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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) ETNOBIOLOGIA DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS URBANOS DO BAIRRO POTI VELHO, TERESINA/PI, BRASIL ALEXANDRE NOJOZA AMORIM TERESINA/PI 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

(UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

ETNOBIOLOGIA DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS URBANOS

DO BAIRRO POTI VELHO, TERESINA/PI, BRASIL

ALEXANDRE NOJOZA AMORIM

TERESINA/PI

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

ALEXANDRE NOJOZA AMORIM

ETNOBIOLOGIA DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS URBANOS

DO BAIRRO POTI VELHO, TERESINA/PI, BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-

Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN),

como requisito à obtenção do título de Mestre em

Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de Concentração:

Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de

Pesquisa: Biodiversidade e Utilização Sustentável dos Recursos

Naturais.

Orientadora: Profª Dra. Roseli Farias Melo de Barros

Co-Orientador: Prof. Dr. João Batista Lopes

TERESINA/PI

2010

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FICHA CATALOGRÁFICA

Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí

Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco

A524e Amorim, Alexandre Nojoza

Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais

urbanos do bairro Poti Velho, Teresina/PI, Brasil / Alexan-

dre Nojoza Amorim. – Teresina, 2010.

122f. il.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente) - Universidade Federal do Piauí.

Orientadora: Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros.

1. Etnobiologia. 2. Pesca artesanal. 3. Conhecimento

tradicional. I. Título.

CDD 574.52

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ALEXANDRE NOJOZA AMORIM

ETNOBIOLOGIA DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS URBANOS

DO BAIRRO POTI VELHO, TERESINA/PI, BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa Regional

de Pós-Graduação em Desenvolvimento e

Meio Ambiente da Universidade Federal do

Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como

requisito à obtenção do título de Mestre em

Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de

Concentração: Desenvolvimento do Trópico

Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:

Biodiversidade e Utilização Sustentável dos

Recursos Naturais.

_______________________________________

Profª Dra. Roseli Farias Melo de Barros

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA/UFPI/PRPPG/TROPEN)

_______________________________________

Prof. Dr. José Luís Lopes Araújo

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA/UFPI/TROPEN)

_______________________________________

Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Membro externo

_______________________________________

Profª Dra. Maria do Socorro Lira Monteiro

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA/UFPI/PRPPG/TROPEN)

(Suplente)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, sustentáculo da vida.

À Universidade Federal do Piauí, ao Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) e à Coordenação do Mestrado em

Desenvolvimento e Meio Ambiente, pela oportunidade de desenvolvimento pessoal e

crescimento profissional, através desta grande experiência vivida.

Ao Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Deutscher Akademischer

Austausch Dienst – DAAD), pela concessão da bolsa de estudo, oportunidade ímpar de

desenvolvimento pessoal e profissional.

À minha orientadora, Profª Dra. Roseli Farias Melo de Barros, que iluminou nos

momentos necessários os caminhos corretos para a boa conclusão desta jornada.

Aos moradores e amigos que fiz do bairro Poti velho, pela receptividade e atenção

durante as entrevistas e coletas, especialmente ao Sr. João Paulo (Paulo Preto), Sr. Valdemar

Salvino de Macedo (Seu Jerimum), D. Graça, D. Francisca, Sr. Cessé, Sr. Lisboa e família,

Sr. Luís do Peixe, que tanto colaboraram com seus ensinamentos, experiência de vida e de

humildade.

Ao Prof. Dr. João Batista Lopes, co-orientador, pelas contribuições e

direcionamentos e por suas sempre grandiosas educação e disponibilidade em orientar e

discutir a melhor forma de coletar e trabalhar os dados.

Aos Professores do MDMA, turma 2008-2010, pelo companheirismo, amizade e

compartilhamento de bibliografias e conhecimentos.

Ao Professor M.Sc. Romildo Ribeiro Soares, pela presteza e ajuda nas

identificações ictiológicas.

À minha família, na pessoa da minha mãe, Maria de Fátima Nojoza, meu muito

brigado por tudo. Todo o apoio e incentivo.

À minha tia Miriam Nojosa, que também ajudou a me criar, pelo apoio e estímulo,

exemplo de simplicidade e retidão.

Aos meus irmãos Henrique e Roberto, pela amizade e momentos de descontração.

À minha irmã, Lívia, companheira de estudos, de infância... única irmã, a quem

devo muito por sempre me apoiar, sobretudo nos meus estudos, e servir de exemplo para

aqueles que desejam conquistas maiores.

Aos compadres Eryson Thiago e Ana Dulce, com os quais passei muitos

momentos de alegria e que sempre estiveram dispostos a incentivar e ajudar.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de … · Maria do Socorro Lira Monteiro ... O universo de plantas indicadas como importantes para a população e ... As plantas medicinais

Aos companheiros e amigos do MDMA/UFPI, turma 2008-2010, Rosemary

Sousa, Yuri Cláudio, Stella Carvalho e em especial, Maria Pessoa da Silva e Socorro Barbosa

que me ajudaram nas entrevistas e coletas finais.

A todos os amigos de outras turmas, que ajudaram e/ou torceram pela conclusão

deste trabalho.

Aos grandes amigos, Lúcia Gomes Pereira dos Santos e Fábio José Vieira, que

sempre me ajudaram e aconselharam nas horas mais difíceis desta caminhada.

À estagiária do Herbário Graziela Barroso, Maria da Conceição Sousa, pela ajuda

na preparação do material botânico.

Aos amigos Maxim Jaffe e Marcos Antonio Araújo, pela disponibilidade em

ajudar-me com o entendimento dos cálculos estatísticos.

Aos funcionários do Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico

Ecotonal do Nordeste (TROPEN), Maridete Alcobaça, João Batista Araújo e Raimundo

Oliveira, pela presteza, atenção e amizade.

Aos taxonomistas e/ou curadores dos herbários das mais diversas Instituições de

Ensino e Pesquisa, pela relevante colaboração.

Aos demais familiares e amigos a minha gratidão e carinho, pelo estímulo e

confiança.

Por fim, agradeço a todos, que de alguma forma e em algum momento

contribuíram para que eu continuasse adiante até a conclusão desta pesquisa.

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―Se vi mais longe, foi porque me apoiei em ombros de gigantes.‖

Sir Isaac Newton

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RESUMO

A Etnobotânica e a Etnozoologia são ramos da ciência que integram a Etnobiologia e

emergem como mediadoras entre aspectos culturais e naturais, numa tentativa de

compreensão dos modos de vida, códigos e costumes das relações entre o homem e a

natureza, fazendo a complementaridade entre o saber tradicional e o saber acadêmico. A pesca

em regiões de foz gera demanda por embarcações que auxiliam tal atividade no leito do rio e

em suas margens. Quintal é o espaço que colabora para a subsistência da família, exercendo

considerável papel econômico, social e cultural na vida das pessoas. Objetivou-se caracterizar

a etnobotânica de quintais e modos e artes de pesca, e a construção de embarcações na

comunidade de pescadores artesanais do bairro Poti Velho, visando conhecer e registrar seus

costumes e tradições. A comunidade de pescadores artesanais do bairro Poti Velho, na capital

do Piauí, localiza-se entre as coordenadas 05°02‘09‘‘S e 42°50‘02‘‘O e 05°02‘03‘‘S e

42°49‘43‖O. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, observação direta, registro

fotográfico e conversas informais registradas em diário de campo. Entrevistou-se 82

pescadores artesanais, em suas residências, em cujos quintais estudados (60), identificaram-se

82 espécies, distribuídas em 44 famílias. Lamiaceae (8 espécies) e Euphorbiaceae (7) foram as

mais representativas, seguidas de Anacardiaceae (6), Malvaceae e Leguminosae-

Caesalpinioideae (5), Combretaceae, Cucurbitaceae, Leguminosae-Faboideae, Leguminosae-

Mimosoideae, Myrtaceae, Poaceae e Rutaceae (3). O material botânico encontra-se

incorporado ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB), da Universidade Federal do

Piauí. As espécies foram distribuídas em seis categorias de uso: medicinal, alimentícia,

místico-religiosa, ornamental, cosmético e artefatos de pesca. Cocus nucifera L. e Alpinia

nutans Rosc. foram as espécies com maior multiplicidade de usos, estando incluídas em três

categorias. Jatropha curcas L. e Hibiscus esculentus L. apresentaram os maiores valores de

uso (5,0). Das espécies coletadas, 65% são exóticas e 35% nativas. Nos quintais estudados, a

mulher e o homem dividem as responsabilidades com o manejo e introdução de novas

espécies. O universo de plantas indicadas como importantes para a população e cultivadas nos

quintais apresentam considerável diversidade (Shannon-Wiener = 1,60). As plantas

medicinais cultivadas têm grande importância (69,3%). As artes de pesca utilizadas são o

engancho, tarrafa, anzol, curral e garrafas do tipo PET. A pesca ocorre principalmente com o

uso de redes de espera: enganchos (54%) e tarrafas (37%). Branquinha-do-oião (Curimata

macrops Eigenmann & Eigenmann, 1889), branquinha-do-oin (Psectogaster rhomboide

Einmann & Einmann,1889) e o curimatá (Prochilodus lacustris Steindachner, 1907, 30%)

foram os peixes mais comuns na foz do rio Poti. A construção de embarcações é realizada

apenas por duas famílias, utilizando espécies vegetais na carpintaria naval: o pequi (Caryocar

coriaceum Wittm.), o pau-d‘arco (Tabebuia spp), o cedro (Cedrella odorata L.) e a

embiratanha (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin). A maioria dos entrevistados

são mulheres adultas (30 a 49 anos, 42%) e casados ou vivem em unidão estável. Existem

mais homens do que mulheres com Ensino Fundamental (34% e 24%, respectivamente),

valores que se invertem quando se fala de Ensino Médio (20% mulheres e 14% homens). O

conhecimento deve ser registrado para que não se perca diante da falta de interesse dos mais

novos e das pressões de tecnologias do modo de vida urbano. Os quintais dos pescadores

artesanais do bairro Poti Velho são espaços de convivência e de cultivo, na maioria, de plantas

medicinais, sendo a grande quantidade de plantas exóticas um reflexo da perda gradual do

conhecimento botânico tradicional, provavelmente gerado pelas pressões do ambiente urbano.

Palavras-chave: Etnozoologia. Etnobotânica. Comunidade Pesqueira. Conhecimento

Tradicional. Quintais urbanos.

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ABSTRACT

Ethnobotany and Ethnozoology are science branches integrating Ethnobiology and they rise

as mediators between natural and cultural aspects, in an attempt to understand the lifestyles,

codes, and customs of the relations between man and nature, complementing the traditional

lore and the academic knowledge. Fishing in outfalls regions generates a demand of vessels

which support such activity on the river bed and on its margins. Backyard is the space which

helps to the family‘s subsistence, playing an important economic, social and cultural role on

people‘s lives. The objective was to characterize the backyard ethnobotany and fishing

manners and arts, and the construction of fishing vessels in the artisanal fishing communities

of the Poti Velho district, aiming to know and record their customs and traditions. The

artisanal fishing community of the Poti Velho district, in the capital city of Piauí, is situated

between the coordinates 05°02‘09‘‘S and 42°50‘02‘‘W, and 05°02‘03‘‘S and 42°49‘43‖W.

Semi-structured interviews were carried out, as well as direct observation, photographic

recording, and informal talks recorded in filed diaries. Eighty-two (82) artisanal fishermen

were interviewed, in their houses in whose studied backyards (60), 82 species were identified,

distributed in 44 families. Lamiaceae (8 species) and Euphorbiaceae (7) were the most

representative ones, followed by Anacardiaceae (6), Malvaceae and Leguminosae-

Caesalpinioideae (5), Combretaceae, Cucurbitaceae, Leguminosae-Faboideae, Leguminosae-

Mimosoideae, Myrtaceae, Poaceae and Rutaceae (3). The botanic material is incorporated to

the collection of Graziela Barroso Herbarium (TEPB), from the Federal University of Piauí.

The species were distributed into six use categories: medicinal, nourishing, mystical-religious,

ornamental, cosmetic and fishing artifacts. Cocus nucifera L. and Alpinia nutans Rosc. were

the species with the greatest use variety, and they are included into three categories. Jatropha

curcas L. and Hibiscus esculentus L. presented the highest use values (5.0). From the species

picked up, 65% are exotic and 35% are indigenous. In the backyards studied, woman and man

share the responsibilities in management and introduction of new species. The universe of

plants indicated as important for the population and cultivated in the backyards show a

considerable diversity (Shannon-Wiener = 1.60). The cultivated medicinal plants are highly

important (69.3%). The fishing arts used are the surrounding net, cast net, fishing hook, trap

net and the PET bottles. Fishing occurs especially with the use of gill nets: surrounding nets

(54%) and cast nets (37%). ―Branquinha-do-oião‖ (Curimata macrops Eigenmann &

Eigenmann, 1889), ―branquinha-do-oin‖ (Psectogaster rhomboide Einmann & Einmann,

1889) and the ―Curimatá‖ (Prochilodus lacustris Steindachner, 1907, 30%) were the most

common fish in the Poti River mouth. The building of vessels is carried out only by two

families, using vegetal species in naval carpentry: the Souari nut, or ―pequi-sem-espinho‖

(Caryocar coriaceum Wittm.), the trumpet tree, or bow wood/tree (Tabebuia spp), the cedar

(Cedrella odorata L.) and the ―embiratanha‖ (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A.

Robin). Most of the interviewees are adult females (30 to 49 years old, 42%) and they are

married or live under the common-law marriage. There are more men than women with the

Ensino Fundamental, equivalent to Elementary School (34% and 24%, respectively), values

which are inverted when we talk about the Ensino Médio, or American High School

equivalent (20% of women and 14% of men). The lore must be recorded lest it be lost because

of the lack of interest of the young and because of the technological demands of the urban

lifestyle. The backyards of the artisanal fishermen of the Poti Velho district are conviviality

and cultivation areas, mostly, of medicinal plants, with the great majority of exotic plants a

reflection of the gradual loss of the traditional botanical lore, probably generated by the urban

environment demands.

Keywords: Ethnozoology. Ethnobotany. Fishing Community. Traditional Lore. Urban

Backyards.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Distribuição da população de pescadores do bairro Poti Velho, Teresina (PI), por

gênero e faixas etárias. Fonte: Pesquisa de Campo (2008-2009). ............................................ 31

Figura 2: Distribuição da população de pescadores do bairro Poti Velho, Teresina (PI), com

relação ao gênero e escolaridade. Fonte: Pesquisa de Campo (2008-2009). ............................ 32

Figura 3: Mapa do percurso da procissão fluvial de São Pedro que parte do Cáis do Troca-

troca até chegar ao Caís do Pesqueirinho. ................................................................................ 34

Figura 4: Mapa da localização do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Elaborado

pelo autor através do Software GPS Trackmaker© para windows (software livre), versão 13.2

de Odilon Ferreira Junior, Belo Horizonte (MG), 1998-2007. ................................................. 37

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 14

2.1 Etnobotânica no Piauí e Maranhão ................................................................................ 14

2.2 Etnobotânica em Quintais ............................................................................................... 18

2.3 Etnozoologia ...................................................................................................................... 24

2.4 A Pesca Tradicional .......................................................................................................... 26

3 HISTÓRICO, PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DA COMUNIDADE

DO POTI VELHO .................................................................................................................. 30

3.1 Histórico ............................................................................................................................ 30

3.2 Perfil Socioeconômico....................................................................................................... 31

3.3 Aspectos Culturais e Religiosos ....................................................................................... 33

4 METODOLOGIA GERAL ................................................................................................ 37

4.1. Área de Estudo ................................................................................................................. 37

4.2 Levantamento dos Dados ................................................................................................. 39

5 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 42

6 ARTIGOS ............................................................................................................................. 50

6.1 Espécies vegetais cultivadas em quintais de pescadores artesanais em Teresina/PI,

Brasil. A ser enviado à revista Economic Botany. ............................................................... 50

6.2 Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações na

comunidade de pescadores do Poti Velho, Teresina-PI, Brasil. A ser enviado ao

Brazilian Journal of Biology. ................................................................................................. 50

7 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 99

APÊNDICES ......................................................................................................................... 101

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista semiestruturada ......................................................... 102

APÊNDICE B – Espécies encontradas nos quintais dos pescadores artesanais do bairro Poti

Velho, Teresina, Piauí, Brasil. ................................................................................................ 107

APÊNDICE C – Espécies encontradas nos quintais dos pescadores artesanais do bairro Poti

Velho, Teresina, Piauí, Brasil. ................................................................................................ 108

APÊNDICE D – Entrevista e atividades socioculturais na comunidade de pescadores do

bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. .............................................................................. 109

APÊNDICE E – Construção e reparo de canoas no bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil.

................................................................................................................................................ 110

APÊNDICE F - Artesanato criado pelos pescadores artesanais do bairro Poti Velho, Teresina,

Piauí, Brasil. ........................................................................................................................... 111

APÊNDICE G – Artes de pesca utilizadas pelos pescadores artesanais do bairro Poti Velho,

Teresina, Piauí, Brasil. ............................................................................................................ 112

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ANEXOS ............................................................................................................................... 113

ANEXO A – Normas da Economic Botany ........................................................................ 114

ANEXO B – Normas do Brazilian Journal of Biology ...................................................... 119

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1 INTRODUÇÃO

O conhecimento tradicional é construído por meio das relações que as populações

estabelecem com o meio e com os outros seres. Sua base empirista está calcada nas

experiências de vivência e transmissão do conhecimento de geração a geração1. Assim, o

conceito de tradição permeia esse sentido de identificação de um modo de vida e crenças

específicas. Portanto, pode se aproximar de concepções históricas ou identitárias de um grupo

(MORTUREUX, 2000).

O saber local é caracterizado pelo conhecimento empírico construído e acumulado

por uma população que considera ciclos naturais, processos reprodutivos da flora e da fauna,

processos migratórios, influências solar e lunar na extração de vegetais (madeira) e de animais

(pesca); períodos de cheias, secas e marés. Relacionam também o manejo dos bens naturais,

bem como efeitos adversos de determinadas práticas antrópicas relacionadas à forma, período

e local onde acontecem; que encerram a reprodução de práticas, sua transcendência a cada

geração (SILVANO, 2004).

Moreira (2007) destaca que o que caracteriza um grupo social como tradicional

não é a localidade onde se estabeleceu, seja uma unidade de conservação, terra indígena ou

centro urbano, mas sim seu modo de vida e as formas de lidar com a biodiversidade,

estreitada por uma dependência não só por subsistência, mas que pode ser também material,

econômica, cultural, religiosa, espiritual, etc. Assim, não é o local que os define, mas suas

relações com o(s) meio(s) em que vivem.

As "culturas tradicionais"2 são aquelas que se desenvolvem dentro do modo de

produção da pequena produção mercantil (DIEGUES, 1983). Essas culturas se distinguem

daquelas associadas ao modo de produção capitalista em que não só a força de trabalho, como

também a própria natureza, se transformam em objetos mercantis.

Dentro dessa visão, "culturas tradicionais" são padrões de comportamento

transmitidos socialmente; modelos mentais usados para perceber, relatar e interpretar o

mundo, símbolos e significados socialmente compartilhados, além de seus produtos materiais,

próprios do modo de produção mercantil. Na medida em que os processos fundamentais de

1 Discussão mais aprofundada por Richerson (Peter J.), Boyd (Robert) e Bettinger (Robert L.) em Cultural

Innovations and Demographic Change. Human Biology, v. 81, nº 2–3, 2009. pp. 211–235. 2 Num certo sentido todas as culturas são tradicionais, pois por tradição pode-se considerar a repetição de

práticas e costumes que sejam criados e transmitidos de pai para filho em apenas uma ou mesmo em várias

gerações (DIEGUES, 2000b; MOREIRA, 2007).

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 12

produção e reprodução ecológica, social, econômica e cultural funcionam, pode-se afirmar

que são sociedades sustentáveis.

Discussões sobre o manejo da biodiversidade e a conservação ambiental têm se

destacado ao longo dos últimos anos, como também outras questões que as orbitam, criando

pressupostos necessários ao desenvolvimento sustentável (DIEGUES, 2000).

Populações tradicionais englobam uma gama de etnias e modos de vida que

variam desde caiçaras, quilombolas até indígenas, passando pelos pescadores artesanais, foco

deste estudo.

Os pescadores fazem parte de uma rede ecossistêmica e suas interações não

podem ser observadas apenas do ponto de vista do uso e apropriação dos recursos, mas no

contexto das relações sociais. As relações entre populações humanas e os recursos hídricos

afetam de modo direto e indireto todo o ecossistema, sobremaneira no ambiente sob

influência urbana, quando tais relações devem ser consideradas nos planos de manejo dos

recursos naturais (MONTENEGRO et al., 2001). A integração de conhecimentos construídos

pelos pescadores com os conhecimentos gerados pela ciência ocidental permite uma análise

contextualizada, com olhar multidisciplinar e interdisciplinar, conectada à realidade dos

pescadores.

Segundo Diegues (2001), a categoria de população tradicional dos pescadores

artesanais está espalhada majoritariamente pelo litoral, também pelos rios e lagos e tem um

modo de vida baseado principalmente na pesca, ainda que exerça outras atividades

econômicas complementares, como o extrativismo vegetal, a pequena agricultura e o

artesanato. Segundo Diegues (2001), no Brasil entre a população não-indígena, pelo menos

nove tipos populacionais são descritos: caiçaras, jangadeiros, caboclos/ribeirinhos

amazônicos, açorianos, pantaneiros, pescadores, sitiantes, praieiros e varjeiros, têm na pesca a

principal ou uma das principais fontes de subsistência e renda.

No bairro Poti Velho, há tradicionalmente a atividade de artesanato com barro,

com a confecção de tijolos artesanais, peças decorativas e rústicas, como também artefatos

úteis como filtros e potes para reservar água potável. Fato que torna o artesanato em barro do

bairro uma forma de expressão cultural com notório reconhecimento cultural, tanto em âmbito

regional como nacionalmente.

A maioria dos estudos etnobiológicos com pescadores é realizada em

comunidades que são, até certa proporção, isoladas em ambientes costeiros (açorianos e

caiçaras) ou rurais. Diegues (2001) afirma que povos que são submetidos às pressões do

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 13

capitalismo sofrem mudanças radicais, induzidas por externalidades, mas sempre criadas sob

conceitos nativos. Tais estudos são ainda muitos escassos no estado do Piauí.

No Poti Velho evidencia-se uma importância cultural, reforçada pela presença de

comunidades estabelecidas que apresentam histórico de (sobre)vivência através do uso

sustentável dos recursos naturais, como oleiros e pescadores artesanais. Assim, propô-se um

estudo com os pescadores, buscando o conhecimento etnobiológico e as práticas ambientais,

culturais e a realidade socioeconômica da comunidade de pescadores do Poti Velho, visando

alternativas à sustentabilidade econômica, concomitante ao uso dos recursos naturais.

Este estudo teve por objetivo caracterizar a etnobotânica em quintais de

pescadores da comunidade do bairro Poti Velho (Teresina-PI, Brasil), bem como a

etnozoologia e relação com os peixes e a pesca, visando conhecer e registrar os costumes e

tradições da comunidade, além do modo de uso e diversidade dos recursos animais e vegetais,

podendo contribuir na preservação e conservação destes.

O presente trabalho foi estruturado em três partes: a primeira corresponde a

informações gerais organizadas em tópicos de Introdução, Revisão de Literatura, Metodologia

Geral e Referências. A segunda segue-se em forma de Artigos Científicos a serem submetidos

a periódicos especializados, com organização baseada em normas específicas desses. O

primeiro artigo intitlu-se ―Espécies Vegetais Cultivadas em Quintais de Pescadores Artesanais

em Teresina/PI, Brasil.”; o segundo, ―Modos, Artes de Pesca e Construção de Embarcações

na Comunidade de Pescadores do Poti Velho, Teresina-PI, Brasil‖, por último, seguem-se as

conclusões, apêndices e anexos.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

A Etnobiologia estuda como diferentes sociedades/culturas concebem e percebem

os sistemas naturais nos quais estão inseridas. Posey (1986) sugere que esta ciência seja

essencialmente o estudo do conhecimento e conceituações criados por qualquer sociedade a

respeito da Biologia. Assim, seria o estudo do papel da natureza no sistema de adaptações e

crenças humanas em determinados ambientes.

