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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA EM REDE NACIONAL ANTONIO EDILSON CARDOSO PORTELA NOÇÕES DE GEOMETRIA PROJETIVA FORTALEZA 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA EM REDE NACIONAL

ANTONIO EDILSON CARDOSO PORTELA

NOÇÕES DE GEOMETRIA PROJETIVA

FORTALEZA

2017

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ANTONIO EDILSON CARDOSO PORTELA

NOÇÕES DE GEOMETRIA PROJETIVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Mestrado Profissional em

Matemática em Rede Nacional do Departamento

de Matemática da Universidade Federal do Ceará,

como parte dos requesitos necessários para a

obtenção do título de Mestre em Matemática.

Área de concentração: Ensino da Matemática.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Ferreira de Melo

FORTALEZA

2017

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ANTONIO EDILSON CARDOSO PORTELA

NOÇÕES DE GEOMETRIA PROJETIVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Mestrado Profissional em

Matemática em Rede Nacional do

Departamento de Matemática da Universidade

Federal do Ceará, como parte dos requesitos

necessários para a obtenção do título de

Mestre em Matemática. Área de concentração:

Ensino da Matemática.

Aprovada em: 25/08/2017

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Ferreira de Melo (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________

Prof. Dr. Frederico Vale Girão

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________

Prof. Dr. Tiago Caúla Ribeiro

Universidade Estadual do Ceará (UECE)

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A Deus, fonte de esperança.

A minha Família, o meu alicerce.

A todas as pessoas que acreditam no meu

potencial.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida, por ser uma fonte inesgotável de esperança.

Agradeço a meus pais, Manoel Francisco Cardoso e Terezinha Moreira Portela

Cardoso, que deram uma base de vida honesta e batalhadora, meus irmãos que sempre me

apoiaram e em especial ao meu irmão Antonio Cardoso Portela que nunca faltou com palavras

incentivando-me a concluir este mestrado.

Agradeço a minha noiva, Francisca Brandão de Araújo, por todo apoio e compreensão

nos momentos de ausência dedicando-me ao mestrado, por estar sempre ao meu lado

acreditando que juntos podemos ser melhor.

Agradeço a meus colegas de trabalho e à coordenação da EEM Prof. Luis Felipe da

cidade de Sobral – CE, pelo apoio e compreensão. Em especial, ao meu diretor, Francisco

Francinaldo Farrapo Frota, que sempre vem expressando confiança no meu potencial e dando-

me apoio ao fazer este mestrado.

Agradeço, imensamente, ao meu orientador Prof. Dr. Marcelo Ferreira de Melo, pela

confiança, disposição e paciência comigo durante a elaboração desta dissertação e pelas suas

aulas ministradas na disciplina Números e Funções Reais, mostrando compromisso e

sabedoria durante a condução das mesmas. E aos professores participantes da banca.

Agradeço aos meus colegas de turma do PROFMAT. Em especial, João Rodrigues de

Sousa Filho, pelos favores e estudos juntos, a Francisco das Chagas Alves Brito, pela

companhia nas viagens à Universidade.

Agradeço a CAPES por ter disponibilizado apoio financeiro.

Enfim, agradeço a todos que contribuíram de certa forma, direta ou indiretamente,

para a realização deste trabalho.

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“Os que buscam o justo caminho da verdade

não devem ocupar-se com nenhum objeto a

respeito do qual não possam ter uma certeza

igual à das demonstrações da aritmética e da

Geometria.” (René Descartes)

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RESUMO

Neste trabalho, inicialmente, apresenta-se alguns resultados da Álgebra Linear, em especial o

estudo do Espaço Vetorial , que passa a ser, juntamente com a Geometria Analítica, a

linguagem empregada nos capítulos que se seguem. Apresentamos um estudo de um ponto de

vista axiomático, sob a ótica dos axiomas de Hilbert e elaboramos modelos de planos para as

Geometrias Euclidiana, Elíptica e Projetiva. É verificada a validade dos axiomas de

Incidência e Ordem para a Geometria Euclidiana. No , é feita uma abordagem do estudo de

plano e da esfera unitária, destacando a reta elíptica obtida pela interseção destes conjuntos,

passando assim a fazer uma abordagem da Geometria Elíptica. Com os conceitos e definições

estudadas no Espaço Vetorial , Espaço tridimensional e nas Geometrias Euclidiana e

Elíptica, abordaremos o estudo da Geometria Projetiva, demonstrando proposições e

verificando os seus axiomas.

Palavras-chaves: Geometria Projetiva. Geometria Euclidiana. Geometria Elíptica. Axiomas

de Hilbert. Espaço tridimensional.

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ABSTRACT

In this work, initially, some results of Linear Algebra are presented, in particular the study of

the Vector Space , which becomes, together with Analytical Geometry, the language used

in the chapters that follow. We present a study from an axiomatic point of view, from the

perspectives of Hilbert's axioms and we elaborate models of planes for the Euclidean, Elliptic

and Projective Geometries. The validity of the Incidence and Order axioms for Euclidean

Geometry is verified. In , an approach is made to the study of the plane and the unitary

sphere, highlighting the elliptical line obtained by the intersection of these sets, thus making

an approach to the Elliptic Geometry. With the concepts and definitions studied in the Vector

Space , Three-dimensional Space and in the Euclidean and Elliptic Geometries we will

approach the study of Projective Geometry, demonstrating propositions and verifying its

axioms.

Keywords: Projective Geometry. Euclidean Geometry. Elliptic Geometry. Hilbert's axioms.

Three-dimensional space.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 4.1 – Vetor v paralelo à reta l ........................................................................................ 30

Figura 4.2 - ................................................................................................. 32

Figura 4.3 – Plano determinado por três pontos não colineares ............................................... 34

Figura 4.4 – Reta determinada pela interseção de dois planos distintos .................................. 34

Figura 4.5 – Esfera Unitária Canônica ..................................................................................... 37

Figura 5.1 - ........................................................................................................... 40

Figura 5.2 – Interseção de duas retas Elípticas ......................................................................... 47

Figura 6.1 – Retas que se interseptam ...................................................................................... 48

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LISTA DE SÍMBOLOS

Alfa

Beta

Gama

Épsilon

Eta

Teta

Lambda

Ni

Psi

Gama

Pertence

Interseção

Está contido

Segmento de reta

Vetor

Espaço vetorial

Conjunto dos Números Reais

Espaço Euclidiano

Espaço Euclidiano Tridimensional

Esfera Unitária Canônica

Plano Projetivo

Plano Projetivo Dual

Ponto Projetivo

Hemisfério Norte da Esfera Unitária

Para todo

Existe

Se, e somente se

Reta elíptica

Reta projetiva

Final da Prova

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 13

2 O ESPAÇO VETORIAL ............................................................................................ 14

3 GEOMETRIA EUCLIDIANA ........................................................................................ 25

3.1 Axiomas da Geometria Euclidiana Plana ....................................................................... 25

3.2 Um Modelo para o Plano Euclidiano (Geometria Euclidiana) .................................... 26

4 ESPAÇO EUCLIDIANO TRIDIMENSIONAL ............................................................ 30

4.1 Um Modelo para o espaço Euclidiano ............................................................................ 30

4.2 Equação da reta em .................................................................................................... 30

