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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
FACULDADE DE TURISMO
FLAVIO HENRIQUE SOUZA LOBATO
CONCURSEIROS VIAJANDO PELO BRASIL: UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO?
BELÉM
2016
FLAVIO HENRIQUE SOUZA LOBATO
CONCURSEIROS VIAJANDO PELO BRASIL: UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO?
Trabalho de Conclusão de Curso submetido à apreciação da Faculdade de Turismo, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Pará (UFPA), como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.
Orientadora: Prof.ª Ma. Diana Priscila Sá Alberto
BELÉM
2016
FLAVIO HENRIQUE SOUZA LOBATO
CONCURSEIROS VIAJANDO PELO BRASIL: UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO?
Trabalho de Conclusão de Curso submetido à apreciação da Faculdade de Turismo, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Pará (UFPA), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Turismo. Orientadora: Prof.ª Ma. Diana Priscila Sá Alberto.
Aprovado em: 08/06/2016
Conceito: Excelente
Banca Examinadora:
__________________________________________ Prof.ª Ma. Diana Priscila Sá Alberto (Orientadora) Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) __________________________________________ Prof.ª Dr.ª Helena Doris de Almeida Barbosa Quaresma (Avaliadora interna) Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) __________________________________________ Prof.ª Ma. Cristiane Barroncas Maciel Costa Novo (Avaliadora externa) Escola Superior de Artes e Turismo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA)
À empregada doméstica, à vendedora de roupas e de comidas, à minha mãe,
Maria Olinda de Sousa,
Dedico.
AGRADECIMENTOS
A gratidão, por vezes, me define. É um sentimento que prezo em demasia.
Procuro ser grato sempre por tudo e com todos que me circundam, apoiam, ajudam,
torcem por mim, pelo meu sucesso, pelo meu desenvolvimento, pela minha
felicidade.
Comumente, muitos preferem fazer os agradecimentos no geral, sempre
evitando a dor na consciência posterior de esquecer alguém, sobretudo um alguém
importante. Eu, no entanto, prefiro me ariscar... “Eu trabalho com nomes [rs]”... Na
verdade, não citar as pessoas e não registrar o que elas fizeram por mim é, para
mim, como se eu não estivesse dando o devido agradecimento. É como se eu
estivesse deixando uma dívida em aberto, em meio à relação de reciprocidade (dar,
receber, retribuir). Mas, e se eu esquecer alguém? Bem, de antemão, do fundo do
meu coração, peço desculpas, e digo: essa jamais foi a minha intenção!
Os agradecimentos não serão poucos. Em outras palavras: Vai ter TEXTÃO,
sim!
Sou grato,
A Deus, por sempre me guiar, dar sossego, saúde, paz, calma, sapiência,
sobretudo, nos momentos mais difíceis ao longo de minha trajetória de vida; pela
minha família, pelos(as) amigos(as) e amores; por me permitir alcançar lugares onde
nunca pensei estar. Sou grato pela oportunidade de estudo, por ter ingressado na
Universidade, por eu – um menino que veio das “entranhas” da periferia (Alô,
Jurunas, Pratinha feat Tapanã) – ter conseguido ultrapassar fronteiras, pela
concessão maravilhosa que foi o intercâmbio acadêmico internacional, tendo vivido,
certamente, um dos períodos mais mágicos, incríveis e felizes de toda a minha vida.
À minha mãe, Maria Olinda de Sousa, e ao meu pai, Francisco de Canindé
Miranda Lobato – a empregada doméstica e o açougueiro – pela vida, pelo amor,
carinho e proteção, por me educarem, por fazerem o possível e o impossível para
que eu pudesse correr atrás dos meus, menores e maiores, sonhos, por me
ensinarem que no decorrer dos caminhos trilhados sempre devemos cultivar a
esperança, renovar à fé...
Aos meus irmãos, João Gilmar de Sousa e Leandro de Sousa Lobato, pela
convivência, amizade, amor, fraternidade e pelas brigas também. Obrigado por
cuidarem e me protegerem, confiarem em mim, no meu potencial. Por sempre,
sempre demonstrarem o quanto felizes e orgulhosos ficam com as minhas
conquistas – elas, em verdade, são nossas.
Às minhas tias, Maria de Fátima Moraes, Lucilene da Silva Sousa e Terezinha
Ferreira Reis, e aos meus tios, Janilson da Silva Sousa e Jean Reis, por sempre
estarem por perto, por ajudarem a minha mãe (solteira) na nossa criação e,
sobretudo, nos momentos em que a gente poderia vir a passar fome... Minha
gratidão.
À minha cunhada, Marlene Rocha Alves, pelas inúmeras vezes em que foi paciente
comigo e procurou entender os meus estresses e as minhas oscilações de
temperamento e humor, por juntamente com meu irmão João, ter me concedido a
maravilhosa sensação de ser tio: pelos meus sobrinhos Eloá e Enzo, aos quais
também agradeço, por serem meus verdadeiros parques de diversões, por trazerem
inexplicáveis alegrias e felicidades cotidianas.
À minha melhor amiga-irmã, Jamyle Cristine Abreu Aires, por se fazer presente
nos dias mais felizes e, também, nos mais “bostas” que a vida acadêmica e pessoal
nos proporcionou.
Aos amigos e às amigas, Rafaela Rodrigues, Tácio Wesley, Ana Paula (Paulinha),
Jully, Ingrid (Lora’h), Gabrielly, Meggie, Pollyanna, Gilberto, Marcela (Mah, ha, ha),
Ana Paula Moreira (in memoriam), Douglas Ribeiro (in memoriam), Lucélia,
Alessandra, Erick, Igor Cruz, Kelry, Waléria, Cleide Souza, Beatriz Aviz, por ao longo
da minha vida acadêmica e pessoal me ajudarem, apoiarem, acreditarem em mim e,
muitos deles, fizeram com que eu acreditasse mais em mim, me estimulando,
principalmente, nos momentos em que esbocei desistir.
Aos amigos do intercâmbio, Gustavo, Crisk’a, Felipe, Thiago, Maria Vieira, Luciana
(Luci Indescai) e Kessiatour, que foram a minha família do outro lado do Oceano
Atlântico, meu porto seguro, meus guias em uma terra desconhecida. Sou grato a
todos vocês pelos momentos, pelas experiências compartilhadas, pelas viagens,
pelas “baladinhas”, pelo estudo, pelas dicas de leitura e por me aturarem falando
deste TCC o tempo todo.
Às minhas professoras e aos meus professores, em especial, Tia Dilma, Marcya
Luzia, Guilherme Piedade, Gilberto, Wilma, Márcia Bevone, Helena Doris de Almeida
Barbosa Quaresma, Eduardo Gomes, Voyner Ravena-Cañete e Alessandra de
Almeida Pereira, pelos conhecimentos repassados, por ajudarem a constituir a
minha formação, pelos conselhos pessoais, pelo espelho que foram e são em minha
vida.
À minha orientadora, Diana Priscila Sá Alberto, por sempre se fazer presente na
minha vida acadêmica, e até pessoal, pelos inestimáveis pronto-atendimentos nos
meus pedidos de socorro; pela acolhida, por ter me estendido suas mãos em um
momento crucial no processo de construção deste TCC; pela confiança, por me
deixar ir e voltar, “turistar” pelo universo da pesquisa cientifica, claro, sempre com os
devidos direcionamentos e “puxões de orelha” nos momentos em que quis escrever
demais, ultrapassar o limite de páginas ou nos que esqueci da “Dona ABNT” e de
lembrar a você (leitor) qual era o meu objeto de estudo. É uma professora admirável,
que trabalha muito, com muito amor e dedicação. Agradeço a Deus pela
oportunidade de cruzar seu caminho e/ou ela o meu.
À Escola Estadual Padre Francisco Berton, ao Instituto de Educação Ciência e
Tecnologia do Pará (IFPA), à Universidade Federal do Pará (UFPA), à
Universidade de Coimbra (UC) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pela minha formação pessoal e profissional, pelo
meu caráter. Foram dias e noites estudando por essas instituições, ainda que o
ensino tenha sido por vezes deficiente, aprendi e contribui com cada uma delas.
Aos concurseiros, às concurseiras e às empresas, que se dispuseram participar
da pesquisa, por responder os questionários, conversar ou “teclar” a respeito de
suas experiências em viagens realizadas para participar de concursos públicos, em
busca do sonho de adentrar ao serviço público e se estabilizar economicamente em
um país de crises frequentes... Agradeço enormemente. Vocês foram essenciais
para a construção deste trabalho.
Em tempo, gostaria de agradecer elas e eles, que por vezes são esquecidos nos
agradecimentos: Às autoras e aos autores que foram consultados para a
construção deste trabalho, também, quero deixar registrada a minha profunda
gratidão. Vocês foram os meus verdadeiros guias, seja no mundo do turismo, seja
no mundo dos concursos públicos. Com vocês, viajei, concordei, discordei e, acima
de tudo, aprendi muito.
Sem todos vocês nada disso seria possível. Gratidão!
E que venha o Mestrado!!!
A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, sabia que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É
preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol
onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao
lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. (José Saramago).
Os concursos talvez não acabem nunca. Só os concurseiros acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em
narrativa. Quando o concurseiro sentou na sua mesa de estudos e disse: “Não há mais o que ver o que estudar”, sabia que não era assim. O fim de um concurso é apenas o começo de outro. É preciso estudar o que não foi
estudado, estudar outra vez o que já se estudou. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado
deles. É preciso recomeçar a viagem no mundo dos estudos, dos concursos. Sempre.
(José Saramago, adaptado pelo autor)
RESUMO
Metaforicamente, o presente estudo simulou um roteiro pelo mundo das viagens motivadas à realização de concursos públicos no Brasil, a fim de compreender se estas figuram uma nova segmentação do turismo. Nesse sentido, o objetivo que orientou esta pesquisa foi o de investigar essas viagens enquanto uma possível nova segmentação do mercado turístico, a partir do perfil, dos conhecimentos e das experiências de candidatos que viajam pelo país fazendo provas, identificando se esses fluxos afetam diferentes setores socioeconômicos locais. Para tal fim, a metodologia de investigação, sob uma abordagem quali-quantitativa e em uma perspectiva exploratória, se roteirizou mediante pesquisas bibliográficas, documentais e de campo. Buscando estabelecer uma aproximação do método etnográfico, na ambiência cibernética que abarca a rede social Facebook foram realizadas incursões virtuais, observações/acompanhamentos de interações, de postagens e de depoimentos entre internautas de grupos de estudo para concursos públicos. Ademais, conceberam-se conversas informais (bate-papos), capturas de tela (registros imagéticos) e aplicação de questionários. Os resultados obtidos permitiram compreender que o “Turismo de Concursos Públicos” apresenta configurações de uma segmentação de mercado, tendo em vista que, dentre outras condicionantes, possui uma demanda, com necessidades e desejos específicos, que se difere de outros grupos homogêneos. Sob essa perspectiva, identificou-se a existência de pelo menos quatro perfis de concurseiros que viajam: o viajante, o visitante, o turista e o excursionista. No mais, essas viagens e seus viajantes impactam deveras as cidades onde ocorrem as provas, ao movimentarem o trade turístico e outros setores locais, social e economicamente. Palavras-chave: Concursos Públicos. Viagens. Turismo. Segmentação de Mercado.
ABSTRACT
Metaphorically, this study simulated an itinerary through the travels motivated by public tenders in Brazil, in order to understand if these trips are a new segmentation of tourism. In this sense, the purpose of this research has been to investigate these trips as a possible new segmentation of the tourism market, from the profile, knowledge and experiences of applicants traveling the country doing tenders, identifying whether these shifts affect different local socio-economic sectors. For such aim, the investigation methodology, under a qualitative and quantitative approach as well as an exploratory perspective, was scripted by bibliographical, documentary and field research. Seeking to establish an approximation of the ethnographic method, in the social network Facebook were carried out virtual incursions, observations/accompaniments of interactions, posts and message exchange between Internet study groups for public tenders. Furthermore, there were informal conversations (chats), screenshots (pictorial records) and questionnaires. The results led to understand that "Public Tenders Tourism" provides settings for a market segmentation, taking into account, among other conditions, that it has a demand, with needs and desires, which differ from other homogeneous groups. From this perspective, it identified the existence of at least four candidate profiles traveling: the traveler, the visitor, the tourist and the hiker. Thus, these trips and their travelers truly impact the cities where the tests occur, they move the tourism industry and other local sectors socially and economically. Keywords: Public Tenders. Travels. Tourism. Market Segmentation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Viagens, lazer e turismo ........................................................................... 47
Figura 2 – Classificação dos setores produtivos ....................................................... 55
Figura 3 – Modelo Referencial do Sistema de Turismo (SISTUR) ............................ 59
Figura 4 – Diferenciações das nomenclaturas .......................................................... 62
Figura 5 – Representação do processo de segmentação de mercado. .................... 68
Figura 6 – Etapas mais usuais adotadas no processo de segmentação ................... 73
Figura 7 – Possíveis vantagens e desvantagens da segmentação do mercado ....... 73
Figura 8 – Etapas do concurso público ................................................................... 100
Figura 9 – Perfis de candidatos a concursos públicos no Facebook. ...................... 110
Figura 10 – Compartilhamento de informações entre concurseiros ........................ 110
Figura 11 – Grupo específico .................................................................................. 111
Figura 12 – Duvidas, dicas e divisão de .................................................................. 111
Figura 13 – Divisão de despesas ............................................................................ 111
Figura 14 – Concurseiros se (re)encontrando antes e após as provas ................... 112
Figura 15 – Divulgação dos produtos e serviços das empresas ............................. 113
Figura 16 – Fan page da Pousada no Facebook .................................................... 114
Figura 17 – Banner de divulgação dos serviços da Pousada .................................. 115
Figura 18 – Instalações e funcionamento da Pousada dos Concurseiros ............... 115
Figura 19 – Concurseiros viajantes por regiões ...................................................... 122
Figura 20 – Hospedagem pelo Airbnb ..................................................................... 142
Figura 21 – Hospedagem pelo Couchsurfing ........................................................ 142
Figura 22 – “Turistando” depois da prova. .............................................................. 155
Figura 23 – Turismo de concurseiros em Chapada dos Guimarães ....................... 155
Figura 24 – Perfis de concurseiros que viajam ........................................................ 165
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Sexo ...................................................................................................... 117
Gráfico 2 – Pessoa com deficiência ........................................................................ 117
Gráfico 3 – Idade ..................................................................................................... 118
Gráfico 4 – Estado civil ............................................................................................ 119
Gráfico 5 – Nível de escolaridade ........................................................................... 120
Gráfico 6 – Renda ................................................................................................... 125
Gráfico 7 – Ocupação ............................................................................................. 126
Gráfico 8 – Motivos de se fazer concursos públicos ............................................... 129
Gráfico 9 – Tempo de realização de concursos públicos ........................................ 131
Gráfico 10 – Preferência de níveis de concursos públicos ...................................... 131
Gráfico 11 – Número de participações em Concursos Públicos.............................. 134
Gráfico 12 – Número de viagens a Concursos Públicos ......................................... 136
Gráfico 13 – As fontes de informação no planejamento desse tipo de viagem ....... 137
Gráfico 14 – Preferência sobre o de tipo de viagens a concursos públicos ............ 138
Gráfico 15 – Meios de transporte utilizados nesse tipo de viagem .......................... 139
Gráfico 16 – Locais de hospedagem utilizados nesse tipo de viagem .................... 140
Gráfico 17 – Número de dias que costumam ficar na cidade de realização da prova
................................................................................................................................ 143
Gráfico 18 – Quantos dias antes da prova chega-se à cidade de sua realização ... 143
Gráfico 19 – Gastos médios com as viagens .......................................................... 146
Gráfico 20 – Com o que se costuma gastar ............................................................ 147
Gráfico 21 – O que se costuma fazer antes e/ou depois da realização das provas 148
Gráfico 22 – Essas viagens seriam oportunidades para conhecer outras cidades,
regiões e culturas .................................................................................................... 150
Gráfico 23 – Já visitou ou tem vontade de visitar alguma cidade onde realizou prova
de concurso, a turismo. ........................................................................................... 157
Gráfico 24 – Essas viagens podem ser consideradas uma nova forma de fazer
turismo (uma nova segmentação do mercado turístico?) ........................................ 158
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIA Avaliação de Impacto Ambiental
ANPAC Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos
AO Ações Operacionais
CESGRANRIO Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior
do Grande Rio
CESPE Centro de Seleção e Promoção de Eventos
CNTUR Conselho Nacional de Turismo
CNUMAH Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano
EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo
ESAF Escola de Administração Fazendária
FCC Fundação Carlos Chagas
FUJB Fundação Universitária José Bonifácio
FUNGETUR Fundo Geral de Turismo
FUNRIO Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Assistência
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
IRB Instituto de Resseguros do Brasil
MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
MTUR Ministério do Turismo
OE Organização Estrutural
OMT Organização Mundial do Turismo
ONU Organização das Nações Unidas
PNMA Política Nacional de Meio Ambiente
RA Relações Ambientais
SETUR Secretaria de Estado de Turismo
SISTUR Sistema de Turismo
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
UFPA Universidade Federal do Pará
UIOOT União Internacional dos Organismos Oficiais do Turismo
UnB Universidade de Brasília
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 16
2 TURISMO: UMA VIAGEM HISTÓRICA E CONCEITUAL ............................ 24
2.1 A história do turismo, o turismo na história. ......................................... 24
2.2 “O Pré-turismo” ........................................................................................ 26
2.3 “A Idade Antiga do turismo” ................................................................... 29
2.4 “A Idade Média do turismo” .................................................................... 32
2.5 “A Idade Moderna do turismo” ............................................................... 34
2.6 “A Idade Contemporânea do turismo” ................................................... 36
2.7 “A Idade Pós-contemporânea do turismo”. ........................................... 41
3 VIAJANDO PELO UNIVERSO TURÍSTICO: CONCEPÇÕES,
DEFINIÇÕES E FUNCIONAMENTO DO TURISMO ....................................... 46
3.1 Viagens, lazer e turismo .......................................................................... 46
3.2 Turismo: desmistificando visões ............................................................ 51
3.3 Sistema turístico ...................................................................................... 56
3.4 Quem viaja?: viajantes, visitantes, turistas e excursionistas. ............. 60
4 SEGMENTAÇÃO DE MERCADO: UMA VISITA AO LEQUE DE
SEGMENTOS E NICHOS DO TURISMO ........................................................ 63
4.1 Mercados do turismo ............................................................................... 63
4.2 A segmentação de mercado .................................................................... 66
4.3 Aspectos metodológicos da segmentação de mercado: métodos,
bases, variáveis e requisitos. ........................................................................ 69
4.4 Segmentação do mercado turístico: bases, variáveis, segmentos e
nichos do turismo. ......................................................................................... 74
5 UM PASSEIO NO MUNDO DOS CONCURSOS PÚBLICOS ....................... 83
5.1 A história dos concursos públicos ......................................................... 83
5.2 Definições, princípios, regras e exceções dos concursos públicos ... 91
5.3 Funcionamento: os atos administrativos de um concurso público .... 99
5.4 Panorama dos concursos no Brasil ..................................................... 103
6 UM GIRO PELO TURISMO DE CONCURSOS PÚBLICOS: INVESTIGANDO
UMA NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO BRASILEIRO.. 106
6.1 Viagens a concursos públicos: sonhos e desejos que cruzam
fronteiras ....................................................................................................... 107
6.2 Os concurseiros viajantes: perfilando a demanda das viagens a
concursos públicos no Brasil ..................................................................... 116
7 CONCLUSÃO ............................................................................................. 167
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 172
ANEXO A ....................................................................................................... 186
APÊNDICE A ................................................................................................. 193
16
1 INTRODUÇÃO
As viagens e o turismo, na atualidade, têm sido alvos de muitos
questionamentos que incitam a produção de novos estudos. Tais questionamentos
são frutos de um campo do conhecimento em construção. Suas interfaces,
plenitudes, tendências e dinamicidades, pois, ainda foram/são pouco estudadas,
logo, são, por vezes, nebulosas e incertas. Aliada a essa questão, enquanto
fenômeno mundial, a atividade turística tem características inerentes que “alimentam
a fome” do saber a seu respeito, eis algumas delas: o poder de influenciar, de
envolver, de se inter-relacionar e de transversalizar-se, de maneira recíproca e
espontânea, por entre/com diferentes áreas do conhecimento, setores da economia
e aspectos da vida em/na sociedade e da natureza.
Em face dessas características, instabilidades mundiais econômicas, sociais,
culturais, políticas e ambientais são, em demasia, propícias a afetar o turismo direta
e indiretamente. As mudanças ocorridas nas percepções e nas motivações das
viagens como reflexo de variáveis de diferentes ordens, que marcaram a história da
humanidade, são claras exemplificações disso. Nesse prisma, Dencker (2015, p. 37)
explana que equilíbrio e crise são altos e baixos presentes em toda e qualquer
atividade envolvida por ideais capitalistas. Assim sendo, no turismo, mudanças
inferem uma alternância nos “ciclos de prosperidade e declínio”, que pressupõem
impactos, positivos e negativos, substanciais na vida de pessoas, em culturas, na
natureza e no desenvolvimento de localidades.
Nessa esfera, as motivações que perfilam os fluxos e refluxos turísticos estão
intrínseca e extrinsecamente acondicionadas às basilares necessidades humanas,
às guerras, às crises, aos fenômenos e catástrofes naturais, às mudanças nas
tecnologias, nos poderes políticos e nas concorrências de mercado, enfim, aos mais
incontáveis motivos (CUNHA, L., 2003). E sob a mesma lógica, a complexidade
subjetiva humana contribui para que o comportamento do consumidor turístico sofra
constantes alterações (MARQUES, 2009), e por conseguinte o mercado também se
altere, ao passo que os viajantes têm buscando vivenciar, sobremaneira, novos e
particulares momentos e experiências (MOLINA, 2003).
Sobre as motivações que circundam a atividade turística atual, é crescente
nos brasileiros a busca pela aprovação em concursos públicos, visto que estes
oferecem inúmeras vantagens e, sobretudo, a almejada estabilidade econômico-
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social. O investimento em direção à sonhada nomeação em um cargo público é alto,
tanto que estes privam-se de tempo disponível, afastam-se de seus empregos
(FIUZA, 2015), exercem duplas e até triplas jornadas: trabalho, estudo e família,
bem como investem na compra de livros, na preparação em cursos específicos e até
em viagens, que têm forjado e materializado uma nova motivação para viajar.
No tocante a essas viagens, observa-se que muitos concurseiros1 têm, cada
vez mais, gastos com transportes, hospedagem ou alimentação fora de suas
cidades e de seus estados, em busca de um cargo no serviço público a qualquer
custo. Visando diminuir despesas, é comum grupos organizarem viagens
individualmente ou em excursão para trocar informações sobre as cidades, verificar
possibilidades de transporte, dividir diárias em hotéis ou “rachar” o valor do táxi.
Diante desse cenário, tais viagens têm fomentado o surgimento e o explorar de um
novo mercado, que já dispõe de agências e/ou operadoras de viagens e de turismo,
transportadoras e meio de hospedagem, articulados para atender, de maneira
especializada, o já intitulado, por cursos preparatórios, trade turístico e concurseiros,
“Turismo de Concursos” (TURISMO..., 2013).
No aspecto teórico-conceitual, entrementes, não há no Brasil nenhum
trabalho acadêmico: artigo, monografia, dissertação e tese que verse sobre as
“viagens a concursos públicos” ou o “Turismo de Concursos Públicos”. Ao que
parece, nenhum outro pesquisador, ainda, voltou os “olhos” para essa tipologia de
viagens enquanto um frutífero objeto de estudos em turismo. Diante deste
panorama, o presente trabalho buscou questionar se estar-se-ia, então, diante de
uma nova segmentação do mercado turístico?. Importa destacar, que foram levadas
em consideração apenas as viagens a concursos públicos. Vestibulares e outros
processos seletivos para cargos temporários ou concursos de outros gêneros, que
também podem efetivar-se enquanto motivos para viajar, não foram o foco deste
estudo, dada a representatividade dos certames – essas, porém, podem figurar
outras abordagens de investigação.
Para responder esta problemática, o objetivo geral foi: investigar as viagens
motivadas pela realização de concursos públicos no Brasil enquanto uma possível
1 Também conhecidos como concursantes, concusandos(as) ou concursistas, são aqueles
candidatos em que a vida gira entorno dos concursos públicos, a fim de conquistarem a tão sonhada nomeação em um cargo da Administração Pública brasileira. Esses demais termos, objetivando evitar o uso recorrente da palavra “concurseiro”, serão utilizados também no decorrer do trabalho.
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nova segmentação do mercado turístico, a partir do perfil, dos conhecimentos e das
experiências de concurseiros que viajam pelo país prestando certames, e
identificando se elas afetam as localidades onde ocorrem as provas. Nessa esteira,
os objetivos específicos foram: Compreender como se estabelecem as viagens de
candidatos a concursos públicos no Brasil; Caracterizar o perfil dos viajantes dessa
nova tipologia de viagens; Identificar se essas viagens movimentam as destinações
onde acontecem os certames; Analisar se esse fluxo de viagens compreende uma
nova segmentação do mercado turístico.
Os pressupostos forjados e testados ao longo desta pesquisa, e que de certa
forma também a guiaram, foram os seguintes: O turismo de concursos públicos
existe e pode, sim, ser considerada uma nova segmentação do turismo no Brasil; O
concurseiro aproveita sua estada na cidade de realização do concurso para passear
por ela e conhecê-la melhor; Os impactos gerados por essa vertente do turismo são
vários, visto que os concurseiros se deslocam até a cidade onde os concursos são
realizados, se hospedam em hotéis, se alimentam, utilizam o transporte da cidade e
visitam pontos turísticos.
De conformidade com Minayo (1999, p. 26), é bem verdade que uma
pesquisa se efetiva por intermédio de “um processo de trabalho em espiral que
começa com uma pergunta e termina com um produto provisório capaz de dar
origem a novas interrogações”. Antes, contudo, de se chegar a esse produto, é
primacial adotar uma metodologia passível de alcançar os objetivos traçados. Sobre
metodologia, Dencker (1998) a compreende enquanto ciência que constrói
abordagens, modelos, métodos e ferramentas que possibilitam abstrair informações
de uma realidade a ser confirmada ou refutada.
Ainda de acordo com a autora em tela, em seguimento, o método se configura
como uma maneira ordenada de proceder um estudo, por meio da execução de
atividades previamente definidas. As técnicas de pesquisa, por outro lado, servem
para colher informações de uma realidade, a fim de identificar, analisar, diagnosticar
e prognosticar respostas às problemáticas pesquisadas (DENCKER, 1998). Com
isso, entende-se que os procedimentos metodológicos: os métodos e as técnicas de
pesquisa são de sumária importância para descoberta de valores, caminhos e meios
eficazes de compreensão e análise de uma dada realidade. Portanto, a construção
do conhecimento se concretiza a partir de embasamentos epistemológicos pré-
existentes, definição de um método e aplicação de técnicas (SEVERINO, 2007).
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À luz dessas acepções, o caminho metodológico construído para elaboração
deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) guiou-se por meio de uma abordagem
quali-quantitativa, em uma perspectiva exploratória, utilizando-se de pesquisas
bibliográficas, pesquisas documentais e pesquisas de campo. O motivo pelo qual a
pesquisa exploratória foi eleita para ajudar com esta investigação deu-se porque ela,
segundo Minayo (1999), possibilita um feedback a problemáticas que não dispõe
ainda de um corpo teórico específico capaz de contextualizar e depreender
fenômenos inerentes e/ou exclusivos de uma realidade. Marconi e Lakatos (2011, p.
71) contribuem que essa tipologia configura:
[...] pesquisas empíricas cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos.
Logo, essa foi de sumária importância para a geração de conhecimentos
concernentes às viagens de concursos públicos.
As pesquisas bibliográficas almejaram delimitar o objeto de estudo, construir
embasamentos teóricos e contextualizar, sobretudo, os conceitos e as categorias de
análise trabalhadas. Já as pesquisas documentais, permitiram coletar e analisar
dados correlatos antecedentes, porém ainda não interpretados/discutidos
(SEVERINO, 2007). E as pesquisas de campo, por meio de aproximações
netnográficas, visaram compreender e vivenciar aspectos que permeiam as viagens
motivadas à participação de concursos públicos, o perfil dos viajantes e o mercado
desse possível novo nicho ou segmento da atividade turística, que será tratado
neste trabalho de “Turismo de Concursos Públicos”.
A respeito das vivências em campo, por meio das incursões netnográficas na
rede social Facebook, estas foram norteadas, principalmente, por postulados de
Malinowski (1986) e Geertz (2008), tendo em vista que a netnografia é uma tentativa
de aplicar as premissas da etnografia no ambiente virtual. Noveli (2010, p. 110-111)
destaca que a etnografia e a netnografia “podem se coadunar na busca por um
melhor entendimento dos objetos de pesquisa, na medida em que a realidade
hodierna pode ser considerada um continuum do off-line para o on-line ou vice-
versa”. Ainda segundo o autor supramencionado, ao apoderar-se das observações
de Kozinetz (2002 apud NOVELI, 2010, p. 115):
20
A principal diferença entre a netnografia e sua precursora, a etnografia, seria que a primeira parte da observação do discurso textual no contexto online, e a identidade do informante nesse contexto é duvidosa; enquanto que a etnografia foca no discurso e no comportamento observado durante a etnografia face a face, na qual as pessoas buscam apresentar uma auto-imagem mais cuidadosamente cultivada e controlada.
Cumpre salientar, no entanto, que a pretensão jamais foi realizar uma (n)etnografia,
de fato, mas utilizar de seus ideais, de suas técnicas para compreender questões
que outros métodos não conseguiriam2. Desse modo, procurou-se fazer o que
alguns pesquisadores da antropologia intitulam de aproximação (n)etnográfica.
A abordagem netnográfica, de certo modo, foi realizada desde o final do ano
de 2014, momento no qual o pesquisador direcionou seus “olhares” para essa
possibilidade de investigação, participando desde essa época de vários grupos no
ciberespaço, inclusive já coletando dados. No início de 2015, ainda no período de
elaboração e de desenvolvimento do pré-projeto, do qual resultou este TCC, esse
acompanhamento se intensificou, havendo uma participação mais ativa do autor na
rede social. De forma metódica, porém, as incursões no ambiente virtual ocorreram
desde setembro de 2015, com o pesquisador participando, diariamente, de mais de
cem (100) grupos ou comunidades de concursos públicos, sendo essa fase findada
em março de 2016.
Embora apresente algumas limitações ou ressalvas, apontadas nos trabalhos
de Noveli (2010) e Tafarelo (2013), a aproximação netnográfica foi primacial ao
estabelecer uma maior proximidade com os concurseiros viajantes e ao proporcionar
coletar, de maneira mais facilitada e profícua, dados deveras pertinentes à pesquisa
– seja por intermédio de conversas informais (bate-papos), seja por meio de
postagens e de comentários (NOVELI, 2010), seja mediante o preenchimento dos
questionários. É válido ressaltar que a combinação desses diferentes procedimentos
metodológicos é, em demasiado, inovadora no âmbito das pesquisas em turismo,
sendo possível observar um número ainda diminuto de investigações sobre a
atividade turística, no mundo virtual, utilizando-se dos ideais da (n)etnografia.
2 Dencker (2015, p. 36) pondera ainda que, na busca por “[...] antecipar o surgimento de novos
segmentos de mercado e se prepara par as mudanças, as empresas recorrem a pesquisas sobre tendências. Empregando referenciais metodológicos da pesquisa antropológica e a etnografia para a pesquisa de campo, quando usadas para interpretação dos fluxos de informação que circulam nas redes, essas pesquisas são denominadas netnografia ou webnografia”.
21
Tangente à aplicação dos questionários3, ela ocorreu entre 16 de janeiro e 03
de março de 2016, de forma on-line, ora nos grupos e nas comunidades, ora por
mensagens enviadas diretamente aos perfis dos participantes da rede social,
alcançando o número total de 674 respondentes – excetuando-se a regra de que
somente os concursandos que viajam poderiam participar da pesquisa, nenhum
outro critério para o preenchimento foi adotado, Estruturadas e semiestruturadas, as
perguntas foram elaboradas de maneira a objetivar as respostas, mas, ao mesmo
tempo, também, conceber oportunidades dos sujeitos expressarem
opiniões/percepções mais subjetivas acerca da temática abordada (SEVERINO,
2007). Elas perfilaram aspectos socioeconômicos dos informantes, sobre os
concursos públicos, as viagens: os produtos e os serviços adquiridos nesse mercado
e a percepção acerca dessa tipologia de viagem enquanto uma possível
segmentação do turismo (APÊNDICE A).
A composição e o preenchimento dos questionários, bem como, a validação e
o tratamento dos dados se deram por meio da plataforma SurveyMonkey –
ferramenta digital numerosamente utilizada em pesquisas como esta por apresentar,
dentre outras vantagens, certa praticidade quanto à tabulação e à aferição dos
resultados. Dos 674 questionários preenchidos pelos concurseiros na plataforma,
como supradito – por motivos de: preenchimento parcial, “brincadeiras” ou pessoas
que nunca viajaram4 a concursos e mesmo assim responderam – 500 foram
validados, constituindo-se essa a amostra da pesquisa.
A adoção dessa construção metodológica, baseada em tais métodos e
técnicas de pesquisa, ajudou a coletar dados de grande relevância para o
entendimento dessa nova tipologia da atividade turística. Colheu-se dados
referentes às viagens motivadas à prestação de concursos públicos, por meio da
aplicação de questionário on-line, observações e capturas de tela (Prints Screen5) de
postagens, conversas e informações divulgadas pelos perfis individuais de
concurseiros e nos grupos de concursos no Facebook. Foram acompanhados
3 Primeiramente, foi realizado um teste do instrumento para validar as perguntar, fazer ajustes
necessários e reorganizá-lo. 4 Vale lembrar que os participantes sempre eram/foram avisados de que se tratava de uma
pesquisa direcionada àqueles que viajavam para participar de concursos públicos. 5 O Print Screen é uma tecla presente nos teclados de computadores, ela, no Windows, quando
acionada, captura – excetuando-se o ponteiro do mouse e vídeos – em forma de imagem tudo o que está presente na tela e copia para a Área de Transferência. Para salvar a área “printada” como imagem, basta abrir algum programa que suporte imagens e pressionar "Ctrl + V" (colar) e salva-lá.
22
diversos grupos voltados a trocas de informações sobre concursos públicos, ainda
que se tenha “privilegiado” os grupos de concursos federais e de tribunais estaduais,
em que a quantidade de participantes era maior, com o objetivo de garantir a
participação de uma amostra6 considerável da população brasileira concurseira na
pesquisa.
Convém pontuar que, durante a aplicação dos questionários, foi informado
aos respondentes que caso quisessem ter acesso aos resultados da pesquisa
deveriam deixar seus e-mails, para que posteriormente fosse compartilhado o
estudo, como uma forma de dar um feedback, difundindo junto a eles os
conhecimentos construídos por meio de suas próprias experiências e percepções
sobre as viagens a concursos. Tal preocupação reside, também, no fato de que esta
investigação científica de maneira alguma venha a ser considerada “vampiresca” ou
“sanguessuga”. E mais, “todo conhecimento se desenvolve socialmente” (TOMAZI,
2007, p. 6).
Decerto, esta investigação ao versar sobre uma nova segmentação da
atividade turística, dado o seu ineditismo, traz avanços representativos aos estudos
em turismo e ao planejamento da atividade, mais especificamente desse mercado. O
estudo oferece a estudantes, a pesquisadores, a gestores e ao empresariado
embasamentos teóricos conceituais inovadores, que podem motivar a realização de
novas pesquisas – sejam na mesma, sejam em novas abordagens, levantando,
assim, a importância da discussão do tema na academia, no mercado e na gestão
pública. Demais, este é passível de estimular insights, que podem fomentar,
porventura, o planejamento, a implementação, o desenvolvimento e a consolidação
de uma atividade turística empreendedora centrada, também, nessa segmentação,
em diversas cidades, estados ou regiões do país.
Como Mário Beni (2004) bem pontua, uma viagem abre, desperta, instiga, e
proporciona um inestimável universo de possibilidades: sentimentos, emoções,
desejos, sonhos, sensações e conhecimentos. Dessa sorte, a fim de ampliar os
horizontes, revelar e “passear” por um novo mundo do universo turístico, produzir e
6 A respeito da amostra coleta, faz-se necessário explanar que, é sabido que ela é calculada a partir
da população, de estudos anteriores que mensuraram sua dimensão quantitativamente. Nessa pesquisa, entretanto, não encontrou-se nenhum documento ou trabalho precedente que tenha quantificado a população de concurseiros no Brasil, em sua totalidade, muito menos daqueles que viajam pelo país. Dessa forma, a amostra de 500 questionários foi determinada a partir do maior número de respondentes alcançados (674), entre janeiro e março de 2016, e das validações de suas respostas.
23
aglutinar novos conhecimentos aos já existentes, o autor deste TCC convida o leitor
a “embarcar” em mais uma aventura pelo mundo do turismo, dessa vez o destino
principal é o mundo das viagens a concursos públicos. A viagem7, que contempla
oito rotas (seções), será efetivada pela leitura enquanto meio de transporte, tendo
duração de 197 páginas. Os guias das rotas serão compostos por uma gama de
autores que possuem trabalhos clássicos e atuais na área. O piloto que conduzirá
esta viagem será o autor.
Repassando o roteiro, esta primeira rota da viagem traz uma breve
contextualização do objeto de estudo, a problemática, os objetivos, as hipóteses, os
procedimentos metodológicos e a relevância deste estudo. A segunda parte faz uma
viagem histórica e conceitual pelas andanças, migrações e viagens, ao longo da
história humana, enquanto momentos direta e indiretamente ligados à construção
social atual do turismo. Em seguida, na terceira rota, se viaja pelo universo turístico,
onde são desmistificados e (re)conhecidos conceitos, visões, classificações e
elementos que estão perfilam o funcionamento do turismo. Na quarta rota, o
percurso contempla a segmentação de mercado em turismo, onde são explanados
conceitos, metodologias, bases, variáveis, e requisitos da segmentação, além de
uma visita rápida à plural variedade de segmentos e nichos de mercado existentes.
Dando sequência ao roteiro, na quinta rota, serão realizados pequenos
passeios no mundo dos concursos públicos: história, definições, princípios, regras e
exceções que os caracterizam e os legitimam, além de serem conhecidos os atos
administrativos que garantem a sua funcionalidade e o seu panorama atual no
Brasil. A sexta parte da viagem, é um rota que contempla as viagens a concursos
públicos, nelas, são desvendadas e conhecidas algumas nuanças que envolvem
esses traslados e o perfil dos concurseiros viajantes. Na sétima rota são
apresentadas as conclusões (da viagem) a despeito do “Turismo de Concursos
Públicos” enquanto uma segmentação de mercado em ascensão no Brasil. E, por
fim, na última rota, são apresentados os grandes guias desta viagem: os autores, e
suas respectivas obras, consultados para a construção do presente estudo.
Parafraseando Alexandre Panosso Netto e Cecília Gaeta (2010, p.1), as rotas
estão traçadas. “Novos e [antigos] conhecimentos são oferecidos”. Tenha uma boa
viagem.
7 Emprega-se “o termo viagem como uma metáfora por entendermos que este é um caminho, um
percurso, uma trajetória [...]” (ROSSETTO FERREIRA, 2007, p. 26).
24
2 TURISMO: UMA VIAGEM HISTÓRICA E CONCEITUAL
Com base na definição etimológica da palavra turismo e de um parâmetro
temporal traçado a partir de uma analogia às demarcações da história humana8, este
capítulo – a fim de melhor embasar este estudo e de contribuir com a concepção
histórica das dinâmicas que marcam a atividade turística – pretende fazer uma
viagem pelos mais importantes acontecimentos humanos que, possivelmente,
influenciaram, direta ou indiretamente, os primeiros deslocamentos, as migrações,
as viagens e, finalmente, as viagens turísticas. A segunda parte desta viagem,
“Turismo: uma viagem histórica e conceitual”, tem como roteiro “A história do
turismo, o turismo na história”, que contempla: “O Pré-turismo”, “A Idade Antiga do
turismo”, passando, “A Idade Média do turismo”, “A Idade Moderna do turismo”,
posteriormente, “A Idade Contemporânea do turismo” e, a última parada, “A Idade
Pós-contemporânea do turismo”.
2.1 A história do turismo, o turismo na história.
O turismo enquanto campo de estudos, se comparado às demais áreas do
conhecimento, é relativamente recente. Mesmo que vários estudos tenham sido
realizados, observa-se que a sua história ainda é “embaçada” por um “nevoeiro de
incertezas”. Talvez, por esse motivo seus paradigmas históricos e conceituais
tenham amplos debates e discordâncias entre os pesquisadores que debruçam seus
estudos na historicidade do turismo ou na chamada epistemologia do turismo, com
vistas a compreender melhor esse novo campo de estudos e prática social,
econômica, política, ambiental e cultural.
Dentre as questões que marcam embates teóricos entre estudiosos da área,
está a origem do próprio turismo enquanto atividade. Ao mesmo tempo em que
alguns autores, como De Lacerda Badaró (2013), afirmam que “o homem sempre
viajou”, ou que o “turismo sempre existiu”. Outros renegam que alguns fatos
históricos teriam relação, direta ou indireta, com o surgimento e o desenvolvimento
da atividade turística. Pontuam estes, que somente a partir do século XVIII, ou XIX
8 Ressalta-se que esta analogia à divisão da História (Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade
Moderna, Idade Contemporânea e Idade Pós-contemporânea) é apenas uma forma de representar e compreender de maneira mais clara e dinâmica a história do turismo, que, evidentemente, não deixa de estar intrínseca e extrinsecamente relacionada à história humana na terra.
25
(FIGUEIREDO; RUSCHMANN, 2004; TRIGO, 1998), com os Grand Tours, é que de
fato teria o turismo surgido (BOYER, 2000; NUNES, 2009). Há também aqueles que,
mesmo concordando que o turismo somente teve início a partir do século XVIII, não
deixam de defender que alguns fatos históricos marcantes da humanidade podem
ter sido os ancestrais, a embriologia, o primitivismo do que se concebe enquanto
turismo nos dias atuais (ACERENZA, 2002; BARBOSA, Y., 2002; BARRETTO, 1995;
BURSZTYN, 2005; DE LACERDA BADARÓ, 2008; PIMENTEL, 2001; REJOWSKI,
2002; RUSCHMANN, 2001).
Astorino (2013, p. 36) argumenta que “a história da viagem acompanha a
história do homem, pois tem sido por esta condicionada”, existindo “uma história do
turismo antes do turismo” (VENEGAS MARCELO, 2011, p. 12). Doris Ruschmann
(2001, p. 12), por sua vez, analisa o turismo não como um “fenômeno recente e
muito menos privativo do século XX. A novidade reside na sua extensão, na
multiplicidade das viagens e no lugar que ocupa na vida das pessoas”. Nessa linha
de pensamento, para Venegas Marcelo (2011), a teoria de que o turismo surgiu
apenas no século XX, recorrente em diversos trabalhos, não leva em consideração
contextos antecedentes, que deram contributos importantes ao que se compreende
como turismo na atualidade. Portanto, para estes últimos, o turismo atual tem em
muitas viagens, migrações e/ou andanças ocorridas em períodos históricos
anteriores, uma linhagem, uma genealogia, como será possível notar no decorrer
deste capítulo.
A respeito da historicidade do turismo, nota-se que as diferentes motivações
que permeiam as viagens, configuram um fenômeno muito antigo. A gênese de
diferentes segmentações da atividade, ao longo da história, pode ser visualizada sob
a forma: das viagens realizadas pela necessidade de subsistência e de comércio
dos nômades – turismo de negócios; das viagens de exploração dos povos antigos –
turismo de aventura; as viagens das guerras santas, de romeiros na Idade Média –
turismo religioso; das visitas às termas durante o Império Romano – turismo de
saúde, etc (IGNARRA, 2003). Dessa forma, segmentação e turismo possuem uma
relação muito antiga, sendo, praticamente, cada segmento forjado durante um
diferente contexto histórico. Nessa esteira, é possível fazer a seguinte correlação: a
realidade brasileira corroborou para o nascimento das viagens com motivação de
realização de provas de concursos públicos.
