexos, se com isso, equacionar soluções

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para novos e velhos problemas. Em termos econômicos, a criatividade é um combustível renovável e cujo estoque aumenta com o uso. Além disso, a “concorrência” entre agentes criativos, em vez de saturar o mercado, atrai e estimula a atuação de novos produtores. Essas e outras características fazem da economia criativa uma oportunidade de resgatar o cidadão (inserindo-o socialmente) e o consumidor (incluindo-o economicamente), através de um ativo que emana de sua própria formação, cultura e raízes. Esse quadro de coexistência entre o universo simbólico e o mundo concreto é o que transmuta a criatividade em catalisador de valor econômico (REIS, 2008, p. 15).

Usufruir da criatividade em empresas, ou qualquer outro ramo de atividade

significa que pensamento e ação vão muito além das “artes” propriamente dita. Esta

argumentação vem de encontro com a proposta do setor criativo. Fazer uso do

pensamento é inerente ao ser humano.

A criatividade pode se transformar em oportunidade. Com a globalização e a

mídias digitais as mudanças ocorrem de forma muito rápida é preciso ficar atento

para não perder a essência da vida, dos valores. Somos regidos por um sistema

capitalista cruel, induzidos ao consumo e ao descartável. Nossa capacidade de

pensar e agir também se recicla, se renova. Segundo Drosdek (2008, p. 33): “As

pessoas que participam ativamente de processos de trabalho nas empresas podem

extrair estratégias de pensamento e de ações proveitosas a partir de seu

pensamento” De acordo com Franz Reinisch, diretor de uma empresa de porte

médio,

Ao lidar com o capital intelectual, não se pode ser indiferente a princípios empresariais. Uma firma não consegue ter nenhum ganho com seus valores patrimoniais imateriais, o capital intelectual é irrelevante (DROSDEK, 2009, p.34).

Sabe-se que as empresas visam lucros, são organizadas para este fim,

porém, podem e devem considerar o bem de todos os envolvidos no processo.

3.2 CONCEITOS ECONOMIA CRIATIVA

O conceito de economia criativa surgiu na Austrália no início da década de

1990 e ganhou visibilidade no Reino Unido a partir de 1997. Ao longo da primeira

década do século XXI passou a ser conhecida e debatida em todo o mundo. Trata-

se de um conceito de desenvolvimento moderno, cujo foco é a imaginação e

inovação nas áreas de produção, serviços e tecnologia, englobando também,

22

processos, modelos de negócios e de gestão. Conceito da proposta do Seminário

Economia Criativa: novas alternativas para o desenvolvimento (20/09/2011).

De acordo com Zita Oliveira no artigo: talento que contribui para inclusão "A

economia criativa, cujo conceito ainda não está bem definido, engloba as atividades

que tem como principal fonte de recurso a criatividade". Situa o setor no século XXI,

onde a cultura surge como aliada da economia na importante missão de inclusão

social e geração de postos de trabalho.

Para o chefe do Departamento de Economia Criativa da UNCTAD

(Organização das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), Edna

Santos, o conceito “pode ser definido como o ciclo que engloba a criação, produção

e distribuição de produtos e serviços que usam o conhecimento, a criatividade e o

capital intelectual como principais recursos produtivos.” E, ainda de acordo com ela,

abrangeria “desde os produtos artesanais até as artes cênicas, artes visuais, os

serviços audiovisuais, multimídia, indústrias de software etc.”. Ou seja, amplia-se o

leque da cultura além das artes, pois se incluem as atividades econômicas

baseadas no conhecimento e na criatividade. Pode-se dizer que: Economia Criativa

é um grupo de atividades econômicas baseadas no conhecimento com vínculos a

nível micro e macro com toda a economia. Já a Indústria Criativa são bens tangíveis

ou serviços intangíveis que incorporam conteúdo criativo, valor econômico, cultural,

objetivos de mercado. De acordo com Ana Carla Fonseca Reis,

Economia criativa origina-se do termo indústrias criativas, por sua vez inspirado no projeto Creative Nation, da Austrália, de 1994. Entre outros elementos, este defendia a importância do trabalho criativo, sua contribuição para a economia do país e o papel das tecnologias como aliadas da política cultural, dando margem à posterior inserção de setores tecnológicos no rol das indústrias criativas. (REIS, 2008, p. 16).

Diz ela que a “economia criativa compreende setores e processos que têm

como insumo criatividade, em especial a cultura, para gerar localmente e distribuir

globalmente bens e serviços com valor simbólico e econômico". (REIS, 2008, p. 23).

A autora ainda refere-se à globalização como fator fundamental da realidade

que provocou profundas alterações na sociedade e mudanças no nosso

comportamento. Graças aos rápidos avanços tecnológicos, a conectividade faz parte

do estilo de vida atual e influencia as nossas atitudes e escolhas diárias. Essa

transformação está dando uma nova forma ao padrão geral de consumo cultural em

23

todo o mundo e à maneira como os produtos e serviços criativos e culturais são

criados, produzidos, reproduzidos, distribuídos e comercializados em nível nacional

e internacional. Vai além, referindo-se a um ambiente mutante, com característica

relevante do século XXI com notável crescimento e reconhecimento da criatividade e

do talento humano, mais do que os fatores de produção tradicionais. O trabalho e o

capital estão se tornando rapidamente um poderoso instrumento para fomentar o

desenvolvimento.

3.3 TRAJETÓRIAS DA ECONOMIA CRIATIVA

No Reino Unido foi implantado pelo primeiro ministro Tony Blair, em 1997,

opção pela indústria criativa "Programa de Economia Criativa do Reino Unido". Na

Jamaica selecionaram a indústria criativa como um setor-chave de crescimento. Na

África, a parceria com o Programa das Nações Unidas e culturais como um dos

pilares do desenvolvimento. Na China identificaram-se as indústrias criativas e

culturais como um dos pilares do desenvolvimento econômico da China no futuro. A

China, Índia, Turquia destaca-se em bens da economia criativa. O tema não é mais

novidade, precisamos de dados para ingressar no campo da economia criativa.

O Brasil é o país que tem registro de maior crescimento no setor de mídia e

entretenimento do mundo. Está em 12º lugar entre 125 países estudados. Exportou

6,3 bilhões em 2008 e 15,35% em 2010. O Brasil é o país da América Latina com o

maior saldo positivo no comércio exterior de produtos e serviços ligados à indústria

criativa – que abrange áreas tradicionais da cultura (como música, TV, cinema e

artes plásticas), mas também artesanato, comunicação, design, arquitetura e itens

ligados às novas tecnologias. Em 2008, as exportações brasileiras superaram as

importações em US$ 1,74 bilhão, segundo o Relatório de Economia Criativa de

2010, publicado pelo PNUD e pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre

Comércio e Desenvolvimento).

Das 13 nações da região com volumes mais expressivos de fluxo comercial

nessa área, apenas quatro registraram superávit: Peru (US$ 251 milhões), Argentina

(US$ 55 milhões) e Bolívia (US$ 4 milhões), além do Brasil. Os maiores déficits são

de Venezuela (US$ 2,19 bilhões) e México (US$ 1,51 bilhão).

Os primeiros registros de estudos sobre a economia criativa no Brasil foi em

24

2004, por ocasião da 11ª. Reunião da Conferência das Nações Unidas para o

Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD). Esteve em pauta a necessidade de se

formular políticas públicas e privadas para incentivar o setor a gerar emprego, renda

e inclusão social, aproveitando a diversidade cultural do país e a facilidade dos

jovens em compreender a linguagem artística contida nos programas de qualificação

das instituições culturais.

Partindo do interesse de pesquisadores e do governo federal foi realizado um

Fórum Internacional das Indústrias Criativas em Salvador no ano de 2005, e em

2006 o Procult - Programa - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES) para o Desenvolvimento da Economia da Cultura, voltado para

atender apenas a cadeia produtiva do audiovisual. Isso ocorreu até o ano de 2009,

onde passa então agregar o patrimônio cultural, espetáculos ao vivo, setores

fonográficos, editorial, livrarias. Outro movimento de grande importância ocorreu em

2006, no Seminário Internacional em Fortaleza, São Paulo e Vitória, tendo como

pauta eixo voltado ao papel da economia criativa nas cidades. O Rio de Janeiro

realizou também em 2006 o “Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro

2006/2015” e, em 2008 o estudo “A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”. O

SEBRAE do Rio de Janeiro instituiu uma Gerência de Desenvolvimento da

Economia Criativa junto a Secretaria do Estado da Cultura (com a Coordenadoria e

Economia Criativa à frente do Programa “Rio Criativo”). Segundo dados da UNCTAD

em 2010 as MPES (médias e pequenas empresas) mantém destaque no campo da

economia criativa, mesmo apresentando diversas dificuldades.

A Secretária de Economia Criativa, Cláudia Leitão trás como referencia

algumas cidades que depois de enfrentar crises, e pela necessidade adotaram em

suas agendas a economia criativa como alavanca para superar crises e dar início a

um processo de crescimento e desenvolvimento.

Será que o Brasil precisa esperar crises e mais desemprego para repensar

novas formas de abordagem econômica? Temos crises, porém temos potencial, o

que fazer com ele? Um novo olhar para transformar os espaços urbanos em lugares

atrativos e que correspondam aos anseios da população. Criatividade e inovação

movem a economia, favorece a fusão de recursos utilizados durante um processo,

seja na área cultural ou não. Deve ser uma busca constante para elaborar produtos

e serviços de impactos, com diferenciais e atrativos. A inovação pode ser um meio

para transformar problemas em solução.

25

3.4 INSTITUCIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA CRIATIVA

Para a Secretaria de Economia Criativa (SEC) foi necessário ultrapassar

conceitos e definições dos setores criativos e da economia criativa brasileira para

estabelecer princípios norteadores das políticas públicas de cultura. Elaborados e

implantados para tratar de economia criativa brasileira de modo consistente e

adequado à realidade nacional, incorporado a diversidade, sustentabilidade,

inovação e inclusão social. A Economia Criativa Brasileira se constitui e é reforçada

pela intersecção destes princípios.

Para elaboração dos Princípios norteadores da Economia Criativa Brasileira

levou-se em consideração a compreensão e a importância da diversidade cultural

do país, a percepção da sustentabilidade como fator de desenvolvimento local e

regional, a inovação como vetor de desenvolvimento da cultura e das expressões

de vanguarda, a inclusão produtiva como base de uma economia cooperativa e

solidária.

26

FIGURA 1 - ECONOMIA CRIATIVA BRASILEIRA E PRINCIPAIS NORTEADORES

(Plano da Secretaria da Economia Criativa, 2011, p. 32)

27

3.5 DESAFIOS DA ECONOMIA CRIATIVA BRASILEIRA:

O Plano da Secretaria da Economia Criativa - Políticas diretrizes e ações

2011 a 2014. Destaca cinco desafios fundamentais para a elaboração e implantação

de políticas públicas concretas e efetivas: levantamento de informações e dados da

Economia Criativa; articulação e estímulo ao fomento de empreendedorismo criativo;

educação para competências criativas; infra-instrutora de criação, produção,

distribuição e consumo/fruição de bens e serviços criativos; criação/adequação de

marcos legais para os setores criativos.

O Ministério da Cultura (MinC) avança na institucionalização da área da

economia criativa, com objetivo maior de combater a miséria e transformar a

criatividade brasileira em riqueza, qualidade de vida e cidadania. Assim, avaliou a

Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, na pauta do painel “Indústrias Criativas” como

transformá-las em grandes oportunidades (cinema, teatro, livro, artes, música,

carnaval), durante o 24º Fórum Nacional, realizado na sede do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro.

De acordo com Ana de Hollanda, apesar do efetivo potencial de crescimento

das indústrias criativas, alguns obstáculos têm surgido impedindo sua expansão,

como a baixa disponibilidade de recursos para o financiamento de negócios desta

natureza, o baixo investimento em capacitação dos agentes atuantes na cadeia

produtiva dessas indústrias – agentes cuja atuação exige visão de mercado, de

gestão de negócios e de conhecimentos técnicos e artísticos – além da pouca infra-

estrutura de distribuição e difusão de bens e serviços.

Para a ministra, superar obstáculos é uma das principais políticas do MinC

em sua gestão, para tanto efetiva implantação da economia criativa. Segundo ela

“Um passo importante é a criação da Secretaria da Economia Criativa, que está

finalizando um programa que reunirá cerca de 10 ministérios em torno dessa

política”.

Segundo pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o Brasil tem a

segunda população mais criativa do mundo e, frente a esses dados, avalia Ana de

Hollanda, “temos o papel de liderança a cumprir e uma grande tarefa a

desempenhar na formulação e implementação de políticas públicas, nas quais a

cultura seja compreendida e tratada como eixo estratégico para o desenvolvimento”.

A economista Ana Carla Fonseca Reis, provoca discussão e reflexão a

28

respeito da globalização. As mudanças que provoca na sociedade, no

comportamento, graças aos rápidos avanços tecnológicos e influência no cotidiano,

criando uma nova forma de consumo cultural. E também e como os produtos e

serviços criativos são criados, produzidos e distribuídos pelo mundo. O mundo

globalizado possibilita um ambiente fértil, com característica relevante para este

século. Inovações capazes de impulsionar e fomentar o desenvolvimento de uma

nação.

No Caderno de Economia Criativa: Economia Criativa e Desenvolvimento

Local o tema é tratado pela representante da UNTACD. Segundo Edna Oliveira,

A Economia Criativa, cujo conceito ainda não está bem definido, engloba as atividades que tem como principal fonte de recurso a criatividade. “Situa o setor no século XXI, onde a cultura surge como aliada da economia na importante missão de inclusão social e geração de postos de trabalho.

A criatividade, a cultura é tratada como elemento fundamental para que

ocorram as transformações necessárias, principalmente inclusão social. Nota-se que

vários pesquisadores comungam desta tese. A pesquisadora e defensora da

economia criativa Lala Deheinzelin, há anos vêm trabalhando para fortalecimento do

setor. Segundo ela, a economia criativa é de extrema importância para o

desenvolvimento do país.

Cadeia de geração de valor que, através de etapas em que ocorrem sinergias com outras áreas, ativa e concretiza as reservas de valor/patrimônios intangíveis como cultura, conhecimento, criatividade, experiência, valores. (DEHEINZELIN, 2001, p. 01).

Observar a trajetória dos pesquisadores brasileiros, atuantes no campo da

economia criativa e áreas afins, permite compreender como está a nossa realidade,

reconhecer nossa identidade, diversidade, e como a economia criativa vem sendo

tratada. Pensar no mundo em que vivemos e a que local pertencemos. Muitas

vezes nos espelhamos no outro, no mundo globalizado e esquecendo nossas

aptidões, capacidades e recursos. O MinC esta propondo ações para superar

desafios, suprindo as necessidades do setor.

A Ministra da Cultura, Ana de Holanda aponta as propostas do MinC referente

a Secretaria da Economia Criativa (SEC). Segundo ela, a partir do Plano o desafio

do Ministério da Cultura de liderar a formulação, implantação e monitoramento de

políticas públicas para um novo desenvolvimento fundado na inclusão social, na

29

sustentabilidade, na inovação e, especialmente, na diversidade cultural brasileira.

O ano de 2011 foi de muita movimentação no âmbito Federal. Criação da

Secretaria de Economia Criativa, lançamento do Plano da Secretaria da Economia

Criativa - Políticas, diretrizes e ações 201 a 2014. Realização de cursos, seminários

e encontros com o objetivo de impulsionar a economia criativa. De acordo com a

Ministra Ana,

A economia criativa tem obtido destaque no foco das discussões de instituições internacionais como a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento), o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) sendo considerado um eixo estratégico de desenvolvimento para os diversos países e continentes, no novo século. (HOLLANDA, 2011. P.07).

.

Dirigentes Estaduais de Cultura reuniram-se em Brasília, em maio de 2011,

para assinatura de uma Carta Compromisso - Políticas Públicas e Políticas

Culturais. A carta Compromisso é o meio pelo qual o governo federal e os estados

assumem cinco pontos para estimular a economia criativa no Brasil.

Institucionalização

Fomento, Promoção e Acesso

Desenvolvimento Regional e Localidade

Trabalho, Renda e Empreendedorismo

Inovação e Direito Intelectual

Acordado a proposta da Carta Compromisso, as autoridades se

comprometem a consolidar a produção de indicadores e informações de economia

criativa; aumentar e diversificar as linhas de financiamento e fomento para as

cadeias produtivas no setor; estimular a percepção cada vez mais clara de que a

cultura pode gerar emprego e renda. O Brasil tem o maior setor criativo da América

Latina. A criação da Secretaria da Economia Criativa vem para atender a política

publica nacional, abrindo espaço de reflexão sobre o potencial do setor.

De acordo com José do Nascimento Junior, os gestores públicos no Brasil

vêm se esforçando para estruturar uma política cultural que responda às três

dimensões da cultura: do direito, que gera acesso; a do simbólico, que estimula o

processo criativo e imaginativo; da economia, que propicia o desenvolvimento

socioeconômico. No caso da economia é pouco explorada no campo das políticas

30

públicas culturais pela falta de indicadores das atividades econômicas culturais no

país.

A cultura desponta como uma importante fonte de riqueza capaz de alterar a

econômica. A dimensão da economia da cultura é combustível e pode movimentar o

desenvolvimento local. Portanto, desenvolvimento e cultura estão ligados e cabe aos

gestores entendimento desta prática contemporânea dando a sua devida atenção.

