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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR - CTTMAR
CURSO DE OCEANOGRAFIA
ANÁLISE DAS VARIAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS NA MORFOLOGIA EM
PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC
RAUL RODRIGUES BOTEGA
ITAJAÍ
2013
RAUL RODRIGUES BOTEGA
ANÁLISE DAS VARIAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS NA MORFOLOGIA EM
PRAIAS DO MUNICÍPIO DE BARRA VELHA – SC
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de
Oceanógrafo pela Universidade do Vale de
Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas da
Terra e do Mar.
Orientador: Prof. Msc. Rafael Sangoi
Araujo
Co-orientador: Prof. Dr. Tito Cesar Marques
de Almeida
Itajaí
2013
iii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a toda minha família por todo amor incondicional.
Em especial aos meus pais Luiz Antônio e Maria por me apoiarem em busca dos
meus objetivos e acreditarem no meu potencial. E ao meu irmão Vitor por sempre ter
sido meu grande parceiro.
A Ana Carolina por todo amor, carinho e apoio. E sua família querida por
estar presente durante os anos desse curso.
Ao meu orientador Rafael Sangoi por todas as oportunidades, ensinamentos
e atenção que me foi dado e principalmente por sua paciência que tornou possível
esse trabalho.
Ao co-orientador Tito Almeida pelos grandes ensinamentos que puderam
esclarecer o caminho a ser seguido.
Ao Marcos Berribilli (Marquinhos) pela parceria sem igual na realização de
todos os levantamentos topográficos e por seus ensinamentos. E a todos do LOG
que de alguma forma contribuíram para esse estudo entre eles, Charline, Luis Pi,
Pedro, Muka, Renata, Gaúcho.
Ao Sr. Gentil pelas horas peneiradas em 2011.
Aos amigos Jerônimo, Baby, Gorfo, Marcão, Gui, entre outros, que nessa reta
final tiveram presentes nos momentos de descontração.
A todos os professores que de alguma forma contribuíram no aprendizado
durante o curso.
À UNIVALI/Governo Estadual pelo financiamento desde 2011 através da
bolsa de pesquisa do ART. 170.
Muito Obrigado!
iv
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo analisar as variações espaço-temporais na
morfologia praial utilizando como estudo de caso praias do município de Barra Velha
– Santa Catarina. Para tal, foram utilizados levantamentos topográficos praiais
realizados de junho de 2011 a junho de 2013. Ao todo foram 270 perfis, sendo que
cada levantamento continha 23 perfis em 3 praias (Praia do Grant ao sul, do Sol e
do Tabuleiro ao norte) no total de 6 km de extensão de área de estudo. Foram
também utilizados dados de análise do sedimento coletado em junho de 2011 para
classificar as praias com relação entre a granulometria e a declividade dos perfis,
para análise espacial da área de estudo. Para a avaliação espaço-temporal foram
aplicadas análises em componentes principais (ACP) sobre as seguintes variáveis:
volume (m³/m), largura (m), declividade (°) e granulometria da face praia e pós-praia
(fi | mm). A Praia do Grant mostrou um perfil dissipativo semi-exposto com um ciclo
sedimentar bem definido com padrões de transporte fora de fase (isto é, as
variações de volumes foram inversamente proporcionais) entre as extremidades
indicando o processo de rotação praial. A Praia do Sol apresentou um perfil curto (37
m) sendo classificado como intermediária e exposta e não indicou um padrão claro
da variação sedimentar. A Praia do Tabuleiro demonstrou um perfil intermediário e
exposto, com grandes variações sedimentares, contudo suas extremidades
mostraram um ciclo sedimentar próximo de estar em fase (ou seja, as variações de
volume e largura foram diretamente proporcionais). A ACP na escala espacial
revelou 2 fatores explicando 84,90% da variação dos dados. Sendo o primeiro fator
foi a variação da morfologia entre os perfis provocada principalmente pela variação
da granulometria, e o segundo fator foram as correntes longitudinais mais atuantes
na praia do Sol e do Tabuleiro que causaram à variação da largura praial as quais
tendem a aumentar para norte. E na análise espaço-temporal a ACP indicou que 2
fatores explicaram 91,30% da variação dos dados. No fator 1 a análise evidenciou
que o fator que mais influenciou a morfologia foram as correntes longitudinais
dominantes de cada praia. Estas foram observadas a partir da largura desigual das
extremidades de cada praia. O fator 2 foi caracterizado pela variação da morfologia
do Grant para as outras praias, sendo que a Praia do Sol e do Tabuleiro variaram
seus estados morfológicos por causa da dinâmica do banco subaquático.
Palavras-chaves: Perfil praial, praias arenosas, análise de componentes principais.
v
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
2. OBJETIVOS ................................................................................................. 2
2.1 GERAL ............................................................................................................... 2
2.2 ESPECÍFICOS ..................................................................................................... 2
3. ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................... 2
3.1 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ............................................................................ 3
3.2 CLIMA, ONDAS E MARÉS ..................................................................................... 4
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 5
4.1 MORFOLOGIA DO PERFIL PRAIAL .......................................................................... 5
4.2 MORFODINÂMICA DE PRAIAS ARENOSAS ............................................................... 6
4.3 SEDIMENTOLOGIA ............................................................................................... 7
4.4 EROSÃO PRAIAL ................................................................................................. 7
4.5 ROTAÇÃO PRAIAL ............................................................................................... 8
4.6 TÉCNICAS ESTATÍSTICAS MULTIVARIADAS ........................................................... 10
4.6.1 Análise de componentes principais ........................................................................ 10
4.6.2 Técnicas de ACP aplicado em ambientes praiais .................................................. 12
5. METODOLOGIA......................................................................................... 13
5.1 PERFIL PRAIAL .................................................................................................. 13
5.1.2 Tratamento dos dados ............................................................................................ 16
5.1.3 Cálculo dos parâmetros .......................................................................................... 16
5.2 SEDIMENTOLOGIA ............................................................................................. 17
5.3 NORMALIZAÇÃO ................................................................................................ 18
5.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA ................................................................. 18
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 19
6.1 MORFOLOGIA ................................................................................................... 19
6.1.2 Praia do Grant ........................................................................................................ 22
6.1.3 Praia do Sol ............................................................................................................ 27
6.1.4 Praia do Tabuleiro .................................................................................................. 30
6.2 ANÁLISE DAS COMPONENTES PRINCIPAIS ........................................................... 34
6.2.1 Análise espacial ...................................................................................................... 35
6.2.1.1 Fator 1 ........................................................................................................................... 37
6.2.1.2 Fator 2 ........................................................................................................................... 38
6.2.2 Análise espaço-temporal ........................................................................................ 40
vi
6.2.2.1 Fator 1 ........................................................................................................................... 44
6.2.2.2 Fator 2 ........................................................................................................................... 46
7. CONCLUSÃO ............................................................................................ 48
8. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS ................................. 50
9. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 51
APÊNDICE – PERFIS PRAIAIS E SEUS PARÂMETROS ............................ 56
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Localização da área de estudo. Projeção Universal Transversa de
Mercator Datum SAD-69. ............................................................................................ 3
Figura 2: Modelo simplificado de um processo de rotação praial. Ondas com
direções opostas fazem diferentes padrões de transporte de sedimento. A figura (A)
mostra uma onda obliqua chegando na praia realizando um padrão de transporte
diferente da onda obliqua que chega na figura (B) (modificado de Short e Masselink,
1999). .......................................................................................................................... 9
Figura 3: Localização dos pontos amostrais. Projeção Universal Transversa
de Mercator Datum SAD-69. ..................................................................................... 15
Figura 4: A imagem (A) mostra a realização de um perfil praial. Na (B),
Estação Total sendo manuseada. Autor: Raul Botega .............................................. 16
Figura 5: Esquema do cálculo realizado para a declividade da face praial. ... 17
Figura 6: Gráfico mostra a relação entre a granulometria média e da
declividade da face praial com os dados de junho de 2011. Foram utilizados os
valores máximo e mínimo da granulometria e declividade da face da praia, para que
assim pudesse abranger toda a variação dos dados. ............................................... 19
Figura 7: Ilha das Canas próxima ao perfil 01G no Sul da praia do Grant. É
possível notar a presença de barcos atracados na zona de sombra provocada pela
ilha. Autor: Raul Botega. ........................................................................................... 20
Figura 8: Modelagem da região da enseada do Itapocorói, Santa Catarina,
modificada de Olpe (2012). O caso representa uma ocasião de ondulação
proveniente de Sul-Sudeste (SSE) em caso de tempestade, altura significativa de
onda (Hs) = 3,44 m; período de onda (Tp) = 14 s. .................................................... 21
Figura 9: Volume e largura médio calculado para cada perfil com seus
respectivos desvios padrão. Os coeficientes de variabilidade dos volumes e larguras
foram calculados através da razão entre o desvio padrão e a média para cada perfil.
.................................................................................................................................. 22
Figura 10: Características morfológicas dos perfis (01G – 03G) da praia do
Grant. A imagem de fev - 12 foi retirada em sentido Sul – Norte e as outras duas
foram Norte – Sul. É possível visualizar que em Jun – 12 o sedimento retorna ao
perfil. Autor: Raul Botega .......................................................................................... 23
viii
Figura 11: Gráfico do volume sedimentar dos perfis 01G e 03G e do volume
normalizado, ao longo do monitoramento. É possível notar que quando o volume do
perfil 01 aumenta o volume do perfil 03G diminui e o contrário também acontece. .. 25
Figura 12: Imagens do perfil 03G na praia do Grant mostrando a evolução
sazonal do pacote sedimentar. No circulo vermelho está uma rocha marcada como
referencial. Autor: Raul Botega. ................................................................................ 26
Figura 13: Características morfológicas da praia do Sol (perfis 04S – 08S). As
imagens mostram a presença de cúspides, casas delimitando o pós-praia e um curto
perfil praial. Na imagem do perfil 04S (visão Sul – Norte da praia) é possível ver
presença de pouca vegetação com perfil íngreme e pequeno. Autor: Raul Botega. . 28
Figura 14: Fotografias da praia do Sol mostrando as casas delimitando o pós-
praia, tentativas de proteger-se da erosão e muro desmoronado que ocorrem no
meio da praia. Autor: Raul Botega. ........................................................................... 29
Figura 15: Gráfico do volume sedimentar dos perfis 04S e 08S e do volume
normalizado, ao longo do monitoramento. ................................................................ 30
Figura 16: Características morfológicas da Praia do Tabuleiro (perfis 09T –
23T). Autor: Raul Botega. .......................................................................................... 31
Figura 17: Gráfico do volume (m³/m) e largura (m) ao longo do monitoramento
do perfil 23T. ............................................................................................................. 32
Figura 18: Imagens do local do perfil 23T no mês de outubro de 2012, na
imagem (A) visão sul-norte e na (B) norte-sul. Autor: Raul Botega. .......................... 33
Figura 19: Gráfico dos volumes sedimentares dos perfis 09T e 23T e dos
volumes normalizado, ao longo do monitoramento. Dado de junho de 2013 não foi
coletado para o perfil 09T. ......................................................................................... 34
Figura 20: Gráfico Scree Plot com informações dos fatores. .......................... 35
Figura 21: Gráfico dos escores da ACP dos fatores 1 x 2. ............................. 36
Figura 22: Gráfico da projeção dos casos. Em verde os perfis que tiveram
interação maior com o primeiro fator e em azul os perfis que interagiram mais com o
segundo fator. O perfil 12 contribuiu para o fator 2, mas ele esteve presente mais no
fator 1. ....................................................................................................................... 37
Figura 23: Gráfico da relação entre a granulometria (mm) e da declividade da
face da praia de cada perfil. Quadrados verdes apontam os perfis que mais
interagiram com o fator 1........................................................................................... 38
Figura 24: Gráfico da largura normalizada da Praia do Sol e do Tabuleiro .... 40
ix
Figura 25: Gráfico Scree Plot com informações dos fatores. .......................... 41
Figura 26: Gráfico dos escores da ACP dos fatores 1 x 2. ............................. 41
Figura 27: Gráfico de projeção dos casos (perfis), para toda a série temporal.
.................................................................................................................................. 42
Figura 28: Gráfico da projeção dos casos (perfis) que mais influenciaram na
ACP. .......................................................................................................................... 43
Figura 29: Gráfico das médias normalizadas de cada levantamento, e das
larguras que mais influenciaram o fator 1 da ACP. ................................................... 45
Figura 30: Mostra o possível padrão de correntes originadas a partir da
ondulação predominante de leste e sudeste proposta por Alves e Melo (2001) e
indicado pelo ACP. Flechas em vermelho são as correntes para norte e a amarela é
a corrente para sul. ................................................................................................... 46
Figura 31: Boxplot da declividade da face da praia. ....................................... 48
Figura 32: Gráfico dos perfis praiais entre junho de 2011 a junho 2013 e seus
respectivos gráfico de perfis médio, máximo, mínimo e desvio padrão. ................... 59
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Relação dos meses e números de perfis levantados, ao final a
contagem dos mesmos. ............................................................................................ 14
Tabela 2: Valores dos escores das variáveis nos fatores 1 e 2. “FACE e POS”
referem-se ao diâmetro médio (fi) da face praial e pós-praia, respectivamente. ....... 36
Tabela 3: Contribuição dos casos (perfis) para cada fator, foram colocados
apenas os perfis que tiveram contribuição acima de 4 para algum dos dois fatores. 37
Tabela 4: Data por número de levantamento. ................................................ 40
Tabela 5: Valores dos escores das variáveis nos fatores 1 e 2. ..................... 41
Tabela 6: Relação dos casos com os seus escores no fator 1 e respectivos
valores de larguras medida. ...................................................................................... 43
Tabela 7: Relação dos casos com o os escores do fator com a suas
respectivas declividade da face praial ....................................................................... 44
Tabela 8: Dados de volume obtidos a partir dos perfis praiais (altura de
contorno -0,5 m). ....................................................................................................... 56
Tabela 9: largura das praias obtido a partir dos perfis praiais (altura de
contorno -0,5 m). ....................................................................................................... 57
Tabela 10: Dados de declividade da face da praia ao longo do monitoramento.