4.3 Equação do plano ............................................................................................................. 32

4.4 Esfera em ..................................................................................................................... 36

5 GEOMETRIA ELÍPTICA ............................................................................................... 38

5.1 Axiomas da Geometria Elíptica ...................................................................................... 38

5.2 Um Modelo para o Plano Elíptico (Geometria Elíptica) ............................................... 39

5.3 Distância elíptica ............................................................................................................... 40

6 GEOMETRIA PROJETIVA ........................................................................................... 48

6.1 Axiomas da Geometria Projetiva .................................................................................... 49

6.2 Um Modelo para o Plano Projetivo (Geometria Projetiva) ................................. 49

6.3 Relação entre e .................................................................................................... 50

6.4 Retas projetivas ................................................................................................................ 52

6.5 Plano projetivo dual ......................................................................................................... 53

7 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 58

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 59

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1 INTRODUÇÃO

A Geometria Euclidiana forma a base do conhecimento geométrico que aprendemos na

nossa Educação básica. Mas nem sempre conseguimos com ela desvendar soluções para

problemas que percebemos no nosso dia a dia. Por exemplo, ao olharmos ao longo de uma

ferrovia em linha reta, temos a sensação de que seus trilhos se intersectam em um ponto muito

distante. Mas, de fato, seus trilhos são paralelos em toda sua extensão. Também podemos

perceber situações como estas em fotografias ou pinturas. Estas situações nos passam a

sensação de que necessitamos pensar em uma geometria sem retas paralelas. Isto é, Geometria

não Euclidiana, que denominamos de Geometria Projetiva.

Este trabalho procura apresentar noções da Geometria Projetiva através de conhecimentos

já consagrados da Geometria Euclidiana, Geometria Analítica, Geometria Elíptica e Álgebra

Linear.

No segundo capítulo, estudamos algumas definições e resultados importantes do estudo do

Espaço Vetorial . Apresentamos demonstrações para a Desigualdade de Cauchy-Schwarz e

para a Fórmula de Lagrange. Além disso, destacamos algumas propriedades do Produto

Interno, Produto Vetorial e norma de um vetor. No terceiro capítulo, destacamos o estudo da

Geometria Euclidiana, verificando a validade dos grupos de axiomas de Incidência e ordem.

No quarto e no quinto capítulo, faremos uma abordagem das definições do Espaço Euclidiano

Tridimensional e da Geometria Elíptica, as quais serão importantes no entendimento e

desenvolvimento da teoria apresentada na última seção.

No último capítulo, abordaremos noções da Geometria Projetiva, passando pela

verificação dos axiomas de incidência, elaboração de um modelo de plano, denominado

(plano projetivo), exploramos suas relações com o plano Elíptico, estudamos os principais

subconjuntos do e realizamos demonstrações de forma analítica de algumas proposições

importantes da Geometria Projetiva.

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2 O ESPAÇO VETORIAL

Para este estudo, vamos apresentar inicialmente os principais conceitos da Álgebra

Linear, abordaremos a linguagem vetorial que será empregada mais adiante no estudo da

Geometria Projetiva. Posicionaremos mais precisamente ao estudo do espaço vetorial real .

Definição 2.1. Espaço Vetorial Real é um conjunto formado por as n-uplas ordenadas

de números reais, cujos elementos são chamados de vetores e

denotados por , no qual estão definidas as operações:

Adição

Para cada par de vetores e de

corresponde um novo vetor de , em que

;

Multiplicação por um número real (multiplicação por um escalar)

Para cada e para cada corresponde um novo

vetor de , em que

.

Essas duas operações equipam com a estrutura de espaço vetorial sobre .

Os números são chamados as coordenadas do vetor . O vetor

o é denominado vetor nulo de . O espaço vetorial apresenta uma

linguagem peculiar, como por exemplo, multiplicar um vetor de por , onde é

chamado de escalar.

Dados dois vetores e de ,

temos por definição, que a igualdade vetorial significa as n igualdades numéricas

. Dois vetores são colineares quando

existe um escalar tal que , neste caso diz-se que o vetor é múltiplo do vetor

.

No decorrer do texto trabalhamos com os conjuntos e que são chamados de

plano euclidiano e espaço euclidiano tridimensional, respectivamente. Para , seus

elementos são pares ordenados e indicados na forma , já para , seus elementos

são triplas ordenadas e indicadas na forma .

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Um subconjunto não vazio ℾ de , que satisfaz as operações definidas acima, será

chamado de subespaço vetorial de . Como por exemplo, temos o subconjunto W de

formado pelos os vetores da forma com . Isto é, dados e

, temos que é elemento de e

para a escalar temos que também é um elemento de .

Logo, é um subespaço vetorial de . Neste exemplo temos que é uma reta do plano

euclidiano , que passa pela origem .

Os subconjuntos (constituído apenas do vetor nulo) e o próprio são chamados

de subespaços triviais do espaço vetorial . Os subespaços vetoriais ℾ de que são

diferentes de e de são chamados de subespaços próprios. Cada subespaço vetorial é

também um espaço vetorial.

Um vetor v de , se escreve como combinação linear dos vetores

de se existirem números reais tais que

Por exemplo, no espaço euclidiano tridimensional , o vetor é uma

combinação linear dos vetores , e , ou seja,

com e .

Seja um conjunto formado por k vetores de , o conjunto

obtido por todos os vetores que são combinações lineares dos vetores de será indicado por

e dizemos que gera que também é subconjunto de ou que é gerado por ,

indicando por . Ou melhor,

.

é um subespaço vetorial de .

Seja um conjunto de vetores de , dizemos que os vetores

de são linearmente independentes LI se a equação

que se resulta em um sistema linear homogêneo (que sempre tem solução), tiver somente a

solução trivial , caso o sistema contenha uma outra solução

além da trivial, os vetores são chamados linearmente dependentes LD.

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Se um dado subespaço vetorial de é gerado por e é

linearmente independente então dizemos que é uma base de , e terá dimensão k, pois,

sua base é formada por k elementos. Para o , chamamos o subconjunto

de , com

, de base canônica.

No , para que um subconjunto forme uma base, é necessário que o determinante

da matriz quadrada M, cujas colunas são formadas pelas coordenadas dos vetores de , seja

diferente de zero ( ).

Sejam e dois vetores de . A

aplicação definida por

,

é chamada de produto interno canônico ou produto escalar do .

Vejamos as principais propriedades básicas do produto interno em .

Proposição 2.2. O produto interno possui as seguintes propriedades

para quaisquer vetores v, u e w e qualquer escalar :

, (positiva definida)

, (simétrica)

, (aditividade)

, (linearidade)

Demonstração:

Sejam , e vetores

de e .

