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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Estudo da Pimenta Malagueta (Capsicum frutescens) e seus Componentes usando a técnica de Ressonância Magnética Nuclear Study of chili pepper (Capsicum frutescens) and its components by Nuclear Magnetic Resonance spectroscopy Thays Cardoso Valim Dissertação de Mestrado em Química Vitória 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA

Estudo da Pimenta Malagueta (Capsicum frutescens) e seus Componentes usando a técnica de Ressonância

Magnética Nuclear

Study of chili pepper (Capsicum frutescens) and its components by Nuclear Magnetic Resonance spectroscopy

Thays Cardoso Valim

Dissertação de Mestrado em Química

Vitória 2019

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Thays Cardoso Valim

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Química do Centro de

Ciências Exatas da Universidade Federal

do Espírito Santo como requisito parcial

para obtenção do Título de Mestre em

Química.

Área de Concentração: Química

Linha de Pesquisa: Química de Produtos

Naturais.

Orientador: Prof. Dr. Álvaro Cunha Neto

VITÓRIA 2019

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Ficha catalográfica disponibilizada pelo Sistema Integrado deBibliotecas - SIBI/UFES e elaborada pelo autor

V172eValim, Thays Cardoso, 1992-ValEstudo da Pimenta Malagueta (capsicum frutescens) e seuscomponentes usando a técnica de ressonância magnética nuclear/ Thays Cardoso Valim. - 2019.Val92 f. : il.

ValOrientador: Álvaro Cunha Neto.ValDissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal doEspírito Santo, Centro de Ciências Exatas.

Val1. Resonância Magnética Nuclear de Próton. 2. Pimentamalagueta. 3. Capsaicinóides. 4. Solvente não deuterado. I. CunhaNeto, Álvaro. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centrode Ciências Exatas. III. Título.

CDU: 54

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Estudo da Pimenta Malagueta (Capsicum frutescens) e seus Componentes Usando a Técnica de Ressonância Magnética

Nuclear

Thays Cardoso Valim

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Química.

Aprovado(a) em 25/03/2019 por:

__________________________________________ Prof. Dr. Álvaro Cunha Neto

Universidade Federal do Espírito Santo Orientador

__________________________________________ Prof. Dr. Valdemar Lacerda Junior

Universidade Federal do Espírito Santo

__________________________________________ Dra. Carla Santana Francisco

Universidade Federal do Espírito Santo

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À minha família e amigos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que em sua infinita graça e misericórdia me permitiu

chegar até aqui.

Aos meus pais (Neri e Marta) e minhas irmãs (Ingrid e Jheniffer) por todo apoio, amor,

paciência, carinho e incentivo em todos os momentos.

À toda minha família, por serem a minha base e a minha melhor referência do que é

ser família, se importando, amando e cuidando uns dos outros.

A todos os meus amigos mais chegados do que irmãos, os de longe e os de perto. A

caminhada com vocês fica muito mais divertida e tranquila. Em especial, deixo minha

gratidão à Thayanny Souza por sempre me ajudar em tudo e se fazer presente

sempre, ainda que distante.

Aos meus irmãos em Cristo, minha família na fé, obrigada por todas orações e

carinho.

Aos meus amigos do Laboratório de Orgânica: Carla, Danyelle, Lucas, Geraldo,

Diana, Natã, Juliana, Gabriel, Clara, Clebson e Raphael. Vocês foram fundamentais

no desenvolvimento desse trabalho! Com vocês eu aprendi, cresci e evolui. Muito

obrigada por tudo!

Ao Prof. Dr. Álvaro Cunha Neto, pela orientação e, por acreditar e confiar em mim.

Ao Prof. Dr. Valdemar Lacerda Júnior e à Dra. Carla Santana Francisco, por aceitarem

o convite de participar dessa banca examinadora, bem como por toda contribuição

prestada.

Aos Laboratórios de Ressonância Magnética Nuclear, ao Laboratório de Produtos

Naturais e ao Laboratório de Cromatografia, pela utilização dos equipamentos e

realização dos testes.

Ao Programa de Pós-Graduação em Química da UFES (PPGQUI) e ao Núcleo de

Competências Químicas do Petróleo (NCQP), pelo apoio institucional e pelo espaço

físico cedido para realização dos experimentos.

À CAPES, CNPQ e FAPES, pelo suporte financeiro disponibilizado.

Por fim, agradeço a todas as pessoas que contribuíram direta e indiretamente para a

realização desse trabalho. Muito obrigada!

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“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os

homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o

Senhor que vocês estão servindo.” Colossenses 3:23,24

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Anatomia do fruto Capsicum frutescens (pimenta malagueta). ................. 21

Figura 2. Estrutura química dos principais capsaicinóides. ...................................... 21

Figura 3. Esquema básico de um Cromatógrafo Gasoso. ........................................ 26

Figura 4. Esquema básico de um Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência. ............ 28

Figura 5. Comportamento dos spins nucleares na ausência do campo magnético

externo (a) e na presença do campo magnético externo (b). .................................... 33

Figura 6. Diferença de energia para I = 1/2, na presença de um campo magnético

externo B0. ................................................................................................................. 34

Figura 7. Movimento de precessão do núcleo. ......................................................... 35

Figura 8. Conjunto de spins no estado a, no equilíbrio, gerando a magnetização

resultante na direção de B0. ....................................................................................... 36

Figura 9. Fenômeno de ressonância – adaptado.65 .................................................. 36

Figura 10. Decaimento de indução livre (DIL) de 1H de uma amostra, obtido no

domínio do tempo, e logo após aplicação da FT para obtenção do espectro. .......... 37

Figura 11. Relaxação longitudinal T1. Retorno dos spins ao equilíbrio térmico inicial.

................................................................................................................................... 38

Figura 12. Processo de Inversão-Recuperação. ....................................................... 38

Figura 13. Processo de relaxação transversal, T2. ................................................... 39

Figura 14. Efeito de blindagem dos elétrons. ............................................................ 40

Figura 15. Quadro de correlação simplificada entre valores de deslocamento químico

de prótons. ................................................................................................................. 40

Figura 16. Número de publicações relacionando as palavras chaves: “capsaicinoids”

e “NMR” - adaptado. (Fonte: Web of Science. Acessado em 26 de fevereiro de 2019)

................................................................................................................................... 41

Figura 17. Curva de calibração demonstrativa sobre o procedimento de cálculo do LD

(a) e LQ (b). – adaptado.92 ......................................................................................... 50

Figura 18. Fluxograma da obtenção do extrato metanólico da pimenta malagueta. 54

Figura 19. Ensaio de linearidade para validação do método de RMNq de 1H para

análise de capsaicinóides em pimentas comerciais. ................................................. 58

Figura 20. Cromatograma do extrato metanólico obtido da pimenta malagueta, na

concentração de 4000 ppm. ...................................................................................... 61

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Figura 21. Aproximação do cromatograma do extrato metanólico, no intervalo de 23,4

min a 28,4 min. .......................................................................................................... 62

Figura 22. Resultado do espectro de massas obtido das análises de CG-EM para o

extrato metanólico. ..................................................................................................... 62

Figura 23. Cromatograma de CG-EM da fração contendo os capsaicinóides. ......... 63

Figura 24. Cromatograma obtido do CLAE da fração contendo os capsaicinóides e

utilizado para a etapa de purificação dos mesmos. ................................................... 64

Figura 25. RMN de 1H da (a) dihidrocapsaicina e (b) capsaicina, sem uso de solvente

deuterado. .................................................................................................................. 65

Figura 26. RMN de 1H da capsaicina contendo os valores das integrais, deslocamento

químico e expansão das regiões de interesse. .......................................................... 66

Figura 27. RMN de 1H da dihidrocapsaicina contendo os valores das integrais,

deslocamento químico e expansão das regiões de interesse. .................................. 67

Figura 28. RMN de 1H do outro capsaicinóide encontrado, sem uso de solvente

deuterado. .................................................................................................................. 69

Figura 29. RMN de 13C da capsaicina. ...................................................................... 70

Figura 30. RMN de 13C da dihidrocapsaicina. ........................................................... 71

Figura 31. RMN de 13C do capsaicinóide não identificado. ....................................... 71

Figura 32. Sobreposição dos espectros de RMN de 1H da capsaicina,

dihidrocapsaicina e do ácido maleico, mostrando a seletividade do método. ........... 72

Figura 33. Espectro de RMN de 1H da pimenta malagueta para comparação e

confirmação da seletividade. ..................................................................................... 73

Figura 34. Curva de calibração da capsaicina obtida da análise do sinal com

deslocamento químico igual a 5,4 ppm (a) e 6,7 ppm (b), e da dihidrocapsaicina em

6,7 ppm (c). ................................................................................................................ 75

Figura 35. Gráfico de dispersão dos resíduos para a capsaicina em 5,4 ppm (a) e 6,7

ppm (b), e para a dihidrocapsaicina em 6,7 ppm (c). ................................................ 75

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Classificação de pungência baseado em SHU. ......................................... 24

Tabela 2. Valores aproximados de SHU para alguns produtos comerciais à base de

pimenta. ..................................................................................................................... 24

Tabela 3. Atribuição dos sinais obtidos da análise de RMN de 1H para a capsaicina.

................................................................................................................................... 66

Tabela 4. Atribuição dos sinais obtidos da análise de RMN de 1H para a

dihidrocapsaicina. ...................................................................................................... 67

Tabela 5. Análise das Variâncias (ANOVA) da regressão. ........................................ 75

Tabela 6. Valores de Limites de Detecção e Quantificação para a capsaicina e a

dihidrocapsaicina obtida da análise de RMN de 1H, utilizando solvente não deuterado.

................................................................................................................................... 76

Tabela 7. Valores de exatidão (em %) para os analitos em baixa, média e alta

concentração. ............................................................................................................ 77

Tabela 8. Valores de DPR (em %) para os analitos em baixa, média e alta

concentração utilizados nos ensaios de precisão. ..................................................... 77

Tabela 9. Valores das integrais dos sinais das soluções de capsaicina e

dihidrocapsaicina, para avaliação da robustez. ......................................................... 78

Tabela 10. Valores de SHU calculados para 5 tipos de pimentas comerciais. .......... 79

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANOVA – Análise das Variâncias

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AOAC – Associação de Químicos Analíticos Oficiais (Association of Official Analytical

Chemists).

CC – Cromatografia em Coluna

CCD – Cromatografia em Camada Delgada (Thin Layer Chromatography)

CG – Cromatografia Gasosa

CG-EM – Cromatografia Gasosa acoplada ao Espectrômetro de Massas

CL – Cromatografia Líquida

CL-EM – Cromatografia Líquida acoplada ao Espectrômetro de Massas

CLAE – Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (High-performance Liquid

Chromatography)

CLC – Cromatografia Líquida Clássica

DIL – Decaimento da Indução Livre (Free Induction Decay)

DPR – Desvio Padrão Relativo

EFS-RMN – Extração de Fase Sólida acoplado à uma sonda de Ressonância

Magnética Nuclear

FM – Fórmula Molecular

FT – Transformada de Fourier

EM – Espectrometria de Massas

IV – Espectroscopia no Infravermelho

LD – Limite de Detecção

LQ – Limite de Quantificação

NIST – Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (National Institute of Standards and

Technology)

PI – Padrão Interno

RD – Tempo de relaxação (Rlaxation delay)

r.f. – Radiofrequência

RMN – Ressonância Magnética Nuclear

RMN de 1H – Ressonância Magnética Nuclear de próton

RMN de 13C – Ressonância Magnética Nuclear de carbono 13

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RMNq – Ressonância Magnética Nuclear quantitativa

SHU – Escala de Calor de Scoville (Scoville Heat Units)

Ta – Tempo de aquisição

tr – Tempo de retenção

UV – Espectroscopia no Ultravioleta

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LISTA DE SÍMBOLOS

°C – graus Celsius

δ – deslocamento químico

ΔE – diferença de energia

h – constante de Planck

I – spin nuclear

µ - momento magnético

µm – micrometros

µL – microlitros

u - frequência

g - razão giromagnética

A – massa atômica

Ax – área do sinal de 1H de um espectro

B0 – campo magnético

g – grama

H – hidrogênio

Hz – Hertz

J – Joules

K – Kelvin

Kesp – constante do espectrômetro

Kb – constante de Boltzmann

M0 – magnetização resultante

m – massa

M – massa molar

min – minutos

mm – milímetros

mL – mililitros

nm – nanômetros

N – nêutrons

P – pureza

ppm- partes por milhão

R – coeficiente de correlação

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R2 – coeficiente de determinação

s – desvio padrão

T – temperatura

T1 – relaxação longitudinal

T2 – relaxação transversal

Z – prótons

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RESUMO Os capsaicinóides são bem conhecidos por suas propriedades farmacológicas e são responsáveis por darem sabor às pimentas através de seu caráter pungente. Essa pungência, por sua vez, pode ser determinada através da quantificação dos capsaicinóides presentes na pimenta, por meio de técnicas cromatográficas, espectroscópicas, ou análises sensoriais como o Método de Scoville. Sendo assim, este trabalho apresenta um método rápido e simples para quantificação de capsaicinóides em pimentas comerciais, por meio da relação entre a área do analito e a área de um padrão interno obtida da análise de Ressonância Magnética Nuclear de 1H (RMN de 1H) sem o uso de uma solução com solvente deuterado. Primeiramente foi feita a extração dos capsaicinóides a partir da pimenta malagueta obtida comercialmente. A extração foi feita com metanol e com o auxílio de uma cuba ultrassônica. A partir dos extratos metanólicos, procedeu-se para a purificação e isolamento dos capsaicinóides, o qual foi feito por técnicas cromatográficas. A primeira etapa da purificação foi feita por cromatografia em coluna e a segunda etapa foi feita por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). Em ambos os processos, o acompanhamento das análises e identificação das frações foi feito por Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e Cromatografia Gasosa acoplada ao Espectômetro de Massas (CG-EM). Após isolados os capsaicinóides, eles foram caracterizados por RMN de 1H. As análises qualitativas e quantitativas de RMN foram feitas com as amostras diluídas em uma mistura de água e metanol não deuterados e comparadas com uma solução de ácido maleico em água deuterada. Para validação do método foram obtidas as figuras de mérito tais como seletividade, linearidade, limites de detecção e quantificação, exatidão, precisão e robustez, para os capsaicinóides: capsaicina e dihidrocapsaicina. O método desenvolvido apresentou excelente linearidade tendo um coeficiente de correlação (R) em torno de 0,9967, boa exatidão para amostras com concentração maiores do que 3 mg.mL-1, com uma faixa de erro em torno de 3%, boa robustez com variação mínima mesmo em análises feitas com amostras estocadas na geladeira durante 1 mês, boa precisão (<1,1%), e, limites detecção e quantificação variando entre 0,639 mg.mL-1 e 2,633 mg.mL-1, respectivamente. Com o intuito de avaliar o método proposto e aplicá-lo à determinação de pungência, foram analisadas amostras das pimentas Malagueta, Habanero, Bhut Jolokia, Trinidad Scorpion e Carolina Reaper, obtidas comercialmente, atribuindo seus respectivos valores de SHU (Escala de Calor de Scoville). Palavras-chave: RMN de 1H, análise quantitativa, solvente não deuterado, capsaicinóides, pimenta malagueta.

