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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL
CAMPUS DE ARAPIRACA
SIRLEIDE VIEIRA DA SILVA
OS ASPECTOS LINGUÍSTICO-PERSUASIVOS NO DISCURSO DOS FEIRANTES
DE ARAPIRACA/AL
ARAPIRACA
2018
SIRLEIDE VIEIRA DA SILVA
OS ASPECTOS LINGUÍSTICO-PERSUASIVOS NO DISCURSO DOS FEIRANTES
DE ARAPIRACA/AL
Monografia apresentada como requisito parcial para
obtenção do título de graduação em Letras – Língua
Portuguesa, pela Universidade Federal de Alagoas –
UFAL (Campus de Arapiraca).
Orientador: Prof. Dr. Deywid Wagner de Melo
ARAPIRACA
2018
Dedico este trabalho a mim e a todas as pessoas
que contribuíram direta ou indiretamente para a
minha formação acadêmica.
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus por me proporcionar viver tantos momentos de aprendizado junto a pessoas
especiais.
Agradeço a toda minha família, em especial aos meus pais Maria Suely e José Maria Vieira, e
ao meu irmão Pedro por, mesmo diante das dificuldades, sempre me incentivarem e ajudarem
nos momentos que precisei.
Agradeço ao meu esposo Jamerson por toda paciência, incentivo e ajuda durante todo o meu
período de formação acadêmica.
Agradeço a todos os professores do curso de Letras da UFAL Campus de Arapiraca, em
especial ao Prof. Dr. Elias André, ao Prof. Dr. Marcelo Marques e ao meu orientador Prof. Dr.
Deywid Wagner de Melo por todos os conhecimentos compartilhados.
Agradeço ao meu amigo/irmão Wilames Nunes por ter feito minha inscrição neste curso.
RESUMO
Essa pesquisa tem como objetivo analisar, primordialmente, os aspectos linguístico-
persuasivos presentes no discurso dos sujeitos (feirantes) em suas atividades laborais na
tradicional feira livre da cidade de Arapiraca/AL. Esta pesquisa fundamenta-se em Reboul
(2004) Citelli (2007), Abreu (2004), dentre outros estudiosos da área. É uma pesquisa de
cunho qualitativo. Nesta pesquisa, entende-se texto/discurso como um evento comunicativo
constituído numa atividade de interação nas diversas práticas sociais do ser humano. Nesse
sentido, é por meio do texto/discurso que o sujeito chegará ao outro no intuito de convencer
e/ou persuadir. Além disso, entende-se retórica como “a arte de persuadir pelo discurso”
(REBOUL, 2004). Realizar um estudo sobre esses aspectos faz-se necessário por apresentar
um cenário sócio-histórico e cultural bem representativo da cidade em tela. Uma das
características marcantes dos profissionais é saber lidar com o freguês, uma vez que necessita
manter uma boa relação com sua clientela na intenção de vender seus produtos, assim, Citelli
(2007, p. 6) afirma “que o elemento persuasivo está colado ao discurso como a pele ao corpo.
É difícil rastrearmos organizações discursivas que escapem a persuasão”, pois a fala é o
principal instrumento de seu trabalho e é, a partir dela, que o feirante chega ao seu auditório.
O corpus foi coletado com o auxílio de gravador portátil e da observação de momentos
interativos entre feirante e seu cliente. As análises demonstraram a constante presença de
elementos linguístico-persuasivos na fala dos feirantes e o quanto o uso desses elementos
contribui para sua atividade laboral. Realizar um estudo da fala destes profissionais é muito
importante, pois eles desempenham uma atividade que contribui para a formação da
identidade social e cultural dos espaços sociais ocupados por eles. Essa importância pode ser
justificada, principalmente, pelo fato de seu principal instrumento de trabalho ser a fala.
Sendo assim, o corpus deste trabalho se conceitua de grande importância no campo
linguístico da modalidade oral da língua.
Palavras-chave: Aspectos linguístico-persuasivos. Texto/discurso. Feirante de Arapiraca.
ABSTRACT
This research aims to analyze, primarily, the linguistic-persuasive aspects present in the
discourse of the subjects (fair) in their work activities in the traditional fair of the city of
Arapiraca / AL. This research is based on Reboul (2004) Citelli (2007), Abreu (2004), among
other scholars in the area. It is a qualitative research. In this research, text / speech is
understood as a communicative event constituted in an activity of interaction in the diverse
social practices of the human being. In this sense, it is through the text / discourse that the
subject will reach the other in order to convince and / or persuade. In addition, rhetoric is
understood as "the art of persuading by discourse" (REBOUL, 2004). Carrying out a study of
these aspects makes it necessary to present a socio-historical and cultural scenario that is very
representative of the city in question. One of the hallmarks of professionals is knowing how to
deal with customers, since they need to maintain a good relationship with their customers in
order to sell their products, so Citelli (2007, p.6) states that "the persuasive element is speech
as skin to body. It is difficult to trace discursive organizations that escape persuasion,
"because speech is the main instrument of their work and it is from there that the marketer
arrives in his auditorium. The corpus was collected with the aid of a portable recorder and the
observation of interactive moments between the marketer and his client. The analyzes
demonstrated the constant presence of linguistic-persuasive elements in the speakers' speech
and how much the use of these elements contributes to their work activity. Conducting a study
of the speech of these professionals is very important because they perform an activity that
contributes to the formation of the social and cultural identity of the social spaces occupied by
them. This importance can be justified, mainly, by the fact that its main instrument of work is
speech. Therefore, the corpus of this work is conceptualized of great importance in the
linguistic field of the oral modality of the language.
KEY-WORDS: Linguistic-Persuasive Aspects. Text / speech. Arapiraca Fair.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8
2 ESTUDOS DOS ASPECTOS PERSUASIVOS DO TEXTO/DISCURSO. ................... 10
2.1 A argumentação: conceitos e definições ............................................................................ 10
2.2 A constituição dos argumentos: os topoi da argumentação ................................................ 13
2.3 O acordo e o auditório ........................................................................................................ 15
2.4 A tríade/ ethos, pathos e logos (Aristóteles) ....................................................................... 17
3ESTUDO DOS ASPECTOS ORAIS NO TEXTO/DISCURSO ....................................... 19
3.1 As características da Oralidade........................................................................................... 19
3.2 A constituição do texto oral. ............................................................................................... 21
3.3 Os elementos coesivos na Oralidade .................................................................................. 22
3.4 A modalização Persuasiva..................................................................................................24
4 OS ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA .................................................. 28
4.1 Caracterização da pesquisa qualitativa ............................................................................... 28
4.2 A constituição do corpus .................................................................................................... 28
4.3 Análises .............................................................................................................................. 29
4.3.1 Momento interativo 1 ...................................................................................................... 30
4.3.2 Momento interativo 2 ...................................................................................................... 31
4.3.3 Momento interativo 3 ...................................................................................................... 33
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................36
REFERÊNCIAS......................................................................................................................38
ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.).............................39
8
1 INTRODUÇÃO
A feira livre é uma atividade que acontece em todo o mundo. No Brasil, as feiras
livres são muito comuns, tanto que na maioria das cidades é possível encontrá-las. Na
literatura podemos destacar estudos e algumas pesquisas sobre a história dos feirantes, sua
forte ligação com a cultura agrícola de cada região, entre outras características inerentes a
esses profissionais. Porém, não encontramos pesquisas que ressalvem a importância do uso da
fala no dia a dia desses profissionais. Trata-se de um campo de estudo ainda não explorado
exaustivamente.
O dia a dia desses trabalhadores caracteriza uma organização discursiva, pois sua
atividade laboral se materializa a partir de sua interação com o outro, a qual se dá através da
fala. A melhor maneira de se dar bem com o outro é mantendo uma boa interação com ele.
Desse modo, podemos inferir que o discurso do feirante precisa ser convincente, mas não um
convencimento pertinente ou abusivo. É necessário que se estabeleça uma conversa agradável,
na qual o foco seja a satisfação do freguês e a compra do produto. O discurso que tem por
intuito persuadir possui processos constitutivos no âmbito linguístico e social.
Com base em estudos de Ferreira (2010), pode-se salientar que o discurso que
possui muitos aspectos persuasivos é aquele que se destina a convencer e/ou persuadir um
auditório. Fazer uso de elementos persuasivos durante a construção de seu discurso é algo
muito importante para que o feirante alcance seu objetivo maior, que é a venda de sua
mercadoria. Citelli (2007) em seu livro Linguagem e persuasão ressalva que “[...] é possível
afirmar que o elemento persuasivo está colocado ao discurso como a pele ao corpo. É difícil
rastrearmos organizações discursivas que escapem à persuasão;[..]”(CITELLI, 2007, p. 6).
Como já exposto, a fala é o principal instrumento de trabalho do feirante. Sobre
questões inerentes à fala, Ferreira (2010) salienta uma das principais características da
linguagem; segundo ele, “[...] quando vista como ação, é ser dotada de uma orientação
argumentativa [...].” (FERREIRA, 2010, p. 27). Através do discurso o sujeito materializa
estratégias discursivas de convencimento e na argumentação isso ocorre com o consentimento
do outro. Citelli (2007) expõe que a partir das escolhas de signos linguísticos, os quais são
formadores de frases, textos, períodos, é que se consegue matéria-prima para a elaboração de
estratégias discursivas de convencimento, isto é, fazer a escolha certa de quais palavras
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usarem durante a venda de seu produto, pode fazer com que o feirante consiga ter maior ou
menor sucesso em seu trabalho.
A pesquisa “Os aspectos linguístico-persuasivos no discurso do feirante de
Arapiraca – AL” tem por intuito fazer a análise de dados que demonstrem a presença de
aspectos persuasivos no discurso desses profissionais bem como mostrar qual sua função
social no seu dia a dia. Buscou-se realizar um trabalho que, de fato, apresentasse um registro
sobre as práticas comunicativas e a presença ou não de elementos linguístico-persuasivos no
discurso desses indivíduos.
As seções deste trabalho apresentam discussões sobre os aspectos persuasivos no
texto/discurso, os aspectos orais do texto/discurso e os aspectos metodológicos da pesquisa. A
primeira seção expõe discussões acerca dos conceitos sobre Argumentação e Retórica: a
constituição dos argumentos, o que configura acordo e auditório e apresenta a tríade
aristotélica: ethos, phatos e logos. A segunda seção traz as características do texto oral, com a
sua constituição, os elementos coesivos na oralidade e os tipos de modalização persuasiva
(afetiva, deôntica e epistêmica). Por último foram expostas as características da pesquisa
qualitativa, como se deu a constituição do corpus, e as análises dos momentos interativos
coletados. Essas discussões foram levantadas com base em textos de Abreu (2004), Ferreira
(2010), Fávero, Andrade e Aquino (2009), Koch e Elias (2011), entre outros autores.
