universidade do vale do itajaÍ - univali centro de ...siaibib01.univali.br/pdf/raul rodrigues...

69
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR - CTTMAR CURSO DE OCEANOGRAFIA ANÁLISE DAS VARIAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS NA MORFOLOGIA EM PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ 2013

Upload: vokhanh

Post on 27-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR - CTTMAR

CURSO DE OCEANOGRAFIA

ANÁLISE DAS VARIAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS NA MORFOLOGIA EM

PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC

RAUL RODRIGUES BOTEGA

ITAJAÍ

2013

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

RAUL RODRIGUES BOTEGA

ANÁLISE DAS VARIAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS NA MORFOLOGIA EM

PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC

Monografia apresentada como requisito

parcial para obtenção do título de

Oceanógrafo pela Universidade do Vale de

Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas da

Terra e do Mar.

Orientador: Prof. Msc. Rafael Sangoi

Araujo

Co-orientador: Prof. Dr. Tito Cesar Marques

de Almeida

Itajaí

2013

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

iii

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a toda minha família por todo amor incondicional.

Em especial aos meus pais Luiz Antônio e Maria por me apoiarem em busca dos

meus objetivos e acreditarem no meu potencial. E ao meu irmão Vitor por sempre ter

sido meu grande parceiro.

A Ana Carolina por todo amor, carinho e apoio. E sua família querida por

estar presente durante os anos desse curso.

Ao meu orientador Rafael Sangoi por todas as oportunidades, ensinamentos

e atenção que me foi dado e principalmente por sua paciência que tornou possível

esse trabalho.

Ao co-orientador Tito Almeida pelos grandes ensinamentos que puderam

esclarecer o caminho a ser seguido.

Ao Marcos Berribilli (Marquinhos) pela parceria sem igual na realização de

todos os levantamentos topográficos e por seus ensinamentos. E a todos do LOG

que de alguma forma contribuíram para esse estudo entre eles, Charline, Luis Pi,

Pedro, Muka, Renata, Gaúcho.

Ao Sr. Gentil pelas horas peneiradas em 2011.

Aos amigos Jerônimo, Baby, Gorfo, Marcão, Gui, entre outros, que nessa reta

final tiveram presentes nos momentos de descontração.

A todos os professores que de alguma forma contribuíram no aprendizado

durante o curso.

À UNIVALI/Governo Estadual pelo financiamento desde 2011 através da

bolsa de pesquisa do ART. 170.

Muito Obrigado!

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

iv

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo analisar as variações espaço-temporais na

morfologia praial utilizando como estudo de caso praias do município de Barra Velha

– Santa Catarina. Para tal, foram utilizados levantamentos topográficos praiais

realizados de junho de 2011 a junho de 2013. Ao todo foram 270 perfis, sendo que

cada levantamento continha 23 perfis em 3 praias (Praia do Grant ao sul, do Sol e

do Tabuleiro ao norte) no total de 6 km de extensão de área de estudo. Foram

também utilizados dados de análise do sedimento coletado em junho de 2011 para

classificar as praias com relação entre a granulometria e a declividade dos perfis,

para análise espacial da área de estudo. Para a avaliação espaço-temporal foram

aplicadas análises em componentes principais (ACP) sobre as seguintes variáveis:

volume (m³/m), largura (m), declividade (°) e granulometria da face praia e pós-praia

(fi | mm). A Praia do Grant mostrou um perfil dissipativo semi-exposto com um ciclo

sedimentar bem definido com padrões de transporte fora de fase (isto é, as

variações de volumes foram inversamente proporcionais) entre as extremidades

indicando o processo de rotação praial. A Praia do Sol apresentou um perfil curto (37

m) sendo classificado como intermediária e exposta e não indicou um padrão claro

da variação sedimentar. A Praia do Tabuleiro demonstrou um perfil intermediário e

exposto, com grandes variações sedimentares, contudo suas extremidades

mostraram um ciclo sedimentar próximo de estar em fase (ou seja, as variações de

volume e largura foram diretamente proporcionais). A ACP na escala espacial

revelou 2 fatores explicando 84,90% da variação dos dados. Sendo o primeiro fator

foi a variação da morfologia entre os perfis provocada principalmente pela variação

da granulometria, e o segundo fator foram as correntes longitudinais mais atuantes

na praia do Sol e do Tabuleiro que causaram à variação da largura praial as quais

tendem a aumentar para norte. E na análise espaço-temporal a ACP indicou que 2

fatores explicaram 91,30% da variação dos dados. No fator 1 a análise evidenciou

que o fator que mais influenciou a morfologia foram as correntes longitudinais

dominantes de cada praia. Estas foram observadas a partir da largura desigual das

extremidades de cada praia. O fator 2 foi caracterizado pela variação da morfologia

do Grant para as outras praias, sendo que a Praia do Sol e do Tabuleiro variaram

seus estados morfológicos por causa da dinâmica do banco subaquático.

Palavras-chaves: Perfil praial, praias arenosas, análise de componentes principais.

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

v

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1

2. OBJETIVOS ................................................................................................. 2

2.1 GERAL ............................................................................................................... 2

2.2 ESPECÍFICOS ..................................................................................................... 2

3. ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................... 2

3.1 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ............................................................................ 3

3.2 CLIMA, ONDAS E MARÉS ..................................................................................... 4

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 5

4.1 MORFOLOGIA DO PERFIL PRAIAL .......................................................................... 5

4.2 MORFODINÂMICA DE PRAIAS ARENOSAS ............................................................... 6

4.3 SEDIMENTOLOGIA ............................................................................................... 7

4.4 EROSÃO PRAIAL ................................................................................................. 7

4.5 ROTAÇÃO PRAIAL ............................................................................................... 8

4.6 TÉCNICAS ESTATÍSTICAS MULTIVARIADAS ........................................................... 10

4.6.1 Análise de componentes principais ........................................................................ 10

4.6.2 Técnicas de ACP aplicado em ambientes praiais .................................................. 12

5. METODOLOGIA......................................................................................... 13

5.1 PERFIL PRAIAL .................................................................................................. 13

5.1.2 Tratamento dos dados ............................................................................................ 16

5.1.3 Cálculo dos parâmetros .......................................................................................... 16

5.2 SEDIMENTOLOGIA ............................................................................................. 17

5.3 NORMALIZAÇÃO ................................................................................................ 18

5.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA ................................................................. 18

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 19

6.1 MORFOLOGIA ................................................................................................... 19

6.1.2 Praia do Grant ........................................................................................................ 22

6.1.3 Praia do Sol ............................................................................................................ 27

6.1.4 Praia do Tabuleiro .................................................................................................. 30

6.2 ANÁLISE DAS COMPONENTES PRINCIPAIS ........................................................... 34

6.2.1 Análise espacial ...................................................................................................... 35

6.2.1.1 Fator 1 ........................................................................................................................... 37

6.2.1.2 Fator 2 ........................................................................................................................... 38

6.2.2 Análise espaço-temporal ........................................................................................ 40

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

vi

6.2.2.1 Fator 1 ........................................................................................................................... 44

6.2.2.2 Fator 2 ........................................................................................................................... 46

7. CONCLUSÃO ............................................................................................ 48

8. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS ................................. 50

9. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 51

APÊNDICE – PERFIS PRAIAIS E SEUS PARÂMETROS ............................ 56

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização da área de estudo. Projeção Universal Transversa de

Mercator Datum SAD-69. ............................................................................................ 3

Figura 2: Modelo simplificado de um processo de rotação praial. Ondas com

direções opostas fazem diferentes padrões de transporte de sedimento. A figura (A)

mostra uma onda obliqua chegando na praia realizando um padrão de transporte

diferente da onda obliqua que chega na figura (B) (modificado de Short e Masselink,

1999). .......................................................................................................................... 9

Figura 3: Localização dos pontos amostrais. Projeção Universal Transversa

de Mercator Datum SAD-69. ..................................................................................... 15

Figura 4: A imagem (A) mostra a realização de um perfil praial. Na (B),

Estação Total sendo manuseada. Autor: Raul Botega .............................................. 16

Figura 5: Esquema do cálculo realizado para a declividade da face praial. ... 17

Figura 6: Gráfico mostra a relação entre a granulometria média e da

declividade da face praial com os dados de junho de 2011. Foram utilizados os

valores máximo e mínimo da granulometria e declividade da face da praia, para que

assim pudesse abranger toda a variação dos dados. ............................................... 19

Figura 7: Ilha das Canas próxima ao perfil 01G no Sul da praia do Grant. É

possível notar a presença de barcos atracados na zona de sombra provocada pela

ilha. Autor: Raul Botega. ........................................................................................... 20

Figura 8: Modelagem da região da enseada do Itapocorói, Santa Catarina,

modificada de Olpe (2012). O caso representa uma ocasião de ondulação

proveniente de Sul-Sudeste (SSE) em caso de tempestade, altura significativa de

onda (Hs) = 3,44 m; período de onda (Tp) = 14 s. .................................................... 21

Figura 9: Volume e largura médio calculado para cada perfil com seus

respectivos desvios padrão. Os coeficientes de variabilidade dos volumes e larguras

foram calculados através da razão entre o desvio padrão e a média para cada perfil.

.................................................................................................................................. 22

Figura 10: Características morfológicas dos perfis (01G – 03G) da praia do

Grant. A imagem de fev - 12 foi retirada em sentido Sul – Norte e as outras duas

foram Norte – Sul. É possível visualizar que em Jun – 12 o sedimento retorna ao

perfil. Autor: Raul Botega .......................................................................................... 23

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

viii

Figura 11: Gráfico do volume sedimentar dos perfis 01G e 03G e do volume

normalizado, ao longo do monitoramento. É possível notar que quando o volume do

perfil 01 aumenta o volume do perfil 03G diminui e o contrário também acontece. .. 25

Figura 12: Imagens do perfil 03G na praia do Grant mostrando a evolução

sazonal do pacote sedimentar. No circulo vermelho está uma rocha marcada como

referencial. Autor: Raul Botega. ................................................................................ 26

Figura 13: Características morfológicas da praia do Sol (perfis 04S – 08S). As

imagens mostram a presença de cúspides, casas delimitando o pós-praia e um curto

perfil praial. Na imagem do perfil 04S (visão Sul – Norte da praia) é possível ver

presença de pouca vegetação com perfil íngreme e pequeno. Autor: Raul Botega. . 28

Figura 14: Fotografias da praia do Sol mostrando as casas delimitando o pós-

praia, tentativas de proteger-se da erosão e muro desmoronado que ocorrem no

meio da praia. Autor: Raul Botega. ........................................................................... 29

Figura 15: Gráfico do volume sedimentar dos perfis 04S e 08S e do volume

normalizado, ao longo do monitoramento. ................................................................ 30

Figura 16: Características morfológicas da Praia do Tabuleiro (perfis 09T –

23T). Autor: Raul Botega. .......................................................................................... 31

Figura 17: Gráfico do volume (m³/m) e largura (m) ao longo do monitoramento

do perfil 23T. ............................................................................................................. 32

Figura 18: Imagens do local do perfil 23T no mês de outubro de 2012, na

imagem (A) visão sul-norte e na (B) norte-sul. Autor: Raul Botega. .......................... 33

Figura 19: Gráfico dos volumes sedimentares dos perfis 09T e 23T e dos

volumes normalizado, ao longo do monitoramento. Dado de junho de 2013 não foi

coletado para o perfil 09T. ......................................................................................... 34

Figura 20: Gráfico Scree Plot com informações dos fatores. .......................... 35

Figura 21: Gráfico dos escores da ACP dos fatores 1 x 2. ............................. 36

Figura 22: Gráfico da projeção dos casos. Em verde os perfis que tiveram

interação maior com o primeiro fator e em azul os perfis que interagiram mais com o

segundo fator. O perfil 12 contribuiu para o fator 2, mas ele esteve presente mais no

fator 1. ....................................................................................................................... 37

Figura 23: Gráfico da relação entre a granulometria (mm) e da declividade da

face da praia de cada perfil. Quadrados verdes apontam os perfis que mais

interagiram com o fator 1........................................................................................... 38

Figura 24: Gráfico da largura normalizada da Praia do Sol e do Tabuleiro .... 40

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

ix

Figura 25: Gráfico Scree Plot com informações dos fatores. .......................... 41

Figura 26: Gráfico dos escores da ACP dos fatores 1 x 2. ............................. 41

Figura 27: Gráfico de projeção dos casos (perfis), para toda a série temporal.

.................................................................................................................................. 42

Figura 28: Gráfico da projeção dos casos (perfis) que mais influenciaram na

ACP. .......................................................................................................................... 43

Figura 29: Gráfico das médias normalizadas de cada levantamento, e das

larguras que mais influenciaram o fator 1 da ACP. ................................................... 45

Figura 30: Mostra o possível padrão de correntes originadas a partir da

ondulação predominante de leste e sudeste proposta por Alves e Melo (2001) e

indicado pelo ACP. Flechas em vermelho são as correntes para norte e a amarela é

a corrente para sul. ................................................................................................... 46

Figura 31: Boxplot da declividade da face da praia. ....................................... 48

Figura 32: Gráfico dos perfis praiais entre junho de 2011 a junho 2013 e seus

respectivos gráfico de perfis médio, máximo, mínimo e desvio padrão. ................... 59

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Relação dos meses e números de perfis levantados, ao final a

contagem dos mesmos. ............................................................................................ 14

Tabela 2: Valores dos escores das variáveis nos fatores 1 e 2. “FACE e POS”

referem-se ao diâmetro médio (fi) da face praial e pós-praia, respectivamente. ....... 36

Tabela 3: Contribuição dos casos (perfis) para cada fator, foram colocados

apenas os perfis que tiveram contribuição acima de 4 para algum dos dois fatores. 37

Tabela 4: Data por número de levantamento. ................................................ 40

Tabela 5: Valores dos escores das variáveis nos fatores 1 e 2. ..................... 41

Tabela 6: Relação dos casos com os seus escores no fator 1 e respectivos

valores de larguras medida. ...................................................................................... 43

Tabela 7: Relação dos casos com o os escores do fator com a suas

respectivas declividade da face praial ....................................................................... 44

Tabela 8: Dados de volume obtidos a partir dos perfis praiais (altura de

contorno -0,5 m). ....................................................................................................... 56

Tabela 9: largura das praias obtido a partir dos perfis praiais (altura de

contorno -0,5 m). ....................................................................................................... 57

Tabela 10: Dados de declividade da face da praia ao longo do monitoramento.

.................................................................................................................................. 58

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

1

1. INTRODUÇÃO

Praias são definidas como ambientes de depósitos sedimentar não coesivo e

inconsolidado. Sofrem modificações na sua morfologia pela interação das

características hidrodinâmicas tais como ondas e marés, e pelo desequilíbrio do

suprimento sedimentar local (SHORT, 1999). Este ambiente se encontra sempre

buscando o equilíbrio morfodinâmico, o qual seria uma relação de estabilidade da

morfologia com as mudanças na energia e direção das ondas ao longo das estações

do ano (clima de ondas). Portanto, ambientes praiais são, em geral, altamente

dinâmicos (CALLIARI et al., 2003; KLEIN, 2004).

