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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia Dissertação de Mestrado Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Instituto de Economia como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Econômicas. Orientador: Profº Nelson Henrique Barbosa Filho. Marcos Tadeu Caputi Lélis Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2005.

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Page 1: Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia … · 2007. 10. 8. · 2 Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil Elaborado por Marcos Tadeu Caputi Lélis Mestrando

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Economia

Dissertação de Mestrado

Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Instituto de Economia como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Econômicas. Orientador: Profº Nelson Henrique Barbosa Filho.

Marcos Tadeu Caputi Lélis

Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2005.

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Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil

Elaborado por Marcos Tadeu Caputi Lélis

Mestrando em Ciências Econômicas

Dissertação submetida á aprovação para obtenção de Título de Mestre do Curso de

Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2005.

___________________________________________ Profº Dr. Nelson Henrique Barbosa Filho

___________________________________________ Profº Dr. Francisco Eduardo Pires de Souza

___________________________________________ Profº Dr. Julio Sérgio Gomes de Almeida

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Dedico esta dissertação aos meus Pais, os quais me auxiliaram de forma constante nos meus processos de formações humana e acadêmica.

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Agradecimentos

Agradeço ao Professor Nelson Henrique Barbosa Filho, meu orientador, pelo

constante apoio e atenção não só na elaboração desta dissertação, mas sim durante o

desenvolver do meu curso de mestrado.

Sou extremamente grato aos meus colegas do Grupo de Conjuntura da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialmente ao Professor Francisco Eduardo

Pires de Souza, pelos comentários e orientações que muito acrescentaram na minha

formação como economista.

Não posso esquecer, ainda, de agradecer ao Professor Julio Sérgio Gomes de

Almeida que ofereceu toda sua experiência como economista nos comentários e

sugestões integralizados nesta dissertação.

Por fim, não posso deixar de admitir a minha imensa dívida com os meus

familiares, que me apoiaram incondicionalmente durante estes dois anos em que me

afastei deles para concluir meu curso de mestrado.

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Resumo

É consensual, ente as várias correntes do pensamento econômico, que a

formação bruta de capital fixo é o componente mais importante da demanda agregada

para crescimento econômico sustentável de uma determinada região. Ao considerar,

portanto, o foco da ciência econômica a investigação a respeito das causas desse

crescimento, faz-se necessário entender como se comporta a demanda por investimento.

Assim, esta dissertação buscou identificar quais foram os agregados macroeconômicos

relevantes na tomada de decisão do setor privado com respeito aos seus gastos em

máquinas e equipamentos. Salientando que para uma tentativa de explicar as despesas

de investimento agregado, em qualquer período de tempo, encontra-se a dificuldade de

que diversos fatores determinam diferentes tipos de gastos com investimento. Neste

sentido, trabalhou-se somente com o setor privado e sua demanda por máquinas e

equipamentos, para o Brasil, no período que se inicia em 1992 e estende-se até 2003,

configurando em dados trimestrais.

Para uma melhor compreensão do modelo econométrico que se empregou

neste trabalho, fez-se, primeiramente, uma revisão nos conceitos teóricos das principais

escolas econômicas com respeito aos gastos com investimento. Nessa revisão,

identificaram-se, basicamente, dois grandes grupos teóricos. O primeiro deles, o

Neoclássico, estrutura a compreensão da decisão de investimento a partir das alterações

na produtividade marginal do capital e no seu custo de uso. Diferentemente desse, têm-

se os economistas que sustentam suas concepções teóricas sobre um pano de fundo em

que o principio da demanda efetiva é o motor da dinâmica econômica.

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Já delimitados os conceitos teóricos da demanda por máquinas e

equipamentos, passou-se à procura das evidências empíricas dessa. Para isso, fez-se uso

de um modelo vetorial de correção de erros (VEC), onde, analisou-se o efeito impulso

resposta sobre a variável dependente do modelo em questão, observando, ainda, o teste

de causalidade de Granger e a decomposição de variância para os principais agregados

do modelo proposto. Por fim, ponderando-se todos os testes apresentados, chegou-se à

conclusão de que os gastos privados por máquinas e equipamentos, no Brasil, para o

período proposto, responde fortemente às variáveis ligadas à demanda agregada, ou

seja, as evidências empíricas, através dos resultados econométricos, identificam as

correntes teóricas que levam em consideração a demanda efetiva, como aquelas que

explicam de forma mais convincente os gastos em investimento no Brasil.

PALAVRAS CHAVES: modelo econométrico, VEC, investimento.

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Abstract

Among several economic theories, it is consensual that the gross

formation of fixed capital is the most important component of the aggregated demand

for sustainable economic growth of a certain region. Therefore, when we consider the

investigation on the causes of this growth the focus of economic science, it is necessary

to understand how the demand for investment behaves. Thus, this thesis tried to identify

what were the relevant macroeconomic aggregates in the decision making of the private

sector regarding its expanses in machinery and equipment. When trying to explain the

expanses in aggregated investment, at any period of time, we find that several factors

determine different kinds of expenses with investment. Along these lines, only the

Brazilian private sector and its demand for machinery and equipment, from 1993 to

2003, was investigated, gathered in quarter data.

For a better understanding of the econometric model that was applied in

this thesis, it was firstly created a summary with the theoretical concepts of the main

economic schools regarding expenses in investments. Basically, two main theoretic

groups were identified. The first, the Neoclassic, structures the understanding of the

investment decision based on the alterations of marginal productivity of the capital and

on the cost o use. Different from this point of view, we find the economists that support

their theoretical conceptions on a background where effective demand is the engine of

economic dynamics.

Having limited the theoretical concepts of the demand for machinery and

equipment, the search for empirical evidences started. In order to do this, a vectorial

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model of error correction (VEC) was used where the effect of the response impulse on

the dependable variable of the model was analyzed. It was also observed the causality

test of Granger and the decomposition of variance for the main aggregates of the

proposed model. Therefore, after having pondered on the presented tests, it was

concluded that the private expenses of machinery and equipment, in Brazil, for the

proposed period, responses strongly to the variables related to aggregated demand. This

means that empirical evidences, through econometric responses, identify the theories

that take into consideration the effective demand, such as the ones that explain in a more

convincing way the expenses in investments in Brazil.

KEY WORD: econometric model, VEC, investments.

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ÍNDICE ANALÍTICO

1. INTRODUÇÃO................................................................................ 12

2.ASPECTOS TEÓRICOS DA DETERMINAÇÃO DA DEMANDA POR INVESTIMENTO....................................................................... 16

2.1. TEORIA NEOCLÁSSICA.............................................................. 17

2.1.1. O Acelerador Neoclássico ....................................................... 29

2.2. INVESTIMENTO SOB INCERTEZA: A ABORDAGEM DAS OPÇÕES REAIS.................................................................................... 33

2.3. TEORIA DE KEYNES: .................................................................. 38

2.4. TEORIA DE KALECKI: ................................................................ 46

2.5. TEORIA ESTRUTURALISTA....................................................... 51

2.6 SUMÁRIO TEÓRICO..................................................................... 60

3.FONTE E TRATAMENTO DOS DADOS...................................... 63

4. DEFINIÇÃO DO MODELO ECONOMÉTRICO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................... 70

5. CONCLUSÃO................................................................................ 120

ANEXOS ............................................................................................ 129

METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DAS SÉRIES FORMAÇÃO BRUTA MAQUINAS E EQUIPAMENTOS E CONSTRUÇÃO CIVIL COM PERIODICIDADE TRIMESTRAL ........................................... 130

METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS SALÁRIOS NA RENDA COM PERIODICIDADE TRIMESTRAL .. 133

TABELAS DE RESULTADOS DOS TESTES DE RAIZ UNITÁRIA136

TABELAS DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO DA FBME ............ 139

BIBLIOGRAFIA ............................................................................... 152

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ÍNDICE DE FIGURAS:

Figura 2.1.1 - Decisões de investimento e consumo em uma economia de dois períodos ...............21 Figura 2.2.1 – Preços do produto de uma firma particular. ....................................................35 Figura 2.3.1- Formação da curva da EMgK via produtividade do capital...................................40 Figura 2.4.1: Produção macroeconômica determinada pela oferta agregada (ES) e demanda agregada (IS)......................................................................................................................58 Figura 2.5.2: Função IS em “C” com regimes expansionista e contracionista..............................59

ÍNDICE DE GRÁFICOS:

Gráfico 4.1: Logaritmo da FBME entre 1992/I e 2003/IV.........................................................75 Gráfico 4.2: Dispersão (x,y) entre a taxa de variação do CFAMILIAS e a taxa de variação do CREDTOTAL........................................................................................................................81 Gráfico 4.3: CREDTOTAL e CREDPRI entre 1992/I e 2003/IV.....................................................82 Gráfico 4.4: Taxa de variação da FBME e do CFAMILIAS entre 1992/II e 2003/IV..........................93 Gráfico 4.5: Dispersão (x,y) entre a taxa de variação da FBME e a taxa de variação do CFAMILIAS............................................................................................................................93

Gráfico 4.6: Logaritmo da FBME e logaritmo do CFAMILIAS entre 1992I e 2003IV.......................94

Gráfico 4.7: Logaritmo da FBME e grau de utilização da capacidade instalada entre 1992I e 2003IV...............................................................................................................................96 Gráfico 4.8: Dispersão (x,y) entre a taxa de variação da FBME e a taxa de variação da utilização da capacidade instalada............................................................................................................97 Gráfico 4.9: Dispersão (x,y) entre a taxa de variação da FBME e a taxa de variação TXIPCA.........99 Gráfico 4.10: Efeito impulso-resposta sobre a variável FBME estruturada a partir do VEC do modelo 1..........................................................................................................................104 Gráfico 4.11 Efeito impulso-resposta sobre a variável FBME estruturada a partir do VEC do modelo 2..........................................................................................................................106 Gráfico 4.12: Variações na TXIPCA e na TXIGP entre 1992 II e 2003 IV.....................................107 ÍNDICE DE TABELAS:

Tabela 4.1: Testes de Dickey-Fuller e Phillips-Perron para as séries 1992-2003 .........................74 Tabela 4.2: Resultado da estatística-t para as variáveis selecionadas..........................................79 Tabela 4.3: Coeficiente de correlação de variáveis selecionadas................................................84 Tabela 4.4: Teste de restrição para o parâmetro do CGOVERNO em um modelo VEC para a FBME...............................................................................................................................87 Tabela 4.5: Valores estatístico do teste de cointegração de Johansen para a equação da FBME................................................................................................................................87 Tabela 4.6: Teste de restrição para o parâmetro do CFAMILIAS em um modelo VEC para FBME................................................................................................................................90 Tabela 4.7: Valores estatístico do teste de cointegração de Johansen para a equação da FBME com uma defasagem...................................................................................................................90 Tabela 4.8: Teste de restrição para o parâmetro do TXIPCA em um modelo VEC para FBME......98

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Tabela 4.9: Valores estatístico do teste de cointegração de Johansen para a equação da FBME com TXIGP como variável exógena..............................................................................................101 Tabela 4.10:Teste de causalidade de Granger para as variáveis endógenas do VEC da FBME....110 Tabela 4.11: Decomposição de variância da FBME...............................................................112 Tabela 4.12: Decomposição de variância da CFAMILIAS............................................................113 Tabela 4.13: Decomposição de variância da UCI...................................................................114 Tabela 4.14: Decomposição de variância das IM...................................................................114

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1. INTRODUÇÃO

Entre 1990 e 2002, os gastos com o investimento total na economia brasileira

alcançaram um valor médio de 17,7%1 do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que, 10%

desta taxa média referem-se à construção civil. Apesar desta relativa baixa na

participação dos gastos totais na economia2, não há duvida de que, para o crescimento

sustentável, a formação bruta de capital fixo é o mais importante componente de

demanda agregada. Esta maior relevância do investimento, vis a vis os outros elementos

do Produto, pode ser resumida, segundo Berndt (1996, p. 225), basicamente, em três

motivos.

O primeiro motivo associa-se à dinâmica de longo prazo, o efeito oferta. Todo

desembolso que tem como objetivo renovar e, ou, expandir o estoque de capital de uma

região dirige-se, por finalidade última, a aumentar a capacidade potencial de oferta de

mercadoria dessa. Além disso, os investimentos destinados, especificamente, a renovar

o estoque de máquinas e equipamentos de uma determinada empresa individual, tendem

1 Em reais (R$) a preços de 1980. 2 Neste mesmo período, a razão média consumo final (famílias e administração pública) sobre o PIB representou 79,1%.

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a incorporar os mais recentes avanços tecnológicos. Assim, este tipo de gasto aumenta,

tanto, a capacidade de produção de uma região; quanto, alavanca o progresso

tecnológico dessa.

O segundo fator, por sua vez, interessa mais objetivamente à dinâmica de curto

prazo e, de longo prazo, o efeito demanda. Os gastos com investimento afetam

diretamente a produção das indústrias de bens de capital e, ou, a construção civil. Ao

alterar a demanda pelos produtos dessas industrias, ocorrerá uma modificação nos seus

níveis de emprego que, via efeito multiplicador, se repercutirá em outros setores da

economia. Variações na demanda por investimento induzem expansão, ou retração, nos

níveis agregados de emprego e renda através de efeitos direto e indireto.

Por fim, o terceiro motivo relaciona-se com a sensibilidade da oferta e da

demanda agregadas após uma modificação nos dispêndios com investimento, o efeito

flutuação. No Brasil, para o período já delimitado, a formação bruta de capital fixo

variou de 15,4% do PIB, em 1993, a 19,5% do PIB, em 1997, o que, por sua vez, gerou

uma variância de 1,8% para a taxa de investimento, representando, aproximadamente,

10% do valor médio dos gastos com investimento nos anos analisados3. Esta apreciável

volatilidade dos dispêndios com investimento motivam importantes movimentos na

capacidade de produção agregada, na balança de pagamentos, na renda total da

economia e, principalmente, no nível geral de emprego.

Com efeito, a partir das considerações já mencionadas, torna-se evidente a

necessidade de um estudo detalhado sobre os determinantes dos dispêndios da formação

bruta de capital fixo. Para o caso brasileiro, esta análise tem contornos mais relevantes,

uma vez que há uma escassez de trabalhos visando mapear a função da demanda por

investimento.

3 Na série do consumo total, nos mesmos anos apontados para a série do investimento, a variância atingiu 1,2%, ou seja, apenas 1,5% do valor da sua média.

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Neste sentido, este trabalho tem por objetivo uma revisão dos conceitos

teóricos das principais escolas econômicas com respeito ao investimento. Em seguida

descreve-se um modelo econométrico para este agregado, buscando estimar uma função

para a formação bruta de capital fixo, mais especificamente máquinas e equipamentos,

para o Brasil, no período de 1992 - 2003.

A macroeconometria, de modo geral, é utilizada para quatro finalidades: (1)

caracterizar os dados; (2) produzir previsões macroeconômicas; (3) inferir sobre a

estrutura macroeconômica de uma região e (4) informar os formuladores de políticas

(Stock and Watson, 2001, p. 101). Levando em consideração a existência de

componentes não mensuráveis que, de alguma forma, influenciam na tomada de decisão

do empresário no momento de executar o dispêndio objetivando expandir e, ou, renovar

o seu estoque de capital, acredita-se que há uma dificuldade no ferramental

econométrico em antecipar, com alto grau de precisão, as variações nos gastos com

investimento. Logo, o que se busca neste texto é delimitar os condicionantes

macroeconômicos estruturais relevantes na tomada de decisão do setor privado4 com

relação aos dispêndios com investimento no Brasil.

Desta forma, o trabalho proposto afigura-se com três capítulos, além desta

introdução e da conclusão. No segundo capítulo, pretende-se proporcionar um sumário

dos principais modelos teóricos para a demanda por investimento, considerando as

diferentes escolas do pensamento econômico. No capítulo seguinte, caracterizam-se as

séries de dados utilizadas neste exercício, assim como as transformações necessárias

nessas visando atingir o objetivo deste trabalho.

4 É sabido que o setor público contribui com a Formação Bruta de Capital Fixo do País. Todavia, este trabalho trata somente da demanda por máquinas e equipamentos, ao qual atingiu um valor médio de apenas 15% dos investimentos totais do Governo no período de 1995 a 2002. Então, a participação média dos gastos públicos neste tipo de formação bruta, para o mesmo período indicado, alcançou 6,8%, ao passo que as empresas não-financeiras colaboraram com 83% deste total. Assim, não há nenhum tipo de imprecisão tratar as questões relativas ao investimento em máquinas e equipamento como especificamente privada.

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Já no quarto capítulo têm-se os modelos econométricos sugeridos e os

métodos utilizados para a sua estimação, seguindo-se uma análise dos resultados

encontrados na regressão, mediante observações dos problemas ocorridos e os

procedimentos adotados para sua correção. Nessa análise, faz-se uma discussão dos

resultados econométricos encontrados vis a vis os modelos teóricos abordados no

capítulo 2.

Finalmente, tem-se a Conclusão, em que se salientam as principais deduções

obtidas, as deficiências da análise e as recomendações para estudos futuros relacionados

ao tema.

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2. ASPECTOS TEÓRICOS DA DETERMINAÇÃO DA DEMANDA POR INVESTIMENTO

O principal objetivo deste capítulo é a compreensão dos modelos teóricos de

determinação dos gastos em bens de investimento. Por conseqüência, primeiramente

apresentam-se os conceitos das diferentes correntes do pensamento econômico

referentes a este agregado. Esses conceitos serão de grande importância no Capítulo 4,

onde se busca um paralelo entre os resultados obtidos na regressão econométrica e a

discussão das teorias presentes neste capítulo.

Salienta-se, ainda, que as várias escolas do pensamento econômico

fundamentam suas concepções teóricas sobre a demanda por formação bruta de capital

fixo de duas maneiras radicalmente distintas. As correntes, que tem como alicerce os

conceitos Neoclássicos, tratam as decisões de investimento a partir das variações na

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produtividade marginal do capital e no seu custo de uso, ancoradas em um contexto de

pleno emprego onde predomina o poder auto-regulador dos mercados capaz de conduzir

a economia no sentido de um equilíbrio automático e geral.

Por outro lado, têm-se que, para os economistas que concentram suas

concepções teóricas sobre um pano de fundo em que princípio da demanda efetiva é

primordial na elucidação da dinâmica econômica.

2.1. TEORIA NEOCLÁSSICA

A literatura Neoclássica apresenta, basicamente, três metodologias diferentes

para a abordagem da determinação da demanda por investimento; o critério do valor

presente, o estoque de capital de equilíbrio e a teoria q-investimento. A primeira

avaliação parte do pressuposto de que os agentes econômicos, mais especificamente as

empresas individuais, comportam-se a partir de um processo de maximização

intertemporal do rendimento líquido dos seus proprietários. Em um primeiro momento,

as empresas irão elencar os projetos de investimento tomando com referência o valor

presente liquido destes. Ou seja, subtraindo-se dos custos do projeto o retorno corrente,

isto é, a renda corrente descontada pelo valor da taxa de juros de mercado nos “n”

períodos que esta inversão proporcionará retorno5.

n

nttttt

r

R

r

R

r

RRCVP

)1(....

)1(1 221

+++

++

+++−= +++ (1)

onde:

VP = Valor Presente Líquido do projeto

C = custo do projeto

5 Ressalta-se que o número de períodos que o projeto trará retorno é simplesmente uma quantidade esperada, há pouca segurança neste tempo.

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ntt RR +,......, = retornos correntes

r = taxa de juros do mercado

Lembra-se que na equação (1) considera-se a taxa de juros do mercado (r)

como constante. Esta hipótese simplificadora, na verdade, é derivada da expectativa

média da curva de juros ao longo do período.

Apoiando-se nesta lógica, busca-se encontrar como as variações na taxa de

juros de mercado e nos retornos correntes irão influenciar o valor presente líquido do

projeto e, então, como determinarão a demanda por investimento. Em outras palavras, o

que motivará a tomada de decisão da firma, visando aumentar sua capacidade de

produção. Neste sentido, a empresa não é analiticamente distinta das unidades

familiares, as quais objetivam maximizar sua utilidade em função do seu consumo real

corrente ao longo do tempo (Branson, 1989, p. 286).

),.....,,( 10 tcccUU = (2)

sendo:

c = consumo real no período de 0 a t.

Assim, conhecendo o volume de recursos iniciais (capital, trabalho, matéria-

prima, entre outros) que a firma possui em um específico momento, aponta-se à

quantidade de produção líquida destinada para venda durante um certo período. É a

escolha desse volume de venda que balizará o rendimento líquido da empresa. Este

rendimento, por sua vez, poderá ter dois destinos; (1) uma parcela ser reinvestida na

própria firma; (2) o partilhamento total da receita líquida entre os proprietários da

empresa. A primeira opção diminui a renda líquida presente dos proprietários, mas

determina um aumento da produção líquida em um ponto futuro, via a elevação do

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estoque de capital6. O rendimento líquido futuro dos proprietários elevam-se por

conseqüência de um aumento da capacidade de produção da firma (majoração da

possibilidade de consumo futuro). Por outro lado, a segunda opção aumentará a renda

líquida presente, incrementando o consumo real corrente e, logo, a utilidade corrente do

proprietário. Todavia, o rendimento líquido futuro irá sofrer um processo de

encolhimento. Assim, tem-se uma curva de possibilidades de rendimentos sustentados

pela seguinte expressão:

0),....,,( 10 =tYYYU (3)

sendo:

Y = rendimentos líquidos nos períodos de 0 a t.

Já identificada à curva de possibilidade de rendimento, resta a firma escolher o

conjunto de renda líquida futura que maximizem a utilidade dos proprietários com base

nos recursos de produção iniciais que ela possui. Objetivando simplificar a

contextualização, consideram-se somente dois períodos na equação (3). Pode-se, deste

modo, determinar a declividade da curva em questão.

011

00

=∂∂

+∂∂

dYY

UdY

Y

U

00

11

dYY

UdY

Y

U

∂∂

−=∂∂

1

0

0

1

YU

YU

dY

dY

∂∂∂∂

−= (4)

A equação (4) nada mais significa do que a taxa marginal de transformação

(TMT) de Y0 para Y1. Ademias, tem-se que a curva de possibilidade de rendimento, ou

de produção, apresenta uma forma côncava, uma vez que a produtividade marginal do

Capital (PMgK) é decrescente. Uma queda em Y0 aumenta Y1 a taxas decrescentes.

6Por trás desta idéia coloca-se a questão da necessidade de poupança, conceitualmente definida como a parcela da renda que não foi consumida, objetivando promover o investimento.

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Uma vez escolhido o nível de rendimentos líquidos que a firma disponibilizará

aos proprietários, estes definirão seus níveis de consumo a partir da teoria proposta por

Irving Fisher. Segundo esse autor, o consumo dos indivíduos não é determinado

somente pela sua renda, mas também pela taxa de juros vigente no mercado e pela

função utilidade deles.

Fisher supõe dois períodos nos quais os indivíduos distribuirão sua renda e

consumo. Em outras palavras, os consumidores apresentam uma renda presente y0 (em

t0) e uma renda futura y1 (em t1). Portanto, ter-se-á um consumo c0 no período zero e um

consumo c1 no período um. Em termos de valor presente, seu consumo seria:

( ) ( )r

YY

r

cc

++=

++

111

01

0 (5)

Logo, o consumo é limitado tanto pela taxa de juros e, como, pelo nível de

renda no presente e no futuro. Enquanto, a inclinação das curvas de indiferença dos

proprietários deriva-se da função de utilidade destes (equação (2))

intertemporalmente.

011

00

=∂∂

+∂∂

dcc

Udc

c

U

00

11

dcc

Udc

c

U

∂∂

−=∂∂

1

0

0

1

cU

cU

dc

dc

∂∂

∂∂−= (6)

Análoga à equação (4), a expressão (6) representa a taxa marginal de

substituição (TMS) de c0 por c1.

O consumidor, portanto, escolhe o nível de c0 e c1 que maximiza a sua

utilidade, dada a sua restrição orçamentária que apresenta declividade igual a )1( r+ ,

considerando a influência que a taxa de juros têm sobre o consumo.

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21

Segundo Rangel (1999, p. 8-10), uma das hipóteses do modelo de Irving

Fisher refere-se ao fato de que os consumidores conhecem perfeitamente os

rendimentos que irão receber durante a sua vida. Ademais, o consumo não está

restrito pela falta de crédito, sendo perfeitamente viável que, em um determinado

período, se gaste mais do que a renda desse mesmo período.

Deste modo, a figura 2.1.1 oferece as curvas de possibilidade de rendimento

líquido (ou a restrição orçamentária do indivíduo) e indiferenças dos proprietários da

firma. Conseqüentemente, observam-se as decisões de investimento e de consumo da

firma e do seu proprietário, respectivamente.

Figura 2.1.1 - Decisões de investimento e consumo em uma economia de dois períodos Fonte: Elaborado pelo autor com base em Branson (1989, p. 288).

Nota-se, agora, no ponto “A” da figura anterior, o resultado da escolha da

empresa com base na sua curva de possibilidade de rendimentos líquidos. Esta

definiu que Y0>Y1, ou seja, ocorreu uma distribuição maior dos rendimentos líquidos

aos proprietários da firma no tempo zero e, portanto, a poupança da firma diminui no

período 1 em comparação com período zero. Conseqüentemente, a renda dos

$ PERÍODO 0

$ PERÍODO 1

U0

U1 0),( 10 =yyµ

A

B

Y0

Y1

C0

C1

α

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22

proprietários da empresa sofrerão um processo de queda no período 1. Os

proprietários da empresa, cientes da renda que irão receber temporalmente, dividem

seu consumo em dois períodos, atingindo a sua utilidade máxima no ponto “B”.

Neste ponto, o individuo apresenta um consumo, no período zero, igual à C0, o qual é

menor que Y0, ao passo que, no período um, C1 é maior que Y1.

O aumento na taxa de juros (r) deslocará a restrição orçamentária no sentido

de aumentar o ângulo da reta que caracteriza esta restrição, dado pela

)1( rtag +−=α . Esse movimento permite verificar que uma elevação na taxa de

juros reprime o consumo e o investimento do período zero. Esta mecânica só é valida

considerando que somente o efeito substituição operou após a alteração conjuntural.

Todavia, não se pode afirmar que esse movimento sempre ocorrerá desta forma7. É

importante observarem-se os efeitos renda e substituição na determinação da escolha

do indivíduo8.

Ainda pela observação da figura 2.1.1, tem-se claro que, ao tomar a decisão

com respeito ao fluxo de investimento, a firma irá, por conseqüência, maximizar a

utilidade dos seus proprietários, pois, neste ponto, TMT = TMS = (1+r), e, portanto, os

administradores da empresa não necessitam de nenhuma informação sobre a arquitetura

da função utilidade dos proprietários. Logo, a única regra a seguir é objetivar a TMT =

(1+r). Com base em tal principio o bem-estar dos proprietários estará sendo otimizado,

caso contrário, em um ambiente de economia competitiva, o projeto de investimento

não alcançará seu êxito.

7 No caso da figura 2.1.1, partindo-se de um aumento da taxa de juros, sob a condição de que o individuo decidirá poupar mais no tempo presente e aumentar seu consumo no futuro, leva-se em conta unicamente o efeito substituição. Assim, mantém-se a escolha do indivíduo na mesma curva de utilidade (U0). 8 Por trás desta decisão de escolha do indivíduo, caracteriza-se o mapa das curvas de indiferença deste. Com efeito, ao mudar a estrutura do mapa atingem-se resultados diferentes.

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23

Por fim, como já ressaltado anteriormente, o retorno corrente líquido depende

fundamentalmente da (1) taxa de juros de mercado. Um aumento dessa taxa provoca

uma redução do valor presente do projeto de investimento e uma diminuição na

utilidade dos proprietários; além da (2) expectativa de um retorno líquido, que, ao se

elevar, majora o valor presente da empresa, ou seja:

0<∂∂r

VP (7)

0>∂∂R

VP (8)

Como uma extensão da teoria do valor presente, compõem-se os determinantes

do nível de estoque de capital desejado, ou, então, a teoria do estoque de capital de

equilíbrio. Tal concepção esta evidenciada, de maneira explicita, na passagem abaixo:

“According to the neoclassical theory of capital, as expounded for example by Irving Fisher, a production plan for the firm is chosen so as to maximize utility over time. Under certain well-know conditions this leads to maximization of the net worth of the enterprise as the criterion for optimal capital accumulation. Capital is accumulated to provide capital service, which are inputs to the productive process. For convenience the relationship between inputs, including the input of capital service, and output is summarized in a production function. […] The central feature of the neoclassical theory is the response of the demand for capital to changes in relative factor price or the ratio of factor prices to the price of output” (Jorgenson, 1963, p. 247).

A passagem citada deixa transparente a conexão que existe entre a teoria do

valor presente e a teoria do estoque de capital de equilíbrio. Esta última, assim como a

primeira, observa que, ao se tomar uma decisão de implementação de um projeto de

investimento, se tem como objetivo a maximização do valor corrente da firma,

observando-se os fluxos de lucros futuros. Com o que, a firma estará buscando sempre

um volume de estoque de capital ótimo.

A fim de tornar mais simples a exposição, duas hipóteses são admitidas. A

primeira refere-se ao fato de que não existe incerteza, isto é, o fluxo de lucros não são

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24

simplesmente variáveis estocásticas, mas apresentam um caráter determinístico. Já a

segunda hipótese aborda a característica de que a firma atua em um ambiente

competitivo, em outras palavras, ela é price-taker em todos os mercados. Apesar disso,

existe uma barreira tecnológica para a empresa, expressa pela sua função produção.

),( ttt KNYY = sendo, 0;0 >∂∂

>∂∂

K

y

N

y (9)

onde:

Yt = produção por unidade de tempo.

Nt = trabalho por unidade de tempo.

Kt = estoque de capital.

Adota-se, ainda, uma taxa de depreciação constante para o estoque de capital

durante todo o período da sua duração. Além do que, o investimento líquido corrente

sofrerá um processo de desgaste somente no período seguinte, isto é, em (t + 1).

tttt KiKK .1 δ−+=+

ttt iKK +−=+ ).1(1 δ (10)

onde:

δ = taxa de depreciação

i = investimento bruto

Destaca-se que na caracterização do modelo anterior (Valor Presente Líquido)

não se explicitou como se dá a dinâmica de depreciação de estoque de capital. Não se

considera esta demonstração porque tal dinâmica está implícita na função possibilidade

de rendimento.

Logo, as firmas irão maximizar seu valor presente objetivando um fluxo ótimo

de lucro futuro, tendo como restrição as equações (9) e (10). Além disso, pode-se

reescrever a equação (1) da seguinte maneira:

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25

....)...()1(

1

...)..(1

1)...( 111111000000

+−−+

+

++−−+

+−−=

t

i

tttttt

ii

iPNWYPr

iPNWYPr

iPNWYPPV

(11)

sendo:

tt YP . = valor de venda da produção, onde tP representa o preço da produção no

tempo t.

tt NW . = valor dos gastos com salários, onde tW representa os salários no

tempo t.

t

i

t iP . = valor dos gastos com investimento, onde i

tP representa o preço do

investimento no tempo t.