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ABSTRACT Capsaicinoids are widely known for their pharmacological properties and are responsible for flavoring peppers through their pungent aroma. In turn, this pungency can be determined by quantifying the capsaicinoids present in peppers by means of chromatographic and spectroscopic techniques, or sensory analysis such as the Scoville Scale. The present research presents a rapid and simple method for capsaicinoids quantification in commercial peppers by way of the relationship between analytes and an internal standard area resulting from 1H Nuclear Magnetic Resonance analysis (1H NMR) without using a deuterated solvent solution. Firstly, it was made the capsaicinoids extraction from the commercial chili pepper. The extraction process was made using methanol as a solvent and with the aid of an ultrasonic cleaner. From the methanolic extracts, it was proceeded to a capsaicinoids purification and isolation using chromatographic techniques. The first purification step was done by column chromatography, and the second one was done by High-performance Liquid Chromatography analysis (HPLC). In both of process, the analyses follow-up and fraction identification were done by Thin Layer Chromatography (TLC) and Gas Chromatography Mass Spectrometry (GC-MS). After of capsaicinoids isolation, they were characterized by 1H NMR analyses. Qualitative and quantitative 1H NMR analyses were done with samples diluted in a mixture of water and methanol non-deuterated, and then compared to a solution of maleic acid in deuterated water. For validation of the method, figures of merit such as selectivity, linearity, detection, and quantification limits, accuracy, precision, and robustness were obtained for capsaicin and dihydrocapsaicin. The presented method exhibits great linearity, with a correlation coefficient (R) of 0.9967, good accuracy for samples with concentration greater than 3 mg.mL-1, with an error rate close to 3%, good robustness with minimal variation observed even one month after sample stored, good precision (<1%), and detection and quantification limits from 0.639 mg.mL-1 to 2.633 mg.mL-1, respectively. In order to evaluate the proposed method and apply it for pungency determination, analyses were performed in commercially acquired samples of Malagueta, Habanero, Bhut Jolokia, Trinidad Scorpion, and Carolina Reaper peppers to assign respective SHU (Scoville Heat Units) values. Keywords: 1H NMR, quantitative analysis, non-deuterated solvent, capsaicinoids, chili pepper.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 19

1.1 Pimentas (Capsicum spp.) ........................................................................ 20

1.2 Unidade de calor de Scoville (SHU) ......................................................... 23

1.3 Técnicas analíticas aplicadas ao estudo dos alimentos ....................... 25

1.3.1 Cromatografia Gasosa (CG) .................................................................... 25

1.3.2 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) .................................... 27

1.3.3 Ressonância Magnética Nuclear (RMN) .................................................. 30

1.3.3.1 Histórico ………………………………….………………………….. 30

1.3.3.2 Fundamentação teórica da RMN ..……….……………………… 32

1.3.3.3 Aplicações da RMN ……………………………………………….. 41

1.3.3.4 RMN quantitativo (RMNq) ………………………………………… 43

1.3.3.5 Validação de método ……………………………………………… 46

2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 52

2.1 Objetivo geral ............................................................................................. 52

2.2 Objetivos específicos ................................................................................ 52

3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .................................................................. 53

3.1 Amostras .................................................................................................... 53

3.2 Reagentes Químicos ................................................................................. 53

3.3 Extração dos capsaicinóides ................................................................... 53

3.4 Purificação dos capsaicinóides ............................................................... 54

3.5 Análises de CG-EM .................................................................................... 55

3.6 Separação dos capsaicinóides ................................................................ 55

3.7 Análises de RMN ....................................................................................... 56

3.7.1 Instrumentação ........................................................................................ 56

3.7.2 RMN quantitativo (RMNq) ........................................................................ 57

3.7.2.1 Seletividade ……………………………………..….………………… 57

3.7.2.2 Linearidade …………………………………………………………… 58

3.7.2.3 Limites de Detecção e Quantificação ……………………………… 58

3.7.2.4 Exatidão ………….……………………………………………………. 59

3.7.2.5 Precisão …………….…………………………………………………. 59

3.7.2.6 Robustez …..……………………………………………………..…… 59

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18

3.7.3 Análises de pimentas comerciais ............................................................. 59

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 61

4.1 Extração dos Capsaicinóides ................................................................... 61

4.2 Purificação dos Capsaicinóides .............................................................. 63

4.3 Separação dos capsaicinóides ................................................................ 64

4.4 Análises de RMN ....................................................................................... 65

4.4.1 RMN quantitativo ..................................................................................... 72

4.4.1.1 Seletividade …………………………………………………….…… 72

4.4.1.2 Linearidade …………………………………………………….…… 74

4.4.1.3 Limites de Detecção e Quantificação …………………………… 76

4.4.1.4 Exatidão ……………………………………………………………. 76

4.4.1.5 Precisão …………………………………………………….……… 77

4.4.1.6 Robustez …………………………………………………………… 78

4.4.2 Quantificação dos capsaicinóides em pimentas comerciais e avaliação de

pungência ........................................................................................................... 79

5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 81

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 83

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1 INTRODUÇÃO

A Ciência dos Alimentos é o ramo da ciência que estuda a composição,

processamento e qualidade dos alimentos desde sua produção até a sua

comercialização.1-2 Uma de suas áreas é a Química dos Alimentos, e o número de

pesquisas voltadas para esse ramo têm crescido consideravelmente, haja visto que

alimentação é uma questão primordial para todo o ser humano. Por esse motivo,

diversos países possuem grande preocupação com políticas e pesquisas voltadas

para este assunto. Questões como segurança alimentar, saúde do consumidor,

agricultura e desenvolvimento, preocupações com o meio ambiente, consumo

sustentável, redução de perdas e desperdício e, redução da demanda de

biocombustível para produção e transporte, são assuntos que estão relacionados à

importância de estudarmos os alimentos consumidos, e fornecer soluções para as

problemáticas existentes.3

Outro assunto que têm despertado o interesse de diversos grupos de pesquisa

é o chamado “alimento funcional”. Este, corresponde ao alimento comum consumido

no cotidiano, e que possui propriedades benéficas além das nutricionais. Podemos

definir também como sendo todos os alimentos e bebidas que possuem ingredientes

específicos, fisiologicamente bons para a nossa saúde.4 As especiarias são um

exemplo comum de alimentos funcionais. Por vários anos, elas foram utilizadas

apenas como moedas de troca, ou como ingredientes que dão aroma, sabor,

pungência e cor aos alimentos. Contudo, diversas pesquisas têm sido desenvolvidas

de modo a reconhecer as propriedades medicinais que elas possuem. Srinivasan

(2005)5 descreve algumas propriedades medicinais de determinados tipos de

especiarias, dentre elas, estão as pimentas, as quais possuem atividade anti-

inflamatória e ajudam no alívio da dor causada por reumatismo, por exemplo. Tais

propriedades vêm dos componentes presentes nesses alimentos, uma vez que os

alimentos são formados por matrizes complexas de diversos componentes

bioquímicos.5

Sendo assim, para um estudo químico eficaz sobre esse assunto, é preciso

conhecer a composição dos alimentos, desenvolver métodos de análise para tal, bem

como métodos de preparação de amostras e selecionar a técnica adequada para esse

fim.6,7 Com intuito de regularizar esses métodos, existem alguns órgãos internacionais

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20

(como é o caso da AOAC – Association of Official Analytical Chemists) e nacionais

(ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que legislam sobre os

procedimentos de análise referentes ao tipo de produto a ser estudado, tais como:

insumos farmacêuticos, medicamentos, produtos biológicos, alimentos, e outros.6,8,9

Os parâmetros analíticos que esses órgãos mais exigem são robustez, sensibilidade,

eficiência e economia, a fim de garantir qualidade e segurança para os consumidores.

Todos estes parâmetros são avaliados para que um método seja validado.10,11

1.1 Pimentas (Capsicum spp.)

A pimenta é um produto amplamente consumido no mundo todo. Pertence à

família Solanaceae e ao gênero Capsicum, as espécies mais conhecidas são

Capsicum annuum (pimentão), Capsicum frutescens (pimenta malagueta), Capsicum

chinense (habanero) e Capsicum pendulum (pimenta dedo-de-moça).12 Elas variam

em tamanho, forma, cor, sabor e pungência. Dados da Embrapa (2006) relatam que

um quarto da população mundial consome pimenta e seu principal uso é como

condimento, devido a ardência característica do gênero Capsicum.12,13 Essa ardência,

por sua vez, é atribuída a dois dos principais capsaicinóides presentes no fruto, a

capsaicina e a dihidrocapsaicina. A ardência provocada pelas pimentas também pode

ser chamada de pungência ou picância, e é alvo de várias pesquisas desenvolvidas,

principalmente, na década de 20. Um artigo escrito por Maga e Todd, em 1975,12 fala

sobre as propriedades do gênero Capsicum, e relaciona alguns autores que

discutiram, em seus trabalhos, à cerca dessa propriedade sensorial das pimentas.

Maga e Todd12 relatam que autores como Jones e Pyman, em 1925, e Lapworth e

Royle, em 1919, definiram a capsaicina como sendo a substância mais pungente, e

autores como Ott e Zimmermann, em 1921, associaram a pungência à presença da

insaturação existente na estrutura química dos compostos, o que dois anos depois foi

confrontado por Nelson e Dawson, que disseram que a capsaicina e a

dihidrocapsaicina têm o mesmo grau de pungência.12,14

A Figura 1 mostra como exemplo de um fruto do gênero Capsicum, a morfologia

da pimenta malagueta, da espécie Capsicum frutescens. Segundo a Embrapa (2006),

a pimenta malagueta foi considerada uma das pimentas mais fortes conhecidas no

Brasil, ou seja, uma das pimentas com maior quantidade de capsaicinóides.13

Morfologicamente, a pimenta malagueta é composta por cálice, pedúnculo e placenta,

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sendo esta última, a região que contém a maior quantidade de capsaicinóides.

Kozukue et al. (2005)15 concluíram que 85% dos capsaicinóides estão presentes na

placenta. Pode-se dizer também que a quantidade de capsaicinóides pode variar

conforme o grau de maturidade do fruto e o modo como ele foi cultivado.15-17

Figura 1. Anatomia do fruto Capsicum frutescens (pimenta malagueta).

Em 1979, Iwai et al.18 relataram que apenas cinco capsaicinóides haviam sido

identificados até então, e que esses compostos eram de grande interesse para os

pesquisadores. Sendo assim, com o passar do tempo e o surgimento de novas

pesquisas, essa quantidade aumentou e hoje já se conhecem cerca de 25

capsaicinóides diferentes obtidos de forma natural. Dentre eles, os principais são

capsaicina, dihidrocapsaicina, nordihidrocapsaicina, homodihidrocapsaicina e

nonivamida, sendo a capsaicina a substância mais estudada dentre essas. Suas

respectivas estruturas químicas estão relacionadas na Figura 2. Kenneth T.

Hartman19 relata que a primeira pessoa a cristalizar a capsaicina foi J. C. Thresh, em

1876.18-20

Figura 2. Estrutura química dos principais capsaicinóides.

Placenta Cálice

Pedúnculo

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22

Uma busca na literatura revela inúmeros estudos sobre a capsaicina, os quais

dissertam acerca das propriedades físico-químicas dessa substância tais como

solubilidade, massa molar, ponto de fusão e ebulição, entre outras.21-23 Encontram-se

também, informações sobre seu potencial farmacológico21,24-26 e sobre os seus

métodos de análise, a saber: extração, purificação e quantificação.16,27-31

Wilbur Johnson, em 2007,32 publicou um relatório sobre a avaliação de

segurança de diversos produtos provenientes dos frutos do gênero Capsicum e sobre

a capsaicina. Nessa publicação ele descreve as propriedades físicas e químicas, a

composição, os métodos de análise, o uso e propriedades biológicas dos produtos de

Capsicum spp. No que diz respeito à capsaicina, o autor descreve os diferentes nomes

encontrados para esse composto, descreve também a capsaicina como sendo um

alcalóide cristalino de massa molar igual a 305,42 g.mol-1, sendo insolúvel em água,

porém, solúvel em álcoois e acetona, tendo ponto de ebulição entre 210-220°C e

ponto de fusão igual a 65°C.32

O potencial da capsaicina para atividades farmacológicas é constantemente

abordado, e autores relatam que a capsaicina possui uma potente atividade

antineoplásica em uma vasta gama de células cancerígenas humanas.33,34 Lau et al.

(2014)26 e Brown et al. (2010)34 revelam que a capsaicina anula a etapa de

carcinogênese na pele, no pulmão, no cólon, na próstata e na língua. Estes estudos

também revelam que, em altas concentrações, a capsaicina provoca o processo de

apoptose em vários tipos de células cancerígenas humanas, como por exemplo, o

câncer de mama e câncer gástrico. Estudos também destacam que exposições

prolongadas à capsaicina induz o processo de apoptose em câncer de pulmão, células

de leucemia, carcinoma de esôfago, próstata e células de câncer de cólon. Ressalta-

se também que a atividade antineoplásica da capsaicina é específica para células

cancerígenas, fazendo com que células normais permaneçam inalteradas.26,34 O

estudo realizado por Lau et al.26, em 2014, teve como foco principal a ação da

capsaicina em pequenas células do câncer de pulmão. Em 2015, Chen et al.35 também

relataram a atividade anticancerígena da capsaicina, além de avaliar e confirmar o

potencial antioxidante e anti-inflamatório da mesma.35

Quanto aos métodos analíticos empregados no estudo da capsaicina,

encontram-se relatos sobre o uso da cromatografia em camada delgada (CCD),27

cromatografia gasosa (CG),36 cromatografia líquida (CL),15 cromatografia líquida de

alta eficiência (CLAE),31 espectrometria de massas (EM), microextração em fase

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23

sólida37 e ressonância magnética nuclear (RMN).38 A partir desses estudos,

encontramos informações qualitativas e quantitativas sobre a substância em questão.

À respeito de suas informações quantitativas, o método mais antigo utilizado foi

desenvolvido por Wilbur L. Scoville, em 1912.39 Apesar desse método estar sendo

substituído por técnicas instrumentais modernas, ele continua sendo empregado e

servindo como base para o aprimoramento de outras técnicas. Esse método relaciona

o grau de pungência com a Unidade de Calor de Scoville (em inglês, Scoville Heat

Units – SHU).39

1.2 Unidade de calor de Scoville (SHU)

A pungência da pimenta é um dos fatores que determinam sua qualidade.40 Ela

pode variar conforme o tipo de pimenta, a forma de cultivo, as condições de

crescimento ou a adulteração.39,41 A determinação da pungência, e

consequentemente, da concentração dos capsaicinóides presentes também é algo

importante para o estudo biológico desses compostos que possuem diversas

atividades farmacológicas, como já mencionado no item anterior.

O primeiro método desenvolvido para avaliar a pungência das pimentas foi

criado em 1912, por Wilbur L. Scoville, e era baseado em um método

organoléptico.39,42,43

Esse método consiste na determinação sensorial da quantidade de açúcar

utilizada para neutralizar o calor da pimenta. A análise é feita com um grupo de

“provadores”, onde uma solução de extrato de pimenta é diluída com soluções de

açúcar e água, em porções definidas. Esse extrato de pimenta é preparado a partir da

maceração de um grão de Capsicum (in natura) em 100 mL de álcool, o qual é

submetido à agitação, e em seguida é filtrado. O provador é responsável por

experimentar a solução de extrato diluída com água adocicada até não sentir mais o

ardor da pimenta. Em seguida, é registrada a quantidade de diluições que foram feitas.

A medida de SHU é baseada nessa quantidade de diluições. Portanto, se uma

determinada pimenta precisa ser diluída 100 mil vezes, sua escala de Scoville será:

100.000 SHU. Uma das desvantagens desse método é a imprecisão, uma vez que

consiste em uma análise fundamentada na percepção humana. Hartman, em 1970,

definiu o método organoléptico desenvolvido por Scoville como um método de

aplicação muito limitada.17,19,39,42,44

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Em 1977, Todd et al. disseram que a pungência de uma determinada amostra

é obtida pela determinação do conteúdo bruto da capsaicina, multiplicado pelo valor

da pungência da capsaicina pura, a qual ele define como sendo 16,1 x 106. Todd

também cita que um dos primeiros trabalhos a determinar a pungência de produtos à

base de pimenta foi desenvolvido por ele mesmo, em 1958.41

Sendo assim, observa-se na literatura, que a partir do método proposto por

Scoville, diversos outros trabalhos foram sendo desenvolvidos de maneira a obter o

conteúdo de capsaicinóides presentes em uma determinada amostra, e muitos deles

associavam seus resultados com a Unidade de Calor de Scoville (SHU).17,25-29,38,39,41

Assim, foi desenvolvido uma classificação de pungência utilizando a SHU como

unidade de medida, conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1. Classificação de pungência baseado em SHU.

Faixa Classificação 0 – 700 SHU Não pungente

700 – 3.000 SHU Levemente pungente

3.000 – 25.000 SHU Moderadamente pungente 25.000 – 70.000 SHU Pungente

Maior do que 80.000 SHU Altamente pungente

Fonte: Babu et. al., 2014,44 González-Zamora et. al., 2013.17

Em 2012, Lau et al.33 mostraram uma escala de pungência para alguns tipos

de pimenta, as quais estão listadas na Tabela 2, sendo a maioria delas altamente

pungentes.33

Tabela 2. Valores aproximados de SHU para alguns produtos comerciais à base de pimenta.