Com o aumento populacional na região costeira, e a valorização de terrenos

adjacentes às praias, sentiu-se necessário compreender os processos

hidrodinâmicos e morfológicos responsáveis pelas mudanças costeiras,

principalmente dos locais onde ocorrem altos níveis de erosão praial. Entretanto, em

praias urbanizadas, o impacto antrópico nos ambientes costeiros causa alterações

no equilíbrio morfodinâmico praial (tanto no regime energético como no suprimento

sedimentar) (ARAUJO et al., 2010).

As praias que serão estudadas estão entre ambientes costeiros amplamente

pesquisados pelos seus eventos de erosão e obras de engenharia. Ao sul tem-se a

praia de Piçarras com um amplo historio erosivo (KLEIN et al., 2006; ARAUJO et al.,

2010; FREITAS et al., 2010). Ao norte tem-se a praia Central e a porção sul da

barreira arenosa onde sofrem perda sedimentar e processos como transposição do

sedimento (overwash) (KLEIN et al., 2006). Assim sendo, estudos sobre variações

morfológicas em praias e enseadas adjacentes, como no caso das praias do

município de Barra Velha, são importantes para o entendimento da dinâmica e

processos costeiros, sendo fundamental para o contexto entre enseadas e/ou

equivalência de processos erosivos e deposicionais.

Com isso, surgiu um grande interesse de trabalhar com os vários fatores que

estão interagindo na morfologia praial, mas isso implicaria em analisar uma serie de

dados temporais com múltiplas variáveis. Deste modo, decidiu-se trabalhar com a

ferramenta estatística de análises multivariadas. Segundo Souza (2004), as análises

multivariadas são técnicas estatísticas que tem uma grande capacidade de

simplificar as inúmeras variáveis e fatores que integram na morfodinâmica praial,

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

2

podendo a partir dela compreender as mudanças que estão ocorrendo no ambiente

de estudo.

O seguinte trabalho tem, portanto, importância quanto ao entendimento das

relações entre os fatores e variáveis que interagem na morfologia praial. De forma a

contribuir para o entendimento morfodinâmico da região Centro-Norte catarinense, o

seguinte estudo tem como objetivo analisar a interação das variáveis da morfologia

praial utilizando técnicas de análises estatísticas para poder tratar a serie temporal

de dados presente nas praias do município de Barra Velha, Santa Catarina.

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Analisar a variação espaço-temporal na morfologia praial utilizando como caso de

estudo as praias do município de Barra Velha, SC.

2.2 Específicos

Avaliar os principais fatores responsáveis pela variação morfológica praial em

escala espacial e temporal.

Analisar eventos erosivos e/ou de rotação praial que podem alterar a morfologia

praial.

3. ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está localizada ao Norte da Enseada do Itapocorói, litoral

centro – Norte do Estado de Santa Catarina, compreendendo as praias do Grant (0,5

km de extensão) com orientação SE-NW, praia do Sol (1 km de extensão) com

orientação SSE-NNW e praia do Tabuleiro (4,5 km de extensão) com orientação

SSO-NNW, no município de Barra Velha (Figura 1). A área possui cerca de 6 km de

extensão, sendo delimitada ao Sul pelo promontório de Itajubá, e ao Norte pelo

costão rochoso entre a praia central e a praia do Tabuleiro (ARAUJO, 2005).

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

3

Figura 1: Localização da área de estudo. Projeção Universal Transversa de Mercator Datum SAD-69.

3.1 Geologia e geomorfologia

As formações geológicas da região, de acordo com Horn Filho (2003) e Horn

Filho e Diehl (2006) estão localizadas no Escudo Catarinense e na Província

Costeira. Fazendo parte do setor geológico – geomorfológico Nordeste proposto por

Diehl e Horn Filho (1996). O contexto geológico compreende o Complexo

Granulítico. A unidade geotectônica é constituída por rochas metamórficas de alto

grau e granulitos datados do Arqueano. Tipos litológicos variados presentes nesse

complexo, em especial os corpos ultramáficos lenticulares que afloram em Barra

Velha (SCHEIBE, 1986).

Segundo Horn Filho (2003) a planície costeira catarinense contém depósitos

provenientes de dois sistemas deposicionais: continental e costeiro. O primeiro está

associado a depósitos coluviais, de leque aluvial, encostas íngremes e fluviais,

normalmente datados de ±2 MA AP (Quaternário). Já o sistema costeiro do tipo

laguna barreira, está relacionado às variações do nível do mar ocorridas durante o

Quaternário formando depósitos Pleistocênicos e Holocênicos (entre 120ka – 18ka e

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

4

5,1ka – presente). Principais características desse tipo de planície são campo de

dunas, cordões regressivos e terraços.

3.2 Clima, Ondas e Marés

Devido à proximidade geográfica com Itajaí as conclusões de autores que

caracterizaram as forçantes físicas da costa do rio Itajaí-Açu são plausíveis de

serem utilizadas em Barra Velha. Conforme Araújo et al. (2009) Santa Catarina é

classificado com um clima mesotérmico superumido. As variações das precipitações

e temperatura estão ligadas à interação dos sistemas frontais frios de origem polar e

as massas de ar quente e úmidas de origem tropical. A média de precipitação do

período de 1980 a 2006 foi de 1.754,8 mm.

Araújo et al. (2009) mostram que a direção do vento predominante entre

fevereiro a setembro de 1999 a 2006 foi de sul a sudoeste e para outubro a janeiro

do mesmo período predominou ventos de leste-nordeste (ENE). A velocidade média

do vento foi de 4,4 km/h e a média das rajadas máximas foi de 47,4 km/h.

De acordo com Truccolo e Schettini (2009) a região foi caracterizada por

influência de micromaré astronômica predominantemente semidiurno com

desigualdade de alturas para as preamares e baixa mares. A sizígia teve um valor

médio de 0,88 metros e a quadratura 0,15 metros. Outro processo importante para a

alteração do nível do mar seria a maré meteorológica ocasionada pelos ventos que

interagem com a superfície do mar que geram ondas responsáveis por aumentar o

nível do mar costeiro. Sendo normalmente ocasionado por ventos do quadrante Sul.

Esse tipo de maré é caracterizado por variações de até 0,7 a 0,8 metros de altura.

Alves e Melo (2001) obtiveram resultados de altura significativa de onda e

período com um ondógrafo fundeado a 20 metros de profundidade a uma distância

de 1,5 quilômetros da costa da Ilha de São Francisco, durante o período de janeiro

de 1996 a setembro de 1996. O autor explicou que 50% dos dados mostraram

ondas vindas de leste e sudeste com altura significativa de 0,5 a 1,5 (m) e período

de 6 a 16 (s). Outra ondulação que teve grande frequência (25%) foram os swells de

sudeste com altura significativa de onda de 0,5 a 2,0 (m) e período entre 6 a 7 (s).

Vagas de leste-nordeste tiveram 10% de frequência sendo observadas apenas no

verão (altura de 0,5 a 1,5 m e período de 3 a 8 s).

Utilizando um ondógrafo fundeado a 80 metros de profundidade situado a

cerca de 80 km da costa leste de Florianópolis (Santa Catarina), Araújo et al. (2003)

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

5

obtiveram uma serie temporal entre dezembro de 2001 e janeiro de 2003. Os

autores descrevem a ocorrência de um espectro bi-modal, sendo que todas as

estações dos anos tiveram o padrão de vagas de leste juntamente com swell de sul.

As médias das ondulações de leste foram altura significativa de 1,25m e período de

pico de 8s. As ondulações de sul variaram de 1,25m no verão a 2m no inverno com

predominância de período de pico de 12s. A ocorrência rara de ondas maiores de 4

metros foi devido as tempestades, podendo ocorrer em todas as estações do ano.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1 Morfologia do perfil praial

A morfologia de uma praia reflete a composição do seu sedimento (e.g.

tamanho de grão e desvio padrão) e os processos físicos atuantes tais como ondas,

correntes e transporte de sedimentos (KOMAR, 1998). O principal processo

modificador do perfil praial seria as ondas, e ao longo das estações do ano, as

mudanças na energia e direção das ondas (clima de ondas) causam efeitos distintos

na morfologia praial. As correntes transversais e longitudinais são originadas através

das ondas, causando mobilização de grande quantidade de sedimento (SHORT,

1999; FARRIS; LIST, 2007.).

Tipos e tamanhos de praias e seus padrões de distribuição morfológica

variam ao redor do mundo, sendo assim amplamente estudados por fornecerem

importantes informações sobre os principais processos costeiros atuantes no

sistema praial (SHORT, 2006; ARAUJO et al., 2010). Komar (1977) e Short e Ni

(1997) sugerem que o padrão de distribuição dos sedimentos nas praias depende da

história geológica da região (fonte de sedimentos).

A morfologia de um perfil praial varia conforme diferentes eventos ocorrem,

como é o caso da transformação de onda e sua dissipação de energia contida na

zonação hidrodinâmica. Diferentes padrões de deposição sedimentar dão origem a

zonação morfológica, que leva em conta o tipo de processo atuante sobre o depósito

e seu efeito na hidrodinâmica. Serão utilizadas, no presente trabalho, as zonações

propostas por Hoefel (1998) e Short (1999).

Estudos da morfologia de praias têm sido concentrados principalmente nas

mudanças do perfil transversal. A ampla utilização desta técnica pode ser explicada

pelo fato de que a maioria dos modelos de análise do comportamento de praias é

baseada em mudanças morfológicas de duas dimensões. Este tipo de análise serve

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

6

para se ter uma ideia geral do comportamento morfodinâmico de praias em uma

escala regional (WRIGHT; SHORT, 1984; MASSELINK; SHORT, 1993).

Estas técnicas são utilizadas para medir tanto a variação da linha de costa

como o volume praial. A variabilidade do perfil praial se altera em uma variedade de

escalas de tempo em resposta a variações sazonais de processos costeiros, como

as diferentes exposições do ambiente à energia de ondas (ARAUJO et al., 2010).

4.2 Morfodinâmica de praias arenosas

Os estágios morfodinâmicos de praias dominadas por ondas foram

estabelecidos por Wright e Short (1984) em praias australianas, e em Short (1999,

2006) os conhecimentos sobre morfodinâmica de praias foram aprofundados para

que se alcançassem a realidade dos variados ambientes costeiros globais.

Utilizando a classificação de Wright e Short (1984) costas dominadas por onda são

caracterizados por seis estágios morfodinâmicos. Um extremo dissipativo, outro

reflectivo e 4 estágios intermediários, que intercalam de um extremo para outro.

As características morfológicas do estado dissipativo são a presença de uma

larga zona de surfe, a qual é responsável pela dissipação da energia de ondas. Seu

sedimento é normalmente areia fina a muito fina. Comumente tem a presença de

sistemas de bancos múltiplos, o qual seria o fator principal pela quebra da onda na

zona de arrebentação e zona de surf (SHORT, 1999; KLEIN; MENEZES, 2001;

CALLIARI et al., 2003; SHORT, 2006).

Os estágios intermediários são caracterizados por ter uma alta dinâmica de

volume sedimentar, sendo que normalmente tem-se a presença de um banco

arenoso responsável por criar uma zona de surf com largura moderada (em

comparação ao dissipativo). A dinâmica do banco arenoso é o que causa a variação

dos estágios morfodinâmicos intermediários, conforme o banco migra em direção a

face da praia ele causa feições rítmicas como cúspides e desenvolve correntes de

retorno bem pronunciadas. Seu tamanho de sedimento característico é areia média.

A declividade da face da praia é moderada (de 3° a 8°) (SHORT, 1999; KLEIN;

MENEZES, 2001; CALLIARI et al., 2003; SHORT 2006).

Praias com estado reflectivo representam o último extremo, sendo então

opostas ao dissipativo. Contém rara presença de zona de surf e banco arenoso, as

energias de ondas incidentes colapsam na face da praia. Com granulometria de

areia grossa e a declividade da face da praia maior que 8°. Seu volume sedimentar

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

7

predominante se encontra na porção subaérea (SHORT, 1999; CALLIARI et al.,

2003).

4.3 Sedimentologia

A proveniência dos sedimentos é o fator mais importante que define o

tamanho de grão em praias (KLEIN et al., 2005). O aporte de sedimentos para a

costa se dá em função do clima no continente, particularmente a precipitação e

temperatura que controlam a taxa de erosão; a geologia que determina a natureza

dos sedimentos; a estrutura e topografia que influenciam o padrão de drenagem e a

localização dos recursos costeiros, incluindo córregos, rios e geleiras; e a natureza e

extensão das costas rochosas expostas à erosão por ondas (SHORT, 1999).

Conforme Klein et al. (2010) os sedimentos grossos tem acesso ao ambiente

praial por retrabalhamento de leques aluviais ou sistemas de ilha barreia antigas. As

praias com sedimento areia média resultaram de retrabalhamento de antigos

depósitos de laguna barreia ou aporte sedimentar proveniente de rios. Já as que

contêm areia fina obtiveram esses sedimentos de aporte de rios ou por planícies de

dunas.

Klein e Menezes (2001), Klein et al. (2005), Klein et al. (2010) observam que

a relação entre o tamanho de grão e a inclinação da face da praia é importante para

os estágios morfodinâmicos. O tamanho do sedimento é o maior contribuinte para

inclinação, morfologia e tipo de praia, assim como sua mobilidade (SHORT, 1999).

Em seu estudo, Komar (1976) concluiu que o tamanho de grão do sedimento da

praia é o principal fator que afeta a inclinação da face praial, sendo que praias com

sedimentos grossos são mais íngremes que as demais.

A composição das areias das praias é dominada por grãos de quartzo. Porém

variações regionais e locais no tipo do sedimento são produzidas por clima, rochas,

substrato e biota. O sedimento disponível irá determinar as dimensões da praia,

também mudanças na quantidade (balanço de sedimentos) irão afetar o tamanho e

a ocorrência dos mesmos. Variações no tamanho de sedimento podem impactar a

morfodinâmica da praia (SHORT, 1999).

4.4 Erosão praial

Naturalmente uma praia tende a estar em seu estado de equilíbrio, isso

significa que seu balanço sedimentar se mantém nulo perante as forçantes físicas

(acontecem regularmente transportes de sedimento no sistema praial). Contudo,

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

8

quando um processo de erosão é desencadeado, e a praia começa a ter um balanço

sedimentar negativo, sua linha de costa começa a se moldar para o novo equilíbrio

do sistema praial (SHORT, 1999). Isso implica que a erosão natural não causa o

desaparecimento da praia arenosa, mas sim um recuo da linha de costa (muitos

métodos de análise de erosão praial tem como base a variação da linha de costa). A

exclusão da região subaérea da praia para fins antrópicos acontece normalmente

quando a linha de costa é impedida de ser recuada e passa a ter um conflito entre o

processo natural e a ocupação antrópica (BOAK; TURNER, 2005; RUDORFF;

BONETTI, 2010).