26
Decerto, o turismo na configuração ao qual se (re)conhece nos dias atuais,
evidentemente, não se desenvolveu de forma repentina. A história tem mostrado que
a existência e o desenvolvimento desse fenômeno mundial, enquanto campo de
estudos e atividade (econômica, política, social, ambiental e cultural), apresentou
diferentes feições em virtude, sobretudo, das motivações e das necessidades
humanas. Estas propiciaram a evolução da tecnologia que, por sua vez, fomentou
modificações nos modos de produção, de deslocamento e de viver em sociedade.
Sob essa acepção, Barretto (1995) destaca que o modo de produção e o
desenvolvimento tecnológico, respectivamente, passaram a determinar ao longo dos
anos quem viaja e como viajar. Esses, porventura, também cingem as viagens
motivadas à participação de provas de certames públicos, assim como, os seus
viajantes – o foco deste trabalho.
Não obstante, ao menos parece haver uma concertação no que tange à
etimologia do termo entre os pesquisadores. Segundo a literatura consultada, o
verbete turismo deriva do radical tur ou tour, que se refere à “voltar”, a “circular”, à
“andar em círculos”, à “dar a volta”, ao “ir e voltar”, à “deslocar-se” (BARRETTO,
1995; BURSZTYN, 2005; CUNHA, A., 1982), ou ainda, à “viagem de descoberta, de
exploração, de reconhecimento” (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE COMÉRCIO,
2005; OLIVEIRA, A., 2001; SANTOS, 2010).
Partindo-se dessa compreensão etimológica, inicia-se, a partir deste ponto,
uma verdadeira viagem. Uma viagem pela história do turismo. “Era uma vez...”.
2.2 “O Pré-turismo”9
[Adão e Eva passeando pelo Jardim do Éden; o nômade em busca de abrigo e de alimento] O peregrino em romaria por lugares santos; o mercador em busca de novos produtos e clientes; o conquistador que almeja expandir seus domínios e riquezas; o aventureiro disposto a experiências exóticas. O explorador antevendo descobertas. O que há em comum entre essas pessoas? - Sem dúvida, a vontade de ultrapassar fronteiras, a curiosidade de conhecer o novo. E, na raiz desses dois desejos, molda-se a mola propulsora do Turismo através dos tempos (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE COMÉRCIO, 2005. p. 7).
Esta viagem histórica e, de certa maneira, conceitual tem como ponto de
partida os indícios de um “turismo primitivo”, possivelmente, presentes no Jardim do
9 Este tópico faz referência, sobretudo, aos principais fatos históricos que marcaram o que os
historiadores chamam de Pré-História. Esta fase compreende todo período que antecedeu a invenção da escrita, entre 8000 a. C. e 4000 a. C., aproximadamente.
27
Éden – evidentemente, sob uma perspectiva que não a atual. O paraíso criado por
Deus, com árvores, flores, frutos, rios que formavam as mais lindas e as mais ricas
paisagens, certamente, seria um lugar em que muitas pessoas gostariam de
conhecer, de estar, de circular, de passear. Adão e Eva, seguramente, antes de
conhecerem o pecado, devem ter realizado andanças e passeios, brincado e
circulado pelos elementos que compuseram aquela bela e mitológica natureza. Após
cometerem o pecado de comer o fruto proibido, e serem levados à terra, Adão, Eva
e seus filhos (Caim, Abel e Sete), devem ter vagado em busca de moradas, de
alimentos e mesmo de lazeres. Pode-se então dizer que Adão e Eva teriam
realizado uma espécie de “turismo primitivo”? Teriam sido eles os “pré-turistas” ou
ainda os “turistas primitivos”?. Levando em consideração a significação do termo, é
provável que sim.
Rossetto Ferreira (2007) pontua que no transcorrer da partida do Egito em
direção à terra sagrada de Israel, Moisés, junto ao povo Hebreu, por volta de 1445
a.C, acampou no deserto de Parã, península do Sinai. De lá, Moisés enviou de cada
uma das doze tribos um homem, com o objetivo de buscar informações sobre Canaã
– “a história conta que essa viagem teve duração de 40 dias, ao fim dos quais
retornaram os espiões ao local de partida, trazendo os frutos da terra, entre eles um
cacho de uva, carregado em uma vara por dois homens, Josué e Calebe”
(ROSSETTO FERREIRA, 2007, p. 28). Certamente, esta viagem não se caracteriza
como a viagem praticada nos dias atuais, contudo, não se pode deixar de notar que
ela possuiu a condição de “ida e volta”, de retorno, que marca a atividade. Barretto
(1995), de todo modo, pontua que é nesse período que o termo tur aparece pela
primeira vez na Bíblia Sagrada, mais especificamente no Livro de Números, capítulo
13.
Ainda de consonância com as histórias bíblicas, em Génesis, uma viagem
constante, e quase sem fim, de Ulisses com Abraão é relatada, onde a salvação
estava na própria viagem. Em um trecho do Antigo Testamento, nessa direção, são
elencadas as diversas utilidades que uma viagem pode ter:
O homem que viajou aprendeu muito; E o homem de experiência exprime-se como conhecimentos de causa. Quem não foi posto à prova sabe poucas coisas, Mas quem viajou está cheio de recursos. Muito vi no discurso de minhas viagens. E o que compreendi ultrapassa o que eu poderia dizer. Muitas vezes corri perigos mortais,
28
Mas fui salvo graças à minha experiência (BÍBLIA, 1994 apud TRIGO, 2010, p. 23).
No Novo Testamento, Trigo (2010) fala sobre as viagens do apóstolo Paulo. Estas,
motivadas pela disseminação do cristianismo, pela Europa, pelo Oriente Médio e
pela Ásia, são narradas como aventuras épicas, em que são expressas todas as
dores, as angústias, os perigos, os sofrimentos do viajante – demonstrando que as
viagens não implicam somente o desfrute de boas experiências.
Por outro lado, sob a premissa do surgimento e da evolução humana, Santos
Filho (2008) destaca que a concepções de deslocamento e de viagens podem estar
atreladas ao próprio aparecimento humano na terra. Antes mesmo de se conceber o
turismo, os primeiros ancestrais do Homo Sapiens já tinham ciência de que no/pelo
ambiente que os cercava era possível se deslocar, e que o deslocamento era, em
muitos casos, uma necessidade crucial para a sobrevivência (TADINI, 2010).
Pimentel, (2001, p. 82) reitera que:
Até que os homens se distribuíssem pelo planeta e ele atingisse o formato que possui atualmente, apesar das constantes migrações que continuam movimentando os diferentes povos, centenas de milhares de viagens foram empreendidas. Incontáveis viagens de ida, nem tantas de volta.
Santos Filho (2005, p. 75) pondera que os deslocamentos, com “diferentes e
aproximadas essencialidades”, sempre fizeram parte da realidade do homem,
manifestando-se na história humana.
Em consonância, Astorino (2013) e Ycarim Barbosa (2002) ratificam que o ser
humano, a contar de sua existência na terra, tem viajado por diversas motivações
que se estabeleceram desde as naturais, perpassando pelas políticas, econômicas e
religiosas, até as culturais. Desse modo, ainda que de forma primitiva, é possível
que o homem por variadas motivações e com a utilização de diferentes meios, ao
longo dos tempos, tenha feito o que se pode chamar de “embriologia do turismo”.
Esses traslados, assim, certamente, se assemelham a características das viagens e
do turismo de concursos públicos correntes atualmente.
Nessa direção, De Lacerda Badaró (2013) sinaliza que se estudos ou
pesquisas, com relação à prática de um “turismo primitivo”, fossem concebidos em
períodos mais antigos, muito provavelmente se encontraria vestígios bem remotos,
para além dos que se tem, da existência de um “pré-turismo”. Nos quatro cantos do
mundo há indícios ou relatos da ocorrência de migrações, de encontros entre povos
29
de diferentes regiões, com fins de “cooperação, dominação e conflitos. Todos esses
encontros deixaram marcas por meio das pinturas rupestres e achados
arqueológicos” (SANTOS FILHO, 2008, p. 1), ajudando a entender em pormenores
as histórias da humanidade em diferentes temporalidades.
Barretto (1995) e Ycarim Barbosa (2002) dissertam que o turismo pode ter
sua gênese primitiva sob a forma dos primeiros deslocamentos dos povos nômades
– que andavam, em geral, sob círculos para obtenção de alimentos. A arqueologia
corrobora este pensamento ao descobrir que, há aproximadamente treze mil anos
grupos humanos que habitavam a Caverna de Madasin, nos Pirineus, “viajavam”,
iam e vinham até o mar. Diante disso, o homem “sempre viajou, seja em definitivo
(processo migratório) ou temporariamente (processo de retorno)”, na visão de De
Lacerda Badaró (2013, p. 1).
Como se viu, desde os povos nômades, observa-se que a procura por lugares
apropriados ao atendimento das necessidades humanas sempre se fez presente.
Ainda que as viagens realizadas nessas épocas possuíssem uma acepção bem
diferenciada das atuais – pois, nem sempre se concretizava a dinâmica que permeia
as viagens e o turismo: o ir e o voltar – são eventos importantes no mundo do
turismo. Marcam um período que se pode chamar de “pré-turismo”.
2.3 “A Idade Antiga do turismo”10
Em sequência, de acordo Confederação Nacional de Comércio (2005), é
muito provável que as viagens marítimas, notadamente comerciais, dos fenícios,
entre 1200 a.C. e 500 a.C., ou as expedições dos sumérios, dos babilônios, dos
assírios, dos povos mesopotâmios apresentassem uma concepção turística. Nas
localidades onde os barcos ancoravam, havia, em vários sítios, tendas armadas com
o objetivo de abrigar os forasteiros que por ali passassem. Esse período,
certamente, marca a existência da hospitalidade e de uma hotelaria em seu estado
inicial.
Mas, é na Grécia, aproximadamente no século VIII a. C. (entre 800 e 701),
que autores como Acerenza (2002), Barretto (1995), Bursztyn (2005), Rejowski
10
Este tópico faz referência, sobretudo, aos principais fatos históricos que marcaram o que os historiadores chamam de Idade Antiga ou Antiguidade. Esta fase inicia-se com a invenção da escrita por volta de 4000 a. C. aproximadamente, e finda com a queda do Império Romano por volta de 476 d. C. (ESPINOSA; GUERRA, 1968).
30
(2002) e Ycarim Barbosa (2002) apontam o início do turismo. Tais apontamentos
fazem referência, de forma geral, ao fato de que alguns festivais públicos, como os
Jogos Olímpicos – evento esportivo realizado a cada quadriênio na cidade de
Olímpia – atraíram, para além de atletas que iriam competir, uma grande multidão
para apreciação das competições. Olímpia e todas as demais localidades, que
nessa época abrigavam as modalidades esportivas, se adequavam, construindo
(infra)estruturas de alimentação, de hospedagem e de transporte aos atletas e aos
expectadores; já nessa época existia uma preocupação muito grande com a
hospitalidade e o bem receber dos visitantes. É na Grécia, também, que surge o
“Mito da hospitalidade”, em que acreditava-se que Zeus se disfarçava de forasteiro
para testar os humanos. Assim, todos costumavam abrigar forasteiros, que em suas
portas batessem, para não sofrer castigo caso negassem abrigo ao deus disfarçado
(CASTELLI, 1975).
Ademais, nesse período é possível visualizar o turismo enquanto uma
atividade econômica, sendo, inclusive, o palco do surgimento primitivo da
segmentação da atividade turística com base no deslocamento dos participantes dos
eventos. Desse modo, observa-se que os Jogos Olímpicos ao motivar a realização
dessas viagens – que muito se parecem com o que se entende e se pratica
enquanto viagem turística nos dias atuais – têm um papel fundamental na evolução
do turismo e, portanto, merecem um lugar de destaque na historicidade do turismo.
Tadini (2010) pontua que por volta de 3000 a. C., a antiga civilização egípcia
– por ter se desenvolvido no nordeste africano, mais precisamente na região do
deserto do Saara – teve que desenvolver atividades capazes de otimizar as funções
que rio Nilo poderia lhes proporcionar. Porém, além da utilização deste rio para fins
ligados diretamente à subsistência: beber água, pescar e fertilizar as plantações,
essa civilização utilizou o rio para navegar com os grandiosos blocos materiais que
hoje formam os túmulos dos grandes faraós.
A era romana teve um papel representativo no evoluir das viagens, De
Lacerda Badaró (2013) afirma que, comumente, nessa época, as viagens que eram
realizadas pelos homens livres tinham como motivações principais o puro
lazer/prazer, o comércio e o fascínio pelas descobertas do desconhecido. Com a
expansão do Impero Romano, as viagens também expandiram, realizadas a partir
do intenso intercambio cultural e comercial originado com a conquista de novas
terras. Nesse sentido, a elite romana passou a ter mais opções de lugares atraentes
31
e exóticos de serem visitados, onde, além da contemplação das belezas naturais, as
grandes atrações circenses, as corridas de biga e as lutas entre gladiadores eram as
principais distrações daqueles forasteiros (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE
COMÉRCIO, 2005).
No ínterim da “Pax Romana” – período da história romana marcado pelo
domínio militar que ficou muito conhecido por compreender quase dois séculos de
“paz” (ainda que guerras tivessem ocorrido) – De Lacerda Badaró (2013) pontua que
muitas estradas foram edificadas, assim como locais de hospedagem e centros de
tratamento termal. Isto, pois, possibilitou aos cidadãos viajarem da Inglaterra até a
Mesopotâmia, contemplando uma parte da Europa, bem como as regiões do Oriente
Médio e da África, notadamente no percurso dos séculos II a. C. e II d. C. Contudo,
com a recessão das guerras após a queda do Império Romano por volta de 400 d.
C., as estradas e o comércio foram lesados em grande escala, o que marcou o fim
de um período emblemático para o turismo (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE
COMÉRCIO, 2005).
A partir de então, as viagens passaram a ter outras motivações, como as
peregrinações religiosas, em que os “palmeiros” ou peregrinos tinham como destino
Jerusalém, mais especificamente a Igreja do Santo Sepulcro. Essas são um dos
indícios do que se chama hoje turismo religioso (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE
COMÉRCIO, 2005; DE LACERDA BADARÓ, 2013). Na visão de Rui Aurélio de
Lacerda Badaró (2013, p. 2), os romanos trouxeram muitos contributos para o
turismo hodierno, pois, possivelmente, foram um dos primeiros “turistas” a viajar
visando o lazer/prazer. O autor em tela apoia seu argumento a partir da existência
de pesquisas cientificas que ponderam, por exemplo, que “o povo romano ia à praia
e a centros de rejuvenescimento e de tratamento do corpo, buscando sempre
divertimento e relaxamento”, tem-se, nessa conjuntura, uma primitiva segmentação
do turismo de saúde. Sob estes pontos de vista, é inegável as contribuições dos
romanos para aquilo que passaria a se chamar, mais tarde, Turismo – inclusive,
para as viagens a concursos públicos, uma vez que alguns concurseiros buscam no
lazer o relaxamento e o divertimento, para tratar o corpo e a mente cansada dos
estudos.
32
2.4 “A Idade Média do turismo”11
Em mais uma parada, chega-se à Idade Média do turismo, o guia principal
desta parte da viagem será De Lacerda Badaró, autor do artigo “O Direito do
Turismo através da história e sua evolução” (2013). Em seus postulados, esse é um
momento importante na história do turismo, por ter sido um período com uma
redução acentuada de pessoas se deslocando pela Europa. Tal fato se deve,
sobretudo, ao Sistema Feudal que dirigia a sociedade à época, onde os territórios
eram divididos em feudos, e muitos dos Vassalos aprisionados às terras –
produzindo para um sistema marcado por uma economia amonetária (economia de
trocas), sem comércio, caracterizado pela subsistência e pelo trabalho servil ao
Suserano (BURSZTYN, 2005).
O homem da Idade Média “enraizou-se” de tal forma à terra que as estradas
construídas pelos romanos, no período da “Pax Romana”, foram aos poucos se
desgastando até à destruição (ESPINOSA; GUERRA, 1968). Com o valor da terra
em alta, as disputas eram tão grandes que as viagens eram consideradas muito
perigosas, demandavam custos altos e eram desconfortáveis, sendo, em vista disso,
realizadas somente se fossem essencialmente necessárias. Por outro lado, as
peregrinações religiosas, que embora tenham surgido em 326 d. C., com a
construção da Igreja do Santo Sepulcro, somente se intensificaram a partir do século
VI, dando um novo ritmo às viagens. Nesse período, com éditos (leis) criados para
regulamentar a entrada de “palmeiros” (peregrinos) em Roma, estes passaram a ser
conhecidos como “romeiros”, uma vez que a cidade de Roma foi inclusa nas
passagens das peregrinações (DE LACERDA BADARÓ, 2013).
Durante o transcorrer dos séculos VII e IX, consoante os apontamentos de De
Lacerda Badaró (2013), as viagens tiveram uma fértil expansão. A principal
motivação era a celebração de festas religiosas, a chegada da primavera, a boa
colheita e a conquista de novos territórios. Porém, as viagens com motivação
religiosa se intensificaram de fato a partir do século IX (entre os anos 813 e 820 d.
C.), com o descobrimento da tumba do apóstolo Tiago, São Tiago, ou ainda
Santiago, no norte da Espanha. Após a descoberta, a grande veneração atraiu
11
Este tópico faz referência, sobretudo, aos principais fatos históricos que marcaram o que os historiadores chamam de Idade Média. Tal período histórico, tem sua gênese em 476 d. C com a queda do Império Romano e vai até 1453, com a tomada de Constantinopla, pelos turcos otomanos (ESPINOSA; GUERRA, 1968).
33
muitas excursões até o local onde o corpo de Santiago foi encontrado, lugar em que
anos mais tarde seria conhecido como Santiago de Compostela. O famoso caminho
de Santiago de Compostela representa, hoje, uma das principais destinações do
turismo religioso.
Em meados do início do século XI, em virtude de Jerusalém ser dominada
pelos turcos seljúcidas, o acesso a Santo Sepulcro foi restrito aos peregrinos,
fazendo com que estes passassem a visitar Santiago de Compostela. Entre os
séculos XI e XIII, no entanto, inúmeras caravanas militares de caráter religioso – que
mais tarde ficaram conhecidas como Cruzadas – tinham como objetivo libertar Santo
Sepulcro das mãos turcas. No caminhar da Guerra Santa, das Cruzadas, o então rei
da Inglaterra Ricardo Coração de Leão, ao firmar com o Sultão Saladino um tratado,
conseguiu recuperar algumas terras que abrangiam uma área costeira da Síria, onde
ficaria permitida a passagem de peregrinos até Jerusalém. O acordo garantiu a
continuação de peregrinações a Jerusalém, fomentou o renascimento de mercados
de transportes marítimos e de guias (DE LACERDA BADARÓ, 2013).
Na Idade Média, surgiram as primeiras feiras, durante reuniões entre
mercadores, que ocorriam paralelamente às festas e aos festejos religiosos, em que
inúmeros produtos eram comercializados ou trocados, bem como as relações
comerciais (econômicas), políticas, sociais e culturais se (re)construíam (LOBATO;
RAVENA-CAÑETE, 2015; SANTOS; RODRIGUES, 2013). De Lacerda Badaró
(2008) salienta que as feiras eram, na verdade, grandes eventos ocorridos durante o
ínterim dos séculos XIII e XIV, que reuniram grandes multidões para trocar ou
adquirir mercadorias, passear ou apenas entreter-se em tais eventos. O número de
participantes era tão expressivo que, em geral, as pousadas, as hospedarias, as
estalagens ou quaisquer outros meios de hospedagem não conseguiam atender a
demanda, excedendo a capacidade da oferta por vezes – algo corriqueiro em
cidades onde ocorrem grandes concursos públicos hoje no Brasil.
De Lacerda Badaró (2013), nesse panorama, salienta que se formou a liga
hanseática, que figurava a associação de comerciantes do norte europeu. Essa liga
organizava viagens com roteiros que contemplavam diversas províncias, a fim de
mostrar, ao maior número de pessoas possíveis, a variedade de mercadorias
existentes para comercialização. Pode-se dizer que nesse período, portanto,
encontra-se a origem das grandes feiras de negócios dos dias atuais, nas quais os
empresários expõem suas empresas/marcas e os produtos por eles fabricados.
34
As grandes navegações, ocorridas nos séculos XV e no início do XVI,
compreendem outro importante marco na história das viagens e do turismo
(FIGUEIREDO; RUSCHMANN, 2004), sobretudo após a superação, a queda de
teorias, dos medos e das superstições que rodeavam a mente humana daquela
época. Sobre isso, livros de história narram que existam concepções de que: a terra
era quadrada, logo, os barcos cairiam no horizonte; trovões, ventanias e temporais
malignos poderiam causar naufrágios; ou ainda, a existência de seres mitológicos
como sereias, homens sem cabeça, ciclopes e monstros que levavam as
embarcações e os seus tripulantes para o fundo do Oceano Atlântico, conhecido por
“Mar Tenebroso”. Dessa forma, diversas nações, notadamente, holandeses,
ingleses, portugueses e espanhóis, “com o advento do renascimento do comércio e
das cruzadas” (SEABRA, 2001, p. 13), com o uso da bússola – levados pela
curiosidade, pelo desejo e pela ambição de conhecer, de conquistar novas terras e
de firmar novas relações comerciais – intensificaram a expansão marítima, passando
a explorar "mares nunca d'antes navegados", principalmente entre a passagem do
século XV para o século XVI.
2.5 “A Idade Moderna do turismo”12
Atrás de colônias que pudessem fornecer matérias-primas e especiarias,
muitos navegantes continuaram, durante a Idade Moderna, aventurando-se em
caravelas nas viagens transoceânicas que descobririam novos mundos fora da
Europa. Repletos de riquezas, de sabores, de cores, de cheiros e de gostos exóticos
esses mundos instigaram, em muitas pessoas, a vontade viajar para conhecer tudo
o que foi descrito e contado nas Cartas de Pero Vaz Caminha e nas histórias dos
navegantes (FIGUEIREDO; RUSCHMANN, 2004). Assim, várias viagens passaram
a ser realizadas com o objetivo de conhecer os novos territórios e suas riquezas –
objetivo que se aproxima deveras das viagens da segmentação de turismo de
negócios que ocorrem hoje em dia.
Nesse panorama, no Brasil, segundo Barretto (1995), as viagens têm início
com o seu próprio descobrimento, com as expedições que aqui chegaram. Bursztyn
12
Este tópico faz referência, sobretudo, aos principais fatos históricos que marcaram o que os historiadores chamam de Idade Moderna. Tal período histórico tem início em 1453 e se estende até 1789, com a Revolução Francesa (ESPINOSA; GUERRA, 1968).
35
(2005, p. 8), no entanto, pontua que as viagens realizadas por esses desbravadores
“não podem ser classificadas como turísticas, em virtude de seu caráter mercantil,
colonizador e bélico”. Bursztyn (2005) não está errado em sua colocação, pois essas
viagens naquele contexto não tinha caráter turístico, nem os navegadores podem
considerados turistas por uma série de motivos que serão explanados no próximo
capítulo deste trabalho. Contudo, tendo como base a noção atual do que é
considerado viagem, turismo e turista, poder-se-ia dizer que os navegadores
estariam praticando o “turismo de negócios”, não sendo considerados turistas, mas
estariam em busca de negociações/comercializações ou, simplesmente, de riquezas
para si ou para terceiros.
Licínio Cunha (2003, p. 13) contribui dizendo que, “embora muitas das
viagens que integram o conceito de turismo se realizem no exercício de uma
atividade profissional ou de uma ocupação intelectual, não implicam
necessariamente o lazer”. Cabe apontar, no entanto, que um indivíduo pode utilizar
e aproveitar de algumas horas das viagens com fins profissionais com atividades
que proporcionem lazer. Por outro lado, é importante ressaltar que até nesse
contexto não havia a concepção do que seria turismo, viagem ou turista, e, portanto,
ao levar-se em consideração apenas a terminologia tour, observa-se que os
navegantes estavam realizando deslocamentos, estavam “indo e voltando”, “dando
uma volta”, praticando, portanto, o que se pode chamar de pré-turismo.
De Lacerda Badaró (2013) chama atenção para o número crescente de
viagens ocorridas entre a metade do século XV e o transcorrer do século XVI,
enquanto fatos importantes na história do turismo. De acordo com o referido autor,
tais viagens tinham como objetivo estabelecer uma maior comunicação entre
diferentes nações, visto que esta ainda era insuficiente. Nesse contexto, a
publicação, no ano de 1551, do “Guia das estradas da França”, de autoria de Ch
Etienne, figura outro momento marcante na história do turismo. Esse guia,
reconhecido na Europa “como um ancestral dos guias de viagem da França”, tinha
tiragens exclusivas e restritas (DE LACERDA BADARÓ, 2013, p. 7).
Grande parte de autores que estudam a historicidade do turismo, Barretto
(1995), Bursztyn (2005) e Ycarim Barbosa (2002), destacam o século XVIII como o
período de nascimento do turismo, pois, houve uma evolução dos chamados Grand
Tours. Consoante De Lacerda Badaró (2013, p. 8), “ao retornar à Inglaterra o jovem
aristocrata tornava-se um ‘gentleman’ e, juntamente com os companheiros que já
36
haviam percorrido a viagem, seguiam a máxima: ‘As viagens formam a juventude’”.
Essa prática caracterizava-se, assim, como uma espécie de ritual, em que os jovens
estudavam e tinham uma viagem – com duração de seis meses a dois anos, com
um tutor13, pela Europa – como a complementaridade de suas formações, ao
entrarem em contato com as mais variadas histórias, tradições, artes e culturas dos
países visitados (ANDRADE, 2000). Esse contexto tem, certamente, uma ligação
“hereditária” com a segmentação do turismo de estudos e intercâmbio da atualidade.
Eva Milheiro e Carla Melo, em seu artigo “O Grand Tour e o advento do
turismo moderno”, reiteram que este representou um marco na história do turismo
porque “o viajante passou a ser, pela primeira vez, um turista associando o lazer e a
ânsia de conhecimento ao prazer da descoberta de países, monumentos, tradições,
sabores e culturas diferentes” (MILHEIRO; MELO, 2005, p. 116). O “Grand Tour”, no
entanto, principalmente com o advento da Revolução Francesa, foi, em certa
medida, interrompido. Ainda segundo as autoras mencionadas, essa prática
contribuiu para o surgimento de expressões de viagens e para novos produtos e
serviços, como as lembranças, os presentes ou os souvenirs de viagens.
Essas viagens, cada uma a seu modo, provavelmente, têm contribuições com
a construção atual do turismo e das diferentes segmentações de seu mercado.
Assim, as viagens a concursos públicos podem ter uma conexão histórica com esses
traslados. Daí a importância de fazer esta contextualização histórica e, em certa
perspectiva, conceitual.
2.6 “A Idade Contemporânea do turismo”14
O século XIX, cenário das revoluções francesa e industrial, vivenciou
alterações substanciais nas dinâmicas socioculturais, políticas e econômicas que
13
[...] para o nobre empreender-se em uma viagem ele tinha que firmar, bem como seu pai, um contractum com o professor ou tutor do mesmo, que estabelecia as metas da viagem, as responsabilidades de cada um, os poderes delegados pelo pai ao professor e condições de cancelamento do documento. [...] Era necessário que o professor ou tutor falasse a língua do país visitado e já o conhecesse para que pudesse tecer alguns comentários e explicar os costumes do povo (DE LACERDA BADARÓ, 2013, p. 7).
14 Este tópico faz referência, sobretudo, a alguns dos principais fatos históricos que marcaram o que
os historiadores chamam de Idade Contemporânea. Tal período histórico, inicia-se em 1789, com a Revolução Francesa e se estende até os dias atuais (ESPINOSA; GUERRA, 1968). Contudo, optou-se por demarcar o fim deste período na década de 70, mais especificamente em 1972, ano da Conferência de Estocolmo, que configura-se como um grande marco para o despertar da preocupação com o meio ambiente – que trouxe reflexos no pensar e no fazer turístico.
37
permeavam as sociedades daquela época (PÉREZ, 2009). A invenção da máquina a
vapor, ao propiciar a evolução e o desenvolvimento dos transportes, desencadeou
mudanças radicais nesse período, que contribuíram, sobremaneira, para
aperfeiçoamentos e melhorias em termos de velocidade, de eficiência, de eficácia,
de conforto/comodidade e, principalmente, no que concerne ao acesso das mais
distantes destinações em um curto período de tempo (RODRIGUE; COMTOIS;
SLACK, 2013). Tais melhorias, tampouco permitiram “que a gente viaje mais rápido
e mais longe”, provocaram “uma nova visão do mundo. O mundo passa a ser
observado como paisagem, como panorâmica” (PÉREZ, 2009, p. 19). Dessa
maneira, os transportes se transformam, no âmbito do turismo, em um meio dos
viajantes admirarem, conhecerem e vivenciarem diferentes lugares.
Provavelmente, face à Revolução Industrial, o britânico Tomas Cook, em 5 de
julho do ano de 1841, organizou uma viagem com formato de pacote turístico. Cook,
com isso, deixou seu o nome gravado na história do turismo, sendo por muitos
considerado o pai do turismo moderno. Essa viagem, que compreendia 24
quilômetros, ida e volta, entre as cidades de Leicester e Loughborough, realizada em
trem, tinha como objetivo transportar, para um congresso antialcoólico, participantes
que pertenciam à Igreja que Cook15 participava (AGÊNCIA..., 2015; ASTORINO,
2013; BARBOSA, Y., 2002; CAMARGO, H., 2001). Após alugar, da Empresa
Midland Counties Railway Company, um trem e vender os bilhetes a um preço a
baixo de mercado, Cook conseguiu reunir cerca de quinhentos passageiros. Por ser
um pacote turístico, além de oferecer transporte aos passageiros, Thomas
disponibilizou, ainda, entretenimento e alimentação. Mesmo que o pacote não tenha
lhe trazido o retorno esperado, Cook viu que aquele tipo de serviço poderia lhe gerar
grandes lucros. Mais tarde, ele e seu filho James Cook criaram aquela que seria
uma das mais renomadas agências de viagens do mundo, a Thomas Cook & Son
(AGÊNCIA..., 2015; ASTORINO, 2013; BOYER, 2003).
O transcorrer do século XIX, segundo De Lacerda Badaró (2013), é marcado
pelo cruzamento das fronteiras da Europa para o restante do mundo. As viagens
15
De acordo com informações presentes no site da empresa Agência de Viagens Thomas Cook, Cook era “ex-pastor, um homem religioso que acreditava que a maioria dos problemas sociais vitorianos foram relacionados ao álcool e que a vida das pessoas que trabalham teriam muito a ganhar se eles beberam menos e tornou-se mais instruídos. Enquanto caminhava ao longo da estrada para Leicester, recordou mais tarde, "o pensamento de repente passou pela minha mente quanto à viabilidade de empregar as grandes potências de ferrovias e locomoção para o adiantamento da reforma social" (AGÊNCIA..., 2015, s. p.).
38
passaram a ser realizadas pela busca, além do lazer, de contatos, de
conhecimentos e de interações com outras culturas e o desfrute das praias tropicais.
Assim, regiões da África, dos Estados Unidos e, já no final do século, das Américas,
Central e do Sul, foram as destinações mais almejadas pelos viajantes. No entanto,
com o advento da Primeira Guerra Mundial, no decorrer de 1914 e 1918, o turismo
sofre um impacto muito significativo (TRIGO, 1998), visto que esse contexto de
batalhas, as viagens a muitos lugares, sobretudo aos mais bombardeados pela
guerra, reduziram com o terror que assolou o mundo naquele período.
Com o final da Guerra e a reabilitação da produção industrial, o turismo
reaparece em sua magnitude. Nesse período, os Estados ao perceberem a
dimensão da injeção que o turismo era capaz de introduzir na economia passaram a
produzir em larga escala carros e ônibus, empresas aéreas foram criadas e voos
efetivados. Esse período é de grande avanço no que se refere à organização da
atividade turística, visto que superestruturas: entidades, organizações e instituições
foram criadas com os objetivos de criar, desenvolver, fomentar, fiscalizar e gerir os
serviços ligados à atividade (ACERENZA, 2002; DE LACERDA BADARÓ, 2008).
Contudo, em 1929, ano da crise da Bolsa de Valores de New York, que
refletiu no mundo todo, o turismo sofreu impactos muito intensos. Segundo De
Lacerda Badaró (2008, p. 31), a crise “provocou cortes drásticos por parte dos
governos europeus nos mais diversos setores – entre eles, o do turismo. A redução
de investimentos ao setor foi constante por três anos”. Esse período ficou conhecido,
por alguns autores (BURSZTYN, 2005; TRIGO, 1998), como um período de
estagnação do turismo. O turismo teria, por ora, “falecido”. Nesse panorama, no
entanto, marcado pelo ínterim das guerras, diversos países europeus procuraram
criar formas de desenvolver o turismo, vendo este como uma saída para superar a
crise e como, até mesmo, uma estratégia de guerra, conforme o Quadro 1 mostra a
seguir.
39
Quadro 1 – O desenvolvimento do turismo no período entre guerras
Itália
Mussolini, então primeiro ministro, “revisou sua política de turismo e passou a dar mais importância aos meios de captação de turistas estrangeiros”. Com o sucesso de seus planejamentos “MUSSOLINI passou a escarniar alegando que o turismo cobria 63% do déficit comercial italiano e que os milhões de estrangeiros que vinham ver as grandiosas criações italianas voltavam a se conectar a criações do vasto império romano”;
Alemanha
O Partido Nacional Socialista, no ano de 1933, pois em andamento o “programa Kraft Durch Freude, ou Força para Alegria”. Este programa tinha como objetivo, a partir de viagens pelo territorial nacional alemão, a “educação cultural dos trabalhadores alemães, mas estrategicamente criado para prepará-los para a guerra”;
URSS Por sua vez, passou a investir na promoção do lazer aos trabalhadores na tentativa de concretizar o artigo 119 da Constituição de STALIN, o “direito do trabalhador às férias remuneradas e a um descanso”;
França
No ano de 1936, Léo Lagrange, o então subsecretário de Esportes e Lazer “estabelece metas em busca da promoção do turismo social, através da instauração de programas como o “La neige pour tous”, e da massificação de cinemas, de museus e de esportes em geral”.
Fonte: Elaborado pelo autor (2015) a partir de De Lacerda Badaró (2008, p. 31-33).
O período que marca a interseção entre as duas grandes guerras mundiais,
foi importante, como se pode notar, para trabalhadores de boa parte da Europa,
visto que o direito às férias começa a se estabelecer, propiciando que esse grupo
pudesse sonhar e, com a consolidação do sistema crediário, tornar as viagens uma
realidade (DE LACERDA BADARÓ, 2008; REJOWSKI, 2002). Conforme Santos
Filho (2008), as viagens a baixo custo que Thomas Cook criou, somadas às
reivindicações e às conquistas da redução das horas de trabalho e do direito a
férias, abriram caminhos para o surgimento e desenvolvimento do turismo de massa
(PÉREZ, 2009). Isso se explica pelo fato da classe trabalhadora do sistema
industrial ter passado a imitar a nobreza, frequentando espaços, como as praias e os
balneários, que eram apenas de uso daqueles com maior poder aquisitivo (SANTOS
FILHO, 2008).
Entrementes, paralelamente, as tensões e os rumores de uma nova guerra,
que assombravam a Europa, começam a se disseminar. Com a confirmação de que
uma Segunda Guerra Mundial (1939-1945) estava concretizada, consequentemente,
o turismo sofreu uma nova estagnação, dado que a Europa era considerada o
40
“coração” do turismo mundial. Para se ter uma noção da real dimensão do impacto
que o turismo sofreu, Py, Pierre (2002 apud DE LACERDA BADARÓ, 2008, p. 35)
assinala que, no ano de “[...] 1940 o fluxo turístico sofreu queda de cerca de 87%.
No ano seguinte o número ultrapassou os 90% e, em 1942, o fluxo turístico foi
praticamente nulo em toda a Europa”. Trigo (1998, p.15), pontua que “[...] os efeitos
da guerra [foram] tão profundos que somente em 1949 o turismo renasce, então com
características crescentes de ‘turismo de massa”. Dessa forma, visualiza-se o
quanto a atividade turística é instável e influenciável por diferentes aspectos
tangentes às sociedades.
Não obstante, o ano de 1942 é um marco na história científica do turismo,
pois, foi o ano de publicação da obra “Grundrin der allgemeinen
Frendenverkehrslehre”, de autoria dos suíços Walter Hunziker e Kurt Krapf, uma das
pioneiras nos estudos do turismo sob uma perspectiva científica. Foram eles que
forjaram, nessa obra, aquela que viria a ser uma das primeiras, e mais clássicas,
definições do turismo: “[...] conjunto das relações e dos fenômenos produzidos pelo
deslocamento e permanência de pessoas de fora de seu local de domicílio, sempre
motivados por uma atividade não lucrativa”, em conformidade com Barretto (1995, p.
30).
Com o fim oficial da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1945, o setor
turístico encontrava-se em séria crise, devido o medo que ainda atormentava as
nações e as destruições ocorridas em linhas de transmissão/comunicação. Nesse
período, foram planejadas e executadas ações em direção ao crescimento e
desenvolvimento da economia mundial (DE LACERDA BADARÓ, 2013). Mas, no
decorrer dos anos de 1950 e 1975, a atividade turística sofreu o fenômeno que ficou
conhecido como boom do turismo, De Lacerda Badaró (2008, p. 38-39) comenta
que:
O que de mais marcante ocorreu durante este período foi, sem dúvida, a massificação do turismo, possibilitada por uma série de fatores. A paz prolongada em zonas de estabilidade política (Mediterrâneo, Europa Central, Estados Unidos, etc.), o aumento do poder aquisitivo da população, mudanças nas leis trabalhistas garantindo mais dias de descanso remunerado, evasão em busca de locais mais próximos à natureza para escapar dos problemas decorrentes da industrialização e os grandes avanços tecnológicos nos setores de comunicação e de transportes – todos estes fatores foram decisivos no processo de retomada, a pleno vapor, das atividades turísticas. A busca por novas culturas e conhecimento também fez parte do leque de fatores que deram novo impulso à retomada do setor turístico, com o movimento de expansão cultural e educacional da população.
41
Pérez (2009), sob este prisma, contribui dizendo que esse processo decorreu com o
reestabelecimento e crescimento econômico e a estabilidade político-social que
diversos países alcançaram, devido, sobretudo, às revoluções de modernização nos
transportes. Por outro lado,
A fábrica veio separar os espaços de produção e reprodução social, e também definiu o tempo do trabalho e não-trabalho. Foi somente assim que surgiu a reivindicação pelo direito ao tempo livre, que não mais era visto como momento de ócio, mas como uma necessidade do trabalhador, que foi sendo institucionalizada de diversas formas. Legitimado o tempo livre, legitima-se o lazer. É justamente no tempo livre que as pessoas têm a possibilidade de fazer turismo de lazer. O tempo livre foi inserido no mercado turístico de modo que, ao invés de se tornar um tempo de ócio, pudesse se transformar em tempo mercantilizado (HOBO, 2011, 16).
Dessa maneira, a atividade turística, ao ser percebida enquanto um setor com
grande potencial para geração de emprego e renda, transformou-se em uma
mercadoria poderosa do setor terciário. É nesse contexto que a classe social
proletária passa a desfrutar dos prazeres que o turismo proporciona: “De produtores
passamos a ser consumidores. [...] Democratizar-se-á o fenômeno” (PÉREZ, 2009,
p.). Evidentemente, esse processo dinamizou o crescimento da atividade no mundo,
contudo, insta pontuar que ele centrou-se, sobretudo, nos países considerados mais
desenvolvidos (DE LACERDA BADARÓ, 2008, p. 40).
Essas revoluções, assim, corroboraram para a concepção do lazer/prazer
enquanto um direito, uma necessidade fundamental e, consequentemente, para a
compreensão e para o desenvolvimento do turismo como prática e como campo
profícuo de conhecimento. Na atualidade, os diferentes cenários econômicos,
políticos, sociais, ambientais e culturais, também, exercem influência no turismo,
como é o caso dos concursos públicos no Brasil, que motivam pessoas a viajar em
busca de um emprego público – essas viagens e seus viajantes são objeto de
investigação deste trabalho.
2.7 “A Idade Pós-contemporânea do turismo”16.
16
Este tópico faz referência, sobretudo, a alguns dos principais fatos históricos que marcaram o que os historiadores chamam de Idade Pós-contemporânea. Tal período histórico, inicia-se na década de 70, mais especificamente em 1972, ano da Conferência de Estocolmo, que configura-se como um grande marco para o despertar da preocupação com o meio ambiente. Tal marco gerou novas discussões sobre a atividade turística, criando novos paradigmas de se pensar e fazer turismo, nascendo desde, então, o que aqui optou-se por chamar de: turismo pós-contemporâneo.
42
A globalização mundial, o capitalismo e a indústria cultural do lazer ao
promoverem o surgimento de novos processos dinamizadores que sobremaneira
marcaram alterações e têm permeado os modos de vida social, político, econômico,
cultural e ambiental do homem em sociedade – como a nova eclosão das invenções
tecnológicas e os crescentes avanços nos transportes e nas comunicações –
permitiram que o turismo se expandisse e logo se tornasse globalizado (REJOWSKI,
2002). Nas palavras de De Lacerda Badaró (2008, p. 46),
Viagens longas em tempos curtíssimos, com o máximo de conforto possíveis, eram agora possíveis graças à grande evolução tecnológica propiciada pela globalização. Eis que surge então o turismo globalizado, com um número crescente de empresas de transporte regular criando companhias charter, a expansão, integração, fusão e internacionalização de inúmeras empresas do ramo de turismo, o advento de novas máquinas, o aumento do poder aquisitivo da população em geral com o aumento de empregos, etc. Em cerca de três décadas, as características da demanda e dos serviços oferecidos no setor turístico sofreram profundas alterações.
E assim o fenômeno turismo assolou o mundo, a competitividade dos destinos
turísticos logo se originou e a busca pela oferta de serviços e produtos turísticos foi
se intensificando. Como reação ao aquecimento econômico fomentado pelo turismo
e como consequência da elevação social de uma parcela da população, a demanda
potencial passou a cada vez mais se tornar efetiva, desfrutando dos prazeres e
status que as viagens, o turismo e o lazer moderno passaram a representar.
Lundberg (2000 apud DE LACERDA BADARÓ, 2013), explica que boom do
turismo teve um impacto tão considerável no mundo que, na década de 60 as
receitas produzidas chagaram a 10 milhões de dólares, na década seguinte chegou-
se a 50 milhões em faturamentos, na década de 80 as receitas alcançaram os 300
milhões, chagando ao final dos anos 90 a ultrapassar 1 bilhão de dólares. Assim, ao
longo dos anos, a atividade turística cresceu e se consolidou em diversos locais do
mundo, passando a ser compreendida como uma atividade restrita a uma pequena
parcela da população: aquela que pode pagar os altos preços de uma viagem. Isso
ocorreu porque o turismo, enquanto atividade de lazer, ao longo dos anos, foi
apropriado pelo capitalismo e se constituiu como mais um produto a ser consumido
pelo homem (BARRETTO, 1995).
