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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO: PUBLICIDADE E PROPAGANDA FERNANDA MICHELE MACIEL SARATE O MOVIMENTO SLOW LIFE E A DESACELERAÇÃO DA SOCIEDADE DE CONSUMO CONTEMPORÂNEA SÃO LEOPOLDO 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO: PUBLICIDADE E

PROPAGANDA

FERNANDA MICHELE MACIEL SARATE

O MOVIMENTO SLOW LIFE E A DESACELERAÇÃO DA SOCIEDADE DE

CONSUMO CONTEMPORÂNEA

SÃO LEOPOLDO

2009

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FERNANDA MICHELE MACIEL SARATE

O MOVIMENTO SLOW LIFE E A DESACELERAÇÃO DA SOCIEDADE DE

CONSUMO CONTEMPORÂNEA

Trabalho de conclusão apresentado àUniversidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos,como requisito parcial para obtenção do título debacharel em Comunicação Social - habilitação:Publicidade e Propaganda

Orientadora: Profa. Dra. Anya Sartori Piatnicki Revillion

SÃO LEOPOLDO

2009

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus pais pela dedicação e apoio

dispensados em todas as fases de minha vida, à

Vanessa por sua presença tão especial e

fundamental neste e em tantos outros momentos, à

minha família, amigos e todos aqueles que, de

alguma forma, contribuíram para a realização deste

trabalho.

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FALTA DE TEMPO

Nunca temos tempo. Para ser e até para não ser.Para arrumar ou desarrumar. Decidi organizar a

biblioteca e baixei todos os livros da estante. Umassalto, os livros no solo com pavor de minha

reação. Foi um surto de um dia, mas quedemandaria um mês inteiro para terminar. Quem

disse que levei adiante? Os livros continuamdeitados. O assalto virou seqüestro. Deixei a ânsia

de corrigir minha vida e ordenar alfabeticamente osautores para outro momento.

Nunca temos tempo. Para trabalhar ou rever amigosou descansar e desfrutar as distrações. O tempo de

férias não conta, é um templo planejado, que maisse assemelha a um trabalho free lancer do que a

uma espontânea inquietação. Passagens, hotel oucasa alugada, pagar as contas com antecedência,

procurar alguém para controlar a casa, manter aágua das plantas, isso que não possuo cachorro...

Não temos tempo a perder, muito menos a ganhar.Tempo é espaço, estar perto para conseguir voltar.Não tenho tempo para responder mensagens, não

tenho tempo para ir à praça. Diversão terminarápido. Minha boca é um relógio de corda.

Meu tempo transformou-se curiosamente na minhafalta de tempo [...]

Fabrício Carpinejar

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RESUMO

O presente trabalho pretende identificar o processo de desaceleração

vivenciado por nichos da sociedade de consumo contemporânea sob a ótica do

denominado Movimento Slow Life. Em linhas gerais, este movimento apresenta

entre suas premissas que o sujeito contemporâneo deve ter uma relação de

equilíbrio com o seu tempo produtivo e não-produtivo, encontrando o ritmo giusto1

para cada atividade. Assim, busca-se um entendimento sobre como pessoas que

vivem em ritmo acelerado percebem a viabilidade desse movimento. Além disso, o

trabalho procurou desvendar as opiniões dos entrevistados a respeito de como o

processo de aceleração da sociedade se reflete nos hábitos de consumo, gerando

comportamentos de compra. Para se atingir tais objetivos, realizou-se pesquisa

bibliográfica aliada à pesquisa exploratória qualitativa através da técnica de

entrevista individual em profundidade.

Palavras-chave: Movimento devagar. Slow life.Tempo. Comportamento de

consumo.

1 Termo utilizado na teoria musical para denominar o ritmo correto em que a música deve ser tocada.No Movimento Slow Life, é utilizada para designar o ritmo pessoal do indivíduo para exercerdeterminada atividade.

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ABSTRACT

This study seeks to identify the process of deceleration experienced by niches

of the consumer society from the viewpoint of the contemporary movement called

Slow Life. In general, this movement presents among its premises that the

contemporary individual should have a relationship of balance with his productive

and non-productive time, finding the pace giusto2 for each activity. Thus, it searches

an understanding of how people who live at an accelerated pace understand the

viability of this movement. Furthermore, the study aimed to uncover the respondents’

views concerning how the society acceleration process is reflected in usage patterns,

generating purchasing behavior. To achieve these objectives, there was literature

survey combined with qualitative technique through individual interviews in depth.

Keywords: Slow movement. Slow life. Time. Behavior of consumption.

2 Term used in musical theory to name the correct rate at which the music should be played. In the Slow Life

Movement, it is used to describe the personal rhythm of the person to perform determined activity.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – ANÚNCIO NATURA - PERFUME DO BRASIL PRIPRIOCA. .............77

FIGURA 2 – ANÚNCIO NOVO CHRONOS DA NATURA........................................78

FIGURA 3 – ANÚNCIO TIM – DESACELERE. ........................................................80

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – RELAÇÃO DO ENTREVISTADO COM O SEU TEMPO PRODUTIVO

.................................................................................................................................108

QUADRO 2 – RELAÇÃO DO ENTREVISTADO COM O SEU TEMPO NÃO-

PRODUTIVO...........................................................................................................110

QUADRO 3 – SUSTENTABILIDADE DA PROPOSTA DE DESACELERAÇÃO...111

QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS DE CONSUMO DOS ENTREVISTADOS......112

QUADRO 5 – PERCEPÇÃO DOS ANÚNCIOS SELECIONADOS.........................115

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11

2 A RELAÇÃO DO HOMEM COM O TEMPO...........................................................14

2.1 CONCEITO DE TEMPO......................................................................................14

2.2 MEDIÇÃO DO TEMPO........................................................................................16

2.2.1 A Invenção do Relógio...................................................................................18

2.3 A TRANSFORMAÇÃO DO TEMPO ATRAVÉS DO TRABALHO........................21

2.3.1 O Trabalho e o “Direito à Preguiça”..............................................................28

2.4 ACELERAÇÃO DO TEMPO................................................................................29

3 A SOCIEDADE DE CONSUMO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS...............32

3.1 A ATIVIDADE DE CONSUMO.............................................................................33

3.1.1 Consumo Versus Consumismo.....................................................................37

3.2 SURGIMENTO E ESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE DE CONSUMO........38

3.2.1 Mudanças no Pós-Guerra...............................................................................40

3.3 SER CONSUMIDOR NA SOCIEDADE DE CONSUMO CONTEMPORÂNEA....41

3.3.1 PROSUMERS: o sujeito como produtor e consumidor...............................43

3.3.2 A fidelidade do consumidor contemporâneo...............................................44

3.4 CONSUMO E TEMPO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA...........................45

4 MOVIMENTO DE DESACELERAÇÃO DA SOCIEDADE DE CONSUMO E A

ATITUDE SLOW LIFE...............................................................................................50

4.1 DESACELERE: O SURGIMENTO DO MOVIMENTO SLOW LIFE.....................51

4.1.1 Principais Bases do Movimento Slow Life...................................................52

4.1.1.1 Slow Food......................................................................................................53

4.1.1.2 Città Slow.......................................................................................................56

4.1.1.3 Mente e Corpo no Slow..................................................................................57

4.1.1.4 Slow no Trabalho...........................................................................................61

4.1.1.5 Lazer e Slow..................................................................................................67

4.2 A RESIGNIFICAÇÃO DO TEMPO NO SLOW LIFE............................................70

4.3 SLOW LIFE NA PUBLICIDADE E NO MERCADO DE CONSUMO....................73

4.3.1 Slow Life como oportunidade de mercado...................................................73

4.3.2 Slow e a publicidade ......................................................................................76

5 PESQUISA DE CAMPO COM “ACELERADOS” DE PORTO ALEGRE..............81

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5.1 METODOLOGIA..................................................................................................81

5.2 ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE..................................................................82

5.3 ELABORAÇÃO DO ROTEIRO SEMI-ABERTO PARA ENTREVISTA EM

PROFUNDIDADE......................................................................................................83

5.4 SELEÇÃO DA AMOSTRA...................................................................................86

5.5 APLICAÇÃO DAS ENTREVISTAS......................................................................87

5.6 PERFIL DOS ENTREVISTADOS........................................................................88

5.7 DESCRIÇÃO DAS PESQUISAS..........................................................................89

5.7.1 Entrevista 1......................................................................................................89

5.7.2 Entrevista 2......................................................................................................91

5.7.3 Entrevista 3......................................................................................................93

5.7.4 Entrevista 4......................................................................................................95

5.7.5 Entrevista 5......................................................................................................98

5.7.6 Entrevista 6....................................................................................................101

5.7.7 Entrevista 7....................................................................................................104

5.8 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA................................................107

6 CONCLUSÃO.......................................................................................................117

REFERÊNCIAS.......................................................................................................120

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1 INTRODUÇÃO

Desde criança se é acostumado à dicotomia existente entre o rápido e o

devagar. É ensinado desde cedo a fábula da lebre e da tartaruga. Aprende-se que a

velocidade da lebre não lhe garante a vitória numa corrida com a lenta tartaruga.

Como moral da história se aprende que quem segue devagar e com constância

pode chegar na frente3.

Porém, mais tarde, muitos parecem sofrer da ‘síndrome do coelho branco’. Na

obra de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, este personagem está sempre

com pressa, correndo, olhando para o relógio e gritando “Oh, meu Deus! Oh, meu

Deus! Vou chegar tarde!”4.

Vive-se atualmente numa sociedade endemicamente acelerada, na qual as

vinte e quatro horas de um dia parecem já não serem suficientes para comportar

todos os compromissos e atividades que constam na agenda do sujeito

contemporâneo. Destarte, a cultura do fazer rápido, de se fazer mais em cada vez

menos tempo se incorpora e vira sinônimo de pró-atividade. A pressa foi detectada

como um sintoma de desvio comportamental característico dos tempos atuais, que

resulta, muitas vezes, no fazer rápido em detrimento do fazer melhor ou com

qualidade, assim como o fazer em detrimento do refletir, do planejar. (VERA;

MASSON; VICÁRIA, 2009, p. 40).

O tempo parece ser mais um recurso monetarizado, se não se está

produzindo, se está perdendo, portanto, se está sempre em constante

movimentação, “como se Frederick Taylor estivesse rondando para fiscalizar,

controlando o cronômetro e tamborilando na prancheta”. (HONORÉ, 2005, p. 314).

Porém, delineia-se, hoje, uma mudança estrutural na sociedade e, sobretudo,

no que tange a relação que o indivíduo tem com o seu tempo.

Na década de 1980 surge na Itália um movimento reativo ao Fast Food, o

Slow Food. Este preconiza que se resgate o prazer da alimentação saudável, com

produtos orgânicos, não-industrializados, em ritmo de tranqüilidade, acompanhado3 FÁBULAS de Esopo. São Paulo: Scipione, 19984 CARROLL,Lewis. Alice no país das maravilhas. Porto Alegre: L&PM, 1998

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de amigos ou familiares. A partir disso, um movimento mais amplo de desaceleração

insurge em outros âmbitos da vida como o trabalho e o lazer, o Movimento Slow Life.

Para se identificar a viabilidade e a pertinência de tal movimento na sociedade

contemporânea, busca-se neste trabalho, primeiramente um resgate e um

entendimento sobre a relação do homem com o seu tempo produtivo e não-

produtivo. A partir disso, apresenta-se algumas mudanças ocorridas na sociedade

que alteraram substancialmente a relação do homem com o seu consumo. Por fim,

define-se a caracteriza-se o Movimento Slow, apontando-se suas principais

diretrizes e identificando a aplicação de alguns de seus princípios em peças

publicitárias. Inicia-se também uma reflexão acerca da sua percepção pelo nicho

aqui denominado de ‘acelerados’, pessoas de diferentes segmentos e com perfis

bastante diversos, porém que apresentam como elemento agregador uma rotina

acelerada.

Neste contexto, percebe-se que o Movimento Slow traz consigo uma série de

desafios, é um movimento ainda em construção que, cada vez mais, vem ganhando

forma.

O presente trabalho, então, parte em busca de um entendimento maior sobre

essa relação um tanto oximorônica entre o sujeito e o seu tempo, ente a pressa e a

aceleração e o equilíbrio e a desaceleração.

Estudos sobre o Movimento ainda são incipientes, sobretudo no Brasil, o que

se justifica por este ser um movimento tão recente e em fase de organização.

Para a área de estudos de comportamento de compra e do consumidor,

mostra-se necessário buscar-se um aprofundamento sobre tal tema, identificando

como o ritmo de vida pode influenciar no mercado de consumo.

Este é um estudo preliminar sobre o tema, ainda pouco conhecido, porém

bastante pertinente, encontrou-se alguma dificuldade no encontro de informações

precisas em instrumentos formais. Além disso, no país não se tem uma Città Slow5,

o que dificultou o contato com os realmente ‘desacelerados’.

5 Nestas cidades, certificadas pelo Movimento Slow, busca-se uma melhoria na qualidade e ritmo devida tanto dos seus habitantes quanto dos turistas. Para se tornar uma Città Slow, a localidade devepreencher uma série de requisitos. Há, no Brasil, duas cidades que buscam essa certificação.

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Porém, mesmo com estes obstáculos, a temática do presente trabalho

mostra-se pertinente neste momento em que muitos parecem desejar ter relógios

tão flexíveis como os apresentados por Salvador Dali.

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2 A RELAÇÃO DO HOMEM COM O TEMPO

O tempo sempre foi objeto de estudo, de fascínio e de inquietação do homem.

Sua medição precisa, alvo constante de atenção. O seu domínio, desde sempre, um

objetivo.

Sua forma de concepção e abordagens varia e acompanha as mudanças

sociais e as mudanças do sujeito e da sociedade na qual este está inserido.

Porém, antes de prosseguir, mostra-se necessário, apresentar alguns

conceitos e concepções ao tempo relacionadas.

2.1 CONCEITO DE TEMPO

O Dicionário Houiss (2004, p. 2690) conceitua tempo como “duração relativa

das coisas que cria no ser humano a idéia de presente, passado e futuro; período

contínuo e indefinido no qual os eventos se sucedem”.

Já no Dicionário Aurélio (2004, p. 1930), o verbete é definido como “a

sucessão dos anos, dos dias, das horas, etc. que envolve para o homem a noção de

presente, passado e futuro”.

Não há um consenso em torno da significação do termo ‘tempo’ e este foi

sendo modificado ao longo da história.

Para Platão, o conceito de tempo estava fortemente vinculado à eternidade.

Para este filósofo o tempo “não seria senão a cópia ou imagem imutável e

fenomênica da eternidade, imutável e simultânea, que acolhe e transcende a própria

dimensão temporal” (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA DO BRASIL PUBLICAÇÕES,

1998, p. 42)

Aristóteles já começava a perceber a relação do tempo com o espaço quando

o define como “a medida do movimento conforme o antes e o depois”.

(ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO BRASIL PUBLICAÇÕES, 1998, p. 42)

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Essas concepções estariam fortemente embasadas no período presente.

Ferrater (2001, p. 2834) ressalta que os filósofos gregos “conceberam o tempo como

uma série linear dentro de cada ciclo, e tal série linear como um conjunto de

presentes”.

Para este autor, tempo poderia ser definido como:

nossa dimensão existencial fundamental de modo que fatos aparentementeinsignificantes modem mudar realmente o curso da evolução histórica. Otempo é, pois, a dimensão criadora, surpreendente e cambiante de todarealidade.(FERRATER, 2001, p. 2842).

ELIAS (1998, p.9) argumenta que existiam – e que talvez ainda existam –

duas concepções opostas sobre a natureza do tempo. A primeira seria a de que o

tempo constitui “um dado objetivo do mundo criado, e que não se distingue, por seu

modo de ser, dos demais objetos da natureza, exceto, justamente, por não ser

perceptível”. Esta concepção de caráter mais objetivista, tem em Isaac Newton um

de seus representantes. Para Newton, o tempo “flui uniformemente sem relação

alguma com o exterior” e “a existência do tempo é necessariamente sem começo,

sem fim, linear e contínua”. (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO BRASIL

PUBLICAÇÕES, 1998, p. 42).

Já a segunda corrente, afirma que o tempo seria,

uma maneira de captar em conjunto os acontecimentos que se assentamnuma particularidade da consciência humana, ou, conforme o caso, darazão ou do espírito humanos, e que, como tal, precede qualquerexperiência humana”. Essa corrente menos sistemática tem entre seusrepresentantes Descartes e Kant. Então, em oposição à primeiraconcepção, o tempo seria “uma forma inata de experiência e, portanto, umdado não modificável da natureza humana. (ELIAS, 1998, p. 9).

ELIAS (1998, p. 12) defende que o conceito de tempo não deve ser calcado

apenas nesta ou naquela concepção e que o tempo tornou-se a “representação

simbólica de uma vasta rede de relações que reúne diversas seqüências de caráter

individual, social ou puramente físico”.

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Albert Einstein também contribui na busca pelo entendimento do tempo,

através da teoria da relatividade. “No lugar do fluxo contínuo e imutável, Einstein

introduziu o conceito de espaço-tempo, segundo o qual o espaço e o tempo são dois

sistemas de relação inseparáveis, embora à percepção humana se apresentem de

forma independente”. O físico argumenta que não existe um tempo absoluto, que

seja realmente independente do sujeito que o observa. (ENCYCLOPAEDIA

BRITANNICA DO BRASIL PUBLICAÇÕES, 1998, p. 42-43).

Cunha aborda a questão do tempo como produtivo – dedicado à manutenção

do produto social – e o tempo não-produtivo – que é percebido como residual ou

complementar ao anterior, subtraindo-se deste. (CUNHA, 1987, p. 14-15). Esta

concepção será vista a seguir, quando se abordar o tempo no mundo do trabalho.

Servan-Schreiber (1991, p. 15) apresenta o tempo como um medidor de

transformações e argumenta que, hoje, vive-se no ritmo de três tempos: o tempo da

natureza, o tempo da sociedade e o tempo vivido (SERVAN-SCHREIBER, 1991,

p.52).

O tempo da natureza seria “o tempo cósmico, aquele dos 15 milhões de anos

depois do big bang original”. (SERVAN-SCHREIBER, 1991, p.52).

Já o tempo da sociedade, seria uma convenção da sociedade humana,

formado por códigos de conduta e comportamentais. (SERVAN-SCHREIBER, 1991,

p. 53).

O tempo vivido é “feito de percepções, sentimentos e de nossa constituição

biológica pessoal”. (SERVAN-SCHREIBER, 1991, p. 53). o tempo “que se exprime

em qualidade, enquanto o tempo social é sobretudo quantitativo”. Então, expressões

como “rápido”, “lento”, “inesquecível” seriam aplicáveis a este tempo, em oposição

ao tempo da sociedade que seria classificado através de “bimestres”, “semanas” e

“minutos”, por exemplo.

Esta relação de fascínio e de conflito tem na busca pela medição e

compreensão do transcorrer do tempo um forte expoente.

2.2 MEDIÇÃO DO TEMPO

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Para DONATO, “Conhecer, definir, medir, controlar o tempo, foi uma

obsessão humana, tão antiga como o próprio homem”. (2004, p. 61). Neste sentido,

Honoré afirma que um dos principais estímulos para que o homem aprendesse a

marcar e mensurar o tempo foi a sua própria sobrevivência. (HONORÉ, 2005, p. 33).

Nos primeiros tempos, as preocupações dos homens centravam-se em sanar

suas necessidades básicas e imediatas como alimentar-se quando tinham fome,

beber água para saciar a sede, dormir quando sentissem sono, etc. Para isso, foi-se

impondo algumas necessidades como conhecer o melhor momento para a pesca ou

para plantar seus alimentos.

Assim, o homem inicialmente voltou-se aos astros. O homem primitivo olhava

para o céu para estimar a passagem do tempo. “Durante o dia, o passar do tempo

era avaliado pela posição do Sol; à noite, pela posição da Lua e das estrelas”.

(DONATO, 2004, p. 34).

O dia foi a base para todas as demais medidas. Em algumas sociedades, ele

foi calculado como o tempo transcorrido de aurora a aurora, em outras o espaço de

tempo entre dois crepúsculos vespertinos. É mais recente a concepção atual de o

dia iniciar à meia-noite. (DONATO, 2004, p. 13).

Porém, logo se percebeu que apenas essa divisão do tempo não seria

suficiente.

O homem primitivo tinha predileção pelo número doze. A base de suanumeração era duo decimal. Disso nos veio a estranha medida que é adúzia. Doze eram geralmente as famílias base de cada tribo, doze as setascom que o caçador municiava o seu carcás. Doze foram as partes em quedividiram o dia e também a noite. (DONATO, 2004, p. 19)

Assim, surgiu a medida denominada hora.

Mas essa nova divisão de tempo também rapidamente mostrou-se

insatisfatória, pois muitas coisas aconteciam entre uma hora e outra e precisava-se

medir esse tempo também.

Assim, o sistema de divisão do todo em doze partes foi novamente utilizado,

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surgindo assim os minutos e os segundos. (DONATO, 2004, p. 18-19).

Já a semana, partiu da observação dos ciclos da lua. O homem iniciou a

empreitada de observar quantos dias a lua permanecia em uma fase, chegando

assim, ao resultado aproximado de sete dias. Este período, então, inicialmente, foi

denominado de septimana. (DONATO, 2004, p. 24). O mesmo deu-se na divisão do

mês. Percebeu-se que havia uma regularidade no período entre uma e outra lua

nova. “A rigor, esse tempo era igual a 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 2 segundos”.

(DONATO, 2004, p. 33). Mais tarde, convencionou-se, então, que o mês teria trinta

dias.

Entretanto, quando o homem começa a fazer planejamentos e atividades

mais longas, como construir e realizar viagens mais demoradas a locais mais

distantes, mostrou-se necessário a denominação e o surgimento de mais uma

medida: o ano – que primeiramente era composto por doze ciclos lunares e que,

mais tarde, foi determinado pelos egípcios, teria 365 dias. No ano de 46 A.C., Júlio

César, imperador romano, a fim de precisar ainda mais a medição do tempo e

alinhar a marcação do ano pelos astros, chama o astrônomo Sosígenes juntamente

com outros peritos. Assim surge o calendário Juliano que, entre as inovações,

formatava o ano para iniciar no dia 1º de janeiro e ser composto por 365 dias e ¼.

Porém este calendário possuía, ainda, uma imperfeição: o ano, na verdade seria

formado por 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46,7 segundos. (DONATO, 2004, p.

120-121). No ano de 730, um monge provou que o uso do calendário Juliano

resultava em a cada 128 anos, um dia de diferença. Depois de mais algumas

tentativas e ajustes, no ano de 1577 o Papa Gregório XIII resolve intervir nesta

questão e, depois de inúmeros estudos, entra em vigor no ano de 1582 o calendário

gregoriano, adotado pouco a pouco pela maioria dos países do mundo.

2.2.1 A Invenção do Relógio

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“A civilização que confunde os relógios com o tempo [...]

Eduardo Galeano.

Como apresenta DONATO (1955, p.70) no início, o tempo era “sentido,

precisava ser medido”.

Segundo o autor o mais antigo instrumento de medida do tempo seria,

um rústico engenho, [...] empregado pela primeira vez nas proximidades doano 1.100 A.C. Nada mais do que uma haste aceitavelmente reta, de pedraou de osso, plantada num pátio bastante largo para receber o sol durante odia todo, o ano inteiro. (DONATO, 1995, p. 70).

Mais tarde, os assírios aperfeiçoaram o instrumento e também criaram, por

volta do ano de 640 A.C., um relógio de água. Neste instrumento, regulado pela

duração de um dia, um recipiente deixava escoar a água nele contida, gota a gota.

Quando o recipiente ficava vazio, indicava que mais um dia chegava ao fim.

(DONATO, 1995, p. 70).

Por volta do ano de 700 A.C., na Babilônia, surge o relógio de sol. Seu

funcionamento era simples: num molde, dividido em doze partes iguais e com um

traço colorido marcado, havia uma conta presa bem ao centro. Na medida em que o

sol avançava mudando sua posição no céu, a conta projetava uma sombra no

molde, marcando assim a hora. (DONATO, 1995, p. 73).

A essa investida, sucederam-se outras, como os quadrantes solares, os

gnômons e a clepsidra, ou relógio de água. (DONATO, 1995, p. 73-76). Porém,

todos esses instrumentos apresentavam entre seus defeitos, um bastante

indesejável: não eram portáteis, em situações de viagem, por exemplo, era bastante

incômodo e nada prático pô-los a funcionar corretamente. Assim, depois de alguns

aperfeiçoamentos nas clepsidras, surge a ampulheta, ou relógio de areia. Além da

portabilidade e da utilização de um recurso mais prático e disponível – a areia – a

ampulheta oferecia outra vantagem: a possibilidade de marcar períodos de tempo

maiores que uma hora, dependendo do tamanho de suas redomas. Rapidamente

tornou-se o instrumento de medição e de passagem do tempo mais difundido na

antiguidade. (DONATO, 1995, p. 81-83).

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Mais tarde, os árabes criaram um instrumento dotado de quadrante, rodas

dentárias e de ponteiros. Seu movimento já não dependia de água ou de areia, era

um peso que desenvolvia essa ação. Esse foi um instrumento importante e um

passo adiante na evolução do relógio tal qual é conhecido hoje. (DONATO, 1995, p.

85).

Foi-se tornando comum e difundindo-se o uso de imponentes relógios, com

forte caráter ornamental, em locais grandiosos como castelos e catedrais.

Em 1509 surge o primeiro relógio de bolso. Era um instrumento de ferro e

possuía um mecanismo para badalar. Mais tarde, seu mostrador é aperfeiçoado,

feito com relevo, para permitir, através do tato, a sua consulta noturna. (DONATO,

1995, p. 90).

Depois de diversos avanços provindos de diversas partes do mundo, por

estudiosos como Galileu Galilei, em 1695, o suíço Nicholas Fácio, introduz o

emprego de jóias nos relógios a fim de diminuir o atrito e mantê-lo funcionando

perfeitamente por mais tempo. (DONATO, 1995, p.95).

Em 1876 uma nova e impactante invenção: o relógio despertador, que viria a

ser um grande aliado para o conceito de pontualidade que estava sendo

amplamente disseminado na época (HONORÉ, 2005, p. 39).

Em 1907, o joalheiro francês Louis-Joseph Cartier, a pedido do aviador

Santos Dumont, que gostaria de checar com facilidade seu tempo de vôo durante

testes de velocidade, cria o relógio de pulso. (DUARTE, 1998, p. 218-219).

Chiquetto (2004, p. 44) aponta que a partir da década de 1940, surgem os

relógios atômicos, a base de césio, que contam com um grau de precisão único.

Porém, este ficou restrito a laboratórios de física e não impactaram o homem

comum. Já o relógio eletrônico, a base de quartzo, apresentou-se como uma

revolução no cotidiano do homem, possibilitando uma diminuição significativa no

tamanho do relógio e no consumo de corrente elétrica.

Chiquetto critica a utilização e o papel do relógio na sociedade

contemporânea, para o autor,

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hoje, nossa vida é totalmente comandada pelo relógio. Não comemosquando temos fome, e sim quando o relógio nos ordena comer (e comemosaté mesmo sem fome, pois o relógio só vai ordenar novamente depois dealgumas horas). Dormimos somente quando o relógio nos manda dormir enamoramos quando o relógio permite. (CHIQUETTO, 2004, p. 9)

Conforme Honoré, “ao tornar possível o estabelecimento de horários diários,

os relógios trouxeram a promessa de maior eficiência – e também de mais estrito

controle”. (HONORÉ, 2005, p. 33).

Pode-se interpretar essas afirmações também como uma crítica da

concepção e utilização do tempo pelo homem contemporâneo, questões essas que

são essenciais para o Movimento Slow Life que será tratado mais adiante.

2.3 A TRANSFORMAÇÃO DO TEMPO ATRAVÉS DO TRABALHO

Antigamente, as pessoas não possuíam mecanismos de controle do tempo

tão precisos como os modernos relógios. Elas “levantavam porque clareava (ou

porque o galo cantava), dormiam porque escurecia, e passavam o dia inteiro sem

saber a hora”.(CHIQUETTO, 2004, p. 9). Porém, como já foi exposto, elas

conheciam alguns fenômenos naturais relacionados com o transcorrer do tempo,

como as fases da lua.

Chiquetto observa que essa mudança nas formas de se encarar o tempo são

gradativas e que vêm ocorrendo a muitos séculos, devido às transformações no

modo de vida dos homens, ocorridas, sobretudo, a partir do século XVIII

(CHIQUETTO, 2004, p. 10). Até esse momento, a maioria das pessoas vivia no

campo e se ocupava da agricultura. Para elas importava saber, através da

observação da posição das constelações, quando era época de chuvas e quando

era o período de reprodução dos animais, através do conhecimento das fases da

lua. O tempo era, então, percebido e medido através dos ciclos da natureza. Esse

conhecimento se mostrava de grande valia na época em detrimento de se saber, por

exemplo, quantos minutos seriam necessários para se concluir determinada tarefa.

(CHIQUETTO, 2004, p. 10-11).

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É a partir do século XVIII, com o fortalecimento e a propagação de fábricas e

escritórios, que estas questões passam a ocupar uma posição cada vez mais central

na economia e na vida do homem e essa situação começa, então, a mudar.

O advento da máquina a vapor muda bastante o cenário do mundo do

trabalho. Entre 1800 e 1850 o vapor se consolida como fonte principal de energia.

