universidade federal de mato grosso do sul …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em...

71
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE FÍSICA SAULE VIGANÓ NETO ANÁLISE DE ALTERAÇÕES NO ESPECTRO FOTOACÚSTICO DA PELE HUMANA CAUSADAS PELA DROGA CICLOPIROX OLAMINA Campo Grande – MS 2009

Upload: dangtuyen

Post on 14-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE FÍSICA

SAULE VIGANÓ NETO

ANÁLISE DE ALTERAÇÕES NO ESPECTRO FOTOACÚSTICO DA

PELE HUMANA CAUSADAS PELA DROGA CICLOPIROX OLAMINA

Campo Grande – MS 2009

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

2

SAULE VIGANÓ NETO

ANÁLISE DE ALTERAÇÕES NO ESPECTRO FOTOACÚSTICO DA

PELE HUMANA CAUSADAS PELA DROGA CICLOPIROX OLAMINA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em

Física Aplicada da Universidade Federal de Mato

Grosso do Sul, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Física, sob a

orientação do Professor Dr. Carlos Alberto Vinha.

Campo Grande – MS 2009

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

3

SAULE VIGANÓ NETO

ANÁLISE DE ALTERAÇÕES NO ESPECTRO FOTOACÚSTICO DA

PELE HUMANA CAUSADAS PELA DROGA CICLOPIROX OLAMINA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em

Física Aplicada da Universidade Federal de Mato

Grosso do Sul, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Física, sob a

orientação do professor Dr. Carlos Alberto Vinha.

Data da defesa: __/__/2009

Prof. Dr. Carlos Alberto Vinha (UFMS)

Julgamento: ____________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. Jorge João Chacha (UFMS)

Julgamento: ____________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. Sandro Marcio Lima (UEMS)

Julgamento: ____________________ Assinatura: ___________________

Prof. Dr. Hamilton Germano Pavão (UFMS)

Julgamento: ____________________ Assinatura: ___________________

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

4

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Valdir e Vilma, pelo apoio irrestrito em todos os momentos de minha

vida.

Carinhosamente à minha esposa Hevelyne e a minha filha Júlia, que juntas formam a

minha razão de ser.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a princípio a Deus, que me permitiu a inteligência, além de guiar todos os

passos da minha vida dando-me sua graça sempre.

Ao Professor Dr. Carlos Alberto Vinha, pela orientação, dedicação, revisão do texto

final, compreensão nos momentos difíceis que passei durante este trabalho, além de sua

valiosa amizade.

Ao Mestrando Geraldo Majella, pela providencial ajuda nos experimentos e por

proporcionar longas e valiosas conversas sobre Física e principalmente sobre a vida.

Ao Valdeir e ao Evaldo, técnicos do laboratório de Física que estavam sempre prontos

para nos atender.

Ao Elias, secretário do Mestrado em Física, sempre esclarecendo todas as dúvidas.

Ao meu pai, pelo auxílio técnico durante a elaboração dos desenhos.

Aos meus familiares, que sempre compreenderam como foi difícil esta caminhada, em

especial ao meu irmão Valdir Jr. pelo apoio nas longas horas de trabalho.

Ao grande Scott, pela valiosa e sincera amizade que temos desde a graduação.

Agradeço carinhosamente a minha amada esposa Hevelyne, que me acalmou durante

os momentos de nervosismo, me alegrou durante os momentos tristes, que sorriu nos

momentos alegres, e que tornou possível a realização deste sonho. Muito obrigado.

Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste

trabalho fica registrado o meu muito obrigado.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

6

RESUMO

Uma das características da Técnica Fotoacústica é a possibilidade da realização de

análises utilizando amostras em sua forma intacta, dispensando a utilização de pré-

tratamentos, solventes, etc. Portanto, essa técnica tem sido amplamente utilizada em estudos

envolvendo uma grande variedade de materiais biológicos, em particular a pele humana.

No Brasil, as micoses superficiais constituem um problema de saúde pública,

ocupando o segundo lugar em incidência, de acordo com a Sociedade Brasileira de

Dermatologia. Para seu tratamento existem diversos antifúngicos e dentre eles podemos citar

o ciclopirox olamina.

No presente trabalho, buscou-se avaliar as alterações no espectro fotoacústico da pele

humana causadas pelo fármaco ciclopirox olamina.

As análises na região do ultravioleta e visível propiciaram a identificação de picos

espectrais associados à pele humana e ao fármaco. A monitoração das intensidades e

comprimentos de ondas desses picos permitiram acompanhar a evolução temporal da presença

do fármaco na pele.

Na região do infravermelho próximo foi possível identificar várias absorções

espectrais correspondentes aos constituintes da pele humana, bem como à água e o álcool

presentes na composição da droga.

Esses resultados, em conjunto, confirmam que a técnica apresenta potencial para

constituir-se em importante ferramenta para estudos envolvendo substâncias veiculadas

através da pele humana.

Palavras chaves: Espectroscopia Fotoacústica; Pele humana; Ciclopirox Olamina.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

7

ABSTRACT

One of the features of Photoacoustics is the possibility of analysis using samples in

their intact form, being dispensed pre-treatments, solvents, etc. Therefore, the technique was

widely used in studies involving a large number of biological materials, particularly the

human skin.

In Brazil, the superficial mycoses are a problem of public health, attaining the second

place in incidence, according to the Brazilian Society of Dermatology. For treatment, several

antifungal drugs are employed and among them the ciclopirox olamine.

In this work, we tried to evaluate changes in the photoacoustic spectrum of human

skin caused by the medicament ciclopirox olamine.

Analysis in the ultraviolet and visible regions led to the identification of spectral peaks

related to human skin and to the medicament. The monitoring of intensities and wavelengths

of these peaks allowed the determination of the time evolution of the presence of the drug in

the skin.

In the near infrared region, several spectral absorptions corresponding to human skin

composition, as well as to water and alcohol present in the drug, were identified.

These results as a whole confirm the potential of the technique as an important tool for

studies involving substances diffused through the human skin.

Keywords: Photoacoustic Spectroscopy; Human skin; Ciclopirox olamine.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA PÁGINA

1 Estrutura da pele humana............................................................................................. 15

2 Vias de penetração de fármacos através do estrato córneo ........................................ . 17

3 Instrumentação utilizada na realização de varreduras espectrais ............................... . 22

4 Detalhes da célula fotoacústica utilizada para espectroscopia ................................... . 25

5 Detalhes do porta-amostra.......................................................................................... . 26

6 Amostras de pele antes da manipulação..................................................................... . 27

7 Amostras após manipulação ....................................................................................... . 27

8 Amostra assentada no porta-amostra.......................................................................... . 28

9 Espectro fotoacústico, nas regiões do ultravioleta e visível, para efeito

de comparação entre as amostras................................................................................ . 31

10 Espectro fotoacústico, nas regiões do ultravioleta e visível,

da droga ciclopirox olamina ....................................................................................... . 32

11 Espectro fotoacústico, nas regiões do ultravioleta e visível,

da pele tratada logo após a aplicação.......................................................................... . 33

12 Espectro fotoacústico, nas regiões do ultravioleta e visível,

da droga ”in-situ” na pele ........................................................................................... . 34

13 Espectros fotoacústicos, nas regiões do ultravioleta e visível,

da pele tratada com a droga em três instantes distintos............................................... 35

14 Comportamento do deslocamento do máximo em função do tempo ......................... . 36

15 Cronologia da presença da droga na pele ................................................................... . 38

16 Espectro fotoacústico, na região do infravermelho próximo,

da droga ciclopirox olamina e da água destilada........................................................ . 40

17 Espectro fotoacústico, na região do infravermelho próximo, da pele desidratada ..... . 41

18 Espectro fotoacústico, na região do infravermelho próximo,

da amostra de pele utilizada como controle................................................................ . 42

19 Espectro fotoacústicos, na região do infravermelho próximo,

da amostra de pele tratada com a droga...................................................................... . 42

20 Espectro fotoacústicos, na região do infravermelho próximo,

para efeito de comparação entre as amostras.............................................................. . 45

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

9

21 Espectros fotacústicos, na região do infravermelho próximo,

da pele controle em dois instantes distintos ............................................................... . 46

22 Espectros fotoacústicos, na região do infravermelho próximo,

da pele tratada em dois instantes distintos ................................................................. . 46

23 Representação de uma célula fotoacústica fechada.................................................... . 50

24 Relação entre a espessura da amostra (l ) e o comprimento

de absorção óptica (βl ) .............................................................................................. . 53

25 Comportamento do comprimento de difusão térmica ................................................. 55

26 Representação fasorial da variação de pressão........................................................... . 59

27 Representação vetorial do sinal fotoacústico.............................................................. . 60

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

10

LISTA DE TABELAS

TABELA PÁGINA

1 Classificação dos fototipos de pele .............................................................................. 18

2 Informações técnicas do fármaco ciclopirox olamina..................................................20

3 Relação entre a posição do máximo (comprimento de onda)

e o tempo de aplicação ................................................................................................. 35

4 Intensidades espectrais em 303 nm.............................................................................. 37

5 Intensidades espectrais em 322 nm.............................................................................. 38

6 Relação entre comprimento de onda (pico de absorção aproximado)

e a substância ou estrutura à qual a absorção é atribuída ............................................ 39

7 Comprimentos de onda e respectivas intensidades espectrais

para a droga ciclopirox olamina, água destilada, pele desidratada,

pele controle e pele tratada no intervalo entre 1000nm e 1600nm.............................. 43

8 Identificação de alguns dos picos encontrados no espectro

de absorção fotoacústico da pele.................................................................................. 44

9 Comprimentos de onda e respectivas intensidades espectrais

para a pele controle e pele tratada no intervalo entre 1000nm e 1600nm ................... 47

10 Grandezas utilizadas no equacionamento do fenômeno fotoacústico.......................... 51

11 Casos limites do efeito fotoacústico............................................................................. 58

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................13

1 A PELE HUMANA .......................................................................................................... 15

1.1 A pele humana ..................................................................................................... 15

1.2 Vias de penetração cutânea.................................................................................. 17

1.3 Classificação quanto aos tipos de pele................................................................. 18

2 A DROGA CICLOPIROX OLAMINA .......................................................................... 19

2.1 Introdução ............................................................................................................ 19

2.2 Mecanismo de ação.............................................................................................. 19

2.3 Informações técnicas ........................................................................................... 19

2.4 Características farmacológicas ............................................................................ 20

2.5 Indicações, contra-indicações e apresentações disponíveis................................. 21

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 22

3.1 Aparelhagem utilizada ......................................................................................... 22

3.2 Preparação e manipulação das amostras.............................................................. 26

3.2.1 Amostras de pele........................................................................................ 26

3.2.2 O fármaco utilizado ................................................................................... 28

3.3 Análise espectral no ultravioleta e visível ........................................................... 29

3.4 Análise espectral no infravermelho próximo.......................................................30

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................................... 31

4.1 Avaliação da cronologia da presença da droga na pele – Análise no

ultravioleta e visível......................................................................................... 31

4.2 Identificação de características espectrais associadas à composição

da pele humana e do fármaco – Análise no infravermelho próximo............... 39

4.2.1 Espectroscopia no infravermelho próximo................................................. 39

4.2.2 Análise espectral no infravermelho próximo.............................................. 40

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

12

CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS DE ESTUDOS........................................................ 48

APÊNDICE A – GENERALIDADES SOBRE A TÉCNICA FOTOACÚS TICA ........ 49

A.1 Histórico ............................................................................................................. 49

A.2 O efeito fotoacústico........................................................................................... 50

A.3 Teoria do efeito fotoacústico .............................................................................. 51

A.3.1 Absorção óptica ......................................................................................... 52

A.3.2 Difusão térmica.......................................................................................... 54

A.4 Equação de difusão de calor – Modelo R-G ....................................................... 55

A.5 Espectroscopia fotoacústica................................................................................ 60

A.6 Estudos em pele utilizando a técnica fotoacústica.............................................. 61

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 63

ANEXO A ............................................................................................................................. 68

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

13

INTRODUÇÃO

As micoses superficiais se destacam entre as doenças dermatológicas mais prevalentes

no Brasil, ocupando o segundo lugar em incidência, tanto nos serviços públicos quanto nos

privados, segundo o Censo Dermatológico realizado em maio de 2006 pela Sociedade

Brasileira de Dermatologia (SDB). Trata-se de um grupo de infecções causadas por fungos

capazes de utilizar a queratina da camada córnea da pele, unhas e cabelos como nutrientes. Os

fungos podem estar presentes no solo, na água, no ar, nos animais e no próprio ser humano.

