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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO-UFES / DEPT. DE GEOGRAFIA / CLIMATOLOGIA PROFESSORES ALEXANDRE ROSA DOS SANTOS/email: [email protected]/ DEPT. DE GEOGRAFIA - UFES 187 CAPÍTULO 12 Recuperação de rios assoreados e identificação de poluentes e métodos de controle de despoluição 1. Introdução Em realidade, despoluir ou não poluir um rio é uma tarefa de múltiplas facetas e exige atuações postas tais quais um feixe de retas paralelas em uma mesma direção. Em primeiro lugar, para coordenar idéias, compete definir aquilo que é, para um rio, o seu elemento ou elementos vitais, a partir de que ele será um rio "com saúde". Os tópicos abaixo procuram relatar de maneira teórica e prática as várias formas de identificação e controle dos diferentes agentes de degradação ambiental que podem afetar os recursos hídricos em geral e, sobretudo, do rio. 2. O rio Um rio é vivo na medida em que contém infra-estruturas vivas. Tal como o sangue que circula em nossas veias, o rio contém células que se nutrem e que respiram oxigênio. Quando morto, essas células perecem, e ele se decompõe; proliferam, então, os seres que produzem a sua degradação, e ele exala os odores mefíticos da putrefação. O rio poluído é um rio morto ou em agonia. Um rio é algo mais que um acidente geográfico, uma linha no mapa, uma parte do terreno imutável. Ele não pode ser retratado adequadamente em termos de topografia e geologia. Um rio é um ser vivo, um ser dotado de energia, de movimento, de transformações. Um rio pode morrer por falta de alimento, como qualquer ser vivo; e também, como qualquer ser vivo, pode morrer de indigestão. À indigestão segue-se a asfixia, isto é, o oxigênio disponível torna-se insuficiente à sua respiração, ou seja, à oxidação de todo alimento que foi ingerido. Ele morre tranqüilamente, sem dores, sem estremecimentos e, rapidamente, o cadáver entra em decomposição. O rio nasce, sempre numa região elevada. Pode ser no alto de uma montanha. Em sua infância, é leve e irrequieto, como qualquer criança ou animal novo: corre, salta, ora atirando-se de grandes alturas, ora cascateando cuidosamente por entre os seixos, ora descansando, ofegante, em seu leito de areia branca e brilhante. Seu aspecto é sadio e límpido, irradiando pureza; seu corpo é fresco como o orvalho da manhã; sua cor é o puro azul do céu refletido. Seu alimento é o que lhe proporciona o seio fértil da Terra-mãe. Depois cresce. Suas águas se avolumam. Torna-se majestoso e tranqüilo. Viaja. Percorre grandes planícies, profundos vales, circunda montanhas, salta perigosos penhascos. Conhece o homem. Avizinha-se de suas cidades, trabalha para ele – move seus engenhos, transporta suas embarcações, dessedenta-lhe os rebanhos e as plantações, oferece-lhe seus peixes e prova o sabor amargo de sua ingratidão.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO-UFES / DEPT. DE GEOGRAFIA / CLIMATOLOGIA

PROFESSORES ALEXANDRE ROSA DOS SANTOS/email: [email protected]/ DEPT. DE GEOGRAFIA - UFES

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CAPÍTULO 12

Recuperação de rios assoreados e identificação de p oluentes e métodos de controle de despoluição

1. Introdução Em realidade, despoluir ou não poluir um rio é uma tarefa de múltiplas facetas e exige atuações postas tais quais um feixe de retas paralelas em uma mesma direção.

Em primeiro lugar, para coordenar idéias, compete definir aquilo que é, para um rio, o seu elemento ou elementos vitais, a partir de que ele será um rio "com saúde". Os tópicos abaixo procuram relatar de maneira teórica e prática as várias formas de identificação e controle dos diferentes agentes de degradação ambiental que podem afetar os recursos hídricos em geral e, sobretudo, do rio. 2. O rio

Um rio é vivo na medida em que contém infra-estruturas vivas. Tal como o sangue que circula em nossas veias, o rio contém células que se nutrem e que respiram oxigênio. Quando morto, essas células perecem, e ele se decompõe; proliferam, então, os seres que produzem a sua degradação, e ele exala os odores mefíticos da putrefação. O rio poluído é um rio morto ou em agonia.

Um rio é algo mais que um acidente geográfico, uma linha no mapa, uma parte do terreno imutável. Ele não pode ser retratado adequadamente em termos de topografia e geologia. Um rio é um ser vivo, um ser dotado de energia, de movimento, de transformações.

Um rio pode morrer por falta de alimento, como qualquer ser vivo; e também, como qualquer ser vivo, pode morrer de indigestão. À indigestão segue-se a asfixia, isto é, o oxigênio disponível torna-se insuficiente à sua respiração, ou seja, à oxidação de todo alimento que foi ingerido. Ele morre tranqüilamente, sem dores, sem estremecimentos e, rapidamente, o cadáver entra em decomposição.

O rio nasce, sempre numa região elevada. Pode ser no alto de uma montanha. Em sua infância, é leve e irrequieto, como qualquer criança ou animal novo: corre, salta, ora atirando-se de grandes alturas, ora cascateando cuidosamente por entre os seixos, ora descansando, ofegante, em seu leito de areia branca e brilhante. Seu aspecto é sadio e límpido, irradiando pureza; seu corpo é fresco como o orvalho da manhã; sua cor é o puro azul do céu refletido. Seu alimento é o que lhe proporciona o seio fértil da Terra-mãe. Depois cresce. Suas águas se avolumam. Torna-se majestoso e tranqüilo. Viaja. Percorre grandes planícies, profundos vales, circunda montanhas, salta perigosos penhascos. Conhece o homem. Avizinha-se de suas cidades, trabalha para ele – move seus engenhos, transporta suas embarcações, dessedenta-lhe os rebanhos e as plantações, oferece-lhe seus peixes e prova o sabor amargo de sua ingratidão.

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A princípio, sente-se beneficiado e recompensado pelo auxílio prestado. O homem represa-o, sofreando seu ímpeto juvenil, domesticando-o e oferecendo-lhe amplos leitos para seu repouso. Além disso, ao irrigar as plantações, recebe pequenas parcelas dos mesmos alimentos empregados na lavoura para dar viço às plantas. Sente-se fortalecido; suas células reproduzem intensamente, captando as energias que o sol proporciona prodigamente às suas águas tranqüilas e cristalinas e produzem alimento farto e oxigênio abundante aos seus peixes. De repente, porém, sente-se traído. As águas que ele, de forma tão benigna, oferecia ao homem para saciar-lhe a sede, são-lhe devolvidas carregadas de imundices. Alimento, sim, mas impregnado de tantas substâncias estranhas e bactérias nocivas que lhe é difícil digerir. Além disso, em tão grande quantidade que a maior parte permanece indigesta, formando um lodo escuro e fétido, em seu leito, ou em fina suspensão, em suas águas, impedindo a penetração benéfica dos raios de sol e soterrando pequenos e indefesos animais.

E não é só isso. Ao passarem suas águas pelo interior das indústrias tornam-se veículos de toda a sorte de tóxicos, detritos, graxas, sabões, tintas e outros muitos compostos que conspurcam totalmente aquilo que fora outrora seu maior motivo de orgulho: sua espelhada superfície azul. Ao sair da cidade ele sofreu uma total transformação. Suas águas tornaram-se negras e fétidas. Seu leito é sujo e lodoso. Sua superfície é coberta dos mais variados tipos de corpos flutuantes: uma camada de óleo impede seu crispar de prazer ao roçar acariciante da brisa; espessas crostas de espuma acumulam-se em suas curvas, outrora graciosas; borbulhas de gases mefíticos, desprendidos de seu leito, explodem à superfície, formando pequenos círculos concêntricos na água negra e pesada; latas velhas, papéis e toda uma enorme variedade de imundícies são transportados juntamente com a multidão dos cadáveres de seus peixes asfixiados, envenenados, destruídos pela insalubridade do ambiente.

E o rio, em sua plena juventude, sente essa asfixia. Sente o envenenamento. E morre. Miríades de pequenos gérmens tomam conta de seu corpo, destruindo suas células, seus peixes, suas plantas, produzindo o seu apodrecimento. O mau cheiro, agora, não se desprende apenas do lado precipitado no leito, mas sim de toda água, em todos os seus níveis. Suas águas – se ainda merecem esse belo nome – não mais transportam a vida; somente a morte. De Danúbio ele passou a Tiête. 2. Considerações iniciais sobre o assoreamento A erosão do solo é considerado um dos principais impactos ambientais da natureza. O revolvimento do solo antes do cultivo desagrega-o, facilitando o carreamento dos minerais pela água das chuvas. A perda de milhares de toneladas de solo agricultável todos os anos, em conseqüência da erosão, é um dos mais graves problemas enfrentados pela economia agrícola. O processo de formação de novos solos, como resultado do intemperismo das rochas, é extremamente lento, daí a gravidade do problema. Toda atividade agrícola favorece o processo erosivo, mas algumas culturas facilitam-no mais que outras (Figura 1).

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Figura 1. Perdas de solo pela erosão de acordo com o uso da terra.

O pescador experiente sabe que está cada vez mais difícil pescar um bom peixe. Para tanto, ele tem de se deslocar para rios cada vez mais distantes, onde há água de boa qualidade e alimento abundante (Figura 2). Essa ausência de peixes é, por sua vez, um indicador da baixa integridade física, química e, ou, biológica dos rios, e está geralmente associada a vários problemas ambientais, dentre os quais o assoreamento. Este processo é um dos últimos estágios de um grave problema que atinge boa parte das bacias hidrográficas brasileiras: erosão do solo.

Figura 2. Pescador se deslocando para áreas menos assoreadas e poluídas.

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O mau uso e manejo do solo, como a utilização imprópria de áreas frágeis, o preparo inadequado do solo, o desmatamento e as queimadas abusivas, o uso incorreto dos equipamentos agrícolas, o traçado impróprio de estradas vicinais entre outros, acarreta altas perdas de solos nas vertentes. O solo, depois de retirado de seu lugar de origem pela chuva e pela enxurrada, é transportado morro abaixo, até ser depositado em baixadas, e, por fim, chega a rios e lagos, como mostra a Figura 3.