(KATINSKY, 1976, p. 89). Na Grã-Bretanha, por exemplo, em 1700, a produção

anual de carvão era de três milhões de toneladas. Com o advento da máquina a

valor, no ano de 1800, a produção dobrou e, em 1850 esta foi multiplicada por 20.

(KATINSKY, 1976, p. 92). A aplicação da máquina a vapor no processo produtivo

desencadeia diversas mudanças de ordem econômica e social que, segundo

Chiavenato, “foram maiores do que as mudanças ocorridas em todo o milênio

anterior”. (CHIAVENATO, 2000, p. 30). Trata-se da Revolução Industrial que é

composta por grandes transformações econômicas, sociais e tecnológicas, nos

séculos XVIII e XIX que geraram o sistema fabril e o modo de produção capitalista.

(CHIAVENATO, 2000, p. 44).

A partir dessas mudanças, o trabalhador passa a vender o seu tempo a um

empregador.

Numa fábrica, se a máquina é ligada às 8 horas da manhã, todos osoperários têm de estar prontos para trabalhar a essa hora. Um operário quechega dez minutos atrasado pode prejudicar a produção e dar prejuízo aopatrão. Além disso, não só nas fábricas, mas também no comércio e nosescritórios, o que um empregado vende ao seu patrão é, basicamente, seutempo (num contrato de oito horas diárias, o trabalhador está vendendoessas oito horas de seu dia ao patrão). (CHIQUETTO, 2004, p.10-11).

Trata-se, como define Morais, de compatibilizar a estrutura de vida do homem

ao tempo industrial, ao qual Foucault chama de “tempo disciplinar”. (MORAIS, 1998,

p. 43).

Morais aborda também a diferença entre tempo produtivo e o não-produtivo,

ao qual o autor também se refere como tempo residual. Para o autor, o tempo

produtivo seria aquele vinculado ao trabalho independente de sua natureza e o

tempo não-produtivo seria o tempo antagônico àquele. (MORAIS, 1998, p. 45-46).

Este tempo, ainda pode ser chamado de tempo livre que seria o tempo contrário ao

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tempo de trabalho “mas sem desligar-se dele”. (MORAIS, 1998, p. 46). Cunha

entende ainda que o tempo não-produtivo tem também uma função produtiva na

sociedade, visto que neste tempo o homem consome. Como o consumo é essencial

para o processo produtivo e para o circuito econômico, o tempo dito não-produtivo

seria parte essencial do processo produtivo. (CUNHA, 1987, p. 13).

Então, com o advento do sistema fabril e industrial, a relação do homem com

seu tempo mudou completamente. “Ocorre, assim, a interação de dois fatos. Por um

lado, a incorporação da máquina, introduzindo uma nova disciplina e, por outro, a

estrutura fabril com sua organização do trabalho que representou o

desmantelamento do controle sobre o processo produtivo até então desempenhado

pelo próprio homem, pelo próprio concretizador da tarefa, pelo trabalhador”.

(MORAIS, 1998, p. 30).

A produção, prioritariamente manual, é substituída pela produção em massa e

em série.

O taylorismo se apresenta como uma grande ruptura nesse cenário. Em 1903,

Taylor realiza o Estudo de Tempo e Movimentos, onde ele efetuou um trabalho de

análise das tarefas de cada empregado de uma fábrica. Taylor decompôs cada uma

dessas atividades e procurou aperfeiçoar e racionalizar a maneira correta de realizá-

las, de forma mais rápida e com economia de tempo e de movimentos.

(CHIAVENATO, 2000, p. 52-53). Taylor introduz na estrutura do processo produtivo

a separação entre o trabalho físico e o mental. Junior argumenta que

O efeito direto da aplicação desses princípios foi a configuração de umanova força de trabalho marcada pela perda das habilidades genéricasmanuais e um aumento brutal da produtividade. Por outro lado, passaram asurgir problemas crônicos como absenteísmo e elevado turnover. (JUNIOR,1992, p. 8).

Wood Jr. classifica este método de trabalho introduzido por Taylor, como

“modelo mecanicista”. (WOOD JR., 1992, p. 9). Este se caracteriza por buscar a

adaptação das pessoas e de suas funções a um projeto de trabalho já definido.

Chiavenato também apresenta uma visão crítica das propostas de Taylor:

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O homem deveria produzir como uma máquina ou robô, uma vez que Taylorprocurava, sem conhecer devidamente o organismo humano, conseguir orendimento máximo, quando deveria conseguir o rendimento ótimo.Verificou-se que a velocidade não é o melhor critério para medir a facilidadecom que o operário realiza a operação. O método é mais uma intensificaçãodo trabalho do que racionalização do processo de trabalho, procurandosempre o rendimento máximo e não o rendimento ótimo, (CHIAVENATO,2000, p. 71)

No fim do século XIX, Henry Ford apresenta seus novos conceitos de

produção, como a introdução da linha de montagem móvel. Com isto, além do custo

de produção ser reduzido, o tempo necessário para a produção, por exemplo, de um

automóvel, cai consideravelmente, “o tempo de trabalho necessário à montagem de

um chassi do modelo “T” da Ford passou de doze horas e 28 minutos, em 1910,

para uma hora e 33 minutos, em 1914”. (LIPOVETSKY, 2007, p. 27).

Neste novo método, o trabalhador recebia apenas uma tarefa, sendo

especialista apenas nesta em detrimento de um entendimento do processo como um

todo. Como salienta Junior, “ele nem mesmo entendia o que o seu vizinho fazia”.

(WOOD JR., 1992, p. 10). De Masi acrescenta que com o fordismo, a divisão do

trabalho acaba levando a uma perda da qualidade deste, enquanto a produtividade

cresce claramente. (DE MASI, 1999, p. 134).

Nos prenúncios da Segunda Guerra Mundial, uma revolução começa a surgir

no campo da administração. A Teoria das Relações Humanas faz parte dela. A

ênfase passa das tarefas para o fator humano, começa-se a falar mais seriamente

sobre liderança, comunicação, motivação, entre outras novidades. (CHIAVENATO,

2000, p. 125-126).

É na década de 1940 que Abraham Maslow dá início a seus estudos que

também englobam a motivação do homem, como a hierarquia das necessidades

humanas. Nessa teoria Maslow apresenta as necessidades humanas divididas em

cinco níveis: as necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, de

associação, de estima e de auto-realização. (MACHADO; MELO, 2008, p. 6-7)

Ainda no âmbito do mercado automotivo, surge o toyotismo, também

conhecido como conceito de produção flexível (WOOD JR., 1992, p. 12). Mais uma

vez, houve uma redução de tempo no processo de fabricação dos componentes,

porém, desta vez, o abatimento de tempo deu-se na alteração dos equipamentos de

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moldagem. “Isso levou a uma inesperada descoberta: tornou-se mais barato fabricar

pequenos lotes de peças estampadas, diferentes entre si, que enormes lotes

homogêneos”. (WOOD JR., 1992, p. 13). Uma das vantagens desse novo método

seria que as possíveis falhas eram mais facilmente detectadas e corrigidas. Mas,

para isso acontecer, era necessário, então, a participação ativa do funcionário e,

percebeu-se, que se o trabalhador se mostrasse motivado, além de treinado

adequadamente, essa tarefa poderia ser realizada com mais sucesso. (WOOD JR.,

1992, p. 13). Entre as ações tomadas pela empresa japonesa para promover e

tornar sustentável este método de trabalho, estão o “emprego vitalício, promoções

por critérios de antigüidade e participação nos lucros”. (WOOD JR., 1992, p. 13). Já

no ambiente produtivo, passou-se a transferir algumas responsabilidades para os

funcionários, seus horizontes de conhecimento se ampliaram a muito mais que

simplesmente apertar um parafuso sem saber qual a finalidade desse ato. A força

produtiva realizava inspeções de qualidade e qualquer trabalhador que detectasse

uma falha ou defeito poderia parar a linha de produção. Assim, o problema não seria

percebido apenas no final da linha. Com isso, diminuiu-se sensivelmente o

retrabalho e a taxa de defeitos e se aumentou a qualidade do produto final. (WOOD

JR., 1992, p. 13).

Outra corrente dentro dos métodos produtivos no setor automotivo é o

volvismo. Dentre as diretrizes básicas para a abertura de seu fábrica em Uddevalla,

na Suécia, em 1989, constava que o ritmo de produção não seria determinado pelas

máquinas e a linha de montagem seria estacionária. (WOOD JR., 1992, p. 17 e

BONDARIK; PILATTI, 2007, p. 1). Os recursos humanos são questões estratégicas

para o andamento da empresa e de sua produção, por isso, a humanização das

relações de trabalho se mostrou vital no planejamento da companhia que investiu

também em infra-estrutura de apoio para os seus funcionários tais como ambientes

iluminados com luz natural, cozinhas, salas espaçosas, o que se mostrou bastante

inovador em seu surgimento. Esta fábrica acabou fechando em 1992 pois, “apesar

da elevada qualidade de sua produção e da importância que representou em termos

de paradigmas organizacionais para a indústria contemporânea, era a produtividade

a principal deficiência de Uddevalla”. (BONDARIK; PILATTI, 2007, p. 7). A fábrica foi

reaberta em 1996, porém com um outro perfil. (BONDARIK; PILATTI, 2007, p. 6).

Porém, esta é uma prática recente. Embora se passe, muitas vezes, a maior

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parte do dia no trabalho, adaptando-se todas as outras esferas da vida, como a

família, a ele, não se percebia ou não se investia no bem-estar do trabalhador.

Se num primeiro momento, “as máquinas prometiam liberar a todos da

escravidão do trabalho”, (HONORÉ, 2005, p. 213), isto é, se pensou que se

reservaria menos tempo ao trabalho e mais ao tempo livre, a realidade mostrou-se

outra. Com a Revolução Industrial, no século XVIII, trabalhava-se até 15 horas por

dia. Nas fábricas, recentemente inauguradas, os sindicatos já promoviam

campanhas pela redução da jornada de trabalho. Um dos slogans utilizados era:

“Oito horas de trabalho, oito horas de sono, oito horas do que quisermos”.

(HONORÉ, 2005, p. 59). Alguns sindicalistas quebravam os relógios instalados nas

entradas das fábricas, explicitando a relação entre o controle do tempo e o poder.

(HONORÉ, 2005, p. 59). O que corrobora a afirmação de Kumar de que “o relógio e

os horários das estradas de ferro constituíam os símbolos da era industrial”.

(KUMAR, 1997, p. 23).

No final do século XIX, George Bernard Shaw calculou que, até o ano 2000, o

homem deveria dedicar apenas duas horas diárias ao trabalho (HONORÉ, 2005, p.

214). Richard Nixon, em 1956, declarou ao povo americano que, num futuro não tão

distante, a semana de trabalho seria de quatro dias. (HONORÉ, 2005, p. 214).

Segundo dados do site Universia6, no Canadá a jornada de trabalho semanal

é de 31 horas, na Alemanha e Estados Unidos é de 40 horas e no Brasil é de 44

horas. Hoje, segundo De Masi, a jornada de trabalho é semelhante à utilizada no fim

do século XIX, por Taylor, quando as máquinas ainda eram movidas a vapor. (DE

MASI, 1999, p. 39). E

não levar em conta essas mudanças estruturais, preservar os mesmosmodelos de organização de cem anos atrás, insistindo nos mesmos horáriosexorbitantes computados por semana e não por ano, significa impedir queas vantagens do progresso tecnológico cheguem aos produtores além dosconsumidores, melhorando a vida dos indivíduos, das empresas, dasfamílias e das cidades. (DE MASI, 1999, p. 39-40).

Porém, De Masi, também afirma que parte da responsabilidade por este

6 Informações retiradas da página: <http://www.universia.com.br/materia/imprimir.jsp?id=15689>,Redução da carga de trabalho pode melhorar rendimento?, com acesso em 06 de maio de 2008.

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aumento da permanência do homem no local de trabalho, pertence aos

trabalhadores, estes, por vezes, simulariam “sobrecarga de trabalho, iludidos de

serem indispensáveis à empresa, convencidos de que o tempo nunca é suficiente

para eles, treinados para esticar ao longo de dez horas tarefas que poderiam realizar

em cinco, a tal ponto alienados que levam trabalho para fazer em casa, nos fins de

semana [...]”.(DE MASI, 1999, p. 35). Este comportamento seria estimulado pelo

próprio mercado de trabalho, “estresse funcional existe, mas não depende tanto do

trabalho ou responsabilidade excessivos quanto da frustração por ter pouco a fazer

e ter que demonstrar estar atarefadíssimo [...]”.(DE MASI, 1999, p. 36).

Já Copetti (2007, p. 01) assinala que, segundo pesquisa promovida pelo

Internacional Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), em cada dez

brasileiros, três sofrem chamado burnout. Entre os sintomas desse transtorno estão

o “choro fácil, falta de esperança, insônia e depressão [...]”, além de forte

irritabilidade, falta de concentração e dificuldades no relacionamento interpessoal.

Dentre os portadores do burnout, 94% se sentem incapacitados e 47% apresentam

depressão. (2007, p. 01) Entre os causadores, são apontadas a “carga horária

elevada, muita responsabilidade e pouco poder de decisão, competição alucinada no

local de trabalho e uma dose de insegurança.” (2007, p. 03)

Honoré (2002, p. 15-16) afirma que “o excesso de horas no trabalho acaba

nos tornando improdutivos, sujeitos a erros, infelizes e doentes. Os consultórios

médicos estão cheios de pessoas acometidas de problemas causados pelo

estresse”. E, mais adiante, “para se ter uma idéia desalentadora do tipo de situação

a que podem levar tais comportamentos, basta considerar o caso do Japão, onde

existe uma palavra – karoshi – para designar “morte por excesso de trabalho”.

(HONORÉ, 2005, p. 15-16). No Brasil, é utilizada a palavra birôla, sobretudo na

esfera do trabalho rural, para designar mortes ocorridas por efeito de excesso de

trabalho7.

Servan-Schreiber alega que “o primeiro stress nasceu com o primeiro

encontro externo, marcado no mundo do trabalho. Quando as fábricas e minas

transformam o filho do agricultor em operário, ele é obrigado a sair de casa todos os

dias, na hora certa, para se apresentar ao patrão, senão perde o emprego”.

7 Conforme informações da Revista Nera – Ano 9, nº 8 – Janeiro/Junho de 2006, p. 83.

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(SERVAN-SCHREIBER, 1991, p. 20). Mais uma vez, a questão do tempo mostra-se

central no entendimento das modificações ocorridas na sociedade e no homem em

particular. A partir disso, percebe-se a relevância de ações e movimentos pontuais

como o Slow Life que será abordado no capítulo três do presente trabalho.

2.3.1 O Trabalho e o “Direito à Preguiça”

Conforme será tratado posteriormente, por muito tempo o tempo livre ou não-

produtivo foi mal quisto em detrimento da valorização do trabalho e do tempo-

produtivo. Da mesma forma, a preguiça que seria a “arte de não fazer rigorosamente

nada. Isso quer dizer nada de oficialmente produtivo [...]” (SGARIORI, 2006), muitas

vezes é vista como algo pejorativo, ser ‘preguiçoso’ é defeito. Essa visão foi sendo

construída ao longo de muitos anos e passada de geração a geração, no ocidente,

sobretudo, a partir da Era Cristã onde a preguiça é considerada um dos sete

pecados capitais. (SGARIORI, 2006).

Porém, há uma visão mais holística que concebe que dentro da esfera do

trabalho também há o espaço da preguiça, eles coexistem. Para Lafargue (2000) a

preguiça é, inclusive, um direito de todo o trabalhador. O autor publicou em 1880 no

jornal L’Égalité, uma série de artigos que, posteriormente, foram compiladas em

livro. (CHAUÍ; LAFARGUE, 2000, p. 16). O cenário do autor no momento de

concepção dos textos era a “baixa dos salários, o aumento do custo de vida, a

jornada de doze horas, a dispensa de grandes contingentes de trabalhadores, o

deslocamento ou fechamento de fábricas, [...]”.(CHAUÍ; LAFARGUE, 2000, p. 23).

Muitos desses fatores permanecem presentes com suas devidas atualizações na

sociedade atual. Para Lafargue, o trabalho só poderia ser “um condimento do prazer

da preguiça, um exercício benéfico para o organismo humano, uma paixão útil ao

organismo social” quando regulamentado e sem tempo limitado. (LAFARGUE, 2000,

p. 84)

O autor critica a “religião do trabalho” e faz um elogio à preguiça como

“condição para o desenvolvimento físico, psíquico e político do proletariado”.

(CHAUÍ; LAFARGUE, 2000, p. 33), o que vai ao encontro da afirmação de Sgarioni

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de que

cada vez mais gente chega à conclusão de que uma agenda lotada detarefas a cumprir num mínimo espaço de tempo não é mais motivo destatus, e sim uma fonte de frustrações pessoais, além de porta escancaradapara uma série de males, que vão da estafa aos ataques cardíacos.(SGARIORI, 2006)

Assim, a adesão e simpatia por momentos de preguiça estariam aumentando.

Segundo a autora, há estudos que apontam ser essencial uma dose de preguiça

para a saúde e para se viver melhor. Um desses estudos, conduzidos por

pesquisadores alemães conclui que sonecas durante o dia ajudam a prolongar a

vida, que o hábito de bocejar e espreguiçar bastante auxilia na ativação da

circulação do organismo. Outro estudo de cientistas americanos garante que quem

repousa mais durante as férias tem menor chance de desenvolver problemas

cardíacos. (SGARIORI, 2006).

Por estes motivos, Chauí afirma que os trabalhadores de hoje ainda precisam

lutar pelo direito à preguiça (CHAUÍ; LAFARGUE, 2000, p. 49) e, analisando as

teorias de Lafargue, aponta como virtudes da preguiça,

o prazer da vida boa (a boa mesa, a boa casa, as boas roupas, festas,danças, música, sexo, ocupação com as crianças, lazer e descanso) e otempo para pensar e fruir da cultura, das ciências e das artes (CHAUÍ;LAFARGUE, 2000, p. 23).

Virtudes estas que encontram lugar também nos objetivos e diretrizes do

Movimento Slow.

2.4 ACELERAÇÃO DO TEMPO

“A vida não se limita a ir cada vez mais rápido”.

Mahatma Gandhi

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Honoré aponta a Revolução Industrial como o momento de guinada da

aceleração da sociedade. “Antes da era da máquina, ninguém era capaz de mover-

se mais rapidamente que o galope de um cavalo ou um veleiro à plena força do

vento [...] uma fábrica era capaz de produzir mais bens num dia do que um artesão

durante a vida inteira”. (HONORÉ, 2005, p. 35). A partir de então começam a surgir

diversas invenções dispostas a facilitar o cotidiano e a dar velocidade às viagens, ao

trabalho e às comunicações. Exemplo disso é o surgimento da primeira linha de

metrô em Londres, em 1863 e da primeira escada rolante, em 1900. (HONORÉ,

2005, p. 37).

Já em 1982, foi criada pelo médico Larry Dossey a expressão “doença do

tempo” para designar a suposição feita pelo homem de que o tempo foge ou voa

(HONORÉ, 2005, p. 13). Hoje, percebe-se que essa doença denominada pelo

médico, possui caráter endêmico e faz parte do cotidiano de boa parte da sociedade

atual. Honoré aponta que “o mundo inteiro está com a doença do tempo. Estamos

todos mergulhados no mesmo culto da velocidade”. (HONORÉ, 2005, p. 13).

Uma das desvantagens dessa aceleração seria a superficialidade das

ligações afetivas. Estabelecer relações demanda aquilo que os apressados acabam

não dispondo: de tempo. Conforme pesquisa divulgada, metade dos adultos

britânicos assume que acabou perdendo contato com amigos devido à sua agenda

corrida. (HONORÉ, 2005, p. 20). Outro dado a ser relevado é que os pais britânicos

utilizam, em média, duas vezes mais tempo envolvidos com seus e-mails do que

brincando com seus filhos. (HONORÉ, 2005, p. 20).

Outro ponto negativo relacionado à aceleração seria a perda da expectativa

em se conquistar algo, não se frui, não se acalenta um desejo de longo prazo, tudo é

almejado para ontem, se desenvolve uma cultura presenteísta e imediatista. Numa

realidade menos acelerada, a própria trajetória para se alcançar um objetivo deveria

ser motivo de entusiasmo e não apenas a conquista veloz deste.

Chesneaux (1996, p. 33-34) argumenta que, hoje, o homem é consumido pela

obsessão de, em qualquer atividade, “ganhar tempo”, rentabilizando tudo em custos

de tempo. Para Servan-Schreiber utiliza-se tais expressões de maneira equivocada,

visto que:

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o vocabulário corrente nos dá pistas falsas. Ganhar ou perder tempo, [...]não tem sentido algum. Temos todo o tempo disponível. [...] . O único quetemos em nosso poder é a capacidade de mudar nossa atitude em relaçãoao tempo, fazer bom ou mau uso dele. (SERVAN-SCHREIBER, 1991, p.17).

É a partir dessa qualificação do tempo, que surgem movimentos antagônicos

ao culto da velocidade, como o Slow Life.

Guy Claxton, psicólogo britânico, aponta que a aceleração seria hoje uma

segunda natureza para o ser humano: “Desenvolvemos uma psicologia íntima da

velocidade, da economia de tempo e da maximização da eficiência, que se torna

mais forte a cada dia que passa”. (HONORÉ, 2005, p. 14).

Hoje, a vida do homem está organizada em torno da velocidade. Com isso, a

natureza de seus valores, de sua forma de se orientar e relacionar em sociedade,

também muda. Entre as características dessa configuração de valores está o

presenteísmo, (DA SILVA, 2004; GAUER, p. 288) os horizontes do tempo atual

estão intrinsecamente relacionados de forma enfática ao presente, ao momento

imediato, o que leva o homem a querer sempre mais rapidez em saciar suas

necessidades imediatas, em detrimento, por vezes, da qualidade neste processo.

Por exemplo, quando se realiza uma refeição em um estabelecimento do tipo fast

food ou o chamado ‘Deskfast’ – um lanche rápido no caminho para o trabalho ou na

própria mesa, em frente ao computador (TAGGART, 2004). A necessidade imediata

é alimentar-se, dando fim à fome sentida no momento. Não se pensa, por vezes, nas

vantagens de não se ingerir um alimento processado e, sim, uma refeição

constituída de alimentos frescos, mesmo que esta seja mais morosa em seu

processo de preparo.

Conforme Bauman se vive hoje a “síndrome da impaciência”, quando o tempo

é visto como um enfado e sua passagem “deve ser registrada na coluna do débito

dos projetos de vida humanos. Ele traz perdas, não ganhos. Acarreta a perda de

oportunidades que deveriam ter sido aproveitadas e consumidas quando se

apresentaram”. (BAUMAN, 2005, p. 134-135). A este respeito, Lopes Jr. caracteriza

a sociedade atual como regida pela “lógica do tempo curto”. (LOPES JR, AURY,

2004, apud GAUER, p. 139).

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Oliveira afirma que a aceleração consiste em “uma operação temporal: a

intensificação de ritmos culturais, individuais e mesmo orgânicos, encarnada na

crescente interpolação de interfaces sucessivas de integração (geratrizes de novas

relações e conexões) entre a interioridade e a exterioridade dos agentes sociais –

indivíduos, comunidades, massas. Ultrapassando os limites que antes demarcavam

o natural e o artificial, o objetivo e o subjetivo, a generalização da mediação técnica”.

(OLIVEIRA, 2007, apud GOMES, p.40).

Sobre esta questão, Honoré afirma que “à medida que vamos sempre

acelerando, nossa relação com o tempo torna-se cada vez mais sobrecarregada e

disfuncional”. (HONORÉ, 2005, p.47-48).

O teórico francês Paul Virílio criou o termo dromologia (dromos, do grego

velocidade, corrida, marcha) em seus estudos sobre o tempo e sobre a velocidade.

Para Virilio, “a velocidade é a alavanca do mundo moderno”. (LOPES JR, AURY,

2004, apud GAUER, p.163).

No século XIX, alguns grupos já mostravam resistência à pressão da

aceleração.

Os sindicatos pressionavam por mais tempo para o lazer. Citadinosestressados buscavam refúgio e recuperação das forças no campo. Pintorese poetas, escritores e artesãos tentavam encontrar maneiras de preservar aestética da lentidão na era da máquina. (HONORÉ, 2005, p. 26).

Desde então, mais pessoas demonstram interesse por uma desaceleração e

qualificação de seu tempo. É sobre esta premissa que o Slow Life pretende agir,

como será exposto a seguir.

3 A SOCIEDADE DE CONSUMO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS

O tempo e o grupo aos quais os sujeitos contemporâneos pertencem são

descritos ou rotulados de diversas maneiras. Expressões como ‘sociedade da

informação’, ‘sociedade do conhecimento’, ‘sociedade do espetáculo’ e ‘sociedade

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de consumo’ são recorrentes.

Porém, a classificação ‘sociedade de consumo’, muitas vezes, é utilizada de

forma confusa. Conforme aponta Barbosa, a priori, o consumo seria uma atividade

característica de qualquer sociedade humana, visto que o ser humano até poderia

viver sem produzir, mas não passa a sua vida sem consumir (BARBOSA;

CAMPBELL, 2006, p. 7).

Entre os motivos para a sociedade atual ser distinguida, então, como uma

sociedade de consumo estaria o fato de se estar reconhecendo que o consumo

exerce um papel central na dinâmica da reprodução social, reproduzindo e

mediando “estruturas de significados e o fluxo da vida social através dos quais

identidades, relações e instituições sociais são formadas, mantidas e mudadas ao

longo do tempo”. (BARBOSA, 2004, p.13). Além disso, se estaria legitimando que

nos tempos atuais o consumo exerce uma função muito maior e mais profunda do

que apenas a satisfação de necessidades materiais e de reprodução social.

Reconhece-se que através do consumo, é possível discutir questões muito mais

abrangentes da realidade da sociedade contemporânea. (BARBOSA, 2004, p.14).

E é a partir dessas premissas e sob este prisma que se torna possível estudar

objetos como o Movimento Slow.

Porém, antes de se introduzir mais informações sobre este Movimento, se

mostra necessário abordar alguns aspectos da sociedade de consumo

contemporânea.

3.1 A ATIVIDADE DE CONSUMO

A atividade de consumo acompanha o homem desde os primeiros tempos,

como foi exposto anteriormente, o ato de consumir se faz presente em qualquer

sociedade humana.

Porém, o consumo desde muito cedo suscita visões bastante antagônicas e

reações ambíguas. A própria etimologia ressalta esta questão.

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Consumo deriva do latim consumere, que significa usar tudo, esgotar edestruir, e do termo inglês consummation, que significa somar e adicionar.No Brasil, o significado do termo consumo ficou mais próximo da primeiradimensão, que tem sentido negativo, enquanto consumação, com sentidopositivo de realização e clímax, ficou mais restrita ao ato sexual.(BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 21).

Sócrates e Platão já discutiam os males que poderiam advir do consumo de

bens considerados supérfluos, este consumo acima da saciedade das necessidades

era visto como perturbador do caráter do homem. Os romanos tinham uma

compreensão semelhante, o consumo excessivo interferiria no caráter, além de

afetar a virilidade masculina, transformaria estes homens em covardes. (BARBOSA;

CAMPBELL, 2006, p. 34).

Concepções dessa natureza perduraram ainda pela Idade Média até

atualmente, com algumas variações. O cristianismo colaborou, sobretudo com Santo

Agostinho para a visão de consumo como pecado. Nos séculos XVII e XVIII o

consumo foi amplamente debatido e foi temporariamente alçado a uma

desmoralização, assim como o luxo. O crescimento do consumo era tratado como

um mal necessário e este aumento seria pura e somente gerado em função do

aumento populacional. (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 34). Neste período,

a democratização do conforto, do “supérfluo”, da possibilidade de novosdesejos e de novas formas de geração de renda para a satisfação dessesdesejos não era vista como uma alternativa legítima de vida social.(BARBOSA; CAMPBELL 2006, p. 34).

Ainda no século XVII, o consumo começou a ser associado a temas como

“materialismo, exclusão, individualismo, hedonismo, lassidão moral, falta de

autenticidade, desagregação dos laços sociais e decadência”. (BARBOSA, 2004, p.

12).

E, no final do mesmo século, começa-se a estabelecer uma relação positiva

entre o aumento do consumo e o crescimento econômico. Diversos pensadores da

época começam a desencadear uma nova visão do consumo e Adam Smith percebe

e afirma que o destino único da produção seria o consumo, porém, ainda, persistem

os dilemas morais e receios acerca do crescimento do consumo. Smith se mostra

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um defensor radical contra a interferência do Estado, através das leis suntuárias,

que iriam contra o direito do cidadão de conduzir sua vida econômica da forma que

gostaria. (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 35).

No século XIX, na França, já se percebe o estabelecimento de uma sociedade

de consumo nos moldes que se conhece hoje, porém a atividade de consumo ainda

era vista e sentida sob o prisma da culpa: se tinha o desejo de consumir, porém este

gerava culpa (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 35).

Durante o século XX muitos pensadores ainda persistiram em abordagens

semelhantes a estas. Durkheim percebia o consumo como uma anomia social, pois

era percebido como uma atividade individualista. Em contrapartida, alguns autores

como Charles Gide e Walter Benjamin percebiam no consumo novas possibilidades

criativas, ao mesmo tempo em que receavam que este caráter individualista

pudesse desencadear efeitos negativos, percebiam o consumo como tendo um

grande potencial desagregador por este motivo. (BARBOSA; CAMPBELL, p. 35).