Porém, quando encontram condições favoráveis, excesso de calor e umidade, se desenvolvem

e proliferam rapidamente desenvolvendo a doença. Acometem igualmente indivíduos do sexo

masculino e feminino, de todas as idades e classes sociais e constituem assim, um problema

de saúde pública em nosso país (CARDOSO, 2006).

Um importante progresso no tratamento de micoses ocorreu nas últimas três décadas

com a introdução de novos agentes antifúngicos, e entre eles podemos citar o ciclopirox

olamina.

Este e outros agentes antifúngicos tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores

em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

relacionadas à dermatologia que utilizavam metodologias não invasivas, baseavam-se, na

maioria das vezes, na observação clínica, o que pode ser considerado um método subjetivo.

Com os avanços tecnológicos, surgiram metodologias não invasivas, embasadas

cientificamente, e que não causam nenhum tipo de trauma ou dor e em muitos casos nem

desconforto aos pacientes ou voluntários que participam da pesquisa.

A Espectroscopia Fotoacústica (PAS)∗ surge como uma valiosa ferramenta de

pesquisa para análise de tecidos biológicos como a pele, oferecendo em muitos casos,

significantes vantagens sobre outras técnicas. A PAS baseia-se na absorção de luz modulada

por uma amostra e na subsequente conversão desta energia em calor. Uma das vantagens

provém do fato de ser uma medida direta da absorção, de modo que a luz espalhada, refletida

ou transmitida em geral não interfere nas medidas. A técnica permite também, que se obtenha

o espectro de absorção óptica de substâncias mesmo quando estas estão localizadas no interior

da amostra. É possível selecionar a espessura de prova da amostra através do ajuste da

frequência de modulação da luz incidente. Podemos obter informações através da intensidade

∗ Sigla em inglês para Espectroscopia Fotoacústica

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

14

do sinal e também por sua fase. Possibilita analisar não só as propriedades ópticas das

amostras, mas também as térmicas.

Os objetivos deste trabalho são utilizar a Espectroscopia Fotoacústica para avaliar a

evolução temporal da concentração do fármaco ciclopirox olamina na pele humana após sua

primeira aplicação e identificar picos espectrais que possam estar associados com substâncias

ou estruturas presentes na pele humana e no fármaco e que venham a ser úteis na identificação

de efeitos da droga.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

15

1 A PELE HUMANA

1.1 A Pele Humana

A pele é o maior órgão do corpo humano correspondendo a 15% do seu peso corporal.

É o órgão que reveste o organismo, determina o seu limite com o meio exterior e exerce

diversas funções, como: proteção – constitui a barreira de proteção para as estruturas internas

do organismo evitando a penetração de agentes externos de qualquer natureza; proteção

imunológica – é um órgão onde atuam intensamente os componentes da imunidade humoral e

celular; termorregulação – graças a sudorese, constrição e dilatação da rede vascular cutânea,

a pele processa o controle homeostático da temperatura orgânica; percepção – é o órgão

receptor sensitivo do calor, frio, dor e tato; secreção – a secreção sebácea é importante para a

manutenção eutrófica da própria pele, evitando a perda de água (SAMPAIO e RIVITTI,

2008).

A pele é composta basicamente por três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme,

da mais externa para a mais profunda, respectivamente, como mostra a figura 1.

Figura 1 – Estrutura da pele humana

Fonte: Piatti (2008)

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

16

A epiderme é a camada mais externa da pele, sendo constituída por células epiteliais

(queratinócitos, melanócitos, células de Langerhans e células de Merkel). É geralmente muito

delgada (menor que 0,12mm na maior parte do corpo) mas em áreas de constante pressão ou

fricção, tais como as solas dos pés e as palmas das mãos, é consideravelmente espessa

(atingindo 1,5mm). Nessas áreas mais espessas é possível identificar cinco camadas: a

camada basal, espinhosa, granulosa, lúcida e camada córnea. As camadas espinhosa e basal

juntas formam uma outra camada comumente chamada de germinativa. Como o nome indica,

é nesta camada que ocorre a mitose, fornecendo células para substituir aquelas que são

perdidas na camada mais superficial da epiderme. A camada granulosa é composta de células

que contém grânulos de querato-hialina no citoplasma; com a expansão dos grânulos, os

núcleos das células se desintegram causando a morte das células mais externas. A camada

lúcida é uma banda clara, superficial à camada granulosa, sendo que as células desta camada

tornam-se continuamente parte da camada córnea através da presença de uma substância

chamada eleidina, que é transformada em queratina. A camada córnea é a mais externa,

composta de células mortas intimamente unidas e cheias de proteína fibrosa (queratina). Esta

camada desempenha um papel de importância relevante na função protetora da pele graças às

suas várias propriedades: impermeabilidade relativa à água e eletrólitos, resistência relativa a

agentes danosos corrosivos, alta impedância elétrica que restringe a passagem de corrente

elétrica através da pele, superfície relativamente seca que retarda a proliferação de

microorganismos e, quimicamente, representa uma membrana limitadora à passagem de

moléculas.

Na epiderme não há vasos sanguíneos. Logo, o único meio pelo qual suas células

podem obter alimento é por meio da difusão a partir dos leitos capilares da derme.

A derme está localizada abaixo da camada germinativa sendo a segunda principal

camada da pele. É responsável pela resistência e elasticidade da pele. É uma camada de tecido

conjuntivo composta por um sistema integrado de estruturas fibrosas, filamentosas e amorfas

(AZULAY e AZULAY, 2006). A derme corresponde à maior parte da pele, com espessura

variável ao longo do organismo, desde 1 até 4 mm, e compõe-se de três porções: a derme

papilar, a derme perianexial e a derme reticular.

A hipoderme, ou panículo adiposo, é a camada mais profunda da pele, de espessura

variável, composta exclusivamente por tecido adiposo, isto é, células repletas de gordura.

Funcionalmente, a hipoderme, além de depósito nutritivo de reserva, participa no isolamento

térmico e na proteção mecânica do organismo às pressões e traumatismos externos e facilita a

mobilidade da pele em relação às estruturas subjacentes.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

17

1.2 Vias de penetração cutânea

A penetração de fármacos na pele, seja para um tratamento tópico ou transdérmico,

baseia-se na difusão do fármaco através das diversas camadas da epiderme. O extrato córneo é

a principal barreira limitante à difusão percutânea de fármacos devido à sua estrutura e

composição. Um fármaco pode atravessar o extrato córneo através de três vias diferentes: via

intercelular, via transcelular e via apêndices.

Figura 2 – Vias de penetração de fármacos através do estrato córneo.

Fonte: Moser et al. (2001).

• Via intercelular: o fármaco difunde-se ao redor dos corneócitos, permanecendo

constantemente dentro da matriz lipídica

• Via transcelular: o fármaco passa diretamente através dos corneócitos e da

matriz lipídica intercelular intermediária.

• Via apêndices: rota paralela, na qual os fármacos podem ser absorvidos pelo

folículo piloso, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

18

A importância de cada via de permeação depende das propriedades físico-químicas do

fármaco e das características da membrana.

1.3 Classificação quanto aos tipos de pele

Uma classificação dos fototipos de pele, baseada na reatividade cutânea à exposição

solar, foi desenvolvida e proposta por Fitzpatrick em 1976 (FITZPATRICK apud GUIRRO e

GUIRRO, 2004) e está simplificada a seguir:

Tabela 1 – Classificação dos fototipos de pele.

A cor da pele pode ser classificada como constitutiva, que depende de fatores

genéticos, ou facultativa quando depende de fatores como exposição ao sol e envelhecimento.

Grupo Eritema Bronzeado Sensibilidade

I Branca Sempre Nunca Muito sensível

II Branca Sempre Às vezes Sensível

III Morena clara Moderado Moderado Normal

IV Morena moderada

Pouco Sempre Normal

V Morena escura Raro Sempre Pouco sensível

VI Negra Nunca Pele muito pigmentada

Insensível

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

19

2 A DROGA CICLOPIROX OLAMINA

2.1 Introdução

Existem em nosso planeta 200 mil espécies de fungos, a grande maioria incapaz de

causar infecção em humanos por falta de adaptação ao organismo dos mamíferos. A

temperatura corpórea de aproximadamente 37°C é um eficiente mecanismo de defesa que nos

protege de fungos não-termotolerantes. Entretanto, cerca de 200 espécies fúngicas

conseguiram evolutivamente adaptar-se e sobreviver no ambiente hostil de nosso organismo

superando diversos mecanismos de defesa (QUEIROZ, 2004). Em humanos, as infecções

causadas por fungos variam de micoses simples, superficiais e de fácil tratamento até micoses

sistêmicas, disseminadas a vários órgãos e que são potencialmente fatais (SILVA, 2002).

Um importante progresso no tratamento das micoses superficiais e sistêmicas ocorreu

nas últimas três décadas com a introdução de novos agentes antifúngicos (ARAÚJO e

SILVEIRA, 1996).

O ciclopirox olamina foi sintetizado e introduzido na terapêutica em 1973, época em

que a maioria dos estudos sobre o mecanismo de ação deste fármaco foi publicada

(DITTMAR e LOHAUS,1973; NIEWERTH et al., 2003).

2.2 Mecanismo de ação

O mecanismo de ação do ciclopirox olamina consiste na inibição do transporte de

substâncias essenciais, como aminoácidos, para o interior das células fúngicas. Interfere na

biossíntese de proteínas, RNA e DNA destes microorganismos (ABRAMS et al., 1992).

2.3 Informações Técnicas

A tabela 2 apresenta as características gerais do fármaco ciclopirox olamina (BRITISH

PHARMACOPOEIA, 2006).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

20

OH

H2N . CH3

Tabela 2 – Informações Técnicas do fármaco ciclopirox olamina.

2.4 Características Farmacológicas

O ciclopirox olamina tem atividade antifúngica de amplo espectro (GUPTA, 2001).

É fungicida para:

• Candida albicans;

• Epidermophyton floccosum;

• Microsporum canis;

• Trichophyton mentagrophytes;

• Trichophyton rubrum;

NOME QUÍMICO Sal etanolamínico de 6-cicloexil-1-hidroxi-4-metil-2-piridona

FÓRMULA

MOLECULAR

C12H17NO2C2H7NO

MASSA MOLECULAR 268,35 g/mol

ESTRUTURA QUÍMICA

APARÊNCIA Pó cristalino branco ou amarelo claro

SOLUBILIDADE Pouco solúvel em água e em acetato de etila;

Muito solúvel em etanol e cloreto de metileno;

Praticamente insolúvel em cicloexano.

