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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARQUEOLÓGIA
CONTRIBUIÇÕES À ARQUEOLOGIA DA AMAZÔNIA: TECNOLOGIA
CERÂMICA E PEDOGEOQUÍMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO TERRA
PRETA 2, MUNICÍPIO DE JURUTI, REGIÃO DO BAIXO AMAZONAS.
JUCILENE AMORIM COSTA
BELÉM-2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARQUEOLÓGIA
CONTRIBUIÇÕES À ARQUEOLOGIA DA AMAZÔNIA: TECNOLOGIA
CERÂMICA E PEDOGEOQUÍMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO TERRA
PRETA 2, MUNICÍPIO DE JURUTI, REGIÃO DO BAIXO AMAZONAS.
Monografia apresentada à Universidade Federal do Pará, como parte das exigências do curso de pós-graduação em Arqueologia, para a obtenção do título de Especialista.
Jucilene Amorim Costa
Geógrafa
Dra. Maura Imazio da Silveira Orientação
Dra. Dirse Clara Kern
Co-orientação
BÉLEM-2008
Agradecimentos À Deus À Universidade Federal do Pará, pelo curso;
À Empresa Scientia Consultoria Científica, pelo apoio logístico e financeiro;
À Dra. Maura Imazio Silveira, Dirse Clara Kern, Dr. Marcondes Lima da Costa e
Fernanda de Araújo Costa, pela orientação, incentivo e amizade;
Aos professores do curso de especialização em arqueologia da UFPA;
Aos funcionários e colaboradores do Laboratório de Arqueologia da Scientia, Ana
Lúcia, Izabel, André, Eliziane, Renata, Célia, Jamile, Greice, Thiago, Joana, Nilde
e Klewerson;
Aos amigos, Renata, Eliziane, Marlon, Clístene, Marciléia e Juvenal, pelo carinho e
amizade;
Aos meus colegas do curso de especialização pela caminhada e amizade.
Sumário
Pg.
INTRODUÇÃO/APRESENTAÇÃO 8
1. ARQUEOLOGIA AMAZÔNICA E O ESTILO KONDURI 9
2. CONTEXTO AMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO 12
2.1. Clima 12
2.2. Geomorfologia 14
2.3. Hidrografia 14
2.4. Solo 15
2.5. Vegetação 16
2.6. Fauna 17
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 18
3.1. Metodologia de campo 18
3.2. Metodologia de laboratório 20
3.2.1. Cerâmica pré-colonial 21
3.2.2. Solos Arqueológicos 21
3.2.3. Análise espacial e de correlação 22
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 22
4.1. O Sítio arqueológico Terra Preta 2 22
4.2. Análise da cerâmica pré-colonial 24
4.2.1 Projeção gráfica da morfologia das vasilhas 29
4.3. Geoquímica dos solos do Sítio Terra Preta 2 37
4.4. Estratigrafia e Datação 42
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 47
6. PERSPECTIVAS PARA FUTURAS PESQUISAS 47
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 48
Anexo 52
Lista de Figuras Pg. Figura 1: Localização da área de estudo 13
Figura 2: Vista da escavação na sondagem da malha sistemática. 18
Figura 3 - Croqui do Sítio Arqueológico Terra Preta 2 19
Figura 4 - Vista da unidade de escavação 1. 19
Figura 5- Vista geral da unidade de escavação 2, base de nível 10-20cm. 19
Figura 6- Unidade de escavação 5. 20
Figura 7- Estrutura de combustão, unidade de escavação 1. 23
Figura 8 – Fragmento de parede decorada com aplique, unidade 5. 24
Figura 9: Distribuição das categorias morfológicas da cerâmica pré-colonial do
Sítio Terra Preta 2. 25
Figura 10: Distribuição das técnicas de confecção da cerâmica pré-colonial do Sítio
Terra Preta 2. 26
Figura 11: Distribuição dos tipos de antiplástico identificados na cerâmica pré-
colonial do Sítio Terra Preta 2 26
Figura 12: Distribuição dos tipos de engobo verificados na cerâmica pré-colonial
do Sítio Terra Preta 2 27
Figura 13: Distribuição dos tipos de decoração plástica identificados na cerâmica
pré-colonial do Sítio Terra Preta 2 28
Figura 14: Aplique zoomorfo 28
Figura 15: Trípode 28
Figura 16: Borda com aplique 28
Figura 17: Parede com incisões 28
Figura 18: Distribuição dos tipos de decoração pintada presente na cerâmica pré-
colonial do Sítio Terra Preta 2 29
Figura 19: Quantificação dos tipos de formas de vasilhames presente nas
sondagens 0,50x0,50m do Sítio Terra Preta 2 33
Figura 20: Relação entre forma, queima e volume das vasilhas no Sítio Terra Preta
2. 34
Figura 21: Relação entre forma, espessura do fragmento e volume das vasilhas no
Sítio Terra Preta 2. 35
Figura 22: Distribuição espacial dos tipos de forma de vasilhames no Sítio Terra
Preta 2 36
Figura 23: Mapa de distribuição de solos no sítio Terra Preta 2, com base nas cores
dos solos do horizonte A1 (Munsell, 2000). 39
Figura 24: Distribuição dos teores de fósforo(P) e magnésio (Mg) nos perfis de
solos de Fora, Periferia e Dentro do Sítio Terra Preta 2, respectivamente. 40
Figura 25: Distribuição dos teores de cálcio (Ca) e cobre (Cu) nos perfis de solos de
Fora, Periferia e Dentro do Sítio Terra Preta 2, respectivamente. 41
Figura 26: Distribuição dos teores de zinco (Zn) e manganês (Mn) nos perfis de
solos de Fora, Periferia e Dentro do Sítio Terra Preta 2, respectivamente. 41
Figura 27: Perfil estratigráfico da unidade de escavação 2, Sítio Terra Preta 2 43
Figura 28: Perfil estratigráfico da sondagem 960S-360L, Sítio Terra Preta 2 44
Figura 29: Variabilidade da espessura da camada cerâmica e de TPA na linha
360L 45
Figura 30: Variabilidade da espessura da camada cerâmica e de TPA na linha
1080S 45
Figura 31: Variabilidade da espessura da camada cerâmica e de TPA na linha
1440S 45
Figura 32: Processo de ocupação e expansão do Sítio Terra Preta 2, baseado na
freqüência de material cerâmico por níveis. 46
Lista de Tabelas Pg. Tabela 1: Quantificação do material cerâmico pré-colonial da malha 0,50x0,50m
do Sítio Terra Preta 2.
25
CONTRIBUIÇÕES À ARQUEOLOGIA DA AMAZÔNIA: TECNOLOGIA
CERÂMICA E PEDOGEOQUÍMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO TERRA
PRETA 2, MUNICÍPIO DE JURUTI, REGIÃO DO BAIXO AMAZONAS
Resumo
Relatos etno-históricos e vestígios arqueológicos sugerem a existência de populações com
diferentes graus de complexidade, considerando especialmente as técnicas de confecção
cerâmica. Esta pesquisa propõe o estudo sistemático da tecnologia cerâmica e da Terra
Preta Arqueológica (TPA) no processo de ocupação do sítio Terra Preta 2, em Juriti,
Estado do Pará. Sondagens de 0,50x0,50m, foram escavadas em malha regular de
60x120m. A cerâmica e o solo coletados foram analisados quanto aos aspectos técnico-
morfológico e químico, respectivamente. Neste sítio a TPA atingiu 28 ha e apresentou
níveis distintos de impacto dentro, na periferia e fora do sítio pelo uso diferenciado. A
cerâmica é constituída principalmente pelo estilo Konduri, e a estratigrafia indica que a
área atual do sítio é resultado de sucessivos deslocamentos durante o processo de
ocupação.
Palavras Chaves: Arqueologia, cerâmica Konduri, Amazônia, Terra Preta.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARQUEOLÓGIA
CONTRIBUIÇÕES À ARQUEOLOGIA DA AMAZÔNIA: TECNOLOGIA
CERÂMICA E PEDOGEOQUÍMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO TERRA
PRETA 2, MUNICÍPIO DE JURUTI, REGIÃO DO BAIXO AMAZONAS.
Monografia apresentada por: Jucilene Amorim Costa
COMITÊ EXAMINADOR:
_____________________________________________ Dra. Maura Imazio da Silveira- (Orientadora)
_____________________________________________ Dra. Denise Pahl Shaan
______________________________________________ Dra. Dirse Clara Kern
BÉLEM-2008
8
INTRODUÇÃO/APRESENTAÇÃO
O cenário dos estudos que tangenciam a pré-história amazônica está arraigado de
distintas interpretações, que muitas vezes destoam quanto ao processo de desenvolvimento
das sociedades que aqui habitaram. Entretanto, pesquisas arqueológicas têm corroborado
no sentido que a Amazônia foi intensamente ocupada notadamente no pré-histórico tardio.
Os relatos etno-históricos, bem como, os vestígios arqueológicos sugerem a existência de
populações que apresentavam diferentes graus de complexidade, considerando
especialmente as técnicas de confecção cerâmica.
Além disso, evidências indiretas também apontam para provável permanência por
períodos prolongados dessas populações, como sugerem os estudos geoquímicos dos solos
denominados Terra Preta Arqueológica (TPA), que em alguns casos, pode alcançar até 2m
de espessura. A hipótese mais aceita para a formação desses solos é que seria o resultado
da ocupação humana, decorrente do descarte de resíduos orgânicos de naturezas diversas
que implicaram no aumento da fertilidade do solo em assentamentos pré-históricos (Kern,
1996: Kampf & Kern, 2005). As TPA´s são caracterizadas por cor escura, longa
permanência de teores relativamente elevados de Ca, Mg, P, Mn, Zn, Cu e C orgânico,
combinados aos fragmentos cerâmicos e artefatos líticos, encontrados sobrepostos às
diversas classes de solos do ecossistema amazônicos.
Nas margens dos grandes rios da Amazônia, a exemplo do Amazonas e Tapajós há
registros de inúmeros sítios arqueológicos com terra preta (Nimuendaju, 1949; Hilbert,
1955; Hilbert & Hilbert, 1980; Roosevelt, 1991; Gomes, 2007). Embora cerca de 80% dos
sítios com TPA apresentem de 2 a 5 ha, áreas superiores a 100 ha podem ser encontradas
em Santarém, Belterra, Oriximiná e Juruti, no Estado do Pará; Rio Preto da Eva, Presidente
Figueiredo e Manaus, no Amazonas (Kern et al., 2003). Os registros arqueológicos sobre
essas regiões corroboram com os relatos dos primeiros cronistas (Carvajal, Acuña apud
Kampf & Kern, 2005), que descrevem aldeias e povoados localizados em porções elevadas
da paisagem, grandes e numerosos que se estendiam por 12 a 30 km.
