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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ASPECTOS DAS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES DO PROJETO CÍVICO-PEDAGÓGICO DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO Luís Artur Borges Pereira Orientador: Prof. Dr. Elomar Tambara Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em História da Educação PELOTAS, DEZEMBRO DE 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

ASPECTOS DAS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES DO

PROJETO CÍVICO-PEDAGÓGICO DE JOÃO SIMÕES LOPES

NETO

Luís Artur Borges Pereira

Orientador: Prof. Dr. Elomar Tambara

Dissertação apresentada como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre em História da

Educação

PELOTAS, DEZEMBRO DE 2008

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Luís Artur Borges Pereira

ASPECTOS DAS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES DO

PROJETO CÍVICO-PEDAGÓGICO DE JOÃO SIMÕES LOPES

NETO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade Federal

de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do

título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Elomar Tambara

Pelotas, 2008

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Catalogação na fonte: Ceila Soares – CRB10/926

P 436 Pereira. Luis Artur Borges

Aspectos das diversas manifestações do projeto cívico-pedagógico de João Simões Lopes Neto / Luis Artur Borges Pereira. – Pelotas, 2008. – 261 f.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pelotas, 2008.

1. João Simões Lopes Neto – Educação 2. Educação- João Simões Lopes Neto 3. Educação – República Velha- Brasil 4. Brasil – República Velha – Educação I. Título

CDD: 370 370.981

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BANCA EXAMINADORA:

Dr. Elomar Antônio Callegaro Tambara – FAE/UFPEL

Dra. Giana Lange do Amaral – FAE/UFPEL

Dr. Eduardo Arriada – FAE/UFPEL

Dr. Agemir Bavaresco – PUC/RS

DEFESA

Data: 15 de dezembro de 2008

Local: FAE/UFPel – Pelotas/RS

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À memória de Carlos Reverbel e Ângelo Pires Moreira, vidas consagradas à

preservação da Memória.

Para minha família: Cris, Lucas, Suzane, Pedro e Tereza.

À reverenda Neida de Andrade Neves Borges e ao pastor Júlio Borges, com carinho

e amizade.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus a oportunidade de ter chegado até aqui.

Ao Prof. Dr. Elomar Tambara pela sua paciência com as minhas idas e

vindas, indecisões e repentinas ousadias. Sua orientação segura foi a mão amiga

que me conduziu na trilha dessas reflexões.

Ao amigo e colecionista Ramão Costa, que generosamente colocou seu

valioso acervo à disposição. Agradeço mais ainda ao companheiro de todas as

horas, o qual nos terríveis momentos de solidão e desânimo, sempre soube ouvir e

de quem pude contar com prestimosa interlocução.

Ao Prof. Dr. Eduardo Arriada, parceiro-pesquisador e, sobretudo, amigo de

tantos anos. Pessoa sem cujo auxílio este trabalho não teria sido possível.

Ao Prof. Dr. Agemir Bavaresco, pesquisador, colega de vários anos no grupo

de pesquisa em Filosofia Intercultural do ISF/UCPEL, que vindo das “terras

filosóficas” soube trazer para a reflexão pampeana, a investigação dialética da

Cultura.

Ao Sr. Mogar Pagana Xavier, Secretário Municipal de Cultura de Pelotas,

pelos seus préstimos e pela solicitude com a qual me cedeu livros e documentos de

sua coleção simoniana.

À Sra. Sônia Tavares e ao Sr. Alex Perleberg, bem como aos demais

funcionários da Biblioteca Pública Pelotense pela gentileza com que sempre me

facilitaram a pesquisa.

À jovem Amanda Costa, que tão gentilmente me prestaram grande auxílio.

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Às distintas senhoras Irene Montagna Terra e Eva Oliveira, pela solicitude e

gentileza no atendimento na Biblioteca do Centro Português 1° Dezembro.

Ao historiador e advogado Diogo Bach de Mattos, pela ajuda amiga em dias

de chuva torrencial.

Ao Jovem Jean Carpe, sem cujo auxílio este trabalho não teria sido possível.

Ao Prof. Caio Oppa, que tão gentilmente cedeu-me o arquivo digitalizado do

jornal “A Palavra”.

À Profa. Dra. Cristina Rosa, pela interlocução e pela ajuda no resgate da

conferência Educação e caridade, além de ter me cedido, na íntegra, as Atas do

Conselho de Instrução Pública, de 1908.

Ao Sr. Assir Moreira, responsável pela diagramação e inserção de imagens

deste trabalho, o qual ao longo da pesquisa se tornou um amigo.

Ao Dr. Fausto Leitão Domingues, grande bibliófilo, pela amizade demonstrada

em tantos momentos, principalmente, durante a redação deste trabalho, em que

pude contar com seu inestimável acervo.

Ao Dr. Carlos Sica Diniz, biógrafo de Simões Lopes Neto, pelas importantes

informações prestadas.

À Profa. Ms. Paula Mascarenhas e ao jornalista Henrique Pires, bem como a

toda sua diretoria e conselheiros, que estiveram, durante a redação desta pesquisa,

à testa do Instituto João Simões Lopes Neto, pelo incondicional apoio recebido.

Ao Prof. Gilnei Corrêa, amigo e colega, coordenador do Núcleo de Estudos

Literários/Cefet-RS, pela interlocução e apoio.

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Ele [Simões Lopes Neto] desvenda para o público uma época, com muita

alegria, influenciado pelo amor à Pátria.

(Trecho da entrevista de Mário Mattos, publicada no Diário Popular, Pelotas, 09-03-

2003)

O tempo passa e o capitão Simões Lopes Neto segue aprontando surpresas

póstumas.

(Carlos Sica Diniz in A confraria do Capitão e o painel farroupilha, Diário Popular,

Pelotas, 17-05-2003)

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RESUMO

O presente trabalho objetiva discutir aspectos relativos a várias manifestações

do projeto cívico-pedagógico do escritor João Simões Lopes Neto (1865-1916).

Procuramos explorar faces ainda pouco estudadas: a de vulgarizador da educação e

autor de livros didáticos. Partindo basicamente de Chiappini (1988) e Diniz (2003),

entendemos que o Autor possuía um projeto cívico-pedagógico, desde as

conferências sobre Educação Cívica (1904-1906), passando por postais, livros

didáticos e campanhas educacionais. Buscando comprovar a hipótese, dividimos

nosso estudo em dois momentos. No primeiro, mostramos um panorama dos

acontecimentos históricos do final do Império e das duas primeiras décadas da

República – catalizadores do sentimento patriótico, do que é exemplo a campanha

empreendida por Olavo Bilac (1865-1918). No segundo, passamos à descrição e

análise daquilo que denominamos o “projeto cívico-pedagógico” do Autor – a União

Gaúcha e o Tiro de Guerra 31; a conferência Educação Cívica (1906); a Coleção

Brasiliana de cartões postais; a Festa das Árvores (1909) e os livros didáticos.

Concluímos que o projeto cívico-pedagógico procurou responder às particularidades

da sociedade brasileira, e o ideário positivista, tratando ainda de enfatizar a

importância dada ao folclore e à cultura popular.

PALAVRAS-CHAVE: João Simões Lopes Neto – Civismo – Educação na

República Velha – Livro didático na República Velha

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ABSTRACT

The objective of this paper is to discuss some aspects about some manifestations on

the civic-pedagogic project of the writer João Simões Lopes Neto (1865-1916). It

tries to explore the two sides of the writer that have been fewer studied as: an

education vulgarizer and the Author of didactic books. Fundamentally starting from

Chiappini (1988) and Diniz (2003) understanding that the Author had an civic-

pedagogic project since the conference about Civic Education (1904-1906) passing

by postcards, didactic books and educational campaigns. Searching to prove the

hypotheses, this study was divided in two moments. At the first, it shows a panoramic

view of historic happenings from the end of the Empire and the two first decades of

Republic – catalyzes of the patriotic feeling, to serve as an example the campaign

enterprises by Olavo Bilac (1865-1918). At the second, it passes to a description and

analysis that was named civic-pedagogic project of the Author – The Gaúcha Union

(União Gaúcha) and the Shout of War 31 (Tiro de Guerra 31); the Civic Education

conference (1906); the Brazilian postcards collection; the Party of the Trees (1909)

and the didactic books. Concluding that the civic-pedagogic project tried to answer

the peculiarities from the Brazilian society and to the positivism ideals, treating yet to

emphasize the importance gave to the folklore and the popular culture.

Key words: João Simões Lopes Neto – Civism – Education on the Old Republic –

Didactic books on the Old Republic

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TÁBUA DE FIGURAS

Figura 1 – Negros na Guerra do Paraguai. Fonte: Biblioteca Nacional/RJ. 52

Figura 2 – Sílvio Romero (1851-1914). Fonte: ROMERO, Sílvio.

Provocações e debates . (Contribuições para o estudo do Brasil social).

Porto: Livraria Chardron, 1910. 57

Figura 3 – Telegrama do Grão-Mestre da Maçonaria a Simões Lopes Neto. Fonte:

Cópia Acervo Mogar Pagana Xavier 64

Figura 4 – Quadro de membros da Loja Rio Branco, no qual aparece o nome de

Simões Lopes Neto. Fonte: Cópia Acervo Mogar Pagana Xavier 67

Figura 5 – Ata de ingresso de Simões Lopes Neto na Maçonaria (1890). Fonte:

Cópia Acervo Mogar Pagana Xavier 68

Figura 6 – Nome de Simões Lopes Neto na ata da reunião em que foi aceito como

membro, sob o grau 3. Fonte: Cópia Acervo Mogar Pagana Xavier 69

Figura 7 – Carta manuscrita de Manoel Serafim Gomes de Freitas. Fonte: Cópia

Acervo Mogar Pagana Xavier 70

Figura 8 – Cópia da Ata em que se decidiu se a Loja Rio Branco ficaria obediente à

Grande Loja do Oriente do Estado do Rio Grande do Sul. Fonte: Cópia Acervo

Mogar Pagana Xavier 71

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Figura 9 – Registro de falecimento de Simões Lopes Neto, feito no dia seguinte de

sua morte, para dar baixa na matrícula geral da Maçonaria. Fonte: Fonte: Cópia

Acervo Mogar Pagana Xavier 72

Figura 10 – Capa de Ecos de Roma (1873), do padre Guilherme Dias. Fonte: Acervo

Eduardo Arriada 76

Figura 11 - Colégio Gonzaga, em 1905. Fonte: PARMAGNANI, Jacob José;

RUEDELL, Otto; BERTUD, Olírio. Memorial do colégio Gonzaga. 100 anos

dedicados à educação. Porto Alegre: Palloti, 1995. 78

Figura 12 – Semanário católico “A Palavra”, em seu número de estréia. Fonte:

Acervo Caio Oppa 80

Figura 13 – Bispo Francisco de Campos Barreto (1877-1941). Fonte: Primeiro

Congresso Católico da Diocese de Pelotas. Pelotas: Diocese de Pelotas, 1935. 81

Figura 14 – Antônio Gomes da Silva foi Jornalista, teatrólogo, promotor público e

advogado. Marcou época por suas campanhas anticlericais à frente do jornal “A

Opinião Pública”. Fonte: O Estado do Rio Grande do Sul. Barcelona, Espanha:

Monte Domeq & Cia., 1916. [Álbum Domeq] 82

Figura 15 – Capa da peça “A tentação do bispo” (1915), de Antônio Gomes da Silva.

Fonte: Acervo Eduardo Arriada. 83

Figura 16 – Cigarro Marca Diavolus. Fonte: Acervo Ramão Costa 92

Figura 17 – Folheto “Jeca Tatuzinho”, que vinha inserido no Biotônico Fontoura.

Fonte: Acervo Ramão Costa. 111

Figura 18 – Ismael Simões Lopes, tio do autor de Contos gauchescos, proprietário

do jornal “A Pátria”, em que o escritor publicou a 1ª fase de sua coluna “Balas de

estalo”. Fonte: OSÓRIO, Fernando. A cidade de Pelotas. Pelotas: Oficinas

Tipográficas do Diário Popular, 1922. 114

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Figura 19 – Tumulto durante a Revolta da Vacina, em 1904. Fonte: Acervo

Biblioteca Nacional/RJ 118

Figura 20 – Saneamento em Pelotas. Fonte: Intendência Municipal de Pelotas.

Secção de Águas e Esgotos. Relatório de 1916. Apresentado ao Intendente

Municipal Engenheiro Cypriano Corrêa Barcellos pelo Engenheiro Chefe Octacílio

Pereira. Officinas Typographicas do Diário Popular, 1917. 119

Figura 21 - Entidade tradicionalista União Gaúcha. Fonte: Acervo Ramão Costa 120

Figura 22 – Escritor Coelho Neto (1864-1934) pilchado, grande incentivador das causas

cívicas. Fonte: Obra seleta. Vol. I. Romances. Rio de Janeiro: Aguillar, 1958. 122

Figura 23 - Partitura do Hino do Tiro de Guerra n. 31. Fonte: Acervo Ramão Costa. 127

Figura 24 – Pavilhão da linha de exercício de pontaria do Tiro de Guerra de Pelotas

n. 31. Fonte: OSÓRIO, Fernando Luís. Pátria Nova. Pelotas/RS, nov. 1916. 128

Figura 25 - 3ª Companhia do Tiro 31. Fonte: OSÓRIO, Fernando. Relatório do Tiro

31. Pelotas, ano social de 1916. 129

Figura 26 – Januário Coelho da Costa (1886-1949), militar, escritor e grande

colaborador de Simões Lopes Neto nas causas cívicas. Fonte: Acervo do autor.

(Esquerda). Rubens Freitas de Weyne, homem ligado ao escotismo e ao Tiro 31.

Fonte: OSÓRIO, Fernando. A cidade de Pelotas. Pelotas: Oficinas Tipográficas do

Diário Popular, 1922. (Direita) 129

Figura 27 – Capa da conferência Educação Cívica (1906), de João Simões Lopes

Neto. Fonte: Cópia Acervo Mogar Pagana Xavier 132

Figura 28 – Capa de “Porque me ufano de meu país” de Afonso Celso. Fonte:

acervo do autor. 134

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Figura 29 – Capa do “Coração”. Fonte:Acervo Eduardo Arriada. (Esquerda). Escritor

italiano Edmundo de Amicis. Fonte: Pasta de Recortes da Biblioteca Pública de

Porto Alegre. (esquerda) 137

Figura 30 – Livraria Americana, em Pelotas, na década de 1880. Fonte:

MAGALHÃES, Mário Osório. Pelotas: toda a prosa. Vol 2. (1874-1925). Pelotas:

Armazém Literário, 2002. 143

Figura 31 – Jornalista Eduardo Chapon, proprietário do “A Ventarola” (1887-1890)

jornal em que Simões Lopes Neto estreou como jornalista sob o pseudônimo de

João Felpudo. Seu estabelecimento gráfico editou a 1ª Série de cartões postais da

Coleção Brasiliana. Fonte: Acervo do autor 144

Figura 32 – Cartão n. 9 (1ª Série da Coleção Brasiliana). Fonte: Acervo Instituto João

Simões Lopes Neto (Pelotas) 146

Figura 33 – Painel Farroupilha, n. 3. Fonte: Cópia Acervo Mogar Pagana Xavier 150

Figura 34 – cartão n. 20 (2ª Série da Coleção Brasiliana). Fonte: Acervo Instituto

João Simões Lopes Neto (Pelotas) 151

Figura 35 – Hino às árvores, poema de Olavo Bilac, no jornal português “O Século

Agrícola”. Fonte: CARREIRAS, J. Seabra. Conflitos entre a Igreja e a Maçonaria em

Portugal. Lisboa, s/d. 156

Figura 36 – Livro didático As árvores, de Júlia e Afonso Lopes de Almeida, publicado

em 1916. Fonte: Acervo do Autor. 157

Figura 37 - Albert Löefgren (1864-1918), naturalista sueco. Fonte: Acervo Biblioteca

Nacional/RJ 159

Figura 38 – Grupo Escolar Cel. Justiniano Whitaker, em Araras/SP. Fonte: Anuário

do Ensino do Estado de São Paulo (1908-1909), 1909. 159

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Figura 39 – Escritor Coelho Neto (1864-1964). Fonte: Acervo Biblioteca Nacional 161

Figura 40 - Folheto alusivo à primeira festa das árvores realizada em Itapira no dia 3

de maio de 1903. Fonte: MANDATO, Jácomo. História ilustrada de Itapira. Vol..1.

Itapira/SP: Editora Linhas Gerais, 1996. 161

Figura 41 – Deputado José Pena de Moraes, falecido em Porto Alegre em 1932. Fonte:

ZAVASCHI, Olyr. Almanaque Gaúcho. Zero Hora, Porto Alegre, 06-11-2008. 162

Figura 42 - Pedro Weingärtiner. “Tempora mutantur” (1889). Óleo sobre tela. Fonte:

Acervo do MARGS (Porto Alegre) 164

Figura 43 – Prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos. Fonte: Acervo Biblioteca

Nacional/RJ 165

Figura 44 - Aspecto do Distrito Federal na Exposição Nacional de 1908. Fonte:

Acervo Biblioteca Nacional/RJ 167

Figura 45 – Cartão postal de 1913. Fonte: CARREIRAS, J. Seabra. Conflitos entre a

Igreja e a Maçonaria em Portugal. Lisboa, s/d 170

Figura 46 – Convite da Sociedade Agrícola Pastoril para a Festa das Árvores. Fonte:

Cópia Acervo Mogar Pagana Xavier 172

Figura 47 - Sociedade Agrícola Pastoril do Rio Grande do Sul. Fonte: MAGALHÃES,

Mário Osório. Pelotas Agrícola e Pastoril. História da Associação Rural. Pelotas:

Armazém Literário, 1998 172

Figura 48 – I ldefolso Simões Lopes. Fonte: MAGALHÃES, Mário Osór io.

Pelotas Agrícola e Pastori l . História da Associação Rural. Pelotas:

Armazém Literário, 1998 173

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Figura 49 – Bilhete manuscrito de João Simões Lopes Neto, entregue durante o I

Congresso Agrícola do Rio Grande do Sul (1908). Fonte: Cópia Acervo Mogar

Pagana Xavier 173

Figura 50 – Fernando Luís Osório (1886-1939). Fonte: MAGALHÃES, Mário Osório.

Pelotas Agrícola e Pastoril. Pelotas: Armazém Literário. 1998 174

Figura 51 – Dr. Nunes Vieira. Fonte: MAGALHÃES, Mário Osório. Pelotas Agrícola e

Pastoril. Pelotas: Armazém Literário, 1998 174

Figura 52 - Dr. Guilherme Minssen. Fonte: MAGALHÃES, Mário Osório. Pelotas

Agrícola e Pastoril. Pelotas: Armazém Literário, 1998. 175

Figura 53 – Sport Club Pelotas, local onde se realizou a Festa das Árvores, em

1909. Fonte: Acervo Mogar Pagana Xavier 177

Figura 54 – Capa do livro didático Poesias Infantis (1904), de Olavo Bilac. Fonte:

Acervo Eduardo Arriada 178

Figura 55 – Prefeito de Pelotas, José Barbosa Gonçalves. Fonte:

XAVIER, Mogar Pagana. Memorial dos Prefe itos de Pelotas .

Levantamento prel iminar. [2008] Inédito 178

Figura 56 – Carnet da Festa das Árvores, 1909. Fonte: Cópia Acervo Mogar Pagana

Xavier 179

Figura 57 – Zeferino Brazil (1870-1942). Fonte: O Estado do Rio Grande do Sul.

Barcelona, Espanha: Monte Domeq & Cia., 1916. [Álbum Domeq] 180

Figura 58 – Olavo Bilac(1865-1918) e Fernando Luís Osório (1886-1939), quando da

visita do Poeta a Pelotas em 1916. Fonte: OSÓRIO, Fernando Luís. Pátria Nova.

Pelotas: Tiro de Guerra n. 31, 1916 183

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Figura 59 – Menina Adília Wetzel, recitando a Prece à árvore, de Simões Lopes

Neto, na Festa das Árvores, celebrada em Pelotas em 05-11-1916. Fonte: OSÓRIO,

Fernando Luís. Pátria Nova. Pelotas: Tiro de Guerra n. 31, 1916. 184

Figura 60 – Profa. Beatriz Loner com a Artinha de Leitura (1907). Fonte:

GUIMARÃES, Álvaro. Tesouro Perdido de Simões Lopes Neto é encontrado. Zero

Hora, Porto Alegre, 06-11-2008 186

Figura 61 – Profa. Picollo no ato de doação da Artinha de Leitura (1907), na mesa

com o conselheiro Dr. Fausto Leitão e o jornalista Henrique Pires, presidente do

Instituto João Simões Lopes Neto (Pelotas). Fonte: Acervo Instituto João Simões

Lopes Neto 186

Figura 62 – Página da Artinha de Leitura (1907). Fonte: Acervo do Núcleo de

Documentação Histórico/UFPEL 189

Figura 63 – Página de abertura da Artinha de Leitura (1907). Fonte: Fonte: Acervo

do Núcleo de Documentação Histórico/UFPEL 190

Figura 64 – Manoel Serafim Gomes de Freitas (1880-1969). Fonte: OSÓRIO,

Fernando. A cidade de Pelotas. Pelotas: Officinas Typographicas do Diário Popular,

1922. 192

Figura 65 – Academia de Comércio do Clube Caixeiral (Pelotas), bacharéis de 1912.

Fonte: OSÓRIO, Fernando. A cidade de Pelotas. Pelotas: Oficinas Tipográficas do

Diário Popular, 1922. 193

Figura 66 – Manuscrito Glória Farroupilha. Fonte: Cópia Acervo Mogar

Pagana Xavier 194

Figura 67 – “Redomão”, manuscrito integrante de “Recordações de Infância, texto

inédito de Simões Lopes Neto”. Fonte: Cópia Acervo Mogar Pagana Xavier 195

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Figura 68 – Ata da reunião do Conselho de instrução Pública (1908). Fonte: Acervo

Cristina Rosa 197

Figura 69 – Página do manuscrito da Pequena Contradita, documento em que

Simões Lopes Neto responde à rejeição da Artinha de Leitura (1907). Fonte: Acervo

Eduardo Arriada 199

Figura 70 – Folha avulsa A reforma ortográfica no Brasil. Fonte: Acervo do Autor 200

Figura 71 – “Madrugada”, manuscrito do “verdadeiro Terra Gaúcha”. Fonte: Acervo

Carlos Reverbel 201

Figura 72 – Capa do Terra Gaúcha (1955). Fonte: Acervo do Autor 206

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 19

CAPÍTULO 1 – Elementos históricos que propiciaram a intensificação

cívico-nacionalista no final do Império e início da República brasileira 36

1.1– Bacharéis X “tarimbeiros”: entre o desprestígio e o ufanismo 36

1.1.1 - Os militares do Império antes da Guerra do Paraguai 36

1.1.2 – A Guerra do Paraguai e as transformações na Instituição Militar 38

1.1.3 - Simões Lopes Neto e a Guarda Nacional 44

1.2. - A herança político-filosófica da Geração de 1870 52

1.2.1 – Simões Lopes Neto herdeiro da Geração de 1870 52

1.2.2 – A Cruz, o Compasso, a Foice e o Martelo 64

1.2.3 – O anticlericalismo 75

1.2.4 – Higiene e sanitarismo 110

CAPÍTULO 2 – O projeto didático-pedagógico de Simões Lopes Neto 120

2.1 – A União Gaúcha e o Tiro de Guerra 31 120

2.2 – A conferência Educação Cívica 131

2.3 – A coleção Brasiliana 137

2.4 – Festa das Árvores 153

2.5 – Livros Didáticos 185

CONSIDERAÇÕES FINAIS 209

BIBLIOGRAFIA 214

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INTRODUÇÃO

Este trabalho se tornou o que é através de um processo de escavação das

camadas que ocultavam, para mim, a pergunta norteadora. Em verdade, ao longo de

minha formação profissional, no exercício da docência e da pesquisa no Núcleo de

Estudos Literários do Cefet-RS e no grupo de pesquisa em Filosofia

Intercultural/UCPEL, e também na convivência com escritores e professores de

literatura, constatei um verdadeiro paradoxo: uma cidade, como Pelotas, que

alimenta a representação de si mesma como um pólo tradicional de cultura,

sobretudo literário, apresentava quase um completo desconhecimento sobre os

autores locais, à exceção de Lobo da Costa e Simões Lopes Neto, assim mesmo por

pertencerem a esferas canônicas mais amplas.

Considerando a inegável importância de Simões Lopes Neto era

surpreendente que continuasse a aparecer na fímbria do cânone literário (BORGES,

2002, pp.11-20). Em contrapartida, havia a configuração de um quadro propício à

canonização do criador de Blau Nunes, o que pode ser observado em sua crescente

fortuna crítica, no âmbito acadêmico, e na circulação de suas obras. (CRUZ, 1999,

pp. 11-14).

Na trajetória dessas questões, conjeturei que a permanência de Simões

Lopes Neto nas bordas do cânone literário exigia explicações não apenas estéticas,

mas também de elementos de outras ordens. Ao investigar o que significava

“cânone literário”, a definição mais simples encontrada foi a “lista de grandes obras”.

Quando, pois, tratava de examinar o caso específico do autor de Contos gauchescos

(1912), tal definição parecia reforçar ainda mais o paradoxo de sua quase ausência

nos livros didáticos. (BORGES, ob. cit.).

Procurei então compreender por que meios se dava o processo de

canonização literária. Vejamos a afirmação de Lajolo:

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Algumas das vozes responsáveis pela literatização ou desliteratização de um livro ou de um texto são nitidamente institucionalizados. [...] Entre as instâncias responsáveis pelo endosso do caráter literário de obras que aspiram ao status de literatura, a escola é fundamental. A escola é a instituição que há mais tempo e com maior eficiência vem cumprindo o papel de avalista e de fiadora do que é literatura. Ela é uma das maiores responsáveis pela sagração ou pela desqualificação de obras e de autores. Ela desfruta de grande poder de censura estética – exercida em nome do bom gosto – sobre a produção literária. (LAJOLO, 2001, p.19).

A par dessa reflexão, caberia perguntar: quem determina qual o “bom gosto” a

ser preservado pela escola? Aliás, nós, professores de literatura ou de áreas afins

que, de alguma maneira, nos utilizamos do diálogo com as obras literárias dentro de

nossas atividades docentes e de pesquisa em Ciências Sociais, percebíamos, pelo

menos, intuitivamente, a arbitrariedade e os fatores extraliterários que influem na

composição do cânone. Desse modo, fui direcionando minhas investigações a

respeito de Simões Lopes Neto para campos outros que não exclusivamente o

estudo do literato. Em certo sentido, isso também, ao menos colateralmente, se

relacionava com a marginalização canônica do escritor, pois sua literatura até estar

plenamente literatizada, para utilizarmos a expressão de Lajolo, sofreu de grande

ambigüidade, desde as primeiras recepções críticas.

Algumas dessas abordagens mostravam um escritor cuja literatura valia

apenas como o referencial de um algo outro (o repositório das tradições

gauchescas, a representação de aspectos do ser moral do gaúcho, a descrição de

costumes, hábitos e folclore, etc) que não intrinsecamente a arte.

Esse ponto nos leva a um debate acerca do valor estético do regionalismo

brasileiro (e do regionalismo, em geral), tido normalmente como subliteratura. Assim,

certas dificuldades na compreensão vocabular e estilística da arte literária de

Simões Lopes Neto foram superadas através de um artifício: sua valorização como

repositório de outros significados sociais. Tudo isso nos conduz para fora do campo

da arte literária, remetendo-nos à confluência da história e sociologia da literatura e

da história da educação, no entendimento de que essas disciplinas podem nos

auxiliar a explicar a marginalização de Simões Lopes Neto dentro do cânone literário

brasileiro.

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A fim de volvermo-nos novamente à estética literária, campo de nosso maior

interesse, tivemos de compreender as razões extraliterárias de sua negação.

Portanto, se quisermos fundamentar a inclusão de Simões Lopes Neto no cânone

literário brasileiro e, conseqüentemente, para que sua literatura ocupe maior espaço

nos programas escolares, torna-se indispensável investigar outros locus

recepcionais de sua escritura.

Um desses locus privilegiados se nos é dado através da abordagem de

Simões Lopes Neto especificamente como educador. Dois motivos nos levam a isso.

O primeiro decorre do fato de o escritor ter como projeto originário a própria

divulgação didático-pedagógica, conforme Chiappini (1988, pp. 97-136) assinala. O

outro é que fracassando por diversas razões o autor, essa possibilidade, seja

recebendo a negativa sobre seus livros didáticos, seja, por exemplo, pelo encalhe da

Coleção Brasiliana de cartões postais, ele se vai tornando, aparentemente, cada vez

mais ficcionista. Dizemos “aparentemente” porque o âmago de seu intento de

escritor, todo o animus de sua escritura continua intacto, apenas assumiu outra

forma, forma perene de uma arte superior tornando quase irreconhecível seu fim

utilitário, que o autor, quiçá, sem plena consciência da obra artística que realizava,

insistia em manter junto dela como elemento motivador. Desse modo, é que Simões

Lopes Neto se torna, para nós, tema de um trabalho em História da Educação.

Não é possível falar do escritor, sem falar do homem Simões Lopes Neto. Ele

foi uma personalidade complexa e cuja análise, em seu contexto, comporta muitas

peculiaridades. Reconhecido tardiamente como escritor1, de inegáveis méritos,

talvez só pode sê-lo plenamente, conforme já ficou dito, na medida em que seu

projeto originário fracassou: dedicar-se de várias formas às questões educacionais,

fosse no exercício do magistério, propondo reformas ortográficas, escrevendo livros

1 Não sendo esta questão objeto de nosso trabalho, vale dizer que, nos últimos anos, a idéia de que

Simões Lopes Neto foi reconhecido tardiamente como escritor não encontra unanimidade. Apenas dois autores discordam da tese sugerida por Moysés Vellinho, o qual entende que a carreira literária de Simões Lopes Neto foi inteiramente póstuma. Tais autores são Cláudia Antunes e Mário Osório Magalhães. Para aprofundar a discussão sobre a questão do reconhecimento literário de João Simões Lopes Neto vide BORGES, Luís. O escritor João Simões Lopes Neto foi ou não reconhecido em vida? Memórias póstumas do Dr. Arendt. Pelotas: NEL/Cefet-RS, 2005, pp. 23-25; BORGES, Luís. Memorial de Maria Moura e de Blau Nunes, Diário da Manhã, Pelotas, 24-04-2008; e também MAGALHÃES, Mário Osório, Primeira consagração. Diário Popular, Pelotas, 24/25-12-2006.

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didáticos, empenhando-se em campanhas cívico-educacionais, participando dos

Tiros de Guerra ou propugnando atenção à higiene.

Na proporção em que foram se esboroando seus ideais, sonhos e até ímpetos

empreendedorísticos2, foi o Velho Capitão, tão orgulhoso de ter pertencido à Guarda

Nacional, direcionando-se para o campo literário. Fez compilações do folclore

regional gauchesco e dava a seus contos um caráter de registro histórico,

sociológico e lingüístico do pampa. De tal modo o Simões folclorista/historiador 3

ficou ligado ao Simões literato, que ele saiu em prejuízo tanto na condição de

homem dedicado aos estudos folclóricos e históricos quanto à estrita atividade de

escritor.

Vários desses aspectos suscitam múltiplas perquirições, abrindo um leque

bastante intrincado e complexo de relações. Demos um exemplo. Seguidamente o

guardião do espólio simoniano, Mozart Victor Russomano (1991, p. 10), tem se

referido ao Cancioneiro guasca como o “patinho feio” da obra do escritor. Quer dizer

com isso que o popularium recolhido por Simões Lopes Neto representa obra menor,

trabalho meritório e paciente de compilador, abaixo, contudo, de seus dotes de

criador. Vale lembrar, todavia, que nessa mesma estória, o patinho feio acaba por

transformar-se num belo cisne. Assim, também, acontece com o segmento

aparentemente menos relevante de sua literatura, enfeixada no Cancioneiro guasca

(1910). Ao levarmos a cabo uma avaliação mais profunda desse livro, podemos

perceber em que e por que os intelectuais do período se preocupavam tanto com o

folclore e a cultura popular.

Certamente, a intervenção mais significativa no campo da preservação e

valorização do folclórico, sem negligenciarmos um Apolinário Porto-Alegre (1844-

1904), foi Sílvio Romero (1851-1914), tanto por suas antologias do tema quanto por

sua ação social, política e pedagógica, expressa basicamente nos Cantos populares

do Brasil (1882), Contos populares do Brasil (1883) e Estudos sobre a poesia

popular brasileira (1889).

2 Para mais detalhes sobre esse assunto vide REVERBEL, 1981, pp. 120-129.

3 Aldyr Garcia Schlee contesta a condição do escritor como folclorista e historiador. Vide SCHLEE,

2006, vol. I, pp. 276-281.

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Sofria a obra de Sílvio Romero, um dos próceres da Escola do Recife e líder

dos que defendiam um pensamento filosófico cientificista – não só ele, mas

principalmente – de um conflito entre forma e fundo. Romero pertenceu desde as

primeiras horas às fileiras daqueles que se perfilaram na trincheira do Real-

naturalismo. Leia-se aí, não apenas uma filiação estética, mas todo um conjunto de

concepções políticas, filosóficas, religiosas e científicas (FURST & SKRINE, 1975),

Num primeiro momento, a radiografia “desse bando de idéias novas”, como

assinala Machado de Assis (1961, pp. 180-244), era algo meio indefinido cuja

resposta era dada não por filósofos, no sentido europeu do termo, nem por juristas

ou cientistas propriamente ditos, mas pelos poetas que faziam “poesia científica”,

“poesia satanista”, “realista” ou “socialista”, como se dizia então. Logo se vê que a

forma poética não dá conta em responder os problemas colocados pela realidade do

país. É preciso avançar. Combateu-se ferozmente o romantismo e a metafísica.

Porém, muitos dos que aderiram à “Idéia Nova”, como Raimundo Correia (1860-

1911) ou Aluísio Azevedo (1857-1913) e mesmo o próprio Simões Lopes Neto

(1865-1916), tinham começado como escritores românticos 4. Neles ficara

impregnado um conceito, o de Gênio, aplicável tanto aos indivíduos quanto às

nações. O conceito de Gênio para o romantismo (OLIVEIRA, 1950) é fundamental,

pois remete a um “caráter ontológico” sobre o qual todo projeto existencial ou

histórico tem de ser construído.

Se compulsarmos as datas de composição do Cancioneiro guasca e das

Lendas do Sul, por exemplo, podemos ser tentados a não associá-las com a fase

mais intensa de sua atividade cívico-educacional, isto é, entre os anos de 1904 e

1906, quando realizou suas famosas conferências por diversas cidades do estado.

Ora, 1906 é exatamente o ano em que ele compõe um de seus textos mais famosos,

considerado uma de suas obras-primas, o Negrinho do Pastoreio, incorporado

indelevelmente ao acervo folclórico.

Augusto Meyer (1943, pp. 33-54) ao comentar a lenda entende que ela

representa uma reação à violência cometida contra o negro escravo no Rio Grande

4 Para mais detalhes sobre este assunto vide MONQUELAT, 1991, pp. 13-19.

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do Sul. Se, de um lado, temos a recolha folclórica, junto com a essência não só

emocional, mas também histórico-sociológica do fenômeno da escravidão, de outro,

é essa articulação, enfeixada de modo profundamente artístico, que pode, para

Simões Lopes Neto, revelar o ethos do povo, através do qual se identificará o seu

“gênio”, sua verdadeira alma. Esse conceito é essencialmente romântico, porém

sobrevive em Simões Lopes Neto e Sílvio Romero e outros expoentes da chamada

Geração de 1870, justamente aquele grupo que mais se insurgiu contra as

concepções românticas. Esse aparente paradoxo só pode ser compreendido se

entendermos, tanto em Romero, quanto em Simões Lopes Neto, o papel do conceito

de “gênio”, soterrado sobre uma retórica cientificista. Nesse sentido, vê-se também a

inadequação entre forma e fundo.

O dilema entre forma e fundo torturou Sílvio Romero. Ele incensava Tobias

Barreto (1839-1889) como poeta, que fora um dos fundadores da Escola do Recife,

embora este tenha criado verdadeiros monstrengos poéticos. O discípulo de Tobias

Barreto também estreou cometendo versos, publicando Cantos do fim do século

(1878). Podemos encontrar no “Ventarola”, de Pelotas, a publicação de poemas,

inclusive de Sílvio Romero, em que se observa a aporia entre forma e fundo, na qual

se procura representar a escola como um lugar ora severo e grave ora ameno e

romântico:

A escola

Pela manhã a escola aberta espera Como um laço que as aves prende à toa.

Vingar os desvarios dos travessos Que não trazem lição e escrita boa

Como um pequeno rei absoluto,

Refestelado em seu trono egrégio Sobre o nariz os ocultos impagáveis,

Lá estava sentado o mestre régio!

Mas em compensação, naquele tempo Prelibando as delícias do progresso,

Havia escola mista 5 na província,

Sem desse na vista um tal excesso. _________________

5 É interessante observar a referência neste poema ao ensino misto, apresentado como um avanço

pedagógico, mas visto ainda como um perigo à moral, sobretudo para os religiosos. Para mais detalhes sobre o assunto vide ALMEIDA, Jane Soares de. A co-educação dos sexos, apontamentos para uma interpretação histórica. História da Educação, Pelotas, ASPHE/FaE/UFPEL, vol. 11, n. 22, pp. 61-87, mai./ ago. 2007.

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Entre os lírios mimosos, que os perfumes

Tinham ainda guardados no seu seio Entre as meninas meigas, inocentes

Que douravam ali aquele meio,

Havia três que a todas excediam, Que tinha sobre si a vozeria. A filha do juiz lá da comarca, A do tabelião, e que dizia??

______________

As filhas do mestre-escola, a inocência Em forma de meninas sãs, amenas... Formaram-se de pronto três partidos Disputando a beleza das pequenas.

(A Ventarola, Pelotas, ano I, n. 31, 1881)

Foi Machado de Assis (1961, pp. 180-244) que percebeu essa inadequação

entre forma e fundo na poesia dos autores da Geração de 1870. Analisa em seu

célebre artigo A nova geração, as fragilidades estéticas dos poetas da Idéia Nova,

não por falta de habilidade ou recursos, mas por submeterem a arte a fins

extraliterários. Não que eles devessem cultivar a estética da Arte pela Arte, mas é o

próprio Machado que os lembra sobre a insuficiência da forma para efetivar o papel

que atribuem a ela. Essa inadequação acaba por destruir a poesia como forma e a

idéia como conteúdo, que, mal arranjado, é incapaz de servir, como querem os

autores, de canal de debate ou disseminação de idéias.

Tanto Romero quanto Simões Lopes Neto, em termos gerais signatários de

um mesmo ideário programático da Geração de 1870, conforme veremos adiante,

foram tributários desse conflito de forma e fundo. No caso de Romero, ele nunca foi,

de fato, um artista. Dessa maneira, seu conflito se mostra mais do ponto de vista

ideológico. Seu procedimento para enfrentar essa aresta foi muito criativo: adaptava

as correntes filosóficas cientificistas em voga, as quais aderiram, de modo a manter

o conteúdo romântico (a alma do povo brasileiro, seu gênio).

Simões Lopes Neto teve dificuldades semelhantes. Começou utilizando a

poesia da mesma maneira que fez Fontoura Xavier (1856-1922). Abramos aqui um

parêntese. Cremos que a influência desse escritor, cujo nome completo é Antônio

Vicente da Fontoura Xavier, nascido em Cachoeira do Sul/RS, tem sido subestimada

em Simões Lopes Neto a somente o divulgador de uma moda poética da época: o

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triolé. Esse autor pode, porém, nos auxiliar na explicação de várias tendências e

identificações no autor pelotense: o positivismo, o evolucionismo, o anticlericalismo,

o laicismo, o republicanismo, a picaresca poética e inclusive parte de sua influência

francesa.

Simões tinha pretensões de educador, como bem demonstraram Arriada &

Tambara (2005, pp. 237-249), incluindo os aspectos de vulgarizador cultural,

principalmente da história, das tradições e do linguajar do Rio Grande do Sul.

A permanência e pertinácia com que Simões Lopes Neto perseguiu seu ideal

de educador, conforme veremos ao longo do trabalho, mesmo após vários fracassos

e ações pontuais, demonstra uma convicção extraordinária nos valores

pedagógicos. Estava imbuído das certezas iluministas que identificavam termos

como Educação, República, Ciência, Progresso, Evolução etc. 6

Registro mais preciso de sua atividade docente não possuímos ou, pelo

menos, os estudos biográficos ainda não identificaram elementos mais concretos.

Sabe-se, entretanto, que foi considerado homem profundamente ligado à educação

e à cultura, sendo inclusive chamado a integrar a diretoria do Ginásio Pelotense.

(TAMBARA, 1995, pp. 266-367) Também foi professor da Escola de Comércio, que

funcionou no Clube Caixeiral. Nada consta, porém, a respeito de sua efetiva

atividade como professor, sequer um depoimento de aluno seu. Sabe-se que

elaborou projetos de reforma ortográfica, cartilhas de leitura e livros didáticos de

história. Seus projetos foram rejeitados. Por quê? Afinal, não era ele homem tão

conceituado na área educacional? Em que intrincadas malhas a política, a filosofia, a

pedagogia e a literatura de Simões Lopes Neto se cruzam, se completam e se

repelem? Tais interrogações, que permeiam esta dissertação, constituem-se nos

elementos de nosso enunciado problemático. Esses elementos permitem refletir

sobre aspectos candentes da identidade cultural brasileira e sul-riograndense, a que

a questão cívico-pedagógica está intrinsecamente ligada.

6 Para aprofundar esse assunto vide ALONSO, Ângela. Idéias em movimento. A geração 1870 e a

crise do Brasil – Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

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Ao contrário do que defendeu Russomano (1991, pp. 8-12), Simões Lopes

Neto relativamente às questões cívicas não foi um pioneiro isolado, à frente das

preocupações de seu tempo. Antes, foi ele um homem profundamente integrado nas

questões do dia de sua época, como as que diziam respeito à formação cívico-

educacional. (ARRIADA & TAMBARA, 2005, pp. 237-249).

Lembremos que Simões Lopes Neto pertence a uma geração de escritores

que chamou a si uma missão: reformar o país em todas as áreas. Esses escritores

são “publicistas” e professam um vasto programa de reformas, borbulhando em

diferentes lugares do país e pertencendo a diversos endereços ideológicos.

Uma de nossas hipóteses é que as campanhas de educação cívica

representam um movimento geral das elites pensantes na sociedade brasileira, cuja

repercussão se estendeu por todo o território do país. Para demarcarmos as

questões como nacionalismo, civismo e militarismo, nos aspectos relacionados à

educação, estabelecemos um recorte temporal. Iniciamos em 1870, de um lado,

porque assinala a famosa Geração citada anteriormente, e depois porque marca

fatos históricos e sociais importantes – a Guerra do Paraguai, as transformações nas

instituições militares e na sociedade brasileira, o Manifesto Republicano – indo até

campanha cívica de Olavo Bilac (1865-1918).

Creio que um elemento novo para a compreensão da vida e obra de Simões

Lopes Neto é situá-lo não só dentro de seu contexto histórico (local, regional e

nacional), mas também dentro do legado filosófico-estético-ideológico da Geração

de 1870, em cujas hostes ocorreram debates acerca da importância social e

econômica da educação. 7

Na Pelotas distante da Corte, longe não apenas dos centros decisórios da

política e da economia, mas também dos círculos intelectuais, o reflexo da Geração

de 1870 – embora não exatamente tardio – se prolongou como um fenômeno de

inércia.

7 Para uma visão mais geral da ação política da Geração de 1870 vide ALONSO, Ângela. Idéias em

movimento. A Geração 1870 e a crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

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Simões Lopes Neto forjou-se emocional e intelectualmente nesse caldo de

cultura: republicanismo, positivismo, evolucionismo, anticlericalismo, naturalismo.

Esse período coincidiu com o término da fase de opulência da vida pelotense, para

utilizarmos a terminologia de Mário Osório Magalhães (1993), quando começa uma

fase de crise. É nesse momento, do final do Império e o nascimento da recém

implantada república brasileira, imposta num golpe militar, que a decepção com o

projeto de Brasil acontece.

Logo após os efeitos da Revolta dos Marinheiros, em 1910, é que Simões

Lopes Neto, reagindo, como fizera Euclides da Cunha (1866-1909) ao autoritarismo

de Hermes da Fonseca (1855-1923), se voltará para o velho conceito romântico do

“gênio popular”, coisa que a novel república estava longe de preocupar-se. Ao

contrário, preconizava a “ditadura republicana”. Tal expressão, entretanto, não se

referia a um regime político “autoritário”, mas a um regime “científico” de governo,

que, portanto, não precisava ser democrático.

Essa ânsia pela cientificidade tornou-se uma crença na onipotência da

ciência, degenerando no cientificismo. O cientificismo era uma ideologia totalitária e

totalizante no sentido de que ela não só era possuidora de uma verdade

incontestável, mas também que dela emanava o juízo definitivo sobre todos os

demais domínios humanos (“a metafísica estava morta”, na famosa frase de Sílvio

Romero, porque assim rezavam os postulados positivistas então em voga).

A herança da Geração de 1870, a despeito de muitas contribuições

importantes, deixou a sociedade brasileira impregnada, sendo esta permeada de

lacunas e fissuras institucionais e sociais, da necessidade de buscar “ordem e

progresso” e para tanto era preciso fortalecer o espírito cívico. Muitas vezes

confundiu-se civismo com patriotismo, nacionalismo e até com militarismo.8 Esses

termos foram usados como sinônimos ou equivalentes. Até que ponto podemos

fazer uma distinção terminológica e conceitual adequada soa-me duvidoso, eis que

nos discursos de época (cujos ecos fazem-se sentir até os nossos dias) isso não

8 Podemos ver distinções entre esses termos na Enciclopédia de Civismo. Ministério de educação e

Cultura, 1967, p. 326 (militarismo); pp. 341-342 (nacionalismo,); p. 375 (patriotismo). Buscamos a definição desses conceitos numa obra atual, pois além de definições operacionais a referência traz, ainda que brevemente, uma evolução histórica dos conceitos.

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está claro, mesclando-se falas, práticas e representações desses elementos todos

de maneira confusa e muitas vezes aleatória. Vale dizer que se buscou entender por

civismo (e nele incluso algumas vezes aquilo que poderia ser denominado de

patriotismo, nacionalismo e militarismo) uma série de conceitos e práticas cujo fim

era valorizar o nacional, visando seu desenvolvimento social e econômico, no

resgate de suas supostas origens e tradições, a seiva com que se poderia alimentar

o futuro, o qual reservava ao Brasil, no concerto das nações, a glória de ser uma

grande potência. Não é à toa que um dos livros mais apreciados do período chama-

se Por que me ufano de meu país (1900), escrito pelo Conde Afonso Celso (1860-

1938).

Um dos medos da república recém instalada era o esfacelamento do Brasil

em pequenas repúblicas como ocorrera no restante da América do Sul e Central.

Aliás, esse medo já vinha do tempo do Império. Foi justamente esse temor que

retardou o federalismo como reforma necessária à máquina administrativa da

Monarquia. Nessa medida, era preciso, compreender e harmonizar as culturas

regionais. Um dos objetivos de Simões Lopes Neto em suas conferências sobre

educação cívica era atenuar as tensões culturais e políticas entre região e nação.

Entre os aspectos de modernização, fundamentados em princípios

cientificistas/positivistas/evolucionistas que procuravam embasar o novo projeto de

nação republicana, está a questão da higiene. Simões Lopes Neto atento às

questões candentes de seu tempo tratou do assunto num artigo publicado no “A

Opinião Pública”, em 21-12-1912. Alguns anos antes, no Rio de Janeiro, acontecera

a Revolta da Vacina e muitos escritores – e não apenas médicos – se envolveram

no debate. 9 Eles representavam a elite bem-pensante do País e procuravam se

contrapor de todas as formas, que variavam significativamente, indo desde

campanhas de esclarecimento até a violência, naquilo que consideravam a

ignorância da população. Assim, sob o termo higiene se abrigava uma série de

aspectos que abarcavam desde uma simples campanha de informação sobre

cuidados com os alimentos, passando por questões como o saneamento até

programas de eugenia (COELHO NETO, 1945).

9 Para mais detalhes vide MEIHE, José Carlos; BERTOLLI FILHO, Cláudio. A revolta da vacina. São

Paulo: Ática, 2001.

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Ao observarmos o movimento de idéias e debates, ação política e propostas

pedagógicas que ocorreu entre o fim da Monarquia e as primeiras décadas da

República, verificaremos que as campanhas abolicionista e republicana mobilizaram

as elites nacionais, incluindo estudantes. Nesse interregno, surgiram os processos

de urbanização, industrialização e o movimento operário, entre outras profundas

transformações na sociedade brasileira. A tudo isso, estavam imbricadas várias

concepções de mundo que lutavam entre si, cujos principais palcos eram a imprensa

e a sala de aula, desaguando no Executivo e no Parlamento.

Fazer um inventário exaustivo de todas essas questões e tensões, que

formam o pano-de-fundo desse quadro histórico, no qual vive e se engaja o escritor

pelotense, não é o que intentamos nos estreitos limites deste trabalho. No entanto,

procuramos vislumbrar de maneira panorâmica os aspectos fundamentais que

compuseram as condições históricas favoráveis às campanhas de civismo naquele

período já referido.

Estruturamos nosso estudo em dois grandes blocos. O primeiro abarca o

surto cívico-pedagógico no fim do período imperial e início do republicano.

Procuramos fornecer aí, em linhas gerais, os fatores históricos e ideológicos sob os

quais se criou um caldo de cultura favorável ao florescimento de campanhas

destinadas a fecundar ideais patriótico-educacionais. Entre estes fatores

destacamos a Guerra do Paraguai. De um lado, porque esse conflito ao mobilizar

toda a nação, de resto como acontece em todas as guerras, convocou a população

a exaltar os brios patrióticos, que ficaram plasmados, entre outras demonstrações,

nas torrenciais produções literárias que fizeram referência ou tematizaram esse

episódio bélico.10 Além desse aspecto ideológico, os mecanismos de recrutamento

colaboraram para ampliar as classes e grupos que passaram a integrar o exército,

incluindo escravos, libertos, mestiços e brancos pobres, que se aliaram em vários

10

Para termos uma idéia da quantidade dessas produções consultar PINHEIRO, Xavier (org.). Musa Cívica. Antologia brasileira. Rio de Janeiro: Leite e Maurillo, s/d; COUTINHO, Frederico dos Reis (seleção, prefácio e notas bibliográficas). 3ª edição. As mais belas poesias patrióticas de exaltação do Brasil. Antologia. Rio de Janeiro: Editora Vecchi, 1954; HADDAD, Jamil Almansur (seleção e introdução). História poética do Brasil. História do Brasil narrada pelos poetas. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras, s/d.; CALMON, Pedro. História do Brasil na poesia do povo. Rio de Janeiro: Editora A Noite, s/d.

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momentos aos oficias de carreira, os quais, entretanto, gozavam de menos prestígio

que os pertencentes à Guarda Nacional. Procurou-se por esse motivo mostrar a

participação de Simões Lopes Neto nessa corporação, em que chegou a ocupar o

posto de capitão.

Daí surge toda uma preocupação com a formação cívica através da criação

de salas de leitura e bibliotecas voltadas especificamente para constituição de um

acervo de civismo, como o que foi implantado no Tiro 31 de Pelotas 11 – elemento

que, de modo geral, fazia parte da estrutura dos tiros de guerra no Brasil. Para suprir

essa demanda apareceu uma vasta literatura didática e paradidática, dentre as quais

podemos citar obras como as Poesias infantis (1904), de Olavo Bilac e A árvore

(1916), de Júlia e Afonso Lopes de Almeida.

No ano do término da Guerra do Paraguai aparece no cenário nacional, no

campo das idéias, sobretudo filosóficas, literárias e políticas, a chamada Geração de

1870. Grupo que será um verdadeiro divisor de águas, especialmente em sua luta

pela Abolição e pela República, que noutra formulação poderia ser expressa por

modernização, laicização da sociedade (sobretudo da educação), colocado muitas

vezes em termos de agressivo anticlericalismo e cientificismo (evolucionismo,

darwinismo, naturalismo, spencerismo, positivismo, sanitarismo, etc).

