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Universidade Fernando Pessoa
Anna Cristina Pires de Mello
Narrativas e significados de valores familiares e espiritualidade em um grupo de idosos
asilados de Braslia.
Tese de Doutoramento em Cincias Sociais, Psicologia
Trabalho efectuado sob a orientao da Professora Doutora Carla Alexandra Martins da
Fonte
Dedicatria
Para Alusio Antonio Maluf e o
solo Sagrado da CLIAMA quatro
mos: louvor e parceria!
Para meus filhos Matheus Gabriel e Filipe, a satisfao de v-los seguir os valores
familiares, valores da educao e valores da espiritualidade, como guia e conduta tica na
vivncia cotidiana!
i
Agradecimentos
Para as figuras de referncia matriarcal Yeda Nicia Machado Pereira e Hilcea
dAlmeida Maluf, pela conduta e guia dos princpios norteadores da famlia!
Ao Prof. Dr. Salvato Trigo reconhecimento e gratido diante da conduta realizada
em parmetros de Justia, Acolhimento e Humanizao.
Prof Dr Ins Gomes por seu gesto inestimvel de boa vontade e de
colaborao.
Ao Prof. Dr. Jos Igncio Guinaldo. Martin o respeito e agradecimento pela
colaborao fundamental e qualitativa em minha banca de doutoramento, bem como, de
suas sugestes na reviso de minha tese.
Prof Dr Maria Jos Pereira Ferreira o agradecimento por sua participao
gentil e pontual em minha banca de doutoramento.
Prof Dr Cristina Adelaide Pimento Marcelino a experincia significativa da
mutualidade e respeito.
Ao Dr. Rui Padro e Dra. Sandra Cristina de Oliveira a satisfao de sentir a
generosidade no trato humano e gentileza no convvio.
prof dr Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha a admirao e respeito pelo
manejo gentil e pontual em suas orientaes.
Ao Prof. Dr.Vicente de Paulo Alves o agradecimento por participar de minhas
conquistas Acadmicas e me orientar com clareza e discernimento.
Prof Dr Carla Fonte, o final de um processo cujo significado o valor da
autonomia e da liberdade!
Ao corpo docente e funcionrios da Universidade Fernando Pessoa!
In memorian para
Jos Geraldo Pires de Mello e Magid Maluf
ii
1
Resumo
Narrativas e significados de valores familiares e espiritualidade em um grupo de
idosos asilados de Braslia.
Na tese apresentada consta uma abordagem sobre o asilamento de idosos
contextualizada desde a segunda metade do sculo XX pautado scio cronologicamente
nos ltimos setenta anos, perodo no qual transcorre a alterao funcional da famlia,
tendo como base, a adaptao dos diferentes papis e funes que a mulher
contempornea tem como atributo. A questo terica fundamenta-se sobre narrativas e
significados de valores familiares e espiritualidade, como conectividade, em um grupo de
utentes na cidade de Braslia. A construo emprica est ancorada na anlise de contedo
utilizada nesta investigao de base qualitativa em uma amostra de 20 sujeitos de ambos
os gneros situados na faixa etria entre 62 e 85 anos que trouxeram em suas narrativas
que os valores: justia, trabalho e respeito fizeram parte no ambiente domstico e da
religio catlica, que mesmo quando no praticada diretamente no ambiente familiar, foi
vivenciada culturalmente durante a formao escolar, sendo campo de conexo para que
o ser humano se torne melhor. Os resultados evidenciaram que esses idosos significam
o respeito e honestidade como como pilares de valor e que a disfuncionalizao destes
pilares traz a desorganizao no convvio familiar. Concluiu-se que a moradia em formato
asilar ocorreu principalmente por problemas de sade e inexistncia de um parceiro ou
cuidador na famlia, sendo este o contexto das narrativas deste grupo especfico de idosos,
sobre o significado atribudo aos valores e espiritualidade.
2
Rsum
Narratives et les significations des valeurs de la famille et de la spiritualit dans
un groupe de personnes ges institutionnalises Brasilia .
La thse prsente contient un expos de l'institutionnalisation de personnes ges
contextualis depuis la seconde moiti du XXe sicle guide par ordre chronologique
dans les soixante-dix dernires annes, au cours des lieu l'altration fonctionnelle de la
famille, celle-ci fonde sur l'adaptation de diffrents rles et de fonctions attribus la
femme contemporaine. La question thorique est base sur les rcits et les significations
de la famille et des valeurs spirituelles, comme la connectivit, dans un groupe de
personnes analyses. Cette construction empirique est ancr sur l'analyse de contenu
utilise dans cette recherche qualitative base sur un chantillon de 20 sujets des deux
sexes, gs de 62 ancre 85 ans qui ont apport, dans leurs rcits,des valeurs: justice,
travail, respect tels qui faisaient partie de leur vie cottidienne a maison et la religion
catholique, que mme lorsqu'ils ne sont pas directement pratiqus dans l'environnement
familial, culturel a t vcu durant la scolarit, et connectez champ pour "que l'homme
devient meilleur." Les rsultats ont montr que le respect moyen des personnes ges et
l'honntet comme une valeur en tant que piliers et le manque daction fonctionnelle de
ces piliers apporte des perturbations dans la vie familiale. On peut conclure que le
logement pour le format d'asile a eu lieu sourtout en raison de problmes de sant et du
manque d'un partenaire ou un fournisseur de soins dans la famille, qui est le contexte des
rcits de ce groupe spcifique de personnes ges sur le sens attribu aux valeurs et
spiritualit.
3
Abstract
Narratives and meanings of family values and spirituality in a group of
institutionalized elderly of Brasilia.
The thesis presented contains a discussion about the elderly institutionalization
contextualized since the second half of the twentieth century, social and chronologically
guided in the last seventy years, period in which takes place the family functional
alteration, based on the adaptation of the different roles and functions atributed to the
contemporary woman. The theoretical question is based on narratives and meanings of
family and spiritual values, such as connectivity, in a group of institutionalized elderly in
Braslia city. The empirical construction is anchored on the content analysis used in this
qualitative based research, on a sample of 20 subjects of both genders, aged between 62
and 85 years, who brought in their speech that values such as fairness, honesty, hard work
and respect took part in the home enviroment and in the Catholic religion, whitch even
when not directly practiced in the family environment, culturally was experienced during
schooling as a connection field for turning the human kind better. The results showed
that the elderly mean respect and honesty as value pillars and that these pillars
misfunctionnig bring disruption in family daily life. The conclusion is that asylum
housing format mainly occurred because of health problems and lack of a partner or
caregiver in the family, this been the narratives context of this specific seniors group
attributed to the values and spirituality meaning.
4
Indice
Dedicatria........................................................................................................................i
Agradecimentos............................................................................................................. ..ii
Resumo............................................................................................................................01
Resum............................................................................................................................02
Abstract............................................................................................................................03
Indice...............................................................................................................................04
Introduo Geral..............................................................................................................08
Parte I
Enquadramento Terico..................................................................................................15
Captulo I
1.1 A Transio Demogrfica no Brasil contemporneo..................................................16
1.1.1 Braslia e o fenmeno migratrio de 1960-2010.....21
1.2 A famlia no Brasil Contemporneo...25
1. 2.1 A Educao como valor.....34
1.3 A alterao do comportamento feminino nos ltimos setenta anos...........................38
Captulo II
2.1 A Gerontologia e sua expressividade..........................................................................45
2.1.1 Aspectos do convvio intergeracional: mecanismos protetivos de adoecimento.54
2.2 Asilos no Brasil Contemporneo................................................................................57
2.2.1 Valores da Espiritualidade...64
2.2.2 Lar Ceclia Ferraz de Andrade.67
2.3 Indicativos do abrigamento de idosos: uma realidade mundial.................................70
2.3.1 Asilamento, Gerontologia e Patriarcado..................................................................78
5
Parte II
Estudo Emprico
Captulo III
3.1 Fundamentao do Mtodo........................................................................................83
3.1.1Principais caractersticas metodolgicas na abordagem ao asilamento de
idosos...............................................................................................................................88
3.2 Estudo Piloto..............................................................................................................94
Captulo IV
Estudo Quantitativo
4.1. Objectivo...................................................................................................................97
4.2 Metodologia...............................................................................................................98
4.2.1 Instrumentos............................................................................................................98
4.2.2 Procedimentos e amostra.......................................................................................100
i Entrada no Campo........................................................................................................101
ii Descrio da Populao........................................................................................101
Tabela 1 gnero e idade............................................................................................102
Tabela 2 gnero, escolaridade e religio...................................................................102
Tabela 3 gnero e valores familiares........................................................................103
4.3 Estatstica Descritiva................................................................................................104
i.Caracterizao scio demogrfica..........................................................................104
ii. Variveis Famlia, Educao e Espiritualidade....................................................105
Grfico 1 Masculino. Ocorrncia das palavras chave..............................................105
Grfico 2 Feminino. Ocorrncia das palavras chave..............................................105
4.4 Anlise dos dados.................................................................................................... 106
4.5 Resultados................................................................................................................107
6
Captulo V
Estudo Qualitativo
5.1 Introduo................................................................................................................109
5.2 Metodologia............................................................................................................110
5.2.1. Questes de Partida..............................................................................................110
5.2.2. Processo de Amostragem.....................................................................................111
5.3. Recolha dos dados
I A entrevista semi directiva...................................................................112
5.4 Objectivo geral.........................................................................................................113
5.4.1 Objectivos especficos...........................................................................................113
5.5 Tabelas descritivas..................................................................................................115
5.5.1 Amostra do Gnero Masculino.............................................................................116
5.5.2 Amostra do Gnero Feminino...............................................................................116
5.6 Organizao do trabalho investigativo.....................................................................117
5.7 Categoria Famlia.....................................................................................................118
5.7.1 Sub categoria Solido............................................................................................121
5.7.2 Sub categoria Tristeza...........................................................................................124
5.8 Categoria Educao..................................................................................................126
5.8.1 Sub categoria Patriarcado......................................................................................128
5.8.2 Sub categoria Autonomia......................................................................................129
5.9 Categoria Espiritualidade.........................................................................................131
Anlise Relacional Sistmica......................................................................................135
Captulo VI
6.1 Limitaes do Estudo..............................................................................................138
6.2 Polticas Pblicas e sugestes.................................................................................140
6.3 Concluso...............................................................................................................143
Bibliografia....................................................................................................................151
7
Anexo I..........................................................................................................................174
Parecer do Comit de tica da Universidade Fernando Pessoa.....................................175
Declarao Prof Dr Carla Fonte..................................................................................176
Modelo do Guio Scio Demogrfico............................................................................177
Declarao do Lar Ceclia Ferraz de Andrade................................................................178
Modelo da Declarao de Consentimento Informado....................................................179
Anexo II.........................................................................................................................180
Guio: amostra masculina.............................................................................................180
Sujeitos do sexo masculino........................................................................................181
Guio: amostra feminina................................................................................................204
Sujeitos do sexo feminino..............................................................................................205
Anexo III........................................................................................................................225
Homenagem a Fernando Pessoa
A cincia, a cincia, a cincia.........................................................................................226
8
Introduo geral
Aps o transcurso da primeira dcada e meia do sculo XXI, possvel um novo
mapeamento da organizao da realidade que norteia a sociedade brasileira citadina,
ainda sob a influncia sociopoltica, marcada pelo ps-Segunda Guerra Mundial,
(Ianni,2008, p. 22), recorte cronolgico dos ltimos setenta anos, no qual, se organiza
esta tese, relacionada aos valores familiares e valores da espiritualidade, em um grupo de
utentes na cidade de Braslia.