Produtos à base de pimenta Valor aproximados de SHU Jalapeño e Chipottle 50.000

Thai 100.000

Jamaican Hot 210.000

Habanero Laranja 380.000

Habanero Savina Vermelha 600.000

Spray de pimenta utilizado pela polícia 5 x 106 Capsaicina pura 16 x 106

Fonte: Lau et al., 2012.33

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Apesar do Método de Scoville ainda ser bastante utilizado e servir como base

para a classificação da ardência dos produtos à base de pimenta, esse teste já tem

sido substituído por técnicas mais modernas e eficazes, tais como: Cromatografia

Líquida acoplada ao Espectrômetro de Massas (CL-EM),45 Cromatografia Gasosa

acoplada ao Espectrômetro de Massas (CG-EM)18 e Cromatografia Líquida de Alta

Eficiência (CLAE).46,47 Já existem estudos que quantificam os capsaicinóides por

RMN, no entanto, ainda não relacionaram os valores obtidos com o método de

Scoville.38,48

1.3 Técnicas analíticas aplicadas ao estudo dos alimentos

As primeiras análises realizadas, relacionadas à química dos alimentos, foram

feitas por via úmida, por volta do século 20. Essas análises envolviam combinações

de procedimentos analíticos como pesagem, filtração, extração por solvente,

destilação, titulações e outros.6 Ainda que os métodos clássicos por via úmida sejam

amplamente utilizados, com o passar do tempo, as técnicas analíticas baseadas em

análises cromatográficas ou espectroscópicas tornaram-se mais precisas,

melhorando seu limite de detecção e passando a serem utilizadas para uma gama

maior de aplicações alimentares. Estes métodos instrumentais desenvolvidos

aumentaram também a especificidade do analito, reduziram custos, simplificaram o

uso e tornaram-se automatizados.6,10

Cada técnica possui sua especificidade, bem como vantagens e desvantagens.

Atualmente, na química alimentícia, as técnicas instrumentais mais utilizadas são:

espectroscopia no ultravioleta (UV), espectroscopia no infravermelho (IV), CG, CL,

absorção atômica, EM, e RMN, onde esta última tem crescido consideravelmente.

1.3.1 Cromatografia Gasosa (CG)

A Cromatografia Gasosa é uma técnica amplamente presente nos laboratórios

que utilizam análise química. Algumas técnicas semelhantes a ela começaram a surgir

em 1930, contudo, seu real desenvolvimento se deu em 1952, por James e Martin. A

partir desse momento, o crescente interesse pela técnica, desencadeou em grandes

avanços para a mesma. Essa técnica baseia-se na separação de gases ou

substâncias volatilizáveis por uma fase móvel (gasosa) através de uma fase

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estacionária (sólida ou líquida), onde as substâncias são separadas de acordo com

sua afinidade com a fase estacionária ou com a fase móvel, chegando à saída da

coluna em tempos diferentes, conforme ilustra a Figura 3. Por meio de um detector

adequado, elas são identificadas e também podem ser quantificadas.49,50

Figura 3. Esquema básico de um Cromatógrafo Gasoso.

Tendo como foco a matriz alimentícia escolhida para estudo, uma busca na

literatura revela o amplo uso da CG no estudo das pimentas do gênero Capsicum spp.

Seu uso está relacionado tanto a análises qualitativas quanto a análises quantitativas.

Na década de 70, tanto Hartman (1970)19 quanto Todd et al. (1977)41 utilizaram

o CG para análises quantitativas. Hartman utilizou um cromatógrafo gás-líquido para

quantificar o teor de capsaicina presente em frutos dos gêneros Capsicum, e Todd et

al. utilizou o CG para obter as concentrações de capsaicinóides presentes em

algumas amostras. Ambos converteram os valores de concentração encontrados para

SHU. Todd et al. executou também a metodologia proposta por Wilbur L. Scoville

(1912), a fim de comparar com o método instrumental abordado. Como resultado, a

CG mostrou melhor exatidão, precisão e eficiência frente ao método organoléptico.41

Já Iwai et al. (1979)18 utilizaram o CG-EM apenas qualitativamente, para identificar a

capsaicina e quatro de seus análogos.18

Thomas et al. (1998)51 apresentaram a CG como uma técnica rápida, simples

e segura no que tange à detecção dos capsaicinóides presentes em extratos de

pimenta e à quantificação dos mesmos, associando-os à escala de Scoville. A

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identificação dos compostos presentes nos extratos foi feita por meio da comparação

entre os tempos de retenção (tr) obtidos para os picos em análise e os tempos de

retenção obtidos para os padrões externos. Além disso, a confirmação estrutural para

os capsaicinóides foi feita utilizando um espectrômetro de massas acoplado ao CG,

como sistema de detecção. Foram analisadas amostras de pimenta dos gêneros

Capsicum frutescens, Capsicum annuum e Capsicum chinense, totalizando 23 tipos

diferentes de pimenta.51

Alguns trabalhos mais recentes como o de Peña-Alvarez et al. (2009),37

Nwoken et al. (2010)40 e Bononi e Tateo (2012)36 também utilizam o CG como uma

ferramenta de quantificação. Peña-Alvarez et al. (2009)36 identificaram e quantificaram

11 variedades de pimentas e 4 molhos de pimenta. A quantificação foi feita por meio

da construção de uma curva de calibração com os padrões de capsaicina e

dihidrocapsaicina, obtendo-se um R2 = 0,9970, demonstrando, portanto, a elevada

linearidade do método. Para este estudo, também foi calculado a precisão, mostrando

o CG como sendo um método instrumental preciso.37 Nwoken et al. propuseram um

método simples de determinação de capsaicina para 5 tipos de pimenta, utilizando um

CG-EM, sem que fosse preciso passar por uma etapa de derivatização. As

concentrações dos capsaicinóides foram obtidas e convertidas em SHU, atribuindo

então, seu grau de pungência.40 Por fim, Bononi e Tateo (2012)36, descrevem a

aplicação do CG como uma ferramenta que pode ser usada em análises de rotina

para controle de qualidade. A quantificação de 10 amostras de pimenta (Capsicum

spp.) foi feita utilizando padrões, e a partir das concentrações obtidas, foi determinada

seu respectivo valor de SHU.36

1.3.2 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE)

A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência é uma técnica mais nova,

comparada à CG, e com o passar dos anos têm sofrido algumas modificações para

torná-la uma técnica ainda mais eficiente e com uma gama maior de aplicações. Esta

técnica também é considerada muito importante para os laboratórios analíticos.49

A cromatografia líquida surgiu com a Cromatografia Líquida Clássica (CLC),

também chamada de Cromatografia em Coluna (CC), onde se utiliza uma coluna de

vidro, preenchida com sílica ou um recheio apropriado para a análise a ser realizada,

e a amostra é então aplicada na coluna e eluída com uma proporção adequada de

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solventes polares e apolares. A vazão do eluente é controlada pela ação da gravidade,

e as frações da amostra são coletadas manualmente.49

A CLAE segue o mesmo princípio da CLC, no entanto, a pressão com que o

eluente flui pela coluna é muito maior, e a coluna utilizada é fechada, recheada com

partículas menores, aumentando a área de contato da amostra com a fase

estacionária, e consequentemente, sua resolução. A Figura 4 mostra um esquema da

CLAE. Seu progresso se deu a partir dos anos 70, e até hoje ela está em constante

aprimoramento, sendo aplicada à diversas áreas de pesquisa.49

No estudo dos alimentos, pode-se dizer que é uma das técnicas mais utilizadas.

Sendo assim, quando trazida para o campo de estudo em questão, uma busca na

literatura revela diversos artigos onde os capsaicinóides são identificados, isolados ou

quantificados pela técnica de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência.

Figura 4. Esquema básico de um Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência.

Attuquayefio e Buckle (1987)52 foram alguns dos primeiros autores a

associarem o uso da CLAE às análises dos frutos do gênero Capsicum. Nesse estudo,

a CLAE foi utilizada como uma técnica de identificação e separação. Para a

identificação foram utilizados padrões dos capsaicinóides, e para a separação foram

utilizados metanol e água (63:37) como fase móvel, e uma coluna C18 (8 mm de

diâmetro interno, 5 µm de tamanho de partícula) como fase estacionária, o método

apresentado mostrou-se rápido, eficiente e seguro.52

Em 1997, Maillard et al.53 utilizaram a CLAE para separar e quantificar os

capsaicinóides encontrados nas oleoresinas obtidas da extração das pimentas. O

estudo foi feito para 11 capsaicinóides presentes nos frutos do gênero Capsicum

frutescens e na pimenta Caiena. Como fase móvel foi utilizado uma mistura de

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metanol/água/ácido acético, na proporção de 60:39:1, respectivamente. A

quantificação foi feita por meio da construção de uma curva de calibração e a

concentração do analito foi determinada baseado na curva.53

Nyberg et al. (2001)54 abordaram o uso da CLAE para a separação dos

compostos presentes nos extratos da pimenta Habanero (Capsicum chinense),

utilizando como fase móvel 60% acetonitrila e 40% água acidificada com 1% ácido

acético. Dessa forma, o trabalho desenvolvido mostra o uso da CLAE como uma

técnica eficiente para a separação dos capsaicinóides.54

Em 2005, dois trabalhos importantes foram desenvolvidos utilizando a CLAE

acoplada à um espectrômetro de massas para análise de produtos à base de pimenta.

O primeiro, desenvolvido por Kozukue et al.15 abordou a análise de oito capsaicinóides

presentes nas pimentas e em produtos comerciais à base de pimentas. Como fase

móvel foi utilizado uma proporção de acetonitrila e água acidificada com ácido fórmico

1% (45:55). A identificação dos capsaicinóides foi feita com base nos tempos de

retenção e nos espectros de massa obtidos de cada pico representado no

cromatograma, e a quantificação foi feita relacionando a área dos padrões utilizados

com a área dos picos correspondentes nas amostras estudadas, presentes no

cromatograma. Foram analisadas 17 espécies de pimentas e 23 produtos feitos à

base de pimenta. Os autores também utilizaram a CLAE para estudar as diferentes

partes (placenta, sementes e pericarpo) da “Hot Korean Pepper”, e como resultado,

encontraram que a região de maior pungência é a placenta, possuindo cerca de 85%

dos capsaicinóides.15 O segundo, desenvolvido por Schweiggert et al.55 mostrou a

utilização da CLAE acoplada à um espectrômetro de massas, e, também associada à

ionização química à pressão atmosférica. O objetivo do trabalho foi caracterizar os

capsaicinóides extraídos da Capsicum frutescens. Esse tipo de análise se dá por meio

do padrão específico de cada fragmentação. Como resultado, foram detectados 23

compostos, sendo 15 deles pertencentes ao grupo dos capsaicinóides, onde três

deles correspondiam aos capsaicinóides mais comuns.55

Os trabalhos mais recentes desenvolvidos para esse tipo de estudo são os de

Nascimento et al. (2013),16 Kuzma et al. (2014),42 e o de Fan et al. (2017).56 Todos

eles abordam o uso da CLAE como instrumento de quantificação dos capsaicinóides.

Nascimento et al. (2013)16 utilizam a CLAE tanto para identificar quanto para separar

e quantificar os capsaicinóides. Primeiramente é abordada a análise qualitativa da

CLAE em extratos de pimenta malagueta (Capsicum frutescens), e em seguida, o

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mesmo instrumento é utilizado para separação e quantificação da capsaicina, da

dihidrocapsaicina e do crisoeriol, individualmente. Utilizando substâncias padrões dos

analitos acima, de pureza conhecida, foram obtidas as curvas de calibração por meio

de análises realizadas também com a CLAE. Esse trabalho mostra a versatilidade da

técnica em questão.16 O trabalho abordado por Kuzma et al. (2014)42 mostra todo o

processo de validação de um método de análise de extratos industriais de Capsicum

utilizando a CLAE como técnica de análise. Como resultado, provou-se que o método

é linear, possui boa seletividade, precisão e repetibilidade, além de bons limites de

detecção e quantificação.42 Quanto ao trabalho desenvolvido por Fan et al. (2017)56,

ele é mais voltado para a otimização do processo de extração dos capsaicinóides.

Contudo, os autores utilizaram a CLAE para quantificar o teor de capsaicina obtido,

avaliando seu rendimento e pureza, registrando um rendimento de 95,5% para a

extração da capsaicina.56

Além dos artigos citados, existem ainda outros autores que também utilizam a

CLAE para quantificar os capsaicinóides, e alguns deles também atribuem o valor de

SHU para as concentrações obtidas, são eles: Sato et al. (1999),57 Batchelor e Jones

(2000),43 Kurian e Starks (2002),58 Sanatombi e Sharma (2008),31 Othman et al.

(2011),59 Juangsamoot et al. (2012),46 González-Zamora et al. (2013),17 Babu et al.

(2014),44 Nascimento et al. (2014),60 Popelka et al. (2017)30 e outros. Diante desse

panorama, observa-se o vasto uso dessa técnica no estudo da matriz alimentícia em

questão, a saber: as pimentas (Capsicum spp.).

1.3.3 Ressonância Magnética Nuclear (RMN)

1.3.3.1 Histórico

A Ressonância Magnética Nuclear (RMN) começou a surgir por volta de 1920,

quando Stern e Gerlach observaram que ao aplicar um campo magnético não-

homogêneo à um feixe de átomos, eles se desviavam e orientavam-se conforme o

campo magnético. Foi então que, em 1924, Pauli sugeriu a existência de campos

magnéticos, os quais agiam como se fossem pequenos ímãs. Assim, em meados de

1930, Stern e Gerlach determinaram a existência dos momentos magnéticos

nucleares, e em 1933, eles introduziram a ideia de que existe um momento dipolo

magnético para núcleos de hidrogênio. Em 1939, Rabi e colaboradores observaram

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que ao aplicarem uma radiação no domínio das radiofrequências, juntamente com a

aplicação do campo magnético, o feixe de hidrogênios absorvia energia e sofria um

pequeno desvio.61-63

Em meados de 1945 e 1946, Bloch e Purcell, cada um em sua respectiva

Universidade nos EUA, decidiram medir os momentos magnéticos com uma maior

precisão. Foi então que eles observaram sinais de radiofrequência sendo absorvidos

por água (Bloch) e parafina (Purcell).61

No início da década de 50, Packard e outros colaboradores de Bloch fizeram a

medida dos momentos magnéticos com etanol, ao invés de água. Como resultado,

eles observaram que ao invés de um sinal, conforme observado na análise de água,

para o etanol eles obtiveram três sinais provenientes dos núcleos de H. Foi então que

eles perceberam que a intensidade do sinal estava associada aos H presentes na

estrutura do etanol. Essa década foi marcada por diversos avanços no uso da técnica

de RMN, por exemplo, descobriu-se que a frequência de ressonância de um núcleo é

influenciada pelo ambiente químico onde ele está submetido. Outro exemplo é o uso

da rotação da amostra de modo a melhorar a resolução do espectro obtido, uma vez

que ele minimiza o efeito não-homogêneo do campo magnético. Após esses avanços,

seu uso começou a ser aplicado à diversas áreas.61,63

A década de 60 foi marcada pelo uso de computadores associados à RMN.

Eles vieram para melhorar a sensibilidade da técnica, permitindo a combinação de

espectros obtidos repetidas vezes e utilizando a média do sinal obtido. Com isso, foi

possível analisar amostras de menores quantidades. A introdução do processo

conhecido como Transformada de Fourier (FT), tornou a obtenção do sinal um

procedimento mais rápido e eficiente, melhorando a razão sinal/ruído.61-63

Em 1970, o próximo avanço da RMN se deu com a introdução de ímãs

supercondutores responsáveis por gerar um campo magnético mais intenso. Dessa

forma, núcleos com abundância isotópica baixa puderam também ser observados por

RMN. Outro avanço que ocorreu nessa época foi a introdução de técnicas de impulsos

de radiofrequência, em lugar de se utilizar uma fonte de variação contínua de

frequência. Esses avanços corroboraram para o surgimento das técnicas especiais de

ressonância múltipla, bem como para o surgimento da RMN bidimensional.61-63

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32

1.3.3.2 Fundamentação teórica da RMN

A técnica de RMN é fundamentada na absorção seletiva de ondas de

radiofrequência (r.f.) por amostras imersas em um campo magnético. Após excitada,

a amostra retorna ao estado inicial emitindo energia no domínio das radiofrequências.