A partir desse pano de fundo histórico-ideológico, que já desenhara a

localização do autor dentro desse contexto, num segundo bloco, passamos a centrar

nosso exame na atuação de João Simões Lopes Neto, percorrendo os variegados

aspectos de seu projeto cívico-pedagógico, plasmados na multiplicidade de seus

interesses e atividades: na União Gaúcha, como fonte de telurismo (LESSA, 1985)

no Tiro de Guerra 31, visando, no cultivo de virtudes físicas, as qualidades morais –

em que se destaca a disciplina – que possibilitam o desenvolvimento de um povo;

nas conferências Educação cívica (versão definitiva) e Educação e caridade12,

publicadas em 1906; na Coleção Brasiliana de cartões postais que, em função do

11

O Dr. Fernando Luís Osório, presidente do Tiro 31, em seu relatório de 1916, assim se expressou: “Com pleno êxito, corporifiquei a idéia, lançada em meu discurso de posse a esta presidência, da instalação em nossa sede de uma biblioteca cívica, para a qual em correspondência ao apelo formulado, foram solicitamente ofertadas vultuosas obras de interesse pátrio, constantes do respectivo livro de registro.” (p. 6) 12

Na presente dissertação não trataremos dessa conferência.

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apelo à imagem, era recurso muito utilizado para a transmissão de valores e

informações, tendo em vista os altos índices de pessoas que não sabem ler e/ou

escrever; no poema Prece à árvore e na Festa das Árvores, em 1909, cujo culto era

baseado no princípio de que a natureza do País era patrimônio do Estado e como tal

cabia a todo cidadão preservá-la como riqueza nacional (CRUZ, 1917, pp. 83-84); na

Campanha Centenária, para a qual Simões convoca os estudantes a participar das

comemorações do 1° centenário de Pelotas, chegando a editar sozinho uma revista

em que narra a história da cidade; em suas tentativas frustradas de livros didáticos.

Tudo isso mostra um pouco do que foi este “homem dos sete instrumentos” e de seu

comprometimento com os ideais de progresso, desenvolvimento e educação,

trinômio indissolúvel para o positivismo/evolucionismo, carro-chefe de um projeto

político que buscava uma identidade autônoma para o Brasil, ao mesmo tempo em

que seguia a reboque de teorias e práticas europeizadas de educação e

comportamento.

Nas Considerações Finais, chegamos a algumas sínteses que objetivam dar

um arcabouço mais organizado das várias possibilidades que o tema sugere, ainda

que no recorte do problema a delimitação se atenha propriamente aos aspectos

cívicos embutidos no projeto de educador e de vulgarizador da educação de Simões

Lopes Neto. Essas sínteses começam mapeando uma pergunta recorrente não só

na história do pensamento filosófico brasileiro, mas também nos debates acerca da

educação e de seu papel ideológico-cultural. Essa reflexão já se encontrava, em

certo sentido, no projeto lingüístico da literatura alencariana, tendo um ponto alto no

instinto de nacionalidade machadiano, até a inegável influência positivista, muitas

vezes expressa em termos de cientificismo ou anticlericalismo, o que é

compartilhado por autores como Francisco de Paula Pires, Luiz Carlos Massot e o

próprio Simões Lopes Neto13, fazendo com que essa tradição política chegue (e

ultrapasse) os dias de entusiasmo positivista do estudante Getúlio Vargas.

Na medida em que aprofundamos a análise da questão da identidade do

brasileiro, enveredamos também pela tensão entre região e nação. Entendemos,

13

Vide Uma trindade científica, série de cinco artigos publicados em janeiro de 1913, por Simões Lopes Neto sob o pseudônimo de João do Sul, no jornal A Opinião Pública, de Pelotas, em que discute as idéias de Darwin, Lamarck e Haeckel.

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pois, que minimizar esse conflito, especialmente intenso entre o Rio Grande do Sul e

o Brasil, isto é, entre o gaúcho e o brasileiro, cujos choques vão deste a política até

os falares, alcançam em Simões Lopes Neto formulações instigantes para questões

como o multiculturalismo, o pacto federativo, as diferenças regionais e os programas

escolares, ainda hoje discutidas no País. Verificamos aí um ponto a destacar. A

ideologia do culto à nacionalidade estava com raízes firmemente fincadas na

escritura historiográfica. Desse modo, o autor de Contos gauchescos (1912) levava

muito a sério seu ofício de historiador, tanto assim que consumiu mais de oito anos

de sua vida produzindo um texto didático, que o biógrafo Carlos Diniz chamou de o

verdadeiro Terra gaúcha (DINIZ, 2003, pp 124-137), o qual permanece inédito. Livro

de título homônimo apareceu publicado postumamente, em 1955, pela editora

Sulina. Seu objetivo com esses trabalhos era justamente inserir-se nas campanhas

de educação cívica, tarefa que já se impusera, especialmente em 1904-1906,

através de suas conferências.

De resto, deixamos mais dúvidas do que certezas, mais problemas do que

respostas, mais placas indicativas do que caminhos trilhados, entendendo que o

trabalho realizado aqui tem sua importância na medida em que atualizou no âmbito

acadêmico novas descobertas a respeito do Rapsodo Bárbaro. Muitas dessas

informações, embora já divulgadas em livros ou na imprensa ainda não tinham feito

sentir seu impacto com maior intensidade na produção científica mais recente a

respeito do autor, exceção feita aos trabalhos de Cláudia Antunes, cuja dissertação

de mestrado e tese de doutorado, datam, respectivamente, de 2001 e 2005.

A atualização biográfica, bem como os fragmentos dos textos do que ele

chamou de o verdadeiro Terra Gaúcha, que nos permitem vislumbrar concretamente

o material pedagógico elaborado pelo escritor, basicamente, foram colhidas na obra

de Carlos Diniz (2003). Anteriormente à publicação dessa biografia, ocorrera uma

nova onda de exumações de textos simonianos, começada com Reverbel, no início

da década de 1980, quando o biógrafo pioneiro do Velho Capitão trouxe a lume A

mandinga e a reportagem O Rio Grande a “Vol d’ Oiseau”. Essas descobertas foram

seguidas pelas pesquisas de Magalhães (1985), 14 e Chiappini, pesquisadora que

14

Em 1985, o historiador Mário Osório Magalhães equivocadamente atribuiu o conto “Olhos de remorso” a Simões Lopes Neto. A “descoberta” teve grande repercussão na imprensa e no meio

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encontrou fragmentos do conto Sinhá Jana 15. Nessa mesma saga, fato a destacar,

é a pesquisa de Monquelat (1991), o qual trouxe à tona o único conto urbano

completo conhecido de Simões Lopes Neto – Na lagoa... do Fragata, publicado no

“Radical”, em 1890, sob o pseudônimo de João Felpudo. Baseado nas pistas

elencadas por Monquelat a respeito das questões autorais, tanto do ponto de vista

estilístico quanto histórico, dei prosseguimento as minhas investigações,

conseguindo desentranhar três textos inéditos. Dois deles se encontravam no “A

Ventarola”, de Pelotas, no ano de 1887 – os textos Romance a Zola e Mote mostram

uma estréia literária em data anterior a até então conhecida, isto é, o ano de 1888,

no “A Pátria”, jornal de propriedade de seu tio Ismael Simões Lopes. 16 Além desses

textos, sob o pseudônimo de João Felpudo, descobri outro, também no “A

Ventarola”, de 1888, em que aparece transcrito o triolé, cujo primeiro verso começa

com “O pobre Tupaveraba”, sob o pseudônimo de João Rimuito. 17 Além disso,

quando já praticamente havia ultimado a presente dissertação foi descoberta a

Artinha de leitura (1907), 18 manuscrito inédito que mais ainda confirma o intento

consciente do autor relativamente a um projeto cívico-pedagógico.

Todos esses elementos, não só vieram somar novas informações, como

possibilitar desfazer o equívoco de outras, tais como a negativa de Simões Lopes

Neto ser maçom, colocada na biografia de Diniz ((2003, p. 244). Apesar de João

Simões Lopes Neto ter negado sua ligação com a Maçonaria no artigo Pró-Garibaldi

(A Opinião Pública, Pelotas, 28-12-1912), contudo, estava filiado a essa sociedade

desde 1890. Nesse artigo, em tom exaltado, busca o desagravo à ofensiva

referência à memória de Garibaldi e à maçonaria.

acadêmico, fazendo com que a pesquisadora Lígia Chiappini incluísse essa obra em sua edição crítica (1988). Para mais detalhes vide ARRIADA, Eduardo; BORGES, Luís. Laçando o boi barroso: o caso da atribuição do conto “Olhos de remorso” a João Simões Lopes Neto. Revista da Academia Sul-Brasileira de Letras. Vol. 2, n. 5, pp. 100-118, maio de 2003. 15

O fragmento do conto está publicado na edição crítica de Lígia Chiappini (1988, pp. 285-287). Os textos, sob o pseudônimo de Serafim Bemol foram originalmente publicados nos números 3 e 4 do jornal pelotense “O Pensamento”, respectivamente em 15 e 27 de julho de 1901. 16

Para mais detalhes vide meu artigo na Revista da Academia Pelotense de Letras, vol. 3, n. 2, pp. 54-71, 2007. Por problemas de editoração da referida revista o trabalho saiu muito truncado, mas os textos simonianos colocados em apêndice estão perfeitamente inteligíveis. 17

Para mais detalhes vide ZANELLA, Bianca. Mais uma novidade sobre o Capitão. Diário Popular, Pelotas, 21-01-2008. 18

Para mais detalhes vide GUIMARÃES, Álvaro. GUIMARÃES, Álvaro. Tesouro perdido de Simões Lopes Neto encontrado. Zero Hora, Porto Alegre, 06-11-2008; e PESQUISA resgata cartilha Artilha (sic) de Leitura, de João Simões Lopes Neto. Diário da Manhã, 18-11-2008.

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Os documentos pertencentes aos arquivos da Maçonaria recentemente

divulgados vieram a dar prova definitiva (Delta, n. 53, p. 9, jan./fev. 2008), a que

diversos indícios pareciam levar. Essa revelação por si só importante no quadro

biográfico do autor, torna-se ainda mais relevante para demarcarmos as alianças

políticas e os debates filosófico-ideológicos em que Simões Lopes Neto estava

inserido, principalmente na medida em que a Maçonaria, naquele período, estava

em franca disputa pelo domínio da cena educacional.

A permanência de diversas lacunas biográficas e bibliográficas, que

demandam ainda muitas pesquisas, dificulta no atual estágio dos estudos

simonianos uma avaliação mais precisa do alcance de sua atividade de educador,

uma vez que não possuímos registro mais detalhado de sua atuação docente, nem

mesmo o depoimento de um seu aluno. Além disso, há o caso de manuscritos

inacessíveis pertencentes a acervos particulares, tais como dos textos didáticos do

verdadeiro Terra Gaúcha, os quais tiveram alguns fragmentos divulgados na obra de

Carlos Diniz (2003).

Procuramos realizar o necessário mapeamento das fontes extraliterárias,

tanto textuais quanto biográficas, do grande escritor pelotense, o que, segundo

nosso juízo, permitirá novos olhares, novas hermenêuticas, não somente desse saco

de espantos 19, que é João Simões Lopes Neto, mas dos primeiros raios da aurora

modernista compreendida não apenas como movimento cultural, mas também como

um fenômeno – a Modernização - de que falava Monteiro Lobato (1882-1948) 20, o

qual englobava toda uma reorganização econômica, social e política, que o fim da 1ª

Guerra Mundial traria ao Brasil.

19

Expressão de Walter Spalding usada no artigo “Os cartões postais de Simões Lopes Neto” (Correio do Povo, Porto Alegre, 06-04-1965), tomada de Machado de Assis, para referir-se a Simões Lopes Neto. 20

Para mais detalhes sobre a questão do Modernismo e Modernização vide CÉSAR, Guilhermino.

Monteiro Lobato e o Modernismo brasileiro. In ZILBERMAN, Regina (org.). Atualidade de Monteiro Lobato. Uma revisão crítica. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983, pp. 33-40; e BORGES, Luís. Pestana e Lobato pagaram o pato. Revista da Academia Sul-Brasileira de Letras. Vol. 1, n. 3, pp. 92-102, maio de 2002; e O grosseirão com sombrancelhas de urso e a pobre da Anitinha. Revista da Academia Sul-Brasileira de Letras. Vol. 1, n. 4, pp. 64-89, novembro de 2002.

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CAPÍTULO 1

ELEMENTOS HISTÓRICOS QUE PROPICIARAM A INTENSIFICAÇÃO CÍVICO-

NACIONALISTA NO FINAL DO IMPÉRIO E INÍCIO DA REPÚBLICA BRASILEIRA

1.1 – Bacharéis X “tarimbeiros”: entre o desprestígio e o ufanismo

1.1.1 - Os militares do Império antes da Guerra do Paraguai

Para que possamos criar elementos de análise para a questão do papel

político-ideológico e social dos militares e, dessa maneira, compreender certos

fenômenos, tais como os surtos cívico-nacionalistas, manifestos das mais variadas

formas, cabe compreender as Forças Armadas, no contexto do Brasil, como grupo

específico e não somente como um agente a representar interesses externos à

corporação, como entendem teóricos como Santiago Dantas (1949), mais tarde,

seguido por Nelson Werneck Sodré (1965).

É bem verdade, porém, que a não profissionalização e o baixo grau de

especialização ainda rudimentar do exército brasileiro, fez com que o recrutamento

fosse um fator de grande importância, uma vez que reproduzia no seio das fileiras a

relação que se estabelecia entre a instituição militar e as classes sociais. Quase na

totalidade dos casos, os oficiais eram recrutados entre a nobreza e os praças nas

classes subalternas. Essa relação assume uma grande importância quando se trata

de entender a identificação política da oficialidade com o Governo e as classes

dominantes. Por outro lado, esse era um fator que diminuía a coesão da corporação,

pois separava comandantes e liderados.

Parece que podemos identificar as raízes longínquas do conflito “bacharéis” X

“tarimbeiros” no cadetismo21, criado em 1757, como estratégia para favorecer a

21

Para mais detalhes sobre esse assunto vide CUNHA, Rui Vieira da. Estudo da nobreza brasileira. Vol. I. Cadetes. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1966.

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entrada de nobres no serviço militar, do que advinham vantagens financeiras e

status, através da concessão de privilégios negados a outros grupos sociais. O

sistema do cadetismo foi extinto em Portugal em 1832, por discriminatório e

anticonstitucional, porém, sobreviveu no Brasil até o fim do Império, apesar de todos

os vícios e problemas.22

Disposições legais de 1809 e 1820 ampliaram a faculdade de alistamento,

considerando cadetes os filhos de oficiais de linha e das milícias, bem como das

ordenanças e de agraciados com ordens honoríficas. Em 1853, os filhos de oficiais

da Guarda Nacional foram também admitidos sob o título nobre de cadetes. Essas

vantagens eram estendidas à “nobreza civil”, tais como os bacharéis em Direito e

Medicina e aos filhos de pessoas abastadas, tais como grandes comerciantes e

senhores de terras.23

Ao longo do Império, contudo, o caráter do recrutamento militar se foi

modificando, cada vez mais no sentido endógeno, excluindo a chamada nobreza

civil. Tanto assim foi que Lago (1942) apresenta um quadro em que demonstra a

relação existente entre a profissão do pai e o título concedido ao filho (cadete ou

soldado particular) entre 1860 e 1889, concluindo que mais da metade dos generais

desse período ainda conservava título de nobreza consangüínea, mostrando

também que a totalidade desses títulos era concedida a filhos de militares e que os

da nobreza civil (soldados particulares) tinham quase desaparecido. A instituição

militar fechava-se aos poucos sobre si mesma, criando verdadeiras dinastias

militares como as dos Lima e Silva no Império e dos Fonseca na República. Não

tendo outra alternativa a nobreza civil passou à Guarda Nacional. Esse grupo

fortalecido pelo seu poderio econômico ascendeu politicamente, fazendo com que os

títulos da nobreza militar perdessem todo o seu valor original. No fim do Império, por

exemplo, o título de cadete podia ser obtido através de nomeação político do pai de

um pretendente à Guarda nacional. Conforme podemos verificar nas memórias do

marechal Leitão de Carvalho (1961, p. 13). Exceto no Rio Grande do Sul, o

recrutamento de oficiais ao longo do Império e da República adentro passou a ser

22

Para mais detalhes sobre esse assunto vide CIDADE, Francisco de Paula. Cadetes e alunos militares através dos tempos. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1961. 23

Idem.

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feito predominantemente dentro da própria organização militar ou de grupos

oriundos de classes mais baixas, embora não existam dados precisos sobre a

composição social do Exército durante a Primeira República. Nesse sentido, a

Guarda Nacional no Rio Grande do Sul era uma instituição de grande prestígio. De

um lado, representava os brios militares dos feitos guerreiros que marcaram a

defesa do território nacional e, de outro, era um fator de status político, uma vez que

os estancieiros e seus filhos doutores ao ocuparem posições de oficialato, conferiam

dignidade às tradições de “bacharéis fardados”, em contraposição aos “tarimbeiros”

ou oficiais de carreira. A Guerra do Paraguai mudará profundamente esse quadro.

1.1.2 – A Guerra do Paraguai e as transformações na Instituição Militar

A Guerra do Paraguai foi um conflito de enormes proporções, afetando de

maneira diferenciada o conjunto da sociedade brasileira, exigindo recursos e uma

ação centralizada do Governo. A Guerra foi um acontecimento marcante que

assinalou decisivamente a passagem do escravismo ao capitalismo, e o início de um

tênue republicanismo, que inaugurou a década de 1870 do século XIX.

Nesse período o país passou por transformações profundas em sua estrutura

social e econômica. De um lado, houve a decadência da forma de produção

escravista e a expansão das lavouras de café no Oeste Paulista, que necessitavam

de mão-de-obra, tendo de ir buscá-la nos trabalhadores livres, vindos da imigração

européia. De outro, a prosperidade econômica dos fazendeiros fez com que se

tivesse de melhorar a infra-estrutura de serviços, permitiu o surgimento de

manufaturas, estaleiros, instalação de ferrovias, o processo de urbanização e o

crescimento das camadas médias.

Do ponto de vista político, essas transformações permitiram o fortalecimento

dos latifundiários, sobretudos dos grandes proprietários cafeicultores do Oeste

Paulista, dentro da classe dominante, vindo a redundar na abolição da escravatura e

na proclamação da República. Os militares desempenharam um importante papel

nesses acontecimentos. Nesse sentido, a Guerra do Paraguai constitui-se num dos

fatores decisivos na nova conformação do Exército e estas, por sua vez, criaram as

condições para um “espírito de corporação”, com seus brios e valores, inclusive com

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a idéia do soldado-cidadão, o que a ele conferia não só o direito, mas o dever, de

interferir na vida política do País. Tudo isso levou a um conflito crescente entre os

militares e a classe dominante escravista.

A importância da Guerra do Paraguai para uma nova conformação da

instituição militar, sobretudo, do Exército foi muito grande, sob diversos aspectos.

Em primeiro lugar, o significado da Guerra para as diferentes classes sociais e os

interesses postos em jogo. Depois, as transformações econômicas do período, que

modificavam o perfil da sociedade brasileira e, ainda, motivados pela mobilização

militar, cujo apelo se dirigia a toda população, a Monarquia se viu obrigada a permitir

que o Exército e setores sociais emergentes, fruto do próprio processo da Guerra,

pudessem expressar seus anseios e aspirações.

Nos conflitos anteriores em que o Império brasileiro se envolvera no Prata, a

maior participação era da Guarda Nacional. Nessa região meridional do país,

geralmente, os interesses governamentais coincidiam com os dos estancieiros da

província do Rio Grande, em relação aos países limítrofes. Vale lembrar que, devido

às questões relativas às disputas com o gado e as lutas de fronteira, a força tanto

política quanto militar provinha, principalmente, das características da organização

militar local.

Nelson Werneck Sodré afirma que:

Até a guerra com o Paraguai, [...] foi essa força irregular, cuja estrutura assentou na ordem social sulina, que assegurou a nossa presença no cenário do Prata. Sobre ela repousou, assim, até a segunda metade do século XIX, a segurança do Império, as tropas regulares, enviadas da metrópole ou do Rio de Janeiro, apenas reforçaram a tropilha gaúcha e foram por esta, em regra, mal vistas, inclusive o mercenário. (1968, pp. 86-87)

O contingente do Exército propriamente dito sempre foi de pequena monta ou

estava estruturado a partir da Guarda Nacional. Eventualmente o Governo poderia

suprir meios, armas ou homens, não disponíveis em escala regional. Mesmo nesses

casos, oficiais superiores do Exército não podiam exercer funções de comando nas

operações. (Idem, ibidem)

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A Guarda Nacional chamada nessas ocasiões refletia a própria estrutura do

poder político-militar do Império: o poder econômico, político e institucional dos

senhores de escravos e grandes latifundiários. Ela foi um corpo militar organizado

durante o Período Regencial em agosto de 1831 para servir de "sentinela da

Constituição”. No ato de sua criação foram extintos os antigos corpos de milícias, as

ordenanças e as guardas municipais.

Os membros da Guarda Nacional eram recrutados entre os cidadãos com

renda anual superior a 200 mil réis, nas grandes cidades, e 100 mil réis nas demais

regiões. Era vista por seus idealizadores como o instrumento apto para a garantia da

segurança e da ordem, vale dizer, para a manutenção do “espaço da liberdade entre

os limites da tirania e da anarquia”. Tinha como finalidade defender a Constituição, a

liberdade, a independência e a integridade do Império, mantendo a obediência às

leis, conservando a ordem e a tranqüilidade pública.

A Guarda Nacional tinha forte base municipal e altíssimo grau de politização.

A sua organização se baseava nas elites políticas locais, pois eram elas que

formavam ou dirigiam o Corpo de Guardas e, ao mesmo tempo, demonstrava a falta

de confiança do governo na fidelidade do Exército. A posição das tropas,

participando das lutas políticas e posicionando-se pela volta de D. Pedro I, no caso

da oficialidade, reivindicando por melhores soldos e mostrando-se contra as

discriminações racial e social, no caso das patentes mais baixas, tornavam-na

suspeita para garantir a ordem no País.

Com o objetivo de realizar um enxugamento no Exército, a Regência tomou

uma série de medidas: em maio de 1831 o número de efetivos das tropas já havia

baixado de 30 mil para 14.342 homens e, em 30 de agosto, reduziu-se ainda mais

caindo para 10 mil homens. As demissões e licenças de militares são facilitadas,

enquanto cessa, por tempo indeterminado, o recrutamento militar. Em relatório de

seu Ministério, datado de maio de 1832, o líder da Regência Diogo Antônio Feijó faz

um balanço da situação militar no Rio de Janeiro, então capital imperial: A tropa de

primeira linha da capital desapareceu: as guarnições de terra, as rondas policiais, o

auxílio à justiça são prestados pelos guardas nacionais (Apud BAPTISTA, s/d, p.10).

Essa situação faz crescer a insatisfação nos meios militares.

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Em fins de setembro de 1831 houve um tumulto no Teatro São Pedro

provocado por dois oficiais, cuja prisão o major Miguel de Frias, que teve importante

atuação no movimento da abdicação de D. Pedro I, tentou evitar. Por ordem do juiz

de paz, a Guarda Nacional evacuou o teatro e prendeu os oficiais envolvidos e o

major. No dia 6 de outubro ocorreu nova revolta. O Corpo de Artilharia da Marinha,

aquartelado na Ilha das Cobras, liderado pelo ex-deputado Cipriano Barata, preso

por crime de imprensa, rebelou-se, tomando conta da ilha e prendendo oficiais que

não aderiram ao movimento. Com o apoio da Guarda Nacional, Feijó repeliu

violentamente os extremistas. Para consolidar a vitória solicitou à Câmara dos

Deputados a concessão de poderes extraordinários, e a supressão das garantias

individuais. Seus pedidos foram rejeitados, inclusive pelos moderados que temiam

nova concentração de poder no Executivo.

Em 1842 a Revolta dos Liberais foi fortemente apoiada pelas Guardas

Nacionais das vilas que aderiram ao movimento, tanto em São Paulo como em

Minas Gerais. Nesta ocasião, como em várias outras, a Guarda Nacional teve de

entrar em confronto direto com o Exército, como ocorreu, por exemplo, na célebre

Batalha de Santa Luzia, em Minas Gerais, entre o Barão de Caxias e Teófilo Ottoni.

No início da Guerra do Paraguai a Guarda Nacional consistia em 212

comandantes superiores e um grande quadro de oficiais. Contava com 595.454

praças, distribuídos na artilharia, cavalaria, infantaria e infantaria da reserva. Em

contraposição o exército regular, nessa época, a Guarda nacional contava com

1.550 oficiais e 16.000 praças. Foi, entretanto, perdendo espaço com o advento da

República (resultado de um golpe de Estado perpetrado pelo Exército), tendo sido

sua última aparição pública no dia 7 de setembro de 1922, quando do desfile pela

independência do Brasil na cidade do Rio de Janeiro, marcando aquele, também, o

ano de sua oficial desmobilização.

Abordagem original é a do sociólogo colombiano Fernando Uricoechea (1976)

que compara o Império do Brasil à lendária figura do Minotauro: sendo metade

humano, metade bovino. Em sua metáfora, o historiador Uricoechea, descreve o

Minotauro, que vivia no interior do Labirinto, e devorava os que nele se perdiam. O

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labirinto do Império Brasileiro é a grande contradição entre a extensão do poder

privado e a centralização administrativa e burocrática do poder central. Para uns, a

extensão do poder privado é prova da natureza quase feudal da sociedade

tradicional brasileira, um Brasil cuja realidade residia nos senhores do campo, seus

escravos e agregados, e em relação aos quais a política na Corte não passava de

uma tênue e enganosa superestrutura. Para outros, o que sobressai é a realidade

dos centros urbanos, criados pelo empreendimento mercantilista do colonialismo

português; a burocracia inchada pela transmigração da corte portuguesa no início do

século XIX, e pela organização do exército a partir das guerras do Prata e do

Paraguai. O Minotauro, que detém a chave deste labirinto, é, para Fernando

Uricoechea, a Guarda Nacional. Metade pública e metade privada, a Guarda

Nacional teria sido o vínculo privilegiado entre o poder público e o poder local, entre

as formas mais tradicionais e as formas mais modernas e racionais de condução da

coisa pública, entre sociedades e Estado. Ela funcionava através de serviços

gratuitos prestados pelos "homens livres" e os dotados de recursos, os honoratiores,

ao Estado - serviços a que o autor, na tradição weberiana, denomina de "liturgias".

Seria de se esperar que, ao operar através dos "notáveis" locais, o Império Brasileiro

tivesse contribuído para a consolidação de seu poder como estrato social

privilegiado. Paradoxalmente, o que mostra Uricoechea é que, de fato, o caráter

híbrido da Guarda Nacional terminou por impedir que se consolidasse no Brasil uma

ordem senhorial, baseada em uma nobreza estratificada segundo os princípios da

honra e do privilégio, e apoiada no monopólio da posse da terra. Ao contrário, a

cooptação a que esta elite local era submetida através da Guarda Nacional terminou

por enfraquecê-la como grupo social dotado de força própria, e prepará-la para,

pouco a pouco, para ir aceitando a gradual emergência de um Estado racional e

próprio da sociedade burguesa e capitalista que paulatinamente vinha se firmando

no Brasil. Como diz o autor em sua conclusão, a experiência da Guarda Nacional foi

[...] crucial, dialeticamente, ao contribuir para delinear uma ordem pública que transcendeu o particularismo de uma sociedade patriarcal da qual ela própria emergiu. Com efeito, o treinamento diário do homem agrário nas práticas e rotinas, cuja legitimidade tinha que ser procurada além do ambiente doméstico, representou uma escola para a socialização do homem brasileiro em formas alternativas de legitimação de poder e de autoridade. Quando visto nesta perspectiva, o aparente paradoxo por trás do fato do senhor de terras brasileiro e os homens livres pobres serem, inadvertidamente, atores principais no desenvolvimento de uma autoridade racional legal desaparece para aparecer, dialeticamente, como uma

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esplêndida síntese de sua participação política durante o século XIX. (URICOECHEA, 1976, p. 305)

A estratégia de pesquisa adotada por Fernando Uricoechea parte da

premissa, derivada da tradição sociológica weberiana, segundo a qual os valores

sociais são princípios eletivos da ação social, e que o exame da simples prática da

história é sociologicamente insuficiente (Idem, p. 18)

São os valores, como fenômeno de natureza coletiva e social, que dariam

sentido à ação dos indivíduos na sociedade, e a mudança dos valores através do

tempo seria a melhor maneira de apreender as transformações mais profundas

pelas quais o sistema social vai passando. Para examinar isto, Uricoechea fez uma

extensa e original pesquisa nos arquivos da Guarda Nacional em todo o país,

tratando de examinar a correspondência oficial entre comandantes patrimoniais e

autoridades burocráticas, ou seja, entre as duas personalidades do Minotauro.

Sua interpretação é extremamente rica, tanto do ponto de vista das

estratégias ideológicas, quanto do papel das organizações militares dentro das

políticas do Estado Brasileiro, conferindo à Guarda Nacional uma importância na

vida brasileira que até então havia passado despercebida pelos historiadores. O

sociólogo colombiano procura mostrar a mudança dos valores, no espaço e no

tempo, Deste modo, por exemplo, a virtude militar é uma característica importante na

sociedade gaúcha, onde a atividade guerreira é uma realidade cotidiana, enquanto

que as características de riqueza e origem social são mais relevantes em outras

partes do país.

Conforme podemos verificar o emprego da Guarda Nacional nesses conflitos

regionais ou fronteiriços, de menor proporção, até a Guerra do Paraguai tinha forte

base de controle político local. Deve-se lembrar que a Guarda Nacional estava

subordinada ao Ministério da Justiça (e não ao Ministério da Guerra), devendo

obedecer legalmente ao Governo Central, no entanto, os senhores de escravos e

grandes proprietários rurais servindo-se da necessidade do Estado da vigilância das

fronteiras e da ordem pública, os corpos ficavam subordinados às autoridades

locais.

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Dentro desse contexto, o exército de cunho profissional era apenas um

complemento ao aparato militar da Guarda Nacional. Devido à condição econômica

ser um fator fundamental no enquadramento hierárquico, seus quadros de oficiais

superiores eram recrutados entre os membros da classe dominante.

A Guerra do Paraguai colocou em xeque, por sua magnitude, devidos a opor

Estados Nacionais e não apenas estratos regionais, mesmo colocados em zonas

entrefronteiriças, toda a estrutura de organização militar institucional do Império,

exigindo urgentemente a organização de um exército regular eficiente decrescendo

propriamente militar da Guarda Nacional.

1.1.3 – Simões Lopes Neto e a Guarda Nacional

O civismo de Simões Lopes Neto, de cunho eminentemente patriótico-

desenvolvimentista, era diferente, sob certo ponto de vista, do de Bilac, contaminado

mais incisivamente de militarismo. 24 O civismo em Simões, cujo ímpeto nacionalista

vinha desde suas conferências, de 1904-1906, passando pela Coleção [de cartões

postais] Brasiliana, entre outras manifestações, tinha um caráter didático-

pedagógico, que encontrou lugar também em sua obra de ficção, posto que a

preservação das raízes culturais gaúchas estavam dentro de um programa de

doutrinação patriótica, fazendo inclusive que Simões Lopes Neto fosse cognominado

como “o evangelizador do civismo rio-grandense”.

Embora se diga – e é verdade – que Simões muito se orgulhava de sua

condição de militar, sua atividade propriamente de caserna foi toda burocrática,

retórica e programática. Incorporado à “Briosa”, nunca chegou a entrar em combate,

nem mesmo nas escaramuças durante a Revolução Federalista de 1893, em

24

Para mais detalhes sobre esse assunto vide: MOREIRA,1999, pp. 51-81. Trataram do assunto civismo em Simões Lopes Neto: REVERBEL, 1981, pp. 199-203; LEON, Zênia de. João Simões Lopes Neto e a Centenária. Diário Popular, Pelotas, 07-07-1988; da mesma autora, O civismo na vida e na obra de João Simões Lopes Neto. In BAVARESCO, Agemir; BORGES, Luís (orgs). Travessia do pampa. Anais do Simpósio Simoniano Lendas do Sul. Pelotas: EDUCAT, 2003, pp. 263-286; BENTO, Cláudio Moreira; GIORGIS, Luiz Ernani Caminha. A educação cívica e o espírito militar na visão do capitão da Guarda Nacional João Simões Lopes Neto (1865-1916). O Gaúcho. Órgão de divulgação das atividades do Instituto de história e tradições do Rio Grande do Sul. Academia de história militar terrestre do Brasil. Delegacia gen. Rinaldo Pereira da Câmara n. 19, mai. 2003. Para mais detalhes sobre a polêmica que Bilac manteve em função de sua cruzada cívica vide: MAGALHÃES JÚNIOR, 1974, pp. 290-426.

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localidades próximas, tais como Canguçu e São Lourenço.

Mais tarde, apesar de seu respeito às instituições militares, logo em sua

estréia no jornalismo, em 1888, no A pátria, de propriedade de seu tio Ismael, o

jovem e impetuoso Simões terá, nas Balas de estalo, um olhar irônico e crítico em

relação à Guarda Nacional:

Havia fardas, fardinhas e fardões, Homens gordos, magros e barbados, Sem barba, de bigodes enroscados, Havia fardas, fardinhas e fardões:

GUERREIROS, bonachões, apacatados,

Luzidios, mimosos, espadagões, Havia fardas, fardinhas e fardões,

Homens gordos e magros e barbados.

Espadagões e penachos, Luvas, esporas, talins:

Todos cheios de quindins, Espadagões e penachos,

De inveja piores que chins: Deixando-nos cabisbaixos: Espadagões e penachos, Luvas, esporas e talins!

Dou um dente, quebro um braço,

Quebro os óculos, torço o pé, Escorrego e caio até,

Dou um dente, quebro um braço Por sua vez a BRIOSA como é:

Seguindo da glória um traço! Dou um dente, quebro um braço,

Quebro os óculos, torço o pé. (A Pátria, Pelotas, 11-09-1888)

A crítica simoniana, algo irônica, tinha razão de ser. Murilo de

Carvalho, um estudioso da história militar brasileira, lembra, em artigo na História

geral da civilização brasileira, que os oficiais de formação positivista, muito distantes

dos problemas de caserna, eram, na verdade, bacharéis fardados, competindo com

os bacharéis sem farda.

A Guarda Nacional foi criada através de lei em 1831, assegurando-se aí o

direito de cada proprietário de terras ter a quantidade de homens armados que o seu

dinheiro pudesse permitir. Os oficiais da Guarda Nacional nada mais eram então que

latifundiários guindados a uma patente militar, porém, a lei estabelecia que eles

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eram “iguais em nobreza aos de tropa de linha”.

Um dos principais problemas do Exército era a sua desprofisionalização e seu

conseqüente despreparo, o que ficou nítido na Revolução Federalista (1893-1895),

na humilhante “vitória” de Canudos (1896-1897) e, posteriormente, na Revolta dos

Marinheiros (1910). Estes são exemplos em que um grande número de homens com

armamento superior conseguiu vencer revoltosos com muita dificuldade e

empregando uma violência desmedida, objetivando desmobilizar qualquer reação ao

poder, uma vez que cada vez mais seus resultados eram vexatórios, jogando as

forças armadas no descrédito e numa profunda crise de imagem, ao contrário do

que o patriotismo oficial tentava mostrar.

Um dos fatos que prejudicou a imagem dos militares frente à opinião pública

foi o atentado contra Prudente de Morais (1841-1902), o primeiro presidente civil da

república, que governou o País, embora eleito em 1894, efetivamente apenas no

período de 1897-1898. Repercutiu muito negativamente o atentado, com o

agravante de que o episódio redundou no assassinato do ministro da guerra, o

general Carlos Machado Bittencourt, com uma punhalada fatal desferida por

Marcelino Bispo de Melo.

A corrupção, os desmandos, o desprestígio e a desprofissionalização dos

militares exigia providências. As reformas começaram entre 1902 e 1906, com

medidas tomadas por Hermes da Fonseca, então ministro da guerra, herdeiro

político de Deodoro. É, contudo, o barão do Rio Branco quem vai adotar políticas

mais definidas e incisivas.

Partem nos anos de 1906, 1908 e 1910 turmas de jovens cadetes brasileiros

para estagiar junto ao exército alemão, ali conhecendo as idéias de Clausewitz e

Möltke. Esses doutrinadores entendiam que a política fixa objetivos e cabe ao

exército, até mesmo através da guerra, cumpri-los. Para tanto, o chefe militar deve

mobilizar o país, a fim de criar condições econômicas e institucionais que garantam

o sucesso das metas a serem atingidas. A nação inteira militariza-se, o cidadão é o

patriota, aquele que persegue o objetivo do fortalecimento da nacionalidade.

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Os oficiais que voltaram da Alemanha, em 1904, foram chamados de “jovens

turcos” por causa de uma renovação das idéias e práticas militares acontecidas na

Turquia, patrocinadas pelo Exército. Nesse mesmo ano, a Escola Militar de Praia

Vermelha havia sido fechada pela participação de seus alunos numa revolta popular.

Mais tarde, esses jovens fundam uma revista de divulgação sob o título de A defesa

nacional, onde procuram incutir nos velhos militares com espadagões e penachos,

luvas, esporas e talins, conforme deplorava Simões Lopes Neto em suas Balas de

estalo, as novas idéias de organização do exército e mobilização nacional.

Com o fechamento da antiga Escola da Praia Vermelha, necessitava-se de

uma nova agência de formação militar. Em 1911 funda-se a Escola de Realengo. A

nova escola precisa de professores, cargo para o qual são aproveitados os “jovens

turcos”. Não se limitavam ao ensino na escola militar. Em 1915, apoiaram

ostensivamente a campanha de Olavo Bilac em prol do serviço militar obrigatório,

cujo principal significado para o poeta era a expansão da alfabetização, mas que

para eles visava estabelecer o efetivo controle pelo próprio Exército dos meios de

recrutamento de seus quadros.

Os chamados “jovens turcos” alteraram não apenas a organização

administrativa do exército, mas também aspectos de cunho ideológico, tais como a

noção de “defesa nacional”, abandonando a concepção de defesa apenas como

proteção das fronteiras e integridade do território, incluindo nesse conceito a idéia de

mobilização de recursos humanos e criação do “espírito de brasilidade”. As

modificações efetuadas por esses jovens oficiais em sua cruzada contra os

“bacharéis fardados” termina na extinção da Guarda Nacional, em 1918, pelo

presidente Wenceslau Brás.

Podemos observar que Simões, embora orgulhoso de sua condição de

capitão da Guarda Nacional, em suas conferências de 1904-1906, apóia as

transformações ocorridas no âmbito do poder militar e está impregnado das idéias

renovadoras dos “jovens turcos”, das quais Bilac e Coelho Neto foram divulgadores.

As ligações entre a Pelotas de Simões Lopes Neto e Bilac não ficam apenas

no plano teórico, vale lembrar que a campanha cívica do “príncipe dos poetas” teve

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em grande parte financiamento da rica herdeira pelotense Alice Porciúncula , casada

com Miguel Calmon e descendente de um oficial de Milícias, que foi coronel do

exército pacificador da Banda Oriental, em 1812.

Nosso escritor ingressou na Guarda Nacional em 1894, quando recrudescia a

luta fratricida que ensangüentava o Rio Grande do Sul, nomeado no posto de

tenente, incorporado no 3ª Batalhão de Infantaria, sediado em Pelotas, sendo esta

corporação auxiliar das tropas oficiais. Simões serviu sob o comando do tenente-

coronel Anacleto da Costa Barcellos. O instrutor da tropa era o tenente Miguel da

Cunha Martins, pertencente ao 28ª Batalhão de Infantaria, o qual designou Simões

para a função de secretário da unidade.

O tenente Cunha Martins ficou tragicamente lembrado na história militar do

Rio Grande do Sul, eis que integrou o batalhão que tendo sido feito prisioneiro pelas

tropas federalistas no combate do Rio Negro, em 28-11-1893, ofereceu rendição, em

função da promessa de que lhes seria garantida a vida, firmada em documento, mas

que teve a Cavalaria Civil degolada, incluindo seu comandante, o coronel Maneco

Pedroso.

Segundo o biógrafo Sica Diniz, explicando a posição do escritor diante da

Revolução Federalista de 1893, Simões Lopes Neto não aderiu aos revoltosos,

partidários de Gaspar da Silveira Martins (1834-1901), que lutavam para derrubar

Júlio de Castilhos (1860-1903), mantendo-se fiel aos ideais do Partido Republicano.

E conclui: A fidelidade aos antigos ideais republicanos, como parece ter sido o caso

de Simões Lopes, não significava estar em apoio às perseguições políticas que

porejavam no Rio Grande, a partir da tomada do poder pelos castilhistas, em junho

de 1892. (DINIZ, 2003, p. 82)

Simões envolvido com outras atividades – negócios, teatro e jornalismo – não

estava interessado na Revolução Federalista. Deste modo, encaminha seu pedido

de licença ao coronel Urbano Garcia, comandante da Guarda Nacional em Pelotas.

Julgando-se incompetente para conceder a licença, o coronel solicitou que Simões

encaminhasse seu pedido diretamente ao ministro da guerra.

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Ele se decide a resolver o caso pessoalmente no Rio de Janeiro, passando na

capital todo o mês de novembro de 1894. No início desse mês a Guarda Nacional,

secção de Pelotas, já havia recebido notificação da licença do tenente João Simões

Lopes Neto. Sua licença para tratamento de interesse particular será renovada por

mais seis meses, não sendo necessárias novas prorrogações, uma vez que com o

término do conflito, o 3ª Batalhão foi desmobilizado.

Depois do final da guerra civil os oficiais permaneceram com seus postos e

muitos dentre eles obtiveram promoções, como foi o caso do tenente Simões Lopes

Neto, que através do decreto de 26-06-1901, receberia o posto de capitão, do qual

tanto se orgulharia pela vida inteira, chegando a pronunciar a frase proverbial que

lhe serviria de verdadeiro lema: Eu tive campos, vendí-os; freqüentei uma academia,

não me formei, mas, sem terras e sem diploma, continuo a ser... um capitão da

Guarda Nacional (LOPES NETO, 1906, p. 10).

O mesmo Simões, conforme relatamos, em 1888, ridicularizará a Guarda

Nacional, e retomará a coluna Balas de estalo, em 1895, desta vez no Diário

Popular, de Pelotas, jornal que era porta-voz do Partido Republicano. A terceira fase

das Balas será assinada sob o pseudônimo de Serafim Bemol. Ali, Simões,

partidário das posições políticas oficiais, conforme demonstrou não aderindo aos

revoltosos federalistas, homenageia o marechal Floriano Peixoto (1839-1895),

falecido em 20 de junho daquele ano:

Sempre grande o Marechal até nos braços da morte

que o conduz a outro norte: sempre grande o marechal! Como quando o peito forte

opôs as vagas do mal, sempre grande o Marechal:

até nos braços da morte!

É através do folclore, como estratégia didático-pedagógica, que Simões

Lopes Neto estabelece o diálogo com a Geração de 1870. É preciso considerar que

a elite, política e intelectual, do Império tinha em vista o projeto de construção de um

Estado politicamente estável e, nesse sentido, as pretensões de maior autonomia

provincial expressas pelos liberais tornavam-se muito perigosas. O perigo advinha

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do risco de que a descentralização resultasse na desintegração da unidade

territorial, já que algumas províncias tendiam a separar-se do Império. Havia, porém,

outra questão bastante significativa e esta era a da ordem, que se via ameaçada

pelas pretensões autonomistas, bem como pelo fato de que essa instabilidade

política e administrativa poderia afetar o escravagismo, base econômica sobre a

qual repousava o Estado Imperial. O risco de que as lutas políticas pudessem

chegar às senzalas levando à sublevação, tornou o projeto da Maioridade de D.

Pedro II uma questão fundamental para a continuidade do Império.

O momento conhecido por "Maioridade", que resultou na coroação de D.

Pedro II, viabilizou a pacificação dos ânimos, permitindo a consolidação da

monarquia e do princípio centralizador. A abolição do tráfico de escravos, em 1850,

introduziu um dispositivo novo no quotidiano da sociedade, posto que os capitais

aplicados no tráfico, então libertos, puderam ser transferidos para outras atividades

produtivas. Assim, os investimentos foram, em grande parte, dirigidos para a cidade

do Rio de Janeiro, sede político-administrativa.

Durante a década de 50 do século XIX, o império conheceu um intenso

processo de urbanização marcado pela implementação dos serviços de água, gás,

telégrafo, bondes, saneamento e estradas de ferro. Alie-se a isto o crescimento

qualitativo e quantitativo do sector comercial, impulsionado pelos capitais antes

aplicados ao tráfico de escravos, bem como o acréscimo proporcionado pelas

lucrativas plantações de café do vale do Paraíba. Tais transformações, de natureza

material, não estariam limitadas à área urbana, já que a euforia do progresso

alcançaria também o mundo rural. A mecanização chegava às áreas cafeeira e

açucareira.

A consolidação do Império representou a pacificação dos ânimos e a

imposição de um determinado princípio, o da centralização. Com isto, a questão de

um governo que possibilitasse maior autonomia às províncias ficou adormecida.

Temia-se que a agitação política pudesse resultar em revolta social que

extrapolasse as divergências entre os proprietários, atingindo os escravos e

inviabilizando, desta forma, a manutenção da ordem escravista.

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O cenário, profundamente conturbado, complicara-se, sensivelmente, com o

deflagrar da guerra do Paraguai. Isto porque o exército ocupava, até então, uma

posição secundária na hierarquia da sociedade imperial (atentemos para o fato de

que o exército não constituiu o braço armado do Estado, já que o controle da

violência estava nas mãos de uma instituição dirigida pelo ministério da Justiça, mas

controlada por particulares: a Guarda Nacional). As vitórias conseguidas nas

sucessivas batalhas viabilizaram manifestações de insatisfação do grupo. Face à

vitória completa na guerra, a alta oficialidade recebera como prêmio lugares

destacados na burocracia estatal, acompanhados, alguns, de títulos nobiliárquicos.

Porém, nos estratos intermediários, assim como nas gerações mais novas, a guerra

reforçou inquietações.

A Escola Militar do Rio de Janeiro erigiu-se em espaço privilegiado, onde

encontraram ressonância as insatisfações da jovem oficialidade. Os ensinamentos

de Benjamin Constant Botelho de Magalhães exprimiam o descontentamento da

corporação ante a ordem monárquica que lhes reservara um lugar tão secundário.

Inspirados por determinadas leituras do positivismo de A. Comte consideravam o

Império como um reino onde sobressaía a anarquia. Adotaram o positivismo, pois

este, ao expressar a crença em valores como ordem, família e trabalho,

aproximavam-se do ideário da corporação. Junto a esta conjuntura, surgiram

diversos movimentos conhecidos pelo nome genérico de Questão Militar.

A guerra do Paraguai contribuíra também para reativar a situação de

incômodo frente à escravatura, pois quando da vitória definitiva, o conde D'Eu

exigira a libertação dos escravos no Paraguai, enquanto que, no Império, a

escravatura mantinha-se. Além disso, os escravos alistados no exército receberiam,

ao retornar, a liberdade, o que gerava uma situação ambígua e difícil de sustentar.

Por fim, os gastos com a guerra contribuíram para reacender insatisfações antigas e

que estavam apenas adormecidas. Os desejos em prol da autonomia local iam

sendo, a pouco e pouco, retomados.

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Figura 1 – Negros na Guerra do Paraguai

Assim, em 1868, diante da queda do ministério liberal, por intervenção do

poder moderador, o partido tomou a si o encargo de propor medidas mais radicais.

O Clube da Reforma, fundado em 1869, publicou um manifesto onde acentuava a

sua posição de que o "rei reina e não governa". O movimento de radicalização não

cessou aí e do seio do movimento liberal surgia, em 3 de Dezembro de 1870, na

cidade do Rio de Janeiro, o efêmero Partido Liberal Radical. Este advogava a

bandeira da república fazendo publicar no jornal A República, o Manifesto

Republicano que, inspirado no estabelecimento da terceira república em França,

exigia mudanças na forma de governo, para o que se adotava ainda, o modelo da

república dos Estados Unidos da América.

1.2. - A herança político-filosófica da Geração de 1870

1.2.1 Simões Lopes Neto e a Geração de 1870

Ao traçar em linhas bem amplas aspectos da produção e da vida de Simões

Lopes Neto, eu não poderia, contudo, deixar passarem em branco algumas revisões

de Aldyr Garcia Schlee a respeito do perfil biográfico do autor e as implicações disso

na hermenêutica de sua obra, mais especificamente em seu projeto como escritor.

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No essencial enunciado perquiritivo de Schlee: O que pretendia João Simões Lopes

Neto com a literatura? (2006, vol. I, p. 275)

Para convocar elementos a fim de traçar linhas para responder, de resto, a

essa irrespondível questão, Schlee elaborou quatro negativas: Simões não foi

capitão de indústria, não quis ser folclorista e historiador, nem foi "jornalista a vida

inteira". Essas conclusões contrariam aquelas depreendidas das duas principais

biografias do escritor 25.

Salienta o editor crítico de 2006 que há uma distância considerável entre o

querer e o saber e o fazer do escritor; e, pior, há uma distância ainda maior entre o

saber e o fazer do escritor e o saber e o querer do leitor (SCHLEE, 2006, vol. I, p.

276). Incontestável verdade.

Schlee considera que dizer que Simões Lopes Neto tinha propriamente um

projeto literário é contrariar todos os dados biográficos disponíveis do autor (Idem,

vol. I, p.276). Continua essa linha de raciocínio, ao afirmar que JSLN 26 pretendeu

fazer folclore ou história, que foi folclorista ou historiador, é ficar no terreno das

intenções que terão animado eventualmente o escritor (Idem).

Essas considerações, a princípio, apenas relacionadas a um certo perfil

traçado pelos biógrafos e pela crítica, implicam numa profunda modificação nas

hipóteses de trabalho que se tem elaborado a respeito do projeto literário do autor

de Contos gauchescos (1912).

É verdade que não se pode ter certeza daquilo que realmente o autor

pretendia com a literatura (SCHLEE, idem, vol. I, p. 277), no entanto, é possível

fazer inferências bastante plausíveis, a partir dos seus textos e declarações.

Acredito que seus projetos não eram, em princípio, exatamente literários, mas de

25

As biografias mais completas do escritor são, respectivamente, de Carlos Reverbel e Carlos Francisco Sica Diniz, intituladas Um capitão da Guarda Nacional. Vida e obra de J. Simões Lopes Neto. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1981, e João Simões Lopes Neto, uma biografia. Porto Alegre: AGE, 2003. 26

Com esta sigla que, evidentemente identifica o nome do autor, Schlee evita as constantes repetições.

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caráter educacional e cívico que, em função de certas circunstâncias da vida

pessoal do autor, se foram transportando para a literatura.

Devemos tentar esclarecer em que bases certas teses ou hipóteses de

trabalho foram construídas (como a afirmação de Lígia Chiappini de que Simões,

antes de ter um projeto literário, teria outro, de cunho didático-pedagógico), a

despeito da documentação ser mínima e pouco confiável (SCHLEE, idem, Vol. I, p.

277).

Acredito que podemos invocar vários textos simonianos para tentar descobrir

(embora sem certezas ou garantias) qual projeto tinha o escritor e até que ponto

conseguiu realizá-lo. Um exemplo claro, que a mim parece convincente, é a citada

hipótese chiappiniana, verificada com o aparecimento do Terra gaúcha, não,

evidentemente, aquela obra póstuma editada pela Sulina em 1955, mas outra,

inédita, os cadernos que constituíam uma obra didática para crianças, inspirado no

modelo do Cuore, de Amicis.27

A primeira negativa apontada por Schlee é a de que Simões não foi "capitão

de indústria". Não reproduziremos aqui toda a argumentação 28, basta que a

resumamos assim:

[...] não foi "capitão de indústria". Teria sido despachante, incorporador, corretor, representante comercial, gerente de companhia de seguros, comerciante, notário, publicista[....] (SCHLEE, 2006, p. 282). .......................................................................................................................... Foi só em 1901 que passou a ter uma atividade industrial, criando a firma João Simões & Cia., destinada a fabricar fumos e cigarros com a "Marca Diabo". [...] (SCHLEE, 2006, pp 283-284). .......................................................................................................................... A fábrica de cigarros "Diabo" foi muito divulgada; mas seu funcionamento terá sido precário e sua produção não terá sido relevante - mesmo para os padrões da época - como se pode comprovar na informação de que o depósito do estabelecimento localizava-se na própria casa do fabricante. Assim a falsa idéia de que JSLN terá sido um "capitão de indústria" nem mesmo pode ser justificada por sua atividade como fabricante de fumos e cigarros. Talvez decorra de sua conhecida participação em outros empreendimentos, nos quais agiu como incorporador, buscando a captação do capital necessário para a criação e instalação de dois estabelecimentos industriais em Pelotas: a "Sociedade Anônima Vidraria Pelotense" [...], cuja

27

Para mais detalhes sobre o verdadeiro Terra gaúcha vide DINIZ, 2003, pp. 124-158. 28

Para ver a argumentação sobre a negativa de ter sido Simões Lopes Neto "capitão de indústria": SCHLEE, vol. I, 2006, pp. 282-287.

