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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO MARIANA FERES DOS SANTOS CONSTRUÇÕES COM CERTIFICAÇÕES LEED NO BRASIL: O CASO DO ELDORADO BUSINESS TOWER São Paulo 2012

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

MARIANA FERES DOS SANTOS

CONSTRUÇÕES COM CERTIFICAÇÕES LEED NO BRASIL: O CASO DO ELDORADO BUSINESS TOWER

São Paulo 2012

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

MARIANA FERES DOS SANTOS

CONSTRUÇÕES COM CERTIFICAÇÕES LEED NO BRASIL: O CASO DO ELDORADO BUSINESS TOWER

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, Curso de Pós Graduação. Área de concentração: Arquitetura Sustentável

Aprovada em 14/03/2012

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Eunice Helena S. Abascal – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª. Drª. Perola Felipette Brocaneli Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Marcelo de Andrade Romero Universidade de São Paulo

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S237c Santos, Mariana Feres dos

Construçőes com certificaçőes leed no brasil: o caso do eldorado

business tower. / Mariana Feres dos Santos – 2012.

159 f. : il. ; 30cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) -

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012.

Bibliografia: f. 117-125.

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AGRADECIMENTOS

A minha mãe Maria Cecília e ao meu pai Josenildo, pelo apoio, incentivo, paciência

e compreensão, colocando sempre minhas necessidades acima das deles. Nunca

serei capaz de retribuir tamanha dedicação.

A toda minha família e amigos que compreenderam minha ausência em diversos

momentos e continuaram a me incentivar a desenvolver esse trabalho.

A minha orientadora, Professora Eunice Helena S. Abascal, pelo acompanhamento

e conhecimento que me ajudaram na conclusão desse trabalho.

A professora Perola Felipette Brocaneli, pela atenção e pela disponibilidade em

sempre ajudar.

Ao arquiteto Eduardo Martins, pela ajuda na obtenção de materiais e de informações

sobre o Eldorado Business Tower.

A todos os professores do curso de mestrado do Mackenzie que, de forma indireta,

contribuíram no desenvolvimento desse trabalho.

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i

RESUMO

O trabalho consiste na análise da certificação LEED, uma das mais utilizadas e

reconhecidas no Brasil, através de um estudo de caso do primeiro edifício a receber

o mais alto nível da certificação LEED CS na América Latina. A certificação tem sido

utilizada como meio de comprovação que um edifício é sustentável e esse trabalho

analisa o edifício do ponto de vista arquitetônico, verificando se a certificação

garante a este uma arquitetura sustentável.

O desenvolvimento do trabalho começa com um breve histórico sobre como o

desenvolvimento sustentável entrou para o discurso mundial, explicando alguns dos

principais conceitos relacionados ao tema. Em seguida, são mostrados exemplos de

arquitetura classificada como sustentável e a definição desta.

Para a análise do LEED, é desenvolvido um breve cenário comparativo entre duas

outras certificações: o BREEAM, a primeira certificação a ser utilizada e que serviu

como base para muitas outras, e o AQUA, outra certificação que vem sendo utilizada

no Brasil.

Para o estudo de caso do Eldorado Business Tower, é feito um breve histórico do

projeto e uma análise do edifício a partir do projeto, do processo de certificação e de

observações realizadas em visita feita ao local.

Palavras-chave: Green Building – LEED – Sustentabilidade.

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ii

ABSTRACT

The job is to analyze the certification system LEED, one of the most used and

recognized in Brazil, through a case study of the first building to receive the highest

level of the LEED CS certification in Latin American. The certification has been used

to prove that a building is sustainable and this job analyzes the building using an

architectural point of view, verifying if the certification ensures that the building has a

sustainable architecture.

The job will begin with a brief history about how sustainable development joined the

world speech, explaining some of the key concepts related do the topic. After that,

some examples of sustainable architecture and its definition will be shown.

For the analysis of LEED, two other certifications were chosen for a brief comparative

scenario: BREEAM, the first certification to be used and which served as the basis

for many others, and AQUA, another certification that has been used in Brazil.

For the case study of Eldorado Business Tower, it will be done a brief history of the

project and an analysis of the building through the project, the certification process

and observations made in the visit to the site.

Key words: Green Building – LEED – Sustainability

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iii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................

1

CAPÍTULO 1 Sociedade e Meio Ambiente............................................... 12

1.1 A Pegada Ecológica da Humanidade................................................

1.2 O Impacto da Construção Civil no Meio Ambiente............................

1.3 Sustentabilidade - Conceitos e Definições........................................

1.4 Agenda 21.........................................................................................

1.5 Agenda Verde x Agenda Marrom......................................................

1.6 Uma síntese das principais questões abordadas..............................

CAPÍTULO 2 Arquitetura Sustentável......................................................

2.1 Arquitetura internacional e sustentabilidade: alguns exemplos.........

2.1.1 Norman Foster...........................................................................

2.1.2 Ken Yeang..................................................................................

2.2 Arquitetura brasileira.........................................................................

2.2.1 Rino Levi....................................................................................

2.2.2 Marcos Acayaba........................................................................

2.3 Considerações sobre o capítulo 2.....................................................

CAPÍTULO 3 Sistemas de Certificação Green Building.........................

3.1 BREEAM...........................................................................................

3.2 AQUA................................................................................................

3.3 Certificação LEED.............................................................................

3.3.1 LEED no Mundo.........................................................................

3.3.2 Processo de Certificação...........................................................

3.3.3 Categorias..................................................................................

3.3.3.1 LEED NC – LEED para Novas Construções.......................

3.3.3.2 LEED ND – LEED para Desenvolvimento de Bairros.........

3.3.3.3 LEED CS – LEED para Fachadas e Áreas Comuns de

Prédios Comerciais............................................................

3.3.3.4 LEED retail NC e CI – LEED para Lojas de Varejo.............

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iv

3.3.3.5 LEED Healthcare – LEED para Unidades de Saúde..........

3.3.3.6 LEED EB OM – LEED para Operação e Manutenção de

Edifícios Existentes............................................................

3.3.3.7 LEED Schools – LEED para Escolas..................................

3.3.3.8 LEED CI – LEED para Interiores Comerciais......................

3.3.4 LEED no Brasil...........................................................................

3.3.5 Construções Certificadas no Brasil............................................

3.3.5.1 Banco Real Agência Bancária Granja Viana......................

3.3.5.2 Delboni Auriemo – Dumont Villares....................................

3.3.5.3 Banco de Investimentos Morgan Stanley – Edifício Faria

Lima Square.......................................................................

3.3.5.4 Edifício Cidade Nova – Bracor............................................

3.4 Considerações e síntese...................................................................

CAPÍTULO 4 Eldorado Business Tower: uma perspectiva crítica........

4.1 Histórico do Projeto...........................................................................

4.2 Características do Empreendimento.................................................

4.3 LEED 2.0 x LEED 3.0........................................................................

4.4 Processo de Certificação do Eldorado Business Tower....................

4.5 Considerações sobre o capítulo 4.....................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................

ANEXOS......................................................................................................

ANEXO 1 – Entrevista com Eduardo Martins em 18/11/10.....................

ANEXO 2 – Manual do Locatário do Eldorado Business Tower.............

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v

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Tripé da sustentabilidade 17

Figura 2 Commerzbank em Frankfurt 29

Figura 3 Commerzbank em Frankfurt 29

Figura 4 Sistema de ventilação natural do Commerzbank 30

Figura 5 Corte demonstrando jardins laterais 30

Figura 6 Corte demonstrando ventilação natural do Commerzbank 30

Figura 7 Tokyo Nara Tower – Ken Yeang 32

Figura 8 Menara Mesiniaga 33

Figura 9 Menara Mesiniaga 33

Figura 10 Edifício Concórdia – Rino Levi 37

Figura 11 Edifício Concórdia – Rino Levi 37

Figura 12 Banco sul-americano – Rino Levi 37

Figura 13 Banco sul-americano – Rino Levi 37

Figura 14 Residência Baeta – Marcos Acayaba 39

Figura 15 Residência Baeta – Marcos Acayaba 39

Figura 16 Corte Residência Baeta – Marcos Acayaba 39

Figura 17 Perfil mínimo de desempenho do Processo Aqua 49

Figura 18 Leroy Merlin de Niterói 52

Figura 19 Processo de Certificação LEED 57

Figura 20 Formulário de registro para Certificação LEED 58

Figura 21 Metodologia de aplicação do LEED 60

Figura 22 Banco Real – Agência Bancária Granja Viana 68

Figura 23 Delboni Auriemo Dumont Villares 69

Figura 24 Faria Lima Square 70

Figura 25 Morgan Stanley 70

Figura 26 Edifício Cidade Nova 71

Figura 27 1ª proposta para a construção do Eldorado Business

Tower

74

Figura 28 2ª proposta para a construção do Eldorado Business 75

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vi

Tower

Figura 29 3ª proposta para a construção do Eldorado Business

Tower

76

Figura 30 4ª proposta para a construção do Eldorado Business

Tower

76

Figura 31 5ª proposta para a construção do Eldorado Business

Tower

77

Figura 32 6ª proposta para a construção do Eldorado Business

Tower

77

Figura 33 7ª e 8ª proposta para a construção do Eldorado Business

Tower

78

Figura 34 Eldorado Business Tower 79

Figura 35 Heliponto do Eldorado Business Tower 80

Figura 36 Ilustração artística da implantação do Eldorado Business

Tower e do Shopping Eldorado

81

Figura 37 Passarela de acesso ao Shopping Eldorado 82

Figura 38 Escada rolante para acesso do térreo elevado a rua 82

Figura 39 Fachada do Eldorado Business Tower 83

Figura 40 Volumetria vista em diagonal e à distância, ressaltando a

exploração de curvatura das fachadas voltadas para a

Marginal do Rio Pinheiro e para o Shoppping Eldorado;

recurso de amenização da massa frente à altura da torre

83

Figura 41 Centro de usinagem montado no segundo subsolo do

Eldorado Business Tower

84

Figura 42 Montagem dos painéis do Eldorado Business Tower 85

Figura 43 Sistema para tratamento e reaproveitamento de água da

chuva, da condensação do ar-condicionado e da

drenagem dos subsolos

86

Figura 44 Tela do programa de computador que mostra o consumo

de água e de energia de acordo com cada setor do edifício

87

Figura 45 Condensadoras na cobertura do Eldorado Business Tower 88

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vii

Figura 46 Tela do programa de computador que exibe os aparelhos

de ar-condicionado ligados em cada sala e permite

monitorar o funcionamento de qualquer um deles.

89

Figura 47 Roda entálpica na cobertura do Eldorado Business Tower 90

Figura 48 Tela do programa de computador que mostra o

funcionamento das rodas entálpicas

90

Figura 49 Hall do Eldorado Business Tower 91

Figura 50 Eldorado Business Tower 91

Figura 51 Tela do programa de computador que exibe se persianas

estão fechadas ou abertas

92

Figura 52 90 vagas preferenciais para carros 100% álcool ou 100%

GNV

93

Figura 53 Bicicletário localizado no térreo do Eldorado Business

Tower

93

Figura 54 Depósito de material reciclado 94

Figura 55 Entrada do depósito de material reciclado 94

Figura 56 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 3.0: Categoria Espaço Sustentável

96

Figura 57 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 3.0: Categoria Uso Racional da Água

97

Figura 58 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 3.0: Categoria Energia e Atmosfera

98

Figura 59 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 3.0: Categoria Materiais e Recursos

99

Figura 60 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 3.0: Categoria Qualidade Ambiental Interna

100

Figura 61 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 3.0: Categoria Inovação e Processo do Projeto

100

Figura 62 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business

Tower: Categoria Espaço Sustentável

101

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viii

Figura 63 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business

Tower: Categoria Uso Racional da Àgua

102

Figura 64 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business

Tower: Categoria Energia e Atmosfera

102

Figura 65 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business

Tower: Categoria Materiais e Recursos

103

Figura 66 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business

Tower: Categoria Qualidade Ambiental Interna

104

Figura 67 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício

versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business

Tower: Categoria Inovação e Processo do Projeto

105

Figura 68 Simulação de pontuação do Eldorado Business Tower no

LEED 3.0

108

Figura 69 Eduardo Martins 124

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ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Estágio de desenvolvimento da Agenda 21 nos

municípios brasileiros

21

Tabela 2 Categorias de Pontuação do BREEAM 46

Tabela 3 Exemplo de cálculo de pontuação do BREEAM 46

Tabela 4 Categorias de pontuação do BREEAM 47

Tabela 5 Tabela comparativa sobre a pontuação necessária no

LEED 2.0 e no LEED 3.0

95

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x

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Pegada ecológica da humanidade 14

Gráfico 2 Construções LEED no Mundo 56

Gráfico 3 Profissionais LEED AP no Brasil 59

Gráfico 4 Registros por categoria LEED 61

Gráfico 5 Registros do LEED por Estado 62

Gráfico 6 Registros do LEED por tipologia 62

Gráfico 7 Registros e certificações LEED no Brasil 63

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xi

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Aspectos compreendidos no desenvolvimento

sustentável

3

Quadro 2 Diferenças entre agenda marrom e agenda verde 23

Quadro 3 Sistemas de certificação 44

Quadro 4 Categorias do Processo Aqua 49

Quadro 5 Certificação Aqua de edifícios comerciais 51

Quadro 6 Certificação Aqua de hotéis, eventos e spas 51

Quadro 7 Certificação Aqua de escolas e escritórios 51

Quadro 8 Certificação Aqua de edifícios habitacionais 52

Quadro 9 Certificação Aqua de edifícios em operação - uso 52

Quadro 10 Empreendimentos certificados LEED no Brasil 66

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xii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACIESP Academia de Ciências do Estado de São Paulo

AQUA Alta Qualidade Ambiental

ASHRAE American Society of Heating, Refrigerating and Air-

conditionning Engineers

ASTM American Society for Testing and Materials

BRE Building Research Establishment

BREEAM Building Research Establishment Environmental Assessment

Method

CDS-ONU Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações

Unidas

CIB International Council for Research and Innovation in Building

and Construction

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CNUMAD Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento

CPDS Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável

DOE U.S. Department of Energy

EPA U.S. Environmental Protection Agency

GBCI Green Buiilding Certification Institute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IETC International Environmental Technology Centre

LCA Life Cycle Analisys

LEED Leadership in Energy and Environmental Design, Estados

Unido

ONU Organização das Nações Unidas

UNEP United Nations Environment Programme

USGBC U. S. Green Building Council

WGBC World Green Building Council

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1

INTRODUÇÃO

No mundo contemporâneo, assuntos que envolvem a questão da sustentabilidade

entraram em voga. Após longa história de sofrimento de toda sorte de impactos

ambientais, o planeta começa a dar sinais de que seus recursos naturais, se usados

indiscriminadamente, não são ilimitados. Por essa razão, a sociedade passou a

estar alerta para o fato de que, junto com o progresso e os avanços tecnológicos, há

também uma grande carga de agressão ao meio ambiente. Advém então a dúvida

de como não impedir o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, preservar o meio

ambiente.

Quando a crise do petróleo assustou o mundo, na década de 1970 do século XX, o

meio ambiente emergiu como objeto de preocupação. Observou-se que “O

crescimento da população mundial, as largas escalas entre poder econômico e

político contribuem para a deterioração ambiental, que, por sua vez, altera tanto a

vida das pessoas quanto a estabilidade política e econômica mundiais” (FRANCO,

2001, p.43). Ficava evidente também a dupla condição da humanidade, capaz de

destruir essas formas de vida ou então aprender a viver em harmonia com elas,

considerando sua interdependência (LOVELOCK, 2006).

Tais preocupações motivaram a discussão dessa temática entre líderes do mundo

todo. A Conferência de Estocolmo, de 1972, e vinte anos depois a Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, foram

eventos seminais para esse debate, e o desenvolvimento sustentável se afirmou

então como uma prioridade no discurso mundial, no que tange ao desenvolvimento

das cidades. A criação de uma Agenda 21 Global que propunha ações de longo

prazo para que esse desenvolvimento fosse possível consistiu em realização de

expressiva importância nesse contexto.

Após a criação da Agenda 21 Global, diversos países passaram a criar suas

agendas locais, adaptando os planos mundiais às características e especificidades

de cada país, e, mais tarde, municípios foram desenvolvendo suas agendas com

planos para o desenvolvimento sustentável.

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Apesar de todas essas ações, a dúvida permanecia: “Como o desenvolvimento

sustentável pode ser definido e operacionalizado para que seja utilizado como

ferramenta para ajustar os rumos que a sociedade vem tomando em relação à sua

interação com o meio ambiente natural?” (BELLEN, 2006, p.13). A resposta do

próprio Bellen a essa pergunta fora que a solução nasceria com “[...] o

desenvolvimento e a aplicação de sistemas de indicadores ou ferramentas de

avaliação que procuram mensurar a sustentabilidade” (2006, p.13).

A despeito dessa preocupação com as questões ambientais relativas ao

desenvolvimento e à vida urbana, é também fato que “[...] a indústria da construção

e suas atividades são responsáveis por uma substancial quantidade de uso de

recursos globais e emissão de resíduos. Ela também desempenha importante papel

no desenvolvimento sócio-econômico e na qualidade de vida”1 (CIB/UNEP-IETC,

2002, p.iii). O que sugere que se faz também urgente refletir não somente sobre

uma cidade sustentável, mas sobre a arquitetura produzida no meio urbano.

A indústria da construção é uma das atividades que causa expressivo impacto ao

meio ambiente, o que suscita interesse em discutir o que é uma arquitetura

sustentável, suas características e limites, bem como refletir sobre o papel que a

arquitetura representa na cidade, que se pretende sustentável. Segundo o U.S.

Green Building Council (2008), a construção civil é responsável por 40% do uso de

energia primária, 72% do consumo de eletricidade, 39% da emissão de gás

carbônico e 13,6% do consumo de água potável nos Estados Unidos.

Nesse contexto, e visando a produção de edificações dotadas de recursos

minimizadores de danos ambientais, surgiram as certificações verdes, instrumentos

de avaliação que determinam parâmetros para classificação da arquitetura quanto à

sustentabilidade. Conforme procedimentos e definição da certificação verde, a

emissão de pareceres aos edifícios atestaria sua adequação aos critérios

1 “The construction industry and its activities are responsible for a substantial amount of global resource use

and waste emissions. It also has an important role to play in socio-economic development and quality of life.”

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3

enunciados por esses instrumentos identificando tal arquitetura àquela capaz de

causar o menor impacto possível ao meio ambiente.

Com o objetivo de avaliar desde o projeto, a obra e manutenção dos edifícios, foram

criados diversos sistemas de certificação para uso em diferentes países, porém “(...)

todos estes sistemas concentram-se exclusivamente na dimensão ambiental da

sustentabilidade” (SILVA & AGOPYAN, 2004, p.1), o que sugere que a certificação

que resulta de sua aplicação não avalia o desempenho total e real das construções,

e sequer contempla o conceito de “arquitetura sustentável” de maneira mais ampla e

completa. Para avaliar a sustentabilidade de um edifício, é necessário contemplar

também aspectos tais como o uso e a dimensão social dos espaços, em busca de

uma arquitetura que contemple as necessidades de seus usuários de maneira justa

e que ofereça oportunidades e boa qualidade de vida (SILVA & AGOPYAN, 2004).

Uma arquitetura que contemple também aspectos de eficiência e economia de

meios e recursos.

A busca de equilíbrio entre ambiente físico, processos econômicos e organizações

sociais, o chamado tripé da sustentabilidade (SILVA apud CSILLAG, 2007, P.30), é

o que tornaria um empreendimento realmente sustentável, levando-se em

consideração que uma construção dessa natureza pode ser instrumento de melhoria

da qualidade de vida de um indivíduo ou comunidade.

Quadro 1: Aspectos compreendidos no desenvolvimento sustentável

Fonte: BARROS, 2005, p. 16

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4

A maioria das certificações se fundamenta na análise de ciclo de vida (LCA2) de um

edifício:

LCA é o procedimento de analisar formalmente a complexa interação de um sistema – que pode ser um material, um componente ou um conjunto de componentes – com o ambiente ao longo de todo o seu ciclo de vida, caracterizando o que tornou-se conhecido como enfoque do “berço ao túmulo” (cradle-to-grave). (SILVA, 2003, p.17).

Apesar de a definição de LCA se fundamentar no conceito de “berço ao túmulo”, ou

seja, considerar o objeto de estudo em um ciclo do início ao fim da existência, as

certificações consideram apenas o ciclo “berço ao sítio” (cradle-to-site) (BARROS,

2005), isto é, analisam apenas o ciclo que abrange do projeto à operação e

manutenção do edifício, não considerando futura demolição ou reuso, visto que é

praticamente impossível prever o que vai acontecer com tal edifício em dez, vinte ou

cinqüenta anos. Apesar de esse tipo de prospecção não ser realizada, a certificação

leva em consideração aspectos como reaproveitamento de materiais, ou quantidade

de materiais desviada de aterros sanitários e enviada para reciclagem.

Uma vez certificado, o edifício não é mais analisado para verificação se tudo o que

garantiu a certificação ainda se aplica. Existe possibilidade de buscar a certificação

LEED EB OM3, destinada à operação e manutenção de edifícios existentes, mas

essa certificação não afeta a certificação obtida anteriormente, como o LEED CS4 ou

LEED NC5.