, (positiva definida)

Para , temos

.

Agora, , façamos:

, logo .

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17

, (simétrica)

Temos:

. Portanto, para todo .

, (aditividade)

Façamos:

.

, (linearidade)

Veja que, ,

.

Portanto, .

Em estabelecemos os conceitos de medida de comprimento e medida de ângulo,

definindo assim uma função norma associada ao produto interno:

.

O valor dessa função em um vetor v será chamado norma de v. O vetor que tem

será chamado de vetor unitário.

A proposição seguinte apresenta algumas afirmações sobre a medida de comprimento

de vetores.

Proposição 2.3. Para quaisquer vetores v, u e escalar valem as afirmações:

, (positiva definida);

, onde indica o valor absoluto de um numero real ;

. (desigualdade triangular)

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Demonstração:

Sejam e vetores de e .

, (positiva definida);

Temos, . Logo, .

Sabemos que

,

Logo, . Por outro lado, se então .

, onde indica o valor absoluto de um numero real ;

Temos,

.

Portanto, .

Para a demonstração da afirmação , se aplica a importante desigualdade abaixo, associada

ao produto interno.

Teorema 2.4. (Desigualdade de Cauchy-Schwarz) Para quaisquer vetores v, u vale a

desigualdade e a igualdade ocorre se, e somente se, v e u são vetores

colineares.

. (desigualdade triangular)

Demonstração:

Dados , temos

da Desigualdade de Cauchy-Schwarz, temos:

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Assim,

Daí,

.

Da desigualdade de Cauchy-Schwarz, podemos definir medida de ângulos. Usando a

informação da trigonometria que dado t existe um único tal que

, podemos garantir a existência de um único ângulo tal que

com dois vetores não nulos de . Logo, para quaisquer dois vetores não nulos v e u

podemos determinar a medida do ângulo entre eles. Com isso podemos escrever uma

fórmula que relaciona produto interno, norma (comprimento) e medida do ângulo

com .

Dados u e v em , dizemos que u e v são ortogonais quando o produto interno entre

eles for nulo, . O vetor nulo é ortogonal aos demais vetores.

Um exemplo de vetores ortogonais, são os vetores do subespaço vetorial

, que são ortogonais ao vetor do

formado pelo coeficientes da equação. Explicitamente, ,

neste caso o vetor é chamado de vetor normal ao subespaço vetorial .

O espaço vetorial admite uma operação especial entre dois vetores chamada de

produto vetorial. Dados dois vetores linearmente independentes v e u de , o produto

vetorial de v por u, indicado por , resulta em um terceiro vetor w de que é ortogonal

a v e u. Para qualquer vetor w vale a identidade

et .

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O produto vetorial de dois vetores e de pode

ser calculado pelo algoritmo

et

et

et

.

Por exemplo, para calcular o produto vetorial de e ,

façamos:

et

et

et

e portanto, .

Proposição 2.5. (Fórmula de Lagrange) Para quaisquer dois vetores v e u do vale a

identidade

.

Em particular, se é a medida do ângulo entre os vetores v e u, então

onde é o seno do ângulo entre os vetores.

Demonstração:

Sejam e vetores de . O produto vetorial entre v e u é:

et

et

et

.

Assim,

Por outro lado, fazendo o cálculo de , obtemos:

e também .

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Dos cálculos acima, tem-se que

.

Se é a medida do ângulo entre os vetores v e u, então

.

Substituindo a última equação na penúltima, tem-se

.

Temos com , além disso, temos e

. Assim, fazendo a extração da raiz quadrada em ambos os lados da equação acima, temos:

.

Proposição 2.6. Sejam , e vetores de

, então

III. .

IV. et

.

V. .

Demonstração:

I. .

Temos:

et

et

et

.

Agora, fazendo

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22

et

et

et

Realizando as operações acima obtemos , onde

.

Agora fazendo , obteremos:

Fazendo o desenvolvimento na equação acima obtemos as igualdades

e .

Logo, .

II. et

.

Chamando e fazendo as operações, obtemos:

.

III. .

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23

Usando as propriedades de determinante que permutar duas colunas o determinante altera

de sinal, ao efetuar duas trocas na ordem das colunas, o determinante volta para seu valor

original.

Empregando a definição de produto interno, produto vetorial e a observação anterior,

temos:

et et

Da mesma forma

et et

Portanto, .

Sejam , espaços vetoriais. Uma função é dita uma

transformação linear de em quando possui as seguintes propriedades:

, para todo v e u ;

, para todo v e para todo .

Um exemplo de transformação linear é a função definida por

. Pois, dados e em , temos:

u

E também para todo em e todo em , vale ;

.

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24

Este exemplo mostra que o espaço euclidiano é projetado no plano cartesiano

através da transformação linear f.

Numa transformação linear , destacamos dois importantes subconjuntos,

um no domínio e o outro no contradomínio, são eles: o núcleo, denotado por

e o conjunto Imagem denotado por

a a al um .

Demonstra-se que o núcleo e o conjunto imagem de uma transformação linear são

subespaço do domínio e do contradomínio, respectivamente.

Seja uma transformação linear. Se for gerado pelo conjunto

de vetores, então a é gerada pelo conjunto

.

Ainda sobre os subespaços núcleo e imagem temos as informações:

(i) é injetora

(ii) é sobrejetora .

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25

3 GEOMETRIA EUCLIDIANA

Para o estudo da Geometria Euclidiana plana necessitamos construir um modelo que fixa

um conjunto aritmético específico, denominado plano , atribuindo significado aos termos

indefinidos e que todos os axiomas de Hilbert (1862 – 1943) sejam válidos. O , é o modelo

canônico do plano Euclidiano. Para a construção e realização de operações no

empregamos a linguagem da Álgebra Linear.

3.1 Axiomas da Geometria Euclidiana Plana

Estudaremos os axiomas da Geometria Euclidiana conforme o modelo axiomático de

Hilbert. São eles:

I. Termos indefinidos

Ponto, Reta, Plano, Pertence, Está Entre e Congruência.

II. Axiomas de Incidência

- Dois pontos distintos determinam uma única reta.

- Existem pelo menos dois pontos sobre uma reta.

- Existem pelo menos três pontos euclidianos que não estão numa mesma reta e todos

estão sobre o mesmo plano.

III. Axiomas de Ordem

- Se um ponto está entre e , então os três pontos pertencem a uma mesma reta e

está entre e .

- Para quaisquer dois pontos distintos e , existe pelo menos um ponto

pertencente ao segmento de reta , tal que está entre e .

- Se três pontos distintos estão sobre uma mesma reta, não mais que um ponto está

entre os outros dois.

- Sejam , e três pontos que não estão sobre uma mesma reta e seja uma reta do

plano que não contém algum dos três pontos. Então, se interseta o segmento ,

ela também interseta o segmento ou o segmento .

IV. Axiomas de Congruência

V. Axiomas das Paralelas

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26

Seja l uma reta e p um ponto não pertencente a l. então existe no máximo uma reta no

plano que passa por p e não intercepta l.