Figura 3. Processo erosivo na vertente.

É comum haver, no Brasil, perdas de solo superiores a 20 toneladas por hectare, por ano. Isto eqüivale à retirada de quatro caminhões de terra de cada hectare, anualmente. Perde-se, assim, o que há de mais precioso nos solos, que é sua camada superficial, onde se encontra a maior parte dos nutrientes. Mesmo os solos originalmente férteis, como as lendárias “terras roxas”, se mal-manejados, serão degradados em menos de uma geração. As baixas produtividades e os prejuízos são as etapas seguintes do processo, cujas conseqüências finais serão sentidas nos grandes centros urbanos, destino da maior parte dos deserdados da terra. Os prejuízos do processo erosivo extrapolam a fronteira da fazenda. O sedimento que chega aos cursos d’água, particularmente o mais grosseiro (areia), irá preencher as calhas dos rios e o fundo dos lagos e reservatórios. Depois, na época das chuvas, o escoamento dos rios, que originalmente não causa problemas, se eleva a níveis de enchentes, pois o sedimento está ocupando sua calha natural (Figura 4).

Novo leito

Figura 4. Assoreamento da calha de um rio (seção transversal).

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É comum, inclusive, observar vários “andares” de pontes na zona rural, construídos em épocas diferentes, um sobre o outro, para fugir de cheias cada vez maiores. Os problemas não terminam aí. Durante a época seca, os rios se tronam “espraiados”, dificultando ou mesmo impedindo a navegação. A reversão do processo de assoreamento não é simples, mas também não é impossível. As medidas tradicionais, como a dragagem do leito dos rios, são um paliativo caro e pouco eficaz. Ela somente se justifica em condições muito específicas, e mesmo assim quando não houver outra solução mais definitiva. 2. Causas e técnicas que podem reverter o processo de assoreamento O tratamento dos efeitos é mais eficaz, atacando-se as causas. O caso do assoreamento não é diferente. Como ele é apenas o efeito final do processo de erosão e degradação generalizada na bacia, os melhores resultados (e os mais duradouros) são obtidos por meio de ações conservacionistas integradas na mesma. Com o objetivo de anular, ou pelo menos minimizar, os problemas causados pelo assoreamento, destacam-se algumas técnicas: 2.1 Curvas de nível

A simples adoção do preparo do solo e plantio em nível, em áreas agrícolas ou florestais (sem quase nenhum custo para o produtor), já reduz a perda de solo em 50%. A técnica consiste em arar o solo e depois fazer a semeadura seguindo as cotas altimétricas do terreno, o que por si só reduz a velocidade de escoamento superficial da água da chuva. Para reduzi-la ainda mais, é comum a construção de obstáculos no terreno, espécies de canaletas, com terra retirada dos próprios sulcos resultantes da aração (Figura 5). Com esse método simples, a perda de solo agricultável é sensivelmente reduzida. O cultivo seguindo as curvas de nível é feito em terrenos com baixo declive, propício à mecanização. É comum em países desenvolvidos, onde a agricultura é bastante mecanizada.

Figura 5. Cultivo seguindo as curvas de nível.

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2.2 Terraceamento

Consiste em fazer cortes formando degraus – os terraços – nas encostas das montanhas, o que, além de possibilitar a expansão das áreas agrícolas em países montanhosos e populosos, dificulta, ao quebrar a velocidade de escoamento da água, o processo erosivo, diminuindo os efeitos do assoreamento. Essa técnica é muito comum em países asiáticos, como a China, o Japão, a Tailândia, o Nepal, entre outros (Figura 6). Resultados tem mostrado que o terraceamento contínuo, atravessando diversas propriedades reduz com maior eficiência os efeitos causados pelo assoreamento.

Figura 6. Agricultura em terraços nas Filipinas.

2.3 Associação de culturas

Em cultivos que deixam boa parte do solo exposto à erosão (algodão, café, entre outros), é comum plantar, entre uma fileira e outra, espécies leguminosas (feijão, por exemplo), que recobrem bem o terreno. Essa técnica, além de evitar a erosão e o assoreamento, garante o equilíbrio orgânico do solo (Figura 7).

Figura 7. Associação de culturas.

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2.4 Relocação de estradas, carreadores e caminhos:

Estradas e caminhos maus projetados contribuem significativamente para o aumento dos efeitos do assoreamento. Não é possível colocar todas as estradas e carreadores em nível, mas, sempre que as condições permitirem, isso dever ser feito. Deve-se evitar ao máximo as baixadas, rampas compridas, grandes declives e locais onde não possa controlar as águas. Após a identificação deste problema e cuidadoso planejamento, considerando técnicas de engenharia de nivelamento e drenagem marginal das estradas, a erosão e o aparecimento de voçorocas são reduzidos consideravelmente. 2.5 Recomposição das matas ciliares

Os vegetais, não importando seus tamanhos, têm raízes que funcionam

com "presilhas" do solo; as árvores agem como "guarda-chuvas" do solo, e a vegetação em geral age como um redutor de velocidade das águas que correm no solo (Figura 8). No desmatamento, as "presilhas" ficam frágeis; sem a árvore, desaparece o "guarda-chuvas", possibilitando o impacto direto que "machuca" o terreno; já, sem a vegetação, principalmente a rasteira, a velocidade das águas fica aumentada sobre o terreno, possibilitando o aumento da erosão (Figura 9). Em outras palavras, vai havendo o arraste de material terroso e, com o tempo, o assoreamento vai aumentando em demasia. Um alternativa para diminuição do assoreamento é a recomposição das matas ciliares que como foi dito anteriormente, irá proteger a superfície do solo, impossibilitando a carreamento de suas partículas.

Figura 8. Mata ciliar protegendo as

margens do rio. Figura 9. Desmatamento possibilitando

o impacto da chuva sobre o solo.

2.6 Controle das voçorocas

A voçoroca ou boçoroca é uma ferida aberta num terreno, seja ele

horizontal ou não; ou um talude de um morro (Figura 10). Uma voçoroca pode ter início por um corte de um talude (a parte lateral de um morro) para a construção de uma estrada ou utilização de espaço, ou para se aproveitar o material em aterros (chamados empréstimos) em outros locais, ou ainda para

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possibilitar uma mineração. Evidente é que, o corte de um terreno carrega consigo toda a vegetação e a terra fértil nele existente. Supondo que não se faça uma recuperação rápida na parte cortada, ela ficará exposta ao impacto direto da chuva e, também, às correntezas das chuvas passando por cima dela. Começa, então, a acontecer o fenômeno denominado erosão, que é o transporte do material terroso pelas águas. A primeira delas, que começa na voçoroca e se estende até os caminhos próximos para onde estiverem indo às águas, é a promoção da infertilidade na região da voçoroca e depois dela, pois haverá um cobrimento das camadas férteis adiante (desertificação ou aridez), visto que quase todos os terrenos têm uma camada de solo fértil por cima. No caso, essa camada, quando arrastada, promoverá, de imediato, a infertilidade.

Figura 10. Voçoroca rasgada pelas águas (observar que continua

desbarrancando e tornando-se cada vez maior. No campo, onde se retira a vegetação para dar lugar às pastagens, volta

e meia a natureza se vinga pelo alagamento das próprias áreas de pastagens, visto que os rios principais, de tão assoreados, isto é, preenchidos com o material terroso para eles carregados, começam a procurar caminhos preferenciais para o escoamento das águas que seus leitos primitivos não conseguem mais transportar. Além disso, o alagamento irá destruir as árvores restantes pelo afogamento de suas bases acima do solo. Outra conseqüência é que, os rios naturais passam a ter seus leitos (suas calhas) assoreadas, soterrando toda a flora e fauna situadas nessas calhas, e que são os alimentos dos animais que dependem do fundo. O soterramento dos vegetais e de pequenos animais de fundo faz com que esses morram e essa matéria

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orgânica morta comece a dar origem a reações bioquímicas que irão prejudicar a qualidade das águas, como um todo. Outro efeito é que, esse material terroso, no caso das zonas urbanas, vai também sendo levado para o leito dos rios e canais (assoreamento) e para as galerias de águas pluviais. Nas cidades, tanto o enchimento das calhas dos rios e canais, quanto o enchimento dos bueiros e tubulações de água pluviais, dificultarão o livre escoamento das águas de chuva e, com isso, ficará facilitado o processo das enchentes urbanas. Com tudo que foi falado, fica claro que cuidados preventivos devem ser tomados quando se pretende alterar a natureza dos terrenos, pois os custos para acertar as conseqüências serão bastante altos.

Quando a voçoroca for pequena e o agricultor tiver condições materiais, pode fazer a sua terraplanagem. Já no caso de voçorocas grandes, que não podem ser terraplanadas, a solução é paralizar o seu crescimento e, lentamente, forçar o seu desaparecimento, que se processa quase naturalmente. Para isso observar:

• Contrôle das águas que provocam a erosão; • Colocação de drenos nos leitos das voçorocas; • Suavização dos barrancos; • Construção de paliçadas; • Vegetação dos barrancos e do leito da voçoroca; • Isolamento da voçoroca. 2.7 Controle da erosão e desertificação

As operações de desmatamento, quer para utilização dos materiais dele provenientes, quer para criação de pastagens ou campos de plantio, quer para o corte de taludes, sempre retiram do terreno a camada fértil e instabilizam o terreno devido a retirada das fixações mecânicas e da proteção ao impacto direto das chuvas que eram proporcionadas pela vegetação.

A superfície do solo, não castigado, é naturalmente coberta por uma camada de terra rica em nutrientes inorgânicos e materiais orgânicos que permitem o crescimento das vegetações; se essa camada é retirada, esses materiais desaparecem e o solo perde a propriedade de fazer crescer vegetações e pode-se dizer que, no caso, o terreno ficou árido ou que houve uma desertificação.

As águas da chuva quando arrastam o solo, quer ele seja rico de nutrientes e materiais orgânicos, quer ele seja árido, provocam o enchimento dos leitos dos rios e lagos com esses materiais e esse fenômeno de enchimento se chama assoreamento.

O arraste do solo causa no terreno um efeito chamado erosão. Na superfície do terreno e no subsolo, as águas correntes são as principais causas da erosão.