DERIVAÇÃO É um derivado de hidroxipiridona

MEIA-VIDA 1,7 horas

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

21

É fungistático para:

• Pityrosporum orbiculare.

Apresenta efeito antiflogístico e antibacteriano sobre:

• Ampla variedade de bactérias Gram-positivas e negativas.

2.5 Indicações, contra-indicações e apresentações disponíveis.

O ciclopirox olamina é um antimicótico tópico usado no tratamento das micoses

superficiais:

• Tineas;

• Candidíase;

• Pitiríase versicolor.

O fármaco é contra-indicado nos casos de hipersensibilidade conhecida a qualquer

componente da formulação.

As formas farmacêuticas disponíveis são: creme, solução tópica, esmalte, xampu e pó.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

22

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Aparelhagem utilizada

O aparato experimental utilizado para a realização das medidas de espectroscopia pode

ser visto na figura 3. Descreveremos a seguir a composição deste espectrômetro.

Amplificador síncrono Fonte

Modulador da luz

Célula

Fotoacústica

Lâmpada

Suspensãoantivibração

Monocromador

Modulador

Feixe de Luz

Microfone

Computador

Impressora

.

Amplificador síncrono Fonte

Modulador da luz

Célula

Fotoacústica

Lâmpada

Suspensãoantivibração

Monocromador

Modulador

Feixe de Luz

Microfone

Computador

Impressora

.

Figura 3 – Instrumentação utilizada na realização de varreduras espectrais.

A iluminação é feita por luz branca de alta intensidade e ampla faixa de espectro

proveniente de uma lâmpada de arco de Xenônio de 1000 W, marca Oriel modelo 6269, a

qual é acondicionada em um compartimento Oriel, modelo 66021. Este compartimento por

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

23

sua vez, possui em sua saída um sistema ótico condensador por onde a luz é conduzida até

incidir em uma fenda regulável na entrada de um monocromador Oriel, modelo 77200, onde,

através de redes de difração, é feita a seleção dos comprimentos de onda da luz que serão

utilizados.

Nas medidas realizadas na região do ultravioleta e visível utilizou-se uma rede de

difração da marca Oriel, modelo 77231 com 1200 linhas. Para as medidas realizadas na região

do infravermelho próximo, utilizou-se uma rede de difração da marca Oriel, modelo 77234,

com 600 linhas.

Na saída do monocromador, a luz passa por outra fenda regulável que permite

selecionar a banda passante. Em seguida o feixe atravessa um filtro, que é escolhido conforme

a faixa de comprimento de onda utilizada a fim de eliminar ordens superiores de difração.

Após isso, atravessa um modulador mecânico (chooper) da marca Stanford Research, modelo

SR 540, que consiste de um disco circular de metal com sulcos e obstáculos distribuídos

alternadamente e radialmente, capaz de girar com velocidade constante e controlável. Através

de um fotodiodo existente no modulador, é gerado um sinal de referência da frequência de

modulação, em relação ao qual é estabelecida a fase do sinal acústico.

Este sinal é enviado a um amplificador síncrono (lock-in) modelo SR 530 da Stanford

Research, o qual possibilita a leitura da fase e da frequência de modulação.

O feixe, agora monocromático e modulado, é direcionado por meio de um espelho até

a célula fotoacústica e, após atravessar uma janela de quartzo fixada na peça que conduz a

entrada da luz, atinge a amostra que repousa num suporte de alumínio. O sinal fotoacústico é

gerado no interior da célula e captado por um microfone condensador modelo 4166 da marca

Brüel & Kjäer, instalado no bloco metálico que contém a célula. O microfone e seu pré-

amplificador, que constituem um módulo único instalado na célula, são alimentados por uma

fonte da marca Brüel & Kjäer modelo 2804. Através de uma conexão existente nessa fonte, o

sinal fotoacústico é enviado ao amplificador síncrono.

No monocromador, os comprimentos de onda utilizados para irradiar a amostra podem

ser selecionados manualmente, mas geralmente são controlados através do software TSPEC

desenvolvido no laboratório e que possibilita varreduras espectrais com taxa de variação

constante no tempo. A programação via computador permite a obtenção de espectros de

intensidade fotoacústica versus comprimento de onda e também da fase fotoacústica versus

comprimento de onda. Para a manipulação dos espectros obtidos e realização de análises

posteriores dos dados obtidos foi utilizado o software Origin 8®, da empresa Microcal

Software, Inc.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

24

O amplificador síncrono tem como característica realizar detecção em torno da

frequência do sinal modulado, funcionando como um filtro. O sinal fotoacústico processado

pelo amplificador síncrono origina um nível DC que possui uma intensidade e também uma

fase, que pode ser interpretada como o atraso na geração do sinal em relação à iluminação da

amostra.

Como a intensidade da luz varia com o comprimento de onda, é necessária a correção

do sinal fotoacústico gerado pela amostra em cada comprimento de onda. Para isso, é obtido

previamente o espectro de uma amostra de carvão vegetal em pó, no mesmo intervalo de

comprimento de onda. Durante a varredura do espectro da amostra em estudo, o sinal

fotoacústico é dividido ponto a ponto, através do software TSPEC, pelo sinal do carvão,

sendo esse processo denominado de normalização do espectro.

A célula fotoacústica utilizada para espectroscopia é composta basicamente por quatro

partes que funcionam encaixadas: a tampa, a canaleta, o porta-amostra e o cilindro de latão.

Junto à canaleta existe uma mola que, sob pressão mecânica mantém a célula fechada e

vedada evitando o contato da câmara de ar com o meio externo. Outro detalhe é a presença de

pinos na parte externa do cilindro de latão, que permitem a fixação da tampa no cilindro,

mantendo a canaleta presa entre as duas peças. Uma janela de quartzo é instalada dentro da

canaleta para a entrada do feixe (figura 4).

Na parte inferior do cilindro de latão existe um compartimento onde o microfone é

instalado. Este compartimento é ligado à câmara de gás através de um duto, permitindo que o

sinal gerado seja conduzido até o microfone. Uma cavidade lateral com rosca comunica o

duto com o meio externo. A utilização de um parafuso removível nesta cavidade atua como

válvula, permitindo que a câmara de gás fique aberta durante a instalação ou troca de amostra,

impedindo impactos de pressão que possam danificar o microfone durante a abertura ou

fechamento da célula.

Na figura 5 observa-se um dos vários porta-amostras disponíveis no laboratório, os

quais diferem entre si apenas na profundidade, o que permite a escolha do que melhor se

ajuste ao tipo de amostra utilizada. O corte lateral funciona como um prolongamento do duto

que liga a câmara de gás ao microfone.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

25

(B)

Parafuso de descompressão

(A)

Tampa

Canaleta de Entrada do Feixe de luz

Mola

Porta-amostra

Anel de borracha

Cilindro De latão

Parafuso de descompressão

Porta-amostra

(C)

Canaleta de Entrada do Feixe de luz

Mola

Anel de borracha

Tampa

Microfone

Janela de quartzo

Cilindro De latão

Figura 4 – Detalhes da célula fotoacústica utilizada para espectroscopia: (A) – vista das partes (tampa, canaleta, porta-amostra, e cilindro de latão), (B) – vista externa das partes unidas; (C) – vista em corte das partes unidas e das estruturas internas.

As condições experimentais utilizadas na região do ultravioleta e visível foram:

frequência de modulação de 37 Hz, constante de tempo de 10 s, banda passante de 10 nm e

velocidade de varredura de 24 nm/min. Na região do infravermelho próximo, banda passante

de 20 nm e velocidade de varredura de 48 nm/min.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

26

Porta-amostrade alumínio

Corte de acessoao microfone

12 mm

8 mm

2 m

mAmostra2mm

a 5mm

Figura 5 – Detalhes de um porta-amostra, que consiste de uma estrutura de alumínio na qual são ajustadas amostras para posterior inserção na célula fotoacústica. Na parte lateral do porta-amostra existe um corte que conduz, através de um duto existente no bloco da célula, as vibrações sonoras do interior da câmara fotoacústica até o microfone.

3.2 Preparação e manipulação das amostras

3.2.1 Amostras de pele

Utilizou-se neste trabalho amostras de pele tipo I segundo a classificação de

Fitzpatrick, proveniente de cirurgia plástica reparadora de abdome (figura 6). O paciente que

submeteu-se à cirurgia reparadora que deu origem às amostras foi orientado em relação aos

objetivos da pesquisa e assinou o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo A).

As amostras receberam a seguinte manipulação: com o auxílio de um bisturi cirúrgico,

previamente esterilizado, o excesso de tecido adiposo (gordura) foi retirado, e o sangue

proveniente do processo cirúrgico foi removido com o uso de soro fisiológico.

As amostras, cortadas em pedaços menores, foram acondicionadas em recipiente

adequado e mantidas sob refrigeração de -18,6 °C permanecendo no mesmo por um período

máximo de quatro dias até sua utilização (figura 7).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

27

Figura 6 – Amostras de pele antes da manipulação.

Figura 7 – Amostras de pele após manipulação.

Com o auxílio de um perfurador metálico (vazador), as amostras foram cortadas de

forma a se encaixar perfeitamente no porta-amostra (figura 8).

É importante que as condições iniciais das amostras utilizadas sejam as mesmas ou as

mais próximas possíveis. Deste modo, realizou-se inicialmente o espectro de cinco amostras

intactas (sem a droga). Após comparação, foi feita a escolha de dois exemplares cujos

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

28

espectros mais se assemelharam. Uma das amostras selecionadas recebeu a aplicação da droga

e a outra não tratada, foi utilizada como controle.

Na tentativa de avaliar o estado de hidratação das amostras e também variações no teor

de substâncias e estruturas constituintes da pele, se fez necessário obter o espectro de uma

amostra de pele desidratada. Para tal, a pele foi cortada em pequenos pedaços e levados a uma

estufa a 40ºC, permanecendo por um período de quatro dias, para posterior obtenção do

espectro.

Figura 8 – Amostra assentada no porta-amostra.

3.2.2 O fármaco utilizado

Utilizou-se o fármaco ciclopirox olamina, adquirido no comércio local.

Cada ml da solução tópica contém:

• Ciclopirox olamina.......................................................................10mg

• Excipiente q.s.p...............................................................................1ml

Os excipientes são: álcool isopropílico, macrogol 400 e água purificada.

É importante salientar que quando nos referimos neste trabalho à palavra droga,

estamos considerando o conjunto de substâncias que constituem o produto utilizado e não

apenas ao seu princípio ativo, o ciclopirox olamina.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

29

Apesar do fabricante não especificar o volume a ser aplicado, em nossos experimentos

controlamos este parâmetro com o auxílio de uma micropipeta, adotando como critério uma

quantidade suficiente para que o produto aplicado no extrato córneo fosse difundido até a base

da derme.

As amostras possuíam 8 mm de diâmetro e aproximadamente 3 mm de espessura,

resultando em um volume aproximado de 150 µl. A quantidade de droga utilizada foi 25 µl.