O interesse em estudar mais detalhadamente a presença da argumentação na fala
de feirantes levou ao desenvolvimento desse trabalho. O objetivo do feirante é vender sua
mercadoria, para tanto ele precisa persuadir as pessoas a comprarem seu produto. Estes
profissionais se valem do uso dos aspectos linguístico-persuasivos presentes em seu discurso
para obter êxito em suas vendas. Os estudos retóricos buscam contribuir para uma
sistematização de como o uso desses elementos contribuem satisfatoriamente para a atividade
laboral dos feirantes.
10
2 ESTUDOS DOS ASPECTOS PERSUASIVOS DO TEXTO/DISCURSO
Nesta seção serão discutidos os conceitos e definições sobre a Argumentação e
sua intrínseca presença na linguagem, a concepção e constituição dos argumentos, qual a
relação entre acordo e auditório no discurso persuasivo e a tríade aristotélica: ethos, pathos e
logos. Através das discussões levantadas, objetiva-se explanar qual a importância desses
estudos para a análise dos aspectos persuasivos no texto/discurso. Nessa perspectiva para
melhor desenvolver um estudo sobre os aspectos persuasivos presentes no texto/discurso, as
análises precisam estar fundamentadas em observações de que o grau de persuasão presente
varia de acordo com o tipo de discurso construído/elaborado na situação comunicativa a ser
estudada.
2.1 A argumentação: conceitos e definições
Diante de tantos estudos sobre as diversas maneiras de interação que existem entre
as pessoas, pode-se destacar a linguagem verbal como principal meio pelo qual isso acontece.
Através da linguagem as informações são gerenciadas, ou seja, o homem consegue se
comunicar com o outro, de modo que novas e diferentes tipos de relações vão sendo
estabelecidas. Sobre esse meio de interação entre as pessoas, Koch (2011) instiga que a
linguagem deve “ser encarada como forma de ação, ação sobre o mundo dotada de
intencionalidade[...]” (KOCH, 2011, p.15). Consoante essa assertiva, é correto afirmar que o
discurso de um indivíduo se constituirá, na maioria das vezes, com uma forte presença da
argumentatividade, ou seja, sempre que alguém diz algo, o diz com algum tipo de intenção.
Nos parágrafos desta seção, o trabalho apresenta um leve pincelar sobre a arte de argumentar
e sua presença constante na linguagem.
A argumentação possui muitas definições e conceitos. Abreu (2004) em seu livro
“A arte de argumentar: gerenciando Razão e Emoção” define a Argumentação como sendo a
arte de conseguir convencer e persuadir o outro: “Argumentar é, pois, em última análise, a
arte de, gerenciando informação, convencer o outro de alguma coisa no plano das ideias e de,
gerenciando relação, persuadi-lo, no plano das emoções, a fazer alguma coisa que nós
desejamos que ele faça.” (ABREU, 2004. p.10). Essa definição da argumentação é a mesma
definição dada à Retórica Antiga, pois segundo este e outros autores, exemplo, Reboul (2004),
a Retórica desde seus primórdios é conhecida como a “arte de persuadir e convencer”.
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Estudos sobre a história da Retórica demonstram o quanto ela era mal vista por
muitos povos contemporâneos ao seu surgimento. Sobre esse evento, vale ressaltar que
estudiosos, como Reboul (2004), advertem que não é sugestivo afirmar data específica para o
nascimento da retórica, o mesmo é feito apenas, por convenções de estudos. Pois, segundo o
autor, “a retórica é anterior à sua história [...], pois é inconcebível que os homens não tenham
usado a linguagem para persuadir.” (REBOUL, 2004, p. 1). Ainda segundo o autor, o ano 465
pode ser usado como referência para o nascimento da Retórica, o qual aconteceu na Grécia
em Sicília, e pertencia ao campo jurídico de estudos. Não é de interesse deste trabalho se
estender a cerca da história da Retórica e da Argumentação.
Segundo Breton (1999), a partir do século XVI com o advento do Cartesianismo,
do Protestantismo e do Empirismo, a linguagem utilizada pela arte retórica foi rejeitada.
Nesse ínterim pensava-se que as evidências tomadas por essas três dimensões bastavam para
estabelecer os valores de verdade das coisas. Esse momento de „queda‟ da Retórica foi
superado durante os anos 60 do século XX, quando a Filosofia da Linguagem passou a ser
vista com mais prestígio, e igualmente a Retórica volta a se tornar um importante campo de
estudos para os linguistas.
Do mesmo modo que a Retórica, a Argumentação também passou por uma
renovação, e segundo Breton (1999) e Ferreira (2010), isso se deve também aos estudos de
Perelman (1988). De acordo com Bretton (1999) os estudos de Perelman define que a
Argumentação passa a realizar os estudos sobre técnicas do discurso, as quais permitem o
inicio e aumento da aceitação por parte das pessoas a teses que são apresentadas no intuito de
serem aceitas. Ferreira (2010) conceitua argumentação como
o meio civilizado, educado e potente de construir um discurso que se insurja contra a
força, a violência, o autoritarismo e se prove eficaz (persuasivo e convincente) numa
situação de antagonismos declarados. Argumentar implica demonstrar ideias para
clarear no espírito do outro nossa opinião de um assunto polêmico. (FERREIRA,
2010, p. 14).
A arte de Argumentar pode ser entendida e analisada como uma parte intrínseca a
uma determinada situação comunicativa, na qual é possível identificar uma tese sendo
apresentada por um interlocutor, no intuito de convencer e persuadir um determinado
auditório. Trata-se de uma área de estudo que vem se consolidando ao passar dos anos, e
adquirindo a importância que lhe é devida e necessária para a melhor análise dos aspectos
persuasivos presentes nos diferentes discursos, sendo este possuidor de diferentes finalidades
em diversas situações sociocomunicativas.
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Outra questão muito importante e oriunda das concepções e definições do que
venha a ser Argumentação está ligada aos conceitos de convencer e persuadir. Segundo
Abreu (2004), a arte de argumentar consiste em “convencer e persuadir” um determinado
auditório, ou seja, a partir do discurso apresentado este deve aderir à opinião do orador e
passar a agir de acordo com o que lhe foi apresentado por meio da argumentação. Por motivos
didáticos, alguns estudiosos, como Ferreira (2010) e Abreu (2004), apresentam uma distinção
entre as ações de convencer e persuadir, pois “persuadir contém em si o convencer
(cum+vincere), que equivale a vencer o opositor com sua participação, persuadir o outro por
meio de provas lógicas, indutivas ou dedutivas” (Ferreira. 2010, p.15). Sendo assim, ambas as
ações são por vezes estudadas como equivalentes, mas ao se levar em consideração sua
origem etimológica, será possível constatar facilmente a essência de suas distinções.
Convencer explora o lado racional das pessoas, ou seja, é necessário falar junto à
razão do outro. O discurso precisa estar coordenado pela exposição de provas lógicas, assim o
orador conseguirá convencer seu auditório, sem ser agressivo, pois todo o gerenciamento de
informações estará sendo feito com o consentimento do receptor/auditório. Convencer
etimologicamente significa “vencer junto ao outro” (ABREU, 2004, p. 7), ou seja, o receptor
do discurso passa a aceitar a opinião apresentada, e ela passa a ser sua própria opinião sobre o
que lhe foi apresentado.
Por outo lado, persuadir volta-se para o campo emocional do auditório. Quando se
deseja persuadir alguém, é necessário ir além da razão, os argumentos apresentados pelo
orador precisam atingir a emoção, as paixões de seu auditório. Percebe-se assim a importância
de saber escolher, por exemplo, as palavras „certas‟ e aceitas pelo determinado auditório na
atividade comunicativa. O orador precisa falar junto às paixões de seu auditório, no intuito de
que o auditório mude de atitude, ou seja, passa agir segundo a tese que foi apresentada e
acerta por ele.
A partir dos conceitos e definições apresentadas sobre a Argumentação, pode-se
constatar que essa ação acontece de várias maneiras, em lugares diferentes, de modos
diferentes e com finalidades diversas, sendo a comunicação seu principal palco de atuação.
Ela é considerada uma parte indissociável da linguagem e consequentemente é através dela
que se torna possível persuadir e convencer o outro através do discurso.
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2.2 A constituição dos argumentos: os topoi da argumentação
O discurso, que tem por intuito persuadir, possui processos constitutivos no
âmbito linguístico e social. Ao elaborar/construir um discurso, é necessário atentar-se à
escolha do léxico, à estrutura sintático-semântica que deve usar, ao contexto social a que
pertence o auditório, ao cenário ideológico no qual o discurso será manifestado. Todos esses
aspectos precisam ser considerados se o orador deseja construir um bom discurso, ao mesmo
tempo em que todos esses aspectos devem ser observados ao se estudar um texto/discurso.
Logo, a definição de argumento precisa se valer de toda essa complexidade e dinamicidade da
atividade comunicativa na qual os argumentos se manifestam.
Bretton (1999) acredita que é necessário levar em consideração toda a dinâmica
argumentativa da comunicação para que se possa chegar a uma definição e conceituação dos
argumentos. Segundo ele, para que haja um melhor entendimento sobre a constituição dos
argumentos, faz-se necessário um esclarecimento sobre a diferença entre dois níveis de
definição, os quais se confundem com frequência. Esses níveis são: o nível do conteúdo do
argumento das opiniões em si mesmo; e o nível do “molde argumentativo” que vai dar sua
forma à tese proposta. Os estudos tendem a utilizar este último nível para definir os
argumentos. A literatura designa o que é argumento a partir do estudo das definições dos
“moldes argumentativos”, ou “técnicas argumentativa”, classificada assim por Abreu (2004),
ou ainda, dos “lugares retóricos”/ os topoi como são designados por Ferreira (2010). Esses
conceitos definem a forma como o argumento pode ser apresentado ao seu auditório.
Neste trabalho, o argumento está sendo estudado como uma atividade
comunicativa complexa, composta de um conteúdo particular (tese defendida pelo orador) e
suas maneiras (formas/técnicas) de apresentar sua tese para seu auditório, com o intuito de
convencê-lo e/ou persuadi-lo. Dessa maneira, o ato de argumentar poderá ser analisado
englobando toda sua dinâmica de comunicação. É relevante advir que os argumentos se
constituem da relação estabelecida entre o orador e seu auditório, e a partir desse contexto
comunicativo lhes são atribuídos valores, formas e definições.