A erosão depende fundamentalmente da chuva, da infiltração da água, da topografia (aclive mais acentuado ou não), do tipo de solo e da quantidade de vegetação existente. A chuva é, sem dúvida, a causa principal para que ocorra a erosão e evidente é que quanto maior sua quantidade e freqüência, mais irá influenciar no fenômeno. Se o terreno tem pouca declividade, a água da chuva irá "correr" menos e erodir menos. Se o terreno tem muita vegetação,

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o impacto da chuva será atenuado porque este estará mais protegido, bem como, a velocidade da chuva no solo ficará diminuída devido aos obstáculos (a própria vegetação "em pé e caída") e também a erosão ficará diminuída devido a que as raízes darão sustentação mecânica ao solo; além disso, as raízes mortas propiciarão existirem canais para dentro do solo onde a água pode penetrar e com isso, sobrará menos água para correr na superfície.

Outro fator importante é que, se as chuvas são freqüentes e o terreno já está saturado de água, a tendência é que o solo nada mais absorva e com isso, toda a água da chuva que cair, correrá pela superfície.

Se o solo é arenoso o arraste será maior do que se ele fosse argiloso. Muitas ações devidas ao homem apressam o processo de erosão; se

Sem levar em conta os efeitos poluidores da ação de arraste, tem-se que considerar dois aspectos maléficos dessa ação: o primeiro, devido ao assoreamento que preenche o volume original dos rios e lagos e como conseqüência, vindas as grandes chuvas, esses corpos d’água extravasam, causando as famosas cheias de tristes conseqüências e memórias; o segundo é que a instabilidade causada nas partes mais elevadas podem levar a deslocamentos repentinos de grandes massas de terra e rochas que desabam talude abaixo, causando, no geral, grandes tragédias.

Dentre as principais causas do desencadeamento e evolução da erosão nas cidades destacam-se: o traçado inadequado do sistema viário, freqüentemente agravado pela falta de pavimentação, guias e sarjetas; a deficiência do sistema de drenagem de águas pluviais e servidas, e a expansão urbana descontrolada, com implantação de loteamentos e conjuntos habitacionais em locais não apropriados sob o ponto de vista geotécnico.

Considerando, agora, os efeitos poluidores, podemos citar que os arrastes podem encobrir porções de terrenos férteis e sepultá-los com materiais áridos; podem causar a morte da fauna e flora do fundo dos rios e lagos por soterramento; podem causar turbidez nas águas, dificultando a ação da luz solar na realização da fotossíntese, importante para a purificação e oxigenação das águas; podem arrastar biocidas e adubos até os corpos d'água e causarem, com isso, desequilíbrio na fauna e flora nesses corpos d'água. 2.8 Proteção das represas As enxurradas que poluem e assoreiam rios e córregos causam grandes danos também às barragens hidrelétricas e às represas. Mas a água barrenta que leva a camada fértil do solo, paus e pedras para dentro das fontes quase não encontra obstáculos no caminho desses lagos artificiais (Figura 11).

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Figura 11. Represa assoreada nas margens.

A importância da vegetação ciliar é levada pouco a sério como proteção

dos mananciais e praticamente esquecida na construção das represas, que se multiplicaram muito nos últimos anos.

O entusiasmo de fazendeiros e sitiantes ao construir um desses espelhos d’água junto às suas sedes, para criação de peixes ou mero ornamento, curiosamente, não os motiva a zelar, depois, por elas. Muitos começam mal, deixando de plantar, simplesmente; outros plantam e não cuidam o bastante para que a vegetação cubra toda a margem.

Mais comumente, é utilizado capim, ou grama, ambos importantes pela cobertura que oferecem, mas a desobediência às recomendações técnicas, a falta de irrigação e o pisoteio prejudicam a formação do manto verde. As árvores e os arbustos, desprezados por tomar espaço ou sujar a represa com as folhas que derrubam, devem ser levados em conta, porque também contribuem para amortecer o impacto das chuvas e por terem ainda a função de quebrar o vento. Além disso, é sempre importante para o equilíbrio ecológico a diversificação das espécies. Ela contribui inclusive para preservar as qualidades do solo e tende a enriquecer sua composição.

Além das barragens hidrelétricas, há as pequenas represas destinadas a servir de bebedouros para os animais, as ornamentais e de lazer, de criação de peixes e outros frutos d’água e as que funcionam como reservatório para abastecimento de equipamentos de irrigação (essas, importantes por amenizar os efeitos da interferência na vazão do córrego, acentuados quando a sucção é diretamente no manancial). 3. Exemplo de projetos que contribuíram para a recu peração do

assoreamento

Se as práticas conservacionistas forem introduzidas em apenas uma ou outra propriedade da bacia, quase nenhuma redução nos impactos aos cursos d’água será sentida. Portanto, para atingir melhores efeitos, as práticas devem ser implantadas de forma integrada, no conjunto de propriedades da bacia. Entretanto um criterioso planejamento deve anteceder a tomadas dessas ações, uma vez que seu sucesso depende da efetividade dos produtores, do nível tecnológico dos produtores, do custo de implantação, entre outros fatores.

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Exemplos que lograram sucesso em condições distintas, no Brasil, foram o Programa Paraná Rural, no Sul do País, e o Projeto Piloto do PRODHAM, no Ceará. O primeiro foi um amplo programa de manejo e conservação integrada do solo, em nível de pequenas bacias hidrográficas, onde práticas como terraceamento, relocação de estradas e calagem, implantadas em todas as propriedades de bacias paranaenses, tiveram um resultado tão positivo no aumento de produtividade e na redução da sedimentação a jusante, que o programa, apoiado pelo Banco Mundial, está sendo copiado em outros Estados e em países da América Latina. No caso do Ceará, um programa piloto de construção de pequenas barragens de contenção, em propriedades situadas nas zonas de cabeceira de bacia no Sertão do Estado, já apresenta resultados significativos. Os custos da implantação dessas pequenas barragens são insignificantes, a mão-de-obra da própria família do produtor é utilizada e os benefícios auferidos são muitos. Além da retenção do sedimento no local onde é gerado, evitando sua deposição nos cursos d’água a jusante, as barragens proporcionam um fonte extra de água na propriedade. Isto é muito importante numa região freqüentemente assolada pela seca. Esta integração entre as ações nas pequenas bacias (nas cabeceiras) e as grandes obras hidráulicas, a jusante, é pioneira na América Latina, e tem tudo para se tornar um exemplo no controle da sedimentação. Exemplos de programas bem sucedidos de controle de erosão e assoreamento já existem no Brasil. Resta às classes técnica e política reconhecer o fato de que as ações mais eficazes não são necessariamente as mais complexas e caras, mas sim aquelas que buscam entender os caprichos da natureza, usando-os inteligentemente a favor do bem de todos. Augusto dos Anjos já havia reconhecido esse fato há 100 anos. Cabe a nós técnicos, produtores e tomadores de decisão, colocá-lo em prática. 4. Identificação de poluentes e métodos de control e de despoluição 4.1 Introdução

Pelo que se sabe, só o planeta Terra tem água em abundância. Estamos falando da água que abrange aproximadamente, 70% da superfície terrestre (Figura 12). São incontáveis as espécies de animais e vegetais que a Terra possui. Sua distância do Sol - 150 milhões de quilômetros - possibilita a existência da água nos três estados: sólido, líquido e gasoso. A água, somada à força dos ventos, também ajuda a esculpir a paisagem do nosso planeta: desgasta vales e rochas, provoca o surgimento de diversos tipos de solo, entre outros. O transporte de nutrientes, que são aproveitados por centenas de organismos vivos, também é feito pela água.

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Figura 12. Planeta Terra.

A existência de tudo o que é vivo, em nosso planeta, depende de um fluxo de água contínuo e do equilíbrio entre a água que o organismo perde e a que ele repõe. As semelhanças entre o corpo humano e a Terra são: 70% do nosso corpo também é constituído de água. Assim como a água irriga e alimenta a Terra, o nosso sangue, que é constituído de 83% de água, irriga e alimenta nosso corpo. Quando o homem aprendeu a usar a água em seu favor, ele dominou a natureza: aprendeu a plantar, a criar animais para seu sustento, a gerar energia, entre outros.

Desde as civilizações mais antigas até as mais modernas, o homem sempre procurou morar perto dos rios, para facilitar a irrigação, moer grãos, obter água potável, entre outros. Nos últimos trezentos anos, a humanidade se desenvolveu muito, a produção aumentou, o comércio se expandiu, provocando uma verdadeira revolução industrial. Nesse processo, a água teve papel fundamental, pois a partir de seu potencial surgiram a roda d´água, a máquina a vapor, a usina hidrelétrica etc. Hoje, mais do que nunca, a vida do homem depende da água. Para produzir um quilo de papel, são usados 540 litros de água; para fabricar uma tonelada de aço, são necessários 260 mil litros de água; uma pessoa, em sua vida doméstica, pode gastar até 300 litros de água por dia. No decorrer do século XX, a população do planeta Terra aumentou quase quatro vezes. Um estudo populacional prevê que no ano 2002 a população mundial, em sua maioria absoluta, estará vivendo em grande cidades; com o grande desenvolvimento industrial, a cada dia aparecem novas utilidades para a água. O custo de ter água pronta para o consumo em nossas casas é muito alto, pois o planeta possui aproximadamente só 3% de água doce e nem toda essa água pode ser usada pelo homem, já que grande parte dela encontra-se em geleiras, icebergs e subsolos muito profundos.

Outra razão para a água ser um recurso limitado é sua má distribuição pelo mundo. Há lugares com escassez do produto e outros em que ele surge em abundância. Com o grande desenvolvimento da tecnologia , o homem passou a interferir com agressividade na natureza. Para construir uma hidrelétrica, desvia curso de rios, represa uma quantidade muito grande de água e interfere na temperatura, na umidade, na vegetação e na vida de animais e pessoas que vivem nas proximidades. O homem tem o direito de

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criar tecnologias e promover o desenvolvimento para suprir suas necessidades, mas tudo precisa ser muito bem pensado, pois a natureza também tem de ser respeitada.

A água dos mananciais e dos poços, por conter microorganismos e partículas sólidas em suspensão, percorre um caminho nas estações de tratamento até chegar limpa ao hidrômetro (Figura 13 e 14).