A economia criativa destaca-se pelas atividades culturais com foco no

econômico, capaz de gerar produção e renda, ferramentas para políticas públicas,

turismo cultural, desenvolvimento local. Esta citação não é mais novidade, o que se

busca agora é driblar as dificuldades e buscar meios de mensurar dados sobre

atividades da economia da criativa. Dados extremamente importantes e necessários

para o gestor público, e para o fortalecimento do setor cultural.

O Ministério da Cultua, por meio da Secretaria da Economia Criativa, publicou

edital do Prêmio Economia Criativa. Edital de fomento a iniciativas Empreendedoras

e Inovadoras. Edital de Apoio à Pesquisa em Economia Criativa, com o objetivo de

identificar, reconhecer e difundir trabalhos originais sobre economia criativa. O setor

começa a ganhar força e visibilidade. Para 2012 o MINC, propõe várias ações entre

elas, o Plano Brasil Criativo.

A Secretaria da Economia Criativa Cláudia Leitão, argumenta sobre a

implantação do Plano que almeja colocar as atividades econômicas que tem a

cultura como matéria-prima no PIB nacional. "Para 2012, pretendemos continuar

com a institucionalização de territórios criativos; desenvolvimento de pesquisas e

monitoramentos; estabelecimento de marcos regulatórios favoráveis à economia

criativa; fomento técnico e financeiro voltado para negócios e empreendimentos dos

setores criativos; promoção e fortalecimento de organizações associativas

(cooperativas, redes e coletivos) formação para competências criativas de modo a

promover a inclusão produtiva",

O plano Brasil Criativo prevê linha de créditos especiais para micro e

pequenas empresas, facilidades legais para incentivo (produção, fruição e

distribuição), sendo construído em conjunto com outros ministérios. A proposta do

MinC é instalar Criativos Birôs em todo o território nacional, até 2014. Atendendo

uma política de descentralização.

Os Birôs são centros de apoio aos empreendedores e profissionais criativos.

Os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro receberão mais recursos por serem os

31

principais na área da economia criativa. Até aí nada de surpresas, assim como na

aprovação de projetos da Lei Rouanet, que atendia de forma significativa estes

Estados. Quanto aos centros pretende-se tê-los como referencia. Encontra-se na

fase inicial, piloto e já desperta algumas discussões e incertezas de como vão

manter-se. Lembrando que os Pontos de Cultura hoje são geridos por organizações

sociais independentes. Segundo Cláudia Leitão "O Plano Brasil Criativo buscará a

construção de um país sem miséria e mais competitivo. Precisamos tratar a nossa

rica diversidade cultural brasileira como recurso essencial para a formulação de

políticas públicas para um novo desenvolvimento”.

Para atender tal expectativa o Ministério da cultura pretende criar linha de

crédito para atender o setor da economia criativa. Criação de um mapa detalhado do

setor e de sua cadeia e a implantação de Birôs em todo o território nacional. Além do

Criativo Birô, foi criado o Observatório da Economia Criativa como objetivo de

estimular o debate no setor cultural entre estudiosos, governo, sociedade civil e

demais representante do setor, sobre o impacto da economia criativa na sociedade.

3.6 SECRETARIA DA ECONOMIA CRIATIVA E SEU PLANO

O Plano Nacional de Cultura (PNC) estabelece como ponto de partida de

criação da Secretaria da Economia Criativa (SEC), instituída pela Lei 12.243 de

02/12/2010. Para chegar a esta Lei as ações do Governo foram fundamentais no

processo de empoderamento da sociedade civil brasileira. O PNC define a

compreensão da cultura a partir de dimensões simbólicas, cidadã e econômica.

Sendo que a econômica é vista como instrumento de promoção do desenvolvimento

socioeconômico sustentável. Está relacionada à estratégia quatro do PNC –

“Ampliar a participação da cultura no desenvolvimento socioeconômico sustentável”

necessitando de políticas para sua execução.

Tal estratégia foi assumida pela Secretaria da Economia Criativa, como o seu

maior objeto. A SEC, têm como missão conduzir a formulação, implementação e o

monitoramento de políticas públicas para o desenvolvimento local e regional,

priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micros e pequenos

empreendedores criativos brasileiros. (Plano da Secretaria da Economia Criativa:

diretrizes e ações, 2011 – 2014. Brasília, Ministério da Cultura, 2011 p. 38).

32

O lançamento do plano aconteceu no II Seminário de Políticas Culturais (Rio

de Janeiro 2011). O seminário contou com especialistas e estudiosos e interessados

nas questões relacionadas à área das políticas culturais, com o objetivo de divulgar

trabalhos, experiências e também promover debates no campo das ações políticas,

das reflexões históricas, teóricas e práticas. Foi composto por ações de

conferências, palestras e mesas de comunicações.

A proposta do II seminário trouxe para a discussão a formação no campo da

cultura, seus eixos de discussões, a produção de informações para elaboração de

políticas públicas de cultura e o processo de formação de gestores para as

atividades nesta área. No encerramento, Cláudia Leitão fez uso da palavra para o

lançamento do Plano da Secretaria da Economia Criativa.

O “Plano da Secretaria da Economia Criativa”, de acordo com o MinC, deseja

ser muito mais do que um documento definidor de intenções políticas, diretrizes e

ações no campo da economia criativa brasileira. Ele simboliza “um movimento do

MinC na redefinição do papel da cultura em nosso país”. O grande desafio para

construção do plano era retomar o papel do MinC na formação de políticas públicas

para o desenvolvimento brasileiro. O Plano rege os seguintes princípios: inclusão

social, sustentabilidade, inovação, diversidade cultural brasileira.

A economia criativa é considera a economia do simbólico, do intangível

proveniente de talentos criativos. Possui dinâmica própria, desconcertando os

modelos econômicos tradicionais. Levando em conta suas dinâmicas: culturais,

sociais, e econômicas. Construídas a partir do ciclo de criação, produção,

distribuição/circulação/difusão e consumo/ fruição de bens e serviços oriundos dos

setores criativos, caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica,

apresentado no Plano da Secretaria de Economia Criativa.

33

FIGURA 2 - A ECONOMIA CRIATIVA E DINÂMICA DE FUNCIONAMENTO DOS

SEUS ELOS

PLANO DA SECRETARIA DA ECONOMIA CRIATIVA, 2011, P. 24

O Plano traz (QUADRO 1), as atividades associadas aos setores criativos

nucleares e associadas. De acordo com a UNESCO, apresenta-se da seguinte

forma:

34

QUADRO 1: Setores Criativos Nucleares

Setores Criativos Nucleares

macro-categorias

Atividades Associadas

Patrimônio natural e cultural * Museus

* Sítios históricos e arqueológicos

* Paisagens culturais

* Patrimônio cultural

Espetáculos e celebrações * Artes de espetáculos

* Festas e festivais

* Feiras

Artes visuais e artesanato * Pintura

* Escultura

* Fotografia

* Artesanato

Livros e periódicos * Livros

* Jornais e revistas

* Outros materiais impressos

* Bibliotecas (incluindo as virtuais)

* Feiras do livro

Audiovisual e mídias interativas * Cinema e vídeo

* TV e rádio (incluindo internet)

* Internet podcasting

* Videogames (incluindo onlines)

Design e serviços criativos

* Design de moda

* Design gráfico

* Design de interiores

* Design paisagístico

* Serviços de arquitetura

* Serviços de publicidade

PLANO DA SECRETARIA DA ECONOMIA CRIATIVA, 2011, P. 28

O Escopo do MinC (QUADRO 2), tem como objetivo disponibilizar para os

diversos países uma ferramenta que permita a organização e a comparabilidade de

estatísticas nacionais e internacionais no âmbito das expressões culturais. Modos

de produção sociais econômicas.

35

QUADRO 2: Escopo dos Setores Criativos do MinC

No campo do Patrimônio * Patrimônio Material

* Patrimônio Imaterial

* Arquivos

* Museus

No campo das Expressões Culturais * Artesanato

* Cultura populares

* Cultura Indígenas

* Cultura Afro-brasileiras

* Artes visuais

No campo das Artes de Espetáculos * Dança

* Música

* Circo

* Teatro

No campo do Audiovisual e do Livro, da

Literatura

* Cinema e Vídeo

* Publicações e mídias Impressas

No campo das Criações Funcionais * Moda

* Design

* Arquitetura

* Arte Digital

PLANO DA SECRETARIA DA ECONOMIA CRIATIVA, 2011, P. 29

36

3.7 SETORES CRIATIVOS E CULTURAIS

O MinC adota o termo “setores criativos” como representativos dos diversos

conjuntos de empreendimentos que atuam no campo da economia criativa. O plano

diferencia os setores econômicos tradicionais com os setores criativos.

A definição de “setor criativo” surgiu de atividades produtivas que tem como

insumos principais a criatividade e o conhecimento. São aqueles cuja geração de

valor econômico se dá basicamente em função da exploração da propriedade

intelectual. Outra consideração significativa para a economia criativa deveria dar-se

a partir da análise dos processos de criação e de produção, ao invés dos insumos

e/ou propriedade intelectual. Portanto os setores criativos são todos aqueles cujas

atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de valor

simbólico, elemento central da formação do preço, e que resulta em produção de

riqueza cultural e econômica. (Plano da Secretaria da Economia Criativa, 2011, p.

22).

O “Setor Cultural” acontece quando a cultura se torna um insumo para a

produção de bens funcionais. Nesse contexto, a cultura é entendida como algo mais

amplo do que a arte, acolhendo um conjunto de crenças, costumes, valores e

hábitos adotados por sociedades ou grupos de pessoas. Esse insumo cultural é

empregado como fator de diferenciação e mesmo de inovação. Entre outras

atividades, os setores criativos abarcariam a publicidade, a arquitetura, o design e a

moda entre outros.

37

FIGURA 3 - SETORES CRIATIVOS - A AMPLIAÇÃO DOS SETORES CULTURAIS

Gráfico 1 (Plano da Secretaria da Economia Criativa 2011, p. 23).

3.8 INDÚSTRIAS CRIATIVAS

Entendidas como um conjunto de setores econômicos específicos, cuja

seleção é variável segundo a região ou país, conforme seu impacto econômico

potencial na geração de riqueza, trabalho, arrecadação tributária e divisas de

exportações.

38

No Reino Unido as indústrias criativas são constituídas por propaganda,

arquitetura, mercados de arte e antiguidades, artesanato, design, moda, filme e

vídeo, software de lazer, música, artes do espetáculo, edição, serviços de

computação e software, rádio e TV. (REIS, 2008, PÁG. 24).

3.9 CLASSE CRIATIVA

O termo “classe criativa” refere-se aos profissionais que atuam no terceiro

setor. Há autores que classificam os pesquisadores, engenheiros, arquitetos,

educadores, designers, fotógrafo, enfim, todos ligados ao entretenimento. Então,

pergunta-se: A criatividade esta restrita somente a esta classe? E como fica a

capacidade natural de criar do ser humano? Até onde podemos estabelecer

fronteiras profissionais indicando: isso é criativo, isso não é criativo? De acordo com

do norte-americano Richard Florida A classe criativa é formada por cientistas,

engenheiros, arquitetos, educadores, escritores, jornalistas, designers, fotógrafos e

outros profissionais da indústria do entretenimento. Definem-se membros dessa

classe como sendo aquelas pessoas capazes de criar novas idéias, novas

tecnologias e conteúdos criativos. São os profissionais que trabalham com base no

conhecimento (REIS, 2008, p. 45).

Florida traz indicadores da classe, segundo ele, representa 30 % da força de

trabalho nos Estados Unidos e que está influenciando profundamente o mundo do

trabalho e estilo de vida do século XXI. Na análise de Florida, estamos na era

criativa, onde as pessoas vendem acima de tudo sua capacidade de pensar.

Defende a idéia que chegou a hora da classe criativa crescer, de constituir-se numa

massa crítica e socialmente atuante, com responsabilidades sociais, a serviço do

bem comum.

3.10 CIDADES CRIATIVAS

O teórico americano e urbanista Richard Florida é conhecido como o

propagador do conceito das cidades criativas. Para ele “é criativa a cidade que tem

a capacidade de atração (e de geração) de uma classe criativa.

Muitas cidades estão se desenvolvendo pelas ações criativas. Temos

39

referencias de cidades que estão avançando nas metas estabelecidas para seu

desenvolvimento tendo como base a economia criativa, transformando problemas

em solução. De acordo com Ana Carla Fonseca Reis (2011). Há unanimidade de

que cultura é um ativo de enorme valor para uma cidade criativa, por seus

benefícios culturais, mas também pelos impactos sociais e econômicos que

desencadeia; pelo reconhecimento de que agrega valor e aumenta a

competitividade de setores tradicionais da economia; e como fonte de inspiração e

geração de um ambiente mais inclinado à valorização da criatividade.

O grande motor da nova economia é a criatividade, especialmente cultural e tecnológica. Com isso, a criatividade se tornou o centro da política urbana. A governança urbana requerida deve ser um processo baseado na cooperação entre governos, mercados, empreendedores e empresas privadas, com participação civil. A boa governança – missão, papel, capacidade e relações – é uma condição necessária para prosperidade econômica e a estabilidade social (Kettl, 2000, apud FONSECA. 2011 p. 159).

O papel das cidades é um tema que possibilita uma ampla discussão

envolvendo artistas, a classe criativa, pesquisadores, gestores públicos, executivos,

profissionais liberais, educadores, enfim, todos que pertencem à cidade. Pois, todos

devem e podem contribuir exercitando sua cidadania e desempenhando papel de

agente transformador.

O processo criativo pode definir o perfil da cidade que queremos, depende de

ações multidisciplinares. As áreas do terceiro setor ocupam o centro da cena dos

debates como norteadores criativos. A economia criativa passa a ser um indicador

básico de cidade criativa. “Uma cidade criativa deve ser criativa por completo, de

modo transversal a todos os campos, muito além das indústrias criativas ou da

presença de uma classe criativa”. (FONSECA. 2011, p. 32).

A tarefa de transformar uma cidade criativa não depende só da indústria

criativa, ou de uma classe criativa. Trata-se de um processo integrado entre setor

público e sociedade civil. Todos comprometidos com questões importantes, urgentes

e fundamentais para a sociedade. Portanto, os setores devem trabalhar para a

realização de projetos inovadores que possam ser disponibilizados. Muitas práticas

acadêmicas consideradas inovadoras não recebem recursos. É fundamental investir

em pesquisas inovadoras e assegurar que a população tenha acesso, assim como

integração das universidades junto a sociedade.

40

Outros setores ou grupos, além da chamada “classe criativa”, podem

desempenhar funções de forma criativa. Políticas públicas bem estruturadas podem

favorecer a criação a inovação expandindo resultados para todos os campos. Desta

forma, beneficiar as pessoas oferecendo mais qualidade de vida.

Qual o papel dos gestores no processo criativo? Precisamos de gestores

aptos, informados, e com visão na área cultural, que considere a diversidade e os

benefícios que a cultura pode propiciar a população, em todos os aspectos.

Aproveitar oportunidades para o crescimento da cidade como um todo, e não

apenas de pequenos grupos, prática comum de “assistencialismo” que perdura

trazendo ranços de políticas de interesses. Se a fonte é a criatividade, para

transformar as cidades em cidades criativas, nossos gestores deveriam fazer uso da

mesma, para criar políticas públicas consistentes e adequadas, entendendo a

cultura como eixo norteador da vida humana. Há uma carência em regulamentação

e regras voltadas para economia criativa. Precisa-se de planos, programas e demais

ações que venham contemplar o setor.

3.11 CADEIAS DA ECONOMIA CRIATIVA

Artesanato e turismo são atividades associadas, ambas valorizam as

manifestações culturais e os saberes tradicionais. A demanda turística permite meios

de acesso a produtos artesanais, promovendo a cultura e fortalecendo a identidade

regional. As manifestações culturais, neste caso especificamente o artesanato

também associado ao turismo agrega valor e impulsiona o setor. Juntos são capazes

de movimentar com mais facilidade uma cadeia produtiva, inovando, criando e

promovendo o desenvolvimento de uma comunidade.

Segundo o Manual para o Desenvolvimento e a Integração de Atividades

Turísticas com Foco na Produção Associada do Ministério do Turismo (2011).

Elaborado pela necessidade de identificar e destacar segmentos econômicos que

possibilitem a oferta turística. O Ministério define produção associada como:

Qualquer produção artesanal, industrial ou agropecuária que detenha atributos naturais e/ou culturais de uma determinada localidade ou região, capaz de agregar valor ao produto turístico. São as riquezas, os valores e os saberes brasileiros. É o design, o estilismo, a tecnologia: o moderno e o tradicional. É ressaltar o diferencial do produto turístico para incrementar sua competitividade. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2011 P. 13).

41

Deste modo, podemos entender que o turismo e os produtos “artesanais”, é

parte integrante da economia local, da economia criativa, agregando-se ao mercado,

sua comercialização beneficia muitas pessoas envolvidas no processo. Artesanato

como atrativo turístico e o turismo promovido pelo artesanato. Integração com valor

agregado para possibilitar a sustentabilidade.