A essência da informação está na determinação da r.f. específica emitida e a

velocidade com que a amostra retorna ao ponto de partida.61-66

Como técnica espectroscópica, a RMN estuda a interação entre energia e

matéria, onde a energia absorvida ou emitida obedece a condição estabelecida por

Bohr (Equação 1): 61-66 |∆𝐸| = ℎ𝜐 (1)

Onde DE é a diferença de energia da matéria em estudo entre os estados inicial e

final, h é a constante de Planck e u é a frequência de radiação. Como DE para as

transições magnéticas nucleares é muito pequeno, a frequência de radiação cairá,

portanto, entre os valores das radiofrequências.61-66

Assim como em outros tipos de análises espectroscópicas, os espectros de

RMN são representados na forma de gráficos que relacionam a probabilidade de

absorção (ou emissão) de energia em função da frequência, u. Essa informação

dependerá da natureza dos núcleos magnéticos.61-66

Para uma molécula ser “ativa” para a RMN, ela precisa possuir núcleos

magnéticos. Esses núcleos, por sua vez, possuem várias propriedades físicas

importantes, tais como: massa, carga elétrica, momento magnético (µ) e spin nuclear.

Dentre esses, os mais importantes para o estudo da RMN são o momento magnético

e o spin nuclear, porque conferem ao núcleo o comportamento semelhante ao de

pequenos ímãs. A Equação 2 mostra a relação entre o momento magnético e o spin

nuclear, e, portanto, somente núcleos com valores de spin nuclear diferente de zero (I

¹ 0) apresentarão propriedades magnéticas.61-66

𝜇 = 𝛾. 𝐼 (2)

Baseado na Equação 2, temos que g é a razão giromagnética e é constante

para cada nuclídeo. Essa equação mostra também a relação diretamente proporcional

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existente entre o µ e a g, onde, quanto maior for a g, maior será o momento magnético

do núcleo, e consequentemente, haverá maior interação do núcleo com o campo

magnético externo.61-66

A mecânica quântica diz que o spin nuclear determina se a partícula possui ou

não propriedade magnética, uma vez que é uma propriedade intrínseca de cada

núcleo. Sua grandeza é expressa como número quântico de spin nuclear (I), o qual

pode assumir valores maior ou igual a zero, inteiro ou semi-inteiro. Esses valores

variam conforme a quantidade de prótons (Z), nêutrons (N) e a massa (A) de um

núcleo, onde:61-66

o I = 0, se A e Z forem pares;

o I = inteiro, se A for par e Z for ímpar;

o I = meio-inteiro, se A for ímpar.

Esses núcleos, por sua vez, possuem um momento dipolo magnético e na

presença de um campo magnético externo, tendem à orientar-se a favor ou contra a

direção do campo, conforme ilustra a Figura 5. Esse fenômeno ocorre, porque na

ausência do campo magnético (Figura 5a), os núcleos são degenerados, possuem o

mesmo nível de energia e estão em distribuição aleatória. No entanto, ao se aplicar

um campo magnético externo (Figura 5b), a degenerescência é quebrada, o campo

B0 interage com o momento magnético de cada núcleo orientando-os a favor ou contra

a direção do campo magnético externo. Alterar essa orientação exige energia, e como

o momento magnético varia conforme a espécie, a energia necessária para que essa

alteração ocorra, varia de nuclídeo para nuclídeo.61-66

Figura 5. Comportamento dos spins nucleares na ausência do campo magnético externo (a) e na

presença do campo magnético externo (b).

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

B0 = 0 B0

a) b)

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34

Um dos postulados mais importantes da Mecânica Quântica, diz que o

momento angular de uma partícula possui valores definidos, em outras palavras, é

dito que ele está quantizado, ou seja, só determinados níveis energéticos são

possíveis, e essa quantização é referente a energia da partícula. A quantidade de

níveis energéticos é baseada no spin nuclear e calculada pela Equação 3.61-66

Níveis de energia = 2I +1 (3)

Onde I refere-se ao número quântico de spin nuclear.

Dessa forma, para um núcleo 1H, teremos I = ½, e consequentemente, dois

níveis de energia, denominados estados a e b. Os núcleos mais comuns e mais

estudados por RMN são os que apresentam I = ½, como é o caso do 1H e do 13C. Isso

ocorre porque as cargas desses núcleos possuem distribuição uniforme.61-66

A Figura 6 mostra a diferença de energia entre os estados a e b, onde o estado

a corresponde ao estado de menor energia, e é onde os spins estarão orientados à

favor do campo, e o estado b corresponde ao estado de maior energia, e os spins

estarão orientados contra o campo.61-66

Figura 6. Diferença de energia para I = 1/2, na presença de um campo magnético externo B0.

Portanto, como existe diferença de energia, haverá também diferentes

populações presentes nos estados a e b, onde o estado de menor energia (a) terá um

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35

pequeno excesso populacional comparado ao estado de maior energia (b). Esse

excesso é definido pela distribuição de Boltzmann, conforme a Equação 4:61-66

-a-b=𝑒

D/012 (4)

Onde Na e Nb correspondem ao número de núcleos para cada estado de energia

respectivo, a e b, KB é a constante de Boltzmann (1,38 x 10-23 J.K-1), T é a temperatura

absoluta (K) e DE é a diferença de energia entre os dois estados (J). Essa diferença

de energia, por sua vez, é considerada pequena, e, portanto, a diferença populacional

existente entre os estados também é pequena. Por esse motivo, a RMN é considerada

uma técnica pouco sensível frente à outras técnicas espectroscópicas.61-66

Além da separação em níveis de energia, a interação entre momento magnético

e campo magnético faz com que os spins adquiram um movimento circular em torno

do campo B0, mantendo o ângulo entre os vetores, constante. Esse movimento é

chamado de movimento de precessão (Figura 7), e a frequência com que o núcleo

precessa é chamada de frequência de Larmor. A mecânica clássica explica que isso

ocorre devido ao torque aplicado pelo campo B0 no núcleo.61-66

Figura 7. Movimento de precessão do núcleo.

Dado que na presença do campo magnético, os núcleos orientam-se a favor ou

contra o campo e, tendo em vista que o estado de menor energia possui mais núcleos,

teremos que, para um conjunto de núcleos haverá, portanto, uma magnetização

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36

resultante (M0) ao longo do eixo z, conforme ilustra a Figura 8.61-66

Figura 8. Conjunto de spins no estado a, no equilíbrio, gerando a magnetização resultante na direção

de B0.

A Figura 9 mostra o fenômeno de ressonância. Quando o campo magnético é

aplicado, o núcleo precessa em torno do campo B0, segundo a frequência de Larmor.

Assim, ao aplicar um pulso de radiofrequência, teremos que a componente do campo

elétrico oscilatório da radiação incidente se igualará à frequência do campo elétrico

gerado pelo núcleo que está precessando, fazendo com que os dois campos se

acoplem, absorvendo energia. Esse fenômeno é chamado de ressonância.61-66

Figura 9. Fenômeno de ressonância – adaptado.65

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37

Após interromper a aplicação do pulso de r.f., os momentos magnéticos

retornarão à posição de equilíbrio, ou seja, retornarão ao eixo z, emitindo a energia

previamente absorvida. Esse fenômeno é conhecido como relaxação.61-66

Em uma mesma amostra existem muitos núcleos diferentes e, portanto, muitas

frequências de radiação eletromagnética diferentes são emitidas simultaneamente. À

medida que os núcleos perdem a energia, a intensidade da emissão decai com o

tempo (Figura 10). Esse processo é chamado de decaimento da indução livre (DIL),

também conhecido como FID (Free Induction Decay). À partir da transformada de

Fourier, os componentes individuais do FID são separados e convertidos em

frequências, conforme também mostra a Figura 10, originando então o espectro de

RMN.61-66

Figura 10. Decaimento de indução livre (DIL) de 1H de uma amostra, obtido no domínio do tempo, e

logo após aplicação da FT para obtenção do espectro.

No que diz respeito ao processo de relaxação, existem dois tipos: a relaxação

longitudinal (T1) e a relaxação transversal (T2). A relaxação longitudinal T1

corresponde à recuperação total da magnetização dos spins nucleares excitados. Em

outras palavras, é dito que a relaxação longitudinal T1 corresponde ao retorno dos

spins ao equilíbrio térmico inicial, onde ocorre a perda da energia absorvida durante

a excitação (Figura 11). Essa transferência de energia caracteriza o processo como

entálpico. No entanto, não é detectado variação de temperatura, porque essa variação

é muito pequena e, portanto, quase não é notada.61-66

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38

Figura 11. Relaxação longitudinal T1. Retorno dos spins ao equilíbrio térmico inicial.

O método mais utilizado para medir T1 é o processo de Inversão-Recuperação,

e a aplicação do pulso ocorre conforme mostra a Figura 12.62,63

Figura 12. Processo de Inversão-Recuperação.

Ao aplicar um pulso de 180º, a magnetização resultante é invertida e retorna

ao eixo z após um tempo t1. Em seguida, aplica-se um pulso de 90º para medir a

intensidade da magnetização, durante um tempo de aquisição ta. RD é chamado de

relaxation delay, que é o tempo de espera para reiniciar o experimento.61-66

A intensidade da magnetização detectada (M) é descrita pela Equação 5.61-66

𝑀(𝑡) = 𝑀7 81 − 2𝑒<=>2> ? (5)

Baseado na equação 5, se t1 = T1 haverá apenas 26% da população de spins

recuperada no eixo z. Contudo, fazendo t1 = 5T1, têm-se que ocorrerá a recuperação

de, aproximadamente, 99% da população de spins. Fazendo o mesmo calculo para t1

= 7T1, têm-se 99,8% dos spins recuperados. Portanto, em análises quantitativas,

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antes da sequência de pulso ser repetida, é preciso esperar um tempo de, pelo menos,

5T1, a fim de garantir que, praticamente, todos os spins retornaram à magnetização

total.61-66

Quanto à relaxação transversal T2, esta corresponde à perda de magnetização

no plano xy. Também chamada de relaxação spin-spin, esse tipo de relaxação ocorre

sob influência da não-homogeneidade do campo, o qual faz com que os spins

precessem em frequências diferentes, resultando em uma defasagem dos vetores

magnetização individuais. Esse processo acarreta na perda de coerência de fase

entre os momentos magnéticos individuais no cone de precessão, sem alterar a

energia do sistema, caracterizando o processo como entrópico.61-66

A Figura 13 demonstra o processo de relaxação transversal, onde a não-

homogeneidade do campo faz com que os spins experimentem um campo local maior

do que o outro, fazendo com que os primeiros spins tenham uma frequência maior, e

os outros spins experimentem uma frequência menor, ocasionando um “retardo” dos

mesmos.61-66

Figura 13. Processo de relaxação transversal, T2.

Em uma mesma amostra existem diferentes núcleos, ou até mesmo, núcleos

iguais, porém em condições diferentes na molécula. Dessa forma, quando um campo

B0 é aplicado, os elétrons circulam gerando um campo magnético induzido, em

direção contrária ao campo magnético aplicado, caracterizando o efeito chamado

blindagem (Figura 14). Sendo assim, quanto maior for a densidade eletrônica ao redor

do núcleo, maior será o campo induzido contrário à B0, aumentando a blindagem do

núcleo. Essa blindagem, por sua vez, faz com que esses núcleos precessem em

frequências mais baixas. Por outro lado, em alguns casos, a nuvem eletrônica age de

forma contrária, fazendo com que o núcleo seja desblindado, acarretando em uma

frequência maior do que a esperada. Sendo assim, observa-se que o efeito indutivo

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dos núcleos que estão ligados ao grupo de interesse afetam o grau de blindagem.

Esses fatores interferirão, portanto, no deslocamento químico do núcleo analisado.61-

66

Figura 14. Efeito de blindagem dos elétrons.

O deslocamento químico (d) consiste na diferença entre a frequência de

absorção de um determinado núcleo e a frequência de absorção de um padrão.

Alguns fatores que influenciam no deslocamento químico são: eletronegatividade,

hibridização, ligação de hidrogênio, entre outros. Dessa forma, cada núcleo

apresentará um deslocamento químico diferente, exceto quando eles estão

submetidos às mesmas condições e influências. Na Figura 15, estão relacionados os

tipos de prótons mais essenciais e frequentemente encontrados em compostos

orgânicos. Essa característica torna a RMN uma técnica extremamente importante na

elucidação estrutural.61,64-66

Figura 15. Quadro de correlação simplificada entre valores de deslocamento químico de prótons.

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41

1.3.3.3 Aplicações da RMN

Comparado às outras técnicas analíticas, a RMN ainda precisa melhorar em

relação à sua sensibilidade. No entanto, esta técnica é bem abrangente, podendo ser

aplicada a matrizes líquidas ou sólidas, e também produzir resultados qualitativos e

quantitativos em uma mesma análise. Segundo Nazari et al. (2007)38 a RMN de 1H

tem sido usada como um método rápido e eficiente de análise quantitativa, além de

ser uma técnica não destrutiva. McGorrin (2009)6 também acrescenta que uma análise

de RMN requer menos tempo para preparação de amostra, usa pouca quantidade de

solvente, e possui rápido tempo de análise.

Marcone et al. (2013)67 escreve sobre as diversas aplicações da técnica de

RMN no estudo dos alimentos, tais como análise composicional, estrutural, de

inspeção microbiológica, física e química, além de monitorar o processamento dos

experimentos, bem como verificar adulteração e contaminação dos alimentos.67

Aplicada ao estudo dos frutos do gênero Capsicum, observa-se o uso da RMN

como análise qualitativa e quantitativa (RMNq), e, em sua maioria, ela é utilizada para

caracterização ou elucidação estrutural. Sua aplicação relacionada à essa matriz

alimentícia específica, ainda é restrita, possuindo poucos trabalhos nessa área,

conforme é demonstrado na Figura 16. Contudo, o uso da RMNq tem crescido

consideravelmente, sendo aplicado nas diversas áreas da química, biologia e ciências

farmacêuticas.

Figura 16. Número de publicações relacionando as palavras chaves: “capsaicinoids” e “NMR” -

adaptado. (Fonte: Web of Science. Acessado em 26 de fevereiro de 2019)

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

1994 2002 2003 2004 2006 2009 2011 2016 2017

Qua

ntid

ade

Ano publicado

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Em 1993, Kirby e Walker mostraram o uso da RMN quantitativa (RMNq) para

verificação da pureza dos capsaicinóides obtidos sinteticamente e fizeram a

comparação das quantidades de E-capsaicina e Z-capsaicina presentes em amostras

naturais de capsaicina.68

Nyberg et al. (2001)54 mostraram o desenvolvimento e o uso de um sistema

composto por um cartucho de extração em fase sólida acoplado à uma sonda de RMN

(EFS-RMN), utilizando solventes deuterados. O produto da extração da pimenta

Habanero (Capsicum chinense) foi submetido à uma etapa de pré-purificação

utilizando a CLAE, e as frações então obtidas foram analisadas no sistema EFS-RMN

desenvolvido. Segundo os autores, o espectro obtido apresentou boa qualidade e as

estruturas dos compostos foram determinadas.54

Em 2003, observa-se dois trabalhos importantes utilizando a RMN. O primeiro

se desenvolveu por Materska et al. (2003)69, onde a RMN foi utilizada em conjunto

com a CLAE e a técnica espectroscópica Ultravioleta (UV) para elucidação estrutural

dos flavonoides e fenólicos extraídos do pericarpo das pimentas pertencentes ao

gênero Capsicum annuum. Para as análises foram utilizados clorofórmio deuterado.

E o segundo trabalho foi desenvolvido por Catchpole et al. (2003)48, abordando o

aspecto quantitativo da RMN de 1H. Os autores avaliaram a extração das pimentas,

da pimenta-do-reino e do gengibre por um método específico, e essa avaliação é feita

por meio do rendimento obtido que, por sua vez, é calculado pela RMNq utilizando

clorofórmio deuterado. Para a validação do método, foram avaliadas três figuras de

mérito, a saber: linearidade, limite de detecção e precisão. A análise de RMNq

apresentou, portanto, boa linearidade (R2 = 0,9989) e baixa precisão. O limite de

detecção apresentou uma proporção de 30:1 e foi obtido através da relação sinal-

ruído. Os autores também disseram que a vantagem da RMNq frente à CLAE é que

a RMNq é um método mais rápido e que não precisa de uma ampla etapa de pré-

purificação.

