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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR UECE PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA PROPGp
CENTRO DE CINCIAS E TECNOLOGIA CCT CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS CESA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO DE NEGCIOS TURSTICOS - MPGNT
CRISTIANE MESQUITA GOMES
TURISMO E CULTURA NO MARANHO:
AS CAIXEIRAS DA FESTA DO DIVINO ESPRITO SANTO EM ALCNTARA
FORTALEZA - CE
2013
1
CRISTIANE MESQUITA GOMES
TURISMO E CULTURA NO MARANHO:
AS CAIXEIRAS DA FESTA DO DIVINO ESPRITO SANTO EM ALCNTARA
Dissertao submetida Coordenao do
Curso de Ps-Graduao em Turismo da
Universidade Estadual do Cear - UECE,
como requisito parcial para obteno do grau
de Mestre em Gesto de Negcios
Tursticos. rea de concentrao: Gesto
dos Negcios e dos Territrios Tursticos.
Orientadora: Profa. Dra. Luzia Neide
Menezes Teixeira Coriolano
FORTALEZA CE 2013
2
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao
Universidade Estadual do Cear
Biblioteca Central Prof. Antnio Martins Filho
Bibliotecrio (a) Leila Cavalcante Stiro CRB-3 / 544
G633t Gomes, Cristiane Mesquita. Turismo e cultura no Maranho: as caixeiras da festa do divino
esprito santo em Alcntara / Cristiane Mesquita Gomes. 2013. CD-ROM 147f. : il. (algumas color.) ; 4 pol. CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho
acadmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm).
Dissertao (mestrado) Universidade Estadual do Cear, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Mestrado Profissional em Gesto de Negcios Tursticos, Fortaleza, 2013.
rea de Concentrao: Gesto dos Negcios e dos Territrios Tursticos.
Orientao: Prof. Dr. Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano. 1. Turismo. 2. Comunidades. 3. Negcio. 4. Caixeiras do divino.
I. Ttulo. CDD: 380.14506
1. . I. Ttulo.
CDD: 338.46918131
3
4
Ao meu marido e ao meu filho por no me deixarem desistir e me garantirem o suporte necessrio para que eu chegasse aqui. Aos meus pais pelo incentivo incansvel. As minhas irms pelo carinho. A Alice Boga e Ruth Gomes, amiga e tia que tanto se dedicaram para que eu conclusse essa dissertao.
5
AGRADECIMENTOS
A toda minha famlia, em especial ao marido que alicerou minha jornada.
Aos meus pais que no mediram esforos para que eu conclusse essa etapa.
Ao meu filho, irms e sobrinhas que me dedicaram total compreenso e apoio no
perodo de construo da pesquisa.
A minha orientadora, Profa. Dra. Luzia Neide Coriolano, por me nortear o caminho
com sapincia e suavidade, me incentivando e apoiando com laos fraternos.
Ao Sr. Manoel Coriolano, que se tornou grande amigo e cuidou de mim como pai.
Aos professores e funcionrios do Mestrado, em especial ao Prof. Fabio Perdigo.
Aos colegas do mestrado.
Ao Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia do Maranho, Instituio da
qual muito me orgulha fazer parte como docente.
Aos Diretores do IFMA/ Centro Histrico, pela compreenso e aquiescncia ao meu
afastamento para cumprimento da rotina do Mestrado.
Ao Professor Edalton Silva, pela parceria no momento mais crtico de concluso da
Dissertao.
amiga Alice Bogea Prazeres pelo apoio e suporte
A Tia Ruth pelo carinho e dedicao durante a pesquisa.
As caixeiras de Alcntara pela colaborao
A Karina, Diretora da Casa Histrica de Alcntara, pelas informaes precisas.
Ao municpio de Alcntara, pela beleza e riqueza, que possibilita a pesquisa e
contribuio para o meio acadmico.
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No lugar um cotidiano compartilhado entre as mais diversas pessoas, firmas e instituies cooperao e conflitos so a base da vida em comum. Porque cada qual exerce uma ao prpria, a vida social se individualiza; e porque a contiguidade criadora de comunho, a poltica se territorializa, com o confronto entre organizao e espontaneidade. O lugar o quadro de referencia pragmtica ao mundo, do qual lhe vm solicitaes e ordens precisas de aes condicionadas, mas tambm o teatro insubstituvel das paixes humanas responsveis, atravs da ao comunicativa, pelas mais diversas manifestaes da espontaneidade e da criatividade.
Milton Santos
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RESUMO
Esta dissertao analisa a realidade das caixeiras do Divino, na cidade de Alcntara/MA, na Festa do Divino Esprito Santo. Caixeiras so mulheres que promovem o legado cultural que se sobressai como potencial no fortalecimento do turismo de Alcntara. Optou-se pela metodologia exploratria e analtica da realidade, adotando postura crtica frente s anlises, com apoio das fontes da histria e da geografia e em autores da rea do turismo. Categorias de anlise bsicas: lazer, turismo, espao sagrado e profano. Os procedimentos metodolgicos envolvem coleta de informaes, aplicao de questionrios e entrevistas, registros fotogrficos de passos do festejo, assim como gravaes de ladainhas das Caixeiras e depoimentos sobre a iminente preocupao com o futuro da festa. Realizou-se observao participante, o que obrigou a participar da manifestao lado a lado com as Caixeiras, incluindo ensaios. A reviso da literatura ajudou a entender e explicar a Festa do Divino Esprito Santo, a cultura e arte das Caixeiras que podem vir a fortalecer o turismo de negcios no Maranho. A aplicao de formulrios e entrevistas s caixeiras, alunos, professores, comunidade alcantarense, visitantes e gestores pblicos viabilizou a compreenso de entraves que impedem o processo de sucesso das sacerdotisas do Divino. O Maranho rico em negcios tursticos, em destaque a Rota das Emoes que agrega Cear, Piau e Maranho. O folclore e a cultura so subestimados. As sacerdotisas do Divino esto em vias de extino pela ausncia de novas caixeiras que assumam a festa aps a morte das idosas. E mais: ao grupo no est sendo dada a devida importncia, raridade e especificidade do trabalho das senhoras de Alcntara. Concluiu-se que se faz necessria interveno pblica para preparao de novas caixeiras a fim de que o legado cultural seja valorizado e perpetuado em prticas festivas locais e intensificadas de turismo.
Palavras-chave: Turismo. Cultura. Comunidades. Negcio. Caixeiras do Divino.
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ABSTRACT
This dissertation examines the reality of the Divines caixeiras the town of Alcantara / MA in Divine Holy Spirits Party. The women are caixeiras promote the cultural legacy that stands out as the potential to strengthen tourism Alcantara. We opted for the exploratory methodology and analytical reality, adopting critical reading of the analyzes. Drank up the sources of history and geography relying on authors in the area of tourism. The analysis categories were basic, leisure, tourism, space sacred and profane. The methodological procedures involve collecting information, questionnaires and interviews, photographic records of the steps of the celebration, as well as recordings of the litanies of Caixeiras and statements about imminent concern for the future of the party. We conducted participant observation, which forced to join the demonstration alongside the Caixeiras, including trials. The literature review helped to understand and explain the Feast of the Holy Ghost, art and culture of Caixeiras that may strengthen the tourism business in Maranho. The application forms and interviews with the caixeiras, students, teachers, community alcantarense, visitors and public managers allowed the understanding of the barriers that prevent the succession of the divine priestesses. It was found that the Maranho is rich in tourism businesses, particularly the Route of Emotions that adds Cear, Piau and Maranho. The folklore and culture are underestimated. The priestesses of the Divine are endangered by the lack of new caixeiras assume that this party after the death of caixeiras elderly, and that this group is not being given due importance, rarity and specificity of their work these ladies Alcantara. We conclude that public intervention is necessary to prepare new caixeiras order that cultural heritage is valued and perpetuated in the local festive practices and intensified for tourism.