3.12 CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO CRIATIVO

Alguns apontamentos sobre o sistema educacional. Como a escola pode

contribuir no processo criativo? Segundo Charles Landry,

O sistema de educação, com seu currículo mais do que rígido e sua tendência de aprender decorando não preparava suficientemente bem os jovens, aos quais se pedia que estudassem mais assuntos, mas talvez os entendessem menos. Os críticos dizem que os estudantes deveriam adquirir qualificações mais elevadas, tais como aprender a aprender, criar, descobrir, inovar, resolver problemas e se auto avaliar. Isso desencadearia e ativaria gamas mais ampla de inteligências; estimularia abertura, exploração e adaptabilidade, e possibilitaria a transferência de tecnologia entre contextos diferentes, conforme os estudantes aprendessem como entender a essência dos debates, ao invés de recordá-los fora de seu contexto”. (LANDRY, 2011, p. 12).

O autor refere-se ao ser humano como criativo, as escolas deveriam oferecer

ambientes estimulantes. A criatividade é pessoal e individual. Entretanto, o setor

educacional tem responsabilidades importantes na formação do aluno, e não de

refrear a criatividade, mas de criar as condições para que ela flua. O desafio é inserir

a escola neste contexto favorável à construção de uma cidade mais criativa.

Para o economista CASTRO. A democracia da decoreba. (Revista Veja, São

Paulo: Editor Abril, edição 2271, Nº 22. p. 26, 30 de maio de 2012), a prática da

decoreba aplicada no vestibular e como esta pode influenciar na aproximação de

ricos e pobres. Trás questões como os testes tradicionais e as provas que podem

promover a igualdade social, o conhecimentos mais nobres e não memorização, o

raciocínio e análise, avaliações do ensino e as condições das escolas, qualidade da

educação pública nos níveis iniciais. Para ele “o futuro da educação não pode abrir

mão de provas que focalizem tais conhecimentos mais nobres – e não a

memorização”.

42

O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1998), trata a questão quando se refere

ao “capital cultural”. A escola, não dá conta de expandir seus conteúdos e

informações da mesma forma que a vivência cultural, ou seja, depende do nível

cultural familiar. Os mais providos vivenciam experiências que auxiliam no

conhecimento e no processo criativo, portanto no aprendizado. Enquanto a classe

menos favorecida tem dificuldade para ter acesso a livros, internet, espetáculos. Os

mais favorecidos contam com recursos, ou seja, uma situação economia favorável

que permite acesso a vários bens culturais. Condições que favorecem escolhas e

oportunidades.

É provável por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da “escola libertadora”, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural. (BOURDIEU, 1998, p. 41).

As classes sociais providos de capital econômico e cultural asseguram

sucesso escolar e posição social.

Para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais”. (BOURDIEU, 1998, p. 53).

Qual a o papel da educação e a relações entre educação e a diversidade

cultural? Para José Márcio Barros (2009), educar para a diversidade significa a

construção de processos de interação entre as diferenças que constituem a

diversidade, de maneira a garantir o direito à igualdade e equidade. Ambos são pré-

requisitos para um projeto político de sociedade pluralista.

Para Noleto, a educação pode abrir portas para a cultura e o desenvolvimento

integrado.

“A educação abrangeria um conjunto de disponibilidades capazes de fazer o indivíduo ser um sujeito de sua própria história e de seu processo de desenvolvimento […], reconhecê-lo como sujeito pleno e capaz de construir sua história e sua vida, a partir de oportunidades iguais de acesso e de condições concretas de participação e expressão”. (NOLETO, 2001, p. 14).

43

Parece-me, que a escola não quer sair do casulo, utilizando conteúdos e

métodos tradicionais, onde deveria ser um espaço agradável e criativo.

O Senador Cristovam Buarque, fez uma crítica sobre a educação brasileira

em programa da TV Educativa (Rede Nacional). Para ele, a escola deveria ter uma

visão progressista, revolucionária, deveria estar na mídia diariamente provocando

reflexões sobre sua condição. Ele defende que o Brasil precisa reconhecer a

importância da inovação e lamentou que essa percepção ainda não exista no país.

Criticou que o país pela cultura de comprar tecnologia de fora e destacou três pontos

que colaboraram para essa situação: a resistência das universidades e do setor

produtivo ao tema; a falta de percepção de que a inovação começa na educação de

base; e o próprio conceito de inovação e progresso, que precisa ser reformulado.

Se tratando ainda de educação e economia criativa, A Comissão de Educação

do Senado realizou, em 30 de maio de 2012, um debate sobre a importância da

‘economia criativa’ para o país.

O senador Cristovam Buarque trouxe o tema - economia criativa na audiência

pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado (CE). Foi pauta a

“Economia criativa como a interface entre economia, cultura e tecnologia”. Citou

que setor abrange desde manifestações artísticas como o Festival de Parintins até a

indústria de games, passando por museus, teatros, mercado editorial e design em

suas diversas modalidades.

Nesta ocasião a Secretária da Economia Criativa do MinC, Cláudia Leitão,

lembrou que Furtado, economista, ministro do Planejamento no governo João

Goulart e da Cultura na gestão de José Sarney, escreveu em 1978 o

livro Criatividade e Dependência na Civilização Industrial. Lembrando o trecho da

obra em que Furtado declara que “o processo de mudança social que chamamos de

desenvolvimento adquire certa nitidez quando o relacionamos com a idéia de

criatividade”.

Cláudia Leitão explicou sobre a classificação de setores criativos elaborada

pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO), e suas seis macro-categorias: Patrimônio Natural e Cultural; Artes e

Espetáculos; Artes Visuais; Livro, Leitura e Demais Publicações; Audiovisual e

Mídias Interativas; e Design e Serviços Criativos. Ela disse, porém, que um dos

desafios da secretaria que comanda é levantar informações sobre a economia

criativa no Brasil.

44

O Diretor-superintendente do Instituto Itaú Cultural, Eduardo Saron

apresentou uma série de dados para demonstrar a crescente importância do setor,

utilizando levantamento da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e

Desenvolvimento (UNCTAD). Falou sobre a estimativa da economia criativa em

âmbito mundial. Expandiu de US$ 227 bilhões em 1996 para US$ 424 bilhões em

2005. As exportações de bens e serviços desse setor registraram um crescimento

mundial de 8,7% em 2010. Eduardo alertou que o Brasil, apesar de ser a sexta

economia do planeta, ocupa a 35ª posição no que se refere às exportações

vinculadas à economia criativa. (Copyright © 2012 Senador Cristovam Buarque).

45

4 GESTÃO E ECONOMIA CRIATIVA

O poder público não pode ficar alheio as mudanças e as inovações, pois cabe

a ele a tarefa de acompanhar e conduzir o setor, facilitando e criando meios para

efetivação de políticas culturais adequadas para o nosso tempo, com menos

burocracia e mais profissionais mais preparados para atender a área cultural.

4.1 SISTEMA NACIONAL E MUNICIPAL DE CULTURA

O Sistema Nacional de Cultura (SNC) é um conjunto que reúne a sociedade

civil e os entes federativos da República Brasileira – união, estados, municípios e

Distrito Federal – com seus respectivos Sistemas de Cultura. As leis, normas e

procedimentos pactuados definem como integram os seus componentes, e a Política

Nacional de Cultura e Modelo de gestão Compartilhada se constituem nas

propriedades específicas que o caracterizam.

Tem como objetivo fortalecer institucionalmente as políticas culturais da união,

estados e municípios, com a participação da sociedade, levando em conta as três

dimensões da cultura: simbólica, cidadã e econômica.

A dimensão econômica compreende que a cultura, progressivamente, vem

se transformando num segmento mais dinâmico das economias de todos os países,

gerando trabalho e riqueza. Mais do que isso, a cultura, hoje, é considerada

elemento estratégico da chamada nova economia ou economia do conhecimento,

que se baseia na informação e na criatividade, impulsionadas pelos investimentos

em educação e cultura. Tem como princípios:

Diversidade das expressões culturais;

Universalização do acesso aos bens e serviços culturais;

Fomento à produção, difusão e circulação de conhecimentos e bens culturais;

Cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e privados atuantes na

área cultural;

Integração e interação na execução das políticas, programas, projetos e ações

desenvolvidas;

Complementaridade nos papéis dos agentes culturais;

Transversalidade das políticas culturais;

46

Autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil;

Transparência e compartilhamento das informações;

Democratização dos processos decisórios com participação e controle social;

Descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações;

Ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a

cultura

O Sistema Nacional de Cultura propõe um modelo de gestão com os

seguintes componentes:

I – Coordenação:

*Órgão Gestor da Cultura

II – Instâncias de Articulação, Pactuação e Deliberação:

*Conselho de Políticas culturais

*Conferência de cultura

*Comissão Intergestores

III – Instrumentos de gestão:

*Plano de Cultura

*Sistema de Financiamento da Cultura

*Sistema de Informações e Indicadores Culturais

*Programa de Formação na Área da Cultura

IV – Sistemas setoriais de cultura

*Sistema de Patrimônio Cultural

*Sistema de Museus

*Sistema de Bibliotecas

*Outros que vierem a ser instituídos

Nos últimos anos é perceptível o avanço no campo da cultura e da gestão

cultural com o intuito de superar desafios e assegurar a continuidade das políticas

públicas de cultura, levando em consideração a participação, o controle social, as

estruturas organizacionais, recursos e outras ferramentas que possam favorecer e

dar importância a cultura para o desenvolvimento do País.

Segundo João Roberto Peixe (Coordenador do Sistema Nacional de Cultura),

argumenta que o Sistema Nacional de Cultura é, sem dúvida, o instrumento mais

47

eficaz para responder a esses desafios através de uma gestão articulada e

compartilhada entre Estado e Sociedade, seja integrando os três níveis de Governo

para uma atuação pactuada, planejada e complementar, seja democratizando os

processos decisórios intra governos e principalmente, garantindo a participação da

sociedade de forma permanente e institucionalizada.

A Lei que regulamenta o Sistema Municipal de Cultura (SNC) dispõe que os

SMC tenham no Mínimo cinco componentes: Secretaria de Cultura (ou órgão

equivalente), Conselho Municipal de Política Cultural, Conferência Municipal de

Cultura, Plano Municipal de Cultura (com fundo Municipal de Cultura). O SMC

precisa de uma lei específica. Os municípios devem aderir ao SNC, pois só assim

poderá estabelecer princípios e diretrizes comuns, dividir atribuições e

responsabilidades entre os entes da federação, montar mecanismos de repasse de

recursos.

O Departamento de Cultura do Município de Campo Largo iniciou este

processo, realizou Conferência Municipal de Cultura e elaborou o Plano que

contempla também a economia criativa.

Conferências e Conselhos - todo e qualquer sistema demanda deliberações

sobre o que deve ser integrado. Para atender os anseios da sociedade, é necessário

realizar consultas aos interessados. Para isso precisam-se realizar as conferências

e colegiados de cultura. Cabe a eles o papel de acompanhar as políticas para o

setor, obedecendo a diretrizes e metas estabelecidas. (CALABRE, 2011, pág. 126).

4.2 PLANOS DE CULTURA

São instrumentos que estabelecem as metas a serem atingidas pelos entes

federados no que se referem os seus anseios culturais. Permitem que a sociedade

civil e os outros entes saibam o que pretendem os demais, gerando segurança para

serem firmados futuros pactos entre eles. Desse modo, é imprescindível o Plano

Nacional de Cultura, devendo, também, os estados e municípios elaborar os seus.

(CALABRE, 2011).

48

4.3 FUNDO MUNICIPAL DE CULTURA

A criação do Fundo garante maior amplitude e permanência podendo o

mesmo receber recursos aplicados por meio de editais. A Lei do Procultura prevê

que projetos propostos pela sociedade deverão ser aplicados por meio de editais.

Com a aprovação da Procultura, o Fundo Nacional de Cultura será o principal

mecanismo de fomento, incentivo e financiamento à cultura, e só terão acesso aos

recursos os estados e municípios que tiverem criado seus fundos. Deverão seguir o

parâmetro de objetivos, composições e gestão do Fundo Nacional da Cultura.

(FNC).

4.4 AÇÕES DA SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DO PARANÁ

Vem realizando curso sobre “Economia da Cultura e Empreendedorismo”.

Para atender uma de suas metas, capacitação em algumas regiões do Estado. Para

realização das oficinas conta com a participação da Ana Carla Fonseca Reis.

O Curso de Economia Criativa e Empreendedorismo é um projeto que tem o

patrocínio do SEBRAE nacional, apoio de importantes órgãos do setor público e de

agências de fomento à cultura.

Para a Secretaria de Cultura do Paraná, a Economia Criativa, ao abranger

setores culturais e os nele inspirados (moda, design, folclore, software de lazer,

equipamentos culturais, música, etc.), reforça uma dimensão amplamente

aspiracional na economia: a diferenciação de produtos e serviços, com alto valor

agregado potencial e inclusão de talentos.

O Paraná, por seu perfil econômico, sua diversidade social e sua

efervescência cultural, ocupa posição propícia para uma abordagem de economia

criativa voltada ao desenvolvimento. Criar um ambiente favorável à concretização do

potencial criativo de nossas empresas e talentos, revelando oportunidades de

negócios ainda inexplorados e direcionando políticas favoráveis a conversão de

criatividade em inovação, requer conscientização de agentes públicos e privados e o

desenho de uma estratégia amplamente articulada.

O Fórum de Economia Criativa do Paraná (FEC) é um espaço de articulação

da sociedade civil organizada, todos podem participar. O objetivo é promover e

49

fomentar setores e atividades ligadas a Economia Criativa no Estado do Paraná.

Ações coletivas que pretendem desenvolver instrumentos, tecnologias e inovações

para resgatar, reconhecer e valorizar o potencial criativo, cultural, histórico e turístico

do Estado. Uma força tarefa para fortalecer as políticas no Estado e movimentar o

empreendedorismo e inovação em Economia criativa.

.É importante criar condições para que os profissionais da cultura participem

do processo de elaboração e implantação de políticas culturais para o Estado:

Sistema Estadual de Cultura, plano, conselho, fundo. Processo democrático

necessário para alavancar a cultura no Paraná.

4.5 DEPARTAMENTO DE CULTURA DE CAMPO LARGO DIVISÃO ECONOMIA CRIATIVA

Deixando as ações no campo Federal e Estadual, segue diagnóstico das

ações do Municio de Campo Largo, e conseqüentemente o Distrito de Ferraria, foco

central da pesquisa.

O Departamento de Cultura de Campo Largo, em 2010, passou por uma

reestruturação. O processo de mudança se deu inicialmente pela formação da

equipe, (organograma do Departamento), pela capacitação dos funcionários e

implantação de um sistema regulatório para o departamento; grupo de estudo para

Criação de Leis de Incentivo; Lei de Patrimônio, propor mudança na Lei Orgânica;

concurso específico para área cultural (gestor de informação, museólogo, atendente

administrativo, outros); seleção de estagiários pelo Departamento e não mais

encaminhados por outras Secretarias; controle da dotação orçamentária destinada à

cultura (muitas vezes utilizado em outros setores). Dedicação e esforço mútuo da

equipe para realização de pré-conferências e conferência Municipal de Cultura,

proposta de criação de uma Secretaria de Cultura, para atender a demanda e

alavancar a cultura mudando o cenário da cidade, assegurar mais investimento e

equipe preparada entre outras medidas.

O Departamento deixa de apenas passa a ocupar espaço junto a outras

secretarias, com o objetivo de colocar a cultura como elo para o planejamento da

cidade. Diante deste processo, foi criada a Divisão de Economia Criativa (DEC).

Para o Departamento de Cultura de Campo Largo: “a economia criativa é um

setor estratégico e dinâmico para a sociedade camporlarguense. Pode contribuir

50

para um novo modelo de desenvolvimento e inclusão social. É necessário enxergar

a diversa e sofisticada produção cultural campolarguense como um dos grandes

ativos econômicos do município, especialmente por conta do seu potencial de gerar

trabalho, renda, oportunidades empreendedoras e desenvolvimento econômico de

acordo com o Planejamento Estratégico 2012 – Departamento de Cultura Campo

Largo. O Departamento de Cultura procura ficar acompanhar os órgãos federal,

Estadual. Foi o primeiro município do Estado a realizar a Conferência Municipal de

Cultura, em dezembro de 2011. Tem como missão “Promover a cultura como

princípio fundamental de desenvolvimento e valorização humana, efetivando a

cidadania cultural por meio de políticas eficientes e inclusivas”.

A Divisão de Economia Criativa tem como objetivo: elaborar um Plano

“Campo Largo Criativo” que permita o reposicionamento da cidade no cenário da

economia criativa; trabalhar com um novo conceito de desenvolvimento para Campo

Largo. O Planejamento da Divisão de Economia Criativa para 2012 é norteado pelas

seguintes diretrizes:

4.5.1 Seção de fomento cultural

Criar mecanismos municipais de fomento a cultura: Criação do Programa

Municipal de Fomento e Incentivo a Cultura – PROCULTURA MUNICIPAL que

abrangerá a criação: Fundo Municipal de Cultura; Lei Municipal de Incentivo

Tributário à Cultura; editais de apoio e fomento a produção cultural; capacitar e

informar agentes e profissionais da cultura para terem acesso a linhas de crédito e

políticas de fomento de demais entes federados e instituições afins; observatório de

editais, cursos, palestras, etc. Reconhecer empresas que apóiam, patrocinam ou

financiam ações culturais; estabelecer parceria para capacitação de contadores,

gestores públicos e privados quanto leis de incentivo fiscal. Reestruturar sistema de

apoio e patrocínio da Prefeitura a ações e manifestações culturais: política de edital

definido por lei própria.

