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i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Sociologia LINO TREVISAN ORIENTADORA: PROFª DRª LEILA DA COSTA FERREIRA INTERPRETAÇÕES SOCIOLÓGICAS DE TÉCNICA E TECNOLOGIA A PARTIR DE DICIONÁRIOS DE SOCIOLOGIA Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Sociologia. Este exemplar corresponde à redação final da Tese defendida e aprovada pela Comissão Julgadora em 15/08/2012. Orientadora: Profª Drª Leila da Costa Ferreira ________________________________________ assinatura da orientadora Campinas, SP 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em Sociologia

LINO TREVISAN

ORIENTADORA: PROFª DRª LEILA DA COSTA FERREIRA

INTERPRETAÇÕES SOCIOLÓGICAS DE TÉCNICA E TECNOLOGIA A PARTIR DE

DICIONÁRIOS DE SOCIOLOGIA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Sociologia.

Este exemplar corresponde à redação final da Tese defendida e aprovada pela Comissão Julgadora em 15/08/2012.

Orientadora: Profª Drª Leila da Costa Ferreira

________________________________________

assinatura da orientadora

Campinas, SP 2012

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TERMO DE APROVACAO

Lino Trevisan

INTERPRETA(:OES SOCIOLOGICAS DE TECNICA E

TECNOLOGIAA PARTIR DE DICIONARIOS DE SOCIOLOGIA

BANCA EXAMINADORA:

TITULARES: -

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de P6s-Gradua<;ao em Sociologia do Institute de Filosofia e Ciencias Humanas da Universidade Estadual de Campinas sob a orienta<;ao da Prof.a Dr. a Leila da Costa Ferreira

% S PLENTES:

Prof. Dr. Silvio Cesar Camargo

ProF. D~. Gabriela Marques DiGiulio

Profa. D~ Simone Meucci

Agosto I 2012

iii

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Dedico este trabalho aos meus pais, Luciano Trevisan e Maria Tesser Trevisan (in memoriam), pela dedicação, amor, carinho e pelo exemplo de trabalho, de fé e de vida.

À minha esposa Sandra Batista da Costa, por compartilhar angústias, projetos, caminhos, realizações e a vida.

Aos nossos filhos, Cainã e Coniã, pelo carinho, pela compreensão, pelo apoio e por fazerem parte de nossas vidas.

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AGRADECIMENTOS

À Profª Drª Leila da Costa Ferreira, pela paciência, compreensão,

confiança, parceria, convivência e pelo incentivo e estímulo para encontrar

caminhos e alternativas na realização do trabalho.

Ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia do IFCH / Unicamp,

que acreditou e acolheu o projeto de trabalho, pela estrutura e apoio fornecido.

Aos professores doutores Renato José Pinto Ortiz e Marcelo Siqueira

Ridenti, pelas valiosas sugestões no Exame de Qualificação que muito

contribuíram para a continuidade do trabalho de elaboração da tese.

Aos colegas de curso e do Grupo de Pesquisas de orientandos da Profª

Leila, pelas sugestões, trocas de ideias, debates e pela convivência.

À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Curitiba, pela

concessão de licença para a realização do Doutorado.

Aos colegas Professores do Departamento Acadêmico de Estudos

Sociais (DAESO), pelo apoio, incentivo e principalmente pelo ônus de assumirem

as aulas durante meu afastamento.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –

CAPES, pela concessão de Bolsa do Programa Institucional de Qualificação

Docente para a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (PIQDTec -

Edital Nº 02/2008 CAPES-SETEC).

À minha esposa Sandra Batista da Costa, por saber ouvir, pela leitura e

revisão do trabalho, pelas sugestões e pelo apoio incondicional.

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Aos nossos filhos, Cainã e Coniã, pelo auxílio nas dúvidas com

recursos computacionais e na tradução de termos da língua inglesa, por

compreenderem as ausências, além disso, pelo apoio incondicional.

À Maria Aparecida (Cida) pela atenção, carinho, dedicação e

profissionalismo no exercício de suas funções.

Aos parentes, amigos e a todas as pessoas que me incentivam e

apoiam no percurso de qualificação pessoal, de atuação profissional e de vida.

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Nada é mais simples que preparar pepinos em conserva, diz minha mãe: com a condição de apanhá-los na fase da lua nova, deixá-los dentro de um pote de argila com sal grosso, durante vinte e quatro horas, depois de terem sido esfregados com um pano de linho, o único que é suficientemente áspero. E com a condição de temperá-los com estragão ressequido, mas não seco, além de dobrá-los para sua conservação sob vácuo, etc.

Pierre Bourdieu

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RESUMO

Neste trabalho investigam-se os significados de ciência, técnica e tecnologia em dicionários e enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais. Partindo do pressuposto de que é prática das Ciências Sociais, e da Sociologia em particular, definir o sentido dos conceitos, categorias e termos com os quais trabalha, aborda-se a importância de definir e atribuir significados aos termos. Em seguida, analisa-se o papel dos dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, distinguindo-os dos dicionários de língua. Para desenvolver a pesquisa, recorre-se a procedimentos quantitativos com o objetivo de caracterizar as obras que compõem o corpus do trabalho, e a procedimentos qualitativos, como a análise de conteúdo, para analisar os significados dos termos ciência, técnica e tecnologia nos dicionários e enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais. Constatou-se que o termo ciência é empregado, sobretudo, com as seguintes acepções: sistema de verdades gerais, de conhecimentos sistemáticos, de leis, de princípios gerais; busca pelo conhecimento, processos de investigação; construção ideal e abstrata da realidade; atividade humana condicionada pela estrutura social; conhecimento mais valorizado. No termo técnica os sentidos mais comuns são: ciência ou arte; conjunto de meios e habilidades que os seres humanos utilizam para transformar a natureza e satisfazer necessidades e desejos; conhecimento, maneira de pensar, mentalidade técnica, racionalização; atividade humana, elemento da cultura. Por sua vez o termo tecnologia apresenta as seguintes acepções: arte, ciência e indústria; fator de produção, sentido econômico; trabalho e mediação das atividades humanas; objeto de estudo da Antropologia Cultural; estudo sistemático da técnica; ciência aplicada; cultura; objetos e artefatos; fonte de poder; sinônimo de técnica. Ao analisar os significados das definições dos termos técnica e tecnologia, se identificou como temas recorrentes: cultura; produção; visão otimista x visão pessimista; determinismo tecnológico e neutralidade; trabalho; poder; mentalidade técnica. Conclui-se que a variedade de significados e temas presentes nas definições dos termos, deve-se: i) à falta de definição de sentido com o qual o termo está sendo empregado; ii) à característica dos dicionários e enciclopédias que tem por finalidade apresentar definições de caráter geral e pretensamente neutro: iii) as definições registrarem acepções empregadas na área da Sociologia e das Ciências Sociais em períodos e contextos diferentes. A diversidade de temas – trabalho, produção, relações de poder e cultura presentes nas definições de técnica e tecnologia – evidencia que a questão tecnológica está articulada com dimensões importantes das relações socioculturais. Este trabalho apresenta contribuições para os estudos de ciência e tecnologia. Ademais, por usar dicionários que têm função pedagógica relaciona teoria sociológica e educação.

Palavras-chave: Sociologia; Sociologia – Dicionários; Ciência; Tecnologia.

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Abstract

In this work the meanings of science, technique and technology in dictionaries and encyclopedias of Sociology and Social Sciences are investigated. Assuming that it is a practice of Social Sciences, and more particular in Sociology, to define the meaning of concepts, categories and terms with which it works, the importance of defining and assigning meanings to the terms is approached. Then the role of Sociology and Social Sciences dictionaries are analyzed by distinguishing them from language dictionaries. Quantitative procedures were used to develop the research with the objective of characterizing the works which make up the corpus of the work. Qualitative procedures, such as the content analysis, were also used in order to analyze the meanings of the terms science, technique and technology in the dictionaries of Sociology and Social Sciences as well as in encyclopedias. It has been found that the term science is mostly used with the following definitions: system of general truths, of systematic knowledges, of laws, of general principles; search for knowledge, investigation processes; ideal and abstract construction of reality; human activity conditioned by social structure; most valuable knowledge. As for the term technique, the most common senses are: science or art; group of means and abilities that human beings use in order to transform nature and satisfy one's needs and desires; knowledge, way of thinking, technique mentality, rationalization; human activity, culture element. As for its part, the term technology has the following definitions: art, science and industry; production factor, economic sense; work and mediation of human activities; object of study of Cultural Anthropology; systematic study of technique; applied science; culture; objects and artifacts; power source; synonym of technique. The analysis of the meanings of the definitions of the terms technique and technology identified as recurrent themes: culture; production; optimistic vision versus pessimistic vision; technological determinism and neutrality; work; power; technical mentality. It is concluded that the variety of meanings and topics present in the terms definitions is due to: i) the lack of definition of the sense in which the term is being used; ii) the characteristic of dictionaries and encyclopedias which intends to introduce definitions of general and allegedly neutral nature; iii) the definitions record meanings used in distinct periods and contexts. The diversity of themes - work, production, power relations and culture present in the definitions of technique and technology - make evident that the technology matter is articulated in important dimensions of sociocultural relationships. This work has contributions to the studies of science and technology. Also, by using dictionaries which have pedagogical function, it links sociological theory and education.

Keywords: Sociology; Sociology – Dictionaries; Science; Technology

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Relação de obras identificadas na pesquisa 63

Figura 2 – Publicação de obras identificadas na pesquisa, por países 68

Figura 3 – Relação de obras utilizadas na pesquisa 71

Figura 4 – Publicação de obras utilizadas na pesquisa, por países 74

Figura 5 – Idioma das obras utilizadas na pesquisa 75

Figura 6 – Responsabilidade e autoria das obras, incluindo gênero 76

Figura 7 – Obras que dicionarizam ou não os termos ciência, técnica

e tecnologia 85

Figura 8 – Dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia

(em números absolutos) 89

Figura 9 – Dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia

(em percentuais) 89

Figura 10 – Dicionarização ou não dos termos, por década de publicação 90

Figura 11 – Oscilação na frequência da dicionarização dos termos 92

Figura 12 – Dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia nas

obras publicadas por autores brasileiros (em números absolutos) 93

Figura 13 – Dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia, nas

obras publicadas por autores brasileiros (em percentuais) 95

Figura 14 – Oscilação na frequência da dicionarização dos termos,

nas obras publicadas por autores brasileiros 96

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

1 A IMPORTÂNCIA DE DEFINIR E ATRIBUIR SIGNIFICADOS AOS TERMOS 9

2 O PAPEL DOS DICIONÁRIOS DE SOCIOLOGIA 29

2.1 O papel do dicionário de sociologia: o ponto de vista dos seus autores 43

3 METODOLOGIA E CARACTERIZAÇÃO DAS OBRAS CONSULTADAS 57

3.1 Percurso e procedimentos metodológicos 61

3.2 Caracterização dos dicionários consultados 70

4 CIÊNCIA, TÉCNICA E TECNOLOGIA NOS DICIONÁRIOS DE

SOCIOLOGIA 85

4.1 Significados de ciência nos dicionários 98

4.1.1 Sistema de verdades gerais; de conhecimentos sistemáticos; de leis 99

4.1.2 Busca pelo conhecimento e processos de investigação 100

4.1.3 Construção ideal e abstrata para representar a realidade 101

4.1.4 Atividade humana condicionada pela estrutura social 101

4.1.5 Conhecimento mais valorizado 103

4.2 Significados de técnica nos dicionários 106

4.2.1 Ciência ou arte 106

4.2.2 Conjunto de meios e habilidades que os seres humanos utilizam

para transformar a natureza e satisfazer necessidades e desejos 107

4.2.3 Conhecimento, maneira de pensar, mentalidade técnica, racionalização 108

4.2.4 Atividade humana, elemento da cultura 109

4.3 Significados de tecnologia nos dicionários 112

4.3.1 Arte, ciência e indústria 112

4.3.2 Fator de produção – sentido econômico 113

4.3.3 Trabalho e mediação das atividades humanas 114

4.3.4 Objeto de estudo da Antropologia Cultural 116

4.3.5 Estudo sistemático da técnica 117

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4.3.6 Ciência aplicada 118

4.3.7 Cultura 120

4.3.8 Objetos e artefatos 123

4.3.9 Fonte de poder 123

4.3.10 Sinônimo de técnica 126

5 TEMAS FREQUENTES NAS DEFINIÇÕES DE TÉCNICA E TECNOLOGIA 133

5.1 Cultura 134

5.2 Produção 140

5.3 Visão otimista x visão pessimista 146

5.4 Determinismo tecnológico 155

5.5 Trabalho 160

5.6 Poder 162

5.7 Mentalidade técnica 164

CONSIDERAÇÕES FINAIS 169

REFERÊNCIAS 177

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 177

REFERÊNCIAS DOS DICIONÁRIOS UTILIZADOS 190

APÊNDICE 197

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INTRODUÇÃO

O interesse pelo tema da técnica e da tecnologia como uma área de

estudo se tornou mais efetivo1 a partir do ingresso no curso de Mestrado em

Tecnologia (1999-2001), ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em

Tecnologia da UTFPR.2

A atuação, desde 1995, como professor de sociologia, em uma

instituição federal de educação tecnológica – a UTFPR, colocou o autor deste

trabalho em constante relação com o tema da técnica e da tecnologia. Essa

atuação inclui a docência para alunos do Ensino Médio e técnico, de Cursos

Superiores de Tecnologia, de Engenharia e de Especialização; a participação no

Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas e Tecnologia, atualmente denominado

Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas, Tecnologia e Sociedade; o exercício

da Chefia do Departamento Acadêmico de Estudos Sociais3 por quatro anos e a

coordenação de duas turmas do Curso de Especialização em Educação,

Tecnologia e sociedade.

Esse período coincide com alterações na legislação educacional4 e em

políticas públicas para a educação brasileira que estimularam mudanças na

atuação da instituição, que diminuiu o número de alunos de ensino médio /

técnico, e passou a ofertar, cada vez mais, cursos de graduação (Cursos

Superiores de Tecnologia e Engenharia), e ampliou sua atuação na Pós-

1 O interesse pelas transformações sociais provocadas por mudanças tecnológicas em uma

comunidade foi objeto da monografia de conclusão da Graduação em Ciências Sociais: TREVISAN, 1990.

2 Em 2005 o Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET-PR) foi transformado em

Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), com isso as unidades passaram a ser denominadas câmpus.

3 O departamento congrega professores de sociologia, filosofia, psicologia, história e geografia.

4 Lei Nº 9.934, de 20 de dezembro de 1996 (LDBE); Decreto Nº 2.208, de 17 de abril de 1997, que

resultou na alteração da oferta da educação profissional, restringindo os cursos técnicos integrados; Decreto Nº 5.154, de 23 de julho de 2004, que revogou o Decreto Nº 2.208, permitindo o retorno dos cursos técnicos integrados e Lei Nº 11.184, de 07 de outubro de 2005, que transformou o CEFET-PR em UTFPR.

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Graduação, com novos Cursos de Mestrado e Doutorado, além da abertura de

novos campus no Estado, passando de 6 em 1995, para 12 em 2010.

A experiência profissional, que inclui ensino, pesquisa, extensão e

administração, no contexto de uma instituição de educação tecnológica, despertou

o interesse de pesquisar como a Sociologia tem interpretado a técnica e a

tecnologia. A busca de compreensão para os significados de ciência, técnica e

tecnologia, em certa medida, representa também, a tentativa de apreender o que

são esses fenômenos tecnológicos que estão permeando o contexto da vida

profissional e social. Em outras palavras, essa é uma tentativa de aprender a usar

a experiência de vida no trabalho, ou seja, unir experiência pessoal e atividades

profissionais (MILLS, 1972, p. 212).

A técnica, enquanto ato produtivo humano acompanha o

desenvolvimento da espécie e se constitui em parte integrante da vida e da cultura

das sociedades (FERKISS, 1972; PINTO, 2005). Por sua vez, na sociedade

moderna, além da técnica, a tecnologia está cada vez mais presente nas diversas

atividades humanas, afetando significativamente a vida das pessoas e grupos

sociais, por isso, em estudos realizados no âmbito da Sociologia ela tem sido

contemplada, mesmo que de forma secundária. Em outras palavras, estudos

voltados para a compreensão das transformações sociais, com maior ou menor

ênfase, acabaram abordando, a tecnologia, especialmente os impactos e

transformações causadas nas sociedades em decorrência de sua utilização.

Recentemente a importância da tecnologia, para alguns autores, revela-se na

própria denominação que atribuem à sociedade atual: tecnológica, do

conhecimento, global, pós-industrial, informática ou informacional, entre outras,

(MARCONDES FILHO, 1994; SCHAFF, 1995; CASTELLS, 1999).

A partir de 1960, as discussões sobre a questão tecnológica ganharam

ênfase com o desenvolvimento dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia e

da Sociologia da Tecnologia. Diversas correntes teóricas parecem defender a tese

de que a presença, cada vez maior, da tecnologia é uma das características

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marcantes das sociedades contemporâneas.5 Fazendo uma analogia com a

afirmação de Held e McGrew (2001, p. 7) de que “o fenômeno da globalização – seja

ele real ou ilusório - captou a imaginação popular”, pode-se dizer que a tecnologia

captou a imaginação popular, uma vez que é empregada frequentemente, em

diferentes contextos de fala, seja por governantes, intelectuais, pela mídia e outros

atores sociais, que em geral, enfatizam a crença no poder da ciência e da

tecnologia para a solução de problemas enfrentados pela sociedade. Essa crença

tende a enfatizar que o desenvolvimento tecnológico é sempre sinônimo de

progresso e resulta em benefícios crescentes e permanentes para a humanidade.

Sem negar os benefícios decorrentes do desenvolvimento tecnológico, não é

possível negligenciar os problemas e riscos que podem trazer aos seres humanos

e ao planeta, produzidos por essa forma de desenvolvimento, que está

subordinada aos interesses socioeconômicos (SCHWARTZ, 1975; BECK,

1986/1998).

Se a técnica e a tecnologia estão cada vez mais presentes na vida das

pessoas e grupos sociais, indagações sobre o que é a técnica e a tecnologia,

como são produzidas e utilizadas, como estão presentes na vida cotidiana, como

interferem na produção e reprodução das relações sociais, dentre outras, tornam-

se relevantes para a compreensão das formas de organização social na

contemporaneidade e, por extensão, da própria vida social.

Sendo a Sociologia uma ciência voltada para a compreensão das

relações sociais, suas análises não seriam completas, se tivessem ignorado a

técnica e a tecnologia. Ressalte-se que a Ciência e a Tecnologia não existem

como fenômenos unos e, por conseguinte não há uma acepção única sobre elas.

O mesmo vale para a Sociologia, que desde sua origem é caracterizada pela

5 De acordo com BENAKOUCHE (1999, p. 1) “se existe um consenso a respeito das principais

características das sociedades contemporâneas, este se refere à presença cada vez maior da tecnologia na organização das práticas sociais, das mais complexas às mais elementares”. Por sua vez, Shozo Motoyama (1979, p. 9), afirma: “sem exagero que o século XX vive sob o signo da tecnologia”.

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diversidade de teorias e interpretações. Por isso, neste trabalho pesquisam-se,

interpretações sociológicas sobre a temática da técnica e da tecnologia.

Mais do que um conceito, do ponto de vista sociológico, parece que a

técnica e a tecnologia foram tratadas como variáveis. Independente de ser um

conceito, um tema, um termo ou uma variável para a sociologia, procura-se

identificar e analisar qual o significado atribuído à técnica e à tecnologia, isto é, se

recebem uma definição, qual definição, se são problematizadas enquanto

conceito, tema, termo ou variável, enfim, qual o entendimento que está sendo

atribuído à técnica e à tecnologia na teoria sociológica.

Diante do exposto, levantam-se alguns questionamentos: Qual a

concepção ou concepções mais comuns de tecnologia, utilizadas pela Sociologia?

Qual a importância atribuída à tecnologia pela Sociologia? Que relações a

Sociologia tem estabelecido entre a tecnologia e a vida social? Enfim, como a

Sociologia tem interpretado a tecnologia? A busca de respostas para todas essas

questões seria inviável para o trabalho de doutoramento, uma vez que demandaria

leitura, pesquisa e análise do conjunto da produção sociológica. Para que a

demanda fosse compatível com o período da realização do doutorado, optou-se

por analisar os significados dos termos técnica e tecnologia em dicionários e

enciclopédias de sociologia e ciências sociais. No decorrer da análise dos dados,

decidiu-se incorporar como objeto de estudo também os significados do termo

ciência, por considerar que enriqueceria o trabalho, pois, há uma intrínseca

relação entre ciência, técnica e tecnologia na sociedade contemporânea.

Os dados que constituem o objeto empírico de estudo são as definições

dos termos ciência, técnica e tecnologia presentes em dicionários e enciclopédias

de Sociologia e Ciências Sociais. O corpus da pesquisa é constituído de 64 obras,

publicadas entre 1905 e 2010, em 19 países.6

6 No capítulo 3, consta a relação das obras que compõem o corpus do trabalho, com nome(s) do(s)

responsável(is), título, local e data da primeira publicação.

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Delimitou-se como objetivo da pesquisa:

- Geral: analisar as concepções de ciência, técnica e tecnologia presentes em

dicionários e enciclopédias de sociologia e ciências sociais.

- Específicos:

1. Identificar as obras que dicionarizam ou não os termos ciência, técnica e

tecnologia;

2. Analisar os significados dos termos ciência, técnica e tecnologia em

dicionários de sociologia e ciências sociais;

3. Identificar os temas mais frequentes nas definições dos termos técnica e

tecnologia;

4. Analisar brevemente os temas que constam com mais frequência nas

definições dos termos técnica e tecnologia.

A análise dos significados de ciência, técnica e tecnologia nos

dicionários de sociologia, embora não abarque a produção, e, por extensão, a

visão da Sociologia enquanto ciência, sobre os sentidos que ela atribui a esses

termos7, constitui um objeto de estudo privilegiado, uma vez que no dicionário,

o(s) autor(es) pretende(m) atribuir legitimidade aos sentidos dados aos termos

dicionarizados. Em outras palavras, mesmo não representando toda a produção

sociológica, os dicionários, pelo estatuto de autoridade, podem fixar e legitimar os

sentidos atribuídos aos termos dicionarizados, uma vez que autores almejam

tornar esses significados representativos no campo do conhecimento sociológico.

A opção por analisar os significados dos termos ciência, técnica e

tecnologia nos dicionários de sociologia e ciências sociais, não significa a busca

7 Não há consenso se as palavras de entrada num dicionário terminológico (especializado) são

verbetes ou termos. Por exemplo, Barros e Maciel (2011) mencionam verbete nos dicionários terminológicos, enquanto Brentano (2011) afirma que o dicionário especializado apresenta termos e não verbetes. Para evitar dúvidas, como o corpus deste trabalho é composto de dicionários terminológicos (sociologia e ciências sociais) adotou-se a expressão termo e não verbete.

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de uma definição dos termos, no sentido de precisar, limitar. Ao contrário, o que se

está buscando é contribuir com a discussão sobre essa temática. A análise dos

termos revela que eles são portadores de vários significados, sendo, portanto,

termos polissêmicos. De acordo com Rehfeldt (1980, p. 77) polissemia, de acordo

com a origem etimológica grega, “é palavra que comporta várias significações”.

Para os autores do Dicionário de linguística, há lugar para os

dicionários que estudam o vocabulário técnico, pois a “relação semântica no

vocabulário técnico é, com efeito, diferente da que está no vocabulário geral, pelo

fato de ser muitas vezes polissêmica a palavra do vocabulário geral (...) enquanto

o termo técnico é geralmente monossêmico” (DUBOIS et. al., 1973, p.187-188).

Para os estudiosos da linguagem “chama-se polissemia à propriedade

do signo linguístico que possui vários sentidos. A unidade linguística é

considerada, então, ‘polissêmica’” (DUBOIS et. al., 1973, p.471). Defendem que

os vocabulários especializados usam termos do vocabulário geral que possuem

sentidos polissêmicos, contudo, no vocabulário técnico, passa a ter um significado

específico. Para exemplificar citam que o emprego do termo ferro em química, tem

sempre o mesmo sentido, todavia esse vocábulo apresenta vários significados no

dicionário de uso geral, inclusive o metafórico.

Observou-se, nos dicionários de Sociologia, uma situação diferente:

aparecem termos, como é o caso de ciência, técnica e tecnologia, sendo

empregados com sentido polissêmico, mas não monossêmico. Constatou-se que

a variedade de sentidos pode ocorrer de uma obra para outra, ou mesmo numa

única obra. Desse modo, os autores apresentam, nos dicionários, diversos

significados dos termos ciência, técnica e tecnologia, empregados por autores da

área da Sociologia e das Ciências Sociais.

Para ilustrar a ocorrência e o emprego dos termos estudados, procura-

se apresentar excertos de textos de autores, da Sociologia e das Ciências Sociais,

para assinalar, sobretudo, o uso variado que eles fizeram desses termos. Esse

fato mostra que as reflexões sociológicas procuram delinear-se em função de

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problemas que se configuram socialmente e que se explicitam no emprego de

sentidos variados dos termos.

Com a realização desta pesquisa, pretende-se estudar parte da

produção sociológica sobre a temática da técnica e da tecnologia. Para isso, o

trabalho inicia, no primeiro capítulo, com uma breve problematização sobre a

importância de definir conceitos e atribuir significados aos termos utilizados.

No capítulo seguinte, discute-se o papel dos dicionários de Sociologia e

Ciências Sociais, abordando a característica dessas obras, diferenciando-as dos

dicionários de língua (mono ou bilíngues).

No terceiro capítulo, apresentam-se os procedimentos metodológicos

utilizados no desenvolvimento do trabalho, incluindo o processo de pesquisa e a

coleta de material. Relacionam-se os dicionários identificados na pesquisa, bem

como os que foram consultados. Por fim, faz-se uma breve caracterização das

obras consultadas.8

O quarto capítulo, inicia com uma análise quantitativa das obras

consultadas, destacando a dicionarização ou não dos termos. Em seguida,

apresenta-se a análise dos significados de ciência, técnica e tecnologia,

apresentando de forma agrupada os principais sentidos presentes nas definições.

No capítulo cinco, identificam-se e analisam-se os temas que

apresentam maior incidência nos termos técnica e tecnologia, com o intuito de

mapear as discussões que são contempladas com mais frequência nas definições

dos autores, ou seja, com que temáticas os autores associam técnica e tecnologia.

Por fim, apresentam-se as considerações finais deste trabalho. Espera-

se com isso cumprir o objetivo de analisar os significados de ciência, técnica e

tecnologia presentes em dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, mapeando

assim, parte do conhecimento sociológico sobre essa temática.

8 Para um estudo mais profícuo é importante a contextualização das obras. No entanto, como o

corpus deste trabalho ultrapassa seis dezenas de títulos torna-se inviável contextualizá-las, por isso optou-se por elaborar uma caracterização.

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1 A IMPORTÂNCIA DE DEFINIR E ATRIBUIR SIGNIFICADOS AOS TERMOS

Tendo como objeto de estudo a compreensão das relações sociais, as

análises dos estudos sociológicos não seriam completas se tivessem ignorado a

ciência, a técnica e a tecnologia. Neste trabalho, procura-se analisar os

significados dos termos ciência, técnica e tecnologia em dicionários e

enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais. Procura-se ressaltar os

significados presentes nas definições dos termos, com excertos de textos de

autores da sociologia e das ciências sociais, para evidenciar que os autores dos

termos, reproduzem nos dicionários, acepções empregadas por autores da área.

Tem-se clareza de que uma boa compreensão dos significados dos

termos dicionarizados requer uma contextualização das obras. A esse respeito

Bourdieu afirma:

“Penso, pois, que, para compreender uma obra cultural, devemos compreender o campo de produção e a posição de seu autor nesse espaço. Há uma correspondência entre o espaço das obras em determinado momento e o espaço dos autores e das instituições que as produzem” (BOURDIEU, 2000, p. 31).

Além do entendimento da posição do autor da obra e suas relações no

campo, seria pertinente situar a temática da técnica e da tecnologia para uma

melhor compreensão dos sentidos que são atribuídos a esses termos nos

dicionários. A necessidade de considerar o contexto da produção da obra, também

é ressaltada por Mills (1972, p. 12) ao afirmar que “a imaginação sociológica nos

permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da

sociedade. Essa a sua tarefa e a sua promessa”. De acordo com Bourdieu (2005,

p. 40), “compreender é primeiro compreender o campo com o qual e contra o qual

cada um se fez”. Segundo o sociólogo francês, o campo social é um espaço

multidimensional de posições, e os sentidos só podem ser entendidos por meio

das relações que ocorrem no jogo de oposições e distinções (BOURDIEU, 2010).

Desse modo

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Compreender a génese social de um campo, e apreender aquilo que faz a necessidade específica da crença que o sustenta, do jogo de linguagem que nele se joga, das coisas materiais e simbólicas em jogo que nele se geram, é explicar, tornar necessário, subtrair ao absurdo do arbitrário e do não motivado os actos dos produtores e as obras por eles produzidas e não, como geralmente se julga, reduzir ou destruir (BOURDIEU, 2010, p. 69).

É no campo que se atribuem explicações e significados às palavras

dicionarizadas pelos autores em suas obras. No espaço intermediário no interior

do campo, os agentes e instituições produzem e reproduzem os sentidos dos

termos que pretendem ver fixados como representativos (Bourdieu, 2004). Em

outras palavras, ao buscar a legitimidade dos significados defendidos, que o

dicionário enquanto obra de institucionalização pode assegurar, os autores

almejam levar vantagem na luta pela atribuição de sentidos aos termos por eles

considerados essenciais dentro do campo de conhecimento. Desse modo,

pretendem fixar os sentidos dos termos, pelo status de autoridade científica do

dicionário. Essa se constitui como “uma espécie particular de capital que pode ser

acumulado, transmitido e até, em certas condições, reconvertido em outras

formas” (BOURDIEU, 2003(a)).

Acredita-se que o dicionário é um instrumento típico de autoridade

científica ao condensar um saber específico, ao institucionalizar explicações e

significados que podem ser transmitidos aos consulentes, na medida em que se

caracteriza como um instrumento pedagógico. Segundo o sociólogo francês

Essa ordem não se reduz, conforme se pensa, à ciência oficial, que é o conjunto dos recursos científicos herdados e que existem em estado objetivado sob a forma de instrumentos, obras e instituições e em estado incorporado sob a forma de hábitos científicos, sistemas de esquemas gerados de percepção, apreciação e ação, que são o produto de um modo específico de ação pedagógica e que tornam possíveis a escolha dos objetos, a solução dos problemas e a avaliação das soluções (BOURDIEU, 2003(a), p. 126-127).

Como dito anteriormente, o dicionário não é representativo do

conhecimento sociológico, mas expressa uma parcela desse conhecimento que

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pode revelar disputas existentes no interior do campo, como diferentes acepções a

respeito de termos empregados pela área. Por exemplo, no caso específico dessa

pesquisa, sobre os significados que são atribuídos aos termos ciência, técnica e

tecnologia, bem como o espaço que ocupam na hierarquia dos temas objetos de

pesquisa no interior do campo. Em outras palavras, o objetivo desse estudo não é

fazer uma análise do campo, para depois identificar o espaço do dicionário em seu

interior. A análise dos sentidos dos termos ciência, técnica e tecnologia, presentes

nas definições dos dicionários, pode revelar, por exemplo, disputas e tradições

que ocorrem no interior do campo sociológico. Este empreendimento, embora

interessante, não é o objetivo deste trabalho.

A mesma observação cabe em relação à contextualização dos

dicionários e enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais. Embora se tenha

clareza da importância da contextualização para uma compreensão mais profícua

dos significados dos termos objetos da pesquisa, torna-se inviável fazer uma

contextualização dos dicionários, devido ao corpus do trabalho ser constituído de

mais de seis dezenas de obras, publicadas em 19 países, durante mais de uma

centena de anos. Ainda assim, pretende-se analisar os significados que os autores

atribuíram aos termos ciência, técnica e tecnologia nos dicionários, procurando

identificar diferenças e semelhanças, nas acepções presentes nas definições dos

termos, pois como escreve Foucault (1999, p. 40) “buscar o sentido é trazer à luz

o que se assemelha”. Para destacar as semelhanças identificadas nas definições

dos termos, em cada acepção relacionam-se as obras que empregam significados

similares.

A tarefa de propor-se a analisar os significados das palavras ciência,

técnica e tecnologia, nos dicionários não é simples, em certa medida, é até

perigosa, pois segundo Latour, “a transcendência das ciências e das técnicas (...)

escapam a qualquer compreensão” (1994, p. 72). Em outra obra o autor reforça a

ideia de que não é fácil analisar os sentidos: “na prática real, entretanto, não se

trafega diretamente dos objetos para as palavras, do referente para o signo, mas

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sempre ao longo de um arriscado caminho intermediário” (LATOUR, 2001, p. 55-

56).

Além desses obstáculos, existem outros, como a dificuldade de

caracterizar o contexto social no qual as obras foram redigidas e publicadas, uma

vez que “há um núcleo de conteúdo científico rodeado por um ‘ambiente’ social,

político e cultural, a que se pode chamar de ‘contexto’ da ciência” (LATOUR, 2001,

p. 108), ambiente esse que não pode ser reconstruído. Outra dificuldade apontada

pelo autor é que “a história da tecnologia é bem mais ‘solta’ do que a da ciência”

(p. 184), isto é, os estudos sobre a história da tecnologia são mais recentes que

sobre a história da ciência. Outro fato que exemplifica essa diferença é a

constituição da sociologia da tecnologia, que ocorreu significativamente mais

recente do que a constituição da sociologia da ciência. Some-se a essas a própria

característica de porosidade das ciências sociais (ORTIZ, 2003).

Apesar dessas limitações, a pesquisa dos significados de ciência,

técnica e tecnologia em dicionários de sociologia pode ser considerada como uma

interpretação de “fatos produzidos e representados no laboratório, nos textos

científicos, admitidos e autorizados pela comunidade nascente de testemunhas”

(LATOUR, 1994, p. 34). Os dicionários, e, portanto, também os sentidos atribuídos

aos termos dicionarizados, se constituem em fatos criados por seus autores,

fixados nesses textos, e admitidos por quem os utiliza, ou seja, os autoriza.

Parte-se do pressuposto de que autores da Sociologia, nem sempre

definiram, isto é, deixaram explícito, o sentido com o qual estavam empregando as

palavras técnica e tecnologia. Ao agir dessa forma, isto é, utilizar esses termos,

sem explicitar seus significados, por vezes podem ter contribuído com a difusão de

uma visão da técnica e da tecnologia autônoma e independente, embora, acredita-

se que os sociólogos em geral, tenham consciência de que a técnica e a

tecnologia são construídas pelos grupos humanos de acordo com os contextos e

condições sociais em que estão inseridos.

Pode-se dizer que ao utilizar os termos ciência, técnica e tecnologia,

sem dizer com que sentidos são empregados, os sociólogos estariam fazendo uso

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da “linguagem corrente que, pelo fato de ser corrente, passa despercebida”

(BOURDIEU, 2004(a), P. 32), dessa forma, nem sempre estariam considerando

que essa linguagem

contém, em seu vocabulário e sintaxe, toda uma filosofia petrificada do social sempre pronta a ressurgir das palavras comuns ou das expressões complexas construídas com palavras comuns que, inevitavelmente, são utilizadas pelo sociólogo (BOURDIEU, 2004(a), p. 32).

Talvez os significados da técnica e da tecnologia façam parte das

“coisas que se tornaram tão comuns, logo, tão evidentes que ninguém lhes presta

atenção” (BOURDIEU, 2010, p. 37). O sociólogo francês torna sua preocupação

ainda mais evidente com o emprego de noções ao escrever

Passo aos conceitos, às palavras, aos métodos que a profissão emprega para falar do mundo social e para o pensar. A linguagem levanta um problema particularmente dramático para o sociólogo: ela é, com efeito, um enorme depósito de pré-construções naturalizadas, portanto, ignoradas como tal, que funcionam como instrumentos inconscientes de construção (BOURDIEU, 2010, p. 39).

Ao utilizar os termos técnica e tecnologia, sem atribuir um sentido, o

autor pode reforçar significados presentes na linguagem corrente, os quais nem

sempre serão interpretados com o mesmo sentido empregado pelo autor ao fazer

uso das expressões, haja vista que essas carregam significações pré-construídas

e muitas vezes naturalizadas. Como técnica e tecnologia são termos polissêmicos,

possuem significados mais amplos do que uma definição possa representar, da

mesma forma que a realidade é mais abrangente do que qualquer interpretação

que dela se faça. Mannheim (1967, p. 77) destaca a importância dos significados

ao afirmar que

a mudança de função de uma ideia sempre implica uma mudança de significação. Com mudança sociológica de função, entretanto, queremos dizer a mudança no significado de um conceito ocorrida quando este conceito é adotado por um grupo que vive num meio social diferente, de tal maneira que a significação vital do conceito se torna diferente.

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De acordo com a afirmação do autor, cada vez que um termo é utilizado

por pessoas que vivem em ambientes diferentes, esse terá um sentido ou uma

função também diferente. Em outras palavras, o significado muda quando o

conceito ou termo é utilizado em um novo contexto ou numa nova situação.

O tema da técnica e da tecnologia com frequência esteve contemplado

na produção sociológica, que, muitas vezes, considerou como objeto as

dimensões sociais da transformação tecnológica, isto é, a compreensão dos

efeitos sociais engendrados pela tecnologia e suas inovações. Essa prática pode

ser identificada, sobretudo, a partir da temática do trabalho, dos transportes e das

comunicações, sendo a última considerada, atualmente, como novas tecnologias

da informação e da comunicação.

Nesse sentido, mais do que um conceito, do ponto de vista sociológico,

parece que a técnica e a tecnologia foram tratadas como variáveis. Independente

de ser um conceito, um tema, um termo ou uma variável para a sociologia,

procura-se identificar e analisar qual o significado atribuído à ciência, à técnica e à

tecnologia, isto é, se recebem uma definição, qual definição, se são

problematizadas enquanto conceito, tema, termo ou variável. Enfim, qual o

entendimento que está sendo atribuído à ciência, à técnica e à tecnologia nas

definições dos termos constantes nos dicionários e enciclopédias de Sociologia e

Ciências Sociais. É oportuno lembrar que os significados atribuídos aos termos

nos dicionários, apesar de certa arbitrariedade que o tipo de obra enseja,

reproduz, muitas vezes, sentidos que são utilizados por autores da área, como

será ilustrado na análise dos dados (Capítulos 4 e 5).

Parte-se do pressuposto de que um dos critérios do conhecimento

científico, particularmente nas Ciências Sociais, é a explicitação dos conceitos e

termos utilizados, os quais recebem geralmente uma atribuição ou delimitação de

significado. De acordo com Ortiz (2002, p. 5/7) “as ciências sociais vivem dos

conceitos” e a definição desses “ocorre pela escrita que registra de forma concreta

o recorte conceitual”. Ainda segundo o autor, “o pensamento vem marcado por

conceitos e sua inserção material nos nichos da sociedade” (ORTIZ, 2003, p. 11).

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Assim como os conceitos, as categoriais empregadas normalmente são

explicitadas, para tornar evidente o entendimento, para os leitores, do que o autor

está pretendendo. Esclarecer o significado das categorias auxilia o leitor a

compartilhar com o autor o sentido do texto, pois segundo Bourdieu (1987, p. 205),

são as categorias que tornam possível a comunicação. Outro exemplo da

importância de definir os sentidos com os quais se está usando um termo

encontra-se na seguinte afirmação: “ao usar a palavra ‘categoria’, invoco 20

séculos de história da filosofia” (BOURDIEU, 2000, p. 25). O sociólogo francês

defende a necessidade do trabalho de “categorização, quer dizer, de explicitação

e de classificação” (BOURDIEU, 2010, p. 142) para atribuir um sentido preciso ou

específico ao termo utilizado.

MARCUSE também se refere aos significados dos termos destacando

que

sem dúvida, qualquer linguagem contém inúmeros termos que não necessitam o desenvolvimento de seu significado, tais como os que designam objetos e apetrechos da vida diária, a natureza visível, necessidades e carências vitais. Esses termos são geralmente compreendidos, de modo que o seu mero aparecimento produz uma reação (linguística ou operacional) adequada ao contexto pragmático em que são falados (MARCUSE, 1973, p. 95).

A partir da asserção pode-se indagar se os termos ciência, e

especialmente, técnica e tecnologia incluem-se nesse rol de vocábulos que não

necessitam que seu sentido seja desenvolvido, por seu significado ser

normalmente compreendido? Ao não fazer a definição do conceito ou termo, o

autor corre o risco de contribuir para a reificação dos sentidos presentes na

linguagem ordinária. Em outras palavras, o autor ao escrever uma obra, deixa nela

o registro de conceitos e pressupostos, recorrendo à linguagem corrente de um

determinado campo. Nesse sentido, “cada agente, saiba ele ou não, queira ele ou

não, é produtor e reprodutor de sentido objetivo: porque suas ações e obras são o

produto de um modus operandi” (BOURDIEU, 2003(b)). Ao sugerir a definição

e/ou atribuição de significado aos termos, não se deseja “amarrar” os significados.

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Em outras palavras, o autor não precisa conceituar a todo o momento, mas

deveria indicar a acepção de termos-chaves a fim de orientar a leitura e a

compreensão da mensagem.

À primeira vista, observa-se que o procedimento de definir os sentidos

dos termos que estão sendo utilizados, não parece frequente com relação às

palavras ciência, técnica e tecnologia, por parte dos autores da teoria sociológica,

embora a técnica e a tecnologia sejam consideradas, inclusive pela sociologia e

pelas ciências sociais, como tendo um papel importante na transformação do

capitalismo e na configuração da sociedade contemporânea. Benakouche (1999)

argumenta que “tecnologia é sociedade” e que é necessário, especialmente no

Brasil, desenvolver mais estudos sociológicos sobre a técnica. Segundo a autora,

para as abordagens que tratam as mútuas relações entre tecnologia e sociedade

“fazer distinção entre o uso dos termos tecnologia e técnica” ou atribuir-lhes uma

definição precisa, são “tarefas vistas como desnecessárias e infrutíferas”. A

socióloga afirma que sua intenção é “provocar uma discussão atualizada” das

complexas relações entre técnica e sociedade, mais do que insistir numa questão

semântica (BENAKOUCHE, 1999, p. 3-5). Ao defender a tese de que as

complexas relações entre técnica e sociedade são mais importantes do que a

distinção entre técnica e tecnologia, questão semântica secundária segundo a

autora, resulta que ora ela utiliza o termo técnica, ora o termo tecnologia com o

mesmo sentido, ou seja, trata-os como sinônimos.

Nem todos os autores que defendem a necessidade de estudos

sociológicos sobre a técnica e a tecnologia partilham da ideia de que é

desnecessária distinção ou definição destes termos. Por exemplo, Simões (2000,

p. 7) defende “o aprofundamento da reflexão sobre a tecnologia como uma

questão eminentemente sociológica, o que implica compreender o que é

tecnologia, o que faz, como é desenvolvida e aplicada” (grifo nosso).

Acredita-se que a explicitação do sentido com o qual se está utilizando

as palavras técnica e tecnologia é fundamental, na medida em que são utilizadas

com certa frequência, constituindo-se em variáveis para a sociologia. Ao não

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especificar ou atribuir um significado, corre-se o risco de ficar submetido ao poder

das palavras, o qual nem sempre é percebido. De acordo com Bourdieu (2010, p.

15) “o que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder de manter a

ordem ou de a subverter, é a crença na legitimidade das palavras e daquele que

as pronuncia, crença cuja produção não é da competência das palavras”.

Ao fazer-se uso das palavras técnica e tecnologia sem explicitar o

sentido, deixa-se espaço para que o leitor faça sua interpretação de acordo com a

linguagem corrente, aumentando a possibilidade das palavras reforçarem o poder

dos sentidos vigentes. O pensador francês deixa ainda mais explícita sua

preocupação com o sentido do vocabulário ao escrever

Todo o vocabulário sociológico está repleto de história. Enquanto não fizermos uma sociologia da produção e dos usos sociais dessas palavras, das relações sociais entre os usuários, das relações de dominação, por exemplo, entre filósofos e sociólogos ou entre matemáticos e sociólogos, conforme as épocas etc., seremos manipulados da maneira mais insidiosa que existe, ou seja, por nossas próprias categorias de pensamento (BOURDIEU, 2000, p. 20).

De acordo com o autor, para que não sejamos manipulados pelas

próprias categorias de pensamento utilizadas, é necessário fazer uma sociologia

da produção e dos usos sociais das palavras. Do contrário, deixa-se espaço para

que se propaguem sentidos que nem sempre são aqueles imaginados ao escrever

um trabalho. Mills (1972, p. 229) também alerta sobre a importância dos

significados dos termos ao escrever que “somente conhecendo os vários sentidos

dados a cada palavra, podemos escolher exatamente aquelas com as quais

desejamos trabalhar”. O sociólogo norte-americano argumenta que a habilidade

do autor consiste em fazer com que o leitor coincida o círculo de sentido com o

seu, que ambos permaneçam nesse mesmo círculo de sentido controlado (MILLS,

1972, p. 237). Na mesma linha de raciocínio, Chinoy (1975, p. 414), destaca que

com frequência ficamos “tão confusos com as associações das palavras que

empregamos e as concepções de realidade que elas sugerem”. Se o próprio autor

pode ficar confuso com as palavras que utiliza, a confusão pode ser ainda maior

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para o leitor, principalmente, quando o autor não explicita com qual sentido a está

utilizando.

Além disso, é importante observar, como alerta Merton (1984, p. 86),

que “as palavras estão cheias de equívocos, e sem dúvida encontraremos

muitos discursos piedosos que são mais significativos pelo que deixam sem dizer

do que pelo que dizem”.9 Ou seja, além de considerar os sentidos atribuídos aos

léxicos em questão, é importante tentar perceber os significados implícitos que

aparecem nas obras, pois mesmo nessa condição, eles podem produzir efeitos.

Sobre isso Bourdieu indaga:

como é que as palavras produzem efeitos? Isso é uma coisa completamente espantosa quando refletimos sobre ela. Trata-se pura e simplesmente de magia. Na realidade, as palavras exercem um poder tipicamente mágico: fazem ver, fazem crer, fazem agir. (...) O poder das palavras só se exerce sobre aqueles que estão dispostos a ouvi-las e a escutá-las, em suma, a crer nelas (BOURDIEU, 2000, p. 57/61).