A sociedade ocidental e seu funcionamento, se alteraram como um facto,
consequente s duas guerras mundiais, durante o sculo XX (Shinn, 2008, p. 56),
produzindo necessidade adaptativa, bem como, novos enfoques e compreenso sobre a
Psicologia como Cincia Social, em cujo campo de atuao se desenvolvem os sistemas
e a dinmica das relaes em instncias diversas (Rose, 2008, p. 158).
Sob o enfoque da Teoria Sistmica, seguimos neste trabalho, a abordagem
Estructural de Minuchin, (1999, 2000, 2009). O conceito de Sistema utilizado para se
referir aos ambientes e tipos de convvio nos quais encontramo-nos inseridos, pois,
qualquer sistema organizado e caracterizado por padres repetitivos [] mantidos por
ciclos de estabilidade e mudana (Minuchin, Colapinto e Minuchin, 1999, p. 20-21).
A escolha por Minuchin, se deve ao facto, de que, a abordagem Estructural,
aplicvel em contexto clnico, institucional, em modelo individual ou grupos sociais
diversificados; o modelo estructural de Salvador Minuchin a abordagem mais influente
terapia familiar em todo o mundo (Nichols e Schwartz, 2007, p. 182), adicionado ao
facto, de que, o manejo realizado utilizando os tpicos estructura, subsistemas e
fronteiras (Nichols e Schwartz, 2007, p. 183), podem ser vinculados e reconhecidos no
mbito da hierarquia, limites e regras utilizadas na famlia patriarcal, ambiente usual de
convvio e de formao dos idosos contemporneos.
Isto engloba tanto os contextos basais: famlia, educao e espiritualidade, quanto
os aspectos subjectivos, dos quais, o comportamento humano se reveste e forma um
conjunto relacional, nos ambientes pblico e privado, como indicativo de sua
organizao, uma vez que, as relaes intepessoais so mantidas por conexes, formando,
9
assim, a conduta de um indivduo ou de um grupo seguindo a hierarquia que suporta a
base estructural (Minuchin, Colapinto e Minuchin, 1999, p. 20), conforme se constata na
hegemonia do Patriarcado, vigente at o ps guerra mundiais (Cuvi, 2011, p. 162).
Contudo, em menos de um sculo, observa-se que existe uma inverso de lugares,
papis e funes, antes previamente definida entre gneros, ambientes pblico e privado.
Este quadro corrobora para que se alastre a descontinuidade de apoio no convvio
domstico, explicitando que este contedo venha para o campo social, carreando
comportamentos disfuncionais e a procura por asilamento de idosos.
No mais a hegemonia do modelo patriarcal, o qual explicita a conduta marcada
por gnero e por espao social pblico, indicativo aos homens e privado ou domstico
destinado s mulheres, as quais detinham o controlo sobre a formao de valores da prole,
alm do zelo, relacionado ao lar, funcionalizando o planeamento das funes exercidas
pelos serviais e o cuidado desde os idosos s crianas, que viviam sob o mesmo teto, no
raro de formao trigeracional.
A organizao de papis e funes extramuros domsticos, desempenhados pela
populao feminina, sinaliza as alteraes produzidas nos ltimos setenta anos,
indicando que, ao tornarem-se produtivas o fizeram, inicialmente, no setor de consumo
coletivo nos servios pblicos e no comrcio, e em profisses reconhecidas como
femininas (professoras, enfermeiras, assistentes sociais) paralelamente a uma maior
escolaridade, (Motta, 2013, p. 89).
O recorte cronolgico dos ltimos setenta anos, foi aqui descrito, sob a lente das
alteraes que o contingente feminino alou em sua busca de autonomia, facto que
mantm as mulheres produtivas atadas ao ganho financeiro, relacionando-o, portanto, ao
mercado de trabalho extramuros domsticos, e isto nos possibilita, alargar a compreenso
sobre algumas circunstncias e motivaes, que conduzem ao asilamento de idosos.
As consequncias e desajustes socioafectivos, causados pela inverso de funes
e desconstruo de papis, antes definidos por critrios ancorados na cultura patriarcal,
vigente como valores de hierarquia, ordem, regras, e exercidos de forma distinta por
gnero, lugar e pertena, foram os tpicos abordados. A desconstruo do respeito uma
10
das principais consequncias desastrosas que afetam a populao, aprisionando-a em
questes ainda insolveis.
O fio condutor que tece padres descontnuos, pode ser decorrente da
minimizao funcional de adultos, que ocupem o lugar de pais, permitindo, assim, que o
ncleo da falta indique a necessidade do limite, do aprendizado sobre a construo diria
das conquistas, a partir do aprendizado pessoal!
O sujeito contemporneo no aprendeu a construir valores, que lhe suportem
frustrar-se, simplesmente quer e assim sendo, corrompe regras funcionais do bem
comum, da solidariedade, ou seja, o senso gregrio como princpio e oxignio de todas
as relaes familiares e afectivas, porque esses vnculos s podem se sustentar e se
desenvolver em ambiente recproco de compreenso e de cooperao, ajudando-se
mutuamente, sempre que se fizer necessrio (Madaleno, 2009, p. 63).
A individualidade acima do bem comum, transforma o comportamento em uma
arcabouo amorfo, sem consonncia com as regras e limites requeridos socialmente,
campo no qual reside o constructo contemporneo: a descontinuidade, uma vez que, a
relao unvoca possibilita os conflitos e inverses, possibilitando que o sujeito atue de
forma desagregadora.
Direcionamos-nos em particular, ao paradigma dos valores de famlia e valores
da espiritualidade, contidos na narrativa dos idosos relacionados famlia, educao e
espiritualidade; ancorados na cultura patriarcal e sob o efeito da alterao do
comportamento feminino desde o ps guerra.
A espiritualidade neste trabalho, encontra-se contextualizada sob a ao da
conectividade, (Hill e Pargament, 2003, p. 64), ou seja, a busca de autonomia e
desenvolvimento genuno, legitimando, desta forma, as experincias da conscincia,
considerando-se que um indivduo espiritualizado quando busca, conhece ou experencia
algo que considere como sagrado (Hill e Pargament, 2000; Pargament e Mahoney, 2002).
A escolha pelo tema do estudo indicada por dois constructos bsicos,
contextualizados ao longo do trabalho. O primeiro traz a nossa experincia anterior de
11
investigao conclusiva do mestrado em gerontologia sobre utentes, em trabalho de
campo, em asilos, guiado pelo Princpio Antropolgico do Imaginrio de Gilbert Durand.
O segundo nossa preocupao social, senso humanitrio e atuao voltada para
Polticas Pblicas como propulsor de aes competentes que gerem benefcios
populao idosa, conforme a abordagem multicntrica, cujo foco a origem do
problema a ser enfrentado (Lima, 2012, p. 51) e considera que mecanismos no estatais
atuem, colaborem e sejam protagonistas quando o problema que se tem a enfrentar
pblico (Secchi, 2012, p 3).
Nosso interesse foi mantido, ao longo da formao continuada em Psicologia
Social, em mbitos diversificados direcionados mediao em catstrofes e desastres
naturais, hospitais, instituies e prtica de clnica, como foco especfico, o qual,
desemboca na atuao Acadmica, praticada no exerccio cotidiano, voltado ao trabalho
em comunidades diversas, interveno e investigao, ao longo da ltima dcada.
Utilizamos nesta investigao, Lasswell e sua linha terica, a qual resulta no
modelo proposto em 1948, centrada em dois pilares: a anlise dos contedos e a anlise
dos efeitos ou consequncias da comunicao contida nas mensagens,(Lasswell, 1958),
Lasswell introduz a expresso policy analysis (anlise de poltica pblica),
ainda nos anos 30, como forma de conciliar conhecimento cientfico/
acadmico com a produo emprica dos governos e tambm como forma de
estabelecer o dilogo entre cientistas sociais, grupos de interesse e governo
(Souza, 2006, p. 24).
O cientista poltico acima citado, identificou um modelo de comunicao, ou seja:
uma descrio grfica de uma parte da realidade, a qual contm os elementos principais
de uma base ou de um processo e suas relaes (Freixo, 2006, p. 337); contexto no qual
os constructos familia, educao e espiritualidade, contidos nesta investigao,
encontram pontos de encaixe e produo de sentido, bem como, o indicativo para
Politicas Pblicas.