O sedimento tem algumas formas (naturais) de sair do sistema praial, entre as

mais recorrentes estão as corrente transversal ou longitudinal (deriva litorânea). Na

primeira, fortes correntes de retorno transportam o sedimento para além da

profundidade de fechamento interna, de forma que as ondas responsáveis por fazer

o sedimento retornarem para a praia não consigam transportar esse sedimento de

volta ao sistema (ondas paralelas à praia são atribuídas a esse evento). No

segundo, a resultante da deriva litorânea transporta o sedimento para fora do

sistema. Causada por trens de ondas chegando com um determinado ângulo obliquo

à praia, fazem com que o sedimento derive em “zigue-zague” da direção da corrente

na face da praia e na zona de surf. Essa corrente tem potencial para fazer o

sedimento contornar costões rochosos de forma com que a areia não retorne ao

ambiente praial de origem (SHORT, 1999).

É difícil apontar construções de moradia como sendo as responsáveis pela

erosão praial, contudo muitas construções estão pertos demais da praia (muitas

vezes delimitam o pós-praia como é o caso na Praia do Sol). À medida que a erosão

vai evoluindo e começa a ameaçar a integridade das estruturas de construções é

comum que haja a colocação de proteção como estacas, muros, espigões, rochas,

sacos de areia. Com isso, interferências no perfil morfodinâmico e no transporte do

sedimento causando uma erosão mais acentuada (MUEHE, 2006).

4.5 Rotação praial

Rotação praial é um processo de movimentação sedimentar, na qual este é

transportado para uma das extremidades da praia, sendo que a extremidade oposta

sofre perda sedimentar. O fator que provoca tal evento seria as correntes

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

9

longitudinais provocadas por um clima de ondas chegando obliquamente à linha de

costa, como pode ser visto na Figura 2 (SHORT; MASSELINK, 1999).

Figura 2: Modelo simplificado de um processo de rotação praial. Ondas com direções opostas fazem diferentes padrões de transporte de sedimento. A figura (A) mostra uma onda obliqua chegando na praia realizando um padrão de transporte diferente da onda obliqua que chega na figura (B) (modificado de Short e Masselink, 1999).

Rotação praial depende de vários fatores como a curvatura da praia, a sua

morfologia e o tipo de praia. Promontórios, rochas, ilhas, podem fazer com que se

tenha um padrão de exposição e sombreamento de diferentes regiões da praia

conforme a orientação da onda em relação a linha de costa. Já os fatores

morfológicos podem dificultar o processo de rotação praial, pois dependendo dos

padrões de deposição na zona de surf e arrebentação o sedimento pode ter um

menor fluxo para zona subaérea. Isso pode ser visto nos tipos de praia, já que as

reflectivas, que contém a maior parte de seu volume no pós-praia, tendem a

evidenciar com maior facilidade um processo de rotação (KLEIN et. al., 2002).

Rotação praial não causa perda sedimentar, diretamente, no prisma praial,

contudo Ojeda e Guillen (2008) ressaltam que a acumulação elevada de sedimento

em uma extremidade da praia pode fazer com que o sedimento saia do sistema

praial por processos como o transpasse de sedimento (by-pass). Por isso é notável

que uma praia com balanço sedimentar negativo sofra danos maiores a sua orla

pelo agravamento de eventos de erosão por causa da rotação praial (SHORT,

1999).

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

10

4.6 Técnicas estatísticas multivariadas

Segundo Hair et al. (2005) a análise multivariada é definida como um conjunto

de técnicas que analisam simultaneamente múltiplas medidas de um objeto,

indivíduo ou fenômeno que está sendo estudado. Caracterizando assim uma análise

simultânea das variáveis que interagem de forma dependente ou interdependente.

Dentro da análise multivariada ocorre uma grande quantidade e variedade de

técnicas. O sucesso da análise começa na escolha do método adequado aos

objetivos e o tipo de variável.

Quando se analisa os ambientes costeiros normalmente se depara com uma

série de variáveis que atuam interdependente nesses sistemas (hidrodinâmicos,

geológicos, antrópicos e biológicos), ou seja, grande parte das variáveis atua de

forma que dependem uma das outras. Todos esses sistemas se inter-relacionam

para explicar a complexidade dos ambientes litorâneos. Contudo, esse grande

acervo de variáveis contidas nesses ambientes estudados dificultam a visualização

de fenômenos atuantes tais como mudanças de padrões de distribuição de

sedimento, alteração do clima de ondas, variações da morfologia. Dessa forma as

técnicas estatísticas multivariadas têm como objetivo analisar as variáveis atuantes

nos ambientes de forma conjunta, podendo ser assim mais fácil de identificar os

fenômenos dos ambientes costeiros (VALENTIN, 2000).

4.6.1 Análise de componentes principais

A análise em componentes principais (ACP) é um dos métodos de análise

com capacidade de relacionar objetos e descritores segundo o algoritmo de

correlação linear de Pearson, adequado a variáveis discretas (transforma “n”

variáveis em “p” fatores, sendo que “p” é menor que “n”) (PLA, 1986; HAIR et al.,

2005). Esta técnica possibilita a identificação e hierarquização dos principais fatores

que atuam sobre o sistema de variáveis estudado. Hair et al. (2005) relata que o

método das componentes principais é um método para obter soluções fatoriais, pois

está dentro das técnicas de análises fatoriais. A vantagem da ACP é que ele

permite, a partir de um número mínimo de fatores, explicar o fenômeno ou causa

atuante no sistema que realizou a máxima variância no conjunto das variáveis

iniciais.

Esse tipo de análise favorece a redução de variáveis e/ou a condensação

delas de forma que se possam observar padrões dentro dos dados. Por sua vez,

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

11

esses padrões serão utilizados para explicar as variações nos dados de cada fator

relevante na análise de forma com que possa dizer o que esse fator era. Landim et

al. (2002) explicam que é preciso ter conhecimento da forma com que as variáveis

atuam no sistema estudado, pois quando se escolhi uma explicação para algum

fator é necessário levar em conta as relações entre as variáveis.

Inicia-se uma análise de componentes principais com o cálculo dos

autovalores e seus correspondentes autovetores, os quais se referem às

componentes principais, que são o resultado do carregamento das variáveis em

cada um deles. Os carregamentos são considerados uma medida de relativa

importância de cada variável em relação às componentes principais e os respectivos

sinais se positivo ou negativo, indicam relações diretamente ou inversamente

proposicionais. Geralmente os dois ou três primeiros autovetores encontrados

explicarão a maior parte da variabilidade presente nos dados (HAIR et al., 2005).

Um diagrama de dispersão é utilizado para apresentar a disposição da matriz

de contagens (scores) de cada caso e suas variáveis em relação às componentes

principais. A matriz de contagem é obtida pela multiplicação da matriz de

carregamento pela matriz original dos dados fornecidos. No diagrama de dispersão

será então disposto dois eixos sendo cada um deles algum fator (normalmente são

as duas componentes mais importantes como o fator 1 e 2) (LANDIM et al., 2002).

De acordo com Hair et al. (2005) se têm diversos métodos para a escolha do

número de fatores que serão utilizados na análise, sendo que cada fator

subsequente irá explicar alguma variação que o anterior não realizou. Até um certo

ponto em que os fatores não consigam mais ter um contexto lógico para a

explicação das variáveis. Utilizando os critérios de seleção desse autor a escolha do

numero de fatores será baseada nos:

Critério da raiz latente – O fator deve estar relacionado a pelo menos uma

variável do conjunto, sendo assim devem ser considerados os fatores com

autovalores maiores que 1,0.

Critério da porcentagem de variância – Devem ser considerados os fatores

que tiverem porcentagem acumulada explicada de pelo menos 75%.

Critério do scree plot – Este critério procura reter os fatores anteriores à

estabilização da variância explicada por cada fator.

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

12

Critério a priori – O pesquisador deve decidir quantos fatores tem que ser

retidos, com base nos conhecimentos teóricos e/ou por indicação de trabalho

pretérito.

4.6.2 Técnicas de ACP aplicado em ambientes praiais

Losada et al. (1992), estudando amostras de sedimento de perfis praias na

Espanha identificou, com a ajuda de ACP para distinguir variações espaço-

temporais, padrões de movimentação diferenciada de sedimento para areia grossa e

fina. A areia grossa teve a tendência de ser transportado entre a área da berma e o

banco subaquático, já a areia fina era transportada por todo o perfil.

Short e Trembanis (2004) utilizaram dados de 26 anos de largura praial em

uma praia na Austrália, na ACP, o primeiro fator foi identificado como sendo a linha

de costa média. Já o segundo foi denominado de “fator de rotação”, pois os autores

conseguiram observar claramente o processo de rotação praial sendo mostrado pela

variação inversa da largura entre o perfil nas extremidades da praia.

Souza (2004) relata o potencial da análise multivariada, especialmente da

análise de componentes principais, para a interpretação e estudo de fenômenos

multivariados atuantes nos ambientes praiais. O estudo realizado por Souza (2004)

utilizou a análise fatorial por meio das componentes principais para analisar a

morfodinâmica praial a partir de perfis praiais. Os resultados obtidos por esse autor a

partir das técnicas estatísticas das ACP possibilitaram um maior entendimento da

dinâmica do volume praial e da morfologia, podendo inclusive ver os momentos de

progradação e retração do perfil praial.

De Luca (2009) não utilizou as técnicas multivariadas para explicar

diretamente a morfodinâmica, porém a autora realizou um estudo da distribuição

espaço temporal do sedimento das praias do litoral Centro-Norte de Santa Catarina

utilizando análise fatorial modo Q. Os seus resultados foram então comparados com

os estudos de morfodinâmica previamente realizado por Klein e Menezes (2001). De

Luca (2009) obteve fortes correlações que indicaram que o sedimento de uma praia

do litoral centro-norte de Santa Catarina é controlado pela fonte dele, e que a

morfodinâmica praial tem seu comportamento influenciado diretamente pela

granulometria e as variações espaço temporal da granulometria são também

indicativos de variação da morfodinâmica.

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

13

Albernaz (2010) realizou uma análise morfossedimentar de longo prazo, na

praia Central de Balneário Camboriú, utilizando análises de componentes principais.

Resultando em 4 fatores para explicar a variação granulométrica na praia Central de

forma que pudesse observar clara diferença entre a granulometria na parte sul e

norte da praia. Já na morfologia praial, o autor utilizou dados de volume que

resultaram em 3 fatores. O grande aumento no volume sedimentar provocado pelo

engordamento de praia foi apontado como sendo o fator 1, o segundo fator foram as

correntes longitudinais que indicaram o aumento do volume sedimentar no norte da

praia. E o terceiro fator foi a corrente longitudinal de norte para sul, provocando

aumento do volume sedimentar nos perfis ao sul. Sendo que, os fatores 2 e 3

juntamente deram indícios a eventos de rotação praia, pelo seus padrões de

deposições opostas.

5. METODOLOGIA

O seguinte estudo utilizou uma série de dados extraídos das saídas de campo

para obtenção de parâmetros que serão analisados por técnicas de análise de

componentes principais. A partir de cada perfil transversal foi utilizado o volume, a

largura, a declividade da face da praia, granulometria do pós-praia, granulometria da

face da praia. Esses parâmetros têm como objetivo representar de melhor forma o

ambiente praial estudado para que possam ser visualizadas as diferenças dos perfis

em uma escala temporal de dois anos e espacial (aproximadamente 6 quilômetros

de extensão de praia).

5.1 Perfil praial

Foram coletados 270 perfis em 12 levantamentos de topografia praial (Tabela

1), os quais foram referenciados ao nível zero do mar do IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística). Os dados foram coletados por saídas de campo realizadas

a cada dois meses (bimestral) iniciados em junho de 2011 até junho de 2013 (exceto

para dezembro de 2011 quando não foi feito o levantamento dos perfis), realizando

assim uma série temporal de 2 anos. Os dados préviamente coletados estão

contidos no banco de dados do Laboratório de Oceanografia Geológica (LOG) do

Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar) da Universidade do

Vale do Itajaí (UNIVALI).

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

14

Tabela 1: Relação dos meses e números de perfis levantados, ao final a contagem dos mesmos.

Mês Perfis coletados

jun/11 23

ago/11 23

out/11 23

fev/12 23

abr/12 19

jun/12 23

ago/12 23

out/12 23

dez/12 23

fev/13 23

abr/13 23

jun/13 21

12 270

Na praia do Grant foram realizados 3 perfis (01G a 03G) com espaçamento

de 250 metros entre eles, na praia do Sol 5 perfis (04S a 08S) com espaçamento de

275 metros e na praia do Tabuleiro 15 perfis (09T a 23T) com espaçamento de 310

metros. A extensão total das praias é de aproximadamente 6 quilômetros (Figura 3).

Em junho de 2011 foi realizada a implantação de referenciais de nível (RN) a

partir de um ponto conhecido que estava amarrado ao nível zero do IBGE. A

transferência ocorreu com um DGPS, da marca Trimbel®, operando no modo RTK

(Real Time Kinematic).

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

15

Figura 3: Localização dos pontos amostrais. Projeção Universal Transversa de Mercator Datum SAD-69.

Na realização dos perfis foi utilizada uma Estação Total (TOPCON® modelo

GPT-7505) (Figura 4). A vantagem deste método possibilita a obtenção de dados

muito precisos em relação aos parâmetros morfológicos (ARAUJO, 2008). Em

campo os RNs eram utilizados para servir de ponto inicial do perfil, mas também

para realizar a bissecção que serve para atribuir a Estação Total um ponto com

X,Y,Z. Necessita 2 RNs para realizar a bissecção, pois é a partir do ângulo entre

esses pontos conhecido que a Estação Total encontra o ponto sobre qual ela está

situada. A Estação Total coleta pontos de topografia com um laser que é refletido

por um prisma ótico que fica no topo de um bastão regulável, e durante a realização

do caminhamento do perfil utilizava-se 3 balizas para manter o perfil em linha reta.

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

16

Figura 4: A imagem (A) mostra a realização de um perfil praial. Na (B), Estação Total sendo manuseada. Autor: Raul Botega

5.1.2 Tratamento dos dados

O processamento dos dados foi realizado em ambiente Excel®. No inicio de

cada perfil é coletado um ponto no RN para que depois possa ser comparado com o

seu respectivo RN verdadeiro e servir de correção dos dados. É calculado a

distância do perfil em relação a seu RN, utilizando equações trigonométricas, o

cálculo da distância se dá a partir da seguinte equação:

√( ) ( ) (1)

Onde, Xn e Yn representam as coordenadas, respectivamente, de um ponto

lido qual querer. XRN e YRN são os valores de latitude e longitude do RN do perfil

onde foi coletado o ponto “n”.