Barbosa e Campbell argumentam que esta visão do consumo tão intimamente

relacionado a uma crítica moral é um tanto “ingênua e idealizada, que encara a

sociedade como fruto apenas de relações sociais, como se estas pudessem existir

em separado das relações materiais”. (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 36). Os

autores defendem a idéia de que quem nutre tal visão ignora o fato de que as

relações do indivíduo com o mundo sempre foram mediadas por objetos, se

imaginaria que, em algum momento da história humana isso não tenha ocorrido e

idealiza-se este recorte de tempo como pertencente a um mundo moralmente

melhor.

A questão do consumo desencadeia uma série de critérios que costumam

passar despercebidos no cotidiano do ser humano. Critérios estes que embasam

decisões como o que, quando e porque se consome determinado produto. A

questão sobre o que seria enquadrado como um produto a preencher uma

necessidade básica ou supérflua seria um destes critérios. Como necessidade

básica se poderia definir aquelas que são moralmente justificadas, que o consumo

não resulta em um sentimento de culpa. Já a supérflua é relacionada à consumação

de um desejo, a um excesso, requerendo assim uma justificativa para redução do

sentimento de culpa gerado. Como apresentado, o consumo sempre esteve

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estigmatizado a interpretações que geram esse sentimento de culpa, de se poder

estar fazendo uma ação moralmente condenável. Até os dias atuais, ainda se

percebe esse zelo no sentido de se explicar a aquisição de determinados produtos,

de se extinguir um sentimento de culpa que foi gerado por se consumir tal produto,

mesmo se estando em uma sociedade em que as noções de liberdade e livre

escolha mostram-se tão presentes, “é necessário que a aquisição de um bem

supérfluo seja convertida em algo moral e socialmente aceitável” (BARBOSA;

CAMPBELL, 2006, p. 37). Ao mesmo tempo, alguns estudiosos do tema também

fazem uma nova interpretação do que seriam realmente as ‘necessidades básicas’,

que não se resumiriam a apenas sanar necessidades de reprodução física da

existência, mas também atenderiam necessidades mínimas para que o indivíduo

seja um membro ativo da sociedade em que ele vive. (BARBOSA; CAMPBELL,

2006, p. 38).

Outra associação negativa que muitas vezes se faz ao consumo é apontá-lo

como causador de problemas como

perda do sentido existencial e da autenticidade das relações sociais àinsaciabilidade dos indivíduos, à destruição de estilos de vida tradicionais eautênticos, passando pelo materialismo e pela degeneração da sociedadecontemporânea [...], um cardápio de temas variados e de difícil escolha queenfatiza os males do “excesso” física e moralmente. (BARBOSA;CAMPBELL, 2006, p. 40)

Barbosa e Campbell ressaltam que a análise do consumo feita sob a ótica do

moralismo deriva numa crítica social e não numa análise sociológica concreta sobre

a fenomenologia do consumo na sociedade. (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 41).

Campbell se mostra contrário à idéia de que o consumo intensifica uma crise

de identidade do sujeito contemporâneo; para o autor, o consumo, na verdade, seria

“a principal atividade pela qual os indivíduos geralmente resolvem esse dilema”.

(BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 51).

como indivíduos, somos concebidos como seres que estão em permanenteprocesso de ‘transformação’, de modo que cada nova “identidade” emergecomo uma borboleta – de um nível mais profundo e, portanto, mais

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autêntico do self – da crisálida descartada pela antecessora. (BARBOSA;CAMPBELL, 2006, p. 58).

Bauman já apresenta uma visão diferente deste processo. O autor afirma que

a subjetividade dos indivíduos é transitória, fluída, (BARBOSA, 2004, p.22-23)

constituída a partir de suas opções de compra, sendo o próprio sujeito uma

mercadoria e “o que se supõe ser a materialização da verdade interior do self é uma

idealização dos traços materiais – “objetificados” – das escolhas do consumidor”.

(BAUMAN, 2008, p. 24).

Campbell não defende que o indivíduo ‘seja aquilo que ele consome’ que este

encontre a sua identidade em determinado produto , mas que o que se escolhe e se

consome revela algo sobre o sujeito, suas reações a determinado produto ou marca

ajudaria a revelar-lhe mais sobre a sua identidade. (CAMPBELL, 2006, p. 53).

Berson (2000) apresenta também uma visão menos ‘apocalíptica’ sobre a

questão, afirmando que “fazer compras conscientemente, fazer compras como um

processo de busca, não tem a ver com a compra, tem a ver com o ser” (in

BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 57).

3.1.1 Consumo Versus Consumismo

A atividade básica de consumo muitas vezes é tomada como sinônimo de

consumismo. Tal dificuldade conceitual pode acarretar em uma visão pessimista e

moralista sobre a atividade de consumo. A idéia de consumismo data de 1899,

quando Thorstein Veblen aponta exageros de consumo tratados como ostensivos.

(MOWEN; MINOR, 2003 p.3). Bauman, citando Campbell (2004), aponta que se tem

este momento de ruptura e de transposição do consumo para o consumismo quando

este passa a exercer um papel central na vida do indivíduo, tornando-se seu

propósito de existência. (BAUMAN, 2008, p.38). Neste contexto, o consumismo seria

a “principal força propulsora e operativa da sociedade” (BAUMAN, 2008, p.41). O

autor ainda esclarece que o consumo é, basicamente, uma atividade atribuída ao

indivíduo e que o consumismo é uma característica da sociedade que tem entre os

seus atributos o desperdício e o excesso. (BAUMAN, 2008, p.41-53). O

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consumismo, então, não estaria vinculado à satisfação de determinada necessidade

mas, sim, do desejo, “um motivo autogerado e autopropelido que não precisa de

outra justificação ou ‘causa’ [...], o desejo tem a si mesmo como objeto constante, e

por esta razão está fadado a permanecer insaciável [...]”.(BAUMAN, 2001, p.88).

Neste sentido, Campbell afirma que o consumismo atual relaciona-se fortemente

com os sentimentos e com as emoções do que com o racionalismo. (CAMPBELL,

2006, p. 49). Gomes complementa esta idéia, apontando que o consumismo está

mais intrinsecamente ligado não à idéia do exagero mas, sim, a uma busca que

nunca resulta em algo satisfatório ou em desejos nunca plenamente satisfeitos.

(GOMES, apud BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 67). Essa impossibilidade de

satisfação e saciedade pode acarretar em crescimento do sentimento de decepção e

de insegurança. (LIPOVETSKY, 2007, p.17).

3.2 SURGIMENTO E ESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE DE CONSUMO

A expressão “sociedade de consumo” é registrada somente na década de

1920 e começa a popularizar-se entre os anos 1950 e 1960. (LIPOVETSKY, 2007, p.

23). Porém, não se tem um consenso sobre o início dessa sociedade. Segundo

Barbosa, o princípio seria entre o século XVI e XVIII. No século XVI, aparecem no

cotidiano dos diversos segmentos sociais novos produtos, em função da expansão

ocidental sobre o oriente. Outra mudança apontada é a passagem da sociedade de

corte, onde o consumo era familiar, para um consumo individual, expressão da

prática do direito de escolha. (BARBOSA, 2004, p. 24). A mudança do consumo de

pátina para o consumo de moda, é outro elemento apontado como fundamental para

essa. Pátina poderia ser definida como “a marca de tempo deixada nos objetos,

indicando que os mesmos pertencem e são usados pela mesma família há

gerações”. (BARBOSA, 2004, p. 24). Assim, ela estava fortemente associada à idéia

de status, de legitimação da posição social de quem o pertencesse. Com a transição

para o consumo de moda, essa modalidade perde forças, visto que no consumo de

moda, a novidade, o lançamento, a atualização dos produtos é que são valorizados.

(BARBOSA, 2004, p. 25). A partir disso, com a necessidade do consumo individual e

da nova visão de obsolescência dos produtos, o sujeito passa a dedicar um tempo

maior para a atividade de consumo. (MCCRACKEN, 2003, p. 41).

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No século XIX, estabelece-se, então, a sociedade de consumo, um novo perfil

de consumidor começa a surgir, assim como novas técnicas de comercialização e

de marketing, “A vitrine, voltada para a rua, a criação do manequim, de papelão

prensado disponibilizaram para o grande público aquilo que estava sendo ou iria ser

usado, facilitando a disseminação das últimas tendências por todos os segmentos

sociais”. (BARBOSA, 2004, p. 27).

A invenção da marca, do acondicionamento dos produtos que, até então eram

vendidos a granel e da publicidade também são apontados como fatores-chave para

essa consolidação. (LIPOVETSKY, 2006, p. 29-30).

Aliada a estes fatores que levam a uma disseminação do consumo, está o

surgimento das lojas de departamento. O desejo dos possíveis consumidores é

ativado, agora eles podem visualizar os produtos, mesmo sem adquiri-los. Novas

opções de crédito surgem em iniciativas como o crédito direto ao consumidor,

implementado pela francesa Bon Marche. (BARBOSA, 2004, p. 27). A rotatividade

rápida dos produtos passa a ser estimulada, começa-se a empregar uma política de

preços mais baixos, tencionando-se um maior volume de vendas, oferta-se uma

gama maior de diferentes produtos, etiqueta-se as mercadorias, implanta-se o auto-

serviço, estes estabelecimentos passam a ser concebidos como ‘palácios’ de

sonhos e de consumo. Outro de seus atrativos era ofertar, no mesmo local, artigos

para o lar e vestuário, desta forma maximizando o tempo do consumidor.

(LIPOVETSKY, 2006, p. 30-31; BARBOSA, 2004, p. 28). Ainda sobre a mudança na

percepção do tempo acarretada por essas mudanças, Lipovetsky afirma que:

O grande magazine não vende apenas mercadorias, consagra-se aestimular a necessidade de consumir, a excitar o gosto pelas novidades epela moda [...] Impressionar a imaginação, despertar o desejo, apresentar acompra como um prazer, os grandes magazines foram, com a publicidade,os principais instrumentos da elevação do consumo a arte de viver eemblema da felicidade moderna [...], o shopping, ‘olhar vitrines’ tornaram-seuma maneira de ocupar o tempo [...] (LIPOVETSKY, 2006, p. 31).

Conforme Lipovetsky, a sociedade de consumo de massa desenvolve-se a

partir de alta produtividade desencadeada pelo modelo taylorista-fordista de

produção aliada à progressão dos salários. Aqui predomina a ‘lógica da quantidade’

numa ‘sociedade de abundância’. Neste momento, difundem-se os supermercados

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e, posteriormente, os hipermercados, baseados na política de ‘derrubar os preços’,

buscando a venda de um grande volume de produtos, utilizando-se de ferramentas

como os descontos. (LIPOVETSKY, 2006, p. 32-34).

Num segundo momento a política de diversificação de produtos e renovação

rápida de modelos, aliada ao chamado ‘complô da moda’, acaba gerando um

ambiente propício ao surgimento da segmentação baseada em critérios como idade

e fatores socioculturais. (LIPOVETSKY, 2006, p. 34).

Começa a se configurar uma nova ‘sociedade de desejo’, que começa a

substituir “a coerção pela sedução, o dever pelo hedonismo, a poupança pelo

dispêndio, a sonelidade pelo humor, o recalque pela liberação, as promessas do

futuro pelo presente”. (LIPOVETSKY, 2006, p. 35). Neste momento a publicidade

também ganha mais espaço, os investimentos publicitários crescem, o apelo à

satisfação imediata ascende, dá-se início a uma revolução do conforto.

(LIPOVETSKY, 2006, p. 36).

3.2.1 Mudanças no Pós-Guerra

É na década de 1950 que começa-se a falar sobre segmentação de mercado,

quando surge o marketing de mercados-alvo. (TAVARES JUNIOR, 2007, p. 41)

Segmentação poderia ser entendida como “o processo de dividir mercados

em grupos de consumidores com necessidades e/ou características similares, que,

provavelmente, exibirão comportamento de compra similar” (WEINSTEIN, 1995, p.

18 apud PINHEIRO et al, 2004, p. 144)

Assim, busca-se atender às demandas de nichos de consumidores através do

conhecimento de suas características, começando-se a investigar aspectos de sua

personalidade classificados como demográficos – faixa etária, gênero, etc. –,

geográficos – país, região, concentração populacional, etc –, psicográficos – estilo

de vida, valores, etc. – e comportamentais – hábitos de utilização do produto, grau

de lealdade, etc. (McCARTHY, 1982, apud TAVARES JUNIOR, 2007, p. 41;

PINHEIRO et al, 2004, p. 147 ).

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Com o advento da segmentação, vai-se deixando de lado o marketing

indiferenciado, com estratégias que visem o massivo, um mercado mais amorfo e

passa-se a buscar estratégias efetivamente eficazes para os diferentes tipos de

público. (PINHEIRO et al, 2004, p. 144).

Através da segmentação de mercado, tenciona-se alcançar um “melhor

posicionamento competitivo da empresa no mercado e gerar valor para os seus

consumidores, ao atender de maneira diferenciada as necessidades e os desejos

destes”. (WEINSTEIN, 1995, apud PINHEIRO et al, 2004, p. 144). Entre os

benefícios de sua adoção estão o fornecimento de informações mais específicas,

que permitem que a concepção do produto atenda à demanda do mercado e dos

consumidores e a redução de custos, na elaboração de estratégias mais

promocionais, visto que se utiliza de instrumentos mais dirigidos – além de auxiliar

em ações como o reposicionamento de marca. (PINHEIRO et al, 2004, p. 145).

Ainda na década de 1950 “os esforços do marketing [...] parecem ter criado

padrões de consumo nos quais cada compra superava a anterior e o consumidor se

afastava delirantemente de um senso familiar das coisas com cada nova aquisição”.

(McCRACKEN, 2003, p. 163).

A partir da década de 1980, percebe-se uma subordinação da produção ao

consumo, itens como publicidade e design começam a ascender. A marca do

produto passa a ter uma importância maior na vida das pessoas. (TAVARES

JUNIOR, 2007, p. 43-44).

3.3 SER CONSUMIDOR NA SOCIEDADE DE CONSUMO CONTEMPORÂNEA

Ser consumidor na atual sociedade não se mostra tarefa simples. Recebe-se

estímulos o tempo inteiro de cada vez mais canais. Vive-se num momento de

excessos, o advento e a inovação constantes da tecnologia contribuem

substancialmente para isso, ampliando as possibilidades de acesso a um número

maior de mensagens e criando novos pontos de contato e relacionamento com o

consumidor ”. (NAIGEBORIN, 2006. p.53). Calcula-se que nos últimos trinta anos se

tenha produzido mais informações do que nos cinco mil anos anteriores. (BAUMAN,

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2008, p. 54).

Esse excesso de informações e estímulos aliados ao esgotamento que um

ritmo de vida sempre acelerado pode acarretar, além de questões pontuais como

problemas de trânsito e violência, resultando num sujeito cansado e desgastado.

(NAIGEBORIN, 2006. p.53).

Percebe-se, então, que na sociedade contemporânea, o “consumidor se

impõe como o senhor do tempo” (LIPOVETSKY, 2006, p. 14), buscando um

julgamento mais crítico, verificando os rótulos dos produtos nos supermercados,

fazendo comparação de preço, buscando mais informações acerca do que estão

consumindo. (LEWIS; BRIDGES (2004, p. 16) apud PERES, 2007, p. 19).

Complementando essa idéia, Lipovetsky afirma que a posição deste consumidor é

paradoxal,

de um lado, este se afirma como um ‘consumator’, informado e ‘livre’, quevê seu leque de escolhas ampliar-se, que consulta portais e comparadoresde custo, aproveita as pechinchas do low-cost, age procurando otimizar arelação qualidade/preço. Do outro lado, os modos de vida, os prazeres e osgostos mostram-se cada vez mais sob a dependência do sistema mercantil.(LIPOVETSKY, 2006, p. 14),

Estes novos consumidores, além da escassez de tempo, sofrem com a falta

de atenção e de confiança. Assim, mostram-se intolerantes a atrasos, processam

uma grande quantidade de estímulos num ritmo cada vez mais rápido e ignoram

informações que possam não ser claras. Seu nível de fidelidade à marca nem

sempre é alto, dificilmente fornecendo confiança incondicional a uma marca ou

serviço. (LEWIS; BRIDGES, (2004) apud PERES, 2007, p. 19). Sobre a falta de

atenção, Davis afirma que a síndrome cerebral característica desse público é o DDA

– Distúrbio do Déficit de Atenção – ou um ‘pseudo-DDA’. A necessidade de

processamento de uma quantidade cada vez maior de informações e estímulos em

um espaço de tempo cada vez menor, acarretaria em uma redução na capacidade

de atenção do sujeito contemporâneo. (DAVIS, 2003, p. 83-84).

Seriam quatro as características-chave desse consumidor:

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individualistas, envolvidos, independentes e bem-informados: individualistasporque buscam diferenciar-se dos outros, priorizando a autenticidade e aoriginalidade; envolvidos por participarem ativamente tanto do processo deprodução como no de consumo; independentes por apresentaremresistência à mensagem publicitária e por estarem atentos aos artificiais eambíguos discursos de venda; e bem-informados, justamente pela facilidadecom que obtêm informações atualmente. (PERES, 2007, p. 20).

Este público, porém, não se adequaria a apenas uma classificação de perfil,

tendendo a uma hiper-segmentação, apresentando hábitos de consumo singulares e

um tanto pessoais (PERES, 2007, p. 20). Para esta realidade, Anderson (2006)

utiliza o conceito de Cauda Longa, para agregar essa infinidade de pequenos

mercados que, juntos, são substanciais, passando-se do foco de poucos produtos

que vendem muito para um grande número de nichos que têm à disposição uma

grande oferta de escolhas.

Tais consumidores tendem a não apresentar crença muito sólida acerca da

publicidade, enquanto esta decresce, a fé nos indivíduos ascende, “as pessoas

confiam em outras pessoas iguais a elas, ou os pares crêem nos pares. As

mensagens de cima para baixo estão perdendo a força, ao passo que as conversas

de baixo para cima ganham poder”. (ANDERSON, 2006, p. 97). Assim, passa-se de

uma era baseada na informação para uma de valorização da recomendação. Este

fato compõe uma das três forças da Cauda Longa: “a exploração do sentimento dos

consumidores para ligar oferta e demanda”, auxiliando “as pessoas a encontrar o

que querem nessa nova superabundância de variedades” (ANDERSON, 2006, p.

105). Aliada a esta força, a Cauda Longa ainda conta com a democratização da

produção e da distribuição. Este ambiente torna-se propício para o surgimento do

chamado prosumer, o consumidor produtor.

3.3.1 PROSUMERS: o sujeito como produtor e consumidor

Este conceito foi introduzido na década de 1980, para designar a combinação

entre produtor e consumidor, “prosumers são consumidores engajados no processo

de co-produção de produtos, significados e identidades. São consumidores proativos

e dinâmicos em compartilhar seus pontos de vista”. (FONSECA et al, 2008, p. 4).

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Estes consumidores são bem-informados, estão constantemente em busca de

informações, se envolvem diretamente na criação de valores objetivando seu próprio

consumo, visto que estes se apropriam de processos que anteriormente eram

exclusivos de empresas. (FONSECA et al, 2008, p. 8). Além disso, os prosumers:

(EURO RSCG WORLDWIDE, 2004; PILLER, SCHUBERT; KOCH, 2005; XIE,

BAGOZZI; TROYE, 2008; LANGER, 2007 in FONSECA et al, 2008, p. 8-9) criam

seu próprio estilo de vida, gostam de se sentir no controle do rumo de suas vidas;

não se limitam a estereótipos e a rótulos, procuram não condicionar as suas

escolhas a padrões e pressões sociais; buscam por escolhas consideradas

inteligentes; estão abertos a mudanças e a inovações, procuram viver o tempo

presente com plenitude; usufruem do poder de interatividade e conectividade; se

auto-valorizam; possuem senso estético que é utilizado para imprimir a ‘sua

assinatura’ em tudo o que fazem; mostram preocupação com a saúde; interessam-

se mais pelos resultados do que com o esforço necessário para conquistá-los;

buscam valor nas marcas e procuram entender como fazer as coisas ao invés de

delegar essa tarefa para um terceiro.

Tais características levam os prosumers a serem, muitas vezes, apontados

como influenciadores. O papel do influenciador no processo de compra evolui agora

a partir da figura do conhecedor. Identificam-se quatro tipos de conhecedores: o

conhecedor da comunidade, que serviria de modelo para outros consumidores; o

consumidor profissional, cuja atividade profissional ou formação lhe concedem

autoridade em determinada área; o conhecedor fanático, que dispensa seu tempo

para discussões sobre o produto ou marca, por exemplo, e as celebridades

conhecedoras, que exercem influência, sobretudo, nos antigos consumidores,

através do endosso público a determinado produto. (LEWIS; BRIDGES, 2004 apud

PERES, 2007, p. 21).

3.3.2 A fidelidade do consumidor contemporâneo

Num cenário tido como líquido, fluído e leve (BAUMAN, 2001) a fidelidade à

determinada marca ou serviço não são, muitas vezes, prioridade para os novos

consumidores. A fidelidade “resume-se a uma resposta básica, que consiste de um

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comportamento e de uma resposta secundária, emocional, envolvendo afeição e

sentimentos de ligação à pessoa, produto ou empresa em questão.” (LEWIS;

BRIDGES, p. 161, apud PERES, 2007, p. 22). Poderia-se falar em cinco níveis de

lealdade do consumidor: na base da pirâmide, os compradores que não apresentam

nenhuma lealdade à marca, seguido pelo comprador habitual e satisfeito, que não

percebe razões para ser ‘infiel’, o comprador satisfeito, que percebe os riscos

contidos numa mudança, o apreciador da marca, que apresenta uma relação mais

emocional, de ‘amizade’ com a marca e o consumidor comprometido, que ocupa o

topo da pirâmide da fidelidade. (AAKER, 1991, apud PERES, 2007, p. 22-23).

Muitas vezes a fidelidade é associada ao nível de satisfação de um

determinado produto ou serviço mas, como se percebe na classificação acima, a

fidelidade não se resume apenas a este fator. Há ainda mercados em que

predomina o monopólio, por exemplo, em que o índice de recompra não está,

necessariamente, vinculado à satisfação e fidelidade do consumidor, este adquire o

produto apenas por falta de outras opções, este cliente não está, necessariamente

se relacionando com a empresa por seu desejo mas, sim, por obrigatoriedade.

(RODRIGUES, 2003, p. 21-22).

Destarte, a fidelidade comportaria um conceito mais multidimensional,

envolvendo tanto elementos de comportamento (recompra) quanto elementos de

atitude (comprometimento). (BOLAGLU, 2002 apud RODRIGUES, 2003, p. 21).

3.4 CONSUMO E TEMPO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

A relação entre o sujeito e o consumo sob a égide do advento de novas

tecnologias e inovações, resulta, também, numa mudança nos padrões de utilização

do seu tempo.

Se com o surgimento das lojas de departamento, começa-se a falar em

consumo-distração, como uma maneira de se passar o tempo, o desponto dos

shopping centers maximiza esta visão. Os Shopping Centers seriam:

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locais concebidos como simulacros das cidades modernas, onde é possíveladquirir os bens mais variados, encontrar inúmeras formas deentretenimento e se alimentar, tudo sob condições climáticas controladasque tornam o ambiente liberto por completo das estações e das intempéries.(PERES, 2007, p. 11).

Acerca desse tempo ‘atemporal’ que se sente muitas vezes ao se adentrar

nestes simulacros das cidades (PERES, 2007, p. 11), Bauman aponta que o tempo

vivenciado na atual sociedade líquida não seria linear e, sim, utilizando expressão

utilizada por Maffesoli (2000), pontilhista, “marcado [...] pela profusão de rupturas e

descontinuidades, por intervalos que separam pontos sucessivos [...] (BAUMAN,

2008, p. 46). Este tempo é caracterizado por sua inconsistência, falta de coesão e

fragmentação e pulverização de ‘instantes eternos’, eventos contidos em si mesmos.

(BAUMAN, 2008, p. 46).

No momento em que se aumenta o apelo e as possibilidades de compra, o

tempo dispensado para tal atividade, também cresce,

A sociedade de consumo é grande consumidora de tempo. À medida que sediversificam os produtos disponíveis, de biscoitos a carros, à medida que osequipamentos eletrodomésticos ou audiovisuais se tornam mais complexose mais atraentes, à medida que as ocasiões de lazer se multiplicam, torna-se necessário consagrar mais tempo à comparação dos preços ecapacidades técnicas, à ‘montagem’ de atividades, à manutenção, ao gozomesmo dessas “coisas” que se procuram rentabilizar em termos de tempo,pois cedeu-se a seus atrativos. (CHESNEAUX, 1989, p. 34).

Com a incorporação da internet ao cotidiano do sujeito,

num mundo em que uma novidade tentadora corre atrás da outra a umavelocidade de tirar o fôlego,[...] a alegria está toda nas compras [...] e comoas lojas da internet permanecem abertas o tempo todo, pode-se esticar àvontade o tempo de satisfação não contaminada por qualquer preocupaçãocom frustrações futuras. (BAUMAN, 2008, p. 28)

Este advento alterou profundamente diversas esferas da vida, sofreram-se

alterações sociológicas, econômicas e culturais bastante profundas. O conceito de

aldeia global, é facilmente percebido, passa-se a trocar informações e a interagir

com pessoas de todo o mundo, com possibilidades de estabelecerem-se conexões

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vinte e quatro horas por dia, “nossas interações humanas agora estão ocorrendo

num lugar que fica além do tempo e do espaço” (DAVIS, 2003, p.42). Então,

conceitos como tempo e espaço passam a ser resignificados,

A forma de busca por informações sobre produtos e marcar também se altera.

para uma geração de clientes acostumados a fazer suas pesquisas decompra por meio de softwares de busca, a marca de uma empresa não é oque a empresa diz que é, mas o que o Google diz que é. Os novosformadores de preferências somos nós. Agora, a propaganda boca a boca éuma conversa pública, que se desenvolve nos comentários de blogs e nasresenhas de clientes, comparadas e avaliadas de maneira exaustiva. Asformigas têm megafones. (ANDERSON, 2006, p. 97)

Com a internet, percebe-se que os prosumers ganham destaque. São criados

‘espaços’ como sites de relacionamento – como o Orkut – que servem também de

palco para a produção e distribuição de informações geradas por este público.

(PERES, 2007, p. 26). Percebe-se em muitos casos, a aplicação do conceito da

Cauda Longa. O tempo seria a “quarta dimensão da Cauda Longa”. (ANDERSON,

2006, p. 140).

Especialmente interessante sobre tempo e Cauda Longa é que o Googleparece estar mudando as regras do jogo. Para a mídia on-line, como paraqualquer outra mídia, predomina a tirania do novo. Os jornais de ontem setransformam hoje em papel para embrulho de peixe, e depois que oconteúdo sai da primeira página em um site, sua popularidade despenca.Mas como o acesso aos sites é implusionado cada vez mais pelo Google,esta regra está sendo rompida. (ANDERSON, 2006, p. 141).

Assim, o Google não ignora o tempo, mas utiliza critérios diferenciados de

medição da relevância, não de novidades, isto é, ao se fazer alguma busca neste

site, possivelmente se encontrarão nas primeiras posições do ranking as melhores

páginas e não as mais novas. (ANDERSON, 2006, p. 141).

O consumo ainda pode ser percebido no âmbito do tempo de lazer da

sociedade contemporânea. Este tipo de consumo pode ser relacionado, sobretudo,

ao consumo de sensações e menos em produtos tangíveis. (TASCHNER, 2000, 46).

Destarte, “em uma época de consumo emocional, o importante já não é tanto

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acumular coisas quanto intensificar o tempo vivido”. (LIPOVETSKY, 2007, p. 70).

Neste cenário, o Marketing Experiencial ganha espaço, buscando introduzir o

conceito de prazer nos ambientes que primam pelo convívio e concretização de

desejos. Tenciona-se transformar “zonas de tempo forçado em zonas de tempo-

prazer”. (LIPOVETSKY, 2007, p. 67). Conforme Davis, “o efeito sobre o estado de

espírito do consumidor é o único território que resta para prover benefícios novos e

atraentes”. (DAVIS, 2003, p. 254).

Críticas direcionadas à velocidade na atualização e conseqüente

obsolescência dos produtos estão relacionadas com a cronoconcorrência. Esta

impõe um ritmo acelerado de lançamento de novos produtos no mercado, assume-

se como prática, muitas vezes, o anúncio bastante antecipado da comercialização

de determinados produtos. Deste modo, cria-se uma expectativa no consumidor e

afeta-se as vendas dos concorrentes, já que muitos clientes não irão querer adquirir

seus produtos quando já se sabe que, em breve, estes estarão obsoletos.

(LIPOVETSKY, 2007, p. 91).

Outra alteração percebida nesse âmbito é a redução do tempo de concepção

e desenvolvimento dos produtos. A justificativa, novamente, é a acirrada

concorrência. No final da década de 1970, eram necessários quatro anos e meio

para a elaboração de um novo modelo de carro da Chrysler, hoje se dispensa para

isso, menos de dois anos. Assim, “passa-se da concorrência à hiperconcorrência,

quando o tempo curto dos ciclos de elaboração, a aceleração da inovação, a

velocidade de renovação dos produtos se tornam parâmetros do desenvolvimento

econômico”. (LIPOVETSKY, 2007, p. 90).