Este trabalho tem em seu cerne a questo demogrfica (Camarano e Kanso, 2010,
p. 234) e a questo migratria, pois, ambas alocam o fenmeno das Sociedades em
Transio no qual se situa o Brasil contemporneo (Brito, Carvalho, Turra e Queirz,
2009, p. 63). Esta preocupao inserida ao facto de que a maioria da populao idosa
12
brasileira, ainda encontra-se precariamente assitida (Veras, 2009, p. 549), possibilita
reflexes e estudos favorecedores de novos entendimentos sobre Polticas Pblicas (Silva
e Silva, 2012, p. 229).
As concluses que foram realizadas sobre a condio do abrigamento de idosos,
na famlia contempornea, direcionaram o nosso interesse sobre os valores que a
sustentam. Dessa forma contextualizamos que as alteraes ocorridas durante os ltimos
setenta anos, consequentes ao ps Segunda Guerra Mundial, elucidam questes relevantes
que possibilitam melhor compreenso sobre a vertente que desemboca no asilamento de
idosos.
Atuar em parmetro de amostragem nos asilos, aclarou a condio, de que, existe
uma nova configurao de moradia, que se delineia, portanto, como necessidade e no
por escolha. Tal condio encontra-se amparada no facto, de que, em geral, o ncleo
familiar passa por adaptaes diante de sua reconstruo e reconfigurao; alm de, nem
sempre dispor de tempo e de recursos financeiros suficientes para o cuidado que o idoso
(a) demanda. Actualmente 12,5% da populao brasileira formada por indivduos acima
de 60 anos (Organizao Mundial da Sade online, 04 de janeiro de 2016).
Diante do acima exposto e no intuito de ampliar a compreenso sobre o asilamento
de idosos, elaboramos o presente estudo em 6 captulos e os organizamos da seguinte
maneira:
No captulo 1 seguimos o curso da Transio Demogrfica no Brasil
contemporneo, apresentamos Braslia e o fenmeno migratrio de 1960 2010.
Utilizamos este marco de cronologia, embasando o crescimento do pas, em funo da
interiorizao da capital e a educao como valor familiar, bem como, em funo, de ser
a cidade na qual est situada a unidade asilar, na qual, realizamos a investigao deste
trabalho, pois o espao social no esttico, e atravs do estudo da mobilidade que se
busca capturar a intensidade e a direo das mudanas, revelando dessa forma como ele
organizado (Scalon, 2011, p. 2).
Em seguida contextualizamos a famlia no Brasil contemporneo e as alteraes
do comportamento feminino nos ltimos setenta anos, em especfico, focando a
13
desconstruo do respeito, o qual traduz as disfunes gerais de convvio tendo como
base, a funcionalidade do cl.
O captulo 2 contextualiza a Gerontologia e sua expressividade, aborda os asilos
no Brasil contemporneo, os Indicativos do abrigamento de idosos: uma realidade
mundial , os valores da espiritualidade, e apresenta a unidade asilar em Braslia, na qual
foi realizada a investigao que consta neste trabalho. Exploramos a alterao das
funes vivenciadas pelo pblico feminino, nos ltimos setenta anos, o cotidiano de
idosos de ambos os gneros, na configurao de moradia acima citada.
No captulo 3 versamos sobre a metodologia utilizada e justificamos os objectivos
deste trabalho, alm de, apresentarmos os instrumentos da investigao utilizados na
coleta de dados e o estudo piloto. Apresentamos o desenvolvimento do trabalho no qual
a Anlise de Contedo foi utilizada por congregar as condies mais palpveis para
compreenso, ajuste e organizao na Anlise Temtica, sobre os valores, presentes na
vida dos idosos, pertencentes esta investigao.
A fala coletada possibilitou a ancoragem da amostra, composta por 20 sujeitos de
ambos os gneros, faixa etria entre 62 e 85 anos, diversidade scio econmica, presena
e ou ausncia de descendentes, possibilitando-nos, assim, melhor compreender a
produo de sentido (Bardin, 2011), e contextualizar a narrativa sobre a transmisso de
valores familiares e valores da espiritualidade, presente na complexidade de factores dos
quais se reveste o asilamento de idosos.
Com finalidade considerativa, o captulo 4 apresenta o estudo emprico, de
natureza quantitativa que foi realizado, tendo como objectivo geral, quantificar a
ocorrncia das palavras: Casa, famlia, filhos, morar, educao, Deus, trabalho, morte,
vida; relacionadas aos constructos Famlia, Educao e Espiritualidade. Como objectivos
especficos, identificar as diferenas e similaridades entre os dados apresentados por
gnero.
O captulo 5 apresenta o estudo emprico de natureza qualitativa tendo como
objectivo geral, verificar os valores antecedentes e consequentes na vida dos idosos.
14
Como objectivo especfico, aclarar se os valores foram transmitidos e conservados em
suas vidas.
O captulo 6 apresenta uma discusso final e concluses, linha na qual, uma
reflexo sobre a metodologia e as limitaes do estudo, foram feitas e apresentamos,
indicativos de novas aes, gerando possibilidades de ampliar as Polticas Pblicas, que
beneficiem a populao idosa, como contributo deste trabalho.
15
Parte I Enquadramento Terico
Captulo I
1.1 A Transio Demogrfica no Brasil contemporneo
1.1.1 Braslia e o fenmeno migratrio de 1960 2010.
1.2 A famlia no Brasil Contemporneo
1.2.1 A Educao como valor
1.3 A alterao do comportamento feminino nos ltimos setenta anos.
16
1.1. A Transio Demogrfica no Brasil contemporneo.
O conceito de Transio Demogrfica, foi introduzido pelo demgrafo norte
Americano, Frank Notestein, em 1929, e elaborado, a partir dos dados obtidos sobre as
transformaes demogrficas, sofridas durante a Revoluo Industrial, principalmente na
Inglaterra, Frana e Estados Unidos nos sculos XVIII e XIX, at os dias atuais. Transio
Demogrfica um fenmeno multi contextual das sociedades industrializadas, diante das
variveis, taxa de natalidade e taxa de mortalidade (Kirk, 1996, p. 361).
No Brasil os indicadores divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econmica
Aplicada, em 2008, mostraram que houve queda acelerada das taxas de fecundidade e
mortalidade no pas, refletindo no aumento da populao idosa, calculada em 22, 3
milhes de brasileiros com mais de 60 anos, em 2015 (Instituto de Pesquisa e Estatstica
Aplicada, 2015).
Com as taxas de fecundidade abaixo da taxa de reposio populacional, ocorre o
aumento da proporo de idosos e a minorao de indivduos voltados ao mercado de
trabalho, gerando a necessidade de imigrantes para trabalhar nos empregos de mais baixo
salrio; ocasionado em outra escala, migraes e migraes intrametropolitanas
(Queirz, 2006, p. 1), contexto que possibilitou a alterao de costumes e de hbitos
scio culturais, principalmente nas Regies Sul e Sudeste em virtude da imigrao
europeia e asitica.
Faz-se necessrio observar, que, tanto a diversidade scio cultural, quanto o
indice de escolaridade, so factores que precisam ser examinados em sua dinmica,
gerando melhor compreenso sobre o funcionamento e funcionalidade dos sistemas da
famlia e de gnero, como factores que interferem na intencionalidade do uso do tempo
livre e no comportamento de fertilidade (Presser, 2001, p. 177).
A intencionalidade do uso do tempo livre ou dedicado ao lazer, foi considerado
factor que interfere na taxa de natalidade, pois cada parto pode reduzir em at dois anos,
a oferta de trabalho por durante a vida reprodutiva de cada mulher. Constructo que expe
que o contingente feminino participa do crescimento econmico durante a Transio
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/10/07/ult5772u965.jhtmhttp://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/10/07/ult5772u965.jhtm
17
Demogrfica, contudo participa tambm com o declnio da natalidade (Bloom, Canning,
Flink and Finlay, 2009, p. 79).
O uso de instrumentos contraceptivos injetveis e por via oral, a prtica do aborto,
o nvel de escolaridade universitrio, bem como os ndices de satisfao continuada,
foram vistos por (Littlejohn, 2012, p. 1433), como indicadores que interferem e ampliam
a condio do controlo feminino sobre o prprio corpo e fertilidade.
De maneira focal, a dcada de 1960 marca o fim da alta na taxa de natalidade
brasileira, no decnio seguinte, ocorre o incio do descenso contnuo at a dcada de
1990, e adentra o sculo XXI, ampliando o declnio de nascimentos e manteno na taxa
de mortalidade (Censo, 2010).
Em consonncia scio cronolgica, este quadro ocorreu durante o mesmo perodo
(1960-2000) em pases como Frana, Alemanha Ocidental, Itlia, Sucia, Reino Unido,
em contexto mantido por normas sociais, instituies sociais e incentivos financeiros
advindos de atividade profissional, associados ao uso de mtodos contraceptivos
(Engelhardt, Kogel and Prskawetz,2004, p. 109), explicitando, assim, que os aspectos da
mobilidade social de indivduos e de grupos, interliga-se autonomia feminina, quando
relacionada ao mercado de trabalho e indices de escolaridade.
A Teoria da Mobilidade Social, indica o fenmeno migratrio interno, aqui
contextualizado, principalmente no perodo de industrializao nacional, dcadas de 1950-
70 (Biagioni, 2010, p. 1), uma vez que, as anlises de mobilidade buscam mensurar o
grau de fluidez social bem como identificar os padres e a movimentao envolvidos na
distribuio e redistribuio de atributos especficos (Scalon, 2011, p. 2), nos quais se
enquadram aspectos da cultura, modo de vida e de relao, bem como, os novos
parmetros, hbitos e costumes adquiridos por adaptaes e novos aprendizados, entre
eles, o percentual de 13,5% de indivduos que tm como arranjo de moradia, o modelo
unipessoal, conforme dados citados no Programa Nacional por Amostra de Domiclios
(2013).