.................................................................................................................................. 58
1
1. INTRODUÇÃO
Praias são definidas como ambientes de depósitos sedimentar não coesivo e
inconsolidado. Sofrem modificações na sua morfologia pela interação das
características hidrodinâmicas tais como ondas e marés, e pelo desequilíbrio do
suprimento sedimentar local (SHORT, 1999). Este ambiente se encontra sempre
buscando o equilíbrio morfodinâmico, o qual seria uma relação de estabilidade da
morfologia com as mudanças na energia e direção das ondas ao longo das estações
do ano (clima de ondas). Portanto, ambientes praiais são, em geral, altamente
dinâmicos (CALLIARI et al., 2003; KLEIN, 2004).
Com o aumento populacional na região costeira, e a valorização de terrenos
adjacentes às praias, sentiu-se necessário compreender os processos
hidrodinâmicos e morfológicos responsáveis pelas mudanças costeiras,
principalmente dos locais onde ocorrem altos níveis de erosão praial. Entretanto, em
praias urbanizadas, o impacto antrópico nos ambientes costeiros causa alterações
no equilíbrio morfodinâmico praial (tanto no regime energético como no suprimento
sedimentar) (ARAUJO et al., 2010).
As praias que serão estudadas estão entre ambientes costeiros amplamente
pesquisados pelos seus eventos de erosão e obras de engenharia. Ao sul tem-se a
praia de Piçarras com um amplo historio erosivo (KLEIN et al., 2006; ARAUJO et al.,
2010; FREITAS et al., 2010). Ao norte tem-se a praia Central e a porção sul da
barreira arenosa onde sofrem perda sedimentar e processos como transposição do
sedimento (overwash) (KLEIN et al., 2006). Assim sendo, estudos sobre variações
morfológicas em praias e enseadas adjacentes, como no caso das praias do
município de Barra Velha, são importantes para o entendimento da dinâmica e
processos costeiros, sendo fundamental para o contexto entre enseadas e/ou
equivalência de processos erosivos e deposicionais.
Com isso, surgiu um grande interesse de trabalhar com os vários fatores que
estão interagindo na morfologia praial, mas isso implicaria em analisar uma serie de
dados temporais com múltiplas variáveis. Deste modo, decidiu-se trabalhar com a
ferramenta estatística de análises multivariadas. Segundo Souza (2004), as análises
multivariadas são técnicas estatísticas que tem uma grande capacidade de
simplificar as inúmeras variáveis e fatores que integram na morfodinâmica praial,
2
podendo a partir dela compreender as mudanças que estão ocorrendo no ambiente
de estudo.
O seguinte trabalho tem, portanto, importância quanto ao entendimento das
relações entre os fatores e variáveis que interagem na morfologia praial. De forma a
contribuir para o entendimento morfodinâmico da região Centro-Norte catarinense, o
seguinte estudo tem como objetivo analisar a interação das variáveis da morfologia
praial utilizando técnicas de análises estatísticas para poder tratar a serie temporal
de dados presente nas praias do município de Barra Velha, Santa Catarina.
2. OBJETIVOS
2.1 Geral
Analisar a variação espaço-temporal na morfologia praial utilizando como caso de
estudo as praias do município de Barra Velha, SC.
2.2 Específicos
Avaliar os principais fatores responsáveis pela variação morfológica praial em
escala espacial e temporal.
Analisar eventos erosivos e/ou de rotação praial que podem alterar a morfologia
praial.
3. ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está localizada ao Norte da Enseada do Itapocorói, litoral
centro – Norte do Estado de Santa Catarina, compreendendo as praias do Grant (0,5
km de extensão) com orientação SE-NW, praia do Sol (1 km de extensão) com
orientação SSE-NNW e praia do Tabuleiro (4,5 km de extensão) com orientação
SSO-NNW, no município de Barra Velha (Figura 1). A área possui cerca de 6 km de
extensão, sendo delimitada ao Sul pelo promontório de Itajubá, e ao Norte pelo
costão rochoso entre a praia central e a praia do Tabuleiro (ARAUJO, 2005).
3
Figura 1: Localização da área de estudo. Projeção Universal Transversa de Mercator Datum SAD-69.
3.1 Geologia e geomorfologia
As formações geológicas da região, de acordo com Horn Filho (2003) e Horn
Filho e Diehl (2006) estão localizadas no Escudo Catarinense e na Província
Costeira. Fazendo parte do setor geológico – geomorfológico Nordeste proposto por
Diehl e Horn Filho (1996). O contexto geológico compreende o Complexo
Granulítico. A unidade geotectônica é constituída por rochas metamórficas de alto
grau e granulitos datados do Arqueano. Tipos litológicos variados presentes nesse
complexo, em especial os corpos ultramáficos lenticulares que afloram em Barra
Velha (SCHEIBE, 1986).
Segundo Horn Filho (2003) a planície costeira catarinense contém depósitos
provenientes de dois sistemas deposicionais: continental e costeiro. O primeiro está
associado a depósitos coluviais, de leque aluvial, encostas íngremes e fluviais,
normalmente datados de ±2 MA AP (Quaternário). Já o sistema costeiro do tipo
laguna barreira, está relacionado às variações do nível do mar ocorridas durante o
Quaternário formando depósitos Pleistocênicos e Holocênicos (entre 120ka – 18ka e
4
5,1ka – presente). Principais características desse tipo de planície são campo de
dunas, cordões regressivos e terraços.
3.2 Clima, Ondas e Marés
Devido à proximidade geográfica com Itajaí as conclusões de autores que
caracterizaram as forçantes físicas da costa do rio Itajaí-Açu são plausíveis de
serem utilizadas em Barra Velha. Conforme Araújo et al. (2009) Santa Catarina é
classificado com um clima mesotérmico superumido. As variações das precipitações
e temperatura estão ligadas à interação dos sistemas frontais frios de origem polar e
as massas de ar quente e úmidas de origem tropical. A média de precipitação do
período de 1980 a 2006 foi de 1.754,8 mm.
Araújo et al. (2009) mostram que a direção do vento predominante entre
fevereiro a setembro de 1999 a 2006 foi de sul a sudoeste e para outubro a janeiro
do mesmo período predominou ventos de leste-nordeste (ENE). A velocidade média
do vento foi de 4,4 km/h e a média das rajadas máximas foi de 47,4 km/h.
De acordo com Truccolo e Schettini (2009) a região foi caracterizada por
influência de micromaré astronômica predominantemente semidiurno com
desigualdade de alturas para as preamares e baixa mares. A sizígia teve um valor
médio de 0,88 metros e a quadratura 0,15 metros. Outro processo importante para a
alteração do nível do mar seria a maré meteorológica ocasionada pelos ventos que
interagem com a superfície do mar que geram ondas responsáveis por aumentar o
nível do mar costeiro. Sendo normalmente ocasionado por ventos do quadrante Sul.
Esse tipo de maré é caracterizado por variações de até 0,7 a 0,8 metros de altura.
Alves e Melo (2001) obtiveram resultados de altura significativa de onda e
período com um ondógrafo fundeado a 20 metros de profundidade a uma distância
de 1,5 quilômetros da costa da Ilha de São Francisco, durante o período de janeiro
de 1996 a setembro de 1996. O autor explicou que 50% dos dados mostraram
ondas vindas de leste e sudeste com altura significativa de 0,5 a 1,5 (m) e período
de 6 a 16 (s). Outra ondulação que teve grande frequência (25%) foram os swells de
sudeste com altura significativa de onda de 0,5 a 2,0 (m) e período entre 6 a 7 (s).
Vagas de leste-nordeste tiveram 10% de frequência sendo observadas apenas no
verão (altura de 0,5 a 1,5 m e período de 3 a 8 s).
Utilizando um ondógrafo fundeado a 80 metros de profundidade situado a
cerca de 80 km da costa leste de Florianópolis (Santa Catarina), Araújo et al. (2003)
5
obtiveram uma serie temporal entre dezembro de 2001 e janeiro de 2003. Os
autores descrevem a ocorrência de um espectro bi-modal, sendo que todas as
estações dos anos tiveram o padrão de vagas de leste juntamente com swell de sul.
As médias das ondulações de leste foram altura significativa de 1,25m e período de
pico de 8s. As ondulações de sul variaram de 1,25m no verão a 2m no inverno com
predominância de período de pico de 12s. A ocorrência rara de ondas maiores de 4
metros foi devido as tempestades, podendo ocorrer em todas as estações do ano.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 Morfologia do perfil praial
A morfologia de uma praia reflete a composição do seu sedimento (e.g.
tamanho de grão e desvio padrão) e os processos físicos atuantes tais como ondas,
correntes e transporte de sedimentos (KOMAR, 1998). O principal processo
modificador do perfil praial seria as ondas, e ao longo das estações do ano, as
mudanças na energia e direção das ondas (clima de ondas) causam efeitos distintos
na morfologia praial. As correntes transversais e longitudinais são originadas através
das ondas, causando mobilização de grande quantidade de sedimento (SHORT,
1999; FARRIS; LIST, 2007.).
Tipos e tamanhos de praias e seus padrões de distribuição morfológica
variam ao redor do mundo, sendo assim amplamente estudados por fornecerem
importantes informações sobre os principais processos costeiros atuantes no
sistema praial (SHORT, 2006; ARAUJO et al., 2010). Komar (1977) e Short e Ni
(1997) sugerem que o padrão de distribuição dos sedimentos nas praias depende da
história geológica da região (fonte de sedimentos).
A morfologia de um perfil praial varia conforme diferentes eventos ocorrem,
como é o caso da transformação de onda e sua dissipação de energia contida na
zonação hidrodinâmica. Diferentes padrões de deposição sedimentar dão origem a
zonação morfológica, que leva em conta o tipo de processo atuante sobre o depósito
e seu efeito na hidrodinâmica. Serão utilizadas, no presente trabalho, as zonações
propostas por Hoefel (1998) e Short (1999).
Estudos da morfologia de praias têm sido concentrados principalmente nas
mudanças do perfil transversal. A ampla utilização desta técnica pode ser explicada
pelo fato de que a maioria dos modelos de análise do comportamento de praias é
baseada em mudanças morfológicas de duas dimensões. Este tipo de análise serve
6
para se ter uma ideia geral do comportamento morfodinâmico de praias em uma
escala regional (WRIGHT; SHORT, 1984; MASSELINK; SHORT, 1993).
Estas técnicas são utilizadas para medir tanto a variação da linha de costa
como o volume praial. A variabilidade do perfil praial se altera em uma variedade de
escalas de tempo em resposta a variações sazonais de processos costeiros, como
as diferentes exposições do ambiente à energia de ondas (ARAUJO et al., 2010).
4.2 Morfodinâmica de praias arenosas
Os estágios morfodinâmicos de praias dominadas por ondas foram
estabelecidos por Wright e Short (1984) em praias australianas, e em Short (1999,
2006) os conhecimentos sobre morfodinâmica de praias foram aprofundados para
que se alcançassem a realidade dos variados ambientes costeiros globais.
Utilizando a classificação de Wright e Short (1984) costas dominadas por onda são
caracterizados por seis estágios morfodinâmicos. Um extremo dissipativo, outro
reflectivo e 4 estágios intermediários, que intercalam de um extremo para outro.
As características morfológicas do estado dissipativo são a presença de uma
larga zona de surfe, a qual é responsável pela dissipação da energia de ondas. Seu
sedimento é normalmente areia fina a muito fina. Comumente tem a presença de
sistemas de bancos múltiplos, o qual seria o fator principal pela quebra da onda na
zona de arrebentação e zona de surf (SHORT, 1999; KLEIN; MENEZES, 2001;
CALLIARI et al., 2003; SHORT, 2006).
Os estágios intermediários são caracterizados por ter uma alta dinâmica de
volume sedimentar, sendo que normalmente tem-se a presença de um banco
arenoso responsável por criar uma zona de surf com largura moderada (em
comparação ao dissipativo). A dinâmica do banco arenoso é o que causa a variação
dos estágios morfodinâmicos intermediários, conforme o banco migra em direção a
face da praia ele causa feições rítmicas como cúspides e desenvolve correntes de
retorno bem pronunciadas. Seu tamanho de sedimento característico é areia média.
A declividade da face da praia é moderada (de 3° a 8°) (SHORT, 1999; KLEIN;
MENEZES, 2001; CALLIARI et al., 2003; SHORT 2006).