4.5.2 Seção de Empreendedorismo Cultural

Tem como função criar um centro de atendimento e referência ao

51

empreendedor cultural, oferecendo suporte técnico-operacional e capacitando-o

para novos modelos de gestão. Denominado como “Fórum Criativo” deve prestar

apoio ao agente criativo – informação para acesso a linhas de crédito, apoio a

negócios, assessoria jurídica, contábil e na elaboração de projetos. Apoio

administrativo, auxílio na inscrição de editais, fundos, cursos, etc. na liberação de

alvará para fins artístico-cultural, incentivar o empreendedorismo cultural

entendendo os negócios culturais como possibilidade de um novo modelo de

desenvolvimento sustentável para o Município; criação banco de dados do

empreendedor cultural (alimentar o sistema municipal de indicadores culturais),

incentivar estratégias que fomentem e possam gerar renda a partir da criatividade.

4.5.3 - Seção de Desenvolvimento Comunitário

Mapear e identificar territórios e regiões com potencial de desenvolvimento

econômico com base na criatividade e cultura local; criação programa “Comunidade

Criativa” para reconhecimento, incentivo e investimento público de regiões que

apresentem o potencial de desenvolvimento econômico a partir da cultura e

criatividade. Incentivar o empreendedorismo comunitário.

52

5 INDICADORES E AGENTES FINANCIADORES

Os indicadores nem sempre são confiáveis e precisos, diante de resultados

incertos o setor fica prejudicado. Os indicadores podem contribuir para

fortalecimento do setor, bem como investimentos. Devem-se criar mecanismos

confiáveis, pois informações e registros são fundamentais para definir políticas

públicas voltadas para o desenvolvimento do setor cultural.

5.1 INDICADORES

Somente com indicadores pode-se traçar o rumo do setor, instrumento capaz

de mensurar como estamos e onde queremos chegar. De acordo com o Texto para

Discussão/Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão/Programa Estado para

Resultados. - Belo Horizonte (2010. p. 4). É necessário discutir que indicadores são

aplicáveis à realidade da política de cultura e assim construir um conjunto de

medidas que possibilite melhor monitoramento e avaliação dos resultados

alcançados.

Mais a diante, o texto faz uma referência a utilização da abordagem

econômica da cultura e como pode oferece meios para a construção de indicadores,

por se tratar de uma dimensão mais tangível, reconhecendo que não consegue

contemplar plenamente a realidade examinada.

A economia criativa cresce no Brasil, mas ainda é pequena em relação a

outros países, diz relatório da ONU, a exportação de bens e serviços ligados à

economia criativa no Brasil aumentou de US$ 2,4 bilhões, em 2002, para US$ 7,5

bilhões, em 2008. O volume, no entanto, ainda é inferior ao observado em outros

países, como a China, que exportou em 2008 US$ 84 bilhões em bens e serviços do

segmento.

A conclusão é do Relatório de Economia Criativa 2010 das Nações Unidas,

apresentado no Rio de Janeiro. O documento, que traz informações sobre as

atividades ligadas à economia criativa entre os anos de 2002 e 2008, foi lançado em

Londres e Nova York. Santos-Duisenberg, lembrou o potencial mundial do setor, “um

dos mais dinâmicos do comércio internacional”, ao enfatizar que, segundo o

relatório. O comércio global em 2008 sofreu queda de 12%, influenciado pela crise

financeira internacional, as exportações de produtos criativos continuaram

53

aumentando, tendo taxa de crescimento médio anual de 14% em seis anos.

(Primeira Hora Notícias de 7 de novembro, 2011 – 14:30).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, em parceria com o

Ministério da Cultura - MinC, criou o Sistema de Informações e Indicadores Culturais

2003-2005. Cujo objetivo é a organização de indicadores das atividades

relacionadas ao setor cultural brasileiro, para fomentar estudos, pesquisas e

publicações e também subsídios para o planejamento e políticas públicas para o

setor. A primeira divulgação ocorreu em 2006. Levantamento de ofertas e demando

de bens e serviços culturais.

O sistema de Informações e Indicadores Culturais visa a apresentar

resultados de estudo relativos à organização, sistematização, produção de

indicadores e análise de informações setorial, nacional e regional, relacionadas ao

setor cultural, a partir dos dados pesquisados.

O processo para a construção de dados passa por desafios: pela

necessidade de se conhecer o setor cultural levando em conta aspectos

geográficos, diversidade, definir cultura em termos das atividades econômicas,

geradoras de bens e serviços e mensurar atividades informais, manifestações

simbólicas associadas à realidade social e outros fatores responsáveis que

dificultam a execução do sistema de indicadores. Em outros países europeus, desde

1970, a cultura foi incluída no plano de metas nacional. Nos Estados Unidos e em

países membros da UNESCO incorporaram o conceito de cultura em suas

estratégias de desenvolvimento social e econômico.

Segundo as conclusões da Conferência das Nações Unidas para o

Comércio e Desenvolvimento, que, em junho de 2004, revelam que 7% do PIB

mundial são gerados pelas chamadas indústrias criativas. O valor da movimentação

financeira mundial de produtos saltou de US$ 95 bilhões para US$ 380 bilhões,

somente no período de 1980 a 1998. Esse tipo de indústria cresce em ritmo superior

ao de outros setores da economia mundial, e a expectativa para as próximas

décadas é uma expansão média de cerca de 10% ao ano. Rômulo Avelar (2010)

comenta que o setor cultural, vigor econômico, tendências e pesquisas apresentada

pela Fundação João Pinheiro, por encomenda do Ministério da Cultura, publicado

em 1998, com informações importantes sobre economia da cultura no país. Em 1994

existiam no Brasil 510 mil pessoas envolvidas diretamente com atividades culturais

superior a outros setores, como a do automobilismo. Informações do Instituto

54

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e o Ministério da Cultura publicaram

resultados de um estudo, O Sistema de Informações e Indicadores Culturais, ano

referência 2003 sobre bens e serviços. Na edição de 2007 novos dados sobre

economia da cultura, período de 2003 a 2005. Neste a receita passou de R$165,3

bilhões, em 2003, para R$ 221,9 bilhões em 2005. A despesa per capta total com a

cultura no Brasil passou de R$ 12,90, em 2003 para R$ 17,00 em 2005. Foram

abordados apenas alguns itens, no Sistema de Informações e Indicadores Culturais

encontramos outros indicadores.

O Brasil aumentou tanto o volume de exportação quanto o de importação de

bens e serviços ligados à indústria criativa. Mas o grande responsável pelo resultado

brasileiro são os serviços, cujo superávit saltou de US$ 477 milhões em 2002 para

US$ 2,24 bilhões, em 2008. Foi o que mais importou e mais exportaram serviços da

indústria criativa na América Latina, registrando superávit todos os anos. O

segmento que mais alavanca as exportações é o arquitetônico, que em 2008

respondeu por 88% das vendas (US$ 5,59 bilhões) e 71% das compras (US$ 2,92

bilhões). Nos produtos o cenário é um pouco diferente.

O Brasil tem grande participação nessa área, mas fica atrás do México – as

exportações mexicanas alcançaram US$ 5,17 bilhões, e as brasileiras, US$ 1,2

bilhão. O país vizinho aos Estados Unidos, contudo, também importa mais (US$

6,54 bilhões em 2008, contra US$ 1,72 bilhão do Brasil) e tem déficit maior. A

balança comercial brasileira de produtos da indústria criativa vinha sendo positiva

até 2007, mas ficou no vermelho em 2008 (déficit de US$ 506 milhões - PNUD,

05/01/2011).

A demanda global pelos "produtos mais criativos" continua elevada,

particularmente nos mercados emergentes, apesar do estado delicado da economia

mundial, conforme indica um levantamento que a Agência das Nações Unidas para o

Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

As exportações da chamada "economia criativa" somaram US$ 559,5 bilhões

em 2010 (dado mais recente), caindo US$ 33 bilhões em relação ao pico de 2008,

quando a crise global começou, mas é o dobro do valor de oito anos atrás. O

comércio global de produtos de moda, filmes, música, novas mídias, mídia impressa,

artes visuais, além de meios audiovisuais e serviços criativos, artísticos, livros, obras

gráficas e design de interiores vem crescendo a uma taxa anual acima de 10%

desde 2002.

55

Para Edna dos Santos, diretora do Programa de Economia Criativa da

UNCTAD A Perspectiva nos próximos anos é favorável, "refletindo o novo estilo de

vida associado com conectividade, estilo, status, marcas, redes sociais". Segundo a

UNCTAD o principal produto vendido pela "indústria criativa" é o design, ou criação

funcional que trata das formas, especificações e aparência dos produtos. Em 2010,

cerca de US$ 241 bilhões em produtos de design, como design interior, moda e

joalheria, entraram no mercado global.

A exportação de produtos da "nova mídia" cresceu 16%. Publicação e mídia

impressa enfrentam o desafio da explosão das publicações eletrônicas, mas seu

comércio internacional alcançou US$ 40 bilhões em 2010. O comércio de artes

visuais rendeu US$ 26 bilhões. A China, principal exportador dos chamados

produtos criativos. Suas vendas triplicaram para US$ 97 bilhões em 2010, segundo

a UNCTAD refletindo "habilidade para criar, produzir e comercializar um mix de

produtos tradicionais e de alta tecnologia, mas também o fato de que vários desses

produtos exportados pelos chineses são criados ou desenhados em outros países".

Segundo Moreira (2012),o Brasil não está incluído entre os 20 principais

exportadores dos chamados produtos criativos.

Os indicadores para o setor cultural são necessários e de extrema importância

para justificar as atividades econômicas do setor, favorecendo a elaboração de

políticas públicas que atenda a demanda.

De acordo com o pesquisador Bernardo da Mata-Machado, no Brasil os

indicadores culturais se encontram em fase embrionária. Para avaliar o impacto da

cultura no desenvolvimento humano devem ser expandidas as seguintes perguntas:

Qual é de fato o tamanho da produção cultural no conjunto da economia? Quantos empregos são gerados anualmente por esse setor? Há correlação entre proteção do patrimônio cultural e aumento da qualidade de vida urbana? Ou entre investimento cultural e diminuição da violência? (MATA-MACHADO, 2007, p.54).

Segundo IBGE, o salário médio do brasileiro é de 3,7 salários mínimos. Já

no setor cultural o índice alcança a marca dos 5,7 salários mínimos. Em 2005 as

atividades culturais ocupavam 5,7% do número total de empresas no país (IBGE,

2007).

56

5.2 AGENTES FINANCIADOR

Um das questões em pauta na Primeira Conferência Nacional de Cultura foi

sobre as fontes de Financiamento da Cultura. De acordo com análise de Moisés e

Botelho (1997), o financiamento considerado um dos “mais poderosos mecanismos

para a consecução de uma política pública, ele deve ser a tradução do objetivo que

se quer alcançar. É por intermédio dele que se pode intervir de forma direta na

solução de problemas detectados ou no estímulo a determinadas atividades, com

impacto que podem ser relativamente previsíveis”.

Vários aspectos devem ser levados em consideração para discutir

financiamento para a área cultural no Brasil. Primeiramente há falta de recursos

públicos para o setor, não é suficiente para dar conta de um país como o nosso;

deve ser revisto como os recursos são distribuídos; analisar modelos de

financiamento; questões burocráticas que dificultam o acesso e outros impedimentos

que podem surgir durante o processo.

No artigo Política Cultural e Financiamento do Setor Cultural, de Alberto Freire

Nascimento traz um perfil do financiamento da cultura no Brasil. A Constituição

Federal de 1988 prevê em seu artigo 215 que o Estado garantirá “a todos o pleno

exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional” e dará apoio

“a valorização e a difusão das manifestações culturais”. A cultura no Brasil é um

compromisso do Estado.

“O modelo de financiamento da cultura brasileira pode ser dividido em dois momentos distintos: antes e depois de 1986. Até o ano de 1986 o Estado era o agente fundamental de financiamento cultural. Desta fase fazem parte diversas concepções da cultura, pelos sucessivos Governos, como também as políticas culturais, ou mesmo sua ausência” (NASCIEMNTO, 2008, P. 6)

Financiamento no Brasil em comparação com outros países: na Europa,

Reino Unido, Alemanha, Espanha o financiamento cultural é público, fica a cargo

dos municípios. Na América Latina, Chile e México os mecanismos legais funcionam

junto ao setor privado. O modelo Frances possui forte presença do estado, é

referencia por adotar uma gestão comprometida e atuante.

Um panorama da situação brasileira ao longo do tempo mostra como evoluímos, até chegarmos ao modelo atual de política cultural. Partimos de uma ação predominante do Estado para um modelo misto, no qual o

57

mercado, representado pelas empresas, têm uma atuação expressiva no financiamento da cultura como estratégia de política para o setor cultural.

(MASCIMENTO, 2008, p. 11).

Muitos esforços ainda são necessários para avançar nos mecanismos de

financiamento. Tanto por parte do poder público quanto do setor privado, dos

profissionais da cultura e sociedade em geral. São necessários mais debates e

reflexões de que forma transformá-los em uma ferramenta eficiente que possa sanar

os desafios e expectativas do setor.

Para os bancos falta preparo para administrar a cultura, pois a equipe técnica

precisa de dados, de indicadores quantitativos para que possa avaliar o impacto e

medir benefícios. A decisão em quem investir se dá pelo grau de confiança e

retorno. “O modelo de financiamento cultural precisa ser limitado a segmentos

específicos da cultura porque a demanda de recursos é grande e porque somente

aqueles que podem gerar retorno serão financiados”. Yúdice (2004). Este mesmo

autor comenta sobre a nova tendência dos bancos em incluir a cultura como

catalisadora do desenvolvimento humano.

5.3 PONTOS DE CULTURA – FINANCIAMENTO DO MinC

Os Pontos de Cultura são entidades reconhecidas e apoiadas financeira e

institucionalmente pelo Ministro da Cultura que desenvolvem ações de impacto

sociocultural em suas comunidades. Em abril de 2010, somam 2,5 mil, totalizando

1122 cidades brasileiras, atuando em redes sociais, estéticas e políticas. O Ponto de

Cultura não tem um modelo único, nem de instalações físicas, nem de programação

ou atividade. Um aspecto comum a todos é a transversalidade da cultura e a gestão

compartilhada entre poder público e comunidade.

Criado com o objetivo de identificar o potencial local e como estratégia para o

desenvolvimento da cultura em espaços permanentes para ações culturais e apoio

para outras atividades de Programa Cultua Viva. Segundo Célio Turino, idealizador

dos Pontos de Cultura no Brasil, “a idéia do Ponto de Cultura é que ele seja um

mediador entre dois mundos, o mundo dos Sistemas: estado e mercado”. (entrevista

site Poucas e Boas da Mari. 3 de jun de 2011). Segundo ele o que sustenta os

Pontos é um tripé: autonomia, protagonismo e empoderamento, este deveria

58

funcionar como potencializador na articulação em rede para alcançar o perfeito

equilíbrio entre sociedade, estado e mercado. Para Gilberto Gil, ex-ministro da

Cultura, o Ponto de Cultura é “uma espécie de „do-in‟ antropológico, massageando

pontos vitais, mas momentaneamente desprezados ou adormecidos do corpo

cultural do País”. De acordo com Turino o,

Ponto de Cultura pode ser ao menos esse é o desejo, um ponto de apoio a romper com a fragmentação da vida contemporânea, construindo uma identidade coletiva na diversidade e na interligação entre diferentes modos culturais. Quem sabe um elo na “ação comunicativa”, como na teoria de Jürgen Habermas. (TURINO, 2010, p.35). (Martins, Júnia. Revista temática. Pontos de Cultura: espaço de manifestações folkcomunicacional pagina 8 ano VII, n. 10 – outubro/2011.

O Ponto de Cultura, após o convênio com o MinC, recebem a quantia de até

R$ 185 mil, em seis parcelas semestrais, para investir conforme projeto

apresentado, sendo parte da primeira parcela, no valor mínimo de R$ 20 mil, para

aquisição de equipamentos. Esse procedimento deveria funcionar, porém nos

últimos dois anos houve uma ruptura gerando polêmicas em torno dos Pontos. O

não pagamento de resíduos de convênios firmados em anos anteriores, o

cancelamento de editais, a redução de recursos dos Pontos e a ausência do

programa Cultura Viva no orçamento do Ministério da Cultura para 2012.

Para honrar os compromissos firmados com os quase 3.500 Pontos de

Cultura em atividade, seriam necessários pelo menos R$ 200 milhões - o que

representa um acréscimo de R$ 121 milhões no atual orçamento do ministério. O

MinC deve R$ 107,8 milhões de resíduos a pagar, mais R$ 55,8 milhões dos editais

cancelados e dos Pontões. Fica em torno de 10% do orçamento do ministério,

bastante razoável para um programa dessa relevância.

Para Turino a crise é perfeitamente contornável e não há necessidade de

cancelar editais, muito menos devolver dinheiro, o que seria uma quebra de

confiança na relação do governo federal com a sociedade civil, além de quebra de

contrato, com implicações legais em diversos sentidos. A saída seria o

remanejamento interno do orçamento do MinC, assegurando ao Cultura Viva os

recursos mínimos para o cumprimento de seus compromissos e manutenção de seu

tamanho e formato, ao menos nos moldes de 2010, sem retrocessos.

.

59

6 MERCADO - TECNOLOGIA - DESENVOLVIMENTO – SUSTENTBILIDADE

Favorecer debates sobre mercado cultural e seus mecanismos, ajuda a

reconhecer o quanto a cultura contribui para a economia. De acordo com Leonardo

Brant, a cultura pode transformar a sociedade brasileira.