Figura 13. Estação de tratamento de

água (ETA). Figura 14. Água tratada saindo pela

torneira.

Na primeira etapa do tratamento, a água fica na bacia de tranqüilização; em seguida, recebe sulfato de alumínio, cal e cloro. Na segunda etapa, a água passa pelos processos de filtração e fluoretação. Para produzir 33 m³ por segundo de água tratada, uma estação como o Guaraú, no município de São Paulo, gasta em média 10 toneladas de cloro, 45 toneladas de sulfato de alumínio e mais 16 toneladas de cal - por dia!

Nas casas, a água começa seu caminho no hidrômetro (aparelho que mede o volume de água consumida), entra na caixa d´água e passa pelos canos e registros até chegar à pia, ao chuveiro, ao vaso sanitário e tudo o mais. Após o uso ( para beber, cozinhar, limpar), a água vai para os ralos e em seguida para os canos que vão dar na caixa de inspeção e na saída do esgoto doméstico. Os esgotos que saem das casas, indústrias etc devem ser bombeados para uma estação de tratamento, onde os sólidos são separados do líquido - o que diminui a carga de poluição e os prejuízos para as águas que irão recebê-la. O tratamento de esgoto é vantajoso, pois o lodo que sobra pode ser transformado em fertilizante agrícola; o biogás resultante desse processo também é aproveitável como combustível.

Os efeitos da poluição e destruição da natureza são desastrosos: se um rio é contaminado, a população inteira sofre as conseqüências. A poluição está prejudicando os rios, mares e lagos; em poucos anos, um rio sujeito a poluição pode estar completamente morto. Para despoluir um rio gasta-se muito dinheiro, tempo e o pior: mais uma enorme quantidade de água. Os mananciais também estão em constante ameaça, pois acabam recebendo a sujeira das cidades, levada pela enxurrada junto com outros detritos. A impermeabilização do solo causada pelo asfalto e pelo cimento dificulta a infiltração da água da chuva e impede a recarga dos lençóis freáticos. As ocupações clandestinas de áreas que abrigam os mananciais também acabam poluindo as águas, pois seus moradores depositam lixo e esgoto no local.

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Os poluidores e destruidores da natureza são os próprios seres humanos que jogam o lixo diretamente nos rios, sem nenhum tratamento, matando milhares de peixes (Figura 15).

Figura 15. Poluição das águas de um rio.

Desmatadores derrubam árvores das áreas dos mananciais e de matas ciliares, garimpeiros devastam os rios e usam mercúrio, envenenando suas águas. As pessoas sabem que os automóveis poluem e colaboram para o efeito estufa, mas por falta de opção ou por comodismo não abrem mão desse meio de transporte. Todos sabem que o lixo contamina e polui o meio ambiente. Porém, muitas pessoas jogam-no nas ruas, praias e parques. A atividade agrícola também é poluidora da água, já que os pesticidas e os agrotóxicos são levados pela água da chuva para os rios e mananciais ou penetram o solo atingindo os lençóis freáticos.

As fábricas lançam gases tóxicos na atmosfera porque não instalam filtros em suas chaminés (Figura 16). Numa cidade como São Paulo, só 17% das indústrias tratam seus esgotos; 83% jogam nos rios toda a sujeira que produzem. Quem mais polui é também quem mais consome: 23% da água tratada é consumida pelas indústrias. A água poluída pode causar doenças como cólera, febre tifóide, disenteria, amebíase etc. Muitas pessoas estão sujeitas a essas e outras doenças porque suas residências não tem água tratada ou rede de esgoto. Um dado assustador comprova: 55,51% da população brasileira não tem água encanada nem saneamento básico.

Figura 16. Poluição atmosférica de uma indústria e seu reservatório de água.

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A maioria das pessoas tem o costume de desperdiçar água, mas isso tem de mudar, porque o consumo de água vem aumentando muito e está cada vez mais difícil captar água de boa qualidade. Por causa do desperdício, a água tem de ser buscada cada vez mais longe, o que encarece o processo e consome dinheiro que poderia ser investido para proporcionar a todas as pessoas condições mais dignas de higiene. Soluções inviáveis e caras já foram cogitadas, mas estão longe de se tornar realidade. São elas: retirar o sal da água do mar, transportar geleiras para derretê-las etc.

Quando abrimos uma torneira, não estamos apenas consumindo água. Estamos também alimentando a rede de esgoto, para onde vai praticamente toda a água que consumimos. No ano 2001, os seres humanos estarão consumindo aproximadamente 150 bilhões de m³ de água por ano e gerando 90 bilhões de m³ de esgoto. O consumo de água cresce a cada dia, mas a quantidade de água disponível para o consumo no planeta não cresce. Em um futuro não muito distante haverá escassez. Alguns hábitos devem ser adquiridos em nosso cotidiano, tais como fechar a torneira ao escovar os dentes, cuidar para que as torneiras fiquem fechadas de forma correta, reaproveitar a água da lavagem da roupa para lavar o quintal etc. Um pequeno filete de água escorrendo um dia inteiro por um vazamento pode eqüivaler ao consumo diário de água de uma família de cinco pessoas.

Nem todos poluem a água e estragam a natureza. Existem pessoas que trabalham para conservá-la. Os trabalhadores de uma estação de tratamento de água, por exemplo, passam a vida tratando e filtrando a água que todos consomem. Outros trabalhadores retiram a lama e lixo dos rios e riachos assoreados, para evitar enchentes. Há pessoas que reflorestam áreas que já estavam se tornando desérticas, que estudam soluções e alternativas para os problemas ambientais. E existem os veículos de comunicação, associações de bairro e entidades ambientalistas que denunciam crimes ecológicos e cobram providências do governo. Porém, os que agem para melhorar o meio ambiente ainda são minoria. 4.2 Relação da qualidade da água com a saúde A água desenvolve um ciclo. O chamado ciclo da água é o caminho que ela percorre. A chuva, basicamente, é o resultado da água que evapora dos lagos, rios e oceanos, formando as nuvens. Quando as nuvens estão carregadas, soltam a água na terra. Ela penetra o solo e vai alimentar as nascentes dos rios e os reservatórios subterrâneos. Se cai nos oceanos, mistura-se às águas salgadas e volta a evaporar, chove e cai na terra Quando não tratada, a água é um importante veículo de transmissão de doenças, principalmente as do aparelho intestinal, como a cólera, a amebíase e a disenteria bacilar, além da esquistossomose. Essas são as mais comuns. Mas existem outras, como a febre tifóide, as cáries dentárias, a hepatite infecciosa. O consumo de uma água saudável é fundamental à manutenção de um bom estado de saúde. Existem estimativas da Organização Mundial de Saúde de que cerca de 5 milhões de crianças morrem todos os anos por diarréia, e estas crianças habitam de modo geral os países do Terceiro Mundo. Existem alguns cuidados que são fundamentais. O acesso à água tratada nem sempre

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existe na nossa população - principalmente na população de periferia. Deve-se tomar muito cuidado porque a contaminação dessa água nem sempre é visível. A água de poço e a água de bica devem ser usadas com um cuidado muito especial, porque muitas vezes estão contaminadas por microrganismos que não são visíveis a olho nu. Mesmo com a água tratada deve-se ter alguma cautela, porque muitas vezes há contaminação na sua utilização: recipientes que são utilizados com falta de higiene, mãos que não são suficientemente bem lavadas. Segundo o Inmetro, a tampa de uma latinha de cerveja ou refrigerante pode estar mais poluída que um banheiro público. Todos esses fatores podem estar interferindo num caso de diarréia. Muitas outras doenças importantes também podem ser causadas pela água contaminada. 4.3 Principais rios poluídos no país

O Brasil é um país privilegiado no que diz respeito à quantidade de água. Sua distribuição, porém, não é uniforme em todo o território nacional. A Amazônia, por exemplo, é uma região que detém a maior bacia fluvial do mundo. O volume d'água do rio Amazonas é o maior do globo, sendo considerado um rio essencial para o planeta. Essa é, também, uma das regiões menos habitadas do Brasil. Em contrapartida, as maiores concentrações populacionais do país encontram-se nas capitais, distantes dos grandes rios brasileiros, como o Amazonas, o São Francisco e o Paraná. E há ainda o Nordeste, onde a falta d'água por longos períodos tem contribuído para o abandono das terras e para a migração aos centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, agravando ainda mais o problema da escassez de água nessas cidades.

Além disso, os rios e lagos brasileiros vêm sendo comprometidos pela queda de qualidade da água disponível para captação e tratamento. Na região amazônica e no Pantanal, por exemplo, rios como o Madeira, o Cuiabá e o Paraguai já apresentam contaminação pelo mercúrio, metal utilizado no garimpo clandestino. E nas grandes cidades esse comprometimento da qualidade é causado principalmente por despejos domésticos e industriais.

Se a bacia é ocupada por florestas nas condições naturais, essa água vai ter uma boa qualidade porque vai receber apenas folhas, alguns resíduos de decomposição de vegetais. Mas, se essa bacia começar a ser utilizada para a construção de casas, para implantação de indústrias, para plantações, então a água começará a receber outras substâncias além daquelas naturais, como, por exemplo o esgoto das casas e os resíduos tóxicos das indústrias e das substâncias químicas aplicadas nas plantações. Isso vai contribuir para que a água vá piorando de qualidade. Por isso ela deve ser protegida na fonte, na bacia. Essa água, depois, vai ser submetida a um tratamento para ser usada pela população. Mas, mesmo a estação de tratamento tem suas limitações. Ela retira com facilidade os produtos de uma floresta, de uma condição natural. Mas esgotos pioram muito, e a presença de substâncias tóxicas vai tornando esse tratamento cada vez mais caro. Acima de um certo limite, o tratamento nem mais é possível, porque existe uma limitação para a capacidade depuradora de uma estação de tratamento. Então, a água se torna totalmente imprestável".

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Esses problemas atingem também os principais rios e represas das cidades brasileiras, onde hoje vivem 75% da população.

• Em Porto Alegre, o rio Guaíba está comprometido pelo lançamento de resíduos domésticos e industriais, além de sofrer as conseqüências do uso inadequado de agrotóxicos e fertilizantes.