VI. Axiomas de Continuidade

3.2 Um Modelo para o Plano Euclidiano (Geometria Euclidiana)

Para a elaboração de um modelo para o Plano Euclidiano, denominamos:

Representa o plano Euclidiano e seus elementos chamaremos de pontos.

Em , um hiperplano será chamada de reta.

No , indicaremos uma reta por , onde p é um ponto da reta e é vetor normal

a reta satisfazendo a equação

Se tomarmos um múltiplo não nulo de , digamos com , como vetor normal,

teremos que as retas são iguais como conjuntos, , pois se temos

, daí , como assim temos que , ou seja,

, logo, .

Temos um caso particular de retas, que são as retas que contém a origem .

Para sua notação usamos apenas o símbolo omitindo assim o ponto o. Sua expressão

algébrica é a equação linear homogênea:

, onde .

A reta é um exemplo de subespaço vetorial próprio de de dimensão 1.

Com as definições apresentadas acima, disponibilizamos para o um modelo

aritmético que nos proporciona verificar que o grupo de axiomas de incidência em é

satisfeito.

- DOIS PONTOS DISTINTOS DETERMINAM UMA ÚNICA RETA

Consideramos dois pontos distintos de . Seja

um vetor não nulo, tomando o vetor

e a reta , assim temos que as coordenadas dos pontos p e q satisfazem a

equação . Portanto, os pontos determinam a reta .

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Agora, para provarmos a unicidade da reta, suponhamos, por absurdo, que exista uma

outra reta que contenha os dois pontos, daí temos que . Por

hipótese, não é múltiplo de , caso contrário, teríamos que . Daí, temos que

e são linearmente independentes. Assim, obtemos que , onde é a matriz

cujas colunas são as coordenadas dos vetores , que são vetores normais as retas

e , respectivamente. Fazendo para , a equação das duas retas nos levam

ao sistema

.

Para este sistema a solução é única, pois quando o determinante da matriz dos coeficientes é

diferente de zero ( a regra de Cramer garante a existência de solução única.

Mas, por outro lado a solução do sistema é formada por dois pares ordenados, que são as

coordenadas de p e q. Temos uma contradição. Portanto, é única a reta determinada pelos dois

pontos considerados.

- EXISTEM PELO MENOS DOIS PONTOS SOBRE UMA RETA

Para sua verificação consideremos a reta com vetor

normal . O vetor é ortogonal a e podemos chamar de vetor

direção da reta . Assim, temos que os pontos não nulos da forma ,

pertence à reta. Vejamos,

Portanto, toda reta de contém pelo menos dois pontos.

- EXISTEM PELO MENOS TRÊS PONTOS EUCLIDIANOS QUE NÃO ESTÃO NUMA

MESMA RETA E TODOS ESTÃO SOBRE O MESMO PLANO

Faremos sua prova considerando a reta e o ponto

, como foi mostrado em . Agora, seja o ponto , com ,

e . Logo, não pertence à reta .

Portanto, os pontos e não pertencem à mesma reta, mas todos estão no mesmo plano, o

.

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Faremos a demonstração dos axiomas de ordem usando as definições a seguir:

Considere o vetor . Seja a função definida por

onde . A função é biunívoca.

Na função , um ponto está entre e se, e somente

se, .

Em , um segmento da reta , de extremidades e é o

conjunto

.

Agora, demonstraremos o grupo de axiomas de ordem.

- SE UM PONTO ESTÁ ENTRE E , ENTÃO OS TRÊS PONTOS PERTENCEM A

UMA MESMA RETA E ESTÁ ENTRE E .

Dois pontos distintos e de determinam uma única reta . Daí,

considerando a função definida acima. Se o ponto está entre e , então

om tais que e .

Logo, pertence à reta e, portanto, os três pontos pertencem à mesma reta.

Agora para mostrar que o ponto está entre e , vamos considerar o vetor e a

função definida por . Podemos ver que

Assim, as imagens de e pela função , satisfazem

;

;

.

De , temos , daí temos que está entre e

e, portanto está entre e .

- PARA QUAISQUER DOIS PONTOS DISTINTOS E , EXISTE PELO MENOS UM

PONTO PERTENCENTE AO SEGMENTO DE RETA , TAL QUE ESTÁ ENTRE

E .

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29

Dois pontos distintos e de determinam uma única reta, digamos a reta .

Assim, podemos afirmar que existe , distintos tais que e C . Se

, distintos, então existe tal que . Seja , temos que

, com . Portanto, está entre e .

- SE TRÊS PONTOS DISTINTOS ESTÃO SOBRE UMA MESMA RETA, NÃO MAIS

QUE UM PONTO ESTÁ ENTRE OS OUTROS DOIS.

Sejam e três pontos da reta , onde

com . Suponhamos que está entre e , ou seja, . Agora se

supormos que está entre e , teremos e, consequentemente, teremos que

, o que é um absurdo, pois . Da mesma

forma, suponhamos que está entre e , obtendo , consequentemente,

teremos que , o que é um absurdo, pois .

Portanto, apenas um ponto ( está entre os outros dois e .

- SEJAM , E TRÊS PONTOS QUE NÃO ESTÃO SOBRE UMA MESMA RETA E

SEJA UMA RETA DO PLANO QUE NÃO CONTÉM ALGUM DOS TRÊS PONTOS.

ENTÃO, SE INTERSETA O SEGMENTO , ELA TAMBÉM INTERSETA O

SEGMENTO OU O SEGMENTO .

Como a reta não contém os pontos e , e interseta o segmento , logo, e

estão em lados postos de . Como , assim, está do mesmo lado de em relação à ou

do mesmo lado de em relação a . Se e estão do mesmo lado de , então e estão em

lados opostos de . Isto é, a reta interseta o segmento e não interseta . Se e estão

do mesmo lado de , então e estão em lado oposto de e, portanto interseta o segmento

.

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30

4 ESPAÇO EUCLIDIANO TRIDIMENSIONAL

Neste capítulo, faremos um estudo caracterizando analiticamente os pontos de uma reta no

espaço por meio de suas equações paramétricas. Da mesma forma, exploraremos o estudo do

plano em , destacando um dos axiomas da geometria Euclidiana espacial que diz que

“dados três pontos não colineares, existe um e apenas um plano que os contem”.

Abordaremos o estudo da esfera aplicando produto interno.

4.1 Um Modelo para o espaço Euclidiano

Chamaremos de espaço e seus elementos de pontos.

Um hiperplano em será chamado de plano.

Uma operação executável no é a produto vetorial, esta operação é usada para

encontrar um vetor perpendicular a dois vetores dados. Já foi apresentado no capítulo 2 deste

trabalho um algoritmo para o cálculo do produto vetorial.

4.2 Equação da reta em

Definição 4.1. Dizemos que um vetor é paralelo à reta , ou é um vetor direção da

reta , quando, para quaisquer dois pontos A e B de , o vetor é múltiplo de .

