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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
CRISLANE MIRANDA CARVALHO
EXTRATIVISMO DO MOLUSCO Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791)
PRÓXIMO A UMA ÁREA DE CARCINICULTURA NO MUNICÍPIO DE
JAGUARIPE, BAHIA
Salvador
2016
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CRISLANE MIRANDA CARVALHO
EXTRATIVISMO DO MOLUSCO Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791)
PRÓXIMO A UMA ÁREA DE CARCINICULTURA NO MUNICÍPIO DE
JAGUARIPE, BAHIA
Monografia apresentada ao curso de Graduação em
Geografia, Instituto de Geociências, Universidade
Federal da Bahia, como requisito parcial para
obtenção de grau de Bacharel em Geografia.
Orientadora: Profª Drª Gisele Mara Hadlich
Salvador
2016
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EXTRATIVISMO DO MOLUSCO Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791) PRÓXIMO
A UMA ÁREA DE CARCINICULTURA NO MUNICÍPIO DE JAGUARIPE, BAHIA.
por
Crislane Miranda Carvalho
(Licenciada em Geografia pela Universidade Federal da Bahia, 2013, Salvador-Ba)
Orientadora: Profª. Drª Gisele Mara Hadlich
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Submetida em satisfação parcial dos requisitos do grau de
BACHAREL EM GEOGRAFIA
APROVAÇÃO BANCA EXAMINADORA
____________________________ Profª Drª Gisele Mara Hadlich
____________________________ Prof. Dr. Antonio Puentes Torres
____________________________ Profª.Msª. Rosenaide Santos de Jesus
Data da Defesa pública: 27/10/2016
SALVADOR-BAHIA
OUTUBRO/2016
AGRADECIMENTOS
Ao Ser que me amparou ao longo dessa trajetória, estando presente em todos os
momentos da minha vida, especialmente na construção deste trabalho, muito obrigada meu
Deus, por ser tão generoso ao me ajudar a enfrentar os obstáculos e a sempre seguir em frente.
Agradeço infinitamente à minha família, meus pais Carlos e Celeste, meus tios Milton,
Idália e Glória, à minha irmã Viviane e aos meus primos Deivison e Diane que
incansavelmente me ajudaram nos dois campos, sem eles eu não conseguiria. E por todos os
outros que estiveram emanando energias positivas para mim. Muito obrigada por estarem ao
meu lado sempre.
Agradeço ao meu amor, Charles, por toda a paciência, principalmente nos momentos
mais estressantes e de preocupação, por estar ao meu lado me apoiando e ser dono de uma
compreensão tão verdadeira.
Agradeço de todo o meu coração, à minha querida orientadora Profª Dra. Gisele Mara
Hadlich, pela maneira especial com que conduziu minha orientação, sempre atenta ao meu
trabalho, fazendo correções necessárias aos meus erros (principalmente por me ajudar na
desconstrução de alguns preconceitos) e elogiando meus acertos. Muito obrigada por ser um
espelho para mim de determinação, conhecimento e garra; a senhora é uma profissional e uma
pessoa maravilhosa, sem ti nada disso seria possível. Que Deus a ilumine sempre. Assim
como agradeço ao professor José Ucha que esteve presente no campo e nos orientou como
proceder.
Agradeço, de modo especial, a toda a equipe do laboratório NEA/UFBA,
principalmente à Gisele (Gisa, você foi minha luz), Karina, Sarah, Jussi, Isabel e Jorginho;
aos bolsistas de Iniciação Científica, Jade e Gabriel. Muito obrigada por cada orientação no
laboratório e por conduzirem minhas análises como se fossem suas.
À minha amiga Karen que esteve junto comigo em toda trajetória desta pesquisa,
como também na minha vida pessoal. À Mariana por ter me ajudado na construção dos
mapas, muito obrigada. Enfim, a cada ser que construiu junto comigo esse trabalho, agradeço
infinitamente.
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RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo analisar a mariscagem e a distribuição do molusco
bivalve Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791) em áreas de extrativismo sob influência
da carcinicultura, no povoado de Mutá, município de Jaguaripe. A carcinicultura marinha
(cultivo do camarão) tem sido o ramo da aquicultura que mais cresce na Ásia e América
Latina. Esse crescimento acompanha o aumento das preocupações em torno dos possíveis
impactos relacionados à atividade, incluída a reprodução do molusco A. brasiliana e sua
extração. O povoado de Mutá possui área de carcinicultura e muitos de seus habitantes
desenvolvem suas atividades econômicas voltadas para a pesca artesanal e para o extrativismo
do molusco A. brasiliana. Para atingir o objetivo da pesquisa, foram realizadas duas coletas
de moluscos e sedimentos em áreas de mariscagem: uma no inverno junho/2014 (período
chuvoso) e outra no verão janeiro/2015 (período menos chuvoso). Foram analisadas, em áreas
de coleta próximas e distantes ao escoamento dos efluentes da carcinicultura: 1) a biometria
dos moluscos; 2) a presença de nutrientes (N, P, K), de matéria orgânica (M.O.), salinidade,
pH e granulometria nos sedimentos onde os moluscos se desenvolvem. Além disso, foram
realizadas entrevistas com marisqueiras locais para avaliar sua percepção em relação à
atividade de mariscagem e à presença da carcinicultura. Os resultados das análises estatísticas
foram realizados segundo os períodos (inverno e verão), e áreas de coleta (A: mais próxima
dos efluentes de carcinicultura; B: distante dos efluentes). Quanto aos períodos, foram
observadas, para os parâmetros bióticos, maiores densidades populacionais no inverno,
menores indivíduos em altura, não se diferenciando em comprimento e largura (para ambos os
períodos). Há uma relação inversa entre densidade e altura que confirma maior reprodução
dos indivíduos no período chuvoso e maior ocorrência de indivíduos juvenis. Para os
parâmetros abióticos M.O., N e P, não há diferenças significativas entre os períodos (inverno
e verão). Os teores de M.O. são baixos e consequentemente o de N também, evidenciando
correlações positivas entre estes, o K e as frações granulométricas de silte e argila, resultando
em maior concentração de nutrientes N e K (bem como de P, no verão). O pH se apresentou
levemente alcalino e pouco maior no inverno. Já a salinidade não apresentou diferenças entre
verão e inverno. Quanto à análise por áreas de coleta, na área A, para os parâmetros bióticos,
apenas a densidade apresenta diferença significativa, sendo maior na área A. Quanto aos
parâmetros abióticos, os teores de M.O, N-P-K, bem como salinidade, também são
significativamente maiores na área A. Os efluentes da carcinicultura podem estar
enriquecendo o ambiente em P e K. Os valores de N, em geral, são muito baixos devido à sua
solubilidade elevada. Quanto aos resultados obtidos na aplicação dos questionários às
mariscadeiras do povoado, foi possível constatar que a coleta é, sobretudo, de A. brasiliana
(“chumbinho”); o período de maior coleta é o inverno e a mariscagem, em muitos casos,
aparece como uma renda extra, associado a outras atividades.
Palavras-Chave: Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791), extrativismo, sedimento,
Carcinicultura.
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ABSTRACT
The present work had the objective of analyzing the shellfish and the distribution of the
bivalve mollusk Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791) in areas of extractives under the
influence of shrimp farming in the village of Mutá, counties of Jaguaripe. The shrimp farming
has been one of the sectors of aquaculture with the fastest grow in Asia and Latin America.
This growth is accompanied by increased concerns about possible impacts related to the
activity, including the reproduction of A. brasiliana mollusk and its extraction. The village of
Mutá has a shrimp farming area and many of its inhabitants develop their economic activities
focused on artisanal fishing and the extraction of mollusk A. brasiliana. In order to reach the
objective of the research, two collections of mollusks and sediments were carried out in areas
of shellfish: one in winter June / 2014 (rainy season) and another in summer January / 2015
(less rainy season). In the collection areas close to and distant to the effluents of the shrimp
culture were analyzed: 1) the biometry of the mollusks; 2) the presence of nutrients (N, P, K),
organic matter (M.O.), salinity, pH and granulometry in sediments where mollusks develop.
In addition, interviews were conducted with local shellfish farmers to evaluate their
perception of shellfish activity and the presence of shrimp farming. The results of the
statistical analyzes were performed according to the periods (winter and summer), and
collection areas (A: closer to the shrimp effluent, B: far from effluents). Regarding the
periods, higher population densities were observed in the winter, smaller individuals in
height, not differing in length and width (for both periods). There is an inverse relationship
between density and height that confirms greater reproduction of individuals in the rainy
season and greater occurrence of juvenile individuals. For the abiotic parameters M.O., N and
P, there are no significant differences between the periods (winter and summer). The contents
of M.O. Are low and, consequently, N, also showing positive correlations between K and silt
and clay, resulting in a higher concentration of nutrients N and K (as well as P in summer).
The pH was slightly alkaline and slightly higher in the winter. The salinity did not present
differences between summer and winter. As for the analysis by area of collection, in the area
A, for the biotic parameters, only the density presents significant difference, being greater in
area A. As for the abiotic parameters, the contents of MO, NPK, as well as salinity, are also
significantly larger in area A. Effluents from shrimp farming may be enriching the
environment in P and K. N values in general are very low due to their high solubility. As for
the results obtained in the application of the questionnaires to the shellfish farmers of the
village, it was possible to verify that the collection is, mainly, A. brasiliana "chumbinho"; the
period of greatest collection is winter and the marsh, in many cases, appears as an extra
income, associated with other activities.
Keyword: Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791), extractives, sediment, shrimp
aquaculture.
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7
2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 12
3 MOLUSCO, EXTRATIVISMO E A CARCINICULTURA .................................... 13
3.1 A GEOGRAFIA, A PERCEPÇÃO DO AMBIENTE E O ESPAÇO ............................ 13
3.1.1 Percepção ambiental e extrativismo ............................................................................... 16
3.2 A. brasiliana, BIOLOGIA E FATORES ABIÓTICOS ................................................. 18
3.3 ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................................... 21
3.3.1 Características gerais da Baía de Todos os Santos ......................................................... 21
3.3.2 O povoado de Mutá ........................................................................................................ 27
4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 30
4.1 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 30
4.2 PROCEDIMENTO EM CAMPO ................................................................................... 30
4.2.1 Coleta de moluscos e sedimentos ................................................................................... 31
4.2.2 Aplicação de questionários ............................................................................................. 36
4.3 PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIO .................................................................. 38
4.3.1 Moluscos ......................................................................................................................... 38
4.3.2 Sedimentos ..................................................................................................................... 39
5 RESULTADOS ............................................................................................................. 40
5.1 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS .................................................................................. 40
5.1.1 Períodos de coleta: inverno e verão ................................................................................ 40
5.1.2 Áreas de coleta A e B ..................................................................................................... 44
5.2 PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO ................................................................................. 50
5.2.1 A mariscagem e os manguezais ...................................................................................... 52
5.2.2 Coleta do marisco por área ............................................................................................. 56
5.2.3 Relação com o local ........................................................................................................ 57
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60
APÊNDICE 1 .......................................................................................................................... 63
APÊNDICE 2 .......................................................................................................................... 65
APÊNDICE 3 .......................................................................................................................... 68
7
1 INTRODUÇÃO
A Geografia, por tratar do espaço, é tida como ciência complexa, pois se propõe a
investigar a relação homem-ambiente, observada historicamente nesse espaço. Para
Mendonça (2004, p. 23-24) “a geografia é, sem sombra de dúvida, a única ciência que desde
sua formação se propôs o estudo da relação entre os homens e o meio natural do planeta – o
meio ambiente atualmente em voga é propalado na perspectiva que engloba o meio natural e o
social”.
Assim sendo, é possível tocar em um ponto de importância que é objeto de estudo da
Geografia e de outras ciências: o meio ambiente. Segundo a Resolução do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) n° 306, Art.10., Inciso XII (BRASIL, 2002): “Meio
Ambiente é o conjunto de leis, influências e interações de ordem física, química, biológica,
social, cultural e urbanística, que permite, abriga, e rege a vida em todas as suas formas”.
Assim, a Resolução interliga os aspectos humanos (culturais, sociais e econômicos) à natureza
física do meio.
Ainda tratando de meio ambiente, Tricart (1977), no que se refere à ecologia, enfatiza
que “o objetivo consiste no estudo dos seres vivos em suas relações mútuas e com o meio
ambiente” (p.17).
O homem participa dos ecossistemas em que vive. Ele os modifica, e por sua
vez, os ecossistemas reagem determinando algumas adaptações ao homem.
As interações são permanentes e intensas, qualquer que seja o nível de
desenvolvimento técnico da sociedade humana. Essas interações afetam
tanto o homem primitivo, que vive da caça e da pesca, quanto ao homem da
sociedade industrial (TRICART, 1977, p.17).
Devido às grandes transformações que o ambiente passa e ao reconhecimento da
apropriação do homem pelo meio, o termo “meio ambiente” tornou-se tema central de muitas
discussões e encontros internacionais para debater a questão ambiental. Os primeiros acordos
internacionais surgiram no século XX. Para Ribeiro (2001, p. 53) “eles nasceram da tentativa
de conter a ação de colonos que chegavam às terras (colônias britânicas na África) e
destruíam sua base natural”. O primeiro tratado que obteve êxito foi o Tratado da Antártica,
criado na Guerra Fria e decretado em 1° de dezembro de 1959 (entrou em vigor apenas em 23
de julho de 1961), que tratava de sua exploração para fins pacíficos e cooperação de pesquisas
científicas (JESUS, 2008).
Após décadas de discussões relativas a questões ambientais, um marco na legislação
nacional é o novo Código Florestal que legisla sobre a proteção dos ambientes naturais, Lei n.
8
12.727 de 2012 (BRASIL, 2012). Devido à sua complexidade e diversidade biológica, as
zonas costeiras têm importância ambiental reconhecida nesta lei “a zona costeira é patrimônio
nacional nos termos do parágrafo 4 da Constituição Federal, devendo sua ocupação e
exploração dar-se de modo ecologicamente sustentável” (Art. 11, alínea a).
O Brasil possui uma das maiores faixas litorâneas do mundo, destes a Bahia ocupa
cerca de 1.181 Km de litoral, apresentando diversos estuários, baías, cabos, enseadas e
penínsulas com grande potencial turístico e econômico (CELINO; QUEIROZ, 2008). Estes
ecossistemas e ambientes marinhos, como os manguezais e estuários, são de extrema
importância para conservação da biodiversidade marinha. Essa diversidade pode ser usufruída
pelo homem, como ocorre nas práticas extrativistas.
Segundo a Resolução CONAMA n° 303 (BRASIL, 2012), manguezal é:
Ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeito à ação das
marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa,
predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue com
influência flúvio-marinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e
com dispersão descontinua ao longo da costa brasileira, entre os estados do
Amapá e Santa Catarina.
Esse ecossistema presente na extensa faixa litorânea do Brasil é um ecossistema de
transição terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais e que sofrem
influência direta do regime de marés (QUEIROZ et al., 2008), junto aos ambientes de
estuários.
Os estuários são ambientes receptores de descargas fluviais e pressões naturais de água
marinha, verdadeiros depósitos de sedimentos com substrato lamoso ou areno-lamoso como
explica Brito (1997, p. 71):
Estes ambientes ocorrem sempre onde existem descargas de rios atuando
juntamente com as pressões naturais da água do mar. Além disto, estuários
geralmente são ambientes de forte deposição sedimentar de origem terrígena,
construindo um cenário característico, onde o substrato, via de regra, é
lamoso ou areno-lamoso, servindo de suporte, em regiões tropicais, para
fixação de manguezais.
Dentre as variáveis que influenciam na formação desses ambientes, a descarga fluvial,
energia de propagação da maré, a altura da maré e a distribuição das fácies sedimentares são
prioritárias nesse processo, estando uma interligada a outra (LIMA, 2007).
Os estuários existentes na costa brasileira, devido à queda do mar no Holoceno,
apresentam bacias de sedimentação de reduzidas dimensões. Há exceção de algumas baías de
forte controle tectônico, como a BTS (LIMA, 2007), que recebe uma descarga fluvial de seus
principais rios (Subaé, Paraguaçu e Jaguaripe). A circulação na BTS é forçada por marés
9
semidiurnas chegando a atingir altura máxima de até 2,98 m em seu interior (CIRANO e
LESSA, 2007, citados por SANTOS, 2009); são as mesomarés, e o corpo estuarino controla a
propagação da maré e sua velocidade, podendo amortecê-la ou amplificá-la. A convergência
das margens do estuário faz com que a onda seja comprimida sob moderado atrito lateral, com
conservação de energia e aumento do nível de maré (LIMA, 2007). Na baixa-mar, sob
condições de menor energia, os sedimentos podem ser depositados, dependendo da
profundidade, velocidade das correntes e tamanhos dos sedimentos (FERNANDES, 2010),
pode formar os chamados “bancos de areia”.