A transformação da sociedade brasileira será dada sem dúvida, pela cultura. Da grande diversidade e riqueza cultual existente no País e de seu potencial transformador provém esta certeza. Diversidade é, portanto, um conceito absoluto das culturas que se entendem democráticas, pois reflete a multiplicidade de expressões e pensamentos de uma comunidade e suas possibilidades de multiplicação. Ela é passado, presente e projeção do crescimento social de todo um povo.(BRANT, 2004, p. 16)).

A Declaração Universal da UNESCO trata de serviços culturais, mercadorias

distintas frente às mudanças econômicas e tecnológicas atuais, que possibilitam a

criação e inovação. Dá atenção particular à diversidade da oferta criativa, à justa

consideração dos direitos e dos artistas, assim como ao caráter específico dos bens

e serviços culturais que, na medida em que são portadores de identidade, de valores

e sentimentos, não devem ser considerados como mercadoria ou bens de consumo

como os demais.

Para BRANT (2004), o setor deve se profissionalizar, ou seja, reconhecer a

“cultura como negócio”. Ele faz uma análise de desenvolvimento do setor e do

mercado argumentando a favor do comportamento de mercado em relação à

atividade cultural. Enfatizando estas relações “cultura e mercado” num mundo

globalizado, capitalista voltado para o entretenimento para a economia de mercado.

Brant aponta que “O marketing é o mais comemorado e praticado instrumento de

trabalho da economia de mercado. Dir-se-ia até que é a própria condução prática

dessa economia:” (BRANT. 2004. p. 39).

Mais adiante aponta o cinema, como estratégico para negociações bilaterais

de comércio com os Estados Unidos. O cinema se torna o carro chefe da indústria

cultural, capaz de contrapor nas negociações de arroz, açúcar, aço, computadores e

aparelhos de DVD. Sabe-se através de documentos militares liberados, que o

Departamento de Defesa Norte Americano (Pentágono), interfere nas produções

alterando fatos que possam enfraquecer as forças armadas norte-americanas. O

Pentágono faz uso do ramo cinematográfico para estabelecer relações públicas. Há

60

muito tempo os Estados Unidos utiliza-se da indústria cultural no campo político,

como recurso para o país.

O mercado de entretenimento está totalmente voltado para o lucro, maior

concentração de recurso econômico. Segundo a UNESCO na Declaração Universal

da UNESCO sobre a Diversidade Cultural, artigo 1, a Fonte de intercâmbios, de

inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão

necessário como a diversidade biológica para a natureza.

Não temos como ignorar a relação da cultura com a tecnologia e as

mudanças culturais por ela provocadas. Segundo o sociólogo e antropólogo Darcy

Ribeiro,

a tecnologia pode ser considerada como um „motor‟ da evolução da humanidade uma vez que leva consigo, junto com a organização social e a ideologia, as mudanças decisivas na relação do ser humano com a natureza, na relação com os outros seres humanos, interferindo no sistema de conhecimentos e valores das sociedades'. (RIBEIRO, 1972, p. 280).

A relação entre cultura e as novas tecnologias é vista como recursos

facilitadores de acesso, de possibilidades e inovação. As tecnologias provocam

mudanças de forma acelerada refletindo no cotidiano das pessoas, no consumo, na

atitude, ou seja, provocam transformações culturais favoráveis ou não.

O desafio é como usufruir das novas tecnologias para experiências e

inovações transformadoras necessárias para o desenvolvimento sustentável da

humanidade, levando em conta o meio em que vive. Tratar de cultura em toda a sua

dimensão. De acordo com Hermet, o conceito de desenvolvimento.

é o processo de mudança em virtude do qual uma coletividade tem acesso em conjunto a um bem-estar maior, chegando a extrair de seu próprio meio, à custa de uma abertura ao exterior, todos os recursos que contém e que permaneciam até então pouco utilizados ou sem explorar. Esses recursos lhes permitem realizar-se mais, através de uma espécie de auto-revelação e de mobilização, não só de suas potencialidades subjacentes, como também de capacidades inéditas surgidas de uma mutação das ditas potencialidades. Este processo evoca a imagem botânica de uma germinação endógena associada normalmente a uma hibridação exógena (HERMET, 2002, p. 20).

Após um longo período de exploração irracional e desordenada que provocou

muitos damos ambientais, chega o momento de repensar práticas humanas que

considere e respeite o meio ambiente.

61

O desafio é administrar sustentabilidade e desenvolvimento considerando

vários aspectos: econômico, político, social, cultural e ambiental. Tais questões

devem ser tratadas de forma equilibrada para atender as necessidades atuais e

também necessidades futuras. Muitas vezes, o processo de desenvolvimento

adotado utiliza recursos de forma predatória favorecendo a pobreza e a

desigualdade social, não cumprindo com seu papel, ou seja, um falso modelo de

desenvolvimento. Para obter avanços e resultados é preciso mudança nos padrões

de consumo, como aborda a pesquisadora Lala Deheinzelin, Segundo ela:

Transformar em qualidade de vida a enorme riqueza potencial, representada pela nossa diversidade, nossos recursos culturais e naturais, só será possível com ações e políticas adequadas, focadas em desenvolvimento e sustentabilidade. Ações que para serem efetivas devem contemplar não apenas o aspecto econômico, mas as outras dimensões em que a Economia Criativa atua: o simbólico, o social e o ambiental. Ações cuja eficácia está vinculada à inovação, à visão de futuro, desenvolvendo modelos adequados ao século XXI, e à construção do mundo que desejamos (DEHEINZELIN. p.23).

A cultura constitui um setor indispensável, onde toda a atividade local permite

gerar riqueza, desenvolvimento. E o que entendemos por desenvolvimento?

O desenvolvimento e a cultura então correlacionados sejam para promover a

riqueza ou até mesmo a pobreza. Deve garantir qualidade de vida atendendo as

necessidades básicas. Desenvolvimento na ótica cultural são escolhas e valores de

classes.

Para HERMET (2002) "O processo de mudança em virtude do qual uma

coletividade tem acesso em conjunto a um bem-estar maior, chegando a extrair de

seu próprio meio, à custa de uma abertura ao exterior". O processo coletivo deve

ocorrer em todos os aspectos do seu início até os resultados, que por conseqüência

deve ser dividido de forma coerente, ou seja, que proporcione desenvolvimento e

bem-estar para todos os envolvidos.

No ensaio Uma Tipologia Cultural, a cultura importa Grondona questiona o

processo de desenvolvimento econômico e sistemas de valores. Segundo ele, o

paradoxo do:

Desenvolvimento econômico é importante demais para ficar inteiramente por conta dos valores econômicos. Os valores aceitos ou negligenciados por um país estão dentro do campo cultural. Podemos, portanto, dizer que o desenvolvimento econômico é um processo cultural. (GRONDONA, 2002, p. 91).

62

Não devemos tratar cultura de forma romantizada, isolada. Cultura faz parte

de um contexto socioeconômico, deve alimentar a alma e também atender nossas

necessidades básicas. Em suma trata-se de sobrevivência, de forma não exclui

bens materiais. Segundo a UNESCO, conclusões da Conferência Mundial sobre as

Políticas Culturais (MONDIACULT, México, 1982), da Comissão Mundial da Cultura

e Desenvolvimento (Nossa Diversidade Criativa, 1995) e da Conferência

Intergovernamental sobre Políticas Culturais para o Desenvolvimento (Estocolmo,

1998), definem que cultura pode ser entendida como: “um conjunto de

características distintas, espirituais, materiais, intelectuais e afetivas que

caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Abarca além das artes e das

letras, os modos de vida, os sistemas de valores, as tradições e as crenças”.

O pesquisador Leonardo Brant refere-se às atividades culturais como “o

conjunto de processos de trabalho inerentes à questão (produção, circulação,

preservação), na qual a atividade cultural apresenta-se neste contexto pela relação

“cultura e comércio”, pela importância econômica gerada pela atividade cultural”.

(BRANT, 2004, p. 13).

Não podemos tratar temas como: sustentabilidade, desenvolvimento, cultura,

entre outros de forma isolada, pois ambos desempenham papel fundamental nos

processos de modernização de qualquer tipo de atividade, seja ela industrial, ou

não. Um depende do outro e juntos possibilitam resultado para o coletivo. É preciso

uma nova forma de ver e contextualizar processos de sustentabilidade, de

desenvolvimento. Segundo Rodrigo da Rocha Loures,

Uma relação intrínseca entre desenvolvimento e sustentabilidade. Sustentabilidade, hoje é o novo nome do desenvolvimento, incluindo suas várias dimensões: econômica, social, cultural, físico territorial e ambiental, político-institucional, científico-tecnológico e, para alguns, principalmente espiritual. (ROCHA LOURES, 2009, p.4).

O termo sustentabilidade está na “moda” e há que se cuidar para que não

seja banalizado, desviando seu verdadeiro sentido. No livro Sustentabilidade XXI

Educar e Inovar sob uma nova consciência, o autor Rocha Loures menciona os

novos valores da economia do conhecimento, onde a economia contemporânea

produz e vende “conhecimento” refere-se ao valor do trabalho como “se o valor do

trabalho pudesse ser intangível atualmente como valor-conhecimento, já que todo o

63

trabalho humano, sem exceção, compõe-se de esforços muscular, intelectual e

neuronial”. Isso porque o indivíduo demonstra necessariamente algum

conhecimento.

Podemos entender que um produto nada mais é do que a expressão do conjunto do conhecimento evidenciado pelo trabalho. Na prática, isso significa considerar que os bens e os serviços negociados em mercado tenderão a ter a seu valor determinados, de forma crescente, pela quantidade de conhecimento que neles se expressam (ROCHA LOURES, 2009, p. 22).

O seminário Internacional Sobre Cultura e Sustentabilidade, realizado em

2012, parceria com a Cidade e Governos Locais Unidos (CGLU), trás o tema

sustentabilidade para reflexão. A CGLU é uma rede mundial com a finalidade de

representar os interesses das cidades por meio da cooperação permitindo decisões

em nível mundial. Discutiu-se a importância da cultura para o desenvolvimento

sustentável a partir da visão que contemple a economia criativa. Segundo a ONU,

desenvolvimento sustentável reúne três eixos: social, econômico e ambiental. A

discussão foi pela inclusão de um quarto eixo, o cultural. Segundo Vitor Ortiz “A

cultura é essencial para a sustentabilidade, mais ainda não conseguimos o

consenso suficiente para tê-la no mesmo padrão que estão os outros pilares”

A discussão é pertinente. Como tratar cultura, desenvolvimento e

sustentabilidade? A UNESCO defende a integração colocando a cultura no centro,

ou seja, cultura é fundamental. Neste seminário, foi mencionado a Declaração de

São Paulo, de 14 de abril de 2012. Uma ação atual afirmando toda a movimentação

em torno do tema economia criativa e sustentabilidade. É considerável qualquer

debate sobre o tema, que por sinal está em evidência, provocando e exigindo a

atenção em todo o mundo.

64

7 EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS - MOVIMENTOS CRIATIVOS

É possível encontrar um vasto material de pesquisa sobre economia criativa.

Um fator importante e positivo, pois quanto mais informação melhor. Porem convém

refletir como estas informações estão sendo aplicadas na prática. Em alguns lugares

o processo acontece de forma tão natural que as pessoas envolvidas até esquecem,

ou desconhecem que se trata de economia criativa.

Diante dos avanços e das possibilidades que o mercado cultural vem

oferecendo, estão surgindo vários movimentos denominados criativos com o objetivo

de promover debates e ações que possam transformar os espaços em espaços

criativos e inovadores. Entre tantos, trago apenas algumas referencias para mostrar

que isso é possível.

7.1 BICHINHO

Em Minas Gerais, temos o Distrito de Vitoriano Veloso (Bichinho) que

pertence à cidade de Prados. O histórico povoado tem pouco mais de 800

habitantes, fica a 7 km de Tiradentes. Destaca-se pela concentração de grande

quantidade de ateliês que produzem artesanato mineiro. É um grande pólo de

produção de arte e artesanato.

Tudo começou com o artista plástico Antônio Carlos Beck, o “Toti”, que

promoveu oficinas na região. A oficina ficou conhecida como “Oficina de Agosto”. No

início, a oficina era itinerante, em 1992 fixou-se em Bichinho interagindo com a

comunidade local na criação e produção de objetos para decoração. A Oficina de

Agosto mantém um projeto de capacitação profissional conhecido como oficina

escola que tem o reconhecimento do governo do estado de Minas Gerais. Trabalho

desenvolvido com responsabilidade social. Toti nada mais fez do que aproveitar o

potencial da comunidade e da possibilidade de reciclar a matéria-prima (madeira de

demolição, latas, papel e outros). Transformando-a em objetos, cujo resultado é

beleza, humor e criatividade.

A oficina transformou-se em produção e renda, motivo pelos quais as pessoas

permanecessem no seu local de origem. A produção é coletiva em todo o processo.

De acordo com o Ministro do Desenvolvimento Indústria e Comercio Exterior, Miguel

65

Jorge, (2008, p. 10). “O povoado é sinônimo de artesanato mineiro-brasileiro. Um

artesanato que se destaca pela qualidade e beleza das peças, pelo respeito ao meio

ambiente”. Um Trabalho artesanal transformador que ultrapassa fronteiras do país

para a Europa, Estados Unidos, Emirados Árabes, América do Sul.

Bichinho passou por uma transformação radical na economia, cerca de 200

famílias tiveram acesso a recursos tecnológicos. Antes da chegada de Toti, os

homens saiam para trabalhar em outras cidades, as mulheres ficam cuidando dos

filhos. O artesanato uniu as famílias, os homens deixaram de trabalhar em outras

cidades. São mais de 80 pessoas envolvidas com a Oficina de Agosto. São

confeccionadas mais de 2.000 mil peças por mês, sendo que 80% são de demolição

ou reciclados.

A transformação econômica foi inevitável. Bichinho é referência no setor, é

um exemplo prático do conceito de economia criativa, de desenvolvimento.

7.2 GUARAMIRANGA

Uma cidade de cinco mil habitantes, com apenas dois teatros, porém com

eficiente estrutura de produção cultural. Aplicabilidade de recursos em trono de 16 %

de seu orçamento em cultura. Investimento, credibilidade e garantia de acesso

torna-se possível pela compreensão e boa prática de políticas públicas. A fórmula

perfeita de política pública bem aproveitada pelos profissionais da cultura e

conseqüentemente pela comunidade.

Tudo começou com a mobilização da comunidade onde surgiu a Associação

dos Amigos da Arte de Guaramiranga, em 1992. De acordo com Rômulo Avelar

(2010) Guaramiranga não tentou “reinventar a roda” pelo contrário, foram buscar o

conhecimento acumulado por inúmeros artistas, produtores e gestores culturais.

7.3 CARNAVAL

Referencia brasileira em criatividade. De acordo com estudo da UNCTAD

(Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e do PNUD

(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Carnaval é um dos

principais impulsionadores da indústria criativa no Brasil. O impacto se dá pela

66

"produção direta de artigos e performances gravadas para a venda para a população

local e aos turistas, e pelos efeitos indiretos dos gastos os turistas cujas visitas

foram estimuladas pelo Carnaval". A festa ajuda ainda a desenvolver as habilidades

dos artistas locais, e impulsiona a venda de produtos e de negócios elaborados por

conta da celebração.

O Carnaval oferece uma concentração de performances de música e dança

ao vivo e gravadas que têm um significado cultural considerável para o público

nacional e internacional. A cadeia associada ao Carnaval no Rio de Janeiro aponta

que a festa, com retorno anual estimado em US$ 600 milhões, emprega quase meio

milhão de pessoas e tem impacto direto e indireto na economia, não apenas da

cidade, mas do estado.

A intenção de abordar estas experiências é tê-las como referência e perceber

o quanto a economia criativa é capaz de transformar uma comunidade, atendendo

suas expectativas, suas necessidades. (Daniel, Paulo. Brasil lidera economia da

cultura. Carta capital. 3 de nov. 2012).

7.4 MODA NO PARANÁ

De acordo com agencia FIEP – notícias do sistema de 10 de fev. De 2010. O

Estado do Paraná é referencia em moda, o quarto do Brasil, o setor está em

crescendo, produz moda, um grande produtor de marcas oferecendo produtos de

altíssima qualidade.

Uma analise dos dados do Departamento Econômico da FIEP mostram a

dimensão da indústria têxtil e do vestuário no Estado. O pólo de confecção do

Paraná está entre os cinco maiores do Brasil, representando 7,7% do total de

indústrias do setor do país. As 5.588 indústrias, a maioria micro e pequenas

empresas, empregam mais de 90 mil trabalhadores, o que representa 6,74% de

todos os empregados do setor no País.

No Paraná, o setor é o segundo que mais emprega entre toda a indústria do

Estado. Um dos destaques da indústria paranaense é a descentralização da

produção. Existem indústrias em todas as regiões do Estado, com destaque para a

região Norte, que concentra mais de 2.300 empresas, representando 42% do total

de indústrias do setor no Paraná. Também possuem alta concentração de empresas

67

as regiões Noroeste (19,1%) e Metropolitana de Curitiba (15,17%).