Praias com estado reflectivo representam o último extremo, sendo então
opostas ao dissipativo. Contém rara presença de zona de surf e banco arenoso, as
energias de ondas incidentes colapsam na face da praia. Com granulometria de
areia grossa e a declividade da face da praia maior que 8°. Seu volume sedimentar
7
predominante se encontra na porção subaérea (SHORT, 1999; CALLIARI et al.,
2003).
4.3 Sedimentologia
A proveniência dos sedimentos é o fator mais importante que define o
tamanho de grão em praias (KLEIN et al., 2005). O aporte de sedimentos para a
costa se dá em função do clima no continente, particularmente a precipitação e
temperatura que controlam a taxa de erosão; a geologia que determina a natureza
dos sedimentos; a estrutura e topografia que influenciam o padrão de drenagem e a
localização dos recursos costeiros, incluindo córregos, rios e geleiras; e a natureza e
extensão das costas rochosas expostas à erosão por ondas (SHORT, 1999).
Conforme Klein et al. (2010) os sedimentos grossos tem acesso ao ambiente
praial por retrabalhamento de leques aluviais ou sistemas de ilha barreia antigas. As
praias com sedimento areia média resultaram de retrabalhamento de antigos
depósitos de laguna barreia ou aporte sedimentar proveniente de rios. Já as que
contêm areia fina obtiveram esses sedimentos de aporte de rios ou por planícies de
dunas.
Klein e Menezes (2001), Klein et al. (2005), Klein et al. (2010) observam que
a relação entre o tamanho de grão e a inclinação da face da praia é importante para
os estágios morfodinâmicos. O tamanho do sedimento é o maior contribuinte para
inclinação, morfologia e tipo de praia, assim como sua mobilidade (SHORT, 1999).
Em seu estudo, Komar (1976) concluiu que o tamanho de grão do sedimento da
praia é o principal fator que afeta a inclinação da face praial, sendo que praias com
sedimentos grossos são mais íngremes que as demais.
A composição das areias das praias é dominada por grãos de quartzo. Porém
variações regionais e locais no tipo do sedimento são produzidas por clima, rochas,
substrato e biota. O sedimento disponível irá determinar as dimensões da praia,
também mudanças na quantidade (balanço de sedimentos) irão afetar o tamanho e
a ocorrência dos mesmos. Variações no tamanho de sedimento podem impactar a
morfodinâmica da praia (SHORT, 1999).
4.4 Erosão praial
Naturalmente uma praia tende a estar em seu estado de equilíbrio, isso
significa que seu balanço sedimentar se mantém nulo perante as forçantes físicas
(acontecem regularmente transportes de sedimento no sistema praial). Contudo,
8
quando um processo de erosão é desencadeado, e a praia começa a ter um balanço
sedimentar negativo, sua linha de costa começa a se moldar para o novo equilíbrio
do sistema praial (SHORT, 1999). Isso implica que a erosão natural não causa o
desaparecimento da praia arenosa, mas sim um recuo da linha de costa (muitos
métodos de análise de erosão praial tem como base a variação da linha de costa). A
exclusão da região subaérea da praia para fins antrópicos acontece normalmente
quando a linha de costa é impedida de ser recuada e passa a ter um conflito entre o
processo natural e a ocupação antrópica (BOAK; TURNER, 2005; RUDORFF;
BONETTI, 2010).
O sedimento tem algumas formas (naturais) de sair do sistema praial, entre as
mais recorrentes estão as corrente transversal ou longitudinal (deriva litorânea). Na
primeira, fortes correntes de retorno transportam o sedimento para além da
profundidade de fechamento interna, de forma que as ondas responsáveis por fazer
o sedimento retornarem para a praia não consigam transportar esse sedimento de
volta ao sistema (ondas paralelas à praia são atribuídas a esse evento). No
segundo, a resultante da deriva litorânea transporta o sedimento para fora do
sistema. Causada por trens de ondas chegando com um determinado ângulo obliquo
à praia, fazem com que o sedimento derive em “zigue-zague” da direção da corrente
na face da praia e na zona de surf. Essa corrente tem potencial para fazer o
sedimento contornar costões rochosos de forma com que a areia não retorne ao
ambiente praial de origem (SHORT, 1999).
É difícil apontar construções de moradia como sendo as responsáveis pela
erosão praial, contudo muitas construções estão pertos demais da praia (muitas
vezes delimitam o pós-praia como é o caso na Praia do Sol). À medida que a erosão
vai evoluindo e começa a ameaçar a integridade das estruturas de construções é
comum que haja a colocação de proteção como estacas, muros, espigões, rochas,
sacos de areia. Com isso, interferências no perfil morfodinâmico e no transporte do
sedimento causando uma erosão mais acentuada (MUEHE, 2006).
4.5 Rotação praial
Rotação praial é um processo de movimentação sedimentar, na qual este é
transportado para uma das extremidades da praia, sendo que a extremidade oposta
sofre perda sedimentar. O fator que provoca tal evento seria as correntes
9
longitudinais provocadas por um clima de ondas chegando obliquamente à linha de
costa, como pode ser visto na Figura 2 (SHORT; MASSELINK, 1999).
Figura 2: Modelo simplificado de um processo de rotação praial. Ondas com direções opostas fazem diferentes padrões de transporte de sedimento. A figura (A) mostra uma onda obliqua chegando na praia realizando um padrão de transporte diferente da onda obliqua que chega na figura (B) (modificado de Short e Masselink, 1999).
Rotação praial depende de vários fatores como a curvatura da praia, a sua
morfologia e o tipo de praia. Promontórios, rochas, ilhas, podem fazer com que se
tenha um padrão de exposição e sombreamento de diferentes regiões da praia
conforme a orientação da onda em relação a linha de costa. Já os fatores
morfológicos podem dificultar o processo de rotação praial, pois dependendo dos
padrões de deposição na zona de surf e arrebentação o sedimento pode ter um
menor fluxo para zona subaérea. Isso pode ser visto nos tipos de praia, já que as
reflectivas, que contém a maior parte de seu volume no pós-praia, tendem a
evidenciar com maior facilidade um processo de rotação (KLEIN et. al., 2002).
Rotação praial não causa perda sedimentar, diretamente, no prisma praial,
contudo Ojeda e Guillen (2008) ressaltam que a acumulação elevada de sedimento
em uma extremidade da praia pode fazer com que o sedimento saia do sistema
praial por processos como o transpasse de sedimento (by-pass). Por isso é notável
que uma praia com balanço sedimentar negativo sofra danos maiores a sua orla
pelo agravamento de eventos de erosão por causa da rotação praial (SHORT,
1999).
10
4.6 Técnicas estatísticas multivariadas
Segundo Hair et al. (2005) a análise multivariada é definida como um conjunto
de técnicas que analisam simultaneamente múltiplas medidas de um objeto,
indivíduo ou fenômeno que está sendo estudado. Caracterizando assim uma análise
simultânea das variáveis que interagem de forma dependente ou interdependente.
Dentro da análise multivariada ocorre uma grande quantidade e variedade de
técnicas. O sucesso da análise começa na escolha do método adequado aos
objetivos e o tipo de variável.
Quando se analisa os ambientes costeiros normalmente se depara com uma
série de variáveis que atuam interdependente nesses sistemas (hidrodinâmicos,
geológicos, antrópicos e biológicos), ou seja, grande parte das variáveis atua de
forma que dependem uma das outras. Todos esses sistemas se inter-relacionam
para explicar a complexidade dos ambientes litorâneos. Contudo, esse grande
acervo de variáveis contidas nesses ambientes estudados dificultam a visualização
de fenômenos atuantes tais como mudanças de padrões de distribuição de
sedimento, alteração do clima de ondas, variações da morfologia. Dessa forma as
técnicas estatísticas multivariadas têm como objetivo analisar as variáveis atuantes
nos ambientes de forma conjunta, podendo ser assim mais fácil de identificar os
fenômenos dos ambientes costeiros (VALENTIN, 2000).
4.6.1 Análise de componentes principais
A análise em componentes principais (ACP) é um dos métodos de análise
com capacidade de relacionar objetos e descritores segundo o algoritmo de
correlação linear de Pearson, adequado a variáveis discretas (transforma “n”
variáveis em “p” fatores, sendo que “p” é menor que “n”) (PLA, 1986; HAIR et al.,
2005). Esta técnica possibilita a identificação e hierarquização dos principais fatores
que atuam sobre o sistema de variáveis estudado. Hair et al. (2005) relata que o
método das componentes principais é um método para obter soluções fatoriais, pois
está dentro das técnicas de análises fatoriais. A vantagem da ACP é que ele
permite, a partir de um número mínimo de fatores, explicar o fenômeno ou causa
atuante no sistema que realizou a máxima variância no conjunto das variáveis
iniciais.
Esse tipo de análise favorece a redução de variáveis e/ou a condensação
delas de forma que se possam observar padrões dentro dos dados. Por sua vez,
11
esses padrões serão utilizados para explicar as variações nos dados de cada fator
relevante na análise de forma com que possa dizer o que esse fator era. Landim et
al. (2002) explicam que é preciso ter conhecimento da forma com que as variáveis
atuam no sistema estudado, pois quando se escolhi uma explicação para algum
fator é necessário levar em conta as relações entre as variáveis.
Inicia-se uma análise de componentes principais com o cálculo dos
autovalores e seus correspondentes autovetores, os quais se referem às
componentes principais, que são o resultado do carregamento das variáveis em
cada um deles. Os carregamentos são considerados uma medida de relativa
importância de cada variável em relação às componentes principais e os respectivos
sinais se positivo ou negativo, indicam relações diretamente ou inversamente
proposicionais. Geralmente os dois ou três primeiros autovetores encontrados
explicarão a maior parte da variabilidade presente nos dados (HAIR et al., 2005).
Um diagrama de dispersão é utilizado para apresentar a disposição da matriz
de contagens (scores) de cada caso e suas variáveis em relação às componentes
principais. A matriz de contagem é obtida pela multiplicação da matriz de
carregamento pela matriz original dos dados fornecidos. No diagrama de dispersão
será então disposto dois eixos sendo cada um deles algum fator (normalmente são
as duas componentes mais importantes como o fator 1 e 2) (LANDIM et al., 2002).
De acordo com Hair et al. (2005) se têm diversos métodos para a escolha do
número de fatores que serão utilizados na análise, sendo que cada fator
subsequente irá explicar alguma variação que o anterior não realizou. Até um certo
ponto em que os fatores não consigam mais ter um contexto lógico para a
explicação das variáveis. Utilizando os critérios de seleção desse autor a escolha do
numero de fatores será baseada nos:
Critério da raiz latente – O fator deve estar relacionado a pelo menos uma
variável do conjunto, sendo assim devem ser considerados os fatores com
autovalores maiores que 1,0.
Critério da porcentagem de variância – Devem ser considerados os fatores
que tiverem porcentagem acumulada explicada de pelo menos 75%.
Critério do scree plot – Este critério procura reter os fatores anteriores à
estabilização da variância explicada por cada fator.
12
Critério a priori – O pesquisador deve decidir quantos fatores tem que ser
retidos, com base nos conhecimentos teóricos e/ou por indicação de trabalho
pretérito.
4.6.2 Técnicas de ACP aplicado em ambientes praiais
Losada et al. (1992), estudando amostras de sedimento de perfis praias na
Espanha identificou, com a ajuda de ACP para distinguir variações espaço-
temporais, padrões de movimentação diferenciada de sedimento para areia grossa e
fina. A areia grossa teve a tendência de ser transportado entre a área da berma e o
banco subaquático, já a areia fina era transportada por todo o perfil.
Short e Trembanis (2004) utilizaram dados de 26 anos de largura praial em
uma praia na Austrália, na ACP, o primeiro fator foi identificado como sendo a linha
de costa média. Já o segundo foi denominado de “fator de rotação”, pois os autores
conseguiram observar claramente o processo de rotação praial sendo mostrado pela
variação inversa da largura entre o perfil nas extremidades da praia.
Souza (2004) relata o potencial da análise multivariada, especialmente da
análise de componentes principais, para a interpretação e estudo de fenômenos
multivariados atuantes nos ambientes praiais. O estudo realizado por Souza (2004)
utilizou a análise fatorial por meio das componentes principais para analisar a
morfodinâmica praial a partir de perfis praiais. Os resultados obtidos por esse autor a
partir das técnicas estatísticas das ACP possibilitaram um maior entendimento da
dinâmica do volume praial e da morfologia, podendo inclusive ver os momentos de
progradação e retração do perfil praial.
De Luca (2009) não utilizou as técnicas multivariadas para explicar
diretamente a morfodinâmica, porém a autora realizou um estudo da distribuição
espaço temporal do sedimento das praias do litoral Centro-Norte de Santa Catarina
utilizando análise fatorial modo Q. Os seus resultados foram então comparados com
os estudos de morfodinâmica previamente realizado por Klein e Menezes (2001). De
Luca (2009) obteve fortes correlações que indicaram que o sedimento de uma praia
do litoral centro-norte de Santa Catarina é controlado pela fonte dele, e que a
morfodinâmica praial tem seu comportamento influenciado diretamente pela
granulometria e as variações espaço temporal da granulometria são também
indicativos de variação da morfodinâmica.
13
Albernaz (2010) realizou uma análise morfossedimentar de longo prazo, na
praia Central de Balneário Camboriú, utilizando análises de componentes principais.