A CIB/UNEP-IETC (2002) defende que países em desenvolvimento precisariam ter

um plano de Agenda 21 diferente dos países desenvolvidos, pois os problemas,

prioridades e capacidades das indústrias, dos governos, das culturas e formas de

ver o mundo são diferentes. Esta ponderação talvez também se aplique às

certificações, pois além de todos os motivos mencionados, os métodos construtivos,

materiais e acesso às tecnologias também diferem.

2 Life Cycle Analisys.

3 Para Operação e Manutenção de Edifícios Existentes

4 Para Fachadas e Áreas Comuns de Prédios Comerciais

5 Para Novas Construções e Grandes Reformas

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5

Diante da problemática que o processo de certificação sugere, indicando caminhos

para que uma abordagem crítica seja elaborada, este trabalho aborda o sistema de

certificação LEED6, que vem sendo utilizado no Brasil e que é ainda bastante

recente, ao se levar em consideração que a primeira edificação certificada no país

foi a agência do Banco Real, na Granja Viana, em 2007. A certificação LEED vem

se revelando cada vez mais uma meta e diversos edifícios que a utilizam, como as

duas torres do Rochaverá, a agência do Banco Real na Granja Viana e o próprio

Eldorado Business Tower, são hoje valorizados, do ponto de vista da divulgação de

sua arquitetura e como símbolos de atendimento eficiente aos critérios de

certificação, e também em termos de valorização imobiliária. Ganhando cada vez

mais notoriedade e exercendo influência crescente nos meios empresariais e de

incorporação imobiliária, os sistemas de certificação estão sendo também cada vez

mais utilizados. Cabe então indagar das causas dessa crescente procura e

valorização, perguntando também se um edifício certificado atende à premência de

consistir de fato em uma arquitetura sustentável, e o que contribui para que seja

assim identificado. Estas perguntas caracterizam os problemas que a pesquisa

enuncia, e que a conduzem, sugerindo uma hipótese ou linha, a saber, de que a

certificação não é condição suficiente para caracterizar a arquitetura sustentável na

acepção plena desse termo: uma arquitetura capaz de atender às questões de

economia de recursos e meios energéticos e materiais, mas que seja também apta a

acolher usos e atividades, de forma a valorizar e qualificar a permanência e fluxos

em seus espaços.

O método de aplicação da certificação LEED é, em certa medida, direcionado para

suprir interesses de mercado imobiliário, contribuindo para qualificar os

empreendimentos conforme os parâmetros relacionados. A avaliação é feita por

meio da aplicação de instrumento que resulta em um checklist, o qual identifica um

conjunto de parâmetros e categorias que atribuem pontuação ao empreendimento, a

qual depende dos créditos que a edificação atender.

6 Leadership in Energy and Environmental Design

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6

Com uma estrutura simples a ponto de ser, por isso, criticada, o LEEDTM é baseado em especificação de desempenho em vez de critérios prescritivos, e toma por referência princípios ambientais e de uso de energia consolidados em normas e recomendações de organismos de terceira parte com credibilidade reconhecida, como a ASHRAE7; a ASTM8; a EPA9; e o DOE10 (SILVA, 2003, p. 54).

O edifício Eldorado Business Tower, localizado à Avenida das Nações Unidas, junto

ao Shopping-Center Eldorado, em São Paulo, projetado pelo escritório de arquitetura

Aflalo & Gasperini e executado pela Construtora Gafisa, foi o primeiro edifício na

América Latina a receber o certificado na categoria LEED CS Platinum, o mais alto

nível de classificação. Este edifício será abordado como objeto de estudo para

compreensão de como a Certificação LEED funciona e, o mais importante, quais

itens leva em consideração para avaliar edifícios e se esses itens avaliados suprem

todas as condições para que um edifício seja realmente sustentável e apresente

qualidade arquitetônica. Os objetos de estudo que fundamentam este trabalho são,

portanto, a certificação LEED e o mencionado edifício-alvo desta.

Essa qualidade arquitetônica se define como um conjunto de determinações

atendidas pela arquitetura, em que se destacam não apenas aspectos ambientais e

energéticos, mas questões relativas ao espaço criado, circulações, distinção entre

espaços de fluxo, transição e permanência, inserção do objeto arquitetônico no meio

urbano, acessibilidade, materiais utilizados e efeitos no ambiente construído.

Sugere-se que a sustentabilidade de uma edificação implique no atendimento dessa

multiplicidade de aspectos.

O objetivo deste trabalho, portanto, é analisar qualitativamente a certificação LEED

como meio e instrumento suficiente de avaliação de sustentabilidade de edifícios,

mediante o estudo de um caso que recebeu o mais alto nível de certificação,

questionando o processo do LEED enquanto definidor da sustentabilidade da

7 American Society of Heating, Refrigerating and Air -conditionning Engineers

8 American Society for Testing and Materials

9 U.S. Environmental Protection Agency

10 U.S. Department of Energy

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7

arquitetura, e buscando compreender a relação entre esse procedimento e a

sustentabilidade. O estudo de caso será objeto de análise mediante a compreensão

do projeto arquitetônico que deu lugar à obra, verificando-se relações das

características arquitetônicas com a produção de um edifício certificado, e como esta

certificação representa ou não a produção de uma arquitetura sustentável. Trata-se

de uma primeira abordagem, de natureza qualitativa quanto à relação entre

certificação e sustentabilidade na arquitetura.

O objetivo específico consiste em questionar de maneira crítica se a obra atende aos

quesitos de classificação, bem como o alcance e a adequação do instrumento de

medida, ou seja, verificar se o edifício Eldorado Business Tower é sustentável e se a

categoria alcançada no LEED garante a ele essa sustentabilidade. Estes objetivos

somente podem ser alcançados estudando não só o processo de certificação, mas o

próprio projeto arquitetônico. Esse estudo envolve conhecer desde a concepção e

partido, até os desdobramentos projetuais quanto ao espaço produzido, circulações,

dimensionamento, soluções construtivas e técnicas, recursos arquitetônicos

utilizados para a geração de conforto ambiental; enfim, é da arquitetura que provém

a inclusão de princípios que a tornam certificável, e não apenas a existência de um

instrumento definido “a priori”. Estes objetivos e meios de análise consistem na

metodologia adotada. A metodologia envolve ainda um breve estudo do LEED frente

a outras modalidades de certificações, mencionando outros sistemas existentes, tais

como primeira certificação utilizada no mercado, o BREEAM11, e outro sistema

utilizado no Brasil, o AQUA12. Cabe frisar que esta abordagem panorâmica não é o

foco da metodologia, mas tão somente suporte para articular uma discussão crítica

do processo de certificação.

O LEED foi criado inicialmente nos Estados Unidos para certificar edifícios

pretensamente sustentáveis e começou a ser utilizado e reconhecido no Brasil,

tendo o primeiro edifício certificado em 2007, e outros países, concretizando a

aspiração de funcionar como um instrumento universal.

11

Building Research Establishment Environmental Assessment Method

12 Alta Qualidade Ambiental

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A certificação BREEAM foi desenvolvida em 1988 no Reino Unido, sendo a primeira

apresentada ao mercado, e muitas outras que vieram depois a utilizaram como

base, inclusive o LEED. O BREEAM já teve versão adaptada para outros locais,

como Canadá e Hong Kong. Assim como o LEED, o BREEAM certifica edifícios

determinando categorias que resultam em um checklist tornando esse método de

avaliação mais simples e acessível, devido a essa sistematização.

O Processo AQUA foi o primeiro sistema de certificação criado no Brasil. Lançado

em abril de 2008, o sistema adaptou a certificação francesa HQE para a realidade

brasileira. O método de avaliação também é realizado a partir de um checklist que

enuncia catorze (14) categorias, tendo o mesmo objetivo do LEED e do BREEAM, a

saber, facilitar o acesso e a compreensão pelo mercado imobiliário às formas de

avaliação, tornando-as menos complexas e mais sintéticas.

O Processo Aqua (Alta Qualidade Ambiental) é uma certificação adaptada à realidade brasileira pela Fundação Vanzolini e por professores do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli/USP. O processo é fundamentado no sistema francês Haute Qualité Environnementale (HQE), mas adota critérios próprios e incorpora normas da ABNT. (CORBIOLI, 2009).

O sistema de certificação, se observado de uma perspectiva crítica, admite enunciar

a dúvida de até onde se produz, a partir dele como parâmetro, uma arquitetura de

fato sustentável. E até que ponto uma arquitetura na qual se ausentam soluções que

a tornem sustentáveis é compensada pelo atestado de “sustentável”, atribuído pelo

fato de o edifício atender a categorias que enfatizam algumas tecnologias e

recursos, e que nem sempre esgotam todos os determinantes e conteúdos

necessários a uma arquitetura mais complexa em suas soluções e problemas

definidos. Esse atendimento às categorias mais valorizadas permitiria a obtenção de

certificação; e as indagações que a certificação suscita consistem nos problemas

identificados para conduzir a dissertação de mestrado.

Segundo John B. Herz, “(...) uma das principais funções de uma construção é a de

atenuar as condições negativas e aproveitar os aspectos positivos oferecidos pela

localização e pelo clima” (1998, p. 9). Isto implica em dizer que esse processo deve

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ser adequado às circunstâncias específicas de cada projeto e lugar, levando a que o

mesmo autor também mencione o paradoxo entre a necessidade de utilizar da

tecnologia quando não se revela possível aproveitar ao máximo a luz e a ventilação

naturais:

Muitos edifícios modernos de vidro precisam de sistemas igualmente modernos de aquecimento e resfriamento bastante avançados e caros, com o objetivo de adaptar a construção ao clima. Neste caso, não se pretende que o projeto responda ao clima, mas que o equipamento adapte os edifícios a ele (HERTZ, 1998, p.19).

A busca pelas certificações que comprovem a sustentabilidade de empreendimentos

tem crescido cada vez mais, o que leva a enunciar perguntas relativas às causas

desse crescimento: talvez em função de potencializar o valor imobiliário, ou por

existir real preocupação com o meio ambiente? Ou então, em obter reais vantagens

de economia de meios e recursos, centrados em eficiência energética e reuso de

água, o que sugere que na prática, a certificação seja um índice de edifícios com

essas qualidades:

Internacionalmente, um número crescente de empresas do setor imobiliário e de construção vislumbra oportunidades de negócios relacionadas ao ambiente, seja para minimizar riscos, antecipar-se a mudanças na legislação, ou para sustentar uma imagem corporativa positiva. Os maiores desafios e oportunidades referem-se ao valor adicionado referente a valores ambientais, pois, apesar da importância atribuída aos valores verdes ter aumentado, argumentos ambientais não são suficientes para “vender” um empreendimento (SILVA, 2003, p. 5).

A preocupação com uma arquitetura que aproveite ao máximo os recursos que o

meio ambiente oferece utilizando o mínimo possível os recursos da natureza e

causando, dessa maneira, um menor impacto, existe há muito tempo. Aliás, a

importância de tal arquitetura vem sendo difundida há um bom tempo, antes de as

certificações serem desenvolvidas. Não há dúvidas de que edifícios certificados

apresentam menores índices de consumo de água e energia, mas a questão é até

que ponto a certificação valoriza e se posiciona de maneira a assumir o

protagonismo frente a outros fatores intrínsecos à arquitetura, e que em muito

contribuem para que esta seja sustentável e incentiva a prática de arquitetura em

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moldes mais complexos, expressando-se essa complexidade no partido e nas

decisões projetuais.

O LEED e o AQUA são compreendidos como instrumentos qualitativos para nortear

a produção e possibilitar a avaliação de arquitetura sustentável; no entanto, sua

aplicação prática bem como a visibilidade e o valor financeiro alcançados pelos

empreendimentos que o utilizam sugere um questionamento da certificação,

indagando se esta não se pauta apenas em suprir instrumentos de marketing e de

agregação de valor imobiliário.

O desenvolvimento do trabalho implica em um breve cenário comparativo dos

sistemas de certificação utilizados no Brasil, para a apresentação de suas

categorias, cujo objetivo é identificar, com essa comparação, diferenças

fundamentais, bem como o alcance e possibilidades distintas desses instrumentos.

Será também realizada uma introdução ao BREEAM, o primeiro instrumento de

avaliação de edifícios sustentáveis, base para todos os outros, inclusive para o

LEED. Passar-se-á em seguida a conhecer o instrumento de certificação AQUA, um

dos mais usados e reconhecidos no Brasil, fundamentos esses que conduzirão a um

estudo mais aprofundado (incluindo um estudo de caso), da certificação LEED. A

comparação visa caracterizar esses instrumentos e identificar o que e como medem.

Esse percurso comparativo será realizado com a apresentação e discussão dos

instrumentos de certificação, fundamentando-se em fontes secundárias (trabalhos

acadêmicos e bibliografias sobre sustentabilidade e certificação LEED no Brasil e

informações fornecidas pelo U.S Green Building Council), visando compreender

intenções, procedimentos e lógicas do processo de certificação.

Apresenta-se também um mapeamento sucinto dos edifícios certificados no Brasil e

na cidade de São Paulo, a fim de identificá-los e sintetizar algumas características

de interesse. Proceder-se-á ao estudo de caso do Eldorado Business Tower a partir

do projeto e de suas peças gráficas, incluindo observações realizadas no local. O

estudo contará ainda com a análise do processo de certificação desse edifício, cujo

material de pesquisa, de fontes secundárias e primárias, foi devidamente coletado

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durante visita técnica realizada. O trabalho conta ainda com entrevista realizada com

agentes diretamente envolvidos no projeto do edifício. O cruzamento de informações

obtidas a partir de todos esses instrumentos e meios consiste no procedimento

metodológico adotado, que procura articular uma análise crítica a partir da reflexão

sobre as condições que levaram à certificação e sua relação com a arquitetura

realizada e o espaço vivenciado.

A dissertação está estruturada da seguinte maneira: numa primeira parte,

considerações gerais sobre as relações entre sociedade e meio ambiente,

apresentando um histórico do termo desenvolvimento sustentável e explicando

alguns dos principais conceitos a ele relacionados.

O segundo capítulo abordará exemplos de arquitetura classificada como sustentável

em determinados momentos históricos, definindo-a e citando exemplos para, no

terceiro capítulo, abordar as certificações verdes, iniciando com o BREEAM e o

AQUA para em seguida aprofundar o LEED, objeto teórico de estudo do trabalho.

Por último, será apresentado o estudo de caso com base no primeiro edifício que

recebeu o certificado LEED platina na América Latina: o Eldorado Business Tower.

Nesse capítulo, será apresentado o percurso histórico do projeto do edifício, as

características arquitetônicas, de inserção urbana, materiais e construtivas que são

a base do processo de certificação. Em seguida, uma análise crítica que indaga se

essas características são suficientes para denominar sua arquitetura como

sustentável será então apresentada.

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CAPÍTULO 1. Sociedade e Meio Ambiente

A questão da sustentabilidade em Arquitetura vem progressivamente se afirmando

como matéria de relevância indiscutível, pois é quase intuitiva a idéia de que

vivemos um momento em que o desenvolvimento depende de cuidados para com o

meio ambiente e economia dos escassos recursos naturais e materiais

disponibilizados.

Segundo Ignacy Sachs (1993), duas posições antagônicas polemizam sobre a

relação entre oferta e consumo de bens e recursos do planeta. Os “malthusianos”

alertam que o mundo tem população excessiva, e que se consome hoje muito mais

do que se produz. Esse desequilíbrio seria responsável por a natureza não

conseguir acompanhar o ritmo do homem que, além do consumo, também é

responsável pela contínua poluição do meio ambiente. Em oposição a essa corrente,

os “cornucopianos” afirmam que a superpopulação mundial não é impedimento para

que os impactos danosos ao meio ambiente não possam ser minimizados, pois

tecnologia e conhecimento estão à disposição para ajudar a diminuir impactos e

permitir que gerações futuras vivam sem a preocupação de esgotamento dos

recursos naturais.

O Relatório de Founex identificou os principais tópicos dessa problemática, presentes até hoje na agenda internacional. Rejeitando as abordagens reducionistas do ecologismo intransigente e do economicismo estreito e rigoroso, o relatório traçou um caminho intermediário e eqüidistante entre as posições extremas de “malthusianos” e “cornucopianos”. (SACHS, 1993, p.11).

O Relatório de Founex foi preparado após o Encontro de Founex, em junho de 1971,

quando diversos países já se preparavam para a Conferência de Estocolmo. Nessa

época, preocupações com o meio ambiente se acentuavam. As décadas de 1970 e

1980 foram marcadas por diversos desastres ambientais que começaram a chamar

a atenção, como o encolhimento do Mar de Aral e a destruição ambiental na Europa

do Leste, e diante de acidentes causados pelo homem de grande repercussão,

como o ocorrido na usina nuclear de Chernobyl, na antiga União Soviética, onde um

reator apresentou problemas técnicos, liberando radiação, e o acidente de Bhopal,

na Índia, quando aconteceu um vazamento de toneladas de gases tóxicos em uma

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fábrica de pesticidas. Foi então realizada a conferência das Nações Unidas, em

Estocolmo, em 1972, com o tema o Homem e o Meio Ambiente, sendo esta a

primeira reunião global, que reuniu cento e treze países com o principal objetivo de

discutir o desenvolvimento humano e sua intensa relação com o meio ambiente.

Continuando os esforços de enfrentamento de problemas ambientais e

desenvolvimento, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente realizou,

em 1979 e 1980, vários seminários debatendo diversos estilos de desenvolvimento.

O conjunto destas ações se refletiu no Relatório Brundtland, de 1987, um documento

que identificou problemas ambientais, como o efeito estufa e a destruição da

camada de ozônio, apresentou soluções para seu enfrentamento e definiu

desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993).

Vinte anos depois da reunião de Estocolmo, nova conferência da Organização das

Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento foi então realizada, desta

vez no Rio de Janeiro. A denominada ECO 92 se tornou mundialmente conhecida e,

segundo Hans Michael van Bellen (2006, p.22), “(...) finalmente a interligação entre

desenvolvimento socioeconômico e as transformações do ambiente entrou no

discurso oficial da maioria dos países do mundo”.

As diversas conferências, realizadas ao longo dos anos, que tiveram como tópicos

assuntos sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável atestam uma

preocupação progressiva sobre esses dois temas, colocando em evidência o

problema do impacto causado pelo ser humano no meio ambiente e como esse

impacto pode ser mensurado para que possa ser diminuído de maneira

fundamentada, atingindo, assim, o desenvolvimento sustentável.

1.1 A Pegada Ecológica da Humanidade

Pegada ecológica é um conceito que define a mensuração do impacto que o ser

humano acarreta ao planeta, ou seja, “(...) a pegada ecológica contrasta o consumo

dos recursos pelas atividades humanas com a capacidade de suporte da natureza e

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mostra se seus impactos no ambiente global são sustentáveis a longo prazo”

(CIDIN, SILVA, 2004, p. 46).

Segundo o Global Footprint Network, atualmente, o planeta leva um ano e cinco

meses para se regenerar frente ao que a humanidade consome em um ano, ou seja,

a sociedade ultrapassa o que se encontra disponível para ser consumido, definindo

um conceito denominado overshoot13. O overshoot acontece quando a demanda é

maior do que aquilo que a natureza pode fornecer ou maior do que a capacidade da

natureza de se regenerar (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2010).

Gráfico 1: Pegada ecológica da humanidade

FONTE: World Wide Fund for Nature (WWF). Living planet report 2008, p.2. Disponível em

http://wwf.panda.org/about_our_earth/all_publications/living_planet_report/footprint/. Acesso em 19/09/2010.

De acordo com o Global Footprint Network (2010), calcular a pegada ecológica de

uma pessoa, cidade, negócio ou nação é importante, porque assim é possível

identificar e mensurar a pressão que a sociedade exerce sobre o planeta e, assim,

cuidar melhor do meio ambiente, providenciando ações necessárias. O gráfico 1

mostra que o planeta está em overshoot desde o final da década de 1980 e o

impacto que o ser humano causa ao meio ambiente está crescendo continuamente. 13

Acima do limite

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Para cessar esse significativo aumento de impacto, uma mudança de

comportamento e dos processos que afetam o meio ambiente se torna imperiosa.

Desfazer o mal já realizado requer um programa cuja escala supera grandemente, em custo e tamanho, os programas espaciais e militares. (...) Somos como os passageiros de uma grande aeronave em travessia do Atlântico, que, de repente, percebem quanto dióxido de carbono o avião está acrescentando a um ar já poluído (LOVELOCK, 2006, p.25).

1.2 O Impacto da Construção Civil no Meio Ambiente

A construção civil é uma das atividades humanas que mais causa impacto ao meio

ambiente (CIB/UNEP-IETC, 2002), sendo, portanto, bastante responsável pelo

estado de overshoot que o planeta se encontra atualmente. O rápido crescimento

populacional, principalmente em países em desenvolvimento, aumenta a demanda

por espaços construídos e, conseqüentemente, o impacto destes no meio ambiente

(HERNANDES, 2007). Assim, a legislação define impacto ambiental e o que estes

acarretam ao ser humano e biosfera:

(...) considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, resolução 001 de 23/01/1986, artigo 1º)

De acordo com a Aciesp/1987 (apud FRANCO, 2001, p. 30), impacto ambiental é

“(...) toda e qualquer atividade, natural ou antrópica, que produz alterações bruscas

em todo o meio ambiente ou apenas em alguns de seus componentes. De acordo

com o tipo de alteração, pode ser ecológico, social ou econômico.”