O contexto arqueológico do vale do Baixo Amazonas, em especial o Município de
Juruti que apresenta cerca 52 sítios arqueológicos catalogados (Scientia, 2003), passa
atualmente por intensas modificações devido à expansão e modernização da estrutura
urbana. Essas modificações resultam, principalmente, das atividades do setor mineral
empreendida pela multinacional Alcoa.
9
O empreendimento do setor mineral denominado Projeto Juruti, compreende um
complexo industrial que contempla exploração e beneficiamento de minério de bauxita,
construção de uma ferrovia e instalações portuárias. Durante os estudos de impactos para
obtenção da licença ambiental foram realizadas prospecções arqueológicas. Na área
correspondente as instalações portuárias, foi registrada a ocorrência de dois sítios
arqueológicos denominados Terra Preta 1 e Terra Preta 2 (Bueno & Machado,2005). No
ano seguinte, a empresa Scientia consultoria executou o salvamento arqueológico dos
referidos sítios, e viabilizou ainda a realização de trabalhos acadêmicos que venham
acrescentar novas informações ao contexto arqueológico do espaço amazônico.
Assim, este trabalho tem como objetivo o estudo sistemático e tecnológico da
cultura material cerâmica e sua interação com a Terra Preta Arqueológica no processo de
ocupação e uso da paisagem do sítio Terra Preta 2, na região do Baixo Amazonas.
Deste modo, o presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: no
primeiro capítulo são apresentados os pressupostos teóricos que norteiam a pesquisa. Em
seguida, o contexto ambiental da área estudada, sua localização e aspectos físicos e
bióticos regional. No terceiro capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos
aplicados em campo e nas análises de laboratório. O quarto capítulo aborda os resultados
obtidos no trabalho de campo; análise do material cerâmico, onde são apresentadas e
discutidas as características tecnológicas da indústria cerâmica; geoquímica dos solos
arqueológicos, onde são enfatizados diferentes níveis de modificação do solo, além da
estratigrafia e datações do sítio. Encerrando com as considerações finais, onde são
levantados os principais pontos da pesquisa e os avanços futuros.
1- ARQUEOLOGIA AMAZÔNICA E O ESTILO KONDURI
O trabalho de reconstituição das características e distribuição das culturas pré-
históricas na Amazônia é prejudicado sensivelmente pela escassez das evidências, como
habitação, ferramentas, armas, recipientes, vestuários e ornamentos feitos de materiais
orgânicos que desaparecem rapidamente nas condições climáticas tropicais. Além disso,
objetos de pedra, por sua vez, são escassos demais para favorecer informações confiáveis
sobre cronologia e distribuição. Apenas a cerâmica é abundante e duradoura, entretanto
vasos completos são raros, de modo que as principais evidências são pequenos fragmentos
em sua maioria não decorados (Meggers, 1990).
10
De acordo com Prous (1992), os arqueólogos B. Meggers e C. Evans no início dos
anos 60 (século XX), propuseram uma classificação para a arqueologia Amazônica, com
base em 22 fases e 4 tradições cerâmicas. A fase consiste no conjunto de sítios com
amostras de cerâmica que podem ser interdigitadas em uma única seqüência seriada. De
modo que, as fases que compartilham o mesmo conjunto de técnicas diagnósticas de
decoração pertencem à mesma tradição cerâmica (Meggers, 1990).
Todavia, Simões (1984), sob uma visão difusionista, propõe uma reconstituição da
pré-história da bacia Amazônica que teria se iniciado com a presença de Caçadores-
coletores pré-cerâmicos (10000 -1000 A.C..) nos estados do Mato Grosso, Rondônia, Pará
e Piauí; Coletores pescadores ceramistas (3.200 – 200 A.C..) em sambaquis litorâneos e
fluviais, nos estados do Pará, Maranhão e Guiana; Agricultores incipientes (1.100 – 200
A.C.) na Ilha de Marajó e no Baixo Amazonas, no Estado do Pará; Horticultores de floresta
tropical (0 – 1600 A.D.) distribuídos na bacia Amazônica e os Agricultores subandinos
(100 – 1300 A.D.) contemporâneos aos Horticultores. Ainda nesse trabalho Simões
enfatiza que do inicio da era cristã até os tempos históricos, a Amazônia foi ocupada por
grupos horticultores de procedência e desenvolvimento cultural distintos, possuindo um
tipo de agricultura itinerante conhecida por coivara ou derrubada/queima. Sua economia
era baseada no cultivo de mandioca e/ou milho, além da caça, pesca e coleta como
complemento alimentar. Suas aldeias geralmente localizadas na terra firme, nas margens
de rios e lagos, compreendiam desde uma grande casa comunal até várias menores
dispostas ao redor de uma praça ou alinhadas ao longo da margem de cursos d´agua.
Na bacia Amazônica, os horticultores se fazem representar pelas tradições
cerâmicas Borda Incisa e Inciso Ponteado (Simões, 1984). A tradição Borda Incisa tem
como traço diagnóstico um tipo de borda larga, com lábio plano, decorada com linhas
incisas largas pintadas ou engobada de vermelho. A modelagem ocorre ocasionalmente
como adorno de borda ou corpo dos vasilhames. Esta tradição inclui as fases arqueológicas
Mangueiras (Ilhas de Marajó e Caviana); Manacupuru e Caiambé (médio Amazonas)
(Simões, 1984). Enquanto que a tradição Inciso Ponteada, introduzida mais tarde, e de
provável origem Circum-caribe foi datada de 900 A.D., até o período histórico. A cerâmica
é bem elaborada e temperada principalmente com cauixi e caracteriza-se pela combinação
harmônica das técnicas de incisão, ponteado e modelagem. A modelagem destina-se à
confecção de adornos ou ornatos geométricos e biomorfos para aplicação na borda ou no
corpo do vasilhame, apresentando elevado grau de elaboração e beleza (Simões, 1984).
Entretanto Roosevelt (1992) discorda de Simões no quesito beleza, a qual descreve os
11
motivos plásticos Inciso Ponteados, em sua maioria, rudes e mal acabados, apesar de
existirem exemplos de cerâmica mais fina e cuidadosamente elaborada.
Segundo informações provenientes de pesquisas arqueológicas Hilbert (1955),
Simões (1984), Roosevelt (1992), a maior concentração de grupos pré-coloniais da
tradição Incisa Ponteada ocorre desde as proximidades da foz dos Rios Nhamundá até o
Xingu, por ambas as margens do rio Amazonas. Para Simões (1984), a falta de pesquisas
com escavações estratigráficas nas áreas dos rios Tapajós e Nhamundá-Trombetas fez com
que a cerâmica e outros artefatos da cultura Santarém e Konduri sejam tratados como
complexos cerâmicos distintos.
O levantamento arqueológico realizado por Curt Nimuendaju, na década de 1920,
referente à distribuição da cerâmica Santarém, tendo como limite oeste a serra de Parintins,
no Estado do Amazonas. Neste local, Nimuendaju identificou sítios contendo cerâmica
Santarém e Konduri, denominando a região Trombetas-Nhamundá como o local de origem
do estilo Konduri (Hilbert 1955). Entretanto, não se sabe quais critérios Nimuendaju
utilizou para distinguir ambas as cerâmicas, uma vez que a interação entre Santarém e
Konduri foi definida em termos estilísticos. Por outro lado, resultados oriundos de estudos
de coleções museológicas apontam alguns elementos comuns no que tange à forma de
organização social das culturas Santarém e Konduri (Gomes, 2002).
As semelhanças e diferenças entre os estilos da tradição Inciso ponteada na região
do Baixo Amazonas são abordadas por Hilbert (1955), Simões (1984) e Prous (1992).
Ambos os estilos cerâmicos ocorrem em sítios com terra preta, apresentam borda duplas,
bases anelares e ausência de urnas funerárias. A cerâmica Santarém ou Tapajônica
caracteriza-se pela elaborada modelagem de animais (pássaros, répteis e mamíferos) e
figuras humanas, olhos tipo grão de café, raras trípodes e bordas ocas combinadas aos
inúmeros modelados, incisões e ponteados. O excesso de ornatos em relevo confere a essa
cerâmica um ar barroco, expressado principalmente nos vasos de gargalo e de cariatides.
São comuns os apêndices representarem uma cabeça de jacaré ou urubu rei, e numerosas
figuras menores ao longo dos apêndices. Embora as descrições das fases cerâmicas
induzam a homogeneidade pelas generalizações, Guapindaia (1993) ao estudar a cerâmica
Tapajônica da coleção “Frederico Barata”, identificou três grupos cerâmicos distintos,
denominados cerâmica tipicamente tapajó, cerâmica com influência tapajó e cerâmica de
contato, demonstrando variabilidade tecnológica por provável mudança cultural. Nesse
sentido, Schaan (2007) alerta para a necessidade de problematizar a classificação de
conjuntos tipológicos em fases e tradições, pois ao tratar a “fase” como uma entidade
12
homogênea e não passível de transformações deixa-se de utilizar o estudo dos artefatos
para entender processos de mudança cultural.
Os detalhes das características tecnológicas da cerâmica Konduri se resumem à
pesquisa feita por Hilbert na bacia dos rios Trombetas-Nhamundá (1955). O estilo Konduri
é descrito, por ele, como uma cerâmica temperada excessivamente com cauixi,
compreende vasos globulares, tigelas, pratos e grelhas, com base planas, anelares, em
pedestal e abundância de trípodes. A decoração é incisa ponteada, com ênfase na
elaboração de adornos de borda e alças, sendo traço diagnóstico o modelado de adornos
biomorfos, altamente elaborados. A aplicação exagerada de incisões e ponteados dão aos
adornos um aspecto esponjoso, e, em alguns casos, uma aparência rococó.
2. CONTEXTO AMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO
O sítio arqueológico Terra Preta 2 (UTM 21M 599557E e 9759353N), situa-se na
margem direita do rio Amazonas, no Município de Juriti, no extremo oeste do Estado do
Pará. A cerca de 200 km da cidade de Santarém (Figura 1).