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inauguração se daria em 93 e cuja liquidação ocorreria em 95 - com venda em leilão; [...] e [...] a "Companhia de Destilação Pelotense" -, que, entretanto, desfez-se em maio de 1895, depois de operar sempre deficitariamente (SCHLEE, 2006, vol. I, pp. 284-285).

Finaliza a revisão do perfil biográfico do escritor, expondo aquilo que dele

pensavam seus contemporâneos: Era tudo sem ser nada, fora tudo sem ser nada.

Era apenas o que nunca fora: capitão da Guarda Nacional (SCHLEE, 2006, vol. I,

pp. 287).

A respeito de ter ou não sido Simões Lopes Neto folclorista 29, cabem

algumas considerações. Afirma Aldyr Garcia Schlee:

Não se diga que o autor pelotense imaginava-se antes de tudo um folclorista, depois de ter publicado [...] Contos gauchescos como uma obra de “folclore regional”. E não se tente com isso justificar o tratamento desproporcional dado por ele às diferentes partes que compõem as Lendas do Sul, unidas como um “populário”. (SCHLEE, 2006, vol. I, p

. 18)

De fato, não creio que Simões Lopes Neto, "antes de tudo", se pretendesse

um folclorista, seja lá como isso possa ser definido (um cultor de certas práticas

tradicionais, um coletor ou catalogador das mesmas, um investigador das tradições

populares ou mesmo um escritor cuja literatura recolhe assuntos ou expressões de

antanho). Isso me parece pouco relevante. No entanto, o que conta é que ele

realmente fez obra de cunho folclórico. Mais interessante, porque permite

buscarmos nexos explicativos sobre a tessitura de sua obra, é especularmos,

baseados naquilo que ele nos deixou, o que ele pretendia com sua relação com o

folclore, do qual sua participação na União Gaúcha e os livros publicados em 1910 e

1913 são testemunhos.

Dos três livros publicados pelo autor, pelo menos dois possuem uma estrita

relação com a tradição oral de cunho folclórico, quais sejam o Cancioneiro guasca

(1910) e as Lendas do Sul (1913), levando em conta que os textos que compõe esta

última obra já estavam, com a exceção da Salamanca do Jarau, no Cancioneiro.

Quanto ao terceiro, Contos gauchescos (1912) possui o subtítulo de "folclore

29

Para mais alguns detalhes sobre a questão do folclore em Simões Lopes Neto vide BORGES, 2006, pp. 12-18.

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regional". É importante buscar o rastro que nos pode indicar a fonte em que Simões

Lopes Neto bebeu para constituí-los.

Para chamarmos, latu sensu, nosso escritor de "folclorista", não é tão

importante saber se foi buscar, conforme as hipóteses levantadas por Schlee (2006,

vol. I, p. 277), no Cancionero bonairrense (1884), de Ventura Lynch ou nos

Apólogos y Cantos patrióticos (1894), de Calisto el Nato, os eventuais modelos do

Cancioneiro guasca. O importante para falarmos num "Simões folclorista" é a

constatação que ele fez efetivamente o papel de verdadeiro folclorista -

independentemente do que com isso pretendesse. Realizou obra de recolha, até

mesmo procedendo a estilização literária da tradição oral. Entendemos, assim, como

em geral entendem a maioria dos estudiosos, que ele intentava com isso - o próprio

Capitão afirmou ter buscado algum cabedal em Sílvio Romero 30 - ligar-se a

posições da reação pós-romântica, iniciada com Geração de 1870.

A geração pós-romântica exibiu uma notável disposição para o combate e a

polêmica, interessada em operar uma atualização histórica da sociedade brasileira,

em sentido pronunciadamente ocidentalizante, o que significou uma notável adesão

aos signos e aos paradigmas da modernidade, que estava identificada com a

Segunda Revolução Industrial, dando destaque à Ciência, admitida como o principal

nexo explicativo da realidade. A geração que pretendia realizar essa ação

modernizadora no país dialogou e deixou-se impactar pela vida intelectual européia

daqueles anos, marcada por um momento decididamente antiespiritualista e

antimetafísico, que se expressava, de maneira genérica, numa atitude anticlerical.

Nesse período, as influências, sobretudo do positivismo de Comte (1798-

1857), do evolucionismo de Spencer (1820-1903) e do monismo de Haeckel (1834-

1919) acionaram um avassalador determinismo, caracterizado pela adoção dos

princípios constitutivos das ciências naturais, do saber empírico e da mentalidade

experimental.

30

Certamente, este não é o único índice de que Simões Lopes Neto se abeberou na obra e no pensamento de Romero, como bem se pode observar, naquilo que se denominou “Teoria do Brasil”, do autor de História da literatura brasileira (1888). A proximidade de Romero com o Sul é até de natureza editorial, pois sua História da Filosofia no Brasil (1878) foi publicada em Porto Alegre e seu livro Últimos arpejos (1883), em Pelotas.

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58

Romero publicou o livro Estudos sobre a poesia popular do Brasil, em 1888,

composto por artigos aparecidos anteriormente na Revista Brasileira. Ali, o sociólogo

e crítico procura explicar de que maneira o romantismo se relacionava com o folclore

e as tradições populares. Comenta então um texto de José de Alencar intitulado

Nosso cancioneiro, publicado em 1874, em que o autor de Iracema (1867), teria

explorado a poesia sertaneja e as transformações da língua portuguesa no Brasil.

Mesmo reconhecendo as observações de Alencar sobre a língua, censurou o

romancista - e com ele todo o romantismo brasileiro - pela forma como compreendia

as tradições populares. Acusava-o de falsear a autenticidade da cultura popular com

seus entusiasmos retóricos (ROMERO, 1977).

O projeto romeriano para lidar com as fontes folclóricas era diferente:

pretendia um amplo levantamento etnográfico e científico das tradições populares,

devendo implicar num mapeamento nacional e objetivo das mesmas.

A tradição popular não deveria servir apenas para a vaga inspiração literária

dos romancistas e dos poetas, mas, uma vez catalogada em registros objetivos e

rigorosos, deveria estar apta a freqüentar o repertório culto de cientistas, sociólogos

e historiadores. Dessa maneira, após o minucioso exame dos eruditos, as tradições

populares, como autêntico depositário das experiências anônimas do povo, deveria

fornecer também subsídios à literatura culta nas escolas e academias.

Figura 2 – Sílvio Romero – (1851 – 1914)

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Sílvio Romero tinha na concepção de seu acendrado nacionalismo um

sentimento que visava descobrir as entranhas da alma brasileira, seus vícios e

virtudes. Pode-se ver nesse tipo de pensamento um forte resquício romântico, que

ele cobrirá com uma acentuada camada cientificista.

A investigação de folclorista levada a cabo por Romero constituía-se também

numa militância. Seu primeiro texto dedicado às questões folclóricas foi publicado no

jornal carioca O repórter, em 27-05-1879, em que o jovem escritor reclamava da

ausência de uma coleção de cantos e contos anônimos do povo brasileiro

(MENDONÇA, 1963, p. 73). A fim de fechar ou, pelo menos, diminuir essa lacuna, o

próprio Romero credenciou-se para a tarefa, pois, em 1883, publicaria pela Nova

Livraria Internacional de Lisboa seu Cantos populares do Brasil. Mais tarde, em

1885, veio a lume outra coletânea folclórica: Contos populares do Brasil, impresso

pela mesma casa editorial.

Cláudia Neiva de Matos (1994, p. 38) declara que Cantos populares do Brasil

e Contos populares do Brasil foram as primeiras coletâneas sistemáticas sobre a

cultura popular do país, embora já houvesse artigos sobre o tema. Sílvio Romero,

ainda que sua fase mais pronunciada de folclorista tivesse passado, publicou, entre

1910 e 1912, na Revista da Academia Brasileira de Letras (n. 2, 4 e 7), o artigo

Novas contribuições para o estudo do folclore brasileiro 31. Mesmo nesse seu último

texto verifica-se, talvez pela precariedade de comunicações e pelas dificuldades de

locomoção num país de tão vastas dimensões, que as pesquisas romerianas

concentraram-se nos lugares em que viveu – Sergipe, Pernambuco e Rio de

Janeiro. O Rio Grande do Sul pouco aparece.

Simões Lopes Neto conhecia os livros de Sílvio Romero e neles se abeberou,

sendo possível demonstrar o profundo parentesco ideológico e metodológico que

fundamenta o nacionalismo, o civismo e a pesquisa folclórica de ambos os

escritores.

31

Esse texto foi incluído na 3ª edição da História da literatura brasileira (1943), organizada por Nelson Romero, mas foi retirado da mais recente edição, publicada pela editora Imago, em 2001.

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Para mim, Sílvio Romero e Simões Lopes Neto estiveram essencialmente

preocupados em responder cada um a sua maneira e guardadas as devidas

proporções, às questões relativas à construção de uma identidade nacional

autêntica e autônoma 32, além de alertarem sobre o perigo de uma cisão do território

nacional, logo nos anos iniciais da República.

Sílvio Romero, com sua intenção de fornecer uma “cara para o Brasil”, tendia

a evitar caracterizações acentuadamente regionais. Entretanto, assinalou diferentes

tipos brasileiros, tais como os “habitantes das praias e grandes rios, os habitantes

das matas, os dos sertões e os das cidades”. Classificou-os de matutos, tabaréus,

mandiocas, pequiras e sertanejos, além dos habitantes urbanos. Mas e os gaúchos

ou habitantes do pampa? Simões bem pode ter pretendido, especialmente com o

Cancioneiro guasca (que já continha quase todas as lendas), Lendas do Sul e

mesmo com os Contos gauchescos, todos livros publicados no mesmo período em

que aparecem os artigos de Romero na Revista da Academia Brasileira de Letras,

entre 1910 e 1912, responder a essa lacuna romeriana.

Pode-se observar também que o projeto do Cancioneiro é bastante anterior à

publicação do livro, pois a publicação da estilização da lenda do Negrinho do

Pastoreio é de 1906. Nesse tempo, Simões já estava envolvido com o projeto do

verdadeiro Terra Gaúcha e já havia realizado suas conferências cívicas (1904-1906).

O que nos leva a lançar a hipótese de que seu empenho de folclorista tivesse uma

vasta e variada relação com o conjunto de sua obra. Não que ele quisesse fazer

pesquisa folclórica, em si mesma, porém, a ela era levado por toda uma concepção

sociológico-ideológica que assim o exigia. Essa marca era-lhe tão forte, seu

nacionalismo falava tão alto, que mesmo sua melhor literatura, pelo menos,

intencionalmente, exposta em Contos gauchescos, se deixou contaminar. É o que

depreendemos do trecho que ele aproveitou de uma das conferências (1906) para a

abertura do livro citado. Além disso, não era novidade na época o aproveitamento

literário de temas folclóricos, como é o caso de Xavier Marques (1861-1942), com o

romance Jana e Joel (1889) e o conto a Noiva do golfinho. Alguns dos livros do

32

Para mais detalhes sobre as relações entre Simões Lopes Neto e Sílvio Romero vide BORGES, Luís. A ideologia nacional-cientificista de Simões Lopes Neto e Sílvio Romero. Pelotas, 2003. Inédito. Acervo FILIN/UCPEL.

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escritor baiano foram reeditados, em 1902, em Porto Alegre. Francisco Xavier

Marques 33 foi o primeiro grande escritor baiano de repercussão nacional, chegando

a ocupar a vaga de Inglês de Souza na Academia Brasileira de Letras. Guardou

sempre grande força telúrica em seus textos, podendo ser considerado um

regionalista, no sentido elevado do termo.

A fonte ideológica básica da pesquisa folclórica declarada por Simões Lopes

Neto é Sílvio Romero, no entanto, é possível que o Capitão tenha tido contato com

as recolhas folclóricas de Koseritz. Deste modo, podemos concordar com Schlee: o

autor de Cancioneiro guasca (1910) não era, nem pretendeu ser, um folclorista na

acepção rasa do termo, senão em função de outros projetos embutidos nesta

atividade, quais sejam o de divulgador de princípios nacionalistas e educacionais,

tão ao gosto da época.

Schlee (2006, vol. I, pp. 276-281) nos fala que Simões Lopes Neto não

pretendeu ser folclorista, nem historiador, não ultrapassando a compilação do

Cancioneiro guasca e os equívocos de Terra gaúcha. O que seriam, afinal, os tais

equívocos? Certamente, eram algo mais que o apontado por Spalding em sua

Introdução (1955, p. 10), em que afirmou estar o autor "numa verdadeira nebulosa",

[...] "e por isso, os erros que cometeu, as interpretações infiéis e as conclusões

pouco exatas". Os debates sobre esses "equívocos" vão aparecer mais claramente

no ano seguinte, 1956, na guerra que se tornou a discussão sobre a questão do

monumento a Sepé Tiaraju.

Quem efetivamente atribui a condição de historiador ao escritor pelotense foi

Walter Spalding:

Obra de fôlego deveria ser essa “Terra gaúcha” (sic) se não se tivesse perdido o segundo volume do original onde o autor trataria do Rio Grande do Sul desde o advento de Silva Pais à época em que escreveu a obra, ou seja, até mais ou menos 1910. Entretanto, o que ficou, esta primeira parte e a nota preliminar, demonstram a capacidade imensa de J. Simões Lopes Neto e lhe dão direito de figurar entre nossos historiadores do período "pré-histórico", isto é, do Rio Grande terra de ninguém, às Missões Jesuíticas e primeiras incursões portuguesas

33

Para alguns detalhes sobre Francisco Xavier Ferreira Marques vide GOMES, Eugênio. Xavier Marques e o folclore. Prata da casa. Ensaios de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Editora A Noite, s/d, pp. 121-124.

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e ao advento do brigadeiro José da Silva Pais criando o primeiro grande núcleo português na entrada da barra diabólica (sic) - o povoado, hoje cidade do Rio Grande, em volta do Forte Jesus-Maria-José (SPALDING, 1955, p. 10).

O editor crítico refere-se também a uma histórico-antropológica abordagem de

Antônio Hohlfeldt 34, que vê nas três principais lendas de Simões uma síntese da

história gaúcha, entendendo que isso ainda está no terreno das intenções que terão

animado eventualmente o escritor (SCHLEE, 2006, vol. I, p. 276).

Schlee (2006, vol I, p. 276) considera que dizer que Simões Lopes Neto tinha

propriamente um projeto literário é contrariar todos os dados biográficos disponíveis

do autor. Continua essa linha de raciocínio, ao afirmar que João Simões Lopes Neto

pretendeu fazer folclore ou história, que foi folclorista ou historiador, é ficar no

terreno das intenções que terão animado eventualmente o escritor (Idem).

Ora, os argumentos que servem para discutir se Simões queria ou não ser

folclorista, também servem para o problema dele ter pretendido ou não, "antes de

tudo", ser historiador. A especulação a esse respeito pouco nos logra em

conhecimento. O fato é que ele escreveu e publicou obras de cunho histórico. O que

são A cidade de Pelotas (1905), a Revista do 1° Centenário de Pelotas (1911-1912),

A forca em Pelotas (1917) ou o já citado Terra gaúcha (1955)?

Se Simões Lopes Neto pretendia ser ou não historiador isso pouco importa. O

que temos são os trabalhos históricos que escreveu. Um dado relevante para

considerarmos o autor, em alguma medida, um historiador é a repercussão de sua

obra histórica. Seus estudos serviram de fonte, além dos artigos de Alberto Coelho

da Cunha, para o livro clássico de Fernando Osório, A cidade de Pelotas (1922).

(SCHLEE, 2006., vol. I, p. 276.)

34

Schlee (2006., vol. I, nota 1, p. 276) se refere a uma interpretação feita por Hohlfeldt em sua pequena biografia publicada na Coleção Esses Gaúchos, em 1985, o autor "chega a admitir que as três lendas trabalhadas por JSLN traçam uma síntese histórica e antropológica do Rio Grande do Sul, representando a primeira, A M'boitatá, a pré-história provincial e a gênese indígena do território, A Salamanca do Jarau, a gênese histórica e a sua influência ibérica, marcada de arabismo (...) dividido entre espanhóis e portugueses, centralizando-se na cultura missioneira (...); e, por fim, com O Negrinho do Pastoreio, a gênese da estância portuguesa, com suas charqueadas e o escravismo. Obs: Hohlfeldt, em 1979, havia publicado no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, o ensaio A história gaúcha em três lendas de João Simões Lopes Neto, posteriormente, esse texto foi republicado in HOHLFELDT, Antônio. Literatura e vida social. Porto Alegre: UFRGS, 1996, pp. 35-50.

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Segundo Carlos Reverbel (1981, p. 231), o escritor esperava muito de Terra

gaúcha, considerando-a talvez a maior de suas obras. Estando a redigir o verdadeiro

Terra gaúcha 35, em 1904, fez uma conferência na Biblioteca Pública Pelotense, sua

Educação cívica, cujo subtítulo foi Terra gaúcha - apresentação de um livro. A

imprensa elogiou a conferência e o livro que ela apresentava:

Um bom livro - Terra gaúcha. João Simões Lopes Neto, o talentoso cultor das letras que Pelotas conhece e admira, está preparando um belo livro de educação cívica, que há de ser, com certeza, uma obra primorosa. A 'Terra Gaúcha' é o sugestivo título da obra, vazada nos moldes do 'Coração' de Amicis, e destinada a prestar a nossa pátria, especialmente do Rio Grande do Sul, pela glorificação patriótica dos seus grandes homens e dos seus nobres feitos, os mesmos serviços do popular livrinho italiano. Desde já cumprimentamos o talentoso escritor pelo sucesso do seu trabalho. (Correio Mercantil, Pelotas, 06-05-1904).

Sobre a questão do folclore em Simões Lopes Neto e em como ela se

constituiu num importante elemento hermenêutico, podemos comentar alguns

pontos abordados por Sílvio Júlio (1895-1984). 36 Ele, que morou no Rio Grande do

Sul enquanto Simões Lopes Neto ainda vivia, sem notícia de tê-lo encontrado

pessoalmente, (em 1915 e, com certeza até 1918, Sílvio Júlio estava entre os

gaúchos), considerou sua obra mais de dialetologista ou folclorista 37, ao retratar as

lendas - embora, ao reportar-se aos contos, destaque sua imaginação e vivacidade -

do que verdadeiro ficcionista, ao estilizar literariamente a tradição oral. Sobre esse

aspecto afirma Arendt:

A ficção simoniana é entendida pela crítica como um arquivo em que se encontra depositada a história sul-riograndense, desde os seus primórdios até o começo do século XX, sendo esse o motivo pelo qual o escritor não obteve o reconhecimento literário dos seus livros na época da publicação. O próprio trabalho de recolhimento do material folclórico assume, assim, um ar de pesquisa historiográfica (2004, p.93).

35

Não se trata do livro homônimo publicado postumamente, em 1955, pela Sulina, mas um livro didático para crianças, que permanece inédito. Para maiores detalhes a respeito desta última obra vide DINIZ, 2003, pp. 124-137. 36

Mais detalhes sobre Sílvio Júlio podem ser encontrados em MEDEIROS, Carlos Túlio. Prólogo sobre um certo Dr. Sílvio Júlio. Diário da Manhã, Pelotas, 29-05-2006; e BORGES, Luís. Quem foi Sílvio Júlio? Diário da Manhã, Pelotas, 17-07-2006. 37

JÚLIO, Sílvio. Estudos gauchescos de literatura e folclore. Natal: Clube Internacional de Folclore, 1953, p. 148: "Se sabia Simões Lopes Neto em demasia quaisquer minúcias da prosódia, da semântica, do léxico, do folclore dos gaúchos, por que nos não apresentou tanto material num estudo especializado? Meter tais farripas, fagulhas, e cacos - nem sempre atraentes - numa página de imaginação, que precisa de fluência, é prejudicial e pedante."

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Na verdade, a recepção simoniana padeceu desse mal desde os primeiros

textos críticos, tais como os de Coelho da Costa (1912) e Antônio de Mariz (1913),

até os atuais, como o de Everton Pereira da Silva (1998), uma vez que estes

entendem o realismo dos contos e a recolha da tradição popular como um trabalho

meramente documentalista, tratando de considerar a escritura simoniana como um

repositório fiel da história rio-grandense (BORGES, 2006, p.14).

Essa visão que reduz o literato Simões Lopes Neto ao folclorista, ou ao

escritor naturalista, quase sociólogo, prejudica o entendimento do escritor

propriamente dito. Dessa maneira, o estudo mais acurado das lendas possibilita o

alargamento da compreensão do lugar ocupado pelo elemento de cunho folclórico

e/ou histórico na literatura simoniana, eliminando a falsa dicotomia entre o Simões

Lopes Neto artista e o Simões Lopes Neto folclorista/historiador.

Para o autor de Contos gauchescos (1912), o material recolhido na tradição

oral é matéria-prima para sua arte. Arte, porém, que, dentro do ideário da "Ilustração

tupiniquim" e do "positivismo moreno", deve atender a uma função social: a

educação popular. (Idem, 2006, pp.15-16).

Numa época em que educação/instrução são quase sinônimos e tinham por

modelos expressivos a prosa e a poesia parnasiana (sem falar na oratória

bacharelesca), com sua inerente verborragia e rebuscamento, e no qual a crítica

literária e até os debates jurídico-políticos - vide debate entre Rui Barbosa e

Carneiro Ribeiro - praticamente se restringia a querelas gramaticais e filológicas, a

literatura de Simões Lopes Neto faz um profundo corte na metodologia e no

pensamento que embasava a ideologia republicana de "educar o povo". Ao invés de

forçar as pessoas a aprenderem o latim ou a macaquear o vocabulário de Rui

Barbosa ou Coelho Neto, Simões Lopes buscava compreender e preservar a alma

popular, e, a partir desse processo, com seus contos/parábolas, desenvolver o

sentimento telúrico, o qual proveria a sede de conhecer a história e desenvolver a

pátria. (Idem, 2006, p.16).

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1.2.2. - A Cruz, o Compasso, a Foice & Martelo

Um aspecto obscuro da acidentada biografia de João Simões Lopes Neto é

sua ligação com a Maçonaria. Este ponto não é um mero detalhe para elucidar um

aspecto ainda nebuloso da vida do escritor pelotense, mas é fundamental para nos

ajudar a compreender melhor suas posições tanto políticas, quanto filosófico-

religiosas.

Alguns índices levavam a uma conclusão afirmativa de suas ligações com a

Maçonaria. Entre esses indícios está o fato de que o escritor integrou a diretoria do

Ginásio Pelotense, instituição de ensino fundada pelos pedreiros-livres peloteses,

visando oferecer uma alternativa à educação católica.

Figura 3 – Telegrama do Grão-Mestre da Maçonaria James Franco a João Simões Lopes Neto

Eis a notícia veiculada pelo jornal “Diário Popular”, de Pelotas, na edição de

26-12-1902:

No templo da Loja Antunes Ribas realizou-se anteontem a convocada reunião dos Maçons de todos os orientes, a ela comparecendo um grande número dos mesmos. Presidiu a assembléia o sr. Dr. Francisco Simões Lopes, venerável daquela Loja. Ao sr. Dr. Ramos foi delegado o encargo de expor os fins da reunião – a criação de um colégio internato e externato e que, em tempo, satisfeitas as exigências da lei, será equiparado ao Ginásio Nacional. A direção do estabelecimento caberá ao conhecido educacionista sr. Carlos A. Lacantinie, que terá a coadjuvação dos drs. Francisco R. de Araújo, Simões Lopes e Carlos Ramos [...]

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Cada uma das Lojas maçônicas escolhia dois membros para servirem no

Ginásio, um como diretor e o outro no conselho fiscal. Amaral esclarece ainda

alguns pontos importantes. Explica que para que houvesse a equiparação ao

Ginásio Nacional (Pedro II) era necessário que o educandário tivesse um patrimônio

de 50 contos e prédio próprio. Para tanto, houve grande mobilização das forças

interessadas em concretizar esse objetivo, manifestando o poder de organização e

influência da Instituição Maçônica. (AMARAL, 1999, pp. 124-125)

Embora a participação do autor na diretoria do Ginásio Pelotense já possa ser

considerada prova cabal do prestígio de Simões Lopes Neto entre as hostes

maçônicas, não esclarece exatamente em que plano se davam suas ligações

institucionais com a Irmandade. Ao referirmo-nos à notícia acima citada, geralmente,

nos escapa atentar para que essa ação foi fruto de uma reunião realizada em 24-10-

1902, na qual se reuniram as congregações das Lojas maçônicas “Antônio Ribas”,

“Lealdade” e “Rio Branco”. Esta, pois, seria uma pista inicial para, vasculhando os

arquivos – caso isso fosse possível – dessas Lojas, verificar se entre seus membros

se encontrava João Simões Lopes Neto. Ocorreu que, os pesquisadores em não

encontrando os arquivos em Pelotas, logo deram-nos como perdidos.

Seguissem eles, porém, outra alternativa de investigação, ao observarem seu

círculo de relações poderiam verificar que desde os parentes a amigos próximos,

tais como Francisco Simões Lopes 38 e o jornalista português Antônio Gomes da

Silva – que dirigiu o “A Opinião Pública”, órgão em que o escritor trabalhou -,

ocuparam importantes posições dentro da Maçonaria ou pertenciam a sua área de

influência política. Ainda nesse sentido, devemos atentar para sua ligação com a

entidade tradicionalista União Gaúcha, em cuja ata de fundação é possível verificar

a presença majoritária de maçons.

O biógrafo Carlos Diniz (2003, p. 244) afirma: Simões Lopes Neto não era

maçom, mas estava na lista dos amigos da maçonaria e não fugiu ao compromisso

38

O jornal “A Opinião Pública”, de Pelotas, na edição de 11-08-1902 traz a seguinte notícia: “Realizou-se sessão especial da nova loja maçônica Antônio Ribas para eleição dos principais cargos, sendo eleito venerável o dr. Francisco Simões Lopes; tesoureiro Vieira Vilela.”

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de atuar, com Manuel Luiz Osório e Joaquim Augusto de Assumpção, no triunvirato

diretivo que passou a dirigir a escola.

Até o ano da publicação da obra de Diniz, e mesmo até 2008, não se havia

encontrado documento comprobatório da efetiva filiação do escritor à Maçonaria,

embora desde fins da década de 1980, colecionadores como Mogar Pagana Xavier

e Fausto Leitão Domingues estivessem determinados a investigar, até onde fosse

possível sua filiação, tendo em vista as dificuldades relativas à acessibilidade dos

arquivos de uma associação secreta. 39

Pesquisadores outros como seu biógrafo pioneiro, Carlos Reverbel (1981), e

mais recentemente Tambara (1995, pp. 366-367) e Amaral (1999, pp. 117), não

ousavam afirmar categoricamente sua participação oficial na Maçonaria, limitando-

se a assinalar os laços desta com outros segmentos sociais e ideológicos com os

quais o escritor possuía afinidade, o que, de certa forma, contribuiu para corroborar

as suspeitas de Pagana Xavier e Leitão Domingues.

Sua vida como membro da Maçonaria começa em 27 de fevereiro de 1890,

ingressando com o grau 3, ascendendo até o grau 17.

39

No velório da intelectual Ivone Leda do Amaral, um membro da Maçonaria revelou a Pagana Xavier que o documento relativo à filiação de João Simões Lopes Neto havia sido encontrado. Xavier solicitou então a esta pessoa que providenciasse os contatos necessários para a obtenção do documento. A partir daí mais nenhum contato foi feito, aparecendo somente em 2008 a divulgação relativa à efetiva participação do escritor na instituição maçônica.

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68

Figura 4 – Quadro de membros da Loja Rio Branco.

Esteve ligado à Loja “Rio Branco” (uma das que se esteve reunida para

decidir o triunvirato que dirigiria o Ginásio Pelotense), fundada em 1881.40

40

Para mais detalhes sobre a Maçonaria em Pelotas vide AMARAL, Giana, ob. cit., pp. 47-51.

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69

Figura 5 – Ata de ingresso de Simões Lopes Neto

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70

Figura 6 – Nome de Simões Lopes Neto na ata da reunião em

que foi aceito como membro

Pela vez primeira vê-se o documento comprobatório da filiação de João

Simões Lopes Neto. Até então se tinha apenas a divulgação da informação em

órgão maçônico oficial, a partir de registros encontrados no arquivo da Grande

Ordem do Rio Grande do Sul, sob os cuidados de Francisco Munhoz Silveira, aliás,

responsável pela descoberta. (Delta, n. 53, p. 9, janeiro / fevereiro de 2008)

Talvez o que dificultou a investigação dos pesquisadores, além da dificuldade

inerente à acessibilidade dos arquivos maçônicos, foi que, especificamente em

relação à Loja “Rio Branco”, em 1915, ela se uniu com as Lojas “Honra e

Humanidade” e “Lealdade”, formando a “Lojas Unidas”.

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Figura 7 – Carta manuscrita de Manoel Serafim Gomes de Freitas

Em 1923, houve a efetiva fusão dessas Lojas, sendo constituída a

“Fraternidade n. 3”. Meia década mais tarde, Lojas de São Gabriel e Bagé,

juntamente com a “Fraternidade n. 3”, de Pelotas, formaram a Grande Loja do Rio

Grande do Sul (AMARAL, 1999, pp. 50-51). Provavelmente foi aí, que os arquivos da

“Rio Branco” foram para Porto Alegre.

Para que houvesse a formação dessa Loja realizou-se uma reunião em 04-

06-1902 em que a Loja Rio Branco, a que pertencia Simões Lopes Neto, deliberou

se deveria obediência à Grande Oriente do Rio Grande do Sul ou à Suprema

Congregação do Brasil. Nessa reunião Filinto Moura propôs que a votação fosse

nominal e a descoberto, o que foi aprovado por unanimidade. Escolheu-se para

realizar a chamada e o escrutínio Orlando Duval e Rodrigo Rego Barreto. Não houve

debate ou defesa de propostas, uma vez que todos estavam esclarecidos a respeito

da questão. Pôs-se em votação. Havia em ambos os lados nomes de grande

prestígio e cada vota dado em voz alta parecia recrudescer os ânimos. Entre os

favoráveis à obediência ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul estavam, entre

outros, M. S. Gomes de Freitas, Frontino Vieira, Francisco Laquantinie, Batista

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Lhulier Filho, Rodrigues de Araújo e o próprio Simões Lopes Neto. No lado contrário,

homens não menos respeitáveis, entre os quais se encontravam Artur Hameister,

colega no jornalismo e grande amigo do escritor, Dr.José Brusque, Antônio Duarte

da Costa Vidal, Manoel da Silva Maia e Sayão Lobato. A primeira proposta saiu

vencedora com 92 votos contra 83 (Ata n. 1096, Sessão Extraordinária, Loja Rio

Branco).

Figura 8 – Cópia da Ata em que se decidiu se a Loja Rio Branco ficaria

obediente à Grande Loja do Oriente do Estado do Rio Grande do Sul.

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Figura 9 – Registro de falecimento de Simões Lopes Neto, para efeito de

matrícula geral, emitido no dia seguinte de sua morte

Na Maçonaria estavam políticos ligados, principalmente, ao Partido

Republicano, intelectuais e jornalistas que professavam o amálgama teórico-

filosófico que então abrigava, no Brasil, uma multiplicidade de correntes

(evolucionismo, monismo, darwinismo, spencerismo etc) sob a rubrica de

Positivismo. 41

Afirma Amaral (1999, pp. 42-43):

No Brasil a Maçonaria, como assinala Hortal, penetrou de mãos dadas com o espírito iluminista, que também inspirou o positivismo comteano, tão ao gosto dos intelectuais brasileiros da segunda metade do século XIX e início do XX. Hortal lembra ainda que, como testemunho desta afirmação, os nomes de inúmeras Lojas maçônicas brasileiras incluem as palavras luz, razão, liberdade, progresso, expressão que, como sabemos, são muito significativas à ideologia positivista,

41

Para mais detalhes vide PAIM, Antônio. História das idéias filosóficas no Brasil. 2ª.edição. São

Paulo: Grijalbo, 1974; COSTA, João Cruz. Contribuição à história das idéias filosóficas no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956; SALDANHA, Nelson. Romantismo, evolucionismo e sociologia – figuras do pensamento social do século XIX. Recife: Massagana, 1997.

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Do mesmo modo que as idéias iluministas, a Maçonaria foi trazida ao Brasil

através dos filhos dos grandes proprietários rurais que iam estudar na Europa,

notadamente na França. Eis o que relata Magalhães (1999, p. 45):

Com o tempo desocupado e o charque vendido a altos preços nos mercados, esses industrialistas vieram fixar residência na vila que se erguia próximo aos saladeiros. Em Pelotas construíram sobrados, muitos dos quais edificados por engenheiros europeus. Ajudaram economicamente o país, nas suas lutas internas e externas, recebendo em troca títulos nobiliárquicos, mandaram seus filhos estudar em São Paulo, Rio de Janeiro, na Europa.

Assinala Lins (1964, p. 13) que, desde 1855, no Brasil, há manifestações de

adesismo à filosofia positiva. Miguel Lemos (1854-1917) declara em sua Décima

sétima circular anual (Idem, p. 176), na qual o autor valorizando sua própria iniciativa

na propaganda positivista, que antes do movimento deflagrado no Rio de Janeiro, o

Rio Grande do Sul não conheceu adesões à filosofia de Augusto Comte (1798-

1857). Contrariando esse parecer, sabe-se de duas manifestações feitas através da

imprensa. A primeira, em artigo de Augusto Luís, colaborador da “Revista do

Parthenon Literário”, em 1874, e a segunda, em 1880, de Graciano Azambuja (1847-

1911), autor de umas Lições de Filosofia Elementar, série de artigos publicados na

Gazeta de Porto Alegre, em que combatia a escolástica. Azambuja foi também editor

do conhecido “Anuário do Rio Grande do Sul”, que circulou em Porto Alegre entre

1885 e 1914, sendo seu diretor até 1909 (CÉSAR, 1956, p. 342).

O processo que desembocou na Proclamação da República foi o resultado de

políticos ligados à Maçonaria. O Manifesto Republicano de 1870 foi redigido por

Saldanha Marinho, Grão-Mestre maçônico. O clube Republicano era chefiado pelo

maçom Quintino Bocaiúva. Além disso, eram também maçons vários membros do

Governo Provisório. (LINHARES, 1981, p. 200)

A ingerência política da Maçonaria adentrará as primeiras décadas do século

XX:

A Proclamação da República decorreu, pois, de uma revolta militar, da qual não teve o povo participação a não ser aceitar sem protesto o novo regime de governo. Esta aceitação foi resultado da propaganda republicana,

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sobretudo da ação da imprensa e da influência importante que teve a Maçonaria. (GOMES, 1975, p. 139)

Junto com a ideologia do Republicanismo e da Maçonaria, ambas associadas

ao positivismo, evolucionismo e outras tantas desse jaez, veio um forte

anticlericalismo. As relações, em especial, entre a Igreja e a Maçonaria foram

relativamente pacíficas até 1872, quando explodiu a chamada “Questão Religiosa”.

Esse conflito refletia o antagonismo entre os interesses católicos e os do governo

imperial, envolvendo o ultramontanismo e reação antimaçônica, desencadeada pelo

papa Pio IX. 42

O Rio Grande do Sul no começo do século XX se caracterizou por acirradas

disputas ideológicas entre diversos segmentos que buscavam hegemonizar o poder

político. Podemos identificar claramente dois grupos, a despeito das frações que

existiam neles: a Igreja Católica e seus opositores, sendo que entre estes últimos se

encontravam forças de vários matizes, especialmente liberais, anarquistas e maçons

43. Vale dizer que dentro do próprio campo católico havia divisões entre

ultramontanistas e regalistas, isto é, aqueles que se submetiam à hierarquia da

estrutura papal e os que ainda resistiam a ela, defendendo o antigo sistema do

padroado. 44

Nesse sentido, a preponderância das concepções regalistas, que grassavam

na sociedade local mesmo depois de uma década da Proclamação da República fez

com que a Igreja - sem raízes mais profundas na sociedade pelotense – tivesse

dificuldades em implementar a política ultramontana, instituída pelo Concílio

42

Para mais detalhes vide BARRETO, Célia de Barros. Ação das sociedades secretas. In História geral da civilização brasileira. Tomo II. 1 ° vol. São Paulo: Difel, 1976. 43

Para uma discussão mais ampla sobre o conflito entre católicos e maçons vide VÉSCIO, Eugênio. O crime do padre Sório: Maçonaria e a Igreja Católica no Rio Grande do Sul (1893-1928). Santa Maria: UFSM; Porto Alegre: UFRGS, 2001. 44

O padroado era um sistema de concessões políticas, que passou das ordens militares para os reis e imperadores. Foi aplicado à Igreja nas suas relações com o Estado. Deste modo, os eclesiásticos eram considerados funcionários estatais. A pretexto do padroado imperadores, governadores e até mesmo chefes locais se davam direitos sobre pessoas e bens da Igreja. (RUBERT, Arlindo. História da Igreja. Vol. 1. História da Igreja no Rio Grande do Sul. Época colonial (1626-1822) Porto Alegre: EDIPUCS, 1994, p. 182.)

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Vaticano I (1869-1870).45 O papa Pio IX exerceu seu pontificado de 1846 a 1878.

cabe destacar de seu magistério a proclamação do dogma da Imaculada Conceição,

em 1854, a Encíclica Quanta Cura com uma lista dos 80 principais erros da época,

conhecido como Silabus, que condenava o panteísmo, o racionalismo, o

indiferentismo religioso, o socialismo, o abandono do matrimônio religioso, o

naturalismo, a maçonaria etc.(GALLI-GRANDI, A. D., 1964, pp. 307-309).

A fim de expandir e consolidar o ultramontanismo no Rio Grande do Sul uma

das estratégias foi a de subdividir a diocese no estado. Essa medida, em 1910,

gerou uma verdadeira guinada no cenário ideológico. A movimentação interna da

Igreja estimulou a ação de outros agentes sociais, entre os quais os mais

importantes são o PRP, a Maçonaria e o Movimento Operário (TAMBARA, 1996, p.

86).

A ação da Igreja visava centralizar o poder, a partir do Sumo Pontífice

Romano, cuja infalibilidade havia sido decretada oficialmente em 1870, depois que a

companhia de Jesus foi restabelecida em 1814, e encarregada da defesa da fé.

1.2.3 - Anticlericalismo

A luta intestina na Igreja entre ultramontanistas e regalistas não deixou de ter

conseqüências no Rio Grande do Sul. Dessa situação é ilustrativo o grave conflito

ocorrido entre o bispo D. Sebastião Laranjeira e o pe. Guilherme Dias, que se

opunha fortemente ao ultramontanismo, especialmente ao jesuitismo. O padre foi

repreendido pelo bispo, e após certo período de querela abandonou o hábito

dedicando-se ao magistério (Tambara, 1996, p. 89). Essa polêmica, que partiu de

Pelotas, foi publicada em livro no Rio de Janeiro, sob o título de Echos de Roma, em

1873. 46

45

Para mais detalhes vide TAMBARA, Elomar. A formação ideológica do trabalhador na diocese de Pelotas/RS: a consolidação do ultramontanismo (1910-20). Cadernos de Educação, Fae/UFPEL, vol. 6, n. 83, p. 87, janeiro/ junho de 1996. 46

Para mais detalhes sobre essa polêmica TAMBARA, 1996, pp. 89-90.

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77

Figura 10 – Capa de Ecos de Roma (1873), do padre Guilherme Dias

Nas últimas décadas do Império ocorreu um evidente enfraquecimento do

poder do catolicismo no Brasil, havendo em contrapartida o fortalecimento de outros

agentes que se lhe opunham. Dessa maneira, observa-se no Rio Grande do Sul

uma circunstância singular no começo do século XX, no sentido da consolidação da

ideologia ultramontana.

De forma particular na diocese de Pelotas percebe-se a nítida preocupação

da hierarquia eclesiástica em reorientar os mecanismos de controle e coerção, não

somente de seus próprios quadros, evitando resistências como a do pe. Guilherme

Dias, mas também da própria sociedade. O homem escolhido para consolidar a

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política ultramontana na diocese de Pelotas foi o jovem bispo D. Francisco de

Campos Barreto (1877-1941) 47, de apenas 34 anos.

Ele era natural de Souzas, município de Campinas/ SP. Foi ordenado na

capital desse estado em 22-12-1900. Ocupou o cargo de vigário em várias

paróquias: Vila Americana (1901), Arraial dos Souzas (1903), Nossa Senhora do

Carmo (1904). Foi agraciado pelo Santo Padre Pio X com o título de Monsenhor

Camareiro Secreto Extra-Numerário, em 1908. No ano seguinte, foi procurador da

Mitra Diocesana de Campinas, em 1909. Nesse mesmo ano foi elevado a Cônego

Arcipreste do Cabido Diocesano. Em 12-05-1911 foi designado bispo de Pelotas

pelo papa Pio X através da bula Dilectis Filis, sendo sagrado na Catedral de

Campinas aos 27 de agosto desse mesmo ano. Aos 22 de outubro tomava posse na

Diocese de Pelotas, que fora desmembrada da de Porto Alegre, em 13-08-1910. 48

Através da missão confiada a D. Francisco Barreto a Igreja intencionava

reequilibrar a correlação de forças, que lhe proporcionara perda de legitimidade e

poder desde as últimas décadas do Império. O desprestígio da Instituição Religiosa,

se acentuou com o advento da República, através da separação entre Estado e

Igreja, porém, o que parecia uma vitória das forças anticlericais, sobretudo

positivIstas e maçons, constituiu-se em elemento fundamental para a recuperação

de seu espaço social e ideológico. 49 Entre outras estratégias, estava,

principalmente, a fundação de educandários e a fundação de missões populares

junto às classes operárias (TAMBARA, 1996, p. 104).

47

PARIANI, José Rocco. Dados biográficos de Dom Francisco de Campos Barreto. Pelotas, 1951. mimeo. Arquivo do Bispado de Pelotas, p. 40, apresenta 1936 como o ano de falecimento, enquanto a obra Dom Francisco Barreto. Centenário de nascimento 28/03/1877-28/03/1977. Florianópolis: UFSC, 1977, informa o ano de 1941. 48

Foi transferido de Pelotas, por ato do papa Bento XV, aos 30-07-1920, para a diocese de Campinas, quando lá tomou posse no episcopado em 14-11-1926, recebendo os títulos honoríficos de assistente ao Sólido Pontifício, Prelado Doméstico e Conde Romano. Faleceu em 22-08-1941. As informações constantes aqui foram retiradas de PARIANI, José Rocco. Dados biográficos de Dom Francisco de Campos Barreto. Pelotas, 1951. Mimeo. Arquivo do Bispado de Pelotas. Para maiores detalhes vide Dom Francisco Barreto. Centenário de nascimento 28/03/1877-28/03/1977. Florianópolis: UFSC, 1977. 49

Para mais detalhes vide PEREIRA, Nilo. Conflitos entre Igreja e Estado no Brasil. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1982.

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É interessante observar que, em Pelotas, até o final do Império praticamente

inexistiu, conforme se pode observar no Relatório da Inspetoria Escolar, de 01-07-

1887, tomando por base o ensino particular, a intervenção da Igreja no campo

educacional. (Idem, p. 9)

Apesar do empenho e da estrutura da Companhia de Jesus, esta era uma

ordem religiosa que contava com forte oposição tanto dentro da Igreja quanto fora.

Em Pelotas, havia forte tradição maçônica e antijesuítica, do que é exemplo o poeta

Lobo da Costa 50.

Paulatinamente a Igreja foi instalando seus colégios, tendo como ponta de

lança de seu sistema educacional a Companhia de Jesus, com a fundação do

Colégio Gonzaga 51.

Figura 11 – Colégio Gonzaga em 1905

50

LOBO DA COSTA, Francisco. O jesuitismo. In MONQUELAT, A. F.; FONSECA, G. R. Antologia poética (e alguma prosa de e sobre): Lobo da Costa. Edição comemorativa do centenário de nascimento. Pelotas: edição dos autores, 1988, pp. 687-692.. A 1ª edição apareceu no “Investigador”, Rio Grande, 24-07-1873. Foi republicado por Monquelat no “Diário da Manhã”, de Pelotas, em 12-07-1985. Edição mais acessível Obra completa de Lobo da Costa. Organizada por Jandir Zanotelli e Ângela Treptow Sapper. Pelotas: Educat, 2003, pp. 591-595. para verificar a permanência da luta dos maçons contra os jesuítas vide Tupy. O jesuitismo. BOLETIM da Grande Oriente do Brazil. Jornal oficial da Maçonaria Brazileira. Publicação mensal, n. 1 a 12, 27ª anno. Março de 1902 a fevereiro de 1903. Rio de Janeiro: Typographia da Papelaria de Alexandre Ribeiro & C., 1902, pp. 445-448. 51

Os jesuítas fundaram em Pelotas em 1894 o Ginásio Gonzaga, que foi equiparado em 1904. em 1916 lhe foi anexado um internato para meninos. Desde 1926 passou a ser dirigido pelos Irmãos Lassalistas. Para maiores detalhes vide PARMAGNANI, Jacob José; RUEDELL, Otto; BERTUD, Olírio. Memorial do colégio Gonzaga. 100 anos dedicados à educação. Porto Alegre: Palloti, 1995.

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80

A disputa pelo controle do sistema educacional da cidade foi bastante intensa,

como pode ser comprovado pelo relatório apresentado ao Conselho Municipal, em

20-09-1913, elaborado por Alberto Coelho da Cunha e Miguel Barcelos Amorim 52,

em que se observa o grande número de educandários não confessionais de cunho

liberal ligados à Maçonaria, à Liga Operária e a União Espírita e outros.

A situação da diocese de Pelotas não facilitava muito a atuação de Dom

Barreto. Segundo o padre Bento Mallmann53 atuava como poderoso auxiliar no

governo da diocese um grande número de pagãos, que proliferavam em grande

número, sobretudo, na campanha. Além disso, havia também um grande número de

pessoas indiferentes à Igreja e outras tantas supersticiosas e ignorantes.

Disputando posições no seio da sociedade civil a Igreja investiu nos meios de

comunicação de massa e na cooptação do movimento operário, fundando até uma

Sociedade Operária Feminina Santa Izabel, visando afastá-lo sobretudo da

influência anarquista. Nesse sentido, D. Francisco de Campos Barreto percebeu a

importância da tradição jornalística de Pelotas, procurou por todos os meios a sua

disposição, não somente influir ou cercear as linhas editoriais dos periódicos em

circulação, mas também criou o seu próprio veículo – “A Palavra”, em 1912.

52

Para visualizar o mapa escolar das aulas particulares em Pelotas, em 1913, vide TAMBARA, Elomar, ob. cit., pp. 95-99. 53

PRIMEIRO congresso católico diocesano de Pelotas. Pelotas: Diocese de Pelotas, 1935, pp. 25-34.

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Figura 12 – Semanário Católico “A Palavra”

Apesar de seus esforços, a ação do bispo teve pouco alcance, tratando-se de

influenciar decisivamente na opinião pública através da imprensa secular. Assim,

lançou uma Carta Pastoral, em 1913, sobre o papel da imprensa, estipulando para

cada paróquia um número mínimo de assinaturas da “A Palavra”, segundo rezava os

Estatuto da Legião da Boa Imprensa, com o objetivo de criar uma estrutura

organizacional para ampliar a circulação do semanário entre os católicos.

(TAMBARA, 1996, p. 113)

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A preocupação do bispo era de demarcar “a boa” e a “má imprensa” 54,

visando não apenas uma reserva de mercado para o seu jornal, mas também

estabelecer com clareza territórios ideológicos, a fim de separar seus fiéis das

possíveis influências perniciosas. Enfim, a “má imprensa” proporcionaria a desordem

social:

Em uma palavra, os filhos já não obedecem aos pais, os operários vivem em revoltas contra os patrões e o povo, sempre explorado e vítima de maus conselheiros, já não respeita nem as autoridades legitimamente constituídas. (Apud TAMBARA, 1996, p. 113)

Evidentemente, esse enrijecimento ideológico não deixou de criar reações. A

mais significativa ocorreu com a polêmica entre D. Francisco de Campos Barreto e o

jornalista Antônio Gomes da Silva, iniciada em 1913. 55

Figura 13 – Bispo Francisco de Campos Barreto (1877 – 1941)

54

Para conferir as posições do bispo vide BARRETO, Francisco de Campos. Carta Pastoral sobre a

imprensa. In LUSTOSA, Oscar de Figueiredo. Os bispos do Brasil e a imprensa. São Paulo: Loyola, 1983. 55

Para mais detalhes sobre a polêmica entre o jornalista Antônio Gomes da Silva e Francisco de Campos Barreto, bispo de Pelotas, vide REVERBEL, 1981, pp. 92-98.

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83

Figura 14 – Jornalista Antônio Gomes da Silva

Em 09-06-1913, dia seguinte à conferência de Gomes da Silva na Liga

Operária, o jornal “A Opinião Pública” divulgava a repercussão da dita conferência

proferida pelo seu diretor, frisando que combateria “os abusos clericais em tudo o

que eles tem de atentatório contra a obra da civilização e contra a dignidade

humana, pois falava em nome da liberdade, que os homens da seita negra procuram

debalde aniquilar em todas as suas magníficas manifestações” (A Opinião Pública,

Pelotas, 09-06-1913).

Gomes da Silva nasceu em Portugal 56, em 1883, estudou Direito na

Universidade de Coimbra. Radicado em Pelotas, pertenceu à Maçonaria e fundou

um Centro de Estudos Sociais (MARTINS, 1978, p. 542.). Em 1915, publicou o

poema anticlerical herói-cômico A tentação do bispo (VILLAS-BOAS, 1991, p. 244).

56

Villas-Boas (1991, p. 224) informa ter nascido em Jaguarão/RS em 15-08-1883. Ari Martins (1978,

p.542) fornece os dados de que Antônio Gomes da Silva nasceu em Portugal, lá falecendo em 19-10-1969.

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84

Figura 15 – Capa da peça “A tentação do bispo” (1915)

Gomes da Silva foi promotor público durante seis anos, quando deixou o

cargo para dedicar-se à advocacia. Logo se tornou uma das mais destacadas figuras

da sociedade local, não só pela sua capacidade nas lides jurídicas, mas também

pela sua grande cultura literária, sobretudo de influência francesa. (REVERBEL,

1981, p. 89). Podemos verificar a envergadura intelectual de Antônio Gomes da

Silva, basta citarmos alguma das inovações que introduziu no “A Opinião Pública”,

propiciando a modernização da folha vespertina, que passava a contar com notas

financeiras, secção feminina, colunas políticas e folhetins literários. Saía aos

sábados a página Artes, Letras e Ciência e nela figuram Eça de Queiroz, Machado

de Assis e muitos outros. (DINIZ, 2003, pp. 219-220). No fim do ano de 1913, o “A

Opinião Pública” fez publicar um livro com todos os contos que figuraram na secção

literária, oferecendo-o de brinde aos leitores.