Keywords: Tourism. Culture. Communities. Business. The Divines Caixeiras.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa Polos Tursticos do Maranho.......................................................23
Figura 2 - Lagoa dos Lenis Maranhenses............................................................31
Figura 3 - Parque Nacional dos Lenis Maranhenses............................................31
Figura 4 - Parque Nacional dos Lenis Maranhenses............................................32
Figura 5 - Centro Histrico de So Luis...................................................................34
Figura 6 - Azulejos e fachadas de herana portuguesa...........................................34
Figura 7 - 65 destinos indutores de turismo no pas................................................36
Figura 8 - Cidade de Barreirinhas............................................................................38
Figura 9 - Cachoeira de Itapecuruzinho em Carolina...............................................39
Figura 10 - Rapel na Chapada das Mesas.................................................................39
Figura 11- Estados da Rota das Emoes.................................................................41
Figura 12 - Circuito Rota das Emoes......................................................................41
Figura 13 - Jipes na trilha...........................................................................................42
Figura 14 - Matria de jornal sobre Rota das Emoes.............................................44
Figura 15 - Runas de Alcntara.................................................................................45
Figura 16 - Pelourinho da Praa da Matriz Alcntara Ma.....................................47
Figura 17 - Cpula da Igreja do Carmo e aeronaves militares...................................50
Figura 18 - Runa da Igreja na Praa da Matriz Alcntara Ma.............................53
Figura 19 - Praia do Livramento.................................................................................58
Figura 20 - Casa Histrica de Alcntara.....................................................................59
Figura 21 - Porto do Jacar Alcntara Ma............................................................59
Figura 22 - Descida para a fonte das pedras.............................................................60
Figura 23 - Mapa de Alcntara...................................................................................65
Figura 24 - Cidade de Alcntara.................................................................................66
Figura 25 - Ponto turstico em horrio de visitao, 9:02 h am..................................67
Figura 26 - Rua da Prefeitura 9: 10 h. am..................................................................68
Figura 27 - Circuito de visitao 9:45 h. am...............................................................68
Figura 28 - Foto panormica do CLA.........................................................................74
Figura 29 - Lanamento de foguete no CLA..............................................................74
Figura 30 - Comunidade Mamuna - Alcntara Ma..................................................75
Figura 31 - Mapa do territrio alcantarense do Centro de Lanamento Aeroespacial
de Alcntara...............................................................................................................76
10
Figura 32 - Mulheres quilombolas Alcntara Ma.....................................................79
Figura 33 - Matria de jornal (internet).......................................................................81
Figura 34 - Matria de jornal (internet).......................................................................82
Figura 35 - Caixeiras do Divino em Alcntara............................................................85
Figura 36 - Caixeiras do Divino..................................................................................86
Figura 37 - Duas caixeiras restantes na cidade de Alcantara-Ma..............................87
Figura 38 - Folheto de divulgao F. D. E. S. Alcntara Ma....................................93
Figura 39 - Missa celebrada em louvor ao Divino Alcntara....................................95
Figura 40 - Cantando para evocar o Divino................................................................96
Figura 41 - Mastro enfincado na Praa da Matriz....................................................106
Figura 42 - Ano de Imperatriz Alcntara MA......................................................107
Figura 43 - Ano de Imperador Alcntara MA.........................................................108
Figura 44 - Embarcaes com destino a Alcntara..................................................113
Figura 45 - Casa do Divino Esprito Santo em Alcntara.........................................114
Figura 46 - Altar do Divino na Casa do Divino Esprito Santo em Alcntara...........114
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1- Mdia de idade dos visitantes.................................................................117
Grfico 2 - Sexo........................................................................................................118
Grfico 3 - Quantidade de vezes que o visitante esteve em Alcntara....................118
Grfico 4 - Meio de divulgao da Festa do Divino Esprito Santo Alcntara.......119
Grfico 5 - Quantas participou da festa do Divino em Alcntara..............................119
Grfico 6 - Pretenso de retornar a Alcntara..........................................................120
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SUMRIO
1 INTRODUO........................................................................................................12
2 ESTADO POTENCIALMENTE TURSTICO...........................................................19
2.1 So Lus Dos Azulejos E Portal Entrada Dos Lenis Maranhenses..............25
2.2 Ncleos Indutores De Turismo No Estado.......................................................32
2.3 Rota Das Emoes-Negcio Turstico.............................................................40
3 ALCNTARA: BERO DA NOBREZA PORTUGUESA.......................................45
3.1 A Pequena Cidade De Alcntara, Turismo E Cultura......................................48
3.2 Vida Socioeconmica Da Pacata Alcntara.....................................................65
3.3 Centro De Lanamento Aeroespacial De Alcntara E A Expropriao Das
Comunidades Quilombolas....................................................................................72
4 CAIXEIRAS DA FESTA DO DIVINO ESPRITO SANTO.......................................84
4.1 Festa Sagrada Do Divino Esprito Santo.........................................................88
4.2 Festa Profana Em Alcntara: Arte E Folclore..................................................99
4.3 A Realidade Das Caixeiras Do Divino Em Alcntara.....................................110
5 CONCLUSO.......................................................................................................121
REFERNCIAS........................................................................................................125
APNDICES.............................................................................................................136
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1 INTRODUO
Esta dissertao TURISMO E CULTURA NO MARANHO: caixeiras da
festa do Divino Esprito Santo em Alcntara vincula-se ao Mestrado Profissional
Gesto de Negcios Tursticos, da Universidade Estadual do Cear, e tem como
objeto de investigao Alcntara e a festa sagrada e profana das caixeiras do Divino
Esprito Santo, no contexto scio cultural do Maranho, a oeste da regio Nordeste
do Brasil, segundo maior estado da Regio, contando com 217 municpios, em rea
de 331.983,293 km.
O Estado tem origem na luta entre povos nativos e colonizadores quando,
no ano do descobrimento do Brasil, espanhis ali se instalaram. Trinta e cinco anos
depois, chegam portugueses que tentaram ocupar o territrio sem sucesso. E em
1612, franceses, liderados por Daniel de La Touche1, Senhor de La Ravardire,
ocupam o Maranho (pela invaso Ilha de Upaon-Au2), originando a Frana
Equinocial. A ocupao ocorre em cenrios de lutas e trguas entre portugueses e
franceses durante trs anos e, no ano de 1615, os portugueses expulsaram os
franceses pela Batalha de Guaxenduba e retomaram definitivamente a colnia. Em
1641, novo cenrio de guerra toma de assalto as terras da Capitania do Maranho
com a invaso holandesa, que objetivava expandir a indstria aucareira com
aquisio de novas reas de produo de cana-de-acar. Assim, sucessivas
batalhas marcam o princpio da histria do Maranho, como em 1642, quando
colonos se agigantam na expulso de holandeses das terras e, por trs anos,
sofreram intenso despovoamento e destruio de boa parte da Vila de So Luis. Os
cenrios de guerra s se dissiparam em 1644, com a retirada dos holandeses das
terras maranhenses por falta de reforos. Muitas outras revoltas ocorrem no decorrer
da histria, pois as condies de vida, em terras maranhenses, eram difceis sob o
jugo da coroa portuguesa. assim que os historiadores como Coelho Netto (1979),
Viveiros (1992; 1999) e Lacroix (2012) registram a histria do Maranho.
E do emaranhado de invases resulta a miscigenao e o sincretismo
religioso perpetuado no Estado. ndios, negros, portugueses, holandeses, franceses,
1 Liderou a expedio francesa que, em 1612, deu incio as pretenses de colonizao no Norte do Brasil.
2 Em Tupinamb significa Ilha Grande. A denominao indgena foi restabelecida pela constituio do Estado do Maranho: Art. 8 - A cidade de So Lus, na ilha de Upaon-Au, a capital do Estado.
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algum tempo depois, srio-libaneses contribuem na formao do povo brasileiro e,
em especial, do mstico povo maranhense, crdulo de lendas e de f.
Nesse contexto sincrtico, houve vrias formas de expresso religiosa e
de manifestaes culturais dos maranhenses, em destaque, a Festa ao Divino,
herana do povo portugus, objeto de investigao.
A capital maranhense conhecida como Ilha de So Lus, Ilha dos
Amores ou Ilha de Upaon-Au. Compe-se pelos municpios de So Lus, Pao do
Lumiar, Raposa e So Jos de Ribamar, s margens da Baa de So Marcos, do
Oceano Atlntico e do Estreito dos Mosquitos. Com populao estimada em
1.011.943 de habitantes (IBGE, 2010), So Lus um polo turstico do Nordeste, o
principal do estado, compreendendo os municpios que formam a Ilha e a cidade
Monumento de Alcntara, prxima linha do Equador, a Ilha dos Amores resulta na
maior variao de mar3 do territrio nacional, com alternaes de at oito metros
entre mar alta e baixa. A vegetao selvagem um dos maiores expoentes. Capital
brasileira do reggae, se tornou conhecida como Jamaica brasileira 4.
So Lus, no conjunto arquitetnico, guarda antigos casares cobertos de
azulejos de influncia portuguesa, com cerca de 5 mil imveis dos sculos XVII a
XIX, que remontam ao passado de muita riqueza, quando bares (cidados com
ttulos de nobreza) e prsperos comerciantes acumularam fortunas. O rico acervo foi
tombado em 1997 como Patrimnio da Humanidade pela UNESCO. O acervo
colonial abriga reparties pblicas e privadas, lojas, cinemas, museus, teatros,
bares, restaurantes e hotis, detm o maior conjunto arquitetnico de origem
portuguesa da Amrica Latina. O casario colonial do Centro Histrico da Capital e
de cidades do interior, como Viana, Guimares e Alcntara herana de tempo de
riqueza, quando o Maranho era grande exportador de algodo e cana-de-acar, o
comrcio algodoeiro e o da cana de acar prosperavam poca.
Colonizadores portugueses e descendentes reproduziam em solares e
casares, o estilo arquitetnico colonial europeu. Utilizaram revestimento em
azulejos nas fachadas, ideia funcional que tambm agregou charme e beleza, e se
fez marca caracterstica das construes coloniais maranhenses. Alm de fachadas,
3 a variao do nvel das guas, entre uma preamar e uma baixa-mar. No Maranho varia entre 6 e 8 m.
4 So Luis palco do grande manifesto musical de reggae que teve incio no Brasil no final da dcada de 70 e logo invadiu o Estado. o nico lugar do mundo onde se dana o Reggae em pares. Em todo o Estado so formadas radiolas (paredes) de som de alta qualidade, que fazem das festas uma noite de muita animao massa regueira.
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os azulejos tambm eram utilizados em painis em casas e igrejas. A arquitetura da
poca definida pelo uso de pedras de cantaria5, trazidas de Portugal, sacadas com
balces em ferro e mirantes. A rea de casares histricos de So Lus ocupa 250
hectares e envolve trs mil e quinhentas construes. A beleza e a importncia
histrica do acervo arquitetnico foram reconhecidas em 1997, no primeiro mandato
da governadora Roseana, pela Organizao das Naes Unidas como Patrimnio
da Humanidade (ENCONTRAMA, 2009). A capital ostenta no litoral belas praias e
dunas exuberantes em extensa faixa litornea. Entre praias da capital e lagoas dos
Lenis maranhenses, tm-se guas lmpidas que desguam em cachoeiras no Sul
do Estado. Fazer turismo no Maranho significa experimentar riqueza de paisagens
e cultura com todas as peculiaridades. Culturalmente o Maranho reconhecido
pelas manifestaes ricas em tradio: bumba-meu-boi, tambor de crioula, tambor
de mina, manifestaes do condado de reis, pastores e festa do Divino Esprito
Santo.
Na maioria das cidades, celebra-se a Festa do Divino como manifestao
local, entretanto, na cidade de Alcntara, realiza-se a pesquisa com maior acuidade,
para explicao da tradio das caixeiras da festa, verificao do significado e do
que ocorre com o grupo folclrico tradicional que, a duras penas, se mantm. No
contexto histrico cultural, Alcntara a rea investigada em contextualizao com a
metrpole So Lus, no estado do Maranho.
Alcntara, pequena cidade cercada de praias e ilhas desertas, fundada
em 22 de dezembro de 1648, foi a primeira cidade histrica amaznica reconhecida
Patrimnio Nacional pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional
(IPHAN), desde 1948.
Com a proclamao da independncia, elevada categoria de cidade
em 1836, e, pela proximidade com So Lus, atraiu aristocratas rurais do Maranho
que ali edificaram casarios e sobrados. Na dcada de 1850, Alcntara possua
oitenta e uma fazendas agrcolas, vinte e dois engenhos de acar, vinte e quatro
fazendas de gado e mais de uma centena de salinas, o que lhe conferia posio de
destaque na provncia, reconhecida produtora e exportadora de sal, acar,
5 Mrmore portugus, o termo cantaria era utilizado porque as pedras eram trabalhadas pelos profissionais chamados de canteiros (profissionais portugueses) que preparavam a pedra de Lioz dando a ela a forma necessria para ser usada nos cantos e nos portais das residncias.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lioz
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cachaa, couro, carne, algodo, arroz, farinha, milho e peixe seco. (VIVEIROS,
1999).