Adams (2000) descreve que a Etnobiologia valoriza e registra o saber acumulado

pelas populações, fornecendo argumentos importantes à preservação destes povos e de seus

habitats, permitindo a criação de políticas sociais e ecologicamente mais justas.

2.1 Etnobotânica no Piauí e Maranhão

A Etnobotânica possui destaque nos estudos das etnociências no Brasil. Guarim

Neto, Santana e Silva (2000) citam que esta ciência objetiva a busca de conhecimento e o

resgate do saber botânico tradicional, principalmente relacionado ao uso dos recursos da flora.

Costa (2005) realizou levantamento da flora e melissofauna associada de

vegetação de cerrado rupestre na região setentrional do Piauí. Esses levantamentos florístico,

fitossociológico e ambiental da flora melífera da região ocorreram no município de Castelo do

Piauí (PI). Foram identificadas 173 espécies, com hábitos variando desde ervas a subarbustos,

arbustos, árvores, cipós e hemiparasitas. Concluiu que região estudada detém boas condições

para implantação de projetos sociais que visem o desenvolvimento local sustentável através

da produção melífera.

Pinheiro, Santos e Ferreira (2005) estudaram os usos de subsistência de espécies

vegetais na região da baixada maranhense. Fizeram levantamento das espécies vegetais úteis,

sua identificação botânica e classificação de importância quanto ao uso. Amostraram as

espécies vegetais de uso na subsistência em cinco povoados do município de Penalva (MA).

As espécies foram identificadas quanto à sua identidade botânica. Identificaram oito

categorias de uso: Material de Construção (MC), Utensílio Doméstico (UT), Alimentação

Humana (AH), Alimentação Animal (AA), Item de Trabalho (IT), Uso Social (US), Uso

Cultural (UC) e Produto Comercial (PC). São 25 espécies vegetais em 45 diferentes

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modalidades de uso, para um total de 123 registros. Construção de cercas, uso de esteios,

fibras para amarrilho, portas e cofos apareceram como as categorias mais frequentes. O

babaçu (Orbignya phalerata Mart.) aparece como a de mais frequente utilização. A família

Palmae destaca-se entre as demais, sendo que o caule é a parte mais usada, tendo o material

de construção como categoria de uso mais frequente. Alguns usos são peculiares a algumas

comunidades e estão relacionados com as atividades principais dos moradores: pesca,

agricultura e extrativismo.

Chaves (2005) fez levantamento da vegetação caducifólia conhecida como

carrasco, no município de Cocal (PI). Objetivou identificar a flora, espectro biológico,

síndromes de dispersão e conhecer as potencialidades das espécies, bem como categorias e

valores de uso. Identificou 250 morfoespécies, tendo como famílias mais representativas

Leguminosae (44) e Euphorbiaceae (23). Foram identificadas as espécies com formas de vida

terófitas (47), caméfitas (27), hemicriptófitas (13), hemiparasitas (3), geófitas (2),

holoparasitas (1) e epífitas (1), que corresponderam a 37,6%; espécies fanerófitas (156),

equivalendo a 62,4%, que por sua vez, podem ser distribuídos em micro (89), nano (51), meso

(15) e macrofanerófitas (1). Espécies com hábitos arbustivos e subarbustivos foram maioria

(45,2%) e trepadeiras e escandentes foram representadas em menor número (18,4%). Espécies

com dispersão autocórica somaram 47,6%, anemocórica (25,6%), zoocórica (24,0%) e

indeterminadas (3,2%). Os maiores valores de uso foram encontrados em Croton sonderianus

Müll. Arg. (1,92), Mimosa caesalpiniaefolia Benth. (1,70), Rollinia leptopetala (R. E. Fr.)

Saff. (1,66), Ximenia americana L. (1,59), e Bauhinia ungulata L./Piptadenia moniliformis

Benth. (1,58).

Franco (2005) realizou estudo no Quilombo Olho D‘água dos Pires, localizado em

uma área rural de Esperantina (PI), buscando o conhecimento etnobotânico e estratégias de

desenvolvimento sustentável. Aplicou questionários com 33 famílias da comunidade, sendo

que, apenas nove membros dominam o saber sobre o uso das plantas para os diversos fins.

Identificaram 177 etnoespécies, pertencentes a 58 famílias botânicas, sendo catalogadas em

12 categorias de uso, destacando-se a medicinal (34,7%), alimentar (27,3%), desdobramento

em madeira (11,6%) e forrageira (10,2%), considerando-se o maior número de espécies

citadas.

Chaves, Barros e Araújo (2006) realizaram levantamento da vegetação caducifólia

de carrasco, na Bacia do Meio Norte e Chapada do Araripe. Objetivaram conhecer a flora

apícola local. Coletaram 29 espécies melíferas, dispostas em 15 famílias e 23 gêneros.

Preferencialmente as abelhas visitam espécies como: Campomanesia aromatica (Aubl.)

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Griseb., Croton blanchetianus Baill., Hyptis suaveolens (L.) Poit., Hyptis atrorubens Poit.,

Pterocarpus vilosus Mart., Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standl., Tabebuia serrratifolia

(Vahl) G. Nicholson, Croton. campestris A.St.-Hil. Mitracarpus hirtus (L.) DC., Spermacoce

densiflora (DC.) A.H. Liogier e Spermacoce verticillata L. Segundo os autores, a área

apresenta grande potencial florístico, importante para a manutenção do produção de mel

durante todo o ano.

Monteles e Pinheiro (2007) realizaram estudo etnobotânico no Quilombo do

Sangrador, município de Presidente Juscelino (MA), quando identificaram 121 espécies

vegetais, distribuídas em 56 famílias e 101 gêneros. Lamiaceae, Rutaceae, Asteraceae,

Leguminosae e Euphorbiaceae foram as famílias mais representativas, em ordem decrescente.

Seguindo essa ordem, os hábitos herbáceo, arbóreo, arbustivo, das lianas e palmeiras foram

representados. Quanto às indicações de uso das espécies, a categoria males e estados de saúde,

associados ao aparelho respiratório e digestivo foram as mais citadas. Folhas, cascas e látex

foram as partes vegetais mais utilizadas nos medicamentos locais. Os autores consideraram

que a terapêutica local é fruto de um sincretismo de práticas africanas influenciadas por

práticas indígenas.

Torquato (2006) realizou estudo sobre o potencial da vegetação melitófila e

abelhas associadas da Área Olho D´água dos Pires, Esperantina (PI). Relatou a ocorrência de

93 espécies, dispostas em 74 gêneros e 34 famílias botânicas. As famílias mais representativas

foram Leguminosae (22,5%), Asteraceae (10,7%), Euphorbiaceae (6,4%) e Lamiaceae

(5,3%), e para abelhas, 31 espécies identificadas, com 18 gêneros e cinco famílias de abelhas

representadas por: Apidae (17 espécies), Anthophoridae e Megachilidae (4), Andrenidae e

Halictidae (3). Constataram que, o número de indivíduos por família de abelhas foram iguais

a: Apidae, 62; Andrenidae, 12; Megachilidae, 9; Halictidae, 8 e Anthophoridae 7, que

somaram 98 indivíduos coletados. Destes, 68 na vegetação de cerrado e 30 na floresta semi-

decidual.

Santos, Barros e Araújo (2007) realizaram levantamento etnobotânico em áreas de

cerrado da zona rural no município de Monsenhor Gil (PI), visando catalogar a flora e o

conhecimento botânico tradicional. Utilizaram entrevistas semi-estruturadas, baseadas em

formulários padronizados, constando os dados gerais dos entrevistados e informações sobre as

plantas nativas, que foram realizadas com moradores locais, de notório saber, e indicados por

líderes comunitários. As plantas foram classificadas em categorias de uso medicinal,

madeireiro, alimentar, ornamental, para produção de energia, forrageiro e melífero,.com as

duas últimas, obtendo o maior número de indicações com 76 e 55 espécies, respectivamente.

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As plantas com maiores valores de uso foram Mimosa caesalpiniifolia Benth. e Caryocar

coriaceum Wittm.

Santos (2008) realizou estudo etnobotânico no município de Monsenhor Gil (PI),

coletou 304 espécimes, representando 211 espécies, 62 famílias e 158 gêneros, sendo que

Leguminosae (34 espécies); Asteraceae (17); Poaceae (11); Myrtaceae e Cyperaceae (9);

Rubiaceae (8), Bignoniaceae (7) e Combretaceae e Apocynaceae (6) foram as famílias mais

representativas. Foram amostradas 112 espécies botânicas úteis, dentre elas, Caesalpinia

ferrea Mart. ex Tul., Cenostigma macrophyllum Tul. e Dimorphandra gardneriana Tul. A

categoria de uso que obteve o maior número de indicações foi a forrageira, com 76 espécies,

seguida pela melífera (55). Mimosa caesalpiniifolia Benth. e Caryocar coriaceum Wittm.

apresentaram os maiores valores de uso.

Vieira (2008) realizou levantamento etnobotânico na Comunidade Quilombola

dos Macacos, São Miguel do Tapuio (PI), objetivando resgatar o conhecimento tradicional da

comunidade dos Macacos. Foram identificadas 225 etnoespécies, distribuídas em 13

categorias de uso. As que mais se destacaram foram: medicinal (73 espécies), forrageira (62)

e alimentação (58); artesanal e fibras (7), tóxica (7), mágico-religioso (5) e higiene e limpeza

(5), obtiveram o menor número de espécies. Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore

(carnaúba) foi considerada a mais versátil, estando incluída em seis categorias de uso. 161

espécies (72,85%) possuem valor de uso abaixo de 0,50 e apenas uma espécie Himatanthus

drasticus (Mart.) Plumel (janaguba) obteve valor de uso maior que 2,00 (2,40). O autor

concluiu que, apesar do conhecimento estar com as pessoas mais velhas da comunidade, e do

processo de aculturação sofrido ao longo dos anos, observa-se que ainda há o uso das práticas

herdadas pelos seus antepassados, garantindo assim, o uso dos recursos vegetais para as

gerações futuras.

Vieira et al. (2008) estudaram a Comunidade Quilombola dos Macacos, em zona

rural do município de São Miguel do Tapuio (PI), disposta em uma área de transição, onde

predomina a caatinga, com elementos de cerrado e mata semi-decídua. Objetivaram resgatar o

conhecimento tradicional. Foram identificadas 225 etnoespécies, distribuídas em 13

categorias de uso: medicinal, madeireira, forrageira, produção de energia, limpeza-higiene,

melífera, ornamental, artesanal e fibras, alucinógena, alimentícia, mágico-religiosa, tóxicas e

utensílios. As categorias medicinal (73) e forrageira (62) foram aquelas com que maior

número de espécies. A carnaúba, Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore, foi considerada a

mais versátil, estando incluída em seis categorias de uso.

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Oliveira (2008) estudou comunidades tradicionais no semiárido piauiense.

Identificou 378 espécies, distribuídas em 78 famílias e 236 gêneros. Destas, 343 foram citadas

como úteis. Leguminosae (62 espécies), Euphorbiaceae (22) e Malvaceae e Solanaceae (12)

foram as famílias botânicas mais representativas. As categorias de uso de maior destaque

foram medicinal (191 espécies) e forrageira (107). Magonia pubescens A. St.-Hil. (tingui) foi

a espécie mais versátil com oito categorias de uso. Byrsonima correifolia A. Juss., Copernicia

prunifera (Mill.) H.E. Moore, Dimorphandra gardneriana Tul., Luetzelburgia auriculata

(Allem.) Ducke, Mimosa caesalpiniifolia Benth., Myracrodruon urundeuva Allem. e Ziziphus

joazeiro Mart. foram referidas em sete usos. M. pubescens e Z. joazeiro obtiveram maior

valor de uso (VU=3,5). Citações de espécies de uso terapêutico foram para gripe (39

espécies), diarréia (31), febre (13) e dor no corpo e diabetes (10) como mais citadas. A autora

concluiu que os moradores locais demonstraram ter um grande conhecimento acerca da

vegetação, utilizando-a para diversas finalidades e adotando medidas apropriadas para o

manejo e conservação das espécies vegetais úteis.

2.2 Etnobotânica em Quintais

Os quintais são uma das formas mais antigas de manejo da terra. Nestes espaços

as relações mantidas entre o homem e a biodiversidade agregam às culturas elementos

adaptativos que servirão de base para a subsistência das populações locais.

Sablayrolles (2004) realizou estudo etnobotânico em 11 quintais ribeirinhos de

Brasília Legal (PA). Estes apresentaram tamanho, forma, número de indivíduos e de espécies

variados. Foram amostradas 237 espécies distribuídas nos hábitos arbóreo, arbustivo,

herbáceo e trepadeiras, pertencentes a 64 famílias e 164 gêneros. Predominaram as famílias

Leguminosae (36 espécies), Arecaceae (15), Euphorbiaceae, Rubiaceae / Rutaceae (9) e

Myrtaceae (8). Índices de diversidade de Shannon-Wiener variaram entre 2,30 e 4,00

nats/indivíduo, e de similaridade de Sorensen entre 0,127 e 0,515, sendo muito diversos e

pouco similares entre si. Espécies mais frequentes foram Citrus sinensis Osbeck, Mangifera

indica L. e Psidium guajava L. Quanto às plantas com uso alimentício, foi referido o uso de

136 espécies, com 69 exclusivas para consumo humano, 22 somente para animais e 45 para

ambos. Registraram 49 famílias, como: Areacaceae, Mimosaceae, Rutaceae, Solanaceae e

Caesalpiniaceae que se destacaram pelo numero de espécies. A autora concluiu que os

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agricultores elaboram seus quintais preferencialmente com espécies cultivadas, todavia alguns

deles possuem quintais ricos em espécies silvestres, o que demonstra conhecimento sobre a

flora local e suas potencialidades.

Albuquerque, Andrade e Caballero (2005) estudaram 31 quintais em Alagoinha

(PE), demonstrando sua composição e estrutura, quanto ao uso das plantas. Entrevistaram um

total de 31 indivíduos (13 mulheres e 18 homens) entre 25 e 70 anos. Ao todo, 54 árvores têm

variados usos, especialmente para uso alimentício. Prosopis julifora DC. é a principal espécie

de árvore dos quintais locais e constitui a espécie com maior citação pela população.

Observaram que os quintais variam grandemente de tamanho, mas relacionado somente ao

número de plantas individuais, não a riqueza de espécies. A estrutura florística dos quintais é

igualmente muito variável, mas há um grupo central de espécie muito frequente, com

representação significativa da flora local. Isto sugere que os quintais possam contribuir à

conservação das espécies nativas.

Das e Das (2005), visando compreender o sistema, os aspectos socioeconômicos e

biofísicos dos quintais na vila de Dorgakona, vale de Barak, Índia, estudaram 50 deles, os

quais se apresentaram como locais de conservação in situ de espécies. Para eles, quintais são

formados por um pedaço de terra com limites definitivos que o cercam, sendo cultivados com

uma mistura diversa de espécies vegetais perenes e anuais, arranjadas numa estrutura vertical

multicamada, frequentemente em combinação com a criação de rebanhos animais, e

controlado principalmente por membros da família para a produção da subsistência. O

tamanho variou de 0,02 a 1,20 ha (0,30ha de média). O número total de espécies vegetais

encontradas nos quintais foi de 122, com frutíferas como tipo dominante. Em quintais

pequenos, oito espécies foram encontradas, com predomínio de árvores frutíferas com usos

múltiplos tais como: Artocarpus heterophyllus Lamk., Mangifera indica L., Musa sp. etc. Nos

maiores, 39 espécies foram registradas sendo importante esses locais para a conservação de

espécies selvagens/raras como Aquilaria malaccensis Lamk., Vatica lanceaefolia Bl., etc.

Bambusa cacharensis Majumdar esteve presente na maioria dos quintais estudados.

Pasa, Soares e Guarim Neto (2005) realizaram levantamento na comunidade de

Conceição-Açu (MT) e identificaram as unidades de paisagem: quintais, roças e matas de

galeria; o número total de espécies utilizadas foi de 180. Dessas, 86 espécies ocorrem nos

quintais das residências, pertencentes a 43 famílias, a maioria cultivada e utilizada como

alimento (48,1%) e como remédio (44,5%). Quanto ao valor de uso, Copaifera langsdorffii

Desf. (2,5), Aspidosperma polyneuron Muell. Arg. (2,5), Hymenaea stignocarpa Mart. (2,33),

Diptychandra aurantiaca Tul. (2,0), Cariniana rubra Gardner ex. Miers (20). As famílias

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botânicas Mimosaceae, Bignoniaceae, Caesalpiniaceae, Fabaceae e Sapindaceae foram

classificadas conforme o valor de uso de cada uma. Os resultados demonstraram que a

população possui vasto conhecimento das plantas e de suas propriedades de cura.

Trinh et al. (2005) realizaram estudos sobre quintais o Vietnã, nos quais

enfatizaram a importância dos quintais como áreas de plantações, apresentando alto potencial

agrícola. Foram escolhidos quintais com potenciais socioeconômico, cultural e agroecológico.

Foram estudados parâmetros como: diversidade de agroecossistemas, diversidade cultural e

socioeconômica, tradições relacionadas aos quintais, importância dos quintais para a vida da

comunidade, grau de participação da comunidade no uso dos quintais, capacidade

institucional e acessibilidade. Foram listadas densidade de espécies por metro quadrado, com

valor igual a 2,7 espécies/100 m², com quintais variando de 10 a 39,8 anos de idade. Os

autores concluíram que os quintais são espaços multifacetados, e que quando não possuem

cunho financeiro ou comercial, contribuem grandemente com a segurança alimentar. Os

quintais do Vietnã provêm o desenvolvimento social e serviços que suprem as necessidades

por alimento dos vietnamitas. Os quintais mais biodiversos foram encontrados no delta do rio

Mekong. Concluem que há a necessidade de conhecer melhor os quintais do Vietnã, pois

atuam na conservação da biodiversidade e dos recursos fitogenéticos.

Sthapit, Gautam e Eyzaguirre (2006) realizaram estudo com quintais

agroflorestais em Pokhara, Nepal. Mostraram a importância desses espaços para a produção

de alimentos, socialização familiar, produção econômica e preservação ambiental. O objetivo

era reavaliar o valor dos quintais como espaços que contribuem não somente com a nutrição,

mas traz benefícios sociais, econômicos e ambientais. Também relata a importância dos

benefícios e serviços inerentes à relação entre a biodiversidade de quintais agroflorestais e

ecossistemas naturais. Sugerem que os quintais podem se configurar o ponto de partida para a

comunidade realizar o manejo da biodiversidade agricultural enquanto promove a diversidade

de dietas que promovem a saúde das famílias e ecossistema.

Pulami e Poudel (2006) estudaram quintais agroflorestais do Nepal onde esse tipo

de estrutura é mantida em torno das residências em conjunto com a criação de animais. Em

seu estudos, os pesquisadores detectaram a adoção de políticas públicas de incentivo à criação

e manutenção dos quintais, como a diversificação da agricultura, o desenvolvimento de

tecnologias para a agricultura, conservação e proteção da diversidade agrocultural e ambiental

para a sustentabilidade da agricultura direcionada à pessoas marginalizadas como dálites,

mulheres e comunidades rurais de áreas remotas. Apresentam resultados de ações

governamentais do Departamento de Agricultura daquele país que incentiva programas de

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hortas para alimentação, cultivo de plantas frutíferas, criatório de abelhas para consumo

familiar e cultivo de peixes, todos agregados ao quintal de forma integrada, prevendo também

a criação de suínos e ovelhas para agricultores pobres, mulheres e grupos ou comunidades

desfavorecidas. Segundo os autores, os quintais devem estar integrados em programas de

desenvolvimento que possam contribuir para a segurança alimentar, propiciando a geração e

provimento de alimentos para os nepaleses.

Moura e Andrade (2007) buscaram identificar a importância dos quintais urbanos

de Jaboatão dos Guararapes (PE) e suas funções ecológicas, socioculturais e econômicas,

além da realização de levantamento das espécies vegetais ocorrentes. Identificaram-se 220

espécies vegetais, distribuídas em 64 famílias. Quanto ao uso, alimentícias, ornamentais,

medicinais e de valor comercial com destaque para as segundas. Espécies mais frequentes

utilizadas como ornamentais foram: rosa (Rosa sp)., café-roxo (Leea rubra Blume ex Spreng)

e comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amoena Bull.); como medicinais: capim-santo

(Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), coco (Cocos nucifera L.); e como comercial: erva-

cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E.Br. e a pimenta (Solanum sp). Concluem que os quintais

representam um espaço de estoque de plantas prioritariamente alimentícias. A riqueza de

espécies tem relação somente com o tempo e o uso que o dono do quintal faz da planta.

Florentino, Araújo e Albuquerque (2007) estudaram uma área da zona rural com

vegetação de Caatinga, em Caruaru (PE) e reconhecendo a diversidade florística e a

contribuição de quintais agroflorestais para a conservação da diversidade local. Identificaram

84 espécies, pertencentes a 68 gêneros e 35 famílias. Visitaram 25 quintais, nos quais

destacaram-se as famílias Euphorbiaceae (10 espécies), Anacardiaceae (7), Caesalpiniaceae,

Mimosaceae e Myrtaceae (6). Há mais espécies introduzidas (55 espécies) do que nativas,

sendo estas últimas importantes para conservação da diversidade local, principalmente pelo

uso madeireiro que pode gerar grande impacto na vegetação local, o que indica, segundo os

autores, que com um plano de manejo adequado os quintais agroflorestais se configuram

numa alternativa para a conservação da diversidade local.

Amorozo (2008) realizou estudo sobre as funções, importância e perspectivas

futuras para os quintais. O quintal compreenderia espaço de usos múltiplos que ficam

próximos à residência do grupo familiar. Segundo a autora, quintais de zonas rurais mantém

espécies nativas consideradas úteis como açaí (Euterpe oleracea Mart.), ingás (Inga spp.),

pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.) e taperabá (Spondias mobin L.), bem como espécies

introduzidas pelo colonizador português, capim-cidreira (Cymbonpogon citratus (DC) Stapf.)

e hortelã (Mentha spp.). Esses espaços podem desempenhar múltiplas funções e servir a

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diversos fins como a domesticação e aclimatação de espécies botânicas, a conservação da

agrobiodiversiade, prover serviços ambientais de aumento da umidade e diminuição do calor

irradiado e da poluição, servir de locais de convivência e socialização configurando-se num

locus para a manutenção e transmissão do saber local ou tradicional. A dificuldade em manter

quintais em zonas urbanas de cidades grandes é verificada pela eminente necessidade de

espaços e incentivo à verticalização. A autora conclui que, para perpetuar a existência de

espaços como os quintais são necessários que sua importância e potencial tornem-se evidentes

para os cidadãos e planejadores urbanos.

Guarim Neto e Novais (2008) estudaram quintais da região noroeste do estado de

Mato Grosso, objetivando caracterizar os quintais de Castanheira-MT quanto à composição

vegetal, uso dos recursos, identificar espécies vegetais e respectivas categorias de uso,

conhecer o conceito de quintal dado pela população local, e conhecer a biodiversidade

florística regional com seus potenciais etnobotânicos. Analisaram 40 propriedades sob o

ponto de vista etnobotânico, classificando as plantas em categorias de uso, como: alimentar,

medicinal, ornamental, sombreamento, místico e limpeza/embelezamento. Os entrevistados

estavam na faixa etária entre 19 e 73 anos, com a grande maioria (57,5%) apenas com ensino

fundamental. Catalogaram as 248 espécies (89 famílias) distribuídas por categorias de uso em:

alimentar (97 espécies, 41 famílias), medicinal (85 espécies, 45 famílias), ornamental (90

espécies, 45 famílias), sombreamento (11 espécies, 9 famílias), mítica (4 espécies, 4 famílias)

e limpeza/embelezamento (2 espécies, 2 famílias). Famílias mais representativas foram:

Asteraceae (22 espécies), Lamiaceae (14), Liliaceae (11), Araceeae, Myrtaceae e Solanaceae

(9 cada). Verificaram que as plantas cultivadas nos quintais tiveram origem na troca de mudas

com vizinhos, amigos ou parentes. Os autores concluíram que as espécies alimentares são

importantes para a subsistência das famílias. A mulher é a principal mantenedora dos quintais

e estes são espaços múltiplos, podendo ser utilizados para plantio, criação de animais, lazer,

cultura e descanso.