5.1.3 Cálculo dos parâmetros

Após o tratamento e a conversão dos dados gerados pela estação, estes

foram inseridos no software BMAP – Beach Morphology Analysis Package (USACE,

1995) para interpolação das cotas e distâncias horizontais a cada 0,5 metros ao

longo do perfil praial. A interpolação foi realizada até a cota de -0,5 metros (posição

de contorno dos perfis). O BMAP calcula o volume e largura de cada perfil através

do método das integrais definidas (equação 2).

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

17

(2)

A largura do perfil corresponde à distância entre o inicio do perfil (x1) e a cota

de contorno (-0,5 metros) (x2). Optou-se por essa região de contorno, pois, dessa

forma poderia representar o máximo possível do perfil praial. A altura do perfil (y) é

utilizada para o cálculo do volume, este se refere à área da seção transversal do

perfil. Para que o volume seja expresso em m³/m é multiplicado pela unidade de 1

metro de largura lateral do perfil, logo se estima que meio metro para cada lado do

perfil não esteja ocorrendo mudanças significativas do volume.

A declividade da face da praia foi calculada, de forma indireta, através da

fórmula do arco tangente. Utilizando três pontos da face praial, o ponto do meio seria

o correspondente de onde foi registrada a zona de espraiamento média (visualizada

durante o levantamento de cada perfil). A altura e a distância foram utilizadas para

formar um cateto oposto e cateto adjacente, respectivamente (Figura 5). Dessa

forma, se obteve a hipotenusa de um triângulo e então calculado o arco tangente

(equação 3) para obter o ângulo.

(

) (3)

Figura 5: Esquema do cálculo realizado para a declividade da face praial.

5.2 Sedimentologia

O perfil sedimentar das praias desse estudo foi determinado através de

análises dos parâmetros estatísticos. As amostras foram coletadas em junho de

2011 nos mesmos pontos onde foram realizados os levantamentos topográficos. A

coleta foi composta de 69 amostras nos 23 perfis, sendo estas coletadas nos

primeiros 20 cm de profundidade nas regiões de pós-praia, face praial e praia média

de cada perfil. O processamento das amostras em laboratório se deu segundo o

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

18

método descrito por Suguio (1973), porém não foram retirados os carbonatos. As

amostragens foram submetidas a lavagens para retirada dos sais solúveis e

posteriormente secas em estufa. Após esse processo as amostras foram peneiradas

com tamanho de malha em intervalos de ½ fi e então pesadas em uma balança

analítica.

O tratamento dos dados e o cálculo dos parâmetros estatísticos das amostras

foram conduzidos utilizando-se o software SIGA (Sistema Gerenciador de Amostras

Sedimentológicas) (MALLET; DAZZI, 2002) desenvolvido na Universidade do Vale

do Itajaí.

5.3 Normalização

A normalização foi utilizada com a intenção de visualizar o quanto um

determinado dado se afastou da média. Para a realização da normalização foi

utilizado à equação (4):

(4)

Em que representa a média dos dados, seria o dado e é o desvio

padrão. O resultado, então, é o dado normalizado .

5.4 Análise estatística multivariada

Após a obtenção dos parâmetros morfológicos e sedimentares foram

utilizadas as análises fatoriais com método de componentes principais (ACP),

utilizando o software Statistica (STATSOFT, 2013) para gerar os resultados.

As análises foram aplicadas nos modos Q e R de forma a ser identificada a

inter-relação entre os perfis praiais (modo Q) e a inter-relação entre as variáveis

(modo R) com a utilização da distância euclidiana. Dessa forma foram vistas as

variações morfológicas espaço-temporais tanto pelas variações dos perfis quanto as

variações das variáveis analisadas.

A ACP tem objetivo de encontrar os fatores principais que causaram as

variações nos dados analisados, onde geralmente tem-se um fator que é

responsável pela maioria da variabilidade total. Entretanto, levam-se em conta os

primeiros 2-4 fatores, pois estes são os que vão explicar de forma conjunta a maior

variabilidade presente em toda a análise. Podendo assim, caracterizar variações

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

19

morfodinâmicas dos perfis praias ou de suas variáveis (SOUZA, 2004; VIEIRA et al.,

2008).

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Apêndice contém os perfis praiais coletados e seus parâmetros calculados.

6.1 Morfologia

Utilizando os dados sedimentares e da declividade da face da praia do

levantamento de junho de 2011, as praias foram classificadas conforme

métodos proposto por Klein e Menezes (2001) (Figura 6). Essa classificação

consiste na relação entre a granulometria da face da praia e a declividade do

local, para que possa ser identificado o estado morfológico dessa praia.

Segundo Klein et al. (2005) quanto maior a granulometria do sedimento na

face praial, maior será sua declividade. Outro aspecto importante (nessa

classificação) é a exposição das praias a ondas de alta energia, as quais

serão consideradas do quadrante Sul.

Figura 6: Gráfico mostra a relação entre a granulometria média e da declividade da face praial com os dados de junho de 2011. Foram utilizados os valores máximo e mínimo da granulometria e declividade da face da praia, para que assim pudesse abranger toda a variação dos dados.

Conforme a Figura 6, a praia do Tabuleiro e do Sol foram caracterizadas

como intermediária de areia média, porém o Tabuleiro teve perfis com

características reflectivas ao longo dos levantamentos. Essas duas praias são

expostas para as ondas do quadrante Sul, tendo assim resultados similares aos de

Klein e Menezes (2001), Klein et al. (2005) e Klein et al. (2010). Contudo, Silveira et

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Dia

metr

o d

o g

rão

(m

m)

declividade da face da praia (°)

Classificação das Praias

Grant Sol Tabuleiro

Dissipativa Intermediária Reflectiva

Areia Grossa

Areia Média

Areia Fina

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

20

al. (2011) utilizou imagens de satélites para classificar praias do litoral catarinense e

caracterizou todas as praias do presente estudo como sendo do estágio reflectivo.

A ilha das Canas (Figura 7) localizada a 500 metros da parte sul da praia do

Grant promove um local abrigado para os perfis 01G e 02G, contudo isso só

acontece para ondas do quadrante leste e sudeste. Quando ondas do quadrante sul

atingem a praia elas são barradas pela ilha, indicado pela Figura 8, de forma que

não atingem o perfil 02G e 03G (meio e Norte da praia), sendo assim apenas a parte

sul sofre por ondulações maiores. Entretanto, mesmo as ondas vindas de sul são, de

certa forma, dissipadas pelos bancos arenosos e/ou rochas presentes nas

adjacências da ilha. Por isso a praia do Grant foi considerada como semi-abrigada.

Utilizando a classificação de praias proposta por Klein e Menezes (2001) essa praia

foi caracterizada como sendo do estado dissipativo e semi-exposta as ondas do

quadrante sul.

Figura 7: Ilha das Canas próxima ao perfil 01G no Sul da praia do Grant. É possível notar a presença de barcos atracados na zona de sombra provocada pela ilha. Autor: Raul Botega.

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

21

Figura 8: Modelagem da região da enseada do Itapocorói, Santa Catarina, modificada de Olpe (2012). O caso representa uma ocasião de ondulação proveniente de Sul-Sudeste (SSE) em caso de tempestade, altura significativa de onda (Hs) = 3,44 m; período de onda (Tp) = 14 s.

O volume e a largura da praia do Sol e do Tabuleiro têm semelhanças

quantitativas além de que eles tendem a aumentar para norte (Figura 9). Já a praia

do Grant, o volume foi menor do que a largura. De acordo com Calliari et al. (2003)

praias dissipativas contêm a maior parte do seu volume sedimentar na zona

submarina da praia, enquanto praias intermediárias e reflectivas tendem a ter seu

depósito maior na região subaérea.

Todos os perfis do estudo tiveram grande variabilidade do volume e da

largura. A média de variabilidade da praia do Grant foi de 27% para o volume e 14%

para a largura, para a praia do Sol foi de 15% para volume e largura e a praia do

Tabuleiro variou em média 18% o volume e 14% a largura. A Figura 9 mostra o perfil

03G (praia do Grant) como sendo a de maior variabilidade, mas como pode ser

observado, este perfil tem pequenos volume e largura (média de 24 [m³/m] e 28 [m],

respectivamente). Do contrario, o perfil 23T (praia do Tabuleiro) sendo o segundo

perfil que mais variou, tem relativamente grandes quantidades de volume e largura

(média de 67 [m³/m] e 50 [m], respectivamente), mostrando uma grande

movimentação sedimentar.

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

22

Figura 9: Volume e largura médio calculado para cada perfil com seus respectivos desvios padrão. Os coeficientes de variabilidade dos volumes e larguras foram calculados através da razão entre o desvio padrão e a média para cada perfil.

6.1.2 Praia do Grant

Esta praia foi caracterizada por uma baixa declividade da face da praia com

média de 3,1° (com mínimo de 1,7° e máximo de 5°). Seu volume e largura médios

foram de 40,0 (m³/m) e 50,0(m) (desvio padrão de 16,0 [m³/m] e 17,5 [m],

respectivamente). Apresentaram também, médias de volume menor do que a

largura, indicando que o seu reservatório maior de sedimento encontra-se na porção

subaquática do perfil. As características morfológicas desta praia foram agrupadas

0

20

40

60

80

100

120

01

G

02

G

03

G

04

S

05

S

06

S

07

S

08

S

09

T

10

T

11

T

12

T

13

T

14

T

15

T

16

T

17

T

18

T

19

T

20

T

21

T

22

T

23

T

vo

lum

e (

m³/

m)

larg

ura

(m

)

perfis

Volume e Largura médios dos Perfis

Volume Largura

Sol Tabuleiro

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

vari

ab

ilid

ad

e (

%)

perfis

Variabilidade dos Perfis

Volume Largura

Grant Sol Tabuleiro

Grant

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

23

na Figura 10, na mesma pode ser visto que a largura e o volume decrescem para o

Norte. Durante o monitoramento dos perfis não foi visualizada a presença de bancos

sedimentares subaquáticos e cúspides na face da praia.

Figura 10: Características morfológicas dos perfis (01G – 03G) da praia do Grant. A imagem de fev - 12 foi retirada em sentido Sul – Norte e as outras duas foram Norte – Sul. É possível visualizar que em Jun – 12 o sedimento retorna ao perfil. Autor: Raul Botega

A Figura 11 mostra eventos de rotação praial, pois o perfil ao Sul 01G tem

uma variação do volume sedimentar cíclica e oposta a variação do perfil 03G ao

Norte. Conforme Short (1999) um dos efeitos da rotação praial seria o acúmulo

diferencial do sedimento nas extremidades da praia, sendo que Klein et al. (2005)

Perfil 01G

Perfil 03G

Perfil 03G

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

24

mostra que rotação praial de curta duração (1 ano) não necessariamente tem a

mesma escala de magnitude. Contudo, o pacote sedimentar do perfil 03G é pequeno

(22,6 m³/m) e isto faz com que esse perfil não ultrapasse o volume de sedimento do

perfil 01G. O pequeno depósito pode ser causado pela predominância de uma

corrente longitudinal e/ou pelo grande volume sedimentar contido no perfil 01G, o

que faz com que esse local atinja com mais facilidade o equilíbrio em relação a uma

certa ondulação que modifique sua morfologia. De acordo com Short (2006) praias

dissipativas causam a dissipação da energia de ondas resultando em uma maior

estabilidade da morfologia praial, fazendo com que a praia possa atingir rapidamente

seu equilíbrio com a mudança de energia e direção de ondas.

Outra característica do perfil 03G foi que entre os levantamentos de outubro

até abril o volume sedimentar da porção subaérea era tão pequeno que chegava a

expor as rochas soterradas pelo sedimento e ocorreu mais de uma vez a total

remoção do sedimento dessa região (a Figura 12 mostra imagens do perfil 03G).

Mas, devido ao seu caráter cíclico, o sedimento retornou ao perfil como ocorreu em

junho de 2011, junho/agosto de 2012 e junho de 2013. O local para onde esse

sedimento é transportado é possivelmente para o Sul da praia onde localiza-se o

perfil 01G, pois como é indicado na Figura 11 o perfil ao Norte perde sedimento e ao

mesmo tempo o perfil ao Sul ganha.

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

25

Figura 11: Gráfico do volume sedimentar dos perfis 01G e 03G e do volume normalizado, ao longo do monitoramento. É possível notar que quando o volume do perfil 01 aumenta o volume do perfil 03G diminui e o contrário também acontece.

Conforme a Figura 12 em fevereiro e abril de 2012 grande quantidade de

rochas estão expostas e em junho de 2012 os sedimentos as recobrem. Em

dezembro de 2012 volta a iniciar novamente o processo de exposição das rochas.

Em fevereiro e abril de 2013 o embasamento está completamente exposto, e em

junho de 2013 o sedimento retorna.

-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

2.5

Comparativo dos volumes normalizados

01G (Sul) 03G (Norte)

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

Volumes (m³/m) coletados na praia do Grant

01G (Sul) 03G (Norte)

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

26

Figura 12: Imagens do perfil 03G na praia do Grant mostrando a evolução sazonal do pacote sedimentar. No circulo vermelho está uma rocha marcada como referencial. Autor: Raul Botega.

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

27

6.1.3 Praia do Sol

Durante o monitoramento dos perfis essa praia conteve médias de volume e

largura de 50,0 (m³/m) e 37,0 (m) (desvio padrão de 14,5 (m³/m) e 9,0 (m),

respectivamente). A declividade média da face praial foi de 8,0° sendo que o mínimo

coletado foi de 4,0° ao Sul (perfil 04S) e o máximo de 13,0° no meio da praia (perfil

06S). A praia do Sol conteve significativas diferenças da praia do Grant, a Figura 13

mostra as características morfológicas da Praia do Sol.

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

28

Figura 13: Características morfológicas da praia do Sol (perfis 04S – 08S). As imagens mostram a presença de cúspides, casas delimitando o pós-praia e um curto perfil praial. Na imagem do perfil 04S (visão Sul – Norte da praia) é possível ver presença de pouca vegetação com perfil íngreme e pequeno. Autor: Raul Botega.

Grande parte do limite do pós-praia é composto por casas. Inicialmente

achava-se que isso seria um fator de rebaixamento do perfil praial, pois segundo

Kraus e Galgano (2001) estruturas rígidas delimitando a praia tendem a aumentar o

potencial erosivo, de forma com que a retirada de sedimento rebaixe o perfil praial.