• Brasília, além de enfrentar a escassez de água, tem problemas com a

poluição do lago Paranoá. • A ocupação urbana das áreas de mananciais do Alto Iguaçu

compromete a qualidade das águas para abastecimento de Curitiba. • O rio Paraíba do Sul, além de abastecer a região metropolitana do Rio

de Janeiro, é manancial de outras importantes cidades de São Paulo e Minas Gerais, onde são graves os problemas devido ao garimpo, à erosão, aos desmatamentos e aos esgotos.

• Belo Horizonte já perdeu um manancial para abastecimento - a lagoa da

Pampulha - que precisou ser substituído pelos rios Serra Azul e Manso, mais distantes do centro de consumo. Também no rio Doce, que atravessa os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a extração de ouro, o desmatamento e o mau uso do solo agrícola provocam prejuízos enormes à qualidade de suas águas.

• Estado de São Paulo sofre com a escassez de água e com problemas

decorrentes de poluição em diversas regiões: no Alto Tietê junto à região metropolitana; no rio Turvo; no rio Sorocaba, entre outros.

4.4 O fenômeno da autodepuração dos cursos d’águas A introdução de matéria orgânica em um corpo d’água resulta, indiretamente, no consumo de oxigênio dissolvido, resultando nos processos de estabilização da matéria orgânica realizados pelas bactéria decompositoras, as quais utilizam o oxigênio disponível no meio líquido para sua respiração. O fenômeno da autodepuração está vinculado ao restabelecimento do equilíbrio no meio aquático, por mecanismos essencialmente naturais, após as alterações induzidas pelos despejos afluentes. Como parte mais específica, tem-se que, como parte integrante do fenômeno de autodepuração, os compostos orgânicos são convertidos em compostos inertes e não prejudiciais do ponto de vista ecológico. A impotância do conhecimento do fenômeno de autodepuração e da sua quantificação, tendo em vista utilizar a capacidade de assimilação dos rios é impedir o lançamento de despejos acima do que possa suportar o corpo d’água. Sendo assim, as principais formas de controle da poluição por matéria orgânica são: - Tratamento dos esgotos;

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- Regularização da vazão do curso d’água; - Aeração do curso d’água; - Aeração dos esgotos tratados; - Alocação de outros usos para o curso d’água.

O ecossistema de um corpo d’água antes do lançamento de despejos encontra-se usualmente em um estado de equilíbrio. Após a entrada da fonte de poluição, o equilíbrio entre as comunidades é afetado, resultando numa desorganização inicial, seguida por uma tendência posterior à reorganização Neste sentido, a autodepuração pode ser entendida como um fenômeno de sucessão ecológica. Há uma sequência sistemática de substituições de uma comunidade por outra, até que uma comunidade estável se estabeleça em equilíbrio com as condições locais.

Por causa das altas cargas de nutrientes introduzidas nos corpos aquáticos, principalmente formas de nitrogênio e fósforo, as águas tornam-se altamente produtivas permitindo o desenvolvimento exagerado de algas emaclófitas. Este processo de enriquecimento de corpos aquáticos é denominado eutrofização.

Os organismos vivos se “adaptam” a um determinado ambiente aquático se as condições de sobrevivência e reprodução são favoráveis. Tendo em vista que a qualidade da água reflete diretamente nas comunidades biológicas, diversos autores introduziram o conceito de “indicador biológico”. Os “indicadores biológicos” podem serem definidos como seres vivos que agem como bio-sensores, indicando com sua presença e diversidade que determinado parâmetro ou conjunto de parâmetros estão dentro dos limites toleráveis para suas necessidades particulares e sua permanência. Vários são os grupos de organismos indicados como “indicadores biológicos”, como por exemplo: bactérias, algas, fungos, micro invertebrados e peixes.

No ecossistema em condições naturais, ocorre elevada diversidade e número de espécies, enquanto que, no ecossistema em condições pertubadas ocorre baixa diversidade de espécies e elevado número de indivíduos em cada espécie. A Figura 16 apresenta a visualização esquemática da relação entre a poluição e diversidade de espécies.

Figura 16. Relação qualitativa entre poluição e diversidade de espécie

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As bactérias fecais (patogênicas e não patogênicas) e as patogêncas, não sendo habitantes naturais do ambiente aquático entram no ecossistema através de lançamento de despejos que contém material fecal. Além de geralmente não se reproduzirem neste ambientes, não sobrevivem neles por muito tempo. As bactérias coliformes fecais e estreptococos fecais presentes nas fezes de homeotérmicos sadios e doentes tem um grande valor sanitário, pois sua presença indica que a água está recebendo dejetos humanos ou de animais de sangue quente que podem conter organismos patogênicos tornando-a imprópria ao consumo humano. Através da quantificação destas bactérias é possível avaliar a intensidade da poluição fecal. O curso d’água pode ser considerado como uma depuradora natural de despejos. Para cada corpo aquático receptor há um limite de lançamento de matéria orgânica biodegradável, sendo importante a avaliação de sua capacidade de autodepuração. Torna-se necessário, somente, determinar as quantidades de cargas orgânicas que possam ser lançadas, de modo que não prejudique a qualidade da água. Vários são os parâmetros que podem ser utilizados na avaliação do processo de autodepuração. Entretanto, a avaliação do nível de oxigênio dissolvido é o mais importante. A avaliação deste nível é o parâmetro que deve estar sempre presente nas legislações de proteção dos recursos hidrícos contra agentes poluidores. Quando um corpo aquático lótico recebe poluição aparecem várias zonas ecológicas, com características específicas de acordo com o teor de matéria orgânica, oxigênio, nutrientes e biota presente. A poluição diminui com o decorrer do tempo e com a extensão vencida pela correnteza devido à fotossíntese e oxidação biológica da matéria orgânica e à restauração do oxigênio dissolvido que é promovida pela aeração superficial e ou pela atividade fotossintética. Existem quatro zonas de autodepuração ao longo de um curso d’água que recebe forte contribuição em esgoto: Zona de Degradação, Zona de Decomposição Ativa, Zona de Recuperação e Zona de Àguas Limpas.

A Figura 17 apresenta a trajetória dos três principais parâmetros (matéria orgânica, bactérias decompositoras e oxigêncio dissolvido) ao longo das quatro zonas.

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Figura 17. Trajetória dos três principais parâmetros (matéria orgânica, bactérias decompositoras e oxigêncio dissolvido) ao longo das quatro zonas

do percurso no curso d’água. Os Quadros 1, 2, 3 e 4, descrevem o comportamento físico, químico e biológico das zonas de degradação, decomposição ativa, recuperação e águas limpas. Quadro 1. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de

degradação.

Característica Descrição

Característica geral Esta zona tem início logo após o lançamento das águas residuárias no curso d’água. A principal característica química é a alta concentração de matéria orgânica.

Aspecto estético No ponto de lançamento a água se apresenta turva, devido aos sólidos presentes nos esgotos. A sedimentação de sólidos resulta na formação de bancos de lodo.

Matéria orgância e oxigênio dissolvido

Nesta zona, há uma completa desordem em relação à comunidade estável antes existente, sendo que o processo de decomposição da matéria orgância, efetuado pelos microrganismos decompositores geralmente tem início lento.

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Microrganismos decompositores

Após o período de adaptação, inicia-se a proliferação bacteriana, com uma predominância maciça das formas aeróbias, ou seja, que dependem do oxigênio disponível no meio para os seus processos metabólicos.

Subprodutos da decomposição

Há um aumento nos teores de gás carbônico, um dos subprodutos do processo respiratório microbiano. Com o aumento das concentrações de CO2, convertido à ácido carbônico na água, pode haver uma queda no pH da água, tornando-se mais ácida.

Lodo de fundo No lodo de fundo, devido à dificuldade de intercâmbio gasoso com a atmosfera, passam a prevalecer condições anaeróbias, isto é ausência de oxigênio dissolvido, ocorrendo a produção de ácido sulfídrico, potencial gerador de odores desagradáveis.

Nitrogênio Os compostos nitrogenados complexos apresentam-se ainda em altos teores, embora já ocorra a conversão de grande parte dos mesmos a amônia.

Comunidade aquática Há uma sensível diminuição do número de espécies de seres vivos, embora o número de indivíduos em cada uma seja bem elevado, caracterizando um ecossistema pertubado.

Quadro 2. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de

decomposição ativa.

Característica Descrição

Característica geral Após a fase de pertubação do ecossistema, este principia a se organizar, com os microrganismos desempenhando ativamente sua funções de decomposição da matéria orgância. Como consequência, os reflexos no corpo d’água atingem os seus níveis mais acentuados, e a qualidade da água apresenta-se em seu estado mais deteriorado.

Aspecto estético Observa-se ainda acentauada coloração na água e os depósitos de lodo no fundo.

Matéria orgância e oxigênio dissolvido

Nesta zona o oxigênio dissolvido atinge a sua menor concentração.

Microrganismos decompositores

As bactérias decompositoras principiam a se reduzir em número, devido principalmente à redução na disponibilidade de alimento em grande parte já estabilizado.

Subprodutos da decomposição

Caso haja reações anaeróbicas, os subprodutos são, além dos gás carbônico e da água, o metano, gás sulfídrico, mercaptanas e outros, vários deles responsáveis pela geração de maus odores.

Nitrogênio O nitrogênio apresenta-se ainda na forma orgânica, embora a maior parte já se encontre na forma de amônia.

Continuação: Quadro 2. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de

decomposição ativa.

Comunidade aquática O número de bactéria entéricas, quer patogênicas ou não, diminui rapidamente. O número de protozoários se eleva. Ocorre a presença de alguns macrorganismos e larvas de insetos. No entando a macrofauna é ainda restrita em espécies.

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Quadro 3. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de recuperação.

Característica Descrição

Característica geral Após a fase de intenso consumo de matéria orgânica e de degradação do ambiente aquático, inicia-se a etapa de recupração.

Aspecto estético A água está mais clara e a sua aparência geral apresenta-se grandemente melhorada.

Matéria orgância e oxigênio dissolvido

A matéria orgânica, intensamente consunida nas zonas anteriores, já se encontra grandemente estabilizada, ou seja, transformada em compostos inertes.

Nitrogênio A amônia é convertida a nitrito e estes a nitrato. Os compostos de fóforo são transformados em fosfatos. Ocorre, portanto, uma fertilização do meio, pela produção dos sais minerais (nitratos e fosfatos), os quais são nutrientes para as algas.