Figura 0.1 – Vetor v paralelo à reta l

Assim, um ponto pertence a reta que passa por e é paralela

ao vetor se e somente se existe tal que

,

Ou seja,

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31

.

Em termos de coordenadas, as equações paramétricas da reta são:

ou seja,

.

Exemplo 4.2. Determinar a equação da reta que passa pelo ponto e tem vetor

direção .

Solução: Tal reta é o conjunto , ou seja,

. Assim, a reta é um subconjunto do formado pelas triplas ordenadas da

forma , com .

Em termo de equações paramétricas, sua equação fica:

.

Exemplo 4.3. Verifique se o ponto pertence a reta que passa pelo ponto

e é paralela ao vetor .

Solução: As equações paramétricas associadas à reta são:

.

Assim, o ponto pertence a reta se e somente se existe tal que

,

Daí, temos as três identidades

, e .

Das duas primeiras, obtemos e da última, , que é uma contradição. Portanto,

.

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32

4.3 Equação do plano

Para determinar a equação cartesiana do plano no espaço, aplicaremos a noção de

produto interno.

Seja o plano que passa pelo ponto e é normal ao vetor . Então

Assim, escrevendo em termos de coordenadas, e

, temos na última condição:

.

Agora, fazendo , temos a equação cartesiana do plano:

.

Adotaremos uma notação especial para o plano que contém a origem. Usaremos apenas a

notação em vez de . Para este caso particular, a equação do plano é a equação

homogênea da forma:

.

Temos que, é um subespaço vetorial de de dimensão dois.

Figura 0.2 -

. .

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33

Exemplo 4.4. Determinar a equação cartesiana do plano que passa pelo ponto

e é normal ao vetor .

Solução: Sabemos que , daí, temos: ,

onde . Portanto, é a

equação do plano.

Exemplo 4.5. (Plano determinado por três pontos não colineares)

Dados três pontos distintos de , digamos , e .

Verificamos primeiro se eles são não colineares, ou seja, verificamos se o determinante

é diferente de zero. Façamos:

.

Logo, os pontos considerados formam um triângulo, isto é, são não colineares.

Agora, obtendo os vetores,

.

Esses vetores são paralelos ao plano procurado. Pelo produto vetorial encontramos o vetor

normal ao plano, o vetor:

et

et

et

Daí, a equação do plano é dada por:

Podemos verificar que as coordenados dos pontos satisfazem a equação acima.

Portanto, eles pertencem ao plano . A figura 4.3 apresenta o plano.

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34

Figura 0.3 – Plano determinado por três pontos não colineares

Em , a interseção de dois planos não paralelos determina uma reta. Seja a reta

obtida pela interseção dos planos e . Os vetores normais e

aos planos e , respectivamente, são não colineares. Assim,

pode ser representado pelo sistema:

Se os dois planos contém a origem, então o sistema linear acima é homogêneo, = 0.

Nesse caso, é um subespaço vetorial de , e o vetor direção de pode ser o vetor .

Figura 0.4 – Reta determinada pela interseção de dois planos distintos

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Proposição 4.6. Se e são dois planos distintos do contendo a origem, então a

interseção dos planos é uma reta Euclidiana do contendo a origem e formada pelos

múltiplos do vetor .

Demonstrações:

Para os dois planos, temos

, e

.

Daí, obteremos que

.

Assim, chegamos que

.

Do capitulo 1, temos que

.

Logo,

.

Daí, o vetor

.

Da mesma forma, temos

.

Logo,

.

Por outro lado, sabemos que

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36

Da proposição 2.6, temos que

Assim, segue que os vetores e são L.D. desta forma existe tal que

.

4.4 Esfera em

Para uso futuro, estudaremos algumas noções sobre a esfera em . Aplicando os

conceitos de norma e produto interno de vetores no espaço, faremos o estuda da esfera.

Definição 4.7. A normal ou comprimento do vetor do espaço é o número

.

Definição 4.8. A esfera de centro e raio é o conjunto formado por todos os pontos

cuja distância ao centro é igual a :

Daí, em termos de coordenados dos pontos e de , obtemos

a seguinte equação para a esfera:

Daí, elevando ambos os membros da equação ao quadrado, obtemos:

Exemplo 4.9. Mostre, completando os quadrados, que a equação de segundo grau

,

representa uma esfera . Determine o centro e o raio de .

Solução: Completando os quadrados na equação, temos:

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37

.

Portanto, a equação representa a esfera de centro e raio .

A esfera que tem centro na origem apresenta a seguinte equação:

A esfera em com centro na origem, o , e raio é denotada por e é

chamada de esfera unitária canônica. Sendo

.

Figura 0.5 – Esfera Unitária Canônica

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5 GEOMETRIA ELÍPTICA

A Geometria Elíptica é conhecida também como Geometria Esférica que apresenta a

esfera unitária canônica como um modelo de “plano”. Nesta Geometria, as retas são os

grandes círculos unitários de . A interseção entre quaisquer duas retas elípticas distintas

acontece em dois pontos, daí o nome Geometria Elíptica Dupla.

Diferente da Geometria Euclidiana, na Geometria Elíptica não existe o axioma de ordem e

não tem veracidade para o quinto postulado de Euclides. Pois, dado uma reta e um ponto

não pertencente à reta , não existe reta paralela a passando por . Logo, é uma geometria

que não existem retas paralelas.

Dois pontos distintos de um círculo divide-o em dois segmentos de círculo, assim um

segmento de reta elíptica com extremidades e fica bem determinado quando indicamos o

seu interior. A região denominada ângulo no plano Euclidiano terá como correspondente na

Geometria Elíptica uma região denominada lua.

5.1 Axiomas da Geometria Elíptica

I. Termos indefinidos

Ponto, reta, plano, pertence e congruência.

II. Axiomas de Incidência

- Para cada dois pontos distintos existe uma reta que os contém.

- Toda reta contem pelo menos dois pontos.

- Existem pelo menos três pontos que não estão sobre uma mesma reta e todos os pontos

estão o mesmo plano.

III. Axiomas de ordem (não existem)

IV. Axiomas de congruência

- Se e são dois pontos numa reta e é um outro ponto de uma reta , não

necessariamente distinta da anterior, então é sempre possível encontrar um ponto em

tais que os segmentos e são congruentes.

- Se um segmento e um segmento são congruentes a um mesmo segmento

então os segmentos e são congruentes entre si.

- Sobre uma reta , sejam e dois segmento da mesma que, exceto por não têm

pontos em comum. Além disto, sobre uma outra ou a mesma reta , sejam e

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dois segmentos que, exceto por não têm pontos em comum. Neste caso, se

e , então .

- Se é uma lua e se é uma reta elíptica, então existem duas retas elípticas e

tais que . Alem disto, cada lua é congruente a si mesma.

- Se para dois triângulos e temos

, e , com

, e , , então é congruente à .

V. Axioma das paralelas

Seja uma reta e um ponto não pertencente a . Então toda reta que passa por

interseta .