Personalidade impetuosa, Gomes da Silva era dado a polêmicas. Aproximou-

se da Liga Operária, organização em que o ex-promotor chegou a pronunciar

conferências, entre as quais uma sobre o direito de greve, contando com o apoio de

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militantes anarquistas, como Pedro Bank, que em artigo no “A Opinião Pública”, em

08-07-1913, conclamava a presença do operariado pelotense. (Idem , p. 90)

A aliança entre o movimento operário, cujas lideranças, naquele período eram

em sua maioria anarquistas vindos com a imigração italiana e portuguesa, e os

objetivos de Gomes da Silva não eram estranhos, uma vez que o anticlericalismo

era moeda comum entre positivistas, maçons e esquerdistas.57 Convém lembrar que

quando os setores dominantes conseguiram, no Brasil, congregar seus projetos

políticos e organizações partidárias, a partir dos anos finais do Império, as Lojas

maçônicas passaram a mediar outras relações, facilitando a divulgação de outros

ideários, como os dos anarquistas, liberais, protestantes, entre outros, baseados na

tradição de luta por liberdade, tolerância religiosa, laicismo, republicanismo,

progresso e ciência.58

É interessante observar que também a Igreja procurava não ficar com a

pecha de intransigente e obscurantista. Nessa medida, o semanário “A Palavra” em

algumas oportunidades mostrava-se não completamente contrário ao Positivismo e

à Ciência, como se pode depreender do seguinte:

Em nome do positivismo de Augusto Comte, pode-se injuriar a igreja Católica?

Não, pelo contrário, quem lê Comte, descobre as melhores referências que o fundador da religião da humanidade faz ao catolicismo [...].

[...] E tendo Comte tratado a Companhia de Jesus como uma sociedade eminentemente retrógrada, mais tarde, concebeu para com esta Ordem uma estima tal que deu instruções a Alfredo Sebastier para negociar com o geral dos Jesuítas, padre Beckx uma concordata para a difusão do positivismo pela mesma Companhia, substituindo assim o catolicismo, considerado como a religião mais perfeita para dar acesso a sua.

57

Embora as primeiras notícias sobre o movimento anarquista datem do final do século XIX, no início do século XX ocorreu na cidade a prisão de três supostos agitadores anarquistas italianos, que foram expulsos para a Argentina e posteriormente deportados para o seu país de origem. Os acusados, um alfaiate, um pintor e um azeiteiro, ao serem expulsos bradaram que, eles – anarquistas -, partiam, mas deixavam em Pelotas a semente a de suas idéias. A partir de 1908, a ideologia anarquista havia frutificado no seio do movimento operário, com formação de companhias teatrais, grupos de estudos políticos e de assistência social e instalação de escolas. A maior proliferação de idéias e atividades anarquistas ocorreu no período de 1911 a 1925. (LONER, Beatriz Ana. Construção de classe: operários de Pelotas e Rio Grande (1888-1930). Pelotas: UFPEL; Unitrabalho, 2001, p. 367.) 58

Para maiores detalhes vide BARATA, Alexandre Mansur. Luzes nas sombras: a ação da maçonaria brasileira (1870-1910). Campinas: Unicamp, 1999.

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Bastam essas citações incontestáveis59

para vermos, que se alguém quiser achincalhar o catolicismo, não será em nome de Augusto Comte, mas sim em nome de suas próprias paixões. (A Igreja Católica e Augusto Comte, A palavra, Pelotas, ano I, n. 17, 21-04-1912)

Eis outro exemplo:

Vejo a ciência que afirma a Deus; vejo a ciência que prescinde Deus; vejo a ciência que prescreve Deus; e entre o espiritualismo, o agnosticismo, o materialismo, muitas vezes, se levanta da razão esta pergunta: onde está a ciência?

A mesma névoa que a princípio se condensara sobre as inquietações do crente acaba por envolver o orgulho do sábio. A mesma dúvida que nos arrastara das tribulações da fé ao exclusivismo científico, pode conduzir-nos do radicalismo científico á palidez da fé. (Rui Barbosa, Ciência e fé, A Palavra, Pelotas, ano I, n. 19, 05-05-1912)

No dia seguinte ao que Gomes da Silva pronunciou sua conferência na Liga

Operária, mais de quinhentas pessoas acompanharam o orador até sua residência,

onde ele ainda se dirigiu ao povo, exortando-o a seguir os conselhos que expedira,

uma vez só assim trilharia a senda da “verdade, da luz e da moral”. (Apud

REVERBEL, 1981, pp. 90-91)

Tem-se colocado a ação do intelectual Gomes da Silva com a de um

anarquista, aceito pelo próprio movimento. No entanto, os anarquistas percebendo

que o interesse do jornalista era aparelhar o movimento operário através da Liga

Pelotense para suas campanhas anticlericais, começou a atacar o diretor do jornal

“A Opinião Pública”.

Talvez para aclarar a compreensão do anticlericalismo como ponto

fundamental das alianças entre maçons e anarquistas, igualmente como aconteceu

através do “A Opinião Pública”, é o fenômeno ocorrido no jornal paulista “A

Lanterna”, publicado entre 1901 e 1916. Verifica-se aí que a aliança do grupo

anticlerical se fazia de maneira não homogênea, cada grupo tinha interesses

particulares, mas possuía um inimigo comum: a Igreja Católica. Nesse sentido,

uniam-se pontualmente maçons, espíritas, liberais, anarquistas e até evangélicos.

59

Após o primeiro parágrafo, o corpo do artigo traz uma série de citações até chegar aos dois últimos, que sintetizam a conclusão.

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Sua atuação tinha curta duração e frágil estabilidade, facilmente degenerando em

lutas que, em seguida, desmantelavam as conquistas obtidas pela ação conjunta. 60

Os grupos anarquistas, segundo Loner (2001, p. 367), faziam questão de

demarcar sua identidade política com autonomia e firmeza, na defesa de um espaço

autenticamente proletário, sem aceitarem a tutela de nenhum dos auto-nomeados

anarquistas da cidade. Ainda segundo a historiadora, este foi o principal motivo dos

conflitos entre os libertários e o diretor do “A Opinião Pública”.

As diferenças ideológicas entre o advogado e jornalista com os anarquistas

ficam evidentes pelas denúncias do jornal “O Rebate”, relativas à atuação do “A

Opinião Pública” que, durante a enchente de 1914, nunca colaborou – valendo-se de

seu poder de comunicação de massa - para, mediante campanhas, melhorar a sorte

dos trabalhadores atingidos pelo desastre. (Idem, p. 368). No entanto, a maior

disputa se deu devido ao Centro de Estudos Sociais, do qual Gomes da Silva foi

fundador e diretor. Essa entidade estava filiada à Liga Operária Pelotense, todavia,

contava com a participação de diversos intelectuais, entre os quais Victor

Russomano61 e Simões Lopes Neto.

Na afirmação da autonomia dos anarquistas, as divergências com Gomes da

Silva se acentuaram até a ruptura. Um dos lances desse episódio envolveu uma

palestra de João Simões Lopes Neto contando com a presença de De Stéfano

Paterno, defensor do cooperativismo. Nessa palestra, De Stéfano foi interpelado por

Zenon de Almeida que, o qual do meio da platéia lhe fez violento questionamento.

Conflitos como esse explicitam a diferença de posições e a total ruptura dos dois

grupos.

A visão anarquista aparece no “A voz do Trabalhador” (20-07-1914) deste

modo:

60

Para aprofundar essa discussão vide OLIVEIRA, José Eduardo Montechi Valladares de. O anticlericalismo na República Velha: a ação dos anarquistas. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/USP, 1996. .Dissertação de mestrado em História. 61

Segundo LONER (ob. cit., p. 369) Victor Russomano teve grande aproximação com as idéias anarquistas enquanto era estudante, chegando a ser convidado para orador em festa do Primeiro de Maio, organizada pela Sociedade União Operária. Depois de formado rapidamente afastou-se, divergindo a respeito da questão do pacifismo, pois era um incentivador dos Tiros de Guerra, inclusive fazendo parte de sua diretoria. Mais tarde, fez carreira política pelo PRP.

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Não obstante em minoria, a voz do paria ergue-se, altiva, irreprimível, revoltada. Frente a frente com o inimigo, os operários presentes, em sua maioria souberam colocar-se no seu posto verdadeiro e a carga foi cerrada. Dispensaram a fraternidade burgo-operária, por ele pregada em altos brados, antes da encrenca terminar. E lá se foram; os operários ficaram. Uma nova era raiou para a Pelotas

proletária. (Apud LONER, ob. cit, p. 368)

Já “A Opinião Pública” (07-07-1914), representando os maçons, trata de

modo muito diverso o mesmo incidente:

Após ocupou a tribuna um desconhecido, um energúmeno qualquer e, de começo provocou a indignação de toda a assistência pelos termos inconvenientes que usou: uma súcia de incoerências e disparates, que não seriam levados a sério se não fosse a incontinência com que se portou o intrometido orador na propaganda de suas vermelhas idéias. Depois desta passagem distonante, o auditório prorrompeu em aclamações aos oradores anteriores e ao nosso diretor, dr. A. G. Silva, acompanhando-

os as suas residências. (Apud LONER, ob. cit, p. 368)

A atuação da Igreja não se restringiu à exortação do púlpito, nem às Cartas

Pastorais, mas se concretizou com a fundação das Ligas Operárias confessionais,

que visavam fomentar o desenvolvimento das forças produtivas dentro da ordem

capitalista. O movimento operário, por sua vez, estava parado. Um dos seus

momentos áureos, naquele período, foi em agosto de 1913, quando surgiram vários

grupos anarquistas entre os quais destacavam-se o Iconoclasta e o Atheneu

Pelotense. Além disso, instalou-se o Teatro 1° de Maio, no salão central da Casa do

Trabalhador (cujo prédio era de propriedade da Liga Operária Pelotense), onde

atuava o Grupo de Teatro Social, formado por militantes anarquistas e

simpatizantes. (Apud TAMBARA, 1996, p. 188)

Nessa ocasião o movimento operário pelotense era forte e organizado,

fundara-se a Liga Operária em 31-03-1889, cujas maiores lideranças pertenciam as

correntes anarquistas. O grupo Iconoclasta, de Pelotas, em artigo à revista “Vida”,

do Rio de Janeiro, relata o seguinte:

Assim em 1913 “os bons livros e jornais de propaganda, as influências da C. O.B. e diversos camaradas emancipados e portanto contrários ao programa recreativo, tavernista e de tavolagem mantido pela Liga, conseguiram expurgá-la desse mal. Agitou-se a questão da carestia de vida. Fundaram-

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se vários sindicatos, ficando construída a Federação Operária de Pelotas, que em representação direta, tomou parte no Segundo Congresso Operário Brasileiro. Já o ideal libertário e o sindicalismo revolucionário haviam triunfado em grande parte,” (BARBOSA apud TAMBARA, 1996, pp. 117-118)

Os grupos anarquistas eram extremamente ideológicos e participativos, o que

pode ser avaliado por sua atuação no Congresso Internacional da Paz, realizado no

Rio de Janeiro entre os dias 14 e 16 de outubro de 1915, chamado pela

Confederação Operária Brasileira (COB), Sobre participação pelotense diz Marçal

(1985, p. 117):

Na sua presidência ficou o gaúcho Orlando Corrêa Lopes e como secretários atuaram Astrogildo Pereira e Santos Barbosa, este último representando a Federação Operária de Pelotas. O outro representante local era Antônio M. Corrêa. Orlando Corrêa Lopes representava o Centro de Estudos Sociais do Rio de Janeiro que como o nosso, tinha sido fundado em 1914. O Centro Feminino de Estudos sociais, de Pelotas, estava representado por Eliza de Oliveira. O Grupo Iconoclasta estava representado por Pedro Bischoff e Santos Barbosa.

Ao mesmo tempo em que Gomes da Silva encetava sua feroz campanha

anticlerical, Simões Lopes Neto inaugurava sua coluna Inquéritos em contraste 62,

sob o pseudônimo de João do Sul, em que versaria sobre diversos temas sociais,

pintando na tela as fitas apanhadas do natural, tais como o sanitarismo e a higiene,

o problema da habitação, da miséria da maioria da população, conforme veremos

mais adiante. O objetivo dos Inquéritos em contraste era trazer à toma as mazelas

escondidas no cotidiano da cidade, sob um olhar crítico e, às vezes, com amarga

ironia. Já na primeira crônica:

O contraste deles [os inquéritos] está em que as causas e os efeitos, que parecem repelirem-se, são eles lógicos que aparentando discordância reforçam-se em íntima concordância. Pelotas, a cidade franciscana, se há que invocar a égide de seu padroeiro, a Princesa do Sul, se atentarmos na doçura de um velho e amável engraçamento, Pelotas, a centenária, se nos recordarmos da comemoração de um ano, Pelotas tem também suas abóbadas iluminadas sob subterrâneos escuros... Apenas perceptíveis é certo, umas e outros; tudo é relativo: nem pretendemos arvorar argueiros em cavaleiros. E para falar bem à moderna, diremos que na „tela‟ destes inquéritos só correrão as „fitas‟ apanhadas do natural. (A Opinião Pública, Pelotas, 10-06-1913)

62

A lista completa das crônicas publicadas nessa coluna, em número de 17, está in DINIZ, Carlos, ob. cit. p 220. Mais detalhes sobre a atuação de João Simões Lopes Neto no “A Opinião Pública” vide DINIZ, Carlos, 2003, pp. 217-235.

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Paralelo a isso seguia o combate de Antônio Gomes da Silva, que arrendara o

jornal “A Opinião Pública”. Lavrara o contrato a 06-06-1913, mas desde o dia 1°

desse mesmo mês já assumira a direção do periódico. Ele estava ansioso para dar

asas a sua fúria anticlerical. Começou a carga com o artigo A volta do sr. Bispo,

publicado em 02-09-1913, no qual cobrava satisfações ao prelado a respeito da

demora em começar as obras de reforma no paço episcopal, uma vez que já tinham

sido arrecadados 72 contos. O órgão “A Palavra” respondeu a provocação em

seguida. Insistiu no assunto, Gomes da Silva, com uma série de três artigos, sob o

título geral de De batina e duridana. Concluía a série dizendo:

Sua Excelência reconhecerá dentro em breve que Pelotas não é terra para tantos padres e que vê nesse bispado tão arrogante e ainda em princípio um presente grego da Santa Sé, que fora bem melhor não nos ter sido mandado para nossa paz e tranqüilidade. (A Opinião Pública, Pelotas, 17-09-1913)

A “Palavra” ia se defendendo dos ataques, entretanto, levava enorme

desvantagem, uma vez que o órgão da Igreja era semanal enquanto que o “A

Opinião Pública” lançava petardos diariamente. Depois de vários artigos agressivos,

Gomes da Silva escreveu um Elogio fúnebre ao A Palavra, nos dias 23, 24 e 25 de

setembro de 1913. Ao par disso, o jornal também divulgava escândalos e fatos

comprometedores envolvendo padres, freiras e a Igreja, em geral.

Os redatores de “A Palavra” pareciam tímidos frente à ousadia do “A Opinião

Pública”, fosse por “tédio à controvérsia”, fosse por incapacidade de estarem á altura

da pena de Gomes da Silva. Nos dois meses iniciais do ano seguinte houve uma

trégua. Em 25-02-1914, aparece no “A Opinião Pública” a notícia de que Simões

Lopes Neto deixava a Folha, uma vez que fora convidado a dirigir o “Correio

Mercantil”. No dia posterior à saída do escritor, a polêmica retorna, com renovada

virulência. Para encurtar a história – que mereceria um estudo mais profundo, pela

repercussão nos anais do jornalismo gaúcho 63 -, toda essa diatribe se estendeu até

dezembro de 1915. Aliás, tendo a incontinência verbal de Gomes da Silva chegado

63

O estudo dessa polêmica, não deve ser página a ficar em branco na história da diocese de Pelotas, ao contrário do que afirma Fábio Mendes, em sua obra Dom Joaquim Ferreira de Mello, 2° Bispo de Pelotas e a fundação do Seminário São Francisco de Paula. Uma introdução. Pelotas: Educat, 2006. Uma avaliação mais detalhada dessa questão em muito poderá esclarecer o complexo sistema de alianças anti-católico, o que auxiliaria a compreensão da luta ideológica naquele período.

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ao ápice, o bispo Francisco de Campos Barreto, em 08-08-1915, baixou uma Carta

pastoral em que proibia os católicos da diocese de lerem o “A Opinião Pública”.

Não poderia ter dado o bispo melhores razões para aumentar o ódio de

Gomes da Silva contra o “prelado e seu bando”. Na fase final em que o jornalista

português mantinha a direção do órgão de imprensa, de agosto a dezembro de

1915, recrudesceram seus ataques. Mas enquanto o jornalista maçom brandia a

pena, comenta Reverbel (1981, p. 95), “o bispo agia, um pouco a descoberto, muito

à socapa, outro tanto à sorrelfa”.

Com o término do contrato de arrendamento do “A Opinião Pública”, o jornal

voltou ao controle de dona Florência Dias de Moura, que entregou a direção do

jornal ao também maçom – muito conservador – J. J. de Albuquerque Barros,

mantendo na gerência seu cunhado Damião Moura. Todos os radicais que apoiavam

Gomes da Silva em sua campanha foram despedidos. Para que não restasse dúvida

da nova orientação assumida pela empresa, em 03-01-1916, comunicava o jornal o

nome do novo diretor, redatores e repórteres. Assumiram junto com Albuquerque

Barros, Álvaro Eston e Simões Lopes Neto, que voltara após o fechamento do

“Correio Mercantil”, do qual foi diretor.

Ao final das contas, quem venceu, a duras penas, a violenta contenda entre a

Igreja e Maçonaria foi o bispo Dom Francisco de Campos Barreto. Dona Florência

assim que recuperou o controle do jornal fez publicar um requerimento ao bispo:

Impossibilitada de assumir a direção do vespertino local A Opinião Pública fundado por seu falecido esposo e que lhe coube em partilha, viu-se a peticionaria obrigada a dá-lo em locação, isenta porém de qualquer responsabilidade quanto á orientação política e religiosa do jornal. Como é notório, seus arrendatários em breve iniciaram uma campanha anticlerical, o que levou V. Exa. a proibir a leitura da referida folha nos círculos católicos. Findando-se, entretanto, em 31 de dezembro do corrente ano o prazo do contrato e devendo retirar-se os atuais arrendatários, a peticionaria ousa esperar da magnanimidade de V. Exa., a suspensão daquela medida extrema, que sérios embaraços lhe tem acarretado, máxime não tendo sido nunca solidária com os conceitos mais de vez expedidos contra a Igreja Católica Apostólica Romana, que sempre acatou e cujos ensinamentos segue, e ainda mais quando A Opinião Pública, em nova fase a inaugurar-se sob a competente direção do sr. dr. Albuquerque Barros, abandonará por completo o terreno das lutas religiosas e pessoais, subordinando o seu programa a interesses de ordem geral e e que tenham ligação direta com o desenvolvimento do nosso município. Conhecedora do elevado critério que

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preside a todas as resoluções de V. Exa., a peticionaria alimenta a esperança de ver dentro em pouco suspensa aquela proibição. (A Palavra, Pelotas, 01-01-1916)

Apesar dos líderes anarquistas já terem rompido sua aliança com Gomes da

Silva, propalavam que o referido requerimento tinha sido ditado pelo próprio bispo (A

Palavra, Pelotas, 01-01-1916). Ao requerimento Dom Francisco Barreto respondeu

com um despacho publicado no “A Opinião Pública” em que dizia:

Satisfazendo-nos a orientação nova que se vai imprimir nesse jornal, e porque nos merece o sr. dr. J. J. Albuquerque Barros, seu futuro diretor, e acreditando piamente que a Opinião Pública em sua próxima evolução, saberá cumprir com o programa que promete abraçar: havemos por bem tirar, como de fato, tiramos a censura que lançamos sobre esse jornal, bem como levantamos a proibição que demos aos católicos de o lerem ou de qualquer modo o coadjuvarem. (A Palavra, Pelotas, 01-01-1916)

Simões Lopes Neto através das páginas do “A Opinião Púbica”, enquanto o

jornalista português atacava a igreja, lança a idéia da Semana Centenária 64,

festividades cívicas e de congraçamento que objetivavam comemorar a passagem

do primeiro centenário de Pelotas. Durante a preparação dessas comemorações

estudantis o autor foi acusado publicamente de facciosismo religioso, por ter sido

contrário à indicação da Catedral como local adequado para a colocação da lápide

que assinalava a passagem do centenário de Pelotas, transcorrido no ano anterior.

Sua resposta veio nestes termos: “Dizer-se que a lápide colocada na parede da

Catedral é uma deturpação do senso cívico e um odioso privilégio religioso católico,

uma imposição às crenças livres, é uma injustiça e uma falta de lógica”. (Apud

REVERBEL, 1981, p 93)

Sem o radicalismo de Gomes da Silva, em vários momentos o anticlericalismo

de Simões Lopes Neto se manifestou, do que o episódio do cigarro Marca Diabo65,

64

Para mais detalhes sobre a Semana Centenária vide REVERBEL, Carlos. Um capitão da Guarda Nacional. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1981, pp. 85-98 ; LEON, Zênia de. O civismo na vida e na obra de Simões Lopes Neto. In BACARESCO, Agemir; BORGES, Luís (org). Travessia do pampa. Fontes e projetos da cultura gaúcha. Simões Lopes Neto: anais do Simpósio Simoniano Lendas do Sul. Pelotas/ Porto Alegre: Educat / WS Editor, 2003, pp. 199-215. 65

Um episódio considerado como manifestação anticlerical foi a do cigarro Diavolus (Marca Diabo), ocorrido em 1901 (os produtos dessa fábrica haviam desaparecido em 1905-1906). Carlos Reverbel (1981, pp. 152-158) explica o caso, no sentido de um recurso de marketing, mas que acabou por se transformar num incidente com as autoridades religiosas. Eduardo Arriada, entretanto, observa que naquela circunstância tal atitude parece significar mais do que um simples recurso mercadológico,

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em 1901, é exemplo, podendo ser considerado além de uma pilhéria, também uma

provocação ao conservadorismo religioso - e um criativo recurso publicitário.

Figura 16 – Cigarro “Marca Diabo”

No entanto, muito mais por motivos de ver os brios cívicos dos heróis

farroupilhas atingidos por preconceitos religiosos do que propriamente por

anticlericalismo. Simões Lopes Neto envolveu-se também numa polêmica com o

semanário “A Palavra”, em 1913. Cabe lembrar que antes da violenta campanha

anticlerical de Gomes da Silva, arrendatário do “A Opinião Púbica”, em 1912, o

escritor já se tinha envolvido numa polêmica com a Igreja Católica, em defesa de

Garibaldi. (LOPES NETO, João Simões. Pró-Garibaldi. A Opinião Pública, Pelotas,

28-12-1912. In MOREIRA, 1983, p. 70)

O autor começa retrucando “a teima da imprensa católica” que insiste em

“obscurecer o brilho de certas glórias”, tais como o herói ítalo-farroupilha. O que

motivou Simões Lopes Neto a se pronunciar foi a veiculação, no “A Palavra”, de uma

uma vez que a Igreja detinha muita influência política e social. Dessa maneira, um indivíduo para desafiá-la devia possuir muita coragem e firmeza ideológica. Dificilmente alguém que não fosse anticlerical se arriscaria desse modo.

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matéria de uma revista de São Paulo, transcrita de um periódico carioca (Idem). Aí

se fizera, segundo Simões, “ofensiva referência à memória de Garibaldi e à

maçonaria”.66

A indignação do autor é demonstrada quando ele afirma que a nota publicada

no “A Palavra” em dado momento chega a classificar o instinto sanguinário de

garibaldino, transformando o herói em um “simples salteador da Calábria”. Lembrava

ainda que um escritor espanhol, Blasco Ibanês, num de seus livros, em que narra

suas viagens à Itália, relata ter visto um frei capuchinho, aos saltos no púlpito,

vociferar contra o governo daquele país, uma vez que este se opunha à política

ultramontana: “E a odiosa obra papal vai, através dos séculos, num crescendo de

fúrias, diante da Itália moderna, mais poderosa e daí que esse ataque tenaz e

inglório aos grandes homens da história italiana” (LOPES NETO, João Simões. Pró-

Garibaldi. A Opinião Pública, Pelotas, 28-12-1912. In MOREIRA, 1983, p. 71)

E segue: Bem sabemos que a obra da unidade italiana, levada a cabo à custa

de esforços e sacrifícios, era o sonho da alma nacional... e que a sua realização foi o

golpe de morte vibrado, certeiro, pelo heroísmo dos patriotas da gloriosa península,

contra o poderio temporal do Vaticano. (Idem)

Simões Lopes Neto entende que

No caso atual, porém, não só o cidadão italiano se impõe a defesa de um um de seus mais belos tipos humanos, mas mesmo aos rio-grandenses que não esquecem seus deveres, diante dos interesses das ambições. Por isso, não podemos deixar passar, sem um leve protesto, essa atitude clerical brasileira. Não é belo o procedimento desses inimigos. (Idem, p. 72)

Define Garibaldi como um espírito liberal e republicano, associando a Igreja à

Monarquia e interroga:

Vemos o próprio governo italiano atual, que é monárquico, cumprindo preito de justiça e não esquecendo o herói, sem a pátria, ela, a monarquia dos Sabóias, levanta monumentos à memória de Garibaldi republicano.

66

No parágrafo seguinte, o autor afirma não estar filiado à Maçonaria, não cabendo a ele, portanto, fazer a defesa dessa instituição. Conforme vimos, o escritor já estava filiado à Maçonaria desde 1890. Outra hipótese é que ele fosse um “adormecido”, que no jargão maçônico pode significar um dissidente ou afastado. Esse membro pode retornar quando “acordar”, isto é, voltar à ortodoxia ou à obediência.

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Quando uma dinastia assim engrandece o cidadão, homenageando-lhe as idéias políticas, por que essa fúria adversária da imprensa, que deveria dirigir as suas vistas à religião, sem a indébita intervenção no domínio político das atividades cívicas do mundo? (Idem)

Reforça o tom ufanista, considerando Garibaldi maior que Napoleão, uma vez

que o militar francês granjeou nomeada pela ambição, enquanto o ítalo-farroupilha

pela “consciência iluminada pelos sonhos de emancipação humana”. (Idem, p. 73)

Conforme já ficou dito, o autor voltou à carga no artigo intitulado Mercenário-

Herói! Prostituta-Excelsa!, publicado no órgão dirigido por Antônio Gomes da Silva,

em 18-09-1913.

Simões defende com denodo os vultos que se destacaram no chamado

“Decênio Heróico”, dando especial atenção a Garibaldi e Anita. Registra seu protesto

a fim de “como rio-grandense e herdeiro da Tradição Farroupilha” – e brasileiro,

condição da qual também se orgulha – livrar essas duas figuras históricas da “torpe

assacada” do jornal “A Palavra”.

O autor ironiza o bispo:

Repugna-nos, por mais de um motivo, que S. Ex Rev., o Bispo de Pelotas tivesse prévio conhecimento da miserável investida a dois túmulos e a permitisse, queremos render-lhe justiça, aceitando que S. Ex Rev. Foi vítima de sua confiança, mas S. Ex Rev. é, moralmente, o responsável pelo desastre do órgão de seu governo espiritual. (LOPES NETO, João Simões. Mercenário-Herói! Prostituta-Excelsa! A Opinião Pública, Pelotas, 18-09-1913. In MOREIRA, 1983, p. 68)

Simões Lopes Neto não podia admitir, dentro de sua escala de valores

patrióticos, que ao herói ítalo-gaúcho fosse lançado o epíteto de mercenário: “Provas

bastas, históricas, autênticas, certificam os exíguos bens de Garibaldi”. (Idem)

A mesma indignação se observa na defesa de Ana Ribeiro (Anita): [...] é

brasileira, e como brasileira é tão digna, tão honrada [...] como a mulher do mais

topetudo palaciano ou como a mãe do mais solene dos papas. (Idem, p. 69)

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Adverte ainda que tanto o estado de São Paulo quanto o do Rio Grande do

Sul erigiram monumentos a Garibaldi e Anita, constituindo-se os atributos -

mercenário e prostituta – uma verdadeira bofetada desferida pelo semanário católico

“A Palavra”, o qual, segundo o autor, estaria destilando o “ódio implacável soprado

pelas brechas da Porta Pia: é ainda um sopro que ressume insopitáveis despeitos.”

(Idem)

Conforme é fácil verificar, Simões Lopes Neto não esteve infenso às

influências advindas do anticlericalismo, do laicismo maçônico e, sobretudo, do

positivismo e do naturalismo. Ao contrário, mostrou-se um homem integrado ao

sistema de crenças dominantes em seu tempo. Certamente esse caldo político-

filosófico muito contribuiu para a formação intelectual do escritor. Simões Lopes

Neto era ligado ao Partido Republicano 67, de Júlio de Castilhos (1860-1903), tendo

também trabalhado no Diário Popular, órgão que representava esses interesses

partidários. Tal definição política se pode comprovar quando por ocasião da

Revolução de 1893, ele ficou ao lado dos legalistas, não aderindo aos revoltosos

Federalistas. (DINIZ, 2003, p. 82)

Tamanha foi a influência do positivismo no Rio Grande do Sul, que se refletiu

até no folclore, do que nos dá conta a seguinte quadrinha:

Nuvens negras no horizonte, O céu cortado de um corisco, O busto de Augusto Comte, A faca de João Francisco...

68

O próprio Simões Lopes Neto não deixou de, nas Balas de Estalo, meter o

nome do filósofo francês:

[...] O Dr. Borges da Costa que foi mestre do Leão viu da carne a má feição: O Dr. Borges da Costa

67

Para mais detalhes vide SILVA JÚNIOR, Luiz Carlos. Repercussões da proclamação da república

na cidade de Pelotas. Pelotas: ICH/UFEL, 2002. Monografia de graduação em História. 68

O João Francisco aí mencionado é o coronel Francisco Pereira de Souza, a quem os inimigos políticos atribuíam atos violentos, mas que era reconhecido por sua bravura e devoção aos chefes políticos Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. (Cf. LINS, Ivan, ob. cit., p. 197)

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E com a verdade e razão Ao Comte e Ninetti arrosta O Dr. Borges da Costa que foi mestre do Leão.

(A Pátria, Pelotas, 20-08-1890)

Além de Júlio de Castilhos, destacaram-se outras figuras que uniram o

republicanismo e o positivismo 69, entre as quais Fernando Luís Osório Filho (1886-

1939), Joaquim Luís Osório (1881-1949), Victor Russomano (1890-1937), Alfredo

Varela (1864-1943), Cassiano do Nascimento (1856-1912), João Cezimbra Jacques

(1849-1922) 70 e Demétrio Nunes Ribeiro (1855-1931). Este último merece menção

especial, não só pelo papel influente papel que desempenhou durante o Governo

Provisório (1889-1891), mas também porque publicou, em Pelotas, um Curso

elementar de aritmética (1ª parte, 1882; 2ª parte, 1883) 71, obra que foi adotada nas

escolas, ajudando a forjar a “mentalidade lógica”, tão cara aos positivistas. Tanto

assim, que se verifica ter o pe. Leonel Franca atribuído o sucesso dos adeptos do

comtismo:

[...] ao aparelho matemático e científico de que se revestia a propaganda, apto em si para cativar engenheiros e militares; a organização unida e disciplinada do grupo; nos diretores do movimento, uma perseverança, uma dedicação às suas idéias, verdadeiramente rara entre nós; além de tudo isso, o estado geral de nossa cultura filosófica, o desamparo em que jazia o espiritualismo sem defensores vigorosos, e aparelhados para a luta. (Apud TAMBARA, ob. cit., p. 124)

Sabe-se das relações pessoais de Simões Lopes Neto com os Osório e

Russomano. Quanto a Varela, Simões Lopes Neto, sempre imbuído de ardor cívico,

não desconheceu Pátria (1900), breviário educacional para a mocidade.

69

Pelotas possui uma pioneira tradição republicana, haja vista que, em 1880, saia um manifesto, distribuído entre o povo, proclamando as idéias inovadoras, e, em 1885, por iniciativa de Álvaro Chaves, o Partido Republicano inaugura o primeiro monumento erguido à república no Brasil, ainda durante o Império. 70

Era militar e fundou, em 1901, o Grêmio Gaúcho, em Porto Alegre. Publicou, entre outras obras, Ensaio sobre os costumes do Rio Grande do Sul (1883) e Assuntos do Rio Grande do Sul (1912) . 71

Villas-Boas em seu Dicionário bibliográfico gaúcho (p. 204) nos indica uma 1a edição em 1881.

Eduardo Arriada adverte que as referências de Pedro Villas-Boas estão equivocadas, uma vez que a Livraria Universal Echenique foi criada apenas em 1885. As obras, contudo, poderiam ter sido editadas pela Livraria Americana. Desses livros de Demétrio Ribeiro não se conhece exemplar.

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Relativamente ao “Ministro das sete pastas”, que era maçom, Simões Lopes

Neto faz um discurso na Biblioteca Pública Pelotense, mais tarde publicado no “A

Opinião Pública”, em 24-09-1912, intitulado Elogio fúnebre de Cassiano do

Nascimento.72

A própria história familiar do escritor trazia as marcas de vinculação com o

positivismo e também com a Maçonaria. Em 14 de novembro de 1875, funda-se a

Biblioteca Pública Pelotense, sob a égide do pensamento comteano que, de acordo

com seus paradigmas, atribuía a essas instituições a função de servirem de templos

para o cultivo do saber e da ciência (RIBEIRO, Diário Popular, Pelotas, 14-11-2003).

Liderados pelo jornalista Antônio Joaquim Dias, de origem portuguesa, estão

diversos cidadãos de destaque no meio pelotense. Entre os fundadores encontra-se

o Visconde da Graça, João Simões Lopes, avô de nosso escritor (PERES, 2002).

Os respingos de positivismo recaem entre os diversos setores da sociedade

riograndense. Recordemos o caso do estudante Getúlio Vargas. O jovem, em 1906,

ao receber o presidente Afonso Pena (1847-1909), em Porto Alegre, faz em sua

saudação à pregação da vocação universal dos povos em direção ao progresso.

(LINS, ob. cit., p. 200) Lembremos que nesse mesmo ano, Simões Lopes Neto

pronuncia sua conferência Educação cívica.

A fortalecer ainda mais a herança filosófica da Geração de 1870 em Simões

Lopes Neto, está o ambiente jornalístico a que ele sempre esteve ligado. Muito

importante nos meios pelotenses e do Rio Grande do Sul, foi a atividade de Karl von

Koseritz (1830-1890),73 que vindo para a “Princesa do Sul”, em 1851, funda nesta

cidade um colégio, no qual se adotava um Resumo de História Universal (1856), de

autoria do próprio Koseritz, e o “Brado do Sul”, periódico em que estréia como

jornalista. É, entre nós, um dos primeiros divulgadores da filosofia evolucionista,

72

A assinalar as ligações de Cassiano do Nascimento – maçom – com a Igreja, dando mostras da complexidade dessas relações está a notícia veiculada no “A Palavra”, ano I, n. 41, 06-10-1912 : “As solenes exéquias de Cassiano do Nascimento foram realizadas pelo bispo, mandadas executar pela irmandade do S. Sacramento de que ele era provedor.” 73

Para uma síntese sobre a vida e obra de Koseritz vide BORGES, Luís. Breviário da prosa romanesca em Pelotas. Vol. 1. .Subsídios para uma história literária. Século XIX. Síntese crítica e histórica para uso escolar. Pelotas: JC Alfarrábios, 2007, pp. 80-106.

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proferindo duas conferências sobre o assunto em 1878, reunidas em livro, sob o

título de A Terra e o homem, à luz da moderna ciência (1884). Além disso, Koseritz

mostrou forte interesse pelo folclore gaúcho, publicando na “Gazeta de Porto

Alegre”, jornal de sua propriedade, a partir de 1880 – fora para a capital em 1864 -

em números sucessivos, uma coletânea de quadrinhas folclóricas, que Sílvio

Romero (1851-1914) aproveitaria em sua obra Cantos populares do Brasil (1882), os

quais talvez tenham, mais tarde, servido de inspiração para o Cancioneiro guasca,

em 1910. 74

Dentro desse quadro cultural, outro elemento vai marcar bastante Simões

Lopes Neto, como o exacerbado nacionalismo que grassava entre alguns dos mais

importantes escritores do País, tais como Afonso Celso Júnior (1860-1938), Olavo

Bilac (1865-1918) e Coelho Neto (1864-1934). Esses escritores admirados por ele,

significativos em sua formação intelectual, cada um a seu modo, estava ligado à

renovação filosófica, artística e cultural por que passava o Brasil.

Afonso Celso, recomendado na conferência Educação cívica (1906), ocupa

lugar de destaque nas letras nacionais, mas antes histórico do que artístico.

Engrossou trincheiras entre os poetas que, como Valentim Magalhães (1859-1903),

Raimundo Correia (1860-1911), Teófilo Dias (1857-1889), Artur Azevedo (1855-

1908), Lúcio de Mendonça (1854-1909), Fontoura Xavier (1856-1922), Alberto de

Oliveira (1873-1940), Múcio Teixeira (1857-1928) – só para citarmos alguns dentre

os mais conhecidos - combateram o subjetivismo decadente, resquício débil do

Romantismo. Defendeu a “Idéia Nova”, pensamento da Nova Geração de 1870, que

tão bem Machado de Assis traçou o perfil em seu célebre ensaio homônimo, de

1879 (Cf. ASSIS, Machado, 1937, pp. 179-247). O anti-romantismo da “Idéia Nova”,

a teoria e o ideal da poesia nova (Idem, p. 182), na expressão do Bruxo do Cosme

Velho, era uma espécie de conjugação do ideal poético e do ideal político, fazendo

de ambos um só intuito, a saber, a nova musa terá de cantar o Estado republicano.

[...] ou preocupações filosóficas (Idem, p. 183), Machado identifica o positivismo de

74

As fontes que Simões declara são João Cezimbra Jacques, LAF, Bernardo Taveira Jr., Lobo da Costa e Iriema (pseud. de Apolinário Porto-Alegre). Um exame mais acurado da questão poderia verificar se o autor de Cancioneiro guasca, mesmo não fazendo referência direta, se teria utilizado das obras de Koseritz e Sílvio Romero.

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Comte (Idem, p. 183), o anarquismo, de Proudhon (Idem, p. 185), além de

influências de Renan, Spencer e Darwin (Idem, p. 226).

Poderíamos aqui nos deter em esmiuçar as ocorrências evolucionistas no

discurso simoniano, mas quer me parecer suficiente sua série de artigos publicados

no “A Opinião Publica”, sob o pseudônimo de João do Sul, em janeiro de 1913,

intitulada Uma trindade científica, em que abordava as idéias de Lamarck, Haeckel e

Darwin. Dizia o autor na apresentação da série:

Recordar a vida e as obras dos três grandes naturalistas é prestar a ciência mais uma prova de reconhecimento e à memória dos mesmos o preito da nossa gratidão. É o que vamos tentar fazer, de um modo simples, ao alcance de todos, pois que nos move a isso difundir cada vez mais o nome daqueles que souberam dignificar a inteligência e tiveram a ousadia de proclamar as suas idéias, a despeito dos ataques dos inimigos da ciência. (A Opinião Pública, Pelotas, 09-01-1913)

Pode-se perceber que as manifestações tipicamente de cientificistas,

evolucionistas e anticlericais se vão intensificando a partir da atividade jornalística de

Simões Lopes Neto no “A Opinião Pública”. Talvez uma relação ainda não de todo

percebida na amplitude de sua influência sobre Simões Lopes Neto, seja sua ligação

com Antônio Gomes da Silva, que dirigiu aquele periódico.

O jornal “A Opinião Pública” surgiu de uma dissidência do “Diário Popular”75.

Teodósio Menezes teve uma desinteligência com os chefes do Partido Republicano,

resolvendo então fundar um vespertino, o qual passou a circular em 05-05-1896. O

escritor é convidado a escrever o editorial do primeiro número do “A Opinião

Pública”, em cujo texto Diniz (2001, p. 46) se atreve a ver o seu projeto pessoal e de

ética, não só jornalística, mas de sua conduta, em sua visão de mundo, ao longo de

sua curta existência.

Embora a ligação de Simões Lopes Neto com “A Opinião Pública” viesse de

longe, como vimos, é somente em 1913, já muito empobrecido, é que ele passa à

condição de redator remunerado do periódico, escrevendo com os pseudônimos

João do Sul e Serafim Bemol e também assinando artigos com o seu próprio nome.

75

Para mais detalhes sobre a imprensa em Pelotas vide ARRIADA, Eduardo. Do “O Pelotense” ao “Diário Popular”(1851-1890): 39 anos de jornalismo em Pelotas. Inédito.

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Manteve nesse jornal a coluna Inquéritos em contraste 76, interessante mescla de

crônica urbana, ao estilo de João do Rio (1880-1921), e conto. Publicou ainda,

nesse periódico, entre outros trabalhos, a quinta de são Romualdo (A Opinião

Pública, Pelotas, 07-07-1913) e A enfiada de macacos (A Opinião Pública, Pelotas,

09-08-1913) – que comporiam os Casos do Romualdo (1952) 77 – e o Menininho do

presépio, inserto por Aurélio Buarque de Holanda na edição crítica de Contos

gauchescos e Lendas do Sul, em 1949. Deste modo, compulsando a importância do

“A Opinião Pública” na carreira do escritor, é que vale sabermos um pouco mais de

Antônio Gomes da Silva (1883-1969).

É interessante notar que, no Brasil do final do século XIX e começo do XX o

correspondente estético ao positivismo é o naturalismo, o qual do ponto de vista da

arte literária, ligava-se à corrente zolatiana. Críticos, tais como Januário Coelho da

Costa (1886-1949), ao defenderem a literatura simoniana fazem a apologia do real-

naturalismo:

Nesse trabalho de palpitante interesse para quem ama o passado histórico social de nosso Estado, o autor revela em grau subido, essa forte intuição da verdade e esse percuciente espírito de observação que Zola e Flaubert demonstraram nas culminâncias em livros que sangram de realidade dolorosa e flagrante. João Simões, já o conheço de há muito cultor espontâneo da arte naturista, isto é, do realismo moderado, de quem foi arauto em França o belo espírito de Saint Georg, de Bouhelier e que o formidável escritor de “J‟accuse”saudou como um surto promissor de era nova e fecunda para as letras. (COELHO DA COSTA, Diário Popular, Pelotas, 02-11-1912)

Do ponto de vista da ficção, há dois textos em que Simões, mais diretamente,

aborda a questão de Deus e do sagrado, quais sejam O menininho do presépio,

aparecido no “A Opinião Pública”, em 25-12-1913, posteriormente incluso na edição

crítica de Aurélio Buarque de Holanda (1949), e Trezentas onças, publicado no

“Diário Popular”, em 04-04-1912 78, obra que viria integrar os Contos gauchescos

editados nesse mesmo ano.

76

A lista das crônicas que compuseram a coluna Inquéritos em Contraste encontra-se em DINIZ, 2003, p. 220. 77

Anteriormente os Casos do Romualdo foram publicados em folhetins no Correio Mercantil, de Pelotas, em 1914, permanecendo inéditos até 1952, quando foram publicados em livro, pela Editora Globo. 78

A lista dos contos incluídos em Contos gauchescos, aparecidos no Diário Popular, consta in ANTUNES, 2003, p. 33. Também DINIZ, 2003, p. 191.

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Os contos supracitados interessam particularmente à investigação filosófico-

religiosa, pois abordam a situação-limite do humano – a morte – e a esperança de

sua superação. Ao contrário da maioria dos contos simonianos, marcados pelo

violento, cruel e trágico, O menininho do presépio 79 e Trezentas onças 80

apresentam um desfecho feliz.

Fora da literatura de ficção, o problema da religiosidade ou da espiritualidade

diante das diversas fases da vida, foi abordado por Simões Lopes Neto que utilizou

a evocação de três crianças exaltadas no Paganismo, na Bíblia e no Cristianismo

(Cupido, Moisés e Jesus) na conferência O menino Jesus proferida no clube

Congresso Português, em 27-09-1913, e, posteriormente, repetida no Clube

Caixeiral, em benefício do Asilo de Mendigos.81

A primeira entidade Caixeiral no Rio Grande do Sul foi o Clube fundado em

Pelotas, em 08-12-1879. Seu aparecimento foi conseqüência direta da

movimentação dos caixeiros pelo fechamento do comércio aos domingos e feriados,

durante o turno da tarde. A mobilização resultou no estabelecimento de um acordo

entre comerciários (caixeiros) e comerciantes, que visava atender as reivindicações

dos trabalhadores. 82 Entre os objetivos dos Clubes Caixeirais83 estava a resistência

aos abusos e à exploração patronal, o mutualismo, atividades recreativas e o

socorro aos desempregados da categoria. Além desses fins destinados à assistência

79

Para um estudo mais filosófico-religioso mais detalhado deste conto vide BORGES, Luís. O milagre de Natal em Lígia Fagundes Teles e Simões Lopes Neto. In BAVARESCO, Agemir; BORGES; Luís (org.). travessia do pampa. Fontes e projetos da cultura gaúcha. Porto Alegre: WS Editor, 2003, pp. 144-164. 80

Para um estudo das Trezentas onças vide RITZEL; Leila Agne; REMEDIOS, Maria Luiza Ritzel.

Identificação do homem- natureza em Trezentas onças, conto de Simões Lopes Neto. In Literatura, n. 3. Santa Maria/RS:UFSM, dezembro de 1976. 81

DINIZ, 2003, p. 233. A conferência O menino Jesus se encontrava entre os manuscritos do escritor, no Baú de Dona Velha, em poder de Mozart Victor Russomano, o qual permitiu que o biógrafo Sica Diniz obtivesse cópia. Esse texto, por enquanto, permanece indisponível, uma vez que pertence aos citados acervos particulares. 82

No ano seguinte ao movimento dos caixeiros, aprovou-se a lei de fechamento do comércio aos domingos e feriados, à tarde, no Código Municipal de Posturas. 83

Para mais detalhes sobre os Clubes Caixeirais vide DUARTE, Paulo César Borges. A fundação e os objetivos dos Clubes Caixeirais no Rio Grande do Sul (1870 a 1890). História em Revista, vol. 6, pp. 97-114, dezembro de 2000.

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e à organização de classe, a reforma estatutária de 1895, em seu artigo 3° § 8,

previa como um dos objetivos estabelecer cursos de instrução 84.

O Clube Caixeiral de Pelotas também foi obra da Maçonaria, bem como o

Asilo de Órfãos Nossa senhora da Conceição (AMARAL, ob. cit., p. 49). Cumprindo

rigorosamente a previsão estatutária, em 11-10-1898 é fundada a Academia de

Comércio do Clube, sendo seus promotores Raimundo Pinto da Silva, Silvino

Joaquim Lopes e José Borges de Eça de Queiroz. Formaram a primeira diretoria o

dr. Ulises S. de Araújo Batinga, Manuel Luís Osório e M. S. Gomes de Freitas. 85 Em

10-04-1909, inaugurou-se, em beneficio da Academia de Comércio, uma

“Exposição-quermesse” 86 no Clube Caixeiral, cujo orador oficial foi João Simões

Lopes Neto. 87 No ano seguinte o curso foi reduzido de seis para cinco anos,

obedecendo ao que rezava a lei federal de 09-01-1905. 88

Em 20-02-1913 a Academia de Comércio do Clube Caixeiral realizou a sua

primeira colação de grau de bacharéis em ciências comerciais, sendo paraninfo o dr.

Joaquim Luís Osório. Os formandos foram Ildefonso Alves de Carvalho e Nede

Lande Xavier. O corpo docente era constituído por F. da Cunha Ramos, João Afonso

Corrêa de Almeida, Gregório Romeu Iruzum, Hermenegildo Bicker, Manuel Luís

Osório, Fernando Luís Osório, Joaquim Luís Osório, Luís Gomes de Freitas,

Henrique Krentel, Rudi Schäfer, J. J. Albuquerque Barros, Frederico Torres, Alípio

Telles, Frederico Trebi, M. S. Gomes de Freitas, Francisco Rodrigues de Araújo,

84

Estatutos do Clube Caixeiral de Pelotas. Aprovados em sessão de assembléia geral de 21 e 28 de julho de 1895. oficina a vapor da livraria Americana de Carlos Pinto & Cia., 1895, pp. 1-2. 85

Anais do Clube Caixeiral de Pelotas. Publicado por ocasião do seu cinqüentenário em 25 de dezembro de 1929. livraria do Globo, s/l, 1929, p. 12. 86

O jornal A Opinião Pública, Pelotas, na sua edição de 24-11-1909 relata que a festa foi abrilhantada pelas bandas União Musical e do Clube Caixeiral. Aberta a sessão, falou Ildefonso Carvalho, seguindo-se com a palavra o orador João Simões Lopes Neto. Após foi descerrada uma cortida, dando início à inauguração da Exposição-quermesse, surgindo no alto, em uma grande escadaria, a menina Maria, filha do sr. J. B. Eça de Queiroz, a qual trazia o estandarte do Clube. Outras meninas representavam várias nações. Vinham vestidas de branco, exibindo faixas dos respectivos países: eram elas: Sarita Sá Lucas (Brasil), Diva Brauner (Portugal), Nina Carvalho (Espanha), Etelvina Wetzel (França), Cora Gaspar (Uruguai), Haidée Osório da Silva (Chile), Prendinha Mascaranhas (EUA), Maria Vilela (Argentina), Adília Wetzel (Itália) e Adelaide Silveira (Alemanha). As porta-estandartes foram: Luíza Osório da Silva (Banda do Clube Caixeiral) e Luíza Echocaray (corpo cênico). Nos dois espelhos do salão, pintadas pelo jovem Hilário Gomes estavam dois grandes cisnes e uma alegoria à imprensa de Pelotas. A copa e o tiro ao alvo foram ornamentados pelos senhores Francisco Gomes e Pedro Espíndola. Sob direção do sr. Menotti Giusti. A Sociedade Recreio dos Artistas realizou animado baile. 87

Idem. 88

Idem.

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Henrique d‟Ávila Gonçalves, Ulisses de Araújo Batinga. Augusto Simões Lopes e

João Simões Lopes Neto. 89

Percebe-se, pois, que o intuito dos líderes maçons de expandir a instrução se

dá em várias frentes. Assim como no caso da academia de Comércio do Clube

Caixeiral, do mesmo modo correu na fundação do Ginásio Pelotense, resumindo

seus objetivos educacionais no cultivo de uma filosofia que propugnasse um ensino

independente de sectarismos, combatesse o ensino clerical (Apud AMARAL, ob. cit.,

p. 117). A apologia do laicismo, segundo o ideário maçônico, visava preparar futuros

cidadãos aptos a viverem em uma democracia, da qual deveriam ser bons

auxiliares, e não pela sua educação estreita e fanática, elementos perturbadores da

ordem e do progresso (Idem) .

Ficam patentes as avançadas idéias educacionais e religiosas de Simões

Lopes Neto na peça oratória que pronunciou na inauguração do Colégio Elementar,

publicada no “Diário Popular”, em 19-06-1913. Batendo-se contra o dogmatismo na

ciência e nos métodos de ensino, Simões investe também contra o sectarismo

religioso, deixando entrever uma nítida identificação com vários pontos do programa

maçônico, acima sumariamente exposto:

O vocábulo – religião – no seu elevado sentido de sistema político-moral, só teria todo valor para o próximo bem humano, quando um, sufocado o espírito de seitismo, se preparasse e se reunisse um congresso mundial de religiões.

Que portentosa maravilha de bálsamos sociais se poderia elaborar, quando, nesse conclave colossal, explendessem proposições e cláusulas projetadas para cima dos interesses transitórios, e reboassem as palavras sábias dos homens mais eminentes pela reflexão, pelo estudo, pelo desprendimento... quando tocados pela única filosofia do bem, do belo e da verdade, todas concorressem lisamente e fervorosamente na superior organização da religião – suprema consoladora – sustentadora, compreensível e capaz de ser praticada, dignificada. Seria o transunto do hinário budista e cristão, judeu e maometano; e Confúcio e Platão e Sócrates, Lutero e Calvino e o Papado e Comte, e os doutrinários do socialismo, cada qual cedendo e reavivando os fachos primaciais de sua pregação; nem dogmas, nem imagens, nem rituais... apenas a simplicidade pura no domínio moral, tal como na matemática, a mais transcendental das ciências...

Que momento surgiria, esse, imperecível e harmônico, todo composto de claras verdades, sancionadas pela razão, dulcificadas pelo sentimento, como flamas de alto porte, para a edificação do maior dos códigos da anelada paz humana...

89

Idem, p. 13.