Os indicativos de alterao e modificao de modo de vida rural e campesina,
sustentadas pelo trabalho braal, movido ainda resquicios dos descendentes da
18
populao escrava, se altera drasticamente na dcada de 1930; assolada por um golpe de
estado determina o fim da Repblica Velha e marca a presena do presidente Getulio
Vargas at 1945, fim da Segunda Grande Guerra.
Esse contexto scio poltico, gerou alteraes, movidas por uma confluncia
multifactorial de dados, gerando, assim, necessidades diferenciadas, as quais poderiam
ser preenchidas por imigrantes atrados pela expectativa de progresso em suas vidas
(Fonseca, 2012, p. 846).
Os italianos cumpriam a necessidade no apenas relacionadas atividade braal,
necessria principalmente nas lavouras do Sudeste e do Sul do Brasil, mas ocupavam um
lugar definido e especfico, por serem brancos, (Seyferth, 2002, p. 118) e catlicos
(Zanini, 2007,p. 529).
Acorde dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (2015),
cerca de 20 milhes de brasileiros tm ascendncia italiana e a Embaixada da Itlia traz
em seus dados, divulgados em 2013, que em 1934, italianos e seus filhos representavam
50% da populao de So Paulo e cerca de 15% da populao do pas actualmente italo
brasileira.
A Regio Sudeste tambm recebeu nas dcadas de 1930 e 1940, migrantes
nordestinos, consequentes ao xodo, caracterizado pela misria, fome e desnutrio;
porm, preteridos aos italianos, os quais preenchiam condies mais favorveis ao
trabalho no campo, os nordestinos se fixaram basicamente em So Paulo (Paiva, 2012,
p. 172), direcionando-se atividade rotineira da construo civil e migraram tambm para
a regio Norte, fixando-se na Amaznia e nos seringais acreanos (Cardoso e Mller, 2008,
p. 11).
A dcada de 1940 impulsiona a linha comercial, txtil, automobilistica e
siderrgica; o pas assume, ento, caractersticas de uma sociedade basicamente urbana,
ampliando a populao das cidades do interior do Sul e do Sudeste.
19
Na dcada de 1950 ocorre o advento da industrializao e incio da marcha rumo
Regio Centro Oeste, perodo que delimita o governo de Juscelino Kubitschek de
Oliveira (1956 -1961) no qual ele realiza a construo da capital.
Desde o final da dcada de 1950, ocorreu a migrao de trabalhadores de
diversos setores e a partir da inaugurao de Braslia em 21 de abril de 1960, milhares
de pessoas se instalaram na cidade (Luiz, 2007, p. 12), gerando a necessidade de melhoria
nos setores pblicos, facto que possibilitou tambm o desenvolvimento direcionado
principalmente s Regies Norte e Nordeste; favorecendo, de forma sistmica, a
integrao do territrio brasileiro (Carvalho, 2008, p. 20).
O perodo inicial do desenvolvimento da Regio Centro Oeste, situa, assim,
cronologicamente, a Transio Demogrfica e migrao, em virtude da mudana scio
poltica, relacionada tambm, fixao dos funcionrios dos rgos pblicos, os quais
foram transferidos de suas cidades de origem. Promove ainda, a expanso de
oportunidades e desenvolvimento que o Brasil experencia desde ento
a construo de Braslia causou grande impacto no fluxo populacional e tendo
atrado migrantes, inclusive do prprio entorno de Gois e de Minas Gerais, e
gerando no interior do pas uma rea de grande adensamento populacional. A
posio geogrfica foi decisiva para justificar a interiorizao de investimentos
em eletrificao, telecomunicaes e, principalmente, em estradas, que at
meados da dcada de 1950 representavam um grande entrave ao
desenvolvimento (Buainaim, Vieira, Almeida e Ramos, 2005, p. 2).
No intuito de delimitar este trabalho, em relao fundao de Braslia no
contexto do desenvolvimento, que o pas atravessa partir da construo da capital, em
1957 e de sua inaugurao em 1960, bem como o fenmeno migratrio que favoreceu a
fixao das cidades no interior do pas desde ento; situamos as Polticas Pblicas
utilizadas no Plano de Metas, aplicado no mandato do presidente, tendo como base o
lema ligeiro e certo (Heliodoro, 2012, p. 25) que Juscelino Kubistcheck de Oliviera
professara desde menino.
O tempo exguo de cinco anos, foi aplicado de forma pontual, direcionadas ao
objectivo de desenvolvimento do pas, levando em conta tambm a interiorizao, como
foco possibilitador de crescimento e ocupao territorial. Para tal, o Plano de Metas
continha em seu planeamento o que fazer, como fazer, onde fazer, quando fazer, quando
20
inaugurar e quanto iria custar (Heliodoro, 2012, p. 22) em cada um . dos setores ligados
Energia, Transporte, Alimentao, Indstria de Base, Educao e construo da nova
capital em rotinas de trabalho postas em prtica, gerando assim, nova dimenso
funcional ao Brasil contemporneo partir de Braslia, (Marques, 2006).
21
1.1.1 Braslia e o fenmeno migratrio de 1960-2010.
A construo de Braslia, agregou interesses e finalidades, que desembocaram em
aes e decises do governo voltadas para a soluo de problemas da sociedade (Lopes,
Amaral e Caldas, 2008, p. 5), sendo tal facto, considerado uma forma de Poltica Pblica,
utilizada para a ocupao oeste do territrio brasileiro.
A interiorizao da capital, transferida do Estado do Rio de Janeiro para o Estado
de Gois, possibilitou o desenvolvimento rodovirio, industrializao e gerao de
empregos em cidades do interior; facto que favoreceu a melhoria de trnsito e de
comunicao com as Regies Sudeste e Sul, bem como a integrao das Regies Norte e
Nordeste com o restante do pas, acentuando, assim, a importncia das Polticas Pblicas
ou seja, a totalidade de aes, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou
municipais) traam para alcanar o bem-estar da sociedade e o interesse pblico (Lopes,
Amaral e Caldas, 2008, p. 5).
Em consonncia com o cunho Positivista Ordem e Progresso, o Presidente
Juscelino Kubitschek, agregou valor ao seu ideal progressista de avanar cinquenta anos
em cinco, acelerou a modernizao do pas, construindo hidreltricas, industria de base,
automveis, bens de consumo em geral e principalmente, promoveu a conquista do
Cerrado, e o fez, encaixando tambm, o plano de ao de dois de seus principais
antecessores: Afonso Pena (1906-1909) e Washington Luiz (1926-1930), cujos lemas
foram Governar povoar e Governar abrir estradas (Gouget e Mattar, 2012),
a Constituio Republicana, orquestrada no contexto da Proclamao da
Repblica, sinaliza compreenso de como o iderio do Positivismo criado na
Frana por Augusto Comte, enquanto corrente de pensamento norteadora,
juntamente com a Costituio dos Estados Unidos, influenciaram no texto
constitucional brasileiro promulgado em 1891 (Valentim, 2010, p. 33).
A poca da construo contou inicialmente com trs mil operrios, os quais se
ampliaram em quantidade geomtrica e permaneceram assentados desde 19 de dezembro
de 1956, tanto em Taguatinga quanto na Cidade Livre, mais tarde renomeada como
Ncleo Bandeirante atravs da Lei 4545 de 10 de dezembro de 1964, tornando se uma
Regio Administrativa do Distrito Federal.
22
O presidente, sua familia e principais colaboradores, tinham lugar no Catetinho,
uma homenagem ao Palcio do Catete, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma construo
modesta, de forma rectangular, construda em dois andares em madeira, tornou-se um
patrimnio tombado pelo Instituto do Patrimnio Histrico, funciona como museu e
permanence aberto visitao.
Para melhor contextualizar a migrao, nos valemos de dados censitrios (2000)
e de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (2000, 2008), nos quais
constatamos, que, entre as dcadas de 1960 e 1970, a populao do Distrito Federal
recebeu cerca de 30 mil pessoas por ano.
O fluxo migratrio para a formao da capital, teve incio de forma regular e
continua, uma vez que, a prpria funcionalidade administrativa poca, mantinha o
controlo das contrataes de funcionrios, para compor a mquina funcional dos rgos
pblicos, aliado ao facto, de que, a criao da cidade, dependia da migrao, para compor
a base do comrcio, estabelecimentos de ensino, ncleos religiosos, entre outros, em
1958, o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca chegou a empregar 400.000
pessoas e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem outras 140.000. Ademais,
ocorreu substancial emigrao, particularmente para Braslia (Lopes, 2008, p. 72).
A dcada de 1970, foi marcada pela evoluo tecnolgica, notadamente
relacionada aos produtos agrcolas, tecnologia de campo e fertilizantes, ao lado de
incentivo para a construo de silos para armazenagem e implementao de rodovias e
hidrovias.
Esses factores, possibilitaram a expectativa de progresso e de mobilidade social,
como carreadores da fixao de migrantes sulistas, na Regio Centro Oeste, em busca
de terras, para atividade pecuria e desenvolvimento da soja: cultura atrelada aos
investimento em Polticas Pblicas e incentivos fiscais. Assim sendo, migrantes sulistas
inflenciaram o convvio com os hbitos e costumes talo germnicos, alm de
participarem da miscigenao populacional, notadamente no interior do Mato Grosso
(Miranda, 2006, p. 3).
23
Pode-se considerar, que, a dcada de 1970, indica o crescimento do processo de
urbanizao, iniciado a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, associado a um intenso
crescimento demogrfico, resultado de uma natalidade elevada e de uma mortalidade em
descenso; elementos mantidos pelos progressos sanitrios e pela melhoria relativa nos
padres de vida. Tal constructo, gerou alteraes que se refletem na configurao da
familia contempornea, a qual assenta-se nas cidades, pois que, o fenmeno da
urbanizao e suas vertentes, traduzem que o urbanismo condio modernssima da
nossa evoluo social (Santos, 2005, p. 1).