Essa relação estabelecida entre orador e auditório precisa acontecer
harmoniosamente; ou seja, precisa existir um vínculo entre os dois, uma base comunicativa. O
discurso apresentado não pode aparecer como algo impossível de acontecer; pelo contrário, o
discurso necessita de uma referência existencial, que Bretton (1999) chama de
“Enquadramento do Real”. É esse enquadramento que atribuirá o grau de aceitabilidade do
argumento apresentado. Os argumentos serão aceitos se o enquadramento do real acontecer de
14
maneira satisfatória, pois assim será construído e mantido um campo referencial do discurso
entre o orador e auditório.
A escolha de argumentos é de fundamental importância para que o objetivo de
persuadir o auditório seja alcançado. Essa escolha acontece no início de um discurso retórico.
Os lugares retóricos funcionam como grandes armazéns, que podem encontrar os argumentos
certos para serem utilizados em determinados contextos, dependendo do perfil, dos valores,
das crenças, das opiniões e de tudo que se conhece do auditório que se deseja
convencer/persuadir.
A classificação dos lugares retóricos já foi definida por Aristóteles em seus
estudos, esses lugares persistem até os dias atuais quando se fala em análise de discursos
retóricos. Segundo Ferreira (2010), esses lugares retóricos foram estudados também por
Olbrechts-Tyteca e Perelman em seu livro Tratado de Argumentação (1996). Aqui nos
deteremos em alguns lugares retóricos definidos por Ferreira (2010).
Sendo assim, faz-se o uso do lugar de quantidade quando se utilizam razões
quantitativas para dar valor a uma determinada coisa. Existe também o lugar da qualidade,
que valoriza os aspectos únicos das coisas, opondo-se ao lugar de quantidade. O lugar de
ordem baseia-se nos princípios de finalidade, o posterior é mais importante do que o anterior.
Outro lugar retórico é o lugar de essência, utilizado quando se quer destacar um único
produto, indivíduo, entre outros como representante de algo, por exemplo, a marca de sabão
em pó OMO que é muito representativa quando se quer referir ao produto oferecido pela
marca. O lugar de pessoa notado quando o orador nesse momento fará uso da superioridade
da pessoa do discurso sobre o tópico discursivo. Existe também o lugar do existente utilizado
para dar preferência ao que já existe em contra ponto ao novo que estar sendo apresentado.
Existem outros lugares considerados mais contemporâneos e voltados para a
publicidade, como o lugar da beleza, o lugar da juventude e o lugar da sedução, mas não
convém ao trabalho adentrarmos aos conceitos desses lugares.
A noção de acordo também possui um papel muito importante na manutenção de
um discurso persuasivo, esse conceito será explanado mais adiante. Por enquanto,
relacionemos acordo com a lógica do verossímil, ou seja, os argumentos apresentados não
precisam necessariamente ser verdadeiros, mas precisam construir uma verdade
argumentativa, isto é, a credibilidade do enunciado depende do ethos construído pelo orador,
termo que também será exposto no desenrolar do trabalho.
Essa nova forma de olhar a escolha dos argumentos, a partir da lógica do
verossímil, surgiu com a Nova Retórica. Esse acordo poderá ter um grau maior ou menor de
15
aceitabilidade, podendo ser observado a partir do uso das técnicas discursivas/argumentativas.
Sobre essas técnicas, Ferreira (2010) remetendo-se aos estudos de Perelman, que as técnicas
argumentativas “ajudam provocar ou aumentar a adesão das pessoas às teses que são
apresentadas à sua aceitação.” (FERREIRA, 2012, p. 145).
2.3 O acordo e o auditório
Através dos textos/discursos, os falantes são capazes de transmitir suas
particularidades, ou seja, suas crenças, experiências de vida, opiniões, entre outras. Mesmo
fazendo parte de uma sociedade e sendo identificados por suas características em comum, os
seres humanos são únicos, cada um com especificidades e experiências únicas, próprias de
cada ser. A partir dessa premissa e, conforme a afirmação de Ferreira (2010, p.13): “Agimos
retoricamente quando nos valemos do discurso para descrever, explicar e justificar nossa
opinião com o objetivo de levar o outro a aceitar nossa opinião”. Pode-se concluir que o ser
humano, em vários momentos, age fazendo uso de discursos retóricos, tendo em vista suas
particularidades e o fato de usarem a linguagem para transmiti-las tentando influenciar as
pessoas, buscando acordos, na intenção de persuadi-las.
Para que o discurso retórico seja eficaz, é necessário que exista um acordo entre o
orador e seu auditório. Ferreira (2010) expõe que o acordo pode ser definido como sendo a
eficácia da interação que deve existir entre os sujeitos do discurso. Essa eficácia se constitui a
partir da autoridade atribuída ao orador, por parte de seu auditório, sendo necessário que a
contra parte aconteça, ou seja, o orador também precisa adjudicar valores ao seu auditório.
Outro ponto importante para manter o acordo é a sustentação da função hermenêutica do
discurso, isto é, o orador precisa interpretar de que maneira seu discurso está sendo
compreendido.
Segundo Bretton (1999), toda essa dinâmica de interação entre orador e auditório
se inicia com a apresentação do ponto de vista do orador. A partir dessa apresentação, é
possível que ocorra o enquadramento do real, que “[...] permite constituir o fundo no qual a
opinião proposta encontrará harmoniosamente seu lugar [...]” (BRETTON, 1999, p. 75). Após
o enquadramento ocorrer, tem-se a escolha dos argumentos a serem apresentados, estes, por
sua vez, são os responsáveis por manter um vínculo entre orador e auditório. Assim, acordos
começam a ser constituídos no desenrolar do momento de interação.
Diante de tantos indivíduos com tantas diferenças, podemos nos perguntar, como
o orador pode conseguir ir de encontro a tantas opiniões? Através da argumentação, ela
permite ir ao encontro da vontade do outro de maneira civilizada, ou seja, abre-se mão de uma
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imposição no intuito de se conseguir um acordo com o outro, por meio de um texto/discurso
constituído de elementos persuasivos. Como já exposto nos tópicos, “a argumentação implica
em uma relação de comunicação” (BRETTON, 1999, p. 26). Deseja-se convencer e/ou
persuadir o outro utilizando argumentos que se adequem ao contexto e objetivo do orador.
Desse modo é possível construir “acordos” entre os integrantes/pessoas do discurso, ou seja,
opiniões passam a ser compartilhadas entre orador e auditório.
Conforme Abreu (2004) pode-se chamar de auditório o conjunto de pessoas que o
orador deseja convencer e persuadir. O auditório pode ser uma pessoa, um grupo de mulheres,
um país, entre outros, variando de tamanho e de características. Um bom orador precisa
adequar seu texto/discurso ao „perfil‟ de seu auditório, pois só assim ele conseguirá atingir
seus objetivos através da argumentação.
O autor supracitado chama à atenção para a necessidade de não confundir
auditório com interlocutor, muitas das vezes as pessoas que se dirigem ao orador são
representadas por um interlocutor, como por exemplo, um repórter de um programa de TV,
nessa situação, caracteriza-se como auditório os telespectadores do programa, são eles que o
discurso do orador deseja convencer e/ou persuadir.
O auditório varia muito de tamanho como já mencionado, diante dessa
característica Abreu (2004) distingue dois tipos de auditório. Segundo ele, tem-se o Auditório
Universal e o Auditório Particular: “Auditório universal é um conjunto de pessoas sobre as
quais não temos controle de variáveis. [...] e Auditório particular é um conjunto de pessoas
cujas variáveis controlamos” (ABREU, 2004, p. 14). Não importa para qual tipo de auditório
o orador discurse, ele precisa estar atento as suas particularidades, assim poderá apresentar e
manter um discurso mais persuasivo diante dos objetivos que deseja alcançar.
Bretton (1999, p. 29) afirma que um bom orador “[...] é aquele que, dispondo de
uma opinião, se coloca na postura de transportá-la até um auditório e submetê-la a este
auditório, para que ele partilhe dela.” Sendo assim, o orador precisa levar em consideração as
particularidades de seu auditório. É necessário agir com ética, pois ele precisa obter confiança
por parte dos que o ouvem/leem. Outro ponto relevante é o fato de considerar a possibilidade
de que um discurso apresentado ao auditório particular pode chegar ao campo discursivo de
um auditório universal. Torna-se de suma importância elaborar um discurso observando as
possibilidades dos argumentos utilizados serem definidos em ambos os auditórios.
Diante das observações sobre acordo e auditório, é possível afirmar a necessidade
de se atentar ao „perfil‟ dos indivíduos que possivelmente constituirá o auditório para quem o
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discurso está sendo proferido/escrito, pois a chance de alcançar o objetivo de persuadi-lo,
provavelmente, será bem maior.
2.4 A tríade/ ethos, pathos e logos (Aristóteles)
A presença de um orador, de seu auditório e a elaboração de um discurso
persuasivo é a constituição basilar em uma situação de atividade comunicativa, na intenção de
se convencer e/ou persuadir. Estes são elementos constituintes do discurso retórico. Ferreira
(2010) apresenta a tríade já estudada por Aristóteles – ethos; pathos e logos. Melo (2009) em
seu livro “Análise retórica do gênero discursivo defesa pública” fez alusão referente à tríade
aristotélica“ [...] o ethos é algo comedido, o pathos é irreprimível. Sendo assim, o ethos pode
estar para o orador e o pathos para o auditório já o logos, para a argumentação propriamente
dita” (MELO 2009, p. 33). Tais estudos concluem que o ethos e o pathos estão mais ligados
ao campo emocional do ser humano, enquanto que, do outro lado, encontra-se a razão humana
representado pelo logos.
O discurso retórico se encontra dentro de um contexto retórico e se realiza durante
um ato retórico. Conforme Ferreira (2010), o primeiro refere-se a todos os acontecimentos
históricos, sociais, culturais, entre outros precedentes que estão relacionados e inferem sobre o
auditório que se quer convencer e/ou persuadir. O segundo é o momento em que o discurso
retórico se realiza. É de suma importância para o orador conhecer e fazer uma análise do
contexto retórico de seu auditório. Desse modo, ele obterá conhecimentos que irão lhe auxiliar
em sua atividade discursiva.