Resultando em 4 fatores para explicar a variação granulométrica na praia Central de
forma que pudesse observar clara diferença entre a granulometria na parte sul e
norte da praia. Já na morfologia praial, o autor utilizou dados de volume que
resultaram em 3 fatores. O grande aumento no volume sedimentar provocado pelo
engordamento de praia foi apontado como sendo o fator 1, o segundo fator foram as
correntes longitudinais que indicaram o aumento do volume sedimentar no norte da
praia. E o terceiro fator foi a corrente longitudinal de norte para sul, provocando
aumento do volume sedimentar nos perfis ao sul. Sendo que, os fatores 2 e 3
juntamente deram indícios a eventos de rotação praia, pelo seus padrões de
deposições opostas.
5. METODOLOGIA
O seguinte estudo utilizou uma série de dados extraídos das saídas de campo
para obtenção de parâmetros que serão analisados por técnicas de análise de
componentes principais. A partir de cada perfil transversal foi utilizado o volume, a
largura, a declividade da face da praia, granulometria do pós-praia, granulometria da
face da praia. Esses parâmetros têm como objetivo representar de melhor forma o
ambiente praial estudado para que possam ser visualizadas as diferenças dos perfis
em uma escala temporal de dois anos e espacial (aproximadamente 6 quilômetros
de extensão de praia).
5.1 Perfil praial
Foram coletados 270 perfis em 12 levantamentos de topografia praial (Tabela
1), os quais foram referenciados ao nível zero do mar do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). Os dados foram coletados por saídas de campo realizadas
a cada dois meses (bimestral) iniciados em junho de 2011 até junho de 2013 (exceto
para dezembro de 2011 quando não foi feito o levantamento dos perfis), realizando
assim uma série temporal de 2 anos. Os dados préviamente coletados estão
contidos no banco de dados do Laboratório de Oceanografia Geológica (LOG) do
Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar) da Universidade do
Vale do Itajaí (UNIVALI).
14
Tabela 1: Relação dos meses e números de perfis levantados, ao final a contagem dos mesmos.
Mês Perfis coletados
jun/11 23
ago/11 23
out/11 23
fev/12 23
abr/12 19
jun/12 23
ago/12 23
out/12 23
dez/12 23
fev/13 23
abr/13 23
jun/13 21
12 270
Na praia do Grant foram realizados 3 perfis (01G a 03G) com espaçamento
de 250 metros entre eles, na praia do Sol 5 perfis (04S a 08S) com espaçamento de
275 metros e na praia do Tabuleiro 15 perfis (09T a 23T) com espaçamento de 310
metros. A extensão total das praias é de aproximadamente 6 quilômetros (Figura 3).
Em junho de 2011 foi realizada a implantação de referenciais de nível (RN) a
partir de um ponto conhecido que estava amarrado ao nível zero do IBGE. A
transferência ocorreu com um DGPS, da marca Trimbel®, operando no modo RTK
(Real Time Kinematic).
15
Figura 3: Localização dos pontos amostrais. Projeção Universal Transversa de Mercator Datum SAD-69.
Na realização dos perfis foi utilizada uma Estação Total (TOPCON® modelo
GPT-7505) (Figura 4). A vantagem deste método possibilita a obtenção de dados
muito precisos em relação aos parâmetros morfológicos (ARAUJO, 2008). Em
campo os RNs eram utilizados para servir de ponto inicial do perfil, mas também
para realizar a bissecção que serve para atribuir a Estação Total um ponto com
X,Y,Z. Necessita 2 RNs para realizar a bissecção, pois é a partir do ângulo entre
esses pontos conhecido que a Estação Total encontra o ponto sobre qual ela está
situada. A Estação Total coleta pontos de topografia com um laser que é refletido
por um prisma ótico que fica no topo de um bastão regulável, e durante a realização
do caminhamento do perfil utilizava-se 3 balizas para manter o perfil em linha reta.
16
Figura 4: A imagem (A) mostra a realização de um perfil praial. Na (B), Estação Total sendo manuseada. Autor: Raul Botega
5.1.2 Tratamento dos dados
O processamento dos dados foi realizado em ambiente Excel®. No inicio de
cada perfil é coletado um ponto no RN para que depois possa ser comparado com o
seu respectivo RN verdadeiro e servir de correção dos dados. É calculado a
distância do perfil em relação a seu RN, utilizando equações trigonométricas, o
cálculo da distância se dá a partir da seguinte equação:
√( ) ( ) (1)
Onde, Xn e Yn representam as coordenadas, respectivamente, de um ponto
lido qual querer. XRN e YRN são os valores de latitude e longitude do RN do perfil
onde foi coletado o ponto “n”.
5.1.3 Cálculo dos parâmetros
Após o tratamento e a conversão dos dados gerados pela estação, estes
foram inseridos no software BMAP – Beach Morphology Analysis Package (USACE,
1995) para interpolação das cotas e distâncias horizontais a cada 0,5 metros ao
longo do perfil praial. A interpolação foi realizada até a cota de -0,5 metros (posição
de contorno dos perfis). O BMAP calcula o volume e largura de cada perfil através
do método das integrais definidas (equação 2).
17
∫
(2)
A largura do perfil corresponde à distância entre o inicio do perfil (x1) e a cota
de contorno (-0,5 metros) (x2). Optou-se por essa região de contorno, pois, dessa
forma poderia representar o máximo possível do perfil praial. A altura do perfil (y) é
utilizada para o cálculo do volume, este se refere à área da seção transversal do
perfil. Para que o volume seja expresso em m³/m é multiplicado pela unidade de 1
metro de largura lateral do perfil, logo se estima que meio metro para cada lado do
perfil não esteja ocorrendo mudanças significativas do volume.
A declividade da face da praia foi calculada, de forma indireta, através da
fórmula do arco tangente. Utilizando três pontos da face praial, o ponto do meio seria
o correspondente de onde foi registrada a zona de espraiamento média (visualizada
durante o levantamento de cada perfil). A altura e a distância foram utilizadas para
formar um cateto oposto e cateto adjacente, respectivamente (Figura 5). Dessa
forma, se obteve a hipotenusa de um triângulo e então calculado o arco tangente
(equação 3) para obter o ângulo.
(
) (3)
Figura 5: Esquema do cálculo realizado para a declividade da face praial.
5.2 Sedimentologia
O perfil sedimentar das praias desse estudo foi determinado através de
análises dos parâmetros estatísticos. As amostras foram coletadas em junho de
2011 nos mesmos pontos onde foram realizados os levantamentos topográficos. A
coleta foi composta de 69 amostras nos 23 perfis, sendo estas coletadas nos
primeiros 20 cm de profundidade nas regiões de pós-praia, face praial e praia média
de cada perfil. O processamento das amostras em laboratório se deu segundo o
18
método descrito por Suguio (1973), porém não foram retirados os carbonatos. As
amostragens foram submetidas a lavagens para retirada dos sais solúveis e
posteriormente secas em estufa. Após esse processo as amostras foram peneiradas
com tamanho de malha em intervalos de ½ fi e então pesadas em uma balança
analítica.
O tratamento dos dados e o cálculo dos parâmetros estatísticos das amostras
foram conduzidos utilizando-se o software SIGA (Sistema Gerenciador de Amostras
Sedimentológicas) (MALLET; DAZZI, 2002) desenvolvido na Universidade do Vale
do Itajaí.
5.3 Normalização
A normalização foi utilizada com a intenção de visualizar o quanto um
determinado dado se afastou da média. Para a realização da normalização foi
utilizado à equação (4):
(4)
Em que representa a média dos dados, seria o dado e é o desvio
padrão. O resultado, então, é o dado normalizado .
5.4 Análise estatística multivariada
Após a obtenção dos parâmetros morfológicos e sedimentares foram
utilizadas as análises fatoriais com método de componentes principais (ACP),
utilizando o software Statistica (STATSOFT, 2013) para gerar os resultados.
As análises foram aplicadas nos modos Q e R de forma a ser identificada a
inter-relação entre os perfis praiais (modo Q) e a inter-relação entre as variáveis
(modo R) com a utilização da distância euclidiana. Dessa forma foram vistas as
variações morfológicas espaço-temporais tanto pelas variações dos perfis quanto as
variações das variáveis analisadas.
A ACP tem objetivo de encontrar os fatores principais que causaram as
variações nos dados analisados, onde geralmente tem-se um fator que é
responsável pela maioria da variabilidade total. Entretanto, levam-se em conta os
primeiros 2-4 fatores, pois estes são os que vão explicar de forma conjunta a maior
variabilidade presente em toda a análise. Podendo assim, caracterizar variações
19
morfodinâmicas dos perfis praias ou de suas variáveis (SOUZA, 2004; VIEIRA et al.,
2008).
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Apêndice contém os perfis praiais coletados e seus parâmetros calculados.
6.1 Morfologia
Utilizando os dados sedimentares e da declividade da face da praia do
levantamento de junho de 2011, as praias foram classificadas conforme
métodos proposto por Klein e Menezes (2001) (Figura 6). Essa classificação
consiste na relação entre a granulometria da face da praia e a declividade do
local, para que possa ser identificado o estado morfológico dessa praia.
Segundo Klein et al. (2005) quanto maior a granulometria do sedimento na
face praial, maior será sua declividade. Outro aspecto importante (nessa
classificação) é a exposição das praias a ondas de alta energia, as quais
serão consideradas do quadrante Sul.
Figura 6: Gráfico mostra a relação entre a granulometria média e da declividade da face praial com os dados de junho de 2011. Foram utilizados os valores máximo e mínimo da granulometria e declividade da face da praia, para que assim pudesse abranger toda a variação dos dados.
Conforme a Figura 6, a praia do Tabuleiro e do Sol foram caracterizadas
como intermediária de areia média, porém o Tabuleiro teve perfis com
características reflectivas ao longo dos levantamentos. Essas duas praias são
expostas para as ondas do quadrante Sul, tendo assim resultados similares aos de
Klein e Menezes (2001), Klein et al. (2005) e Klein et al. (2010). Contudo, Silveira et
0.00
0.20
0.40
0.60
0.80
1.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Dia
metr
o d
o g
rão
(m
m)
declividade da face da praia (°)
Classificação das Praias
Grant Sol Tabuleiro
Dissipativa Intermediária Reflectiva
Areia Grossa
Areia Média
Areia Fina
20
al. (2011) utilizou imagens de satélites para classificar praias do litoral catarinense e
caracterizou todas as praias do presente estudo como sendo do estágio reflectivo.
A ilha das Canas (Figura 7) localizada a 500 metros da parte sul da praia do
Grant promove um local abrigado para os perfis 01G e 02G, contudo isso só
acontece para ondas do quadrante leste e sudeste. Quando ondas do quadrante sul
atingem a praia elas são barradas pela ilha, indicado pela Figura 8, de forma que
não atingem o perfil 02G e 03G (meio e Norte da praia), sendo assim apenas a parte
sul sofre por ondulações maiores. Entretanto, mesmo as ondas vindas de sul são, de
certa forma, dissipadas pelos bancos arenosos e/ou rochas presentes nas
adjacências da ilha. Por isso a praia do Grant foi considerada como semi-abrigada.
Utilizando a classificação de praias proposta por Klein e Menezes (2001) essa praia
foi caracterizada como sendo do estado dissipativo e semi-exposta as ondas do
quadrante sul.
Figura 7: Ilha das Canas próxima ao perfil 01G no Sul da praia do Grant. É possível notar a presença de barcos atracados na zona de sombra provocada pela ilha. Autor: Raul Botega.
21
Figura 8: Modelagem da região da enseada do Itapocorói, Santa Catarina, modificada de Olpe (2012). O caso representa uma ocasião de ondulação proveniente de Sul-Sudeste (SSE) em caso de tempestade, altura significativa de onda (Hs) = 3,44 m; período de onda (Tp) = 14 s.
O volume e a largura da praia do Sol e do Tabuleiro têm semelhanças
quantitativas além de que eles tendem a aumentar para norte (Figura 9). Já a praia
do Grant, o volume foi menor do que a largura. De acordo com Calliari et al. (2003)
praias dissipativas contêm a maior parte do seu volume sedimentar na zona
submarina da praia, enquanto praias intermediárias e reflectivas tendem a ter seu
depósito maior na região subaérea.
Todos os perfis do estudo tiveram grande variabilidade do volume e da
largura. A média de variabilidade da praia do Grant foi de 27% para o volume e 14%
para a largura, para a praia do Sol foi de 15% para volume e largura e a praia do
Tabuleiro variou em média 18% o volume e 14% a largura. A Figura 9 mostra o perfil
03G (praia do Grant) como sendo a de maior variabilidade, mas como pode ser
observado, este perfil tem pequenos volume e largura (média de 24 [m³/m] e 28 [m],
respectivamente). Do contrario, o perfil 23T (praia do Tabuleiro) sendo o segundo
perfil que mais variou, tem relativamente grandes quantidades de volume e largura
(média de 67 [m³/m] e 50 [m], respectivamente), mostrando uma grande
movimentação sedimentar.
22
Figura 9: Volume e largura médio calculado para cada perfil com seus respectivos desvios padrão. Os coeficientes de variabilidade dos volumes e larguras foram calculados através da razão entre o desvio padrão e a média para cada perfil.