A preocupação com o poder da palavra está presente também em

Marcuse (1973, p. 94) para quem “é a palavra que ordena e organiza, que induz as

pessoas a fazerem as coisas, comprar e aceitar”. No caso dos significados das

palavras presentes nos dicionários, a possibilidade de exercerem esse poder de

magia é em certa medida mais efetiva, visto que o consulente, via de regra, está

em busca de um sentido, o qual pode ser apropriado e inclusive reproduzido.

Nesse caso, pode-se considerar que os significados atribuídos aos léxicos num

dicionário, a partir de então, passam a ecoar para e através dos consulentes,

como se fossem “rastros de projéteis que explodem” (BOURDIEU, 2000, p. 46).

De acordo com o autor, além das instâncias de consagração como

academias e prêmios, o sistema de ensino, com sua ação pedagógica, e com as

revistas especializadas, é o único capaz de promover a consagração de

9 No original: “las palabras están llenas de equívocos, y sin duda hallaremos muchos discursos

piadosos que son más significativos por lo que dejan sin decir que por lo que dicen”.

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produções consideradas adequadas aos princípios da ciência oficial (BOURDIEU,

2003(a). O campo científico. In ORTIZ, 2003, p. 127).

Acredita-se que as definições e explicações atribuídas aos termos

dicionarizados buscam consagrar-se, na medida em que o dicionário pode

assegurar uma espécie de legitimação. Contudo, ao tomar os sentidos presentes

no dicionário, deve-se ter consciência de que eles funcionam como um mundo

autônomo, pois estão separados do contexto no qual foram originados. Em outras

palavras,

o signo não tem existência (salvo abstrata, nos dicionários) fora de um modo de produção linguístico concreto. (...) Quando é produto da neutralização das relações sociais práticas nas quais funciona, a palavra – em todo caso, a do dicionário – não tem nenhuma existência social (BOURDIEU, 2003(c)).

O significado da palavra presente no dicionário pode ser considerado

abstrato, e, em certa medida neutro, por estar inserido nas páginas do dicionário e

não mais nas relações sociais concretas. Bourdieu considera que a palavra

dicionarizada faz parte de um discurso científico e que o dicionário é um artefato.

Só se pode falar dos diferentes sentidos de uma palavra sob a condição de ter consciência de que seu agrupamento na simultaneidade do discurso científico (a página do dicionário) é um artefato e que eles nunca existem simultaneamente na prática (salvo no jogo de palavras) (BOURDIEU, 2003(c)).

Ao lidar com os sentidos que podem estar presentes em palavras,

estamos inseridos na seara da linguagem, que segundo Foucault (1999, p. 132) “é

toda ela discurso, em virtude desse singular poder de uma palavra que passa por

sobre o sistema dos signos em direção ao ser daquilo que é significado”.

Abordar as transformações sociais provocadas pela adoção de

determinadas tecnologias, não implica necessariamente explicitar o que está

sendo entendido por tecnologia. Por exemplo, no livro “A era da tecnologia” do

renomado sociólogo francês Raymond Aron (1965), o autor analisa o

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desenvolvimento considerado como meta das comunidades. Identifica-se nessa

obra a explicação, definição e comentários sobre os temas: direito, progresso,

crescimento, sociedade moderna, industrialização, progresso científico, ciência

moderna, mas a tecnologia não é abordada. Há passagens nas quais parece que

o autor atribui à tecnologia o significado de aplicação da ciência à indústria. Em

outro trecho pondera sobre o “ímpeto incontrolável da invenção tecnológica?”, que

pode levar o leitor a interpretar como uma defesa da autonomia da tecnologia.

Porém, as duas situações não são colocadas de forma explícita. Em resumo,

podem-se identificar explicações para vários termos utilizados na obra, os quais se

supõe que para o autor deviam ser definidos, no entanto, não há o mesmo

procedimento para o termo tecnologia que dá título à obra. Em outras palavras,

alguns autores escrevem sobre a tecnologia sem expor o que ela é, representa ou

significa para o autor. Nesse caso específico, a tecnologia aparece no título da

obra, mas o tema tratado é o desenvolvimento. Pode-se pressupor que a palavra

tecnologia, nesse caso, estaria sendo empregada como metáfora de

desenvolvimento.

De acordo com Ortiz (2008)10 as palavras técnica e tecnologia, fazem

parte do senso comum e são empregadas como metáfora para falar da sociedade

atual: “o mundo da tecnologia é um mundo de metáforas, é um mundo de

evidências”. O sociólogo salienta que “normalmente as Ciências Sociais não veem

a tecnologia como metáfora”. Considerar a tecnologia como uma metáfora talvez

seja uma boa chave de interpretação para as definições do termo, presente nos

dicionários. Essa possibilidade pode ser válida para analisar, da mesma forma, os

diversos sentidos com que o termo é utilizado em textos de autores da área da

Sociologia e das Ciências Sociais.

Um exemplo recente é ainda mais revelador e ao mesmo tempo

intrigante. Por exemplo, Souza e Geraldes (2008) no artigo As contribuições de

Karl Marx e Max Weber sobre a autonomia / não autonomia da ciência e da

tecnologia, afirmam que a ciência e a tecnologia estão em evidência e propõem-se

10 Anotações de aula da disciplina Teoria Sociológica. Datas: 29/04/2008 e 06/05/2008.

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a discutir o fenômeno da ciência e da tecnologia, mais especificamente a

autonomia / não autonomia da ciência e da tecnologia. Por que esse exemplo é

intrigante? Em primeiro lugar, porque as autoras não deixam claro o que

entendem por tecnologia, embora discutam a noção de autonomia / não

autonomia da ciência e da tecnologia. Indaga-se: é possível discutir se a

tecnologia pode ser autônoma ou não, sem delimitá-la, explicitá-la?

O segundo motivo porque é intrigante: após argumentar que tanto Marx

quanto Weber trataram especialmente da tecnologia, afirmação que parece

passível de discussão, principalmente em relação a Weber, surpreende como

essa demonstração é realizada. As autoras partem de duas citações em que Marx

analisa o impacto da maquinaria sobre a produção e os trabalhadores para discutir

como o autor analisou a tecnologia. Eis os trechos de Marx citados pelas autoras:

De 1861 até 1868, desapareceram 338 fábricas têxteis de algodão; máquinas mais produtivas e mais potentes concentraram-se nas mãos de menor número de capitalistas. O número de teares a vapor diminuiu de 20.663, mas ao mesmo tempo aumentou seu produto, de modo que um tear aperfeiçoado produziu mais que um antigo. O número de fusos aumentou de 1.612.547, enquanto o número de trabalhadores ocupados caiu de 50.505. A miséria ‘passageira’ com que a crise algodoeira oprimiu o trabalhador foi intensificada e consolidada com o rápido e permanente progresso das máquinas. Ela (a maquinaria) se torna a arma mais poderosa para reprimir as revoltas periódicas e as greves dos trabalhadores contra a autocracia do capital (MARX, 1968, p. 498-499).

A argumentação das autoras em seu artigo permite elaborar duas

questões: i) não fazem referência a nenhuma passagem onde Marx usa o termo

tecnologia; ii) tomam maquinaria, objeto da citação de Marx como sinônimo de

tecnologia. Embora a maquinaria possa ser entendida como um dos sentidos de

tecnologia em Marx, considera-se que a tecnologia, para o autor, tem um sentido

mais amplo do que maquinaria, portanto, fazer de maquinaria sinônimo de

tecnologia constitui-se num reducionismo, não só para o sentido que o autor

atribui ao termo, como para outros pensadores citados pelas autoras do artigo.

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Nas considerações sobre Weber, Souza e Geraldes (2008, p. 8)

escrevem: “Max Weber, considerado um dos pais da Sociologia da Ciência, foi

contundente em afirmar que a ciência e a técnica científica estão burocratizando o

mundo”. Logo a seguir, apresentam uma citação do autor alemão em que ele fala

da racionalização. Reproduz-se a citação de Weber utilizada pelas autoras.

O destino de nosso tempo, que se caracteriza pela racionalização, pela intelectualização e, sobretudo, pelo ‘desencantamento do mundo’ levou os homens a banirem da vida pública os valores supremos e mais sublimes. Tais valores encontraram refúgio na transcendência da vida mística ou na fraternidade das relações diretas e recíprocas entre indivíduos isolados (WEBER, [197-?], p. 51).

O mesmo procedimento utilizado em relação à Marx, as autoras

reproduzem em relação à Weber, isto é, não apresentam nenhum trecho em que o

autor escreve sobre tecnologia. Fazem uma citação em que o autor discute o

termo racionalização e a tratam como tecnologia. Dito de outro modo, as autoras

tomam a noção de maquinaria em Marx e de racionalização em Weber e tratam-

nas como tecnologia, o que além de intrigante coloca outra questão. Uma vez que

as autoras não explicitam o que entendem por tecnologia e tomam duas noções

diferentes como sinônimo de tecnologia, pergunta-se: afinal, para as autoras,

tecnologia é maquinaria ou é racionalização? Ou maquinaria e racionalização

também são sinônimos? Ou ainda, a tecnologia é tomada como metáfora de

maquinaria e de racionalização?

Os dois exemplos descritos (Aron e Souza e Geraldes) podem ser

considerados representativos de uma “tradição sociológica” que parece não

discutir os significados de técnica e de tecnologia, isto é, não definir o sentido com

o qual os termos estão sendo empregados, como um tema relevante, pois não

ocupam “uma posição elevada na hierarquia consagrada dos temas de pesquisa”

(BOURDIEU, 2004, p. 41). O fato da explicitação do que se entende por técnica e

tecnologia não ocupar uma posição relevante na hierarquia dos temas de

pesquisa, não significa que os significados nos termos não estejam presentes nos

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trabalhos dos autores, mesmo que essa presença seja de forma implícita ou

velada (BOURDIEU, 1987, p. 208).

De acordo com Gama (1986, p. 38) “é grande o número de autores

contemporâneos que evitam definir tecnologia, alegando que se trata de questão

semântica estéril”. Por isso, defende que é interessante procurar os conceitos

implícitos que possam apontar mudanças de sentido. Mesmo reconhecendo como

válida, a sugestão do autor, para buscar os significados implícitos, não será

possível fazer uma investigação dessa natureza em outros termos constantes nos

dicionários, dada a limitação deste trabalho. Contudo, os excertos que serão

utilizados na análise dos significados de ciência, técnica e tecnologia, que será

realizada no capítulo 4, para ilustrar o uso de sentidos por autores da área de

sociologia e de ciências sociais, em alguns casos, estão implícitos em seus textos.

Na obra Os usos sociais da ciência, Bourdieu mostra que o campo

científico, é um lócus social específico em que se realizam imposições e

solicitações, o autor esclarece que

no domínio da pesquisa científica, os pesquisadores ou as pesquisas dominantes definem o que é, num dado momento do tempo, o conjunto de objetos importantes, isto é, o conjunto das questões que importam para os pesquisadores, sobre as quais eles vão concentrar seus esforços e, se assim posso dizer, “compensar”, determinando uma concentração de esforços de pesquisa (BOURDIEU, 2004, p. 24-25).

Ao investigar os sentidos dos termos ciência, técnica e tecnologia em

dicionários de sociologia, não significa, pois, que se encontrará neles “uma teoria

sociológica constituída, mas uma tradição” (BOURDIEU, 2004, p. 39). De acordo

com o sociólogo francês

existem problemas que os sociólogos deixam de apresentar porque a tradição profissional não os reconhece como dignos de serem levados em consideração, ou não propõe as ferramentas conceituais ou as técnicas que permitiriam tratá-los de forma canônica; e, inversamente, existem questões que eles se obrigam a formular porque as mesmas ocupam uma posição elevada na hierarquia consagrada dos temas de pesquisa (BOURDIEU, 2004, p. 41).

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Constata-se que a tradição sociológica se ocupou mais de dois temas:

i) dos impactos da utilização e aplicação das técnicas e tecnologias na sociedade,

principalmente no que diz respeito às relações de trabalho, aos transportes e

comunicações, do que com a explicitação de seu entendimento sobre técnica e

tecnologia; ii) da discussão sobre o determinismo tecnológico. Com relação ao

primeiro tema, Costa Pinto (1963/1980, p. 118), afirma que há muito os sociólogos

têm se ocupado com análises a respeito “dos efeitos sociais das invenções e do

progresso tecnológico”. Em outras palavras, a tradição sociológica enfatizou mais

os efeitos sociais engendrados pela utilização da técnica e da tecnologia, do que a

discussão sobre os significados destes termos. Este aspecto ficou em posição

marginal, secundária na hierarquia dos temas de pesquisa. Ou seja, os efeitos e

impactos da utilização de técnicas e tecnologias foram temas colocados numa

posição mais elevada na hierarquia da tradição sociológica, do que a reflexão

sobre a temática tecnológica em si.

Santos (2003, p. 11) afirma que se existisse “um dispositivo de

visualização do ‘estado real’ do planeta, poderíamos detectar imediatamente a

centralidade da tecnologia no mundo, mas veríamos, ao mesmo tempo, quão

pouco essa centralidade é problematizada”. Essa afirmação do autor reforça dois

argumentos presentes neste trabalho: i) que a tecnologia é um elemento

importante na sociedade contemporânea; ii) que os significados da tecnologia nem

sempre são discutidos ou explicitados.

O autor prossegue seu texto defendendo a “necessidade imperiosa de

se discutir a questão tecnológica em toda a sua complexidade. Vale dizer: da

necessidade de se politizar completamente o debate sobre a tecnologia e suas

relações com a ciência e o capital” (SANTOS, 2003, p. 11). Quer dizer, o

sociólogo, além de defender a importância de se analisar a complexidade da

questão tecnológica, deixa evidente que a tecnologia não é neutra ao defender

que o debate sobre ela seja politizado, juntamente com o debate sobre suas

relações com a ciência e o capital. O autor é ainda mais explícito na defesa de seu

ponto de vista ao argumentar que “as opções tecnológicas são sempre questões

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sócio-técnicas, e devem ser encaradas pela sociedade como de interesse público”

(SANTOS, 2003, p. 12).

Ao tecer “considerações sobre a realidade virtual”, o pesquisador se

refere à

sociologia da tecnologia, isto é, a sociologia do universo das máquinas contemporâneas que intermedeiam as relações dos homens contemporâneos entre si e a natureza, universo tão abrangente e presente que chegou a ser chamado de segunda natureza (SANTOS, 2003, p. 109).

Ao se analisar a afirmação de que a Sociologia da Tecnologia é a

sociologia do universo das máquinas contemporâneas, pode-se especular que,

para o autor, a tecnologia é sinônimo de máquinas contemporâneas. Porém, essa

interpretação não é adequada, pois o autor considera que a tecnologia faz a

mediação das relações dos homens entre si e destes com a natureza. Ao

considerar as relações dos homens e destes com a natureza e, ainda assinalar

que esse universo amplo chegou a ser chamado de segunda natureza, o autor

remete à relação existente entre tecnologia e cultura. Percebe-se que o sociólogo

defende uma concepção mais ampla de tecnologia, inclusive, em outras

passagens de sua obra, por exemplo, defende que “os agenciamentos do objeto

técnico nunca são puramente tecnológicos, pois a máquina é sempre social, antes

de ser técnica” (SANTOS, 2003, p. 303).

Trigueiro (2009) afirma que embora a tecnologia exista desde a

antiguidade, somente nas últimas cinco décadas, ela passou a receber atenção

nos debates entre os autores que abordam a problemática do conhecimento.

Ressalta que o questionamento sobre a ciência, também é relativamente recente,

tendo pouco mais de um século. Em resumo, defende que a reflexão sobre a

tecnologia ficou negligenciada, uma vez que:

ao longo da história, o pensamento filosófico tem silenciado acerca da tecnologia. (...) No melhor dos caminhos, a tecnologia era pensada como ciência aplicada (‘neta da filosofia’) – uma ‘engenharia de conceitos’ – e não como uma forma de conhecimento própria, mais antiga que a ciência

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e sempre presente em toda a história humana, na luta que essa espécie trava com a natureza (física e biológica), visando ao seu controle e à dominação (TRIGUEIRO, 2009, p. 34/35).

Além disso, destaca que o cerne dos vários estudos sobre a tecnologia

diz respeito à autonomia versus não autonomia da tecnologia na sociedade. E

levanta questões: i) “Por que a tecnologia, em si mesma, não é um problema? ii)

Por que ela é apenas vista como um conjunto de meios e instrumentos (uma

coisa), em que a principal questão é, fundamentalmente, decidir que fim se

pretende alcançar?” (TRIGUEIRO, 2009, p. 32-33). Ele está constatando que a

tecnologia tem sido pensada “pela porta dos fundos da ciência”. Essas duas

questões são instigantes, e é especificamente interessante comparar a segunda

com sua definição de tecnologia compreendida como atividade humana,

condicionada socialmente, mas ele enfatiza que ela “reúne um conjunto de meios”

para alcançar um fim desejado, o domínio e o controle da natureza.

O fato de a produção sociológica priorizar os impactos das mudanças

tecnológicas e a discussão sobre determinismo tecnológico, mas não considerar a

definição de sentidos para os termos técnica e tecnologia como um tema

importante, não significa um demérito para a disciplina, haja vista que somente a

partir da segunda metade do século XX

os cientistas sociais alargaram suas preocupações para além dos temas já tradicionalmente aceitos e assistiu-se aos anos do pós-guerra a uma redefinição de objeto, de maneira a integrar todos os processos sociais com implicações ou intenções políticas (FERREIRA, 2006, p. 40).

É a partir desse alargamento dos temas de estudo, das Ciências

Sociais, e da Sociologia em particular, que surgem novos subcampos dentro da

área, entre eles a Sociologia Ambiental, os Estudos Sociais da Ciência e da

Tecnologia, e a Sociologia da Tecnologia. Estes apresentarão maior preocupação

com a dimensão tecnológica. A própria discussão sobre a questão ambiental

coloca a tecnologia como um tema importante. A questão tecnológica estará, a

partir da constituição destas áreas de pesquisa, bastante associada à reflexão

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ambiental. Embora reconhecendo a importância da produção da Sociologia

Ambiental, ela não será objeto de análise deste trabalho.

Independente se as análises sociológicas enfatizaram mais os impactos

da utilização da técnica e da tecnologia do que a problematização e explicitação

do entendimento desses termos, interessa, nesta pesquisa, identificar os

significados atribuídos, explícita ou implicitamente (quando possível) aos termos

em questão. Da mesma forma, independente de ciência, técnica e tecnologia

serem tratadas como conceito, categoria, tema ou variável pela Sociologia,

objetiva-se identificar e analisar qual o significado atribuído à ciência, à técnica e à

tecnologia, isto é, se recebem uma definição, qual definição, se são

problematizadas, enfim, qual o entendimento que está sendo atribuído à técnica e

à tecnologia nos dicionários de Sociologia e Ciências Sociais.

Antes de abordar esses aspectos, serão abordados nos dois capítulos

seguintes, o papel dos dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, e os

procedimentos metodológicos adotados bem como a caracterização das obras

consultadas, respectivamente.

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2 O PAPEL DOS DICIONÁRIOS DE SOCIOLOGIA

O objetivo neste capítulo é discutir o papel dos dicionários de

sociologia. Para tanto o mesmo foi estruturado em dois tópicos. Na parte inicial

procura-se comparar o papel dos dicionários de sociologia distinguindo-os dos

dicionários de língua. Na segunda parte, discute-se o papel dos dicionários de

sociologia e ciências sociais, a partir do ponto de vista apresentado pelos autores

destas obras.

A prática comum nas Ciências Sociais, e na Sociologia, em particular, é

a utilização de obras de autores que abordam os temas que se deseja estudar ou

discutir, mas não o uso de dicionários. Por que utilizar este recurso como fonte de

pesquisa? Parte-se do pressuposto de que os dicionários específicos, como os de

Sociologia e Ciências Sociais, ao serem redigidos e publicados, passam a constar

como uma referência. Mais do que isso, são instrumentos – científicos,

acadêmicos e pedagógicos – através dos quais, os autores pretendem dar

legitimidade a conhecimentos, como conceitos e termos, visto que o dicionário tem

um estatuto de autoridade.

Com base nesse pressuposto, escolheu-se os dicionários e

enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais como corpus empírico para a

pesquisa. São eles que servem de suporte para os termos ciência, técnica e

tecnologia que constituem os dados, a partir dos quais, serão analisados os

significados atribuídos pelos autores das obras aos termos.

Para Seabra e Welker (2001, p. 32), o “dicionário informa de que

maneira (por exemplo, com que significado) as palavras são usadas”. O fato de

um léxico constar no dicionário pode significar que esse é considerado importante,

enquanto os que não constam podem ser considerados não importantes para a

disciplina, ou, ao menos, para o autor ou autores da obra. Diante disso, pretende-

se investigar se os termos ciência, técnica e tecnologia constam como entrada em

dicionários e enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais e analisar os

significados atribuídos a esses termos pelas obras que os dicionarizam.

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Para alcançar este objetivo, inicia-se uma breve reflexão sobre

dicionários em geral, recorrendo a algumas pesquisas sobre esses materiais e

seus usos, para depois considerar os dicionários de Sociologia.

Auroux em sua obra A revolução tecnológica da gramatização,

considera que a gramatização massiva, depois da escrita, constitui a segunda

revolução técnico-linguística, e, logo em seguida, afirma que a partir do século XVI

aparece o dicionário monolíngue sob a forma que ainda conhecemos. Mais

adiante explicita: “por gramatização deve-se entender o processo que conduz a

descrever e a instrumentalizar uma língua na base de duas tecnologias, que são

ainda hoje os pilares de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário”

(AUROUX, 1992, p. 65). Embora sua análise esteja centrada no processo da

gramatização e nos dicionários monolíngues, deseja-se destacar que o autor

considera o dicionário como uma das duas tecnologias bases do saber

metalinguístico.

Para ele, os dicionários não fazem parte da tradição linguística inicial,

pois os modernos dicionários são posteriores à imprensa e ao processo de

gramatização dos vernáculos europeus, nos quais a lexicografia, um texto

disposto de acordo com uma ordem alfabética de vocábulos, pode ser sobre um

idioma, uma profissão, ou um setor da realidade. “Esses tipos de listas constituem

sem dúvida os mais antigos instrumentos pedagógicos da humanidade”

(AUROUX, 1992, p. 71).

Os dicionários disciplinares têm um caráter distinto dos dicionários de

língua, que estão associados à sistematização e legitimação de um idioma,

definido como uma língua nacional. Portanto, os dicionários de língua estão

associados à questão da identidade nacional. Os dicionários de áreas do

conhecimento, “registram acepções que o termo possui dentro do domínio da

especialidade” (BARROS, 2011, p. 144); identificam “as palavras que referem

conceitos de um dado domínio temático” (MACIEL, 2011, p. 145).

Para Krieger (2011, p. 74), as obras de caráter terminológico,

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por reunirem termos e conceitos de um campo de saber científico, técnico, tecnológico, jurídico, entre outros, do conhecimento especializado, tornam-se representativas de um universo de dizer e de conceituar, próprio das distintas categorias profissionais.

Os dicionários de Sociologia e Ciências Sociais registram acepções

que, para os seus autores, são consideradas aceitas dentro da área do

conhecimento. Por conseguinte, os consulentes que buscam os significados dos

termos neste tipo de obra, tendem a considerar as acepções nelas registradas

como válidas.

Diante do exposto, pode-se considerar que os dicionários específicos

de uma ciência, de uma área do conhecimento, como os de Sociologia e Ciências

Sociais, têm uma importância pedagógica. Em outras palavras, essas obras

registram definições e significados que podem ser assimilados pelos consulentes,

que podem através desse recurso ampliar seu conhecimento.

Ao analisar o dicionário, em sua relação com a representação da

língua, Orlandi (2002, p. 104) defende que “o dicionário adquire aqui o sentido de

uma tecnologia própria à configuração de relações sociais específicas e entre

seus sujeitos, na história. Ele é, desse modo, constitutivo da formação social.”

Fazendo um contraponto com os dicionários de Sociologia, pode-se dizer que a

compreensão deles, como objetos históricos, e como constituição de discursos,

possibilita ver como se projeta neles uma representação concreta da Sociologia,

mais precisamente, do ponto de vista dos autores dos dicionários. Para isso, seria

preciso analisar as definições de todos os termos dicionarizados. O objetivo em

pauta, neste trabalho, é analisar os significados dos termos ciência, técnica e

tecnologia, em diversos dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, que serão

listados e identificados no capítulo 4 e identificar os temas mais frequentes nas

definições dos termos técnica e tecnologia.

Orlandi (2002) chama atenção para o fato de que um dicionário traz em

sua forma, isto é, na sua organização uma ideologia, contudo pretende se

apresentar como uma obra representativa de uma língua, de uma ciência, de tal

modo que no processo de dicionarização da obra procura-se apagar a ideologia,

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para que esse material possa parecer ao consulente como uma obra neutra e

abrangente. Além disso, o dicionário é apresentado como uma obra científica e,

portanto, como um discurso que tem legitimidade. De acordo com a pesquisadora,

“no século XX, esses (dicionários e gramáticas) são instrumentos que constituem

tecnologias de uma sociedade cientificamente significada” (ORLANDI, 2002, p.

109).

Ao analisar alguns termos, em três dicionários da língua portuguesa,

Orlandi (2002, p. 114) afirma que os “exemplos estruturam discursivamente o

dicionário”, pois, de acordo com ela, “são também os exemplos que, pela citação a

autores, dão realidade ao uso das palavras em questão quanto à sua legitimidade.

São representados como legítimos os usos que estão dicionarizados como

exemplos”. Além dos exemplos, em cada verbete pode haver encadeamentos

estabelecendo sentidos, relações e associações com outros termos que podem vir

antes ou depois.

A importância dos exemplos que reforçam o conceito ou a definição

presente no verbete também é destacada por Barros (2000, p. 78), ao defender

que “se os temas e as figuras semânticas do discurso constituem o campo por

excelência da determinação ideológica, os exemplos e acepções escolhidos são, a

meu ver, o lugar privilegiado de exposição dos temas e figuras do discurso do

dicionário”. Dito de outro modo, os exemplos não só são importantes, como

desempenham um papel privilegiado para expor o discurso presente no dicionário.

Por meio dos exemplos, o autor da obra reforça os sentidos que quer atribuir a

determinado termo, podendo utilizar para isso definições ou referências de autores

consagrados para legitimar seu discurso.

A autora defende que a principal dificuldade no estudo do dicionário

é estabelecer se as determinações sociais dos discursos do dicionário são características de um dado momento nas relações entre língua e sociedade (...) ou apenas refletem as ‘visões’ de uma camada social determinada, a do dicionarista (BARROS, 2000, p. 85).

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Transpondo esta inquietação para os dicionários de Sociologia, a

questão poderia ser formulada nos seguintes termos: as definições e exemplos de

um léxico (discurso do dicionário) representam a produção sociológica de um dado

momento histórico-social ou apenas posições e interpretações de seus autores?

Barros (2000, p. 93) aponta que “os dicionários trazem informações

sobre a ‘origem’ do termo”, mas que os sentidos mais antigos normalmente são

menos usados e que é preferível o uso do sentido mais “moderno” ou frequente.

Defende que “se cada verbete for tomado como um discurso, pode-se descrever o

léxico de uma perspectiva narrativa e discursiva”. A autora conclui seu artigo

afirmando que o dicionário tem duas funções: i) representar e divulgar a cultura,

apesar de ser apresentado como obra neutra; ii) pedagógica e normativa.

Essas funções não podem ser tomadas como válidas para os

dicionários de Sociologia, pois estes não possuem o mesmo estatuto de um

dicionário de língua, por exemplo, o caráter normativo. Portanto, não se pode

considerar o dicionário de Sociologia como representativo de toda produção

sociológica. Sua principal função é pedagógica, pois apresentam conceitos,

definições, significados e exemplos dos termos dicionarizados. Pode-se, por

exemplo, recorrer ao dicionário para uma introdução a um determinado tema.

Embora os autores dos dicionários de Sociologia e Ciências Sociais não objetivem

tornar suas obras, e o discurso contido nelas uma referência essencial, de certo

modo, ao dicionarizar um léxico, não deixam de ter a pretensão de que os

significados atribuídos sejam fixados, isto é, os sentidos sejam estabilizados,

sirvam como referência (NUNES, 2009, p. 99).

Para Amaral (1995, p. 5), a sociedade costuma atribuir “autoridade ao

dicionário e a fazê-lo seu porta-voz, por achar que ele lhe dá o verdadeiro

significado das palavras”. Logo adiante, afirma que “a língua é uma forma de

interpretação do pensamento e o dicionário está registrando diferentes formas-

possibilidades de interpretar o mundo”. De forma análoga, a Sociologia é uma

forma de interpretação, melhor dizendo, formas de interpretações, e o dicionário

de Sociologia registra interpretações de conceitos, termos, variáveis, categorias.

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Enfim, possibilidades de interpretar a realidade ou parte dela. Essas

interpretações não podem ser tomadas como as mais corretas, verdadeiras ou

representativas. Contudo, ao menos em termos relativos, não deixam de ter essa

pretensão.

Segundo Nunes (1996, p. 14), o discurso de constituição do léxico

inclui diversas práticas que realizam um trabalho metalinguístico envolvendo elementos lexicais (segmentações, comentários, descrições, definições), com objetivos variados, por exemplo: descrever a natureza, produzir literatura, construir conceitos científicos.

O autor considera que para o discurso lexicográfico o verbete se

constitui na relação entre a entrada e o corpo discursivo, isto é, entre a palavra e a

explicação, definição, exemplificação etc. que lhe é relacionada. Ao analisar os

termos ciência, técnica e tecnologia em dicionários de Sociologia e de Ciências

Sociais, pretende-se verificar quais os significados que lhes são atribuídos pelo

autor ou pelos autores da obra. Para isso, analisar-se-á se as palavras ciência,

técnica e tecnologia constam como entrada no dicionário e em caso afirmativo,

que explicação, definição, exemplificação e comentários constam no corpo

discursivo acerca desses termos. De outro lado, argumentar que na medida em

que o termo não é dicionarizado, não é considerado pelos autores como um léxico

que possua uso comum com significado(s) relevante(s) para a compreensão de

conhecimentos sociológicos.

Embora pareça um objetivo pequeno analisar o sentido de termos,

Biderman (1996, p. 27) defende que “a informação veiculada pela mensagem faz-

se, sobretudo, por meio do léxico, das palavras lexicais que integram os

enunciados. (...) o léxico é o lugar da estocagem da significação e dos conteúdos

significantes da linguagem humana”. Logo, o significado que é atribuído a um

léxico num dicionário representa uma definição, uma conceituação do referido

termo estando associado, portanto, ao conhecimento humano.

Machado (2007, p. 93), em sua pesquisa sobre a palavra preconceito

presente em dicionários considera o verbete como um texto, isto é, como uma

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unidade de análise, não considerando sua relação com outros verbetes, o que

seria considerá-lo como parte de um texto mais amplo, o dicionário. Afirma que o

“dicionário se torna um observatório peculiar da história de uma sociedade”.

Neste trabalho, pode-se considerar o dicionário como um lócus

privilegiado de observação de um termo no âmbito de uma ciência. Sendo o

dicionário uma obra que apresenta termos com suas respectivas definições, pode-

se tomá-lo como um lócus significativo para investigar quais termos os autores

decidiram dicionarizar e quais os significados que atribuíram a estes termos. De

acordo com Finatto (2002, p. 2)

O enunciado que define uma noção, processo ou objeto é um elemento-chave na constituição e na veiculação do conhecimento especializado, tecnológico ou científico. Afinal, expressa um segmento de relações de significação de uma determinada área do saber.

A definição de um termo expressa um determinado saber, uma porção

do conhecimento de uma área, ou seja, ela é uma representação conceitual que o

autor está atribuindo ao termo, seja ele técnico ou científico.

Para Dubois et. al. (1973) o dicionário é um objeto cultural que visa

também aumentar o saber cultural do leitor que o consulta. De acordo com eles,

os dicionários técnicos e científicos assumem a forma enciclopédica,

apresentando um comentário do conceito a que a palavra de entrada remete. Em

outras palavras

o dicionário técnico e científico descreve a ‘coisa’, o conceito que está por trás da palavra. O exemplo fornece, de algum modo, uma segunda definição, que passa pelo conhecimento gramatical tradicional. Esse o motivo pelo qual tal dicionário toma forma de uma enciclopédia: depois da palavra de entrada, definição e comentários se misturam para fornecer um enunciado completo sobre a noção coberta pela palavra, (DUBOIS et al., 1973, p.6).

Embora os autores abordem o sentido de dicionários técnicos e

científicos, a referência que estão colocando é de sua própria obra, o dicionário de

linguística e não de diferentes áreas do conhecimento, inclusive considerando o

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exemplo como uma segunda definição vinculada ao conhecimento gramatical.

Alertam que serão encontrados termos de outras ciências, os quais serão tratados

de forma mais breve, pois esperam que os leitores consultem também os

dicionários de outras áreas (psicologia, sociologia, matemática, etc.). Argumentam

que o pequeno número de especialistas de uma ciência tende a desenvolver

terminologias, propor novos termos, os quais tendem a proliferar-se.

Essa proliferação terminológica é inerente aos primeiros desenvolvimentos de uma ciência ou de uma técnica. Mas quando essa ciência começa a escapar aos únicos especialistas que pretendiam assegurar para si a sua posse exclusiva, produz-se uma decantação terminológica que não poupa nem mesmo as nomenclaturas mais corretas. A vulgarização é o grande revelador de uma deflação terminológica (DUBOIS et al., 1973, p. 8-9).

Sem pretender entrar nos meandros terminológicos das palavras

ciência, técnica e tecnologia, nem em seus diferentes significados ao longo da

história, deseja-se registrar que possivelmente as palavras ciência, técnica e

tecnologia tenham passado por um processo significativo de decantação

terminológica, dada a proliferação e consequente vulgarização de sua utilização

nos últimos anos. Além disso, registre-se que as Ciências Sociais e a Sociologia

em particular, embora criem e elaborem conceitos e termos, muitos são tomados

de empréstimo da linguagem de uso comum, algumas vezes mantendo o sentido

e em outras situações, atribuindo um novo significado.

De acordo com Dias (2003, p. 2/4), “autores e editores argumentam

que, quando um livro de referências é chamado de dicionário, é exatamente para

aumentar as vendas, pois a palavra sugere autoridade, cultura e precisão”. De

acordo com o pesquisador “os dicionários técnicos tem sido usados há um longo

tempo. Os dicionários médicos e jurídicos, em Latim e os dicionários de ciências

náuticas e militares existiam muito antes dos dicionários monolíngues ingleses”.

Não cabe neste trabalho discutir a precedência de um tipo de dicionário

em relação a outro, nem a história da existência e uso de dicionários. Importa

destacar que os dicionários são obras que possuem sua importância histórica

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como instrumentos pedagógicos, sejam eles, monolíngues, bilíngues ou

especializados, como os de Sociologia e Ciências Sociais, que serviram como

fonte para a composição do corpus e seleção dos dados para esta pesquisa.

Verificou-se que estudos sobre o uso de dicionários são relativamente

restritos, a maioria deles está na área da Linguística Aplicada, dentre os quais:

Amaral (1995) análise crítica de dicionários escolares bilíngues espanhol-

português: uma reflexão teórica e prática; Nunes (1996) Discurso e instrumentos

linguísticos no Brasil: dos relatos de viajantes aos primeiros dicionários; Oliveira

(2004) Cidadania: história e política de uma palavra; Machado (2007) A

designação da palavra preconceito em dicionários atuais.

O lexicógrafo Humblé (2008, p. 163), em seu trabalho O discurso do

dicionário, afirma que “pesquisar dicionários não é popular” e explicar vocábulos

parece ter sido uma função secundária. O autor esclarece que só no final dos

anos 70 do século XX, começaram a surgir pesquisas sobre o uso de dicionários,

portanto, esse é um objeto recente de pesquisa. Nos exemplos que usa para

ilustrar o seu ponto de vista, o autor recorre apenas aos dicionários monolíngues

ou bilíngues, não há nenhum exemplo de dicionários técnicos. Humblé (2008)

recorre aos dicionários bilíngues, ao fazer um estudo lexicográfico na área da

Linguística Aplicada.

O trabalho de Dias (2003), Os dicionários jurídicos e seus usuários,

situa-se também em Linguística Aplicada, mas é uma das exceções encontradas,

pois analisa o uso de dicionários técnicos na área jurídica. O autor considera que

a linguagem presente nos dicionários jurídicos indica o público leitor em potencial,

isto é, os profissionais da área de Direito, advogados, professores do curso, bem

como estudantes dos últimos anos.

Após pesquisar uma amostra dos três segmentos mencionados, o

pesquisador conclui, com base nos dados levantados, que 69% dos estudantes de

Direito possuem dicionário jurídico, sendo que 74% o usam com frequência. Além

disso, 100% dos professores disseram recomendar o uso de dicionários para os

alunos, 56% afirmaram preparar atividades para os discentes envolvendo o uso de

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dicionários jurídicos, e 69% dos docentes utiliza esse material em seus trabalhos e

pesquisas. O estudo mostra ainda que 100% dos profissionais (advogados)

possuem dicionário jurídico e afirmam que ele atende às suas necessidades, o

que significa que costumam fazer uso dos dicionários. Os dados trabalhados por

Dias (2003) indicam que a utilização de dicionários jurídicos caracteriza-se como

uma tradição dos profissionais da advocacia.

Um dicionário pode ser considerado como “coleção de vocábulos de

uma língua, de uma ciência ou arte, dispostos em ordem alfabética, com o seu

significado ou equivalente na mesma ou em outra língua”,11 de forma similar como

uma “coleção alfabeticamente disposta das palavras de uma língua ou de

qualquer ramo do saber humano, seguidas da sua significação ou da sua tradução

numa outra língua”.12

Nas duas obras encontra-se a ideia de que o dicionário reúne

vocábulos de uma língua, ciência ou ramo do saber e apresenta os significados

desses vocábulos. Logo, pode-se pressupor que um dicionário de Sociologia

apresenta termos e seus respectivos significados que estão inscritos neste ramo

do saber. Tem-se consciência de que os termos dicionarizados são opções feitas,

dentre várias possíveis, pelos sujeitos autores, a partir de sua posição. Estes têm

como objetivo fixar e estabilizar os sentidos e, por consequência, torná-los

legitimados através da construção de uma memória institucionalizada nos

dicionários. De outro lado, há termos que, ao não ser dicionarizados, não

adquirem a mesma visibilidade dentro de um campo do saber. No caso dos

dicionários de Sociologia, como ocorre com os dicionários em geral, às vezes, um

léxico pode ficar invisível num dicionário, mesmo que seja utilizado de forma

frequente.

11 Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Fonte:

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=dicion%E1rio. Data de acesso: 27/07/2009.

12 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP) Fonte:

http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=dicionário. Data de acesso: 27/07/2009.

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Em síntese, pode-se considerar que o dicionário, e em particular o

dicionário de Sociologia, é um instrumento pedagógico que, ao apresentar

significados de termos, visa que os sentidos se consolidem como os de uso mais

frequente no interior do campo sociológico. Como obra científica, apresenta um

discurso que busca/tem legitimidade e autoridade. Os autores dos dicionários

almejam legitimar os significados das definições atribuídas aos termos,

pretendendo com a estabilização dos sentidos, torná-los representativos, e,

portanto, portadores de legitimidade e autoridade conferidas pelo estatuto do

dicionário. Os consulentes, ao procurar os significados atribuídos aos termos nos

dicionários, provavelmente os tomam como legítimos, isto é, como válidos, ao

menos no caso do público considerado leigo. Este, por sua vez, pode tomar as

definições como introdução, como ponto de partida, para novas incursões ou

discussões sobre o tema em questão. Embora o dicionário, em certa medida, seja

considerado como marginal ou periférico, e por extensão, pesquisá-los não seja

uma prática popular, por ser uma obra com caráter de autoridade, escrita por

autor, via de regra, da área em que se insere, e reconhecido pelos seus pares,

constitui-se, pois, numa obra que pode ser um lócus privilegiado de pesquisa.

Lamentavelmente não se encontrou informação de nenhuma pesquisa

sobre o uso de outros dicionários técnicos, muito menos de Sociologia, o que

poderia ser uma referência significativa para avaliar a importância e o significado

desses materiais para a área.13 Entre as poucas informações encontradas sobre

isso, está a opinião de José Rafael de Menezes, escrita no prefácio da obra de

Ferreira (1977, p. ix). Menezes assevera que o dicionário de sociologia, publicado

pela Editora Globo, tem “plena aceitação entre os nossos estudantes”. O fato de

não terem sido localizadas pesquisas sobre o uso de dicionários de Sociologia,

não significa que não sejam utilizados, como se verifica no exemplo a seguir.

13

Ao perguntar por dicionários de Sociologia em livrarias e sebos, por vezes os atendentes

respondiam que os mesmos eram procurados por estudantes da área. Mas este indício não permite afirmar que percentual de estudantes usam dicionários de Sociologia, nem com que frequência. Na pesquisa percebeu-se, com certa frequência, algum dicionário de Sociologia constando em bibliografias de disciplinas disponíveis na internet, o que pode significar que ao menos parte dos professores consideram essas obras como uma referência para suas disciplinas.

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Ribes Leiva (2005), em seu artigo El enfoque y la tradición sociológica,

aborda a Sociologia da Sociologia. Na primeira parte, La variabilidad de la

disciplina sociológica, Ribes Leiva inicia com a pergunta: o que é a Sociologia?

Para respondê-la, recorre às várias definições de Sociologia presentes em 6

dicionários de Sociologia, dos seguintes autores: Fausto Squillace; Henry Pratt

Fairchild; Helmut Schoeck; Walter Strobel; Abercombrie, Hill e Turner; Boudon,

Bernard, Cherkaoui e Lécuyer; Giner, Lamo e Torres. Ao mencionar que utilizará

definições de dicionários inclui uma nota de rodapé em que afirma:

parece-nos especialmente adequado o uso de dicionários de sociologia porque neles não esperamos encontrar posições teóricas fortes, contribuições pessoais de um determinado autor, mas neles devemos encontrar o comum, o aceito (ou aceitável) pela comunidade sociológica (RIBES LEIVA, 2005, p. 109).

14

A posição de Ribes Leiva é similar à que norteia este trabalho.

Reconhece-se que a prática na Sociologia e nas Ciências Sociais é recorrer a

autores e obras consideradas de referência nos assuntos que se deseja

pesquisar. Esse procedimento não invalida a consideração de que os dicionários

registram acepções que são consideradas aceitas pela área, desempenhando, por

conseguinte, uma função pedagógica relevante.

Um fato significativo da importância dos dicionários foi a aprovação da

Resolução 3.13, na Sétima Conferência Geral da UNESCO de 1952, que decidiu

“estimular as organizações competentes a regularizar a terminologia científica e

tecnológica nas principais línguas do mundo” (SILVA, 1987, p. v). Em decorrência

dessa resolução, em 1954, foi promovida, pelo Departamento de Ciências Sociais

da UNESCO, “uma reunião internacional de cientistas sociais e lexicógrafos”. O

autor relata que se constituíram grupos de trabalho na Bélgica, França, Inglaterra,

Espanha, Suíça e EUA para efetivar esse trabalho. Previa-se, inicialmente, a

14

Tradução livre do autor. No original: Nos parece especialmente adecuado el uso de diccionarios de sociología porque en ellos no esperamos encontrar posiciones teóricas fuertes, aportaciones personales de un determinado autor, sino que en ellos debiéramos encontrar lo común, lo aceptado (o aceptable) por la comunidade sociológica.

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elaboração de dicionários de Ciências Sociais em francês e inglês, e

posteriormente, em espanhol e árabe.

A recomendação dos especialistas era para que “na elaboração dos

verbetes, se levasse em conta as definições de emprego usual, sem descurar,

entretanto, as acepções de caráter científico” (SILVA, 1987, p. v). Ou seja, as

definições dos termos deveriam considerar os significados usuais dos termos bem

como as acepções consideradas de caráter científico pelas áreas.

Após uma década de trabalhos, foi publicada a primeira obra, A

dictionary of the social sciences, sob a coordenação de Julius Gould e William L.

Kolb, em Nova York (Free Press of Glencoe) e Londres (Tavistock Publications).

Outra década se passa para que o Diccionario de Ciencias Sociales seja

publicado, em dois volumes, em 1975 e 1976, respectivamente, sob a

coordenação de Salustiano del Campo Urbano, Juan F. Marsal e José A.

Garmendia (Instituto de Estudios Políticos, Madri).

Mais uma década transcorre até a publicação do Dicionário de Ciências

Sociais (FGV, Rio de Janeiro) em 1986. Esse tinha como projeto inicial a tradução

da obra em inglês, foi sofrendo alterações, ao longo de 15 anos de trabalho,

culminando com a tradução de 678 verbetes do A dictionary of the social sciences,

503 do Diccionario de Ciencias Sociales e com a elaboração de 276 verbetes e

127 notas complementares, tornando-se o mais completo dos três dicionários.

Essa obra, elaborada por brasileiros, sob os auspícios da UNESCO, destinou-se

ao mundo de fala portuguesa (SILVA, 1987, p. vi, vii e viii).

Não se identificou a publicação em francês15 e árabe, de dicionários de

Ciências Sociais em parceria com a UNESCO. Ao que tudo indica, da previsão

inicial, só foram concretizados os dicionários em Língua Inglesa e Língua

15

Embora Salustiano Del Campo (1975), na Introdução da obra espanhola, escreva que por ocasião da realização da reunião de Madrid, em 1960, decidiu-se ratificar os acordos feitos na reunião realizada no ano anterior no Rio de Janeiro, e seguir os modelos dos dicionários inglês e francês que estavam em fase de redação. Como dito, a não identificação da obra, não significa a afirmação de que não foi publicada, mas sim que na realização desta pesquisa não se conseguiu obter informação sobre sua publicação, o que também não permite afirmar que tal dicionário tenha sido publicado.

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Espanhola. Registra-se, como relatado no parágrafo anterior, a publicação da obra

em Língua Portuguesa, em 1986, também em parceria com a UNESCO. Embora

nem todas as obras previstas, inicialmente, tenham sido publicadas, a Resolução

da sétima Conferência Geral da UNESCO de 1952, é um importante indicativo de

que os dicionários de área possuem importância significativa. Além disso,

acredita-se que foi um dos motivos para que, a partir da década de 1970,

ocorresse uma multiplicação das obras dessa natureza em Ciências Sociais e

Sociologia.