Para chegar a Alcntara, pitoresca cidade-monumento do Maranho, h
que se atravessar a grande Baa de So Marcos, em viagem de aproximadamente
uma hora e meia de barco. O stio urbano da cidade est centrado no continente, e
integra o Golfo Maranhense. O cenrio de antigas ruas caladas de pedras,
casares, azulejos, igrejas, moradas, fontes e runas resistentes ao tempo deixam
saltar aos olhos de quem admira a fascinante opulncia e riqueza de tempos atrs.
Os museus, casas temticas e igrejas guardam o remanso do passado e induzem
viagem no tempo.
As Caixeiras da Festa do Divino, na cidade de Alcntara, concerne no
objeto de estudo e relembra a descida do Esprito Santo sobre os apstolos. uma
das mais expressivas festas do calendrio cultural e religioso do Maranho. Pela
histria oral sabe-se que a origem da festa portuguesa, derivada da construo da
Igreja do Esprito Santo em Alenquer6, nos idos do sculo XIII, por ordem da rainha
Dona Isabel, casada com D. Dinis I, de Portugal, festa to singular que chegou ao
Brasil no sculo XVI com colonizadores.
motivo da pesquisa a relevncia cultural da Festa do Divino Esprito
Santo, transformada em atrativo turstico de Alcntara. A convivncia da
pesquisadora com a comunidade, desde 2008, aproximou-a do significado de
prticas culturais locais, especificamente de Alcntara, pelo interesse em investigar
a tradio das Caixeiras do Divino e a importncia do lazer e turismo no
desenvolvimento do municpio. Dessa forma, ressalta-se a pertinncia da temtica
no que se refere ao carter histrico e sociocultural, memria cultural coletiva do
residente que tem, nas caixeiras, testemunhas da histria e da tradio do povo
alcantarense.
Atrativo turstico de todos, a cidade de Alcntara encena a tendncia de
atrair turistas por possuir valores naturais, histricos, culturais, arquitetnicos, nos
ltimos anos, mais direcionados ao turismo. No conjunto de atrativos, a Festa do
Divino se faz expoente, coexistindo com Caixeiras e toque de caixas com
especificidade.
6 Vila portuguesa pertencente ao Distrito de Lisboa.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito_de_Lisboa
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Dessa forma a pesquisa se faz necessria principalmente pelo ineditismo
considerando que as Caixeiras do Divino de Alcntara, ao que parece, nunca foram
valorizadas em primeiro plano, seno como apndice de manifestao cultural em
teses e dissertaes. Pretende-se, no mais que primordialmente, identificar a
origem da festa sagrada e profana no Estado do Maranho, relao com os
Terreiros de Mina na capital, So Lus, e aporte catlico dado manifestao
cultural da cidade de Alcntara. Partindo de constataes, pretende-se investigar a
real situao da existncia das caixeiras em momento hodierno e avaliar o que se
espera do futuro de festejo na cidade, frente ameaa de extino das mulheres
que envelheceram e no h preocupao em perpetuar a cultura do toque de caixas.
o que se percebe no discurso dos moradores e das prprias caixeiras.
Por tudo isso, principalmente pela preocupao das caixeiras sobre a
continuidade do legado cultural, se justifica a pesquisa. Pretende-se com trabalho
investigativo elucidar o futuro da forte herana cultural, contribuindo para discusses
produtivas que envolvam a comunidade alcantarense, caixeiras e dirigentes pblicos
da localidade, para que o futuro possa ser responsavelmente pensado e remediado.
Pelo visto, verifica-se que a tradio das Caixeiras da Festa do Divino
Esprito Santo, em Alcntara, resultado da histria sociocultural do Estado do
Maranho e da capital So Lus. Pelas particularidades da festa, nota-se haver
ameaa constante ao legado pelo descaso e falta de condies de o grupo manter-
se coeso em reproduo da prtica do toque de caixas quando se sabe o significado
para manuteno da identidade, lazer, turismo, sobretudo considerado o problema
da comunidade com saberes constitudos. Sobrepem-se, ainda, as contribuies
comunidade acadmica considerando a escassez de pesquisas da realidade e
interligaes culturais. No entanto, a problemtica investigada centra-se nas
caixeiras da Festa do Divino, e tem a pretenso de contribuir, da o questionamento
sobre a ameaa de extino da prtica do toque de caixas pelas mulheres do Divino
em Alcntara e em So Luis, para tanto se levantam os seguintes questionamentos:
Qual a realidade da cidade So Luiz como principal polo de turismo do
Estado do Maranho?
No contexto da organizao sociopoltica, cultural e turstica do
Maranho e de So Lus, que importncia se d tradio da Festa
das Caixeiras do Divino Esprito Santo em Alcntara?
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Por que a atividade turstica apresenta indcios de estagnao
econmica?
H interveno direta da atividade turstica no processo de manuteno
da cultura local?
O festejo do Divino expoente cultural no Maranho e na Capital?
Por quais motivos o legado das Caixeiras, em Alcntara, encontra-se
sob ameaa de extino?
So pressupostos se destacam no estudo: o Maranho foi mapeado em
polos tursticos: cidade de Alcntara apresentada como expoente turstico; Festa do
Divino Esprito Santo como potencial cultural e turstico do Maranho, So Lus e
Alcntara; constituio da populao de Alcntara, por remanescente de quilombos,
guarda a tradio de forma significativa e est subestimando. Pelos pressupostos e
questionamentos tm-se os seguintes objetivos:
Estudar a festa tradicional das Caixeiras do Divino na organizao
poltica, social e cultural, municipal e estadual;
Investigar as polticas pblicas locais de incentivo cultura, em
especial Festa do Divino Esprito Santo de Alcntara.
Avaliar a relao da tradio das caixeiras com a atividade turstica;
Identificar relevncia no festejo do Divino no Estado, para a capital e a
cidade de Alcntara;
Identificar as semelhanas e dissimilitudes da Festa do Divino de
Alcntara, em relao s demais no estado;
Investigar os motivos que ameaam extinguir o legado das Caixeiras
em Alcntara.
Em face da Festa do Divino Esprito Santo, em Alcntara, desde 2008,
optou-se por acompanhar o ritual, em 2013, a comear pelo domingo de
Pentecostes, incio oficial da festa, at encerramento. A metodologia exploratria
com abordagem quantoqualitativa. A reviso da literatura sobre o tema levou
identificao de conceitos bsicos acerca de cultura, turismo, polos tursticos, festas
populares, sagrado e profano, cultura, lazer e turismo. Adota-se viso crtica frente
s anlises, confrontando contradies com interesse no conhecimento de conflitos
e contradies da realidade do Maranho. Para tanto, verificaram-se fontes da
histria, geografia e turismo, com apoio em autores crticos e, assim, definiram-se
categorias de anlise.
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As fontes para teorizao foram variadas, com o compromisso de
manteno do foco da investigao. Questionaram-se e contrapuseram-se
informaes para no engessamento de verdades como absolutas. Procedimentos
metodolgicos envolvem coleta de informaes, aplicao de questionrios e
entrevistas, registros fotogrficos de passos do festejo, assim como gravaes de
ladainhas das Caixeiras e depoimentos sobre a iminente preocupao com o futuro
da festa. Aplicou-se tcnica de observao participante, o que levou participao
da manifestao lado a lado com as caixeiras, incluindo ensaios.
Como resultado de observaes anteriores sobre a festa, teve-se a
necessidade de entrevistar devotos, caixeiras, festeiros, autctones, visitantes e
autoridades locais para entendimento de determinaes e relaes locais, fatores
relevantes para compreenso do contexto da celebrao da festa e imbricaes com
o turismo e economia local. Relaes diretas do festejo, associadas com similares
no estado, fizeram compreender as reais ameaas que pairam sobre as mulheres de
Alcntara, dedicadas ao toque das caixas durante a Festa do Divino Esprito Santo.
Tendo em vista a metodologia, organizou-se a dissertao em cinco
partes. Na primeira, apresentam-se inteno da pesquisa, motivao do tema
escolhido, justificativa, descrio de problema e questionamentos, assim como
objetivos e metodologia.
Na segunda, abordagem sobre o estado do Maranho e o potencial
turstico no contexto nordestino. Apresenta-se a capital maranhense e ncleos
indutores de turismo no estado.
Na terceira, tem-se a histria de fundao da cidade de Alcntara, relao
com o turismo, vida social e relao do Centro de Lanamento Aeroespacial com as
comunidades quilombolas
Na quarta parte contextualiza-se a Festa do Divino Esprito Santo
compreendendo a realidade socioeconmica de Alcntara e da festa das caixeiras
do Divino Esprito Santo, enfim, concluses e apresentao de propostas.
20
2 ESTADO POTENCIALMENTE TURSTICO
O estado do Maranho, na regio Nordeste do Brasil, tem como limites
Oceano Atlntico, Piau, estado do Tocantins e Par, em rea de 331.983,3 km. O
clima tropical e relevo de costa recortada, assim como a plancie litornea formam
dunas e de planalto na regio interior do estado. A cobertura vegetal variada em
destaque: Mata dos Cocais (leste); mangues na regio litornea, Floresta
Amaznica (oeste) e Cerrado (no sul). As cidades mais populosas do estado so a
capital So Lus e cidades de Imperatriz, So Jos de Ribamar e Timon. No subsolo
h minas de calcrio, ouro, cobre, gipsita, diamante e argila. banhado pelos rios:
Balsas, Itapecuru, Gurupi e Mearim (RIOS, 2010). Duas regies se destacam como
atrativos tursticos no estado: Chapada das Mesas, com cachoeiras, trilhas e rios, e
Lenis Maranhenses com dunas, lagoas, rios e o mar.
Historicamente, ocorreram lutas entre nativos pela posse da terra, a
exemplo do que discorre Lacroix (2012), os espanhis foram os primeiros a passar
por c, onde hoje se sabe Maranho, quando do descobrimento do Brasil. A
ocupao se confunde com a histria da capital So Lus, pois em 1612 os
franceses ocupam o Maranho, no contexto de conflitos entre estes e portugueses.
Estado do Maranho e Gro-Par7 foram institudos em 1621, para melhoria de
defesas e ligao com a Metrpole, j que as relaes com a capital Salvador eram
entravadas por consequncia de correntes martimas na costa leste do oceano
Atlntico. Em consequncia do domnio portugus na regio, em 1774, d-se a
ruptura entre Maranho e Par, motivada pela forte influncia portuguesa que
resistia na aceitao de independncia do Brasil de Portugal que somente se
consolida em 07 de setembro de 1822. Relevar a questo do domnio portugus, da
influncia dos escravos traficados para essas terras e o resultado sincrtico da
miscigenao se faz importante para compreenso de vis cultural do povo
investigado e estudado na pesquisa.