6.1.2 Praia do Grant
Esta praia foi caracterizada por uma baixa declividade da face da praia com
média de 3,1° (com mínimo de 1,7° e máximo de 5°). Seu volume e largura médios
foram de 40,0 (m³/m) e 50,0(m) (desvio padrão de 16,0 [m³/m] e 17,5 [m],
respectivamente). Apresentaram também, médias de volume menor do que a
largura, indicando que o seu reservatório maior de sedimento encontra-se na porção
subaquática do perfil. As características morfológicas desta praia foram agrupadas
0
20
40
60
80
100
120
01
G
02
G
03
G
04
S
05
S
06
S
07
S
08
S
09
T
10
T
11
T
12
T
13
T
14
T
15
T
16
T
17
T
18
T
19
T
20
T
21
T
22
T
23
T
vo
lum
e (
m³/
m)
larg
ura
(m
)
perfis
Volume e Largura médios dos Perfis
Volume Largura
Sol Tabuleiro
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
vari
ab
ilid
ad
e (
%)
perfis
Variabilidade dos Perfis
Volume Largura
Grant Sol Tabuleiro
Grant
23
na Figura 10, na mesma pode ser visto que a largura e o volume decrescem para o
Norte. Durante o monitoramento dos perfis não foi visualizada a presença de bancos
sedimentares subaquáticos e cúspides na face da praia.
Figura 10: Características morfológicas dos perfis (01G – 03G) da praia do Grant. A imagem de fev - 12 foi retirada em sentido Sul – Norte e as outras duas foram Norte – Sul. É possível visualizar que em Jun – 12 o sedimento retorna ao perfil. Autor: Raul Botega
A Figura 11 mostra eventos de rotação praial, pois o perfil ao Sul 01G tem
uma variação do volume sedimentar cíclica e oposta a variação do perfil 03G ao
Norte. Conforme Short (1999) um dos efeitos da rotação praial seria o acúmulo
diferencial do sedimento nas extremidades da praia, sendo que Klein et al. (2005)
Perfil 01G
Perfil 03G
Perfil 03G
24
mostra que rotação praial de curta duração (1 ano) não necessariamente tem a
mesma escala de magnitude. Contudo, o pacote sedimentar do perfil 03G é pequeno
(22,6 m³/m) e isto faz com que esse perfil não ultrapasse o volume de sedimento do
perfil 01G. O pequeno depósito pode ser causado pela predominância de uma
corrente longitudinal e/ou pelo grande volume sedimentar contido no perfil 01G, o
que faz com que esse local atinja com mais facilidade o equilíbrio em relação a uma
certa ondulação que modifique sua morfologia. De acordo com Short (2006) praias
dissipativas causam a dissipação da energia de ondas resultando em uma maior
estabilidade da morfologia praial, fazendo com que a praia possa atingir rapidamente
seu equilíbrio com a mudança de energia e direção de ondas.
Outra característica do perfil 03G foi que entre os levantamentos de outubro
até abril o volume sedimentar da porção subaérea era tão pequeno que chegava a
expor as rochas soterradas pelo sedimento e ocorreu mais de uma vez a total
remoção do sedimento dessa região (a Figura 12 mostra imagens do perfil 03G).
Mas, devido ao seu caráter cíclico, o sedimento retornou ao perfil como ocorreu em
junho de 2011, junho/agosto de 2012 e junho de 2013. O local para onde esse
sedimento é transportado é possivelmente para o Sul da praia onde localiza-se o
perfil 01G, pois como é indicado na Figura 11 o perfil ao Norte perde sedimento e ao
mesmo tempo o perfil ao Sul ganha.
25
Figura 11: Gráfico do volume sedimentar dos perfis 01G e 03G e do volume normalizado, ao longo do monitoramento. É possível notar que quando o volume do perfil 01 aumenta o volume do perfil 03G diminui e o contrário também acontece.
Conforme a Figura 12 em fevereiro e abril de 2012 grande quantidade de
rochas estão expostas e em junho de 2012 os sedimentos as recobrem. Em
dezembro de 2012 volta a iniciar novamente o processo de exposição das rochas.
Em fevereiro e abril de 2013 o embasamento está completamente exposto, e em
junho de 2013 o sedimento retorna.
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
Comparativo dos volumes normalizados
01G (Sul) 03G (Norte)
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
80.0
Volumes (m³/m) coletados na praia do Grant
01G (Sul) 03G (Norte)
26
Figura 12: Imagens do perfil 03G na praia do Grant mostrando a evolução sazonal do pacote sedimentar. No circulo vermelho está uma rocha marcada como referencial. Autor: Raul Botega.
27
6.1.3 Praia do Sol
Durante o monitoramento dos perfis essa praia conteve médias de volume e
largura de 50,0 (m³/m) e 37,0 (m) (desvio padrão de 14,5 (m³/m) e 9,0 (m),
respectivamente). A declividade média da face praial foi de 8,0° sendo que o mínimo
coletado foi de 4,0° ao Sul (perfil 04S) e o máximo de 13,0° no meio da praia (perfil
06S). A praia do Sol conteve significativas diferenças da praia do Grant, a Figura 13
mostra as características morfológicas da Praia do Sol.
28
Figura 13: Características morfológicas da praia do Sol (perfis 04S – 08S). As imagens mostram a presença de cúspides, casas delimitando o pós-praia e um curto perfil praial. Na imagem do perfil 04S (visão Sul – Norte da praia) é possível ver presença de pouca vegetação com perfil íngreme e pequeno. Autor: Raul Botega.
Grande parte do limite do pós-praia é composto por casas. Inicialmente
achava-se que isso seria um fator de rebaixamento do perfil praial, pois segundo
Kraus e Galgano (2001) estruturas rígidas delimitando a praia tendem a aumentar o
potencial erosivo, de forma com que a retirada de sedimento rebaixe o perfil praial.
Entretanto, a praia do Sol manteve-se em equilíbrio dinâmico (balanço sedimentar
Perfil 06S
Perfil 05S
Perfil 04S
29
nulo) o que fez com que as construções não amplificassem significativamente algum
processo erosivo. O que de fato ocorreu foi que ondas que alcançavam o final do
pós-praia, possivelmente em eventos de tempestade, causaram danos, erosão de
terreno e quedas de algumas estruturas (normalmente de acesso a praia) como
pode ser visto na Figura 14.
Figura 14: Fotografias da praia do Sol mostrando as casas delimitando o pós-praia, tentativas de proteger-se da erosão e muro desmoronado que ocorrem no meio da praia. Autor: Raul Botega.
Analisando a série temporal dos volumes dos perfis do Sul e Norte dessa
praia (Figura 15), não foi possível identificar algum processo de rotação praial. Pois,
o perfil 08S (Norte) não apresentou algum padrão de ciclo do sedimento sendo que
apenas em outubro de 2012 seu volume sedimentar teve um incremento, e após
isso houve a diminuição constante do volume do perfil. Já o perfil 04S (Sul) teve
certo ciclo sedimentar, mostrando que em agosto de 2011 e 2012 atingiu seu volume
máximo e após esses mês iniciou processo de perda de sedimento. Nesse perfil
ocorre deposição de sedimento no inverno e, no verão, a retirada do mesmo, exceto
para o mês de junho de 2013 que ocorreu um baixo volume.
30
Figura 15: Gráfico do volume sedimentar dos perfis 04S e 08S e do volume normalizado, ao longo do monitoramento.
6.1.4 Praia do Tabuleiro
Esta praia é a que contém o maior número de perfis (15) e a maior dinâmica
sedimentar, o que é possivelmente causado pela exposição e tamanho de praia (4,5
km de extensão). Seu volume e largura médios ao longo do monitoramento foram de
72,0 (m³/m) e 45,0 (m) com desvio padrão de 16,5 (m³/m) e 9,0 (m),
respectivamente. Sua declividade média da face praial é de 8,3° com máximo
registrado de 14,4 (perfil 20T) e mínimo de 4,2° (perfil 22T).
Apresenta, também, um volume com escala maior do que a largura,
mostrando seu grande depósito sedimentar subaéreo. Ao longo dos levantamentos
foram vistos com frequência cúspides e bancos de areia subaquático, indicados pela
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5Comparativo dos volumes normalizados
04S (Sul) 08S (Norte)
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
80.0
Volumes (m³/m) coletados na praia do Sol
04S (Sul) 08S (Norte)
31
quebra de onda. Conteve a presença de correntes, tanto longitudinal como
transversal, fortes e com cava. Normalmente o final do pós-praia apresentava um
cordão arenoso vegetado (chegando a quase 8 metros acima da cota de zero
metro), porém partes do extremo sul da praia tinham casas delimitando essa zona.
Figura 16: Características morfológicas da Praia do Tabuleiro (perfis 09T – 23T). Autor: Raul Botega.
Perfil 10T
Perfil 16T
Perfil 19T
32
Pelos estudos de Araujo (2008), a Praia de Piçarras mostra que a parte
exposta tem características morfológicas semelhantes à praia do Tabuleiro.
Conforme o autor, a grande variação volumétrica do perfil é causada pela exposição
às ondas incidentes do quadrante sul.
O perfil 23T teve a segunda maior variação ao longo do monitoramento.
Utilizando a Figura 17 é possível visualizar um ciclo sedimentar, sendo que de junho
para agosto de 2011 houve pouca perda do sedimento. De fevereiro para abril de
2012 ocorreu ganho sedimentar e após junho desse ano uma grande perda
sedimentar (-56% do volume, equivalente a 55 m³/m). Essa remoção sedimentar fez
com que esse perfil ficasse com baixos volumes e larguras nos próximos 4
levantamentos. Quando ele perdeu a grande quantidade de volume, não diminuiu
tanto a sua largura indicando que o sedimento foi levado para a porção subaquática,
assim tendo características dissipativas. Isso não foi confirmado por uma declividade
mais suave nesses 4 levantamentos, pois teve média de 8,0°. Em abril de 2013
voltou a ter aumento no volume e largura. E em junho de 2013 voltou a sofrer
grandes perdas sedimentares (-59% do volume, equivalente a 55 m³/m).
Figura 17: Gráfico do volume (m³/m) e largura (m) ao longo do monitoramento do perfil 23T.
Araujo (2008) relatou que a parte exposta de Piçarras sofreu um grande
aumento sedimentar em agosto de 2007, mostrando que alguma etapa do
outono/inverno esses perfis expostos tendem a ganhar sedimento. Já no caso do
perfil 23T isso geralmente ocorre em abril (outono).
Uma das causas da grande variação sedimentar (do perfil 23T) é
possivelmente a presença de um costão rochoso (Figura 18). Segundo Kraus e
0.0
20.0
40.0
60.0
80.0
100.0
120.0perfil 23T
volume (m³/m) largura (m)
33
Galano (2001), próximo a estruturas rígidas em praias expostas tendem a
desenvolver correntes de retorno muito fortes com alta capacidade de transporte
sedimentar.
Figura 18: Imagens do local do perfil 23T no mês de outubro de 2012, na imagem (A) visão sul-norte e na (B) norte-sul. Autor: Raul Botega.
Comparando-se o perfil 23T (norte) com o 09T (sul), Figura 19, é possível
notar um padrão cíclico do sedimento para ambos. Contudo, em vários momentos os
volumes estão fora de fase, enquanto um está com baixos valores de sedimento
outro está alto e vice versa. Isso ocorreu em junho de 2012, dezembro de 2012 e
abril de 2013.
Não foi observada uma clara relação à com rotação praial, tanto que Klein et
al. (2010) relata que é difícil de se identificar esse tipo de processo em praias de
estado intermediário e expostas (retilínea). Ojeda e Guillén (2008) atribuem às
ondas de tempestades, chegando obliquamente à praia, às mudanças mais abruptas
nos perfis e no processo de rotação praial. Sendo assim, os eventos que atingem a
praia são mais susceptíveis de causar mudanças em comum em toda a praia. E nas
épocas em que os volumes dos perfis estavam fora de fase, ondas de tempestades
que atingiram as partes superiores e inferiores das praias de diferentes formas foram
possivelmente a forçante que causou relações inversas na variável.
É importante notar que em 2013 os eventos de perda sedimentar ocorreram
um mês antes do ano anterior para ambos os perfis. Novamente o perfil 23T perdeu
55 m³/m (em 2013), já o perfis 09T não sofreu o evento de mesma magnitude. Isso
pode indicar que o processo erosivo desse ano ocorreu mais cedo, ou que podem
ocorrer outros. Durante o monitoramento não foram verificados muitos perfis que
tiveram mais do que um grande evento erosivo em um ano.
A
B
34
Figura 19: Gráfico dos volumes sedimentares dos perfis 09T e 23T e dos volumes normalizado, ao longo do monitoramento. Dado de junho de 2013 não foi coletado para o perfil 09T.
6.2 Análise das componentes principais
A ACP foi utilizada como uma ferramenta para integrar os resultados já
apresentados, de forma a identificar os principais padrões e eventos nos sistemas
praiais. Essa parte do estudo foi separada em duas partes: Análise espacial
(utilizando dados de junho de 2011) e espaço-temporal (utilizando dados de junho
de 2011 até junho de 2013). Ao analisar as variações temporais em todos os perfis é
importante levar em conta as mudanças que ocorrem espacialmente, por isso
decidiu-se trabalhar com espaço-tempo.