Em 2006, Thompson et al.23 utilizaram a RMN de 13C para a caracterização de

15 capsaicinóides isolados a partir de uma mistura, e sua identificação foi feita

baseada em seus respectivos deslocamentos químicos. As análises foram feitas

utilizando clorofórmio deuterado.23

No ano seguinte, em 2007, Nazari et al.38 abordaram a RMNq. Contudo,

novamente, o foco do artigo foi dado às técnicas de extração, de modo a otimizar e

definir um melhor método para a extração da capsaicina presente nos frutos do gênero

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Capsicum frutescens. A análise quantitativa de RMN de 1H foi feita utilizando

clorofórmio deuterado como solvente e mostrou as regiões de deslocamento químico

a serem utilizadas para integração, e consequentemente a obtenção do teor de

capsaicina foi dada por meio dessas regiões. Os autores destacaram também que o

uso da RMNq dispensa a construção da curva de calibração, uma vez que a

quantidade do composto a ser calculado é obtida pela razão entre o valor da integral

do analito e o valor da integral do padrão interno.38

Em 2009, Li et al.70 abordaram apenas o aspecto qualitativo da RMN, utilizando

os dados obtidos da RMN de 1H e RMN de 13C para, juntamente, com os resultados

obtidos do espectrômetro de massas, elucidar as estruturas provenientes do

isolamento e purificação dos capsaicinóides presentes na Capsicum frutescens.70

Por fim, atualmente foi publicado um trabalho por Gómez-Calvario et al.

(2015)20, que reúne informações de análises de RMN de 1H e RMN de 13C de,

aproximadamente, 159 capsaicinóides naturais e sintéticos. Dessa forma, os autores

esquematizam uma tabela com os dados de RMN de diferentes tipos de

capsaicinóides, com o intuito de produzir uma base de dados organizada desse tipo

de dados.

1.3.3.4 RMN quantitativo (RMNq)

A RMN é uma técnica bastante utilizada qualitativamente na elucidação

estrutural de substâncias químicas, principalmente de compostos orgânicos.

Entretanto, sua aplicação para análises quantitativas também tem sido amplamente

empregada, uma vez que ela é uma técnica rápida e eficiente para esse tipo de

análise, além de fornecer informações qualitativas e quantitativas, simultaneamente.

Outra vantagem está em poder quantificar diferentes compostos em uma mesma

matriz sem precisar de padrões químicos idênticos.38,71

A RMNq está fundamentada na relação entre a área do sinal de 1H de um

espectro (Ax) e a quantidade de núcleos que absorvem energia na radiofrequência

para esse sinal (Nx). Essa relação é dada pela Equação 6:

𝐴A = 𝐾CDE. 𝑁A (6)

Onde Kesp é a constante do espectrômetro.11,72,73

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Para que essa relação seja válida, é preciso que os spins dos hidrogênios

estejam em equilíbrio térmico. Para isso, ao aplicar um pulso de 90°, a magnetização

longitudinal começará a ser lida no ponto nulo e relaxará até retornar ao equilíbrio.

Sendo assim, para que a magnetização seja praticamente completa e ocorra a

relaxação de quase todos os núcleos estudados, ou 99% deles, é preciso aplicar um

tempo de 5T1 na análise, conforme mostra matematicamente na Equação 7. Dessa

forma, aplicando 5T1, temos a garantia que 99% dos hidrogênios analisados

retornaram ao equilíbrio térmico.11,71,73

𝑄𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜𝑡M = 5𝑇P,𝑓 = 1 −𝑒<S2>2> (7)

À respeito do sinal a ser utilizado para quantificar, é preciso que o sinal

escolhido entre os demais não esteja sobreposto por outros e que possua a maior

intensidade possível. A quantificação desse sinal se dará pela razão molar do analito

e um padrão interno de massa conhecida, conforme a Equação 8. Onde n refere-se

ao número de mols, A é a área do sinal, N é o número de núcleos que absorvem na

frequência do sinal de ressonância, x corresponde ao analito de interesse, e PI é o

padrão interno.11,73 TUTVW

= XUXVW . -VW-U

(8)

A escolha do padrão interno (PI) é feita utilizando-se uma substância de pureza

e concentração conhecida. É de suma importância que o sinal referente ao PI não

sobreponha ao sinal dos núcleos referentes ao analito de interesse. A maioria das

substâncias utilizadas como padrão interno nas análises de RMNq são substâncias

que produzem espectros simples, com apenas um singleto, como por exemplo,

dimetilfurano, dimetilformamida e ácido maleico. Durante as análises de RMNq, o PI

é analisado ao mesmo tempo que a amostra, estando dentro de um tubo de inserção

coaxial, inserido no tubo que contém a amostra. Dessa forma, o mesmo PI pode ser

utilizado para todas as análises. O tetrametilsilano (TMS) é um padrão bastante

conhecido e utilizado em análises de RMN. Contudo, o uso desse padrão em análises

quantitativas não é adequado, uma vez que ele é altamente volátil, dificultando o seu

preparo como uma solução conhecida e de concentração precisa. 11,73

Partindo da equação 8, utiliza-se uma outra equação para calcular a pureza de

um analito em uma mistura (Equação 9), onde Px corresponde a pureza de um analito,

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PPI à pureza do padrão interno, M é a massa molar, e m é a massa da amostra.11,73

𝑃A = XU.-VW.ZU.[VWXVW.-U.ZVW.[

. 𝑃\] (9)

Baseado na equação 9, podemos dizer que é possível obter a pureza do analito

sem precisar construir uma curva de calibração, tornando a RMNq mais vantajosa

frente aos métodos cromatográficos e à outras técnicas espectroscópicas.

O primeiro uso da RMNq foi realizado por Jungnickel e Forbes (1963)72, para a

determinação do conteúdo percentual de 26 compostos puros, de modo a verificar a

exatidão do método a ser aplicado e mostrar a eficiência do uso da RMNq em análises

de diferentes compostos. Ainda nesse mesmo ano, Donald P. Hollis (1963)74, utilizou

a RMN para quantificar misturas de aspirina, fenacetina e cafeína. Nesse artigo, o

autor mostra a forma como foi calculado o teor de cada uma dessas substâncias e

define a RMNq como sendo uma análise rápida.72,74

Em 1986, Eberhart et al.75 também quantificaram misturas contendo aspirina,

fenacetina e cafeína, utilizando o 1,3,5-trioxano como padrão interno. O autor também

cita que em comparação com o método original de obtenção do teor de café, a RMNq

se mostra mais exata e precisa.75

Como a RMNq é uma técnica bastante eficiente na obtenção da pureza de

determinados compostos, observa-se então um vasto número de aplicações dessa

técnica no cálculo da pureza de determinados fármacos, substâncias biológicas e

outros, todos utilizando solvente deuterado.76-81

Barthi e Roy, em 2012,82 escreveram uma revisão bibliográfica sobre o uso da

espectroscopia quantitativa de RMN de 1H. Nesse trabalho, eles dissertaram à cerca

dos fundamentos da RMNq, os parâmetros que afetam a exatidão e a precisão da

mesma, suas propriedades físico-químicas, as técnicas de referência utilizadas na

RMNq, alguns outros procedimentos analíticos para essa técnica, falaram também

sobre a RMNq bidimensional, o processo de validação desta, e suas aplicações. Os

autores mostraram uma ampla aplicação da análise quantitativa de RMN, sendo

empregada nas análises farmacêuticas, no estudo dos produtos naturais, sínteses

orgânica, metabolômica, análises cinéticas e no monitoramento das reações, etc. No

que diz respeito à validação do método, os autores explicaram cada parâmetro

requerido (exatidão, precisão, linearidade, reprodutibilidade, seletividade, limites de

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46

quantificação e detecção, e robustez) e relataram os fatores que podem influenciar

em suas análises.82

Como já discutido em itens anteriores neste trabalho, para um método ser

eficaz, ele precisa ser validado. Por esta razão, existem alguns artigos que tratam

sobre esse assunto. Um deles foi escrito em 2013, por Godecke et al.83, onde foi

desenvolvido um método genérico de validação para análise quantitativa de RMN de 1H, de produtos naturais. Em 2016, Cerceau et al.84, validaram um método de análise

de RMNq de 1H no estudo de óleos essenciais, mostrando de maneira descritiva a

forma como foi calculado cada parâmetro (seletividade, linearidade, limites de

detecção e quantificação, exatidão, precisão e robustez) utilizado para a validação.

Em 2018, Rocha et al.73, descrevem a validação do método para quantificar a cocaína

e seus adulterantes sem o uso de solvente deuterado. Os parâmetros utilizados para

validação foram detalhados, mostrando cada procedimento realizado.73,83,84

No que diz respeito ao uso da RMNq para análise de alimentos, Simmler et al.

(2014)85, escreveram que a rapidez e a simplicidade da RMNq têm demonstrado um

avanço na ciência alimentícia. Eles argumentam que a crescente busca da técnica de

RMN para análises quantitativas, se dá devido à suas vantagens frente aos métodos

cromatográficos. Os autores citam o uso da RMNq para análises de vinho, leite, chá

e alimentos processados.85 Uma busca na literatura, nos revela outros trabalhos que

utilizam a RMNq para análise de produtos como vinho,86 café,87,88 graviola,89 ovo90 e

pimentas.38,48

No que tange ao estudo da matriz alimentícia em questão, a saber, as pimentas,

verifica-se apenas dois artigos relacionando a análise quantitativa de RMN aos frutos

do gênero Capsicum, sendo eles, os trabalhos desenvolvidos por Catchpole et al.

(2003)46, e por Nazari et al. (2007)38. Ambos desenvolveram a análise de quantificação

baseado na equação de pureza (Equação 5), afirmando que a análise quantitativa de

RMN não requer construção da curva de calibração. Para a validação, apenas

Catchpole et al. (2003)48 citam a obtenção de três figuras de mérito, de modo a provar

a eficiência do método proposto.38,48

1.3.3.5 Validação do método

A fim de garantir a qualidade dos resultados analíticos obtidos, é necessário a

realização da validação do método utilizado. Portanto, segundo a ANVISA (RDC nº

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166, de 24 de julho de 2017), para que um método seja validado, é necessário analisar

as seguintes figuras de mérito: seletividade, linearidade, limite de detecção, limite de

quantificação, exatidão, precisão e robustez.91

a. Seletividade

A seletividade deve ser demonstrada por meio da comprovação de que o sinal

de interesse utilizado é correspondente exclusivamente ao analito de interesse

presente na amostra, sem interferência de outros compostos presentes, tais como

matriz, impurezas, entre outros.73

b. Linearidade

A linearidade deve ser demonstrada por meio da capacidade de obter respostas

diretamente proporcionais a concentração do analito na amostra. As curvas de

linearidade são obtidas a partir de medições em 5 ou mais concentrações distintas do

analito em amostra de padrões, e a medida deve ser realizada em triplicata. As curvas

de calibração são construídas a partir da razão entre a área do sinal do analito e a

área do sinal do padrão interno, em função da concentração do analito. Além disso, o

coeficiente de correlação linear pode ser calculado de acordo com a Equação 10, onde

R é o coeficiente de correlação, x é a concentração do analito, �̅� é a média das

concentrações, y é a razão das áreas e 𝑦a é a média das razões de áreas:

𝑅 = ∑(AdA̅)(edea)fg(AdA̅)hg(edea)h

(10)

Para que um método seja linear, e portanto, considerado válido, a ANVISA

(RDC no 166, art. 27) dispõe que é preciso que o R seja maior ou igual a 0,990, o

coeficiente angular da curva de linearidade deve ser diferente de zero, também deve

ser apresentado o gráfico de dispersão dos resíduos juntamente com sua avaliação

estatística, e o nível de significância utilizado nos testes estatísticos deve ser de até

5%.91,92 Para modelos de regressão linear, o método de mínimos quadrados ordinários

é o mais utilizado, porque segundo hipótese de independência e avaliação da

homocedasticidade dos resíduos, esse método fornecerá estimadores centrados com

variância mínima.93,94

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O teste estatístico é feito então, por meio da Análise das Variâncias (ANOVA),

a qual baseia-se na dissolução da variação total da variável resposta em partes que

podem ser conferidas à tratamentos e à erros experimentais. Essa variação é medida

através das somas quadráticas e a soma dos quadrados dos resíduos, as quais

também implicam na obtenção dos quadrados médios de tratamentos e de resíduos,

que quando relacionados com o grau de liberdade, resultam no valor de F. Sendo

assim, por meio do teste F, e baseado no nível de significância escolhido (no caso da

ANVISA, 5%), avalia-se simultaneamente a significância de um conjunto de

parâmetros para análises de regressão linear, simples ou múltipla. Essa avaliação é

dada por meio da comparação entre o Fcalculado e o Ftabelado, onde, se Fcalculado > Ftabelado,

rejeitamos a hipótese nula, afirmando, portanto, que mais significativa e linear é a

regressão. 93,94

Entretanto, ainda que se tenha feito a ANOVA e a avaliação do teste F, é

importante que a normalidade dos erros seja avaliada, é importante considerar a

homegeneidade de variância dos erros. Caso não seja feito esse tipo de avaliação, a

validade dos resultados dos testes e as estimações realizadas podem ser

comprometidas. Para isso, um dos testes utilizados é o Teste de Cochran, o qual avalia

a homocedasticidade ou heterocedasticidade dos dados, ou seja, uma variação

constante ou não dos erros atrelados às variáveis. O caráter homocedástico do

método pode ser calculado tanto avaliando a relação entre a homocedasticidade

calculada e seu valor teórico, como através do gráfico de resíduos. Baseado no Teste

de Cochran, se o valor calculado é menor do que o teórico, teremos uma

homogeneidade na variância dos erros, caracterizando o processo como

homocedástico.95,96

Quanto ao gráfico de dispersão dos resíduos, este representa os resíduos em

função dos valores estimados da variável dependente em relação aos valores de uma

das variáveis independentes. Sendo assim, para que os erros sejam independentes e

de variância constante, é preciso que os pontos do gráfico se distribuam de maneira

aleatória em torno da reta a que se refere o resíduo zero. Dessa forma, é confirmada

a homocedasticidade do método.94

c. Limites de Detecção e Quantificação

O limite de detecção (LD) pode ser descrito como o menor teor do analito

presente na amostra que pode ser detectado pelo método. Ele pode ser obtido através

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do método visual, da relação sinal-ruído ou baseado em parâmetros da curva

analítica. O último método é considerado mais robusto e estatisticamente mais

confiável, uma vez que é baseado no intervalo de confiança da regressão, e não em

parâmetros qualitativos. Dessa forma, o produto entre o valor adequado de t da

distribuição de Student e o erro padrão associado ao sinal analítico obtido a partir da

equação de regressão, permite calcular o intervalo de confiança da curva analítica.

Nesse intervalo, o intercepto do limite superior do intervalo de confiança superior é o

yc, também conhecido como y crítico, e sua projeção no limite inferior é o valor

encontrado para o LD (Figura 17a), ou seja, a estimativa da concentração mínima do

analito presente na amostra, comprovado estatisticamente. As Equações 11 e 12

descrevem o cálculo de yc e LD, onde a0 é o coeficiente linear, a1 é o coeficiente

angular, N é o número total de amostras utilizadas como padrões de calibração e sy é

o desvio padrão.91,92

𝑦i = 𝑎7 +𝑠e. 𝑡. lmP-n + 1 + A̅h

∑ (AodA̅)hpoq>

(11)

𝐿𝐷 = 2. Dt.uv> . lmP-n + 1 +

(ewdea)h

v>h .∑ (AodA̅)hpoq>

(12)

Já o limite de quantificação (LQ) pode ser descrito como o menor teor do analito

que pode ser quantificado com precisão e exatidão pelo método, o qual foi obtido a

partir das Equações 13 a 15.91 Assim como o LD, o LQ também pode ser obtido pelos

métodos visual, da relação sinal-ruído ou baseado em parâmetros da curva analítica,

onde este último é o mais confiável estatisticamente. LQ é o limite de quantificação,

xc é o valor da concentração (x) no ponto de intercessão entre a0 e a reta de regressão,

e yh é o valor de y para a projeção de xc no limite superior (Figura 17b).92

𝑦x = 𝑎7 +2. 𝑠e. 𝑡. lmP-n + 1 + (AwdA̅)h

∑ (AodA̅)hpoq>

(13)

𝑥i =Dt.uv> . lmP-n + 1 +

A̅h

∑ (AodA̅)hpoq>

(14)

𝐿𝑄 = meydvzv>

n +mDt.uv>n . lmP-n + 1 +

(eydea)h

v>h .∑ (AodA̅)hpoq>

(15)

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Figura 17. Curva de calibração demonstrativa sobre o procedimento de cálculo do LD (a) e LQ (b). –

adaptado.92

d. Exatidão

A exatidão expressa o grau de concordância entre os valores obtidos individuais

do método em análise em relação a um valor considerado como verdadeiro. A

exatidão pode ser expressa pela razão entre a concentração média determinada

experimentalmente e a concentração teórica, de acordo com a Equação 16, onde C

representa a concentração.91

𝐸𝑥𝑎𝑡𝑖𝑑ã𝑜% = ~�U���o��p=��

~𝑥100 (16)

e. Precisão

A precisão deve demonstrar a proximidade entre os resultados obtidos e ser

expressa por meio da repetibilidade que deve avaliar as mesmas amostras sob as

mesmas condições de preparo, analista, operação e instrumentação em uma única

corrida analítica. 91 As análises são feitas em triplicata, onde a precisão é expressa

por meio do desvio padrão relativo (DPR) calculado de acordo com a Equação 17,

onde s é referente ao desvio padrão e �̅� representa a concentração média do analito.