Esse processo de deposição ocorre nos estuários e nas margens da baía e cria
ambientes de reprodução e habitat (manguezais, bancos de areia) para diversas espécies de
moluscos, entre eles a A. brasiliana (GMELIN, 1791), bivalve marinho lamelibrânquio da
família Veneridae, conhecido pelas comunidades litorâneas por diferentes nomes: chumbinho
(mais utilizado na BTS), berbigão, mija-mija, maçunim, pedrinha, samaguiá, sarro de peito,
simogoiá, vôngole, papa-fumo ( TOBIAS; SILVA, 1957; NARCHI, 1972; BOFFI,1979;
ARRUDA SOARES et al., 1982; RIOS, 1994 citados por ARAUJO, 2004, p. 5). Estes
moluscos possuem um ciclo reprodutivo que pode ser regulado por dois fatores abióticos:
temperatura e salinidade (ARAUJO, 2004). Encontram-se distribuídos por todo o litoral
brasileiro, na região de oscilação das marés em bancos de areia, sendo de fácil acesso ao
homem. Por isso existe um estímulo à sua coleta pelas comunidades extrativistas, sendo que
em muitos casos a prática extrativista (coleta do molusco ou mariscagem) constitui-se na
principal fonte de renda ou de complementação de renda para muitas famílias que vivem
próximo ao litoral. Como afirma Araujo (2004, p. 2):
A coleta de moluscos pode constituir-se também na principal fonte de renda
familiar ou de complementação de renda oriunda de outras atividades
assalariadas. Entretanto a “catação”, por exigir pouco investimento de capital
e compromisso de trabalho, funciona como surgimento de oportunidades.
No entanto, Nishida (2000, citado por ARAÚJO, 2004, p. 2) afirma que o crescimento
da degradação ambiental, a exploração extrativista dos bivalves e a falta de estudos que
subsidiem sua regulamentação podem comprometer o estoque desses moluscos em diversas
regiões do litoral brasileiro.
O povoado de Mutá, localizado no município de Jaguaripe, Estado da Bahia, local
escolhido para realização deste trabalho, localiza-se na parte oeste da BTS, entre os estuários
do rio Paraguaçu e do rio Jaguaripe, este último mais próximo ao Oceano Atlântico, enquanto
o primeiro deságua no interior NW da BTS (figura 1).
10
Figura 1 - Localização do povoado de Mutá, município de Jaguaripe, Bahia
Fonte: adaptado a partir de INEMA (2003).
Nesse povoado há muitas famílias que sobrevivem do extrativismo do A. brasiliana,
ou utilizam-no como complementação de renda. Conforme Moreira (2007, p.13):
A mariscagem é uma atividade que está inserida na pesca artesanal, pois
contempla tanto as capturas com o objetivo comercial associado à obtenção
de alimentos para as famílias dos participantes, como o da pesca com o
objetivo comercial.
A coleta pode ser cotidiana ou sazonal, e as “coletadoras” e/ou “marisqueiras”
possuem uma relação de dependência e subsistência com a prática extrativista do molusco.
No povoado de Mutá encontram-se áreas com a atividade da carcinicultura, próximas
a áreas de coleta de A. brasiliana. Assim, a existência da carcinicultura marinha adjacente a
áreas de mariscagem, e a suposição de que essa atividade possa interferir na produção e
extrativismo do molusco, tornaram-se motivações desta pesquisa que envolve não somente
11
aspectos relacionados ao molusco (suas características biométricas e análise dos sedimentos
onde vivem), mas também o homem, através do levantamento de dados sobre o extrativismo e
percepção das marisqueiras sobre sua atividade de coleta e a presença da carcinicultura
próxima.
12
2 OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho foi analisar a atividade da mariscagem e a distribuição
do molusco bivalve Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791) em áreas de extrativismo
sob influência da carcinicultura, no povoado de Mutá, município de Jaguaripe.
São objetivos específicos:
- avaliar parâmetros biológicos (densidade populacional e a biometria) de A.
brasiliana encontrada na área de estudo;
- analisar parâmetros físicos e químicos (nutrientes, pH, salinidade, matéria orgânica e
granulometria) dos sedimentos em áreas de mariscagem de A. brasiliana;
- relacionar parâmetros biológicos do molusco às características dos sedimentos;
- caracterizar a mariscagem enquanto atividade econômica;
- verificar a percepção das marisqueiras quanto à sua atividade de coleta de A.
brasiliana e à proximidade da carcinicultura;
- analisar se há influência da carcinicultura na ocorrência e características de A.
brasiliana.
13
3 MOLUSCO, EXTRATIVISMO E A CARCINICULTURA
Os propósitos dessa pesquisa dizem respeito às características quantitativas e
biométricas de A. brasiliana, às condições abióticas nas áreas de coleta e à percepção das
marisqueiras quanto à mariscagem e ao ambiente de extrativismo do molusco, bem como à
sua relação de proximidade e possível influência a atividade da carcinicultura marinha. Logo,
neste capítulo serão expostos conteúdos referentes a alguns desses aspectos, bem como será
feita uma caracterização da BTS visando fornecer o contexto geográfico da pesquisa.
3.1 A GEOGRAFIA, A PERCEPÇÃO DO AMBIENTE E O ESPAÇO
O homem não existe isoladamente na natureza; ele se relaciona com seus diferentes
ecossistemas e, por conseguinte com os demais seres que o habitam. É um ser dependente da
natureza, e suas ações muitas vezes trazem consequências negativas que afetam tanto os
ciclos naturais, quanto a si próprio. Essa interligação homem-natureza resulta na produção do
espaço, estudo da Geografia, que pode incluir também a abordagem perceptiva.
A Geografia, desde a década de 1970, vem intensificando seus estudos através das
abordagens perceptivas. Para Oliveira e Machado (2004), alguns trabalhos se fundamentaram
na teoria de Piaget, e outros na teoria de Skinner, e outros ainda, na Gestalt. O estudo da
percepção ou atividade perceptiva surge com a psicologia. Porém, ela repercute na Geografia
quando esta passa a ter o espaço como objeto, e por sua vez insere o homem como principal
agente modificador do meio ambiente. Assim, a percepção integra tanto os estudos
investigativos quanto as visões humanistas pertinente às mentes humanas.
Segundo Oliveira e Machado (2004, p. 131):
A percepção é um mecanismo de defesa do EU (self) contra a insegurança e
ansiedade. A percepção de si mesma, do EU e do mundo não é um evento
isolado nem isolável da vida cotidiana. Assim percebem-se não as formas,
mas os objetos que tem significado. De inúmeros e múltipolos objetos,
selecionam-se, separam-se algum ou alguns dos que mais chamam atenção,
isto é, os que têm significado para nós, para atender as nossas necessidades e
interesses.
De acordo com Tuan (1980, p.4) “muito do que percebemos tem valor para nós, para a
sobrevivência biológica, e para propiciar algumas satisfações que estão enraizados na
cultura”. A percepção é um estímulo-resposta aos sentidos, onde os fenômenos externos são
14
registrados claramente, sob a ótica do visível e do perceptível, destacando a importância da
percepção para o homem.
A percepção é construída pelos sistemas sensoriais (auditivo, visual, olfativo e tátil-
cinestésico) e não sensoriais (memória, imagem mental, cultura, personalidade, experiência,
transmissão da informação, orientação geográfica e leitura), sendo que para a percepção
ambiental o mais interessante é o sistema sensorial da visão. Vurpillot (1974, citado por
OLIVEIRA, 1996, p. 206) defende que:
Todos os seres humanos vivem mergulhados em um meio ambiente no qual
se produzem continuamente transformações, e, por intermédio de seus
órgãos sensoriais, receptam as informações provenientes do mesmo. Os seres
humanos tomam consciência do mundo físico mediante o registro das
informações recebidas; esta consciência pode se manifestar: de um modo
prático, orientando os deslocamentos do ser humano, sendo, pois necessária
a sua sobrevivência, e de um modo representativo constituindo um modelo
do meio ambiente.
A autora em questão destaca que todos os seres humanos dispõem de órgãos sensoriais
que os possibilita entrar em contato com o mundo físico; ou seja, o espaço de percepção de
cada um depende das características do mundo, sendo a visão o órgão sensorial mais
importante no que tange a percepção ambiental. Conforme Santos (1988, p.22),
tudo aquilo que nós vimos é paisagem, o que nossa visão alcança é
paisagem. A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega
aos sentidos. A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão.
Os laços afetivos que o homem constrói com o meio ambiente diferem em intensidade,
sutileza e modo de expressão. Segundo Tuan (1980, p. 107):
A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente estética: em seguida pode
variar do efêmero prazer que se tem de uma vista. Até a sensação de beleza,
igualmente fugaz, mas muito mais intensa que é subitamente revelada. A
reposta pode ser tátil: o deleite ao sentir o ar, a água, terra. Mas permanentes
e mais difíceis de expressar, são os sentimentos que temos para com o lugar,
pode ser o lar, o lócus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida.
O lugar entendido apenas enquanto apreciação estética pode passar despercebido, ou
ainda ser utilizado para fins econômicos, de contatos superficiais, que não criam laços
afetivos entre o homem e a natureza. Ainda segundo Tuan (1980, p.110): “tais contatos
superficiais com a natureza, certamente pouco tem de autênticos. O turismo tem uma utilidade
social e beneficia e economia, porém não une o homem a natureza”.
Outro ponto que merece destaque é a afeição e a familiaridade. A familiaridade pode
causar repúdio ou afeição pelo lugar. Todavia, uma pessoa pode se afeiçoar a um lugar, pela
15
familiaridade construída ao longo do tempo. “Assim, a consciência do passado é um elemento
importante no amor pelo lugar” (TUAN, 1980, p. 114). Os homens criam afeiçoes pelos
lugares, pois encontram nestes refúgios para sua sobrevivência. A praia, os vales, as ilhas e
reentrâncias são exemplos de ambientes que oferecem condições para a fixação e
sobrevivência humana. Estes espaços possibilitaram a fixação do homem e posterior
desenvolvimento de suas relações sociais. Para Santos (1988, p. 25):
O espaço seria um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre
estes objetos: não entre estes especificamente, mas para os quais eles servem
de intermediários. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. O
espaço é resultante da ação dos homens sobre o próprio espaço,
intermediados pelos objetos, naturais e artificiais.
Logo, o espaço, segundo Santos (2006, p.42), “é um misto, um hibrido, um composto
de formas-conteúdo”... “é o resultado da soma e da síntese, sempre refeita, da paisagem com a
sociedade através da espacialidade” (SANTOS, 1988, p. 26). Assim, a paisagem seria aquilo
que tem permanência e o espaço seria algo pertencente ao momento. O espaço é então
considerado:
Um conjunto indissociável de que participam de um lado certo arranjo de
objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que
preenche e os anima, seja a sociedade em movimento. O conteúdo (da
sociedade) não é independente, da forma (os objetos geográficos), e cada
forma encerra uma fração do conteúdo. O espaço, por conseguinte é isto: um
conjunto de formas contendo cada qual frações da sociedade em movimento.
(SANTOS, 1988, p.10).
A formação do espaço se dá pelos objetos geográficos que compõe a sociedade sejam
eles naturais e artificiais afinal: “a essência do espaço é social” (SANTOS, 2012, p.12). O
homem utiliza os elementos deste espaço como objetos e tende a modificá-los e reorganizá-
los segundo os moldes do sistema produtivo vigente, onde a força de trabalho surge como
fomentador desse sistema. Estes “modificam o meio ecológico” (p. 18), adaptando-o às
necessidades emergentes da produção; “o meio ecológico já é meio modificado e cada vez
mais é meio técnico” (p.19). O meio de trabalho construído pelo homem modifica esse meio
natural e recria um novo meio a partir deste já existente, “a natureza primeira se contrapõe a
natureza segunda” (p.19). Quando o homem se transforma em homem social, a natureza
primária passa a ser secundária: portanto, quando a natureza secundária passa a ser o meio de
trabalho do ser humano, através da ciência e da técnica, torna-se a “historização da
tecnologia” (p.19).
16
Os elementos do espaço são considerados como variáveis e estão submetidos às
variações qualitativas e quantitativas, logo variam e mudam de valor de acordo com a história.
Assim, “cada elemento do espaço tem um valor diferente segundo o lugar em que se
encontra” (SANTOS, 2012, p.21). As relações construídas nesse espaço, onde cada variável
constitui um elemento, são partes que integra o todo, “pode-se dizer que eles formam um
verdadeiro sistema” (SANTOS, 2012, p.26). Tal sistema é comandado pelo modo de
produção dominante nas suas manifestações à escala do espaço em questão (p.26).
Ainda quanto ao estudo da percepção na Geografia, ao recordar que a “dimensão da
paisagem é a dimensão da percepção” (SANTOS, 1988, p.22), o geógrafo, conforme Santos
(1988, p. 22) tem a função de ultrapassar a paisagem como aspecto até chegar ao seu
significado, e que a percepção não é o conhecimento, uma vez que, o mesmo é validado pela
interpretação.
Dessa forma o estudo da percepção na Geografia é muito importante quando se discute
o ambiente, pois os eventos não acontecem isoladamente, resultam da ação humana e, por
conseguinte, das relações sociais construídas no espaço.
3.1.1 PERCEPÇÃO AMBIENTAL E EXTRATIVISMO
O ato de perceber é construir uma consciência despertada por meio dos sentidos.
Quando um objeto percebido é fruto da interação entre o indivíduo e o seu meio, denomina-se
percepção ambiental. Para Tuan (1980, p. 12) “Um ser humano percebe o mundo
simultaneamente através de todos os seus sentidos”; assim, ele tende a percebê-lo de uma
forma individual ou coletivamente. Conforme Oliveira e Machado (2004, p.134 a 135):
Em um primeiro momento a percepção é individual e seletiva, sujeita aos
seus valores, suas experiências prévias e suas memórias. Ao passo que na
etapa seguinte, o mapeamento está submetido aos filtros culturais, sociais e,
ainda, individuais.
De acordo com as autoras, a percepção se constrói no coletivo somente após o homem
perceber individualmente os objetos do meio, interagir com estes e assim definir as suas
interações com o coletivo ou grupo de pessoas em um determinado ambiente. Segundo
(FILHO; FERNANDES 2010, p.47 citados por SANTANA, 2014, p.150 a151):
As características de um grupo de pessoas pertencentes a um mesmo meio
social concedem ao indivíduo, membro deste grupo, uma identidade cultural,
17
algo que o torne parte, ou melhor, par, igual. Esta identidade cultural se
mostra de diferentes formas dentre elas através de símbolos que representam
idéias em comum.
De acordo com Tuan (1980), um grupo social e a experiência que este estabelece com
o meio físico são resultados de uma herança cultural, biológica e das formas de trabalho
desenvolvidas em comunidade. Assim, cada comunidade possuiria características singulares,
e a percepção do ambiente local seria do mesmo modo diferenciada. O estudo da percepção é
um caminho para auxiliar na preservação do meio ambiente, que em muitos casos constitui-se
em meio de trabalho para comunidades extrativistas, onde a base do seu sustento está na pesca
artesanal, como a mariscagem. Para Santana (2014, p.151):
O estudo das percepções de marisqueiras sobre seu ambiente local podem ser
utilizados de forma a identificar as necessidades de melhorias nas condições
de trabalho e na busca para minimizar os efeitos negativos sobre o ambiente
entre outros problemas que possam existir na comunidade pesquisada. A
partir dos dados encontrados podem-se desenvolver ações que beneficiem o
grupo em questão.
“Ao excluirmos essa população que vive da exploração destes recursos dos processos
que envolvem garantir a conservação da biodiversidade existente corremos o risco de criar
uma fórmula ineficiente e danosa” (PASA, 2004, citado por Moreira, 2005, p.45). Essas
informações sobre o meio ambiente, seus recursos e como lidar com ele, devem ser, a priori,
um processo de herança cultural. “A existência e a continuidade do conhecimento local são
fundamentais para conservação da biodiversidade nos ambientes litorâneos” (MOREIRA,
2005, p. 44). É importante que as comunidades extrativistas tenham a percepção de que uma
fonte natural pode exaurir se não devidamente preservada.
A prática da mariscagem, muito difundida pelas comunidades extrativistas do entorno
da BTS constitui-se um exemplo empírico de uso contínuo, muitas vezes sem estímulo à
preservação. Segundo Moreira (2005, p. 13):
A mariscagem é uma atividade extrativista inserida na pesca artesanal, pois
contempla tanto as capturas com o objetivo comercial associado à obtenção
de alimento para as famílias dos participantes como o da pesca com objetivo
comercial.
Diegues (1983 citado por MOREIRA, 2005) complementa ao afirmar que pesca
artesanal, ou de pequena escala, integra um processo de trabalho baseado na unidade familiar
ou grupo, geralmente de vizinhos, porém todos são detentores dos seus meios de produção.