Entretanto, a praia do Sol manteve-se em equilíbrio dinâmico (balanço sedimentar

Perfil 06S

Perfil 05S

Perfil 04S

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

29

nulo) o que fez com que as construções não amplificassem significativamente algum

processo erosivo. O que de fato ocorreu foi que ondas que alcançavam o final do

pós-praia, possivelmente em eventos de tempestade, causaram danos, erosão de

terreno e quedas de algumas estruturas (normalmente de acesso a praia) como

pode ser visto na Figura 14.

Figura 14: Fotografias da praia do Sol mostrando as casas delimitando o pós-praia, tentativas de proteger-se da erosão e muro desmoronado que ocorrem no meio da praia. Autor: Raul Botega.

Analisando a série temporal dos volumes dos perfis do Sul e Norte dessa

praia (Figura 15), não foi possível identificar algum processo de rotação praial. Pois,

o perfil 08S (Norte) não apresentou algum padrão de ciclo do sedimento sendo que

apenas em outubro de 2012 seu volume sedimentar teve um incremento, e após

isso houve a diminuição constante do volume do perfil. Já o perfil 04S (Sul) teve

certo ciclo sedimentar, mostrando que em agosto de 2011 e 2012 atingiu seu volume

máximo e após esses mês iniciou processo de perda de sedimento. Nesse perfil

ocorre deposição de sedimento no inverno e, no verão, a retirada do mesmo, exceto

para o mês de junho de 2013 que ocorreu um baixo volume.

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

30

Figura 15: Gráfico do volume sedimentar dos perfis 04S e 08S e do volume normalizado, ao longo do monitoramento.

6.1.4 Praia do Tabuleiro

Esta praia é a que contém o maior número de perfis (15) e a maior dinâmica

sedimentar, o que é possivelmente causado pela exposição e tamanho de praia (4,5

km de extensão). Seu volume e largura médios ao longo do monitoramento foram de

72,0 (m³/m) e 45,0 (m) com desvio padrão de 16,5 (m³/m) e 9,0 (m),

respectivamente. Sua declividade média da face praial é de 8,3° com máximo

registrado de 14,4 (perfil 20T) e mínimo de 4,2° (perfil 22T).

Apresenta, também, um volume com escala maior do que a largura,

mostrando seu grande depósito sedimentar subaéreo. Ao longo dos levantamentos

foram vistos com frequência cúspides e bancos de areia subaquático, indicados pela

-2.5

-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

2.5Comparativo dos volumes normalizados

04S (Sul) 08S (Norte)

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

Volumes (m³/m) coletados na praia do Sol

04S (Sul) 08S (Norte)

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

31

quebra de onda. Conteve a presença de correntes, tanto longitudinal como

transversal, fortes e com cava. Normalmente o final do pós-praia apresentava um

cordão arenoso vegetado (chegando a quase 8 metros acima da cota de zero

metro), porém partes do extremo sul da praia tinham casas delimitando essa zona.

Figura 16: Características morfológicas da Praia do Tabuleiro (perfis 09T – 23T). Autor: Raul Botega.

Perfil 10T

Perfil 16T

Perfil 19T

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

32

Pelos estudos de Araujo (2008), a Praia de Piçarras mostra que a parte

exposta tem características morfológicas semelhantes à praia do Tabuleiro.

Conforme o autor, a grande variação volumétrica do perfil é causada pela exposição

às ondas incidentes do quadrante sul.

O perfil 23T teve a segunda maior variação ao longo do monitoramento.

Utilizando a Figura 17 é possível visualizar um ciclo sedimentar, sendo que de junho

para agosto de 2011 houve pouca perda do sedimento. De fevereiro para abril de

2012 ocorreu ganho sedimentar e após junho desse ano uma grande perda

sedimentar (-56% do volume, equivalente a 55 m³/m). Essa remoção sedimentar fez

com que esse perfil ficasse com baixos volumes e larguras nos próximos 4

levantamentos. Quando ele perdeu a grande quantidade de volume, não diminuiu

tanto a sua largura indicando que o sedimento foi levado para a porção subaquática,

assim tendo características dissipativas. Isso não foi confirmado por uma declividade

mais suave nesses 4 levantamentos, pois teve média de 8,0°. Em abril de 2013

voltou a ter aumento no volume e largura. E em junho de 2013 voltou a sofrer

grandes perdas sedimentares (-59% do volume, equivalente a 55 m³/m).

Figura 17: Gráfico do volume (m³/m) e largura (m) ao longo do monitoramento do perfil 23T.

Araujo (2008) relatou que a parte exposta de Piçarras sofreu um grande

aumento sedimentar em agosto de 2007, mostrando que alguma etapa do

outono/inverno esses perfis expostos tendem a ganhar sedimento. Já no caso do

perfil 23T isso geralmente ocorre em abril (outono).

Uma das causas da grande variação sedimentar (do perfil 23T) é

possivelmente a presença de um costão rochoso (Figura 18). Segundo Kraus e

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

120.0perfil 23T

volume (m³/m) largura (m)

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

33

Galano (2001), próximo a estruturas rígidas em praias expostas tendem a

desenvolver correntes de retorno muito fortes com alta capacidade de transporte

sedimentar.

Figura 18: Imagens do local do perfil 23T no mês de outubro de 2012, na imagem (A) visão sul-norte e na (B) norte-sul. Autor: Raul Botega.

Comparando-se o perfil 23T (norte) com o 09T (sul), Figura 19, é possível

notar um padrão cíclico do sedimento para ambos. Contudo, em vários momentos os

volumes estão fora de fase, enquanto um está com baixos valores de sedimento

outro está alto e vice versa. Isso ocorreu em junho de 2012, dezembro de 2012 e

abril de 2013.

Não foi observada uma clara relação à com rotação praial, tanto que Klein et

al. (2010) relata que é difícil de se identificar esse tipo de processo em praias de

estado intermediário e expostas (retilínea). Ojeda e Guillén (2008) atribuem às

ondas de tempestades, chegando obliquamente à praia, às mudanças mais abruptas

nos perfis e no processo de rotação praial. Sendo assim, os eventos que atingem a

praia são mais susceptíveis de causar mudanças em comum em toda a praia. E nas

épocas em que os volumes dos perfis estavam fora de fase, ondas de tempestades

que atingiram as partes superiores e inferiores das praias de diferentes formas foram

possivelmente a forçante que causou relações inversas na variável.

É importante notar que em 2013 os eventos de perda sedimentar ocorreram

um mês antes do ano anterior para ambos os perfis. Novamente o perfil 23T perdeu

55 m³/m (em 2013), já o perfis 09T não sofreu o evento de mesma magnitude. Isso

pode indicar que o processo erosivo desse ano ocorreu mais cedo, ou que podem

ocorrer outros. Durante o monitoramento não foram verificados muitos perfis que

tiveram mais do que um grande evento erosivo em um ano.

A

B

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

34

Figura 19: Gráfico dos volumes sedimentares dos perfis 09T e 23T e dos volumes normalizado, ao longo do monitoramento. Dado de junho de 2013 não foi coletado para o perfil 09T.

6.2 Análise das componentes principais

A ACP foi utilizada como uma ferramenta para integrar os resultados já

apresentados, de forma a identificar os principais padrões e eventos nos sistemas

praiais. Essa parte do estudo foi separada em duas partes: Análise espacial

(utilizando dados de junho de 2011) e espaço-temporal (utilizando dados de junho

de 2011 até junho de 2013). Ao analisar as variações temporais em todos os perfis é

importante levar em conta as mudanças que ocorrem espacialmente, por isso

decidiu-se trabalhar com espaço-tempo.

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

Comparativo dos volumes normalizados

09T (Sul) 23T (Norte)

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

Volumes (m³/m) coletados na praia do Grant

09T (Sul) 23T (Norte)

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

35

Albernaz (2010) sugere realizar uma análise de correlação entre as variáveis

de volume e largura. Em caso de existir alguma correlação, deve usar no estudo o

volume, pois este tende a mostrar melhor as variações morfológicas do perfil. Dean

e Dalymple (2004) afirmam que o parâmetro volume demonstra melhor as mudanças

no estoque sedimentar da praia, em comparação com a largura. No entanto, ao

realizar a correlação entre essas variáveis não resultou em uma correlação

significativa, de forma que serão utilizadas ambas no estudo.

6.2.1 Análise espacial

Para essa análise foi considerada a granulometria, entretanto só foi

amostrada em junho de 2011. Dessa forma só serão utilizados os dados de volume

(m³/m), largura (m), declividade (°) e granulometria (fi | mm) para esse período. Foi

decidido trabalhar com a granulometria do pós-praia e da face da praia, pois estes

poderiam mostrar uma melhor relação com os outros parâmetros.

A escolha dos fatores se deu por base na Figura 20, que mostrou 2 fatores

explicando 84,90% (fator 1 59,86% e fator 2 com 25,04%) das variações nos dados.

Utilizando os critérios de seleção de fatores (item 4.7.1) escolheram-se os dois

primeiros fatores (84,90% de explicabilidade).

Figura 20: Gráfico Scree Plot com informações dos fatores.

Autovalores da matriz de correlação

59.86%

25.04%

6.66% 5.35%3.09%

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

Número de fatores

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

Eig

envalu

e

59.86%

25.04%

6.66% 5.35%3.09%

O fator 1 foi formado pela variação da declividade da face da praia (°)

(coordenadas positivas) com a granulometria (fi) (coordenadas negativas) tanto do

Page 46: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

36

pós-praia quanto da face praial (Figura 21). Foi realizada uma análise somente com

a granulometria da face da praia e o resultado foi o mesmo, pois então se decidiu

“deixar” a granulometria do pós-praia. A interação das variáveis do primeiro fator

mostrou que a declividade é inversamente proporcional à variação da granulometria

em fi, ou seja, quanto maior a granulometria da areia maior será sua declividade.

Quanto ao fator 2, esse foi formado pela variação da largura e do volume,

porém o primeiro teve mais atuação (Tabela 2). Essas duas variáveis não mostraram

relação de acordo com a Figura 21, pois estão próximas a um ângulo de 90°.

Tabela 2: Valores dos escores das variáveis nos fatores 1 e 2. “FACE e POS” referem-se ao diâmetro médio (fi) da face praial e pós-praia, respectivamente.

Variáveis Fator 1 Fator 2

Volume 0,606375 -0,705001

Largura -0,430665 -0,836273

declividade face 0,917347 0,174927

FACE diâmetro médio (fi) -0,878640 0,151408

POS diâmetro médio (fi) -0,909021 -0,043900

Figura 21: Gráfico dos escores da ACP dos fatores 1 x 2.

Projeção das variáveis (fator 1 x fator 2)

volume

largura

POS (fi)

FACE (fi) declividade face

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

Fator 1 : 59.86%

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

Fato

r 2 :

25.0

4%

volume

largura

POS (fi)

FACE (fi) declividade face

A composição do fator 1 esteve mais relacionada às variações da

granulometria e declividade dos perfis da Praia do Grant (perfis 1-3), como mostra a

Tabela 3. Mas também mostrou uma grande contribuição do perfil 12 pertencente à

Praia do Tabuleiro. Já o fator 2 esteve presente apenas nos perfis das praia do Sol e

do Tabuleiro (Tabela 3). A Figura 22 mostra que perfis do norte e do sul

Page 47: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

37

apresentaram variação oposta da largura, sendo que o sul com menores larguras e

o norte maiores larguras (isto pode ser visto pela disposição dos perfis em relação a

plotagem dos escores dos fatores na Figura 21).

Tabela 3: Contribuição dos casos (perfis) para cada fator, foram colocados apenas os perfis que tiveram contribuição acima de 4 para algum dos dois fatores.

variáveis Fator 1 Fator 2

1 40,08602 1,52660

2 15,27951 0,11233

3 16,08184 0,36802

4 1,38605 5,63279

5 0,16514 11,83532

8 0,00653 4,25226

10 0,12140 6,69538

12 12,74107 8,91413

13 2,88962 12,68669

14 0,41495 6,65804

22 0,01941 14,16120

23 0,21636 20,70398

Figura 22: Gráfico da projeção dos casos. Em verde os perfis que tiveram interação maior com o primeiro fator e em azul os perfis que interagiram mais com o segundo fator. O perfil 12 contribuiu para o fator 2, mas ele esteve presente mais no fator 1.

Projeção dos casos ( Fator 1 x Fator 2)

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

1617

1819

2021

22

23

-6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4

Fator 1: 59.86%

-3

-2

-1

0

1

2

Fato

r 2:

25.0

4%

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

1617

1819

2021

22

23

6.2.1.1 Fator 1

A Figura 23 mostra que o fator 1 é a variação do estado morfológico do perfil

praial entre as praias. E o perfil 12T evidencia que o estado morfológico é mais

controlado pela granulometria do que a declividade, visto que esse perfil tem

declividade igual a outros do Tabuleiro (como o 13T e 19T). Isso pode ser visto

Page 48: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

38

também nos perfis do Grant, pois são muito destacados tanto na ACP quanto no

gráfico de classificação dos perfis.

O fator 1 foi caracterizado pelo estado morfológico do perfil provocado pela

interação da granulometria com a declividade da face praial. O perfil 12T classificado

como reflectivo e os perfis do Grant foram classificados como dissipativo com

tendências intermediárias.

Klein e Menezes (2001) mostram que o estado morfodinâmico de uma praia

está ligado a interação da granulometria com a declividade. Klein et al. (2005)

relaciona a granulometria como sendo a variável mais significativa na variação

morfológica das praias do litoral centro-norte catarinense, relacionando este como

sendo o controlador da declividade da face praial. De Luca (2009) indica que a

variação dos tipos de praia do litoral centro-norte de Santa Catarina variam conforme

a granulometria dessas.

Figura 23: Gráfico da relação entre a granulometria (mm) e da declividade da face da praia de cada perfil. Quadrados verdes apontam os perfis que mais interagiram com o fator 1.

6.2.1.2 Fator 2

A largura foi a que mais contribuiu para a explicação do fator 2, sendo assim

foi feito um gráfico com a largura normalizada da praia do Sol e a praia do Tabuleiro

para poder visualizar a variação espacial provocada na largura pelo fator 2 (Figura

24). Conforme a Figura 24 é possível ver que em ambas as praias a largura nos

perfis da extremidade norte (8S, 22T, 23T) são maiores do que os do sul (04S, 05S,

09T, 10T). Os perfis 11T e 12T ficaram próximos a média, porém o padrão geral das

duas praias é visível.

01G 02G 03G

04S 05S

06S 07S

08S

09T

10T

11T

12T

13T

14T 15T 16T

17T 18T 19T 0.39 21T

22T

0.45

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Dia

metr

o d

o g

rão

(m

m)

declividade da face da praia (°)

Classificação dos Perfis

perfis do Grant perfis do Sol perfis do Tabuleiro

Dissipativo Intermediário Reflectivo

Areia grossa

Areia média

Areia fina

Page 49: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

39

Segundo Araújo et al. (2003) a ondulação de sul e sudeste (Hs de 1,5 – 2,0

m; Tp de 12 s) prevalecem no inverno, com a contribuição mais frequente de ondas

de tempestade. O resultado dos autores para outono foi parecido, mas ondas de

tempestades não foram tão frequentes. Segundo CEM (2002) correntes longitudinais

à linha de costa são formadas por ondas chegando obliquamente à mesma, sendo

que elas estão entre as forçantes que mais causam alterações morfológicas nesses

ambientes.