Algas Devido à presença de nutrientes, e à maior transparência da água (proporcionando uma maior penetração da luz), há condições para o desenvolvimento das algas.

Comunidade aquática O número de bactérias encontra-se bem mais reduzido e, como consequência, também o de protozoários bacteriófagos. As algas apresentam-se em franca reprodução. O microcrustáceos ocorrem em seu máximo, apresentando-se ainda grande números de moluscos e vários vermes, dinoflagelados, esponjas, musgos e larvas de insetos. A cadeia alimentar está mais diversificada, gerando a alimentação dos primeiros peixes, mais tolerantes.

Quadro 4. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de águas limpas.

Característica Descrição

Característica geral As águas apresentam-se novamente limpas, voltando a ser atingidas as condições normais anteriores à poluição, pelo menos no que diz respeito ao oxigênio dissolvido, à matéria orgânica e aos teores de bactérias e, provavelmente, de organismos patogêncos.

Aspecto estético A aparência da água encontra-se similar à anterior à ocorrência da plouição.

Matéria orgância e oxigênio dissolvido

Na massa líquida há predominância das formas completamente oxidadas e estáveis dos compostos minerais, embora o lodo de fundo não esteja necessariamente estabilizado. A concentração de oxigênio é próxima à de saturação, devido ao baixo consumo pela população microbiana e à possivelmente elevada produção pelas algas.

Comunidade aquática A produção de algas é bem maior. Há o restabelecimento da cadeia alimentar normal. São encontradas ninfas de odonatas, efemérides, assim como grandes crustáceos de água doce, moluscos e vários peixes.

4.5 Identificação de poluentes e métodos de contro le e de despoluição

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As fontes de água doce, as mais vitais para os seres humanos, são justamente as que mais recebem poluentes. Muitos lugares do planeta, cidades e zonas agrícolas correm sério risco de ficar definitivamente sem água (Figura 18). A causa fundamental dessa tragédia ecológica, que pode eventualmente piorar se medidas sérias não forem tomadas, é o aumento acelerado de várias formas de poluição, além da ocupação desordenada em regiões de preservação de mananciais.

Figura 18. Estimativa de água potável no planeta.

O lançamento de resíduos orgânicos acima da capacidade de absorção pelos organismos decompositores e o de resíduos inorgânicos não-biodegradáveis, muitos inclusive tóxicos e cumulativos, nos córregos, rios, lagos e mares, caracterizam o que chamamos genericamente de poluição das águas. Deve-se lembrar também da poluição do lençol freático, que são as águas subterrâneas, a partir da lixiviação dos solos, com pesticidas, na agricultura, e com o chorume, nos lixões. As fontes de poluição das águas são várias e estão muito dispersas pela superfície terrestre. Embora o fenômeno seja mais concentrado e mais visível nos complexos sistemas urbanos, surge também nos ecossistemas naturais e agrícolas.

Em realidade, despoluir ou não poluir um rio é uma tarefa de múltiplas facetas e exige atuações postas tais quais um feixe de retas paralelas em uma mesma direção.

Em primeiro lugar, para coordenar idéias, compete definir aquilo que é, para um rio, o seu elemento ou elementos vitais, a partir de que ele será um rio "com saúde".

Na massa d’água corrente de um rio existem um sem número de organismos vivos dos reinos vegetal e animal e em todos os graus de entrosamento. É um ecossistema. E a Natureza nos ensina que todo ecossistema tem que viver harmoniosamente.

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Vejamos, para começar, o reino animal que está presente no rio. A grande maioria de seus membros, devido ao rio, sobrevive, porque ali se alimenta e respira (oxigênio) ar e por isso, eles são animais aeróbios. Se não existissem no rio alimento ou ar eles morreriam. Com isso, tira-se a primeira conclusão: o ar, isto é, o oxigênio é peça indispensável para a sobrevivência do ecossistema, da mesma forma que o alimento, como para qualquer animal, e que, neste caso é a matéria orgânica. Acontece que a respiração é a função primordial, visto que, à sua falta o animal perece de imediato, donde se conclui que o oxigênio é a matéria prima fundamental para a sobrevivência do ecossistema rio.

Basicamente, o oxigênio estará presente na massa líquida por dois processos: a diluição em contato com o ar atmosférico e a fotossíntese devida aos vegetais. E aí, podemos chegar à primeira grande conclusão: se não houver diluição de contato e fotossíntese somadas em quantidade suficiente, fornecendo oxigênio para atender a fauna, ela perecerá gradativamente, até a posição de equilíbrio com a demanda.

O animal respira oxigênio e expira CO2 (dióxido de carbono), se alimenta de matéria orgânica e a transforma em minerais; a planta absorve o CO2 e através da fotossíntese, regenera o oxigênio.

Essa teoria é límpida e certa e com ela, podemos analisar um a um os fatos que fazem "adoecer" um rio e, com isso, nominar cada reta do nosso feixe de paralelas citado. Vejamos:

• Desmatamentos : A retirada de um vegetal do solo ou mesmo sua morte,

enfraquecerá a resistência mecânica desse solo graças a fixação que havia pelas raízes. Ao perder essa resistência, as águas de chuva iniciam um processo de erosão que, invariavelmente, mesmo que longe do curso d’água, irá carregar para os leitos desse curso, quantidades anormais de sólidos, levando ao processo de assoreamento. O assoreamento conduz a dois acontecimentos, um deles de caráter não ambiental propriamente dito, que é a diminuição da seção fluída e com isso, provocará alagamento extra-caixa do rio e o outro ambiental, que se dá pelo soterramento dos vegetais de fundo e inibição da penetração para eles do oxigênio, passando, aí, a ocorrer outro processo de decomposição do material orgânico soterrado – sem a presença de oxigênio – através de organismos ditos anaeróbios (que não necessitam do oxigênio dissolvido para respirarem) mas que, ao invés de darem como produto o dióxido de carbono e minerais (insumos para a fotossíntese), produzirão gases derivados de carbono e do enxofre como o metano, as mercaptanas e os gases sulfurosos, venenos para a fauna aeróbia.

• Mercúrio : Uma das piores formas de poluição das águas num ecossistema

natural é o derrame de mercúrio nos rios, lagos e mares. O mercúrio, metal pesado e extremamente tóxico, tende a se concentrar no organismo dos animais, como os peixes. Como essa concentração é cumulativa, tende a ser muito maior no último elo da cadeia alimentar, que é justamente o homem. Em altas doses, esse metal causa graves problemas à saúde. Por se acumular mais facilmente no cérebro, provoca sérios problemas neurológicos. Há muitos rios e lagos na Amazônia e no Pantanal contaminados com mercúrio, por causa do garimpo de ouro (Figura 19).

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Esse metal é usado para separar os pequenos pedaços de ouro que estão misturados com a areia, cascalho, etc. Como o mercúrio é um elemento químico que apresenta um vida útil elevada na natureza, a despoluição dos rios, lagos e meres fica comprometida. Logo o controle desta forma de poluição se dá por meio da proibição, por meio de legislação vigente, de garimpos clandestinos.

Figura 19. Garimpo clandestino.

• Agrotóxicos - São substâncias utilizadas em plantações com a finalidade

de matar organismos nocivos à saúde dessas plantações; evidentemente que, essas substâncias, mais cedo ou mais tarde, pelas chuvas, serão carreadas para um curso d’água, continuando ali seu efeito tóxico sobre outros organismos que não aqueles a que se destinavam eliminar. Tais organismos, principalmente os microorganismos, são exatamente aqueles que se encarregam de fazer a decomposição das substâncias orgânicas no seio da massa líquida e se eles estão mortos ou doentes, funcionarão como mais alimentos a serem consumidos, ao invés de transformadores de alimentos. Existe várias formas de se controlar este tipo de poluição, destacando-se:

- Utilização de plantas melhoradas geneticamente que além de apresentarem

maior produtividade, são mais resistentes aos ataques fitopatológicos e entomológicos;

- Controle biológico de pragas e doenças, ou seja, utilização de seres vivos que inibem o desenvolvimento de outros;

- Produção de plantas que não recebem agrotóxicos. Esta técnica acaba se tornando viável em algumas situações devido ao elevado preço do produto final e da maior aceitação por parte dos consumidores;

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- Treinamento de produtores no que se refere à aplicação de agrotóxicos; - Maior fiscalização governamental. • Adubos: São substâncias colocadas em plantações com a finalidade de

abastecê-las de seus elementos vitais como o nitrogênio, o potássio e o fósforo, são as "vitaminas" da flora e estimulam seu crescimento. De uma forma ou de outra, parte desses adubos serão carregados para os rios e ali incentivarão o crescimento dos vegetais aquáticos, principalmente os minúsculos como as algas e esse crescimento exagerado fará acontecer o fenômeno de eutrofização (proliferação exagerada de vegetais) que turvará de verde as águas, dificultando a penetração de luz solar, imprescindível à fotossíntese (que é geradora de oxigênio). Dentre as técnicas de prevenção e controle deste tipo de poluição, pode-se destacar:

- Utilização da técnica de plantio direto, que além proteger a superfïcie do

solo contra a lixiviação de nutrientes e erosão, aumenta a quantidade de matéria orgânica no solo, possibilitando maior disponibilidade de nutrientes para as plantas;

- Reaproveitamento de subprodutos da produção como restos vegetais que podem ser utilizados como cobertura morta;

- Aplicação eficiente de água no solo por meio da técnica de irrigação que de preferência deverá ser localizada;

- Formulação de adubos na própria propriedade; - Aplicação eficiente de formulados na plantação sob a orientação de

técnicos qualificados. • Barragens : O turbilhonamento das águas é fator que facilita a dissolução

de oxigênio do ar na água. Se as águas ficam tranqüilas, caso das águas barradas, a tendência à oxigenação diminui à montante (antes) da barragem e também, fica facilitada a deposição de poluentes pesados que comprometem o ecossistema; de positivo, nesse caso, há um favorecimento na depuração das águas à jusante. Para este tipo de poluição, os órgãos governamentais de fiscalização devem orientar de maneira consciente a construção de barragens por meio de técnicas mais eficazes de engenharia e arquitetura. Além disso, deve sempre que possível monitorar biológica as áreas à montante e jusante da barragem, procurando identificar possíveis alterações das características físicas, químicas e biológicas das águas.