Se a firma espera continuar operando indefinidamente, representa-se a equação

(11) da forma seguinte:

∑=

+∞= −−+

=T

tt

i

ttttttT iPNWYPr

VP0

0 )...()1(

1lim (12)

Sob a hipótese de que a função de produção conserva-se constante, substitui a

equação (9) em (12)9.

∑∞

=

−−+

=0

0 )..),(.()1(

1

tt

i

tttttttiPNWKNYP

rVP (13)

A dificuldade da firma passa a ser maximizar a função (13) sujeito à restrição

expressa pela equação (10), já que a equação (9), antes caracterizada como uma

restrição, já está inserida nesta expressão. A empresa depara-se com o problema de

escolher o nível de trabalho e o estoque de capital ótimo; e, por extensão, o fluxo de

investimento necessário para que isto ocorra. Essa mecânica terá que ser processada

9 Para simplificar a notação, trabalha-se no operador somatório com t variando de 0 a ∞

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período a período em vista da configuração da restrição imposta. Assim, a firma irá

maximizar o seu lucro a cada novo tempo t10.

Com efeito, das condições de 1ª ordem a demanda por trabalho da firma é dada

por:

t

t

ttN P

WKNY =),( (14)

Por sua vez, para alcançar a expressão que maximiza o estoque de capital, faz-

se necessário algumas manipulações maiores. Substituí-se a expressão que maximiza o

investimento na própria equação de maximização do estoque de capital. Assim, das

condições de 1ª ordem11:

( ) 0)1()1(

)1.(..

)1(

11

1 =

+−

+

−+

+ −−

t

i

t

t

i

t

ktt r

P

r

PYP

r

δ (15)

Multiplicando os dois termos da equação anterior por (1 + r)t:

t

t

i

t

t

i

t

ktt

t rr

P

r

PYP

rr )1.(

)1()1(

)1.()..(

)1(

1.)1( 1

1 +

+−

+

−−=

++ −

−δ

)1.()1.(. 1 rPPYP i

t

i

tkt ++−−= −δ (15.a)

i

t

i

t

i

t

i

tkt PrPPPYP 11 ... −− +++−= δ (15.b)

t

i

t

i

t

i

t

i

t

k P

PPPrPY

)(.. 11 −− −−+=δ

(16)

Portanto, no numerador do lado direito da equação (16), o primeiro termo

representa a depreciação por unidade capital usado no tempo t, caracterizado pela

multiplicação da taxa de depreciação pelo custo dos bens de investimento em cada

período. O segundo termo mostra o valor presente do estoque de capital de (t-1) no

tempo t. E o último termo exibe a variação de preço de t para (t-1), isto é, o ganho de 10 A formalização do processo de maximização do valor presente líquido da firma encontra-se em Branson (1989, p. 298 e 299). 11 Para Jorgenson (1963) o valor de equilíbrio do estoque de capital não será obtido em um único movimento, mas sim, através de uma trajetória constituída por algumas defasagens.

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capital em relação ao estoque de capital no início do período t. Em suma, este três

elementos acabam por formar o custo de uso do capital em t (CCt), ou seja, o gasto por

estar utilizando o estoque de capital, equivalente a um preço de aluguel desse estoque.

Então:

),,,( 1 rPPfCC i

t

i

tt δ−= (17)

Percebe-se, também, pela equação (16), que o estoque de capital irá expandir-

se até igualar-se ao custo real de uso, ou seja, produtividade marginal do capital (yk).

t

t

t

ttk ccP

CCKNy ≡=),( (18)

Ao passo que, o estoque de capital de equilíbrio KE está em função do produto,

do custo de uso e do preço do produto da firma.

),,( PCCYKK EE = sendo, 0,0,0 <∂∂

>∂∂

>∂∂

CC

K

P

K

Y

K EEE

(19)

O terceiro modelo de investimento que apresenta concepções de fundo

neoclássicas não se distância das anteriormente apresentadas. A teoria q-investimento

foi proposta por James Tobin ao se utilizar o entendimento neoclássico de investimento

em um modelo de equilíbrio geral estruturado sobre as bases da IS-LM12.

“The approach focuses on the capital accounts of economic units, of sectors of the economy, and of the economy as a whole. A model of the capital account of the economy specifies a menu of the assets (and debts) that appear in portfolios and balance sheets, the factors that determine the demands and supplies of the various assets, and the manner in which asset prices and interest rates clear these interrelated markets” (Tobin, 1969, p. 15)

Esse autor, ao introduzir o mercado de ativos entre os fatores de determinação

da demanda por investimento, busca uma maneira de mensurar as variáveis não

observáveis que influenciam a demanda por investimento. Tal que, para Tobin, o

12 Tobin, J., A General Equilibrium Approach To Monetary Theory (1969).

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melhor sinalizador destas variáveis, em geral expectacionais, estava no mercado

financeiro, onde os preços das ações13 eram a ancora segura para qualquer investidor.

Dessa maneira, os investidores, a partir da expectativa de lucratividade para

um projeto de investimento, determinariam o valor que pagariam para ter essa

vantagem. A esse valor dá-se o nome de preço de demanda de um ativo. Quando se

imagina esse preço de demanda para a firma como um todo, se alcança o valor de

mercado do conjunto do seu mobilizado, fixado via mercado financeiro14. Por outro

lado, o custo de produção de um novo bem de capital nada mais é do que o preço de

oferta medido pela estimativa do custo de reposição dos seus ativos (custo de

substituição do capital). Em equilíbrio, os preços de demanda e de oferta para as plantas

e equipamentos serão iguais. Ou seja, se a razão entre o valor de mercado da firma e o

custo de reposição de seus ativos for igual a um, então não há incentivos para a firma

investir.

Uma abordagem mais formal da teoria q-investimento inicia-se a partir da

equação de condição de 1ª ordem de maximização do lucro (equação 15.a).

0)1.()1.(. 1 =+−−+ − rPPyP i

t

i

tkt δ (15.a)

Rearranjando os termos e dividindo a expressão precedente por (1+r), chega-se

à expressão do q marginal de Tobin (qmarg).

[ ]arg

1

1

)1.(..)1(

1

mi

t

i

tkt

qP

PyPr

==

−+

+

δ (20)

Assim, o numerador da equação (20) é o valor de mercado da firma no período

t, descontado para o período (t-1). O primeiro termo, kt yP . , representa a ampliação nas

vendas e o segundo, )1.( δ−i

tP , o incremento no estoque de capital. Todos os dois no

13 O valor de mercado das ações ajuda a medir a diferença entre o estoque de capital efetivo e o estoque de capital de equilíbrio. 14 Tobin supõe que o mercado financeiro opera em condições de perfeição.

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tempo t, sendo a soma descontada para o tempo (t-1). Por outro lado, no denominador

tem-se o custo de um pequeno aumento no estoque de capital em (t-1). Em outras

palavras, o que se tem são os ganhos de um mínimo aumento no mobilizado da empresa

dividido pelo seu custo, desde logo, o qmarg.

Considerando que, em um determinado momento, à empresa está operando em

um ambiente rentável e que foi adicionado, por exemplo, $ 1 no estoque de capital

desta, se a expectativa de lucratividade crescer o bastante para que o valor de mercado

da empresa majore mais que $ 1, atingi-se, neste caso, um qmarg maior que a unidade,

incentivando o investimento em maquinas e equipamentos visando maximizar os

retornos dos acionistas. Esse movimento irá ocorrer até que o qmarg atinja a cifra de $ 1,

quando se alcança o estoque de capital de equilíbrio, maximizando a utilidade dos

proprietários da empresa.

O grande sucesso da teoria q-investimento, entre os economistas de abordagem

neoclássica, deve-se ao fato que, por hipótese, as expectativas de mercado a respeito da

lucratividade futura do investimento estão totalmente contempladas na evolução dos

preços dos títulos da firma. Todavia, o investimento agregado não responderá, de forma

contínua, apenas pelas trocas nos valores de mercado das empresas (Berndt, 1991,

p.259).

2.1.1. O Acelerador Neoclássico

Até aqui se focalizaram os determinantes da demanda por bens de capital, não

se questionou a relação existente entre a taxa de crescimento do produto e o nível de

investimento líquido, isto é, o princípio do acelerador, o qual aponta que, um aumento

(ou diminuição) na taxa de crescimento da produção provoca um incremento (ou um

decréscimo) no gasto com bens de capital. Essa relação entre o crescimento do produto

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e o investimento líquido, na concepção neoclássica, não é fixa, determinando o

chamado acelerador flexível.15

Para se alcançar essa relação, primeiramente, define-se como se comporta a

função produção da economia como um todo, isto é, qual o formato da equação (9).

[...], we assume that output and employment on the one hand and capital stock on the other are determined by a kind of interactive process. In each period, production and employment are set at the levels given by the first marginal productivity condition and production function with capital stock fixed at its current level; demand for capital is set at the level given by the second marginal productivity condition, given output and employment. With stationary market conditions, such a process is easily seen to converge to the desired maximum of net worth. Let K* represent the desired amount of capital stock, if the production is Cobb-Douglas [grifo nosso] with elasticity of output with respect to capital,γ (Jorgenson, 1963, p. 249).

Assim, a função produção proposta por Jorgenson apresenta o seguinte

desenho:

ββ −= 1.. NKaY , onde, 10 << β (21)

Sendo o produto marginal do capital representado por:

βββ −−=∂∂ 11... NKaK

Y

P

CC

K

YNKKa

K

Y===

∂∂ −− .

.... 11 ββ ββ (22)

Onde, o último termo à direta da igualdade resulta da equação (18). Além

disso, estando o estoque de capital no seu nível de equilíbrio tem-se o resultado abaixo:

P

CC

K

YE =.β

CC

YPK E

..β= (23)

15 Para Jorgenson (1971, p. 1112) o mecanismo do acelerador flexível poderia ser transformado em uma teoria geral para o comportamento do investimento, pois, este englobaria o acelerador rígido também.

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Com efeito, o estoque de capital de equilíbrio aumenta com o crescimento da

produção (y) e diminui com o incremento no custo nominal de uso do capital (CC).

Além disso, existe uma relação inversa entre o preço relativo do capital e o estoque de

capital de equilíbrio16.

Já definida a produtividade marginal do capital para o caso em que a função de

produção apresenta um formato Cobb-Douglas, chega-se à questão de derivar uma

função demanda por investimento com base nas trocas do estoque de capital de

equilíbrio.

ttt

b

t KKKi .1 δ+−= + (24)

sendo:

bi = investimento bruto

tt KK −+1 = investimento líquido

tK.δ = depreciação

Com o que, a expressão acima é a soma do investimento líquido (il), parte do

investimento bruto que realmente soma-se ao estoque de capital, com o investimento de

reposição (ir), componente do investimento bruto necessário para manter o estoque de

capital constante.

t

r

t Ki .δ= (25)

El Ki ∆= (26)

Por conseqüência, o investimento em reposição depende somente do nível do

estoque de capital, e o investimento líquido modifica-se com as variações no nível do

estoque de capital de equilíbrio. Então, substituindo a equação (23) na expressão (26)

tem-se:

16 A equação (23) nada mais é do que uma exposição especial da expressão (19), para o caso em que a função de produção é representada por uma Cobb-Douglas.

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∆=CC

YPi lt

..β (27)

Considerando-se que a relação custo de uso do capital e nível de preço

permanece constante ao longo do tempo, chega-se a seguinte identidade:

YCC

Pi it ∆

= ..β

(28)

Logo, na equação (28) identifica-se o principio do acelerador flexível, ou seja,

a relação entre mudanças no produto e no nível de investimento líquido, sendo que o

equilíbrio de longo prazo do crescimento do produto é dado pelo fluxo de investimento

líquido. Isto é, quanto maior o fluxo de investimento líquido mais elevado será a taxa de

crescimento de equilíbrio no longo prazo.

Observa-se, também, que a razão

CC

P.γ irá ajustar-se de maneira que se

alcança constantemente o estoque de capital de equilíbrio. Este mecanismo está baseado

na hipótese de uma função produção Cobb-Douglas. Esta particular função permite

perfeita substitubilidade de capital por trabalho, os bens de capital não são específicos,

combinam-se com qualquer número de trabalhadores para realizar determinada tarefa.

Assim, ao admitir um aumento no preço do investimento, automaticamente ocorrerá,

também, um incremento no custo de uso do capital. No entanto, haverá uma substituição

de capital por trabalho, este movimento diminuirá a elasticidade de produção com

respeito ao capital, acomodando a relação

CC

P.γ de forma que chega-se ao estoque de

capital de equilíbrio.

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2.2. INVESTIMENTO SOB INCERTEZA: A ABORDAGEM DAS OPÇÕES REAIS

Os autores associados à concepção de que a teoria do investimento deve ter

como alicerce o comportamento do mercado de opção17, assinalam, fundamentalmente,

dois problemas na teoria neoclássica convencional.

(A) A questão do investimento em capital resolve-se da mesma

maneira que o problema do consumidor. Em outras palavras, os

gastos com a formação bruta de capital fixo têm a qualidade de

serem reversíveis18.

(B) As oportunidades de investimento que a firma individual

defronta-se seriam únicas. Isto é, a firma decidindo não exercer a

opção de investimento que o mercado sinaliza em determinado

momento, não terá a oportunidade de implementá-lo mais tarde.

Assim sendo, o ponto de partida para a abordagem das opções é a busca da

refutação destas duas concepções. A irreversibilidade19 e a possibilidade de protelar a

decisão de gasto na formação bruta de capital fixo são características que devem ser

levadas em conta quando da tomada de decisão da firma objetivando aumentar ou

renovar seu estoque de capital fixo.

A firma teria o direto e não a obrigação de comprar um específico plano de

investimento. Na maioria das vezes existirá a possibilidade de retardar a implementação

desse projeto, a esta qualidade de possível que se denomina opção. Por extensão o

investimento é irreversível, ou seja, ao se executar a oportunidade de investir, esta, por

conseqüência, extingue o valor da opção. Assim, é importante adicionar ao valor do

17 Mercado este que concebe direito de negociar a compra de mercadoria ou título, ações, etc, com pagamento em data futura e preço predeterminado. A opção é largamente utilizada nos mercados de commodities e no mercado futuro de ações. 18 Esta reversibilidade dos gastos com investimento está relacionada com a hipótese de mercados completos. Os mercados secundários são eficientes. 19 A questão da irreversibilidade estaria ligada a existência de sunk cost.

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projeto de investimento um custo de oportunidade de não implementação imediata

deste. Ou seja, a firma arcará com um custo pela espera de novas informações sobre o

projeto, sobretudo, dispêndios por aguardar novos elementos sobre as condições de

mercado. Com efeito, segundo Dixit e Pindyck (1994, p. 4 e 5) o principio do valor

presente líquido20, na forma como exposta pela teoria neoclássica, não alcança o

objetivo de ser um bom guia para a tomada de decisão do agente econômico com

respeito aos planos de investimento.

Na mesma linha de comparação com a teoria neoclássica, Hubbard (1994)

acredita que a teoria das opções reais é superior à primeira, fundamentalmente, por três

aspectos: (1) ocorre um avanço teórico, pois o que se apresenta responderia aos

problemas práticos não solucionados por outras teorias; (2) têm-se previsões

consistentes vis a vis as observações da tomada de decisão a respeito dos gastos com

investimento; e (3) podem-se praticar testes empíricos utilizando-se dessa nova

observação versus os modelos convencionais.

Portanto, para uma compreensão melhor de como os conceitos da teoria das

opções são aplicados na pratica da tomada de decisão do agente econômico, toma-se um

exemplo numérico apresentado por Pindyck em Irreverversibility, Uncertainty, and

Investment (1991, p. 1113-1114), se caracteriza uma economia com dois períodos, onde

a tomada de decisão da firma com respeito ao desembolso com investimento é

irreversível. A inversão pode ser implementada de imediato, a um custo I, e irá produzir

uma unidade de produto por ano para sempre, com zero de custo operacional. O preço

corrente (P0) do seu produto é $100, mas no próximo ano este valor irá alterar-se, com

uma probabilidade ‘q’ de subir para $150, e com probabilidade (1-q) de cair para $5021.

20 Nota-se que a questão do preço da produção foi utilizado amplamente nas teorias do estoque de capital de equilíbrio e na q-investimento. 21 Salienta-se que, de alguma forma, a firma conseguirá formular uma função densidade probabilidade para o comportamento dos preços da sua mercadoria.

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Após este movimento o preço da mercadoria irá manter-se na mesma importância para

sempre. Esta proposta está indica na figura 2.2.1.

Figura 2.2.1 – Preços do produto de uma firma particular. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Pindyck (1991, p. 1113).

Assume-se, ainda, que o risco está suficientemente diluído, proporcionando

para a empresa uma taxa de desconto intertemporal livre de risco, à qual adota-se um

valor de 10%. Admite-se um gasto com a Formação Bruta de Capital (I) igual a $800,

desembolsado no tempo zero, e uma probabilidade (q) de 0,5 de o preço subir. A partir

desses valores para I e q é rentável a firma exercer sua opção de investimento?

Calculando o valor presente líquido do projeto pelo método tradicional tem-se:

( )∑∞

=

+−=0

11,1

100800

tt

VPL (29)

O operador somatório, na equação (29), pode ser identificado como uma

progressão geométrica com início no tempo zero. Assim, este termo resume-se na

seguinte expressão:

11

1a

q

aSn +

−= (30)

sendo,

Sn = soma dos termos de uma progressão geométrica infinita

1a = primeiro termo da progressão geométrica.

P0 = $100

P1 = $150

P2 = $50 P2 = $50

P1 = $150

t = 1 t = 0 t = 2

...............

...............

...............

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36

q = razão da progressão geométrica.

Portanto, a expressão (29) consiste no seguinte cálculo:

300$100.18001 =+−=VPL

Desta forma, o VPL1 é positivo e, por conseqüência, sugere que a firma

deveria implementar o plano de investimento. No entanto, ao levar em consideração o

custo de oportunidade do investimento, mais especificamente, mantendo em aberto a

possibilidade de não realizar os gastos com a formação bruta de capital fixo, se ocorrer

uma queda nos preços, o calculo do VPL conteria uma nova estrutura. Admite-se uma

espera de um ano e exercita-se a escolha de gasto, se e somente se, suceder um aumento

de preço no produto da firma22.

( )( )

+

−= ∑

=12

1,1

150

1,1

800.5,0

tt

VPL (31)

De maneira distinta da equação (29), a expressão anterior apresenta o operador

somatório, também, identificado como uma progressão geométrica, mas, com início no

tempo um. Com efeito, este operador é caracterizado na função abaixo:

q

aSn −

=1

1 (32)

Então, o resultado do VPL, quando se considera a questão do custo de

oportunidade do investimento, é o seguinte:

( ) ( )( ) 386$773.5,0

1500727.5,0

2

2

==

+−=

VPL

VPL

Pelo resultado acima, se tem que o VPL2, igual ao VPL1 são maiores que zero.

Mais importante ainda é frisar que o VPL2 é maior que o VPL1, levando à conclusão

22 Lembra-se que no ano zero não ocorre nenhum tipo de dispêndio e, por conseqüência, não há depreciação do capital. Já no ano um, os $800 só serão desembolsados se o preço da mercadoria subir para $150, com probabilidade de 50%.

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37

que a espera por novas informações é melhor do que o investimento imediato. Isto

acontece porque o valor da “flexibilização da opção”, que é igual à diferença entre os

dois VPL, é $86, ou seja, $386 - $300 é uma estimativa positiva.

Não obstante a possibilidade de aguardar por novos elementos antes de

implementar um projeto de investimento, é evidente que existem situações à qual a

firma não poderá esperar para investir. Pindyck (1991) cita duas circunstancias em que

isto acontece: (1) o caso em que é importante antecipar-se a um potencial competidor; e

(2) a circunstância em que se busca o arrendamento de uma reserva mineral ou a

reivindicação de uma determinada patente.

Além disso, partindo-se da estrutura teórica das opções reais, podem-se tirar

algumas conclusões a respeito dos objetivos das políticas econômicas. O ambiente

econômico é fundamental para a escolha do investidor, pois, quanto maior a diferença

entre, por exemplo, P1 e P2 na figura 2.2.1, mais elevado será o custo de investimento

imediato. Desta forma, em um ambiente muito instável, o custo imediato de

implementar um projeto de investimento aumentará sobremaneira. Propõe-se, então, que

as intervenções estatais terão que ser mínimas, resguardando somente para casos de

falhas de mercado.

Por fim, apesar de toda a crítica dirigida à concepção neoclássica sobre os

determinantes do investimento, a teoria das opções reais ainda continua utilizando-se os

mesmos métodos usados pelos primeiros. A diferença entre essas duas abordagens está

na distinção entre variáveis estocásticas, contra determinísticas, e opções vis a vis VPL.

No entanto, a idéia da otimização do VPL de um plano de investimento aparece muito

clara quando se busca determinar os gastos com a formação bruta de capital fixo do

setor privado via teoria das opções reais. Então, os autores que demandam a descoberta

de uma moderna abordagem para a tomada de decisão dos agentes econômicos sobre os

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dispêndios com investimento, nada mais fazem do que uma reformulação da antiga

compreensão teórica neoclássica, a qual trata esta questão via critério do valor presente.

Assim, não há desacerto nenhum em identificar a teoria das opções reais como sendo a

“nova” teoria neoclássica do investimento.

2.3. TEORIA DE KEYNES:

O objetivo principal de Keynes, ao formular suas concepções teóricas, é

elucidar o porque a produção e o emprego sofrem tamanhas flutuações nas economias

capitalistas. Nesse sentido, em uma economia sem governo e fechada para trocas

externas o emprego depende, sobremaneira, das demandas por consumo e por

investimento. O consumo, por sua vez, é uma função da renda, e, por esse motivo,

apresenta uma certa estabilidade em relação à produção total da economia. Assim, os

dispêndios com o investimento, passível de grandes variações com o passar do tempo,

são o agregado macroeconômico mais ativo na elucidação da maioria das flutuações do

nível de emprego (Minsky, 1975, p.94).

Com o foco direcionado em caracterizar as causas destas oscilações, a teoria

dos determinantes da demanda por investimento formulada por Keynes é interpretada,

principalmente, de duas formas distintas. A primeira delas, mais convencional e exposta

na maioria dos manuais tradicionais de macroeconomia, aproxima-se da forma como a

Teoria Neoclássica trata este problema. Já, por outro lado, a outra explicação aponta em

direção oposta. Busca-se abandonar o principal elemento da primeira explicação, a

produtividade decrescente do capital, objetivando melhor elucidar os determinantes da

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tomada de decisão do agente23 sobre os dispêndios com a formação bruta de capital fixo

na concepção de Keynes.

Para o entendimento da primeira abordagem toma-se, novamente, a equação

(1), contudo, apresentada da forma a seguir:

( )∑= +

=n

tt

tVnV

00 1

,

ε (1.a)

onde:

V0 = investimento inicial

Vn,t = retorno líquido esperado no t períodos

ε = taxa interna de retorno esperada

t = períodos

Logo, tem-se como regra geral que compensa investir em um bem de capital se a

taxa interna de retorno esperada ou TIR (ε ) desse bem, no decorrer de sua vida útil, for

maior ou igual à taxa monetária corrente de juros do mercado e, buscando-se determinar

a solução de ε , encontra-se o valor da Eficiência Marginal do Capital (EMgK) que

torna o valor presente líquido (VPL) do investimento igual a zero.

Em relação aos fatores que podem fazer com que haja uma variação na EMgK,

destacam-se, nesta abordagem, o que se refere ao aumento do investimento em um

determinado setor industrial, gerando, por conseguinte, um aumento no estoque de

capital deste setor. Esse aumento de estoque faz com que a EMgK caia. Observa-se que

essa hipótese está subordinada à idéia de que existe uma produtividade marginal

decrescendo para o capital. Em outras palavras, a cada nova adição de um novo bem de

capital, o acréscimo obtido na produção de determinada mercadoria será

proporcionalmente menor que o aumento do estoque de capital.

23 Note que o foco da teoria do investimento apresentado por Keynes, em um primeiro instante, é o caso de uma firma individual. Somente após esta aproximação microeconômica agregam-se suas conclusões. Portanto, críticas dirigidas à falta de microfundamentos na Teoria Geral, parecem bastantes precárias.

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Deste modo, sucedido um aumento nos gastos com investimento, as receitas

esperadas nos t períodos aumentam, no entanto, este acréscimo dá-se a taxas

decrescentes. Ao aceitar esta suposição, afirma-se que a EMgK é uma função

decrescente da taxa de investimento. Esta única definição é suficiente para se edificar a

curva da EMgK agregada. Salientando que, pela própria concepção teórica da Escola

Neoclássica, a economia estaria operando continuamente em pleno emprego.

Erro!

Figura 2.3.1- Formação da curva da EMgK via produtividade do capital Fonte: Elaborado pelo autor.

Na parte (A) da figura 2.3.1 tem-se o resultado da produtividade marginal

decrescente do capital, ou seja, quanto mais elevado o estoque de capital da empresa

menor o seu retorno em relação à renda esperada. Somando-se a isto, observa-se, pela

configuração da curva Vn, que existe a viabilidade de se atingir um estoque de capital

que maximizará o valor de mercado da firma. Como uma extensão da parte (A), desta

mesma figura, é construído o componente (B). Então, transparece uma relação negativa

entre a EMgK e o estoque de capital da firma, fundamentada na hipótese dos retornos

decrescentes dos bens de capital.

A segunda interpretação teórica para os dispêndios com bens de capital move-se

em direção à passagem abaixo, extraída do capítulo 16 da Teoria Geral de Keynes.

( )nnn YIV ˆ,

(A) (B) K

Vn,t

K

EMgK

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Em vez de dizer do capital que ele é produtivo, é preferível dizer que ele fornece no curso da sua existência um rendimento excedente sobre os custo original. A única razão, pois, pela qual um bem permite uma expectativa de render, durante sua existência, serviços com um valor agregado superior ao seu preço de oferta inicial deve-se ao fato de que é escasso; e continua sendo escasso pela concorrência da taxa de juros do dinheiro. À medida que o capital se torna menos escasso o excedente de rendimento diminuirá sem que ele se torne por isso menos produtivo – pelo menos no sentido físico (Keynes, 1992, p. 169).

Com efeito, o preço de demanda do ativo de capital, determinado por um

processo de capitalização da renda futura, é a variável fundamental nesta segunda

interpretação para os determinantes do investimento concebida por Keynes,

personificado na equação a seguir:

n

nD

Ir

Q

r

Q

r

QP

+++

++

+=

1..............

11 2

2

1

1 (33)

onde:

D

IP = preço de demanda do investimento.

Q1......Qn = expectativas de rendimento da inversão.

nrr .......1 = taxa básica de juros de mercado esperada.

A partir da equação (33), pode-se concluir que se D

IP crescer, permanecendo

os retornos esperados constantes, a taxa básica de mercado terá que cair, pois só dessa

forma que a igualdade permanecerá consistente. Ao mesmo tempo, três seriam os

fatores que podem causar flutuações nos gastos com investimento: (1) as expectativas

de rendimento futuros; (2) a taxa básica de juros esperada, determinada nos mercados de

financiamento, ou (3) a relação entre o fator de capitalização da renda esperada sobre os

ativos de capital e a taxa de juros para empréstimos monetários, isto é, o fator risco

(Minsky, 1975, p.95-96).

As expectativas de renda não são alcançadas partindo da produtividade

marginal do capital. Acreditava-se que este componente é endógeno à estrutura cíclica

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da economia e estaria relacionada com a escassez do capital. Em momentos de

aceleração da atividade econômica, há uma tendência de diminuir a ociosidade tanto do

capital quanto do trabalho, sendo que, em períodos caracterizados por depressão

econômica o inverso acontece. Além do estoque de capital, tem-se a expectativa de

renda como determinante dos rendimentos esperados de um plano de investimento.

),( nnnn YKQQ = (34)

0),(<

∂∂

n

nnn

K

YKQ (35)

A equação (35) oferece uma relação inversa entre nQ e nK , e, sabendo que a

quantidade de capital relaciona-se de forma positiva com o fluxo de investimento, um

aumento neste último agregado leva a uma queda nos retornos esperados. Esse fato é

explicado por esta segunda abordagem, via princípio da escassez. Um aumento na

produção de um determinado bem de capital o tornará menos escasso e,

conseqüentemente, menos rentável, esta dinâmica acaba por diminuir o rendimento

esperado do investidor.

Assim, voltando à equação (33) e advindo um aumento no fluxo de

investimento, ocorrerá uma diminuição nos retornos esperados; mantendo-se constante a

taxa esperada de juros básica de mercado, resulta uma queda no preço de demanda do

bem de capital. Então, para se manter a igualdade válida, sem alterar o preço de

demanda do capital, é necessário uma diminuição daquela taxa. Configura-se, portanto,

uma relação inversa entre a demanda por investimento e a expectativa da taxa de juros

básica de mercado, mesmo partindo-se da contextualização da escassez do capital.

Nota-se, nesta abordagem para concepção teórica de Keynes, uma expressiva

influencia das expectativas na determinação dos gastos em bens de capital. Com efeito,

é importante uma caracterização do papel destas, especificada na incerteza dos retornos

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esperados. Keynes define “conhecimento incerto”, que se fundamenta no estado de

expectativa com relação ao futuro.

“Desejo explicar que por conhecimento “incerto” não pretendo apenas distinguir o que é conhecido como certo, do que apenas é provável. (...) O sentido em que estou usando o termo é aquele segundo o qual a perspectiva de uma guerra européia é incerta, o mesmo ocorrendo com o preço do cobre e a taxa de juros daqui a vinte anos, ou a obsolescência de uma nova invenção, ou a posição dos proprietários particulares de riqueza no sistema social de 1970. Sobre estes problemas não existe qualquer base científica para um cálculo probabilístico” (Keynes , 1984, p. 171).

Apesar das incertezas envolvidas no processo da tomada de decisão do

investimento, estes gastos acabam por se concretizarem, sendo necessário um certo

nível de informações confiáveis. Keynes (1984, p.172) apresenta basicamente três

informações nas quais os agentes econômicos se fundamentam para tomarem suas

decisões. A primeira delas é a que supõe, em relação às experiências passadas, o

presente constitui um melhor alicerce para o futuro, isto é, em geral, o processo de

formação de expectativa é via adaptação. Outro elemento utilizado pelos empresários na

tomada de decisão sobre os dispêndios com investimentos, está na crença de que o

vigente estado de opinião se baseia em um resumo correto das futuras perspectivas. A

última informação relevante para se tomar à decisão de investir, está naquilo que

Keynes chama de opinião convencional, definida como o comportamento mais usual da

maioria dos indivíduos em um determinado momento, a opinião média do mercado.