Amaral e Guarim Neto (2008) realizaram estudo etnobotânico em quintais de

Rosário do Oeste (MG). Para eles, quintal seriam sistemas que consistem em uma

combinação de árvores, arbustos e ervas, algumas vezes associados a pequenos animais

domésticos, crescendo próximos à residência. No estudo identificaram 94 espécies vegetais,

utilizadas especialmente na alimentação das famílias. Apesar de terem importante função

ecológica e de conservarem alta diversidade de plantas na sua composição, garantindo a

variabilidade genética de muitas espécies, esses quintais, enquanto sistemas agrícolas

tradicionais, voltados para a subsistência, estão se desarticulando e perdendo espaço para a

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 23

agroindústria e para outras atividades comerciais que ganham, cada vez mais, impulso no

campo. A idade média dos informantes que participaram da pesquisa foi de cinquenta anos,

sendo 51 do sexo feminino e 11 do masculino. A área média dos quintais analisados foi de

622m², incluindo a área do domicílio, sendo que todos os terrenos possuíam o formato

retangular. Os cuidados que os moradores apresentam com seus quintais inclui a utilização de

técnicas simples de manejo, como capinas periódicas, irrigação, limpeza e adubação. No

estudo dos quintais rosarienses, as espécies exóticas foram as mais frequentes.

Aguiar (2009) realizou estudo em quintais da zona rural do município de

Demerval Lobão/PI, objetivando identificar a composição florística e resgatar o conhecimento

tradicional acumulado, acerca da utilização dos recursos disponíveis pela população. Nos 21

quintais estudados foram identificadas 245 espécies, distribuídas em 73 famílias.

Leguminosae foi a mais representativa (37 espécies), seguida de Euphorbiaceae (19),

Asteraceae e Lamiaceae (10). O material botânico encontra-se incorporado ao acervo do

Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. As espécies foram

distribuídas em 10 categorias de uso: medicinal, alimentícia, madeireira, melífera, forrageira,

produção de energia, místico-religiosa, ornamental, tóxica e higiene-limpeza. As categorias

que mais se destacaram em número de espécies foram: medicinal (100 espécies), ornamental

(79) e alimentícia (71). Ziziphus joazeiro Mart. (juá) é a espécie com maior multiplicidade de

usos, estando incluída em oito categorias de uso. Myracrodruon urundeuva M. Allemão

(aroeira) e Mimosa caesalpinifolia Benth. (unha-de-gato) apresentaram os maiores valores de

uso (2,3). Das espécies coletadas, exóticas somaram 51% e 49% nativas. Nos quintais

estudados a mulher possui posição de destaque na conservação da biodiversidade, por ser a

maior responsável pelo manejo e introdução de novas espécies nos quintais. O quintal é um

espaço considerado para a realização de diversas atividades, como o plantio, criação de

animais, lazer, cultura ou descanso. A autora conclui que o universo de plantas indicadas

apresentou alta diversidade e baixa densidade por espécie, concluindo-se que constituem um

importante espaço para a conservação da diversidade biológica e sociocultural dessas

populações. Relata ainda que as plantas alimentícias cultivadas têm grande importância como

suplemento nutricional.

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 24

2.3 Etnozoologia

Costa-Neto e Marques (2000) registraram o conhecimento etnoictiológico dos

pescadores de Siribinha, litoral norte do estado da Bahia. A percepção nativa sobre o

comportamento dos peixes foi observada, especialmente quanto à produção de som, a

reprodução e a ecologia trófica. Foram realizadas entrevistas livres e semiestruturadas e

questionários com 84 informantes. Coletaram e identificaram peixes que foram depositados

no Laboratório de Ictiologia do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Feira

de Santana (UEFS). Os pescadores percebem o comportamento dos peixes, classificando-o

em 18 etnocategorias etológicas, tais como ―peixe que pula‖, ―peixe que viaja‖, ―peixe que

imanta‖ e ―peixe que faz cama‖. Os autores concluíram que o conhecimento ictiológico

tradicional é consistente com o conhecimento ictiológico científico. Tal conhecimento sobre

os caracteres etológicos dos peixes é um recurso importante que os pescadores utilizam

durante suas atividades de pesca e deveria ser incorporado em estudos de manejo,

conservação e utilização racional dos recursos pesqueiros.

Casatti, Langeani e Castro (2001) estudaram as espécies de peixes de riachos que

ocorrem no Parque Estadual Morro do Diabo (SP). Quatro riachos foram amostrados, de

primeira a segunda ordem, onde foram coletadas 22 espécies, pertencentes a cinco ordens e 11

famílias, num total de 1.573 indivíduos. Foi registrado o predomínio de espécies da Ordem

Siluriformes, seguida por Characiformes. Com base em aspectos gerais da biologia das

espécies de peixes, as mesmas foram classificadas em oito guildas. Os autores concluíram

que, de modo geral, as espécies estudadas são capazes de utilizar diversos recursos

alimentares e micro-habitats disponíveis nesses ambientes, sendo particularmente favorecidas

pelo pequeno porte apresentado. Chave de identificação e fotos de exemplares recém-

coletados de todas as espécies de peixes foram fornecidas.

Costa-Neto, Dias e Melo (2002) discutem o conhecimento ictiológico de uma

comunidade da cidade de Barra (BA), cujos pescadores desenvolveram suas atividades às

margens dos rios São Francisco e Grande. Objetivaram registrar o conhecimento

etnoictiológico dos pescadores relacionados à taxonomia, comportamento e ecologia dos

peixes, como também os usos na medicina popular. Durante seis meses (jan-jun/2000) foram

consultados 15 informantes (10 homens e 5 mulheres) através de entrevistas livres e

semiestruturadas, para registrar aspectos cognitivos e culturais sobre as espécies de peixes

locais. Dezoito espécies foram identificadas, dentre elas, cruvina (Plagioscion

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 25

squamosissimus), tucunaré (Cichla ocellaris), piau (Schizodon sp. e Leporinus sp.), surubim

(Pseudoplastytoma coruscans), sarapó (Gymnotus cf. carapo), traíra (Hoplias cf.

malabaricus) e matrinchã (Brycon reinhardtii). Destacam o conhecimento dos pescadores

como relevante diante de práticas de manejo, conservação e uso sustentável dos recursos

pesqueiros. Problemas antrópicos como pesca predatória e introdução de espécies exóticas são

problemas que afetam a área estudada.

Costa-Neto (2004) discutiu a importância da etnoentomologia como campo de

pesquisa, utilizando os trabalhos realizados em diferentes contextos socioculturais do estado

da Bahia. Os estudos etnoentomológicos variam desde a percepção da categoria ―inseto‖, a

utilização de insetos como recursos medicinais e alimentares, passando pelo uso da imagem

desses animais na arte filatélica e na propaganda. Comenta, ainda, que estudos nessa área

podem estimular novas idéias a serem pesquisadas pela ciência, especialmente aquelas que

enfatizem o potencial terapêutico e protéico dos insetos, o qual representaria uma contribuição

importante à questão da biodiversidade e abriria possibilidades para a valorização econômica

de espécies tidas como daninhas ou sem valor.

Hanazaki e Begossi (2006) estudaram as preferências, as vacâncias, os tabus

alimentares e da proteína animal entre três comunidades caiçaras da costa sudeste brasileira.

Foram discutidos dois aspectos sobre a escolha dos alimentos pelos caiçaras, suas preferências

e tabus no consumo do peixe-gato (Ariidae) e de espécies diferentes de salmonetes

(Mugilidae). A categorização pode ser explicada ecológica e culturalmente pela

disponibilidade ambiental da espécie, sua posição na cadeia de alimento, ou sua importância

na economia e nas relações sociais da comunidade. Uma conexão entre a conservação do

recurso e os tabus alimentares sobre determinadas espécies dos peixes é improvável quando

comparada às relações possíveis sobre os tabus da caça e conservação da fauna terrestre. Os

autores concluíram que, para as comunidades estudadas, não havia nenhuma privação

nutritiva resultando dos tabus do alimento quanto às espécies de peixes.

Santos-Fita e Costa-Neto (2007) realizaram trabalho de revisão da variedade de

interações que as culturas humanas mantêm com os animais. Comentam que a Etnozoologia

investiga os conhecimentos, significados e usos dos animais nas sociedades humanas. No

trabalho os autores discutem definição, fundamentos e histórico da Etnozoologia; áreas de

estudo; aplicabilidade do conhecimento etnozoológico; e aspectos éticos da pesquisa

etnozoológica. Os autores concluem que é importante ressaltar que o conhecimento zoológico

tradicional é sempre situacional e modificável, e que como abordagem científica, esta ciência

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 26

pode ser uma ferramenta interpretativa valiosa quando se estudam as interações entre

humanos e animais em uma determinada região.

Alves et al. (2008) realizaram estudo no município de Santa Cruz do Capibaribe

(PE) com animais e as plantas que são amplamente utilizados na medicina tradicional e em

práticas de curas, objetivando caracterizar o uso e comercialização dos animais para

finalidades medicinais. Segundo os autores, a informação medicinal sobre animais é passados

da geração à geração com o folclore oral. De um total de 37 espécies animais (29 famílias),

distribuído entre sete categorias taxonômicas foram encontrados com usos para tratar 51

doenças diferentes. Os tratamentos mais frequentemente mencionados relacionavam-se ao

sistema respiratório (asma). Os remédios zooterápicos podem incluir diversos animais

medicinais individuais ou em misturas associados com ―simpatias‖. Os autores concluem que

há uma grande variedade de animais sendo usada em práticas de medicina tradicional no

semiárido do Nordeste além da necessidade de investigações farmacológicas para confirmar a

eficácia destes remédios.

2.4 A Pesca Tradicional

Batista (2002) realizou levantamento da frota pesqueira de Manacapuru,

Itacoatiara e Parintins (AM). As canoas isoladas variaram de tamanho entre os locais

analisados em que ocorrem. As canoas maiores foram encontradas em Manacapuru e

Itacoatiara. Os barcos de pesca de Parintins foram significativamente menores que os barcos

de pesca de Manaus, Manacapuru e Itacoatiara. O uso de motores considera uma relação

linear entre a potência e o tamanho do barco. Manacapuru apresenta barcos mais velhos,

seguido da frota de Itacoatiara. As frotas de Parintins e Manaus foram as mais jovens, tendo

esta última maior amplitude de idades. Foram encontrados entre cinco e seis pescadores por

barco de pesca e dois a três por canoa isolada. A duração das pescarias em barcos é crescente

descendo o rio, mas não difere para canoas isoladas entre os centros urbanos. O rendimento da

pesca foi menor para os barcos de pesca de Parintins, sendo o rendimento por pescador dos

barcos de pesca melhor que o das canoas no período de safra. A partir dos resultados

concluíram que há diferenciação nas características da frota que desembarca em Parintins

(Médio Amazonas) em relação aquela desembarcando em Itacoatiara e Manacapuru e que a

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 27

pesca efetuada com canoas isoladas deve ser tratada diferenciadamente daquela efetuada com

barcos de pesca.

Mendes (2002) objetivou reconstruir a memória ambiental da comunidade de

marisqueiras da Vila do Guarapuá (BA) através do resgate do conhecimento e das práticas de

manejo e as tecnologias tradicionais da pesca no local. Foram feitas observações, entrevistas

semiestruturadas, construção de guias êmicos e fotografias. O conhecimento local tem reflexo

nas práticas produtivas, servindo como base para um plano de manejo da região. A autora

destaca as relações entre pescadores e ambientes, bem como os artefatos e pescados. Cita,

ainda, a importância do (re)conhecimento dos ambientes e fatores ambientais (marés, lua,

etc.) pelos pescadores como estratégias para a pesca.

Cunha (2003) discute a visão das sociedades sobre os pescadores artesanais, nas

suas relações com os ambientes, integrado com a natureza. Questiona a tradicionalidade como

uma questão estanque, e dinâmica que reflete a passagem de uma geração à outra de

conhecimentos. Segundo o mesmo autor, há que se considerar que os pescadores têm uma

forma de ordenação temporal e espacial dissonante daquela do contexto urbano-industrial e

um conjunto de saberes decorrentes de sua interação com a natureza. O tempo é contado

conforme as manifestações da natureza, o período de pesca e o de floração. Os pescadores

artesanais têm uma visão tridimensional do espaço, abrangendo águas, terra e céu. Dentro

desse contexto, os pescadores desenvolvem situações que servem como ―sistemas de alerta‖

para evitar exploração excessiva em um lugar ou a não captura de espécies em determinado

estádio reprodutivo. Também revelam conhecimentos de substâncias que podem ser úteis para

tratar enfermidades, rituais, alimentação e na confecção de utensílios. O estudo se concentra

nas observações de pescadores e na extração da brejaúva – uma palmeira robusta, com grande

quantidade de espinhos negros, utilizada para o artesanato.

Chaves e Robert (2003) estudaram os tipos de embarcações e as artes de pesca

utilizadas pelos pescadores profissionais e comunidades do litoral sul do Paraná e Santa

Catarina. Foram catalogados sete tipos de embarcações e sete tipos principais de artes de

pesca. Constataram-se diferenças entre comunidades quanto ao tipo predominante de

embarcação, fato em parte explicável pelas condições locais de navegabilidade. Camarões e

peixes são explotados de forma diferenciada ao longo do ano, em função da legislação e do

tipo de apetrecho utilizado. O monitoramento visual revelou que a plataforma rasa não é

utilizada apenas pelas embarcações das comunidades, mas também por embarcações

provenientes de outras regiões. Na época de defeso contra a pesca de arrasto, a proporção de

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 28

embarcações de pequeno porte aumenta concomitante ao uso de outras artes de pesca, mas o

arrasto continua ocorrendo.

Piorski, Castro e Pinheiro (2003) estudaram as atividades de pesca e o

processamento do pescado em aldeias indígenas dos povos Tenetehara/Guajajara, Ka‘após e

Awá/Guajá, na bacia dos rios Pindaré e Turiaçu (MA). Através de entrevistas informais e

semiestruturadas, os autores identificaram 36 espécies de peixes, distribuídas em seis ordens e

17 famílias. Sugeriram a possibilidade de encontrar espécies novas na área estudada. As artes

de pesca listadas foram o arco e flecha, o anzol e o timbó, liana pertencente ao gênero Derris

sp (Leguminosae), do qual também se extrai a retenona, que produz efeitos narcóticos em

peixes. O método de conservação dos peixes varia desde uma forma de defumação

(mosqueado), até mesmo o uso de gelo e sal. O tucunaré é a espécie que pode ter sido

introduzida de forma acidental. Os peixes capturados destinam-se somente à subsistência.

Mourão e Nordi (2003) estudaram a pesca artesanal em duas comunidades de

pescadores artesanais do estuário do rio Mamanguape (PB), comunidade da Barra de

Mamanguape e Tramataia (APA do Mamanguape). Buscaram desvendar os modelos

cognitivos que auxiliam os pescadores a decidirem sobre as estratégias a serem utilizadas para

obtenção dos recursos. Utilizaram entrevistas livres, inicialmente, e semiestruturadas e

questionários (100), num segundo momento, com pescadores experientes (20). Segundo os

relatos dos pescadores, os autores identificaram categorias tróficas conforme o hábito

alimentar, disposição do cardume, produção de ruídos, modo de incubação e emissão de

odores. Os dados construídos refletem a necessidade de preservação da área.

Santos (2005) realizou estudo sobre a cadeia produtiva da pesca artesanal em sete

municípios do estado do Pará: Augusto Corrêa, Bragança, Curuçá, Maracanã, Marapanim,

São João de Pirabas e Viseu que, atualmente, respondem por um quarto da produção estadual

de pescado. No estudo, foram aplicados questionários em 34 comunidades pertencentes aos

municípios supracitados. No âmbito da cadeia produtiva são identificadas as características

socioeconômicas, tecnológicas e produtivas da pesca artesanal e analisado o processo e as

relações de comercialização. Apresentam-se as análises referentes à dimensão institucional e

organizacional da cadeia produtiva com ênfase na organização social, assistência técnica e o

acesso a crédito. No caso da pesca artesanal, as funções de armazenamento são executadas

pelo próprio pescador que acondiciona o pescado em recipientes com gelo e/ou, em menor

proporção, efetua a salga do produto para posterior consumo e/ou comercialização.

Almeida et al. (2006) realizaram estudo no litoral maranhense durante os anos de

2004 e 2005, quando, através de entrevistas e observações, identificaram dez tipos de

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 29

embarcações diferentes: cúter, bote, bianas, igarité, boião, casquinho, catamarã, MAR,

lagosteiros e pargueiros. Descreveram caracteres físicos e de distribuição espacial no litoral.

Segundo os autores, são 7.114 embarcações, onde predominam aquelas à remo e à vela.

Destacam, também, o aumento no número de embarcações motorizadas e o impacto na pesca.

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3 HISTÓRICO, PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DA COMUNIDADE

DO POTI VELHO

3.1 Histórico

Comunidades de populações tradicionais costumam manter o conhecimento local

acumulado e construído durante os anos, que lhes permitem uma convivência com a natureza,

fazendo uso do que ela pode oferecer, até mesmo quando remetem a comunidades inclusas em

zona urbana, quando o ambiente ainda que modificado, permite sustentar modos de vida

calcados no uso de parcos recursos naturais. Esse conhecimento sofre constantes pressões

oriundas do modo de vida urbano, o que leva à suspeição de que esteja sendo perdido com o

tempo devido à característica da transmissão pela oralidade e pelo confronto de práticas

tradicionais de manejo com tecnologias que o meio urbano disponibiliza.

Os pescadores, sobretudo os artesanais, como no caso dos ocorrentes no bairro

Poti Velho (Teresina-PI), praticam a pesca em pequena escala, cuja produção em parte é

consumida pela família e em parte é comercializada na própria comunidade. A produção é

familiar, incluindo na tripulação conhecidos e parentes. Tal atividade acontece

tradicionalmente desde 1760, quando, na Barra do Poti, formaram-se os primeiros pequenos

aglomerados de casas habitadas por plantadores de fumo, mandioca, canoeiros e pescadores.

Dali surgia o núcleo populacional que mais tarde formaria a capital Teresina (TERESINA,

2005). Em novembro de 1850, o Conselheiro Saraiva criava a Vila Nova do Poti, a seis

quilômetros ao sul, e a antiga ficou conhecida como Poti Velho.

O primeiro núcleo de povoamento que originou a cidade de Teresina se fixou à

margem esquerda da foz do rio Poti, que deságua no rio Parnaíba.

Em torno de 1697 a 1762, a população do Piauí apresentou um crescimento

estagnado, distribuída em algumas fazendas e apenas seis vilas: Oeiras, a então capital, na

Vila da Mocha; Marvão (hoje Castelo do Piauí); Parnaguá; Jerumenha; Valença (hoje Valença

do Piauí); e São João da Parnaíba (hoje Parnaíba). No entanto, nessa época, somente a

povoação do Poti e as vilas de Campo Maior e Parnaíba tiveram algum progresso

(SANTANA, 1995).

Ainda de acordo com Santana (1995) a Vila do Poti, antigo reduto de índios, era

um local privilegiado para a agricultura. Era uma passagem entre o norte da Capitania do

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 31

Piauí e o restante do Brasil. O movimento para a mudança da capital para a Vila do Poti

culminou com a mudança para a Vila, localizada nas terras da fazenda Chapada do Corisco;

um ato eminentemente político envolvendo as elites agrárias do norte do Piauí, os políticos de

Campo Maior e os notáveis de Oeiras. Já em 1852, foi criada a Vila Nova do Poti, instalando-

se no mesmo local a capital da Província do Piauí, já com o nome de Teresina. Quanto à

antiga Vila do Poti, passou a ser denominada de Poti Velho, que hoje situa-se em meio

urbano, como um bairro da Capital (SANTANA, 1995).

3.2 Perfil Socioeconômico

A população amostrada compõe-se de 82 indivíduos, pescadores artesanais

cadastrados no Sindicato dos Pescadores e Pescadoras Artesanais de Teresina, Palmeirais no

Estado do Piauí e Parnarama no Estado do Maranhão – SINDIPESCA/THE-PI. Esta

apresentou uma proporção de 55% de pescadores homens e 45% de mulheres. Na

comunidade, consideram-se jovens indivíduos com idades entre 18 e 29 anos; adultos, entre

30 e 49 anos; e idosos, com idade igual ou acima de 60 anos. Assim, pode-se afirmar que há

um predomínio de adultos (73%) em relação aos jovens (14%) e aos idosos (13%) (Figura 1).

Figura 1: Distribuição da população de pescadores do bairro Poti Velho, Teresina

(PI), por gênero e faixas etárias. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).

12

31

12

2

42

1 0

20

40

60

80

100

JOVENS(18 a 29 anos)

ADULTOS(30 a 59 anos)

IDOSOS (≥ 60 anos)

Val

ore

s e

m %

Faixas Etárias

HOMENS

MULHERES

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 32

Quanto ao estado civil, 71% são casados ou vivem em união estável; 26% são

solteiros e 4% são viúvos. Para o ensino formal, 58% têm o Ensino Fundamental, 34%, o

Ensino Médio e 8% são não-escolarizados. Pode-se observar que as mulheres buscam mais o

ensino formal, visto que há poucas não-escolarizadas e muitas que chegam ao ensino médio

em comparação com a população masculina (Figura 2).

Figura 2: Distribuição da população de pescadores do bairro Poti Velho, Teresina

(PI), com relação ao gênero e escolaridade. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).

A renda mensal média é de R$ 395,55, valor superior 37% do que a renda per

capita do bairro no ano 2000, que era de R$ 250,69 (TERESINA, 2005), sendo maior também

em relação à renda média mensal das pessoas responsáveis pelo domicilio, que em 2000 era

de R$ 324,83 (TERESINA, 2002).

O tempo de experiência na pesca pode ser considerado grande, visto que, em

média, os pescadores amostrados pescam há 23 anos. Aqueles que pescam há menos tempo o

fazem há dois anos; aqueles que pescam há mais tempo, o fazem há 72 anos. A média de

tempo de pesca por faixa etária foi 8 anos para os jovens; 19 anos para os adultos e 41 anos

para os idosos. Tais dados demonstram a grande experiência acumulada pelos pescadores do

Poti Velho, principalmente quando se considera pescadores adultos e idosos.

A maioria dos pescadores reside em casas com até cinco cômodos pequenos, de

alvenaria, sendo a maior parte reformada. Os recursos para tal são oriundos de atividades

secundárias ou paralelas à pesca, como atividades de artesanato (17%) e serviços gerais

(12%), renda média mensal de R$ 395,55, e também recebimento do seguro mensalmente por

7

34

14

1

24 20

0

20

40

60

80

100

NÃO-

ESCOLARIZADO

ENSINO

FUNDAMENTAL

ENSINO MÉDIO

Va

lore

s em

%

Escolaridade

HOMENS

MULHERES

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 33

aqueles sindicalizados, na época da piracema, período que segue de 15 de novembro a 16 de

março, no qual é proibida a pesca. Observou-se que 98% das residências apresentam fossa

séptica; 99% têm cobertura por telhas; em 95% delas as paredes são de tijolos (em 5% são de

taipa); em 48% o piso é de cerâmica, em 35%, de cimento e em 6%, de barro (chão batido).