Tentou-se identificar, nas obras pesquisadas, o número de exemplares

impressos (tiragem) e os anos ou a quantidade de vezes em que ocorreram novas

edições dos dicionários de Sociologia e Ciências Sociais. Encontrou-se a

informação sobre a tiragem na 4ª edição em espanhol de Fairchild (6000), da 2ª

edição de Echánove Trujillo (2000), da edição portuguesa da Enciclopédia

sociológica contemporânea (2000) e na obra de Franco Demarchi e Aldo Ellena a

indicação L 15000, que se supõe que seja a tiragem. Na maioria das obras não há

informação sobre número de exemplares impressos. Com relação às edições

pode-se observar que a maioria das obras teve mais de uma edição, dentre as

quais destacam-se as seguintes:

- Squillace: 1905, 1911, 1920 e em espanhol 1936;

- Henry Pratt Fairchild: em inglês 1944, 1955, 1957, 1962, 1964, 1965, 1966,

1975, 1977, e em espanhol 1949, 1960, 1963, 1966, 1969, 1971, 1984, 1987,

1997, 2003;

- Editora Globo: 1961, 1963, 1967, 1969, 1970, 1971, 1974, 1981;

- Geofrey Duncan Mitchell: 1968, 1970, 1973, 1975, 1977, 1979;

- Helmut Schoeck: em Alemão 1969, 1970, 1982 e Espanhol 1973, 1977,

1985;

- George e Achiles Theodorson: Inglês 1969, 1970, 1979, 1982, 1990 e Italiano

1975;

- Thomas Ford Hoult: 9 edições em inglês entre 1969 e 1977.

A existência de mais de uma edição da maioria das obras, sendo que

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algumas delas com edições frequentes, somado ao fato de que um número

significativo de dicionários foi traduzido para outros idiomas e publicados em

países diferentes, permite supor que as obras foram vendidas e que tenham sido

consultadas. Esses dados possibilitam presumir que um número significativo de

pessoas consulte essas obras, embora a tradição das Ciências Sociais e da

Sociologia, em particular é ir direto aos teóricos de referência nos temas que se

deseja pesquisar. Essa prática, porém, pressupõe que já se saiba quais são as

obras e os autores considerados de referência. Para quem não tem esse

conhecimento, acredita-se que a consulta a um dicionário possa ser um primeiro

passo.

No próximo item, apresenta-se a opinião de responsáveis (autores,

editores, organizadores) pela publicação dos dicionários de Sociologia e Ciências

Sociais, que em geral descrevem, na apresentação ou prefácio, justificativas para

a obra e o que esperam dela.

2.1 O papel do dicionário de sociologia: o ponto de vista dos seus autores.

SQUILLACE (1905/1936, p. 5/6), autor do primeiro dicionário de

Sociologia16, afirma que “um dicionário de uma ciência deve precisar os conceitos

relativos a ela”.17 Assevera que “um dicionário de uma ciência em formação serve

aos incompetentes e aos competentes: aos primeiros para aprender, aos

segundos para discutir”. O sociólogo italiano escreve que publicou seu Dicionário

de Sociologia para “satisfazer a necessidade universalmente sentida no público

culto em geral e também para estabelecer o direito de prioridade em um

empreendimento científico”. Ao descrever a finalidade do dicionário reitera seu

16

Além de ser o dicionário mais antigo encontrado nesta pesquisa, o autor da obra apresenta-a como o primeiro da disciplina.

17 Tradução livre do autor. No original: Um diccionario de una ciencia debe precisar los conceptos

relativos a la ciencia misma. / Un diccionario de una ciencia em formación sirve a los incompetentes y a los competentes: a los primeiros para aprender, a los segundos para discutir. / Satisfacer la necesidad universalmente sentida en el público en general, (...) y también para asentar el derecho de prioridad en una empresa científica.

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caráter pedagógico: serve para aprender e discutir. Explicita que um dos objetivos

de sua obra é pessoal: ser o primeiro a publicar um dicionário de Sociologia.

Para ele, a finalidade de um bom dicionário é esclarecer, precisar e

popularizar o estudo de uma ciência determinada, além de precisar os conceitos e

termos relativos a ela. Ao final da apresentação, ele afirma que para o leitor basta

o que é dito no dicionário, mas para o estudioso recomenda sua obra Critica dela

Sociologia (vol. I. Le dottrine sociologiche; vol. II I problemi costituzionali dela

sociologia).

Archêro Júnior e Conte (1939), escrevem no prefácio de seu dicionário que

nele constariam “todos os termos ou pelo menos o grosso dos termos mais

nucleares usados na referida ciência”. Argumento similar a esse está presente em

várias obras: Echánove Trujillo (1944/1957, p. 9), conceitos fundamentais da

disciplina; Gould e Kolb (1964), conceitos básicos e termos de uso geral das

Ciências Sociais; Baldo Blinkert (1976/1980, p. 5), “conceitos fundamentais e mais

frequentemente utilizados nas ciências sociais”; Boudon et. al. (1989/1990, p. 5),

“conceitos sociológicos mais correntes e mais fundamentais”; Boudon e

Bourricaud (1982/1993, p. xiii), “questões fundamentais da sociologia”; Férreol

(1991/1995, p.3), “as noções mais fundamentais ou as mais comumente

utilizadas”; Pité (1997, p. 7), “definições dos conceitos sociológicos mais correntes

e fundamentais”; Giner; Espinosa e Torres (1998), noções de uso frequente e

compartilhadas pela maioria na Sociologia e na teoria social; Ranjana Subberwal

(2009), conceitos fundamentais em Sociologia. A maioria dos autores considera

que os dicionários de Sociologia devem dicionarizar os termos de uso mais

frequente pela disciplina.

Argumento similar encontra-se também em Emilio Willems (1950, p.

ix/x) “ao lado de um vocabulário aceito por quase todos os autores, existe bom

número de termos usados por alguns e rejeitados por outros; (...) o presente

dicionário contém termos já sancionados pelo uso contínuo”. É interessante notar

que o autor deixa claro no prefácio que o vocábulo tecnologia, assim como outros

que designam “fenômenos de cultura não-material (religião e magia, sobretudo),

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da tecnologia e ergologia primitivas não caberiam num dicionário de Sociologia e

Antropologia Social”. No entanto, como o leitor observará no capítulo quatro, o

termo tecnologia consta como entrada não só nesta obra, como também em seu

dicionário de sociologia publicado em 1950.

Henry Pratt Fairchild (1944/1966. p. ix) afirma que em regra geral, é

necessário um dicionário ou glossário especial para cada ciência particular. Isso é

ainda mais necessário para a Sociologia, que se ocupa de questões com as quais

as pessoas têm uma experiência comum, por isso a maior parte dos termos que

utiliza são familiares ao cotidiano. Ele defende também que a maior parte das

palavras que são utilizadas nas definições de um dicionário de Sociologia fazem

parte do cotidiano e suas definições retiradas de um dicionário de uso atual. Por

fim, escreve que o dicionário é oferecido como uma amostra unitária do

pensamento preciso da fraternidade sociológica norte-americana em geral.

John T. Zadrozny (1959), assinala que seu dicionário pretende ser uma

obra de referência em Ciências Sociais. O autor almeja que a obra reúna os

termos utilizados pelas diferentes disciplinas constituintes, definindo-os com

linguagem clara e concisa.

Mitchell (1968/sd, p. 5), argumenta que “em sociologia não é possível

ser útil sem discutir os vários usos e a teoria, bem como outros interesses que

subjazem a tais usos”. No posfácio da mesma obra, Paulo Ferreira da Cunha

assim se posiciona:

se um dicionário é sempre um exercício de sociologia, não há sociologia que passe sem uma rigorosa definição e delimitação lexicais, não há sociologia que possa dar de barato a precisão dos conceitos, pedra de toque, por sua vez, de todo o dicionário que se preze.

O autor defende que um dicionário pode vir antes ou depois, se vem

depois, “estabelece sobre as hipóteses teorias, sintetiza-as, ordena-as, pondera-

as, consagra-as” (p. 521/524). Os dois autores, do dicionário e do posfácio,

enfatizam a noção de utilidade do dicionário e da Sociologia e que as definições

tendem a registrar os usos mais frequentes, consagrando-os.

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Ao apresentar a Enciclopédia sociológica contemporânea, Francis Balle

(1975/sd, p. 5), considera que “o pensamento sociológico permanece dominado

pela tradição instaurada pelos pensadores clássicos”, ou seja, Comte, Marx,

Weber, Durkheim e Pareto. Balle (1975/sd, p. 6), destaca que “nenhum elemento

da realidade social parece escapar à alçada do sociólogo”. O autor afirma que a

obra pretende ser a ilustração de uma forma de pensar que os seres humanos têm

de formular as questões relativas ao seu universo social. A obra é organizada em

quatro partes com dezoito capítulos, e não em forma de entrada e corpo

explicativo, como um dicionário, ela parece mais um livro, com uma coletânea de

artigos. Nenhum dos capítulos ou subtítulos apresenta ciência, técnica ou

tecnologia como entrada específica. Há temas relacionados como ‘progresso

científico e utilização da energia’, a ciência e a revolução dos transportes’, ‘a

ciência e a diversificação das necessidades’, ‘o universo da mudança técnica’ no

mundo do trabalho, ‘técnica e racionalidade’ em relação à mudança na empresa.

Algumas reflexões relacionadas à ciência, técnica e tecnologia são identificadas

em alguns dos textos.

Friedman (1975, p.13), afirma que um dicionário de Ciências Sociais

não deve ser uma obra abstrata, deve possuir um caráter prático de respostas às

consultas, por isso é, antes de tudo, um instrumento didático. Ele destaca ainda

que a Sociologia tem um papel central na obra, que se caracteriza por um meio

termo entre um dicionário de tipo vocabulário, como o de Fairchild, e o de caráter

enciclopédico, como a Encyclopedia of the social sciences (1930-1934).

Juan Marsal (1976, p. 2), na introdução dos Terminos latino-americanos

para el diccionarío de ciências sociales, escreve que o dicionário representa “um

instrumento de trabalho valioso, em particular para o público espanhol e latino-

americano”. A premissa de que o dicionário é um instrumento didático com

importância valiosa para o público consulente é manifestada por alguns autores.

Para Demarchi e Ellena (1976, p. 9), um dicionário de Sociologia

responde a uma demanda do mercado cultural, “para obter informação

relativamente segura, simples e abrangente sobre as principais questões a que

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uma dada ciência oferece uma resposta”.18 Neste caso, os autores deixam claro

que a obra é uma resposta a uma demanda do mercado cultural e destacam que

ela deve contemplar as principais questões a que uma ciência pode dar resposta.

A. Zaki Badawi (1978/1986) afirma que sua obra possui dois objetivos:

consolidar e padronizar significados já existentes, e segundo, estabelecer novos

significados. A uniformidade terminológica é um dos objetivos explicitados também

no Dicionário de Sociologia publicado pelo Departamento Nacional de Educação

da África do Sul (1980). Estas duas obras mencionam a intenção de consolidar e

estabelecer significados, o que está na função geral de um dicionário. Quanto a

padronizar e uniformizar significados, embora seja um objetivo possível para um

dicionário, é mais adequado para um dicionário de língua (ainda assim talvez

discutível) do que para um dicionário terminológico.

Por sua vez, Abercombie, Hill e Turner (1984/1988, p. vii), no prefácio

de sua obra, escrevem que “um dicionário de sociologia não é apenas uma

coleção de definições, mas inevitavelmente uma declaração do que é a disciplina.

Ele também é prescritivo ao sugerir sentenças de desenvolvimento e

consolidação”.19 Salientam também que é problemático fazer definições numa

disciplina diversa, complexa e em desenvolvimento como a Sociologia. Mesmo

assim afirmam:

nós fizemos todo o esforço para considerar escolas rivais, questões controversas, definições contraditórias e problemas não resolvidos. (...) Neste dicionário nós tentamos representar conceitos, debates e escolas, que são tanto importantes quanto contemporâneos (ABERCOMBIE, HILL e TURNER, 1984/1988, p. x/xi).

20

18

Tradução livre do autor. No original: per avere informazioni relativamente sicure, semplici ed esaurienti sui principal quesiti cui uma data scienza offre uma risposta.

19 Tradução livre do autor. No original: A dictionary of sociology is not just a collection of definitions,

but inevitably a statement of what the discipline is. It is also prescriptive in suggesting lines of development and consolidation.

20 Tradução livre do autor. No original: we have made every effort to consider rival schools,

controversial issues, contradictory definitions and unresolved problems. (…) In this dictionary we have tried to represent concepts, debates and schools that are both important and current.

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Os autores têm consciência de que é problemático fazer definições

numa disciplina que possui diversidade e complexidade como a Sociologia, tanto

que registram que fizeram esforços para contemplar escolas e debates. Mesmo

assim, afirmam que um dicionário de Sociologia, além de apresentar definições é

uma declaração do que é a disciplina, devendo ser prescritivo, o que é incoerente

com a própria opinião dos autores a respeito da diversidade e complexidade da

disciplina.

Tom Bottomore (1983/1988, p. ix), escreve que o dicionário do

pensamento marxista “pretende ser um guia sucinto para a compreensão dos

conceitos básicos do marxismo, a partir de diferentes interpretações e posições

críticas”. O autor ressalta a função de guia para o dicionário. Essa obra, embora

intitulada como um dicionário do pensamento marxista foi considerada como um

dicionário de ciências sociais, em função da importância da teoria marxista nas

Ciências Sociais e na Sociologia em particular.

Para Hermans (1991, p. 5), seu dicionário “apresenta as ferramentas

utilizadas na sociologia, a saber: os dispositivos conceituais, os procedimentos ou

métodos, as técnicas de observação e de análise”. Na sequência escreve que “o

principal objetivo de um dicionário é esclarecer os leitores que tropeçam sobre as

palavras que eles não entendem” (HERMANS, 1991, p. 6).21 Menciona que a

função do dicionário é fornecer significados de palavras para os consulentes que

tem dificuldades em entender o que elas significam.

Para Allan Johnson (1995/1997, p. x) “TODA DISCIPLINA TEM seu

vocabulário próprio, ou melhor, os termos que utiliza para classificar e qualificar o

que considera que vale a pena ser compreendido” (grifo do autor), e prossegue

afirmando que existem termos que se referem à vida social e que não são

incluídos na obra “porque não fazem parte da linguagem que sociólogos usam

21

Ce dictionnaire présente les outils utilisés en sociologie, à savoir: les dispositifs conceptuels, les procédures ou démarches, les techniques d'observation et d'analyse. (…) L'objectif premier d'un

dictionnaire est d'éclairer les lecteurs qui butent sur des mots qu'ils ne comprennent pas.

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para descrever e analisar a vida social” (JOHNSON, 1995/1997, p. xi). É incisivo

ao ponderar que um trabalho sociológico sério deve tornar claras as bases

conceituais daquilo que os sociólogos fazem. Para o autor, a função do dicionário

de uma disciplina é tornar claro o significado do vocabulário que utiliza para que

as pessoas possam acessar o que vale a pena ser compreendido.

Cattani (1997/1999, p. 11/12), no prefácio de Trabalho e tecnologia:

dicionário crítico, considera que os dicionários de Ciências Sociais no Brasil “não

são numerosos, e sua consulta é um hábito pouco frequente. Durante décadas, a

única obra disponível foi o modesto Dicionário de Sociologia editado pela Globo”.

Ele cita algumas traduções de dicionários, feitas a partir da década de oitenta do

século XX: Dicionário de Ciências Sociais organizado pela UNESCO; Dicionário

do pensamento marxista (Bottomore); Dicionário de Política (Bobbio); Dicionário

crítico de sociologia (Boudon e Bourricaud); Dicionário do pensamento social do

século XX (Outwaite e Bottomore). Em seguida ressalta que a obra organizada por

ele ocupa um lugar específico nessa coleção de obras, pois é considerada “ágil e

acessível, tendo, como eixo de referência, os conceitos contemporâneos ligados à

esfera do trabalho e da tecnologia”.

As considerações de Cattani (1997/1999) sobre os dicionários são

interessantes, contudo, discorda-se da afirmação de que antes da década de 80 o

único dicionário de Sociologia, em língua portuguesa, disponível era a obra

publicada pela Editora Globo (1961). Talvez essa obra fosse a mais citada e

consultada, mas, com certeza não era a única disponível. Como o leitor poderá ver

nas Figuras 1 e 3, presentes nas páginas 63 e 71, respectivamente, ao coletar os

dados nesta pesquisa encontram-se quatro obras, contando com a Enciclopédia

de cultura de Joaquim Pimenta (1955), publicadas no Brasil, anteriormente à da

Editora Globo. Outros três dicionários, posteriores a 1961, foram publicados ainda

na década de 70. Portanto, antes da década de 1980 havia sete obras disponíveis.

Além disso, foi publicada no Rio de Janeiro a tradução da obra A sociologia: guia

alfabético de Jean Duvignaud (1974).

Destaque-se ainda que, na década de 1970, tornaram-se disponíveis

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em Língua Portuguesa, embora não publicadas no Brasil, a tradução de três obras

francesas publicadas em Portugal: Enciclopédia Meridiano Fischer, Sociologia de

René König (1971); Dicionário das ciências sociais de Alain Birou (1973) e o

Vocabulário essencial da sociologia de Jean Golfin (1973).

Cattani não foi o primeiro a ignorar a publicação de dicionários de

Sociologia no Brasil. Archêro Júnior (1949) no prefácio da 2ª edição, (Alberto

Conte havia falecido), escreve que após dez anos da 1ª edição, o dicionário

continua sendo o único escrito até então em língua portuguesa. Observe-se que o

autor não está considerando a publicação da obra de Baldus e Willems de 1939.

Alguns dos responsáveis (autores, editores ou organizadores) dos

dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, apresentam, no início de suas obras,

o objetivo do material: expor os conceitos mais correntes e fundamentais, os

termos mais nucleares, as questões fundamentais, o que vale a pena ser

compreendido, os termos já sancionados pelo uso contínuo, consagrados, entre

outras justificativas. O objetivo apresentado, pelos responsáveis pelas obras,

reforça o argumento de que o fato de um termo, não constar num dicionário,

significa que o(s)autor(es) não considera(m) que o tema seja importante, nuclear,

de uso corrente ou contínuo pela área. De outro lado, pode-se considerar que as

obras que dicionarizam um termo, consideram-no como de uso frequente e

importante para a compreensão sociológica. Desse modo, pode-se considerar que

as obras que dicionarizam as palavras ciência, técnica e tecnologia, além de

divulgar interpretações sociológicas a respeito desses termos, tem o objetivo de

dar legitimidade científica a essas interpretações. Por isso, entender quais os

sentidos que são atribuídos aos léxicos ciência, técnica e tecnologia, pode revelar

interpretações sociológicas de diversos autores e de momentos históricos

diferentes no processo de institucionalização da Sociologia enquanto ciência.

Alguns ponderam a dificuldade de estabelecer definições na Sociologia,

por utilizar termos de uso cotidiano, por ser uma ciência nova e em construção,

por ter como característica diversas teorias e escolas. Mas, além de apresentar os

termos de uso mais frequentes e fundamentais pela Sociologia, outras razões são

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apontadas para a existência dos dicionários: servir como um guia; classificar e

qualificar; definir com linguagem clara e precisa; rigorosa definição e delimitação

lexicais; informação relativamente segura; consolidar e padronizar significados já

existentes; estabelecer novos significados; uniformidade terminológica

(Departamento Nacional de Educação, África do Sul (1980)); declaração do que é

a disciplina (Abercombie, Hill e Tuner, 1984/1988). De todas as afirmações, esta

última, ao considerar que um dicionário de Sociologia é uma declaração do que é

a disciplina, permite pressupor que os autores têm como intenção, ao registrar

definições por meio do discurso de autoridade que caracteriza o dicionário, marcar

posição na área. Contudo, por mais abrangente e sério que seja um dicionário, ele

representa ou reproduz algumas interpretações da Sociologia, ou melhor, de

alguns autores sobre determinados temas discutidos na área, mas não pode ser

tomado como a disciplina, de acordo com a tradição da área.

Algumas das informações contidas no prefácio e na introdução do A

dictionary of the social sciences (GOULD e KOLB, 1964), publicado a partir da

Resolução 3.13 de 1952 da UNESCO e com seu apoio, são ilustrativas do que

predomina, via de regra, nos dicionários de Sociologia e Ciências Sociais.

Segundo essas informações, a obra foi planejada para definir e descrever cerca

de mil conceitos básicos (conceitos chave) utilizados nas Ciências Sociais.

Deviam estar presente nos conceitos: o significado de usos cotidianos dos termos;

o uso científico com aceitação mais abrangente e ilustrado com citações curtas da

literatura. A utilização do exemplo visa reforçar o sentido conferido ao termo,

atribuindo-lhe legitimidade, conforme destaca Orlandi (2002). Possivelmente, isso

seja decorrente da participação de linguistas e lexicógrafos, além de especialistas

das Ciências Sociais, na reunião promovida pela UNESCO em 1954. Nesse

evento foi desenvolvido um projeto piloto nas línguas inglesa, francesa e

espanhola, com grupos na Bélgica, França, Grã-Bretanha, Espanha, Suíça e EUA,

para realizar uma análise preliminar de cerca de 200 termos. Esses termos foram

submetidos à análise preliminar, no projeto piloto e foram selecionados do

vocabulário usado em textos sobre mudança tecnológica. Para compor o

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dicionário, os termos foram retirados do uso geral das Ciências Sociais. Os

editores mencionam que selecionar cerca de mil termos é uma tarefa difícil e

arbitrária.

Para tornar mais abrangente a visão dos autores (editores,

organizadores) sobre o papel e a importância dos dicionários de Sociologia e

Ciências Sociais, cabe abordar um pouco qual o público-alvo dessas obras,

segundo seus responsáveis. Echánove Trujillo (1944/1957, p. 9), escreve que seu

propósito é facilitar a compreensão da Sociologia para estudiosos em geral,

enquanto George e Aquiles Theodorson (1969/1975, p. vii e viii), defendem que

sua obra atende as necessidades de estudantes de vários níveis e do público em

geral para acelerar a aquisição de fundamentos essenciais. Juan Marsal (1976, p.

2-3), na introdução dos Terminos latino-americanos para el diccionarío de ciências

sociales, escreve que o dicionário representa “um instrumento de trabalho valioso,

em particular para o público espanhol e latino-americano”, estudantes e

profissionais.22

No A dictionary of the social sciences (GOULD e KOLB, 1964), são

considerados como público-alvo os estudantes de qualquer disciplina, estudantes

e investigadores das Ciências Sociais para uma introdução geral, e especialistas

de outras disciplinas que encontrarão uma fonte de compreensão dos principais

conceitos utilizados.

Baldo Blinkert (1976/1980, p. 5) afirma que seu dicionário “constitui uma

importante obra de consulta para as pessoas não especializadas interessadas na

matéria, mas, sobretudo, para todos aqueles que trabalham no campo do social”

(p.5).23 Nesse caso, há também uma justificativa de que a obra é importante para

o público não especializado que esteja interessado na matéria e principalmente

para os que atuam na área social. Essas assertivas possibilitam duas questões.

22

Tradução livre do autor. No original: un instrumento de trabajo muy valioso, en particular para el público español y latinoamericano.

23 Tradução livre do autor. No original: Constituye, en consecuencia, una importante obra de

consulta para las personas no especializadas interesadas en la materia, pero sobre todo para todos aquellos que trabajan en el campo de lo social.

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A primeira diz respeito à ideia de que a obra destina-se ao público não

especializado, o que pode reforçar o argumento de que nas Ciências Sociais, e na

Sociologia em particular, a utilização de dicionários da área como referência é

relegada a um plano secundário, dando-se preferência à consulta direta dos livros

e outros escritos considerados clássicos ou referenciais em um determinado

assunto. O segundo ponto da afirmação é que o dicionário se destina ao público

que trabalha na área social. Neste caso, pode-se perguntar: se uma pessoa

especializada na área e que trabalha no campo social, seria uma potencial usuária

do dicionário ou não? Pode-se presumir, da afirmação acima, que provavelmente

não, e que os potenciais usuários seriam as pessoas que trabalham no campo

social, mas não detentoras de uma formação especializada na área, por isso

poderiam encontrar no dicionário uma resposta mais rápida e breve às suas

indagações.

Baldus e Willems (1939) destacam que, além dos estudantes

brasileiros, sua obra é destinada aos centros de estudos americanistas da Europa.

O público-alvo para Sumpf e Hugues (1973) é o grande público e os profissionais

de todas as áreas da Sociologia; para o diccionario de ciencias sociales (DEL

CAMPO; MARSAL; GARMENDIA, 1975/6) pesquisadores e profissionais; para

Demarchi e Ellena (1976) profissionais (jornalistas, professores, animadores

culturais, assistentes sociais, agentes de saúde, sacerdotes, educadores); para

Gianminoto (2010) estudiosos, profissionais e tradutores.

Em síntese, os autores destinam suas obras para o público em geral,

pessoas não especializadas, para estudantes de vários níveis (especialmente do

secundário ao superior, da Sociologia e das Ciências Sociais), para profissionais

(professores, especialistas em ciências sociais, que estão no trabalho social) entre

outros. Esses dados indicam quem os responsáveis pelas obras tinham em mente

como público-alvo. Isso não garante que esse é o público que efetivamente, ou

majoritariamente, utiliza os dicionários. Porém, esse problema não é o objeto

desta pesquisa, por isso, independente de quais sejam os usuários dos

dicionários, como dito anteriormente, parte-se do pressuposto de que, uma vez

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que os dicionários existem, eles são um instrumento pedagógico, portadores de

significados dos termos dicionarizados, os quais representam uma ou algumas

interpretações sociológicas.

Colocar um dicionário à disposição de um pretenso público-alvo é uma

justificativa, e pode até ser uma das motivações para elaboração de dicionários de

Sociologia e Ciências Sociais. Contudo, há outras razões que levam à elaboração

desse tipo de obra, algumas explícitas outras não. Quanto às razões implícitas,

pode-se pressupor algumas, mas para não correr o risco de ficar na especulação,

ater-se-á àquelas que foram deixadas, algumas mais outras menos, claras.

Por exemplo, Squillace (1905/1936), deseja ser o primeiro a publicar um

dicionário de Sociologia. Para Demarchi e Ellena (1976), a obra responde a uma

demanda do mercado cultural. Ferréol (1991/1995) assinala que seu dicionário

está atendendo os objetivos da coleção “chegar à essência”. Giner, Espinosa e

Torres (1998, p. x) também deixam evidente que a grande motivação é editorial:

“Este Dicionário de Sociologia parte de uma solicitação clara da editora: elaborar

uma obra de fácil consulta, de grande densidade informativa quanto ao

conteúdo”.24 Objetivos de algumas obras listados anteriormente também podem

ser considerados motivações para sua publicação. É desnecessário repeti-los.

Por fim, destaca-se como uma motivação significativa a Resolução 3.13

de 1952 da UNESCO, que teve como consequência concreta a publicação de

dicionários de Ciências Sociais em Língua Inglesa (Grã-Bretanha e EUA), em

Língua Espanhola (Espanha e CLACSO = América Latina), e Língua Portuguesa

(Brasil, destinado aos países de Língua Portuguesa). Acredita-se que a resolução

também estimulou a publicação de outras obras, que se tornaram mais frequentes

a partir de 1960 e, sobretudo, na década de 1970. Outros fatores, como o maior

desenvolvimento da Sociologia e das Ciências Sociais, maior facilidade de

publicação, aumento do número de estudantes, e do poder de compra, entre

outros, também contribuíram para o maior número de dicionários publicados.

24

Tradução livre do autor. No original: Este Diccionario de Sociología parte de un encargo claro de la editorial: elaborar una obra de fácil consulta, de gran densidade informativa en cuanto al contenido.

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Nesse período, as Ciências Sociais e a Sociologia em particular já estão

estabelecidas e institucionalizadas em vários países, sobretudo naqueles em que

dicionários são publicados. No caso brasileiro, a institucionalização da Sociologia

foi objeto de pesquisa de Simone Meucci.

Em sua dissertação de mestrado, A institucionalização da sociologia no

Brasil: os primeiros manuais e cursos, Simone Meucci (2000), tendo como objeto

os primeiros manuais de Sociologia publicados no Brasil, faz menção a publicação

de dicionários. Ela constata que até 1930 eram utilizados compêndios estrangeiros

e que a partir de 1931 começam a ser publicadas obras nacionais com a finalidade

de difundirem o conhecimento sociológico.

Com efeito, os manuais didáticos compreendem, juntamente com coletâneas de textos e dicionários, as primeiras tentativas de sistematização do conhecimento sociológico. Através destes livros introdutórios, os autores elegeram temas, problemas e conceitos da sociologia empírica e teórica. Reuniram e apresentaram, de forma didática, métodos e procedimentos considerados adequados à análise sociológica. Nas páginas destes livros, foram, também, traduzidos pequenos trechos de textos inéditos entre nós (MEUCCI, 2000, p. 6).

Entre os autores dos manuais mencionados pela pesquisadora,

encontra-se Achiles Archêro Júnior, que teve seu livro Lições de sociologia,

reeditado nove vezes entre 1932 e 1949. Achiles Archêro Júnior é autor,

juntamente com Alberto Conte, de um dicionário de Sociologia publicado em 1939.

No mesmo ano, também foi publicado o Dicionário de etnologia e sociologia, de

Herbert Baldus e Emílio Willems (1939). Este, como tinha sido responsável pelos

termos de Sociologia na obra publicada em parceria com Baldus, publicou um

dicionário de Sociologia em 1950, que, por sua vez, foi uma das obras que serviu

de base para o dicionário de Sociologia publicado pela Editora Globo em 1961. As

duas obras publicadas em 1939, além de coincidir com a primeira década de

publicação de manuais e tratados de Sociologia no Brasil, foram os primeiros

dicionários de Sociologia publicados no Brasil, e figuram entre os mais antigos que

se encontrou nesta pesquisa.

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Conforme constatou Meucci, do mesmo modo que a publicação de

manuais e tratados de Sociologia ocorreu de forma significativa no Brasil, a partir

dos anos 30 do século XX, o mesmo ocorreu com os dicionários, embora em

número bem mais reduzido. Contou-se com apenas dois em 1939, um em 1950 e

um em 1955, foram os primeiros dicionários de Sociologia e Ciências Sociais

publicados no país. Pode-se considerar que a publicação de dicionários de

Sociologia e Ciências Sociais, neste período, faz parte do esforço de constituição

e institucionalização da disciplina empreendidos neste contexto.

Meucci (2000) identificou que os manuais de sociologia reúnem dados

importantes para entender temas, problemas e conceitos abordados pela

sociologia no Brasil. De modo análogo, pode-se considerar que os dicionários de

Sociologia são um testemunho valioso para a compreensão de interpretações

sociológicas a respeito da ciência, da técnica e da tecnologia, as quais foram

reunidas e sistematizas com vistas à legitimidade que o dicionário pode conferir.

Desse modo, considera-se que os dicionários de Sociologia e de

Ciências Sociais são objetos históricos e instrumentos pedagógicos. Acredita-se

que possuem suas filiações e indicam compromissos teóricos e ideológicos

distintos. Para que eventuais divergências e filiações teóricas, dos responsáveis e

autores, sejam identificadas requereria a contextualização das obras. Porém,

devido à grande quantidade de obras que compõem o corpus deste trabalho, mais

de seis dezenas, este procedimento torna-se inviável.

No próximo capítulo, faz-se o relato dos procedimentos metodológicos

utilizados neste trabalho, seguido da caracterização das obras utilizadas. A

caracterização não visa substituir a contextualização, pois tem característica e

função diferente. Por meio dela é possível ter um panorama das obras, quanto ao

período e local de publicação, quantas são nomeadas como dicionários ou

enciclopédias, quantas são de Sociologia e de Ciências Sociais e o número e

gênero dos responsáveis e autores das obras. Espera-se que essas informações

contribuam para uma melhor compreensão dos significados dos termos ciência,

técnica e tecnologia.

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3 METODOLOGIA E CARACTERIZAÇÃO DAS OBRAS CONSULTADAS.

Este capítulo divide-se em duas partes. Na primeira, serão delineados

os procedimentos metodológicos empregados. No segundo tópico apresenta-se a

caracterização das obras utilizadas.

Neste trabalho, se utilizam procedimentos metodológicos quantitativos

e qualitativos. Acredita-se que devido à natureza e especificidade da pesquisa, a

utilização combinada de recursos quantitativos e qualitativos permite uma

caracterização detalhada dos dados e uma análise mais profícua dos significados

dos termos objetos da pesquisa.

Para caracterizar a abordagem quantitativa e a qualitativa, recorre-se a

Bardin (1979), que embora esteja tratando das abordagens no contexto da análise

de conteúdo, explicita com propriedade o que significa cada uma das abordagens.

Segundo ele,

A abordagem quantitativa funda-se na frequência de aparição de certos elementos da mensagem. A abordagem não quantitativa, recorre a indicadores não frequenciais susceptíveis de permitir inferências; por exemplo a presença (ou a ausência), pode constituir um índice tanto (ou mais) frutífero que a frequência de aparição. A abordagem quantitativa obtém dados descritivos através de um método estatístico, (...) é mais objetiva, mais fiel e mais exata. A abordagem qualitativa corresponde a um procedimento mais intuitivo, mas também mais maleável e mais adaptável. (...) É válida, sobretudo, na elaboração das deduções específicas sobre um acontecimento ou uma variável de inferência precisa (BARDIN, 1979, p. 114-115).

Na caracterização do autor, identificam-se diferenças e especificidades

entre as duas abordagens, mas não contradições. Por exemplo, nesta pesquisa,

os dois procedimentos foram adotados, pois é importante mapear a regularidade

na dicionarização dos termos, bem como a identificação dos significados que são

atribuídos aos termos dicionarizados. Em outras palavras, acredita-se que a

utilização de indicadores quantitativos enriquece a análise qualitativa dos dados.

De acordo com Minayo e Sanches (1993), tanto a abordagem

quantitativa quanto a qualitativa podem ser necessárias, pois nenhuma delas

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possibilita a compreensão completa da realidade, por isso devem ser utilizadas em

complementaridade. Os autores destacam que a abordagem quantitativa pode

levantar e indicar questões que serão aprofundadas pela abordagem qualitativa.

Esta, por sua vez, utiliza a palavra como um material primordial de investigação.

Do ponto de vista sociológico, a análise das palavras permite a imersão nos

significados compartilhados.

Para os autores, do ponto de vista metodológico, as abordagens

quantitativa e qualitativa possuem natureza diferente, mas não contraditória, pois

enquanto a primeira tem como objetivo identificar dados, indicadores e tendências,

a segunda procura aprofundar a complexidade dos fatos investigados.

Arilda S. Godoy (1995) defende a utilização de ambas as abordagens.

Para fundamentar seu ponto de vista, argumenta que Durkheim, em seus

primeiros trabalhos, como O suicídio, utilizou-se de métodos estatísticos, e em

trabalhos posteriores, como De quelques formes primitives de classification,

elaborado em parceria com M. Mauss, adotou a abordagem etnográfica. A autora

menciona que a tensão existente entre os defensores das duas abordagens nas

ciências sociais começou a diminuir a partir da década de 1960.

Segundo Hartmut Günther (2006, p. 201), o que “une os mais diversos

métodos e técnicas de pesquisa (...) é o fato de todos partirem de perguntas

essencialmente qualitativas”. O autor defende que explicação e compreensão

dependem da utilização de abordagens quantitativa e qualitativa, e que o

pesquisador deve se utilizar de várias abordagens que sejam adequadas à sua

questão de pesquisa.

Jaime Raúl Seixas (2008, p. 4), afirma que existem potencialidades e

limitações tanto na abordagem quantitativa quanto na qualitativa. Para ele,

Lazarsfeld25 combinava frequentemente a análise quantitativa com o

discernimento qualitativo. Seixas argumenta que os métodos “qualitativo e

25

Paul Lazarsfeld desenvolveu pesquisas de coleta de dados para o Instituto Buhler na Áustria e a partir da década de 1930, já atuando em universidades dos Estados Unidos da América, desenvolveu pesquisas sociais aplicadas, por meio de seu Instituto de Pesquisa, em parceria com clientes privados e públicos (POLLAK, 1979).

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quantitativo podem coexistir em cada processo de investigação”. Para assinalar a

importância desta prática, cita estudos de autores em que se reconhece a

presença dos dois procedimentos em vários trabalhos de pesquisa, tanto na

Sociologia e como nas Ciências Sociais.

O autor defende a utilização de um paradigma misto, pois segundo ele,

ambos (quantitativo e qualitativo) buscam extrair significado, tendo objetivos

semelhantes. Com a utilização do paradigma misto, é possível “a melhor

compreensão do fenômeno da vida social e análise”, pois investigadores que se

utilizam desta metodologia estão “em melhor posição, porque munidos de lentes

bifocais” (SEIXAS, 2008, p. 13). Contudo, embora o autor expresse esta posição,

é interessante notar que se refere a investigadores adeptos ao paradigma

quantitativo e investigadores adeptos ao paradigma qualitativo. Diz ainda que

ninguém precisa saber usar os dois métodos, pois pode haver cooperação entre

pesquisadores conhecedores de métodos ou abordagens diferentes. O

pesquisador defende, que na realização da pesquisa, sejam utilizados métodos

quantitativos e qualitativos, contando com a colaboração de pesquisadores que

conhecem métodos diferentes. Talvez essa parceria seja necessária em

pesquisas com grande quantidade de dados e métodos quantitativos detalhados.

Utiliza-se, no segundo tópico deste capítulo, de recursos quantitativos,

como estatística simples, de forma manual, isto é, sem a utilização de softwares

estatísticos para elaborar e apresentar a caracterização das obras utilizadas na

pesquisa. Esse procedimento é utilizado também no início do capítulo 4 para

descrever a ocorrência e frequência na dicionarização dos termos objetos deste

estudo.

A abordagem qualitativa foi utilizada para analisar os significados dos

termos (capítulo 4) e os temas mais recorrentes nas definições dos termos técnica

e tecnologia (capítulo 5). O principal recurso utilizado nessa etapa será a análise

de conteúdo. Segundo Bardin (1979, p. 42), a análise de conteúdo designa

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um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Para o autor, o que serve de informação na análise quantitativa é a

frequência de determinadas características do conteúdo, enquanto na análise

qualitativa é a presença ou a ausência de uma determinada característica de

conteúdo. Neste trabalho, foram utilizados os dois procedimentos para avaliar i) a

presença ou ausência dos termos ciência, técnica e tecnologia nos dicionários; ii)

os significados das definições dos termos, isto é, as características de conteúdo;

iii) os temas mais frequentes nas definições dos termos.

A análise de conteúdo prevê três etapas de execução: 1) a pré-análise

ou descrição; 2) a exploração do material; 3) o tratamento dos resultados, a

inferência e a interpretação, a significação concedida. Objetiva-se destacar o que

está explícito e realçar o sentido que se encontra em segundo plano. Pretende-se

explicitar e sistematizar o conteúdo das mensagens, isto é, os significados dos

termos que são objeto deste estudo. Bardin (1979, p. 43-44), argumenta que “a

análise de conteúdo toma em consideração as significações; (...) a análise de

conteúdo procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais

se debruça”. Acredita-se que o recurso da análise de conteúdo seja adequado

para realização desta pesquisa, pois auxilia no entendimento dos significados

presentes nas definições dos termos objetos da pesquisa.

Os termos ciência, técnica e tecnologia compõem os dados

investigados. Esses são denominados de unidade de registro na análise de

conteúdo, ou seja, a unidade de significação a ser codificada visando construir

categorias de análise. Esse procedimento permitiu; i) num primeiro momento,

analisar os significados presentes nas definições (capítulo 4); ii) no segundo

momento, identificar os temas que são mais frequentes nas definições de técnica

e tecnologia, considerando-os como unidades de registro (capítulo 5). Os temas

mais recorrentes foram agrupados em categorias temáticas.

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61

Na análise de conteúdo, além da unidade de registro, considerar

também a unidade de contexto, auxilia na compreensão. Porém, como o corpus

do trabalho é composto por um número elevado de obras, cerca de seis dezenas,

publicadas ao longo de um século, a contextualização torna-se uma tarefa

praticamente inviável. Sem querer substituir, pois possuem estatutos diferentes,

far-se-á uma caracterização das obras, com o intuito de auxiliar na compreensão e

análise dos conteúdos. Antes, porém, descreve-se o percurso realizado na

constituição do corpus e na coleta dos dados, bem como os procedimentos

metodológicos desta etapa da pesquisa.

3.1 Percurso e procedimentos metodológicos

A partir do momento em que se definiu como objetivo analisar os

significados de técnica e tecnologia26 em dicionários e enciclopédias de Sociologia

e Ciências Sociais, passou-se a realizar a pesquisa de identificação, localização,

coleta e seleção do material. Foram consideradas as obras de Ciências Sociais

que incluem a Sociologia ou que têm sentido similar, excluindo, por exemplo, as

obras classificadas em Antropologia, Política e Economia. Caso os dicionários

dessas áreas também fossem incorporados, além de ampliar significativamente o

número de obras a ser analisadas, obrigaria uma incursão teórica nessas

disciplinas o que tornaria o trabalho inviável, considerando o tempo disponível,

sem contar a dificuldade teórica de abranger essas áreas.

Com esse intento, começou-se a fotocopiar as páginas das obras

encontradas, nas quais constavam ou deveriam constar os termos objetos da

pesquisa. Esse levantamento foi realizado em loco nas bibliotecas da Unicamp, da

UFPR, da PUC-PR e da Biblioteca Pública do Paraná. Pesquisou-se também na

web as obras existentes em outras Bibliotecas, como da USP, FELSP, UFRJ e

Biblioteca Nacional.

26

Como explicado na introdução, a decisão de incorporar o termo ciência como objeto de análise ocorreu no decorrer da pesquisa, não fazia parte, portanto, do objetivo inicial da pesquisa.

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62

Na sequência do trabalho, considerando a importância de

contextualização das obras e a possibilidade de identificar se os termos objetos da

pesquisa eram mencionados em outros termos dicionarizados, por exemplo,

cultura, desenvolvimento, progresso, sociedade, sociologia, decidiu-se adquirir, na

medida do possível, ao menos parte das obras que estavam disponíveis no

mercado para facilitar o desenvolvimento do trabalho. Devido à necessidade de

limitar o trabalho, a contextualização e a investigação da menção de ciência,

técnica e tecnologia em outros termos não foram levadas adiante. Estabeleceu-se

critérios para selecionar as obras que seriam adquiridas: obras em português;

obras com datas de publicação mais antigas; obras publicadas em países

diferentes e obras publicadas por órgãos oficiais ou normativos. Como resultado

desse empreendimento adquiriu-se 45 dos 64 títulos utilizados na pesquisa. Ter as

obras à disposição permitiu verificar se constavam informações sobre edições,

dados sobre tiragem de cada edição, responsáveis pelas obras e sobre os autores

dos termos pesquisados.

A utilização da internet foi crucial para identificação e aquisição de

obras novas e usadas disponíveis em várias partes do Brasil e em outros países.

No caso brasileiro, além de sítios eletrônicos de algumas livrarias, se utilizou em

especial os sítios: www.estantevirtual.com.br e www.traca.com.br. Para as obras

internacionais, realizaram-se buscas no Google e no sítio www.abebooks.com.

Identificou-se neste a maioria das obras. Por se tratar de um sítio de vendas,

muitas vezes as informações sobre a obra não eram completas, o que demandava

buscas complementares no Google para identificar outras informações: autor,

data, local de publicação e editora. Isso foi imprescindível para filtrar as

informações e chegar a um número de obras confiável, embora não se possa ter a

segurança absoluta, sobre as informações constantes na internet, uma vez que

não foi possível ter acesso a um número significativo das obras identificadas. Não

foi possível, pois, completar as informações de todas as obras identificadas nesta

etapa da pesquisa. Em algumas das obras que foram identificadas, mas não

consultadas, faltou, ao menos, uma das informações: autor, local, ano ou editora.

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63

Este trabalho de busca foi realizado priorizando os títulos dicionários de

sociologia e dicionários de ciências sociais, em português, espanhol, francês,

inglês e italiano. No processo de busca de materiais, foram encontradas algumas

enciclopédias que foram contabilizadas. Mas como esse material não era o foco

da pesquisa, não foi realizada uma busca específica por essas obras. Também

não se realizou busca por títulos similares, tais como glossário e vocabulário,

embora esse procedimento tenha sido utilizado para pesquisar obras em

bibliotecas e sítios em português. Além da internet, algumas obras foram

adquiridas pessoalmente em lojas de Campinas, Curitiba e Buenos Aires.

A seguir, apresenta-se na Figura 1 a relação de todas as obras

identificadas, constando ano de publicação, responsável pela obra, título e local de

publicação, considerando a publicação original das obras. Ressalte-se que neste

quadro constam todas as obras identificadas, resultado do levantamento, tal como

descrito há pouco. Para deixar mais claro, quando se mencionam as obras

identificadas, refere-se às obras sobre as quais conseguiu-se informações sobre

sua publicação. Ressalte-se que parte delas não se constituiu em corpus do

trabalho, isto é, não foi utilizada como dado de análise. Nas referências

bibliográficas encontram-se as informações completas das obras consultadas

(Figura 3, do próximo item), considerando as edições utilizadas na pesquisa.

Nº ANO Responsável Título Local

1 1905 Squillace, Fausto Dizionnario di sociologia Pallermo

2 1930-34 Edwin R. A. Seligman Encyclopaedia of the social sciences Nova Iorque

3 1933 Jacquement, G Dictionnaire de sociologie familiale, politique, économique

Paris

4 1939 Archêro Jr e A. Conte Dicionário de sociologia São Paulo

5 1939 H. Baldus e E. Willems Dicionário de etnologia e sociologia São Paulo

6 1944 H. Pratt Fairchild Dictionary of sociology Nova Iorque

7 1944 C. A. Echánove Trujillo Diccionaro abreviado de sociología Havana, Cuba

8 1947 Markun, Leo A Dictionary of the Social Sciences (Little Blue Book No. 1456)

Kansas

9 1950 Emílio Willems Dicionário de sociologia Porto Alegre

10 1955 Joaquim Pimenta Enciclopédia de cultura (sociologia e ciências correlatas)

Rio de Janeiro e São Paulo

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64

11 1955 H. Pratt Fairchild Dictionary of sociology and Related sciences

Ames, Iowa

12 1955 Bernsdorf; Bülow Wörterbuch der Soziologie Stuttgart

13 1959 John T. Zadrozny Dictionary of Social Science Washington

14 1961 Globo (Vários) Dicionário de sociologia Porto Alegre

15 1962 Smith, R.E.F Russian-English Social Science Dictionary

London

16 1963 René König Soziologie Frankfurt

17 1964 J. Gould e W. L. Kolb A dictionary of the social sciences Nova Iorque e Londres

18 1966 Birou, Alain Vocabulaire pratique des sciences sociales

Paris

19 1968 G. Duncan Mitchell A dictionary of sociology Londres

20 1968 David L. Sills International encyclopedia of the social sciences

New York

21 1969 Thomas Ford Hoult Dictionary of modern sociology Nova Jersey

22 1969 Schoeck, Helmut Kleines soziologisches Wörterbuch Friburgo

23 1969 Theodorson; G.; A. Theodorson.