Segundo o USGBC (2010), os prédios são os principais responsáveis pela emissão

de gás carbônico na atmosfera. Em segundo lugar ficam os transportes e em

terceiro, as indústrias. A construção civil é responsável pela utilização de 40% da

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energia primária, 72% do consumo de eletricidade, 39% da emissão de gás

carbônico e 13,6% do consumo de água potável.

Segundo o CIB/UNEP-IETC (2002), os principais vilões da construção civil, quando

se fala de mudança de clima, são o aço e o concreto. A produção de cimento é,

depois da queima de combustíveis fósseis, o maior agente antropogênico na

contribuição para a emissão de gases do efeito estufa. A produção do aço e do ferro

é responsável pela utilização de 4,1% da energia do mundo. A construção civil

também é responsável por diversos outros problemas, como poluição sonora, poeira

e contaminações através de resíduos tóxicos.

Além dos impactos ambientais, há que apontar também impactos sócio-econômicos.

A construção civil é uma das atividades que mais oferece empregos no mundo,

apesar de ter, também, a reputação de envolver ganância, corrupção, trabalho ilegal

e destruição ambiental (CIB/UNEP-IETC, 2002).

Como pilar da economia nacional, sabe-se que apesar das sucessivas quedas nos últimos anos o setor da construção civil no Brasil foi responsável por 6,5% de todo o PIB do país. (...) Quanto à carga tributária, a construção civil é o segundo maior contribuinte do país, ficando atrás somente do comércio (HERNANDES, 2007, p. 25).

1.3 Sustentabilidade - Conceitos e Definições

Partindo do impacto ambiental que a sociedade causa ao planeta, e considerando

que boa parte desse impacto é causado pela construção civil, a definição de

sustentabilidade se tornou imperiosa e decisiva. A CIB/UNEP-IETC define que

sustentar é manter a espécie homo sapiens viva. Sustentabilidade é a condição que

permitirá que a espécie homo sapiens continue viva, ou seja, convivendo em

harmonia com a natureza. Desenvolvimento sustentável é o tipo de desenvolvimento

necessário para alcançar a sustentabilidade. Construção sustentável significa que

todos os princípios do desenvolvimento sustentável foram aplicados a todo o

processo da construção, desde a escolha do material, passando pela fase de

projeto, construção até a manutenção do edifício. (CIB/UNEP-IETC, 2002, p. 6)

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A CIB/UNEP-IETC (2002), ao tratar do tema deixa claro que o objetivo não é

simplesmente sobreviver, mas garantir qualidade de vida e, para isso, é necessário

encontrar o meio termo que permita o desenvolvimento social e econômico, sem

prejudicar a natureza.

(...) esta busca de equilíbrio entre o que é socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente sustentável é usualmente descrita em função da chamada “triple bottom line”, que congrega as dimensões ambiental, social, e econômica do desenvolvimento sustentável. (SILVA, 2003, p.1).

Figura 1: Tripé da sustentabilidade

FONTE: ARAUJO, 2006: p. 83.

A dimensão econômica do desenvolvimento sustentável requer um sistema

econômico que proporcione acesso a recursos e oportunidades para todos. O

objetivo é que todos possam ter prosperidade dentro dos limites do que é

ecologicamente possível e sem infringir os direitos humanos básicos. Em se tratando

da construção civil, estes objetivos fazem pensar em arquiteturas capazes de

atender a essas necessidades, beneficiando a todos os seus usuários e preservando

o ambiente em que se insere. A dimensão social do desenvolvimento sustentável

requer sociedades justas que possibilitem o desenvolvimento humano com

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qualidade de vida aceitável para todos. A dimensão ambiental requer o equilíbrio

entre proteger o ambiente físico e seus recursos e usar esses recursos de maneira

que o planeta possa continuar proporcionando qualidade de vida aceitável para os

seres humanos. (CIB/UNEP-IETC, 2002, p. 6). A arquitetura reúne em sua

especificidade condições e anseios voltados a todas essas dimensões de

sustentabilidade, definindo-se por essa razão em uma resposta social de expressiva

amplitude e complexidade.

Apesar de reconhecer que, desde Estocolmo, a preocupação com a “(...)

harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos” (SACHS, 2009, p.54)

se tornou evidente, este autor definiu sustentabilidade de acordo com oito conceitos:

social, cultural, ecológico, ambiental, territorial, econômico, política nacional e

política internacional, ampliando assim seu espectro de relações definidoras.

Segundo Sachs (2009):

• Sustentabilidade Social é dar a mesma qualidade de vida para todos os seres

humanos, todos devem ter direito a educação e a um bom emprego, ou seja, é

necessário existir igualdade social.

• Sustentabilidade Cultural é respeitar as tradições, mas estar aberto a

inovações.

• Sustentabilidade Ecológica significa usar os recursos da natureza com

sabedoria, aproveitando os recursos renováveis e limitando o uso de recursos

não renováveis.

• Sustentabilidade Ambiental é respeitar o meio ambiente e saber utilizar seus

recursos sem esgotá-los.

• Sustentabilidade Territorial significa não ter desigualdades entre territórios e

dar o mesmo tipo de importância às áreas urbanas e rurais.

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• Sustentabilidade Política Nacional é respeitar a democracia e a habilidade do

Estado em fazer projetos nacionais com diversos empreendedores como

parceiros.

• Sustentabilidade Política Internacional é a manutenção da paz, sem guerras, a

manutenção de um sistema internacional financeiro, o mínimo possível de

disparidades sociais e econômicas e o máximo de cooperação entre países.

Desde a conferência sobre o meio ambiente no Rio de Janeiro em 1992, diversos

autores definiram o que seria desenvolvimento sustentável, mas o conceito mais

aceito atualmente é o da World Comission on Environment and Development

(WCED):

Desenvolvimento econômico e social que atenda as necessidades da geração atual sem comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades. (BRUNDTLAND apud HERNANDES, 2006, p. 27).

Esta definição é de grande interesse ao campo da Arquitetura e Urbanismo, pois

implica em dizer que um edifício sustentável não é aquele que atende aqui e agora a

algumas condições definidas como sustentáveis, mas aquele que é capaz de resistir

no tempo a essa conceituação. A arquitetura e as cidades são também artefatos

realizados para as gerações futuras, e objeto para um desenvolvimento sustentável.

Esta questão é de grande relevância para a elaboração de um argumento que seja

capaz de auxiliar a definir arquitetura sustentável, e assim, cotejá-la com as

condições de sustentabilidade de edifícios submetidos às diversas certificações

verdes, objeto deste estudo.

Apesar de haver intensa discussão sobre o tema da sustentabilidade, ainda persiste

a dúvida sobre “(...) como o desenvolvimento sustentável pode ser definido e

operacionalizado para que seja utilizado como ferramenta para ajustar os rumos que

a sociedade vem tomando em relação à sua interação com o meio ambiente

natural?” (BELLEN, 2006, p.13).

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20

A resposta de Bellen (2006, p.13) a essa pergunta é atingir esse estado de equilíbrio

com “(...) o desenvolvimento e a aplicação de sistemas de indicadores ou

ferramentas de avaliação que procuram mensurar a sustentabilidade”, o que lança

luz à importância da certificação como esse possível sistema de indicadores que

poderia estar a serviço de uma arquitetura sustentável. No entanto, resta a

inquietação de saber se apesar desses indicadores, a arquitetura pode ser definida

como apta ao meio ambiente exclusivamente pela aplicação desses instrumentos de

certificação.

1.4 Agenda 21

Durante a ECO´92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento), foi desenvolvida a Agenda 21 Global com o objetivo de

estabelecer “(...) um plano ambicioso de ação global para o século seguinte, que

estabelecia uma visão de longo prazo para equilibrar necessidades econômicas e

sociais com os recursos naturais do planeta” (SILVA, 2003, p.2). Na CNUMAD14, 178

governos adotaram a Agenda 21 e envidaram esforços para criar as Agendas 21

locais, adaptando a Agenda 21 Global às características de cada país e,

posteriormente, a cada estado e município.

Uma estratégia nacional de desenvolvimento sustentável é “(...) um processo ou

sistema que torna possível a implementação de estrutura e atividades estratégicas

para responder aos princípios e desafios do desenvolvimento sustentável” (DALAL-

CLAYTON E BASS apud COUTINHO; JUNIOR; MALHEIROS, 2008, p.10).

No Brasil, esse processo foi implementado e teve natureza participativa, conforme

revela a passagem:

A construção da Agenda 21 brasileira partiu do desencadeamento de um processo de planejamento participativo com a finalidade de analisar a situação atual do país para identificar potencialidades e fragilidades e, dessa forma, visualizar o desenvolvimento futuro de forma sustentável. Para isso, procurou abordar a realidade brasileira de forma multissetorial, a partir de diagnósticos setoriais elaborados

14

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

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21

por especialistas, apoiados por ampla participação de representantes de diferentes setores da sociedade de todas as regiões do país, inclusive com participação da área acadêmica. (CPDS apud COUTINHO; JUNIOR; MALHEIROS, 2008, p. 9).

Sensibilização/mobilização

Definição dediagnóstico emetodologia

Elaboraçãodo Plano de

DesenvolvimentoSustentável

Implementaçãode ações da

Agenda 21 empolíticas públicas

B rasil 5 565 1 105 510 128 217 250 4 009 451Até 5 000 1 257 115 58 10 28 19 990 152De 5 001 a 10 000 1 294 201 98 14 46 43 945 148

De 10 001 a 20 000 1 370 240 105 35 52 48 1 034 96

De 20 001 a 50 000 1 055 293 136 39 58 60 716 46De 50 001 a 100 000 316 117 59 10 15 33 192 7

De 100 001 a 500 000 233 115 46 15 15 39 116 2M ais de 500 000 40 24 8 5 3 8 16 0

N o rte 449 123 62 9 22 30 296 30

N o rdeste 1 794 462 212 51 104 95 1 200 132

Sudeste 1 668 309 132 40 60 77 1 229 130

Sul 1 188 147 72 21 18 36 945 96

C entro -Oeste 466 64 32 7 13 12 339 63

Não iniciouo processo

de elaboração

da Agenda 21

Desconheceo que sejaAgenda 21

Com processo de elaboração da Agenda 21 iniciada

M unicípios

Grandes Regiõese

classes de tamanho da

população dos municípios

TotalTotal

Estágio da Agenda

Tabela 1: Estágio de desenvolvimento da Agenda 21 nos municípios brasileiros

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de

Informações Básicas Municipais 2009. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2009/defaulttabzip.shtm - Acesso em 09/09/10.

O Brasil aprovou sua Agenda 21 em 2002 e, desde então, diversos municípios têm

se empenhado em construir Agendas 21 locais. Dos 5.565 municípios brasileiros,

praticamente 20% já estão com o processo de elaboração da Agenda 21 iniciado,

conforme mostra a tabela acima.

Para atender aos itens relacionados na Agenda 21 Global, identifica-se como

desafio desenvolver indicadores que atestem um desenvolvimento sustentável

garantindo, assim, que os objetivos sejam atendidos. Na década de 1980, as

questões envolvidas nos encontros mundiais que resultaram na Agenda 21 se

estenderam ao debate do impacto da construção civil, enunciando o problema de

como realizar edificações sustentáveis e como avaliar a sustentabilidade dessas

edificações (STUERMER; BEDENDO; BROCANELI, 2010). Nesse contexto,

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integrando em sua forma de avaliação questões sociais e econômicas específicas

de cada país, sendo que estas também integram o conceito de sustentabilidade. “ (...)

o LEED se mostra inadequado para abordar situações típicas de países

subdesenvolvidos ou em desenvolvimento bem como a questão social e cultural que

não é absorvida pela certificação (...)” (STUERMER; BEDENDO; BROCANELI,

2010, p.04). A Agenda Marrom trata das questões sócio-culturais de cada país,

sendo mais específica, enquanto que o LEED foca questões ambientais, mas de

universal, tanto que os critérios de certificação usados hoje, no Brasil, são os

mesmos usados nos Estados Unidos.

1.6 Uma síntese das principais questões abordadas

Não há dúvidas de que preocupações com o meio ambiente afetam decisões e

agendas mundiais desde a década de 1970. O impacto das ações humanas ao meio

ambiente passou a ser então avaliado e mensurado, a partir do reconhecimento de

sua importância crítica, e cidades, estados e países se esforçam desde então para

agir em suas respectivas realidades, o que permitiu uma redução desse impacto.

Nesse contexto, surgiram as Agendas 21 globais e locais e as definições de Agenda

Verde e Marrom, sendo que a primeira prioriza a natureza e a segunda, o ser

humano. A principal questão crítica a frisar é que talvez nenhuma das duas agendas

deva ter prioridade, ou seja, ambos os fatores por elas identificados como relevantes

para alcançar a sustentabilidade devam ser levados em consideração.

Desde então, diversos conceitos surgiram, sendo o principal o de sustentabilidade, e

tal conceito não leva em consideração apenas o meio ambiente ou o ser humano

nele impactante, mas aspectos relacionados tanto ao meio ambiente como à

qualidade de vida. Ou seja, o conceito aborda mais do que o impacto causado ao

meio ambiente, enunciando implicitamente o problema de como reduzir esse

impacto sem comprometer a qualidade de vida da sociedade.

A construção civil pode ser um dos maiores inimigos do meio ambiente, mas ela é

também um dos maiores geradores de empregos, e sua produção convida a

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encontrar soluções que permitam que essa frutífera atividade prossiga, mas que

também se possa reduzir o expressivo impacto que a torna tão prejudicial ao meio

ambiente. Sustentabilidade não significa degradar a natureza em prol do ser humano

ou vice-versa, mas a idéia principal é fazer com que ambos convivam

harmoniosamente.

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CAPÍTULO 2. Arquitetura Sustentável

A arquitetura sustentável pode ser definida como um meio para se alcançar soluções

espaciais, relativas às relações das edificações com o meio urbano sustentável, ou

ainda, “(...) soluções que geram desenvolvimento sem comprometer a

disponibilidade de recursos das futuras gerações” (HERNANDES, 2006, p.32).

A fim de precisar esse conceito, tem-se que arquitetura sustentável pode se definir

da maneira seguinte:

(...) uma forma de promover uma busca de maior igualdade social, valorização dos aspectos culturais, maior eficiência econômica e um menor impacto ambiental nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção, utilização, reutilização e reciclagem da edificação, visando a distribuição equitativa da matéria-prima, garantindo a competitividade do homem e das cidades. (MÜLFARTH apud HERNANDES, 2006, p. 31).

Soluções sustentáveis nasceriam no projeto de arquitetura e projeto urbano, ao

considerar os materiais utilizados, a construção em si e a maneira de realizar a

manutenção da casa, ou do edifício. A arquitetura sustentável também deve

contemplar todos os itens do tripé da sustentabilidade, tornando o projeto, além de

ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente responsável.

É importante ressaltar que a sustentabilidade na arquitetura deve não só poupar energia e evitar técnicas ou materiais agressivos ao meio ambiente, mas também ser viável no plano econômico (inclusive para sustentar suas práticas e desmentir aqueles que afirmam que a construção ecologicamente sustentável é mais cara) e socialmente consciente (promovendo inclusão social, acessibilidade universal e revitalização de edifícios, praças, parques ou bairros existentes, mas deteriorados). Portanto, a sustentabilidade na arquitetura também inclui políticas e projetos de planejamento (em escala urbana e territorial), paisagismo e preservação de ecossistemas urbanos e rurais (FUJIOKA, 2008, p.34).

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Para Fujioka (2008), a arquitetura ecologicamente correta deve buscar a redução do

consumo de água e de energia, prever reutilização de águas pluviais, manter o

máximo possível de área permeável, prever o tratamento da água que será lançada

na rede pública, seguir as normas de acessibilidade, respeitar os padrões

ergonômicos, evitar desperdícios e superdimensionamento, prever espaço para

reciclagem de lixo, utilizar materiais de baixa emissão de componentes voláteis

orgânicos e controlar a ventilação nos ambientes internos.

Para Corbella e Yannas (2003), a arquitetura bioclimática, conceituada como aquela

que atua no sentido de dominar as condições climáticas, utilizando os recursos

disponíveis na natureza (sol, vegetação, chuva, vento) para minimizar os impactos

ambientais e reduzir o consumo energético, deve buscar o conforto ambiental

considerando:

• O conforto térmico do usuário, analisando todas as variáveis relativas a esse

item e propondo soluções que amenizem qualquer desconforto gerado pelo

ambiente;

• O conforto visual, proporcionando um bom nível de iluminação de acordo com

a tarefa a ser realizada no ambiente e promovendo uma boa distribuição de luz para

não causar ofuscamento ou grandes contrastes. As cores das superfícies também

são importantes e também se deve procurar obter o máximo possível de iluminação

natural, controlando-se a intensidade de entrada de luz e procurando integrar os

projetos de iluminação natural e artificial, com o objetivo de economizar energia;

• O conforto acústico, procurando que a arquitetura proposta obtenha as

melhores condições de reprodução e acolhimento de som nos ambientes. O nível do

som precisa estar correto, sem ser alterado tanto por elementos que o absorvam

demais quanto por superfícies capazes de refletir o som e causar reverberações ou

interferências. O ruído externo também não deve interferir nas condições de

percepção sonora no ambiente interno.

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O projeto de um edifício deve sempre incluir estudo sobre orientação solar e eólica;

bem como de dimensionamento e disposição de panos envidraçados, considerando

sempre a posição do edifício em relação ao sol. É preciso ainda estudar quais áreas

envidraçadas precisam ser protegidas, incluindo o detalhamento de como essas

proteções serão realizadas; sendo também relevantes a definição de fachada e

cobertura de acordo com a necessidade de proteção solar; materiais de vedação;

materiais de estrutura; desempenho térmico dos materiais; condicionantes

ambientais, como poluição sonora e vegetação; e divisão interna do espaço

(GONÇALVES; DUARTE, 2006). Mas cabe lembrar que o projeto de arquitetura

deve ser avaliado a partir do relacionamento e interdependência desses fatores, e

que estes não devem ser atendidos de forma isolada.

Portanto, a arquitetura sustentável não deve levar em conta apenas fatores relativos

ao meio ambiente. Conforme mencionado, alcançar a sustentabilidade depende de

cuidados em relação aos demais aspectos que a constituem, e da abordagem de

fatores sócio-econômicos no projeto. Como exemplo do exposto, deve-se lembrar

que o material não deve ser escolhido apenas por ser ecologicamente correto,

devendo atender a outras necessidades projetuais, como proporcionar conforto,

contribuir para a qualidade de vida do usuário e atender à legislação e normas

urbanísticas. E, com base nesse conjunto de preocupações e soluções articuladas, a

concepção arquitetônica poderia atender à sustentabilidade.

Outro exemplo de natureza crítica poderia imaginar o projeto de um edifício

corporativo implantado em uma das regiões mais movimentadas de São Paulo.

Aproveitar o máximo de insolação e de ventilação natural talvez inviabilizasse a

condição ecologicamente correta desse edifício, pois seria também necessário

pensar em uma barreira contra ruídos. Neste último caso, há diversas tecnologias

disponíveis que ajudam a diminuir o consumo e melhorar a eficiência energética de

um edifício, mas o projeto exemplificado requer enfrentar especificamente a questão

do ruído urbano, para atingir qualidade e sustentabilidade.

Algumas considerações fundamentadas em interpretações históricas fazem crer que

muitos exemplares de arquitetura modernista brasileira já teriam em sua época de

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concepção atingido o máximo da condição sustentável, com a utilização de cobogós

(elementos vazados cerâmicos) e outros tipos de brises-soleil, que propiciavam o

aproveitamento de iluminação e ventilação naturais (FUJIOKA, 2008). Também é

possível considerar que a aplicação dos métodos utilizados mais recentemente pelo

arquiteto malaio Ken Yeang, fazendo o edifício interagir o máximo possível com a

natureza, também resultam em arquitetura sustentável, mas o fato é que a

arquitetura que almeje essa definição deveria integrar um conjunto de fatores

arquitetônicos.

Entre esses múltiplos fatores agregadores de qualidade, pode-se mencionar um

extenso rol: as relações entre o edifício e seu entorno; acessibilidade, espaços

previstos para permanência e circulações; conforto do usuário em relação ao

dimensionamento dos espaços, e soluções e propostas de meios adequados e

eficientes para racionalizar o consumo energético. Como, por exemplo, aproveitar ao

máximo a iluminação e ventilação naturais, ou ainda, prever sistemas de reuso de

água e geração energéticas, capazes de contribuir para uma gestão mais eficaz

desses recursos escassos. No entanto, é importante considerar ainda na construção

materiais que acarretem baixo impacto ao meio ambiente, obedecer às normas de

acessibilidade universal, gerar economia em manutenções futuras e ser avaliado por

essa economia também, gerando o máximo possível de economia durante a

construção e, mediante avaliação, obter um ótimo desempenho ambiental.

Essa extensa relação de qualidades arquitetônicas relativas à sustentabilidade

sugere que para um conceito amplo como “arquitetura sustentável”, as categorias

envolvidas com seu sucesso prático constituem um sistema projetual mais vasto do

que meramente o atendimento a alguns tópicos referentes à economia de recursos

energéticos e soluções inteligentes.

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Com cinqüenta e três andares, o Commerzbank tem uma planta triangular com um

grande átrio no centro. Toda a parte de elevadores, escadas e serviços são

localizados nos três cantos do edifício. Os jardins laterais de quatro pavimentos de

altura, que alternam com oito pavimentos de escritórios, associados à utilização de

fachadas duplas, criam um sistema de ventilação natural. A camada externa da

fachada é feita de vidros fixos e permanece sempre fechada, enquanto que a

camada interna tem janelas que podem ser abertas para permitir a ventilação.