Foram realizadas medidas com outras quantidades de droga, mais precisamente 12,5 µl e 37,5

µl, porém a única alteração observada nos espectros é com relação à amplitude do sinal

obtido. Todavia, a quantidade de 25 µl pareceu-nos ser a mais próxima da dose comumente

aplicada pelos pacientes, além de satisfazer o critério acima.

3.3 Análise Espectral no Ultra-violeta e Visível

Procedeu-se inicialmente às varreduras espectrais da derme intacta (amostra controle),

da pele tratada e da droga, a fim de avaliar suas propriedades e a abordagem conveniente para

a análise espectral.

O intervalo de 250 a 600 nm foi utilizado para avaliar a cronologia da permanência da

droga na pele. Foram realizadas varreduras consecutivas da amostra controle e da pele tratada

num total de dez varreduras de cada par. Cada varredura individual demandou

aproximadamente 20 minutos, incluindo a troca de amostra, de modo que as varreduras de

cada par controle-amostra tratada levaram aproximadamente 40 minutos. Para efeito de

lançamento em tabelas e representações gráficas foi considerado que essas varreduras foram

realizadas simultaneamente, tomando-se o instante inicial (t = 0) com o correspondente ao

primeiro par e adicionando-se 40 minutos a cada medida subsequente. O experimento teve

uma duração aproximada de 6 horas.

Para a obtenção da cronologia de permanência da droga na pele, os espectros foram

submetidos ao seguinte tratamento matemático:

1. Foi subtraída a intensidade mínima de cada espectro, a fim de corrigir ou compensar

efeitos de “back-ground”, tais como fatores de forma e absorção por outras

substâncias presentes na célula, além da pele.

2. Para cada par de varreduras espectrais foi obtido o chamado espectro “in-situ” da

droga na pele. Isto é feito calculando-se a diferença entre o espectro da pele tratada e o

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

30

espectro da pele controle. Este cálculo quando realizado para os dez pares de

varreduras espectrais fornece a evolução temporal da droga na pele.

3. A partir dos dados do item 2, foi possível obter a curva que representa a cronologia da

presença da droga na pele. A barra de erro nas intensidades foi obtida através da

análise da região espectral próxima de 600 nm. Esta região foi ampliada permitindo

avaliar o ruído do sinal. O valor encontrado foi multiplicado por 4, devido às

operações matemáticas realizadas até a obtenção da curva. A barra de erro para o

comprimento de onda foi tomada como sendo um passo de varredura espectral.

3.4 Análise espectral no Infravermelho Próximo

Procedeu-se inicialmente às varreduras da derme intacta (amostra controle), da pele

tratada, da droga e da água.

As varreduras foram realizadas no intervalo de 1000 a 1600 nm, no intuito de

identificar picos correspondentes às substâncias e estruturas constituintes da pele. Foram

realizadas varreduras consecutivas da pele controle e da pele tratada, num total de oito

varreduras para cada par.

Efeitos de “back-ground” também foram corrigidos ou compensados para estes

espectros, ou seja, foi subtraída a intensidade mínima de cada espectro. Para a análise, foram

lançados em um mesmo gráfico todos os espectros corrigidos da pele controle e em outro,

todos os espectros corrigidos da pele tratada. Foi também realizada a varredura espectral de

uma amostra de pele desidratada com o objetivo de identificar alterações nos espectros pela

presença da água e da droga na pele.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

31

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Avaliação da cronologia da presença da droga na pele – Análise no ultravioleta e

visível

1 Inicialmente, cinco amostras de pele foram comparadas para que pudéssemos escolher

duas, cujas condições iniciais fossem as mais próximas possíveis. O espectro das amostras

escolhidas está representado na figura 9.

Figura 9 – Espectros fotoacústicos para efeito de comparação entre duas amostras.

Podemos observar que as condições iniciais das amostras são bem próximas, mas não

idênticas, sendo a intensidade do sinal fotoacústico ligeiramente maior para a amostra 2. Após

vários ensaios, notou-se a dificuldade de obter-se amostras cujos espectros fossem idênticos.

Este fato ocorre inclusive para amostras obtidas de partes adjacentes da pele.

1 *Detalhes sobre a unidade utilizada são fornecidos no Apêndice A, seção A.5

250 300 350 400 450 500 550 600

0

2

4

6

8

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2u.

a.)*

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

amostra 1 amostra 2

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

32

É possível observar que a pele intacta apresenta um pico de absorção máximo centrado

em 303 nm. Nesta região as absorções são atribuídas a transições eletrônicas de substâncias e

estruturas presentes nas amostras. Para o caso da pele, queratina, ceramida e lipídeos são as

principais (SAMPAIO e RIVITTI, 2008). Cabe ressaltar que o comprimento de onda de

máxima intensidade depende da região do corpo da qual é retirada a pele. Durante os

primeiros ensaios, nos quais utilizamos pele da região das pálpebras, esse pico se apresentou

em 288 nm. O deslocamento para 303 nm é justificado pelo alto teor de gordura existente nas

amostras de pele da região abdominal.

O espectro fotoacústico da droga está representado na figura 10, onde identificamos

um pico com máximo centrado em 322 nm.

Figura 10 – Espectro fotoacústico da droga ciclopirox olamina

A droga quando aplicada à pele, é rapidamente absorvida. É o que mostra a figura 11,

onde está representado o espectro de pele logo após a aplicação. É possível observar que a

intensidade quase dobra, quando comparada com a pele intacta. Observa-se também que

devido à presença da droga na pele, o máximo ocorre para o comprimento de onda de 316 nm,

ou seja, deslocado em relação ao máximo observado no espectro da pele controle.

250 300 350 400 450 500 550 600-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2u.

a.)

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

33

Figura 11 – Espectro fotoacústico da pele tratada logo após a aplicação.

A amostra 1 da figura 9 foi escolhida para a aplicação da droga.

Os efeitos relacionados com a atividade e consumo do fármaco na pele podem ser

avaliados através do espectro da droga “in-situ” na pele. Esse espectro é obtido através da

diferença entre o espectro da pele tratada e da pele controle e está representado na figura 12.

Pode-se observar, que o sinal é máximo no comprimento de onda correspondente a

322 nm, justamente o comprimento de onda onde está centrado o pico da droga, como

mostrado na figura 10. O espectro “in-situ” mostra a presença da droga incorporada à pele.

Com o objetivo de avaliar a cronologia da presença da droga na pele, foram realizadas

varreduras consecutivas da amostra controle e da amostra tratada com a droga, num total de

dez varreduras para cada par.

250 300 350 400 450 500 550 600-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

S

INA

L F

OT

OA

ST

ICO

(10

-2 u

.a.)

COMPRIMENTO DE ONDA(nm)

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

34

Figura 12 – Espectro da droga ”in-situ” na pele

A figura 13 permite visualizar o comportamento dos espectros da pele tratada em

função do tempo. São apresentados três espectros obtidos em tempos distintos, relativos à

primeira, quinta e última varredura, correspondendo aos seguintes instantes após a aplicação:

imediatamente após a aplicação, 160 minutos e 360 minutos após a aplicação,

respectivamente. Notamos que entre a primeira e a última medida o pico de absorção máximo

sofre um deslocamento. Na primeira medida o pico está centrado em 316 nm, que é próximo

do pico da droga (322 nm) enquanto que na última medida o pico se encontra em 307 nm,

mais próximo do pico apresentado pelo controle (303 nm). Portanto, com o passar do tempo o

espectro da pele tratada vai se aproximando do espectro da pele controle, o que indica que a

droga está sendo consumida.

250 300 350 400 450 500 550 600-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2 u

.a.)

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

35

Figura 13- Espectros da pele tratada com a droga em três instantes distintos.

A monitoração do deslocamento do pico com o passar do tempo também pode

evidenciar a presença da droga na pele. A tabela 3 apresenta a posição do máximo em cada

espectro em função do tempo de aplicação da droga.

Tabela 3 – Relação entre a posição do pico (comprimento de onda) e o tempo de aplicação.

Tempo (minutos) Comprimento de onda (nm)

0 316

40 314

80 310

120 309

160 309

200 308

240 308

280 308

320 307

360 307

250 300 350 400 450 500 550 600-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2 u

.a.)

COMPRIMENTO DE ONDA(nm)

1ª Medida 5ª Medida 10ª Medida

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

36

Essa evolução temporal do comprimento de onda de máxima intensidade é mostrada

graficamente na figura 14, para todas as medidas realizadas.

Figura 14 – Comportamento do deslocamento do máximo em função do tempo.

A tabela 4 apresenta as intensidades corrigidas dos picos da amostra controle e da

amostra tratada no comprimento de onda correspondente à pele (303 nm), bem como a

diferença (∆I) entre estas intensidades. Aparentemente, essa diferença representaria no

instante considerado o efeito da droga sobre as substâncias formadoras da pele. Deve-se,

entretanto, levar em conta que neste comprimento de onda a droga também contribui para a

geração do sinal, o que não nos permite tirar conclusões sobre possíveis alterações nas

substâncias que compõem a pele. Outro fato importante, é que alterações desta natureza

devem ocorrer após um período prolongado de uso do medicamento (o tratamento dura em

média 21 dias), não sendo notório em uma única aplicação.

Observam-se pela tabela 4 pequenas variações nas intensidades da amostra controle,

apresentando tendência de elevação do sinal no período final do experimento. Atribuímos este

aumento a alterações na amostra, provavelmente gerada pelo processo de desidratação natural

e exposição à radiação.

-50 0 50 100 150 200 250 300 350 400306

308

310

312

314

316

C

OM

PR

IME

NT

O D

E O

ND

A(n

m)

TEMPO(minutos)

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

37

Tabela 4 – Intensidades corrigidas da amostra controle e da amostra tratada para comprimento de onda correspondente à pele (303 nm), no instante em que foram realizadas as medidas. O índice I representa a intensidade do sinal.

A cronologia do consumo do fármaco na pele tratada pode ser obtida efetuando-se a

diferença entre as intensidades da pele tratada e da pele controle no comprimento de onda

correspondente à droga (322 nm). Essa diferença ∆I (322) representa no instante considerado

o efeito sobre o pico da droga, relacionado com o seu consumo e atividade. Quando realizado

para os dez pares de varreduras, demonstra a cronologia do consumo do fármaco na pele

tratada durante a atividade da droga. Essas informações são apresentadas na tabela 5.

A partir da diferença ∆I (322) obtemos a curva de evolução temporal do sinal

fotoacústico através de um ajuste exponencial decrescente. O resultado se encontra na figura

15. O tempo de meia-vida encontrado é em torno de 320 minutos, três vezes maior que o

fornecido na literatura consultada (GOODMAN e GILMAN, 1996). Em trabalho realizado

sobre penetração de corantes, foi mostrado que a penetração do produto aplicado à pele é

cerca de dez vezes mais rápida para as medidas “in-vivo” do que para as medidas em pele

extraída (BERNENGO et al., 2001). Esta diferença pede ser atribuída à fatores como a

microcirculação, nas medidas “in-vivo”. Embora nosso foco não seja a penetração do fármaco,

acreditamos que fatores como a microcirculação possam influenciar no consumo da droga na

pele. Seria então necessário realizar medidas “in-vivo” para que fatores como este pudessem

ser considerados.

Tempo (min) Icontrole (10-2u.a.) Itratada(10-2u.a.) Diferença ∆I ± 0,6(10-2u.a.)