No extrativismo ou mariscagem, a coleta de moluscos, como A. brasiliana, é feita por unidade
18
ou grupo, em suma representado por mulheres, que recebem a denominação de
“marisqueiras” ou ainda “mariscadeiras”. De acordo com Pedroza-Junior (2002, citado por
MOREIRA, 2005, p.14):
No elo principal da cadeia reprodutiva de moluscos, está o extrativismo de
mariscos onde a coleta é feita geralmente por mulheres chamadas
marisqueiras que extraem diferentes moluscos dos manguezais, trabalham
em grupos, usam canoas para se deslocar, utensílios rudimentares para
extrair os moluscos dos bancos de areia, utilizam mão de obra familiar e
exploram ambientes ecológicos localizados dentro dos estuários.
A mariscagem desses bivalves ainda é a principal fonte de subsistência das famílias
que sobrevivem da pesca artesanal. Seja para fins alimentícios ou comerciais, assim o marisco
chega a representa o sustento do coletivo familiar.
3.2 A. brasiliana, BIOLOGIA E FATORES ABIÓTICOS
O A. brasiliana molusco em estudo é uma espécie de bivalve lamelibrânquio da
família Veneridae (figura 2). Segundo Rios (1994 citado por ARAUJO, 2004, p. 5) “a
distribuição geográfica desta espécie estende-se das Antilhas até o Uruguai e Índias
Ocidentais”. Habitam baías e enseadas locais com água calma, sem arrebentação. Esses
bivalves habitam as zonas entre marés, em substratos arenosos e areno-lodosos,
preferencialmente os bancos de areais e se enterram a uma pequena profundidade (5 cm), por
isso são facilmente coletáveis.
Essa espécie de bivalve é dióica, não apresenta características morfológicas externas
(conchas) ou internas (coloração) aparentes, a característica morfológica baseia-se
fundamentalmente na relação entre as três medidas lineares (comprimento, altura e largura),
(BERGONCI et al., 2008 citado por DOURADO, 2013) quanto ao dimorfismo sexual, sendo
necessária a observação microscópica dos gametas ou estudos histológicos para definição do
sexo dos indivíduos (GROTTA et al., 1940 citados por CARDOSO, 2011). São caracterizados
por apresentar grande resistência a ambientes euritérmicos e euroalinos, sobrevivendo até 240
horas em condições anôxicas e temperatura limite de até 42°C (diversos autores citados por
ARAUJO, 2004).
19
Figura 2 - Fotografia de Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791)
Foto: A autora.
No Brasil, os primeiros estudos sobre a reprodução dos bivalves marinhos ocorreu
somente na década de 60. As características do ciclo reprodutivo do A. brasiliana foram
estudadas por vários autores em diferentes estados brasileiros. Nas regiões litorâneas do
estado de São Paulo (NARSHI, 1986), na Paraíba (GROTTA, 1979), na Bahia (PESO, 1980),
no Paraná (BOEHS, 2000) em Santa Catarina (ARAÚJO, 2001; AVEIRO, 2007), no Ceará
(BARREIRA; ARAÚJO, 2005) e em Pernambuco (LAVANDER, 2009, citado por
CARDOSO, 2011).
Narchi (1976) e Boehs (2000), em seus estudos nos respectivos litorais de São Paulo e
Paraná, relataram que o A. brasiliana apresentou um ciclo contínuo de reprodução, com
gametogênese, dos indivíduos (desova) em dois períodos do ano (primavera e outono), sendo
o inverno um período de repouso parcial da reprodução com redução na desova.
Em Santa Catarina, Araujo (2001) observou uma semelhança no ciclo reprodutivo,
gametogênese, com desova na primavera, verão, outono e repouso parcial no inverno.
Também levou em consideração a biometria ao detectar que a diferenciação sexual tem início
quando os indivíduos alcançarem os 7 mm e a maturação quando estes alcançarem os 15 mm
de largura. Da mesma forma, Aveiro (2007) constatou a gametogênese no outono, a liberação
parcial e total dos gametas na primavera e apenas fêmeas em repouso parcial.
20
Em outras regiões do Brasil a reprodução do A. brasilana pode acontecer durante todo
o ano, como constatado na Paraíba, próximo à linha do Equador (NARCHI, 1976; GROTTA,
1979; LUNETTA, 1980, 1982) devido às características favoráveis a essa reprodução.
As características abióticas (temperatura, salinidade, pluviosidade, granulometria etc.)
são apontadas por alguns autores como determinantes para o desenvolvimento do A.
brasiliana. Segundo Orton (1920, citado por ARAUJO, 2004, p.3) “alguns animais desovam
quando a temperatura excede um nível crítico característico da espécie, enquanto outros o
fazem somente a uma mudança particular na temperatura ambiente”. Araujo e Barreiras
(2005, citados por DOURADO, 2013), observaram que houve uma diminuição da salinidade
com o aumento da pluviosidade, ocasionando um crescimento no percentual de indivíduos
machos. Carneiro (1994 citados por DOURADO, 2013), ao observar as densidades
populacionais na praia de Barra/Grossos, RN, constatou que as maiores densidades
populacionais da espécie ocorreram em períodos chuvosos especificamente nos meses de
menor salinidade. Na Bahia de Paranaguá, Paraná, Boehs et al. (2008, citados por
BARBOSA, 2015), observou que durante o verão houve redução na densidade do A.
brasiliana e relacionou-a ao aumento nas taxas pluviométricas nessa época do ano na região.
Rodrigues (2009, citados por DOURADO, 2013) constatou nas praias de Barra e
Pernambuquinho, RN, que a diminuição em valores médios de abundância do bivalve
provavelmente estaria relacionada ao aporte de sedimento e a diminuição da salinidade na
região estuarina, possivelmente causando a mortalidade dos moluscos. As chuvas, além de
ocasionarem reduções bruscas na salinidade (causando choques osmóticos), podem causar
ressuspensão de material do fundo, com consequente aumento da carga de sedimentos em
suspensão, condição que parece inadequada para esses moluscos (BOEHS et al.2008, citados
por DOURADO, 2013).
Um estudo sobre a distribuição do molusco nas praias de Enseada, em Caraguatatuba,
Araça e barra Velha no canal de São Sebastião/SP, observou-se uma ampla distribuição: o
molusco alcançou as maiores densidades populacionais em locais com sedimentos ricos em
matéria orgânica e carbonato de cálcio (ARRUDA et al., 2003, citados por DOURADO,
2013). Outro registro de abundância na variação do A. brasiliana foi na praia Ajuruteua, no
estado do Pará, onde foram encontrados espécimes em sedimentos argilo-arenosos, sendo que
as maiores densidades foram constatadas entre os meses de agosto a novembro e as menores
entre dezembro a julho (BEASLEY et al., 2005, citados por DOURADO, 2013). Já no estudo
biológico na praia de Mangue Seco, litoral norte de Pernambuco, as amostras dos sedimentos
21
indicaram a predominância de areia grossa (69%), seguida de areia fina (27,24%)
(LAVANDER et al., 2011, citados por DOURADO, 2013).
3.3 ÁREA DE ESTUDO
O povoado de Mutá, área de estudo desta pesquisa, está inserido na BTS, por isso faz
parte de suas dinâmicas naturais que expõem áreas arenosas contíguas a praias nas marés
baixas. Neste item será feita uma caracterização geral da BTS, explorando seus aspectos
físicos e socioeconômicos, para em seguida ampliar a escala de abordagem e destacar os
aspectos pertinentes ao povoado de Mutá.
3.3.1 Características gerais da Baía de Todos os Santos
A BTS localiza-se na porção central do litoral da Bahia, entre as coordenadas
12°39’40”S – 13°S de latitude e 38°30’00”W – 38°43”30’W de longitude (figura 3). É a
segunda maior baía do Brasil e ocupa uma área de aproximadamente 1200 km²; estende-se
por 462 km de costa (QUEIROZ et al., 2008).
O entorno da BTS é composto por 15 municípios: Salvador, Simões Filho, Candeias,
São Francisco do Conde, Madre de Deus, Santo Amaro, Saubara, Cachoeira, São Félix,
Maragojipe, Salinas das Margaridas, Nazaré, Jaguaripe, Vera Cruz, Itaparica. “Pode estar
dividida em duas subáreas: a vertente leste, da ponta de Santo Antônio da Barra até a margem
leste do rio Subaé, e a margem oeste, deste rio até a Ponta dos Garcez (JESUS, 2008, p. 21).
Sua formação remonta a atividade tectônica que separou as duas costas dos
continentes: sul Americano e Africano. “Geologicamente, a origem da BTS está relacionada à
quebra do continente Gondwana, no Jurássico/Cretáceo. É constituída por um sistema de
falhas e fraturas que delimitam uma depressão na superfície (LEÃO; DOMINGUES, 2000,
citado por CELINO et al., 2008, p.42). “Formou-se uma depressão estreita e alongada entre
Pernambuco e Rio de Janeiro: a Depressão Afro-Brasileira” (LEITE 1997, p. 17), limitada ao
sul pela falha de Salvador a oeste pela falha de Maragogipe. Nessa depressão formaram-se
rios e lagos, dentre estes “o maior lago ocupava a parte meridional da Depressão onde
atualmente está situada parte da BTS” (JESUS, 2008, p.22).
22
Figura 3 – Localização da Baía de Todos os Santos (BTS) no Estado da Bahia, Brasil
Fonte: Hatje et al. (2008) adaptado de Cirano e Lessa (2007).
Os sedimentos transportados pelos rios foram se acumulando até originar os deltas,
campos e dunas. Ao longo dos anos, a velocidade de rebaixamento da depressão foi ficando
mais lenta a ponto de assorear o lago por completo. Segundo Leite (1997, p.18) “Há cerca de
110 M.A. atrás a evolução desse rift cessou”. Os processos erosivos dominaram a área até
formar um sistema fluvial trançado, diferente dos sistemas anteriores, responsáveis pela
deposição de novos sedimentos. Há cerca de 90 milhões de anos houve um rebaixamento
nessa área seguido de soerguimento, sendo que os sedimentos anteriormente depositados
foram novamente erodidos.
Provavelmente entre 12 milhões de anos e 120.000 anos ocorreram rápidas invasões
marinhas no Mioceno, com soerguimento regional resultando em generalizados processos de
erosão/deposição, seguido de um aplainamento na superfície e rebaixamento da zona costeira
Mutá
23
que sofreu inclinação para o mar. Nessa área houve acumulação dos sedimentos no final do
Plioceno, com posterior desenvolvimento de sistemas fluviais perpendiculares ao oceano.
Há 120.000 anos, com o período interglacial, o mar sofreu elevação de 8 metros acima
do nível atual, e a ilha de Itaparica passou a integrar o grupo ilhas. Já há 17.000 anos um novo
período glacial originou uma ação contrária à anterior, ou seja, rebaixou o nível do mar em
cerca de 100 metros. Até chegar ao atual nível do mar (0 metros), houveram outras oscilações
menores. Conforme descreve Leite (1997, p. 21) “há a suposição de que a invasão marinha da
área hoje ocupada pela BTS deve ter iniciado há uns 10.000 anos atrás”.
Deste modo, a BTS é, em sua maioria, composta por materiais do Cretáceo e apresenta
diferentes formações e grupos geológicos (figura 4).
Figura 4 – Geologia da Baía de Todos os Santos
Fonte: Modificado de Lessa et al. (2000) citados por Queiroz e Lino (2008).
Sua geomorfologia é constituída pelos domínios das Bacias e Coberturas Sedimentares
do Recôncavo; tem como unidade a baixada litorânea (BRASIL, 1981) Segundo Queiroz et al.
(2008, p. 43) “Pode ser considerada uma baía de maré (uma categoria especial de estuário
formada por processos tectônicos de larga escala, apresentando salinidade que varia de
Mutá
Povoado
24
oceânica a salobra) ”. Sua morfologia é controla por sistema de falhas associadas à bacia
sedimentar do Recôncavo (p.43).
A BTS está localizada em um graben encaixado em rochas do embasamento pré-
Cambriano, preenchido por sedimentos Jurássicos e Cretáceos. As rochas que afloram ao
redor da baía são sedimentares, “sendo que ao norte, nas ilhas e no município de São
Francisco do Conde, afloram rochas do grupo Santo Amaro e Ilhas” (QUEIROZ et al, 2008,
p.42). Essa área é constituída pelos Domínios dos Depósitos Sedimentares, as planícies
litorâneas (marinhas e fluviomarinhas), Formação Marizal e no Holoceno os Depósitos
Aluvionares (Quaternário). São ambientes que propiciam o desenvolvimento de manguezais
às margens das baías. Esse processo de deposição (característico da oscilação do nível das
marés no Cretáceo) originou sedimentos diferenciados: ao norte há um predomínio dos
sedimentos mais argilosos, já ao sul há presença de areias médias a grossas.
O clima do entorno da BTS é caracterizado como quente e úmido, sem estação seca,
com chuvas predominantes no inverno, precipitação média anual de 1900 mm e precipitações
maiores entre abril e agosto (GUEDES; SANTOS, 1997 citado por QUEIROZ et al, 2008,
p.42). Com base nos dados da Climate-Date (município de Salinas das Margaridas, mais
próxima a Mutá), no interior da BTS a temperatura média anual chega a 25°C, com amplitude
térmica de 5,5° e as médias mínima e máxima de, respectivamente, 22,8°C e 28°C. Os índices
pluviométricos variam de acordo com os períodos designados “inverno” (considerado de abril
a agosto) e “verão” (de setembro a março), sendo maiores no inverno (média em torno de
1110 mm) do que no verão (média de cerca de 640 mm) (figura 5).
O clima proporcionou, ao ambiente da BTS, o desenvolvimento de uma vegetação
Mata Atlântica – Floresta Ombrófila densa e seus ecossistemas, entre os quais se destaca o
ecossistema de manguezal, que recobre 30% da extensão costeira (QUEIROZ et al., 2008).
Os principais rios afluentes da BTS, Paraguaçu, Jaguaripe e Subaé, deságuam uma
importante quantidade de água doce na Baía, “recebe em média 116 m3/s, sendo o rio
Paraguaçu responsável por aproximadamente 93 m3/s” (LESSA et al., 2009, citados por
SANTOS, 2009, p. 13). A circulação de águas na BTS, “é forçada por marés semidiurmas e
chegam a atingir a altura máxima de 2,94 m no interior da Bahia” (CIRANO; LESSA, 2007,
citado por SANTOS, 2009).
25
Figura 5 – Modelo climatológico das médias mensais de temperatura e precipitação de Salinas da Margarida
Fonte: Climate-Data.org (2016).
A ocupação humana na BTS pelos portugueses deu-se após sucessivos confrontos com
os povos Tupinambás. Em 1501 os portugueses cruzavam pela primeira vez a entrada da baía
e já em 1590, o primeiro complexo urbano (a cidade do Salvador) em pleno desenvolvimento
começou a modificar o entorno da BTS. Neste período a índia Kirimurê, “grande mar
interior” dos Tupinambás, foi transformada e batizada na portuguesa Baía de Todos os Santos
(ARAUJO, 2010, citado por HATJE et al., 2009, p. 19). A partir de então se iniciou o
processo de exploração, com resistência indígena, e devastação da Mata Atlântica que
recobria todo o entorno da BTS para a implantação da monocultura da cana-de-açúcar e da
pecuária.
A primeira atividade econômica do Brasil, no século XV, a cana-de-açúcar, teve
importante destaque econômico no período da colonização, porém no século XIX entrou em
declínio e abriu espaço para a produção e exploração do petróleo no Recôncavo. Segundo
Hatje et al. (2009, p.20 e 21):
A descoberta e a exploração do petróleo transformaram definitivamente a
identidade da região e impuseram uma nova organização econômica e social,
que terminou por conduzir o Governo da Bahia, nas décadas de 60 e 70, à
opção pelo desenvolvimento petroquímico como modelo de crescimento
econômico do estado. Posteriormente, a criação da superintendência do
Nordeste (SUDENE) e uma série de incentivos fiscais permitiram o
26
desenvolvimento e a expansão industrial, com a consolidação do complexo
petroquímico e do centro industrial de Aratu.
Como resultado de todo esse processo, o entorno da BTS compreende hoje, uma
extensa zona industrial que abriga o maior pólo petroquímico do hemisfério Sul (HATJE,
2009).
As atividades petrolíferas tiveram início na BTS em 1939 com a descoberta do
petróleo no subúrbio ferroviário de Salvador. Já na década de 50 foi instalada, em São
Francisco do Conde, a primeira refinaria Nacional de Petróleo S.A., denominada Refinaria
Landulfo Alves, abrindo espaço para as indústrias especializadas em processamento e
escoamento de produtos. Atualmente estão instalados quatro complexos industriais em toda a
BTS: Centro Industrial de Aratu; um complexo Petrolífero (Refinaria Landulfo Alves de
Mataripe, TRANSPETRO, Fábrica de Asfalto em Madre de Deus); o Pólo Petroquímico de
Camaçari; o Centro Industrial de Subaé Argolo (2001, citado por DOURADO, 2011, p.19).
Contudo, essas transformações modificaram a dinâmica social das populações que
habitam as áreas da BTS, como afirma Jesus (2008, p.26 citada por OLIVEIRA, 1997): “uma
das transformações ocorridas com a implantação da Petrobras foi a diminuição no número de
pescadores e pescadoras e mariscadores, devido à possibilidade de oferta de emprego”.