Em 1980, residiam no Centro-Oeste, aproximadamente 2.359.793 brasileiros
naturais de outras regies (aumento de 288% em relao ao ano de 1960). Os fluxos mais
altos procederam do Sudeste e do Nordeste. As dcadas de 1980 a 2000, revelam que a
migrao, teve como destino as cidades do entorno do Distrito Federal, em localidades
nas quais, o custo de vida comparativamente mais baixo do que os praticados na regio
Sudeste e que Braslia, regio que est sendo caracterizada como uma nova rea de
expanso do Centro Oeste, para migrantes de baixa renda do Sudeste e do Distrito
Federal (Amaral, 2009, p. 1).
Tal circunstncia colaborou para aumentar o fluxo de veculos em trnsito, a
demanda por servios de sade, educao, lazer, alm de, ampliar os ndices de violncia
referida a terceiros. Em dados obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
(2013), a regio Centro Oeste foi a que registrou maior nmero de migrantes, que
representam 30% da populao em 2010.
O sistema de ensino pblico e privado, forma um contexto, no qual, os
estabelecimentos de renome, tambm podem ser considerados como um dado importante
no que se refere migrao, pois, Braslia oferece vagas para as Escolas em todos os nveis
de ensino, escolas tcnicas voltadas rea de sade, e tambm, Escolas especializadas em
Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais, entre as quais, destaca-se a CLIAMA:
referncia internacional no trato clnico teraputico, notadamente relacionadas s pessoas
com Transtorno do Espectro Autista e suas famlias.
24
O processo seletivo de vestibulares para Universidades pblicas e particulares,
bem como, concursos pblicos, atraem as pessoas em busca de mobilidade social e de
estabilidade. As vagas, para concursos, em geral, se direcionam s diversas reas de
atuao acadmica, alm de reas interligadas ao exerccio profissional nos poderes
Judicirio e Legislativo
pessoas com melhores nveis de escolaridade esto se dirigindo ao Distrito
Federal. Ao mesmo tempo, pode haver uma migrao para a capital federal de
pessoas que justamente buscam ascender em anos de estudo, em contraposio
s condies que teriam na regio de origem (Amaral, 2009, p. 168).
No decorrer do tempo, linhas filosficas diversas, foram implantadas nos
estabelecimentos de ensino regular e nas Universidades em Braslia, cidade que detm o
maior percentual de pessoas com nvel superior completo, 17,49%, seguido de So Paulo,
11, 67% (Instituto Brasileiro de Geografia e Estattica, 2010).
Um dado especfico da cidade, refere-se, no s por sediar a estructura do poder
Federal, mas tambm, por congregar a representao dos pases estrangeiros, atravs dos
Consulados e Embaixadas. Esse facto, colabora, no s, com a migrao, imigrao mas
torna a capital dotada de um fluxo constante de actividades culturais, oferecidas na
programao e no calendrio local e que faz parte da rotina do brasiliense.
A prospeco demogrfica at 2030, em estudo realizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatstica e Fundo de Populao das Naes Unidas, em 2013, corrobora
o estudo realizado no mesmo ano base pela Companhia de Planeamento do Distrito
Federal, indicando que a populao chegar a 3.773.409 milhes de pessoas, na proporo
de 60 mil pessoas ao ano, levando-se em conta o saldo migratrio de 30.905 pessoas em
2012.
25
1.2 A famlia no Brasil Contemporneo.
Acompanhar as alteraes advindas do ps Guerra, contextualizando as
organizaes que afetaram a funcionalidade hegemnica do Patriarcado, vigente na
configurao scio familiar, implica, em tambm relacionar o evento da urbanizao,
como factor que favoreceu a desadaptao de milhares de famlias, advindas de um
sistema de vida rural e agrria, mantenedora dos ciclos do plantio, da colheita.
Os ritmos produtores de sentido, em consonncia com a realidade cotidiana,
mantinham, tambm, habitos e costumes constitutivos de valores familiares,
possibilitando, que, a cultura e a conduta scioafectiva dos cls, como elementos
educadores, organizassem a estrutura da prole e a influenciasse em gradaes distintas e
de maneiras diversas, a manter a conexo com as pessoas, com o lar, com a histria e
com a terra (Almeida, Font, Messineo e Woods, 2003, p. 474).
Tais prticas, promoviam a elaborao de valores de referncia, dentre os quais,
cita-se a espiritualidade, relacionada ou no a uma prtica religiosa, como conexo com
aspectos emocionais, intelectuais e largamente associados aos significados da gratido e
da empatia (Paludo e Koller, 2007, p.17 ), favorecendo o comportamento solidrio.
Em solo urbano, havia usualmente, a manuteno do ritmo cronolgico das horas
marcando nos valores familiares, os ritos propulsores da estruturao de convvio, sendo
as rotinas de alimentao, o cenrio que abrigava a presena de todos os membros da
familia ao redor da mesa de refeies.
A transmisso de hbitos, como o de pedir bno ao pais, avs, padrinhos ou
figuras de referncia, indicava o caminho da ordem hierrquica, em continuidade ao
respeito dirigido aos professores, bem como, aos idosos, porm, a trajetria do campesino
ao urbano, ocorreu sem que uma condio adaptativa e sistmica pudesse organizar as
aes das famlias, tendo como base, novas configuraes.
Os grupos que chegaram aos grandes centros nos ltimos setenta anos, colocara-
se, por vezes, sob o comando do tempo delimitador da atividade industrial, fabril e txtil;
26
facto que transmutou a cultura e os valores vigentes, os quais, passaram a ser comandados
pelo ganho financeiro,
tal desestrutura j se ensaiava h vrios anos, como reflexo de mudanas no
comportamento de massas, liberao de costumes e insero da mulher no
mercado de trabalho, com a reduo do nmero de filhos e mobilidade das
pessoas em busca de melhores condies de vida, diminuindo as relaes com
os grupos familiares mais extensivos (avs, tios, primos etc), (Fiamengui,
2002, p. 25).
As alteraes na caracterstica dos modelos de convvio familiar e conjugal,
continuam sendo contextualizadas em diversas instncias. Em geral, os dados apontam
para profundas mudanas na organizao familiar, no que concerne ao sistema de
funcionamento, desrealizando a hierarquia, afetando qualitativamente o sistema conjugal
e subsistemas fraterno, parental em diversas instncias de convvio e vizinhana
(Minuchin e Fishman, 1990, p. 25).
Outra modificao est relacionada aos factores demogrficos, em face reduo
de seu tamanho, ocasionado a ocorrncia da sndrome de insuficincia familiar, ou seja,
a recorrente diminuio do tamanho da familia, ou mesmo casais que optam por no ter
filhos, sendo citada, como uma importante alterao multifuncional da actualidade
(Moraes, Marino e Santos, 2010, p. 65).
Os padres de conjugalidade, com o aumento de famlias monoparentais e de
casais compostos do mesmo sexo, alm de casais que optam por no ter filhos, indicam
que as relaes interpessoais e o afeto, ocupam, na sociedade contempornea, um lugar
central, antes destinado ao manejo e formao da prole.
A contemporaneidade prioriza os laos emocionais, o convvio proximal e novas
formas expressivas de intimidade (Lipovetsky, 2007, p. 247), explicitando que a nova
ordem cultural na contemporaneidade valoriza os laos emocionais e sentimentais, as
trocas ntimas entre as pessoas e a proximidade comunicacional com o outro (Scorsolini-
Comin, 2009, p. 204), sendo necessrio, assim, melhor compreender as novas formas de
convvio do grupo familiar, no que concerne ao decrscimo do nmero de filhos, ou
mesmo a opo por no t-los.
27
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios, mostram que os lares
compostos por casal com filhos, representavam 62,8% em 1992 e decaram para 49,9%
em 2009. Este decrscimo um indicativo, que, em parte, tambm pode ser decorrente
do padro descontnuo, possibilitador de insegurana e impermanncia, que rege as
relaes contemporneas e ancoram os dados que evidenciam as heterogeneidades,
descontinuidades e efemeridades das relaes (Scorsolini-Comin e Santos, 2010, p.
521), como factores que produzem esfacelamentos e disfunes que minoram
qualitativamente, o convvio cotidiano.
Com a modificao do funcionamento da familia tradicional, as crianas,
adolescentes e idosos, actualmente, nem sempre recebem o amparo emocional que
durante a vigncia da hegemonia patriarcal, faziam parte, quase que exclusivamente, das
atribuies do feminino e organizavam de forma inclusiva os membros da famlia.
Neste contexto, se reflete, tambm a organizao de domiclio asilar, para a
populao idosa; uma vez que, na vida contempornea, o sistema conjugal torna-se o
cerne da famlia, desvinculando-se do subsistema parental. Tal facto provoca desafios
efetivos descrevem o que as pessoas esto fazendo e suas consequncias (Minuchin, Lee,
Nichols, 2009, p. 23)
Pode-se observar, assim, que, diante do enfraquecimento do respeito s regras que
nutriam o sistema de convvio da sociedade patriarcal, os valores que formavam a
previsibilidade na conduta familiar, tornaram-se escassos, enfraquecendo a gnese do
convvio trigeracional; fortalecendo o constructo produtor da condio asilar para os
idosos.
A conduta funcional do grupo familiar, necessita da funo basal dos limites
pessoais, na elaborao diria da forma de viver e educar a prole, para manter e ampliar
as condies de convvio, pois, distante deste campo, observa-se que, sem balizadores
previamente definidos e aceitos, entre as geraes, ou de alguma forma, reconhecidos
pelo grupo, forma-se uma via, na qual, o padro descontnuo transita no poder pessoal,
exercido, como forma de subjugar ao outro.
28
A desconstruo do respeito, a falta de limites e a parca ou ausente atividade
reflexive, podem ser consideradas como origem dos desajustes contemporneos, que
desemboca no jugo e produzem disfunes individuais e grupais.