O vestuário, assim como todos os setores da economia, foi afetado pela crise

financeira mundial. “2009 foi um ano atípico para a economia. Não podemos negar

que fomos atingidos, mas estamos nos recuperando gradativamente”, afirma

Marcos Tadeu Koslovski, coordenador do Conselho e Presidente do Sindicato da

Indústria do Vestuário do Paraná (Sivepar). Ele destaca que para se reerguer e

também para vencer a forte concorrência dos produtos chineses, a indústria do

Paraná investe em inovação para agregar valor aos produtos locais, fortalecendo

marcas já existentes e dando subsídio para a criação de novas grifes. (KOLOVSKI.

Agencia FIEP – notícias do sistema. 10 de fev de 2010).

O Paraná tem potencial é bem representado no cenário nacional e

internacional. Vários fatores colaboram para este resultado: inovação, qualidade,

competitividade, fortalecimento da indústria entre outros.

7.5 LITORAL PARANAENSE

A instrutora do SENAR Ana Gomes Armstrong relata a sua experiência com o

artesanato.

“Minha relação com o artesanato começou em 2003, quando fui convidada

pela EMATER para participar de um curso de fibra de bananeira em Morretes.

Depois que conheci a matéria-prima (fibra) eu fiquei apaixonada por artesanato e

pela natureza, pois era do artesanato que eu ia tirar a minha fonte de renda. No

momento eu estava desempregada e o artesanato foi a minha salvação.

Comecei a ganhar dinheiro. Senti no coração que devia ensinar toda a minha

comunidade, ai começou o meu trabalho como voluntária. Ensinei 30 mulheres do

Mundo Novo do Saquarema a fazer o artesanato da fibra da bananeira e ganhar

dinheiro, e ao mesmo tempo conservar o meio ambiente. Geração de renda para as

famílias utilizando o tronco de bananeira visto como “lixo”.

Hoje com as mãos criativa das artesãs fazemos muito artesanato. Comecei a

ficar conhecida pela sociedade em conseqüência do trabalho que desenvolvia. Em

2011, depois da enchente de Morretes, fui convidada para trabalhar como instrutora

do SENAR. Desde então, minha renda é exclusivamente do artesanato.

A instrutora Ana ministrou curso de artesanato oferecido pela SENAR no

68

Distrito de Ferraria e no Distrito de Bateias, contribuindo com sua experiência.

7.6 FESTIVAL DE INVERNO EM ANTONINA

O Festival de Inverno da Universidade Federal do Paraná é realizado na

cidade litorânea de Antonina, a 84 km de Curitiba, há 22 anos. O evento faz parte do

roteiro turístico cultural do Estado. Oferecem oficinas com diversas representações

da arte, espetáculos gratuitos. Movimenta toda a cadeia produtiva local, recebe

muitos turistas e oferece vários atrativos para os participantes.

De acordo com a Pró-retoria de Extensão e cultura (PROEC) “A interação

acontece pela reflexão e discussão sobre o espaço social e os sujeitos nele

envolvidos, privilegiando ações conjuntas com as administrações públicas e a

sociedade civil, voltando-se para o desenvolvimento sustentável e transformação

social”. A intenção de abordar estas experiências é tê-las como referência e

perceber o quanto a economia criativa é capaz de transformar uma comunidade,

atendendo suas necessidades.

7.7 ESCOLA DE CRIATIVIDADE

Localizado em Curitiba (PR.), a Escola de Criatividade é um ambiente livre

para debate, pesquisa, incentivo e ensino da criatividade e do pensar criativo.

Destinam-se às pessoas, empresas, organizações setoriais, instituições de ensino e

à sociedade em geral aliando metodologias próprias, conhecimento e idéias à

simplicidade, intuição e imaginação.

A Escola de Criatividade trabalha de forma aberta e colaborativa com vários

profissionais de diferentes áreas: design, artes, ilustração, marketing digital,

semiótica, jornalismo, administração, turismo, fotografia, educação, entre outros, que

acreditam e apóiam a iniciativa. Um movimento que espera congregar pessoas e

parceiros para o desenvolvimento do pensar criativo, não apenas restrito às

atividades das indústrias criativas, mas a todos. Afinal, todos nascem criativos.

69

7.8 RIO CRIATIVO

Criado com intuito de estimular o potencial da economia criativa para o

desenvolvimento socioeconômico do Estado do Rio de Janeiro. As Incubadoras Rio

Criativo, projeto piloto do Programa de Desenvolvimento da Economia Criativa do

Estado do Rio de Janeiro, selecionaram empreendimentos a serem incubados.

A iniciativa tem como objetivo estimular a consolidação de empreendimentos

criativos no Estado. Entre os serviços oferecidos aos empreendedores selecionados

estão consultorias na elaboração de planos de negócios, planejamento estratégico,

assessorias jurídicas e de imprensa, entre outras. Além disso, os contemplados

ganharão um espaço físico nas incubadoras para sediar seus empreendimentos por

até 18 meses.

7.9 INSTITUTO GÊNESIS

É uma organização do Terceiro Setor, da iniciativa privada, reconhecida pelo

governo brasileiro, através do Ministério da Justiça, como OSCIP – Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público - com sede em Londrina (PR) e atuando desde

1997.

Todos os projetos coordenados pelo Instituto Gênesis visam unir valores

econômicos a valores de aspectos sociais e ambientais, melhorando a qualidade de

vida de regiões, das comunidades envolvidas e sua cultura.

7.10 AMÉRICA LATINA

Retomada da produção cinematográfica na região, particularmente em

Argentina, Brasil e México. Os filmes nacionais continuam lutando por um espaço na

tela com os grandes sucessos estrangeiros. Raramente ficam entre os dez mais

vistos nos países, e a participação deles no mercado fica bem atrás das produções

internacionais.

70

A novela é outro produto que ajuda a impulsionar a economia criativa latino-

americana. "Na produção televisiva, há casos de sucesso, como a Televisa, no

México, e a TV Globo, que são os maiores exportadores de programas de televisão

– em sua maioria, novelas - para mercados mundiais". (Daniel, Paulo. Brasil lidera

economia da cultura. Carta capital. 3 de nov. 2012).

71

8 INSTITUIÇÕES QUE INVESTEM NO SETOR

8.1 UNESCO

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO) nasceu no dia 16 de novembro de 1945. Trabalha com o objetivo de criar

condições para um genuíno diálogo fundamentado no respeito pelos valores

compartilhados entre as civilizações, culturas e pessoas. Este papel é primordial,

particularmente em face do terrorismo, que constitui a negação dos princípios e

valores da Carta das Nações Unidas e um ataque contra a humanidade.

O mundo requer urgentemente visões globais de desenvolvimento

sustentável com base na observância dos direitos humanos, no respeito mútuo e na

erradicação da pobreza. Temas esses que estão no cerne da missão da UNESCO e

em suas atividades. Ajuda a reforçar a capacidade dos países em desenvolvimento

nos campos da ciência, da engenharia e da tecnologia. Associada as várias

agências de financiamento, fornece dados, assessoria e assistência técnica para

cooperar com os governos na formulação e implementação de estratégias e políticas

eficazes em ciência e tecnologia. (UNESCO 2007).

8.2 SEBRAE

Como atua? Segundo Luiz Barretto, presidente do SEBRAE, a instituição

desenvolve atualmente 26 projetos de economia criativa em 16 estados brasileiros.

Investe no setor, porque sabe que a economia criativa é um dos setores mais

dinâmicos e com maior potencial para geração de emprego e renda no Séc. XXI,

onde o Brasil esta em evidencia no cenário mundial. Destaca o papel das micro e

pequenas empresas, o potencial, que a economia criativa oferece, levando em conta

que este setor, é hoje decisivo para micro e pequenas empresas, conquistando

espaço no mercado cada vez mais competitivo.

O Brasil é um país rico em produção cultural. É necessário cada vez mais

pensarmos em políticas, públicas e privadas, para que o desenvolvimento da

economia criativa não fique em segundo plano. A contribuição das micro e pequenas

empresas para o desenvolvimento do Brasil e para a estabilidade das relações

sociais é inegável.

72

Segundo a Agência SEBRAE de Notícias, elas representam cerca de 99%

das empresas do país, respondem por 20% do PIB nacional e 56% dos

trabalhadores com carteira assinada. Do total de 28 milhões de empregos urbanos

(42% da população economicamente ativa) gerados pela iniciativa privada, 16

milhões são criados por micro e pequenas empresas. (FONSECA, 2011, p. 168).

8.3 SESI

Segundo Cláudia Martins Ramalho. Gerente do Departamento Nacional do

Serviço Social da Indústria (SESI): A cultura se transforma em fator de

desenvolvimento econômico sustentável, gerador de ocupações e oportunidades,

proporcionando experiências educativas significativas e relevantes. Estas

experiências repercutem, positivamente, nos vários setores sociais, favorecendo a

quantidade de vida dos trabalhadores, das suas famílias e das comunidades.

8.4 SENAR

O SENAR Nacional - Serviço de Aprendizagem Rural - é uma instituição

prevista na Constituição Federal e criada pela Lei n 8.315, de 23/12/1991. Tem como

objetivo a formação profissional e a promoção social do homem do campo para que

ele melhore o resultado de seu trabalho e com isso aumente sua renda e sua

condição social. Na área rural, é comum, após a execução das atividades, a sobra

de uma grande variedade de materiais que são destinados ao descarte. Entretanto,

esses materiais podem se transformar em matéria-prima abundante e barata para

aplicação de técnicas de artesanato.

O artesanato objetiva atender as necessidades utilitárias e decorativas. Além

disso, funciona como importante fator socioeconômico, pois por meio dele se pode

obter uma alternativa de renda e, em conseqüência, a melhoria da qualidade de vida

do homem do campo.

O SENAR oferece cursos para conhecimento e aperfeiçoamento de técnicas

e processos na área do artesanato, gastronomia, e outros. Disponibiliza para os

alunos material impresso dos cursos, com sugestões de modelos, mas deixa aberto

para o processo criativo. O motivo que levou o Departamento de Cultura fechar a

73

parceria com o SENAR foi pela identificação de propostas voltadas para o

artesanato e áreas de atendimento.

8.5 ALIANÇA EMPREENDEDORA

Deu início a suas atividades no ano de 2005, com sede em Curitiba. Surgiu

com o objetivo de transformar a vida de pessoas e comunidade através do

empreendedorismo. Seu foco é atender comunidades de baixa renda, fazendo com

que a mesma possa produzir e melhorar a qualidade de vida e inclusão. A iniciativa

é apoiar novos modelos de negócios, cultura empreendedora.

Atualmente atua em todo o país dando visibilidade a empresas com destaque

pelo grau de inovação. Conta com profissionais capacitados na área de economia,

turismo, ciências sociais, administração, entre outras voltadas para ações

inovadoras. A Aliança têm como visão “Fazer da economia um lugar para todos”.

8.6 BNDES

É hoje a empresa publica federal com a principal fonte de financiamento de

longo prazo, voltado para investimentos em todos os segmentos da economia, em

uma política que inclui as dimensões social, regional e ambiental.

Fundada em 1952, atende a agricultura, indústria, infra-estrutura e comércio e

serviços, com atenção especial para micros e pequenas empresas. Possui linhas de

investimentos sociais, votados para educação e saúde, agricultura familiar,

saneamento básico e transporte urbano. Elegeu a inovação, o desenvolvimento local

e regional e o desenvolvimento socioambiental como aspectos mais importantes do

fomento econômico no contexto atual. Mantém o compromisso histórico com o

desenvolvimento de toda a sociedade brasileira, com o social, com a economia

contemporânea. Investe em empreendimentos priorizando o eco-desenvolvimento,

inclusão social, criação de empregos e renda e geração de divisas.

Suas modalidades de financiamento se dividem em:

produtos/programas/fundos. Apóia projetos de investimentos que visem à ampliação,

modernização e expansão da capacidade produtiva. Financia pesquisas ou estudos

que contribuam para a formação de políticas públicas ou geração de projetos

relacionados ao desenvolvimento econômico e social do Brasil e da América Latina

74

– Fundo de estruturação de projetos (BNDES FEP). Programa de Fomento à

Pesquisa em desenvolvimento Econômico – PDE.

Tem o objetivo de estimular a pesquisa em temas relacionados ao

desenvolvimento econômico do Brasil. Trata-se de um programa anual executado

por meio de convênios (BNDES e Associação Nacional de Centros de Pós-

graduação em Economia).

Para o BNDES, cultura “é uma alavanca para o desenvolvimento

socioeconômico sustentável do Brasil”. Sua dotação orçamentária passou de R&135

milhões, em 2006, para R$1 bilhão, em 2009, oferecendo linhas de crédito a

diversas áreas cultural, como cinema e jogos eletrônicos, espetáculos ao vivo. Atua

no restauro de patrimônio histórico arquitetônico, na preservação de acervos.

O BNDES atende a área cultural e como qualquer outra instituição financeira

também visa lucro e só aprova grandes projetos. No setor cultural os projetos

geralmente estão amarrados com outras áreas garantindo o retorno desejável.

8.7. BRDE

Criado em 1961, tendo como sócios os Estados do Paraná, Santa Catarina e

Rio Grande do Sul. Com objetivo “Promover e liderar ações de fomento ao

desenvolvimento econômico e social de toda a região de atuação, apoiando as

iniciativas governamentais e privadas, através do planejamento e do apoio técnico,

institucional e creditício de longo prazo”. Tosattot (2011).

O BRDE apresenta pesquisa realizada através do critério CNAE referente a

setembro de 2011. Organiza a economia criativa composta por núcleo, atividades

relacionadas e atividades de apoio (critério criado pela FIRJAN). Núcleo (atividades

criativas) tem baixa representatividade nos financiamentos do BRDE. No entanto, a

cadeia como um todo representa 5,13% da carteira.

8.8 SANTANDER

O Banco Santander acredita no fomento à economia criativa como uma forma

de incluir a cultura e a criatividade na pauta do desenvolvimento sustentável da

sociedade.

75

O mercado cultural e criativo inova em modelos de negócios e agrega

recursos intangíveis aos produtos das nossas indústrias. Sempre com base em um

recurso inesgotável, que não agride o meio ambiente e que quanto mais se usa,

mais se tem: a criatividade.

Atua na área da cultura formando uma rede de parcerias que promove

iniciativas multidisciplinares e contemporâneas. Potencializa as diversas dimensões

da cultura com foco no desenvolvimento, norteando as centenas de ações

institucionais, programas e projetos. Unidades Culturais em Porto Alegre e Recife.

76

9 EXPERIENCIAS, DESSAFIOS E ALTERNATIVAS PARA O DISRITO DE

FERRARIA

Parte desta pesquisa esta voltada para experiências bem sucedidas e como tais

experiências poderão auxiliar o Município de Campo Largo, especificamente no

Distrito de Ferraria, levando em consideração o seu potencial local como:

artesanato, gastronomia, turismo, saberes tradicionais e outras especificidades

culturais da região. Pretende-se apontar algumas ações realidades na região, sejam

elas integradas com o poder público, empresas privadas e instituições, comunidade.

A falta de informação, de fontes para a pesquisa dificulta a elaboração de dados, o

diagnóstico. O acesso a informações permite construir referência local que é de

extrema importância, pois elas permitem conhecer o passado, as necessidades de

hoje para planejar o futuro. Permite uma análise para repensar práticas e métodos já

aplicados e adotar novos desafios para desenvolvimento local.

Os profetas são aqueles ou aquelas que se molham de tal forma nas águas da sua cultura e da sua história, da cultura e da história de seu povo, dos dominados do seu povo, que conhecem o seu aqui e o seu agora e, por isso, podem prever o amanhã que eles mais do que adivinham, realizam. (FREIRE. 1979. p. 35).

Compartilhar com a comunidade a relevância da economia criativa como

ferramenta capaz de abrir novos caminhos. Desconsiderar o setor como estratégia

de desenvolvimento, é impedir inovações e avanços para a sociedade. Economia

criativa pode ser o “pote de ouro” para desencadear desenvolvimento. Tendo o “pote

de ouro” nas mãos, por que tanta dificuldade em utilizá-lo? Enfrentar desafios para o

avanço no setor envolve cooperação dos gestores públicos, da sociedade civil e

privada, deve ser uma ação coletiva. O processo é lento, porém necessário. O

processo coletivo ajuda estabelecer um plano de ação considerando algumas

questões: Onde queremos chegar? O que temos a oferecer? A dificuldade talvez

esteja aí, definir um rumo, lembrando Sêneca “nenhum vento é favorável para

aqueles que não sabem para onde ir.” Portanto, definir metas é fundamental.

Precisamos saber para onde ir, aproveitando o vento favorável.

77

As transformações em curso no mundo contemporâneo, que provocam incertezas no ambiente, também estão gerando novas oportunidades e impulsionando avanços tanto no setor privado como no público. Podemos argumentar, frente a essa tendência, que os esforços para viabilizar a inclusão, redução da desigualdade, manutenção do crescimento econômico sustentável e a melhoria das condições sócias são os principais desafios com que grande parte dos governantes, especialmente na América Latina, se defronta nesta segunda década de século XXI (MATIAS PEREIRA, 2010, p. 27).

Após abordagem conceitual, contexto histórico e avanços da economia

criativa no Brasil e como o setor é visto pela lente dos órgãos federais, estaduais e

municipais, segue descrição do Distrito de Ferraria e citações de cidades ou locais

cujas experiências foram bem sucedidas e reconhecidas como espaços e cidades

criativas. A base comparativa principal compõe-se pelos seguintes locais: Bichinho

(MG), Guaramiranga (CE), Litoral Paranaense, Carnaval entre outros.