A adoção de práticas de consumo sustentáveis também pode ser vinculada à

questão do tempo. Hoje o consumidor mostra-se preocupado consciente ou

inconscientemente com novas questões por vezes agravadas por produtos e

práticas de fabricação ecologicamente incorretos. Lipovetzky aponta uma relação

paradoxal nesse contexto: “quanto mais se afirma o imperativo da celeridade, mais

se exprimem as considerações éticas, as posturas críticas em relação às marcas e

ao consumo irresponsável”. (LIPOVETSKY, 2007, p. 114). Percebe-se, então, que o

consumidor contemporâneo encontra-se dividido entre os discursos que pregam a

responsabilidade sócio-ambiental e os seus interesses particulares. Porém, tal

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responsabilidade precisa estar presente em todo o ciclo de vida do produto,

compreendido nas fases de antes, durante e depois do consumo. Dias (2007, apud

PERES, 2007, p. 34) afirma que dentro do contexto do consumo responsável, no

pré-uso o consumidor seleciona e adquire produtos ecologicamente corretos,

certificados, reciclados, etc.; durante o uso este consumidor procura reduzir os

efeitos nocivos da sua atividade de consumo, por exemplo, otimizando o uso de

energia; já no pós-uso, há a preocupação com o descarte adequado do produto, sua

reciclagem e reutilização. O consumo sustentável pode ser definido como

o fornecimento de serviços e de produtos correlatos, que preencham asnecessidades básicas e dêem uma melhor qualidade de vida ao mesmotempo em que se diminui o uso de recursos naturais e de substânciastóxicas, assim como as emissões de resíduos e de poluentes durante o ciclode vida do serviço ou do produto, com a idéia de não se ameaçar asnecessidades das gerações futuras. (DIAS, 2007, apud PERES, 2007, p.34-35)

Assim, o novo consumidor demonstra preocupação com os modos de

produção e distribuição dos produtos. Ele, muitas vezes, percebe com desconfiança

o argumento da sustentabilidade exposto em campanhas publicitárias, por não ter

certeza se estas empresas realmente têm esse como um princípio genuíno,

presente em suas diretrizes e em suas práticas, ou se trata-se apenas de uma

estratégia de marketing.

Essas relações serão abordadas nos capítulos a seguir, sob a ótica do

Movimento Slow e uma pesquisa de campo com sujeitos ‘acelerados’ da sociedade

de consumo contemporânea.

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4 MOVIMENTO DE DESACELERAÇÃO DA SOCIEDADE DE CONSUMO E A

ATITUDE SLOW LIFE

Em pleno Japão, tradicionalmente conhecido pela problemática dos

workaholics, por sua capital que nunca pára e por sua alta velocidade, uma cidade

decide andar a pé, dispensando, quando possível, os rápidos meios de transportes

disponíveis, construir casas com bambu e negociar a redução do horário de

trabalho. (VERA, MASSON E VICÁRIA, 2009, p. 40) Uma volta ao passado, uma

viagem no tempo? Não, trata-se da busca por um estilo de vida mais saudável e da

qualificação de seu tempo. Kakegawa, em 2002, foi a primeira cidade a se

denominar uma cidade Slow. (VERA, MASSON E VICÁRIA, 2009, p. 40)

Destarte, nos mais diversos pontos do planeta, nichos da sociedade

começam a questionar se toda essa velocidade e aceleração vividas atualmente,

são realmente necessárias, se essa necessidade ou obsessão que tantas vezes se

tem de fazer tudo mais rápido realmente leva a melhores resultados e – mais

importante – à felicidade.

Até pouco tempo atrás – e, na verdade, ainda hoje em determinados grupos –

se alguém reservasse um tempo ao ócio, ao refletir antes de fazer, poderia-se ser

mal-visto e mal-interpretado, o importante é mostrar-se ocupado, estando sempre

em atividade, correndo, mesmo não se sabendo para onde e com qual finalidade.

Deste modo, parece inevitável que a vida, as atividades e as relações se mostrem

mais superficiais ou líquidas e fluídas como apresenta Bauman (2001).

Porém, hoje, já há pessoas e alguns grupos da sociedade que começam a

buscar novos caminhos e um estilo de vida mais equilibrado, rumo a uma

qualificação de sua vida e de seu tempo.

Assim, surgem propostas como as do Movimento Slow Life que serão

tratadas a seguir.

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4.1 DESACELERE: O SURGIMENTO DO MOVIMENTO SLOW LIFE

“Vou acordar para o tempo/e para o tempo parar...”

(Los Hermanos)

Como exposto anteriormente, a questão do tempo ocupou um papel sempre

central na vida do homem. E a sensação de se estar continuamente atrasado, de

sempre ter de correr, atingiu níveis endêmicos. A relação do homem com o tempo,

por vezes mostra-se disfuncional. Honoré afirma que

a constante preocupação de estar sempre dividindo o tempo em pedaçoscada vez menores [...] nos deixa mais conscientes de sua passagem, maisansiosos por aproveitá-lo ao máximo, mais neuróticos. (HONORÉ, 2005, p.48).

Essa neurose, ou preocupação com a gestão do seu tempo, não atinge hoje

apenas um nicho, mas uma boa parcela da sociedade. Multiplicam-se os cursos,

sites na internet e livros que pretendem ensinar como fazer mais em menos tempo,

como fazer determinadas atividades mais depressa e a isso chamam de

administração do tempo.

No ano de 1986, na Itália, inicia-se um movimento contrário a esse paradigma

da velocidade, primeiramente sob a óptica da desaceleração na alimentação, numa

resposta e crítica aberta conduzida por Carlo Petrini ao fast food, surgia, assim, o

chamado Slow Food.(CORREA, 2009, p. 81). O Slow Food prega que “aquilo que

comemos deve ser cultivado, cozinhado e consumido em ritmo de tranqüilidade”

(HONORÉ, 2005, p. 27) e que o alimento deve “ser bom para o consumidor, limpo

para preservar o meio ambiente e justo ao respeitar os trabalhadores”. (CORREA,

2009, p. 81).

A filosofia do Slow Food causou grande impacto, sendo considerada, em

2001, pela New York Times Magazine uma das “80 idéias que sacudiram o mundo

(ou pelo menos mexeram um pouco com ele).” (HONORÉ, 2005, p. 76).

O Slow Food possui uma sede internacional, localizada em Bra, na Itália.

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Segundo seu fundador, Carlo Petrini, a missão do movimento seria

Através dos seus conhecimentos gastronômicos relacionados com apolítica, a agricultura e o ambiente, o Slow Food tornou-se uma voz activana agricultura e na ecologia.O Slow Food conjuga o prazer e a alimentação com consciência eresponsabilidade. As atividades da associação visam defender abiodiversidade na cadeia de distribuição alimentar, difundir a educação dogosto, e aproximar os produtores de consumidores de alimentosexcepcionais através de eventos e iniciativas. (WEINER, 2005, p.4)

Hoje, os preceitos do Slow Food estão se incorporando expressivamente na

sociedade, não estando apenas restritos a pequenos nichos. São mais de 100.000

sócios espalhados em mais de 130 países. (CORREA, 2009, p. 81).

Além disso, o sucesso de programas televisivos que mostram que preparar o

próprio alimento, além de ser mais saudável pode ser, também, muito prazeroso é

um indício desse fato. As escolas de culinária e gastronomia também vivem um

excelente momento, com grande procura por seus cursos. Estes fatos exemplificam

a afirmação de Honoré de que:

Slow Food capturou o interesse do público e se disseminou por todo oplaneta porque atende a um desejo humano essencial. Todos gostamos decomer bem, e nos sentimos mais saudáveis e felizes quando o fazemos.(HONORÉ, 2005, p. 102).

Rapidamente, a filosofia defendida pelo Slow na alimentação, foi sendo

incorporada e adaptada a diversas outras esferas, conforme será tratado no tópico a

seguir.

4.1.1 Principais Bases do Movimento Slow Life

Hoje, o Slow está concentrado em oito principais bases de mudanças:

comida, cidades, mente/corpo, medicina, sexo, trabalho, lazer e crianças (forma de

criação dessas). Serão abordadas as principais bases dentro do contexto e objetivos

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do presente trabalho.

4.1.1.1 Slow Food

A relação do homem com o seu alimento mudou muito através dos tempos. A

escolha da comida, certamente, não se dá apenas pela questão da preferência pelo

sabor.

Na Idade Média, por exemplo, o cristianismo possuía forte influência sobre a

sociedade, inclusive em sua alimentação, pregando uma maior utilização de frutas e

verduras em seus conventos. (DUARTE, 1995, p. 149). No Renascimento, começa a

surgir uma nova etiqueta em que os pratos passam a ser elaborados visando sua

beleza. (DUARTE, 1995, p. 150) O luxo e a separação dos pratos que são postos à

mesa surgem na corte francesa nos séculos XVII e XVIII. (DUARTE, 1995, p. 150).

Alinhado a isso, Dos Santos defende que:

a formação do gosto alimentar não é, exclusivamente, determinado pelosvalores nutricionais, biológicos. Concorrem aí também as mentalidades, osritos, o valor das mensagens que se trocam quando se está diante da mesae da comida, os valores éticos e religiosos, a transmissão inter eintragração, a psicologia individual e coletiva e outros tantos fatores.(DOSSANTOS, 2005, p. 15).

Além disso, a questão do tempo também se mostra determinante dentro do

contexto das mudanças na forma de alimentação do homem. Esta relação entre

tempo e alimentação tem no Século das Luzes, durante o Iluminismo, um importante

capítulo. Aqui, a noite passa a ser “um tempo social, surgindo o prazer de consumir

o tempo por meio de conversas em torno de uma mesa de alimentos.”

(CAMPORESI, 1996 apud DOS SANTOS, 2005, p. 14)

Já, durante a Revolução Industrial, a aceleração na realização das refeições

começa a vigorar, a velocidade passa a ser vista como sinônimo de eficiência nos

jantares. (HONORÉ, 2005, p. 70).

Na década de 1950 surgem novos produtos e práticas alinhadas a essa busca

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pela rapidez no momento de alimentar-se, como o forno microondas, em 1952

(DUARTE, 1995, p. 221) e a presença no cardápio de diversos restaurantes de sopa

enlatada. (HONORÉ, 2005, p. 72). Em 1954, Ray Crok, adquire uma rede de

restaurantes fundada pelos irmãos Maurice e Richard McDonald. Essa rede viria a

se tornar sinônimo de fast food em todo o mundo, o McDonald´s. O empreendimento

diferenciava-se dos demais, por utilizar princípios semelhantes aos da indústria

automotiva, como os de Henry Ford, onde cada funcionário desempenhava uma

tarefa, dividindo o trabalho e compartimentando o processo de produção. (DOS

SANTOS, 2006, p 5 -6).

Como cenário do sucesso desse sistema, Fischler aponta os “novos modos

de vida trazidos pela urbanização dos anos 1950-1960, pela profissionalização das

mulheres, pela elevação do nível de vida e de educação, pela generalização do uso

de carro, pelo acesso mais amplo da população ao lazer, férias e viagens”

(FISCHLER, 1998, apud DOS SANTOS, 2006, p.6). Com essas mudanças,

intrinsecamente ligadas ao fato de o homem destinar menos tempo ao ato de

alimentar-se, esta atividade deixa de estar prioritariamente no contexto doméstico,

transferindo forças ao mercado de comida rápida, o fast food.

No final dos anos 1980, porém, quando da tentativa de abertura de um

McDonald´s no entorno de monumentos históricos na Piazza di Spagna, na cidade

italiana de Roma, surge o movimento Slow Food, como uma alternativa, uma forma

de resistência ao fast food (DOS SANTOS, 2006, p. 11; HONORÉ, 2005, p. 75).

Achcar conceitua o movimento:

Slow food é comer melhor. É sentar-se à mesa diante de uma verdadeirarefeição, em paz, na companhia de pessoas muito queridas (por "verdadeirarefeição", entenda-se pratos acabadinhos de preparar, fartos e saborosos).É investir tempo e energia para obter alimentos tão gostosos quantosaudáveis. É tornar o ato de comer uma experiência gratificante, prazerosa,que não somente nos mantém vivos como aguça nossos sentidos. Esquentao coração. (ACHCAR, 2003).

O argumento da velocidade, então, começa a mostrar sinais de esgotamento.

O questionamento sobre se não se está indo depressa demais começa a

intensificar-se. Santos afirma que “um novo estilo de vida impõe novas expectativas

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de consumo, que acabam orientando as escolhas de alimentos”. (SANTOS, 2005, p.

21). Destarte, dentro desse contexto de desejo de alteração no modo de vida para

determinados nichos, a alimentação é o primeiro tópico a ser repensado. Começa-se

a perceber que cultivar e preparar o seu próprio alimento pode ser bastante

prazeroso, bem como fazer as refeições com mais tranqüilidade, saboreando e

compartilhando este momento numa mesa com colegas, amigos, familiares, etc.,

num ambiente mais calmo e aconchegante.

Durante o período de aceleração, muitas vezes as refeições eram feitas

durante o próprio deslocamento para um próximo compromisso, ou enquanto se

exercia outra atividade, isolado, sem que se detivesse em simplesmente desacelerar

nesse momento e saborear o alimento que se estava ingerindo, aproveitando o

momento partilhado com colegas, amigos ou familiares, porém, esse modelo

começa também a mostrar-se desgastado. Um exemplo disso são os chamados

comfort places ou lugares confortáveis. Esses locais geralmente bares, bistrôs ou

restaurantes, têm como característica o clima aconchegante, decoração que remeta

aos tempos em que a família reunia-se em torno da mesa, para as refeições e

interagiam uns com os outros, sem que a televisão, celular, etc., ocupassem toda a

sua atenção. São ambientes em que os freqüentadores tornam-se rapidamente

amigos dos donos do estabelecimento. Isto é, nada de entrar, fazer o pedido, engolir

nem sabendo bem o que – além do número do lanche – enquanto responde e-mails,

fala ao telefone, sem nem olhar para a pessoa que está ao seu lado. (ZAFFARI,

2008). Aliado a isso, há também a comfort food, que consiste em pratos, com sabor

e aroma caseiros, também chamados de comidas emocionais. (ZAFFARI, 2008;

LOPES, 2007).

Da mesma forma, fast foods tradicionais estão revendo seus cardápios, como

o McDonald's que hoje além do tradicional Big Mac, oferece a seus clientes opções

como saladas, maçãs e água de coco. Portanto, “o movimento Slow Food faz parte

de uma reação muito mais ampla contra a cultura de alta velocidade e alta

rotatividade da indústria global de alimentos”. (HONORÉ, 2005, p. 82)

E essa reação estende-se a outras esferas como a convivência nas cidades,

como demonstra a Città Slow.

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4.1.1.2 Città Slow

O Movimento denominado de Città Sllow, slow city, cidade slow ou ainda de

Cidade do Bem Viver, teve início no ano de 1999, quando Bra e outras três aldeias

italianas lançaram um decreto que selava compromisso em aplicar princípios do

Slow Food no ritmo da vida urbana, visando à disseminação de idéias para melhorar

a qualidade de vida de seus habitantes. (HONORÉ, 2005, p. 103-104).

Para uma cidade ser considerada como Città Slow esta deve aderir a uma

série de diretrizes expostas no manifesto do movimento e não pode ter mais que 50

mil habitantes. Este quesito mostra-se bastante relevante. Em recente experiência a

cidade de Petrópolis/RJ, na administração do prefeito Rubens Bomtempo (2000-

2008) aderiu a uma série de preceitos do movimento como o “alargamento das

calçadas, a retirada de grande parte dos ônibus do centro da cidade, dos

estacionamentos públicos do espaço central [...] entre outras” (CUNHA, 2008, p. 1),

visando melhorar a qualidade de vida de seus habitantes e tornar-se mais atrativa ao

turismo. O plano de reurbanização primou pela circulação dos pedestres em

detrimento ao trânsito via automóveis, aumentando assim, o tempo de permanência

das pessoas no centro da cidade, tornando-se este não mais um local de passagem

e, sim, de encontro (CUNHA, 2008, p. 5-6). Estas ações tornaram a cidade mais

atraente para o turista, porém criaram alguns transtornos para os moradores. A

cidade sofreu um grande decréscimo no número de vagas de estacionamento na

sua área central, a fim de possibilitar o alargamento das calçadas. Com as calçadas

ampliadas, as ruas ficaram mais estreitas, o que ocasionou em problemas de

engarrafamento. (CUNHA, 2008, p. 9-10). A população da cidade, segundo dados

do IBGE (IBGE, 2008?), em 2007, era de 306.645 pessoas, muito acima do limite da

Città Slow, de 50 mil habitantes.

Outras cidades mostraram interesse e atenderam os requisitos do movimento.

O Città Slow vem obtendo simpatia de diversos locais do mundo e hoje é composto

de uma rede internacional de 114 cidades em mais de quinze países. (CITTASLOW,

2008). Há, ainda, diversas cidades buscando a certificação do movimento, duas

brasileiras: Antônio Prado (RS) e Tiradentes (MG).

Para tornar-se uma Città Slow a cidade deve preencher os requisitos de seis

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categorias indispensáveis para o movimento: política ambiental, política de infra-

estrutura, tecnologia para qualidade urbana, valorização da produção nativa,

hospitalidade e conscientização, totalizando mais de 50 itens de avaliação. Estes

abrangem itens como boa qualidade do ar e da água, criação de mais áreas verdes,

conservação das tradições, valorização da cozinha local, oferecer cursos para a

comunidade oferecer mais hospitalidade e qualidade nas informações prestadas,

estar comprometida com a gestão das normas ISO 9000 e ISO 14 000, entre outros.

(CITTASLOW, 2008).

Para uma nova cidade ser certificada como Città Slow esta deve atender os

requisitos básicos e passar por uma detalhada avaliação conduzida pelo comitê do

movimento. O movimento é governado por uma assembléia eleita formada por

prefeitos de dez cidades que já são consideradas como Città Slow. (KNOX, 2005, p.

7).

As Città Slow são, portanto, cidades comprometidas com a qualidade da

produção e comercialização do alimento, a cultura local, a arquitetura, o ambiente, a

energia, o transporte, o turismo, a criação e a formação das crianças e jovens,

(SALOMONI, 2006), com “estratégias para reduzir o ritmo destrutivo da vida

moderna, resistir ao processo de homogeneização mundial [...]” (THE

INDEPENDENT, 2001), ser uma cidade slow, portanto, não quer dizer simplesmente

que tudo será feito mais lentamente e, sim, demonstra um comprometimento público

com os princípios embasadores de uma vida mais equilibrada. Como resume

Honoré “uma cidade do bem viver faz sempre a pergunta: Será que isto contribui

para melhorar nossa qualidade de vida?” (HONORÉ, 2005, p. 106)

4.1.1.3 Mente e Corpo no Slow

“Mesmo quando tudo pede calma/Até quando o corpo pede um pouco mais

de alma/A vida não pára [...]

Lenine

A atenção dispensada sobre o corpo não é novidade. Na Grécia antiga, por

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exemplo, a valorização se dava pelo corpo masculino forte, com formas bem

delineadas e trabalhadas. Já na Idade Média, com a ascenção do catolicismo, o

corpo será mais reprimido, associado ao pecado. (SIQUEIRA; DE FARIA, 2007, p.

175)

Desde os anos 1970 percebe-se a proliferação das academias de ginástica,

fruto da valorização da atividade física e seus benefícios bem como uma crescente

preocupação das pessoas com o seu próprio corpo (BRAUNER, 2007, p. 212).

Para Hansen e Vaz (2004, p.134) nas academias:

o culto do corpo engendra uma busca incansável trilhada por meio de umaárdua rotina de exercícios, através dos quais pretende-se superar ospróprios limites em nome de contornos corporais concebidos como ideais.

Porém, percebe-se hoje que, também no ocidente, uma visão mais holística

do conceito de saúde se faz presente, englobando não apenas o cuidado com o

corpo, mas também com a mente. Segundo a Organização Mundial de Saúde

(OMS), saúde é "um estado de completo desenvolvimento físico, mental e o bem-

estar social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.” (WORLD

HEALTH ORGANIZATION, 2009).

Dessa forma, passa-se do fitness para o wellness (SIQUEIRA; DE FARIA,

2007, p. 180) que está mais intrinsecamente relacionado ao conceito de qualidade

de vida que prima pela satisfação do indíviduo nas esferas de suas necessidades

concretas – como alimentção e moradia – e as abstratas – como a auto-estima.

(FORATINNI, 1991, p. 75).

Essas também são premissas do Movimento Slow, no que se refere ao

equilíbrio entre corpo e mente. Entre os benefícios de se ‘pensar slow’ Honoré

(2005, p. 143) cita a eclosão de idéias e soluções mais criativas pois, pessoas mais

relaxadas, calmas e não comprometidas com a finalização de seu processo criativo

com extrema rapidez, apresentariam uma criatividade mais genuína. Um exemplo

disso é a recorrência com que se encontra a solução para um problema que se tinha

durante o banho, na saída do cinema, etc., em momentos em que se está mais

relaxado e a criatividade não comprometida em primeiro plano com a velocidade na

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resposta, na solução criativa. O contrário deste pensamento mais slow pode resultar

num estado ansioso inibidor da criatividade. Para Dratcu e Lader (1993, apud GÓIS;

RIBEIRO, p. 57), o estado ansioso é caracterizado justamente por um movimento

mental de aceleração do pensamento, o que pode levar a uma ineficiência no

resultado da ação. Como solução Harrison (2006, p. 2972 apud GÓIS; RIBEIRO, p.

58) aponta “um movimento de desaceleração no organismo, numa busca de repouso

e conforto [...]”

Isso não quer dizer que para se responder criativamente aos estímulos,

tenha-se que ser sempre lento, como já mencionado, o Movimento Slow prega que

tudo seja feito com equilíbrio, em seu tempo giusto. Para ilustrar essa premissa,

Honoré cita uma frase de Albert Einstein:

Os computadores são incrivelmente rápidos, precisos e burros. Os sereshumanos são incrivelmente lentos, imprecisos e brilhantes. Juntos, têm umpoder que supera qualquer imaginação. (HONORÉ, 2005, p. 144)

Se no início modalidades tradicionais como a musculação capitaneavam a

total atenção das academias, hoje dentro de uma tendência de se possibilitar

momentos de desaceleração, percebe-se a ascensão de serviços como a ioga, a

biodança, o pilates, entre outras que primam por essa busca pelo equilíbrio entre

corpo e mente/espírito.

Lipovetsky afirma que se percebe hoje, um interesse crescente por “escutas

musicais, passeios a pé, excursões, spas e banhos turcos, meditações e

relaxamento”. (LIPOVETSKY, 2006, p. 113).

Esta mudança de rumo é visivelmente percebida e assimilada pela mídia.

No lugar da ginástica “a todo custo”, as revistas femininas e especializadasem saúde, fitness e bem-estar trazem uma proposta diferente. Trata-se detransformar a imagem da atividade física de mal necessário para algoprazeroso que proporcionará momentos de relaxamento. [...] É precisopraticar atividades que cuidem do corpo, sim, mas que também “alimentemo espírito”. (SIQUEIRA; DE FARIA, 2007, p. 185)

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Dessa forma, publicações são adaptadas e novos veículos surgem, como,

nos anos 2000 a Revista Bons Fluídos, da Editora Abril.(SIQUEIRA; DE FARIA,

2007, p. 185).

Entre os destaques das publicações e também em academias estão a ioga e

a meditação. A ioga mostra-se uma modalidade totalmente integrada à concepção

de sinergia entre corpo e mente, em sânscrito, ioga significa unir (HONORÉ, 2005,

p.153) . Entre os motivos para a sua adoção estão a melhora na postura e

tratamento para o estresse (BARROSO, 1999, p. 189), tonificação dos músculos,

fortalecimento do sistema imunológico, aumento da flexibilidade, da concentração e

da paciência. (HONORÉ, 2005, p.153-154). Já a meditação pode ser mais

facilmente relacionada ao relaxamento do corpo e da mente. Ela pode diminuir a

pressão arterial, melhorar o poder de concentração, aumentar a sensação de calma

de tranqüilidade e de harmonia (HONORÉ, 2005, p.145 -148).

Dentro dessa realidade, pode-se também citar o SuperSlow. Fundado na

década de 1980, o SuperSlow “torna qualquer pessoa mais forte e esbelta sem

carregar demais nos músculos” (HONORÉ, 2005, p. 162). Se numa atividade de

levantamento de peso tradicional o praticante leva, em média, seis segundos para

levantar e baixar o peso, no SuperSlow este período é de vinte segundos, esta pode

não parecer uma diferença tão significativa porém, um estudo publicado no Journal

of Sports Medicine and Physical Fitness, divulgou o dado de que o SuperSlow

fornecia 50% de força a mais que as outras formas tradicionais de levantamento de

peso. (HONORÉ, 2005, p. 164). Entre os benefícios dessa prática são citados o

fortalecimento da musculatura, aumento da flexibilidade, dinamização do

metabolismo do corpo, aumento da sensação de centralidade, diminuição do nível

de estresse e calma interior (HONORÉ, 2005, p.164-169). Para o fundador do

SuperSlow a velocidade mais lenta empregada nesse exercício permite que o

praticante exerça grande poder de concentração durante o treinamento e “quando

você se move rapidamente, não há tempo para pensar realmente sobre o

movimento”. (HUTCHINS, 2001, p. 2).

A prática dessas modalidades que buscam integrar corpo e mente abolindo a

idéia da divisão cartesiana entre ambos está plenamente relacionada aos preceitos

do Slow.

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4.1.1.4 Slow no Trabalho

“Eu acordo prá trabalhar/Eu durmo prá trabalhar/Eu corro prá trabalhar [...]

Paralamas do Sucesso.

A palavra ‘trabalho’ é originária do vocábulo latino tripalium, “instrumento de

tortura para empalar escravos rebeldes e derivada de palus, estaca, poste onde se

empalam os condenados”. (CHAUI; LAFARGUE, 2000, p. 12).

No início o trabalho era tido como um castigo e uma pena divina,

ao primeiro homem, disse Jeová: “Maldito é o solo por causa de ti! Comsofrimentos dele te nutrirás todos os dias de tua vida [...]. Com o suor de teurosto comerás teu pão, até que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Poistu és pó e ao pó tornarás” (Gn, 3:17-9) (CHAUI; LAFARGUE, 2000, p. 9)

Porém, não tardou para ser visto como uma prática virtuosa. Chauí cita a obra

A Ética Protestante o Espírito do Capitalismo, de Max Weber, como fundamental

para o entendimento dessa concepção.

Muito mais do que no luteranismo, escreve Weber, no calvinismo [...] tornou-se regra moral o dito “mãos desocupadas, oficina do diabo”.[...]. De castigodivino que fora, tornou-se virtude e chamamento (ou vocação) divino.(CHAUI; LAFARGUE, 2000, p. 13).

Marx apresentou um entendimento diverso sobre o trabalho que seria uma

“necessidade eterna para manter o metabolismo social entre humanidade e

natureza” (ANTUNES, 2005, p.138) ou, como explica Chauí

uma das dimensões da vida humana que revela nossa humanidade, pois épor ele que dominamos as forças da natureza e é por ele que satisfazemosnossas necessidades vitais básicas e é nele que exteriorizamos nossacapacidade inventiva e criadora – o trabalho exterioriza numa obra ainterioridade do criador. (CHAUI; LAFARGUE, 2000, p. 34).

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Marx critica a venda dessa força tão poderosa ao capital pois, ao vendê-la à

burguesia, a classe operária estaria transformando essa força transformadora em

mera mercadoria destinada a produzir outras mercadorias, não podendo assim, o

trabalhador reconhecer-se no produto produzido por ele, não exteriorizando o seu

interior e sim cumprindo as exigências do mercado. (CHAUI; LAFARGUE, 2000, p.

34-35). Neste sentido, Bauman aponta que ao estipular um valor de mercado para o

trabalho este passou a ser também uma mercadoria. (BAUMAN, 2008, p. 23)

Marx ainda apresenta um conceito bastante importante dentro do prisma do

mundo do trabalho, o conceito de tempo socialmente necessário para a produção de

alguma mercadoria, não apenas na quantidade de trabalho empregada nesta

atividade. Assim, o tempo de trabalho socialmente necessário

significa que o custo de produção de uma mercadoria inclui todos ostrabalhos que foram necessários para chegar ao produto final. É o custosocial de sua produção” [...] em outras palavras, [...] é o conjunto de todosos tempos de trabalho de cada trabalhador individual e do conjunto de todosos trabalhadores. (CHAUI; LAFARGUE, 2000, p. 40).

Destarte o salário do trabalhador estaria incluso nos custos de produção da

mercadoria e este deveria ser calculado levando-se em conta o tempo de trabalho

socialmente necessário para a sua confecção e as necessidades desse trabalhador.

Uma crítica de Marx quanto a essa questão seria que o salário recebido pelo

trabalhador não equivaleria integralmente ao resultado correto dessa equação, a

isso ele chama de mais-valia, essa diferença faria com que a força de trabalho fosse

explorada e o capital cresceria às suas custas. Marx critica a obtenção desse lucro

no momento de pagamento do trabalhador e não na comercialização da mercadoria.

(CHAUI; LAFARGUE, 2000, p. 40- 41).