Na concepção teórica de Keynes, não obstante a relevância dos gastos

direcionados para a formação bruta de capital fixo na elucidação dos movimentos

cíclicos da economia, este autor não chega a aprofundar a dinâmica de custeio desses

gastos. Objetivando completar esta lacuna, Minsky (1975, 1982) recupera alguns

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conceitos da Teoria Geral de Keynes, visando esclarecer as questões do financiamento

do investimento em um ambiente de restrição de liquidez24.

Para tanto, considerando-se que as firmas encontram-se em posição devedora

frente aos bancos, a demanda por investimento é financiada pela geração de

crédito/moeda do sistema bancário, com que, então, pode-se empregar a taxonomia

minskyniana para os regimes de financiamento das firmas, isto é, utiliza-se, para

especificar a situação financeira das empresas, as três seguintes categorias: (1) Hedge;

(2) Especulativo e (3) Ponzi25.

A firma apresenta uma postura financeira Hedge, quando o fluxo de caixa

esperado é maior que os desembolsos de dívida a cada período. Esta situação faz com

que as necessidades financeiras das empresas sejam remediadas no começo de cada

período, tornando-as independentes das alterações no mercado financeiro.

O caráter Especulativo torna-se evidente no instante em que os compromissos

financeiros excedem a receita esperada da firma em alguns períodos. Por conseqüência,

é muito provável que ela seja obrigada a recorrer a refinanciamentos para cobrir a

situação momentânea de déficit. Todavia, para que a empresa tenha êxito na busca do

refinanciamento é fundamental que o fluxo de caixa seja suficiente para pagar os juros

devidos.

Por fim, uma unidade é caracterizada como Ponzi, quando suas receitas

esperadas não são satisfatórias nem mesmo para quitar os juros devidos no futuro

próximo. Esta situação financeira acaba por estabelecer o imperativo de se tomar

recursos emprestados, sem a contrapartida do aumento de capital. Em outras palavras,

ocorrerá um aumento da dívida sem o aumento do patrimônio.

24 É interessante ressaltar que, ao abordar o problema da restrição de liquidez em economias capitalistas, Minsky busca uma compatibilização entre as concepções teóricas de Keynes e Kalecki. 25 Ver Lima e Meirelles (2004) para um modelo formalizado que leve em consideração esta estrutura.

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Minsky (175, p. 109-110) identifica, basicamente dois tipos de riscos para os

tomadores de empréstimos, nesse caso as firmas. O primeiro deles está associado à

questão da incerteza, intrínseca à dinâmica econômica. O segundo, por sua vez, leva em

consideração o fato de que os compromissos assumidos com os credores são fluxos

contratuais, porém, a entrada de recursos destinados para o pagamento destes contratos

estão fundados em expectativas. Já os financiadores de recursos apresentam seus riscos

expressos nos contratos financeiros firmados sobre várias formas: taxas de juros altas,

prazos mais curtos de maturação, exigência de ativos específicos, restrições no

pagamento de dividendos e novos empréstimos entre outros26.

Levando em consideração a presença desses riscos na atividade econômica e que

as empresas formulam seus planos de investimento e produção, agindo conforme sua

escolha, onde, quando um projeto se inicia, sua reversão só será conseguida mediante

um determinado custo27, as decisões de produzir e investir, inevitavelmente, são

Especulativas (Feijó, 1999, p. 111).

Assim, com o decorrer do período de implementação do investimento e das

obrigações financeira das empresas, mudanças no ambiente econômico afetaram as

firmas de diferentes formas. Ou seja, quaisquer variações na renda esperada das firmas

ou, então, dos custos do financiamento, além das exigências dos financiadores, pode

fazer com que, uma firma anteriormente caracterizada financeiramente como Hedge,

torne-se Especulativa, ou, fazer-se de uma unidade Especulativa, uma unidade Ponzi e

vice versa.

26 A percepção de risco, tanto do financiador, quanto da firma são avaliações subjetivas, onde, para esta última unidade econômica, quanto maior o estoque de riqueza, menor a apreciação de risco. 27 Leva-se em consideração a irreversibilidade do investimento.

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2.4. TEORIA DE KALECKI:

A característica fundamental da apresentação teórica de Kalecki, com respeito

aos determinantes da demanda por investimento, é o seu caráter dinâmico. Deste modo,

buscando livrar-se da simplicidade da estática comparativa, Kalecki identifica uma

temporalidade nas decisões de investir em capital fixo, com o que se agrega um hiato

temporal entre as decisões de investir e o investimento efetivo. Este intervalo de tempo

é ocasionado, em grande medida, pelo período de produção dos bens de capital, mas,

também, reflete o atraso nas reações dos empresários em tomar a decisão de investir.

rtt FD += (36)

onde:

tD = decisões de investir por unidade de tempo.

=tF o investimento em capital fixo.

=r defasagem de tempo envolvida entre a decisão de investir e o tempo de

construção dos equipamentos.

Ademais, esta defasagem temporal, na teoria kaleckiana, supõe que, no

período prévio (t-1), o investimento já tenha sido levado até o ponto em que este deixou

de ser lucrativo. Este fato seria gerado, quer, por motivo de limitação do mercado para

os produtos da firma e, quer, pelo grau de endividamento permitido pelo capital próprio

da empresa. Variações na demanda por bens de capital só ocorrerão se no período

considerado acontecerem alterações na conjuntura econômica que ampliem os limites

para os planos de investimento.

Segundo Kalecki (1983, p. 79), três serão as categorias que influenciarão de

forma decisiva a determinação dos empresários a implementar um plano de

investimento: (a) acumulação bruta de capital pelas firmas a partir dos lucros correntes,

ou seja, a poupança bruta corrente. Destaca-se que toda a concepção teórica de Kalecki

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tem como estrutura o principio da demanda efetiva, onde, o aumento do nível de renda,

que, por exemplo, pode ter sido originado pela elevação dos gastos em investimento,

aumentará o fluxo de poupança via retenção dos lucros dos capitalistas28. Portanto,

visando tornar mais claro o sentido da causalidade na determinação dos gastos com bens

de capital, chama-se poupança bruta corrente de lucros retidos dos empresários29. Por

sua vez, a segunda categoria refere-se às (b) modificações nos lucros, ao passo que a

terceira relaciona-se com (c) modificações no estoque de capital fixo, e juntas

caracterizam alterações na taxa de lucros. Pelo que, escreve-se a equação fundamental

do investimento em Kalecki da seguinte forma:

dt

Kc

t

PbSaFD tt

trtt +∆

∆−

∆+== + ... (37)

onde,

=tS lucros retidos totais no período t, sendo que 0<a<1

=∆ tP variação dos lucros brutos ocorrida no período t.

=∆ tK variação no estoque de capital fixo ocorrida no período t

=d constante sujeita a modificações no longo prazo

A equação (37) identifica a função para a demanda por bens de capital na

abordagem kaleckiana em sua formatação mais básica. No entanto, podem-se fazer

algumas transformações buscando uma apresentação mais sintética. Neste sentido,

reescrever a equação (36), identificada como a taxa de modificação dos equipamentos

fixos, da seguinte maneira:

δ+∆∆

=t

KF tt (38)

28 Lembra-se que no modelo teórico de Kalecki os trabalhadores não poupam ou poupam menos que os empresários. 29 Buscando ser mais preciso, a poupança bruta das firmas é formada pela depreciação e pelos lucros não distribuídos. Agregando-se a estes dois itens um terceiro, “a poupança pessoal” que os grupos controladores investiram nas suas firmas por meio da subscrição de ações.

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δ−=∆

∆t

t Ft

K (39)

Sendo δ correspondente ao valor da depreciação, tal que sua variação é

mínima ao longo do ciclo econômico. Além disso, substituindo a equação (39) na

função básica dos determinantes do investimento.

dFct

PbSaF t

ttrt ++−

∆+=+ ).(.. δ

dcFct

PbSaF t

ttrt +−−

∆∆

+=+ δ.... (40)

Agrupando os termos semelhantes da equação (40) e dividindo-a por (1+c),

encontra-se:

c

dc

t

P

c

bS

c

a

c

FcF tt

trt

++

+∆∆

++

+=

+++

1

..

1.

11

. δ (41)

O termo c

FcF trt

+++

1

. nada mais é do que uma média pondera de

rtF + e tF .

Então, escreve-se θ como um hiato temporal menor que r . Sabe-se, ainda, que

c

dc

++

1

.δsão todos parâmetros constantes, reduzindo esta expressão a simplesmente 'd .

Conseqüentemente, a equação (51) pode ser reescrita da seguir forma:

'.1

.1

dt

P

c

bS

c

aF t

tt +∆∆

++

+=+θ (42)

Nesta formatação da função do investimento, os seus determinantes são

explicitados nos termos da retenção dos lucros dos capitalistas e a taxa de modificação

dos lucros. No entanto, o efeito negativo do aumento do estoque de bens de capital está

presente através do denominador (1+c). Kalecki supõe que ‘ c ’será uma fração bastante

pequena, pois as variações cíclicas do estoque de capital em termos de porcentagem são

consideravelmente mínimas. Assim, as modificações na taxa de lucro resultantes deste

fator são mínimas também (Jobim, 1984, p. 88).

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Ressalta-se, ainda, na teoria de Kalecki, a importância da acumulação interna

dos lucros retidos pelas empresas nas decisões de investir, uma vez que, esta

acumulação levaria a uma tendência de reinvestimento. Ao mesmo tempo em que,

haverá um fortalecimento das empresas em termos de capital próprio, melhorando as

condições de crédito destas no futuro. É esta especificidade no efeito da acumulação

interna sobre a formação bruta de capital fixo que Kalecki evidencia na passagem a

seguir:

A limitação do tamanho da firma pela disponibilidade de capital da empresa chega ao âmago do sistema capitalista. Muitos economistas supõem, pelo menos em suas teorias abstratas, um estado de democracia econômica onde qualquer pessoa com o dom da habilidade pode obter capital para iniciar um negócio. Esse quadro das atividades do empresário “puro” não é, para pôr a coisa em termos modesto, realista. O pré-requisito mais importante para alguém se tornar empresário é a propriedade do capital (Kalecki, 1983, p. 77-78).

Assim, pode-se assegurar que o fluxo de investimento é uma função crescente

da acumulação interna da firma, seja pela maior disponibilidade de recursos próprios

para a aquisição de bens de capital, ou pelo aumento do capital próprio da empresa, o

que auxilia na obtenção de crédito junto às instituições financeiras ou ao mercado

acionário30. É justamente nesta relação, entre o tamanho do capital próprio de uma

empresa e o volume de recursos que esta poderá obter no mercado financeiro, que reside

uma das características mais importante para a determinação da demanda por

investimento, ou seja, a restrição de crédito que, em geral, as firmas estão submetidas.

A segunda categoria que determina a tomada de decisão dos empresários com

relação aos seus projetos de investimento, são os fluxos de lucros. Estes, por seu turno,

facilitam a expansão dos gastos em formação bruta, à medida que viabilizam possíveis

30 Nota-se que este termo tem uma particularidade que acaba por refletir as condições financeiras, enquanto condições de risco, na tomada de decisão dos gastos com bens de investimento.

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projetos anteriormente considerados não rentáveis. Dessa forma, existirá uma relação

positiva entre os fluxos de lucros e a demanda por bens de capital.

Por fim, a terceira categoria apontada por Kalecki, que influenciará os gastos

em bens de investimento, são as modificações no estoque de capital fixo, isto é, o

crescimento líquido do equipamento de produção no período. No momento em que

novas plantas passam a entrar em operação, o investimento não poderá ampliar-se

apenas em resposta à modificação nos lucros, mas terá que avaliar o efeito contrário da

rentabilidade do equipamento recém instalado. Com efeito, as variações nos lucros e no

estoque de capital fixo refletem as variações esperadas na rentabilidade do capital fixo

aplicado, como caracterizado na passagem a seguir:

“Neste sentido, o efeito captado por estes dois termos, analogamente ao “princípio da aceleração” em sua essência (não em suas versões correntes), é basicamente o da necessidade de ajustar a capacidade produtiva das empresas ao crescimento esperado das vendas, projetado com base no crescimento recém-verificado” (Possas, 1987, p. 129).

Portanto, três idéias são fundamentais quando se analisam as variações dos

lucros dos empresários e do estoque de capital na determinação do investimento: (1)

estas duas variáveis refletem as alterações na utilização da capacidade instalada da

firma; (2) o efeito acelerador do investimento é captado por estes termos; (3) os

empresários irão ajustar seu estoque de maquinas e equipamentos tendo como base

expectativas adaptativas.

Kalecki ainda considera, na equação fundamental do investimento, um

parâmetro supostamente constante no curto prazo e sujeito a modificações no longo

prazo. Este parâmetro acaba por captar todos os componentes do investimento que se

comportam de forma relativamente autônoma em relação à demanda efetiva. Deste

modo, é nele que estão caracterizadas tanto as mudanças estruturais, quanto às

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inovações de maior impacto, entre outros componentes que não são afetados pelo

comportamento endógeno das variáveis determinadas pela atividade corrente.

Quando se comparamos os determinantes do investimento nos modelos de

Keynes e Kalecki, há dois fatores que são levados em consideração pelo primeiro, e que

todavia, não aparecem, de forma evidente, na formulação do segundo autor. O primeiro

fator refere-se ao tratamento das expectativas, que, como já foi mencionado, no modelo

de investimento do último autor citado é inteiramente compatível com a hipótese da

adoção de expectativas adaptativas, muito próximo dos modelos neokenesianos de

crescimento e ciclo econômico, que assumem uma versão mais simples de função

investimento fundada no princípio do acelerador. Já com relação à ausência da taxa de

juros, Kalecki justifica deixá-la de lado, tanto, pelo seu caráter estável a longo prazo e,

quanto, pela premissa de que a política monetária seja também estável e não muito

restrita (Possas, 2001, p. 117).

Em resumo, segundo López e Mott (2003, p. 541), Kalecki sustentava que a

formação bruta de capital fixo deve ser determinada por uma inter-relação de

investimento, lucro e capacidade instalada da firma, onde, a poupança não determina o

montante de investimento em uma economia, mas este se auto-fiancia31.

2.5. TEORIA ESTRUTURALISTA

A abordagem teórica da escola estruturalista caracteriza como variável chave,

para a determinação do investimento e, também, para outros agregados

macroeconômicos, a maneira que a relação entre as classes sociais influenciam os

preços e as quantidades na economia em geral. Ademais, os modelos macroeconômicos

31 Ver Kalecki 1988.

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dessa escola assumem como estrutura básica de causalidade o princípio da demanda

efetiva. Decorre destas duas concepções que a fundamentação teórica kaleckiana

aparece como fonte principal na construção do alicerce estruturalista.

Neste sentido, os modelos estruturalistas apresentam diferenças marcantes

quando comparados com a aproximação neoclássica.

“They treat the extended functional distribution and at least some sectors´outputs as endogenous in their macro models, subject to rules such as markups and fix-price/flex-price distinctions regarding value adjustmente. Neoclassicals, by contrast, typically pressupose full labor employmente and capacity utilization under an active money supply that fixes the overall price level. They root their firms upon cost and input demanda functions derived from clever optimization games” (Taylor, 1994, p. 40-41).

Um aumento significativo na demanda por bens de investimento, portanto,

produzirá um aumento na produção, abrindo a possibilidade de modificar a distribuição

funcional da renda, alterando a oferta complementar de poupança32. Utilizando-se da

hipótese simplificadora de que somente os capitalistas geram fluxos de poupança, que

se figura como o grau de acumulação da economia, o papel da lucratividade na

determinação da demanda por investimento torna-se presente. Por conseqüência, os

salários, que são antagônicos aos lucros, fazem parte dos custos de produção, e uma

pressão baixista nesta variável aumentará os ganhos dos empresários por unidade

produzida, estimulando os desembolsos com investimento. Contudo, a partir de um

ponto de vista keynesiano, os salários são um dos determinantes da demanda agregada

e, uma baixa nesses, poderá desencadear uma diminuição dos lucros, por conseqüência,

um desestímulo à expansão da produção (Marglin e Bhaduri, 1990, p. 153).

Portanto, considerando as concepções keynesianas, chega-se ao chamado

paradoxo dos custos, ao passo que existe um contra-senso em afirmar que altos salários

resultam em baixos gastos com investimento. Ao estimular aumentos salariais, gera-se 32 Salienta-se que o sentido dado para poupança nos modelos estruturalistas é o mesmo exposto por Kalecki.

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uma elevação dos gastos agregados na economia, pois como já definido, a propensão a

poupar dos trabalhadores é menor que a dos capitalistas, e, conseqüentemente, aumenta-

se a renda agregada como um todo e, assim sendo, crescem os lucros dos empresários.

No entanto, uma queda da participação dos lucros na renda agregada pode ser

explicada por uma combinação entre dois fatores: produtividade do trabalho e salário

real. Esta situação acaba por pressionar a taxa de crescimento do estoque de capital,

uma vez que, os lucros são um componente fundamental no desenho da poupança

agregada. Uma diminuição nesta última variável produz uma pressão baixista na renda

destinada para acumulação de capital. Ademais, esta situação ocasiona um movimento

de antecipação baixista na lucratividade futura, gerando uma queda na expectativa de

lucros, a qual lidera uma redução na formação bruta de capital fixo.

Ao priorizar o ponto de vista dos estruturalistas, é importante formular um

modelo de oferta e demanda agregados, colocando a distribuição funcional da renda em

um lugar de destaque.

Primeiramente define-se uma economia onde não se leva em consideração as

relações monetárias33 e nem as trocas para o exterior.

PGPIPCPX ++= (43)

onde,

X = total produzido na economia

C = consumo agregado

I = investimento agregado

G = gastos do governo

P = nível de preços da economia

Ao ignorar as transações intermediárias e os impostos, pode-se dividir a renda

agregada da economia da seguinte maneira:

33 Na verdade não se leva em consideração os aspectos monetários de forma explicita. Todavia, ao assinalar o principio da demanda efetivo como o principal responsável pela dinâmica econômica, já se têm, de certa forma, os efeitos da preferência pela liquidez implícita no modelo.

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54

KPrXbwPX .... += (44)

sendo,

w = taxa de salários

b = relação X

N, ou seja, é o coeficiente de trabalho por unidade de produto, o

inverso da produtividade do trabalho.

r = taxa de lucro

K = estoque de capital

A equação (44) caracteriza de forma bastante clara a participação na renda

agregada dos salários ( Xbw .. ) e dos lucros ( KPr .. )34. A taxa de lucro, por sua vez,

pode ser interpretada como um indicador das expectativas sobre os retornos futuros.

Este mesmo componente, alternativamente, captura a capacidade das firmas de

autofinanciamento do investimento em conjuntura de restrição de crédito.

Mantendo-se a hipótese simplificadora de que os trabalhadores não poupam,

chega-se à taxa de poupança agregada da economia (S).

SKPr =.. (45)

Assim, a função consumo é definida da forma como segue:

KPrsXbwPC ..).1(.. −+= (46)

Sendo ‘s’ a representação da propensão média a poupar. Combinando as

equações (43), (44), (45) e (46) tem-se:

0=−++ PXPGPIPC

0)...( =+−++ PKrXbwPGPIPC

0.....).1(.. =−−++−+ KPrbXwPGPIKPrsXbw

0.. =−+ PKrsPGPI (47)

34O componente Pr. nada mais é do que o preço de aluguel do capital.

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A expressão (47) representa o equilíbrio entre poupança privada e o

investimento mais os gastos do governo, mais especificamente o corrente déficit fiscal.

Em outras palavras, o que se apresenta é a curva IS.

Com o objetivo de tornar mais evidentes os determinantes do investimento,

retira-se o governo do modelo até aqui exposto. Com efeito, ao dividir a expressão

anterior por PK chega-se ao próximo resultado.

0..

=−PK

PKrs

PK

PI

0=− SI gg

rsg I .= (48)

A taxa de crescimento do estoque de capital35 é determinada pela taxa de lucro,

uma vez que, a propensão a poupar dos capitalistas pode ser considerada estável no

curto prazo. Neste sentido, faz-se importante o esclarecimento dos determinantes da

taxa de lucro. Para isso, toma-se a equação (44) novamente, apresentada da seguinte

maneira:

PK

XbwPXr

..−=

Dividindo e multiplicando a expressão anterior por PX , tem-se:

PK

PX

PX

XbwPXr .

..

−=

Sabe-se que PK

PX representa a utilização da capacidade instalada da economia

( )u , e reagrupando o termo entre parênteses.

ubP

wr ..1

−= (49)

35 Salienta-se que não está se levando em consideração a depreciação do capital nesta formulação.

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Na equação (49) o termo

− bP

w.1 indica a participação dos lucros na renda

total da economia ( )π . Pois, bP

w. é a taxa real de salários multiplicada pelo coeficiente

de trabalho por unidade de produto, ou seja, a participação dos salários na renda. Como

a renda agregada pode ser dividida entre lucros e salários, o restante desta parte são os

lucros.

Então a taxa de crescimento do estoque de capital pode ser expressa da maneira

a seguir:

( )rgg II =

),( ugg II π= (50)

Com efeito, a derivada parcial da taxa de crescimento do estoque de capital em

relação à participação dos lucros na renda agregada, pode ser apresentada da seguinte

forma:

πππ ∂∂

∂∂

+∂∂

=∂∂ u

u

ggg III

. (51)

onde,

0>∂∂π

Ig (52)

0>∂∂u

g I

(53)

0<>∂∂

ouu

π (54)

A indefinição no sinal da relação (54) está ancorada, como já salientado, no

ajustamento entre as variações da produtividade do trabalho e salário real, advindo uma

alteração na utilização da capacidade instalada.

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Ainda interna a formulação estruturalista, a participação dos lucros na renda

representa o retorno do capitalista, enquanto a taxa de utilização da capacidade instalada

caracteriza um acelerador variável, considerando os impactos das condições de

demanda. Segue-se que alta participação dos lucros na renda e um elevado grau de

utilização da capacidade instalada produzem uma expectativa de lucro crescente. Como

demonstrado nas expressões (52) e (53).

Entrementes, mesmo que as expectativas de retornos futuros dos empresários

estiverem em elevação, existem ocasiões em que, ao mesmo tempo, a taxa de

acumulação destes estará em processo de redução. Assim, há uma restrição para a

implementação de novos projetos de investimento pelo lado da distribuição de renda da

economia. Partindo-se, então, da conjectura teórica estruturalista, a economia poderá

entrar em um ciclo expansionista ou contracionista, o que está relacionado com o sinal

da expressão (54).

Assim, assumindo que a conjuntura econômica encontra-se em uma situação

contracionista, 0<∂∂πu

, descreve-se a próxima figura36. Na qual a curva de equilíbrio do

lado da oferta, SE, representa os pontos onde os produtores estão satisfeitos com o nível

de salários e preços, sendo que, estes agregados são determinados via markup. No

entanto, sabe-se que existe uma relação positiva entre o markup e a participação dos

lucros na renda agregada, ou seja, a elevação da parcela dos lucros na renda nacional

aumenta o poder de markup. A mesma relação é encontrada entre esta última variável e

o grau de utilização da capacidade instalada, definindo a curva SE com a declividade

positiva e representada da seguinte maneira37:

).(0 ud+= ππ , sendo ‘d’ um coeficiente > 0 (55)

36 Como se definiu um regime contracionista, a IS forma-se com declividade negativa. 37 Para uma melhor caracterização ver Marglin e Bhaduri (1990).

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(A) (B)

Figura 2.4.1: Produção macroeconômica determinada pela oferta agregada (SE) e demanda

agregada (IS). Fonte: Elaborado pelo autor com base em Marglin e Bhaduri (1990 p.157 e 158).

Na figura 2.5.1 (A), tem-se uma situação de equilíbrio entre a oferta e a

demanda agregada, estabelecendo um nível para a utilização da capacidade instalada

( 1u ) e uma participação dos lucros na renda agregada (π ). A partir de um exercício de

estática comparativa, indica-se a dinâmica da economia ocorrendo uma redução no

markup. Para tanto, imagina-se um aumento do salário real não compensado pelo

aumento da produtividade, estabelecendo que a curva SE1 atinge a posição da curva

SE2, como caracterizado na figura 2.5.1 (B). Nesta situação, acontece uma baixa na

participação dos lucros na renda agregada, mas um aumento na utilização da capacidade

instalada. Alem disso, como SI gg = e ocorreu uma aumento na taxa de lucro elevando

a taxa de poupança dos empresários, haverá um crescimento da taxa de investimento.

Em resumo, para esta conjuntura tem-se que o crescimento da produção é liderado pelos

salários.

Tal dinâmica tem um caráter contracionista, pois, a taxa de investimento será

positiva até o limite em que o aumento no grau de utilização da capacidade instalada é

maior que a queda no share dos lucros. A partir desse ponto, a elevação na taxa de

π

u 1u

IS1

SE1

IS1

u 2u 1u

SE1 SE2

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crescimento da utilização da capacidade instalada não compensará a queda no grau de

acumulação dos empresários.

Assim, passa a ser fundamental, para a construção da função IS, a

determinação da magnitude das variações tanto da distribuição funcional da renda

quanto da utilização da capacidade instalada, ocorrida uma mudança na demanda

agregada. Para tanto, toma-se, novamente o sinal da relação (54), esperando que este

possa ser tanto positivo quanto negativo. Ao passo que, quando 0>

∂∂πu

, tem-se que o

crescimento da economia é liderado pelos lucros, tornando a declividade de curva IS

positiva. Neste sentido, constrói-se a figura 2.5.2, apresentando as duas possibilidades

conjunturais.

Figura 2.5.2: Função IS em “C” com regimes expansionista e contracionista. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Marglin e Bhaduri (1990, p. 169).

Observa-se, na figura anterior, que há duas dinâmicas para o mesmo nível

utilização da capacidade instalada. O primeiro caminho pode seguir a lógica do regime

expansionista de alto share dos lucros. Por outro lado, partindo do mesmo grau de

capacidade utilizada, a economia tem a possibilidade de tomar o movimento

contracionista, via aumento da participação dos salários na renda agregada. Com efeito,

no ponto “A” a conjuntura econômica é mais favorável aos empresários; por sua vez, já

A

B 1π

π

1u u

REGIME EXPANSIONISTA

REGIME CONTRACIONISTA

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no ponto “B”, as circunstâncias da economia levam uma melhora em direção aos

trabalhadores.

Portanto, na abordagem teórica estruturalista de determinação da demanda por

bens ligados à formação bruta de capital fixo, além da taxa de utilização da capacidade

instalada, é importante levar em consideração a distribuição funcional da renda,

observando com cuidado que tipo de regime encontrar-se-ia na economia no momento

da expansão da atividade produtiva. Ademais, segundo Taylor (1994, p. 44), o markup

e, conseqüentemente, os lucros e os salários assentam-se sobre as condições

institucionais e políticas, agregando-se o padrão de mercado e a tecnologia da

sociedade.

2.6 SUMÁRIO TEÓRICO

Este capítulo se fez necessário em função da exposição do modelo econométrico

e dos seus resultados, os quais ocorrerão no capítulo 4. Então, é importante revisar e

reiterar alguns pontos teóricos já abordados anteriormente para que, no momento do

delineamento econômico dos resultados estatísticos, se tenha uma solidez nesta

interpretação.

A abordagem Neoclássica foi apresentada, anteriormente, por três modelos que

levavam em consideração um exercício de maximização intertemporal. A concepção do

Valor Presente Líquido salienta os retornos correntes da inversão, seus custos e a taxa

de juros do mercado, objetivando alcançar a otimização dos rendimentos dos

proprietários da empresa. Por sua vez, a delimitação dos determinantes do investimento

via Estoque de Capital de Equilíbrio, da mesma forma que a anterior, apresenta um

processo de otimização intertemporal. No entanto, o agregado especificado é o volume

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de capital da empresa, o qual é função do nível de produção desta, do custo de uso do

seu estoque de capital e do preço do produto da firma. Por fim, a conceituação partindo

da modelagem q-investimento, mantém o método de maximização e as considerações

observadas pelos dois modelos anteriores, mas, adiciona o mercado de ativos na

contextualização dos determinantes da formação bruta de capital.

Não fugindo da tradição Neoclássica, a Teoria das Opções Reais busca

maximizar o valor presente líquido de um projeto de investimento. Neste sentido, as

variáveis relevantes para este procedimento continuam sendo o fluxo de retornos do

projeto, os custos deste e a taxa de juros de mercado. A diferença, todavia, encontra-se

no tratamento das variáveis envolvidas no processo de otimização. Enquanto a

abordagem Neoclássica tradicional trabalha com componentes determinísticos na

função objetivo, a Teoria das Opções Reais utiliza-se de variáveis estocásticas.

A apresentação da Teoria de Keynes para os determinantes do investimento foi

estruturada partindo-se de duas concepções diferentes. A primeira delas tem como base

o cálculo da TIR do investimento, e, ao encontrar esta taxa, tem-se a EMgK. Assim, as

variáveis relevantes neste processo são os retornos esperados do projeto e seus custos,

definindo-se que o VPL=0. Já a segunda abordagem tem como variável fundamental o

preço de demanda de um ativo de capital, onde a capitalização da renda desejada indica

o valor esperado desta variável. Com efeito, levam-se em consideração, para se atingir o

preço do ativo de capital, os retornos esperados do projeto, seus respectivos custos e a

taxa de juros de mercado.

Kalecki, por seu turno, apresenta a sua teoria da demanda por investimento

desconsiderando as variações na taxa de juros como suficiente para alavancar a

formação bruta de capital fixo. De maneira geral, três seriam os principais fatores de

determinação dos gastos com investimento: a acumulação interna dos empresários; a

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taxa de lucro destes e um fator exógeno, ligado às oportunidades de investimento não

relacionadas como o principio da demanda efetiva.

A última fundamentação teórica apontada neste capítulo foi a estruturalista. Esta

escola tem como base os conceitos teóricos kaleckianos, ao mesmo tempo em que se

adicionam novas considerações para a determinação da demanda por investimento. A

distribuição funcional da renda passa a ter extrema importância na especificação da

formação bruta de capital fixo. Esta variável, junto com a utilização da capacidade

instalada, determinam a taxa de lucro, as quais influenciam de maneira decisiva os

gastos com investimento do setor privado.

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3. FONTE E TRATAMENTO DOS DADOS

A análise econômica, na maioria dos casos, pelos seus registros temporais,

requer uma delimitação de período e, quando se pensa em ponderações econométricas,

isso se torna essencial. Nesse sentido, delimitou-se como período de abrangência deste

estudo os anos que vão de 1992 até 2003, tomando-se em conta uma periodicidade

trimestral.