9.1 LOCALIZAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO

Ferraria é um dos cinco Distritos de Campo Largo, região metropolitana de

Curitiba, localizado ao oeste do município, fica a 20 km do centro de Campo Largo e

aproximadamente 13 km do centro de Curitiba, faz divisa com Curitiba no Parque

Passaúna. População residente de 15.379 habitantes (IBGE 2010).

As fontes de pesquisa referente ao Distrito de Ferraria são restritas. No livro

escrito por Dom Pedro Fedalto, em comemoração ao Centenário de Rebouças

(Colônia localizada no Distrito) encontramos alguns dados referentes à história do

bairro.

Nesta fonte, consta que em 11 de fevereiro de 1878, chegaram os imigrantes

italianos para fundar a Colônia Antônio Rebouças. Os imigrantes vieram ao Brasil,

ao Paraná, porque no seu país de origem (Itália) não possuíam terra ou por que

tinham que pagar muito aos donos para cultivar, e não produziam o suficiente, e

ainda pela crueldade dos proprietários.

Chegaram ao Paraná e se instalaram primeiramente no litoral, em Paranaguá

e Morretes, na Colônia chamada de Nova Itália. Vindos de terras frias não

suportaram o calor do litoral, não sabiam cultivar o café e a cana-de-açúcar. Viviam

em situação lastimável. O governo diante da situação solicitou a procura de terrenos

nas imediações de Curitiba, Campo Largo e São José dos Pinhais. Dado a ordem de

78

retirada, os colonos foram levados para Curitiba em barracões improvisados,

esperando a indicação dos lugares, já que para a Itália não voltariam. Uns foram

encaminhados para Água Verde e outros em Santa Felicidade em 1878.

Cinco meses depois, outros foram para Colombo e Colônia Antônio

Rebouças, Timbotuva em Campo Largo. Nas colônias governamentais, como o caso

de Antônio Rebouças e Timbotuva. Neste local o governo mandou construir casas e

determinou a forma de pagamento, passando mais tarde as escrituras em nome dos

moradores. O padre Colbachini foi o protagonista dos imigrantes, ele dizia ao

historiador, pesquisador e naturalista Saint Hylaire é "o paraíso do Brasil".

(FEDALTO, 1978, p. 20).

Além do livro, tive acesso a uma pesquisa desenvolvida no ano de 2002, pela

Escola Padre Natal Pigatto. A pesquisa foi motivada pela comemoração do

Centenário da Igreja Bom Jesus, fundamentada em relatos e documento fornecidos

pela comunidade. Nesta consta que grande parte das terras da Ferraria pertencia a

família de João Torres, ele tinha uma olaria, engenho, escravos. Por volta de 1840,

começam a chegar os imigrantes de Vêneto - Itália.

O Distrito ficou conhecido como “Ferraria” porque ali havia ferrarias, onde os

ferreiros fabricavam ferraduras para os cavalos e ferramentas para a lavoura. Os

italianos e poloneses muitos devotos da religião católica construíram a primeira

igreja de madeira e mais tarde em 1901 foi erguida a atual igreja pelo povo da região

que fizeram tijolos de barro amassados com os pés, depois colocavam em caixas

(formas) e queimavam num forno feito no barranco de um potreiro da família Torres.

A igreja seguiu o estilo italiano com torre dos sinos localizada ao lado, separado da

igreja, leva o nome do Senhor Bom Jesus. Seu estado atual, bem conservado.

A primeira escola surgiu em 1895, foi reorganizada em 1973, recebeu o nome

de Padre Natal Pigatto, pelo envolvimento de dedicação do padre com a

comunidade.

Por volta de 1900 o distrito contribuiu para o desenvolvimento do estado, pois

ali foi passagem de tropeiros que levavam a boiada para Mato Grosso, utilizando a

velha estrada que liga Curitiba a Campo Largo, devido a este fato a principal estrada

leva o nome de Estrada Mato Grosso. O motivo que levou a aumentar as ferrarias

na região foram as passagens dos tropeiros que precisavam de equipamentos.

Mais tarde, ficou conhecida pelo ciclo do ouro, foram encontrados na região

veios do precioso metal. Havia duas minas, hoje ainda é possível ver suas ruínas.

79

Foram escavadas até aproximadamente 1930, muitas pessoas morreram nestas

minas. De toda a região, a mina era a único lugar que havia luz elétrica. Quando o

ouro acabou, as minas foram abandonadas, isso por volta de 1947/48. Com o fim

desta atividade, os funcionários das minas voltaram para a lavoura. Próximo a mina

existia a Rádio Marumbi que era uma forma de entretenimento da comunidade.

Outra atividade bem significativa do local eram as festas de igreja e os bailes. Só em

1956 foi implantado sistema de transporte, tendo apenas um ônibus que transitava

de Campo Largo a Curitiba.

Outra fonte de pesquisa consultada traz dados de 2010. Foi realizado projeto

de comunicação comunitária implantado pelo SESI/PR por jovens do Ensino Médio

do Bairro da Ferraria. Na oficina de vídeo, os realizadores tomaram contato e

tiveram ingerência direta em todos os processos, da escolha do tema e pesquisa à

filmagem e edição. Foi produzido um pequeno vídeo documentário sobre a Estrada

do Mato Grosso, ligação importante desde o final do século XIX até a década de

1950, entre Curitiba e os Estados de São Paulo e Mato Grosso.

O vídeo intitulado “As memórias de antigos moradores da região da Ferraria,

em Campo Largo-PR”. Ação realizada em parceria com o SESI/PR “Cidades

Inovadoras - todos pelo bem-estar - Projeto Arranjo Educativo Local com o

Professor/mediador: Otavio Zucon. O vídeo “Passagem pela vida” relata alguns fatos

do passado. O morador da região Dilço Cruzara conta o que viu quando criança.

Disse ele que passava pela estrada tropas de boiadas, cavalos, porcos até quatro

vezes ao dia. Também viu passar grupos de bugres e índios. Todo trânsito para o sul

passava por esta estrada. Na época do café os caminhões passavam pela estrada

com destino a Paranaguá. Raramente era visto carros pela região, o meio de

transporte utilizado eram carroças, cavalos, bicicletas. Com a construção da BR 277,

Rodovia do Café em 1958 o cenário mudou. Com menos movimentação houve a

necessidade de se adaptar com a nova realidade. Em 1989, a estrada foi asfaltada,

mais ônibus circulando e conseqüentemente mais pessoas foram se instalando,

mesmo que de forma irregular ou precária.

Como está Ferraria hoje? Expandiu, foi crescendo rapidamente por conta da

proximidade com Curitiba. O Distrito abrange treze comunidades, desde o Bairro de

Medianeira até a represa do Passaúna. Têm muitas casas antigas, e novos

loteamentos, comércio composto por supermercado, farmácia, aviário, lanchonete,

panificadora, cartório, escolas, creches, unidade de saúde. Biblioteca Cidadã

80

(equipamento do Departamento de Cultura). Não dispõem de bancos, caixas

eletrônicas. Observou-se pouco espaço de lazer e cultura. Já fez parte da rota

“turismo rural”, hoje há um movimento para retomada desta atividade. A lavoura

ocupa uma boa parte da região, é o distrito que mais cresceu nos últimos anos.

A maioria da população trabalha em Curitiba, consomem em Curitiba. Ou

seja, há uma intensa movimentação comercial em Curitiba e não em Campo Largo.

Este fator dificulta investimento público na região. O Município deixa de arrecadar e

independente disso, cabe a ele administrar e solucionar problemas de suas

competências. Faltam recursos para investimentos básicos, a população se vira

como pode, situação comum em várias regiões do Brasil. A história de Ferraria, sua

localização (divisa com a capital do Estado), relações comerciais, são estes fatores

que despertou interesse em desenvolver esta pesquisa.

A Ferraria não dispõe de nenhum tipo de serviço bancário: agencias, caixa

eletrônica, correios. Para qualquer transação bancária ou para pagamento dos

serviços essenciais, é preciso se deslocar até o centro de Campo Largo ou Curitiba.

O sistema de transporte que atende a região (Curitiba - Campo Largo) oferece mais

opção de horários. Os ônibus trafegam com mais freqüência para o centro de

Curitiba do que para o centro de Campo Largo. A distância entre Ferraria e Curitiba

é menor que a distancia até Campo Largo, ou seja, ocorre um processo de migração

pendular (deslocamento de residentes e cidade dormitórios, que são realizadas por

pessoas que moram em uma determinada cidade e trabalham em outra). A maioria

dos moradores a melhor opção é trabalhar e consumir em Curitiba.

O crescimento da população nos bairros vem estimulando a abertura de

pequenos empreendedores. Então se pergunta: Como a economia criativa ou

serviços criativos poderão mudar o cenário do Distrito de Ferraria, possibilitando

geração de renda, desenvolvimento e impacto na economia ao ponto de atrair

agência bancária, correio e outros serviços? Retomando os locais citados como

referencia e experiências bem sucedidas observamos que foi um processo de

descoberta, de inovação levando em conta aspectos peculiares ao local e uma boa

dose de criatividade. Por este motivo é que são destaques como cidade criativa.

É pertinente lembrar que a economia criativa não pode ser vista como a única

responsável pela inclusão, sustentabilidade, desenvolvimento. Atribuir tal

responsabilidade me parece um tanto quanto ariscado e pretensioso. Para obter

bons resultados é preciso agregar a economia criativa junto a outros setores, outras

81

pastas, sem que a mesma perca seu foco, sua essência.

9.2 POTENCIAIS CRIATIVOS DE FERRARIA

Durante visita na região da Ferraria, foi possível observar e registrar algumas

manifestações locais. As pessoas envolvidas no processo nem sempre dão valor

aquilo que produz. Visto pelo olhar do outro, com referencia em ouros locais e

produções acaba agregando outro valor, outro significado. Segue algumas

atividades que foram por mim acompanhadas junto aos moradores da região.

9.3 TEAR

Um pequeno grupo de senhoras, desde 2010 vêm se reunindo para praticar

artesanato. O objetivo do grupo é aprender novos técnicas e produzir artesanato

com qualidade. Pegaram gosto pelo tear e decidiram investir nele. O grupo intitulado

por elas de “tecendo - tear e agulhas”. Reuniam-se as terças feiras no salão da

Capela Sagrado Coração de Jesus, localizada no Bairro Dona Fina. Neste espaço,

deram os primeiros passos, mas com pouco tempo de atividade perceberam as

vantagens que o artesanato pode oferecer como: convivência em grupo melhora

auto-estima, sentir-se útil e capaz de aprender, criar, sonhar com dias melhores e

geração de renda.

Logo no início de suas atividades, confeccionavam peças simples, básicas

utilizando o tear de prego. Após dois anos de prática, houve melhorias quanto a

técnica, criação, diversidade de peças e o mais importante a nova visão do grupo,

uma “visão empreendedora”.

Participam de feiras no bairro e pela cidade. Procuram divulgar o trabalho

desenvolvido, estão se articulando para inserir peças na confecção de roupas, além

dos produtos de decoração, utilitários. A pretensão de utilizar peças feitas no tear em

roupas, com a intenção de ocupar um espaço na área da moda, agregando valor ao

produto. Com a aquisição de tear de pente liço pretende-se avançar confeccionado

mais quantidade com qualidade e diversidade variedade de peças.

O grupo esta se mobilizando para criar uma cooperativa. A Divisão de

Economia Criativa do Departamento de Cultura de Campo Largo auxilia o grupo com

82

informações. A cooperativa é vista pelo grupo como forma de garantir profissionais

mais preparados para atender a demanda, movimentar o comércio local, e de

assegurar direitos e constituir empresa.

Para a ONU 2012, é o ano das cooperativas. Para o SEBRAE, cooperativa:

“Expressa o trabalho conjunto, numa perspectiva de aumentar a capacidade

competitiva como meio de gerar benefícios para todos os envolvidos no processo”. A

Organização das Cooperativas Brasileiras – define cooperativa como “uma

sociedade entre pessoas físicas, unidas pela cooperação e ajuda mútuas, gerida de

forma democrática e participativa, com objetivos econômicos e sociais comuns”.

(Congresso Brasileiro de Cooperativismo – Brasília, 1988).

9.4 CERÂMICA

Instalada nos fundos da casa a fábrica de cerâmica “Morais Artesanatos”, do

“Chico” e “Zica”. Produz diversas peças em cerâmica vermelha. O casal muito

simpático que atende muito bem e fez questão de mostrar todo o processo de

fabricação de suas peças em cerâmica para os interessados. Segundo Zica, as

peças são vendidas em várias cidades e estados.

Artesanato rústico, com designer arrojado. Processo feito em um torno, onde

o oleiro cria, constrói diversas peças. Fazem questão de contar que a lenha usada

nos fornos é certificada, que o oleiro aprendeu a técnica do torno com eles, ainda

quando garoto e que desconhecem pessoas com tal habilidade nas proximidades.

Com o que produzem na pequena fabrica de artesanato eles garantem o

sustento de toda a família, movimentam e fortalecem o turismo e a economia da

região.

9.5 ENTALHE EM MADEIRA

Atividade desenvolvida pelo do senhor Evaristo Maroche, um mestre em

entalhes em madeira, aprendeu a técnica com sua família. Reside na Colônia

Rebouças, tem 86 amos e continua trabalhando no mesmo espaço onde

trabalharam seus pais e avós.

Segundo ele, desde muito cedo, ainda criança ajudava seu pai, que aprendeu

83

com seu avô a fabricar móveis com entalhes perfeitos utilizando formões. Adquiriu

prática e domínio da técnica. Tem peças vendidas para várias cidades do Paraná,

estados do Brasil e também França, Alemanha. Nas Igrejas da região podemos

encontrar móveis, altares, púlpitos, capelinhas, bancos feito pelo senhor Evaristo.

Ele mantém atividade em menor escala, conta com a ajuda de sua esposa que

aprendeu com ele a arte de entalhar. Desconheço na região da Ferraria, e até

mesmo no município de Campo Largo alguém que domine esta prática com tanta

habilidade como o seu Evaristo.

9.6 ESCULTURA EM CERÂMICA

Paulo Rodrigues transformou sua casa em um ateliê onde desenvolve

escultura em cerâmica. É muito criativo, tem domínio da técnica. Paulo explora

vários temas, entre eles as mulatas, as crianças, São Francisco em diversas formas.

Suas esculturas carregam seus traços, sua identidade. O resultado é surpreendente,

diferenciado. Ele já participou de exposições, feiras e atende pedidos vindos de

diversas cidades e estados brasileiro. É um escultor de destaque na região e no

município. Do seu pequeno espaço saem peças criativas, belas, encantadoras.

9.7 ROTA TURÍSTICA

Além dos atrativos naturais, encontramos muitas casas antigas, vou abordar

apenas a casa da família Mariano Torres. A casa dos Torres é referência na região,

já foi visitada por diversos jornais e televisão pela beleza de sua arquitetura e

também pela sua história contada pela família. Fala-se que ali ficou hospedado D

Pedro II. A casa é uma das mais antigas do município. Há intenção por parte da

família e da comunidade que a casa seja restaurada e tombada pelo Patrimônio

Histórico.

Quem foi Mariano Torres? Nascido em Curitiba, com data de batismo do dia

08 de setembro de 1821, foi um senhor de muitos escravos, comerciante e

proprietário de grandes extensões de terras. Residia em Timbotuva, onde hoje

passa a Estrada Velha que liga Curitiba a Campo Largo. No quilômetro 30 da

estrada, está localizada a casa que pertenceu a Mariano Torres. Acredita-se que a

84

casa foi inaugurada por D. Pedro II em 1880, na sua passagem pelo Paraná

acompanhado pela Imperatriz e sua comitiva. Segundo conta-se, ele pernoitou no

quarto sem janelas, por questões de segurança. Algumas Informações foram

fornecidas pelo Departamento de Cultura estagiário William Vida Petrosky. O Mesmo

colaborou na elaboração da Lei Municipal de Tombamento em 2011, disponibilizada

para consulta pública.

9.8 ESPAÇO CULTURAL

Na região da Ferraria encontramos atrativos na área da gastronomia como O

pierogue, vinhos, salames, queijos, conservas e outros afazeres tradicionais.

Percebendo o potencial local, o Departamento de Cultura promoveu cursos e

encontros de artesanato na Biblioteca Cidadã. Fechou algumas parcerias de apoio a

comunidade disponibilizando a “Sala Comunitária” da Biblioteca Cidadã, para cursos

com o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná).

Em 2011 foi oferecido cursos de artesanato em palha e bambu, material

encontrado com facilidade e em abundância na região. Curso voltado para um grupo

de interessados em fortalecer o artesanato local.

Outro curso oferecido foi com a Aliança Empreendedora, que trouxe como

proposta: “Como agregar valor aos produtos e visão empreendedora”. Outro espaço

que vem sendo aproveitado pela comunidade da Ferraria é A Casa de Cultura da

Volvo do Brasil, um espaço referencial, relevante e estratégico para a comunidade

da Ferraria, instalada em uma construção antiga que foi restaurada, estava no local

antes mesmo da fundação da entidade.

Datada de 1950, a construção passou por reforma no início dos anos 90, para

atividades culturais e cursos. Com a missão de utilizar este espaço em razão da

melhoria social, cultural e ambiental da sociedade, o Centro Volvo Ambiental deseja

ser um exemplo em educação ambiental e preservação da natureza. Tem como um

de seus objetivos realizarem atividades de educação ambiental com escolas de

Curitiba e região. Esta localizada em Curitiba, na conhecida (CIC) Cidade Industrial,

ao lado de Ferraria.