0 7,844 14,313 6,469

40 7,500 14,572 7,072

80 7,442 13,727 6,285

120 8,033 13,880 5,847

160 7,150 13,472 6,322

200 7,630 12,991 5,361

240 7,513 13,278 5,765

280 7,735 12,795 5,06

320 8,146 12,883 4,737

360 8,774 12,760 3,986

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

38

Tabela 5 – Intensidades corrigidas da amostra controle e da amostra tratada para comprimento de onda correspondente à droga (322nm), no instante em que foram realizadas as medidas. O índice I representa a intensidade do sinal.

Figura 15 – Cronologia da presença da droga na pele. A curva foi ajustada através de uma exponencial decrescente.

Tempo (min) Icontrole(10-2u.a.) Itratada(10-2u.a.) Diferença ∆I ± 0,6(10-2u.a.)

0 5,194 16,453 11,259

40 5,367 16,072 10,705

80 5,465 13,395 7,930

120 5,647 13,223 7,576

160 4,363 12,327 7,964

200 4,943 11,911 6,968

240 5,521 12,551 7,03

280 5,677 11,776 6,099

320 5,773 11,268 5,495

360 5,890 11,259 5,369

0 50 100 150 200 250 300 3504

5

6

7

8

9

10

11

12

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2 u

.a.)

TEMPO(minutos)

intensidade ajuste exponencial

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

39

4.2 Identificação de absorções espectrais associadas à composição da pele humana e ao

fármaco – Análise no infravermelho próximo

4.2.1 Espectroscopia no infravermelho próximo

Na região do espectro infravermelho próximo, as absorções são atribuídas a overtones

(harmônicos de ordem superior) e bandas de combinação de vibrações fundamentais

excitáveis em comprimentos de onda mais longos e relacionadas especialmente com grupos

hidrogênicos tais como C-H, O-H e N-H (ASHWORTH et al., 1978; CASTLEDEN et al.,

1980; KIRKBRIGHT e MENON, 1982; NATALE e LEWIS, 1982). A intensidade resultante

em um determinado comprimento de onda é determinada pela concentração desses grupos

(VINHA et al., 1989; HAAS e VINHA, 1995). Portanto, a espectroscopia fotoacústica pode

fornecer importantes informações sobre a concentração relativa dos materiais onde esses

grupos estão presentes.

No caso da pele humana os comprimentos de onda das absorções correspondentes aos

seus principais constituintes isolados foram determinados, sendo os resultados apresentados

na tabela 6.

Tabela 6 – Relação entre comprimento de onda (pico de absorção aproximado) e a substância a qual a absorção é atribuída.

Comprimento de onda (nm) Substância ou estrutura absorvedora

1065 Ceramida, esfingosina

1156 Queratina

1370 H2O monomérica

1445 H2O associada

1520 Queratina, ceramida

1580 Queratina, ceramida, esfingosina

1850 Lipídios, ceramida, esfingosina

1930 H2O, queratina, lipídios, esfingosina

2050 Queratina, lipídios, ceramida, esfingosina

2180 Queratina, lipídios, ceramida, esfingosina

2596 Queratina, lipídios, ceramida, esfingosina

2660 Queratina

Fonte: Comunicação pessoal de Ulrich Haas – Instituto de Física – Universidade de Hohenheim – Stuttgart – Alemanha

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

40

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2 u

.a.)

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

Droga ciclopirox olamina Água destilada

A tabela 6 mostra que a água se apresenta na parte superior da pele em duas formas

diferentes, a água monomérica (ou livre) e a água associada (ou ligada) ao estrato córneo. Na

frequência de modulação de 13 Hz, situação em que a resposta fotoacústica ocorre em todo o

estrato córneo a absorção está centrada em 1445 nm, revelando a presença de água ligada à

essa estrutura. Para uma frequência de 1500 Hz a absorção máxima ocorre em 1370 nm,

sendo causada pela água superficial ou adsorvida (livre) (HAAS et al., 1988).

4.2.2 Análise espectral no infravermelho próximo

Para a identificação de características espectrais associadas à composição da pele

humana e do fármaco, procedeu-se inicialmente às varreduras da derme intacta (amostra

controle), da pele tratada, da pele desidratada, da droga e da água.

A figura 16 mostra os espectros da droga ciclopirox olamina e da água destilada.

Figura 16- Espectro fotoacústico da droga ciclopirox olamina e da água destilada

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

41

Pode-se notar no espectro da droga a presença de um intenso pico centrado em 1424

nm e que não existe no espectro da água. Esse pico pode ser atribuído ao álcool presente na

composição da droga, em bom acordo com a literatura (GODDU e DELKER, 1960).

Nas figuras 17, 18 e 19 são mostrados os espectros da pele desidratada, pele controle e

pele tratada, respectivamente.

As posições e intensidades dos picos são apresentadas na tabela 7.

Um fato marcante é que as intensidades espectrais para a pele controle e tratada, em

comparação com a pele desidratada, são drasticamente reduzidas no intervalo de 1000 nm e

1200 nm, onde a água destilada e a droga possuem baixa absorção. Essa redução nas

intensidades não é tão evidenciada para o restante do intervalo espectral, onde a água e a

droga passam a apresentar absorções intensas.

Figura 17 – Espectro fotoacústico da pele desidratada.

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2 u

.a.)

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

42

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2 u

.a.)

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

Figura 18 – Espectro fotoacústico da amostra de pele utilizada como controle.

Figura 19 – Espectro fotoacústico da amostra de pele tratada com a droga.

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2 u

.a.)

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

43

Tabela 7 – Comprimentos de onda e respectivas intensidades espectrais para a droga ciclopirox olamina, água destilada, pele desidratada, pele controle e pele tratada no intervalo entre 1000 nm e 1600 nm.

*Estes comprimentos de onda não representam picos e foram listados para informar a baixa absorção nesta região espectral.

Material Comprimento de onda (nm)

Intensidade espectral (10-2 u.a.)

Droga 1066* 0,010

1092* 0,014

1116* 0,010

1180* 0,203

1190 0,274

1238 0,173

1276 0,191

1384 1,045

1424 2,015

1488 1,781

1556 0,992

Água destilada

1066* 0,005

1092* 0,001

1066* 0,005

1180* 0,080

1192 0,115

1280 0,109

1388 0,5265

1442 1,757

1490 2,255

1554 1,054

Pele desidratada

1066 2,290

1092 3,075

1116 2,354

1180 5,223

1238 1,473

1270 4,239

1370 3,978

1424 3,837

1480 3,926

1559 2,989

Pele controle

1068 0,243

1098 0,276

1126 0,207

1186 0,450

1238 0,198

1276 0,322

1378 0,564

1432 1,367

1486 1,804

1554 0,947

Pele tratada

1068 0,108

1096 0,144

1126 0,112

1186 0,444

1238 0,186

1274 0,358

1376 0,625

1430 1,584

1484 2,094

1552 1,072

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

44

Devido ao seu mecanismo de ação, que consiste em inibir o transporte de substâncias

essenciais para o interior da célula, e também por utilizar o álcool como veículo, um dos

efeitos da terapêutica completa da droga, que dura em média 21 dias, é a intensa desidratação

da porção de pele onde ela é aplicada.

Consequentemente, pode-se, através da realização de espectroscopia contínua da pele

sob tratamento (análise “in-vivo”), estabelecer uma correlação entre intensidade espectral e

evolução do tratamento, a partir do monitoramento das variações das intensidades espectrais

causadas pela desidratação.

Os comprimentos de onda e substâncias e estruturas correspondentes a esses picos

estão listados na tabela 8 e mostram boa concordância com as absorções mostradas

anteriormente na tabela 6, ocorrendo pequenos deslocamentos nos comprimentos de onda.

Deve-se levar em conta que a posição dos picos na região do infravermelho próximo é afetada

pela vizinhança dos grupos moleculares e que os dados da tabela 6 foram obtidos a partir de

materiais isolados. É importante salientar que o preciso conhecimento de propriedades

espectrais desses constituintes da pele pode ser de grande utilidade na monitoração de efeitos

de fármacos sobre os mesmos, o que não foi possível neste trabalho, devido a ser considerada

apenas a primeira aplicação do fármaco.

Tabela 8 – Identificação de alguns dos picos encontrados no espectro fotoacústico da pele.

Comprimento de onda (nm) Substância ou estrutura atribuída

1068 Ceramida, esfingosina

1098 ---------------

1126 Queratina

1186 Queratina

1238 ---------------

1276 ---------------

1378 H2O monomérica

1432 H2O associada

1486 ---------------

1554 Queratina, ceramida, esfingosina

Com o objetivo de analisar uma possível alteração no processo de desidratação da pele

causada pela ação da droga, foram realizadas varreduras consecutivas da pele controle e da

pele tratada, num total de oito varreduras para cada par.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

45

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

S

INA

L F

OT

OA

ST

ICO

(10-2

u.a.

)

COMPRIMENTO DE ONDA(nm)

amostra 1 amostra 2

O procedimento inicial de comparação entre amostras também foi realizado neste

caso. Os espectros das amostras escolhidas se encontram na figura 20.

Figura 20 – Espectros para efeito de comparação entre as amostras.

As figuras 21 e 22 apresentam, respectivamente, os espectros da pele controle e da

pele tratada para dois instantes distintos. Apesar de termos realizado oito varreduras para cada

amostra, optamos por apresentar apenas duas, a primeira e a última, para melhor visualização.

O intervalo de tempo entre as medidas apresentadas é de aproximadamente oito horas.

Os comprimentos de onda e respectivas intensidades espectrais para a amostra controle e

amostra tratada para as duas varreduras apresentadas estão listados na tabela 9, a qual permite

analisar o processo de desidratação da pele, e evidencia a ação da droga neste processo. Nota-

se que o efeito global é o mesmo para ambas as amostras: as intensidades espectrais sofrem

uma elevação no intervalo entre 1000 nm e 1200 nm, e uma redução para absorções acima de

1274 nm. Contudo, a redução nas intensidades espectrais é mais acentuada para a pele tratada,

confirmando a premissa de que a droga atua inibindo o transporte de substâncias essenciais

para o interior da célula, acelerando o processo de desidratação. A intensidade do pico

centrado em 1484 nm sofre uma redução em torno de 30% para a pele tratada e 15% para a

pele controle.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

46

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2u.

a.)

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

1ª medida 8ª medida

Pele controle

Figura 21 – Espectros da pele controle em dois instantes distintos.

Figura 22 – Espectros da pele tratada em dois instantes distintos.

Novamente, pode-se, através da realização de espectroscopia contínua (analise “in-

vivo”), estabelecer uma correlação entre intensidade espectral e evolução do tratamento,

monitorando a redução das intensidades espectrais nesta região.

1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

SIN

AL

FO

TO

AC

ÚS

TIC

O (

10-2u.

a.)

COMPRIMENTO DE ONDA (nm)

1ª medida 8ª medida

Pele tratada

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

47

Tabela 9 – Comprimentos de onda e respectivas intensidades espectrais para a pele controle e pele tratada no intervalo entre 1000nm e 1600nm.

Amostra Comprimento de onda (nm)

Intensidade espectral (10-2 u.a.)