Explicar a explorao de terras do Maranho h se compreender a teoria
de que o grande serto, ao Sul do estado, fora a porta de entrada para migrantes de
paragens brasileiras como conta Coelho Netto (1979) na pesquisa feita no Maranho
7 Um dos estados coloniais portugueses na Amrica do Sul criado no perodo pombalino quando o Maranho mudou a capital de So Lus para Belm. Ia do Nordeste Ocidental at a Amaznia Ocidental, quando o Maranho ganhou soberania e se criou a capitania do Gro Par e Rio Negro (Amazonas).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica_do_Sulhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Marqu%C3%AAs_de_Pombalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Lu%C3%ADs_do_Maranh%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bel%C3%A9m
21
do Sul. O pesquisador relata que o serto era o lugar mais afastado dos pontos
conquistados pelos colonizadores. Matas densas, acessos inadequados, rea de
povoados indgenas e variveis que tornavam o cenrio bastante hostil e desafiador.
Descreve os primeiros habitantes do Maranho e habitat decorrente de muitos
conflitos e resistncias pela posse da terra
Eram nordestinos os homens que ali no alto serto, no sul deste grande estado, vieram criar a civilizao do gado que se caracterizava na implantao das fazendas, com a casa do vaqueiro ou preposto, curral, ocupao de terras, aparecendo assim o seu aspecto fundirio da propriedade, pequena agricultura de sustentao, firmando a conquista definitiva com o afastamento dos gentios, seus primitivos habitantes. (COELHO NETTO, 1979, p.11).
O autor perfila princpio de ocupao das entranhas do estado, na
contramo do que Lacroix (2012) discorre como primrdio contemplando a ocupao
unicamente pelo litoral. Coelho Netto (1979, p. 12) tambm cita os territrios
ocupados pela encenao de odisseia dos que atravessavam o rio Parnaba e
vislumbravam Pastos Bons e se estendem nos campos e nas agradveis ribeiras at
chegar em Tocantins, estabelecendo na poca o conflito de fronteiras entre a
provncia do Maranho e as de Gois e Par.
No traziam escravos, eram brancos, portugueses na sua origem e na sua descendncia, da Bahia e de outros estados do nordeste, acompanhados dos mais legtimos brasileiros, nascidos da mesclagem das raas que povoaram inicialmente essa grande nao, [...] aventureiros e sonhadores que tinham a primazia de possuir o gado e em seguida a terra pela posse imediata [...]. (COELHO NETTO, 1979, p. 12).
Nesses instantes primeiros da histria de ocupao das terras do
Maranho, prepara-se, sobremaneira, a miscigenao e o sincretismo religioso, foco
da investigao. No sculo XVI, o territrio maranhense era povoado por ndios
tupinambs, tremembs e potiguaras, conforme Coelho Netto (1979). O primeiro
europeu a irromper o litoral maranhense fora o navegador espanhol Vicente Yez
Piazn8 em 1500. Por outro lado, contempla-se a viso de Lacroix (2012, p. 17) ao
tratar da invaso das terras do Maranho, ao Norte, invaso por mar:
8 Navegador (explorador) espanhol, foi co-descobridor da Amrica em 1492 como capito da caravela La Nia, na primeira expedio de Cristvo Colombo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Velejadorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Exploradorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Espanhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9ricahttp://pt.wikipedia.org/wiki/1492http://pt.wikipedia.org/wiki/Caravelahttp://pt.wikipedia.org/wiki/La_Ni%C3%B1a_%28caravela%29http://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%B3v%C3%A3o_Colombo
22
Desde fins do sculo XV, europeus, especialmente franceses, vasculharam o litoral brasileiro, em relao amistosa com nativos por meio do escambo. [...] Confirmada a riqueza da regio, a receptividade silvcola e livre da posse dos descobridores, foi formada uma empresa autorizada pela Regente Maria Mdici. Organizada a frota, velas lanadas ao mar a 19 de maro e depois de algumas paradas, os sditos dos Bourbon chegaram a Upaon-Au a 6 de agosto de 1612. Escolheram um lugar estratgico, com viso para os dois braos de rios que circundam a ilha e construram o forte principal, em pau-a-pique, nominado de Sant Louis. [...] Grande parte da comitiva se hospedou nas vinte e sete aldeias da ilha, completamente integrados vida nativa, usando os primitivos caminhos como rede de comunicao e os rios em canoas de um s tronco. [...]. (LACROIX, 2012, p. 17).
A historiadora ambienta dedutveis relaes miscigenadas ocorridas no
perodo, resultado da unio entre europeus e nativos at ento nico povo da regio.
A chegada dos negros traficados ao Maranho data de 1671, segundo Lacroix
(2012, p. 33), quando Padre Antnio Vieira9 sugere ao Rei soluo para o entrave
econmico na regio em decorrncia da ausncia de mo de obra indgena
(escravizados), como comprova o texto
Recuperando o territrio, persistiu o problema da mo de obra. Em 1661, Padre Antnio Vieira sugeriu ao Rei a vinda de negros africanos para o Maranho. Sugesto aceita. Data de 1671 uma petio assinada por leigos e frades requerendo ao Senado da Cmara de So Lus a compra de escravos vindos em dois navios estrangeiros, pois do contrrio consumar-se-ia a runa da terra, j muito decadente.
Feita digresso histrica sobre os primrdios do estado do Maranho faz-
se primordial entender a forma do encontro e mistura dos povos. De fato, o encontro
de diferentes povos e o momento histrico principiam o desenvolvimento terico da
pesquisa. Compreende-se que a riqueza cultural advinda do processo de
desenvolvimento histrico cria legado cultural vasto e rico, que explicita a tendncia
do Maranho a ser forte atrao turstica.
Contemporaneamente, luta-se pelo desenvolvimento econmico
significativo, que o estado, com todo o diferencial, oferece atrativos dos mais
variados, devido importncia do processo histrico e por ser um dos maiores
estados da federao: o oitavo maior e somente dcimo sexto posicionado em
relao ao desenvolvimento econmico. Regionalmente est organizado em polos10:
9 Personalidade do sculo XVII destacou-se como missionrio em terras brasileiras, defendeu os direitos dos povos indgenas combatendo a explorao e escravizao e evangelizando.
10Espao geogrfico claramente definido, com pronunciada vocao para o turismo, envolvendo atrativos tursticos similares e/ou complementares. Prodetur/NE II - Plos de Turismo - Conceito e Etapas de Implementao.
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIIhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mission%C3%A1riohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_humanoshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%ADgenas
23
Os vrios governos do Maranho tambm vm, ano aps ano, buscando solues para o desenvolvimento do Estado e para a melhoria das condies de vida da populao. E diante do grande potencial, o turismo se apresenta como uma das opes mais viveis. No Maranho so cinco plos tursticos privilegiados: So Luis, Floresta dos Guars, Parque dos Lenis, Delta das Amricas e Chapada das Mesas. (ANDRADE FILHO 2003, p. 22).
Dividido em dez Polos, acrescentem-se-lhe cinco mais recentes: Polo
Lagos e Campos Floridos, Polo Munin, Polo dos Cocais, Amaznia Maranhense e
Polo Serras (Guajajara, Timbira e Kanela) (MARANHO, 2011a) (Figura 1).
O mapa mostra a diviso do Estado do Maranho em Plos Tursticos, de
acordo com o Projeto Maranho nico, da Secretaria de Turismo do Estado.
24
Figura 1 - Mapa Polos Tursticos do Maranho. Fonte: Maranho (2011a).
25
O Maranho da regio Nordeste do Brasil, em vizinhana da regio
Norte, o que lhe confere diversificados ecossistemas. So 640 quilmetros de
extenso de praias tropicais, floresta Amaznica, cerrados, mangues
(ENCONTRAMA, 2009). Dada a diversidade, o estado fora dividido em Polos para
gesto mais apropriada de questes naturais e socioeconmicas. Tamanha
variedade de ecossistemas constitui estado rico em atrativos tursticos. Sobre seu
significado, Lage e Milone (2000, p. 28) dizem:
Os lugares, objetos ou acontecimentos de interesse turstico que motivam os deslocamentos de grupos humanos para conhec-los: recursos naturais, patrimnio histrico-cultural, manifestaes folclricas, realizaes cientficas e outros acontecimentos programados.
Os recursos naturais constituem ativos tursticos, instrumento de
desenvolvimento socioeconmico e elevao do nvel de bem-estar da coletividade.
H sublinhar o significado de desenvolvimento na viso de Bursztyn, Bartholo e
Delamaro (2009, p. 77), que consideram o desenvolvimento: uma ideia dos anos
1950 que marca a discurso sobre as estratgias polticas e econmicas que
permitiriam s naes menos favorecidas efetivar a superao da misria. E, na
perspectiva de superao da misria, de vida marginal, utilizou-se o termo
desenvolvimento visando possibilitar crescimento endgeno dos municpios do
Maranho. Para Carestiato (2000, p. 27)
A construo do poder endgeno para um determinado grupo social possa autogerir-se desenvolvendo o seu potencial socioeconmico, preservando o seu patrimnio ambiental e superando as suas limitaes, na busca contnua de qualidade de vida de seus indivduos.
A sociedade protagonista da mudana da realidade de universos
marginalizados, muitos no estado, rico de povo pobre. uma questo dialtica: se o
estado rico em recursos naturais e potencialidades tursticas, por outro ngulo, se
abstrai em estado singular com gritantes diferenas sociais. Estado de disparidades
econmicas sob o jugo da hegemonia capitalista concentradora de riquezas em
mos de poucos, enquanto a grande massa vive dissonante de seus direitos,
ignorada nas necessidades e ignorante do que deve ter por direito.
26
A advertncia de Coriolano (2009, p. 279) punge a anlise quanto
possibilidade de a atividade turstica ser redentora de pases ou estados mais
pobres:
Os pases pobres so levados a acreditar no turismo como atividade indutora do desenvolvimento, o que no acontece, pois se sabe que o chamado desenvolvimento econmico tem base em atividades produtivas slidas, com grande respaldo na industrializao. E que primeiro o lugar precisa crescer e se desenvolver para poder o turismo se estabelecer com sucesso.