É fato que o ideal para esse tipo de trabalho seria uma série mais longa, pelo

alcance mais amplo da amostragem, porém, em virtude da não existência de séries

trimestrais para as contas nacionais, além das mudanças metodológicas ocorridas nestas,

buscou-se na década de 90 uma situação menos instável.

Em acréscimo a esta informação, é indispensável praticar alguns ajustes nas

séries de dados antes de se desenvolver o exercício econométrico. Assim, as séries

utilizadas na regressão e suas respectivas fontes estão descritas na seqüência,

salientando-se, ainda, que a abreviatura demonstrada ao lado do nome de cada uma

delas será utilizada na apresentação dos resultados no capítulo seguinte.

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As próximas oito séries relacionadas tiveram como fonte de dados brutos o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Núcleo Sistema de Contas Nacionais

(IBGE/NSCN) em valores reais (R$) correntes e periodicidade trimestral. Fez-se, então,

a conversão destes dados para valores constantes de 200338, anotando-se que estas séries

sofreram um ajuste sazonal39 para depois passarem por uma transformação logarítmica.

(a). CONSUMO DAS FAMÍLIAS (CFAMILIAS)

O Consumo das Famílias faz parte do lado da demanda da economia e

representa os gastos totais das unidades familiares em bens e serviços.

(b). CONSUMO DO GOVERNO (CGOVERNO)

O consumo do Governo, contabilmente, tem o mesmo significado dos gastos

do Governo ou do consumo final da administração Pública.

(c). EXPORTAÇÕES (EX)

As exportações, por sua vez, representam um componente autônomo de gasto,

que, através do efeito multiplicador keynesiano, pode ter efeitos expansivos sobre a

atividade econômica.

38 Para isso, corrigiu-se o Produto Interno Bruto (PIB) pelo seu defaltor implícito mantendo-se a participação relativa dos seus componentes. Uma outra forma de executar este exercício era utilizar o respectivo deflator implícito de cada componente do PIB. Todavia, este procedimento poderia vir a distorcer os resultados da regressão, uma vez que, estaria empregando-se oito tipos diferentes de índice de preços. Ademais, notou-se um forte componente sazonal no deflator implícito do Consumo do Governo. 39 O ajuste sazonal empregado nas séries foi àquele pertencente ao pacote estatístico eviews 4.1, média móvel com diferença entre as médias aditiva.

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(d). IMPORTAÇÕES (IM)

Diferentemente das exportações, as importações caracterizam-se por

apresentarem um efeito adverso sobre a renda agregada da economia, o qual varia de

grau de acordo com a propensão a importar da sociedade.

(e). FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO (FBCF)

A formação bruta de capital fixo também é denominada como o investimento

total da economia e caracteriza-se por ser um gasto direcionado, basicamente, para

Construção Civil e Máquinas e Equipamentos.

(f). FORMAÇÃO BRUTA CONSTRUÇÃO CIVIL (FBCC)

O agregado formação bruta construção civil não é disponibilizado pelo

IBGE/NSCN com a periodicidade trimestral. Não obstante, tendo como base a pesquisa

industrial mensal - produção física - do próprio IBGE, apura-se o índice da produção

física industrial por insumos típicos da construção civil, com periodicidade mensal.

Tomando como base esta série e a participação anual da FBCC na FBCF, chega-se a um

valor para a FBCC com regularidade trimestral em valores constantes, em reais, de

200340.

(g). FORMAÇÃO BRUTA MAQUINAS E EQUIPAMENTOS (FBME)

Não diferente da FBCC, o fluxo de investimento destinado para maquinas e

equipamentos não esta disponível com periodicidade trimestral. Entretanto, sabendo-se

40 Para maiores detalhes, ver anexos.

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que a FBCF é composta, principalmente, por FBME e FBCC, ao subtrair a FBCC da

FBCF atinge-se a FBME a preços constante, em reais, de 200341.

(h). PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)

Por fim, Produto Interno Bruto expressa nada mais que a soma de todas as séries

apresentadas até aqui.

É de se notar que, diferentemente das séries de dados apresentadas até este

momento, as próximas séries que se seguem tiveram diversas fontes de dados brutos,

optando-se por expor estas fontes de forma individualizada. Da mesma forma que se

deu com as séries anteriores, as próximas passaram por um ajuste sazonal, onde

somente as séries dos Preços Relativos da Formação Bruta Construção Civil, das

Máquinas e Equipamentos, das Máquinas Equipamentos e Veículos, das Máquinas

Equipamentos Importados e da Participação dos Salários na Renda sofreram

transformação logarítmica. Tal ajuste, contudo, não foi necessário para as outras séries

de dados, pois, estas já representam uma taxa percentual.

(i). CREDITO TOTAL (CRETOTAL) E CREDITO PRIVADO (CREPRI)

O crédito total representa os empréstimos totais do sistema financeiro – saldo no

final do período – sendo que, para o credito privado, subtraem-se os empréstimos ao

setor público. Estas duas séries tiveram como fonte o Banco Central do Brasil (BACEN)

e configuram-se com uma freqüência mensal em valores correntes do período. Portanto,

utilizando-se do multiplicador de unificação monetária fornecido pelo próprio BACEN,

construí-se uma série a preços correntes em reais, com periodicidade trimestral. Visto

41 Salienta-se que agregado ao valor da FBME tem-se os serviços destinados à formação bruta, os quais representam, em média, 5% do total do FBCF.

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que esta série de empréstimos representa um saldo, a formatação trimestral desta

variável nada mais é do o valor atingido no último mês de cada trimestre.

Já com as séries de crédito e PIB em reais correntes trimestrais, encontram-se as

participações percentuais do CRETOTAL e CREPRI na renda. Ou seja, divide-se o total de

créditos da economia no trimestre pelo valor do PIB neste mesmo período. Com este

procedimento chega-se a uma relação trimestral, no entanto, visando a comparação com

valores divulgados pelo BACEN, ainda divide-se esta taxa por quatro, atingindo um

valor anual.

(j). PREÇOS RELATIVOS DA FORMAÇÃO BRUTA CONSTRUÇÃO

CIVIL (PCC)

A base para os preços da formação bruta construção civil é o índice nacional da

construção civil (INCC), que tem como fonte a Fundação Getulio Vargas (FGV) e foi

deflacionado pelo índice geral de preços – demanda interna (IGP-DI) e pelo índice de

preços ao consumidor amplo (IPCA), obtidos, respectivamente, a partir da FGV e do

IBGE. Com efeito, produziram-se duas séries, PCCIGP e PCCIPCA, com base igual a 100

no 1º trimestre de 1992.

(k). PREÇOS RELATIVO DAS MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS (PME)

Para os preços de máquinas e equipamentos usou-se o índice de preços no

atacado – demanda interna – máquinas e equipamentos (IPA-DI máquinas e

equipamentos), que tem como fonte de dados brutos a FGV. Este índice será empregado

como uma proxy dos preços da FBME. Seguindo o procedimento aplicado nos PCC,

deflacionou-se esta série de dados com o IGP-DI e o IPCA, obtendo-se as séries PMEIGP

e PMEIPCA, com base 100 no 1º trimestre de 1992.

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(l). PREÇOS RELATIVOS DE MÁQUINAS EQUIPAMENTOS E

VEÍCULOS (PMEV)

Em conjunto com PME, pode-se utilizar como proxy dos preços da FBME o

IPA-DI máquinas, equipamentos e veículos, o qual apresenta a mesma fonte do índice

de preço anterior. Deflacionou-se esta serie da mesma forma que se fez para PME,

alcançando o PMEVIGP e PMEVIPCA, com a mesma base 100 da série anteriormente

abordada.

(m). PREÇOS RELATIVOS DAS MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

IMPORTADOS (PMEIMP)

Os preços das máquinas e equipamentos importados estão representados pelo

índice de preços das importações de bens de capital produzido pela Fundação Centro de

Estudos de Comércio Exterior (FUNCEX). Da mesma forma que os outros preços,

mudou-se a base da série original para 1º trimestre de 1992 igual a 100, e, ainda

multiplicou-se esta série pelo índice do cambio nominal (em $

$

R

U ) e dividiu-se pelo

índice do IPCA.

(n). TAXA DE JUROS (TX)

A taxa de juros escolhida para ser utilizada neste exercício é a taxa selic-over,

que teve como fonte o BACEN. Serão testadas cinco séries diferentes para esta variável;

(1) a taxa selic-over nominal (TXNOM) e a taxa selic-over corrigida pelos seguintes

índices de preços: (2) IGP-DI (TXIGP), (3) IPCA (TXIPCA), (4) INCC (TXINCC), (5) IPA-

DI máquinas e equipamentos (TXIPA-ME).

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69

(o). PARTICIPAÇÃO DOS SALÁRIOS NA RENDA AGREGADA (SAL)

Os dados sobre a distribuição funcional da renda têm uma freqüência anual.

Entretanto, pode-se chegar a um indicador da variação dos salários na renda agregada.

Esta série é obtida tendo como dados base os índices do pessoal ocupado e do salário

real na industria, produzidos pela Confederação Nacional da Industria (CNI)42. Além

dessas séries, é necessário o índice de produção física da industria, a qual foi retirada da

base do IBGE43.

(p). UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA (UCI)

Ao empregar utilização da capacidade instalada da industria neste exercício tem-

se como objetivo um indicador de nível de atividade, sendo que, esta variável foi obtida

a partir da FGV, já com periodicidade trimestral.

Já delimitadas as transformações impostas nas séries de dados que serão

utilizadas no modelo econométrico, o próximo capitulo irá oferecer a formatação deste

modelo além dos resultados alcançados.

42 Não se utilizou a série do IBGE produção industrial mensal – dados gerais – por motivo de quebra na série. 43 Para uma melhor avaliação dos resultados ver anexos

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70

4. DEFINIÇÃO DO MODELO ECONOMÉTRICO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta o modelo econométrico utilizado para estimar a equação

de investimento em máquinas e equipamentos, para o período que se inicia no 1º

trimestre de 1992 e estende-se até o 4º trimestre de 2003, no caso da economia

brasileira. Ademais, neste mesmo capítulo já se executam as análises dos resultados

estatísticos.

Antes de se apresentar o modelo econométrico sugerido e os resultados obtidos

na regressão, é importante salientar que está se trabalhando com séries de tempo, ou

seja, com valores gerados e ordenados seqüencialmente no tempo. A maioria dos

trabalhos que utilizam séries temporais procura decompô-las em tendência, ciclo,

sazonalidade e termo errático. Com o desenvolvimento do ramo denominado

Econometria das Séries de Tempo, surgiram instrumentos específicos objetivando testar

as séries de dados.

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71

Utilizou-se, neste exercício, o teste da raiz unitária que tem por finalidade

detectar se as séries são estacionárias. Uma série é estacionária quando a média, a

variância e a autocovariância não se alteram ao longo do tempo, isto é, a série apresenta

uma única tendência em todo o período.

Os choques em uma série que apresenta um comportamento estacionário são

necessariamente temporários. Em outras palavras, os efeitos destes choques irão

dissipar-se ao longo do tempo, propiciando que o valor médio da série permaneça

constante, mesmo depois da ocorrência de algum tipo de ruído (Enders, 1995, p. 212).

A ausência de estacionariedade, ou a não-estacionariedade, representa uma

quebra dos pressupostos, cujo efeito é a probabilidade de se alcançarem resultados

espúrios. Desta maneira, perde-se o significado econômico, na suposição de que essas

séries não seguem um padrão no tempo.

Buscando estabelecer uma norma estatística para a confirmação, ou não, da

presença de raiz unitária, são dois os testes mais utilizados entre os economistas: as

estatísticas de Dickey-Fuller (ADF) e de Phillips-Perron (APP). Para este exercício,

decidiu-se empregar estas duas estatísticas na definição da estacionariedade das séries.

O teste de Dickey-Fuller caracteriza-se por estimar, usando mínimos quadrados

ordinários (OLS), uma das três diferentes equações de regressão.

ttt yy εγ +=∆ −1. (55)

ttt yay εγ ++=∆ −10 . (56)

ttt tayay εγ +++=∆ − .. 210 (57)

Onde, e expressões (55) origina-se da subtração de 1−ty do seguinte modelo:

ttt yay ε+= −11. (58)

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Assim, 11 −= aγ , tal que a hipótese que será testada é 0=γ ou 11 =a . Ao

aceitar este argumento tem-se a presença de raiz unitária, e, conseqüentemente, a não

estacionariedade da série. Nota-se, ainda, nas expressões (55), (56) e (57) que a

diferença entre elas esta na presença dos elementos determinísticos 0a e ta .2 . Deste

modo, a equação (55) representa um passeio aleatório, sendo que, na expressão

seguinte, adiciona-se uma constante e, na última equação, inclui-se, a constante uma

tendência linear.

A escolha do melhor modelo a utilizar é fundamental, uma vez que os valores

críticos da estatística-t irão depender se a expressão escolhida para realizar a regressão

inclui intercepto e/ou tendência linear. Somando-se a isso, pode-se empregar o ADF

estendido, onde se adiciona um processo autoregressivo objetivando controlar a

correlação serial dos resíduos.

t

p

i

ititt yyy εβγ ∑=

+−− +∆+=∆2

11 .. (59)

t

p

i

ititt yyay εβγ ∑=

+−− +∆++=∆2

110 .. (60)

t

p

i

ititt tayyay εβγ ++∆++=∆ ∑=

+−− ... 22

110 (61)

Logo, é importante observar a autocorrelação dos resíduos da regressão estimada

para se ter certeza de que a escolha do modelo, utilizado para verificar a presença de

raiz unitária, está especificado de forma correta.

O outro argumento a ser empregado para determinação de estacionariedade nas

séries usadas nesse trabalho é o teste de Phillips-Perron. Este método busca controlar a

correlação serial quando da implementação do teste de raiz unitária44. Com efeito, o

44 O ADF assume que os erros são estatisticamente independentes e tem uma variância constante. O APP desenvolve uma generalização do procedimento de Dickey-Fuller, permitindo a falha “tolerável” na hipótese sobre a distribuição dos erros (Enders, 1995, p. 239).

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processo segue a equação de regressão (58), sendo que, 0)( =tE ε , não requerendo que

a distribuição deste termo seja serialmente não correlacionada ou homogênea45.

Não diferente do ADF, pode-se representar a equação (58) adicionando uma

constante e/ou intercepto. Além disso, da mesma maneira que no teste anterior, a

hipótese levada em consideração é sobre o parâmetro 1a , onde, sendo ele igual a 1,

aceita-se a não estacionariedade da série.

Os resultados dos ADF e APP estão resumidos na tabela 4.1. O número entre

parênteses, ao lado da estatística ADF, representa a quantidade de defasagens escolhidas

para a caracterização da série. Este valor teve como critério de escolha a estatística

Akaike (AIC)46. Ademais, não se detectou autocorrelação nos resíduos dos modelos

adotados para testar a presença de raiz unitária.

Observa-se que algumas séries apresentam divergências quanto ao resultado do

teste de determinação da não-estacionariedade procedido pelo ADF ou pelo APP,

conforme o caso das séries do CGOVERNO, IM, PCCIPCA, PMEVIGP, TXINCC e TXIPA-ME,

para as quais adotou-se o critério de considerá-las não-estacionarias.

Outras séries também se caracterizaram por um comportamento não-

estacionário, confirmados, neste caso, pelos dois testes propostos, CFAMILIAS, EX,

FBCC, PIB, CREDPRI, CREDTOT, PCCIGP, PMEIMP, PMEIGP, PMEIPCA, PMEVIPCA,

TXNOM, SAL e UCI. Neste sentido, salienta-se que a maioria das séries utilizadas para

este exercício apresenta uma dinâmica não-estacionaria. Este tipo de resultado não é

surpresa, pois, de uma forma geral, a não-estacionáriedade é regra e não uma exceção

entre a maior parte das séries econômicas (Fava, 2000, p. 245).

45 Na verdade a expressão do APP apresenta-se de forma mais complexa, não sendo objetivo desse trabalho uma exposição detalhada. Para uma melhor apresentação teórica ver Enders (1995). 46A estatística Akaike, assim com o a Schwartz Bayesian, são critérios que ajudam na escolha do modelo econométrico mais apropriado. Adota-se como conduta o valor mínimo destas estatísticas. Quando comparado com a estatística R2, a Akaike apresenta a vantagem de ponderar o valor da estatística pelos números de variáveis independentes.

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Em vista desta observação, chama a atenção o comportamento da série FBME, a

qual passa a ser foco de uma atenção especial.

Tabela 4.1: Testes de Dickey-Fuller e Phillips-Perron para as séries 1992-2003

SÉRIE DE DADOS ADF SIG APP SIG SÉRIE DE DADOS ADF SIG APP SIG

CFAMILIAS -1,048(3) AC -3,382 ** PMEIMP -1,904(0) AC -1,923 AC

CGOVERNO -2,626(3) AC -6,652 * PMEIGP -2,806(1) AC -1,443 AC

EX -1,947(0) AC -1,659 AC PMEIPCA -1,247(0) AC -1,053 AC

IM -1,072(7) AC -3,446 ** PMEVIGP -4,208(9) * -0,988 AC

FBCF -3,4824(9) ** -3,410 ** PMEVIPCA -1,002(0) AC -0,878 AC

FBCC -1,999(3) AC -3,251 AC TXIGP -6,182(0) * -6,175 *

FBME -3,668(0) ** -3,659 ** TXIPCA -4,719(0) * -4,734 *

PIB -2,708(1) AC -1,428 AC TXINCC -1,728(5) AC -7,897 *

CREPRI -1,623(5) AC -2,548 AC TXIPA-ME -2,706(0) AC -6,575 *

CRETOTAL -1,659(7) AC -1,687 AC TXNOM -2,239(0) AC -2,365 AC

PCCIPCA -4,625(6) * -2,199 AC SAL -2,048(0) AC -2,089 AC

PCCIGP -2,230(0) AC -2,075 AC UCI -2,792(1) AC -2,688 AC

AC – não rejeita a presença de raiz unitária * - rejeita a presença de raiz unitária a 1% de significância ** - rejeita a presença de raiz unitária a 5% de significância

Os teste ADF e APP caracterizam a não presença de raiz unitária com um nível

de significância de 5%, cujo resultado acaba por indicar que os gastos com investimento

voltado para a ampliação do estoque de máquinas e equipamentos na economia

brasileira apresentaram média, variância e autocovariância constantes durante o período

que se inicia em 1992 e vai até 2003. No entanto, mesmo em uma conjuntura que se

estende pelos choques do Plano Real e pela desvalorização de 1999 esta hipótese

procede?

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9.5

9.6

9.7

9.8

9.9

10.0

10.1

10.2

10.3

10.4

92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

PLANO REAL DESVALORIZAÇÃO DO REAL

LO

G D

A F

BM

E

PE RÍOD O

(A ) (B ) (C) (D)

Gráfico 4.1: Logaritmo da FBME entre 1992/I e 2003/IV

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN

O gráfico 4.1 mostra o comportamento da FBME para o período delimitado

neste trabalho, onde, basicamente, nota-se, quatro diferentes tipos de desempenho para

o agregado em análise: (A) 1992 I – 1993 III; (B) 1993 IV – 1995 II; (C) 1995 III –

1998 IV e (D) 1999 I – 2003 IV.

No primeiro período delimitado, os gastos em máquina e equipamentos tiveram

uma forte variação, quando sua média apresentou uma tendência de queda de 2,32% ao

trimestre. Todavia, já no período seguinte, afigura-se uma forte expansão da FBME com

uma variância relativamente pequena. O expressivo aumento do fluxo de investimento

voltado para maquinas e equipamento nestes trimestres pode ser explicado, entre outros

fatores, pela antecipação das compras de bens de capital promovida pelos empresários,

em virtude da forte valorização do real após a implementação do Plano Real, além de

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um efeito acelerador da renda sobre o investimento47. Esta dinâmica de moeda nacional

valorizada frente ao dólar e crescimento da renda produzem a elevação da demanda por

investimento caracterizada no índice de quantum dos bens de capitais importados.

Nos trimestres compreendidos na fase (A) este índice acumulou uma expansão

de 18,6%; já no segundo período demarcado, esta taxa alcançou um valor 165,7%48;

sendo que, no terceiro período caracterizado na figura 4.1 com a letra (C), esta mesma

taxa atingiu 24,2%. Portanto, a queda da média da FBME entre (B) e (C) pode ter uma

forte propriedade de antecipação das compras empresariais visando ampliar e/ou

renovar seus estoque de máquinas e equipamentos49.

Por último, o quarto período encontrado na figura 4.1 não é por acidente

indicada após a desvalorização do real. Tal movimento permite uma melhora dos preços

das exportações e um aumento nos preços das importações. Esta dinâmica, após um

período de renovação e/ou expansão do estoque de máquinas e equipamentos da

economia, gerou expectativas positivas no tocante ao crescimento econômico, uma vez

que, os desequilíbrios em relação aos preços internos e externos, começariam a serem

ajustados. Assim, apesar de uma variação maior, o valor médio da FBME aumenta de

forma relevante e, além disso, ao se compararem os períodos (B), (C) e (D), no gráfico

anterior, tem-se um movimento que parece refletir uma característica importante do

fluxo de investimento no Brasil, as variações no custo de capital acabam por determinar

os gastos em máquinas e equipamentos somente no curto prazo50.

47 É sabido que a simples manutenção da moeda nacional constantemente desvalorizada não é suficiente para a elevação da FBME, sendo importante levar em consideração a conjuntura em que isto ocorre. Tudo indica que, para o caso da economia brasileira, onde se teve uma apreciação do real juntamente com um processo de aguda abertura comercial, obteve-se um o período de ajuste. Passado este período, o câmbio parece não determinava os gastos em bens de capital. Lembra-se, também, que nestes anos houve um ganho real nos salários e uma grande expansão do crédito, elevando o consumo total da economia brasileira. 48 Só no 4º trimestre de 1994 o quantum importado de bens de capital acelerou-se a uma taxa de 50,2% 49 É claro se deve levar em consideração os efeitos diretos das crises asiática (1997 III) e russa (1998 III), as quais acabam, também, alimentando expectativas a respeito da desvalorização do real. 50 Esta hipótese será testada ao caracterizar o modelo econométrico.

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Em virtude, então, das quebras expostas, trata-se a série de dados da FBME

como não-estácionaria, ou seja, aceita-se a presença de raiz unitária a um nível de

significância de 1%.

As únicas séries de dados utilizadas neste trabalho avaliadas como estacionárias

são: TXIGP e TXIPCA, por conseqüência, têm-se séries I(0), I(1) e I(2), cuja característica

abre a possibilidade de se utilizar um modelo vetorial de correção de erros (VEC). Este

tipo de modelo econométrico é mais restritivo que os modelos caracterizados por

vetores autoregressivos (VAR), uma vez que trabalha-se com séries não-estacionárias

que apresentam uma relação de cointegração51.

Segundo Hamilton (1994, p. 572) duas séries (y e x) são cointegradas quando,

mesmo que uma quantidade de choques proporcione mudanças permanentes na

estrutura da série y, ainda assim existirá uma relação linear de equilíbrio no longo prazo

entre as séries x e y. Em outras palavras, embora x e y sejam não-estacionárias, no

longo prazo a distancia entre estas duas séries será aproximadamente constante, ou seja,

a flutuação conjunta entre y e x caracteriza-se por ser um processo estacionário.

Uma vez que, emprega-se na equação de regressão componentes vetoriais, tem-

se um modelo multivariado que identifica-se por estimar um conjunto de equações

simultaneamente. Assim, em vista da quantidade de parâmetros que se tem em uma

modelagem via VEC, é importante sempre selecionar as variáveis a serem utilizadas no

componente vetorial, de modo a não se perder um número expressivo de graus de

liberdade.

Um indicador, não definitivo, para selecionar as variáveis utilizada neste

exercício é obtido quando se constrói uma regressão da variação das variáveis

explicadas, yt (FBME, FBCF e FBCC), contra a variação das explicativas, xt (todas as

51 Ainda neste capítulo será exposto, de forma sucinta, a concepção de uma modelagem VEC.

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outras séries não consideradas como explicadas). Por conseqüência, se testa o

componente cíclico das séries como variável explicativa e, genericamente, o que se

produz é o seguinte:

ttt xy εββ +∆+=∆ )(.)( 10 (62)

Lembra-se que as séries de dados utilizadas na equação (62) sofreram

transformações algébricas e estão praticamente todas em logaritmo. Ao passo que, as

que não passaram por esta transformação já se encontravam especificadas partindo de

uma razão entre variáveis. Em virtude destas mudanças, 1β indicará um conceito de

elasticidade. O próximo quadro mostra as variáveis explicativas que apresentaram o

parâmetro 1β estatisticamente significativo a 1%, 5% ou 10%, onde o valor entre

parênteses ao lado desses parâmetros corresponde a estatística-t.

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Tabela 4.2: Resultado da estatística-t para as variáveis selecionadas

SÉRIES DE DADOS FBME ( 1β ) SIG FBCF ( 1β ) SIG FBCC ( 1β ) SIG

CONSFAM 1,313 (3,926) * 0,877 (6,083) * 0,636 (4,099) *

CONSGOV ---- ---- ---- ---- 0,271 (3,865) *

CREDPRI 0,0042 (2,788) * 0,0028 (4,101) * 0,002 (2,931) *

CREDTOT 0,0030 (2,472) ** 0,0022 (3,963) * 0,002 (3,263) *

EX 0,316 (2,009) *** 0,146 (1,834) *** ---- ----

IM 0,134 (2,296) ** 0,097 (3,548) * 0,077 (2,910) *

PIB 3,221 (2,305) ** 1,851 (2,684) * ---- ----

PMEIGP ---- ---- -0,926 (-2,080) ** ---- ----

PMEIPCA ---- ---- ---- ---- -0,607 (-1,910) ***

PMEVIGP ---- ---- -0,928 (-1,860) *** ---- ----

PMEVIPCA ---- ---- ---- ---- -0,579 (-1,705) ***

UCI 0,029 (2,354) ** 0,013 (2,045) ** ---- ----

* - não rejeita 1β com 1% de significância.

** - não rejeita 1β com 5% de significância.

***- não rejeita 1β com 10% de significância.

1. As abreviaturas apresentadas na tabela acima, já têm subentendido as transformações aplicadas nas séries de dados expostas no capítulo anterior. Assim, deste momento em diante, sempre valerá esta afirmação.

Pela observação da tabela 4.2 percebe-se que quatro variáveis explicativas são

consideradas estatisticamente significativas com relação às três formas de apresentar o

fluxo de investimento; CFAMILIAS, CREDPRI, CREDTOT e IM. O parâmetro ligado a este

último agregado econômico, por sua vez, apresenta-se como significativo a 1%, tanto na

equação da FBCF, quanto na FBCC. Todavia, não se afigura como plausível imaginar

que o aumento das importações venha a elevar os gastos vinculados à construção civil,

visto que, os bens utilizados na FBCC são praticamente non-tradables, evitando o efeito

do aumento da FBCC de aprofundar os gastos com importações52. Seguindo esta última

52 É claro que se pode argumentar que a elevação da FBCC gerou um aumento da renda, através do multiplicador keynesiano, que dada a propensão marginal a importar acresceu o fluxo de importações. No entanto, aceitando este argumento o efeito seria da FBCC para IM.

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hipótese, o valor positivo encontrado no parâmetro das IM na relação com a FBME

pode ter sido gerado pela expressiva presença de bens de capital importados no estoque

de máquinas e equipamentos das empresas, quando, dado um choque na FBME, haveria

um aumento na compras externas de bens de capital e, conseqüentemente, uma elevação

do fluxo de importações. Enfim, aparenta ser uma relação espúria encontrada entre IM e

FBCC, sendo que, para a FBME é fundamental a modelagem através do VEC, buscando

definir melhor o sinal do parâmetro associado a IM.

Com respeito às variáveis independentes CFAMILIAS, CREDPRI e CREDTOTAL têm-

se indicações de que estes agregados estão fortemente correlacionadas, haja vista os

resultados da seguinte equação de estimação:

ttTOTALtFAMILIAS CREDC εββ +∆+=∆ )(.)( 10 (63)

Na expressão (63) não se rejeita a hipótese de que 1β é estatisticamente diferente

de zero com um nível de significância de 1%, tal que, este parâmetro oferece um valor

de 0,0023 e um desvio padrão de 0,0003. Somando-se a isso, ao testar a

estacionariedade dos resíduos desta mesma equação, rejeita-se a presença de raiz

unitária, indicando que o CFAMILIAS e o CREDTOTAL são cointegrados.

Mais um indicador do elevado grau de interação entre estas variáveis surge

quando se produz um gráfico de dispersão (x,y) configurando, no eixo das abscissas, a

taxa de variação do CFAMILIAS e, no eixo das coordenadas, a taxa de variação do

CREDTOTAL.

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- 8 0

- 6 0

- 4 0

- 2 0

0

2 0

4 0

- . 2 - . 1 . 0 . 1 . 2

Taxa

de v

ariação d

o c

redito tota

l

T a x a d e v a r ia ç ã o d o c o n s u m o d a s f a m í li a s

Gráfico 4.2: Dispersão (x,y) entre a taxa de variação do CFAMILIAS e a taxa de variação do CREDTOTAL.

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN e BACEN

O gráfico 4.2 define a existência de uma forte relação positiva entre a taxa de

variação do CFAMILIAS e a taxa de variação do CREDTOTAL, estrutura o que acaba por

corroborar a idéia da presença de uma forte inter-relação entre estas variáveis.

Por conseqüência, parece não ser apropriado o uso destas variáveis em um

mesmo modelo de regressão, ao se trabalhar com a hipótese de modelos univariados.

Somente no caso do VEC, onde se tem à opção de utilizar variáveis exógenas,

determinadas fora do modelo proposto, é aceitável a participação do CFAMILIAS e do

CREDTOTAL ou do CREDPRI na mesma função de regressão.

Com relação ao emprego do CREDTOTAL ou do CREDPRI no modelo estatístico,

nota-se que apesar dos efeitos das mudanças do CREDPRI sobre as três espécies de

formação bruta delimitadas neste trabalho serem maiores, quando comparado com o

com os alcançados pelo CREDTOTAL, decidiu-se trabalhar com o valor total de crédito

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na economia, uma vez que, o CREDPRI encontra-se internamente ao CREDTOTAL e

acredita-se que a variável mais abrangente possa captar maiores resultados, como

mostra o gráfico a seguir. Além disso, é claro, leva-se em consideração os resultados

apresentados no parágrafo anterior.