Dispõem de um espaço cultural bem estruturado para oferecer teatro, dança,

cinema, trabalhos de reciclagem, reaproveitamento de materiais, uso consciente de

85

matérias-primas entre outros com o objetivo de ajudar no desenvolvimento da

região, sempre conduzidos pela conscientização ecológica.

Oferece cursos de artesanato direcionados para a comunidade dos bairros do

seu entorno: Augusta, Campo Cumprido, São José, Vila Marqueto, Riviera e outros.

Os freqüentadores dos cursos, praticamente 80%, são moradores do Bairro da

Ferraria e não de Curitiba. O Centro Volvo, tem como objetivo “O bem-estar da

comunidade do seu entorno, busca contornar problemas sociais e promover a

educação, trabalho e consciência ambiental para a comunidade, através de oficinas

de trabalho. Contando com profissionais especializados, acredita-se que através

dessas idéias é possível codificar ações em prol de um mundo melhor”.

As ações desenvolvidas tiveram o propósito de acesso, informações e

recursos oferecidos à comunidade pensando no desenvolvimento local. Esta

intenção fica clara na filosofia do Centro “Com a missão de utilizar este espaço em

razão da melhoria social, cultural e ambiental da sociedade, o Centro Volvo

Ambiental deseja ser um exemplo em educação ambiental e preservação da

natureza”.

A Volvo patrocina projetos culturais aprovados pelas Leis de Incentivo a

Cultura, Federal e Municipal. Projetos que contribuam para o desenvolvimento da

sociedade fortalecendo valores, revelando tradições e crenças estimulando o

aprendizado e a convivência harmônica entre as pessoas. São priorizadas iniciativas

culturais e socioambientais que valorizem os talentos artísticos e ícones

paranaenses e programas que beneficiem grupos de crianças e adolescentes.

Além da Volvo e da Biblioteca Cidadã encontramos ações desenvolvidas na

casa de algumas pessoas do bairro, no salão de igrejas e em outros espaços

alternativos como o Parque Passaúna.

9.9 DE FERRARIA PARA BATEIAS

Os dois Distritos localizam-se nas extremidades do município, Ferraria

fazendo divisa com Curitiba e o Distrito de Bateias faz divisa com Castro, Itaperuçu,

Ponta grossa. A comunidade de São Pedro (76 km) São silvestre (62 km) e Três

Córregos (45 km) aproximadamente do centro de Campo Largo. Lá vivem

comunidades que trabalham na plantação de pínus, (elliottii Engelm), madeira de

86

reflorestamento, extração de pedras para pavimentação, agricultura familiar,

artesanato. Utiliza como matéria-prima a palha de milho, fibras para confecção de

chapéus, esteiras e objetos decorativos e uma espécie de bambu para cestos.

O Departamento de Cultura, através da Divisão de Economia Criativa vem

atuando junto as comunidades com o propósito de incentivar a produção local, seus

afazeres tradicionais, o artesanato em palha, fibras. O Planejamento, programas e

ações estão sendo pensada juntamente com a comunidade, a equipe envolvida

visita a comunidade para mapeamento das atividades e de pontos estratégicos para

a realização de oficinas. Os espaços utilizados são as escolas e igrejas, lugares de

uso comum. Com o apoio da liderança local, muitas pessoas estão se envolvendo

no processo. Um grupo de senhoras reúne-se periodicamente para troca de

experiências, técnicas e materiais. São poucas as oportunidades de emprego

principalmente para as mulheres.

O artesanato é um meio de geração de renda, e segundo depoimentos de

algumas mulheres também ajuda prevenir doenças, melhorando a qualidade de

vida. O grupo reunido compartilha de problemas e de conquistas.

No Distrito de Bateias temos um quilombo intitulado “Palmital dos Pretos”. O

quilombo é composto por aproximadamente 24 famílias, os quais se encontram em

condições precárias. Há por parte da comunidade interesse em oficinas para

aprender novas técnicas utilizando a matéria-prima da região. Embora regido por

políticas púbica especial voltadas para o desenvolvimento sustentável dos

remanescentes das comunidades dos quilombos, respeitando as tradições de

proteção ambiental da comunidade. Na realidade as coisas se processam de oura

forma.

O Distrito de Bateias foi citado e entrou em questão, pela parceria

estabelecida com a comunidade de Ferraria. Voluntárias da Ferraria se deslocaram

até o interior para auxiliar nos cursos e oficinas, compartilhando experiência

87

10 ARTESANATO - ATIVIDADE ECONÔMICA PARA FERRARIA

Primeiramente trago em questão o artesanato, porque tive o privilégio de

conhecer um grupo de pessoas, cuja intenção é produzir e aperfeiçoar o artesanato

na região como geração de renda. Uma breve abordagem sobre o artesanato, seu

conceito e sua ligação com o tema proposto. De acordo com o Conselho Mundial de

Artesanato, define como “toda atividade produtiva que resulte em objetos e artefatos

acabados, feitos manualmente ou com utilização de meios tradicionais ou

rudimentares, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade”.

É prudente tratar o artesanato, revendo sua origem e o que realmente

podemos considerar desta prática. O artesanato é resultante da transformação de

matéria-prima, que toma forma pelo processo manual, onde são aplicadas técnicas

criativas agregando sobre tudo valor simbólico e cultural.

Tomada em sua acepção original, a palavra artesanato significa um fazer ou o objeto que tem por origem o fazer ser eminentemente manual. Isto é, são as mãos que executam o trabalho. É elas o principal, senão o único, instrumento que o homem utiliza na confecção do objeto. O uso de ferramentas, inclusive máquinas, quando e se ocorre, se dá de forma apenas auxiliar, como um apêndice ou extensão das mãos, sem ameaçar sua predominância (LIMA, 2007, p. 01).

O Distrito de Ferraria esta localizado em área de APA, limitada a construção

de indústrias, o artesanato pode vir a ser significante, na atividade econômica,

sociocultural, inclusão social. A economia do artesanato requer políticas publicas

que considerem sua importância, atendendo as exigências do mercado, atuando

corretamente, de forma sustentável. A relação do setor com o MinC é representada

pelo Setorial de Artesanato.

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11 EXPECTATIVAS E METAS PARA FERRARIA

Diante das reais possibilidades oferecidas pelo MinC, através da Secretaria

de Economia Criativa, da Secretaria de Estado de Cultura, Prefeitura Municipal de

Campo Largo e Instituições financiadoras, ou apoiadoras, pergunta-se: De que

forma usufruir destes meios para implantação de programas que contemplem

economia criativa para Ferraria?

Para esta pergunta não há resposta pronta e definitiva. Porém, tal questão

abre espaço para estimular mais parcerias para atuar na região. Sobre as parcerias

já existentes, um relato do período de 2010/2012.

Ao acompanhar um grupo da comunidade (reuniões, cursos, feiras), foi

possível observar e extrair dados para esta pesquisa.

A iniciativa da parceria da comunidade da Ferraria com o Departamento de

Cultura e outras instituições partiu de um grupo da comunidade. Diante de uma

realidade carente de recursos e ações, decidiram que alguma coisa deveria ser feito.

Para que algo possa ser desenvolvido é preciso unir pessoas, a integração das

competências é que permitiram resultados significativos, apontando novos caminhos

e de que forma poderão ser direcionados para atender de maneira satisfatória a

comunidade, o poder público, enfim todos os envolvidos no processo.

Segundo Peter F. Drucker (2002, p. 72), os quatro requisitos básicos das

relações humanas efetivas são: comunicação; trabalho de equipe;

autodesenvolvimento; e desenvolvimento dos outros. Optou-se em desenvolver

ações para as mulheres, possibilitando geração de renda, melhorando auto-estima,

qualidade de vida. Além destas questões, trabalhar para potencializar o local, seja

com turismo, cultura, artesanato, atrativos naturais e outros.

O processo inicial foi reunir o grupo interessado e articular parcerias

disponibilizando cursos, organizando reuniões para traçar metas de acordo com as

expectativas do grupo. O Departamento de Cultura ofereceu espaço para cursos

gratuitos com o SENAR, Aliança Empreendedora e voluntários. Foi optado por

cursos e palestras na área do artesanato, atividade praticada pela maioria do grupo.

A adesão de parcerias fortalece o movimento, estimula e proporciona acesso,

permite a troca de experiências e informações, além de chamar a atenção dos

gestores para criação de políticas públicas voltadas para a região.

Vários fatores devem ser levados em consideração no trabalho em parceria e

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na atuação dos líderes. Cada qual deve executar sua função atuando de forma

dinâmica e coerente para alcançar os objetivos almejados.

o desafio da liderança na administração pública envolve, como questão central, uma profunda transformação dos valores e da cultura do serviço público, de modo a reorientá-lo para resultados, para o serviço ao cidadão, para o atendimento às demandas ambientais e para as necessidades da comunidade, razão última da sua própria existência”. (LESSA, 2001, p. 84).

Algumas questões de ordem ambiental foram lembradas e discutidas pelo

grupo. O Distrito fica localizado em uma área de preservação ambiental – APA do

Passaúna e do Rio Verde. Portanto deve-se ficar atento com as leis estabelecidas

para as APA's. Elaborar plano de ação que possa preservá-la, mas também que

possibilite trabalho, geração de renda de forma sustentável, considerando os limites

por ela estabelecidos.

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12 DESEMPENHO E RESULTADOS

O Distrito de Ferraria têm sua história marcada por dois elementos: história e

memória. Os moradores tradicionais formados por famílias que há muito tempo mora

no local e famílias que chegaram a pouco tempo. A ocupação e surgimento de novos

bairros periféricos formados por famílias vindas de outras cidades, zona rural, com

poder aquisitivo mais baixo em busca de emprego. Ferraria passou por um intenso

processo de urbanização nas últimas décadas (1990/2010).

De um lugar pacato, tradicionalista transformou-se em espaço com

características urbanas ao receber uma nova população, famílias com outras

referencias. Inevitavelmente houve certo desconforto por parte dos antigos

moradores e também dos que ali chegaram, pois eram tratados como “forasteiros”,

“estranhos”, “migrantes”. Processa-se então uma relação sobre o olhar do outro, do

diferente, um choque cultural. Seja onde for esta dinâmica provoca insegurança,

medo do novo, porém com o passar do tempo tende a se ajustar.

Nota-se que algumas comunidades estão menos suscetíveis às mudanças,

procura manter suas “tradições”, vivem mais isolados. Essa característica é mais

perceptível na Colônia Antônio Rebouças. De acordo com Peter,

É necessário restaurar a comunidade. Comunidades tradicionais não possuem mais poder de integração: elas não podem sobreviver à modalidade conferida ao indivíduo pela especialização. As comunidades tradicionais sabemos agora, eram mantidas unidas mais por necessidades, quando não por coerção e temor, e não pelo que seus membros tinham em comum”. (DRUCKER, 2002, p. 460).

Outro fator considerável na formação do Distrito de Ferraria é o crescimento

da capital do Estado, contribuindo com o processo de avanço para o entorno,

forçando o crescimento da região metropolitana. É inevitável que tal mudança não

interfira nas estruturas do local, contribuindo em vários aspectos, modificando

Ferraria no contexto cultural, social, e econômico. Em contra partida, a impressão

que se tem é que a população do centro e de outros bairros de Campo Largo

desconhece Ferraria, sua história e sua contribuição para o crescimento da cidade,

como se Ferraria não fizesse parte da mesma cidade.

Vendo por esta ótica a pesquisa leva em consideração os fatores que

contribuíram para formação de Ferraria, e como esta se encontra hoje, seu

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cotidiano, suas expectativas. Portanto, contextualizar e argumentar: De que forma a

economia criativa pode vir a contribuir com a comunidade local? De acordo com

estudos apresentados nesta, pretende-se refletir práticas para Ferraria.

Como iniciar um processo que envolva a população e venha desencadear

resultados satisfatórios? Como fazer entender economia criativa na prática?

Precisamos de pessoas comprometidas que acredite no potencial da

comunidade como fez Toti em Bichinho, como aconteceu em Guaramiranga, Parati,

em vários lugares do Brasil e do mundo. É um trabalho que envolve profissionais

criativos, gestores, parceria e liderança.

De acordo com Peter Drucker (2002, p. 335), é possível decidir que idéia se

quer ver como realidade no futuro e construir uma “empresa” diferente baseada

nessa idéia. Direcionando a colocação de Drucker, Ferraria passa a ser uma

empresa, sendo a sua população e os gestores públicos os condutores

responsáveis pelas mudanças.

Para concretização de algo é preciso planejar. Para Drucker trata-se do

poder de uma idéia,

fazer o futuro acontecer significa também criar uma empresa diferente. Mas o que faz o futuro acontecer é sempre a incorporação a uma empresa de idéia de uma economia, de uma tecnologia, de uma sociedade diferente. Não precisa ser uma grande idéia: mas tem de ser diferente da norma vigente no momento”. Para ele a ideia tem de ser empreendedora, com potencial e capacidade para produzir riquezas. “A ideia empreendedora básica pode ser uma mera imitação de algo que funciona bem em outro país ou em outro setor”. (DRUCKER, 2002, pág. 335).

De acordo com os fatos observados, nota-se que o movimento é tímido, com

poucas pessoas envolvidas, um processo lento que requer mais atenção, estímulo,

políticas públicas adequadas. Enfim, meios para que possam agregar mais pessoas,

se fortalecer enquanto grupo e conseqüentemente alcançar metas e objetivos

almejados, melhoria de vida para a comunidade local.

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13 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se, pelo histórico da “economia criativa” que se trata de algo novo e

em evolução, cada região ou local deve adaptar seu “conceito” fazendo escolhas,

traçando estratégia de acordo com sua realidade. A moda, design e arquitetura são

os pilares do setor. De acordo com a FAPESP (Fundação de amparo à Pesquisa do

Estado de São Paulo) é a terceira indústria mundial, ficando atrás da indústria do

petróleo e armamento. Paga melhor que a indústria tradicional, movimenta R$ 380

bilhões por ano no Brasil e dois trilhões de dólares no mundo. O setor movimenta

fortunas, pois idéia, criatividade é sinônimo de dinheiro. O que difere o setor

tradicional do setor da economia criativa é a fusão de informação, cérebro humano

movido pela criatividade, inovação e novas tecnologias capazes de transformar o

meio para atender as “necessidades” dos homens que vivem em num mundo

competitivo e globalizado.

Nos últimos anos, o tema economia criativa surge no campo cultural, porém

além dos profissionais da cultura, percebe-se o interesse de outras áreas que direta

ou indiretamente beneficiam-se deste setor. A indústria criativa avança rapidamente,

conquistando mais espaço, instigando mais pesquisas e reflexão do seu papel na

contemporaneidade. Algumas propostas deixaram o campo do discurso para

práticas efetivas, isso demonstra o quanto à economia criativa pode transformar

uma cidade, um país.

Pensar em economia criativa para o Distrito da Ferraria, na sua ampla

concepção de desenvolvimento, sustentabilidade, geração de renda pode ser um

tanto quanto assustador e utópico, porém necessário. A questão é achar o “fio da

meada”, o grupo de tear da Ferraria esta dando seus primeiros passos, vivenciando

experiências, enfrentando desafios e buscando alternativas e espaço para

comercialização de seus produtos.

A Ferraria está constituída em um espaço de APA, com potencial de

crescimento e desenvolvimento. Ao tratar de economia criativa para Ferraria alguns

aspectos devem ser levados em consideração: conhecer Ferraria, seu potencial,

diversidade, as ansiedades da comunidade entre outros. Para obter um bom

diagnóstico deve-se: pensar em um conjunto de iniciativas e ações a serem

implementadas; propor metas e instrumentos que envolva governo e sociedade civil

para solucionar problemas do dia a dia; investimentos; revitalização do bairro; infra-

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estruturar, discutir serviços fundamental não disponibilizado; planejar espaços

criativos e inspirador criando vínculo local e afetivo; capacitação; implantação de

incubadoras; projeto piloto; meios regulatórios e políticas públicas adequadas bem

como processos necessários para estimular capacidades criativas, tecnologia,

empreendedorismo.

De que Ferraria estamos falando? Que Ferraria queremos? Como a

comunidade compreende Ferraria hoje e como vêem Ferraria daqui alguns anos? As

experiências bem sucedidas de Ferraria e outras regiões registradas nesta pesquisa

devem ser vista como estimulo para despertar o interesse de todos os envolvidos no

processo.

Somando todos estes fatores, acredito que é possível pensar e praticar

“economia criativa” no Distrito de Ferraria, desde que, a ela não seja atribuída como

a única responsável pela inclusão, sustentabilidade, desenvolvimento, tal

direcionamento parece arriscado e pretensioso. Para obter bons resultados é preciso

agregar a economia criativa junto a outros setores, outras pastas, sem que a mesma

não perca seu foco, sua essência, tornando-a eficaz como agente de transformação.

Que as idéias, uma vez formada possam desencadear ações futuras.

Que esta pesquisa, seja apenas um começo de um processo que exige

reflexões sobre economia criativa em busca de alternativas para a comunidade de

Ferraria e gestores públicos. Que juntos possam transformar os problemas, os

desafios em soluções. Olhar para o local aproveitando o que ele oferece: recurso

natural, humano, diversidade cultural, tratando desses como fundamentais para

contribuir com o desenvolvimento da região. Quem sabe, num futuro bem próximo

além de Ferraria toda a cidade se transforme em uma cidade criativa.

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