O ethos concentra-se na pessoa do orador e construirá seu próprio ethos. Ao ter
contato com o auditório, o orador precisa passar uma credibilidade em relação ao seu
texto/discurso. Para que se aceite a opinião apresentada, primeiramente se aceitam os aspectos
extralinguísticos, ou seja, os traços éticos, culturais e morais do orador. Diante disso, Ferreira
(2010, p. 21) salienta: “Não importa, pois, se o orador é ou não sincero: a eficácia do ethos é
distinta dos atributos reais de que assume o discurso.” Não se pode acreditar em algo que
está sendo dito, se a pessoa que o diz não transmitir confiança e autoridade sobre os
argumentos apresentados. Um bom orador atenta às exigências observáveis de seu auditório e,
a partir dessas observações, se posiciona e constrói seu próprio ethos, com a finalidade de se
adequar às necessidades exigidas por determinado contexto discursivo. Desse modo, o orador
atendendo às perspectivas de seu auditório, possibilitará uma maior chance de convencê-lo.
Diante dos estudos sobre análise do discurso, é possível afirmar que toda
atividade desenvolvida pelo orador concentra-se no auditório, este podendo ser representado
18
por uma única pessoa, ou por várias, e variando muito ou pouco, dependendo do contexto
discursivo. O auditório também pode ser representado pelos leitores, pois quando se escreve
quer atingir o leitor de alguma maneira e muitas vezes pretende-se convencê-lo de alguma
coisa como, por exemplo, quando se escreve uma notícia, um cartaz de propaganda, entre
outros.
O auditório não é estável, ele faz parte de uma situação comunicativa e se
caracteriza por sua dinamicidade, o auditório pode concordar ou discordar do discurso
apresentado pelo orador podendo levantar novas questões envolvendo a problemática do
discurso já apresentado. O orador não pode deixar de observar que o seu auditório já possui
sua moral, seus valores sociais, suas paixões. O pathos configura-se na necessidade de
despertar no auditório os sentimentos, as paixões e emoções que possuem, no intuito de
persuadi-lo, pois já afirmara Abreu (2004, p. 7): “Persuadir é saber gerenciar relação, é falar a
emoção do outro”. A escolha das palavras é fundamental para a elaboração de um bom
discurso persuasivo, pois a sequência lexical influencia o modo como o texto pode ser
interpretado/entendido e como ele será aceito, recebido pelo pathos.
Para tentar persuadi-lo é importante atingir todos esses níveis extralinguísticos
que envolvem a dinâmica da comunicação social. Desse modo, pode-se observar a
importância do uso da função hermenêutica no estudo do discurso persuasivo. Esta função
está presente no discurso retórico, ela ressalta a questão de que, não basta apenas dizer algo, é
necessário fazer um estudo interpretativo do seu próprio discurso, para que seus objetivos
seus alcançados. Fazer o uso de um termo genérico, ao invés de um particular e/ou
determinante, pode tratar-se de uma estratégia discursiva. A partir dessa observação, fica claro
que o orador precisa estar atento ao discurso, seu logos, que deseja construir, pois é o
instrumento principal na sua atividade comunicativa, trata-se do meio pelo qual ele vai
persuadir e/ou convencer seu auditório.
Através da análise da presença desses elementos constitutivos do discurso retórico
é possível estudá-lo na sua materialização. A modalidade oral da língua já possui seus
elementos constitutivos e suas características distintos da escrita. Os estudos desses elementos
e da tríade aristotélica apresentada nesta seção se caracteriza de suma importância para a
realização das análises do corpus deste trabalho.
19
3 ESTUDO DOS ASPECTOS ORAIS NO TEXTO/DISCURSO
O discurso neste trabalho está sendo estudado como a manifestação oral do texto,
equivalente à fala do feirante. Segundo Cittele (2007), é possível constatar, através dos
estudos linguísticos, que dificilmente se rastreiam organizações discursivas que fujam à
persuasão. Tendo o texto/discurso como meio de comunicação, pode-se introduzir que através
dele o sujeito consegue chegar ao outro, caso sua intenção seja convencer e/ou persuadir, o
sujeito fará uso do texto para alcançar seu objetivo. Nos próximos tópicos desta seção, serão
apresentadas observações e análises sobre a importância de se fazer um estudo a partir das
particularidades da modalidade oral da língua, no intuito de se obter uma análise mais eficaz
dos aspectos persuasivos presente no discurso retórico.
3.1 As características da Oralidade
Dá-se o nome de texto ao evento comunicativo resultado de uma coprodução entre
interlocutores. Este evento pode se realizar na modalidade escrita e/ou oral da língua, o que as
diferencia é o modo como a referida coprodução se manifesta. Essas duas modalidades do
texto possuem suas próprias características de produção e realização, sendo que por muito
tempo as características do texto oral foram vistas como a banalização da modalidade escrita.
Outra afirmação era a existência de uma dicotomia, as características de uma anula a presença
das características da outra.
Ao passar do tempo, essa visão simplista das características foi perdendo
credibilidade. Novas pesquisas começaram a ser feitas e, segundo Fávero, Andrade e Aquino
(2009), “[...]discute-se que ambas apresentam distinções porque diferem nos seus modos de
aquisição; nas suas condições de produção, de transmissão e recepção; nos seus meios através
dos quais os elementos de estruturas são organizados.” (FÁVERO, ANDRADE e AQUINO,
2009, p. 69).
As diferentes características começaram a ser analisadas mais a fundo, novos
estudos linguísticos foram sendo realizados e ganharam novos conceitos. Koch e Elias (2011,
p. 14) ressaltam que “Fala e escrita são, portanto, duas modalidades da língua. Assim, embora
se utilizem do mesmo sistema linguístico, cada uma possui características próprias”. Ainda
segundo os autores Koch e Elias (2011), o texto escrito pode ser mais planejado, reescrito,
revisado, em sua elaboração o escritor idealiza como será o leitor de seu texto, pois o seu
contexto de produção normalmente não condiz com seu contexto de recepção. Enquanto que
20
no texto oral não existe a oportunidade de uma revisão, uma reescrita. O discurso, a
manifestação oral de textos, emerge no próprio momento da interação.
Os novos conceitos sobre as diferentes características entre as duas modalidades
da língua, admitem que a dicotomia de que as características de uma anulam a presença das
características de outra não se sustenta. De acordo com os estudos apresentados por Koch e
Elias (2011), o fato de se tratar de duas modalidades diferentes da língua, não significa que as
características predominantes em uma modalidade anule a presença das características mais
comuns de outra. As autoras constatam que as duas modalidades se configuram em um
continum, ou seja, as características da modalidade escrita podem ser encontradas em textos
orais e vice-versa.
É válido frisar que, na maioria das vezes, o texto oral se realiza face a face e
mesmo que o meio de produção seja outro, como por exemplo, a internet, o telefone, o locutor
que detém a palavra no dado momento (o turno) não se caracteriza como único responsável
por seu discurso, pois, em situações discursivas interacionais, os interlocutores presentes se
ocupam com a produção do texto, agindo como conegociantes, coargumentadores se
manifestando efetivamente como coprodutores do texto.
Os autores em tela apresentam também em seus textos que a aquisição do texto
oral também se difere do escrito. Quando uma pessoa recebe um e-mail, por exemplo, ela tem
a opção de não abrir, e assim não ter acesso ao assunto do texto. No entanto se, por exemplo,
a pessoa estiver andando na rua, e for abordada por um vendedor de praça, será difícil ela
conseguir impedir que não fale sobre o que deseja. Desse modo, é possível observar que
existem muitas distinções em relação à aquisição dessas duas modalidades da língua. O texto
escrito favorece uma maior liberdade ao receptor de decidir se quer ou não ter acesso ao
assunto do texto. Por outro lado, o texto oral não proporciona tanta liberdade, já que será
quase impossível, mesmo que use um protetor de ouvido, que um indivíduo andando na rua
não escute uma determinada propagando anunciada por um carro de som.
O objeto de estudo deste trabalho se constitui a partir da modalidade oral da
língua, o discurso do feirante se manifesta sem nenhum planejamento prévio, trata-se de algo
natural. A fala desse profissional se constitui na interação com uma única pessoa, quando o
cliente se aproxima, ou na interação com todos que passam por seu espaço de trabalho, isto é,
muitas vezes eles gritam para que todos que por ali passam possam ouvi-lo.
21
3.2 A constituição do texto oral.
O texto é um dos meios pelos quais as pessoas se comunicam, seja ele na
modalidade escrita ou oral, trata-se do veículo de comunicação social mais usado, pois é
através dele que se diz algo, faz-se um pedido, declara-se para alguém, envia-se um mandato
de busca e apreensão, vende-se um produto, entre tantas outras atividades conversacionais.
Koch e Elias (2011) definem o texto “como o próprio lugar da interação”. A partir da linha de
análise dos conceitos de texto que as autoras seguem para chegar a essa definição, será
possível enxergar que o texto está sempre inserido em um contexto, possui uma estrutura
sintático-semântica e o mais relevante, tem por intuito fins sociais, pois é a partir dele que os
sujeitos são construídos/constituídos socialmente. Sendo assim, por meio do texto eles
participam como produtores do cenário social, a medida que atuam ativamente nas definições
das situações sociais em que se encontram engajados.
Koch (2011) discute a constituição da modalidade oral do texto. A autora destaca
que ela possui uma estrutura própria. O texto oral e a escrita possuem o mesmo sistema da
língua, porém seus constituintes são de ordens sintáticas, estrutural e semântica diferentes. O
texto oral se efetiva dentro de uma atividade conversacional, em que dois ou mais
interlocutores interagem. Para se analisar a constituição dessa modalidade da língua é
fundamental realizar um estudo sobre como se instaura a Conversação. Esta é definida por
Fávero, Andrade e Aquino (2009, p. 15) “como atividade na qual dois ou mais interlocutores
que se alternam constantemente, discorrem sobre temas próprios do cotidiano”. Uma
atividade comunicativa ocorre em um determinado tempo e situação social, pode ser via
telefone, pela internet ou face a face. Esse tipo de atividade, como já mencionado, possui um
caráter interativo, pois seus participantes se envolvem durante toda a situação.
A fala dentro de uma atividade conversacional é organizada a partir de turnos. O
turno “define-se como a produção de um falante enquanto está com a palavra” (FÁVERO,
ANDRADE E AQUINO, 2009, p. 35), não só enquanto este está com a palavra, mas até
mesmo um momento de silêncio pode constituir um turno. A organização dos turnos em uma
atividade conversacional é responsável pela coesão e coerência daquela determinada
atividade. Sobre esse assunto iremos decorrer nos próximos tópicos.
O discurso se constitui em uma organização conversacional. Dependendo do grau
de envolvimento entre os interlocutores, o grau de interação pode ser maior ou menor. Os
autores em tela distingue esse encontro. No primeiro, os interlocutores possuem os mesmos
direitos em tomar a palavra e fazer a escolha do tópico, direcionar o encontro, determinar o
tempo de duração, isso é possível nos encontros simétricos. Enquanto que no encontro
22
assimétrico, acontece um privilégio em relação ao uso da palavra, ao início do diálogo, a sua
condução e a escolha dos tópicos.