20

25

30

35

40

45

50

55

60

92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

CREDITO TOTAL

CREDITO PRIVADO

PERÍODO

ES

TO

QU

E D

E C

RE

DIT

O /

PIB

(%

)

Gráfico 4.3: CREDTOTAL e CREDPRI entre 1992/I e 2003/IV

Fonte de dados brutos: BACEN e IBGE/NSCN

Ao observar o gráfico 4.3 nota-se um forte crescimento tanto do CREDTOTAL

quanto do CREDPRI entre 1993 I e 1994 I. Sendo que, entre estes trimestres ocorreu um

aumento, respectivamente, de 52,8% e 61,9% no estoque total e privado dos

empréstimos na economia brasileira. A partir de 1994 II tem-se uma conjuntura de

enxugamento nestes estoques, lembrando que em março de 1994 é criada a Unidade

Real de Valor (URV). Este processo de ajuste segue até 1997, onde acontece uma

estabilização na taxa de crescimento do CREDTOTAL e do CREDPRI.

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Outro ponto importante que surge ao se observarem os resultados da tabela 4.2 é

à significância estatística das variáveis PMEIGP, PMEIPCA, PMEVIGP e PMEVIPCA. Tais

índices de preços, em principio, foram incorporados objetivando medir os custos

relativos da FBME, mas, no entanto, rejeita-se a hipótese nula (H0), com nível de

significância de 5% ou 10%, para o caso de FBCF e FBCC. Ademais, esta hipótese não

foi rejeitada com deflatores diferentes; para FBCF foi essencial o IGP-DI, ao passo que,

para a FBCC foi necessário usar como deflator o IPCA. Deste modo, acredita-se que

existe uma relação espúria entre os índices de preços de máquinas e equipamentos e o

índice de preços de máquinas, equipamento e veículo com a FBCC e FBCF.

Pelos resultados, até aqui apresentados, nota-se uma considerável relação entre a

demanda por investimento e os componentes de gastos da economia, além do crédito.

Com efeito, torna-se evidente o uso destes agregados quando se passar a construir um

modelo econométrico para delimitação dos condicionantes macroeconômicos estruturais

relevantes na tomada de decisão do setor privado com relação ao fluxo de investimento.

É, pois, essencial considerar os coeficientes de correlação destas variáveis candidatas a

integrar este modelo53, que nada mais são do que uma forma alternativa de representar o

exercício caracterizado na expressão (62).

53 O PIB não será selecionada para o modelo econométrico, uma vez que, todas as componentes de gastos macroeconômicos que compõe este agregado serão utilizadas. Além disso, salienta-se que este coeficiente de correlação é alcançado com as variáveis no nível, somente emprega as transformações já citadas na seção anterior.

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Tabela 4.3: Coeficiente de correlação de variáveis selecionadas.

CFAMILIAS

CFAMILIAS 1,0000 CGOVERNO

CGOVERNO 0,8240 1,0000 CREDTOTAL

CREDTOTAL -0,6016 -0,5967 1,0000 EX

EX 0,3602 0,5025 -0,4317 1,0000 FBCC

FBCC 0,8841 0,7651 -0,4714 0,1435 1,0000 FBCF

FBCF 0,8619 0,7642 -0,4282 0,2832 0,8678 1,0000 FBME

FBME 0,5444 0,5120 -0,2277 0,3872 0,4551 0,8001 1,0000 IM

IM 0,7501 0,7083 -0,2863 0,6705 0,5869 0,6420 0,5107 1,0000 UCI

UCI 0,7099 0,5619 -0,3837 -0,0754 0,8022 0,8400 0,6078 0,3558 1,0000

Pela avaliação da tabela anterior, nota-se uma forte correlação entre as variáveis

que foram pré-escolhidas para integrar o modelo de regressão de demanda por

investimento, cujo comportamento reforça a idéia de se utilizar um VEC para a

determinação do exercício proposto. Um modelo formatado como um VEC, segundo já

definido anteriormente, parte de uma abordagem multivariada. Pelo que se estima uma

equação de curto prazo para cada variável do modelo de forma simultânea. Assim, o

problema da forte correlação entre as séries presentes no VEC não chega a representar

problema.

Segundo Enders (1995, p. 358-359) quatro pontos são muito importantes na

definição da natureza de um modelo tipo VEC.

1. O processo de cointegração indica uma combinação linear de variáveis

não estacionárias.

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2. Todas as variáveis incluídas no modelo devem ser integradas da

mesma ordem54.

3. Se o elemento vetorial do modelo tem n componentes, há a

possibilidade de existirem n-1 vetores cointegrados linearmente

independente55.

4. A maioria da literatura teórica foca o caso em que cada variável,

contida no modelo, apresenta uma única raiz unitária.

Com relação ao comportamento das séries de dados que serão empregadas no

VEC, pontos 2 e 4 salientados antes, os resultados dos testes de estacionariedade

indicam que todas as séries são I(1). A integração de primeira ordem, também confirma

o ponto 4, já que todas as séries são constituídas de uma única raiz unitária. Já com

relação aos pontos restantes, lembra-se que serão testados já com os resultados da

estimação apresentados.

Um modelo econométrico estruturado sob as bases de um VEC apresentará uma

relação de curto prazo e outra de longo prazo. A dinâmica de curto prazo será

influenciada, principalmente, por desvios fora do equilíbrio, enquanto que, a relação de

longo prazo será aquela em que estes desvios desaparecem e, por conseqüência, se

atinge uma estabilidade de equilíbrio representada por uma equação de cointegração.

Pode-se representar um modelo estatístico estruturado com base em um VEC da

seguinte maneira:

∑=

− ++∆+=∆n

itt

l

itit eyyy1

0 ... θαββ (64)

54 Este ponto, no entanto, pode ser flexibilizado. Assim, dado que duas séries sejam integradas da mesma ordem, pode-se incluir, em um modelo VEC, séries com ordem de integração menor que estas. Ou seja, visto que o VEC apresenta duas séries I(1), não há problema inserir uma série I(0) no modelo, pois, ao se alcançar um processo cointegrado entre as duas séries não-estacionárias, a adição de uma série estacionária no vetor de correção de erro não causará mudanças significativas nas estatísticas de robustez da regressão. 55 Esta equação de integração segue a mesma lógica da conceituada anteriormente. Porém, neste momento esta se buscando uma relação que cointegre todos os elementos do VEC, e não variáveis duas a duas.

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86

onde,

ty = vetor das variáveis.

0β = vetor dos termos de intercepto.

iβ = vetor dos parâmetros associados as variáveis do modelo.

α = vetor dos pesos da correção dos erros.

t

ly.θ = vetor de cointegração, sendo que lθ representa o vetor transposto dos

parâmetros da equação de longo prazo.

te = representa o vetor de resíduos.

Para a equação da FBME define-se o VEC com as seguintes variáveis

endógenas: FBME, CFAMILIAS, CGOVERNO, EX, IM e UCI. Usa-se, ainda, o CREDTOTAL

como variável exógena56, sendo o número de defasagens igual a 2. A opção por se

trabalhar com 2 diferenças é estruturada, basicamente, nas seguintes concepções: (A)

este número de defasagens é o valor mínimo para se atingir raízes complexas; (B)

quanto maior a quantidade de variáveis defasadas, menor o grau de liberdade do

modelo. Ademais, incorporou-se uma constante e uma tendência deterministica linear

nos dados da equação de cointegração, isto é, na relação de longo prazo, no modelo de

regressão.

A variável CGOVERNO, como apresentado na tabela 4.2, quando empregada como

variável explicativa em uma regressão que tem como variável explicada a FBME, teve o

parâmetro ligado a ela estatisticamente igual a zero. Entretanto, ao inserir esta variável

em um VEC, formatado como exposto no parágrafo anterior, a resposta configura-se de

maneira diferente.

56 As variáveis exógenas compõem somente a equação de curto prazo.

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Tabela 4.4: Teste de restrição para o parâmetro do CGOVERNO em um modelo VEC para a FBME

Hipótese de restrição Estatística- 2χ Probabilidade

3,1β .CGOVERNO = 0 9,036 0,003

A tabela 4..4 apresenta o resultado da estatística- 2χ quando se impõe a restrição

de que o parâmetro associado ao CGOVERNO é estatisticamente igual a zero. Pela resposta

alcançada, fica evidenciada a rejeição da restrição imposta e, torna-se necessária a

utilização da variável CGOVERNO na composição do vetor que formará o VEC que

estimará os condicionantes macroeconômicos FBME.

Já delimitados os componentes endógenos e exógenos do VEC, é necessário

aplicar o teste Johansen com o objetivo de encontrar o número de equações

cointegradas, se existirem, dado o modelo proposto. Conseqüentemente, apresenta-se

este teste na próxima tabela.

Tabela 4.5: Valores estatístico do teste de cointegração de Johansen para a equação da FBME

Nº de equações cointegradas

Estatística Traço

VC* - 5% VC* - 1% Estatística Máximo-autovalor

VC* - 5% VC* - 1%

Nenhuma 117,21 114,90 124,75 53,47 43,97 49,51

1≤ 117,74 87,31 96,58 43,84 37,52 42,36

2≤ 73,90 62,99 70,05 33,40 31,46 36,65

3≤ 40,49 42,44 48,45 26,35 25,54 30,34

4≤ 14,49 25,32 30,45 13,98 18,96 23,65

5≤ 0,152 12,25 16,26 0,152 12,25 16,26

* - valores críticos

Considerando a tabela 4.5, tem-se que o VEC proposto para a FBME apresenta

três equações de cointegração, tanto em um nível de significância de 5% quanto em um

nível de 1% pelo critério de traço. Tal resultado, contudo, não permanece o mesmo ao

se utilizar o critério do máximo-autovalor. Por este argumento, encontram-se duas

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equações de cointegração em um nível de 1% de significância, aceita-se, então esta

última hipótese para relações de longo prazo.

A estrutura de longo prazo com uma única equação de cointegração é exposta na

expressão (64), onde, os valores entre parêntese abaixo dos parâmetros representam o

desvio padrão dos mesmos. A tendência determinística linear é caracterizada como

TEND.

FBME = 59,75 + 3,41.CFAMILIAS + 2,21.CGOVERNO + 1,36.EX – 1,04.IM + 0,02.UCI - 0,04.TEND (64) (0,574) (0,242) (0,126) (0,123) (0,006) (0,005)

Por sua vez, a composição com duas equações de cointegração é exposta como

segue:

FBME = 3,56.CGOVERNO + 0,104.EX + 0,65.IM – 0,03.UCI + 0,03.TEND (65) (0,632) (0,192) (0,253) (0,01) (0,006)

CFAMILIAS = 0,4.CGOVERNO - 0,43.EX + 0,49.IM - 0,01.UCI + 0,003.TEND (66) (0,172) (0,05) (0,07) (0,006) (0,001)

Ao comparar a equação (64) e (65), percebem-se inversões de sinais no

parâmetro das variáveis IM, UCI e da TEND. Este resultado, em um primeiro momento,

parece não satisfatório. Na equação (65), a interpretação da elasticidade negativa para

UCI com respeito a FBME leva a afirmar que, um decréscimo de 1% na UCI, aumenta

em 3% a FBME57. Em outro sentido, uma elevação de 1% na primeira variável faz com

que aconteça uma diminuição de 3% no fluxo de investimento destinado para máquinas

e equipamentos. Portanto, de forma alguma a UCI caracteriza-se como um acelerador,

mas, justamente o contrário, um “antiacelerador”.

A outra variável que demonstra uma troca de efeito sobre a FBME, quando

comparada à equação (64) e (65), é a IM. Considerando-se o modelo com duas equações

57 Salienta-se que a variável UCI está mediada em taxa percentual, e a FBME afigura-se em logaritmo. Portanto, é necessário que se multiplique por 100 o parâmetro correspondente a UCI para se definir uma elasticidade. Este processo não é necessário para os parâmetros que pertencem as variáveis do modelo que sofreram a transformação logarítmica, uma vez que, já se atinge o conceito de elasticidade quando se faz a regressão de Log x Log.

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de cointegração, uma elevação de 1% nas importações provocaria um aumento na

FBME em torno de 0,65%, onde, uma queda nas importações de mesma magnitude,

geraria uma diminuição na FBME de, também, 0,65%. Esta dinâmica só seria valida ao

considerar que as participações das importações de bens de capital no total da FBME

exibiram um valor bastante representativo. Ao desagregar a FBME por origem nacional

e importado, chega-se a um valor médio para participação dos bens importados nesse

agregado de praticamente 32%58, com que não se pode afirmar que existe esta

correlação positiva entre IM e FBME.

Nota-se, ainda, uma inversão de sinal no parâmetro pertencente à TEND, quando

se comparam as relações de longo prazo de um modelo, que indica uma equação

cointegrada, contra o que aconselha duas. Esta conjuntura foi estabelecida pelo fato de

que CFAMILIAS foi excluído da expressão (65), levando a tendência linear a absorver o

efeito desta variável sobre a FBME. Ademais, as exportações, nesta mesma expressão,

não são identificadas como uma variável que determina os gastos com FBME. Em

outras palavras, não é possível rejeitar a hipótese nula de que o parâmetro, o qual

relaciona as EX com a FBME é estatisticamente igual a zero.

No mais, voltando-se à questão da variável CFAMILIAS, e comparando as

relações de longo prazo para a FBME com uma equação de cointegração e com duas

equações, repara-se que nesta última relação há uma restrição de que o parâmetro desta

variável é igual a zero (a variável CFAMILIAS não esta presente na equação (65)). No

entanto, faz-se importante testar a hipótese de que CFAMILIAS não determina o

investimento no modelo proposto.

58 Esta medida foi alcançada tomando os valores anuais em reais fornecido pelo IBGE/NSCN tabelas sinóticas. Somando a isso, lembra-se que o agregado FBME utilizado neste trabalho contém a parcela dos serviços de formação bruta, tornando esta taxa um pouco menor.

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Tabela 4.6: Teste de restrição para o parâmetro do CFAMILIAS em um modelo VEC para FBME

Hipótese de restrição Estatística- 2χ Probabilidade

2,1β .CFAMILIAS = 0 7,718 0,005

Pela observação da tabela 4.6 tem-se que não se pode desconsiderar o efeito do

CFAMILIAS na determinação da FBME em um nível de significância de 1%.

As dificuldades esboçadas, até aqui, já tornariam a relação (64) mais

representativa que a relação (65). No entanto, pode-se considerar a mesma estrutura do

VEC já exposta, mas com somente uma defasagem, objetivando a comparação das

equações de longo prazo para estas duas propostas. Têm-se, assim, os conseqüentes

resultados para o teste de cointegração de Johansen para um modelo com uma

defasagem nas equações de curto prazo.

Tabela 4.7: Valores estatístico do teste de cointegração de Johansen para a equação da FBME com uma defasagem

Nº de equações Cointegradas

Estatística Traço

VC* - 5% VC* - 1% Estatística Máximo-autovalor

VC* - 5% VC* - 1%

Nenhuma 127,99 114,90 124,75 52,99 43,97 49,51

1≤ 74,99 87,31 96,58 31,88 37,52 42,36

2≤ 43,11 62,99 70,05 19,11 31,46 36,65

3≤ 23,99 42,44 48,45 14,33 25,54 30,34

4≤ 9,66 25,32 30,45 8,20 18,96 23,65

5≤ 1,45 12,25 16,26 1,45 12,25 16,26

Percebe-se na tabela 4.7 que o VEC proposto para a FBME com apenas uma

defasagem no curto prazo, apresenta simplesmente uma equação de cointegração para

1% ou 5% de nível de significância, ao passo que, este resultado permanece valido

quando se utiliza a o critério de traço ou de máximo-autovalor.

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Com efeito, a equação de longo prazo para um modelo com uma defasagem nas

relações de curto prazo define-se abaixo:

FBME = 64,7 + 3,90.CFAMILIAS + 1,86.CGOVERNO + 1,54.EX – 1,03.IM + 0,03.UCI + 0,04.TEND (67) (0,590) (0,276) (0,132) (0,120) (0,006) (0,005)

O resultado alcançado na equação (67) comparado com o resultado da relação

(64) mostra uma regularidade nos valores dos parâmetros bastante expressiva. Fazendo-

se crer que o modelo econométrico que melhor representa a FBME é o identificado com

uma estrutura de duas defasagens no curto e uma única relação de cointegração no

longo prazo, caracterizada na equação (64). Todavia, duas mudanças ainda serão

tentadas neste arranjo. A primeira delas deve-se às possíveis quebras estruturais no

período proposto neste trabalho, com que se procura alocar, primeiramente, uma

variável dummy aditiva59 no ano de 1994 (DUM/1994), buscando controlar os efeitos do

Plano Real. Por sua vez, para controlar a desvalorização da moeda nacional, ocorrida no

1º trimestre de 1999, pratica-se a mesma hipótese, e ajusta-se uma dummy aditiva para

todo este ano (DUM/1999). A segunda transformação, concebida para o modelo

proposto, é a tentativa de ajustar as variações da taxa de juros como determinante da

demanda por máquinas e equipamentos.

Ao inserir a DUM/1994 no modelo econométrico da FBME, nota-se que na

equação de longo prazo as variáveis CFAMILIAS, IM e UCI tornam-se não significativas

estatisticamente60, sendo que, pelo critério do máximo-autovalor, encontram-se duas

relações de cointegração com 1% de nível de significância. Além disso, para a equação

de curto prazo da FBME os testes estatísticos apontam que a DUM/1994 tem parâmetro

igual a zero, sendo diferente de zero somente nas relações com a CFAMILIAS e CGOVERNO.

59 Ao introduzir em um modelo variáveis dummies junto com variáveis quantitativas duas análises são possíveis: (1) incorporar mudanças no intercepto e/ou na declividade de uma função; (2) possibilitar a identificação de mudanças estruturais (Carmo e Diaz, 2000, p. 90). 60 Os resultados para a equação de longo prazo e curto prazo estão apresentados em anexo.

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Logo, ao observar o critério de Akaike (AIC) ou de Schwarz (SBC), não se ressalta uma

mudança significativa de qualidade no modelo.

Já com a presença da DUM/1999 no modelo 1, não se tem variações

significativas na equação de longo prazo, vis a vis a formatação inicial, tanto com

relação à significância estatística dos parâmetros, quanto ao sinal destes61. O teste de

cointegração de Johansen, pela avaliação do máximo-autovalor com um nível de

significância de 1%, também indicou duas equações cointegradas, da mesma maneira

que nos outros modelos com duas defasagens até aqui propostos. Nas relações de curto

prazo, exclusivamente na equação das EX, esta variável dummy foi estatisticamente

diferente de zero. Com efeito, o AIC e o SBC ofereceram valores que levam a

identificar este modelo estatisticamente inferior ao primeiro já escolhido.

A não melhora nos resultados estatísticos, quando se utilizam as variáveis

binarias aditivas para controlar as possíveis quebras estruturais de 1994 e de 1999, está

vinculada à forma como a FBME relaciona-se com o CFAMILIAS e a UCI.

O gráfico 4.4 mostra a taxa de variação das variáveis FBME e CFAMILIAS,

notando-se a confirmação de uma relação teórica de fundamental importância entre

estes agregados. As taxas de variações na FBME (curva vermelha) são de maiores

magnitudes do que as atingidas pelas taxas de variações do CFAMILIAS (curva azul), ou

seja, o investimento é mais volátil que o consumo. Somente nos anos de 1997 e 1998 as

magnitudes das variações obtiveram valores praticamente iguais, e somando a isto,

observa-se que tais variações apresentam-se, na média, basicamente no mesmo sentido,

mesmo durante a implementação do Plano Real e na desvalorização da moeda, como

mostra o gráfico 4.5, caracterizado como a relação de dispersão entre a taxa de variação

da FBME e a taxa de variação do CFAMILIAS.

61 Ver anexos

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-0,5000

-0,4000

-0,3000

-0,2000

-0,1000

0,0000

0,1000

0,2000

0,3000

0,4000

Período

Taxa de Variação

FBME Consumo das Famílias

Gráfico 4.4: Taxa de variação da FBME e do CFAMILIAS entre 1992/II e 2003/IV.

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN

O gráfico 4.5 exibe uma relação positiva bastante evidente entre a FBME e o

CFAMILIAS, uma vez que, pode-se traçar, sem nenhum tipo de dúvida, uma linha de

tendência com sentido ascendente entre os pontos na área de plotagem.

- . 1 5

- . 1 0

- . 0 5

. 0 0

. 0 5

. 1 0

. 1 5

- . 4 - . 3 - . 2 - . 1 . 0 . 1 . 2 . 3 . 4

Taxa

de v

ariação d

o C

onsu

mo d

as F

am

ílias

T a x a d e v a r i a ç ã o d a F B M E

Gráfico 4.5: Dispersão (x,y) entre a taxa de variação da FBME e a taxa de variação do CFAMILIAS

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN

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Somente a estrutura exposta nos dois gráficos anteriores já indica uma forte

interação entre a FBME e o CFAMILIAS, sendo importante observar como estas duas

séries de dados comportaram-se ao longo do período da análise, com um tipo de

apreciação que permite uma visualização da dinâmica de cointegração destas duas séries

de dados.

O gráfico 4.6 demonstra como as séries da FBME e do CFAMILIAS apresentaram,

em média, uma forma muito próxima, respeitando um processo de defasagem no

tempo62, e permanecendo tal conjectura mesmo no período de implementação do Plano

Real e no ano da desvalorização da moeda nacional. Por esse motivo, a utilização da

DUM/1994 e da DUM/1999 acabaram por não melhorar de forma substantiva os

resultados anteriormente apontados.

9.4

9.6

9.8

10.0

10.2

10.4

12.0

12.1

12.2

12.3

12.4

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Consumo das Fam ilias

FBME

Log d

o C

onsu

mo d

as F

am

ílias

Log d

a F

BM

E

P eríodo

Gráfico 4.6: Logaritmo da FBME e logaritmo do CFAMILIAS entre 1992I e 2003IV

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN

62 O único momento onde ocorre uma dinâmica de divergência entre a FBME e o CFAMILAS é no ano de 1995.

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95

Com efeito, a conjunção desses três gráficos, apresentados anteriormente, deixa

claro a forte dinâmica entre as séries da FBME e do CFAMILAS, na economia brasileira,

no período que se estende deste 1992/I até 2003/IV, tornando a presença das variáveis

binárias pouco relevante.

Não obstante, esta intensa inter-relação entre as variáveis FBME e CFAMILIAS

corroborar para não se empregar as variáveis dummies nos anos de 1994 e 1999, no

modelo econométrico que visa identificar os condicionantes macroeconômicos

estruturais da demanda por máquinas e equipamentos, uma outra variável vem no

sentido de ajudar neste processo de não utilização da DUM/1994 e DUM/1999. A

relação entre as séries UCI e a FBME, em alguns momentos, parece ser mais

significativa que aquela atingida entre a série desta última variável e da variável

CFAMILIAS.

Este processo é exibido no gráfico 4.7, onde se notam dois momentos de

significativas mudanças conjunturais na economia brasileira (1994 e 1999). Apesar

desta modificação, as dinâmicas das duas séries, exposta neste gráfico, em média,

permanecem idênticas, na medida em que esta conclusão não é valida somente para

estes anos, mas, sim, para todo o período transfigurado no gráfico em questão. Logo,

não se pode desprezar o movimento de interação entre as séries da UCI e da FBME,

como fator de explicação da dificuldade de se utilizar variáveis binárias para controlar

as variações das políticas econômicas nos anos de 1994 e 1999.

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12000

16000

20000

24000

28000

32000

68

72

76

80

84

88

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

UCI

FBMELog d

a F

BM

EG

rau d

e U

tilização d

a C

apacid

ade In

sta

lada

Período

Gráfico 4.7: Logaritmo da FBME e grau de utilização da capacidade instalada entre 1992I e 2003IV

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN

Ao se compararem os gráficos 4.7 e 4.5 há uma indicação de que o processo de

cointegração entre as séries da UCI e a FBME é mais intenso do que acontece entre as

séries da CFAMILIAS e a FBME. Ademais, ao se arquitetar o gráfico 4.8, que representa a

dispersão (x,y) entre a taxa de variação do FBME e a taxa de variação da utilização da

capacidade instalada, observa-se que se pode traçar uma linha ascendente entre os

pontos assentados na área de plotagem desse gráfico. A mesma dinâmica ocorre com o

gráfico 4.6, o qual representa as taxas variações da FBME e do CFAMILIAS.

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- 3

-2

-1

0

1

2

3

4

- .4 - .3 - .2 - .1 .0 .1 .2 .3 . 4

Taxa

de v

ariaçã

o d

a u

tiliz

açã

o d

a c

apaci

dade inst

ala

da

T a x a d e v a r ia ç ã o d a F B M E

Gráfico 4.8: Dispersão (x,y) entre a taxa de variação da FBME e a taxa de variação da utilização da capacidade instalada.

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN

Em suma, as tentativas de controlar as quebras estruturais nas séries de dados

com a adição de variáveis binária aditivas (DUM/1994 e DUM/1999), acabaram por não

configurar melhoras significativas nos resultados estatísticos devido a forte relação entre

as variáveis UCI e FBME, de um lado, e CFAMILIAS de outro63. Definiu-se, então, pela

não utilização de variáveis dummies no modelo econométrico para a FBME, pois, dessa

forma, o modelo fica com mais graus de liberdade, captando melhor as informações que

as séries econômicas que compõe o VEC transmitem.

Já resolvido a questão da não utilização das variáveis DUM/1994 e DUM/1999 e

porque desse não uso no modelo econométrico definitivo para a FBME, tem-se a

63 É claro que a partir dessa conclusão pode-se chegar que a série da UCI também terá uma relação significativa com a série do CFAMILIAS.

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98

problemática da inserção da taxa de juros no VEC de determinação dos componentes

macroeconômicos estruturais da demanda por máquinas e equipamentos.

Tomando com base o primeiro modelo econométrico apontado, o qual se

configura pelas seguintes variáveis endógenas: FBME; CFAMILIAS; CGOVERNO, EX; IM e

UCI, além da variável exógena CREDTOTAL, inclui-se a TXIPCA como um componente

endógeno do VEC. Os resultados estatísticos dessa nova configuração indicam que a

adição da variável TXIPCA não melhora os resultados do modelo como um todo (AIC e

SBC)64. Além disso, esta variável é não significativa na equação de longo prazo, como

mostra o resultado do teste de restrição, o qual impõe um valor igual a zero para

parâmetro associado a TXIPCA na relação de cointegração (tabela 4.8).

Tabela 4.8: Teste de restrição para o parâmetro do TXIPCA em um modelo VEC para FBME

Hipótese de restrição Estatística- 2χ Probabilidade

7,1β .TXIPCA = 0 0,259 0,611

Não é possível rejeitar a restrição identificada na tabela anterior com uma

probabilidade de mais de 60%. Por conseqüência, a variável TXIPCA não determina os

gastos com máquinas e equipamentos no longo prazo, restando, ainda, a hipótese de que

esta série apresenta significância estatística no curto prazo. Com efeito, indica-se, no

mesmo modelo VEC apresentado até este momento, a TXIPCA como um componente

exógeno, junto com o CREDTOTAL.

Não diferente do que ocorreu ao caracterizar TXIPCA como uma variável de

longo prazo, não houve melhora nos resultados estatísticos do modelo que se utiliza

desta variável no curto prazo65. A única equação em que a variável TXIPCA obteve

64 Ver anexo. 65 Ver anexo

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significância estatística foi a construída para as EX66. A dificuldade em associar

mudanças na FBME, a partir de variações na TXIPCA, é visualizada no gráfico 4.9.

- 2 .5

-2 .0

-1 .5

-1 .0

-0 .5

0 .0

0 .5

1 .0

1 .5

- .4 - .3 - .2 - .1 . 0 .1 .2 . 3 .4

Taxa

de v

ariação

na s

elic

aju

sta

da p

elo

IP

CA

T a x a d e v a r ia ç ã o d a F B M E

Gráfico 4.9: Dispersão (x,y) entre a taxa de variação da FBME e a taxa de variação TXIPCA.

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN

No gráfico de dispersão (x,y) anteriormente apresentado, tem-se uma nuvem de

pontos onde não se determina uma relação positiva ou negativa entre as variações da

FBME, vis a vis às variações na TXIPCA. É especificamente esta dificuldade que os

resultados do modelo VEC acaba por apontar, e, portanto, não é relevante

estatisticamente a presença da TXIPCA na composição da equação de determinação da

FBME.

66 Existe uma chance desta relação ser espúria, uma vez que, o sinal deste parâmetro é negativo. Pois, como configurado o regime de metas de inflação na economia brasileira, o combate aos aumentos dos índices de preços é feitos via taxa de juros. Entretanto, ao elevar esta taxa pode ocorrer uma valorização da moeda nacional, a partir da entrada de capitais. Esta conjuntura acaba por dificultar as exportações nacionais. Em resumo, tem-se uma relação inversa entre a taxa de juros e as exportações, identificado pelo sinal negativo do parâmetro ligado a TXIPCA na expressão que caracteriza as exportações.

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100

Tomando a mesma estrutura observada para as considerações sobre a TXIPCA,

faz-se o mesmo exercício para a TXIGP e, inicialmente, se testará esta última variável

como determinante da FBME no longo prazo, para, depois, buscar uma relação no curto

prazo. Diferentemente do que ocorreu com a TXIPCA, a variável TXIGP alcançou

significância estatística na equação de cointegração, mas, o sinal do parâmetro

pertencente a esta variável tornou-se positivo, ou seja, um aumento na TXIGP provocaria

uma expansão dos gastos com a FBME67. Há, além disso, uma piora no modelo como

um todo e, por conseqüência, crê-se que a relação entre TXIGP e a FBME, nessa

estrutura do VEC, apresenta um caráter espúrio.

Por sua vez, ao inserir a TXIGP como variável exógena no VEC de determinação

dos gastos com máquinas e equipamentos, o parâmetro dessa variável torna-se

significativa na expressão da FBME, EX e da UCI, todas com sinal negativo. Ademais,

pelos critérios de AIC e SBC, houve uma melhora no modelo em geral, apesar de o

parâmetro que identifica a velocidade de ajuste de longo prazo piorar68, com o que,

trabalha-se, a partir de agora, com dois modelos, definindo, após os testes de impulso-

resposta, o melhor deles.

O teste Johansen, para o modelo econométrico que admite a TXIGP como

variável exógena, é apresentado na tabela 4.9. Os resultados dos testes indicam duas

equações de cointegração em um nível de significância de 1%, tanto, pelo critério de

traço e, quanto pelo critério de máximo-autovalor. Todavia, como já executado no

modelo 1, é fundamental observar os resultados dessas equações de cointegração.

67 Ver anexo 68 Ver anexo

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Tabela 4.9: Valores estatístico do teste de cointegração de Johansen para a equação da FBME com TXIGP como variável exógena.