Além disso, em 100% das residências há coleta pública de lixo e em 99%, energia elétrica e

abastecimento de água tratada.

O bairro Poti Velho possui uma unidade escolar municipal, duas estaduais e um

hospital público municipal.

3.3 Aspectos Culturais e Religiosos

As festas do Poti Velho estão intimamente relacionadas aos eventos religiosos.

São as festas católicas de São Pedro, padroeiro dos pescadores, de Nossa Senhora do Amparo

e de São Francisco.

A festa de São Pedro é a festa mais tradicional para os pescadores artesanais do

Poti Velho. No dia 29 de junho de cada ano, acontece na sede do SINDIPESCA/THE a

comemoração das festividades de São Pedro, com um almoço oferecido aos pescadores. A

imagem do santo sai do Poti Velho até a igreja matriz de Teresina, a Igreja de Nossa Senhora

do Amparo, acerca de 3 km do Bairro. Nesta, acontece uma missa e logo após, inicia-se uma

procissão até o caís do Troca-troca3. Do Caís, a procissão segue pelo rio Parnaíba até a foz do

rio Poti, desembarcando no caís do que atualmente é o restaurante Pesqueirinho. A partir de

então, a Procissão segue por terra até a igreja de Nossa Senhora do Amparo, no bairro Poti

Velho, onde acontece outra missa em meio aos festejos compostos por barraquinhas em torno

da praça.

3 Mercado popular onde predominantemente as negociações acontecem por meio da troca de produtos, sendo

secundário mas também corrente o uso de dinheiro.

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 34

Figura 3: Percurso da procissão fluvial de São Pedro que parte do Cais do

Troca-troca até chegar ao Cais do Pesqueirinho. Fonte: Adpatado de

Google Maps, 2010.

As lendas citadas pelos pescadores artesanais foram: a lenda do Cabeça-de-Cuia,

do Boitatá, do Num-se-Pode, do Caipora (Curupira), da Mula-sem-Cabeça, da Mãe-D‘água e

do Saci Pererê.

A lenda do Cabeça-de-Cuia conta a história de um pescador de nome Crispim, que

morava na antiga Vila do Poti com sua mãe. Um dia teria pescado um curimatá e pedido à sua

mãe para assá-lo. Quando retornou, Crispim viu que sua mãe teria oferecido o peixe a uma tia

e ele, enraivecido, teria matado sua mãe espancada com um osso. Antes de morrer ela teria lhe

desferido uma maldição que ele viveria vagando pelo rio Poti com a cabeça parecendo uma

cuia até conseguir devorar três Marias virgens.

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 35

Boitatá é a lenda que contam sobre uma cobra que tem olhos incandescentes e

cospe fogo, porém poucos pescadores citaram a lenda.

Outra importante lenda da cultura de Teresina, conta que nas ruas da cidade

haveria uma mulher que se aproximava dos homens, sempre à noite, para que acendessem seu

cigarro. Logo após, ela cresceria de tamanho até chegar à altura dos postes de eletricidade e

assustava a todos com gritos de ―Num-se-pode, Num-se-pode!‖ Alguns pescadores citaram a

criatura como a ―Loira da Ponte‖ que ataca as pessoas que transitam à noite na ponte do Poti

Velho.

Os pescadores também citaram o Caipora ou Curupira. Conhecido como o

protetor das matas e florestas, seria um menino com os pés virados para trás e bastante

peludo.

A Mula-sem-Cabeça é uma assombração conhecida em todo Brasil (FMC, 2009).

São mulheres que se casam com padres ou que não respeitam os votos de castidade. Têm

aparência de uma mula sem a cabeça.

O Saci-pererê é um menino que pula pela mata em uma perna só com um gorro

vermelho e pitando um cachimbo. Conhecido por suas travessuras, ele gosta de aparecer às

pessoas nas matas, dando-lhes sustos.

Segundo as entrevistas, há basicamente dois rezadores na comunidade do Poti

Velho: o Sr. João Paulo (Paulo Preto) e a Dona Francisca. O Primeiro é raizeiro de profissão.

Sua vida é destinada a fazer remédios caseiros à base de plantas medicinais. Já a Dona

Francisca, é ex-pescadora e hoje reza para retirar quebranto e mau-olhado ―naqueles que têm

fé‖. A pescadora conhece três tipos de reza: uma para retirar quebranto, uma para arca-caída

(desalinhamento da coluna vertebral indicando uma cifose caracterizada pela disparidade

entre a medição da distância entre o cotovelo e o dedo mínimo e a distância medida entre os

dois ombros passando pelo tórax) e outra para vento-caído, condição observada em crianças

após assustadas. Segundo os pescadores, a criança, quando deitada de barriga para cima,

apresenta uma concavidade abdominal acima do normal, podendo apresentar febre, vômito e

diarréia. Também reza em feridas e erisipela. Sempre usa pião roxo (Jatropha gossypiifolia

L.) em suas rezas. Um pequeno galho da planta é passado sobre a cabeça do enfermo fazendo

uma cruz com gestos. A informante relatou apenas um tipo de reza, pois, segundo ela, serve

para tudo e também comentou que se outra pessoa conhecer a reza, esta perde a ―força‖.

Também outro pescador, de 22 anos, relatou uma reza para quebranto em crianças:

―Quebrante do mau-olhado, te botaram com os ‗óios‘, te tiro com o rabo!‖ (grifo nosso,

Gemerson, pescador), repetindo três vezes, enquanto passa-se com as mãos a criança por

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 36

baixo das pernas em movimento de pêndulo. Todavia, ainda que outros conheçam rezas,

somente o Sr. Paulo e a Dona Francisca é que rezam e são procurados pelos demais

pescadores para tal.

Alguns acreditam na existência real do Cabeça-de-Cuia. Muitos afirmam que seus

pais, avós ou eles mesmos terem o visto durante as pescarias, principalmente em noites de lua

nova ou com pouca iluminação.

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4 METODOLOGIA GERAL

4.1. Área de Estudo

Teresina está localizada na região centro-norte piauiense, à margem direita do rio

Parnaíba, tendo ao lado o município maranhense de Timon (Figura 4). No bairro Poti Velho,

zona norte da cidade, grande parte das pessoas vive do artesanato da cerâmica e madeira e da

pesca (IBGE, 2002).

Figura 4: Localização do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor

através do Software GPS Trackmaker© para windows (software livre), versão 13.2 de Odilon

Ferreira Junior, Belo Horizonte (MG), 1998-2007.

A capital do Piauí possui uma área de 1.755,70 Km² e um total da área urbanizada

que soma 140,00 km² (7,9% da área urbana do município). Sua população é composta por de

715.360 habitantes o que corresponde a 25,16% da população do Estado. O Índice de

desenvolvimento humano (IDH) do município alcançou valores de 0,767, ocupando o nº

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1.420 na classificação nacional. O Produto Interno Bruto per capita real é de R$ 3.903,39

(TERESINA, 2005).

Quanto à hidrografia, Teresina possui posição privilegiada, pois está situada na

grande bacia do Parnaíba, permanentemente alimentada por águas subterrâneas oriundas do

excelente aquífero formado pelo arenito Saraiva de Formação Pedra de Fogo. Os mananciais

hídricos subterrâneos são também consideráveis com excelentes condições de

aproveitamento, e com água, em geral, de muito boa potabilidade. A cidade é banhada por

dois grandes rios perenes: o Parnaíba e o Poti, os quais percorrem, respectivamente, 90 km e

59 Km do Município. Devido à existência de depressões naturais nas áreas marginais dos dois

rios, no período chuvoso evidenciam-se lagoas que, às vezes, se estendem por diversos

bairros, mais concetradas na zona Norte de Teresina. Por ocasião do período de estiagem, suas

águas baixam, formando praias, onde a população aproveita as chamadas "coroas" para o

lazer nos fins de semana (TERESINA, 2005).

Teresina apresenta uma das mais baixas altitudes do Estado, caracterizando-se por

apresentar relevo plano, com suaves ondulações. As colinas com topo achatado e flancos

muito inclinados, e as chapadas apresentando a superfície plana e os vales entalhados são as

feições topográficas mais frequentes na área do município. Ao sul do município ocorrem

injeções de diabásio que se encaixam em siltitos e arenitos e são responsáveis pela existência

de algumas elevações alongadas arredondadas. A altitude média é de 72m, variando de 100 a

150m (TERESINA, 2005).

Localizada em zona de latitude baixa e nos limites da área semiárida do Nordeste

brasileiro, o município apresenta clima tropical megatérmico, dos mais quentes do Brasil e

subúmido do tipo seco. As temperaturas registradas são elevadas durante todo o ano, variando

entre os extremos de 38°C e 22°C (média de 28°C). Tais oscilações são amenizadas pela

contribuição dos ventos, proporcionando temperaturas mais amenas, apenas no período

noturno (TERESINA, 2005).

A umidade relativa média do ar é de 69%. De agosto a outubro ocorrem os

menores valores que variam de 54% a 59%, podendo nesta época do ano atingir até 20%, no

horário da tarde (TERESINA, 2005).

O cerrado e cerradão constituem a forma mais generalizada de vegetação que é

representada por uma cobertura arbustiva de médio porte e densa. Integra ainda a paisagem os

babaçuais e os carnaubais nativos, que se estendem por toda a área, preferencialmente ao

longo dos vales e terrenos quaternários de maior fertilidade (TERESINA, 2005).

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 39

A distribuição etária da população está disposta da seguinte forma: de zero a seis

anos, correspondendo a 96.064 hab. (13,43%); de sete a 14 anos, correspondendo a

120.711hab. (16,87%); de 15 a 17 anos, correspondendo a 52.690 hab. (7,37%); de 18 a 24

anos, correspondendo a 113.498 hab. (15,86%); de 25 a 39 anos, correspondendo a 168.254

hab. (23,52%); e de 40 anos em diante, correspondendo a 164.143 habitantes (22,95%)

(TERESINA, 2005).

O bairro Poti Velho localiza-se entre as coordenadas 05°02‘09‘‘S e 42°50‘02‘‘W

e 05°02‘03‘‘S e 42°49‘43‖W e limita-se ao norte pelo rio Poti, ao sul pelo bairro Mafrense, a

oeste pelo bairro Olarias e a leste pelo bairro Alto Alegre. Sua população é composta por

4.208 habitantes. Destes, 2.023 são do gênero masculino e 2.185 são do gênero feminino.

4.2 Levantamento dos Dados

Originado a partir da Associação dos Pescadores do Poti Velho, o Sindicato dos

Pescadores e Pescadoras Artesanais de Teresina, Palmeirais no Estado do Piauí e Parnarama

no Estado do Maranhão – SINDIPESCA/THE-PI é a instituição que representa tais

pescadores.

A coleta de dados foi realizada no período de fevereiro de 2008 a dezembro de

2009, mediante definição do universo de pescadores sindicalizados. Assim, foram listados os

pescadores maiores de 18 anos, escolhidos aleatoriamente dentre aqueles residentes no bairro

Poti Velho. O levantamento dos dados foi realizado junto aos pescadores da comunidade,

individualmente. Os pescadores sindicalizados somam um total de 700. Destes, apenas 450

residem nos limites do bairro Poti Velho. A amostra foi definida adotando-se uma margem de

erro de 10% (BARBETTA, 2006), resultando numa amostra composta por 82 pescadores.

Utilizou-se a técnica da bola-de-neve (BAILEY, 1982), na qual os pescadores foram visitados

e entrevistados em seus domicílios, os quais indicaram outros pescadores a serem

entrevistados. Quando necessárias, também ocorreram turnês-guiadas (BERNARD, 1988)

para os locais onde buscavam recursos animais ou vegetais.

A coleta de dados aconteceu através de entrevistas semiestruturadas (Bernard,

1988), contendo levantamento de informações socioeconômicas, culturais e etnobiológicas

(Apêndice A). Tais entrevistas foram realizadas mediante permissão prévia dos entrevistados

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 40

através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,

em duas vias, uma das quais ficou com o entrevistado e outra com o pesquisador.

Posteriormente, as entrevistas foram transcritas em laboratório em conjunto com

os dados referentes às conversas informais, registradas em diário de campo. As observações

foram elemento subsidiários à coleta de dados, uma vez que permitiram um melhor

entendimento das atividades e relatos dos sujeitos entrevistados, conforme relata Chizzotti

(2000).

A pesquisa foi submetida à apreciação do Conselho de Ética na Pesquisa da

Universidade Federal do Piauí sob o número CAAE 0081.0.045.000-09, e aprovado em

23/07/2009.

Os levantamentos florístico e zoológico foram realizados no período de fevereiro

de 2008 a dezembro de 2009. Ao tempo em que eram citados pelos entrevistados, os vegetais

foram coletados. Também ao retornar de pescarias ou durante as mesmas para os animais

citados.

Dentre as citações de etnoespécies animais, os peixes foram a classe mais citada.

As coletas foram realizadas preferencialmente para etnoespécies de uso medicinal. Os

espécimes foram fotografados, fixados em formol 10%, armazenados em frascos etiquetados

para cada família e conservados em álcool 70%. A identificação foi realizada pelo Professor

MSc. Romildo Ribeiro Soares do Laboratório de Zoologia do Departamento de Biologia (DB)

da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Os indivíduos vegetais foram coletados preferencialmente em estádio reprodutivo

durante as visitas aos quintais e áreas aleatórias ou previamente selecionadas, de acordo com

procedimento rotineiro de campo (MORI et al., 1989).

A identificação botânica dos espécimes foi feita por meio do estudo da sua

morfologia, consultas a bibliografias especializadas, bem como comparações com indivíduos

já identificados e incorporados ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB), da

Universidade Federal do Piauí, além de confirmação por especialistas, quando foi necessário.

Após identificação, os exemplares foram incorporados ao TEPB. O sistema de classificação

adotado foi o de Cronquist (1981), com exceção da família Leguminosae, que obedeceu a

Judd et al. (1999). A grafia dos binômios científicos e abreviaturas dos nomes dos autores

estão de acordo com Brummitt e Powell (1992) e pelo sitio IPNI (2008). A classificação das

monocotiledôneas seguiu a orientação de Dahlgren e Clifford (1980).

Foi calculado o valor de uso de cada etnoespécie e dos conjuntos de dados que

compõem a flora e fauna estudados, que consiste na concordância entre as respostas dos

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 41

informantes, permitindo assumir que a importância relativa de uma planta é dada pelo número

de usos que apresenta, aplicado-se a fórmula sugerida por Phillips; Gentry (1993a, b)

modificado por Rossato (1996). VU= ∑U/n sendo: VU = valor de uso; U = número de

citações (ou usos) da etnoespécie por informante; n = número de informantes que citaram a

etnoespécie ou espécie.

Também foram calculados os Índices de diversidade de Shannon-Wiener

(MAGURRAN, 1989), de riqueza de espécies para cada classe de uso elencado e para o

conjunto geral de espécies, tanto para flora quanto para fauna, através do software Biostat 5.0.

A fim de comparar dados com tamanhos amostrais diferentes, foi utilizado o método

de rarefação, que consiste no cálculo do número esperado de espécies em cada amostra para

um tamanho de amostra padrão, proposto por Gotelli e Colwell (2001), através do programa

Ecosim (Gotelli; Entsminger, 2001).

A coleta de dados referente às práticas culturais aconteceu por meio da observação in

loco, registro fotográfico, com o devido cuidado para não expor tipologias ou características

que identifiquem os sujeitos, como também através de entrevistas como já mencionado

anteriormente.

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AMORIM, A.N. - Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos... 49

VIEIRA, F. J.; SANTOS, L. G. P.; BARROS, R. F. M.; ARAÚJO, J. L. L. Quilombola of

Macacos Community, São Miguel do Tapuio City, Piauí State: History, Use and Conservation

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2008.

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6 ARTIGOS

6.1 Espécies vegetais cultivadas em quintais de pescadores artesanais em Teresina/PI,

Brasil. A ser enviado à revista Economic Botany.

6.2 Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações na

comunidade de pescadores do Poti Velho, Teresina-PI, Brasil. A ser enviado ao

Brazilian Journal of Biology.

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51

6.1 ARTIGO A SER SUBMETIDO AO PERIÓDICO ECONOMIC BOTANY

ESPÉCIES VEGETAIS CULTIVADAS EM QUINTAIS DE PESCADORES

ARTESANAIS EM TERESINA/PI, BRASIL.

Autores:

Alexandre Nojoza Amorim

João Batista Lopes

Roseli Farias Melo de Barros

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ESPÉCIES VEGETAIS CULTIVADAS EM QUINTAIS DE PESCADORES

ARTESANAIS EM TERESINA/PI, BRASIL.

Alexandre Nojoza Amorim¹, João Batista Lopes² & Roseli Farias Melo de Barros³

1 Biólogo. Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Programa de

Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) - PRODEMA/PRPPG/TROPEN/Universidade

Federal do Piauí (UFPI). [email protected].

2 Engenheiro Agrônomo. Profº do Departamento de Agronomia da UFPI e do

MDMA/PRPPG/UFPI. [email protected].

3 Bióloga. Profª do Departamento de Biologia da UFPI, Doutorado em Desenvolvimento e

Meio Ambiente (DDMA) e do MDMA/PRPPG/UFPI. Curadora do Herbário Graziela

Barroso (TEPB). [email protected].

Resumo

Espécies vegetais cultivadas em quintais de pescadores artesanais em Teresina/PI, Brasil:

Objetivou-se realizar o levantamento etnobotânico em quintais urbanos na comunidade de

pescadores artesanais do Poti Velho, município de Teresina/PI, buscando conhecer o potencial

da flora dos quintais e suas formas alternativas de uso e manejo. Os dados foram coletados de

fevereiro de 2008 a dezembro de 2009, utilizando-se entrevistas semiestruturadas com 60

pescadores, sendo 30 mulheres e 30 homens, de idades variando entre 18 e 76 anos. Foram

calculados os Índices de Diversidade de Shannon-Wiener e o Valor de Uso de cada espécie.

Os quintais foram agrupados mediante similaridade. As famílias botânicas mais

representativas foram: Lamiaceae (15%); Euphorbiaceae e Anacardiaceae (8%); Rutaceae

(6%); Myrtaceae, Poaceae, Chenopodiaceae e Verbenaceae (5%); e Malpighiaceae (3%). As

plantas dos quintais do Poti Velho foram adquiridas pelo recebimento de mudas ou trocas

com os vizinhos. Há predomínio de espécies exóticas cultivadas que se deve ao fato da maior

vivência em meio urbano. A diversidade das espécies botânicas apresentou índice de

Shannon-Wiener de 1,60. As coletas apresentaram suficiência amostral e as espécies com

maior VU (5,0) foram Jatropha curcas L. e Hibiscus esculentus L. A categoria medicinal foi

a que recebeu maior número de citações de espécies (69,3%). Constatou-se que o

conhecimento etnobotânico é maior entre mulheres adultas. Os quintais mostraram grande

similaridade entre si, e são espaços de convivência e de cultivo de múltiplas espécies, na

maioria, plantas medicinais, sendo a grande quantidade de plantas exóticas um reflexo da

convivência sob as pressões do ambiente urbano.

Palavras-chave: Etnobotânica. Etnoconhecimento. Pesca artesanal.

Abstract

Vegetal species cultivated in backyards of artisanal fishermen in Teresina city, Piauí state,

Brazil: The objective was to survey the ethnobotanical lore in urban backyards in the artisanal

fishermen community of Poti Velho district, city of Teresina, Piauí state, seeking to know the

potential of the backyards‘ flora and its alternative forms of use and management. The data

was collected from February 2008 to December 2009, using semi-structured interviews with

60 fishermen, 30 women and 30 men, and their ages ranged from 18 to 76 years old. The

Shannon-Wiener‘s Diversity Indices were calculated and the Use Value (UV) of each species.

The backyards were grouped in terms of similarity. The most representative botanical families

were: Lamiaceae (15%); Euphorbiaceae and Anacardiaceae (8%); Rutaceae (6%); Myrtaceae,

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Poaceae, Chenopodiaceae and Verbenaceae (5%); and Malpighiaceae (3%). The backyards‘

plants of Poti Velho were acquired by the acceptance of cuttings or exchanges with their

neighbors. There is a predominance of exotic species cultivated, which is due to these people

living in an urban environment. The botanical species diversity showed Shannon-Wiener‘s

index of 1.60. The pickups presented a sample sufficiency and the highest UV species (5.0)

were Jatropha curcas L. and Hibiscus esculentus L. The medicinal category received the

greatest number of species citations (69.3%). It was verified that the ethnobotanical lore is

larger among adult women. The backyards showed a great similarity among each other, and

they are conviviality and cultivation areas for several species, mostly, medicinal plants, with a

great quantity of exotic plants, which is a reflection of the conviviality under the urban

environment demands.

Keywords: Ethnobotany. Ethnoscience. Artisanal fishing.

<H1>INTRODUÇÃO

As sociedades tradicionais apresentam modos de vida baseados na vivência

cotidiana junto à natureza. Os hábitos estão intrinsecamente relacionados aos ciclos naturais,

denotando que dessa forma apreendem a realidade e a natureza que é baseada além da

experiência e racionalidade, também em valores, símbolos, crenças e mitos (Monteles;

Pinheiro, 2007).

Estudos etnobotânicos permitem relacionar as plantas e humanos considerando-se

o uso que os últimos fazem dos primeiros. A Etnobotânica pode ser caracterizada pelo estudo

das sociedades humanas, passadas e presentes, e suas interações ecológicas, genéticas,

evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas (Fonseca-Kruel; Peixoto, 2004). Para Posey

(1987), é uma Etnociência que objetiva o estudo do conhecimento e da conceituação

desenvolvida por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal. Surgiu como mediadora

dos diversos discursos culturais, como uma tentativa de compreensão do modo de vida,

códigos e costumes que racionalizam as relações entre o homem e a natureza, fazendo a

complementaridade entre o saber tradicional e o saber acadêmico (Albuquerque, 2000).

É no quintal que as relações entre seres humanos e vegetais se estabelecem e

estreitam, mediante o cultivo daquelas espécies que possuem algum uso. Quintal é o termo

utilizado para se referir ao terreno em torno da casa, definido, como a porção de terra próxima

à residência, de fácil acesso, na qual se cultiva ou se mantêm múltiplas espécies que fornecem

parte das necessidades nutricionais da família, bem como outros produtos, como lenha e

plantas medicinais (Saragoussi et al., 1988; Brito; Coelho, 2000; Pasa et al., 2005; Angeoletto

et al., 2008). Consistem de uma reunião de plantas de diferentes hábitos de crescimento que se

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desenvolvem ao redor das casas, criados e mantidos pelos seus membros e os produtos

destinam-se ao consumo da residência, constituindo-se em sistemas agroflorestais tradicionais

caracterizados pela complexidade de sua estrutura e múltiplas funções (Das; Das, 2005).

Os quintais são uma das formas mais antigas de manejo da terra, que remete à sua

sustentabilidade (Amaral; Guarim-Neto, 2008). Apresentam papel econômico, na produção de

alimentos, social e medicinal, proporcionando espaços de convivência, que geram ativos

ecológicos, como a melhoria da evapotranspiração local, cobertura vegetal do solo e

sombreamentos. Áreas semelhantes aos quintais podem ser tradicionalmente encontradas em

zonas tropicais ao redor do planeta, onde haja sistemas de uso da terra baseados na

subsistência (Nair, 1993). Eles têm como outra função servir de reservatórios de

biodiversidade em comunidades mundo afora, podendo agregar espécies perenes ou anuais

(Oakley, 2004). São importantes na conservação da diversidade de espécies nativas,

cultivadas e domesticadas.

Os quintais não têm recebido atenção dos planejadores urbanos brasileiros, nem

tão pouco atenção científica, embora ocorram em várias culturas e se constituam num sistema

de produção de múltiplas espécies, provendo e sustentando milhões de pessoas

economicamente por várias gerações, configurando-se numa forma de manejo que enseja sua

sustentabilidade (Florentino; Araújo; Albuquerque, 2007). Quando bem projetados, os

quintais podem diminuir o consumo de energia elétrica, ao mesmo tempo em que

proporcionam alimentos ricos em vitaminas e fibras aos seus usuários (Angeoletto et al.,

2008).