Fávero, Andrade e Aquino (2009) apresentam algumas variáveis presentes nesta
modalidade da língua. Dentre elas destacam-se as seguintes: tópico ou assunto, tipo de
situação, papéis dos participantes, modo e meio do discurso.
O assunto ou tópico é o que mantém o canal de comunicação, por ele acontece a
manutenção das relações sociais, promovendo o contato entre os participantes/interlocutores.
Em se tratando dos tipos de situação, a qual acontece face a face, é possível constatar que os
participantes precisarão estar atentos às atividades não verbais que compõem uma atividade
comunicativa, pois elas ajudam no entendimento do que está sendo dito. A partir desta
ressalva, fica clara a importância de que quando se deseja analisar uma atividade
conversacional não se pode levar em conta apenas os elementos linguísticos do texto oral.
Desse modo, observa-se ser necessário também analisar os elementos não-verbais presentes
nessa atividade, que interferem nos sentidos construídos pelo texto naquele dado momento de
interação.
Em relação aos papéis dos participantes, observa-se que as situações sociais de
comunicação são diversas, tendo o participante que se adequar a suas particularidades,
comportando-se de diferentes modos. Outro constituinte é o modo discursivo, este se refere ao
grau de formalidade que o texto oral precisa ter para que a interação aconteça da melhor
forma. E o meio discursivo indica o canal pelo qual o texto é transmitido: face a face, via
internet, telefone, entre outros.
A identificação dos componentes do texto oral possibilita um estudo mais bem
detalhado da sua estrutura e da relação que se estabelece entre seus participantes. Outro fato
relevante é que através das características apresentadas torna-se possível ressaltar que o texto
conversacional possui natureza coletiva, acontecendo de forma interacional e organizada.
3.3 Os elementos coesivos na Oralidade
De acordo com estudos apresentados pela Linguística Textual, os sentidos do
texto são construídos a partir da interação entre texto, sujeito (escritor, leitor, interlocutor) e
contexto. Para que se possa obter êxito na compreensão e interpretação dos sentidos, é
necessário que o texto possua uma unidade temática, ou seja, as partes que constitui o texto
precisam estar ligadas, isto é, se faz necessário que exista uma conexão nas estruturas
sintática e semânticas do texto. Esse fenômeno precisa ser efetivado tanto na modalidade
escrita quanto na modalidade oral. Irandé Antunes em seu livro Lutar com as palavras:
23
coesão e coerência afirma que diante desta perspectiva “sobressai a questão da coesão,
exatamente como sendo essa propriedade pela qual se cria e se sinaliza toda espécie de
ligação, de laço, que dá ao texto unidade de sentido ou unidade temática.” (ANTUNES,
2005, p. 47).
A coesão garante ao texto uma unidade de sentido. Um texto coerente apresenta
suas unidades constitutivas (palavras, orações, parágrafos, entre outras) interligadas,
formando uma teia de ligação estrutural, sintática e semântica que as une. Fazer a escolha das
palavras, tendo em vista seus significados e a relação entre elas vai estabelecendo no
desenrolar da elaboração do texto a continuidade do tema, a partir da sequência de suas partes
que estão sendo interligadas permitindo a sua unidade e a realização das intenções pretendidas
através de determinada interação verbal.
Assim como o texto escrito, o texto oral também precisa de elementos coesivos
para uma efetivação das intenções almejadas ao realizar-se uma atividade comunicativa.
Levando em consideração a diferença da natureza do texto conversacional, os elementos
coesivos que os constituem devem ser estudados de um modo específico.
Para poder adentrar aos estudos dos recursos coesivos na oralidade, é necessário
entendermos como se dá a organização do texto oral. Desse modo será possível observar e
analisar a presença dos recursos coesivos na atividade conversacional. No texto oral sua
organização se dá a partir da constatação de quatro elementos básicos: o turno; o tópico
discursivo; os marcadores conversacionais e os pares adjacentes.
A atividade conversacional é caracterizada a partir de turnos. No ato de interação
entre os interlocutores cada um tem o seu momento de interagir. Essa interação pode ser uma
fala, um momento de silêncio, um gesto, entre outros aspectos verbais e não-verbais que
compõem uma conversação. O turno é caracterizado por um desses atos de interação. Logo a
conversação se configura em vista de um processo de continuidade de turnos entre os
participantes de determinada atividade comunicativa.
Os turnos que caracterizam a conversação giram em torno de um assunto, pode ser
definido com antecedência ou no momento inicial da interação. O assunto da conversação é
definido como o tópico discurso, ou seja, as falas discorrem sobre um determinado tema,
porém um tópico principal se destaca entre as intervenções dos interlocutores, caracterizando
o tópico discurso daquele momento de interação.
Outro elemento que compõe a fala são os marcadores conversacionais. Estes se
configuram como elementos principais para a organização da fala. Segundo Marcuschi (1998,
p. 61), “[...] estes sinais servem de elo de ligação entre as unidades comunicativas, de
24
orientadores dos falantes entre si”, melhor relatando, são eles que sinalizam a troca de
falantes, a mudança de tópico e marcam as falhas de construção (pausas, hesitações, entre
outras). Sendo assim, os marcadores desempenham uma função sintática, o que ressalva sua
grande importância como elemento coesivo na oralidade.
A interação entre os falantes dificilmente ocorre de maneira aleatória, ou seja, os
interlocutores seguem uma sequência de turnos. Para que essa sequência ocorra de maneira
satisfatória, é necessário que durante a interação os interlocutores se compreendam. O turno
apresentado precisa ser entendido por parte do outro interlocutor, pois, dessa forma, poderá
dar continuidade à conversação. Essa continuidade se constitui de pares adjacentes (perguntas
–resposta, convite- aceitação ou recusa, entre outros), estes têm a função de organizar a fala,
de dar inicio a um tópico discursivo, direcionar o tópico, dar continuidade a ele. Logo fica
claro que os pares adjacentes servem “[...] tanto de organizadores como de mecanismos de
seleção de falantes e proponentes de tema [...]” (MARCUSCHI, 1998, p. 36) da atividade
comunicativa.
Do mesmo modo que a coesão do texto falado se constitui de modo diferente da
modalidade escrita da língua, a coerência vai além da construção de uma unidade de sentido
para o texto. A coerência na fala se estabelece como “um processo global e implica
interpretação mútua, local e coordenada” (MARCUSCHI, 1998, p. 76). Sendo assim, sua
análise precisa levar em consideração um número maior de fatores, não apenas marcas
linguísticas e discursivas. A organização dos tópicos é muito importante, ela emerge do
sentido e da compreensão que ocorre no âmbito interacional das relações entre os
interlocutores. Essa organização se dá primordialmente na fala, através do uso dos
marcadores conversacionais, como já mencionado. Esse constituinte tão importante do texto
oral segundo Fávero, Andrade e Aquino (2009, p. 47), “[...] serve para designar não só
elementos verbais, mas também prosódicos e não linguísticos que desempenham uma função
interacional qualquer na fala”. Desse modo, fica evidente que esses elementos são
indispensáveis para que o texto oral possua coerência.
3.4 A modalização Persuasiva (modalização e modalidade: epistêmica, deôntica e afetiva)
O discurso, como já mencionado, é conceituado como uma atividade entre
interlocutores, podendo, às vezes, ser caracterizado como uma atividade conversacional,
quando dois ou mais interlocutores discorrerem sobre um determinado assunto do cotidiano.
Koch (2012) em seu livro A inter-ação pela Linguagem discorre sobre o fato de que o estudo
sobre linguística do discurso vem ganhando muito espaço nos últimos tempos, o olhar dos
25
linguistas, em especial europeus, voltarem-se para as relações existentes entre a língua e seus
usuários. Suas novas análises se apoiam na refuta de que, tanto a linguística estrutural
(Saussure) quanto a linguística gerativa (Chomsky) estudam a língua como algo abstrato,
desprezando seu contexto de uso.
O ser humano faz uso da linguagem para interagir socialmente. Sendo assim, para
fazer um melhor estudo de como se dá essa interação é necessário ir além dos estudos
gerativos e estruturais sobre a linguagem , e buscar um estudo que tenha por intuito descrever
e explicar de que modo essa interação se materializa.
Para este trabalho é importante ressaltar o uso da linguagem verbal como principal
meio de persuadir o outro, pois é através da interação que os sujeitos conseguem reproduzir
seus mecanismos argumentativos, com o intuito de conseguir seus objetivos. Ao falar com seu
cliente, o feirante tem um objetivo em mente, vender seu produto, para isso ele precisa
estabelecer uma relação que pode suscitar reações (verbais e não verbais) que demonstrem a
eficácia do seu discurso. O modo como às relações se estabelecem vai se efetivar a partir das
estratégias discursivas utilizadas pelos interlocutores.
Quando uma pessoa quer dizer algo a alguém, molda o enunciado de acordo com
suas intenções, ou seja, existem diferentes tipos de modos para se dizer a mesma coisa. A
gramática tradicional apresenta o estudo dos modos verbais, como sendo “as diferentes
formas que o verbo apresenta para indicar a atitude que o falante assume em relação ao
processo verbal” (TERRA, 2011, p. 20 apud SILVA, 2015). Desse modo, podemos tomar
modo como sinônimo de modalidade, isto é, a modalidade vai caracterizar a maneira que o
tópico discursivo será apresentado pelos interlocutores.
Como já discutido em tópicos anteriores, os sujeitos se constroem a partir da
interação com outros sujeitos, isso ocorre, na maioria das vezes, através da fala, numa
determinada atividade comunicativa. Também foi ressaltada a importância dos valores e dos
papéis sociais atribuídos ao orador/interlocutor no momento da interação. Sendo assim, ao
apresentar suas opiniões, valores, conceitos, entre outras particularidades de cada sujeito, o
interlocutor toma posicionamento diante dos assuntos apresentados, podendo concordar ou
discordar. Logo, se o intuito do orador é persuadir seu auditório, ele precisa ter atenção em
relação ao modo como ele vai se dirigir ao seu auditório, e ir além, preocupar-se com o
posicionamento que vai tomar.
Ao posicionamento que o orador vai assumir, Silva (2015) conceitua como sendo
a modalização verbal, ou seja, é importante a posição que o orador vai tomar diante do que foi
apresentado. Sendo assim, tomemos Modalização como sendo o “processo através do qual os
26
interlocutores ora enfatizam ora atenuam o que vai sendo dito” (Castilho, 2011, apud Silva,
2015, p. 21). A modalização se materializa no discurso através do uso de modalizadores.