𝐷𝑃𝑅 = DA̅ . 100 (17)

a) b)

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f. Robustez

A robustez demonstra a capacidade do método em resistir a pequenas

variações nas condições analíticas. Dessa forma, é importante identificar os possíveis

fatores que afetam os resultados, e avalia-los aplicados à amostra. Como o método é

linear, na RMNq os resultados podem ser expressos tanto em função dos valores das

integrais quanto em função das concentrações calculadas, uma vez que são

diretamente proporcionais. Alguns dos fatores mais utilizados na avaliação da

robustez são: variações de temperatura e tempo de estocagem. Os impactos de tais

variações devem ser avaliados da mesma forma que a exatidão.91

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Este trabalho teve por objetivo usar a técnica de RMN para identificar os

compostos majoritários extraídos da pimenta malagueta, bem como estudar os

condimentos à base de pimenta, fazendo análises qualitativas e quantitativas. Tendo

como foco o desenvolvimento do processo de validação de quantificação do teor de

capsaicina em condimentos comerciais por RMN de 1H sem o uso de solvente

deuterado.

2.2 Objetivos específicos • Utilizar técnicas simples de extração para obter os compostos presentes na

pimenta malagueta obtida comercialmente.

• Fazer uso de técnicas cromatográficas para isolá-los;

• Utilizar técnicas analíticas como CG-EM e o RMN de 1H e 13C para avaliar a

pureza dos capsaicinóides isolados.

• Análise qualitativa dos resultados obtidos;

• Obtenção das figuras de mérito para validação do método;

• Análise quantitativa dos capsaicinóides e obtenção da SHU, por RMN de 1H.

• Aplicação do método validado à amostras comerciais.

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3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

3.1 Amostras

A pimenta malagueta utilizada para extração dos capsaicinóides foi adquirida

in natura, diretamente do produtor rural. Já as pimentas (Malagueta, Bhut Jolokia,

Trinidad Scorpion, Habanero e Carolina Reaper) utilizadas para aplicação da técnica

foram compradas em supermercados locais.

3.2 Reagentes Químicos

Os reagentes metanol, hexano e acetato de etila P.A. utilizados para extração

e pré-purificação dos capsaicinóides foram adquiridos das empresas Dinâmica

Química Contemporânea Ltda, Neon Comercial Ltda e Sigma-Aldrich Brasil Ltda,

respectivamente. A acetonitrila de grau HPLC, empresa Honeywell International Inc,

foi utilizada para purificação dos capsaicinóides. Para a etapa de purificação também

foi utilizada água ultrapura. O metanol de grau HPLC foi adquirido da Sigma-Aldrich

Brasil Ltda e usado como solvente nas análises de RMN.

3.3 Extração dos capsaicinóides

O processo de extração dos capsaicinóides foi feito baseado nos trabalhos de

Thompson e Loa (2011)22 e Nascimento et al. (2013)16. Consistiu na retirada dos

cálices e pedúnculos da pimenta malagueta, restando a placenta, que em seguida

foram colocadas em estufa por, aproximadamente, 24 horas, à uma temperatura de

50°C. Após esse tempo, as pimentas foram retiradas da estufa e trituradas até virarem

pó. A amostra foi então dividida em béqueres contendo, aproximadamente, 30 g de

amostra. Em seguida foram adicionados 150 mL de metanol à cada béquer, os quais

foram deixados no ultrassom por 30 min. Após essa etapa, as amostras foram filtradas

com o intuito de remover os sólidos presentes, obtendo-se, portanto, os extratos de

metanol (Figura 18).

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Figura 18. Fluxograma da obtenção do extrato metanólico da pimenta malagueta.

3.4 Purificação dos capsaicinóides

Os extratos de metanol foram submetidos a um processo de purificação de modo

a isolar os capsaicinóides presentes. Para isso, esse processo foi realizado utilizando

Cromatografia em Coluna (CC), e a escolha da fase móvel foi feita baseada em

análises prévias dos extratos obtidos utilizando a Cromatografia de Camada Delgada

(CCD). Foram testadas algumas condições experimentais variando o tipo de sílica,

tamanho de coluna e proporção de eluente. Enfim, essa etapa de purificação foi feita

utilizando como fase estacionária sílica flash com as especificações 70-90 µm, 60 Å,

e uma fase móvel gradiente de hexano:acetato de etila nas proporções 7:3, 6:4 e 5:5,

respectivamente. Durante a etapa de purificação por CC foi utilizada a CCD para

identificação dos capsaicinóides (tr = 0,24, tendo como fase móvel hexano:acetato de

etila – 7:3).

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3.5 Análises de CG-EM

De forma qualitativa, com o intuito de confirmar a presença dos capsaicinóides

nas frações, foi utilizado um CG-EM da marca Agilent 19091S-433 UI, com uma

coluna ultra inert HP-5ms (30m x 250 µm x 0,25 µm). Como gás de arraste utilizou-se

o gás Hélio numa vazão de 1 mL.min-1, pressão de 1,8172 psi e pressão da amostra

em 14,5 psi. A temperatura inicial da coluna foi de 40°C por 1 min, e em seguida, foi

programada uma rampa de aquecimento de 10°C.min-1 até atingir 300°C por 5 min. A

temperatura do injetor foi de 260°C com a taxa de split de 10:1. O potencial de

ionização do EM foi de 70 eV, e a temperatura do detector foi programada para 280°C.

A identificação dos compostos foi feita comparando-se os tempos de retenção e os

cromatogramas de cada capsaicinóide, usando os dados espectrais obtidos da

biblioteca do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST, National Institute of

Standards and Technology). A NIST é uma Biblioteca Espectral de Massa composta

por uma série de dados espectrais referentes à inúmeros compostos presentes no

cotidiano. Baseado nesses dados, essa biblioteca relaciona os dados obtidos com

àqueles provenientes da análise de CG-EM, indicando então, as possíveis opções de

compostos que se referem ao pico selecionado em determinado tempo de retenção.

Sendo assim, utilizou-se dessa metodologia para identificar a presença dos

capsaicinóides no extrato e nas soluções analisadas por CG-EM.

3.6 Separação dos capsaicinóides

Após identificação da fração que continha os capsaicinóides, foi utilizado o

CLAE da Agilent Technologies, modelo 1260 Infinity, para proceder para o isolamento

das substâncias, a saber: capsaicina e dihidrocapsaicina. O equipamento continha

uma bomba de alta pressão, um injetor manual, uma coluna preparativa Zorbax SB-

C18 (21.2 x 250 mm, 7µm de diâmetro de partícula), e o detector foi configurado para

um comprimento de onda de 280 nm. O fluxo foi configurado para 9,0 mL.min-1, e cada

injeção foi feita com 50 µL de extrato dos capsaicinóides. Como fase móvel foi utilizado

acetonitrila e água destilada ultrapura na proporção 55:45, e as frações foram

coletadas manualmente. Após obtenção da capsaicina e da dihidrocapsaicina

individualmente, procedeu-se para a eliminação dos solventes utilizados e em

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seguida, os analitos foram caracterizados por RMN de 1H.

3.7 Análises de RMN

3.7.1 Instrumentação

Para as análises de RMN foi utilizado um espectrômetro 9.4 T Varian, modelo

VNMRS 400, utilizando uma sonda 5 mm BroadBand 1H/19F/X em uma temperatura

de 25°C. O software usado foi o VNMRj na versão 4.2. As análises de RMN de 1H

foram feitas, primeiramente, para 3 amostras de capsaicinóides solubilizadas em uma

mistura de 600 µL de metanol de grau HPLC e água destilada ultrapura (capsaicina:

18 mg; dihidrocapsaicina: 16 mg; “terceiro” capsaicinóide: 17 mg). Os parâmetros de

análise foram:

o Frequência: 399,80 MHz;

o Janela espectral: 6410,3 Hz;

o Tempo de Aquisição: 3,834 s;

o Tempo de Relaxação: 1,166 s;

o Pulso: 45º;

o Número de transientes (scans): 32.

Essas 3 amostras de capsaicinóides também foram submetidas a análises de

RMN de 13C em solvente não deuterado. Para as análises de RMN de 13C, os

parâmetros foram:

o Frequência: 100,52 MHz;

o Janela espectral: 25000,0 Hz;

o Tempo de Aquisição: 1,311 s;

o Tempo de Relaxação: 1 s;

o Pulso: 45º;

o Núcleo desacoplado: 1H;

o Número de transientes (scans): 2000.

Para o processo de validação, foram realizadas análises de RMN de 1H para

amostras de capsaicina e dihidrocapsaicina nas concentrações de 0,5 mg.mL-1 à 5,0

mg.mL-1 também em solvente não deuterado, e utilizando um tubo de inserção coaxial

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contendo a solução padrão de ácido maleico. Para essas análises, utilizou-se também

um padrão interno de 80 µL de uma solução de ácido maleico em água deuterada, de

concentração 6,7 mg.mL-1, colocadas em tubo de inserção coaxial.

Para garantir a magnetização de 99% dos núcleos estudados é preciso aplicar

um tempo igual ou maior do que 5T1 na análise, onde T1 é o tempo de relaxação

longitudinal. Dessa forma, foi aplicada a sequência de pulso inversão-recuperação 90°

com supressão do sinal da água (presat), e o tempo de relaxação longitudinal foi

medido para a capsaicina e para a dihidrocapsaicina, em suas concentrações menor

(0,5 mg.mL-1) e maior (5 mg.mL-1). Sendo assim, o tempo de relaxação utilizado foi

7T1, a fim de obter uma magnetização de 99,8% dos núcleos estudados. Portanto, as

análises de validação da capsaicina tiveram um tempo de relaxação de 42 segundos,

e as de dihidrocapsaicina de 49 segundos. Para as análises de RMN de 1H das

amostras de pimentas comerciais, foi utilizado um tempo de relaxação de 49

segundos. O número de scans utilizado foi igual a 64, com uma janela espectral de

6410,3 Hz. O processamento dos espectros de RMN foi feito com as correções

manuais da linha de base e da fase, quando necessário.

3.7.2 RMN quantitativo (RMNq)

A validação do método utilizado para quantificação de capsaicinóides por RMN

de 1H foi desenvolvida baseado nos requisitos exigidos pela ANVISA, em sua

resolução RDC nº 166, de 24 de julho de 2017. Tal resolução exige a análise das

seguintes figuras de mérito, para que o método seja validado: seletividade,

linearidade, limite de detecção, limite de quantificação, exatidão, precisão e

robustez.91

Para tais análises foram utilizadas soluções de capsaicina e dihidrocapsaicina,

nas concentrações de: 0,5 mg.mL-1 (Ponto 1), 1 mg.mL-1 (Ponto 2), 2 mg.mL-1 (Ponto

3), 3 mg.mL-1 (Ponto 4), 4 mg.mL-1 (Ponto 5) e 5 mg.mL-1 (Ponto 6). Estas foram

preparadas por diluição, a partir de uma solução de 5 mg.mL-1, utilizando água

destilada ultrapura e metanol HPLC (1:1) como solvente.

3.7.2.1 Seletividade

Para estudo da seletividade, as amostras padrões de capsaicina e

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dihidrocapsaicina foram analisadas separadamente por RMN de 1H, a fim de obter os

seus respectivos sinais a serem utilizados para quantificação. Foi obtido também o

espectro de RMN de 1H de uma solução de ácido maleico em água deuterada, e o

espectro de RMN de 1H de uma pimenta comercial em metanol não deuterado.

3.7.2.2 Linearidade

As curvas de linearidade foram obtidas com seis concentrações distintas do

analito (Ponto 1 ao 6), cuja medida foi realizada em triplicata, conforme ilustra a Figura

19. As curvas de calibração foram construídas a partir da razão entre a área do sinal

do analito e a área do sinal do ácido maleico, em função da concentração do analito.

A partir dos dados obtidos para a curva de linearidade, foi construído o gráfico de

dispersão dos resíduos juntamente com sua avaliação estatística baseada na análise

das variâncias (ANOVA), e o nível de significância utilizado foi de 5%.

Figura 19. Ensaio de linearidade para validação do método de RMNq de 1H para análise de

capsaicinóides em pimentas comerciais.

3.7.2.3 Limites de Detecção e Quantificação

Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) foram calculados baseado na

equação da reta obtida da linearidade e utilizando as Equações de 11 a 15.

5,0 mg mL-1

5,0 mg mL-13,0 mg mL-1 4,0 mg mL-12,0 mg mL-10,5 mg mL-1 1,0 mg mL-1

Leitura 1 Leitura 3

Leitura 2

Leitura 1 Leitura 3

Leitura 2

Leitura 1 Leitura 3

Leitura 2

3 x

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3.7.2.4 Exatidão

A exatidão do método foi determinada a partir das soluções de concentração

0,5 mg.mL-1, 3 mg.mL-1 e 5 mg.mL-1. As concentrações experimentais foram

calculadas por meio das curvas de calibração obtidas dos ensaios de linearidade para

os dois analitos, os quais foram realizados em triplicatas.

3.7.2.5 Precisão

A precisão foi calculada por meio da repetibilidade, onde as amostras foram

avaliadas sob as mesmas condições de preparo, analista, operação e instrumentação

em uma única corrida analítica. Para tais ensaios foram utilizadas as mesmas

amostras do ensaio de exatidão, a saber, as soluções de concentração 0,5 mg.mL-1,

3 mg.mL-1 e 5 mg.mL-1. As análises foram feitas em triplicata, onde a precisão foi

expressa por meio do desvio padrão relativo (DPR), conforme Equação 17.

3.7.2.6 Robustez

Os ensaios de robustez foram realizados variando os dias das análises e seus

resultados expressos da mesma forma que a exatidão.

3.7.3 Análises de pimentas comerciais

As pimentas Malagueta e Habanero foram adquiridas em conserva. Seu

preparo se deu por meio da maceração dos frutos de cada uma das pimentas, e uma

breve extração das mesmas. As pimentas foram maceradas e pesadas (m @ 1,2g), e

em seguida, adicionaram-se 3 mL de metanol, deixando no ultrassom por 30 min. As

amostras foram então filtradas e submetidas a análises de RMN de 1H.

Para as pimentas Bhut Jolokia, Trinidad Scorpion e Carolina Reaper, as

amostras adquiridas já estavam maceradas e em conserva, assemelhando-se à

molhos de pimenta extrafortes. Assim sendo, seu preparo se deu por meio da

pesagem de, aproximadamente, 0,2 g de amostra e sua posterior extração com 1 mL

de metanol, tendo como auxílio o uso do ultrassom. As amostras foram então, filtradas

e também submetidas à análise de RMN de 1H.

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A integração foi feita para o sinal da capsaicina em pimentas comerciais, com

deslocamento químico (d) igual a 5,4 ppm, referente aos hidrogênios da insaturação.

Dessa forma, os resultados obtidos foram aplicados à equação da curva de calibração,

resultando assim na concentração de cada amostra analisada.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Extração dos Capsaicinóides

A extração dos capsaicinóides foi feita a partir da amostra in natura de pimenta

malagueta. Dessa forma, como esse tipo de amostra possui bastante água em sua

composição, fez-se necessário o processo de secagem da mesma. Como resultado,

observou-se a perda de aproximadamente 57% em massa, correspondendo à água

presente na amostra. O processo de extração foi desenvolvido utilizando metanol

como solvente e com o auxílio de uma cuba ultrassônica. Após essa etapa, a amostra

foi filtrada, rotaevaporada, submetida à análise de CG-EM, e o resultado está

demonstrado na Figura 20, onde observa-se a presença de 3 picos intensos na região

de tr = 25 – 26,5 min, que segundo a biblioteca NIST corresponde aos capsaicinóides.

Os demais picos existentes no cromatograma são referentes a “impurezas” ainda

presentes na fração analisada.

Figura 20. Cromatograma do extrato metanólico obtido da pimenta malagueta, na concentração de

4000 ppm.