Desta forma, o presente estudo se destina a realizar levantamento etnobotânico em

quintais da comunidade de pescadores artesanais urbanos do bairro Poti Velho, município de

Teresina/PI, visando conhecer o potencial da flora dos quintais e suas formas alternativas de

uso e manejo dos recursos da flora, contribuindo, portanto para a perpetuação dos valores

culturais da população de pescadores.

<H1>METODOLOGIA

<H2>Área de Estudo

Teresina está localizada na mesoregião Centro-Norte Piauiense, à margem direita

do rio Parnaíba, tendo ao lado o município maranhense de Timon. Possui uma área de

1.755,70 Km² e sua população é composta por de 715.360 habitantes, que corresponde a

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25,16% da população do Estado (Teresina, 2005). Apresenta clima Aw na classificação de

Köppen, tropical e chuvoso de savana, com inverno seco e verão chuvoso. As temperaturas

registradas são elevadas durante todo o ano, variando entre 22°C a 38°C (média de 28°C). A

altitude média é de 72m, variando de 100 a 150m.

O bairro Poti Velho, zona norte de Teresina, localiza-se entre as coordenadas

05°02‘09‘‘S e 42°50‘02‘‘W e 05°02‘03‘‘S e 42°49‘43‖W (Figura 1) e possui uma população

composta por 4.208 habitantes. Destes, 2.023 (48%) são do gênero masculino e 2.185 (52%)

são do gênero feminino. Os domicílios com água canalizada perfazem um total de 131.866

unidades habitacionais (77,6%) e a renda per capita em 2000 era de R$ 250,69 (Teresina,

2005). A maioria das pessoas vive do artesanato da cerâmica, madeira e da pesca (IBGE,

2002).

Figura 1: Localização do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor

através do Software GPS Trackmaker© para windows (software livre), versão 13.2 de Odilon Ferreira

Junior, Belo Horizonte (MG), 1998-2007.

<H2>Levantamento Etnobotânico

Os dados etnobotânicos foram coletados de fevereiro de 2008 a dezembro de

2009, com coletas periódicas (quinzenais, no período chuvoso, e mensais, no período seco)

nas residências de pescadores artesanais cadastrados no Sindicato dos Pescadores e

Pescadoras Artesanais de Teresina, Palmeirais no Estado do Piauí e Parnarama no Estado do

Maranhão (SINDIPESCA-THE).

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Seguindo a metodologia proposta por Barbetta (2006), o universo amostral

compôs-se por 60 pescadores, os mantenedores dos quintais, sendo 30 mulheres e 30 homens,

com idades variando entre 18 e 76 anos. As informações econômicas e sociais foram obtidas

por meio de observação direta e entrevistas semiestruturadas (Bernard, 1988), além de

anotações em diário de campo com informações adicionais e uso da técnica de bola-de-neve

(Bailey, 1982). A turnê-guiada (Bernard, 1988) foi utilizada nas visitas aos quintais, quando

os pescadores forneceram informações sobre as plantas cultivadas. Posteriormente, as

entrevistas foram transcritas em laboratório em conjunto com os dados referentes às conversas

informais, registradas no diário de campo. A observação foi elemento subsidiário à coleta de

dados, uma vez que permitiu um melhor entendimento das atividades e relatos dos sujeitos

entrevistados, conforme relata Chizzotti (2000).

Ao tempo em que eram citados pelos entrevistados, os vegetais eram coletados

preferencialmente em estádio reprodutivo, segundo procedimento rotineiro de campo (Mori et

al., 1989).

A identificação botânica dos espécimes foi feita por meio do estudo da sua

morfologia, consultas a bibliografias especializadas, bem como por comparações com

indivíduos já identificados e incorporados ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da

Universidade Federal do Piauí (UFPI), além de confirmação por especialistas, quando

necessário. Após identificação, os exemplares foram incorporados ao TEPB. O sistema de

classificação adotado foi o de Cronquist (1981), com exceção da família Leguminosae, que

obedeceu a Judd et al. (1999). Para as monocotiledôneas seguiu-se o proposto por Dahlgren e

Clifford (1980). A grafia dos binômios científicos e abreviaturas dos nomes dos autores estão

de acordo com Brummitt e Powell (1992) e pelo sítio IPNI (2008).

Foi calculado o Índice de Diversidade de Shannon-Wiener para cada classe de uso

elencado e para o conjunto geral de espécies botânicas, através do Software Bioestat 5.0 e o

Valor de Uso (VU) de cada etnoespécie, aplicando-se a fórmula sugerida por Phillips; Gentry

(1993a, b), modificada por Rossato (1996): VU= ∑U/n, sendo: U = número de citações (ou

usos) da etnoespécie por informante; n = número de informantes que citaram a etnoespécie ou

espécie. Foram construídas curvas de rarefação para permitir comparações entre amostras

diferentes, realizadas por meio do software EcoSim (Gotelli; Entsminger, 2004).

Com os resultados obtidos foram construídas listas de espécies utilizadas pela

população de pescadores em planilhas eletrônicas para os cálculos estatísticos.

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<H1>RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os pescadores artesanais do bairro Poti Velho praticam a pequena pesca cuja

produção em parte é consumida pela família e em parte é comercializada no próprio bairro. A

produção é familiar, incluindo na tripulação conhecidos e parentes. Seus quintais são

utilizados principalmente para a realização de lavagem de roupas (73%), para criar pequenos

animais (galinhas e patos, 7%), como local de armazenamento de utensílios e aproveitamento

de sombreamento (3% cada); 81% afirmaram não separar plantas cultivadas por tipo de uso

ao contrário daqueles poucos que afirmaram o fazer (19%), fato também citado por Aguiar

(2009).

De um total de 60 quintais amostrados, em 54% deles havia criação de animais.

Destes, em 76% os animais eram criados soltos e em 24%, eram mantidos em cercados ou

chiqueiros.

Os quintais do Poti velho variaram em forma e tamanho, desde 12m² até 1.350m²

(em média quintais com 249m² e desvio padrão de 275m²). São relativamente pequenos se

comparados com os estudados por Niñez (1984), Sablayrolles (2004) e Aguiar (2009), que

estudaram respectivamente, quintais urbanos no Peru (800m² a 1000m²), quintais amazônicos

(555m² a 7.890m²) e quintais agroflorestais no Piauí (130m² até 8.500m²). WinklerPrins

(2002), demonstrou a relação entre quintais urbanos e rurais no Amazonas onde também foi

observado os quintais urbanos (300m² a 600m²) também são menores que os rurais (500m² a

1.700m²). No presente estudo, este fato também pode ser explicado pela limitação dos

espaços, devido à densidade demográfica no Poti Velho.

Observou-se que homens e mulheres participam de forma igualitária da

manutenção dos quintais do Poti Velho, diferente do observado por Sablayrolles (2004) e

Aguiar (2009), nos quais as mulheres eram maioria na manutenção dos quintais e do

observado por Albuquerque, Andrade e Caballero (2005), no qual os homens foram maioria.

Considerando-se que os quintais são formados por áreas adjacentes à residência,

pode-se observar que em 56% deles não há plantas na frente da casa e em 80% não há plantas

nas laterais da casa, sendo o principal local de cultivo os espaços no fundo das residências.

O conhecimento botânico dos pescadores jovens mostrou-se reduzido

provavelmente devido à falta de interesse da grande maioria em aprender com os adultos e/ou

idosos. Segundo Richerson, Boyd e Bettinger (2009), a natureza da transmissão cultural nas

sociedades modernas é incomum comparado com as sociedades tradicionais, pois pontos

importantes de socialização da criança são destinados è educação formal. Observam ainda

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que, a evolução cultural inclui a possibilidade de indivíduos introduzirem novas variações

culturais ao seu próprio modo de vida.

Os adultos, por sua vez, apresentaram maior conhecimento etnobotânico,

sobretudo as mulheres adultas em relação às jovens e às idosas, como também observado por

Florentino, Araújo e Albuquerque (2007). Assim, as pescadoras conhecem mais sobre usos da

flora do que os homens jovens, adultos ou idosos (4%, 13% e 33%, respectivamente), fato que

também foi observado por Oakley (2004). Quando comparados os conhecimentos botânicos

de ambos os sexos sobre os quintais estudados, relacionando-se Jovens e Adultos, Jovens e

Idosos, e Adultos e Idosos, obteve-se, respectivamente, valores iguais a: χ²= 37,902

(p<0,0001), χ²=8,191 (p=0,0042) e χ²=12,100 (p=0,0005), mostrando haver diferença

significativa de conhecimento etnobotânico entre todas as faixas etárias estudadas (p<0,05).

Tal relação também foi evidenciada através da curva de rarefação para cada faixa etária, como

pode ser observado na Figura 2. Pode-se observar também que a maior quantidade de citações

se concentra entre os adultos, mas que, em mesmo nível amostral, evidencia-se um maior

conhecimento entre idosos em relação aos adultos e aos jovens.

Figura 2: Distribuição das citações de espécies por usos pelos pescadores artesanais por faixas etárias,

bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).

Os quintais de pescadores artesanais do Poti Velho apresentaram diversidade de

espécies botânicas com índice de Shannon-Wiener, H‘=1,60. Valor superior apenas ao

encontrado por Figueiredo et al. (1997), com H‘=1,53, mas inferior aos encontrados nos

estudos de Rossato et al. (1999), com H‘=2,06; Hanazaki et al. (2000), com H‘=1,99;

Fonseca-Kruel e Peixoto (2004), com H‘=1,78 e Borges (2007), com H‘=1,79.

As entrevistas e coletas botânicas apresentaram-se suficientes mediante análise de

curva de coletor, que estabilizou mostrando suficiência amostral (Figura 3). Os informantes

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42

Cit

açõ

es

Jovens Adultos Idosos

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59

que mais contribuíram com citações de espécies, até então inéditas para a coleta de dados,

como esperado, foram aqueles entrevistados no início da pesquisa. Todavia, apareceram

citações de novas espécies, mesmo que em pequenas quantidades, ao final do processo de

amostragem. A curva de rarefação foi construída com randomizações de 1000x no software

EcoSim (Gotelli; Entsminger, 2004) (Figura 3).

Figura 3: Curvas de rarefação, acumulação de citações de plantas e a contribuição individual com citações de

espécies novas cultivadas nos quintais de pescadores artesanais do Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte:

Pesquisa direta (2008-2009).

Nos quintais dos pescadores artesanais são cultivadas múltiplas espécies, com

hábitos herbáceos, arbustivos e arbóreos. A estratificação das plantas por hábito de

crescimento permite observar um equilíbrio entre quintais que possuíam plantas (33,33% para

cada um dos três hábitos: herbáceo, arbustivo e arbóreo); 7% dos quintais apresentaram

plantas exclusivamente herbáceas, 7% exclusivamente arbóreas, não sendo verificados

quintais exclusivamente com plantas arbustivas. A ocorrência simultânea de plantas de

hábitos diferentes mostrou que quintais que possuíam plantas herbáceas e arbustivas somaram

3%; com plantas herbáceas e arbóreas, 12% e arbustivas e arbóreas, 4%.

Foram identificadas 82 espécies, dispostas em 44 famílias botânicas, sendo quatro

identificadas ao nível de gênero. As famílias botânicas mais representativas foram: Lamiaceae

(15%); Euphorbiaceae e Anacardiaceae (8%); Rutaceae (6%); Myrtaceae, Poaceae,

Chenopodiaceae e Verbenaceae (5%); Malpighiaceae (3%) e outros somaram 39%. A

distribuição segundo as citações de usos pode ser observada na Figura 4.

8 4

31

2 3 1 2 3 1 0 4 6 4 2 2

7

0 1 4

1 2 0 1 1 0 2 0 0 0 0 1 0 0 2 0 2 0 2 1 0 0 1 0 6

0 0 0 2 1 1 0 3 1 3

0 1 5

1 0 0

0

20

40

60

80

100

120

140

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60

Esp

écie

s (E

tnoes

péc

ies)

Entrevistas (Quintais)

Contribuição de cada Informante Curva de Rarefação Curva de Acumulação

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60

Figura 4: Famílias mais representativas em número de espécies na comunidade de pescadores do

bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).

A relação entre espécies nativas e exóticas foi de 35% a 65%, respectivamente,

demonstrando uma grande quantidade de espécies úteis alóctones em detrimento de espécies

nativas (Tabela 1). Este fato pode ser explicado pelo processo de urbanização e pressões

tecnológicas sofridas pelos pescadores artesanais, que convivendo em meio urbano, fazem uso

muitas vezes de práticas rurais, mas sob influência das conveniências urbanas, que põem em

xeque o repasse e a manutenção de alguns costumes e conhecimentos tradicionais.

39

15

8

8

6

5

5

5

5

3

0 10 20 30 40 50

OUTROS

LAMIACEAE

ANACARDIACEAE

EUPHORBIACEAE

RUTACEAE

VERBENACEAE

CHENOPODIACEAE

POACEAE

MYRTACEAE

MALPIGHIACEAE

Valores em %

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61

Tabela 1: Espécies ocorrentes nos quintais de pescadores artesanais do Poti Velho, Teresina-

PI, Brasil. Convenções: NV: Nomes Vernaculares. HA = Hábitos: E. Erva, A. Arbusto, Ar.

Árvore, L. Liana; CTU = Categorias de Uso: M. Medicinal, C. Cosmético, A. Alimentícia, O.

Ornamental, AR. Artesanal, AP. Artefato de Pesca, MR. Místico/Religioso. OR = Origem: N.

Nativa, E. Exótica. VU = Valor de Uso. NREG = Número de Registro no TEPB. il =

Identificado no local.

Família/Espécie NV HA CTU OR VU NREG

ACANTHACEAE

Justicia pectoralis var.

stenophylla Leonard

Trevo E M N 1,00 26.894

AGAVACEAE

Sansevieria trifasciata Hort. ex

Prain

Espada-de-

são-jorge

E O E 1,00 26.980

AMARANTHACEAE

Alternanthera tenella Colla Terramicina E M N 1,00 26.981

ANACARDIACEAE

Anacardium occidentale L. Cajueiro Ar A, M N 1,44 26.982

Mangifera indica L. Mangueira Ar A, M E 1,28 26.983

Spondias mombin L. Cajá Ar A N 2,00 26.986

Spondias purpurea L. Siriguela Ar A, M E 1,50 26.984

Spondias tuberosa Arruda Imbu Ar A, M N 2,00 26.985

ANNONACEAE

Annona reticulata Sieber ex

A.DC.

Condessa Ar A N 1,00 26.900

Annona squamosa L. Ata Ar A, M E 1,38 26.987

Xylopia aromatica Mart. Pimenta-de-

macaco

E A, M N 1,50 26.909

APIACEAE

Daucus carota L. Cenoura E A, M E 2,00 il

ARACEAE

Dieffenbachia picta Schott Comigo-

ninguém-pode

E O E 1,00 26.988

ARECACEAE

Astrocaryum vulgare Mart. Tucum Ar AP N 1,00 il

Cocos nucifera L. Coqueiro Ar A, O, M E 2,25 il

ASTERACEAE

Achyrocline satureoides (Lam.)

DC.

Marcela A M E 1,00 26.989

Centratherum punctatum Cass. Pepetinha E M N 1,00 26.916

BIGNONIACEAE

Tabebuia sp Pau-d'arco Ar AR N 1,00 26.990

Tecoma stans Juss. Ipezinho A O E 1,00 26.902

BIXACEAE

Bixa orellana L. Urucum A M N 2,00 26.991

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62

Tabela 1: continuação...

Família/Espécie NV HA CTU OR VU NREG

BORAGINACEAE

Heliotropium indicum L. Crista-de-galo E M N 2,25 26.992

BORAGINACEAE

Symphytum officinale L. Confrei E O, M E 2,00 26.993

CACTACEAE

Cereus jamacaru DC. Mandacaru A O, M N 1,50 il

CARICACEAE

Carica papaya L. Mamão A A, M E 1,33 il

CARYOCARACEAE

Caryocar coriaceum Wittm. Pequi Ar AR N 1,50 26.994

CHENOPODIACEAE

Beta vulgaris L. Beterraba E A, M E 2,00 il

Chenopodium ambrosioides L. Mastruz E A, M N 1,31 26.918

COMBRETACEAE

Terminalia catappa L. Amendoeira Ar M E 1,00 26.908

COMMELINACEAE

Commelina benghalensis L. Pepetra E M N 1,00 26.915

CRASSULACEAE

Bryophyllum pinnatum (Lam.)

Oken

Folha-santa E M E 1,22 26.917

CUCURBITACEAE

Citrullus vulgaris Schrad. Melancia E A E 1,00 il

Cucurbita pepo L. Abóbora E A E 1,00 26.995

Momordica charantia L. Melão-de-são-

caetano

E A, M N 2,00 26.913

EUPHORBIACEAE

Cnidoscolus loefgrenii Pax &

K.Hoffm

Cansanção-

branco

E M N 1,00 26.905

Croton heliotropiifolius Kunth Velame E M N 1,39 26.920

Euphorbia tirucalli L. Cachorro-

pelado

A M E 1,29 26.903

Jatropha curcas L. Pião-branco A M N 5,00 26.996

Jatropha gossypiifolia L. Pião-roxo A MR E 1,00 26.997

Manihot esculenta Crantz Mandioca E A, AP N 2,00 il

Phyllanthus niruri L. Quebra-pedra N O, M N 1,27 26.998

IRIDACEAE

Crocus sativus L. Açafrão E M E 1,50 26.999

Eleutherine bulbosa Urb. Pé-de-

coquinho

A M E 1,00 27.000

LAMIACEAE

Lippia alba (Mill.) N.E.Br. Erva-cidreira E M E 1,17 26.895

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63

Tabela 1: continuação...

Família/Espécie NV HA CTU OR VU NREG

LAMIACEAE

Mentha arvensis L. Vicky E M E 1,17 27.001

Mentha villosa Huds. Hortelã E M E 1,08 27.002

Ocimum gratissimum L. Manjericão E A, M E 1,89 26.904

Ocimum sp Esturaque E M, AR E 3,00 26.906

Plectranthus amboinicus (Lour.)

Spreng.

Malva-do-

reino

E M E 1,00 27.003

Plectranthus barbatus Andrews Boldo E M E 1,25 27.004

Vitex agnus-castus L. Angola Ar M E 1,50 27.150

LAURACEAE

Persea americana Mill. Abacate Ar A, C E 2,00 27.005

LECYTHIDACEAE

Lecythis pisonis Cambess. Sapucaia Ar M N 1,00 il

LEGUMINOSAE

CAESALPINIOIDEAE

Tamarindus indica L. Tamarindo Ar A, M E 2,00 27.006

Senna occidentalis (L.) Link Fedegoso E M N 1,25 26.896

FABOIDEAE

Phaseolus vulgaris L. Feijão E A E 1,00 il

LILIACEAE

Allium cepa L. Cebola E A, M E 2,00 il

Allium sativum L. Alho E A, M E 2,00 il

Aloe vera (L.) Burm.f. Babosa E M, C E 1,71 27.007

LYTHRACEAE

Punica granatum L. Romã Ar M E 1,20 27.008

MALPIGHIACEAE

Malpighia glabra L. Acerola Ar A, M E 1,26 26.898

MALVACEAE

Gossypium herbaceum L. Algodão A M E 1,18 26.919

Hibiscus esculentus L. Quiabo E A, M E 5,00 26.911

Hibiscus sabdariffa Rottl. Vinagreira A M E 3,00 26.910

Sida cordifolia L. Malva-branca A M N 3,00 26.897

Sida rhombifolia L. Relógio E M, AR N 2,00 26.907

MUSACEAE

Musa paradisiaca L. Banana A A, M E 1,83 27.009

MYRTACEAE

Eucalyptus sp Eucalipto Ar M E 1,00 27.010

Psidium guajava L. Goiabeira Ar A, M N 1,68 27.011

Syzygium jambolanum DC. Azeitona A A, M E 2,33 il

OLACACEAE

Ximenia americana L. Ameixa A A, M N 1,67 27.012

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64

Tabela 1: continuação...

Família/Espécie NV HA CTU OR VU NREG

OXALIDACEAE

Averrhoa carambola L. Carambola Ar A, M E 1,75 26.901

PASSIFLORACEAE

Passiflora edulis Sims. Maracujá A A, M N 1,80 27.013

POACEAE

Bambusa sp Bambu A AP, AR E 1,50 il

Cymbopogon citratus Stapf Capim-de-

cheiro

E A, M E 1,71 27.014

Saccharum officinarum L. Cana-de-

açúcar

A A, M E 2,00 il

RUBIACEAE

Ixora coccinea L. Cafezinho-de-

jardim

A O E 1,00 27.015

RUTACEAE

Citrus aurantium L. Laranja Ar A, M E 1,93 27.016

Citrus limonum Risso Limão A A, M E 1,78 27.017

SCROPHULARIACEAE

Scoparia dulcis L. Vassourinha A M N 2,00 26.912

SOLANACEAE

Capsicum frutescens L. Pimenta A A, M E 1,25 26.899

TURNERACEAE

Turnera ulmifolia L. Chanana E O, M N 2,13 26.914

ZINGIBERACEAE

Alpinia nutans Rosc. Jardineira A O, M, C E 2,00 27.018

As espécies com maiores Valores de Uso foram: Hibiscus esculentus L. e

Jatropha curcas L. (VU=5,00), seguidos por Ocimum sp, Hibiscus sabdariffa Rottl. e Sida

cordifolia L. (VU=3,00). Todavia, três espécies foram citadas com poucos usos, mas por

vários informantes, o que fizeram seus Valores de Uso apresentarem-se relativamente baixos,

o boldo (Plechtranthus barbatus Andrews, VU=1,25), o mastruz (Chenopodium ambrosioides

L., VU=1,31) e erva-cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E.Br., VU=1,17). Identifica-se, assim, que

o Valor de Uso é um índice que mostra o potencial que um recurso tem para ser utilizado por

uma população, pois os valores encontrados não apresentam linearidade como em outros

índices.

As espécies citadas mais vezes dentre o universo de informantes entrevistados

foram: Plechtranthus barbatus Andrews (40), Lippia alba (Mill.) N.E.Br. e Chenopodium

ambrosioides L. (29), Mangifera indica L. (25) e Malpighia glabra L., Psidium guajava L.

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65

(19). Aquelas que apresentaram múltiplos usos Chenopodium ambrosioides L. (16), Ocimum

gratissimum L., Plechtranthus barbatus Andrews (11 cada), Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul.,

Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Scoparia dulcis L., Turnera ulmifolia L. (8 cada) e Citrus

aurantium L., Croton heliotropiifolius Kunth., Lippia alba (Mill.) N. E. Br., Mangifera indica

L. e Mimosa caesalpiniifolia Benth. (7 usos cada).

Assim, pode-se inferir que a maioria das espécies botânicas que foram citadas

mais vezes apresenta o conhecimento de seus usos mais disseminado entre os pesquisados,

principalmente no que tange às suas características medicinais. O mesmo pode ser dito em

relação às espécies com maior quantidade de usos diferentes citados, pois mostram uma maior

versatilidade e, portanto, apresentam-se como espécies preferenciais entre os pescadores

artesanais. Os valores de uso foram agrupados em classes conforme Figura 5.

Figura 5: Valor de uso das etnoespécies dispostos em classes de VU na comunidade de

pescadores artesanais do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa

direta (2008-2009).

Visando comparar os quintais estudados quanto à ocorrência de espécies

botânicas, foi utilizada a comparação pela distância euclidiana, com o menor valor

apresentado entre os quintais de Elisa e Gutemberg (0,576) e maior valor entre Ana Lúcia e

Dênis (167,454). Quanto à similaridade entre os quintais, pode-se observar na Figura 5, que

os quintais de Luís do peixe e Marinalva; Maria dos remédios e Silvana apresentaram maior

proximidade, quanto à ocorrência de espécies botânicas comuns. Já os quintais de Antoninho

e Antonio Brito, por exemplo, apresentaram maior diferença.