De Masi sintetiza que com o surgimento da sociedade industrial existiriam

quatro visões sobre o trabalho:

segundo a posição cristã, o trabalho é um castigo divino indispensável parao resgate do homem e sua salvação eterna; segundo a posição liberal, otrabalho é uma mercadoria submetida como qualquer outra às regras domercado; segundo a posição comunista, o trabalho é a própria essência dohomem, a atividade pela qual ele manifesta as suas melhores qualidades e

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que, por isso, não pode ser transformado em mercadoria; segundo aposição do socialismo filantrópico [...] as condições de trabalho podem serhumanizadas até que ele se torne uma fonte de alegre socialidade. (DEMASI, 1999, p. 129-130.)

O fato é que ainda hoje o trabalho não desperta uma visão de consenso, ele

liberta e escraviza, humaniza e aliena, é preterido e viciante, sua concepção está em

constante mutação, sua constituição é amórfica e pautada por numerosas

mudanças. Lipovetzky afirma que “um dos epitáfios muito apreciados no século XIX

era: ‘O trabalho foi sua vida’. Hoje o sentimento que domina é antes: Há mais que o

trabalho na vida”. (LIPOVETZKY, 2006, p. 265). Ainda assim, hoje, o trabalho é um

“mediador da auto-estima, o produtor do essencial da identidade social”.

(LIPOVETZKY, 2006, p. 266).

Entre as grandes transformações no mundo do trabalho pode-se destacar a

reengenharia que adquire grande força nos anos 1990 e que prometia melhorar a

eficiência dos processos das empresas acabando com problemas de ineficiência,

aumentando a satisfação do cliente e diminuindo custos (DAVOLLI, 2007, p. 11;

RICARDO, 2002, p. 1). Juntamente com ela, a redução do quadro funcional e a

sobrecarga de funções e atribuições foram intensificadas (DAVOLLI, 2007, p. 11).

Com o fantasma do desemprego sempre em mente, o trabalhador acaba assumindo,

então, mais tarefas, o que implica, muitas vezes, numa carga horária de trabalho

maior e em horas extras. Este é o contexto do surgimento dos chamados

workaholics. Este termo, cunhado pelo psicólogo americano Wayne Oates, é criado

em 1971, para designar os ‘viciados em trabalho’. São percebidas em muitas

corporações características positivas (como a produtividade) e negativas (como a

obsessão) no comportamento workaholic. (DAVOLLI, 2007, p. 43). Um dos fatores

negativos mais associados a essa disfunção comportamental seria a perda na

qualidade da vida pessoal do trabalhador, visto este estar constantemente

comprometido com ações ou pensamentos voltados ao seu trabalho. (DAVOLLI,

2007, p. 49).

O cenário acima é ambiente também do chamado estresse ocupacional. Este

pode ser encontrado em ambientes organizacionais com:

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pressão para produtividade, retaliação, condições desfavoráveis àsegurança no trabalho, indisponibilidade de treinamento e orientação,relação abusiva entre supervisores e subordinados, falta de controle sobre atarefa e ciclos trabalho-descanso incoerentes com limites biológicos.(CARAYON; SMITH; HAIMS, 1999 apud MURTA, 2004, p. 39).

O estresse ocupacional pode desencadear outro problema comprometedor à

saúde de trabalhador, o burnout. (MURTA, 2004, p. 40). Essa síndrome que começa

a ser estudada na década de 1970 é caracterizada por um estado de esgotamento

tanto físico quanto mental/emocional no que tange a vida profissional do trabalhador

(TOMAZELA, 2007, p.1-2).

Segundo pesquisa realizada pela International Stress Management

Association no Brasil (Isma-BR), 8,6% dos entrevistados mudaram de emprego ou

até mesmo de carreira devido ao estresse, antes da mudança 82% desses

profissionais apresentavam sintomas como ansiedade e depressão. Depois dessa

mudança, 96% destes afirmaram terem alcançado maior controle sobre a própria

vida (DO ESTRESSE..., 2009).

HONORÉ (2005) e DE MASI (1999) apontam como fator relevante para a

qualidade de vida no trabalho a redução do número de horas dispensadas ao labor.

DE MASI afirma que:

A duração e distribuição atuais do trabalho ao longo da semana sãopraticamente as mesmas inauguradas por Taylor no fim do século XIX,quando os operários de fábricas eram todos analfabetos e as máquinasainda movidas pela força motriz do vapor. Desde então foram introduzidosos motores elétricos, as máquinas automáticas e as eletrônicas, capazes dedesenvolver tarefas físicas e intelectuais. No entanto, os trabalhadores sãotodos escolarizados, muitíssimo diplomados e muitos, laureados. Asempresas aprenderam a produzir muitos bens e serviços empregando cadavez menos trabalho humano. (DE MASI, 1999, p. 39).

O autor assegura ser possível uma utilização mais saudável e racional do

tempo organizacional. Ele defende que há o mau uso do tempo – que é marcado por

períodos de grande sobrecarga e outros de pouca ou nenhuma atividade a ser

desempenhada –, má distribuição da carga horária de trabalho – enquanto há

funcionários desempenhando diversas atividades há outros que estão sem tarefas a

cumprir – e que há gestores e chefes que têm a cultura de ficar até mais tarde na

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empresa, muitas vezes por não terem uma boa relação familiar, e que encorajam ou

exigem o mesmo de seus coordenados. (DE MASI, 1999, p. 302-303).

Esse excesso de horas trabalhadas apresenta potencial nocivo também às

organizações pois, o funcionário estressado, doente ou cansado, é menos produtivo

(HONORÉ, 2005, p.217).

Para o Movimento Slow.

o trabalho é uma das principais frentes de batalha. Quando o trabalho passaa devorar tantas de nossas horas, o tempo que sobra para tudo mais acabaminguando. Até as coisas mais simples [...] se transformam numa corridacontra o relógio. Uma maneira certa de desacelerar é trabalhar menos.(HONORÉ, 2005, p.218).

Segundo Naigeborin uma redução da jornada de trabalho poderia contribuir

para “conter o desemprego estrutural que se instala em nível mundial, promover a

qualidade de vida e contribuir para uma nova cultura no trabalho”. (NAIGEBORIN,

2006. p.50)

O tempo realmente parece ser uma das preocupações dos trabalhadores. No

livro “365 sugestões para simplificar sua vida no trabalho”, quase 20% das dicas

referem-se ao termo tempo. A Revista Você S.A, voltada a executivos brasileiros,

lançou um site específico para questões tangentes ao tempo, o “Você com + tempo”,

(VOCE COM MAIS TEMPO, 2009)

Caldas (1988, p. 33 apud VASCONSELOS, 2001, p.32) afirma que:

Em nossa ânsia de “não ficar para trás”, cada vez mais nos movemos maisrápidos, e cada vez mais de forma menos reflexiva [...] Corremos tanto queos detalhes nos escapam como as nuances entre o certo e o errado, entre osaudável e o doentio, entre o urgente e o necessário.

Honoré aponta que não apenas a redução do horário de trabalho, mas

também “livrar a cultura empresarial da idéia de que trabalhar mais tempo

invariavelmente significa conseguir que mais coisas sejam feitas”. (HONORÉ, 2005,

p. 232).

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Em 1880 Lafargue já contava que um dos maiores manufatureiros de sua

época havia proferido um discurso argumentando que doze horas de trabalho seria

uma jornada excessiva e que se no sábado o trabalho deveria ser suspenso às 14

horas. Este manufatureiro teria aplicado em seus estabelecimentos essas medidas

por quatro anos e que, se à primeira vista ela poderia estar soando desvantajosa e

onerosa, na prática se mostrava o oposto, com a média de produção aumentando.

(LAFARGUE, 2000, p. 100)

A esperada velocidade no fazer e concluir todas as atividades laborais é outro

item criticado pelo Slow. Todas as tarefas são, muitas vezes, percebidas como

urgentes, seja uma resposta a um e-mail, uma apresentação solicitada dez minutos

antes de uma reunião, uma criação. A celeridade alta é uma exigência

organizacional que atinge todos os níveis hierárquicos. Lazear (2004, p. 59, apud

DAVOLLI, 2007, p. 49) afirma que a maioria das pessoas não tem uma boa noção

de tempo e de urgência, não conseguindo administrar com qualidade essas

demandas. Para Honoré, deve-se equilibrar o ritmo da velocidade conforme a

natureza da atividade desempenhada. Estabelecer prazo é algo importante,

“concentra a mente e nos incita a proezas notáveis.” (HONORÉ, 2005, p.238),

porém “as coisas que requerem certa lentidão – planejamento estratégico,

pensamento criativo, cultivo de relacionamentos – se perdem na corrida

ensandecida para manter o ritmo, ou simplesmente para parecer ocupado”

(HONORÉ, 2005, p. 238).

Já se percebe que muitas empresas estão buscando e estimulando a

qualidade de vida – e do tempo – laboral, estabelecendo tempos para o fazer rápido

e o fazer devagar. Algumas empresas criaram ‘zonas de descompressão’

“compostas por salas com rádio, mesa de jogos, massagem, teatro, ioga, que

minimizam o clima de tensão que permeia as empresas na nova economia, através

da ludicidade e do relaxamento”. (NAIGEBORIN, 2006. p. 46)

No ranking das chamadas “melhores empresas para se trabalhar”, também

encontra-se práticas bastante inovadores e passíveis de uma discussão

aprofundada sobre a pertinência ou não no contexto cultural de determinada

empresa, se as ‘descompressões’ escolhidas são as de melhor resultado para

determinado perfil de funcionário, etc. Conforme ranking divulgado pela revista

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Fortune, a melhor empresa para se trabalhar em 2009 é a americana NetApp, que

oferece a seus funcionários, entre outros benefícios, plano de assistência à adoção,

programa de voluntariado e programas de aprimoramento profissional. Em quarto

lugar está a Google – que esteve na primeira posição nas edições de 2007 e 2008 –

que, devido á crise acabou eliminando no último ano benefícios inusitados como

uma viagem anual para o funcionário esquiar e o chá da tarde. (SATO, 2009).

Porém, para se obter um ambiente de trabalho mais agradável e mais slow,

atitudes simples mais do que benefícios não usuais podem fazer a diferença. O

criador do World Institute os Slowness, Geir Bethelsen, divulga o que seria os Dez

Mandamentos para o trabalho slow: falar pessoalmente com os colegas, sorrir e

chamar a todos pelos seus nomes, ser prestativo, sincero e amigável, mostrar e

estar realmente interessado nestas pessoas, elogiar, ter sempre cuidado com os

sentimentos alheios, respeitando as suas opiniões e sempre estar pronto a ajudar.

(O’REILLY, 2008).

4.1.1.5 Lazer e Slow

O Lazer consta, desde 1948, no Artigo 24, da Declaração Universal dos

Direitos Humanos, como um direito fundamental do ser humano (ANDRADE, 2001,

p. 55)

Andrade define lazer como:

conjunto de fatos e circunstâncias que, por sua natureza, apresentam-secomo isentos das pressões e das tensões que, com certa freqüência,podem afetar as atividades humanas individuais e grupais compulsivasopcionais. (ANDRADE, 2001, p. 21).

Um conceito mais elucidativo é apresentado por Dumazedier (apud

ANDRADE, 2001, p.42), para este autor lazer é o:

Conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livrevontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se,

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ou, ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada,sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, apóslivrar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Uma confusão que geralmente se faz é pensar o lazer como sinônimo de

tempo livre. Conforme esclarece Andrade, tempo livre seria:

A pausa na preocupação ou na dedicação produtiva de tarefas sistemáticasque dizem respeito aos diversos atos ou procedimentos relativos aoconjunto de cargos, funções e atividades, lucrativas ou não, em termos deganhos de bens diversos, sejam estes materiais ou não. (ANDRADE, 2001,p. 47)

Bruhns aponta que igualar as duas definições seria o mesmo que nivelar um

conceito qualitativo (lazer) a um quantitativo (tempo livre). (BRUHNS, 2004, p. 94).

Outra diferença entre lazer e tempo livre apontada pela autora é que todos poderiam

dispor de tempo

O lazer, de forma geral, por algum tempo foi mal-visto pela sociedade

ocidental pois este simbolizava um período de “não-trabalho”, essa ideologia e

sobrevalorização do trabalho juntamente com a chamada ‘ética cristã’ tiveram

causaram grande impacto na percepção do lazer como uma parada entre dois

períodos de trabalho. (NETO, 1993, p. 15, apud ROCHA; SILVA, 2002, p.134).

Por outro lado, o lazer foi amplamente defendido por alguns pensadores como

Platão e Bertrand Russell, este previa que este tempo seria utilizado com hobbies

como a pesca e a pintura. (HONORÉ, 2005, p.249). Para os filósofos gregos, o lazer

era tratado como vital para o desenvolvimento das virtudes do homem, para o

aprimoramento da sua sensibilidade. (ROCHA; SILVA, 2002, p.136).

Contudo, o que se percebe no decorrer dos anos é uma crescente

preocupação em ocupar todo o tempo de ‘não-trabalho’ ou tempo ‘não-produtivo’,

com atividades, não se permitindo lacunas na agenda nem durante o tempo livre.

Andrade afirma que o “lazer é essencial à vida humana equilibrada, saudável e

produtiva.” (ANDRADE, 2005, p. 21).

Lipovetsky afirma que “contra a fast live, os lazeres lentos encontram amplo

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eco”. (LIPOVETSKY, 2006, p. 113).

O artesanato é uma expressão dessa busca pelo que está ao encontro das

diretrizes do movimento slow. Nos últimos tempos percebe-se um interesse

crescente de pessoas que buscam cursos e que executam alguma atividade

artesanal. Muitas lojas e centros de desenvolvimento ascenderam como a Linna que

comercializa mais de 37 mil itens voltados à decoração e artesanato e que oferece

mensalmente uma vasta agenda de cursos direcionados a esta área. A Linna iniciou

com apenas uma loja, na década de 1990 e hoje conta com seis unidades no estado

do RS. (LINNA, c2009). Honoré aponta que “à medida que o ritmo da vida se

acelerava no século XIX, muitos se desencantaram dos produtos de fabricação em

massa despejados pelas novas fábricas.” (HONORÉ, 2005, p. 250). Muitos

culpavam a industrialização de sufocar a criatividade humana. (HONORÉ, 2005, p.

250). De acordo com o autor, novamente, estamos vivendo este sentimento de

contestação num momento de ápice tecnológico, os trabalhos artesanais, manuais e

caseiros estão sendo defendidos e requisitados por muitas pessoas, como os

adeptos do Movimento Slow. (HONORÉ, 2005, p. 250).

Porém além de atividades mais artesanais, muitos utilizam seu tempo de lazer

assistindo televisão. Segundo dados auferidos por Robert Putman e divulgados no

site do Observatório da Imprensa, entre 1965 e 1995, os americanos ganharam, em

média, seis horas semanais a mais de tempo livre, mas a maior parte desse tempo

foi utilizada para assistir televisão. (MONDEGO; CAMPOSSANO, 2006). Porém,

Honoré afirma que assistir televisão – embora possa relaxar, distrair e entreter –,

não é uma atividade de lazer considerada slow pois se recebe muitas informações

simultâneas e rápidas, não munindo o telespectador de tempo suficiente para

pensar, parar e refletir. (HONORÉ, 2005, p.257).

Não obstante, muitas pessoas estão abrindo mão de horas diante da TV por

outros hábitos de lazer mais saudáveis. A TV-Turnoff Network é um exemplo disso.

Esta é uma organização sem fins lucrativos fundada na década de 1990 que prega

que se deve redefinir o papel da televisão na sociedade, ao invés de reclamar de

sua programação, se deve desligá-la e partir para outra atividade mais saudável e

prazerosa. Todo o ano é organizada uma campanha para que, durante uma semana

em específico – geralmente no mês de abril – se mantenha a televisão desligada.

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Em 2003 houve a adesão de mais de 7,04 milhões de pessoas tanto nos Estados

Unidos quanto no exterior (DESLIGUE A TV, 2007; HONORÉ, 2005, p. 257).

Outro derivado do movimento que está relacionado ao lazer é o chamado

slow travel, que prega que as viagens podem e devem ser mais tranqüilas, que o

tempo de estadia no local de destino deve ser maior a fim de permitir contato com a

cultura e população local e os roteiros valorizam pequenas cidades ou zonas rurais,

sem as correrias e incontáveis deslocamentos que os pacotes de viagem

tradicionais acarretam. (O GLOBO, 2007). No Slow Travel o turista busca fazer parte

da vida local, estabelecendo uma conexão maior tanto com o lugar quanto com as

pessoas numa experiência mais imersiva. (SLOW MOVEMENT, 2009).

Destarte, como afirma Naigeborin, para se atingir uma boa qualidade de vida,

não basta dispor de tempo livre, é preciso optar por formas saudáveis e prazerosas

de se passar o tempo, o que constitui um critério altamente subjetivo e demandador

de tempo de reflexão, para que se entenda qual ou quais atividades se gosta e se

prefere fazer, que é mais prazerosa na utilização do tempo de lazer do indivíduo

(NAIGEBORIN, 2006, p.39). Questões estas que são altamente compatíveis com as

diretrizes e preocupações do Movimento Slow.

4.2 A RESIGNIFICAÇÃO DO TEMPO NO SLOW LIFE

“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.

José Saramago.

O Movimento Slow oferece uma concepção bastante diferenciada sobre o

tempo nos tempos atuais.

Existe uma palavra alemã, eigenzeit que auxilia no entendimento desse

conceito. Eigen significa ‘próprio’ e zeit significa ‘tempo’. Para o Movimento Slow,

“todo ser vivo, todo acontecimento, todo processo e todo objeto tem o seu próprio

ritmo e o seu próprio andamento inerentes [...]. (HONORÉ, 2005, p. 52)

Honoré afirma que o movimento pode ser resumido em uma palavra:

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equilíbrio. Desta forma, como já exposto, não é premissa do movimento que em

qualquer situação se faça tudo mais devagar, o que é proposto é que se seja rápido

quando se perceber que o melhor em determinada ocasião é ser rápido e ser mais

devagar quando isso também fizer sentido. (HONORÉ, 2005, p. 27).

Sobre essa questão Naigeborin afirma que:

O Movimento Devagar, então, representa uma tentativa de conscientizaçãoe estímulo às pessoas, mostrando que existe um outro caminho, umaalternativa para viver com mais qualidade neste contexto, onde o turbo-capitalismo tem um custo humano muito alto. (2006, p.26).

O Movimento Slow Life, então, tem entre seus preceitos a resignificação do

tempo diante da atual aceleração que a sociedade contemporânea vive. Se numa

tradução livre para o português se falaria em Movimento Devagar, esta tradução

literal não comportaria todo o conceito do Movimento. A base do movimento Slow

Life é o encontro do tempo giusto, isto é, o tempo certo, para se exercer cada

atividade. Os simpatizantes e praticantes do Movimento não relegam atos como

acessar a internet, andar de avião, etc, por essas serem atividades ligadas à

velocidade, a se fazer algo mais rápido – nesses casos, a receber/enviar notícias

mais rapidamente a alguém que está longe ou deslocar-se entre um país e outro,

por exemplo. A chave é o equilíbrio, não se relega os benefícios da tecnologia,

apenas não se poderia ser controlado por esta, ela é uma facilitadora. Neste caso, o

tempo que seria dispensado a viajar dias de ônibus, por exemplo, pode ser utilizado

para atividades de lazer ou relaxamento. Não se pode deixar a vida tomar um ritmo

frenético, desumanizante e rápido demais. Servan-Schreiber sugere que, em nossas

sentenças, troquemos o termo tempo por vida. “Colocar a vida no lugar do tempo é

perceber que, na prática, são a mesma coisa” (SERVAN-SCHREIBER, 1991, p.

140). Assim, quando falamos que não temos tempo, nosso problema seria muito

mais profundo, pois sugere que não vivemos como gostaríamos e não somos felizes

com isso, estaríamos afirmando que “não temos vida”. Essa questão é essencial

para o Movimento Slow Life.

O que o mundo precisa, e o que o movimento Devagar oferece, é umcaminho intermediário, uma maneira de associar a dolce vita ao dinamismo

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da era da informação. O segredo está no equilíbrio: em vez de fazer tudomais depressa, fazer tudo na velocidade certa. Às vezes depressa. Àsvezes devagar. Às vezes nem uma coisa nem outra. Viver Devagar significanunca se afobar, nunca tentar ganhar tempo só para ganhar tempo.(HONORÉ, 2005, p. 309)

Hoje, como já visto, se percebe um crescente interesse por atividades como

ioga, atividades manuais e artesanais, jardinagem, meditação, entre outras, isto é,

atividades que vão de encontro ao fazer rápido e acelerado. Se começa a perceber

que a qualificação do tempo é fundamental e que a aceleração de todas as

atividades a fim de que se possa, cada vez mais, fazer mais e mais coisas, nem

sempre é o melhor. Questões como “Será que realmente faz sentido ler Proust em

alta velocidade, fazer amor na metade do tempo ou cozinhar todas as refeições no

microondas?”. (HONORÉ, 2005, p.49) começam a ser levantadas e levadas a sério.

As pessoas começam a buscar uma organização à la carte do seu tempo,

uma adoção de ritmos diferenciados segundo a necessidade percebida em

determinada atividade ou momento. (LIPOVETSKY, 2006, p. 114).

O Movimento Slow Life está calcado em oito esferas, conforme o exposto

anteriormente, todos elas embasadas nessa qualificação e equilíbrio do tempo,

englobando uma visão mais holística do homem, questionando a cultura da pressa

que imperou e ainda impera em segmentos de nossa sociedade. E, cada vez mais, o

Slow está influenciando diferentes campos e atividades, já se fala em Slow Fashion

(WOOD; 2008; BIERUT, 2006) entre outras variações. Isso demonstra o crescente

interesse da sociedade por uma nova proposta de relacionamento com o seu tempo,

como afirma Honoré “quando as pessoas começam a colher os frutos da

desaceleração em determinada esfera de ação da vida, freqüentemente passam a

aplicar a mesma lição a outras.” (HONORÉ, 2005, p.311).

Viver a partir desses preceitos, ao contrário do que críticas precipitadas

podem sugerir, pode ser sustentável e viável dentro de nosso contexto de sociedade

de consumo.

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4.3 SLOW LIFE NA PUBLICIDADE E NO MERCADO DE CONSUMO

Ao contrário do que um pensamento apressado poderia sugerir, o slow pode e

já está sendo utilizado como argumento ou inspiração de posicionamento de

empresas, novos negócios e de peças e campanhas publicitárias.

4.3.1 Slow Life como oportunidade de mercado

A inserção do movimento Slow Life na sociedade de consumo certamente

está alicerçada no equilíbrio, não pregando a filosofia do “pare de consumir”, mas,

sim, a busca pelo consumo consciente.

Nos Estados Unidos, o Slow Food contribuiu para convencer a revista Timea publicar uma matéria sobre o pêssego Sun Crest do norte da Califórnia,uma fruta de sabor sublime mas que não resiste ao transporte. Depois dapublicação da reportagem, o pequeno agricultor desse pêssego foiprocurado por uma quantidade de compradores interessados em amostrasde sua colheita. (HONORÉ, 2005, p. 78).

O mercado formado pelos adeptos da desaceleração ou da atitude slow

apresenta-se como uma nova oportunidade em crescimento. Este nicho não parece

ser apenas mais uma tendência de mercado, tendo em vista que ele está refletindo

muitas das mudanças estruturais da sociedade atual. E isso gera mudanças também

no que tange ao mercado de consumo. A partir dessa nova realidade vislumbrada, o

mercado também está se adaptando, “grandes mudanças estão acontecendo em

nossa cultura, porque o mercado não tem mais escolha além de responder à

transformação radical que os seres humanos experimentam agora” (DAVIS, 2003,

p.249).

Se num primeiro momento a desaceleração pode assustar empresas

comprometidas apenas com a maneira de ser do turbocapitalismo, ou do capitalismo

acelerado, gerando conclusões precipitadas e um tanto apocalípticas, a

desaceleração proposta por movimentos como o Slow Life pode ser uma excelente

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oportunidade de negócios. Honoré (HONORÉ, 2005, p. 312) afirma que “o

movimento Devagar certamente implica um questionamento do materialismo

desenfreado que movimenta a economia global” e que:

nem se haverá de dizer que o movimento Devagar é antagônico aocapitalismo. Pelo contrário, oferece-lhe novo alento. Em sua forma atual, ocapitalismo global nos obriga a fabricar mais depressa, trabalhar maisdepressa, consumir mais depressa, viver mais depressa, qualquer que sejao custo. Passando a encarar as pessoas e o ambiente como bens valiosos,e não como fatores descartáveis de produção, a alternativa Devagar poderiafazer com que a economia trabalhasse para nós, e não o contrário. (p.312-313).

Hoje, uma vertente do marketing, o marketing de experiência, consiste em se

integrar todos os pontos de contato com o consumidor estabelecendo uma

experiência sempre positiva associada à determinada marca ou negócio (Waisberg,

2006). Destarte, o movimento Slow Life pode fornecer um bom argumento e

posicionamento de marca dentro desse contexto, “Devagar não deixa de ter um

trunfo de marketing na manga: promete prazer”. (HONORÉ, p. 313).

A Body Shop pode ser lembrada por ser percebida dessa forma, sempre

buscando promover junto à opinião pública, comunidades locais e seu público-alvo

contatos positivos e consistentes, conforme Naigeborin, as lojas da rede “não

vendem o produto em si, mas experiências memoráveis”.

Em matéria da Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, empresas

slow recebem destaque. Correa argumenta que:

quando aplicado ao mundo empresarial, o modelo ensina que produtos dequalidade não podem ser reproduzidos ao infinito: a produção será limitadapelas matérias-primas, pelo uso de recursos naturais e pela mão-de-obra.(CORREA, 2009, p. 81)

Estes negócios vão ao encontro de novas demandas que partem dos

consumidores que buscam produtos com uma qualidade mais holística, são

consumidores preocupados com a procedência dos objetos adquiridos, suas

políticas sócio-ambientais, sua história, seus princípios. (CORREA, 2009, p. 82).

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Portanto os negócios e produtos slow tem um grande potencial de

diferenciação, não ganhando atenção do consumidor essencialmente pelo seu custo

que, comparado a produtos semelhantes, pode ser maior, mas, sim, devido à sua

qualidade, princípios e diretrizes, valores intangíveis. (CORREA, 2009, p. 82).

Dentre os pilares centrais do Movimento que já foram citados, todos

comportam negócios que estejam alinhados aos preceitos do Movimento. Um

exemplo, dentro da esfera do Slow Food é a Antica Dolceria Bonajuto, situada na

cidade de Módica, na Itália. A empresa produz doces artesanais e chocolates com

receitas do tempo dos astecas, somente com cacau, açúcar e algumas especiarias.

Todo o processo é realizado artesanalmente, com ingredientes locais, em pequena

escala. (CORREA, 2009, p. 82). O atual administrador do estabelecimento, Franco

Ruta, esclarece que “é muito fácil automatizar todo o processo produtivo, mas não

se podem automatizar as emoções e são elas que queremos despertar nessa e nas

próximas gerações”. (CORREA, 2009, p. 82).

Os comfort places, já citados, centros de terapias alternativas, cursos de

técnicas manuais e de culinária, mercados de bairro que comercializam produtos

orgânicos ou funcionais, feiras ecológicas, são alguns exemplos também de

negócios que estão alinhados com os determinados preceitos do movimento Slow

Life que nos mostram que ele pode, sim, ser incorporado em diversos campos da

sociedade de consumo contemporânea de forma não traumática, gradual e

traduzindo os novos interesses e questionamentos dos indivíduos quanto à forma

como vivem e à qualificação de seu tempo, caracterizando uma nova forma de

exteriorização de um estilo ou projeto de vida mais slow, o que está alinhado com a

afirmação de Mike Feartherstone (1995, p. 123), de que:

Os novos heróis da cultura de consumo, em vez de adotarem um estilo devida de maneira irrefletida, [...] transformam o estilo num projeto de vida emanifestam sua individualidade e senso de estilo na especialidade doconsumo de bens, roupas, práticas, aparências e disposições corporaisdestinados a compor um estilo de vida.

E em campanhas e peças publicitárias já se percebe a incorporação de

alguns desses preceitos.

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4.3.2 Slow e a publicidade

A relação do Movimento Slow Life com a publicidade, num primeiro olhar,

pode parecer paradoxal e poder-se-ia pensa-la, também, como oximorônica, visto

que a publicidade é tida como “essencialmente rápida, ágil e ferramenta do

turbocapitalismo” (NAIGEBORIN, 2006, p. 64) e o movimento Slow Life prega a

desaceleração, o encontro do tempo giusto, o equilíbrio, o consumo consciente.

Porém, como argumenta Naigeborin, hoje se percebe um crescente interesse

do consumidor sobre “o consumo consciente, a origem dos bens que consumimos, a

priorização dos produtos orgânicos e a escolha de marcas influenciada por sua

atuação social.” (NAIGEBORIN, 2006, p. 62).

Dessa forma, muitas marcas transmitem valores como estes em sua

comunicação e material publicitário. Porém, para que o consumidor perceba esse

contato como consistente, é preciso que tais valores constem no planejamento

estratégico, nas diretrizes e práticas da empresa, que façam parte da essência da

marca.