As relaes intrafamiliares, no so apenas derivadas dos aspectos subjectivos,
conferidos por seus membros, ou ainda, pela funcionalidade do ambiente domstico. Elas
so mediadas, tambm, por aspectos externos, decorrentes dos modos de organizao da
vida pblica e dos papis e funes que as pessoas ocupam e disputam nessas instncias,
facto que na contemporaneidade encontra-se embasado pelo predomnio financeiro ao
invs do predomnio relacional, pondo em adaptaes, a funcionalidade dos sistemas
conjugal e parental.
A construo do casal nos moldes contemporneos, alterou o manejo da cultura
intrafamiliar trigeracional, uma vez que, a realizao pessoal adquiriu visibilidade em
detrimento ao bem-estar do grupo, assim sendo, foco pessoal tornou-se empoderado, o
acesso educao continuada ou formao profissional em nveis tcnicos, assume e
direciona as decises, em carter individual. Esse contexto penaliza ainda mais o
contingente idoso, desnivelando-o rotineiramente em aes possibilitadoras de destratos
e desrespeito diante do envelhecimento.
O envelhecimento um processo universal, a contextualizao, valor e lugar de
pertencimento do ser humano que envelhece prprio em cada poca e em cada cultura.
A actualidade se configura demograficamente com a expectativa de que o Brasil seja a
partir da dcada de 2020, a sexta populao mais idosa no planeta, trazendo a necessidade
de novos entendimentos sobre o idoso e sua realidade de vida, Portal da Presidncia da
Repblica (24 de dezembro de 2015).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (2008), a
populao brasileira idosa, tinha em mdia 64.050.980 pessoas na faixa etria acima de
60 anos. Em 2012 mais de 21 milhes de idosos: ou seja, 11% da populao, formava um
contingente especfico, necessitando de intervenes multiprofissionais e pesquisas que
indiquem melhorias direcionadas a ampliar as condies de vida e de atendimento s suas
necessidades.
29
O processo de envelhecimento e o aumento da expectativa de vida, associados a
multiplicidade de mudanas e recomposies do cotidiano em familia, trazem, em si, a
necessidade de novos estudos, investigaes e intervenes scio polticas e
psicoterpicas, que possibilitem uma atuao mais efetiva para esta parcela da populao,
que, independente de morar com a famlia ou em asilos, necessita e tem o direito de ser
tratada dignamente.
Baseando-se em dados de pesquisa Internacional realizada pelo Social Science
Program com o intuito de identificar as transformaes que vm sendo operadas nas
relaes de gnero (Araujo e Scalon, 2006, p.46), explicitam a necessidade de
conciliao, que as famlias enfrentam, entre as suas rotinas domsticas e o trabalho
remunerado, frente s demandas e necessidades, que o ambiente familiar contemporneo
requisita.
A vida laboral domstica, vivenciada extramuros, e as exigncias do campo
produtivo remunerado, podem ser consideradas, um facto, que, altera em muitos aspectos
a vida em famlia, frente ao facto, de que, em geral, a mulher permanece fora de casa para
trabalhar, estudar ou ambos, (Silva e Macedo, 2012, p. 206).
Os elementos acima citados, compem um quadro, que, ligado dificuldade
recorrente de mo de obra domstica, forma um nicho, o qual, corrobora, entre outros
factores, para a institucionalizao de idosos, uma vez que, a possibilidade de
permanncia no convvio familiar, de cada ser humano no seu grupo de origem biolgica,
interliga-se a uma srie de factores predisponentes, tais como: condio scioafectiva,
condio financeira, condio de sade
Contudo, em virtude das alteraes ocorridas por consequncia das guerras
mundiais no sculo XX, a multiplicidade de manejos extramuros, acionam as
reconfiguraes de convvio no ambiente familiar, aos quais, a ausncia das mulheres,
respondem actualmente, diante de vrias condies protetivas, que o convvio domstico
solicita.
Pode-se refletir tambm, nas consequncias scio emocionais, advindas destes
factores e que se avolumam repetidamente no mbito familiar, desta forma, a reproduo
30
das perdas e fracassos em mltiplas instncias, pode ser um cenrio possibilitador de
prejuzo na construo e manuteno de valores, pois, a famlia uma unidade sistmica,
que tem uma identidade caracterstica, a qual, seguidamente, adquire o perfil
transgeracional dos pais, de modo que, as vezes fica anquilosada, repetindo as mesmas
pausas de condutas e de valores, para compreendermos como as idias sistmicas se
aplicam s pessoas precisamos ter sempre em mente a idia das conexes e dos padres
repetitivos (Minuchin, Colapinto e Minuchin, 1999, p. 20).
Porm, em muitas outras vezes, vai sofrendo inevitveis transformaes, em meio
a crises e surgimento de novas necessidades e problemas, dessa forma, adquirindo uma
modificao do sistema familiar, e uma aquisio de novos valores, normas e conduta
(Zimerman, 2010, p. 85).
A familia necessita, ainda, de propostas mais competentes, que validem a
alteridade, pois, que, tornaram-se espaos scio culturais, nos quais, o descontrolo, o
desrespeito e a violncia, atuam cotidianamente, produzindo o conflito que desmobiliza
o sistema conjugal, e assim, muitas vezes impede o conviver humanizado.
Aliado ao acima exposto, existe em vigncia a reconfigurao e implantao de
diversos modelos de funcionalidade sociofamiliar, tecida, de igual forma, pela questo
relacionada aos papis e funes, tambm de forma conflituosa, nos cls formados por
relaes homo afectivas, pessoas com necessidades especiais, deficincias mltiplas,
recasamento, monoparentalidade, famlias adotivas, sociais e outras.
Isto ocorre, de forma geral, porque, em decorrncia da precria percepo interna,
os pais tambm no fronteirizam em si mesmos, os limites de atuao adulta e a funo
parental, torna-se minada, desfeita ou exercida sem resultados positivos e pontuais.
Ao largo das margens fronteirias de convvio, no mais o idoso como referencial
de sabedoria e de transmisso viva dos factos scio-histricos, organizao dos lugares
de pertena hierrquica trigeracional e de trocas interpessoais validadas pela cultura.
A herana valorativa que estruturou a base do convvio socioafectivo, encontra-
se em busca de uma engrenagem existencial, que possibilite, ajustes mnimos aos grupos
31
que buscam reconstruir valores que norteiem a famlia e a educao, conectando-os
prtica da espiritualidade.
Ao redor de cada um dos aspectos cindidos na vida comunitria, ocorre, em geral
e em maior escala, a dinmica da violncia autorreferida ou referida a terceiros,
possivelmente como escoadouro de ansiedade, amargura, tristeza.
Atitudes que so reconhecidas tambm nas instncias reguladoras, institudas pela
sociedade em diversos ngulos de convvio afectivo, como famlia extensa, social e
convvio comunitrio, Pires-de-Mello (2013; 2014), causando assim a dissoluo dos
vnculos sociais e o aumento da violncia (Vichietti, 2012, p. 43).
A busca desenfreada por igualdade, um dos factores que podem gerar violncia,
principalmente quando ultrapassa a arquitetura e a fronteira dos direitos humanos para
tornar-se mecanismo de competio entre gneros e geraes.
Isto um facto que pode ocasionar desmandos de natureza abissal, pela perda das
referncias, e de valores ancestrais, entre eles, o respeito: queixa cotidiana de idosos,
adultos, pares afectivos entre si e na dinmica de convvio socioafectivo e comunitrio,
trazendo tona o individualismo.
A contemporaneidade se organiza, portanto, marcada por padres descontnuos,
produtores do estresse, que se tornam crnicos, diante da no resolutividade das
demandas, que eclodem nos mbitos domstico, escolar e sociopoltico, ameaando no
apenas a vida de indivduos e grupos, mas o prprio sentido da vida (Vichietti, 2012, p
43).
Os adventos do estresse, como hegemonia da contemporaneidade, corroboram
para que os distrbios ocasionados, sejam agravantes do sofrimento, manifestado sob as
formas de tristezas e rebaixamento afectivo, no surpreende, portanto, que a infelicidade
que fingimos exorcizar retorne de maneira fulminante no campo das relaes sociais e
afectivas: recurso ao irracional, culto das pequenas diferenas, valorizao do vazio e da
estupidez (Roudinesco, 2000, p. 17).
32
Este estado crnico amplia a permissividade e a insegurana, formando um
ncleo, que, possibilita as disfunes, desmandos e desgovernos de toda ordem, como um
facto social ,que se alastra, ampliando a dinmica exposta pelo esgotamento de si e
finaliza no contingente populacional, que no quer envelhecer.
Tal forma de viver, possibilita que o circulo vicioso da horizontalidade,
desconstituda de valores slidos e contnuos, adentre cada vez mais em territrios
obscuros que desumanizam, pervertem, separam, excluem e destroem!
Apesar de todas as reorganizaes scio culturais do ocidente no ps guerra, a
famlia como instncia permaneceu e nenhuma crise foi capaz de alterar factores como a
busca de equilbrio proporcionada pelo desejo que os seres humanos nutrem de manter o
convvio gregrio e de manter um relacionamento afectivo estvel na vida entre pares, ou
mesmo impedir que a familia seja actualmente reivindicada como o nico valor seguro
ao qual ningum quer renunciar, ela amada, sonhada e desejada por homens, mulheres
e crianas de todas as idades, de todas as orientaes sexuais e de todas as condies
(Roudinesco, 2003,p.198).
O arcabouo permeado pela cultura vigente em cada grupo, apoia os hbitos de
convvio, cita a importncia da convivncia comunitria como uma das formas de
coexistncia e lugar social em constante construo, principalmente no que tange
constante necessidade adaptativa de todos os ncleos da sociedade, pois cada um deles
advem do ncleo familiar e de suas interaes.