Apesar da migração dessas comunidades locais a outras atividades econômicas, a
pesca artesanal ainda é a principal fonte de renda de populações litorâneas em várias
localidades no litoral da BTS. “A pesca na baía é fundamentalmente artesanal e praticada,
principalmente, por comunidades de baixa renda” (BARBOSA, 2013, p. 16). Geralmente os
homens praticam a pesca de peixes, polvos e lagostas, enquanto as mulheres exercem a
captura de mariscos como crustáceos e bivalves Soares et al. (2009, citados por BARBOSA,
2013, p. 17).
Paralelo à pesca artesanal, outra atividade muito difundida na BTS é a carcinicultura
(cultivo de camarão marinho em cativeiro), principal ramo da aquicultura que mais cresce no
mundo, com destaque para Ásia, África e América Latina. No Brasil, a atividade da
carcinicultura apresentou nos últimos 10 anos um crescimento equivalente a 77,44% (ABCC,
2015), sendo o Nordeste responsável por grande parte dessa produção, pois apresenta
condições climáticas favoráveis à produção de camarão.
Nos entornos da BTS, a carcinicultura é uma atividade econômica desenvolvida em
alguns municípios, com destaque para Salinas das Margaridas, Jaguaripe e Saubara. Porém,
esse tipo de atividade também é vista como impactante aos ecossistemas locais e às
27
comunidades que se subsistem da pesca artesanal. Dourado (2013, p. 11), citando outros
autores, afirma que “Os principais impactos da carcinicultura estão relacionados com a
construção de viveiros e o lançamento de efluentes em estuários”. Notadamente, estuários são
ambientes de intensa mariscagem principalmente de moluscos, bivalves que filtram
facilmente qualquer substância química em seu ambiente de reprodução, podendo, assim,
haver impactos da atividade sobre a reprodução e crescimento dos moluscos, e
consequentemente sobre a disponibilidade de A. brasiliana para a mariscagem.
3.3.2 O povoado de Mutá
O local escolhido para execução deste trabalho encontra-se no município de Jaguaripe,
no povoado de Mutá. Localiza-se a sudoeste da BTS, ao sul do município de Salinas das
Margarida, com coordenadas 12°59'39.39"S e 38°46'40.41"W, limitando-se ao Norte com seu
distrito sede (Pirajuía) e ao sul com o povoado de Cações (figura. 6).
O município de Jaguaripe, segundo sua divisão administrativa, é constituído por cinco
distritos: Jaguaripe, Barreira de Jacuruna, Capela da Palma, Estiva e Pirajuía. O processo
histórico de formação de seus Distritos foi determinado por inúmeros decretos até chegar à
sua configuração atual. Assim, pelo Decreto Estadual n° 11089 de 30 de novembro de 1938, o
Mutá, antes considerado distrito, foi rebaixado a anexo do Distrito de Pirajuía (IBGE, 2016), e
entre as definições de tipos de localidades apresentadas pelo IBGE, o Mutá enquadra-se como
povoado, caracterizado como uma aglomeração rural que possui no mínimo um
estabelecimento de bens e consumos, dois de equipamentos, uma escola de ensino
fundamental, um posto de saúde e um templo religioso de qualquer credo (IBGE, 2016).
Mutá possui um clima tropical úmido, sem estação seca, e temperatura média de
24,5°C. Sua formação geológica integra a Bacia Sedimentar do Recôncavo no período
Cretáceo, e as unidades sedimentares do Holoceno, ambas associadas aos depósitos
sedimentares (aluvionares) e costeiros. São depósitos de areias antigas do Quaternário, com
formação de bancos e faixas de areias (figura 7 a e b) onde se desenvolve moluscos, como o
A. brasiliana.
28
Figura 6 – Localização do povoado de Mutá, entre Cações e Pirajuía, município de Jaguaripe, Bahia. Nota-se
que o povoado situa-se próximo a Salinas da Margarida que é um município predominantemente costeiro
Fonte: Google Earth (2016), adaptado.
Figura 7 – Faixas e bancos de areia nas áreas de coleta, onde o A.brasiliana se desenvolve
(a) (b)
Foto: Gisele Mara Hadlich.
O relevo é composto pelas planícies marinhas, com contribuição de sedimentos
fluviais de pequenos rios próximos, ou até mesmo do rio Jaguaripe. A vegetação característica
é a Mata Atlântica – floresta Ombrófila densa, com seus ecossistemas associados, como
29
manguezal. Os tipos de solos são os Neossolos Quartzarênicos e Argissolos vermelhos, além
dos solos de manguezal que possuem características peculiares: alta salinidade, pouca
oxigenação e muita matéria orgânica em decomposição caracterizando um odor forte, Bahia
(2012, citado por DOURADO, 2013).
No povoado as atividades econômicas estão centradas na pesca artesanal, no trabalho
informal e no pequeno comércio local. Existe também uma atividade econômica mais
estruturada que consiste na carcinicultura, porém essa atividade não integra a economia local,
uma vez que, a produção é voltada a venda para centros urbanos maiores, como Salvador,
gerando emprego temporário somente no período da despesca do camarão, onde é necessário
trabalho manual para esvaziar os tanques e abastecer os caminhões que transportam o
produto.
30
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido após a construção de um fundamento teórico sobre o
estudo da percepção ambiental na Geografia, sobre características abióticas e bióticas do meio
e a prática extrativista do molusco A. brasiliana incluindo informações sobre a carcinicultura.
Em seguida foi feita uma análise da área através de imagens de satélite (Google Earth)
para identificar as áreas de coleta do molusco. A divisão das áreas, em A e B, seguiu uma
lógica de proximidade ao canal de efluentes dos tanques de carnicultura. Nessas áreas foram
realizadas coletas de sedimentos e moluscos em diversos pontos. Após a coleta, o material
(sedimento e moluscos) foram encaminhados ao laboratório para a realização das análises
físico-químicas.
A investigação social junto às marisqueiras ocorreu através da aplicação de 22
questionários fechados, a um grupo de marisqueiras do local, onde se buscou revelar aspectos
relativos aos níveis de percepção dos respondentes.
Assim, a construção deste trabalho molda-se pela estrutura da percepção das
marisqueiras locais, características bióticas do A. brasiliana, características físico-químicas
dos sedimentos e da prática extrativista em ambientes próximos à atividade da carcinicultura.
4.1 REVISÃO DE LITERATURA
A revisão de literatura consistiu em levantamentos bibliográficos a partir de livros,
artigos, dissertações e periódicos sobre: a percepção ambiental na Geografia; a carcinicultura
marinha e impactos ambientais; informações dos parâmetros físico-químicos em análises de
sedimentos; informações sobre o molusco A. brasiliana (biologia, relação com fatores
abióticos e mariscagem) e características da BTS. Foram também pesquisadas ilustrações
sobre a área de estudo, como fotos aéreas ou imagens de satélites (Google Earth) que
auxiliassem na identificação dos pontos de maior coleta do molusco por marisqueiras do
local.
4.2. PROCEDIMENTO EM CAMPO
Os procedimentos de campo envolveram tanto a coleta de moluscos e sedimentos
quanto à aplicação de questionário para verificar a opinião das marisqueiras sobre a atividade
de coleta e proximidade à área de carcinicultura.
31
4.2.1 Coleta de moluscos e sedimentos
Foram realizadas duas campanhas de coleta de amostras em campo, uma em junho de
2014 (inverno) e outra em janeiro de 2015 (verão).
O reconhecimento foi feito no período de baixa-mar (identificado através de tábua de
maré, sendo a referência o porto de Salvador; BRASIL, 2014), in loco, com o auxílio de fotos
aéreas e imagens de satélites.
A partir do reconhecimento, foram selecionadas duas áreas distintas: área A - junto ao
canal de escoamento dos efluentes de carcinicultura, área de importante coleta de A.
brasiliana; área B - outra mais distante desse canal, onde também ocorre coleta, porém em
menor quantidade (figura 8). As amostras foram coletadas em períodos distintos, porém,
sempre com a maré baixa.
Figura 8 – Divisão das áreas segundo a proximidade e distância ao canal de escoamento dos efluentes da carcinicultura A
(próximo ao canal de escoamento) e B (distante ao canal de escoamento).
A primeira coleta (C1) foi realizada em junho de 2014 (inverno, período de maior
índice pluviométrico, entre abril e agosto) e a segunda coleta (C2) foi realizada em janeiro de
2015 (verão, período de menor índice pluviométrico, entre setembro e março).
Fonte: adaptado pela autora a partir de Google Earth (2016).
MUTÁ
Tanques de Carcinicultura
Canal de Escoamento
Áreas de Coleta
Baía de Todos os Santos
2 B
Áreas de Coleta
A
32
As diferenças de precipitação e temperatura confirmaram-se: com base nos dados da
estação meteorológica de Salvador (INMET, 2015; estação meteorológica mais próxima a
Mutá), a temperatura média registrada nos 90 dias anteriores à C1 (inverno ou período
chuvoso) foi de 25°C, e de 23°C para o mês de coleta (junho). Já a temperatura média
registrada nos 90 dias anteriores à coleta C2 (verão ou período menos chuvoso) foi de 28°C, e
25°C para o mês de coleta (janeiro) conforme figura 9.
Figura 9 – Temperaturas diárias médias, com dados antecedentes às datas de coletas de jun/2014 COLETA 1
(acima) e jan/2015 – COLETA 2 (abaixo), estação meteorológica de Salvador, Bahia
Fonte: INMET (2015).
As pluviometrias registradas que antecederam (90 dias) as datas de coleta foram
registradas: 500 mm para a C1 (período de maior pluviosidade, ou “chuvoso”), e 300 mm para
a C2 (período de menor pluviosidade, ou “menos chuvoso”). Nesse verão, o mês de dezembro
33
de 2014 foi particularmente chuvoso, atingindo valor maior que o da normal climática (figura
10). Já o mês de janeiro de 2015 apresentou precipitação bem inferior à normal climática:
apenas 50 mm, sendo a normal, 140 mm.
Figura 10 – Precipitações mensais médias e ocorridas no ano de 2014, com dados antecedentes às datas de
coleta 1 (C1, jun/2014, acima) e coleta 2 (C2, jan/2015), estação meteorológica de Salvador, Bahia
Fonte: INMET (2015).
Em C1 foram coletados sedimentos em 49 pontos amostrais, todos georreferenciados,
com 44 pontos apresentando sedimentos e moluscos, e 5 pontos apenas com sedimentos (não
foram encontrados moluscos).
O padrão para coleta foi de rede regular, o mesmo utilizado nos trabalhos de Dourado
(2013) e Jesus (2011), um pouco diferenciada para as duas áreas de coleta devido à sua forma,
ou seja, a área B possui formato mais alongado que a área A, quando observadas com a maré
baixa. A localização aproximada dos pontos pode ser vista na figura 11. Apesar de a área B se
situar ao longo dos tanques da carcinicultura, não há despejo de efluentes nessa área. Todos os
pontos amostrais, da 1° e 2° campanhas, foram marcados com o auxílio de um GPS. Onde as
coordenadas, seguindo o nível do terreno, determinaram a marcação de pontos iguais para
ambas as campanhas (C1 e C2).
Seguindo a lógica dos pontos amostrais da campanha anterior, e respeitando o nível da
maré, na 2ª coleta (C2) também foram coletados sedimentos em 49 pontos amostrais, sendo
38 pontos com sedimentos e moluscos e 11 pontos somente com sedimentos (não foram
encontrados moluscos).
34
Figura 11 - Localização dos pontos de amostragem em rede regular (a) de 30 x 30 metros para a área A (acima) e 20 x 10 m
na área B (abaixo). Em campo, as amostras foram coletadas seguindo linhas retas; nas figuras, os deslocamentos dos pontos
de coleta indicados se dão em virtude de erros na aquisição de coordenadas com o GPS de navegação
Elaboração: Gsele M. Hadlich, a partir de imagem Google Earth®
35
Os "pontos de coleta" foram determinados em campo pelo cruzamento de linhas
ortogonais, metricamente construídos nas áreas, com o auxílio de uma trena que facilitou a
marcação de cada ponto ao fixar estacas de madeira ligando um ponto a outro. A partir daí foi
possível organizar as demais linhas em ângulos de 90º, o que foi feito com a construção de
triângulos retângulos (figura 12) medindo 3 m e 4 m de lado e 5 m de hipotenusa.
Figura 12 - Construção de triângulo retângulo em campo, com auxílio de trena, para definir os alinhamentos e marcá-los
com estacas de madeira
Foto: Gisele M. Hadlich
Desta forma, a distribuição dos pontos na área A foi realizada de modo a cobrir a área
que recebe efluentes dos tanques de carcinicultura, e na área B cobriu toda extensão ao longo
do manguezal, mas que não recebe diretamente esses efluentes.
As amostras de sedimentos superficiais foram obtidas, em cada ponto, dentro da área
delimitada por um quadrado de 50 x 50 cm (figura 13), em profundidades de até 5 cm, e
realizada manualmente. Foi feita uma amostra composta, ou seja, foi coletado sedimento em
três locais diferentes dentro do quadrado. As amostras de cada ponto foram armazenadas em
potes plásticos devidamente etiquetados, fechadas e logo congeladas para posterior transporte
em caixas térmicas até o laboratório.
Todas as 98 amostras (incluindo C1 e C2) de sedimentos foram levadas ao Laboratório
de Estudos de Manguezais (LEM) do Núcleo de Estudos Ambientais (NEA) do Instituto de
Geociências da UFBA (NEA-IGEO/ UFBA), e permaneceram congeladas até as respectivas
análises químicas.
36
Figura 13 - Coleta e armazenamento de amostras de sedimentos marinhos em Mutá, Jaguaripe
Foto: Gisele M. Hadlich.
Os moluscos foram coletados manualmente no mesmo lugar que os sedimentos, a uma
profundidade geralmente de até 5 cm (profundidade máxima em que os moluscos foram
encontrados), no mesmo quadrado de 50 x 50 cm onde foi coletado o sedimento. Todos os
moluscos encontrados no interior do quadrado foram coletados (figura 14).
Figura 14 - Coleta de molusco A. brasiliana em Mutá, Jaguaripe, com a utilização de sacolas plásticas e um quadrado de
tubo PVC 50 x 50 cm
Foto: Gisele M. Hadlich.
4.2.2 Aplicação de questionários
Inicialmente foi montado um questionário e foi realizado, em campo, um pré-teste
com três entrevistas, visando realizar alguns ajustes acerca da linguagem utilizada e da
centralidade das questões desejadas. Após os ajustes, foi feita a aplicação final do
37
questionário que consta no Anexo 1. Os 22 questionários foram todos aplicados no povoado
de Mutá, segundo a prática, atual ou não, na atividade de mariscagem.
O questionário incluiu perguntas sobre condições socioeconômicas da família,
atividades de mariscagem e percepção sobre a mariscagem, manguezais e carcinicultura.
Os dados colhidos foram tabelados em planilha eletrônica com validação de dados nas
perguntas fechadas para evitar erros na entrada dos dados.
Com as informações registradas, foi possível comparar dados coletados e assim
estabelecer correlações com o cotidiano dos moradores e suas distintas percepções acerca do
espaço vivido e explorado.
Destaca-se que foi realizada uma setorização das áreas A e B para identificação, por
parte das marisqueiras, dos locais de coleta mais importantes (figura 15).
Figura 15 – Identificação de áreas de coleta de A. brasiliana: setores 1 e 2 na área A (próxima ao canal de
escoamento de efluentes de carcinicultura) e setores 3, 4 e 5 na área B (distante do canal de escoamento)
Foto: Autor desconhecido.
1
2
3
4
5
Setores de coleta
Setores de coleta
Área
A
Área
B
38
4.3 PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIO
No laboratório foram feitas as seguintes análises:
nos moluscos: contagem dos indivíduos de cada amostra e biometria de, pelo menos,
30 indivíduos por ponto;
nos sedimentos: granulometria, nutrientes (N,K,P), matéria orgânica (M.O.),
salinidade e pH.
Todos os dados obtidos, sobre moluscos e sedimentos, foram inseridos em planilha
eletrônica e transferidos para programas de estatística para auxiliar na análise dos dados.
4.3.1 Moluscos
Os moluscos encontrados no interior do quadrado, em cada ponto de coleta, foram
contados para verificação de indivíduos por amostra. A densidade populacional para o A.
brasiliana foi calculada, considerando que a área de coleta foi de 0,25 m²; portanto, (número
de indivíduos coletados em cada ponto de 0,25 m²) x 4 = número de indivíduos/m²
Após a contagem foi realizada a biometria de cada indivíduo dos pontos amostrais,
sendo que, quando encontrados mais de 30 indivíduos, foram utilizados somente 30 para a
biometria. A medição foi feita com o auxílio de um paquímetro digital de precisão de
0,01mm: comprimento (máxima dimensão entre o umbo e a borda da concha), altura (máxima
dimensão entre duas vulvas), largura (máxima dimensão entre a região Antero - posterior)
(DOURADO, 2013; BRANDÃO, 2008; CARDOSO JÚNIOR, 2011) (figura 16). Algumas
amostras continham menos de 30 indivíduos, e nesse caso todos foram utilizados na análise
biométrica.