Assim, o Estado do Maranho passa por conflitos e contradies
reveladores de cenrio de diferenas socioeconmicas discrepantes e ascendentes,
e acredita na atividade turstica como oportunidade de incremento econmico e
possibilidade de reintegrao de marginalizados social e economicamente. Dir-se-ia
turismo capaz de mitigar desigualdades regionais e locais. A reflexo, luz da teoria
miltoniana, ajuda a definir o que so desigualdades regionais do pas, em relao ao
Maranho e ao Nordeste
Diferenas durveis, localmente interdependentes e cumulativas entre subespaos de um mesmo pas. Condies no somente conjunturais, mas tambm estruturais so responsveis por numerosas diferenas durveis, ligadas umas as outras, na escala do espao considerado. (SANTOS, 2004, p. 293).
Desta forma, entende-se Maranho como estado rico em atrativos
naturais, culturais, na mesma medida, abastado de problemas e gargalos polticos
que dificultam seu crescimento. O entendimento de entraves no estado revela por
que Maranho no se destaca em desenvolvimento turstico em p de igualdade
com estados nordestinos que usufruem de benevolncias da atividade.
2.1 So Lus dos Azulejos e Portal Entrada dos Lenis Maranhenses
Fundada pelos franceses, a capital do estado, nica brasileira, no
nascida lusitana, apresenta arquitetura singular e histria intimamente ligada ao
desenvolvimento do pas. Reconheceu-se pela UNESCO em 1997 como Patrimnio
Mundial, e bem da humanidade. O traado urbano da cidade data do sculo XVIII,
conta com mais de cinco mil imveis, adornados com arcos, gradis, bandeiras, vitrais
27
e azulejos, com diversidade arquitetnica, artstica e cultural mundial. Viana Lopes
(2008, p. 11) descreve assim:
Terra sem males para os tupinambs, eldorado de piratas e colonos, acrpole anacrnica de escritores e literatos, reino vodum para os que buscam encantamento So Luis cidade e ilha. E como toda ilha, paraso do imaginado. Mais do que qualquer outra cidade, So Luis revela a cada detalhe, a cada mudana, por mais furtiva, que o resultado do desejo dos homens. [...] Construram a cidade colonial planejada segundo as normas e fins da Monarquia e da Igreja, mas no sufocaram o misticismo e a sensualidade do barroco.
So Luis foi uma das maiores cidades do Imprio portugus no Brasil,
acomodava homens e mercadorias atendendo aos interesses da Monarquia. o que
se v em pleno sculo XXI:
uma cidade dentro da outra: a metrpole traada segundo princpios funcionais abraa, em anis virios, a colnia fundada sob leis jesutas e consagrada em ambas contemplam o seu reverso, os subrbios sem limites da Jamaica brasileira (assim conhecida mundialmente pela tradio com o reggae). Na ilha entre praias, mangues e muralhas, a cidade de alumnio convive com a serpente lendria que habita suas galerias subterrneas. (VIANA LOPES, 2008, p. 11).
Tupinambs, povo nmade, vindo de todas as parte do litoral brasileiro
para a terra de Upaon-Au, diziam-se smbolo de liberdade, e baseavam as
atividades na agricultura, caa e pesca. Organizavam-se em vinte e sete aldeias,
com cerca de doze mil ndios. Mas, no sculo XVI, exploradores europeus procura
no Maranho, do Eldorado lendrio, minas de Potosi11 na Cordilheira dos Andes,
desagregam as tribos indgenas.
Diante da perspectiva de explorao da Amrica, o ponto do litoral norte
do Brasil foi visitado pelo espanhol Vicent Pianzon, em 1500 e por outros que vieram
em anos seguintes, na inteno de explorar e colonizar (VIANA LOPES, 2008).
Em 26 de julho de 1612, uma expedio francesa composta por trs navios e quinhentos homens, vindos do porto de Cancale sob o comando dos tenentes-generais Daniel de La Touche, Sieur de La Ravardiere, Sieur de Rasily e Aunelles, e Nicolau de Harlay [...] desembarcam no porto de Jeviree (ponta do So Francisco), com o intuito de fundar aqui uma colnia, reforando a povoao originria. (VIANA LOPES, 2008, p. 12).
11
Localizam-se no cerro de Potos, Alto Peru. Principal centro produtor de prata da Amrica, durante o perodo colonial.
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cerro_de_Potos%C3%AD&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Alto_Peruhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pratahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica
28
Sob a influncia dos franceses, tupinambs foram catequizados
internalizando no cotidiano prticas do trabalho de colonizador. Sculo depois, como
influncia portuguesa, importante dizer da interveno de Jernimo de
Albuquerque - primeiro governador do Maranho - que no intento de fortalecer e
formalizar o domnio portugus, organizou a administrao de So Lus, quando o
engenheiro-mor do Estado do Brasil, Francisco Farias de Mesquita, elaborava o
primeiro plano de arruamento da cidade. Da colnia francesa aos portugueses
conservaram o agenciamento espacial do ncleo primitivo da cidade, em torno do
Forte de Saint Louis, e o prprio uso do forte, serviu para manter a localizao dos
edifcios religiosos construdos pelos gauleses. (VIANA LOPES, 2008, p 13).
Para fomentar o turismo, o programa de Regionalizao e diviso do
Estado em Polos coloca o Maranho na rota dos grandes destinos brasileiros, entre
os quais destaca-se o Polo Turstico So Lus que abrange a Ilha de Upaon-au, e
mais quatro cidades, alm da capital: Pao do Lumiar, So Jos de Ribamar,
Raposa e Alcntara. A capital aparece, romanescamente desenhada, na descrio
sinttica de Andrade Filho (2003, p. 23) que apresenta as principais atraes
So Lus dispe de belas praias, entre as quais, pode-se destacar: So Marcos, Ponta dAreia, Calhau, Caolho, Olho dAgua e Guia. A avenida litornea que liga as principais praias da ilha vem se tornando um ponto de concentrao turstica e, assim, estimulando o surgimento de uma srie de negcios em sua extenso. No patrimnio histrico de So Luis (Ma), um dos mais ricos do pas, destaca-se o acervo arquitetnico da Praia Grande (Projeto Reviver), Praa Benedito Leite, Largo do Carmo, Cais da Sagrao, Palcio dos Lees e La Ravardiere, Teatro Artur Azevedo, Fonte de Santo Antonio, Fonte das Pedras, Largo do Ribeiro, Largo dos Amores e Stio do Fsico; alm de igrejas centenrias, tais como: Igreja de So Jos do Desterro, Igreja de So Pantaleo, Igreja do Carmo, Igreja da S, Igreja dos Remdios e Igreja de Santo Antonio. (ANDRADE FILHO, 2003, p. 23).
Entre as manifestaes populares importante citar os festejos juninos,
com o tradicional bumba-meu-boi, apresentaes de tambor de crioula, quadrilhas e
tambor de mina. Exponente cultural do Maranho o reggae, que reconhece So
Luis como capital brasileira do reggae. O acervo cultural dispe de vrios museus:
Museu Histrico e Artstico do Maranho, Museu de Arte Sacra do Maranho, Museu
do Negro, Museu do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, Museu de
Artes Visuais e Convento das Mercs.
So Jos de Ribamar, municpio turstico, a 32 km da capital, destino do
turismo religioso que faz parte do litoral da Ilha dos Amores, com praias extensas, a
29
mais conhecida a praia de Panaquatira. Oferece culinria baseada em frutos do mar
e recebe visitantes diariamente. A cidade de Raposa conhecida pelos bordados
manuais e renda de bilro e culinria tambm com base em frutos do mar. A praia da
Raposa dista 30 km do centro de So Luis, onde se tem a principal colnia de
pescadores. O conjunto urbanstico composto de casas de madeira em que se
expem rendas de artess. Destaque-se a praia de Carim, uma das mais atraentes
da Ilha.
A quarta cidade do Polo turstico de So Luis Pao do Lumiar, tpica
cidadezinha de interior, com reas verdes intocadas. O manguezal fonte geradora
de alimentao e renda de moradores, cidade atrativa de turismo. A influncia de
mars, na maioria dos rios tambm atrai a visitao localidade, pois com o
aumento de volume das guas que desembocam no mar, passeios de canoas e
lanchas se tornam constantes, favorecendo a pesca e apreciao da arrevoada de
guars e garas que fazem ninhos no manguezal.
E a cidade monumento de Alcntara, nica do Polo Turstico, que est
fora da Ilha. A prpria viagem de barco um convite ao turismo. A cidade de rico
patrimnio histrico, forte apelo cultural, com conjunto de atrativos naturais em rotas
das visitaes.
O modelo de gesto em Polos no foi suficiente para desenvolvimento do
turismo. As deficincias do Maranho comeam pela capital e se reproduzem nos
municpios, e o modelo de gesto atinge a pequena vila dos palcios, em cheio.
Lacroix (2012, p. 558) coloca o problema da seguinte forma:
Este centro de atrao turstica e lazer oferecido por bares, restaurantes, lojas de artesanato, livraria, pousadas, comercio de alimentos, seria o carto de visita de So Luis no fora a m conservao dos passeios, dos lampies, dos prdios, das caladas, sarjetas, depositrio do lixo obstrutor das grelhas e tubulaes nas chuvas torrenciais, responsveis pelos mau cheiros dos esgotos, devido a crnica e m administrao da coisa pblica, bem como a ausncia da iniciativa privada nas aes de conservao. Esta a cidade de So Luis, cujo permetro antigo, parte integrante e representativas das pginas da histria colonial e imperial, possui atualmente 5.500 edificaes, que deveriam ser melhor cuidadas, numa poca de mudana de concepo e valorizao do passado. [...]. O Maranho, no entanto, continua descompassado das polticas de conservao do patrimnio histrico e do meio ambiente.
De acordo com a crtica de Lacroix (2012), compreende-se que a
dimenso dos problemas estruturais do Polo So Lus decorrncia da gesto
30
pblica, o que implica entraves para as demais cidades do Polo e principalmente
para Alcntara que, apesar de situada no continente, tem acesso mais rpido pelo
mar, o que, deveras, dificulta o fluxo de matrias primas necessrias para a
alavancada econmica do lugar, tanto quanto legitima a inoperncia dos gestores.