VI. Axiomas de continuidade

Existe uma correspondência biunívoca entre os números reais e os pontos de uma reta

menos um dos seus pontos.

5.2 Um Modelo para o Plano Elíptico (Geometria Elíptica)

Para a elaboração de um modelo para o Plano Elíptico, denominamos:

Chamaremos a esfera unitária canônica em de Plano Elíptico e seus elementos

de pontos Elípticos.

Em , um grande círculo será chamado de reta Elíptica.

Um subconjunto é um grande círculo se , com um plano que incide

na origem e tem vetor normal . Assim, para ficar claro qual vetor normal está sendo usado

para definir denotamos por . A figura abaixo mostra um exemplo de uma reta elíptica

(círculo unitário) obtida pela interseção do plano com a esfera .

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40

Figura 0.1 -

Assim, uma reta elíptica é um subconjunto do plano elíptico formado pelos pontos

que satisfaz as equações:

5.3 Distância elíptica

Exploraremos o estudo do conjunto equipado com uma função

distância. Dados em , a medida do ângulo entre estes dois vetores unitários é indicado

por . Chamaremos de distância elíptica entre dois vetores a

seguinte aplicação:

, definida por .

No primeiro capítulo temos os resultados:

os

,

e também que

se

.

Como e são dois vetores unitários, daí nos resultados acima fica:

os e se .

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41

Proposição 5.1. Se , então

e .

Demonstração:

Para a desigualdade podemos partir direto da definição, pois .

Assim, temos que .

Verificamos agora, .

Partindo de , obtemos

se ,

temos também que

os os .

Sabemos que e são linearmente dependentes, ou seja, .

Logo,

.

Portanto, .

Reciprocamente, se , então

os os u u .

Assim, os com , logo, . Portanto, .

Proposição 5.2. A distância elíptica , satisfaz:

- e se, e só se, ; (positiva definida)

- ; (simetria)

- ; (desigualdade triangular).

Ou seja, d é uma função distância em .

Demonstração:

Dados , quaisquer.

- e se, e só se, ; (positiva definida)

Da definição temos que .

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42

Para temos

se

Assim, . Isto só acontece quando .

Temos também, que

os os

Daí, podemos afirmar que

Portanto, .

Reciprocamente, se então

os os .

Como e os , então .

- ; (simetria)

Pela propriedade comutativa do produto interno temos

os os

Como e os os , então , assim,

.

- ; (desigualdade triangular).

Faremos a demonstração considerando dois casos, vejamos:

Caso 1:

Sabemos que , assim temos neste caso que

, portanto, .

Caso 2: . A função : é decrescente.

Agora, se provarmos a desigualdade: os os , teremos como

consequência a desigualdade: .

Fazendo

os os os . Temos

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43

os .

Pela a desigualdade de Cauchy-Schwarz, temos

,

Assim,

,

Logo,

.

Daí, somando em ambos os lados da inequação anterior, fica:

.

Assim, teremos que

os

Agora, utilizando o item II da proposição 2.6, temos

os

Sabemos que e que os , assim obtemos o resultado

desejado,

os os .

Diante das definições apresentadas acima, agora já podemos verificar o grupo de axiomas

de Incidência da Geometria Elíptica. Inicialmente, apresentamos a seguinte definição e em

seguida uma proposição, para depois verificar o grupo de axiomas de incidência.

Definição 5.3. Dizemos que e uma reta elíptica são incidentes se .

Proposição 5.4. (Critério de Incidência) Sejam um vetor e um grande círculo

, então e são incidentes se, e somente se, .

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Demonstração:

Se e são incidentes, então . Assim,

, daí segue que .

Reciprocamente, se , então , como ,

segue que . Portanto, e são incidentes.

Verificamos agora a validez dos axiomas de incidência,

- PARA CADA DOIS PONTOS DISTINTOS EXISTE UMA RETA QUE OS CONTÉM.

Sejam e dois pontos diferentes. O produto vetorial é diferente do

vetor nulo se, e somente se, . Se este for o caso, consideramos o plano e a reta

elíptica . Como , segue pelo critério de incidência que e

pertencem à reta , logo, existe uma reta determinada por e . A reta é única, pois só

existe um plano contendo e e a origem.

Para , devemos considerar um vetor qualquer tal que . De

, segue que . Portanto, pela condição de incidência, . Assim, não

existe uma única reta passando por e , pois existem infinitos planos contendo a origem,

e , com os três pontos colineares em .

- TODA RETA CONTÉM PELO MENOS DOIS PONTOS.

Seja a reta elíptica com , então a equação

,

tem infinitas soluções. Fazendo e dois pontos quaisquer do conjunto solução,

com diferente de um múltiplo de , então temos:

.

E que

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45

Portanto,

e

são dois pontos distintos de .

Proposição 5.5. (Equação de colinearidade para três pontos) Se , entao

são colineares se, e somente se, .

Demonstração:

Vamos dividir a demonstração em três casos.

Caso 1: Seja não todos distintos. Sem perda de generalidade vamos supor que .

Já estudamos que dois pontos distintos determinam uma reta, daí, podemos afirmar que

e são colineares, já que . De outra forma, já é sabido que se duas linhas ou duas

colunas de uma matriz forem iguais o seu determinante é igual à zero, assim .

Portanto, não há o que provar.

Caso 2: Vamos considerar agora distintos, tal que . Daí, temos e

colineares, ou seja, existe reta elíptica com . Pelo critério de incidência

(Proposição 5.4) temos:

.

Logo, são colineares.

Temos também que , pois, a Matriz apresenta duas linhas proporcionais.

Portanto, neste caso nada há provar.

Caso 3: Vamos considerar agora distintos, com . Por definição, e são

colineares se, e somente se, existe uma reta tal que .

De , temos que existe uma única reta elíptica incidindo em e . Tal reta é dada por

com .

Agora, os pontos se, e somente se, com .

Portanto, e são colineares em se, e somente se,

.

Temos que e , assim e são colineares

se, e somente se, . De et , temos que são

colineares se, e somente se, et .

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- EXISTEM PELO MENOS TRÊS PONTOS QUE NÃO ESTÃO SOBRE UMA MESMA

RETA E TODOS OS PONTOS ESTÃO O MESMO PLANO.

Como estamos trabalhando com pontos do plano elíptico , para a demonstração deste

axioma, basta mostrar que “Existe pelo menos três pontos não colineares”. Veja, que da

proposição anterior, temos que se e et entao e não são

pontos de uma mesma reta elíptica.

Proposição 5.6. (Concorrência de duas retas) Duas retas elípticas distintas, digamos e

, sempre se intersectam em dois pontos distintos, a saber:

e

Demonstração:

Consideramos as retas e

.

Veja que a interseção entre e , é dada por:

,

Temos pela proposição 4.6 que

.

Sabemos que os vetores de são unitários. Assim, dado um vetor w pertencente a

,

Existe tal que , com .