Figura 16 – Medidas biométricas realizadas no molusco A. brasiliana com auxilio do paquímetro digital
(comprimento, altura e largura)
Fotos: A autora
Comprimento Altura Largura
39
4.3.2 Sedimentos
As amostras de sedimentos das áreas de coleta, próximas ao tanque de carcinicultura
foram pré-tratadas: após congelamento, liofilizados (Liofilizados L101- LIOTOP),
homogeneizadas e peneiradas para a obtenção da fração menor que 2 mm. As frações maiores
que 2 mm, como raízes, conchas e pequenos crustáceos, foram descartados. A fração menor
foi acondicionada em potes plásticos fechados e armazenada em ambiente climatizado para
análises posteriores. A síntese d os parâmetros analíticos constam no quadro 1. O
detalhamento dos procedimentos analíticos consta no Apêndice 2.
Quadro 1 – Técnicas empregadas para análises dos parâmetros físicos e químicos nas amostras de sedimentos
Elaboração: a autora.
PARÂMETROS ANÁLISES/DETERMINAÇÃO
GRANULOMETRIA Pré-tratamento, seguindo a Embrapa (1997). Determinação de
análise das partículas por difração a laser (Modelo Cilas
1064). Classificação das amostras em frações: areia, silte e
argila. (FOLK, et al)
NITROGENIO TOTAL-N Utilização do método Kjeldahl, seguindo a Embrapa (1997).
FÓSFORO ASSIMILÁVEL-P Utilização do método Grasshoff ET at. (1973) e Aspilla
(1976) e leitura realizada por Espectometria de Absorção
molecular, modelo CARY 60- UV.
MATÉRIA ORGÂNICA- MO Utilização do método do Dicromato de Potássio (KCr2O7),
titulação com sulfato Ferroso Amonical [Fe
(NH4)2(SO4)
2.6H2O]. 0,5 mol L
-1, até o aparecimento de uma
coloração brilhante esverdeada.
POTÁSSIO -K Extração parcial em forno microondas Provecto Analitica
segundo metodologia D 5258-92 (ASTM, 1992) 6). Leitura
realizada por ICP – OES modelo Agilent Technologies 720
Series.
pH Seguindo a metodologia Embrapa (1997), e leitura realizada
com o pHmetro (modelo CONDER METER D-54) calibrado
com soluções tampão com pH 4,0 e 7,0.
SALINIDADE Leitura realizada no refratômetro HAND
REFRACTOMETER, modelo ATAGO S/Mill-E.
40
5 RESULTADOS
Inicialmente serão apresentados os resultados referentes às análises realizadas em
laboratório (biota e sedimentos). Em seguida serão abordados aspectos relativos à percepção
da população de marisqueiras quanto aos fatores abordados no questionário aplicado.
5.1 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS
Em virtude dos dados obtidos, os resultados serão apresentados em duas etapas: na
primeira será feita uma análise dos dados segundo os dois períodos de coleta (C1 e C2); na
segunda serão analisadas diferenças entre as áreas de coleta (A e B).
5.1.1 Períodos de coleta: inverno e verão
Na tabela 1 constam os valores descritivos relativos à densidade populacional e
biometria dos moluscos coletados, e dos parâmetros físicos e químicos dos sedimentos, para
os dois períodos de análise: inverno (chuvoso, C1) e verão (menos chuvoso, C2). Observa-se
que, para alguns parâmetros (bióticos e abióticos), há diferenças significativas que variam de
acordo com os períodos de coleta.
Também são apresentadas, na sequência, tabelas de correlação de Pearson (p < 0,005),
separadamente para os dois períodos analisados (tabelas 2 e 3) porque foram verificadas
diferenças significativas, para alguns parâmetros, entre C1 (inverno) e C2 (verão).
Para os parâmetros bióticos, constata-se que a população de A. brasiliana apresenta
maior densidade no inverno que no verão, como comprovado estatisticamente (teste-T, valor
p < 0,05; Tabela 1). Quanto às medidas biométricas analisadas nos diferentes períodos, os
indivíduos são menores em altura no inverno, porém não se diferenciam em comprimento e
largura nos períodos. A maior densidade populacional, associada à menor altura dos
indivíduos, é justificada pela reprodução da espécie no período chuvoso. Isto está em acordo
com Carneiro (1994 citado por DOURADO, 2013, p. 18) que afirma que maiores densidades
populacionais da espécie, na praia da Barra/Grossa, RN, ocorrem no período chuvoso. Assim,
para essa pesquisa, o período chuvoso é apontado como de maior reprodução da espécie,
maior ocorrência de indivíduos juvenis (menor altura), e talvez, possa ser entendido como
período de menor coleta (mariscagem).
41
Tabela 1- Valores médios, desvio padrão e teste de diferenciação de médias (teste-T, p < 0,05) para os
parâmetros bióticos (A. brasiliana) e abióticos (sedimentos) considerando as coletas C 1 (inverno) e C 2 (verão)
Parâmetros C 1 (n=49) C 2 (n= 49)
Valor p Média D.P. Média D.P.
Densidade populacional
(ind./m²)
13,4245 11,2626 6,5510 6,5608 0,000370
Altura (cm) 1,5204 2,0629 3,2931 4,3400 0,011326
Comprimento (cm) 1,9092 2,5969 2, 2073 2,8710 0,591044
Largura (cm) 2,6294 3,4613 1,9463 2,5460 0,268586
Areia grossa (g kg-1
) 180,9306 84,0905 301,4096 119,8536 0,000000
Areia media (g kg-1
) 436,0837 107,2898 371,3351 105,2484 0,003281
Areia fina (g kg-1
) 346,5510 125,7687 250,2519 114,4795 0,000142
Areia muito fina (g kg-1
) 22,3714 38,7563 56,3709 77,8935 0,007420
Silte (g kg-1
) 13,4796 71,0865 15,0659 63,4674 0,907481
Argila (g kg-1
) 0,5837 2,9371 5,4871 22,0243 0,125686
M.O. (%) 1,1471 1,2007 1,1686 1,5524 0,939286
N (%) 0,0494 0,0304 0,0511 0,0347 0,806202
P (mg kg-1
) 98,7755 128,3079 63,1296 26,7764 0,059945
K (mg kg-1
) 318,0174 219,9495 532,1638 445,3319 0,003258
pH 7,63 0,770 7,27 0,264 0,002144
Salinidade 30,10 5,561 32,04 6,498 0,122007
Elaboração: Gisele M. Hadlich.
Altura, comprimento e largura dos indivíduos são parâmetros altamente
correlacionados entre si, tanto no inverno (tabela 2) quanto no verão (tabela 3), sendo que no
inverno há uma significativa relação inversa entre o tamanho dos indivíduos e sua densidade,
confirmando a ocorrência de maior número de indivíduos juvenis.
Conforme pode ser visto nas tabelas 2 e 3, não há correlação entre os parâmetros
bióticos e os abióticos medidos nos sedimentos.
Na análise dos fatores abióticos, verifica-se que predominam as frações arenosas,
sendo muito baixa a quantidade de silte e argila. Há, estatisticamente, significativas diferenças
na granulometria de acordo com os períodos analisados. Porém, se verificarmos os dados
brutos (Apêndice 3), nota-se que apenas os pontos 1 e 5 na coleta de inverno, e os pontos 2, 5
e 9 no verão, apresentam silte e argila. Esses pontos encontram-se próximo ao canal de
efluentes da carcinicultura, e inseridos numa parte da área que apresenta, para sua parte leste,
toda uma área mais argilosa, conforme pôde ser constatado no local.
42
Tabela 2 – Valores de correlações de Pearson para dados de A. brasiliana e sedimentos obtidos em C1, período de inverno. Em vermelho: valores significativos para p < 0,05
Densi-
dade
popul.
Altura Compri-
mento
Largura Areia
grossa
Areia
media
Areia
fina
Areia
muito
fina
Silte Argila M.O N P K pH salini-
dade
Densidade
popul. 1.00 -0.49 -0.48 -0.47 -0.03 0.16 0.02 -0.08 -0.19 -0.20 -0.23 -0.27 -0.06 -0.21 0.16 -0.23
Altura -0.49 1.00 1.00 0.99 0.17 -0.11 0.04 -0.02 -0.10 -0.08 -0.04 -0.11 0.07 -0.16 0.02 0.12
Comprimento -0.48 1.00 1.00 0.99 0.18 -0.12 0.04 -0.02 -0.10 -0.08 -0.05 -0.12 0.06 -0.16 0.03 0.12
Largura -0.47 0.99 0.99 1.00 0.17 -0.09 0.03 -0.03 -0.10 -0.08 -0.07 -0.12 0.05 -0.17 0.05 0.13
Areia grossa -0.03 0.17 0.18 0.17 1.00 0.10 -0.75 -0.31 0.15 0.19 0.32 0.11 0.19 0.16 -0.01 -0.05
Areia media 0.16 -0.11 -0.12 -0.09 0.10 1.00 -0.49 -0.68 -0.37 -0.37 -0.08 -0.18 0.16 -0.18 0.16 0.16
Areia fina 0.02 0.04 0.04 0.03 -0.75 -0.49 1.00 0.47 -0.38 -0.39 -0.44 -0.34 -0.22 -0.21 -0.04 -0.04
Areia muito
fina -0.08 -0.02 -0.02 -0.03 -0.31 -0.68 0.47 1.00 0.01 0.01 -0.21 -0.09 -0.15 0.05 -0.05 -0.02
Silte -0.19 -0.10 -0.10 -0.10 0.15 -0.37 -0.38 0.01 1.00 0.97 0.62 0.76 0.00 0.40 -0.12 -0.11
Argila -0.20 -0.08 -0.08 -0.08 0.19 -0.37 -0.39 0.01 0.97 1.00 0.56 0.68 0.01 0.41 -0.15 -0.09
M.O -0.23 -0.04 -0.05 -0.07 0.32 -0.08 -0.44 -0.21 0.62 0.56 1.00 0.78 0.08 0.65 -0.17 0.18
N -0.27 -0.11 -0.12 -0.12 0.11 -0.18 -0.34 -0.09 0.76 0.68 0.78 1.00 -0.06 0.37 -0.16 0.03
P -0.06 0.07 0.06 0.05 0.19 0.16 -0.22 -0.15 0.00 0.01 0.08 -0.06 1.00 0.17 -0.01 0.06
K -0.21 -0.16 -0.16 -0.17 0.16 -0.18 -0.21 0.05 0.40 0.41 0.65 0.37 0.17 1.00 -0.26 0.11
pH 0.16 0.02 0.03 0.05 -0.01 0.16 -0.04 -0.05 -0.12 -0.15 -0.17 -0.16 -0.01 -0.26 1.00 -0.17
Salinidade -0.23 0.12 0.12 0.13 -0.05 0.16 -0.04 -0.02 -0.11 -0.09 0.18 0.03 0.06 0.11 -0.17 1.00
Elaboração: Gisele M. Hadlich
43
Tabela 3 – Valores de correlações de Pearson para dados de A. brasiliana e sedimentos obtidos em C2, período de verão. Em vermelho: valores significativos para p < 0,05
Densi-
dade
popul.
Altura Compri-
mento
Largura Areia
grossa
Areia
media
Areia
fina
Areia
muito
fina
Silte Argila M.O N P K pH salini-
dade
Densidade
popul. 1.00 -0.29 -0.28 -0.29 -0.05 0.23 -0.12 0.11 -0.16 -0.16 -0.13 -0.11 -0.33 -0.08 -0.01 0.19
Altura -0.29 1.00 1.00 1.00 0.13 -0.09 0.04 -0.06 -0.12 -0.12 0.03 -0.17 -0.03 0.17 0.08 0.22
Comprimento -0.28 1.00 1.00 1.00 0.12 -0.06 0.03 -0.06 -0.12 -0.12 0.03 -0.17 -0.04 0.17 0.09 0.23
Largura -0.29 1.00 1.00 1.00 0.15 -0.09 0.02 -0.07 -0.12 -0.12 0.01 -0.18 -0.03 0.15 0.08 0.21
Areia grossa -0.05 0.13 0.12 0.15 1.00 -0.36 -0.48 -0.28 -0.20 -0.20 -0.39 -0.29 -0.06 -0.40 -0.01 -0.21
Areia media 0.23 -0.09 -0.06 -0.09 -0.36 1.00 -0.29 -0.12 -0.24 -0.24 0.00 -0.20 -0.13 0.09 0.26 0.01
Areia fina -0.12 0.04 0.03 0.02 -0.48 -0.29 1.00 -0.24 -0.19 -0.19 0.05 -0.14 0.08 -0.02 -0.32 -0.06
Areia muito
fina 0.11 -0.06 -0.06 -0.07 -0.28 -0.12 -0.24 1.00 0.15 0.15 0.09 0.26 -0.23 0.07 0.16 0.27
Silte -0.16 -0.12 -0.12 -0.12 -0.20 -0.24 -0.19 0.15 1.00 1.00 0.57 0.90 0.43 0.61 0.03 0.23
Argila -0.16 -0.12 -0.12 -0.12 -0.20 -0.24 -0.19 0.15 1.00 1.00 0.57 0.90 0.43 0.61 0.03 0.23
M.O -0.13 0.03 0.03 0.01 -0.39 0.00 0.05 0.09 0.57 0.57 1.00 0.61 0.45 0.91 0.19 0.40
N -0.11 -0.17 -0.17 -0.18 -0.29 -0.20 -0.14 0.26 0.90 0.90 0.61 1.00 0.49 0.62 -0.01 0.33
P -0.33 -0.03 -0.04 -0.03 -0.06 -0.13 0.08 -0.23 0.43 0.43 0.45 0.49 1.00 0.45 -0.16 0.03
K -0.08 0.17 0.17 0.15 -0.40 0.09 -0.02 0.07 0.61 0.61 0.91 0.62 0.45 1.00 0.21 0.49
pH -0.01 0.08 0.09 0.08 -0.01 0.26 -0.32 0.16 0.03 0.03 0.19 -0.01 -0.16 0.21 1.00 0.16
Salinidade 0.19 0.22 0.23 0.21 -0.21 0.01 -0.06 0.27 0.23 0.23 0.40 0.33 0.03 0.49 0.16 1.00
Elaboração: Gisele M. Hadlich
44
Ao observar as tabelas de correlação, nota-se que onde ocorre maior quantidade de
areia grossa há menor quantidade de areia média, fina ou muito fina; essa relação inversa,
porém, não ocorre entre areia grossa e as frações silte e argila.
Para os valores de M.O., N e P não há diferenciação significativa para os períodos
analisados. Os teores de M.O. são muito baixos e, consequentemente, de N também. Essa
relação pode ser constatada nas tabelas de correlação para os dois períodos estudados, onde
aparecem correlações positivas não apenas entre M.O. e N, mas também desses com K e com
as frações granulométricas silte e argila. Isso demonstra maior concentração de nutrientes N e
K (e P, no verão, tabela 3) onde há sedimentos mais finos, com maior superfície específica
para retenção desses nutrientes. No verão, esses locais com mais M.O., N e K indicam maior
salinidade (significativa estatisticamente, mas com valores abaixo de 0,5 (tabela 3).
O P, que é um elemento pouco móvel, apesar de apresentar valor médio maior no
período mais chuvoso, não possui diferença significativa em relação ao período menos
chuvoso (verão), haja vista as importantes variações de concentração encontradas no ambiente
estudado, o que se reflete no elevado desvio padrão.
Já para o K, mesmo com elevado desvio padrão, a diferença chega a ser significativa,
estatisticamente, sendo que os menores teores são encontrados no inverno, período mais
chuvoso. O maior aporte de água doce, associado à menor evaporação, solubiliza o nutriente,
diminuindo sua quantidade retida nos sedimentos.
O pH dos sedimentos é levemente alcalino e pouco maior no inverno. Já a salinidade,
em torno de 30-32, não apresenta diferença entre verão e inverno.
5.1.2 Áreas de coleta A e B
A tabela 4 apresenta um teste de diferenciação de médias, que comprova haver
diferenças entre as áreas de coleta A, adjacente ao canal de escoamento de águas da
carcinicultura, e B, distante desse canal. Em seguida, as tabelas 5 e 6 apresentam as
correlações obtidas para as áreas separadamente.
Para os parâmetros bióticos, apenas a densidade populacional é significativamente diferente
entre as áreas, havendo maior número de indivíduos na área A.
Quanto aos parâmetros abióticos, os teores de M.O. e dos nutrientes N-P-K, bem como
a salinidade, também são significativamente maiores na área A, que é a área que apresenta
maior teor de areia média do que fina; o mesmo acontece com as frações mais finas, areia
muito fina, silte e argila, sendo que não foram encontrados silte e argila na área B.
45
Tabela 4 - Valores médios, desvio padrão e teste de diferenciação de médias (teste-T, p < 0,05) para os
parâmetros bióticos (A. brasiliana) e abióticos (sedimentos) considerando as áreas de coleta A (n = 56) e B (n =
42)
Parâmetro Área A Área B
Valor p média D.P. média D.P.