2.1 - Clima
A área de estudo encontra-se em pleno domínio climático Equatorial Continental
Amazônico, indica a combinação de calor e umidade elevados como uma de suas
propriedades. Este caráter lhe confere uma longa duração da estação chuvosa, que se
estende por 7 a 8 meses, tendo início em novembro/dezembro e se prolongando até
maio/junho (Cnec,2002).
A umidade relativa (tanto nos ambientes abertos, como nos microclimas quase
fechados de mata) se manteve relativamente elevada (entre 85 e 100%), poucas
observações foram registradas com valores abaixo de 80%. Desta forma, a temperatura
úmida, se manteve elevada, tendo sido constatados poucos valores abaixo de 24ºC. E os
mais freqüentes são aqueles que oscilam entre 25,2 e 26,2ºC. A temperatura do ar varia de
31,2ºC a 23,8ºC. No entanto, dada às condições do tempo muito úmido e com
nebulosidade elevada, os registros mais freqüentes ficaram entre 25 e 28ºC (Cnec,2002).
14
2.2 - Geomorfologia
A área do Projeto Juruti está inserida no Domínio Morfoclimático das Terras
Baixas Florestadas Equatoriais que é caracterizado pela presença de planícies de
inundações labirínticas e meândricas, tabuleiros extensos com vertentes semi-
mamelonizadas, morros baixos mamelonares nas áreas cristalinas, terraços com cascalho,
lateritas, rios negros e drenagens perenes (Ab’Saber, 1970).
Na região são reconhecidas duas unidades morfoclimáticas: o Domínio em
Planaltos Dissecados com Áreas Pediplanadas e a Faixa de Transição em Planície Fluvial,
que correspondem respectivamente às Unidades Morfoestruturais Planalto Rebaixado da
Amazônia e Planície Amazônica (Cnec,2002).
A região estudada, segundo o mapa de unidades de relevo do Brasil (IBGE, 1993),
está inserida na Depressão do Amazonas e na Planície fluvial e flúvio-lacustre do rio
Amazonas. Dentro das duas grandes unidades de relevo, presente na área de estudo, pode-
se identificar a presença de três tipos de relevo erosivos, cuja origem está associada às
superfícies de erosão e à sua dissecação, e um tipo de relevo associado ao processo de
deposição fluvial do rio Amazonas (Cnec,2002).
Os tipos de relevo que ocorrem na área são: as Rampas com superfícies horizontais
remanescentes da superfície sul-americana; Escarpas e as Colinas pequenas, que
representam os remanescentes dissecados da superfície de aplanamento Plio-Pleistocênica,
todos os três constituintes da Depressão do Amazonas; e as planícies fluviais que
constituem o compartimento de relevo planície fluvial e fluvio-lacustre do rio Amazonas
(Cnec,2002). O Sítio Terra Preta 2 está sobreposto a unidade de relevo de rampas com
superfície horizontais margeadas por planícies fluviais e fluvio-lacustres do rio Amazonas.
2.3 - Hidrografia
A área é drenada pela bacia hidrográfica do rio Amazonas que tem como sub-
bacia o igarapé Juruti Grande. O Amazonas é considerado como rio de água branca e se
caracteriza pela instabilidade de seu leito, modificando o seu curso pela ação simultânea
dos processos de erosão e de sedimentação (Cnec, 2002). O processo dinâmico da calha do
rio Amazonas é um dos principais responsáveis pela perda de parte do sítio Terra Preta 2,
acelerando a erosão dos barrancos.
15
Além disso, essas bacias apresentam densidade de drenagem média e padrão sub-
dendrítico. O igarapé Juruti Grande é um rio de foz afogada, também denominada ria
fluvial e/ou rio-lago. Suas margens e as do rio Amazonas, na época das cheias, de modo
geral, são formadas por segmentos inclinados nos quais ocorrem escorregamentos de
diferentes tamanhos, sendo que alguns deles estão associados ao embate de ondas, que
favorece o solapamento da base da encosta e o desmoronamento (Cnec,2002).
2.4 – Solo
No que diz respeito aos domínios pedológicos na área, estão os terraços e planícies
do rio Amazonas, representando as “terras baixas” ou áreas alagáveis. Verifica-se a
ocorrência significativa de solos hidromórficos, particularmente Gleissolos, associados em
pequena proporção a solos jovens denominados Neossolos Flúvicos, ambos originados de
sedimentos recentes de natureza aluvionar. Neste caso estão os melhores solos no que
tange a suas características químicas naturais, entretanto a sua plena utilização agrícola
está fortemente limitada pelo regime hídrico destes compartimentos, que faz com que os
solos fiquem submersos por boa parte do ano, restringindo o aproveitamento dos mesmos a
culturas temporárias de subsistência (Cnec,2002).
As várzeas amazônicas, locais onde a maioria das pessoas viveu nos tempos
arcaicos, apresentam vantagens no suporte dos grupos humanos. A precipitação
relativamente abundante, fortes radiações solares e solos ricos que se desenvolveram a
partir de sedimentos erodidos dos Andes, oferecem alta qualidade de biomassa
aproveitável e excelentes recursos para o cultivo de plantas (Roosevelt, 1992). Além disso,
os solos de várzea são mais fáceis de capinar e produtivos. Os nutrientes desses solos são
suficientes para manter cultivos de tubérculos e suprir as necessidades do milho,
amendoins e feijão. Entretanto, os recursos da várzea estão sujeitos a flutuações climáticas
imprevisíveis, podendo em certos anos estar submersas quanto chegar o período de plantio,
representando uma das limitações para a existência de grandes populações sedentárias
(Meggers, 1998; 2007).
Outra situação importante e de grande expressividade são as superfícies não
inundáveis (terra firme), com altitudes médias inferiores a 100m, onde ocorrem
predominantemente Latossolos Amarelos de textura média associados à Neossolos
Quartzarênicos ou a Latossolos Amarelos de textura argilosa. Originam-se possivelmente
16
dos níveis mais arenosos da Formação Alter do Chão, com contribuição de material
retrabalhado ou não (Cnec,2002). Os solos de terra firme são compostos principalmente
por Latossolos (oxisols) ácidos e pobres em nutrientes (Rodrigues, 1996; Roosevelts,
1992). Além disso, as roças da terra firme declinam em produtividade o bastante para
justificar seu abandono após cerca de três anos. Os cultivos são em menor número,
crescendo apenas cerca da metade das variedades (Meggers, 1998).
Em algumas locais de Juruti, próximo ao rio Amazonas, o solo apresenta horizonte
A do tipo antrópico (Terra Preta do Índio ou Arqueológica) sobrepostos a Latossolo
Amarelo, associados aos sítios arqueológicos, de coloração escura, contendo fragmentos de
cerâmica e elevados teores de fósforo, conseqüência de uso prolongado dos mesmos por
habitantes pré-coloniais (Cnec,2002).
2.5 - Vegetação
A área do Projeto Juruti é dominada por formações florestais que se diferenciam em
Florestas Ombrófilas das Terras Baixas e Submontanas, características das vertentes e dos
platôs respectivamente, e Florestas Aluviais, presentes na franja costeira (Cnec,2002).
Na várzea do rio Amazonas, incluindo a área do sítio arqueológico em questão,
apresenta sinais de atividades antrópicas em quase toda a sua extensão, desde a região da
foz do igarapé Juruti Grande, até a Serra de Parintins. Na várzea alta (restinga) registrou-se
425 indivíduos distribuídos em 18 famílias, apresentando-se bastante homogênea. Nesta
formação não foram observadas espécies de palmeiras, apenas registrou-se uma espécie de
herbácea e uma de cipó. Na várzea baixa registrou-se 815 indivíduos distribuídos em 23
famílias. Dentre essas 3 são de cipós e 3 de palmeiras, representando 14,28% das espécies
registradas (Cnec,2002).
O ecossistema que apresentou menor riqueza foi a Várzea, o que era totalmente
esperado dada à situação que a permeia. Toda a calha do Amazonas - principalmente do
Baixo Amazonas – na região de várzea foi onde ocorreram as explorações madeireiras
mais seletivas, devido à facilidade de transporte pelos rios, propiciando assim a redução da
fitodiversidade nestes locais (Cnec,2002).
No ecossistema de terra firme as florestas primárias apresentaram a maior riqueza,
resultado natural na Floresta Ombrófila Densa. Todavia, esta riqueza de espécie, apesar de
maior, é um resultado instável, dado que a diversidade neste tipo de floresta varia de 250 -
17
300 espécies. Surpreendentemente, as Florestas Secundárias, que se caracterizam pela alta
abundância de uma ou duas espécies, apresentaram uma riqueza bem razoável, quando
comparada com as de várzea e terra firme primária, e mostram que os estágios sucessionais
entre as duas unidades de amostra desta vegetação estão bastante diferenciados
(Cnec,2002).
Balée (1989; 1993); Morán (1990) incluem entre as formações vegetais de possível
origem antropogênica da terra firme amazônica, as florestas dominadas por palmeiras,
florestas de bambu, florestas com alta densidade de castanheiras, ilhas florestais no
cerrado, matas de cipó; bacuri, taperebá entre outras, são espécies indicadoras de
perturbação e ocorrem associadas a carvão e fragmentos de cerâmica caracterizando
vestígios de assentamentos agrícolas.
2.6 - Fauna
As listas de animais encontrados na área do Projeto Juruti indicam a fauna de
ocorrência comprovada e, embora representem apenas parcialmente a riqueza de espécies
da área, constituem-se em material adequado para subsidiar discussões sobre os ambientes
em estudo, possibilitando fazer inferências sobre o estado de conservação dos ambientes
estudados e a riqueza potencial da região (Cnec,2002).
Foram reunidas informações sobre a ocorrência de 62 espécies de mamíferos, que
representa aproximadamente 36% da riqueza de espécies esperada para a área. A avifauna
apresenta vários níveis de endemismos. Das 376 espécies registradas 26% são endêmicas
da Amazônia. Dentre os répteis em áreas de terra firme ocorrem lagartos, serpentes, além
de jabutis e jacarés de diversas espécies (Cnec,2002).
Os recursos animais são comumente citados como complemento alimentar dos
grupos pré-coloniais (Roosevelt, 1992; Meggers, 1998). Todavia, Carneiro (2007) com
base em dados etno-históricos, defende a importância da proteína de origem animal,
especialmente recursos aquáticos, como fonte alimentar substancial para o
desenvolvimento das sociedades complexas amazônicas.