Convém sinalizar, nesse sentido, que no turismo a questão ambiental é uma
condicionante sine qua non para o seu desenvolvimento, à medida que ele precisa
consumir o espaço elementarmente para se materializar (CRUZ, 2001). Isto é, a
atividade turística necessita dos recursos naturais, finitos e infinitos, para se
43
estabelecer e desenvolver. E com esse crescimento exponencial desordenado –
com ou sem planejamento – que o boom trouxe, o consumo do espaço pela
atividade tornou-se mais intenso. Desse modo, o boom do turismo também gerou
impactos drásticos e irreversíveis a diversos ecossistemas, sendo por muitos
conferida como uma atividade exploradora, agressora e danosa do/ao meio
ambiente (LOBATO; AIRES; COSTA, 2013).
A partir dessa conjuntura, os questionamentos negativos acerca deste modelo
predatório que o turismo foi adquirindo, sem respeito e comprometimento com os
recursos naturais, tiveram um destaque significativo. Tais questionamentos foram
incitados em face de uma preocupação crescente com o meio ambiente, de
discussões e de avanços nas concepções acerca dos impactos ambientais e da
sustentabilidade, emergentes na década de 70 (PINTO; QUARESMA; CAMPOS,
2012; QUARESMA, 2003). Essa década foi o cenário dos grandes avanços de
sensibilização do meio ambiente por, mais precisamente em 1972, o documento “Os
Limites do Crescimento” ter sido produzido. Demais, 72 também se figurou como um
importante marco histórico dos movimentos ambientalistas, pois, foi o ano de
acontecimento da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano
(CNUMAH), em Estocolmo. Nela, foram debatidos e alertados direitos e deveres da
humanidade para com a manutenção de um meio ambiente ecologicamente
equilibrado e saudável (KÖRÖSSY, 2008).
Posteriormente, novos avanços são dados em direção à luta pela
conservação do meio ambiente, sendo em 1984 criada a Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, que em 1987 publicou o documento
mundialmente conhecido “Nosso Futuro Comum”17. Em seguida, são realizados
outros eventos: Agenda 21, no Rio de Janeiro (1992); Cúpula da Terra, em Nova
York (1997); Cúpula do Milênio, em Nova Iorque (2000), Cúpula Mundial sobre o
Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (RIO+10, 2002) e, mais
recentemente, a Rio +20, no Rio de Janeiro (2012). De acordo com Körössy (2008,
p. 61), esses eventos tiveram sempre um mesmo discurso: “o ser humano está
degradando o planeta e, caso o desenvolvimento sustentável não for efetivamente
17
“Tal documento delineou a noção de sustentabilidade ao apresentar o termo ‘desenvolvimento sustentável”, o qual é definido como o “desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras atenderem às suas próprias’” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991 apud KÖRÖSSY, 2008, p. 61).
44
adotado em escala planetária, a tendência é o caos, decorrente de um colapso nas
fontes de energia e da poluição global”.
Aliadas ao desenvolvimento tecnológico e à especialização técnica, tais
discussões fomentaram a elaboração de instrumentos jurídicos de avaliação de
impactos ambientais de atividades possivelmente danosas sobre determinados
ecossistemas. Assim, no contexto brasileiro, a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)
emerge como um importante instrumento de execução da Política Nacional de Meio
Ambiente (PNMA). Tal processo de avaliação ambiental, tem contribuído
sumariamente para a identificação de possíveis impactos, bem como possíveis
ações de solução para a mitigação e para compensação desses (BRASIL, 1981).
Ademais, com a implementação de áreas protegidas no Brasil, por meio,
principalmente, do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), novas
restrições de uso do ambiente foram estabelecidas (BRASIL, 2000). Dessarte,
possibilitou a manutenção, a conservação e a preservação de diversos
ecossistemas.
Concomitante e posteriormente, no Brasil são criados os primeiros
instrumentos de ordenamento, de fiscalização e de regulamentação da atividade –
as superestruturas – a partir de 1968, a saber: Conselho Nacional de Turismo
(CNTUR), Fundo Geral de Turismo (FUNGETUR) e Instituto Brasileiro de Turismo
(EMBRATUR). Em 2003, o então presidente, Luís Inácio Lula da Silva cria o
Ministério do Turismo (MTUR), um marco importantíssimo para o turismo brasileiro
(DIAS, 2003a), o que corroborou para a melhor organização, gestão,
desenvolvimento e fiscalização da atividade no país, sobretudo em áreas protegidas
naturais e culturais.
Em meio a esses avanços na percepção social, política e, notadamente,
ambiental, o turismo, em muitas áreas, precisou efetivar modificações em sua cadeia
e formas de materialização e de apropriação no/do espaço. Passou, portanto, a
buscar novos meios de se desenvolver e consolidar, uma vez que os principais
atrativos de sua cadeia, no Brasil, são os naturais. Nessa esteira, tendo como
alicerce os conceitos e os moldes do desenvolvimento sustentável18 e do
ecodesenvolvimento, o turismo passou a buscar novas segmentações para
18
De Lacerda Badaró (2008, p. 46) explica que “A filosofia do desenvolvimento sustentável” tem como gênese “a idéia básica era que ‘usufruir o turismo no presente deve significar poder usufruir no futuro’”.
45
continuar se desenvolvendo, configurando-se o Ecoturismo, neste cenário, como
paradigma exemplificador dessas novas abordagens (LOBATO; AIRES; COSTA,
2013).
A entidade Turismo Inteligente Internacional reitera essa mudança sobre o
fazer turístico ao apontar que:
Um novo turismo está emergindo, sustentável, ambiental e socialmente correto, e caracterizado pela flexibilidade de escolha. Um novo tipo de turista está surgindo: mais educado, experiente, independente, orientado para a conservação, com respeito às culturas e à procura da boa relação preço-qualidade (TOURISM INTELLIGENCE, 2015, s. p. Tradução nossa).
Neiman e Rabinovici (2010), nesse sentido, sinalizam que a atividade turística com
os ideais que movem a sustentabilidade passou a caracterizar uma tendência, uma
imposição de mercado, uma “moda ambiental”: que tem buscado sensibilizar
“empresários e turistas para as causas de preservação histórica e ecológica, de
forma a conciliar a necessidade da continuidade da expansão turística com a
conscientização da necessidade de preservação e manutenção do meio” (DE
LACERDA BADARÓ, 2008, p. 46). Assim, o trade turístico viu-se obrigado a segui-
la, ofertando produtos e serviços, adotando medidas e mostrando as
responsabilidades social e ambiental, mesmo que mascaradas, da empresa diante
dessa desafiante conjuntura.
E com a busca por viagens e experiências cada vez mais alternativas, únicas
e diferenciadas, os “novos turistas” têm fragmentado mais o mercado turístico. O
consumo, mesmo com a globalização, passa a ser menos padronizado e mais plural,
o consumidor, pois, não aceita mais pacotes pré-formatos. “O turista de hoje quer
mais do que apenas alguns dias para descansar. Ele deseja que sua vontade e suas
expectativas sejam atendidas, ele busca viagens que o faça passar por sensações
ímpares [...] que lhe proporcionem uma experiência marcante” (PANOSSO NETTO;
GAETA, 2010, p. 7). Ele prefere fazer as suas escolhas tendo como base
necessidade, exigências, sonhos, desejos, sua personalidade (MOLINA, 2003).
Nesse cenário, têm-se, então, o surgimento das segmentações e dos nichos que
marcam o mercado turístico da contemporaneidade – como é o caso das viagens a
concursos públicos, objeto de estudo desta pesquisa.
46
3 VIAJANDO PELO UNIVERSO TURÍSTICO: CONCEPÇÕES, DEFINIÇÕES
E FUNCIONAMENTO DO TURISMO
O universo turístico caracteriza-se como uma atividade econômica e social
complexa, um campo de estudos relativamente novo e pouco conhecido. À vista
disso, é visualizado e analisado sob diferentes e errôneas visões. Essas, em muitos
casos, frutos de estereótipos forjados no seio do senso comum, estão permeadas
pela falta ou pelo conhecimento superficial sobre o turismo – quer seja enquanto
atividade, quer seja como disciplina do conhecimento. Na tentativa de contribuir com
as discussões paradoxais entre pesquisadores da área, bem como contextualizar e
embasar o presente trabalho, este capítulo pretende desmistificar e esclarecer
questões que mediam o universo turístico. Assim, nesta terceira parte da viagem,
serão abordados conceitos, definições, classificações, funcionamento e
(inter)relações que, com o desenvolvimento da atividade, foram/são construídas e
orientam a dinâmica desse fenômeno.
3.1 Viagens, lazer e turismo
Muito embora o turismo seja realizado a partir de deslocamentos, convém
elucidar que nem toda viagem pode ser considerada um fazer turístico, porquanto,
há deslocamentos e há viagens que não têm por objetivo (principal ou secundário) o
turismo em si. As viagens apresentam diferentes e especificas motivações19. É
dependendo, sobretudo, da motivação que uma viagem pode ser considerada
turística ou não. Assim, é factível a existência de viagens que têm como finalidade a
participação de reuniões, de eventos, a realização de estudos e de pesquisas, ou
ainda, visitas a pessoas que estão doentes (BARRETO, 1995; CUNHA, L., 2003).
Nessas viagens, porém, nada impede do viajante reservar algumas horas para
conhecer e passear pela cidade onde está, ainda que essa não tenha sido a sua
motivação inicial – em uma viagem podem existir motivações primárias e
secundárias ou ocultas (MARQUES, 2009).
19
Consoante aos apontamentos de Cunha (2003, p. 16), “as pessoas viajam para: Escapar a
qualquer situação desagradável ou penosa; Alcançar melhor situação económica; Cumprir
missões ligadas ao exercício de uma actividade profissional, política ou intelectual; Cumprir
obrigações ou deveres de carácter familiar ou social; Conhecer coisas diferentes e viver situações diferentes [sic]”.
47
O turismo antes de tudo está embutido em um universo maior: o lazer.
Consoante o sociólogo Joffre Dumazedier (1979, p. 166), considerado o pai da
Sociologia do lazer, esse é percebido enquanto um:
Conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação “desinteressada”, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais e familiares.
Em meio a essa acepção, o turismo representa uma atividade-meio de ocupação do
tempo livre, do tempo de lazer. De forma prática, pode-se dizer que o turismo
compreende tipologias de viagens que possuem como motivação a ocupação do
tempo disponível por meio do recreio, do entretenimento e de outras atividades que
proporcionem lazer/prazer. Na figura 1, a seguir, representa-se, de forma ilustrativa,
o posicionamento do turismo (das viagens turísticas) em relação ao lazer e às
viagens de modo geral.
Figura 1 – Viagens, lazer e turismo
Fonte: Elaboração do autor (2015).
Mas, o que seria o turismo, afinal? Iniciando esta discussão pela etimologia
do termo, entre os estudos levantados que versam sobre essa questão observou-se,
contudo, divergências entre posicionamentos de pesquisadores já no que refere ao
idioma de origem da terminologia. Enquanto alguns defendem que o radical tour
48
possui como língua materna o francês, outros argumentam o inglês, e há, ainda,
aqueles que assinalam a origem do termo como advinda do hebraico. Autores como
Andrade (2000), Antônio Cunha (1982), Barretto (1995), Bursztyn (2005), Cisne e
Gastal (2010) e De La Torre Padilla (1992) consideram tour como sendo originário
da língua francesa, muito provavelmente, advindo, de acordo com Santos (2010),
das palavras tourisme e touriste. Na visão de Antônio Cunha (1982), tourisme teria
surgido por volta de 1643 e se difundiu pelo mundo em vários idiomas, chegando,
em meados de 1811, a ser utilizado em inglês sob a forma de tourism. Em
português, o autor em tela esclarece que a primeira aparição do termo somente
ocorreu no século XX, no entanto, com uma concepção mais complexa, para além
do ir e voltar.
Em contrapartida, Antônio Oliveira (2001) e Haroldo Camargo (2001) e
Moesch (2002) contestam que tour seja derivado do francês, alegando que a
terminologia é, na verdade, de origem inglesa. Moesch (2002, p. 10) embasa seu
posicionamento ao discorrer que “A raiz tour aparece documentada em 1760, [...] na
Inglaterra. A etimologia da palavra permite indicar sua procedência latina tornus
(torno) como substantivo, e tornare (redondear, tornear, girar) como verbo”. Já a
palavra turismo aparece pela primeira vez documentada, em 1800, no “Pequeno
Dicionário de Inglês Oxford” (MOESCH, 2002, p. 10). Haroldo Camargo (2001, p.
52), por sua vez, aponta que “[...] o tour foi responsável pela origem da palavra
turista. Não obstante, o termo só se fixou em inglês por volta de 1800. Do inglês, a
palavra é adotada na França, por volta de 1816”, dado que embasa seu
posicionamento.
No seio dessas discordâncias, Andrade (2000), mesmo acreditando que tour
seja de procedência francesa, pondera que não se pode ficar refém dessa
informação, pois, dicionaristas de grande reconhecimento indicam que a
terminologia é de origem inglesa. Santos (2010, p. 11) sinaliza que, no novo
dicionário da língua portuguesa, o verbete turismo provém “da língua inglesa,
compactuando com o posicionamento do lexicógrafo lusitano Francisco Júlio Caldas
Aulete, que em seu Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa cita que a
língua portuguesa adotou o termo através do inglês”, e não do francês – reiterando o
inglês como sendo a língua materna do termo.
Contudo, Arthur Haulot, em seus estudos, constatou que a terminologia tour
encontra-se presente no hebraico antigo, significando “viagem de descoberta, de
49
exploração, de reconhecimento” (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE COMÉRCIO,
2005, p. 9; OLIVEIRA, A., 2001; SANTOS, 2010). Os estudos de Barretto (1995) e
Rossetto Ferreira (2007) indicam que tur aparece na Bíblia, em Números, ao narrar
alguns momentos do transcorrer do deslocamento de Moisés e do povo em direção
a Israel ratificando a gênese do termo na língua hebraica.
De todo modo, como apontado no capítulo anterior, ao menos se visualiza
certa concordância entre os pesquisadores quanto ao significado do termo, como o
turismo sendo derivado do termo tur ou tour, que significa “voltar”, “circular”, “andar
em círculos”, “dar a volta”, “ir e voltar”, “deslocar-se” (ANDRADE, 2000; BARRETTO,
1995; BURSZTYN, 2005; CUNHA, A., 1982; DE LA TORRE PADILLA 1992;
MOESCH, 2002), ou ainda, “viagem de descoberta, de exploração, de
reconhecimento”, na concepção hebraica (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE
COMÉRCIO, 2005; OLIVEIRA, A., 2001; SANTOS, 2010).
Decerto, o turismo em sua faceta atual não se constituiu de forma abrupta.
Desde sua aparição, a ele foram conferidas diferentes acepções, isto é, sua
conceituação passou por algumas variações motivadas pelo próprio
desenvolvimento da atividade. No entanto, sua essência conceitual, de acordo com
Rossetto Ferreira (2007, p. 24), aparentemente se manteve: “a de um conjunto de
relações provenientes do deslocamento humano temporário”, como se pode
observar no quadro 2.
50
Quadro 2 – Evolução da conceituação do turismo
Ano Autor Conceito
1911 Hermann von Schullernzu Schattenhofeno
“turismo é o conceito que compreende todos os processos, especialmente os
econômicos, que se manifestam na chegada, na permanência e na saída do turista
de um determinado município, estado ou país” (BARRETTO, 1995, p. 9).
1929 Schwink
“o movimento de pessoas que abandonam temporariamente o local de residência
permanente por motivos relacionados com o espírito, corpo ou profissão”
(BARRETTO, 1995, p. 10).
1942 Krapf e Hunziker
“fenómenos e relações originados pela deslocação e permanência de pessoas para
fora do seu local de residência, desde que tal deslocação e permanência não sejam
utilizadas para o exercício de uma actividade lucrativa principal, permanente ou
temporária” (BARRETTO, 1995, p. 11).
1992 Óscar de la Torre Padilla
“consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de
pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou
saúde, saem dos seus locais de residência habitual para outro, no qual não exercem
nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de
importância social, econômica e cultural” (DE LA TORRE PADILLA, 1992. p. 19).
1999 Organização Mundial do Turismo (OMT)
“O turismo compreende as atividades realizadas pelas pessoas durante suas
viagens a e estadias em lugares diferentes de seu entorno habitual, por um período
de tempo consecutivo inferior a um ano, tendo em vista lazer, negócios ou outros
motivos não relacionados ao exercício de uma atividade remunerada no lugar
visitado” (PAKMAN, 2014, p. 13).
Fonte: Elaboração do autor (2015).
51
Na análise dos conceitos acima apresentados, é perceptível que para além do
deslocamento, indicado por Antônio Cunha (1982) e Rossetto Ferreira (2007), outros
elementos podem ser destacados enquanto componentes importantes da base
conceitual do turismo: “o tempo de permanência, o caráter não lucrativo da visita e a
procura do prazer por parte dos turistas” (BARRETTO, 1995, p. 13). Em síntese, o
turismo pode ser compreendido como o movimento de pessoas que saem de seus
ambientes habituais temporariamente, almejando/buscando os conteúdos
culturais do lazer20, que não lhe tragam retorno financeiro, podendo também ser
definido como atividade de transportar e de acomodar visitantes e colocar a sua
disposição meios que possibilitem lazer e recreação no sentido mais amplo, sempre
com o objetivo principal de satisfazer as exigências e as necessidades do visitante
(BARRETTO, 1995; COSTA et al, 2013; MARCELLINO, 2007; ROSSETTO
FERREIRA, 2007).
3.2 Turismo: desmistificando visões
O turismo figura como um fenômeno mundial ao qual são atribuídas variadas
conceituações e importâncias. Barretto (1995, p. 99) aponta que para o ser humano
“[...] o turismo é uma das atividades que se lhe oferecem dentro de uma infinita
gama de possibilidades de entretenimento [e de lazer]” enquanto uma necessidade
inerente à sua existência. Àqueles que trabalham ou que procuram empregos, o
turismo “[...] pode significar a oportunidade de emprego ou subemprego”.
Empresários o veem como “[...] uma fonte de enormes lucros”. Pesquisadores
percebem-no como “[...] uma dentre várias formas de adquirir conhecimentos, ou
seja, uma forma de educação alternativa” (BARRETTO, 1995, p. 99). Nessa direção,
há aqueles que compreendem o turismo a partir de percepções diferenciadas:
discorrendo que o “turismo é ciência” ou que “Não existe uma ciência do turismo” ou,
ainda, que o “turismo é uma indústria”. Visando desmitificá-las, esta subseção
pretende abordar o(s) porquê(s) do turismo ser ou não uma ciência ou uma indústria.
Consoante os postulados de Lohmann e Panosso Netto (2012, p. 23), no bojo
do debate acerca do turismo ser ciência ou não, existem, pelo menos, três correntes
teóricas: a primeira delas defende que não existe uma ciência do turismo, contudo,
20
Os conteúdos culturais do lazer são: os artísticos, intelectuais, manuais, sociais, físicos-esportivos e turísticos (MARCELLINO, 2007).
52
há um caminho sendo trilhado para que esse alcance o status de ciência, estando o
turismo, segundo esses pensadores, perpassando por fases que outras ciências,
durante a sua construção, passaram; a segunda tem o posicionamento de que o
turismo não é e nunca será uma ciência. O posicionamento dessa corrente é
embasado no fato que o turismo não tem um objeto de estudo claro e definido e nem
se quer conhecimentos e procedimentos metodológicos próprios, condições
basilares para a materialização de uma ciência; a terceira vê o turismo como uma
ciência que detêm de um escopo teórico-conceitual expressivo e amadurecido, mas,
nos dizeres de Lohmann e de Panosso Netto (2012), essa corrente, mediante seus
estudos, ainda não conseguiu comprovar esse pensamento sobre a realidade.
O turismo é um fato social, uma atividade nascida de forma espontânea, logo,
não se constituiu por meio de pesquisas ou experimentos que prognosticassem o
seu nascimento e desenvolvimento. Porém, à medida que o turismo foi se efetivando
e crescendo enquanto atividade, conhecimentos científicos passaram a ser
construídos a fim de tentar compreender e explicar esse fenômeno e suas
interfaces: tudo aquilo que ele abarca e que está a ele envolto. Os conhecimentos
até aqui construídos, no entanto, não foram formados a partir de metodologias
próprias, mas sim das contribuições e da adoção de conceitos, de classificações, de
métodos e de técnicas de pesquisa de vários campos do conhecimento.
Nas palavras de Boullón (2002),
O turismo, por se algo novo, cresceu insuspeitadamente pressionado pelos problemas que o próprio crescimento descontrolado deixou sem resolver, ainda não teve tempo de criar sua própria linguagem técnica medianamente aceitável. É por isso que a terminologia turística criada por essa atividade é mínima. [...] Desde que o turismo alcançou a importância que tem atualmente, seu conhecimento analítico foi-se concretizando lentamente, não como um produto de um trabalho de pesquisa sistemática, mas como resultado de uma série de estudos e ensaios individuais que ainda não conseguiram constituir um corpo teórico (BOULLÓN, 2002, p. 15).
No entendimento desse autor, na falta de conhecimentos, conceituações ou técnicas
de pesquisa próprias, o turismo tem utilizado “de outras disciplinas, sem que até hoje
se tenha feito um balanço desses termos e, muito menos, chegado a um acordo
sobre o significado que adquirem ao serem aplicados ao turismo” (BOULLÓN, 2002,
p. 16). Essa utilização de conceitos de outras disciplinas, contudo, tem gerado
confusões semânticas, visto que determinadas terminologias quando empregadas,
no âmbito da atividade turística, podem ter (e têm) diferentes conotações.
53
Nessa lógica, baseando-se no paradigma clássico de ciência, o turismo
precisa conceber um escopo conceitual que possa explicar suas facetas, os
fenômenos que o compõe. Boullón (2002) assinala que para que isso ocorra é
necessário que a atividade construa uma linguagem universal sólida, uma teoria
científica que possua princípios gerais consolidados, ainda que estes possam (e
devam) ser flexíveis. É por intermédio dessa, pois, que “o homem aperfeiçoa sua
capacidade de expressar-se, configurando-se, desse modo, conceitos mais firmes,
dotando as palavras de um significado preciso” (BOULLÓN, 2002, p. 16). O turismo
está longe dessa fase, tendo em vista que ainda há muitas confusões conceituais
e/ou significativas nos termos utilizados, que, como retrodito, derivam de outras
áreas do conhecimento.
Mas para que se possa construir uma teoria científica, o autor
supramencionado ressalta que é de sumária importância a existência de
pressupostos que figurem-se como caminhos norteadores de uma pesquisa, que
passarão por experimentos e combinações reflexivas que, por sua vez, determinarão
suas validades ou não. A partir das conclusões e dos conhecimentos gerados com a
validação das hipóteses se poderá estabelecer princípios gerais que guiarão um
campo do saber científico. Demais, a precisão e a sistematização das definições e
das classificações iniciais são essenciais para a formação de conhecimentos mais
particulares, que poderão compreender e elucidar um fenômeno. Destarte, segundo
Dencker (1998) e Panosso Netto (2011), turismo não é e não pode ser considerada
uma ciência, visto que para se chegar à condição de ciência é essencial que a
produção do saber cumpra, de forma sucessiva e sistemática: metódica, as etapas
descritas. E essas, ainda não foram, e estão longe de ser, ascendidas pelo turismo.
Tendo-se em mente que “sem pesquisa não há ciência”, Boullón (2002, p. 24)
pondera que a despeito da pesquisa em turismo: “só podemos dizer que é escassa e
que se mantém na superfície”, bem como apresenta “falta de integração” – em
consonância com ele, advinda da ausência “de confrontos que permitam, primeiro,
conhecer e depois comparar todas as ideias em circulação no ambiente turístico”
(BOULLÓN, 2002, p. 15). Isto é, segundo Boullón (2002, p. 24), a pesquisa turística
“está centrada ‘na descrição, sistematização e previsão, [parcial e fragmentada] ao
custo da teorização’”, há ainda uma preocupação muita ínfima com o contínuo
exercício da epistemologia (PANOSSO NETTO, 2011; PANOSSO NETTO;
CASTILLO NECHAR, 2014). Sob esta concepção, “é inegável que o campo turístico
54
carece de teorias devidamente fundamentadas, já que não podemos admitir que a
mera enumeração e a deficiente descrição de eventos constitua uma teoria
cientifica” (BOULLÓN, 2002, p. 24).
Souza Junior e Ito (2005) pontuam que como o turismo não se originou a
partir de teorias não é uma ciência. No entanto, pode ser incorporado enquanto
objeto de estudo de ciências, desde que estas possam a partir de pressupostos
interpretar, demonstrar e aclarar fenômenos envoltos ao surgimento, à efetivação,
ao desenvolvimento e a influências do turismo em diferentes contextos. Diante
desse prisma, Boullón (2002, p. 23) discorre que seria sensato classificar o turismo,
primeiramente, enquanto:
[...] um saber situado no âmbito do conhecimento natural das coisas, porque nesse nível encontram-se as interpretações, deduções e procedimentos mais utilizados em sua operação e explicação e, segundo, admitir que seu progresso medular só será possível por meio das ciências sociais, motivo pelo qual como um capítulo destas, e não como conhecimento autônomo.
Levando-se em consideração os postulados do autor, o turismo está situado no
campo de estudos das Ciências Sociais Aplicadas. Boulllón (2002, p. 23) enfatiza,
ainda, que “Por mais que nos esforcemos, não podemos conceber a atual nem a
futura existência das ciências do turismo em si mesmas”. Até mesmo porque o
turismo possui como características inerentes a multi, a inter, a trans e a
pluridisciplinaridade (FARIAS; SONAGLIO, 2013): apropria-se e utiliza-se de
conhecimentos, e inter-relaciona-se de maneira muito profícua, com diversos ramos
do saber científico, e a concepção clássica de ciência (cartesiana) pressupõe, como
visto, que cada uma possua teórica, metodologia e linguagem universal próprias,
que consigam explicar as realidades, os fenômenos a que se propuseram estudar.
Dado o fato de que o turismo não é uma ciência – não possui uma linguagem,
um escopo conceitual universal consolidado – a epistemologia desponta como um
elemento de demasiada importância, tendo em vista que essa é a ciência do
conhecimento, aquela que revisa e que busca por problemáticas, com vista a
melhorias, no que já foi construído enquanto conhecimento do turismo (PANOSSO
NETTO, 2011). Panosso Netto e Castillo Nechar (2014), dois importantes estudiosos
da epistemologia do turismo na atualidade, sinalizam que com a epistemologia, ao
se realizar análises sobre os conhecimentos produzidos em turismo, encontrar
problemáticas e propor soluções, tem contribuído para (re)interpretação de teorias,
55
(re)explanação de conceitos e distinções do que seria (ou estaria) “certo ou errado”
no pensamento científico turístico.
Boullón (2002) salienta a existência de outra concepção equivocada e
corriqueira sobre o turismo: a que o compreende enquanto indústria, a “indústria do
turismo”. Somam-se a essa outras denominações, como: “indústria das viagens”,
“indústria hoteleira”, ou ainda, “indústria sem chaminés” e ”indústria da paz”, que,
embora pouco conhecidas, são igualmente errôneas. Mas, por que o turismo não
pode ser considerado uma indústria? Para responder a esse questionamento, é
interessante conhecer, a priori, como se apresentam os sistemas de produção.
Nesse sentido, as atividades produtivas são basicamente materializadas por
empresas que trabalham com a obtenção de matérias-primas, a fabricação de
produtos finais e intermediários e a prestação de serviços. Baseando-se nessa
noção, Colin Clark, em 1940, elaborou uma classificação que mais tarde seria aceita
em todo o mundo. Segundo ele, os sistemas produtivos podem ser classificados em
três setores: o primário, o secundário e o terciário (Figura 2) (BOULLÓN, 2002).
Figura 2 – Classificação dos setores produtivos
Fonte: Elaboração do autor (2015) a partir de Boullón (2002).
Com essa depreensão, é evidente que o turismo não está englobado pelas
atividades que compõe o setor primário – apesar da atividade turística beneficiar-se
56
do meio espacial/ambiental para a sua efetivação, porém, insta esclarecer que essa
atividade, sob um stricto sensu, não explora nem extrai ou produz a partir dos
recursos naturais, apenas “utiliza-se” desses para a contemplação, ou ainda, lazer e
entretenimento. Também não faz parte do setor secundário, pois não é produto de
uma construção ou de uma indústria. Quer-se dizer que o turismo não foi concebido
mediante uma construção, uma edificação, nem mesmo é fruto de processos
industriais, isto é, não se originou de “uma atividade de transformação que emprega
numerosos recursos, alguns dos quais podem ser matéria-prima e outros produtos
industriais intermediários”: a indústria21 (BOULLÓN, 2002, p. 31).
No entanto, é possível destacar diversos elementos industriais, do setor
secundário, que são apropriados pela atividade turística para a formatação de
produtos turísticos, como: “barracas, lanchas, botes e veleiros esportivos, esquis
aquáticos e para a neve, equipamentos para a prática de montanhismo, sacos de
dormir, raquetes e bolas de tênis, tacos de golfe”, etc. Mas isso não faz do turismo
uma indústria, uma vez que esses produtos pertencem a indústrias específicas, e
que não necessariamente foram fabricados para fins turísticos ou por uma “indústria
turística” (BOULLÓN, 2002, p. 31). Em síntese, o turismo é uma atividade que
consome/utiliza-se de recursos e produtos elaborados pelos setores primário e
secundário, visando criar e prestar serviços para satisfação de necessidades e de
desejos de viajantes e de visitantes. Logo, na classificação das atividades
produtivas, esse é enquadrado no setor terciário. Para que pudesse ser considerada
uma indústria, portanto, essa deveria ser, pois, uma atividade do setor secundário:
com características industriais.
3.3 Sistema turístico
A atividade turística é um grande e complexo mundo, um verdadeiro universo,
em que contínuos fluxos e refluxos de pessoas transitam, temporariamente, sob
diferentes motivações, entre suas casas e as mais diversas destinações. Assim, o
turismo, em sua efetivação, contempla e movimenta diversos setores que buscam
21
“Em geral, é o produto final que serve para qualificar os diferentes tipos de industria; aceita-se mencionar as fabricas de sapatos como integrantes da industria de calçados, assim como as de roupa originam a industria do vestuário; assim, se o turismo fosse uma industria deveriam existir, mas não existem, fábricas turísticas ou processos industriais cujo produto final ou intermediário fosse o turismo” (BOULLÓN, 2002, p. 31).
57
nas interações e nas (inter)relações conceber produtos: bens e serviços turísticos
(oferta) a serem postos à disposição dos turistas (demanda) no mercado. Nesse
sentido, a convergência e a sinergia dos setores que compreendem esse fenômeno,
e os que são por ele afetados, são em demasia importantes para o seu pleno
funcionamento. De modo que, conforme Beni (1998), a falha de um pode
comprometer o todo.
Dessa maneira, Licínio Cunha (2003, p. 110) pontua que para se
compreender o turismo em sua dimensão, é essencial que se perceba e entenda a
importância de cada agente que o compõe. Mas também, deve-se levar em
consideração a compreensão do conjunto: os agentes e as relações, da sua “teia
complexa de dependências e de conexões”, bem como a natureza, as diferentes
funções e a importância que cada uma possui dentro do todo. “Caso contrário, ter-
se-ão apenas visões parcelares ou especificas”. Sob esta perspectiva, o autor
supracitado pondera, ainda, que para uma compreensão abrangente do turismo faz-
se “necessário adoptar [sic] uma abordagem integrada da actividade [sic] turística,
ou seja, de todas as suas componentes e relações através de uma visão sistêmica”
(CUNHA, L., 2003, p. 110).
Boullón (2002), nesse viés, destaca que vários pesquisadores ocuparam-se (e
têm se ocupado) de estudar o turismo sob uma abordagem sistêmica, criando
diversos modelos analíticos a fim de compreender o turismo sobre diferentes
abordagens. Contudo, o autor em tela explica que embora existam diferentes
maneiras de se entender o turismo pelo viés sistêmico, existe um único sistema22
turístico, ainda que com várias facetas. Existem, desse modo, ângulos de análise do
sistema turístico que se preocupam em estudar: o ócio e o tempo disponível, sendo
esse o modelo antropológico social; o que se interessa no estudo da produção em
massa e lucro é o modelo de turismo industrial e o modelo de oferta-demanda: que
se interessa pelo funcionamento do turismo comercial.
22
Cunha (2003, p. 110) define um sistema como um “conjunto de elementos inter-relacionados, coordenados de forma unificada e organizada, para alcançar determinados objectivos. Neste sentido, os elementos que compõem o sistema estabelecem relações entre si de tal modo que a modificação de um elemento provocará modificação no outro ou outros, e o sistema actuará de forma eficaz, no sentido de alcançar objectivos, quando todos os elementos que o compõem forem, ou estiverem, organizados coordenadamente”. Portanto, um conjunto composto por elementos que não apresentam objetivos comuns e que não apresentam interligações e inter-relações não constituem um sistema, visto que não há mutualismo: uma relação de interdependência entre os elementos, isto é, a mudança de um não implica a alteração dos demais.
58
Mario Carlos Beni, em seu livro Análise Estrutural do Turismo (1998), propõe
a Teoria Geral dos Sistemas enquanto um modelo conceitual, que ao ser empregado
à análise do turismo, considera-o
[...] em toda sua abrangência, complexidade e multicausalidade, em um esquema sintetizador dinâmico que demonstre as combinações multifacetadas de forças e energias, sempre em movimento, de modo a produzir um modelo referencial. Este deve ter a capacidade de retratar, até seus limites máximos, a configuração que tenta assumir um fenômeno como o do Turismo, tão sujeito a variáveis internas e externas que escapam, no momento da análise cientifica, a praticamente todo esforço de cristalização para se poder estudá-las, determiná-las e avaliá-las (BENI, 1998, p. 44).
Tendo como base essa concepção, Beni criou o Sistema de Turismo (SISTUR), com
o objetivo de identificar e de melhor analisar o fenômeno turístico, a partir da
compreensão dos diferentes elementos que o integram, suas funções e suas
relações – que se desenham na complexidade de todo o conjunto formado.
Beni (1998) identificou que o SISTUR, isto é, o funcionamento do turismo se
dá, basicamente, com a superestrutura, a infraestrutura, a oferta, o mercado, a
demanda, a produção, a distribuição e o consumo. A fim de demonstrar as relações
estabelecidas entre estes, o autor foi além ao elaborar o Modelo Referencial do
Sistema de Turismo (Figura 3), que identificou a existência de três grandes
conjuntos, Relações Ambientais (RA); Organização Estrutural (OE) e Ações
Operacionais (AO). Cada um desses foi considerado pelo autor como um
subsistema por possuírem elementos, funções e relações específicas, ainda que
com objetivos comuns.
O Conjunto das Relações Ambientais (RA) é compreendido por quatros
elementos, considerados por Beni (1998) subsistemas: ecológico, social, econômico
e cultural. O segundo conjunto, da Organização Estrutural (OE), compreende os
subsistemas infraestrutura e superestrutura. O Conjunto das Ações Operacionais
(AO) é constituído pelos subsistemas: oferta, demanda, mercado, produção,
distribuição e consumo. Nesse contexto, a oferta compreende os produtos: serviços
e bens turísticos; a demanda se estabelece pelos turistas; o mercado é o palco de
interação entre a oferta e a demanda. De maneira prática, as relações se dão da
seguinte maneira: a oferta é gerada por intermédio da produção, depois é
distribuída, divulgada e comercializada por meio do mercado e consumida pela
demanda. Esses, no entanto, são/estão condicionados pelos meios: ecológico,
59
social, econômico e cultural e pelas infraestruturas e superestruturas de apoio,
fiscalização e ordenamento da atividade turística.
Figura 3 – Modelo Referencial do Sistema de Turismo (SISTUR)
Fonte: BENI (1998).
Enquanto sistema aberto, o SISTUR é constituído por elementos que
possuem interconexões. Noutros termos, os elementos, suas interações e inter-
relações, estão condicionados e permeados entre si. Apresentam a
interdependência e o mutualismo, nesse sentido, como características essenciais à
sua fluidez (BENI, 1998). Portanto, para que o setor turístico continue a se
desenvolver de forma consolidada, é imprescindível que a infraestrutura e a
superestruturas das destinações acompanhe o ritmo da atividade, do mercado.
A oferta, por outro lado, precisa criar formas para o atendimento eficaz das
necessidades e dos desejos da demanda, sem deixar de levar em consideração as
relações ambientais: ecológicas, sociais, econômicas e culturais, que podem se
originar com os investimentos e o crescimento da atividade. Tal interação somente
desencadeará benefícios tanto para os turistas que terão à sua disposição
serviços/produtos eficientes, quanto para população que terá uma melhoria
60
significativa na qualidade de vida. Dado que a atividade turística pode vir a se
concretizar como uma fonte de renda de muitas famílias da localidade, nos âmbitos
formal e informal, direto e indireto (BARBOSA, F., 2005; FERNANDES; COELHO,
2002; LAGE; MILONE 2001; TRIBE, 2003), a partir de sua dinamicidade e facilidade
de criação de oportunidades inovadoras de negócios, com os diferentes nichos e
segmentos de mercado que cria, como exemplo tem-se a segmentação objeto de
estudo deste trabalho.
3.4 Quem viaja?: viajantes, visitantes, turistas e excursionistas.
Os deslocamentos humanos sempre existiram, e por diferentes motivos, como
visto outrora. No entanto, de acordo com Licínio Cunha (2003) é somente no
momento em que os deslocamentos, motivados pela busca de experiências
prazerosas, passaram a dispor de caráter comercial/econômico é que houve a
necessidade distinguir aqueles que se deslocavam de acordo com as características
de suas viagens. Dessa forma, nomenclaturas como viajantes, visitantes, turistas e
excursionistas foram criadas com o objetivo de evitar confusões semânticas e de
demarcar, de certa forma, as características de cada tipologia de viagem e dos
indivíduos que viajam, tendo em vista que, apesar das viagens possuírem diferentes
propósitos, todos aqueles que viajam costumam utilizar, quase sempre, os mesmos
produtos, serviços, equipamentos e/ou infraestruturas básicas e turísticas de um
determinado lugar.
Conforme Licínio Cunha (2003), viajante compreende toda e qualquer pessoa
que viaja independente dos modos e dos meios de deslocamento utilizados.
Contudo, o termo viajante pode sofrer uma pequena divisão que depende da
extensão espacial que uma viagem pode ter, quer-se dizer que, se uma pessoa viaja
dentro do limite territorial de seu país, ela é considerada um viajante interno ou
nacional, mas se uma pessoa ultrapassa os limites territoriais de seu país,
atravessa fronteiras entre países, se estará diante de um viajante internacional.
Nesse sentido, a definição de viajante representa um conceito amplo, que acaba por
compreender todo aquele que, independente do motivo, viaja. Ou seja, abarca tanto
as viagens com fins turísticos como as que possuem outras finalidades.
Quanto às definições de visitante, de turista e de excursionista, Licínio Cunha
(2003) esclarece que ao longo dos anos tais nomenclaturas receberam diferentes e
61
confusas conceituações: ora por compreenderem somente viagens para fora do país
de residência – “reduzindo a importância do turismo apenas à sua dimensão
internacional” (CUNHA, L., 2003, p. 18-19) –, ora por não existir uma demarcação
temporal sobre as diferentes viagens, uma diferenciação da permanência dos
visitantes, dos turistas e dos excursionistas, ou ainda sobre a utilização, ou não, de
determinadas infraestruturas ou equipamentos turísticos. Desse modo, Licínio
Cunha (2003) discorre que é somente a partir de 1983, com União Internacional dos
Organismos Oficiais do Turismo (UIOOT), atual OMT, e com as reformulações da
Organização das Nações Unidas (ONU), em 1993, e da OMT, em 1994, que os
termos visitante, turista e excursionista passaram a possuir a acepção atual.
Considerado componente das viagens que integram o universo turístico, o
termo visitante é atribuído ao individuo que viaja para fora de seu “ambiente
habitual durante um período inferior a 12 meses consecutivos e cujo motivo principal
da visita é outro que não seja o de exercer uma actividade [sic] remunerada no local
visitado” (CUNHA, L., 2003, p. 19). Já os viajantes que não tem como objetivo
turismo são, geralmente, denominados de outros ou de não-visitantes ao serem
distinguidos dos visitantes.
As terminologias turista e excursionista são divisões do conceito de visitante,
sendo utilizadas para diferir, genericamente, o tempo de permanência de um
visitante em um determinado lugar. O turista é, dessa maneira, considerado como
“todo o visitante que passa pelo menos uma noite num estabelecimento de
alojamento colectivo [sic] ou num alojamento privado no local visitado” e
excursionista ou visitante do dia como “todo o visitante que não passa a noite” ou
que fica menos de 24 horas no local visitado (OMT, 1993 apud CUNHA, L., 2003, p.
19). Sistematicamente, as diferenciações que marcam os termos acima
esclarecidos, podem ser expressas de acordo com a figura 4.
62
Figura 4 – Diferenciações das nomenclaturas
Fonte: Elaboração do autor (2015).
Dessarte, ao aplicar a Teoria dos conjuntos às nomenclaturas viajantes,
visitantes, turistas e excursionistas é possível clarificar de forma esquematizada as
diferenças e as semelhanças entre elas. De maneira ilustrativa, a figura mostra que
os viajantes são representados por um conjunto maior, nele estando embutidos os
conjuntos que representam os visitantes e os não-visitantes ou outros, distinguem-
se, basicamente, pela existência (ou não) do turismo enquanto motivação de uma
viagem. Os conceitos turistas e excursionistas compreendem subconjuntos
pertencentes ao conjunto que representa os visitantes, esses diferencem apenas no
que se refere ao tempo de permanência do visitante em uma dado lugar, como já
assinalado. Diferir tais classificações é, aqui, importante por permitir depreender
onde se situam, nesse meio, aqueles que viajam para participar de concursos
públicos.
63
4 SEGMENTAÇÃO DE MERCADO: UMA VISITA AO LEQUE DE SEGMENTOS
E NICHOS DO TURISMO
O homem e a natureza possuem como característica intrínseca a capacidade
de se diferenciar. A natureza em suas representações – formas, cores, sabores,
cheiros e sons – é diversa e, ao mesmo tempo, única. As diferentes nações que
habitam o globo possuem culturas: costumes, simbologias, linguagens, cores,
crenças, complexidades, subjetividades igualmente plurais. O turismo e as suas
segmentações, nessa esfera, podem ser percebidos como produtos de produções e
de reproduções do ser humano e da natureza, ou seja, a demanda e a oferta, os
recursos naturais e o homem são quem condicionam a atividade turística, tendo em
vista que há lugares e lugares, assim como, viajantes e viajantes. Daí a necessidade
de segmentação do mercado, a origem dos segmentos e dos nichos do turismo: é
preciso atender os diferentes de formas diferentes.
Desse modo, com o objetivo de contextualizar e de dar suporte para as
evidências encontradas em campo sobre as viagens a concursos públicos, neste
capítulo, serão “visitados” conceitos e classificações que se relacionam com a
categoria de análise segmentação. O itinerário dessa quarta parte da viagem inicia-
se pelos “Mercados do turismo”, em seguida, chega-se “A segmentação de
mercado” e aos “Aspectos metodológicos da segmentação de mercado: métodos,
bases, variáveis e requisitos” e, por fim, à “Segmentação do mercado turístico:
bases, variáveis, segmentos e nichos do turismo”.
4.1 Mercados do turismo
Tratar do leque de segmentos e nichos do turismo requer, de antemão,
depreender noções que tangem o mercado. Com a mesma preocupação – a de
procurar contextualizar o que seria mercado – Beni (2003, p. 145) em sua obra
questiona: “Que conceito fazemos do mercado?”. Esse termo, em/para diversos
contextos econômicos e socioculturais, vem apresentando diversificadas
compreensões e representações. Os olhares e as análises de várias áreas do saber
corroboram para a pluralidade dessas conceituações.