A modern dictionary of sociology London

24 1970 Hillmann, Karl-Heinz27

Wörterbuch der Soziologie Stuttgart

25 1972 Jean Duvignaud La Sociologie – guide alphabétique Paris

26 1972 Golfin, Jean Les 50 mots-clés de La sociologie Toulouse

27 1973 Sumpf, J.; Hugues, M. Dictionnaire de sociologie Paris

28 1973 Bartra Roger Breve diccionario de sociología marxista México

29 1975 Akoun; e outros Encyclopédie de la sociologie: le present en question

Paris

30 1975 Jean Cazeneuve Dictionnaire de sociologie Paris

31 1975(6) Del Campo; Marsal; Garmendia

Diccionario de ciências sociales (V. I e II) Madrid

32 1976 Grupo de Trabajo de Desarollo Cultural

Terminos latinoamericanos para el dicc. de c. sociales

Buenos Aires

33 1976 Alfredo Poviña Dicionario de sociología través de los sociólogos. Tomo 1 e 2

Buenos Aires

34 1976 F. Demarchi; A. Ellena Dizionário di sociologia Milano

35 1976 Baldo Blinkert Herder Lexikon. Soziologie Freiburg

36 1977 Ferreira, Luiz L. P. Dicionário de sociologia São Paulo

37 1997 Young, T. R. The red Feather Dictionary of socialist sociology

38 1977 Hugo F. Reading A dictionary of the social sciences

39 1978 Gallino, Luciano Dizionario di sociologia Turim

27

A primeira edição desse dicionário foi publicada por Günter Hartfield, com a colaboração de Hillmann e Jürgen Bogdahn. Com a morte de Hartfield em 1977, Hillmann assume a responsabilidade pela segunda edição. O mesmo ocorre com a terceira edição em 1982, e a quarta em 1994. De acordo com o autor, nessas edições, recebeu sugestões e propostas de melhorias para a obra e colaborações pontuais.

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65

40 1978 Santos, W. dos Vocabulário de sociologia Rio de Janeiro

41 1978 A. Zaki Badawi Dictionary of the Social Sciences English-French-Arabic with an Arabic-English Glossary and a French-English Glossary

Beirut

42 1979 Costa e Silva, L. E. T. Dicionário básico de sociologia Rio de Janeiro

43 1979 Geoffrey Duncan Mitchell

A New Dictionary of the Social Sciences (2 ed),

Hawthorne

44 1980 Department of National Education

Sosiologiewoordeboek (dictionary of sociology) (English / Afrikaans)

Pretória

45 1982 Boudon; Bourricaud Dictionnaire critique de la sociologie Paris

46 1982 Akira Hamashima Shakaigaku shojiten (dictionary of sociology)

Japão

47 1983 Bottomore, T. (editor). A dictionary of marxista Thought Oxford, Inglaterra

48 1984 Abercrombie; Hill; Turner

Dictionary of sociology London

49 1984 Gauba On Prakash Samaj Vigyan Kosh - A dictionary of sociology (English-Hindi)

Bengali

50 1984 Wolfgang J. Koschnick Standard Dictionary of the Social Sciences/Standard-Worterbuch Fur Die Sozial-Wissenschaften: English-German/Englisch-Deutsch

51 1985 Michael Mann Student Encyclopaedia of sociology (Dictionary)

52 1985 D'Amato, M.; Porro, N. Dizionario di sociologia Italia

53 1986 Benedicto Silva Dicionário de ciências sociais Rio de Janeiro

54 1986 Lachmann, Richar The encyclopedic dictionary of sociology

55 1989 Boudon et. al. Dictionnaire de la sociologie Paris

56 1991 Ferréol, Gilles Dictionnaire de sociologie Paris

57 1991 Jary, David; Jary, Julia The Harpercollins Dictionary of sociology New York

58 1991 Hermans, Ad Dictionnaire des termes de la sociologie Belgica

59 1992 Pardo Alonso; [et al.] Diccionario de Ciencias Sociales Madrid

60 1993 Outhwaite; Bottomore The Blackwell Dict. of Twentieth-Century Social Thought

Oxford, Inglaterra

61 1993 Maatouk, Frederic Dictionary of sociology Beirute

62 1994 Gordon Marshall A Dictionary of Sociology New York

63 1995 Johnson, Allan G The Blackwell Dictionary of Sociology (A user's guide to sociological language)

Oxford, Inglaterra

64 1995 Jean Etienne; Bloes; Noreck; Roux

Dictionnaire de sociologie, les notions, les auteurs, les mécanismes

Paris

65 1996 Adam Kuper and Jessica Kuper

The social science encyclopedia London and New York

66 1997 Pité, Jorge Dicionário breve de sociologia Lisboa

67 1997 A. D. Cattani (org) Trabalho e tecnologia: dicionário critico Petrópolis, RJ

68 1997 Drouin, Jean-Claude Les grandes notions de la sociologie. Dictionnaire de poche

Paris

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66

69 1997 S. Devadas Pillai Indian Sociology Through Ghurye: a Dictionary

Mumbai, India

70 1998 Pansani, Clóvis Pequeno dicionário de sociologia Campinas, SP

71 1998 Giner; Espinosa; Torres.

Diccionario de Sociologia Madrid

72 1998 Enciclopédia delle scienze sociali. Volume VIII.

Roma

73 1998 Couet; Davie; Flanche Dcitionnaire de l'essentiel em sociologie Paris

74 1998 Das Samarendra Kumar

Encyclopaedic dictionary of social science (Hard Bound, Set of 3 Vols)

New Delhi

75 1999 P. Ansart; A. Akoun Dcitionnaire de sociologie Paris

76 1999 Sharma, B. B. Encyclopaaedic dictionary of sociology (set of 4 Vols)

New Delhi

77 1999 Young, T. R.; Arrigo, Bruce A.

The Dictionary of Critical Social Sciences

Boulder, CO

78 2000 LIU, Wen The wenhui chinese - eng. Dict. of psycology e sociology

Hong Kong

79 2000 Anjana Chaudhary Advanced Dictionary of Sociology Delhi, India

80 2000 Anjana Chaudhary Advanced Dict. of Ecology and Sociology Delhi, India

81 2001 Acebo Ibañez; R. Brie Diccionario de sociologia Buenos Aires

82 2001 Neil J. Smelser; Paul B. Baltes

Internat. Encyc. of the social & behavioral sciences. V. 23

Amsterdam

83 2001 Jonathan Michie Reader’s guide to the social sciences. Volume 2

London – Chicago

84 2002 Rui Leandro Maia Dicionário de sociologia Porto

85 2002 Chapman, Steve AS/A - level sociology essential word dictionary

London

86 2002 Karan Raj Sarup Dictionary of Sociology New Delhi

87 2002 Bhusham, B Dictionary of sociolgy New Delhi

88 2002 Craig Calhoun Dictionary of the Social Sciences USA

89 2003 Greco, Orlando Diccionario de sociología Buenos Aires

90 2003 Harrington; Marshall; Müller.

Encyclopedia of social theory USA and Canada

91 2003 Sanchez; Uña Juarez Diccionario de sociología Espanha

92 2004 Pathak, N R Dictionary of sociolgy Delhi, India

93 2004 Molajani, Akbar Dictionnaire de sociologie contemporaine França

94 2004 Allen Crawford A Comprehensive Dictionary of Sociology Delhi, India

95 2005 Yadav, K C Indigo Dictionary of sociology New Delhi

96 2005 Chopra, Ramesh Academic Dictionary of sociology Delhi, India

97 2005 Kumar Amit Dictionary of sociolgy Delhi, India

98 2005 Ramesh Chopra Academic Dictionary of Social Science Delhi

99 2006 S. Bruce; S. Yearley The Sage Dictionary of sociology London

100 2007 Dictionnaire de sociologie França

101 2007 Niomil Lawman Lotus Illustrated Dictionary of sociology India

102 2007 Pandit, S. K. Dictionary of sociolgy Delhi, India

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67

103 2007 Kapoor; Gupta; Gupta A Dictionary of sociology Delhi, India

104 2007 Walia, Mohit Dictionary of sociolgy

105 2008 Jagmohan Diwan A Dictionary of sociology Delhi, India

106 2008 Riccioni, Ilaria Dizionario di Sociologia

107 2009 Subberwal, Ranjana Dictionary of sociolgy Singapore

108 2009 Reyes, Roman Diccionario Critico de Ciencias Sociales: Terminologia Cientifico-Social (Vol. 3)

Madrid

109 2010 Maria Rosaria Gianminoto

Dizionario de scienze sociali. Sociologia, antropologia, scienza política. Cinese-italiano.

Milão - Itália

110 s/d Comission for Scientific and Technical Terminology

Definitional dictionary of sociology India

Figura 1 - Relação de obras identificadas na pesquisa

Foram identificadas 110 obras da área de Sociologia e Ciências

Sociais. Dessas 81 são de Sociologia: 71 dicionários, 1 dicionário de etnografia e

sociologia, 1 dicionário de Psicologia e Sociologia, 1 dicionário de ecologia e

sociologia, 6 enciclopédias e 1 dicionário enciclopédico. 25 obras são de Ciências

Sociais: 17 dicionários, 7 enciclopédias e os Terminos latinoamericanos para el

diccionarío de ciencias sociales. Esta última, embora não se caracterize como um

dicionário, foi publicado separadamente, pelo Grupo de Trabajo de Desarollo

Cultural, formado por profissionais da América Latina, para contribuir na

elaboração e publicação do Dicionário de Ciências Sociais em Língua Espanhola,

publicado em colaboração com a UNESCO. As outras 4 obras incluem 1 dicionário

do pensamento social, 1 dicionário do pensamento marxista, 1 enciclopédia de

teoria social e 1 dicionário de trabalho e tecnologia.28 As três primeiras obras

podem ser consideradas de Ciências Sociais, e a última de Sociologia, totalizando

80 obras de Sociologia e 28 de Ciências Sociais.

Quanto ao local de publicação original, isto é, primeira publicação, as

obras identificadas foram publicadas em 21 países. A relação dos países com o

respectivo número de obras consta na Figura 2.

28

Esta obra está em separado por não possuir no título identificação como dicionário de Sociologia ou de Ciências Sociais, embora possa ser considerado como tal, haja vista que a coordenação é do sociólogo Antonio David Cattani e a maioria dos autores, estavam vinculados na época da publicação, ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS.

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Figura 2 – Publicação de obras identificadas na pesquisa, por países.

Chamou atenção a Índia, onde ocorreu a publicação de uma obra em

1984 e outras dezenove entre 1997 e 2009. Em outras palavras, em apenas 12

anos publicaram-se quase duas dezenas de dicionários e enciclopédias de

Sociologia e Ciências Sociais nesse país.

Ao se analisar o ano e o local de publicação das obras, verifica-se que,

embora o primeiro dicionário tenha sido publicado por um autor italiano, autores

brasileiros encontram-se entre os pioneiros, pois publicaram 4 das 10 primeiras

obras. Pela ordem cronológica, ocupam as posições 4, 5, 9 e 10. Além das

brasileiras, até 1960 foram publicadas outras 9 obras: 1 em Cuba de autor

mexicano, 5 nos Estados Unidos, totalizando 10 obras no continente americano.

As outras 3 foram na Itália, França e Alemanha, respectivamente. Dessas 13

obras, não foi possível consultar apenas duas. Considerando as obras utilizadas,

publicadas até 1960, 9 foram publicadas no continente americano (4 no Brasil, 4

nos EUA e uma em Cuba) e 2 na Europa (Itália e Alemanha), caracterizando um

predomínio de obras publicadas no continente americano.

Com relação à data de publicação, destaca-se a obra de Fausto

Squillace (1905), Dizionario di sociologia, como a primeira a ser publicada, em

0

5

10

15

20

25

Áfr

ica d

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Sin

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Obraspublicadas

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Pallermo, Itália. Na sequência, ocorrerá a publicação da Encyclopaedia of the

social sciences (1930-34), sob a coordenação de Edwin R. A. Seligman, em Nova

Iorque e o Dictionnaire de sociologie familiale, politique, économique, de G.

Jacquement, em Paris (4 volumes, publicados em 1933, 1935, 1937 e 1939,

respectivamente, com os termos A a Campagne. Não se identificou a sequência

de volumes). Em seguida, são publicados o Dicionário de sociologia, de Achiles

Archêro Jr e Alberto Conte (1939) e o Dicionário de etnologia e sociologia, de

Herbert Baldus e Emílio Willems (1939), ambos publicados no Brasil.

Na década de 1940, serão publicadas três obras. O Diccionario

Abreviado de Sociología de Carlos A. Echanove Trujillo (1944), publicado em

Havana, e o Dictionary of sociology de Henry Pratt Fairchild (1944), publicado em

Nova Iorque. O terceiro foi o A dictionary of the social sciences (Little Blue Book Nº

1456), de Leo Markum (1947), publicado no Kansas. Na década de 1950, cinco

publicações: O Dicionário de sociologia de E. Willems (1950) e a Enciclopédia de

cultura (sociologia e ciências correlatas) de Joaquim Pimenta (1955), ambas no

Brasil; o dicionário de sociologia e ciências correlatas, de H. P. Fairchild (1955),

em Iowa (EUA), e o dicionário de sociologia de Wilhelm Bersndorf e Friedrich

Bülow (1955), na Alemanha. Por fim, o Dictionary of the social Science, de John T.

Zadrozny (1959), em Washington.

Depois desse período, o número de publicações aumenta. Serão 10 na

década de 1960; 20 na década de 1970; 12 na década de 1980; 22 na década de

1990; 31 na primeira década do século XXI e 1 obra no primeiro ano da segunda

década do século 21. Apenas 1 obra não se identificou o período de publicação, o

Definitional dictionary of sociology, publicado pela Comission for Scientific and

Technical Terminology, Índia.29 Como dito anteriormente, acredita-se que um dos

motivos do aumento do número de obras publicadas a partir desse período deve-

se à Resolução da sétima Conferência Geral da UNESCO, de 1952, que estimulou

29

Esta obra, assim como a de Frederic Maatouk foi adquirida através do sítio www.abebooks.com, porém as mesmas não foram entregues. Segundo o fornecedor, a mesma foi enviada, e como era a única disponível não tiveram como reenviar. Tinha-se especial interesse na obra, por ser publicada por uma Comissão Terminológica Científica e Técnica.

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a publicação de dicionários de Ciências Sociais. É evidente que há outros motivos:

o aumento na produção acadêmica; a maior demanda do mercado editorial;

institucionalização e consolidação da área; maior disponibilidade de recursos para

elaboração, edição e publicação. Contudo, o número de 20 obras publicadas na

década de 1970 é significativamente maior do que as 12 obras publicadas na

década de 1980.

Como o leitor pode observar, das obras identificadas, os dois

dicionários publicados no Brasil, na década de 30 do século 20, podem ser

considerados entre as obras mais antigas. A publicação, em 1961, na França, do

Dicionário de Emílio Willems (1950), com adaptação de Armand Cuvillier (1961) é

um indicativo da importância, e do pioneirismo deste tipo de obra no Brasil. A esse

respeito, Isambert (1962),30 escreve que o recurso a uma obra brasileira é uma

amostra suficiente da penúria semântica atual da sociologia de língua francesa.

Afirma que Cuvillier fez uma obra útil, ao adaptar e completar a obra brasileira,

cobrindo assim parcialmente uma lacuna.

No próximo item, apresenta-se a relação das obras consultadas neste

estudo. Com o intuito de facilitar a análise dos significados dos termos (capítulo 4)

e dos temas mais frequentes presentes nos termos objetos da pesquisa (capítulo

5), apresenta-se uma caracterização das obras.

3.2 Caracterização dos dicionários consultados

Inicia-se esta seção apresentando, na Figura 3, a relação completa das

obras consultadas, constando o ano da primeira publicação,31 o nome do

responsável (autor, editor, coordenador ou organizador), o título e o local da

30 François-André Isambert. Willems Emilio, Dictionnaire de sociologie. Revue française de

sociologie, 1962, vol. 3, n° 3, p. 337. (Disponível em:) http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/rfsoc_0035-2969_1962_num_3_3_6106 Data de acesso: 11 de maio de 2010. 31

Optou-se por manter a data da primeira publicação para não alterar a ordem das obras constantes na Figura 1, porém as demais informações constam nas edições utilizadas.

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71

publicação. As obras que compõem este quadro estão presentes na Figura 1, pois

todas as obras consultadas fazem parte das obras identificadas. Em outras

palavras, na Figura 1 foram apresentadas as 110 obras identificadas no

levantamento sobre dicionários de Sociologia e Ciências Sociais publicados,

enquanto na Figura 3 constam apenas as obras que foram efetivamente

consultadas e utilizadas, correspondendo a 58,18% das obras identificadas. Nas

referências bibliográficas encontram-se as informações completas das obras

consultadas, considerando as edições utilizadas na pesquisa.

Nº ANO Autor / Organizador Título Local

1 1905 Squillace, Fausto Dizionnario di sociologia Pallermo

2 1930-34 Edwin R. A. Seligman Encyclopaedia of the social sciences Nova Iorque

3 1939 Archêro Jr e A. Conte Dicionário de sociologia São Paulo

4 1939 H. Baldus e E. Willems Dicionário de etnologia e sociologia São Paulo

5 1944 H. Pratt Fairchild Dictionary of sociology Nova Iorque

6 1944 C. A. Echánove Trujillo Diccionaro abreviado de sociología Havana, Cuba

7 1947 Markun, Leo A Dictionary of the Social Sciences (Little Blue Book No. 1456)

Kansas

8 1950 Emílio Willems Dicionário de sociologia Porto Alegre

9 1955 Joaquim Pimenta Enciclopédia de cultura (sociologia e ciências correlatas)

Rio de Janeiro e São Paulo

10 1955 W. Bernsdorf; F. Bülow Wörterbuch der Soziologie Stuttgart

11 1959 John T. Zadrozny Dictionary of Social Science Washington

12 1961 Globo (Vários) Dicionário de sociologia Porto Alegre

13 1963 René König Soziologie Frankfurt

14 1964 J. Gould e W. L. Kolb A dictionary of the social sciences Nova Iorque e Londres

15 1966 Birou, Alain Vocabulaire pratique des sciences sociales

Paris

16 1968 G. Duncan Mitchell A dictionary of sociology Londres

17 1968 David L. Sills International encyclopedia of the social sciences

New York

18 1969 Thomas Ford Hoult Dictionary of modern sociology Nova Jersey

19 1969 Schoeck, Helmut Kleines soziologisches Wörterbuch Friburgo

20 1969 Theodorson; G.; A. Theodorson.

A modern dictionary of sociology London

21 1970 Hillmann, Karl-Heinz Wörterbuch der Soziologie Stuttgart

22 1972 Jean Duvignaud La Sociologie – guide alphabétique Paris

23 1972 Golfin, Jean Les 50 mots-clés de La sociologie Toulouse

24 1973 Sumpf, J.; Hugues, M. Dictionnaire de sociologie Paris

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Filosofia e ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/280513/1/... · que acreditou e acolheu o projeto de trabalho, pela estrutura

72

25 1973 Bartra Roger Breve diccionario de sociología marxista México

26 1975 Akoun; e outros Encyclopédie de la sociologie: le present en question

Paris

27 1975 Jean Cazeneuve Dictionnaire de sociologie Paris

28 1975(6) Del Campo; Marsal; Garmendia

Diccionario de ciências sociales (V. I e II) Madrid

29 1976 Grupo de Trabajo de Desarollo Cultural

Terminos latinoamericanos para el diccionario de ciencias sociales

Buenos Aires

30 1976 Alfredo Poviña Dicionario de sociología través de los sociólogos. Tomo 1 e 2

Buenos Aires

31 1976 F. Demarchi; A. Ellena Dizionário di sociologia Milano

32 1976 Baldo Blinkert Herder Lexikon. Soziologie Freiburg

33 1977 Ferreira, Luiz L. P. Dicionário de sociologia São Paulo

34 1978 Gallino, Luciano Dizionario di sociologia Turim

35 1978 Santos, W. dos Vocabulário de sociologia Rio de Janeiro

36 1978 A. Zaki Badawi Dictionary of the Social Sciences English-French-Arabic with an Arabic-English Glossary and a French-English Glossary

Beirut

37 1979 Costa e Silva, L. E. T. Dicionário básico de sociologia Rio de Janeiro

38 1980 Department of National Education

Sosiologiewoordeboek (dictionary of sociology) (English / Afrikaans)

Pretória

39 1982 Boudon; Bourricaud Dictionnaire critique de la sociologie Paris

40 1983 Bottomore, T. (editor). A dictionary of marxista Thought Oxford, Inglaterra

41 1984 Abercrombie; Hill; Turner Dictionary of sociology London

42 1986 Benedicto Silva Dicionário de ciências sociais Rio de Janeiro

43 1989 Boudon; Besnard; Cherkaoui; Lécuyer

Dictionnaire de la sociologie Paris

44 1991 Ferréol, Gilles Dictionnaire de sociologie Paris

45 1991 Hermans, Ad Dictionnaire des termes de la sociologie Belgica

46 1993 W. Outhwaite; T. Bottomore

The Blackwell Dict. of Twentieth-Century Social Thought

Oxford, Inglaterra

47 1994 Gordon Marshall A Dictionary of Sociology New York

48 1995 Johnson, Allan G The Blackwell Dictionary of Sociology (A user's guide to sociological language)

Oxford, Inglaterra

49 1996 Adam Kuper and Jessica Kuper

The social science encyclopedia London and New York

50 1997 Pité, Jorge Dicionário breve de sociologia Lisboa

51 1997 A. D. Cattani (org) Trabalho e tecnologia: dicionário critico Petrópolis, RJ

52 1998 Pansani, Clóvis Pequeno dicionário de sociologia Campinas, SP

53 1998 Giner; Espinosa; Torres. Diccionario de Sociologia Madrid

54 1998 Enciclopédia delle scienze sociali. V. VIII. Roma

55 2000 LIU, Wen The wenhui chinese - eng. Dict. of psycology e sociology

Hong Kong

56 2001 Acebo Ibañez; R. Brie Diccionario de sociologia Buenos Aires

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Filosofia e ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/280513/1/... · que acreditou e acolheu o projeto de trabalho, pela estrutura

73

57 2001 Neil J. Smelser; Paul B. Baltes

Internat. Encyc. of the social & behavioral sciences. V. 23

Amsterdam

58 2001 Jonathan Michie Reader’s guide to the social sciences. Volume 2

London – Chicago

59 2002 Rui Leandro Maia Dicionário de sociologia Porto

60 2003 Greco, Orlando Diccionario de sociología Buenos Aires

61 2006 Harrington; Marshall; Müller.

Encyclopedia of social theory USA and Canada

62 2006 S. Bruce; S. Yearley The Sage Dictionary of sociology London

63 2009 Subberwal, Ranjana Dictionary of sociolgy Singapore

64 2010 Maria Rosaria Gianminoto

Dizionario de scienze sociali. Sociologia, antropologia, scienza política. Cinese-italiano.

Milão - Itália

Figura 3 - Relação de obras utilizadas na pesquisa

Das obras identificadas (Figura 1) conseguiu-se ter acesso a 64

(58,18% das obras identificas), sendo 41 dicionários de Sociologia, 3

enciclopédias de Sociologia, 1 dicionário enciclopédico de Sociologia, 9 dicionários

de Ciências Sociais, 6 enciclopédias de Ciências Sociais. As outras 4 obras

incluem 1 dicionário do pensamento social, 1 dicionário do pensamento marxista,

1 enciclopédia de teoria social e 1 dicionário de trabalho e tecnologia. As três

primeiras podem ser classificadas de Ciências Sociais, e a última de Sociologia, o

que daria 46 obras de Sociologia e 18 de Ciências Sociais. As obras de Sociologia

são em número mais elevado do que de Ciências Sociais, porque buscou-se,

sobretudo, obras dessa área, pois, o trabalho está no campo da Sociologia.

Essas obras têm características bastante variadas. Podem ser escritas

por um autor ou por vários autores; podem ter formato pequeno, apenas 32

páginas, como a obra de Leo Markum (1947) (Little blue book), mas podem

também ter formato maior, 1421 páginas, 1457 verbetes e contar com a

colaboração de 447 autores, como a obra publicada pela FGV (1986). Esses dois

extremos não querem dizer que as obras individuais são pequenas e as coletivas

extensas. O dicionário de Hillmann (1970), por exemplo, tem 1046 páginas. Por

sua vez, a obra de Squillace (1905), o mais antigo de todos, tem mais de 500

páginas.

Quanto ao local da primeira publicação, as obras foram publicadas em

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74

19 países. Ressalta-se a primeira publicação, que também poderia ser

denominada de publicação original, visto que algumas obras tiveram publicações

posteriores em outro local, enquanto diversas outras foram traduzidas. A figura 4

apresenta o número de publicações por país.

Figura 4 – Publicação de obras utilizadas na pesquisa, por países.

Com relação à data de publicação, destaca-se a obra de Fausto

Squillace (1905), Dizionario di sociologia, a primeira a ser publicada em Pallermo,

Itália. Na sequência ocorrerá a publicação da Encyclopaedia of the social sciences

(1930-34), sob a coordenação de Edwin R. A. Seligman, em Nova Iorque. Em

1939 é a vez do Dicionário de sociologia, de Achiles Archêro Jr e Alberto Conte e

do Dicionário de etnologia e sociologia, de Herbert Baldus e Emílio Willems,

ambos publicados no Brasil.

Na década de 1940 foram publicadas três obras: o Diccionario

Abreviado de Sociología de Carlos A. Echanove Trujillo (1944), em Havana; o

Dictionary of sociology de Henry Pratt Fairchild (1944), em Nova Iorque; o A

dictionary of the social sciences (Little Blue Book Nº 1456) de Leo Markum (1947),

no Kansas. Na década de 1950, ocorreram quatro publicações: o Dicionário de

sociologia de E. Willems (1950) e a Enciclopédia de cultura (sociologia e ciências

0

2

4

6

8

10

12

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Obraspublicadas

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75

correlatas) de Joaquim Pimenta (1955), ambas no Brasil. Nesse mesmo ano é

publicado o dicionário de sociologia de Wilhelm Bersndorf e Friedrich Bülow na

Alemanha.32 Em 1959, é a vez do Dictionary of the social Science de John T.

Zadrozny, em Washington. Depois desse período, o número de publicações

aumenta. Foram 9 na década de 1960; 17 na década de 1970; 6 na década de

1980; 11 na década de 1990; 9 na primeira e 1 na segunda década do século XXI.

Como várias obras foram traduzidas para outros idiomas, o material

utilizado abrange 6 idiomas, conforme pode ser verificado na Figura 5.

Figura 5 – Idioma das obras utilizadas na pesquisa.

Das 16 obras em Língua Inglesa, 3 estão em mais de um idioma: 1 em

English-French-Arabic, apresenta os termos em inglês e francês e os significados

em árabe; 1 em English-Afrikaans, apresenta os termos em inglês e afrikaans sem

os significados; e 1 em Chinese-English, apresenta os termos em chinês e inglês

sem os significados. As definições dos termos ciência, técnica e tecnologia

32

Embora não tenham sido pesquisadas obras em língua alemã, optou-se por incluir o dicionário de Wilhem Bernsdorf e Friedrich Bülow, por ser o primeiro publicado na Alemanha, em 1955, portanto, está entre as primeiras obras (a 12ª mais antiga) identificadas nesta pesquisa. Além disso, foi uma das 6 obras das quais foram extraídos artigos para o dicionário de Sociologia, publicado no Brasil, pela editora Globo (1961).

0

5

10

15

20

25

30

Alemão Espanhol Francês Inglês Italiano Português

Obras

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76

presentes nas obras em Espanhol, Italiano, Francês, Inglês e Alemão, foram

traduzidos para a Língua Portuguesa para facilitar o trabalho de análise.

A continuidade desse percurso de caracterização dos dicionários

passará pela identificação dos responsáveis e do número de autores. Denomina-

se responsável quem consta como autor, editor ou organizador da obra, tendo seu

nome identificado na capa ou na ficha catalográfica. Define-se como autores (as) a

todos os profissionais que colaboraram na definição de termos, tendo seu nome

identificado como autor ou colaborador. Estão excluídos, portanto, os profissionais

que desempenharam funções de revisão e editoração, entre outras, bem como os

que atuaram nas edições traduzidas das obras. A caracterização das obras inclui

a identificação dos responsáveis e autores de acordo com o gênero. Para facilitar

a visualização, os dados serão apresentados na Figura 6.

Nº ANO Autor / Organizador

Título R M F Aut. M F ?

1 1905 Fausto Squillace Dizionnario di sociologia 1 1 1 1

2 1930-34 Edwin R. A. Seligman

Encyclopaedia of the social sciences

1 1 N N N N

3 1939 Archêro Jr; Conte Dicionário de sociologia 2 2 2 2

4 1939 H. Baldus e E. Willems

Dicionário de etnologia e sociologia

2 2 2 2

5 1944 H. Pratt Fairchild Dictionary of sociology 1 1 98 78 8 12

6 1944 C. A. Echánove Trujillo

Diccionaro abreviado de sociología

1 1 1 1

7 1947 Markun, Leo A Dictionary of the Social Sciences (Little Blue Book No. 1456)

1 1 1 1

8 1950 Emílio Willems Dicionário de sociologia 1 1 1 1

9 1955 Joaquim Pimenta Enciclopédia de cultura 1 1 1 1

10 1955 Bernsdorf; Bülow Wörterbuch der Soziologie

2 2 84 66 8 10

11 1959 John T. Zadrozny Dictionary of Social Science

1 1 1 1

12 1961 Globo (Vários) Dicionário de sociologia N N N 84 62 10 12

13 1963 René König Soziologie 1 1 8 8

R = Responsável; M = Masculino; F = Feminino; Aut. = Autores; ? = gênero não identificado.

N indica que a obra é institucional e não apresenta nome de responsáveis ou autores. Optou-se por não fazer a identificação do gênero da autoria das enciclopédias com vários volumes, devido ao elevado número de autores.

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14 1964 J. Gould e W. L. Kolb

A dictionary of the social sciences

2 2 273 160 10 103

15 1966 Birou, Alain Vocabulaire pratique des sciences sociales

1 1 1 1

16 1968 G. D. Mitchell A dictionary of sociology 1 1 46 38 3 5

17 1968 David L. Sills International encyclopedia of the social sciences

1 1 N N N N

18 1969 Thomas F. Hoult Dictionary of modern sociology

1 1 1 1

19 1969 Schoeck, Helmut Kleines soziologisches Wörterbuch

1 1 1 1

20 1969 Theodorson, G; Theodorson, A.

A modern dictionary of sociology

2 2 2 2

21 1970 Hillmann, K.-H. Wörterbuch der Soziologie

1 1 3 3

22 1972 Jean Duvignaud La Sociologie – guide alphabétique

1 1 19 15 4

23 1972 Golfin, Jean Les 50 mots-clés de La sociologie

1 1 1 1

24 1973 Sumpf; Hugues. Dictionnaire de sociologie 2 2 2 2

25 1973 Bartra Roger Breve diccionario de sociología marxista

1 1 1 1

26 1975 Akoun et. al. Encyclopédie de la sociologie: le present en question

16 16 16 16

27 1975 Jean Cazeneuve Dictionnaire de sociologie 2 2 25 24 1

28 1975(6) Del Campo; Marsal; Garmendia

Diccionario de ciencias sociales (Vol. I e II)

3 3 167 143 22 2

29 1976 CLACSO Terminos latinoamericanos para el dicc. de c. sociales

64 * 45 17 2

30 1976 Alfredo Poviña Dicionario de sociología través de los sociólogos.

1 1 1 1

31 1976 Demarchi; Ellena Dizionário di sociologia 2 2 84 65 19

32 1976 Baldo Blinkert Herder Lexikon. Soiologie 1 1 1 1

33 1977 Ferreira, L. L. P. Dicionário de sociologia 1 1 1 1

34 1978 Gallino, Luciano Dizionario di sociologia 1 1 1 1

35 1978 Santos, W. dos Vocabulário de sociologia 1 1 1 1

36 1978 A. Zaki Badawi Dictionary of the Social Sciences

1 1 1 1

37 1979 Costa e Silva, Luiz E. T. da

Dicionário básico de sociologia

1 1 1 1

38 1980 Department of National Education

Sosiologiewoordeboek (dictionary of sociology) (English / Afrikaans)

N N N N N N

* Ao comparar os autores do Grupo Latino-americano que constam na obra publicada na Espanha (74) com a publicada na América Latina (64), identificam-se 10 autores(as) a menos. Acredita-se que a segunda obra apresenta apenas os nomes dos autores dos 130 termos publicados em separado.

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78

39 1982 R. Boudon; F. Bourricaud

Dictionnaire critique de la sociologie

2 2 2 2

41 1984 Abercrombie; Hill; Turner

Dictionary of sociology 3 3 3 3

42 1986 Benedicto Silva Dicionário de ciências sociais

7 3 4 80 63 17

43 1989 Boudon et al. Dictionnaire de la sociologie

4 4 58 48 10

44 1991 Ferréol, Gilles Dictionnaire de sociologie 1 1 5 4 1

45 1991 Hermans, Ad Dictionnaire des termes de la sociologie

1 1 1 1

46 1993 W. Outhwaite; T. Bottomore

The Blackwell Dict. of Twentieth-Century Social Thought

5 5 242 198 22 22

47 1994 Gordon Marshall A Dictionary of Sociology 1 1 33 21 12

48 1995 Johnson, Allan G The Blackwell Dictionary of Sociology

1 1 1 1

49 1996 Adam Kuper and Jessica Kuper

The social science encyclopedia

2 1 1 N N N N

50 1997 Pité, Jorge Dicionário breve de sociologia

1 1 1 1

51 1997 Antonio D. Cattani (org.)

Trabalho e tecnologia: dicionário critico

1 1 21 11 10

52 1998 Pansani, Clóvis Pequeno dicionário de sociologia

1 1 1 1

53 1998 Giner; Espinosa; Torres.

Diccionario de Sociologia 3 3 231 188 42 1

54 1998 Enciclopédia delle scienze sociali. Volume VIII.

7 7 N N N N

55 2000 LIU, Wen The wenhui chinese - eng. Dict. of psycology e sociology

1 1 1 1

56 2001 Acebo Ibañez; R. Brie

Diccionario de sociologia 2 2 2 2

57 2001 Neil J. Smelser; Paul B. Baltes

International encyclopedia of the social sciences

2 2 N N N N

58 2001 Jonathan Michie Reader’s guide to the social sciences. Vol. 2

1 1 N N N N

59 2002 Rui L. Maia Dicionário de sociologia 1 1 46 21 25

60 2003 Greco, Orlando Diccionario de sociología 1 1 1 1

61 2006 Harrington; Marshall; Müller.

Encyclopedia of social theory

3 2 1 N N N N

62 2006 Steve Bruce; Steve Yearley

The Sage Dictionary of sociology

2 2 2 2

63 2009 Subberwal, R. Dictionary of sociolgy 1 1 1 1

64 2010 Maria Rosaria Gianminoto

Dizionario de scienze sociali. Sociologia, antropologia, scienza política. Cinese-italiano.

1 1 1 1

TOTAL 119 111 8 1811 1387 251 173

Figura 6 – Responsabilidade e autoria das obras, incluindo gênero.

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A primeira revelação que se depreende destes dados é relativa à

responsabilidade pelas obras. Três têm responsabilidade institucional (Editora

Globo, CLACSO, Departamento Nacional de Educação – África do Sul). Outras 10

têm responsabilidade compartilhada por 3 ou mais pessoas: 3 responsáveis (4); 4

R (2); 5 R (1); 7 R (2) e 16 R (1). 13 obras (20,31%) têm responsabilidade dupla,

enquanto as obras que têm apenas 1 responsável somam 38, correspondendo a

59,37% do total.

A segunda revelação interessante diz respeito à autoria das obras.

Tem-se a ideia de que normalmente um dicionário é uma obra de autoria coletiva,

mas nem sempre é isso que ocorre. Alguns autores de dicionário, por exemplo,

fazem questão de escrever que estão se lançando numa aventura incomum,

porque sua obra foge à regra de ser elaborada por um coletivo. Do conjunto de

obras pesquisadas, a autoria coletiva esteve presente num número razoável de

obras, entre elas as 7 enciclopédias mais abrangentes, com vários volumes. O

mesmo vale para os 3 dicionários publicados sob os auspícios da UNESCO, bem

como para as 3 obras de responsabilidade institucional. Além dessas, a regra

permaneceu em outras 16 obras as quais tiveram entre 5 e 273 autores.

Somando-as, chega-se ao total de 29 obras que tiveram autoria coletiva. Outras 2

obras foram elaboradas por 3 autores, sendo que a última edição de uma delas

(HILLMANN, 1994) passou a ser individual. Por outro lado, 7 obras possuem

autoria dupla e 26 obras (40,62%) autoria individual. Se somadas as de autoria

individual e dupla tem-se 33 obras (51,56%), ou seja, mais da metade das obras

consultadas é de autoria individual ou dupla, pode-se dizer, então, que dicionários

de Sociologia e Ciências Sociais não são produto, predominantemente, de

trabalho coletivo. Se forem excluídas as enciclopédias e tomados como referência

apenas os dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, serão 45,45% de autoria

individual e 12,73% de autoria coletiva, atingindo 58,18%.

Ao se observar o gênero dos responsáveis pelas obras, observa-se um

resultado significativo: das 61 obras (menos as 3 de responsabilidade

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80

institucional), apenas 5 (8,2%) têm mulheres presentes na responsabilidade,

sendo 3 (4,92%) compartilhada e 2 (3,28%) individual. A primeira obra a ter

mulheres entre os responsáveis é o Dicionário de ciências sociais, publicado pela

FGV-RJ em 1986. Essa obra apresenta 4 mulheres e 3 homens compondo a

equipe de editoração geral. Porém, a coordenação geral foi de responsabilidade

masculina (Benedicto Silva). A segunda obra a ter mulher como responsável foi

The social science encyclopedia, publicada uma década depois e sob a

responsabilidade de Adam Kuper e Jessica Kuper (1996). Em 2003, foi a vez da

Encyclopedia of social theory, sob a responsabilidade de 2 homens e 1 mulher

(HARRINGTON; MARSHALL; MÜLLER). Por fim, as 2 obras com responsabilidade

individual feminina, são exatamente as de publicação mais recente, 2009 e 2010.

As outras 56 obras (91,8%) são de responsabilidade exclusivamente masculina.

Ao considerar a variável gênero, conclui-se que do total dos 119 responsáveis

pelas 61 obras, 111 (93,28%) são homens e apenas 8 (6,72%) são mulheres,

predomina o gênero masculino na responsabilidade das obras.

Ao analisar a variável gênero, não foram consideradas 8 obras: 7

enciclopédias, pois têm vários volumes e diversos autores, e a obra publicada pelo

Departamento Nacional de Educação da África do Sul, por ser institucional não

apresenta os autores. É oportuno salientar que nas obras constam os nomes dos

autores, sem a identificação de gênero. Como alguns nomes podem ser usados

tanto para o gênero masculino quanto para o feminino, é possível que se tenha

cometido alguma imprecisão. Contudo, realizaram-se esforços para buscar

informações complementares, a fim de realizar a identificação de gênero dos

autores(as).

A coluna da direita da Figura 6 contém o número de autores cujo

gênero não foi possível identificar. Além da situação mencionada no parágrafo

anterior, outra dificuldade foi encontrada na tarefa de identificar o gênero dos

autores(as): algumas obras listam nomes de alguns dos autores grafando apenas

as iniciais do(s) nome(s) e o sobrenome. Essa situação foi verificada, sobretudo,

nas obras publicadas nos EUA e Inglaterra. Por exemplo, Fairchild (1944),

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81

apresenta 12 autores apenas com as iniciais e sobrenome. Esses nomes se

repetem no dicionário de sociologia publicado pela Editora Globo (1961), que

utilizou a obra de Fairchild como uma das referências.33 O A dictionary of the

social sciences (GOULD e KOLB, 1964), apresenta apenas a inicial e sobrenome

de 103 colaboradores - 85 dos 95 ingleses e 18 dos 178 norte-americanos. A

mesma situação se repete com autores nas seguintes obras: 10 em Bernsdorf e

Bülow (1955); 5 em Mitchell (1968); 3 no Dicionário do pensamento marxista

(BOTTOMORE, 1983); e 22 no Dicionário do pensamento social do século XX

(OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1993). Por esse motivo, não foi possível identificar o

gênero de 167 autores dessas 6 obras. Outros 6 nomes estão distribuídos em

outras 4 obras.

Por falar em nome de autores, alguns nomes constam como

responsáveis ou autores em mais de uma obra, por exemplo, Emílio Willems

(responsável em 2 e autor em 4) e Tom Bottomore, responsável em 2. André

Akoun, Francis Balle, Jean Cazeneuve, Raymond Boudon, entre outros, são

nomes que figuram em mais de um dicionário. Não estão computados no Quadro

3 os nomes de colaboradores, de diversas funções, das edições traduzidas.

Retomando o gênero dos autores(as) das obras, identifica-se a

presença de mulheres em 18 (32,14%) obras coletivas e 2 obras individuais,

enquanto os homens estão presentes em 54 (96,43%) das 56 obras, sendo que de

forma exclusiva em 36 (64,29%). Das 26 obras de autoria individual, 24 são de

autoria masculina e 2 de autoria feminina. 6 obras são de autoria de 2 homens,

enquanto 2 obras possuem autoria de 3 homens. Das obras coletivas, 2

apresentam apenas autoria masculina, sendo uma com 8 e outra com 16 autores.

Em outra dos 25 autores, 24 são homens e 1 não foi possível efetuar a

33

O leitor deve estar se perguntando: se a obra publicada pela Editora Globo (1961) repete nomes, estes não deveriam ser descontados para não ser somados duas vezes? Talvez fosse o procedimento correto a ser adotado, mas neste caso outros nomes deveriam ser retirados, como os que constam nos Terminos latinoamercicanos para el diccionario de ciencias sociales (1976). O critério utilizado foi contar cada publicação em separado, com os respectivos nomes de responsáveis e autores mencionados. Embora nesses dois casos fosse possível subtrair os nomes.

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82

identificação de gênero. Por isso esta obra não foi considerada como tendo autoria

feminina. As 18 obras coletivas de autoria mista têm 1716 autores(as), sendo 1295

(75,47%) homens e 249 (14,51%) mulheres e 172 (10,02%) não identificados.

Considerando as 56 obras nas quais se efetuou a identificação de gênero, tem-se

1811 autores(as), dos quais 1387 (76,59%) homens, 251 (13,86%) mulheres e 173

(9,55%) não identificados.

Em resumo, seja de forma separada ou no conjunto dos autores(as)

das obras, a participação masculina é significativamente maior, ou seja, há uma

proporção de três homens para cada mulher. Para verificar e analisar mais

detalhadamente a participação masculina e feminina nas obras com autoria

coletiva elaborou-se a Tabela 1.

Tabela 1 – Autoria das obras coletivas, incluindo gênero.

Nº ANO Autor / Organizador Aut. M % F % ? %

5 1944 H. Pratt Fairchild 98 78 79,59 8 8,16 12 12,25

10 1955 Bernsdorf; Bülow 84 66 78,57 8 9,52 10 11,91

12 1961 Globo (Vários) 84 62 73,81 10 11,90 12 14,29

14 1964 J. Gould e W. L. Kolb 273 160 58,61 10 3,66 103 37,73

16 1968 G. D. Mitchell 46 38 82,61 3 6,52 5 10,87

21 1972 Jean Duvignaud 19 15 78,95 4 21,05

27 1975(6) Del Campo; Marsal; Garmendia 167 143 85,63 22 13,17 2 1,20

28 1976 CLACSO 64 45 70,31 17 26,56 2 3,13

30 1976 Franco Demarchi; Aldo Ellena 84 65 77,38 19 22,62

39 1983 Bottomore, Tom (editor). 81 69 85,19 9 11,11 3 3,70

41 1986 Benedicto Silva 80 63 78,75 17 21,25

42 1989 Boudon; Besnard; Cherkaoui; Lécuyer

58 48 82,76 10 17,24

43 1991 Ferréol, Gilles 5 4 80 1 20

45 1993 W. Outhwaite; T. Bottomore 242 198 81,82 22 9,09 22 9,09

46 1994 Gordon Marshall 33 21 63,64 12 36,36

51 1997 Antonio D. Cattani (org.) 21 11 52,38 10 47,62

53 1998 Giner; Espinosa; Torres. 231 188 81,39 42 18,18 1 0,43

59 2002 Rui L. Maia 46 21 45,65 25 54,35

TOTAL 1716 1295 75,47 249 14,51 172 10,02

Aut. = Autores; M = Masculino; F = Feminino; ? = gênero não identificado.

Fonte: o autor.

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83

Convém destacar as obras que apresentaram participação feminina

acima da média. Na década de 1970 foram 3 obras: a de Jean Duvignaud (1972)

com 21,05%, a da CLACSO (1976) com 26,56% e a de Demarchi e Ellena (1976)

com 22,62%. Na década de 1980 foi o Dicionário de Ciências Sociais, publicado

pela FGV (1986) com 21,25% de participação feminina. Na década de 1990 foram

duas obras: a de Gordon Marshall (1994) com 36,36% e a de Antonio David

Cattani (1997) com 47,62%. Nesta a participação feminina aproximou-se da

masculina. A única obra a ter uma participação feminina maior (54,35%) do que a

masculina foi a organizada por Rui L. Maia (2002) e publicada em Portugal. Essa

foi a última publicação com autoria coletiva.

Pode ser observado que a participação feminina aumentou nas últimas

décadas do século 20 e início do século 21, tanto na responsabilidade quanto na

autoria das obras. É provável que esse fato esteja refletindo transformações

sociais ocorridas no período, que contabilizou crescimento da presença feminina

em diversas atividades profissionais remuneradas, incluindo as carreiras

acadêmicas e de pesquisa, e, portanto, a produção acadêmico-científica.

Embora a participação feminina seja de apenas 6,72% na

responsabilidade e de 14,05% na autoria, neste quesito ela é significativamente

mais elevada. Constata-se que se a participação feminina na elaboração de

dicionários de Sociologia e Ciências Sociais é pequena, é menor ainda quando se

refere à função de maior importância, neste caso a responsabilidade pelas obras.

Em síntese, tanto na responsabilidade quanto na autoria, a participação masculina

é predominante. Porém, algumas obras de publicação mais recente indicam um

crescimento significativo da participação feminina na autoria. Mais significativo,

porém, é a publicação de 2 obras com responsabilidade e autoria exclusivamente

feminina, o que não se identificou em períodos anteriores.