18
3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 – Metodologia de campo
A prospecção do Sítio Terra Preta 2 foi baseada na aplicação de duas malhas de
amostragem sistemáticas distribuídas em 5 transects eqüidistantes 120m, no sentido leste.
Ao longo dessas linhas, no sentido sul, em intervalos de 60m foi alocado sondagens nas
dimensões 0,50 x 0,50m (malha 60x120m), denominadas de sondagens A, as quais foram
alternadas a cada 12 por sondagens 1,0 x 1,0m (malha 240x360m), subdivididas em
quadrantes A, B, C e D (Figura 2). Todas foram escavadas em níveis artificiais de 10 cm,
obedecendo a profundidade mínima de 50 cm ou aprofundadas conforme a espessura da
camada arqueológica (Scientia, 2006).
Foram escavadas 46 sondagens (0,50x0,50m) pertencentes às linhas 600L, 480L,
360L, 240L e 120L da malha sistemática, conforme figura 2 e 3. Entre elas, as sondagens
960S, 1200S, 1440S foram ampliadas para 1,0x1,0m, todas na linha 360L. Além disso,
devido ao afloramento da camada laterítica, quatro sondagens não foram realizadas (900S-
360L, 1140S-240L, 1200S-240L, 1380S-120L).
Fonte: Scientia consultoria
Figura 2 - Vista da escavação na sondagem da malha sistemática.
Para uma compreensão mais refinada do contexto arqueológico, foram abertas três
áreas maiores denominadas unidade de escavação 1, área de 3x3m subdividida em 9
quadrículas (Figura 4); unidade de escavação 2 (2x2m) e a unidade de escavação 5 (2x2m),
ambas subdivididas em 4 quadrículas e escavadas também, em níveis artificiais de 10 cm
(Figuras 5 e 6).
19
120 240 360 480 6001680
1620
1560
1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600S
L
UE 1
UE 2
UE 5Ri
o Am
azon
as
Sondagem 0,50X0,50mUnidade de Escavação
Drenagem
0 120m
Conversões
Limite de Vestígios
Perfil Fora
Perfil Periferia200m
600mPerfil de solo
Figura 3: Croqui do Sítio Arqueológico Terra Preta 2
Fonte: Scientia consultoria Figura 4 - Vista da unidade de escavação 1.
Fonte: Scientia consultoria Figura 5 -Vista geral da unidade de escavação 2, base de nível 10-20 cm.
20
Fonte: Scientia consultoria Figura 6- Unidade de escavação 5.
O solo foi coletado nas sondagens da malha sistemática e nas unidades de
escavação em níveis artificiais de 10 cm, com profundidade mínima de 50 cm. Além disso,
foram abertos três perfis de solo, descritos e coletados seguindo os horizontes pedológicos.
A descrição morfológica dos perfis e das cores do solo obedeceu aos procedimentos
propostos por Lemos & Santos (2002) e Munsell (2000), respectivamente. A localização
dos perfis de solo está sintetizada conforme quadro a seguir:
Perfil de solo Coordenada UTM Local TPA 21M 599557E/9759353N Dentro do sítio
Transição 21M 599377E/9759068N Periferia do sítio Natural 21M 599145E/9757654N Fora do sítio
Embora no Sítio Terra Preta 2 tenha se realizado diferentes métodos de
amostragem, neste trabalho serão abordados os resultados referentes à análise do material
cerâmico (diagnóstico) pré-colonial, coletado nas sondagens 0,50mX0,50m da malha
regular de 60mx120m e as amostras de solo coletado nos perfis.
3.2 - Metodologia de laboratório
Por se tratar de uma área que apresenta vestígios de diferentes períodos de
ocupação, o material coletado foi inicialmente separado em duas grandes categorias:
material pré-colonial e material histórico. Seguiu-se para ambas as categorias, a etapa de
higienização, com procedimento específico para cada tipo de material. Esta etapa
compreendeu, dependendo do material, limpeza em meio úmido ou a seco e completa
secagem. Uma vez higienizado, o material pode ser melhor observado, permitindo o
refinamento da separação inicial.
21
3.2.1 - Cerâmica pré-colonial
Os fragmentos cerâmicos foram primeiramente separados em diagnóstico, não-
diagnóstico e fração menor que 2cm. Os materiais cerâmicos não-diagnósticos, os quais
possibilitaram apenas identificação do antiplástico e o tipo de queima, juntamente com os
menores que 2cm foram quantificados, pesados e acondicionados, não sendo considerados
no fluxo de análise deste estudo. Os fragmentos diagnósticos, além das características já
mencionadas, proporcionaram também, a identificação da técnica de confecção, a
variedade de acabamentos, decoração, forma e volume de vasilhas (Scientia, 2006).
Os fragmentos diagnósticos foram individualmente numerados e analisados em
lupa binocular, onde foram identificados seus principais atributos tecnológicos registrados
em planilhas (Anexo 1). Os fragmentos que apresentaram elementos que contribuíam para
a reconstituição de forma como borda, base, carena, etc., foram desenhados, reconstituição
projetada e fotografados.
Na identificação e descrição das formas, utilizou-se a classificação geométrica ou
volumétrica segundo Rice (1987), que se refere aos três volumes sólidos (esférico,
elipsóide e oval) e às três superfícies (cilíndricas, cônica e hiperbólica). Essas formas
podem ser usadas para vasilhas abertas ou fechadas. Além de simples e objetivo, este
método permite descrever qualquer tipo de vasilha a partir de seus equivalentes
geométricos.
As reconstituições gráficas das formas permitiram calcular o volume de cada uma
das vasilhas, através do método da “soma dos cilindros”, pelo qual o desenho é dividido
em faixas horizontais e cujo volume é calculado para cada uma delas (V=π r² h), desde a
boca até a base. A somatória dos volumes de todos os cilindros constitui o volume final do
vasilhame (Scientia, 2006).
A partir da digitação das planilhas de dados tecnológicos do material cerâmico foi
alimentado um banco de dados no programa Access versão 2003, que permitiu gerar
gráficos de freqüência e distribuição espacial.
3.2.2 - Solos Arqueológicos
As amostras de solo foram secas ao ar, destorroadas, pulverizadas em grau de ágata
e peneiradas (<125 mesh). Foram selecionadas 18 amostras com representatividade nas
áreas de dentro, periferia e fora do sítio, para fins de análise química clássica, por via
22
úmida, dos teores totais dos elementos: fósforo (P), magnésio (Mg), cálcio (Ca), cobre
(Cu), zinco (Zn) e manganês (Mn). Para a extração dos elementos foi aplicado o método de
digestão total multiácida, que consiste em uma solução extratora de ácido fluorídrico (HF)
e ácido clorídrico (HClO4), determinado por ICP (induced coupled plasma), realizado na
Geosol Laboratórios (Embrapa, 1997).
3.2.3 – Análise espacial e de correlação
A análise espacial foi realizada a partir de gráficos elaborados com programa Surf
versão 8.0. Enquanto que a análise de correlação dos atributos tecno-mofológico do
material cerâmico utilizou-se o programa Statistica versão 6.0.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 - O Sítio arqueológico Terra Preta 2(campo)
O Sítio Terra Preta 2 caracteriza-se por ser um sítio habitação multicomponencial
(Pré-colonial e histórico) a céu aberto, assentado sobre um relevo predominantemente
plano com suaves ondulações. A dispersão dos vestígios materiais atingiu uma área de
aproximadamente 26 hectares (720mx360m), sob vegetação de capoeira baixa e muitas
árvores frutíferas.
Durante as escavações foi freqüente a ocorrência de trípodes, aplique zoomorfo,
bem como decorações, contendo incisões, ponteados, excisões, polimento, pinturas e
engobos de forma isolada ou associada. Além do material do período pré-colonial
(cerâmica e artefatos líticos como machado, fuso e lascas), também foi coletado material
histórico como cerâmica, vidro, ferro, etc.
Na unidade de escavação 1 (UE 1), maior unidade escavada, registrou-se a
ocorrência de uma estrutura de argila queimada associada a fragmentos cerâmicos e carvão
(Figura 7). Parte da estrutura foi visualizada a partir dos 90 cm de profundidade da
quadrícula 7, sendo completamente exposta aos 110 cm nas quadrículas 1, 2, 7 e 8. Ao
final da escavação, concluiu-se que a feição, com base situada entre o nível 130-140 cm,
tratava-se de uma estrutura de combustão, um tipo de fogão, medindo 1,5x1,0m, pois
apresentou nos diversos níveis associação de argila queimada, carvão, cerâmica e carvão.
De todas as unidades de escavação, essa foi a de maior concentração de material cerâmico
23
(3.720 fragmentos). O contexto apresentado na EU 1, sugere uma área de intensas
atividades ou associada ao preparo de alimento.
No Sítio Terra Preta 2, tanto na malha sistemática quanto nas unidades de
escavação predomina a cerâmica sem decoração, enquanto que na decorada, sobressaem às
decorações com ponteados e modelados, retocados principalmente com pintura vermelha.
Fonte: Scientia consultoria
Figura 7- Estrutura de combustão, unidade de escavação 1.
Na unidade de escavação 2, a ocorrência de material arqueológico deu-se até os 70
cm de profundidade, apresentando maior densidade no nível 10-20 cm, onde foram
coletados mais de 340 fragmentos cerâmicos, sugerindo maior atividade ou permanência.
A unidade de escavação 5 atingiu profundidade máxima de 150 cm. Neste local a
camada arqueológica foi de 50 cm de espessura e o nível mais denso foi o 10-20 cm, com
pouco mais de 850 fragmentos cerâmicos, entre eles a maioria constituída de fragmentos
simples misturados a apliques decorados com incisões (Figura 8). De todas as áreas
escavadas, essa foi a de menor concentração de material cerâmico (1.609), fato que indica
sua proximidade da periferia do sítio e/ou de uma área de circulação.
24
Fonte: Scientia consultoria
Figura 8 – Fragmento de parede decorada com aplique, unidade 5.
No sítio TP2 a espessura máxima da camada arqueológica foi de 100 cm, sendo o
nível 10-20 cm o mais denso em material cerâmico, esse fato sugere que no período de
ocupação dessa camada houve provavelmente uma produção maior de artefatos ou uma
população mais densa.