Em geral, os quintais dos pescadores artesanais do Poti Velho apresentaram

grandes semelhanças, quando agrupados por média utilizando-se a distância euclidiana no

27

62

9

0 2

0

20

40

60

80

100

0,00 a 1,00 1,01 a 2,00 2,01 a 3,00 3,01 a 4,00 4,01 a 5,00

Po

rcen

tag

em d

e V

U

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66

software SPSS 17.0. Podem-se identificar dois grandes grupos distintos, mas que mantém

certa homogeneidade que pode ser observada na Figura 6.

Figura 6: Dendrograma de similaridade, com agrupamentos pela média dos

grupos, utilizando distância euclidiana, entre os quintais estudados no bairro

Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2008-2009).

Quando categorizadas as citações para cada planta, o uso medicinal apresentou-se

em maior quantidade (69,3%), seguido pelos usos alimentício (23,1%), ornamental (4,6%),

também observado por Albuquerque, Andrade e Caballero (2005), para fabricação de

artefatos de pesca (1,7%), cosmético (0,8%), artesanal e em uso místico/religioso (0,3%),

como pode ser observado na Figura 7. As plantas alimentícias, representadas principalmente

por ervas e árvores frutíferas, foi a segunda maior categoria de uso, sendo o seu cultivo, um

complemento da alimentação dos pescadores artesanais.

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67

Figura 7: Citações por categorias de uso de plantas úteis da comunidade de pescadores

artesanais do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2008-

2009).

Assim, pode-se afirmar que a finalidade principal do cultivo de espécies vegetais

nos quintais do Poti Velho era de manter uma fitofarmacopéia, com espécies específicas para

este fim. As espécies medicinais foram classificadas de acordo com a Organização Mundial

de Saúde, mediante os sistemas corporais em que atuam, conforme indicação dos pescadores,

como pode ser observada na Tabela 2.

69,3

23

4,6

1,7

0,8

0,3

0,3

0 20 40 60 80 100

MEDICINAL

ALIMENTÍCIO

ORNAMENTAL

ARTEFATO

COSMÉTICO

ARTESANATO

MÍSTICO

Valores em %

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68

Tabela 2: Espécies medicinais utilizadas por pescadores artesanais do bairro Poti Velho,

Teresina, Piauí, Brasil, classificadas segundo a Organização Mundial da Saúde, de acordo

com os seus respectivos sistemas corporais.

Código Sistema Indicação Espécies Medicinais

R50-R69 Sintomas e

sinais gerais

dor de

cabeça

Heliotropium indicum, Lippia alba e Ocimum

gratissimum.

dor de ouvido Spondias tuberosa.

dor em geral Chenopodium ambrosioides.

dor no peito Chenopodium ambrosioides.

dores Chenopodium ambrosioides.

fraqueza Malpighia glabra.

insônia Passiflora edulis.

ressaca Plechtranthus barbatus.

visão Allium cepa.

J00-J99 Doenças do

aparelho

respiratório

asma Vitex agnus-castus.

bronquite Gossypium herbaceum.

gripe Allium sativum, Aloe vera, Alpinia nutans,

Annona squamosa, Bryophylum pinnatum,

Caesalpinia ferrea , Chenopodium

ambrosioides, Citrus limonum, Croton

heliotropiifolius, Gossypium herbaceum,

Hibiscus sabdariffa, Malpighia glabra,

Mangifera indica, Mentha arvensis, Mentha

villosa, Ocimum gratissimum, Plecthranthus

amboinicus e Vitex agnus-castus.

pneumonia Chenopodium ambrosioides.

sinusite Ocimum gratissimum.

inflamação

na garganta

Anacardium occidentale, Gossypium

herbaceum, Mentha arvensis e Punica

granatum.

tosse Mangifera indica, Mentha arvensis e Punica

granatum.

tuberculose Aloe vera e Chenopodium ambrosioides.

B95-97 Agentes de

infecções

bacterianas,

virais e outros

agentes

infecciosos

anti-

inflamatório

Chenopodium ambrosioides e Bryophylum

pinnatum.

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69

Tabela 2: Continuação.

Código Sistema Indicação Espécies Medicinais

B95-97 Agentes de

infecções

bacterianas,

virais e outros

agentes

infecciosos

catapora Crocus sativus.

dengue Mangifera indica.

febre Croton heliotropiifolius, Cymbopogon citrates

e Lippia alba.

Inflamação Alternanthera tenella, Caesalpinia ferrea,

Chenopodium ambrosioides, Cocos nucifera,

Heliotropium indicum, Momordica charantia,

Musa paradisíaca, Phyllanthus niruri, Punica

granatum, Sida cordifolia, Spondias purpurea,

Turnera ulmifolia e Ximenia americana.

sarampo Crocus sativus.

N00-N99 Doenças do

aparelho

geniturinário

cólicas

menstruais

Lippia alba e Mentha villosa.

inflamação

em mulheres

Alternanthera tenella.

próstata Ocimum gratissimum e Scoparia dulcis.

N20-N23 Calculose

renal

rins Averrhoa carambola, Bryophylum pinnatum,

Ocimum gratissimum, Phyllanthus niruri,

Plecthranthus amboinicus, Scoparia dulcis,

Terminalia catappa e Turnera ulmifolia.

L00-L99 Doenças da

pele e do

tecido

subcutâneo

cicatrizante Aloe vera, Anacardium occidentale e

Chenopodium ambrosioides.

feridas Bryophylum pinnatum, Turnera ulmifolia e

Chenopodium ambrosioides.

furúnculo Bryophylum pinnatum, Capsicum frutescens,

Euphorbia tirucalli e Turnera ulmifolia.

micose Euphorbia tirucalli.

K00-K14 Doenças da

cavidade oral,

das glândulas

salivares e dos

maxilares

nascer dentes Croton heliotropiifolius e Sida cordifolia.

dor de dentes Euphorbia tirucalli.

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70

Tabela 2: Continuação.

Código Sistema Indicação Espécies Medicinais

K00-K93 Doenças do

aparelho

digestivo

cólicas Achyrocline satureioides, Carica papaya,

Citrus aurantium, Croton heliotropiifolius,

Cymbopogon citratus, Eleutherine bulbosa,

Heliotropium indicum, Lippia alba, Mentha

arvensis, Mentha villosa, Plechtranthus

barbatus, Psidium guajava, Spondias purpurea

e Terminalia catappa.

cólicas em

crianças

Croton heliotropiifolius.

diarréia Annona squamosa, Citrus aurantium, Musa

paradisiaca, Plechtranthus barbatus, Psidium

guajava e Sida rhombifolia.

digestivo Citrus aurantium, Ocimum

gratissimum,Plechtranthus barbatus e

Terminalia catappa.

dor de

estômago

Mangifera indica, Ocimum gratissimum,

Scoparia dulcis e Cymbopogon citratus.

gastrite Caesalpinia ferrea, Musa paradisiaca,

Ocimum gratissimum, Plechtranthus barbatus,

Scoparia dulcis, Turnera ulmifolia e Ximenia

americana.

intestino Citrus aurantium, Croton heliotropiifolius e

Plechtranthus barbatus.

laxante Tamarindus indica.

má digestão Caesalpinia ferrea e Plechtranthus barbatus.

úlcera Caesalpinia ferrea, Chenopodium

ambrosioides, Heliotropium indicum, Musa

paradisiaca, Ocimum gratissimum e Scoparia

dulcis.

verminoses Capsicum frutescens, Chenopodium

ambrosioides, Croton heliotropiifolius,

Mangifera indica e Mentha villosa.

vômito Heliotropium indicum.

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71

Tabela 2: Continuação.

Código Sistema Indicação Espécies Medicinais

E00-E90 Doenças

endócrinas,

nutricionais e

metabólicas

colesterol Hibiscus esculentus, Mangifera indica,

Plechtranthus barbatus e Syzygium

jambolanum.

diabetes Hibiscus esculentus, Hibiscus sabdariffa,

Lecythis pisonis, Malpighia glabra e

Scoparia dulcis.

emagrecer Cereus jamacaru.

F40-F48 Transtornos

neuróticos,

transtornos

relacionados com

o ―stress‖ e

transtornos

somatoformes

calmante Citrus aurantium, Cymbopogon citrates,

Lippia alba, Mentha arvensis, Ocimum

gratissimum e Passiflora edulis.

sonífero Cymbopogon citratus.

I00-I99 Doenças do

aparelho

circulatório

coração Cymbopogon citratus, Justicia pectoralis

var. stenophylla e Syzygium jambolanum.

hematomas Chenopodium ambrosioides e Gossypium

herbaceum.

hemorróidas Cymbopogon citratus e Sida cordifolia.

impotência

sexual

Hibiscus esculentus.

pressão alta Alpinia nutans, Lippia alba, Passiflora

edulis, Phyllanthus niruri e Syzygium

jambolanum.

M00-M99 Doenças do

sistema

osteomuscular e

do tecido

conjuntivo

fraturas Chenopodium ambrosioides

ossos fracos Caesalpinia ferrea

K70-K77 Doenças do

fígado

Dor no

fígado

Phyllanthus niruri e Plechtranthus

barbatus.

D50-D89 Doenças do

sangue e dos

órgãos

hematopoéticos e

alguns

transtornos

imunitários

depurativo do

sangue

Bryophylum pinnatum , Euphorbia tirucalli e

Hibiscus esculentus.

anemia Anacardium occidentale, Beta vulgaris,

Chenopodium ambrosioides, Daucus carota,

Hibiscus sabdariffa e Malpighia glabra.

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72

Tabela 2: Continuação.

Código Sistema Indicação Espécies Medicinais

S00-T98 Lesões,

envenenamen-

to e algumas

outras

consequências

de causas

externas

abortivo Gossypium herbaceum.

C00-D48 Neoplasias

[tumores]

câncer Aloe vera, Caesalpinia ferrea, Musa

paradisiaca e Turnera ulmifolia.

tumor Capsicum frutescens.

As plantas encontradas nos quintais do Poti Velho foram adquiridas pelo

recebimento de mudas ou trocas com os vizinhos, amigos ou parentes, ou na horta

comunitária próxima à comunidade, fato também observado por Aguiar (2009). Isso reafirma

o aspecto social do quintal, que propicia o contato e a interação entre as pessoas.

A curva de acumulação para citações de usos de espécies botânicas mostrou

suficiência amostral para todas as categorias de uso encontradas, possibilitando-se inferir que

a coleta de dados foi suficiente para representar o conhecimento botânico local.

<H1>CONCLUSÃO

Os quintais dos pescadores do bairro Poti Velho apresentaram cultivo de múltiplas

espécies, e múltiplos hábitos de crescimento com grande potencial etnobotânico. São áreas

que mostraram grande similaridade entre si, apresentando igualdade numérica entre gêneros.

Os pescadores artesanais utilizam os quintais principalmente para lavagem de

roupas, sombreamento, cultivo de plantas e criação de pequenos animais. Tais espaços têm

importante papel na complementação da alimentação e no âmbito medicinal.

O conhecimento etnobotânico é maior entre mulheres adultas, portanto

constataram-se visíveis relações etnobotânicas, mantendo-se estreita relação entre pescadores

e plantas nativas e exóticas cultivadas.

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73

<H1>REFERÊNCIAS

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Alexandre Nojoza Amorim

6.2 ARTIGO SUBMETIDO AO PERIÓDICO BRAZILIAN JOURNAL OF BIOLOGY

MODOS, ARTES DE PESCA E CONSTRUÇÃO DE EMBARCAÇÕES NA

COMUNIDADE DE PESCADORES DO POTI VELHO, TERESINA-PI, BRASIL.

Autores:

Alexandre Nojoza Amorim

Roseli Farias Melo de Barros

João Batista Lopes

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Modos, artes de pesca e construção de embarcações na comunidade de pescadores do Poti Velho...

Alexandre Nojoza Amorim

Modos, artes de pesca e construção de embarcações na comunidade de pescadores do

Poti Velho, Teresina-PI, Brasil.

Alexandre Nojoza Amorim¹, Roseli Farias Melo de Barros² & João Batista Lopes³

1 Biólogo. Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Programa de

Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) - PRODEMA/PRPPG/TROPEN/Universidade

Federal do Piauí (UFPI). [email protected].

2 Bióloga. Profª do Departamento de Biologia da UFPI, Doutorado em Desenvolvimento e

Meio Ambiente (DDMA) e do MDMA/PRPPG/UFPI. Curadora do Herbário Graziela

Barroso (TEPB). [email protected].

3 Engenheiro Agrônomo. Profº do Departamento de Agronomia da UFPI e do

MDMA/PRPPG/UFPI. [email protected].

11 Figuras

Palavras-chave: Canoas; Pesca artesanal; Poti Velho; Carpintaria naval; Etnobiologia.

Key-words: Canoes; Traditional fishing; Poti Velho; Naval carpentry; Ethnobiology.

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Modos, artes de pesca e construção de embarcações na comunidade de pescadores do Poti Velho...

Alexandre Nojoza Amorim

ABSTRACT

Fishing arts and manners, and vegetal species use in the building of vessels in the fishing

community of Poti Velho district, Teresina city, state of Piauí, Brazil. The objective of this

study was to record the traditional lore as regards fishing arts and the building of fishing

vessels (canoes) in the community studied. Semi-structured interviews were carried through

with the artisanal fishermen as well as a photographic recording of the repairs and building of

the canoes. The fishing arts used are the surrounding net, cast net, fishing hook, trap net and

the PET bottles. Fishing occurs especially with the use of surrounding nets (54%) and cast

nets (37%). ―Branquinha-do-oião‖ (Curimata macrops Eigenmann & Eigenmann, 1889),

―branquinha-do-oin‖ (Psectogaster rhomboide Einmann & Einmann,1889) and the

―Curimatá‖ (Prochilodus lacustris Steindachner, 1907) are the most common fish in the Poti

River waters. The artisanal fishermen know the dynamics at the mouth of the river and act so

as to preserve its natural resources. Only two families carry out the building and the repairing

of vessels. Four vegetal species are used for the naval carpentry: the Souari nut (Caryocar

coriaceum Wittm.), the trumpet tree, or bow wood/tree (Tabebuia spp.), the cedar (Cedrella

odorata L.) and the ―embiratanha‖ (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin). Every

timber has its role in the building of the canoe. This lore must be recorded lest it is lost due to

the lack of interest of the young and the community because of the technological demands of

the urban way of living.

Key-words: Building of vessels; Traditional fishing; Poti Velho; Naval carpentry;

Ethnobiology.

RESUMO

Modos, artes de pesca e construção de embarcações na comunidade de pescadores do

Poti Velho, Teresina-PI, Brasil. O objetivo deste estudo foi registrar o conhecimento

tradicional relativo às artes de pesca e à construção de embarcações de pesca (canoas) na

comunidade estudada. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os pescadores

artesanais como também registro fotográfico dos reparos e construção de canoas. As artes de

pesca utilizadas são o engancho, tarrafa, anzol, curral e garrafa. A pesca ocorre

principalmente com o uso de enganchos (54%) e tarrafas (37%). Branquinha-do-oião

(Curimata macrops Eigenmann & Eigenmann, 1889), branquinha-do-oin (Psectogaster

rhomboide Einmann & Einmann,1889) e o curimatá (Prochilodus lacustris Steindachner,

1907) são os peixes mais comuns nas águas do Poti. Conhecem a dinâmica na foz e agem no

sentido de conservar os recursos naturais. Apenas duas famílias realizam a construção e

reparo de canoas. Quatro espécies vegetais são utilizadas para a carpintaria naval: o pequi

(Caryocar coriaceum Wittm.), o pau-d‘arco (Tabebuia spp.), o cedro (Cedrella odorata L.) e

a embiratanha (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin). Cada madeira tem uma

função na construção da canoa. O conhecimento deve ser registrado para que não se perca

diante da falta de interesse dos mais novos e da comunidade da vida urbana e do avanço

tecnológico.

Palavras-chave: Canoas; Pesca artesanal; Poti Velho; Carpintaria naval; Etnobiologia.

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INTRODUÇÃO

O conhecimento tradicional é produto da formulação de teorias, inferências,

experiências e conceitos criados e transmitidos por gerações (Moreira, 2007). Essa tradição

deu sustentação para boa parte das construções científicas que hoje são realizadas. O conceito

de tradição capta esse sentido de identificação de um distinto modo de vida e crenças (Adrião,

2003) isolado de relações com a escala de tempo (gerações) em que é transmitida.

Populações tradicionais englobam uma gama de etnias e modos de vida que

variam desde caiçaras, quilombolas até indígenas, passando pelos pescadores artesanais.

Segundo Diegues (2000), a categoria de população tradicional não-indígena dos pecadores

artesanais está espalhada majoritariamente pelo litoral, também pelos rios e lagos e tem um

modo de vida baseado principalmente na pesca, ainda que exerça outras atividades

econômicas complementares, como o extrativismo vegetal, a pequena agricultura e o

artesanato. No Brasil, entre a população não-indígena, pelo menos nove tipos populacionais

são descritos: caiçaras, jangadeiros, caboclos/ribeirinhos amazônicos, açorianos, pantaneiros,

pescadores, sitiantes, praieiros e varjeiros, têm na pesca a principal ou uma das principais

fontes de subsistência e renda (Diegues, 2001).

A comunidade de pescadores artesanais do bairro Poti Velho, na cidade de

Teresina/PI, utiliza espécies vegetais na confecção de artefatos de pesca e canoas. Tal

interação é resultado da relação entre pescadores e plantas, foco de estudo da Etnobotânica,

ciência que possui destaque nos estudos das etnociências no Brasil. É a subárea da

Etnobiologia, possivelmente, mais antiga e a que mais agrega em si um conjunto de

professores e pesquisadores com repertório de publicações e experiências mais vastos e

consolidados (Ming, 2006). Objetiva conhecer e resgatar o saber botânico tradicional,

principalmente aqueles relacionados ao uso dos recursos florísticos (Guarim-Neto et al.,

2000).

Estudos etnobotânicos permitem inferir que as populações interferem na estrutura

de comunidades vegetais, alterando paisagens, processos de evolução de espécies individuais,

ciclos biológicos de determinadas populações de plantas, tanto em aspectos negativos, como é

mais comum em intervenções antrópicas, como também beneficiando os recursos manejados

(Albuquerque & Andrade, 2002).

Boa parte das populações ribeirinhas que explora de forma artesanal áreas

estuarinas e costeiras têm como atividade econômica principal a captura de peixes, crustáceos

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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...

Alexandre Nojoza Amorim

e moluscos (Alves & Nishida 2002) e grande parte dessas populações utiliza embarcações

como principal meio de transporte e ferramenta associada diretamente à pesca.

A comunidade de pescadores do Poti Velho originou-se na segunda metade do

século XVIII a partir de um aglomerado de casas habitadas por pescadores, canoeiros e

plantadores de fumo e mandioca. Localizada na confluência dos rios Parnaíba e Poti, registrou

crescimento populacional que permitiu sua elevação à Vila. Hoje, essa comunidade é um

bairro de Teresina, que ainda conserva uma cultura própria, mas que sofre constantes pressões

do modo de vida urbano (Teresina, 2002).

Os pescadores artesanais do bairro Poti Velho praticam a pesca artesanal desde

1760 na barra do Poti, sendo a produção familiar, pois a tripulação das canoas é composta por

parentes e conhecidos, sendo parte dos peixes consumida pela família, e o excedente,

comercializada.

Esta pesquisa foi realizada visando coletar informações etnobiológicas,

enfatizando as estratégias, artes de pesca, bem como a construção e reparo de canoas, da

comunidade urbana de pescadores artesanais do bairro Poti Velho.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

Teresina está localizada na região centro-norte do estado do Piauí, à margem

direita do rio Parnaíba, tendo ao lado o município maranhense de Timon. Sua população é de

714.318 habitantes, sendo que 676.596 hab. na zona urbana e 37.722 hab. residem na zona

rural. A temperatura média anual é de 28ºC. Possui Clima Tropical e chuvoso de Savana

(TERESINA, 2005).

No bairro Poti Velho, zona norte da cidade, a maioria das pessoas vive do

artesanato da cerâmica, madeira e da pesca. Possui uma população 4.208 habitantes

(TERESINA, 2000), localizando-se entre as coordenadas 05° 02‘ 09‘‘S e 42° 50‘ 02‘‘O e 05°

02‘ 03‘‘S e 42° 49‘ 43‖O. Limita-se ao norte pelo rio Poti; ao sul pelo bairro Mafrense; a

oeste pelo bairro Olarias e a leste pelo bairro Alto Alegre (Figura 1).

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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...

Alexandre Nojoza Amorim

Figura 1: Localização do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. Fonte: Elaborado pelo autor através do

Software GPS Trackmaker© para windows (software livre), versão 13.2 de Odilon Ferreira Junior, Belo Horizonte

(MG), 1998-2007.

Entre os habitantes que compõem a comunidade pesqueira do Poti Velho, circula

um conhecimento acumulado e construído durante anos e que lhes propiciam uma estreita

convivência com a natureza, fazendo uso do que ela pode oferecer.

Os dados foram coletados de fevereiro de 2008 a dezembro de 2009, por meio de

entrevistas semiestruturadas (BERNARD, 1988) e observação direta com o universo amostral

composto por duas famílias de pescadores artesanais, cujos informantes têm idades variando

entre 24 e 82 anos (BARBETTA, 2006), que constroem ou reparam canoas na comunidade de

pescadores artesanais do Poti Velho, Teresina/PI. As informações foram obtidas com o uso da

técnica de bola-de-neve (BAILEY, 1982) que consiste na indicação de novos informantes a

partir de cada entrevista. Posteriormente, estas foram transcritas em laboratório em conjunto

com os dados referentes às conversas informais, registradas no diário de campo. Foi realizado

registro fotográfico das canoas, materiais e equipamentos empregados na carpintaria naval. As

espécies botânicas e os peixes foram listados e identificados por comparação da morfologia e

por especialistas. O universo amostral para listagem de artes e modos de pesca perfez um total

de 82 pescadores, com os quais também foram realizadas entrevistas semiestruturadas

(BERNARD, 1988).

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RESULTADOS

Artes e Modos de Pesca

Os pescadores artesanais do bairro Poti Velho utilizam na atividade pesqueira

cinco tipos de artefatos: engancho (redes de espera), tarrafa, anzol, curral e garrafa,

conhecimento tradicionalmente repassado de geração a geração.

O uso de redes é responsável por 91% da pesca na foz do rio Poti, nos tipos

engancho (54%) e tarrafa (37%) (Figura 2). As redes são confeccionadas atualmente com fios

de nylon de diferentes espessuras, porém, no passado, eram tecidas com fios de palha de

tucum (Astrocaryum vulgare Mart.).

Figura 2: Artes de pesca utilizados na pesca artesanal no bairro Poti Velho,

Teresina, Piauí, Brasil. (2009-2010).

O engancho é uma rede de espera, retangular, que pode chegar a 300 metros de

comprimento. A rede é aberta (armada) em locais rasos das margens dos rios ou, quando o

intuito é capturar peixes maiores, ela pode ser distribuída transversalmente ao curso do rio.

Possui bóias de isopor em um dos lados e no outro, pesos de chumbo que permitem sua total

abertura e disposição verticalmente quando submersa (Figura 3).

54

37

4 3 2

0

20

40

60

80

100

Engancho Tarrafa Anzol Curral Garrafa

Va

lore

s em

%

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Figura 3: Representação gráfica de um engancho utilizado na pesca artesanal no bairro

Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. (2009-2010).

Já a tarrafa, é um tipo de rede em forma de cone, cuja conformação pode ser

dividida basicamente em três partes: o castelo, o pano e o saco. O castelo é a extremidade

superior, onde é fixada uma corda para o posterior arrasto; o pano é a malha que compõe o

―corpo‖ da rede; o saco é a extremidade inferior, onde se fixam as peças de chumbo para fazer

a rede afundar (Figura 4). São arremessadas sobre o cardume, direto da canoa ou da margem.