Densidade populacional
(ind./m²)
12,2643 10,7915 6,9524 7,3748 0,007247
Altura (cm) 2,4070 3,7774 2,4064 3,1256 0,999406
Comprimento (cm) 2,0866 3,0535 2,0205 2,2559 0,906172
Largura (cm) 2,2386 3,3776 2,3536 2,5657 0,854189
Areia grossa (g kg-1
) 225,6752 75,9889 261,8300 158,9290 0,139014
Areia media (g kg-1
) 434,1029 93,4952 363,1848 119,4983 0,001373
Areia fina (g kg-1
) 267,2096 94,5110 339,9905 155,9482 0,005145
Areia muito fina (g kg-1
) 42,6535 75,4074 34,9948 43,4776 0,557597
Silte (g kg-1
) 24,9773 87,4898 0,0000 0,0000 0,067715
Argila (g kg-1
) 5,3120 20,7186 0,0000 0,0000 0,100296
M.O. (%) 1,7700 1,5418 0,3416 0,3554 0,000000
N (%) 0,0579 0,0414 0,0400 0,0000 0,006190
P (mg kg-1
) 97,7135 119,5775 58,6046 28,2083 0,040733
K (mg kg-1
) 549,1025 441,4999 259,7414 75,6793 0,000061
pH 7,4702 0,3944 7,4238 0,8046 0,707988
Salinidade 33,1538 5,9816 28,4048 5,1374 0,000098
Elaboração: Gisele M. Hadlich
A diferença da salinidade evidencia que, mesmo em áreas próximas, este parâmetro
pode variar. É importante considerar que a área A é mais extensa e permanece por mais tempo
sem água do mar nas baixa-mares do que B, o que propicia a evaporação. Talvez esse mesmo
processo resulte em acúmulo maior de nutrientes, porém deve-se considerar que a área A é
diretamente atingida pelos efluentes da carcinicultura que podem estar enriquecendo o
ambiente em P e K. Os teores de N são, em geral, muito baixos, dada sua volatilidade e
solubilidade elevadas.
Após a análise descritiva dos dados estatísticos, é possível concluir que há necessidade
de maiores estudos geoquímicos sobre a origem dos nutrientes e da M.O. nas áreas de coleta.
E assim, determinar se a carcinicultura realmente interfere nesse processo, a ponto de causar
notáveis variações entre os períodos mencionados nesta pesquisa.
Ao analisar as tabelas de correlação, nota-se que tanto na área A quanto na B, a
densidade populacional é inversa ao tamanho dos indivíduos.
Em A, maior densidade populacional ocorre em locais de menor concentração de
M.O., N, K e menor salinidade (correlações negativas significativas, porém baixas), assim
como com pH maior (correlação positiva; tabela 5). Nota-se também que os locais com maior
46
quantidade de M.O., N e K, a granulometria é mais fina (correlações positivas entre silte e
argila e M.O., N e K). Portanto, a maior densidade pode ser atribuída não à uma menor
quantidade de M.O. e nutrientes, mas sim a uma granulometria mais favorável à reprodução
da A. brasiliana, já que a espécie não predomina em locais de granulometria mais fina (onde
são encontrados mais nutrientes).
Estas relações entre densidade populacional de A. brasiliana e parâmetros abióticos
não são percebidas na área B (tabela 6). O que parece é que nos locais de salinidade maior, os
indivíduos são maiores (correlações positivas entre salinidade e altura, comprimento e
largura), e possuem maior altura onde há mais areia grossa. Isso constata a importância da
granulometria no desenvolvimento da espécie. O K aparece em maior quantidade em áreas de
areia fina ou muito fina, também associado à M.O.
Há, portanto, um comportamento diferenciado entre as áreas A e B no que se refere à
presença e densidade populacional de A. brasiliana, e aos fatores abióticos aos quais essa
população se relaciona. Sobre isso, devem ser considerados a presença de efluentes de
carcinicultura que atingem diretamente a área A, bem como um comportamento
hidrodinâmico diferente: A permanece mais tempo emersa, e situa-se na confluência entre as
águas abertas da BTS e uma reentrância litorânea que forma uma pequena baía bordejada por
manguezais e ocupada parcialmente pelo homem, de forma desordenada; a área B situa-se na
borda de uma faixa estreita de manguezal e de frente para as águas abertas da BTS (figura
17). Outro fator que deve ser considerado, e de grande importância, é a mariscagem (tópico
desenvolvido em seguida, item 5.2).
47
Figura 17 - Áreas de estudo A e B mostrando suas extensões e posições diferenciadas em relação à BTS
Fonte: Google Earth ®
Área
A
Área
B
Baía de Todos os Santos
48
Tabela 5 – Valores de correlações de Pearson para dados de A. brasiliana e sedimentos obtidos na área A. Em vermelho: valores significativos para p < 0,05
Parâmetros Densi.
popul.
Altura Com-
prim.
Largu-
ra
Areia
grossa
Areia
media
Areia
fina
Areia
muito
fina
Silte Argila M.O N P K pH salini-
dade
Densi. popul. 1,00 -0,44 -0,44 -0,41 0,00 0,16 0,19 -0,09 -0,25 -0,21 -0,46 -0,33 -0,06 -0,41 0,51 -0,34
Altura -0,44 1,00 0,93 0,81 0,02 0,07 0,05 0,00 -0,13 -0,11 0,02 -0,19 -0,03 0,23 -0,09 0,20
Comprimento -0,44 0,93 1,00 0,97 0,01 0,07 0,10 -0,06 -0,12 -0,11 -0,01 -0,18 0,04 0,06 -0,03 0,11
Largura -0,41 0,81 0,97 1,00 -0,01 0,06 0,14 -0,11 -0,11 -0,10 -0,01 -0,15 0,09 -0,04 0,01 0,06
Areia grossa 0,00 0,02 0,01 -0,01 1,00 -0,21 -0,50 -0,19 -0,03 -0,12 -0,15 -0,19 -0,03 0,03 -0,32 0,07
Areia media 0,16 0,07 0,07 0,06 -0,21 1,00 0,14 -0,26 -0,65 -0,50 -0,38 -0,50 0,15 -0,29 0,20 -0,09
Areia fina 0,19 0,05 0,10 0,14 -0,50 0,14 1,00 -0,37 -0,45 -0,32 -0,13 -0,30 -0,01 -0,28 0,29 -0,11
Ar. muito fina -0,09 0,00 -0,06 -0,11 -0,19 -0,26 -0,37 1,00 0,07 0,17 -0,05 0,13 -0,19 0,10 -0,07 0,23
Silte -0,25 -0,13 -0,12 -0,11 -0,03 -0,65 -0,45 0,07 1,00 0,66 0,61 0,79 0,02 0,40 -0,15 -0,06
Argila -0,21 -0,11 -0,11 -0,10 -0,12 -0,50 -0,32 0,17 0,66 1,00 0,49 0,70 0,03 0,56 -0,10 0,17
M.O -0,46 0,02 -0,01 -0,01 -0,15 -0,38 -0,13 -0,05 0,61 0,49 1,00 0,70 0,03 0,71 -0,15 0,12
N -0,33 -0,19 -0,18 -0,15 -0,19 -0,50 -0,30 0,13 0,79 0,70 0,70 1,00 -0,03 0,43 -0,21 0,11
P -0,06 -0,03 0,04 0,09 -0,03 0,15 -0,01 -0,19 0,02 0,03 0,03 -0,03 1,00 0,02 0,07 -0,09
K -0,41 0,23 0,06 -0,04 0,03 -0,29 -0,28 0,10 0,40 0,56 0,71 0,43 0,02 1,00 -0,23 0,31
pH 0,51 -0,09 -0,03 0,01 -0,32 0,20 0,29 -0,07 -0,15 -0,10 -0,15 -0,21 0,07 -0,23 1,00 -0,35
Salinidade -0,34 0,20 0,11 0,06 0,07 -0,09 -0,11 0,23 -0,06 0,17 0,12 0,11 -0,09 0,31 -0,35 1,00
Elaboração: Gisele M. Hadlich
49
Tabela 6 – Valores de correlações de Pearson para dados de A. brasiliana e sedimentos obtidos na área B. Em vermelho: valores significativos para p < 0,05
Parâmetros Densi.
popul.
Altura Com-
prim.
Largu-
ra
Areia
grossa
Areia
media
Areia
fina
Areia
muito
fina
Silte Argila M.O N P K pH salini-
dade
Densid. popul. 1,00 -0,31 -0,31 -0,20 -0,37 0,17 0,25 -0,02 0,02 -0,16 -0,11 0,03 -0,12
Altura -0,31 1,00 0,93 0,77 0,39 -0,33 -0,15 0,02 0,01 0,11 0,05 -0,01 0,35
Comprimento -0,31 0,93 1,00 0,93 0,23 -0,25 -0,05 0,02 0,07 0,11 0,05 0,09 0,36
Largura -0,20 0,77 0,93 1,00 0,08 -0,12 0,02 -0,02 0,07 0,08 0,01 0,19 0,32
Areia grossa -0,37 0,39 0,23 0,08 1,00 -0,24 -0,81 -0,08 0,06 0,08 -0,12 -0,13 -0,01
Areia media 0,17 -0,33 -0,25 -0,12 -0,24 1,00 -0,34 -0,65 -0,31 -0,03 -0,71 0,27 -0,18
Areia fina 0,25 -0,15 -0,05 0,02 -0,81 -0,34 1,00 0,30 0,19 -0,05 0,52 -0,05 0,09
Ar. muito fina -0,02 0,02 0,02 -0,02 -0,08 -0,65 0,30 1,00 -0,03 -0,01 0,52 -0,07 0,20
Silte 1,00
Argila 1,00
M.O 0,02 0,01 0,07 0,07 0,06 -0,31 0,19 -0,03 1,00 -0,10 0,36 0,02 -0,02
N 1,00
P -0,16 0,11 0,11 0,08 0,08 -0,03 -0,05 -0,01 -0,10 1,00 0,03 0,03 -0,06
K -0,11 0,05 0,05 0,01 -0,12 -0,71 0,52 0,52 0,36 0,03 1,00 -0,39 0,20
pH 0,03 -0,01 0,09 0,19 -0,13 0,27 -0,05 -0,07 0,02 0,03 -0,39 1,00 -0,02
Salinidade -0,12 0,35 0,36 0,32 -0,01 -0,18 0,09 0,20 -0,02 -0,06 0,20 -0,02 1,00
Elaboração: Gisele M. Hadlich
50
5.2 PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO
Considerando a linguagem utilizada pela população, neste item será utilizado o nome
“chumbinho” para designar a A. brasiliana.
Foram aplicados 22 questionários junto a pessoas do povoado de Mutá que já atuaram
e/ou atuam como marisqueiros (as). Vale ressaltar que no povoado não existe propriamente
uma comunidade de marisqueiras, há grupos de pessoas que sobrevivem em parte ou
essencialmente da pesca artesanal e mariscagem. Logo, dentro desse pequeno grupo de
marisqueiras, há poucas pessoas que sobrevivem apenas da mariscagem, se comparado
àquelas que buscam também outras fontes de renda para sustento de suas famílias.
As respostas ao questionário revelaram que as mulheres que sobrevivem
essencialmente da coleta de moluscos como o chumbinho, se restringe a um menor grupo,
pois o restante utiliza o extrativismo como uma fonte de renda suplementar à outra(s). É
importante frisar que, apesar destas coletarem outros mariscos (como a lambreta, sururu e
ostra), o chumbinho ainda é o molusco mais coletado e comercializado no local. A coleta
ocorre de modo rudimentar, com colher, cavadores feitos de metal, ou até mesmo restos de
conchas de outros moluscos que encontram no próprio ambiente; é controlada pela maré e
ocorre sempre na baixa-mar, sendo que as marisqueiras deslocam-se a pé até o local de coleta,
quando as “croas” (coroas) estão quase emersas (figura 18), e permanecem lá trabalhando até
o retorno da maré, onde enfim lavam todo o molusco coletado e retornam às suas casas. A
segunda etapa do trabalho consiste em cozimento e catação para posterior consumo ou
comercialização.
Figura 18 – Coroas (bancos de areia) emersas no local, indicando a possibilidade do deslocamento das
marisqueiras até as áreas de coleta
Foto: Deivison Miranda. Foto: Gisele Mara Hadlich
51
As pessoas entrevistadas são do sexo feminino, residem no próprio local e estão
organizadas segundo o número de pessoas e a faixa etária, como mostra o gráfico 1. Grande
parte dos entrevistados não possui sequer o 2° grau completo (quadro 2).
Gráfico 1 – Número de pessoas por faixa etária
Elaboração: a autora.
Quadro 2 - Número de pessoas distribuídas segundo sua escolaridade
Elaboração: a autora.
É possível observar que, se perguntadas sobre a fonte de renda, quase a totalidade
respondeu que sobrevive da coleta de mariscos e, por consequência para algumas, do seguro
defeso1. Aquelas com idade acima de 50 anos relataram que sobrevivem da aposentadoria,
uma minoria apenas do defeso, e somente uma marisqueira respondeu que seu sustento advém
do emprego regularizado, com carteira assinada, como empregada doméstica. As demais
marisqueiras possuem também atividades informais, pois às vezes trabalham como diaristas:
parte da renda, segundo as marisqueiras, vem de atividades na área de serviços gerais, em
casas de veraneio ou então no Hotel Fazenda Recanto situado na entrada principal do
1 O Seguro Defeso é um benefício temporário fornecido pelo ministério do Trabalho, no valor de um salário
mínimo, pago durante o período de seis meses, em que as atividades de pesca são paralisadas para possibilitar a
preservação das espécies.
Grau de instrução Número de Pessoas
Analfabeto 4
1º Grau Incompleto 12
1ºGrau Completo 0
2º Grau Incompleto 3
2º Grau Completo 3
52
povoado. Logo, a principal fonte de renda das entrevistadas está relacionada à pesca artesanal
e ao extrativismo nos manguezais ou próximo a eles.
À exceção da pessoa empregada, todas as outras afirmam que suas respectivas rendas
mensais são menores ou iguais a um salário mínimo. Essa realidade das entrevistadas faz
parte de um contexto histórico socialmente construído, em que, as relações de trabalho se
organizam de acordo com o sistema econômico produzido no espaço habitado.
Em contrapartida, nenhuma das entrevistadas respondeu se estão ou não inseridas em
programas assistenciais ofertados pelo Governo Federal, como O Bolsa Família, com receio
de que suas declarações pudessem trazer problemas quanto ao recebimento de algum
benefício.
5.2.1 A mariscagem e os manguezais
Na obtenção das informações referentes à mariscagem do chumbinho e de outros tipos
de mariscos como (sururu e ostra), e principalmente sua destinação pós coleta foi constatado
que: a atividade extrativista possui uma notável importância, visto que, a maior parte marisca
tanto para consumo próprio como para comercialização, em detrimento de uma minoria, que
marisca apenas para subsistência (consumo próprio) gráfico 2.
Gráfico 2 – Destino dos produtos advindos da atividade extrativista (mariscagem) de chumbinho ou outros como
(sururu e ostra)
Elaboração: a autora
A coleta do marisco é feita durante todo o ano, contudo podem ocorrer variações na
periodicidade de acordo com duas estações do ano: inverno e verão. No inverno, há coleta
com periodicidade diária a duas vezes por semana. No verão há uma diminuição na
53
periodicidade, determinada pela necessidade dos coletadores. Dentre os motivos que
condicionam essa redução está a diminuição dos moluscos (por elas relatado) e as elevadas
temperaturas, que causam maiores desconfortos às marisqueiras. No verão diminui o número
de pessoas que coletam diariamente, seguida da coleta de 2 a 3 vezes por semana, como
mostra o gráfico 3.
Gráfico 3 – Periodicidade das coletas de chumbinho segundo as estações do ano (verão e inverno)
Elaboração: a autora.
O aumento da coleta diária no inverno é justificado pela necessidade de venda de
mariscos para sustento das famílias que sobrevivem disto, pois há menor demanda de serviços
informais, notadamente junto a veranistas. No verão, a coleta diária diminui para menos da
metade, e prevalece a coleta de 2 a 3 vezes por semana, havendo uma queda na oferta do
marisco. Isso acontece porque muitas marisqueiras preferem trabalhar como domésticas nesse
período, garantindo assim, a continuidade de uma renda. Elas coletam, catam e congelam o
marisco de modo a armazená-lo por mais tempo, e assim garantir uma venda posterior.