O solo apresentou características de Terra Preta Arqueológica, com coloração preta
(Munsell 2,5YR2.5/1 - Black), e espessura média da camada variando entre 15 e 40cm de
profundidade e classe textural franco-arenosa na superfície e areno-argilosa nos horizontes
mais profundos. Kern et al., (2003) declaram que a espessura do horizonte antrópico ou do
refugo ocupacional, em 57% dos sítios arqueológicos registrados (n = 180), apresentam de
30 a 60 cm de espessura, podendo eventualmente chegar a 2m, enquanto que os solos da
floresta, geralmente de variam entre 10 a 15 cm.
De modo geral, o material cerâmico recolhido neste sítio apresenta predominância
das características tecnológicas recorrentes por toda área da região do baixo Amazonas
típica da cultura Konduri.
4.2 – Análise da cerâmica pré-colonial
Nas sondagens 0,50x0,50m do Sítio Terra Preta 2 foram coletados um total de
2.175 fragmentos cerâmicos, destes 33,9% representam os fragmentos menores que 2cm,
41,6% os não diagnósticos e 24,5% os fragmentos diagnósticos, correspondentes a 533
amostras analisadas (Tabela 1).
25
Tabela 1: Quantificação do material cerâmico pré-colonial da malha 0,50x0,50m do Sítio
Terra Preta 2.
Unidade amostral < 2 cm Não diagnóstico Diagnóstico total
0,50x0,50m 738 904 533 2.175
A análise do material cerâmico diagnóstico revelou a ocorrência de oito tipos de
categorias morfológicas: borda, parede, base, aplique, trípode, alça, carena e rolete. A
categoria borda corresponde a 41% dos fragmentos cerâmicos, enquanto que as categorias
trípode, alça, carena e rolete juntas correspondem a 3,6% do total analisado (Figura 9).
0
50
100
150
200
250
Qua
ntid
ade
1
Parede
Borda
Base
Aplique
Trípode
Alça
Carena
Rolete
3 2 %
1%
8 %4 1%
2 %
16 %1%
Figura 9: Distribuição das categorias morfológicas da cerâmica pré-colonial do Sítio Terra Preta 2.
O estado de conservação fragmentado de parte do material cerâmico do Sítio Terra
Preta 2, inviabilizou a identificação da técnica de confecção em 56% do material. Todavia,
entre as técnicas identificadas na cerâmica, sobressaem o acordelado e o modelado, cada
uma representa pouco mais de 21% do total analisado e a associação de ambas foi
registrada em apenas 1% dos fragmentos (Figura 10).
26
0
20
40
60
80
100
120Q
uant
idad
e
1
56%
22%
21%1%
não identificada
Acordelada
Modelada
Acordelada+modelada
Figura 10: Distribuição das técnicas de confecção da cerâmica pré-colonial do Sítio Terra Preta 2.
Quanto ao uso de antiplásticos, materiais adicionados à pasta cerâmica com o
propósito de aumentar sua resistência, ocorre quatro tipos básicos: mineral (quartzo),
cauixi, cariapé e caco moído1, aplicados na forma individual. O uso associado do
antiplástico também está presente, foram identificadas sete associações e apenas um
fragmento sem aditivo. Entre os tipos de antiplásticos utilizados individualmente, o cauixi
foi o mais freqüente presente em 64% dos fragmentos, ocorrendo com abundância na pasta
cerâmica. Na forma associada o cauixi+caco moído é o habitual, ocorrendo em 26% do
material (Figura 11). Schaan (2007) alerta para a importância do entendimento da
variabilidade tecnológica do antiplástico que pode indicar mudança cultural, e assim
facilitar a reconstrução da história cultural de uma dada sociedade, podendo ter sido
introduzido por levas de migrantes ou redes de troca.
0
50
100
150
200
250
300
350
Qua
ntid
ade
1
Mineral
Cauixi
Cariapé
Caco moído
Cauixi + caco moído
Cauixi + cariapé
Cariapé+concha
Cauixi + mineral
Cauixi + cariapé +caco moídoAusente
Figura 11: Distribuição dos tipos de antiplástico identificados na cerâmica pré-colonial do Sítio Terra Preta 2
1 Cerâmica triturada e reutilizada como antiplástico
27
Segundo Hilbert (1955), o uso do cauixi como antiplástico na cerâmica da região do
Trombetas chega a cerca de 95% entre o total de material recolhido. Esses resultados
corroboram com os obtido no Sítio Terra Preta 2, pois se for considerado o percentual de
fragmentos temperados exclusivamente com cauixi e mais o associado ao caco moído, o
uso do cauixi contabiliza pouco mais de 90% do total de fragmentos. Ainda segundo
Hilbert, na cerâmica clássica de Santarém é difícil visualizar as espículas do cauixi em
conseqüência da pouca quantidade, enquanto que as do Trombetas-Nhamundá descrita por
ele e as discutidas aqui, proveniente também do Baixo Amazonas, apresenta grande
quantidade deste antiplástico, sendo está uma das diferenças entre os estilos Santarém e
Konduri.
A análise da cerâmica revelou a presença de engobo em 72 fragmentos,
correspondo a apenas 13% do total, distribuídos nas cores vermelho (37), branco (29) e
laranja (6). O mais freqüente foi o engobo vermelho presente em 6,9% do material (Figura
12). Esses resultados indicam pelo menos duas possibilidades em relação à técnica do
engobo. Primeiro que era um acabamento utilizado para fins específicos, ou ainda as faces
(interna e externa) da cerâmica não resistiram ao desgaste acelerado pela abundância de
cauixi na pasta da cerâmica.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Qua
ntid
ade
1
7%
5%1%
87%Vermelho
Branco
Laranja
Sem engobo
Figura 12: Distribuição dos tipos de engobo verificados na cerâmica pré-colonial do Sítio Terra Preta 2
A decoração plástica é um dos atributos de destaque na caracterização de um
complexo cerâmico. Embora a maioria (67%) do material cerâmico do sítio Terra Preta 2
seja sem decoração, relacionada às vasilhas utilitárias. No sítio TP2 foram identificados
sete tipos distintos de decoração plástica, constituídos por 104 fragmentos modelados, 34
incisos, 9 entalhados, 8 apliques, 7 ponteados, 7 escovados e apenas 3 excisos (Figura13).
Em relação às categorias morfológicas os modelados, principalmente com ponteado e
28
entalhado, estão presente nos apliques (45), bordas com aplique (17), parede com aplique
(12) e trípodes (10) (Figuras 14, 15, 16 e 17). Enquanto que as incisões ocorrem com
freqüência nas bordas e parede dos vasilhames.
0
20
40
60
80
100
120
Qua
ntid
ade
20%
67%
6% 2%1%
Modelado
Inciso
Entalhado
Aplique
Ponteado
Escovado
Exciso
Sem decoração
Figura 13: Distribuição dos tipos de decoração plástica identificados na cerâmica pré-colonial do Sítio Terra Preta 2
Fonte: Scientia consultoria Fonte: Scientia consultoria
Figura 14: Aplique zoomorfo Figura 15: Trípode
Fonte: Scientia consultoria Fonte: Scientia consultoria Figura 16: Borda com aplique Figura 17: Parede com incisões
Dentre os apêndices mais freqüentes observado na cerâmica do Sítio Terra Preta 2
está a trípode, tipo de suporte de base dos vasos, em formato de bulbo cônico que dá
estabilidade ao vasilhame. Abundante na superfície, principalmente sem decoração, porém
29
eventualmente coletou-se trípodes decorados com pintura vermelha. Segundo Hilbert
(1955), a descoberta de vasos trípodes no Baixo Amazonas é de grande importância, pois
estes são conhecidos nas áreas andinas e meso-amaricana, como também no Equador,
Colômbia e na Venezuela sugerindo laços culturais.
No aspecto decoração pintada os resultados apontam para o uso restrito deste
atributo, identificado em apenas 8% dos 533 fragmentos analisados. A pintura vermelha
predomina com 36 fragmentos ou 7% do material (Figura 18). A análise cerâmica revelou
diversidade de tipos de pinturas e baixa freqüência nos fragmentos. Além das intempéries
inerentes à região (solo acido, temperatura e umidade elevada), esse resultado reforça a
hipótese do processo de desgaste nas faces da cerâmica devido a abundância de cauixi,
pois suas espículas soltam com facilidade dos fragmentos pelo simples atrito com as mãos.
De modo que, o excesso desse antiplástico pode ser o vetor abrasivo na aceleração da
erosão na cerâmica deste sítio.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Qua
ntid
ade
1
7%
92%
1%
Pintura vermelha
pintura laranja
pintura branca
pintura preta
pintura vermelhasobre engoboSem pintura
Figura 18: Distribuição dos tipos de decoração pintada presente na cerâmica pré-colonial do Sítio Terra Preta 2
De modo geral, a análise sistemática da tecnologia cerâmica do sítio TP 2, embora
assinale a ocorrência de múltiplos estilos como Poço (Barrancóide), Santarém e Globular,
revelou predominância do estilo Konduri em 82% do material caracterizado, sendo 56%
tipicamente Konduri e 26% Konduri associado aos estilos Poço e Santarém. Os 18%
restantes correspondem às culturas Poço (14%), Santarém (1%) e Globular associado a
Poço e Santarém (2%).
4.2.1 - Projeção gráfica da morfologia das vasilhas
Na área do Sítio Terra Preta 2 foram assinalados 12 grupos morfológicos distintos
de vasilhas, constituídos por 48 formas abertas e 45 formas fechadas (Scientia, 2008).
30
Entretanto, desses 12 grupos 8 foram identificados nas sondagens 0,50x0,50m, sendo
quatro grupos de formas abertas representados por 9 vasilhas e mais 4 vasilhas representam
os quatro grupos de formas fechadas, caracterizadas e evidenciadas graficamente a seguir:
Segmento de esfera (Forma 2): forma aberta de contorno simples ou levemente
sinuoso devido ao reforço interno ou externo da borda que auxilia como limítrofe e no
manuseio da vasilha, respectivamente, borda direta, com reforço interno ou externo
eventual, base convexa. Volume entre 0,42 e 3 litros, altura entre 5 e 10 cm, diâmetro entre
18 e 40 cm. São formas associadas a servir ou consumir alimentos pastosos ou sólidos
dependendo do objetivo de cada vasilha (Brochado, 1977).