A orientação da linha de costa da praia do Sol é sul-sudeste / norte-noroeste,

e a praia do Tabuleiro é sul-sudoeste / norte-nordeste. Dessa forma ondas vindas do

quadrante sul chegariam obliquamente à linha de costa formando correntes

longitudinais. Short (1999) explica que correntes longitudinais têm grande potencial

de transporte e tendem a criar padrões de acumulação e erosão sedimentar em

extremidades opostas nas praias. Então, o padrão de largura maior do perfil nas

partes norte das praias como se vê na Figura 24 (junho de 2011) foi aparentemente

formada por correntes longitudinais originadas provenientes de ondas do quadrante

sul. Por isso o fator 2 foi caracterizado como sendo correntes longitudinais.

Lembrando que essa análise se refere as correntes longitudinais de junho, sendo

assim, para junho, a corrente dominante foi para norte, contudo em diferentes

épocas é possível observar outros padrões que serão discutidos posteriormente e

por isso se optou por escolher o fator 1 como sendo correntes longitudinais.

Page 50: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

40

Figura 24: Gráfico da largura normalizada da Praia do Sol e do Tabuleiro

O possível motivo pelo qual a largura foi apontada como sendo a variável que

mais foi influenciada por esse fator foi porque as praias intermediárias tendem a

acumular grandes volumes subaéreos (DEAN; DALRYMPLE, 2004). A profundidade

de contorno dos perfis foi de -0,5 (m), isso fazia com que se amostrasse parte da

zona de surf. Com já foi dito, praias intermediárias têm seu maior estoque

sedimentar na zona subaérea. Além disso, um incremento de alguns metros na zona

de surf não causa um aumento sedimentar (volumétrico) significativo para o estoque

todo, porém causa diferença para a largura de praia de um perfil intermediário que

não tem muitos metros de largura.

6.2.2 Análise espaço-temporal

Essa análise utilizou 3 variáveis de 270 perfis (casos), volume (m³/m), largura

(m) e declividade da face da praia (°). Contendo dados de junho de 2011 a junho de

2013. Foi então, inserido o número do levantamento de cada caso para tentar

encontrar as variações temporais dos perfis (Tabela 4).

Tabela 4: Data por número de levantamento.

Data Levantamento

jun/11 1

ago/11 2

out/11 3

fev/12 4

abr/12 5

jun/12 6

ago/12 7

-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

04S 05S 06S 07S 08S 09T 10T 11T 12T 13T 14T 15T 16T 17T 18T 19T 20T 21T 22T 23T

perfil

Largura normalizada

Sol Tabuleiro

Page 51: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

41

out/12 8

dez/12 9

fev/13 10

abr/13 11

jun/13 12

Os resultados geraram 3 fatores como pode ser visto na Figura 25. O fator 1

obteve 51,9% da variância dos dados, o fator 2, 39,8% e o fator 3, 8,3%. Com 2

fatores a análise conseguiu explicar 91,7% da variação dos dados. Foram

considerados apenas os fatores 1 e 2 na análise.

Figura 25: Gráfico Scree Plot com informações dos fatores.

Autovalores da matriz de correlação

51.91%

39.79%

8.30%

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

Número de fatores

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

Auto

valo

res

51.91%

39.79%

8.30%

A Figura 26 mostra que o fator 1, atuou diretamente sobre a variação da

largura (Tabela 5). Como também pode ser visto, esse parâmetro está praticamente

em cima do fator 1. Já o fator 2 teve a declividade como variável mais influenciada.

O volume contribuiu para ambos os fatores, porém os outros parâmetros tiveram

atuação mais acentuada sobre eles.

Tabela 5: Valores dos escores das variáveis nos fatores 1 e 2.

Variáveis Fator 1 Fator 2

volume 0,744957 0,599827

largura 0,936278 0,135409

declividade da face 0,354409 0,903094

Figura 26: Gráfico dos escores da ACP dos fatores 1 x 2.

Page 52: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

42

Projeção das v ariáv eis (f ator 1 x f ator 2)

v olume

largura

decliv idade f ace

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

Fator 1 : 51.91%

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

Fato

r 2 :

39.7

9%

v olume

largura

decliv idade f ace

Por causa da grande quantidade de casos fica difícil identificar padrões a

partir da Figura 27, portanto na Figura 28 retiraram-se todos os casos que não

tiveram grandes influencia sobre algum fator. É possível ver que no fator 1 os perfis

que tiveram maiores larguras estão nas coordenadas positivas. Os escores acima de

2 são todos pertencentes à extremidade acumuladora de suas praias (Tabela 6), já

os que estão em extremidades erosivas aparecem nos escores abaixo de -2.

Indicando assim que esses locais opostos sempre mostraram larguras divergentes.

Figura 27: Gráfico de projeção dos casos (perfis), para toda a série temporal.

Projeção dos casos (fator 1 x fator 2)

01G1

02G1

03G1

04S1

05S1

06S1

07S1

08S1

09T1

10T1

11T1

12T1

13T114T1

15T1

16T1

17T1

18T119T1

20T1

21T1

22T1

23T1

01G2

02G2

03G2

04S2

05S2

06S2

07S2

08S2

09T2

10T2

11T2

12T2

13T2 14T2 15T2

16T2

17T2

18T2

19T2

20T221T2

22T2

23T2

01G3

02G303G3

04S3

05S3

06S3

07S3

08S3

09T3

10T3

11T3

12T313T3

14T3

15T3

16T3

17T3

18T3

19T3

20T3

21T3

22T3

23T3

01G4

02G4

03G4

04S4

05S4 06S4

07S4

08S4

09T4

10T4

11T4

12T4

13T4

14T4

15T4

16T4

17T4

18T419T4

20T4

21T4

22T4

23T4

01G502G5

03G5

04S5

05S5

06S5

07S5

08S5

09T5

10T5

15T5

16T517T5

18T5

19T5

20T5

21T5

22T5

23T5

01G6

02G603G6

04S6

05S6

06S6

07S608S6

09T610T6 11T6

12T613T6

14T615T6

16T617T6

18T6

19T6

20T6

21T6

22T6

23T6

01G7

02G703G7

04S7

05S7

06S7

07S708S7

09T7

10T711T7 12T7

13T7

14T7

15T7 16T717T718T7

19T720T7

21T722T7

23T7

01G802G803G8

04S8

05S8

06S807S8

08S8

09T8

10T8

11T8

12T8

13T8

14T815T8

16T8

17T818T8

19T8

20T8

21T8

22T823T8

01G9

02G903G9

04S9

05S9

06S9

07S9

08S9

09T9

10T911T9

12T9

13T9

14T9

15T9

16T9

17T9

18T919T920T9

21T9

22T9

23T9

01G1002G1003G10

04S10

05S10 06S10

07S10

08S10

09T1010T10

11T1012T10

13T10

14T10

15T10

16T10

17T1018T10

19T10

20T10

21T10

22T1023T10

01G11

02G11

03G11

04S11

05S11

06S1107S11

08S11

09T11

10T1111T1112T11

13T1114T11

15T11

16T11

17T1118T1119T1120T11

21T11

22T11 23T11

01G12

02G12

03G12

04S12

05S12

06S12

07S12

08S12

10T12

11T12

12T1213T12

14T12

15T12

16T12

17T12

18T12

19T12

21T12

22T12

23T12

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4

Fator 1: 51.91%

-3

-2

-1

0

1

2

3

Fato

r 2:

39.7

9%

01G1

02G1

03G1

04S1

05S1

06S1

07S1

08S1

09T1

10T1

11T1

12T1

13T114T1

15T1

16T1

17T1

18T119T1

20T1

21T1

22T1

23T1

01G2

02G2

03G2

04S2

05S2

06S2

07S2

08S2

09T2

10T2

11T2

12T2

13T2 14T2 15T2

16T2

17T2

18T2

19T2

20T221T2

22T2

23T2

01G3

02G303G3

04S3

05S3

06S3

07S3

08S3

09T3

10T3

11T3

12T313T3

14T3

15T3

16T3

17T3

18T3

19T3

20T3

21T3

22T3

23T3

01G4

02G4

03G4

04S4

05S4 06S4

07S4

08S4

09T4

10T4

11T4

12T4

13T4

14T4

15T4

16T4

17T4

18T419T4

20T4

21T4

22T4

23T4

01G502G5

03G5

04S5

05S5

06S5

07S5

08S5

09T5

10T5

15T5

16T517T5

18T5

19T5

20T5

21T5

22T5

23T5

01G6

02G603G6

04S6

05S6

06S6

07S608S6

09T610T6 11T6

12T613T6

14T615T6

16T617T6

18T6

19T6

20T6

21T6

22T6

23T6

01G7

02G703G7

04S7

05S7

06S7

07S708S7

09T7

10T711T7 12T7

13T7

14T7

15T7 16T717T718T7

19T720T7

21T722T7

23T7

01G802G803G8

04S8

05S8

06S807S8

08S8

09T8

10T8

11T8

12T8

13T8

14T815T8

16T8

17T818T8

19T8

20T8

21T8

22T823T8

01G9

02G903G9

04S9

05S9

06S9

07S9

08S9

09T9

10T911T9

12T9

13T9

14T9

15T9

16T9

17T9

18T919T920T9

21T9

22T9

23T9

01G1002G1003G10

04S10

05S10 06S10

07S10

08S10

09T1010T10

11T1012T10

13T10

14T10

15T10

16T10

17T1018T10

19T10

20T10

21T10

22T1023T10

01G11

02G11

03G11

04S11

05S11

06S1107S11

08S11

09T11

10T1111T1112T11

13T1114T11

15T11

16T11

17T1118T1119T1120T11

21T11

22T11 23T11

01G12

02G12

03G12

04S12

05S12

06S12

07S12

08S12

10T12

11T12

12T1213T12

14T12

15T12

16T12

17T12

18T12

19T12

21T12

22T12

23T12

Page 53: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

43

Figura 28: Gráfico da projeção dos casos (perfis) que mais influenciaram na ACP.

Projeção dos casos (fator 1 x fator 2)

01G1

02G1

03G1

12T1

15T123T1

01G2

02G2

03G2

04S2

05S2

06S2

10T2

20T222T2

01G3

02G303G3

04S3

09T3

10T3

22T3

01G4

02G4

03G4

04S4

05S4

11T4

16T4

01G502G5

03G5

10T5

15T5

16T517T5

20T5

23T5

01G6

03G6

22T6

23T6

01G7

02G703G7

05S7

06S7

01G803G8

04S8

05S8

11T816T8

01G9

03G9

04S9

05S9

04S10

05S10

09T10

16T10

17T10

01G1103G11

05S11

09T11

16T11

23T11

02G12

03G12

04S12

15T12

16T12

18T12

19T12

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4

Fator 1: 51.91%

-3

-2

-1

0

1

2

3

Fato

r 2:

39.7

9%

01G1

02G1

03G1

12T1

15T123T1

01G2

02G2

03G2

04S2

05S2

06S2

10T2

20T222T2

01G3

02G303G3

04S3

09T3

10T3

22T3

01G4

02G4

03G4

04S4

05S4

11T4

16T4

01G502G5

03G5

10T5

15T5

16T517T5

20T5

23T5

01G6

03G6

22T6

23T6

01G7

02G703G7

05S7

06S7

01G803G8

04S8

05S8

11T816T8

01G9

03G9

04S9

05S9

04S10

05S10

09T10

16T10

17T10

01G1103G11

05S11

09T11

16T11

23T11

02G12

03G12

04S12

15T12

16T12

18T12

19T12

Tabela 6: Relação dos casos com os seus escores no fator 1 e respectivos valores de larguras medida.

Casos Factor 1 Largura (m)

01G8 3,07080 78,3

23T5 2,60078 64,5

23T6 2,60014 64,9

01G5 2,58239 72,3

23T11 2,53585 66,0

01G9 2,52684 73,0

01G4 2,45178 73,1

16T5 2,38961 65,5

16T4 2,33995 56,5

17T10 2,29618 59,3

01G10 2,28211 70,5

22T3 2,25223 59,7

05S9 -2,40461 23,4

03G11 -2,46371 22,8

05S7 -2,51571 26,4

04S3 -2,53448 22,8

05S11 -2,56767 23,5

11T4 -2,57701 29,2

03G10 -2,60255 22,1

03G8 -2,60331 20,5

03G4 -2,62315 21,5

04S10 -2,62729 21,3

03G9 -2,67907 20,8

04S9 -2,89845 20,9

Page 54: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

44

No fator 2, a Tabela 7 mostra que os perfis que tiveram altas declividade na

face praial ficaram nos escores positivos enquanto os perfis com baixa declividade

ficaram nos escores negativos. A praia do Grant foi claramente destacada dos perfis

da praia do Sol e do Tabuleiro, mostrando que suas baixas declividades da face

praial não foram alteradas. Contudo, as outras praias tiveram grande variação da

declividade.

Tabela 7: Relação dos casos com o os escores do fator com a suas respectivas declividade da face praial

Casos Factor 2 declividade ()

16T10 2,20573 10,7

09T11 2,12825 11,5

17T5 1,98352 11,5

16T12 1,96123 11

19T12 1,92491 12,9

06S7 1,86487 13,2

09T5 1,86041 10,2

20T4 1,82346 14,4

16T5 1,80552 10,2

09T3 1,80243 12,5

02G1 -2,18796 3,4

01G9 -2,19043 2

01G8 -2,20323 1,7

02G3 -2,21489 3,2

01G6 -2,23828 2,7

02G2 -2,30129 3,1

02G4 -2,36985 2,6

01G12 -2,40839 2,3

01G3 -2,48987 1,9

01G7 -2,53334 2,9

03G5 -2,73892 2,2

01G1 -2,74199 2,3

01G2 -2,77024 2,1

6.2.2.1 Fator 1

Esse fator esteve relacionado à localização média da largura de cada perfil na

cota de -0,5 (m). A forçante ambiental foi apontada como sendo o resultante das

correntes longitudinais de cada praia, isso foi visualizado pela diferença de largura

dos perfis de cada extremidade (Grant ao sul e Sol e tabuleiro ao norte). Utilizando

as larguras que mais influenciaram o fator 1 (Figura 29) é possível notar que o

padrão está relacionado com a variação máxima da largura das extremidades.

Page 55: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

45

Figura 29: Gráfico das médias normalizadas de cada levantamento, e das larguras que mais influenciaram o fator 1 da ACP.