Sua genealogia está ligada ao espaço físico “onde os compradores e os
consumidores se reuniam para intercambiar bens e serviços” (KOTLER et al, 2008,
64
p. 167). Para Beni (2003, p. 145), “quando se fala em mercado, logo se imagina
trocas de produtos/serviços e de valores”. Mas, sob uma análise mais técnica e
científica, mercado pode ser definido como “toda organização ou lugar por meio do
qual, de um lado, compradores e, de outro, vendedores de um bem ou serviço
realizam negócios de vendas, compra ou troca” (FERNANDES; COELHO, 2002, p.
167). Assim sendo, as empresas, ao ofertarem, e os indivíduos, ao demandarem
produtos, serviços e capitais, propiciam a organização e reúnem as condicionantes
basilares de uma transação mercadológica (BENI, 2003).
A literatura que se ocupa do estudo de mercados atenta para a existência de
três questões ou problemas econômicos fundamentais que caracterizam um
mercado: o que produzir?, como produzir? e para quem produzir? (BENI, 2003;
LAGE; MILONE, 2001; LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2012). A resolução dessas
questões é primacial para o alcance do que Beni (2003) chamou de eficiências
atributiva, produtiva e distributiva que todo mercado precisa possuir. Entretanto,
alcançar tais eficiências, de conformidade com Kotler e Keller (2006), requer: 1) a
existência de ao menos duas partes; 2) essas partes tenham alguma coisa que
possa ser atribuído valor pelas outras partes; 3) as partes precisam ter condições
para efetivação de comunicação e entrega; 4) as partes precisam estar livres para
aceitar ou não aceitar a troca; e 5) as partes precisam acreditar ser vantajosa a
negociação.
Mas, o que seria o mercado turístico? Conforme Lage e Milone (2001, p. 11),
este pode ser definido como “uma rede de informações que permite os agentes
econômicos — consumidores (turistas) e produtores (empresas de turismo) —
tomarem decisões para solucionar os problemas econômicos fundamentais do
setor”. Já Brasil (2007, p. 15) conceitua mercado turístico como “o encontro e a
relação entre a oferta de produtos e serviços turísticos e a demanda, individual ou
coletiva, interessada e motivada pelo consumo e uso destes produtos e serviços”.
Os autores em tela explanam, ainda, que o mercado turístico pode ser classificado
sob dois prismas: o mercado direto e o mercado indireto, neste último são ofertados
e consumidos produtos e/ou serviços que estão em parte atrelados ao turismo;
naquele, são ofertados e consumidos produtos e/ou serviços que estão totalmente
atrelados ao turismo (LAGE; MILONE, 2001).
65
Dentro do mercado turístico, para Beni (2003), porém, existem outros
múltiplos mercados, cada um deles pode oferecer pelo menos um produto turístico23
diferenciado – movimentando, assim, diferentes agentes econômicos, bens, serviços
e capitais. Nas palavras do autor supracitado, “os produtos não são homogêneos e
intercambiáveis, mas diferenciados. Cada empresa vende um produto que de certo
modo se traduz como único e diferenciado dos demais [...]” (BENI, 2003, p. 149), o
que acaba consolidando um mercado específico. Logo, partindo dessa visão, Beni
(2003) fala em mercados turísticos.
No turismo, consoante Lage e Milone (2001), nada é igual ou uniforme.
Embora hajam produtos parecidos, eles nunca serão iguais em suas plenitudes.
Beni (2003, p. 150) exemplifica isso pontuando que:
Não existem dois hotéis iguais nem instalados no mesmo lugar; o que um oferece, o outro não o fará exatamente da mesma maneira. O roteiro turístico que é produzido e comercializado por uma operadora não é vendido com todos os detalhes por nenhuma outra empresa.
Acerca da heterogeneidade dos mercados turísticos (MEDAGLIA; MAYNART;
SILVEIRA, 2013), Ruschmann (2001) chama atenção para outra característica
atrelada à oferta e, sobretudo, à demanda turística: os serviços prestados podem
gerar diversificadas expectativas e impressões.
O consumo desses serviços, enquanto experiência vivencial, (RUSCHMANN,
2001) pode: ter múltiplas interpretações e importâncias; despertar sentimentos,
sensações e emoções, e influenciar as próximas experiências – dada a
complexidade subjetiva intrínseca ao ser humano (LOBATO et al, 2015). Por outro
lado, é importante sempre atentar não somente para a heterogeneidade dos
mercados, mas também para a sua intensa e profícua dinamicidade, como sinalizam
as reflexões de Panosso Netto e de Ansarah (2015, p. 24):
O mercado turístico é dinâmico. As pessoas continuam a viajar pelos mais diversos (e recônditos) motivos. Os destinos mudam, as formas de viajar mudam, os anseios dos turistas mudam. Os produtos ofertados mudam. As estratégias de marketing mudam e se atualizam.
23
Sobre produto turístico, Doris Ruschmann (2001, p. 11) o define como “composto de um conjunto de bens e serviços unidos por relações de interação e interdependência que o tornam extremamente complexo. Suas singularidades o distinguem dos bens industrializados e do comércio, como também dos demais tipos de serviços. Uma de suas características mais marcantes é que se trata de um produto imaterial – intangível – cujo resíduo, após o uso, é uma experiência vivencial”.
66
A alteridade cultural, a multiplicidade de sonhos, de desejos, de gostos, de
expectativas, de manias da complexidade e da subjetividade humana, assim como
as suas naturais e contínuas mudanças acabam por conferir à demanda o poder de
movimentação e, principalmente, de criação de oportunidades de
empreendedorismo (CHIAS, 2007). No entanto, a diversificação e as inovações
constantes na oferta de produtos e serviços turísticos também regem os mercados
ao “criarem” nos visitantes uma espécie de “pseudonecessidade” – metaforizada sob
a forma da viagem dos sonhos – de vivenciar experiências exóticas, diferenciadas e,
até mesmo, opostas à realidade habitual. Assim, a oferta, por vezes, estabelece e
potencializa, igualmente, novos mercados, segmentos e nichos, do turismo – que
serão discutidos em seus pormenores mais a frente.
4.2 A segmentação de mercado
Muito embora já existisse na prática, a teoria acerca da segmentação de
mercado aparece pela primeira vez na literatura mundial em 1956, no artigo “Product
differentiation and market segmentation as alternative marketing strategies”, de
autoria de Wendell Smith, publicado no Journal de Marketing (TAVARES; AFONSO;
LOCATELLI, 2011; TOCQUER; ZINS, 2004). A segmentação de mercado, nesse
panorama, surge a partir da compreensão da heterogeneidade do mercado, da
noção de que as pessoas são diferentes, logo, possuem demandas próprias, e,
dessa forma, buscam produtos e serviços especializados. Nesse universo de
diferenças, consumidores com demandas semelhantes acabam formando pequenos
grupos homogêneos, submercados ou segmentos (TOCQUER; ZINS, 2004). A
concepção de segmentação de Smith, assim, tem sua gênese como oposição ao
conceito do marketing de massas – em que se produz, comercializa, distribui e
promove em massa, a partir de um único composto de marketing, produtos a todos
os compradores (KOTLER et al, 2008).
Rui Oliveira (2015, p. 3) pontua que segmentar consiste em “dividir, separar,
fracionar, fragmentar”. Logo, genericamente, a expressão segmentação de mercado
implica a partição de um mercado maior em pequenos mercados ou segmentos e
subsegmentos (nichos). Complementando essa definição, Valles (1996), citado por
Ansarah e Panosso Netto (2010, p. 5), define segmentação de mercado como:
67
[...] a prova mais fascinante de que as pessoas são diferentes nos gostos, nas necessidades, nas atitudes, nos estilos de vida, na dimensão e na composição da unidade familiar. Trata-se de uma política deliberada que busca maximizar a demanda de mercado dirigindo a ação a subgrupos significativos de usuários ou consumidores. [...] A segmentação é a participação imaginária do mercado em que a empresa deseja competir em vários segmentos homogêneos.
Com efeito, para um segmento se figurar como tal, precisa, dentre outros aspectos,
ser composto por consumidores que possuam um perfil com diferenças mínimas
entre si e máximas com relação aos demais segmentos (CAVACO; SIMÕES, 2009).
Face à existência dessas pequenas diferenças – no que tange a
“preferências, poder de compra, localização geográfica, atitudes de compra e
hábitos de compra” (KOTLER, 2000, p. 278) de consumidores de um mesmo
segmento – Cavaco e Simões (2009) dissertam que no interior de um segmento, e
sob a mesma dinâmica, podem ser encontrados um ou mais subsegmentos. Esses,
denominados de nichos de mercado, são caracterizados por subgrupos que
apresentam necessidades e desejos particulares ao grupo maior – já segmentado –
do qual fazem parte (a Figura 5 ajuda a clarificar as distinções dessas
classificações). Os nichos, portanto, compreendem um mercado ainda menor, que
possui uma oferta muito pequena (e única muitas vezes), onde as empresas que
neles trabalham – diferentemente da dimensão e dos níveis de competitividade de
segmentos –, apresentam normalmente um ou outro concorrente, isso quando
possuem (BENI, 2003; CAVACO; SIMÕES, 2009; KOTLER, 2000).
No tocante ao debate acerca dessas classificações, cabe pontuar que, muito
embora a dimensão do mercado seja o requisito geral e primacial para a
diferenciação de segmentos e de nichos, a linha que difere essas classificações é
muito tênue e, em certos casos, nebulosa, envolvendo, pois, condições específicas
difíceis de serem identificadas em alguns contextos. Demais, é preciso clarificar que
um mesmo mercado pode se estabelecer de forma diferenciada em diferentes
contextos. Noutras palavras, há a possibilidade de segmentos e de nichos, já
consolidados em um país específico, não terem a mesma representatividade em
outros países, ou ainda, serem em um país segmentos, mas nichos em outros –
como é o caso do turismo de concursos públicos que não existe enquanto mercado
em certos países por não haver seleção de servidores públicos a partir de provas de
concursos públicos ou por essas serem ínfimas, mas crescente âmbito do mercado
da atividade turística brasileira.
68
Figura 5 – Representação do processo de segmentação de mercado.
Fonte: Elaboração do autor (2015).
Estudos diversos sobre segmentação mostram que essa pode ser trabalhada
em dois vieses, um direcionado aos consumidores e outro com enfoque nos
produtos e serviços: respectivamente, o primeiro deles compreende na divisão
mercados heterogêneos em submercados homogêneos, nesses últimos,
consumidores apresentam demandas semelhantes e respostas para empresas que
ofertam um dado produto (KOTLER et al, 2008). A segmentação da oferta configura-
se como uma estratégia de criação e de desenvolvimento, distribuição,
comercialização e promoção de um novo produto ou serviço (ENGEL; BLACKWEL;
MINIARD, 1995) que visa criar a necessidade de compra e de utilização em um
grupo de consumidores. Ou seja, segmentação pode ser estabelecida a partir da
demanda e da oferta.
Essas abordagens, porém, não se cancelam, pelo contrário, se
retroalimentam. São formas de melhor organizar e potencializar os mercados, ao
passo que buscam levar em consideração tanto os perfis dos consumidores quanto
as características naturais e socioculturais dos produtos e dos serviços ofertados
(BRASIL, 2010; OLIVEIRA, R., 2015). No embalo, cumpre pontuar que, ainda que a
69
oferta seja explorada, o foco central deste trabalho será a demanda: os concurseiros
que ao viajarem se utilizam de serviços/produtos turísticos.
No cerne desse debate, entrementes, o arcabouço teórico que contextualiza a
segmentação de mercado, seja nos estudos de turismo, seja nos de marketing, de
administração e de economia, notadamente, enquadram-na como tão somente uma
política ou estratégia de marketing. Todavia, insta enfatizar que a segmentação do
mercado é, comumente, uma criação da demanda. No âmbito de uma política
mercadológica, Ruschmann (2001, p. 24) assinala que “a demanda determina a
oferta e não o inverso”. É a demanda, então, que, por vezes, divide, separa,
fragmenta o mercado. Moraes (2001b, p. 154), nesse sentido, disserta que a
segmentação “ocorre de forma inconsciente, desapercebida e intuitiva, e não parte
de um estudo”, de uma estratégia de marketing. Como antes externalizado, os
desejos e as necessidades dos consumidores condicionam as ofertas. Criam
oportunidades de negócios inovadores, concebem novos mercados.
4.3 Aspectos metodológicos da segmentação de mercado: métodos, bases,
variáveis e requisitos.
Tavares, Afonso e Locatelli (2011), a partir de uma revisão bibliográfica,
explicam que, concernente aos procedimentos metodológicos adotados pelas
empresas, existem três formas principais: 1) segmentação a priori e a posteriori ou
post-hoc; 2) segmentações de primeira e de segunda ordem; e 3) técnica estatística
de Análise de Agrupamento. Desses métodos, os mais conhecidos e utilizados pelas
empresas são a segmentação a priori e a posteriori ou post-hoc. Na segmentação a
priori bases e variáveis são definidas previamente, mediante pesquisas e/ou dados
secundários. Isto é, “Parte-se de características dos consumidores de fácil
identificação e, daí, verificando se os segmentos por eles formados possuem
necessidades, desejos ou outros traços diferentes” (TAVARES; AFONSO;
LOCATELLI, 2011, p. 113); De forma antagônica, na segmentação a posteriori
segmentos, bases e variáveis não são conhecidos ou definidos antecipadamente.
Eles são descobertos a partir de pesquisas de demanda direcionadas à identificação
de bases e de variáveis que possam diferenciar segmentos.
Rui Oliveira (2015) ressalta que a combinação dessas metodologias de
segmentação, ainda que inversas, tem sido a cada dia mais utilizada, haja vista que
70
da mesma forma que podem preexistir informações/dados sobre um mercado,
podem não haver nenhuma pesquisa anterior ao que se deseja estudar – como
ocorre com o turismo de concursos públicos, foco deste trabalho. Outro ângulo que
demarca as diferenças entre essas metodologias, mas também mostra a
possibilidade de combinação, expressa que a segmentação a priori foca inicialmente
na descrição da viagem, já a posteriori ou post-hoc centra suas análises, antes, na
descrição dos viajantes. Logo, as diferentes informações captadas a partir desses
dois vieses podem se retroalimentar, dinamizando mais ainda o processo de
segmentação.
No processo de segmentação do mercado há uma infinidade de bases e de
variáveis, conhecidas também como critérios, que são utilizadas para delimitar
grupos de consumidores, em consonância com as suas necessidades, desejos.
Esse mapeamento do perfil dos consumidores é utilizado para identificar potenciais
segmentos e nichos de mercado, como antes tratado. As bases e as variáveis mais
clássicas, e mais utilizadas na segmentação de mercados, são as elencadas por
Kotler et al (2008) e Kotler e Keller (2006): geográfica, demográfica, comportamental
e psicográfica (Quadro 3). Algumas das variáveis, por serem mais dinâmicas e
transversais, acabam por fazer parte de mais de uma base, tudo dependerá da
perspectiva a ser analisada.
Quadro 3 – Bases e variáveis da segmentação
Bases Variáveis
Geográfica
Região; Estados; Municípios; Bairros e ruas; Concentração geográfica e populacional; Clima; Limites políticos; Área comercial; Localização; Acesso e transporte; Topografia; Trafego.
Demográfica e Socioeconômica
Demográfica
Idade; Gênero; Tamanho da família; Ciclo de vida da família; Geração; Número de dependentes; Estado civil; Raça; Nacionalidade; Religião; Orientação sexual; Deficiência física ou mental, etc.
Socioeconômica Renda; Ocupação; Grau de instrução (Educação); Classe social; Fatores de posse de residência.
71
Comportamental
Relacionadas ao comportamento de compra de produtos e serviços
Ocasião de compra; Status de uso; Grau de uso ou status do usuário; Lealdade/Fidelidade; Modo de utilização; Razão de compra; Frequência de compra; Local de compra; Estágio de atenção para a compra; Atitude em relação ao produto.
Benefícios24:
Satisfação física/psicológica; Preço favorável; Qualidade; Durabilidade; Redução de custos; Atendimento ou serviços agregados; Modernidade/atualização; Marcas reconhecidas (Confiança); Rapidez; Aparência e características físicas do produto; Produtos saudáveis e/ou ecológicos, etc.
Não relacionadas ao comportamento de compra
Atividades; Exposição à mídia; Estilo de vida25; Personalidade.
Psicográfica Valores; Atitudes; Interesses; Opiniões; Personalidade···.
Fonte: Kotler et al (2008), Rui Oliveira (2015) e Yanaze (2011), com contribuições do autor (2015).
A base geográfica, como sua própria denominação sugere, é perfilada pela
fragmentação do mercado a partir de aspectos geográficos. Isto é, o mercado é
classificado de acordo com o espaço físico, por meio de suas unidades e/ou
características geográficas. Uma das mais utilizadas pelo marketing como estratégia
de segmentação, a base demográfica e socioeconômica, classifica os mercados em
concordância com variáveis concernentes ao perfil demográfico dos consumidores.
Suas variáveis têm a capacidade de ser mais mensurável que as demais bases, do
mesmo modo, que representam de forma mais fiel as necessidades e os desejos
dos consumidores. Como elucidado no quadro 3, as variáveis dessa base, são:
idade, ciclo de vida, tamanho da família, religião, educação, ocupação, renda, cor,
gênero, classe social, etc. (KOTLER; KELLER, 2006).
Na base comportamental, a divisão do mercado obedece uma lógica que se
baseia, para alguns autores (YANAZE, 2011), no comportamento relacionado à
compra de produtos e de serviços e nos comportamentos não diretamente
24
Yanaze (2011), e Rui Oliveira (2015) ao citá-la, classificam os benefícios com relação aos produtos e serviços como uma base da segmentação, contudo essa categoria é uma variável que está embutida, também, no comportamento de compra do consumidor, logo pertence à base comportamental.
25 Partindo da compreensão de que estilo de vida “é o conjundo de comportamentos influênciados
por diversas variáveis, inclusive as psicográficas”, a variável estilo de vida pertence à base comportamental e não psicográfica (OLIVEIRA, R., 2015, p. 19).
72
relacionados à compra. Assim, essa base procura agrupar os clientes a partir de
variáveis como: conhecimentos que os clientes possuem atitudes, utilização e,
sobretudo, as respostas que esses dão com relação aos produtos, aos serviços e/ou
ao marketing utilizado pelas empresas. A base psicográfica, na fase de
segmentação de mercados, é responsável por organizar os diferentes, e pequenos,
grupos homogêneos de consumidores, em conformidade com variáveis que se
estabelecem acerca do estilo de vida, da personalidade, dos interesses, das
opiniões, entre outras (KOTLER; KELLER, 2006).
Todavia, para que um segmento de mercado, seja, de fato, reconhecido como
tal – para além da utilização de bases e de variáveis que servem como parâmetros
de classificação de grupos de consumidores – esse precisa atender alguns
requisitos básicos, que em essência são sumarizados por Tavares, Afonso e
Locatelli (2011) em sete (Figura 6). Tais requisitos aparecem na literatura ora com
nomenclaturas diferenciadas, mas com a mesma significação, ora em números
diferentes.
Desse modo, no caminhar da segmentação, é preciso analisar se o provável
segmento atende ou não a esses requistos, uma vez que não é todo e qualquer
grupo, comunidade, região ou mercado que pode se segmentar e/ou ser
segmentado(a) (PANOSSO NETTO, ANSARAH, 2009b). Dessa forma, pretende-se
correlacionar esses critérios a viagens a concursos públicos, a fim de buscar
respostas para o alcance dos objetivos desta investigação. Se observado com
calma, se atentará que esses requisitos são princípios basilares de uma análise (de
viabilidade) de mercado. Essa análise ajudará a conhecer algumas das possíveis
vantagens e desvantagens de se segmentar, como as expressas na figura 7, a
seguir.
73
Figura 6 – Etapas mais usuais adotadas no processo de segmentação
Fonte: Tavares, Afonso e Locatelli (2011, p.111).
Figura 7 – Possíveis vantagens e desvantagens da segmentação do mercado
Fonte: Elaboração do autor (2015) a partir de Ansarah e Panosso Netto (2009), Lohmann e Panosso Netto (2012), Morrison (2012 apud OLIVEIRA, R., 2015) e Tocquer e Zins (2004).
Os aspectos metodológicos na fase de segmentação de mercados, portanto,
são conferidos como métodos e técnicas essenciais para identificação, criação,
•Identifica segmentos mais rentáveis;
•Identifica necessidades ainda não satisfeitas que podem representar oportunidade;
•Acompanha a dinamicidade de comportamento do consumidor;
•Identifica um novo mercado em que a concorrência é menor
•Alcança o consumidor conhecendo ele antecipadamente;
•Define de forma mais otimizada o seu programa de marketing
•Necessidade de ser diferente e chamar atenção para si por meios de estratégias criativas
Vantagens
•Quando é mais caro que uma abordagem não segmentada;
•Quando é difícil escolher as características apropriadas para realizar a segmentação;
•Quando é complicado definir a amplitude que o estudo deve abranger
•Quando existe a possibilidade de selecionar segmentos que não sejam viáveis.
•Quando já se trabalha com muitos, e diferentes, segmentos
Desvantagens
•Constatação de diferenças e similaridades entre segmentos.
Identificável
•Dimensionamento do tamanho, do poder de compra e das características dos segmentos.
Mensurável
•Suficiência de tamanho e de rentabilidade dos segmentos.
Substancial
•Possibilidade de serem os segmentos alcançados e trabalhados.
Acessível
•Distinção de respostas dos segmentos. Diferenciável
•Capacidade de atrair e obter resposta dos segmentos com o mix de marketing.
Acionável
•Permanência e constância dos segmentos ao longo do tempo.
Durável/Estável
74
validação e efetividade de um segmento. Por intermédio desses, nomeadamente
dos estudos e das pesquisas que os compõem, é possível obter informações em
pormenores a respeito dos grupos homogêneos existentes: suas principais
características, suas necessidades, seus desejos, suas preferências; e, em especial,
possibilitam identificar quais as bases e as variáveis que a esses estão envoltas. Por
conseguinte, tais procedimentos, possibilitam realizar diagnósticos e prognósticos de
mercado, tendo em vista que eles permitem a descoberta de possíveis vantagens e
desvantagens de se segmentar e, ademais, o conhecimento de quais estratégias de
marketing serão (ou podem ser) utilizadas, pelas empresas, para obter respostas
dos consumidores alvo.
4.4 Segmentação do mercado turístico: bases, variáveis, segmentos e nichos
do turismo.
No campo do turismo, o processo de segmentação é imprescindível dado que
a atividade pode ser simbolizada como um vasto universo, onde uma pluralidade
quase incontável de mundos e de micromundos estão inseridos. As ações da
natureza, as relações socioculturais e a subjetividade e complexidade humana,
como precedentemente ponderado, continuamente criam, desfazem e recriam novos
segmentos ou nichos de mercado. Assim, a segmentação auxilia o marketing
turístico a melhor conhecer e concentrar esforços nos públicos alvo e, sobretudo, a
melhor organizar os diversificados mercados turísticos (LAGE, 1992).
Panosso Netto e Ansarah (2009b) apontam que a segmentação dos
mercados turísticos, realizada e potencializada no âmbito das empresas, ocorre em
função de um esforço em alcançar e, quem sabe, fidelizar o consumidor – alvo real
ou potencial – de maneira eficaz. Demais, segundo os autores em tela, é quase
impossível uma mesma empresa ou um mesmo destino turístico englobar todo o
público que compõe o mercado. Logo, segmentar diferentes grupos homogêneos é
uma saída para atender as diversificadas demandas.
Nessa esteira, Barretto e Rejowski (2009, p. 16) completam: no turismo “não
existe o turista, mas turistas, no plural”. E esses não tão somente dedicam suas
viagens para desfrutar de um único aspecto que essas possibilitam. Em geral,
procuram desvendar por inteiro o lugar visitado, conhecer o maior número de
atrações, vivenciar as mais plurais e exóticas experiências. Nas palavras das
75
autoras supracitadas, eles “dedicam um pouco do tempo, ou grande parte dele, para
desfrutar do principal atrativo, mas praticam também outros tipos de turismo ao
mesmo tempo”, claro, nessa questão é possível encontrar exceções (BARRETTO;
REJOWSKI, 2009, p. 15). Nessa conjectura, insta sinalizar que por mais que uma
viagem se concretize a partir de uma motivação principal, nessa podem estar
envoltas outras, e diferentes, motivações. Logo, o viajante de negócios que está em
uma localidade a trabalho pode ter como motivação secundária (ou oculta) o desejo
de conhecer a cidade, visitar atrativos.
Dessa maneira, no turismo, às bases de segmentação tratadas na seção
anterior – geográfica, demográfica, psicográfica e comportamental – é acrescida a
base da motivação/objetivo das viagens, ou ainda os padrões de consumo em
turismo, de acordo com Ignarra (2003). Essa base identifica grupos de consumidores
de serviços turísticos a partir dos objetivos, dos desejos e, notadamente, das
motivações que norteiam suas viagens. As variáveis que essa base contempla são,
portanto, as que normalmente permeiam a atividade turística, conforme as
elencadas no quadro 4 abaixo.
Quadro 4 – Bases e variáveis da segmentação do mercado turístico
Bases Variáveis
Objetivo ou motivação da viagem
Objetivos e/ou Motivações; Necessidades; Desejos (sonhos); Benefícios procurados.
Férias; Família e amigos; Negócios; Compras; Eventos; Entretenimento; Saúde; Educação; Ciência; Aventuras; Lazer/Prazer; Esporte; Pesca; Descanso; Meio ambiente/Natureza; Cultura; Religião; Gastronomia; Rural/Campo. Estudos; E outros.
Fonte: Costa (2006) e Moraes (2001a), com adaptações do autor (2015).
Alicerçado pelas bases e variáveis da segmentação de mercado do quadro 3
(KOTLER; KELLER, 2006) e na base nas e variáveis da segmentação do mercado
turística demonstrada no quadro 4 (COSTA, 2006; IGNARRA, 2003; YANAZE,
2011), Rui Oliveira (2015) propõe, no Anexo A, uma abrangente correlação de bases
e de variáveis passível de ser utilizada enquanto parâmetro de segmentação do
mercado turístico. O referido autor enumera, ainda, possíveis composições ou
desdobramentos dessas classificações.
76
As bases e as principais variáveis na segmentação do mercado turístico, e
seus desdobramentos/composições, apresentadas por Rui Oliveira (2015), no Anexo
A, ajudam a definir uma infinidade de segmentos e de nichos de mercado.
Guilherme Lohmann e Alexandre Panosso Netto (2012), sob estes paradigmas,
mapearam uma série de mercados e de submercados que estão presentes na
atividade turística na atualidade, conforme dispostos no quadro 5, a partir de uma
compilação realizada sobre diversos estudos na área. Nessa relação de vertentes,
há ainda uma sucinta explanação acerca da significação de alguns segmentos ou
nichos.
Para os autores retrocitados, contudo, há a possibilidade de um dado
segmento possuir múltiplas bases e variáveis de segmentação. Em consequência,
segmentos e nichos são passíveis de cruzarem-se, por serem semelhantes e suas
distinções serem marcadas por linhas deveras tênues. Ao ponderar esse
pensamento, Barretto e Rejowski (2009, p. 8) deixam claro que essas “[...]
classificações são abstrações conceituais de tipos de ideias que não existem em
estado pura na realidade, podendo um turista ser enquadrado em mais de uma
classificação ao mesmo tempo”. Entrementes, caso seja necessária a distinção de
vertentes, essa pode ser alcançada a partir da tipologia que possuir maior
preponderância de características ou, segundo Quaresma (2003), levando-se em
consideração que é o praticante/consumidor quem decide sua vertente e o seu
mercado.
Quadro 5 – Segmentos e nichos do turismo
Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo
Idade
Turismo infantil Turismo juvenil Turismo de meia-idade Turismo de terceira idade
Econômica
Turismo social Turismo popular Turismo de classe média Turismo de luxo
77
Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo
Meios de transporte
Turismo de caminhada Cicloturismo Turismo aéreo Turismo rodoviário Turismo ferroviário Turismo marítimo Turismo fluvial/lacustre
Duração de permanência
Turismo de curta duração ou itinerante (o turista fica pouco tempo no local visitado) Turismo de média duração Turismo de longa duração
Distância do mercado consumidor
Turismo local Turismo regional Turismo nacional Turismo continental Turismo intercontinental
Tipo de grupo
Turismo single (Individual) Turismo de casais Turismo de famílias Turismo de grupos
Sentido do fluxo turístico Turismo emissivo Turismo receptivo
Grau de urbanização do destino turístico
Turismo em pequenas comunidades Turismo de grandes metrópoles Turismo de pequenas cidades Turismo em áreas naturais
Motivação da viagem
Agroturismo (a atração são as novas tecnologias de plantio e colheita, e as novas formas de se trabalhar em fazendas. Nesse caso, a principal renda da propriedade não advém do turismo, sendo este apenas um complemento da renda ou usado apenas como estratégia de marketing de grandes produtores rurais) Ecoturismo Turismo ecológico Turismo de aventura Turismo de base local Turismo de base comunitária Turismo de sol e praia Turismo de montanha Turismo de campo Turismo de neve Turismo climático/hidrotermal Turismo paisagístico ou cênico (feito por quem deseja observar a paisagem natural ou artificial) Turismo habitacional (aquele desenvolvido no local onde o turista possui uma casa como segunda residência ou
78
Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo
na forma de timesharing) Turismo de habitação (aquele em que o turista escolhe se hospedar em residências históricas, palácios ou edifícios que se tornaram famosos por algum acontecimento especial) Turismo urbano Turismo Rural (a atração são os motivos do campo, da natureza em sítios e fazendas. Nesse caso, a principal renda da propriedade advém do turismo) Turismo Sertanejo Backpacker (mochileiro) Turismo Low Cost (viagens baratas) Enoturismo (visita a vinhedos e vinícolas) Turismo alternativo (em contraposição ao tradicional turismo de massa) Turismo ativo (maior motivação recai no exercício de algum tipo de interatividade com o entorno, seja físico ou de caráter lúdico) Turismo de saúde Turismo bariátrico (realizado com fins de cirurgia plástica estética corporal, em que a pessoa acaba fazendo turismo no destino da operação) Turismo do parto (mulheres viagens em busca de melhor infraestrutura para dar a luz ou viajam para adquirir nacionalidade de outros países) Turismo bíblico (visita a lugares bíblicos) Turismo cervejeiro (mais difundido no Leste Europeu. As pessoas viajam para provar os mais diferentes tipos de cervejas) Turismo cinegético (para pessoas que gostam de caçar. Não há notícias oficiais de sua existência no Brasil) Turismo cívico institucional (realizado em locais cívicos, com o intuito de conhecer monumentos e construções relacionados à história de uma região, país, estado, município ou nação) Turismo comercial (feito por empresários e comerciantes que se deslocam de sua residência para comprar e vender produtos em outros lugares. Assemelha-se ao turismo de negócios) Turismo criativo (feito por pessoas que querem aprender atividades diferentes e especializadas durante
79
Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo
o tempo de turismo, como pintura, música, teatro etc.) Turismo de contato social (feito com o objetivo de encontrar amigos ou parentes ou fazer novos amigos e conhecer novas pessoas) Turismo de esportes Turismo de excentricidades Turismo de golfe Turismo de interesse especial (feito em áreas protegidas, como parques e reservas naturais) Turismo de jogos ou de cassinos Turismo de lazer Turismo de eventos Turismo de negócios ou Viagens coorporativas (aquelas feitas por empresários e funcionários de empresas por motivos profissionais, cuja despesa é paga pela própria empresa da qual faz parte o funcionário) Turismo de incentivos Turismo cultural Turismo de experiência Turismo patrimonial (feito em lugares com patrimônio histórico de reconhecida importância) Turismo arqueológico Turismo científico Turismo de estudos ou estudantil (feito por estudantes que buscam lugares para participar de cursos diversos) Turismo de intercâmbio Turismo pedagógico (turismo de estudo organizado pela escola) Turismo educacional ou educativo (durante o turismo, busca-se a aprendizagem de um determinado tema) Turismo ortonitológico (feito por pessoas que querem estudar a avifauna do destino – também conhecidos como bird watchers) Turismo de raízes ou genealógico (visita a lugares de origem dos antepassados ou em busca de compreender a origem dos sobrenomes) Turismo esotérico, Esoturismo Turismo místico (desejo de visitar lugares relacionados com o oculto, com o sobrenatural, com o desconhecido ou fantasmagórico) Turismo Cemiterial (Visitar lugares onde famosos e
80
Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo
personalidades estão enterrados ou morrem, conhecer estórias populares, admirar arquitetura de túmulos e mausoléus) Turismo Negro ou Turismo com motivação mórbida (visita a lugares relacionados à morte e a desastres) Turismo étnico Turismo folclórico e artesanal Turismo histórico Turismo linguístico (a viagem ocorre para o exterior para a aprendizagem de idiomas) Turismo literário (busca por lugares que se tornaram famosos, devido o fato de serem descritos em obras literárias mundialmente conhecidas, ou lugares em que foram gestadas obras de reconhecido valor literário) Turismo biográfico (Conhecer lugares que fizeram parte da vida de personalidades: locais onde moraram, por onde passaram, quais os lugares que mais gostavam, etc) Turismo religioso Turismo de pesca Turismo de recreação e entretenimento Turismo de repouso (feito por pessoas que querem descansar e repousar) Turismo de ruínas ou de guerra (feito em áreas que, no passado, foram palco de guerras) Turismo espacial Turismo esportivo Turismo étnico-histórico-familiar Turismo filantrópico (feito por aqueles que desejam ajudar pessoas em necessidade seja por catástrofes naturais, como terremotos, maremotos e tsunamis, seja por questões sociais, como campo de refugiados, guerras, problemas políticos etc.) Turismo gastronômico Turismo hedonista Turismo industrial (feito em áreas industriais para se conhecer o processo de produção de um determinado produto e a tecnologia utilizada nessa produção) Turismo insular (feito em ilhas) Turismo para deficientes físicos Turismo residencial
81
Bases e variáveis da segmentação Segmentos e nichos possíveis do turismo
(feito por famílias ou grupos que se hospedam em casa alugadas. Não confundir com segunda residência) Turismo romântico Turismo sociofamiliar Turismo surpresa Turismo temático Turismo virtual (viagem sem deslocamento geográfico. Pode ser feito em casa, desde que haja um computador conectado à internet) Turismo náutico Turismo de compras Turismo sexual Turismo LGBTS Astroturismo (Observatórios astronômicos como opções de lazer e turismo ou locais onde é possível observar luzes estrelares de um céu noturno límpido) Turismo em favelas Turismo em plataformas de petróleo Turismo em parques temáticos Turismo de concursos públicos (vertente foco deste estudo)
Fonte: Compilação de inúmeras fontes, sites e resultado das experiências de Lohmann e Panosso Netto (2012), com adaptações/contribuições do autor (2015).
Esta lista extensa de segmentos e de nichos expressa que o mercado do
turismo está se especializando cada vez mais. Lohmann e Panosso Netto (2012)
pontuam que esse fenômeno crescente de hipersegmentação é reflexo de uma nova
lógica mundial, em que as pessoas passam, a cada vez mais, pelo e no turismo a
satisfazer necessidades, desejos, vontades, sonhos idiossincráticos, que não são
possíveis de serem concretizados no cotidiano. A título de exemplo, tem-se as
viagens que têm como motivação a realização de concursos públicos no Brasil, foco
deste trabalho, em que concurseiros viajam o país inteiro atrás de vagas em cargos
públicos almejando a realização de um sonho, um desejo ou vontade.
Lohmann e Panosso Netto (2012) explicam que há a possibilidade de
aumentar essa lista, pois, novas vertentes do mercado turístico podem surgir todos
dos dias, pois, há segmentos que se dividem e tornam-se nichos, outros se fundem
e geram um novo segmento. Para além disso, Dencker (1998) sinaliza para o fato de
que a segmentação (nichos e segmentos) se transforma repentinamente, sendo esta
82
condicionada, nomeadamente, às mudanças socioculturais das sociedades e às
ações da natureza.
No Brasil, dada a pluralidade cultural e a sociobiodiversidade existente, o
Ministério do Turismo (MTUR) tem buscado na segmentação, da demanda e da
oferta, a organização e o desenvolvimento do setor turístico no país, ao passo da
segmentação ser por ele compreendida como “uma forma de organizar o turismo
para fins de planejamento, de gestão e de mercado. Os segmentos turísticos podem
ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das
características e das variáveis da demanda” (BRASIL, 2006, p. 3). Assim, desde
2006, o Mtur tem criado frentes de trabalho baseando em doze segmentos
considerados prioritários, tendo em vista às suas potencialidades no país – Turismo
Social; Ecoturismo; Turismo Cultural; Turismo de Estudos e Intercâmbio; Turismo de
Esportes; Turismo de Pesca; Turismo Náutico; Turismo de Aventura; Turismo de Sol
e Praia; Turismo de Negócios e Eventos; Turismo Rural e Turismo de Saúde.
83
5 UM PASSEIO NO MUNDO DOS CONCURSOS PÚBLICOS
Os cargos públicos no Brasil têm despontado como o emprego dos sonhos,
sendo o longo e árduo caminho de seu alcance metaforizado em expressões e
sentimentos como: foco, força, preparação, estudo, dedicação, cansaço, histeria,
desistências, bem como contínuas tentativas de fuga da iniciativa privada, dos níveis
de desemprego e das crises que têm assolado o Brasil e o mundo. Essas fugas
veem/têm como refúgio a estabilidade financeira, a segurança econômica e social e
os demais benefícios inerentes aos cargos públicos, ofertados, por vezes, em outros
municípios ou estados.
Em mais uma parada nesta viagem pelo universo do turismo, chega-se aos
concursos públicos, o mundo que permeia e condiciona o objeto de pesquisa deste
trabalho: as viagens motivadas à realização de certames. E, a fim de construir
conhecimentos e análises a respeito desse sistema de seleção de servidores
públicos e das viagens de concurseiros pelo Brasil, neste capítulo, serão realizados
passeios por esse mundo. A primeira parada é na sua história, onde serão
conhecidos os diferentes meios de seleção de pessoal que antecederam, originaram
no mesmo período ou ainda posteriormente aos concursos públicos. Mais a frente,
serão abordadas as definições, os princípios, as regras e as exceções que os
caracterizam e os legitimam. Posteriormente, serão visitados os atos administrativos
que garantem a sua funcionalidade. E, na última parada, será ilustrado o seu
panorama no Brasil.
5.1 A história dos concursos públicos
Na trajetória histórica da seleção de funcionários públicos no mundo, nota-se
que vários, e diferentes, foram os meios, os sistemas e/ou as metodologias
adotadas. Cretella Júnior (2002) disserta que, em diversas sociedades humanas,
destacaram-se pelo menos sete formas de seleção de servidores públicos: sorteio,
compra e venda, herança, arrendamento, nomeação, eleição e concurso público. É
conivente, contudo, antes de se adentrar no bojo das discussões acerca dos
concursos públicos, compreender estas modalidades de seleção de servidores – que
precederam, originaram-se em paralelo e/ou sucederam os concursos públicos –,
84
pois elas, provavelmente, têm contributos ao que se compreende enquanto concurso
público na contemporaneidade.
Partindo dessa perspectiva, o sorteio – utilizado por algumas sociedades na
Antiguidade Clássica e na Idade Média – muito diferente do que teórica e
logicamente se possa pressupor, não era considerado um processo em que a sorte
era decisória, acreditava-se que se tratava de um processo de inspiração divina
(CRETELLA JÚNIOR, 2002). Essa tipologia de seleção era realizada de duas
maneiras: simples e puro ou condicionada – a primeira forma, segundo Fiuza (2015),
era realizada com qualquer pessoa. Aglantzakis (2003) e Cretella Júnior (2002),
contudo, assinalam que o sorteio mesmo na forma simples, era realizado mediante
processos seletivos anteriores; a segunda forma de sorteio era realizada apenas
com aqueles que fossem possuidores de certas características (habilidades e
competências). Pressupõe-se que tais determinantes exigidas na forma
condicionada tivessem correlações com as atribuições a serem desempenhadas nos
cargos.
Instituído durante a Idade Média, na França, o sistema de compra e venda de
cargos públicos se estabelecia em face do serviço público ser um sistema comercial
controlado por aqueles que possuíam maior poder aquisitivo. Dessa maneira, nessa
época, para possuir um cargo público, comprava-o ou este era transmitido por
hereditariedade, por herança (AGLANTZAKIS, 2003; CRETELLA JÚNIOR, 2002;
MACHADO JÚNIOR, 2008). Márcio Maia e Ronaldo Queiroz (2007) e Fiuza (2015)
sinalizam que a prática da hereditariedade dos cargos nem sempre se perpetuava,
tendo em vista o fato de que o cargo público concedido ao(a) herdeiro(a) nem
sempre era de seu interesse. Desse fato, a função pública era colocada, por vezes,
à disposição do sistema de compra e venda pelo herdeiro.
Outra forma de ocupação dos cargos públicos identificada por Cretella Júnior
(2002) foi o arrendamento. De origem feudal, estabelecia-se mediante o aluguel de
cargos do Estado a terceiros, com prazos e quantias ou interesses previamente
determinados (AGLANTZAKIS, 2003). A nomeação ou a livre nomeação, por outro
lado, consistia na escolha ou na indicação de determinada pessoa para a investidura
de cargo público. Ela poderia ser relativa ou absoluta: esta “forma de designação
para o cargo público efetuado por um só indivíduo, sem a interferência de qualquer
poder”; aquela “perfaz‐se em ato administrativo complexo, onde o ato para se tornar
perfeito e acabado necessita da manifestação de vontade de um poder sob a
85
aprovação de outro poder” (AGLANTZAKIS, 2003, s. p.). Isto é, o cargo público era
concedido por uma autoridade do Estado que não estivesse sob as ordens de outro
poder.
A eleição foi, e ainda é, outro usual sistema de seleção de servidores
públicos. Esse consiste na preferência de uma maioria, por meio do voto, para que
um indivíduo ocupe determinado cargo público. Igualmente a eleição, o concurso
público foi, ao longo da história, uma das formas de seleção de servidores públicos
mais utilizadas em diversas sociedades, em face do seu caráter igualitário, moral e
justo (AGLANTZAKIS, 2003; CRETELLA JÚNIOR, 2002; MACHADO JÚNIOR,
2008). Originário na China Antiga, por volta de 221 a. C., o concurso público surge
durante o período histórico que marcou a formação do grande Império Chinês.
Nesse período, o surgimento, a estruturação e as manutenções necessárias no
Império demandaram a contratação de pessoal. Dessa forma, por meio de
concursos públicos, as primeiras seleções buscaram selecionar os candidatos mais
aptos para exercer funções públicas para atender necessidades do Império (FIUZA,
2015).
Inicialmente, as seleções baseavam-se apenas em avaliações da condição
física dos candidatos. Rocha (2006 apud FIUZA, 2015) conta que por volta de 2.300
a. C. e 150 a. C., oficiais do Império passavam por avaliações físicas a cada triênio.
Tais avaliações eram realizadas com o objetivo de observar se os oficiais possuíam
ou não condições para continuar exercendo suas funções com eficiência – caso o
desempenho do oficial fosse insatisfatório, esse era dispensado, mas, se o
desempenho fosse satisfatório ele, geralmente, era promovido. Já os testes que
mediam a inteligência, as capacidades intelectuais enquanto sistema de seleção de
funcionários do Estado, somente surgiram entre 202 a. C. a 200 d. C, na Dinastia
Han, influenciados pela filosofia do Confucionismo.
Criada pelo filósofo Confúcio, essa filosofia pregava que o respeito e o amor
ao próximo deveriam ser características fundamentais do homem, do mesmo modo
que a discrição, a moderação e a prudência – de tal maneira que os excessos,
mesmo quando tidos como virtudes, eram reprováveis (FIUZA, 2015). Embasada
pela doutrina Confucionista, na Disnatia Han, surgiu uma classe dominante formada
por intelectuais, que se aperfeiçoava à medida que se preparava para as seleções
das funções públicas do Império. Nesse fluxo, a Administração Pública Imperial, em
consonância com Gernet (2002 aoud FIUZA, 2015), foi se constituindo por pessoas
86
que possuíam vastos conhecimentos acerca da escrita chinesa e das atribuições
dos cargos a que concorriam, essas eram conhecidas como Mandarins.