As tarrafas são aremessadas prendendo-se a extremidade da corda nos dentes, segurando-se o

pano e abrindo saco para que, ao cair, a rede já esteja aberta no aremesso. Após o lançamento,

é só esperar alguns minutos e recolher vagarosamente a rede, embarcando-a ao mesmo tempo

em que são desenganchados os pescados.

Figura 4: Representação gráfica de uma tarrafa, identificando suas partes.

Fonte: Elaboração própria.

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Uma modalidade específica do uso de tarrafas é a pesca de parelha, que acontece

quando seis ou oito canoas perfilam-se no leito do rio, formando duas fileiras de três ou

quatro canoas. Cada embarcação possui dois tripulantes e são guiadas pelo pescador mais

experiente. O alinhamento das canoas é direcionado no sentido de seguir o cardume até que

este se posicione entre as canoas. Ao sinal do pescador-guia, todas as tarrafas são

arremessadas no espaço entre as embarcações, diretamente sobre o cardume. É uma estratégia

que rende grande quantidade de peixes a todos os que dela participam.

O anzol é uma peça de aço na qual é amarrada a uma linha, cuja outra

extremidade é amarrada a uma vara de bambu (Bambusa sp). No anzol é presa outra peça de

chumbo para facilitar que afunde. A pesca com anzol é dita esportiva, pois com ela são

capturados poucos peixes. Esta pode ser realizada a partir da canoa ou nas margens do rio

(Figura 5).

Figura 5: Respresentação gráfica da pesca com anzol e

vara de bambu, nas margens do rio Poti, no bairro Poti

Velho, Teresina, Piauí, Brasil. (2009-2010).

O curral é feito com tabocas secas (Bambusa sp), encontradas às margens dos rios

Parnaíba e Poti, e amarradas com palhas de tucum (Astrocaryum vulgare Mart.) ou fios

plásticos. O trançado permite a regulagem da abertura do artefato que permite capturar peixes

de vários tamanhos (Figura 6).

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Figura 6: Representação gráfica de um curral utilizado na

pesca artesanal no bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil.

(2009-2010).

A captura de peixes com uso de garrafas adaptou-se à evolução e disponibilidade

dos recursos, quando antes se realizava com garrafas de vidro e hoje, acontece com o uso de

garrafas de plástico descartáveis de politereftalato de etileno (tipo PET). Tais garrafas são

reutilizadas para capturar peixes pequenos, utilizados principalmente na alimentação, podendo

também servir de isca para peixes maiores. Utilizam farinha de mandioca ou côco ralado

como isca que são colocados dentro da garrafa. Abre-se um orifício em uma das extremidades

da garrafa e mergulha-se a mesma por alguns minutos. Quando retirada, traz em seu interior

uma grande quantidade de pequenos peixes, também conhecidas como piaba-reis (Astyanax

bimaculatus Linnaeus, 1758).

Após a pesca, acontece a Salgadeira, processo que consiste no trato (retirada das

vísceras) e salga dos pescados e a distribuição dos mesmos no cambo. Este é confeccionado

com palha do tucum, no qual os peixes são amarrados, formando um cacho, para

posteriormente serem vendidos. O pescado pode ser destinado para consumo familiar ou

comercializados, sendo vendidos na rua ou para restaurantes e pousadas.

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Aspectos Ecológicos da Pesca

O melhor horário para pescar foi determinado pelos pescadores artesanais como

sendo à noite, período de 18h a 0h, com 36% das citações; 22% preferem pescar à tarde (12h

às 18h), 20% de madrugada (0h às 6h) e 19% pela manhã (6h às 12h). Outros disseram não ter

preferência de horário, sendo indiferente o turno para o resultado da pescaria, portanto, a

realizam em qualquer horário (3%) (Figura 7).

Figura 7: Horários preferenciais para a realização das pescarias de acordo com os

pescadores artesanais do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. (2009-2010).

Todos os pescadores entrevistados afirmaram conhecer o período da piracema.

Com relação aos meses preferenciais para realização da pesca, 24% dos entrevistados citaram

o mês de junho, 18% o mês de maio e 16% o mês de julho, sendo esta época a de pesca mais

abundante (Figura 8). Detectou-se que o melhor período se concentra entre maio e agosto, se

estendendo até 15 de novembro, quando se inicia o período da piracema que termina no dia 16

de março subsequente. A piracema é a temporada em que os peixes nadam para as nascentes

dos rios em busca de melhores condições para a reprodução, sendo proibida a pesca com

redes.

19 22

36

20

3

0

20

40

60

80

100

Manhã Tarde Noite Madrugada Toda hora

Va

lore

s em

%

Turnos

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Figura 8: Período (meses do ano) preferenciais para a pesca artesanal no bairro Poti Velho, Teresina, Piauí,

Brasil. (2009-2010).

A influência da Lua na pesca foi relatada por 74% dos pescadores, enquanto que

26% afirmaram não haver influência. Segundo eles, quando à noite, a Lua está clara, ou seja,

na fase de Lua Cheia, os peixes conseguem enxergar melhor, pois identificam onde estão as

redes. Assim, conseguem escapar dos anzóis e demais artefatos de pesca.

Os pescadores artesanais também foram indagados sobre a ocorrência dos peixes e

a facilidade em encontrá-los, permitindo inferir sobre a densidade e distribuição das espécies.

Segundo os pescadores, branquinha-do-oião (Curimata macrops Eigenmann & Eigenmann,

1889) e branquinha-do-oin (Psectogaster rhomboide Einmann & Einmann,1889) são os peixes

mais fáceis de serem pescados, ocorrendo na foz do rio Poti durante todo o ano (41% das

citações). A espécie Prochilodus lacustris (Steindachner, 1907), o curimatá, foi citado como

outro peixe com grande distribuição no Poti (30%).

A Construção e Reparo de Canoas

No Poti, a construção de canoas é uma atividade que é desenvolvida apenas por

duas famílias, sendo o conhecimento tradicional, transferido dentro do núcleo familiar, apesar

de também ser permitido que outros interessados da comunidade participem acessoriamente.

Os informantes-chave desta pesquisa foram o Sr. Celso Rios de 82 anos, que é ex-

pescador e hoje aposentado, repassou ao seu filho, Celso Rios Filho (―Seu Cessé‖) de 42 anos,

vigilante de escola pública que se autodenomina carpinteiro naval, como construir as

embarcações que são utilizadas na pesca artesanal no Poti Velho. ―Seu Cessé‖ é assessorado

imediatamente pelo sobrinho, Daniel Costa, de 24 anos, estudante. Outros integrantes da

1 1 2 3

17 23

16 10 9 8 5 2 3

0

20

40

60

80

100

J F M A M J J A S O N D ANO

TODO

Valo

res

em %

Meses

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comunidade, em número de três, também ajudam na construção das canoas do Poti. Outro

construtor de canoas é o Sr. José Santana de Vasconcelos, 40 anos, casado e também artesão.

O primeiro fabrica e repara embarcações comercialmente, já o segundo as constrói para uso

próprio.

Segundo as informações coletadas, as embarcações podem ser divididas em sete

partes, considerando-se a madeira de que é feita e o posicionamento na embarcação: o piloto,

que corresponde à proa, a popa, o casco, as cavernas, os bancos, os dormentes e os remos.

As canoas do Poti podem se apresentar de dois tipos, distinguíveis apenas pelo

comprimento e largura, pois o desenho e materiais para confecção das embarcações são os

mesmos nos dois tipos. O primeiro tem cinco metros de comprimento e o segundo, seis

metros.

O primeiro tipo, mais comum, é caracterizado por canoas relativamente estreitas,

com 70 cm de boca, que corresponde à distância entre as extremidades laterais das bordas.

Possuem 5m de comprimento, por 88 cm de largura (distância de um lado ao outro do casco,

passando por baixo do mesmo) e 27 cm de altura (distância tangente à borda lateral

perpendicular ao plano do fundo). São canoas sem quilha, com fundo chato e popa baixa

(Figuras 9 e 11a e b).

Figura 9: Canoa de cinco metros utilizada pelos pescadores artesanais

do bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil.

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As cavernas dão curvatura ao casco e a forma geral da canoa, cujo conjunto

agrupado forma o cavername, estrutura muito resistente, construída de pequi e composta por

onze estruturas em forma de ―U‖. Cada estrutura é formada por duas partes, uma direita e

outra esquerda. Entre a tábua central do fundo da canoa e cada caverna, há um orifício que

permite que, quando há água dentro da canoa, que esta escorra para o ponto mais ao fundo, e

facilite seu escoamento. Este é feito pelo pescador utilizando-se de um vasilhame. A água que

acumula geralmente é proveniente do ato de embarque dos recém-pescados.

As canoas têm capacidade para dois pescadores e são impulsionadas por remos,

esculpidos em peça única de madeira. Além da tripulação, levam artefatos de pesca e um

depósito de isopor com gelo, que costumeiramente ocupa um dos bancos da embarcação,

sendo necessário para a conservação do pescado. A canoa geralmente possui três bancos que

são dispostos um no piloto (proa), outro no meio do barco e outro na popa da embarcação.

Outro tipo de canoa é dimensionada para o uso de motores de popa. São motores

de pequeno porte e potência. Esta canoa é mais larga e comprida, com 1 m de boca e 6 m de

comprimento. Apresentam cavername em número de treze e quatro bancos: um no piloto e

outro na popa, com outros dois equidistantes dos demais, no meio da canoa (Figura 10).

Figura 10: Canoa de seis metros utilizada pelos pescadores artesanais do

bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil.

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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...

Alexandre Nojoza Amorim

Para a construção, são utilizadas ferramentas como: serra circular fixa, serra de

curva (Apêndice, Figura 11c), furadeira e lixadeira elétricas. O carpinteiro naval possui um

tipo de régua criada por ele com a qual consegue determinar todas as medidas da canoa

(Apêndice, Figura 11d). Os ―moldes‖ dão a ―forma‖ da canoa e a curvatura do casco, dando

às canoas sempre a mesma configuração. Tudo é medido e marcado a lápis, e todas as partes

são fixadas por pregos de aço de 12 cm.

A matéria-prima da confecção e reparo das canoas é composta por quatro espécies

vegetais: o Pequi (Caryocar coriaceum Wittm.), o Pau-d‘arco (Tabebuia spp.), o Cedro

(Cedrella odorata L.) e a Embiratanha (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin).

Segundo os informantes, há cerca de vinte anos tais plantas eram retiradas das florestas

próximas à comunidade. Todavia, com a ocupação humana da região e o processo de

urbanização, as espécies tornaram-se mais difíceis de serem encontradas e a demanda

aumentou proporcionalmente. Assim, hoje, todas as espécies vegetais utilizadas na construção

das canoas do Poti são adquiridas em madeireiras.

Do pequi são feitos o piloto, a popa e as cavernas; as grandes tábuas laterais do

casco e a parte central do fundo são construídas com pau-d‘arco; o restante do casco é

constituído por cedro. Os dormentes, bancos e remos são feitos a partir de madeira mista, que

pode ser madeira de qualquer tipo. A raspa da casca da Embiratanha é utilizada para

preencher os espaços entre as tábuas do casco, como vedação, técnica realizada com o auxílio

de uma talhadeira e martelo. Os dormentes são suportes laterais que se estendem da popa ao

piloto na parte interna da canoa, onde se fixam os bancos. Uma corrente é presa no piloto da

embarcação para propiciar a ancoragem ao porto. A canoa nova custa R$ 600,00 (em 2009) e

podem ser construídas até duas por semana com o trabalho de dois homens.

DISCUSSÃO

Na pesca artesanal no Poti Velho, o uso de tarrafas também foi observado no

estudo de Chaves & Robert (2000) e uso preferencial dessas redes, em Cotrim (2008), sendo o

costume de confeccionar tarrafas a partir da fibra de tucum, uma herança indígena (Cotrim

2008). Essa espécie vegetal foi também citada para o mesmo fim por Costa-Neto & Marques

(2001). O uso de artefatos de pesca como redes de arrasto ou de espera foram citados nos

trabalhos de Netto, Nunes e Albino (2002) e Pinheiro & Joyeux (2007), sendo a linha e redes

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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...

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os mais utilizados em Itacaré (BA), segundo Burda & Schiavetti (2008), e redes de espera,

tarrafa e anzol citados também em Costa-Neto & Marques (2001).

A pesca em conjunto, semelhante à pesca de parelha realizada no Poti Velho, foi

citada por Cotrim (2008) em Tramandaí (RS). Processo semelhante à salgadeira, a Salga, foi

registrado por Cotrim (2008).

Relacionando-se a captura do pescado e o horário preferencial, Pinheiro e Joyeux

(2007) identificaram que ocorre a pesca em horários que dependem do peixe que se quer

pescar.

Na bacia hidrográfica do rio Parnaíba, que também engloba o rio Poti, o período

de proibição da pesca é instituído e regulamentado pela Instrução Normativa Nº 40, de 18 de

outubro de 2005, do Ministério do Meio Ambiente. Assim, é possível afirmar que os

pescadores artesanais do bairro Poti Velho respeitam o período da piracema, uma vez que

preferencialmente pescam antes ou após a proibição legal, mais frequente entre os meses de

maio e novembro, o que demonstra o conhecimento sobre a legislação em questão, e que

direta ou indiretamente, os pescadores ajudam no manejo da foz do rio Poti. O recebimento do

seguro por pescadores na época piracema foi relatado por Cotrim (2008).

Influências da Lua na pesca foram relatadas por Pinheiro & Joyeux (2007),

Saldanha (2005) e Costa-Neto & Marques (2001) com a maior facilidade dos peixes em

reconhecerem as redes. Netto, Nunes e Albino (2002) identificaram 25 espécies diferentes de

peixes e listaram aquelas raras e mais frequentes.

No Poti, as canoas de cinco metros, as mais comuns, são mais próximas do tipo

Casquinho, encontrado no litoral Maranhense, que são usadas para navegar nos estuários,

baías e águas rasas (Almeida et al., 2006) e do tipo bateirinhas ou baiteira, que possuem de

3,5 a 5m, propulsão a remo, fundo chato e que atuam sozinhas ou auxiliam as embarcações

motorizadas quando da pesca nos estuários, também encontradas em Mota & Ruffino (1997),

ou são transportadas como salva-vidas de embarcações do tipo baleeira, na pesca em

plataforma (Chaves & Robert, 2003; Nishida, Nordi e Alves, 2008). Embarcações de 4 a 6m

de comprimento também foram observadas por Batista (2002) em Parintins (AM).

A utilização particular de espécies na construção de canoas também foi verificada

nos estudos de Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), com o uso da Saputiquiaba (Sideroxylon

obtusifolium (Roem. & Schult.) TD Penn.) por pescadores da Reserva Extrativista Marinha de

Arraial do Cabo (RJ), por apresentar características de resistência. Adrião (2003), em estudo

no bairro Salinópolis (PA), identificou espécies como Sucupira (Bowdichia virgilioides

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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...

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Kunth), Maçaranduba (Manilkara sp), Louro (Ocotea gardneri (Meisn.) Mez), Jatobá

(Hymenaea sp) e palha de coco (Cocus nucifera L.) na construção e reparo de canoas; Araújo

(2007) identificou 38 citações de madeiras diferentes para este fim, Begossi et al. (1993)

registraram o uso de 13 espécies diferentes na ilha de Búzios (RJ), e Rossato et al. (1999), o

uso de 11 espécies, na ilha da Vitória (SP).

O gênero Cedrela, representado pelos cedros, destacam-se no uso para construção

de canoas entre os caiçaras e outros povos, como os índios Miskitu e Garífuna, da costa

atlântica da Nicarágua que utilizam C. odorata (Coe & Anderson, 1996; Coe & Anderson,

1999) e os índios Maijuna, da Amazônia Peruana que preferem a planta para a confecção de

suas canoas (Gilmore et al. 2002).

O casco é recoberto (calafetagem) por breu asfáltico e a canoa é pintada com tinta

a óleo, concluindo a impermeabilização diferente da calafetagem que fazem os pescadores da

Paraíba, que utilizam uma liga de cal e óleo de mamona (óleo de rícino), extraído das

sementes da carrapateira (Ricinus communis L.) (Nishida, Nordi e Alves, 2008). Pinheiro

(2005) destaca o uso do estopeiro ou Jequitibá-rosa (Cariniana legalis (Mart.) Kuntze) cujas

fibras do caule são usadas para vedação das canoas por populações da Baixada Maranhense

(Penalva-MA). Uso análogo foi citado por Adrião (2003) com palha de coco (Cocus nucifera

L.).

De acordo com Nishida, Nordi e Alves (2008), na construção de canoas

paraibanas, são utilizadas madeiras de melhor qualidade, coincidindo com o caso do Poti

Velho em relação ao uso de pau-d‘arco (Tabebuia sp), mas diferindo no uso como do louro

vermelho e sucupira (Bowdichia sp) que são utilizadas no costado. Quanto às espécies

consideradas menos nobres, utilizam a jaqueira (Artocarpus sp), cajueiro (Anacardium

occidentale L.) e mangue manso para o cavername, diferindo do cavername das canoas do

Poti Velho que utilizam o pequi (Caryocar coriaceum Wittm.)

O pescado pode ser destinado para consumo familiar ou comercializados, sendo

entregue às peixarias, nas associações de pescadores, vendidos na rua ou para restaurantes e

pousadas como também observado em Burda & Schiavetti (2008).

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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...

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CONCLUSÕES

O conhecimento dos pescadores sobre a dinâmica na foz do Poti, do uso de

artefatos de pesca e da construção de canoas é evidenciado pela prática cotidiana que lhes

possibilita uma vivência integrada com os rios Poti e Parnaíba.

Os pescadores reconhecem a influência da Lua na pesca, a dinâmica dos peixes e

o período de proibição da pesca. O período da piracema legalmente instituído é respeitado

pelos pescadores.

A construção e reparo das canoas é uma atividade restrita a poucos indivíduos que

têm perpetuado esta tradição por gerações. Esta é fundamental para permitir a pesca artesanal

na região.

O pescador artesanal do Poti Velho interage com o ambiente fluvial e percebe os

fatores que regem este ecossistema, armazenando um grande número de informações, só

possível para quem vive diariamente da pesca.

AGRADECIMENTOS

Ao Sindicato dos Pescadores e Pescadoras Artesanais de Teresina, Palmeirais no

Estado do Piauí e Parnarama no Estado do Maranhão – SINDIPESCA/THE-PI, nas pessoas

de Dona Magnólia e Sr. Francisco, pela disponibilidade. À Universidade Federal do

Piauí/Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, e ao Serviço Alemão de Intercâmbio

Acadêmico (Deutscher Akademischer Austauschdienst-DAAD), pelo apoio financeiro com

bolsa de pesquisa. À Profa. Dra. Alpina Begossi pela ajuda nas correções deste trabalho.

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Modos, artes de pesca e uso de espécies vegetais na construção de embarcações no Poti Velho...

Alexandre Nojoza Amorim

Figura 11: A. Canoa em reparo. B. Canoa pronta. C. Serra de curva. D. ―Régua‖ com as medidas

utilizadas para construção das canoas.

B A

C D

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7 CONCLUSÕES

De acordo com os dados encontrados na comunidade de pescadores artesanais do

bairro Poti Velho, o conhecimento tradicional sobre o uso de espécies vegetais nos 60 quintais

estudados está concentrado entre as mulheres adultas.

Foram identificadas 82 espécies, dispostas em 44 famílias botânicas, sendo as

mais representativas, em número de espécies, Lamiacaeae (8), Anacardiaceae e

Euphorbiaceae (7), e Rutaceae (6), sendo as espécies com maior número de citações Cocos

nucifera L. e Alpinia nutans Rosc.

A menor quantidade de espécies nativas (35%) em relação às espécies exóticas

(65%) pode ser explicado pelas influências das pressões do modo de vida urbano.

A maioria das espécies vegetais encontradas foram citadas como de usos

medicinal (69,3%) e alimentício (23%), que juntas somaram mais de 92%, permitindo afirmar

que em conjunto, formam uma fitofarmacopéia e contribuem para a alimentação dos

pescadores artesanais.

A pesca na foz do rio Poti acontece de forma artesanal, incluindo na tripulação

amigos e membros da família.

Os pescadores demonstram conhecer os ecossistemas que compõem a foz, no que

se refere à migração dos peixes para desova durante a piracema, momento em que a pesca é

mais tímida, restringindo-se ao uso de anzóis. Admitiram, na grande maioria (74%), que a

Lua interfere na pesca, na medida em que, quando em noite clara (Lua Cheia), os cardumes

conseguem identificar a tentativa de captura e safam-se das redes dos pescadores. Os

pescadores conhecem a dinâmica e abundância dos peixes no rio Poti.

As artes de pesca encontradas no Poti Velho foram: as redes de espera

(enganchos, 54%) e tarrafas (37%), anzol (4%), curral (3%) e captura com garrafas tipo ―pet‖

(2%).

A construção de canoas é uma atividade tradicional realizada por apenas dois

núcleos familiares, sendo utilizadas quatro espécies vegetais: o pequi (Caryocar coriaceum

Wittm.), o pau-d‘arco (Tabebuia spp.), o cedro (Cedrella odorata L.) e a embiratanha

(Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin), sendo de grande importância pelo papel

da canoa na pesca com redes.

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Conhecem como principal lenda a do cabeça-de-cuia e têm o costume de buscar

em rezadores a cura para diversos males. A importância cultural do bairro Poti Velho está

relacionada ao artesanato e à história que originou o núcleo habitacional que, posteriormente,

veio formar a capital do Piauí.

Os pescadores artesanais vivem de forma integrada ao rio Poti, mantendo grande

conhecimento entobiológico e etnoecológico dialógico e tradicional. Devem ser registrados

para que não sublimem diante das pressões da vida urbana, como também, efetivamente

considerados diante da necessidade de conservação dos recursos naturais, caracterizando,

assim, cada pescador como um co-gestor do rio Poti.

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APÊNDICES

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102

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista semiestruturada

I. IDENTIFICAÇÃO

Entrevista Nº

Data da Entrevista: Etnia:

Nome do Entrevistado:

Idade: Estado Civil: Ο Solteiro Ο Casado Ο Divorciado Ο Viúvo

Quantidade de filhos: Escolaridade: Ο AN Ο EF Ο EM

Ο ESI Ο ESC Ο PG

Endereço:

II. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS

PROFISSIONAL

Profissão: Renda mensal (R$):

Atividade secundária: Renda secundária (R$):

Pesca há quanto tempo? Recebe benefícios do governo?

Ο Sim Ο Não

(Ligado à Pesca) Qual? Quanto? (R$)

(NÃO ligado) Qual? Quanto? (R$)

Participa de alguma

associação ou cooperativa?

Ο Sim

Ο Não Qual?

Ο Sindicato dos Pescadores do Poti Velho

Recolhe INSS? Ο Sim Ο Não Quanto? (R$)

Satisfeito em ser

pescador? Ο Sim Ο Não Porquê?

SANEAMENTO

Destino do lixo: Ο Enterra Ο Deixa a céu aberto Ο Coleta Pública Ο Queima Ο Outros

Abastecimento de água: Ο Encanada Ο Poço Ο Rio Ο Outros

Energia elétrica: Ο Sim Ο Não Fossa séptica: Ο Sim Ο Não

MORADIA

Cobertura da casa: Ο Telha Ο Palha Ο Outros

Paredes: Ο Taipa Ο Tijolo Ο Madeira Ο Outros

Piso: Ο Barro Ο Cimento Ο Cerâmica Ο Outros

PLANTAÇÃO DE CULTURA

PE

RM

. Tipo: Área de cultivo:

Técnica de cultivo: Destino da produção: Ο Consumo Ο Venda

TE

MP

. Tipo: Área de cultivo:

Técnica de cultivo: Destino da produção: Ο Consumo Ο Venda

ATIVIDADE PESQUEIRA

Período de Pesca: Ο Manhã Ο Tarde Ο Noite Ο Madrugada

Meses do ano: Ο JAN Ο FEV Ο MAR Ο ABR Ο MAI Ο JUN

Ο JUL Ο AGO Ο SET Ο OUT Ο NOV Ο DEZ

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103

Período da Piracema:

Influência da maré/lua:

INSTRUMENTOS DE PESCA

Inst

rum

ento

:

Ο Tarrafa

Ο Engancho

Ο Curral

Téc

nic

a:

FREQUÊNCIA DE PEIXES

Peixes mais comuns:

Peixes mais raros:

Outros Pescados:

III. DADOS CULTURAIS

ARTESANATO

Há produção artesanal?