O comentrio de Vieira (2011, p. 92) que o Polo So Lus apresenta entraves ao
desenvolvimento:
No Polo So Lus o mais importante do Estado, abarcando a capital e tendo sido contemplado no estudo dos 65 destinos indutores de desenvolvimento regional - a Secretaria Municipal de Turismo tem desenvolvido a Regionalizao por meio do projeto Turismo Integrado na Ilha, envolve os municpios de So Lus, Raposa, So Jos de Ribamar, Pao do Lumiar e Alcntara uma primeira tentativa de desenvolver os municpios de forma integrada como sugere o Programa . O projeto Turismo Integrado na Ilha foi criado para incentivar a atuao dos poderes pblicos e da iniciativa privada na promoo do desenvolvimento da regio. O objetivo maior era local, aproveitando as reas do entorno, como o balnerio de So Jos de Ribamar, a cidade histrica de Alcntara, as belezas naturais da Raposa e de Pao do Lumiar.
A diviso do estado em polos para potencializar os lugares, valoriz-los
e estrutur-los para, de fato, chegar a patamar de desenvolvimento socioeconmico
significativo via turismo. As anlises de Lacroix (2012) e de Vieira (2011) mostram
que a ingerncia da capital no tem sido induo ao desenvolvimento regional, a
metrpole concentra capitais, projetos e fluxos e no distribui. Com essa
compreenso, explica-se a pseudoestagnao econmica da cidade de Alcntara e
a desesperana de que o fato de ser membro do Polo So Lus pouco contribui para
o crescimento socioeconmico da cidade.
importante frisar o novo plano do Estado ao retomar o Plano Maior em
2010 com diretrizes que se estendem at 2020, retomando as possibilidades do
Maranho:
O Governo do Maranho construiu o Plano Maior/2020, instrumento de planejamento, gesto e orientao tcnica das aes da Secretaria de Estado de Turismo. Com esse trabalho, estamos traando um caminho a ser seguido com o objetivo de conquistar os mercados mundiais e atrair visitantes. O Governo trabalha para colocar o Maranho entre os grandes destinos mundiais, visando gerar emprego e renda para os maranhenses, pois turismo hoje um dos segmentos econmicos que mais crescem no mundo e o nosso estado tem vocao para o setor. (MARANHO, 2011a, p. 3).
31
Em 2010, o Governo, por meio da Secretaria de Estado do Turismo,
revisou o Plano Maior dando-lhe novas perspectivas para o turismo nos anos de
2010 a 2020. O objetivo primordial resgatar os resultados alcanados inicialmente
para melhoria de produtos tursticos. A proposta agrega valores, define ofertas e
traa estratgias de longo prazo definindo o que ser promovido, com
operacionalizao de curto prazo para aumento de captao de turistas
(MARANHO, 2011a). Mediante estratgias de desenvolvimento de produtos e
tendo em vista diferentes nveis de atratividade e desenvolvimento dos Polos
Tursticos do Maranho, hierarquizaram-nos em trs categorias que definem seu
papel no composto turstico do Maranho:
POLOS INDUTORES: com capacidade de mxima rentabilidade pela
melhor otimizao de oferta atual e de produtos existentes em curto e
mdio prazos. So, assim, capazes de induo de desenvolvimento
turstico e catalisao do desenvolvimento dos demais polos.
POLOS ESTRATGICOS: estrategicamente importantes para
diversificao de oferta, a mdio prazo, pelo potencial de atratividade e
por questes de acessibilidade.
POLOS DE DESENVOLVIMENTO: os que necessitam de altos
investimentos em desenvolvimento para atingimento dos mesmos
nveis de rentabilidade dos Polos Indutores: em todos os estados as
capitais so principais polos indutores.
A reconfigurao revela que a capital se mantem em destaque no s
pelos prprios atrativos histricos e culturais, mas tambm por ser o grande porto
de entrada ao turismo no estado e a principal cidade do Polo So Lus.
Lenis maranhenses mantm posio estratgica na captao de
demanda turstica. Chega-se ao Parque dos Lenis pelo aeroporto Cunha
Machado, de So Lus pela BR 135, pela MA 110 e BR 402 at Barreirinhas. Situa-
se o Parque no litoral oriental, abrangendo os municpios de Barreirinhas, Santo
Amaro do Maranho, Primeira Cruz e Humberto de Campos.
Lenis so mundialmente conhecidos pela extensa faixa de dunas e
lagoas de guas cristalinas (Figuras 2 e 3). Lagoa Azul e Lagoa Bonita so os
pontos tursticos mais visitados no interior do Parque. Na regio est o Rio
Preguias, responsvel pela diviso das Dunas em Pequenos e Grandes Lenis.
32
No percurso, encontram-se comunidades pesqueiras de Cabur, Atins e Mandacaru,
habitado por comunidades indgenas pesqueiras.
Figura 2 - Lagoa dos Lenis Maranhenses.
Fonte: GOMES, C.M, 2013..
Figura 3 - Parque Nacional dos Lenis Maranhenses.
Fonte: Maranho (2011a).
O Parque Nacional dos Lenis Unidade de Conservao criada pelo
Decreto Lei no 86.060 de 02 de junho de 1981 (BRASILIA 1981), com rea de 1550
km2 e limites ao norte com o Oceano Atlntico, ao sul com o municpio de Santo
33
Amaro e Barreirinhas, ao leste Municpio de Paulino Neves, ao oeste municpios de
Santo Amaro e Primeira Cruz (Figura 4).
Figura 4 - Parque Nacional dos Lenis Maranhenses.
Fonte: Lenis maranhenses... (2013).
O Parque Nacional para preservao de ecossistemas naturais, com
rios e lagoas interdunares de diferentes tamanhos e profundidades, campos,
plancies, lagos, mangues, vegetao de restinga, buritizeiros e juarais ou aa. A
dinmica das dunas pelos ventos marinhos provoca o fenmeno de mobilidade de
dunas mveis com mais de 50 m de altura. Flamingos, jaburus de pescoo vermelho
e aves migratrias se tm no Parque. Na fauna encontram-se tambm diversas
espcies de peixes e mariscos, assim como espcies de tartaruga que desovam nas
praias dos Lenis Maranhenses.
Os principais municpios tursticos de domnio do Parque so Barreirinhas
e Santo Amaro.
2.2 Ncleos Indutores de Turismo no Estado
O Projeto Destinos Indutores do Desenvolvimento Turstico Regional,
segundo o Ministrio do Turismo, que define parmetros, avalia o estgio de
34
desenvolvimento e elabora plano de ao para que 65 destinos indutores do turismo,
no pas, tenham competitividade em nvel internacional. A primeira edio do estudo
em 2008 apresenta estgio de competitividade turstica de destinos do Pas: no
Maranho, os principais indutores so Barreirinhas e So Luis (Figura 4).
Para o Ministrio do Turismo, o municpio indutor quando competitivo e,
para o rgo, a competitividade: no se trata de um municpio ser melhor do que o
outro, mas sim de cada um se superar ano aps ano, proporcionando ao turista uma
experincia cada vez mais positiva. (BRASIL, 2010). Ou seja, o municpio precisa
de resultados crescentes e qualitativos na balana comercial, superando-se ano a
ano. Para a Secretaria de Turismo da Bahia, um dos destinos de destaque, destinos
Indutores so municpios com maior e melhor infraestrutura e com atrativos
qualificados, identificados com pesquisa de consultores realizada pelo Ministrio do
Turismo. Os destinos recebem do Ministrio do Turismo orientao e treinamento
para elaborao e desenvolvimento do plano de aes com competitividade para
atendimento de demandas nacionais e internacionais. So responsveis pelo
desenvolvimento na regio turstica.
Os Destinos indutores so aqueles que possuem infraestrutura bsica e turstica e atrativos qualificados, que se caracterizem como ncleo receptor ou distribuidor de fluxos tursticos, isto , capazes de atrair e distribuir um significativo nmero de turistas para seu entorno e dinamizar a economia do territrio em que esto inseridos. (TOMAZZONI; POSSAMAI; LOVATEL, 2010, p. 17).
So Lus como municpio indutor do turismo, se destaca em atrativos
histricos, tursticos e naturais. Casarios seculares, com azulejos franceses,
holandeses, ingleses e portugueses pintados mo, marcam as principais atraes
locais, conforme Figuras 5 e 6. Ilha cercada de praias de guas calmas abriga
significativo conjunto arquitetnico da Amrica Latina: mais de mil construes na
rea declarada Patrimnio Mundial pela UNESCO no Centro Histrico de So Luis.
35
Figura 5 - Centro Histrico de So Luis.
Fonte: GOMES, C.M, 2013..
Figura 6: herana portuguesa em azulejos e fachada tpicas da capital.
Figura 6 - Azulejos e fachadas de herana portuguesa.
Fonte: GOMES, C.M, 2013..
36
No Maranho o Plano Estadual de Turismo denomina-se Plano Maior,
assim definido:
O desenvolvimento turstico tem como objetivo criar e definir produtos a partir dos recursos, entendendo-se por Recursos o conjunto de atrativos naturais e culturais de um territrio, criados e conservados por seu povo ao longo da histria. Para os recursos h que definir o que se pode realizar propondo um conjunto de atividades: visitar, assistir, participar, estudar, comprar, comer, dormir etc., mediante uma proposta de acessibilidade, envolvendo horrios de funcionamento, formas de chegar e preos, previamente definidas pelos proprietrios e gestores dos recursos. (MARANHO, 2011a, p. 10).
Assim, o processo de desenvolvimento, a exemplo do Plano Maior, exige
atuao sobre infraestruturas e servios pblicos relacionados com recursos
(comunicao, transportes, saneamento bsico, sade); age tambm sobre
equipamentos e servios do setor turstico (hotis, restaurantes, agncias de
viagem, empresas de aluguel de carros, servios de guias etc.); e sobre a
capacidade das pessoas que vivem e prestam servios ao turismo; sobre a prpria
organizao da atividade especialmente em mecanismos de planejamento, gesto e
na legislao (MARANHO, 2011a). Os Planos de turismo, em todos os estados,
ampliam fluxos tursticos no territrio nacional. Figura 7: 65 destinos indutores de
turismo no Brasil.
37
Figura 7 - Os 65 destinos indutores de turismo no pas.
Fonte: Rio de Janeiro... (2013)
38
So Luis, como municpio indutor do turismo no Estado, apresenta
atrativos peculiares: culinria base de frutos do mar, camaro, sururu, caranguejo,
siri, pescada, robalo, tainha, curimat, mero, surubim e peixes de gua doce e
salgada. Pratos de destaque: sarrabulho12, dobradinha, mocot13, carne-de-sol,
galinha ao molho pardo14, acompanhados da tpica farinha dgua15 ( base de
mandioca em forno artesanal). Na cozinha maranhense destacam-se arroz-de-
cux16, smbolo da culinria do Maranho feito com mistura de gergelim, farinha
seca, camaro seco, pimenta-de-cheiro e ingrediente especial vinagreira (hortalia
de origem africana muito comum). O mais novo expoente das peculiaridades da Ilha
o guaran Jesus de sabor peculiar e colorao rosada, com expressividade
nacional. So Luis tambm bero de famosos poetas: Aluisio de Azevedo e Artur
Azevedo, Bandeira Tribuzi, Ferreira Gullar e tantos outros.