50cm403020100
V: 3lh: 10cm
32cm
V: 1,28lh: 3,5cm
40cm
V: 0,50lh: 3,5cm
24cm
V: 0,42lh: 5cm
18cm
50cm403020100
V: 3lh: 10cm
32cm
V: 1,28lh: 3,5cm
40cm
V: 0,50lh: 3,5cm
24cm
V: 0,42lh: 5cm
18cm
50cm403020100
V: 3lh: 10cm
32cm
V: 1,28lh: 3,5cm
40cm
V: 0,50lh: 3,5cm
24cm
V: 0,42lh: 5cm
18cm
50cm403020100
V: 3lh: 10cm
32cm
V: 1,28lh: 3,5cm
40cm
V: 0,50lh: 3,5cm
24cm
V: 0,42lh: 5cm
18cm
50cm403020100
V: 3lh: 10cm
32cm
V: 1,28lh: 3,5cm
40cm
V: 0,50lh: 3,5cm
24cm
V: 0,42lh: 5cm
18cm
50cm403020100
V: 3lh: 10cm
32cm
V: 1,28lh: 3,5cm
40cm
V: 0,50lh: 3,5cm
24cm
V: 0,42lh: 5cm
18cm
Semi-esférica com contorno simples (forma 3): forma aberta de contorno simples
ou levemente sinuoso, parede vertical ou levemente inclinada externamente. Borda direta
com reforço externo que facilita o manuseio da vasilha, base convexa. Altura varia entre 16
e 18 cm, o diâmetro entre 32 e 36 cm e o volume entre 5 e 8,40 litros. Esta forma é
propícia para processar, servir e consumir os alimentos.
V: 8,4 0lh: 18cm
36cm
50cm403020100
V: 6,80lh: 16cm
34cm
V: 5,75lh: 16cm
32cm
31
Semi-esférica com contorno sinuoso (forma 4), forma aberta de contorno sinuoso,
parede inclinada ou levemente inclinada externamente. Borda direta com reforço externo
eventual e extrovertida para facilitar o manuseio da vasilha, base convexa. Diâmetro de
boca entre 16 cm, altura 9 cm, volumetria de 0,74 litros. Esta forma é propícia para
consumir alimentos.
50cm403020100
16cm
V: 0,74lh: 9cm
Elipsoidal com contorno sinuoso (forma 5), forma aberta de contorno sinuoso,
parede inclinada externamente. Borda direta com reforço externo eventual e extrovertida,
base convexa. Diâmetro de boca de 38 cm, altura entre de 15 cm, volume de 5,42 litros.
Esta forma é propícia para processar e servir os alimentos.
38cm
V: 5,42lh: 15cm
50cm403020100
Esférica com contorno simples(forma 9), forma fechada com contorno simples,
parede inclinada ou ligeiramente inclinada internamente. Borda direta e extrovertida, base
convexa. Diâmetro de boca com cerca de 18 cm, altura de 18 cm e volumetria de 3,82
litros. Esta forma é propícia para armazenar líquido.
18cm
V: 3,82lh: 18cm
50cm403020100
32
Esférica com contorno sinuoso(forma 10), forma fechada com contorno sinuoso,
parede levemente ou fortemente inclinada para dentro. Borda direta com eventual reforço
ou expansão e extrovertida, base convexa. Diâmetro de boca aproximadamente 22 cm,
altura de 19 cm e volumetria com cerca de 4,30 litros. Esta forma é propícia para cozer os
alimentos.
50cm403020100
22cm
V: 4,30lh: 19cm
Elipsoidal com contorno simples (forma 11), forma fechada com contorno
simples, parede inclinada ou ligeiramente inclinada internamente. Borda direta com
eventual reforço e introvertida, base convexa. Diâmetro de boca de 18 cm, altura de 12 cm
e volumetria de aproximadamente 2,10 litros. Esta forma é propícia para processar e cozer
os alimentos.
18cm
V: 2,10lh: 12cm
50cm403020100
Elipsoidal com contorno sinuoso (forma 12), forma fechada com contorno
sinuoso. Borda extrovertida, direta com eventual reforço e introvertida, base convexa.
Diâmetro de boca de 18 cm, altura de 16 cm, volumetria 4,16 litros. Essa forma é mais
adequada para armazenar líquido.
18cm
V: 4,16lh: 16cm
50cm403020100
No sítio Terra Preta 2 não foi encontrar vasilhas completas ou parcialmente
danificadas que assegurassem os tipos de bases específicas dos recipientes. Embora na
malha sistemática ocorra de bases do tipo plana (3%) e anelar (3%) e 92% não foram
33
identificadas. Na reconstituição das formas optou-se pelo tipo convexa, tipo este que
provavelmente justificaria a abundância de trípodes por toda a camada arqueológica.
Hilbert (1955), ao descrever a cerâmica arqueológica Konduri na região de
Oriximiná identificou três tipos de forma: 1ª – panelas de 40 a 60 cm de diâmetro, corpo
redondo e pescoço mais ou menos acentuado, com borda virada para fora; 2ª – tigelas de
30 a 50 cm de diâmetro, com a borda só muito levemente virada para fora e com um leve
estrangulamento e 3ª – tigelas com abertura da boca menor do que o maior diâmetro da
peça, variando entre 20 e 40 cm. Embora os tipos de formas descritos por Hilbert (1955),
não apresente elementos suficiente para uma correlação mais precisa com as formas
relacionadas ao sítio TP2, é possível que a forma 3 ou Semi-esférica com contorno simples
pertença ao tipo tigela com 30 a 50 cm de diâmetro descrita por ele.
Em termos quantitativos a reconstituição gráfica das vasilhas do Sítio Terra Preta 2
revelou um predomínio de formas abertas, já que das 13 vasilhas reconstituídas nas
sondagens da malha sistemática, 9 são abertas isso representa 69% da totalidade projetada,
sobressaindo à forma 2 composta por 4 vasilhas e a forma 3 com três, formas essas como já
vimos propícias para processar, servir e consumir alimentos. Quanto à morfologia fechada
foi reconstituída apenas uma vasilha para cada tipo distribuído nas formas 9, 10, 11 e 12
(Figura 19).
0
1
2
3
4
Qua
ntid
ade
Forma2
Forma3
Forma4
Forma5
Forma9
Forma10
Forma11
Forma12
Formas Abertas Formas Fechadas
Figura 19: Quantificação dos tipos de formas de vasilhames presente nas sondagens 0,50x0,50m do Sítio Terra Preta 2
34
As relações entre os atributos tecnológicos das vasilhas reconstituídas revelaram
que a o antiplástico predominante é o cauixi, apenas uma forma contém cauixi+cariapé. A
relação forma, queima e volume dos vasilhames indicou predominância de queima
incompleta (cinza), entretanto o tipo de queima independe da forma ou volume do
recipiente (Figura 20). Viana (1996) enfatiza que a queima variando de cinza ao preto
fornece ao recipiente boa compactação, resistência e impermeabilidade, e a espessura não
fina, propicia a manipulação do produto sem risco de danificar o recipiente.
volume queima0 2 4 6 8 10 12 14
forma
0,42
1,28
2,10
3,00
3,82
5,42
6,80
8,40
Vol
ume
(L)/Q
ueim
a
Figura 20: Relação entre forma, queima e volume das vasilhas no Sítio Terra Preta 2.
A relação forma, espessura do fragmento e volume das vasilhas do sítio Terra Preta
2, indicou que os recipientes com estrutura fechada e volumetria média (3,5L a 4,5L)
possuem paredes mais espessas (1,2 a 2cm), do que as formas de maior volumetria (5,5L a
8,4L), que apresentaram parede com espessura média, entre 0,5 e 1,1 cm (Figura 21).
Segundo Viana (1996) apud Schiffer (1994), Rye (1981), Braun (1983), a espessura de
paredes mais finas contribui para o cozimento, uma vez que paredes desse tipo conduzem
melhor o calor, cozinhando o alimento mais rapidamente, além de aumentar a resistência
ao choque térmico. Entretanto as formas fechadas são mais apropriadas para as atividades
de cozer (Viana, 1996).
Queima 2=cinza 3=ocre 7=face interna clara e face externa escura
35
esp frag Volume
0 2 4 6 8 10 12 14
forma
0,5
1,1
2,0
Epe
ssur
a do
Fra
gmen
to(c
m)/v
olum
e (L
)
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
Figura 21: Relação entre forma, espessura do fragmento e volume das vasilhas no Sítio Terra Preta 2.
Do total de 13 formas vasilhas projetadas, 7 apresentaram decoração plástica. A
decoração do tipo entalhado ocorreu em três recipientes com forma 3, sendo uma na
sondagem 840S-480L e duas na 1440S-360L. A forma 2 apresentou quatro vasilhas
decoradas, duas decorados com incisos finos, uma com inciso largo-inciso fino e uma com
modelado aplicado entalhado inciso, todas na sondagem 1140S-360L.
A distribuição espacial dos vasilhames na área do sítio Terra Preta 2 (Figura 22),
indicou a sondagem 1140S-360L como a de maior concentração, 6 vasilhas, sendo 4
abertas (3 vasilhas com forma 2 e 1 com forma 5) e 2 fechadas (1 vasilha com forma 10 e 1
com forma 11). O volume das vasilhas dessa sondagem é bastante variado, pois os
recipientes de forma aberta do tipo 2 apresentaram volumes entre 0,50L e 3,0L, enquanto
que o vasilhame de forma 5 apresentou volume de 5,42L. As vasilhas de forma fechada do
tipo 10 e 11 aprestaram volumes de 4,30L e 2,10L, respectivamente. A vasilha de maior
volume foi registrada na sondagem 960-360L com aproximadamente 8,40L (forma 3). As
vasilhas com forma fechadas do tipo 9 e 12 de volume 3,82L e 4,16 ocorreram nas
sondagens 1200S-480L e 1500S-360L, respectivamente.
A distribuição espacial de vasilhas sugere uma aparente organização
funcional/hierárquica social, com concentração de formas decoradas relacionadas a servir e
36
de consumo familiar ou individual de alimentos em uma área central do assentamento.
Enquanto que nas áreas periféricas há dispersão de recipientes de maior volumetria e/ou
com formas fechadas propícias ao cozimento de alimentos (Figura 22).
120 240 360 480 6001680
1620
1560
1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600S
L
Rio
Amaz
onas
0 120m
Forma 4
Forma 5
Forma 9
Forma 10
Forma 3
Forma 2
Forma11
Forma 12
Figura 22: Distribuição espacial dos tipos de forma de vasilhames no Sítio Terra Preta 2
37
4.3. Geoquímica dos solos do Sítio Terra Preta 2
O processo de formação das terras pretas está arraigado por distintas interpretações.