Nº de equações cointegradas

Estatística Traço

VC* - 5% VC* - 1% Estatística Máximo-autovalor

VC* - 5% VC* - 1%

Nenhuma 168,86 114,90 124,75 58,08 43,97 49,51

1≤ 110,78 87,31 96,58 42,42 37,52 42,36

2≤ 68,37 62,99 70,05 34,58 31,46 36,65

3≤ 33,78 42,44 48,45 18,57 25,54 30,34

4≤ 15,21 25,32 30,45 13,94 18,96 23,65

5≤ 1,27 12,25 16,26 1,27 12,25 16,26

* - valores críticos

A composição da função de longo prazo com uma equação de cointegração no

modelo 2 (TXIGP como variável exógena) é definida, pois, da seguinte forma:

FBME = 65,0 + 3,91.CFAMILIAS + 2,48.CGOVERNO + 1,52.EX – 1,24.IM + 0,01.UCI + 0,04.TEND (68) (0,641) (0,270) (0,141) (0,137) (0,007) (0,005)

Já a estrutura de longo com duas equações de cointegração é formatada abaixo:

FBME = 3,74.CGOVERNO + 0,03.EX + 0,52.IM – 0,02.UCI + 0,03.TEND (69) (0,614) (0,192) (0,248) (0,01) (0,006)

CFAMILIAS = 0,32.CGOVERNO - 0,38.EX + 0,45.IM - 0,01.UCI + 0,003.TEND (70) (0,152) (0,05) (0,06) (0,003) (0,001)

Na comparação das três expressões anteriores com as equações (64), (65) e (66)

nota-se que os parâmetros atingem valores muito próximos, assim como sua

significância estatística. Com efeito, seguindo os mesmos critérios anteriormente

apresentados (inversão do sinal dos parâmetros associados as variáveis UCI e IM),

elege-se a configuração com uma equação de cointegração para o modelo 2.

Em resumo, têm-se, até agora, dois modelos indicados, onde ambos são

estruturados partindo-se de um VEC. O primeiro modelo oferece como variáveis

endógenas a FBME, CFAMILIAS, CGOVERNO, EX, IM e a UCI, e por sua vez, como

variável exógena o CREDTOTAL. Já o segundo modelo utiliza-se dos mesmos

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componentes endógenos do primeiro modelo, porém, se adiciona a TXIGP, ao

CREDTOTAL, como variável exógena.

Uma vez identificados, os dois tipos de modelos VEC com que se trabalharão no

decorrer desse exercício, passa-se à análise do efeito impulso-resposta em ambos. Após

estimar o VEC, pode-se buscar o comportamento das variáveis endógenas do modelo

mediante um choque em uma destas. É este movimento que o impulso-resposta captura,

ou seja, dado um choque em uma determinada variável endógena presente no VEC, esta

mudança não se restringe a uma só direção, mas afeta todas as outras variáveis

endógenas do modelo através de uma dinâmica de defasagens interna ao VEC. A função

impulso-resposta mostra os efeitos de um choque temporário no VEC, que por sua vez

torna-se uma mudança permanente no VAR.

Salienta-se que o ordenamento das equações de curto prazo irá afetar na função

impulso-resposta, isto é, se ao construir o exercício de impulso-resposta, se adicionar

como primeira equação do sistema as EX, se estará depositando um peso maior nesta

variável vis a vis os outros componentes endógenos do VEC. Esta dinâmica é

ocasionada, pois os choques se propagam de cima para baixo no sistema de equações.

Assim, ao estruturar a análise impulso-resposta, por exemplo, com a seguinte ordem de

equações: (1º) EX; (2º) FBME; (3º) CFAMILIAS; (4º) CGOVERNO; (5º) IM e (6º) UCI, uma

mudança nas EX causaria variações contemporâneas em todas as equações, sendo que,

uma mudança em qualquer outra equação, não altera as EX. A mesma dinâmica valeria

para as flutuações do CGOVERNO, as quais influenciariam somente as expressões das IM e

da UCI, não cobrindo as equações das EX, da FBME e do CFAMILIAS.

Todavia, segundo Pesaran e Shin (1998), os resultados do teste de impulso-

resposta, formatados tendo como base o impulso generalizado, independem de como as

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equações das variáveis endógenas estão ordenadas. Com efeito, decidiu-se compor a

função impulso-resposta partindo do impulso generalizado.

O gráfico 4.10 mostra o resultado da função impulso-resposta sobre o modelo 1,

ou seja, dado um choque no erro das equações de cada uma variável endógena do VEC,

qual foi o comportamento da variável FBME?69. A curva de cor azul mostra a dinâmica

da FBME, advindo um choque positivo nela mesma. A curva de cor vermelha apresenta

a movimentação da FBME ocorrida depois de um choque positivo no consumo das

famílias e, dessa forma, sucessivamente.

Por conseguinte, observa-se que, em seguida da própria FBME, as variáveis que

provocam uma maior alteração na demanda por máquinas e equipamentos são a UCI e o

CFAMILIAS, como primeiro bloco. A seguir, pode-se considerar o CGOVERNO e as IM,

porém, este último componente provoca uma variação negativa na FBME. Por último,

tem-se as EX na escala das variáveis que provocam um menor efeito nos gastos com

máquinas e equipamentos.

69 Para o caso específico desse trabalho só irá apresentar os resultados sobre a FBME. Todavia, pode-se fazer este mesmo exercício para as outras variáveis endógenas do modelo econométrico.

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104

-.04

-.02

.00

.02

.04

.06

.08

.10

2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Varia

ções

no lo

g d

a F

BM

E

Períodos

FBME

UCI

Consumo das Famílias

Consumo do Governo

EX

IM

Gráfico 4.10: Efeito impulso-resposta sobre a variável FBME estruturada a partir do VEC do modelo 1.

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN e BACEN

O comportamento da FBME, após um choque na UCI e no CFAMILIAS, corrobora

as afirmações anteriormente expostas, isto é, há uma forte relação entre os

investimentos em máquinas e equipamentos e estas duas variáveis. Ademais, nota-se,

depois de um choque nessas duas variáveis, um comportamento cíclico da FBME muito

semelhante, onde a dinâmica cíclica dos dispêndios em máquinas e equipamentos,

mostrada na curvas roxa e vermelha, aproxima-se do comportamento da curva verde, ao

passo que, este último situa-se em um nível inferior de resposta. Toda esta semelhança

parece normal, visto que esta última curva representa o movimento na FBME depois de

um choque positivo no CGOVERNO, componente de gasto conceitualmente próximo do

CFAMILIAS.

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No caso de uma alteração nas EX, observa-se, em um primeiro momento, uma

forte resposta na FBME, uma vez que, as EX podem ser consideradas um gasto

autônomo, que, via multiplicador keynesiano, provocam efeitos expansivos na

economia. No entanto, com o passar dos trimestres, ocorre uma perda de força no

investimento direcionado para máquinas e equipamentos, estabilizando-se a partir do 4º

trimestre em um patamar positivo. O desempenho inferior da FBME, após um choque

nas vendas externas, vis a vis o comportamento dessa variável dada uma variação nos

componentes demanda interna, pode estar relacionado com duas características da

economia brasileira.

A primeira delas é que a participação média das EX no produto nacional, no

período analisado, foi inferior à participação do CFAMILIAS e do CGOVERNO70. Com efeito,

os choques positivos nas EX repercutem com menos intensidade na economia como um

todo e, por conseqüência, na FBME. O segundo ponto importante é que as vendas

externas nacionais, nos últimos anos, estão cada vez mais intensivas em bens primários

e, dessa forma, há um efeito indireto sobre o parque industrial nacional, setor que, no

Brasil, ainda se caracteriza por conter o maior estoque de máquinas e equipamentos.

A única variável endógena que demonstrou um efeito negativo na FBME,

sucedido uma mudança positiva no seu fluxo, foram as IM. Lembra-se que esta variável

apresentou parâmetro com sinal negativo na relação de cointegração. É por concluir,

então, que, quanto maior a propensão a importar da economia brasileira, menor será o

efeito sobre os gastos com máquinas e equipamentos, após um choque expansionista na

demanda interna, isto é, há um maior “vazamento” dos gastos domésticos para o

exterior. Além disso, apesar do aumento significativo da participação dos bens de

70 As participações média na renda total entre 1992 I e 2003 IV das EX, CFAMILIAS e do CGOVERNO são, respectivamente, 11%, 61% e 19%. Salienta-se que em 2003 a participação das EX subiu para um patamar em torno de 16,5%.

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capital na pauta de importações do Brasil, uma elevação nas compras internas como um

todo reprime a FBME.

Já definido e delimitado os efeitos da função impulso-resposta sobre a FBME no

modelo 1, o gráfico 4.11 apresenta o mesmo exercício para o modelo 2.

-.06

-.04

-.02

.00

.02

.04

.06

.08

.10

2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Varia

ções

no lo

g d

a F

BM

E

Período

FBME

UCI

Consumo das Famílias

Consumo do Governo

IM

EX

Gráfico 4.11 Efeito impulso-resposta sobre a variável FBME estruturada a partir do VEC do modelo 2.

Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN, BACEN e FGV

O gráfico anterior, comparado com o gráfico 4.10, identifica o efeito da

inclusão da variável TXIGP na equação de curto prazo do VEC sobre a função impulso-

resposta da FBME. Salienta-se que esta variável obteve significância estatística nas

equações da FBME, EX e UCI.

É de se notar que a resposta dos gastos com máquinas e equipamentos,

posteriormente a uma mudança na UCI, CFAMILIAS, CGOVERNO e nas IM, aproxima-se da

já encontrada no modelo 1, sendo que, esta semelhança dá-se, tanto, na dinâmica das

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curvas e, quanto, no valor da resposta na FBME. Crê-se, pois, na robustez desses

resultados.

As conseqüências de um choque da FBME sobre ela mesma, não permanecem

semelhantemente identificadas às do gráfico 4.10. Além de uma mudança na estrutura

cíclica da demanda por máquinas e equipamentos, o saldo acumulado é essencialmente

menor e, não obstante estas diferenças, no acumulado, mantêm-se os efeitos

expansionistas na FBME.

Ao se confrontarem o modelo 1 e o modelo 2, tem-se que alteração na

dinâmica da FBME, advinda de uma mudança positiva nela mesmo, não parece

suficientemente grave. No entanto, a dinâmica desta variável, após uma mudança nas

EX, se altera de forma substancial de um modelo para o outro71. No modelo 2, um

choque nas vendas externas provocaria uma retração expressiva nos gastos com

máquinas e equipamentos, implicação completamente díspar do alcançado no modelo

anterior. Observam-se, nas relações de curto prazo desses dois modelos, que os

parâmetros em comum não sofrem alterações importantes no seu valor e na sua

significância estatística, levando a acreditar que a principal causa da discrepância estaria

localizada, basicamente, no efeito da TXIGP.

Destaca-se que ao utilizar no VEC a TXIPCA como variável que balizaria a

FBME, não se obtiveram resultados significativos, mesmo quando se optou em

considerar que os efeitos da TXIPCA restringiam-se aos movimentos de curto prazo.

Todavia, ao trocar o índice inflacionário que ponderava a taxa real de juros, do IPCA,

para o IGP-DI, atingiu-se significância estatística na TXIGP, em dinâmica de curto prazo.

O fato de conseguir uma melhora nos resultados estatísticos, via alteração no tipo de

deflator utilizado, já pode trazer uma certa incerteza nos resultados. Assim, para uma

71 Salienta-se, novamente, que a TXIGP obteve seu parâmetro estatisticamente diferente de zero na equação de curto prazo da FBME e EX, além da UCI.

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melhor avaliação da diferença de movimentos que apresentam a TXIPCA e a TXIGP, se

oferece o gráfico a seguir.

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

Variações na TX-IPCA Variações na TX-IGP

Variações (

%)

Período

Gráfico 4.12: Variações na TXIPCA e na TXIGP entre 1992 II e 2003 IV.

Fonte de dados brutos: IBGE, BACEN e FGV.

O gráfico anterior expõe a diferença entre as variações da TXIPCA e a TXIGP,

onde, na média, as variações reais atingem um valor próximo de zero, mesmo

empregando-se o ajuste da taxa selic pelo IPCA ou pelo IGP-DI72. Entretanto, a

volatilidade da TXIGP é muito mais expressiva que a volatilidade da TXIPCA, e o

principal motivo da diferença de dinâmica dessas duas séries encontra-se na

metodologia de construção desses índices de preços. O IGP-DI absorve muito mais as

variações do cambio nominal, vis a vis o IPCA, tal que, é esta metodologia que permite

toda a variação na TXIGP nos anos de 1994 e 1995. São nestes períodos que se

72 Este comportamento confirma os resultados dos testes de raiz unitária aplicados nestas duas séries.

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encontram os outliers da TXIGP e, lembrando a conjuntura econômica daqueles

trimestres, nota-se uma relação inversa entre as EX e a FBME. Isto é, após a

implementação do Plano Real, tem-se um momento onde as vendas externas entram em

um processo de queda e a demanda por máquinas e equipamentos aquece-se de forma

considerável. Esta relação inversa entre EX e FBME surge, também, no ano de 2003,

porém, com um outro outlier da TXIGP diferente daqueles dos anos de 1994 e 1995 e

com indicada queda na FBME e uma elevação nas EX. Objetivando evitar estes efeitos

espúrios dos outliers da TXIGP, define-se, assim, o modelo 1 como a estrutura que

melhor representa os condicionantes macroeconômicos relevantes na tomada de decisão

do setor privado com relação aos dispêndios em máquinas e equipamentos.

Definido o modelo 1 como mais representativo dos determinantes dos gastos

em máquinas e equipamentos para o período de 1992 I a 2003 IV, no caso da economia

brasileira, considera-se, agora, a análise de decomposição de variância do VEC desse

modelo.

A função impulso-resposta mostrou os efeitos de um choque positivo em uma

específica variável endógena, sobre outra variável que faz parte do VEC. Já o objetivo

da decomposição de variância é separar as variações de cada variável endógena do

VEC, observando a sua contribuição para as variações nos outros componentes do

modelo. A análise de decomposição de variância indica, então, a importância relativa de

cada choque aleatório para as variáveis que integram o VEC. A função impulso-resposta

e a análise de decomposição de variância são uma ferramenta bastante útil para

examinar as relações entre as variáveis econômicas.

Destaca-se que ao se utilizar a análise de decomposição de variância, o

ordenamento das funções de curto prazo do VEC fará diferença nos resultados. Não

existe um método, como o apresentado para a função impulso-resposta, que

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homogeneíze a diferença de peso de cada equação de curto prazo na estruturação do

sistema.

Em vista dessa relevância no ordenamento das equações, é fundamental

proporcionar o teste de causalidade de Granger73, objetivando a melhor escolha na

definição da decomposição de variância.

Tabela 4.10:Teste de causalidade de Granger para as variáveis endógenas do VEC da FBME.

HIPÓTESE NULA ESTATÍSTICA-F PROBABILIDADE

)( FAMILIASC∆ não causa )(FBME∆

)(FBME∆ não causa )( FAMILIASC∆

0,416

0,040

0,663

0,961

)( GOVERNOC∆ não causa )(FBME∆

)(FBME∆ não causa )( GOVERNOC∆

0,918

1,489

0,408

0,238

)(EX∆ não causa )(FBME∆

)(FBME∆ não causa )(EX∆

1,316

0,835

0,279

0,441

)(IM∆ não causa )(FBME∆

)(FBME∆ não causa )(IM∆

3,990

0,242

0,03

0,786

)(UCI∆ não causa )(FBME∆

)(FBME∆ não causa )(UCI∆

3,363

0,748

0,04

0,479

O teste de causalidade de Granger exposto na tabela 4.10 foi obtido ao impor

na regressão dois períodos de defasagem. A opção por esta estrutura foi assim tomada

visto que nos dois modelos aqui analisados na formatação do VEC usou-se o mesmo

número de defasagem. O teste de Granger deixa à mostra algumas relações

interessantes; a primeira delas é que, com uma probabilidade de praticamente 100%, as

mudanças FBME não causam as variações no CFAMILIAS; a segunda observação diz

respeito à relação entre as IM e a FBME: com uma probabilidade próxima de 100%, as

73 O teste de causalidade de Granger questiona a relação de causa entre, por exemplo, x e y. Assim, busca-se mensurar quanto de y pode ser explicado por seus valores passados e, então, observar se ao adicionar valores passados de x haverá uma melhora na explicação de y. Ou seja, a variável x causa a variável y se o valor presente de y pode ser mais bem previsto pela incorporação de valores passados de x.

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variações na FBME são causadas pelas variações nas IM74. No entanto, a circunstancia

apontada pelo teste de causalidade que chama mais atenção é a relação entre a FBME e

UCI. As mudanças nesta última variável causam as variações na FBME, com uma

probabilidade de praticamente 100%, indicando que o nível de atividade que tem o

predicado de alavancar os investimentos em máquinas equipamentos à forma de a um

efeito acelerador.

Agregando-se a este resultado, o efeito atingido na causalidade da FBME com as

IM e a dificuldade em aceitar que a relação de causalidade dá-se da FBME para o

CFAMILIAS e, por fim, a maior probabilidade da relação de causa ser das variações nas

EX para as variações na FBME, pode-se afirmar que os gastos com máquinas e

equipamentos são os últimos a ocorrerem no decorrer do ciclo de crescimento.

Neste sentido, tomaram-se como padrão para organizar o sistema de equações os

resultados do teste de causalidade de Granger e a função impulso-resposta. As duas

primeiras equações do sistema são os principais componentes da demanda agregada, ou

seja, o CFAMILIAS e o CGOVERNO; em seguida, coloca-se a relação estabelecida para a UCI

uma vez que foi identificada uma relação evidente desta variável em direção à FBME.

Por fim, mantendo-se os resultados atingidos nos testes de causalidade de Granger,

definiu-se a próxima expressão como sendo as EX, seguida das IM e por último a

FBME75.

74 Lembrando que o parâmetro das IM na equação de longo prazo, tanto, no modelo 1 e, quanto no modelo 2, é negativo. 75 A variável em estudo acaba por ser locada como a última equação no sistema de determinação da decomposição da variância, pois, tudo indicou que esta é a última a reagir dada uma dinâmica de expansão da renda.

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Tabela 4.11: Decomposição de variância da FBME

PERÍODO FBME CFAMILIAS CGOVERNO EX IM UCI

1 72,41 7,97 0,01 12,90 3,54 3,16

2 44,96 11,55 1,40 10,06 23,25 8,77

5 35,21 18,72 2,24 6,02 24,74 13,07

10 33,00 21,57 2,35 3,72 25,32 14,04

16 32,61 22,33 2,34 2,91 25,43 14,37

A tabela 4.11 mostra as participações relativas que cada variável endógena

do VEC tem sobre as variações na FBME, depois de um choque neste agregado. Por

conseqüência, de acordo com a formatação do sistema de equações indicado no

parágrafo anterior, dado um choque na FBME, em torno de 72% das alterações na sua

variância são causados por este próprio choque, sendo seu resultado fruto de que a

equação que representa esta variável é colocada como a última no sistema de equações.

Assim, já no primeiro período, destacam-se as variações no CFAMILIAS e nas EX

causando alterações na FBME. A dinâmica das EX aproxima-se com os resultados

alcançados na função impulso-resposta, onde, após um choque positivo nessa variável,

em um primeiro momento, tem-se uma resposta muito forte na FBME, reduzindo este

efeito com o passar dos períodos.

Em relação ao CFAMILIAS, nota-se que a participação das suas variações nas

mudanças da FBME aumentam de forma expressiva, chegando a representar 22% das

variações deste último agregado. São as alterações nas importações que acabam,

todavia, por causar maior impacto sobre as variações nos gastos com maquinas e

equipamentos, atingido um valor de 25%. Um outro agregado que se destaca na tabela

4.11 é a UCI, caracterizando 14% das variações relativas da FBME. Ao somar a este

último movimento, a evolução da participação das alterações no CFAMILIAS nas

mudanças na FBME, chega-se a 46% no último período da tabela anterior. Com efeito,

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tem-se a tendência de um processo multiplicador-acelerador, sendo importante

apresentar este mesmo exercício para o CFAMILIAS, IM e da UCI, visando confirmar esta

tendência.

Tabela 4.12: Decomposição de variância da CFAMILIAS

PERÍODO FBME CFAMILIAS CGOVERNO EX IM UCI

1 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00

2 0,35 95,61 0,17 0,30 3,46 0,10

5 5,90 86,66 1,07 4,46 1,67 0,22

10 7,14 85,30 1,29 5,03 1,08 0,14

16 7,75 84,69 1,37 5,31 0,77 0,10

A tabela acima apresenta a análise de decomposição de variância do CFAMILIAS,

notando-se um aumento crescente na participação das mudanças da FBME na variância

do CFAMILIAS. Como já apontado, esta conclusão parece indicar um mecanismo

multiplicador, tal que, as elevações nos gastos com máquinas e equipamentos aumentam

a renda agregada mais que proporcionalmente e, por conseqüência, os dispêndios das

famílias. Outro movimento que chama a atenção é o impacto das alterações nas EX

sobre as mudanças no CFAMILIAS, cumprindo lembrar que as vendas externas

caracterizam-se por serem um componente dos gastos autônomos, não muito diferente

da FBME, que, via multiplicador keynesiano, leva a expansão da renda e, então, do

consumo. Os resultados expostos na tabela 4.12 deixam evidente a dinâmica do

multiplicador da renda agregada.

Outro agregado que se caracterizou com uma importância substancial na

determinação da demanda por máquinas e equipamentos foi a UCI. A tabela 4.13 exibe

os resultados da análise de decomposição de variância desse agregado.

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Tabela 4.13: Decomposição de variância da UCI

PERÍODO FBME CFAMILIAS CGOVERNO EX IM UCI

1 0,00 12,97 21,26 0,00 0,00 65,76

2 1,05 17,38 26,90 0,13 10,83 43,69

5 0,62 14,80 29,13 0,64 12,48 42,32

10 0,45 15,29 30,23 0,72 12,14 41,15

16 0,38 15,38 30,40 0,66 12,08 41,10

A análise de decomposição de variância da UCI apresenta, de forma geral,

dois agregados macroeconômicos causadores de suas variações. O primeiro deles é a

conjunção do CFAMILIAS e do CGOVERNO, conceitualmente definido como o consumo total

da economia, representando este agregado, na média do período assinalado,

praticamente 42% das variações na UCI. Já o segundo componente do VEC, que tem

uma relação expressiva com este último agregado, são as IM, chegando a representar

em torno de 12% das mudanças na UCI, com dinâmica crescente durante o período

proposto.

Visto que as variações das IM tornaram significativas para as mudanças, tanto,

da FBME e, quanto, da UCI, é fundamental implementar o exercício de decomposição

de variância para este agregado.

Tabela 4.14: Decomposição de variância das IM

PERÍODO FBME CFAMILIAS CGOVERNO EX IM UCI

1 0,00 18,75 3,21 18,77 52,90 6,35

2 0,82 37,19 1,90 27,19 28,55 4,34

5 2,11 47,24 1,16 23,47 22,63 3,37

10 2,83 54,31 0,76 20,94 18,47 2,67

16 3,22 56,83 0,51 19,78 17,15 2,47

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A tabela anterior apresenta a decomposição de variação das compras externas

da economia brasileira, onde dois agregados destacam-se na determinação das variações

das IM: (a) CFAMILIAS e (b) EX. Com relação a este último componente do VEC, apesar

de no último período, apresentado na tabela 4.13, suas mudanças caracterizarem

praticamente 19% das variações nas IM, há um processo de diminuição da participação

relativa das alterações nas vendas externas sobre as mudanças nas IM. Diferentemente

das EX, os gastos das famílias demonstraram um aumento crescente na delimitação das

compras do exterior. As alterações no CFAMILIAS chegaram a representar 56% das

modificações nas IM. Em conclusão, os resultados alcançados pelo exercício de

decomposição de variância somente confirmam a importância da demanda interna para

o nível de atividade da economia brasileira.

Portanto, ao tomar o modelo 1 como representativo para a demanda por

máquinas e equipamentos na economia brasileira no período em exame e,

conjuntamente, observar os resultados estatísticos do teste de causalidade Granger, da

função impulso-resposta e da análise de decomposição de variância, chega-se a

conclusões econômicas importantes.

A primeira delas diz respeito à relação do crédito com a FBME. Esta variável

esta incluída no VEC do modelo 1 como um componente das relações de curto prazo,

pelos motivos já apresentados neste capítulo, tal que, este agregado apresenta os

parâmetros associados a ele estatisticamente significativos e com sinais positivos em

todas as funções, com exceção da equação da UCI76. Este comportamento denota a

importância do crédito para a economia como um todo e, sobremaneira, para a dinâmica

FBME, uma vez que, dado um aumento do estoque de crédito na economia, os efeitos

diretos sobre os componentes determinantes da FBME serão positivos, inclusive nessa

76 Ver anexo

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última variável, sendo que, a função impulso-resposta dá uma direção do que ocorreria

com os gastos em máquinas e equipamentos na economia brasileira. Lembra-se,

também, que mesmo a UCI sofrerá um processo de elevação, haja vista a análise de

decomposição de variância, onde se caracterizou esta variável como um acelerador,

influenciado, basicamente, pela demanda interna. Dessa forma, o mercado interno é o

centro dinamizador do nível de atividade na economia brasileira.

Outra resposta que os resultados econométricos indicam para as ponderações

econômicas é que a FBME é influenciada basicamente pelos componentes

macroeconômicos ligados à demanda; caracteriza-se o princípio da demanda efetiva

agindo de maneira significativa na determinação dos dispêndios do setor privado em

máquinas e equipamentos. As variáveis de custos podem influenciar, e não determinar,

a FBME, todavia, em momentos de conjuntura econômica muito específica, como

sugere os primeiros meses após a implementação do Plano Real, onde se teve uma forte

retração dos preços dos bens de capital importado, via valorização da moeda nacional

frente ao dólar.

Tem-se, também, a questão da taxa de juros, a qual não obteve

representatividade estatística na determinação da demanda por máquinas e

equipamentos, que redunda em duas observações importantes a seu respeito. A primeira

delas é o fato de que a taxa de juro real no Brasil, no período analisado, praticamente

operou em uma banda consideravelmente elevada e, além disso, estas séries mantiveram

a média e a variância constantes, como demonstrou o teste de estacionariedade. Neste

sentido, sendo as respostas da FBME dadas a partir das variações na taxa real de juros, é

nítida a dificuldade de obter-se alguma relevância estatística entre estas duas variáveis.

Pela segunda observação, identifica-se um processo tipo multiplicador-acelerador para a

FBME, de modo que, mesmo que a taxa real de juros não determine os dispêndios com

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máquinas e equipamentos, a partir dessa dinâmica agregada e a relevância do crédito

para a economia, situações em que o crédito não se encontre dispendioso, ajudará a

acelerar o nível de atividade da economia, elevando, assim, ainda mais, a FBME.

Estas conclusões econômicas, que tiveram como base o exercício

econométrico, indicam uma proximidade com as concepções de Kalecki a respeito dos

determinantes dos gastos em capital fixo. A teoria desenvolvida por este autor está

estruturada sobre o principio da demanda efetiva. Ademais, três agregados seriam os

principias determinantes das decisões de gastos com máquinas e equipamentos dos

empresários. O primeiro refere-se aos lucros retidos pela firma, onde, todo aumento

deste agregado induz em reinvestimento na própria empresa e, somando-se a isso,

quanto maior os lucros retidos, maior o capital próprio da firma, facilitando a tomada de

crédito no mercado bancário. A dinâmica deste componente da função investimento de

Kalecki tem similaridade com as relações encontradas no modelo econométrico entre a

FBME e os gastos direcionados para o mercado interno (CFAMILIAS, CGOVERNO e EX),

além do CREDTOTAL. A elevação dos gastos voltados para a oferta interna aumenta o

fluxo de renda dos empresários que, por sua vez, alimentam um processo de ascensão

dos lucros retidos das suas respectivas empresas. Com isso, pode ocorrer um movimento

de reinvestimento, expandindo a FBME. Já o CREDTOTAL apresenta uma relação direta

com a demanda por máquinas e equipamentos nas relações de curto prazo.

Para Kalecki, os outros dois agregados que influenciam os gastos em

investimento são as variações dos lucros e do estoque de capital, sendo que, estas duas

variáveis acabam representando as alterações no nível de utilização da capacidade

instalada, onde o efeito acelerador é assegurado por este termo. Esta característica da

concepção teórica kaleckiana, como foi salientado durante este capítulo, é evidenciada

pelos resultados econométricos, inclusive o efeito acelerador da UCI.

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É exatamente esta conjuntura que pode explicar a não significância da

participação dos lucros na renda para a determinação da FBME. Como já foi delimitado

no capítulo 2, a taxa de lucro nada mais é do que a multiplicação do profit share pela

utilização da capacidade instalada ( ur .π= ). Uma vez que a participação dos lucros na

renda é mais estável que a utilização da capacidade instalada, o primeiro agregado

torna-se não relevante na especificação da taxa de lucro e, por conseqüência, na

determinação da demanda por investimento. Assim, de maneira geral, a teoria do

investimento de Kalecki parece bastante plausível para explicar a dinâmica da FBME da

economia brasileira entre 1992 I e 2003 IV.

Ao comparar os resultados alcançados neste exercício com o modelo

macroeconômico de metas de inflação do Banco Central (2000), identificam-se algumas

divergências. A periodicidade deste modelo, assim como o utilizado neste exercício, é

trimestral77, sendo composto por uma relação IS e uma curva de Phillips. Para a prática

da comparação com o exercício identificado neste trabalho, é interessante somente a

relação IS. Desta forma, esta relação é função, basicamente, de duas variáveis78: (A)

hiato do produto e a (B) taxa de juros real. Com respeito à taxa real de juros, notou-se

que esta não se fez significativa na determinação dos gastos com máquinas e

equipamentos, ao passo que, quando não se rejeitou a hipótese nula para esta variável,

encontrou-se uma relação espúria79.

O hiato do produto não foi assinalado explicitamente no modelo econométrico

apresentado por este trabalho, porém, partindo-se dos resultados estatísticos atingidos,

chega-se à conclusão de que os gastos com máquinas e equipamentos da economia

77 É pertinente salientar que a estimação dos parâmetros do modelo do Banco Central teve como base os período que se inicia em 1992 I prolongando-se até 1999 III, periodicidade que este trabalho aborda. 78 Ainda se adiciona o déficit primário requerido (percentual do PIB), como uma variável de cunho fiscal. 79 Salienta-se que no modelo apresentado neste trabalho utilizou-se uma série de deflatores para se alcançar a taxa de juros real. Somente quando se aplicou como deflator o índice de preços do IGP-DI é que se consegui alguma relevância estatística para esta variável.

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brasileira estão inseridos em uma dinâmica em que prevalece o principio da demanda

efetiva, juntamente com um acelerador-multiplicador da renda. Por certo, admitindo

esta conjuntura, quanto mais próximo o produto efetivo do potencial, isto é, quanto

menor o hiato do produto, maior a taxa de crescimento da economia. Mesmo que não se

tenha fixado o hiato do produto explicitamente no modelo de determinação da FBME,

os resultados econométricos indicam, sem dúvida, existência de uma relação inversa

entre o hiato do produto e os gastos com máquinas e equipamentos.