Daí, obteremos que

.

Logo,

, isto é,

ou

.

Portanto, os únicos dois pontos de concorrência entre e são:

e

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47

A figura 5.2 apresenta uma ilustração da interseção entre as retas elípticas e no

ponto e no seu antípoda do plano elíptico.

Figura 0.2 – Interseção de duas retas Elípticas

Para o axioma das paralelas, sua veracidade segue da proposição 5.6, pois,

Se é uma reta e um ponto não pertencente a . Então toda reta que passa por interseta

.

Como foi visto na proposição anterior a interseção acontece sempre em dois pontos

antipodais.

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6 GEOMETRIA PROJETIVA

Na geometria euclidiana é apresentado um postulado (postulado das paralelas)

garantindo a existência de retas que não se intersectam. Neste caso, diz-se que elas são

paralelas. Este postulado não está em conformidade com a realidade que temos visualmente.

Diante de uma longa ferrovia, temos que seus trilhos são dispostos paralelamente, mas

se olharmos ao longo desta ferrovia nossa visão nos diz que há em um ponto muito distante

(chamado ponto de fuga) a interseção dos trilhos. Conforme figura abaixo:

A partir daí surge um novo modelo de geometria bidimensional sem retas paralelas, a

Geometria Projetiva, que teve início com o Matemático Pappus nascido em Alexandria (400

a.C.), que descobriu algumas proposições não métricas, como o famoso teorema que carrega o

seu nome: o Teorema de Pappus. Mas que de fato foi durante o Renascimento, com a intenção

de dar realismo às artes e repassar de forma fiel às imagens obtida pela visão humana,

introduzindo a noção de profundidade, que a Geometria Projetiva ganhou espaços nas artes e

tornou-se um campo de conhecimento.

A nova Geometria trata do mundo que vemos, assim é assumida a existência de um

ponto no horizonte em que as retas paralelas se intersectaram.

Nos tópicos seguintes apresentamos os axiomas da Geometria Projetiva, modelo de

plano projetivo e caracterizamos analiticamente um modelo de abordagem dessa área de

conhecimento.

Figura 0.1 – Retas que se interseptam

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6.1 Axiomas da Geometria Projetiva

I. Termos Indefinidos

Ponto, reta, plano, pertence.

II. Axiomas de Incidência

- Quaisquer duas retas são incidentes com pelo menos um ponto.

- Para cada dois pontos distintos existe uma única reta que os contém.

- Duas retas distintas sempre se encontram em um único ponto.

III. Axiomas de Ordem (Não existem)

IV. Axiomas de congruências (Não existem)

V. Axiomas das paralelas

Seja l uma reta e A um ponto não em l. então toda reta que incide em A interseta l.

VI. Axiomas de continuidade

Existe uma correspondência biunívoca entre os números reais e os pontos de uma reta

menos um dos seus pontos.

6.2 Um Modelo para o Plano Projetivo (Geometria Projetiva)

Inicialmente, vamos considerar o conjunto , que é o retirado o vetor nulo.

Assim, é um subconjunto do . Neste caso, diremos que o conjunto é o

perfurado na origem. A partir deste conjunto construiremos o chamado plano projetivo.

Usaremos as mesmas terminologias ou notações usadas para subconjuntos contidos em

. Um plano em é um plano perfurado na origem se ele contiver a origem. Caso

contrário, será igual a um plano do . Da mesma forma, uma “reta” em pode ou não

ser perfurada, caso incida ou não na origem. Podemos chamar o conjunto de

subconjunto dos vetores não nulos de .

Definição 6.1. O plano projetivo , será o conjunto quociente obtido de , com a

seguinte relação de equivalência:

.

Um elemento em , é chamado de ponto projetivo.

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Um ponto de (classe de equivalência) será representado por uma letra minúscula

com uma barra sobreposta, por exemplo, , onde v é um vetor não nulo de . Um ponto

projetivo é um subconjunto de , formado pelo conjunto dos múltiplos não nulos de v.

Assim, temos

Portanto, um ponto projetivo é uma reta perfurada em . Para cada classe

podemos escolher um representante que tenha norma igual a 1, isto é, esteja em uma esfera

unitária.

A aplicação projeção é a função definida por

Seja um ponto de , a classe de equivalência associada a v, ou melhor,

a sua imagem pela aplicação projeção , é representada por com ,

tal tripla recebe o nome de coordenadas homogêneas de .

6.3 Relação entre e

Para estudar a relação entre e , vamos considerar um ponto , com

, daí podemos afirmar que o plano elíptico interseta a classe em dois

pontos distintos e diametralmente opostos, a saber

e

tais pontos são unitários, vejamos:

, e

.

Ainda podemos observar que, se

então

e

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51

Assim, pela afirmação da proposição 2.3 segue que

Daí, as únicas possibilidades para , são

e

.

Portanto,

ou

.

Observação 6.2. Se é um vetor de e , então .

Vejamos:

Da observação anterior temos , daí, podemos dizer que cada ponto

contém dois representantes da esfera unitária .

A partir das considerações apresentadas acima, podemos considerar a restrição da função

ao plano elíptico , a restrição

A função é sobrejetiva, pois,

tal que

.

Assim, podemos construir um novo modelo para o plano projetivo, considerando a seguinte

relação de equivalência em , temos:

Dados , a relação de equivalência

ou e

Assim, um ponto pode ser representado por com . Isto

é, pertence ao hemisfério norte da esfera unitária canônica,

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Tomando a restrição da aplicação projeção a , temos:

A aplicação é sobrejetiva, pois,

,

Tal que

e

.

Considere a reta elíptica , onde

,

Temos que a imagem de pela aplicação é chamada de pontos ideais e denotada por

. Observe que o conjunto é projetado biunivocamente sobre pela

aplicação .

6.4 Retas projetivas

Para o estudo das retas projetivas vamos usar a função projetiva

juntamente com os conceitos definidos em .

Definição 6.3. Um subconjunto é uma reta projetiva se for à imagem de uma reta

elíptica pela projeção .

No capítulo anterior, estudamos que uma reta elíptica é o resultado da interseção de

um plano com o plano elíptico . Denominamos uma reta projetiva obtida da imagem de

pela projeção , por . assim,

.

Temos também uma definição através de planos sem um ponto.

Definição 6.4. Um subconjunto é uma reta projetiva se for à imagem de um plano

pela projeção .

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53

Já estudamos que a equação de um plano que contém a origem é

determinada pelo seu vetor normal com . E sua representação é com

a seguinte equação linear:

.

O plano com vetor normal com é igual ao plano , isto é, todo elemento da classe

determina o mesmo plano .

Exemplo 6.5. O vetor nos da a reta projetiva formada pelos pontos

ideais e obtida pela projeção da , onde é a reta elíptica obtida pela interseção do

plano com a esfera unitária.

6.5 Plano projetivo dual

Temos que cada ponto projetivo determina uma única reta projetiva e cada

reta projetiva determina um único ponto projetivo (sua normal).