Entre 581 d. C. a 618 d. C., na Dinastia SuI, a importância dos estudos na
preparação para o concurso público já se fazia presente. De modo que, nessa
época, foram criadas escolas e provas com a finalidade de preparação para os
concursos públicos. Sob esta perspectiva, Gernet (2002 apud FIUZA, 2015) pontua
que os aprovados nos concursos normalmente eram os que tinham formação por
essas escolas. Supõe-se que tais escolas e provas especificas representam um
estágio inicial dos “cursinhos preparatórios” e dos simulados dos dias atuais.
Durante a Dinastia Tang, de 618 d. C. a 907 d. C., o concurso público sofreu
transformações substanciais em sua organização e aplicabilidade. Consoante aos
princípios da filosofia Confucionista, o Império Chinês aplicou medidas de
reorganização na Administração Pública – criação de bibliotecas, reformas nas
funções e atribuições públicas, por exemplo – visando aperfeiçoar e universalizar o
serviço público na China Antiga. Em meio a essas novas dinâmicas, a criação do
Ministério de Ritos merece destaque, pois, ao elaborar, organizar e aplicar exames
escritos e orais, de acordo com as diferentes áreas do conhecimento, com o objetivo
de definir nomeações efetivas às funções públicas, corroborou para a melhoria do
concurso público enquanto sistema de seleção de servidores (GERNET, 2002 apud
FIUZA, 2015).
No período que compreendeu 1.368 d. C. e 1.644 d. C., na Dinastia Ming, o
qual a marinha e o exército chinês se consolidaram, Gernet (2002 apud FIUZA,
2015) sinaliza que os aprovados nos concursos públicos recebiam títulos, uma
espécie de diploma universitário pela conquista alcançada. Os postulados de Fiuza
(2015, p. 72) a respeito da genealogia e da evolução do concurso público na
civilização chinesa, sinalizam que dentre outros avanços houve: a “tentativa de
recrutar um corpo de servidores de elite para o governo”; “os funcionários passaram
a ser escolhidos em processo seletivo por mérito” e “a seleção não era definida
somente pela sua origem ou classe social, mas pela sua inteligência”. Contudo, na
Dinastia Ming, foi possível identificar várias formas de tentar burlar a legitimidade
dos concursos, com vistas a conquistar ganhos pessoais (ROCHA, 2006 apud
FIUZA, 2015). Desse modo, observa-se que alguns escândalos que envolvem
fraudes em concursos públicos atualmente, com interesses puramente pessoais,
87
ocorrem desde a civilização chinesa – claro, não se pode afirmar que da mesma
maneira, mas sim com fins/objetivos análogos.
Inobstante às possibilidades de sofrer fraudes, o concurso público surgido na
China Antiga se espalhou pelo mundo como uma das melhores formas de seleção
de servidores públicos, tendo sofrido, evidentemente, algumas transformações que
se fizeram necessárias em face das diferentes questões, sobretudo, socioculturais
que mediaram (e mediam) as diferentes sociedades. Rocha (2006), citado por Fiuza
(2015), disserta que o sistema de seleção por concursos públicos foi adotado pelos
europeus durante o contato com os chineses no período em que ocorriam as
cruzadas. Fascinados com a objetividade, a igualdade de acesso e a eficácia dos
concursos públicos em selecionar os mais aptos a exercer os cargos, os europeus
passaram a empregar tal metodologia de seleção, inclusive para cargos civis
considerados de maior relevância, sobretudo no contexto dos Estados-Nação.
No ocidente, o concurso público teria, em consonância com Cretella Júnior
(2002, p. 461), instituído-se “na França, a partir de Napoleão, depois de renhidas
lutas contra seus opositores, beneficiados por outros sistemas [de seleção de
pessoal]”. Percebe-se, portanto, que o concurso público surge e se desenvolve em
virtude da utilização de outros mecanismos de seleção que não ofereciam igualdade
no acesso aos cargos públicos e que, notadamente, favoreciam os mais ricos para a
investidura das funções públicas.
Aglantzakis (2003), nesse contexto, traça uma interessante linha (histórica) de
pensamento: a de que o surgimento e o desenvolvimento do concurso público, no
ocidente, é equivalente à origem do Estado de Direito. O autor em tela, com base
nos apontamento de Celson Bastos (1994), ressalta que esta conclusão advém de
uma viagem na história da gênese do Estado, em que:
[...] o primeiro período de vida da organização estatal apresentava como característica fundamental a concentração do poder nas mãos do monarca, era o chamado “Estado de Polícia ou Absoluto”. Nesse período não existia a carreira administrativa, nem garantias constituídas em favor daqueles que desempenhavam a função pública, cuja nomeação, permanência e dispensa dependiam exclusivamente da vontade do monarca. A função pública [...] Era exercida por pessoas presas por laços de fidelidade muito forte ao monarca. De outra parte, os agentes exerciam suas funções de maneira ilimitada, o que acabava por fazer deles verdadeiros proprietários do cargo que ocupavam e do qual podiam usufruir livremente. Ao Estado de Polícia, Celso Bastos (1994) diz que sucedeu o Estado de Direito, que se caracteriza como o nome evidencia, pelo fato de submeter‐se ao direito, entendido como
88
algo acima de governantes e governados. Essa evolução, que se deu muito lentamente durante o século XIX, esboça o que hoje constitui a carreira administrativa. Nesse processo reconheceram‐se certos direitos, próprios dos agentes
públicos, assim como se delineou o sistema disciplinar a que deveriam submeter‐se”. (CELSO BASTOS, 1994 apud
AGLANTZAKIS, 2003, s. p.).
O referido sistema, portanto, traz envergadura a inúmeros princípios; dentre os quais
o da legalidade, que, por sua vez, passou a legitimar “o que o Estado pode fazer e o
que lhe é vedado praticar” (AGLANTZAKIS, 2003, s. p.). Nesse panorama, surge,
então, o concurso público enquanto um procedimento de caráter administrativo
envolvido, nomeadamente, pelo principio da legalidade
No Brasil, a contratação de pessoal pode ser visualizada ainda no Brasil-
Colônia, momento em que as investiduras dos cargos, que compunham a
monarquia, eram realizadas pelo Rei de Portugal consoante seus critérios. Um
exemplo categórico dessa metodologia de nomeação de servidores se dá com o
advento da criação das Capitanias Hereditárias, em que D. João III nomeia pessoas
que pudessem explorar as terras e impedir e/ou dificultar invasões de outras nações
(SOUSA, 2011). Entretanto, o que de fato institui e traz avanços significativos para
compreensão do que os concursos públicos representam na atualidade, foram as
constituições brasileiras. De modo particular, cada constituição estabeleceu
diretrizes em direção à legitimidade do concurso público: seja plantando sementes,
seja contribuindo de forma efetiva e substancial nos avanços, como apontadas no
quadro 6.
89
Quadro 6 – O Concurso Público na evolução das constituições brasileiras
Constituição Imperial de 1824
Não tratou sobre o tema concurso público
Porém, seu artigo 179, XIV, estabeleceu que “todo cidadão pode ser admitido aos Cargos
Públicos Civis, Políticos ou Militares, sem outra diferença, que não seja a dos seus talentos, e
virtudes”.
Constituição de 1891
Também não previu em seus artigos nenhuma disposição acerca de concurso público;
Entrementes, o seu artigo 73, que dispôs: “os cargos públicos civis ou militares são acessíveis a
todos os brasileiros, observadas as condições de capacidade especial que a lei estatuir”.
No artigo 79 havia proibição de acumulação de cargos públicos entre Poderes distintos e eram
vedadas cumulações remuneradas.
Constituição de 1934
Foi a primeira constituição brasileira a dispor sobre a previsão da acessibilidade dos cargos
públicos por meio de concurso público;
Os seus artigos 168 e 170, rezavam em síntese que “sem distinção de sexo ou estado civil,
observadas as condições que a lei estatuir” ;
O concurso público “a primeira investidura nos postos de carreira das repartições administrativas,
e nos demais que a lei determinar[...]”.
Foi possível nessa Carta: Apenas Concurso aberto ao público na primeira investidura; a
possibilidade de concurso interno; liberdade ao legislativo na escolha de quais cargos de carreira
poderia haver concurso; estabilidade do servidor
proibição de acumulação remunerada de cargos públicos, sejam eles ocupados na União, nos
Estados ou Municípios.
Constituições de 1937, 1946 e 1967
A Constituições de 1937 praticamente acolheu a redação da Constituição de 1934;
Na Constituição de 46 ficou vedada a estabilidade aos cargos de confiança, e aos ocupantes de
cargos que a lei declarasse de livre nomeação e exoneração;
Já a constituição de 1967 estabeleceu, em seu artigo 95, que “ a nomeação para cargo público de
provas ou de provas e títulos exige aprovação prévia em concurso público”. No artigo 95,
prescreve, ainda, que “prescinde de concurso a nomeação para cargos em comissão, declarados
em lei, de livre nomeação e exoneração”;
Até essas Constituição não se exigia concurso público para admissão nos empregos públicos e
nem nas funções técnicas ou científicas, e os servidores celetistas não tinham direito à
estabilidade.
Constituição de 1988
A Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, foi a que trouxe mais
inovações
Essa Constituição passou a exigir o concurso público de provas ou de provas e títulos para o
ingresso nos cargos e nos empregos públicos, com algumas exceções;
Fonte: Elaboração do autor (2015) a partir de Aglantzakis (2003) e Sousa (2011).
90
Carvalho (2014) afirma que a Carta Magna rege e é detalhada em/por
legislações específicas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
a exemplo: a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 – que “dispõe sobre o regime
jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações
públicas federais” (BRASIL, 1990, s. p.) – e o Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de
2009 – que “Estabelece medidas organizacionais para o aprimoramento da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional”, bem como, “dispõe
sobre normas gerais relativas a concursos públicos, organiza sob a forma de
sistema as atividades de organização e inovação institucional do Governo Federal” e
compreende outras questões (BRASIL, 2009, s.p.).
Com os avanços constitucionais e legislativos, a instituição do concurso
público passa a representar, segundo Aglantzakis (2003, s. p.), “uma reação contra
a hereditariedade e venalidade dos cargos públicos e da afirmação do princípio de
acesso aos cargos públicos segundo a capacidade dos indivíduos e sem outra
distinção que não fossem as virtudes e talentos do indivíduo”. Carvalho (2014, p. 89)
reitera essa concepção ao sublinhar que “tal instrumento viabiliza a contratação, de
maneira impessoal e sem favoritismo, ou intuito meramente lucrativo, dos indivíduos
mais capacitados para o exercício dos misteres estatais”. O autor retrocitado
visualiza, ainda, o concurso público como:
[...] o único método seletivo que se coaduna com critérios de jaez científico, ao passo que é o menos sujeito aos inconvenientes que maculam os demais, como, por exemplo, a aleatoriedade do sorteio, a comercialidade da compra e venda e do arrendamento de cargos públicos e a discricionariedade da livre nomeação (CARVALHO, 2014, p. 89).
Portanto, o concurso, à vista dos avanços em direção à sua legitimidade,
estabelecidos com as constituições, foi sendo percebido, pelo Estado, enquanto um
mecanismo que – por meio de procedimentos de avaliação igualitária, moral, justa e
democrática das habilidades e competências dos candidatos – melhor cumpre
princípios e direitos constitucionais ao abarcar, sobretudo, o interesse da
coletividade. Todavia, Carvalho (2014) pondera que esse também é passível de
vícios, de irregularidades e/ou de fraudes.
Os cargos públicos, na conjectura brasileira, dada a existência de seus
inerentes benefícios e garantias, dispostas em instrumentos normativos, são os
empregos mais concorridos. Com o assustador número de respostas corretas nas
provas, conseguir a posse de um cargo público fica a cada dia mais difícil. Por isso,
91
muitos concursandos ou concurseiros têm viajado por diferentes lugares do país –
que consideram mais fáceis de garantir aprovação – para prestar concursos
públicos. Compreender como se caracterizam essas viagens no universo do turismo
e quem são esses viajantes que originaram e têm movimentado uma nova face do
mercado turístico é o objetivo desta investigação.
5.2 Definições, princípios, regras e exceções dos concursos públicos
O arcabouço teórico que depreende a conceituação de concurso público, de
acordo com Aglantzakis (2003), Fiuza (2015) e Sousa (2011), é em demasia
extenso. Embora não interexclusivas, existem diversificadas formas “de se viver,
pensar, falar sobre e planejar institucionalmente os certames” (FONTAINHA et al,
2014, p. 9). Assim, o entendimento de concurso público encontra-se margeado e
entrelaçado por alguns embates ora teóricos, ora doutrinários.
Dentre tais dissensos, Aglantzakis (2003) e Carvalho (2014) chamam atenção
para o concernente à natureza jurídica dos concursos públicos; que se vê entre a
compreensão desses enquanto um procedimento administrativo e a que os visualiza
como um processo administrativo. Essa última, contudo, é mais aceita entre os
estudiosos, ao passo que não considera concurso público como apenas um
procedimento/ato administrativo, mas o compreende, de maneira inteligente, a partir
de sua dinâmica complexa, lógica e sistemática de diferentes atos, que convergem
em direção à materialização do certame (CARVALHO, 2014).
No tocante às diferentes definições acerca do concurso público, Aglantzakis
(2003), Carvalho (2014), Fiuza (2015) e Sousa (2011), em seus trabalhos,
apoderam-se de conceitos considerados os mais usuais para realizarem suas
análises. Carvalho (2014, p. 89), em uma perspectiva mais geral, comenta que o
concurso público consiste num:
[...] processo administrativo destinado a aquilatar as capacidades dos indivíduos interessados em ocupar cargos na estrutura funcional da Administração Pública, que, por impostergável necessidade de aparelhar seu quadro de pessoal, seleciona os candidatos que demonstrarem maiores aptidões ao exercício do ofício estatal por meio do aludido crivo seletivo. Trate-se, pois, de técnica democrática de perfil moralizador colocada à disposição do Poder Público para conferir maior eficiência e impessoalidade à sua própria atuação.
92
Aglantzakis (2003, s. p.), de sua vez, cita a definição de Sousa (2000), que atenta
para uma coexistência de sentidos na efetivação dos concursos públicos, o objetivo
e o subjetivo: esse primeiro é representado pelo Poder Público, denotando que os
concursos são/devem ser planejados e executados por entidades não privadas nem
pessoas físicas, mas sim públicas/estatais; o último direciona-se à coletividade, “a
todos aqueles que preencham, naquilo que nos interessa, os requisitos inerentes
aos cargos, aos empregos ou às funções públicas” (SOUSA, 2000 apud Aglantzakis,
2003, s. p.) que almejam tomar posse.
Sob um prisma mais técnico, Gasparini (2010), citado por Fiuza (2015),
percebe o concurso público a partir de uma lógica metódica de atos administrativos
interconectados, norteados por predeterminada cronologia, à serviço da
Administração e do interesse público para selecionar candidatos aos cargos
públicos. Nessa mesma linha de pensamento, Madeira (2009), citado por Sousa
(2011), complementa dizendo que, tal dinâmica de procedimentos administrativos
tem como objetivo avaliar aptidões, ou ainda, habilidades e competências daqueles
que se candidatam aos cargos.
Maia e Queiroz (2007) dividem esse conjunto de atos, em internos e externos.
Os internos compreendem as etapas de “abertura de vagas para o serviço púbico,
na viabilidade orçamentária do órgão, na autorização para a realização do processo
seletivo, no estabelecimento das regras do certame, na escolha da banca
examinadora e na elaboração do edital”. Os externos, por sua vez, figuram “a
publicação do edital, as inscrições dos candidatos, a execução das provas, a
divulgação dos gabaritos, os recursos, a publicidade dos resultados, a homologação,
a convocação e a posse”, ou seja, os atos mais próximos dos candidatos.
Rocha (1999 apud SOUSA, 2011, p. 40-41) chama atenção para a
perspectiva do concurso público, para além da contratação de pessoal da máquina
pública, no âmbito da meritocracia, visto que este é um “processo administrativo pelo
qual se avalia o merecimento de candidatos à investidura em cargo ou emprego
público, considerando-se as suas características e a qualidade das funções que lhes
são inerentes”. Nesse caminho, Alves (2013) e Carvalho Filho (2012) entendem o
concurso público como a principal ferramenta de incremento da meritocracia na
sociedade brasileira, dada as oportunidades de igualdade e de isonomias conferidas
àqueles que participam dos certames. Demais, esse modelo de seleção de pessoal,
93
como se pode ver a seguir, é revestido por princípios constitucionais (e
infraconstitucionais) que garantem, entre outras questões:
[...] que todos podem participar nas mesmas condições [dos concursos], permitindo que sejam escolhidos realmente os melhores candidatos. Baseia‐se o concurso público em três postulados fundamentais. O primeiro
é o princípio da igualdade, pelo qual se permite que todos os interessados em ingressar no serviço público disputem a vaga em condições idênticas para todos. Depois, o princípio da moralidade administrativa, indicativo de que o concurso veda favorecimentos e perseguições pessoais, bem como situações de nepotismo, em ordem a demonstrar que o real escopo da Administração é o de selecionar os melhores candidatos. Por fim, o princípio da competição, que significa que os candidatos participem de um certame, procurando alçar‐se à classificação que os coloque em condições de
ingressar no serviço público (CAETANO, 1973 apud CARVALHO FILHO, 2012, p. 563).
O concurso público, enquanto uma seleção de cargos públicos concorrida, precisa
estar envolto aos princípios26, sejam os constitucionais, sejam os
infraconstitucionais, sejam as demais normas que o legitimam, a fim de garantir
oportunidades de acesso igualitárias e, em especial, justas a todo e qualquer
brasileiro ou estrangeiro, salvo as exceções, de acordo com a lei.
Nessa levada, mesmo tendo ciência da existência de diversos, e importantes,
outros princípios, será dada prioridade à discussão de princípios constitucionais e
infraconstitucionais de caráter universal, que regem e legitimam a Administração
Pública, e, notadamente, o instituto do concurso público, assim como, os princípios
específicos que o abrangem. Logo, tratam-se de princípios mais recorrentes durante
o caminhar dos concursos. Essas doutrinas, por vezes, presentes nos conteúdos
programáticos, podem influenciar a participação de candidatos, tendo em vista que
alguns editais têm imposto requisitos como idade, sexo e altura (ALVES, 2013), que,
por conseguinte, irão afetar as viagens de concurseiros.
Sob a ótica dos princípios (infra)constitucionais, todo concurso público – em
consonância com o artigo 37 da Constituição Federal de 1988 e o artigo 2º da Lei nº
9.784/99 – precisa estar regulado pelos princípios de: legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (BRASIL, 1988); e finalidade, motivação,
26
Fiuza (2015, p. 29-30), ao citar Mello (2004), explana que os “princípios são proposições que servem de base para toda a estrutura da ciência jurídica, revestindo-se de grande importância para informar normas, inspirar direta ou indiretamente uma série de soluções, resolver casos não previstos, promover e embasar a aprovação de novas normas e orientar a interpretação das existentes”. Em resumo, “São regras fundamentais das quais orientam todo o ordenamento jurídico”. Por este motivo, o seguimento de suas proposições é obrigatório, do contrário estará-se-a diante de um descumprimento “muito mais grave do que a transgressão de uma norma, significa a violação de todo o sistema de comandos”.
94
razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e
interesse público, respectivamente (BRASIL, 1999). Quanto aos princípios
específicos que recaem sobre os concursos, Maia e Queiroz (2007) sumarizam: a
obrigatoriedade, a vinculação ao edital, a competitividade, a seletividade e o
proibitivo da quebra da ordem de classificação. Ainda que tais princípios, por vezes,
divirjam ou se oponham, esses não se cancelam. Quando há conflitos, a análise
pauta-se na ponderação de interesses ou valores e, principalmente, procura
visualizar qual principio está mais envolvido na questão, ou seja, qual o critério que
mais predomina no caso (CARVALHO FILHO, 2012; FIUZA, 2015).
No universo constitucional e jurídico que condiciona, rege e permeia os
concursos públicos, têm-se, para além dos princípios referenciados, normas gerais e
específicas que regularizam e guiam o seu funcionamento. Essas regras estão
dispostas desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos até leis e decretos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e Municípios. No artigo 21 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948),
por exemplo, está firmado que “Toda a pessoa tem o direito de acesso, em
condições de igualdade, às funções públicas do seu país”. O artigo 37 da
Constituição Federal, por sua vez, entre outras providências, garante que:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período; IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira; [...] VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; (BRASIL, 1988, s.p.).
Desse modo, tanto a Declaração Universal quanto o artigo 37 da Constituição
Federal de 1988 determinam que todo e qualquer brasileiro(a), do mesmo modo que
estrangeiros, que preencham determinados requisitos estabelecidos em lei, podem
exercer funções, empregos ou cargos públicos. O art. 37, porém, estabelece que o
acesso a cargos públicos se efetivará mediante realização de provas e de provas de
95
títulos e aprovação em concurso público, salvo as exceções. Todo concurso pode ter
validade de até dois anos, podendo ser postergado por igual período, uma única
vez. Nesse sentido, todo aprovado em concurso público, que tenha prazo
improrrogável, deverá ser convocado. Além disso, o referido artigo trata da reserva
de vagas a pessoas com necessidades especiais (BRASIL, 1988).
Já a lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que trata do regime jurídico dos
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas
federais, elenca em seu artigo 5º os requisitos básicos para a posse no serviço
público:
I - a nacionalidade brasileira; II - o gozo dos direitos políticos; III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo; V - a idade mínima de dezoito anos; VI - aptidão física e mental. § 1
o As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros
requisitos estabelecidos em lei. § 2
o Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se
inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. § 3
o As universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica
federais poderão prover seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os procedimentos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.515, de 20.11.97) (BRASIL, 1990, 1997a, s.p.).
Essa norma acentua, dessa maneira, que existem critérios imprescindíveis para a
investidura de cargos que assim demandem. Do mesmo modo que a Constituição
Federal de 1988, o parágrafo 2º menciona a reserva de vagas a pessoas com
necessidades especiais, contudo, sublinha que as atribuições precisam ser
desempenhadas sem nenhum entrave causado pela deficiência, isto é, o trabalho
deve ser compatível com as limitações físicas de que o servidor é portador. Aliado a
isso, ela determina que a esses candidatos sejam reservadas até 20% do total de
vagas ofertas.
Os artigos 6º, 7º e 8º garantem que nos concursos, respectivamente: “O
provimento dos cargos públicos far-se-á mediante ato da autoridade competente de
cada Poder” e “A investidura em cargo público ocorrerá com a posse”, bem como
explicitam as formas de provimento de cargos públicos, a saber: “I - nomeação; II -
promoção; V - readaptação; VI - reversão; VII - aproveitamento; VIII - reintegração e
IX - recondução". No caput do artigo 11, tem-se a exigência de provas ou provas e
96
títulos nos concursos públicos, sendo “condicionada a inscrição do candidato ao
pagamento do valor fixado no edital, quando indispensável ao seu custeio, e
ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente previstas. (Redação dada
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)” (BRASIL, 1990, 1997b, s. p.), trazendo, assim, um
maior detalhamento acerca dos procedimentos normativos a serem adotados em
concursos públicos.
E, no artigo 12, trata-se da validade do concurso público, igualmente
expressado no inciso III, do artigo 37, da Constituição Federal de 1988 – de dois
anos, com prorrogação de igual período – com a complementação, porém, disposta
em seus parágrafos 1º e 2º, respectivamente: “O prazo de validade do concurso e as
condições de sua realização serão fixados em edital, que será publicado no Diário
Oficial da União e em jornal diário de grande circulação” e “Não se abrirá novo
concurso enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de
validade não expirado” (BRASIL, 1990, s. p.). Ponderando, nesse sentido, a garantia
de que todo candidato aprovado deve ser chamado, e só após um novo concurso
poderá ser criado.
De sua vez, o Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009, estipula outro
conjunto de regras sobre o concurso público, no entanto, com as disposições que
galgam em direção ao fortalecimento da capacidade institucional. Parte-se do
princípio que esse fortalecimento somente será alçado por meio:
I - da criação e transformação de cargos e funções, ou de sua extinção, quando vagos; II - da criação, reorganização e extinção de órgãos e entidades; III - da realização de concursos públicos e provimento de cargos e empregos públicos; IV - da aprovação e revisão de estrutura regimental e de estatuto; V - do remanejamento ou redistribuição de cargos e funções públicas; e VI - da autorização para contratação temporária de excepcional interesse público, nos termos da Lei n
o 8.745, de 9 de dezembro de 1993 (BRASIL,
2009, s. p.).
Observa-se, dessa maneira, que a essencialidade do concurso público é
materializada a partir dessa norma, que visualiza esse meio de seleção enquanto
um agente de fortalecimento do Estado. Sendo primacial, para isso, a criação, a
(re)organização, a transformação, o remanejamento, a redistribuição e a extinção de
vagas, de órgãos e de entidades, assim como, a realização de novos concursos, a
contratação temporária, as revisões e as aprovações na estrutura regimental, de
forma constante, de acordo com a lei.
97
O Capítulo II, do retrocitado decreto, dos artigos 10 a 19, que trata Dos
Concursos Públicos, para além de outras especificações até aqui não apresentadas,
dispõe ainda:
Art. 10. Fica delegada competência ao Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão para autorizar a realização de concursos públicos nos órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional e decidir sobre o provimento de cargos e empregos públicos, bem como expedir os atos complementares necessários para este fim. [...] Art. 13. O concurso público será de provas ou de provas e títulos, podendo ser realizado em duas etapas, conforme dispuser a lei ou o regulamento do respectivo plano de carreira. [...] § 4
o A realização de provas de aptidão física exige a indicação no edital
do tipo de prova, das técnicas admitidas e do desempenho mínimo para classificação. § 5
o No caso das provas de conhecimentos práticos específicos, deverá
haver indicação dos instrumentos, aparelhos ou das técnicas a serem utilizadas, bem como da metodologia de aferição para avaliação dos candidatos. [...] Art. 14. A realização de avaliação psicológica está condicionada à existência de previsão legal específica e deverá estar prevista no edital. (Redação dada pelo Decreto nº 7.308, de 2010) [...] Art. 15. O valor cobrado a título de inscrição no concurso publico será fixado em edital, levando-se em consideração os custos estimados indispensáveis para a sua realização, e ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente previstas, respeitado o disposto no Decreto
no 6.593, de 2 de outubro de 2008. Art. 16. O órgão ou entidade responsável pela realização do concurso público homologará e publicará no Diário Oficial da União a relação dos candidatos aprovados no certame, classificados de acordo com Anexo II deste Decreto, por ordem de classificação (BRASIL, 2009, 2010c, s. p.).
Assim, visualiza-se que esses artigos trazem com maior clareza e profundidade uma
gama complexa de regras que transversalizam os concursos públicos, enquanto
processo administrativo. Notou-se, ainda, que as diferentes normas aqui expressas,
em escalas variadas, complementam-se, sendo, em verdade, desdobramentos uma
das outras.
Todavia, o escopo jurídico-constitucional sobre os concursos públicos é,
segundo Carvalho (2014), alvo de muitas críticas, como a de Maia e Queiroz (2007),
que aborda a ausência de pormenores nas premissas, outrora citadas, que regulam
os concursos públicos no Brasil. De acordo com Carvalho (2014, p. 90):
[...] o casuísmo da jurisprudência e a dificuldade de efetivo acesso ao Poder Judiciário demandam tal positivação para efeito de eliminação do arbítrio das bancas examinadoras, dado que a omissão estatal neste particular acaba por ensejar uma “delegação normativa” aos editais dos certames e acarreta, de conseguinte, transtornos de todas as ordens para os administrados.
Fontainha et al (2014, p. 14) reitera a crítica pontuando que:
98
A carta constitucional não oferece muitos detalhes sobre uma política de seleção de pessoal à administração pública. Todavia, tal situação é bastante normal, já que o seu texto precisa ser abrangente o bastante para regular amplas áreas, e um grau majorado de detalhe não auxiliaria a efetivação da prática dos certames no âmbito da administração pública, em especial dos estados e dos municípios. A questão central é que a legislação infraconstitucional também não é pródiga na oferta de disposições referentes aos certames.
O supracitado autor pondera, ainda, que não existem premissas que normatizem,
por exemplo, os “critérios para a composição de bancas, bem como [...] a regulação
da relação entre o Estado e a entidade organizadora do certame. Não há qualquer
menção nas normas federais sobre o papel a ser desempenhado pelas entidades
promotoras” (FONTAINHA et al, 2014, p. 14). As especificações legais dos
concursos públicos, conforme Carvalho (2014) e Fontainha et al (2014), podem ser
conferidas nos editais que os acondicionam. De modo que o edital é (re)conhecido
como “a lei do concurso público”, sendo, também, um componente administrativo
comunicacional de sumária importância à coletividade no que diz respeito,
sobretudo, à divulgação, à publicidade das vagas disponíveis no serviço público.
Como anteriormente discutido, no Brasil, a contração de servidores públicos é
realizada por meio de aprovação em provas e/ou provas de títulos em livre concurso
público, visando garantir o cumprimento de princípios e de outras normas.
Entrementes, a investidura de cargos públicos possui exceções – inclusive
legitimadas pela Constituição Federal de 1988 – que emanam de
necessidades/demandas da sociedade. Desse modo, serão apresentadas a seguir
as exceções que marcam o mundo da contratação de servidores públicos, que
dispensam o concurso público como meio de ingresso ao serviço público do país.
As exceções são inerentes dos concursos públicos dada a gama de
atividades desenvolvidas pelo Poder Público. Há ocasiões, tendo em vista, que não
se pode esperar pelo tempo que demandam os tramites burocráticos sob os quais
os concursos estão revestidos, pois a Administração precisa atender, muitas vezes
de forma emergencial, o interesse e a necessidade da coletividade. Nessa esteira,
Fiuza (2015) elenca cinco exceções que fogem à regra do concurso público,
legitimadas pela Constituição Federal de 1988, sendo elas: os cargos em comissão;
o atendimento de contingências excepcionais; os cargos eletivos; a contratação dos
agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias; e as
nomeações ou indicações pelos Chefes do Poder Executivo. Nessas ocasiões, o
concurso público, propriamente dito, é dispensado ou realizado de forma mais
99
simplificada, mediante um processo seletivo com maior flexibilidade e menor rigor e
burocracia.
5.3 Funcionamento: os atos administrativos de um concurso público
Em alusão à definição de concurso público empregada por Gasparini (2010
apud FIUZA, 2015) e Maia e Queiroz (2007), que percebe esse a partir de uma série
ordenada e articulada de atos administrativos, condicionados à uma temporalidade,
à Administração Pública e ao interesse coletivo, com vistas à selecionar, em tese, os
mais aptos para assumir cargos no serviço público. Insta anotar que esse conjunto
de atos é dividido em duas etapas: a interna e a externa.
Na etapa interna, aquela engloba a preparação e o planejamento do certame
no âmbito da Administração, os atos administrativos correspondem: a abertura de
vagas, a viabilidade orçamentária, a autorização do processo seletivo, o
estabelecimento das regras do concurso, a escolha da banca e a elaboração do
edital. Na etapa externa, que abarca todo e qualquer ato administrativo executado
após a publicação do edital – em que a sociedade, em particular o concurseiro, toma
conhecimento das normas especificas que guiaram o concurso, bem como, é o
período em que as provas são realizadas e os resultados alcançados pelos
candidatos são conhecidos – os atos administrativos são os seguintes: Publicação
do edital; Inscrição; Execução das provas; Divulgação dos gabaritos e recursos;
Publicidade dos resultados e recursos; Homologação e Convocação dos aprovados
e posse (MAIA; QUEIROZ, 2007).
De maneira sistemática, a figura 8 representa o funcionamento do concurso
público, de acordo com os atos administrativos que o constituem. Entretanto, a fim
de explicar – ainda que sem muitos pormenores – a função de tais atos, apoiando-
se, nos postulados de Márcio Maia e Ronaldo Queiroz (2007), sobretudo, buscou-se
tratar como cada um deles funciona e qual os seus respectivos papéis para que o
concurso público aconteça sem nenhuma ilegitimidade. Nesse sentido, apresenta-se
a seguir, de maneira objetiva, os atos que integram a parte interna e a parte externa
de um concurso público.
100
Figura 8 – Etapas do concurso público
Fonte: Elaboração do autor (2015) a partir de Maia e Queiroz (2007).
PARTE EXTERNA
PARTE INTERNA
CONCURSO PÚBLICO
101
Inicialmente, tem-se a abertura de vagas, momento que a Administração
Pública realiza um levantamento acerca das necessidades e da importância de
selecionar ou não candidatos à investidura de cargos, sendo, então, conhecida a
demanda de vagas existente. O segundo ato administrativo, viabilidade
orçamentária, é exigência prevista ainda na Constituição Federal de 1988, nos
incisos I e II, do parágrafo 1º, do artigo 169, dispondo que a contração de novos
servidores, a concessão de vantagens e/ou aumentos na remuneração, somente
será válida se passar pela dotação e pela autorização orçamentária disposta em lei,
salvo as exceções (BRASIL, 1988; MAIA; QUEIROZ, 2007).
Após a viabilidade orçamentária ser deferida, chega-se a fase de autorização
do concurso público, que se dá com a solicitação por parte da Administração Pública
ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), no âmbito Federal. Na
esfera Estadual e Municipal, a solicitação é realizada pela Administração ao órgão
análogo às funções MPOG (MAIA; QUEIROZ, 2007). Sendo analisadas, novamente,
as necessidades e a importância de novas contratações, do mesmo modo que a
viabilidade orçamentário-financeira do certame (FIUZA, 2015).
Com a autorização do concurso público, chega-se ao estabelecimento das
regras do concurso e da escolha da banca, como o próprio nome sugere é o
momento em que a Administração Pública determina normas específicas. É durante
essa fase que a Administração Pública decide se é ela quem vai executar o
concurso ou irá escolher um terceiro para realizá-lo: as instituições que trabalham
com a organização de concursos e seleções, popularmente conhecidas como
bancas examinadoras. A Elaboração do edital, conforme Maia e Queiroz (2007), é
primacial para a realização do concurso público, pois, é nesse instrumento que são
descriminadas as regras. Por intermédio dele, a Administração Pública comunica à
sociedade acerca do inicio do certame, do número de vagas, dos vencimentos e das
remunerações, bem como os critérios de participação (MAIA; QUEIROZ 2007).
Após a elaboração, é chegada a hora da publicação do edital, correspondente
o primeiro ato administrativo da parte externa do concurso público (MAIA; QUEIROZ,
2007). Nessa fase, o edital deve ser publicado, de acordo com a abrangência do
certame, em sites de entidades ou órgãos responsáveis pelo concurso e nos Diários
Oficiais da União, Estado, Município ou Distrito Federal, em respeito ao artigo 18, do
Decreto nº 6.944/2009 (BRASIL, 2009). A participação do interessado, no concurso,
é expressa por meio da inscrição, deferida a partir do pagamento de uma taxa que,
102
ressalvados os casos de isenção, é utilizada no pagamento de despesas originárias
da realização do certame, conforme o caput do artigo 11 e 15, da lei nº 8.112, de 11
de dezembro de 1990 (BRASIL, 1990). Majoritariamente, a inscrição é realizada via
internet, nos sites das bancas organizadoras, com datas e horários iniciais e finais
fixados em edital.
Sobre as provas, conforme dispõe o inciso I, do artigo 18, do Decreto nº
6.944/2009, a primeira prova do concurso deve ser realizada com um prazo de
sessenta dias a contar da data de publicação do edital. O parágrafo 2o, da mesma
norma, por outro lado, garante que este prazo pode ser reduzido, caso necessário.
As provas podem ser objetivas, subjetivas e, ainda segundo Maia e Queiroz (2007),
orais, acompanhadas ou não de provas de títulos, podendo ser executadas em duas
etapas, em coadunância com o artigo 13 (BRASIL, 2009).
Os gabaritos preliminares e o período de interposição de recursos
concernente às questões das provas, geralmente, são divulgados, no site da
“banca”. Os recursos podem alterar as respostas e anular questões, sendo
divulgado posteriormente o resultado das interposições e o gabarito definitivo.
Poderá, ainda, haver a possibilidade de anulação integral da prova, caso muitas
questões sejam anuladas ou as respostas sejam duvidosas. A anulação depende,
em grande parte, dos recursos interpostos, da mobilização dos candidatos e da
Administração Pública (MAIA; QUEIROZ, 2007; FIUZA, 2015).
Mesmo que os gabaritos sejam corrigidos pelo candidato, esse somente terá
certeza de sua aprovação, com a publicação dos resultados, a partir da interposição
de recursos e da Homologação dos resultados. Os resultados devem ser divulgados
e homologados nos Diários Oficiais da União do Estado, do Município ou do Distrito
Federal, de acordo com a abrangência do concurso. Conforme o artigo 16, do
Decreto nº 6.944/2009, a relação de candidatos classificados deve obedecer à
ordem de classificação máxima presente em seu Anexo II (BRASIL, 2009).
Por fim, os candidatos aprovados são convocados e, se for o caso,
empossados para assumir os cargos públicos. A convocação é realizada pela
Administração Pública levando em conta a classificação. O candidato deve
enquadra-se em todos os critérios e apresentar os documentos expressos em edital,
que serão analisados e, posteriormente, será dado um parecer quanto à aprovação
ou reprovação. Os candidatos que não comparecerem ou não atenderem todos os
critérios serão desclassificados nessa fase final (FIUZA, 2015).
103
5.4 Panorama dos concursos no Brasil
À luz das discussões até aqui apresentadas, é inegável a valorosa
contribuição do instituto do concurso público à envergadura do Estado Democrático
de Direito em sua feição atual. Ao realizar a seleção de pessoas para ingresso no
serviço público, procurando seguir princípios e outras normas constitucionais,
infraconstitucionais e especificas, esse sistema de seleção corrobora, em tese, para
a contratação de servidores, pelo Estado, que encontram-se mais bem preparados
(CARVALHO, 2014; FIUZA, 2015; MACHADO JÚNIOR, 2008) para desenvolver as
atribuições que os cargos demandam. Concomitante, também assegura aos que
concorrem às vagas ofertadas, por intermédio de provas e de provas de títulos,
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, igualdade, justiça e
isonomia, e, à coletividade e ao serviço público, promove outros inúmeros benefícios
– como os trazidos com as viagens a concursos públicos, a partir do efeito
multiplicador do turismo, que serão mais à frente expressados.
No cenário atual, tendo em vista os inúmeros benefícios dos cargos públicos
como: salários acima da média dos oferecidos pela iniciativa privada e, sobretudo,
as almejadas estabilidade e segurança econômico-social, tem crescido no Brasil a
busca pela aprovação em concursos públicos, como exemplo tem-se o concurso
público do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de 2016, que contou com mais
de 1 milhão de inscritos. Todavia, tal crescimento é também decorrente de uma
“Cultura dos Concursos Públicos” muito forte no Brasil, uma vez que o brasileiro, de
forma geral, é incentivado desde muito pequeno a prestar concursos, pois, este o
caminho para alcançar a estabilidade econômica. Ademais, as instabilidades em
diversas sociedades, sobretudo de cunho econômico, como é o caso da recente
crise que assola o país, têm forçado grandes empresas a demitirem, em massa,
empregados, para que não fechem as portas (FIUZA, 2015), o que reflete na ânsia
pela “vida pública” e o número crescente de viajantes “caçando” uma nomeação pelo
país.
Insta considerar, no cerne dessa questão, conforme reportagem vinculada
pelo Jornal Hoje, da Rede Globo, em 2013, que o mercado de concursos cresce
cerca de 40% ao ano no Brasil. A previsão é de que, até 2016, sejam abertas 400
mil vagas em concursos federais, estaduais e municipais. Em um país em recessão
104
técnica, com a economia enfraquecida e o nível de novos empregos praticamente
estagnado, a proposta de “bater cartão” em órgãos públicos se torna ainda mais
tentadora. Os gastos com concursos, que incluem cursinhos preparatórios, livros
didáticos, inscrições, viagens e realização das provas, movimentam no Brasil algo
próximo de R$ 50 milhões ao ano (CONCURSO..., 2013). Com relação ao número
de candidatos, a Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (ANPAC)
estima que, por ano, pelo menos 12 milhões de brasileiros se inscrevem para
disputar uma vaga no serviço público (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PROTEÇÃO E
APOIO AOS CONCURSOS, 2014).
De acordo com o estudo “Processos seletivos para a contratação de
servidores públicos: Brasil, o país dos concursos?”, de Fontainha et al (2014), em
uma análise de 698 processos seletivos realizados entre 2001 e 2010, que ofertaram
41.241 vagas, mostrou que no tocante às bancas organizadoras de certames, a
principal delas é o Centro de Seleção e Promoção de Eventos (CESPE), com
aproximadamente 73% dos processos seletivos organizados nesse período, seguida
da Escola de Administração Fazendária (ESAF), com 12.23%, da Fundação
Universitária José Bonifácio (FUJB), com 6.70%, do Centro de Seleção de
Candidatos ao Ensino Superior do Grande Rio (CESGRANRIO), com 3.49%, da
Fundação Carlos Chagas (FCC), com 2.04%, do Instituto de Resseguros do Brasil
(IRB), com 1.60% e da Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e
Assistência (FUNRIO), com 1.02%.
No que se refere aos cargos que mais apresentaram vagas nesse ínterim,
Fontainha et al (2014) sinalizam que o cargo que apresentou maior número de
vagas foi de engenheiro, seguido por cargos na área do direito. Por outro ângulo, o
trabalho os dados analisados pelos autores demonstram que no que diz respeito à
remuneração, aos vencimentos dos cargos ofertados, direto é o curso mais bem
pago, seguido por administração e engenharia, sendo as vagas para arquivologia e
biblioteconomia as com remunerações mais baixas. Acerca dos tipos de provas
aplicadas para selecionar servidores nesse período (2001-2010), a pesquisa revela
que a prova de múltipla escolha foi, nomeadamente, a mais empregada,
correspondendo a 97.66% das provas presentes nos 698 processos seletivos
realizados, seguida da prova discursiva e da prova de títulos, presentes em 70.20%
e 53.58% dos certames. Na parte de baixo do ranking, não foi realizada nenhuma
prova prática nos processos seletivos que foram analisados, sendo a redação e a
105
prova oral as que apresentaram as menores taxas de utilização, com 2.29% e
1.29%, respectivamente (FONTAINHA et al, 2014).
As diferentes tipologias de provas, na verdade de avaliação, foram sendo
concebidas ao longo dos anos como meios de selecionar e de adquirir, mediante
parâmetros, os melhores servidores públicos à serviço do Estado. Nesse sentido, as
provas subjetivas, de títulos, de aptidão física, redação, memorial, dentre outras,
foram aliadas à aplicação de provas objetivas, visto que estas, com a concorrência
cada vez mais acirrada na luta pela investidura de cargos públicos, não são
suficientes para avaliar quem de fato são os melhores, pois, o número de erros,
nessas provas, tem sido cada vez menor.
Com a assustadora concorrência e a dificuldade de aprovação, na corrida
pela almejada nomeação em um cargo público, um número cada vez mais
acentuado de concurseiros têm migrado por diferentes lugares do país, que
consideram mais fáceis de garantir aprovação, para prestar concursos públicos.
Assim, eles têm investido pesado em gastos com viagens (transportes,
hospedagem, alimentação) para fora de suas cidades e estados, em busca de um
cargo no serviço público a qualquer custo, como se mostrará no próximo capítulo, na
próxima rota desta viagem.