Das principais festas folclricas, destacam-se Bumba-meu-boi, festas
juninas e tambor de crioula (tombado como Patrimnio imaterial Nacional),
elementos primordiais que endossam a capital maranhense como um dos principais
municpios indutores do turismo.
Barreirinhas, consolidada municpio, no final do sculo XVIII, uma
pequena cidade de referncia agrcola, onde se cultiva primordialmente mandioca,
caju, laranja, melancia, arroz, cana-de-acar, coco da praia, milho, feijo e banana.
Figura 8: beira rio de Barreirinhas, s margens do rio Preguias, um dos principais
pontos tursticos.
12
Prato culinrio tipicamente portugus. Guisado de midos do porco ou cabrito, ligado com sangue e geralmente temperado com cominhos. um prato tpico do norte de Portugal.
13 Prato baseado em patas (de vaca) sem casco ou extremidades de bovinos.
14 Prato base de galinha da terra, criada no terreiro, guisada com sangue.
15 Feita com mandioca descascada e amolecida por cerca de 4 dias em gua corrente.
16 Prato tpico da cidade de So Jos de Ribamar. servido como acompanhamento para frutos do
mar, como torta de caranguejo ou de camaro e peixes. A base desta preparao a vinagreira, (Hibiscus sabdariffa).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Porcohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bodehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sanguehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cominhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bovino
39
Figura 8 - Cidade de Barreirinhas.
Fonte: Varo (2013)
Na cultura pecuria, destaca-se a criao de caprinos, base da
alimentao. Os principais atrativos so o Rio Preguias, lagoas Azul, Bonita, dos
Peixes, dos Bentos e lugarejos como Cabur, Vassouras, Atins e Alazo. Das
principais manifestaes culturais, avultam-se as danas de So Gonalo e Bumba-
meu-boi, assim como vaquejadas e Festas Religiosas, de Nossa Senhora da
Conceio e de Santa Rita. A cidade principalmente conhecida pelo artesanato do
local base de fibra de buriti, tambm pela artesania em barro e madeira e
gastronomia destacam-se os pratos a base de frutos do mar, a galinha caipira, o
arroz de coco e de cux. O conjunto do Patrimnio histrico apresenta construo
que remonta ao Sculo XIX, na Fazenda de Santa Cruz e Igreja Matriz.
Antecedendo a todos os atrativos, o municpio principalmente o grande porto de
entrada para Lenis Maranhenses.
Em 2010, sugere-se a insero do municpio de Carolina entre os
principais municpios tursticos do Maranho. Um dos principais atrativos de Carolina
a cachoeira de Itapecuruzinho (Figura 9).
http://www.google.com.br/url?sa=i&source=images&cd=&cad=rja&docid=pn9F14GDiBXrPM&tbnid=hyLna5FHa5ybkM:&ved=0CAgQjRwwAA&url=http%3A%2F%2Fbloguedovarao.blogspot.com%2F2013%2F03%2Fexposicao-fibras-e-tramas-de.html&ei=HEowUqatEYK28wS-s4HABg&psig=AFQjCNGAJVTVmfDEx8Y5PLEq-zNFGtC1MQ&ust=1378982812353680http://www.google.com.br/url?sa=i&source=images&cd=&cad=rja&docid=pn9F14GDiBXrPM&tbnid=hyLna5FHa5ybkM:&ved=0CAgQjRwwAA&url=http%3A%2F%2Fbloguedovarao.blogspot.com%2F2013%2F03%2Fexposicao-fibras-e-tramas-de.html&ei=HEowUqatEYK28wS-s4HABg&psig=AFQjCNGAJVTVmfDEx8Y5PLEq-zNFGtC1MQ&ust=1378982812353680
40
Figura 9 - Cachoeira de Itapecuruzinho em Carolina.
Fonte: Maranho (2011b)
Carolina est centrada no Plo Turstico Chapada das Mesas (Figura
10), em demanda constante de visitantes no ano.
Figura 10 - Rapel na Chapada das Mesas.
Fonte: Maranho (2011a).
41
2.3 Rota das Emoes-Negcio Turstico
A Rota das Emoes um roteiro turstico que parte das reentrncias
maranhenses ao encontro dos estados do Piau e Cear. Destacam-se Jericoacoara
no Cear, Delta do Parnaba no Piau e Lenis Maranhenses no Maranho, pela
regio do extremo norte do nordeste brasileiro. Desde 2007, a unio dos governos
de 3 estados, com apoio de empresrios de turismo, ajuda a promoo de roteiro
recente, j reconhecido no pas. Municpios de Rota:
Araises, MA
Barreirinhas, MA
Paulino Neves, MA
Santo Amaro, MA
Tutia, MA
Cajueiro da Praia, PI
Ilha Grande, PI
Luis Correia, PI
Parnaba, PI
Barroquinha, CE
Camocim, CE
Chaval, CE
Cruz, CE
Jijoca de Jericoacoara, CE
Figura 11: estados brasileiros que integram a Rota das Emoes.
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Figura 11 - Estados da Rota das Emoes.
Fonte: Brasil Planet... (2013)
O roteiro integrado resultado do Projeto da Rede de Cooperao
Tcnica para a Roteirizao 1 edio, implementado pelo SEBRAE e Ministrio
do Turismo, desde 2005. A proposta envolve lideranas locais, empreendedores e
entidades para o desenvolvimento integrado da regio.
O SEBRAE desenvolve trabalho nas comunidades ao longo da rota,
valorizando a cultura local, capacitando para a atividade turstica. Em 2009, a Rota
das Emoes foi eleita Melhor Roteiro Turstico do pas, pelo Ministrio do Turismo,
no 4 Salo do Turismo.
O circuito (Figura 12) apresenta congruncia entre os trs estados e
pontos de interseo da Rota.
Figura 12 - O circuito Rota das Emoes.
Fonte: Mapa das rotas... (2013).
43
Figura 13: aventura a que se submetem os trilheiros da Rota das
Emoes, em transporte off road a lugares de difcil acesso, com travessias de rios e
lamaais que automveis comuns no conseguiriam faz-lo.
Figura 13 - Jipes na trilha.
Fonte: Rota das emoes... (2013).
A Rota das Emoes destino de referncia nacional e internacional,
pelos produtos nicos, diferenciados, que integram natureza, aventura, esportes
relacionados a vento, gua e cultura, em praia. A ideia nasceu em 1970, do
piauiense Everardo Montenegro, que criou Projeto CEPIMAR que une sigla dos trs
estados, em 2005, implementada por intermdio da unio de esforos entre
SEBRAE e Governo Federal. A partir de ento se aloca infraestrutura em localidades
contempladas pelo roteiro em benefcio de 14 municpios abrangendo trs estados
fortalecidos com:
Compromisso com o desenvolvimento sustentvel e melhoria da
qualidade de vida das comunidades;
Fortalecimento da governana local;
Efetivao do processo de integrao em todas as instncias, vivncia
de experincia de grande significado ao turista;
Observncia de polticas pblicas nacionais, estaduais e municipais,
voltadas para o turismo (ROTA DAS EMOES..., 2013).
No segundo semestre de 2012, o SEBRAE iniciou aes de qualificao
de empresrios e trabalhadores do roteiro para fortalecimento de competitividade do
destino e estmulo aos fluxos nacionais e internacionais de turistas.
44
A ideia do projeto, intitulado Rota das Emoes e novos desafios, implantar um processo contnuo de qualificao, abrangendo aspectos de estrutura, atendimento, gesto e sustentabilidade das empresas envolvidas com a atividade turstica no territrio do roteiro. Alm disso, a novidade estimular a participao das empresas nos programas de certificao em turismo disponveis no Brasil, como o Bem Receber do Ministrio do Turismo (MTur) e o Aventura Segura, da Associao Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura (Abeta). (PORTAL DO CEAR, 2012, p. 1).
Segundo o SEBRAE, a oferta est em vigor sob o ttulo: Cooperando para
uma Rota das Emoes Melhor - O Territrio o Negcio (RIBEIRO, 2013).
Figura 14: dimenso do atrativo turstico, pauta de matrias em vrios
tipos de mdia.
45
Figura 14 - Matria de jornal sobre Rota das Emoes.
Fonte: Rope (2011).
46
3 ALCNTARA: BERO DA NOBREZA PORTUGUESA
Volta ao incio da colonizao europeia no Brasil ajuda no entendimento
do Maranho e modo de vida alcantarense que guarda, na gnese, legado de lutas,
falncia e sobrevivncia que resultam no cotidiano moroso do lugar. Figura 15:
runas, construes da poca do Imprio e antigos palacetes corrodos pelo tempo,
cones da paisagem.
Figura 15 - Runas de Alcntara.
Fonte: GOMES, C.M, 2013..
De Alcntara trajada de gala cidade simples e pacata, cenrio de runas
que contam a histria da colonizao, h controvrsias sobre o surgimento, h quem
afirme precedncia a So Lus, como mostra Viveiros (1999), entretanto, ele prprio
cita, em primeira nota de rodap, no livro sobre Alcntara, o passado econmico,
social e poltico. Diz o autor
Alcntara no tem, na histria, precedncia sobre So Lus. impropria e inadmissvel a comparao de cidade com aldeia indgena. Mesmo que assim no fosse, nada autorizaria tal concluso, pois quando a expedio francesa chegou ao Maranho, encontrou aldeias tanto em Tapuitapera quanto em Upaon-au. E as daqui eram mais numerosas que as de l. (VIVEIROS, 1999, p. 15).
47
O autor segue narrativa idlica sobre o valor de Tapuitapera aos olhos
dos franceses, aqui chegados na expedio de La Ravardire, com desembarque no
Porto de Jevir, na Ilha Grande do Maranho, em 1612.