Estes são responsáveis pela construção de sentido do discurso a partir do posicionamento
assumido pelo interlocutor. Os modalizadores sinalizam o modo e o posicionamento do
orador diante de seu discurso. Logo, o uso desse mecanismo linguístico é muito importante
quando a intenção é persuadir o auditório.
Para o estudo do discurso retórico destacaremos três tipos de modalizadores, os
quais referenciam três tipos de modalização: 1) modalização epistêmica; 2) modalização
deôntica e 3) modalização afetiva. Ainda de acordo com Santos (2015), “esses modalizadores
são percebidos em enunciados que, em geral, são utilizados por indivíduos que têm a
pretensão de exercer certo domínio sobre seu interlocutor [...]”. Portanto, é de suma
importância adentrar sobre seus conceitos no intuito de uma análise mais bem detalhada do
discurso do feirante, já que, tem por intuito convencer o cliente a comprar seu produto.
Os modalizadores epistêmicos são utilizados quando o orador quer atribuir um
valor de verdade para seu enunciado, podendo eles ser a) assertivo: nesse contexto de uso o
orador vai atribuir valor afirmativo ou negativo; b) quase-assertivo: nesse momento o orador
não assume totalmente a responsabilidade sobre o que diz e c) delimitadores: o orador
delimitar até que ponto pode-se ser discutido o assunto. Os deônticos sinalizam um valor de
obrigatoriedade do conteúdo apresentado, ou seja, o orador se posiciona na intenção de
construir um sentido de que é obrigatório e necessário aceitar o que foi dito.
E por último temos os modalizadores afetivos, esses estão fortemente
relacionados ao discurso persuasivo, pois como já estudado, a persuasão vai além da razão,
ela busca atingir o campo emocional do auditório. Assim, este passará a agir segundo a
aceitação do que foi proposto pelo orador. Esses modalizadores, conforme Castilho e Castilho
(1993, apud SILVA 2015), dividem-se em dois grupos: 1) subjetivos e 2) intersubjetivos. No
primeiro o orador expressa claramente suas proposições a seu favor e a favor do interlocutor,
e, no uso do segundo, ele tenta demonstrar certa imparcialidade nas sugestões propostas.
Verifica-se a partir do conceito de modalização apresentado, o quanto o uso dos
modalizadores é importante no discurso retórico. O uso destes favorece a construção do ethos,
pathos e do logos discursivo, tendo em vista, que a modalização verbal demonstra o modo e
as intenções do interlocutor ao proferir seus enunciados, neste sentindo, sinaliza o modo e as
intenções do orador ao apresentar seu discurso a um determinado auditório. Tratando-se do
discurso retórico, pode-se entender o conceito de modalização verbal como o conceito de
modalização persuasiva.
27
Diante do que foi apresentado sobre modalização neste tópico, é de grande
ressalva para este trabalho verificar a existência ou não desses mecanismos argumentativos no
discurso do feirante da cidade de Arapiraca. Desse modo, será possível observar o quanto o
uso de modalizadores pode contribuir na construção.
28
4 OS ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Essa seção apresenta como se deu o desenvolvimento e elaboração do trabalho.
Discorre sobre a caracterização do trabalho de pesquisa, como se constituiu o corpus da
pesquisa, quais os referenciais bibliográficos para o aparato teórico conceitual e posterior
análises dos dados coletados.
4.1 Caracterização da pesquisa qualitativa
Estudos demonstram que a pesquisa qualitativa está voltada para a realização de
analises interpretativas de dados que constituem o objeto de estudo em um determinado
trabalho. Trata-se de uma abordagem interacionista entre os envolvidos na pesquisa em
campo. Esse tópico tem por referência realizar um aparato sobre esse tipo de pesquisa,
segundo algumas reflexões abordadas por Moreira (2002), Ludk e André (1986) e Trivinos
(1987) apud Oliveira (2008), tratando das características, de algumas técnicas e dos dois tipos
de pesquisa qualitativa.
Para o desenvolvimento e estudo do objeto de pesquisa deste trabalho, nos
restringimos ao processo metodológico da pesquisa qualitativa, pois trabalhamos com dados
sociais, em um ambiente onde o homem possui lugar privilegiado de interação através de seu
discurso. Dentre os dois tipos de pesquisas qualitativas, selecionamos a etnográfica. As
técnicas desse tipo de pesquisa foram utilizadas para a obtenção e auxilio na análise dos dados
coletados.
4.2 A constituição do corpus
A atividade comercial de feira livre existe há muitos anos na cidade de Arapiraca
e em quase todas as cidades alagoanas. Antes eram bem mais populares e geravam muito mais
lucros. Segundo alguns populares relataram durante o período de coleta de dados, atualmente,
ocorreu uma grande diminuição do fluxo de pessoas que frequentam as feiras, principalmente
na feira do domingo. Existem vários pontos de feira espalhados pela cidade, as quais ocorrem
em dias diferentes, entretanto as principais, ou seja, aquelas que aglomeram uma quantidade
maior de pessoas são as do dia de segunda-feira, essa ocorre em algumas ruas no centro da
cidade, e a do domingo, que ocorre no bairro Primavera. Essa última recebe o nome de
Fumageira, devido à tradição agrícola do cultivo do fumo, que antes era muito forte no
munícipio.
29
A coleta de dados para este trabalho ocorreu na feira livre do domingo que há
muitos anos existe na cidade, sendo seu dia de realização mudado somente por motivos
extremos como, por exemplo, quando a data de eleições se coincide, ou as comemorações
pascoais. As pessoas que frequentam a feira aos domingos, também conhecida como
Fumageira são, na maioria das vezes, da cidade de Arapiraca. Foi necessária a realização de
várias visitas à feira para conseguir realizar as gravações. Nas feiras livres da cidade de
Arapiraca, é possível encontrar uma grande diversidade de mercadoria como, por exemplo,
roupas, móveis, diferentes tipos de carne, e o mais comum em todas as feiras livres do país,
frutas, verduras, legumes, ervas medicinais entre outros produtos agrícolas.
Os dados para a constituição do corpus da pesquisa foram coletados com o auxílio
de um gravador. Os informantes portaram o aparelho por alguns minutos, em momentos
diferentes, e durante sua atividade laboral. Encontrei muitas dificuldades para a obtenção de
dados pelo fato de se tratar de um ambiente com muito barulho. As bancas ficam muito
próxima umas das outras, por exemplo, uma banca de frutas e/ou verduras fica ao lado de
outra que vende CDs, DVDs, e as quais possuem aparelhos sonoros para o teste da
mercadoria. Também, além dessas bancas, existem carros de mão com caixas de som
acopladas que ficam circulando pela feira, vendendo os produtos já mencionados.
Foram realizadas algumas gravações, das quais os informantes são vendedores de
frutas, verduras e legumes. Durante as visitas foram realizadas as gravações e também
entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento (TCLE). Dessa maneira, durante
todo o trabalho os informantes se mantiveram ciente da importância do trabalho, e o modo
como se daria sua participação.
Os momentos de interação que foram gravados se deram de maneira espontânea,
ou seja, aconteceram no ambiente de trabalho desses feirantes. Devido ao fato de a linha de
pesquisa desde trabalho estar voltada para a análise do discurso do feirante, apenas a fala
desses sujeitos foi transcrita para composição do corpus da pesquisa. O intuito é observar a
presença de elementos linguístico-persuasivos, os quais constituem o discurso retórico; os
elementos coesivos, marcas constantes na oralidade e a existência e importância da
modalização na fala dos feirantes, a qual é utilizada no intuito de persuadir o cliente.
4.3 Análises
A seguir, foram analisados trechos das gravações realizadas na feira livre dos dias
de domingo. Esses fragmentos foram escolhidos a partir das maiores recorrências, nas
transcrições realizadas, do objeto de estudo, tendo assim como foco os aspectos persuasivos
30
na fala dos feirantes, que podem indicar a ocorrência de um discurso retórico, imbuídas dos
tipos de modalização persuasiva.
4.3.1 Momento interativo 1
O trecho abaixo foi gravado logo no início da feira do dia de domingo, por volta
de 7h30min da manhã. Os vendedores falam em voz alta para que as pessoas, que por ali
passem, possam ouvir. Trata-se de dois irmãos que trabalham juntos com sua mãe na banca.
O fato de falarem em voz alta é uma característica que varia muito do perfil do feirante, pois
se observa que muitos deles não agem assim, só se dirige ao cliente no momento que ele se
aproxima de sua banca, objeto de madeira utilizado para por as mercadorias em cima.
L1. Fruta boa e barata hoje aqui, viu... Tomate 3 reais, batatinha 5, só hoje, viu. Bora chegar, meu
povo.
C. (meneios) – o cliente olha para o feirante e com um gesto da cabeça sinaliza que aceitou o
convite.
L1. Vai levar o que hoje, Dona Maria? Vamos levar acerola? Tá 2 reais, pode ser 3 por 5!
C. Tá de quanto o pimentão?
L1. Um é 50 centavos, mas faço 3 por 1 real. Vai querer? Foram colhidos hoje, são bem grandes.
Esse trecho proferido pelo orador L1 foi destinado a um auditório universal. Em
alguns momentos da feira, o discurso dos feirantes tem como alvo este tipo de auditório, pois
em algumas das vezes eles gritam em voz alta, para que todos que por ali passam possam
ouvir. O fato de eles não conhecerem o que as pessoas desejam comprar naquele momento,
caracteriza um discurso voltado para as diversas e possíveis necessidades da pessoa que visita
à feira.
Outro aspecto persuasivo que podemos destacar logo no início do enunciado com
o trecho “Fruta boa e barata” caracteriza o uso do lugar retórico da qualidade. A fruta
vendida por ele não é qualquer fruta, ele destaca duas qualidades, com o uso dos adjetivos boa
e barata, demonstrando duas particularidades, em vista das possíveis ofertas de frutas que o
cliente possa encontrar em outras bancas da feira. Neste mesmo trecho, pode-se destacar a
presença da modalização epistêmica, o orador atribui um valor assertivo de verdade referente
ao que foi pronunciado anteriormente.
O lugar de quantidade também é utilizado no momento que o orador L1 profere o
valor dos produtos: “Tomate 3 reais, batatinha 5”. Logo após, ele usa o modalizador
argumentativo “hoje”, na intenção de enfatizar seu argumento, deixando claro que em outro
dia o valor será diferente, e possivelmente mais caro. Temos também marcas visíveis
predominantes na modalidade oral da língua, a repetição de palavras, e a presença de
31
elementos coesivos desta modalidade da língua. Pode-se destacar o modalizador hoje e o
marcador conversacional viu. O modalizador hoje aparece em dois momentos da fala de L1,
marcando e reforçando o tópico discursivo de L1. O marcador conversacional viu neste
momento de interação está organizando internamente o turno de L1.