Pele controle

1ª Medida 1066

0,175

1098

0,222

1126

0,160

1186

0,491

1238

0,148

1274

0,372

1378

0,565

1430

1,616

1484

2,087

1554

1,000

8ª Medida 1068

0,233

1098

0,255

1126

0,189

1186

0,436

1238

0,184

1274

0,317

1380

0,538

1432

1,362

1486

1,773

1552

0,931

Pele tratada

1ª Medida 1068

0,102

1096

0,134

1126

0,105

1186

0,435

1238

0,192

1274

0,359

1378

0,635

1430

1,657

1484

2,187

1552

1,085

8ª Medida 1068

0,187

1096

0,230

1126

0,173

1186

0,425

1238

0,174

1274

0,357

1378

0,794

1430

1,244

1486

1,542

1556

0,841

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

48

CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS DE ESTUDOS

O trabalho baseou-se em análises espectrais da pele humana, após a primeira aplicação

da droga ciclopirox olamina.

Na região do ultravioleta e visível essas análises permitiram monitorar, utilizando o

espectro “in-situ” da droga na pele, a evolução temporal da concentração da droga. A partir de

medidas espectrais, foi possível obter um ajuste exponencial das intensidades em função do

tempo após a aplicação da droga. Foi monitorada também a evolução temporal do

comprimento de onda de máxima absorção, que pode indicar o consumo do fármaco na pele.

Na região do infravermelho próximo foram identificados vários picos correspondentes

à composição da pele citados na literatura. Também foi possível detectar picos associados à

composição da droga, em particular os correspondentes à água e ao álcool. O monitoramento

de um pico nesta região evidenciou que a presença da droga pode levar a uma intensificação

na desidratação da pele, em comparação com uma amostra controle sem droga.

Os resultados obtidos neste trabalho evidenciam a potencialidade da técnica

fotoacústica na detecção de substâncias veiculadas na pele humana. Os estudos certamente

seriam enriquecidos com a construção de uma célula fotoacústica adequada à realização de

medidas “in-vivo”, durante toda a terapêutica de utilização dessas drogas, que propiciariam

identificar efeitos mais tardios e que não se manifestam na primeira aplicação.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

49

APÊNDICE A – GENERALIDADES SOBRE A TÉCNICA FOTOACÚS TICA

A.1 Histórico

A incidência de luz solar modulada (1000Hz) em uma substância sólida em forma de

diafragma, conectado a um tubo acústico, gera no ar em sua volta um som audível. Isto foi o

que Alexander Graham Bell percebeu, quando em 1880 investigava a possibilidade de

comunicação à distância utilizando a luz, descobrindo o Efeito Fotoacústico (BELL, 1880).

Em uma série de experimentos posteriores, Bell demonstrou que o efeito fotoacústico em

sólidos dependia da absorção da luz pela amostra (BELL, 1881). O efeito fotoacústico em

líquidos e gases também foi investigado neste trabalho. No mesmo ano outros pesquisadores

também investigaram o efeito fotoacústico em gases (TYNDALL, 1881; ROENTGEN, 1881).

Particularmente no caso de amostras sólidas na forma de discos finos e flexíveis, Bell,

em concordância com Lord Rayleigh, considerava como fonte primária do sinal fotoacústico a

vibração mecânica do disco, devido ao aquecimento desigual do mesmo, quando iluminado de

forma intermitente. Em contrapartida, Mercadier e Preece sustentaram a hipótese de que o

sinal fotoacústico era gerado pelo movimento vibratório do gás, principalmente da camada

adjacente à superfície da amostra, em função do aquecimento e resfriamento alternados

(ROSENCWAIG, 1980). Esta teoria é a que mais se aproximou da explicação moderna do

fenômeno.

Para realizar seus experimentos, Bell utilizava o próprio ouvido como detetor, o que

dificultava a obtenção de dados quantitativos e certamente contribuiu para que o fenômeno

fosse considerado uma mera curiosidade. Com o desenvolvimento de microfones sensíveis, o

interesse pelo estudo da fotoacústica foi retomado. Em 1938 Viengorov utilizou o fenômeno

para estudar a absorção de luz no infravermelho por gases (VIENGEROV, 1938).

Analisadores de gases baseados no efeito fotoacústico foram desenvolvidos em seguida

(PFUND, 1939). Porém, entre 1950 e 1970 com o desenvolvimento de técnicas mais precisas

estes foram substituídos, sendo novamente utilizados com o surgimento de fontes de laser.

Em 1973, o efeito fotoacústico voltou a ser investigado em amostras sólidas, e Parker

mostrou que a parcela referente às vibrações mecânicas da amostra é quase desprezível frente

ao efeito térmico (PARKER, 1973). Pouco tempo depois, Rosencwaig e Gersho apresentaram

a teoria do efeito fotoacústico em sólidos (ROSENCWAIG e GERSHO, 1976) culminando

nas mais variadas aplicações da técnica. Como exemplos, podem ser citados a espectroscopia

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

50

de absorção em uma ampla faixa de comprimentos de onda, estudo de propriedades térmicas e

elásticas, de reações químicas, de ressonância magnética, de processos radiativos, de

eficiência quântica, de superfície, de espessura de camadas e de microscopia em materiais

orgânicos e inorgânicos (ROSENCWAIG, 1980).

A.2 O efeito fotoacústico

O efeito fotoacústico consiste na geração de um sinal acústico em um gás contido no

interior de uma célula fechada, decorrente de uma oscilação térmica na superfície da amostra

em virtude da absorção da radiação incidente. A figura 23 representa um modelo

unidimensional padrão de célula fotoacústica. Dentro da célula encontra-se uma amostra do

material a ser investigado. O restante do volume interno é ocupado pelo gás que pode ser o

próprio ar.

Figura 23 – Representação de uma célula fotoacústica fechada, com a superfície da amostra na origem do eixo x. Os comprimentos da câmara de gás, da amostra e do suporte valem, respectivamente, gl , sl e ( )sll − . O significado preciso das grandezas

gπµ2 e sπµ2 será abordado na seção A.3.2.

A radiação, que tem sua intensidade modulada de forma mecânica por uma pá

giratória, incide na amostra através de uma janela transparente, geralmente de quartzo, onde é

absorvida e transformada em calor. Com o aquecimento periódico da amostra, uma camada

Luz modulada

Microfone

Janela transparente

Gás (ar)

Amostra Suporte

g -ℓ -2πµ 0 2πµ ѕ ℓ ℓ ѕ g x

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

51

relativamente fina de gás adjacente à superfície do sólido responde às variações de

temperatura do material, expandindo-se e contraindo-se periodicamente, funcionando como

um “pistão vibratório” capaz de gerar ondas de pressão (ondas acústicas) que se propagam

pelo gás. Um microfone acoplado à célula detecta as ondas de pressão fornecendo o sinal

fotoacústico.

A.3 Teoria do efeito fotoacústico

A seguir serão apresentados alguns conceitos que servem de base para a teoria do

efeito fotoacústico proposta por Rosencwaig e Gersho (Teoria R-G). A tabela 10 lista os

parâmetros a serem utilizados.

Tabela 10 – Grandezas utilizadas no equacionamento do fenômeno fotoacústico. O índice i será substituído por g no caso do gás, por s no caso da amostra e por b no caso do suporte. Símbolo/Fórmula Nome Unidade

K i Condutividade térmica Cal/cm.s.°C

iρ Densidade g/cm3

Ci Calor específico (pressão constante) Cal/g.°C

iiii CK ./ ρα = Difusividade térmica cm2/s

iia

αω

2= Coeficiente de difusão térmica cm-1

( ) ii ai+= 1σ Coeficiente complexo de difusão térmica cm-1

ii a

1=µ Comprimento de difusão térmica cm

iβ Coeficiente de absorção óptica cm-1

i

β1=l Comprimento de absorção óptica cm

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

52

A.3.1 Absorção óptica

O primeiro processo físico a ser analisado é a absorção da luz pela amostra. O

comprimento de absorção óptica (βl ) é definido como sendo a distância que o feixe luminoso

incidente penetra na amostra, até que sua intensidade (I) se reduza a 1/e da sua intensidade

inicial (I0). Este parâmetro (βl ) é definido desta forma, pois na maioria dos casos, a radiação

não é totalmente absorvida na superfície da amostra e, à medida que os fótons penetram no

material, vão interagindo com as moléculas do mesmo e sendo absorvidos, fazendo com que a

intensidade do feixe luminoso diminua de maneira exponencial, como mostra a equação 1.

( ) xeIxI feixeβ−= 0 (equação 1)

Para uma profundidade x da amostra a intensidade I de luz absorvida pode ser

expressa por:

( )

−−= xeIxI β10 (equação 2)

A partir do comprimento de absorção óptica (βl ) podemos determinar a profundidade

que o feixe penetra na amostra. Este fato é importante, pois é nesta região que o calor é

gerado. A relação entre a espessura da amostra (l ) e o comprimento de absorção óptica (βl )

conforme a figura 24, classifica a amostra em três categorias (ROSENCWAIG, 1980).

I – Se l » βl : a amostra é opaca. Ou seja, I( l ) « ( 1/e ) I0.

II – Se l ≈ βl : a amostra é absorvedora. Ou seja, I( l ) ≈ ( 1/e ) I0.

III – Se l « βl : a amostra é transparente. Ou seja, I( l ) » ( 1/e ) I0.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

53

ℓβ

ℓβ

ℓ ℓβ

ℓ >> ℓβ

ℓ ≈ ℓβ

ℓ << ℓβ

Figura 24 – Classificação da amostra a partir da relação entre a espessura da amostra (l ) e o comprimento de absorção óptica (βl ). Fonte: Adaptado de PEDROCHI (2004).

A radiação ao interagir com a molécula excita um estado eletrônico (para a região de

luz visível ou ultravioleta) ou vibracional (para a região do infravermelho). O elétron, após ser

excitado retorna rapidamente ao estado fundamental (em tempos menores que 10-8 segundos)

e a não ser que um novo fóton seja emitido (luminescência) ou uma reação fotoquímica

estimulada, a energia será transferida para os estados vibracionais da molécula o que gera um

aumento de temperatura em um ponto da amostra (PESSOA JR., 1985). Assim, a partir de um

ponto da amostra, ocorre um processo de transferência de energia térmica por condução.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

54

A.3.2 Difusão Térmica

A difusão térmica é o processo no qual a energia térmica gerada em um ponto da

amostra é transferida para os pontos vizinhos.

Para medir a velocidade com o que o calor se espalha na amostra utiliza-se o

parâmetro denominado difusividade térmica α dado pela equação 3.

(equação 3)

onde K é a condutividade térmica, ρ é a densidade e Cp é o calor específico do material.

A quantidade de calor armazenada por volume a uma dada temperatura é expressa por

pCρ . Um ponto, ao ser aquecido, difundirá seu calor para outros pontos da amostra. Estes

sofrerão um aumento e uma diminuição de temperatura semelhante a um pulso.

A difusão do calor, a partir de um ponto, se dará em ciclos correspondentes à

frequência de modulação da luz, pois pontos dentro do comprimento de absorção óptica

geram calor de forma periódica. Logo, a magnitude de oscilação térmica sentida em um ponto

da amostra (na superfície, por exemplo) dependerá da distância entre os pontos e da

frequência ( f = ω/2π ) de modulação da luz.

A distância na qual a magnitude de oscilação térmica transmitida se atenua a um valor

de 1/e é definida pelo parâmetro denominado comprimento de difusão térmica µ dado pela

equação 4.

ωαµ 2= (equação 4)

Apenas a luz modulada absorvida dentro de uma profundidade 2πµs na amostra,

contribui significativamente para a oscilação de temperatura na interface com o gás, e

somente o volume de gás cuja distância à superfície da amostra for menor que 2πµg é capaz

de responder termicamente à oscilação de temperatura na superfície da amostra contribuindo

significativamente para a geração do sinal fotoacústico (ROSENCWAIG, 1980).