Ο Sim Ο Não Qual matéria prima?

Origem da matéria-prima?

RELIGIÃO

Qual a sua religião? Ο Católico Ο Protestante Ο Culto Afro Ο Ateu Ο Outro

Participa com frequência das atividades religiosas? Ο Sim Ο Não

Utiliza planta ou animal nos rituais? Ο Sim Ο Não

Qual(is)?

FESTAS/FESTEJOS

Qu

al(i

s)?

Ο São Pedro

Ο Nossa Senhora do Amparo Ο Outro

Dat

a:

LENDAS

Ο Cabeça de cuia

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104

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TIPOLOGIA DO QUINTAL

Uso Principal:

Outros usos:

Disposição das

plantas: ( ) herbáceas ( ) Arbustivas ( ) Arbóreas

Separa plantas por uso? ( ) Sim ( ) Não

Disposição dos animais:

O Quintal é organizado? ( ) Sim ( ) Não Dimensões (LxC):

Plantas na frente da casa? ( ) Sim ( ) Não

Esquema do Quintal

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IV.

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APÊNDICE B – Espécies encontradas nos quintais dos pescadores artesanais do bairro

Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. 1. Mimosa caesalpiniifolia Benth.; 2. Citrus limonum

Risso; 3. Lippia alba (Mill.) N.E.Br. 4. Euphorbia tirucalli L.; 5. Jatropha curcas L.; 6.

Hibiscus sabdariffa L.

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APÊNDICE C – Espécies encontradas nos quintais dos pescadores artesanais do bairro

Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. 1. Turnera ulmifolia L.; 2. Bryophylum pinnatum (Lan)

Oken; 3. Tecoma stans Juss.; 4. Vitex agnus-castus L.; 5. Phyllanthus niruri L.; 6. Alpinia

nutans Rosc.

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APÊNDICE D – Entrevista e atividades socioculturais na comunidade de pescadores do

bairro Poti Velho, Teresina, Piauí, Brasil. 1. Entrevista; 2. Reunião na sede do

SINDIPESCA no dia de São Pedro; 3. Platéia de pescadores na reunião do SINDIPESCA; 4.

Fiéis acompanhando a procissão fluvial da ponte que liga o Poti Velho à margem direita do

rio Poti; 5. Procissão fluvial de São Pedro; 6. Procissão por terra, no cais do restaurante

―Pesqueirinho‖.

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APÊNDICE E – Construção e reparo de canoas no bairro Poti Velho, Teresina, Piauí,

Brasil. 1. Canoa recém-construída; 2. Canoa para restauração; 3. Canoa sendo restaurada; 4.

Corte do pequi (Caryocar coriaceum Wittm.) para compor o cavername da embarcação; 5.

―Régua‖ criada e utilizada para esquadrinhar as peças que comporão a canoa; 6. Três gerações

de construtores de canoas do Poti Velho. À esquerda, Sr. Celso, acima, Daniel Ramos e à

direita, Sr. Cessé.

1 2

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APÊNDICE F - Artesanato criado pelos pescadores artesanais do bairro Poti Velho,

Teresina, Piauí, Brasil. 1. e 2. Fruteiras; 3. a 5. Vasos decorativos (cestos e vasos feitos com

bambu – Bambusa sp – e com cipó). 6. Matéria-prima para confecção dos vasos e utensílios

(Bambusa sp).

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APÊNDICE G – Artes de pesca utilizadas pelos pescadores artesanais do bairro Poti

Velho, Teresina, Piauí, Brasil. 1. Tarrafa; 2. Engancho; 3. Curral; 4. Pescadora tecendo um

engancho. 5. Tabuleta utilizada para determinar o tamanho da malha da rede. 6. Linha com

agulha.

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3 4

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ANEXOS

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ANEXO A – Normas da Economic Botany

Economic Botany

Greetings Economic Botany authors,

For some years, SEB has used a manuscript submission system called FASTrac. Recently, the

New York Botanical Garden (which publishes the journal) arranged a co-publication

agreement with Springer, a large international publishing company. As a result we are moving

our journal submission and review system to their integrated online system, Editorial

Manager. While the system is rather complicated, we believe that, once we get used to it, it

will substantially increase our efficiency in dealing with papers, and will decrease the time it

takes to come to a decision about papers.

To begin a manuscript submission visit the Editorial Manager system. If you have any

difficulties with the system, please feel free to contact the Editor by e-mail for assistance at

[email protected].

With best regards

Dan Moerman

Editor-in-Chief

Economic Botany

About the Journal ECONOMIC BOTANY

Economic Botany is a quarterly, peer-reviewed journal of the Society for Economic

Botany which publishes original research articles and notes on a wide range of topics

dealing with the utilization of plants by people, plus special reports, letters and book

reviews. Economic Botany specializes in scientific articles on the botany, history, and

evolution of useful plants and their modes of use. Papers including particularly complex

technical issues should be addressed to the general reader who probably will not understand

the details of some contemporary techniques. Clear language is absolutely essential.

Limitations: Primarily agronomic, anatomical or horticultural papers and those concerned

mainly with analytical data on the chemical constituents of plants should be submitted

elsewhere. Papers addressing issues of molecular or phylogenetic systematics are acceptable

if they test hypotheses which are associated with useful plant characteristics. These studies are

also appropriate if they can reveal something of the historical interaction of human beings and

plants. Papers devoted primarily to testing existing taxonomies even of plants with significant

human use are generally not appropriate for Economic Botany.

Likewise, papers which are essentially lists of plants utilized somewhere in the world are

ordinarily not accepted for publication. They may be publishable if this is the first description

of their use in a particular culture or region, but this uniqueness must be specified and

characterized in the paper. Even in such a special case, however, such a descriptive paper will

require an analysis of the context of use of plants. How is plant use similar to or different

from that of other cultures? Why is a particular species or group of species used? Is there a

difference in use patterns between native and introduced species? Etc. Note that it is not a

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sufficient analysis to say that botanical knowledge is being lost. And it is not necessary to

explain to this audience that "plant use is important."

Categories of Manuscripts

Special Reports: Manuscripts submitted for publication under this category should be of

broad interest to the Economic Botany community, and be written in plain, non-technical

language. Authors wishing to contribute a "feature article" to our journal should contact the

editor directly.

Research Articles: Manuscripts intended for publication in this category should address the

cultural as well as the botanical aspects of plant utilization. Articles that deal in whole or part

with the social, ecological, geographical or historical aspects of plant usage are preferable to

ones that simply list species identifications and economic uses. Papers dealing with the

theoretical aspects of ethnobotany and/or the evolution and domestication of crop plants are

also welcome. We most strongly support articles which state clear hypotheses, test them

rigorously, then report and evaluate the significance of the results. Although in the past it is

true that more descriptive papers were dominant in the journal, this is no longer the case.

Simply describing the use of some plant(s) usage by some people somewhere will ordinarily

not be acceptable for Economic Botany any more. Research articles should not exceed 20

manuscript pages, including text (double-spaced and in 12 point font), figures, and tables.

There is a very strong preference for shorter over longer papers. The format and style of the

submitted manuscript should generally conform to the papers published in the most recent

issues of Economic Botany. A style guide is available, but its detail is only necessary for

papers in final revisions before publication.

Review Articles. In the past, Review Articles about broad and important topics have been a

staple of Economic Botany. Review articles have addressed the domestication of corn,

coconuts in the new world, pollen as food and medicine, and many other topics. We believe

there is a place for significant reviews in Economic Botany, but with modest frequency. We

do not anticipate more that 2 or 3 reviews per year. Authors interested in writing a review can

contact the editor in advance to see if the topic is deemed appropriate.

What we are looking for are reviews that are highly synthetic and draw on current and

foundational literature to address points that are novel and interesting. Our general standard is

to publish reviews that would be of sufficient quality to appear in one of the Annual Review

journals, such as Annual Review of Anthropology or Annual Review of Ecology and

Systematics. Since there is not an Annual Review of Economic Botany, we seek to fill this

niche. Reviews that do not meet these criteria and are more of a summation of existing

literature will not be published.

Notes on Economic Plants: This section of the journal is intended for the publication of short

papers that deal with a variety of technical topics, including the anatomy, archaeology,

biochemistry, conservation, ethnobotany, genetics, molecular biology, physiology or

systematics of useful plants. A manuscript should concern one species or a small group of

species related by taxonomy or by use. Illustrations, if any, should be designed to occupy no

more than one printed journal page. Papers intended for publication as a Note on Economic

Plants should not exceed 8 to 10 double-spaced manuscript pages, including tables and

figures. Contributions should be modeled after recently published notes in Economic Botany.

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The format of Notes has recently changed so use as a model only Notes from volumes 62 and

after.

Book Reviews: Those wishing to contribute to this category should contact our book review

editor, Daniel F. Austin. Instructions for contributors and a list of books needing reviewers is

available on the SEB web site.

Letters: Comments concerning material published in Economic Botany or statements

regarding issues of general interest should be submitted directly to Daniel E. Moerman, Editor

in Chief.

Form of Manuscripts

Some matters of style: The journal has a very broad readership, from many countries, and

many specialties, from students to the most senior scholars. This is part of the reason that

clear and transparent writing is considered very important. Acronyms are discouraged; if they

are standard in a particular specialty field, and if there are more than a few of them, authors

should include a glossary of them in a small sidebar. The Abstract in Research Papers is, in

many ways, the most important part of the paper. It will probably have many more readers

than any of the rest of the article. It should summarize the entire argument, and it should have

one or two eminently quotable sentences which other scholars may use to summarize

economically, in the authors' own words, the fundamental findings of the research reported. In

"Notes," which don't have abstracts per se, the first sentence, or the first paragraph, should

serve in place of an abstract, and should have the same kind of quotable sentence or two

which will allow subsequent scholars to use the authors' own words to state their own case.

Papers which do not have such quotable sentences will require revision. In general, the

Abstract, or the first paragraph of a note, is the hardest part to write. Write it with great care

and attention.

It is often the case that authors use more references than is needed. On occasion, the

Literature Cited section of papers is longer than the paper itself. Although there are cases

where this may be appropriate (papers dealing with the history of the taxonomy of some plant

or group of plants, for example) ordinarily excessive citation should be avoided. The function

of references is to facilitate the reader's understanding of the key elements of the paper by

allowing them to follow up on important or unusual methods, studies or findings which are

central to the current paper's arguments. One need not cite any authorities for statements of

common knowledge to the readership, like the location of Missouri, the color of the sky, or

the function of chlorophyll. It is usually unnecessary to cite unpublished reports or

dissertations which readers are unlikely to be able to obtain. Although not always necessary or

desirable, it is often very efficient to organize an article with four classic parts, an

Introduction which states the problem to be addressed, the Methods used to address the

problem, the Results of applying those methods to the requisite data, and a series of

Conclusions which reflect on the outcome of the study, assessing its importance and interest,

and, perhaps, suggesting future avenues of research.

Generally, submissions to the journal are too long. They often ramble on for pages without

getting to the key issues. When such papers are published as presented, they are wasteful of

Society resources, and of the limited time that subscribers have to devote to reading the work

of others. They also deny to other Society members access to the limited number of pages

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which can be published in a year. Shakespeare wrote "Brevity is the soul of wit," or in this

case, of good science. Notice that the journal Nature restricts "articles" to 5 journal pages,

approximately 3000 words, no more than 50 references, and 5 or 6 small figures or tables.

"Letters to Nature" which comprise the bulk of the journal are limited to 4 pages,

approximately 2000 words, a maximum of 30 references, and 2 or 3 small figures or tables.

We need not be quite that strict, but a shorter paper will always be preferred to a longer one of

similar quality.

Style guide: For most matters of style, see a current issue of the journal. Manuscripts are

different from published papers, of course, and should have the following characteristics.

Papers should be double spaced everywhere. Use a common font (Times Roman is good), set

at 12 points in size. Number the pages in the upper right hand corner. Number the lines in the

manuscript consecutively (in Word, click on File| PageSetup| Layout| LineNumbers|

AddLineNumbering| Continuous| OK). Put all Figure Captions together on the last page of the

manuscript. On the first page, include a "short title" of the form "Smith and Jones:

Athabaskan Ethnobotany" with a maximum of 50 characters; also indicate on the total number

of words in the manuscript.

Carefully indicate up to 3 levels of headings and subheadings. The easiest way to guarantee

that your headings will be recognized correctly is to mark them <H1>, <H2> or <H3>, like

this:

<H1>Methods

Do not justify the right margin. Do not submit the paper in two columns.

Figures can be included in the manuscript in small, or low resolution, formats for review.

When a paper is accepted, high resolution images must be provided; photographs must be at

least 300 pixels per inch (ppi) at the size they are to be reproduced, while line drawings

(maps, charts) must be at least 600 ppi, and preferably 900. High quality color photographs

for the cover are always welcome.

If you include any equations more complicated than x = a + b, please use the Equation Editor.

Put each equation on a separate line.

Submit the paper through Editorial Manager; please do not submit the paper in Adobe PDF

format.

General Matters: Publication in the journal is open to current members of the Society. If a

paper has two or more authors, the author submitting the manuscript for review is expected to

hold a current SEB membership. Membership forms are available online. All papers should

be submitted via the Editorial Manager system unless the editor specifically agrees to

another plan. Authors not fluent in English should have their paper thoroughly edited by a

native speaker of English who is familiar with the scientific issues addressed in the paper.

Page Charges: The primary author will be requested to pay a per page charge upon

acceptance of their manuscript; students, and those from third world countries are excused

from this responsibility. Others for whom it is a serious burden should request a waiver from

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the editor in chief. Color can also be used in the journal but at an additional cost to the author;

contact the editor for details on these matters.

Peer Review: All articles published in Economic Botany receive peer review. Most Research

Articles are ordinarily assigned to an Associate Editor who obtains two reviews of the paper

(perhaps writing one him- or herself). The Editor in Chief (EC) sometime solicits additional

reviews by specialists he knows to be concerned about the subject of a submission. Some

papers may receive 3 or 4 reviews. Notes are usually reviewed by the EC and one other

reviewer, although occasionally they receive more reviews. The EC uses these reviews to

guide his decision about the article - to accept as is, to accept with minor revision, to accept

with major revision and subsequent review, or to reject the paper. Some papers are rejected

without review following a close reading by the EC when he decides they are outside the

scope of the journal's subject matter, or if they are simply unacceptable for other reasons.

In recent times the journal has been receiving many more articles than it can publish. It is

currently receiving articles at a rate of approximately 130 to 140 per year; it can publish about

40 articles per year. Given this, it is of the very highest priority of the EC and the Associate

Editors to make editorial decisions as quickly as possible so rejected articles can be submitted

elsewhere; many rejected articles are perfectly acceptable pieces of work which are rejected

only because they are not of the broadest level of interest, or because other similar pieces of

work have been published in the recent past. It is our goal to publish the highest quality

papers of the broadest general interest in the shortest time possible, and, in particular, when

we must reject a paper, we attempt to do so as quickly as possible in the context of a careful

and deliberate review.

The New York Botanical Garden Press

Library of Congress Catalog Card Number 50-31790 (ISSN 0013-0001) Printed By CADMUS Professional Communications, Lancaster, Pennsylvania

For permission to electronically scan individual articles of Economic Botany

please visit the editorial office and contact the Editor-in-Chief.

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ANEXO B – Normas do Brazilian Journal of Biology

Brazilian Journal of Biology

ISSN 0034-7108 versão impressa

ISSN 1806-9606 versão online

INSTRUÇÕES AOS AUTORES

Finalidade e normas gerais

Preparação de originais

Finalidade e normas gerais

A Revista Brasileira de Biologia publica resultados de pesquisa original em qualquer ramo

das ciências biológicas. Estará sendo estimulada a publicação de trabalhos nas áreas de

biologia celular, sistemática, ecologia (auto-ecologia e sinecologia) e biologia evolutiva, e

que abordem problemas da região neotropical.

A Revista publica somente artigos em inglês. Artigos de revisões de temas gerais também

serão publicados desde que previamente propostos e aprovados pela Comissão Editorial.

Informações Gerais: Os originais deverão ser enviados à Comissão Editorial e estar de

acordo com as Instruções aos Autores, trabalhos que não se enquadrem nesses moldes serão

imediatamente devolvidos ao(s) autor(es) para reformulação.

Os trabalhos que estejam de acordo com as Instruções aos Autores, serão enviados aos

assessores científicos, indicados pela Comissão Editorial. Em cada caso, o parecer será

transmitido anonimamente aos autores. Em caso de recomendação desfavorável por parte de

um assessor, será usualmente pedida a opinião de um outro. Os trabalhos serão publicados na

ordem de aceitação pela Comissão Editorial, e não de seu recebimento. Serão fornecidas

gratuitamente 25 separatas de cada artigo.

Preparação de originais

O trabalho a ser considerado para publicação deve obedecer às seguintes recomendações

gerais:

Ser digitado e impresso em um só lado do papel tipo A4 e em espaço duplo com uma

margem de 3 cm à esquerda e 2 cm à direita, sem preocupação de que as linhas terminem

alinhadas e sem dividir palavras no final da linha. Palavras a serem impressas em itálico

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podem ser sublinhadas.

O título deve dar uma idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível. Um título

abreviado deve ser fornecido para impressão nas cabeças de página.

Nomes dos autores – As indicações Júnior, Filho, Neto, Sobrinho etc. devem ser sempre

antecedidas por um hífen. Exemplo: J. Pereira-Neto. Usar também hífen para nomes

compostos (exemplos: C. Azevedo-Ramos, M. L. López-Rulf). Os nomes dos autores devem

constar sempre na sua ordem correta, sem inversões. Não usar, nunca, como autor ou co-

autor nomes como Pereira-Neto J. Usar e, y, and, et em vez de & para ligar o último co-autor

aos antecedentes.

Os trabalhos devem ser redigidos de forma concisa, com a exatidão e a clareza necessárias

para sua fiel compreensão. Sua redação deve ser definitiva a fim de evitar modificações nas

provas de impressão, muito onerosas e cujo pagamento ficará sempre a cargo do autor. Os

trabalhos (incluindo ilustração e tabelas) devem ser submetidos em triplicata (original e duas

cópias).

Serão considerados para publicação apenas os artigos redigidos em inglês. Todos os trabalhos

deverão ter resumos em inglês e português. Esses resumos deverão constar no início do

trabalho e iniciar com o título traduzido para o idioma correspondente. O Abstract e o

Resumo devem conter as mesmas informações e sempre sumariar resultados e conclusões.

Em linhas gerais, as diferentes partes dos artigos devem ter a seguinte seriação:

1a página – Título do trabalho. Nome(s) do(s) autor(es). Instituição ou instituições, com

endereço. Indicação do número de figuras existentes no trabalho. Palavras-chave em

português e inglês (no máximo 5). Título abreviado para cabeça das páginas. Rodapé: nome

do autor correspondente e endereço atual (se for o caso).

2a página e seguintes – Abstract (sem título). Resumo: em português (com título);

Introduction, Material and Methods, Results, Discussion, Acknowledgements.

Em separado – References, Legends to the figures, Tables and Figures.

O trabalho deverá ter, no máximo, 25 páginas, incluindo tabelas e figuras.

A seriação dos itens de Introduction e Acknowledgements só se aplica, obviamente, a

trabalhos capazes de adotá-la. Os demais artigos (como os de Sistemática) devem ser

redigidos de acordo com critérios geralmente aceitos na área.

Referências Bibliográficas – No texto, será usado o sistema autor–ano para citações

bibliográficas, utilizando-se ampersand (&) no caso de 2 autores. As referências,

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datilografadas em folha separada, devem constar em ordem alfabética. Deverão conter

nome(s) e iniciais do(s) autor(es), ano, título por extenso, nome da revista (abreviado e

sublinhado), volume e primeira e última páginas. Citações de livros e monografias deverão

também incluir a editora e, conforme citação, indicar o capítulo do livro. Deve(m) também

ser referido(s) nome(s) do(s) organizador(es) da coletânea. Exemplos:

OZORIO DE ALMEIDA, M., 1946, Sur les reflexes labyrinthiques chez la grenouille. Rev.

Brasil. Biol., 6: 355-363.

REIS, J., 1980, Microbiologia, pp. 3-31. In: M. G. Ferri & Shozo Motoyama (orgs.), História

das Ciências no Brasil, 2o vol., 468p., EDUSP e EPU, São Paulo.

MROSOVSKY, N. & YNTEMA, C. L., 1981, Temperature dependence of sexual

differentiation in sea turtles: implications for conservation practices. In: K. A. Bjorndal (ed.),

Biology and Conservation of Sea Turtles, Smithson, Inst. Press in Coop. World, Wildlife

Fund. Inc., Washington, D.C.

RIZZINI, C. T., 1979, Tratado de Fitogeografia do Brasil. Aspectos Sociológicos e

Florísticos. HUCITEC, São Paulo, 2 vol., 374p.

KUHLMAN, J. G., OCCHIONI, P. & FALCÃO, J. I. A., 1947, Contribuição ao estudo das

plantas ruderais do Brasil. Arq. Jard. Bot., 7: 43-131.

Para outros pormenores, veja as referências bibliográficas deste fascículo.

A Revista publicará um Índice inteiramente em inglês, para uso das revistas internacionais de

referência.

As provas serão enviadas aos autores para uma revisão final (restrita a erros e composição) e

deverão ser devolvidas imediatamente. As provas que não forem devolvidas no tempo

solicitado – 5 dias – terão sua publicação postergada para uma próxima oportunidade,

dependendo de espaço.

Material Ilustrativo – Os autores deverão limitar as tabelas e as figuras (ambas numeradas

em arábicos) ao estritamente necessário. No texto do manuscrito, o autor indicará os locais

onde elas deverão ser intercaladas.

As tabelas deverão ter seu próprio título e, em rodapé, as demais informações explicativas.

Símbolos e abreviaturas devem ser definidos no texto principal e/ou legendas.

Na preparação do material ilustrativo e das tabelas, deve-se ter em mente o tamanho da

página útil da REVISTA (22 cm x 15,0 cm); (coluna: 7 cm) e a idéia de conservar o sentido

vertical. Desenhos e fotografias exageradamente grandes poderão perder muito em nitidez

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quando forem reduzidos às dimensões da página útil. As pranchas deverão ter no máximo 30

cm de altura por 25 cm de largura e incluir barra(s) de calibração.

As ilustrações devem ser agrupadas, sempre que possível. A Comissão Editorial reserva-se o

direito de dispor esse material do modo mais econômico, sem prejudicar sua apresentação.

Todos os desenhos devem ser feitos à tinta da China e apresentados de tal forma que

seja possível sua reprodução sem retoques. As fotografias devem vir em papel brilhante. Nas

fotos, desenhos e tabelas deve-se escrever, a lápis, no verso, o nome do autor e o título do

trabalho.

Disquete – Os autores são encorajados a enviar a versão final (e somente a final), já aceita,

de seus manuscritos em disquete. Textos devem ser preparados em Word for Windows e

acompanhados de uma cópia idêntica em papel.

Recomendações Finais : Antes de remeter seu trabalho, preparado de acordo com as

instruções anteriores, deve o autor relê-lo cuidadosamente, dando atenção aos seguintes itens:

correção gramatical, correção datilográfica (apenas uma leitura sílaba por sílaba a garantirá),

correspondência entre os trabalhos citados no texto e os referidos na bibliografia,

tabelas e figuras em arábicos, correspondência entre os números de tabelas e figuras citadas

no texto e os referidos em cada um e posição correta das legendas.