Cabe-nos refletir sobre este foco, antes que possamos em qualquer instncia,
melhor compreender as alteraes do comportamento feminino nos ltimos setenta anos,
pois, a mudana de ao das mulheres, de um papel nico, o de cuidador, para uma
alterao que a coloca no mundo do trabalho, da produo, da competio por lugar, em
seu caminho rumo busca de autonomia, de liberdade e de escolhas, abarcaram tpicos
importantes como: participao social, participao acadmica, participao no mercado
de trabalho, trazendo desta forma nuances e reconfiguraes que permeiam a vida
contempornea e produzem novos aprendizados para cada grupo scio familiar em suas
interaes culturais.
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O lugar ocupado pelo ganho financeiro, gerou uma possibilidade de manuteno
de cotidiano estvel, impulsionando, dessa forma, a asceno social adquirida atravs da
educao formal continuada, sendo, assim, uma das exigncias mantidas nos editais dos
concursos para o ingresso no servio pblico, tanto no mbito federal, quanto estadual;
campo que inclui tambm o acesso docncia universitria.
A educao como um valor, situa-se, neste estudo, como uma viga de sustentao
familiar, que se estende ao contexto scio politico nacional e internacional, no qual se
insere, gradativamente, os pases em transio, como o Brasil.
Para que melhor se compreenda o significado de valor, neste trabalho, seguimos
a orientao relacional, que se organiza conforme o construto sistmico, uma vez que,
os valores somente existem em sua relao com o homem, sua cultura, contexto scio
histrico e poltico, ou seja sua historicidade (Goergen, 2005,p. 988).
Portanto contextualizar a educao e a mudana funcional dos papis masculinos
e femininos na familia, principalmente signific-la como continuidade da histria a ser
escrita no decorrer do sculo XXI.
34
1.2.1 A educao como valor
Os valores familiares esto sistemicamente estruturados em relao cultura,
perodo cronolgico e alteraes que os mantenham, alterem ou modifiquem; uma vez
que, para estud-los necessrio que existam duas ou mais geraes para que se constate
sua transmisso e continuidade.
A continuidade de um valor familiar pode ocorrer e se realizar no manejo com a
prole ou no convvio scio afetivo com a familia extensa, comunidade, referenciando,
assim, as caractersticas de quem os pratica.
Um dos valores familiars, expressos com largueza de atributos, em ambitos socio
afetivos diversos, est centrado na Honestidade, como princpio basal da conduta
valorativa e confivel em todos as instncias do convvio. Sua origem etmolgica remonta
ao Latim (Honos), cujo significado dignidade e honra, Cunha (2010) e Viaro (2011).
Tambm pode ser contextualizada no parmetro de Integridade, Vanden Bos (2010, p.
486).
A Honestidade como norteadora atitudinal, aclara e amplia a condio produtora
de sentido, relacionada aos factores que nos possibilitam melhor compreender o sistema
de convvio e valores scio-familiares contemporneos, quanto contextualizar as
narrativas acorde o binmio Patriarcado e Positivismo; cerne balizador de conduta e
organizao funcional domstica e scio poltica, que influenciou a organizao familiar
e aprendizado formal, contextualizada nos princpios da Integridade Intelectual
(Sieczkowski, 2010, p. 1).
A educao construda e constituda no bojo de cada ncleo familiar, encontra no
convvio social, a organizao, para que, as relaes mediadas pelo convvio afeto
cognitivo, tenham lugar e continuidade estruturada, nos ambientes da escola e da
academia. Assim sendo, a educao formal assume um significado em comum e
compartilhado (Carvalho, 2007, p. 86), que lhe indica o lugar que ocupa na sociedade
contempornea.
35
A cultura ocidental do ps guerra, prioriza a educao formal, como um valor,
cujo atributo adquirido de forma gradativa e continua, permitindo ao sujeito o ingresso
e permanncia, em instncias que lhe trazem reconhecimento social, visibilidade pblica,
possibilitando-lhe ganhos financeiros, autonomia e tributos de estima.
Gatti (2004) se debrua nas questes relacionadas alfabetizao e letramento,
tendo como base, os programas estatais, que organizam polticas e leis, que necessitariam
ampliar a eficcia para o alcance de resultados mais produtivos, e se vale tambm, da
construo do ncleo familiar, como condicionante do nvel de escolaridade que o sujeito
alcana, contudo, passvel de ser ampliada ao longo do aprendizado.
A importncia da educao formal continua, foi referenciada em estudo
longitudinal quantitativo, realizado por anlise de contedo, em pesquisa bibliogrfica no
perodo entre 1976 -2007. Na coleta de dados foram utilizados 405 peridicos na rea
de educao, totalizando 3041 artigos. Os investigadores brasileiros verificaram
interesse crescente sobre a importncia da formao do professor na qualidade da
educao, indicando publicaes contnuas desde a dcada de 1990, sendo que 67% dos
artigos datam a partir de 2000 (Passos, Passos e Arruda, 2009, p.1 ).
Certificando os estudos citados, Capuchinqui (2010) se vale da anlise de
contedo em pesquisa bibliogrfica quantitativa em 326 artigos para verificar a
Melhoria Contnua da Qualidade e Produtividade, cuja aplicao gera benefcios
direcionados educao formal.
As investigaes qualitativas sobre educao, voltam-se, tambm, para o mtodo
utilizado por Paulo Freire e sua abrangncia sistmica, a qual, atingiu seguidores em
diversos continentes por sua viso humanista e libertadora, cuja influncia poltica atinge
a camada popular, sendo til ao pases em transio, inicialmente no bloco Sul Americano
(Claude e Andreopoulos, 2007).
Seu mtodo de alfabetizao e a conduta baseada no dilogo atinge os pases
africanos, aps as lutas por libertao e independncia, desde a dcada de 1960, bem
como o desenvolvimento de programas voltados para educao em pases da Amrica do
36
Sul e Europa atravs da Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e
Cultura. (Paulo Freire Cooperation, 2016).
Vale ressaltar, que, o fenmeno da urbanizao, alterou a funcionalidade dos
grupos humanos na sociedade occidental, nos ltimos setenta anos, interferindo e
acrescendo importncia educao formal, como possibilidade ampliada de ingresso e
permanncia no mercado de trabalho e estrutura acadmica. Tal construto, redimensionou
os parmetros scio culturais, que regiam o patriarcado, como indicativo das mudanas
do comportamento feminino contemporneo.
Dados censitrios e informativo do Banco Mundial, trazem a diferena de 8
milhes a mais de mulheres com diploma de nvel superior nos Estados Unidos. Em pases
como Canad, Japo e Nova Zelndia o facto se repete. O pas com menor margem de
diferena por gnero a Noruega e ocupa a margem de diferena de apenas 2%, entre
os portadores de diploma universitrio (Organizao para Cooperao e Direito
Econmico, 2016)
Tendo como base, os dados do Instituto de Pesquisas Nacionais Ansio Teixeira
(2013), 60% das concluses de curso em diversas graduaes disponveis nas instituies
de nvel superior no Brasil, na ltima dcada, pertenciam ao pblico feminino (Portal
Brasil de 8 de maro de 2015) e representa 12% da populao (Revista de Ensino
Superior da Universidade de So Paulo, 2015).
Estes indicativos nos fornecem parmetros reflexivos, tendo como caracterizao,
os estudos sciodemogrficos, e como campo especfico, as questes de gnero;
possibilitando-nos, assim, melhor compreender o arrazoamento contido na alterao do
comportamento feminino desde o ps guerra, uma vez que, as sociedades
contemporneas vivem transitando em concorrncia por ttulos escolares e posies
profissionais(Costa, 2009, p. 366).
A estrutura familiar a disponibilidade financeira, a participao dos pais, bem
como, a qualidade do tempo no convvio com a criana, representam um contexto, que
desperta o interesse de investigadores, em reas que se consorciam em investigaes
contemporneas. As cincias sociais promovem intensamente a base para que estudos que
37
desembocam em polticas pblicas tornem-se validados, tendo como parmetro os
resultados de investigao (Soares e Collares, 2006, p. 615).
Aspectos relacionais entre familia, educao como produtores benficos de
resultados harmnicos e competentes, so perpassados por modelos vigentes, tanto
quanto, pela vontade de realizao de cada ser humano. Em investigao realizadas com
crianas sob a guarda do Estado, os meninos e meninas com idade entre cinco e oito anos
apresentaram o modelo nuclear de familia (Martins e Szymanski, 2004, p. 177).
Verifica-se tal condio em diversos ncleos de atuao da investigadora nas reas
clnica e social em prtica interventiva com adolescentes abrigados e em condio de
vulnerabilidade scio afetivo, consequente ao ambiente familiar em contexto alcolico e
drogaticto, em trabalho realizado nas regies Centro Oeste e Sudeste no perodo de 2000-
2006.
A recomposio parcial de qualidade no convvio sistmico da instituio, a vida
cotidiana em participao social de figura materna e paterna, ampliou a condio afeto
cognitiva dos jovens, minorando a defasagem adaptativa ao contexto escolar, bem como,
possibilitando-lhes ingressar, por vezes, em programas sociais relativos ao primeiro
emprego, (Pires de Mello, 2014).
A participao da familia e o contato com a Escola, por vezes, necessitam ser
mediadas, por uma interlocuo acolhedora e humanizada, uma vez que, faz-se necessrio
inserir e incluir a educao informal, presente no ncleo familiar com a estrutura da
educao formal, trazida pela organizao curricular, (Gohn, 2006, p. 30). Os campos
formal e informal da educao, produzem reflexes constantes, sobre nossa
funcionalidade cidad, participativa e responsvel.
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1.3 A alterao do comportamento feminino nos ltimos setenta anos.
De modo geral, o ncleo das relaes intergeracionais e interpessoais
contemporneos, foi afetado nos aspectos funcionais de convvio, em ambientes privado
e pblico, em organizaes posteriores s guerras mundiais do sculo XX.