Após a fala de L1, o cliente volta o olhar para a banca dos respectivos feirantes,
com isso podemos destacar que o phatos construído pelo orador foi satisfatório, na medida em
que, o orador conseguiu atingir o ethos construído em seu auditório. Ou seja, o feirante passou
credibilidade/confiança ao cliente, por conseguinte desperta o interesse em ir verificar as
frutas vendidas por ele. Com isso é possível afirmar que o logos apresentado foi suficiente
para convencer, de inicio, que o cliente fosse visitar sua banca. Assim, pode-se destacar a
presença da construção de um acordo entre orador (feirante) e seu auditório (cliente), aspecto
fundamental para dar inicio a argumentação e manter uma boa interação em um discurso
retórico. Também é possível observar nesse instante a constituição de um par adjacente
(convite-aceitação), o feirante fez o convite e o cliente aceitou, dirigindo-se até a sua banca.
Depois da aproximação do cliente até a banca, L1 direciona sua fala a um
auditório particular, ou seja, o orador neste instante sabe que essa pessoa que se aproximou,
provavelmente tem interesse em comprar algo de sua banca. Desse modo ele busca reforçar a
sugestão de que o cliente leve a acerola com o uso do lugar de quantidade, visível com o
trecho “Tá 2 reais, pode ser 3 por 5.”
No momento que o cliente começa sua interação mais um par adjacente pode ser
constatado, (pergunta – resposta), ele questiona sobre o valor do pimentão, e o feirante
responde. Logo após o feirante, mais uma vez, faz uso do lugar da quantidade, pois ele
profere “mas faço 3 por 1 real.” Outro lugar retórico utilizado é o da qualidade “Foram
colhidos hoje, são bem grandes”.
A todo o momento na fala do feirante pode-se destacar a presença dos aspectos
linguístico-persuasivos. Neste momento interativo, é possível observar o uso dos lugares de
quantidade e de qualidade, a modalização epistêmica, a construção do ethos, do phatos e do
logos, o vínculo e o acordo estabelecido entre orador e auditório, marcas constitutivas
importantes desta modalidade da língua, como por exemplo, os pares adjacentes, os turnos e
os modalizadores.
4.3.2 Momento interativo 2
Neste segundo momento, os informantes conseguem fazer com que o cliente se
aproxime de sua banca. Primeiro L1 fala em voz alta, tentando chamar a atenção, e toca em
32
uma pessoa que passa em frente sua banca. A partir desse primeiro contato, dá-se inicio ao
momento interativo entre orador e auditório. Esse trecho foi gravado em um horário
considerado mediano para a atividade do feirante, por volta de 9h30min. A feira inicia às 6h
da manhã.
L1. E aí meu patrão, vai levar o que hoje? Venha dar uma olhadinha, sem compromisso!
C. (o cliente se aproxima da banca e pega um maço de coentro)
L1 Tá de 1 real o pezinho, pode ser 3 por 2!
C. E esse mamão, tá de quanto? (ele pega o mamão e mostra para o feirante)
L1. Tá de 2 reais o quilo. Pode levar, viu! É mamão papaia, bem docinho, melhor da feira.
C. Vou querer! Pese esse pra mim.
No inicio da fala de L1 já se pode destacar a presença da construção do phatos
discursivo, no momento que ele profere “E aí meu patrão” usado como um vocativo, o orador
fala a emoção do outro. Neste caso, ele eleva o seu auditório, o cliente a quem ele se dirigiu
naquele momento, ao patamar de seu patrão. Sendo assim, ele se coloca no cargo de seu
subordinado, induzindo que está ali para atender as necessidades deste. Isso demonstra a
presença da modalização afetiva, tendo em vista que o feirante deixa claro sua intenção de
conquistar o cliente. O cliente sabe que o termo “meu patrão” foi utilizado na intenção de
agradá-lo, e persuadi-lo a comprar algo de sua banca. No final de seu turno, pode-se observar
a intenção do orador de que é necessário que o cliente visite sua banca, pois assim ele poderá
comprar alguma coisa.
Nesse primeiro momento de analise já é possível observar a presença da
modalização persuasiva. No trecho “vai levar o que hoje” fica claro o uso da modalização
deôntica, tendo em vista que o orador atribui ao seu enunciado a intenção de obrigatoriedade.
Outro tipo de modalização que se pode destacar nesse trecho é a epistêmica. Segundo Castilho
e Castilho (1993, apud SILVA, 2015), os modalizadores epistêmicos podem atribuir um valor
de verdade, porém este valor pode ser assertivo ou quase-assertivo. Pode-se destacar esse uso
no instante em que L1 profere “pode ser 3 por 2”, ele atribui ao seu enunciado um valor
afirmativo, porém demonstra que a afirmativa é quase assertiva. O orador assume a atitude de
que existe uma possibilidade que seja assim, isto é, de que ao invés do cliente pagar 3 reais
em 3 maços de coentro, ele leve a mesma quantidade da mercadoria por um valor inferior, no
caso da oferta feita por ele, os 3 maços por 2 reais.
O cliente não fala nada, mas demonstra ter sido convencido pelo orador, ao se
aproximar de sua banca e pegar uma de suas mercadorias, ele demonstra o interesse pelo
produto. É muito comum na feira livre as pessoas pegarem as mercadorias na mão, para
33
observarem com cuidado se está em boa qualidade. Diante da aproximação do cliente ficou
claro que um acordo foi estabelecido, a partir daí o orador começou a apresentar seus
argumentos. Estes, por sua vez, são os responsáveis por manter o vínculo construído a partir
do acordo entre as pessoas do discurso, neste caso, o feirante e o cliente.
No instante que o cliente se aproxima da banca e pega o maço de coentro na mão,
o orador pode observar a necessidade do seu auditório, o que proporcionou que ocorresse o
enquadramento do real. O feirante apresentou ao auditório sua opinião, ele queria que
visitasse sua banca, sua opinião foi aceita configurando o enquadramento do real, e
sinalizando que o acordo entre as partes, isto é, o algum tipo de vínculo entre os integrantes
fosse estabelecido. Para que esse acordo se sustente e proporcione o objetivo final ao orador
que é a venda de seu produto, o orador precisa apresentar seus argumentos/seu logos, e é o
que acontece posteriormente.
O lugar de quantidade é explorado nesse momento de interação. No segundo
turno de L1 ao ser questionado sobre os valores do maço de coentro, ele usa o argumento “ Tá
de 1 real o pezinho, pode ser 3 por 2!”, ou seja, ele destaca a quantidade referente ao valor da
unidade, sobrepondo um em relação ao outro. O lugar da essência é utilizado posteriormente
na sua fala. No instante que o feirante responde sobre o mamão “É mamão papaia”, é de
conhecimento trivial que esse tipo de mamão é considerado um dos melhores dentre os
diversos tipos de mamões existentes. Outro lugar de argumentação utilizado é o da qualidade,
depois de apresentar o mamão usando o lugar da essência, o feirante reforça seu logos
apresentando as qualidades do produto, destinado e ele entre os demais mamões papaias que
ele possa encontrar em outra banca da feira.
A presença de elementos coesivos da oralidade também podem ser constatados
nesse trecho de análise. É o caso de pares adjacentes no primeiro turno de L1, o feirante faz o
convite e o cliente aceita, pois visita sua banca. Dando continuidade ao momento de interação,
o cliente que está com o turno faz uma pergunta e o feirante responde. Assim temos dois tipos
de pares adjacente, no primeiro um convite - aceitação e no segundo uma pergunta –
resposta. Outro elemento que faz parte da organização conversacional é o tópico discursivo,
neste trecho temos dois, o valor do maço de coentro e do mamão papaia.
4.3.3 Momento interativo 3
Esse momento de interação ocorreu já no final da feira, umas 11h, normalmente as
bancas ficam armadas até as 13h. O horário é um fator muito importante para os feirantes,
pois quanto mais tarde for mais difícil fica de vender a mercadoria, porque o fluxo de cliente
34
na feira diminui. É uma característica dos feirantes diminuírem os valores da mercadoria, para
que eles consigam vender, tendo em vista que são alimentos perecíveis.
C. (se aproxima da banca)
L2. Venha escolher! Promoção aqui hoje, o cliente é quem manda. Acerola na promoção, 2 reais.
C. Tá de quanto a batatinha?
L2. 3 reais, vai levar? Pode misturar, viu. Faço tudo por 3, batinha, cenoura, cebola, tomate.
C. Moça, tá caro! Na outra banca tá de R$2,50. Pode ser? Se for eu levo!
L2. Certo! Pode ser!
C. E essas acerolas são boas mesmo?
L2. São sim, foram colhidas hoje, estão fresquinhas!
C. Coloque um litro de acerola, e pese 2kg de batatinha.
Sobre os constituintes da conversação, nesse momento interativo temos como
tópico discursivo o interesse pelas mercadorias: acerola e batatinha. O meio discursivo se dá
face a face, possibilitando o uso de elementos extra linguísticos na interação e contribuindo
para a sinalização dos possíveis acordos construídos entre auditório e orador. Temos durante
todo o momento a presença de pares adjacentes do tipo pergunta-resposta. Os marcadores
também estão muito presentes, mantendo a organização e possibilitando a continuidade da
interação e a troca de turno entre os participantes. Neste instante de conversação, podem-se
destacar os marcadores conversacionais: “viu”, “pode ser”, “mesmo”. Outro ponto que pode
ser destacado do começo da interação é que o orador construiu seu discurso para um auditório
particular, pois a todo o momento ele interage com uma única pessoa.
O inicio da interação se deu no momento que o cliente se aproxima da banca, ele
ficou apenas observando as mercadorias. Os feirantes nesse momento estavam na outra
extremidade da banca, ao verem o cliente, L2 se aproximou e o convidou a escolher algo. No
primeiro turno do feirante, pode-se destacar a presença da modalização afetiva, pois deixa
claro a sua intenção. Ele deseja que o cliente compre algo de sua banca, e no instante que ele
profere “Venha escolher!” deixa isso bem claro para o cliente, sinalizando sua intenção
através do uso deste enunciado.