A Figura 21 mostra uma aproximação da região contendo os capsaicinóides e

revela a presença de dois picos mais proeminentes, e outros picos menores. Dessa

forma, usando como base a biblioteca NIST, nota-se que três picos presentes no

intervalo de 24 a 26 min (Figura 21) correspondem aos capsaicinóides: nonivamida

(24,9 min), capsaicina (25,6 min) e dihidrocapsaicina (25,8 min), conforme mostra a

Figura 22 obtida da análise do espectrômetro de massas.

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Figura 21. Aproximação do cromatograma do extrato metanólico, no intervalo de 23,4 min a 28,4 min.

Figura 22. Resultado do espectro de massas obtido das análises de CG-EM para o extrato metanólico.

(mainlib) Nonivamide80 120 160 200 240 280 320 360 400 440

0

50

100

57 94

137

151

178

195

208 237 264

293

NH

O

O

OH

(mainlib) Capsaicin60 90 120 150 180 210 240 270 300 330

0

50

100

55 69 94122

137

152

168 195220 262

305

OHO

NH

O

(mainlib) Dihydrocapsaicin80 120 160 200 240 280 320 360 400 440

0

50

100

5577 94

122

137

151

178195

208 234 264

307

O

HONH

O

NH

OCH3HO

ONH

OCH3

HO

O

NH

OCH3

HO

O

Nonivamida

Capsaicina

Dihidrocapsaicina

Capsaicina

Dihidrocapsaicina

Nonivamida

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63

4.2 Purificação dos Capsaicinóides

Identificados os analitos de interesse, procedeu-se para a etapa de purificação

dos mesmos, de modo a isolá-los. Assim, após algumas análises de CCD do extrato

metanólico, observou-se que um gradiente de hexano:acetato de etila auxiliaria na

purificação do extrato. Dessa forma, prosseguiu-se para a purificação utilizando a

cromatografia em coluna. O acompanhamento da coluna foi feito por CCD e as frações

contendo o mesmo tempo de retenção (tr) foram unidas e novamente analisadas por

CG-EM. A CCD revelou que em hexano:acetato de etila (7:3) os capsaicinóides

possuem tr = 0,24.

A Figura 23 é referente ao cromatograma da fração contendo os

capsaicinóides. Observa-se, portanto, que houve uma “pré-purificação” dos

capsaicinóides, uma vez que, o cromatograma que antes aparecia com diversos picos,

agora aparece apenas com os picos referente aos capsaicinóides.

Figura 23. Cromatograma de CG-EM da fração contendo os capsaicinóides.

Dessa forma, ainda foram feitos alguns testes alterando eluentes, suas

proporções e tamanho de coluna, na tentativa de encontrar uma condição adequada

que separasse os capsaicinóides apenas por cromatografia em coluna. Contudo,

verificou-se que os capsaicinóides sempre estavam na mesma fração coletada. Isso

ocorre porque suas estruturas são muito semelhantes, variando apenas na presença

de uma ou outra insaturação, bem como na presença de um ou outro substituinte na

cadeia alifática presente, e isso faz com que eles apresentem tempo de retenção

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64

muito próximos.

Por esse motivo, fez-se necessário o uso da Cromatografia Líquida de Alta

Eficiência (CLAE) para auxiliar no isolamento e purificação dos capsaicinóides.

4.3 Separação dos capsaicinóides

A CLAE é utilizada para diversos fins, e dentre eles está o isolamento de

compostos. Esse procedimento é, principalmente, realizado em equipamentos que

contém uma coluna preparativa, onde o volume de amostra injetado e coletado é

maior. Por essa razão, utilizou-se a CLAE para separação dos capsaicinóides.

Tendo como referência o trabalho de Babu et al. (2014)44, foi desenvolvido o

método para separação dos capsaicinóides e estes foram coletados separadamente.

A Figura 24 mostra o cromatograma obtido da CLAE, utilizado na separação dos

capsaicinóides. Em seguida, procedeu-se para eliminação do solvente e os

compostos foram isolados, obtendo três capsaicinóides: a capsaicina, a

dihidrocapsaicina, e um terceiro capsaicinóide que, segundo a biblioteca NIST,

correspondia à nonivamida, o que posteriormente, foi confrontado com à análise de

RMN de 1H do mesmo. A caracterização de cada composto se deu por meio da técnica

de RMN de 1H.

Figura 24. Cromatograma obtido do CLAE da fração contendo os capsaicinóides e utilizado para a

etapa de purificação dos mesmos.

Minutos0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40

mAU

-250

0

250

500

750

1000

1250

1500

1750

2000

2250

mAU

-250

0

250

500

750

1000

1250

1500

1750

2000

2250

MWD: Sinal B, 282 nm/Lb:4 nm Ref 360 nm/Lb:100 nmPimenta 7_Met3

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65

4.4 Análises de RMN

Após a obtenção dos capsaicinóides isolados, procedeu-se para caracterização

dos mesmos, a qual foi realizada por RMN de 1H. Uma dificuldade encontrada durante

as análises foi a solubilização das amostras, e por isso foram feitos alguns testes de

solubilidade. Observou-se, portanto, que as amostras eram parcialmente solúveis em

metanol. Dessa forma, tendo em vista análises futuras a serem realizadas com

amostras comerciais, as quais possuem água em sua composição, as análises foram

realizadas utilizando-se água ultrapura e metanol de grau HPLC (1:1), como solvente.

A Figura 25 mostra os espectros da capsaicina (b) e da dihidrocapsaicina (a)

obtidos isoladamente, sem o uso de solvente deuterado.

Figura 25. RMN de 1H da (a) dihidrocapsaicina e (b) capsaicina, sem uso de solvente deuterado.

Todos os capsaicinóides possuem o mesmo grupo vanilamida variando apenas

na cadeia alifática lateral. Portanto, os sinais referentes aos hidrogênios do anel

aromático (H1 a H3) aparecerão sempre na mesma região (d = 6,5 – 7,0 ppm), para

qualquer capsaicinóide estudado, conforme é observado na Figura 25. A Figura 26

a)

b)

Capsaicina

Dihidrocapsaicina

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mostra o espectro de RMN de 1H da capsaicina contendo as integrações, a expansão

das regiões de mais difícil visualização, os valores dos deslocamentos químicos, a

multiplicidade e os valores de integração, os quais também estão sumarizados na

Tabela 3. Já a Figura 27 e a Tabela 4 possuem os mesmos dados demonstrados na

figura e tabela citadas anteriormente, porém, mostrando os resultados para a análise

RMN de 1H da dihidrocapsaicina.

Figura 26. RMN de 1H da capsaicina contendo os valores das integrais, deslocamento químico e expansão das regiões de interesse.

Tabela 3. Atribuição dos sinais obtidos da análise de RMN de 1H para a capsaicina.

Deslocamento Químico (δ, ppm) Multiplicidade Integração Hidrogênios correspondentes na

estrutura

1,00 dupleto 5,74 H12 e H13 1,22 multipleto 0,66 H11 1,41 quintupleto 2,28 H7 1,66 quintupleto 2,25 H6 2,02 quadrupleto 2,05 H8 2,26 tripleto 2,65 H5 3,87 singleto 2,97 H14 4,30 singleto 2,00 H4

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67

5,40 multipleto 2,19 H9 e H10 6,77 multipleto 2,04 H2 eH3 6,90 singleto 1,00 H1

Figura 27. RMN de 1H da dihidrocapsaicina contendo os valores das integrais, deslocamento químico e expansão das regiões de interesse.

Tabela 4. Atribuição dos sinais obtidos da análise de RMN de 1H para a dihidrocapsaicina.

Deslocamento Químico (δ, ppm) Multiplicidade Integração Hidrogênios correspondentes na

estrutura

0,92 dupleto 5,98 H12 e H13 1,23 multipleto 1,23 H10 1,33 multipleto 5,90 H7, H8 e H9 1,55 octupleto 1,28 H11 1,66 quintupleto 2,10 H6 2,26 tripleto 2,11 H5 3,88 singleto 2,90 H14 4,30 singleto 1,96 H4 6,77 multipleto 1,96 H2 eH3 6,91 singleto 1,00 H1

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Em 5,4 ppm (Figura 26) temos um multipleto correspondente à insaturação

presente na estrutura da capsaicina. Nota-se, portanto, que esse sinal é um diferencial

entre esses dois capsaicinóides. Em 4,8 ppm temos a presença do sinal referente aos

hidrogênios da água. Como foram utilizados água e metanol não-deuterado como

solvente, durante a realização das análises foi feita a saturação do sinal da água. O

sinal do metanol aparece em 3,3 ppm. Os hidrogênios H4 e H14, em 4,3 ppm e 3,87

ppm, respectivamente, também são comuns a todos os capsaicinóides, uma vez que

fazem parte do grupo vanilamida. Em 2,26 ppm temos um tripleto, correspondente ao

H5, o qual é referente à um CH2 a-carbonílico vizinho a outro CH2. Na região de 0 –

2,0 ppm, encontram-se os hidrogênios alifáticos, e portanto, será a região que haverá

maior alteração de valores de deslocamentos químicos e presença de multiplicidade

diferentes, uma vez que os capsaicinóides variam em quantidade de carbonos e

presença ou ausência de insaturação nessa região. Próximo de 1,0 ppm, nota-se a

presença de um dupleto e que integra para seis hidrogênios, ou seja, corresponde à

dois CH3, vizinhos à um CH, característicos das duas metilas presentes na

extremidade da cadeia lateral.

Baseado na última afirmação feita, e após a análise de RMN de 1H do outro

capsaicinóide encontrado (Figura 28), nota-se que o mesmo não pode referir-se à

nonivamida, segundo indica a biblioteca NIST. Conforme se observa na estrutura da

nonivamida (Figura 2), sua cadeia lateral não contém ramificações, e o espectro da

Figura 28 possui um dupleto em 0,7 ppm, o qual integra para seis hidrogênios, sendo,

portanto, referente à dois CH3 ligados a um CH. Dessa forma, o espectro apresentado

na Figura 28 não pode referir-se à nonivamida. Nota-se também que em 0,8 ppm

existe um outro dupleto, de intensidade menor, o qual indica que esse composto ainda

não está puro.

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69

Figura 28. RMN de 1H do outro capsaicinóide encontrado, sem uso de solvente deuterado.

Foram feitos também os espectros de 13C dos capsaicinóides, conforme mostra

as Figuras de 29 a 31. A Figura 29 mostra o espectro de 13C da capsaicina, o qual é

indicado pela quantidade de sinais presentes no espectro, mostrando que o analito

em questão possui 18 carbonos, conferindo portanto com a fórmula molecular (FM)

da capsaicina (C18H27NO3). A Figura 30 mostra o espectro de 13C da

dihidrocapsaicina, de maneira que, semelhante à análise feita para a capsaicina,

temos que a Figura 30 também apresenta 18 carbonos, conferindo, portanto, com a

FM da dihidrocapsaicina (C18H29NO3). Dessa forma, o fator que difere os dois

espectros (Figuras 29 e 30) e os atribuem respectivamente, à capsaicina e à

dihidrocapsaicina, é quantidade de sinais presentes na região de carbonos alifáticos

(d = 20-55 ppm) e aqueles presentes na região de aromáticos e carbonos insaturados.

A Figura 30 revela a presença de uma maior quantidade de carbonos na região de d

= 20-55 ppm do que àqueles presentes na Figura 29. Dessa forma, como a

dihidrocapsaicina possui maior quantidade de carbonos alifáticos, atribui-se o

espectro de RMN de 13C presente na Figura 30 à estrutura da dihidrocapsaicina.

Consequentemente, o espectro de RMN de 13C presente na Figura 29 corresponde à

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capsaicina. Entretanto, para o espectro de RMN de 13C presente na Figura 31, nota-

se que não foram identificados sinais, dificultando, portanto, a elucidação estrutural

do capsaicinóide desconhecido. A ausência de sinais nesse espectro pode ter ocorrido

devido à baixa solubilidade desse composto no solvente utilizado, e devido à baixa

quantidade de massa utilizada.

Dessa forma, prosseguiu-se para os demais ensaios apenas com a capsaicina

e a dihidrocapsaicina, as quais possuem suas estruturas confirmadas através dos

espectros de RMN de 1H e 13C (Figuras 25-27, 29 e 30). Sendo assim, por serem

também os componentes majoritários dentre os capsaicinóides, correspondendo à

cerca de 90% dos capsaicinóides presentes no fruto, a capsaicina e a

dihidrocapsaicina foram isoladas em maior quantidade e escolhidas para as análises

de RMN quantitativa.35,42

Figura 29. RMN de 13C da capsaicina.

Capsaicina

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Figura 30. RMN de 13C da dihidrocapsaicina.

Figura 31. RMN de 13C do capsaicinóide não identificado.

Dihidrocapsaicina

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4.4.1 RMN quantitativo

O método de validação para a análise quantitativa dos capsaicinóides

presentes em pimentas comerciais foi desenvolvido baseado resolução no 166 da

ANVISA.91

4.4.1.1 Seletividade

Com intuito de verificar a seletividade do método, foram obtidos e sobrepostos

os espectros de RMN de 1H para cada um dos padrões e do ácido maleico, conforme

Figura 32. Nota-se, portanto, sinais não sobrepostos em 2,0 ppm e 5,4 ppm, para a

capsaicina, e 1,5 ppm para a dihidrocapsaicina.

Figura 32. Sobreposição dos espectros de RMN de 1H da capsaicina, dihidrocapsaicina e do ácido

maleico, mostrando a seletividade do método.

NH

OCH3

HO

O

NH

OCH3HO

O

O

OH

O

OHCapsaicina Dihidrocapsaicina

Ácido Maleico

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Dessa forma, para avaliar a aplicação do método, a Figura 33 mostra um

espectro da pimenta malagueta, onde o intervalo de 1,0 – 5,2 ppm apresenta grande

sobreposição de sinais, referente a outros compostos presentes em amostras de

pimentas comerciais, tais como: vitaminas, carotenoides, ácidos graxos e outros. Essa

região, portanto, não será adequada para quantificação dos capsaicinóides. Contudo,

em 5,4 ppm (Figura 32), observa-se a presença do sinal referente à insaturação da

capsaicina, o qual não apresenta sobreposição de sinais. Sendo assim, baseado nos

requisitos para a seletividade, este sinal foi um dos escolhidos para avaliação do

método. Outro sinal avaliado foi aquele presente em 6,7 ppm (Figura 32), referente

aos hidrogênios aromáticos presentes nas estruturas dos capsaicinóides (H2 e H3). A

integração realizada nessa área envolve a quantificação conjunta dessa classe de

compostos.

Figura 33. Espectro de RMN de 1H da pimenta malagueta para comparação e confirmação da

seletividade.

Sinais utilizados

para integração

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4.4.1.2 Linearidade

Este parâmetro foi avaliado com base na construção da curva de calibração

para a capsaicina e a dihidrocapsaicina, em seis concentrações diferentes, em um

intervalo de 0,5 a 5 mg.mL-1, conforme mostra a Figura 34. O coeficiente de

determinação (R2) foi então obtido, e por conseguinte, o coeficiente de correlação (R)

pôde ser calculado. Como resultado, a capsaicina apresentou R = 0,9967 (5,4 ppm) e

R = 0,9925 (6,7 ppm), e a dihidrocapsaicina R = 0,9901 (6,7 ppm), ambos dentro do

valor exigido pelo órgão de regulamentação. Vários outros autores utilizam técnicas

cromatográficas para esse processo de avaliação, e como resultado, obtiveram

valores de R em torno de 0,992.17, 27,38,42,57,97-100 Dessa forma, nota-se que o

coeficiente de correlação obtido da RMNq foi tão bom quanto aqueles obtidos por

meio das técnicas cromatográficas. Contudo, a linearidade também precisa ser

avaliada com base na obtenção do teste da Análise das Variâncias (ANOVA) e

também pela obtenção do gráfico de dispersão dos resíduos. Sendo assim, a Figura

35 mostra o gráfico de dispersão dos resíduos e a Tabela 5 mostra a análise ANOVA

da regressão para a capsaicina (5,4 ppm e 6,7 ppm) e para a dihidrocapsaicina (6,7

ppm). A Tabela 5 mostra também o valor obtido para o teste de Cochran, com o intuito

de avaliar a homocedasticidade dos dados.