106
6 UM GIRO PELO TURISMO DE CONCURSOS PÚBLICOS: INVESTIGANDO UMA
NOVA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO BRASILEIRO
Assim como as demais modalidades de viagem e de turismo, o ato de viajar
tendo como motivação a realização de provas de concursos públicos antecedeu
estudos que prognosticassem o seu surgimento e desenvolvimento (BOULLÓN,
2002). E desde a sua aparição não há conhecimento sobre a existência de algum
trabalho científico que verse sobre as suas interfaces – o que existem são
reportagens e textos em blogs instruindo estudantes e sinalizando para o fato de que
essas viagens têm movimentado cidades e estados, em certa medida, social e
economicamente. Logo, pouco ou quase nada se sabe sobre as viagens a
concursos públicos. Dessa sorte, o presente trabalho buscou investigar essas
viagens no Brasil enquanto uma possível nova segmentação do mercado turístico.
A considerar que, conforme Brasil (2010a, p. 14), para compreender um
mercado, antes, é preciso “entender as pessoas que compõem este mercado, e é
importante lembrar que as pessoas pensam e agem de forma diferente, dependendo
de suas motivações ou experiências anteriores”. A pesquisa de campo, para tanto,
como retrodito, teve como enfoque análises concernentes ao perfil, aos
conhecimentos e às vivências de concurseiros que viajam pelo país prestando
concursos públicos (a demanda). Tais análises se estabeleceram mediante uma
aproximação/abordagem netnográfica27, a partir de acompanhamentos, de
conversas e de interações em/com diversos grupos de concursos públicos e perfis
privados da rede social Facebook, além de capturas de tela (Prints Screen) e
aplicação de questionários, que compuseram os métodos as técnicas e os
instrumentos de coleta de dados empregados.
E assim chega-se em mais uma parada desta viagem. Esta rota, “Um giro
pelo turismo de concursos públicos: investigando uma nova segmentação do
mercado turístico brasileiro”, certamente uma das mais aguardadas, tem o seguinte
itinerário: “Viagens a concursos públicos: sonhos e desejos que cruzam fronteiras” e
“Os concurseiros viajantes: a demanda das viagens a concursos públicos”,
27
Ratificando, a netnografia é uma espécie de tecnologia da etnografia, uma etnografia na internet, também conhecida como Etnografia Digital, Webnografia, Web etnografia ou Ciberantropologia (NOVELI, 2010; TAFARELO, 2013).
107
prometendo novos conhecimentos e grandes surpresas a respeito dessa nova faceta
das viagens e do turismo. Que a sua viagem continue a ser enriquecedora.
6.1 Viagens a concursos públicos: sonhos e desejos que cruzam fronteiras
“Turismo de concursos vira nicho de mercado”, em agosto de 2013 anunciava
a chamada de uma reportagem. Ela assimilava a busca por um cargo público a uma
verdadeira maratona, pois, concurseiros “acabam muitas vezes fazendo provas em
outras cidades e estados, analisando pontos como: onde a concorrência é menor e o
número de vagas é maior, fatores que podem auxiliar na aprovação” (TURISMO...,
2013, s. p.). Ainda de acordo com a matéria jornalística, até o final daquele ano,
“concursos municipais, estaduais e federais, motivaram muitos candidatos a
viajarem para fazer as provas, criando um novo nicho de mercado: o turismo de
concursos” (TURISMO..., 2013, s. p.). Outras reportagens, antes e posteriormente,
noticiaram como alguns concursos pelo Brasil, em razão do recorde de inscritos,
provocaram em várias cidades uma movimentação social e economicamente
desmedida, onde tanto o mercado formal quanto o informal se beneficiaram: hotéis
lotaram ou chegaram a taxas de ocupação próximas do total; empresas de ônibus
criaram linhas extras para atender a demanda excedente; e vendedores ambulantes
lucraram com a venda de água, de caneta, etc. (CONCURSEIROS..., 2011;
CONCURSO DO TRT-MG..., 2015; CONCURSOS..., 2014; CONCURSOS
LOTAM..., 2009).
Nessa direção, um estudo realizado pelo Centro de Seleção e Promoção de
Eventos (CESPE) da Universidade de Brasília (UnB), tendo analisado uma amostra
de 269.689 candidatos, que concorriam a vagas de 15 concursos de diferentes
estados, ocorridos em 2006, mostrou que aproximadamente 9% dos escritos eram
residentes de outros estados. A pesquisa apontou ainda que no concurso público da
Polícia Civil do Pará cerca de 21,5% dos inscritos eram originários de outros
estados, o que representou 1.282 pessoas, de um total de 5.959 inscritos
(UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2007). Certamente, essas taxas sofreram
alterações porquanto o número de concursos aumentou consideravelmente desde
2006 – e como tratado em um momento precedente, o “mercado” dos concursos
públicos tem crescido, em aproximado, 40% ao ano no país (CONCURSO..., 2013).
De modo proporcional, se presume que o índice de pessoas viajando para fazer
108
provas, em escala semelhante, também se expandiu. No entanto, não há como
precisar numericamente o volume dessas viagens, pois nenhum outro estudo foi
feito para indicar um demonstrativo atual de concursistas que viajam.
Sobre os destinos das viagens a concursos, a aproximação web etnográfica
permitiu compreender que a demanda maior de concurseiros procura por certames
em locais, normalmente as capitais, que ofereçam uma boa qualidade de vida,
condições de trabalho e salários muito favoráveis, para que o investimento
compense. Concursos do Sul e do Sudeste, comumente, ofertam os maiores
números de vagas28 e têm cidades com as melhores infraestruturas e qualidade de
vida do Brasil, no entanto, justamente por esses motivos, são mais concorridos.
Desse fato, uma demanda crescente de concurseiros, que viaja em busca de
oportunidades de emprego público, se desloca para destinos, por vezes,
completamente desconhecidos e jamais presumíveis de se estar. São cidades
interioranas, das regiões Norte e Nordeste, distantes das capitais ou dos centros
urbanos, com deficientes ou inexistentes serviços urbanos, mas que dispõem,
costumeiramente, de vagas disponíveis, de ótimos salários, de uma menor
concorrência e/ou onde as pontuações são mais baixas, isto é, onde as chances de
aprovação e de classificação são maiores. Logo, há uma disputa não apenas pelas
vagas, mas pelas cidades de investidura dos cargos.
No planejamento da viagem, o concursista pode ter a opção de ir sozinho ou
em grupo (excursão), quando há neste caso a oferta de serviços por empresas. Ao
se optar por viajar sozinho, ele também tem duas opções: contratar uma agência
para organizar a viagem ou ter que planejá-la e prepará-la. Nesse último caso, é
preciso: verificar datas, comprar passagens, fazer a reserva do meio de
hospedagem, verificar o local de prova, ficando os estudos um pouco de lado. Em
contrapartida, quando se compra um pacote de excursão, adquire-se comodidade,
tudo fica sob responsabilidade da empresa: passagens, hotéis e transfer para os
locais de aplicação das provas, nesses casos, o concurseiro acaba dispondo de
maior tempo para continuar estudando. Cumpre sinalizar que nem sempre todos os
serviços oferecidos pelas empresas são utilizados, isso vai depender do perfil do
consumidor.
28
Por serem as regiões do Brasil que possuem as maiores populações, logo, a demanda por serviços do Estado é maior.
109
A internet, em especial o Facebook, é o palco principal das dicas, dos
estudos, da organização das viagens e da gênese de relações sociais que se
solidificam, por vezes, no mundo off-line, (NOVELI, 2010) durante as viagens. Em
bate-papos e em observância aos perfis e as suas interações on-line, notou-se que,
como a preparação para concursos públicos requer foco e determinação, alguns
internautas criam contas personalizadas ou fakes29 na rede social, única e
exclusivamente, para acompanhar e interagir nos grupos, a fim de evitar distrações,
corriqueiras em seus perfis “normais”. Fazendo alusões a personagens do mundo
infantil, sobretudo no caso das mulheres, os nomes dos fakes (Figura 9) são
formados normalmente pelas palavras “Concurseiro(a)”, “Concursando(a)”,
“Concursante” e “Concursista” acompanhadas de adjetivos, como: “Determinada(o)”,
“Otimista” ou “Guerreira(o)”.
Nessa ambiência cibernética, mais do que divulgação, dicas e trocas de
documentos, de arquivos, de planos de aulas, de exercícios e de novos concursos,
por meio de contas reais e “fictícias”, organizam-se as viagens, “rolam” as dicas, os
“macetes”, a compra e a venda de passagens aéreas, a reserva de hospedagens
(Figuras 10 e 11), bem como discussões sobre para qual cidade ir ou que concurso
participar, quais as companhias que ofertam voos mais baratos, quais delas
oferecem promoções. Assim, além da demanda concurseira, a oferta também se
relaciona virtualmente, empresas divulgam seus serviços de transporte e turismo,
assim como os próprios candidatos forjam excursões, as divulgam, firmam parcerias
para viajar, conseguem “companheiros” para “rachar” os custos com a gasolina do
carro (Figura 13), o quarto do hotel, o táxi do aeroporto até o hotel, ou destes até os
locais de prova, a fim de reduzir o valor das despesas.
29
Couto e Rocha (2010, p. 29) conceituam fakes como representações “que experimentam outras identidades para demonstrar sentimentos, percepções, desejos, gostos que poderiam ser ridicularizados e promotores de constrangimentos na vida off-line, mas que são celebrados e festejados na dinâmica efêmera e plural da internet”.
110
Figura 9 – Perfis de candidatos a concursos públicos no Facebook.
Fonte: Capturas de tela realizadas via Facebook. Pesquisa de campo (2016).
Figura 10 – Compartilhamento de informações entre concurseiros
Fonte: Captura de tela realizada via Facebook. Pesquisa de campo (2016).
Percebeu-se, nessa relação, que as mulheres dão preferência exclusiva, em
muitos casos, para ratear os custos com outras mulheres – possivelmente por se
sentirem mais seguras (Figura 12). Antonioli (2015) alerta que a segurança é uma
condicionante basilar para uma viajante feminina, em especial, àquela que viaja
111
sozinha, afinal, violências e assédios morais e sexuais são sofridas a esse público
recorrentemente. Em sua pesquisa a autora mostra que alguns empreendimentos
turísticos têm se sensibilizado para essa necessidade feminina (para não dizer
amedrontamento), e mais que isso, fazendo dela um verdadeiro nicho de mercado:
que conta com uma oferta que garante, a exemplo, quartos de hostel somente para
mulheres e trancas de quartos de hotéis reforçadas.
Figura 11 – Grupo específico
Figura 12 – Duvidas, dicas e divisão de despesas
Figura 13 – Divisão de despesas
Fonte: Capturas de tela realizadas via Facebook. Pesquisa de campo (2015).
E são nessas viagens que muitos amigos virtuais se encontram e se
reencontram, contam um pouco mais da vida um do outro e realizam as provas
juntos. Com “fome de conhecimento”, desfrutam o que as cidades têm a oferecer:
passeiam ou “turistam” (Figura 14), degustam os seus sabores de suas comidas
típicas, vestem de suas roupas ou adereços, sentem os seus cheiros, olham e se
encantam com as suas cores, tocam as suas formas e ouvem os seus sons
(LOBATO et al, 2015). Desbravam o novo, o exótico, o diferente. São formas de, por
meio do lazer e do turismo, aliviar a tensão, os ânimos, desprender-se, por alguns
dias ou algumas horas, da pressão rotineira de estudos, do trabalho e das demais
112
coações sociais, de aproveitar e de vivenciar novas e/ou antigas experiências (BENI,
2004; CAMARGO, L., 1986; MARCELLINO, 1987; MONLEVADE, 2010), uma vez
que o investimento na viagem e nos estudos foi grande. Essa dinâmica constitui o
“ciclo de reconstituição do ser humano na sociedade industrial”, em que as coações
sociais são o cotidiano e as viagens o anticotidiano, na visão de Krippendorf (2001,
p. 36).
Figura 14 – Concurseiros se (re)encontrando antes e após as provas
Fonte: Captura de tela realizada via Facebook. Pesquisa de campo (2016).
Mesmo porque, Dias (2003b, p. 19) aponta que nesses momentos o indivíduo
acaba [...] deixando para trás os diferentes papéis que desempenha (profissional,
econômico, social, etc) e assumindo o papel de turista”. De modo que as viagens
são capazes, conforme Krippendorf (2001, p. 36), de pintar “manchas coloridas na
tela cinzenta da nossa existência. Elas devem reconstituir, recriar o homem, curar e
sustentar o corpo e a alma, proporcionar uma fonte de forças vitais e trazer um
sentido à vida”. Assim, a viagem a concurso público, por vezes, acaba sendo
percebida por alguns como uma compensação pelo esforço, pela dedicação, pelo
longo caminho trilhado para chegar até ali. Um momento propício ao lazer/prazer
113
ante todo o sofrimento e as abdicações que tiveram que ser feitas durante o período
de preparação para as provas.
No embalo das viagens a concursos públicos, operadoras, transportadoras e
agências de viagens e de turismo têm se especializado nesse novo mercado. Há
empresas em todas as regiões do Brasil, oferecendo, para além do transporte até a
cidade de realização dos concursos, traslados (Aeroporto-Hotel, Hotel-Local de
prova, Local de prova-Hotel, Hotel-Aeroporto), hospedagem, serviços de
alimentação e roteiros turísticos (City Tours) para visitação de atrações culturais e
naturais das cidades onde acontecem as provas. Conforme mostram as capturas de
tela feitas dos banners de divulgação dos serviços, postados em páginas das
empresas ou em grupos da rede social Facebook (Figura 15).
Figura 15 – Divulgação dos produtos e serviços das empresas
Fonte: Capturas de tela realizadas via Facebook. Pesquisa de campo (2016).
Inobstante, não existem apenas transportadoras, operadoras ou agências de
viagens e turismo especializadas em concursos públicos. No Rio de Janeiro, existe
114
um meio de hospedagem: uma pousada30 direcionada para concurseiros. Nela,
concursistas de outros estados e municípios se hospedam não tão somente para
participar de concursos no estado, mas para buscar adentrar em uma verdadeira
imersão de estudos – que começa com o check-in31 e só termina no check-out32.
Convém pontuar, porém, que esse espaço não é destinado apenas a candidatos de
outras cidades ou estados, residentes dos arredores também procuram a calmaria, o
silêncio, a concentração, o foco, a determinação e as aulas ofertadas pelo espaço
para dinamizar os estudos. Assim, durante a estada nessa tipologia de hospedagem,
os concursandos aprendem e revisam conteúdos com professores de alto
reconhecimento no mundo dos concursos (Figuras 16, 17 e 18).
Figura 16 – Fan page33 da Pousada no Facebook
Fonte: Captura de tela realizada via Facebook. Pesquisa de campo (2016).
30
Maiores informações a respeito: <https://www.facebook.com/Pousada-dos-concurseiros-1718421955053501/?fref=ts>.
31 “[...] é o horário de entrada do hóspede no hotel, geralmente convencionada após às 12:00 h”
(BRASIL, s. d., s. p.). 32
“É o horário de saída do hóspede, do hotel. Registro de saída do hóspede do hotel, quando se dá o pagamento da conta relativa a sua estada, o que permite ao hóspede deixar as dependências do hotel com sua bagagem. Os hotéis costumam ter, afixado na portaria, esse horário para orientação do cliente, pois, caso ele venha a sair após esse prazo, o hotel se reserva o direito de cobrar mais uma diária” (BRASIL, s. d., s. p.).
33 Também conhecida como Página de fãs, compreende uma página (conta) específica no
Facebook, que tem como objetivo representar o perfil virtual de uma empresa, de produtos, de serviços, etc., isto é, qualquer organização com ou sem fins lucrativos que desejem interagir e se promover com os seus clientes que estão na rede social Facebook.
115
Figura 17 – Banner de divulgação dos serviços da Pousada
Fonte: Retirado da página da Pousada no Facebook. Pesquisa de campo (2016).
Figura 18 – Instalações e funcionamento da Pousada dos Concurseiros
Fonte: Capturas de tela realizadas via Facebook. Pesquisa de campo (2016).
Estudos em voga no empreendedorismo indicam os modelos de negócios
criados a partir de necessidades da demanda são os com maiores chances de
116
sucesso, de lucro e de impactar os mercados, à vista de sua efetiva inovação
(GREATTI; SENHORINI, 2000). Adentrando no debate acerca dos impactos, faz-se
necessário acentuar que as viagens, de modo geral, concebem e dinamizam uma
intensa movimentação social e econômica nas destinações de aplicação das provas,
ao interagir e ao se coligar com diferentes empresas, setores e camadas sociais,
que criam, compram e/ou comercializam produtos e serviços disponíveis no mercado
turístico. Logo, elas têm o poder de afetar/beneficiar inúmeros setores, de forma
direta e indireta – o efeito multiplicador do turismo é estabelecido (LOHMANN;
PANOSSO NETTO, 2012). Mas, os impactos não ocorrem apenas nas cidades de
destino. Essas viagens, nas precedências de suas realizações, consoante Fábia
Barbosa (2005) e Lage e Milone (2001), contribuem de forma representativa em
diferentes níveis/escalas econômicas e sociais dos polos emissores e de transição
do turismo, tendo em vista que a promoção, a comercialização e a
operacionalização da atividade turística demandam a contratação de recursos
humanos e geram renda.
6.2 Os concurseiros viajantes: perfilando a demanda das viagens a concursos
públicos no Brasil
Os 500 questionários aplicados e validados com o objetivo de traçar os perfis
desses viajantes e melhor caracterizar as viagens a concursos públicos iniciaram por
questões de cunho socioeconômico, por esse ângulo, quando se perguntou o sexo
dos participantes da pesquisa, os resultados mostraram que 59,20% eram do sexo
feminino e 40,80% eram do sexo masculino, correspondente a 296 mulheres e a 204
homens, como ilustra o gráfico 1 a seguir. Os percentuais denotam uma diferença de
18,40% (92 respondentes) entre o sexos, ou seja, não existe uma preferência
acentuada de homens ou de mulheres para ingresso no serviço público, ao passo
que o número de mulheres no país é superior ao de homens.
117
Gráfico 1 – Sexo
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Ainda buscando perfilar a amostra coletada de concurseiros que viajam,
procurou-se saber se eles possuíam algum tipo de deficiência. Do total, 97,20%
(486) assinalou que não e apenas 2,80% (14) disse ter alguma deficiência (Gráfico
2). Sendo que, daqueles que marcaram a assertiva “Sim”, ao responderem qual o
tipo de deficiência possuíam, identificou-se deficientes físicos, auditivos e visuais.
Gráfico 2 – Pessoa com deficiência
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
É oportuno sublinhar que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37 –
como discutido no capítulo anterior – assegura ao deficiente um percentual de vagas
para exercer função, cargo ou emprego público (BRASIL, 1988). A lei nº 8.112, de
11 de dezembro de 1990, no seu artigo 5º, sob essa perspectiva, legitima a reserva
de até 20% do total de vagas ofertadas em certames. Determinando, porém, que as
118
atribuições do cargo ou do emprego sejam compatíveis com as limitações da
deficiência do servidor (BRASIL, 1990).
Com relação à idade dos participantes da pesquisa, 1,20% (6) tinham idades
entre 18 e 20 anos, 62,80% (314) entre 21 e 30 anos, 28,20% (141) entre 31 e 40
anos, 6,20% (31) entre 41 e 50 anos e 1,60% (8) acima de 50 anos, conforme o
gráfico 3. Os dados em questão demonstram que o concurseiro viajante é,
nomeadamente, jovem, com idades entre 21 a 30 anos (314). Sobre a faixa-etária de
18 a 20 anos, pôde-se presumir que, o número expressivamente baixo, correlaciona-
se ao fato de que nessas idades os jovens estão em fase de preparação para os
vestibulares ou focados na faculdade.
Gráfico 3 – Idade
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
O percentual de pessoas acima de 50 anos deve-se, provavelmente, ao fato
de que nesse momento da vida o corpo por estar envelhecido já não reage da
mesma forma que outrora. Assim sendo, por vezes, essa faixa-etária não consegue
ter uma rotina intensa de estudos para concorrer aos cargos públicos, outra hipótese
passível para interpretar esse dado são as persistentes altas taxas de analfabetismo
de pessoas nessa parte da pirâmide etária brasileira34. Demais, o serviço público
34
No ano de 2014, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, no Brasil, segundo dados do IBGE, foi de 8,3%. Apesar do mesmo estudo mostrar que houve uma queda de
119
pode, em alguns casos, determinar como critérios de seleção sexo, altura e idades
mínimas e máximas para que o candidato possa participar, conforme trata o texto de
Alves (2013). Consequentemente, alguns concurseiros não viajam por não se
enquadrarem aos requisitos preestabelecidos em determinados editais.
Acerca do estado civil dos sujeitos da pesquisa, os dados indicaram que
70,40% (352) daqueles que viajam para realizar as provas eram solteiros(as),
22,40% (112) casados(as), 1,20% (6) divorciados(as), 0,40% (2) viúvos(as), 4,80%
(24) encontravam-se em uma união estável e 0,80% (4) disseram estar em outro tipo
de estado civil não representado por nenhuma das opções dispostas no
questionário, a saber: namorando, noivado e morando junto (Gráfico 4).
Gráfico 4 – Estado civil
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Portanto, depreende-se que esses viajantes são em maioria solteiros,
imagina-se que isso ocorre em virtude desse grupo ter uma maior disponibilidade de
tempo para focar nos estudos. Presume-se que, para eles, relacionar-se
afetivamente com alguém nesse período pode ser considerada uma forma de
distração – a qual pode atrapalhar a preparação –, ou ainda, por não conseguir dar a
aproximadamente 1,8% em um comparativo entre os anos de 2007 e 2014, ainda é uma taxa considerável para um país emergente e em pleno século XXI. Disponível em: <http://brasilemsintese.ibge.gov.br/educacao/taxa-de-analfabetismo-das-pessoas-de-15-anos-ou-mais.html>. Acesso em: 14 abr. 2016.
120
devida atenção a(ao) companheira(o), por conta da rotina intensa, é preferível ficar
sozinho(a). Sobre o percentual de casados(as) pode-se inferir que estes(as) estão
em busca de melhores condições de vida para a família, pois muito provavelmente,
ainda não conseguiram boas oportunidades de trabalho na iniciativa privada. Esse
pensamento vai ao encontro da argumentação de Castelar et al (2010), pois, para
eles, embora um indivíduo com vínculos conjugais possua um tempo de estudos
mais restrito devido coações familiares, ele busca na possibilidade de qualidade de
vida da família a motivação para conquistar uma nomeação.
Quanto ao nível de escolaridade dos concursistas viajantes, 2,80% (14)
possuíam ensino médio completo, 13,80% (69) ensino superior incompleto, 47,80%
(239) ensino superior completo e 35,60% (178) pós-graduação. Não houve menção
dos níveis ensino fundamental incompleto, fundamental completo e médio
incompleto na pesquisa pelos participantes (Gráfico 5). Assim sendo, a maioria dos
respondentes, 97,2% (486), apresenta um nível de formação superior ao nível médio
completo, sendo que do total quase a metade tem ensino superior incompleto. Tais
dados ilustram que o candidato a concurso público viajante possui um ótimo nível de
escolaridade, apontando um indicador acerca do perfil do consumidor das viagens e
do turismo de concursos públicos.
Gráfico 5 – Nível de escolaridade
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Uma relação pertinente a ser feita é a com os resultados da pesquisa de
Castelar et al (2010), que apontam o alto nível de escolaridade como um dos
indicadores mais recorrentes no perfil dos candidatos aprovados no estudo de caso
121
analisado por eles. Isso, quiçá, deve-se ao fato de que muitos dos cargos ofertados,
especialmente os que apresentam as remunerações mais atraentes, têm como
exigência mínima de formação os ensinos médio e superior completo – os cargos de
técnico e analista de tribunais são exemplos categóricos.
Concernente aos locais onde residem os concursistas que participaram da
pesquisa, 14,40% (72) eram da Região Norte, 27,80% (139) da Região Nordeste,
9,20% (46) da Região Centro-oeste, 30,60% (153) da Região Sudeste e 18,00% (90)
da Região Sul. Nesse sentido, regiões Nordeste e Sudeste apresentaram o maior
número de concurseiros, somando juntas mais de 50% do total dos pesquisados, a
figura 19 traz uma noção espacial desses dados. Em relação aos estados de origem
dos questionados, 0,80% eram do Acre, 1,40% do Amapá, 1,80% do Amazonas,
7,40% do Pará, 1,60% de Rondônia, 0,60% de Roraima, 1,00% do Tocantins, 2,20%
de Alagoas, 3,20% da Bahia, 3,60% do Ceará, 2,40% do Maranhão, 3,20% da
Paraíba, 3,60% de Pernambuco, 5,00% do Piauí, 3,00% do Rio Grande do Norte,
1,60% de Sergipe, 2,60% do Distrito Federal, 2,80% de Goiás, 1,80% do Mato
grosso, 1,00% do Mato Grosso do Sul, 2,60% do Espírito Santo, 8,80% de Minas
Gerais, 6,60% do Rio de Janeiro, 12,60% de São Paulo, 5,80% do Paraná, 2,60% de
Santa Catarina e 9,60% do Rio Grande do Sul, como sistematizado a tabela 1.
122
Figura 19 – Concurseiros viajantes por regiões
Fonte: Google imagens, com intervenções do autor (2016).
14,40%
(72)
27,80%
(139)
9,20%
(46)
30,60%
(153)
18,00%
(90)
Região Norte
Região Nordeste
Região Centro-oeste
Região Sudeste
Região Sul
123
Tabela 1 – Concurseiros viajantes por estados
Opções de resposta Nº %
Acre 4 0,80%
Alagoas 11 2,20%
Amapá 7 1,40%
Amazonas 9 1,80%
Bahia 16 3,20%
Ceará 18 3,60%
Distrito Federal 17 3,40%
Espírito Santo 13 2,60%
Goiás 14 2,80%
Maranhão 12 2,40%
Mato Grosso 9 1,80%
Mato Grosso do Sul 5 1,00%
Minas Gerais 44 8,80%
Pará 37 7,40%
Paraíba 16 3,20%
Paraná 29 5,80%
Pernambuco 18 3,60%
Piauí 25 5,00%
Rio de Janeiro 33 6,60%
Rio Grande do Norte 15 3,00%
Rio Grande do Sul 48 9,60%
Rondônia 8 1,60%
Roraima 3 0,60%
Santa Catarina 13 2,60%
São Paulo 63 12,60%
Sergipe 8 1,60%
Tocantins 5 1,00%
Total 500 100,00%
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Essas distribuições demográficas apresentadas pela pesquisa, por região e
por estado, são quase diretamente proporcionais às populações reais desses
124
lugares, conforme demonstram os dados do último censo brasileiro (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Ao passo de que estados
como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que estão entre
os mais populosos do país, foram os mais citados pelos concurseiros, e, do mesmo
modo, Roraima, Amapá e Acre, estados menos populosos, estão entre os menos
reportados.
Seguindo esse raciocínio, não há uma diferença real, entre estados e regiões,
sobre a participação em concursos públicos, “o Brasil” quer adentrar no serviço
público. Como precedentemente externalizado, isso é, provavelmente, reflexo de
uma “cultura dos concursos públicos” forjada historicamente no país. Desde criança
o brasileiro cresce ouvindo dos pais, ou de seu grupo social, que a “carreira pública”
é a saída para garantir a estabilidade financeira – sendo também um meio de fugir
das crises que instabilizam, mormente, a vida de quem depende da iniciativa privada
(CASTELAR et al 2010; FIUZA, 2015).
No que tange à renda daqueles que viajam para participar de certames, de
acordo com a pesquisa, 29,60% (148) não possuíam renda, 3,60% (18) detinham de
“Menos de 1 salário mínimo” por mês como receita, 33,60% (168) faturava de “De 1
a 3 salários mínimos”, 22,00% (110) “De 4 a 6 salários mínimos”, 7,40% (37) “De 7 a
9 salários mínimos” e 3,80% (19) “10 ou mais de 10 salários mínimos” como
rendimentos mensais (Gráfico 6). Estes percentuais indicam que o nível de renda de
grande parte desses concurseiros, mais especificamente 66,20%, é relativamente
alto, em comparação com o rendimento médio do brasileiro de R$ 2.227,5035.
De certa forma, previa-se esses interessantes números tendo em vista que os
gastos com viagens, na atualidade, são em demasiado elevados. Demais, as
viagens, historicamente, foram apoderadas e dirigidas pela indústria do consumo
para atender necessidades e desejos de poucos: dos que podem pagar pelos altos
custos que elas demandam. Autores como Werneck e Isayama (2001), Barretto
(2003) e Marcellino (2006), sob esse prisma, teorizam as viagens, o lazer e o turismo
enquanto produtos concebidos e comercializados para a elite, uma mercadoria a
mais em uma sociedade “afogada” no/pelo consumo.
35
Com base nas pesquisas divulgadas pelo IBGE sobre Rendimento Médio Real - a preços de Fevereiro de 2016 das Regiões Metropolitanas dos estados de: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/pme_201602tm_02.shtm>. Acesso em: 14 abr. 2016.
125
Em alternância, partindo dessa concepção, como explicar, contudo, a
expressiva porcentagem, quase 30%, dos candidatos que declararam não possuir
renda, porém conseguem viajar? Pressupõe-se que esses 148 que não possuíam
renda, estavam entre aqueles que têm como ocupação unicamente o estudo,
moravam com os pais ou os cônjuges: os financiadores dos gastos com cursinhos e
com viagens a concursos públicos. A mesma explicação pode ser aplicada aos
3,60% que tinham como renda “Menos de 1 salário mínimo”.
Gráfico 6 – Renda
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Nessa direção, no tocante à ocupação, 26,80% (134) eram estudantes,
12,80% (64) encontravam-se desempregados, 15,00% (75) empregados, 32,20%
(161) eram servidores públicos, 11,20% (51) autônomos ou profissionais liberais36 e
2,00% (10) tinham outras ocupações que, segundo eles, não se enquadravam nas
elencadas no questionário, como: estagiário, concurseiros(as), empresário,
empreendedor. (Gráfico 7).
36
Convém elucidar que essas duas categorias, apesar de possuírem diferentes significações, foram enquadradas em uma única opção pelo fato de que alguns respondentes não saberem as diferenças que as demarcam, isto foi evidenciado durante os processos de validação e tratamento dos dados. Assim sendo, como efeito de conhecimento e esclarecimento, autônomo e profissional liberal se diferem, basicamente, pelo fato de que este último possui formação/capacitação técnica ou superior.
126
Gráfico 7 – Ocupação
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Um dado curioso e/ou intrigante a respeito da ocupação, certamente, foi o fato
de que 161 concurseiros mesmo já sendo servidores públicos continuavam a prestar
provas de concursos públicos. É provável que a situação econômica não fosse
considerada garantia de estabilidade financeira ou eles estivessem buscando
melhores salários ou ainda não tinham alcançado o cargo dos sonhos ou queriam
ser nomeados nas cidades de origem, como comumente se pôde evidenciar nos
grupos de concursos a partir da pesquisa netnográfica. A percentagem de
empregados (15,00%), aparentemente insatisfeitos com a iniciativa privada, que
foram atraídos pelos benefícios intrínsecos aos cargos públicos, foi outro aspecto
interessante. Demais, o percentual de estudantes, como se pôde notar, foi
relativamente acentuado, levando a crer que esses, por vezes, ocupam seu tempo
integralmente para preparação das provas – certamente, isso os deixa à frente, dos
concorrentes, no que se refere aos estudos e, ainda que nem sempre, nas primeiras
colocações das listas de aprovados.
A fim de avaliar a relação entre as categorias renda e ocupação dos
concurseiros, a partir de uma análise comparativa, foi viabilizada variadas relações,
127
como a entre aqueles que disseram não possuir renda, serem majoritariamente os
estudantes e os desempregados, juntos eles somam 93,92% do total de 148
respondentes sem renda. Por outro lado, os que possuíam as maiores rendas
mensais, entre 1 e mais de 10 salários, foram aqueles 161 que disseram ser
servidores públicos. Desse total, 56 recebiam entre 1 e 3 salários mínimos, 66 entre
4 e 6 salários mínimos, 28 entre 7 e 9 salários mínimos, assim como, de todos os 19
participantes da pesquisa que disseram receber 10 ou mais de 10 salários, 11
possuíam como ocupação o serviço público. Já dos 75 que marcaram a opção de
que estavam empregados, 48 tinham como renda de 1 a 3 salários mínimos e 19
entre 4 e 6 salários mínimos, como melhor esclarece a tabela 2. Os dados sugerem
que a continuidade de prestar concursos, sobretudo no caso daqueles que já estão a
serviço da coletividade, motiva-se pela busca de maiores rendimentos ou pela
nomeação em seus estados e cidades de origem ou cargo dos sonhos.
128
Tabela 2 – Renda x Ocupação
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Estudante Desempregado(a) Empregado(a) Servidor(a) Público(a)
Autônomo(a)/ Profissional
Liberal– Aposentado(a) Outro Total
Não possui renda
58,11% 86
35,81% 53
0,00% 0
0,00% 0
5,41% 8
0,00% 0
0,68% 1
29,60% 148
Menos de 1 salário mínimo
77,78% 14
11,11% 2
0,00% 0
0,00% 0
5,56% 1
0,00% 0
5,56% 1
3,60% 21
De 1 a 3 salários mínimos
16,07% 27
2,98% 5
28,57% 48
33,33% 56
16,67% 28
0,00% 0
2,38% 4
33,60% 167
De 4 a 6 salários mínimos
5,45% 6
0,91% 1
17,27% 19
60,00% 66
13,64% 15
0,00% 0
2,73% 3
22,00% 108
De 7 a 9 salários mínimos
2,70% 1
5,41% 2
5,41% 2
75,68% 28
10,81% 4
0,00% 0
0,00% 0
7,40% 37
10 ou mais de 10 salários mínimos
0,00% 0
5,26% 1
31,58% 6
57,89% 11
0,00% 0
0,00% 0
5,26% 1
3,80% 19
Total 134 64 75 161 56 0 10 500
129
Quando questionados acerca de quais seriam os motivos que levavam eles a
realizarem concursos públicos, 92,00% (460) disse ser a “Estabilidade financeira”,
65,20% (326) o “Bom salário” que um cargo público oferece, 31,40% (157) o
“Horário de trabalho fixo”, pois, na iniciativa privada, geralmente, a carga horária não
é respeitada ou é preciso fazer hora extra para ajudar nas despesas da casa.
25,80% (129) via na carreira pública uma excelente oportunidade para alcançar uma
boa “Aposentadoria”, 2,00% (10) porque existe cota de “Vagas para deficientes” –
inclusive amparadas por leis (BRASIL, 1988, 1990). Os outros 6,60% (33) tinham
outras motivações de ingresso no serviço público (Gráfico 8), tais quais: “Amor ao
serviço público”; “Cargo almejado”; “Sonho profissional”; “prazer em morar noutra
cidade”; “contribuir com a administração pública, claro que os bons ganhos contam
bastante”; “Plano de saúde para família”; “Realização profissional”; “Voltar a morar
em minha cidade natal preferencialmente ou estado”; “Trabalhar na minha carreira”;
“As carreiras jurídicas que tenho interesse em seguir exigem concurso”; “Menor
pressão por metas comparado ao serviço privado”; “Desilusão com a iniciativa
privada”; “vocação”; “Melhor Qualidade de vida”.
Gráfico 8 – Motivos de se fazer concursos públicos
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
A observância dos dados permitiu inferir os principais motivos envoltos à
realização de provas de concursos em outros lugares: a busca por estabilidade e por
130
melhores salários, tendo em vista que estes, aparentemente, ainda não foram
alcançados. No tocante aos demais motivos especificados pelos respondentes, a
questão da realização profissional, do sonho, do amor e da vocação ao serviço
público, decerto, surpreendeu muito, pois, não foram pressupostas essas
motivações. Levando a crer que há motivações subjetivas e sociais, para além da
corriqueira motivação financeira.
Uma das hipóteses levantadas anteriormente sobre a persistência de
servidores públicos na realização de certames foi comprovada com estes dados:
existem servidores nomeados em outras cidades ou outros estados, diferentes
dos(as) que moravam antes, que continuam a prestar concursos com o propósito de
assumir um cargo mais próximo de “casa”: da família e dos amigos. Atrelando esse
aspecto às viagens, com efeito, imagina-se que os custos das viagens para esses
locais são menores, pois, dependendo da cidade não há despesas com
hospedagem, além do mais, possibilitam ao concurseiro “matar” a saudade de sua
terra natal.
A respeito do tempo de participação de concursos públicos, 16,40% (82) dos
concursandos afirmaram concorrer a vagas no serviço público a “Menos de 1 ano”,
48,00% (240) “De 1 a 3 anos”, 17,40% (87) “De 4 a 5 anos”, 6,20% (31) “De 6 a 7
anos” e 12,00% (60) a “Mais de 7 anos” (Gráfico 9). Os percentuais levam a concluir
que um número acentuado dos respondentes (322) fazia concursos públicos há
relativamente pouco tempo. De outro lado, os índices mais baixos, daqueles que
estavam fazendo certames entre 6 e mais de 7 anos (91), podem indicar que muitos
outros candidatos com esse período de dedicação já conseguiram (ou desistiram) o
cargo que almejavam.
Aos participantes da pesquisa, em seguida, foi perguntado quais eram as
suas preferências quanto aos níveis de concursos públicos, os resultados revelaram
que 88,00% (440) preferiam concursos “Federais”, mas também, 63,00% (315)
tinham preferência por concursos “Estaduais” e 31,20% (156) “Municipais”.
Visualiza-se no gráfico 10 que quase a totalidade dos respondentes prezava por
certames em nível federal, conquanto haja uma percentagem considerável buscando
pelos estaduais, assim como, em número menor, pelos municipais.
131
Gráfico 9 – Tempo de realização de concursos públicos
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Gráfico 10 – Preferência de níveis de concursos públicos
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
O acompanhamento diário dos grupos no Facebook (pesquisa netnográfica)
permitiu compreender que, em geral, a concorrência e o nível de dificuldade de
aprovação em um certame no Brasil são, além do número de vagas, diretamente
proporcionais aos salários ofertados e outros benefícios inerentes aos cargos
públicos. Assim, normalmente, os certames municipais, que costumam oferecer
menores salários, são os menos concorridos, e os concursos estaduais e federais,
132
por apresentarem salários bem atrativos, acabam sendo os mais procurados.
Enquadram-se nesse perfil os cargos de técnico e de analista judiciário, com
remunerações que giram em torno de R$ 5.365,92 e de R$ 8.803,9737,
respectivamente, possuindo um quantitativo expressivo de chamadas e de
nomeações, de acordo com os mais experientes concorrentes.
A concorrência, de acordo com atores dos grupos na rede social, relativiza-se
na esfera dos concursos, há, pois, concorrências e concorrências. Isto é, existem
pelo menos dois tipos de concorrentes: os que se preparam de fato e os que não
estão preparados para “encarar” as provas. Assim, quando a demanda é divulgada
nem sempre o elevado número de participantes preocupa um concurseiro, afinal,
muitos dos inscritos irão faltar, outros estão somente testando ou conhecendo
melhor a banca, os formatos das provas, outros, porém, estão ali de fato
preparados. Nessa lógica, há concursos em que o número dos que realmente se
preparam é menor, assim como, existem os certames em que o número de
concorrentes de alto nível é considerável – nesses últimos, seguramente, os valores
dos vencimentos e os benefícios são considerados mais compensatórios.
Na sequência, buscando averiguar de quantos concursos públicos, em
aproximado, os sujeitos da pesquisa haviam participado, obteve-se um total de 37
tipos de respostas, sendo tabuladas em intervalos, conforme exposto na tabela 3.
Em análise estatística38 realizada sobre estes dados obteve-se que a média de
concursos realizados, pelos depoentes da pesquisa, foi cerca de 10, o desvio padrão
aproximou-se de 12, a mediana – ou o número mais central após o ordenamento
das respostas – foi de 8, já o indicador que mais vezes se repetiu, a moda, foi de 10
participações. Juntos os 500 concurseiros realizaram mais de 4.828 certames, visto
que as participações daqueles 48 que disseram não recordar um número, sequer
aproximado, não tiveram como ser computadas nos cálculos (Tabela 4).
37
Informação baseada no edital nº 1, de 21 de dezembro de 2015, do Concurso Público do Tribunal
Regional do Trabalho (TRT) 8ª Região, para provimento de vagas e formação de cadastro de reserva dos cargos de analista judiciário e de técnico judiciário. Disponível em: <http://www.cespe.unb.br/concursos/trt8_15/arquivos/TRT_8_REGI__O_2016___ED_ABERTURA.PDF>. Acesso em: 14 abr. 2016.
38 O cálculo do total de participações em concursos públicos, assim como, a média e o desvio
padrão ignoraram a resposta “Perdeu a conta”, visto que esta não se configura enquanto um valor numérico.
133
Tabela 3 – Número de participações em Concursos Públicos
Nº de participações em Concursos
Nº de Concurseiros
%
1 – 5 155 31,00%
6 – 10 165 33,00%
11 – 15 51 10,20%
16 – 20 40 8,00%
21 – 25 13 2,60%
26 – 30 13 2,60%
31 – 35 2 0,40%
36 – 40 8 1,60%
45 – 50 4 0,80%
200 1 0,20%
Perderam a conta 48 9,60%
Total 500 100,00%
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Tabela 4 – Estatísticas dos números de participações em Concursos Públicos
Estatísticas das participações em Concursos Nº
Média 10,68141593
Mediana 8
Moda 10
Desvio padrão 12,3094
Total de participações 4828
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Estas evidências implicam pressupor que o número de tentativas de ser
aprovado para o ingresso no serviço público é menor quando se está a pouco tempo
“encarando” concursos, uma vez que, como notado no gráfico 9, pelo menos 322
concursandos participaram de concursos entre 3 e menos de 3 anos. Nessa linha de
pensamento, de modo consequente, o grande número de participações deve ser de
pessoas que estão um maior tempo na “vida de concurseiro”, os 91 que afirmaram
estarem fazendo certames entre 6 e mais de 7 anos (Gráfico 9). No gráfico 11 é
134
4
21
44
36
50
32 33 28
18
54
9 7 6 6
23
6 2
6 3
23
2 2 1
8
1 1 2
9
1 1 1 2 5
1 3 1
0
10
20
30
40
50
60
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 26 29 32 36 40 50 Núm
ero
de
resp
on
de
nte
s
Número de concursos públicos
possível ver que as indicações de participações variam de início, mas
posteriormente sofrem uma queda exponencial à medida que, supostamente, os
candidatos vão conseguindo suas nomeações, como visto também nos períodos
temporais de dedicação aos concursos públicos. É interessante observar que o
número de participações decerto irá refletir no número de viagens, conforme irão
reiterar outros dados mais adiante.
Gráfico 11 – Número de participações em Concursos Públicos
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Nessa esteira, visando adentrar na discussão acerca da viagem a concursos
públicos – o objeto central de discussão deste trabalho – perguntou-se: de todas as
participações, anteriormente indicadas, quantas se estabeleceram mediante
viagens? A pergunta aberta possibilitou a obtenção de 25 tipos de respostas, sendo
ordenadas em intervalos para uma melhor visualização, consoante mostra a tabela
5. Igualmente feito com o número de participações em concursos, a análise
estatística39 a respeito das viagens revelou que uma média de aproximadamente 5
viagens foram realizadas a concursos públicos pelos concurseiros, com um desvio
padrão próximo de 8 viagens. Sobre a mediana, o número mais central após o
ordenamento das respostas, foi de 4 viagens, e a moda, o número que mais se
repetiu nas respostas, foi de 2 viagens. Somando-se todas as respostas da amostra
39
O cálculo do total das viagens a concursos públicos, assim como, a média e o desvio padrão ignoraram a resposta “Perdeu a conta”, visto que esta não se configura enquanto um valor numérico.
135
da pesquisa – e levando em consideração que o cálculo não considerou o número
de viagens dos (19) respondentes que afirmaram ter pedido a conta de quantas
tinham realizado – foram feitas mais de 2.536 viagens tendo como motivação a
participação em processos de seleção de funcionários públicos (Tabela 6).