Ainda no primeiro turno já é possível destacar a presença do pathos. L2 expressa
que o cliente é quem tem o poder de escolha. No trecho “o cliente é quem manda” ele tenta
construir um vínculo com seu auditório, o cliente, segundo o feirante, detém o poder de
escolha. Desse modo, o orador já consegue construir seu ethos, passando para o auditório que
está ali a serviço dele, sendo assim, o auditório pode vê-lo como seu subordinado. Seu logos
foi bem aceito e ele obteve o acordo que precisava para dar continuidade ao seu discurso.
35
Pois, logo após, o cliente começa a interagir e fazer perguntas sobre os valores das
mercadorias.
O lugar de quantidade é muito explorado durante todo o momento de interação.
Nos trechos: L2: “Acerola na promoção, 2 reais”, “Faço tudo por 3 reais”; C “Na outra
banca tá de 2,50.” Este tipo de lugar retórico é muito utilizado em todos os momentos
interativos observados neste trabalho. Por ser uma atividade comercial que explora valores
versos quantidade, e também, relaciona esses valores à qualidade dos produtos, o lugar de
qualidade também é muito utilizado para argumentar. No final da interação o feirante enfatiza
a qualidade da acerola, “foram colhidas hoje, estão fresquinhas”, fazendo uso do lugar de
qualidade.
Nesse trecho de interação, como em todos os outros analisados, é possível
observar muitas características marcantes da modalidade oral, a presença constante do
discurso retorico, marcas visíveis da atividade argumentativa, a qual já foi estudada como
sendo intrínseca a linguagem.
36
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização deste trabalho, foi possível observar o quanto a fala é importante
no ambiente de trabalho para muitas pessoas, não apenas no cenário comercial da feira livre,
como também já mostrado em outras pesquisas, no comércio de um modo geral. O objetivo
principal de um vendedor é vender seu produto, e ir além, conquistar as pessoas de um modo
que eles possam virar seus clientes. A partir desta ressalva, de que é preciso „conquistar‟ as
pessoas, um leque de questionamentos pode surgir, dando abertura a estudos sobre a
materialidade do principal instrumento de trabalho dos feirantes, a fala. O texto apresentou
uma revisão literária sobre a Retórica, a Argumentação, as características e a constituição do
discurso oral da língua, pois o corpus de pesquisas se constitui nessa modalidade. Também
foi exposta uma visão sobre a importância da feira livra para a cidade em tela, e qual a
natureza metodológica da pesquisa. Tratando-se de um estudo etnográfico, teve como base a
pesquisa de cunho qualitativo.
Como o feirante pode convencer uma pessoa a comprar ou pelo menos visitar sua
banca? Este trabalho mostrou que é através da argumentação, conforme estudos linguísticos
sobre Retórica e Argumentação, esse é o meio civilizado de se chegar à vontade do outro. O
trabalho mostrou que se pode ir além, pois apresenta que mais do que convencer é necessário
que o cliente/auditório seja persuadido pelo orador/feirante, desse modo, ele levará sua
mercadoria, e possivelmente poderá tornar-se um cliente assíduo.
A partir das análises, é possível observar a forte presença dos elementos
linguístico-persuasivo na fala destes profissionais. A tríade aristotélica foi destacada em
ambos os momentos interativos, como também, os acordos entre orador e auditório. Os
lugares argumentativos mais explorados foram os de quantidade, qualidade e essência. Os
constituintes organizacionais responsáveis pela coesão e coerência nos diversos tipos de
discursos, inclusive no discurso retórico, também puderam ser constatados. Os pares
adjacentes, o tópico discursivo de cada momento e principalmente a presença de marcadores
conversacionais estão explicitamente presentes nos turnos das pessoas envolvidas nos trechos
analisados.
As análises também constataram a presença dos três tipos de modalização
persuasiva exploradas como base teórica para a pesquisa em campo: a modalização
epistêmica, a deôntica e a afetiva.
As questões norteadoras deste trabalho foram sendo constatadas ao longo de sua
realização. Trata-se de fundamental importância se questionar quais aspectos linguístico-
37
persuasivos estão presentes na fala dos feirantes de Arapiraca-AL? Qual a importância da sua
utilização no trabalho destes profissionais? E de que maneira o uso desses elementos se
materializa? Diante das questões apresentadas e após analise do corpus foi possível constatar
que a presença de elementos linguístico-persuasivos é constante na fala destes profissionais, e
o uso deles é indispensável para que se consiga vender sua mercadoria. Mesmo sem os
conhecimentos teóricos sobre a construção/elaboração de seu logos, o feirante faz uso do
discurso retórico de maneira satisfatória.
O objetivo do trabalho foi alcançado plenamente. A análise do corpus apresentou
resultados compatíveis com as hipóteses levantadas durante a elaboração deste trabalho. Foi
possível constatar a presença dos elementos linguístico-persuasivos no discurso dos feirantes
de Arapiraca e o quanto o uso destes são importantes para que os profissionais possam obter
êxito na venda de suas mercadorias. A realização deste trabalho possibilitou mostrar o quanto
esses profissionais possuem um discurso repleto dos elementos linguísticos em tela, e os
utilizam com muita perspicácia, deixando claro que o uso da argumentação é intrínseco ao uso
da linguagem e que está constantemente presente na vida do ser humano.
38
REFERÊNCIAS
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Editorial, 2004.
ANTUNES, Irandé. Lutar com as palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola
Editorial, 2005.
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perspectiva para o ensino de língua materna. 7. ed – São Paulo: Cortez, 2009.
FERREIRA, Luiz Antônio. Leitura e persuasão: princípios de análise retórica. São Paulo:
Contexto, 2010.
KOCH, Ingedore G. V.; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de produção textual.
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KOCH, Ingedore G. V. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
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MELO, Deywid Wagner. Análise Retórica do Gênero Discursivo Oral Defesa Pública.
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OLIVEIRA, Cristiano Lessa. Um apanhado teórico-conceitual sobre a pesquisa qualitativa:
tipos, técnicas e características. Revista Travessias v.2, n. 3, 2008. Disponível em: e-
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REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.
SILVA, Bruna Marques. Estudo dos Aspectos Modais no Discurso do Professor em
Interação de Sala de Aula. Universidade Federal de Alagoas, Arapiraca, 2015. Disponível
em: ud.arapiraca.ufal.br. Acesso em 27 dez 2017.
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ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.)
Eu,.........................................................................................................................., tendo sido
convidado (a), a participar como voluntário (a) do projeto de pesquisa Os aspectos
linguístico-persuasivos no discurso do feirante de Arapiraca-AL, recebi da Sra. Sirleide
Vieira Lino da Silva, do curo de Letras da Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
responsável por sua execução, as seguintes informações que me fizeram entender sem
dificuldades e sem dúvidas os aspectos:
Que o trabalho se destina ao estudo dos Aspectos linguístico-persuasivos no discurso
do feirante da cidade de Arapiraca-AL.
Que a importância deste trabalho para o reconhecimento do uso dos elementos
linguístico-persuasivos na fala do feirante é de fundamental relevância, pois estes
profissionais têm por intuito vender sua mercadoria, e através do uso do discurso
retórico seu objetivo encontrará meios mais eficazes para se materializa.
Os desejos que se pretendem alcançar são os seguintes: observar a presença desses
elementos na fala desses profissionais, fazer as análises do corpus e apresentar dados
que comprovem a presença de elementos linguístico-persuasivos na fala do feirante da
cidade de Arapiraca-AL.
A coleta de dados começará em 2017 e terminará em 2018.
O estudo será feito da seguinte maneira: visitas serão realizadas em algumas feiras
livres de Arapiraca, posteriormente serão escolhidos alguns informantes. Essa escolha
se dará após conversas com alguns feirantes, pois se pretende explicar como será a
participação do voluntário na construção do trabalho. Por último, os dados serão
gravados, com o auxilio de um gravador portátil, e assim, serão transcritos para a
análise.
Que deverei contar com a seguinte assistência: terei todas as minhas dúvidas quanto à
minha participação no estudo resolvidas, sendo responsável por isso: Sirleide Vieira
da Silva.
Os benefícios esperados com a minha participação no projeto de pesquisa, mesmo que
não diretamente são: refletir sobre a importância do estudo dos elementos linguísticos
presente na fala, meu principal instrumento de trabalho e o quanto a presença de
elementos linguístico-persuasivos podem contribuir para que meu objetivo maior,
vender minha mercadoria, seja alcançado.
Que, sempre que eu desejar, ser-me-ão fornecidos esclarecimentos sobre cada uma das
etapas do estudo.
Que serei informado(a) do resultado final do projeto e sempre que desejar, serão
fornecidos esclarecimentos sobre cada uma das etapas do estudo.
Que, a qualquer momento, eu poderei me recusar a continuar participando do estudo e,
também, que poderá retirar seu consentimento, sem que isso lhe traga qualquer
penalidade ou prejuízo.
Que as informações conseguidas através da minha participação não permitiram a
identificação de minha pessoa, exceto para equipe de pesquisa, e que a divulgação das
mencionadas informações só serão feitas entre os profissionais estudiosos do assunto
após a autorização.
Que o estudo não me acarretará nenhuma despesa.
40
Que eu serei indenizado por qualquer dano que venha a sofrer com a participação na
pesquisa, podendo ser encaminhado para o curso de Letras da Universidade Federal de
Alagoas, Campus de Arapiraca.
Que receberei uma via do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado por
todos.
Eu ................................................................................................................................, tendo
compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado sobre a minha participação no
mencionado estudo e estando consciente dos meus direitos, das minhas responsabilidades, dos
riscos e dos benefícios que a minha participação implicam, concordo em dele participar e para
isso eu DOU O MEU CONSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO
FORÇADO OU OBRIGADO.
Endereço d(o,a) participante-voluntári(o,a)
Domicílio:____________________________________________________
Bloco:____________________ Nº:_______ Complemento:_______________________________
Bairro:_____________________CEP______-_____Cidade:_______________________________
Telefone:_____________________. Ponto de referência:_________________________________
Endereço d(os,as) responsáve(l,is) pela pesquisa (OBRIGATÓRIO):
Instituição: Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca.
Endereço: Rua José Elvio Higino da Silva. N/ 270
Bairro: Cacimbas
Cidade/CEP:57.304-630
Telefone: (82) 99973-4287
ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a sua
participação no estudo, dirija-se ao:
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas:
Prédio da Reitoria, sala do C.O.C. , Campus A. C. Simões, Cidade Universitária
Telefone: 3214-1041
Arapiraca, de de .
Assinatura ou impressão
datiloscópica d(o,a) voluntári(o,a)
ou responsável legal e rubricar as
demais folhas
Nome e Assinatura do Pesquisador pelo estudo (Rubricar as
demais páginas)