Espera-se que a caracterização das obras possibilite uma melhor

compreensão dos significados dos termos ciência, técnica e tecnologia que será

objeto de análise no próximo capítulo.

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85

4 CIÊNCIA, TÉCNICA E TECNOLOGIA NOS DICIONÁRIOS DE SOCIOLOGIA

Nesse capítulo serão analisados os significados dos termos ciência,

técnica e tecnologia presentes nos dicionários e enciclopédias de Sociologia e

Ciências Sociais. Inicia-se com uma breve quantificação dos dados, enfatizando

as obras que dicionarizam ou não os termos ciência, técnica e tecnologia. Para

facilitar a distinção e visualização das informações, alguns dados serão

apresentados em quadros e gráficos. Na sequência, serão apresentados os

significados do termo ciência presentes nas obras que apresentam o termo

dicionarizado, seguido de comentários e análises. O mesmo procedimento será

utilizado com relação aos termos técnica e tecnologia.

Apresenta-se na Figura 7, a relação completa das obras consultadas

constando o ano da primeira publicação,34 o nome do responsável, o título e

indica-se se apresenta ou não como entrada os termos ciência, técnica e

tecnologia. Tem-se consciência de que em edições posteriores algumas obras

foram revistas e/ou ampliadas. Nesse caso, eventualmente, pode ter ocorrido

alteração de termos que constam ou não como entrada. Infelizmente, não foi

possível confrontar as diferentes edições para fazer em todas as obras essa

comparação. Naquelas em que esse procedimento foi possível, não se identificou

diferença com relação aos termos objetos desta pesquisa.

Nº ANO Autor / Organizador Título C* Tca* Tgia*

1 1905 Squillace, Fausto Diccionario de sociología S** S -**

2 1930-34 Edwin R. A. Seligman Encyclopaedia of the social sciences S - S

3 1939 Archêro Jr e A. Conte Dicionário de sociologia S - -

4 1939 H. Baldus e E. Willems Dicionário de etnologia e sociologia - S S

5 1944 H. Pratt Fairchild Diccionario de sociologia S - S

* Optou-se por utilizar “C” como abreviatura de Ciência, “Tca” como abreviatura de técnica e “Tgia” como abreviatura de tecnologia.

** A presença da letra “S” indica que o termo foi dicionarizado e o uso do “-” indica que não.

34

Optou-se por manter a data da primeira publicação para não alterar a ordem das obras constantes no Quadro 1, porém, as demais informações constam nas edições utilizadas.

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6 1944 C. A. Echánove Trujillo Diccionaro de sociología - - -

7 1947 Markun, Leo A Dictionary of the Social Sciences (Little Blue Book No. 1456)

- - -

8 1950 Emílio Willems Dicionário de sociologia - - S

9 1955 Joaquim Pimenta Enciclopédia de cultura (sociologia e ciências correlatas)

S S S

10 1955 Bernsdorf; Bülow Wörterbuch der Soziologie - S -

11 1959 John T. Zadrozny Dictionary of Social Science S S S

12 1961 Globo (Vários) Dicionário de sociologia - - S

13 1963 René König Enciclopédia Meridiano Fischer. Sociologia - S -

14 1964 J. Gould e W. L. Kolb A dictionary of the social sciences S - S

15 1966 Birou, Alain Dicionário das ciências sociais - S S

16 1968 G. Duncan Mitchell Novo Dicioniário de Sociologia - - -

17 1968 David L. Sills Enciclopedia Internacional de las ciencias sociales. V. 10

S - S

18 1969 Thomas Ford Hoult Dictionary of modern sociology S - S

19 1969 Schoeck, Helmut Diccionario de sociologia - S -

20 1969 Theodorson; G.; A. Theodorson.

Dizionario di sociologia S S S

21 1970 Hillmann, Karl-Heinz Diccionario enciclopédico de sociologia - S S

22 1972 Jean Duvignaud A sociologia: guia alfabético - - -

23 1972 Golfin, Jean Vocabulário essencial da sociologia - - -

24 1973 Sumpf, J.; Hugues, M. Dictionnaire de sociologie - - -

25 1973 Bartra Roger Breve diccionario de sociología marxista - - S

26 1975 Akoun; e outros Enciclopédia sociológica contemporânea N35

N N

27 1975 Jean Cazeneuve Dicionário de sociologia - - -

28 1975(6) Del Campo; Marsal; Garmendia

Diccionario de ciencias sociales (V. I e II) S S S

29 1976 Grupo de Trabajo de Desarollo Cultural

Terminos latinoamericanos para el diccionario de ciencias sociales

N N N

30 1976 Alfredo Poviña Diccionario de sociología a través de los sociólogos. Tomo 1 e 2

N N N

31 1976 F. Demarchi; A. Ellena Dizionário di sociologia - S -

32 1976 Baldo Blinkert Diccionarios Rioduero. Sociología S S -

33 1977 Ferreira, Luiz L. P. Dicionário de sociologia - - S

34 1978 Gallino, Luciano Dicionário de sociologia - S S

35 1978 Santos, W. dos Vocabulário de sociologia - - -

36 1978 A Zaki Badawi A Dictionary of the Social Sciences (English-French-Arabic with an Arabic-English Glossary and a French-English Glossary)

S - S

37 1979 Costa e Silva, L. E. T. Dicionário básico de sociologia - - -

35

Optou-se por colocar N nas obras 25, 28 e 29 para distingui-las das demais, devido às suas especificidades que serão explicadas após o quadro.

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38 1980 Department of National Education

Sosiologiewoordeboek (dictionary of sociology) (English / Afrikaans)

S S S

39 1982 Boudon; Bourricaud Dicionário crítico de sociologia - - -

40 1983 Bottomore, T. (editor). Dicionário do pensamento marxista S - S

41 1984 Abercrombie; Hill; Turner

Dictionary of sociology - - S

42 1986 Benedicto Silva Dicionário de ciências sociais S - S

43 1989 Boudon et. al. Dicionário de sociologia - - -

44 1991 Ferréol, Gilles Dictionnaire de sociologie - S -

45 1991 Hermans, Ad Dictionnaire des termes de la sociologie S - -

46 1993 Outhwaite; Bottomore Dicionário do pensamento social do século XX

- - S

47 1994 Gordon Marshall A Dictionary of Sociology - - S

48 1995 Johnson, Allan G Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica

S - S

49 1996 Adam Kuper and Jessica Kuper

The social science encyclopedia - - S

50 1997 Pité, Jorge Dicionário breve de sociologia S - -

51 1997 A. D. Cattani (org) Trabalho e tecnologia: dicionário critico - - S

52 1998 Pansani, Clóvis Pequeno dicionário de sociologia - - S

53 1998 Giner; Espinosa; Torres

Diccionario de Sociología S - S

54 1998 Enciclopédia delle scienze sociali. V. VIII. S S S

55 2000 LIU, Wen The wenhui chinese - eng. Dictionary of psycology e sociology

S S -

56 2001 Acebo Ibañez; R. Brie Diccionario de sociología S S -

57 2001 Smelser; Baltes International Encyclopedia of the social & behavioral sciences. V. 23

S - S

58 2001 Jonathan Michie Reader’s guide to the social sciences. Volume 2

- - -

59 2002 Rui Leandro Maia Dicionário de sociologia S - S

60 2003 Greco, Orlando Diccionario de sociología S S S

61 2006 Harrington; Marshall; Müller.

Encyclopedia of social theory S - S

62 2006 S. Bruce; S. Yearley The Sage Dictionary of sociology S - -

63 2009 Subberwal, Ranjana Dictionary of sociolgy - - S

64 2010 Maria Rosaria Gianminoto

Dizionario de scienze sociali. Sociologia, antropologia, scienza política. Cinese-italiano.

- - -

Figura 7 – Obras que dicionarizam ou não os termos ciência, técnica e tecnologia.

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Convém destacar três obras desse corpus, pois elas apresentam

especificidades. Os Terminos latinoamericanos para el diccionario de ciencias

sociales (1976), que contem os termos elaborados pelo grupo de trabalho latino-

americano para o Dicionnario de ciencias sociales (1975-6), fazendo, portanto,

parte dessa obra. Por sua vez, o Diccionario de sociologia a través de los

sociólogos, de Alfredo Poviña (1976), que como indica o título, apresenta nomes

de sociólogos, por ordem alfabética dos sobrenomes, não dicionariza termos. A

Enciclopédia Sociológica contemporânea (Encyclopédie de La sociologie: Le

présent em question), de A. Akoun; F. Balle et. al. (1975), está organizada em

quatro partes com dezoito capítulos, tem formato parecido com um livro e não com

entradas de palavras e corpo explicativo, como num dicionário ou a maioria das

enciclopédias. Essa obra também não se caracteriza como um dicionário ou

enciclopédia terminológica. Nenhum dos capítulos ou subtítulos tem ciência,

técnica ou tecnologia como entrada específica. Há temas relacionados como

‘progresso científico e utilização da energia’, a ciência e a revolução dos

transportes’, ‘a ciência e a diversificação das necessidades’, ‘o universo da

mudança técnica’ no mundo do trabalho, ‘técnica e racionalidade’ em relação à

mudança na empresa. Ou seja, os temas só constam associados a outros, não

caracterizando um objeto em si. Dada a especificidade dessas três obras, elas não

foram consideradas na análise.

A partir dos dados constantes na Figura 7,36 elaborou-se as Figuras 8 e

9, que contém o número e os percentuais, respectivamente, das obras que não

apresentam os termos ciência, técnica e tecnologia; dicionarizam apenas ciência;

apresentam apenas técnica; apresentam apenas tecnologia; dicionarizam os três

termos; dicionarizam ciência e técnica; apresentam ciência e tecnologia e as que

dicionarizam técnica e tecnologia.

36

O leitor que desejar visualizar, de forma separada, as obras que dicionarizam ou não os termos objetos desta pesquisa pode consultar o Apêndice. Nele constam 8 quadros com as várias combinações possíveis: as que não dicionarizam nenhum dos termos; as que dicionarizam apenas ciência; apenas técnica; apenas tecnologia; os três termos; ciência e técnica; ciência e tecnologia; técnica e tecnologia.

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Figura 8 – Dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia (em números absolutos).

Figura 9 – Dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia (em percentuais).

0

2

4

6

8

10

12

14

Obras

21,31

6,56

8,2

18,03 11,47

6,56

21,31

6,56

Nenhum dos termos

Apenas Ciência

Apenas Técnica

Apenas Tecnologia

Ciência, Técnica etecnologiaCiência e Técnica

Ciência e Tecnologia

Técnica e Tecnologia

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Os dados que originaram as Figura 8 e 9 revelam que das 61 obras

utilizadas, em 13 (21,31%) não constam os termos ciência, técnica e tecnologia

como entrada. As obras que não dicionarizam nenhum dos termos são em maior

número, por sinal, quase o dobro das obras que dicionarizam os três termos. Por

sua vez, também 13 obras apresentam ciência e tecnologia representando a

mesma ocorrência das obras que não dicionarizam nenhum dos três termos,

enquanto 11 obras (18,03%) apresentam apenas tecnologia. Quando

considerados de forma isolados, o termo ciência está presente em 28 obras,

correspondendo a 45,90%, o termo técnica em 20 obras (32,26%) e o termo

tecnologia em 35 obras (56,45%). A soma dos percentuais ultrapassa 100%, pois

há obras que dicionarizam mais de um termo.

Apresenta-se na Figura 10 o número de obras publicadas por década, o

número das que não apresentam os termos ciência, técnica e tecnologia como

entrada, o número de obras com os três termos e aquelas que dicionarizam cada

um dos termos.

Figura 10 – Dicionarização ou não dos termos, por década de publicação.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Obraspublicadas

Não constaC, Tca e Tgia

Consta C,Tca e Tgia

Ciência

Técnica

Tecnologia

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Quanto à ocorrência de ciência, técnica e tecnologia, como entrada nas

obras consultadas, pode-se identificar que, a partir da década de 193037, ciência e

tecnologia constaram em 66,67% e técnica em 33,33% das obras. Na década de

1940, 66,67% das obras não apresentaram nenhum dos três termos como

entrada, caracterizando a maior ocorrência em termos percentuais de obras que

não tinham, como entrada, os termos objetos desta pesquisa. Na sequência

aparece a década de 1970 com percentual de 42,86%. O contrário ocorreu na

década de 1950, quando 50% das obras dicionarizaram os três termos. Por sua

vez, o termo ciência teve maior ocorrência nas décadas de 1930 e 2000 com

66,67% e a menor frequência na década de 1970 com 21,43%. Técnica atingiu o

maior percentual na década de 1950 com 75% e o menor ocorreu na década de

1980, com 16,67%. O termo tecnologia esteve presente em 75% das obras

publicadas nas décadas de 1950 e 72,73% na década de 1990. Além disso, teve

frequência em mais da metade das obras, nas décadas de 1930, 1960 e 1980 com

66,67% e 2000 com 55,56%. Em contrapartida, a menor ocorrência de tecnologia

com 33,33% foi na década de 1940. Esta década e a de 1970 foram as duas

únicas décadas em que o termo tecnologia foi dicionarizado em menos da metade

das obras publicadas.

Na Figura 11, ilustra-se a oscilação dos termos dicionarizados entre as

décadas de 1930 a 2000.

37

Esta comparação será feita considerando as décadas de 1930 a 2000, excetuando as décadas em que ocorreu apenas uma ou nenhuma publicação.

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92

Figura 11 – Oscilação na frequência da dicionarização dos termos.

O termo técnica apresenta os extremos: inicia com 33% na primeira

década (1930), na segunda não é dicionarizado (1940) e na terceira (1950) consta

em 75% das obras. Nas duas décadas seguintes (1960 e 1970), consta em

44,44% e 35,71%. Em algumas décadas, há uma equivalência ou similaridade de

um termo para outro, mas, em geral, predomina a variação de um termo para

outro na mesma década. O percentual de obras que dicionariza cada termo

também oscila de uma década para outra. Em resumo, não há regularidade ou

sequência na dicionarização de nenhum dos termos, a oscilação é constante e

significativa. Em outras palavras, a oscilação na dicionarização dos termos não

evidencia uma relação significativa com os contextos sócio-históricos. Acredita-se

que isso é resultado da forma arbitrária com que os responsáveis e/ou autores

selecionam os termos a serem dicionarizados. A única tendência identificada, em

termos médios, é que técnica tem sido o termo menos dicionarizado, ao passo que

tecnologia é o termo que consta com mais frequência como entrada, enquanto o

termo ciência fica numa posição intermediária.

De outro lado, ao comparar a ocorrência da dicionarização dos termos

técnica e tecnologia, nas 11 obras publicadas por autores brasileiros, com o total

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Ciência (em %)

Técnica (em %)

Tecnologia (em %)

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93

das obras (61), identifica-se que 27,27% não apresentam os termos como entrada,

contra 27,87% do total das obras; 18,18% dicionarizam os dois termos contra

17,74%. Nestes dois indicadores, a ocorrência em obras de autores brasileiros é

similar ao total das obras. A Figura 12 ilustra a dicionarização ou não dos termos

ciência, técnica e tecnologia nas 11 obras publicadas por autores brasileiros.

Figura 12 – Dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia nas obras publicadas por autores brasileiros (em números absolutos).

Com relação à dicionarização de técnica, ela ocorre em 18,18% das

obras de autores brasileiros, contra 32,79% do total das obras, apresentando,

pois, uma ocorrência significativamente menor. Além de ser menor, a ocorrência

do termo se dá em obras que dicionarizam também tecnologia. Dito de outro

modo, das 11 obras publicadas por autores brasileiros, nenhuma dicionariza

apenas o termo técnica, enquanto isso ocorre em 9 obras do total,

correspondendo a 14,52%. A situação se inverte em relação ao termo tecnologia,

presente em 72,73% das obras de autores brasileiros contra 57,38% do total de

obras publicadas.

0

1

2

3

4

5

6

Obras

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94

Em síntese, enquanto o termo técnica consta em apenas 2 das 11

obras publicadas no Brasil, o termo tecnologia consta em 8, tendo uma frequência

quatro vezes maior, o que constitui uma revelação interessante, na medida em

que o segundo é de utilização mais antiga. Esse aparente abandono do termo

técnica poderia indicar que, em alguns casos, a palavra tecnologia é utilizada

como sinônimo de técnica, e, portanto, como um substituto deste. Contudo, não é

esse o sentido predominante nas definições do termo tecnologia, o que mantém

válida a constatação de que os autores deram preferência à dicionarização do

termo tecnologia, enquanto o termo técnica obteve pouca visibilidade.

Com relação ao termo ciência, presente em 44,26% do total de obras,

das 27 que dicionarizaram o termo, 24 são estrangeiras e apenas 3 brasileiras:

Archêro Jr e Conte (1939); Joaquim Pimenta (1955) e o DCS-FGV (1986). Esta

traduz o significado de ciência presente na obra inglesa, também publicada sob os

auspícios da UNESCO. Ou seja, das 4 obras publicadas no Brasil até 1955, 2

dicionarizaram o termo ciência, apresentando uma frequência acima da média,

porém após essa data, das 7 publicações apenas 1 dicionarizou o termo ciência, e

nas condições já relatadas, isto é, por traduzir termos do A dictionary of the social

sciences (1964). A frequência de 27,27% de dicionarização do termo ciência nas

obras publicadas no Brasil é significativamente menor que a média de 44,26% do

total das obras. Se forem consideradas apenas as 7 obras publicadas após 1955,

o percentual é ainda menos expressivo, apenas 14,29%. Ao comparar as

publicações brasileiras com o total das obras, observa-se que até 1955, em

ambas, o termo ciência é dicionarizado em 50%. Porém, quando consideradas as

obras publicadas após 1955, o percentual de ocorrência com relação ao total das

obras é de 43,14%, ou seja, apresenta uma ligeira queda, se comparada em

relação ao período anterior, enquanto o percentual das obras publicadas no Brasil

que dicionarizam o termo ciência oscila para menos de 15%, ou seja, apresenta

uma frequência praticamente três vezes menor. Este fato revela que, após 1955,

os autores brasileiros de dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, não

consideraram importante dicionarizar o termo ciência, que ficou quase invisível. A

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95

Figura 13 ilustra, em percentuais, a dicionarização ou não dos termos ciência,

técnica e tecnologia nas obras de autores brasileiros.

Figura 13 - Dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia nas obras publicadas por autores brasileiros (em percentuais).

Possivelmente, a ocorrência mais frequente do termo tecnologia, nas

publicações brasileiras, esteja associada ao tema do desenvolvimento, bastante

presente nas Ciências Sociais brasileiras e na Sociologia em particular. A mesma

razão pode servir de hipótese para a ocorrência menor de técnica. Contudo, se a

razão da maior ocorrência de tecnologia, nas obras publicadas por autores

brasileiros, é a presença da temática do desenvolvimento nas Ciências Sociais

brasileiras, por que o termo ciência foi negligenciado? Normalmente, nas

discussões sobre desenvolvimento, tanto a ciência como a tecnologia são

considerados elementos importantes. Por exemplo, Costa Pinto (1963/1980), ao

analisar o desenvolvimento, faz considerações sobre a técnica e a tecnologia e

defende que a ciência é a maneira mais eficiente para promover o

desenvolvimento nas sociedades contemporâneas.

Na Figura 14, consta a oscilação dos termos dicionarizados, entre as

décadas de 1930 a 1990, nas obras publicadas por autores brasileiros.

18,18

9,09

0

45,45

9,09

0 9,09

9,09 Nenhum dos termos

Apenas Ciência

Apenas Técnica

Apenas Tecnologia

Ciência, Técnica e tecnologia

Ciência e Técnica

Ciência e Tecnologia

Técnica e Tecnologia

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Figura 14 - Oscilação na frequência da dicionarização dos termos, nas obras publicadas por autores brasileiros.

Essa relativa invisibilidade do termo ciência, ausente em quase dois

terços das obras, é instigante, haja vista que o tema era objeto de análise por

parte de sociólogos desde a década de 1930, com Mannheim (1962, 1967), depois

Merton (1967, 1970, 1974) e posteriormente outros autores. Em outras palavras,

embora a temática do conhecimento e da Ciência estivesse cada vez mais

presente na pauta das discussões sociológicas, os autores brasileiros, de

dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, em sua maioria, não a

contemplaram, pois, não dicionarizam o termo ciência. Também não repercutiram

as discussões sobre ciência, tecnologia e sociedade que ganharam maior

visibilidade a partir da década de 1960, com o movimento CTS (Ciência,

Tecnologia e Sociedade). As razões que levaram os autores brasileiros de

dicionários de Sociologia e Ciências Sociais a priorizar o termo tecnologia,

dicionarizando técnica com menor frequência e abandonar o termo ciência

mereceria uma investigação específica.

Retomando as considerações sobre a incidência dos termos em

diferentes momentos, observa-se que da publicação da primeira obra em 1905

transcorre um quarto de século até iniciar a publicação da Encyclopaedia of the

0

1

2

3

4

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990

Obraspublicadas

Nenhum dostermos

Ciência, técnicae tecnologia

Ciência

Técnica

Tecnologia

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social sciences (1930-34), e 34 anos até a publicação dos dois dicionários (de

sociologia e de etnologia e sociologia) publicados no Brasil em 1939. Essas quatro

obras pioneiras são ilustrativas de quatro possibilidades de dicionarizar ou não os

termos em questão. Squillace (1905) dicionariza ciência e técnica; a

Encyclopaedia of the social sciences (1930-34) dicionariza ciência e tecnologia;

Archêro Jr e Conte (1939) dicionarizam apenas ciência, enquanto Baldus e

Willems (1939) dicionarizam técnica e tecnologia.

Das três obras publicadas na década de 1940, 1 dicionariza ciência e

tecnologia, enquanto duas não apresentam nenhum dos três termos. Das 4 obras

da década de 1950, 2 dicionarizam os três termos, enquanto 1 apresenta apenas

técnica e 1 apenas tecnologia. Por sua vez, das 9 obras publicadas na década de

1960, 1 não apresenta os termos como entrada, 1 dicionariza os três termos, em 3

constam ciência e tecnologia, em 2 consta apenas técnica, em 1 consta técnica e

tecnologia, e em 1 consta apenas tecnologia.

Na década de 1970, serão 14 obras publicadas, das quais 6 não

apresentam nenhum dos três termos como entrada, 1 dicionariza os três termos, 1

ciência e técnica, 1 ciência e tecnologia, 1 apenas técnica, 2 técnica e tecnologia e

2 apenas tecnologia. Das 6 obras da década de 1980, 2 não dicionarizam os

termos, 1 apresenta ciência, técnica e tecnologia como entrada, 2 dicionarizam

ciência e tecnologia, e 1 apenas tecnologia. Das 11 obras da década de 1990, 1

dicionariza os três termos, 2 apenas ciência, 2 ciência e tecnologia, 1 apenas

técnica e 5 apenas tecnologia. Na década de 2000 serão 9 obras publicadas, das

quais 1 não apresenta ciência, técnica e tecnologia como entrada, 1 apresenta os

três termos, 1 apenas ciência, 2 ciência e técnica, 3 ciência e tecnologia, e 1

apenas tecnologia.

Ao se analisar a ocorrência da dicionarização dos termos ciência,

técnica e tecnologia, com base na noção de hierarquia dos temas objetos de

pesquisa no interior do campo sociológico (BOURDIEU, 2004), pode-se dizer que

o termo tecnologia está em posição mais elevada, ao passo que o termo ciência

está em segundo lugar, enquanto o termo técnica ocupa a posição inferior.

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Possivelmente, a ênfase dada ao termo tecnologia deva-se ao fato da valorização,

na sociedade contemporânea (capitalista), da tecnologia como fator de

desenvolvimento e satisfação de necessidades econômicas e sociais. Nesse

sentido, tecnologia estaria sendo usada como uma metáfora para o progresso.

Feita a identificação e separação, bem como a quantificação, em

termos absolutos e relativos das obras que dicionarizam ou não os termos ciência,

técnica e tecnologia, passa-se a seguir a apresentar os significados dos termos

dicionarizados. Como dito no início deste capítulo, a apresentação e análise dos

significados dos termos presentes nos dicionários que dicionarizam os termos está

organizada em três partes. Inicia-se pelo termo ciência, na sequência técnica e

depois tecnologia.

Antes da apresentação e análise dos significados são necessárias duas

observações. A primeira diz respeito à dificuldade de analisar definições e

significados de termos que são polissêmicos, apresentando sentidos diferentes

não só de uma obra para outra, mas frequentemente na mesma obra, visto que

algumas chegam a apresentar até quatro significados diferentes. A segunda é de

ordem metodológica, os significados dos termos serão apresentados e analisados

de forma agrupada, isto é, decidiu-se agrupá-los em acepções, que parecem

sintetizar os significados presentes nas definições dos termos. O recurso

metodológico de agrupar os significados é uma tentativa de melhor compreendê-

los. Não visa reduzir os significados das definições que, via de regra, são amplos

e complexos.

4.1 Significados de ciência nos dicionários.

A partir da análise dos significados do termo ciência, presentes nas

definições investigadas, concluiu-se que essa palavra foi utilizada com cinco

acepções, descritas nos itens a seguir.

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4.1.1 Sistema de verdades gerais; de conhecimentos sistemáticos; de leis; de

princípios gerais.

Nas definições presentes nos dicionários e enciclopédias esse é o

significado mais frequente atribuído ao termo ciência. Há pequenas variações,

como podem ser verificadas nos seguintes excertos de textos: sistema de

verdades gerais, de conhecimentos metodicamente ligados (SQUILLACE

1905/1936); sistema de conhecimentos sobre fenômenos da mesma espécie,

regidos por leis invariáveis (ARCHÊRO JR e CONTE, 1939); formulação

sistemática de probabilidades de repetição (Howard Becker in: FAIRCHILD,

1944/1966); sistema de leis, de princípios (PIMENTA, 1955); princípios gerais

sobre fenômenos (THEODORSON e THEODORSON, 1969/1975); conhecimento

geral, preciso, rigoroso, sistemático e metódico, em uma palavra racional (Javier

Pascual Casado in: DEL CAMPO, MARSAL E GARMENDIA, 1975-6); corpo de

conhecimentos sobre o mundo natural (JOHNSON, 1995/1997); saber racional,

conjunto de conhecimentos explícitos, formalizados em proposições e enunciados

(Giner e Espinosa in: GINER, ESPINOSA e TORRES, 1998); conhecimento

específico através das causas, causa é equivalente a princípio explicativo (ACEBO

IBAÑEZ e BRIE, 2001/2006); conjunto de conhecimentos e de conceitos, de

protocolos experimentais e técnicos, necessários à ciência (Manuela Teles in:

MAIA, 2002); conhecimento certo das coisas por seus princípios e causas; corpo

de ideias, conhecimento racional, sistemático, exato, verificável; sistema de

conhecimentos certos e metódicos cujo objeto fundamental é oferecer uma

descrição e explicação dos fenômenos naturais (GRECO, 2003/2008); caráter

abrangente e sistemático, associado com virtudes tais como ‘racionalidade’,

‘objetividade’ e ‘validade’ (Steve Fuller in: HARRINGTON, MARSHALL e MÜLLER,

2006).

Diversos autores, em sua definição de ciência, consideram-na como um

sistema de verdades, de conhecimentos gerais, de princípios e leis, que são

identificados, elaborados e comprovados por meio da utilização de métodos de

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observação e experimentação, isto é, com base em procedimentos científicos

racionais. Esse significado é similar a um dos sentidos atribuídos à ciência por

Merton (1974, p. 38) quando escreve que a ciência é “um conjunto de métodos

característicos por meio dos quais os conhecimentos são comprovados”. A citação

desse excerto do texto de Merton ilustra que o sentido atribuído à Ciência, pelo

autor, corresponde a um dos sentidos que é atribuído ao termo nos dicionários.

Pode-se dizer também o oposto, isto é, que o sentido está nos dicionários porque

faz parte do uso corrente que lhe é atribuído. Com o objetivo de ilustrar usos de

significados presentes nas definições dos termos, por autores da Sociologia e das

Ciências Sociais, ao final da exposição de cada acepção constante nos

dicionários, procurar-se-á mencionar excertos de textos ou referências de autores

que utilizaram o termo com essa acepção.

4.1.2 Busca pelo conhecimento e processos de investigação.

O segundo significado mais frequente é a concepção de ciência como

busca pelo conhecimento, decorrente de processos de investigação, como pode

ser verificado em alguns fragmentos: busca pelo conhecimento teórico (Benjamin

Ginzburg in: SELIGMAN, 1930-34); conjunto de processos de investigação das

relações, fenômenos ou fatos (PIMENTA, 1955); busca sistemática, objetiva,

deliberada e controlada por ideias e conhecimentos precisos sobre fenômenos de

um campo (ZADROZNY, 1959); procedimento para elaborar conhecimentos

confiáveis, organizados em sistemas e proposições gerais (HOULT, 1969/1977);

esforço para estudar as relações que justificam um domínio da realidade com

métodos adequados (BLINKERT, 1976/1980); um método para descobrir

conhecimentos (JOHNSON, 1995/1997); processo pelo qual se procura explicar

os fenômenos (PITÉ, 1997); pesquisa, tentativa sistemática para adquirir novos

conhecimentos (W. Shrum in: SMELSER e BALTES, 2001); investigação

sistemática e compreensão do mundo que nos rodeia (BRUCE e YEARLEY,

2006).

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A concepção de ciência como busca de conhecimento por meio de

processos investigativos pode ser encontrada em Mills (1972), para quem os

métodos são procedimentos que os seres humanos utilizam ao tentar

compreender ou explicar alguma coisa, ou seja, para buscar ou construir um

conhecimento sobre determinado fato ou fenômeno. O mesmo sentido é partilhado

por Jorge Dias de Deus (1974), quando afirma que a ciência é um instrumento

essencial para buscar respostas para satisfazer as necessidades.

4.1.3 Construção ideal e abstrata para representar a realidade

O terceiro significado que aparece nas definições é a concepção de que

a ciência é uma construção ideal e abstrata, uma representação da realidade.

Esse sentido está presente em Squillace (1905/1936): construção ideal e abstrata,

abstrações gerais e universais; em Benjamin Ginzburg (in: SELIGMAN, 1930-34)

representação da realidade; e em Pité (1997) representação, intelectualmente

construída da realidade.

As noções de ideias gerais, abstratas e universais podem ser

associadas ao princípio de universalismo presente, por exemplo, em Merton

(1974). Essa acepção enfatiza a ciência como uma construção ideal e abstrata

para compreender e representar a realidade. Isso implica o pressuposto de que

pode ser generalizada e aplicada a diferentes situações.

4.1.4 Atividade humana condicionada pela estrutura social

Outro sentido identificado nas definições é a acepção de ciência como

uma atividade humana, condicionada pela estrutura social: uma das atividades

humanas, como tal condicionada pela estrutura social (Benjamin Ginzburg in:

SELIGMAN, 1930-34); uma ciência é uma instituição, é o conjunto das atividades

dos cientistas trabalhando em uma disciplina (HERMANNS, 1991); uma instituição

social organizada em torno de conhecimentos e métodos (JOHNSON, 1995/1997).

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A acepção de que a estrutura social condiciona a atividade científica

está presente em Max Weber (1968, p. 321), ao afirmar que “uma das realizações

específicas do protestantismo consiste em haver colocado a ciência a serviço da

técnica e da economia”. Se, para o autor, o protestantismo teve papel significativo

no desenvolvimento do capitalismo, e esse para se desenvolver colocou a ciência

a serviço da produção e da obtenção do lucro, torna-se evidente que o

protestantismo contribuiu para que a ciência fosse aplicada de forma mais efetiva

na produção, sendo subordinada, ao menos em parte, aos ditames econômicos.

Destaque-se também que, na opinião do pensador alemão, a ciência foi colocada

a serviço da técnica e da economia. Essa assertiva é interessante, pois é contrária

à posição de autores que consideram a tecnologia como aplicação da ciência

moderna. Se nesse caso, toma-se a técnica como sinônimo de tecnologia, poder-

se-ia dizer que, para Weber, o protestantismo colocou a ciência a serviço da

tecnologia, significando a primazia da tecnologia em relação à ciência. Em outros

termos, de acordo com a interpretação weberiana, pode-se pensar a técnica, e por

extensão, a tecnologia, em interação com a ciência e a economia, num processo

de interação recíproca, isto é, recebem influência e também influenciam a ciência,

não se restringindo à aplicação da ciência.

Merton (1967), ao enfatizar a relação do desenvolvimento científico e

tecnológico com o progresso, também destaca como a estrutura social influencia a

atividade científica e tecnológica, afirmando que os períodos em que a ciência e a

tecnologia tiveram avanços mais significativos foram aqueles em que as teorias

favoráveis ao progresso tiveram maior aceitação.

Para o sociólogo norte-americano, a ciência e a tecnologia são

produzidas socialmente em contextos sociais específicos, no caso em questão,

com a finalidade de servir aos interesses da classe que detêm o poder na

sociedade capitalista. Desse modo, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia

não ocorre de forma autônoma, pois, segundo o autor, os acontecimentos

históricos têm demonstrado o contrário, isto é, que a produção da ciência e da

tecnologia ocorre de acordo com a estrutura social. Em outras palavras, embora a

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ciência seja uma instituição social, ela é parte de uma estrutura social maior, a

sociedade na qual está inserida. Jorge Dias de Deus (1974) também reforça o

argumento de que a Ciência é produzida pelos seres humanos em organizações e

instituições dentro de contextos sociais determinados.

4.1.5 Conhecimento mais valorizado

Também aparece a acepção de que a Ciência é uma forma de

conhecimento mais valorizado que outras: conhecimento científico, forma mais

elevada de conhecimento (Javier Pascual Casado in: DEL CAMPO, MARSAL e

GARMENDIA, 1975-6); forma mais valorizada de conhecimento social (Steve

Fuller in: HARRINGTON, MARSHALL e MÜLLER, 2006).

A consideração de que a ciência é a forma de conhecimento mais

valorizado nas sociedades atuais pode ser encontrada em Merton (1974), para

quem a cultura moderna atribui à ciência um lugar proeminente. De forma similar,

Mills (1972) pondera que a ciência normalmente tem uma avaliação positiva. Para

Jorge Dias de Deus (1974), na civilização ocidental, a partir do desenvolvimento

da ciência moderna, só o que é científico é considerado verdadeiro. Na mesma

linha de argumentação, Schwartz (1975), assinala que a ciência é tratada com

status mitológico, tendo se transformado em uma religião.

De acordo com Beaune (1980), a cultura instituiu no ocidente uma visão

na qual a técnica é subordinada a outros tipos de conhecimentos considerados

mais nobres, como o conhecimento científico, enquanto os conhecimentos

técnicos são associados à prática e vistos como uma forma de saber que requer

menos inteligência.

Por sua vez, Vieira Pinto (2005), ao criticar a ideologização da ciência e

da técnica, questiona a atitude dos dominantes, da elite, de valorizar suas ações

como arte, técnica, ciência e conhecimento, desvalorizando as ações das classes

trabalhadoras como habilidade, jeito, ofício, prática, trabalho manual. Essa

posição, contudo, não altera o fato de que, na cultura das sociedades ocidentais

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contemporâneas, a forma de conhecimento considerada mais elevada na

hierarquia do saber é o conhecimento científico.

Ao analisar as definições de ciência, não se identificou mudanças de

significado com o passar do tempo, isto é, o primeiro dos cinco sentidos consta em

12 obras publicadas entre 1905 e 2003, enquanto o segundo sentido consta em 9

obras publicadas entre 1930 e 2006. Por sua vez, o terceiro sentido consta em 3

obras publicadas em 1905, 1930 e 1997, o mesmo ocorre com o quarto sentido,

1930, 1991, 1995 e o quinto sentido 1930, 1975 e 2003. Quer dizer, alguns

sentidos estão presentes em mais obras do que em outros, no entanto, mesmo os

que estão presentes em apenas três obras, não estão concentrados num

determinado período de tempo, mas distribuídos ao longo do período de

publicação das obras.

Quando se observam os significados do termo ciência, apenas nas

obras publicadas pelos autores brasileiros, identifica-se a primeira acepção –

sistemas de verdades gerais; de conhecimentos sistemáticos; de leis; de

princípios gerais – em Archêro Jr e Conte (1939) e Pimenta (1955). A segunda

acepção – busca pelo conhecimento; processos de investigação – em Pimenta

(1955), enquanto as outras três acepções – construção ideal e abstrata para

representar a realidade; atividade humana condicionada pela estrutura social e

conhecimento mais valorizado – não consta em nenhuma das obras publicadas

pelos autores brasileiros. Recorda-se ao leitor que das 11 obras publicadas por

autores brasileiros, além de Archêro Jr / Conte (1939) e Pimenta (1955), o termo

ciência só consta no Dicionário de Ciências Sociais, publicado pela FGV (1986), o

qual reproduz a definição de A dictionary of the social sciences (1964)38,

caracterizando uma invisibilidade do termo ciência nas obras publicadas por

autores brasileiros, conforme foi ressaltado no início deste capítulo.

No capítulo anterior, apresentou-se a participação masculina e feminina

na responsabilidade e na autoria das obras. Das 27 obras que dicionarizam o

38

O Dicionário de Ciências Sociais publicado pela FGV, sob os auspícios da UNESCO, tinha como projeto inicial a tradução da obra publicada em língua inglesa. Posteriormente o projeto foi modificado, mas muitos termos foram traduzidos, como ciência e tecnologia.

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termo ciência, em apenas 1, (MAIA, 2002), a definição é de autoria feminina. No

corpo explicativo do termo não há nada que indique variação ou diferença pelo

fato do texto ter sido elaborado por uma mulher. O aspecto a ser destacado é que

Manuela Teles refere-se aos seres humanos usando a expressão o Homem, como

consta na seguinte passagem:

No decurso do tempo, o Homem tem procurado conhecer o inacessível mistério do Mundo e de si mesmo. Cego, indo de encontro às ‘coisas’, o Homem experimenta e erra; aventura-se e formula hipóteses; abstrai e, lentamente, vai construindo pontes que o levam do conhecido para o desconhecido (TELES, In: MAIA, 2002, p. 53).

Sem dúvida, esta marca é objeto de controversa, pois enquanto alguns

podem argumentar que está em acordo com a prática científica, pois o homem

nesse caso estaria designando os seres humanos, a humanidade, outros podem

argumentar que está reproduzindo e reforçando uma visão masculina, isto é, neste

caso a mulher estaria ocupando uma posição, escrever a definição de um termo

num dicionário de sociologia, contudo, reforçando uma visão ou um mundo

masculinizado através da utilização da expressão o Homem, quando poderia

utilizar termos indefinidos, isto é, que não remetessem ao gênero masculino.

Nos termos elaborados por autores masculinos, como em Acebo Ibañez

e Brie (2001/2006), por exemplo, é utilizada a expressão os homens, porém em

outras obras, a definição do termo é elaborada de forma genérica sem a utilização

de expressões que possam indicar alguma conotação de gênero, enquanto em

Fairchild (1944/1966) Howard Becker utiliza a expressão atividade humana. Diante

desses dados, constata-se que o fato do termo ciência ter sido elaborado por autor

masculino ou autora feminina não implica em diferenças de gênero.

Em síntese, a maioria das definições do termo ciência presentes nos

dicionários, enfatiza verdades, leis e princípios, utilizados em processos de

investigação, para busca de conhecimentos sistemáticos. São construções ideais

e abstratas, para conhecer e representar a realidade. O fato de serem

consideradas abstratas não significa que sejam separadas da prática social, ao

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contrário, a atividade científica é condicionada pela estrutura social, que

atualmente tende considerar o conhecimento científico como a forma de

conhecimento mais valorizado e aceito. Por fim, cabe recordar ao leitor que do

total de obras consultadas, apenas 45,90% dicionarizam o termo ciência, este

ficou ausente em mais da metade das obras analisadas. Esse fato permite

considerar que o termo ciência, para os autores da maioria das obras, não está

entre aqueles que são considerados com posição mais elevada na hierarquia dos

temas sociais. O mesmo ocorre com o termo técnica que consta em apenas

32,26% das obras consultadas, caracterizando uma posição menos elevada que o

termo ciência, de acordo com a hierarquia dos temas consagrados, pelos seus

autores, nos dicionários. A seguir, os sentidos do termo técnica, presente nas

definições das obras que dicionarizam o termo.

4.2 Significados de técnica nos dicionários.

Ao analisar as definições de técnica, concluiu-se que seria possível

agrupar os significados em quatro acepções: ciência ou arte; conjunto de meios e

habilidades que os seres humanos utilizam para transformar a natureza e

satisfazer necessidades e desejos; conhecimento, maneira de pensar,

mentalidade técnica, racionalização; atividade humana, elemento da cultura.

4.2.1 Ciência ou arte

Esse é o primeiro significado que aparece nas definições de técnica:

relativa à ciência, é a arte de fazer operações materiais que seus métodos exigem

(SQUILLACE, 1905/1936); mecânica da realização de um trabalho de investigação

ou coleta de dados (ZADROZNY, 1959); conjunto de processos de uma ciência,

arte ou ofício (BIROU, 1966/1973); conjunto de procedimentos e recursos de uma

ciência ou arte; adjetivo que se aplica às palavras próprias das artes e ciências

(DEL CAMPO, MARSAL, GARMENDIA, 1975-6).

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Os significados de técnica presentes nessas obras é similar à definição

de técnica constante em alguns dicionários de uso geral como o Grand

dictionnaire universel du XIXE siècle (1875), o Dicionário contemporâneo da língua

portuguesa (AULETE, 1968), no Novo dicionário da língua portuguesa – AURÉLIO

(FERREIRA, 1986), Dicionário Priberum da Língua Portuguesa DPLP.

Essa noção de técnica como ciência ou arte, embora presente em

alguns dicionários de Sociologia e Ciências sociais, bem como em dicionários de

uso geral, para Ruy Gama (1986, p. 30), é resultado de um alargamento do

conceito de técnica, por meio do qual se inclui os processos de uma ciência, arte

ou ofício.

4.2.2 Conjunto de meios e habilidades que os seres humanos utilizam para

transformar a natureza e satisfazer necessidades e desejos.

Esse é o mais frequente dos significados de técnica. Está presente em

diversas definições, como pode ser verificado nos excertos a seguir: conjunto de

meios e habilidades que possibilitam ao homem utilizar e transformar a natureza

para satisfazer necessidades e objetivos (Schmoller, apud BALDUS e WILLEMS,

1939; Savatier, apud PIMENTA, 1955); ato de adaptação, transformação do

natural em artificial, fabricação de instrumentos (PIMENTA, 1955); utilização

prática das leis naturais pelo homem (P. Heintz in: KÖNIG, 1963/1971); conjunto

de regras práticas veiculadas pela linguagem, pela mão e pelos instrumentos com

vistas a atividades produtivas; utilização racional e prática dos recursos naturais

para satisfação das necessidades (BIROU, 1966/1973); meio específico,

culturalmente estruturado para alcançar uma finalidade (THEODORSON e

THEODORSON, 1969/1975); perícia ou habilidade para usar os procedimentos e

recursos; ação sobre as coisas para satisfazer desejos (DEL CAMPO, MARSAL,

GARMENDIA, 1975-6); aproveitamento prático e racional das possibilidades

oferecidas pela natureza (leis da natureza) para satisfazer necessidades

(BLINKERT, 1976/1980); adaptação ao ambiente natural e social para satisfazer

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necessidades (GALLINO, 1978/2005); arte e habilidade para confeccionar bens,

atividades produtivas (Freyer, apud HILLMANN, 1970/2001); técnica e ciência

como forças produtivas (Habermas e Ogburn, apud HILLMANN, 1970/2001);

artefatos criados pelo homem e empregados no âmbito da ação orientada (Renate

Mayntz, in: Enciclopédia delle scienze sociali. Vol. VIII, 1998); conjunto de

conhecimentos práticos instrumentais e de habilidades que capacitam o homem

para melhorar seu nível de vida (Verdú, apud GRECO, 2003/2008).

O mesmo significado de técnica está presente no Dicionário

contemporâneo da língua portuguesa (AULETE, 1968). A concepção de que a

técnica é meio e mais especificamente aplicação de meios está em Max Weber

[197-?], pois, para ele, a técnica se refere aos meios utilizados em uma ação,

enquanto a técnica racional pressupõe a aplicação de meios planejados

conscientemente. O sociólogo defende ainda que a técnica está presente em

todas as ações humanas, tendo um sentido fluido. Costa Pinto (1963/1980)

considera a técnica como um meio criado pelo trabalho e pelo engenho humano

para mediar sua relação com a natureza. A afirmação de Marcuse (1999) de que a

técnica pode ser considerada como um universo de instrumentos também pode

ser interpretada como uma acepção que considera a técnica como meio, bem

como a assertiva de Ruy Gama (1986) de que a técnica é um conjunto de regras

práticas para fazer coisas determinadas.

A acepção de técnica como meio consta na definição de mais da

metade das obras que dicionarizam o termo, por isso se constitui em um dos

temas frequentes nas definições de técnica e tecnologia. Esse tema será

abordado no próximo capítulo.

4.2.3 Conhecimento, maneira de pensar, mentalidade técnica, racionalização.

Outro significado que se faz presente nas definições é a acepção de

técnica como conhecimento e como maneira de pensar: maneira de pensar de um

indivíduo (Wiese, apud BALDUS e WILLEMS, 1939); mentalidade técnica,

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racionalização (BALDUS e WILLEMS, 1939); a técnica moderna é matemática

aplicada e ciência natural; repousa no conhecimento científico; criada pela razão

humana (BERNSDORF e BÜLLOW, 1950); um saber prático que permite utilizar a

natureza (BIROU, 1966/1973); pode ser considerada como procedimento, método

e modo de pensar (SCHOECK, 1969/1973); as técnicas podem ser apreendidas,

podem ser intelectuais (THEODORSON e THEODORSON, 1969/1975); conjunto

de procedimentos e instrumentos, apoiados no saber científico (DEL CAMPO,

MARSAL, GARMENDIA, 1975-6); conjunto de normas e modos de proceder

(GALLINO, 1978/2005); aplicação prática dos conhecimentos a partir de regras

práticas (ACEBO IBAÑEZ e BRIE, 2001/2006).