(PAWLEY, 1999)

2.1.2 Ken Yeang

No meio internacional, diversos outros edifícios foram projetados buscando atingir o

qualificativo de arquitetura ecologicamente correta, mas o arquiteto malaio Ken

Yeang foi um dos que mais se destacou, desde fins do século vinte, projetando sob

a motivação do tema “edifícios altos verdes”.

A seguir, são relacionados os principais conceitos desenvolvidos por Ken Yeang

para o projeto de um “edifício ecológico”, consideráveis na etapa de concepção:

– Orientação das fachadas e janelas; – Posição do núcleo de elevadores e sua influência na configuração do edifício e na distribuição do espaço interno; – Projeto das proteções solares; – Cor da envoltória; – Efeito da vegetação e seu cultivo ao longo do edifício; – Modo de climatização (ar-condicionado, ventilação natural ou modo misto); – Seleção de materiais e das fontes de energia. (UMAKOSHI; GONÇALVES, 2009, p.138).

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32

Os projetos de Ken Yeang são caracterizados pela grande preocupação com o

conforto ambiental e uso intenso da vegetação. “A arquitetura de suas torres exibe

uma forte presença orgânica através dos freqüentes jardins verticais que escalam

por entre as estruturas e fachadas, além das soluções bioclimáticas típicas de uma

imagem natural” (ZAMBRANO, 2008, p.93). Yeang também explora novas

tecnologias tendo em vista futuras aplicações em

suas obras, testando suas teorias mediante

simulações digitais e por meio de protótipos.

Apesar de adotar a experimentação como base

do trabalho, nem todas as idéias testadas como

protótipos são aplicadas à construção de edifícios

projetados por esse arquiteto. Yeang justifica que

a dificuldade de aplicar tudo o que testa em

protótipos nas construções reside no fato de que,

cronologicamente, é impossível executar um

projeto e uma construção com a mesma

velocidade com que suas pesquisas são

realizadas. O Tokio Nara Tower, de 1995, é um

dos edifícios de Ken Yeang que, ao utilizar

vegetação que percorre toda a fachada, pode

então conferir a todo o edifício, do solo ao topo,

uma mesma linguagem e solução bioclimática (UMAKOSHI;GONÇALVES, 2009).

No Menara Mesiniaga (1989-1992), na Malásia, Ken Yeang utilizou alguns dos

conceitos que considera importantes para o projeto de arquitetura bioclimática.

Todos os banheiros têm ventilação natural e tanto essa área funcional como

serviços e elevadores estão direcionados para o leste, o lado mais quente. Escadas

e halls de elevadores também são naturalmente ventilados. A área de trabalho é

quase toda envidraçada, com vista para a área externa, com algumas salas

fechadas bem no centro, mas todas com divisórias de vidro possibilitando também

que os usuários vejam o exterior (YEANG, 1996).

Figura 7: Tokyo Nara Tower – Ken Yeang

Fonte: GOOGLE. Disponível em

www.google.com.br. Acesso em

22/04/2011

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33

Figura 8: Menara Mesiniaga

Fonte: GOOGLE, 2011. Disponível em www.google.com.br. Acesso em 14/08/2011

Figura 9: Menara Mesiniaga

Fonte: YEANG, p.80, 1996

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34

Ken Yeang defende que edifícios altos deveriam funcionar como cidades verticais,

ou seja, concentrar serviços, lazer, trabalho e habitação em um único edifício

(UMAKOSHI; GONÇALVES, 2009).

Defende ainda que todos os escritórios do futuro devam contar com:

- Relação com o ambiente externo

- Espaços de transição entre os ambientes internos e externos

- Áreas abertas que sirvam como oportunidade para encontros, como pátios e

halls de elevadores

- Copa e áreas para alimentação

- Iluminação natural

- Ventilação natural

- Maior acessibilidade

- Áreas para vestiários

- Condições de iluminação mais parecidas possível com a área externa

- Utilização de vidro

(YEANG, 1996, p. 244)

2.2 Arquitetura brasileira

Apesar de tantos exemplos de arquitetura ecologicamente correta terem surgido no

exterior na década de 1990, Gonçalves e Duarte (2006) defendem que a arquitetura

moderna brasileira demonstrara características bioclimáticas já no período entre

1930 e 1960, com o uso de quebra-sóis e cobogós, presentes com intensidade nas

obras de arquitetos como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Rino Levi. O conforto

ambiental e o consumo de energia teriam sido preocupação recorrente em projetos

de boa qualidade e, por esse motivo, a arquitetura bioclimática se tornou importante

para legitimar uma arquitetura sustentável.

A Arquitetura sustentável é a continuidade mais natural da Bioclimática, considerando também a integração do edifício à totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um conjunto maior. É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente

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construído e no seu entorno, integrando as características da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos poluído para as próximas gerações. (CORBELLA E YANNAS apud GONÇALVES E DUARTE, 2006, p.52).

Na arquitetura moderna brasileira

“(...) vale mencionar os notáveis aspectos da casa bandeirista de pau-a-pique, bem como a notável solução do muxarabi, a grelha quebra-sol de madeira de origem árabe e mediterrânea, tão tradicional também na Península Ibérica.” (FUJIOKA, 2008, p.43),

elementos esses que teriam sido adequados à manifestação da arquitetura moderna

no Brasil.

Nas décadas de 1950 e 1960, quando a tecnologia nem era tão avançada a ponto

de suprir necessidades de conforto ambiental ausentes no projeto, diversos

arquitetos já se preocupavam com a concepção e execução de uma arquitetura que,

por si só, fosse capaz de promover conforto ambiental para os usuários das futuras

casas ou edifícios e permitisse o máximo de aproveitamento das características que

os ambientes ofereciam. A seguir, são apresentados alguns arquitetos e obras

arquitetônicas brasileiras exemplares, quanto à motivação inerente à

sustentabilidade.

2.2.1 Rino Levi

Rino Levi ficou conhecido por ser bastante rigoroso com o detalhamento técnico da

arquitetura, além de se preocupar com a estética do projeto.

Rompeu com o arcaico e tradicional método de construir através de um simples ‘desenho artístico’, desenhando exaustivamente todas as etapas da obra: fundação, estrutura, alvenaria, acabamento, esquadrias, chegando até a detalhar luminárias e mobiliário. (UEDA, p. 46, 2001).

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Uma das principais características de seus projetos era a preocupação em suprir e

controlar a insolação e iluminação naturais, aspectos que geralmente enfrentava

com a utilização de persianas de madeira ou venezianas nos edifícios residenciais e

brises-soleil, nos edifícios comerciais. Nos anos de 1950, materiais refratários

conhecidos por aproveitar a luz natural passaram a ser fabricados por empresas de

vidros, mas Rino Levi se recusou a utilizá-los, pois além do custo muito alto, exigiam

a instalação de máquinas de ar-condicionado, aumentando o consumo de

eletricidade. Além disso, pela sua experiência, os panos de vidro nunca forneceram

iluminação suficiente para dispensar o uso de iluminação artificial durante o dia

(UEDA, 2001).

Os tratamentos de fachada prescritos por Rino Levi que indicam sua grande

preocupação com a insolação puderam ser observados nitidamente pela primeira

vez no Edifício Concórdia, construído entre 1955 e 1957, em São Paulo.

O projeto do brise segue as necessidades da orientação das fachadas. Enquanto a fachada da Rua Plínio Ramos recebe brise horizontal feito com placas curvas de fibrocimento rente ao caixilho para barrar o sol de noroeste (tarde e poente), a fachada interna, aberta para um jardim construído no teto da garagem, recebe brise horizontal disposto em balanço, filtrando um pouco da insolação matutina e acentuando a extensão do espaço interno para o exterior. (ANELLI; GUERRA; KON apud RAHAL, 2006, p.65).

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Figura 11: Edifício Concórdia – Rino Levi Fonte: RAHAL, p.65, 2006

Apesar de não ser a favor do uso de pano de vidro, Rino Levi o adotou, em conjunto

com brises de alumínio fixos, no edifício do Banco Sul-Americano, atual Banco Itáu,

localizado em São Paulo, na Avenida Paulista, e construído entre 1961 e 1965

(UEDA, 2001).

Para o arquiteto Affonso Eduardo Reidy, a arquitetura moderna brasileira é

caracterizada pela constante preocupação de adaptação ao clima. Ele descreve a

arquitetura moderna brasileira como:

Figura 13: Banco Sul-Americano – Rino Levi

Fonte: RAHAL, p.66, 2006

Figura 12: Banco Sul-Americano – Rino Levi

Fonte: RAHAL, p.66, 2006

Figura 10: Edifício Concórida – Rino Levi

Fonte: RAHAL, p.65, 2006

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...uma particular sensibilidade dos arquitetos à condições regionais, tendo constante preocupação de obter soluções adequadas ao clima, desenvolvendo os mais variados sistemas de proteção contra o calor , os quais, muitas vezes, da estrutura como elemento marcante da composição, oferecendo, freqüentemente, motivação ao seu aspecto formal; quase sempre o encontro de soluções claras e simples, mesmo para problemas mais complicados, que são solucionados com generosidade e largueza. A riqueza da flora, a dramaticidade da paisagem e a força do sol talvez sejam responsáveis pela tendência, bastante freqüente, para uma certa exuberância formal (...) (REIDY apud ZAMBRANO, 2008, p.62).

A arquitetura moderna brasileira no período abordado neste item demonstrou uma

preocupação em aproveitar o máximo possível do que a natureza tem a oferecer.

Apesar de não dispor de tecnologia relativa à operação inteligente de sistemas e

processos de economia energética ou reciclagem e reuso de materiais que hoje se

aprimoram nos prédios certificados que buscam reduzir o impacto ambiental, a

preocupação com sustentabilidade, compreendendo-a como a produção de um

ambiente voltado ao conforto dos usuários partia do projeto. O projeto recebia a

atenção merecida no sentido de ser compreendido como uma intermediação capaz

e suficiente para prover as edificações das qualidades necessárias à expressão da

sustentabilidade.

2.2.2 Marcos Acayaba

As obras de Marcos Acayaba demonstram essa estreita relação entre arquitetura e

meio ambiente. Como exemplo, a residência Baeta (1993-94) no Guarujá aproveitou

a declividade do terreno fazendo pilares árvores, preservando a mata nativa e

permitindo que a água da chuva escoasse normalmente (FUJIOKA, 2008). Como o

local não permitia a instalação de um canteiro de obras, as peças foram idealizadas

de maneira que fossem executadas em outro lugar e apenas montadas no local.

Dessa maneira, Acayaba trabalhou com estruturas de madeira pré-fabricadas.

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39

Figura 16: Corte Residência Baeta – Marcos Acayaba

Fonte: NAKANISHI, p. 110, 2007

Figura 14: Residência Baeta – Marcos

Acayaba

Fonte: NAKANISHI, p. 105, 2007

Figura 15: Residência Baeta – Marcos Acayaba

Fonte: NAKANISHI, p. 105, 2007

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40

Diversos outros exemplos de construções que, de alguma maneira, utilizaram

técnicas para amenizar o impacto do edifício no meio ambiente podem ser

apontadas no Brasil, incitando a descobrir quais princípios e características

assinalam uma arquitetura que por suas características de concepção e

materialidade a definem como sustentável e se as certificações levam em

consideração esses princípios, polemizando a questão.

2.3 Considerações sobre o capítulo 2

A busca por uma arquitetura sustentável fez com que diversas definições desta

surgissem ao longo dos anos. Aproveitamento de luz e ventilação naturais se tornou

imprescindível para quem tenta respeitar ao máximo o que a natureza tem a

oferecer. A integração da arquitetura com a natureza também se tornou passível de

definir a sustentabilidade, e ainda aproveitar ao máximo o terreno, evitando cortes e

aterros, como exemplifica a obra de Marcos Acayaba, ou utilizar o máximo a

presença de vegetação natural nos projetos, como revela a prática de Ken Yeang,

demonstram uma preocupação com o meio ambiente.

Porém, a definição de arquitetura sustentável se torna mais complexa mediante a

quantidade e disponibilidade de tecnologia aplicada hoje aos edifícios para

compensar a ausência de ventilação natural, por exemplo. O fato é que a arquitetura

realizada pensando em qualidade e responsabilidade frente à natureza e ao usuário

deve partir da premissa de ser sustentável, procurando alcançar esse nível de

excelência de forma sistêmica e integrando seus diversos condicionantes e

possibilidades, técnicas, tecnológicas e estéticas. Os primeiros passos e

condicionantes de um projeto partem de analisar o terreno, verificar o que tem a

oferecer e o que pode ser aproveitado, posicionar a futura edificação de maneira a

obter uma boa insolação, iluminação natural e resguardo, fazendo com que o

conforto térmico não venha a ser prejudicado por uma implantação e orientação

indevidas, de maneira que se possa, ainda, tirar máximo partido da ventilação

natural.

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41

O conceito de sustentabilidade envolve também questões sociais e econômicas, a

arquitetura sustentável também deve se preocupar com a qualidade de vida do

usuário, refletida em acessibilidade universal, conforto térmico, visual e acústico e

racionalização de meios tanto de construção quanto de manutenção.

Um dos atuais problemas que podem ser identificados reside em que muitas vezes a

ausência desse cuidado e preocupação com o projeto de forma a contemplar seus

aspectos sistêmicos pode ser compensada pela agregação de tecnologias que,

embora elevem a qualidade da edificação em alguns itens específicos, não

garantem um resultado arquitetônico sustentável. Tais recursos ajudam em muito

nos aspectos relativos à máxima economia de meios tais como energia e água,

consistindo essas soluções no cerne da arquitetura sustentável, quando se fala em

construções “verdes”. Mas a questão crítica permanece de até onde a aplicação

dessa tecnologia é suficiente para caracterizar a arquitetura sustentável.

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42

CAPÍTULO 3. Sistemas de Certificação Green Building

O impacto causado pela construção civil é uma das atividades humanas que mais

afeta o meio ambiente, e as Certificações Green Building foram desenvolvidas com a

finalidade de prover um instrumento de avaliação desse impacto e, também, como

forma de mensurá-lo com base na análise do ciclo de vida dos edifícios.

A primeira certificação, denominada BREEAM, surgiu em 1990 no Reino Unido e, a

partir dela, surgiram diversas outras que usaram sua estrutura como base de

referência. De certa maneira, esse instrumento passou a ser um guia de referência

para quem desenvolvia projetos e trabalhava com construção civil, direcionando as

soluções projetuais e as ações na obra para garantir um edifício sustentável.

O objetivo foi incentivar o mercado a buscar alto nível de desempenho ambiental dos

edifícios por meio de uma avaliação que identificasse necessidades de intervenções

em obras ou alterações expressivas na forma de projetar, construir e manter um

edifício.

A expressão Green Building foi então cunhada para englobar todas as iniciativas dedicadas à criação de construções que utilizem recursos de maneira eficiente, com claro foco em uso de energia; que sejam confortáveis; e que tenham maior longevidade, adaptando-se às mudanças nas necessidades dos usuários e permitindo desmontagem ao final do ciclo de vida do edifício, para aumentar a vida útil dos componentes através de sua reutilização ou reciclagem. (SILVA, 2003, p.33)

Os sistemas de certificação criados assumiam por desafio descobrir o que e como

avaliar, e qual o objetivo a atingir. Atualmente, diversos países adotaram um desses

instrumentos e respectivo método de avaliação ambiental de edifícios. Entre esses

instrumentos, pode-se destacar:

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43

BREEAM

Building Research Establishment Environmental Assessment

Method. Reino Unido. Sistema criado pelo BRE em 1990.

Considerado o sistema mais antigo e que influenciou grande

parte dos sistemas posteriores, inclusive o LEED.

BEPAC Building Environmental Performance Assessment Criteria.

Canadá. Sistema baseado no BREEAM que praticamente não foi

usado, mas deu origem ao GBC.

GBC Green Building Challenge. Consórcio de iniciativas que criou, em

1998, a ferramenta GBTool para avaliar edifícios. Tem como

meta abordar as características locais de cada local onde é

aplicado.

LEED Leadership in Energy and Environmental Design. Sistema criado

pelo USGBC em 2000, fortemente difundido nos EUA e com

influência na criação de outros sistemas pelo mundo.

CASBEE Comprehensive Assessment System for Building Environmental

Efficiency. Japão. Introduzido em 2002.

HKBEAM Hong Kong Building Environmental Assessment Method. Iniciado

em 1996 inspirado no BREEAM. É uma iniciativa privada da The

Real Estate Developers Association of Hong Kong.

Ecoprofile Sistema oficial de avaliação da Noruega. Coordenado pela

Byggforsk (Instituto Norueguês de Pesquisa de Edifícios).

Miljöstatus Environmental Status. Sistema sueco de avaliação. Iniciado em

1995, começou a atividade em 1997, sendo que, em 2002, já

estava na versão 4 e contava com aproximadamente 2000

edifícios avaliados.

NABERS National Australian Building Environmental Rating System.

Sistema de avaliação australiano, iniciado em 2001, e com

versão piloto a ser lançada em 2003. Avaliação de edifícios de

escritórios e residências.

HQE Haute Qualité Environnementale. Sistema oficial francês de

avaliação de diversos tipos de edifícios. Em 2002, entrou em

teste.

SPeAR Sustainable Project Appraisal Routine, criado pela emrpesa de

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engenharia Arup Group. Sistema privado de acesso e uso restrito

à empresa, usado para a avaliação da sustentabilidade de

edifícios.

BEES® Building for Environmental and Economic Sustainability. Software

produzido por Barbara Lippiatt no National Institute os Standards

and Technology nos EUA. Permite avaliar o desempenho

econômico e ambiental na escolha de materiais deconstrução.

Green

Globes

Canadá. Sistema on-line de avaliação que faz parte do

BREEAM/Green Leaf. Uma versão para o Reino Unido foi

lançada em 2002.

Processo

Aqua

Brasil. Sistema baseado no HQE, lançado em 2008.

Quadro 3: Sistemas de Certificação

Fonte: A partir de HERNANDES, 2007, p.34

3.1 BREEAM

O Building Research Establishment Environmental Assessment Method (BREEAM)

foi o primeiro e é um dos mais conhecidos métodos de avaliação ambiental de

edifícios. Lançado no Reino Unido em 1990 por pesquisadores do BRE15 e do setor

privado, o BREEAM dispõe hoje de mais de 200.000 edifícios certificados (BRE,

2010).

O BREEAM fornece um processo formal de avaliação embasado em uma auditoria externa. O edifício é avaliado independentemente por avaliadores treinados e indicados pelo BRE, que, por sua vez, é responsável por especificar os critérios e métodos de avaliação e pela garantia da qualidade do processo de avaliação utilizado (SILVA, 2003, p. 38).

Dentre as vantagens que o BREEAM oferece estão o reconhecimento de mercado

pelo desenvolvimento de prédios com baixo impacto ambiental, a inspiração para

encontrar novas soluções que minimizem o impacto ambiental e a possibilidade de

15

Building Research Establishment

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50

Ao contrário de outros instrumentos como o LEED, cuja certificação se completa em

apenas uma fase, o Processo Aqua admite três fases, sendo que cada uma delas

passa por auditoria e recebe um certificado específico. Na primeira, chamada de

Programa, é definido o programa de necessidades, documento que deverá orientar o

projetista na concepção arquitetônica, bem como nas definições técnicas do

empreendimento. A segunda fase é a Concepção, em que o projetista, de posse do

documento do Programa, deverá definir a concepção arquitetônica e as diretrizes

técnicas do empreendimento, visando o projeto executivo. A terceira fase é a

Realização, ou seja, a obra, desenvolvida de acordo com o sistema de gestão e

seguindo o projeto. Em cada uma das fases o empreendedor recebe um certificado

que o habilita a prosseguir e realizar a fase seguinte (CORBIOLI, 2009). O AQUA

ainda não dispõe de uma certificação que avalie a fase seguinte à obra, que

caracteriza a operação e manutenção.

Para a construção ser certificada através de Processo AQUA é necessário durante a fase Programa definir o desempenho pretendido pelo empreendedor nas 14 categorias e através do SGE deve-se garantir controle do projeto; durante a Concepção os projetistas elaboram a arquitetura e técnicas do projeto. Por último, a fase Realização, na qual o empreendimento é construído. É preciso avaliar o desempenho do edifício nas três etapas mediante visita técnica agendada da Fundação Vanzolini e o certificado é emitido em 30 dias. Em todas as fases de avaliação permite-se corrigir eventuais desvios (PUGLIERO, PIMENTEL, 2010, p. 4).

Destinado a escritórios, edifícios escolares, hotéis e edifícios habitacionais, o AQUA

já dispõe de vinte e três (23) processos iniciados, quinze (15) certificados emitidos e

nove (9) empreendimentos certificados (Fundação Vanzolini, 2010). O número de

certificados emitidos é maior do que o número de empreendimentos certificados

porque alguns empreendimentos receberam mais do que um certificado. O prédio da

Leroy Niteroi, por exemplo, tem já dois certificados: um relativo à fase Programa e

um da fase Concepção.

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- Pedras retiradas do antigo prédio e que caracterizariam entulho foram

utilizadas nas calçadas e acessos da loja;

- Os resíduos sólidos foram separados e os sacos de papelão do cimento

empregado, encaminhados para reciclagem;

- Utilização de tinta a base de água, menos agressiva ao ambiente que as

convencionais;

- No interior da loja foi utilizado piso de concreto polido, cuja limpeza é feita

apenas com água, dispensando o uso de produtos químicos;

- Foram plantadas árvores nativas como paisagismo;

- O projeto prevê vagas preferenciais para idosos, deficientes e carros flex.