Porém, a diferença entre o produto potencial e o efetivo, na abordagem do

Banco Central, também é utilizada como um componente da curva de Phillips, onde,

quanto menor o hiato, maiores as pressões inflacionárias. Esta conjuntura, por sua vez,

leva os formuladores da política monetária no Brasil a buscar uma desaceleração da

economia nos momentos em que a utilização da capacidade instalada da economia

encontra-se próximo do seu nível de “pleno emprego”. Todavia, como se demonstrou

neste trabalho, esta política não parece a mais correta para alavancar a demanda por

máquinas e equipamentos, visto que, tais gastos são os últimos a serem estimulados em

um processo de crescimento da renda. Ademais, a relação causal entre a UCI e a FBME

é da primeira variável, para a segunda. Em outras palavras, o fundamental é que se

tenha um grau de utilização do estoque de capital relativamente alto, pois, esta

conjuntura é que irá alimentar a demanda do setor privado por máquinas e

equipamentos.

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5. CONCLUSÃO

Este trabalho tem como foco principal apresentar e analisar os resultados de um

modelo econométrico para a formação bruta de máquinas e equipamentos. Para tanto,

em seu segundo, capítulo fez-se uma revisão dos conceitos teóricos das principais

escolas do pensamento econômico sobre os determinantes do investimento.

Primeiramente, definiram-se dois grandes blocos teóricos distintos: a abordagem

Neoclássica versus a definição via principio da demanda efetiva. O primeiro bloco

observa os movimentos econômicos, basicamente, a partir de mudanças nas variáveis de

preço e de produtividade80. Esta concepção é internalizada na caracterização das

decisões de gastos em bens de investimento, onde, as alterações na produtividade

marginal do capital e no custo de uso deste, serão os dinamizadores da formação bruta

de capital fixo. Por outro lado, têm-se as escolas econômicas que enxergam no principio

da demanda efetiva a principal referencia para as suas formulações teóricas.

Os principais modelos teóricos que adotam os critérios Neoclássicos de

determinação da demanda por investimento são, basicamente, três: (1) o critério do

80 Esta conceituação é oriunda da hipótese de que os fatores econômicos estão, continuamente, em pleno emprego.

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valor presente, (2) o estoque de capital de equilíbrio e (3) a teoria q-investimento; os

quais têm como hipótese básica para o comportamento do agente econômico um

processo de maximização intertemporal.

No primeiro modelo, os agentes econômicos, mais especificamente as firmas,

têm como prioridade atingir o máximo valor presente líquido de um projeto de

investimento. Este comportamento determina uma dinâmica de maximização

intertemporal do rendimento líquido dos proprietários da empresa, pelo qual, para que

se atinja este valor ótimo, se considera fundamental os retornos correntes do projeto,

seus custos e a taxa de juros de mercado.

A ponderação a partir do estoque de capital de equilíbrio, assim como a do valor

presente líquido, evidencia que, ao se tomar uma decisão de implementação de um

projeto de investimento, tem-se como objetivo a maximização do valor corrente da

firma, observando-se os fluxos de lucros futuros. Neste sentido, a firma estará buscando

sempre um volume de estoque de capital ótimo, que é função do nível de produção da

firma, do custo de uso deste estoque e do preço do produto da empresa.

Finalmente, a teoria q-investimento parte da mesma estrutura indicada pelas

duas abordagens neoclássicas precedente, contudo, esta concepção, teorizada por James

Tobin em 1969, introduz o mercado de ativos entre os fatores que determinam a

demanda por investimento. A introdução do mercado de ativos tem como objetivo

caracterizar variáveis que são relevantes na tomada de decisão do setor privado com

respeito aos gastos com investimento e não são observáveis.

Na Teoria das Opções Reais, propostas por Dixit e Pindyck em 1994, também

conhecida como a nova Teoria Neoclássica do Investimento, as firmas têm como

objetivo principal maximizar o valor presente líquido de um plano de investimento81.

81 No entanto, como já apontado esta teoria trata as variáveis econômicas como estocásticas.

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Apesar disso, a teoria das opções atribui uma maior relevância à irreversibilidade e

incerteza nas decisões de investir. Em um ambiente incerto, onde as tomadas de

decisões são irreversíveis, tem-se a opção de aguardar por uma nova informação, isto é,

envolve o exercício de uma espécie de opção de compra. Quanto maior a volatilidade

das variáveis importantes para a tomada de decisão do investidor, maior o preço da

opção.

A teoria de Keynes, por seu turno, foi delimitada partindo-se de dois métodos

divergentes. A primeira delas é mais próxima às concepções Neoclássicas, de tal

maneira que se busca caracterizar a Taxa Interna de Retorno (TIR) do investimento,

tendo como base o calculo do Valor Presente Líquido (VPL) da inversão, como a taxa

que irá igualar os custo e os retornos esperados do projeto de investimento, a esta taxa,

também, se dá o nome de Eficiência Marginal do Capital (EMgK). Assim, o nível de

investimento depende das variações na EMgK, ao passo que, considera-se a hipótese da

produtividade marginal decrescente do capital.

A outra metodologia para os determinantes da demanda por investimento de

Keynes tem como principal elemento o preço de demanda do ativo de capital, que é

atingido a partir de um processo de capitalização da renda esperada, partindo dos

retornos esperados e da taxa de juros de mercado. Esta abordagem, contudo, não

transpassa pela conjectura da produtividade marginal do capital, mas sim, toma como

base para as variações no preço de demanda do ativo de capital as alterações na sua

escassez, ou seja, quanto mais escasso o ativo de capital, maior o rendimento esperado

e, por conseguinte, maior o preço de demanda.

A concepção de Kalecki, com respeito aos determinantes da demanda por

investimento, é formulada visando captar os efeitos dinâmicos decorrentes deste gasto

sobre a economia como um todo. Este autor formulou várias apresentações para o

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comportamento do investimento, mas alguns pontos básicos são comuns a todas as

exposições. Estruturalmente o investimento é função: (1) da acumulação interna de

lucros da firma, (2) da variação da taxa de lucro, e (3) de um componente exógeno,

relacionado com a oportunidade de investimento não pertinente ao nível de atividade da

economia, influenciado pelas inovações e outras mudanças estruturais. Internamente, na

concepção da taxa de lucro pode-se identificar dois componentes que acabam por

formá-la: os fluxos de lucros brutos e o estoque de capital fixo. Tais componentes

definem o principio do ajustamento do capital, de tal sorte que, as modificações nos

lucros e no estoque de capital fixo, determinam as variações esperadas na rentabilidade.

Em suma, para Kalecki, os gastos com investimento são especificados por uma relação

destes com o lucro e a capacidade instalada, tendo como base conceitual o principio da

demanda efetiva e a acumulação interna.

Os modelos estruturalistas, ao mesmo tempo em que enfatizam as concepções

kaleckiana, apresentam novas hipóteses teóricas. Neste sentido, deposita-se especial

relevância na distribuição de renda, além da utilização da capacidade instalada, para a

determinação dos dispêndios com investimento, explorando o papel da lucratividade na

decisão de gasto com a formação bruta de capital fixo e no nível de atividade. Os

salários fazem parte dos custos de produção e uma pressão baixista nesta variável

aumentará os lucros por unidade de produção, podendo aumentar os desembolsos com

investimento. A partir de um ponto de vista keynesiano, contudo, os salários são um

determinante da demanda agregada e, uma baixa nestes, poderá desencadear uma

diminuição dos lucros e, por conseqüência, um desestímulo à expansão da produção. A

partir desta abordagem estruturalista, há, com efeito, um dilema em se afirmar que altos

salários resultam em baixos gastos com investimento, é o chamado paradoxo dos custos.

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Os capítulos 3 e 4 concentraram-se em esclarecer as transformações necessárias

nas séries de dados e equacionar o modelo econométrico macroeconômico utilizado

para identificar os determinantes dos gastos em máquinas e equipamentos, além de

interpretar seus resultados estatísticos. Os testes usados para apontar a presença, ou não,

da estacionariedade nas séries econômicas acabaram por prescrever que a maioria destas

são I(1). Neste sentido, optou-se por trabalhar com um modelo vetorial de correção de

erros (VEC), que, como, também, tipo de modelo econométrico, é especificado a partir

de séries não-estacionárias, as quais apresentam uma relação de cointegração. Observa-

se, ainda, nesta específica arquitetura econométrica, uma relação de curto prazo,

influenciada por variações fora de uma relação de equilíbrio, e uma dinâmica de longo

prazo, onde estas variações desaparecem, atingindo uma relação de equilíbrio,

estabelecida por uma equação de cointegração.

Já na primeira aproximação, quando se utilizaram modelos estatísticos

univariados, identificou-se uma relação expressiva entre os componentes de gastos da

economia e a demanda por máquinas e equipamentos. Estabeleceram-se, então, dois

modelos para a FBME, formatados sobre a especificidade do VEC. A primeira estrutura

apresentou, na equação de cointegração, as seguintes variáveis estatisticamente

significativas: CFAMILIAS, CGOVERNO, EX, IM e UCI, onde o CREDTOTAL, definido como

uma variável exógena, não foi rejeitado estatisticamente em nenhuma relação de curto

prazo, com exceção da equação da UCI. Por sua vez, no segundo modelo inseriu-se a

TXIGP como componente de curto prazo, além do CREDTOTAL. Com efeito, as variáveis

que se tornaram relevantes estatisticamente na equação de longo prazo foram as mesma

do modelo 1. Porém, na relação de curto prazo, o parâmetro associado à TXIGP mostrou-

se estatisticamente diferente de zero em três equações: FBME; EX e da UCI. Ainda se

buscou a incorporação de duas dummys aditivas no modelo 1, uma, para o ano de 1994

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e, outra, em 1999. Tal exercício, contudo, não alcançou resultados satisfatórios, haja

vista a relação expressiva existente entre a série da FBME e as séries do CFAMILIAS e a

da UCI.

Definidas as duas estruturas do VEC, analisou-se, primeiramente, a função

impulso-resposta de cada modelo. Ao executar esta apreciação, observou-se, no modelo

2, uma relação espúria entre as vendas externas e a FBME, caracterizando um resultado

em que o aumento das EX direcionavam para uma diminuição na demanda por

máquinas e equipamentos.

Este mesmo exercício, aplicado ao modelo 1, determinou relações entre a FBME

e as outras variáveis que compõem a equação de cointegração não distantes das

definições teóricas, ou seja, atingiram-se relações positivas entre a FBME e o CFAMILIAS,

CGOVERNO, EX e a UCI; ao passo que, as variações positivas nas IM determinaram uma

retração na demanda por máquinas e equipamentos. Ademais, observaram-se três

grupos de variáveis que provocam maiores alterações na FBME. O primeiro bloco é

representado pelo CFAMILIAS e a UCI; seguido do grupo formado pelas IM e o CGOVERNO

e, por último, têm-se as EX na escala das variáveis que causam maior impacto na

FBME.

Neste sentido, definiu-se que o modelo 1 representaria melhor os determinantes

dos gastos com máquinas e equipamentos para a economia brasileira no período que

iniciou-se em 1992, estendendo-se até 2003. Partindo-se desta referencia, apresentaram-

se os resultados do teste de causalidade de Granger e a análise de decomposição de

variância. Crê-se que, junto com a função impulso-resposta, estes dois exercícios

estatísticos propiciam base para se chegar a definições econômicas sobre o modelo

econométrico.

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Pelos valores estatísticos atingidos no teste de causalidade de Granger, pode-se

afirmar que a demanda por máquinas e equipamento será a última a reagir em uma

conjuntura de expansão da renda. Em outras palavras, é necessário que ocorra,

primeiramente, uma elevação na maioria dos componentes de gastos da economia, para,

somente depois desta circunstância, a FBME expandir-se.

Em relação aos resultados da decomposição de variância da FBME, chega-se a

três variáveis que influenciam, sobremaneira, as mudanças neste agregado: (1)

CFAMILIAS; (2) UCI e (3) IM. Todavia, a decomposição de variância da UCI e da IM

levou a definir que o CFAMILIAS é a variável que mais influencia as mudanças nestas duas

outras variáveis, onde, a variância dos gastos em bens e serviços das unidades familiares

é influenciada, principalmente, pelas mudanças na FBME. Apontaram-se, então, duas

conclusões importantes para a economia brasileira: a primeira delas confirma que a

demanda interna é o componente principal para o nível de atividade da economia

nacional; sendo que, e já pertencente à segunda dedução, se tem um processo

multiplicador-acelerador bastante evidente na dinâmica da renda agregada.

A FBME é, deste modo, influenciada, especialmente, pelas variáveis

macroeconômicas associadas ao lado da demanda, além do crédito. Ademais,

identificou-se, de forma evidente, o principio da demanda efetiva atuando na dinâmica

de definição da renda agregada. As mudanças nas variáveis de custo, por sua vez, não

são suficientes para alterarem os gastos voltados para a FBME. Uma possível

interpretação econômica para os resultados estatísticos alcançados é por via da teoria de

Kalecki para a determinação do investimento.

É sabido que as conclusões atingidas neste trabalho não esgotam as pesquisas

sobre o tema. Ainda que já se tenham alcançado as indicações a respeito da dinâmica de

acumulação interna da economia, a qual se caracterizou na relação encontrada entre a

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127

FBME e a conjuntura dos gastos voltados para o mercado interno, faz-se importante

examinar como se comporta a questão do reinvestimento no processo produtivo da

unidade empresarial, isto é, dado os lucros que se podem atingir no mercado financeiro,

como a firma individual comporta-se no momento de aplicar a acumulação obtida pela

venda da produção de mercadoria.

Outro ponto que merece avanço refere-se à questão da influência das

expectativas na determinação dos investimentos privados, onde, recomenda-se a adição

de uma variável que possa identificar o comportamento da expectativa futura dos

agentes econômicos uma vez que a delimitação da expectativa adaptativa já se aproxima

do comportamento da FBME frente às variações na UCI.

Ademais, não foi objetivo deste trabalho buscar uma relação de determinação

dos gastos voltados para construção civil. No entanto, sabe-se que este componente da

formação bruta de capital fixo, entre 1999 e 2003, representou aproximadamente 60%

deste agregado, evidenciando o quanto é importante mapear a sua dinâmica para se

chegar a um entendimento completo da demanda por investimento da economia

brasileira. Indica-se, portanto, mais uma linha de pesquisa para trabalhos interessados

no tema. Diferentemente da demanda por máquinas e equipamentos, a participação dos

dispêndios do setor públicos e das famílias na FBCC representaram 51% do total deste

agregado, entre 1999 e 2003, e, deste modo, é importante, em principio, uma

desagregação nestes gastos, para, em seguida, buscar uma relação à FBCC do setor

privado.

Ao final, tendo como referência os resultados observados neste trabalho, pode-se

tirar conclusões para políticas econômicas futuras. Uma política que tem como objetivo

aumentar a taxa de investimento da economia não pode ser pautada exclusivamente

sobre as variáveis de custo do capital, estas têm uma importância complementar na

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128

tomada de decisão do setor privado com respeito aos gastos com máquinas e

equipamentos. É importante especificar que os principais determinantes da FBME são

variáveis de demanda, onde a relação de causalidade é dada, destas variáveis, em

direção aos gastos em máquinas e equipamentos. A interrupção contínua do processo de

expansão da demanda, dificultará, em geral, a capacidade de oferta de bens e serviços

da sociedade.

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129

ANEXOS

Para uma melhor apresentação, tanto das transformações nas séries

econômicas necessárias para a realização do exercício proposto neste trabalho, quanto

da exposição dos resultados estatísticos alcançados, dividiu-se este anexos em quatro

seções. As duas primeiras abordam a metodologia utilizada na construção das séries da

FBME, FBCC e da distribuição funcional da renda com temporalidade trimestral. Por

seu turno, as próximas seções indicam os resultados dos modelos econométricos de

determinação dos condicionantes macroeconômicos importante na tomada de decisão

do setor privado com relação a FBME e FBCC

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130

METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DAS SÉRIES FORMAÇÃO BRUTA MAQUINAS E EQUIPAMENTOS E CONSTRUÇÃO CIVIL COM PERIODICIDADE TRIMESTRAL

Sabe-se que a FBCF trimestral contabilizada pelo IBGE/NSCN não oferece a

decomposição pelos seus componentes. Isto é, não se encontram, nos dados oficiais

apresentados pelo IBGE, o fluxo de investimento da economia brasileira voltado para

máquinas e equipamentos e construção civil com esta periodicidade. Com efeito, antes

de expor a metodologia aplicada para se chegar a estes dois valores com a periodicidade

desejada neste trabalho, é fundamental apresentar as séries que foram manipuladas para

se atingir a desagregação da FBCF, sua temporalidade, além das suas fontes.

É evidente que se tem como base para a desagregação da FBCF esta própria

série, com temporalidade trimestral e anual. Os dados trimestrais são obtidos do

IBGE/NSCN Contas Trimestrais, já as séries anuais tiveram como fonte as Tabelas

Sinóticas. Ainda com periodicidade anual, retirados da mesma fonte da FBCF, tem-se a

FBME e FBCC. Salienta-se que as séries de formação bruta que apresentam

temporalidade trimestral serão usadas somente as sua taxas de crescimento real, sendo

que, para aquelas séries que são formatadas anualmente, utilizam-se seus valores

correntes de cada ano.

Vale-se, também, da série produzida pelo IBGE/PIM-PF que caracteriza o

índice da produção de insumos típicos da construção civil, com periodicidade mensal.

Partindo-se dos dados mensais, encontra-se o índice médio trimestral e, por

conseqüência, a taxa de crescimento deste índice com a temporalidade desejada para

este exercício. Lembra-se que mais de 90% das mudanças na FBCC são causadas pelas

variações deste índice.

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131

Levando em consideração esta significativa participação do índice da produção

de insumos típicos da construção civil na FBCC, pode-se construir a seguinte expressão

de diferença:

( )

=∆

−− 11 t

t

t

t

FBCF

FBCF

ICC

ICCFBCFFBCC

( )^^

FBCFICCFBCFFBCC −=∆ (1)

sendo,

)( FBCFFBCC∆ = indicador que representa a diferença da taxa de

crescimento da FBCC em relação a FBCF com periodicidade trimestral.

^

ICC = taxa de crescimento do índice de produção dos insumos típicos da

construção civil com periodicidade trimestral.

^

FBCF = taxa de crescimento da formação bruta de capital fixo com

periodicidade trimestral.

Assim, como estruturada a expressão (1), o componente

)( FBCFFBCC∆ indica o quanto a taxa de crescimento da FBCC foi superior ou

inferior a taxa de crescimento da FBCF. Sendo a FBCF formada, basicamente, por dois

componente, um que representa os gastos em máquinas e equipamentos e outro que

aponta a demanda da indústria de construção civil82, dada a participação da FBCC na

FBCF, um aumento na )( FBCFFBCC∆ representa uma elevação nesta participação,

decorrendo, por conseqüência, uma queda na participação da FBME no fluxo de

investimento total da economia. Portanto, pode-se encontrar a participação relativa da

FBCC na FBCF com periodicidade trimestral da seguinte forma:

82 Na composição da FBCF tem-se, ainda, os gastos em serviços voltados para este agregado. No entanto, este componente representou, em média, apenas 5% da FBCF total no período que abrange os anos de 1992 até 2003.

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132

( )ANUALTRIMESTRAL FBCF

FBCCFBCFFBCC

FBCF

FBCC

∆+=

$

$].1[ (2)

onde,

TRIMESTRALFBCF

FBCC

= participação da FBCC na FBCF com periodicidade

trimestral.

ANUALFBCF

FBCC

$

$ = participação da FBCC na FBCF com periodicidade anual.

Duas observações baseadas na equação (2) são importantes. A primeira delas

diz respeito ao termo do lado esquerdo dessa expressão. Lembra-se que os dois termos

do lado direito da relação anterior podem ser conceitualmente definidos como taxas

percentuais, levando o resultado da participação da FBCC na FBCF com periodicidade

trimestral apresentar esta mesma unidade.

Já a segunda observação lembra que o termo ANUAL

FBCF

FBCC

$

$ caracteriza-se

pela temporalidade anual. Neste sentido, este valor é fixo para os quatro trimestres de

cada ano, ou seja, altera-se esta componente da equação (2) somente nas viradas anuais.

Mantendo esta metodologia chega-se ao resultado de que o valor médio da participação

da FBCC na FBCF com periodicidade trimestral é exatamente igual ao seu valor anual,

isto é:

ANUALTRIMESTRAL FBCF

FBCC

FBCF

FBCCE

=

$

$ (3)

Identificado a relação entre FBCC e a FBCF trimestral, por resíduo encontra-

se a relação entre a FBME e a FBCF83. Com efeito, chega-se a uma boa representação

dos movimentos das demandas por máquinas e equipamentos e construção civil com

83 Lembra-se que interna a esta relação acha-se a participação dos serviços voltados para a FBCF.

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133

periodicidade trimestral. Ao passo que, o gráfico 6.1 apresenta a taxa de investimento,

em valores de 2003 com ajuste sazonal, trimestrais da FBME e sua média anual.

4

5

6

7

8

9

10

1992

T1

1992

T3

1993

T1

1993

T3

1994

T1

1994

T3

1995

T1

1995

T3

1996

T1

1996

T3

1997

T1

1997

T3

1998

T1

1998

T3

1999

T1

1999

T3

2000

T1

2000

T3

2001

T1

2001

T3

2002

T1

2002

T3

2003

T1

2003

T3

PERÍODO

TAXA DE IN

VESTIMENTO

VALORES TRIMESTRAIS

MÉDIA ANUAL

TÊNDENCIA DOS VALORES TRIMESTRAIS

Grafico 6.1.1: Taxa de investimento da FBME com periodicidade trimestral e sua média anual (valores de 2003 - com ajuste sazonal) Fonte de dados brutos: IBGE/NSCN e IBGE/PIM-PF

METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS SALÁRIOS NA RENDA COM PERIODICIDADE TRIMESTRAL

Como já destacado, a série da distribuição funcional da renda apresenta uma

temporalidade anual. No entanto, partindo de dados da indústria pode-se construir um

indicador para a participação dos salários na renda agregada da economia. Para tanto,

são necessárias, essencialmente, três séries econômicas: (1) a produção física da

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134

indústria; (2) o pessoal ocupado na indústria e (3) o salário real média pago aos

trabalhadores deste setor.

Estas três séries apresentam periodicidade mensal, sendo que, tiveram como

fonte o IBGE/PIM-PF e a CNI. Esta não constância nas fontes dos dados ocorreu devido

à mudança metodológica nas séries produzidas pelo IBGE - Produção Industrial Mensal

– Dados Gerais. Com efeito, a metodologia para formatar um indicar da participação

dos salários na renda passa pela idéia de que ao encontrar a produtividade do trabalho

na indústria e, em seguida, descontar variação do salário real, tem-se a tendência das

mudanças na distribuição funcional da renda. Esta hipótese só é valida, uma vez que, a

renda pode ser distribuída em salários e lucros. A produtividade do trabalho é alcançada

da seguinte forma:

IND

IND

PO

PFL = (3)

onde,

L = índice da produtividade do trabalho na indústria

INDPF = índice da produção física industrial

INDPO = índice do pessoal ocupado na indústria

Com a série do índice da produtividade do trabalho já arquitetada, acha-se a

taxa de variação deste índice, L . Assim, com esta taxa de variação e a taxa de variação

do salário real pode-se construir a série da taxa de variação da participação do salário na

renda.

LSP reaisSˆˆˆ −= (4)

sendo,

SP = o indicador da taxa de variação da participação do salário na renda.

reaisS = a taxa de variação dos salários reais da indústria.

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135

Produzido um indicador para a taxa de variação da participação dos salários na

renda, fixou-se o primeiro trimestre de 1992 como 100 e aplicou-se sucessivamente esta

taxa de variação. Assim, obteve-se uma proxy da distribuição funcional da renda com

periodicidade trimestral, sendo 1992 I = 100, exposta no gráfico a seguir.

70

75

80

85

90

95

100

105

1992

T1

1992

T3

1993

T1

1993

T3

1994

T1

1994

T3

1995

T1

1995

T3

1996

T1

1996

T3

1997

T1

1997

T3

1998

T1

1998

T3

1999

T1

1999

T3

2000

T1

2000

T3

2001

T1

2001

T3

2002

T1

2002

T3

2003

T1

2003

T3

Período

Número Ín

dice (1992/T1 = 100)

Grafico 6.2.1: Indicador da taxa de variação da participação dos salários na renda (1992/T1=100 – com ajuste sazonal) Fonte de dados brutos: IBGE/PIM-PF e CNI.

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136

TABELAS DE RESULTADOS DOS TESTES DE RAIZ UNITÁRIA

Tabela 5.3.1: Resultados estatísticos do teste de Dickey-Fuller

SÉRIES DE DADOS* TESTE

ESTATÍSTICO VALORES CRÍTICOS

GRAU DE INTEGRAÇÃO**

CFAMILIAS (t+c) (3) -1,048 1% = -4,1809 5% = -3,5155

I(1)

CGOVERNO (t+c) (3) -2,6268 1% = -4,1809 5% = -3,5155

I(1)

EX (t+c) (0) -1,9475 1% = -3,1857 5% = -3,5085

I(1)

IM (c) (2) -1,072 1% = -3,6055 5% = -2,9369

I(1)

FBCF (t+c) (9) -3,4824 1% = -3,6156 5% = -2,9411

I(2)

FBCC (t+c) (3) -1,9998 1% = -4,1800 5% = -3,5155

I(1)

FBME (t+c) (0) -3,6688 1% = -4,1857 5% = -3,5085

I(1)

PIB (t+c) (1) -2,7086 1% = -4,1706 5% = -3,5107

I(2)

CREPRI (c) (4) -1,4760 1% = -3,5924 5% = -2,9314

I(1)

CRETOTAL (c) (7) -1,5443 1% = -3,6055 5% = -2,9369

I(1)

PCCIPCA (t+c) (6) -4,6259 1% = -4,1985 5% = -3,5236

I(0)

PCCIGP (t+c) (0) -2,2305 1% = -4,1857 5% = -3,5085

I(2)

PMEIMP (t+c) (3) -3,4039 1% = -4,1800 5% = -3,5155

I(1)

PMEIGP (t+c) (1) -2,8061 1% = -4,1706 5% = -3,5107

I(2)

PMEIPCA (t+c) (0) -1,2477 1% = -4,1857 5% = -3,5085

I(1)

PMEVIGP (t+c) (9) -3,6751 1% = -4,2191 5% = -3,5331

I(2)

PMEVIPCA (t+c) (1) -0,4771 1% = -4,1706 5% = -3,5107

I(1)

* - t – representa adição de uma tendência deterministica na especificação do modelo de caracterização da raiz unitária. c - representa adição de uma constante na especificação do modelo de caracterização da raiz unitária. **- nível de significância de 1%.

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137

Tabela 5.3.1: Resultados estatísticos do teste de Dickey-Fuller

SÉRIES DE DADOS* TESTE

ESTATÍSTICO VALORES CRÍTICOS

GRAU DE INTEGRAÇÃO**

TXIGP (c) (0) -6,1820 1% = -3,5777 5% = -2,9252

I(0)

TXIPCA (c) (0) -4,7190 1% = -4,1858 5% = -3,5085

I(0)

TXINCC (c) (5) -1,7280 1% = -3,5066 5% = -2,9331

I(1)

TXIPA-ME (c) (0) -2,7060 1% = -3,5847 5% = -2,9281

I(1)

TXNOM (t+c) (0) -2,2394 1% = -4,1858 5% = -3,5085

I(1)

SAL (t+c) (0) -2,0479 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

UCI (t+c) (1) -2,7929 1% = -4,1706 5% = -3,5107

I(1)

* - t – representa adição de uma tendência deterministica na especificação do modelo de caracterização da raiz unitária. c - representa adição de uma constante na especificação do modelo de caracterização da raiz unitária. **- nível de significância de 1%.

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138

Tabela 5.3.2: Resultados estatísticos do teste de Phillips-Peron.

SÉRIES DE DADOS* TESTE

ESTATÍSTICO VALORES CRÍTICOS

GRAU DE INTEGRAÇÃO**

CFAMILIAS (t+c) -3,3827 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

CGOVERNO (t+c) -6,6525 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(0)

EX (t+c) -1,6589 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

IM (c) -3,4461 1% = -3,5777 5% = -2,9252

I(0)

FBCF (t+c) -3,4109 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

FBCC (t+c) -3,2511 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

FBME (t+c) -3,6595 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

PIB (t+c) -1,4283 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

CREPRI (c) -2,5336 1% = -3,5777 5% = -2,9252

I(1)

CRETOTAL (c) -1,4579 1% = -3,5777 5% = -2,9252

I(1)

PCCIPCA (t+c) -2,1998 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

PCCIGP (t+c) -2,0756 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

PMEIMP (t+c) -2,6775 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

PMEIGP (t+c) -1,4429 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

PMEIPCA (t+c) -1,0533 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

PMEVIGP (t+c) -0,9877 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

PMEVIPCA (t+c) -0,8781 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

* - t – representa adição de uma tendência deterministica na especificação do modelo de caracterização da raiz unitária. c - representa adição de uma constante na especificação do modelo de caracterização da raiz unitária. **- nível de significância de 1%.

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139

Tabela 5.3.2: Resultados estatísticos do teste de Phillips-Peron.

SÉRIES DE DADOS TESTE

ESTATÍSTICO VALORES CRÍTICOS

GRAU DE INTEGRAÇÃO

TXIGP (c) -6,1751 1% = -3,5777 5% = -2,9252

I(0)

TXIPCA (c) -4,7344 1% = -3,5777 5% = -2,9252

I(0)

TXINCC (c) -7,8972 1% = -3,5777 5% = -2,9252

I(0)

TXIPA-ME (c) -6,5753 1% = -3,5777 5% = -2,9252

I(0)

TXNOM (t+c) -2,3655 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

SAL (t+c) -2,0894 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

UCI (t+c) -2,6881 1% = -4,1657 5% = -3,5085

I(1)

* - t – representa adição de uma tendência deterministica na especificação do modelo de caracterização da raiz unitária. c - representa adição de uma constante na especificação do modelo de caracterização da raiz unitária. **- nível de significância de 1%.

TABELAS DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO DA FBME

Visando uma melhor compreensão do que esta sendo exposto, antes de mostrar

os resultados indicados pelos testes econométricos, sempre se apresentará os modelos

sugeridos. Os números, ente parênteses abaixo do valor dos parâmetros, informa os

desvios padrões destes.

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140

MODELO 1: Variáveis endógenas: FBME, CFAMILIAS, CGOVERNO, EX, IM, UCI.

Variáveis exógenas: CREDTOTAL.