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
Comparativo dos volumes normalizados
09T (Sul) 23T (Norte)
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
Volumes (m³/m) coletados na praia do Grant
09T (Sul) 23T (Norte)
35
Albernaz (2010) sugere realizar uma análise de correlação entre as variáveis
de volume e largura. Em caso de existir alguma correlação, deve usar no estudo o
volume, pois este tende a mostrar melhor as variações morfológicas do perfil. Dean
e Dalymple (2004) afirmam que o parâmetro volume demonstra melhor as mudanças
no estoque sedimentar da praia, em comparação com a largura. No entanto, ao
realizar a correlação entre essas variáveis não resultou em uma correlação
significativa, de forma que serão utilizadas ambas no estudo.
6.2.1 Análise espacial
Para essa análise foi considerada a granulometria, entretanto só foi
amostrada em junho de 2011. Dessa forma só serão utilizados os dados de volume
(m³/m), largura (m), declividade (°) e granulometria (fi | mm) para esse período. Foi
decidido trabalhar com a granulometria do pós-praia e da face da praia, pois estes
poderiam mostrar uma melhor relação com os outros parâmetros.
A escolha dos fatores se deu por base na Figura 20, que mostrou 2 fatores
explicando 84,90% (fator 1 59,86% e fator 2 com 25,04%) das variações nos dados.
Utilizando os critérios de seleção de fatores (item 4.7.1) escolheram-se os dois
primeiros fatores (84,90% de explicabilidade).
Figura 20: Gráfico Scree Plot com informações dos fatores.
Autovalores da matriz de correlação
59.86%
25.04%
6.66% 5.35%3.09%
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
Número de fatores
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
Eig
envalu
e
59.86%
25.04%
6.66% 5.35%3.09%
O fator 1 foi formado pela variação da declividade da face da praia (°)
(coordenadas positivas) com a granulometria (fi) (coordenadas negativas) tanto do
36
pós-praia quanto da face praial (Figura 21). Foi realizada uma análise somente com
a granulometria da face da praia e o resultado foi o mesmo, pois então se decidiu
“deixar” a granulometria do pós-praia. A interação das variáveis do primeiro fator
mostrou que a declividade é inversamente proporcional à variação da granulometria
em fi, ou seja, quanto maior a granulometria da areia maior será sua declividade.
Quanto ao fator 2, esse foi formado pela variação da largura e do volume,
porém o primeiro teve mais atuação (Tabela 2). Essas duas variáveis não mostraram
relação de acordo com a Figura 21, pois estão próximas a um ângulo de 90°.
Tabela 2: Valores dos escores das variáveis nos fatores 1 e 2. “FACE e POS” referem-se ao diâmetro médio (fi) da face praial e pós-praia, respectivamente.
Variáveis Fator 1 Fator 2
Volume 0,606375 -0,705001
Largura -0,430665 -0,836273
declividade face 0,917347 0,174927
FACE diâmetro médio (fi) -0,878640 0,151408
POS diâmetro médio (fi) -0,909021 -0,043900
Figura 21: Gráfico dos escores da ACP dos fatores 1 x 2.
Projeção das variáveis (fator 1 x fator 2)
volume
largura
POS (fi)
FACE (fi) declividade face
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
Fator 1 : 59.86%
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
Fato
r 2 :
25.0
4%
volume
largura
POS (fi)
FACE (fi) declividade face
A composição do fator 1 esteve mais relacionada às variações da
granulometria e declividade dos perfis da Praia do Grant (perfis 1-3), como mostra a
Tabela 3. Mas também mostrou uma grande contribuição do perfil 12 pertencente à
Praia do Tabuleiro. Já o fator 2 esteve presente apenas nos perfis das praia do Sol e
do Tabuleiro (Tabela 3). A Figura 22 mostra que perfis do norte e do sul
37
apresentaram variação oposta da largura, sendo que o sul com menores larguras e
o norte maiores larguras (isto pode ser visto pela disposição dos perfis em relação a
plotagem dos escores dos fatores na Figura 21).
Tabela 3: Contribuição dos casos (perfis) para cada fator, foram colocados apenas os perfis que tiveram contribuição acima de 4 para algum dos dois fatores.
variáveis Fator 1 Fator 2
1 40,08602 1,52660
2 15,27951 0,11233
3 16,08184 0,36802
4 1,38605 5,63279
5 0,16514 11,83532
8 0,00653 4,25226
10 0,12140 6,69538
12 12,74107 8,91413
13 2,88962 12,68669
14 0,41495 6,65804
22 0,01941 14,16120
23 0,21636 20,70398
Figura 22: Gráfico da projeção dos casos. Em verde os perfis que tiveram interação maior com o primeiro fator e em azul os perfis que interagiram mais com o segundo fator. O perfil 12 contribuiu para o fator 2, mas ele esteve presente mais no fator 1.
Projeção dos casos ( Fator 1 x Fator 2)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
1617
1819
2021
22
23
-6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
Fator 1: 59.86%
-3
-2
-1
0
1
2
Fato
r 2:
25.0
4%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
1617
1819
2021
22
23
6.2.1.1 Fator 1
A Figura 23 mostra que o fator 1 é a variação do estado morfológico do perfil
praial entre as praias. E o perfil 12T evidencia que o estado morfológico é mais
controlado pela granulometria do que a declividade, visto que esse perfil tem
declividade igual a outros do Tabuleiro (como o 13T e 19T). Isso pode ser visto
38
também nos perfis do Grant, pois são muito destacados tanto na ACP quanto no
gráfico de classificação dos perfis.
O fator 1 foi caracterizado pelo estado morfológico do perfil provocado pela
interação da granulometria com a declividade da face praial. O perfil 12T classificado
como reflectivo e os perfis do Grant foram classificados como dissipativo com
tendências intermediárias.
Klein e Menezes (2001) mostram que o estado morfodinâmico de uma praia
está ligado a interação da granulometria com a declividade. Klein et al. (2005)
relaciona a granulometria como sendo a variável mais significativa na variação
morfológica das praias do litoral centro-norte catarinense, relacionando este como
sendo o controlador da declividade da face praial. De Luca (2009) indica que a
variação dos tipos de praia do litoral centro-norte de Santa Catarina variam conforme
a granulometria dessas.
Figura 23: Gráfico da relação entre a granulometria (mm) e da declividade da face da praia de cada perfil. Quadrados verdes apontam os perfis que mais interagiram com o fator 1.
6.2.1.2 Fator 2
A largura foi a que mais contribuiu para a explicação do fator 2, sendo assim
foi feito um gráfico com a largura normalizada da praia do Sol e a praia do Tabuleiro
para poder visualizar a variação espacial provocada na largura pelo fator 2 (Figura
24). Conforme a Figura 24 é possível ver que em ambas as praias a largura nos
perfis da extremidade norte (8S, 22T, 23T) são maiores do que os do sul (04S, 05S,
09T, 10T). Os perfis 11T e 12T ficaram próximos a média, porém o padrão geral das
duas praias é visível.
01G 02G 03G
04S 05S
06S 07S
08S
09T
10T
11T
12T
13T
14T 15T 16T
17T 18T 19T 0.39 21T
22T
0.45
0.00
0.20
0.40
0.60
0.80
1.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Dia
metr
o d
o g
rão
(m
m)
declividade da face da praia (°)
Classificação dos Perfis
perfis do Grant perfis do Sol perfis do Tabuleiro
Dissipativo Intermediário Reflectivo
Areia grossa
Areia média
Areia fina
39
Segundo Araújo et al. (2003) a ondulação de sul e sudeste (Hs de 1,5 – 2,0
m; Tp de 12 s) prevalecem no inverno, com a contribuição mais frequente de ondas
de tempestade. O resultado dos autores para outono foi parecido, mas ondas de
tempestades não foram tão frequentes. Segundo CEM (2002) correntes longitudinais
à linha de costa são formadas por ondas chegando obliquamente à mesma, sendo
que elas estão entre as forçantes que mais causam alterações morfológicas nesses
ambientes.
A orientação da linha de costa da praia do Sol é sul-sudeste / norte-noroeste,
e a praia do Tabuleiro é sul-sudoeste / norte-nordeste. Dessa forma ondas vindas do
quadrante sul chegariam obliquamente à linha de costa formando correntes
longitudinais. Short (1999) explica que correntes longitudinais têm grande potencial
de transporte e tendem a criar padrões de acumulação e erosão sedimentar em
extremidades opostas nas praias. Então, o padrão de largura maior do perfil nas
partes norte das praias como se vê na Figura 24 (junho de 2011) foi aparentemente
formada por correntes longitudinais originadas provenientes de ondas do quadrante
sul. Por isso o fator 2 foi caracterizado como sendo correntes longitudinais.
Lembrando que essa análise se refere as correntes longitudinais de junho, sendo
assim, para junho, a corrente dominante foi para norte, contudo em diferentes
épocas é possível observar outros padrões que serão discutidos posteriormente e
por isso se optou por escolher o fator 1 como sendo correntes longitudinais.
40
Figura 24: Gráfico da largura normalizada da Praia do Sol e do Tabuleiro
O possível motivo pelo qual a largura foi apontada como sendo a variável que
mais foi influenciada por esse fator foi porque as praias intermediárias tendem a
acumular grandes volumes subaéreos (DEAN; DALRYMPLE, 2004). A profundidade
de contorno dos perfis foi de -0,5 (m), isso fazia com que se amostrasse parte da
zona de surf. Com já foi dito, praias intermediárias têm seu maior estoque
sedimentar na zona subaérea. Além disso, um incremento de alguns metros na zona
de surf não causa um aumento sedimentar (volumétrico) significativo para o estoque
todo, porém causa diferença para a largura de praia de um perfil intermediário que
não tem muitos metros de largura.
6.2.2 Análise espaço-temporal
Essa análise utilizou 3 variáveis de 270 perfis (casos), volume (m³/m), largura
(m) e declividade da face da praia (°). Contendo dados de junho de 2011 a junho de
2013. Foi então, inserido o número do levantamento de cada caso para tentar
encontrar as variações temporais dos perfis (Tabela 4).
Tabela 4: Data por número de levantamento.
Data Levantamento
jun/11 1
ago/11 2
out/11 3
fev/12 4
abr/12 5
jun/12 6
ago/12 7
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
04S 05S 06S 07S 08S 09T 10T 11T 12T 13T 14T 15T 16T 17T 18T 19T 20T 21T 22T 23T
perfil
Largura normalizada
Sol Tabuleiro
41
out/12 8
dez/12 9
fev/13 10
abr/13 11
jun/13 12
Os resultados geraram 3 fatores como pode ser visto na Figura 25. O fator 1
obteve 51,9% da variância dos dados, o fator 2, 39,8% e o fator 3, 8,3%. Com 2
fatores a análise conseguiu explicar 91,7% da variação dos dados. Foram
considerados apenas os fatores 1 e 2 na análise.
Figura 25: Gráfico Scree Plot com informações dos fatores.
Autovalores da matriz de correlação
51.91%
39.79%
8.30%
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
Número de fatores
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
Auto
valo
res
51.91%
39.79%
8.30%
A Figura 26 mostra que o fator 1, atuou diretamente sobre a variação da
largura (Tabela 5). Como também pode ser visto, esse parâmetro está praticamente
em cima do fator 1. Já o fator 2 teve a declividade como variável mais influenciada.
O volume contribuiu para ambos os fatores, porém os outros parâmetros tiveram
atuação mais acentuada sobre eles.
Tabela 5: Valores dos escores das variáveis nos fatores 1 e 2.
Variáveis Fator 1 Fator 2
volume 0,744957 0,599827
largura 0,936278 0,135409
declividade da face 0,354409 0,903094
Figura 26: Gráfico dos escores da ACP dos fatores 1 x 2.
42
Projeção das v ariáv eis (f ator 1 x f ator 2)
v olume
largura
decliv idade f ace
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
Fator 1 : 51.91%
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
Fato
r 2 :
39.7
9%
v olume
largura
decliv idade f ace
Por causa da grande quantidade de casos fica difícil identificar padrões a
partir da Figura 27, portanto na Figura 28 retiraram-se todos os casos que não
tiveram grandes influencia sobre algum fator. É possível ver que no fator 1 os perfis
que tiveram maiores larguras estão nas coordenadas positivas. Os escores acima de
2 são todos pertencentes à extremidade acumuladora de suas praias (Tabela 6), já
os que estão em extremidades erosivas aparecem nos escores abaixo de -2.
Indicando assim que esses locais opostos sempre mostraram larguras divergentes.
Figura 27: Gráfico de projeção dos casos (perfis), para toda a série temporal.