Hartt (1885) denomina as terras pretas de solos vegetais, para os quais os índios eram
atraídos devido à elevada fertilidade natural. Para Cunha Franco (1962), as TPA`s teriam
sua origem em lagos antigos, em cujas margens os índios habitavam. Os solos com terra
preta são antigos assentamentos indígenas, formado a partir da ocupação humana pré-
histórica (Gourou, 1950; Hilbert, 1955; Sombroek, 1966; Simões & Correa, 1987; Kern &
Kämpf, 1989). Enquanto que Ranzani et al. (1962), Andrade (1986), e Glaser et al. (2001)
enfatizam que a elevada fertilidade das TPA`s deve-se a adição intencional de nutrientes
no solo através de práticas de manejo.
De modo geral, as TPA`s apresentam altos teores de elementos como Cálcio,
Magnésio, fósforo, bem como, Cobre, Zinco e Manganês, C orgânico, soma e saturação de
bases elevadas, diversidade microbiológica e apresentam-se mais estáveis e melhor
estruturados em relação às áreas circunvizinhas, além de ocorrerem sobrepostos a diversas
classes de solos, com predominância nos Latossolos.
As características morfológicas do solo dentro do sítio Terra Preta 2 caracterizam
um solo de Terra Preta de Índio ou Terra Preta Arqueológica (Kern e Kampf, 1989). A
camada de ocupação constituída pelos horizontes A1, A2 e A3 apresenta grande
variabilidade na espessura, devido à deposição irregular de resíduos em alguns pontos
chega à profundidade de 80 cm, entretanto a média geral do sítio é de 45 cm. A cor do solo
varia de preto (Munsell-7,5YR2/1) ao bruno escuro (Munsell-7,5YR3/2) e textura arenosa,
contém ainda fragmentos de cerâmica e carvão, que se concentram nos horizontes A1 e A2
situados entre os níveis 0-10 ao 30-40cm.
Nos horizontes de transição AB e BA da TPA, o solo apresentou-se mais claro
variando da coloração bruno escuro (Munsell-10YR3/3) ao marrom amarelado (Munsell-
10YR4/6), textura franco arenosa, com ocorrência esporádica de cerâmica e carvão,
demonstrando não ter sofrido grandes alterações de suas propriedades morfológicas.
O solo da periferia do sítio arqueológico apresentou a seqüência de horizontes A1,
A2, A3, AB, BA, B1, B2, com características de um solo bem desenvolvido e bem drenado,
alcançando profundidade superior a 1,80m. O solo apresenta textura franco arenosa e a
coloração variou de cinza muito escuro (Munsell-10YR3/1) ao bruno acinzentado escuro
(Munsell-10YR3/2) no horizonte A.
38
Este solo não apresenta fragmentos cerâmicos ou líticos, entretanto a espessura do
horizonte A, com cerca de 40 cm e coloração ainda escura, indica tratar-se de um solo
antrópico. Sombroek (1966) & Sombroek et al., (2002) denominam esses solo de Terra
Mulata, ou seja, solos de cor marrom escuro, contendo pouco ou ausência de vestígios
arqueológicos, mas que ainda apresentam teores elevados de matéria orgânica. Esses solos,
chamados denominados de Terra Mulata, parece ser o resultado do intenso uso agrícola por
comunidades indígenas pré-coloniais.
No horizonte B a cor dominante é o bruno amarelado (10YR5/6), com pouca
diferenciação entre as camadas B1 e B2. A textura apresentou-se franco argilo arenosa, boa
estrutura e presença de carvões dispersos do horizonte A2 ao B1, correspondendo aos
níveis 20-30 ao 90-100 cm da camada arqueológica.
As propriedades morfológicas observadas no perfil do solo de fora revelaram a
seqüência de horizontes A1, A2, AB, BA, B1 e B2 as características estas pertinente de solo
bem desenvolvido, bem drenado e com boa porosidade. A espessura do horizonte A atinge
21 cm e cor bruno acinzentado (Munsell-7.5YR3/2), e textura arenosa. Enquanto que o
horizonte B apresentou cor bruno amarelado (Munsell-7,5YR5/6) e textura franco arenosa.
Vale ressaltar que no estudo das propriedades do solo, a cor é um dos requisitos
diagnóstico fundamental facilmente identificável em campo. De modo que sua variação de
tons, com base na carta de cores de Munsell (2000), possibilitou elaborar o mapeamento de
sua distribuição espacial na área do Sítio Terra Preta2 (Figura 23).
As áreas ocupadas pelas terras pretas além de evidenciar grande variação quanto à
espessura e composição química, como discutiremos adiante, também, apresenta grande
variabilidade quanto sua extensão.
No mapa de distribuição de cores do solo do Sítio Terra Preta 2 é possível
visualizar duas grandes manchas de terra preta com forma ligeiramente alongada (figura
23). A mancha de TPA encontra-se entre as linhas 1020 e1620S, estendendo-se por cerca
de 28ha (780x360m), e correspondem também as concentrações de material cerâmico,
confirmando as áreas de maior permanência e/ou atividades.
39
120 240 360 480 6001680
1620
1560
1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600S
L
Solo de Terra Preta
Solo da Periferia
Figura 23: Mapa de distribuição de solos no sítio Terra Preta 2, com base nas cores dos solos
do horizonte A1 (Munsell, 2000).
Nas cartas de solos que abrangem a região Amazônica, apesar da freqüente
ocorrência de solos com TPA, estes são catalogadas como inclusões e abrangem
normalmente de 2 a 3 ha (Silva et al., 1970; Kern et al., 2003), excepcionalmente, em
alguns locais, podem alcançar áreas superiores a 80 ha (Hilbert, 1955). Contrastando com o
sítio Tapajó com cerca de 200 ha (Sombroek, 1966), no estado do Pará.
Além disso, a espessa camada de TPA observada no sítio Terra Preta 2, a partir dos
barrancos, apontam que no passado esses sítios eram mais extensos em direção ao rio
Amazonas e que provavelmente os processos dinâmicos naturais do curso do rio somado
ao desmatamento das encostas pela ação humana atual, certamente aceleraram os processos
erosivos promovendo a destruição de parte dessa ocupação. Kern et al., (2003) declaram
que a espessura do horizonte antrópico ou do refugo ocupacional, em 57% dos sítios
arqueológicos registrados (n = 180), apresentam de 30 a 60 cm de espessura, podendo
eventualmente chegar a 2m, enquanto que os solos da floresta, geralmente atingem de 10 a
15cm.
40
Os resultados apresentados à cima mostram a identificação das áreas de ocorrência
das TPA´s a partir de alguns aspectos de sua morfologia, entretanto fatores indiretos como
as relações geoquímicas dos elementos como cálcio, magnésio, fósforo, zinco, cobre,
manganês e carbono orgânico em relação aos solos adjacentes, são fundamentais na
taxonomia dos solos e na interpretação do contexto arqueológico (Figuras 24 a 26).
Os dados geoquímicos dos solos do sítio Terra Preta 2 apontam duas áreas, dentro e
periferia, com elevadas concentrações de elementos químicos contrastando com as baixas
concentrações de fora do assentamento. Os teores mais elevados de fósforo registrados no
horizonte A2, que apresentou a maior densidade em material cerâmico, foram de 2.800,
1.420 e 555 ppm (parte por milhão) no solo de TPA, periferia e fora do sítio,
respectivamente. Conforme Kämpf & Kern (2005), teores elevados de fósforo e cálcio
estão associados à ocupação humana pré-histórica, haja vista, que esses elementos podem
ser encontrados em resto de vegetais (mandioca, açaí, bacaba, etc), animais (ossos e
excrementos) e resíduos de alimentos.
Os teores de cálcio, cobre, zinco e manganês mostram forte relação em sua
distribuição ao longo dos perfis (Figuras 25 e 26). O solo da periferia se assemelha ao solo
de fora, desde a superfície até o horizonte B (200cm), enquanto que no solo de TPA
(dentro), a concentração elevada indica deposição de matéria orgânica rica nesses
elementos até o nível 30-40cm (horizonte A), resultando ainda na fertilidade elevada.
Conforme Kern et al. (1999), as folhas de palmeiras utilizadas na cobertura e paredes das
habitações, que são renovadas periodicamente, e podem ser uma fonte importante de
magnésio, manganês e zinco para o solo.
No horizonte B, o solo de TPA se aproxima quimicamente (Ca, Cu, Zn e Mn) da
área de periferia e de fora do sítio, indicando que esses solos foram originados da mesma
rocha matriz, sendo que o diferencial foram os diferentes usos aplicados pelas populações
pré-coloniais (Figuras 25 e 26).
41
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000
Fora Periferia Dentro
P total(ppm)
Pro
fund
idad
e(cm
)
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
00 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
Mg (ppm)
Fora Periferia Dentro
Prof
undi
dade
(cm
)
Figura 24: Distribuição dos teores de fósforo(P) e magnésio (Mg) nos perfis de solos de Fora,
Periferia e Dentro do Sítio Terra Preta 2, respectivamente.
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
00 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
Ca (ppm)
Fora Periferia Dentro
Prof
undi
dade
(cm
)
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
05 10 15 20 25 30 35
Cu (ppm)
Fora Periferia Dentro
P
rofu
ndid
ade(
cm)
Figura 25: Distribuição dos teores de cálcio (Ca) e cobre (Cu) nos perfis de solos de Fora,
Periferia e Dentro do Sítio Terra Preta 2, respectivamente.
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
00 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Zn (ppm)
Fora Periferia Dentro
Pro
fund
idad
e(cm
)
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
00 100 200 300 400 500 600 700
Mn (ppm)
Fora Periferia Dentro
Pro
fund
idad
e(cm
)
Figura 26: Distribuição dos teores de zinco (Zn) e manganês (Mn) nos perfis de solos de Fora,
Periferia e Dentro do Sítio Terra Preta 2, respectivamente.
42
Sendo assim, futuros resultados geoquímicos referente à espacialidade do sítio
arqueológicos Terra Preta 2, poderá auxiliar na compreensão do padrão de assentamento
pré-histórico dos grupos que habitaram a região, indicando locais específicos e
diferenciados onde faziam descarte de material. Segundo Migliazza, (1964); Ramos,
(1971), as práticas funerárias também podem ter tido um papel relevante no aumento de
determinados elementos químicos no solo (principalmente o cálcio e o fósforo,
componentes principais dos ossos), pois registros etnográficos e arqueológicos mostram
que vários grupos enterram seus mortos dentro da própria casa, ou ainda no centro da
aldeia.