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Sobre esse discurso o semanário católico “A Palavra” assim se manifestou:

Com grande brilho foi inaugurado o primeiro Colégio Elementar, instituição utilíssima e belo ornamento desta cidade de Pelotas. Assistiram ao ato as altas autoridades municipais e políticas e representantes de todas as classes. Infelizmente o orador oficial não achou inconveniente ferir os sentimentos de muitos convidados repetindo conceitos – antes preconceitos – pessoais anti-religiosos, que alhures já externou, que porém na ocasião eram totalmente descabidos. Esses ataques à religião e ao dogma trouxeram uma nota discordante à bela festa e desagradaram geralmente. (A Palavra, Pelotas, 22-06-1913)

Simões Lopes Neto mostra-se, nesse discurso, também defensor da liberdade

religiosa e dos direitos civis, embora expresse em seu pensamento, conforme as

idéias comuns da época, entre os homens “esclarecidos”, um iluminismo

escolacêntrico, chegando a confundir educação e instrução: Foi a instrução. Só ela

que fez tudo e o que é mais, foi a instrução sem dogma, sem ciência oficial, livre,

superior, soberana (LOPES NETO, João Simões. Discurso oficial proferido na

inauguração do primeiro Colégio Elementar de Pelotas. Diário Popular, Pelotas, 19-

06-1913).

Por aí, constatamos que ele atribui à instrução um caráter intrinsecamente

emancipatório. Contudo, era o escritor bastante compreensivo, coisa pouco comum

naquele tempo em homens que professavam sua crença no ideário positivista e

evolucionista, para com as manifestações da religiosidade popular, inclusive

atribuindo-lhes legitimidade como fonte de renda, com isso equiparando-a em

direitos à venalidade das religiões de elite, a respeito das quais o impagável Serafim

Bemol não perdia oportunidade de ridicularizar nas suas Balas de estalo:

O bispo queixou-se ao Papa, Que o mundo está com frieiras... Nos ímpios dando rasteiras. O bispo queixou-se ao Papa! (Que tempo, o das amoreiras!...) ninguém deste mal s‟escapa: O bispo queixou-se ao Papa, Que o mundo está com frieiras Pobre papa que não papa, As papas de seu desejo: E tem procurado o ensejo, Pobre papa que não papa,

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O bispo sentido o pejo, Não quer o jogo do Rapa; Pobre papa que não papa, As papas de seu desejo! E vai, deitando uma homilia, Lastima a falta de enxofre, Com o qual o mundo sofre... E vai, deitando uma homilia (cacete rima, esta em ofre!) foi tomar chá co‟a família, E vai, deitando uma homilia, Lastima a falta de enxofre. (A Pátria, Pelotas, 12-09-1889)

Vejamos o sarcasmo com que dá estocadas na Igreja em sua coluna Tesoura

Hilariante:

Disse a um frade um sujeito, com voz bastante sentida: - É vossa reverendíssima quem sabe levar a vida! Não há bem que não lhe chegue nem pesar para o consumir; depois de dormir, comer, depois de comer, dormir; boa cama, melhor mesa, isento de comoções... Interrompe o frade aflito: - Não conta as indigestões? (A Pátria, Pelotas, 18-04-1890)

Numa das Balas de estalo, redigidas em prosa, Simões Lopes Neto, digo,

Serafim Bemol comenta uma notícia aparecida na imprensa de Porto Alegre, na qual

se relatava a prisão de um velho “feiticeiro”, chamado tio Pedro. Protestava contra o

ato inconstitucionalissimamente praticado. E continua:

De fato, sendo a religião e qualquer culto de livre exercício, no Estado, não vejo em que a mandinga

i possa ser coagida a dar contas de seus atos.

Se uns adoram bem incarnadas, com belos mantos de veludo, e resplendores de prata, se outros deitam órgão e cantochão sem imagens, se outros adoram o sol, a carne, o dinheiro, a cachaça, a roleta, etc... e ninguém se mete a abelhudo com tudo isso, o livre exercício da mandinga deve ser garantido em sua plenitude. [...] Agora, se o mandingueiro, no exercício de sua profissão, leva à loucura ou à cova algum idiota, então sim, chamem-no – com provas - à responsabilidade, ou arrebentem-lhe a alma a cacete e mais a quem ele lealmente serviu. Se um médico, a quem a constituição nivela ao mandingueiro, no livre exercício da profissão, comete um erro de ofício e defunteia, e os interessados querem isso provar, provam com exames, autópsias, etc...etc... Portanto, provas, provas contra tio Pedro: do contrário, continuo

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dizendo que a lei foi violada. [...] No entanto, na mandinga política há cada tio Pedro de marca e ninguém se mete com ele. [...]

Tio Pedro, Pedro dos feitiços: na comédia Os bacharéis há uma frasezinha que eu vou lhe dar de presente: a lei é uma teia de aranha, em que os mosquitos se enredam e que os besouros rompem. (Diário Popular, Pelotas, 21-05-1895)

No trecho citado, ao lado da fina ironia e da clássica argumentação

republicana, bem ao gosto do espírito da constituição liberal estadunidense,

encontramos um intransigente defensor não só da liberdade de culto, mas dos

direitos dos pobres que – conforme se pode depreender do texto citado e do final,

aqui não transcrito - tais como as grandes autoridades eclesiásticas, se

locupletavam da fé pública, para obter dinheiro e vantagens, mas diferentemente

daqueles, não encontravam a proteção dos políticos ou da lei.

Numa das crônicas da coluna Inquéritos em contraste, publicada no “A

Opinião Pública”, a que Simões Lopes neto batizou de A tia das encomendas, o

autor comenta, à moda de João do Rio, o imaginário popular dos bruxedos e

superstições.

Como adepto do positivismo e das concepções cientificistas, pasma, ao dizer:

“O tempo dos bruxedos – Não passou.” (LOPES NETO, João Simões. A mandinga.

In MOREIRA, 1983, p. 106) E adiante: “No século XIX! Isso é incrível!” (Idem, p. 137)

Essa concepção da cultura popular é típica da Geração de 1870. Para os

próceres da Nova Geração, bem como para Simões Lopes Neto, todo projeto cívico

e de desenvolvimento nacional deveria passar necessariamente pela libertação da

ignorância científica, o que deveria atingir todas as classes sociais, pois conforme

procura mostrar na Tia das encomendas, a freguesia das feiticeiras e das

cartomantes é variada: Lá vai, desde a madama pimpona até a mais boçal

cozinheira, desde a madurona chata como uma tábua de engomar, até a rapariga

em pleno frescor, desde a MOMENTÂNEA até a velha ostra amorosa...” (LOPES

NETO, J.Simões. a tia das encomendas. A Opinião Pública, Pelotas, 03-07-1913). E

continua: A tia escuta e depois pede os preparos para a ENCOMENDA e algum

dinheiro para outras coisas particulares. (Idem)

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O autor, sob o pseudônimo de João do Sul, vai desfiando os diálogos

travados entre a Tia e a consulente. Tenta examinar a psicologia feminina, em

particular, motivações de ordem menor (a vingança e o ciúme), para a contratação

das encomendas: “Pra uma sicrana que se quer vingar de outra, que ela acoima de

sirigaita, oferecida, o PREPARO chega, às vezes, ao trágico” (Idem), pois “os

remédios da Santa Casa não curam os meus marcados...” 90

Simões alerta não apenas para a face mesquinha e perigosa de tais práticas,

mas também quanto os charlatões (as Tias das encomendas, feiticeiras etc) se

locupletam com a ignorância – sendo elas próprias também ignorantes - do povo:

Custe o que custar; todo o meu ordenado, ainda que eu tenha de roubar... eu quero

dar um baque naquela desgraçada... ((LOPES NETO, J.Simões. a tia das

encomendas. A Opinião Pública, Pelotas, 03-07-1913) [...] “Deixe 12$000. E se

quiser traga os PREPAROS...” (Idem)

E a cliente responde: Agora só tenho aqui 8$000; era tudo para o aluguel do

quarto...mas ficam aqui. Quero um trabalho bem feito!... (Idem)

Diante dessa situação, só a luta pela instrução, sobremaneira de cunho

filosófico e científico, para que o povo brasileiro – incluindo aí brancos e negros,

ricos e pobres – possa emancipar-se e rumar para o Progresso.

É interessante notar, conforme já se disse, que esse tema não é novo em

Simões Lopes Neto, pelo menos, no que tange à representação do cotidiano mítico-

religioso da sociedade pelotense de então, sendo este o assunto do folhetim A

mandinga (1893) 91.

A narrativa simoniana ou o poema em prosa tragicômico-burlesca, conforme

está consignado n‟A mandinga, versa com humor sobre amores desencontrados. As

90

Idem. Para uma discussão sobre a questão do envenenamento provocado por escravos e ex-escravos vide SILVA, Roger Costa da. Muzungas: consumo e manuseio de químicas por escravos e libertos no Rio grande do Sul (1828-1888). Pelotas: Educat, 2001. 91

Com esse título publicou Simões Lopes Neto, sob o pseudônimo de Serafim Bemol, um folhetim em 15 capítulos, em colaboração com D. Salústio e Sátiro Clemente (que supomos ser outros pseudônimos de Simões), no “Correio Mercantil”, de Pelotas, publicado entre 15 de outubro e 14 de dezembro de 1893.

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paixões não correspondidas vão desembocar no terreiro de um Preto Velho, o

Caboclo. O feiticeiro segue o estereótipo que o naturalismo fez desses personagens.

Estereótipo, aliás, solidamente estabelecido já no romance romântico macediano,

como é o caso de Pai Raiol, em Vítimas-algozes (1869). Mais tarde, o naturalismo,

na trilha da pseudo-ciência do “romance experimental” de Zola, terá seus próceres

em Aluízio Azevedo e Júlio Ribeiro, que a seu modo, apresentam os negros como

seres bestiais e sua religiosidade como superstição ignorante e perversa. Vejamos a

fala do personagem Cirilo Pereira, marido de Nham Pombinha: “(...) ora vejam, este

diabo do Caboclo, a dar sessões de feitiçaria, a que horas da madrugada, para se-

duzir a gente honesta, e quem sabe dar cabo dela!” (LOPES NETO, J.Simões. A

mandinga. In MOREIRA, 1983, p.137).

Em A mandinga, apesar do tom leve, Simões Lopes Neto segue de perto o

programa herdado da Geração de 1870, com seu espírito anti-metafísico e sua pai-

xão pela ciência. Diz o autor no prólogo à mandinga: “O tempo dos bruxedos – Não

passou.” Adiante descreve os cultos afro-brasileiros e os sentimentos populares a

respeito dos feiticeiros:

São as ignóbeis beberagens; as representações barbaramente teatrais de cenas caóticas; as invocações – os gritos – os trejeitos – as contorções.

E o povo – por mais que ria – cá fora – lá dentro – no santuário – prostra-se. Porque, apesar de tudo – ele não fala no feiticeiro – sem uma ponta – nem sempre bem oculta de um vago receio – como se o bruxo – estivesse – aqui – ouvindo e pronto a saltar sobre o imprudente e sufocá-lo como laço invisível e todo poderoso a sua aliança com o DEMÔNIO. (LOPES NETO, J.Simões. A mandinga. In MOREIRA, 1983, p.106)

Resuma-se o enredo: Elesbão Soares, um solteirão razoavelmente rico,

apaixona-se por Nham Pombinha, ao vê-la sair da igreja. Ela é casada, em

segundas núpcias com Cirilo Pereira. A jovem, porém, entediada com o casamento

apaixona-se pelo enteado, Hilário. A fim de verem seus amores realizados,

Pombinha e Elesbão, recorrem ao Caboclo, um preto velho mandingueiro.

Encontram-se numa mesma sessão e, por obra da polícia, que vem perseguindo o

preto velho, fogem e escondem-se num mesmo local. Falecendo Cirilo, por força das

mandingas encomendadas por Pombinha ao Caboclo, esta se casa com Elesbão, o

solteirão endinheirado, enquanto Hilário, também por força de mandingas, desposa

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uma jovem vizinha, Doricélia. Elesbão e Hilário acabam ambos sucumbindo às

mandingas, enquanto Pombinha enlouquece. 92

O curioso dessa narrativa é que as personagens, buscando o autor fazer um

recorte dos costumes, não pertencem às classes pobres, antes são pequenos-

burgueses, cuja imagem social procuram preservar, mesmo à custa de hipocrisia.

Nesse sentido, desmascara o mito de que o “curandeirismo”, a “feitiçaria”, seriam

recursos buscados apenas entre os supostamente ignorantes ou pobres, mostrando

que, apesar de tudo, quem se dera bem fora o preto velho, o Caboclo.

Mostramos, em traços ligeiros, o aspecto das convicções de Simões Lopes

Neto no campo religioso ou da filosofia sobre a questão religiosa, ainda merece um

estudo mais apurado, tanto naquelas obras em que o autor se manifesta como tal,

quanto nas que falam seus personagens, que nos trazem, para utilizar uma

expressão de Bakhtin, uma realidade literária dialógica (BAKHTIN, 1992)

Desembaraçar esse emaranhado de teorias gnosiológicas, estéticas e

político-filosóficas é muito difícil. Assim, o que, em linhas muito gerais, podemos

identificar é aquilo que Machado de Assis chamou de um bando de idéias novas,

que misturam o ideal republicano, a musa científica e anticlericalismo, cuja matriz é a

chamada Geração de 1870, que tem em Sílvio Romero um de seus mais típicos e

significativos representantes.

Importa dizer, pois, que as idéias e ideais cívico-pedagógicos de Simões

Lopes Neto estão eivados do programa da Idéia Nova da Geração de 1870,

acrescentados novos elementos que perfaziam o debate político, social, estético e

filosófico do Brasil das primeiras décadas do século XX, cujas maiores

preocupações giravam em torno dos problemas educacionais e da modernização

econômica do País, daí a grande necessidade das cruzadas cívicas como as que

empreenderam Coelho Neto, Olavo Bilac e o próprio autor de Contos gauchescos

(1912).

92

Para mais detalhes sobre o folhetim A mandinga vide BORGES, 2007, vol. 1, pp. 176-182.

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Simões Lopes Neto como herdeiro da Geração de 1870, cuja ideologia

escolacentrista e sanitarista perpassou as primeiras décadas da República e com

mutações alcançou a Revolução de 30, não deixou de interessar-se pela questão da

higiene.

1.2.4 – Higiene e sanitarismo

A rápida disseminação do pensamento sanitarista foi discutida por vários

intelectuais da época, tais como Monteiro Lobato:

Idéias há que ferem fundo e se propagam com tal rapidez, coligem tal número de adeptos, empolgam de tal forma o espírito, explicam com tal lucidez tantos fenômenos desnorteadores que, ainda em meios de opinião rarefeita como o nosso, passam rapidamente da fase estática para a dinâmica. Fazem-se força, e levam de roldão todos os obstáculos. A idéia do saneamento é uma. (LOBATO, 1948, p. 297)

O movimento sanitarista era fundamentalmente um movimento de elite. É

verdade que dava “uma vista de olhos para a população” 93, mas pouco fez além da

distribuição de exemplares da história do “Jeca Tatuzinho” (LOBATO, 1948, pp. 329-

340), num país que contava, em 1920, 70% de analfabetos.

93

Cf. expressão de Nicolau Sevcenko em entrevista à Veja, p. 6, 25 de janeiro de 1984.

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Figura 17 – Folheto do “Jeca Tatuzinho”, que vinha inserido no Biotônico Fontoura

De maneira geral o movimento sanitarista não sentia necessidade de

esclarecer e buscar apoio da opinião pública. Os limites de sua atuação eram dados

pelo regime oligárquico, desinteressado da mobilização popular. (LUZ et al., 1980,

pp. 195-205)

Se a proposta de saneamento dos sertões (isso também valia para a zona Sul

do país) era elitista, persiste a questão do formidável impulso que tomou o

movimento, atraindo setores das classes médias, formando correntes favoráveis às

teses sanitaristas dentro do Parlamento e agitando a imprensa.

O movimento sanitário representou um canal dos mais importantes na

República Velha para o projeto ideológico de construção da nacionalidade. A ligação

saúde pública e nacionalidade é talvez o traço mais distintivo do movimento sanitário

brasileiro em relação ao europeu e norte-americano.

Até por volta de 1915, a suposta incapacidade racial do brasileiro era

considerada uma pedra no caminho da modernização. A vinda de sangue novo com

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o imigrante europeu representava o mais importante trunfo das elites para a

desejada salvação nacional. Ora, a queda da imigração européia durante a primeira

guerra mundial abriu caminho para propostas alternativas. Ademais, mesmo nos

anos de forte imigração, só os estados meridionais se beneficiavam da entrada de

europeus. Os sanitaristas acenavam com uma proposta que atraia não só as elites

do sul como as do norte. Nosso atraso, diziam, se devia à doença, não ao

determinismo biológico. A construção da nacionalidade exigia que as elites

desviassem os olhos sempre postos na Europa para o interior do Brasil, para as

grandes endemias dos sertões. A (re)integração dos sertões à civilização do litoral

representava o grande desafio para o fortalecimento da nacionalidade, pois

tínhamos a seguinte equação: população doente = raça fraca = nação sem futuro.

Importa ressaltar que a relevância política do movimento sanitário esteve

justamente em seus aspectos ideológicos - na idéia-força avassaladora a que se

refere Lobato -, não em suas realizações práticas, que não lograram a erradicação

das endemias rurais. Mas, ainda que de pouco alcance e reduzida eficácia, a

legislação e as políticas de saúde do período lançaram as bases para campanhas

subseqüentes e romperam, aqui e ali, a inércia ou a resistência das oligarquias

rurais.

O movimento sanitarista ganhará novo impulso com o código sanitário (1920),

o qual deu maiores poderes ao governo federal para intervir nos estados. Em

poucos meses, onze estados haviam firmado acordos com o governo central para a

criação de postos de profilaxia no interior. Sete estados eram da região norte e

nordeste. Em 1922, perto de 100 postos de saúde estavam operando, além dos

postos abertos pela International Health Commission da Fundação Rockefeller.

Os médicos e intelectuais que se batiam pela causa do saneamento contaram

com importantes forças de sustentação política e institucional. De um lado, o

movimento sanitarista contava com o apoio de alguns setores de ponta do aparelho

de Estado. Um aliado importante foi a Inspetoria de Obras contra a Seca, criada em

1909, por Francisco Sá, ministro da Viação e Obras Públicas de Nilo Peçanha. De

outro, o movimento sanitário conseguiu adesões importantes no Congresso

Nacional. O deputado Azevedo Sodré, da bancada do Rio de Janeiro, foi um dos

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mais destacados propagandistas do movimento de saúde pública na Câmara

Federal. As correntes políticas pró-saneamento representavam os ideais reformistas

das classes médias das grandes cidades, ou aliavam à defesa de tais ideais o

espírito regionalista dos estados mais duramente atingidos pelas endemias rurais, e

sem recursos para combatê-las. Nesse sentido, pode-se observar que a literatura

regionalista, vinda desde 1898, 94 acompanha como elemento de denúncia das

precárias condições de vida do interior do Brasil, as discussões sobre a questão da

higiene, que sob essa rubrica abrangia vários pontos, entre os quais a reforma

urbana, a salubridade das habitações, as epidemias e, em especial, a tuberculose 95.

O jornal “A Opinião Pública”, na edição de 20-05-1896 relata a morte de

Ismael Simões Lopes, jornalista e político, proprietário do “A Pátria”, órgão em que

nosso escritor publicou as suas Balas de estalo:

Fomos surpreendidos dolorosamente pela inesperada notícia do falecimento de Ismael Simões Lopes, que ainda há dias, estivera em nosso escritório [...]. Deitara-se, havia apenas poucos minutos, quando, às 10 ½ horas da noite, sentindo-se incomodado, ergueu-se da cama, pedindo a sua extremosa consorte um copo de água, para enxaguar a boca, porque „sentia gosto de sangue‟. Logo após, sobrevieram-lhe repetidas golfadas de sangue, com sufocação quase instantânea, caindo sem vida nos braços de sua aflitíssima esposa, que, louca de dor, perdeu os sentidos. Esta desgraça deixou consternados todos os que tiveram ocasião de apreciar a nobreza de caráter e dos dotes de coração daquele bom companheiro. (Apud GIL, 2007, p. 99)

94

Para mais detalhes vide BORGES, 2007, pp. 43-50. 95 Para aprofundar o assunto vide GIL, Lorena Almeida. Mal do século: tuberculose, tuberculosos e

políticas de saúde em Pelotas (RS), 1890-1930. Pelotas: Educat, 2007.

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Figura 18 – Jornalista Ismael Simões Lopes, tio do escritor

A burocratização ao longo do tempo teve um efeito paralisante sobre o

movimento. Ao final da Primeira República a criação do Ministério da Educação e

Saúde Pública retira da bandeira da reforma sanitária sua força ideológica e

transforma-a para usar expressão corrente nos dias de hoje - em projeto

governamental. A “idéia-força” de que falava Monteiro Lobato se torna rotineira, os

propagandistas do saneamento do interior do país abandonam a atividade quase

"missionária" dos primeiros anos.

Conforme pudemos observar, a preocupação com a questão da higiene foi

não apenas traço importante do programa da Geração de 1870, como também da

ordem do dia das primeiras décadas do século XX. A Maçonaria pelotense estava

também preocupada com a questão da higiene, como se pode observar pela série

de artigos publicados no jornal “A Tribuna”, iniciada em 14-01-1911, sob o título

geral de Em favor dos operários – casas baratas. Os redatores enfatizam ainda a

necessidade de a Municipalidade, a exemplo do que ocorria em outros lugares, de

oferecer isenção por um determinado tempo do imposto predial, da taxa cobrada

pela água, pela taxa para o serviço de esgotos, etc, visando dar acesso aos

trabalhares de baixa renda não somente à moradia, mas que esta tivesse condições

salubres de habitação.

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Como homem integrado aos problemas do tempo, Simões Lopes Neto não

ficou de fora dessa discussão. Num artigo intitulado Pelotas e a higiene, sob o

pseudônimo de João do Sul 96, publicado no “A Opinião Pública”, de Pelotas, em 21-

12-1912, afirma o autor peremptoriamente: O principal fator de progresso real,

evidente, de uma cidade é o estado sanitário da mesma.

O conceito de higiene, referido à época é bastante amplo, abarcando

aspectos diversos, que vão da beleza à salubridade: Quem diz higiene, diz uma

cidade bem cuidada, saudável, limpa, atraente. (Idem)

Simões Lopes Neto toma por modelo a Capital da República, com as

transformações realizadas pelo prefeito Pereira Passos 97, seguindo a linha da

política do “Bota-abaixo”, ele entende que devido ao aumento da população o

número de habitações não é suficiente para alojar em condições de salubridade.

(Idem) Então Simões interroga:

As construções iniciadas serão suficientes para resolver o problema?” Duvida que isso seja possível, uma vez que “as casas não estão ao alcance das bolsas proletárias é justamente isso o ponto principal a cuidar na higiene de uma cidade. Pelo preço elevado, cotidianamente, o pobre procurará a casa barata, ali aloja-se com a família inteira, apesar das péssimas comodidades da habitação. [...] Acossado pelas ameaças de fome, aumentado o preço dos gêneros de primeira necessidade, temos a pobreza mais acentuada e a procura das mansardas infectas... (LOPES NETO, João Simões. Pelotas e a higiene. A Opinião Pública, Pelotas, 21-12-1912)

Ainda na perspectiva de que a incipiência da educação científica e geral em

nosso país atinge todas as classes sociais, e é a responsável por doenças,

assevera:

96

Sobre os pseudônimos de Simões Lopes Neto vide MONQUELAT, Adão. Capitão João Simões... e sua Cia. de Joões. In MONQUELAT, Adão; DINIZ, Carlos Sica; MAGALHÃES, Mário Osório. Novos textos simonianos. Contos urbanos e poemas de J. Simões Lopes Neto. Pelotas: Confraria Cultural e Científica Prometheu/ Livraria Lobo da Costa, 1991, pp. 47-51. 97

Para mais detalhes vide BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um hasmann tropical. A renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esporte; Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural; Divisão de Editoração, 1992, e também ROCHA, Oswaldo. A era das demolições na cidade do Rio de Janeiro. 1870-1920. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esporte; Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural; Divisão de Editoração, 1995.

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Na casa abastada, mais ou menos, se trata do bom estado higiênico, não tanto pelo conhecimento dos seus efeitos, e sim pelas exigências sociais. Mas na habitação do pobre há dificuldade, aliada a uma falta de preparo moral que não lhe foi dado na infância. (Idem)

Deste modo, a “higiene deve, pois, cuidar de perto a melhoria das casas,

vigiar diretamente o número de habitantes, as condições sanitárias das casas e

assim evitar a explosão de moléstias contagiosas”, sobretudo a tuberculose, “que é

uma ameaça que pesa constantemente sobre os habitantes de Pelotas”. A respeito

da doença afirma: A tuberculose, entre nós, é um dos grandes males que nos

assolam e sobre este aspecto enganador de cidade ventilada, iluminada, temos o

obituário numa porcentagem terrível (Idem).

O papel do Estado, segundo o articulista, não se deve restringir em apenas

isolar os doentes, mas agir de maneira profilática, “sem o que é desconhecer os

mais rudimentares princípios da medicina pública.” Adverte também que a ação da

higiene não deve ser pontual, atacando os casos patológicos manifestos, passando

a criticar o ensino das faculdades, “onde os professores, em geral, imbuídos das

doutrinas do século passado, hipnotizados pelas lesões, dão a orientação que faz

médicos para doentes...” (Idem)

Além disso, o escritor propugna fazer um esclarecimento a todos:

Bem sabemos a dificuldade que há em convencer certa gente na aceitação de medidas de real valor sanitário. Há bem poucos anos vimos no Rio de Janeiro levantado em peso contra a vacinação obrigatória, medida donde logo tiram interpretações políticas e pseudo-filosóficas! Mas a maior dificuldade, às vezes, está em convencer os que se deixam levar por teorias que nada tem de ver com a higiene. É triste ver-se como uma vaga e metafísica noção de liberdade encontra apoio em nome de merecimentos em detrimento da saúde da coletividade, que não pode estar, de modo algum, à disposição de preconceitos e dogmas de qualquer doutrina político-religiosa e a ação do Estado moderno tem seus limites e a vida, a saúde, o bem-estar da coletividade estão acima das discussões

filosóficas, ao lado dos altos interesses humanos da espécie. (Idem)

No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, como capital da

República, apesar de possuir belos palacetes e casarões, tinha graves problemas

urbanos: rede insuficiente de água e esgoto, coleta de lixo precária e cortiços super

povoados. Nesse ambiente proliferavam muitas doenças, como a tuberculose, o

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sarampo, o tifo e a hanseníase. Alastravam-se, sobretudo, grandes epidemias de

febre amarela, varíola e peste bubônica.

Decidido a sanear e modernizar a cidade, o então presidente da República

Rodrigues Alves (1902-1906) deu plenos poderes ao prefeito Pereira Passos e ao

médico Dr.Oswaldo Cruz para executarem um grande projeto sanitário. O prefeito

pôs em prática uma ampla reforma urbana, que ficou conhecida como bota abaixo,

em razão das demolições dos velhos prédios e cortiços, que deram lugar a grandes

avenidas, edifícios e jardins. Milhares de pessoas pobres foram desalojadas à força,

sendo obrigadas a morar nos morros e na periferia.

Oswaldo Cruz, convidado a assumir a Direção Geral da Saúde Pública, criou

as Brigadas Mata Mosquitos, grupos de funcionários do Serviço Sanitário que

invadiam as casas para desinfecção e extermínio dos mosquitos transmissores da

febre amarela. Iniciou também a campanha de extermínio de ratos considerados os

principais transmissores da peste bubônica, espalhando raticidas pela cidade e

mandando o povo recolher o lixo.

As notícias eram alarmantes:

Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados à pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz. (Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904).

A resistência popular, quase um golpe militar, teve o apoio de positivistas e

dos cadetes da Escola Militar. Os acontecimentos, que tiveram início no dia 10 de

novembro de 1904, com uma manifestação estudantil, cresceram consideravelmente

no dia 12, quando a passeata de manifestantes dirigia-se ao Palácio do Catete, sede

do Governo Federal. A população estava alarmada. No domingo, dia 13, o centro do

Rio de Janeiro transforma-se em campo de batalha: era a rejeição popular à vacina

contra a varíola que ficou conhecida como a Revolta da Vacina, mas que foi muito

além do que isto.

Para erradicar a varíola, o sanitarista convenceu o Congresso a aprovar a Lei

da Vacina Obrigatória (31 de Outubro de 1904), que permitia que brigadas

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sanitárias, acompanhadas por policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à

força.

Figura 19 – Tumulto durante a Revolta da Vacina, em 14 de nopvembro de 1904

A população estava confusa e descontente. A cidade parecia em ruínas,

muitos perdiam suas casas e outros tantos tiveram seus lares invadidos pelos mata-

mosquitos, que agiam acompanhados por policiais. Jornais da oposição criticavam a

ação do governo e falavam de supostos perigos causados pela vacina. Além disso, o

boato de que a vacina teria de ser aplicada nas "partes íntimas" do corpo (as

mulheres teriam que se despir diante dos vacinadores) agravou a ira da população,

que se rebelou.

A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da revolta: no dia 5 de Novembro,

a oposição criava a Liga contra a Vacina Obrigatória. Entre os dias 10 e 16 de

novembro, a cidade virou um campo de guerra. A população exaltada depredou

lojas, virou e incendiou bondes, fez barricadas, arrancou trilhos, quebrou postes e

atacou as forças da polícia com pedras, paus e pedaços de ferro. No dia 14, os

cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha também se sublevaram contra as

medidas baixadas pelo Governo Federal.

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A reação popular levou o governo a suspender a obrigatoriedade da vacina e

a declarar estado de sítio (16 de Novembro). A rebelião foi contida, deixando 50

mortos e 110 feridos. Centenas de pessoas foram presas e, muitas delas,

deportadas para o Acre.

Ao reassumir o controle da situação, o processo de vacinação foi reiniciado,

tendo a varíola, em pouco tempo sido erradicada da capital. (MEHY & BERTOLLI

FILHO, 2001).

Figura 20 – Assentamento dos tubos da rede hidráulica. À direita o

empreiteiro Dr. A. Lamy e a esquerda o Engenheiro Fiscal Dr. Benjamim Gastal

Ao comentar a Revolta da Vacina, Simões Lopes Neto entendia que contra a

ignorância popular se justificava a força, isto é, dever-se-ia esclarecer o povo antes

que ele agisse contra si mesmo, nem que isso tivesse de ser feito de maneira

autoritária.

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CAPÍTULO 2

O PROJETO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO DE SIMÕES LOPES NETO E SUAS

DIVERSAS MANIFESTAÇÕES

2.1 – A União Gaúcha e o Tiro de Guerra 31

Talvez a primeira manifestação concreta do Capitão da Guarda Nacional

João Simões Lopes Neto, em relação a atividades cívico-pedagógicas, tenha sido

sua participação na União Gaúcha, a segunda entidade do gênero a aparecer no Rio

Grande do Sul.

Figura 21 - foto da União Gaúcha

A agremiação foi fundada por 74 tradicionalistas reunidos na sede da

Sociedade Ginástica Alemã, em 10 de setembro de 1889, numa assembléia

presidida por Vasco Pinto Bandeira. Numa segunda reunião, na Biblioteca Pública

Pelotense, apresentaram-se três nomes para batizar a novel instituição – União

Gaúcha, União dos Guascas e Sociedade Crioula. Venceu a primeira sugestão por

grande maioria. (DINIZ, 2003, p. 109)

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A diretoria, cujo primeiro presidente foi Justiniano Simões Lopes foi

empossada na chácara Guilherme Bohns, nas três Vendas, ocasião em que foram

admitidos mais 60 sócios (OSÓRIO, 1922, p. 169). Voltando a cidade, pilchados e

montados a cavalo, dirigiram-se ao porto, a fim de cumprimentar o capitão Frederico

da Cruz Secco, diretor das regatas que a ali se realizavam (Idem).

A primeira reunião de diretoria se deu a 3 de outubro no escritório do jornal

“Correio Mercantil”. Assinala Osório (1922, pp. 169-170) que a União Gaúcha teve

alguns de seus mais altos momentos nas festividades em que, em 1905,

homenageou a canhoneira portuguesa “Pátria”, em 1906, em visita oficial ao Brasil.

Nessa oportunidade, alguns membros da União Gaúcha simularam um ataque de

cavalaria a uma trincheira, desmontada e arrastada para fora a peça que a defendia,

por um gaúcho que a laçou. Esse feito e a travessia a cavalo do arroio Pelotas,

empolgaram o público, especialmente o Ministro da Áustria, que assistia o evento,

fazendo-se fotografar pilchado. Depois dessas e outras demonstrações das

peculiaridades gauchescas na guerra e na paz, a festa prosseguiu com churrasco,

declamações de trovas e músicas crioulas (REVERBEL, 1981, p. 193)

A fim de dar efetividade a nova instituição, formou-se uma comissão para

elaborar os estatutos, registrando-se na ata que a associação teria a grandiosa

tarefa de preservar e não deixar cair no esquecimento os hábitos, os usos e

costumes dos nossos gloriosos antepassados e fazendo-os para estímulo e exemplo

dos nossos contemporâneos. (Apud DINIZ, 2003, p. 109) Além disso, um artigo das

disposições estatutárias já deixava claro sua inclinação de caráter cívico:

O fim principal da União Gaúcha é relembrar, honrar e conservar as tradições rio-grandenses; promover e adotar tudo quanto possa concorrer para o engrandecimento pátrio; aviventar a poesia; as músicas e as danças crioulas; cultivar os deveres tradicionais da hospitalidade, da lealdade e do cavalheirismo e do patriotismo rio-grandenses; usar em todas as práticas e diversões campestres os trajes gaúchos e, sempre que possível, manter a forma da equitação rio-grandense, em relação à posição do cavaleiro e ao arreamento, governo e andadura do cavalo. (Apud REVERBEL, 1981, p. 192)

Segundo Osório (1922, p. 170), mostram a colaboração da União Gaúcha no

engrandecimento local o seguinte:

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1) A parte ativa que lhe coube na propaganda inicial e organização do Tiro

Brasileiro de Pelotas;

2) O estímulo que procurou dar à instituição dos exercícios militares na ginástica

escolar;

3) Ao estímulo concedido à Sociedade Agrícola Pastoril, oferecendo uma

medalha de ouro ao melhor grupo de cavalos crioulos;

4) O culto cívico prestado, em assembléia geral, ao intrépido rio-grandense

Plácido de Castro;

5) A simpatia com que acolheu a implantação do futebol em Pelotas;

6) A benéfica ação que empreendeu contra o vergonhoso hábito de companhias

eqüestres e de toureiros utilizarem a bandeira nacional como reposteiro 98;

7) A condenação ao hábito anti-patriótico de hastear bandeiras estrangeiras sem

se fazerem acompanhar do pavilhão nacional.

Pela afirmação acima se pode perceber a preocupação da entidade em

preservar o patrimônio folclórico, como forma de preservação da cultura e da

identidade regional, na medida em que era também fonte de afirmação da

nacionalidade. O escritor Coelho Neto, quando de sua visita à entidade, em 1906,

cognominou-a de arca das tradições rio-grandenses (OSÓRIO, 1922, p. 169).

Figura 22 – Escritor Coelho Neto (1864 – 1934)

98

Este ponto Simões Lopes Neto assinala explicitamente em sua conferência Educação Cívica (1906, p. 12).

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De há muito, a cultura popular era vista pelos intelectuais como um

repositório do gênio, do espírito nacional. Os escritores românticos buscavam nas

fontes folclóricas temas e personagens que representassem emblematicamente a

nação. Seguindo essa tradição os prosadores parnasianos, como de resto a maioria

dos intelectuais brasileiros, buscaram no apuro da forma cultivar o idioma, um dos

maiores símbolos da nacionalidade, ao par de uma série de preocupações de ordem

cívica e moral.

Ao contrário do que se tem divulgado, 99, João Simões Lopes Neto não

esteve entre os fundadores da União Gaúcha, ligando-se a ela, três anos depois da

fundação, em 1901 (Idem, p. 112). Quiçá, a confusão se deu em função de que um

seu parente, o coronel Justiniano Simões Lopes, tio do escritor, tenha sido o

primeiro presidente da sociedade tradicionalista, com um mandato de 1899 a 1900,

quando Vasco Pinto Bandeira assumiu a presidência da associação, eleito em 6 de

outubro de 1900, empossando-se aos 14 dias do mesmo mês. (Idem)

Na gestão de Pinto Bandeira é que Simões Lopes Neto foi proposto e aceito

como sócio da União Gaúcha, em reunião realizada em 10 de julho de 1901. A partir

daí, Simões Lopes Neto estabeleceria um forte vínculo com a sociedade gauchesca,

ficando seu nome indissoluvelmente ligado a ela, de tal modo que atualmente a

entidade se chama União Gaúcha João Simões Lopes Neto.

Em 1911, uma das festas da União Gaúcha foi filmada, ainda por iniciativa

de Simões Lopes Neto, segundo informação de Francisco de Paula Cardoso, que

pertenceu à entidade em 1912, no cargo de 1° orador (REVERBEL, 1981, p. 193).

Afirma Reverbel (Idem) que se realizou assim um dos mais antigos documentários

do estado, servindo de operador o fotógrafo Guido Planella, já então atuando como

um dos nossos primeiros cinegrafistas.

A respeito noticiou o “Diário Popular”, em 30-11-1911: Tal foi o sucesso

alcançado pela fita “A festa da União Gaúcha”, com extensão de 300 metros e

99

Reverbel (1981, p. 191) ao reportar-se à fundação da União Gaúcha, iniciativa de Vasco Pinto Bandeira, César Dias e Vital Costa e mais 62 sócios, inclui entre estes Simões Lopes Neto.

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dividida em 14 quadros, passada já duas vezes, que a empresa Coliseu Pelotense

resolveu incluí-la no programa do espetáculo anunciado para hoje. (Apud

REVERBEL, 1981, p. 193)

E também na edição de 03-12-1911: [...] a Festa da União Gaúcha, a bela

fita local, continua no cartaz do Coliseu, a pedido geral. [...] Milhares de pessoas tem

ido ver esse interessante e lindo filme, que nitidamente apanhou todos os números

da anunciada festa. (Apud REVERBEL, 1981, pp. 193-194)

Segundo Moreira (1999, p. 25) a União Gaúcha participou ativamente das

campanhas para a criação, em Pelotas, de uma sociedade de tiro. Concretizou-se tal

intento na sessão da assembléia geral, sob a presidência do Dr. Ildefolso Simões

Lopes, em 7 de setembro de 1903, cuja ata registrou:

Ligados pelo mesmo desejo de paz, porém, deliberadamente solidários ante o culto cívico da integridade, da ordem e do progresso da Pátria, resolvemos fundar e declaramos fundada a Sociedade de Tiro Brasileiro de Pelotas, sob os moldes e para os fins da Confederação do Tiro Brasileiro. (S. Tiro 31 no aniversário de sua instalação. Almanaque de Pelotas, p. 162, 1918)

Embora se tenha ligado a União Gaúcha em 1901, foi somente em 1905,

porém, que Simões Lopes Neto foi eleito seu presidente, com 75 votos, sendo que o

número de votantes compunha-se de 76 pessoas, tudo indicando que apenas ele

não votara em si mesmo.

O “Correio Mercantil”, de Pelotas, em 21-09-1905 assim se manifestou:

Novos alentos foram manifestados pela briosa agremiação, de que deixou de ser presidente o ilustre médico que todos estimam e admiram (Francisco Amarante), sendo substiuído nesse posto por um cidadão que desde muito vem afirmando a sua dedicada afeição pela União Gaúcha, o inteligentíssimo pelotense João Simões Lopes Neto, um dos nossos mais apreciados intelectuais.

Estava para encerrar-se o primeiro mandato do escritor na entidade

tradicionalista e ele não queria reeleição. Seu candidato era o médico Edmund

Berchon des Essarts, ficando o escritor, na chapa, com a vice-presidência.

(REVERBEL, 1981, p, 146) No entanto, surgiu um impasse. Na assembléia geral da

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União Gaúcha, convocada em 02 de setembro de 1906, cuja finalidade era realizar a

votação, é lida uma carta enviada pelo Dr. Berchon em que o médico retirava sua

candidatura à presidência da sociedade, alegando seus muitos afazeres, tanto em

sua clínica quanto na provedoria da Santa Casa de Misericórdia. Na mesma

assembléia, Simões Lopes Neto apresentou um breve relatório de sua gestão:

[...] foi grande o número de sócios novos; a sociedade melhorou e aumentou o seu patrimônio; conseguiu encerrar o ano financeiro com um valioso saldo em dinheiro; teve a satisfação de ver coroadas do mais brilhante êxito as festas em que a União Gaúcha empenhou-se; por último sente-se desvanecido por ver o geral apoio em torno da aspiração social que agitou, da criação da linha do Tiro Brasileiro. (Apud DINIZ, 2003, pp. 146-147)

Ainda na assembléia de 02 setembro de 1906, apesar do impasse, seguiu-

se a eleição, sem apresentação de candidaturas, sendo Simões Lopes Neto

reconduzido ao cargo. O número de votantes foi de 52 sócios, recebendo o escritor

51 votos, aparecendo Berchon com um voto, aparentemente o voto simbólico de

Simões Lopes Neto. (DINIZ, 2003, p. 147)

O novo presidente da entidade só tomaria posse 23 dias depois de eleito

(Idem), todavia, não esperou quaisquer trâmites burocráticos para continuar

defendendo a causa da implantação de um Tiro de Guerra em Pelotas. Postou

telegrama ao senador Pinheiro Machado (1851-1915) e ao deputado Ildefonso

Simões Lopes (1896-1940), congratulando-se com a aprovação do projeto da

Federação do Tiro Brasileiro (Idem). A mensagem de Pinheiro Machado foi formal,

mas, observa Diniz, que a mensagem enviada ao deputado Ildefonso Simões Lopes,

tio do escritor e seu confrade na União Gaúcha, já tem tintas e o vezo da entidade,

[...] testava o linguajar e o floreio do velho Blau: Gauchada abichornada demora,

hoje sacode o poncho, abre o peito contente, votação Federação Tiro. Patrício.

Toque! – União Gaúcha. (Apud DINIZ, 2003, p. 147). A resposta do deputado veio

no mesmo tom: Longe pagos, acolherados mesmos desejos guapos companheiros,

respondo: toquem! – Simões. (Idem)

Sucessivas protelações decorrentes da necessidade de mudança da sede

social e crescentes dificuldades financeiras da União Gaúcha impediram, apesar do

empenho do Velho Capitão, que a fundação da sociedade de tiro se concretizasse

sob o seu mandato na entidade tradicionalista.

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Em propaganda da iniciativa da fundação de um Tiro em Pelotas, o

farmacêutico e, mais tarde, coronel honorário Antônio Carlos Lopes – que auxiliou a

implantação do Tiro de Guerra na cidade de Rio Grande, em 1902 100 - realizou uma

conferência, aliado às campanhas apoiadas pela bizarra União Gaúcha 101. Estas

campanhas se estenderam até o dia 12 de outubro de 1908, quando foi votada a lei

do sorteio militar 102.

Em sessão solene, na sede da União Gaúcha, presidida pelo coronel Antero

Cunha, foi instalado o Tiro Brasileiro de Pelotas, com 553 sócios, sendo aclamado

presidente do conselho diretor o Dr. Joaquim Luís Osório, que dirigiu a instituição

durante seis anos. Por proposta de Simões Lopes Neto, que se achava empenhado

na mesma campanha, foi concedida uma medalha de ouro e a sala de armas da

entidade foi batizada com o nome de seu primeiro presidente. 103

As atividades do Tiro de Guerra 31 não se restringiam a exercícios militares,

abrangiam também a formação cultural de integrantes, através da Banda Marcial e

da fundação de uma biblioteca de obras cívicas. Além disso, o Tiro 31 dispunha de

um grupo de escoteiros.

100 BENTO, Cláudio Moreira; GIORGIS, Luiz Ernani Caminha (orgs). A educação cívica e o espírito

militar na visão do capitão da Guarda Nacional João Simões Lopes Neto (1865-1916). O gaúcho. Órgão de divulgação das atividades do Instituto de história e tradições do Rio Grande do Sul. Academia de história militar terrestre do Brasil. Delegacia gen. Rinaldo Pereira de Câmara, n. 19, 2003, p. 2. Para mais detalhes sobre a implantação do Tiro Brasileiro em Rio Grande vide GIORGIS, Luiz Ernani Caminha. Revista do Exército, v. 139, pp. 20-22, 2002. 101

Expressão utilizada no texto do Almanaque de Pelotas, 1918. 102

Para mais detalhes sobre a questão do sorteio militar vide GIORGIS, Luiz Ernani Caminha. 70 anos do sorteio militar. A Defesa Nacional, n. 729, pp. 120-139, jul/ ago. 1987. 103

S. Tiro 31 no aniversário de sua instalação. Almanaque de Pelotas, p. 163, 1918. Zênia de Leon (2003, p. 269), faz remontar a fundação do Tiro 31 ao ano de 1903, englobando a entidade já oficializada ao seu germe na União Gaúcha.

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Figura 23 - Partitura Hino do Tiro de Guerra 31

Em 11 de novembro de 1909 o Tiro de Pelotas foi incorporado, na primeira

categoria, à Confederação Brasileira, sob o nº 31, mas que, em verdade, deveria tê-

lo sido feito sob o nº 2, pela precedência da propaganda feita no Brasil, pelas

cidades de Rio Grande e Pelotas. O fato é que ocorreu uma demora na obtenção de

um terreno em condições de receber a linha de tiro e também na homologação dos

documentos necessários à incorporação, em vista de uma dúvida surgida quanto à

naturalidade do sócio Ricardo Peckmann.104

Os primeiros exercícios realizaram-se em 08 de novembro de 1908, no

terreno pertencente ao Sr. Francisco Barbosa, situado à rua General Vitorino.

Posteriormente prosseguiram, com regularidade, nas manhãs de quintas e

domingos, no Esporte Clube Pelotas, suspendendo-se as atividades apenas no rigor

do inverno, em função das dificuldades que a bruma invernal oferecia à visibilidade

dos alvos. O terreno definitivo para a linha de tiro só foi adquirido de Antônio Ribas,

em abril de 1914. (S. Tiro 31 no aniversário de sua instalação. Almanaque de

Pelotas, p. 164, 1918)

104

S. Tiro 31 no aniversário de sua instalação. Almanaque de Pelotas, p. 164, 1918. Pires Moreira (ob. cit.., p.25, 1999) faz referência ao fato de que o Tiro de Guerra de Pelotas deveria ter sido registrado sob o n. 2 e não 31, porém, não esclarece os motivos.

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Figura 24 – Pavilhão da Linha de Tiro 31

A sede do Tiro 31 ficava na Avenida Duque de Caxias, onde se encontra

hoje a Vila Militar. (MOREIRA, 1999, p. 26) Em 11 de novembro de 1909, foi o Tiro

de Pelotas incorporado, na primeira categoria, à Confederação do Tiro Brasileiro,

sob o n. 31. A esta entidade coube o privilégio de possuir a primeira linha de tiro do

Brasil, inaugurada, junto com o pavilhão, a 29 de maio de 1910. No entanto, a

oficialização da linha de tiro teve lugar apenas a 17 de maio de 1912, cabendo ao

intendente municipal, Dr. Cipriano Barcelos, dar o primeiro tiro a uma distância de

300 metros. Na mesma ocasião, o Dr. Joaquim Luís Osório, em seu discurso,

conclamou à execução da lei do sorteio militar, cujo adiamento estava a

proporcionar a decadência das instituições de tiro no país. (Idem, p. 165) Ainda

nessa oportunidade, o intendente e o representante da Região Militar, tenente Faria

Corrêa, hastearam as bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul, prestando

continência à companhia do Tiro, que formou com mais de 60 sócios, sob o

comando do aspirante Waldemar Schneider. O comando geral dos pelotões coube

ao aspirante Januário Coelho da Costa, a Hugo Algayer (2° tenente-atirador do Tiro

n. 4) e ao diretor de tiro Rubens Freitas de Weyne. (Idem, p. 167)

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Figura 25 - 3ª. Companhia do Tiro de Guerra 31

Figura 26 – Januario Coelho da Costa (Esquerda)

e Retrato de Rubens Freitas De Weyne (Direita)

Em 10 de abril de 1912 afastou-se da presidência o Dr. Joaquim Luís Osório,

uma fez que fora eleito deputado federal pelo Rio Grande do Sul, deixando ao partir

para a capital da República, como seu substituto o vice-presidente do Tiro n. 31, o

coronel Joaquim Assumpção Júnior. (S. Tiro 31 no aniversário de sua instalação.

Almanaque de Pelotas, p. 166, 1918) Ainda neste ano ocorreu um raid de infantaria,

realizado entre Pelotas e o Retiro, por 26 sócios, num percurso de 80 km. Nessa

competição classificou-se em primeiro lugar o atirador João Delamar e, em segundo,

Otto Hechtheuer, os quais receberam, respectivamente, por prêmio um fino revólver,

ofertado pela Intendência e uma espada oferecida pela sociedade pelotense. No ano

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seguinte, o Tiro 31 forneceu ao exército a primeira turma de reservistas, composta

dos atiradores Armando Rezende (grau 10), Mário Hugo Lagos (grau 8), Fernando

Falco (grau 7), Paulo Echbest (grau 7) e José Luiz do nascimento (grau 7). O

exame, efetuado a 22 de junho de 1913, teve por argüidores os tenentes Oto Feio

da Silveira, Francisco Marques Fernandes e Elpídio Martins. (Idem)

A entrega das cadernetas de notas fez-se em solenidade, em 9 de agosto de

1913, no salão nobre da Intendência, com a presença de autoridades civis e

militares, ocasião em que discursou João Simões Lopes Neto. 105

Para o mandato seguinte ao de Joaquim Luís Osório foi eleito presidente,

exercendo o cargo de janeiro a dezembro de 1915, o coronel Joaquim Assumpção

Júnior que, ausentando-se da cidade foi substituído na presidência do Tiro 31, nos

meses de março a outubro de 1915, por João Simões Lopes Neto. (S. Tiro 31 no

aniversário de sua instalação. Almanaque de Pelotas, p. 166, 1918).

Quer nos parecer que a última conferência proferida pelo Capitão, em suas

cruzadas cívicas, foi a 3 de maio de 1916 (OSÓRIO, Relatório, 1916, p. 7). Nesse

mesmo ano, a presidência da entidade ficou a cargo do Dr. Fernando Osório, que

em seu relatório concitou os sócios a marcharem na mesma fileira, pela exaltação

do patriotismo, fé consciente, visão objetiva, brilhante e fecunda atividade. (Idem, p.

169). Nessa ocasião, em meio às muitas atividades do Tiro de Guerra 31, faleceria

aquele que por seus serviços prestados à causa patriótica, especialmente à própria

instalação do Tiro, seria cognominado o evangelizador do civismo rio-grandense. (S.

Tiro 31 no aniversário de sua instalação. Almanaque de Pelotas, p. 166, 1918).

Fernando Osório, em seu Relatório do Tiro 31 (1916, p. 14) assim se manifestou

sobre o falecimento do escritor:

Cumpro o doloroso dever de assinalar o falecimento do querido e saudoso amigo, benemérito rio-grandense João Simões Lopes Neto, sobre cujo ataúde depositou uma coroa esta Sociedade, comparecendo incorporada ao enterro, tomando luto por 3 dias. Toda nossa mágoa acentuou-se na piedosa homenagem tributada à memória do inolvidável consórcio, na romaria ao seu túmulo, por ocasião da estadia nesta cidade do excelso paladino da defesa nacional Olavo Bilac, -

105

Ao que parece esse discurso foi incluído numa das publicações do Tiro 31, sob o título Festas Nacionaes, anunciada “a sair” em 1918.

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132

através da palavra comovedora e lapidar do ilustre consórcio Dr. Manoel Serafim Gomes de Freitas.

2.2 – A conferência Educação cívica (1906)

Não retomaremos a discussão, feita brevemente noutra parte desta

dissertação, sobre a revisão ideológico-biográfica de Aldyr Garcia Schlee. Seus

enunciados, pelo menos em parte, atingem a proposição de Lígia Chiappini, de que

o escritor teria um projeto (literário/pedagógico) explícito, cuja origem se encontra

nas conferências sobre educação cívica. Para nosso trabalho a tese de Lígia

Chiappini é nosso referencial teórico fundamental.