Projeção dos casos (fator 1 x fator 2)
01G1
02G1
03G1
04S1
05S1
06S1
07S1
08S1
09T1
10T1
11T1
12T1
13T114T1
15T1
16T1
17T1
18T119T1
20T1
21T1
22T1
23T1
01G2
02G2
03G2
04S2
05S2
06S2
07S2
08S2
09T2
10T2
11T2
12T2
13T2 14T2 15T2
16T2
17T2
18T2
19T2
20T221T2
22T2
23T2
01G3
02G303G3
04S3
05S3
06S3
07S3
08S3
09T3
10T3
11T3
12T313T3
14T3
15T3
16T3
17T3
18T3
19T3
20T3
21T3
22T3
23T3
01G4
02G4
03G4
04S4
05S4 06S4
07S4
08S4
09T4
10T4
11T4
12T4
13T4
14T4
15T4
16T4
17T4
18T419T4
20T4
21T4
22T4
23T4
01G502G5
03G5
04S5
05S5
06S5
07S5
08S5
09T5
10T5
15T5
16T517T5
18T5
19T5
20T5
21T5
22T5
23T5
01G6
02G603G6
04S6
05S6
06S6
07S608S6
09T610T6 11T6
12T613T6
14T615T6
16T617T6
18T6
19T6
20T6
21T6
22T6
23T6
01G7
02G703G7
04S7
05S7
06S7
07S708S7
09T7
10T711T7 12T7
13T7
14T7
15T7 16T717T718T7
19T720T7
21T722T7
23T7
01G802G803G8
04S8
05S8
06S807S8
08S8
09T8
10T8
11T8
12T8
13T8
14T815T8
16T8
17T818T8
19T8
20T8
21T8
22T823T8
01G9
02G903G9
04S9
05S9
06S9
07S9
08S9
09T9
10T911T9
12T9
13T9
14T9
15T9
16T9
17T9
18T919T920T9
21T9
22T9
23T9
01G1002G1003G10
04S10
05S10 06S10
07S10
08S10
09T1010T10
11T1012T10
13T10
14T10
15T10
16T10
17T1018T10
19T10
20T10
21T10
22T1023T10
01G11
02G11
03G11
04S11
05S11
06S1107S11
08S11
09T11
10T1111T1112T11
13T1114T11
15T11
16T11
17T1118T1119T1120T11
21T11
22T11 23T11
01G12
02G12
03G12
04S12
05S12
06S12
07S12
08S12
10T12
11T12
12T1213T12
14T12
15T12
16T12
17T12
18T12
19T12
21T12
22T12
23T12
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
Fator 1: 51.91%
-3
-2
-1
0
1
2
3
Fato
r 2:
39.7
9%
01G1
02G1
03G1
04S1
05S1
06S1
07S1
08S1
09T1
10T1
11T1
12T1
13T114T1
15T1
16T1
17T1
18T119T1
20T1
21T1
22T1
23T1
01G2
02G2
03G2
04S2
05S2
06S2
07S2
08S2
09T2
10T2
11T2
12T2
13T2 14T2 15T2
16T2
17T2
18T2
19T2
20T221T2
22T2
23T2
01G3
02G303G3
04S3
05S3
06S3
07S3
08S3
09T3
10T3
11T3
12T313T3
14T3
15T3
16T3
17T3
18T3
19T3
20T3
21T3
22T3
23T3
01G4
02G4
03G4
04S4
05S4 06S4
07S4
08S4
09T4
10T4
11T4
12T4
13T4
14T4
15T4
16T4
17T4
18T419T4
20T4
21T4
22T4
23T4
01G502G5
03G5
04S5
05S5
06S5
07S5
08S5
09T5
10T5
15T5
16T517T5
18T5
19T5
20T5
21T5
22T5
23T5
01G6
02G603G6
04S6
05S6
06S6
07S608S6
09T610T6 11T6
12T613T6
14T615T6
16T617T6
18T6
19T6
20T6
21T6
22T6
23T6
01G7
02G703G7
04S7
05S7
06S7
07S708S7
09T7
10T711T7 12T7
13T7
14T7
15T7 16T717T718T7
19T720T7
21T722T7
23T7
01G802G803G8
04S8
05S8
06S807S8
08S8
09T8
10T8
11T8
12T8
13T8
14T815T8
16T8
17T818T8
19T8
20T8
21T8
22T823T8
01G9
02G903G9
04S9
05S9
06S9
07S9
08S9
09T9
10T911T9
12T9
13T9
14T9
15T9
16T9
17T9
18T919T920T9
21T9
22T9
23T9
01G1002G1003G10
04S10
05S10 06S10
07S10
08S10
09T1010T10
11T1012T10
13T10
14T10
15T10
16T10
17T1018T10
19T10
20T10
21T10
22T1023T10
01G11
02G11
03G11
04S11
05S11
06S1107S11
08S11
09T11
10T1111T1112T11
13T1114T11
15T11
16T11
17T1118T1119T1120T11
21T11
22T11 23T11
01G12
02G12
03G12
04S12
05S12
06S12
07S12
08S12
10T12
11T12
12T1213T12
14T12
15T12
16T12
17T12
18T12
19T12
21T12
22T12
23T12
43
Figura 28: Gráfico da projeção dos casos (perfis) que mais influenciaram na ACP.
Projeção dos casos (fator 1 x fator 2)
01G1
02G1
03G1
12T1
15T123T1
01G2
02G2
03G2
04S2
05S2
06S2
10T2
20T222T2
01G3
02G303G3
04S3
09T3
10T3
22T3
01G4
02G4
03G4
04S4
05S4
11T4
16T4
01G502G5
03G5
10T5
15T5
16T517T5
20T5
23T5
01G6
03G6
22T6
23T6
01G7
02G703G7
05S7
06S7
01G803G8
04S8
05S8
11T816T8
01G9
03G9
04S9
05S9
04S10
05S10
09T10
16T10
17T10
01G1103G11
05S11
09T11
16T11
23T11
02G12
03G12
04S12
15T12
16T12
18T12
19T12
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
Fator 1: 51.91%
-3
-2
-1
0
1
2
3
Fato
r 2:
39.7
9%
01G1
02G1
03G1
12T1
15T123T1
01G2
02G2
03G2
04S2
05S2
06S2
10T2
20T222T2
01G3
02G303G3
04S3
09T3
10T3
22T3
01G4
02G4
03G4
04S4
05S4
11T4
16T4
01G502G5
03G5
10T5
15T5
16T517T5
20T5
23T5
01G6
03G6
22T6
23T6
01G7
02G703G7
05S7
06S7
01G803G8
04S8
05S8
11T816T8
01G9
03G9
04S9
05S9
04S10
05S10
09T10
16T10
17T10
01G1103G11
05S11
09T11
16T11
23T11
02G12
03G12
04S12
15T12
16T12
18T12
19T12
Tabela 6: Relação dos casos com os seus escores no fator 1 e respectivos valores de larguras medida.
Casos Factor 1 Largura (m)
01G8 3,07080 78,3
23T5 2,60078 64,5
23T6 2,60014 64,9
01G5 2,58239 72,3
23T11 2,53585 66,0
01G9 2,52684 73,0
01G4 2,45178 73,1
16T5 2,38961 65,5
16T4 2,33995 56,5
17T10 2,29618 59,3
01G10 2,28211 70,5
22T3 2,25223 59,7
05S9 -2,40461 23,4
03G11 -2,46371 22,8
05S7 -2,51571 26,4
04S3 -2,53448 22,8
05S11 -2,56767 23,5
11T4 -2,57701 29,2
03G10 -2,60255 22,1
03G8 -2,60331 20,5
03G4 -2,62315 21,5
04S10 -2,62729 21,3
03G9 -2,67907 20,8
04S9 -2,89845 20,9
44
No fator 2, a Tabela 7 mostra que os perfis que tiveram altas declividade na
face praial ficaram nos escores positivos enquanto os perfis com baixa declividade
ficaram nos escores negativos. A praia do Grant foi claramente destacada dos perfis
da praia do Sol e do Tabuleiro, mostrando que suas baixas declividades da face
praial não foram alteradas. Contudo, as outras praias tiveram grande variação da
declividade.
Tabela 7: Relação dos casos com o os escores do fator com a suas respectivas declividade da face praial
Casos Factor 2 declividade ()
16T10 2,20573 10,7
09T11 2,12825 11,5
17T5 1,98352 11,5
16T12 1,96123 11
19T12 1,92491 12,9
06S7 1,86487 13,2
09T5 1,86041 10,2
20T4 1,82346 14,4
16T5 1,80552 10,2
09T3 1,80243 12,5
02G1 -2,18796 3,4
01G9 -2,19043 2
01G8 -2,20323 1,7
02G3 -2,21489 3,2
01G6 -2,23828 2,7
02G2 -2,30129 3,1
02G4 -2,36985 2,6
01G12 -2,40839 2,3
01G3 -2,48987 1,9
01G7 -2,53334 2,9
03G5 -2,73892 2,2
01G1 -2,74199 2,3
01G2 -2,77024 2,1
6.2.2.1 Fator 1
Esse fator esteve relacionado à localização média da largura de cada perfil na
cota de -0,5 (m). A forçante ambiental foi apontada como sendo o resultante das
correntes longitudinais de cada praia, isso foi visualizado pela diferença de largura
dos perfis de cada extremidade (Grant ao sul e Sol e tabuleiro ao norte). Utilizando
as larguras que mais influenciaram o fator 1 (Figura 29) é possível notar que o
padrão está relacionado com a variação máxima da largura das extremidades.
45
Figura 29: Gráfico das médias normalizadas de cada levantamento, e das larguras que mais influenciaram o fator 1 da ACP.
Short e Trembanis (2004) obtiveram em seu primeiro fator a linha de costa a 0
metros em um estudo que utilizaram a largura praial. No entanto, isso não foi o que
o resultado mostrou, sendo que o atual estado deposicional das praias a -0,5 (m)
pode ser um padrão de linha de costa, mas ela foi causada por algum fator. Esse
processo causador seria então as correntes longitudinais predominantes.
Utilizando o trabalho de Alves e Melo (2001) realizado em São Francisco, foi
possível entender de onde vêm as ondas que originam as correntes resultantes.
Segundo eles, o clima de ondas foi dominado por ondulações chegando de leste e
sudeste (50% das observações) com períodos de 6 a 11 segundos e altura
significativa de 0,5 a 1,5 metros (Figura 30).
Os presentes resultados estão em acordo com as análises realizadas por
Klein et al.(2006), no qual os autores relatam que foi confirmada predominância de
uma corrente longitudinal para norte nas praias ao norte da Praia do Tabuleiro. Onde
os estudos feitos, pelos autores citados, na laguna barreira do rio Itapocú, mostrou
que a desembocadura do rio derivou em média 100 metros por ano para norte (de
1995 a 2002). O atual estudo indica, portanto, que essa corrente longitudinal para
norte tem início na Praia do Sol e ganha forças na Praia do Tabuleiro.
-3
-2
-1
0
1
2
3
perfis
Média dos perfis normalizados
larguras ACP média do largura normalizada
Grant Sol Tabuleiro
46
Figura 30: Mostra o possível padrão de correntes originadas a partir da ondulação predominante de leste e sudeste proposta por Alves e Melo (2001) e indicado pelo ACP.
6.2.2.2 Fator 2
No fator 1 da análise espacial foi discutido que a declividade da face praial
teve relações diretas com a granulometria. No atual fator a declividade dominou a
variabilidade provocada por esse fator. Utilizando os dados da declividade de todos
os levantamentos para cada perfil (Figura 31), foi possível ver que existe uma clara
diferença entre os perfis do Grant para os perfis do Sol e do Tabuleiro, mostrando
que há pouca ou nenhuma troca de sedimento da praia do Grant com as outras
praias. E que a semelhança do estado morfológico e da declividade dos perfis do Sol
e do Tabuleiro indica que possivelmente ocorre passagem de sedimento entre as
duas praias. De forma geral, as Praias do Sol e do Tabuleiro aumentaram a sua
tendência reflectiva.
47
48
Figura 31: Boxplot da declividade da face da praia.
As declividades que mais influenciaram no fator 2 foram as máximas (acima
de 10,0°) e as mínimas (abaixo de 3,5°) de forma com que fosse mostrada a grande
diferença morfológica entre perfis com características reflectiva e os com
dissipativas. Perfis com grandes inclinações são recorrentes nas Praias do Sol e do
Tabuleiro, mostrando assim que não são necessariamente ocasionadas por eventos
de tempestades, já que não tem um padrão entre perfis adjacentes, mas é possível
que seja uma característica formada a partir do estado morfodinâmico no qual o
perfil se encontra. Porém, Araujo (2008) relata que o aumento da declividade da face
praial está relacionado a eventos de erosão momentâneos provocados por
tempestades. Contudo, Short (1999) mostra que o estado morfodinâmico está
relacionado à granulometria, e que praias intermediárias têm uma variação natural
provocada pela dinâmica do seu banco submerso. Dessa forma, foi definido que o
fator 2 foi a variação morfológica entre as Praias do Grant para as praias do Sol e do
Tabuleiro, de forma com que as mudanças da declividade da face praial de cada
perfil dessas praias (exceto a do Grant) foi atribuída a dinâmica do banco submerso.
7. CONCLUSÃO
Todas as praias do presente estudo apresentaram grande dinâmica
sedimentar com complexos sistemas costeiros, contudo nenhuma praia apresentou
déficit sedimentar.
0123456789
1011121314
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Vo
lum
e (
m³/
m)
perfis
Boxplot dos dados de decivlidade entre 2011 - 2013 Grant Sol Tabuleiro
49
A Praia do Grant foi classificada como semi-exposta e dissipativa. Não
apresentou banco submerso ou cúspides. Mostrou um perfil suave com
grande largura (média de 50 m), sendo que essa aumentava na direção sul.