A identificação de locais com teores relativamente baixos de elementos indicadores
das terras pretas também são importantes, pois podem indicar uma praça ou área de maior
circulação, acesso para a mata e para as principais fontes de água para abastecimento do
grupo por isso deixado intencionalmente mais limpo (Meireles, 2004; Kern, 1996).
43
4.4. Estratigrafia e Datação
O estudo da estratigrafia baseia-se nos princípios de sobreposição, princípio de
horizontalidade original e princípio de inclusão. O princípio de sobreposição diz que, numa
seqüência de deposição de sedimentos que não foi revolvido, os sedimentos mais
profundos são os mais antigos e os mais à superfície os mais recentes. Com este princípio é
possível conceber uma sequenciação cronológica para a formação dos solos, nas várias
camadas de deposição, dando uma relação de tudo o que for encontrado nelas, permitindo
ainda a associação de objetos encontrados em diferentes camadas (Coelho, 2006).
Os estudos estratigráficos aplicados à arqueologia são caracterizados por maior
nível de detalhes quando comparados com os geológicos. A acrescida complexidade na
estratigrafia arqueológica, devido aos efeitos dos processos de transformação cultural e
natural sobre os depósitos, como é o caso das atividades humanas, como escavações em
níveis mais antigos ou a ação da natureza com o movimento de águas ou ventos, que
erodem e deslocam vestígios arqueológicos. Produzem também resultados quanto ao
processo de constituição dos solos, deposição de estratos e ao estado dos sítios e artefatos
(Coelho, 2006).
O Sítio Terra Preta 2 apresenta grande variabilidade na espessura do horizonte
antrópico, pois o refugo arqueológico, relativamente preservado, varia de 0 a 90 cm de
espessura, é constituído por três níveis estratigráficos (A1, A2 e A3). A camada A2
localizada entre 18 a 45 cm de profundidade corresponde à camada de maior densidade de
fragmentos cerâmicos, enquanto que a camada A3 embora seja mais espessa (45 a 90 cm)
apresenta menor densidade de cerâmica, esta camada provavelmente corresponde ao piso
de ocupação inicial (Figura 27).
As camadas A1 e A2 correspondem também à espessura de Terra Preta
Arqueológica, que atingiu em média 45 cm de profundidade, mas que eventualmente
chegou a 80 cm, como observado na sondagem 1440S-360L(Figura 28).
A caracterização da cerâmica da área Trombetas-Nhamundá feita por Hilbert
(1955), não apresenta uma cronologia, apenas indica a contemporaneidade da cerâmica
Konduri com a Santarém, devido à associação de ambas em certos sítios encontrados por
Curt Nimuendaju. Essa relação foi confirmada mais tarde, o que coloca os dois estilos num
período situado entre 1000-1500 A.D., correspondendo à Tradição Incisa e Ponteada
(Meggers & Evans 1983). A datação calibrada, obtida pelo método Carbono-14
(Laboratório Beta Analytic Inc., USA), para sítio Terra Preta 2 foi de 690+/-40 AP., no
44
nível 20-30 cm (Beta- 221030) (Scientia, 2008), ou seja, 1270-1310 A.D, corroborando
portanto com a faixa cronológica do Horizonte Inciso e Ponteado. Todavia, amostra do
nível 90-100 cm da estrutura de combustão, foi datada em 8140+- 80AP, data relacionada
por Simões (1984) ao período pré-cerâmico. Assim, por possuir apenas duas datações,
extremamente distintas, torna-se necessário outras datações nos diversos níveis escavados,
objetivando um melhor enquadramento cronológico deste sítio.
Figura 27: Perfil estratigráfico da unidade de escavação 2, Sítio Terra Preta 2
A análise estratigráfica realizada na parte norte do sítio Terra Preta 2, mas
especificamente na sondagem 960S-360L, revelou grande nível de perturbação da camada
arqueológica. Foi assinalado inversão de camadas com solo mais escuro (Munsell-
7.5YR2.5/1- Preto) em sub-superfície e mais claro (Munsell-10YR4/4- Bruno amarelado
escuro) em superfície, além de mistura de fragmentos cerâmico pré-colonial e materiais
como vidro, louça e cerâmica de procedência histórica, indicando tratar-se de uma lixeira
atual (Figura 31).
45
Figura 28: Perfil estratigráfico da sondagem 960S-360L, Sítio Terra Preta 2
As figuras de 29 a 31, representam a variabilidade na espessura da camada de
material cerâmico e a camada de solo de Terra Preta Arqueológica nas transversais
perpendicular (linha 360L) e paralelo ao rio (linhas 1080S e 1440S).
A linha 360L que se estende por 540m, atravessa as porções mais densas e
alongadas do sítio evidenciando maior variabilidade de deposição na camada de material
cerâmico do que no estrato de solo arqueológico ao longo da transversal (Figura 29). Na
sondagem 960S-360L, observa-se a maior profundidade atingida pelo material cerâmico,
neste ponto a estratigrafia revelou se tratar de uma lixeira, discutida anteriormente. Quanto
à disposição da camada de Terra Preta Arqueológica a figura demonstra duas áreas de
maior deposição de resíduos orgânicos separadas por um estrato menos espesso observado
na sondagem 1320S-360L.
As linhas 1080S e 1440S que correspondem as transversais paralelas ao rio (Figuras
30 e 31), mostram a espessura da camada cerâmica e da Terra Preta Arqueológica no
centro e periferia das áreas mais densas do sítio, onde se observa áreas de maior deposição
46
tanto de cerâmica como de material orgânico indicando maior permanência no entorno da
sondagem 360L.
100
80
60
40
20
0960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500S
Linha 360L
Espe
ssur
a da
cam
ada
(cm
)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500S
Linha 360L
Esp
essu
ra d
a C
amad
a (c
m)
Figura 29: Variabilidade da espessura da camada cerâmica e de TPA na linha 360L
50
40
30
20
10
0360 480 600
Linha 1080SL
Espe
ssur
a da
Cam
ada
(cm
)
60
55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0360 480 600
Linha 1080SL
Esp
esur
a da
Cam
ada
(cm
)
Figura 30: Variabilidade da espessura da camada cerâmica e de TPA na linha 1080S
80
60
40
20
0240 360 480 600
Linha 1440SL
Espe
ssur
a da
Cam
ada
(cm
)
80
60
40
20
0240 360 480 600
Linha 1440SL
Esp
essu
ra d
a C
amad
a (c
m)
Figura 31: Variabilidade da espessura da camada cerâmica e de TPA na linha 1440S
47
A distribuição espacial dos fragmentos cerâmicos por nível escavado possibilitou a
visualização da dispersão deste material no assentamento. Essa estratificação, a partir das
camadas mais antigas até a mais recente, indicou uma área inicial de ocupação e a
expansão da aldeia até o abandono (Figura 32). As áreas de maior densidade de fragmentos
cerâmicos, em pontos específicos, sugerem locais de maior permanência ou atividades,
onde poderiam estar localizadas as habitações. Enquanto que no entorno e entre as áreas
densas é muito baixa ou inexistente a ocorrência de material cerâmico podendo estar
destinado à circulação (Figura 32).
120 240 360 480 6001680
1620
1560
1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600
0
1
2
3
4
5
6
S
LTP2 (80-90cm)
120 240 360 480 6001680
1620
1560
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1380
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1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600
0
1
2
3
TP2 (70-80cm)
S
L 120 240 360 480 6001680
1620
1560
1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600
TP2 (50-60cm)
0
1
2
3
4
5
6
S
L 120 240 360 480 6001680
1620
1560
1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600S
L0
1
2
3
4
5
Tp2 (40-50cm )
120 240 360 480 6001680
1620
1560
1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600S
L
0
1
2
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4
5
6
7
8
9
10
TP2 (30-40cm)120 240 360 480 600
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1620
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1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
TP2 (20-30cm)
S
L0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
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1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600
TP2 (10-20cm)
S
L0123
456789
101112131415
16
TP2 (0-10cm)
120 240 360 480 6001680
1620
1560
1500
1440
1380
1320
1260
1200
1140
1080
1020
960
900
840
780
720
660
600S
L
Figura 32: Processo de ocupação e expansão do Sítio Terra Preta 2, baseado na freqüência de
material cerâmico por níveis.
48
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
- O Sítio Terra Preta 2 é formado por múltiplos estilos cerâmicos, predominando o
complexo konduri,com ampla difusão na região do Baixo Amazonas, e pertencente à
Tradição Incisa e Ponteada; Além disso, a análise sistemática da tecnologia cerâmica
mostra a predominância do antiplástico cauixi seguido pelo cauixi+caco moído podendo
esta variabilidade ser indicativo de mudança cultural desta sociedade;
- A análise geoquímica juntamente com o mapeamento das cores do solo,
possibilitou mensurar a mancha de terra preta arqueológica em 28 ha de extensão; A
deposição irregular da matéria orgânica na aldeia resultou em diferentes concentrações de
teores de fósforo, cálcio, cobre, zinco e manganês indicando níveis distintos de impacto
dentro, na periferia e fora do sítio pelo uso diferenciado da paisagem. Para inferências a
cerca de padrão de assentamento é necessário análises de distribuição espacial desses
elementos e outros complementares.
- A análise espacial do material cerâmico permite inferir que a atual extensão do
sítio Terra Preta 2 é resultado de sucessivos deslocamentos interno do/dos grupos ao longo
do processo de ocupação; sugere ainda, uma aparente organização funcional/hierárquica
social entre a periferia da aldeia, relacionada a atividades doméstica de cozer e área central
relacionada às unidades habitacional e/ou ritual.
6. Perspectivas para futuras pesquisas
A continuidade e aprofundamento desta pesquisa no Município de Juruti é um
compromisso assumido perante o curso de Pós-graduação em nível de doutorado. Nesse
período, a maior meta será conhecer a influência da dinâmica ambiental nos processos
geoquímicos de formação e transformação das terras pretas no Baixo Amazonas, bem
como da cultura material incorporada durante a ocupação por comunidades pré-coloniais,
buscando entender aspectos do comportamento do homem pré-histórico amazônico.
49
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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