- Economia de 50% de água através do uso de descargas com fluxo duplo,

torneiras com acionamento manual que fecham automaticamente e reutilização

da água de chuva na manutenção dos jardins, limpeza externa e descarga dos

banheiros;

- Economia de 17% de energia com a utilização de brises nas fachadas

envidraçadas que diminuem o consumo de ar-condicionado; uso de painéis

solares para aquecimento de água e a iluminação dos postes e fachadas com

tecnologia LED, que propicia gastar menos energia e cuja emissão luminosa

dura mais tempo.

Segundo a Fundação Vanzolini (2011), a loja obedece, ainda, a normas de

acessibilidade, possui dois pontos de coleta seletiva de resíduos, inclusive para

pilhas e baterias e possui econômetros para informar quanto o edifício está

economizando de energia elétrica e água.

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O AQUA, assim como o LEED, busca atribuir sustentabilidade aos edifícios por meio

de análise do seu desempenho ambiental. Apesar de a avaliação observar fatores

diversos, envolvendo aspectos arquitetônicos e de gestão, muitas das alternativas

buscadas para atingir os requisitos em ambas as certificações são semelhantes,

mesmo porque ambas têm objetivos prioritários semelhantes, como a redução do

consumo de água e energia, por exemplo. Além disso, o AQUA aborda de forma

bastante sumária os aspectos arquitetônicos e de projeto e desenho dos edifícios,

não possibilitando uma análise complexa e em profundidade da arquitetura e sua

relação com a sustentabilidade. De que se conclui que apesar das flagrantes

diferenças entre os sistemas de certificação, todos se apóiam em hierarquias de

categorias e estas consistem em uma seleção de aspectos, relegando muitas vezes

outros que certamente contribuem também para a sustentabilidade das edificações:

a espacialidade, os usos atribuídos ao espaço arquitetônico, as relações entre

público e privado, os fluxos, transições e espaços de permanência, entre outras

categorias de interesse.

3.3 Certificação LEED

Desenvolvida pelo U.S. Green Building Council, a certificação LEED visa ajudar e

mensurar a implementação de recursos e tecnologias que permitam que uma

construção exerça menor impacto no meio ambiente, tornando-se, mediante esse

conceito, uma construção sustentável.

Reconhecida em vários países, a certificação se baseia em categorias que permitem

a avaliação de diversos tipos de edifícios, tais como comerciais, residenciais,

escolares e hospitalares, levando em consideração todas as fases de um edifício,

desde a sua construção, ou reforma, até a sua manutenção.

Da mesma maneira que o BREEAM, o LEED gera uma pontuação de acordo com o

atendimento de requisitos pré-estabelecidos, mas com uma diferença: o BREEAM

admite um fator de ponderação, o qual em cada item é multiplicado para se obter a

pontuação final de determinado edifício e, conseqüentemente, determinar em qual

classificação este se enquadra. No LEED cada item atendido gera uma determinada

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pontuação que é somada no final para que seja determinada qual classificação o

edifício receberá.

3.3.1 LEED no Mundo

O U.S. Green Building Council foi criado em 1993 e, segundo o próprio USGBC

(2010), logo em seguida seus membros sentiram necessidade de criar um sistema

que avaliasse o impacto da construção no meio ambiente e que pudesse, de alguma

maneira, medir o quão sustentável essa edificação seria. Realizaram-se estudos

sobre os sistemas de avaliação de prédios verdes existentes e, menos de um ano

após a formação do U.S. Green Building Council, formou-se um comitê que cuidaria

apenas da criação desse sistema de avaliação. O comitê seria formado por

profissionais diversos, como arquitetos, engenheiros, agentes imobiliários,

proprietários de edifícios, ambientalistas, advogados e representantes de indústrias

(GBCI, 2010).

Em 1998, o Green Building Council já atuava em oito países e seus representantes

se reuniam para rever todas as atividades globais. Com isso, foi fundado o World

Green Building Council em novembro de 1999 com o papel de formalizar as

comunicações internacionais e dar apoio a todas as iniciativas para difundir a

construção sustentável ao redor do mundo. A princípio, seu trabalho incluía os oitos

países mencionados anteriormente: Austrália, Canadá, Japão, Espanha, Rússia,

Emirados árabes, Reino Unido e Estados Unidos. (GBCI, 2010)

A primeira versão do LEED, uma versão teste denominada LEED 1.0, foi lançada em

1998. Após muitas modificações e aprimoramentos, o LEED 2.0 foi lançado em

março de 2000. As atualizações continuaram sendo feitas e a versão 2.1 chegou ao

mercado em 2002, seguida da versão 2.2, lançada em 2005 (USGBC, 2010).

Com a evolução do LEED, surgiram categorias para avaliar diferentes tipologias de

edifícios: LEED for Core & Shell, LEED for New Construction LEED for Schools

(Escolas), LEED for Neighborhood Development, LEED for Retail, LEED for

Healthcare, LEED for Homes e LEED for Commercial Interiors (USGBC, 2010).

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O registro dos projetos que buscam a certificação é realizado no site do Green

Building Council Institute, criado em 2008 como entidade autônoma do U.S. Green

Building Council (USGBC, 2010). O GBCI se tornou responsável pelas certificações

e por desenvolver programas que ajudassem a monitorar e medir o impacto

ambiental de cada edificação, definindo sua sustentabilidade.

Para acompanhar as constantes mudanças e atender ao universo de informações e

novas tecnologias, a certificação LEED vai ganhando novas versões, o que a

atualiza e possibilita que atenda a novas necessidades.

Gráfico 2: Construções LEED no Mundo

Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em

12/09/11

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3.3.2 Processo de Certificação

O processo de certificação do LEED tem cinco etapas, indicadas na figura abaixo:

Figura 19: Processo de Certificação LEED

Fonte: Green Building Council Institute – disponível em http://www.gbci.org/main-nav/building-

certification/certification-guide.aspx - acesso em 14/08/10

Segundo o GBCI - Green Building Council Institute - o primeiro passo para obter a

certificação LEED é verificar em qual categoria o empreendimento se encaixa, e se a

edificação cumpre todos os pré-requisitos, podendo então atingir o mínimo de

pontos necessário para receber, pelo menos, o nível de certificado.

Após verificar os pré-requisitos, é necessário registrar o projeto junto ao Green

Building Council Institute. Esse registro é realizado por meio de uma plataforma

online e, nele são fornecidos todos os dados do empreendimento. Em seguida, são

preenchidos os dados do projeto, o que gera uma pré-analise da certificação. No

final da obra, são preenchidos todos os dados referentes à construção e, caso exista

alguma alteração em relação ao projeto, este poderá ser informado ao sistema

também.

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Figura 20: Formulário de Registro para Certificação LEED

Fonte: Green Building Council Institute – disponível em

https://www.leedonline.com/irj/portal/anonymous?NavigationTarget=ROLES://portal_content/leed/pages/org.leed.

UserRegistrationPage – acesso em 15/08/10

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Após esse procedimento, todas as documentações e informações serão analisadas

pelo Green Building Council Institute para a definição da certificação. Se a

pontuação estiver entre 40 e 49 pontos, o edifício será considerado Certificado

(Certified), se entre 50 e 59, receberá o selo Prata (Silver), se estiver entre 60 e 79,

será Ouro (Gold) e, se entre 80 e 110, Platina (Platinum) (GBCI, 2010).

Gráfico 3: Profissionais LEED AP no Brasil

Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em

http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php?pag=certificacao.php&certificado=cert_metodologia.php – acesso em

12/08/10

No auxílio e consultoria durante o processo de certificação atuam LEED APs,

profissionais que conhecem o processo e a plataforma. Segundo o Green Building

Council Brasil, em junho de 2011 havia cento e um (101) profissionais LEED no

Brasil, sendo 89 LEED APs e 16 LEED GAs (GBC Brasil, 2011). Esse profissional

atua junto à certificação, mas sua participação no processo não é obrigatória, apesar

de elevar o crédito do procedimento.

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3.3.3 Categorias

Os pré-requisitos para a obtenção da certificação LEED são divididos em cinco

categorias: Materiais e Recursos (MR), Energia e Atmosfera (EA), Qualidade

Ambiental Interna (EQ), Uso Racional de Água (WE) e Espaço Sustentável (SS)

(Green Building Council Brasil). A fim de dotar o procedimento de expertise

suficiente, o Comitê do Green Building Council Brasil se subdivide em cinco

subcomitês, sendo um subcomitê para cada categoria (GBC BRASIL, 2010).

No Brasil hoje são utilizadas oito categorias de certificado LEED, o LEED NC, para

construções novas e grandes reformas, o LEED ND para desenvolvimento de

bairros, o LEED CS para fachadas e áreas comuns de prédios comerciais, o LEED

Retail NC e CI para lojas de varejo, o LEED Healthcare para unidades de saúde, o

LEED EB OM, para operação e manutenção de edifícios existentes, o LEED Schools

para escolas e o LEED CI, para interiores comerciais (GBC BRASIL, 2011).

Figura 21: Metodologia de aplicação do LEED

Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em

http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php?pag=certificacao.php&certificado=cert_metodologia.

php – acesso em 12/08/10

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61

Até o ano de 2010, apenas quatro categorias eram utilizadas no Brasil: LEED CS,

LEED NC, LEED CI e LEED EB OM. Portanto, atualmente, todos os edifícios

certificados estão dentro de algumas dessas categorias, mas já foram feitos

registros nas demais, com exceção do LEED ND, que não tem nenhum registro

efetuado.

Gráfico 4: Registros por categoria LEED

Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em

12/09/11

Como é possível observar na figura anterior, o maior índice de certificações foi

expedido para LEED CS, para fachadas e áreas comuns de prédios comerciais

(45%), seguido de LEED NC, com 38%; em seguida, com a mesma porcentagem

(8%), ficam o LEED EB OM e o LEED CI, e por fim, 1% do LEED Retail NC e 0% do

LEED School. Esse resultado atesta que a incidência prioritária de certificações

ocorre com base na avaliação parcial da arquitetura e não na edificação como um

todo, indicando a prática relativa da certificação no Brasil.

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Os gráficos abaixo indicam que o maior número de registros acontece em São Paulo

e a tipologia que tem mais registros são os edifícios comerciais. Segundo Fernando

Sinicatto, gerente de administração da CB Richard Ellis, responsável pelo Eldorado

Business Tower, os prédios comerciais buscam, cada vez mais, a certificação LEED,

pois empresas multinacionais, ao implantarem seus escritórios no Brasil, querem

sempre que os edifícios onde vão se instalar sejam certificados.16

Gráfico 5: Registros do LEED por Estado

Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em

12/09/11

Gráfico 6: Registros do LEED por tipologia

Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em

12/09/11

16

Conforme foi comentado durante a visita técnica realizada em 16 de março de 2011, monitorada pelo

Engenheiro Eletricista Fernando Sinicatto, gerente de administração (Administradora CB Richard Ellis)

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Gráfico 7: Registros e certificações LEED no Brasil

Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em

12/09/11

O primeiro registro para uma certificação LEED no Brasil ocorreu em 2004 e, desde

então, esse número cresce a cada ano, sendo que a primeira certificação foi dada

em 2007, quando já existiam 48 registros.

3.3.3.1 LEED NC – LEED para Novas Construções

O LEED NC foi inicialmente desenvolvido para prédios comerciais novos, mas é

utilizado para construções novas em geral e grandes reformas de prédios existentes

(LEED 2009 FOR NEW CONSTRUCTIONS AND MAJOR RENOVATIONS RATING

SYSTEM). Nos Estados Unidos, essa categoria é aplicada também para certificação

de prédios residenciais novos, pois o padrão de acabamento para entrega dos

apartamentos naquele país inclui piso, armários, luminárias e diversos outros itens

que fazem com que o novo morador tenha apenas que prover mobiliário. No Brasil,

muitos apartamentos novos são entregues apenas com fiação passada e

revestimento de áreas molhadas, sendo que sala e quartos são, por vezes,

entregues no contrapiso, não dispondo de mais nenhum acabamento ou

equipamento. Conforme o padrão brasileiro, os interiores ficam a cargo do

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64

comprador, sendo que os prédios residenciais podem ser certificados apenas na

categoria LEED CS.

Atualmente existem catorze (14) edificações com certificação LEED NC no Brasil

(GBC BRASIL, 2010). As pontuações são verificadas mediante uma planilha onde

cada item é registrado e pontuado.

3.3.3.2 LEED ND – LEED para Desenvolvimento de Bairros

Baseado no fato de que o mundo está em constante crescimento e que a maneira

que esse crescimento ocorre influencia todo o planeta, foi criado o LEED ND.

Diferentemente das outras categorias do LEED, que focam principalmente em

construções sustentáveis, o LEED ND prioriza a seleção do terreno, a infra-estrutura

e a construção de elementos que conformam um bairro, levando em consideração

toda a paisagem e o contexto. O objetivo desta categoria é promover um

crescimento sustentável de áreas e bairros urbanos. Apesar de já estar sendo

divulgado no Brasil, nenhum projeto foi registrado buscando essa certificação ainda,

o que sugere que entre nós há ainda enfoque maior na realização imobiliária como

forma de fazer cidade.

3.3.3.3 LEED CS – LEED para Fachadas e Áreas Comuns de Prédios

Comerciais

O LEED CS pode ser utilizado para prédios onde a incorporadora tem total controle

sobre as fachadas e áreas comuns, incluindo parte elétrica, encanamentos e

sistemas de proteção de incêndios, mas não tem nenhum controle sobre o que é

realizado em cada unidade, em termos de reforma interna, escolha de materiais e

forma de controle do uso de água e energia, que ficam por conta do futuro

proprietário, que tem total liberdade em optar, ou não, por um projeto sustentável.

Atualmente, existem no Brasil onze edificações que receberam certificação nessa

modalidade (GBC BRASIL, 2011).

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65

3.3.3.4 LEED retail NC e CI– LEED para Lojas de Varejo

O LEED retail NC e CI leva em consideração o fato de que estabelecimentos

varejistas funcionam em horários e forma diferente do que edifícios comerciais. As

necessidades de estacionamento e de escoamento de transporte são diferentes,

assim como o consumo de energia e de água. (USGBC, 2011) Ainda não existe

nenhum prédio no Brasil certificado nessa categoria, porém já foram feitos três

registros para a certificação.

3.3.3.5 LEED Healthcare – LEED para Unidades de Saúde

O LEED Healthcare pode ser utilizado para novas construções e reformas de

consultórios e instalações licenciadas para cuidar da saúde. Essa categoria

começou a ser utilizada no Brasil em 2011 e ainda não tem nenhuma certificação

emitida e nenhum registro feito nela.

3.3.3.6 LEED EB OM – LEED para Operação e Manutenção de Edifícios

Existentes

O LEED EB OM permite que proprietários e responsáveis pela manutenção de

prédios existentes obtenham a certificação LEED desses edifícios com base em

gestão predial, atualizações de sistemas e alterações diversas que ajudem na

obtenção da qualificação de edificação sustentável. Atualmente existe apenas um

edifício certificado nessa categoria no Brasil, (GBC BRASIL, 2011).

3.3.3.7 LEED Schools– LEED para Escolas

O LEED Schools é utilizado tanto para a construção de escolas novas quanto para

grandes reformas em escolas existentes. Como essa categoria da certificação

passou a ser utilizada no Brasil apenas em 2011, o LEED para Escolas ainda não

tem nenhuma escola certificada, mas já está com um registro em andamento.

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Eldorado Business Tower São Paulo SP LEED CS 2.2 Platinum

Ventura Corporate Towers - Torre Leste Rio De Janeiro RJ LEED CS 2.2 Gold

WTorre Nações Unidas 1 e 2 São Paulo SP LEED CS 2.0 Silver

McDonalds - Riviera São Lourenço Bertioga SP LEED NC 2.0 Certified

CD BOMI Matec Itapevi SP LEED NC 2.0 Silver

Pão de Açúcar Indaiatuba SP LEED NC 2.0 Certified

Torre Vargas 914 Rio De Janeiro RJ LEED CS 2.2 Gold

Brasken São Paulo SP LEED CI 2.2 Certified

Centro de Cultura Max Feffer Pardinho SP LEED NC 2.2 Gold

Fleury Medicina Diagnostica Rochavera São Paulo RJ LEED CI 2.0 Gold

Building the Future ( Boehringer

Ingelheim ) São Paulo SP LEED CI 3.0 Gold

Unilever TI – Rochaverá São Paulo SP LEED CI 2.0 Gold

Sede GBC Brasil Barueri SP LEED CI 2.0 Gold

Pavilhão Vicky e Joseph Safra São Paulo SP LEED NC 2.2 Gold

Centro de Desenvolvimento Esportivo Osasco SP LEED NC 2.2 Gold

Rochaverá Torre A São Paulo SP LEED CS 2.0 Gold

WTorre JK - Torre São Paulo São Paulo SP LEED CS 2.0 Gold

Ecopatio Bracor Imigrantes São Bernardo

do Campo

SP LEED NC 2.2 Gold

CD Procter and Gamble - Itatiaia Itatiaia SP LEED NC 2.2 Gold

Centro Distribuição AVON Cabreúva SP LEED NC 2.2 Gold

Edifício Jatobá São Paulo SP LEED CS 2.0 Gold

Pão de Açúcar Vila Clementino São Paulo SP LEED NC 2.2 Certified

Agência Bradesco Perdizes São Paulo SP LEED NC 2.2 Gold

CYK São Paulo SP LEED EB

O&M

Certified

Curitiba Office Park Torre Central Curitiba PR LEED CS 2.0 Prata

Ventura Corporate Towers - Torre

Oeste Rio De Janeiro RJ

LEED CS

2.0 Gold

Novo Auditório do Edifício Sede

Odebrecht

Salvador BA LEED NC 2.2 Silver

Quadro 10: Empreendimentos Certificados LEED no Brasil

Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em

http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php?pag=certificacao.php&certificado=cert_leedRegistrados.php – acesso

em 12/08/10

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3.3.5.1 Banco Real Agência Bancária Granja Viana

Figura 22: Banco Real – agência bancária Granja Viana

Fonte: www.ces.fgvsp.br/arquivos/CS_ap02.ppt – acesso em 12/08/10

Utilizando diversas tecnologias, a agência da Granja Viana do Banco Real foi, em

2007, a primeira edificação da América Latina a receber uma certificação LEED.

Com um projeto que incluiu reuso de águas pluviais, área externa permeável, área

de copa e sanitários com ventilação natural, mobiliário construído com madeira

certificada, torneiras com fluxo de água reduzido e sensor de presença, vaso

sanitário com consumo máximo de 6L por descarga, luminárias com alto rendimento

e baixo consumo e separação dos circuitos de iluminação, a agência recebeu a

certificação LEED NC Silver. (FGV, 2010)

3.3.5.2 Delboni Auriemo – Dumont Villares

Em julho de 2008 a unidade Dumont Villares do Centro de Diagnósticos Delboni

Auriemo foi o segundo empreendimento no Brasil a receber um certificado LEED.

Com um investimento de 7 milhões de reais, o laboratório recebeu o Certificado

LEED NC Silver. A edificação possui fácil acesso a ônibus e metrô, incentivando o

transporte público, bicicletário, vagas preferenciais para carros flex, válvulas e

metais que controlam o fluxo de água, evitando desperdício, ar-condicionado com

gás ecologicamente correto, sensores que controlam a iluminação e diminuem o

gasto de energia, utilização de madeira certificada e, durante a construção, 99% dos

resíduos foram desviados de aterros, sendo destinados à reciclagem (BERTACHINI,

2008).

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3.3.5.3 Banco de Investimentos Morgan Stanley - Edifício Faria Lima Square

O edifício que abriga a sede do Banco de Investimentos Morgan Stanley foi o

primeiro na América Latina a receber a Certificação LEED CI. A sede, localizada no

Edifício Faria Lima Square, situado em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Faria

Lima, nº 3624, recebeu o certificado Silver em outubro de 2008. Com projeto de

interiores da Athie Wohnrath, a sede do banco dispõe de torneiras com sensor,

descargas com duplo fluxo, luminárias com alta eficiência energética, mobiliários em

madeira certificada, ar-condicionado que utiliza gás causando menos impacto à

camada de ozônio e computadores, monitores e impressoras que consomem menos

energia. O projeto também investiu no aproveitamento máximo de materiais e

estruturas que existiam no edifício, como forro, piso e luminárias, com o objetivo de

que tudo o que fosse entregue no prédio fosse mantido, gerando menos demolição

(REVISTA INFRA, 2008).

Figura 23: Delboni Auriemo Dumont Villares

Fonte: Delboni Auriemo – disponível em

http://www.delboniauriemo.com.br/unidade_sustentavel_1.php#x – acesso em 14/08/10

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Figura 24: Faria Lima Square

Fonte: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/collaco-e-monteiro-arquitetos-faria-lima-09-08-2007.html. Acesso

em 10/12/2011

Figura 25: Morgan Stanley

Fonte: http://www.athiewohnrath.com.br/morgan-stanley. Acesso em 10/12/2011.

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3.3.5.4 Edifício Cidade Nova - Bracor

O Edifício Cidade Nova recebeu o LEED CS Certified em 20/10/2008. Sua principal

característica é a fachada dupla, construída com o objetivo de deixar entrar luz

natural mas barrar o calor, produzindo um efeito chaminé. Uma segunda pele de

vidro, distando 60cm da fachada foi construída, fazendo com que o ar quente que

atravessa a primeira fachada suba e se dissipe na atmosfera. Esse sistema permitiu

a economia de aproximadamente 50% dos gastos com o ar-condicionado (PAIVA;

SILVA, 2008).