A mudana de ao do feminino, assumiu as alteraes, que redefinem para as
mulheres o universo do trabalho remunerado, da produo, da conquista por lugar
reconhecido, em seu caminho rumo busca de autonomia, e o faz, indicado pela mudana
no modo de pensar e de agir, possibilitado tambm, pela educao contnua,
especializada, retirando-as, assim, por esforo prprio do confinamento imposto por um
papel nico, o de cuidadora do lar, para um domnio de si mesmas e para um terreno de
funes mltiplas que lhes possibilita ampliar seus horizontes (Barbieri e Andreola, 2012,
p. 497).
Em contorno s modificaes em curso, a participao do ncleo feminino, em
qualquer instncia relacionada ao mercado de trabalho, destaque no que se refere s
alteraes vivenciadas nos ltimos setenta anos.
A histria descreve a refuncionalizao de papis organizados neste perodo
(Russo, Cisne e Bretas, 2008, p. 131), os quais posicionaram as mulheres diante de si
mesmas, antes de o fazerem em suas relaes conjugais, familiars, laborais ou
estruturadas acorde o mercado de trabalho.
Conforme dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
(2010), 37,3% das famlias no Brasil, eram sustentadas por mulheres, e que este
contingente populacional possui expectativa de vida de 77 anos de idade, se organiza para
ter filhos aps concluir a universidade ou ter estabilidade financeira, dados que
corroboram para novos entendimentos sobre as questes relacionadas tambm aos
ncleos conjugal e parentalidade.
O ingresso macio das mulheres no mercado de trabalho um campo que se
constri como um facto actual que aliado aos padres descontnuos de conduta amplia a
compreenso sobre a incidncia do asilamento de idosos.
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Segundo os resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (2015), relacionados Pesquisa Nacional por Amostragem de Domiclios,
produzida pelo Instituto de Pesquisa e de Estatstica Aplicada, mostram que, entre 1995
e 2009, a proporo de famlias chefiadas por mulheres aumentou mais de 10 pontos,
saltando de 22,9% para 35,2%.
Porcentagem que significa uma populao em torno de 21,7 milhes de mulheres,
chefes de famlia, hoje, no pas, em escala ascendente, indica que as mulheres tambm
assumem gradativamente a responsabilidade pela famlia, embora nem sempre com
remunerao igualitria, verificando-se a permanncia de desigualdades tenazes
(Costa, 2008, p.50), atestando os dados fticos da Organizao das Naes Unidas,
publicados em O Globo (2015).
Com relao renda, o Instituto de Pesquisa e Estatstica Aplicada, destaca, em
2008, que as mulheres de renda mais alta, esto experimentando taxas de fecundidade
extremamente baixas, mais baixas que as de pases como Itlia, Espanha e Japo variando
entre 1,0 e 1,3 filho por mulher.
Elas adquiriram, desta forma, a condio de ancoramento, sobre o uso e
direcionamento de seu corpo, de sua sexualidade, amparada pelos avanos tecnolgicos
e cientficos, como no caso das cirurgias de rejuvenescimento, do advento da plula
anticoncepcional e inseminao artificial, uma vez que, essa indstria oferece s
mulheres a possibilidade de escapar das noes fsicas e existencialistas do corpo
feminino, um corpo tido como limitado s funes reprodutivas (Debert, 2011, p. 71).
Adquiriram tambm, o acesso busca de autonomia financeira consequente
entrada e permanncia no mercado de trabalho, facto que produziu uma reconfigurao
participativa entre os gneros, o que lhes possibilitou a ao cotidiana, a partir de um
lugar construdo. A ao ativa do contingente feminino em ambientes empresariais,
acadmicos e scio polticos, constitui uma caracterstica notadamente contempornea.
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Tal condio, indica tambm, o caminho que esta populao percorre entre os
ambientes privado e pblico, nos quais, mantm responsabilidades especficas.
Responsabilidades nem sempre compartilhadas com outrem, em ambiente privado, como
ocorre no modelo familiar monoparental.
Embora a monoparentalidade feminina, seja uma presena anterior ao sculo XX,
sua origem e permanncia, ocorriam por duas motivaes diferentes das atuais. Em geral,
era decorrente a gestao anterior ao casamento, facto que por vezes resultava em
expulsar a filha de casa e com ela cortar relaes de convvio, pois a mesma havia
manchado a reputao e bom nome familiar; por vezes, ou consequente viuvez. No
molde contemporneo, ocorre, em geral, por precariedade de escolha, por frustrao a
relacionamentos desfeitos e por adoo tardia do genitor (a) (Pires-de-Mello, 2014, p.
16).
Alm disto, o acrscimo de tempo cronolgico ao final da vida, em comparao
ao gnero masculino, colocou o envelhecimento tendo como caracterstica, a feminizao
da velhice, (Neri, 2005, p. 87). Condio que afeta e minora as chances de convvio
domstico, por factores diversos, entre eles: fragilidade, depresso, lutos e solido
(Medeiros, 2010, p. 6).
Cenarizar a famlia contempornea, indica, portanto, antes de tudo, voltar os olhos
para a abrangncia descontnua, que perpassa os diversos tipos de convvio, os quais, por
vezes, engendram questionamentos e conflitos, advindos de falta de lugar de pertena,
sensao de abandono afectivo e desrespeito ao Outro em diversas instncias!
Assim sendo, aclara-se o facto, de que, por funcionalidade precria de manuteno
da ordem, no ambiente familiar, a discrdia habite actualmente campos de convvio, antes
destinados ao Respeito e a Honestidade, como respaldo s tradies dos ncleos
antropolgicos Famlia, Educao e Espiritualidade.
A contemporaneidade sofre, por vezes, de uma disfuno relacional consequente
falta de referncia hierrquica, uma vez que, a instncia que marca o lugar da fala e
da conduta. Sem este parmetro, possibilita-se a desorganizao, a desordem, os
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confrontos sem causa definida e o no reconhecimento do semelhante, o que pode gerar
conflitos que se direcionem, tambm, ao asilamento de idosos.
O semelhante deixa de ser reconhecido como tal, formando um campo para que
exista de forma permanente, a necessidade de competio, portanto, sem hierarquia ou
regras definidas, ocorre, por vezes, o esfacelamento grupal, o medo, perda de sentimento
frtrio e predies de pavor, como condio perpetuamente cambiante (Teixeira, 2012,
p. 128), validando a Teoria das Catstrofes (Munn, 2012, p. 27), como predecessora do
caos e da incerteza que ronda a contemporaneidade!
O convvio baseado em hierarquia, possibilitava ao grupo, uma rotina produtora
de ordem e previsibilidade. A desconstruo de valores familiares foi paulatina e est
presente, ainda, na poca actual, como condio que fornece caractersticas perecveis ao
padro descontnuo, o qual, destitui um sistema de autoridades, sem preparar a sua
substituio (Certeau, 2012, p. 24).
Tal campo de aes, pode ser exemplificado e escrito, partir do trmino da
Segunda Guerra Mundial, pois, os indicadores estveis que direcionavam o Patriarcado e
conduziam linearmente a Famlia, a Educao e a Espiritualidade, foram destronadas de
poder e de funo (Oliveira, 1993, p. 131).
O espao cindido pela degradao dos costumes, proporcionou, tanto o incio de
comportamentos abusivos, incitados por violncia, quanto a ampliao das rotas que
colidiram com a hegemonia do Patriarcado; facto histrico que alterou diametralmente a
busca de equilbrio e a manuteno da ordem social, cuja consequncia assola a
contemporaneidade e pode ser contextualizada pela falta de respeito, ampliada por
humilhao e vergonha (Bigliani, Moglillansky e Sluzki, 2011, p. 35), que pode
desorganizar o funcionamento do sujeito ou de todo um grupo (Zimerman, 2010, p. 128).
A constante descaracterizao scio histrica, na qual o bem comum, o cuidado
mtuo, o respeito e a honestidade, que formavam o cerne dos valores familiares faziam
parte da formao e convvio domstico, no qual, a presena feminina ordenava a
necessidade de todos ao seu cuidado; contudo, o deslocamento feminino do privado para
o pblico, arregimentou a fora contrria e catica da descontinuidade, pois que os valores
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comunitrios, passaram a ter a imagem minorada formando stios, sem fora necessria
manuteno do grupo familiar de base patriarcal.
A formao do ser humano, necessita ancorar-se, tendo o grupo como base de
vivncias positivas que lhes forneam suporte e estabilidade, pois, ao distanciar-se dos
valores professados, facilmente a famlia se desmorona, sendo ento, conduzida sob
outras formas de convvio desagregadoras, como se constata na contemporaneidade,
conforme a condio real na qual vivem os utentes,
A expectativa assume tambm o campo laboral, trazendo questionamentos e
geralmente, conflitos ao pblico feminino, antes restrito ao ambiente domstico, uma vez
que, o foco direcionado ao mercado de trabalho, seja como necessidade, lugar ou forma
de adquirir experincia, foi promovido tambm pela marca da ao libertria,
procuramos discutir o papel produtivo e potencialmente libertrio das lutas de resistncia
s relaes de poder que oprimem e dominam indivduos e coletivos (Carvalho e
Gastaldo, 2008, p. 2037).
Desta forma, a ao do feminino ainda permanece conturbada, pois tem direitos
adquiridos e assegurados pela luta das conquistas e das leis, contudo uma ao que
colide, por vezes, com a dinmica dos deveres afectivos e morais a serem mantidos com
o grupo familiar e que traz mascarado o conturbado campo do descaso e dos desafectos,
que atravessam, por vezes, a ordem da conjugalidade, pela inverso de papis.
necessrio que esta adaptao ao trnsito em ambientes diversos, seja
acompanhada e gerida por elaboraes compartilhadas e busca de equilbrio no convvio
domstico. A vida contempornea, demonstra a dificuldade que os casais enfrentam em
conjugar as aes de mutualidade, sem que isto seja visto, entre eles, como perda de poder
e de lugar (Colossi, Falke,Haack e Razera, 2015, p. 57).
A questo de gnero assumiu prioritariamente o parmetro igualitrio (Oliveira e
Santos, 2010, p. 11), sem considerar, por vezes, as dimenses da cultura vigente e o