Nos sentidos que foram agrupados nesse item, embora em termos

gerais, foram qualificados na mesma acepção, é possível identificar uma diferença

em dois grupos de autores. A noção de técnica como saber prático que permite

utilizar a natureza, como conjunto de procedimentos e instrumentos, normas e

modos de proceder, está presente em obras que foram escritas por autores da

França, Itália, Espanha, Estados Unidos da América e Argentina. Enquanto a

noção de técnica como maneira de pensar, mentalidade técnica e racionalização,

está presente em obras de autores alemães: Wiese (apud BALDUS e WILLEMS,

1939) e Bernsdorf e Büllow (1950). Baldus e Willems (1939), embora exerceram

carreira acadêmica no Brasil e, portanto, publicaram sua obra no país, ambos

nasceram e estudaram na Alemanha. Em síntese, os dicionários que registram a

acepção de técnica como maneira de pensar e como racionalização, tem como

responsáveis autores vinculados à sociologia alemã. Isso pode ser um indicativo

de que a associação da técnica com mentalidade técnica é um tema que recebeu

maior atenção da sociologia na Alemanha do que em outros países.

4.2.4 Atividade humana, elemento da cultura.

O quarto significado que se identificou nas definições de técnica:

importância crucial na sociedade (BALDUS e WILLEMS, 1939); atividade prática

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110

do homem (Pimenta, 1955); relação recíproca com a economia e a cultura (Peter

Heintz in: KÖNIG, 1963/1971); uma dimensão do homem moderno, da concepção

de si mesmo e de sua concepção de mundo (SCHOECK, 1969/1973); dimensão

social da técnica (Giancarlo Rovati in: DEMARCHI e ELLENA, 1976); elemento

fundamental de qualquer atividade cultural (BLINKERT, 1976/1980); as técnicas

compõem uma notável parte da cultura (subcultura) (GALLINO, 1978/2005);

condicionante muito importante para a vida social; uma das atividades humanas;

deve ser entendida em relação com as demais atividades (ACEBO IBAÑEZ e

BRIE, 2001/2006).

Para Mannheim (1962), as técnicas formam parte de todo um sistema

social e cultural. Segundo ele, a técnica social moderna, além de ser importante

para a sociedade industrial, é relevante para a preservação psicológica,

econômica e social desse tipo de sociedade. O filósofo Álvaro Vieira Pinto (2005,

p. 62) partilha a ideia de que a técnica, por definição, está presente em todo ato

humano. No mesmo sentido Ruy Gama (1986, p. 31) afirma que a técnica é tão

antiga quanto o homem. A citação desses três autores ilustra usos desse sentido

que é atribuído à técnica, dessa acepção que a considera como uma atividade

humana fundamental e, portanto, em estreita interação com a cultura.

A acepção de técnica como relacionada à ciência ou arte consta em 4

obras, publicadas em 1905, 1959, 1966 e 1975-6. Nessa última obra, tem esse

sentido a primeira das quatro definições, a qual foi retirada do Diccionario de la

Real Española, 1ª edic, 1947 e a terceira definição retirada do Diccionario de la

Real Academia Española, 10ª edic. 1852. Em outras palavras, esse sentido de

técnica que pode ser considerado de uso mais antigo vai entrando em desuso com

o passar dos anos, à medida que é assumido outro sentido como atual.

O segundo sentido, além de ser o mais frequente, pois consta em 11

obras que dicionarizam o termo, foi dicionarizado em obras publicadas entre 1939

e 2003. O terceiro e o quarto significado de técnica constam em 8 obras

publicadas entre 1939 e 2001, sendo que 4 dessas obras apresentam os dois

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111

sentidos. Não é possível constatar mudança de sentido nas outras três acepções

de técnica.

Em resumo, das 4 acepções identificadas nas definições de técnica, a

que a associa à ciência ou à arte pode ser considerada como de uso mais antigo.

Com o passar dos anos, essa noção deixou de constar nos dicionários e

enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais, que passaram a registrar com

mais frequência as outras três acepções de técnica que contemplam um

significado mais amplo que a primeira.

Ao se observar os quatro sentidos de técnica, presentes nas obras

publicadas por autores brasileiros, constata-se que a acepção de técnica como

ciência ou arte não consta em nenhuma das obras que dicionarizam o termo. O

segundo e o quarto sentido, isto é, as acepções de técnica como conjunto de

meios e habilidades que os seres humanos utilizam para transformar a natureza e

satisfazer necessidades e desejos e, atividade humana / elemento da cultura,

respectivamente, constam nas obras publicadas por Baldus e Willems (1939) e

Pimenta (1955). Por sua vez, o sentido de técnica como conhecimento, maneira

de pensar, mentalidade técnica, racionalização, está presente apenas na obra de

Baldus e Willems (1939). Das 11 obras publicadas por autores brasileiros, essas

duas obras são as únicas que dicionarizam técnica. Ou seja, a mesma

invisibilidade que ocorre com o termo ciência se repete com o termo técnica. Além

dessa invisibilidade, ocorre, na verdade, um abandono desses dois termos na

medida em que não são mais dicionarizados por nenhuma das 7 obras publicadas,

depois de 1955, por autores brasileiros, com exceção do DCS publicado pela FGV

(1986) que traduz do inglês o termo ciência publicado pela obra coordenada por

GOULD e KOLB (1964).

Das 20 obras que dicionarizam o termo técnica, o Diccionario de

ciencias sociales, publicado sob a coordenação de Del Campo, Marsal e

Garmendia (1975-6), registra que o termo técnica foi elaborado pelo grupo

espanhol, composto por 93 autores, sendo 87 homens e 6 mulheres. Como é uma

obra de autoria coletiva que não identifica quem elaborou a definição, é a única

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das 20 obras que dicionarizaram o termo técnica, que pode ter tido participação

feminina na elaboração do significado do termo. Nas outras 19 obras, a definição

do termo técnica foi elaborada por autores masculinos.

Em síntese, das quatro acepções de técnica identificadas, o sentido de

ciência e arte, em termos gerais, consta em obras que foram publicadas até a

metade da década de 1970. De maneira similar, ocorre o mesmo com a noção de

técnica como maneira de pensar, racionalização e mentalidade técnica. Após esse

período, predominam as acepções de técnica como meios e habilidades para

transformar a natureza e satisfazer desejos e necessidades, e atividade humana /

elemento da cultura.

4.3 Significados de tecnologia nos dicionários.

Ao analisar as definições de tecnologia verificou-se que este termo é o

que apresenta uma gama de significados mais ampla, caracterizando como termo

bastante polissêmico.

4.3.1 Arte, ciência e indústria.

O primeiro sentido que aparece nas definições de tecnologia é o que

pode ser associado ao sentido antigo, derivado do sentido etimológico grego: arte,

perícia e discurso (BIROU, 1966/1973); artes práticas (Emil Lederer in:

SELIGMAN, 1930-34); processos biológicos e físicos (Robert S. Merril in: SILLS,

1968/1977); recursos do trabalho profissional, vocabulário específico de uma

ciência, arte ou indústria (PANSANI, 1998); conjunto de palavras, termos ou

expressões de uma arte ou ciência. Linguagem específica de uma ciência, arte ou

técnica (Frank Webster in: HARRINGTON, MARSHALL e MÜLLER, 2006).

Este primeiro significado é similar ao que consta na definição de

tecnologia de alguns dicionários de uso geral como o Grand dictionnaire universel

du XIXE siècle (1875), em La grand encyclopédie: inventaire raisonné des

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sciences, des lettres et des arts par une societé de savants et de gens de lettres

(sd), no Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa (1967), no

Novo dicionário da língua portuguesa – Aurélio (FERREIRA, 1986), no Moderno

dicionário da língua portuguesa e no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

DPLP.

Porém esse significado não é comum nos textos de autores das

Ciências Sociais e da Sociologia em particular, pesquisados para este trabalho.

4.3.2 Fator de produção – sentido econômico.

A acepção de tecnologia como fator de produção, com sentido

econômico é um dos significados de tecnologia identificado nas definições, como

pode ser verificado nos excertos a seguir: fator de produção na economia

capitalista, crença no progresso (Emil Lederer in: SELIGMAN, 1930-34);

processos industriais (Tom Burns in: GOULD e KOLB, 1964); relação tecnologia e

produção (Robert Merril in: SILLS, 1968/1977); todas as formas de técnicas

produtivas, organização da produção, divisão e organização do trabalho

(ABERCOMBRIE, HILL e TURNER, 1984/1988; SUBBERWAL, 2009); atividades

ou processos, exemplo, sistema de produção de automóvel (Steve Woolgar in:

KUPER e KUPER, 1996/2003); bens de capital, matérias primas, equipamentos e

utensílios para produção de bens (Ana Brandão in: MAIA, 2002).

Esse significado é similar ao que consta na definição de tecnologia de

alguns dicionários de uso geral como o Grand dictionnaire universel du XIXE siècle

(1875). A acepção de tecnologia como fator de produção, com sentido

predominantemente econômico pode ser encontrada em algumas passagens de

Marx, como em Capital y tecnología: manuscritos de 1861-1863, em que o autor

afirma que “junto com a revolução ocorrida nas forças produtivas – que se

manifesta como revolução tecnológica – chega também uma revolução nas

relações de produção” (MARX, 1980, p. 118). Ressalte-se que esse não é o único

sentido de tecnologia para o autor, nem o que consta em sua definição de

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tecnologia, como se verá logo a seguir. O sentido de tecnologia como fator de

produção pode ser identificado também na passagem em que Hebert Marcuse

(1999, p. 73), considera a tecnologia como modo de produção, “como a totalidade

dos instrumentos, dispositivos e invenções que caracterizam a era da máquina”.

4.3.3 Trabalho e mediação das atividades humanas.

Outro significado que se faz presente nas definições é a acepção de

tecnologia como mediação das atividades humanas relacionado ao trabalho, isto

é, como ato humano de transformação da natureza para produção de bens e

serviços com vistas à satisfação de necessidades e desejos: mediação das

atividades humanas, ato de transformar a natureza (Robert M. Young in:

BOTTOMORE, 1983/1988); possibilidades e procedimentos técnicos para

transformar a natureza para satisfação de necessidades humanas e sociais

(HILLMANN, 1970/2001); fator importante na vida de qualquer organização (T. M.

K. Tantoush in: SMELSER e BALTES, 2001); meio para conseguir fins (Ana

Brandão in: Maia); procedimentos técnicos para uma operação (Frank Webster in:

HARRINGTON, MARSHALL e MÜLLER, 2006).

Esse significado é similar ao que consta na definição de tecnologia de

alguns dicionários de uso geral como o Grand dictionnaire universel du XIXE siècle

(1875). Pode-se considerar que esse sentido de tecnologia já estava presente em

Karl Marx (1968, p. 425), que na nota de rodapé 89, do Capítulo XIII do Capital, A

Maquinaria e a Indústria Moderna, assim a definiu: “a tecnologia revela o modo de

proceder do homem para com a natureza, o processo imediato de produção de

sua vida e assim elucida as condições de sua vida social e as concepções mentais

que delas decorrem”. Pode-se dizer que segundo essa concepção a tecnologia faz

parte da vida do homem em todos os tipos de sociedades, uma vez que revela seu

modo de agir e está ligada à sua produção física e mental. Ao analisar o processo

de trabalho, o autor afirma “o que distingue as diferentes épocas econômicas não

é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se faz (p. 204)”. Por meios

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de trabalho entendem-se, neste caso, os instrumentos de trabalho os quais, de

acordo com a definição do autor, são partes da tecnologia produzida pelo homem.

Pode-se ponderar que para Marx a tecnologia também faz parte da cultura.

Na obra Filosofia do dinheiro, Georg Simmel (1977, p. 234) defende

que, ao contrário de Deus, os homens precisam de meios técnicos, pois os

instrumentos são meios potencializados que têm sua forma e existência

determinadas pela finalidade a que se destinam, de acordo com a intenção pela

qual são criados pelo homem, já que não tem autonomia.

A acepção de tecnologia como meio está presente em Ferkiss (1972),

que defende a ideia de que desde o início de sua existência o homem depende da

tecnologia. O autor argumenta que a “tecnologia possibilitou ao homem fazer-se

homem” (p. 25-26). Para Eugene Schwartz (1975, p. 21) “a tecnologia é um

processo dialético que nasce das relações da interação do homem com a

natureza”. Ela é um meio. No mesmo sentido, Bonsiepe (1983), afirma que é pela

tecnologia que as sociedades se estruturam e se organizam para a sobrevivência.

Ruy Gama (1986, p. 115) enfatiza a tecnologia como meio ao considerá-la em

suas relações com a produção, identificando-a com o trabalho e seus produtos

materiais, assinalando que a tecnologia “está vinculada desde seu nascimento à

alteração do modo de produção e às formas de aquisição e transmissão dos

conhecimentos técnicos”.

Para Figueiredo (1989), a tecnologia se insere no âmbito do fazer

humano, caracterizando-se como meios e atividades que os seres humanos

utilizam para transformar o ambiente e satisfazer necessidades e desejos.

Vieira Pinto (2005) defende que as técnicas ou tecnologias são

instrumentos de mediação das ações humanas. Quer dizer, a tecnologia será

sempre uma mediação, pois representa uma criação humana para atender uma

necessidade do processo produtivo entendido como toda ação humana. Para ele,

a tecnologia só pode ser entendida se for considerada como uma categoria de

mediação dialética entre o homem e a natureza ou sociedade, na busca de

solução para uma contradição, isto é, na busca de satisfação de necessidades ou

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desejos humanos. Sendo mediação, a tecnologia não pode sobrepor-se ao

homem ou à sociedade.

4.3.4 Objeto de estudo da Antropologia Cultural.

A definição de tecnologia como Ciência; Antropologia Cultural que

estuda a transformação de matérias primas em objetos; produção de artefatos,

está presente em Baldus e Willems (1939); em Fairchild (1944/1966); em Willems

(1950); na obra publicada pela Editora Globo (1961) e na obra de autoria de Clóvis

Pansani (1998).

Baldus e Willems (1939, p. 218) definem tecnologia coma “a ciência que

estuda a transformação de matérias primas em objetos”, definição essa muita

parecida com a que consta na obra editada por Henry Pratt Fairchild (1944/1966,

p. 292) “ramo da antropologia cultural que se ocupa dos estudos da cultura

material e das artes industriais”,39 e na obra de Willems (1950, p. 145) “ramo da

antropologia cultural, que se propõe o estudo da produção de artefatos”. Essa

definição de E. Willems é baseada na que formulou no dicionário em parceria com

Baldus, que foi responsável pelos termos de etnologia, enquanto o primeiro se

encarregou dos verbetes de sociologia. A diferença é que na obra de autoria

exclusiva, Willems nomeia a ciência - Antropologia cultural - e no lugar de

transformação de matérias-primas em objetos, utiliza a expressão produção de

artefatos. Essa mesma definição foi reproduzida na obra publicada pela Editora

Globo (1961, p. 340) e consta na obra de Pansani (1998), porém este não remete

a definição a nenhuma das outras obras.

Com exceção da obra de Pansani (1998), que apresenta três definições

para o termo tecnologia, as outras quatro consideram tecnologia como um ramo

da Antropologia Cultural. Logo, pode-se concluir que para os autores dessas

obras, tecnologia não é considerada como um tema básico da sociologia.

39

Tradução livre do autor. No original: Rama de la tecnología cultural que se ocupa del estudio de la cultura material y de las artes industriales.

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4.3.5 Estudo sistemático da técnica

Outra acepção de tecnologia é como estudo sistemático da técnica ou

dos processos técnicos: estudo de processos, do que eles representam como

instrumento de ação (PIMENTA, 1955); estudo sistemático dos instrumentos, dos

procedimentos e métodos que se empregam nos diversos ramos da técnica

(BIROU, 1966/1973); descrição sistemática de técnicas, artes ou profissões

(GALLINO, 1978/2005); estudo sistemático de técnicas (Emilio Muñoz in: GINER,

ESPINOSA e TORRES, 1998).

Esse sentido está presente no Novo dicionário da língua portuguesa –

Aurélio (FERREIRA, 1986), na versão eletrônica do Dicionário Houaiss, no

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa DPLP e é um dos sentidos

identificados na definição de Raymond Williams em Palavras-chave (2007).

A concepção de tecnologia como estudo e conhecimento científico das

operações técnicas, isto é, como estudo sistemático da técnica ou como

sistematização científica dos conhecimentos relacionados às técnicas está

presente em Ruy Gama (1986 e 1994) e em Milton Vargas (1994). Esta acepção

de tecnologia como estudo das técnicas não é unânime. Por exemplo, Medeiros e

Medeiros (1993, p. 12) defendem que a tecnologia “não é o estudo da técnica,

mas sim sua versão mais elaborada”.

Porém, Vieira Pinto (2005) considera que o estudo e a discussão da

técnica é um dos sentidos do termo tecnologia. O autor defende que, embora não

seja o mais frequente, este é o sentido radical, primordial, para a tecnologia que

deve ser considerada como a “teoria cognoscitiva da técnica”, “teoria

epistemológica da técnica”, “logos da técnica”. A acepção de tecnologia como

estudo sistemático das técnicas, embora seja o significado etimológico da palavra,

não é frequente nas definições dos dicionários de Sociologia e Ciências Sociais,

constando em apenas 4 das 35 obras que dicionarizam o termo.

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4.3.6 Ciência aplicada

Um dos significados que está presente em algumas obras é a

concepção de tecnologia como ciência aplicada: resultado da ciência aplicada,

aplicação dos métodos das ciências naturais e das ciências físicas (BIROU,

1966/1973); conjunto de conhecimentos técnicos aplicados na ciência e na arte

(FERREIRA, 1977); aplicação sistemática de conhecimentos científicos,

racionalização da relação homem natureza, racionalidade, Marx usa aplicação da

ciência aos processos produtivos (GALLINO, 1978/2005); conhecimento científico

transformado em técnica (Maíra Baumgarten Corrêa in: CATTANI, 1997/1999);

conhecimento ou ciência a partir do qual se pode desenvolver aplicações práticas

específicas (Renate Mayntz in: Enciclopedia delle scienze social. V. VIII, 1998);

aplicação prática de conhecimento abstrato (ciência) (GRECO, 2003/2008).

O significado de tecnologia como ciência aplicada é similar ao que

consta na definição de tecnologia de alguns dicionários de uso geral como em La

grand encyclopédie: inventaire raisonné des sciences, des lettres et des arts par

une societé de savants et de gens de lettres (sd) e no Moderno dicionário da

língua portuguesa. Esse também é um dos significados presente na definição de

Raymond Williams em Palavras-chave (2007). Eugene Schwartz (1975) escreve

que a tecnologia foi criada pela ciência, enfatizando a acepção da tecnologia como

decorrência da ciência moderna, ou seja, a tecnologia é o processo de aplicação

do conhecimento científico com objetivos práticos.

Ao analisar a relação da ciência com o ethos puritano, Merton (1984, p.

102/105) escreve que “a ciência é concebida como uma poderosa ferramenta

tecnológica”. Em seguida, aborda a utilidade social da ciência e da tecnologia,

afirmando que “a utilidade social, um fim prescrito pela religião, tem sido usada

para sancionar a ciência, considerada, neste caso, como uma criada da

tecnologia”.40 Destacam-se duas premissas muito interessantes presentes nessa

40

Tradução livre do autor. No original: “la utilidad social, un fin prescrito por la religión, há sido usado para sancionar la ciência, considerada, en este caso, como una criada de la tecnología”.

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119

passagem. Na primeira, o pensador considera a “ciência como uma poderosa

ferramenta tecnológica”, do que se pode salientar a estreita vinculação entre

ciência e tecnologia. Na segunda premissa, considera que neste caso, a ciência é

uma criada da tecnologia. Esta assertiva é contrária à ideia da tecnologia como

aplicação de conhecimentos científicos, da ciência moderna, concepção bastante

presente a respeito da tecnologia, que, aliás, está presente inclusive na maior

parte desta obra do próprio Merton. Para o autor:

a tecnologia moderna não seria assim uma simples aplicação de uma ciência pura, fundada na observação, na lógica e na Matemática. Seria muito mais o produto de uma orientação no sentido de controlar a natureza, que definiria tanto os propósitos como a estrutura conceptual do pensamento científico (MERTON, 1967, p. 81).

Nessa passagem, o autor concebe a tecnologia como resultado de uma

racionalidade voltada para o controle da natureza. Nesse sentido, estaria

subordinada a uma mentalidade que define os interesses e a estrutura do

pensamento científico, não sendo apenas a aplicação da ciência.

Ruy Gama (1986, p. 30-31), embora apresente uma definição de

tecnologia como estudo e conhecimento científico sistemático, considera que “a

tecnologia implica na aplicação dos métodos das ciências físicas e naturais”. Por

sua vez, Milton Vargas (1994, p. 16) afirma que a tecnologia só pode ter vigência

após a Ciência Moderna, pois segundo ele, embora seja um saber com dimensão

teórica, só pode ser verificado pela experiência científica. Sentido similar se

encontra também em Bastos (1998b, p. 32), quando defende que a “essência da

tecnologia consiste no emprego do saber científico para solução de problemas

apresentados pela aplicação das técnicas”. A acepção de tecnologia como

aplicação de conhecimentos científicos, refere-se à tecnologia moderna,

pressupondo que a tecnologia só existe após o desenvolvimento da ciência

moderna, e que, antes disso, haveria apenas a existência da técnica.

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4.3.7 Cultura

A acepção de tecnologia como cultura também está presente em

algumas definições: a cultura apenas em parte é condicionada pela tecnologia

(Emil Lederer in: SELIGMAN, 1930-34); corpo de conhecimentos e técnicas que

dizem respeito à produção de bens (ZADROZNY, 1959); princípios e descobertas

científicas, métodos de transmissão e comunicação (Tom Burns in: GOULD e

KOLB, 1964); tecnologias modernas são sistemas socioculturais, métodos e

instrumentos para controlar a natureza (Robert S. Merril, in: SILLS, 1968/1977);

corpo de conhecimento e as ferramentas e máquinas disponíveis para a produção

e distribuição de bens e serviços (HOULT, 1969/1977); campo da cultura,

conhecimentos e cultura material (THEODORSON e THEODORSON, 1969/1975);

artefatos que encerram valor e tem valor de uso (Robert M. Young in:

BOTTOMORE, 1983/1988); conhecimentos práticos sobre como usar recursos

materiais, conhecimentos culturais para atuar sobre a natureza para satisfazer

vontades e desejos humanos, fator de distinção dos diferentes tipos de

sociedades (JOHNSON, 1995/1997); conhecimento e competências associadas à

produção ou utilização de tecnologias (Steve Woolgar in: KUPER e KUPER,

1996/2003); conjunto de conhecimentos organizados (Maíra Baumgarten Corrêa

in: CATTANI, 1997/1999); criação feita pelo homem de um sistema que deve

funcionar de forma lógica e consistente para obter um efeito desejado (T. M. K.

Tantoush in: SMELSER e BALTES, 2001); conjunto de conhecimentos intelectuais

e operativos detidos pelas pessoas (Ana Brandão in: MAIA, 2002); conhecimentos

necessários para o funcionamento de máquinas e procedimentos, aplicação da

racionalidade e da razão para o mundo social (Frank Webster in: HARRINGTON,

MARSHALL e MÜLLER, 2006); tecnologia junto com as instituições sociais são os

principais fatores de distinção das sociedades (SUBBERWAL, 2009).

Como se observa, a relação de tecnologia com cultura é um dos

sentidos mais presentes nas definições das obras. Esse sentido está presente no

Novo dicionário da língua portuguesa – Aurélio (FERREIRA, 1986).

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Ao defender a simbiose entre tecnologia e cultura, Simmel (1977)

considera que a tecnologia é um dos elementos constituintes da vida em

sociedade. O autor alemão apontava para uma tendência predominante

atualmente em nossa sociedade: a valorização das coisas e objetos mais do que a

valorização da cultura e da vida humana. A consideração de que as coisas são

altamente cultivadas, inclusive que a máquina enriqueceu seu espírito, não deve

ser tomada no sentido de uma autonomia dos objetos, mas sim como inversão de

valores. Quer dizer, como uma crítica à chamada racionalização da vida moderna

que atribui mais valor às formas que aos conteúdos, ou à cultura objetiva em

detrimento da cultura subjetiva. O autor alemão sustenta que o trabalho de

infinitas gerações está incorporado como espírito objetivado na linguagem, na

moral, na organização política, em doutrinas religiosas, na literatura e na técnica.

Esse patrimônio cultural pode ser utilizado por qualquer indivíduo, sem que se

esgote (p. 564/565). As invenções e inovações ocorrem a partir do conhecimento

acumulado pelo trabalho de gerações. Conhecimento esse que pode ser utilizado

infinitamente para que o ser humano possa continuar promovendo a reprodução

do próprio conhecimento. Ainda de acordo com o autor, o desenvolvimento de

bens materiais e culturais, como móveis e plantas cultivadas, obras de arte e

máquinas, aparatos e livros, dentre outros, mostram a própria evolução do

homem.

Mannheim (1962, p. 253) defende que a tecnologia não se resume à

economia escrevendo que “não há razão pela qual a tecnologia só seja

significativa na esfera econômica”, afirmando que ocorre progresso técnico

também nas relações sociais, pois o progresso na técnica da organização significa

a aplicação de conceitos técnicos às formas de cooperação humana. Para o autor,

Marx deixou de perceber a significação da tecnologia nos campos não

econômicos e que técnicas não econômicas também podem irradiar influências de

efeito amplo.

Para Merton, a ciência e a tecnologia desempenham papéis dominantes

na moderna cultura capitalista. Isso não significa que o autor defende que a

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122

ciência e tecnologia sejam determinantes, ao contrário, o autor destaca o papel da

estrutura social, exemplificando que a necessidade só atua como indutora de

invenções e inovações, se o contexto cultural as valoriza. Esclarece que muitas

necessidades econômicas e militares podem ser satisfeitas por outros meios que

não os tecnológicos. No entanto, desde o século XVII tornou-se costume

satisfazer essas necessidades através de invenções tecnológicas, por isso afirma

que, em sentido limitado, pode-se dizer que a necessidade é a mãe (adotiva) da

invenção (MERTON, 1984, p. 184).

Para ele, a ciência e a tecnologia são fatores do desenvolvimento da

civilização e podem ser incluídas nas categorias de sociedade e cultura, pois,

embora consideradas de maneira separada, estão em dependência mútua.

Em Hebert Marcuse há também a noção de tecnologia como uma forma

de organizar, perpetuar ou modificar as relações sociais, uma manifestação do

pensamento e dos padrões de comportamento dominantes. O autor defende que

“no ambiente tecnológico, a cultura, a política e a economia se fundem num

sistema onipresente que engloba ou rejeita todas as alternativas” (MARCUSE,

1973, p.19).

Ferkiss (1972) destaca que as civilizações baseiam-se na interação da

tecnologia com os valores humanos, enquanto Bonsiepe (1983) ressalta a

interação da cultura com a tecnologia, afirmando que por meio da tecnologia, junto

com o desenho industrial as sociedades articulam sua cultura material, desde um

simples prego até uma megaturbina.

A visão de que a tecnologia é um conjunto de conhecimentos práticos

ou científicos está presente também em Medeiros e Medeiros (1993), e em Milton

Vargas (1994, p. 17), para quem a tecnologia “é cultura que se tem ou não”, a qual

é adquirida pela inserção do sistema sociocultural do país no chamado ‘mundo

moderno’. Para Bastos (1998a), a tecnologia é um instituto social que pode ser

entendida também como a capacidade de perceber, compreender, criar, adaptar e

organizar.

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123

4.3.8 Objetos e artefatos

Também se identifica a acepção de tecnologia como objetos e

artefatos: maquinaria, a produção mecanizada pode ser considerada a história da

tecnologia na esfera produtiva (Robert M. Young in: BOTTOMORE, 1983/1988);

objetos físicos ou artefatos (Steve Woolgar in: KUPER e KUPER, 1996/2003);

para leigo a tecnologia é entendida como equipamentos, aparelhos, peças de

hardware ou de software (T. M. K. Tantoush in: SMELSER e BALTES, 2001);

máquinas e ferramentas (Frank Webster in: HARRINGTON, MARSHALL e

MÜLLER, 2006).

Um dos sentidos que é atribuído à tecnologia na obra de Marx é o de

maquinaria. A noção de maquinaria em Marx compreende trabalho vivo e trabalho

morto, tendo uma dimensão ampla no contexto da produção. Mas a máquina

poderia ser considerada como uma acepção de tecnologia como artefatos ou

objetos. Nesse trabalho, prefere-se assumir o sentido de tecnologia explicitado

pelo autor em sua definição constante na nota de rodapé 89 do Capital,

mencionada no item 3.2.3, por ser a definição assumida pelo autor, que tem um

significado mais amplo que maquinaria.

Para Ferkiss (1972), a tecnologia é mais do que fabricação de

ferramentas e utensílios, incluindo sistemas de suprimento de água, estruturas

militares, sistemas tributários. Gui Bonsiepe (1983) também considera a tecnologia

como artefato.

4.3.9 Fonte de poder

A acepção de tecnologia como fator / fonte de poder podendo servir

tanto para a dominação quanto para a emancipação está presente na definição de

Emil Lederer (in: SELIGMAN, 1930-34) e como fonte de poder nas sociedades

modernas na definição de Emilio Muñoz (in: GINER, ESPINOSA e TORRES,

1998).

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De acordo com Simmel (1977, p. 247-248), o fato de o dinheiro ter uma

liberdade ilimitada de aplicação faz com que o rico exerça influência pelo que faz e

também pelo que poderia fazer com o dinheiro, isto é, a riqueza / a fortuna

permitem infinitas possibilidades de aplicações. Esse raciocínio pode ser em

grande parte aplicado a quem detêm a tecnologia, pois, quem a detêm exerce

influência não só ao utilizar sua tecnologia como pela possibilidade de vir a usá-la.

Talvez o exemplo mais significativo disso sejam os países que têm arsenal nuclear

que exercem poder e influência muito mais pela possibilidade de vir a utilizá-la

(pela coerção, como diria Durkheim), do que pelo seu uso efetivo. Dito de outro

modo, o potencial do uso do dinheiro e também da tecnologia, como meios,

podem ser empregados como poder e importância reais por parte de seus

proprietários.

Ao defender que as técnicas e a tecnologia se manifestam também em

outros setores da vida social, Mannheim (1962, p. 258) afirma que, por vezes, “as

nações se rearmam em vista da expansão econômica e, por outro lado, toda a sua

vida econômica se subordina ao rearmamento militar. Assim, em certas

circunstâncias, haverá guerra, embora do ponto de vista econômico seja evidente

que nada há a lucrar com ela”.

Em Sociologia: teoria e estrutura, Merton (1970, p. 663) observa que a

crença de que o progresso técnico é um bem em si mesmo é tão difundida e

aceita que normalmente não se costuma investigar e questionar as condições da

sociedade em que ocorre. Com isso, muitas vezes, diante de uma nova tecnologia

que possibilita o aumento da produção de bens, não se considera a “estrutura da

sociedade que determina quais grupos e quais indivíduos ganham com o aumento

e produção e quais os que sofrem as deslocações e os custos humanos que a

nova tecnologia traz consigo” (p. 663). Percebe-se uma preocupação do autor com

a utilização que é feita da tecnologia, pois, determinados grupos e indivíduos têm

privilégios em relação a outros na sociedade. De acordo com Merton, a utilização

da tecnologia como instrumento de poder, por determinados grupos, é

determinada pela estrutura social.

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Para o sociólogo norte-americano, a ciência e a tecnologia são

produzidas socialmente em contextos sociais específicos, no caso em questão,

com a finalidade de servir aos interesses da classe que detêm o poder na

sociedade capitalista. Desse modo, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia

não ocorre de forma autônoma, pois, de acordo com o autor, os acontecimentos

históricos têm demonstrado o contrário, isto é, que a produção da ciência e da

tecnologia ocorre de acordo com a estrutura social (MERTON, 1967).

Em Hebert Marcuse (1999; 1973), também há a noção de tecnologia

como um instrumento de controle e dominação, pois serve para instituir formas

mais eficazes de controle e coesão social. Ao realçar a dimensão do poder da

tecnologia, o autor afirma que não existe mais sustentação para a noção de

neutralidade tecnológica, pois a tecnologia não pode ser isolada do contexto. Ele é

ainda mais explícito ao afirmar que “as técnicas de industrialização são técnicas

políticas” (1973, p. 37).

A relação da tecnologia com a dominação é um dos temas abordados

com frequência pelo autor. De acordo com ele, a dominação não ocorre apenas

pelo uso da tecnologia, mas pela própria tecnologia que garante legitimidade a

esse processo, enquanto assegura, ao mesmo tempo, a não liberdade do homem.

Em síntese, o processo de racionalidade tecnológica da sociedade industrial

desenvolvida é um processo político, no qual “a tecnologia se tornou o grande

veículo de espoliação – espoliação em sua forma mais madura e eficaz”

(MARCUSE, 1973, p. 162).

Percebe-se que o autor destaca a dimensão de poder da tecnologia, ao

enfatizar como ela é utilizada para exercer controle e dominação sobre a natureza,

mas também, sobretudo, sobre os próprios homens. Essa argumentação deve-se,

em grande parte, à sua experiência de vida, isto é, de perceber como a técnica e a

tecnologia estavam sendo utilizadas pelo governo nacional-socialista na Alemanha

e também pelo governo estadunidense, para o qual trabalhou.

A acepção de que a tecnologia é uma fonte de poder está presente em

Ferkiss (1972, p. 105), para quem “a tecnologia militar determinou quem poderia

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126

forçar a quem e a tecnologia das comunicações determinou quem poderia

convencer a quem”, bem como em Bastos (1998a), ao afirmar que a tecnologia

não pode ser considerada politicamente neutra, pois não pode ser exercida sem

estrutura de poder. Para Figueiredo (1989, p. 11), a tecnologia pode ser usada

como um instrumento de pressão pelos dirigentes da economia, tanto sobre o

emprego, quanto sobre as condições de trabalho. Baseando-se na noção de

tecnologia como meio para satisfação de desejos e necessidades, a autora afirma

que “o campo de disputa pela satisfação de necessidades variadas é um campo

de conflitos, de exercício de poder. É esse o campo da produção, da difusão e do

consumo de tecnologias” (FIGUEIREDO, 1989, p. 11). Para a autora, a dimensão

política é uma das chaves analíticas que a sociologia tem utilizado para analisar o

desenvolvimento tecnológico.

Para Vieira Pinto (2005), o que um grupo faz é utilizar-se da técnica e

da tecnologia para montar uma estrutura de dominação utilizada para explorar o

trabalho da maioria, ou seja, a técnica e a tecnologia são utilizadas para ocultar as

estruturas de exploração. A tecnologia, tendo existido em todas as sociedades,

frequentemente serviu aos interesses dos grupos dirigentes, inclusive, para

capturar, prender e escravizar membros de outros grupos.

4.3.10 Sinônimo de técnica

Encontra-se ainda a acepção de tecnologia como sinônimo de técnica

(José A. Garmendia in: DEL CAMPO, MARSAL e GARMENDIA, 1975-6).

A concepção de técnica como tecnologia está presente em Eugene

Schwartz, que considera a segunda como a versão moderna da primeira, e,

portanto, como sucessora da técnica. De forma semelhante, Medeiros e Medeiros

(1993) defendem que a tecnologia é a versão mais elaborada da técnica.

Significado semelhante encontra-se em Schwartz (1975), que considera

a tecnologia como a versão atual da técnica, isto é, a última diz respeito ao

período da pré-civilização, enquanto a primeira corresponde, portanto, ao período

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da civilização. Para ele, a tecnologia é a versão moderna da técnica, sendo as

duas utilizadas com sentido semelhante variando apenas sua aplicação no tempo

histórico de acordo com o desenvolvimento social, distinguido pela pré-civilização

e civilização.

A primeira acepção de tecnologia – arte, ciência e indústria – consta em

apenas 5 obras, publicadas entre 1930 e 2003. Embora com pequena frequência,

abrange um período superior a sete décadas. Situação similar ocorre com o

segundo significado – fator de produção, sentido econômico – que está presente

em 7 obras publicadas entre 1930 e 2009. Por outro lado o terceiro – trabalho e

mediação das atividades humanas – e o oitavo – objetos e artefatos – significados

tem uma particularidade interessante na medida em que constam em 4 obras

publicadas entre 1983 e 2006, o que caracteriza-os como significados de uso

recente pelos autores de dicionários e enciclopédias de sociologia e ciências

sociais.

O quarto significado – objeto de estudo da Antropologia Cultural –

consta em 5 obras publicadas entre 1939 e 1998, o que poderia indicar que

também permanece em uso de forma regular. Porém, das 5 obras, 3 têm o termo

escrito por Emílio Willems (BALDUS e WILLEMS 1939, WILLEMS 1950 e GLOBO

1961, que reproduz a definição da obra do autor de 1950). A quarta obra, de

Fairchild foi publicada em 1944, restando apenas a obra de Pansani (1998), que

cita esse sentido como uma das três definições que apresenta, possivelmente

retirada de referência que utiliza (Timasheff, N. S. Teoria sociológica. Rio de

Janeiro: Zahar, 1960). Por isso, pode-se concluir que essa acepção de tecnologia

também deixou de constar nas obras de Sociologia e Ciências Sociais que

dicionarizam o termo.

O quinto significado – estudo sistemático da técnica – está presente em

4 obras publicadas entre 1955 e 1998, enquanto a sexta acepção – ciência

aplicada – consta em 6 obras publicadas entre 1966 e 2003. Por sua vez, o sétimo

significado – cultura – é o mais frequente, constando em 14 obras publicadas

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entre 1930 e 2009, ou seja, a concepção que considera as relações entre

tecnologia e cultura é a de utilização mais constante. Por fim, a nona acepção –

fonte de poder – consta em duas obras (1930-34 e 1998) e o décimo significado

consta apenas na obra publicada em 1975(6) pelo Instituto de Estudos Políticos de

Madri, em convênio com a UNESCO.

Em relação aos significados presentes nas 8 obras brasileiras que

dicionarizam o termo tecnologia, os sentidos 2, 3, 8, 9 e 10 não constam em

nenhuma destas definições. Ou seja, a metade dos significados presentes nas

definições de tecnologia não consta nas definições elaboradas por autores

brasileiros. A primeira acepção – arte, ciência e indústria – consta apenas na obra

de Pansani (1998), enquanto o quarto sentido – objeto de estudo da Antropologia

Cultural – é o mais frequente estando em 4 das 8 obras. Em contrapartida esse

sentido consta em apenas uma obra publicada por autores estrangeiros. Contudo,

como já registrado, a frequência dessa acepção nas definições elaboradas por

autores brasileiros deve ser relativizada, pois em 3 obras, Baldus e Willems

(1939), Willems (1950) e Globo (1961) o autor é Emílio Willems. O quinto sentido –

estudo sistemático da técnica – consta em Pimenta (1955). A sexta acepção –

ciência aplicada – está presente em Ferreira (1977) e Cattani (1997). E o sétimo

sentido – cultura – consta na obra organizada por Cattani (1997). Algumas dessas

frequências são similares às que ocorrem quando se observa o total das obras,

principalmente dos significados que são apresentados por um número pequeno de

obras. Chama atenção o sétimo sentido, no qual a tecnologia é associada à

cultura, com maior frequência no total das obras (14), consta em apenas uma das

obras publicadas por autores brasileiros. Traduzindo a diferença em percentuais,

enquanto essa acepção está presente em 40% do total das obras, consta em

apenas 12,5% das obras brasileiras que dicionarizam o termo tecnologia.

Na obra organizada por Gordon Marshall (1994) não consta quem

elaborou o termo tecnologia, enquanto na obra organizada por Smelser e Baltes

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(2001) na autoria do termo constam as iniciais T. M. K. Tantoush, não permitindo a

identificação do gênero. Foi possível identificar a autoria feminina em 4 das 35

obras que dicionarizam tecnologia.

Na definição do termo tecnologia, elaborada por Ana Brandão, na obra

coordenada por Maia (2002), não há nada que indique variação ou diferença pelo

fato de ter sido elaborado por uma mulher. O mesmo ocorre com o texto de

Ranjana Subberwall (2009) e de Renate Mayntz, denominado Técnica e

Tecnologia na Enciclopedia delle scienza sociali (1998). O aspecto a ser

destacado é que Ana Brandão, ao considerar as discussões sobre as

possibilidades da tecnologia para o progresso social (libertação do Homem de

tarefas rotineiras e monótonas...) utiliza a palavra Homem para referir-se aos

seres humanos, homens e mulheres, não fazendo distinção de gênero. A mesma

prática encontra-se no artigo de Renate Mayntz, que utiliza as expressões:

artefatos criados pelo homem; controle consciente por parte do homem; decisões

pelo homem; distingue o homem do animal.41 A utilização dessas expressões

remete à possibilidade de discussão, apontada na definição de Manuela Teles do

termo ciência.

Por sua vez, no termo elaborado por Maíra Baumgarten Corrêa para o

dicionário Trabalho e tecnologia, organizado por Cattani (1997, p. 250), a autora

refere-se à tecnologia como um produto humano e utiliza expressões como ser

humano, espécie humana e necessidades e interesses humanos. Ou seja, não

utiliza a palavra o homem para designar os seres humanos como ocorre em outras

obras, inclusive algumas com o termo elaborado por mulheres, como nos

exemplos anteriores. A palavra homem aparece apenas quando a autora está

referenciando Habermas (o homem e as coisas). Em outra passagem, a autora

defende que o conhecimento e a técnica estão inseridos numa “estrutura de

valores orientada conforme a classe, a cultura e o sexo, valores esses oriundos da

41

Tradução livre do autor. No original: Artefatti creati dall’uomo; Al controlo cosciente da parte dell’uomo; Decisioni da parte dell’uomo; Distinguono l’uomo dall’animale.

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própria experiência humana que os criou” (p. 253), deixando claro que o sexo é

uma variável que pode interferir nos valores relacionados à ciência e a técnica.

Nos termos tecnologia elaborados, por homens, é utilizada a expressão

o homem em Theodorson e Theodorson (1969) “serve ao homem” e em Gallino

(1978/2005), “criadas pelo homem”. Porém, em outras obras, a definição do termo

é elaborada de forma genérica sem a utilização de expressões que possam indicar

alguma conotação de gênero. Diante desses dados, chega-se à mesma conclusão

a que se chegou com relação ao termo ciência, isto é, o fato do termo tecnologia

ter sido elaborado por autor homem ou por autora mulher não implica em

diferenças de gênero na definição do termo.

Ao final deste capítulo, constata-se que os termos ciência, técnica e

tecnologia apresentam uma pluralidade de sentidos em suas definições, embora

com semelhanças significativas em algumas obras. As similaridades foram

utilizadas para agrupar os sentidos. Os significados resultantes desse exercício

são resumidos a seguir.

Sentidos predominantes no termo ciência:

1. sistema de verdades gerais, de conhecimentos sistemáticos de leis, de

princípios gerais;

2. busca pelo conhecimento, processos de investigação;

3. construção ideal e abstrata para representar a realidade;

4. atividade humana condicionada pela estrutura social;

5. conhecimento mais valorizado.

Sentidos predominantes no termo técnica:

1. ciência ou arte;

2. conjunto de meios e habilidades que os seres humanos utilizam para

transformar a natureza e satisfazer necessidades e objetivos;

3. conhecimento, maneira de pensar, mentalidade técnica, racionalização;

4. atividade humana, elemento da cultura;

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Sentidos predominantes no termo tecnologia:

1. arte, ciência e indústria;

2. fator de produção, sentido econômico;

3. trabalho e mediação das atividades humanas;

4. objeto de estudo da Antropologia Cultural;

5. estudo sistemático da técnica;

6. ciência aplicada;

7. cultura;

8. objetos e artefatos;

9. fonte de poder;

10. sinônimo de técnica.

Identificaram-se cinco significados principais no termo ciência, quatro

no termo técnica e dez sentidos no termo tecnologia. Acredita-se que a ocorrência

de mais acepções presentes nas definições do termo tecnologia decorre, em

primeiro lugar, do maior número de obras que dicionarizam o termo, o que leva à

possibilidade de significados diferentes com maior probabilidade. Contudo, o

número de obras que dicionarizam o termo tecnologia não chega ao dobro das

que dicionarizam os outros dois termos, embora apresente o dobro de

significados. Os três termos são polissêmicos, portando, significados diferentes. A

polissemia é maior para o termo tecnologia.

Ao dicionarizar termos e consequentemente atribuir definições, os

autores estão produzindo e reproduzindo sentidos utilizados no interior do campo

sociológico, pretendendo tornar esses sentidos fixados e representativos

(BOURDIEU, 2004). As definições que são atribuídas aos termos dicionarizados e

que podem vir a ser admitidas pelos consulentes dessas obras, caracterizam-se

como fatos criados pelos autores (LATOUR, 1994).

Defende-se que a maior polissemia do termo tecnologia se deve

principalmente: i) à utilização da palavra de forma bastante ampla; ii) à prática de

autores nas Ciências Sociais, e na Sociologia em particular, de não atribuir uma

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definição, isto é, explicitar o sentido com o qual o termo tecnologia está sendo

utilizado, com a mesma frequência que a tradição sociológica pratica com outros

termos que utiliza.

Ao não atribuir um sentido ao termo que está sendo utilizado, esse

carrega significados presentes na linguagem corrente e, portanto, pode permitir

interpretações diferentes daquela pensada pelo autor, não coincidindo o círculo de

sentido do leitor com o do autor (MILLS, 1972). Além disso, pode reforçar os

sentidos vigentes na linguagem corrente, inclusive as noções de naturalização e

neutralidade, bem como uma visão autônoma e independente da tecnologia. Nas

definições de alguns termos, por exemplo, autores consideram a técnica e a

tecnologia neutras, embora boa parte da produção da área ressalte que a técnica

e a tecnologia não são neutras, mas produzidas socialmente em contextos sociais

estruturados. Essa prática de usar termos, no caso ciência, técnica e

especialmente tecnologia, sem atribuir um sentido, uma definição, não condiz com

o exercício e a tradição das Ciências Sociais e da Sociologia, pois, se baseiam em

conceitos e têm necessidade de categorizar, explicar e classificar (ORTIZ, 2002;

BOURDIEU, 2004 e 2010).

Ao não atribuir uma definição ou sentido ao usar o termo, o autor,

mesmo que implicitamente, ou inconscientemente, reforça a noção de que atribuir

sentido aos termos técnica e tecnologia é considerada tarefa desnecessária,

infrutífera e estéril, por isso muitos autores evitam fazer definições

(BENAKOUCHE, 1999; GAMA, 1979).

Especialmente com relação ao termo tecnologia, tanto as definições do

termo nos dicionários, quanto posições de outros autores que foram utilizadas

para exemplificar os sentidos atribuídos ao termo, reforçam o argumento de

Santos (2003) de que a tecnologia é um elemento importante na sociedade

contemporânea, mas pouco problematizada.

Paralelo ao exercício de análise dos significados dos termos,

identificaram-se os temas mais recorrentes nas definições de técnica e tecnologia,

os quais serão objeto de análise no próximo capítulo.