Comparando o volume das extremidades dessa praia, indicou o processo de
rotação praial de curta escala com padrão anual. No inverno a largura era
acima da média para o perfil do norte e no verão o mesmo acontecia para o
perfil ao sul. O ciclo sedimentar bem definido sugere que o sedimento não sai
do sistema dessa praia.
A Praia do Sol foi classificada como sendo do estado intermediário e exposta,
com presença de banco submerso e cúspides. Seus curtos perfis praiais
(média de 37 m) não protegem as casas que estão delimitando o pós-praia,
de forma que periodicamente ocorrem alguns processos de erosão dos
terrenos privados. Não apresentou rotação praial bem definida, porém existe
um ciclo sedimentar presente na praia. Ao longo do tempo apresentou
declividades acentuadas indicando características reflectivas.
A Praia do Tabuleiro foi classificada como sendo do estado intermediário e
exposta. Com presença de banco submerso e cúspides, sendo que suas
correntes têm grande intensidade. Os seus perfis apresentaram grandes
volumes, além de que a largura aumentava para norte. O cordão arenoso
presente no limite do pós-praia protege o final da praia das ondas de
tempestades. Não indicou o processo de rotação praial, sendo que as
extremidades da praia tendem a apresentar um ciclo sedimentar igual,
apenas para certos meses que estiveram fora de fase.
A ACP foi válida no presente trabalho, sendo que seus resultados foram todas
pertinentes auxiliando no estudo das variações morfológicas. Na análise espacial, 2
fatores explicaram 84,90% da variabilidade dos dados:
O fator 1 foi definido como sendo a variação do estado morfológico dos perfis
dissipativo com areia fina (0,18 mm) do Grant, para os intermediários com
areia média (0,40 mm) do Sol e dos perfis intermediários com características
reflectivas (presença de areia grossa no perfil 12T de 0,78 mm) da Praia do
Tabuleiro.
O fator 2 foi caracterizado pelas correntes longitudinais predominantes
presentes em cada praia. Isso foi apontado pelo padrão de largura do perfil
50
praial desigual das extremidades de cada praia, no qual em junho de 2011
apresentou acumulação na extremidade norte da Praia do Sol e da Praia do
Tabuleiro indicando que nessas praias a corrente foi para norte.
Na análise espaço-temporal dois fatores explicaram 91,3% da variabilidade
dos dados:
Foi atribuído o fator 1 como sendo o padrão de correntes longitudinais mais
atuante de cada praia ao longo do estudo. Na Praia do Grant a corrente
derivou para sul e nas Praias do Sol e do Tabuleiro para norte. Esse padrão
foi observado a partir da largura praial desigual entre as extremidades de
cada praia.
Definiu-se o fator 2 como sendo a variação morfológica entre os perfis
dissipativo (declividade suave <3,5°) do Grant para os perfis intermediários
(declividade média) com características reflectivas (declividade acentuada
>10°) das praias do Sol e do Tabuleiro. As mudanças da declividade da face
praial de cada perfil dessas ultimas duas praias foram atribuídas às dinâmicas
dos bancos submersos.
8. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS
O monitoramento de dois anos dos perfis praiais foi útil, pois possibilitou ver o
ciclo sedimentar de perfis que tem grandes variações dos parâmetros. E em caso
que apenas tivesse um ano de levantamento alguns perfis poderiam ser apontados
como sendo erosivos. Além de que, o método utilizado se mostrou eficaz para
análise das feições morfológicas.
A análise de componentes principais foi de grande ajuda tendo uma
importante função de condensar os dados. A partir dela foi possível visualizar
diferentes padrões na morfologia causados por alguns fatores.
Para futuros trabalhos sugere-se:
Na realização de uma ACP para análise na morfologia praial, utilizar uma
amostra sedimentar da face praial, se possível, uma por levantamento
topográfico. Além disso, utilizar nas análises as forçantes físicas como altura
significativa e período de onda.
A partir da modelagem numérica, comprovar a existência e a magnitude das
correntes longitudinais das praias estudadas. Bem como a resultante da
deriva continental que atua nas praias de Piçarras e Barra Velha.
51
9. BIBLIOGRAFIA
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56
APÊNDICE – Perfis praiais e seus parâmetros
Tabela 8: Dados de volume obtidos a partir dos perfis praiais (altura de contorno -0,5 m).
Perfil Volume da Praia (m³/m)
jun/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 dez/12 fev/13 abr/13 jun/13
01G 31,6 34,6 52,2 61,5 67,7 47,5 32,8 67,6 62,2 62,8 59,2 45,3
02G 35,9 35,5 38,2 40,9 47,5 51,0 43,8 47,5 50,0 53,1 51,3 58,0
03G 41,2 32,4 18,2 15,0 18,0 26,3 34,6 16,4 15,3 15,0 14,2 24,4
04S 38,7 47,6 29,0 24,2 32,9 41,8 43,8 38,9 27,0 27,8 35,0 25,7
05S 43,2 40,6 42,5 34,9 42,2 39,5 34,7 34,7 39,0 39,6 32,4 45,3
06S 65,6 53,0 60,4 52,2 71,4 67,8 58,7 57,5 61,1 63,2 61,4 75,4
07S 74,0 50,5 49,6 49,6 82,6 67,3 58,3 69,4 65,9 69,7 60,8 65,0
08S 59,4 53,8 61,2 59,2 55,1 57,2 56,8 75,9 68,2 61,9 49,6 41,7
09T 58,2 59,6 64,8 82,2 102,2 61,8 60,1 81,3 99,1 111,0 92,1
10T 44,7 37,3 29,5 76,0 75,2 54,3 42,2 70,9 72,9 86,2 77,0 76,8
11T 60,9 46,1 49,2 31,2 63,1 56,8 42,0 62,6 60,8 62,0 70,7
12T 93,8 88,7 68,1 70,6 77,8 83,8 77,2 75,5 89,7 69,4 78,6
13T 40,2 54,3 54,9 52,2 55,3 60,6 72,2 60,6 67,4 67,4 62,0
14T 53,2 68,0 52,4 63,5 76,6 79,2 71,2 70,2 87,9 78,1 81,5
15T 61,7 73,9 79,7 63,1 84,5 69,9 71,0 78,8 89,8 73,2 84,1 97,1
16T 70,1 73,7 77,1 106,2 106,5 83,8 87,0 102,5 104,0 108,6 106,5 97,3
17T 59,8 64,1 67,8 71,0 94,0 86,8 73,4 95,7 87,3 103,4 96,9 83,0
18T 46,5 61,2 46,8 70,1 73,9 73,0 68,9 69,1 51,6 71,0 69,1 66,9
19T 58,9 65,3 75,9 71,7 77,4 70,8 83,1 87,4 65,8 66,4 70,1 67,1
20T 69,1 95,0 70,8 41,5 84,0 84,8 86,4 72,4 64,9 69,1 65,6
21T 56,6 66,9 86,1 86,1 83,1 65,6 69,8 61,3 49,2 59,1 52,9 66,9
22T 82,7 97,7 102,2 77,0 85,8 87,5 84,0 77,7 66,1 66,5 64,2 81,2
23T 86,4 67,9 70,2 71,1 99,3 97,9 42,5 44,9 47,3 53,4 94,0 38,5
57
Tabela 9: largura das praias obtido a partir dos perfis praiais (altura de contorno -0,5 m).
Perfil Largura da Praia (m)
jun/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 dez/12 fev/13 abr/13 jun/13
01G 57,0 61,0 72,6 73,1 72,3 62,2 59,1 78,3 73,0 70,5 70,4 60,2
02G 50,4 50,8 52,4 55,1 54,4 55,0 53,7 55,0 57,1 57,5 54,4 58,6
03G 42,6 36,3 31,8 21,5 20,4 32,4 39,7 20,5 20,8 22,1 22,8 32,3
04S 35,3 64,2 22,8 28,8 34,5 31,0 41,5 33,8 20,9 21,3 27,5 26,3
05S 28,7 27,3 29,2 25,7 36,6 36,9 26,4 30,9 23,4 28,5 23,5 30,6
06S 36,7 30,7 35,2 33,8 41,8 36,2 33,3 41,9 43,2 47,2 32,4 38,0
07S 41,0 31,5 35,9 34,5 41,7 38,9 38,4 35,5 34,2 41,8 37,8 37,3
08S 50,2 48,8 49,7 48,3 45,2 47,8 49,0 54,7 48,5 45,3 45,3 42,8
09T 34,5 34,2 37,0 40,5 50,0 32,3 33,2 38,5 43,7 48,0 40,3
10T 28,9 27,5 25,0 41,8 46,5 32,1 28,7 41,5 44,6 42,1 40,2 38,5
11T 40,7 34,7 36,5 29,2 40,0 36,2 30,9 42,5 41,1 40,3 42,0
12T 42,0 41,4 34,3 37,6 38,7 41,5 36,4 41,5 47,2 39,3 40,5
13T 29,2 37,8 36,9 33,7 35,4 37,4 51,2 37,2 38,5 47,0 40,5
14T 28,7 37,3 29,4 33,0 38,2 36,6 36,5 36,9 47,8 41,8 43,5
15T 36,4 47,2 46,9 43,0 60,2 42,0 45,1 45,7 46,5 40,0 48,5 56,5
16T 39,5 43,7 45,3 56,5 65,5 47,4 49,2 52,0 48,9 49,5 52,0 53,0
17T 41,0 41,3 47,7 42,8 58,0 48,4 46,0 52,5 46,9 59,3 51,0 50,0
18T 44,1 50,8 44,7 62,6 67,4 53,5 53,7 51,5 45,7 55,5 50,3 55,0
19T 39,2 41,4 48,7 46,0 56,9 46,0 48,6 49,0 41,1 41,9 42,3 39,5
20T 42,8 54,1 42,3 31,1 60,3 50,1 50,3 43,4 43,5 49,8 39,7
21T 44,5 52,5 53,1 53,1 63,2 52,3 52,1 45,0 46,4 60,9 43,2 53,0
22T 51,3 58,6 59,7 47,2 56,5 59,9 59,7 49,2 59,1 58,7 42,4 61,3
23T 53,6 45,1 42,7 58,8 64,5 64,9 34,8 47,0 36,5 52,6 66,0 36,0
58
Tabela 10: Dados de declividade da face da praia ao longo do monitoramento.
Perfil Declividade da face da praia em graus(o)
jun/11 ago/11 out/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 dez/12 fev/13 abr/13 jun/13
1G 2,3 2,1 1,9 2,5 2,5 2,7 2,9 1,7 2,0 2,8 2,5 2,3
2G 3,4 3,1 3,2 2,6 2,8 3,9 3,6 3,0 3,4 3,3 4,0 3,0
3G 3,9 4,2 4,8 2,2 4,8 3,3 5,0 3,8
4S 6,8 7,6 8,4 9,2 8,4 6,0 6,1 3,9 10,0 8,0 6,5 6,0
5S 7,8 9,6 8,4 9,3 6,3 8,9 11,8 7,5 10,2 10,0 10,0 7,0
6S 8,1 11,4 10,8 8,0 8,2 8,3 13,2 8,5 6,0 9,4 10,5 8,8
7S 6,6 7,7 10,7 6,2 9,3 5,3 5,8 7,7 8,5 10,6 10,0 7,0
8S 7,0 5,5 5,0 6,8 6,0 6,0 7,0 6,5 8,0 8,8 7,5 6,0
9T 8,5 9,1 12,5 5,6 10,2 9,6 9,3 9,7 8,6 8,2 11,5
10T 6,4 9,2 6,7 7,7 11,3 9,8 9,4 6,2 6,7 9,6 7,5 8,3
11T 8,0 10,9 9,1 13,1 9,3 9,0 11,5 7,5 9,0 9,0 11,3
12T 9,3 9,7 8,5 8,9 9,5 7,0 11,2 8,0 6,5 8,0 9,5
13T 9,6 8,0 9,1 7,4 11,5 8,0 4,8 8,3 11,8 6,0 10,8
14T 7,8 6,6 10,0 10,6 5,5 8,5 7,7 8,5 9,6 5,0 8,1
15T 6,1 6,7 7,2 6,8 7,5 6,5 6,7 6,9 8,0 9,6 8,0 9,0
16T 8,7 8,9 6,5 5,3 10,2 7,0 5,8 8,0 9,0 10,7 8,5 11,0
17T 7,5 11,0 6,2 9,3 11,5 7,5 6,7 7,7 8,5 6,6 7,0 8,8
18T 10,0 9,8 11,0 6,0 9,2 7,5 6,6 9,2 10,0 9,8 9,5 12,3
19T 9,3 11,0 6,4 6,0 7,4 5,0 6,8 9,7 8,5 11,5 9,0 12,9
20T 8,9 6,3 10,9 14,4 6,0 5,0 6,0 8,2 8,5 8,7 9,0
21T 6,6 8,2 10,8 9,5 7,5 4,9 5,5 6,9 8,0 8,2 7,5 8,0
22T 6,2 6,2 6,9 7,4 5,9 4,6 4,2 8,5 8,5 9,0 7,5 8,2
23T 7,0 9,8 7,4 7,1 5,9 5,8 5,3 11,1 5,3 10,0 6,0 6,8
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Figura 32: Gráfico dos perfis praiais entre junho de 2011 a junho 2013 e seus respectivos gráfico de perfis médio, máximo, mínimo e desvio padrão.