Um exemplo gerado a partir dessa simbiose é a Natura. Empresa brasileira de

cosméticos, fundada em 1969, que realiza vendas diretas. Na comemoração de

seus 30 anos, o novo posicionamento da empresa passa a ser “bem estar bem” (DA

SILVA, 2007, p. 12). Na visão de mundo da empresa, consta que a marca está

comprometida com a construção de um mundo melhor, através da melhora da

qualidade da relação da pessoa consigo mesma, com o seu próximo e com a

natureza. (NATURA, c2009). Desde então, se percebe que os novos produtos da

empresa, as embalagens e a sua comunicação estão alinhados com essa visão

estratégica. Um exemplo é o desenvolvimento da linha Ekos, composta por produtos

biodegradáveis, há um relacionamento baseado no comércio justo com as

comunidades ribeirinhas, que fornecem os ativos dos produtos, em sua embalagem

são utilizados itens reciclados e refis, para que se agrida menos a natureza e se

dissemine o preceito do consumo sustentável. (NAIGEBORIN, 2006, p. 62 ;

NATURA, c2009). Todo o processo e desenvolvimento desses produtos vão ao

encontro das diretrizes da empresa e posicionamento da marca, o que permite que

se divulgue isso no material publicitário de forma a impactar positivamente o

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consumidor que percebe a mensagem como autêntica, conhecendo todos estes

cuidados da empresa. Abaixo, uma peça publicitária divulgando o Perfume do Brasil

Priprioca, na qual se pode perceber esse alinhamento entre marca, posicionamento

e publicidade. Aqui também se percebe alguns dos preceitos do slow como a

valorização de produtos locais, a exposição de um número menor de informações,

sem sobrecarregar o leitor, oferecendo espaço para a reflexão, além de estar ao

encontro de alguns princípios de slow design:como colocar o foco da comunicação

na questão sócio-cultural e do bem-estar e a concepção primando o local e depois

global (SLOW DESIGN, c2009).

Figura 1 – Anúncio Natura - Perfume do Brasil Priprioca. Fonte: Site Natura Ekos Perfume (Brazil)

Outro exemplo proveniente da Natura que está bastante alinhado com o

pensamento slow, é o anúncio abaixo. Ele expõe a questão do tempo, a

preocupação do homem com a sua passagem, isto é, com a qualitatividade do

tempo e sugere a qualificação do tempo, através da contagem através de outros

elementos como os ‘sorrisos’, isto é, de momento felizes e memoráveis. Além disso,

faz alusão à utilização da tecnologia como facilitadora e aliada do homem, não como

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recurso dominante, na busca pela valorização da biodiversidade, citando a planta

Jambu, utilizada na composição do produto anunciado.

Figura 2 – Anúncio Novo Chronos da Natura

Fonte: Site Natura (Brazil)

Outra empresa que poderia ser citada neste contexto é a Tim. Com suas

operações no Brasil desde 1998, a empresa foi pioneira no país em oferecer o

serviço de mensagens multimídia e de gravação de vídeos e envio por e-mail

através de celular, fato este que está coerente com o posicionamento da empresa:

“Viver sem fronteiras”.

TIM investe em inovação e convergência para que seus clientes vivam além

da tecnologia, (TIM, 2008). Este posicionamento já era utilizado na Itália, um país

menor que o Brasil, num continente com muitas fronteiras. Então, a agência de

comunicação da empresa na época, a Lew'Lara\TBWA, optou por ampliar tal

conceito para além das fronteiras físicas, como as fronteiras culturais e sociais e

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estas também poderiam impedir a comunicação. (CARPEGIANI, 2008) Assim, as

peças publicitárias criadas tratavam de alguma forma dessa questão, da empresa

que auxilia o usuário a acabar com fronteiras e a retirar obstáculos que impeçam a

sua comunicação numa esfera de interesse do cliente, não se focando apenas no

produto, mas na melhora da qualidade de vida do usuário.

No ano de 2007 foi lançado um comercial de trinta segundos intitulado ‘Água’

que trazia justamente essa mensagem: “Use nossa tecnologia para viver melhor”. O

comercial foi filmado embaixo d’água, o que naturalmente influi na velocidade e ritmo

do movimento das pessoas, ali tudo ocorria mais vagarosa e calmamente. André

Laurentino, vice-presidente de criação da agência, esclarece que :

Enquanto os outros dizem 'use, o mundo agora está mais rápido, tudo nasua mão, você pode tudo', a gente diz: calma! Isso está angustiando aspessoas. Se eu tenho e-mails no meu celular, por que tenho que vê-los nohorário de almoço? Eu termino de almoçar e leio. O controle está comigo enão com a tecnologia [...] (CARPEGIANI, 2008).

O comercial é um convite aberto à desaceleração, ao relaxamento, à reflexão.

Conceitos totalmente alinhados ao Movimento Slow.

As peças impressas desta mesma campanha, destacavam palavras de ordem

como ‘Relaxe’, ‘Sorria’, ‘Desacelere’ e ‘Respire’. (CARPEGIANI, 2008) expressões

estas também sugeridas e defendidas pelo Movimento Slow, conforme o exposto

anteriormente.

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Figura 3 – Anúncio Tim – Desacelere.

Fonte: NAIGEBORIN (2006).

As peças publicitárias acima, das empresas Tim e Natura, demonstram essa

nova preocupação das empresas em alinharem sua linha criativa de comunicação

aos novos desejos e formas de ser dos sujeitos contemporâneos. Conforme

Lipovetzky, hoje os objetivos da publicidade são muito mais ambiciosos, não

bastando evidenciar o produto, em muitas peças o produto nem é mesmo exposto, a

publicidade hoje está bastante envolvida em transmitir visões de mundo, valores,

mensagens que auxiliem a empresa a fidelizar seus clientes, criar laços emocionais,

melhorando a imagem da marca. (LIPOVETSKY, 2006, p. 176).

A aplicação de princípios do Movimento Slow na publicidade apresenta muitas

dessas características apontadas por Lipovetsky. No design a percepção de mais

‘espaços em branco’, ‘de respiro’, com poucas informações textuais, imagens

impactantes e que transmitam uma sensação de leveza e espontaneidade. Há

indícios de estar fortemente atrelada à disseminação de idéias, valores, à defesa de

uma causa, que promova ou catalise uma mudança comportamental, que estreite

relações da marca com a comunidade e com seu público-alvo e, apenas em

segundo plano, se exponha o tangível da peça, o produto. (Naigeborin, 2006, p. 64-

65).

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5 PESQUISA DE CAMPO COM “ACELERADOS” DE PORTO ALEGRE

Nos capítulos anteriores foram apresentadas informações para que se

conheçam as premissas para o surgimento de um movimento de desaceleração na

sociedade contemporânea, assim como as principais bases e objetivos deste

movimento.

A fim de buscar uma compreensão maior sobre a aplicação prática desses

preceitos, realizou-se uma pesquisa de campo junto a indivíduos integrados a uma

rotina acelerada na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Procurou-se

verificar se para este nicho a proposta de desaceleração seria sustentável e se tais

indivíduos seriam receptivos a esta idéia, além de identificar como o ritmo de suas

vidas influencia ou gera comportamentos de consumo.

O presente capítulo apresenta a fundamentação da metodologia utilizada para

este estudo – a pesquisa exploratória qualitativa – e a técnica de entrevista

individual em profundidade. Além disso, se tratará sobre o perfil da amostra,

procedimentos de aplicação da pesquisa qualitativa e os resultados obtidos neste

estudo.

5.1 METODOLOGIA

Buscando-se este entendimento sobre a realidade dos “acelerados, optou-se

por realizar um estudo de campo através de pesquisa exploratória e do método

qualitativo. Como os objetivos deste trabalho procuram por resultados menos

quantificáveis, não-estatísticos, almejando-se uma compreensão mais profunda

sobre o comportamento dos indivíduos, nuances da sociedade, informações de

caráter mais subjetivo, a metodologia qualitativa mostra-se mais pertinente.

Conforme Lakatos; Marconi (2006, p. 269) a metodologia qualitativa:

preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise

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mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências decomportamento etc.

Além disso, esta é uma metodologia mais comprometida com o “universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes [...]” (MINAYO, 2001,

p. 22). A abordagem qualitativa também se mostra apropriada quando não se tem

um mapeamento anterior do problema a ser estudado, quando se busca avaliar

reações a novas propostas e mudanças de hábitos e atitudes (PINHEIRO et al,

2004, p. 126).

A pesquisa exploratória está alinhada com estas premissas, visto esta ser

recomendável “quando se busca um entendimento sobre a natureza geral de um

problema” utilizando-se métodos “flexíveis, não estruturados e qualitativos. (AAKER;

KUMAR; DAY, 2004, p. 94)

A pesquisa exploratória comporta diversos instrumentos de coleta de dados,

Para o presente trabalho optou-se pela utilização da entrevista em profundidade.

5.2 ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE

A entrevista em profundidade busca “recolher respostas a partir da

experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se

deseja conhecer”. (DUARTE, 2009, p. 62) Este tipo de abordagem tem como

características permitirem que o entrevistado sinta-se mais aberto a fornecer

informações sinceras, visto não estar sob o julgamento de terceiros no momento da

entrevista, sendo ele o “centro das atenções”. (PINHEIRO et al, 2004, p. 138).

Esta técnica me mostra adequada quando se busca uma compreensão sobre

o universo do entrevistado com base em elementos subjetivos tais como as suas

opiniões e crenças sobre determinado objeto ou situação. Ela pode ser

recomendável também quando o assunto abordado apresenta caráter mais

confidencial, caso em que o entrevistado poderia mostrar-se relutante em explicitar a

sua opinião perante um grupo maior (MALHOTRA, 2001).

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Assim, foi selecionado para a realização da entrevista um roteiro semi-aberto,

composto por perguntas abertas, a fim de se evitar uma possível influência da

entrevistadora sobre as respostas., oferecendo aos respondentes maior autonomia

em suas respostas. Destarte, o roteiro da pesquisa foi concebido utilizando-se

categorias originadas a partir dos problemas estudados no presente trabalho e das

principais diretrizes do Movimento Slow. Neste tipo de roteiro as questões-chave

podem ser adaptadas conforme o desenvolver de cada entrevista, “uma questão

pode ser dividida em duas e outras duas podem ser reunidas em uma só [...]

(DUARTE, 2009, p. 66). Deste modo, o roteiro se torna um instrumento para a

condução da entrevista, podendo ser alterado no momento de realização desta

sendo “natural o pesquisador começar com um roteiro e terminar com outro, um

pouco diferente”. (DUARTE, 2009, p. 66).

5.3 ELABORAÇÃO DO ROTEIRO SEMI-ABERTO PARA ENTREVISTA EM

PROFUNDIDADE

A partir disso, foi elaborado um roteiro objetivando-se a promoção de um

entendimento sobre o contexto dos entrevistados, suas opiniões e percepções,

tendo-se como elementos embasadores os problemas e objetivos do presente

trabalho.

Antes do início da aplicação do roteiro nas entrevistas, a fim de validar este

instrumento, foi realizado um pré-teste ou teste preliminar. Esta prática consiste num

teste do instrumento sobre uma pequena amostra antes de ser aplicado

definitivamente nos entrevistados a fim de “evitar que a pesquisa chegue a um

resultado falso. Seu objetivo, portanto, é verificar até que ponto esses instrumentos

têm, realmente, condições de garantir resultados isentos de erros”. (LAKATOS;

MARCONI, 2008, p. 167) Assim, foi entrevistada uma pessoa no dia 23 de maio de

2009, que atendia ao perfil pré-estabelecido para os objetivos do trabalho. Através

deste pré-teste as questões puderam ser realinhadas e se obteve o tempo médio de

duração da entrevista.

O roteiro ficou estruturado conforme abaixo:

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TRABALHO

1 - Você poderia falar um pouco sobre o seu trabalho.

2 - Fale um pouco sobre os benefícios que a sua empresa oferece e que lhe

parecem mais atrativos. Existe algum benefício que você não recebe, mas gostaria

de receber da sua empresa?

3 - Você conhece a expressão workaholic? Você se considera um (a)

workaholic?

4 - Você já teve alguma doença gerada em decorrência de sua atividade de

trabalho?

5 - Você poderia falar sobre a sua satisfação com o seu trabalho atual?

QUALIDADE DE VIDA

6 - Você poderia falar um pouco sobre as suas atividades fora do ambiente do

trabalho?

7 - O que você acha da quantidade de tempo livre que você tem?

8 - Você pratica algum esporte ou gostaria de praticar? Qual?

9 - Você pratica alguma técnica de relaxamento?

10 - Conte um pouco sobre a sua alimentação.

11 - Comente a seguinte frase: “aquilo que comemos deve ser cultivado,

cozinhado e consumido em ritmo de tranqüilidade”.

12 - Se você pudesse mudar algo em sua rotina, para que a sua qualidade de

vida fosse maior, o que seria?

RELAÇÃO COM O TEMPO

13 - ·Fale um pouco sobre a seguinte frase: “O tempo voa”.

14 - Você poderia falar sobre o seu ritmo de vida?

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15 - O que você acha da expressão: “Tempo é dinheiro”?

16 - O que você acha que a sua cidade tem de melhor? E de pior?

17 - Existe hoje um Movimento chamado de Movimento Slow o qual afirma

que o culto à velocidade e que o ritmo sempre acelerado são prejudiciais para o

indivíduo e para a sociedade. O Slow prega que cada um procure encontrar o seu

próprio ritmo para cada tarefa e que se tenha uma relação de equilíbrio com o

tempo. O que você acha dessas afirmações?

18 - Você acha que na atual sociedade é possível desacelerar?

CONSUMO

20 - Fale um pouco sobre seus hábitos de compra.

21 - Qual o fator que você acha mais relevante para se tornar fiel a uma

marca?

22 - O que mais lhe influencia a comprar um produto ou contratar um serviço?

23 - Qual tipo de produto você considera mais benéfico para a sua saúde?

Você costuma consumi-los?

24 - Fale um pouco sobre a diferença entre os produtos artesanais/manuais e

os industriais/fabricados em série.

25 - O que você acha dos produtos ou empresas que utilizam o argumento da

sustentabilidade? Esse fator é importante no momento da compra?

26 - Se você ouve dizer que uma empresa não tem políticas sócio-ambientais

corretas e o preço dos produtos ou serviços dessa empresa é menor, o que você

faz?

27 - Quais os fatores que levam você a recomendar um produto, serviço ou

marca para alguém?

28 - Fale um pouco sobre a sua marca preferida.

29 - Que tipo de anúncio ou comercial mais lhe atrai?

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30 - Que informações você acha mais interessantes/importantes que sejam

reforçadas nos anúncios e comerciais?

31 - Comente a sua percepção sobre estes anúncios (aqui foram mostrados

os anúncios utilizados no capítulo 3 do presente trabalho).

5.4 SELEÇÃO DA AMOSTRA

Por tratar-se de uma pesquisa com método qualitativo, a amostra de

entrevistados foi pequena, não sendo utilizado nenhum cálculo estatístico para a sua

definição. (PINHEIRO et al, 2004, p. 127), sendo assim, “seu propósito

simplesmente não é conferir representatividade aos resultados, mas garantir que

estes sejam profundos na compreensão do consumidor” (PINHEIRO et al, 2004, p.

128). Duarte afirma que para se realizar uma pesquisa satisfatória é necessário que

“as fontes sejam capazes de ajudar a responder sobre o problema proposto. Elas

deverão ter envolvimento com o assunto, disponibilidade e disposição em falar”.

(DUARTE, 2009, p. 68).Assim, foram selecionadas sete pessoas, residentes na

cidade de Porto Alegre, que consideram o seu ritmo de vida acelerado. Para atender

este critério, foram consideradas indicações provenientes da rede de contatos da

entrevistadora. Deste modo, foram apontadas vinte pessoas das quais quinze foram

contatadas, destas: cinco não puderam participar da pesquisa alegando não

disporem de tempo para isso e três foram eliminadas por não preencherem a pré-

requisitos da pesquisa (neste caso estar trabalhando e residir na cidade de Porto

Alegre. Outros critérios utilizados foram que a pessoa fosse produtivamente ativa e

que houvesse variedade nos modos de contratação (estagiários, trabalhadores

informais, trabalhadores formais e donos de seus próprios negócios). Buscou-se

pessoas de diferentes segmentos de mercado, atuantes na área de serviços ou

comércio tanto da iniciativa privada quanto da pública. Procurou-se, também,

indivíduos de diferentes idades, estado civil e com e sem filhos. Verificou-se, ainda,

se nenhuma das pessoas entrevistadas tinha conhecimento do objeto de estudo do

presente trabalho, a fim de não haver influência sobre as respostas. Esta forma de

seleção é denominada de seleção por conveniência, fundamentada no critério de

viabilidade e os entrevistados são selecionados por disponibilidade ou proximidade.

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(DUARTE, 2009, p. 69).

5.5 APLICAÇÃO DAS ENTREVISTAS

A aplicação das entrevistas deu-se durante o mês de maio do ano de 2009.

As definições do horário e local de realização das mesmas ficaram a cargo do

entrevistado. Conforme Duarte, “é fundamental atender às condições do

entrevistado” quanto a estes itens. (DUARTE, 2009, p. 71). Assim, três entrevistas

foram realizadas nos ambientes de trabalho dos respondentes, duas nas suas

respectivas residências, uma na casa de uma amiga do entrevistado e uma na casa

da entrevistadora. A fim de deixar os informantes à vontade, levando-se em conta

que algumas das informações dadas na entrevista, sobretudo as que envolvem o

emprego do respondente poderiam ser de caráter sigiloso, optou-se pela utilização

de pseudônimos. A duração média das entrevistas foi de quarenta minutos.

Conforme indicações de Duarte, a entrevista iniciou questionando-se dados

gerais do respondente como o nome, idade, estado civil e formação. Em relação às

perguntas abertas, iniciou-se com indagações mais abrangentes e simples sobre a

rotina do entrevistado evoluindo-se para questões mais opinativas conforme o

desenvolver da entrevista. (DUARTE, 2009, p. 72).

Foram utilizadas anotações de termos ou expressões-chave e gravação do

áudio, através de gravador portátil, como instrumentos de coleta. Todos os

entrevistados mostraram-se receptivos ao uso do gravador, porém alguns

primeiramente questionaram o uso desse áudio, quem ouviria as suas declarações,

etc. O uso do gravador é vantajoso para que se tenha o registro completo e literal

das falas do entrevistado, reduzindo o risco de distorções, facilitando o

desenvolvimento da entrevista e possibilitando uma maior atenção do entrevistador

quanto à comunicação não-verbal, estando livre para anotar essas reações.

(DUARTE, 2009, p. 76-77).

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5.6 PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Conforme apresentado, os entrevistados foram selecionados através da

combinação de diversos critérios.

1 - Alice tem 21 anos, é solteira, não tem filhos e é estudante de um curso de

graduação. Trabalha como Assistente de Recursos Humanos e Departamento de

Pessoal de uma empresa do segmento de comércio.

2 - Bruna tem 31 anos, é solteira, não tem filhos e é estudante de um curso de

graduação. Trabalha com Recrutamento e Seleção de uma empresa do segmento

de serviços.

3 - Cassandra tem 26 anos, não tem filhos, é casada e está cursando uma

segunda graduação. Trabalha com Recursos Humanos, em uma empresa do setor

de comércio.

4 - Joana tem 24 anos, é solteira e não tem filhos. Está concluindo curso de

graduação e é estagiária de um órgão público municipal.

5 - João tem 44 anos, é divorciado e tem dois filhos, um com 18 anos e outro

com 21 anos. Ele tem o ensino médio completo, atualmente não está estudando e

trabalha informalmente como assistente de ourives.

6 - Mallu tem 24 anos, é solteira e não tem filhos. Acaba de concluir uma

especialização em sua área de atuação. Atualmente exerce o cargo de professora

de inglês e de língua portuguesa em três escolas (duas públicas e uma privada) da

Grande Porto Alegre.

7 - Solange tem 45 anos, é divorciada e tem uma filha, de 23 anos. Ela

atualmente não estuda, mas tem o ensino médio completo. Trabalha e é sócia de

uma Lan House.

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5.7 DESCRIÇÃO DAS PESQUISAS

Os aspectos mais relevantes obtidos nas entrevistas segundo os objetivos do

presente trabalho serão descritos a seguir utilizando-se, também, a fala literal dos

respondentes.

5.7.1 Entrevista 1

A primeira entrevista realizada foi com a Alice, em sua residência. Esta

mostrou-se bastante insatisfeita não com a sua função, mas com seu ambiente de

trabalho. Quando questionada sobre isso, a primeira afirmação feita pela

entrevistada é que o seu trabalho “é bem chato”. Os principais motivos apontados

pela respondente para este fato seriam a sobrecarga de tarefas, a falta de

prestatividade e pró-atividade de seus colegas de departamento e a carga horária

considerada exaustiva (oito horas e quarenta e cinco minutos). Como fator para

melhoria de sua qualidade de vida é apontada a redução da jornada de trabalho.

A entrevistada mostra-se descontente também com os benefícios oferecidos

pela empresa que seriam concedidos:

sem critério nenhum [...] para algumas pessoas que menos precisam, elesdão uma bolsa de estudo, eles pagam a faculdade completa ou parcial, masesta geralmente é para quem não tem a menor necessidade, e vale-alimentação para alguns casos em específico.

Alice não se considera uma workaholic, porém se auto-define como “um

pouquinho maníaca” pelo alcance da perfeição na execução de suas tarefas, mesmo

não estando satisfeita com seu emprego.

A entrevistada relata sofrer de algumas doenças decorrentes de seu trabalho.

Estas seriam:

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O estresse, a exaustão, o cansaço demasiado, eu acredito que eu estejacom tendinite, porque o pulso costuma doer muito, o braço pára, eu tenhoum problema no joelho chamado bursite, então pelo movimento, pelacirculação no meu trabalho, eu acredito que tenha agravado ainda mais, sóque eu não posso ir no médico para ver.

Sobre seu tempo livre, a entrevistada aponta “ficar com os cachorros” como

sua atividade de lazer preferida, além de gostar de jogos eletrônicos como vídeo

games “para se desestressar”. Alice mostra-se incomodada por não dispor de mais

tempo livre, apontando que:

Preciso de mais, porque eu permaneço dez horas no trabalho, fora o tempode deslocamento, eu faço faculdade de segunda à sexta-feira, no domingoeu faço inglês então, tempo livre, praticamente não existe e o que eu tenhode tempo livre eu não consigo ter lazer, porque é só o tempo de tu jantar,almoçar, tomar café e dormir.

Aliado a isso, a respondente afirma que seus atuais problemas de saúde a

impedem de praticar esportes, embora tenha vontade e perceba benefícios nestas

atividades.

Outro fator percebido como negativo em sua rotina é a sua alimentação.

É bem precária, porque, como eu falei, meu atual emprego não fornecealimentação, tu tem que levar uma marmitinha, deixar na geladeira, quevaza, o microondas não esquenta direito e a comida de microondas não é amesma coisa, tu não pode carregar muito volume porque o ônibus é muitocheio e o horário também não favorece muito para tu almoçar e depois irdireto para a faculdade, então a alimentação fica precária.

Alice mostra-se favorável à redução do ritmo, à tranqüilidade no que se refere

a este quesito. Afirmando que o ato de alimentar-se não deve ser realizado “com

tempo contado, pensando que tem que voltar para o trabalho, que tem um monte de

coisas para fazer e ficar nessa correria”. Para ela, os alimentos são os produtos

mais benéficos para a saúde, porém afirma que também em seu ambiente

doméstico não consegue ter uma alimentação considerada saudável por que

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em casa, cada um tem suas preferências alimentares, como é minha mãeque cozinha, para não fazer um tipo de comida diferente para cada pessoa,se faz algo mais básico que agrada todo mundo.

A entrevistada considera o seu ritmo de vida “acelerado demais” e que “a

pressa e o ritmo acelerado, não contribuem nem para a saúde e também não

adianta fazer correndo que não vai salvar nada” Assim ela acha ser possível se

desacelerar, iniciando-se com uma mudança comportamental do indivíduo e esta,

gradualmente, gerando uma mudança na sociedade

Sobre seus hábitos de consumo, Alice afirma fazer compra comparada,

dificilmente sendo levada a realizar uma compra por impulso. Afirma, ainda, não ser

fiel a nenhuma marca, mas ter certas preferências levando em conta fatores como a

qualidade percebida, a durabilidade e a saciedade das expectativas geradas. Estes

também são apontados ao lado da confiança como os principais critérios para a

recomendação de um produto/serviço/marca para terceiros.

Sua marca preferida é a Melissa, “um sapatinho ou sandália de plástico, tem

vários modelos encantadores e têm o diferencial de um cheirinho agradável. Ela me

agrada esteticamente”. Alice não percebe como um ponto negativo ou prejudicial ao

meio ambiente o fato de o produto ser feito de plástico, mas aponta que a

sustentabilidade é um item relevante no momento de compra.

Entre os anúncios apresentados durante a entrevista, Alice mostra-se mais

impactada com o anúncio do produto Chronos, da Natura, pelo tipo de abordagem

empregada na peça.

5.7.2 Entrevista 2

A segunda entrevistada foi Joana, em sua residência.

A respondente considera a sua rotina de trabalho cansativa e mostra-se um

pouco incomodada por ser a única estagiária em seu local de trabalho. Joana afirma

que o órgão para o qual trabalha não oferece benefícios, mas aponta a flexibilidade

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no horário como fator positivo. A entrevistada afirma ser um pouco workaholic e

oferecendo como justificativa para este comportamento o fato de que precisa estar

sempre em ação, não ficando parada pois se sentiria inútil nesta situação.

Joana mostra-se satisfeita com o seu trabalho avaliando como fatores

positivos estar atuando na área que almeja, o cinema. Os contatos e as pessoas que

está conhecendo nesta atividade mostram-se bastante relevantes para o seu nível

de satisfação.

Como sua atividade de lazer preferida, aponta ir ao cinema. Em seu tempo

livre, gosta de sair com amigos, só não gosta de ficar ociosa, “só não consigo ficar

parada”. Afirma não praticar esportes devido ao fato de, próximo à sua residência,

não existir nenhum parque para fazer caminhada, jogar vôlei ou futebol, que são

atividades que lhe agradam.

Joana afirma que a sua rotina interfere negativamente em sua alimentação.

“Costumo tomar um bom café da manhã. Almoçar já é um problema, devido à

falta de dinheiro. Mas eu janto bem quando sinto fome, porque, às vezes, chego em

casa tão cansada que perco o apetite”.Além disso, aponta que a sua má-

alimentação já lhe causou alguns problemas de saúde, em um emprego anterior.

“Em outro estagio tinha 15 minutos pra almoçar, ir ao banheiro. Fiquei com

problema de saúde devido à má alimentação. Comia só um salgado ou uma barra

de chocolate, por exemplo”. A entrevistada mostra-se cética quanto à possibilidade

de se realizar as atividades relacionadas à alimentação (cultivo, preparo e consumo)

com tranqüilidade.

Joana revela que seu ritmo de vida é acelerado, porém o caracteriza como

“monótono” devido à grande quantidade de tempo empregada para realizar

deslocamentos, afirmando utilizar quatro horas por dia para esta finalidade.

A entrevistada não acredita ser possível um processo de desaceleração na

sociedade atual e prevê que a aceleração vai aumentar cada vez mais.

Sobre seus hábitos de consumo, Joana mostrou-se pouco colaborativa, não

estando muito à vontade para discorrer sobre esses temas. A respondente afirma

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não ser adepta da moda ou ser influenciada por nenhum tipo de comunicação

promovida por um produto/serviço/marca. Afirma que compra um produto “por já

conhecê-lo, [...] vou por mim”. O principal fator apontado com requisito para ser fiel a

uma marca é a qualidade percebida através de experiências de uso anteriores,

porém o preço é um grande influenciador no momento de decisão de compra – fato

este visto como negativo pela entrevistada.

“Por ser estagiária, tempo e dinheiro são coisas que não combinam muito.

Logo, compro o mais barato e o que faz pior à saúde. Isto é, lanches, por exemplo”.

Joana afirma não acreditar que as empresas que divulgam a sustentabilidade

como diferencial estejam sendo verdadeiras, porém, no caso de ter conhecimento de

que uma empresa não tem políticas sócio-ambientais corretas, não consumiria seus

produtos ou contrataria os seus serviços.

A entrevistada afirma que não tem marca preferida e que não gosta de

anúncios de nenhum tipo. Desta forma, preferiu não comentar os anúncios

mostrados sugerindo que tais peças sempre deveriam conter “o quanto a maioria de

seus produtos faz mal para a saúde das pessoas, pois eles visam captar o

consumidor de alguma forma seja pelo gosto, pelo nome ou pelo visual do produto.”

5.7.3 Entrevista 3

A terceira entrevista foi realizada com Solange, em seu ambiente de trabalho.

A respondente mostrou-se bastante receptiva e disposta a participar da pesquisa,

porém, por sua solicitação, esta ocorreu durante seu horário de trabalho, o que

ocasionou em algumas interrupções durante a entrevista.