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5 TEMAS FREQUENTES NAS DEFINIÇÕES DE TÉCNICA E TECNOLOGIA

Neste capítulo, pretende-se identificar os temas que foram abordados

ou mencionados, de forma mais frequente, nas definições dos termos técnica e

tecnologia. Adverte-se que a identificação de temas é um recurso utilizado, neste

trabalho, com o objetivo de compreender melhor a problematização presente nos

dicionários de Sociologia e Ciências Sociais sobre a temática da técnica e da

tecnologia. A identificação de temas e a distinção de significados não visa reduzir

ou simplificar as reflexões complexas que estão presentes nas definições dos

termos. Ao contrário, visa mostrar sua abrangência e complexidade.

Os temas presentes nas definições dos termos técnica e tecnologia

foram tratados conjuntamente, procurando estabelecer comparações, identificando

semelhanças e diferenças. Decidiu-se analisar os temas, mais frequentes, nas

definições de técnica e tecnologia por considerar que esse procedimento tornaria

o trabalho mais adequado, haja vista que os dois termos englobam temas

semelhantes.

Para identificar os temas mais recorrentes, adotou-se o seguinte

procedimento. Observou-se nas definições dos termos das obras que os

dicionarizam, quais estavam presentes nas definições ou comentários do(s)

autor(es). Após essa primeira etapa, agrupou-se os itens que tratavam da mesma

temática. Para isso, atribuiu-se, arbitrariamente, um tema, no qual foram reunidos

os assuntos que poderiam ser agrupados.

Como resultado, chegou-se aos seguintes temas: produção, cultura,

mentalidade técnica, trabalho, estudo, economia, poder, impactos, neutralidade,

visão otimista e pessimista, determinismo tecnológico, riscos, bem-estar e ciência.

Ao comparar o tema produção, em técnica e tecnologia, observou-se

que apenas as obras 9, 27 e 33 apresentam o tema na definição dos dois termos,

enquanto apenas a obra 33 repete o tema cultura na definição do termo técnica e

do termo tecnologia. Do tema 3 ao 14, isto é, os outros doze temas não se

repetem nas obras. Em parte, isso ocorre, porque há obras que dicionarizam

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134

apenas um dos dois termos, mas, de qualquer modo, em geral, uma obra não

menciona o mesmo tema no corpo explicativo das duas entradas.

Ao analisar detalhadamente os quatorze temas gerais e seus respetivos

assuntos, concluiu-se que seria possível fazer uma nova organização, agrupando

alguns deles e, consequentemente, reduzindo o número de temas gerais. Nesse

exercício, os assuntos que constavam em economia foram diluídos em produção e

trabalho; os que constavam em estudo e ciência foram agrupados à cultura;

impactos e riscos foram agrupados à visão otimista ou pessimista da técnica e da

tecnologia; neutralidade foi agrupada ao determinismo tecnológico e bem-estar foi

eliminado, pois já estava contemplado na visão otimista. Com esse procedimento,

ficaram os seguintes temas: cultura; produção; visão otimista versus visão

pessimista; determinismo tecnológico; trabalho; poder e mentalidade técnica.

Além da identificação, pretende-se fazer uma breve análise dos temas

recorrentes nas definições dos termos técnica e tecnologia.

5.1 Cultura

Com a inclusão dos temas estudos e ciência em cultura, este passou a

ser mais frequente, está presente em 30 obras. Nesse tema estão reunidas várias

acepções presentes nas obras que remetem à relação entre técnica e cultura:

atividade humana; dimensão do homem moderno; cunha os modos de pensar e

agir; elemento fundamental de qualquer atividade cultural; parte da cultura

(subcultura). Engloba também a relação entre tecnologia e cultura: conjunto de

conhecimentos sobre ação, adaptação, confecção e uso de ferramentas e

instrumentos; mediação das atividades humanas; fator de compreensão e

distinção das sociedades. Predomina uma identificação da técnica como atividade

cultural do ser humano, enquanto no termo tecnologia destaca-se a acepção de

conhecimentos. Possivelmente essa diferença se deve ao fato de um dos

significados de tecnologia ser o estudo das técnicas, como pode ser verificado no

capítulo anterior, por isso a ênfase em conjunto de conhecimentos. A seguir,

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apresenta-se como determinados autores estabeleceram a relação entre técnica e

tecnologia com cultura.

Para Joaquim Pimenta (1955, p. 367), a técnica cria e desenvolve

relações econômicas e sociais, ao mesmo tempo em que está subordinada às

condições de cultura da sociedade. Defende também que a tecnologia é o estudo

dos processos e instrumentos de ação. O autor atribui uma importância

significativa à técnica, ao considerá-la capaz de criar e desenvolver relações

econômicas e sociais. Contudo, isso não representa uma defesa da autonomia da

técnica, pois deixa explícito que a técnica está subordinada às condições culturais

da sociedade.

A afirmação de Wilhelm e Bülow (1955) de que a técnica exerce

influência sobre as instituições humanas, evidencia a relação da técnica com as

instituições e, portanto, sua relação com a cultura. René König (1963/1971), por

sua vez, também expõe com clareza sua acepção sobre o vínculo entre cultura e

técnica, ao destacar a existência de ideias culturais comuns no desenvolvimento

da técnica moderna. Menciona diferenças culturais, especialmente nas premissas

que facilitam ou dificultam as invenções e inovações técnicas entre sociedades,

isto é, por razões culturais (tradições, religião...) sociedades podem ser mais ou

menos receptivas às invenções e inovações técnicas.

Para Robert S. Merril (SILLS, 1968/1977), técnicas são as tradições

culturais desenvolvidas em comunidades humanas para abordar o ambiente físico

e biológico, incluído o organismo biológico humano. Além de considerar as

técnicas como tradições culturais, o autor defende a reciprocidade da relação

entre cultura e técnica, ao afirmar que o estudo das condições e consequências da

mudança técnica se funde com o estudo geral da mudança sociocultural. Para ele,

as artes práticas (é como o autor considera tecnologia), se alinham com muitos

outros conjuntos de tradições e usos que são preeminentemente culturais. É ainda

mais enfático, ao sustentar que as tecnologias modernas que para ele estão

associadas às tradições culturais, também são sistemas socioculturais.

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136

Helmut Schoeck (1969/1973) considera a técnica como uma dimensão

do homem moderno, podendo ser considerada como um modo de pensar. Essa

afirmação explicita a relação da técnica com dois temas. Um dos temas está

presente na primeira parte da afirmação: a dimensão do homem moderno. Ele

considera a técnica como uma das dimensões, isto é, como parte integrante do

homem moderno, portanto, como parte da cultura. Afirmação bastante similar

encontra-se em Baldo Blinkert (1976/1980), que considera a técnica como um

elemento fundamental de qualquer atividade humana e em Acebo Ibañez e Brie

(2001/2006), que consideram a técnica um condicionante muito importante da vida

social. O segundo tema está presente na última parte da afirmação de Helmut

Schoeck (1969/1973), um modo de pensar, remete ao tema da mentalidade

técnica, ou seja, a técnica faz parte da forma de pensar do homem moderno que é

caracterizado em termos gerais pela ideia da racionalização.

Theodorson e Theodorson (1969/1975), ao definirem tecnologia como

conhecimento teórico e cultura material que serve ao homem para manipular o

ambiente físico e conseguir objetivos desejados, deixam explícita a relação entre

tecnologia e cultura. Como a manipulação do ambiente, para atender objetivos,

está presente na sociedade em todas as etapas da vida humana, permite

argumentar que para os autores, a tecnologia faz parte da vida do homem em

todas as sociedades. Porém, sem assumir explicitamente essa possibilidade, nem

defender que a tecnologia só existe na sociedade moderna, os autores,

consideram a tecnologia moderna como conhecimento científico aplicado para

produção de bens e serviços.

José A. Garmendia, (DEL CAMPO, MARSAL, GARMENDIA, 1975-6),

após citar a definição de T. Burns (GOULD e KOLB, 1964), defende uma estreita

relação entre tecnologia e a estrutura sociocultural. Em seguida, recorre a Marx

para defender que não é a tecnologia a dimensão explicativa da mudança, mas o

modo de produção. Afirma que a tecnologia está muito implicada no

funcionamento da sociedade.

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Para Giancarlo Rovati (DEMARCHI e ELLENA, 1976), a partir da

revolução industrial, a ciência e a técnica vêm ocupando uma posição decisiva

não só no âmbito produtivo, mas em toda a sociedade. Segundo o autor, a ciência

e a técnica se revestem de um caráter cultural sintomático do modelo de valores

dominantes em uma sociedade. Ao destacar o papel da ciência e da técnica em

todos os aspectos da sociedade moderna, enfatiza a importância e a influência

dos valores culturais sobre a ciência e a técnica. Além do vínculo com os aspectos

culturais, afirma que o desenvolvimento tecnológico também está relacionado aos

critérios de investimento que são determinados por grupos sociais específicos.

A influência do contexto no desenvolvimento tecnológico está

contemplada na definição de Emilio Muñoz (GINER, ESPINOSA e TORRES,

1998), ao defender que o progresso tecnológico está estreitamente relacionado e

é determinado pelo contexto histórico cultural, político, social e econômico,

negando qualquer possibilidade de autonomia da tecnologia.

Em Gallino (1978/2005), a definição de técnica como um “conjunto de

normas e modos de proceder de uma coletividade, que pode ser transmitido pela

aprendizagem, para executar atividades” demonstra o forte vínculo entre técnica e

cultura, posto que as técnicas são consideradas uma parte notável da cultura. Diz

ainda que há técnicas que são transmitidas há muitas gerações, assumindo uma

autoridade quase sagrada que pode limitar possibilidades de inovação. Um dos

elementos presentes na definição do autor refere-se à transmissão e

aprendizagem das técnicas. O sociólogo italiano defende que para a Sociologia é

mais importante a inovação (adoção e difusão) de uma técnica que sua invenção,

pois uma invenção pode ou não ser adotada dependendo de uma série de fatores,

entre eles a cultura. O autor defende que o atributo científico é irrelevante para

muitos tipos de técnicas, como as de ornamentação, decoração e narrativas, por

exemplo.

Robert M. Young (BOTTOMORE, 1983/1988, p. 371) afirma que “as

atividades humanas foram sempre mediadas pelas tecnologias, e isso acontece

cada vez mais na vida doméstica e na cultura”. Na definição do autor fica explícita

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a noção de que a tecnologia é um meio e que como tal, esteve presente em todas

as sociedades, haja vista que as atividades humanas foram sempre mediadas

pela tecnologia. Ao afirmar que a mediação pela tecnologia está, cada vez mais,

presente na cultura e na vida doméstica, o autor evidencia a relação entre

tecnologia e cultura.

Allan Johnson (1995/1997), em sua definição de tecnologia, a considera

como “o repositório acumulado de conhecimentos culturais sobre como adaptar,

usar e atuar sobre ambientes físicos e seus recursos materiais, com vistas a

satisfazer desejos e vontades humanas”. Salienta a noção de conhecimentos para

transformar a natureza com vistas à satisfação de desejos e vontades humanas, o

que evidencia a relação com a cultura e também com o tema da produção. A

ênfase na dimensão cultural da tecnologia fica ainda mais evidente na sequência

de seu texto, ao considerar que “os conhecimentos sobre como plantar e colher

culturas, fabricar aço, abrir estradas ou construir computadores, são, todos eles,

parte da tecnologia cultural”. Ainda, segundo o autor, a tecnologia é um dos

principais elementos para caracterizar ou distinguir os diferentes tipos de

sociedades.

A identificação da tecnologia, como um dos elementos importantes para

distinguir as sociedades, está presente também em Ranjana Subberwal (2009),

que afirma que a tecnologia junto com as instituições sociais como a família, a

religião e a política são os principais fatores para distinguir os diferentes tipos de

sociedade, bem como para entender a organização social e as mudanças sociais.

Maíra Baumgarten Corrêa (CATTANI, 1997/1999) considera a

tecnologia como um conjunto de conhecimentos. A autora defende que a

capacidade de inventar técnicas, aperfeiçoá-las e transmiti-las é característica do

ser humano. De forma similar, Orlando Greco (2003) com base em P. L. Verdú

considera a técnica um conjunto de conhecimentos práticos e instrumentais e de

habilidades que permitem ao homem melhorar seu nível de vida e a tecnologia

como um conjunto de palavras, termos e expressões de uma arte ou ciência.

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Embora possam ser identificadas diferenças nas definições dos

autores, há também várias semelhanças. Em síntese, ao considerarem que a

técnica e a tecnologia são elementos de mediação das atividades humanas42;

dimensão do homem; elemento fundamental de qualquer atividade humana;

condicionante muito importante da vida social; evidenciam a relação de

reciprocidade entre técnica e tecnologia com a cultura. Outras afirmações são

ainda mais explícitas ao considerar o caráter cultural da técnica e da tecnologia:

são subordinadas às condições culturais da sociedade; fazem parte do conjunto

de tradições culturais; são transmitidas pela aprendizagem. Enfim, fazem parte de

sistemas socioculturais, estando vinculadas aos contextos históricos, culturais,

políticos e econômicos nos quais são produzidas e utilizadas. É por isso que

técnica e tecnologia podem ser consideradas elementos importantes, embora não

exclusivos, para entender diferentes formas de organizar as sociedades, bem

como para compreender as mudanças sociais e as formas de organização das

sociedades.

O vínculo entre produção, tecnologia e cultura está presente em Broom

e Selznick (1971[1968], p.605), pois afirmam que todas as áreas da vida moderna

tem sido, de alguma maneira, afetadas pela tecnologia. Por sua vez, Eli Chinoy

(1975, p. 418) defende que os materiais com os quais uma sociedade satisfaz

suas necessidades incluem a tecnologia que transforma os recursos. O autor

esclarece que a tecnologia, além de instrumentos e máquinas, inclui

conhecimentos e habilidades. O ser humano adquire os conhecimentos e

habilidades utilizados para transformar os recursos e satisfazer as necessidades e

desejos da cultura do grupo ao qual pertence.

Argumento similar encontra-se em Parsons (1969), ao considerar que

os processos tecnológicos utilizados para satisfazer desejos e necessidades

humanas dependem do sistema cultural. Garcia (2003) sustenta que Simmel

integra a ciência e a tecnologia na cultura objetiva, enquanto Ferkiss (1972) afirma

42 A consideração de que técnica e tecnologia são mediadoras das ações humanas foi desenvolvida de forma exaustiva por Pinto (2005).

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que a tecnologia é parte da cultura. Para Simões (1996), a tecnologia é um

componente fundamental da ação social. A consideração da relação entre cultura

e meios tecnológicos indica que as duas dimensões se influenciam mutuamente

na dinâmica das relações sociais, e não uma via de mão única determinada pela

cultura. Sabe-se que uma mesma cultura pode levar a trajetórias tecnológicas

diferentes dependendo das relações existentes, por exemplo, entre Estado e

sociedade (CASTELLS, 1999).

A consideração das relações da técnica e da tecnologia com a cultura,

não visa afirmar uma supremacia da cultura sobre outros elementos da dinâmica

da vida social. Constitui-se um recurso didático-metodológico para procurar

apreender a complexidade das relações e questões associadas à temática da

técnica e da tecnologia. Esse procedimento, ao contrário de passar a ideia de uma

abordagem culturalista, procurou, através das próprias afirmativas dos autores, ao

mostrar a relação da técnica e da tecnologia com a cultura, evidenciar

simultaneamente o vínculo com outras dimensões ou temas, como denominou-se

nessa parte do trabalho, por exemplo, com a produção, com a autonomia ou não

da tecnologia, com a mentalidade técnica entre outros.

5.2 Produção

O tema produção, presente em 23 obras foi o segundo mais frequente.

Enquanto no termo técnica está em destaque a transformação da natureza, no

termo tecnologia sobressai a industrialização, a produção de bens e de serviços.

Em ambos coloca-se como objetivo a satisfação de necessidades e desejos

humanos e sociais, inclusive indicando a produção das condições da vida social.

Por isso, o termo produção, nesse item do trabalho, além de produção de bens e

serviços com vistas à satisfação de necessidades e desejos humanos, designa a

produção e reprodução da vida social.

Baldus e Willems (1939), baseando-se em Schmoller, apresentam a

definição de técnica como um conjunto de habilidades que permitem aos homens

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o aproveitamento da natureza. Sentido similar encontra-se em Joaquim Pimenta

(1955, p. 366), ao considerar que “a técnica é (...) um ato de adaptação, de

redução, de transformação do natural em artificial”; o termo artificial é empregado

pelo autor no sentido da “ação que modifica, que cria, que produz, que transforma,

e o que representa, cristaliza e objetiva essa mesma ação”. A acepção do autor

explicita a noção de ação humana, transformando a natureza para garantir a

produção da vida social, além disso, relaciona com a dimensão cultural ao

enfatizar o sentido que essa ação passa a representar.

A mesma acepção de que a técnica e a tecnologia são utilizações

humanas para transformar a natureza e produzir bens está presente em Wilhelm e

Bülow (1955) “a técnica da era moderna coloca as forças da natureza a serviço do

homem”; bem como em John Zadrozny (1959), ao afirmar que a tecnologia é

utilizada para a produção de bens; em René König (1963/1971), ao escrever que a

técnica gera parte essencial das condições materiais da vida social e em Thomas

Ford Hoult (1969), que analisa a relação da técnica com a produção e distribuição

de bens e serviços.

Por sua vez, Alain Birou (1966/1973) considera a técnica como um

conjunto de regras práticas veiculadas pela linguagem, pela mão e pelos

instrumentos, com vista ao exercício de atividades produtivas; a transformação da

natureza para satisfação de necessidades humanas. O autor enfatiza a

transformação da natureza, pela atividade produtiva, para a satisfação de

necessidades humanas.

Para Robert S. Merril (SILLS, 1968/1977), as principais mudanças na

vida social estão associadas com importantes mudanças tecnológicas como a

‘revolução na produção de alimentos’, a ‘revolução urbana’ e a ‘revolução

industrial’. Em outras palavras, o autor associa as mudanças nas formas de

organização social com mudanças tecnológicas associadas à produção. Ao definir

que a tecnologia, em sentido amplo, se refere às artes práticas, considera que

essas abarcam todos os fatores de produção de bens e serviços e da própria vida

social.

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Roger Bartra (1973) apresenta o termo tecnologia como entrada, porém

não há definição, remetendo o leitor para o termo forças produtivas. Esse termo,

por sua vez, é definido como força humana e meios de produção que o homem

usa durante o processo de trabalho para criar os bens materiais necessários para

sua existência.

No Diccionario de ciencias sociales (DEL CAMPO, MARSAL e

GARMENDIA, 1975-61975-6) a técnica é considerada como conjunto de

procedimentos e instrumentos que permitem agir sobre as coisas, especialmente a

natureza, para satisfazer desejos e vontades humanas, concebendo um vínculo

entre técnica e ação humana. Ressalte-se o destaque à preponderância da ação

humana, na medida em que a técnica é considerada como conjunto de

procedimentos e instrumentos que permitem agir com vistas à satisfação de

desejos e vontades do ser humano.

A transformação da natureza para satisfação das necessidades

humanas encontra-se também em Baldo Blinkert (1976/1980). Porém, ao

considerar que a técnica compreende o aproveitamento prático e racional das

possibilidades oferecidas pela natureza para satisfazer necessidades da vida

material e cultural do homem, o autor enfatiza a racionalidade e as necessidades

culturais. Ou seja, enquanto alguns autores se referem às necessidades e desejos

materiais, Blinkert associa-as com necessidades culturais.

Para Gallino (1978/2005), toda técnica representa o resultado de um

longo processo de adaptação ao ambiente natural e social para suprir

necessidades de produção e reprodução da sociedade. Para o autor, a técnica de

medida do tempo, do direito racional e as técnicas administrativas foram adotadas

como respostas à ‘necessidade’ de uma formação econômico social, o

capitalismo, enquanto outras técnicas podem atender interesses de apenas alguns

grupos ou de uma classe.

A importância para a produção está presente na definição de

tecnologia, quando o autor a considera como

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aplicação sistemática de conhecimentos científicos avançados, em relação a um determinado nível de desenvolvimento econômico e sociocultural para alcançar objetivos de produção, distribuição, transportes, comunicações e serviços incluindo a educação (GALLINO, 1978/2005, p. 621-2).

Enquanto no termo técnica menciona adaptação, transformação e

produção da vida social suprindo necessidades, no termo tecnologia, embora

considere os objetivos de produção da vida social, enfatiza a acepção de

aplicação de conhecimentos científicos na sociedade moderna. Gallino afirma que,

durante o século XIX, a tecnologia ficou limitada quase exclusivamente à indústria

e aos transportes. Para o autor, o capitalismo colocou a ciência a serviço das

técnicas de produção industrial, reduzindo o tempo de produção, aumentando a

produtividade e o lucro.

Robert M. Young (BOTTOMORE, 1983/1988, p. 371) escreve que o

trabalho humano transforma a natureza para atender objetivos humanos. Para ele,

a análise marxista da produção se concentra no processo de trabalho, pelo qual a

atividade humana consciente transforma as matérias-primas e usa os meios de

produção para produzir valores de uso.

As posições de Marx a respeito da tecnologia evocam discussões e

controvérsias: se defendia ou não a autonomia da tecnologia, se pode ser

considerado defensor do determinismo tecnológico, qual sua concepção de

tecnologia, entre outras questões. Não cabe neste espaço retomar essas

discussões, objeto de estudo de outros autores.43 No entanto, chama atenção o

fato de Young, considerar que Marx destaca a importância do trabalho e do

processo de trabalho na produção e em seguida afirmar que “Marx ressalta que é

a tecnologia, e não a natureza, que tem importância fundamental”. Para

fundamentar sua afirmação, cita Marx (Grundisse, p. 706):

A natureza não fabrica máquinas, locomotivas, ferrovias, telégrafo elétrico, máquina de fiar automática, etc. Tais coisas são produtos da indústria humana; material natural transformado em órgãos da vontade

43

Ver, por exemplo, Rosenberg (2006), Dagnino (2008), Lima Filho (2011) entre outros.

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humana que se exerce sobre a natureza, ou da participação humana na natureza. São órgãos do cérebro humano, criado pela mão humana: o poder do conhecimento objetificado.

Porém, a citação de Marx é clara: “tais coisas são produto da indústria

humana, pela vontade humana, são órgãos do cérebro humano, criados pela mão

humana” do que se deduz que a própria tecnologia é criação humana, logo o que

tem importância fundamental para Marx, é o trabalho humano e não a tecnologia

que também é produto do primeiro.

Para Hillmann (1970/2001), a técnica tem a ver com a elaboração de

bens, dispositivos e procedimentos no processo de produção. Diz ainda que ela foi

convertida em força produtiva na sociedade moderna (J. Habermas); com enorme

influência sobre as condições de vida, da estrutura social e mudança social (W. F.

Ogburn). Hillmann busca reforçar seu argumento de que a técnica está associada

à produção, recorrendo a afirmações de outros autores, como Habermas e

Ogburn. O mesmo procedimento ele adota no termo tecnologia, mencionando a

definição de Romero Moreno44, que a considera como teoria sobre o conjunto de

possibilidades e procedimentos técnicos para transformar a natureza e atender

necessidades humanas e sociais.

Maíra Baumgarten Corrêa (CATTANI, 1997/1999) afirma que a técnica

promove a transformação do real com vistas a satisfazer determinadas

necessidades. Ela argumenta que a partir da Revolução Industrial, ciência e

tecnologia mantém profunda relação com o desenvolvimento do capitalismo. Por

sua vez, Emilio Muñoz (GINER, ESPINOSA e TORRES, 1998) afirma que as

principais correntes do pensamento econômico tratam a tecnologia como uma

variável exógena.

A associação da tecnologia com a produção fica transparente na

seguinte afirmação de Ana Brandão (MAIA, 2002): “o termo tecnologia refere-se

aos bens de capital, matérias-primas, equipamentos e utensílios, entre outros,

44

Moreno Romero, R., Sociología de las nuevas tecnologías, en Giner, S. y Moreno, L., Sociologia en España, Consejo Superior de Investigaciones Científicas: Madrid 1990, 261-265.

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utilizados na produção de bens”. Acebo Ibañez e Brie (2001/2006) também

recorrem a outros autores para defender a dimensão produtiva da técnica,

afirmando que para K. Jaspers, através da técnica o ser humano domina a

natureza para satisfazer suas necessidades. O mesmo argumento é atribuído a

Ortega y Gasset.

Para Ranjana Subberwal (2009), as tecnologias produtivas e de

organização da produção são essencialmente sociais. Além de mencionar o

vínculo entre a tecnologia e a produção, a autora enfatiza que as tecnologias são

sociais.

Alguns autores das definições de técnica e tecnologia presentes nos

dicionários associam a tecnologia com a produção econômica na sociedade

capitalista. Sem dúvida, a vinculação entre técnica e tecnologia, assim como a

ciência, com a produção econômica é mais intensa e evidente nas sociedades

modernas, cujo símbolo maior é a sociedade capitalista. A maioria dos autores das

definições dos termos, porém, consideram a técnica e a tecnologia como criações

socioculturais com vistas à satisfação de necessidades e desejos humanos,

associando-as com a produção das condições de vida da população, portanto,

com a própria produção da vida humana.

O sentido de tecnologia, descrito no parágrafo anterior, está presente

em produções teóricas de autores da área. Segundo Parsons (1969), a tecnologia

é uma capacidade organizada socialmente para controlar o ambiente físico e

transformar objetos para satisfazer desejos e necessidades humanas. Nesse

processo, o que e para quem produzir precedem as decisões de como produzir,

por isso a economia ordena os processos tecnológicos que serão utilizados na

produção.

Para Ferkiss (1972), a tecnologia como processo dialético é resultado

das relações interativas do ser humano com a natureza. Castells (1999, p. 34)

detalha como essa interação ocorre: “a relação entre a mão-de-obra e a matéria

no processo de trabalho envolve o uso de meios de produção para agir sobre a

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matéria com base em energia, conhecimento e informação. A tecnologia é a forma

específica dessa relação”.

Vilma Figueiredo (1989) considera que a dimensão econômica é a mais

evidente das quatro dimensões da tecnologia nas sociedades industriais, devido à

relação da tecnologia com a produção, a troca, a distribuição e o consumo de

bens e serviços. Segundo a autora, as análises da dimensão econômica da

tecnologia concentram-se no progresso técnico e nas inovações tecnológicas. Os

autores argumentam, pois, que a tecnologia está intrinsicamente associada à

interação entre o ser humano e a natureza, ou seja, com os processos de

produção e reprodução da vida social.

Da mesma forma que no tema cultura, há diferenças e semelhanças

entre os autores. Porém, de uma maneira sintética, pode-se dizer que, na relação

da técnica e da tecnologia com a produção, predomina a noção de que os seres

humanos se utilizam da técnica e da tecnologia agindo racionalmente para

transformar a natureza, produzindo bens e serviços, isto é, gerando as condições

de satisfação de necessidades e desejos materiais e culturais.

5.2.3 Visão otimista versus visão pessimista

Em terceiro lugar, presentes em 16 obras, estão a visão otimista x a

visão pessimista da técnica e da tecnologia e determinismo tecnológico e

neutralidade. Há 2 obras que destacam apenas aspectos positivos da técnica e da

tecnologia, como progresso humano e padrão de desenvolvimento; 1 obra enfatiza

que a literatura sociológica atual é pessimista. A maioria das obras, no entanto,

considera que a técnica e a tecnologia são portadores de contradições, isto é,

tanto podem produzir efeitos positivos como negativos. Entre os aspectos

positivos destacam: desenvolvimento da liberdade, apologia da modernidade, fé

no progresso, progresso social, ideologia do progresso técnico, crescimento

econômico, aumento da produção e da produtividade, redução da jornada de

trabalho, qualificação da mão-de-obra, criação de novos empregos, melhoria das

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condições de vida, bem-estar das nações. Como aspectos negativos:

desumanização do homem, tecnicização da cultura, ameaça à cultura europeia,

desintegração social, degradação do ambiente e da qualidade de vida,

desqualificação, desemprego e empobrecimento do trabalho.

Alguns elementos podem ser considerados tanto positivos como

negativos, dependendo da obra e do ponto de vista adotado(s) pelo(s) autor(es). O

que parece ser consenso é que a técnica e a tecnologia provocam impactos

econômicos, sociais e políticos (reais e potenciais) sobre a sociedade e os

trabalhadores. A menção dos impactos sobre os trabalhadores poderia ser

considerada, contemplada uma vez que já há a menção aos impactos sobre as

sociedades e os trabalhadores fazem parte dela. Tal menção justifica-se, porque

ela é enfatizada por várias obras, dentro da análise dos impactos da adoção de

inovações técnicas e tecnológicas que afetam a organização, a divisão e a

especialização do trabalho, em síntese, as relações de trabalho. Tanto nas

definições do termo técnica quanto do termo tecnologia, os autores enfatizam as

consequências da adoção de inovações técnicas e tecnológicas para as relações

de trabalho.

Emil Leder (SELIGMAN, 1930-1934) analisa os impactos das mudanças

para os trabalhadores, tanto negativas quanto positivas, como o desenvolvimento

cultural e melhorias no padrão de vida. Joaquim Pimenta (1955, p. 366), em

acordo com Laswell, afirma que a tecnologia exerce ação em todas as instituições

sociais, não especificando se positivas ou negativas.

Para Wilhelm e Bülow (1955), “técnica e desenvolvimento da liberdade

se colocam em alternância característica. O avanço técnico criou as bases para a

libertação dos homens, desencadeou as mais intensas forças que libertaram os

homens de sua necessidade existencial”. Ao enfatizar que a técnica criou as

bases para a libertação do homem, pode transparecer uma visão otimista em

relação às possibilidades do desenvolvimento tecnológico. Isso logo se desfaz,

pois de acordo com os autores, a chamada “era mecânica” geralmente foi avaliada

a partir dos efeitos econômicos, sociais e psicológicos, resultando em avaliações,

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ora otimistas, ora pessimistas, chegando às concepções que conferem à máquina

toda culpa pelas mazelas sociais e culturais de nosso tempo.

Na opinião dos autores alemães, “a crítica social e cultural da era

técnica acreditou até mesmo na técnica como ‘demônio’ e a fez responsável pelo

medo existencial de nosso tempo”. Os autores mencionam que Simmel, na sua

obra a Filosofia do dinheiro, apontara a possibilidade dos meios, como o dinheiro e

a técnica, tornarem-se fins, voltando-se contra o próprio homem. Prosseguem,

citando outros autores, escrevem que na opinião de H. Driesch a vida morre na

tecnicização, mecanização e automatização; para Rathenau fez referência ao

perigo da mecanização na era técnica e Berdjajew acentua a desumanização do

homem em razão da tecnicização da cultura. Para Wilhelm e Bulöw (1955), a

técnica é um meio e os efeitos dependem de sua utilização, por isso concluem seu

texto afirmando que o problema ético-social deve ser anteposto ao técnico.

As críticas às concepções otimistas e pessimistas sobre o efeito da

técnica partem do pressuposto de que a técnica é neutra, portanto, os efeitos

positivos ou negativos de sua utilização dependem da forma, dos objetivos e das

finalidades com os quais os seres humanos a utilizam.

Helmut Schoeck (1969/1973) explica como a técnica integra diversos

setores da vida de cada indivíduo, aumentando as possibilidades de liberdade e

de descanso. Ele critica as doutrinas otimistas do progresso e pessimistas da

cultura que atribuem à técnica a responsabilidade pelos êxitos ou problemas, sem

considerar que uma mesma técnica, adotada pelos seres humanos, pode trazer

benefícios e prejuízos. Entre os aspectos positivos da técnica, cita o tempo livre,

os usos na medicina, no trabalho profissional e doméstico e as possibilidades de

comunicação. Questiona a crítica contra a cultura e contra a sociedade, por

exemplo, contrapondo-se ao ponto de vista de Herbert Marcuse, pois, segundo

Schoeck, Marcuse defende que a técnica tem suas próprias leis e essas obrigam o

homem, sobretudo na produção, a aceitar as condições, provocando a alienação.

Para Schoeck, é possível que a subordinação do homem à técnica seja verdadeiro

para alguns casos, porém não se pode aplicar esse argumento, de uma maneira

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geral, à técnica e ao homem. Para defender seu ponto de vista, Schoeck cita,

como exemplo, a luz elétrica que possibilitou ao homem, mesmo pobre, dispor

melhor de seu tempo livre e confiar em si mesmo.

O autor defende que as confrontações entre homem e técnica, técnica e

cultura, religião e técnica procedem de uma fase antiquada da reflexão sobre a

técnica, datada entre 1890 e 1930. Menciona males causados pela utilização de

recursos técnicos, como a acumulação de CO2 na atmosfera, o ambiente saturado

de inseticidas ou detergentes que não se desintegram organicamente. Segundo

Schoeck, a humanidade se encontra num círculo vicioso: graças aos

procedimentos técnicos, o domínio do meio ambiente permitiu o aumento da

população ao mesmo tempo em que se reduziu a qualidade do meio ambiente.

Giancarlo Rovati (DEMARCHI e ELLENA, 1976) afirma que diante da

influência crescente da técnica na sociedade predominam duas atitudes opostas e

parciais: uma otimista que aposta na capacidade da evolução técnica para

resolver os problemas sociais; outra pessimista, que defende que os progressos

técnicos causarão novos conflitos irresolvíveis. De acordo com o autor, as duas

posições concebem o progresso técnico de forma mítica, quase independente das

orientações e valores sócio-políticos, não percebendo a dimensão social e a

condição socialmente determinada do processo de inovação técnico-científico, que

ocorre sempre inserido na complexidade da dinâmica das relações sociais (p.

1301). Em outras palavras, embora os estudiosos concordem a respeito do papel

importante da ciência e da técnica nas transformações sociais, as interpretações

dos significados da dimensão científico-tecnológica são diferentes.

Para Gallino (1978/2005, p. 624), “o aumento da população influi sobre

a tecnologia de vários modos” estimulando a produção em massa de inúmeros

bens e serviços. O autor continua delineando seu ponto de vista, ao afirmar que

“grande parte da literatura que aborda as ‘consequências sociais e culturais’ da

tecnologia é incapaz de distinguir as consequências de uma mesma tecnologia em

sistemas políticos e econômicos estruturalmente diferentes” (p. 625). Ele ressalta

ainda que “a contaminação do ar e da água em quase todo o planeta é, sem

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dúvida, imputável em grande parte à T. própria do capitalismo euroamericano e

japonês”. O autor relaciona uma vasta gama de setores sobre os quais a

tecnologia moderna tem consequências: processos produtivos, organização do

trabalho, gestão de empresas, modo de governar, comunicação de massa,

estrutura e hábitos da família, consumo, linguagem, organização do território,

mobilidade populacional, crescimento notável do nível de vida de uma parte

importante da população mundial.

Gallino ressalta que os autores que identificam os efeitos da tecnologia,

muitas vezes, não distinguem quais efeitos efetivamente são decorrentes da

tecnologia daqueles que são decorrentes de outros fatores, como estruturas

sociais e culturais. Segundo o autor, devido ao crescimento da população mundial

e da produção industrial, com a consequente degradação do ambiente, atualmente

a literatura sociológica tende a ser pessimista com relação às consequências da

tecnologia. Para o autor, grande parte da literatura que aborda os efeitos da

tecnologia é incapaz de ver que

a T. moderna, à semelhança de outros fenômenos sociais, traz em si e alimenta dialeticamente uma série de contradições reais, no sentido de que certas variáveis de um conjunto tecnológico favorecem o surgimento de fenômenos sociais valorizados positivamente, enquanto outras variáveis do mesmo conjunto agem em sentido hostil a esse mesmo fenômeno, ou induzem efeitos colaterais avaliados negativamente” (GALLINO, 1978/2005, p. 626).

Para Gallino, as mudanças tecnológicas dependem do contexto

econômico e sociocultural no qual elas são produzidas e utilizadas. Essas

reproduzem dialeticamente contradições sociais inerentes ao contexto, e podem

ser avaliadas positivamente ou negativamente, dependendo da posição do

indivíduo no contexto e de como ele se relaciona com tais tecnologias.

Gilles Ferréol (1991/1995) afirma, que segundo Jean Fourastié (1979),

a influência positiva do progresso e das inovações, em termos históricos, é

indiscutível, destacando, portanto, os efeitos positivos do avanço tecnológico.

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O Dicionário do pensamento social do Século XX, editado por William

Outhwaite e Tom Bottomore (1993/1996), apresenta o termo tecnologia como

entrada, mas não consta definição ou explicação, apenas remete para os termos

‘mudança tecnológica’ e ‘revolução científico-tecnológica’. No termo mudança

tecnológica, Phillip Abbott, menciona que os críticos da mudança tecnológica

enfatizam os efeitos inesperados como poluição do meio ambiente, doenças,

impacto psicológico e cultural de mudanças rápidas. Por outro lado, há os que

defendem o impacto libertador da mudança tecnológica, como aumento da

produção econômica, diminuição da pobreza, mais oportunidades de lazer e

melhoria da saúde.

O argumento de que os efeitos engendrados pela utilização da

tecnologia sobre o trabalho e a sociedade tem sido objeto de estudo das Ciências

sociais é reforçado por Steve Woolgar (KUPER e KUPER, 1996), ao escrever que,

as Ciências Sociais, convencionalmente tem se interessado sobre os impactos

reais e potencias da tecnologia sobre a sociedade e mais especificamente sobre o

trabalho e a organização do trabalho.

Emilio Muñoz (GINER, ESPINOSA e TORRES, 1998) diz que críticas

de Heidegger, Ellul e dos primeiros textos da Escola de Frankfurt adotaram uma

visão pessimista do projeto moderno de (ciência) e tecnologia. Segundo ele,

“essas teorias identificam a tecnologia com tecnologias específicas que pretendem

caracterizar-se com uma lógica funcional autônoma – determinismo tecnológico –

que ignora a influência social” (p. 773). Quer dizer, Emilio Muñoz está defendendo

que os autores, por ele citados, tomaram tecnologias específicas como

representantes da tecnologia em si, isto é, que se basearam numa visão parcial da

tecnologia.

De acordo com o autor, o determinismo tecnológico se baseia em dois

pressupostos: i) o progresso técnico segue uma trajetória linear; ii) as instituições

sociais devem se adaptar aos imperativos da base tecnológica. Em seguida,

afirma que o determinismo tecnológico foi questionado pela sociologia da

tecnologia e pela história da tecnologia, citando ainda a sociologia construtivista

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152

da tecnologia que enfatizam o papel dos atores sociais. Emilio Muñoz incorpora ao

seu texto, as discussões críticas, desenvolvidas pela sociologia e história da

tecnologia e teoria da construção social da tecnologia, a respeito do determinismo

tecnológico e da tecnologia.

Renate Mayntz, no artigo intitulado técnica e tecnologia, (Enciclopédia

delle scienze social, 1998, Volume VIII), destaca que a discussão sobre o

determinismo tecnológico colocou em evidência uma série de problemas sobre os

quais se presta atenção nos últimos quarenta anos, como a influência do

desenvolvimento tecnológico sobre a estrutura e a organização do trabalho; o

potencial de risco da técnica moderna e a importância do desenvolvimento

tecnológico para o crescimento econômico. A autora destaca que entre as

consequências econômicas e socioculturais do moderno desenvolvimento

tecnológico se tem discutido muito, recentemente, o potencial de risco, como

reflexo do conceito de “sociedade de risco”, elaborado por U. Beck (1986). Renate

Mayntz, em seu texto sobre técnica e tecnologia, enfatiza que a partir da

discussão sobre determinismo tecnológico, uma série de temas relacionados à

temática tecnológica foram abordados nas últimas décadas. Entre eles, os

impactos na organização e nas relações de trabalho, e, nos últimos anos,

especialmente a partir do conceito de “sociedade de risco” do sociólogo alemão

Ulrich Beck, os riscos potenciais e reais que podem ocorrer associados ao

desenvolvimento tecnológico.

T. M. K. Tantoush (SMELSER e BALTES, 2001), no artigo tecnologia e

organização, assinala que mais importante que a definição são as implicações

práticas do desenvolvimento, implementação e controle da tecnologia. O autor

discute que a tecnologia, do ponto de vista político, é uma questão sensível nas

organizações, haja vista que tanto pode reforçar as relações e o status quo

existente na organização como contribuir para modificações. Além disso, podem

ter impactos ou implicações para o ambiente, como poluição ou riscos para saúde.

Como as diferenças de interpretação ocorrem no mundo dos significados, para

alguns, é vista como positiva e valorizada (melhorias no trabalho e qualidade de

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vida, por exemplo), enquanto outros podem considerá-la prejudicial (ameaça e

deterioração). As interpretações diferentes podem surgir da maneira como as

pessoas se relacionam com a tecnologia, desde a concepção, criação e utilização

o que não ocorre de forma homogênea e padronizada. Pelo contrário, essa

relação será influenciada pela posição de cada um no conjunto das relações e

condições econômicas, políticas, sociais e culturais, entre outras.

Ana Brandão (MAIA, 2002) menciona a discussão sobre as

consequências positivas da tecnologia (progresso social e libertação do homem) e

sobre os efeitos negativos (desemprego, desqualificação...), defendendo que os

efeitos da utilização da tecnologia podem ser diversos. Dito de outro modo, em

sua reflexão a autora evidencia que as discussões sobre a temática tecnológica

colocaram, como um dos temas centrais, os chamados impactos – positivos e

negativos – da adoção de tecnologias.

Acebo Ibañez e Brie (2001/2006) mencionam que a técnica tem efeitos

positivos (crescimento econômico, aumento da produção e da produtividade,

melhoras na segurança e higiene no trabalho, diminuição da jornada de trabalho,

elevação do nível de vida – alimentação, habitação e saúde – difusão da cultura e

da arte...) e negativos (com base em Brugarola, 1967 - degradação das condições

materiais de vida, desumanização, desintegração social...) sobre a sociedade.

Eles defendem que, sendo uma das atividades humanas, a técnica deve ser

considerada em conjunto com as outras atividades nas quais se desenvolve a vida

do ser humano. Ou seja, os efeitos positivos ou negativos da utilização da técnica

devem ser avaliados em conjunto com outros fatores.

Frank Webster (HARRINGTON; MARSHALL; MÜLLER, 2006) constata

que muitos sociólogos têm estudado os impactos da tecnologia na sociedade.

Segundo o autor esse estudo pode ser feito a partir de uma perspectiva restrita (os

efeitos de uma nova máquina sobre os trabalhadores) ou mais ampla (as

consequências da introdução do estribo para a guerra).

De acordo com Frank Webster, os problemas manifestados associados

à tecnologia (o aquecimento global, derramamentos de petróleo, a desertificação)

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conduziram alguns para consequências de estresses inesperados do

desenvolvimento tecnológico (aumento de congestionamento de automóveis, o

cuidado com as pessoas mais idosas e frágeis) e outros nomeadamente Ulrich

Beck (1986/1992), a criar a noção de uma “sociedade de risco” para enfatizar as

ambiguidades e incertezas da inovação tecnológica.

As consequências ou impactos da tecnologia sobre a sociedade é um

tema presente nas definições de técnica e tecnologia. Porém, nem sempre se

considera que as consequências da introdução e uso de recursos tecnológicos

são mais complexos do que se poderia imaginar (FERKISS, 1972). Muitas vezes,

também não há a preocupação com a possibilidade contrária, isto é, com a

influência da sociedade sobre o desenvolvimento tecnológico (BOTTOMORE,

1976), pois o impacto da tecnologia é condicionado pelo contexto social, cultural

(CHINOY, 1975), econômico e político.

Como dito no início deste item, alguns autores consideram apenas os

efeitos positivos ou negativos da utilização da técnica e da tecnologia. No entanto,

a maioria dos autores enfatiza que a utilização de procedimentos tecnológicos,

assim como outros recursos utilizados pelo ser humano, podem provocar efeitos

tanto positivos como negativos sobre a sociedade.

Ao analisar as discussões sobre os efeitos positivos e negativos da

utilização de técnicas e tecnologias, os autores dos termos dos dicionários, além

de abordar um tema marcante das discussões presentes nas teorias

contemporâneas do campo sociológico, alguns como Renate Mayntz, Tantoush e

Frank Webster mencionaram, especificamente, as possibilidades de riscos

associadas ao desenvolvimento tecnológico, destacando o conceito de “sociedade

de risco” desenvolvido por Ulrich Beck.

Dessa forma, a avaliação dos chamados impactos deve ser feita

levando-se em consideração o contexto no qual as técnicas e tecnologias são

planejadas, construídas e utilizadas, o que permitirá identificar inclusive quem está

sendo beneficiado e quem está sendo prejudicado em determinadas

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circunstâncias, enquanto em outras, pode ser que os benefícios ou prejuízos

sejam para toda a sociedade e não apenas para grupos específicos.

5.2.4 Determinismo tecnológico

Com relação ao tema determinismo tecnológico e neutralidade,

encontram-se argumentos defendendo o determinismo tecnológico em uma obra

na definição do termo tecnologia, enquanto duas obras defendem a neutralidade

na definição do termo técnica. Por outro lado, uma se posiciona contra o

determinismo tecnológico no termo técnica e cinco no termo tecnologia. A maioria

das obras menciona diferentes interpretações sobre determinismo tecnológico e

neutralidade, às vezes apresentando argumentos ou autores de determinadas

interpretações, procurando reproduzir brevemente algumas discussões sobre o

tema, em outras, apenas mencionando que o tema é objeto de análise da

Sociologia ou das Ciências Sociais.

Para Wilhelm e Bülow (1955), a técnica é valorativamente indiferente e,

além disso, politicamente neutra; depende do que o homem faz com ela, pois,

pode servir tanto para o bem como para o mal. Argumento similar encontra-se em

outro autor alemão. Para Helmut Schoeck (1969/1973), não se pode falar de

técnica em sentido positivo ou negativo, pois a técnica é projeto intelectual que se

converteu em realidade, através do qual, de maneira inconsciente ou consciente

(na maioria das vezes), realizam-se ações. Para o autor, em regra geral, a técnica

é socialmente neutra. Os autores das definições dos termos dessas duas obras

defendem a neutralidade da técnica, afirmando que os efeitos positivos ou

negativos dependem da utilização que o homem faz dela.

Apresentando opinião oposta a Wilhelm e Bülow e Schoeck, Giancarlo

Rovati (DEMARCHI e ELLENA, 1976), considera que embora o emprego da

inovação tecnológica constitui um elemento propulsivo da revolução industrial, o

fator técnico não é independente. Comparando as condições de pesquisa

tecnológica nos Estados Unidos da América e na então União Soviética, o autor

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afirma que é insustentável qualquer tese sobre a neutralidade da tecnologia, visto

que o Estado, ao dispor de soma considerável de recursos necessários para a

pesquisa, impõe seus interesses político-militares.