Tabela 5 – Número de viagens a Concursos Públicos
Nº de Viagens a Concursos Nº de
concurseiros %
1 – 5 347 69,40%
6 – 10 96 19,20%
11 – 15 26 5,20%
16 – 20 6 1,20%
21 – 30 5 1,00%
150 1 0,20%
Perderam a conta 19 3,80%
Total 500 100,00%
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Tabela 6 – Estatísticas do número de viagens a Concursos Públicos
Estatísticas das viagens a Concursos Nº
Média 5,272349
Mediana 4
Moda 2
Desvio padrão 7,814426
Total de viagens 2536
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Importa discorrer que essas viagens (e seus números), embora não sejam
devidamente reconhecidas – como outras segmentações – pelos instrumentos de
ordenamento, de fiscalização e de regulamentação da atividade turística no país,
estão/são catalogadas, desapercebidamente, nas estatísticas de embarques e
desembarques registrados pelas Secretarias Estaduais de Turismo (SETUR’s), pelo
Ministério do Turismo (Mtur) e pela própria Organização Mundial do Turismo (OMT).
E como nos últimos anos presencia-se um crescimento exponencial de participações
em concursos públicos, os números das viagens domésticas no Brasil computadas
136
pelo Mtur (BRASIL, 2015), decorrem também dessa nova vertente do setor das
viagens e do turismo. Portanto, tais números corroboram para uma dinamização
turística no país, e, consequentemente, para uma maior estruturação e
desenvolvimento dessa inovadora segmentação de mercado.
Os dados acima apresentados sobre o número de viagens permitem fazer a
mesma correlação realizada sobre o número e o tempo médio de participações em
concursos: o número de viagens é, de maneira suposta, proporcional ao tempo em
que se está realizando provas de certames, assim como, aqueles que viajaram mais
vezes estão mais tempo prestando concursos. O gráfico 12 ilustra, a priori, um
número acentuado de concurseiros que viajaram, entre 1 e 5 vezes, adiante, tem-se
uma diminuição do número de viagens feitas por eles, calcula-se que essa queda
também está ligada às investiduras dos cargos que vão se efetivando.
Gráfico 12 – Número de viagens a Concursos Públicos
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
O planejamento das viagens a concursos, geralmente, é realizado a partir de
informações captadas por meio de(a): “Parentes e Amigos”, 30,60% (153); “Internet”,
94,80% (474); “Agências de viagens e turismo”, 8,00% (40); Guias de turísticos,
5,20% (26) e outras fontes, 3,20% (16) (Gráfico 13), especificadas como a utilização
de aplicativos de localização existentes em telefones celulares e carros (GPS,
Google Maps) e a rede social Facebook – em especial os grupos de concursos
embora houvesse a “Internet” como opção de resposta – foi bastante mencionada
como um elementar canal de obtenção de informações para o planejamento e a
50
96
79
64 58
20 21 21
7
27
2 8
1 2 13
2 1 3 1 1 1 1 1 1
0
20
40
60
80
100
120
1
2
3
4
5
6
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18
19
20
22
23
24
25
30
15
0
Núm
ero
de
resp
on
de
nte
s
Número de viagens
137
organização das viagens, como dissertado anteriormente em dados oriundos das
incursões netnográficas.
Gráfico 13 – As fontes de informação no planejamento desse tipo de viagem
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Compreende-se, então, que a internet desponta como a principal fonte de
informação no preparo desse tipo de viagem. Mas essa não é uma característica
exclusiva das viagens a concursos públicos, no mundo dos negócios turísticos,
diversos estudos em voga, consideram a internet como um verdadeiro agente
catalisador do turismo, que oportunizou, em suma, à demanda e à oferta
praticidades. Oliveira e Resende (2014) explicam que, por intermédio dela, muitas
empresas viram seu volume de vendas aumentar progressivamente, acessos se
facilitarem e, por conseguinte, longas distâncias “encolherem”, novas relações se
estabeleceram com os consumidores e houve uma melhora em termos de
qualidade. Assim sendo, no mundo dos negócios, considerando que “a informação é
a ‘alma’ do turismo, sem a qual o sector não funciona. Ou seja, o turismo não
sobrevive sem a informação e, por isso, precisa estar ao lado dos meios de
comunicação” (MARUJO, 2008, p. 26), a internet é, na atualidade, uma
condicionante substancial para o sucesso e a permanência de uma organização no
mercado turístico.
138
E se tratando das organizações do mercado turístico, ao buscar compreender,
da amostra coletada, se preferia viajar individualmente ou com/por empresas (em
excursões), 90,40% (452) expressou que prima por “Viajar sozinho(a)” e 9,60%
“Viajar com empresas (em excursão)” (Gráfico 14). Tal cenário revela que há uma
notória propensão por viagens individuais, certamente, isto deve-se ao fato dessas
permitirem uma maior flexibilidade ao viajante e, quem sabe, economia.
No mais, o mercado de intermediação de viagens por intermédio de agências
ainda possui cicatrizes profundas dos impactos do “boom da internet”. Como a
pouco contextualizado, os clientes, com uma relação mais acessível aos
fornecedores, passaram a planejar e a organizar suas próprias viagens, afinal, em
muitos casos, isso implicou redução de custos (MARUJO, 2008). Colaborando com a
questão levantada, durante a participação nos grupos do espaço cibernético do
Facebook, foi perceptível que mesmo aqueles que contratavam os serviços de
empresas, os utilizavam com muita cautela e preocupação, pois, pelo visto, é um
público muito exigente, que costuma verificar junto aos prestadores de serviços
como anda a viagem, afinal, um erro por parte da empresa pode frustrar uma
preparação de anos, um sonho.
Gráfico 14 – Preferência sobre o de tipo de viagens a concursos públicos
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Quanto aos meios de transportes usualmente utilizados pelos depoentes ao
realizarem as viagens, obteve-se: “Ônibus” 57,00% (285); “Van” 4,60% (23); “Carro”
31,40% (157); “Avião” 75,00% (375); “Barco ou Navio” 3,40% (17); e 0,20% (1)
assinalou a alternativa “Outro”, especificando que utiliza trem quando se desloca a
Minas Gerais (Gráfico 15). Depreende-se que, sobremaneira, esses preferem fazer
139
uso do avião em seus deslocamentos, possivelmente em decorrência desse meio de
transporte possibilitar uma viagem com menor duração, além de um maior conforto e
uma maior segurança.
Gráfico 15 – Meios de transporte utilizados nesse tipo de viagem
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Os altos percentuais de utilização de ônibus podem estar atrelados à oferta
de viagens de excursões rodoviárias por empresas, a curtas distâncias ou por
simplesmente apresentar menores custos. A utilização de automóveis por 157 dos
respondentes, igualmente, pode sugerir pequenas distâncias ou uma preferência ou
uma possibilidade de diminuir gastos com a opção de “rachar a gasolina” com outros
concurseiros, como evidenciado corriqueiramente nos grupos de concursos do
Facebook. Os 17 que disseram ter feito uso de barco ou de navio provavelmente
viajaram pelo Norte do país, onde há muitas cidades em que o acesso somente é
estabelecido por via fluvial.
A respeito dos locais onde costumeiramente se hospedam durante as
viagens, 43,00% (215) marcou a assertiva “Casa de Parentes e Amigos”, 1,80% (9)
“Imóvel Alugado”, 76,00% (380) “Hotéis”, 26,40% (132) “Albergues/Hostel”, 24,00%
(120) “Pousadas”, 4,40% (22) disse “Não me hospedo” e 1,20% (6) marcou a opção
“Outro”, conforme o Gráfico 16. Estes resultados revelam que uma maioria dos
concuseiros viajantes tem preferência por hospedar-se em Hotéis, o meio de
140
hospedagem mais tradicional no turismo. No entanto, um quantitativo expressivo
(153) costuma se hospedar em Pousadas, Albergues ou Hostel, tipologias de
hospedagens relativamente novas, as quais apresentam preços mais acessíveis,
para atender, sobretudo, a juventude, segundo Giaretta (2003).
Gráfico 16 – Locais de hospedagem utilizados nesse tipo de viagem
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Aqueles que não se hospedam, preferem ir e voltar no mesmo dia, pois,
consoante um dos sujeitos da pesquisa: “prefiro não me hospedar, assim os custos
são menores40”. Apoderando-se das classificações de viajantes tratadas por Licínio
Cunha (2003), e levando em consideração os que fazem turismo na cidade, estaria-
se diante de “concurseiros excursionistas” – relembrando, indivíduos permanecentes
menos de 24 horas em uma localidade (CUNHA, L., 2003). De outro lado, dá a
entender que as participações de concursos públicos em outros municípios ou
estados estão ligadas à existência de familiares e de amigos que lá residem, e
podem oferecer hospedagem, tendo em vista a possibilidade de redução das
despesas, de rever pessoas e de aproveitar melhor a cidade a partir de dicas dos
hospedantes.
40
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).
141
Sobre os que responderam a opção “Outro” (6), um deles chegou a
mencionar “ja pernoitei em motel por nao haver pousada na cidade. la so havia
hoteis caros41 [sic]”, é um dado no mínimo curioso, tendo em vista que essa
categoria de hospedagem, no Brasil, historicamente se caracterizou enquanto um
espaço de encontros amorosos, que muito dista da motivação42 de seu nascimento e
desenvolvimento (GUIMARÃES; CAVALCANTI, 2007). Entrementes, para Borella
(2005), a imagem a respeito dos motéis vem mudando no país, há, atualmente,
nesses empreendimentos um conjunto de serviços igualmente oferecidos por outros
meios de hospedagem, e como se pôde notar no comentário de um dos
concurseiros, acaba saindo mais em conta, e o hóspede tem a opção de pagar por
hora e não por diárias, que muitas vezes não é utilizada na íntegra.
Por outro lado, observou-se também nessas respostas duas “novas formas de
hospedagens”: a primeira delas foi a reserva e o aluguel quartos, casas e
apartamentos via o Airbnb43, site que tem revolucionado o mercado de hospedagem,
onde tanto empresas quanto pessoas têm lucrado, como evidencia a figura 20 – é
possível que os nove (9) que disseram ter alugado imóveis fizeram o por meio dessa
ferramenta; a segunda forma foi a possibilidade de hospedagem gratuita (solidária)
por meio de uma rede social chamada CouchSurfing44 (Figura 21) – espaço virtual
onde pessoas, que desejam mostrar cidades, fazer companhia, oferecer
hospedagem ou precisem se hospedar, se conectam, interagem e trocam,
hospitalidades em diferentes lugares do mundo (DUTRA, 2010).
No centro dessa questão, cabe discorrer o que Urry (2003) já sinalizava,
outrossim, se esteja em uma sociedade permeada fortemente por redes virtuais, que
a priori dispensa os traslados espaço-tempo-reais, as pessoas, na ausência de
“sinestesias puras”, têm buscado nas viagens diminuir distâncias físicas, promover a
manutenção de uma vida social e de interações transculturais off-line. Nesse
contexto, as hospedagens em residências de familiares, de amigos ou de
desconhecidos, a partir do Airbnb ou do CouchSurfing, permitem que relações
41
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016). 42
De gênese inglesa, a terminologia motel, nascida da fusão das palavras motor e hotel, compreende empreendimentos que situavam-se à beira de estradas, em geral no zona rural dos EUA, que abrigavam para descanso motoristas e seus veículos entre horas e horas de quilômetros rodados nessas rodovias (GUIMARÃES; CAVALCANTI, 2007).
43 Para maiores informações a respeito do Airbnb:<https://www.airbnb.com.br/>.
44 Para maiores informações a respeito do CouchSurfing: <https://www.couchsurfing.com/>.
142
socioculturais, nascidas no ambiente virtual, se consolidem na ambiência real das
viagens (NOVELI, 2010).
Figura 20 – Hospedagem pelo Airbnb Figura 21 – Hospedagem pelo Couchsurfing
Fonte: Capturas de tela realizadas via Airbnb e Couchsurfing. Pesquisa de campo (2016).
Ao buscar categorizar a permanência dos candidatos nas cidades onde
realizaram provas, se averiguou quantos dias, em média, duram as estadas, os
resultados apresentados no Gráfico 17 ilustram que, 11,00% (55) ficou apenas “1
dia” nas localidades onde ocorreram os certames, 41,40% (207) “2 dias”, 33,00%
(165) “3 dias”, 11,00% (55) “4 dias”, 3,20% (16) “5 dias” e 0,40% (2) disseram que
permaneceram por “Mais de 5 dias”. Como sequência, foi questionado quantos dias
antes da prova normalmente chegam às cidades, 7,20% (36) disse que chegam “No
dia da prova”, 69,80% (349) “1 dia antes”, 22,20% (111) “2 dias antes”, 0,40% (2) “3
dias antes”, 0,20% (1) “4 dias antes” e 0,20% (1) “Mais de 4 dias antes” de ocorrer
as provas (Gráfico 18).
143
Gráfico 17 – Número de dias que costumam ficar na cidade de realização da prova
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Gráfico 18 – Quantos dias antes da prova chega-se à cidade de sua realização
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
144
As informações colhidas oferecem o ensejo para delimitar, de maneira geral,
que a permanência dos concurseiros nas cidades onde fizeram as provas foi de 2 a
3 dias. Porém, não se pode ocultar que uma pequena cota dos respondentes teve
estadas de 4 ou mais dias, tal como houve outra parcela com apenas um dia.
Provavelmente, estes últimos objetivam economizar dinheiro ou precisam retornar
por questões familiares e de trabalho. Já o grupo com permanência maior, busca,
possivelmente, chegar antes para conhecer o local de prova e verificar como chegar
até ele, descansar após uma viagem cansativa e/ou longa, aproveitar para conhecer
e “turistar” pela localidade, encontrar amigos e parentes. Haja vista que uma
porcentagem expressiva costuma chegar 1 ou 2 dias antes, conforme demonstra o
gráfico 18. Nessa ótica, Ceretta (2005) pondera que o gasto turístico está
diretamente conexo com o tempo de permanência do indivíduo, logo, um maior
número de estadas pode implicar maiores gastos.
E quais seriam os gastos médios dessas viagens? Questionou-se aos
viajantes. Mesmo sabendo que as despesas de uma viagem para outra podem
variar vertiginosamente, buscou-se as respostas na forma de valores monetários a
fim de ilustrar quantitativamente, em reais, a média de gastos nessas viagens. Com
resultado, identificou-se 37 diferenciados valores que, ao serem ordenados sob
intervalos, (Tabela 7) revelaram custos de R$ 100,00 a R$ 3.500,00. Uma análise
estatística (Tabela 8) realizada sobre esses valores possibilitou apontar que a média
de gastos nessas viagens foi de R$ 884,32 reais, assim como, o desvio padrão de
R$ 547,8591, o valor que mais vezes foi citado pelos interlocutores da pesquisa, a
moda, foi de R$ 1.000,00 e o mais central no ordenamento, a mediana, de R$
800,00. O dispêndio total dos gastos dos respondentes durantes essas viagens foi
de R$ 442.160,00, um valor, em certa medida, representativo no universo das
viagens e do turismo. Esses gastos, contudo, não abrangem apenas o transcorrer
das viagens, Ceretta (2005) soma a eles os gastos para a preparação da viagem e
os para o regresso. Logo, as viagens a concursos públicos demandam, igualmente,
despesas em diferentes mercados, turísticos e não turísticos, e polos emissivos,
transitórios e receptivos (LAGE; MILONE, 2001).
145
Tabela 7 – Gastos médios com as viagens
Valores Nº de
Concurseiros %
R$ 100,00 – R$ 450,00 95 19,00%
R$ 500,00 – R$ 950,00 197 39,40%
R$ 1.000,00 – R$ 1.400,00 126 25,20%
R$ 1.500,00 – R$ 3.500,00 82 16,40%
Total 500 100,00%
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Tabela 8 – Estatísticas dos custos aproximados das viagens
Estatísticas Valores
Média R$ 884,32
Mediana R$ 800,00
Moda R$ 1.000,00
Desvio padrão R$ 547,8591
Total de gastos R$ 442.160,00
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
É presumível que os mais baixos gastos sejam de viagens de curtas
distâncias – feitas em veículos particulares, barcos ou ônibus. Os maiores valores,
por outro lado, podem representar as viagens longas, para estados ou regiões
distantes e/ou de difícil acesso. Nessa concepção, no gráfico 19 é possível notar
pelo menos 3 grupos expressivos de respostas iguais, em que um grupo de 55
(11,00%) concurseiros gastou em média R$ 500,00, um segundo grupo de 98
(19,60%) gastou R$ 1.000,00 e o terceiro grupo 45 (9,00%) desembolsou R$
1.500,00 para viajar. Estes grupos podem estar correlacionados às distâncias, às
durações das viagens e aos meios de transportes utilizados. Do mesmo modo, é
verossímil que estejam ligados às condições econômicas dos candidatos, afinal,
como visto muitos dos participantes da pesquisa apresentam rendas bem elevadas,
sendo alguns, inclusive, servidores públicos.
146
Gráfico 19 – Gastos médios com as viagens
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Partindo da ótica de que o gasto com deslocamento (transporte externo) é
inevitável, questionou-se que outros gastos os sujeitos costumam ter durante essas
viagens. O resultado foi: 86,00% (430) disseram gastar com “Hospedagem”; 97,80%
(489) com “Alimentação”; 79,00% (395) com “Transporte Interno (Traslado, Táxi,
Coletivos.)”; 25,20% (126) “Compras Pessoais”; 25,20% (126) “Atrativos e Passeios”
e 2,40% (12) “Outro: Baladas, Festas, Bares, Nigth, lembrancinhas típicas
[Souvenirs], Remédios e Combustível” (Gráfico 20).
Estes números revelam os três maiores, mais basilares e comuns gastos
nessas e em outras viagens: “Hospedagem”, “Alimentação” e “Transporte”. O
percentual de gastos com hospedagem não alcançou o totalidade porque pode estar
correlacionado àqueles 43,00% (215) que disseram ter preferência em se hospedar
em “Casas de Parentes e Amigos” (Gráfico 16). Os gastos com alimentação, para
além de figurar uma necessidade biológica, possivelmente estão atrelados também
com o desejo de conhecer a gastronomia das localidades. O transporte interno,
embora esteja ligado aos traslados para realização de provas, pode, igualmente, ser
um meio de conhecer os pontos turísticos das cidades. Importa frisar que, direta ou
indiretamente, esses gastos estão ligados ao mercado do lazer e do turismo (LAGE;
MILONE, 2001; TRIBE, 2003).
8 2 1
17
5
29
5
26
2
55
4
40
3
29
1 8
29
6 2 12 8
98
3 1
16
2 3 3
45
3 2 2
18
1 1 9
1
0
20
40
60
80
100
120
Núm
ero
de
resp
on
de
nte
s
Gastos com as viagens
147
Gráfico 20 – Com o que se costuma gastar
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Houve também um tímido número de respondentes com gastos claramente
turísticos: compras pessoais, atrativos e passeios, assim como baladas, bares,
festas e souvenir. Averiguou-se com as incursões virtuais que essas atividades são
realizadas pelos concurseiros, ou ofertadas por empresas, normalmente em cidades
presentes no imaginário turístico do país, sendo incitadas pelas campanhas
publicitárias que as conferem como experiências únicas e primaciais na realização
de viagens (RUSCHMANN, 2001). Elas podem, também, estar ligadas à
possibilidade do candidato conhecer a cidade que poderá ser a sua nova casa e seu
novo local de trabalho, caso seja aprovado no concurso.
Ao inquirir-se sobre as atividades que costumam fazer antes ou após a
realização das provas, as informações obtidas, figuradas no Gráfico 21,
descortinaram que o tempo é ocupado da seguinte maneira: 59,40% (297)
“Ler/Estudar”; 52,00% (260) “Dormir”; 26,00% (130) “Assistir TV”; 44,80% (224)
“Navegar na internet”; 57,20 (286) “Conhecer, passear, divertir-se na/pela cidade” e
11,60% (58) “Outro”. Nota-se que existe a preocupação de um percentual em focar
nos estudos, mas também, existem os que procuram aproveitar as cidades
turisticamente. Não obstante, houve um grupo que disse preferir relaxar ou
148
descansar, seja dormindo, seja assistindo tevê, seja navegando na internet no
tempo ocioso dessas viagens.
Gráfico 21 – O que se costuma fazer antes e/ou depois da realização das provas
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
Supostamente, ocorre uma variância nas atividades antes e após o certame,
interpretação ratificada por aqueles que ao especificaram as respostas na opção
“Outro”, escreveram: antes das provas, se foca nos estudos, em assistir os “aulões
de véspera”, as “revisões”, “verificar onde será o local de prova, se fica próximo ou
longe do hotel. Vejo também como vou chegar, de ônibus, táxi ou traslado
oferecidos”; Depois das provas, houve um grupo que disse preferir “Ir embora”;
“Nada, aguardo meu transporte para voltar a minha cidade natal”; “ir para o
aeroporto para volta para casa”. No entanto, tiveram aqueles que procuram fazer um
pouco de tudo: “É importante fazer de tudo um pouco, revisar as matérias, passear,
dormir (isso é essencial), falar com a família e amigos pela internet”; “Costumo me
exercitar, correr pela cidade, em praças ou lugares próximos de onde me hospedo“
ou “saio caminhando mesmo pelo bairro. Gosto de ver também as programações
diferentes da tv local”.
E teve o grupo que disse preferir “turistar” pelas cidades, como demonstram
as seguintes respostas: “depois da prova sempre termina após as 18:30h vou curtir
com os concurseiros”; “depois da prova a ideia é relaxar, curtir uma night é uma
149
boa”; “Ir a baladas”; “Ir em festas, conhecer as casas noturnas, depois da prova”;
“Conhecer a noite da cidade, relaxar, geralmente no pós prova”; “Comidas típicas”;
“’Tomar um gelo’! Típico do Belenense”; “visitar amigos(as)”; “Ir ao shopping ver
coisas diferentes, as pessoas da terra”; “ir almoçar/jantar em um lugar legal, mas
não caro”; “Fazer compras de coisas exóticas da cidade”; “Interação com o
hospedante”; “Sair para comer e visitar pontos turísticos”; “Conhecer pontos
turísticos tradicionais”; conhecer “Cinema”; “Restaurantes, bares e pizzarias”.
Os gastos ordenados na Tabela 7 e sistematizados no Gráfico 19 e os seus
motivos apresentados no Gráfico 20, somados às atividades que os concurseiros
costumam praticar nas cidades, expostas no Gráfico 21, viabilizam depreender que
essas viagens envolvem diferentes esferas do turismo: Hotelaria, Agenciamento,
Hospitalidade, Transporte, Alimentos e Bebidas (Gastronomia), que, certamente,
impactaram (e continuam a impactar) socioeconomicamente muitos destinos onde
ocorreram as provas. Embora retrodito, reitera-se que a atividade turística é capaz
de afetar e, mais, beneficiar economicamente inúmeros agentes sociais, seja no
mercado formal, seja no informal, de maneira direta e indireta, em um “efeito
dominó”: conhecido pelos estudiosos da área como efeito multiplicador do turismo
(BENI, 2003; FERNANDES; COELHO, 2002; LAGE; MILONE, 2001; LOHMANN;
PANOSSO NETTO, 2012).
Na perspectiva analítica sistêmica de Beni (2003), abordada no escopo
teórico dessa pesquisa, o turismo, para “acontecer”, envolve-se e transversaliza-se
por/com variados elementos de diferentes subsistemas. Dessa compreensão,
órgãos e entidades públicas, empresas e as camadas sociais articulam-se, em meio
a uma relação, comumente, tácita, em prol da atividade turística, e muitas vezes sem
perceber que estão envolvidos nesse complexo processo. Desse modo, é comum
não se ter um planejamento integrado, é visível a ausência ou a falha de
comunicação, de decodificação e de conexão entre esses setores em destinações
turísticas no mundo e, principalmente, no Brasil. Corroborando para que ações se
efetivem de modo parcelado e, até, conflituoso, tal fato reflete em esforços
frustrados e fragmentados, tanto no campo científico, como Dencker (1998) sinaliza,
quanto na atividade.
Lück (2003), nessa pauta, postula que em face do descrédito, da falta de
tempo e de conhecimento técnico, não é incomum ações serem executadas sem
estarem sequer previstas em projetos. À vista disso, os benefícios que o turismo
150
forja não são potencializados e, muito menos, gozados. Esse cenário é replicado
também na segmentação das viagens a concursos públicos, que por não ser, a
sério, reconhecida pelas superestruturas, pelo empresariado e, ao menos, pela
academia, enquanto uma possibilidade de mercado e de estudo próspera, não pôde
ainda alcançar os mesmos patamares que outros nichos ou segmentos, tampouco
dinamizar seus benefícios.
Posteriormente, foi indagado aos sujeitos da pesquisa se eles consideravam
essas viagens enquanto oportunidades de conhecer novas cidades, regiões e
culturas, a maioria, 75,80% (379), disse “Sim” e 24,20% (121) que “Não” (Gráfico
22). Aos justificarem os porquês, aqueles que afirmaram não concordar, pontuaram
que o foco principal da viagem é o concurso, alguns procuram fazer revisões,
estudar ao máximo, por isso acabam não tendo a oportunidade de explorar a cidade,
como confirmam algumas respostas: “Viajo apenas para realizar a prova“; “Não,
devido à circunstância, à tensão em torno da prova”; “Antes da prova há ansiedade e
nervosismo. Após a prova há cansaço“; “Para quem está muito focado e ansioso, o
único pensamento e tentar estudar mais um pouco antes da prova ou tentar
descansar (dormir) um pouco”; “Não, porque estarei focado na prova, não vim fazer
turismo. Só faço algumas atividades pra aliviar a tensão”; “Antes da prova
precisamos manter foco em pequenas revisões e descansar a mente. Passear pode
ser divertido porém acaba distraindo” [sic].
Gráfico 22 – Essas viagens seriam oportunidades para conhecer outras cidades, regiões e culturas
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
151
O curto tempo e a economia figuram como motivos prevalecentes desses
viajantes não aproveitarem as cidades em um viés turístico, pois, alguns precisam
voltar logo para trabalhar, e mais dias de estada demandam maiores custos: “como
geralmente trabalho no dia seguinte, não consigo conhecer quase nada”; “Tenho
que retornar rápido ao trabalho/família”; “Quem viaja para fazer concursos tem que
gastar pouco, pois, a incerteza da aprovação cria a necessidade de economizar ao
máximo para viabilizar outras viagens com o mesmo objetivo”; “Nunca dá tempo. A
única viagem em que consegui aproveitar um pouco foi para o Pernambuco, em que
não estudei no sabado q antecedia a prova e dei um pulo ate Porto de Galinhas”;
“Pq é difícil, mas quando dá eu vou”; “Porque minhas viagens para concurso são
única e exclusivamente destinadas ao concurso. Se não houvesse o concurso, eu
não viajaria. Não disponho de tempo, nem investimento suficiente para viagens
turísticas”; Outro grupo afirmou: “Meu único intuito nessas viagens é tentar me
classificar bem no concurso. Deixo para fazer turismo depois da posse”; “Farei isso
depois de aprovado” [sic].
Além destas, outras questões rondam as decisões de não aproveitar a
ocasião para conhecer a cidade, como a de um grupo de mulheres que afirmaram
não sentirem segurança para passear “sozinhas” por localidades onde não
conhecem nada nem ninguém: “Nunca tenho tempo para conhecer a cidade. Além
disso, sempre viajo sozinha, tenho medo, o que me desestimula fazer algum
turismo”; “Penso no risco de vida por andar por lugares desconhecidos”;
Viajar na tensão pré-prova e com a grana contada para pagar hospedagem, transporte e alimentação torna o turismo praticamente impossível. além disso, sempre viajo sozinha, então, na condição de mulher, é bem complicado sair sozinha, principalmente quando se trata de lugar desconhecido
45.
Esse é um discurso muito recorrente nas falas de mulheres que viajam, pois, há,
recentemente, um acentuado número de relatos de mulheres assediadas,
estupradas, violentadas e até mortas por estarem viajando “sozinhas”, como bem
alerta as reflexões de Antonioli (2015). A título de exemplificação, em março de 2016
aconteceu um caso com muita repercussão e revolta no mundo, sobretudo nas
redes sociais, o assassinato de duas amigas argentinas, no Equador, que viajavam,
45
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).
152
pela América Latina “sozinhas”46. Portanto, este é um forte empecilho aos passeios
das concurseiras pelas cidades.
As respostas de outros informantes consentem que essas viagens podem se
materializar enquanto oportunidades para conhecer um pouco de outras regiões e
culturas, versaram que as viagens de forma geral, em diferentes intensidades,
possibilitam: enriquecimento cultural, conhecer o novo, o inusitado, o diferente, o
igual, o semelhante. Eis, algumas respostas dos sujeitos da pesquisa: “As viagens
em sí já são investimentos culturais”; “Toda viagem é uma oportunidade de mudar
de ares e conhecer algo diferente“; “Uma estadia de alguns dias em uma região
diferente daquela que você vive, traz um crescimento cultural mesmo que pequeno”;
“Sim, porque você já está automaticamente inserido em uma nova cultura. Logo,
mesmo não sendo a principal motivação da viagem essa é uma consequência
natural”; “Sempre é bom conhecer novos lugares, pessoas e culturas. Isso nos
enriquece culturalmente e proporciona um grande lazer”; “Viajar é sempre renovação
de energias e de conhecer novas culturas e pessoas” [sic]. Analogicamente, estas
respostas remetem às escritas de grandes pensadores das viagens e do turismo,
como Barretto (1995), Beni (2003, 2004), Chias (2007), Molina (2003), Panosso
Netto e Gaeta (2010), Trigo (1998, 2013) e Urry (2001).
Elas possibilitam, ainda, que: “A cada ida pra uma cidade diferente, a gente
sente despertar a vontade de explorar melhor as belezas da região”; “provar
alimentos locais e falar com individuos do local, permite um contato com a ctura
[cultura] dos mesmos. Além disso a perspectiva visual do lugar visitado fala muito
sobre a cultura ali presente [sic]”; “Como já mencionei, gosto de me exercitar, corro
pelas cidades onde faço as provas, geralmente em praças perto do hotel, assim
acabo conhecendo melhor as cidades, as pessoas”; “Nosso país é muito
interessante e cada lugar possui um diferencial, seja nos modos ou na comida. Para
quem goza de mais tempo livre em relação ao horário/dia da prova é válido a
procura por esses diferenciais”; “Sempre vou atrás de pontos turísticos”;
“Oportunidade para conhecer a cidade, passear, fazer comprar e conhecer a
gastronomia local”.
46
Maiores informações: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/viajosozinha-como-morte-de-duas-turistas-argentinas-levou-debate-sobre-assedio.html>; <http://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/02/internacional/1456911848_192026.html>.
153
Como reflexo desse enriquecimento cultural, tem-se “uma higienização
mental”, conforme os respondentes, que desmistifica e “rompe muitos estereótipos”,
“nos desnuda de preconceitos” [sic]. Nas palavras da teoria, as práticas realizadas
nas viagens e no turismo, enquanto experiências vivenciais (RUSCHMANN, 2001),
“revelam-se potencialmente capazes de reiterar ou modificar essas diferenças e
desigualdades através de seus contatos transculturais” (ANTONIOLI, 2015, p. 4), a
partir de um olhar holístico e real dos lugares, das pessoas e das “coisas”.
No que se refere às provas, conhecer e “turistar” na/pela cidade pode ser uma
forma de aliviar a tensão e o nervosismo, assim como recarregar as energias: “dar
um passeio antes ajuda a relaxar para a prova e depois ajuda a aliviar a tensão da
prova”; “É uma oportunidade de, também, relaxar depois das provas”; “nao costumo
estudar no dia anterior à prova, conhecer o local ajuda a espairecer”. Durante as
estadas, é possível, ainda, que novas amizades se estabeleçam e antigas se
estreitem, onde muitos aproveitam para: “rever os amigos de outros estados que
também fazem concursos”; “conhecer pessoas de outros estados que estão nas
mesma [mesmas] sistuações [situações] e rola uma troca de experiência”; “Com toda
a certeza, e falo isso com base na minha experiência. Tenho amigos e conhecidos
em várias cidades que já fiz concursos“[sic]. Dessa forma, essas viagens
configuram oportunidades de rever amizades antigas, conhecer novos concurseiros
e se ambientar na cidade ou região onde possivelmente irá se trabalhar, caso seja
nomeado.
“Simples, se já estou lá, por que não conhecer?“ É assim que se estreita a
relação entre os concursos públicos, as viagens e o turismo. Segundo um dos
depoentes, “Entre concurseiros, a brincadeira é que concurseiro só faz turismo/lazer
quando tem prova!”, logo, percebe-se haver uma “conciliação de interesses”, como
relatou outro depoente. Encontra-se, portanto, diante de uma chance de explorar um
lugar que pode ser até então desconhecido, assim: “aproveito para conhecer o lugar,
que não sei se vou voltar, e relasar [relaxar] um pouco depois da prova!”; “como já
estou lá, tento aproveitar o que o lugar tem para oferecer, pois não sei se ou quando
voltarei aquele lugar”; “Sempre aproveito para ver a organização da cidade e o
clima”; “Unir o util ao agradável, pois ja está tendo o gasto com passagem/
hospedagem”; “Faço questão de conhecer pelo menos os principais pontos turísticos
da cidade”; “Sim pois já vou ter um gasto, então vale a pena "turistar" um
154
pouquinho”. É uma forma de agregar a motivação principal: o concurso, a uma
motivação secundária: o turismo (MARQUES, 2009).
Houve quem admitisse já ter viajado mais para fazer turismo do que fazer a
prova, de fato. É, para muitos, a melhor parte da viagem, “é o momento da diversão,
da recompensa, pelos dias incansáveis de estudo”. Normalmente, o turismo é
realizado no pós prova, para relaxar, “depois das provas, eu fico um ou dois dias a
mais nas cidades, justamente para aproveitar a ocasião de ali está e conhecê-las”
(como constatado na pesquisa netnográfica, Figura 22). Dessarte, a viagem a
concursos é percebida por uma parcela dos candidatados como uma oportunidade
de usufruir das práticas turísticas de lazer ofertadas pelas/nas cidades, pois, para
eles, os investimentos com deslocamento, hospedagem, alimentação e preparação
não podem ser utilizados apenas para fazer as provas.
O fato de aproveitar a ocasião para fazer turismo ou não, correlaciona-se,
demais, aos seguintes aspectos: “Depende, se for região muito distância da minha
origem (moro no Sul, vou para o Norte fazer um concurso), aí geralmente reservo
um tempo para turismo. Se for em alguma cidade da minha região, não dedico
tempo ao turismo”; “A oferta de passeios da empresa que viajo ou dos hotéis é um
facilitador para que eu aproveite as cidades. Nesse último concurso, por exemplo,
conheci o Parque Nacional Chapada dos Guimarães, em Goiás” (Figura 23).
Conforme Costa et al (2013, p. 7) o indivíduo que pratica turismo “tem entre suas
principais motivações a busca por lugares que diferenciam-se da sua realidade, isto
é, este é instigado pelo que de fato é exótico ao seu olhar”. O interesse e a
curiosidade para com as destinações são estimulados pelo marketing da oferta, que
cria e introjeta imaginários turísticos, a partir da publicidade e da propaganda: da
informação e da persuasão, em respectivo (COSTA et al, 2013; RUSCHMANN,
2001). Portanto, uma oferta maior de serviços turísticos é primacial para desenvolver
atividades turísticas de lazer para esse público.
155
Figura 22 – “Turistando” depois da prova.
Fonte: Captura de tela via Facebook. Pesquisa de campo (2016). Figura 23 – Turismo de concurseiros na Chapada dos Guimarães
Fonte: Captura de realizada via Facebook. Pesquisa de campo (2016).
Mediante essas viagens, conforme relatado pelos informantes, é capaz de se
desvendar cidades fora dos roteiros turísticos convencionais – “nos permite
156
conhecer lugares que talvez não fizesse parte de um roteiro tradicional de férias ou
que não pretendesse conhecer”; “Eu sempre me surpreendo com as belezas dos
lugares por onde passo, e me pergunto: por que elas são tão desconhecidas?, por
que não são mais divulgadas?” [sic]. As contribuições de Rita Cruz (2001) são
passíveis de responder a esses questionamentos, uma vez que elas contextualizam
a concepção de lugares turísticos, assim como atrativos ou pontos, como porções
espaciais às quais foram conferidas, historicamente, valorações ambientais, sociais,
políticas, econômicas (mercadológicas) e culturais de “turistificação”. Nesse
contexto, por serem frutos dessas construções, as destinações convencionais do
turismo de hoje “não eram no passado e talvez não sejam no futuro. Como a cultura
varia no tempo e também no espaço, o que é atrativo turístico para alguns grupos de
pessoas pode não ser para outros” (CRUZ, 2001, p. 8). Na contemporaneidade,
como reflexo disso, tem-se uma valorização de certos espaços em detrimento de
outros, e isso é fomentado pelo processo globalizatório, que ajuda a forjar e a
massificar estereótipos sobre a imagem de localidades.
Retomando a discussão anterior, as viagens possibilitam uma pluralidade de
oportunidades e de concessões, ora semelhantes, ora antagônicas. Afinal, como
muito bem disserta Beni (2004, p. 295-296),
Viajar é abrir novos horizontes, conhecer novas culturas, lugares e paisagens. A viagem rompe a rotina do cotidiano, revela novos cenários e traz para a vivência (...) expectativas sempre surpreendentes. A viagem é um movimento externo e interno [ao viajante]. Externo porque ele desloca-se no espaço físico e no tempo. Interno porque seu imaginário segue na frente, instigando a intelectualidade e o emocional, preparando-o para viver o inusitado em experiências únicas na revelação do desconhecido e do diferente. A viagem exerce (...) muitas influências eis que no aspecto subjetivo liberará o conteúdo de seus sonhos, seus desejos, sua imaginação projetiva e aumentará suas experiências existenciais. No aspecto material, por outro lado, crescerá seu acervo de conhecimentos profissionais e seus negócios poderão expandir-se ou transformar-se em novos empreendimentos.
Dessa sorte, em suma, viajar permite aos concurseiros: conhecer várias cidades,
diferentes culturas, onde podem vir a exercer alguma função pública; forjar cenários
de mutualísticas trocas de símbolos, de signos, de linguagens, de experiências, de
culturalidades; ampliar a visão de mundo, romper preconceitos; Conciliar estudos e
lazer; Construir conhecimentos científicos e populares, a partir de experiências, de
vivências, pelo e através do lazer. E, ainda, ter o subjetivo instigado, os sonhos, os
desejos, o estado emocional estremecido e aflorado.
157
Sob esse prisma, ao questioná-los se já visitaram ou têm vontade de visitar
algum dos lugares onde se prestou concursos, com fins exclusivamente turísticos, o
resultado foi: 86,00% (430) “Sim” e 14,00% (70) “Não” (Gráfico 23). Os dados
indicam uma propensão acentuada de candidatos que desejam retornar ou já
retornaram a turismo. As respostas negativas podem estar ligadas ao fato de que
algumas vagas são ofertadas em interiores do Brasil que não apresentam uma boa
infraestrutura e qualidade de vida, ou eles já conheciam os locais. O desejo de
retorno é muito comum em outras segmentações do mercado turístico, em que
viajantes se deslocam para uma determinada destinação com uma motivação e, em
outras oportunidades, retornam com motivações turísticas de lazer – levando
consigo, por vezes, familiares e amigos (ANSARAH, 2001; BRASIL, 2010a;
PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009, 2015; SIMÕES; FERREIRA, 2009).
Gráfico 23 – Já visitou ou tem vontade de visitar alguma cidade onde realizou prova de concurso, a turismo.
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
A semelhança desse viajante com os de outras segmentações é tamanha que
dados encontrados neste estudo são em demasia próximos dos resultados da
pesquisa do Ministério do Turismo, intitulada: Impacto Econômico dos Eventos
Internacionais realizados no país, entre 2007 e 2008, que ao perfilar o turista de
negócios e eventos, identificou que “81,7% pretendem voltar à cidade do evento e
94,5% ao Brasil. Destes, 82,6% querem retornar a lazer” (BRASIL, 2010b, p. 28). O
retorno junto de familiares e de amigos é estimulado pelos recursos naturais e
culturais que as localidades dispõem. No mais, os viajantes dessas segmentações,
em comparação aos visitantes que buscam lazer e entretenimento, podem gerar
158
maior rentabilidade aos destinos, afinal, eles, eventualmente, terão duas
permanências (BRASIL, 2010b).
Após esses questionamentos, que em certa medida estimularam reflexões
nos respondentes sobre os seus comportamentos, as suas atitudes e as suas
percepções acerca das cidades e do turismo durante as viagens, por fim, indagou-se
se estas seriam, para eles, uma nova forma de fazer turismo, estar-se-ia diante de
uma inovadora segmentação do mercado turístico?. Da totalidade de sujeitos que
integraram a pesquisa, 73,60% (368) concordaram e 26,40% (132) discordaram
(Gráfico 24). Esse resultado demonstrou que uma expressiva parcela apreende
essas viagens enquanto uma nova segmentação do turismo. Aqueles que não as
visualizaram dessa forma, provavelmente, compõe o grupo daqueles 24,20% (121)
que não consideram que essas sejam oportunidades para conhecer outras cidades,
regiões e culturas (conforme representação do Gráfico 22) e o grupo dos 14,00%
(70) que disseram não ter visitado e nem ter vontade de visitar a turismo as cidades
onde houve os certames de que participaram (Gráfico 23).
Gráfico 24 – Essas viagens podem ser consideradas uma nova forma de fazer turismo (uma nova segmentação do mercado turístico?)
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
E quando questionado o motivo da resposta, obteve-se uma variância
deveras numerosa de concepções a respeito. Quanto aos que não consideraram as
viagens a concursos públicos como um novo meio de fazer turismo, uma nova
segmentação (segmento ou nicho), um grupo entende que o turismo não cumpre a
motivação principal das viagens a concursos, logo essas não podem ser conferidas
enquanto turísticas. O foco principal, em consonância com eles, é a realização das
159
provas, fazer turismo pode ser uma forma de distração, que pode afetar a
concentração. Outros, por estarem tão focados, acabam não conseguindo relaxar, a
tensão e o estresse dominam, preferindo continuar os estudos e as revisões no meio
de hospedagem, como sintetiza a resposta de um dos informantes da pesquisa:
Pois a pessoa está focada na prova. Chega e vai para a hospedagem estudar ou revisar, ou ir a algum lugar só para esquecer a prova, mas ainda está tenso. Não consegue relaxar. E na maioria das vezes vai embora logo após a prova. Ou seja, não é o foco
47.
Observa-se, assim, que para esse grupo, de fato, o lazer e o turismo não aparecem,
nem mesmo, como motivações secundárias ou ocultas (MARQUES, 2009).
Independente disso, houve quem pontuasse que, embora as viagens não sejam
turísticas, não se pode negar que “é inegável o fato de, indiretamente, conhecer
vários locais e quando o tempo de estadia é maior, acabamos por "turistar" na
cidade em que está” e que “os destinos sempre lucram com hospedagem, taxi e
alimentaçao, sem dúvida” [sic]. Ao passo de existirem casos em que é aconselhável
fazer a reserva do meio de hospedagem assim que o edital é publicado, pois “as
cidades acabam lotando”, de acordo com os questionários. Conduzindo esses dados
ao encontro da fundamentação teórica, atenta-se para um fato, ainda que muito
frisado neste estudo: as viagens e o turismo podem gerar impactos sociais e
econômicos, em diferentes escalas, nos mais variados setores de mercados
receptores, e não apenas neles, mas também, nos emissores e nos de transição de
viajantes (BARBOSA, F., 2005; FERNANDES; COELHO, 2002; LAGE; MILONE
2001; TRIBE, 2003).