Os resultados constatados nessa pesquisa quanto à periodicidade da coleta diferem dos
constados por Jesus (2008) nos municípios de Saubara e Madre de Deus, em que a pesquisa
apontou o verão como período de maior coleta pelas marisqueiras locais. Essa diferença se dá
pelo contexto socioeconômico e turístico que cada localidade vivencia. Contudo, no que se
refere à prática da mariscagem, há uma característica em comum com os dados registrados na
pesquisa de Jesus (2008), para Madre de Deus, com o registrado nessa pesquisa: a preferência
de alguns pelo trabalho informal em detrimento da coleta do marisco. Vale ressaltar que, na
54
atualidade, o contexto de crise econômica que assola o país vem revertendo esses dados. Para
o povoado de Mutá, a crescente escassez de emprego, mesmo na informalidade, vem
obrigando as pessoas a voltarem à prática da mariscagem como principal fonte de renda e não
mais como complementação (como constatado na pesquisa de Jesus, 2008 e inicialmente
também nesta). A perda ou a falta de emprego formal são apontadas como fatores
condicionantes ao retorno à prática extrativista, resultando em maior número de marisqueiras
nos ambientes de coleta. Importante ressaltar que várias pessoas residentes em Mutá
aumentavam as rendas familiares devido a emprego no Estaleiro de São Roque do Paraguaçu,
o qual foi fechado devido às operações da Lava Jato e denúncias de corrupção na Petrobrás,
gerando novamente desemprego. Essa situação é importante, pois mostra que a atividade de
mariscagem num pequeno povoado não está estanque em relação às decisões relacionadas à
política nacional.
A prática da mariscagem está dividida na coleta de mariscos e crustáceos, descritas
enquanto realizadas no manguezal e áreas próximas, e estão organizadas por ordem de
importância como mostra o gráfico 4
Gráfico 4 – Coleta de espécies no manguezal por ordem de importância
Elaboração: a autora.
Na análise sobre as mudanças percebidas no manguezal, para quem o utiliza ou mora
perto, está o aumento ou redução do manguezal e/ou dos mariscos. Essa relação tornou-se
possível através dos dados coletados sobre o tempo de residência no local, sendo que quase
todas as entrevistas residem no local há mais de 20 anos (gráfico 5).
As principais mudanças percebidas no manguezal pelas marisqueiras entrevistadas
foram: o desmatamento e a poluição. As pessoas perguntadas sobre poluição atribuíram o
55
aumento aos resíduos provenientes da fazenda de carcinicultura, assim como a relacionaram
com a diminuição dos mariscos. Já 27% dos entrevistados disseram que para eles não houve
mudança no manguezal, inclusive acreditam estar do mesmo jeito, ou seja, livre de qualquer
impacto.
Gráfico 5 – Tempo de residência em Mutá
Elaboração: a autora.
Gráfico 6 – Principais mudanças no manguezal em Mutá
Elaboração: a autora.
Os moradores entrevistados sobre o tamanho do manguezal se posicionaram da
seguinte forma: nenhum dos entrevistados registrou aumento do manguezal, 64%
responderam que o manguezal sofreu uma diminuição em seu tamanho original, já 36%
afirmam que o manguezal está à mesma coisa. Sobre o percentual de pessoas que justificaram
56
a diminuição, relacionam-na a implantação do viveiro de camarão, pois afirmam ter ocorrido
uma devastação da vegetação do manguezal e a diminuição dos crustáceos e moluscos após a
implantação dos tanques de carcinicultura.
Em relação à proximidade da carcinicultura ter afetado as áreas de coleta do marisco,
as marisqueiras manifestaram sua opinião da seguinte forma: 5% das entrevistadas
responderam que a proximidade do viveiro de camarão não afeta a coleta do marisco; 95%
consideram essa proximidade negativa para a mariscagem, salientando que os produtos
químicos que escoam da vazão do tanque para o manguezal e área de coleta são os principais
responsáveis pela diminuição da quantidade dos mariscos.
Com relação à noção de preservação do molusco, muitas demonstraram saber que o
chumbinho menor não deve ser coletado, pois segundo elas: “o bichinho pequeno precisa ter
tempo de crescer”. Entretanto, reconheceram que, em dias de “coleta fraca” (menor
quantidade), acabam levando os moluscos menores para completar o quilo da venda. Algumas
reconhecem que essa prática, se realizada cotidianamente, é prejudicial, porém não o enxerga
como predatório a ponto de impactar o ambiente de reprodução do molusco. Para as
marisqueiras, o que interfere no crescimento do molusco é um tanque de carcinicultura,
atividade que se desenvolve próximo às áreas de coleta.
É importante frisar que não existe no local nenhum trabalho de conscientização que
possa fomentar, junto às marisqueiras, a importância da conservação no uso e manejo dos
recursos naturais. O que hoje reconhecem como lei é somente sua filiação ao Ministério da
Pesca, no qual são registradas como pescadoras de camarão, onde o mínimo respaldo que
recebem dos representantes legais, que se reúnem algumas vezes por ano, é somente relativo à
pesca e manejo do camarão, em um universo onde quase todas vivem da coleta de moluscos.
Portanto, a criação de uma associação de marisqueiras com representação legal seria o
primeiro passo ao incentivo à preservação, seguido de projetos que fomentassem o resgate aos
conhecimentos culturais e aos novos assimilados
5.2.2 Coleta do marisco por área
Para facilitar o reconhecimento das áreas de coleta pelas marisqueiras, na aplicação
dos questionários, foi utilizada uma imagem de satélite de toda a extensão estudada e em
seguida as áreas de coleta A e B foram divididas em setores e numeradas sequencialmente de
1 a 5 para identificar as áreas de maior coleta, conforme pôde ser visto anteriormente na
figura 15
57
Ao utilizar as imagens como referência, as entrevistadas responderam, após observá-
las, qual dos setores numerados seria melhor (em distribuição e tamanho do chumbinho) para
coleta do marisco, em qual se coleta mais e por último o setor de menor coleta.
Sobre o melhor setor de coleta, 68% responderam ser o 2 (que possui um banco de
areia) e 23% acreditam ser o setor 3; já 9% opinaram pelo 1 e nenhum registro foi
contabilizado para o setor 5, pois segundo as entrevistadas, é uma área de pouco interesse se
comparada às outras onde se coleta mais. Vale ressaltar que esta última informação sobre
“não se registrar coleta no setor 5” é contraditória, uma vez que, em outros momentos, e em
dias repetitivos, foram observadas marisqueiras coletando dentro da área B e também no setor
5. Cabe lembrar que os dados analíticos mostraram que a área A, com os setores 1 e 2,
apresenta efetivamente maior densidade populacional do que a área B.
Quanto aos setores em que mais e/ou menos se coleta, 21% das entrevistadas
responderam que no 2 e 3 se coleta mais, porque segundo elas tem mais quantidade de
marisco e são maiores. Já 20% das entrevistadas responderam que nos setores 1, 4 e 5, coleta-
se pouco ou nenhum marisco.
5.2.3 Relação com o local
A relação com o local pode ser descrita pelo comportamento que os moradores
desenvolvem em determinado ambiente. Em Mutá, 100% das pessoas entrevistadas disseram
que gostam de viver no local por causa da tranquilidade e proximidade da maré. Porém se
perguntadas sobre a possibilidade de saída do local, 50% responderam sim, e justificaram com
motivos que as afetam diariamente, como a falta de estrutura no que concerne emprego,
serviço de saúde, educação, transportes e ainda reclamam da desvalorização da atividade de
mariscagem.
58
6 CONCLUSÃO
A percepção na Geografia permitiu a construção de análises referentes ao estudo do
meio ambiente e das relações sociais desenvolvidas neste. Os seres humanos, como parte
integrante do ambiente, tanto podem se adaptar as condições impostas pelo meio, como
podem modificá-las para atender suas necessidades, agindo no espaço isoladamente ou em
grupos. Neste trabalho o estudo da percepção ambiental foi realizado a partir da interação
entre o homem e o meio ambiente, sua exploração e produção econômica. Assim, esta
pesquisa incluiu as condições bióticas e abióticas de reprodução do molusco bivalve A.
brasiliana em áreas de mariscagem, próximo a tanques de carcinicultura.
As análises físico-químicas das amostras de sedimentos em áreas selecionadas e a
densidade populacional e biometria dos moluscos constituíram análises fundamentais para
evidenciar questões ecológicas e a relação do homem com o meio, incluindo possíveis
influências da carcinicultura sobre o desenvolvimento do molusco nas áreas de mariscagem.
As marisqueiras do povoado de Mutá, integram-se ao grupo de mulheres, presentes em
toda a BTS, que retiram seu sustento das faixas de areia que aparecem na baixa-mar. A coleta
do “chumbinho”, molusco que se reproduz em sedimentos predominantemente arenosos, é o
mais praticado entre elas, pois é um molusco facilmente coletável. Geralmente os utensílios
de coleta são materiais improvisados, desde uma simples colher, cavadores feitos de metal ou
até mesmo restos de conchas de outros moluscos que encontram no próprio ambiente.
A realização das entrevistas no povoado permitiu identificar a relação existente entre a
população, o ambiente de coleta e o A. brasiliana. O resultado dos questionários deixou
evidente que existe uma tradição pesqueira ou marisqueira no povoado, muitas famílias ainda
retiram seu sustento (como alimento e/ou fonte de renda) da coleta do molusco, contudo
também ficou evidente que essa atividade não constitui a única fonte de renda destas famílias,
sendo em alguns casos uma fonte de renda extra, principalmente para as marisqueiras que
trabalham temporariamente como domésticas. Vale ressaltar que essa informação foi inclusive
o motivo primário que justificou a afirmação de maior coleta (por parte das marisqueiras) no
período do inverno, já que no verão, elas optam pela renda extra, vinda de trabalhos
domésticos em casas de veraneio ou no hotel Fazenda que no verão as contrata para suprir
suas necessidades periódicas.
Os questionamentos feitos às marisqueiras a cerca da área de coleta, possibilitou uma
comparação entre suas respectivas respostas e as análises estatísticas realizadas por áreas. As
áreas numeradas em A e B e setorizadas numericamente de, 1 a 5, constituíram parâmetros ás
59
respostas das marisqueiras. Estas responderam que coletam mais no setor 1 e 2 (dentro da área
A), e no setor 3 (dentro da área B), pois afirmam ter maior quantidade de moluscos. Essa
afirmação tem correlação com os parâmetros bióticos e abióticos analisados, pois foi
constatado que na área A, há maior densidade populacional, maior número de indivíduos que
na B. Os menores teores de M.O., nutrientes (N-P-K) e salinidade, associado a maiores teores
de areia média e fina, podem ser favoráveis a reprodução de A. brasiliana, uma vez que, a
espécie não predomina em locais de granulometria mais fina, onde são encontrados os
nutrientes. Assim, a justificativa para a área de maior coleta ser A, pode estar relacionada às
frações granulométricas e não aos nutrientes biodisponíveis no ambiente de coleta.
60
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63
APÊNDICE 1
QUESTIONÁRIO DE INVESTIGAÇÃO SOCIAL APLICADO ÀS MARISQUEIRAS
DO POVOADO DE MUTÁ, JAGUARIPE, BAHIA.
UFBA – IGEO – GEOGRAFIA ROTEIRO DE ENTREVISTA
Entrevistador (a) ________________________Comunidade: Mutá Data__/__/__
Entrevistado (a): ___________________________________ Idade: _____
1. DADOS GERAIS
1.1 Sexo: ( ) F ( ) M
1.2. Faixa etária (n° de pessoas na casa):
( ) < 10 ( ) 11-18 ( ) 19-30 ( ) 31-50 ( ) 51-70 ( ) > 70
1.3. Nível de instrução (n° de pessoas na casa):
( ) analfabeto ( ) 2º grau completo
( ) 1º grau incompleto ( ) superior incompleto – qual?________
( ) 1º grau completo ( ) superior completo – qual? _________
( ) 2º grau incompleto – técnico?___________
1.4. Nº de pessoas na casa:____________
1.5. Principal (is) fonte(s) de renda (enumerar caso haja mais de uma):
( ) empregado com carteira assinada. Função: ____________________________
( ) despesca
( ) programa social – qual?___________________________________________
( ) aposentadoria
( ) atividade artesanal –mariscagem ou pesca
( ) comerciante – qual? _____________________________________________
( ) outra qual?____________________________________________________
1.6. Renda familiar total:
( ) < 1 sal. mín. (<415) ( ) 1-2 sal. mín. (415 - 830)
( ) 2-5 salários mínimos (830 – 2.075) ( ) > 5 sal. mín. (>2.490)
1.7. Tempo de residência no local:
( ) menos de 2 anos ( ) 2-5 anos ( ) 5-10 anos ( ) 10-20 anos ( ) > 20 anos
2. INFORMAÇÕES SOBRE O MANGUEZAL
2.1 O que é manguezal para o Sr./ a Sra.? _______________________________
2.2. Manguezal por perto é:
( ) bom ( ) ruim. Por quê? ___________________________________________
2.3. Faz mariscagem atualmente?
( ) Não ( ) Já fez? – Permaneceu por quanto tempo?_______________________
Ano que parou de coletar _________ Motivo ______________________________
( ) Sim - ( ) consumo próprio ( ) venda – para quem? _____________________
2.4. Coleta o quê? (enumerar por ordem de importância)
64
( ) aratu ( ) caranguejo ( ) guaiamum ( ) siri ( ) sururu
( ) ostra ( ) chumbinho ( ) outros: _____________________________
2.5. Qual a quantidade coletada em um dia (kg)? Com a casca_____ Sem a
casca____
Verão ____________ Inverno ___________
Quanto precisa para fazer 1 kg de chumbinho sem casca? Verão ________ kg
Inverno ______kg
2.6. Periodicidade: V – verão
( ) diária ( ) 2-3 vezes por semana ( ) 1 vez por semana
( ) 15 dias ( ) 1 vez por mês ( ) outro _______________________
I – inverno
( ) diária ( ) 2-3 vezes por semana ( ) 1 vez por semana
( ) 15 dias ( ) 1 vez por mês ( ) outro_________________________
2.7. Por quê coleta mais no verão? _______________________________________
2.8. São realizadas outras atividades no manguezal?
( ) Não ( ) Sim. Quais? _____________________________________________
2.9. Em sua opinião, o que mudou no manguezal da pontinha desde que mora
aqui?
( ) nada ( ) mudou: ________________________________________________
2.10. Desde que mora aqui, o manguezal da pontinha:
( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) mesma coisa
Por quê? _________________________________________________________
2.11. Você acha que a existência de um viveiro de camarão próximo ao manguezal
prejudica a coleta de mariscos?
( ) não ( ) sim ( ) melhora ( ) piora
Por quê?__________________________________________________________
2.11. Em sua opinião, em que lugar é melhor para coleta de marisco?
Ordenar por importância. "x" onde não coleta.
Áreas ( ) 1 ( )2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5
2.11.1. Em qual dos setores você coleta mais? ( ) Por quê? __________________
2.11.2. Em qual dos setores coleta menos? ( ) Por quê? ______________________
3. RELAÇÃO COM O LOCAL
3.1. Gosta de viver aqui? ( ) Sim ( ) Não. Por
quê?____________________________
3.2. Se tivesse a opção de sair, sairia daqui? ( ) Não ( ) Sim. Iria para
onde?________
3.3. O que falta para melhorar a vida aqui onde mora? _______________________
65
APÊNDICE 2
DESCRIÇÃO DAS ANÁLISES EM LABORATÓRIO
1. GRANULOMETRIA
As análises granulométricas dos sedimentos foram feitas após as amostras serem liofilizadas,
peneiradas, para a obtenção da fração menor que 2 mm. Em seguida foram homogeizadas e
quarteadas, segundo a Embrapa (1997). Da menor fração contida em cada amostra, foi pesado
5g (em uma balança de precisão analítica) em candinhos de porcelana, postos na mufla para
calcinar a uma temperatura entre 400 e 500°C. Logo após, as frações foram analisadas
segundo o método de determinação das partículas por difração a laser (modelo Cilas). Para ao
fim, o tratamento dos dados estatísticos – realizados com auxílio do programa GRADISTAT
versão 4.0 – organizar o resultado por faixas: areia, silte e argila (FOLK et al., 1957).
2. NITROGÊNIO
Para a análise do Nitrogênio foi utilizado o método Kjeldhal, que compreende duas etapas: a
primeira é a digestão da amostra para converter o N orgânico a íon amônio (N-NH4+
) e a
segunda é a determinação do NNH4+
digerido após a destilação do álcali. Na digestão, em um
tudo de Kjeldhal foi adicionado 1g de mistura digestora para 0,7000g da amostra liofilizada,
em seguida a amostra foi homogeneizada, e no interior da capela com exaustor preparada para
vapores ácidos, recebeu adição de 300 mL Ácido sulfúrico (H2SO4) concentrado, foi agitada e
posta no bloco digestor (com suporte para 40 tubos) por 4 horas para sua digestão. Após a
digestão e resfriamento da amostra tem início o processo de destilação da mesma. Agitar a
amostra digerida e antes de conectar ao destilador de Kjeldhal, verificar o nível da caldeira e
ligar a torneira da água que resfria, após esse procedimento a conexão ao destilador pode ser
feita. Logo após são adicionados, aos poucos, 15 mL de Hidróxido de Sódio (NaOH 15%)
mais 10mL de água (H2O) destilada, em seguida o erlenmeyer de 250 ml contendo 40 mL de
H3BO3 4% (corada) foi conectado ao destilador de Kjeldhal observando o término da reação,
e por fim ligado o botão de aquecimento. Se na amostra contiver Nitrogênio, a solução ficará
azulada.