Percebemos, como bem o demonstram Arriada & Tambara (2005), o autor

bastante integrado no ideário da intelectualidade brasileira de seu tempo, em certo

sentido, seu projeto é mais que literário (artístico), ele é lítero-educacional,

consciente e explícito. Este é o pressuposto a partir do qual construímos

fundamentalmente nosso arcabouço teórico-metodológico.

Contrariando posições como a de Filipouski, Nunes, Bordini e Zilberman

expressas num esboço biobibliográfico (1973, p. 22), Arriada & Tambara (2005, p.

240) entendem que Simões Lopes Neto esteve efetivamente engajado num projeto

de âmbito continental que primava pela divulgação e consolidação de um ideal

cívico-patriótico que plasmou a consolidação do republicanismo nessa região [o Rio

Grande do Sul].

O projeto simoniano, contudo, não está subsumido num movimento torrencial

das elites letradas da época. Ele guarda sua especificidade espaço-temporal,

especialmente, na dialética forma/fundo que permeia toda a obra lopesnetina, tanto

ficcional quanto a de textos de outra natureza, principalmente os das conferências

cívicas. Tanto assim, que entre as modificações e acréscimos recebidos, a

conferência Educação Cívica, na versão de 1906, teve um trecho aproveitado na

introdução dos Contos gauchescos (1912). Isso demonstra o trânsito ideológico do

seu projeto que transmigrava em gêneros e formas expressivas.

Aqui nos ocuparemos apenas da conferência Educação Cívica (1906), em

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sua versão definitiva, uma vez que esta contém o que continha a versão publicada

nos Anais da Biblioteca Pública Pelotense (volume I), relativa à palestra pronunciada

dois anos antes, a que acrescentou alguns novos elementos.

Figura 27 – Conferencia Educação Cívica 1904 (esquerda)

Conferencia Educação Cívica 1906 (direita)

Nosso principal objetivo não é verificar minuciosamente as diferenças entre

ambas, mas examinar o projeto geral cívico-educacional que está colocado em sua

inteireza na versão de 1906, levada pelo escritor às cidades de Bagé, São Gabriel,

Santa Maria, Rio Grande e Porto Alegre.

Apesar disso, nessa versão de 1906, cuja distribuição foi gratuita,

patrocinada pela União Gaúcha, de Pelotas, pelo Grêmio Gaúcho, de Bagé, e pelo

Grêmio Gaúcho, de Porto Alegre, ao cotejarmos o texto, num dos acréscimos,

verificamos a intenção do autor em reforçar o nexo entre educação, história e

literatura.

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Conforme nos referimos anteriormente, ao aproveitar um trecho da

conferência na introdução dos Contos Gauchescos (1912), Simões Lopes Neto ao

descrever a paisagem do Rio Grande do Sul, evidenciando a presença viva da

história, das tradições, costumes e folclore, capaz de inspirar o sentimento patriótico,

mesmo aparecendo sob a forma da arte literária.

A gloriosa história de nossa terra, para ele, não se restringe ao Rio Grande

do Sul, estado ou província do Brasil. Noutro livro, de caráter didático – Terra

gaúcha, publicado apenas em 1955 – narra nossa história, começando com Sepé

Tiaraju, sendo esta região ainda pertencente ao domínio espanhol. Essa história,

que está olvidada, segundo o autor, necessita ser relatada de várias maneiras, pois,

contando o grande número de iletrados, deve ser levada através de marcos,

monumentos que a eternizem, porque não só os livros devem ficar consignados:

mais eficazmente as páginas de pedra ou de bronze ensinam as multidões.(LOPES

NETO, 1906, p. 2). Encontra-se aí também uma das justificativas para a Coleção

Brasiliana de cartões postais, cuja 1ª série apareceu por volta de 1906. Através da

Brasiliana ele pretendia educar por intermédio da imagem e dos dísticos, elementos

que também os monumentos e estátuas, nos quais ele via uma das principais

finalidades ensinar sobre os fastos da história nacional.

Define assim seu papel de publicista ou de intelectual patriota: lutar contra o

esquecimento da história do País, de suas lutas pela conquista do território,

momento que reserva ao Rio Grande do Sul considerável destaque, e das árduas

jornadas em direção ao progresso e à civilização.

Todo seu projeto, cuja expressão formal abrangeu diversas áreas, inclusive

a literária, é didático-pedagógico, pois coloca em mira a formação do cidadão, de

sua instrução moral e cívica. Inspirou-se Simões Lopes Neto em nomes de

intelectuais que estavam então em grande voga nos debates sobre educação, tais

como Sílvio Romero, Mello Moraes, Rodrigo Otávio, Varela, Manuel Bonfim, Olavo

Bilac e mais especificamente dois livros: Educação nacional (1890), de José

Veríssimo, e Porque me ufano de meu país (1900), do conde Afonso Celso.

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Figura 28 – Folha de rosto “Porque me ufano de meu país”, Afonso Celso

Na conferência, Simões Lopes Neto arrola alguns defeitos do caráter

nacional e suas muitas virtudes, mostrando-se muito confiante no poder

transformador da educação, a fim de que a nação possa desenvolver-se intelectual,

moral e economicamente, para cumprir seu destino de grande potência mundial.

Para tanto, é necessário cultivar a unidade nacional através do desenvolvimento do

espírito cívico. Deste modo, relatar a história do Rio Grande do Sul é apresentado

como uma importante contribuição à brasilidade. Essa brasilidade não deve ser

escrava da xenofobia, devemos crescer sem copiar servilmente a ninguém,

estudando tudo e a todos (LOPES NETO, 1906, p. 6).

É interessante verificarmos a marca das teorias racialistas e sociológicas

que, mais tarde, desembocarão em livros como Retrato do Brasil (1928), de Paulo

Prado (1869-1943), e que tinham precedente em Urupês (1918), de Monteiro Lobato

(1882-1948), sobre a preguiça, a indolência e a tristeza das três raças formadoras

da nacionalidade. Contra este mal, receita autoridade e disciplina imposta pela

família e pelo professor, a fim de moldar o caráter desde tenra idade, citando como

exemplo o modo de vida dos ingleses, norte-americanos e alemães.

Mostra-se também herdeiro de certas soluções da Geração de 1870 quando

ao advogar pelo progresso admite a educação política na escola ou ainda combate o

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ensino religioso obrigatório (LOPES NETO, 1906, p. 9). Critica também a presença

do compadrismo na administração pública, em que médicos estão à frente do

Supremo Tribunal de Justiça ou do Banco da República, que, aliás, é um constante

doente (LOPES NETO, 1906, p. 9). Estende sua crítica à composição do Congresso

Nacional, pelo excesso de profissionais liberais e militares e primando pela ausência

de agricultores, criadores, industriais e demais setores produtivos. Sintetiza a

situação do país em três termos: coronelato, diploma e latifúndio. Aparece aí a frase

irônica em que faz sua autocrítica: eu tive campos vendi-os, freqüentei uma

academia, não me formei, mas sem terras e sem diploma continuo a ser... capitão da

guarda nacional. (LOPES NETO, 1906, p. 10).

Simões Lopes Neto não defende um apego saudosista106 ao passado pelo

passado, mas adere a uma modernidade que leve em conta as condições, os

hábitos e o gênio dos habitantes do país, lamentando a implantação de hábitos,

usos e costumes em desacordo com o nosso temperamento, o nosso clima, o que

acontece nos grandes centros do Brasil que se querem cosmopolitas:

Não é que deseje que ficássemos estacionários, imóveis, perante as novas formas do viver moderno; eu lamento é a implantação de hábitos, usos e costumes em contraste em desacordo com o nosso temperamento, o nosso clima. O estrangeiro é tão firme na tradição, que mesmo na terra estranha ele a põe em prática, não cede à que encontra, venera a sua; nós, desprezamos a nossa e adotamos a alheia, sem indagar o porquê, a razão de ser de tal cerimônia ou tal costume. Não tanto nos Estados afastados, em que ainda se descobre o cunho próprio, mas nos que se dizem mais adiantados, o cosmopolitismo – tem tudo avassalado e afogado. Desde o vestuário até a linguagem, desde o porte até o proceder, a feição nativista está assoberbada pela imitação servil, ridicularizada pelos próprios imitados. (LOPES NETO, 1906, p. 11)

Seu nacionalismo decorre justamente desse acentuado senso crítico, que

lhe permitiu estudar, conhecer, valorizar as coisas da terra, sobretudo, as do seu

querido rincão, a fim de melhor resistir às influências perniciosas dos grandes

centros.

106

Para mais detalhes sobre ser ou não Simões Lopes Neto um escritor “saudosista” vide MARTINS, Wilson. Escritor representativo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28-05-1983, e MATTOS, Mário. Reconhecimento de Simões Lopes Neto: uma revisão à crítica de Wilson Martins. Diário Popular, Pelotas, 09-03-2004.

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As conferências cívicas são um aberto libelo contra o cosmopolitismo, mas

não contra o progresso. Deixa em certos trechos entrever a veia literária mal

escondida, a qual numa prosa parnasiana de fundo romântico evidencia a constante

inadequação formal que permeou os textos de combate político ou social da

Geração de 1870 (LOPES NETO, 1906, pp. 1- 4).

Além disso, remete à gênese de sua infância, em cujas retinas o menino

impregnou as cenas campeiras e as histórias ouvidas ao pé do fogo de chão junto

aos peões na estância que a imaginação traçou nos Contos gauchescos (LOPES

NETO, 2003, p. 305-306).

Dá-nos Simões Lopes Neto uma lição de sabedoria política em que às

vésperas da Primeira Guerra, pressente o desenvolvimento da xenofobia das

grandes potências e suas intenções imperialistas, mostrando-se profundamente

descrente em relação ao ideal da “Pátria Universal”, especialmente num século

altamente veloz e pragmático:

Não creio, não creio e não comungo na utopia dos visionários do século, que pregam por uma só língua, numa pátria universal. Enquanto essa utopia como flor delicada de estufa, medra no ambiente tépido da vaga aspiração, como simbólica pomba de aliança dentro de uma jaula de feras – os países blindam-se em malhas de aço, reguem as forjas na fusão do bronze dos canhões, abatem-se sob sacríleges golpes do machado as venerandas árvores seculares, para a construção das naves pavorosas. A matemática estuda a potência e a resistência dos engenhos de destruição e a química inexorável, combina e multiplica a força dos explosivos mais cruéis, enquanto o cálculo dos governos – como o fiel de balança maldita pesa e avalia o número dos homens. Os velhos países da Europa que se proclamam os sacerdotes do tabernáculo da civilização, tem criado pela boca melíflua da sua diplomacia, nomes especiosos e procederes especiais para a implantação, alargamento e permanência de suas influências entre os países de além. E a hipocrisia e o feroz egoísmo internacional atiram com uma mão o gesto brando da bênção da paz, depois que tem na outra o gládio que mais corta. Será assim, ainda por dilatados séculos, a força a garantia do direito. Em um século prático, positivo, industrial, mercantil e interesseiro como o nosso, é preciso estar preparado e saber contrabalançar as formidáveis exigências da luta pela vida. (LOPES NETO, 1906, p. 14)

Diante de todas essas ameaças constitui-se em necessidade premente

educar o povo para fortalecer o patriotismo, resistindo à invasão cultural e, quiçá, a

atos mais explicitamente belicosos das grandes potências. Nessa medida, implica

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interferir mais diretamente na questão escolar: em seus programas, seus métodos

de ensino e nos livros didáticos:

O livro de leitura, por sua vez, o livro de leitura, que é acaso a mola real do ensino, guarda a mesma indiferença pela infiltração pátria; e as suas páginas cheias de historietas lastimosamente fúteis, ou de demasiado alcance para as crianças, ou ridiculamente traduzidos, ou alheios ou deslocados para o meio em que terá de viver e agir o jovem estudante, são páginas brancas para a geografia e a história da pátria, as tradições e costumes. (LOPES NETO, 1906, p. 18)

Segundo Simões Lopes Neto os nossos pequenos estudavam em ótimos

livros, mas eram todos eles adaptações de literatura didática destinada a crianças

estrangeiras, inadequados, portanto, às particularidades da criança brasileira, como

o famoso Cuore, do escritor italiano De Amicis:

A nossa instrução pública primária, nas suas linhas gerais, não difere da de outro qualquer país. Perdura ainda intensa a influência da pedagogia estrangeira, não adaptada convenientemente ao nosso meio e modo de ser. (LOPES NETO, 1906, p. 17)

Figura 29 – Coração (1907) – Edmundo de Amicis (1846 – 1908)

Essa tarefa pedagógica poderia, com sucesso, ser executada pelo

regionalismo, através do qual se fortaleceria a identidade cultural mais próxima,

buscando a integração de todas as culturas nacionais.

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2.3 – A Coleção Brasiliana

O cartão postal foi resultado direto da evolução da fotografia e das artes

gráficas. Schapochnik (1998, p. 426), ao tratar do assunto, ressalta que o cartão-

postal corrobora uma compreensão reduzida da paisagem. Desta maneira, São

Paulo é a Avenida Paulista, o Rio de Janeiro é o Pão de Açúcar, Ouro Preto é a

obra do Aleijadinho, Salvador é o Pelourinho, Manaus é o Teatro Nacional. Assim,

Pelotas é também o Obelisco, a Torre do Mercado ou os “casarões”107 centenários

ao derredor da Praça Coronel Pedro Osório.

O cartão postal consegue criar uma imagem afetiva e estética da cidade. Ao

lado disso, incita a um ato psicológico de evocação, conforme podemos observar na

declaração de Pedro Nava (1974, p. 281): Quando fui a Londres, fiz questão de me

colocar em ponto certo e hora adequada para assistir ao vivo àquele postal, num dia

de outono.

O aparecimento do cartão-postal no Brasil data dos anos finais do Império.

Submetido à gestão do Estado, essa nova forma de comunicação estava identificada

com uma distinção de cores e outra monetária: vermelha para a circulação urbana

(20 réis o simples e 40 réis aquele com resposta paga), e azul para o interior das

províncias, a preços variáveis entre 50 e cem réis. (SCHAPOCHNIK, 1998, p. 427)

O diferencial do cartão postal relativamente à carta tradicional é o seu

espaço limitado e exíguo. Não apenas isso, também por ser enviado aberto se

prestava a mensagens superficiais ou enigmáticas. Nesse sentido, a imagem – e

não a mensagem – atraía, cada vez mais, o interesse público. Buscando evitar a

publicidade das mensagens de foro particular, a legislação estabelecia que os

postais deviam gozar de plena inviolabilidade, isto é, igualmente às cartas. Assim, os

carteiros e outros empregados do Correio estavam obrigados a guardar segredo a

respeito do conteúdo dos bilhetes-postais. Esta imaginária proteção e o fato de

serem bonitos e mais baratos logo os popularizou. Essa popularização estava ligada

107

Embora a expressão “casarões” tenha se tornado de uso comum, inclusive adotado no título da obra da professora Zênia de Leon, segundo a historiadora Heloísa Assumpção Nascimento a designação correta para classificar a arquitetura dos prédios no entorno da praça Coronel Pedro Osório é palacetes.

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também à revolução tecnológica, que atingia não apenas as técnicas de reprodução

da imagem, reforçada pela melhoria dos meios de transporte e comunicação.

As pessoas tinham mais facilidade para viajar e, por isso, mais a contar e

registrar. Associado ao comércio de souvenirs estava o indefectível cartão-postal.

Sua rápida aceitação pelo público estimulou a comercialização maciça dos postais.

Segundo nos informa Schapochnik (1998, p. 430), embora não tenha sido possível

determinar o preço e a tiragem desses postais, a extensa listagem de editores

instalados na capital da jovem república e nos diversos estados durante a primeira

década do século XX, parece atestar a potencialidade desse negócio.

Conforme se pode observar, o Velho Capitão estava atento às novidades e

às boas oportunidades comerciais. O cronista carioca Luiz Edmundo afirmava que

[...] pelo começo do século [refere-se ao século XX], e mesmo até bem pouco antes

da Grande Guerra, é o delírio que empolga o carioca [...]. A novidade impressiona.

Tão bela, porém, é a apresentação desses postais, que muita gente os compra em

séries, só para encaixilhá-los. Um vidraceiro da Rua da Quitanda cria disposições

artísticas para a coleção das fotos em passe-partout de cores [...]. (EDMUNDO, vol.

II, 1938, p. 739)

Além das paisagens e monumentos, bem ao gosto art-noveau, os cartões-

postais exibiam também efígies de cocotes, burlando a rígida moral vitoriana vigente

entre as famílias brasileiras. O cartão-postal, sob vários aspectos, tornava-se fetiche

colecionável. Um incremento ajudou nessa direção: o autógrafo de personalidades

políticas e do mundo das artes. Essa mania difundiu-se de tal modo entre a

população brasileira das primeiras décadas do século XX que nem mesmo os

“alvos” dos caçadores de autógrafos escapavam a ele. Narra o cronista João do Rio

que ao visitar o poeta Olavo Bilac, visando colher informações sobre suas

preferências literárias, foi recebido com a seguinte pergunta: Aposto que vens ver os

meus cartões postais? (RIO, s/d, p. 2)

Os cartões autografados por celebridades em pouco tempo se tornaram um

meio de marketing político ou artístico e também mais um ganha-pão que os artistas,

que vendiam os ditos cartões com frases ou poemas especialmente escritos para

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eles, remetendo-os pelo correio ou compondo-os na ocasião solicitada para os

"caçadores de autógrafos". Eis um exemplo reproduzido por Morais Silva:

Em todos os postais que se me enviam Arguta observação pude faz - É que aqueles que mais sobressaíam Tinham sempre uma efígie da mulher! Acho este postal pequeno Pois sem espaço lhe vejo Para dizer-vos sem pejo O que convém de veneno A eterna história do beijo Que este cromo representa... A verdade não se inventa, Não é pois conto inventado: - Um beijo dado na hora É perigoso, senhora, Portanto, muito cuidado. (O postal. Revista postal brasileira, n. 20, pp. 49-50)

Logo as celebridades cansaram-se da perseguição e dos incômodos. O

comediógrafo Artur Azevedo (1855-1908), com seu humor característico,

manifestou-se da seguinte maneira:

Virgem Maria, Isto é demais! É noite e dia Cartões-postais!

108

O ferino Emílio de Menezes (1867-1918) ironiza a campanha promovida pela

revista carioca “A Avenida” , em 1904, cujo propósito era recolher recursos para as

vítimas da seca no nordeste, ofertando uma série de 50 cartões-postais

devidamente autografados pelo poeta de Marcha fúnebre (1892). Emílio, então

aludindo ao fato, compôs o seguinte soneto:

Esta mania estúpida e cacete Mais cacete de todas as manias - Do bilhete postal, do atroz bilhete, Vai ter, enfim, as minhas simpatias. No hotel, no botequim, no gabinete, Em casa, à rua, nas confeitarias, No Leme, Cascadura ou Catete, Surge o cartão-postal todos os dias!

108

BELCHIOR, E. de Oliveira. Introdução. In BERGER, Paulo. O Rio de Janeiro no cartão-postal (1900-1930). Rio de Janeiro: RJOARTE, 1983.

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Mas esse infame e trágico instrumento Que é da paciência algoz, suplício e morte, O bilhete postal, que é o meu tormento, Útil vai enfim! Coube-lhe a sorte De transformar-se em pão para o sustento Dos que da fome estão morrendo no Norte!

109 Além desses aspectos, o cartão postal apresentava-se, por volta de 1900,

“como uma verdadeira instituição", conforme expressão de Gilberto Freyre (1978,

p.151). Enfim, o cartão postal assumira na cultura e no imaginário do Brasil um papel

relevante, que, para nós, hoje se torna difícil compreender. Talvez o dado mais

importante para a apreensão desse significado, é que ele nos dá uma idéia da

representação que a nação tinha ou queria de si mesma: o cartão-postal era uma

glamourização da cidade num país ainda eminentemente rural. Constituía-se

também numa forma de apropriação emblemática, uma epifania de fatos,

personagens, monumentos, num Brasil com altas taxas de analfabetismo, em que a

imagem era capaz de educar civicamente a população, ao mesmo tempo em que

criava uma identidade comum facilmente reconhecível.

Sob o slogan “O Rio civiliza-se!”, lançado por Figueiredo Pimentel, na coluna

do "Binóculo", na “Gazeta de Notícias” 110, havia todo um desejo de "civilizar" o

Brasil. No fundo, nada mais era a capital da república imitando a Europa e os

distantes lugarejos do interior do Brasil imitando o Rio de Janeiro. Esta idéia nos é

corroborada por uma das crônicas de Simões Lopes Neto na coluna "Inquéritos em

contraste", sob o pseudônimo de João do Sul:

Tem Londres, Paris, Nova York, Berlim, Viena, as abóbadas de sua requintada civilização, rebrilhando sobre os subterrâneos das mais estupendas misérias. As glórias, das ciências e das artes, as pompas régias e do mundanismo milionário, as figurações de todas as belezas, os requintes do luxo máximo terçam a la par com as fantásticas verdades, que o crime multiforme impõe; o assassinato, o roubo, o sadismo, a fome, o proxenetismo, o álcool, a crendice alvar, o arrivismo pupulam no pulmão das grandes urbs, fermentando a formidável tuberculose social que mina e contamina esses colossais formigueiros humanos e irradia para o mundo inteiro as suas seduções e malefícios. Rio de Janeiro, Lisboa, Buenos Aires, Roma exibem e escondem brilhos e mazelas semelhantes, se não de tão intensa vibração, por certo com os

109

Idem. 110

Para mais detalhes vide BROCA, Brito. A vida literário no Brasil - 1900. 2ª edição revista e

aumentada. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960, pp. 3-6.

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mesmos aspectos curiosos ensejados nas mesmas origens, tecendo conseqüências idênticas. Escritores, críticos, filósofos - estudiosos deram a suas lucubrações atinentes, o tom elevado das dissertações profundas em prol da remodelação, a bem da humanidade. [...] Pelotas, a cidade franciscana, se há que invocar a égide do seu padroeiro, a Princesa do Sul, se atentarmos na doçura de um velho e amável engrossamento, Pelotas, a centenária, se nos recordarmos da comemoração de há um ano, Pelotas, tem também as suas abóbadas iluminadas sobre subterrâneos escuros...

111 Arriada & Tambara sintetizam a situação:

No final do século XIX, o pessimismo em relação à população brasileira estava em voga na intelectualidade brasileira. Diversos autores como Nina Rodrigues, Sílvio Romero, mas principalmente Oliveira Viana criticavam o nosso atraso, nossa inferioridade étnica, salientando a superioridade da raça branca, que construíra a Europa. Porém, no início do século XX, já consolidada a República, começaram a surgir correntes nacionalistas, que faziam a apologia "das riquezas que dormem em nosso solo", presente em obras como Por que me ufano do de meu país (1902) [sic], de Afonso Celso; Minha terra e minha gente (1915), de Afrânio Peixoto; Educação cívica (1906), de Mário Bulcão; Através do Brasil (1910), de Olavo Bilac e Manuel Bonfim; A pátria brasileira (1909), Olavo Bilac e Coelho Neto; Pátria! Livro da mocidade (1900), de Alfredo Varela. (ARRIADA & TAMBARA , 2005, p. 238)

Nesse sentido, o cartão postal buscava eleger e construir uma imagem de

exportação do Brasil urbano. Em Pelotas, assim como em outras pequenas do

interior do país, não era diferente.

Eduardo Arriada (Diário da Manhã, 21-07-1991) ao resenhar a história da

cartofilia pelotense dá-nos preciosas informações. Comenta, por exemplo, que em

1898, antes do aparecimento do cartão-postal em Pelotas, já se haviam reunido as

condições necessárias para que isso ocorresse, tais como a instalação de

estabelecimentos fotográficos (Batista Lhullier, Jorge Wrtzel e August Amorelly),

tipográficos (dos jornais Correio Mercantil, Diário Popular e Opinião Pública) e

livrarias (Carlos Pinto & Cia., Echenique & Irmão e Souza Lima & Meira).

111

SUL, João do. (pseudônimo de Simões Lopes Neto). Inquéritos em contraste. Opinião Pública, Pelotas, 10-06-1913. Obs.: Esta é a única crônica da coluna, estreada nesse dia e que permanecerá até 09-08-1913, que não possui título. Para a lista completa das crônicas publicadas na coluna "Inquéritos em contraste" vide DINIZ, 2003, p. 220.

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Figura 30 – Livraria Americana em Pelotas na década de 1880

Os primeiros cartões postais foram editados por Meira. A série inicialmente

publicada constava de 60 cartões numerados. São de grande valor documental,

pois, embora aparecidos em 1902, mostram muitas cenas da cidade no século XIX,

apresentando paisagens emblemáticas de Pelotas, tais como a Santa Casa, a

Intendência, o Mercado Público, o Parque Souza Soares, o Clube Comercial, além

das ruas principais e os costumes dos habitantes. (Idem)

Outra importante coleção de cartões postais, em Pelotas, foi a da Livraria

Americana, que pertencia a empresa Carlos Pinto & Cia. Seus cartões eram muito

requintados, apresentando dupla e até tripla imagem. Essa coleção, acredita Arriada

(Idem), não passou de 20 cartões, editados em 1902 ou 1903. A Livraria Americana,

durante certo período, foi uma das mais importantes editoras gaúchas, publicando o

Almanaque Estatístico e Literário do Rio Grande do Sul, de Alfredo Ferreira

Rodrigues (1865-1942), e traduções de obras importantes de autores internacionais

- em edições piratas - como Alphonse Daudet, Dostoiévsky, Kock, irmãos Goncourt,

Maupassant, Sacher-Masoch, Turgeniev, Zola, entre outros. (HALLEWELL, 1985, p.

311).

Eduardo Arriada 112 reportando-se ainda aos cartões postais editados em

1910, em Pelotas, refere-se às coleções da Livraria Pelotense. Dessa livraria, de

propriedade de Albino Isaacson, saíram, em 1904, duas séries, uma colorida

(numerada) e outra em preto e branco (sem numeração). A Livraria Universal, de

112

ARRIADA, Eduardo. Cartão-postal: um fragmento do passado. Diário da Manhã, Suplemento DM Cultura, Pelotas, 21-07-1991.

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Echenique & Irmãos e Cia., lançou, em 1905, uma série não numerada com, no

máximo, 25 cartões, que permaneceu até meados de 1910.

Entre o período em que surgem essas séries, em outubro de 1906, aparece

a Coleção Brasiliana, de João Simões Lopes Neto. Ressalte-se que ela não

retratava a cidade de Pelotas, senão o cartão n. 22 da 1ª Série, cuja imagem é do

Obelisco, localizado no bairro Areal de Pelotas, inaugurado em 1885, em

homenagem a Domingos José de Almeida, e que se constitui no primeiro

monumento erigido à república em plena vigência do regime monárquico no Brasil. A

Coleção Brasiliana foi confeccionada na litografia do francês Eduardo Chapon,

fundada em 1880.

Figura 31 – Jornalista Eduardo Chapon, proprietário do jornal “Ventarola”

Conforme nos informa Reverbel (1981, p. 206) o estabelecimento gráfico de

Chapon realizava diversos tipos de serviços, o que incluía rótulos, etiquetas e

cartazes, bem como baralhos no estilo francês e americano para pôquer. Chapon

além de fotógrafo e artista gráfico foi também jornalista, atuando nos semanários

pelotenses “Cabrion” (1877-1881) e “A ventarola” (1887-1890). Neste secundo

hebdomadário Eduardo Chapon conseguiu reunir um grupo de destacados literatos,

tais como Bernardo Taveira Júnior, Damasceno Vieira, Alfredo Ferreira Rodrigues,

Lobo da Costa, entre outros.

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No catálogo da Livraria Americana assim constava sobre a coleção de

cartões-postais de Simões Lopes Neto:

O assunto da "Coleção Brasiliana" é todo nacional, e, portanto, patriótico. As ilustrações são cópia fiel dos emblemas da soberania nacional, de todos os monumentos públicos estaduais, etc., e reprodução de quadros célebres de combates e atos solenes, retratos de todos os governantes e de brasileiros notáveis, desde a época colonial até os nossos dias, túmulos, grandes invenções, obras de arte, objetos, lugares, documentos, cenas históricas, tudo explicado em notícia concisa e clara. Nenhuma coleção deste gênero existe no país; nos próprios livros de instrução pública não se encontram as preciosas ilustrações da Coleção Brasiliana, algumas das quais absolutamente inéditas e todas documentadas. Quem manusear esta Coleção verá e aprenderá coisas que desconhecia, e outras de que formava idéia errada e terá uma verdadeira lição cívica. É o melhor prêmio, o melhor presente, o brinde mais significativo que se pode oferecer. Um colecionador de bom gosto só permutará com seus correspondentes oferendo-lhes destes cartões, destinados a terem lugar de honra nos álbuns. Uma série ou 25 cartões: 4$000. (REVERBEL, 1981, pp.205-206)

Além de todo valor histórico e educacional da Coleção Brasiliana, ela

representa um ícone importante não só da história de Pelotas, mas também da

história social e educacional do Brasil, e junto com isso, uma das faces do talentoso

e idealista escritor João Simões Lopes Neto.

Até, mais ou menos, cinqüenta anos atrás, praticamente, nada se sabia da

Coleção Brasiliana de cartões postais, idealizada por J. Simões Lopes Neto. Declara

Walter Spalding que na bibliografia referida ao autor de Contos gauchescos não

encontrara até aquela data (1965) a menor alusão a uma obra educacional e

patriótica que publicou ainda em vida, se bem que incompleta, uma só série, quando

o seu plano era de doze séries. 113 Observa Spalding que renomados estudiosos da

vida e obra de Simões Lopes Neto, tais como Augusto Meyer, Carlos Reverbel e

Raymundo Faoro não se haviam referido à Coleção Brasiliana de cartões postais.

O historiador Walter Spalding (1965) relata que, em 1960, estando a proferir

uma palestra num grupo escolar, a convite das professoras, sobre o escritor Roque

Callage, em dado momento, referiu-se ao criador de Blau Nunes - “mestre de

Callage”. Ao término de sua palestra, dirigiu-se a ele um senhor (não identificado no

artigo) dizendo que iria buscar em casa uma obra desconhecida de Simões Lopes

113

SPALDING, Walter. Uma obra desconhecida de Simões Lopes Neto. Correio do Povo, Porto Alegre, 16-03-1965.

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Neto. Como residisse quase ao lado do estabelecimento de ensino, voltou minutos

depois com a Coleção Brasiliana, 1a. Série, completa. Então os dois conversaram

acaloradamente sobre essa obra preciosa, educativa e patriótica do imortal autor

das Lendas do Sul e – continua Spalding – comentamos com as jovens mestras não

apenas o valor histórico e bibliográfico daquela coleção, como também a

necessidade que, para o ensino moderno de História e Geografia representam as

ilustrações. (Idem) E arremata: Simões Lopes Neto adiantou-se, com a publicação

dessa obra alguma dezenas de anos do ensino prático atualmente usado nas

escolas primárias, secundárias e normais. Seu tino de mestre ia longe. (Idem)

Walter Spalding descreve Simões Lopes Neto como:

Escritor regionalista, teatrólogo, jornalista, professor, aventureiro e perdulário, bom, meigo e dedicado sempre, João Simões Lopes Neto foi também professor e, como professor, publicou, em 1906, “Educação cívica”, numa edição da Sociedade União Gaúcha, de Pelotas, [...] essa “obra desconhecida” (?), a qual nenhum de seus estudiosos, biógrafos e exegetas, ao menos que nos consta e com relação ao que conhecemos, se referiu – a sua “Coleção Brasiliana – de divulgação dos Fastos da História Nacional – em 12 séries de 25 ilustrações” [...]. (Idem)

O articulista narra, não sem certo orgulho, que possui dois postais da

Brasiliana (n. 9 e n. 22, da 1a. Série).

Figura 32 – Cartão n. 9 da 1ª Série da Coleção Brasiliana

Passa depois a enaltecer as qualidades pedagógicas da coleção. Uma delas

é corrigir, segundo ele, equívocos históricos, do que que são exemplo o cartão n. 9,

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o qual exibe a Bandeira da República Rio-Grandense. Trata-se, porém, da autêntica

bandeira republicana farroupilha e não a fantasia histórica do padre Hildebrando,

que foi usada pelos propagandistas da República entre nós e ficou, finalmente,

numa infinidade de variações até hoje existentes, como Bandeira do Rio Grande do

Sul. (Idem) Louva também Simões Lopes Neto pela sua fidelidade à lei, uma vez

que toma ao pé da letra o artigo único do Título VI da Constituição de 1891 e o artigo

67 do Titulo VI da Constituição de Barros Cassal, de 1892, que definem como

insígnias oficiais do estado as do pavilhão tricolor criado pelos revolucionários de

1835. (Idem)

Na época em que escreve Spalding (1965), o desconhecimento a respeito

da Brasiliana era muito grande, a ponto de não se saber com exatidão o ano em que

ela fora lançada. Tanto assim, que o historiador sugere o largo período

compreendido entre os anos de 1906 e 1914, deixando a questão para ser resolvida

pelos “mestres lopesianos” - Augusto Meyer, Mozart Victor Russomano e Carlos

Reverbel.(Idem)

No mês seguinte à publicação do artigo de Walter Spalding, nas páginas do

Correio do Povo, de Porto Alegre, o mesmo historiador volta ao assunto, em novo

artigo114. Comunicava aos leitores que sua esperança se tornara radiante realidade:

o objetivo pretendido com o primeiro artigo era obter maiores informações a respeito

da obra desconhecida de Simões Lopes Neto. Pois lograra êxito. Recebeu

correspondência de dois colecionadores do interior do estado: dr. Paulo Duval, de

Pelotas, e dr. Cyro Soares Leães, de Alegrete. Na missiva do primeiro vinha a

alvissareira notícia de que este colocava à disposição de Spalding, para doação,

toda a 1a. Série dos cartões postais simonianos, informando-o não só da existência

de uma 2a. Série, mas também que se havia iniciado a publicação de uma 3a. Série.

Ofertava ao historiador ainda duplicatas da 1a e 2a séries, sendo algumas delas

cedidas por gentileza da Biblioteca Pública Pelotense (Idem). Mais tarde verificou-se

a visita do dr. Paulo Duval a Spalding, na qual foi entregue a ele a 1a Série completa

e mais 18 cartões da 2a. Série. Conforme o anunciado na carta, alguns destes foram

oferta da Biblioteca Pública de Pelotas, que também doou o n. 3 da 3a. Série. (Idem)

114

SPALDING, Walter. Os cartões postais de Simões Lopes Neto. Correio do Povo, Porto Alegre, 06-04-1965.

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É aí que a história da Coleção Brasiliana vai ficando mais interessante. Em

1965, ano do centenário de Simões Lopes Neto, foram preparadas várias atividades

em memória do escritor. A valorização do autor pelotense vinha se intensificando,

principalmente, desde 1949, com a publicação da edição crítica de Aurélio Buarque

de Holanda, assinalando o ano seguinte, com a recepção feita por Lúcia Miguel-

Pereira, em seu livro Prosa de ficção (1870-1920) como a verdadeira entrada do

autor de Contos gauchescos (1912) no circuito crítico em âmbito nacional, apesar de

manifestações elogiosas terem sido feitas antes, tais como as dos críticos Agripino

Grieco (1933) e José Lins do Rego (1942). Some-se a isso, ainda na década de

1950, o aparecimento de dois livros inéditos de João Simões Lopes Neto: Casos do

Romualdo (1952) e Terra gaúcha (1955).

No ano comemorativo de 1965, um importante colecionador, como o dr. Ciro

Soares Leães, declarou em carta a Walter Spalding:

Guardo estes postais com a reverência que me merece a obra de Simões Lopes Neto, escritor regionalista, como já disse uma vez, que conseguiu o milagre de se tornar universal, e que tem posto num chinelo uma longa série de outros regionalistas ou pseudo-regionalistas que se lhe seguiram (excetuo Darci Azambuja). (SPALDING, 1965)

Estudiosos do porte de Mozart Victor Russomano, já então depositário do

Baú de Dona Velha, escreviam artigos nos jornais da Capital. Escritores de renome,

tais como o citado Augusto Meyer, Manoelito de Ornellas, Miranda Neto, Moysés

Vellinho e outros, ocupavam-se do escritor, que já não mais era apenas uma figura

municipal. Nesse ano de 1965, tão importante para a memória simoniana, a

Biblioteca Pública Pelotense, num ato de extremo desprendimento doava

“duplicatas” da 2a Série da Brasiliana (então já raríssima) e mais o cartão n. 3 da

misteriosa 3a Série.

Em 1981, o jornalista Carlos Reverbel (p. 204-208) publica sua pioneira

biografia de João Simões Lopes Neto, intitulada Um capitão da Guarda Nacional,

obra em que reúne muitas informações a respeito da Coleção Brasiliana, inclusive

avaliando seu papel no bojo do projeto cívico-pedagógico simoniano dentro daquele

contexto histórico (1981, p. 204-208). Consagra, no ano seguinte, um longo artigo no

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Correio do Povo, de Porto Alegre, tratando da 1a série e reproduzindo as raras

imagens dos cartões afirma:

Esta é a primeira vez que se relaciona os motivos escolhidos por João Simões Lopes Neto para a primeira série de sua Coleção Brasiliana. Acredito tenha valido a pena reproduzí-los, pois, eles testemunham, no grande regionalista, um brasileirismo sem jaça, animado pelo ardor cívico e pelo sentimento nacional. (REVERBEL, Carlos. Coleção Brasiliana [1

a.

série]. Correio do Povo, Porto Alegre, 10-07-1982)

Em 1982, o pesquisador Carlos Reverbel pode, enfim, ter em mãos a 1ª

Série completa, emprestada por um amigo, Mário de Almeida Lima. Observa-se,

portanto, que somente na década de 1980 é que, através das pesquisas de Carlos

Reverbel, aparecerão informações mais precisas a respeito da coleção de cartões-

postais como, por exemplo, seu ano aproximado de lançamento (1906).

Walter Spalding supôs que a Coleção Brasiliana poderia ter sido lançada no

ano de 1914. Ora, como o empreendimento do Capitão – igual a todos os outros,

menos o do carrapaticida Tabacina, fracassaram - os Almanaques de Alfredo

Ferreira Rodrigues, de 1912 a 1914 ainda anunciavam os cartões à venda ao preço

4$000. O historiador talvez avaliou que um encalhe de cerca de oito anos era um

exagero, quase uma impossibilidade.

Pereira Soares em artigo ao Correio do Povo (27-04-1982), intitulado Um

painel farroupilha de Simões Lopes Neto, traz uma novidade só arranhada por

Reverbel. O biógrafo do Capitão da Guarda Nacional dizia que da 3a série, teriam

saído, quando muito, dois ou três exemplares (REVERBEL, 1981, pp. 204-205). O

pesquisador quisera dizer, talvez, "dois ou três números", eis que, com certeza,

existia o n. 3, conhecido por Painel Farroupilha, a menos que este fosse um cartaz

experimental, o qual Reverbel não pusera os olhos. Desta maneira, o pesquisador

acabou por concluir a existência de uma nova série – uma 3ª Série em formato

grande e não mais em forma de cartão postal. Para Reverbel, se havia o n. 3,

deveriam existir, pois, os de n. 1 e 2.

Dando prosseguimento ao assunto e procurando aprofundar as informações

sobre a Coleção Brasiliana e o civismo de Simões Lopes Neto, o artigo de Pereira

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Soares reproduz o Painel Farroupilha: um cartaz policromático, com as dimensões

de 38 x 52, trazendo a seguinte inscrição: N. 3 - Coleção Brasiliana - de J. Simões

Lopes Neto. Imp. Estab. Graph. Pelotas.

Figura 33 – Painel Farroupilha

Pereira Soares concorda com Reverbel a respeito do inegável patriotismo do

Patriarca das letras gaúchas. Além disso, o autor mostra-se orgulhoso em ser

proprietário de uma Coleção Brasiliana - e mais o Painel Farroupilha, tudo doado por

Ivete Massot que, em 1974, publicaria Simões Lopes Neto na intimidade. O artigo de

Mozart Pereira Soares traz a reprodução do Painel, além de descrevê-lo

minuciosamente.

Quando da 2a edição da Coleção Brasiliana, o biógrafo Carlos Sica Diniz, em

1996, em artigo ao jornal “Diário da Manhã”, de Pelotas, afirma que junto com a

reprodução dos 25 cartões da 1ª Série saiu em folheto o texto constante no livro de

Reverbel, ao qual cabem dois reparos: o primeiro é que, em verdade, a 1ª Série é

constituída de 26 cartões, uma vez que existem dois cartões de n. 20. Diniz contesta

ou, pelo menos, pede provas, da existência de uma 3ª Série, mesmo em forma de

cartazes. Em seu artigo Carlos Diniz afirmava:

Todos os colecionadores que consultamos jamais viram edições de cartões da terceira série, que sequer chegou a ser começada, tudo não passando de mera especulação. O equívoco é perfeitamente compreensível, provavelmente decorrente da referência de Pedro Villas-Boas , nas suas Notas de bibliografia sul-rio-grandnense, que neste ponto fugiu do seu

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hábito de somente fazer registro do material que efetivamente passou por suas mãos. (DINIZ, Carlos Sica. A Coleção Brasiliana. Diário da Manhã, Pelotas, 24-11-1996)

Figura 34 – Cartão n. 20 (2ª. Série)

Villas-Boas (1991, p. 135), respondendo a como teria obtido aquela

informação, registra que consultou apenas a 1ª Série da Brasiliana e que, quanto à

existência de uma 3ª, soube a partir de informações do bibliófilo e pesquisador Júlio

H. Petersen.

A 1a Série apareceu em outubro de 1906, no mês seguinte em que o escritor

assumiu o segundo mandato como presidente da União Gaúcha. O lançamento

obteve fácil transparência na imprensa. Uma nota publicitária no “A Opinião Pública”,

de Pelotas, apregoava os cartões como “novidade nacional”. (DINIZ, 2003, p. 150)

Os cartões postais da 1a. Série, segundo Massot (1974, pp. 134-135),

venderam relativamente bem até o ano seguinte de seu lançamento. A sobrinha do

escritor narra, ainda, que ele se utilizou para modelos dos cartões da Brasiliana de

valiosas relíquias, cedidas por sua irmã Maria Izabel, que as havia recebido de dona

Abrilina Almeida Barcellos, filha de Domingos José de Almeida. Entre os artefatos e

documentos que serviram de modelos para os cartões encontravam-se a espada de

Bento Gonçalves, a bandeira da República de Piratini, condecorações e outros

materiais relacionados à Revolução Farroupilha. (Idem)

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Simões não perdia a oportunidade de divulgar os cartões da Coleção

Brasiliana. Em correspondência de um seu sócio no negócio (malogrado, nem

chegou a sair da cabeça dos sonhadores) de salga de peixe nas costas de S. José

do Norte/RS, de nome Antônio José Pereira, este acusa o recebimento da

encomenda ao amigo Quincas Ferreira, bem como os postais e os folhetos que eu

distribuí aos amigos; cumpre-me declarar-vos assim eu procedi, e de agradecer-vos

a lembrança para com a minha pessoa. Com atenção li os ditos folhetos [a

conferência Educação cívica, publicada em nova versão, em 1906]. E tive a ocasião

de apreciar a vossa conferência, que achei sublime. Os postais também achei-os

sublimes, principalmente, por recordação dos fastos da História Nacional. (Idem,

151-152)

Noutra ocasião, enviou os cartões para o Rio de Janeiro, presenteando seu

tio, o deputado Ildefonso Simões que, em missiva de 17-11-1906, assim respondia

ao sobrinho:

Meu caro Joca: Tenho à vista tua carta, acompanhada de uma bela coleção de postais, fora do comum e destinada a levar às mais remotas paragens algo de interessante, que recorda as diversas fases da vida nacional – tão ignorada geralmente por quase todas as classes. (Idem, p. 152)

E depois de mais algumas considerações registra a demora em atender o

pedido do parente: Porém, irei à Biblioteca [Nacional] registrar a coleção de postais

que criaste, o que ainda não pude fazer, cheio de atribuições e de visitas aos nossos

ministros e autoridades [...]. (Idem)

Dois eram, basicamente, os objetivos da coleção de cartões postais. Diniz

em seu artigo A Coleção Brasiliana, publicado em 24-11-1996, no jornal pelotense

“Diário da Manhã”, afirma que, pelo consenso dos estudiosos, eles podem ser assim

sintetizados: O primeiro e mais importante era cultural, porque visava difundir, numa

divulgação notadamente popular, episódios que ele denominava “fastos” da história

nacional. O outro, sem dúvida alguma, era empresarial, almejando o seu autor obter

resultado econômico com a venda do repertório.

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2.4 Festa das Árvores

As comemorações da Festa da Árvore que se espalharam pelo mundo em

fins do século XIX e princípio do XX têm as suas raízes em manifestações mais

longínquas, nomeadamente o ancestral culto das Árvores e das Florestas que existiu

em diversas culturas antigas.

A árvore é um dos temas simbólicos mais ricos e mais generalizados de todos

os tempos e civilizações: símbolo de verticalidade estabelecendo a comunicação

entre o mundo subterrâneo (pelas suas raízes), a superfície da terra (pelo tronco) e

as alturas (através dos ramos e da copa). Símbolo da vida; símbolo da

transformação e evolução (ciclos anuais, morte e regeneração), a árvore é símbolo

do sagrado - em certas religiões antigas, nomeadamente nas pré-helênica e celta -

havia árvores consagradas aos deuses; símbolo de uma família, de uma cidade, de

um rei ou de um país (folha de ácer no Canadá, o cedro no Líbano, a palmeira de

Cuba). É também símbolo de fecundidade, da fertilidade, da vida (no deserto não há

árvores); símbolo da vida do espírito e do conhecimento; símbolo de segurança

(pela sua estabilidade) e de proteção (pela sua sombra). 115

As árvores ultrapassando largamente os homens em dimensão, em altura e

em longevidade, quase parecendo eternas, adquirem uma dimensão sobrenatural de

representantes dos deuses e por isso foram freqüentemente consideradas sagradas

e se tornaram objeto de culto. Os gregos e os romanos tinham o culto de várias

divindades que associaram às árvores: a oliveira era a árvore de Minerva, o choupo

de Hércules, o pinheiro de Cibele, o loureiro de Apolo, o freixo de Marte e o carvalho

de Júpiter, por exemplo. Os celtas acreditavam na magia das árvores e que cada

uma possuía o seu próprio poder. Dividiram o ano em 21 partes e atribuíram a cada

uma delas uma árvore sagrada (BULFINCH, s/d.).

Diferentes árvores têm diferentes simbologias associadas: o carvalho

representa solidez, potência, longevidade, força, majestade, sabedoria e

hospitalidade; o castanheiro, previdência; a cerejeira, pureza, felicidade,

115

Para mais detalhes vide CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 8ª. edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994, pp. 84-90.

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prosperidade; a nogueira o dom da profecia; o cipreste, luto e longevidade, virtudes

espirituais, santidade; o loureiro, imortalidade e glória; a oliveira simboliza a paz,

fecundidade, purificação; o salgueiro chorão, morte, tristeza, imortalidade e a tília

amizade e fidelidade. Essa mesma simbologia estendeu-se também às florestas. O

desconhecido, a dificuldade de ver ao longe, a obscuridade no seu interior e os

ruídos estranhos e indefinidos constituíram fonte de inquietação para os homens e

tornaram as florestas, em diversas civilizações, local de culto, de reunião de druidas,

de oráculos, de lendas, de aplicação de justiça ou ainda lugar de cerimônia de

iniciação de adolescentes ou de sepultura. A floresta como espaço de mistério, de

forças ocultas e sentimentos conflituais excita a imaginação e o fantástico

constituindo-se como fonte inesgotável de mitos, crenças, lendas, fábulas, contos

infantis e contos de fadas, assim como espaço habitado por espíritos, uns bons e

outros maus, uns visíveis e outros invisíveis, como as fadas, as ninfas, os troll, os

ogres, as dríades, os faunos, os sátiros, os gnomos, os elfos, os lobisomens e o

próprio diabo. (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1994, pp. 84-90)

Podemos também considerar a tradição de Plantações Comemorativas com

forte carga simbólica, como manifestações que antecederam as atuais

comemorações da Festa das Árvores. Reverenciadas na Antiga Grécia e Roma

assumem, contudo, a sua expressão mais celebrizada em França como símbolo do

novo regime que sucedeu à Revolução Francesa (1790) - as "Árvores da Liberdade".

Fruto do entusiasmo popular e do fervor republicano a sua prática foi desigual em

termos geográficos e o Estado francês só institucionalizou e generalizou esse

movimento em face do sucesso dessas iniciativas locais. (HILLS, 1997)

Os educadores Júlia e Afonso Lopes de Almeida em seu livro didático As

árvores (1916, p. 48), editado no Rio de Janeiro pela Livraria Francisco Alves, fazem

remontar ao francês Fourrier a idéia de uma festa dedicada às árvores. Mais de

meio século depois essa idéia vingou, sendo adotada por diversas nações européias

– Itália, Espanha, Áustria, Portugal 116, Inglaterra – e americanas, tais como os

116

Em 26 de maio de 1907 no Seixal realizou-se a 1.ª Festa da Árvore, promovida pela Liga Nacional de Instrução. Nesse mesmo ano, a 19 de dezembro, realizou-se em Lisboa, com o apoio da Câmara Municipal, outra Festa da Árvore.

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156

Estados Unidos (Idem). Foi nesse país, aliás, que se deu a instituição do Dia da

Árvore, resultado dos esforços do governador de Nebraska, Julius Sterling Monton.

A primeira comemoração foi a 10 de abril de 1872 e visava convencer a população a

plantar árvores, a fim de compensar a destruição da natureza produzida pela

indústria madeireira.

Amadeu Amaral nos anos 20 do século passado nos alertava para os efeitos

da destruição da natureza:

Se os homens práticos não vissem nas árvores senão lenha, madeira e obstáculos a posse e a exploração da terra, e lhes vissem também a beleza, e sobretudo as amassem, não teríamos chegado a este excesso de desarborização que hoje nos ameaça com desastrosos efeitos sobre o clima, sobre a meteorologia, sobre a agricultura, sobre a nossa saúde e a nossa vida econômica. (AMARAL, 1920, p. 94)

Em Portugal, a Festa das Árvores, iniciada em 1907, tomou grande corpo,

sobretudo como movimento cívico-pedagógico e político, em função dos partidários

da República atribuírem ao plantio das árvores o significado de “uma semente a

germinar no solo da pátria”.

Em seguida muitas das palestras proferidas nas Festas da Árvore foram

editadas em brochuras para divulgação, sendo de referir: A serra, as pastagens e os

gados (1914), de Tude de Sousa; A arborização como função econômica e a sua

influência na agricultura e na pecuária (1916), de Júlio Mário Viana; Apologia da

Árvore (1913), de Guilherme Filgueiras e O Culto da Árvore (1913), de Manuel Vieira

Natividade. É nesta época, associado à Festa da Árvore, que é editado o livro de

poemas A Alma das Árvores, de Antônio Correia de Oliveira. A poesia brasileira

Estava assim iniciado um movimento cultural e cívico de celebração dos benefícios da Árvore e da Floresta, constando essencialmente da plantação de árvores, de um ambiente festivo e de discursos de propaganda a favor da árvore. O panorama florestal do país era propício a esse movimento dada a significativa desarborização em que se encontrava e as necessidades crescentes em madeira. Ao longo do século XIX tinha-se processado uma significativa desarborização de folhosas, nomeadamente carvalhos e castanheiros, as serras do interior estavam profundamente prejudicadas pela erosão e era necessário secar pântanos e fixar dunas através da arborização. Em 1908 a Direção Geral de Instrução chamou a si a responsabilidade de promover a generalização da Festa da Árvore a todas as escolas do país tendo sido a Liga Nacional de Instrução, de que era Presidente Bernardino Machado, o grande dinamizador das Festas, até 1912.

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157

sempre esteve repleta de autores que celebravam a árvore. 117 Até em Portugal,

conforme atesta o jornal “O Século Agrícola”, a Festa das Árvores adotou o Hino

das Árvores, com letra de Olavo Bilac, como seu hino oficial. 118

Figura 35 - Hino das árvores, de Olavo Bilac

Do mesmo modo, no Brasil também se desenvolveu uma vasta literatura

artística e didática de culto à árvore, como bem nos atesta a bibliografia de

escritores como Bilac, Hilário Ribeiro, Gabriela Ferreira França, Adexina Magalhães

Pinto, R. Puiggari, Afrânio Peixoto, Rodolfo Teófilo, Aires de Albuquerque Gama,

Carlos de Laet e tantos outros. 119 Júlia Lopes de Almeida possui livro didático

escrito com o esposo, inteiramente dedicado ao ensino através do conhecimento

das árvores.