Solange tornou-se dona de seu próprio negócio recentemente. Sua jornada

de trabalho é extensa, de quatorze a quinze horas por dia, visto que apenas ela e

seu sócio trabalham no empreendimento.Apesar de passar tantas horas envolvida

com o seu trabalho, a entrevistada não se considera uma workaholic. “como a gente

está começando e não tem como pagar um funcionário, tem que trabalhar mesmo,

não que eu seja viciada em trabalho. Tem trabalho demais, mas pela conjuntura

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atual, é necessário”. A respondente afirma que já teve síndrome do túnel do carpo,

em função da realização de movimentos repetitivos e, em decorrência disso, já

operou ambas as mãos. Solange mostra-se satisfeita em relação ao seu trabalho.

eu gosto do meu trabalho, eu gosto de conversar, eu gosto de dessainteração que tem e meu trabalho é legal porque tu pega desde a criança, ojovem, o adolescente, o senhor, o velhinho, eu gosto de interagir, estarsempre trocando e estou ganhando com isso também.

A entrevistada aponta ter apenas a manhã de domingo como tempo livre.

Neste período ela gosta de ler e de realizar trabalhos manuais e artesanais. É neste

período também que se relaciona com sua filha que também tem uma jornada de

trabalho intensa. Como atividade física esporádica ela aponta a prática exercícios

em sua bicicleta ergométrica e ioga para relaxar.

Quanto à sua alimentação, esta é considerada parcialmente saudável.

Como meu trabalho é anexo à minha casa, eu almoço em casa, comidanormal, comida caseira, carne, salada, verdura, legume. Considero mais oumenos saudável, em função do trabalho, que se trabalha muito e às vezesse come mais do que se deveria, para compensar aquele sono, aquelecansaço, seria como uma forma de compensação, não é muito saudável,não.

Porém, Solange acredita ser benéfico e recomendável se realizar as refeições

em ritmo de tranqüilidade, afirmando este ser um “momento sagrado” em que se

dedica exclusivamente a esta atividade.

Para alcançar maior qualidade de vida, a respondente gostaria de reduzir a

sua jornada de trabalho diária.

A respondente considera seu ritmo de vida acelerado, se considera também

uma pessoa acelerada, isto é, seu ritmo de vida natural é percebido também desta

maneira, independente das obrigações que seu trabalho demanda. Ela acha que

seria bastante difícil à sociedade atual rumar para a desaceleração, considera

recomendável e benéfico, mas de difícil aplicação à atual realidade.

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Sobre seus hábitos de compra, afirma avaliar bem cada produto antes de

adquiri-lo através de critérios como a composição do produto, adequação ao seu

estilo pessoal e a relação custo-benefício. Entre os fatores que a levam a

recomendar algum produto/serviço/marca ela esclarece que estes são bastante

subjetivos. “Se eu gostei do produto, a credibilidade que ele tem no mercado, a

qualidade que ele tem, o benefício que ele traz, o preço que ele tem em relação ao

custo-benefício.”

Solange mostra-se cética quanto ao argumento da sustentabilidade na

publicidade, mas afirma que se tem certeza que uma empresa tem práticas sócio-

ambientais incorretas ela boicota e não compra os produtos ou contrata os serviços

desta empresa. Sua marca preferida está alinhada a esta perspectiva, é a Natura,

em função da qualidade percebida em seus produtos e a suas práticas ambientais.

A entrevistada relata sensibilizar-se com anúncios percebidos como criativos

e divertidos e que considera importante que estas peças deixem claro o benefício

real do produto e não exponha apenas “ilusões”.

Como o anúncio que mais lhe impactou positivamente, aponta o anúncio do

Perfume do Brasil Priprioca por este estar num contexto de valorização da natureza,

por lhe transmitir uma sensação de aconchego.

5.7.4 Entrevista 4

A entrevista de João ocorreu na residência de uma amiga do respondente. O

entrevistado atualmente trabalha informalmente há cerca de dois meses. Seu “bico”

é na empresa de um parente, ele atua como assistente de ourives.

Eu chego pela manhã, em torno de 08h00min, 08h30min, faço um cafezinhoe aí começo a ajudar a fazer jóia, a fechar fios de ouro, a fazer soldaspequenas, a derreter ouro para fazer as peças que são necessárias, osmaquinários que tem, em alguns momentos eu saio, vou fazer algum tipo decompra, para executar estas peças [...].

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Sobre sua jornada de trabalho, aponta ser esta flexível, trabalhando cerca de

oito horas por dia. João gostaria de poder contar com um plano de saúde como

benefício, mas percebe como positivos os benefícios que recebe, um auxílio para o

almoço e para seu transporte, visto não trabalhar com registro em carteira de

trabalho.

O entrevistado não se vê como um workaholic, mas aponta que o dono do

estabelecimento onde trabalha o é, pois este “vai até às três horas da manhã

trabalhando, fazendo peças”.

O respondente mostra-se um pouco apático quanto ao quesito satisfação com

o seu trabalho, afirma já ter trabalhado em diversas funções, mas ainda não ter

encontrado o que realmente gostaria de fazer. “eu não consegui me apegar e dizer

‘pô, é isso que eu quero’”.

João considera suficiente o tempo livre que dispõe, utilizando este para sair

com a namorada, assistir partidas de futebol e ir a bares. Suas atividades de lazer

preferidas são tocar violão, cantar, pescar e ir ao estádio do time de futebol do qual

é torcedor. O entrevistado joga futebol quando pode e para relaxar num momento

que considera crítico, o deslocamento através do transporte público, acaba dormindo

no ônibus. Mesmo acreditando ter tempo livre suficiente, o entrevistado considera

que não possui tempo suficiente para estar com seus filhos.

Não tenho mesmo, principalmente o meu filho, ele mora longe. A guria, eutenho mais esta relação de pai e filha, mais seguida eu vejo, duas, trêsvezes por semana, a gente está junto, convivo mais com ela. Já com ele,fica mais difícil, o aniversário dele foi agora dia 14 de maio e eu não pudeestar com ele, nem ele pôde vir, para a gente passar o dia juntos, paraaproveitar, dar um abraço nele, não deu, mas são coisas da vida, a gentetem que se adequar a tudo.

Sobre sua alimentação, afirma buscar balanceá-la mas que, por falta de

tempo, acaba sem sempre conseguindo isso. Ele mostra-se favorável à aplicação de

um ritmo de tranqüilidade nos momentos de alimentação.

Um ponto crítico que gostaria de melhorar para obter maior qualidade de vida

seria dormir mais.

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Dormir mais cedo, eu durmo muito tarde e acordo muito cedo, isso atrapalhabastante. Eu vou dormir, quase sempre, duas horas da manhã e sete e meiaeu estou acordado. Eu durmo pouco. E para se viver melhor, é como um tiomeu sempre falou: você tem que dormir bem cedo para acordar bem cedo,tem que ter o seu horário certo para dormir. Não só eu, acho que muitagente não tem um sono que seja adequado [...].

João entende a desaceleração no ritmo de vida como positiva, porém percebe

dificuldades em sua aplicação na rotina da sociedade atual.

Sobre seus hábitos de consumo, o entrevistado aponta o fator preço como

decisivo.

justamente porque numa semana tu vai e o produto está um preço e naoutra tu vai e já é outro. Então tu nunca tem uma forma de adquirir a mesmaquantidade de coisas com a mesma qualidade, justamente pelo preço.Quando eu preciso comprar as coisas eu vou procurar um pouco dequalidade, entre aspas, mas vou mais pelo preço, que aí tu consegueadquirir um pouco mais. Se tu for só na qualidade, muitas vezes, tu entra nosupermercado e sai só com uma sacolinha ou duas, te restringe muito.

Destarte, o respondente não se mostra fiel a nenhuma marca e não apresenta

uma marca preferida, sendo influenciado por questões mais situacionais.

João associa aos produtos fabricados em série uma qualidade inferior,

atribuindo a isso a alta velocidade empregada nesta confecção que visa uma grande

quantidade de produtos e não a qualidade dos mesmos. O ritmo de produção é

citado novamente como fator positivo em sua análise de produtos artesanais ou

manuais. “um produto é feito à mão [...] , poder trabalhar ele melhor, fazer com mais

calma e, por conseqüência, melhor”.

Sobre o argumento da sustentabilidade, não percebe este como sendo um

fator decisivo em seu momento de compra, em função do quesito preço acabar

pesando mais em sua situação atual, porém mostra-se sensibilizado com esta

causa.

É bom quando tu pega um bom produto com um bom preço. Por outro lado,tu tem que pensar que está prejudicando o meio ambiente também, então, éuma coisa que você tem que parar e pensar, só não pode só ver o teu bem

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pessoal, tem que pensar nos outros também, né, como um todo, esse teuegoísmo, amanhã ou depois pode acabar acarretando em algo muitoprejudicial até para a própria pessoa, vai prejudicar à tua volta,automaticamente a ti também.

O entrevistado apresenta como ponto importante que, quando o produto

puder apresentar qualquer efeito-colateral ou resultado nocivo, que esta informação

esteja presente no material publicitário do produto.

João aponta o anúncio do Perfume do Brasil Priprioca, da Natura, como o que

mais lhe chamou atenção. “porque a gente vê através disso aqui o potencial que o

nosso país tem e que, infelizmente, não é utilizado corretamente [...]”.

5.7.5 Entrevista 5

A quinta entrevista realizada foi com a Bruna, em seu ambiente de trabalho.

Houve apenas uma interrupção proveniente de uma ligação de trabalho, mas esta

não afetou o desenvolvimento da entrevista.

Bruna mostra-se motivada com o seu trabalho, descreve em detalhe as suas

atividades, sempre adjetivando-as positivamente e mostra-se satisfeita com os

benefícios ofertados pela empresa em que atua.

A entrevistada não se considera uma workaholic,

Acho que eu sou uma apaixonada pelo trabalho...é workalover? Uma coisaassim. Eu não sou fanática por trabalho, mas eu gosto muito do que eufaço. Eu gosto da área em que eu atuo hoje, sou apaixonada por RH, porrecrutamento e seleção, é a área que eu quis trabalhar. Eu trabalho já fazoito anos na área, comecei com Departamento de Pessoal, fiz muita folhade pagamento, é uma área interessante, para conhecimento é muito bom,mas a área que eu gosto mesmo de atuar é na área de recrutamento,trabalhar com pessoas.

Assim, ela considera-se satisfeita com o seu trabalho, citando o valor de seu

salário como um item que poderia ser melhorado, embora aponte este como estando

na média praticada no mercado de trabalho. Seu horário de trabalho também é visto

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com alguma ressalva

[...] entrar às 07h30min no trabalho e sair às 17h30min, é uma carga horáriapesada. À noite a gente estuda, então praticamente só tem dois dias no finalde semana e quem tem filhos eu imagino que deva ser bem complicado; eunão tenho e já acho bem difícil para fazer todas as tuas rotinas, tudo quetem hoje, porque são muitas possibilidades, muitas atividades que a gentetem hoje em dia. Sem falar em serviço de banco, coisas assim, que é quaseimpossível de a gente fazer [...].

E para melhorar a sua qualidade de vida, a entrevistada gostaria de iniciar

esta jornada mais tarde.

Sua atividade de lazer preferida é assistir filmes. Em seu tempo livre gosta

também de passear e ir a parques e tomar chimarrão com os amigos. Bruna tem

vontade de praticar natação, porém este desejo é visto como proibitivo em função do

valor dessa atividade ser percebida como muito alta para seu momento atual.

A entrevistada avalia a sua alimentação como “bem saudável”.

eu procuro sempre tomar café da manhã, é um hábito que eu já adquiri, eucomo saladas, sempre costumo almoçar, não gosto de fazer lanches aomeio-dia, como alguma coisa à noite... fruta eu como à noite ou meio-dia,não costumo jantar, mas tomar café à noite. Eu faço algumas refeições emcasa e o almoço sempre fora, em função do trabalho, não tem como ir emcasa.

Ela aponta também como recomendável a adoção de uma atitude de

tranqüilidade em relação à realização das refeições, alegando que, assim, se obtém

“uma resistência melhor”.

Seu ritmo de vida é percebido como acelerado durante seu período produtivo.

Já em seus momentos de lazer e tempo livre, Bruna procura desacelerar e realizar

as suas atividades com maior tranqüilidade.

Assim, a respondente considera positiva uma proposta de desaceleração e de

obtenção de uma relação mais equilibrada com seu tempo. Porém avalia como

sendo bastante difícil estas premissas estenderem-se para toda a sociedade atual,

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apontando que o volume e a intensidade das exigências do mercado de trabalho

acabam resultando num ritmo acelerado para se preencher tais requisitos, para se

progredir na carreira.

Em função de seu momento atual, a entrevistada aponta que suas

prioridades, hoje, seriam o pagamento do aluguel de seu apartamento e da

mensalidade da faculdade. A partir disso, procura um arranjo entre preço e

qualidade dos produtos consumidos, evitando gastos com itens “supérfluos” como

calçados que acaba deixando para um segundo momento. Porém, ela mostra-se fiel

a determinados produtos

eu não abro mão de alguns produtos de limpeza serem de certas marcas,mas outras a gente busca preço... depende do produto a gente busca preço,marca ou os dois, na realidade sempre buscando os dois, qualidade epreço. [...] mas, principalmente, em produtos de limpeza, são duas coisasque eu não abro mão: o OMO e o Comfort. O preço um pouquinho menor deoutros produtos não faz a diferença, já não deixa a roupa tão limpa, oamaciante de outra marca pode ser um pouco mais barato, mas não deixa aroupa“ cheirosinha.

O argumento da sustentabilidade mostra-se relevante para Bruna, com

algumas ressalvas.

Eu acho que a gente já tem notado que a gente está buscando cuidar maisisso, comprar produtos que poluem menos, reciclagem de lixo, abandonar asacolinha plástica, lâmpadas que economizam mais. Aos poucos apopulação está tendo uma conscientização [...] não sei se não é só quem éculturalmente mais desenvolvido ou se é na população em geral que, àsvezes, a gente não tem muito contato com as classes mais baixas e daí agente não sabe [...] entre comida e pensar ecologicamente correto, daí ficadifícil.

Os comerciais e anúncios que mais lhe atraem são os percebidos como

“criativos, que têm um diferencial”. Como informações importantes para estas peças,

aponta um destaque para as “linhas miúdas”, “que quando tu anuncia um produto,

ele tem que ser exatamente aquilo que ele está mostrando e não ser diferente,

apresentar problemas, coisas nesse sentido”.

O anúncio que mais lhe agradou foi o do produto Chronos, da Natura por

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avaliar que ler a mensagem da peça “deixa a gente mais feliz”.

5.7.6 Entrevista 6

A sexta respondente, a Mallu, optou por realizar a entrevista na residência da

entrevistadora, por motivo de conveniência física. Mallu mostrou-se bastante à

vontade na concessão da entrevista, detalhando suas respostas.

Sua rotina de trabalho é intensa, a respondente é professora de três escolas

diferentes, de cidades diversas da que reside.

Em Gravataí eu trabalho pela manhã (três manhãs, segunda-feira, terça-feira e quarta-feira, das 08h00min ao 12h00min), pela tarde, emCachoeirinha, eu trabalho quatro dias (segunda-feira, terça-feira, quarta-feira e quinta-feira, das 13h00min às 17h00min) e no curso de inglês eutrabalho: quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira, duas horas por noite e nosábado, das 14h00min às 20h00min. E quando tem os sábados letivos nasescolas, [...] aí eu vou de manhã, de tarde e de noite.

A entrevistada mostra-se satisfeita com os benefícios recebidos de seus três

empregos, visto estes serem complementares.

Do Município, pela manhã, tem a assistência médica e passagem e não temtíquete ou vale-alimentação. De tarde eu tenho tíquete, mas não tenhoassistência médica que Gravataí dá e o salário é um pouco menor, masagora vai ter mais 20% do pós... e à noite eu tenho ajuda de custo de R$115,00 e a hora-aula que é de R$ 9,10 e mais R$ 50,00 de plantão tira-dúvidas para os alunos que têm dificuldade que eles não pagam nada, masa escola me paga.

Apesar de trabalhar em três locais diferentes, não se considera workaholic.

Tem a questão do hard work e do workaholic. Acho que eu não sou, eutenho só uma folga por semana, mas hoje eu estou de noite em casa, naquinta-feira vou estar de manhã, na sexta-feira vou estar manhã e tarde,apesar de serem três escolas, todo mundo se apavora muito, a cargahorária é pequena em cada uma, vinte horas semanais equivalem a três

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manhãs de quatro horas, são doze horas por semana num colégio [...] entãoacho que não [...].

Porém ela percebe que esta rotina pode estar gerando um problema de

saúde, calo nas cordas vocais, devido à fala ser um instrumento importante e muito

utilizado em seu trabalho.

Mallu mostra-se satisfeita com o seu trabalho, porém mostra-se um pouco

descontente com o envolvimento dos alunos adolescentes e alguns adultos que, em

sua avaliação, não demonstram interesse em aprender.

“Então, a única coisa que me deixa chateada, muito chateada é, às vezes,

saber que eu estudei cinco anos, me matei, e não passo nem 10% do que eu sei no

colégio, as pessoas não estão nem um pouquinho interessadas.”

A entrevistada considera ter quantidade de tempo livre suficiente, o que

faltaria seria uma melhor organização para administrar este tempo. Sua atividade de

lazer preferida e forma de se desestressar é ouvir música. Gosta, também, de

brincar com o seu gato e ir a shows. Recentemente iniciou um curso para aprender a

tocar violão, porém não está conseguindo dedicar-se a este, na semana de

realização da entrevista afirma ter faltado à lição para corrigir provas e colocar em

dia a preparação das aulas.

Quando indagada sobre a prática de atividades físicas e esportes afirma que

não os pratica, mas gostaria.

“Só correr para pegar o ônibus... minha bicicleta está com teia de aranha...

Mas eu queria e precisava fazer musculação, para a musculatura, de carregar muito

peso e aí seria um bem para a saúde, para a estética e tudo o mais...

Sua rotina no que tange a alimentação também é bastante peculiar.

Eu não tenho o hábito de comer nada antes de sair, porque eu saio muitocedo, 06h30min. Eu como a merenda do colégio, às 09h00min, junto com osalunos, eu saio de lá e almoço muito rápido, eu tenho, às vezes, cincominutos para comer, porque eu saio meio-dia de um colégio, 12h10minpassa o ônibus, são dez minutos que eu tenho que correr para a parada, émais ou menos meia-hora até a outra escola, eu chego lá 12h45min, às

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vezes, 12h50min, e às 13h00min eu tenho que estar dentro da sala de aula.Eu como correndo, como no restaurante, mas quando eu trabalhava nosCorreios, às vezes, eu nem almoçava, agora eu até como, mas muitorápido...Depois eu faço um lanchinho na hora do recreio ali por umas15h00min, depois eu como quando eu chego em casa, umas 18h00min edepois eu janto. Mas não é muito rica em frutas, saladas, nem nada disso...

A entrevistada mostra-se favorável à desaceleração no momento em que se

alimenta, percebendo esta como benéfica.

Mallu gostaria de poder dormir mais, a fim de melhorar a sua qualidade de

vida, além de ter uma alimentação mais adequada e de praticar exercícios

regularmente.

A respondente considera que “tem que ser possível, pelo menos um pouco”

um movimento de desaceleração na sociedade atual.

Sobre seus hábitos de consumo, afirma que hoje não busca mais apenas

pelos produtos de menor preço, mas que, também, nem sempre acha necessário

comprar o produto que é considerado o melhor. Como exemplo, cita três marcas de

biscoitos recheados, que ela acaba optando pelo que não considera o mais

saboroso, mas que oferece a melhor relação custo x benefício.

A entrevistada valoriza os produtos artesanais e manuais.

algo manual é feito com dedicação, trabalho, empenho da habilidade dapessoa, eu reconheço o valor que esse produto tem sobre o industrial que tusó aperta o botão e está lá, 50.000 [produtos], todos iguais [...].E algumaspessoas se matam para fazer ‘uma coisinha’ num grão de arroz [...].

Mallu mostra-se favorável ao apelo da sustentabilidade.

“Finalmente, o mundo teve que chegar neste ponto para ter essa

conscientização. Isso faz diferença [...] eu acho bem importante”.

Sobre fidelidade a marcas, aponta que é fiel a duas.

“[...] tem uma que eu sou ‘fiel, fiel, fiel’, é a Margarina Qually e ao desodorante

Dove, porque eu gosto, são bons. Já experimentei outros e não foram tão bons

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quanto aqueles, então... sou fiel, mesmo sendo mais caro, vale a pena.

Assistir comerciais e ler anúncios é uma atividade costumeira para a

entrevistada.

“Eu paro para olhar comercial. Às vezes, o comercial é melhor do que o

programa que está passando”.

Entre os que mais lhe chamam atenção estão os com fundo musical, ela

dispensa bastante atenção para este item, buscando posteriormente, na internet, a

letra da música. Os comerciais que apresentam apenas lettering, isto é, comerciais

sem áudio, com mensagem escrita na tela, costumam despertar bastante interesse.

“[...] às vezes, quando eu passo por um outdoor, eu penso ‘ah, aquela pessoa

ali não foi feliz com aquela propaganda, o que ele pensou?’ e tem uns que eu penso

‘bah, que legal, que idéia tri que ele teve’ [...]”.

O anúncio apresentado que mais lhe agradou foi o do Chronos, da Natura,

por considerar este “inteligente, uma coisa diferente”.

5.7.7 Entrevista 7

A última entrevista realizada foi com Cassandra, em seu ambiente de

trabalho.

Cassandra classifica sua rotina como “rotineira”, mostrando-se um pouco

descontente com o seu trabalho atual e com os benefícios ofertados aos

funcionários.

Eu entendo que benefícios são coisas que venham para agregar a vida dofuncionário, melhorar a sua qualidade de vida. Aquilo que te fornecemsendo o básico, eu não vejo isso como um benefício, um grande atrativo,fornecer vale-transporte, um plano de saúde básico ambulatorial, me pareceuma coisa meio óbvia. Agora, um diferencial, eu imagino, de repente,previdência privada, um auxílio-alimentação e não dispor de um refeitórioque é mal estruturado, que não está pronto para receber os funcionários,[...].

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A entrevistada não se considera uma workaholic, visto não estar muito

satisfeita com o seu trabalho.

“Trabalhar com RH é uma coisa que eu gosto, mas dentro dos critérios

adotados atualmente, nesta empresa que eu estou, tem coisas que eu discordo e

que não me agradam, gostaria que muita coisa fosse diferente”.

A mesma aponta negativamente que passa mais tempo envolvida com o

trabalho, com sua “vida dentro da empresa do que fora dela”.

Afirma ainda não dispor de tempo livre pois, quando não está envolvida com o

trabalho, está com seus estudos. Ficando assim, pouco tempo para o lazer. Quando

o tem, gosta de ir ao cinema, sair para dançar e ler.

A fim de melhorar a sua qualidade de vida, gostaria de ter maior flexibilidade

de tempo.

[...] eu gostaria de poder escolher ou flexibilizar mais os horários, ter umpouco mais de disponibilidade, eu queria isso,[...] que a empresa aceitasse‘olha tu tem tanto tempo livre para fazer as tuas coisas pessoais’, porexemplo, horário de banco é uma coisa que praticamente inexiste, tu nãotem como fazer alguma coisa em horário bancário porque tu estás dentro daorganização... agora sabendo que tu tens um tempo no mês para fazeressas tuas coisas pessoais, isso já poderia ajudar em alguns aspectos.

Cassandra descreve a sua alimentação como “comida no potinho ou em

saquinho”, isto é, alimentos pré-prontos, que não são frescos, feitos na hora, a

maioria industrializado.

A respondente considera a sua rotina cansativa, para relaxar e manter o

equilíbrio pratica técnicas de respiração.

“Respirar fundo e contar até dez muitas vezes ao dia...”

Durante os finais de semana afirma procurar desacelerar, porém nem sempre

isso é possível.

“[...] justamente por deixar a vida pessoal de lado, aí as coisas que tu acumula

durante a semana que tu não pode fazer, tu tem que colocar em dia no final de

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semana”.

A entrevistada percebe como positiva a prática da desaceleração, sobretudo

aplicada ao ambiente corporativo. Porém considera esta difícil de acontecer,

sobretudo pelas cobranças e pré-requisitos cada vez mais extensos, mas não avalia

como uma mudança impossível.

Cassandra revela que a maior parte dos produtos consumidos é escolhida por

seu marido, visto ela no dispor de tempo disponível para tal atividade, mas que,

quando consegue, gosta de comprar novidades e produtos diferentes, em oposição

a seu marido que compra apenas o que é necessário.

Entre os fatores que considera mais influentes para a compra de um produto

ou contratação de um serviço estão a indicação através de fontes confiáveis, a

qualidade do produto ou serviço e a adequação do preço à sua situação e

disponibilidade de compra.

A respondente afirma gostar de produtos artesanais e manuais mas que a

facilidade do self service, de chegar num mercado e já levar o produto pronto, muitas

vezes acaba pesando mais numa decisão de compra.

Sobre a utilização do argumento de sustentabilidade, considera esse

questionável, não tendo certeza se o que está sendo divulgado corresponde

realmente à realidade.

A entrevistada afirma não ter marca preferida, mas que, com freqüência,

acaba optando por produtos de determinadas empresas por conveniência, por já

conhece-los e saber de sua qualidade.

Entre os anúncios que mais lhe impactam estão os coloridos, que ela perceba

que oferecem um “convite para pensar”, com frases de impacto.

O anúncio que mais lhe chamou a atenção dentre os apresentados foi o da

empresa Tim.

Criativa, muito criativa. Ela foi sucinta e bem objetiva. Fala, justamente, noque foi questionado antes, sobre a desaceleração, alguém que está

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contemplando uma coisa simples e que termina com a frase “utilize a nossatecnologia para viver melhor”, que eu acredito que é o objetivo, não detodos, mas da maioria das pessoas, buscar melhor qualidade de vida. Esteme agrada mais. Me passa a sensação de movimento, por causa doscabelos, não é muito poluído visualmente, com frases, não faz muita ênfasena marca, a marca está ao canto, objetivo[...].

5.8 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Conforme Duarte, “analisar implica separar o todo em partes e examinar a

natureza, funções e relações de cada uma”. (DUARTE, 2009, p. 78).A partir dos

dados obtidos nas entrevistas, percebe-se que alguns são convergentes e outros

divergentes. As respostas obtidas serão analisadas a partir do agrupamento por

categoria, uma

forma de esquema de análise completa e única em si mesma [...] em cadacategoria o pesquisador aborda determinado conjunto de respostas dosentrevistados, descrevendo, analisando, referindo à teoria citando frasescolhidas durante as entrevistas e a tornando um conjunto ao mesmo tempoautônomo e articulado.(DUARTE, 2009, p. 79).

Assim, a fim de se atingir os objetivos do presente estudo foram definidas as

seguintes categorias: relação do entrevistado com o seu tempo produtivo, relação do

entrevistado com o seu tempo não-produtivo, sustentabilidade da proposta de

desaceleração, características de consumo dos entrevistados e percepção de

anúncios publicitários selecionados.

Entrevistado Percepções sobre seu trabalho e satisfação obtida através dele

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Alice“Meu trabalho é bem chato [...] é uma carga horária muito exaustiva [...] a rotina écansativa [...] A minha empresa não trabalha com benefícios, os poucos que elafornece, são para pessoas sem critério nenhum [...] Estou totalmente insatisfeita”.

Bruna. “Acho que eu sou uma apaixonada pelo trabalho [...] eu gosto muito do que eu faço[...] A empresa hoje oferece convênio médico, que hoje é bem importante, não sãotodas as empresas que podem estar oferecendo este benefício, o tíquete-refeição[...] Estou satisfeita porque eu estou na área que eu gosto de trabalhar, lógico que agente sempre busca maiores salários [...] se pudesse eu entraria mais tarde notrabalho”.

Cassandra“Minha rotina é extremamente rotineira [...] trabalhar com RH é uma coisa que eugosto, mas dentro dos critérios adotados atualmente, nesta empresa que eu estou,tem coisas que eu discordo e que não me agradam, gostaria que muita coisa fossediferente... [...] eu passo muito mais tempo da minha vida dentro da empresa do quefora dela. [...] Eu entendo que benefícios são coisas que venham para agregar avida do funcionário, melhorar a sua qualidade de vida. Aquilo que te fornecemsendo o básico, eu não vejo isso como um benefício, um grande atrativo, fornecervale-transporte, um plano de saúde básico ambulatorial, me parece uma coisa meioóbvia”.

Joana“Sou a única estagiária na fundação [...] acho minha rotina um pouco cansativa [...]não há atrativos, gostaria de receber vale-alimentação e vale-transporte. para queeu não precisasse pagar do meu bolso. Mas há flexibilidade nos horários e isso ébom. [...] Sou um pouco workaholic, não consigo ficar parada. Me sinto inútil. [...]Estou trabalhando na área que quero, cinema. Quero trabalhar com filmes, mas jáestou me encaminhando, por meio dos contatos. Estou conhecendo muita gente”.