Na mataria densa que al lobrigavam, do outro lado da baa, numa distancia que no chegaria a 4 lguas, em fertilssimas terras do continente, souberam existir um aglomerado de aldeias, de 15 a 20, com uma populao que no seria erro calcular em 8.000 habitantes. Dessas aldeias no faltou quem lhes desse os nomes, dos quais os cronistas da expedio guardaram apenas os principais: Tapuitapera (residncia dos tapuios ou cabelos compridos), Siriji (rio do siri), Jenipa-ip (jenipapo), Miriti-ip (miritizal), Caaguiria (sombra do mato), Pindotiua (palmeira), Arui-ip (lugar de sapos), Tapui-tininga (cabelo seco), Iguaraupaba (estancia de canoas, porto). (VIVEIROS, 1999, p. 15).
necessrio explicar o surgimento de Alcntara em relao a So Luis,
para que se possa chegar ao ponto principal da pesquisa: a herana cultural do
povo. Para tanto, os alicerces de Viveiros (1999) sugerem como marco histrico o
hiato entre os anos de 1616 e 1618, como possibilidade de incio da colonizao
portuguesa de Tapuitapera. O autor destaca a lentido do desenvolvimento, tambm
no restante do litoral brasileiro, no perodo, mas elege a paz, em Tapuitapera,
elemento sobrelevante em relao aos congneres.
A comunicao de Alcntara com os outros lugares no eram s martimas; havia tambm as terrestres. De l partiam trs estradas: a do Pirau-au, que ia ao Gro-Par, passando por So Joo de Cortes, Guimares, Pindoval, Flexal, Sacramento e margens do Rio Turi, que foi, mais tarde, o limite civil e militar do Maranho com o Par. (VIVEIROS, 1999, p. 32).
O progresso s viria em 1648, quando da aldeia elevada categoria de
vila, mesmo perodo em que se construram, em Alcntara, os primeiros engenhos
de cana. Dois anos depois, a produo passa a ser escoada mediante embarcao
martima. , se no fundamental retornar ao tempo para ressaltar o sculo XVII, com
identificao da primeira empreitada de trfico negreiro para Tapuitapera, em
decorrncia da inapetncia indgena para o trabalho submisso.
Tambm muito cedo, os colonos de Coelho de Carvalho compreenderam que, enquanto o esforo exigido do escravo ndio foi o de abater rvores, transportar os toros aos navios, caar, pescar e guiar os exploradores no mato virgem, ele foi dando conta do trabalho servil, mas no dia em que foi arrancado de seu meio fsico e do seu ambiente moral, para as tarefas dos canaviais, dos algodoais e dos mandiocais, ele deixou-se abater, envolvendo-se numa tristeza de introvertido e ficando intil e incapaz, dentro do sistema de colonizao, que ia criar a economia brasileira. por
48
isso, depois das razes de Matias de Albuquerque e de Bento Maciel Parente, na primeira metade do sculo XVII, o colonizador de Tapuitapera deixou a indiada entrar em sossego e seguir o rumo de sua emigrao para o norte. No procurou pre-la. Substituiu-a pelo negro, evitando assim uma dupla guerra, com o ndio e com o jesuta, seu protetor. (VIVEIROS, 1999, p. 54).
Desta feita, Alcntara fez-se forte centro de trabalho servil de negros
advindos do continente africano, o que poca no fugia ao normal em,
praticamente, todas as naes. o ponto histrico preponderante que se busca para
explicao do legado cultural da cidade de Alcntara. Nesse momento, mesclam-se
ndios, europeus e negros. Figura 16: ao centro a imagem do pelourinho que
representa o passado de sofrimento da mo de obra escrava do incio da
colonizao, um dos principais cartes postais da cidade.
Figura 16 - Pelourinho da Praa da Matriz Alcntara Ma.
Fonte: GOMES, C.M, 2013..
Pela miscigenao, tem-se o expoente dos resqucios da Festa do Divino,
resultado da insero africana por estas terras. Assim, por esse motivo, por todo o
sculo XVIII, Alcntara se disse celeiro do Maranho, at o sculo XIX.
Nomes ilustres despontaram no cenrio nacional, com razes fincadas em
terras de Alcntara: Antnio Joaquim Franco de S, filho do Senador de mesmo
nome e de D. Lucrcia Rosa Costa Ferreira, nascido em 1836 e outro, nascido em
1841, tambm Senador de nome Felipe Franco de S. Assim como Carlos Fernando
49
Viana Ribeiro, nascido em 1854, filho de bares de Graja, tambm se dera
carreira poltica. E entre tantos outros, ressalte-se o nome de Incio de Viveiros
Raposo, neto de um dos heris da independncia. Muitos outros foram grifados na
histria do pas, advindos dos rinces alcantarenses, como descrito no livro
Alcntara, no passado econmico, social e poltico.
3.1 A Pequena Cidade de Alcntara, Turismo e Cultura
Antes de revelar-se a trajetria da construo sociocultural da cidade de
Alcntara, mister conhecer definio de cidade e pequena cidade.
O conceito de cidade, segundo Souza (1999), vincula-se materialidade
do espao construdo, bem como ao conjunto de infraestrutura, equipamento e toda
a materialidade de vida coletiva de indivduos em coabitao, em espao concreto.
Enquanto pequena cidade um adjetivo, que remete noo de tamanho,
dimenso e no caso das cidades, uma associao entre pequeno nmero de
habitantes com pequena rea no sentido mensurvel ocupada por uma cidade.
(FRESCA, 2008, p. 47).
Antes de configurar-se pequena cidade, nos primrdios da aldeia dos
ndios Tapuitapera, at a constituio do municpio de Alcntara, decorreram 350
anos. Os costumes resultam da mistura de raas e do rano da segregao social
entre aristocratas brancos, dos clebres casarios do sculo XVIII, de indgenas e
negros serviais, responsveis diretos pela herana cultural trazida da frica que
resiste at os dias de hoje. Afirma Montello (1978, p. 84) que:
Alcntara, no seu conjunto, ter, quanto muito, cinquenta ruas, incluindo becos e travessas. Parece menor, cercada pela vegetao densa que a vai invadindo. De longe, ao ver um p de mamona num beiral de sobrado, tem-se a impresso de que a mata j plantou ali no alto o seu pendo de conquista. Em breve, por cima do telhado, enramaro as trepadeiras. No entanto, tarde da noite, muitos destes imponentes sobrados senhoriais, h tanto tempo fechados, misteriosamente se se descerram. Como outrora, refulgem as luzes de seus sales no retngulo das janelas sobre a rua. Dos suportes de ferro pendem as luminrias. E h mesmo quem oua, no sussurro do vento, os sons dos pianos, das flautas e dos violinos, na ressurreio dos famosos seres alcantarenses. [...]. Do viso de uma ladeira, na comprida Rua das Mercs, fiquei a pensar nessas ressureies noturnas, lenda? Realidade? E aos poucos comecei a ver que, luz do sol, Alcntara retrocedia no tempo com o retinir das ferraduras nas pedras de seu calamento, o rolar das carruagens de portinholas abrasonadas, as janelas que se escancaravam sobre o passeio, e gente que vinha e gente
50
que ia, grave, colorida, nas suas roupas fora de moda, e que passava por mim sem me olhar.
Desde a dcada de 1940, Alcntara conhecida nacionalmente como
Patrimnio Histrico Nacional, em consequncia da riqueza cultural e arquitetnica.
A riqueza arquitetnica e os costumes de sua gente so os atrativos tursticos mais divulgados daquele pedao de continente. A aproximao com So Lus, apenas uma hora de barco, levou prtica de um turismo bate-volta, ou seja, o visitante chega pela manh, passeia somente pelo centro histrico e retorna tarde. Desestimular tal prtica tem sido o principal desafio da Administrao Municipal e de empresariado instalado em Alcntara. Alm do patrimnio arquitetnico, Alcntara oferece atrativos que se encaixam no Ecoturismo. o caso das Trilhas na Lama, ou Siriguejo, onde o turista se aventura por uma caminhada nas razes do mangue, buscando o equilbrio e gastando calorias. Uma caminhada de aproximadamente 20 minutos na lama equivale a quase uma hora em calado liso. O ponto de partida deste inovador esporte a Pousada Bela Vista. (RODRIGUES, 2008).
A cidade de Alcntara apresenta clima tropical quente e mido, com
temperatura mdia anual de 29 graus centigrados. Integra a Regio Metropolitana
de So Lus, com populao de mais de 22 mil habitantes (IBGE, 2010).
Dizer-se Alcntara pequena cidade induz anlise criteriosa sobre seu
significado privilegiando o cotidiano das pessoas, conflitos e modos de resistncia.
De acordo com Silva, Gomes e Silva (2009 p. 51):
A anlise e compreenso da pequena cidade requerem que sejam considerados os laos de sociabilidades que so construdos ao longo da histria de vida cotidiana do povo e do lugar. [...] assim por meio da compreenso do cotidiano, podemos ento chegar a uma anlise crtica da sociedade que se constri sob as bases capitalistas. E nesse processo de construo buscar as marcas espaciais significativas que vem sendo deixadas, como excluso social e segregao espacial.
Alcntara se acomoda na premissa de laos de sociabilidade em que se
reinventam caminhos de sobrevivncia na selva capitalista que a marginaliza. Figura
17: confluncia entre antigo e moderno no cenrio alcantarense, com helicptero da
Base Aeroespacial de Alcntara em sobrevoo cpula da Igreja do Carmo:
51
Figura 17 - Cpula da Igreja do Carmo e aeronaves militares.
Fonte: GOMES, C.M, 2013..
Ao se referenciar Alcntara pequena cidade, cabe o conceito de Santos
(2005), afirmao de que estas desempenham importante papel em zonas de
produo primrias que permitem consumo acessvel ao resto da populao
brasileira, dando feito em feedebak maior expanso econmica. Diante disso, o
autor sugere a preservao do papel das cidades sem conservar disparidades
(SANTOS, 2005). Entretanto a pequena cidade de Alcntara no parece comungar
da descrio miltoniana quanto ao desempenho na produo primria. Por fatores
variados, o modelo de gesto pblica aplicado por anos consecutivos, no parece
contar com planejamento de desenvolvimento socioeconmico da cidade que ainda
guarda o passado em runas.
Milton Santos tambm trata de gesto calcada em pressupostos do
planejamento para o desenvolvimento do lugar e explica a concepo de lugar
As combinaes se fazem em lugares historicamente determinados, de forma que a combinao de recursos (homem, capital, infraestruturas, instituies, ecologia) se transforma em sinnimo de localizao. Pode-se falar, ento, de uma diferenciao espacial e de uma definio especfica para cada lugar. (SANTOS, 2005, p. 44).
52
Tratando-se de diferenciao espacial, preciso conhecer em que
contexto se fala de espao e Santos (2005, p. 91) conceitua-o, dizendo: se org