117

Para conferir alguns autores e sua importância na educação cívica vide FONTOURA, Amaral. Calendário cívico. 2º semestre. Rio de Janeiro: Editora Aurora, 1967, pp. 130-165. Vale observar que vários desses poemas, incluindo sugestão para dramatizações escolares, foram compostos especialmente para comemorações da Festa das Árvores. Para conferir a importância do tema “árvore” na poesia brasileira vide CAVALHEIRO, Maria Thereza. Antologia brasileira da árvore. São Paulo: Editora Bartira, 1960. 118

Apud CARREIRAS, J. Seabra. Conflitos entre a Igreja e a Maçonaria em Portugal. Lisboa, s/d,, pp. 55-56. 119

Esta lista de nomes e outros mais, com suas respectivas obras, retiramo-la a partir de um catálogo da Livraria Francico Alves, do Rio de Janeiro.

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Figura 36 - Capa do livro didático As árvores (1916), de Júlia e Afonso Lopes de Almeida

Especialmente lembrado é Coelho Neto, não só pelo seu enorme prestígio

literário à época, e pelo seu efetivo ardor patriótico, mas pela sua retórica

grandiloqüente e parnasiana:

Ela é a purificadora do ar que respiramos, ela é que nos garante a fonte que jorra para nossa sede e para a rega dos campos, ela é a fiandeira de sóis; - caem-lhe na copa os raios caniculares e ela, desfiando a flama, dá apenas o calor a quem se achega a sua sombra; ela é a medicina, ela é a nossa confidente discreta porque é sob seus ramos que abrimos francamente o coração, deixando livres as saudades e as reminiscências – assim é a árvore viva. Morta ela é tudo – o princípio e o fim: berço e esquife, e entre esses dois pólos, tudo mais é floresta: a casa e o templo, o leito municipal e o altar, o carro que trilha os campos, o navio que sulca os mares, o cabo da enxada e a haste da lança, tudo é madeira, é árvore, tudo é floresta! (Apud CRUZ, 1917, p.83)

No Brasil, inspirado pelo Arbor Day, comemorou-se a Festa das Árvores, pela

primeira vez, em 07 de junho de 1902, na cidade paulista de Araras, com o respaldo

das leis municipais, aprovadas em fevereiro desse ano. Numa época em que o País

vivia a sedução da ideologia do Progresso, da Ciência, da Instrução e da

Urbanização, uma festa de cunho bucólico era vista como uma excentricidade, cujos

méritos se restringiam a ser “utilíssima e simpática” (ALMEIDA & ALMEIDA, 1916, p.

48).

As matas nativas deram lugar às plantações de café, as margens dos rios

sofreram desmatamento para construção de estradas de ferro, que escoariam a

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produção, pântanos foram drenados nas cidades, provocando diversos fenômenos,

tais como alterações climáticas, empobrecimento do solo, redução de mananciais e

erosão. Todas essas ações e outras de igual natureza despertaram a atenção de

cientistas e ambientalistas, tanto nacionais como estrangeiros.

Em sua conferência de 1914, Amadeu Amaral enfatiza uma interessante

analogia entre o poeta e árvore. Assinala também que foram os poetas, antes

mesmo que os cientistas apontassem a questão, os que com sua voz lírica lançaram

o protesto em defesa da fauna e flora brasileira:

[...] os primeiros protestos ouvidos no país contra a selvagem destruição das matas, partiram talvez dos nossos poetas. Hoje ensina-se nas escolas o respeito e o amor das árvores. A meio século seria ridículo pensar nessa novidade educativa. Mas Araújo Porto-Alegre por volta de 1860, clamava, num poema, toda a sua indignação contra o bárbaro massacre. De Castro Alves todos vós conheceis “A queimada”. (AMARAL, 1920, p. 93)

Sentimento muito semelhante, inclusive mencionando as práticas das

queimadas, foi expresso também por um cronista carioca:

No Brasil a mesma loucura malfazeja [refere-se ás nações européias]. A natureza era farta e a árvore, enseivada por uma terra rica, vicejava frondente, enchendo prainos e serras de sombra e verdura. E a derrubada fez-se brutalmente: de começo, por aproveitar o pau precioso, sem piedade nem receio pela planta que era abundante; depois, para abrir espaços ás lavouras, varrendo matas inteiras, entregando ao fogaréu crepitante e sem freios o que o machado abatia devagar demais...A “queimada” foi no Brasil durante três séculos uma instituição nacional. (Kosmos, ano 1, n. 6, junho de 1904)

Desse grupo preocupado com a preservação da natureza destacam-se o

brasileiro Pedro Cardoso e o sueco Albert Loefgren, que viera para o Brasil em

1874. Loefgren integrou uma expedição botânica, que estudou a flora e a fauna dos

estados de Minas Gerais e São Paulo, cujos trabalhos duraram até 1886, quando

passou a chefiar a Comissão Geográfica e Geológica. Nesse mesmo ano o

naturalista sueco assumiu a chefia do Jardim da Luz, propondo sua transformação

em Jardim Botânico. O espaço, porém, era pequeno. Teve de esperar mais oito

anos para fundar, na Serra da Cantareira, o Horto Botânico, onde hoje se encontra o

Instituto Florestal. (CARDOSO, 2002)

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Em 1900, Loefgren coordenou a comissão que elaborou o Código Florestal

120, tentando conter a devastação provocada pela lavoura de café. Propôs a

policultura com plantas nativas, de uso medicinal e industrial, a ser ensaiada em

pequenas plantações de agricultura familiar, mantidas sobretudo por mulheres e

crianças. Em 1901, o Horto já possuia 90 mil mudas para transplante.

Figura 37 - Albert Löefgren (1864-1918), naturalista sueco radicado no Brasil

Todo esse esforço resultou, em 1902, na comemoração da Festa das Árvores

em Araras, estado de São Paulo.

Figura 38 – Grupo Escolar Cel. Justiniano Whitaker

120

Joaquim Luís Osório em seu relatório de 1909 à Sociedade Agrícola Pastoril refere-se ao código florestal francês, de 1847 (p. 25). Adiante declara que movido por idênticas preocupações, O Rio Grande do Sul determinou a promulgação do código florestal, depois de uma visita que fez o presidente do estado, Júlio de Castilhos, à região colonial, em 1897, observando o “tristonho aspecto que já oferecem as vastas extensões de nossas fertilíssimas florestas.” (pp. 25-26)

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Albert Loefgren não parou aí. Em seguida da realização da Festa,

aproveitando a cobertura da imprensa e o entusiasmo da população, publicou no

jornal O Estado de São Paulo o artigo Serviço Florestal no Estado de São Paulo, em

que, ao lado das múltiplas aplicações econômicas da madeira, salienta os aspectos

ecológicos da proteção da floresta. Conclama ainda o Estado a iniciar o seu serviço

florestal, já que a agricultura migratória se expandia e aumentava a pressão sobre

as florestas existentes. Propunha um serviço florestal121 que a exemplo de outros

países, visava a conservação, o melhoramento e a exploração metódica das

florestas remanescentes, bem como a renovação das destruídas e a criação de

novas. (CHIRINO, 2002)

O objetivo da Festa das Árvores promovida em Araras era o mesmo daquele

invocado na Europa e nos Estados Unidos: incentivar o plantio de árvores e

embelezar as cidades. A Festa era encarada como um ato patriótico e de

regeneração moral.

No ano seguinte, no dia 03 de maio – em que então se comemorava o

descobrimento do Brasil – foi realizada em Itapira, também no estado de São Paulo,

outra edição da Festa das Árvores. A programação contou com desfile de crianças

conduzindo flores, mudas de plantas e instrumentos agrícolas. Na ocasião, dois

andores. devidamente enfeitados, continham uma muda de magnólia e outra de pau-

brasil 122, plantadas pelo escritor Coelho Neto (COELHO NETO, Paulo, 1964).

121

O Serviço Estadual Florestal foi criado apenas em 1911, contudo, a legislação incipiente e a fiscalização quase nula e a parca consciência ambiental da população não puderam impedir a destruição das matas nativas. Em 1912, o Horto Botânico criado por Loefgren foi anexado à Estação Biológica do alto da Serra, ação com a qual se procurou proteger o que ainda restava da Mata Atlântica. 122

A obra de Júlia e Afonso Lopes de Almeida, As árvores, encontra-se, depois de alguns provérbios e um poema em que se tece loas às virtudes morais que a árvore inspira, um capítulo dedicado ao pau-brasil, em que se afirma que “O Brasil deve à árvore toda a sua prosperidade” (p. 10). E adiante: “Mas não são apenas esses benefícios [econômicos] que a nossa terra deve à árvore. O próprio nome do país – Brasil – que todos nós pronunciamos com tanta comoção, foi tirado de uma árvore das nossas matas [...]”.

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Figura 39 - O escritor Henrique Coelho Neto esteve em Itapira, em 1903, a convite das professoras como paraninfo da Festa das Árvores aqui realizada. Essa visita constou em ata lavrada de próprio

punho pelo escritor.

Figura 40 - Folheto alusivo à primeira festa das árvores realizada em Itapira no dia 3 de maio de 1903.

Em sua atuação parlamentar, Coelho Neto deixou na tribuna várias

demonstrações de sua preocupação patriótica, entre as quais se destaca a criação

de um prêmio de dois contos de réis para a melhor composição poética que se

adaptasse com todo rigor do ritmo à música do Hino Nacional Brasileiro, e a

manifestação, num de seus discursos mais longos, proferido em 06-09-1911, contra

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a devastação das florestas brasileiras 123. Coincidência interessante é que, nesse

mesmo dia e ano, o gaúcho de Santa Maria, José Penna de Moraes, proferiu um

discurso na tribuna da Assembléia Legislativa defendendo um projeto pelo qual seria

dado dinheiro para os proprietários rurais ou arrendatários de terras plantassem

florestas (Apud ZAVASCHI, 2008). No discurso, o deputado estadual afirmava ainda

que a humanidade era apenas usuária do meio ambiente, um patrimônio que, “por

dever indeclinável”, o qual deveria ser conservado, acrescido e protegido para as

novas gerações (Idem).

Figura 41 – Deputado José Pena de Moraes, falecido em Porto Alegre em 1932.

A colonização européia no Rio Grande do Sul foi um dos principais fatores de

desenvolvimento econômico do estado. A modernização da agricultura, o incremento

da indústria e o florecimento do comércio teriam sido quase que exclusivamente

obra dos imigrantes europeus. Ainda não temos um quadro mais exato a respeito da

devastação da natureza proporcionada pelo empreendimento colonizador.

Afirma o viajante alemão Oscar Cansttat :

Tive oasião de apreciar um belo espetáculo (...) quando, exatamente defronte de minha janela, puseram fogo a um roçado na encosta, isto é, a um trecho de floresta destinado à plantação, que tinha sido derrubado e havia semanas vinha secando e estavam queimando para ser lavrados e semeados. O valor da custosa madeira não tinha importância (...) Geralmente o colono assiste tranquilamente às queima do roçado. (Apud BUBLITZ & CORRÊA, 2004)

123

BROCA, Brito. Coelho Neto na tribuna parlamentar. A Manhã, Rio de Janeiro, 09-12-1950. Podemos observar que essa preocupação ecológica que Simões Lopes Neto tanto prezava, fazia parte de um sistema geral de crenças relativo ao cultivo do ideário cívico-nacionalista, o que incluía a preservação dos recursos naturais, como propriedade do Estado.

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As chamas e o canto do galo acusavam a presença do colonizador em meio

à mata, anunciando “a morte da floresta e a vida da civilização” – o oposto do que

simbolizava, na concepção de Avé-Lallemant, o guincho do bugio. A antinomia entre

essas figuras indica a tônica religiosa e cvilizatória da colonização. Para o mesmo

viajante, o desbravamento das selvas gaúchas era tido como “a missão dos

alemães, o seu dever, a sua vontade”. (Idem)

Poderídamos citar muitos exemplos de narrativas semelhantes na literatura

de viajantes que andaram pelo Rio Grande do Sul, no entanto, Avé-Lallemant parece

sintetizar o quadro: ressoa o machado na floresta, ali o fogo da lavoura corrói matas.

(Idem)

O desflorestamento era visto como missão civilizadora, porém, também houve

algumas críticas ao desperdício de matéria-prima. O próprio Avé-Lallemant referiu-se

a uma fogueira em Rio Pardinho como “uma fantástica e lamentável obra de

incendiário”. De qualquer modo, em 1871, Canstatt destacaria a instalação de

serrarias na região de Santa Cruz – o que também ocorreria em outras colônias. Em

São Leopoldo, por exemplo, o viajante belga A. Baguet registra a implantação de

“olarias, cortumes, destilarias e serrarias sustentadas por madeira de toda espécie”.

Em Taquari, o francês Nicolau Dreys escreve sobre o surgimento de um “ramo da

indústria (...) útil para descortinar,com ordem e economia, os matos

superabundantes da terra”. Ele também se referia à utilização de “máquinas de

serrar”, uma inovação tecnológica que sem dúvida influenciou a transformação da

paisagem local. (Idem)

O mesmo se verifica com os ervais, tema que ganha espaço no relato de

Maximiliano Beschoren. Em seu diário, o viajante considerou inadequada a

exploração da planta, problema que também aparece nos relatórios oficiais da

época. Em 1858, o então presidente da Provincia, Ângelo Silva Ferraz, alerta para o

fato de que poderia não haver mais erva-mate no futuro, dada a gravidade da

situação. Chega a relacionar a extinção dos ervais à atuação dos colonos.

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Figura 42 - Pedro Weingärtiner. “Tempora mutantur, 1889”. Óleo sobre tela.

Deve-se atentar para o fato de que a idéia da preservação dos recursos

naturais possuía um significado muito diferente do que apresenta hoje,

principalmente no que tange aos motivos pelos quais a natureza deveria ser

preservada. Ao contrário da concepção hodierna, a conservação da natureza não

estava ligava ao respeito à mesma como tal, antes era entendida do ponto de vista

da racionalidade econômica e estava associada a um instrumental indispensável

para o desenvolvimento nacional. Neste sentido, florestas, rios, minérios, animais,

habitats, etc eram propriedades do Estado, daí serem objetos do interesse público,

cuja ação estatal deveria defender, evitando que a ignorância do povo, a cobiça

estrangeira ou das elites particulares destruíssem esses bens.

Em 1904 foi a vez do Rio de Janeiro aderir à Festa das Árvores. A revista

Kosmos, n. 6, na edição do mês de junho, trouxe uma crônica em que se comentava

o evento, ocorrido em Paquetá. O cronista, sob o pseudônimo de Gil, escreve sobre

a Festa das Árvores. O texto tece elogios ao prefeito Pereira Passos, uma vez que

este havia dado apoio ao evento. Tal procedimento talvez se justifique em função

das crenças “desenvolvimentistas” do político, o qual foi o responsável pelo “Bota-

abaixo”. (CARVALHO & REBELO, 1997)

Pereira Passos, em março de 1852 ingressou na Escola Militar, onde se

formou em 1856 como Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, o que lhe dava

o diploma de engenheiro civil. Foi colega de turma de Benjamin Constant, futuro

ideólogo positivista da República.

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Nomeado prefeito pelo presidente Rodrigues Alves, ao lado de Lauro Müller,

Paulo de Frontin e Francisco Bicalho, promoveu uma grande reforma urbanística na

cidade, com o objetivo de transformá-la numa capital nos moldes franceses.

Inspirado nas reformas de Haussmann, em quatro anos Pereira Passos

transformou a aparência da cidade: aos cortiços (locais serviam de moradia àqueles

que não seriam bem quistos na "cidade higienizada") e ruas estreitas e escuras,

sobrevieram grandes boulevares, com imponentes edifícios, dignos de representar a

capital federal.

Figura 43 - Pereira Passos (1836-1913), prefeito do Rio de Janeiro, célebre pelas reformas urbanas

conhecidas como “Bota-abaixo”

Com a finalidade de saneamento e ordenação da malha de circulação viária,

Pereira Passos demoliu casarões, abriu diversas ruas e alargou outras. O

alargamento das ruas permitiu o arejamento, ventilação e melhor iluminação do

centro e ainda a adoção de uma arquitetura de padrão superior. Foram abaixo todos

os prédios paralelos aos Arcos da Lapa e o Morro do Senado, a fim de liberar

passagem para a Avenida Mem de Sá. Para a abertura da Avenida Passos, foi

demolido o Largo de São Domingos. Após a conclusão alargamento da rua da Vala

(atual Rua Uruguaiana) em 1906, que custou a demolição de todo o casario de um

dos lados da rua, esta passou a abrigar as melhores lojas do início do século XX.

Foi também em sua administração que ocorreram as obras de abertura das

avenidas Beira-Mar e Atlântica, além do alargamento da rua da Carioca, Sete de

Setembro, dentre outras obras.

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Após as obras de Pereira Passos e o trabalho do sanitarista Oswaldo Cruz o

Rio de Janeiro perdeu o apelido de Cidade da Morte e ganhou o título de Cidade

Maravilhosa e realizou a Exposição Nacional de 1908, idealizada pelo presidente

Afonso Pena para festejar o Centenário da abertura dos portos.

Apesar das melhorias sanitárias e urbanísticas, o plano de Pereira Passos

implicou em alto custo social, com o início das formações de favela na cidade. A

reforma promoveu uma grande valorização do solo na área central, ainda ocupada

parcialmente pela população de baixa renda. Cerca de 1.600 velhos prédios

residenciais foram demolidos. A partir destas demolições a população pobre do

centro da cidade se viu obrigada a morar com outras famílias, a pagar altos aluguéis

ou a mover-se para os subúrbios, uma vez que insuficientes habitações populares

foram construídas em substituição às que foram demolidas. Parte considerável da

imensa população atingida pela remodelação permanece na região e os morros

situados no centro da cidade - Providência, Santo Antonio, entre outros - outrora

pouco habitados, sofrem uma rápida ocupação, alavacando uma forma de habitação

popular que marcaria a configuração da cidade até os dias de hoje: a favela.

(OLIVEIRA, 1977)

Ao que parece Simões Lopes Neto estava afinado com as modas ideológicas

de seu tempo: as idéias de Progresso, Ciência, Instrução e Urbanização. Simões

acompanhava, com certeza, a revista Kosmos, pois esta era distribuída não só em

Pelotas, mas em todo o Rio Grande do Sul pelas livrarias de Carlos Pinto, Francisco

Meira e Echenique 124. Além disso, no ano de 1908 o escritor viajara o Rio de

Janeiro a fim de visitar a Exposição Nacional, conforme noticiou o jornal A Opinião

Pública, em 21 de julho: Para o Rio de Janeiro partiu o distinto literato Sr. capitão

João Simões Lopes Neto, a fim de assistir à inauguração da Exposição Nacional.

A Exposição Nacional de 1908, realizada para comemorar o centenário da

abertura dos portos às nações amigas, decretada por D.João, em 28 de janeiro de

1808, representou, no início de um século que se abria cheio de esperanças, e na

esteira dos melhoramentos da época de Pereira Passos e Oswaldo Cruz, uma

afirmação da vontade nacional de desenvolver o país. Contando com a participação

124

Essas livrarias constam na revista como distribuidores da publicação no Rio Grande do Sul.

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de Portugal, reuniu e mostrou ao povo as maiores conquistas nacionais no campo

da indústria, comércio, lavoura e artes liberais. Seus edifícios, refletindo uma

arquitetura eclética, erguiam-se na antiga Praia da Saudade, hoje Avenida Pasteur

(Urca).

Simões Lopes Neto toma por modelo a Capital da República, com as

transformações realizadas pelo prefeito Pereira Passos 125, seguindo a linha da

política do “Bota-abaixo”, ele entende que devido ao aumento da população o

número de habitações não é suficiente para alojar em condições de salubridade.

(Idem) Então Simões interroga:

Figura 44 - Aspecto do Distrito Federal na Exposição Nacional de 1908

As construções iniciadas serão suficientes para resolver o problema?” Duvida que isso seja possível, uma vez que “as casas não estão ao alcance das bolsas proletárias é justamente isso o ponto principal a cuidar na higiene de uma cidade. Pelo preço elevado, cotidianamente, o pobre procurará a casa barata, ali aloja-se com a família inteira, apesar das péssimas comodidades da habitação. [...] Acossado pelas ameaças de fome, aumentado o preço dos gêneros de primeira necessidade, temos a pobreza mais acentuada e a procura das mansardas infectas... (LOPES NETO, João Simões. Pelotas e a higiene. A Opinião Pública, Pelotas, 21-12-1912)

125

Para mais detalhes vide BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um hasmann tropical. A renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esporte; Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural; Divisão de Editoração, 1992, e também ROCHA, Oswaldo. A era das demolições na cidade do Rio de Janeiro. 1870-1920. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esporte; Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural; Divisão de Editoração, 1995.

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Ainda na perspectiva de que a incipiência da educação científica e geral em

nosso país atinge todas as classes sociais, e é a responsável por doenças,

assevera:

Na casa abastada, mais ou menos, se trata do bom estado higiênico, não tanto pelo conhecimento dos seus efeitos, e sim pelas exigências sociais. Mas na habitação do pobre há dificuldade, aliada a uma falta de preparo moral que não lhe foi dado na infância. (LOPES NETO, 1912)

Deste modo, a higiene deve, pois, cuidar de perto a melhoria das casas, vigiar

diretamente o número de habitantes, as condições sanitárias das casas e assim

evitar a explosão de moléstias contagiosas, sobretudo a tuberculose, que é uma

ameaça que pesa constantemente sobre os habitantes de Pelotas. A respeito da

doença afirma: A tuberculose, entre nós, é um dos grandes males que nos assolam

e sobre este aspecto enganador de cidade ventilada, iluminada, temos o obituário

numa porcentagem terrível (Idem).

O papel do Estado, segundo o articulista, não se deve restringir em apenas

isolar os doentes, mas agir de maneira profilática, sem o que é desconhecer os mais

rudimentares princípios da medicina pública.Adverte também sobre a ação da

higiene que não deve ser pontual, atacando os casos patológicos manifestos,

passando a criticar o ensino das faculdades, onde os professores, em geral,

imbuídos das doutrinas do século passado, hipnotizados pelas lesões, dão a

orientação que faz médicos para doentes... (Idem)

Além disso, o escritor propugna fazer um esclarecimento a todos:

Bem sabemos a dificuldade que há em convencer certa gente na aceitação de medidas de real valor sanitário. Há bem poucos anos vimos no Rio de Janeiro levantado em peso contra a vacinação obrigatória, medida donde logo tiram interpretações políticas e pseudo-filosóficas! Mas a maior dificuldade, às vezes, está em convencer os que se deixam levar por teorias que nada tem de ver com a higiene. É triste ver-se como uma vaga e metafísica noção de liberdade encontra apoio em nome de merecimentos em detrimento da saúde da coletividade, que não pode estar, de modo algum, à disposição de preconceitos e dogmas de qualquer doutrina político-religiosa e a ação do Estado moderno tem seus limites e a vida, a saúde, o bem-estar da coletividade estão acima das discussões filosóficas, ao lado dos altos interesses humanos da espécie. (LOPES NETO, 1912)

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Pode parecer contraditório o florescimento de uma Festa das Árvores em

meio a essas convicções, dominantes entre as elites letradas. No entanto, conforme

vimos, as festas das árvores tinham dois objetivos gerais. Um deles era proteger as

riquezas nacionais, do que os recursos naturais eram parte importante, conforme

nos diz Júlia e Afonso Lopes de Almeida:

O Brasil é um país que vive da exploração da terra. É um país agrícola. [...] Assim vejamos: a principal fonte de renda da nossa terra é o café; é, portanto, um produto da Árvore. Além do café, exportamos também, em larga escala, a borracha, outro produto da Árvore. O cacau, as castanhas do Norte, os cocos, que tanto lucro nos dão, é a Árvore que os devemos, e o mesmo se dá quanto ao algodão, o mesmo quanto às madeiras. Assim, é a Árvore a grande riqueza da nossa terra, é da Árvore que todos nós vivemos direta ou indiretamente. [...] Se nos outros países, onde as árvores não constituem por si mesmas uma riqueza, todos as exalçam com tão justa veneração, é natural que nós aqui tenhamos em mais alto apreço e mais enternecidamente as amemos! O Brasil vive das Árvores. (ALMEIDA & ALMEIDA, 1916, pp. 37-38)

Além disso, havia objetivos morais e pedagógicos, de intento profundamente

regenerador. Relata o cronista Gil:

Foi somente quando a natureza protestou contra a violência, e que apareceu a aridez com a pobreza das águas e a peste com o envenenamento do ar, que a reação regeneradora se fez; foi somente aí que o homem mediu o desastre da derrubada ingrata, que lhe desabava ameaçadoramente sobre a cabeça. Veio então o replantio dos campos, a arborização nas cidades, e finalmente – dominando a indiferença de uns com o culto dos outros – essa risonha e sugestiva festa das árvores. (Kosmos, ano 1, n. 6, junho de 1904)

Observa-se o sentido urbano e sofisticado dessas festas. Longe de se

constituírem numa valorização do mundo rural, ao contrário, conferem valor à

natureza por intermédio daquilo que a própria civilização entende como valioso: a

beleza e a elegância (finalidades estéticas), sua utilidade (pragmatismo econômico)

e a instrução e a regeneração moral (finalidade pedagógica e patriótica). Desses

aspectos é emblemático o que afirma Milton da Cruz:

Tal é o papel que desempenha em nossa vida [a árvore] tais as utilidades e encantos que nos presta, que lhe criamos também um culto quase sagrado. Foi a Civilização que criou, foi a Educação que o criou: outrora, quando a infância saia pelos campos ia destruindo árvores e ninhos. Hoje tudo mudou: a educação dos nossos sentimentos e do nosso caráter não nos permite mais essa barbaria. (CRUZ, 1917, p. 83)

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É interessante observar a semelhança que apresenta o caso de Portugal,

relativamente às Festas das Árvores, embora esse país tenha começado

posteriormente suas comemorações. A implantação da República em 1910 criou um

quadro político propício às grandes campanhas cívicas e de esclarecimento dos

cidadãos, como é tradicional, quando há mudanças drásticas de regime. E a Festa

da Árvore enquadrava-se nesse espírito.

Figura 45 – Postal de 1913

Daí o grande entusiasmo dos vultos republicanos à volta dessas iniciativas

mas também a reserva, se não hostilidade, de forças ligadas principalmente à Igreja

Católica que viam nessas comemorações uma forma hábil de penetração dos novos

ideários em meios, nomeadamente rurais, onde não tinham tradicional implantação.

Tentativas de boicote, campanhas na imprensa e arranque das árvores plantadas

foram algumas das ações promovidas contra a Festa da Árvore

Para ilustrar essa polêmica, vejamos a posição de dois jornais portugueses

126:

Festa simpática das crianças explorada pela Maçonaria. Os católicos não podem colaborar nesta festa naturalista e atéia, permitindo que os seus filhos nela se incorporem arregimentem os filhos dos livres pensadores.

126

Apud CARREIRAS, J. Seabra. Conflitos entre a Igreja e a Maçonaria em Portugal. Lisboa, s/d,, pp 11-12.

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Realiza-se no dia 15 nesta cidade como decerto em todo o país, a chamada festa da árvore, que podendo ser em si uma festa simpática e proveitosa à educação das crianças, está sendo nesta malfadada terra portuguesa explorada pelo sectarismo maçônico que lhe manda imprimir a feição panteísta e genuinamente pagã. Como portugueses e como católicos que nos prezamos de ser aqui deixamos consignado desde já o nosso mais veemente protesto contra o abuso que se está fazendo da liberdade de consciência, forçando milhares e milhares de crianças, na sua quase totalidade filhas de pais católicos e elas próprias católicas a enfileirarem numa festa mais do que pagã. Para festas desta natureza compreendia-se que fossem arregimentados os filhos dos livres pensadores, mas forçar os filhos dos católicos a comparecer nelas é uma violência sem nome. Por isso mais uma vez lamentamos que certos católicos, enfileirando ao lado de pessoas reconhecida e notoriamente inimigas da Igreja levassem o seu zelo por uma causa tão infeliz até ao ponto de subscreverem à carta circular que foi profusamente espalhada pela cidade.

A Democracia, Covilhã, 1914 A resposta veio num tom não menos agressivo:

O mal gera o mal As árvores plantadas pelas crianças das escolas foram arrancadas e lançadas a terra pelos que teimam em ver na Festa da Árvore um culto pagão e não um culto de civismo. Este facto, como é natural, indignou profundamente todos quantos não andando obsecados por idolatrias dogmáticas, sentem a utilidade, a benéfica influência na educação infantil e até no próprio espírito do povo, da realização de festas como a da árvore. Pode enfim esse bando escuro do retrocesso manobrar à vontade, mandando arrancar, cortar, lançar por terra as amigas e benfazejas árvores que os batalhões infantis alegre e festivamente plantaram aos olhos de uma multidão comovida e contente que sem por isso a festa querida deixará de realizar-se, aqui e em todo o país, numa apoteose de luz, de amor e de verdade! Que mal encerra dizer à criança que deve amar a terra, que deve fertilizá-la pelo seu esforço, que deve ungi-la com a graça dos seus hinos e cânticos?! Não tem padres a festa, nem nela se observa a liturgia romana? E é isso coisa necessária para que a árvore crie raízes, cresça, lance a ramagem, frutos e flores? Não surgiu a Festa da Árvore por uma mera especulação teórica. A festa da árvore teve e tem em vista, não satisfazer simbolismos novos, liturgias novas, mas criar fontes de riqueza. Aprendam no exemplo de S. Francisco de Assis a amar a Deus nas plantas, nos animais, em todas as coisas da criação!

Jornal de Guimarães, 1914

Não pude localizar no Brasil reações adversas como as ocorridas em

Portugal, talvez isso se deva ao franco caráter patriótico, humanitário e festivo de

que se revestiram as Festas da Árvore.

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Figura 46 – Convite para a Festa das Árvores

Em Pelotas, a Festa das Árvores, seguindo a moda então reinante na Europa,

Estados Unidos e nos centros mais urbanizados do País, como a Capital Federal,

surgiu como proposta do Capitão da Guarda Nacional João Simões Lopes Neto no I

Congresso Agrícola do Rio Grande do Sul.

Figura 47 – Sociedade Agrícola Pastoril do Rio Grande do Sul (Década de 1920)

O Congresso obteve grande repercussão. Nas palavras de Joaquim Luís

Osório:

O principal fato foi o Congresso Agrícola levado a efeito neta cidade, a 12 de outubro. Promovido para comemorar o décimo aniversário de fundação da Sociedade – foi um verdadeiro acontecimento. Ainda não se havia reunido no estado uma assembléia desse gênero, e urgia uma reunião das classes rurais. (OSÓRIO, 1907-1908, pp. 13-14)

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Figura 48 - Ildefolso Simões Lopes (1896-1940), que presidiu o

I Congresso Agrícola do Rio Grande do Sul

Após a abertura do Congresso – que “correu sempre na melhor ordem e

animadíssimo” - no salão da Biblioteca Pública Pelotense, os trabalhos tiveram lugar

no salão nobre do Liceu Rio-Grandense de Agronomia, sede da entidade. Setenta e

quatro foi o número de participantes do Congresso, presidido pelo Dr. Ildefonso

Simões Lopes, que representava a Sociedade Nacional de Agricultura. O secretário

do I Congresso Agrícola do Rio Grande do Sul foi o agrônomo Manoel Serafim

Gomes de Freitas. Das 13 às 17 h funcionavam as diferentes comissões: criação,

lavoura, arboricultura, silvicultura, leiteria e economia rural. A partir das 19 h

realizavam-se as sessões plenárias, que se prolongavam até quase meia-noite.

(OSÓRIO, 1907-1908, pp. 13-14) Nessas sessões eram discutidas e votadas

propostas, teses, memórias e moções.

Figura 49 – Manuscrito de Simões Lopes Neto Proposta de n. 26 ao Congresso Agrícola de 1908 127

127

A proposta, aprovada, numa redação um pouco diversa, mais elaborada do que aquela feita apressadamente na conclusão dos trabalhos, foi publicada no Relatório 1907-1908 da Sociedade

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Simões Lopes Neto compôs a comissão que discutia arboricultura, viticultura,

sericicultura e leiteria. Dentre esses trabalhos, estava em pauta a 20ª tese, que

tratava de “Cultura industrial das árvores frutíferas, comércio de seus produtos sobre

a forma natural ou de conservas” (OSÓRIO, 1907-1908, p. 41). A essa tese “o

Capitão João Simões Lopes Neto ofereceu um aditivo, ampliado pelo Dr. Nunes

Vieira (Idem, p. 42): O Congresso faz votos para que a iniciativa privada ou os

poderes públicos se empenhem na criação de estabelecimentos industriais em

pequena e grande escala para a dessecação de frutas, bulbos e outras substâncias

alimentícias suceptíveis de serem conservadas por esse processo. (Idem)

Várias outras foram as participações de Simões Lopes Neto no I Congresso

Agrícola 128, entre as quais a realização da Festa das Árvores:

VIII

Autor: João Simões Lopes Neto: Proponho que o Congresso deixe consignada a sua simpatia pela instituição e continuidade das denominadas – Festas das Árvores. Foi aceito o aditivo do Sr. Dr. Nunes Vieira para que a Sociedade Agrícola desta cidade realize anualmente essa festa. (OSÓRIO, 1907-1908, p. 41)

Figura 50– Fernando Luís Osório Figura 51 – Dr. Nunes Vieira

Diniz (2003, p. 164) ressalta que Simões Lopes Neto teria recebido, nas teses

que apresentou no I Congresso Agrícola do Rio Grande do Sul, influência de um

Agrícola Pastoril: “Proponho que o Congresso ao encerrar seus trabalhos lance em ata um voto de preito do seu respeito à memória de Irineu evangelista de Souza, - barão de Mauá -, pelos ensinamentos de sua vida pública e social.” (OSÓRIO, 1907-1908, p. 63) 128

Para mais detalhes vide REVERBEL, 1981, pp. 183-187.

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trabalho do cônego Maximiliano von Lassburg 129 e de outro texto, que talvez o

escritor tivesse lido décadas atrás, de autoria do agrônomo Guilherme Minssen, o

qual versava sobre o desmatamento da região, publicado na Revista Agrícola do Rio

Grande do Sul, editada em Pelotas 130.

Figura 52 – Retrato do Agrônomo Guilherme Minssen.

Afinado com a filosofia do congresso agrícola, Simões apresentou, além de

uma moção, a ser enviada ao Governo Federal, visando sugerir uma melhor análise

dos produtos veterinários importados e a proibição daqueles que contivessem bases

venenosas ou causticas não permitidas nos países de origem, outro trabalho,

versando sobre a Proteção pública para os pássaros úteis 131. Durante o conclave

Simões apresentou o trabalho Protecionismo, problema dos transportes e a questão

129

Esse trabalho foi distribuído ao público gratuitamente num opúsculo durante a Festa das Árvores. 130

Para mais informações sobre a Revista Agrícola vide MAGALHÃES, 1998, pp. 41-56. 131

Uma curiosidade que ainda mais identifica Bilac e Simões, é que, mais ou menos, por essa época – na verdade, alguns anos antes - o poeta manifestou seu apreço pelos pássaros. Em 1904, partira o poeta para a Europa. De lá enviava crônicas para Gazeta de Notícias, nas quais fixava as impressões de viagem. Uma dessas crônicas é dedicada aos pássaros de Paris, sendo uma das mais longas que escreveu na ocasião. A crônica Os pássaros de Paris, mais tarde, integrará o livro Ironia e piedade (1916). Não contente com isso, anos mais tarde, numa entrevista ao Jornal do Comércio, em 02-09-1916, referindo-se às obras da reforma do prefeito Pereira Passos, declara: “Hoje ao acordar, abrindo a janela do meu quarto, vi que a copa da velha mangueira (única beleza e glória do meu microscópico jardim) estava povoada de passarinhos... Pois, meu caro amigo, estes passarinhos são filhos ou netos dos pardais que Passos importou, para alegria e harmonia dos nossos jardins.” (Apud. MAGALHÃES, 1974, pp. 256-258). Simões, em 1911, assumiria a presidência da Sociedade protetora dos animais. Entre as atividades da entidade está uma visita ao intendente do município de Pelotas, apresentando, em comissão, uma proposta de novas normas para o código de posturas. Sua campanha seria intensificada a partir do segundo número da Revista do 1 Centenário de Pelotas, quando logo abaixo do logotipo da Sociedade Protetora dos animais, lê-se: “Srs. auxiliai a propaganda contra a crueldade: sem justiça para os animais o civilizado nivela-se ao selvagem.” ( DINIZ, 2003, p. 185).

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das tarifas. Atuou também como secretário da comissão de economia rural do

congresso, levando diante do plenário as diversas proposições. (DINIZ, 2003, p.

164)

Os homens daquele tempo, instigados pelo ardor cívico de Simões, já

estavam preocupados com a destruição dos recursos naturais e seu impacto

ambiental, todavia, conforme dissemos, por motivos bastante diferentes daquilo que

hoje em dia chamamos de “consciência ecológica”. Em um de seus discursos

Joaquim Luís Osório explicita um dos objetivos da Festa, que era alertar a

população e as autoridades para a destruição da natureza:

É de se lamentar, no entanto, a devastação constante, feita sem a menor previdência, sem o mínimo cuidado de reparação. O Rio Grande, o Brasil, tem o exemplo daqueles países que hoje lamentam a destruição bárbara de suas florestas, expostas como estão a avalanches, a desmoronamentos, a inundações. (Apud DINIZ, 2003, p. 164)

Na condição de orador oficial Joaquim Luís Osório, em seu discurso de

abertura, explica um dos objetivos da Festa das Árvores: é despertar nos corações o

culto à árvore, é incutir nos espíritos o respeito, o amor que merece essa grande

amiga do homem. (Apud MOREIRA, 1984) Além dos aspectos festivos e mesmo de

incentivo à proteção da natureza, muitas vezes, estava também presente o objetivo

humanitário. Quando da Festa das Árvores realizada em Paquetá, em 1904, alguém

lembrava a criação de um orfelinato para os filhos dos bombeiros mortos no

cumprimento do dever. O cronista Gil assim se refere à iniciativa:

Seria uma bela cousa se esse orfelinato saísse da “festa das árvores”. A aproximação é sensível entre uma e outro: este é também um plantio amoroso, feito com rebentos humanos para a renovação de heróis. São esgalhos de tipos soberbos da nossa natureza derribados pela desamorosa indiferença

132, calcinados no fogo violento que mão ignorante ou criminosa

acendeu, é preciso que, ao menos, a arvoreta tenha o viveiro provido e o carinho cauteloso.para que não perca, como tantas, na terra safara, onde o renovo se amesquinha e fenece... (Kosmos, ano 1, n. 6, junho de 1904)

132

O cronista faz alusão ao abandono a que ficavam relegados esposa e filhos do bombeiro morto em serviço, pois “os que condenam a doloroso de que não os tira a minguada pensão com fingem honestamente viver...”

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Figura 53 - Sport Club Pelotas, (Décade de 1910)

O local escolhido para a realização da Festa das Árvores foi o campo do

Esporte Clube Pelotas, que dispunha de confortáveis instalações, mas que não

possuía uma única árvore. A Festa efetivou-se aos 08-08-1909, com início às 14

horas. No livro de Atas de Reuniões da Diretoria da Sociedade Agrícola Pastoril do

Rio Grande do Sul (nº 1 e 2, 11/1898 a 11/1910), a ata n. 44, de 27-08-1909,

registrou a seguinte síntese do evento:

[...] “Comunica o dr. Presidente que teve lugar a 8 do corrente a festa das árvores, promovida pela sociedade, no terreno do Sport Club Pelotas, às duas horas da tarde, correndo brilhante, com extraordinária assistência. Produziu s. s. discurso explicativo da solenidade, e o dr. Balbino Mascarenhas o discurso alusivo ao ato. Por meninos do Sport Club Pelotas foi feita a distribuição da tese do padre Maximiliano Lassberg, S.J., “Meios de harmonizar os interesses do Estado com os dos particulares na exploração das florestas”. Mil exemplares desse trabalho foram distribuídos aos assistentes. Foram também distribuídos mil e quinhentos carnets, contendo de um lado o Hino às Árvores, de Zeferino Brasil, e do outro, a Prece à árvore, de João Simões Lopes Netto. Tocaram durante a solenidade as bandas Lira Artística, e, gentilmente, a do Club Caixeiral. Por parte do Sport Club Pelotas falou o jovem Carlos Mercio, que afirmou que o referido grêmio teria todo o cuidado com as árvores ali plantadas, a quem dispensaria todo carinho. Ofereceu à sociedade, em nome do club, uma grande e bela corbeille de flores. Na impossibilidade de ter lugar no dia da festa todo o plantiu do arvoredo, a sociedade realizou-o com antecedencia, e resumiu-o, no dia, com a plantação de uma laranjeira. A muda d‟esta planta foi levada à cova por gentis crianças, acompanhadas pelo representante do dr. intendente e pelo dr. presidente. Diante d‟essa muda a menina Maria Ondina Bergental disse a Prece à árvore, de joelhos, sobre o estrado. Encerrou-se a solenidade com o Hino às árvores, letra de Zeferino Brasil e música de Murilo Furtado. 300 crianças das escolas públicas cantaram o coro, de pé, em arquibancadas. Os solos foram realizados por grupos de oito meninas, cada um, tendo cada grupo, no centro, um menino, vestido a caráter, sobre um pedestal, representando o lavrador, o lenhador, o soldado e o pastor. Recitou o soneto O Homem com que conclui o Hino, o sr. Prudêncio Ribeiro. Executou o hino uma orquestra de 17 professores, sob regência do maestro João Pinto Madureira, digo, João Pinto Bandeira. A cada uma das crianças a sociedade ofereceu um livro de contos infantis. À menina Maria Ondina foi ofertado o livro de Olavo Bilac, Poesias infantis.

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Às quatro crianças que representaram os tipos de lavrador, lenhador, pastor e soldado, foram brindadas com livros de contos ilustrados. Esses meninos foram: Joaquim Raimundo Gomes Netto (lenhador); Raul Leivas Barcellos (lavrador); Otávio Perret Barcellos (pastor); Francisco Behresnsdorf Osório (soldado). À cada uma das diretoras das escolas públicas, exms. Sas. d. d. Maria Antônia Sá Mendes, Honorina Dias Mariano, Braulina Fernandes Vieira e Eufrasina Amélia de Castilho, a sociedade ofereceu um ramo de flores naturais. Desejoso de concorrer para a imponência da festa, o Sport Club Pelotas, organizou um macht de football entre teams infantis, formados por discípulos dos ginásios Pelotense e Gonzaga. O dr. presidente participa o auxílio excelente que prestaram na organização d‟essa festa os srs. João Abadie e Guilherme Wetzel, que se encarregaram da ornamentação do pavilhão e recinto e ainda cooperaram eficazmente na organização dos diversos números do programa. Salientou também o importante auxílio do industrialista Carlos Ritter, que pessoalmente dirigiu o plantio das árvores. (.OTERO, 2003, pp. 171-174)

Figura 54 – Capa do livro didático Poesias infantis (1904) de Bilac, premio recebido pela menina Maria Ondina Bergental

Figura 55– Prefeito de Pelotas, José Barbosa Gonçalves (1860-1940), por ocasião da Festa das Árvores, em 1909

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Por ocasião da Festa das Árvores foram distribuído ao público dois folhetos.

Um deles, já citado, do pe dr. Maximiliano von Lassberg, intitulado Meios para

harmonizar os interesses do Estado com os dos particulares na exploração das

florestas. O outro, constava de um carnet, mandado imprimir pela Sociedade

Agrícola Pastoril, na Livraria Universal.

Figura 56 - Carnet Festa das Árvores (1909)

Através da participação ativa e pioneira, Simões Lopes Neto tem sido

apontado por alguns como “patrono da ecologia no Brasil”. Atribuir a alguém a

condição de precursor ou pioneiro da ecologia é algo muito relativo. Se formos

recuando poderemos ir parar lá nos egípcios com seus cultos aos gatos, crocodilos

e outros mais bichos, ou ainda nos bucolíssimos celtas.

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Figura 57 – Zeferino Brazil, autor de um dos poemas constantes no carnet da Festa das Árvores

Martins (1974, vol. 2, p. 56) considera José Bonifácio, por causa de sua

Memória sobre a pesca das baleias e a extração do seu azeite (1815) como

precursor absoluto da ecologia, esta ciência supostamente nova. Nesse mesmo

viés, apenas para citar escritores que interligavam a missão literária com outra de

cunho político (a construção da identidade e de um projeto lítero-político nacional),

lembra-me o Manoel Araújo Porto-Alegre, que publicou um arrastado poema, em

1845, intitulado A destruição das florestas, dividido em 3 cantos, quais sejam: a

“Derribada”, a “Queimada” e “Meditação”.

A despeito desses exemplos, que poderiam ser multiplicados, Russomano (1991, p. 9) declarou:

Há poucos dias, no entardecer do nosso inverno, no velho sobrado dos Gonçalves Chaves, quando um começo de treva entrava pelos vidros das sacadas e janelas, Luiz Simões Lopes e eu falávamos sobre coisas antigas (dessas que apenas interessam aos que têm lembranças). Aquele eminente brasileiro me mostrou uma revista de 1930, por ele dirigida: um periódico penosamente organizado e publicado por Luiz Simões Lopes, que tinha por programa a defesa de nossas reservas florestais e era uma tentativa de formação, entre os proprietários e produtores rurais, de uma verdadeira consciência ecológica. Que antecipação! Ela bem merece o ponto exclamativo, nas vésperas da Eco-92, sobretudo se se lembrar que Luiz Simões Lopes e algumas poucas dezenas de convictos, inclusive, promoveram dois congressos no Brasil para defesa de nossas reservas naturais. A conversa resvalou, devagar, para temas correlatos, abrangendo as campanhas de Simões Lopes Neto em prol da natureza, tão curiosas quanto suas pregações cívicas. Naquele exemplar da revista, creio que na última, está a Oração à Árvore

133.

133

O título correto do poema de Simões Lopes Neto é Prece à árvore.

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Pelos fatores que já abordamos, é possível verificar que nada há de estranho

ou estapafúrdio em suas campanhas cívicas e na promoção da Festa das Árvores.

Ao contrário, segundo o exposto as citadas festas já eram de há muito realizadas na

Europa e vinham sendo adotadas no Brasil. Quanto às campanhas cívicas, Arriada

& Tambara nos relatam que este era um movimento continental:

Em verdade, a questão da “educação cívica” era uma ação “missionária” que grassava em todo o continente. Um exemplo disso foi o texto “Instruccion cívica Argentina”, escrito por Juan G. Bertran, um texto didático para uso nos colégios e na Escola Normal na década de 1910. (ARRIADA & TAMBARA, 2005, p. 239)

O Correio Mercantil, de Pelotas, em data de 07-08-1909 registrou a Festa das

Árvores, com mais alguns detalhes e alguma diferença de informações, tais como o

número de professores que compuseram a orquestra regida pelo maestro Bandeira.

Reverbel 134, que utilizou como fonte o jornal citado, registra 20 professores,

enquanto Moreira 135 redige conforme consta no texto da ata aqui reproduzida. Além

disso, Joaquim Luís Osório (1909, p. 29) acrescenta um interessante detalhe da

programação não referido em outras fontes: uma partida de futebol, entre times

infantis, dos ginásios Pelotense e Gonzaga, saindo vencedor este último por um a

zero.

O trabalho lido de joelhos pela menina Maria Ondida, o poema em prosa

Prece à árvore, é um dos trabalhos simonianos mais reeditados e, paradoxalmente,

um dos menos conhecidos 136. Ei-lo na íntegra:

134

REVERBEL, 1981, p. 190. 135

MOREIRA, Ângelo Pires. A primeira Festa da Árvore em Pelotas. Diário da Manhã, Pelotas, 19-8-1984. Página Simoniana CXII. 136

A 1ª edição consta no jornal Eco do Sul, Rio Grande/RS, 06-07-1909, assinado por Serafim Bemol;

a 2ª edição no carnet publicado pela Sociedade Agrícola Pastoril, 01-08-1909, distribuído

gratuitamente, no qual do lado esquerdo havia o Hino às árvores, de Zeferino Brazil, e no direito, a Prece à árvore, de Simões Lopes Neto; a 3

ª edição é do jornal Correio Mercantil, Pelotas, 09-08-

1909; a 4ª edição é do jornal A Opinião Pública, Pelotas, em 07-08-1909; a 5

ª edição está no Relatório

de Joaquim Luís Osório à Sociedade Agrícola pastoril (1909, pp. 32-33), a 6ª edição Pátria Nova, publicação do Tiro de Guerra, Pelotas, n. 31, pp. 45-46, nov. 1916 (obs: sem indicação de autoria); a 7

ª edição na revista, de 1930, citada por Mozart Victor Russomano (Como se fosse um prefácio. In

MONQUELAT, Adão; DINIZ, Carlos; MAGALHÃES, Mário Osório. Novos textos simonianos. Pelotas: Confraria Cultural e Científica Prometheu/ Livraria Lobo da Costa, 1991, p. 9); a 8

ª edição está num

cartão comemorativo ao Dia da Árvore, 04-10-1940, cuja autoria está atribuída a Januário Coelho da Costa; a 9

ª edição está in REVERBEL, Carlos.Um capitão da Guarda Nacional Porto Alegre: Martins

Livreiro, 1981, p. 189; a 10ª edição está no artigo de Ângelo Pires Moreira, A primeira Festa da

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Prece à árvore

ÀRVORE! Sublimada expressão da eterna bondade! Árvore! Filha e mãe da graça, do aroma e da fartura! Árvore! que, para consolo dos homens, como o sol, abraças todo o mundo! ... Eia! sê tranqüila! Aqui, ao grande ar, na plena luz, luz e ar que purificas e que são a saúde, a beleza e a força da vida, sincera e contente na tua presença, oh! Árvore da virgindade, eu prometo: - “em nome do berço em que dormi e que foi feito do coração perfumoso de um cedro! em nome da nossa mesa de família e que é talhada do corpo de um loureiro! em nome do teto que me abriga e que saiu do âmago enxuto das araucárias! ... e pelo trigo, e pelo mel e pelo leite, que todos de ti provêm, pois que os amparas, oh! árvore benfazeja! ... eu prometo respeitar-te, engrandecer teu culto, defender-te, amar-te.

No pomar e na floresta és o palácio dos passarinhos, o celeiro das abelhas, o pouso trescalante das borboletas; galopam sobre a tua casca as diligentes formigas, a cobra peçonhenta grimpa pela tua ramaria e a própria onça feroz procura socorro nos teus braços... e dos que voam e dos que rastejam, nenhum deles te maltrata, todos, todos extremecem-te, aureulando a tua proteção com os seus cantares e zumbidos, silvos e regougos, trilados e rugidos!... Somente os homens golpeiam-te e lascam e destroem ... Eles , - os injustos! – eles, - os impiedosos! – que sem a tua sombra junto do seu lar, só com as próprias lágrimas podem molhar o chão que a estiagem afogueia; que sem as tuas raízes vão-se arrastados nas enxurradas doudas; que sem a tua força flexível, rojam-se abatidos pelos ventos tempestuosos!... E, oh! miraculosa! Oh! mansa! Oh! Generosa! Oh! Magnífica! ... apenas morta, ressurges logo, quando o clamor dolente dos ingratos implora a tua seiva e os teus dons!...

Árvore! Eia! Sê tranqüila! Seremos amigas: dizê-lo podes a todas as tuas irmãs, desde as grandes centenárias até às frágeis hastes verdes... Não mais torcerei a tua folhagem, não quebrarei teus ramos, não desfarei teu toucado, as flores, não magoarei teus filhos pequenos, os frutinhos tenros! Dar-te-ei novo húmus cada ano, e na tarde dos calores fortes a água fresca!

Oh! árvore da graça!... reserva para um certo dia festivo, todo meu...oh! Árvore da esperança! guarda no mistério do teu seio o meu tesouro... oh! Árvore da virgindade! Dá-me tu, só tu, a minha grinalda de noiva, em doce prêmio! Em nome dela eu me devoto a ti! Abençoada sejas, árvore! Para sempre! Abençoada sejas!