O resultado obtido do Teste de Cochran mostra que os valores calculados para

a homocedasticidade são menores do que o valor teórico, mostrando portanto, que o

método é adequado para a finalidade pretendida, confirmando o caráter

homocedástico dos gráficos de dispersão de resíduos apresentados na Figura 35. A

Tabela 5 também mostra a significância estatística da regressão, a qual é expressa

pelo valor de F, onde Fcalculado > Ftabelado. Dessa forma, é possível rejeitar a hipótese

nula e aceitar a hipótese alternativa, mostrando a existência de uma correlação

significativa entre a concentração e a razão entre as integrações do analito e do

padrão interno.

Sendo assim, diante dos resultados apresentados, nota-se que o uso de

solventes não deuterados não afetou a linearidade do método. Isso ocorre porque a

área do sinal é diretamente proporcional a quantidade de núcleos que absorvem

naquela radiofrequência. Desta forma, o uso de solventes não deuterados, não

interferirá na quantificação.

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75

Figura 34. Curva de calibração da capsaicina

obtida da análise do sinal com deslocamento

químico igual a 5,4 ppm (a) e 6,7 ppm (b), e da

dihidrocapsaicina em 6,7 ppm (c).

Figura 35. Gráfico de dispersão dos resíduos

para a capsaicina em 5,4 ppm (a) e 6,7 ppm (b),

e para a dihidrocapsaicina em 6,7 ppm (c).

Tabela 5. Análise das Variâncias (ANOVA) da regressão.

Deslocamento Químico (d)

Grau de Liberdade

Soma Quadrática

Média Quadrática F Homocedasticidade

Capsaicina

5,4 ppm Regressão 1 3,205 3,205 2412 0,298 Residual 16 0,021 1,3 x 10-3

Total 17 3,226

6,7 ppm Regressão 1 0,297 0,297 1052 0,372 Residual 16 4,5 x 10-3 2,8 x 10-4

Total 17 0,302

Dihidrocapsaicina 6,7 ppm Regressão 1 0,250 0,250 792.3 0,351 Residual 16 5,0 x 10-3 3,1 x 10-4

Total 17 0,255 Valores tabelados 4,494 0,616

y = 0,2615x + 1,3368R² = 0,9934

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

0,0 2,0 4,0 6,0∫H c

apsa

icin

a / ∫

H a

c.

mal

eico

Concentração (mg.mL-1)

y = 0,0796x + 1,2812R² = 0,985

0,00,51,01,52,02,5

0,0 2,0 4,0 6,0

∫H c

apsa

icin

a / ∫

H a

c.

mal

eico

Concentração (mg.mL-1 )

y = 0,0726x + 1,2062R² = 0,9802

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

0,0 2,0 4,0 6,0∫H d

ihid

roca

psai

cina

/ ∫H

ac

. mal

eico

Concentração (mg .mL-1 )

-0,08

-0,04

0

0,04

0,08

0 2 4 6Res

idua

is

Concentração

-0,04

-0,02

0

0,02

0,04

0 2 4 6Res

idua

is

Concentração

-0,04

-0,02

0

0,02

0,04

0 2 4 6Res

idua

is

Concentração

a)

b)

c)

a)

b)

c)

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76

4.4.1.3 Limites de Detecção e Quantificação

Segundo a ANVISA,91 os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) podem

ser obtidos tanto através da relação entre sinal-ruído quanto por meio da curva de

calibração obtida da linearidade. Dessa forma, os LD e LQ para a capsaicina e a

dihidrocapsaicina foram obtidos estatisticamente a partir da curva de calibração, e os

resultados estão dispostos na Tabela 6.

Tabela 6. Valores de Limites de Detecção e Quantificação para a capsaicina e a dihidrocapsaicina

obtida da análise de RMN de 1H, utilizando solvente não deuterado.

Analito Deslocamento Químico (ppm)

Limite de Detecção (mg.mL-1)

Limite de Quantificação (mg.mL-1)

Capsaicina 5,4 0,639 1,076 6,7 0,960 2,246

Dihidrocapsaicina 6,7 1,111 2,633

Com base nos resultados obtidos, nota-se que o LD e o LQ são maiores do que

a concentração mínima utilizada. Isso também é confirmado por meio das equações

da reta (y = a1.x + a0) obtidas da curva de calibração, onde o coeficiente linear (a0) é

relativamente alto, influenciando no LQ. No entanto, tanto os resultados obtidos para

o LD quanto aqueles obtidos para o LQ, apresentam-se dentro da faixa linear de

trabalho (0,5 – 5,0 mg mL-1). Dessa forma, como o LD e o LQ para a capsaicina em

5,4 ppm é menor, essa região de integração foi escolhida para cálculos envolvendo a

aplicação do método para as pimentas comerciais.

4.4.1.4 Exatidão

A exatidão foi determinada com base na análise, de três pontos utilizados para

a construção da curva de calibração, sendo eles: 0,5 mg.mL-1 (Ponto 1), 3,0 mg.mL-1

(Ponto 4) e 5,0 mg.mL-1 (Ponto 6). Estes pontos representam as concentrações baixa,

média e alta utilizadas na validação do método. Os resultados estão descritos na

Tabela 7.

Dessa forma, observa-se que o Ponto 1 apresenta erros significativos,

próximos ou maiores do que 5%, podendo ser atribuídos aos valores de LQ, uma vez

que a concentração avaliada está abaixo do LQ calculado. Quanto ao ponto 4, nota-

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se que a validação do método baseada na integração do sinal em 6,7 ppm para ambos

os capsaicinóides apresentaram bons resultados, possuindo erros próximos de 3%.

Entretanto, a integração do Ponto 4 baseada no deslocamento químico de 5,4 ppm da

capsaicina, pode não ser tão exata, uma vez que esta apresentou erro maior do que

5%. Esses erros podem estar associados à etapa de diluição da amostra, para

obtenção das concentrações menores. Quanto ao Ponto 6, observa-se boa exatidão

nas análises desenvolvidas, uma vez que o erro máximo foi da ordem de 3%. Isso

pode ser atribuído à alta concentração presente nessa solução, a qual é maior do que

os valores calculados para LD e LQ (Tabela 6).

Tabela 7. Valores de exatidão (em %) para os analitos em baixa, média e alta concentração.

Analito Deslocamento Químico (ppm) Concentração [mg.mL-1 (%)]

0,5 3,0 5,0

Capsaicina 5,4 95,5 108,0 97,1 6,7 85,2 102,8 98,8

Dihidrocapsaicina 6,7 96,7 96,8 100,4

4.4.1.5 Precisão

O cálculo da precisão foi realizado baseado no parâmetro de repetibilidade,

conforme recomenda a ANVISA, em sua resolução no 166 de 2017.91 Dessa forma,

foram utilizadas nove determinações, sendo analisados os mesmos três pontos da

curva de calibração utilizados na obtenção da exatidão (1, 4 e 6). Estes, por sua vez,

foram analisados em triplicata e cada análise foi realizada também em triplicata. Os

resultados foram então, expressos pelo desvio padrão relativo (DPR), conforme

descrito na Tabela 8, e segundo a Equação 17.

Tabela 8. Valores de DPR (em %) para os analitos em baixa, média e alta concentração utilizados nos

ensaios de precisão.

Analito Deslocamento Químico (ppm) Concentração [mg.mL-1 (% DPR)]

0,5 3,0 5,0

Capsaicina 5,4 0,84 0,39 0,33 6,7 0,89 1,00 0,57

Dihidrocapsaicina 6,7 1,09 1,00 0,98

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Observa-se, portanto, que todos os desvios ficaram abaixo de 1,10%. Sendo

assim, o método mostrou-se preciso para ambos os analitos, uma vez que a Anvisa

regulamenta um máximo de 5%. Kuzma et al. (2014)42 obtiveram resultados menores

que 2,5% para a precisão, em análises desenvolvidas com a CLAE, e González-

Zamora et al. (2013)17 obtiveram precisão de 5% também utilizando a CLAE. Peña-

Alvarez et al. (2009)37 obtiveram DPR < 8% com análises realizadas através de

cromatografia gasosa acoplada à um espectrômetro de massas. Sendo assim, diante

dos resultados apresentados na literatura, nota-se que o método avaliado de RMNq

apresentou valores excelentes de precisão.

4.4.1.6 Robustez

A avaliação da robustez do método foi desenvolvida com base na análise, em

dias diferentes, das mesmas amostras utilizadas para obtenção da exatidão e

precisão (Pontos 1, 4 e 6). Por 1 mês, as amostras foram estocadas na geladeira à

temperatura de -3 °C, e após esse período, foram novamente analisadas. Então, as

integrações foram mais uma vez obtidas e os resultados foram comparados, conforme

mostra a Tabela 9.

Tabela 9. Valores das integrais dos sinais das soluções de capsaicina e dihidrocapsaicina, para avaliação da robustez.

Analito Deslocamento

Químico (ppm)

1ª análise 2ª análise (1 mês depois)

Ponto 1 Ponto 4 Ponto 6 Ponto 1 Ponto 4 Ponto 6

Capsaicina 5,4 1,46 2,20 2,62 1,46 2,21 2,60 6,7 1,31 1,53 1,68 1,33 1,52 1,66

Dihidrocapsaicina 6,7 1,24 1,42 1,58 1,25 1,41 1,55

A partir dos resultados apresentados, nota-se uma variação mínima nos valores

obtidos para as áreas dos analitos. Isso mostra que a variação de dias e/ou de

temperatura, influenciarão minimamente no método proposto para a RMNq,

evidenciando sua robustez.

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4.4.2 Quantificação dos capsaicinóides em pimentas comerciais e avaliação de pungência

O método de quantificação proposto, por RMN de 1H sem uso de solvente

deuterado, foi aplicado à 5 tipos de pimentas adquiridas comercialmente, sendo elas:

Malagueta, Habanero, Bhut Jolokia, Trinidad Scorpion e Carolina Reaper. A

concentração obtida para cada uma, foi calculada baseando-se na integração e

obtenção do teor de capsaicina em relação à integração do ácido maleico, utilizado

como padrão interno. Para isto, a integração e os cálculos foram feitos através da

curva de calibração (y = 0,2615x + 1,3368) obtida para o sinal em 5,4 ppm, uma vez

que não foram identificados sinais que o sobrepõe. A concentração experimental

(Cexp) foi obtida por meio da equação da reta, em mg.mL-1. Para o cálculo da Unidade

de Calor de Scoville (SHU), fez-se necessário obter a proporção de capsaicina (em

gramas por grama de amostra de pimenta), e então multiplicá-la pelo fator de calor da

capsaicina, 16,1 x 106.41 Assim sendo, a Tabela 10 mostra os resultados obtidos para

as análises das Pimentas Malagueta e Habanero, compradas em conserva, bem como

os resultados obtidos da análise de molhos das Pimentas Bhut Jolokia, Trinidad

Scorpion e Carolina Reaper. A Tabela 10 também dispõe os valores de SHU

calculados, e aqueles previamente reportados em outros trabalhos. Contudo, os

valores referenciados foram utilizados apenas para efeito de comparação. É preciso

levar em consideração que esses trabalhos foram feitos utilizando o fruto fresco e

cultivado pelos grupos de pesquisa que desenvolveram o trabalho.

Tabela 10. Valores de SHU calculados para 5 tipos de pimentas comerciais.

Tipo de Pimenta Integração Cexp.

(mg.mL-1)

Quantidade de capsaicina (g/g de

amostra) SHU*

Valores de SHU reportados na

literatura** Pimenta

Malagueta 1,54 0,7771 0,0020 31.481 164.000 [101]

Habanero 2,13 3,0333 0,0076 121.633 100.000 - 350.000 [102]

Bhut Jolokia 1,96 2,3832 0,0119 190.986 879.953 - 927.199 [103]

Trinidad Scorpion 2,03 2,6509 0,0133 214.359 1.029.271 [104]

Carolina Reaper 2,21 3,3392 0,0158 254.310 1.046.000 [105]

* Valores calculados para frutos em conserva e molhos. ** Valores calculados para frutos frescos, in natura.

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Os valores obtidos de SHU, por meio da técnica de RMN de 1H, e os valores

reportados na literatura não podem ser diretamente comparados, porque um é

referente ao fruto em conserva ou molho e o outro refere-se ao fruto fresco, in natura.

O fruto fresco possui uma concentração muito maior de capsaicinóides do que o molho

de pimenta ou a pimenta em conserva, e consequentemente, maior SHU. Os molhos

e pimentas em conservas “perdem” quantidade de capsaicinóides para o meio, ou até

mesmo, como no caso dos molhos, pelo fator diluição. Isso justifica os resultados

encontrados para SHU. Entretanto, através dos valores reportados na literatura é

possível observar uma escala de pungência, onde a pimenta Carolina Reaper mostra-

se como sendo a mais pungente, seguida da Trinidad Scorpion, da Bhut Jolokia, da

Habanero, e por último, da Malagueta. Dessa forma, ao analisar os valores de SHU

obtidos através do método proposto, nota-se que esses valores obedecem à mesma

escala de pungência. Sendo assim, ante aos resultados obtidos para aplicação do

método, observa-se que a RMNq também pode ser usada como um instrumento de

medição de pungência de produtos à base de pimenta.

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5 CONCLUSÃO

A pesquisa desenvolvida cumpriu com o objetivo proposto de estudar os

produtos à base de pimenta por análises qualitativas e quantitativas de RMN sem o

uso de solventes deuterado.

Primeiramente, foi utilizado um método simples e rápido de extração dos

capsaicinóides utilizando técnica de maceração e uso de uma cuba ultrassônica para

auxiliar na extração, e como solvente extrator foi utilizado o metanol. A extração dos

capsaicinóides foi feita utilizando uma amostra de pimenta malagueta obtida

comercialmente.

Para purificação dos capsaicinóides foi necessário utilizar duas etapas de

purificação, sendo a primeira etapa referente à uma “pré-purificação” realizada por

cromatografia em coluna. Essa etapa foi importante, porque foi possível eliminar todos

os demais compostos presentes nas pimentas, tais como: vitaminas, carotenoides,

ácidos graxos, e outros, deixando os capsaicinóides presentes em uma única fração.

E a outra etapa de purificação foi desenvolvida pela CLAE, originando 3 frações

isoladas. Cabe ressaltar que, após algumas tentativas de diferentes métodos para

encontrar a melhor condição para isolamento dos capsaicinóides, foi utilizado uma

coluna cromatográfica C18 (21.2 x 250 mm, 7µm de diâmetro de partícula), o detector

foi configurado para um comprimento de onda de 280 nm, o fluxo foi configurado para

9,0 mL.min-1, e como fase móvel foi utilizado acetonitrila e água destilada ultrapura na

proporção 55:45.

As análises qualitativas foram desenvolvidas por CG-EM e RMN, onde foram

confirmadas a obtenção da capsaicina e da dihidrocapsaicina em sua forma pura. Foi

descoberto também que a nonivamida, apontada pela NIST nas análises de CG-EM

como uma possível estrutura para o terceiro capsaicinóide, na realidade não

corresponde propriamente à nonivamida, e sim, a outro capsaicinóide. Contudo, este

ainda não foi identificado.

No que diz respeito ao uso da RMNq de 1H para quantificação, nota-se que

esta pode ser uma ferramenta quantitativa tão boa quanto às demais, e ainda

possuindo algumas vantagens tais como: análises rápidas, sem laborioso preparo de

amostra, identifica compostos em uma mesma matriz sem precisar de padrões

químicos idênticos, produz resultados qualitativos e quantitativos simultaneamente,

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além das análises terem sido feitas sem o uso de solvente deuterado.

Quanto ao processo de validação do método, este apresentou excelente

linearidade com coeficiente de correlação (R), em torno de 0,9967, boa exatidão para

amostras com concentração maiores do que 3 mg.mL-1, com uma faixa de erro em

torno de 3%, boa robustez com variação mínima mesmo em análises feitas com

amostras estocadas na geladeira durante 1 mês, boa precisão (<1,1%), e, limites

detecção e quantificação variando entre 0,639 mg.mL-1 e 2,633 mg.mL-1,

respectivamente. O LD e o LQ são quesitos que ainda precisam melhorar. Contudo,

essa baixa sensibilidade é propriedade intrínseca da técnica. No entanto, tendo em

vista que as análises foram feitas sem o uso de solventes deuterado, é possível dizer

que os resultados apresentados foram bons.

Por fim, a RMN também pode ser utilizada para determinação da pungência de

pimentas comerciais tais como pimentas Malagueta, Habanero, Bhut Jolokia, Trinidad

Scorpion e Carolina Reaper, obtidas comercialmente, e também na atribuição de seus

respectivos valores de SHU.

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