No cenário das justificativas dos concurseiros que não concordaram, notou-se
dois grandes entraves para que o concurseiro não aproveite essas viagens em um
viés turístico: o tempo e o dinheiro – que em uma perspectiva mutualística se
condicionam e condicionam o turismo. O concurso público é, via de regra, pois,
realizado aos finais de semana, assim, o concurseiro que viaja, em geral, sai de sua
residência às sextas-feiras e retorna às segundas – ou, no mesmo dia, aos
domingos – visto que precisa trabalhar ou desempenhar outros papéis sociais:
“Como saio do trabalho pelo período determinado seria difícil”; Não é o objetivo
principal e quando vamos prá outro estado fazer prova que é sempre aos domingos,
47
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).
160
não sobra tempo prá turismo depois” [sic]. Portanto, é complicado permanecer por
mais algumas horas para aproveitar as cidades turisticamente.
Concernente ao empecilho dinheiro, essas viagens requerem uma demanda
de gastos elevada, estender por mais dias e “turistar” pelas cidades implica maiores
gastos, como visto anteriormente e como remetem as falas a seguir: “estender a
viagem para depois da prova é inviável financeiramente”; “Para a minha faixa de
salário só da para ficar com o pacote básico, isso posso afirmar”; “Acredito que
essas viagens são feitas por necessidades, nem sempre as pessoas têm dinheiro
para aproveitar a cidade, é mais um bate e volta” [sic]. E como mostram os dados
desta investigação, existe um quantitativo de respondentes que, no momento da
pesquisa, possuíam apenas menos de 1 salário (3,60%) como renda e (29,60%) que
sequer detinham (Gráfico 6). Dessa forma, igualmente outras tipologias de viagem
(ANSARAH, 2001; COSTA, 2006; LAGE, 1992; PANOSSO NETTO; ANSARAH.
2009a, 2015; YANAZE, 2011), as viagens a concursos públicos encontram-se, entre
outros aspectos, acondicionadas à disponibilidade de tempo e de recursos
financeiros.
Conquanto tenham assinalado a opção negativa, outro grupo de
respondentes considerou que há uma variação nessa questão, pois, há candidatos
que aproveitam para desfrutar do que as cidades têm a oferecer, assim como há os
que preferem retornar para casa, viajar em direção a novos certames, ou mesmo
optam por não ter mais gastos, para além dos já realizados. Já outros dissertaram
que preferem colecionar vontades e desejos de retornos, para que possam realizá-
los quando forem servidores, como ratifica uma das respostas:
É fato ser comum que aqueles que prestam concurso público não estejam em condições financeiras favoráveis ao turismo convencional, estando todos os recursos financeiros - parcos - voltados à consecussão do objetivo. É igualmente verdade que aqueles que não desistem na caminhada estejam em melhor situação quando da aprovação e as vontades deixadas no caminhos acabam por ser realizadas no futuro
48 [sic].
Para esse grupo, a oportunidade de fazer turismo na cidade é uma escola pessoal,
varia em conformidade com o tempo e o dinheiro, mas, também, com as motivações
– gestadas intrinsecamente no complexo subjetivo do indivíduo e influenciadas
extrinsecamente por “n” estímulos sensoriais, psíquicos e emocionais (MARQUES,
2009).
48
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).
161
No bojo dessas reflexões e discussões, alguns sujeitos da pesquisa
levantaram questões muito pertinentes com relação à indagação proposta, como
mostram as falas:
Marquei "não" porque não tem a opção "talvez". Acho difícil que seja um novo nicho de turismo, pois vejo mais contra do que prós: os concurseiros geralmente não têm emprego e, consequentemente, têm pouco dinheiro para gastar na cidade onde prestam o concurso. Outro fator é a falta de tempo, visto que muitos acabam um concurso e já vão se preparando para o próximo, há pouco tempo para o descanso. A terceira questão é que boa parte dos concurseiro preferem descansar a passear no pós prova. Esses 3 fatores, ao meu ver, são empecilhos para tal segmento. Mas não me baseei em pesquisas empíricas para dizê-los, apenas em minha opinião. Talvez sua pesquisa mostre que estou completamente errada!
49.
Não necessariamente uma nova forma de turismo, mas sim meio de inflar a economia das cidades, visto que, quando um concurso foca toda a realização das provas nas capitais dos estados ou, até mesmo, na capital do Brasil, todos os milhares de inscritos são levados a movimentar a economia de tais cidades - com transporte externo e interno, alimentação, hospedagem, e demais gastos pessooais (fármacos e produtos de higiênie), etc. Claro que isso não impede que alguém (com condiçoes financeiras e circunstanciais, ex.: folga do trabalho, férias, licença ou outro) chegue alguns dias antes da prova, ou fique alguns dias depois para turistar, caso em que isso não decorre diretamente do concurso, mas sim do expresso desejo de turistar. Portanto, não há nexo causal entre o concurso e
atividade turística50
.
O(a) primeiro(a) depoente levantou três questões para que esta tipologia de viagens
não seja considerada uma segmentação – um segmento ou um nicho do mercado
turístico – sublinhando que sua concepção não está embasada por um estudo
científico como este. A(o) segunda(o) informante complementa esse raciocínio ao
discorrer que muito embora essas viagens sejam um meio de inflar a economia das
cidades, ao utilizar os bens e os serviços disponíveis nessas e que o fato de
pessoas possuírem condições financeiras e oportunidades de chegar antes das
provas, para fazer turismo, não estaria atrelado diretamente ao concurso público.
Nesse contexto, para esse(a) o(a) concurseiro(a), não há uma correlação entre o
concurso público e a atividade turística.
Em uma análise dessas percepções, e ao correlacioná-las com a teoria e com
o que foi precedentemente debatido sobre os demais “achados” do campo, observa-
se que os sujeitos apontaram: os três aspectos que, de fato, moderam o lazer
turístico de alguns candidatos: dinheiro, tempo e descanso. Por outro lado, este
estudo já revelou que há diferentes perfis desses viajantes: os que não podem ou
49
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016). 50
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).
162
não querem aproveitar as cidades num prisma turístico e os que aproveitam os
recursos naturais e culturais que essas destinações têm a oferecer e, inclusive,
como antes postulado, ajudando a impactar fortemente esses locais, como reitera o
início do discurso do(a) segundo(a) informante.
Como resposta à assertiva de que o fato de aproveitar as cidades
turisticamente “não decorre diretamente do concurso, mas sim do expresso desejo
de ‘turistar’. Portanto, não há nexo causal entre o concurso e atividade turística”,
questiona-se: caso não houvesse o certame, será mesmo que esse viajante iria para
essa localidade só para “turistar”? Naquele período específico? Se o concurso
público é a motivação principal da viagem desse individuo, que pode, porém,
aproveitar da ocasião para turismo, como a atividade turística não pode ser passível
de decorrer das viagens a concursos públicos? Como não atrelar o desejo de
retornar a cidade com fins turísticos à participação prévia de concursos nela?. No
mais, como não pode haver uma conexão “casual” entre essas viagens e o turismo
se há utilização de toda uma cadeia, dos diferentes setores (FERNANDES;
COELHO, 2002), dos sistemas e dos subsistemas (BENI, 2003) do setor?.
Nessa direção, e reforçando esses questionamentos, alguns candidatos
informaram que a partir desta pesquisa refletiram que podem, devem ou precisam,
sim, aproveitar as estadas nas cidades para conhecê-la melhor, uma vez que já
houve o gasto para estar ali, então porque não se beneficiar disso da forma mais
proveitosa possível: “Penso em modificar o meu perfil e gastar cerca de 2 dias após
a prova para aproveitar a viagem”; “Atualmente não aproveito essas viagens para
turismo, talvez no futuro faça isso”; “Não, mas depois de participar dessa pesquisa
vejo que daqui posso melhor aproveitar os gastos que já tenho quando viajo”. Assim,
visualiza-se uma mudança no perfil de certa parcela de concurseiros viajantes, que
antes apenas participavam dos concursos, porém, agora, pretendem aproveitar as
viagens para lazer e turismo.
De outro lado, alguns dos questionados concordantes que essas viagens
seriam uma inovadora segmentação do turismo, justificaram que: é “conveniente unir
o útil ao agradável”, “Já que estou lá, por que não fazer turismo?”, “Porque você é de
fora, tá ali visitando o lugar”; “Creio que sim, tenho amigos que fazem do concurso
uma oportunidade de conhecer novos lugares, geralmente eles ficam mais um pouco
mais nas cidades, visitam outros atrativos, compram lembranças e até viajam a
locais próximos” ou ainda “porque a gente acaba utilizando a viagem pra fazer
163
concurso como uma oportunidade de conhecer a cidade” [sic]. Desse modo, as
viagens a concursos figuram oportunidades de conhecer um novo lugar, de passear
e de “turistar”.
Existem alguns que reservam, por exemplo, alguns dias para fazer turismo na
cidade e região: “Vou pelo menos dois dias antes da prova para conhecer a cidade”;
“Sim. Alguns amigos sempre reservam de 2 a 3 dias após a prova para conhecer a
cidade”. Da mesma forma, existe um grupo que vê essas viagens como vitrines para
possíveis retornos, como um dos respondentes que comentou: “eu não esperava
que fosse tão cedo [a cidade em que realizou o concurso]. Por causa da visita,
pretendo voltar para conhecer melhor assim que eu puder. Nesse mês vou conhecer
Cuiabá e o Acre, eu nunca havia planejado ir a esses lugares. Será uma agradável
oportunidade” [sic]. Estas respostas reiteram o que foi anteriormente tratado: alguns
concursantes reservam dias para conhecer as cidades, viajam para cidades que
jamais esperavam estar, descobrem novas opções de destinações para possíveis
férias e pretendem retornar.
Fundamentando a concordância de que a prática de viajar a concursos
públicos pode ser considerada uma nova segmentação do mercado turístico, alguns
sujeitos da pesquisa sinalizaram que existe um fluxo de viajantes expressivo,
“normalmente se nao reservamos hotel no dia que é publicado edital, nao
encontramos mais vagas e isso acontece com as passagens aéreas tbm” [sic],
movimentando “milhares de pessoas nos mesmos dias naquela localidade”.
Corroborando, outro informante pontua:
Há um volume grande de pessoas que busca uma vaga no serviço público por meio de viagens. Elas movimentam as cidades economicamente de maneira muito forte. Já presenciei casos em que o número de pessoas foi tão grande na cidade que não haviam vagas em nenhum hotel. Por mais que eu não passeie por pontos turísticos, movimento o setor hoteleiro e de transportes e outros poucos serviços, algumas cidades mudam muito em época de concurso. São importantes para a economia local, pois acabam gerando lucro extra na baixa temporada
51.
Dessa forma, visualiza-se que há um impacto econômico e social muito forte nessas
cidades. E os agentes dinamizadores desses impactos, os concurseiros viajantes,
compreendem que esse: “É um público específico”, “É um público particular e
crescente, com demandas próprias”, que outros grupos de consumidores não têm.
51
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).
164
Nesse panorama, participantes da pesquisa sugeriram que seria interessante
que mais empresas pudessem oferecer viagens e passeios turísticos, como uma
formar de conciliar a participação no certame e as atividades turísticas de lazer,
conforme os comentários que seguem: “Sim, poderia existir um plano específico que
unisse a diversidade da viagem que inclui descanso e comodidade, transporte
programado (em alguns locais se sofre qto a isso, não existe quase táxi, etc), e
passeios turísticos pós prova”; “Porque cada dia é maior a demanda de
Concurseiros que viajam em busca desse sonho e nem sempre há agências que
atendem aos nossos anseios. Acredito que a existência de um setor especializado
nesse tipo de viagem é essencial” [sic];
É um público crescente e permanente. Embora organize minhas viagens sozinha, seria bem mais fácil e prático (e pouparia preocupação) se houvesse pacotes de viagem voltados para esse público. As excursões que vejo só se preocupam em levar para fazer a prova, em geral para economizar, já que comcurseiro tem muito gasto, mas acho que tem opções de lazer barato em todo lugar e dá para conciliar
52.
Sob essa ótica, essas viagens forjam oportunidades de fazer turismo, tudo depende
de questões pessoais dos candidatos e, também, de uma oferta especializada,
tendo em vista que há certa vontade e interesse em atividades de lazer e turismo,
entretanto, não há um leque de serviços que tragam comodidade, praticidade e
segurança a esse consumidor. Talvez, isso deve-se a questão de que essas viagens
são um ramo do turismo em crescimento e desenvolvimento, em que muitos ainda
não o percebem enquanto uma oportunidade inovadora de empreendedorismo.
Brasil (2010a, p. 9) sinaliza que na atual conjectura globalizatória modeladora “se
diferenciar adquire importância a cada dia”. É preciso, portanto, ter a expertise de
visualizar oportunidades inovadoras de negócio, a partir de necessidades da
demanda ainda não sanadas, principalmente – uma vez que os turistas almejam
viagens que atendam, a cada dia mais, suas idiossincrasias: suas mais subjetivas e
“estranhas” aspirações, desejos ou vontades.
Nessa direção, em uma perspectiva dialógica com a teoria do turismo,
evidencia-se que os concurseiros viajantes compreendem uma demanda potencial e
real crescente, que se movimenta, em certa temporalidade, almejando participar
de provas de concursos públicos, mas que também pode buscar os conteúdos
culturais do lazer – nesse caso os turísticos – que não lhe trazem, naquele
52
Informação adquirida por meio dos questionários. Pesquisa de campo (2016).
165
momento (e pode ser que em nenhum outro), um retorno financeiro, ou seja, há
custos com transportes, meios de hospedagem e alimentação, podendo haver
também com lazer, entretenimento e turismo (BARRETTO, 1995; BENI, 2003; DE LA
TORRE PADILLA, 1992; IGNARRA 2003; MARCELLINO, 2007).
Seguindo o dialogo entre os resultados encontrados e a teoria construída
neste estudo, mapeou-se que há pelos menos 4 perfis de concurseiros nessas
viagens (Figura 24): o concurseiro viajante, que viaja independente dos modos e
dos meios de deslocamento utilizados; o concurseiro visitante, que viaja por um
período menor que um ano, independente da motivação, mas desde que não exerça
nenhuma atividade, na localidade de trânsito ou destino, que lhe traga remuneração;
o concurseiro turista, que viaja para fazer as provas mas também aproveita a sua
estada nas cidades, por mais de 24 horas e menos de um ano, para fazer turismo e
outras atividades ligadas ao lazer; e o concurseiro excursionista, aquele que faz
tudo o que o concurseiro turista faz, no entanto em um período menor que 24 horas,
isto é, ele não pernoita nas localidades, faz o famoso “bate e volta”, porventura,
evitando maiores custos (CUNHA, L., 2003).
Figura 24 – Perfis de concurseiros que viajam
Fonte: Pesquisa de campo (2016).
166
Em conversa com o escopo teórico da segmentação de mercado (turístico),
verifica-se uma demanda com necessidades e desejos específicos, que se diferem
das de consumidores de outras segmentações (KOTLER et al, 2008; TAVARES;
AFONSO; LOCATELLI, 2011). Afinal, como postulam Cavaco e Simões (2009),
Kotler (2000), Panosso Netto; Ansarah (2009b) e Rui Oliveira (2015), em essência,
para uma segmentação (segmento ou nicho) ser considerada como tal, necessita
minimamente de um grupo de consumidores com demandas semelhantes entre si e
destoantes com relação a outros grupos.
Pormenorizando a análise e a discussão, o “Turismo de Concursos Públicos”
é ou pode vir a ser: Identificável; Mensurável; Substancial; Acessível; Diferenciável e
Acionável. Não se pode afirma apenas que ele seja “Durável/estável”, dada a sua
recente criação (TAVARES; AFONSO; LOCATELLI, 2011). Noutros dizeres, nas
viagens a concursos, é possível identificar, facilmente, um grupo de viajantes
específico, uma fatia do mercado que tem expandido e desenvolvido muito
rapidamente, com certa rentabilidade e distribuição econômica em/com diversos
agentes, como se pôde evidenciar nos dados aqui apresentados. Certamente, é
capaz de atingir e obter, via marketing, respostas dos consumidores, uma vez que a
amostra da pesquisa, a exemplo, apresenta certo interesse na criação de mais bens
e serviços (oferta) especializados à sua disposição.
167
7 CONCLUSÃO
O fim de uma viagem não é de fato um fim. No retorno para casa, o viajante
sempre carrega em si uma parte de sua viagem, seja na forma das suas
lembranças, das suas reflexões/conclusões sobre as experiências vivenciadas, seja
no seu desejo de retorno, seja na ânsia por novas aventuras. Dessa depreensão,
chega-se neste ponto ao fim desta viagem, aqui serão externalizadas as conclusões
sobre as rotas percorridas, sobre os “achados” e sobre os aprendizados adquiridos.
Mas, o fim desta também traz aberturas para novas incursões investigativas, para
caminhos em busca de novos conhecimentos, de revisões e/ou de
complementações aos aqui produzidos. Chega-se, portanto, a um fim e a novos
inícios.
Deslocamentos, andanças, traslados, migrações e viagens, em diversos
períodos da história humana, desenharam linhagens genealógicas com a acepção
prática e teórica do turismo, dado que as múltiplas motivações que condicionam a
atividade turística hodierna, porventura, foram progênitas de contributos de
diferentes temporalidades. Havendo, portanto, uma história da prática turística antes
mesmo de sua existência em efetivo. Partindo dessa compreensão, a gênese e o
desenvolvimento das segmentações turísticas são passiveis de ter uma ligação com:
os Jogos Olímpicos, o palco provável do nascimento das viagens e do turismo de
esportes e de eventos; os romeiros no caminho de Santo Sepulcro e de Santiago de
Compostela, podem ter forjado as viagens de turismo religioso, etc. Nesse
raciocínio, segmentação e turismo possuem uma relação deveras antiga.
Do mesmo modo, as viagens a concursos públicos estão atreladas ao
contexto atual brasileiro, em que o individuo nasce, por vezes, em meio à “Cultura
dos Concursos Públicos”, estimulado a ser servidor público, afinal, os salários e os
benefícios intrínsecos aos cargos públicos figuram a emblemática garantia da
estabilidade financeira. Ademais, as crises políticas e econômicas que tangem o
Brasil e o mundo – ao provocarem demissões em massa na iniciativa privada e,
logo, aumentarem os altos índices de desemprego – têm forçado muitas pessoas a
levar uma “vida de concurseiro”. A busca pela nomeação na Administração Pública é
tão expressiva que alguns certames têm registrado mais de hum milhão de
candidatos inscritos.
168
Na maratona pela aprovação, nesse sentido, na “caça” por vagas e na fuga
da concorrência, concurseiros têm viajado pelo país, conhecendo e “turistando” por
cidades que sequer sabiam da existência. Nesse novo e ainda turvo cenário de
viagens e de turismo, percebendo a inexistência de trabalhos científicos que
tratassem a seu respeito, buscou-se contribuir com o desenho que forma as viagens
motivadas a concursos públicos. Questionou-se então se elas configurariam uma
nova segmentação do turismo, investigando as suas nuanças, o perfil, os
conhecimentos e as experiências de seus viajantes: os “concurseiros”, e
identificando se elas movimentam as localidades onde ocorrem as provas.
Os resultados alcançados, a partir dos procedimentos metodológicos
adotados, permitiram compreender que as viagens que têm como motivação a
participação de certames possibilitam aos candidatos, conhecerem novas
destinações, pessoas e culturas, conceber intercâmbios culturais a partir de
simbologias, linguagens, modos de vida e experiência, que distam, em alguns casos,
de suas realidades, bem como dão um panorama do local onde eles possivelmente
podem morar com a possível aprovação. Como efeito, ampliam e deixam mais
límpidas as visões que orientam os seus mundos, as suas ações e os pensamentos,
desconstruindo preconceitos e estereótipos, aproveitando-se das ocasiões para
conciliarem estudos e lazer, construírem conhecimentos teóricos e práticos, com as
vivências pelo e por meio o turismo e do lazer. Ainda nessas viagens, os candidatos
têm o subjetivo instigado, os sonhos, os desejos e o estado emocional estremecido
e aflorado.
Na busca por caracterizar o perfil dos viajantes dessa modalidade de viagem,
radiografou-se que tanto o sexo feminino quanto o sexo masculino viajam, eles têm
idades entre 21 e 40 anos, sendo a maioria solteiro(a), com um nível de
escolaridade bem elevado. São originários de todas as regiões, os estados e o
Distrito Federal do Brasil, normalmente, têm de 1 a 3 salários mínimos e de 4 a 6
salários mínimos, havendo também um grupo com renda entre 7 e mais de 10
salários mínimos. São em maioria estudantes, desempregados, empregados do
setor privado, autônomos(as)/profissionais liberais, além de uma grande parcela ser
de servidores públicos que almejam maiores salários ou a investidura de um cargo
em suas cidades de origem.
No que concerne às viagens, os concurseiros viajaram uma média de 5 vezes
para participar de certames, nos primeiros anos eles(as) viajam mais, mas esse
169
índice cai com as aprovações e as nomeações que vão ocorrendo. As viagens
normalmente são organizadas a partir de informações adquiridas com amigos e
parentes, agências de viagens e turismo, guias turísticos e em maior número na
internet – principalmente, nos grupos e/ou comunidades da rede social Facebook.
Na extensão desses ciberespaços, as viagens são organizadas pelos próprios
concursistas ou por meio de empresas e de outras pessoas físicas, sendo que o
perfil da amostra coleta tem preferência por viajar sozinho.
Geralmente, eles viajam de ônibus ou avião, ficando hospedados em casas
de familiares e de amigos, hotéis, albergues e pousadas, havendo também aqueles
que preferem não se hospedar, ir e voltar no mesmo dia da aplicação das provas. As
estadas nas cidades variam entre algumas horas e mais de 5 dias, sendo mais
comum a permanência por 2 e 3 dias, com chegadas entre 1 ou 2 dias antes das
provas ocorrem. Quanto aos gastos, os valores giram por volta de R$ 100,00 e R$
3.500,00, sendo a média de custos nessas viagens de R$ 884,32 – os montantes
menores podem ser de viagens a lugares mais próximos entre municípios, já os
maiores podem corresponder a deslocamentos interestaduais e inter-regionais. Os
custos são com os meios de hospedagem, a alimentação e o transporte,
basicamente, em menores vezes com compras pessoais e visitas a atrativos.
Para além de estudar, dormir, assistir TV e navegar na internet, os
respondentes disseram que costumam conhecer, passear ou “turistar” pelas cidades
onde realizam as provas. Majoritariamente reconheceram essas viagens enquanto
chances de conhecer novas cidades, regiões e culturas. Para eles, essas viagens
oportunizam, em verdade, um universo possibilidades, que vão desde conhecer ou
reencontrar amigos e familiares, até conhecer novas opções de destinações para as
férias, de acordo com as justificativas dos sujeitos da pesquisa. Os viajantes que
não concordaram, alegam que o curto tempo e o pouco recurso financeiro são
condições que inviabilizam fazer turismo pela cidade, por isso muitos chegam e
viajam no mesmo dia. Contudo, houve um considerável número que manifestou
interesse por retornar às cidades onde participou dos concursos.
Diante desse panorama, depreende-se que as viagens a concursos públicos
caracterizam uma vertente do turismo, quando: compreendem fluxos de pessoas
que trasladam pelo país em um espaço de tempo determinado, menor que um ano,
com a motivação de concorrer a vagas de certames públicos, mas que também
desfrutam de atividades de lazer e de turismo, que não lhe trazem nenhum retorno
170
financeiro. Havendo utilização das infraestruturais básicas e turísticas, e gastos com
o trade turístico: alimentação, meios de hospedagens, transportes, lazer. Por
conseguinte, dada a demanda de inscritos, essas viagens estabelecem uma
movimentação, “em efeito dominó”, social e econômica nas destinações onde são
aplicadas as provas, pois, tanto o mercado turístico quanto o mercado informal,
direta e indiretamente, se beneficiam.
A pesquisa permitiu identificar, ainda, no âmbito das viagens e do turismo,
quatro diferentes tipos de consumidores que viajam: o concurseiro viajante; o
concurseiro visitante; o concurseiro turista; e o concurseiro excursionista. Algumas
de suas necessidades e de seus desejos específicos ainda não foram sanadas,
muito menos potencializadas, pela oferta, haja vista que há uma disposição em
demasia restrita de serviços e de produtos especializados, sendo o desejo por eles
foi perceptível em diversos momentos da pesquisa.
Nos termos da segmentação de mercado, portanto, esta pesquisa conseguiu
verificar que esse consumidor compõe um grupo de viajantes particular, com
demandas específicas e diferentes de outras segmentações (segmentos e nicho). É
uma ramificação do mercado turístico que possui fortes indicadores de crescimento
e desenvolvimento, é possível por meio dela obter rentabilidade e estabelecer uma
distribuição econômica – a partir do efeito multiplicador do turismo. Dada a busca
pela oferta de bens e serviços, por parte dos consumidores, esta segmentação é
capaz de atingir e obter, via marketing, feedback do público-alvo. No entanto, trata-
se de mercado ainda em escala muito pequena, com um trade turístico muito
limitado articulando-se e com um poder de compra ainda pouco expressivo, logo,
uma rentabilidade diminuta em relação a outras segmentações do turismo. Deste
fato, sobre o “Turismo de Concursos Públicos”, pode-se dizer: é uma segmentação,
contudo, com esta investigação não houve como determinar que este figure,
efetivamente, um segmento do turismo, mas sim compreende um nicho de mercado.
Destarte, observa-se que o objetivo inicial da pesquisa foi alcançado, e todas
as hipóteses foram confirmadas, visto que: O turismo de concursos públicos existe e
pode, sim, vir a ser considerada uma nova segmentação do turismo no Brasil; O
concurseiro aproveita sua estada na cidade de realização do concurso para passear
por ela e conhecê-la melhor; Os impactos gerados por essa vertente do turismo são
vários, visto que os concurseiros se deslocam até a cidade onde os concursos são
171
realizados, se hospedam em hotéis, se alimentam, utilizam o transporte da cidade e
visitam pontos turísticos.
Entrementes, essa nova segmentação de mercado ainda é desconhecida por
uma parcela da demanda, por gestores, por pesquisadores, até mesmo pelo trade
turístico, assim como pela sociedade em geral. Tal fato é visto como um empecilho
para o crescimento e a dinamização dessa segmentação de mercado no Brasil, haja
vista que há uma demanda real e uma demanda potencial crescendo ano a ano.
Logo, abre-se aqui caminhos para quem visa empreender no universo turístico e
para que as superestruturas e/ou os órgãos oficiais de planejamento, gestão e
fomento do turismo possam abarcar essa nova segmentação nas suas ações,
podendo maximizar e dinamizar esse mercado, seus benefícios e beneficiários.
Nesta viagem, deu-se conta que acerca das viagens e do turismo de
concursos públicos e de seus viajantes muito há a ser descortinado, abre-se aqui um
leque frutífero de possibilidades de investigação, novas viagens podem ser
realizadas por esse mundo. Tomando a compreensão de que não há como um único
estudo conseguir abarcar todas elas, nessa escrita, em especial, como retrodito,
ainda que contextualizada a oferta, buscou-se explorar a demanda, especificamente
o perfil dos viajantes dessa modalidade de viagens e de turismo, a fim de contribuir
com a construção de uma concepção teórica e, quiçá, prática dessa inovadora
segmentação do mercado turístico. Buscando fomentar um continuum investigativo,
como indicações para novas pesquisas, para outras viagens, sugere-se estudos
concernentes à oferta especializada existente e o seu crescimento, bem como sobre
os impactos socioeconômicos dessas viagens nos polos de emissão, de transição e
de recepção de viajantes, como relevantes contribuições em direção ao avanço de
uma construção teórica (e mercadológica) a respeito dessa nova motivação de
viagem, dessa inovadora segmentação do mercado turístico brasileiro.
E aqui termina mais uma grande viagem. O autor agradece a sua companhia,
até um novo encontro, uma nova aventura pelo universo do turismo. “Por ora, fim de
nossos serviços!".
172
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186
ANEXO A – BASES E PRINCIPAIS VARIÁVEIS NA SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO ATUAL
Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições
Geográfica (Origem dos turistas/de onde vêm)
Continente/Região do mundo África, Ásia, Europa, Américas, Oceania.
Acordos/agrupamentos regionais Mercosul, Comunidade Comum Europeia.
País Austrália, México, Japão, Brasil, França, EUA, Egito, Holanda.
Região Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Estado Amazonas, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná.
Cidade/Região turística do estado Florianópolis/Grande São Paulo, Triângulo Mineiro.
Área/Bairro/Zona/Setor da cidade/rua Barra da Tijuca/Área rural/Zona Norte/Avenida Brasil
Densidade populacional Até 50 mil habitantes, de 51 a 100 mil habitantes, etc.
Clima Frio, chuva intensa, calor, chuva da tarde em Belém (PA).
Distância Até 100 km, de 101 a 200 km, de 201 a 300 km, etc.
Tempo de percurso Até 4 horas de avião, até 3 horas de ônibus...
Demográfica e Socioeconômica
(Perfil dos turistas/Quem são os turistas)
Demográfica
Gênero Feminino e Masculino
Idade Até 10 anos, de 11 a 20, de 21 a 30, de 31 a 40, etc.
Estado civil Solteiro (a), Casado (a), Divorciado(a), Viúvo(a)
Tamanho da família 1 a 2, 3 a 4, 5 a 6, 7 a 8, mais de 8 membros.
Ciclo de vida da família Jovem solteiro(a), casal jovem sem filho, casal jovem com filho, casal de meia-idade sem filhos, casal de meia-idade com filhos, etc.
Número de Filhos 1 filho(a), 2 filhos(as), 3 filhos(as), 4 filhos(as), etc.
Geração Baby Bommers, geração X, geração Y, etc.
Nacionalidade Brasileiro(a), Francês(a), Chinês(a), Boliviano(a), etc.
187
Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições
Cor Afrobrasileira, branca, indígena, parda (autodenominação).
Religião Católica, espírita, evangélica, judia (autodenominação).
Orientação sexual Heterossexual, Homossexual, bissexual, etc. (autodenominação).
Deficiência física ou mental, etc. Auditivo, visual, físico, mental.
Socioeconômica
Renda Até R$ 500,00, de R$ 501,00 a R$ 1.000,00, de R$ 1.001,00 a R$ 1.500,00, etc.
Ocupação Estudante, Dona de casa, empresário(a), doméstica(o), professor(a), médico(a), turismólogo(a)...
Grau de instrução (Educação) Analfabeto, Alfabetização, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior, Pós-graduação.
Classe social A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E, etc.
Posse de bens Tipo de habitação, imóvel próprio ou alugado, posse de equipamentos, veículos, barcos, etc.
Comportamental (quais são os
costumes/atitudes dos turistas nas viagens e na vida de
maneira geral)
Relacionadas ao comportamento de compra de turismo
Ocasião da compra Com antecedência de meses, semanas, dias, última hora.
Ocasião da viagem Finais de semana, verão, inverno, meses de baixa temporada turística, férias escolares, feriados prolongados
Organização da viagem Por conta própria, agência de viagens, pacote turístico, etc.
Destino frequentado Praia, montanha, neve, urbano, rural, ecológico, etc.
Lugar de compra Agência de viagens, agência on-line, compra direta
Duração da viagem Até 2 dias, de 3 a 5 dias, de 6 a 10 dias, de 11 a 15 dias, etc.
Frequência que viaja Um vez na vida, uma vez por ano, uma vez por mês
Taxa/grau de uso Viajante light, médium, heavy user
Tipo de grupo Sozinha, casal, família, colegas de escola/trabalhos, amigos, etc.
188
Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições
Status do visitante em relação ao destino Não visitante, visitante potencial, visitante pela primeira vez, visitante regular
Lealdade ao destino Nenhuma, pouca, média, alta lealdade (retorno)
Meio de transporte utilizado até o destino Avião, ônibus, automóvel, trem, navio, motocicleta, etc.
Meio de transporte utilizado no destino Transporte público, veículo próprio, veículo alugado, motocicleta, bicicleta.
Tipo de acomodação Resort, Hotel luxo, hotel econômico, pousada, hostel, flat
Tipo de entretenimento Cultural, relaxante, recreativo, esportivo, contemplativo, estático, artístico, noturno, aquático, urbano, de natureza...
Gastos diários no destino turístico Até R$ 50,00, de R$ 51,00 a R$ 100,00, de R$ 101,00 a R$ 150,00, etc.
Forma e condição de pagamento À vista, parcelado, em dinheiro, boleto bancário, cartão de débito, cartão de crédito, pela internet...
Estágio de atenção para com o destino Desconhece, conhece, interessado, desejoso, com intenção de compra
Atitude em relação ao destino Entusiasta, positiva, indiferente, negativa, hostil.
Benefícios oferecidos e conquistados com os produtos ou serviços adquirir dos
Satisfação física/psicológica
Produtos saudáveis e/ou ecológicos, etc.
Preço favorável
Qualidade
Durabilidade
Redução de custos
Atendimento ou serviços agregados
Modernidade/atualização
Marcas reconhecidas (Confiança)
Rapidez
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Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições
Aparência e características físicas do produto
Não relacionadas somente ao comportamento de compra de turismo
Atividades
Assistir shows de música e exposição de artes, frequentar clubes esportivos, fazer compras, em shoppings centers, ir a parques e praias com a família aos finais de semana, reunir amigos, assistir os jogos do time de futebol pela televisão, colecionar souvenirs de outros países, hábitos alimentares, jogos eletrônicos, contribuir com ONG’s, animal de estimação, etc.
Exposição à mídia
Ler o jornal da cidade todos os dias, ler revistas da área de atuação profissional, telespectador de novelas e filmes, ouvir músicas no rádio do carro, acessar diariamente a internet e participar de redes sociais, estar sempre próximo do celular
Estilo de vida
VALS: inovadores, satisfeitos, realizadores, experimentadores, crentes, lutadores, fazedores, esforçados; 4C’s: inquietos, transformadores, vencedores, emulares, integrados, batalhadores, conformados; Mosaic Brasil: ricos, sofisticados e influentes; prósperos moradores urbanos; assalariados urbanos; empreendedores e comerciantes; aspiradores sociais; periferia jovem; envelhecendo na periferia; aposentadoria tranquila. Envelhecendo no interior; Brasil rural
Personalidade
Humilde, convencido, reservado, extrovertido, sociável, retraído, confiante, desconfiado, relaxado, tenso, liberal, conservador, criativo, prático, otimista, pessimista, inovador, tradicional, exigente, complacente, ativo, preguiçoso.(comportamentos)
Psicográfica (quais são os aspectos
subjetivos dos turistas/como Valores
Honestidade solidariedade, verdade, bondade, justiça, ética, igualdade, liberdade, cidadania, disciplina, paz, integridade, comprometimento, altruísmo, respeito
190
Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições
eles pensam e encaram a vida) Atitudes
Altamente positiva, positiva, negativa, altamente negativa, favorável, desfavorável, nem favorável nem desfavorável
Interesses
Família, casa, trabalho, lazer, comunidade individual, artes, astronomia, biologia, computação, comunicação, cultura, dança, engenharia, esportes, filosofia, gastronomia, história, línguas, literatura, medicina, música
Opiniões Sobre si mesmo, sociedade, política, economia, educação sobre produtos, empresas, marcas, futuro.
Personalidade
Amorosa, amiga, cúmplice, harmoniosa, otimista, pessimista, inovadora, inquieta, sonhadora, sofredora, triste, alegre, feliz, etc (emoções, sentimentos e pensamentos).
Motivação ou objetivo da viagem
(o que os turistas querem na viagem)
Principal motivo da viagem Lazer, negócios, visita a parentes e amigos, participação em eventos educacionais, culturais, religiosos e esportivos, saúde
Objetivos da viagem Descansar, desligar, relaxar, fugir da rotina, recarregar
Lazer
Ter muitas atividades, badalação, divertimento
Comer e beber bem, fazer apenas o que tiver vontade
Praticar muita atividade física, entrar em forma
Buscar aventuras, assumir riscos, atividades radicais
Estar em contato com a natureza, ar puro, água limpa
Tomar sol, mudar de clima, bronzear-se
Visitar cidades, entreter-se em espaços urbanos
Conhecer outros lugares, ver a diversidade do mundo
Adquirir conhecimentos, experimentar coisas novas
Conhecer outras pessoas, trocar experiências
Reavivar lembranças, nostalgia, explorar ascendência
Dedicar-se aos seus interesses e aos seus hobbies
191
Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições
Proporcionar entretenimento para os filhos e para si próprio
Negócios
Prospectar novos negócios, conquistar clientes
Visitar clientes antigos e fechar mais negócios
Dar consultoria, palestras, treinamentos
Executar trabalhos específicos
Visitar parentes e amigos Rever amigos, colegas e familiares
Comemorar acontecimentos e datas festivas
Eventos educacionais, culturais, religiosos e esportivos
Participar de eventos científicos, educacionais, profissionais, seminários, congressos, convenções
Assistir shows de música, festivais de dança mostras de cinema, peças de teatro, visitar museus, exposições
Assistir jogos de futebol, voleibol, basquete, corridas de automóvel e motocicletas, ver competições de surfe, vela, esportes radicais, natação, lutas marciais
Participar como atleta ou equipe técnica de corridas de rua e competições esportivas.
Participar de eventos e peregrinações religiosas
Saúde
Consultas médicas, prevenção de doenças
Cirurgias, procedimentos, tratamento com especialistas
Tratamentos estéticos, cuidados com a beleza
Acompanhamento de pacientes em tratamento
Dar a luz em outros lugares
Prestigio social/Status Destino confere pouco, médio ou muito status, diferenciado, exclusivo
Benefícios53 Preço
53
Os benefícios estão presentes enquanto variável de duas bases da segmentação em turismo, a comportamental e a motivação ou objetivo da viagem, por apresentar características que podem influenciar de maneira mútua as duas.
192
Bases Variáveis Exemplos de possíveis desdobramentos/composições
Aparências e qualidades dos aspectos tangíveis (arquitetura, instalações, equipamentos, ambientação)
Qualidade no atendimento e empatia dos anfitriões e funcionários (informação, presteza, atenção, cortesia, segurança)
Oferecimento de serviços agregados
Reconhecimento da marca/destino
Organizações com práticas sustentáveis (ambientalmente corretas, socialmente justas, culturalmente aceitas e economicamente viáveis)
Fonte: Compilação de vários trabalhos realizada por Rui Oliveira (2015), com adaptações do autor (2015).
193
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE CAMPO APLICADO JUNTO AOS
CONCURSEIROS
O presente questionário configura o instrumento metodológico de
investigação do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: "Concurseiros viajando
pelo Brasil: uma nova segmentação do mercado turístico?", de autoria de Flavio
Henrique Souza Lobato, com orientação da Prof.ª Msc. Diana Priscila Sá Alberto, no
âmbito do curso de bacharelado em Turismo da Universidade Federal do Pará
(UFPA). Este visa compreender questões relativas às viagens a concursos públicos:
produtos, serviços, dinâmicas e interfaces desse novo e crescente mercado turístico
brasileiro.
Ressaltamos que os dados coletados serão usados para fins científicos, e o
questionário garante o anonimato dos participantes da pesquisa.
Aqueles que quiserem tomar conhecimento dos resultados da pesquisa podem
deixar o e-mail na ultima pergunta do questionário, que, posteriormente, os dados
finais sejam enviados como uma forma de dar um feedback a vocês.
De antemão, agradecemos a colaboração de todos. Quem puder
divulgar/compartilhar o questionário com amigos ou conhecidos seremos mais
gratos ainda.
O tempo médio de preenchimento deste questionário é de 5 minutos
1- Sexo: ( )Masculino ( ) Feminino ( ) Não quis declarar 2- Pessoa com Deficiência (PCD) ? ( )Sim ( )Não Se Sim, Qual(is)?: _______________________ 3- Idade: ( ) 18 a 20 anos; ( ) 21 a 30 anos; ( ) 31 a 40 anos; ( ) 41 a 50 anos; ( ) Acima de 50. 4- Estado Civil: ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Divorciado(a)
194
( ) União Estável ( ) Viúvo(a) ( ) Outros: ______________ 5- Escolaridade: ( ) Fundamental Incompleto; ( ) Fundamental Completo; ( ) Médio Incompleto; ( ) Médio Completo; ( ) Superior Incompleto; ( ) Superior Completo; ( ) Pós-Graduação. 6- Local de Residência: 6.1- Cidade: __________________ 6.2- Estado:___________________ 7- Renda: ( ) Não recebe nenhuma renda; ( ) Menos de 1 salários mínimos ; ( ) De 1 a 3 salários mínimos; ( ) De 4 a 6 salários mínimos; ( ) De 7 a 9 salários mínimos; ( ) 10 ou mais de 10 salários mínimos: ( ) Acima de 16 sm; . 8- Ocupação: ( ) Estudante; ( ) Desempregado(a); ( ) Empregado(a) ( ) Servidor(a) Público; ( ) Autônomo(a)/Profissional Liberal; ( ) Aposentado(a); ( ) Outros : _________________ 9- Qual o motivo que leva você a prestar concursos públicos? ( ) Estabilidade Financeira; ( ) Bom Salários; ( ) Horário de Trabalho Fixo; ( ) Aposentadoria; ( ) Vagas para Deficientes; ( ) Outros: ___________________ 10- Tempo de participação de Concursos Públicos? ( ) Menos de 1 Ano; ( ) De 1 a 3 anos; ( ) De 4 a 5 anos; ( ) De 6 a 7 anos: ( ) Mais de 7 anos.
195
11- Nível de preferência de Concursos Públicos ( ) Municipais; ( ) Estaduais: ( ) Federais. 12-De quantos Concursos Públicos você já participou? 13- Quantas viagens você já fez para participar de Concursos Públicos? 14- Geralmente, quais são as suas principais fontes de informação ao preparar esse tipo de viagem? ( ) Parentes e Amigos; ( ) Internet; ( ) Agência de Viagens; ( ) Guias Turísticos (Folders, Informativos Impressos...) ( ) Outros. ________________ 15- Prefere: ( ) Viajar em grupo; ( ) Viajar sozinho(a) 16- Quais os meios de transporte você costuma utilizar para esse tipo de Viagem: ( ) Ônibus; ( ) Van; ( ) Carro; ( ) Avião; ( )Barco Ou Navio; ( ) Outro.___________ 17- Quando você realiza uma viagem para fazer provas de concursos, onde você costuma se hospedar? ( ) Casa de Parentes / Amigos ( ) Imóvel Alugado; ( ) Hotéis ( ) Pousadas; ( ) Albergues/Hostel ( ) Outros:____________ 18- Em média, quantos dias você costuma ficar na cidade de realização da prova? ( ) 1 dia; ( ) 2 dias; ( ) 3 dias; ( ) 4 dias; ( ) 5 dias; ( ) Mais de 5 dias 19- Quantos dias antes da prova, você costuma chegar à cidade onde o certame será realizado? ( ) No dia da Prova; ( ) 1 dia antes;
196
( ) 2 dias antes; ( ) 3 dias antes; ( ) 4 dias antes; ( ) Mais de 4 dias; 20- Quanto em média você gasta com esse tipo de viagem? R:____________ (Essa questão aceita apenas respostas em forma de numerais). 21- Com o que você costuma gasta? ( ) Hospedagem; ( ) Alimentação; ( )Transporte Interno; ( ) Compras Pessoais; ( ) Atrativos e Passeios; ( )Outros:__________________ 22- O que você costuma fazer antes e/ou após a realização das provas? ( ) Ler/estudar; ( ) Dormir; ( ) Assistir Tv; ( ) Conhecer e passear pelas cidades; ( ) Outros:___________________ 23- Essas viagens seriam oportunidades para conhecer outras cidades, regiões e culturas. ( ) Sim ( ) Não Justifique: _________________________ 24- Já visitou ou tem vontade de visitar alguma cidade onde realizou prova de concurso, a turismo? ( ) Sim ( ) Não 25- Para você, as viagens realizadas para a participação em concursos públicos, podem ser consideradas como uma nova forma de se fazer turismo (novo nicho/segmento)? ( ) Sim ( )Não Justifique: _________________________ Caso queria receber posteriormente os resultados da pesquisa, informe seu contato a seguir: E-mail: __________________________