3. FÓSFORO (P)
Na análise de fósforo foi pesada 0,4g de amostra em um tudo de ensaio de 50 mL graduado,
com o auxílio de uma pipeta foi adcionado 10 mL de HCl 1mol L-1
e em seguida a solução foi
66
posta em mesa agitadora por 16 horas, e após agitadas as amostras foram centrifugadas por 15
minutos em 3000 RPM. De cada amostra foi retirada uma alíquota de 1 mL, onde foram
transferidas para outros tubos de ensaio, para receber adição de 0,8 mL solução ácida de
molibdato + tartarato, 10,00 mL de água deionizada e 0,2 mL ácido ascórbico 25 mg L-1
misturar e aguardar por 10 minutos. Para ao fim a medição ser determinada no
espectrofotômetro em 880 nm.
4. MATÉRIA ORGÂNICA (M.O)
Para a determinação de M.O foram pesados no Erlenmeyer de 500 mL 0,5g de amostra e com
o auxílio de uma pipeta foi adicionado 5 mL de Dicromato de Potássio (K2Cr2O7 1N). Na
capela foi adicionado Ácido sulfúrico com sulfato de prata (10 mL H2SO4 – Ag2 SO42,5g / L), em
seguida a solução foi agitada e deixada em repouso por 30 min.Apos o repouso, ainda na
capela, foi adicionado 5mL de Ácido fosfórico concentrado (H3PO4 conc.), 0,5 mL de
difenilamina (indicador faz, aparecer a cor escura), 0,1g de Fluoreto de Sódio (NaF) e 10 mL
de água Destilada (H2O). Em seguida a solução é titulada com Sulfato Ferroso Amoniacal
(0,5N), se na titulação as amostras tiverem M.O surgirá uma coloração verde brilhante
indicando a presença da mesma, onde o nível da titulação indica a quantidade presente em
cada amostra.
5. POTÁSSIO (K)
Para análise de Potássio, foram pesados 1g da amostra em vasos de teflon em seguida foram
adicionados 5 mL de Ácido Nítrico ( HNO3) e 5 mL de água milliQ (H2O), a solução foi
agitada e posta em repouso por 30 min. Após o repouso os vasos são fechados e levados ao
forno microondas, e ao retirá-los do forno são levados para resfriar na capela. Em seguida os
vasos são abertos, com cuidado para evitar respingos, e filtrados para o balão de 50 mL, com
cuidado para evitar perdas, onde serão lidos no programa de microondas Provecto Análitica
segundo metodologia D 5258-92 (ASTM, 1992) 6). Leitura realizada por ICP – OES modelo
Agilent Technologies 720 Series.
6. pH e Eh
Na determinação do pH e Eh foram pesadas 10 g de cada amostra em um Béquer de plástico
de 10 mL, adicionando 25 mL de água ultra-pura-milliQ, e em seguida as amostras foram
agitadas com um bastão de vidro e deixadas em repouso por 1 hora. Após esse descanso cada
amostra foi novamente agitada com um bastão de vidro, e na suspensão homogeneizadas
67
foram mergulhados elétrodos para proceder a leitura do pH e Eh. A leitura é realizada co o
auxilio do pHmetro calibrado 30 min antes utilizando soluções tampão com pH entre 4,00 e
7,00.
7. SALINIDADE
Na análise da salinidade, foram pesados 50g do sedimento e colocados em tubinhos falcons.
Em seguida, com o auxílio de uma pipeta, foi gotejada água destilada (H2O) até umedecer a
amostra, sem formar sobrenadante. A amostra foi deixada em repouso por alguns minutos e
colocada para centrifugar durante 10 min por 3000 RPM. Após centrifugar, foi extraída a
alíquota de cada amostra para ser feita a leitura no refratômetro de mão HAND
REFRACTOMETER, modelo ATAGO S/Mill-E.
68
APÊNDICE 3
RESULTADOS DAS ANÁLISES
Amostra Coleta
Densid.
popul. Altura Compr. Largura
Areia
grossa
Areia
media
Areia
fina
Areia
muito
fina Silte Argila M.O N P K pH
salini-
dade
101 1 6 1.90 2.46 3.21 298 330 171 32 158 11 1.35 0.04 127.7 621.5 6.68 32
102 1 0 0 0 0 287 563 149 0 0 0 2.77 0.1 48.3 314.0 6.63 40
103 1 9 1.32 1.6 2.14 224 428 339 9 0 0 1.63 0.04 24.6 138.1 7 30
104 1 19 0.71 0.95 1.17 143 478 375 4 0 0 1.04 0.1 11.4 79.7 7.73 30
105 1 0 0 0 0 236 183 67 21 475 18 6.41 0.22 94.7 842.5 7.31 25
106 1 2 6.37 7.85 10.67 137 463 378 22 0 0 1.63 0.04 43.3 188.6 7.5 37
107 1 8 1.36 1.69 2.23 215 439 339 8 0 0 2.87 0.10 80.4 274.0 7.32 30
108 1 1.8 1.80 2.22 3.08 129 453 407 11 0 0 2.41 0.04 59.2 218.0 7.46 40
109 1 3 3.83 4.62 6.28 123 496 366 16 0 0 2.34 0.1 68.9 251.0 7.27 38
110 1 0 0 0 0 191 505 302 2 0 0 4.88 0.08 127.3 1478.0 7.08 33
111 1 11 1.34 1.63 2.26 271 453 268 8 0 0 1.52 0.04 412.4 605.1 7.15 40
112 1 15 0.77 0.99 1.31 133 494 369 5 0 0 0.59 0.04 36.6 303.2 7.76 38
113 1 18 0.58 0.71 0.97 167 555 209 41 27 0 0.77 0.04 59.6 364.2 7.66 33
114 1 17 0.64 0.79 1.08 251 496 244 8 0 0 2.17 0.04 59.2 605.9 7.9 40
115 1 16 0.67 0.83 1.14 237 510 244 9 0 0 0.85 0.04 656.0 293.6 7.66 30
116 1 9 1.27 1.61 2.14 166 467 361 6 0 0 1.41 0.04 369.0 303.0 7.51 35
117 1 30 0.35 0.42 0.59 198 564 235 4 0 0 0.84 0.04 31.0 291.8 7.78 30
118 1 20 0.52 0.66 0.88 263 560 176 1 0 0 1.03 0.04 229.6 223.8 7.74 30
119 1 2 5.73 6.82 9.21 196 529 269 6 0 0 1.45 0.04 386.9 439.9 7.65 25
120 1 1 10.46 13.61 17.54 342 384 272 2 0 0 1.31 0.04 101.5 160.4 7.75 30
121 1 35 0.29 0.38 0.50 249 478 267 6 0 0 1.41 0.04 53.8 318.1 8.01 30
122 1 37 0.29 0.47 0.49 322 458 220 1 0 0 1.23 0.04 47.8 334.5 7.91 25
69
Amostra Coleta
Densid.
popul. Altura Compr. Largura
Areia
grossa
Areia
media
Areia
fina
Areia
muito
fina Silte Argila M.O N P K pH
salini-
dade
123 1 32 0.29 0.36 0.49 249 468 277 6 0 0 1.18 0.04 43.4 312.1 8.07 25
124 1 34 0.32 0.39 0.53 196 468 327 10 0 0 1.22 0.04 45.5 341.5 7.93 25
125 1 28 0.38 0.65 0.67 188 454 352 6 0 0 0.94 0.04 378.9 257.3 8.16 26
126 1 34 0.32 0.40 0.52 131 435 411 22 0 0 1.31 0.04 44.9 127.3 8.16 36
127 1 13 0.75 0.98 1.30 103 507 386 4 0 0 0.94 0.04 36.1 193.8 8.16 20
128 1 32 0.33 0.43 0.57 54 356 546 44 0 0 1.22 0.04 29.3 261.4 8.09 26
130 1 11 0.84 1.10 1.39 154 238 380 228 0 0 0.04 0.04 39.4 286.8 8.18 30
131 1 2 4.35 5.75 7.59 93 482 419 6 0 0 0.04 0.04 50.3 176.0 8 30
132 1 4 2.97 3.7 4.98 154 565 282 0 0 0 0.04 0.04 23.1 180.7 7.97 25
133 1 18 0.59 0.75 0.96 74 333 538 54 0 0 0.04 0.04 52.5 403.3 3.08 30
134 1 15 0.75 0.96 1.23 43 392 542 24 0 0 0.04 0.04 53.3 224.9 7.94 30
135 1 23 0.47 0.60 4.65 201 559 240 0 0 0 0.04 0.04 36.2 165.0 8.27 30
136 1 1 5.49 6.65 9.48 57 267 596 81 0 0 0.30 0.04 122.5 381.8 8.15 35
137 1 22 0.49 0.62 0.83 46 429 512 14 0 0 0.04 0.04 27.9 218.3 8.19 30
138 1 8 1.12 1.40 1.89 146 528 325 1 0 0 0.04 0.04 112.8 170.7 8.12 25
139 1 0 0 0 0 222 506 271 1 0 0 0.20 0.04 18.8 281.6 7.95 20
140 1 12 0.83 1.05 1.41 209 518 272 1 0 0 0.60 0.04 68.5 314.4 7.83 30
141 1 14 0.75 0.92 1.22 175 512 311 2 0 0 0.04 0.04 135.9 170.9 7.9 25
142 1 0 0 0 0 43 225 631 101 0 0 0.20 0.04 21.0 340.3 7.7 35
143 1 18 0.56 0.71 0.97 27 226 654 93 0 0 0.10 0.04 33.9 377.4 7.5 25
144 1 24 0.42 0.53 0.70 247 443 307 4 0 0 0.60 0.04 31.7 159.1 7.76 25
145 1 1 5.03 6.21 8.45 435 136 380 49 0 0 1.24 0.04 30.7 355.5 7.45 24
146 1 25 0.38 0.47 0.64 137 288 522 54 0 0 0.86 0.04 29.2 311.5 7.51 26
147 1 11 0.90 1.20 1.52 168 485 345 3 0 0 1.04 0.04 19.2 206.8 7.92 26
148 1 8 1.39 1.73 2.30 147 338 461 54 0 0 0.95 0.04 114.1 306.2 7.76 20
149 1 5 1.74 2.20 2.96 185 397 401 17 0 0 0.38 0.04 <10 241.7 8.37 35
150 1 3 2.84 3.48 4.7 202 530 267 0 0 0 0.66 0.04 10.7 167.8 7.48 40
70
Amostra Coleta
Densid.
popul. Altura Compr. Largura
Areia
grossa
Areia
media
Areia
fina
Areia
muito
fina Silte Argila M.O N P K pH
salini-
dade
201 2 0 0 0 0 240 360 300 100 0 0 4.80 0.04 56.5 881.4 7.36 30
202 2 0 0 0 0 98 123 22 342 315 100 7.08 0.10 136.9 2004.2 7.35
203 2 4 4.33 3.14 2.61 224 422 347 7 0 0 2.14 0.04 129.8 847.0 7.47
204 2 0 0 0 0 143 478 375 0 0 0 2.92 0.10 128.6 940.8 7.5 40
205 2 0 0 0 0 154 223 111 111 301 100 5.69 0.22 124.8 2022.9 7.29 42
206 2 1 16.86 11.1 9.25 164 469 324 43 0 0 3.33 0.04 85.4 1637.1 7.36 40
207 2 19 0.98 0.68 0.57 208 317 220 254 0 0 1.27 0.10 38.1 460.9 6.81 40
208 2 8 2.12 1.47 1.22 107 510 38 345 0 0 0.09 0.04 23.0 352.8 8.02 35
209 2 1 18.67 12.86 11.75 232 181 175 220 123 69 3.45 0.08 76.5 1202.8 7.33
210 2 4 4.65 3.04 2.69 220 490 242 47 0 0 2.07 0.17 65.9 757.6 7.85
211 2 15 1.11 0.79 0.72 306 390 269 35 0 0 2.04 0.04 47.1 765.3 7.71 40
212 2 6 3.64 2.57 2.22 401 300 265 33 0 0 0.39 0.04 20.7 339.5 7.5 40
213 2 3 6.52 4.37 3.8 245 516 239 0 0 0 4.01 0.04 89.1 1480.1 7.44 35
214 2 2 8.8 5.98 4.88 263 423 261 52 0 0 1.04 0.04 23.5 584.0 7.16 40
215 2 17 1.07 0.75 0.63 301 401 274 24 0 0 1.14 0.04 32.8 500.4 7.89 26
216 2 3 7.49 5.39 4.45 211 535 211 43 0 0 0.36 0.04 19.3 327.4 7.16 35
217 2 22 0.75 0.51 0.45 370 440 181 8 0 0 1.45 0.04 44.0 689.2 6.92 35
218 2 18 0.93 0.64 0.55 241 471 241 48 0 0 0.38 0.04 19.0 474.9 7.49 38
219 2 8 2.06 1.43 1.23 340 401 211 48 0 0 1.36 0.04 41.2 715.3 7.79 35
220 2 14 1.36 0.97 0.78 254 364 310 72 0 0 0.61 0.04 22.3 368.0 7.09 32
221 2 10 1.77 1.24 1.02 249 478 267 6 0 0 0.37 0.04 50.4 390.3 7.08 23
222 2 14 1.25 0.88 0.74 249 478 267 6 0 0 0.38 0.04 63.9 374.6 7.09 27
223 2 8 1.96 1.34 1.15 407 424 154 15 0 0 0.66 0.04 78.1 464.0 7.28 35
224 2 12 1.5 1.06 0.89 235 443 266 56 0 0 0.48 0.04 65.6 340.8 7.06 22
225 2 23 0.77 0.54 0.47 301 405 222 72 0 0 0.76 0.04 64.5 362.0 7.18 40
226 2 18 0.92 0.68 0.59 280 446 264 10 0 0 0.49 0.04 67.8 381.2 6.96 35
227 2 15 1 0.71 0.6 272 445 280 2 0 0 0.61 0.04 72.9 651.2 7.06 40
71
Amostra Coleta
Densid.
popul. Altura Compr. Largura
Areia
grossa
Areia
media
Areia
fina
Areia
muito
fina Silte Argila M.O N P K pH
salini-
dade
228 2 9 1.69 1.19 1.13 221 400 302 77 0 0 1.00 0.04 77.2 291.5 7.1 40
230 2 6 2.68 1.82 1.64 613 253 60 74 0 0 0.32 0.04 61.8 272.4 7.27 35
231 2 0 0 0 0 540 332 51 77 0 0 0.04 0.04 69.1 327.7 7.01 30
232 2 4 3.96 3.01 3.06 431 458 111 0 0 0 0.04 0.04 60.2 152.1 7.19 23
233 2 1 16.91 10.52 9.7 470 231 263 36 0 0 0.04 0.04 59.2 274.5 7.4 35
234 2 3 6.12 4.16 3.61 597 333 53 18 0 0 0.04 0.04 55.0 258.3 7.32 36
235 2 7 2.25 1.49 1.32 446 378 176 0 0 0 0.10 0.04 60.6 164.0 7.49 25
236 2 0 0 0 0 246 306 405 44 0 0 0.04 0.04 62.2 281.0 6.9 25
237 2 4 4.73 2.18 2.77 400 253 324 22 0 0 0.41 0.04 56.7 270.5 7.08 27
238 2 7 2.21 1.48 1.34 497 339 164 0 0 0 0.21 0.04 68.8 152.0 7.34 23
239 2 2 8.19 5.2 4.79 363 232 332 73 0 0 0.41 0.04 65.5 272.8 7.15 26
240 2 6 2.93 1.98 1.69 226 336 401 36 0 0 0.52 0.04 63.9 280.8 6.98 30
241 2 0 0 0 0 327 421 245 7 0 0 0.17 0.04 65.6 306.4 7.15 22
242 2 11 1.67 1.13 0.96 441 223 271 66 0 0 0.69 0.04 75.6 302.2 7.21 23
243 2 0 0 0 0 103 321 536 40 0 0 0.04 0.04 70.8 272.9 7.01 25
244 2 4 3.97 2.67 2.31 340 400 250 10 0 0 0.21 0.04 61.1 176.5 7.13 25
245 2 2 6.76 4.65 3.8 335 217 360 87 0 0 0.51 0.04 75.2 322.8 7.04 40
246 2 0 0 0 0 361 271 324 43 0 0 0.86 0.04 57.7 297.7 7.06 23
247 2 5 3.24 2.16 1.97 342 491 168 0 0 0 0.40 0.04 78.7 213.1 7.35 27
248 2 5 3.54 2.38 2.02 211 164 612 12 0 0 1.31 0.04 54.5 448.2 7.05 36
249 2 0 0 0 0 324 349 286 41 0 0 0.21 0.04 57.7 229.5 7.29 32
250 2 0 0 0 0 216 551 233 0 0 0 0.28 0.04 48.9 193.3 7.35 29