• Lixeira: Uma lixeira (Figura 20) (local de disposição de lixos domésticos,

chamada lixão, aterro sanitário) deve se constituir num sistema de proteção que preveja o recolhimento dos percolados e do "chorume", que nada mais é que um "caldo" altamente orgânico e que demandará um grande consumo de oxigênio ao chegar a um curso d’água; não se contando aí, a possibilidade do lixo conter patogênicos, se for oriundo de hospitais.

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Figura 20. Depósito de lixo.

• Lixos Públicos: As populações ribeirinhas têm, no geral, o costume de lançar seus lixos diretamente nos rios por suas margens; isso significa mais material orgânico a demandar oxigênio bem como, materiais biodegradáveis como metais e plásticos que se não afetam diretamente a saúde do rio, irão causar transtornos aos sistemas de captação das águas para tratamento. Uma forma eficiente de prevenção e controle deste tipo de poluição é a reciclagem do lixo que além de ser uma atividade de educação ambiental, pode beneficiar uma pequena parcela da população que vê no lixo uma forma lucrativa e rentável de sobrevivência (Figura 21).

Figura 21. Reciclagem do lixo.

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• Esgotos Sanitários - Está aí a causa maior da alta demanda bioquímica de oxigênio (consumo de oxigênio) de um rio (Figura 22). Estudos mostram que, para cada pessoa, o esgoto produzido demanda, por dia, um consumo de 54g de oxigênio das águas do rio, isso sem contar os prejuízos dos não biodegradáveis que irão influenciar, por efeito direto, na saúde da flora e da fauna. Dentre as técnicas de prevenção e controle deste tipo de poluição, destacam-se:

- Tratamento dos esgotos; - Regularização da vazão do curso d’água; - Aeração do curso d’água; - Aeração dos esgotos tratados; - Alocação de outros usos para o curso d’água.

Figura 22. Poluição ocasionada por esgotos sanitários.

• Atividades Pastorís - A criação de animais implica numa concentração não

natural de espécies e consequentemente, em conseqüência, focos concentrados de dejetos altamente orgânicos a sacrificar os cursos d’água, localizadamente. Podem-se destacar as seguintes técnicas para a prevenção e controle deste tipo de poluição:

- Diminuição do confinamento de animais; - Utilização dos dejetos como forma de adubação de plantações e pastagens; - Construção aeradores próximos das instalações visando bombear os

dejetos diluídos com água na pastagem. • Abatedouros - Da mesma forma, há uma concentração não natural de

fontes altamente demandáveis de oxigênio nos cursos d’água, além de outros inconvenientes, como exemplo, as penas que constituem um grande transtorno de filtração primária nas estações de captação de águas para tratamento. Como forma de se prevenir o lançamento de vísceras e restos

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oriundos do abate de animais, a conscientização e sobretudo a aplicação de multas por órgãos pertinentes são alternativas consideradas fundamentais.

• A Poluição Atmosférica por Particulados - A geração e lançamento ao ar de partículas pelas diversas atividades industriais têm o efeito de cobertura constante dos solos e vegetais. Tais partículas, mais cedo ou mais tarde, por efeito das chuvas, irão atingir os cursos d’água, causando efeitos de assoreamento e de turbidez. A utilização de filtros nas chaminés das indústrias é considerada a principal medida para o controle deste tipo de poluição.

• Os Pós de Varrição - Da mesma forma, as partículas geradas nas vias

públicas por veículos, principalmente, irão, mais cedo ou mais tarde, alcançar um curso d’água.

• Efluentes Líquidos de Hospitais e Laboratórios - Não se tem notícias de

que haja tratamentos nesses casos; isso leva, evidentemente, à poluições de caráter patogênico e químico, respectivamente. A incineração é uma boa técnica para o controle deste tipo de poluição.

• Os Aterros Industriais - O fenômeno de lixiviação de metais nos aterros

industriais, sem uma perfeita proteção do solo, infiltram para os aqüíferos subterrâneos esses metais em dissolução, terminando seu deságüe em curso d’água. Além da legislação, antes da implantação do aterro indústrial, deve-se fazer um estudo da hidrologia subterrânea da área.

• As Micro-Atividades - Oficinas, postos de gasolina, fundições,

galvanoplastias, cemitérios etc. são contribuidores constantes de óleos, outros orgânicos e metais.

• A Poluição Térmica – O lançamento de águas quentes num rio causará,

de imediato, fenômenos localizados de desoxigenação pois, o calor favorece a dissipação do oxigênio dissolvido; além disso, a faixa de temperatura de sobrevivência de peixes e muitos microorganismos é bastante estreita e, ainda, alguns vegetais têm sua proliferação acentuada com o aumento de temperatura.

• A Poluição por Tensoativos - Os sabões influenciam para desequilibrar a

tensão superficial vital para espécies de animais que dela dependem para sobreviver; como exemplo a flutuação das aves aquáticas, as bolhas de ar do besouro d’água etc.

• A Poluição por Potencial Hidrogeniônico - A acidez ou basicidade

acentuada, fora da normalidade das águas, podem levar a mortandade de peixes, muito comum junto a despejos de usinas de açúcar de cana.

• A Poluição por Valor Osmótico - O fenômeno da passagem de líquidos

através de membranas semipermeáveis, na direção do menos saturado para o mais saturado, aplica-se à vida de animais acostumados ou à água doce ou à água salgada. Dessa forma, o lançamento de grande quantidade de sais em água doce é uma forma de poluição e, paradoxalmente, o

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lançamento de águas doces e límpidas no mar é, também, forma de poluição.

• Petróleo: Outro caso a grave de poluição das águas que sempre ocorre é o derrame de petróleo nas águas oceânicas (Figura 23). Embora o petróleo seja uma substância natural, ao ser introduzido em um ambiente aquático, comporta-se como um substância estranha a esse ecossistemas, causando grave desequilíbrio. Além da legislação ambiental que já vigora, medidas preventivas mais severas devem ser aplicadas sobre as empresas de exploração visando diminuir possíveis catástrofes ambientais além da busca por outras alternativas de fontes de energia.

Figura 23. Poluição causada pelo petróleo.

5. Conclusões

Quanto à despoluição, a certeza é que, deixar de poluir é uma forma de despoluição pois, os cursos d’água são notavelmente auto-renováveis, bastando que se diminuam as causas de sua degradação para que eles se recuperem paulatinamente.

Se continuarmos tratando a natureza de maneira irresponsável, o futuro nos reservará um mundo devastado e sem recursos. Podemos ter um bom futuro, em paz com a natureza, desde que encontremos o equilíbrio entre as necessidades humanas e a capacidade de recuperação ambiental (auto-sustentação). Não vale a pena quebrar para depois consertar, poluir para depois limpar. O grande contraste social e econômico distancia o homem da condição de cidadão e do conhecimento ecológico. Um caminho importante é a educação: para a formação da consciência ecológica, para a vida em harmonia com a natureza e para a convivência solidária entre as pessoas. Na prática podemos fazer muitas coisas, como economizar água tratada, utilizar menos detergente, jogar o lixo no lugar certo, plantar árvores, respeitar o ciclo da água, usar a água limpa com economia, gastar somente o necessário, denunciar as empresas que poluem, denunciar ocupações clandestinas que

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estejam despejando esgoto e lixo nos mananciais, cobrar dos governantes a criação e cumprimento de leis que protejam a natureza etc. Conscientizar a população para as questões ecológicas é importante para a conquista de um futuro com água potável e com saúde para toda a humanidade.

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APÊNDICE

Dinâmica de grupo 1. Solicite aos alunos que façam uma análise da let ra de duas músicas,

procurando encontrar diferenças e semelhanças quant o às mensagens, apelos, informações e linguagens de cada uma. Sugerimos as letra das músicas 'Planeta Água', de G uilherme Arantes e 'Planeta Azul', de Xororó e Aldemir.

PLANETA ÁGUA (Guilherme Arantes) Água que nasce na fonte serena do mundo E que abre o profundo grotão Água que faz inocente riacho E deságua na corrente do ribeirão Águas escuras dos rios Que levam a fertilidade ao sertão Águas que banham aldeias E matam a sede da população Águas que caem das pedras No véu das cascatas, ronco de trovão, E depois dormem tranqüilas No leito dos lagos, no leito dos lagos Água dos igarapés, onde Iara Mãe d'Água, é misteriosa canção Água que o sol evapora, Pro céu vai embora Virar nuvens de algodão Gotas de água da chuva, Alegre arco-íris sobre a plantação Gotas de água da chuva, tão tristes, São lágrimas na inundação Águas que movem moinhos São as mesmas águas que encharcam o chão E sempre voltam humildes Pro fundo da terra, pro fundo da terra Terra, Planeta Água Terra, Planeta Água Terra, Planeta Água

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PLANETA AZUL (Xororó e Aldemir) A vida e a natureza Sempre à mercê da poluição Se invertem as estações do ano Faz calor no inverno E frio no verão Os peixes morrendo nos rios, Estão se extinguindo espécies animais E tudo o que se planta, colhe, O tempo retribui o mal que a gente faz Onde a chuva caía quase todo dia Já não chove nada O sol abrasador rachando O leito dos rios secos, Sem um pingo d'água Quanto ao futuro inseguro Será assim de norte a sul: A Terra nua semelhante à Lua O que será desse Planeta Azul? O que será desse Planeta Azul? O rio que desce as encostas Já quase sem vida parece que chora, Num triste lamento das águas Ao ver devastada a fauna e a flora É tempo de pensar no verde, Regar a semente que ainda não nasceu, Deixar em paz a Amazônia, Preservar a vida, Estar de bem com Deus

2. Proponha aos alunos a observação e análise de ág uas de origens

diferentes (rio, manancial, lago etc). Para tanto, utilize critérios como: a) lixo flutuante ou acumulado nas margens . nenhum lixo (boa qualidade) . pouco lixo ou apenas árvores, folhas, aguapés (qualidade média ) . muito lixo (água poluída) b) peixes . muitos (boa qualidade) . poucos, raros (qualidade média) . nenhum ou só guarus (água poluída) c) material sedimentado . ausência, não é possível medir (boa qualidade) . baixa quantidade, menos de três milímetros (qualidade média)

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. alta quantidade, mais de três milímetros (água poluída) Obs.: utilize um copo cheio de água para essa experiência. d) cheiro . nenhum (boa qualidade) . fraco, de mofo ou capim (qualidade média) . fétido ou cheiro de ovo podre (água poluída) Atenção: oriente os alunos no manuseio do material coletado e na utilização

correta de equipamentos como luvas, aventais, máscaras etc. 3. Os alunos podem pesquisar cartas e fotos de saté lites que mostrem a

poluição das águas no globo terrestre e a concentra ção de clorofila na camada superficial das águas, determinando as condi ções de vida dos seres marinhos.