Tabela 5.4.1: Relações de curto prazo no VEC do modelo 1 para a FBME

VARIÁVEIS )(FBME∆ )( FAMILIASC∆ )( GOVERNOC∆ )(EX∆ )(IM∆ )(UCI∆

Constante 0,01 (0,019)

0,002 (0,006)

-0,007 (0,015)

0,04 (0,021)

0,02 (0,029)

0,33 (0,256)

))1(( −∆ FBME -0,22 (0,264)

-0,07 (0,086)

-0,32 (0,200)

0,25 (0,290)

0,38 (0,389)

6,21 (3,465)

))2(( −∆ FBME -0,08 (0,202)

-0,02 (0,065)

-0,25 (0,153)

0,15 (0,221)

0,04 (0,298)

5,89 (2,648)

))1(( −∆ FAMILIASC 0,13 (0,970)

0,21 (0,314)

1,29 (0,733)

-0,35 (1,063)

2,01 (1,428)

-6,84 (12,701)

))2(( −∆ FAMILIASC 1,60 (0,730)

0,35 (0,236)

1,20 (0,551)

0,15 (0,799)

1,18 (1,074)

2,64 (9,553)

))1(( −∆ GOVERNOC -0,22 (0,456)

0,23 (0,148)

0,53 (0,344)

-0,55 (0,499)

0,14 (0,671)

-5,54 (5,971)

))2(( −∆ GOVERNOC -0,10 (0,260)

0,19 (0,084)

0,41 (0,196)

-0,37 (0,284)

0,07 (0,382)

1,72 (3,398)

))1(( −∆ EX -0,08 (0,278)

0,14 (0,090)

0,68 (0,210)

-0,18 (0,305)

0,35 (0,409)

-5,69 (3,642)

))2(( −∆ EX -0,06 (0,216)

0,09 (0,070)

0,28 (0,163)

-0,47 (0,237)

0,07 (0,318)

-3,56 (2,828)

))1(( −∆ IM -0,14 (0,220)

-0,17 (0,071)

-0,45 (0,166)

0,17 (0,242)

-0,46 (0,325)

1,64 (2,887)

))2(( −∆ IM -0,10 (0,125)

-0,09 (0,040)

-0,33 (0,094)

0,15 (0,137)

-0,27 (0,184)

0,09 (1,638)

))1(( −∆ UCI -0,01 (-0,190)

-0,0003 (0,005)

0,01 (0,013)

-0,04 (0,018)

-0,02 (0,025)

-0,39 (0,223)

))2(( −∆ UCI 0,01 (0,879)

0,002 (0,005)

0,01 (0,011)

0,01 (0,016)

0,01 (0,021)

-0,14 (0,191)

)( TOTALCRED∆ 0,002 (0,001)

0,002 (0,0004)

0,003 (0,0008)

0,003 (0,001)

0,02 (0,001)

-0,01 (0,014)

Coef. Cointegração -0,37 (0,262)

0,09 (0,085)

0,66 (0,198)

-0,26 (0,29)

-0,15 (0,386)

-9,06 (3,437)

R2 0,65 0,75 0,73 0,45 0,85 0,53 Estatística-F 3,955 6,397 5,840 1,972 14,241 2,427

AIC = -5,1250 SBC = -1,2307

Page 141: Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia … · 2007. 10. 8. · 2 Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil Elaborado por Marcos Tadeu Caputi Lélis Mestrando

141

MODELO 1 com uma dummy aditiva no ano de 1994 nas relações de curto prazo.

Tabela 5.4.2: Valores estatísticos do teste de cointegração de Johansen para o modelo 1 da FBME com DUM/1994 nas relações de curto prazo

Nº de equações cointegradas

Estatística Traço

VC* - 5% VC* - 1% Estatística Máximo-autovalor

VC* - 5% VC* - 1%

Nenhuma 183,16 114,90 124,75 55,20 43,97 49,51

1≤ 127,96 87,31 96,58 49,16 37,52 42,36

2≤ 78,80 62,99 70,05 31,56 31,46 36,65

3≤ 47,23 42,44 48,45 23,00 25,54 30,34

4≤ 24,23 24,32 30,45 18,61 18,96 23,65

* - valores críticos Equação de cointegração:

TENDUCIIMEXCCFBME GOVERNOFAMILAIS .05,0.01,029,0.58,0.42,3.01,141,47)008,0()010,0()244,0()219,0()421,0()01,1(

−−++++= (5)

Page 142: Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia … · 2007. 10. 8. · 2 Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil Elaborado por Marcos Tadeu Caputi Lélis Mestrando

142

Tabela 5.4.3: Relações de curto prazo no VEC do modelo 1 para a FBME com DUM/1994.

VARIÁVEIS )(FBME∆ )( FAMILIASC∆ )( GOVERNOC∆ )(EX∆ )(IM∆ )(UCI∆

Constante 0,004 (0,017)

0,001 (0,005)

-0,02 (0,009)

0,05 (0,020)

-0,01 (0,026)

-0,06 (0,277)

))1(( −∆ FBME -0,39 (0,206)

-0,08 (0,066)

-0,34 (0,114)

0,33 (0,237)

-0,06 (0,318)

-0,31 (3,317)

))2(( −∆ FBME -0,19 (0,178)

-0,04 (0,057)

-0,31 (0,098)

0,22 (0,205)

-0,22 (0,275)

2,58 (2,870)

))1(( −∆ FAMILIASC 0,18 (0,657)

-0,19 (0,211)

-0,11 (0,364)

0,17 (0,758)

2,76 (1,016)

19,86 (10,590)

))2(( −∆ FAMILIASC 1,59 (0,613)

0,15 (0,196)

0,50 (0,339)

0,41 (0,707)

1,49 (0,947)

14,59 (9,876)

))1(( −∆ GOVERNOC -0,30 (0,354)

0,16 (0,113)

0,59 (0,195)

-0,71 (0,407)

1,09 (0,546)

8,76 (5,695)

))2(( −∆ GOVERNOC -0,18 (0,233)

0,15 (0,075)

0,43 (0,129)

-0,41 (0,269)

0,35 (0,360)

6,18 (3,754)

))1(( −∆ EX 0,10 (0,164)

0,06 (0,053)

0,28 (0,091)

-0,04 (0,189)

0,58 (0,254)

1,97 (2,643)

))2(( −∆ EX 0,01 (0,151)

0,05 (0,048)

0,14 (0,084)

-0,45 (0,174)

0,34 (0,234)

2,08 (2,436)

))1(( −∆ IM -0,29 (0,114)

-0,05 (0,037)

0,15 (0,063)

-0,09 (0,131)

-0,50 (0,146)

-5,08 (1,835)

))2(( −∆ IM -0,27 (0,088)

-0,06 (0,028)

-0,06 (0,049)

0,04 (0,102)

-0,27 (0,136)

-2,72 (1,423)

))1(( −∆ UCI 0,01 (0,011)

-0,002 (0,004)

-0,007 (0,006)

-0,03 (0,013)

-0,01 (0,017)

0,01 (0,186)

))2(( −∆ UCI 0,02 (0,012)

0,000 (0,004)

-0,002 (0,007)

0,01 (0,014)

0,01 (0,019)

0,03 (0,201)

)( TOTALCRED∆ 0,004 (0,0001)

0,002 (0,0004)

0,0008 (0,0006)

0,004 (0,001)

0,01 (0,002)

-0,01 (0,018)

DUM/1994 0,08 (0,061)

0,06 (0,019)

0,20 (0,034)

-0,11 (0,071)

0,13 (0,094)

-0,08 (0,988)

Coef. Cointegração -0,28 (0,136)

0,04 (0,044)

0,52 (0,076)

-0,28 (0,157)

0,35 (0,211)

0,26 (2,202)

R2 0,71 0,80 0,88 0,53 0,88 0,42 Estatística-F 4,835 7,748 14,590 2,197 14,577 1,418

AIC = -5,3564 SBC = -1,2212

Page 143: Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia … · 2007. 10. 8. · 2 Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil Elaborado por Marcos Tadeu Caputi Lélis Mestrando

143

MODELO 1 com uma dummy aditiva no ano de 1999 nas relações de curto prazo

Tabela 5.4.4: Valores estatísticos do teste de cointegração de Johansen para o modelo 1 da FBME com DUM/1999 nas relações de curto prazo

Nº de equações cointegradas

Estatística Traço

VC* - 5% VC* - 1% Estatística Máximo-autovalor

VC* - 5% VC* - 1%

Nenhuma 168,58 114,90 124,75 53,40 43,97 49,51

1≤ 115,18 87,91 96,58 42,71 37,52 42,36

2≤ 72,48 62,99 70,05 32,97 31,46 36,65

3≤ 39,51 42,44 48,45 24,86 25,54 30,34

4≤ 14,65 25,32 30,45 14,28 18,96 23,65

* - valores críticos Equação de cointegração:

TENDUCIIMEXCCFBME GOVERNOFAMILAIS .04,0.02,004,1.36,1.15,2.36,368,56)005,0()006,0()125,0()138,0()241,0()592,0(

++−+++= (6)

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144

Tabela 5.4.5: Relações de curto prazo no VEC do modelo 1 para a FBME com DUM/1999.

VARIÁVEIS )(FBME∆ )( FAMILIASC∆ )( GOVERNOC∆ )(EX∆ )(IM∆ )(UCI∆

Constante 0,004 (0,021)

0,001 (0,007)

-0,007 (0,016)

0,02 (0,021)

0,01 (0,030)

0,31 (0,272)

))1(( −∆ FBME -0,22 (0,268)

-0,07 (0,087)

-0,31 (0,207)

0,22 (0,278)

0,38 (0,393)

6,41 (3,543)

))2(( −∆ FBME -0,08 (0,203)

-0,02 (0,066)

-0,24 (0,157)

0,14 (0,211)

0,04 (0,298)

5,99 (2,688)

))1(( −∆ FAMILIASC 0,21 (0,976)

0,22 (0,318)

1,26 (0,756)

-0,12 (1,015)

2,09 (1,433)

-6,99 (12,914)

))2(( −∆ FAMILIASC 1,66 (0,733)

0,36 (0,239)

1,18 (0,568)

0,32 (0,762)

1,27 (1,076)

2,45 (9,704)

))1(( −∆ GOVERNOC -0,15 (0,460)

0,24 (0,150)

0,50 (0,956)

-0,36 (0,478)

0,23 (0,675)

-5,37 (6,085)

))2(( −∆ GOVERNOC -0,06 (0,261)

0,20 (0,085)

0,40 (0,202)

-0,29 (0,272)

0,11 (0,383)

1,82 (3,457)

))1(( −∆ EX -0,08 (0,282)

0,14 (0,091)

0,68 (0,218)

-0,15 (0,293)

0,35 (0,414)

-5,93 (3,728)

))2(( −∆ EX -0,05 (0,217)

0,09 (0,071)

0,27 (0,168)

-0,43 (0,226)

0,08 (0,319)

-3,65 (2,879)

))1(( −∆ IM -0,16 (0,225)

-0,17 (0,073)

-0,44 (0,174)

0,10 (0,233)

-0,50 (0,329)

1,70 (2,973)

))2(( −∆ IM -0,11 (0,127)

-0,09 (0,041)

-0,33 (0,098)

0,12 (0,132)

-0,28 (0,186)

0,12 (1,682)

))1(( −∆ UCI -0,001 (0,02)

0,000 (0,006)

0,01 (0,013)

-0,03 (0,018)

-0,02 (0,026)

-0,40 (0,232)

))2(( −∆ UCI 0,01 (0,014)

0,002 (0,005)

0,01 (0,011)

0,01 (0,015)

0,01 (0,022)

-0,15 (0,195)

)( TOTALCRED∆ 0,002 (0,001)

0,002 (0,0004)

0,003 (0,001)

0,003 (0,001)

0,02 (0,002)

-0,01 (0,014)

DUM/1999 0,05 (0,053)

0,01 (0,017)

0,001 (0,041)

0,12 (0,055)

0,08 (0,078)

0,29 (0,703)

Coef. Cointegração -0,34 (0,270)

0,10 (0,088)

0,66 (0,209)

-0,18 (0,281)

-0,12 (0,396)

-9,24 (3,572)

R2 0,66 0,75 0,73 0,55 0,87 0,54 Estatística-F 3,752 5,929 5,150 2,333 13,440 2,240

AIC = -4,8356 SBC = -0,7004

Page 145: Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia … · 2007. 10. 8. · 2 Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil Elaborado por Marcos Tadeu Caputi Lélis Mestrando

145

MODELO 1 com TXIPCA na relação de longo prazo.

Tabela 5.4.6: Valores estatísticos do teste de cointegração de Johansen para o modelo 1 da FBME com TXIPCA na relação de longo prazo

Nº de equações cointegradas

Estatística Traço

VC* - 5% VC* - 1% Estatística Máximo-autovalor

VC* - 5% VC* - 1%

Nenhuma 233,94 146,76 158,49 79,32 49,42 54,71

1≤ 154,62 114,90 124,75 50,62 43,97 49,51

2≤ 104,00 87,31 96,58 40,16 37,52 42,36

3≤ 63,85 62,99 70,05 27,72 31,46 36,65

4≤ 36,13 42,44 48,45 23,41 25,54 30,34

5≤ 12,72 25,32 30,45 12,55 18,96 23,65

6≤ 0,17 12,25 16,26 0,17 12,25 16,26

* - valores críticos Equação de cointegração:

TEND

TXUCIIMEXCCFBME IPCAGOVERNOFAMILAIS

.04,0

.03,0.02,043,1.13,0.01,1.75,082,6

)005,0(

)050,0()011,0()246,0()278,0()474,0()235,1(

+

++++−+−−=

(7)

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146

Tabela 5.4.7: Relações de curto prazo no VEC do modelo 1 para a FBME com TXIPCA na relação de longo prazo .

VARIÁVEIS )(FBME∆ )( FAMILIASC∆ )( GOVERNOC∆ )(EX∆ )(IM∆ )(UCI∆ )( IPCATX∆

Constante -0,002 (0,011)

-0,007 (0,057)

0,02 (0,015)

0,02 (0,019)

-0,001 (0,023)

-0,02 (0,223)

-0,02 (0,095)

))1(( −∆ FBME -0,31 (0,148)

0,02 (0,074)

0,06 (0,196)

0,03 (0,249)

-0,04 (0,308)

2,32 (2,925)

0,20 (1,253)

))2(( −∆ FBME -0,6 (0,134)

0,03 (0,068)

-0,07 (0,177)

0,04 (0,225)

-0,24 (0,278)

5,01 (2,642)

-0,86 (1,132)

))1(( −∆ FAMILIASC 1,25 (0,451)

-0,10 (0,228)

-0,45 (0,596)

0,58 (0,760)

3,03 (0,939)

13,89 (8,912)

-4,05 (3,819)

))2(( −∆ FAMILIASC 2,07 (0,525)

0,14 (0,266)

0,57 (0,695)

0,77 (0,886)

2,34 (1,094)

4,47 (10,391)

3,08 (4,453)

))1(( −∆ GOVERNOC 0,35 (0,165)

0,08 (0,084)

-0,40 (0,219)

-0,10 (0,279)

0,65 (0,344)

7,34 (3,269)

-0,14 (1,401)

))2(( −∆ GOVERNOC 0,08 (0,166)

0,13 (0,084)

0,16 (0,219)

-0,19 (0,280)

0,34 (0,345)

4,18 (3,280)

-0,10 (1,406)

))1(( −∆ EX 0,41 (0,155)

0,04 (0,078)

0,20 (0,205)

0,16 (0,262)

0,77 (0,323)

0,09 (3,069)

-2,15 (1,315)

))2(( −∆ EX -0,17 (0,148)

0,02 (0,075)

0,03 (0,196)

-0,30 (0,249)

0,64 (0,309)

-1,40 (2,930)

0,93 (1,256)

))1(( −∆ IM -0,69 (0,099)

-0,07 (0,050)

0,10 (0,131)

-0,15 (0,167)

-0,53 (0,206)

-2,95 (1,954)

0,01 (0,838)

))2(( −∆ IM -0,35 (0,093)

-0,03 (0,047)

-0,11 (0,123)

-0,03 (0,157)

-0,37 (0,194)

0,14 (1,839)

-1,57 (0,788)

))1(( −∆ UCI 0,01 (0,008)

-0,005 (0,004)

-0,02 (0,011)

-0,02 (0,014)

-0,02 (0,018)

-0,10 (0,169)

0,12 (0,072)

))2(( −∆ UCI 0,02 (0,009)

-0,001 (0,005)

-0,002 (0,013)

0,02 (0,016)

0,02 (0,020)

-0,12 (0,191)

0,09 (0,082)

))1(( −∆ IPCATX 0,001 (0,028)

-0,005 (0,014)

0,03 (0,037)

0,02 (0,047)

0,10 (0,058)

-0,51 (0,549)

-0,60 (0,235)

))2(( −∆ IPCATX -0,07 (0,024)

0,006 (0,012)

0,02 (0,031)

0,003 (0,039)

0,08 (0,049)

-1,02 (0,467)

-0,03 (0,200)

)( TOTALCRED∆ 0,004 (0,0008)

0,002 (0,0004)

0,002 (0,0011)

0,004 (0,001)

0,015 (0,002)

-0,02 (0,016)

0,01 (0,007)

Coef. Cointegração

-0,31 (0,067)

0,02 (0,034)

0,13 (0,09)

-0,10 (0,113)

0,29 (0,139)

1,55 (1,324)

-1,31 (0,568)

R2 0,85 0,75 0,66 0,49 0,89 0,56 0,58 Estatística-F 10,280 5,152 3,388 1,685 14,419 2,209 2,442

AIC = -3,7245 SBC = 1,3742

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147

MODELO 1 com TXIPCA nas relações de curto prazo.

Tabela 5.4.8: Valores estatísticos do teste de cointegração de Johansen para o modelo 1 da FBME com TXIPCA nas relações de curto prazo

Nº de equações cointegradas

Estatística Traço

VC* - 5% VC* - 1% Estatística Máximo-autovalor

VC* - 5% VC* - 1%

Nenhuma 183,44 114,90 124,75 58,76 43,97 49,51

1≤ 124,68 87,31 96,58 50,51 37,52 42,36

2≤ 74,17 62,99 70,05 33,53 31,46 36,65

3≤ 40,64 42,44 48,45 25,98 25,54 30,34

4≤ 14,65 25,32 30,45 14,17 18,96 23,65

5≤ 0,48 12,25 16,26 0,48 12,25 16,26

* - valores críticos Equação de cointegração:

TENDUCIIMEXCCFBME GOVERNOFAMILAIS .05,0.03,039,2.54,2.18,2.64,634,98)001,0()010,0()234,0()235,0()444,0()062,1(

−+−+++−= (8)

Page 148: Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia … · 2007. 10. 8. · 2 Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil Elaborado por Marcos Tadeu Caputi Lélis Mestrando

148

Tabela 5.4.9: Relações de curto prazo no VEC do modelo 1 para a FBME com TXIPCA nas relações de curto prazo.

VARIÁVEIS )(FBME∆ )( FAMILIASC∆ )( GOVERNOC∆ )(EX∆ )(IM∆ )(UCI∆

Constante 0,01 (0,039)

0,006 (0,012)

0,04 (0,033)

0,10 (0,039)

0,01 (0,054)

0,20 (0,514)

))1(( −∆ FBME -0,56 (0,222)

-0,05 (0,069)

0,08 (0,190)

-0,07 (0,221)

0,47 (0,311)

2,62 (2,934)

))2(( −∆ FBME -0,26 (0,193)

-0,006 (0,060)

-0,05 (0,165)

-0,04 (0,192)

0,08 (0,271)

3,83 (2,551)

))1(( −∆ FAMILIASC 1,54 (0,843)

0,19 (0,263)

-0,24 (0,721)

0,88 (0,839)

1,39 (1,183)

3,64 (11,134)

))2(( −∆ FAMILIASC 2,29 (0,843)

0,33 (0,223)

0,53 (0,611)

0,93 (0,711)

0,936 (1,004)

8,42 (9,448)

))1(( −∆ GOVERNOC 0,52 (0,334)

0,19 (0,104)

-0,30 (0,285)

0,17 (0,332)

-0,08 (0,468)

1,98 (4,408)

))2(( −∆ GOVERNOC 0,13 (0,248)

0,18 (0,077)

0,16 (0,211)

-0,13 (0,246)

0,01 (0,347)

4,23 (3,271)

))1(( −∆ EX 0,33 (0,266)

0,15 (0,083)

0,24 (0,227)

0,14 (0,264)

0,10 (0,373)

-3,82 (3,511)

))2(( −∆ EX 0,24 (0,195)

0,09 (0,061)

-0,050 (0,166)

-0,22 (0,194)

-0,08 (0,273)

-1,55 (2,572)

))1(( −∆ IM -0,53 (0,222)

-0,18 (0,069)

-0,09 (0,190)

-0,20 (0,221)

-0,21 (0,312)

0,35 (2,937)

))2(( −∆ IM -0,30 (0,147)

-0,11 (0,046)

-0,20 (0,126)

-0,07 (0,146)

-0,11 (0,206)

0,09 (1,943)

))1(( −∆ UCI 0,02 (0,017)

0,001 (0,006)

-0,006 (0,015)

-0,01 (0,018)

-0,04 (0,025)

-0,32 (0,237)

))2(( −∆ UCI 0,02 (0,015)

0,003 (0,005)

0,004 (0,013)

0,02 (0,015)

0,04 (0,022)

-0,11 (0,206)

)( IPCATX∆ -0,02 (0,028)

-0,002 (0,009)

-0,02 (0,024)

-0,07 (0,028)

0,01 (0,039)

-0,03 (0,369)

)( TOTALCRED∆ 0,003 (0,001)

0,003 (0,0004)

0,003 (0,001)

0,004 (0,001)

0,01 (0,002)

-0,02 (0,016)

Coef. Cointegração 0,10 (0,139)

0,06 (0,043)

0,09 (0,118)

0,15 (0,138)

-0,27 (0,194)

-3,76 (1,830)

R2 0,63 0,76 0,64 0,55 0,88 0,50 Estatística-F 3,358 6,023 3,477 2,407 13,736 1,968

AIC = -5,0449 SBC = -0,9097

Page 149: Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia … · 2007. 10. 8. · 2 Um Modelo de Investimento Aplicado ao Brasil Elaborado por Marcos Tadeu Caputi Lélis Mestrando

149

MODELO 1 com TXIGP na relação de longo prazo.

Tabela 5.4.10: Valores estatísticos do teste de cointegração de Johansen para o modelo 1 da FBME com TXIGP na relação de longo prazo

Nº de equações cointegradas

Estatística Traço

VC* - 5% VC* - 1% Estatística Máximo-autovalor

VC* - 5% VC* - 1%

Nenhuma 219,38 146,16 158,49 62,43 49,42 54,71

1≤ 156,94 114,90 124,75 54,00 43,97 49,51

2≤ 102,94 87,31 96,58 43,31 37,52 42,36

3≤ 59,63 62,99 70,05 28,04 31,46 36,65

4≤ 31,59 42,44 48,45 17,64 25,54 30,34

5≤ 13,94 25,32 30,45 13,64 18,96 23,65

6≤ 0,30 12,25 16,26 0,30 12,25 16,26

* - valores críticos Equação de cointegração:

TEND

TXUCIIMEXCCFBME IPCAGOVERNOFAMILAIS

.04,0

.05,0.02,008,1.52,1.49,2.73,341,68

)005,0(

)021,0()006,0()125,0()154,0()231,0()601,0(

++++−++−=

(9)

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150

Tabela 5.4.11: Relações de curto prazo no VEC do modelo 1 para a FBME com TXIGP na relação de longo prazo.

VARIÁVEIS )(FBME∆ )( FAMILIASC∆ )( GOVERNOC∆ )(EX∆ )(IM∆ )(UCI∆ )( IGPTX∆

Constante 0,01 (0,020)

0,002 (0,006)

-0,02 (0,012)

0,05 (0,021)

0,02 (0,027)

0,10 (0,295)

-0,0004 (0,255)

))1(( −∆ FBME -0,19 (0,282)

-0,09 (0,093)

-0,58 (0,173)

0,43 (0,290)

0,40 (0,379)

2,67 (4,135)

4,03 (3,568)

))2(( −∆ FBME 0,01 (0,230)

-0,03 (0,076)

-0,51 (0,141)

0,39 (0,237)

-0,03 (0,309)

4,32 (3,370)

-1,25 (2,908)

))1(( −∆ FAMILIASC 0,22 (1,029)

0,28 (0,339)

2,31 (0,630)

-1,31 (1,060)

1,42 (1,383)

9,70 (15,084)

-10,87 (13,02)

))2(( −∆ FAMILIASC 1,54 (0,776)

0,35 (0,256)

1,80 (0,475)

-0,61 (0,799)

1,08 (1,043)

10,37 (11,378)

0,16 (9,817)

))1(( −∆ GOVERNOC -0,13 (0,514)

0,29 (0,169)

1,10 (0,314)

-1,02 (0,529)

-0,35 (0,691)

3,14 (7,536)

-3,45 (6,503)

))2(( −∆ GOVERNOC -0,14 (0,274)

0,21 (0,090)

0,63 (0,167)

-0,52 (0,282)

0,07 (0,368)

3,85 (4,012)

-1,59 (3,462)

))1(( −∆ EX -0,14 (0,332)

0,16 (0,109)

1,14 (0,203)

-0,65 (0,342)

0,24 (0,446)

-1,03 (4,867)

-4,38 (4,200)

))2(( −∆ EX -0,20 (0,247)

0,10 (0,082)

0,53 (0,151)

-0,68 (0,255)

0,34 (0,332)

-0,94 (3,627)

4,21 (3,129)

))1(( −∆ IM -0,18 (0,243)

-0,18 (0,080)

-0,72 (0,149)

0,48 (0,250)

-0,26 (0,327)

-2,97 (3,570)

2,43 (3,081)

))2(( −∆ IM -0,004 (0,146)

-0,09 (0,048)

-0,46 (0,089)

0,27 (0,150)

-0,47 (0,196)

-1,15 (2,140)

-2,23 (1,847)

))1(( −∆ UCI -0,001 (0,016)

0,00 (0,006)

0,02 (0,010)

-0,05 (0,017)

-0,03 (0,022)

-0,12 (0,239)

0,13 (0,207)

))2(( −∆ UCI 0,007 (0,015)

0,002 (0,005)

0,02 (0,010)

0,006 (0,016)

0,03 (0,020)

-0,07 (0,223)

0,17 (0,193)

))1(( −∆ IGPTX -0,02 (0,02)

0,003 (0,007)

0,05 (0,012)

-0,05 (0,021)

-0,02 (0,027)

-0,06 (0,294)

-0,70 (0,254)

))2(( −∆ IGPTX -0,03 (0,017)

0,001 (0,006)

0,03 (0,010)

-0,03 (0,018)

0,04 (0,023)

-0,17 (0,254)

0,10 (0,220)

)( TOTALCRED∆ 0,003 (0,001)

0,002 (0,0004)

0,002 (0,0007)

0,003 (0,001)

0,01 (0,002)

-0,004 (0,018)

0,02 (0,015)

Coef. Cointegração

-0,31 (0,269)

0,12 (0,089)

0,89 (0,165)

-0,41 (0,277)

-0,30 (0,362)

-3,52 (3,948)

-2,85 (3,406)

R2 0,67 0,76 0,83 0,57 0,90 0,45 0,69 Estatística-F 3,569 5,419 8,850 2,312 15,396 1,428 3,860

AIC = -1,7265 SBC = 3,3723

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151

MODELO 2: Variáveis endógenas: FBME, CFAMILIAS, CGOVERNO, EX, IM, UCI.

Variáveis exógenas: CREDTOTAL e TXIGP

Tabela 5.4.12: Relações de curto prazo no VEC do modelo 2 para a FBME.

VARIÁVEIS )(FBME∆ )( FAMILIASC∆ )( GOVERNOC∆ )(EX∆ )(IM∆ )(UCI∆

Constante 0,04 (0,021)

0,007 (0,007)

0,01 (0,017)

0,07 (0,023)

0,02 (0,035)

0,68 (0,288)

))1(( −∆ FBME -0,33 (0,228)

-0,07 (0,079)

-0,25 (0,187)

0,23 (0,244)

0,43 (0,370)

4,99 (3,059)

))2(( −∆ FBME -0,25 (0,186)

-0,03 (0,065)

-0,26 (0,153)

0,02 (0,199)

0,09 (0,301)

4,00 (2,492)

))1(( −∆ FAMILIASC 0,63 (0,854)

0,25 (0,297)

1,14 (0,700)

-0,24 (0,911)

1,75 (1,379)

-2,38 (11,419)

))2(( −∆ FAMILIASC 1,96 (0,661)

0,38 (0,230)

1,16 (0,542)

0,34 (0,705)

1,04 (1,068)

6,10 (8,844)

))1(( −∆ GOVERNOC 0,15 (0,412)

0,27 (0143)

0,53 (0,337)

-0,38 (0,439)

-0,04 (0,665)

-2,24 (5,504)

))2(( −∆ GOVERNOC -0,02 (0,237)

0,20 (0,082)

0,39 (0,194)

-0,35 (0,252)

0,02 (0,382)

2,32 (3,163)

))1(( −∆ EX -0,05 (0,247)

0,13 (0,086)

0,60 (0,203)

-0,28 (0,264)

0,30 (0,399)

-5,79 (3,309)

))2(( −∆ EX 0,04 (0,191)

0,10 (0,066)

0,24 (0,156)

-0,45 (0,203)

0,01 (0,308)

-2,63 (2,552)

))1(( −∆ IM -0,24 (0,199)

-0,18 (0,069)

-0,43 (0,164)

0,17 (0,213)

-0,39 (0,322)

1,04 (2,668)

))2(( −∆ IM -0,17 (0,117)

-0,10 (0,041)

-0,34 (0,096)

0,13 (0,125)

-0,22 (0,189)

-0,40 (1,567)

))1(( −∆ UCI 0,007 (0,015)

0,0004 (0,005)

0,01 (0,012)

-0,03 (0,016)

-0,03 (0,024)

-0,30 (0,202)

))2(( −∆ UCI 0,02 (0,013)

0,002 (0,005)

0,01 (0,011)

0,01 (0,014)

0,01 (0,021)

-0,08 (0,177)

)( IGPTX∆ -0,04 (0,013)

-0,005 (0,005)

-0,01 (0,011)

-0,04 (0,014)

0,008 (0,021)

-0,41 (0,177)

)( TOTALCRED∆ 0,003 (0,001)

0,003 (0,0004)

0,003 (0,0009)

0,004 (0,001)

0,01 (0,002)

-0,003 (0,015)

Coef. Cointegração -0,16 (0,205)

0,10 (0,071)

0,56 (0,168)

-0,19 (0,219)

-0,23 (0,331)

-6,72 (2,741)

R2 0,71 0,76 0,74 0,60 0,87 0,60 Estatística-F 4,772 6,208 5,525 2,851 13,059 2,891

AIC = -5,6744 SBC = -1,5391

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