Na mesma linha de raciocínio, René König (1963/1971), assinala que o

progresso técnico não constitui variável independente. Para ele as classes médias

foram até há pouco as principais portadoras do progresso técnico no que diz

respeito à recepção de conhecimentos técnicos e à aquisição de novas técnicas

no mercado de bens de consumo nas sociedades. Argumento similar encontra-se

em Robert S. Merril (SILLS, 1968/1977), pois, segundo esse autor, todos os

aspectos principais de uma sociedade influenciam as mudanças técnicas.

Abercrombie, Hill e Turner (1984/1988, p. 251-252), assumem posição

semelhante, ao assinalar que as técnicas produtivas e a organização da produção

são produtos sociais, decorrentes de decisões humanas, portanto, a tecnologia

deve ser analisada como resultado de processos sociais e não neutra.

Gilles Ferréol (1991/1995) ressalta que diferentes autores defendem a

neutralidade da técnica e da ciência. Ele assinala que para esses autores, a

energia nuclear, por exemplo, pode servir tanto para a melhoria da espécie

humana como para sua destruição. Além disso, aponta outro ponto de vista, o de

Karl Marx (1867, Livro I do Capital) que coloca em evidência as consequências

negativas da maquinaria sobre a condição dos trabalhadores, por conta do

sistema do capitalismo, sinônimo de exploração do homem pelo homem, ao passo

que no modo de produção socialista a máquina contribuiria para a libertação dos

indivíduos. Na mesma linha de argumentação cita G. Friedmann (La puissance et

la sagesse, 1970).

O Dicionário do pensamento social do Século XX, editado por William

Outhwaite e Tom Bottomore (1993/1996), apresenta o termo tecnologia como

entrada. Mas não tem definição e remete o leitor para o termo mudança

tecnológica. Neste, Phillip Abbott, autor da definição do termo, apresenta posições

a respeito da mudança tecnológica e do determinismo tecnológico, ponderando

que

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o determinismo tecnológico afirma que a mudança tecnológica explica mudanças na cultura, na política e na economia. Uma versão modificada dessa teoria é o interacionismo tecnológico, o qual afirma que há uma relação mútua entre mudança tecnológica e social.

Segundo Phillip Abbott, Thorstein Veblen defende que a mudança

tecnológica é modificada e restringida por crenças e estruturas sociais. Cita que

Heidegger foi um dos mais severos críticos da mudança tecnológica, por

considerar que ela enquadra os seres humanos em um sistema de manipulação.

Para Maíra Baumgarten Corrêa (CATTANI, 1997/1999), a tecnologia,

como toda produção humana, deve ser pensada no contexto das relações sociais.

A autora recorre a Mandelson (1978) para defender que a adoção da noção de

neutralidade deixava que as forças sociais e políticas dominantes na sociedade

exercessem o controle da ciência e da técnica.

Steve Woolgar (KUPER e KUPER, 1996) menciona que algumas

correntes do marxismo defendem o determinismo tecnológico, ao sustentar que as

tecnologias têm a capacidade de determinar o curso da evolução histórica. Nessa

visão, então, a atenção das Ciências Sociais se volta para os efeitos da tecnologia

sobre a sociedade.

Opondo-se ao determinismo tecnológico, o autor afirma que a

tecnologia não é independente da sociedade, pois pode influir sobre o ritmo de

desenvolvimento tecnológico. Ressalta que há vários exemplos de efeitos

diferentes de uma mesma tecnologia, e que a tecnologia não é neutra, pois, é

resultado de várias forças sociais e políticas. Para reforçar essa posição, cita

trabalhos de Mackenzie, Winner, Bjiker e Law, Latour e Woolgar, entre outros.

Renate Mayntz, no artigo intitulado técnica e tecnologia, (Enciclopédia

delle scienze social, 1998, Volume VIII), afirma que a crítica ao determinismo

tecnológico foi um impulso decisivo no desenvolvimento da sociologia da técnica

nos últimos trinta anos. A autora menciona que autores críticos do progresso

tecnológico, como Jacques Ellul, Lewis Mumford e Langdon Winner, ao

defenderem que a tecnologia era uma força autônoma que segue uma lógica

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imanente e foge do controle humano, acabaram assumindo posições favoráveis

ao determinismo tecnológico. Menciona a versão marxista do determinismo

econômico para a qual a tecnologia é vista como força produtiva e a “teoria do

controle da força de trabalho, formulada por Braverman (1974) e Edwards (1979),

o desenvolvimento da técnica produtiva é vista como um processo de constante

expansão do controle (capitalista) sobre a força de trabalho” (p. 517).

Em seguida, afirma que as teorias mais recentes tendem a refutar todo

tipo de determinismo, tanto endógeno quanto exógeno, afirmando que o

desenvolvimento tecnológico depende tanto de fatores exógenos e endógenos,

sejam de ordem intelectual, cultural ou socioeconômico. A autora defende que o

desenvolvimento tecnológico, de fato, segue uma evolução linear, no sentido

cumulativo que não dá saltos, isto é, cada nova invenção se baseia nas técnicas

precedentes, mas isso não significa defender o determinismo ou a autonomia da

tecnologia. No mesmo sentido T. M. K. Tantoush (SMELSER e BALTES, 2001)

afirma que a tecnologia é uma criação feita pelo homem. Esse espera que aquela

cumpra a finalidade operacional de produzir o efeito desejado.

Para Ana Brandão (MAIA, 2002) as abordagens que destacam a

influência da tecnologia sobre o emprego e a qualificação se dividem entre

aquelas que defendem a tecnologia como motor da mudança social,

considerando-a, portanto, como uma variável independente, e as que consideram

a tecnologia como produto das sociedades, isto é, como variável dependente. A

autora defende que a tecnologia não é neutra, pelo contrário, é resultado de

escolhas e relações de poder no seio da sociedade e das organizações.

Frank Webster (HARRINGTON; MARSHALL; MÜLLER, 2006) ressalta

que autores (sociólogos) podem defender o determinismo tecnológico,

considerando que a tecnologia é autônoma da sociedade, exercendo influência

sobre ela. Além disso, acentua que o determinismo tecnológico tem sido criticado

especialmente pela abordagem da construção social da tecnologia, pois para essa

abordagem a sociedade pode influenciar o desenvolvimento da tecnologia, e pela

versão mais radical, que sustenta que a tecnologia e o social são indivisíveis.

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Karl Mannheim (1962) esclarece que a técnica em si não é boa nem

má, pois depende do objetivo para o qual é usada. No mesmo sentido, Vieira Pinto

(2005) defende que a técnica é eticamente neutra, pois ela não pode ter uma

moral, na medida em que só existe como ato humano. De acordo com a

argumentação do autor, a qualificação ética só pode, pois, ser atribuída aos seres

humanos no exercício de suas relações sociais.

A discussão sobre a neutralidade da técnica e da tecnologia pode

induzir a uma falsa divergência. O fato de alguns autores de definições de termos

nos dicionários, como Wilhelm e Bülow (1955) e Schoeck (1969/1973), assim

como autores do campo das Ciências Sociais, como o sociólogo alemão

Mannheim (1962) e o filósofo brasileiro Vieira Pinto (2005), defenderem que a

técnica é neutra, isto é, que não é em si nem boa nem má, não significa que

estejam sustentando uma existência autônoma e independente da técnica e da

tecnologia, nem do determinismo tecnológico. Pelo contrário, ao argumentar que a

qualificação de positiva / negativa, boa / má depende do objetivo para o qual é

utilizada e que a qualificação ética não pode ser atribuída à técnica e sim aos

seres humanos, pois, são esses que executam atos técnicos na dinâmica das

relações sociais, reforçam a posição de que a técnica e a tecnologia são

construções sociais inseridas em contextos socioculturais. Em outras palavras, as

formas de utilização da técnica e da tecnologia dependem dos objetivos para os

quais estão sendo usadas, que, por sua vez, são resultados dos contextos nos

quais estão sendo construídas, difundidas e utilizadas.

Broom e Selznick (1968/1971) consideram que há uma

interdependência dos impactos da tecnologia sobre a vida social e da

transformação dos valores e das atividades econômicas. Para Chinoy (1975), a

rejeição ao determinismo tecnológico não deve ignorar ou subestimar que a

tecnologia exerce influência substancial sobre a vida social.

São as relações sociais, estabelecidas em contextos complexos, que

definem os parâmetros para o estabelecimento de necessidades e desejos. Estes

motivam o desenvolvimento e o uso de determinadas tecnologias, as quais são,

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portanto, resultado de escolhas feitas por agentes sociais em situações concretas

(FIGUEIREDO, 1989).

De acordo com Simões (1999), é preciso considerar o desenvolvimento

tecnológico inserido no contexto social e cultural, pois os atores envolvidos no

desenvolvimento e uso de tecnologias têm propósitos determinados os quais

orientam suas escolhas. Os interesses que motivaram as decisões precisam ser

observados para compreender melhor as consequências sociais das tecnologias.

Considerar as relações sociais e políticas como resultados de arranjos

tecnológicos, seria atribuir autonomia à tecnologia (TOURAINE, 2003).

A técnica e a tecnologia são produtos da ação humana, portanto devem

ser consideradas levando-se em conta o contexto econômico, político, social e

cultural no qual foram planejadas, construídas e utilizadas, com vistas ao

atendimento de objetivos determinados por necessidades e desejos humanos.

Sendo atividades humanas, como qualquer outra atividade, estão inseridas na

dinâmica complexa e contraditória das relações sociais, ao mesmo tempo em que

influenciam os percursos tecnológicos, também são influenciados por eles. Além

disso, a utilização dos recursos tecnológicos podem ter usos diferentes daqueles

que estavam presentes no momento de sua elaboração, bem como provocar

efeitos diversos dos esperados. Por isso, torna-se necessário que a sociedade, de

forma democrática, reflita e decida os usos e destinos dos recursos tecnológicos,

levando em conta a satisfação de suas necessidades e desejos reais e potenciais,

do presente e do futuro, o que pressupõe a utilização racional, equilibrada e

sustentável dos recursos que são transformados, nesse processo, pelo trabalho

humano.

5.2.5 Trabalho

O tema trabalho consta de forma mais marcante em 12 obras que

destacam a divisão, especialização e organização do trabalho, bem como

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mecanização, emprego, desemprego, qualificação, aumento da produção, enfim,

consequências sobre o trabalho.

As mudanças no trabalho associadas ao progresso da tecnologia, como

a mecanização e a monotonia, relacionadas ao desenvolvimento da ciência

moderna são assinaladas por Emil Lederer (SELIGMAN, 1930-1934). O autor

pondera sobre os efeitos da tecnologia nas relações de trabalho, refletindo sobre o

desemprego permanente ou tecnológico, afirmando que a maior parte do avanço

técnico atual é voltado para economia de trabalho, gerando desemprego.

A divisão do trabalho é citada por Joaquim Pimenta (1955, p. 368), ao

argumentar que a técnica permite maior amplitude e maior grau de especialização

da divisão do trabalho. No mesmo sentido, René König (1963/1971), considera

que o desenvolvimento do progresso técnico promove alterações na produção e

no trabalho, levando ao surgimento de novas profissões.

De acordo com Giancarlo Rovati (DEMARCHI e ELLENA, 1976), com

as mudanças nas técnicas produtivas ocorridas na época da revolução industrial,

além da substituição da força muscular humana pela máquina a vapor, ocorreu o

emprego em massa de mão-de-obra não qualificada e o aumento do trabalho

assalariado, entre outras mudanças na organização e nas relações de trabalho.

Ocorreu ainda o aumento da mobilidade social e alterações na estratificação

social. O autor destaca que, após a chamada segunda revolução industrial, houve

um acréscimo na divisão do trabalho, aumentando a parcelização e as atividades

repetitivas, chegando a um novo método de trabalho chamado de automatização.

A organização da produção e do trabalho também são destacadas por

Abercrombie, Hill e Turner (1984/1988, p. 251-252). Para eles a tecnologia foi

objeto da sociologia da indústria, destacando a organização física da produção,

bem como a divisão e a organização do trabalho. Sentido similar encontra-se em

Ranjana Subberwal (2009) que relaciona a tecnologia com a organização

física da produção, incluindo a divisão e a organização do trabalho. Os autores

destes dois dicionários reforçam o argumento de que uma das ênfases que a

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sociologia abordou a tecnologia foi sob a perspectiva de seus efeitos sobre a

organização e a divisão do trabalho.

Os efeitos sociais engendrados pelas mudanças tecnológicas sobre a

organização da produção, como um tema de pesquisa importante para as

Ciências Sociais, foi assinalado por Renate Mayntz, no artigo intitulado técnica e

tecnologia, (Enciclopédia delle scienze social, 1998, Volume VIII). A autora

sustenta que a consequência do progresso tecnológico mais estudada nas

ciências sociais, se refere aos efeitos da técnica produtiva sobre o trabalho

industrial e a organização do trabalho, especialmente sobre o taylorismo-fordismo,

com a parcelização e a desqualificação do trabalho. Para Renate Mayntz a análise

das consequências da técnica reproduziu a discussão se havia ou não o

determinismo tecnológico. Ela menciona o trabalho do Instituto Tavistock de

Londres, particularmente o conceito de sistema sociotécnico, o qual colocou em

relevo que nos processos produtivos os fatos técnicos e sociais constituem uma

unidade.

A organização do trabalho, incluindo sua divisão e especialização, é um

tema abordado com frequência nas definições de técnica e tecnologia. Soma-se a

isso a constatação de que o avanço tecnológico, na medida em que aumenta a

produtividade, tende a economizar trabalho, gerando desemprego. Esse é

denominado de desemprego tecnológico. Também é citada a contratação de mão-

de-obra não qualificada e a possibilidade do surgimento de novas profissões e

ocupações em decorrência da introdução de novas tecnologias no processo

produtivo. Os autores enfatizam, em suas análises sobre a relação trabalho e

tecnologia, sobretudo, os chamados impactos ou efeitos das mudanças

tecnológicas sobre a organização do trabalho e sobre os trabalhadores.

5.2.6 Poder

As relações entre técnica e tecnologia e poder constam em uma dezena

de obras. No primeiro termo, há vinculação da técnica com relações de poder,

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controle, alienação, dominação e guerra. No termo tecnologia há ponderações

sobre a tecnologia como fator e fonte de poder, como medida de força militar. É

destacado ainda que poucos têm o poder de decidir, afetando a vida de muitos e o

papel da tecnologia como fator de alienação.

Emil Lederer (SELIGMAN, 1930-1934) analisa a tecnologia como fator

de poder, mencionando as mudanças políticas que levaram ao predomínio dos

EUA e potências europeias sobre partes significativas do planeta. De acordo com

o autor, paralelamente a isso ocorreu a difusão da crença ilimitada no progresso,

reforçando a superioridade cultural das nações europeias. Ele aborda o uso da

tecnologia na II Guerra Mundial e na propaganda de massa por estados totalitários

para a dominação, bem como a possibilidade de sua utilização para a

emancipação e liberdade.

A relação da técnica com as relações de poder de cada sociedade é

destacada por Helmut Schoeck (1969/1973). De acordo com o autor, o abuso dos

meios técnicos mais do que do cientista ou do técnico, depende das pessoas que

estão no topo do sistema social de poder. A constatação de que o controle da

técnica se constitui num instrumento de poder que pode levar à alienação e

dominação é feita também por Alain Birou (1966/1973).

Para Giancarlo Rovati (DEMARCHI e ELLENA, 1976), a emergência da

burguesia capitalista detentora do poder econômico e político constitui um dado

muito importante para compreender a evolução tecnológica e sua direção. O autor

afirma que na fase da concorrência caracterizada pelos oligopólios, as relações

entre Estado e economia se alteram, na medida em que o Estado passa a

financiar um desenvolvimento tecnológico mais intenso, garantindo mercado para

os produtos tecnicamente avançados.

A relação entre tecnologia e poder é mencionada ainda por Emilio

Muñoz (GINER, ESPINOSA e TORRES, 1998), ao considerar a tecnologia como

uma das principais fontes de poder público nas sociedades modernas,

especialmente para os grupos sociais que controlam a tecnologia.

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Argumentos similares podem ser encontrados em textos das Ciências

Sociais que não são as definições dos termos nos dicionários. Por exemplo,

Feenberg (1996) afirma que a tecnologia é configurada para reproduzir o poder de

poucos sobre muitos. De acordo com o autor o resultado das escolhas técnicas

sustenta o tipo de vida de grupos que são socialmente influentes.

A tecnologia, como meio, pode se constituir em fonte de poder sobre

outros seres humanos e também sobre a natureza (Terra, plantas, animais)

(FERKISS, 1972). Quem possui poder político e econômico, geralmente tem

condições de impor suas decisões a respeito da introdução e da utilização de

novas tecnologias (CHINOY, 1975).

Tomando como pressuposto que o contexto econômico, político, social

e cultural exercem influência sobre a produção e utilização de técnicas e

tecnologias, torna-se consequência considerar que quem detêm o poder

econômico e político, via de regra, é favorecido pelo desenvolvimento tecnológico.

Desse modo, ao influenciar e controlar, ao menos parcialmente a tecnologia, quem

detêm poder amplia seu controle sobre ela, constituindo uma relação na qual o

domínio de um meio (tecnologia, poder) acaba favorecendo o controle do outro, e

por extensão, reforçando e contribuindo para a manutenção e reprodução de seu

poder. Isso pode ocorrer no âmbito das relações de mercado, com grandes

empresas e corporações, como nas relações políticas, com grupos específicos

sobre a maioria da população ou mesmo nas relações entre países, dentre várias

outras formas de relações sociais existentes nas sociedades e em nível planetário.

5.2.7 Mentalidade técnica

Por fim, das sete obras que abordam o tema da mentalidade técnica,

uma em técnica e cinco em tecnologia, enfatizam a racionalização, o que se

destaca como característica marcante do tema.

Emil Lederer (SELIGMAN, 1930-1934), menciona ponderações de

Weber e Sombart sobre o espírito de cálculo na economia capitalista

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(racionalismo) que se refletiu em outros aspectos da vida social de forma cada vez

mais intensa.

Por sua vez, Baldus e Willems (1939, p. 217), citam Wiese para

argumentar que a técnica “cunha os modos de pensar e agir do indivíduo”, e, em

seguida, afirmam que a atitude tipicamente técnica, isto é, a especificidade do

pensamento técnico reflete-se na sociedade. Para os autores a mentalidade

técnica possui como característica primordial a racionalização da existência

material e intelectual do ser humano.

No mesmo sentido Helmut Schoeck (1969/1973, p. 711-2), considera a

técnica como uma dimensão do homem moderno, como uma maneira de pensar e

como concepção de si e do mundo.

Gallino (1978/2005, p. 622) considera a tecnologia como a

“racionalização do esforço laborativo ou da relação homem-natureza”. Para ele a

tecnologia “é o estudo e a racionalização, mediante a ciência, das mais diversas

técnicas”. O autor pondera que “no presente se encontram formas avançadas de

tecnologia em todos os campos da vida social em que a racionalidade é avaliada

positivamente”. A noção de racionalização é marcante nas assertivas do autor:

racionalização do esforço laborativo; estudo e racionalização; racionalidade

avaliada positivamente.

Para o autor, o chamado ‘espírito da técnica’ – vontade de inventar,

realização entre teoria e prática, desejo de submeter o mundo ao domínio racional

do homem – é um dos fatores culturais que estão na origem da tecnologia

moderna, tendo recebido atenção especial da sociologia alemã. Para sustentar

seu argumento menciona Sombart (1916) e Von Wiese (1931).

A associação de técnica e racionalização é assinalada também por

Acebo Ibañez e Brie (2001/2006, p. 412): “a razão cria e recria métodos de

trabalho e produção” constituindo-se num fator que multiplica e diversifica

operações técnicas. Além disso, segundo os autores, é pela razão que se mede o

grau de eficácia e eficiência dos resultados obtidos e da relação meios-fins. No

mesmo sentido Frank Webster (HARRINGTON; MARSHALL; MÜLLER, 2006),

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afirma que a tecnologia é a aplicação da racionalidade e da razão para o

mundo social.

A maioria dos autores das definições dos termos técnica e tecnologia,

nos dicionários, relaciona a mentalidade técnica com racionalização. Esta por

vezes é considerada como uma entidade própria e autônoma: “a razão cria e

recria; a racionalização multiplica”, como se tivesse existência fora do ser humano.

Habermas (1993, p. 303) defende o vínculo entre a racionalização progressiva da

sociedade e o desenvolvimento científico e tecnológico. Segundo o autor “a

racionalidade da ciência e da técnica já é, de modo imanente, uma racionalidade

de manipulação, uma racionalidade de dominação”. A afirmativa de Habermas de

que a ciência e a técnica são agentes de racionalidade, poderia levar o leitor a

interpretar a ciência e técnica como autônomas, o que contradiz a constatação do

próprio autor, com base em Marcuse, de que a “técnica é sempre um projeto

histórico-social”. Nem todos os autores argumentam a favor da racionalidade da

Ciência e da técnica. Por exemplo, Vieira Pinto (2005), critica de forma enfática tal

argumento, ao sustentar a tese de que a racionalidade é um atributo e uma

capacidade exclusiva dos seres humanos.

A associação de técnica e tecnologia com mentalidade técnica revela

que técnica e tecnologia são elaboradas e utilizadas a partir da ação racional do

ser humano com fins determinados, isto é, uma forma de pensar e agir que se

utiliza racionalmente de procedimentos tecnológicos para atender os objetivos de

satisfação de seus interesses e necessidades. Repete-se que as necessidades e,

especialmente os interesses, são condicionados pelos contextos socioculturais

nos quais os seres humanos exercitam suas vidas e estabelecem relações sociais,

utilizando-se de recursos tecnológicos.

A utilização do recurso metodológico de identificar e separar os temas

recorrentes nas definições de técnica e tecnologia permitiu constatar como os

autores, abordaram em suas definições a temática da técnica e da tecnologia,

destacando os temas que foram abordados com mais frequência e/ou com maior

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intensidade. Ou seja, o procedimento teve como objetivo mostrar que a temática

da técnica e da tecnologia está relacionada com uma diversidade de temas de

importância significativa na vida dos seres humanos, como cultura, produção,

trabalho e poder entre outros. A variedade dos temas evidenciados, relacionados

com a técnica e a tecnologia, como mostrados através deste recurso

metodológico, permeiam de forma ampla e complexa as relações da vida em

sociedade. Em outras palavras, o procedimento metodológico adotado, de

identificar os temas recorrentes, teve como objetivo demonstrar que a técnica e a

tecnologia estão articuladas com esferas importantes da vida em sociedade como

o trabalho, a produção, as relações de poder e a cultura, entre outras,

constituindo-se em dimensões importantes das relações socioculturais.

Em síntese, pode-se considerar que técnica e tecnologia são meios,

criados e utilizados pelos seres humanos, em contextos econômicos, políticos e

socioculturais. Ao mesmo em tempo que dependem do contexto, a técnica e a

tecnologia também influenciam a cultura, tendo uma relação mútua, constituindo

sistemas socioculturais.

Caracterizam-se como uma dimensão humana, pois através do trabalho

ocorre a transformação e o aproveitamento da natureza para satisfação de

necessidades e desejos humanos. Nesse processo, estão articuladas às formas

de organização da produção e do trabalho, interagindo na divisão e especialização

deste. Em geral os grupos que detêm o poder econômico e político se beneficiam

mais dos avanços tecnológicos. Porém, os benefícios não são exclusividade dos

grupos dominantes. As consequências do progresso tecnológico podem ser

apropriadas de formas diferentes, bem como exercer influências diversas sobre

pessoas, grupos e sociedades, dependendo da maneira como cada um (pessoa,

grupo, sociedade) se relaciona com os recursos tecnológicos, a partir de suas

posições na estrutura social e das relações e interações que participam.

A seguir apresenta-se algumas considerações finais, avaliando os

resultados alcançados com os objetivos propostos, expondo contribuições e

sugestões.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, investigaram-se os significados de ciência, técnica e

tecnologia em dicionários de Sociologia e Ciências Sociais. Partiu-se do

argumento que ciência, técnica e tecnologia ocupam um papel central na

sociedade contemporânea e que os significados de técnica e tecnologia nem

sempre são problematizados, na medida em que estes termos, via de regra, são

utilizados sem definir com qual sentido eles estão sendo empregados. Ao não

atribuir uma definição, deixa-se espaço para que o leitor interprete o significado

dos termos, de acordo com a linguagem corrente, adotando pré-construções

naturalizadas que nem sempre condizem com o sentido esperado pelo autor.

A tradição sociológica estabeleceu como prioridade na hierarquia dos

temas de pesquisa os efeitos engendrados pela adoção e utilização de técnicas e

tecnologias, os chamados impactos sociais. A reflexão sobre determinismo

tecnológico recebeu tratamento similar, enquanto a definição e o sentido com o

qual estes termos estavam sendo empregados receberam menos atenção. Ao

utilizar os termos técnica e, sobretudo, tecnologia, sem atribuir-lhes uma definição,

muitos autores não seguem a própria tradição sociológica de definir os conceitos,

categorias e termos com os quais estão trabalhando. Não significa a defesa da

necessidade de atribuir definição a todos os termos, muito menos defender uma

delimitação ou rigidez. Trata-se de constatar que a não definição de sentidos,

permite ao leitor fazer interpretações diferentes da esperada pelo autor e contribui

para que os termos sejam usados e interpretados com uma variedade de sentidos.

Um termo possuir diversos sentidos faz parte da polissemia das palavras e de

seus diferentes usos em uma língua específica. Ressalta-se que, ao não atribuir

significado e utilizar livremente o termo tecnologia, por exemplo, corre-se o risco

de empregá-lo com sentidos distintos, como foi demonstrado no primeiro capítulo,

citando um artigo que utiliza o termo tecnologia com sentido de maquinaria e, ao

mesmo temo, de racionalização.

Desse modo, os dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, que por

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característica tem a função de definir e atribuir sentido às palavras dicionarizadas,

as quais são consideradas conceitos fundamentais, nucleares, básicos, de uso

corrente na disciplina, constituiu-se num corpus sui generis para investigar os

significados de ciência, técnica e tecnologia. Consideram-se os dicionários e

enciclopédias como instrumentos científicos, acadêmicos e pedagógicos, que

possuem legitimidade devido ao estatuto de autoridade. Essas obras registram

interpretações de autores sobre os significados de termos, sancionados pelo uso

corrente, que ao serem acessadas, permitem ao consulente assimilar o sentido

fixado nas definições, possibilitando a transferência de um determinado

conhecimento.

A análise quantitativa das 64 obras, publicadas em 18 países entre

1905 e 2010, que constituíram o corpus da pesquisa, evidenciou que:

1. 40,62% das obras possuem autoria individual, enquanto 10,94% possuem

dupla autoria, ou seja, mais da metade das obras não são resultado de

autoria coletiva. Se considerados apenas os dicionários, excluindo-se as

enciclopédias, estes percentuais sobem para 45,45% com autoria individual

e 12,73% com dupla autoria, atingindo mais de 58% das obras;

2. 91,8% das obras possuem responsabilidade masculina, enquanto apenas

8,2% das obras possuem participação feminina na responsabilidade. Por

sua vez a autoria é exclusivamente masculina em 64,29% das obras. A

participação feminina cresceu nas duas últimas décadas, superando a

masculina na última obra com autoria coletiva (MAIA, 2002) com 54,35%.

Além disso, as duas obras de publicação mais recente possuem

responsabilidade e autoria individual feminina;

3. A incidência da dicionarização dos termos ciência e técnica, nas 11 obras

publicadas por autores brasileiros é inferior à incidência sobre o total das

obras, enquanto a incidência do termo tecnologia é inversa, isto é, possui

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maior frequência nas obras publicadas por autores brasileiros.

A análise qualitativa das definições dos termos permitiu identificar que

predomina no termo ciência os seguintes significados: 1) Sistema de verdades

gerais, de conhecimentos sistemáticos, de leis, de princípios gerais; 2) Busca pelo

conhecimento e processos de investigação; 3) Construção ideal e abstrata da

realidade; 4) Atividade humana condicionada pela estrutura social; 5)

Conhecimento mais valorizado.

No termo técnica predominam as seguintes acepções: 1) Ciência ou

arte; 2) Conjunto de meios e habilidades que os seres humanos utilizam para

transformar a natureza e satisfazer necessidades e desejos; 3) Conhecimento,

maneira de pensar, mentalidade técnica, racionalização; 4) Atividade humana,

elemento da cultura.

Predominam no termo tecnologia os seguintes sentidos: 1) Arte, ciência

e indústria; 2) Fator de produção, sentido econômico; 3) Trabalho e mediação das

atividades humanas; 4) Objeto de estudo da Antropologia Cultural; 5) Estudo

sistemático da técnica; 6) Ciência aplicada; 7) Cultura; 8) Objetos e artefatos; 9)

Fonte de poder; 10) Sinônimo de técnica.

Mesmo não fazendo parte do objetivo do trabalho, identificaram-se os

temas mais frequentes nas definições do termo ciência, os quais foram agrupados

em 9 temas gerais, que são apresentados a seguir, como sugestão para futuras

pesquisas.

1) História e desenvolvimento da ciência – presente na definição de

Benjamin Ginzburg (SELIGMAN, 1930-34); no artigo de Thomas Kuhn (SILLS,

1968/1977) sobre a história da ciência, onde entre outras questões, analisa a tese

de Merton; na de Salvador Giner e Emilio Lamo de Espinosa (GINER, ESPINOSA

e TORRES, 1998), que abordam a história do desenvolvimento da ciência

moderna.

2) Ciência e método – presente na definição de W. L. Kolb (GOULD e

KOLB, 1964), aborda a teoria versus empiria nas ciências sociais, métodos de

pesquisa das ciências sociais, generalização e objetividade; este último tema

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também está presente em Theodorson e Theodorson (1969/1975); método

científico em Allan Johnson (1995/1997); características e aspectos do

conhecimento científico na definição de Salvador Giner e Emilio Lamo de

Espinosa (GINER, ESPINOSA e TORRES, 1998); em Acebo Ibañez e Brie

(2001/2006) conhecimento científico x conhecimento vulgar, religioso e poético; na

definição de Manuela Teles (MAIA, 2002) método experimental (indução,

demarcação, empirismo, objetividade científica, comunicação subjetiva).

3) Divisão e distinção entre as Ciências Naturais e Ciências Sociais -

presente em Baldo Blinkert (1976/1980); a autonomia das ciências e a distinção

entre as ciências em Ad Hermans (1991) e em Steve Bruce e Steve Yearley

(2006).

4) Crença na ciência; poder de ação – presente na definição de

Benjamin Ginzburg (SELIGMAN, 1930-34), como crença no poder da ciência para

alcançar o progresso; em Joaquim Pimenta (1955), poder de ação do homem

sobre as coisas; em Javier Pascual Casado (DEL CAMPO; MARSAL;

GARMENDIA, 1975-6), como controle da natureza; em Steve Fuller

(HARRINGTON, MARSHALL, MÜLLER, 2006), como crença na ciência como

motor do progresso social (Iluminismo), controle do ambiente natural, crenças

científicas (ideologia) e em Steve Bruce e Steve Yearley (2006), ciência como

fonte de legitimação.

5) Aplicação e Impactos – Benjamin Ginzburg (SELIGMAN, 1930-4)

destaca impactos negativos como o desemprego tecnológico; Javier Pascual

Casado (DEL CAMPO, MARSAL, GARMENDIA, 1975-6) enfatiza a aplicação

prática (ciência convertendo-se em técnica) e o homem como responsável pelas

consequências positivas ou negativas de sua utilização; Giani Statera

(Enciclopedia delle scienza socialli, 1998), considera os impactos da ciência e sua

aplicação tecnológica no sistema social e os impactos da ciência e da tecnologia

sobre a sociedade; W. Shrum (SMELSER e BALTES, 2001) enfatiza a

necessidade de fazer distinção entre instituições e organizações científicas que

produzem conhecimento e coisas que podem ser produzidas a partir do

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conhecimento; Steve Fuller (HARRINGTON, MARSHALL, MÜLLER, 2006) aponta

o nível global de devastação para níveis sem precedentes e racionalização da

ciência.

6) Ciência e contexto histórico-sócio-cultural – tema presente em

Bernard Berber (SILLS, 1968/1977), afirma que as necessidades econômicas, a

ciência e a tecnologia se afetam de forma complexa e mútua; em Don K. Price, na

mesma obra aborda relações entre a ciência e o governo; em Roy Bhaskar

(BOTTOMORE, 1983/1988), menciona a relação do marxismo com a ciência,

considerando os aspectos intrínsecos e extrínsecos, bem como as principais

escolas do marxismo; em Allan Johnson (1995/1997), considera a ciência como

fenômeno social e como instituição social; em Giani Statera (Enciclopedia delle

scienza socialli, 1998), menciona a influência socioeconômica e cultural sobre a

pesquisa científica, as relações entre o desenvolvimento da ciência e o capitalismo

e as dimensões éticas do desenvolvimento científico e tecnológico; em Acebo

Ibañez e Brie (2001/2006), abordam a ciência como um fenômeno histórico-

cultural e a relação ciência, estado e sociedade; em Manuela Teles (MAIA, 2002),

considera a ciência inseparável do contexto histórico-social; em Steve Bruce e

Steve Yearley (2006), também consideram a ciência como um fenômeno social.

7) Comunidade científica – considerações sobre a comunidade

científica podem ser encontradas no artigo sobre cientistas de Warren O.

Hagstrom (SILLS, 1968/1977); em Theodorson e Theodorson (1969/1975),

consenso da comunidade científica; em Ad Hermans (1991), comunidades

científicas e valorização do conhecimento científico; em Giani Statera

(Enciclopedia delle scienza socialli, 1998), aborda o paradigma e a comunidade

científica e em Steve Fuller (HARRINGTON, MARSHALL, MÜLLER, 2006), ethos

dos cientistas praticantes, ciência como um movimento social altamente

disciplinado (vocação).

8) Pesquisa científica – esse tema está presente na definição de Allan

Johnson (1995/1997), sobre o financiamento das instituições científicas; em Acebo

Ibañez e Brie (2001/2006), abordam a política científica e tecnológica; em W.

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Shrum (SMELSER e BALTES, 2001), como tecnociência, a concentração da

pesquisa nos países industrializados e a pesquisa científica nos países em

desenvolvimento (ex-colônias) e em Steve Bruce e Steve Yearley (2006), como

pesquisa científica e tecnológica e mudança social.

9) Sociologia do conhecimento - William B. Kolb (GOULD e KOLB,

1964) menciona a sociologia do conhecimento; Bernard Berber (SILLS,

1968/1977) escreve um artigo sobre sociologia da ciência; Giani Statera em

(Enciclopedia delle scienza socialli, 1998) aborda a sociologia da ciência (Merton e

sua interpretação da ciência como um sistema social), a nova sociologia da

ciência, citando Derek Phillips e David Bloor entre outros; Steve Fuller

(HARRINGTON, MARSHALL, MÜLLER, 2006) menciona a história recente da

sociologia da ciência e a tecnociência como objeto adequado dos estudos de

ciência e tecnologia; e Steve Bruce e Steve Yearley (2006) também citam a

sociologia da ciência e os estudos da ciência e tecnologia ou estudos sociais da

ciência (construção social da ciência).

Por fim, os temas recorrentes nas definições de técnica e tecnologia

são: 1) cultura; 2) produção; 3) visão otimista x visão pessimista; 4) determinismo

tecnológico e neutralidade; 5) trabalho; 6) poder e 7) mentalidade técnica.

Defende-se que a variedade de sentidos, bem como de temas

presentes nas definições dos termos, deve-se a dois motivos principais. Primeiro à

falta de definição de sentido com o qual o termo está sendo empregado, o que

contribui para os termos serem utilizados com uma variedade maior de

significados. Em segundo lugar, devido à característica das obras, dicionários e

enciclopédias, que compõem o corpus do trabalho, terem por finalidade apresentar

definições de caráter geral e pretensamente neutro. Além disso, essas definições

registram acepções cujos usos são empregados na área da Sociologia e das

Ciências Sociais, em períodos e contextos diferentes, o que também contribui para

a diversidade de significados dos termos analisados. Por fim, a variedade de

temas presentes nas definições de técnica e tecnologia, revela que essas estão

articuladas com esferas importantes da vida em sociedade como o trabalho, a

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produção, as relações de poder e a cultura, entre outras, caracterizando-se como

dimensões importantes das relações socioculturais.

Em síntese, a presente análise confirma a questão que norteou esta

pesquisa, de que a tecnologia é pouco problematizada pela Sociologia. Dito de

outro modo, a tecnologia é um termo com o qual a Sociologia discute, por

exemplo, autonomia/não autonomia da tecnologia, efeitos sociais do uso de

tecnologias, etc., mas sobre o qual, isto é, seu significado, muitas vezes não

discute. Mesmo nos dicionários, que em princípio, tem como função apresentar

definições, nem sempre os autores das explicações dos termos apresentam

definições claras, de modo objetivo e explícito.

Algumas pistas do porque os termos, e em especial a tecnologia não é

devidamente problematizada pela sociologia estão apresentadas no decorrer do

trabalho, e são retomadas agora. Uma possibilidade pode ser a constatação de

que a tecnologia é vista pela porta dos fundos da ciência, isto é, de forma

secundária (TRIGUEIRO, 2009). Outra alternativa seria o fato do termo tecnologia

ter se tornado um conceito ritualizado, imune à contradição (MARCUSE, 1973).

Ou ainda porque a tecnologia faz parte do senso comum, é uma metáfora (ORTIZ,

2008). Nesse caso, não precisaria ser explicada.

Ao identificar os principais significados dos termos ciência, técnica e

tecnologia, bem como os principais temas presentes nas definições de técnica e

tecnologia, em dicionários de Sociologia e Ciências Sociais, espera-se ter atingido

o objetivo deste trabalho de analisar os significados de ciência, técnica e

tecnologia em dicionários e enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais,

mapeando parte das interpretações sociológicas sobre esses termos.

Acredita-se que a escolha de dicionários e enciclopédias de Sociologia

e Ciências Sociais como fonte empírica, constituiu-se num corpus inédito e

privilegiado, dada sua importância e função pedagógica, estabelecendo uma

relação entre teoria sociológica e educação.

Nesse sentido, acredita-se que novas pesquisas podem ser

desenvolvidas, com esse tipo de fonte, analisando outros termos. Sugere-se

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também a realização de pesquisas com um número limitado de obras, analisando-

as como um todo, isto é, de forma profunda e contextualizada.

Se os dicionários e enciclopédias de Sociologia e Ciências Sociais

possuem função pedagógica, de transmitir conhecimentos sobre conceitos, termos

e categorias que esta área do conhecimento utiliza, é importante que os

significados que são atribuídos aos conceitos e termos, nestas obras, sejam

analisados e comparados com os sentidos presentes em textos da área.

Por fim, a certeza de que o término deste trabalho, embora signifique a

conclusão de mais uma etapa no processo de formação, caracteriza-se

principalmente como um incentivo a continuar desenvolvendo a busca pela

aquisição e construção do conhecimento articulando a atividade acadêmica e

profissional com o contexto da vida pessoal e social.

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APÊNDICE – Descrição das obras que dicionarizam ou não os termos

ciência, técnica e tecnologia

Para facilitar a visualização e distinção das obras que dicionarizam ou

não os termos ciência, técnica e tecnologia, constantes na Figura 7 (página 85),

apresenta-se nos quadros 1 a 8, de forma desmembrada, cada grupo de obras.

No Quadro 1, as 13 obras que não dicionarizam ciência, técnica e tecnologia.

Nº ANO Autor / Organizador Título C Tca Tgia

6 1944 C. A. Echánove Trujillo Diccionaro de sociología - - -

7 1947 Markun, Leo A Dictionary of the Social Sciences (Little Blue Book No. 1456)

- - -

16 1968 G. Duncan Mitchell Novo Dicioniário de Sociologia - - -

21 1972 Jean Duvignaud A sociologia: guia alfabético - - -

22 1972 Golfin, Jean Vocabulário essencial da sociologia - - -

23 1973 Sumpf, J.; Hugues, M. Dictionnaire de sociologie - - -

26 1975 Jean Cazeneuve Dicionário de sociologia - - -

34 1978 Santos, W. dos Vocabulário de sociologia - - -

35 1979 Costa e Silva, L. E. T. Dicionário básico de sociologia - - -

38 1982 Boudon; Bourricaud Dicionário crítico de sociologia - - -

42 1989 Boudon; Besnard; Cherkaoui; Lécuyer

Dicionário de sociologia - - -

58 2001 Jonathan Michie Reader’s guide to the social sciences. Volume 2 - - -

64 2010 Maria Rosaria Gianminoto

Dizionario de scienze sociali. Sociologia, antropologia, scienza política. Cinese-italiano.

- - -

QUADRO 1– OBRASQUE NÃO DICIONARIZAM CIÊNCIA, TÉCNICA E TECNOLOGIA.

No Quadro 2 constam as 4 obras que apresentam apenas o termo

ciência como entrada.

Nº ANO Autor / Organizador Título C Tca Tgia

3 1939 Archêro Jr e A. Conte Dicionário de sociologia S - -

44 1991 Hermans, Ad Dictionnaire des termes de la sociologie S - -

50 1997 Pité, Jorge Dicionário breve de sociologia S - -

62 2006 S. Bruce; S. Yearley The Sage Dictionary of sociology S - -

QUADRO 2– OBRASQUE DICIONARIZAM APENAS O TERMO CIÊNCIA.

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No Quadro 3 constam as 5 obras que possuem apenas o termo técnica

como entrada.

Nº ANO Autor / Organizador Título C Tca Tgia

10 1955 Wilhem Bernsdorf; Friedrich Bülow

Wörterbuch der Soziologie - S -

13 1963 René König Enciclopédia Meridiano Fischer. Sociologia - S -

19 1969 Schoeck, Helmut Diccionario de sociologia - S -

30 1976 F. Demarchi; A. Ellena Dizionário di sociologia - S -

43 1991 Ferréol, Gilles Dictionnaire de sociologie - S -

QUADRO 3– OBRASQUE DICIONARIZAM APENAS O TERMO TÉCNICA.

No Quadro 4 constam as 11 obras que possuem apenas o termo

tecnologia como entrada.

Nº ANO Autor / Organizador Título C Tca Tgia

8 1950 Emílio Willems Dicionário de sociologia - - S

12 1961 Globo (Vários) Dicionário de sociologia - - S

24 1973 Bartra Roger Breve diccionario de sociología marxista - - S

32 1977 Ferreira, Luiz L. P. Dicionário de sociologia - - S

40 1984 Abercrombie; Hill; Turner Dictionary of sociology - - S

45 1993 W. Outhwaite; T. Bottomore

Dicionário do pensamento social do século XX

- - S

46 1994 Gordon Marshall A Dictionary of Sociology - - S

49 1996 Adam Kuper and Jessica Kuper

The social science encyclopedia - - S

51 1997 A. D. Cattani (org) Trabalho e tecnologia: dicionário critico - - S

52 1998 Pansani, Clóvis Pequeno dicionário de sociologia - - S

63 2009 Subberwal, Ranjana Dictionary of sociolgy - - S

QUADRO 4– OBRASQUE DICIONARIZAM APENAS O TERMO TECNOLOGIA.

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No quadro 5 estão as 7 obras que dicionarizam os três termos.

Nº ANO Autor / Organizador Título C Tca Tgia

9 1955 Joaquim Pimenta Enciclopédia de cultura (sociologia e ciências correlatas)

S S S

11 1959 John T. Zadrozny Dictionary of Social Science S S S

20 1969 Theodorson; G.; A. Theodorson.

Dizionario di sociologia S S S

27 1975(6) Del Campo; Marsal; Garmendia

Diccionario de ciencias sociales (V. I e II) S S S

37 1980 Department of National Education

Sosiologiewoordeboek (dictionary of sociology) (English / Afrikaans)

S S S

54 1998 Enciclopédia delle scienze sociali. V. VIII. S S S

60 2003 Greco, Orlando Diccionario de sociología S S S

QUADRO 5– OBRASQUE DICIONARIZAM OS TERMOS CIÊNCIA, TÉCNICA E TECNOLOGIA.

No quadro 6 estão as 4 obras que dicionarizam apenas os termos

ciência e técnica.

Nº ANO Autor / Organizador Título C Tca Tgia

1 1905 Squillace, Fausto Diccionario de sociología S S -

31 1976 Baldo Blinkert Diccionarios Rioduero. Sociología S S -

55 2000 LIU, Wen The wenhui chinese - eng. Dictionary of psycology e sociology

S S -

56 2001 Acebo Ibañez; R. Brie Diccionario de sociología S S -

QUADRO 6– OBRASQUE DICIONARIZAM APENAS OS TERMOS CIÊNCIA E TÉCNICA.

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No Quadro 7 as 13 obras que dicionarizam apenas os termos ciência e

tecnologia.

Nº ANO Autor / Organizador Título C Tca Tgia

2 1930-34 Edwin R. A. Seligman Encyclopaedia of the social sciences S - S

5 1944 H. Pratt Fairchild Diccionario de sociologia S - S

14 1964 J. Gould e W. L. Kolb A dictionary of the social sciences S - S

17 1968 David L. Sills Enciclopedia Internacional de las ciencias sociales. V. 10

S - S

18 1969 Thomas Ford Hoult Dictionary of modern sociology S - S

36 1978 A Zaki Badawi A Dictionary of the Social Sciences (English-French-Arabic with an Arabic-English Glossary and a French-English Glossary)

S - S

39 1983 Bottomore, T. (editor). Dicionário do pensamento marxista S - S

41 1986 Benedicto Silva Dicionário de ciências sociais S - S

48 1995 Johnson, Allan G Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica

S - S

53 1998 Giner; Espinosa; Torres Diccionario de Sociología S - S

57 2001 Neil J. Smelser; Paul B. Baltes

International Encyclopedia of the social & behavioral sciences. V. 23

S - S

59 2002 Rui Leandro Maia Dicionário de sociologia S - S

61 2006 Harrington; Marshall; Müller.

Encyclopedia of social theory S - S

QUADRO 7– OBRASQUE DICIONARIZAM APENAS OS TERMOS CIÊNCIA E TECNOLOGIA.

Por fim no Quadro 8 as 4 obras que dicionarizam apenas os termos

técnica e tecnologia.

Nº ANO Autor / Organizador Título C Tca Tgia

4 1939 H. Baldus e E. Willems Dicionário de etnologia e sociologia - S S

15 1966 Birou, Alain Dicionário das ciências sociais - S S

33 1978 Gallino, Luciano Dicionário de sociologia - S S

47 1994 Hillmann, Karl-Heinz Diccionario enciclopédico de sociologia - S S

QUADRO 8– OBRASQUE DICIONARIZAM APENAS OS TERMOS TÉCNICA E TECNOLOGIA.