137

Em 1916, houve nova edição da Festa, ao que parece, cumprindo a

realização anual, decidida no Congresso Agrícola de 1908. Nesse ano falece o

escritor, aos 14 de junho. Por motivo dos tão relevantes e reconhecidos serviços

prestados à causa patriótica, que os maiorais da terra resolveram levar o “Príncipe

dos poetas brasileiros”, Olavo Bilac, durante sua visita a Pelotas, em romaria ao

túmulo do Velho Capitão. O orador oficial desse preito de saudade foi Manuel

Árvore em Pelotas, Diário da Manhã, Pelotas, 19-08-1984; a 11

ª edição está em OTERO, Darcy

Thrilho. Associação Rural de Pelotas. Memórias. Pelotas:UFPEL, 2003, pp. 174-175. Entre essas diversas edições há variantes. 137

Fizemos apenas a atualização ortográfica, reproduzindo aqui o texto do carnet, publicado pela Sociedade Agrícola Pastoril de Pelotas, 01-08-1909.

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Serafim Gomes de Freitas, o qual na oportunidade proferiu um discurso em que

aludia às virtudes do homem e do escritor multifacetado:

[...] pois nem a todos é dado ocultar sob o riso alvissareiro a onda emotiva que sóe rasgar em muitas almas o véu que empana tristuras e cobre tormentas nobremente sopitadas. A esse tributo, porém, juntaste os de lidar porfiadamente pela grandeza da tua gleba, de batalhar pela exaltação do sentimento cívico, de pugnar pelo brilho da literatura regional, vasando em contos o folclore rio-grandense, reconstituindo lendas que se arriscavam a delir e a se apagar de todo na tradição oral, imaginando romances que nunca, talvez, saiam a lume, desdobrando a tessitura da história local desde os primórdios da capitania de El- Rey , da terra que nunca teve donatário, até os tempos mais recentes, de engenhar processos pedagógicos que ajudassem a a aprendizagem da criança. (FREITAS, 1916, p. 28.)

E conclui:

Vamos te deixar, não mais queremos perturbar a quietude do teu sono, partilhado aqui por irmãos teus, por devotados servidores desta terra, a deste o melhor do teu espírito, que deu ao Brasil um dos primeiros tradutores da opulenta poesia germânica, Bernardo Taveira Júnior, e um dos poetas mais espontâneos que este céu puríssimo tem contemplado, Lobo da Costa. Vamos te deixar, João Simões, na esperança de que a nossa visita não te sangre o coração de dó pela humanidade, nem te suscito aquele riso encobridor das amarguras e das decepções que não raro brincava em teus lábios e luzia em teus olhos. Estende sobre nós todos, ó encarnação viva do desapego e da abnegação, o manto da tua bondade e o afago do teu carinho! (Idem, p. 29)

Depois da exaltada oratória de Gomes de Freitas, Bilac limitou-se a pôr , em

silêncio, um ramo de flores sobre o sepulcro.

Figura 58 - Poeta Olavo Bilac e Fernando Luis Osório

Embora Bilac e Simões nunca se tivessem encontrado, estavam, agora,

unidos em alma pelos ideais cívicos, pela educação nacional e pela – diríamos hoje

– ecologia. Na Festa da Árvore de 1916, idealizada por Simões e realizada pela

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primeira vez em 1909, é entoado por mil alunas dos colégios elementares de Pelotas

o Cântico das árvores, com letra de Olavo Bilac e acompanhamento musical da

Banda do Tiro de Guerra Brasileiro n. 31, da qual era regente o atirador-civil maestro

Gastão Ramos. Eis a letra do hino de Bilac:

Cântico das árvores 138

Quem planta uma árvore enriquece A terra, mão piedosa e boa:

E a terra aos homens agradece, A mão os filhos abençoa.

Para o futuro trabalhamos:

Pois, no porvir, nossos irmãos Hão de cantar sob estes ramos

E bendizer as nossas mãos!

Crescei, crescei na grande festa Da luz, do aroma e da bondade,

Árvores, glória da floresta! Árvores, vida da cidade!

Coro {Idem}

Outros verão os vossos pomos: Se hoje sois fracas e crianças,

Nós esperanças também somos, Plantamos outras esperanças!

(Apud FREITAS, 1916, p. 46)

Figura 59 – Menina Adília Wetzel, recitando a Prece à árvore, de Simões Lopes Neto, na Festa das Árvores, de 1916

138

FREITAS, Manuel Serafim Gomes de, ob. cit., p. 46.

{ Coro:

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Naquela oportunidade novamente o poema de Simões Lopes neto foi lido –

de joelhos - ternamente, defronte a uma laranjeira, por uma menina. Resta-nos a

imagem singela, de uma prece que o Capitão não viu, mas plantou, como uma

semente de esperança na Educação.

2.5 – Livros didáticos

Estava redigindo a última parte desta dissertação de mestrado quando fui

surpreendido por uma noticia veiculada no jornal „Zero Hora”, de Porto Alegre, em

06-11-2008. Tratava-se da descoberta, pouco mais de um século depois, do

manuscrito Artinha de leitura, do escritor pelotense João Simões Lopes Neto.

Segundo narra o jornalista Álvaro Guimarães na matéria aludida, a

historiadora e professora da UFRGS Helga Landgraf Piccolo ao fazer uma seleção

dos livros de sua biblioteca, de mais de 5 mil volumes, para efetuar uma doação,

acabou encontrado o livreto de capa vermelha, que com o carimbo do Arquivo

Histórico, foi parar num sebo, onde foi adquirido pela pesquisadora há cerca de 30

anos.

O interessante é que apesar dos notáveis esforços de Carlos Reverbel, desde

a década de 1940, para recuperar a vida e obra do Capitão da Guarda Nacional, dos

estudos de Flávio Loureiro Chaves e de Cláudio Heemam, entre outros, e mais

recentemente de Carlos Sica Diniz, a profa. Piccolo não se recordava da relíquia que

jazia adormecida em sua biblioteca.

A “madrinha daqueles que não a tem” ou o coto de vela que alguém acendeu

para o Negrinho Pastoreio fez com que reaparecesse o manuscrito, revelando mais

uma peça do quebra-cabeça do projeto cívico-educacional ardorosamente

empreendido por Simões Lopes Neto.

No dia 23-10-2008 a profa. Piccolo entregou essa preciosidade, através da

dra. Loner, professora no Instituto de Ciências Humanas, ao Núcleo de

Documentação Histórica da UFPEL, onde a obra foi digitalizada para facilitar o

acesso.

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Figura 60 - Beatriz Loner segurando “Artinha de Leitura”

Em 22-11-2008 houve na sede do Instituto João Simões Lopes Neto, na

mesma casa em que o escritor elaborou a Artinha de leitura, a cerimônia de doação

do manuscrito.

Figura 61 – Da esquerda para a direita: Conselheiro Dr. Fausto Leitão Domingues, Jornalista Henrique Pires (Presidente do Instituto João Simões Lopes Neto) e Prof

a. Helga Picollo

Tive, pois, ao tornar-me sabedor da novidade, de reescrever vários trechos de

meu trabalho. Foi com verdadeira comoção que conheci a Artinha de leitura, mais

um acalentado sonho do Velho Capitão que malogrou. 139 É sempre com espanto e

júbilo que cada dia vemos a descoberta de novos documentos que vem em auxilio

da elucidação de aspectos importantes da vida e obra do criador de Blau Nunes.

139

Para mais detalhes vide a matéria Obra de Simões volta para casa, Diário Popular, Pelotas, 22-11-2008.

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Enfim, conforme declaração do Secretário Municipal de Cultura, Mogar

Pagana Xavier, a descoberta de Artinha de leitura põe fim a um dos grandes

mistérios da vida e da obra do escritor que, em 1904, deixou clara a intenção de

escrever a cartilha. É um achado maravilhoso, pois muitos achavam que esta obra

estava no baú de algum colecionador ou completamente perdida. (Apud

GUIMARÃES, Diário Popular, Pelotas, 06-11-2008). De fato. O biógrafo pioneiro do

escritor em seu livro Um capitão da Guarda Nacional (1981) afirma que a Artinha e a

obra didática Eu, no colégio foram anunciadas e não publicadas, e, como não mais

se ocupa delas, dá a entender que estivessem perdidas e não apenas inéditas. De

uma certa maneira estavam mesmo perdidas. Lembremos da casa dos cadernos do

Terra Gaúcha (não o livro homônimo publicado postumamente pela editora Sulina

em 1955) estavam no célebre baú de Dona Velha, que os havia doado ao Dr. Mozart

Victor Russomano. Assim, Reverbel talvez não teve acesso a eles ou, quem sabe,

não os julgou relevantes.

Seja lá como for, o aparecimento dessa cartilha, com bem disse a profa.

Picollo, será de grande valia aos pesquisadores da área da Educação, pois mostra

como um dos maiores escritores brasileiros pensou o processo de alfabetização e a

educação na sala de aula. (Apud GUIMARÃES, Diário Popular, Pelotas, 06-11-2008)

Antes mesmo do aparecimento da Artinha já tínhamos elementos para

compreender o compromisso de Simões Lopes Neto com as questões educacionais.

O seu repentino surgimento apenas veio corroborar as inferências e as conclusões

mais firmes advindas de outros documentos. Nesse sentido, o aparecimento do

manuscrito, em si mesmo, em nada altera as condições que já se fazia sobre o

projeto cívico-educacional do escritor. Do mesmo modo, nada se soma à glória do

Autor, conquistada pela parte mais alta de sua literatura: Contos gauchescos (1912)

e Lendas do Sul (1913).

Afirma o escritor Aldyr Garcia Schlee:

Não há relevância [da Artinha] com relação ao restante da obra, pois trata-se de um material didático e não espera-se que vá contradizer o que ele pensava ou era. Assim não terá maior importância sobre o que já se sabe sobre ele. (Apud GUIMARÃES, Diário Popular, Pelotas, 29-11-2008)

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Embora este não seja o foco de nosso trabalho, alerto para o seguinte:

tenho cá minhas dúvidas se a Artinha não pode ser o instrumento para abrir mais um

viés hermenêutico para a análise crítica da alta literatura simoniana, uma vez que se

pode perceber que o Autor, em vários momentos, fez transmigrar o literário para o

cívico-pedagógico e vice-versa.

Concordamos com Schlee, em certos pontos. quando diz:

É importante por ser mais um documento recuperado da série de materiais que ele deixou se perder e isso gera expectativa, ainda mais pelo fato de que como ficcionista era um grande mentiroso e costumava divulgar coisas que não fez. (Apud GUIMARÃES, Diário Popular, Pelotas, 29-11-2008)

Não buscamos diminuir o achamento da Artinha de leitura, que possui a

intrínseca importância de ser um manuscrito pertencente a um dos maiores contistas

brasileiros. Evidentemente, o seu aparecimento, uma centúria depois de o Autor tê-

la concebido, nos enche de alegria, e fecha mais uma lacuna na bibliografia de

Simões Lopes Neto. Nessa medida, sem subestimar nem supervalorizar o achado,

basta dizer que a efetiva importância do manuscrito é possibilitar o avanço da

investigação sobre seus métodos de ensino, o que, por sua vez, auxiliar-nos-á na

melhor compreensão de suas convicções sobre leitura, escrita e o manejo da língua,

operação que abarca a ortografia, ponto que gerou a rejeição da referida Artinha

pelo Conselho de Instrução Pública. A Artinha nos possibilita também avaliar o lugar

dos métodos de ensino sugeridos por Simões Lopes Neto, considerados no contexto

educacional da época.

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Figura 62 – Uma página interna da “Artinha”, em que o autor fornece instruções ao

professor, relativamente ao uso do material instrucional.

Segundo Eliane Peres, Simões ao defender o ensino concomitante da escrita

e da leitura e apresentar um método que funde silabação e palavração, mostra estar

em sintonia com autores didáticos de sua época como Hilário Ribeiro e,

conseqüentemente um passo a frente do praticado na maior parte das escolas

brasileiras e gaúchas. (Apud GUIMARÃES, Diário Popular, Pelotas, 29-11-2008)

Reforçamos: o aparecimento da cartilha vem comprovar ainda mais seus

objetivos de vulgarizador da educação, concomitantemente constituindo-se em novo

documento de sua atividade didática. Os documentos da atividade propriamente

didática de Simões Lopes Neto, alguns ainda inacessíveis em sua integralidade

(livros inéditos quase completos e fragmentos de outros projetos), já nos deixam

vislumbrar pontos bastante nítidos, os quais nos permitem descrever e, pelo menos,

lançar alguma luz para a análise dos materiais instrucionais que o escritor concebeu,

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nesse sentido rastreando até que ponto é possível reconstruir a trajetória e a

concretização de seus projetos cívico-pedagógicos. No que diz respeito a essa

questão, buscamos, menos que respostas, definir um enunciado problemático

significativo quanto a toda produção simoniana, isto é, em que medida e de que

maneira se relacionam a produção literária e a cívico-pedagógica de João Simões

Lopes Neto.

Entendo que a importância da Artinha vai além daquilo que a profa. Picollo

declarou. O surgimento dessa obra é significativo não somente para os estudiosos

da área da Educação, mas também da Literatura. Uma de minhas hipóteses é que

houve no projeto simoniano, tanto educacional quanto literário, uma profunda, talvez

inextrincável intersecção, que uma análise mais detida da cartilha de 1907 venha

confirmar.

Figura 63 - Folha de rosto da “Artinha de leitura” (1907)

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A descoberta da Artinha vem auxiliar a esclarecer alguns aspectos da

ideologia do Autor. Desde a pequena biografia de Simões Lopes Neto, redigida

por Antônio Hohlfeldt para a Coleção Esses Gaúchos, em 1985, já se havia

intuído as estreitas ligações entre a prosa literária e os projetos cívico -

pedagógicos do escritor.

Lígia Chiappini em No entretanto dos tempos (1988) foi quem enunciou

que Simões Lopes Neto possuía um projeto educativo, expresso desde as

conferências Educação cívica (1904-1906) (incluiríamos também a conferência

realizada em Jaguarão, Educação e caridade, em 1906), chegando

transfigurado aos Contos gauchescos (1912).

A preocupação cívico-pedagógica de Simões Lopes Neto não estava

disseminada apenas em diversos projetos de cunho, por assim dizer, “cultural”,

mas também pelo efetivo exercício da profissão docente, embora sob o

aspecto o aspecto de voluntariado. O Velho Capitão foi professor no Clube

Caixeiral de Pelotas. É de se lamentar não ter restado para nós o depoimento

de um aluno seu ou anotações de aula.

Entre os objetivos do Clube Caixeiral de Pelotas estava a resistência aos

abusos e à exploração patronal, o mutualismo, atividades recreativas e socorro

aos desempregados da categoria. Além desses fins destinados à assistência e

à organização de classe, a reforma estatutária de julho de 1895, em seu artigo

3º 8, previa estabelecer cursos de instrução.

O Clube Caixeiral de Pelotas, do mesmo modo como o Asilo de Órfãs,

também foi obra da Maçonaria, instituição a que Simões se ligaria em 1890.

Cumprindo rigorosamente a previsão estatutária, em 11-10-1898 é fundada a

Academia de Comércio do Clube, sendo seus promotores Raimundo Pinto da

Silva, Silvino Joaquim Lopes e José Borges de Eça de Queiroz. Formaram a

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primeira diretoria o Dr. Ulisses S. de Araújo Batinga, Manuel Luís Osório e

Manoel Serafim Gomes de Freitas140.

Figura 64 – Manoel Serafim Gomes de Freitas (1880-1969)

Em 10-04-1909, inaugurou-se, em beneficio da Academia de Comércio, uma

“Exposição-quermesse” no Clube Caixeral, cujo orador oficial foi João Simões Lopes

Neto. No ano seguinte o curso foi reduzido de seis para cinco anos, obedecendo ao

que rezava a lei federal de 09-01-1905.

Em 20-02-1913 a Academia de Comércio do Clube Caixeiral realizou a sua

primeira colação de grau de bacharéis em ciências comerciais, sendo paraninfo o dr.

Joaquim Luis Osório. Os formandos foram Ildefonso Alves de Carvalho e Nede

Lande Xavier. O corpo docente era constituído por F. da Cunha Ramos, João Afonso

Corrêa de Almeida, Gregório Romeu Iruzum, Hermenegildo Bicker, Manuel Luís

Osório, Fernando Luís Osório, Joaquim Luís Osório, Luís Gomes de Freitas,

Henrique Krentel, Rudi Schäfer, J.J. Albuquerque Barros, Frederico Torres, Alípio

Telles, Frederico Trebi, Manoel Serafim Gomes de Freitas, Francisco Rodrigues de

140

Manoel Serafim Gomes de Freitas nasceu em Piratini em aos 23-12-1880, falecendo em Pelotas em 06-06-1969. Agrônomo e bacharel em Direito foi um dos fundadores da Escola Agrícola Eliseu Maciel. Foi confrade de Simões Lopes Neto durante a 1º fase da Academia de Letras do rio Grande do Sul, em 1910. Dedicou-se também à confecção de livros didáticos, publicando sob os auspícios as Intendência de Pelotas, pela editora Globo, sua 50 Lições Rurais- para a instrução primária municipal, em 1929.

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194

Araújo, Henrique d‟Ávila Gonçalves, Ulisses de Araújo Batinga. Augusto Simões

Lopes e João Simões Neto.

Figura 65 – Primeira turma de bacharéis da Academia de Comércio do Clube Caixeiral (1913)

Suas ligações com a educação foram além do exercício do magistério,

abarcando uma concepção mais ampla daquele processo. Dessa maneira,

observamos seu intuito educacional em outras manifestações, como na Coleção

Brasiliana de cartões postais, no painel Farroupilha, na Semana Centenária e nas já

citadas conferências, na (inédita) publicação comemorativa à inauguração do

monumento a Bento Gonçalves, manuscrito a que intitulou Glória Farroupilha, ao

que se somam os livros didáticos, entre os quais a Artinha recém descoberta.

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195

Figura 66 – Glória Farroupilha

A hipótese de que Simões Lopes Neto possuía um projeto didático-

pedagógico, movido por idéias patrióticos, esteve latente, uma vez que não haviam

aparecido elementos mais objetivos que viessem em seu apoio. Em 2003, porém,

quando da publicação da nova biografia de João Simões Lopes Neto, Carlos Sica

Diniz, entre outras novidades, trouxe à tona os cadernos do que ele chamou de “o

verdadeiro Terra gaúcha”. Eram os manuscritos de uma obra didática homônima à

história do Rio Grande do Sul, cujo segundo volume se perdeu, e que foi publicada

postumamente, em 1955, pela editora Sulina.

Os textos do “verdadeiro Terra gaúcha” foram divulgados em pequenos

fragmentos por Sica Diniz e atualmente pertence a coleção particular do Dr. Mozart

Victor Russomano. Deles podemos ter uma idéia, dentro do contexto do projeto

cívico-pedagógico de Simões Lopes Neto, por sua extensão de quase 200 páginas.

Desse conjunto faz parte o manuscrito Recordações de infância (27 p.), ao qual

Chiappini atribui a data aproximada de 1910.

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196

Figura 67 – “Redomão”, manuscrito integrante de “Recordações de Infância”

A impossibilidade de acesso ou mesmo o desconhecimento dos textos do

“verdadeiro Terra Gaúcha”, proporcionou distorções, inclusive sobre a natureza de

Recordações de Infância, tendo sido interpretado como romance inacabado ou livro

de memórias e não em sua condição de livro didático. Entendo que apesar de

sabermos da existência de, pelo menos, metade do projeto da Série Brasiliana (de

livros didáticos) só poderemos ter uma idéia mais conclusiva quando for possível

verificar o conjunto.

Simões Lopes Neto submeteu sua Artinha de Leitura, de 1907, no ano

seguinte, ao Conselho de Instrução Pública, visando sua adoção nas escolas, sendo

rejeitada sob alegação de estar em desconformidade com a ortografia vigente. 141 O

prof. Paula Alves deu um interessante depoimento por ocasião do centenário de

nascimento do escritor, em que comenta a questão ortográfica:

141

Uma observação curiosa é que em Terra Gaúcha (1955) a editora Sulina afirma que à titulo de curiosidade, respeitou a ortografia utilizada pelo autor.(p. 15)

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197

A seção de Simões Neto intitulava-se “Tema Gastos”; seu pseudônimo Era João do Sul. Às vezes dizia Simões Neto: “Estou sem assunto”. Saia para dar uma volta. Daí a pouco entrava na redação, sentava a sua mesa de trabalho e zás! Redigia a sua crônica. Caçara o assunto na rua, num acidente, numa palestra, numa observação psicológica. Usava a ortografia da Academia Sul-Riograndense de Letras e, então escrevia coza, roza, com z, lonje, vijilante, com j. Escrita a crônica nessa ortografia, entregava seu trabalho ao Casinha (Carlos Casanovas) para o por na ortografia do Paula Alves, segundo sua expressão. É que nesse tempo, 1916, eu mantinha na “A opinião Pública”, uma crônica intitulada “seção Gramatical”, com o pseudômino de Paulo Afonso, na qual defendia a correção gramatical nos seus vários aspectos.(Apud Moreira, 1983,pp. 58-59)

Reproduzo a seguir trechos das atas das sessões do Conselho de

Instrução Pública:

5ª Reunião

Aos vinte e um dias do mês de julho de 1908

[...]

Passou-se à ordem dos trabalhadores. Foram apresentados ao Conselho

para julgamento os livros: “Histórias de Nossa Terra” de Júlia Lopes de Almeida e a

Cartilha de leitura de J. Simões Lopes Netto. Em tempo declaro que este último foi

apresentado em manuscrito e com o ofício do mesmo n. 2028, desta data.

Resolveu o Conselho adiar para outra sessão o julgamento dessas obras.

[...]

Protásio Alves, Álvaro Batista, Manuel Pacheco Pratesco Prates (Actas das

Sessões do Conselho de Instrução Pública – Arquivo Histórico de Porto Alegre, lata

42, maço 07, p. 12)

6ª Sessão

Aos 25.07.1908

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[...]

Sobre a Cartilha primária “Série Brasiliana”, em manuscrito, de J. Simões

Lopes Netto, entende o Conselho que, não podendo o Estado impor a ortografia

seguida pelo autor, deve ser reparado o trabalho por estar em desacordo com o

regulamento e não obedecer o critério do ensino.

[...]

Protásio Alves, Álvaro Batista, Manuel Pacheco Prates( Actas das Sessões do

Conselho de Instrução Pública – Arquivo Histórico de Porto Alegre, lata 42, maço 07,

p. 13)

Figura 68 – Ata da reunião do conselho de Instrução Pública (1908)

Na Pequena contradita (1908) dirigida ao Conselho de Instrução

Pública, Simões Lopes Neto descreve em que consistia todo plano de sua “Série

Brasiliana”, do que a Artinha de leitura era o primeiro número, sendo restante Eu, na

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199

escola; Terra gaúcha e Hinos e glórias do Brasil. Deste último nada sabemos a

respeito de seu paradeiro, nem mesmo se chegou a existir. 142

Busca argumentar a validade de sua cartilha com base no Regulamento de

Instrução Pública, decreto nº. 894, de 28-02-1906, publicado no jornal A Federação”,

em nove de março. A certa altura se desculpa, pois não quer parecer pretensioso

questionando a decisão do Conselho, mas afirma:

entretanto, não posso deixar de consignar que o plano de minha “Artinha de leitura” exibe cousa de novo e prática sobre os livrinhos [...] adotados nas aulas públicas do Estado [...] creio que isso [...] [é] o ponto de apoio que tenho pra pretender que meu livrinho possa ser julgado prestável.

E segue: ponto importante e que me fez demorar a apresentação deste 1º

volume de série, foi o aspecto ortográfico, partindo da reforma para a simplificação e

uniformização da grafia de nossa língua.

Sua preocupação, conforme expõe na Pequena contradita, é levar o

benefício da educação às massas populares, aproveitando, segundo sua expressão,

o escudo que lhe dava a orientação ortográfica da Casa de Machado de Assis.

Assinala ainda que transformara todo o primitivo manuscrito, transportando-o para a

ortografia reformada. E completa a idéia: é dispensável reproduzir a copiosa

argumentação pró e contra, provocada pela Academia e este douto Conselho

Escolar seguramente que está dela inteirado. Argumenta ainda a favor de sua

cartilha dizendo que se repete no Brasil o fenômeno acontecido na Espanha, Itália e

França, onde foi iniciado o movimento de uniformização e simplificação da grafia da

língua, o qual “prevaleceu e perdura”.

142

O manuscrito “Glória Farroupilha” (1909) parece descrever algo semelhante ao que o autor pretendia no quarto volume dos livros didáticos de sua “Série Brasiliana”, anunciada na “Artinha de leitura” e na “Pequena Contradita”.Aliás, essa obra traz um modelo didático muito semelhante. Encontramos nela figurinhas, reprodução de documentos, o tema recorrente da “Terra Gaúcha”, a intenção da educação patriótica, os Hinos da República Rio-Grandense, etc.

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200

Figura 69 – Pequena contradita [uma página]

Vale lembrar uma história narrada por Ivete Massot em seu livro Simões

Lopes Neto na intimidade (1974). Em 1908, Simões Lopes Neto, desconsolado,

entrega a ela, sua sobrinha de tenra idade, cópia do exemplar rejeitado pelas

autoridades educacionais para que recortasse as figurinhas, acrescentando:

- Graças a Deus, Velha, este livro teve poder de dar alegria a uma criança. Alguns

anos depois, ele ainda publicará uma folha avulsa em que divulga a reforma

ortográfica no Brasil, segundo as regras sugeridas pela Academia Brasileira de

Letras.

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201

Figura 70 - Folha avulsa “A reforma ortográfica no Brasil”

Seguindo o plano da série Brasiliana, descrito na Pequena contradita,

Simões Lopes Neto produziu o livro Terra Gaúcha. Não nos referimos ao livro igual

título, publicado postumamente em 1955 pela editora Sulina, prefaciado por

Manoelito de Ornellas e anotado por Walter Spalding, mas outro, resgatado pelo

biógrafo Sica Diniz, ao qual ele denomina de “o verdadeiro Terra Gaúcha”

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202

Figura 71 – Madrugada, manuscrito do “verdadeiro Terra Gaúcha”

Abrimos aqui um parêntese para sucintamente relatarmos essa história “longa

e complicadíssima”, para utilizarmos uma expressão de Antônio Hohlfeldt 143. Em

1904, a obra apresentada na primeira versão da conferência Educação cívica era de

perfil didático e seu autor tinha por objetivo vê-la adotada nas escolas primárias, a

fim de incutir nas crianças o conhecimento e a noticia dos homens e atos do Brasil,

tão arredados do diário convívio da juventude escolar (Apud DINIZ, 2003, pp. 124-

125). Diz o próprio Simões sobre o seu intento:

Fazer um livro simples, saudável, cantante, de alegria e caricioso, que os homens rindo da sua singeleza o estimassem; que fosse amado pelas as crianças, que nele,com sua ingênua avidez, fossem bebendo as gotas que se trans formassem mais tarde em torrente alterosa de civismo; [...] (Apud DINIZ, 2003, p. 123)

143

Para mais detalhes sobre “Terra Gaúcha” vide REVERBEL, 1981, pp. 231-237 e 268-271. Vide também DINIZ, 2003, pp. 123-137.

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203

A confusão deu-se em torno dos títulos homônimos. O problema, porém,

segundo o biógrafo Diniz (2003, p. 124), poderia ter sido resolvido com simplicidade,

bastando atentar para o que deixou escrito nas linhas e entrelinhas o próprio Simões

Lopes Neto.

Um anúncio colocado no ”Correio Mercantil”, de Pelotas, em 24-11-1904,

solicitava o envio de gravuras, fotografias, estampas ou reproduções de quadros que

retratassem episódios históricos, monumentos e placas para ilustrar seu livro escolar

Terra Gaúcha, já em preparo final.

Simões Lopes Neto lançou circulares na imprensa procurando financiar sua

obra através de subscrições. Informa também a remessa da obra ao Conselho de

Instrução Pública, a fim de que fosse aprovada sua doação nas escolas.

O biógrafo Diniz teve acesso ao célebre baú de dona Velha, que lhe foi

franqueado por Mozart Victor Russomano. Diniz examinou os manuscritos de

Recordação de infância (as famosas 27 páginas) 144 e outros mais cujo conteúdo era

muito mais vasto e harmonioso do que se julgava 145. A lista do conteúdo do

“verdadeiro Terra Gaúcha”, segundo Diniz (20003, pp. 134-165) era:

I Parte

O Colégio Municipal (p. 1 a 4)

Uma estrada de mil léguas... (p. 4 a 5)

O Mestrinho falando (p. 6 a 7)

Um malcriado inocente (p. 7 a 8)

Tu verás, canarinho! (p. 8 a 11)

É o que eu sei (p. 11 a 12)

A festa (p. 13 a 16)

Na campanha (p. 16 a 19)

Minha mãe (p. 19 a 22)

Todas as mães (p. 23 a 24)

Meu pai (p. 25 a 28)

144

Antônio Hohlfeldt faz interessantes observações sobre as Recordações de infância, em seu livro Simões Lopes Neto. Porto Alegre: RBS/Tchê, 1985, pp. 60-61. Coleção Esses gaúchos. 145

DINIZ, 2003, p. 128.

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204

A Sesmaria (p. 29 a 32)

Os tapumes (p. 33 a 34)

O primeiro rancho (p. 34 a 38)

A tapera (p. 38 a 40)

A estância (p. 40 a 47)

O “monarca” (p. 47 a 50)

Canto do “monarca” (faltam as folhas 51 a 53)

O capataz (p. 55 a 59)

A recolhida (p. 59 a 69)

Bom dia, papai! (p. 69 a 72)

Uma agregada (p. 72 a 75)

Minha irmã (p. 76 a 78)

O rancho da sia Mariana (79 a 84)

Plano de serviços (p. 84 a 86)

Até os “cuscos”?!... (p. 87 a 88)

Lavado e penteado (p. 89 a 92)

Na mangueira (p. 92 a 96)

O pealo (p. 96 a 100)

Qual, domador de tigres!... (p. 100 a 102)

A velha que tinha... (p. 102)

O ajutório (p. 103 a 105)

Primeiro galope (p. 106 a 113)

Um guri sem luxos (p. 113 a 117)

Tu e tu! (p. 117 a 119)

Más companhias (p. 119 a 123)

Antes só (p. 123 a 127)

O outro tempo (p. 128 a 131)

Madrugada (p. 131 a 138)

Campeiro asseado (p. 138 a 141)

O rodeio (p. 141 a 146)

A tocata no galpão (p. 146 a 152v)

O redomão (p. 153 a 153v)

Pastoreio (p. 153v a 155)

Uma rodada (p. 155 a 156v)

A alta escola (p. 156v a 158v)

Dez copos d`água (p 159 a 164)

Histórias, histórias... (p 164 a 165)

O negrinho do pastoreio (p. 166 a 169)

O boi-tatá (p. 169v a 172)

Alguidar em cacos (p. 172v a 174)

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205

fui um brutinho... (p. 174 a 175v)

II Parte

Amanhã!

Primeiro dia

Segundo dia

Terceiro dia

Domingo

Agora sim

Corda, trapézio, barra, etc.

Enterro pobre

Os Estados

Srs. Estados!

Na minha terra, Sr!

Não sabem?...

Uma patuscada

Arrependidos

Sabatina

A lição do tico-tico

Conta do tempo

As palhas de arroz

Bracinhos e perninhas

A mão canhota

Brava gente brasileira

O hino da “Independência”

Um tabefe

Coração de mãe

Aviso

As coleções

Na minha terra!...

Os passarinhos 146

O carioca, em lágrimas

Historinha de Portugal (1)

Atenção

As moedas

O que queremos ser

Tudo doutor, tudo coronel!

146

Diniz (2003, p.134) registra “O passarinhos”, portanto, não se pode dizer se o título correto é “Os passarinhos” ou “O passarinho”.

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Historinha de Portugal (2)

O bêbado

Historinha de Portugal (3)

Dia de chuva

Quatro cabeças juntas

Aula cívica

Data nacional – 1° de janeiro

A tribuna do carioca

Lembranças, saudades...

Fundação da cidade do Rio de Janeiro

Linguagem de capadócios

Nomes de gente

22 de janeiro, no Mato Grosso

Segundo Diniz (2003, p. 135) Manoelito de Ornellas, uma das poucas

pessoas que examinou esses originais, disse que não conhecia painel mais exato da

vida campeira e que não teria encontrado maior contingente de poesia em ficção

infantil. O mesmo biógrafo afirma não estar muito certo da utilidade desse material

nos dias atuais e se caberia a publicação desses cadernos na íntegra (idem).

Entendo que o foco deve ser outro. não cabe perguntar a respeito desses inéditos se

eles podem ainda servir como material instrucional. A distância tanto temporal

quanto pedagógica praticamente os inutilizou para isso. Valem como documento de

uma época, valem como documento de um autor importante, valem como amostras

de como Simões Lopes Neto efetivamente utilizava textos literários com vistas a

objetivos cívico-pedagógicos.

Afirma o biógrafo Diniz:

Lidos no seu conjunto, fica-se coma impressão de que essas narrativas são parte de um livro maior. E mesmo que tal livro, completo, jamais fosse encontrado, não descartaríamos a hipótese, para nós quase uma certeza, de que fariam parte do livre escolar outrora denominado Terra Gaúcha, depois resumido e transformado – talvez unicamente com os textos de Recordações Infância, ou com estes ou mais alguns dos quais nada se sabia – em Artinha de Leitura, ou Eu no colégio, parente próximo do Cuore, de Edmondo de Amicis

147, enviado somente em 1908 ao Conselho de

instrução pública. (2003, pp. 129 – 130)

147

A obra de Amicis foi publicada pela Editora Universal Echenique, em 1907.

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Sem entrarmos em minudências, o importante das revelações de Sica Diniz é

que trazem luz a alguns elementos que podem nos auxiliar a esclarecer a natureza e

a origem do projeto lítero-pedagógico do grande escritor pelotense.

Diniz foi muito perspicaz ao assinalar a pista deixada por uma observação de

Manoelito de Ornellas (1903 – 1969), em seu prefácio ao Terra Gaúcha, na edição

de 1955, na Sulina, em que o autor diz:

João Simões Lopes Neto sacrificou um longo período de sua vida à feitura deste livro. “Terra Gaúcha” constituía, para ele, assim como um complemento da obra também inédita que dedicara à juventude riograndense, com o título de “Eu, no Colégio”, e que fora, na época, recusada pela Direção do Ensino Público do Estado, sob alegação de desconformidade ortográfica...(ORNELLAS, 1955, p. 7).

Esclarece Diniz, depois de várias considerações, que Simões antes de se

dedicar à obra sobre história do Rio Grande do Sul, elaborou outra de feição

didática, destinada à instrução infantil, referindo-se implicitamente à Artinha e

explicitamente ao “Verdadeiro Terra Gaúcha”. Outro livro de feição didática foi Terra

Gaúcha, publicado postumamente pela editora Sulina, de Porto Alegra, em 1955.

Figura 72 – Capa do “Terra Gaúcha” (1955)

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Essa obra, depois de diversas peripécias, 148 foi publicada em 1955, porém,

só chegou até nós o 1° volume. Tendo entregado Dona Velha os originais do livro à

Editora Globo e esta demorasse em sua publicação, a viúva do escritor dirigiu-se a

Henrique Bertaso, em carta de 01-01-1954, pedindo-lhe a anulação do contrato e a

devolução dos originais. Dizia-se Dona Velha esperançosa de encontrar editor para

Terra Gaúcha no Rio ou em São Paulo. Não encontrou. Tentou novamente a Editora

Globo, mas a resposta foi negativa. Afirma Reverbel (1981, p. 270) que seguindo os

conselhos dos assessores literários da Casa, a Globo ao negar a publicação talvez

tivesse pretendido preservar o nome do escritor.

Fora procurado Augusto Meyer, na ocasião diretor do Instituto Nacional do

Livro, para a publicação de Terra Gaúcha através daquele órgão. No entanto, o

parecer de Meyer não foi favorável 149. Com quase todas as portas fechadas, ainda

assim Manoelito de Ornellas e Mozart Victor Russomano, ambos muito empenhados

em auxiliar a viúva de Simões Lopes Neto, que vivia em precárias condições, foram

solicitar ao editor Leopoldo Boeck, proprietário da Sulina, que editasse a obra, a qual

sairia com prefácio de Ornellas e notas do historiador Walter Spalding.

Simões dava grande importância ao Terra Gaúcha. É o primeiro crítico

manifesto de João Simões Lopes Neto, Januário Coelho da Costa (1886 – 1949), em

artigo denominado Contos Gauchescos, publicado no Diário Popular, de Pelotas, em

02-11-1912, que comenta sobre Terra Gaúcha (não o “verdadeiro”, segundo a

expressão de Diniz, mas aquele publicado postumamente em 1955): João Simões já

tem pronto no prelo um livro intitulado Terra Gaúcha que é, modestamente, ele o diz,

uma história elementar do Rio Grande do Sul.

Por volta de junho de 1914, Simões ficou sabendo que o jovem escritor

Roque Callage (1988-1931) pretendia publicar um livro de contos com o mesmo

título – Terra Gaúcha. Em artigo publicado em 02-07-1914, no “Correio Mercantil”,

de Pelotas, Simões Lopes Neto faz registrar a diferença entre as duas obras: uma

era um estudo de cunho e fundo histórico rio-grandense, em que ele trabalhava

148

Para mais detalhes vide Reverbel (1981, pp. 268-271). 149

O parecer de Augusto Meyer na integra, datado de 14 de abril de 1954 está reproduzido in Reverbel (1981, p. 270)

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havia mais de oito anos, e a outra era um exercício ficcional (BAVARESCO &

BORGES, 2001, p.88). Roque Callage, no entanto, não tomou conhecimento da

reação do Capitão e , de fato, nesse mesmo ano publicou seu livro de contos,

enquanto Simões esperneava publicando por diversas vezes o anúncio de sua Terra

Gaúcha como obra em preparo (Idem).

Reverbel (1981, pp. 270-271) dá a entender que tal publicação foi um

equívoco, um desserviço à memória do escritor: Se a produção jornalística de J.

Simões Lopes Neto raras vezes deixa vislumbrar-se algo do seu gênio literário, as

suas incursões nos domínios da história também se situam muito abaixo de seu

pedestal de escritor, mas com uma vantagem; são em número bem reduzido. Este

trecho nos dá uma clara notícia do quanto a parte didática da obra de Simões Lopes

Neto, indevidamente comparada a sua obra literária, é ainda incompreendida tanto

do ponto de vista histórico quanto do ideológico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho levamos em consideração a hipótese levantada por

Chiappini (1988), de que Simões Lopes Neto possuía um projeto cívico-pedagógico.

Tal proposição, mais tarde, foi corroborada por Diniz (2003) quando este divulgou os

textos a que denominou “o verdadeiro Terra Gaúcha”. Embora Chiappini tenha

esboçado alguns nexos que poderiam levar à conclusão de que o Autor possuía um

projeto cívico-pedagógico, mais ou menos explícito, mas de qualquer modo

consciente,

entendemos que constavam mais lacunas explicativas do que factuais, sobretudo a

partir da referida descoberta de Diniz. A partir disso, uma de minhas primeiras

constatações foi a estreita relação entre a literatura simoniana – tão apartada, pela

maioria dos críticos, do restante de sua obra por sua excelência literária – sua

produção jornalística e didática. Uma das provas disso foi o aproveitamento de

trechos da conferência Educação Cívica na introdução dos Contos Gauchescos.

Buscou-se também mapear uma genealogia ou, pelo menos, delinear um

certo continente filosófico-ideológico que pudesse dar conta da localização histórica

do pensamento e da produção dadático-pedagógica do escritor. Nesse processo, ao

contrário do que então se apregoava foi possível observar um Simões Lopes Neto

pouco provinciano, sendo antes um escritor em dia com os debates mais

importantes de sua época. Aliás, conforme demonstraram Arriada & Tambara

(2005), havia um movimento não apenas brasileiro, mas continental motivado pelas

preocupações educacionais. Foi possível assim desfazer parte da tradição, criada a

partir de Reverbel (1981), de que o escritor antecipara em cerca de uma década as

campanhas cívicas de Bilac.

Podemos concluir que na transição do poder açúcar para o café a presença

política dos militares foi inesperada. A Guerra do Paraguai dera ao Exército a

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medida de sua força, sendo guindado pelas circunstâncias à condição de relevante

agente político, responsável por uma grande mobilização social.

Analisando a estrutura de poder, observamos que as armas já estavam nas

mãos daqueles que já detenham o poder político, como sucedia com a Guarda

Nacional (corporação a que pertenceu Simões Lopes Neto), representando a classe

latifundiária, sobretudo os cafeicultores. Com as demandas advindas da Guerra do

Paraguai esse Exército é insuficiente, entrando em cena os “Voluntários da Pátria”,

muitos dos quais recrutados à força. Além dos Voluntários, o governo começa a

sentir necessidade da profissionalização dos militares, que jaziam no desprestígio,

sendo conhecidos como “tarimbeiros”, opostos aos bacharéis fardados da Guarda

Nacional.

Simões Lopes Neto orgulhava-se de ter pertencido a Guarda Nacional. Sua

vida colocada na esteira da decadência dos charqueadores, filho deserdado da

oligarquia pelotense, mantém relações ambíguas o status quo e com as ideologias

acolhidas no Brasil pela Geração de 1870. Na trilha do bacharelismo e o beletrismo

se ofereceram como degrau de ascensão social ou política, em que o civilismo

propaga a crença da neutralidade do Estado, a exigir do cidadão o compromisso da

dedicação cívica.

O grupo conhecido como Geração de 1870 estava ligado às idéias

positivistas, evolucionistas e anticlericais, mesclados num cipoal filosófico-ideológico,

que se pode resumir como “cientificismo”, geralmente ligados à Maçonaria,

influenciaram significativamente as questões educacionais. Alguns nomes da

chamada Geração de 1870 em que Simões Lopes Neto se abeberou foram Sílvio

Romero e José Veríssimo. Desse modo, identificando os pontos mais gerais do

ideário da Geração de 1870 entendemos o escritor herdeiro ideológico desse grupo,

como é possível verificar nas conferências e artigos jornalísticos do escritor,

especialmente aqueles relativos aos problemas do ensino, da higiene, do

sanitarismo e da reforma urbana. É interessante observar que o mesmo Simões que

realiza uma literatura voltada ao passado mítico do Rio Grande é o mesmo que

propugna o Progresso, Ciência e Urbanidade. O signo de ironia de Serafim Bemol

tornou-se a representação do sarcasmo de Romualdo.

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O debate que seduzia os intelectuais do fim do século XIX e primeiras

décadas do século seguinte foi o caráter ou a identidade do povo brasileiro. A ânsia

de um projeto de desenvolvimento nacional na perspectiva da consolidação do

Estado Republicano.

É dentro dessa discussão que Simões Lopes Neto vai defender o gaúcho não

só em seus valores éticos e patrióticos, mas também busca um novo referencial

étnico, base das teorias sociais da época. Embora na teoria os intelectuais, entre os

quais Sílvio Romero e o próprio Simões, idealizavam um país branco e europeizado,

percebiam a realidade de um povo mestiço, pobre e iletrado. Contrário a essa

realidade evidente o Governo procurava soluções de fachada para vender a imagem

de um país de exportação, do que são exemplo o Bota-Abaixo e a Vacinação

obrigatória.

Uma de nossas variáveis de trabalho era verificar, dentro desse contexto

histórico e social, onde se inseria o projeto cívico-pedagógico de Simões Lopes

Neto. Concluímos, segundo já mencionamos, que não era um elemento isolado

dentro das proposições em luta na sociedade brasileira.

O pensamento de Simões Lopes Neto era filho da aristocracia imperial e da

nova república dos Comendadores, representa sua classe, seus dramas, sonhos e

tropeços. A família o queria político ou capitalista. Ele bem que tentou. No entanto, a

palavra era sua paixão e acabou por ser, finalmente, seu modesto ganha-pão.

Depois de seus mirabolantes negócios fracassados, era o escritor de todos os

gêneros, desde as descontraídas crônicas das Balas de Estalo até os artigos de

polêmica e crítica social, passando pelos versos de propaganda do Café Cruzeiro.

Em meio a esse turbilhão de atividades o seu ideário cívico-pedagógico nunca

arrefeceu. Já em 1904-1906 percorreu diversas cidades do Rio Grande do Sul

proferindo conferências sobre educação e civismo.

Em 1909, tentou publicar uma Artinha de leitura, obra que foi rejeitada pelo

Conselho de Instrução Pública sob alegação de desconformidade com a ortografia

vigente. Os livros restantes, à exceção da obra editada postumamente pela Globo

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em 1952, permanecem inéditos, tendo sido organizados segundo progressivos

níveis de leitura.

Simões Lopes Neto foi uma personalidade complexa e cheia de facetas.

Assim como a República que se inicia, é ele também cheio de ambigüidades e

contradições. De um lado, é o jornalista aclamado, de outro o industrial falido. É o

contista melancólico do pampa nos Contos Gauchescos e também o pensador

progressista do Uma trindade científica, em que expõe a teoria evolucionista como

concepção revolucionária do mundo.

Verificamos também as diversas manifestações concretas do projeto cívico-

pedagógico de Simões Lopes Neto, dividindo-as em atividades concretas tais como

a organização do Tiro de Guerra 31 ou a Festa das Árvores. Subjacente ao núcleo

duro de seu projeto cívico-educacional estava a preocupação com o folclore, visto

como fonte da identidade cultural nacional. Do folclore muito se alimentou o melhor

de sua produção literária, a qual mesmo em seus mais altos momentos tinha uns

laivos patriótico-edificantes.

Concluímos também que há unidade e coerência no projeto cívico-

pedagógico. Deste modo, por exemplo, a União Gaúcha e os Tiros de Guerra, mais

que empenhos institucionais são veículos para o cultivo do sentimento patriótico. No

caso do Tiro 31 significava a prevenção armada do Estado para possíveis conflitos

bélicos, acompanhando o clima tenso que culminará na I Guerra Mundial (1914-

1916).

A demonstração mais concreta do projeto cívico-pedagógico foi a elaboração,

embora gorada, de seus livros didáticos. Essa foi justamente a parte de sua iniciativa

educacional que obteve menos apoio, permanecendo quase toda ela inédita, do que

podemos citar a Artinha.

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BIBLIOGRAFIA

1 - Corpus simoniano

Edições críticas

LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos e Lendas do Sul. Edição crítica de

Aurélio Buarque de Holanda. Porto Alegre: Globo, 1949.

LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos, Lendas do Sul, Casos do

Romualdo. Edição crítica de Lígia Chiappini. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos e Lendas do Sul. 2 vol. Edição

crítica de Aldyr Garcia Schlee. Porto Alegre/São Leopoldo: IEL, Unisinos, 2006.

Outras edições

LOPES NETO, João Simões. Terra gaúcha. Apresentação de Manoelito de Ornellas

e introdução e notas de Walter Spalding. Porto Alegre: Sulina, 1955.

LOPES NETO, João Simões. Casos do Romualdo. Prefácio de Carlos Reverbel.

Porto Alegre: Martins Livreiro, 2004.

LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. Introdução e notas de Luís

Augusto Fischer. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1998.

LOPES NETO, João Simões. Lendas do sul. Apresentação de Mário Mattos. Porto

Alegre: Editora Meridional, 2005.

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Coletâneas de textos

Obra completa de Simões Lopes Neto. Organizada por Paulo Bentancur.Porto

Alegre: Sulina/Já Editores, 2003.

Novos textos simonianos. Contos urbanos e poemas de J. Simões Lopes Neto.

Organizada por A.F. Monquelat; Carlos Diniz; Mário Osório Magalhães. Pelotas:

Confraria Cultural e Científica Prometheu, 1991.

A outra face de J. Simões Lopes Neto. Vol. 1. Organizada por Ângelo Pires Moreira.

Porto Alegre: Martins Livreiro, 1983.

O teatro de Simões Lopes Neto. Vol. 1. Organizada por Cláudio Heemann. Porto

Alegre: IEL, 1990.

Página simoneana. Coleção de artigos de Ângelo Pires Moreira no Diário da Manhã,

Pelotas, 1982-1984.

Contos e lendas. Apresentação de Moysés Vellinho. Rio de Janeiro: Agir, 1957.

Os melhores contos de Simões Lopes Neto. Seleção e introdução de Dionísio

Toledo. São Paulo: Global, 1998.

Conferências e discursos

LOPES NETO, João Simões. Educação cívica - “Terra Gaúcha” (apresentação de

um livro). Anais da Biblioteca Pública Pelotense, ano I (1904), v. I, pp. 47-59,

Pelotas: Livraria Comercial, 1905.

LOPES NETO, João Simões. Educação cívica. Pelotas: União Gaúcha, Grêmio

Gaúcho de Bagé, Grêmio Gaúcho de Porto Alegre, 1906.

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LOPES NETO, João Simões. Elogio fúnebre de Cassiano do Nascimento. A Opinião

Pública, Pelotas, 24-09-1912.

LOPES NETO, João Simões. Discurso Oficial. Revista da Academia de Letras do

Rio Grande do Sul. Porto Alegre, ano I, n. 8, 1911.

LOPES NETO, João Simões. Discurso Oficial (inauguração do Colégio Elementar).

Diário Popular, Pelotas, 19-06-1913.

Trabalhos jornalísticos

LOPES NETO, João Simões (sob o pseudônimo de João do Sul). A tia das

encomendas. “Inquéritos em contraste”. A Opinião Pública, Pelotas, 03-07-1913.

LOPES NETO, João Simões. Mercenário-Herói! Prostituta-Excelsa! A Opinião

Pública, Pelotas, 28-11-1913.

LOPES NETO, João Simões. Pelotas e a higiene. A Opinião Pública, Pelotas, 21-12-

1912.

LOPES NETO, João Simões. Pró-Garibaldi. A Opinião Pública, Pelotas, 28-12-1912.

LOPES NETO, João Simões. Uma trindade científica: Lamarck, Haeckel e Darwin. A

Opinião Pública, Pelotas, 09, 15, 18, 25 e 29-01-1913.

LOPES NETO, João Simões. (sob o pseudônimo de João do Sul). “Inquéritos em

contraste”. A Opinião Pública, Pelotas, 10-06-1913.

LOPES NETO, João Simões. (sob o pseudônimo de João do Sul). Um fim de troça.

“Inquéritos em contraste”. Diário Popular, Pelotas, 21-07-1913.

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Manuscritos de João Simões Lopes Neto e outros

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Coleções de periódicos

A Opinião Pública, Pelotas, 1913-1916.

A Palavra, Pelotas, 1912-1930.

A Pátria, Pelotas, 1888-1890.

Almanaque de Pelotas, 1918.

Almanaque literário e estatístico do Rio Grande do Sul, 1889-1917.

A Ventarola, Pelotas, 1887-1890

Acervos consultados

Adão Monquelat (Pelotas)

Antônio Ivan Costa (Pelotas)

Caio Oppa (Pelotas)

Cristina Rosa (Pelotas)

Danilo Santos (Alegrete)

Eduardo Arriada (Pelotas)

Fausto Leitão Domingues (Porto Alegre)

Mogar Pagana Xavier (Pelotas)

Pedro Nervo Rios (Rio Grande)

Ramão Costa (Pelotas)

Suzana Krates (Uruguaiana)

Academia Pelotense de Letras

Academia Sul-Brasileira de Letras (Pelotas)

Arquivo Público de Porto Alegre

Biblioteca Central da PUCRS

Biblioteca Central da UFRGS

Biblioteca Central UCPEL

Biblioteca do Clube Centro Português 1º de Dezembro (Pelotas)

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Biblioteca da Faculdade de Educação/UFPEL

Biblioteca do curso de História/FURG

Biblioteca do Instituto de Artes e Letras/UFPEL

Biblioteca do Instituto de Ciências Humanas/UFPEL

Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro)

Biblioteca Pública de Porto Alegre

Biblioteca Pública Pelotense

Biblioteca Riograndense (Rio Grande)

Câmara de Vereadores de Pelotas

Colégio Municipal Pelotense

Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão

Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas

Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (Porto Alegre)

Instituto João Simões Lopes Neto (Pelotas)

Museu Hipólito José da Costa (Porto Alegre)

Museu Júlio de Castilhos (Porto Alegre)

Núcleo de Documentação Histórica UFPEL

União Gaúcha (Pelotas)

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