Short e Trembanis (2004) obtiveram em seu primeiro fator a linha de costa a 0

metros em um estudo que utilizaram a largura praial. No entanto, isso não foi o que

o resultado mostrou, sendo que o atual estado deposicional das praias a -0,5 (m)

pode ser um padrão de linha de costa, mas ela foi causada por algum fator. Esse

processo causador seria então as correntes longitudinais predominantes.

Utilizando o trabalho de Alves e Melo (2001) realizado em São Francisco, foi

possível entender de onde vêm as ondas que originam as correntes resultantes.

Segundo eles, o clima de ondas foi dominado por ondulações chegando de leste e

sudeste (50% das observações) com períodos de 6 a 11 segundos e altura

significativa de 0,5 a 1,5 metros (Figura 30).

Os presentes resultados estão em acordo com as análises realizadas por

Klein et al.(2006), no qual os autores relatam que foi confirmada predominância de

uma corrente longitudinal para norte nas praias ao norte da Praia do Tabuleiro. Onde

os estudos feitos, pelos autores citados, na laguna barreira do rio Itapocú, mostrou

que a desembocadura do rio derivou em média 100 metros por ano para norte (de

1995 a 2002). O atual estudo indica, portanto, que essa corrente longitudinal para

norte tem início na Praia do Sol e ganha forças na Praia do Tabuleiro.

-3

-2

-1

0

1

2

3

perfis

Média dos perfis normalizados

larguras ACP média do largura normalizada

Grant Sol Tabuleiro

Page 56: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

46

Figura 30: Mostra o possível padrão de correntes originadas a partir da ondulação predominante de leste e sudeste proposta por Alves e Melo (2001) e indicado pelo ACP.

6.2.2.2 Fator 2

No fator 1 da análise espacial foi discutido que a declividade da face praial

teve relações diretas com a granulometria. No atual fator a declividade dominou a

variabilidade provocada por esse fator. Utilizando os dados da declividade de todos

os levantamentos para cada perfil (Figura 31), foi possível ver que existe uma clara

diferença entre os perfis do Grant para os perfis do Sol e do Tabuleiro, mostrando

que há pouca ou nenhuma troca de sedimento da praia do Grant com as outras

praias. E que a semelhança do estado morfológico e da declividade dos perfis do Sol

e do Tabuleiro indica que possivelmente ocorre passagem de sedimento entre as

duas praias. De forma geral, as Praias do Sol e do Tabuleiro aumentaram a sua

tendência reflectiva.

Page 57: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

47

Page 58: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

48

Figura 31: Boxplot da declividade da face da praia.

As declividades que mais influenciaram no fator 2 foram as máximas (acima

de 10,0°) e as mínimas (abaixo de 3,5°) de forma com que fosse mostrada a grande

diferença morfológica entre perfis com características reflectiva e os com

dissipativas. Perfis com grandes inclinações são recorrentes nas Praias do Sol e do

Tabuleiro, mostrando assim que não são necessariamente ocasionadas por eventos

de tempestades, já que não tem um padrão entre perfis adjacentes, mas é possível

que seja uma característica formada a partir do estado morfodinâmico no qual o

perfil se encontra. Porém, Araujo (2008) relata que o aumento da declividade da face

praial está relacionado a eventos de erosão momentâneos provocados por

tempestades. Contudo, Short (1999) mostra que o estado morfodinâmico está

relacionado à granulometria, e que praias intermediárias têm uma variação natural

provocada pela dinâmica do seu banco submerso. Dessa forma, foi definido que o

fator 2 foi a variação morfológica entre as Praias do Grant para as praias do Sol e do

Tabuleiro, de forma com que as mudanças da declividade da face praial de cada

perfil dessas praias (exceto a do Grant) foi atribuída a dinâmica do banco submerso.

7. CONCLUSÃO

Todas as praias do presente estudo apresentaram grande dinâmica

sedimentar com complexos sistemas costeiros, contudo nenhuma praia apresentou

déficit sedimentar.

0123456789

1011121314

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Vo

lum

e (

m³/

m)

perfis

Boxplot dos dados de decivlidade entre 2011 - 2013 Grant Sol Tabuleiro

Page 59: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

49

A Praia do Grant foi classificada como semi-exposta e dissipativa. Não

apresentou banco submerso ou cúspides. Mostrou um perfil suave com

grande largura (média de 50 m), sendo que essa aumentava na direção sul.

Comparando o volume das extremidades dessa praia, indicou o processo de

rotação praial de curta escala com padrão anual. No inverno a largura era

acima da média para o perfil do norte e no verão o mesmo acontecia para o

perfil ao sul. O ciclo sedimentar bem definido sugere que o sedimento não sai

do sistema dessa praia.

A Praia do Sol foi classificada como sendo do estado intermediário e exposta,

com presença de banco submerso e cúspides. Seus curtos perfis praiais

(média de 37 m) não protegem as casas que estão delimitando o pós-praia,

de forma que periodicamente ocorrem alguns processos de erosão dos

terrenos privados. Não apresentou rotação praial bem definida, porém existe

um ciclo sedimentar presente na praia. Ao longo do tempo apresentou

declividades acentuadas indicando características reflectivas.

A Praia do Tabuleiro foi classificada como sendo do estado intermediário e

exposta. Com presença de banco submerso e cúspides, sendo que suas

correntes têm grande intensidade. Os seus perfis apresentaram grandes

volumes, além de que a largura aumentava para norte. O cordão arenoso

presente no limite do pós-praia protege o final da praia das ondas de

tempestades. Não indicou o processo de rotação praial, sendo que as

extremidades da praia tendem a apresentar um ciclo sedimentar igual,

apenas para certos meses que estiveram fora de fase.

A ACP foi válida no presente trabalho, sendo que seus resultados foram todas

pertinentes auxiliando no estudo das variações morfológicas. Na análise espacial, 2

fatores explicaram 84,90% da variabilidade dos dados:

O fator 1 foi definido como sendo a variação do estado morfológico dos perfis

dissipativo com areia fina (0,18 mm) do Grant, para os intermediários com

areia média (0,40 mm) do Sol e dos perfis intermediários com características

reflectivas (presença de areia grossa no perfil 12T de 0,78 mm) da Praia do

Tabuleiro.

O fator 2 foi caracterizado pelas correntes longitudinais predominantes

presentes em cada praia. Isso foi apontado pelo padrão de largura do perfil

Page 60: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

50

praial desigual das extremidades de cada praia, no qual em junho de 2011

apresentou acumulação na extremidade norte da Praia do Sol e da Praia do

Tabuleiro indicando que nessas praias a corrente foi para norte.

Na análise espaço-temporal dois fatores explicaram 91,3% da variabilidade

dos dados:

Foi atribuído o fator 1 como sendo o padrão de correntes longitudinais mais

atuante de cada praia ao longo do estudo. Na Praia do Grant a corrente

derivou para sul e nas Praias do Sol e do Tabuleiro para norte. Esse padrão

foi observado a partir da largura praial desigual entre as extremidades de

cada praia.

Definiu-se o fator 2 como sendo a variação morfológica entre os perfis

dissipativo (declividade suave <3,5°) do Grant para os perfis intermediários

(declividade média) com características reflectivas (declividade acentuada

>10°) das praias do Sol e do Tabuleiro. As mudanças da declividade da face

praial de cada perfil dessas ultimas duas praias foram atribuídas às dinâmicas

dos bancos submersos.

8. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS

O monitoramento de dois anos dos perfis praiais foi útil, pois possibilitou ver o

ciclo sedimentar de perfis que tem grandes variações dos parâmetros. E em caso

que apenas tivesse um ano de levantamento alguns perfis poderiam ser apontados

como sendo erosivos. Além de que, o método utilizado se mostrou eficaz para

análise das feições morfológicas.

A análise de componentes principais foi de grande ajuda tendo uma

importante função de condensar os dados. A partir dela foi possível visualizar

diferentes padrões na morfologia causados por alguns fatores.

Para futuros trabalhos sugere-se:

Na realização de uma ACP para análise na morfologia praial, utilizar uma

amostra sedimentar da face praial, se possível, uma por levantamento

topográfico. Além disso, utilizar nas análises as forçantes físicas como altura

significativa e período de onda.

A partir da modelagem numérica, comprovar a existência e a magnitude das

correntes longitudinais das praias estudadas. Bem como a resultante da

deriva continental que atua nas praias de Piçarras e Barra Velha.

Page 61: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

51

9. BIBLIOGRAFIA

ALBERNAZ, M. B. Análise de longo prazo da dinâmica morfossedimentar da Praia Central de Balneário Camboriú – SC, por meio de métodos estatísticos multivariados. 2010. 95 f. Trabalho de conclusão de curso (grau de Oceanógrafo) – Curso de Oceanografia, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2010.

ALVES, G. M.; MELO, E. Measurement and modeling of wind waves at the northern coast of Santa Catarina, Brazil. Brazilian Journal of Oceanography, n. 49, p.13-28, 2001.

ARAÚJO, C.E.S.; FRANCO, D.; MELO, E.; PIMENTA, F. Wave Regime Characteristics of the Southern Brazilian Coast. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON COASTAL AND PORT ENGINEERING IN DEVELOPING COUNTRIES (COPEDEC), 6., 2003, Colombo, Sri Lanka. Proceedings… [S.I.:s.n.], 2003. CD-ROM.

ARAUJO, R. S. Determinação do índice de sensibilidade do litoral ao derramamento de óleo (ISL) para as regiões norte e centro-norte do estado de Santa Catarina (SC). 2005. 190 f. Trabalho de conclusão de curso (grau de Oceanógrafo) – Curso de Oceanografia, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2005.

ARAUJO, R. S. Morfologia do perfil praial, sedimentologia e evolução histórica da linha de costa das praias da Enseada do Itapocorói – SC. 2008. 145 p. Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, 2008.

ARAUJO, R. S.; SPROVIEIRI, F. C.; FREITAS, D.; KLEIN, A. H. F. Variação da morfologia praial e identificação de zonas de erosão acentuada (ZEA) na enseada do Itapocorói -SC. Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, v.14, n.1, p.29-38, 2010.

ARAÚJO, S. A.; SCOLARO, T. L.; REIS, F. H. & PETERMANN. R. M. Climatologia do ecossistema Saco da Fazenda, Itajaí, SC., 43-62p. In: Branco , J. O.; Lunardon-Branco , M. J.; Bellotto, V. R. (Org.). Estuário do Rio Itajaí-Açú, Santa Catarina: caracterização ambiental e alterações antrópicas. Editora UNIVALI, Itajaí, SC., 312p, 2009.

BOAK, E. H.; TURNER, I. L. Shoreline Definition and Detection: A Review. Journal of Coastal Research, v.21, n.4, 2005.

CALLIARI, L. J.; MUEHE, D.; HOEFEL, F. G.; TOLDO, J. R. E. E. Morfodinâmica praial: uma breve revisão. Revista Brasileira de Oceanografia, n. 51, p.63-78, 2003.

CEM. Longshore sediment transport. Washington, DC, n. 3, p. 119, 2002.

DEAN, R. G.; DALRYMPLE, R. A. Coastal Processes with Engineering Applications. Cambridge University Press. 475 p. 2004.

DE LUCA, C. B. Variação espaço-temporal da granulometria das praias da região Centro-Norte do estado de Santa Catarina. 2009. 84 f. Trabalho de

Page 62: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

52

conclusão de curso (Graduado em Oceanografia) - Curso de Oceanografia, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2009.

DIEHL, F. L.; HORN FILHO, N. O. Compartimentação geológico – geomorfológica da zona litorânea e planície costeira do estado de Santa Catarina. Notas Técnicas, 1996.

FARRIS, A. S.; LIST, J. H. Shoreline change as a proxy for subaerial beach volume change. Journal of Coastal Research, West Palm Beach (Florida), v.23, n.3, p. 740-748, 2007.

FREITAS, D.; ARAUJO, R.S.; KLEIN, A.H.F.; MENEZES, J.T. Quantificação de perigos costeiros e projeção de linhas de costa futuras para a enseada do Itapocorói - SC. Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology. v.14, n.1, p. 39-49, 2010.

HAIR, J. F.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L.; BLACK, W. C. Análise multivariada de dados. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

HOEFEL, F. G. Morfodinâmica de praias arenosas oceânicas. Uma revisão bibliográfica. Ed. Univali, 79p, 1998.

HORN FILHO, N. O. Setorização da província costeira de Santa Catarina, em base aos aspectos geológicos, geomorfológicos e geográficos. Geosul, v.35, n.17. 2003.

HORN FILHO, N. O. and DIEHL, F. L. Santa Catarina Coastal Province, Brazil: Geology, geomorphology and paleogeography. Journal of Coastal Research, SI 39 (Proceedings of the 8th International Coastal Symposium), 311 - 315. Itajaí, SC, Brazil, ISSN 0749-0208, 2006.

KLEIN, A. H. F.; MENEZES, J. T. Beach morfodynamics and profile sequence for a headland bay coast. Journal of Coastal Research. 17(4): 812-835, 2001.

KLEIN, A. H. F.; BENEDET FILHO, L. & SCHUMACHER, D. H. Short-term beach rotation process in distinct headland bay beach systems. Journal of Coastal Research, 18 (3). 442-458, 2002.

KLEIN, A. H. F. Morphodynamics of Headland Bay Beaches. 2004.450 p. Tese de Doutorado – Universidade do Algarve, Faro, Portugal. 2004.

KLEIN, A. H. F.; SILVA, G. M.; FERREIRA, Ó.; DIAS, J. A. Beach Sediment Distribution for a Headland Bay Coast. Journal of Coastal Research, West Palm Beach (Florida), v.42, p. 285-293, 2005.

KLEIN, A. H. F.; MENEZES, J. T.; DIEHL, F. L.; ABREU, J. G. N.; POLETTE, M.; SPERB, R. M.; SPERB, R. C.; HORN, N. Santa Catarina. In: Programa de Geologia e Geofísica Marinha. Erosão e progradação do litoral brasileiro. Brasília: MMA, 2006.

KLEIN, A. H. F.; FERREIRA, O.; DIAS, J. M. A.; TESSLER, M. G.; SILVEIRA, L. F.; BENEDET, L.; MENEZES, J. T.; ABREU, J.G.N. Morphodynamics of structurally

Page 63: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

53

controlled headland-bay beaches in southeastern Brazil: A review. Coastal Engineering, V. 57, P. 98 – 111, 2010.

KOMAR, P . D. Beach processes and sedimentation: the lasted scientific research in the study of physical processes of beaches and resulting sedimentary deposits. New Jersey : Prentice Hall Ed, 1976.

KOMAR, P. D. Selective longshore transport rates of different grain-sizefractions within a beach. Journal of Sedimentary Petrology, USA, v.47, p. 1444-1453, 1977.

KOMAR, P. D. Beach Processes and Sedimentation. 2° ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1998.