4. Solicite aos alunos que construam uma linha do t empo que mostre a

evolução das sociedades relacionada à tecnologia do manejo e utilização da água, destacando aspectos como cultur as agrícolas irrigadas, água encanada, esgoto, água tratada, con strução da roda d'água, construção de hidrelétricas.

5. Proponha uma pesquisa sobre invenções de máquina s movidas a

água e sua importância; a partir dessa pesquisa, su gira a elaboração de desenhos, pinturas, maquetes, protótipos relativ os ao tema.

6. Divida a classe em grupos e oriente para que cad a grupo estude um

ecossistema aquático brasileiro. Sugere-se que o es tudo aprofunde os aspectos:

a) Características gerais e capacidade de adaptação dos seres vivos que compõem o

ecossistema; b) Cadeia alimentar dos seres vivos aquáticos; c) Ação do homem nesses ecossistemas. 7. Desenvolva, no início do semestre, a seguinte at ividade: a) solicite que os alunos tragam cópias das contas de água de suas residências, para

uma explicação sobre os campos onde estão registrados o volume de água consumida, o período, o valor;

b) realize um trabalho de conscientização sobre a importância da água para a preservação da vida. Esse trabalho pode ser iniciado com a leitura de um texto ou com a apresentação de um vídeo;

c) faça um levantamento e registro de sugestões dos alunos para evitar o desperdício de água;

d) estimule, através da confecção de cartazes e elaboração de textos, o combate ao desperdício da água na escola e nas residências;

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e) promova um concurso: vencerá o aluno cuja família demonstrar que soube economizar mais água num período determinado. No decorrer desse período, os alunos levarão à escola as contas de água e farão comparações de gastos e custos, para checar se a campanha surtiu o efeito desejado e para acompanhar a evolução do concurso.

8. Solicite um estudo sobre "sociedades sustentávei s" no aspecto

referente à preservação da água e promova as seguin tes atividades: a) debate: divida a classe em duas alas, sendo que uma defenderá a "sociedade

sustentável" e a outra fará a oposição; b) providencie o registro das idéias favoráveis e desfavoráveis para posterior reflexão

e elaboração de um relatório final. 9. Após localizar num mapa de onde vem a água que a bastece a cidade,

os alunos deverão mostrar, com desenhos, o caminho da água até chegar às casas, e a sua saída, já como esgoto.

10. Oriente os alunos a realizar em grupo o planeja mento e construção da

maquete de uma casa colocando hidrômetro, canos, ca ixas d'água, torneiras, chuveiros, vasos sanitários e ralos. Dur ante a construção da maquete, discuta com os alunos o caminho da água de ntro das nossas casas e enfatize a origem e o local de tratamento d essa água.

11. Promova um estudo do meio com a realização das seguintes

atividades: a) visita a uma estação de tratamento de água, em que um técnico explique aos

alunos os processos de decantação e filtração e qual o papel das algas no processo de purificação da água;

b) a partir dessa visita, proponha aos alunos a elaboração de um relatório ilustrado sobre as fases de tratamento da água;

c) peça aos alunos que expliquem quais as conseqüências do aumento e da diminuição da quantidade de algas nas águas.

12. Visite uma estação de tratamento de esgotos e c hame a atenção dos

alunos para as medidas obrigatórias de segurança e higiene adotadas (vestimentas adequadas dos trabalhadores, calçados, máscaras, sinalizações etc.). Solicite a um técnico da estaçã o que faça uma exposição oral a fim de mostrar a relação entre con sumo de água e produção de esgoto, entre quantidade de lixo e polu ição da água. Em sala de aula, promova um debate e reflexão sobre a importância de não se jogar o lixo e o esgoto em lugares inadequad os.

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13. Solicite aos alunos que façam um estudo sobre as causas de poluição das águas (como agrotóxicos, esgotos, detritos indu striais etc.) e suas conseqüências para a vida na Terra.

14. Peça uma pesquisa sobre o que os governos estão fa zendo pela

preservação de mananciais e como ONGs - organizaçõe s não governamentais - colaboram com esse trabalho.

15. Promova uma campanha de coleta e seleção de lix o na escola: a) Divida os alunos em grupos; b) Divida a campanha em etapas (planejamento, distribuição e execução das tarefas,

registros); c) Combine uma data para a apresentação de relatório das tarefas já realizadas.

Os grupos poderão se responsabilizar: 1. Pela elaboração de textos, confecção de cartazes de propaganda e de

sinalização; 2. Pela obtenção de lixeiras com cores diferentes, as quais deverão ser

padronizadas para cada tipo de material reciclável; 3. Por entrar em contato com alguma agência do bairro que trabalhe com coleta

seletiva de lixo (vidros, plásticos, papéis, latas), a fim de verificar a possibilidade de venda desse material para arrecadação de verbas para a escola.

16. Proponha aos alunos que procurem em jornais e r evistas matérias

sobre a situação da água nas grandes cidades e mont em dois murais: um que mostre matérias com informações positivas so bre essa situação e outro que mostre matérias com informaçõe s negativas. O professor pode orientar os alunos para uma reflexão sobre esse assunto.

17. Solicite aos alunos a observação de uma localid ade de sua cidade: sua

casa, a rua onde mora, uma área de lazer, o percurs o que faz até a escola, registrando qualquer sinal de desperdício o u poluição das águas. Na seqüência, realize as seguintes atividade s:

a) Estabeleça uma discussão em sala de aula e indique um aluno para registrar todas

as conclusões dos participantes; b) Defina como trabalho individual o que cada um pode assumir para melhorar a

situação observada; c) Estabeleça como trabalho individual o que cada um sugere para que a

comunidade resolva ou amenize os problemas constatados; d) O professor poderá apresentar aos alunos a síntese final das sugestões. 18. Sugira a elaboração de um jornal ecológico, no qual os alunos

expressem, por meio de pequenas reportagens, denúnc ias de

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agressões à natureza e divulgação de campanhas de p reservação e uso adequado da água potável. É importante que os a lunos, orientados por professores, tenham a liberdade de s e expressar utilizando sua própria linguagem. Algumas sugestões de como fazer:

a) discussão das possíveis seções do jornal; b) Definição dos temas ecológicos das matérias principais; c) Visita aos locais das reportagens para uma melhor coleta de informações e para

verificar a possibilidade de obter fotos que ilustrarão a reportagem; d) Elaboração de textos individuais e coletivos, posteriores à discussão em grupo; e) Entrevistas com pessoas relacionadas com os temas escolhidos; f) Fechamento e digitação das matérias; g) Distribuição das matérias e fotos nas páginas do jornal (diagramação); h) Elaboração das legendas e manchetes; i) Distribuição na escola e na comunidade. 19. Representar o ciclo da água por meio de um desenho, com os

seguintes aspectos: - Evaporação da água; - Formação das nuvens; - Precipitação (chuva); - Acumulação da água (rios, lagos, represa etc). - Descrever e conceituar cada um desses aspectos. 20. Fazer um estudo sobre escassez e economia de ág ua. Descrever de 5

a 10 ações em que se pode economizar água em nosso cotidiano. Exemplo: não deixar a torneira aberta enquanto se e scova os dentes.

21. Fazer um intercâmbio com uma escola de uma região que tenha

problemas com suprimento de água, como certas regiõ es do nordeste do Brasil. Os alunos, em grupos, podem escrever uma carta a colegas de escolas dessas regiões solicitando informações r eferentes a itens como:

- As principais características da cidade e do município; - As principais ocupações da população; - Os rios, lagos, açudes do município; - Época e quantidade de chuva na região; - Problemas com a água (quantidade, escassez, distribuição, utilização). - Verificar a possibilidade de receber fotografias, postais, cartazes, artigos,

referentes ao assunto. - Fazer uma discussão em classe e preparar um relatório com conclusões sobre o

estudo. - Os alunos poderão dar continuidade ao intercâmbio com os colegas da outra

região, sobre este ou outro assunto do currículo.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO-UFES / DEPT. DE GEOGRAFIA / CLIMATOLOGIA

PROFESSORES ALEXANDRE ROSA DOS SANTOS/email: [email protected]/ DEPT. DE GEOGRAFIA - UFES

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22. Organizar os alunos em grupos, a fim de que cada gr upo pesquise uma das doenças transmissíveis pela água: esquistos somose, cólera, amebíase, leptospirose, hepatite, cisticercose. Ela borar cartazes sobre as doenças pesquisadas, com conclusões. Expor aos c olegas .

23. Discutir a necessidade do tratamento da água e sua importância para a

manutenção da saúde. 24. Entrevistar familiares (pais, avós, tios etc.) abo rdando a importância

da economia da água. - Como a água é utilizada em casa? - Como é feita a economia de água? - Como se verifica essa economia? - Apresentar os dados coletados aos colegas. 25. Montar, em sala de aula, vasos com diferentes tipo s de solo: - Areia; - Terra roxa; - Terra preta; - Argila. - Despejar em cada um deles a mesma quantidade de água e marcar o tempo que

leva para ocorrer a absorção. 26. Discutir o fenômeno da filtração, a valorização de determinados tipos

de solo e a formação de lençóis freáticos. 27. Pesquisar as principais funções realizadas pela ág ua líquida nos seres

vivos. 28. Pesquisar os objetivos das construções das barr agens, que

beneficiam a vida humana, e as possíveis alterações ambientais que provocam.

29. Promover com os alunos um debate sobre a possível conciliação da

expansão das cidades e os mananciais. 30. Fazer uma pesquisa de campo com o objetivo de obse rvar as

condições de saúde e saneamento básico próximo à es cola.