Denominamos plano projetivo dual como sendo o conjunto de todas as retas projetivas e

denotamos por:

Assim, temos que , onde é o conjunto das partes de .

Existe uma correspondência biunívoca entre e , dada por

.

Logo, existem tantas retas projetivas quantos pontos projetivos.

Em resumo, já temos conhecimento do Plano Projetivo, ponto e reta projetiva. Com isso,

temos artifícios para a verificação dos axiomas de incidência da Geometria Projetiva.

- QUAISQUER DUAS RETAS SÃO INCIDENTES COM PELO MENOS UM PONTO.

Para sua verificação necessitamos da seguinte proposição:

Proposição 6.6. (Condição de incidência) Dada uma reta projetiva e um ponto

projetivo . Então, e são incidentes se, e somente se, .

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Demonstração:

Se e são incidentes, então . Assim,

com

. Daí

, isto é, , daí segue que .

Por outro lado, se , então . Como passa pela origem, segue que

. Daí, temos que

, e pela aplicação projeção temos

,

como . Portanto, e são incidentes.

Dadas , . Existem ,

tal que e . Pela

proposição 5.6, as retas elípticas , e concorrem em dois pontos, a saber:

e

.

Temos e , assim e pela aplicação

projeção e . Assim

.

Portanto, .

- PARA CADA DOIS PONTOS DISTINTOS EXISTE UMA ÚNICA RETA QUE OS

CONTÉM.

Sua validade será registrada pela proposição:

Proposição 6.7: (Equação de uma reta por dois pontos) Por dois pontos projetivos

distintos incide uma única reta projetiva, a saber,

.

Demonstração:

Dados dois pontos distintos . Tomando os respectivos representantes

,

das classes e .

Temos

, caso contrário teríamos , com

,

isto é, .

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Pelo produto vetorial, obtemos o vetor não nulo

, e podemos destacar o plano

.

Usado produto interno, temos que

,

logo, . Como é o único plano de contendo a origem e os pontos . Assim,

obteremos a reta elíptica ,

Como

,

, e

,

. Pela aplicação projeção,

. Logo e .

(Unicidade): Suponha que exista outra reta projetiva incidindo em .

Assim, pela definição 6.3, existe uma reta elíptica , com tal que .

Os pontos

,

pertencem a , pois são unitários e como

.

Logo, pertencem ao plano . E desta forma,

,

.

Portanto, e

.assim existe tal que

.

Assim,

E assim temos que .

- DUAS RETAS DISTINTAS SEMPRE SE ENCONTRAM EM UM ÚNICO PONTO.

A validade deste axioma será mostrada pela seguinte proposição:

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Proposição 6.8. (Concorrência de duas retas projetivas)

Duas retas projetivas distintas e concorrem num único ponto, a saber,

.

Demonstração:

Se l e l são duas retas projetivas então pela definição 6.3 existe uma reta elíptica

tal que . De forma análoga, também existe a reta elíptica

tal que .

Observe que

,

e que

, pois caso contrário teríamos , com

, isto é, e resultaria em .

Considere o vetor . Temos que

.

Assim, o vetor . Daí, temos que

, ou seja,

Pela aplicação projeção, temos

. Pois,

.

Assim,

Portanto, .

(Unicidade) Suponha que exista o ponto tal que .

Assim, temos que existe

tal que

.

Segue da proposição 6.7 e 6.8 que

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Logo, para algum .

Portanto,

.

A validade do Axioma das Paralelas é consequente da proposição acima,

“Seja uma reta projetiva e um ponto projetivo não pertencente a , então toda reta que

passa por intersectará ”.

Conforme a proposição 6.8 se a reta passa pelo ponto , então intersectará a reta

projetiva em .

Definição 6.9. Diz-se que três pontos são colineares se existe uma reta

projetiva incidindo sobre os mesmos.

Proposição 6.10. (Equação de colinearidade para três pontos)

Três pontos quaisquer são colineares se, e somente se, .

Demonstração:

Dados . Da definição 6.9 temos que são colineares se, e somente se,

existe uma reta tal que .

Pela condição de incidência dada pela proposição 6.6, temos

et

et

et .

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7 CONCLUSÃO

Nesta dissertação realizamos um apanhado de conhecimentos da Álgebra Linear,

Geometria Euclidiana, Elíptica e Espaço Euclidiano Tridimensional para um embasamento

das noções da Geometria Projetiva. Os principais conhecimentos são apontados com

referências aos axiomas de Hilbert e propriedades da Geometria Euclidiana, mostrando assim

uma possível aplicabilidade no Ensino Médio.

Os conteúdos reunidos neste trabalho concedem a professores e estudantes universitários,

material que propicie aperfeiçoamento próprio e uma forma de consulta para a elaboração de

aulas. Como exemplo de conteúdo para tal ação, destaco a parte da axiomatização da

Geometria Euclidiana, Elíptica ou Projetiva.

Estudamos as Geometrias abordadas neste trabalho de forma analítica, passando pelo

rigor demonstrativo, o que, de fato, contribui bastante para a formalização de um

conhecimento preciso.

Vimos que a Geometria Elíptica tem como modelo de plano a esfera unitária e

que sua interseção com um plano que contém a origem determina uma reta elíptica. Vimos

também que não existem retas paralelas. Duas retas distintas sempre se intersectam em dois

pontos, sendo um o antípoda do outro. Já no estudo da Geometria Projetiva, vimos que duas

retas projetivas sempre se intersectam e a interseção é dada por apenas um ponto.

Por fim, esperamos que este trabalho contribua para a propagação de uma Geometria não

Euclidiana, que é apresentada de forma consistente, proporcionando o enriquecimento do

conhecimento matemático.

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REFERÊNCIAS

BARROS, Abdênago; ANDRADE, Plácido. Introdução à Geometria Projetiva. Textos

Universitários, Rio de Janeiro: SBM, 2010.

SÉRGIO, Luis Cunha Maltez. Geometria Projetiva: Matemática e Arte. 2015.56 f.

Dissertação (mestrado PROFMAT), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.

Disponível em: < https://sca.profmat-sbm.org.br/sca_v2/get_tcc3.php?id=1020> . Acesso em:

15 mai. 2017.

ANDRADE, Andrea Ferreira Faccioni de. Um Estudo da Geometria Projetiva Elíptica.

Dissertação (mestrado), Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2015. Disponível em:

<https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/134030/000857275.pdf?sequence=1>.

Acesso em 11 jun. 2017.

DELGADO Jorge; FRENSEL, Katia; CRISSAFF, Lhaylla. Geometria Analítica. 1ª edição.

Coleção PROF-MAT, SBM, 2013.

LIMA, Elon Lages. Álgebra Linear. Coleção Matemática Universitária. 2ª edição. Rio de

Janeiro. SBM, 1996.

HEFEZ, Abramo; FERNANDEZ, Cecília S. Introdução à Álgebra Linear. 2ª edição

Coleção. Rio de Janeiro. SBM, 2016.