KRAUS, N. C.; GALGANO, F. A. Beach Erosional Hot Spots: Types, Causes and Solutions. Coastal and Hydraulics Engineering Technical Note (CHETN-II-44). U.S. Army Engineering Research and Development Center. Vicksburg: [s.n.], 2001.

LANDIM, P. M. B. Análise estatística de dados geológicos multivariados. Universidade Estadual Paulista/UNESP, p. 120, 2002.

LOSADA, M. A.; MEDINA, R.; VIDAL, C.; LOSADA, I. J. Temporal and spatial cross-shore distributions of sediment at “El Puntal” Spit, Santander, Spin. Coastal Engineering, p. 2251 – 2264, 1992.

MALLET J. M.; DAZZI, R. L. S. Sistema de Gerenciamento de Amostras. Sedimentológicas - SIGA. UNIVALI, 2002.

MASSELINK, G.; SHORT, A.D. The Effect of Tide Range on Beach Morphodynamics and Morphology: a Conceptual Beach Model. Journal of Coastal Research, v.9, n.3, p. 785-800, 1993.

MUEHE, D., 2006. Erosion in the brazilian coastal zone: an overview. Itajaí, SC, Brazil, Proceedings of the 8th International Coastal Symposium, Journal of Coastal Research, p. 43- 48, 2006.

OJEDA, E.; GUILLÉN, J. Shoreline dynamics and beach rotation of artificial embayed beaches. Marine Geology . v. 253, 51–62, 2008.

OLPE, C. A. Avaliação de dois tipos de obras de engenharia costeira como alternativas de contenção/mitigação do processo erosivo na enseada do Itapocoroí – SC, utilizando modelagem numérica. 2012. 138 f. Trabalho de conclusão de curso (grau de Bacharel em oceanografia) – Curso de Oceanografia, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2012.

PLA, L. E. Analisis multivariado: metodo de componentes principales. Coro: Eva V. Chesneau, 1986.

RUDORFF, F. M.; BONETTI, J. Avaliação da sucetibilidade à erosão costeira de praias de ilha de Santa Catarina. Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, v. 14, n.1, p. 9 – 20, 2010.

Page 64: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

54

SCHEILBE, L. F. A geologia de Santa Catarina – sinopse provisória. Geosul, n. 1, p. 7- 38, 1986.

SILVEIRA, L. F.; KLEIN, A. H. F.; TESSLER, M. G. Classificação morfodinâmica das praias do estado de Santa Catarina e do Litoral Norte do Estado de São Paulo utilizando sensoriamento remoto. Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, v. 15, n. 2, p. 13 – 28, 2011.

SHORT, A.; NI, M. Regional and systematic controls on New South Wales beach characteristics. In: Institute of Australians Geographers and New Zealand Geographers Society Conference, 1997, Hobart, Australia. Proceedings… Hobart: [s.n.], 1997. p. 143.

SHORT, A. D. Handbook of beach and shore face morphodynamics. New York:John Wiley e Sons, 1999.

SHORT, A. D.; MASSELINK, G. Embayed and structurally controlled beaches. In: Handbook of Beach and Shoreface Morfodynamics, (ed. A.D. Short). p 230-249, 1999.

SHORT, A. D.; TREMBANIS, A. C., 2004. Decadal scale patterns in beach oscillation and rotation Narrabeen Beach, Australia—time series, PCA and wavelet analysis. Journal of Coastal Research, West Palm Beach (Florida), v. 20, n.2, p. 523–532, 2004.

SHORT, A. D. Australian beach systems: nature and distribution. Journal of Coastal Research, Florida, v.22, n.1, p.11-27, 2006.

SOUZA, F. E. S. Evolução morfodinâmica da região de influência estuarina do Rio Curimataú/RN, com ênfase nas alterações do ambiente deposicional de manguezal e a integração de geodados em SIG. 2004. 150 f. Tese (Doutorado em Geodinâmica), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2004.

SUGUIO, K. Introdução à Sedimentologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1973.

STATSOFT, INC. Electronic Statistics Textbook. StatSoft, 2013. Disponível em: http://www.statsoft.com/textbook/. Acesso em: 02 de ago. de 2013.

TRUCCOLO, E. C.; SCHETTINI, C. A. F. Condições meteo-oceanográficas costeiras na região do estuário o Rio Itajaí-Açú, 75-90p. In: Branco , J. O.; Lunardon-Branco , M. J.; Bellotto, V. R. (Org.). Estuário do Rio Itajaí-Açú, Santa Catarina: caracterização ambiental e alterações antrópicas. Editora UNIVALI, Itajaí, SC., 312p, 2009.

USACE. Beach Morphology Analysis Package (BMAP). coastal engineering technical notes (CETN II-34), U.S. Army Engineer Research and Development Center, Coastal and Hydraulics Laboratory. Vicksburg: [s.n.]. 1995.

VALENTIN, J. L. Ecologia numérica: uma introdução à análise multivariada de dados ecológicos. Rio de Janeiro: Interciência, 2000.

Page 65: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

55

VIEIRA, C. V.; HORN FILHO, O. N.; BONETTI, C. V. D. H. C.; BONETTI, J. Caracterização morfosedimentar e setorização do complexo estuarino da Baía da Babitonga/SC. Boletim Paranaense de Geociências, n. 62-63, p. 85-105, 2008.

WRIGHT, L. D.; SHORT, A. D. morphodynamics variability of surf zones and beaches: a synthesis. Marine Geology, v.56, p. 93-118, 1984.

Page 66: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

56

APÊNDICE – Perfis praiais e seus parâmetros

Tabela 8: Dados de volume obtidos a partir dos perfis praiais (altura de contorno -0,5 m).

Perfil Volume da Praia (m³/m)

jun/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 dez/12 fev/13 abr/13 jun/13

01G 31,6 34,6 52,2 61,5 67,7 47,5 32,8 67,6 62,2 62,8 59,2 45,3

02G 35,9 35,5 38,2 40,9 47,5 51,0 43,8 47,5 50,0 53,1 51,3 58,0

03G 41,2 32,4 18,2 15,0 18,0 26,3 34,6 16,4 15,3 15,0 14,2 24,4

04S 38,7 47,6 29,0 24,2 32,9 41,8 43,8 38,9 27,0 27,8 35,0 25,7

05S 43,2 40,6 42,5 34,9 42,2 39,5 34,7 34,7 39,0 39,6 32,4 45,3

06S 65,6 53,0 60,4 52,2 71,4 67,8 58,7 57,5 61,1 63,2 61,4 75,4

07S 74,0 50,5 49,6 49,6 82,6 67,3 58,3 69,4 65,9 69,7 60,8 65,0

08S 59,4 53,8 61,2 59,2 55,1 57,2 56,8 75,9 68,2 61,9 49,6 41,7

09T 58,2 59,6 64,8 82,2 102,2 61,8 60,1 81,3 99,1 111,0 92,1

10T 44,7 37,3 29,5 76,0 75,2 54,3 42,2 70,9 72,9 86,2 77,0 76,8

11T 60,9 46,1 49,2 31,2 63,1 56,8 42,0 62,6 60,8 62,0 70,7

12T 93,8 88,7 68,1 70,6 77,8 83,8 77,2 75,5 89,7 69,4 78,6

13T 40,2 54,3 54,9 52,2 55,3 60,6 72,2 60,6 67,4 67,4 62,0

14T 53,2 68,0 52,4 63,5 76,6 79,2 71,2 70,2 87,9 78,1 81,5

15T 61,7 73,9 79,7 63,1 84,5 69,9 71,0 78,8 89,8 73,2 84,1 97,1

16T 70,1 73,7 77,1 106,2 106,5 83,8 87,0 102,5 104,0 108,6 106,5 97,3

17T 59,8 64,1 67,8 71,0 94,0 86,8 73,4 95,7 87,3 103,4 96,9 83,0

18T 46,5 61,2 46,8 70,1 73,9 73,0 68,9 69,1 51,6 71,0 69,1 66,9

19T 58,9 65,3 75,9 71,7 77,4 70,8 83,1 87,4 65,8 66,4 70,1 67,1

20T 69,1 95,0 70,8 41,5 84,0 84,8 86,4 72,4 64,9 69,1 65,6

21T 56,6 66,9 86,1 86,1 83,1 65,6 69,8 61,3 49,2 59,1 52,9 66,9

22T 82,7 97,7 102,2 77,0 85,8 87,5 84,0 77,7 66,1 66,5 64,2 81,2

23T 86,4 67,9 70,2 71,1 99,3 97,9 42,5 44,9 47,3 53,4 94,0 38,5

Page 67: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

57

Tabela 9: largura das praias obtido a partir dos perfis praiais (altura de contorno -0,5 m).

Perfil Largura da Praia (m)

jun/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 dez/12 fev/13 abr/13 jun/13

01G 57,0 61,0 72,6 73,1 72,3 62,2 59,1 78,3 73,0 70,5 70,4 60,2

02G 50,4 50,8 52,4 55,1 54,4 55,0 53,7 55,0 57,1 57,5 54,4 58,6

03G 42,6 36,3 31,8 21,5 20,4 32,4 39,7 20,5 20,8 22,1 22,8 32,3

04S 35,3 64,2 22,8 28,8 34,5 31,0 41,5 33,8 20,9 21,3 27,5 26,3

05S 28,7 27,3 29,2 25,7 36,6 36,9 26,4 30,9 23,4 28,5 23,5 30,6

06S 36,7 30,7 35,2 33,8 41,8 36,2 33,3 41,9 43,2 47,2 32,4 38,0

07S 41,0 31,5 35,9 34,5 41,7 38,9 38,4 35,5 34,2 41,8 37,8 37,3

08S 50,2 48,8 49,7 48,3 45,2 47,8 49,0 54,7 48,5 45,3 45,3 42,8

09T 34,5 34,2 37,0 40,5 50,0 32,3 33,2 38,5 43,7 48,0 40,3

10T 28,9 27,5 25,0 41,8 46,5 32,1 28,7 41,5 44,6 42,1 40,2 38,5

11T 40,7 34,7 36,5 29,2 40,0 36,2 30,9 42,5 41,1 40,3 42,0

12T 42,0 41,4 34,3 37,6 38,7 41,5 36,4 41,5 47,2 39,3 40,5

13T 29,2 37,8 36,9 33,7 35,4 37,4 51,2 37,2 38,5 47,0 40,5

14T 28,7 37,3 29,4 33,0 38,2 36,6 36,5 36,9 47,8 41,8 43,5

15T 36,4 47,2 46,9 43,0 60,2 42,0 45,1 45,7 46,5 40,0 48,5 56,5

16T 39,5 43,7 45,3 56,5 65,5 47,4 49,2 52,0 48,9 49,5 52,0 53,0

17T 41,0 41,3 47,7 42,8 58,0 48,4 46,0 52,5 46,9 59,3 51,0 50,0

18T 44,1 50,8 44,7 62,6 67,4 53,5 53,7 51,5 45,7 55,5 50,3 55,0

19T 39,2 41,4 48,7 46,0 56,9 46,0 48,6 49,0 41,1 41,9 42,3 39,5

20T 42,8 54,1 42,3 31,1 60,3 50,1 50,3 43,4 43,5 49,8 39,7

21T 44,5 52,5 53,1 53,1 63,2 52,3 52,1 45,0 46,4 60,9 43,2 53,0

22T 51,3 58,6 59,7 47,2 56,5 59,9 59,7 49,2 59,1 58,7 42,4 61,3

23T 53,6 45,1 42,7 58,8 64,5 64,9 34,8 47,0 36,5 52,6 66,0 36,0

Page 68: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

58

Tabela 10: Dados de declividade da face da praia ao longo do monitoramento.

Perfil Declividade da face da praia em graus(o)

jun/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 dez/12 fev/13 abr/13 jun/13

1G 2,3 2,1 1,9 2,5 2,5 2,7 2,9 1,7 2,0 2,8 2,5 2,3

2G 3,4 3,1 3,2 2,6 2,8 3,9 3,6 3,0 3,4 3,3 4,0 3,0

3G 3,9 4,2 4,8 2,2 4,8 3,3 5,0 3,8

4S 6,8 7,6 8,4 9,2 8,4 6,0 6,1 3,9 10,0 8,0 6,5 6,0

5S 7,8 9,6 8,4 9,3 6,3 8,9 11,8 7,5 10,2 10,0 10,0 7,0

6S 8,1 11,4 10,8 8,0 8,2 8,3 13,2 8,5 6,0 9,4 10,5 8,8

7S 6,6 7,7 10,7 6,2 9,3 5,3 5,8 7,7 8,5 10,6 10,0 7,0

8S 7,0 5,5 5,0 6,8 6,0 6,0 7,0 6,5 8,0 8,8 7,5 6,0

9T 8,5 9,1 12,5 5,6 10,2 9,6 9,3 9,7 8,6 8,2 11,5

10T 6,4 9,2 6,7 7,7 11,3 9,8 9,4 6,2 6,7 9,6 7,5 8,3

11T 8,0 10,9 9,1 13,1 9,3 9,0 11,5 7,5 9,0 9,0 11,3

12T 9,3 9,7 8,5 8,9 9,5 7,0 11,2 8,0 6,5 8,0 9,5

13T 9,6 8,0 9,1 7,4 11,5 8,0 4,8 8,3 11,8 6,0 10,8

14T 7,8 6,6 10,0 10,6 5,5 8,5 7,7 8,5 9,6 5,0 8,1

15T 6,1 6,7 7,2 6,8 7,5 6,5 6,7 6,9 8,0 9,6 8,0 9,0

16T 8,7 8,9 6,5 5,3 10,2 7,0 5,8 8,0 9,0 10,7 8,5 11,0

17T 7,5 11,0 6,2 9,3 11,5 7,5 6,7 7,7 8,5 6,6 7,0 8,8

18T 10,0 9,8 11,0 6,0 9,2 7,5 6,6 9,2 10,0 9,8 9,5 12,3

19T 9,3 11,0 6,4 6,0 7,4 5,0 6,8 9,7 8,5 11,5 9,0 12,9

20T 8,9 6,3 10,9 14,4 6,0 5,0 6,0 8,2 8,5 8,7 9,0

21T 6,6 8,2 10,8 9,5 7,5 4,9 5,5 6,9 8,0 8,2 7,5 8,0

22T 6,2 6,2 6,9 7,4 5,9 4,6 4,2 8,5 8,5 9,0 7,5 8,2

23T 7,0 9,8 7,4 7,1 5,9 5,8 5,3 11,1 5,3 10,0 6,0 6,8

Page 69: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Raul Rodrigues Botega.pdf · PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC RAUL RODRIGUES BOTEGA ITAJAÍ

59

Figura 32: Gráfico dos perfis praiais entre junho de 2011 a junho 2013 e seus respectivos gráfico de perfis médio, máximo, mínimo e desvio padrão.