João“Atualmente, eu faço ‘bico’. [...] A gente não tem um horário pré-fixado. [...] Eu tenhoalém do salário, eu tenho uma ajuda com o almoço e as passagens [...] eu gostariade ter um plano de saúde [...] até hoje, não teve uma coisa que eu me apegue mais,tudo que a gente vai fazer de diferente é um aprendizado a mais, e eu não conseguime apegar e dizer ‘pô, é isso que eu quero’

Mallu “Cada dia é um dia totalmente diferente. [...] apesar de serem três escolas, todomundo se apavora muito, a carga horária é pequena em cada uma [...] Do Municípiotem a assistência médica e passagem [...] de tarde eu tenho tíquete. [...] o salário éum pouco menor, mas agora vai ter mais 20% do pós. [...] Eu gosto do que eu faço,só não gosto da falta de comprometimento dos alunos de colégio, eles são muitodesinteressados, [...] então a única coisa que me deixa chateada, muito chateada é,às vezes, saber que eu estudei cinco anos, me matei, e não passo nem 10% do queeu sei no colégio

Solange“É uma rotina cansativa, mas a gente precisa trabalhar, que bom que eu possotrabalhar. [...] como a gente está começando e não tem como pagar um funcionário,tem que trabalhar mesmo, não que seja viciada em trabalho [...] Eu procurariadiminuir a minha carga horária ou pelo menos uns dias. [...] Já tive Síndrome doTúnel do Carpo. Eu fiz cirurgia em ambas as mãos. [...] Estou muito cansada, massatisfeita, eu gosto do meu trabalho”.

Quadro 1 – Relação do entrevistado com o seu tempo produtivo

Fonte: Elaborado pela autora

Analisando-se as respostas percebe-se que todos os entrevistados aliam seu

nível de satisfação com o trabalho ao tempo dispensado para esta atividade ou na

flexibilização deste tempo. Conforme Honoré, “estudos demonstram que as pessoas

que se sentem no controle do seu tempo são mais tranqüilas, criativas e produtivas”

(HONORÉ, 2005, p. 235). Percebe-se que os entrevistados João, Joana e Mallu que

afirmam ter uma rotina com horários mais flexíveis não me mostram tão insatisfeitos

com seus atuais postos de trabalho quanto Alice e Cassandra que percebem a

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duração de suas jornadas de trabalho como fatores negativos. Já para Bruna e

Solange, embora o seu horário de trabalho não seja percebido como o ideal, este

não interfere tão decisivamente na satisfação geral com a sua atividade produtiva.

Os benefícios ofertados também se mostram fatores relevantes para a

definição de uma relação saudável com este tempo em que os entrevistados

passam na empresa. Alice, Cassandra, Joana e João citam este fator, mostrando-se

insatisfeitos ou apresentando o desejo de serem contemplados com benefícios mais

vantajosos. Bruna mostra-se satisfeita com este quesito, porém acredita que sua

remuneração ainda poderia ser maior. Mallu mostra-se satisfeita com este fator.

Solange, como é dona de seu próprio negócio não cita este item. Como item

bastante decisivo para a satisfação dos entrevistados com seu tempo produtivo está

o fato de se fazer o que gosta. Alice e Cassandra mostram-se descontentes com

suas posições atuais, enquanto Bruna, Joana, Mallu e Solange afirmam fazerem o

que gostam, já João afirma que ainda não encontrou a atividade laboral definitiva,

que gosta da aprendizagem, mas que ainda não encontrou a atividade certa.

Entrevistado Percepções sobre seu tempo não-produtivo

Alice“tempo livre praticamente não existe [...], o que eu tenho de tempo livre eu nãoconsigo ter lazer, porque é só o tempo de tu jantares, almoçar, tomar café e dormir[...]. Eu gosto de ficar com os meus cachorros, eu gosto de jogar videogame, é umaótima forma de desestressar e dormir, quando eu posso. [...] Preciso de mais tempolivre”.

Bruna“Acho que tenho pouco tempo livre [...] Meu lazer preferido é ver filmes, eu gostomuito de ver filmes, seriados, não só em caso, gosto de cinema, gosto de passear,aqui no Rio Grande do Sul, a gente tem a possibilidade de ir nos parques tomarchimarrão”.

Cassandra“Tempo livre? Não tenho tempo livre. [...] Mas eu gosto de ir ao cinema, sair paradançar, ler... mas, ultimamente eu tenho ficado mesmo é na frente do computador,fazendo trabalhos da faculdade”.

Joana“não consigo ficar parada. [...] Acho que tenho pouco tempo livre, poderia ser mais[...] Costumo ir muito ao cinema. Seja sozinha, com meu namorado ou com asamigas. Passear também, é algo que gosto muito, caminhar”.

João“Tenho tempo livre, tenho o sábado, o domingo, já é bastante tempo, [...] eu achoque é bem aproveitado o meu tempo livre [...] eu gosto muito e pescar lá fora naterra do meu pai e da minha mãe e ir no estádio ver o meu time,

Continua:Entrevistado Percepções sobre seu tempo não-produtivo

Mallu “Acho bom meu tempo livre [...] falta de mim, às vezes, mais organização de comolidar com meu tempo livre. gosto de ouvir música, brincar com o gato, sair e ouvirmais música da Mallu [Magalhães] e ir no show da Mallu”.

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Solange“Eu gostaria de ter mais tempo livre [...] Eu gosto de ler, de fazer trabalhosartesanais”.

Quadro 2 – Relação do entrevistado com o seu tempo não-produtivo

Fonte: Elaborado pela autora

Exceto João e Mallu, todos os entrevistados apontam dispor de pouco tempo

livre, e apresentam atividades de lazer preferidas, porém não conseguem praticá-las

com freqüência. Conforme Andrade, “o lazer é essencial à vida humana equilibrada,

saudável e produtiva”.(ANDRADE, 2001, p. 21). Essa ausência do tempo livre gera

um desconforto, todos que afirmaram não dispor o suficiente, mostra-se insatisfeito

com tal fato. Esta ocorrência vem ao encontro da constatação de que o sujeito hoje

“precisa de diferentes tempos para se sentir inteiro. Como desempenhar a

pluralidade de papéis – pai, mãe, amigo (a), irmão (ã), marido, mulher – quando o

domínio da identidade “funcionário (a) suplanta outras fontes de lazer e realização?”.

(Naigeborin, 2006, p. 48). Assim, o tempo produtivo seria apenas um dos outros

tempos que compõem o indivíduo e fazem com que ele se sinta inteiro. (Esteves,

1996 in Naigeborin, 2006, p. 48).

Entrevistado Percepções sobre a proposta de desaceleração na sociedade contemporânea

Alice“A pressa, o ritmo acelerado, não contribuem nem para a saúde e também nãoadianta fazer correndo que não vai salvar nada [...] acho que vai de cada umcomeça no individual e depois vai para o coletivo, acho que vai muito damentalidade de cada pessoa”.

Bruna“Acho que cada um deveria fazer as coisas no seu ritmo. [...] Isso é certo: cadapessoa tem o seu horário para produzir melhor. [...] Possível, é, mas é bem difícil; eestá cada vez ficando mais difícil. [...] quando a gente chega, no mercado detrabalho, se tu quiser crescer, fica difícil desacelerar”.

Continua:Entrevistado Percepções sobre a proposta de desaceleração na sociedade contemporânea

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Cassandra“Esse Movimento Slow, eu já ouvi falar, muitas organizações fora do Brasil, já têmadotado isso, pelo menos eu, particularmente, não conheço aqui no Brasil algumaque tenha adotado este conceito, mas, fora daqui, eu já ouvi falar muito disso e isso,com certeza, melhora a qualidade de vida daqueles que estão dentro daorganização, porque, no fim, tu acaba se adaptando a esse ritmo e isso tu acabaslevando para fora da empresa, então o Movimento Slow acaba também sendo paraa tua vida pessoal, tu acaba aproveitando mais esses pequenos momentos que tuvive, as coisas mais simples da vida acabam sendo melhor aproveitadas. [...] Nadaé impossível, mas é difícil, a tendência é cada vez mais acelerar, é cada vez a gentedormir menos e trabalhar mais, estudar mais, [...] é importante, sim, a gente pensarque é necessário fazer um pouco dessa desaceleração e se questionar quanto queisso tudo vale, porque que eu estou fazendo tudo isso, qual é o objetivo, eu querochegar até onde, trazer essas questões já auxilia um pouco as pessoas para queelas possam se entender”.

Joana“Isso é extremamente um pensamento individualista, da pessoa. Não vivemos nummundo de coletividade, infelizmente. É difícil equilibrar tempo, trabalho, família,amigos nesse mundo em que vivemos. [...] isso é impossível. Há sim, um processocada vez maior de aceleração”.

João“Seria bom se pudesse ser assim, seria muito bom. Só que, infelizmente, não dá.[...] De repente para alguns setores, alguns tipos de trabalho, até poderia mas, amaioria das pessoas hoje não tem como desacelerar”.

Mallu “Hoje em dia, a maioria das pessoas está em outro ritmo, que o mercado exige, temcurso meia-noite, tem curso de madrugada, não existe mais dormir para alguns...[...] Tem que ser possível, pelo menos um pouco [...] É possível até certo ponto,cada um constrói a sua vida”.

Solange“Eu até concordo que prejudica [...] é muito difícil, teria que mudar toda a realidade,com essa tecnologia que está aí, como as pessoas interagem, eu acho difícil. Seriaaté bom, mas acho muito difícil”.

Quadro 3 – Sustentabilidade da proposta de desaceleração

Fonte: Elaborado pela autora

Todos os entrevistados mostraram uma percepção positiva na desaceleração,

avaliando esta como benéfica. Porém, nenhum se mostra seguro de que tal

mudança seja sustentável na sociedade atual. Entre os motivos citados estão

pressões de mercado de trabalho, a diversidade de tarefas e papéis a se exercer, a

velocidade com que surgem novas tecnologias, formas de interação. Apenas Bruna

já havia ouvido falar sobre o Movimento Slow, este aplicado à esfera do trabalho. A

preocupação com o trabalho é recorrente nas falas dos entrevistados, mostrando-se

como um dos itens de maior preocupação na análise dos entrevistados dentro do

processo de desaceleração. O fato de a desaceleração ser vista como positiva,

porém com desconfiança quanto a sua real possibilidade de aplicação, sobretudo ao

mundo corporativo, mostra-se alinhada com a conclusão de Naigeborin de que “o

desejo de uma vida equilibrada irrompe em um momento de crise mundial, onde o

desemprego e a redução de funcionários impacta em pressão constante”.

(Naigeborin, 2006, p. 75).

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Entrevistado Principais características de consumo dos entrevistados

Alice“Como eu recebo pouco, geralmente é uma compra comparada. Por impulso é difícil[...] Eu não sou fiel a nenhuma marca, mas tenho preferências. [...]tu olha marca, qualidade, tem que ter confiança, uma marca que não é só um nome,tu olha se é uma coisa que tu conhece, sabe que é boa, aí tu compra. [...]Aqui o diabinho briga com o anjinho, porque tem a procura constante de economizare de comprar por um preço menor, e às vezes deixamos este lado deresponsabilidade um pouco mais de lado. [...] Minha marca preferida é a Melissa”.

Bruna“A confiabilidade é importante para ser fiel a uma marca. [...] eu não abro mão dealguns produtos de limpeza serem de certas marcas, mas outras a gente buscapreço... depende do produto a gente busca preço, marca ou os dois, na realidadesempre buscando os dois, qualidade e preço. Mas, dependendo, como o custo devida hoje está muito alto, às vezes o preço é o mais importante. [...] a gente estábuscando cuidar mais isso, comprar produtos que poluem menos, reciclagem delixo, abandonar a sacolinha plástica, [...] entre comida e pensar ecologicamentecorreto, daí fica difícil. [...] são duas coisas que eu não abro mão: o OMO e oComfort”.

Cassandra“Eu quase não freqüento o supermercado, quem acaba fazendo isso é o meumarido... ele compra exatamente aquilo que a gente precisa, coisas como novidade,quando eu vou, eu acabo trazendo, mas é raro isso acontecer [...] para ser fiel, qualidade [...] sustentabilidade, claro, existe toda uma mídia em cima,mas até que ponto eles realmente praticam isso é questionável, não sei se isso teminfluenciado diretamente nos consumidores [...] Eu não tenho uma marca preferida”.

Joana“Não sou adepta de moda, das novidades, ou algo que vi em algum meio decomunicação, vou por mim. [...] O que mais influencia é qualidade e preço [...] Nãocreio muito nesses argumentos das empresas, de sustentabilidade. [...] Eu nãotenho marca favorita”.

João“Numa semana tu vai e o produto está um preço e na outra tu vai e já é outro. [...]Eu sou muito prático, eu não me apego a marcas, eu vejo se o produto é bom, seestá dentro daquilo que eu preciso, das minhas condições. [...] É bom quando tupega um bom produto com um bom preço. Por outro lado, tu tem que pensar queestá prejudicando o meio ambiente também, então é uma coisa que você tem queparar e pensar [...] Não tenho marca preferida”.

Mallu “Antes eu procurava tudo pelo mais barato, mas hoje em dia eu nem sempreprocuro tudo pelo melhor porque, muitas vezes, não precisa [...] eu prefiro compraruma coisa boa, que dure. Tem coisas que eu prefiro pagar mais caro, mas quesupra as minhas necessidades. [...] Eu acho bem importante a sustentabilidade. [...]Tem uma que eu sou ’fiel, fiel, fiel’, é a Margarina Qually e ao desodorante Dove”.

Solange“Não escolho nem pelo preço, nem pela marca, mas pelos ingredientes. [...] Roupa,é pelo estilo do meu corpo, não me incomodo com moda. [...], a qualidade é oprincipal e um preço razoável. [...] Eu gosto de boicotar quando acho que o negócioé ruim. [...] Marca preferida é Natura”.

Quadro 4 – Características de Consumo dos Entrevistados

Fonte: Elaborado pela autora

Fatores situacionais pautam prioritariamente as influências de compras dos

entrevistados. Estes fatores poderiam ser caracterizados como “uma gama de

influências momentâneas e circunstanciais por ocasião da compra [...]”. (PINHEIRO

et al, 2004, p. 40). Fatores psicológicos como a atitude também se mostram

presentes, sobretudo no quesito sustentabilidade. Atitudes, neste contexto, seriam

“predisposições, sentimentos e tendências relativamente consistentes de um

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indivíduo em relação a uma determinada situação ou a um objeto” (PINHEIRO et al,

2004, p. 27). Assim, Solange, por exemplo, apresenta uma atitude positiva em

relação a produtos de empresas que utilizam o argumento da sustentabilidade, o

que vai ao encontro de sua marca preferida, a Natura, que, como já abordado, tem

práticas que visam à sustentabilidade.

Já o processo decisório de João, poderia ser classificado como decisão de

rotina, assim os consumidores “despendem muito pouco esforço buscando

informações externas e avaliando alternativas [...] a decisão de rotina acontece nas

compras freqüentes de produtos de baixo preço”. PINHEIRO et al, 2004, p. 52).

Bruna e Mallu caracterizam-se como consumidoras comprometidas, e Alice e

Joana como compradoras sem lealdade à marca, segundo os níveis de lealdade do

comprador de Aaker (1991 in, PERES, 2007, p.76).

Entrevistado Percepção de anúncios publicitários selecionados.

AlicePerfume .do Brasil Priprioca (1): “Olhando para ele, não consigo identificar o queeles querem vender, só vejo a marca e pela marca tu reconhece o segmento, maseles utilizam o apelo de ser uma coisa do país, para alguns atrai, para mim não fazmuita diferença”.Chronos (2): “Eu gosto porque tu identifica o produto, a marca, ele tem um apelomais forte, voltado principalmente para o público feminino, tu percebeinconscientemente porque quem se preocupa mais com questões estéticas e detempo, rugas e o foco que ele dá é para tu te preocupar um pouco simplesmentecom o número, que seria a idade e tentar recordar um pouco das memórias, daslembranças que tu viveu e que tu acumulou durante este período”.Tim (3): “Eu gosto também, tu consegue perceber a marca, o foco, não ésimplesmente “compre celulares por R$ 9,90”, tem o apelo de uma marca que estápresente, quer estar presente, em toda a tua vida, dando conselhos e passando aconfiança através disso”.

Continua:Entrevistado Percepção de anúncios publicitários selecionados.

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Bruna

(1) “É um perfume. A Natura está investindo bastante nessa área de ecologia, eu

gosto dos anúncios da Natura normalmente porque eles são bem coloridos,

chamam a atenção”.

(2) “Este está ótimo. Muito bom o texto, muito criativo, dá uma sensação de bem-estar... às vezes a gente vê a idade como um peso, e não como ‘quantos sorrisosvocê tem?’, gostei desse, gostei bastante”.(3) “Está bem dentro daquilo que a gente falou, ‘Desacelere’, ‘quanto mais asnovidades aparecem, mais as pessoas correm’, é isto, a tecnologia crescendo cadavez mais, vai aparecendo cada vez mais novidades, a gente acaba semprecorrendo, entrando num ritmo muito acelerado e, realmente, esquece dedesacelerar um pouco, dizer ‘não agora eu preciso parar, preciso dar umacaminhada, preciso fazer um exercício’, ou até mesmo relaxar com os amigos, coma família... eu gostei, achei bem bonito, bem criativo, gostei que faz a gente refletirpara o nosso bem, usou a marca para o bem-estar da pessoa, muito bom”.

Cassandra(1) “Esse é da Natura, uma empresa que é conhecida por ter produtosecologicamente corretos, por utilizar produtos naturais, preservação da Amazônia...eu gosto, nada que me impacte muito, mas eu acho inteligente as comunicações daNatura”.(2) “Não consigo identificar o objetivo desse creme, provavelmente é cuidar melhorda pele, prevenção a rugas, essas coisas, mas não gosto da primeira fraseparticularmente... precisava dar mais destaque aos benefícios que o produto trazque é o objetivo do marketing”.(3) “Criativa, muito criativa. Ela foi sucinta e bem objetiva, fala, justamente, no quefoi questionado antes, sobre a desaceleração, alguém que está contemplando umacoisa simples e que termina com a frase ‘utilize a nossa tecnologia para vivermelhor’, que eu acredito que é o objetivo, não de todos, mas da maioria daspessoas, buscar melhor qualidade de vida. Este me agrada mais. Me passa asensação de movimento, por causa dos cabelos, não é muito poluído visualmente,com frases, não faz muita ênfase na marca, a marca está ao canto, objetivo”.

JoanaJoana não quis opinar sobre este assunto.

Continua:Entrevistado Percepção de anúncios publicitários selecionados.

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João(1) “Este parece mais o logotipo da Globo. É da Natura, o que seria aqui, eu nãoconsigo identificar. Mas abrange em termos de Brasil, achei bacana, bem bolado,isso seria um tapete? Deu para ver algo artesanal. Já está mostrando até mais oumenos a região... Eu acho que o nosso país tem muito a dar, mas tem que sabercomo tirar, infelizmente tão botando gente aqui dentro que está destruindo, nãosabendo como usar. E a gente como gostaria de muito fazer e pouco pode, é difícil”.(2) “O tempo passa tão rápido, o mínimo de tempo que se tem hoje, a gente temque se cuidar um pouquinho das rugas, da velhice, eu uso justamente, um Chronosdesses, ajuda, é um bom produto. A Natura, afinal de contas, tem bons produtos,excelentes produtos. O anúncio está bem exposto, o que está escrito estáabrangendo bem aquilo que, nem para todos, mas para muitos, já acontece no dia-a-dia, fala um pouco de cada um, com certeza, porque a gente conta o tempo emanos. Quantos sorrisos você tem? Se desse para ter um para cada situação, muitos.É bem abrangente, bem bacana.”.(3)” É a tranqüilidade que se precisaria ter na vida. Estar num lugar como esse, queela está vendo um aquário, é uma boa mídia essa da Tim”.

Mallu (1) “O que eu não gosto é de propaganda de perfume, porque tu não sente o cheiro,ainda mais na TV, fica no ‘ai, que embalagem bonita, vai ficar legal na minhacômoda’. Tem a marca ali, quem se interessar vai lá e compra, fala com umarevendedora”.(2) “Eu tenho uma coisa com propagandas, eu olho a propaganda com olharpedagógico, didático. Este é ótimo para trabalhar o ‘por que’ em perguntas. Acheibem interessante porque o anúncio é de creme facial, então sorrisos, não é ‘vocênão pode rir, para não ficar enrugado’ , o que não é o meu caso [risos]. É beminteressante, bem criativo. E aí uma pergunta, as pessoas ficam pensando numaresposta: ‘por que contamos o tempo em anos?’. ‘Por que não em luas?’, eu não seinada de luas [risos] ‘Quantos sorrisos você tem?’, ‘bah’, eu sou a ‘pessoa maisvelha da face da Terra!’. Eu falo rindo [risos]”.(3) “Mas o celular não iria mudar nada no meu dia-a-dia, sinceramente falando. Eunão ia passar da minha operadora para esta só por causa disso, de jeito nenhum...A imagem é muito bonita e chama a atenção, mas para mim, não faz muito sentido”.

Solange(1) “Bonito o Brasil. Isso aqui é um perfume da Amazônia, pelo arranjo que tem, ovaso de barro, é um produto ‘natureba’, natureza brasileira. Aqui eles não estãodizendo que produto é, mas ao tu olhar tu consegue definir, então é bemelucidativo”.(2) “Aqui é o anti-rugas da Natura. Eu gosto da Natura, mas, sinceramente, o anti-rugas deles para a minha pele, é ruim, eu tenho a pele muito oleosa, já experimenteiuma vez e não deu, aí nem olho muito, não me chama atenção”.(3) “O telefone celular não é acelerado? Bom, tu não precisa ficar correndo atrás...Está falando em marca, eu olho Tim e não gosto, a minha filha tinha e se tu nãoqueria falar com ela, tu ligava para o celular dela, porque estava sempre fora deárea. Então com a Tim, pela experiência que eu tenho, já é desacelerar mesmo,porque tu não vai conseguir falar com quem atende”.

Quadro 5 – Percepção dos anúncios selecionados

Fonte: Elaborado pela autora

Bruna e João sentiram-se impactados positivamente pelas três peças

apresentadas e mostraram-se receptivos aos apelos dos anúncios. Já Joana preferiu

não avaliar os anúncios afirmando não gostar de propaganda.

Alice gostou do anúncio do Chronos e da Tim. O anúncio do Perfume do

Brasil Priprioca não se mostrou atrativo para ela nem para Cassandra e Mallu.

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Cassandra também não se mostrou impactada pelo anúncio do Chronos. Mallu e

Solange não perceberam o anúncio da Tim como positivo, sobretudo pela natureza

do produto comercializado e experiências anteriores negativas com este. O mesmo

motivo levou Solange a apenas visualizar de relance o anúncio do Chronos, por não

considerar o produto adequado à sua necessidade.

Nenhum dos entrevistados que responderam a este questionamento citou

como negativo o fato de o valor do produto não estar exposto no anúncio. Os seis

respondentes relacionaram os anúncios a questões de suas vidas, estendendo as

premissas para além do anúncio, avaliando se as propostas deste, mais do que os

produtos, mostravam-se afins com os seus posicionamentos quanto a estes temas.

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6 CONCLUSÃO

O tempo parece estar, cada vez mais, no centro das atenções do sujeito

contemporâneo. Hoje, se percebe o tempo como um ativo valioso, tanto para o

indivíduo quanto para as organizações; ninguém está disposto a “perder tempo”. Se

até o século XIX a valorização das pessoas se dava na medida da sua capacidade

produtiva, isto é, de acordo com a quantidade de peças, produtos, etc. que

conseguiam produzir, percebe-se que este parâmetro está mudando para

determinados segmentos. Busca-se, então, uma qualificação das tarefas e de seus

resultados. A solução correta para determinado problema está sendo mais

valorizada do que a resposta imediata, quantificada. O denominado le fast thinker,

uma espécie de ‘pensador instantâneo”, aquele que reage imediatamente a um

estímulo, com uma opinião sobre o assunto sem estudá-lo em suas dimensões

precisas, começa a perder espaço. Mudanças como esta estão presentes em

diversas esferas da sociedade atual e têm como ponto em comum a resignificação

do tempo.

Depois de muito repetir que não “tem tempo para nada”, irrompe no sujeito

contemporâneo um desejo de ter uma rotina mais saudável, mais qualidade de vida

e uma relação mais equilibrada com o seu tempo. Porém, seu contexto de vida,

muitas vezes, acaba não permitindo ou influenciando-o para o oposto. Vive-se hoje

num cenário de crise mundial, empresas até então consideradas sólidas começam a

pedir falência, as contratações diminuem, aumenta o sentimento de medo, de

desconfiança, todos querem manter-se empregáveis. Assim é que se assumem mais

tarefas do que se deveria – como exemplo, a entrevistada Alice afirma que trabalha

por cinco pessoas – se sujeita a uma jornada de trabalho exaustiva, leva-se trabalho

para casa, busca-se mais e mais qualificações mesmo que muitas acabem não

sendo realmente decisivas na rotina de trabalho do indivíduo.

Em meio a essas realidades e impulsos tão dualistas, surge um movimento

que busca mediar a situação através da proposta do equilíbrio e da desaceleração.

Num momento em que muitos ainda valorizam e consultam repetida e

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automaticamente o relógio como Gulliver8, outros estão tentando recuperar o seu

ritmo natural. Se o relógio foi um dos ícones da era industrial, ou de capitalismo

pesado, hoje sua simbologia já se mostra desgastada. Percebe-se que mesmo os

mais acelerados, os que acumulam tarefas e funções, levando a pró-atividade a

seus limites, permitem-se ou mostram-se receptivos à uma brecha na agenda, um

momento para relaxar, descansar ou, simplesmente, desacelerar. Claro que, nem

sempre, isso se mostra possível. A celeridade é parte intrínseca da realidade

contemporânea, se está habituado e muitas vezes se espera realmente, que tudo

seja “para ontem”, o tempo em que se enviava uma mensagem e esperavam-se dias

por sua resposta, por mais importante que esta fosse, parece realmente fazer parte

do passado. Nos dias atuais, a novidade de agora é a notícia antiga de cinco

minutos atrás.

Neste contexto, desacelerar parece uma proposta arriscada. Individualmente

os sujeitos freqüentemente percebem que a azáfama e o excesso de atividades

podem ser bastante prejudiciais, visualiza-se isso também através da pesquisa de

campo com alguns ‘acelerados’ de Porto Alegre. A desaceleração é citada muitas

vezes como um benefício para a saúde e bem-estar do entrevistado, porém, quando

se questiona se essa desaceleração poderia atingir um nível macro na sociedade,

grande parte mostra-se descrente. Honoré cita este fator e aponta como a grande

questão saber “quando o individual poderá tornar-se coletivo.”. (HONORÉ, 2005, p.

314). Assim, percebe-se que o Movimento Slow não é, ainda, um movimento

consistente na atual sociedade líquida. Percebe-se os benefícios de se manter uma

relação equilibrada com o tempo, porém, este ainda não parece ser um fator

preponderante para se acionar o freio mais freqüentemente. Percebe-se a aplicação

de todas as diretrizes e premissas do Slow com alguma desconfiança acerca de sua

aplicabilidade e sustentabilidade diante das imposições atuais. Porém, muitos

dispensam às atitudes Slow uma postura receptiva e percebem que, em

determinados momentos em certas esferas, além de ser benéfico, realmente é

possível desacelerar, encontrar o seu tempo giusto.

Esse comportamento também é percebido e absorvido pelo mercado que,

prontamente, lança novas propostas como as apresentadas no presente trabalho

8 No livro Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. No qual o personagem pouco fazia sem consultarseu relógio, sendo este entendido pelos liliputianos como sendo o seu Deus.

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para atenderem a tais demandas. Dessa forma, o slow mostra-se, sim, sustentável,

através da geração de novos interesses e vislumbres de novos nichos de atuação,

num mercado já tão saturado, são gotas azuis num oceano vermelho. 9

A publicidade percebe este potencial e utiliza apelos condizentes às

propostas do slow, alguns exemplos foram apresentados no presente trabalho.

Conforme os anseios, aspirações, crenças e valores dos indivíduos vão se

transformando, a publicidade procura acompanhar e incorporar tais elementos a si,

gerando maior identificação do consumidor com a marca, produto ou serviço

anunciados e ampliando as possibilidades de pontos de contato positivo com o seu

público e de manutenção de relacionamento com o mesmo.

Essa publicidade mais engajada que pode surgir a partir da utilização de

valores como os difundidos pelo Movimento Slow, mostra-se comprometida em não

buscar a venda apenas de um produto mas, também, de uma idéia, de conceitos, de

visões de mundo. Ela busca agregar algo mais ao consumidor, leitor, telespectador,

etc., qualitativamente, valorizando o tempo e a disposição do mesmo em realizar um

contato com a marca, empresa, produto ou serviço. Nas entrevistas realizadas com

‘acelerados’ de Porto Alegre, foram recorrentes citações de que a peça despertava

algum tipo de emoção, além da reação racional. Bruna, por exemplo, afirma que o

anúncio do produto Chronos, da Natura, a deixa feliz.

Destarte, percebe-se que, mesmo o Movimento Slow não estando

consolidado, nem sua permanência e crescimento sejam seguros numa realidade

fluída e em constante transformação, suas diretrizes e valores mostram-se

incorporados e incorporáveis tanto em sujeitos mais propensos à desaceleração,

como os que buscam uma Città Slow, quanto nos ‘acelerados’ de uma capital como

Porto Alegre. Conforme Maffesoli, “talvez seja quando o sentimento de urgência se

faz mais premente que convém pôr em jogo uma estratégia da lentidão” 10.

9 Referência ao trabalho de Kim; Mauborgne ( 2005), que aponta como estratégia do oceano azulquando se cria um novo espaço ou nicho de mercado onde não há concorrência em oposição àsaturação de competidores e concorrência acirrada existentes no oceano vermelho, que está cadavez mais lotado, tornando as expectativas de crescimento menores.10 MAFFESOLI, Michel. Elogio da razão sensível. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 8

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