Pode ser visto na equação 4 que o comprimento de difusão térmica varia com o

inverso de ω . Deste modo, é possível selecionar o sinal de camadas cada vez mais

pC

K

ρα =

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

55

superficiais através do aumento da frequência de modulação, determinando assim, um perfil

de profundidade da amostra. Este fato permite ainda fazer uma análise detalhada de uma

amostra composta de duas camadas e espectros distintos (HELANDER et al.,1981;

MANSANARES et al.,1990), obtendo o espectro composto e o espectro isolado da camada

superior.

A figura 25 representa o comportamento do comprimento de difusão térmica em

função da frequência de modulação, onde pode ser visto que a espessura da amostra que

contribui para a geração do sinal fotoacústico é menor à medida em que a frequência aumenta.

A amostra pode ser classificada através de seu comportamento térmico em função de

sua espessural :

I – Se l > 2πµs: a amostra é considerada termicamente grossa.

II – Se l « µs: a amostra é considerada termicamente fina.

Figura 25 – Comportamento do comprimento de difusão térmica

Apresentaremos na seção seguinte uma descrição do modelo proposto por Rosencwaig

e Gersho (modelo R-G) para a teoria da geração do sinal fotoacústico.

A.4 Equação de difusão de calor – Modelo R-G

Consideremos a situação física esquematizada na figura 23, na qual temos uma

amostra sólida de comprimento sl no interior de uma célula cilíndrica, repousando em um

suporte de comprimento ( sll − ). O tamanho da coluna de gás dentro da câmara é gl . Vamos

supor que a intensidade do feixe luminoso que incide na superfície da amostra seja dada por:

Camada 1

Camada 2

f1 > f2 > f3 > f4

µ

µ µ

µ

1

2 3

4

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

56

tieII ω0= (equação 5)

onde I0 é a intensidade da radiação incidente e ω sua frequência de modulação. Para o caso

unidimensional a equação de difusão do calor pode ser escrita como:

( ) ( ) ( ) 0,,1,

2

2

=+∂

∂−∂

∂txf

t

tx

x

tx θα

θ (equação 6)

onde o termo ( )txf , refere-se à taxa de geração de calor por unidade de tempo no meio

considerado. No nosso caso temos uma amostra na qual a geração de calor se dá devido à

absorção dianteira da radiação incidente, e a componente espacial de ( )txf , é dada por:

( ) ( ) xeI

KxI

dx

d

Kxf

ss

ββ −== 0

1 (equação 7)

As condições de contorno a serem aplicadas (condições de contorno de Rosencwaig e

Gersho) supõem a continuidade da temperatura e do fluxo de calor nas superfícies de

separação entre dois meios adjacentes i e j.

=

=

dx

dK

dx

dK j

ji

i

ji

θθ

θθ

(equação 8)

Aplicando as condições de contorno dadas, a solução do equacionamento pode ser

encontrada aplicando-se o método das funções de Grenn. As expressões para a oscilação de

temperatura e para a oscilação de pressão na câmara fotoacústica são dadas por:

( ) ( )F

g

tixgaeetx

φωθθ +−= )0(, (equação 9)

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

57

( ) ( )( )( ) ( )( ) ( )

( )( ) ( )( )

−−−++

−+−+−+−−

=−

−−

ssss

sssss

ss ebgebg

erbebrebr

K

Ill

lll

σσ

βσσ

σββθ

1111

211112

022

0

)(

0

0

2

)0()( F

ggV

PP

tie

TaC

PCt

φωθδ +=l

( ) ( )FpP

tiet

φωδδ +=r

(equação 10)

onde Cp e Cv correspondem aos calores específicos, T0 a temperatura média na superfície da

amostra e P0 representa a pressão ambiente.

O fator θ(0) representa a amplitude da temperatura em x = 0 (na interface amostra-gás)

sendo dado por:

(equação 11)

onde ;ss

bb

K

Kb

σσ= ;

ss

gg

K

Kg

σσ

= s

rσβ=

A equação 10, na íntegra, é bastante complexa, mas pode ser simplificada em alguns

casos limites que dependem dos parâmetros físicos envolvidos no experimento. A tabela 11

apresenta os casos limites (PESSOA JR., 1985).

Podemos escrever a equação 10 na forma abreviada:

(equação 11)

sendo pδ a amplitude da oscilação da pressão, definida como:

( )0

0

2

0

TaC

PC

ggV

PP

l

θδ ≡ (equação 12)

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

58

Tabela 11 – Casos limites do efeito fotoacústico. A constante Y é dada por: 0

0 TP

C

CY

g

g

V

P

l

α=

Termicamente Grosso Termicamente Fino PROPRIEDADES

TÉRMICAS ℓS >> µS ℓS << µS

FS GERAL

COM CONDIÇÕES

R.G.

( )( ) ( )∫+

=−− l

0

4/2/1

1dxxfe

g

eYS x

S

i

FSσ

π

σω

( )

( ) ( )∫+=

−− l

0

4/2/1

dxxfbg

eYS

S

i

F σω π

FS COM

ABSORÇÃO DE BEER

( ) ( )( )

1

1

2 2204/2/1

+−

−= −−

g

r

K

IeYS

SS

iF σβ

βω π ( ) ( ) ( )104/2/1 −+

= −−− lβπ

σω e

bgK

IeYS

SS

iF

FASE ( )1/arctan += SF aβφ oF 90=φ

PROP. ÓPTICAS ℓβ >> µS ℓβ << µS ℓβ >> ℓS ℓβ << ℓS

FS ( )iK

YIS

S

SF +

−= 1

24

20

ωβµ

i

K

YIS

s

sF ω

µ4

20−=

iK

YIS

b

bF ω

µβ4

20 l−= iK

YIS

b

bF ω

µ4

20−=

FASE oF 45=φ o

F 90=φ oF 90=φ o

F 90=φ

DEPENDÊNCIA C/

FREQUÊNCIA 2

3−∝ ωFI

1−∝ ωFI 1−∝ ωFI 1−∝ ωFI

DEFINIÇÃO DO ESPECTRO Resolvido Saturado Resolvido Saturado

Transparente Opaco Opaco Transparente Transparente Opaco PROPRIEDADES

ÓPTICAS ℓS << ℓβ ℓS >> ℓβ ℓβ << µS ℓβ >> µS

REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA

LUZ

ℓβ ℓS

µS

LUZ

ℓS ℓβ µS

LUZ

ℓS µS ℓβ

LUZ

µS ℓβ ℓS

LUZ

ℓβ µS ℓS

LUZ

µS ℓS

ℓβ

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

59

F

R

(ωt+ Fφ )

p δ

Im

p δ

Pode-se então representar essa variação de pressão, que é o próprio efeito fotoacústico,

em um diagrama de fasores no plano complexo (figura 26).

Figura 26 – Representação fasorial da variação da pressão.

A detecção dessa variação de pressão é realizada por um microfone sensível, sendo

uma primeira medida do efeito fotoacústico. A amplitude do sinal dependerá das

especificações do microfone, isto é, seu quociente sinal eletrônico/amplitude de pressão,

normalmente especificado em milivolts/pascal. Esse sinal pode ser visualizado, após uma

amplificação, na tela de um osciloscópio. Entretanto, devido à baixa amplitude desse sinal, ele

é muito suscetível a fontes de ruído eletrônico, acústico, vibrações, etc., o que requer uma

detecção síncrona ou sintonizada com a frequência de modulação. Para a realização dessa

detecção, utiliza-se um modulador (chopper) que, além de produzir a modulação da luz

incidente na amostra, gera também um sinal de referência (onda quadrada), a partir da

interrupção alternada da luz de um diodo (led) incidente em um fotodiodo. Normalmente

haverá uma defasagem entre esse sinal e o sinal fotoacústico, e essa defasagem é considerada

como a fase do sinal fotoacústico. Observa-se, portanto, que a fase do sinal fotoacústico é

uma grandeza relativa, dependente da particular montagem do aparato experimental. Contudo,

a diferença de fase entre dois sinais, desde que detectados a partir de uma mesma montagem,

é uma grandeza absoluta.

Para a medida prática do sinal fotoacústico, tanto o sinal proveniente do microfone

quanto o sinal da referência, são inseridos em um amplificador síncrono ou sintonizado

(lock-in). Através de uma combinação de ambos (produto), realizada pelas suas características

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

60

Y

S F

X

F S

eletrônicas, o amplificador fornecerá em sua saída um nível DC, correspondente ao módulo

do sinal fotoacústico (SF) e um valor angular, que corresponderá à fase desse sinal ( Fϕ ). O

amplificador síncrono também limitará a faixa de frequência de detecção a um valor em torno

da frequência de modulação, funcionando como um filtro, o que melhorará drasticamente a

relação sinal/ruído. Desta forma, a representação mais apropriada para o sinal fotoacústico,

como detectado, é a de um vetor fixo no plano XY, constituído de uma magnitude e uma fase

(figura 27).

Figura 27 – Representação vetorial do sinal fotoacústico após o processamento do detector síncrono. O sinal torna-se independente do tempo.

A.5 Espectroscopia fotoacústica

Sucintamente, podemos dizer que espectros de absorção óptica gerados pelo sinal

fotoacústico numa determinada faixa de comprimento de onda, caracteriza a técnica

Espectroscopia Fotoacústica.

Para que o sinal fotoacústico seja gerado, é necessário a absorção da radiação pela

amostra. A intensidade do sinal depende da quantidade de calor gerado na amostra, e este por

sua vez varia com a mudança do comprimento de onda da radiação modulada incidente. A

variação do coeficiente de absorção óptica via mudança do comprimento de onda da radiação

incidente permite realizar a espectroscopia da amostra. Nos espectros fotoacústicos as

intensidades espectrais, ou seja, o sinal fotoacústico para cada comprimento de onda, são

especificadas em unidades arbitrárias, abreviadas por (u.a.). Unidades relativas seria uma

especificação mais adequada, uma vez que as intensidades são normalizadas em relação ao

espectro do carvão, o que possibilita compensar a variação nas intensidades da lâmpada de

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

61

Xenônio, utilizada como fonte de luz. Entretanto é de uso geral o termo (u.a.), que decidimos

manter neste trabalho.

A espectroscopia fotoacústica apresenta uma série de vantagens em relação à

espectroscopia convencional (de transmissão, reflexão e espalhamento), dentre as quais

podemos citar:

� Por se tratar de uma medida direta da absorção, a luz transmitida, refletida ou

espalhada em geral não interfere nas medidas.

� A informação é oferecida pela intensidade e também pela fase do sinal.

� É uma técnica relativamente sensível, geralmente capaz de detectar a presença de

baixas concentrações dos componentes absorvedores na amostra.

� Permite analisar o perfil de profundidade da amostra.

� As propriedades ópticas e térmicas da amostra são passiveis de estudo.

� É uma técnica não destrutiva. As amostras não necessitam de nenhum ou quase

nenhum tratamento prévio.

A.6 Estudos em pele utilizando a técnica fotoacústica

No final da década de 70, Rosencwaig iniciou os estudos em dermatologia utilizando a

técnica fotoacústica. Desde então, muitos pesquisadores tem se utilizado da técnica nos mais

variados trabalhos envolvendo materiais biológicos como a pele. Este fato se justifica devido

às vantagens que a fotoacústica apresenta em relação aos outros métodos de pesquisa. A

fotoacústica permite a análise de tecidos biológicos intactos, o que constitui uma importante

ferramenta de pesquisa. Outra vantagem é que o sinal produzido depende da radiação

efetivamente absorvida pela amostra sob estudo, permitindo o estudo mesmo de amostras

altamente espalhadoras como é o caso de tecidos biológicos (ANJOS et al., 2004).