O edifício é formado por três blocos com lajes interligadas e dois desses blocos são

interligados por um átrio que é protegido por uma clarabóia. O objetivo desta é

deixar entrar o máximo de luz natural possível e, quando um sombreamento é

necessário, persianas automatizadas fecham a clarabóia (PAIVA; SILVA, 2008).

Figura 26: Edifício Cidade Nova

Fonte: PAIVA, Cida; SILVA, Jaime. Fachadas duplas ventiladas. Revista Finestra, 54ª edição, Setembro de2008

– disponível em http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/ruy-rezende-edificio-cidade-11-12-2008.html - acesso em

15/08/2010.

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3.4 Considerações e síntese

Os sistemas de certificação Green Building surgiram para direcionar arquitetos e

construtoras à prática da arquitetura sustentável e de construções verdes. A primeira

certificação surgiu no Reino Unido e, desde então, diversas outras foram criadas e

disseminadas.

No Brasil, a certificação mais reconhecida e utilizada é o LEED, fato comprovado

quando se verifica que o número de registros cresce exponencialmente a cada ano e

que, em 2011, quatro novas categorias da certificação passaram a ser utilizadas.

Muitos edifícios que buscam a certificação LEED são exemplares de tipo comercial

ou corporativo, situação que se alia hoje ao fato de muitas empresas multinacionais

fazerem questão de que os edifícios aonde vão instalar filiais no Brasil sejam

certificados. Edifícios certificados dispõem de vantagens atrativas às empresas

locatárias, no que se refere aos sistemas de gestão condominial, e oferta de

sistemas e meios de eficiência energética os quais incidem diretamente nas

condições ambientais e também no rateio dos custos condominiais mensais.

Ao analisar os primeiros edifícios certificados no Brasil, é possível perceber que o

foco da certificação é a economia de energia e de água, bem como sistemas

gestores de coleta de seletiva de resíduos sólidos, e que alguns dispositivos

básicos, como torneiras com sensor, descargas com fluxo duplo e luminárias com

alta eficiência energética, já garantem alguma pontuação.

A arquitetura, compreendida como um sistema complexo e integrado de soluções

setoriais que merecem relacionamento, a fim de que o resultado ambiental seja um

todo sinérgico, envolve preocupações que articulam desde aspectos estéticos,

passando pelas condições específicas do espaço gerado, sua materialidade e

localização. A sustentabilidade depende, por definição de atendimento dessa

demanda complexa, devendo ser garantida no projeto. Embora muitos edifícios

recebam certificações ao atender um conjunto de atributos exigidos pelos selos que

os organizam, tais como o LEED, a sustentabilidade deve ser especificada em cada

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situação projetual, a fim de compreender seu real significado, e afastar definições

amplas, que certamente dão oportunidade à mistificações a partir desse conceito.

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74

CAPÍTULO 4. Eldorado Business Tower: uma perspectiva crítica

4.1 Histórico do projeto

Desde a inauguração do Shopping Eldorado, em 1981, já se falava na construção de

uma torre de escritórios no terreno vizinho que fosse interligada ao shopping por

uma passarela. O grupo J. Alves Veríssimo, proprietário do shopping, contratou

então o estúdio norte americano Lewis Iglehart & Lydia Yoslow Design para fazer o

projeto da torre e a Construtora Birmann, conhecida pela execução de edifícios com

tecnologias inovadoras, como responsável pelo empreendimento (SERAPIÃO,

2008).

Essa primeira proposta para o edifício

comercial, desenvolvida em 1992, previa

duas torres que ocupariam a mesma

área em que hoje se situa o Eldorado

Business Tower. Desde o início,

propusera-se a construção de um edifício

inteligente e, nesse caso, foram

projetados dois edifícios inteligentes com

mil vagas de garagem e uma passarela

climatizada que os ligaria ao shopping,

conforme figura ao lado. A conclusão das

obras estava prevista para 1994, mas o

custo final ultrapassaria em muito aquele

previsto inicialmente. O orçamento das

edificações finalizadas atingiu a cifra de

175 milhões de dólares, sendo que o

investimento previsto era de 50 milhões de dólares. Essa proposta foi, então,

descartada e o escritório Aflalo & Gasperini contratado para realizar um novo projeto

(SERAPIÃO, 2008).

Figura 27: 1ª proposta para a construção do

Eldorado Business Tower

Fonte: SERAPIÃO, 2008

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A segunda proposta foi apresentada em 1999, com projeto de Gian Carlo Gasperini

e construção a cargo da Construtora Sandria. Propôs-se uma torre de quarenta

andares que apresentava um chanfro no coroamento, localizada na esquina da

Marginal Pinheiros com a Rua Ofélia. A proposta contava também com uma

construção mais baixa, separada da torre principal, para um centro de convenções

(SERAPIÃO, 2008).

Figura 28: 2ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

Fonte: SERAPIÃO, 2008

O escritório Aflalo & Gasperini apresentou, ainda, entre 1999 e 2000, mais cinco

versões de projeto. A segunda proposta, também desenvolvida por Gian Carlo

Gasperini, dispunha dois blocos retangulares e a torre. Um dos blocos retangulares

continuaria destinado a um centro de convenções, enquanto o outro a um

estacionamento com praça na cobertura. A torre foi dividida em três partes bastante

distintas, sendo a base mais estreita e o topo mais largo. Segundo Roberto Aflalo,

nascia, nessa ocasião, a idéia que levou à futura concepção do Edifício Rochaverá,

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ou seja, de um edifício que apresenta as lajes superiores de maior dimensão que as

inferiores (SERAPIÃO, 2008).

Roberto Aflalo foi o responsável pelas demais propostas apresentadas logo em

seguida. A quarta versão mantinha um bloco baixo, destinado ao estacionamento,

com uma praça na cobertura, ganhando um bloco intermediário, para o centro de

convenções. Nessa fase, o volume da torre foi o foco de atenção, e diversas versões

volumétricas se apresentaram, antes de se chegar àquela que foi de fato aprovada e

construída. (SERAPIÃO, 2008).

Figura 30: 4ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

Fonte: SERAPIÃO, 2008

Figura 29: 3ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

Fonte: SERAPIÃO, 2008

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Na quinta versão do projeto, o programa foi alterado por solicitação do cliente, e a

torre deveria conter, além de escritórios, um hotel. Assim, a torre ganhou uma base

mais alargada, onde ficariam os escritórios, com topo mais esbelto, onde se

localizariam as instalações do hotel, dispondo de prumadas de elevador

independentes. Conforme é possível observar na figura 5, o edifício também

passava a contar com uma das fachadas arredondada (SERAPIÃO, 2008).

Figura 31: 5ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

Fonte: SERAPIÃO, 2008

Na sexta proposta, a última que previa a participação da Construtora Sandria, o

programa de escritórios e hotel permaneceu, mas volumetricamente se procedeu a

uma distinção funcional perceptível, mediante uma subtração à meia altura do

edifício, enfatizando a distinção de usos. Nessa etapa, o complexo passou a ter sua

principal elevação faceada com a Marginal Pinheiros, ao invés da Rua Ofélia, como

nos projetos anteriores (SERAPIÃO, 2008).

Figura 32: 6ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

Fonte: SERAPIÃO, 2008

Quando esse projeto foi finalizado, a Construtora Sandria não conseguiu viabilizá-lo

economicamente. Após o ataque terrorista aos Estados Unidos de 11 de setembro

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de 2001, a procura por edifícios comerciais caiu drasticamente e todos os

empreendimentos novos ficaram temporariamente suspensos (SERAPIÃO, 2008).

Superada a crise, a Gafisa assumiu a execução do complexo, e o projeto foi então

alterado novamente. Nas sétima e oitava versões, começou a ganhar características

finais. O programa foi novamente modificado, com o hotel descartado e a torre

passou a abrigar apenas escritórios. A demanda por vagas fez com que o bloco do

centro de convenções desse lugar a um edifício-garagem. A torre de escritórios

ganhou duas faces levemente arredondadas, com a fachada maior paralela à

Marginal Pinheiros. Após essas definições, iniciou-se o projeto final do edifício com

especificação da tecnologia que viria a ser usada na construção. (SERAPIÃO, 2008)

Figura 33: 7ª e 8ª propostas para a construção do Eldorado Business Tower

Fonte: SERAPIÃO, 2008

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Segundo Eduardo Martins17, que trabalhou junto com Roberto Aflalo no

desenvolvimento do projeto do Eldorado Business Tower, a idéia, desde o princípio,

foi construir uma torre como referência no ambiente construído. Esta deveria levar

em consideração idéias e concepções que permitissem que o complexo ganhasse

uma imagem forte, capaz de mesmo depois de anos, continuar a ser uma referência

e mantivesse uma linguagem arquitetônica atualizada. Para isso, procurou-se obter

tais efeitos a partir da materialidade, buscando-se o emprego de recursos de

engenharia de ponta desde o início da construção.

4.2 Características do empreendimento

O Eldorado Business Tower é um edifício

de uso corporativo (escritórios),

interligado por uma passarela ao

Shopping Eldorado, localizado na

Avenida das Nações, Unidas, confluência

com a Avenida Rebouças, em São Paulo.

O Eldorado Business Tower foi

inaugurado em 2007 e ocupa um terreno

de 10.379 m², dispondo de área

construída de 128.645 m², 142 metros de

altura, 29 elevadores, 1.806 vagas de

garagem, e é considerado um escritório

comercial triple A18. Em 2008, o edifício

recebeu a certificação LEED CS Platina.

Executado pela Construtora e

Incorporadora Gafisa, com projeto do

Aflalo & Gasperini e paisagismo de

17

Em entrevista realizada no dia 18/11/2010

18 Padrão de edifícios definidos como modernos e eficientes

Figura 34: Eldorado Business Tower

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal,

obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011

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Benedito Abbud, foi o primeiro edifício a ter essa certificação na América Latina e o

quarto no mundo.

Inaugurada em novembro de 2007, a torre destinada a escritórios tem 32

pavimentos- tipo, com lajes em concreto protendido de espessura de 27 cm, que

possibilitam plantas flexíveis, com áreas úteis que variam de 1.950 a 2.004 m2.

Todos os escritórios contam com piso elevado e forro, com pé-direito de 3,00m, do

piso ao forro (PAIVA;SILVA, 2008). O edifício dispõe de quatro (4) subsolos, mais

edifício-garagem com sete (7) pavimentos, totalizando 1.806 vagas, centro de

convenções e heliponto com capacidade para dez (10) toneladas.

A construção do complexo foi iniciada em 2005, sendo que a obra se estendeu por

trinta meses. Oito meses foram gastos exclusivamente para escavação do subsolo,

Figura 35: Heliponto do Eldorado Business Tower

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011

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devido à natureza rochosa. A área do último subsolo é menor que a prevista em

projeto devido à impossibilidade de se retirar completamente a rocha. A obra foi

executada tendo em vista a certificação na categoria Platina, e para isso, apostou

em recursos construtivos e arquitetônicos singulares, que visavam obter a mais alta

certificação do LEED (PAIVA, 2008).

O terreno tem como limites de um lado, a via expressa da Avenida Nações Unidas,

do outro, o estacionamento do Shopping Eldorado e, como vizinho, a estação de

trem denominada Hebraica. A situação do complexo, e o fato de a via que serve

como alça de acesso ao shopping apresentar dimensões insuficientes para

escoamento do fluxo de automóveis que recebe (de quem vem pela Rua Ofélia), fez

com que os arquitetos responsáveis pelo projeto elevassem o térreo, e projetassem

acessos mais eficientes aos estacionamentos. Essa elevação, no entanto, justifica-

se também por possibilitar o afastamento do complexo e do térreo, principalmente,

do ruído representado pela proximidade à Av. Nações Unidas e à Avenida

Rebouças.

Figura 36: Ilustração artística da implantação Eldorado Business Tower e Shopping Eldorado

Fonte: Gafisa, 2011

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O térreo elevado forma uma praça, interligada à rua mediante elevadores e escadas

rolantes protegidos por uma caixa de vidro, onde se encontram o acesso principal ao

edifício e o início da passarela que o conecta ao tradicional centro de compras.

”Estes se tornam complementares: enquanto os usuários do prédio passam a contar

com uma gama de serviços à distância de poucos passos, o shopping-center ganha

milhares de clientes” (AFLALO, apud SERAPIÃO, 2008, p.63).

Figura 37: Passarela de acesso ao Shopping Eldorado

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011

Figura 38: Escada rolante para acesso do térreo elevado a rua

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011

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A linguagem arquitetônica e a materialidade da torre procuraram transparecer o

máximo de leveza e contemporaneidade possível, minimizando o impacto da massa

construída no ambiente urbano (PAIVA; SILVA, 2008), o que transparece de forma

precisa na análise estética da obra que os próprios arquitetos realizaram:

Um edifício alto, com lajes muito grandes, naturalmente fica com uma massa pesada. Se fosse como o WTC de NY, por exemplo, a fachada estaria resolvida com um tratamento puro, elegante. Mas no caso do Eldorado, com 32 andares, essa solução o deixaria atarracado, principalmente quando visto na diagonal. (AFLALO apud SERAPIÃO, 2008: 66).

Volumes em balanço, vedados com vidros verdes e cuja massa se projeta na

elevação principal são explorados em duas das fachadas; as demais exploraram

visualmente uma curvatura, como recursos de forma e proporção para que a torre

fosse percebida como m.assa esbelta. As faces curvas, voltadas para a Marginal do

Rio Pinheiro e para o Shoppping Eldorado, têm 1,27m de balanço e curvatura de

179 graus. As faces retangulares têm balanço de 2,73 e 3,25m. (PAIVA, SILVA,

2008): “Assim, procuramos criar duas massas que marcam as fachadas principais,

fazendo uma espécie de sanduiche, para que o resultado fosse mais esbelto”.

(AFLALO apud SERAPIÃO, 2008, p.66).

Figura 39(à esquerda): Fachada do Eldorado Business Tower

Fonte: Paiva, 2008

Figura 40 (à direita): Volumetria vista em diagonal e à distância, ressaltando a exploração de curvatura

das fachadas voltadas para a Marginal do Rio Pinheiro e para o Shoppping Eldorado; recurso de

amenização da massa frente à altura da torre.

Fonte: www.googleimages.com

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As fachadas foram cuidadosamente trabalhadas para que houvesse o máximo de

transparência e leveza visual, e causando o mínimo impacto ambiental no que diz

respeito à percepção, sobretudo da torre. As cores verde e branca foram definidas

pelo cliente e, a princípio, foi cogitado utilizar granito branco, mas o material tinha

por característica alta absorção de água e exigiria muita manutenção. A solução foi

utilizar vidros extraclear transparentes com pintura cerâmica serigrafada na parte

interna. Essa pintura tem a singularidade de penetrar capilarmente no vidro, de

modo a não agregar poluentes, tornando a manutenção dos vidros mais fácil. Em

todos os vidros também foi aplicado um produto hidrofóbico, que torna a superfície

mais lisa e, conseqüentemente, também facilita a manutenção. Para as áreas que

deveriam permitir a vista da área externa foram utilizados laminado pirolítico Low-e

Sunergy de 12 milímetros, na cor verde, com características de alta reflexão

luminosa, ou seja, deixa a luminosidade passar e tem baixa refletividade externa e

interna, ou seja, não espelha e apresenta baixa transmissão térmica, deixando

penetrar apenas 35% do calor que incide na face no interior do edifício (PAIVA,

SILVA, 2008).

Para a confecção de toda a esquadria em prazo que atendesse ao cronograma da

obra, ao volume de trabalho e ao nível de qualidade esperados, uma área de

produção de caixilharia da Andalume foi montada no segundo subsolo do Eldorado

Business Tower (PAIVA, 2008).

Figura 41: Centro de usinagem montado no segundo subsolo do Eldorado Business Tower

Fonte: PAIVA, 2008, p.79.

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Com essa estratégia foi possível gerenciar toda a linha de produção, desde a logística de recebimento dos materiais e estoque até a programação do centro de usinagem e industrialização (corte dos perfis, usinagem, montagem e colagem dos vidros nos painéis) e a instalação dos painéis na fachada. Para garantir o funcionamento do processo, a Andalume importou um centro de usinagem de última geração da Fom Industrie e enviou um engenheiro à Itália, para treinamento em programação e manutenção. (PAIVA, 2008: 78).

Para a instalação, todos os painéis de vidro foram identificados com etiquetas com

nomes e códigos de cores. Os painéis de vidro, já finalizados, foram içados por uma

monovia desenvolvida especialmente para esse fim, levados até a extremidade do

pavimento, basculados a noventa graus e encaixados na posição certa com a ajuda

de uma grua. Cada painel pesava até 400 quilos e tal monovia dispunha de

capacidade para até 500 quilos, sendo esse processo repetido 3.206 vezes (PAIVA,

2008).

Figura 42: Montagem dos painéis do Eldorado Business Tower

Fonte: PAIVA, p.79, 2008

Diversas tecnologias foram aplicadas à obra, em busca da certificação Platina. Além

de medidores de consumo de água e energia individuais, toda a água da chuva, do

consumo do ar-condicionado e da drenagem do subsolo é captada, tratada e

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reutilizada para a limpeza do prédio, vasos sanitários do térreo e do subsolo e para a

manutenção do paisagismo. Para a certificação LEED, são levadas em consideração

a quantidade de água consumida, e como essa água é lançada na rede pública. A

certificação exige que a água lançada na rede pública deva ter o mínimo de

concentração de partículas possível, ou seja, o mínimo de sólidos suspensos

(REVISTA FINESTRA, 2008).

Além do reaproveitamento da água, também são utilizados métodos para a

economia de água como bacias sanitárias com caixa acoplada dual flush, de 3 e 6

litros, mictórios com sensor de presença, torneiras automáticas para lavatório e

chuveiros com restritor de vazão (CB RICHARD ELLIS, MANUAL DO LOCATÁRIO,

2011). A medição do consumo de água é totalmente setorizada e pode ser verificada

por meio de um programa de computador ao qual a administração tem acesso.

Figura 43: Sistema para tratamento e reaproveitamento de água da chuva, da condensação do ar-

condicionado e da drenagem dos subsolos

Fonte: REVISTA FINESTRA, nº53, abr/maio/jun/ 2008, p.83

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Figura 44: Tela do programa de computador que mostra o consumo de água e de energia de acordo com

cada setor do edifício

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011

Outra tecnologia utilizada no complexo foi o sistema de ar-condicionado. Como

mencionado anteriormente, a água gerada por condensação é reaproveitada. O

sistema de ar-condicionado é o VRV III (volume de refrigerante variável), que

possibilita tanto o resfriamento quanto o aquecimento do ambiente e possibilita baixo

consumo de energia, permitindo que cada proprietário pague apenas pelo que

consumir. O gás refrigerante utilizado é o R-410ª, menos agressivo para a camada

de ozônio (REVISTA FINESTRA, 2008).

À primeira vista, o sistema de ar-condicionado parece multi split19, dispondo de

metade das condensadoras na cobertura do edifício e a outra metade na cobertura

19

Aparelho de ar-condicionado que pode ter duas ou mais evaporadoras para uma única condensadora.

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ou laje de garagem. Ao contrário da maioria dos prédios, onde evaporadoras e

condensadoras ficam no mesmo local dos respectivos escritórios, e são mantidos

pelos locatários, ou proprietários, ocupando uma sala que tem por finalidade

funcionar como casa de máquinas ou terraço técnico, as condensadoras do

Eldorado Business Tower são mantidas pelo condomínio. O fato de não ser

necessário um espaço próprio e exclusivo para essas condensadoras em cada

unidade economiza cerca de 15m² em cada meia laje e permite apenas uma

distância de 65cm entre forro e laje20.

Figura 45: Condensadoras na cobertura do Eldorado Business Tower

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011

Por ser um sistema de operação modulado, permite ligar de forma independente o

ar-condicionado de cada compartimento ou escritório. O controle é feito pelo

20

Informação obtida durante a visita técnica realizada em 16 de março de 2011, monitorada pelo Engenheiro

Eletricista Fernando Sinicatto, gerente de administração (Administradora CB Richard Ellis).

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91

O prédio também demonstra

preocupação com a eficiência

energética quando se trata do

transporte e deslocamento vertical.

Dispõe de um total de 29 elevadores,

sendo que 18 deles têm Sistema de

Antecipação e Destino de Chamadas.

Ou seja, no lugar do usual painel de

chamada, o passageiro aperta o

número do andar onde pretende ir e, na tela aparecerá qual elevador está

disponível. De acordo com a Gafisa, dos onze (11) elevadores restantes, seis (6)

são os mais rápidos do país. Os últimos cinco (5) atendem o edifício garagem

(REVISTA FINESTRA, 2008). Os elevadores também possuem um sistema de

frenagem regenerativa, ou seja, o elevador que estiver descendo fornece energia

para o próximo que for subir.

Também foi instalado o sistema Animeo, da

empresa Somfy, que controla as aberturas

mediante telas solares21 automatizadas de modo a

não permitir a entrada de uma grande quantidade

de luz ou calor. Na medida em que o sol vai

mudando de posição e atingindo mais uma fachada

do que a outra, as telas solares são fechadas e as

da outra fachada que ficou sem incidência solar

são abertas automaticamente, diminuindo, assim, o

consumo do ar-condicionado e aproveitando

melhor a iluminação natural. (REVISTA FINESTRA,

2008). Locatários e usuários de cada andar não

têm nenhum controle sobre as persianas.

21

Tipo de persiana que melhora o conforto térmico e visual através do controle da radiação solar e da luz

capazes de atravessar a tela

Figura 49: Hall do Eldorado Business Tower

Fonte: PAIVA, 2008

Figura 50: Eldorado Business Tower

Fonte: PAIVA, 2008

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A posição das telas também pode ser controlada por software monitorado pela

administração, que pode verificar quais persianas estão abertas e quais estão

fechadas.

Figura 51: Tela do programa de computador que exibe se persianas estão fechadas ou abertas.

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011

O estacionamento é automatizado por um tipo de sistema sem parar que faz com

que a cancela se abra para usuários previamente autorizados. Apresenta também

um contador localizado em determinados pontos no chão que permite que o usuário

saiba quantas vagas estão livres em cada subsolo (REVISTA FINESTRA, 2008). O

estacionamento dispõe de noventa (90) vagas de garagem melhor localizadas, e

preferenciais para carros 100% a álcool ou 100% a GNV. No Brasil, grande parte

dos carros são flex; então, apesar de as vagas existirem, não é possível controlar

qual combustível o carro que acede ao estacionamento está realmente utilizando.

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94

O Eldorado Business Tower também possui bicicletário com vestiário, no térreo, e

coleta seletiva de lixo, possuindo depósito de material reciclado e de materiais

contaminantes, no 1º subsolo. Todos os andares são obrigados a realizar coleta

seletiva de lixo e aqueles que, por algum motivo não a fizerem, não terão seu lixo

recolhido. Seguindo normas do LEED, verifica-se que no Eldorado Business Tower é

também proibido fumar a uma distância menor de 8 metros de qualquer uma das

portas do edifício.

4.4 LEED 2.0 x LEED 3.0

O Eldorado Business Tower foi certificado com a chancela Platinum na versão 2.0

do LEED. A versão atualmente utilizada é a 3.0, aonde alguns itens de pontuação

sofreram alterações. Uma das mudanças mais significativas entre as versões 2.0 e

3.0 do LEED foi a pontuação máxima passível de ser atingida em cada versão e

número de pontos necessários para atingir cada nível da certificação. Na versão 2.0,

Figura 55: Entrada do depósito de material

reciclado

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo

pessoal, obtido em visita técnica realizada em

16.03.2011

Figura 54: Depósito de material reciclado

Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo

pessoal, obtido em visita técnica realizada em

16.03.2011

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é possível obter um máximo de 61 pontos, enquanto que, na versão 3.0, é possível

atingir 110 pontos. A pontuação mínima necessária para cada um dos níveis da

certificação, em cada uma das versões, está descrita na tabela abaixo:

Nível de certificação Pontuação necessária no

LEED 2.0

Pontuação necessária

no LEED 3.0

Certificado 23 a 27 pontos 40 a 49 pontos

Prata 28 a 33 pontos 50 a 59 pontos

Ouro 34 a 44 pontos 60 a 79 pontos

Platina 45 a 61 pontos 80 pontos ou mais

Tabela 5: Tabela comparativa sobre a pontuação necessária no LEED 2.0 e no LEED 3.0

A primeira categoria listada na certificação LEED é Espaço Sustentável22. Essa

categoria pressupõe que os edifícios afetem o ecossistema de maneiras diferentes,

e que seus projetos devam atentar para a presença de áreas verdes, e também

devam, conforme sua localização, não prejudicar, com seu impacto, eventuais terras

agricultadas, não afetar ou dispersar animais selvagens que vivam na região, não

aumentar qualquer tipo de erosão local ou regional, nem contribuir para aumentar o

percentual de áreas impermeáveis. O tipo de iluminação externa pode ainda poluir o

céu, interferindo na ecologia noturna (USGBC, 2006). Tanto a versão 2.0 quanto a

versão 3.0 da certificação relacionam os mesmos itens; o que se modificou é que na

versão 3.0, alguns itens ganharam peso diferenciado. Na versão 2.0, pode-se atingir

um máximo de 15 pontos nessa categoria, enquanto que, na versão 3.0, ela vale 28

pontos.

Os itens que ganharam peso e pontuação na versão mais nova da certificação foram

o Crédito 2, relativo a Desenvolver Densidade Urbana e Conexão com a

Comunidade (visa o desenvolvimento de áreas com infra estrutura existente), que

valia 1 ponto e passou a valer 5 pontos e os créditos relativos ao transporte

alternativo que são 4.1, 4.2, 4.3 e 4.4 (transporte público, bicicletário e vestiário para

22

Sustainable Sites

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ciclistas, veículos de baixa emissão e capacidade de estacionamento), que, juntos,

valiam 4 e passaram a valer 13 pontos, conforme mostra a figura abaixo:

Figura 56: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Espaço

Sustentável

Fonte: GBC Brasil, 2009

A localização do edifício também é de extrema importância para a certificação,

porque pode afetar o ecossistema influenciando na decisão dos usuários de por qual

meio de transporte chegar ao empreendimento. Os edifícios, devem de preferência

conter características que garantam alta performance, ou seja, o máximo de

eficiência energética e economia de recursos, e se localizar de maneira a valorizar a

vizinhança, a infra- estrutura urbana e os meios de transporte existentes (USGBC,

2006).

O pré-requisito dessa categoria é a prevenção da poluição ativa da construção. Para

atingir esse objetivo, a obra deve obedecer a um plano para controle de erosão e

sedimentação (USGBC, 2006). Por esse item consistir em um pré-requisito, não é

fonte de nenhuma pontuação para a certificação, mas a ausência da documentação

exigida referente a esses pré-requisitos acarreta em que o empreendimento não

possa sequer tentar a certificação.

A segunda categoria diz respeito ao Uso Racional da Água23, ou seja, analisa

basicamente o quanto de água está sendo poupado e o quanto está sendo

23

Water Efficiency

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reaproveitado. O máximo de pontos possível de se obter nesse item, na versão

LEED 2.0 é 5 pontos, enquanto que, no LEED 3.0, é possível obter 10 pontos. A

diferença é que, na versão mais recente, além de existir um pré-requisito que antes

não existia, também há um crédito a mais, propiciando uma maior pontuação quanto

maior a economia de água. Todos os créditos envolvidos também receberam pesos

diferenciados, como mostra a figura abaixo:

Figura 57: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Uso Racional da

Água

Fonte: GBC Brasil, 2009.

Na versão 3.0, é necessário comprovar um mínimo de 20% de redução no uso da

água para estar apto a obter a certificação e, a partir daí, quanto maior for a

redução, maior a pontuação. Enquanto que, na versão 2.0, uma redução de 20% é

suficiente para gerar um ponto.

A terceira categoria é Energia e Atmosfera, que analisa, basicamente, a eficiência

energética do edifício, alternativas para economia de energia e quantidade e

qualidade dos gases que o edifício é responsável por liberar na atmosfera. Nesse

item, a versão antiga poderia atingir 14 pontos, enquanto que a versão nova pode

dotar 37 pontos. Os pré-requisitos e os créditos são os mesmos e a mudança

consiste apenas no peso e importância que cada crédito recebeu, como pode ser

verificado na figura abaixo.

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Figura 58: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Energia e

Atmosfera

Fonte: GBC Brasil, 2009.

A quarta categoria é Materiais e Recursos e analisa os tipos de materiais utilizados,

a gestão de resíduos e o que é reaproveitado de uma antiga construção que

eventualmente exista desde antes, no terreno. Na versão 3.0 do LEED é possível

obter 13 pontos nesse item, enquanto que a versão antiga só permitia 11 pontos. Os

itens são os mesmos e a diferença está no fato de que o crédito 1, que analisa o

reuso de construções existentes ganhou dois sub-itens. Na versão antiga, ganhava-

se um ponto se 25% da construção antiga fossem reaproveitados, mais um ponto se

50% fossem reaproveitados e mais um ponto para 75%. Na versão 3.0, esse item

gera um ponto para 25%, mais um para 33%, 42%, 50% e 75%.

O crédito 3 também foi alterado. Relacionado à quantidade de materiais reutilizados,

esse item gerava um ponto quando 1% dos materiais fosse reutilizado. Na versão

3.0, o ponto é gerado quando 5% dos materiais são reutilizados. O cálculo é feito

dividindo o custo dos materiais reutilizados pelo custo total dos materiais da obra.

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Figura 59: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Materiais e

Recursos

Fonte: GBC Brasil, 2009

A quinta categoria é a Qualidade Ambiental Interna. Essa categoria analisa a

qualidade do ar dentro do edifício, assim como o conforto ambiental geral, já que o

conforto dos usuários é uma das condições diretamente ligadas à produtividade. A

versão 2.0 permitia atingir 11 pontos nessa categoria, enquanto que a versão 3.0

permite atingir 12 pontos. A diferença está no peso que os itens do crédito 4

receberam. Na versão anterior era possível obter 3 pontos nesses itens, e na versão

nova é possível atingir 4 pontos. Para obter pontos no crédito 4, é necessário

comprovar a utilização de materiais de baixa emissão de compostos voláteis. O

LEED exige o conhecimento da toxidade de cada produto e a comprovação de que

eles não excedam o limite de VOC24 indicado.

24

Volatile organic compounds / Compostos orgânicos voláteis

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Figura 60: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Qualidade

Ambiental Interna

Fonte: GBC Brasil, 2009

A última categoria trata da Inovação no Projeto e gera pontos se este admitir o LEED

AP25, um profissional capacitado que conhece tanto o processo quanto a plataforma

da certificação, e se utilizar tecnologias e inovações que poupem recursos. No LEED

2.0, era possível obter 5 pontos nesse item, enquanto que, no LEED 3.0, é possível

obter 6 pontos.

Figura 61: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Inovação e

Processo do Projeto

Fonte: GBC Brasil, 2009

4.4 Processo de Certificação do Eldorado Business Tower

O Eldorado Business Tower cumpriu à risca todos os pré-requisitos exigidos pela

certificação LEED 2.0 e, por esse motivo, acedeu à possibilidade de receber a

certificação. O próximo passo foi definir seu nível de certificação.

Na primeira categoria, Espaço Sustentável, o único item que não gerou pontos foi o

crédito 3, que diz respeito à remediação de áreas contaminadas. Esse item gera um

25

Accredited Professional

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101

ponto se o terreno escolhido para o empreendimento estiver contaminado e a

incorporadora se disponibilizar a fazer a descontaminação. No caso, como o terreno

não era contaminado, não foi necessária a descontaminação e esse ponto não foi

gerado.

Figura 62: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao

Eldorado Business Tower: Categoria Espaço Sustentável

Fonte: CTE; GAFISA, 2009

Na segunda categoria, Uso Racional de Água, o Eldorado Business Tower não

obteve pontuação no crédito 2, relacionado a tecnologias inovadoras para águas

servidas. Para obter esse ponto, o edifício deve conseguir uma redução de 50% no

uso de água potável mediante o reuso de água da chuva e uso de dispositivos que

economizem água nos banheiros, por exemplo. Uma segunda opção para obter

essa pontuação é tratar 50% da água utilizada no local do próprio empreendimento e

reutilizar essa água (USGBC, 2006). O edifício em estudo não comprovou nenhuma

das duas situações, não obtendo esse ponto.

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103

Figura 65: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao

Eldorado Business Tower: Categoria Materiais e Recursos

Fonte: CTE; GAFISA, 2009

Na categoria Qualidade Ambiental Interna, o Eldorado Business Tower perdeu 2

pontos. Um ponto por não atender ao crédito 5 e um ponto por não atender ao

crédito 6.

O crédito 5 diz respeito ao controle interno de poluentes e produtos químicos, ou

seja, tentar diminuir a exposição dos usuários de áreas que possam estar

submetidas a emissões. Um exemplo é de que as máquinas de xerox dos escritórios

devem sempre se localizar em área própria, pois seu funcionamento produze ozônio.

A exaustão de áreas para depósito e armazenamento de produtos de limpeza

também deve ser realizada de maneira isolada dos demais espaços.

O crédito 6 fala sobre controle de sistemas e determina que um mínimo de 50% dos

usuários do edifício possa ter acesso a formas de controle a fim de adaptar o

conforto ambiental às suas necessidades. Por exemplo, os usuários devem ter o

controle da iluminação, umidade e temperatura de seus respectivos espaços.

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104

Figura 66: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao

Eldorado Business Tower: Categoria Qualidade Ambiental Interna

Fonte: CTE; GAFISA, 2009

Na última categoria, Inovação e Processo de Projeto, o Eldorado Business Tower

recebeu a pontuação máxima: 5 pontos. O primeiro ponto foi concedido ao

empreendimento por ele ter reduzido o consumo de água em 40%. O segundo ponto

foi concedido pelo fato de 30% do custo de materiais se relacionarem a materiais

reciclados. O terceiro ponto foi creditado devido ao fato de 40% do material serem

produzidos e manufaturados na região. O quarto ponto foi devido ao fato de toda a

madeira utilizada ter a certificação FSC e o quinto ponto foi concedido devido à

contratação de um profissional LEED Accredited Professional para acompanhar o

processo.

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Figura 67: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao

Eldorado Business Tower: Categoria Inovação e Processo do Projeto

FONTE: CTE; GAFISA, 2009

4.5 Considerações sobre o capítulo 4

Após dez anos de desenvolvimento de diferentes projetos para o empreendimento, o

Eldorado Business Tower foi concebido de maneira que pudesse se tornar uma

referência de construção sustentável. A tecnologia e materiais utilizados na

construção garantiram que muitos itens exigidos pela certificação LEED fossem

atendidos.

Com localização privilegiada, próxima a um grande centro comercial, a situação do

edifício foi um quesito favorável à certificação. No que se refere ao terreno, não

estando localizado em área contaminada, a que se procedeu descontaminação,

esse fato contribuiu para que não se obtivesse pontuação maior. A certificação

LEED concede um ponto para quem esteja disposto a escolher um terreno

contaminado e fazer a descontaminação, incentivando o tratamento de áreas

contaminadas. Portanto, um primeiro passo já havia sido dado em busca da

certificação, relativo à escolha do terreno. A partir daí, a certificação foi perseguida

atendendo-se a determinadas especificações de projeto e fazendo boa utilização da

tecnologia existente. O que afirma a importância da tecnologia construtiva

incorporada e da materialidade escolhida para a certificação.

Como foi discutido, o edifício recebeu a certificação em versão LEED 2.0 e a versão

utilizada atualmente é a 3.0. A questão sobre se ele receberia o mesmo nível de

certificação com a nova versão permanece viva, visto que os critérios da pontuação

foram substancialmente alterados.

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106

Apesar de não ser possível fazer uma análise detalhada da certificação, pois

envolve documentações sigilosas enviadas ao USGBC, uma simulação de

transferência e comparação dos pontos obtidos pelo Eldorado Business Tower

conforme a planilha de certificação LEED 3.0 permite verificar o nível de certificação

que o edifício receberia conforme a nova versão, como ilustra a imagem seguinte

(Versão LEED 3.0):

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108

Figura 68 – Simulação de pontuação do Eldorado Business Tower no LEED 3.0

Conforme as figuras demonstram, se a pontuação do Eldorado Business Tower

fosse calculada com base na versão 3.0 do LEED, o edifício receberia a certificação

Ouro, ao invés da Platina.

O Eldorado Business Tower parece, a primeira vista, apenas mais um edifício de

escritórios como muitos outros que foram construídos em São Paulo, mas uma

análise detida revela a utilização intensiva de significativa estrutura tecnológica que

proporciona a economia de recursos energéticos e meios no edifício, o que

demonstra o foco da certificação sobre a preocupação com economia de água e de

energia. Na época em que foi certificado, recebeu o mais alto nível de certificação e,

muito provavelmente, isso não aconteceria na nova versão do LEED. Também é

impossível não questionar a certificação em função de alguns itens que fornecem

pontos. O bicicletário e o vestiário, por exemplo, praticamente nem são utilizados

pelos usuários do prédio hoje, e esse item gera um ponto na versão 2.0 e 2 pontos

na versão 3.0. Outro exemplo são as vagas diferenciadas para carros movidos a

álcool ou GNV. No Brasil não existe carro 100% álcool ou 100% GNV, então é

impossível comprovar se o automóvel que está ocupando a vaga realmente não está

abastecido com gasolina.

A grande questão envolvendo a certificação é até onde esse documento que valoriza

tanto um edifício também comprova a utilização de um projeto sustentável. Qual a

diferença entre o Eldorado Business Tower, do ponto de vista de uma arquitetura

sustentável, de qualquer outro edifício de escritórios de São Paulo? A princípio, a

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109

idéia inicial é a mesma: uma grande caixa de vidro completamente lacrada que isola

totalmente o interior do edifício da cidade. Não é possível ouvir ruídos provenientes

da rua, uma enorme vantagem para um edifício que fica na Marginal Pinheiros, a

temperatura interna é controlada e a iluminação também.

Não há dúvida de que os materiais foram cuidadosamente escolhidos, de maneira a

não agredir muito o meio ambiente, a iluminação foi trabalhada de maneira a reduzir

o consumo de energia e os banheiros todos tem um controle rigoroso que permite

verificar quanto de água é consumido em cada um deles, mas existem outros itens

que também podem ser trabalhados de maneira a contribuir com o meio ambiente.

Ken Yeang, por exemplo, direcionou toda a área de serviços e os blocos de

banheiros para o lado mais quente do Menara Mesiniaga, deixando estes com

ventilação natural. As escadas e elevadores também tiveram a mesma solução. No

Eldorado Business Tower, toda a área de serviços, os blocos de elevadores,

escadas e banheiros, são centralizados no edifício, obrigando que seja feita uma

climatização artificial nessas áreas também. Áreas que não precisariam, a princípio,

de tamanho isolamento da área externa.

Ken Yeang também faz um grande uso de vegetação nos seus projetos. Os edifícios

não precisam ter apenas uma área verde no térreo, caracterizada como

impermeável, para receber pontuação. A vegetação pode ser trabalhada na fachada,

como no Tokyo Nara Tower, ou em pequenos pátios deixados em cada pavimento,

como no Menara Mesiniaga. O Eldorado Business Tower tem uma grande praça no

térreo, uma grande área impermeável, porém essa raramente é utilizada, pois como

é possível perceber em visita ao edifício, todos os usuários que descem no horário

de almoço, ou mesmo no final do dia, vão direto em direção ao shopping.

Tendo uma visão do aspecto econômico e social que a sustentabilidade envolve,

também, um edifício com tamanha tecnologia inviabilizaria sua construção, devido

aos custos, dependendo da construtora. O fato é que o retorno econômico acontece

a longo prazo, mas e no momento da construção, quando não se dispõe de tanto

recurso para investimento e quando não for possível esperar o retorno a longo prazo

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que esse tipo de investimento traz? O resultado é que esse tipo de tecnologia acaba

sendo apenas para ser usada por construtoras grandes, capazes de absorver

tamanhos gastos.

O Eldorado Business Tower não deixa de ser um grande marco dentro de tudo que

conseguiu alcançar. Talvez hoje ele recebesse uma certificação de nível mais baixo

e talvez ele pudesse ter soluções arquitetônicas que aproveitassem mais o que o

meio ambiente tem a oferecer, mas para a época em que foi construído,

considerando o histórico de edifícios certificados até aquele momento, ele mostrou

um grande avanço e se tornou uma referência. O que precisa ficar claro, atualmente,

é que é possível usar uma referência como exemplo e aproveitar tudo de bom que

ela traz, mas as melhorias precisam continuar acontecendo para que, no futuro, a

excelência em construção sustentável possa ser atingida unindo um projeto

integrado ao meio ambiente com uma tecnologia de ponta que vai melhorar ao

máximo o desempenho desse futuro edifício.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não há duvidas de que todo e qualquer assunto relacionado à sustentabilidade é

prioridade no mundo atual. É um fato também que o ser humano vem afetando a

natureza de tal maneira e intensidade que esta não consegue se regenerar

suficientemente para que esses impactos não tenham efeitos a longo prazo.

As certificações verdes surgiram, nesse contexto, a fim de minimizar e enfrentar

impactos da construção civil, e como forma de avaliar e estabelecer um padrão para

a sustentabilidade de edifícios. Visam incentivar a sociedade a incluir o impacto

sobre o meio ambiente em suas pautas, considerando-se a construção civil uma

atividade geradora de efeitos significativos sobre este.

Esse trabalho analisou as certificações verdes no geral e focou naquela que tem

grande repercussão hoje no Brasil, e que é cada vez mais utilizada e reconhecida: a

certificação LEED.

No capítulo 1 foi relatado um breve histórico sobre como o assunto sustentabilidade

entrou em pauta no mundo, mostrando definições de sustentabilidade, e foram

explicados alguns dos principais conceitos sobre o assunto, como pegada ecológica,

Agenda 21, agenda verde e agenda marrom.

O capítulo 2 mostrou a definição de arquitetura sustentável, dando exemplos desta

no Brasil e no mundo, citando alguns arquitetos que utilizavam recursos de uma

arquitetura sustentável, como Norman Foster, Ken Yeang, Rino Levi e Marcos

Acayaba.

O capítulo 3 tratou sobre os sistemas de certificação Green Building mostrando,

primeiramente, um panorama geral, relatando duas certificações que serviram como

base para a análise crítica do LEED que são o BREEAM, primeira certificação a ser

utilizada e que serviu como base para muitas outras, e o AQUA, certificação também

utilizada no Brasil. Em seguida é feita uma análise do LEED, como ele é utilizado no

Brasil e no mundo, seu processo de certificação e suas categorias.

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No capítulo 4 foi feita uma análise do estudo de caso escolhido, o primeiro edifício a

receber uma certificação LEED CS platinum na América Latina: o Eldorado Business

Tower.

Resta, porém, incerteza de até onde o LEED cumpre o papel para o qual foi criado,

cabendo indagações: a certificação ajuda os edifícios a diminuir o impacto que

causam no meio ambiente? A resposta afirmativa foi sugerida pelas análises

realizadas na dissertação: sim, sem dúvida, o LEED é um instrumento cuja aplicação

incrementa o desempenho ambiental dos edifícios, antes, durante e depois de

finalizada a construção. Intervém diretamente nos processos de gestão condominial,

relativos ao gerenciamento da distribuição e controle de meios e recursos

energéticos, no gerenciamento de resíduos gerados tanto pela atividade da

construção quanto os proporcionados pelo uso intensivo da arquitetura, e controla as

condições de conforto ambiental.

Mas, a questão que instiga à pesquisa é se o instrumento também incentiva a

prática de uma arquitetura de melhor qualidade, considerando-se todos os aspectos

que definem essa atividade e que são mediadas pelo projeto arquitetônico. O

problema que conduziu e estimulou a pesquisa realizada é se as soluções

consagradas pela certificação e que geram pontuação (inclusive o Platinum,

experimentada no estudo de caso realizado) atendem o usuário, o incorporador, a

construtora e, ao mesmo tempo, a natureza? Em parte sim, mas foi possível

considerar, durante a realização deste trabalho, que muitas das soluções que

poderiam ser objeto de atenção e incorporadas desde o início de um projeto

arquitetônico conscientemente orientado aos temas ambientais são compensadas

com a utilização de tecnologia de ponta durante o processo de construção. A

iluminação natural do Eldorado Business Tower, por exemplo, foi controlada com

persianas automatizadas enquanto que a ventilação natural foi substituída por um

sistema de ar-condicionado mais eficiente no que diz respeito a gasto de energia.

O conceito de sustentabilidade implica em um significado de ampla extensão: um

edifício sustentável deve ser economicamente viável, socialmente desejável e

ecologicamente correto, e a aplicação do LEED é certamente um recorte e seleção

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de aspectos considerados certificáveis, acrescidos de uma escala de valor que

confere pontuação, cuja escolha e hierarquia no rol de atributos certificáveis é

variável, inclusive definindo, por meio dessa variação, a categoria da certificação.

A certificação se tornou um privilégio, tanto de investidores de maior possibilidade

financeira e de usuários de arquitetura que partilham espaços projetados nesses

empreendimentos, devido ao seu alto custo. Esse custo retorna para o proprietário

em economia de recursos e meios, dentro de alguns anos, e em benefícios ao meio

ambiente, mas os aspectos que relacionam a vivência cotidiana do espaço e as

edificações refletem propriedades definidas desde a concepção no projeto

arquitetônico. A arquitetura afeta usuários em seu dia-a-dia, nos eventos que

possibilita, e seus usuários são os beneficiários imediatos de sua proposta, e não

podem se dar ao luxo de esperar alguns anos para fruir desse investimento.

Considerando-se, ainda, que nem todos os empreendimentos podem buscar a

certificação e que edifícios certificados correspondem à minoria no país, o LEED

acaba por ter impacto nem tão expressivo em relação à totalidade do que é

construído hoje no Brasil. Diretrizes básicas de projeto, como ventilação cruzada e

iluminação natural ficam por vezes esquecidas e são compensadas com a utilização

de ar-condicionado e iluminação artificial com a justificativa de que estes não gastam

tanta energia como antes, ou não afetam o meio ambiente como antes, pois, no

caso do ar-condicionado, o gás refrigerante é ecologicamente correto e, no caso da

iluminação, são usados dispositivos como sensor de presença e lâmpadas LED que

diminuem muito o consumo de energia.

O LEED também sugere ainda a necessidade de discussão diante da abstração de

seus princípios e categorias. Por exemplo, atribuindo pontuação a um edifício por

comportar vagas exclusivas para carros a álcool ou GNV. Ter um carro flex nem

sempre implica que a pessoa o abasteça com álcool. Mesmo que a consciência

ecológica incomode a maioria das pessoas, o combustível escolhido pode ser

aquele mais barato, ou o que compensar mais frente à relação custo e benefício.

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Outro item a ser evidenciado no LEED é o fato de os edifícios, uma vez certificados,

nunca mais passarem por nenhum tipo de avaliação para garantir se tudo o que

rendeu a certificação realmente é utilizado da maneira prometida. Seria necessário,

por exemplo, avaliar periodicamente, se a coleta de lixo seletiva é realizada, se a

água continua sendo tratada conforme o projeto ou se, realmente, ninguém está

fumando próximo às portas de entrada.

O Eldorado Business Tower foi escolhido como estudo de caso por ser o primeiro

edifício da América Latina a receber o mais alto nível do LEED, o Platina, na

categoria LEED CS e, mesmo esse edifício, quando se comparam as planilhas de

pontuação LEED 2.0 e LEED 3.0, receberia hoje, mediante a versão atualizada, a

certificação na categoria Ouro, ou seja, seria rebaixado.

A certificação também inspira uma certa falta de confiança quando se leva em

consideração a dificuldade para obter qualquer dado relativo ao objeto de estudo.

Toda a documentação é tratada como sigilosa, tornando impossível uma real análise

de até onde esse edifício realmente é sustentável. Os dados deveriam ser

divulgados de maneira a dar valor e credibilidade ao selo. Assim, como, por

exemplo, o fabricante de determinada comida expõe todo o seu conteúdo calórico e

de vitaminas em um selo na sua embalagem para comprovar a veracidade de suas

informações, o selo verde deveria vir com todos os índices que teoricamente

garantiram sustentabilidade a determinado edifício explicitados. Afinal de contas, tais

índices deveriam ser objeto de orgulho, tornando-se visíveis. Por exemplo, poderia

ser utilizado um indicador comparando o consumo energético de um outro edifício de

mesma área construída com o edifício certificado, demonstrando que o consumo dos

prédios que não tem selo é maior, e o edifício em questão ganhou pontuação porque

seu consumo corresponde a um valor menor. Ao contrário disso, as informações são

lacradas a sete chaves, gerando ainda mais dúvidas sobre o processo.

O estudo de caso também permitiu demonstrar que alguns dos itens pelos quais o

edifício recebeu pontuação talvez não pudessem ser aplicados a determinados

casos. As vagas para carros movidos a álcool ou a GNV, já mencionadas

anteriormente, renderam pontos na certificação, sendo que não existe um automóvel

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100% movido a álcool ou 100% a GNV, no Brasil. O bicicletário e o vestiário

existentes no edifício também renderam pontos, mas são controversos devido à

localização em uma avenida intensamente movimentada e também em face de

consistir em edifício corporativo, com vários sub-solos destinados a garagens,

demonstrando que a grande parte de seus usuários e visitantes se desloca em

veículo motorizado particular. Localizado em plena Marginal Pinheiros, o acesso de

bicicleta já se inviabiliza, e esse fato foi comprovado em visita quando havia apenas

cinco bicicletas estacionadas no local. O LEED, por exemplo, não avaliou o impacto

que um edifício daquele porte, com expressivo número de subsolos e grande área

construída teria no meio ambiente. A certificação só avalia aspectos positivos dos

edifícios, ou seja, é sempre possível ganhar um ponto, mas nunca é possível perder

um por algum erro muito grave que cause impacto no meio ambiente.

A grande questão a ser indagada é o que mudaria no projeto arquitetônico se o

Eldorado Business Tower não fosse certificado nem considerado sustentável. Muito

provavelmente, a resposta para essa pergunta seria praticamente nada. Talvez os

materiais não fossem escolhidos com tanto cuidado, mas o edifício, muito

provavelmente, teria exatamente a mesma aparência.

Apesar de apresentar, definitivamente, vários pontos controversos, o LEED se

tornou um eficiente agente disseminador de práticas que estimulam a melhorar o

desempenho energético de um edifício, uma das maiores preocupações e setores

de atuação das certificações. De origem estrangeira, o instrumento tem grande

influência no mercado imobiliário brasileiro e a valorização que sua aplicação atrai

aos imóveis faz com que empreendedores e investidores sejam os grandes

divulgadores da certificação.

As certificações influenciaram muito no sentido de mostrar ao arquiteto, ao

construtor, ao incorporador e, inclusive, ao cliente final sobre a importância das

construções sustentáveis e o checklist utilizado por elas acaba servindo como guia

para todos os envolvidos no processo sobre qual caminho seguir, quais itens devem

ser considerados e priorizados e o que não deve ser objeto de atenção, e num

projeto arquitetônico, o que deve ser solucionado de outra maneira.

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O fato é que, se não existisse o LEED, ou qualquer outra certificação, por mais que

a sociedade e os profissionais de arquitetura sejam conscientes das necessidades

que relacionam a construção civil, a arquitetura e o meio ambiente, os edifícios

seriam construídos exatamente da mesma maneira que são hoje – com meios e

técnicas atuais -, mas sem incorporar as preocupações que o LEED incentiva. O

LEED é um sinal, um indício que pode funcionar como estímulo ao atendimento de

questões relacionadas ao ambiente. Embora centrado em eficiência energética, a

certificação é dotada e obedece a critérios e técnicas específicas, que certamente

atribuem maior qualidade ao produto, consistindo em um instrumento

contemporâneo de qualidade da mais alta importância.

No entanto, as preocupações específicas da arquitetura com a integração de seus

aspectos, desde a estética, passando pela técnica aos espaços projetados, estão na

base dessa qualidade total, e esta dissertação é uma peça que procurou evidenciar

esse fundamento.

O LEED sozinho não atesta a prática da boa arquitetura, mas a utilização da

certificação não deixa de trazer um bem à sociedade, visto que dissemina idéias e

conceitos de sustentabilidade, mesmo que essa abstração somente poderá ser

superada pela concretude da arquitetura que desde o Renascimento, procurou

mediar no projeto arquitetônico, as qualidades intrínsecas do espaço e de sua

materialidade.

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ANEXOS

ANEXO 1- Entrevista com Eduardo Martins em 18/11/2010

Eduardo Martins é professor da Universidade

Presbiteriana Mackenzie e um dos sócios do

escritório de arquitetura Pura Arquitetura.

Participou do projeto do edifício Eldorado

Business Tower dando, também, assessoria

durante a fase de obra.

Mariana:

O que eu gostaria de começar conversando com

você foi sobre como esse projeto se iniciou.

Quais diferenças de projeto existem em um

edifício com certificação? A informação que tenho

é que esse projeto vem desde 1981, quando o

Shopping Eldorado foi inaugurado.

Eduardo:

Não, na verdade esse projeto se iniciou em 2001.

Mariana:

Mas tinha outras construtoras antes, certo?

Eduardo:

Tinha, mas o projeto com esse formato vem desde 1999, 2000, por aí.

Mariana:

Foi quando ele começou a tomar a cara que tem hoje?

Eduardo:

Figura 69: Eduardo Martins FONTE: Pura Arquitetura. Disponível em: http://www.purarquitetura.com.br/socios.php. Acesso em 20/11/2010.

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Exato. Existiram vários projetos, mas desde 1991 que o Aflalo & Gasperini está em

contato com o Shopping Eldorado para tentar viabilizar um negócio ali. Foram feitos

projetos com a Racional, se não me engano, e outras construtoras, mas a Gafisa foi

a única que conseguiu fazer a intermediação comercial com o Eldorado. Ali tinha

muitos problemas familiares, então era muito difícil e a Gafisa conseguiu fazer dar

certo.

Quando a Gafisa iniciou o trabalho, ela já iniciou com o pensamento de que seria

construída uma torre referencial na cidade. Ela é uma torre de 60 mil metros

quadrados computáveis, 120 mil metros quadrados de área construída e já nasceu

com lajes nesse formato, uma laje de 2 mil metros quadrados por andar, então tem

a performance de edifícios norte americanos. Nem os europeus tem tanto assim:

140 mil metros de altura. Então já se sabia que era um prédio para o novo Brasil.

Eles estavam já apostando nesse Brasil que agora a gente está vendo mais real e,

para isso, eles tinham como princípio construir um prédio que dali a vinte anos ainda

fosse atual. Essa era a meta.

A Gafisa tem bons engenheiros. O Luiz Fernando, o diretor do projeto, começou já

fazendo uma seleção de engenheiros de altíssimo nível buscando o caminho de

engenharia de ponta. A engenharia de ponta no final do século passado já era uma

busca de economia de eletricidade. Toda a engenharia já estava voltada para essa

economia.

Mundialmente, todo mundo está fazendo esforços para serem mais econômicos em

termos de consumo de eletricidade. Aqui no Brasil que ainda não existe essa

cultura. Ainda ontem, eu estava ouvindo o José Goldemberg, que foi presidente da

Fesp, criticando a necessidade da usina de Belo Monte. Ele fala que o Brasil é o

único país que cresce em energia elétrica a mesma coisa que ele cresce em

economia, em todos os outros essa curva não acompanha porque, ao mesmo tempo

em que eles crescem na produção, eles exigem que tudo o que se vá produzir

consuma menos energia, então não crescem na mesma proporção.

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A Gafisa já entrou nesse projeto com esse pensamento mundial, essa preocupação

com o desperdício de energia. Por outro lado, a taxa de aluguel desses prédios é

muito alta e quanto mais caro é o aluguel, mais rentável é para quem está

investindo. Portanto, a conta de quem vai ocupar o lugar é feita com o aluguel mais

o condomínio e o condomínio nesses prédios é muito alto. Então o objetivo era fazer

um projeto em que a economia de energia não fosse, necessariamente, no

investimento e sim no uso. Para isso, eles fizeram todas as contas de consumo de

energia possível na época, em 2001, onde estudaram muito a possibilidade da co-

geração que acabou sendo efetivada. No início era a co-geração com óleo e depois

acabou sendo possível ser feito com gás.

A co-geração não foi pensada por causa do LEED que na época nem existia.

Mariana:

Não se pensava em certificação na época?

Eduardo:

Sim, pensava-se em certificação, mas não no LEED. Pensava-se na idéia de ter um

baixo consumo energético e, portanto, uma conta de luz menor e, com isso, o

aluguel todo menor. A eficiência do condomínio passava por ar-condicionado,

consumo de água, consumo de eletricidade, percursos de tubulação e sistemas.

Houve um projeto que nós detalhamos, mas como foi o mesmo engenheiro que

acompanhou projeto e obra, ele teve a capacidade de, durante a construção,

continuar o projeto. Foram surgindo novas teorias, novas técnicas, novos aparelhos

e ele foi pesquisando mundialmente e conseguindo manter tudo o mais atualizado

possível, modificando o projeto durante o processo.

Em determinado momento, 2002 se não me engano, ou 2003, o selo LEED estava

surgindo no mercado e não tinha nem tomado, ainda, a dimensão que tem hoje, e

ele (engenheiro responsável pela obra) foi ao Mackenzie para contatar o

departamento de tecnologia e sustentabilidade do Mackenzie para o próprio

Mackenzie dar uma assessoria para ele e depois emitir um selo do Mackenzie para

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a certificação. Então eles não estavam ainda preocupados com a certificação

internacional porque ela ainda não tinha esse valor comercial, mas eles já estavam

fazendo certo e estavam preocupados que alguém de fora reconhecesse para não

dizer que eles não tinham como contar vantagem de si mesmos. Então eles estariam

contratando e sustentando a formação interna do Mackenzie para um selo

Mackenzie. Eles fizeram o contrato, aliás, eu fiz várias participações com os meus

colegas, inclusive com o Professor Ladislao, que infelizmente morreu, e que era o

líder desse trabalho. Ele começou a formular tudo, mas conforme eles foram

formulando, a obra começou a andar numa velocidade que a universidade não tem.

A universidade não conseguiu se organizar em uma velocidade que garantisse a

existência do selo. Dentro de pouco tempo, o selo começou a vir para o Brasil e

algumas empresas americanas, como a Tishman, por exemplo, resolveram aplicar o

selo.

A eficiência do prédio sempre foi pensada em projeto e ele sempre foi feito de

maneira que atendesse os requisitos do LEED mesmo quando não se buscava a

certificação. O prédio tem características e todas as concepções dele foram sempre

pensadas com o mesmo objetivo do LEED só que eles nunca tinham pensado nisso

de obter o LEED. O LEED passou a ser um selo que eles estavam buscando ter

super útil comercialmente, mas eles seriam platinum de qualquer maneira mesmo

sem o selo. Foram feitas pouquíssimas adaptações.

O Rochaverá, por exemplo, teve mais adaptações. As fachadas dele, por exemplo,

são escuras e não dava para mudar isso porque marketing já estava muito evoluído.

Os projetos já tinham algumas características que eram mais daquela época em que

foram concebidos, pois eles foram concebidos com uma diferença de um ano

aproximadamente. O Rochaverá é de um pouco antes. Daí, quando surgiu o

Eldorado, nós fomos buscar soluções de extrema performance, tanto nos vidros,

quanto na fachada, quanto nas instalações.

Na verdade, vendo desse ponto de vista, a certificação é puramente comercial, pois

os requisitos seriam atendidos de qualquer maneira e a certificação serviu apenas

para mostrar a todos o que realmente foi feito. Tanto que nos dois edifícios, no

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Rochaverá e no Eldorado, as unidades foram comercializadas muito rápido e muitas

das empresas que se instalaram lá também buscaram a certificação de interiores.

Após participar desses projetos, eu cheguei à conclusão de que o selo LEED não é

um selo de arquitetura, nem de engenharia. Se você estiver fazendo uma boa

arquitetura, se você estiver fazendo um projeto de última geração, você tem

compromisso com isso e não é pelo o que o selo está te exigindo. O que o selo vai

mostrar é o seguinte: qual é o nível que esse cara que está me vendendo o prédio

tem? E o selo diz: dentro dos meus critérios, ele tem isso.

Pode ser inclusive outro selo, como o AQUA. Eu só tive experiência com o LEED até

hoje, então conheço menos o AQUA. Hoje eu estou fazendo trabalhos para o Senac

e dentro do Senac tem cursos de sustentabilidade e eles não querem certificar os

prédios que temos feitos, com nenhum selo. Eles tem essa relação de para que que

interessa para eles ter o selo LEED, sendo que existem outros selos e eles ensinam

sustentabilidade. Os selos que deveriam pagar para o Senac e não o contrário, pois

o Senac é uma instituição que não visa o comercial.

Então eu vejo que essa questão do selo é bastante relativa. Se você pensar que o

CDHU vai fazer uma construção, você acha que ele vai gastar com selo? Se ele

gastar, eu mesmo chamo o cara para falar que ele é doido, pois não precisa.

Mariana:

Mesmo porque isso gera um custo alto na construção, certo?

Eduardo:

Não, não gera um custo alto. Isso não é verdade, não é assim. Você pensa em um

prédio que você está fazendo com uma engenharia de ponta, piso elevado, ar-

condicionado central e tudo isso que nós estamos fazendo nesses prédios que são

verdadeiros fórmulas um da construção civil, você tem tal grau de tecnologia, que

você vai agregar aí 5, no máximo 10% no custo. O que tem é muito mais dificuldade,

muito mais trabalho, pois você não pode por a pedra de tal lugar porque ela

consome mais energia e gasolina no percurso do que a pedra a menos de 800km,

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ou o cheiro não pode ofender a pessoa, mas em termo de custo, para uma

construção sustentável de habitação popular, não é nenhum absurdo. O problema é

que eles compram o terreno mais barato possível no pior lugar e tudo o que for feito

para tornar a torre sustentável não foi feito na atitude de incorporação. Essa relação

é que precisa ser superada e isso é o que o LEED tem capacidade de fazer com os

grandes empreendedores, ou seja, ele diz para não comprar terreno em qualquer

lugar porque depois vai gerar mais problema.

O LEED, para mim, funciona muito como as pessoas. Um europeu, de pele bem

clara, quando vem para o Brasil, é considerado lindo pelo povo, pois é diferente,

mas ele vai sofrer com o tempo, pois o tipo de pele dele não é feito para ficar no

calor. O mesmo acontece com alguém da raça negra quando vai para a Europa, por

exemplo.

Mariana:

E o que você acha da questão da pontuação do LEED? Você cumpre alguns itens e

ganha pontos, mesmo tendo deixado outros itens de fora. O máximo que acontece é

a certificação ser gold ao invés de platinum, por exemplo.

Eduardo:

O LEED estabelece os pré-requisitos, que são itens que não podem deixar de serem

feitos em hipótese alguma. Cumprindo o pré-requisito, realmente tem algum ou outro

item que pode ficar de fora, mas se não tiver todos os pré-requisitos, nem certified o

prédio será.

Mariana:

Apenas para finalizar, eu já ouvi dizerem que o bom arquiteto projeta sempre um

edifício eficiente e que a única diferença para obter o LEED é que o arquiteto precisa

acrescentar alguns pequenos itens a mais para conseguir uma pontuação. Você

concorda?

Eduardo:

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Sim. O LEED cria diretrizes que você deve seguir. O bom arquiteto já as segue,

buscando ou não a certificação e se o objetivo, mas tarde, for a certificação, basta

acrescentar pequenas coisas. No caso do Eldorado, por exemplo, nós

acrescentamos o bicicletário e o vestiário.

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ANEXO 2- Manual do Locatário do Eldorado Business Tower

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