A técnica fotoacústica tem sido utilizada na caracterização da pele humana, no estudo

de penetração de fármacos de uso tópico, aplicação de cosméticos e protetores solares, entre

outros (ROSENCWAIG, 1980). Dentre estes trabalhos, podemos citar: A classificação de

fototipos de pele (MOTA e BARJA, 2006), análise do perfil de profundidade em células de

mamíferos (NARAYANAN et al., 1997), medidas de difusividade térmica da pele (BROWN

et al., 1993), medidas da efusividade térmica da pele humana e cinética de penetração de

hidratantes em diferentes formulações (LOBATO e BARJA, 2007), estudo da variação da

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

62

fase fotoacústica com a frequência de modulação no estrato-córneo e na epiderme (BAESSO

et al., 1994).

Na área de dermatologia, a técnica revelou-se capaz de fornecer relevantes

informações. Dois trabalhos de referência na área tiveram como objetivo determinar a taxa de

difusão de tetraciclina usada topicamente (CAMPBELL et al., 1979) e realizar um perfil de

profundidade do β-caroteno na pele (ANJO e MOORE, 1984). Estes trabalhos demonstram a

potencialidade da técnica fotoacústica para o estudo da pele humana.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

63

REFERÊNCIAS

ABRAMS, B. B.; HANEL, H.; HOEHLER, T. Ciclopirox Olamine: A hydroxypyrydone

antifungal agent. Clinics in Dermatology, 9, 471-477, 1992.

ANJO, D. M.; MOORE, T. A. A photoacoustic depth profile of β-carotene in skin.

Photochemistry and photobiology, 39(5), 635-640, 1984.

ANJOS, F. H.; ROMPE, P. C. B.; MANSANARES, A. M.; SILVA, E. C.; AVALOS, D. A.;

BARJA, P. R. Sunscreen effects in skin analyzed by photoacoustic spectroscopy. Optical

diagnostics and sensing, 5325, 143-149, 2004.

ARAÚJO, M. G.; SILVEIRA, M. A. Gênese de antifúngicos. Revista de Farmácia e

Bioquímica da Universidade de São Paulo, 32, 1-10, 1996.

ASHWORT, C. M.; KIRKBRIGHT, G. F.; SPILLANE, D. E. M. Quantitative examination of

polyester-cotton by near-infrared photoacoustic spectroscopy. Analyst, 108, 1481-1484,

1978.

AZULAY R. D; AZULAY D. R. Dermatologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,

2006, 1-15.

BAESSO, M. L; SHEN, J.; SNOOK, R. D. Laser-induced photoacoustic signal phase study of

stratum corneum and epidermis. Analyst, 119, 561-562, 1994.

BELL, A. G. On the production and reproduction of sound by light. American Journal of

Science, 120, 305-324, 1880.

BELL, A. G. The production of sound by radiant energy. Science, 2(49), 242-253, 1881.

BERNENGO, J. C.; BISSCHOP, E.; COMMANDRÉ, F. Eletrofisioterapia. São Paulo:

Santos, 2001, 65-69.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

64

BRITISH PHARMACOPOEIA 2006, London: Her Majesty Stationery Office, London, 2006.

BROWN, S. M.; BAESSO, M. L.; SHEN, J.; SNOOK, R. D. Thermal diffusivity of skin

measured by two photothermal techniques, Analytica Chimica Acta, 282, 711-719, 1993.

CAMPBELL, S. D.; YEE, S. S.; AFROMOWITZ, M. Applications of photoacoustic

spectroscopy to problems in dermatology research. Transactions on Biomedical

Engineering, 26(4), 220-227, 1979.

CARDOSO, L. S. Abordagem introdutória às micoses superficiais e aspectos relacionados.

Revista Racine, 94, 24-32, 2006.

CASTLEDEN, S. L.; KIRKBRIGHT, G. F.; MENON, K. R. Determination of moisture in

single-cell protein utilizing photoacoustic spectroscopy in the near-infrared region. Analyst,

105, 1076-1081, 1980.

DITTMAR, W.; LOHAUS, A. New antimycotic compound with a broad antimicrobial

spectrum. Drug Research, 23, 670-674, 1973.

GODDU, R. F.; DELKER, D. A. Spectra struture correlations for the near-infrared region.

Analytical Chemistry, 32, 140-141, 1960.

GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. G. As bases farmacológicas da terapêutica. 9 ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.

GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia Dermatofuncional. 3 ed. São Paulo: Manole, 2004,

72-75.

GUPTA, A. K. Ciclopirox: an overview. International Journal of Dermatology, 40, 305-

310, 2001.

HAAS, U.; FRANZ, J.; NIMMERFALL, F. Photoacoustic in vitro investigation of human

skin. Springer Series in Optical Sciences, 58, 552-553, 1988.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

65

HELANDER, P.; LUDSTROM, I.; MCQUEEN, D. Photoacoustic study of layered samples.

Journal of Applied Physics, 52, 1146, 1981.

KIRKBRIGHT, G. F.; MENON, K. R. The determination of combined vinil-acetate in

polyvinyl-chloride polyvinyl acetate co-polymer by near-infrared photoacoustic spectrometry

and diffuse reflectance spectrometry. Analytica Chimica Acta, 136, 373-377, 1982.

LOBATO, C. A.; BARJA, P. R. Efeito fotoacústico da cinética de penetração de hidratantes

em diferentes formulações. In: XI Congresso Latino-Americano de Iniciação Científica e

VII Encontro de Pós-Graduação – O Paradigma do Desenvolvimento Sustentável, São

José dos Campos. Anais de Trabalhos Completos. São José dos Campos : UNIVAP, 497-500,

2007.

MANSANARES, A. M.; BENTO, A. C.; VARGAS, H.; LEITE, N. F.; MIRANDA, L. C. M.

Photoacoustic Measurements of the Thermal Properties of Two-Layer System. Physical

Review, 42, 4477-4486, (1990).

MOSER, K.; KRIWET, K.; NAIK, A.; KALIA, Y. N.; GUY, R. H. Passive skin penetration

enhancement and its quantification in vitro. European Journal of Pharmaceutics and

Biopharmaceutics, 52, 103-112, 2001.

MOTA, J. P.; BARJA, P. R. Classificação de Fototipos de Pele: análise fotoacústica versus

análise clínica. VI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação, 2006, São José dos

Campos. Revista Univap, 13, 2561-2564, 2006.

NARAYANAN, K.; CHANDANI, S.; RAMAKRISHNA, T.; RAO, M. C. Depth profiling of

mammalian cells by photoacoustic spectroscpy: Localization of ligants, Biophysical Journal,

72, 2365-2368, 1997.

NATALE, M.; LEWIS, L. N. Application of PAS for the investigation of overtones and

combinations in the near IR. Applied Spectroscopy, 36(4), 410-413, 1982.

NIEWERTH, M.; KUNZE, D.; SEIBOLD, M.; SCHALLER, M.; KORTING, H. C.; HUBE,

B. Ciclopirox Olamine treatment affects the expression pattern of Cândida albicans genes

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

66

encoding virulence factors, iron metabolism proteins and resistance factors. Antimicrobial

Agents and Chemotherapy, 47, 1805-1817, 2003.

PARKER, J. G. Optical absorption in glass: investigation using an acoustic technique.

Applied Optics, 12, 2974-7, 1973.

PEDROCHI, F. Estudo de sistemas biológicos “in vitro” e “in vivo” utilizando a

Espectroscopia Fotoacústica. Dissertação de Mestrado – Universidade Estadual de Maringá-

PR, 2004.

PESSOA JR., O. Aplicações de medidas de fase do efeito fotoacústico. Dissertação de

Mestrado – Instituto de Física Gleb Wataghim, Unicamp, Campinas, 1985.

PESSOA JR., O.; CÉSAR, C. L.; PATEL, N. A.; VARGAS, H. Two beam photoacoustic

phase measurements of thermal diffusivity of solids. Journal of Applied Physics, 59(4),

1316-1318, 1986.

PFUND, A. H. Atmospheric Contamination. Science, 90, 326, 1939.

PIATTI, I. L. Nanotecnologia na estética: a ciência que conduz a beleza. Disponível em

http://www.revistapersonalite.com.br/nanotecnologia_49.php. Acesso em 10 nov. 2008.

QUEIROZ, T. F. Infecção por fungos filamentosos invasores. Revista Prática Hospitalar,

Ano VI, 36, 13-15, 2004.

ROENTGEN, W. C. On tones produced by the intermittent irradiation of a gas. Philosophical

Magazine, 11(5), 308, 1881.

ROSENCWAIG, A.; GERSHO, A. Theory of photoacoustics effect with solids. Journal of

Applied Physics, 47(1), 64-69, 1976.

ROSENCWAIG, A. Photoacoustic and Photoacoustic Spectroscopy. New York: John

Wiley & Sons, 1980.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

67

SAMPAIO, S. A. P.; RIVITTI, E. A. Dermatologia. 3.ed. São Paulo: Artes Médicas, 2008.

SILVA, P. Farmacologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

TYNDALL, J. F. R. S. Action of an intermittent beam of radiant heat upon gaseous matter.

Proceeding of the Royal Society of London, 31, 307-317, 1881.

VIENGEROV, M. L. New method of gas analysis based on Tyndall-Roentgen optoacoustic

effect. Dokl. Akad. Nauk, SSSR, 19, 687, 1938.

VINHA, C. A.; HAAS, U. Qualitative and semiquantitative analysis of annatto and its content

in food additives by photoacoustic spectrometry. Analyst, 120, 351, 1995.

VINHA, C. A.; HENNIES, C. E.; SILVA, E. C.; VARGAS, H.; REIS, F. A. M.; CORTEZ, J.

G. An investigation of adulterants in ground coffee using photoacoustic spectroscopy in the

near-infrared region. Revista de Física Aplicada e Instrumentação, 4 (3), 267, 1989.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

68

ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, ___________________________________________________________, declaro

ter sido informado(a) do projeto de pesquisa intitulado “Análise de alterações no espectro

fotoacústico da pele humana causadas pela droga ciclopirox olamina” , inclusive de sua

justificativa, objetivos, metodologia e procedimentos de coleta de dados, sendo a pesquisa

realizada com o objetivo de avaliar a evolução temporal da concentração do fármaco

ciclopirox olamina na pele humana após sua primeira aplicação e avaliar os efeitos sobre a

desidratação da pele humana devido à ação do fármaco; estando assim plenamente

esclarecido(a) das implicações de minha participação na pesquisa. Minha assinatura neste

documento é de livre e espontânea vontade, estando ciente que os resultados da pesquisa

poderão ser divulgados e utilizados em estudos e publicações futuras. Ficam-me assegurados

os seguintes direitos: liberdade para interromper a pesquisa em qualquer fase, no momento em

que julgar necessário; sigilo da minha identidade e o reconhecimento dos resultados obtidos

quando por mim solicitado.

Campo Grande, ___ de _____________ de 2008.

____________________________________ Assinatura

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL …livros01.livrosgratis.com.br/cp090506.pdf · em diversas áreas das ciências básicas e aplicadas. Contudo, as pesquisas científicas

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo