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U N I V E R S I D AD E D O V AL E D O I T AJ AÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS
DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental
CAPACIDADE DE CARGA DE VISITANTES DO PARQUE NATURAL
MUNICIPAL DO ATALAIA, ITAJAÍ-SC
Ac: Carlos de Souza
Orientadora: Rosemeri Carvalho Marenzi, Doutora
Itajaí, junho/2013
U N I V E R S I D AD E D O V AL E D O I T AJ AÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS
DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CAPACIDADE DE CARGA DE VISITANTES DO PARQUE NATURAL
MUNICIPAL DO ATALAIA, ITAJAÍ-SC
Carlos de Souza
Monografia apresentada à banca examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Ambiental como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Ambiental.
Itajaí, junho/2013
ii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família e a todos colegas que estiveram ao meu
lado durante a graduação.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos envolvidos no desenvolvimento do projeto, minha
orientadora Rosemeri Carvalho Marenzi, e Hélia Farias Espinoza pelo apoio técnico.
Agradeço também aos avaliadores do meu trabalho pelas contribuições.
v
RESUMO
Parque é a categoria de unidade de conservação que objetiva preservar
ecossistemas e beleza cênica, possibilitando a visitação. Contudo, os impactos decorrentes
da visitação alteram o meio físico e biótico, interferindo na própria satisfação do mesmo. O
Parque Natural Municipal da Atalaia, localizado na cidade de Itajaí-SC, criado em 2007,
recebe intensa visitação com fins educativos, recreativos e turísticos. Este trabalho objetivou
levantar a capacidade de carga de visitantes dentro do Parque Natural Municipal da Atalaia,
Itajaí-SC, por meio do método de Cifuentes (1992). Este método busca estimar a carga
física, real e permissível que uma área de proteção pode receber visitantes, considerando
os limitantes físicos, biológicos e de manejo do local. Como resultado, o estudo indicou um
limite de 421 visitantes por dia, para que o parque não sofra com os efeitos negativos da
sobrecarga. O número máximo de visitantes é fundamental para o desenvolvimento do
Programa de Uso Público, que oferece oportunidade de visitação ao parque. Por estar
situado numa região de grande assédio turístico, sofrendo de picos de visitantes, este
cálculo se fez necessário para que o local não sofra os impactos da sobrecarga.
Palavras-chaves: Método de Cifuentes; Capacidade de Carga, Unidades de Conservação,
Uso Público.
vi
ABSTRACT
Park is the category of conservation unit that aims to preserve the ecosystem and scenic
beauty, while enabling visitation. However, the impact of visitors changes the physical and
biotic environments, influencing the visitor's enjoyment of the park. The Parque Natural
Municipal do Atalaia, located in the city of Itajaí-SC, created in 2007, receives intense
visitation for educational, recreative and turistic purposes. This work measured the capability
to support visitors of the Parque Natural Municipal do Atalaia, using the Cifuentes' method
(1992). The method estimates the physical, real and permissible loads that a protected area
can receive considering its physical, biological and management limitations. As a result, the
study shows a limit of 421 visitors per day, in order for the park not to suffer with overload.
The maximum number of visitors is fundamental to the development of the Public Usage
Program, which offers the opportunity to visit the park. For being placed in a highly turistic
area, with peaks of visitation, the study is necessary for the park not to suffer impacts of
overload.
Keywords: Cifuentes' method, load capacity, conservation unit, public usage
vii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ....................................................................................................................... i
AGRADECIMENTOs ............................................................................................................ iv
Resumo ................................................................................................................................. v
Abstract ................................................................................................................................ vi
Sumário ................................................................................................................................ vii
Lista de Figuras .................................................................................................................... ix
Lista de quadros ................................................................................................................... xi
Lista de Abreviaturas ............................................................................................................ xii
1 Introdução ....................................................................................................................... 1
2 Objetivos......................................................................................................................... 3
2.1 Geral........................................................................................................................ 3
2.2 Específicos .............................................................................................................. 3
3 Fundamentação Teórica ................................................................................................. 4
3.1 Unidades de Conservação ....................................................................................... 4
3.1.1 Planejamento de Unidades de Conservação .................................................... 7
3.2 Capacidade de Carga .............................................................................................. 9
4 Metodologia .................................................................................................................. 12
4.1 Caracterização da área de estudo ......................................................................... 12
4.2 Procedimentos Metodológicos ............................................................................... 14
4.2.1 Caracterização da visitação e percepção dos visitantes ................................. 14
4.2.2 Cálculo da Capacidade de Visitantes ............................................................. 14
5 Resultados e Discussão ............................................................................................... 23
viii
5.1 Características da visitação no PNMA ................................................................... 23
5.2 Percepção dos visitantes ....................................................................................... 27
5.3 Capacidade de Visitação ....................................................................................... 34
5.3.1 Capacidade de Carga Física .......................................................................... 34
5.3.2 Capacidade de Carga Real (CCR) .................................................................. 34
5.3.3 Capacidade de Carga Efetiva (CCE) .............................................................. 37
6 Considerações Finais ................................................................................................... 43
7 Recomendações...........................................................................................................45
8 Referências .................................................................................................................. 46
9 Apêndice 01: Questionário realizados com visitantes no PNMA, Itajaí-SC. ................... 50
10 Apêndice 02: Check list utilizado no cálculo da capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-
SC...... ................................................................................................................................. 51
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Dinâmica das Capacidades de Carga. Fonte: Cifuentes (1992)............................................10
Figura 2: Localização do Morro da Atalaia, onde está situado o Parque Natural Municipal da Atalaia, Itajaí, SC. Fonte: Carvalho (2006).........................................................................................................13
Figura 3: Limites de área do PNMA, destacando em amarelo local do mirante principal. Fonte: Laboratório de Unidades de Conservação/UNIVALI.............................................................................14
Figura 4: Localização dos sítios de visitação do PNMA, Itajaí-SC........................................................16
Figura 5: Opções de n° de visitantes no mirante norte para calcular o fator de correção social..........18
Figura 6: Sistema de drenagem das trilhas do PNMA, Itajaí-SC...........................................................19
Figura 7: Precipitação média mensal do município de Itajaí, SC, período de 1999 a 2006. Estação meteorológica automática. Fonte: Araújo (2009)...................................................................................21
Figura 8: Número de visitantes mensais no ano de 2011 no PNMA, Itajaí-SC. Fonte: Laboratório de Manejo de Unidades de Conservação/UNIVALI....................................................................................24
Figura 9: Número de visitantes mensais no ano de 2012 no PNMA, Itajaí-SC. Fonte: Livro de registro do parque...............................................................................................................................................25
Figura 10: Variação do número de visitantes durante o dia do PNMA, Itajaí-SC..................................26
Figura 11: Grupo escolar recebido pela PNMA, Itajaí-SC.....................................................................27
Figura 12; Imagens do veículo utilizado para transporte de visitantes..................................................27
Figura 13: Infraestrutura oferecida ao visitante no PNMA, Itajaí-SC.....................................................28
Figura 14: Motivo da visita dos visitantes do PNMA, Itajaí-SC, sobre o motivo da visitada..................29
Figura 15: Frequência dos visitantes no visitantes do PNMA, Itajaí-SC, sobre a frequência da visita.......................................................................................................................................................29
Figura 16: Resultado da pesquisa realizada com visitantes do PNMA, Itajaí-SC, sobre como a trilha foi percorrida...............................................................................................................................................30
Figura 17: Estado de conservação das trilhas segundo os visitantes do PNMA, Itajaí-SC...................31
Figura 18: Sinalização da localização do PNMA, Itajaí-SC, segundo os visitantes..............................31
Figura 19: Informações disponibilizadas no PNMA, Itajaí-SC, segundo os visitantes..........................32
Figura 20: Placas educativas/interpretativas e sinalização, disponíveis no PNMA, Itajaí-SC...............32
Figura 21 Sobre o estado da infraestrutura disponibilizada no PNMA, Itajaí-SC, aos visitantes do parque....................................................................................................................................................34
Figura 22: Número máximo de visitantes simultâneos no mirante principal sem que afete a qualidade da visita, no PNMA, Itajaí-SC................................................................................................................34
Figura 23: Perfil de declividade da trilha principal, trilha de acesso ao mirante norte, em destaque trechos com declividade alta.................................................................................................................36
x
Figura 24: Perfil de declividade da trilha de acesso ao mirante sul, em destaque trechos com declividade alta......................................................................................................................................37
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Quadro com a influência da declividade na dificuldade do visitante em percorrer as trilhas.
Fonte: Cifuentes (1999).........................................................................................................................20
Quadro 2: Níveis de satisfação referente à porcentagem alcançado em cada item. Fonte: Cifuentes (1999)....................................................................................................................................................23
Quadro 3: dados utilizados para calcular a CCF do PNMA, Itajaí-SC...................................................35
Quadro 4: dados utilizados para calcular a CCR do PNMA, Itajaí-SC..................................................38
Quadro 5: Avaliação da capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-SC, item recurso humano................38
Quadro 6: avaliação da capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-SC, item infraestrutura.....................39
Quadro 7: avaliação da capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-SC, item equipamento.....................40
Quadro 8: capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-SC.........................................................................41
Quadro 9: capacidade de carga efetiva ou permissível do PNMA, Itajaí-SC........................................42
xii
LISTA DE ABREVIATURAS
AMBF- Associação dos Moradores do Bairro da Fazenda
C – Comprimento
CCE – Capacidade de carga efetiva
CCR - Capacidade de carga real
CCF – Capacidade de carga física
CEA- Centro de Educação Ambiental
CM - Capacidade de manejo
EIA - Environmental Impact Assessment
EUA – Estados Unidos da América
FAMAI – Fundação de Amparo ao Meio Ambiente de Itajaí
FC - Fator de Correção
GO – Goiás
Hv- Tempo em que a Área Permanece Aberta ao Visitante por Dia
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geoprocessamento e Estatística
L – Largura média
LAC - Limits of Aceptable Change
MG – Minas Gerais
ML – Magnitude limitante
MT - Magnitude total
Nv - Número de visitas possíveis no mesmo dia
OSCIP - Organização da Sociedade civil de Interesse Público
xiii
PNMA – Parque Natural Municipal da Atalaia
S - Superfície disponível aos visitantes
SC – Santa Catarina
SEUC – Sistema Estadual de Unidades de Conservação
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SP – São Paulo
Sp - Superfície utilizada por cada visitante
Tv- Tempo necessário para cada Visita
UC – Unidade de conservação
1
1 INTRODUÇÃO
A ideia de conservação do meio ambiente nem sempre esteve presente entre as
prioridades do homem; esta percepção surgiu com os crescentes questionamentos da
humanidade sobre suas relações com a natureza. A partir do seu desenvolvimento, o
homem começou a transformar o meio em que vive e estas alterações acarretaram em
mudanças de clima, na biodiversidade e abundância dos recursos naturais.
A principal ferramenta para a conservação da biodiversidade é a criação de áreas
protegidas. Assegurando, assim, que determinadas áreas fiquem a salvo do
desenvolvimento desenfreado, garantindo seus recursos naturais e belezas para gerações
futuras. Este modelo foi adotado por vários países, iniciando nos EUA com a criação do
Parque Nacional Yellowstone em 1872, com o objetivo de preservar suas belas paisagens
virgens, garantindo, assim, que o humano ali seria um visitante, nunca um morador,
impossibilitando que a área fosse colonizada, ocupada ou vendida (BENSUSAN, 2006).
Porém, apenas a criação da unidade de conservação por si só não garante que os
objetivos sejam alcançados, estudos realizados em 28 parques na América Latina
evidenciam que a maioria dos parques possuía moradores fixos, alguns vivendo dentro da
área protegida de forma ilegal. Estas unidades de conservação na sua maioria sofrem com
atividades ilegais como: assedio da caça ilegal, exploração madeireira, invasão por
agricultura, contrabando, pastoreio e extração de produtos naturais (DUGELBY & LIBBY,
1998 apud in TERBORGH, 2002). Muitas destas áreas após sua criação são deixadas a
própria sorte, sem nenhuma gestão ou fiscalização das atividades já existentes no local.
Existe a percepção por parte da população que com a criação de áreas protegidas,
consequentemente irá se perder áreas com potencial para o aproveitamento por outras
atividades, porém este conceito tem que mudar, pois os benefícios derivados da
conservação da natureza são notórios, como a utilização da área para recreação, bem
estar-físico e o valor intrínseco da própria natureza relacionado às peculiaridades do local,
além disso, algumas atividades dependem diretamente da preservação da natureza.
Dentre as categorias de unidades de conservação, parque concilia a preservação de
ecossistemas e a beleza cênica, com atividades de pesquisa cientifica, educação e
interpretação ambiental, recreação e turismo ecológico (Brasil, 2000).
2
Para Neto (2008), o turismo ecológico é um exemplo de atividade ligada
diretamente a áreas protegidas com ambientes naturais ou pouco modificadas pela ação
antropogênica, porém o crescimento da busca do homem por este contado direto com a
natureza não foi acompanhado por estudos para que o desenvolvimento destas atividades
não venha causar impactos permanentes, prejudicando a conservação do local.
O número de pessoas que busca atividades ao ar livre e contato com a natureza e a
adequação da estrutura e capacidade de receber estes usuários pelas unidades de
conservação não obtiveram o mesmo crescimento, sendo que estas adequações devem ser
alcançadas através de ações planejadas e o manejo da área protegida (BARROS, 2003).
Uma das formas de minimizar os efeitos do impacto da visitação é por meio do
estabelecimento da capacidade de carga. O termo capacidade de carga foi estudado
primeiramente para definir a produtividade de uma área de pastagem, calculando o número
máximo de animais considerando seus impactos e consumo de pasto. Posteriormente,
adotando critérios embasados cientificamente para manter os objetivos primários de
conservação ambiental, foi utilizado para definir a carga turística que uma determinada
unidade de conservação pode receber, evitando que esta cause dano ao ambiente ou à
insatisfação do visitante (CIFUENTES, 1992).
Para Borges (2011), o estudo da capacidade de carga é um procedimento
fundamental para o desenvolvimento da atividade turística dentro de uma unidade de
conservação em longo prazo, tendo em vista que a sobrecarga dificulta a manutenção da
qualidade da experiência, além de impactar o local visitado, sendo que a capacidade de
carga entre os princípios de planejamento turístico sustentável é um fator condicionante. O
planejamento deve subsidiar a integração dos recursos com os usos, harmonizando à
proteção, promoção e sustentação dos recursos.
Segundo Neto (2008), capacidade de carga turística é definida como o indicador que
visa limitar o número de visitantes num determinado ambiente turístico para que o ambiente
em questão não sofra degradação. Porém, este estudo não está difundido entre as unidades
de conservação, que por muitas vezes se utilizam de valores estimados de forma empírica,
sem base de estudos apropriados. O estudo da capacidade de carga deve ser precedido
pela caracterização do local, para não se cometer erros que poderão causar danos graves
ao ambiente por se superestimar o valor de capacidade de carga, ou o valor pode ser
subestimado e inviabilizar a gestão do local.
3
Face o exposto, o presente trabalho tem como objetivo a analise da capacidade de
carga de visitantes, buscando um equilíbrio entre a conservação da biodiversidade, com o
uso público, tendo como área de estudo o Parque Natural Municipal do Atalaia, Itajaí-SC.
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Este trabalho tem como objetivo analisar a capacidade de carga do Parque Natural
Municipal do Atalaia, Itajaí-SC, compatibilizando o potencial turístico ecológico do parque
com o objetivo primário da preservação do ecossistema e da beleza cênica.
2.2 ESPECÍFICOS
Caracterizar a visitação no Parque Natural Municipal do Atalaia, Itajaí-SC.
Identificar a percepção dos visitantes sobre o no Parque Natural Municipal do Atalaia,
Itajaí-SC.
Identificar a disponibilidade de infraestrutura e facilidades de acessibilidade no
Parque Natural Municipal do Atalaia, Itajaí-SC.
Calcular a capacidade de carga física, real e permissível de visitantes no Parque
Natural Municipal do Atalaia, Itajaí-SC.
4
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
A ideia de proteger áreas conservadas é muito antiga, originalmente eram criadas
por pelo menos duas motivações: a preservação de locais sagrados e a manutenção de
recursos naturais. Como em florestas sagradas da Rússia, onde o uso e a presença humana
eram proibidos, desde 700 A.C., ou em locais onde a caça era permitida apenas para a
realeza, garantindo assim a manutenção de estoques de recursos naturais. A ideia de áreas
protegidas está vinculada na crença popular do paraíso, em reservar lugares para
contemplação da natureza ou estar em contato com a mesma. (DAVENPORT &RAO, 2002
apud in Araújo, 2007).
Atualmente um dos principais fatos que evidencia a necessidade de criação de áreas
protegidas é a crescente taxa de extinção de espécies, que é superior à taxa de extinção de
fundo. As espécies mais sensíveis às modificações antrópicas, com menor capacidade de
adaptação estão sendo dizimadas a grupos populacionais com pequena chance de
sobrevivência em longo prazo. Terborgh (2002) afirma que há espécies que necessitam de
grandes áreas para manutenção e sobrevivência, após a fragmentação destas áreas
preservadas para dar lugar à agroindústria ou para ocupação humana, as espécies de
grande porte acabam tendo a chance de sobrevivência em longo prazo reduzida.
Segundo a Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000, regulamentada pelo decreto n°
4340/202, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –
SNUC, unidade de conservação (UC) é definida como espaço territorial com características
naturais relevantes, incluindo seus recursos naturais como as águas jurisdicionais, com
limites definidos, sob regime especial de administração, tendo como objetivo a proteção da
biodiversidade (BRASIL, 2000).
Segundo Brasil (2000), o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC é o
conjunto organizado de unidades de conservação, sendo elas na esfera federal, estadual ou
municipal, que planejado, manejado e gerenciado como um todo viabiliza o cumprimento do
objetivo primário de conservação das unidades.
O principal objetivo das UC’s é a conservação da biodiversidade, porém outros
objetivos, segundo Araújo (2007), são almejados, assim como:
5
Manter os processos ecológicos essenciais, que dependem de ecossistemas naturais.
Preservar a diversidade de espécies e a diversidade genética.
Manter a capacidade produtiva dos ecossistemas.
Preservar as características históricas e culturais.
Fornecer oportunidades para o desenvolvimento de comunidades locais, investigação
cientifica, educação, capacitação, recreação e turismo.
Provisão de bens e serviços ambientais.
Manter as fontes de inspiração humana e de orgulho nacional.
O SNUC separa as unidades de conservação em dois grupos: proteção integral e
uso sustentável (BRASIL, 2000).
Proteção integral: tem como principal objetivo a proteção integral da biodiversidade,
sendo permitido apenas o uso indireto dos recursos naturais, assim suas regras e normas
são restritivas. Esse grupo engloba as categorias:
I- Estação Ecológica.
II- Reserva Biológica.
III- Parque Nacional.
IV- Monumento Nacional.
V- Refugio de Vida Silvestre.
Uso sustentável: permite várias formas de usos sustentáveis dos recursos naturais,
tendo a conservação da biodiversidade como objetivo secundário, esse grupo é constituído
pelas seguintes categorias:
I- Área de Proteção Ambiental.
II- Área de Relevante Interesse Ecológico.
III- Floresta Nacional.
IV- Reserva Extrativista.
V- Reserva de Fauna
VI- Reserva de Desenvolvimento Sustentável.
VII- Reserva Particular do Patrimônio Natural.
Parque Nacional, Estadual ou Natural Municipal, dependendo da esfera do poder
público que o criou, tendo como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de
grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas
científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de
recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico, conforme indica Brasil (2000).
6
A palavra Parque tem a mesma raiz que paraíso, palavra de origem persa, após ser
incorporado ao idioma grego sofreu modificações, tendo o como sinônimo a expressão
“Parque Fechado” (DAVENPORT &RAO, 2002), a categoria parque destacou-se como área
protegida por ter sido mundialmente a primeira a ser reconhecida por meio da criação do
Yellowstone National Park, em 1872 nos EUA, desencadeando a criação de muitos parques
pelo mundo (Yázigi, 2002).
Marenzi et al (2005), em estudo sobre a situação de UC’s em Santa Catarina
constatam que a Floresta Atlântica (Floresta Ombrófila Densa), assim como a Floresta de
Araucárias (Floresta Ombrófila Mista) são as mais protegidas pela criação de unidades de
conservação, sendo as formações Campos (Estepes) e Floresta Estacional Decidual
(Floresta Subtropical) as menos representadas. Para a autora, mesmo após a criação, de
UC’s, existe dificuldade em atender os objetivos da categoria, sendo que os principais
problemas enfrentados pelos gestores são: infraestrutura ineficiente, furto de espécies
vegetais, ocupação irregular no interior da UC, caça e pesca ilegal; em algumas UC’s este
problema é agravado pela inexistência de plano de manejo, instrumento fundamental para o
manejo da área.
Para Costa (2006) as unidades de conservação tem um papel fundamental na
preservação da biodiversidade, dos recursos naturais e locais que proporcionam contado
direto com a natureza. O grande problema não está na criação destas unidades de
conservação, tendo em vista o grande esforço nacional para identificar estas áreas com
potencial, e sim o fato da criação destas não garantir o comprimento dos objetivos
determinados pelo SNUC.
Atualmente, o Morro do Atalaia está isolado de outros fragmentos, dificultando o
manejo de sua biodiversidade. Após a fragmentação das paisagens naturais, os
remanescentes sofrem com a redução da quantidade de hábitat, quebra da cadeia
alimentar, isolamento e impossibilidade de perpetuação da espécie (Primack & Rodrigues,
2002). Como estes remanescentes estão sofrendo com o avanço das cidades e lavouras,
estas áreas devem ser protegidas para que não sofram uma maior degradação, após serem
enquadradas dentro de uma das categorias de unidades de conservação, passam a ser
protegidas por leis específicas, regidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(ARAUJO, 2007).
7
3.1.1 Planejamento de Unidades de Conservação
No momento em que se imagina um cenário ideal para uma área de protegida, o
planejamento das ações irá nortear a unidade rumo ao futuro almejado. O planejamento é o
passo que antecede a tomada de decisão (BORGES, 2011), ações desordenadas
comprometem a preservação ambiental e acarretem em impactos negativos ao local, mas
para planejar as ações de manejo em uma área de proteção é necessário conhecer e
entender os processos que ocorrem no local (FERNANDEZ, 2004).
É necessário abrir espaço para se discutir sobre a gestão da capacidade de carga
em áreas de exploração eco turística, um dos objetivos de limitar o número de visitantes é
aumentar a satisfação dos mesmos, minimizando os danos causados pela sobrecarga
turística, de acordo com Neto (2008).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação define o plano de manejo como
documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade
de conservação, se estabelece seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da
área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a instalação das estruturas físicas
necessárias para à gestão da unidade (Brasil, 2000). Os principais produtos do plano de
manejo são o zoneamento e os programas de manejo (ARAUJO, 2007), sendo que para o
autor os principais objetivos do plano de manejo são:
Levar a unidade de conservação a cumprir os objetivos estabelecidos na sua criação.
Definir objetivos específicos de manejo, orientando a gestão da unidade de
conservação.
Promover o manejo da unidade de conservação orientado pelo conhecimento disponível
e/ou gerado.
Estabelecer a diferença e a intensidade de uso por meio de zoneamento, visando à
proteção de seus recursos naturais e culturais.
Estabelecer normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da
Zona de Amortecimento e dos Corredores Ecológicos, visando à proteção da unidade
de conservação.
Promover a integração socioeconômica das comunidades do entorno com a unidade de
conservação.
Orientar a aplicação dos recursos financeiros destinados à unidade de conservação.
8
O manejo adequado de uma unidade de conservação dependerá de seus objetivos
primários definidos pela categoria em que a área foi enquadrada, podendo ser de proteção
integral ou de uso sustentável. O uso conflitante de áreas para recreação com o objetivo de
preservação deve ser definido pelo zoneamento, que estará especificado em seu plano de
manejo. A atividade turística traz inevitavelmente impactos para o meio ao qual esta
inserida e cabe ao gestor da unidade de conservação manejar estes impactos de forma
adequada (BORGES, 2011).
Os programas de manejo reúnem as atividades que buscam o cumprimento dos
objetivos da unidade de conservação. São propostos os seguintes programas de manejo
para unidades de conservação de proteção integral (ARAÚJO, 2007).
1- Programa de conhecimento: o objetivo primordial é proporcionar subsídios mais
detalhados para o programa e manejo ambiental. Esta relacionada aos estudos,
pesquisas cientificas e ao monitoramento ambiental, a serem desenvolvidos na
unidade de conservação, que subsidiem preferencialmente o manejo. Suas
atividades e normas devem orientar as áreas temáticas das investigações
cientificas e também os pesquisadores, visando obter os conhecimentos
necessários ao melhor manejo da unidade.
2- Programa de uso público: tem como objetivo ordenar, orientar e direcionar o uso
da unidade de conservação pelo público, promovendo o conhecimento do meio
ambiente como um todo e, principalmente, do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, situando a unidade e seu entorno. Deverá também prever ações
no diz respeito à recepção e atendimento ao visitante.
3- Programa de integração com a área de influência: o objetivo é proteger a
unidade de conservação a partir de propostas para sua zona de amortecimento,
de forma a minimizar os impactos sobre a UC, bem como evitar seu isolamento
mediante ações de manejo. A execução deste programa requer a integração com
a população da área de influência, envolvendo os dirigentes locais, as
comunidades civis organizadas, as comunidades tradicionais e moradores das
circunvizinhanças, a partir de ações propostas para reduzir ou amortizar os
impactos sobre a unidade de conservação.
4- Programa de manejo do meio ambiente: visa eminentemente à proteção dos
recursos naturais englobados pela unidade, além dos recursos naturais, quando
9
couber. O maior objetivo é garantir a evolução natural dos ecossistemas ou de
suas amostras, biocenoses e a manutenção da biodiversidade, de tal maneira
que seus recursos possam servir à ciência em caráter perpétuo.
5- Programa de operacionalização: o objetivo é garantir a funcionalidade da unidade
de conservação, fornecendo a estrutura necessária ao desenvolvimento dos
outros programas.
Segundo Costa (2006) o uso público de unidades de conservação é definido como as
atividades educativas, recreativas e de interpretação ambiental realizadas em contato com a
natureza de acordo com as diretrizes determinadas pelo plano de manejo da área em
questão.
3.2 CAPACIDADE DE CARGA
O principal objetivo com a determinação do número máximo de visitantes em uma
determinada área protegida é proporcionar o contato com a natureza previsto pelo SNUC,
sem que ocorram danos excessivos ou irreversíveis aos recursos ambientais, culturais e
cênicos, assim como não prejudicar a qualidade da experiência.
O método de Cifuentes, desenvolvido em 1992, busca estimar a carga física, real e
efetiva máxima que uma área protegida pode receber considerando os limitantes físicos,
biológicos e de manejo do local (NETO, 2008). Os primeiros estudos utilizando esta
metodologia foram realizados em 1984 no Parque Nacional de Galápagos no Equador, em
seguida foi replicado em outras áreas de proteção da Costa Rica, pelo mesmo autor, como:
Reserva Biológica de Carara, Monumento Nacional Guayabo, Reserva Natural Absoluta
Cabo Blanco e Parque Nacional Manuel Antonio.
No Cifuentes (1992), a determinação da capacidade de carga passa pelos seguintes
passos:
Análise sobre a política de turismo e manejo de área protegida em nível nacional,
regional e local;
Análise dos objetivos da área;
Análise das áreas de uso público e seu zoneamento;
10
Definição, fortalecimento e mudança de politica a respeito da categoria de manejo
e zoneamento da área;
Identificação de fatores/características que influenciam na área;
Determinação da capacidade de carga da área;
O principal diferencial do método de Cifuentes é a quantificação do número de
visitantes por trecho analisado, outros métodos como LAC (Limits of Aceptable Change),
VERP (Visitor Experience and Resuorce Protection), EIA (Environmental Impact
Assessment) e Simulattion Modelling avaliam a visitação de forma qualitativa e trazem o
número máximo de visitantes e forma empirista (BORGES, 2011).
As três partes do cálculo se apresentam em níveis de restrição, sendo a capacidade
de carga física (CCF) a mais permissível e a capacidade de carga efetiva (CCE) a mais
restritiva, como exemplifica a figura 01, onde a maior restrição acarreta num menor número
de visitantes.
Figura 01: Dinâmica das Capacidades de Carga. Fonte: Cifuentes (1992)
Estes níveis de restrição são evidentes no cálculo da capacidade de carga turística
da Trilha Interpretativa Mãe da Floresta, sendo que no cálculo da capacidade de carga física
(CCF) o número máximo encontrado foi de 120 visitas por dia; no cálculo seguinte da
capacidade de carga real (CCR) corrigindo o valor da CCF a carga máxima calculada foi de
32 visitas ao dia, ficando ainda mais restritiva quando foi considerada a capacidade de
manejo do administrador do local, 28 visitas por dia para a capacidade de carga efetiva
(CCE) (NETO, 2008).
Para os gestores de uma área protegida, o estudo de capacidade de carga deve ser
considerado uma estratégia adicional no manejo da unidade de conservação e dos impactos
11
causados pela visitação. Limitar o número máximo de visitas não deve ser a primeira
opção no controle dos impactos causados pelos visitantes, mesmo que esta ação se mostre
a mais simples para controlar os impactos, sem necessariamente entender a causa destes
danos (BOGGIANE, 2007). O planejamento de excelência dependerá do nível de
conhecimento que o gestor da unidade tem do espaço em que trabalha.
Para Borges (2011), a capacidade de carga não deve ser considerada a solução
para os problemas derivados da visitação e sim uma ferramenta de planejamento,
subsidiando e reforçando as decisões de manejo.
O método de Cifuentes foi utilizado para cálculo de capacidade de carga para
diversas áreas protegidas, como na Fazendo Vagafogo no Município de Pirenópolis (GO),
onde foi realizado estudo sobre a capacidade de carga turística (NETO, 2008), o estudo da
capacidade de carga turística da Estação Experimental e Ecológica de Itirapina (SP)
(FARIA, 1997), assim como o estudo da capacidade de carga do Parque Nacional Serra do
Cipó (MG), realizado por Borges (2011), entre outras pesquisas na mesma área.
12
4 METODOLOGIA
Para o cálculo da capacidade de carga turística do Parque Natural Municipal do
Atalaia será utilizado o método de Cifuentes (1992), utilizado para este fim em diversas
unidades de conservação, se apresentando o mais adequado para a utilização no local.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O Parque Natural Municipal do Atalaia (Figura 03) foi criado pelo Decreto N° 8.107
de 2007, contemplando uma área de 195.000 metros quadrados, com uma área de
amortecimento de 765.000 metros quadrados, com o intuito de proteger a fauna e flora do
local. O parque possui plano de manejo e conselho gestor atuante desde a implantação da
unidade.
Desde 2011 o parque possui uma gestão compartilhada entre a Fundação de
Amparo ao Meio Ambiente de Itajaí (FAMAI) e a Associação de Moradores do Bairro da
Fazenda (AMBF). Sendo que a prefeitura repassa recursos financeiros para o pagamento de
recursos humanos e adoção e manutenção de infraestrutura, conforme aprovação do plano
de trabalho. A co-gestora conta com 12 funcionários, possui infraestrutura para recepcionar
os visitantes, assim como trilhas ecológicas que proporcionam contato direto com a
natureza, direcionando o público aos mirantes. Estes possibilitam uma bela vista para o
estuário do Rio Itajaí-Açu e uma rampa para a prática esportiva do voo livre. Contudo, desde
a sua criação, é notório o aumento de visitantes na área do parque, bem como os impactos
resultantes dessa visitação.
Figura 02: Localização do Morro da Atalaia, onde está situado o Parque Natural Municipal da Atalaia,
Itajaí, SC. Fonte: Carvalho (2006).
13
O Parque está situado na cidade de Itajaí, cidade-porto localizada na foz do rio
Itajaí-Açu (Figura 02), região centro norte do estado de Santa Catarina, 80 quilômetros ao
norte da capital Florianópolis, a cidade abriga uma população de 183.373 habitantes
distribuídos em 289.345 Km2 (IBGE, 2010).
Figura 03: Limites de área do PNMA, destacando em amarelo local do mirante principal.
Fonte: Laboratório de Unidades de Conservação/UNIVALI.
De modo geral a cobertura vegetal do Parque Natural Municipal do Atalaia é
constituída de Floresta Ombrófila Densa Submontana em estágio avançado de regeneração.
Contudo, encontram-se manchas de espécies exóticas e locais com solo desprovido de
cobertura vegetal (CARVALHO, 2006). Atualmente o Morro da Atalaia se apresenta como
um dos últimos remanescentes costeiro de Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica) no
município de Itajaí.
14
4.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.2.1 Caracterização da visitação e percepção dos visitantes
A caracterização da visitação foi realizada por meio de pesquisa documental,
especialmente a existente no banco de dados do Laboratório de Manejo de Unidades de
Conservação da Univali e no livro de registro de visitas fornecido pela co-gestora do parque.
O levantamento da percepção dos visitantes foi necessário para subsidiar o cálculo
da capacidade de manejo e respectiva, capacidade de carga efetiva (CCE). Para este
levantamento foi utilizada a técnica de entrevistas aos visitantes por meio do uso de
questionário (apêndice 01) e aos gestores (apêndice 02).
As entrevistas foram realizadas com 100 visitantes, na saída do parque, bem como
com o responsável pela gestão e dois funcionários durante suas atividades diárias no
próprio local.
4.2.2 Cálculo da Capacidade de Visitantes
O cálculo do número máximo de visitantes que o Parque Natural Municipal do Atalaia
pode receber foi baseado no método de Cifuentes (1992). Sendo dividido em três partes:
capacidade de carga física, capacidade de carga real e capacidade de carga efetiva ou
permissível.
Para o cálculo da capacidade de carga de visitantes do PNMA, foram considerados
os locais disponíveis para visitação separadamente, da seguinte forma: dois mirantes e duas
trilhas de acesso. A trilha principal inicia na recepção e tem seu fim no mirante norte, com
maior infraestrutura e destino preferencial dos visitantes, a segunda trilha dá acesso ao
mirante sul, utilizado para a prática de voo livre (figura 4).
15
Figura 4: Localização dos sítios de visitação do PNMA, Itajaí-SC
4.2.2.1 Cálculo da Capacidade de Carga Física (CCF)
A capacidade da carga física (CCF) pode ser definida como uma relação entre a área
destinada à visitação com o espaço ocupado pelo visitante, considerando o tempo de
permanência médio dos visitantes e o tempo disponível pra visitação. Sendo assim, este
nível de determinação de capacidade de carga indica um número extremo de visitantes
considerando os fatores tempo e espaço (NETO, 2008).
O cálculo da capacidade de carga física (CCF) utiliza as seguintes variáveis:
CCF = ( S / Sp ) x Nv
onde : S= superfície disponível aos visitantes; Sp= superfície utilizada por cada visitante;
Nv= número de vezes que a mesma pessoa poderá visitar o parque no mesmo dia.
Desta forma Nv equivale à:
Nv = Hv / Tv
onde : Hv= tempo em que a área permanece aberta ao visitante por dia; Tv= tempo
necessário para cada visita.
16
A área ocupada por visitante utilizada para o cálculo da capacidade de carga em
unidades de conservação em estudos analisados converge para valores entre 1 a 3 m²,
sendo que esta variável é subjetiva, pois depende dos anseios de cada visitante. O valor
utilizado no cálculo da CCF do PNMA foi de 3 m², espaço necessário para o visitante se
movimentar visando uma visitação com maior nível de conforto e satisfação.
4.2.2.2 Cálculo da Capacidade de Carga Real (CCR)
Para o cálculo da capacidade de carga real (CCR) foi utilizado a CCF corrigida pelos
fatores de correção (FC).
CCR = CCF x FC1xFC2xFC3...
onde : FC = fator de correção.
No cálculo da capacidade de carga real do PNMA foram considerados os seguintes
fatores de correção: fator social, fator erodibilidade, precipitação, brilho solar e
acessibilidade, fatores que são escolhidos por afetarem a visitação normal da unidade de
conservação. Estes coeficientes são calculados da seguinte forma:
FC= 1 - (ML/MT)
Onde ML é a magnitude limitante da variável e MT é a magnitude total da variável.
a) Fator social
Para ter controle do fluxo de visitantes nas trilhas do parque, aumentando a
qualidade da visitação e assegurando a satisfação do visitante, se propõe, segundo
Cifuentes (1999), que a visitação seja realizada da seguinte maneira:
Grupos de até 10 pessoas.
Para evitar interferências a distância entre grupos deve ser no mínimo de 50 metros.
Foi observado que os maiores grupos frequentemente giram em torno de
cinco visitantes por grupo, normalmente grupos maiores são excursões ou grupos
escolares, sendo estes manejados de maneira diferenciada, acompanhados por
guia/educador ambiental.
Considerando que cada pessoa ocupa 1 metro linear de trilha e as limitações
propostas acima, cada grupo ocupará 60 metros de trilha. Sendo assim, o número
17
de grupos que podem simultaneamente estar na trilha é calculado da seguinte
formula:
NG= C/ CG
Onde: NG= número de grupo; C= comprimento da trilha; CG=comprimento
do grupo.
Antes de calcular a FC é necessário saber o número de visitantes que podem
ocupar a trilha simultaneamente, multiplicando o NG pelo número máximo de
visitantes por grupo. Sendo assim, a magnitude limitante será o comprimento de
trilha utilizado para separar os grupos, e a magnitude total o comprimento da trilha.
Para os mirantes, o Fc social foi calculado de maneira distinta aos das trilhas,
tendo em vista que a metodologia não se aplica ao local. Foi desenvolvida uma
pesquisa entre os visitantes mensurando os anseios por espaço, questionando ao
mesmo o número máximo de pessoas sem que a qualidade da sua visita fosse
alterada. Na entrevista o visitante escolhe uma das opções apontadas na figura 5,
esta figura foi utilizada nas entrevistas.
Figura 5: Opções de n° de visitantes no mirante norte para calcular o fator de correção social.
Os valores de opção tiveram como base a Capacidade de Carga Física Mínima, igual
a 1, e Máxima, igual a 138 visitantes. Este valor (138 visitantes) é uma relação entre a área
18
disponível e área ocupada por visitantes. Os demais valores de intervalo foram
estabelecidos em progressão geométrica, iniciando em 10 visitantes e utilizando 2 como
fator de incremento. Este critério foi desenvolvido neste trabalho, uma vez que o fator social
comumente utilizado tem como base a distância entre grupos de pessoas nas trilhas, não
sendo possível utilizar nessa situação de espaço bidimensional (mirante).
O número máximo de visitantes, indicado pela pesquisa (média ponderada entre as
opções escolhidas pelos entrevistados) foi utilizado para encontrar o espaço não ocupado
com o número limite de visitantes indicado pela pesquisa, magnitude limitante, considerando
um espaço de 3 m² por visitante, e a área do mirante principal como magnitude total.
b) Fator erodibilidade
O fator de correção erodibilidade foi baseado na relação entre o comprimento
total da trilha (magnitude total) e a parte comprometida ou suscetível à erosão
(magnitude limitante).
O PNMA possui sistema de drenagem ao longo das trilhas o que ameniza o
processo erosivo (figura 6). Porém ao se canalizar, consequentemente há o aumento
da velocidade do volume drenado, e existe a necessidade de um sistema que reduza
a velocidade durante o percurso e um sumidouro para não causar o processo erosivo
no fim do sistema. Sendo assim, foi considerado o final de cada sistema de
drenagem que apresentasse processo erosivo iniciado como magnitude limitante,
pois são locais vulneráveis as ações erosivas.
Figura 6: Sistema de drenagem das trilhas do PNMA, Itajaí-SC.
19
c) Fator acessibilidade
Ao caminhar pelas trilhas uma dificuldade encontrada pelos visitantes é a
declividade, sendo que este pode é um fator limitante a visitação. Serão considerados os
seguintes graus de dificuldade.
Dificuldade Declividade
Dificuldade baixa ≤10%
Dificuldade média 10% - 20%
Dificuldade alta ≥ 20%
Quadro 01: Quadro com a influência da declividade na dificuldade do visitante em percorrer
as trilhas. Fonte: Cifuentes (1999).
No momento de estabelecer restrição de uso foram considerados apenas os trechos
com média e alta dificuldade, como os trechos com dificuldade alta são mais difíceis de
percorrer que os de dificuldade média foi considerado fator de ponderação de 1,5 para a
dificuldade alta e 1 para dificuldade média. Sendo assim, o fator de correção acessibilidade
se apresenta da seguinte forma:
FCace = 1 – ((ma x 1,5) + (mm x 1)) / Mt
Onde: FCace= fator correção acessibilidade; ma= trechos com alta dificuldade;
mm=trechos com dificuldade média.
O fator de correção acessibilidade foi calculado por meio do traçado de perfil de
declividade das trilhas. Após o perfil definido foram identificados os trechos com declividade
superior a 10% e 20% a fim de definir o nível de dificuldade.
d) Fator precipitação
Grande parte dos visitantes não está disposto a realizar a visita ao parque em
períodos de chuva, sendo este um fator que impede a visitação normal. Segundo Araújo
(2009) os meses com maior precipitação em Itajaí estão entre outubro e março (figura 7),
para Cifuentes (1999), o período chuvoso tem 4 horas por dia, assim temos um total de 728
20
horas de chuva no ano, sendo esta é a magnitude limitante, e o tempo disponível para
visitação a magnitude total (3650 horas).
Figura 7: Precipitação média mensal do município de Itajaí, SC, período de 1999 a 2006.
Estação meteorológica automática. Fonte: Araújo (2009).
e) Fator brilho solar
Outro fator que limita o número de visitantes é a exposição ao sol em horários
inapropriados, pois este fator altera a qualidade da visita. Segundo Araújo (2009) os meses
com maior incidência solar em Itajaí, são os meses de dezembro a março. Considerando
que durante este período os horários com maior insolação são das 10:00 ás 15:00 horas,
temos 605 horas limitantes nos meses mais quentes; e 488 horas limitantes nos meses
restantes, quando o horário de maior incidência solar é das 11:00 ás 13:00 horas. Sendo
assim, a magnitude limitante é de 1093 horas e a magnitude total será as horas de
funcionamento do parque no ano, igual a 10 horas por dia durante 365 dias no ano, que
resulta em 3650 horas por ano.
4.2.2.3 Cálculo da Capacidade de Carga Efetiva (CCE)
A capacidade de carga efetiva é o limite máximo de visitantes em conformidade a
capacidade de manejo da administração. Para o cálculo da capacidade de manejo foi
analisada a forma de gerenciamento dos recursos pela instituição responsável pela
administração da unidade de conservação. Foram considerados aspectos relacionados aos
equipamentos, dotação do pessoal, financiamento e instalações disponíveis.
21
Para o cálculo da capacidade de carga efetiva (CCE) a principal variável a ser
mensurada é a capacidade de manejo (CM), ou seja:
CCE = CCR x CM
onde: CM = capacidade de manejo.
A valoração da capacidade de manejo se deu pela avaliação da capacidade
administrativa dos gestores da área a ser protegida, bem como a estrutura oferecida aos
visitantes. Estes dados foram obtidos por meio de entrevista ao gestor da UC e dois
funcionários do parque, conforme Apêndice 02, bem como aos visitantes (apêndice 1).
Para Cifuentes (1999), as principais variáveis que influenciam a capacidade de
manejo são: recursos humanos, infraestrutura e equipamentos. Estes fatores foram
escolhidos pela sua facilidade de análise e medição. Cada variável foi avaliada quanto sua
quantidade, localização e funcionalidade. A variável recurso humano é avaliada apenas
quanto a sua quantidade, pois para uma avaliação desta variável seria necessário mais
tempo e conhecimentos sobre os colaboradores.
Segundo Cifuentes (1999) os critérios para avaliar cada variável são definidos da
seguinte forma:
Quantidade: relação percentual entre a quantidade atual e a quantidade necessária
para uma gestão de excelência.
Estado: se define pela condição de conservação e uso de cada item, avaliando sua
manutenção, limpeza e segurança, permitindo aos colaboradores da unidade uma utilização
adequada e segura.
Localização: neste item é avaliada a facilidade de acesso e a distribuição espacial
dos mesmos.
Funcionalidade: este critério é uma junção dos avaliados anteriormente (estado e
localização), se define como a utilidade prática que estes componentes tem para os
visitantes e colaboradores.
Estes critérios recebem uma qualificação (nível de satisfação) segundo quadro 02.
22
% Valor Qualificação
≤35% 0 Insatisfatório
36-50 1 Pouco satisfatório
51-75 2 Mediamente satisfatório
76-89 3 Satisfatório
≥90 4 Muito satisfatório
Quadro 02: Níveis de satisfação referente à porcentagem alcançado em cada item. Fonte:
Cifuentes (1999).
Sendo assim, a Capacidade de Manejo se deu por meio de média entre os valores
encontrados de recurso humano, infraestrutura e equipamentos.
23
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 CARACTERÍSTICAS DA VISITAÇÃO NO PNMA
O Parque Natural Municipal Morro do Atalaia (PNMA) sofre com o aumento
significativo do número de visitantes desde sua criação, sendo que a carga turística teve um
aumento acima de 200% durante o ano de 2011, chegando a mais de 2000 visitantes no
mês de dezembro, como mostra a figura 8.
Figura 8: Número de visitantes mensais no ano de 2011 no PNMA, Itajaí-SC. Fonte: Laboratório de
Manejo de Unidades de Conservação/UNIVALI.
Este comportamento se estabilizou no ano de 2012, onde os meses com maior carga
de visitantes foram os de veraneio, com exceção para o mês de setembro com 5.156
visitantes, sendo o segundo mês com a maior carga ficando atrás do mês de dezembro com
5344 visitantes, como pode ser observado na figura 06. Este comportamento do fluxo de
visitantes com picos entre os meses de novembro e fevereiro é o esperado pelo incremento
populacional que a região recebe durante a temporada de verão.
605 618 612
959 1088
1409
891
1370
1592 1484
1769
2019
Visitação do PNMA no ano de 2011
N° de visitantes
24
Figura 9: Número de visitantes mensais no ano de 2012 no PNMA, Itajaí-SC. Fonte: Livro de registro
do parque.
O fato da visitação ter mudado de comportamento do ano de 2011 para o ano
seguinte devesse ao inicio da gestão da unidade de conservação, ano de 2011, pois com a
implantação das estruturas e a divulgação do parque houve um crescimento exponencial do
número de visitantes, que expandiu até encontrar seu equilíbrio e variar em função do fluxo
da cidade.
A figura 10 mostra os horários com maior fluxo de visitantes dentro da unidade. Foi
possível perceber por meio de observações em saídas de campos, apesar de forma
empírica, que após as 15 horas há o aumento do número de visitantes, sendo que pela
manhã o parque recebe grupos menores, que buscam a prática de esportes (caminhada,
ciclismo e corrida); durante o período da tarde os grupos são maiores com tempo de
permanência maior, causando o acúmulo de visitantes.
3790 3893
2689 3040 2905 2760
3694
3056
5156
3729
5013 5344
Visitação do PNMA no ano de 2012
N° de Visitantes
25
Figura 10: Variação do número de visitantes durante o dia do PNMA, Itajaí-SC.
Além de recepcionar visitantes que buscam o contato com a natureza e apreciar a
bela vista que o PNMA proporciona da foz do Rio Itajaí-Açu, o parque recebe praticantes de
atividades de aventura como o voo livre. Estes se identificam na recepção para assinar o
termo de responsabilidade, tendo em vista que a atividade não é supervisionada pelos
gestores da unidade.
Ainda, durante o ano de 2011 o PNMA recebeu diversos grupos promovendo
educação ambiental com palestras, trilhas interpretativas e contato com o viveiro de plantas
nativas, estrutura que fica próxima à área do parque, administrada Pela Instituição co-
gestora. Durante 2011 o parque recebeu 32 instituições de ensino, com um total de 1548
alunos atendidos, segundo levantamento realizado por meio do registro de visitantes,
fornecido pela co-gestora.
Em 2012 as atividades promovendo a educação foram desenvolvidas com mais de
100 grupos de visitantes, recebendo instituições de ensino, empresas e grupos civis
organizados, como aposentados e escoteiros (figura 11), totalizando 2753 visitantes. Este é
um ponto a ser exaltado, o PNMA fica a disposição para agendamento de horários de visitas
de grupos em acompanhamento do educador ambiental, sem custos.
0
20
40
60
80
Perfil da Visitação no PNMA durante o dia
N° de Visitantes
26
Figura 11: Grupo escolar recebido pela PNMA, Itajaí-SC.
O parque disponibiliza veículos para facilitar o acesso dos visitantes aos mirantes,
uma caminhonete para transporte de grupos menores e um veículo de transporte coletivo
(figura 12) para levar grupos maiores (até 23 visitantes), este serviço é oferecido terças e
quintas feiras, finais de semana e feriados. Nos finais de semana apenas os veículos do
parque podem transitar dentro da unidade, durante a semana o trafego é liberado, menos
para motocicletas, que tem a entrada proibida por recorrentes transtornos.
Figura 12: Imagens do veículo utilizado para transporte de visitantes.
Nas trilhas estão disponíveis bancos para descanso, lixeiras, bituqueiras e placas
informativas, de orientação e sinalização. No mirante norte (principal), além da infraestrutura
27
já citada, esta disponível ao visitante torre de observação, “playground”, banheiro e água
potável, toda a estrutura esta em ótimo estado de conservação com ressalva para os
banheiros químicos que limitam o uso e conforto do usuário.
Figura 13: Infraestrutura oferecida ao visitante no PNMA, Itajaí-SC.
5.2 PERCEPÇÃO DOS VISITANTES
Foi incorporada a esta pesquisa a percepção dos visitantes sobre o PNMA por meio de
questionário realizado com 100 visitantes. As informações obtidas com a pesquisa foram
utilizadas no cálculo da capacidade de manejo para obtenção da capacidade de carga
efetiva (CCE).
A) Sobre o principal motivo que trouxe o visitante ao PNMA
Algumas opções não foram apontadas como objetivo da visita (Voo livre, realizar
estudos científicos), pois são atividades esporádicas que dependem de condições ideais. Os
entrevistados informaram como interesse ao visitar o parque: conhecer o parque, contato
com a natureza, observar o mirante e caminhada, conforme figura 14.
28
Figura 14: Motivo da visita dos visitantes do PNMA, Itajaí-SC, sobre o motivo da visitada.
B) Sobre a frequência de visitação no PNMA
Quando perguntado sobre a frequência, foi observado que a maioria dos visitantes
(figura 15) está no parque pela primeira vez (36%) ou visita mais de uma vez por ano (44%),
evidenciando, de modo geral, que a sociedade não desenvolveu o hábito de utilizar esta
área pública. Porém, mudanças de hábito levam tempo.
Figura 15: Frequência dos visitantes no visitantes do PNMA, Itajaí-SC, sobre a frequência da visita.
C) Sobre o deslocamento do visitante no interior do parque
Como o PNMA tem oferecido aos finais de semana para os visitantes a opção de subir
até o mirante com o veiculo do parque, a maioria opta por utilizar este recurso (80%). A
alternativa entre alternar caminhada e utilizar o veiculo do parque (6%) poderia ser melhor
Contato com a natureza
32%
Conhecer o PNMMA
36%
Observar o mirante
24%
Caminhada 8%
1° vez 36%
+1/semana 8%
+1/ mês 12%
+1/ ano 44%
29
explorada (figura 16), pois o PNMA apresenta uma trilha de dificuldade considerável, com
uma diferença de cota de 140 metros em pouco mais de um quilometro, sendo assim os
visitantes poderiam ser levados até o mirante com o veiculo do parque e retornando a pé,
tendo um contato maior com a natureza do parque, assim como oferecendo a oportunidade
de leitura das as placas informativas disponibilizadas ao longo das trilhas, como meio de
educação e interpretação ambiental. Estas atividades, recreação em contato com a natureza
e educação e interpretação são objetivos da categoria parque (Brasil, 2000)
Porém, para que o fluxo de visitante nas trilhas seja estimulado devesse atentar para o
conflito de trafego, veiculo e visitantes, orientando os visitantes assim como os motoristas
aos riscos, pois a trilha principal tem largura média de 4,74 metros e o caminhão (veiculo de
transporte coletivo) 2,42 metros de largura, sobrando 1,16 metros em média de trilha em
cada lado do caminhão, dificultando o deslocamento dos visitantes simultaneamente com o
veículo do parque, sendo que em trechos com largura reduzida este deslocamento fica
impossibilitado. Portanto o mais adequado é o estabelecimento de horários programados
para o deslocamento do veículo coletivo, possibilitando que no intervalo o visitante possa
caminhar com mais tranquilidade e segurança pelas trilhas.
Segundo o plano de manejo (Porto de Itajaí, 2006) o uso de veículo coletivo foi previsto,
sendo proibido veículos particulares no interior do parque. No entanto, veículos particulares
ainda adentram, com exceção dos finais de semanas e feriados. Os gestores alegam que
enquanto o transporte coletivo não for oferecido todos os dias, fica inviável proibir veículos
particulares, pois não haveria visitantes, já que a maioria não tem interesse ou condição de
caminhar até o mirante.
Figura 16: Resultado da pesquisa realizada com visitantes do PNMA, Itajaí-SC, sobre como a trilha foi percorrida.
A pé 14%
Veiculo do PNMMA
80%
Alternado entre caminhada e
veiculo do parque
6%
30
D) Sobre o estado de conservação das trilhas
A pesquisa aponta para uma percepção dos visitantes de que as trilhas estão sendo
conservadas, 50% dos entrevistados tiveram a percepção das trilhas estarem em excelente
estado de conservação. Foi observado, pelo autor, o plantio de mudas nativas ao longo das
trilhas, recuperando uma área que sofreu degradação durante anos pela inexistência de
manejo.
Figura 17: Estado de conservação das trilhas segundo os visitantes do PNMA, Itajaí-SC.
E) Sobre a sinalização da localização do parque
Quanto a esta, 38% dos visitantes entrevistados tem a opinião de que a sinalização
no entorno do parque é insuficiente e/ou inadequada (figura 18). Uma critica recorrente na
entrevista foi a não padronização das placas de sinalização assim como a não existência de
pictograma nas placas. Segundo o DENATRAN as placas de sinalização de atrativos
turísticos devem ser da cor marrom com escrita em branco e deveram ser acompanhadas
de pictograma e seta ou distância.
Figura 18: Sinalização da localização do PNMA, Itajaí-SC, segundo os visitantes.
Excelente 50%
Ótimo 28%
Bom 20%
Regular 2%
Sim 62%
Não 38%
31
F) Sobre as informações disponibilizadas no parque
Figura 19: Informações disponibilizadas no PNMA, Itajaí-SC, segundo os visitantes.
Apesar da maioria dos entrevistados, conforme figura 19, terem a opinião de que as
informações estão adequadas, confronta com a informação de que 80% dos visitantes
utilizam o transporte disponibilizado pelo parque, essas pessoas dificilmente observam
às placas informativas dispostas ao longo da trilha. Ao percorrer as trilhas e mirantes do
parque o visitante terá a sua disposição 52 placas informativas e 04 placas de
sinalização.
Figura 20: Placas educativas/interpretativas e sinalização, disponíveis no PNMA, Itajaí-SC.
As placas no parque tem função de sinalização, quando indicam trilhas ou pontos
atrativos, bem como educativas e interpretativas (figura 20) quando deixam mensagens,
conforme recomenda para a categoria parque.
Adequada 96%
Escassa 4%
32
G) Sobre a infraestrutura oferecida ao visitante
O PNMA apresenta uma infraestrutura adequada a um local turístico, isto foi
comprovado pela pesquisa, onde 90% dos visitantes entrevistados opinaram que a
infraestrutura oferecida estava entre boa e excelente. Os mirantes e as trilhas têm 18 lixeiras
e 25 bituqueiras bem distribuídas, o parque oferece ao visitante água potável, disponível nos
mirantes e na recepção. Além de 14 áreas de descanso ao longo das duas trilhas.
Cabe destacar que os banheiros utilizados, sendo químicos exigem higienização diária,
o serviço é realizado duas vezes por semana, antes e depois dos finais de semana. Muitas
UC’s mantém banheiros secos, podendo ser uma alternativa para o PNMA. Outro problema
quanto à infraestrutura é o fato da sede de visitantes (CEA), localizado na face leste, Praia
da Atalaia, está desativada sem previsão de abertura, sendo utilizada a sede da AMBF
como sede de atendimento ao visitante. O CEA está fechado por decisão do Ministério
Público em função da instabilidade da encosta adjacente a sede, ocorrendo deslizamento
por duas vezes desde a implantação do parque. Parte da encosta foi objeto de recuperação,
tendo sido retaludada com sistema de drenagem e realizada a hidrossemeaduras, mas além
dessa porção não ter se estabilizado, outra porção apresenta inclinação com “cunha
negativa”, gerando riscos de deslizamentos. Portanto, atualmente a recepção dos visitantes
do feita no portal de entrada, face oeste, bairro Fazenda. O problema de instabilidade da
encosta foi considerado no plano de manejo (Porto de Itajaí, 2006), sendo o local
estabelecido como Zona de Recuperação.
Também é problemática a situação do estacionamento na face oeste, entrada do
parque, pois as vias de adjacentes são estreitas, sem acostamento para os veículos, sendo
planejada a aquisição de imóvel vizinho ao portal de entrada do parque com fins de
estacionamento (Porto de Itajaí, 2006), mas até o momento isto ainda não foi realizado.
Portanto, os veículos dos vizinhos, assim como os utilizados na gestão do parque ficam
estacionados neste mesmo imóvel, mas de forma improvisada.
33
Figura 21: Sobre o estado da infraestrutura disponibilizada no PNMA, Itajaí-SC, aos visitantes do parque.
H) Sobre o número máximo de visitantes simultâneos no mirante sem que a sua
satisfação na visita seja afetada
O número máximo de visitantes simultâneos no mirante foi mensurado para desenvolver
o fator de correção social nos mirantes, fator este que é de suma importância para se
garantir a satisfação do visitante. As opções escolhidas pelos entrevistados foram revertidas
numa média ponderada para obter este valor, resultando em 30,02 visitantes simultâneos no
mirante. Sendo assim, a pesquisa indica uma necessidade de espaço de 13,8 m² por
pessoa, anseio de espaço indicado pela pesquisa. Takahashi (1998) indica que a satisfação
dos visitantes é essencial para uma experiência de qualidade no uso público, sendo essa irá
repercutir no comportamento das pessoas também fora UC, atendendo aos objetivos do
parque.
Figura 22: Número máximo de visitantes simultâneos no mirante principal sem que afete a qualidade da visita, no PNMA, Itajaí-SC
Excelente 34%
Ótimo 20%
Boa 36%
Regular 10%
1 visitante 2%
10 visitante
s 20%
20 visitantes 32%
40 visitantes 38%
80 visitantes 8%
34
5.3 CAPACIDADE DE VISITAÇÃO
O método de Cifuentes (1999) foi aplicado nas áreas disponíveis à visitação, sendo
dois mirantes e trilhas de acesso aos mesmos.
5.3.1 Capacidade de Carga Física
Dados referentes à CCF podem ser verificados na Tabela abaixo:
Sitio/ coeficiente L (m) C (m) S (m²) Sp (m²)
Nv Hv (min)
Tv (min)
CCF
Mirante norte - - 414,28 3 28,71 600 20,9 4395,2
Mirante sul - - 766,87 3 28,71 600 20,9
7338,9
Trilha principal 4,74 1049,65 4975,34 3 15,63 600 38,38 25921,5
Trilha acesso mirante sul 3,80 461,91 1755,26 3 42,34 600 14,17 24772,5
NOTA: L= largura média; C = comprimento; S= superfície disponível aos visitantes; Sp= superfície
utilizada por cada visitante; Nv= número de vezes que a mesma pessoa poderá visitar o parque no
mesmo dia; Hv= tempo em que a área permanece aberta ao visitante por dia; Tv= tempo necessário
para cada visita.
Quadro 03: dados utilizados para calcular a CCF do PNMA, Itajaí-SC.
Para calcular a CCF do mirante principal foi acrescentado ao valor da CCF instantânea,
(CCF sem as variáveis temporais) 15 visitantes, pois em área anexa ao mirante norte há
uma torre de observação com esta capacidade, já estipulada pela empresa construtora
desta infraestrutura. Sendo assim, a capacidade de carga instantânea do mirante passou de
138,09 para 153,09 visitantes.
5.3.2 Capacidade de Carga Real (CCR)
Para calcular a CCR foi necessário desenvolver os fatores de correção, o fator de
correção social aplicado nas trilhas seguiu a metodologia proposta por Cifuentes (1999). Na
trilha principal o espaço entre grupos, magnitude limitante, é de 874,71 metros, sendo este a
diferença entre o comprimento total da trilha (1049,65 metros) e a distância ocupada pelo
número máximo de grupos (17,49), com 10 visitantes por grupo.
35
Para determinar o Fc Social dos mirantes foi utilizada a percepção dos visitantes
como magnitude limitante, utilizando o FC Social do mirante principal como valor de
referencia para os dois mirantes. A média encontrada como número máximo de visitantes
apontado pela pesquisa é de 30,02 visitantes, logo o espaço não ocupado, magnitude
limitante, é de 324,22 m², considerando um espaço de 3 m² por pessoa. A magnitude total
para o Fc social é a área do mirante principal, 414,28 m², resultando num Fc social de
0,2174.
A trilha principal apresentou 36,95 metros com evidências de erosão, já a trilha de
acesso ao mirante sul apresenta 9,24 metros em processo erosivo (quadro 04). É realizada
a manutenção constante das trilhas, para possibilitar o tráfego de veículos particulares e do
parque, que apresentam, de modo geral, um bom estado de conservação. Em alguns
trechos foram colocadas pedras (brita) para facilitar a tração.
Na figura 23 é possível observar o perfil de declividade da trilha principal, que dá
acesso ao mirante norte. Assim como a trilha de acesso ao mirante sul (figura 24), todos os
trechos com variação de cota tiveram declividade superior a 20%,em ambas trilhas, sendo
assim definidos como dificuldade alta.
Figura 23: Perfil de declividade da trilha principal, trilha de acesso ao mirante norte, em
destaque trechos com declividade alta.
36
A trilha principal teve uma variação de altitude de 140 metros em 1049,65 metros
de comprimento, com 250,07 metros de trilha com nível de dificuldade alta gerando um Fc
de acessibilidade de 0,642.
Com 461,91 metros de comprimento, a trilha de acesso ao mirante sul obteve um Fc
acessibilidade de 0,7036, com 91,28 metros de trilha com dificuldade alta, como demostra
figura 24.
Figura 24: Perfil de declividade da trilha de acesso ao mirante sul, em destaque trechos com
declividade alta.
O fator de correção (FC) foi calculado a partir do produto do fator de correção social,
erodibilidade, acessibilidade, precipitação e brilho solar, conforme quadro 04.
37
Quadro 04: dados utilizados para calcular a CCR do PNMA, Itajaí-SC.
5.3.3 Capacidade de Carga Efetiva (CCE)
O valor encontrado de capacidade efetiva (CCE) representa o número máximo de
visitante que cada local analisado pode receber para que o parque não sinta os efeitos da
sobrecarga. Como todas as áreas analisadas estão interligadas e constituírem um único
sítio, o local com menor CCE constitui uma limitação á visitação de todo o sítio, sendo assim
todo parque deve adequar-se a este valor limitante (Cifuentes, 1999).
Os dados referentes à capacidade de manejo, quanto ao recurso humano, podem ser
observados no quadro 05. Para obtenção destes, foi utilizada a percepção do pesquisador,
associada às informações do co-gestor e dois funcionários.
Recursos Humanos Quantidade atual (A)
Quantidade manejo de excelência (B)
Relação (A/B)
Fator
Administrador 2 2 4 1
Recepcionista 3 3 4 1
Motorista 2 2 4 1
Monitor 3 3 4 1
Auxiliar para contabilidade
1 1 4 1
Educador ambiental 1* 1* 4 1
Socorrista 2* 2* 4 1
Agente de defesa florestal
0 2* 0 0
Vigia noturno 0 2 0 0
Serviços gerais 2 2 4 1
Condutores/guias 2* 2* 4 1
Quadro 05: Avaliação da capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-SC, item recurso humano,
os valores de quantidade identificados com asterisco representam atividades que não
necessitam de exclusividade de função.
Sitio/ coeficiente FC Social
FC Erodibilidade
FC Acessibilidade
FC Precipitação
FC Brilho solar
FC CCR
Mirante norte
0,2174 - - 0,8006 0.7005 0,1219 535,77
Mirante sul 0,2174 - - 0,8006 0.7005 0,1219 894,61
Trilha principal 0,1667 0,9648 0,642 0,8006 0.7005 0,057841 1499,3
Trilha acesso mirante sul
0,1667 0,98 0,7036 0,8006 0.7005 0,064389 1595,1
38
Ao analisar o recurso humano disponível para gestão da unidade foi encontrado
um valor de 81,82%, média de adequação entre os itens avaliados. Os valores de
quantidade observados no quadro 05 identificados com asterisco representam atividades
que não necessitam de exclusividade de função, podendo ser acumuladas por outros
funcionários.
O número de funcionários no parque se apresentou satisfatório, atendendo a
demanda do parque, nos momentos de aumento de fluxo de visitantes (principalmente finais
de semana) há um revezamento entre os funcionários para que sempre esteja presente um
recepcionista no portal de entrada, um monitor no mirante principal e dois motoristas (um
para o veículo coletivo outro para o utilitário) disponíveis para levar os visitantes ao mirante.
Durante os momentos de baixo fluxo de visitantes, os funcionários se dedicam a atividades
de manutenção do parque e demais atividades da AMBF.
Ressaltando que o PNMA disponibiliza o deslocamento da recepção até os mirantes
em todos os finais de semana, e nas terças e quintas quando solicitado por grupos maiores.
Quando o transporte não esta disponível a visita deve ser realizada a pé ou com veiculo
próprio, sendo que motocicletas não são autorizadas.
No quadro 06 é possível verificar a avaliação da capacidade de manejo quanto a
infraestrutura.
Infraestrutura
Qu
anti
dad
e
atu
al
(A)
Qu
anti
dad
e
par
a m
ane
jo
de
exc
elê
nci
a (B
)
Re
laçã
o
(A
/B)
Esta
do
Loca
lizaç
ão
Fun
cio
nal
ida
de
Som
a
(S)
Fato
r (S
/16
)
Recepção 1 1 4 4 4 4 16 1
Deposito 1 1 4 3 3 4 14 0,875
Garagem 0 1 0 - - - 0 0
Dependência para pesquisadores
1 1 4 3 3 3 13 0,8125
Centro de Atendimento ao visitante
1 1 4 4 3 4 15 0,9375
Lanchonete 0 1 0 - - - 0 0
Sistema drenagem nas trilhas
1 1 4 3 4 3 14 0,875
Estacionamento 0 1 4 - - - 0 0
Centro de Educação ambiental
1 1 4 3 3 3 13 0,8125
Torre de Observação 1 1 4 3 4 3 14 0,875
39
Sanitários 2 3 2 3 4 1 11 0,625
Áreas de descanso na trilha
14 14 4 4 4 4 16 1
Áreas para piquenique
2 1 1 3 4 4 12 0,75
Lixeiras 18 18 4 4 4 4 16 1
Placas informativas 45 45 4 4 4 4 16 1
Placas de sinalização no entorno do PNMA
- - - - - - 0 0,62
Quadro 06: avaliação da capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-SC, item infraestrutura.
A parte de infraestrutura atingiu 69,89% de adequação. Os veículos dos visitantes
são estacionados de maneira improvisada em local próximo a entrada do parque. Os
banheiros disponíveis aos visitantes também deixam a desejar, não comportam a demanda
e são de difícil manutenção, necessitando de veiculo apropriado para se fazer à limpeza,
que acaba não sendo diária.
A quantidade e a distribuição de lixeiras e placas informativas disponíveis no PNMA,
foram consideradas muito satisfatória, tendo em vista a pesquisa sobre infraestrutura, onde
90% dos entrevistados acharam que a ela esta entre boa e excelente, assim como a
observação do autor sobre as mesmas.
Para avaliar o item sobre a sinalização do entorno da unidade foi utilizado à
percepção dos visitantes que apontaram a insuficiência em 38% dos entrevistados e não a
quantidade de placas no parque.
Quanto a capacidade de manejo no item equipamentos, os dados avaliados podem
ser observados no quadro 07.
Equipamentos
Qu
anti
dad
e at
ual
(A
)
Qu
anti
dad
e p
ara
man
ejo
de
exc
elên
cia
(B)
Re
laçã
o
(A
/B)
Esta
do
Loca
lizaç
ão
Fun
cio
nal
idad
e
Som
a
(S)
Fato
r (S
/16
)
Computadores 4 4 4 4 3 4 15 0,9375
Projetor 0 1 0 - - - 0 0
Televisores 1 1 4 4 3 4 15 0,9375
Dvd 1 1 4 4 3 4 15 0,9375
Som 1 1 4 4 3 4 15 0,9375
Sistema de rádio Comunicação 4 4 4 4 4 4 16 1
GPS 1 1 4 4 3 4 15 0,9375
40
Binóculos 2 2 4 4 3 4 15 0,9375
Lanterna 2 2 4 4 3 4 15 0,9375
Motoserra 2 2 4 4 3 4 15 0,9375
Kit basico de ferramentas para manutenção
1 1 4 4 3 4 15 0,9375
Equipamento de combate a incêndio
0 1 0 - - - 0 0
Kits de Primeiros Socorros 1 1 4 4 4 4 16 1
Veiculo utilitário 1 1 4 4 4 4 16 1
Veiculo de transporte coletivo 1 1 4 4 4 4 16 1
Motocicleta 1 1 4 4 4 4 16 1
Quadro 07: avaliação da capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-SC, item equipamento.
Apesar do PNMA estar bem equipado, é perceptível que a variável localização
depreciou a maioria dos itens avaliados, este fato se deve a sede administrativa,
provisoriamente, estar separada do parque, situação que acarreta em dificuldades de
manejo. Como não se tem prazo de retorno de funcionamento do CEA, onde a maioria dos
equipamentos estariam instalados, analisou-se a presença dos mesmos na sede da co-
gestora.
Mesmo o parque estando próximo do corpo de bombeiros, menos de 500 metros, os
gestores da unidade devem estar preparados para responder a uma situação de
emergência, com treinamento e equipamentos (o parque não possui equipamentos de
combate a incêndio), pois o local está sujeito ao risco de acidentes.
No quadro 08 estão demonstradas todas as variáveis utilizadas no cálculo da
capacidade de manejo, assim como a sua média utilizada no cálculo da capacidade de
carga efetiva (CCE)
Variável Valor
Recurso Humano 0,8182
Infraestrutura 0,6989
Equipamento 0,8398
Média (CM) 0,7856
Quadro 08: capacidade de manejo do PNMA, Itajaí-SC.
41
Portanto, a capacidade de manejo do PNMA é de 0,7856 (78,56%), logo a
capacidade de carga efetiva ou permissível de cada sítio analisado é o produto dos suas
respectivas CCR e a CM da unidade (quadro 09).
Sítio CM CCR CCE
Mirante Principal 0,7856 535,77 420,9
Mirante sul 0,7856 894,61
702,81
Trilha Principal 0,7856 1499,3
1177,85
Trilha mirante sul 0,7856 1595,1
1253,11
Quadro 09: capacidade de carga efetiva ou permissível do PNMA, Itajaí-SC.
A capacidade de carga de visitação de Parque Natural Municipal do Atalaia é de 421
visitantes por dia, segundo o método de Cifuentes. Utilizando a CCE limitante como
parâmetro, foi observado que em 2012 este valor foi ultrapassado em 22 dias; setembro e
novembro foram os meses com maior recorrência de sobrecarga, com quatro dias cada. Os
finais de semana (sábado e domingo) são os dias com maior fluxo, sendo que foram nestes
dias que o valor de CCE foi superado. Este valor de capacidade (421 visitantes) foi
comparado com o número de visitantes no livro de registro da unidade, sendo que em dias
com muito fluxo o cadastro de todos os visitantes nem sempre foi possível, pois muitos não
se dispõem a esperar a fila que se forma para o cadastro. Portanto, nestes dias de maior
sobrecarga, com um pico de 778 visitantes em 30 de dezembro e 725 em 02 de setembro,
estes valores podem ter sido superiores aos registrados, assim como em outras situações
em que nem foi verificada sobrecarga, já que o fluxo em alguns momentos supera a
possibilidade de cadastro de visitantes.
Segundo o valor apontado pela pesquisa, o número máximo de visitantes (30 visitantes)
no mirante principal, é ultrapassado durante todo período de maior fluxo (das 15:30 até as
17:15 horas), como pode ser observado na figura 10, porém os danos da sobrecarga são
amenizados pelo baixo fluxo em outros horários e a manutenção do local realizado pela
instituição co-gestora.
42
Como o veiculo de transporte coletivo do parque leva até 23 visitantes por viagem, se
não houver um controle do número de visitantes no mirante, o valor limite será ultrapassado
considerando o acúmulo de visitantes que se encontram com maior tempo de permanência
no local somado aos que chegam nas viagens posteriores.
43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo encontrou como resultado, ao aplicar a metodologia de Cifuentes nas áreas
de visitação do PNMA, um número máximo de 421 visitantes por dia, sem que o parque e o
visitante sofram com os danos causados pela sobrecarga da visitação. Contudo, foi
verificado que este valor foi ultrapassado em 22 dias em 2012, período analisado.
Por ser o principal atrativo, a capacidade de carga turística do mirante norte foi
considerada o valor limitante de visitação do parque, principalmente pelo fato de que os
visitantes, em sua maioria, não utilizam as trilhas para caminhadas, usando o veículo do
parque para ter acesso direto ao mirante.
Os fatores de correção utilizados neste trabalho foram escolhidos por afetarem, na
visão do autor, a visitação normal na unidade. Alguns fatores a mais poderiam ser
considerados no cálculo da capacidade de carga do PNMA (fator fauna, flora), porém
necessitaria de mais tempo e conhecimento sobre o parque e da influência que o visitante e
a infraestrutura de visitação têm sobre estes fatores. Portanto, com a possibilidade de valor
de capacidade de carga menor, considerando o impacto a biodiversidade.
Outros fatores não se aplicam ao parque como: fator de correção alagamento,
fechamento eventual para manutenção, entre outros. Portanto, a metodologia foi adaptada a
realidade local.
O fator de correção precipitação utilizado na CCR foi embasado no pressuposto por
Cifuentes (1992), porém para uma melhor calibragem do valor deve-se considerar a
singularidade do local estudado. O PNMA está localizado próximo ao estuário do Rio Itajaí,
sofrendo com regime pluviométrico específico. O dado necessário para calcular o fator de
correção precipitação com maior precisão são as horas de chuvas por ano durante o horário
de funcionamento da unidade.
A determinação da capacidade de carga deve ser utilizada pelos gestores como uma
ferramenta de planejamento e manejo do local, e requer monitoramento constante, a fim de
garantir a qualidade da visitação e promovendo a conservação do local. Assim como pode
fornecer dados importantes na tomada de decisões administrativas.
Importante considerar o controle da entrada e saída de visitantes em parques, evitando
o problema da superlotação do ambiente, pois o número de visitantes em áreas protegidas
superior a cada ano. Outro problema é o afunilamento de visitantes que buscam o parque
em mesmo horário e os eventos pontuais, que interferem na visitação do município
44
(Marejada, eventos náuticos e feriados) e, consequentemente, aumenta o fluxo no interior
do parque.
A gestão deve atentar aos múltiplos usos do local, os visitantes procuram o parque por
diversos motivos, e dentro do possível os anseios devem ser atendidos e as particularidades
respeitadas. Atividades que necessitam de local ou estrutura diferenciada, como vôo livre e
piquenique, devem ser realizadas de forma separada para que sua prática não seja
prejudicada, nem afete os outros usuários e a biodiversidade.
A gestão do parque utiliza veículo pesado para o transporte coletivo, podendo acarretar
em erosão das “trilhas” e espantar a fauna devido ao ruído, assim como dificultar o tráfego
de pedestres, que preferencialmente utilizam o serviço de transporte oferecido pela unidade,
mas que poderiam utilizar mais a trilhas por meio de caminhada.
Vale ressaltar o trabalho desenvolvido pela equipe co-gestora (AMBF) do Parque com a
comunidade, tanto em atividades de educação ambiental como os projetos de recuperação
de áreas degradadas utilizando espécies nativas produzidas no viveiro administrado pelo
instituto, assim como a distribuição de mudas de forma gratuita, podendo resultar em
visitantes mais conscientes, minimizando os impactos do uso público no Parque.
Por fim, é possível considerar como uma importante contribuição deste trabalho a
adaptação da metodologia de capacidade de carga de visitantes no tocante a área de
mirante, uma vez que o método inclui apenas os visitantes em trilhas. Nesta adaptação foi
obtido o valor de 13,8 m2 com espaço mínimo para a satisfação em espaço de interação
entre visitantes, podendo esta informação subsidiar outros estudos ou atividades de manejo
em unidades de conservação de uso público.
7 RECOMENDAÇÕES
Um estudo que se mostra importante para o tipo de visitação caracterizada no PNMA,
com utilização de veiculo transportando os visitantes até o mirante, é mensurar o impacto
causado por este, assim como pelo tráfego de veículos particulares dentro da unidade.
Portanto, recomenda-se que o transporte coletivo ocorra em períodos determinados (por ex.
a cada uma hora), de forma que nos intervalos os visitantes que desejam caminhar pela
trilha, possam fazê-la sem encontro com o veículo. Assim, os visitantes que necessitarem ou
preferirem o deslocamento com o veículo coletivo, possam aguardar na recepção e apreciar
45
ao mesmo tempo pássaros que se concentram nos poleiros instalados ou aproveitar para
munir-se de informações sobre o parque.
Há a necessidade da contratação de vigias para o período noturno, pois o parque fica
em meio à área urbana, de fácil acesso, e a presença de pessoas não autorizadas dentro da
unidade é indesejada, pelos perigos que esta presença pode causar as infraestruturas e a
conservação da biodiversidade, podendo esta ter o intuito de caçar ou extrair plantas do
local.
Os banheiros disponíveis aos visitantes devem receber atenção especial, por não
oferecerem um uso adequado, tanto em qualidade, quanto em quantidade. Uma solução
para o local seria a instalação de banheiros secos ou a instalação de outro sistema que
ofereça um uso mais satisfatório para o visitante do parque.
A ampliação de um espaço na guarita na entrada ou a construção de um depósito
anexo a ela se faz necessária, para que os equipamentos sejam guardados próximos ao
local de uso, eliminando a espera por ferramentas que estão localizados na sede
administrativa.
Os gestores do parque devem buscar, junto com a prefeitura, a padronização das
placas de sinalização do entorno do parque, facilitando a localização para o visitante, assim
como ao local da sede da associação co-gestora (AMBF), lembrando que 36% dos
visitantes não conhecia o parque, e Itajaí tem grande potencial turístico sofrendo com forte
migração pendular no período de veraneio.
Ao se atingir um manejo de excelência (valor de CM de 100%), o número máximo de
visitantes que o local pode recepcionar passa a ser igual à CCR, sendo assim o PNMA tem
um potencial de receber até 535 visitantes por dia. Porém, para utilização deste valor o
parque deve se estruturar nos três itens avaliados: recurso humano, infraestrutura e
equipamentos. Contudo, é necessário o monitoramento para avaliação da capacidade de
carga quando as variáveis forem alteradas ou outros fatores de correção considerados.
46
8. REFERÊNCIAS
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ecossistema Saco da Fazenda, Itajaí, SC., 43-62p. In: Joaquim Olinto Branco; Maria José
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312p.
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Itatiaia. 2003. 121 f. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura Luiz de
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análise da capacidade de carga turística do Parque Nacional Serra do Cipó-MG. 2011.
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YÁZIGI, Eduardo (Org.). Turismo e paisagem. São Paulo: Contexto, 2002.
9 APÊNDICE 01: QUESTIONÁRIO REALIZADO COM VISITANTES NO PNMA,
ITAJAÍ-SC.
Qual o principal motivo que lhe trouxe ao Parque da Atalaia?
( )Contato com a natureza ( ) Conhecer o PNMA ( ) Observar a vista do mirante ( ) Realizar estudos científicos ( ) realizar atividade de voo livre ( ) Caminhada ( ) Outro, qual? ___________________________________
Qual a frequência que visita o parque?
( ) 1° vez ( ) + 1 por semana ( ) +1 por mês ( ) +1 por ano
A visita foi realizada:
( ) A pé ( ) Veiculo do Parque da Atalaia ( ) Carro próprio ( ) Alternando entre caminhada e veiculo do Parque da Atalaia
Em sua opinião, as trilhas estão em que estado de conservação:
( ) Excelente ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim, por quê?______________________________________________________________
As sinalizações da localização do parque no seu entorno lhe pareceram:
( ) Suficientes ( ) Insuficientes, por quê?___________________________________
As informações (placas de informação, orientação e sinalização) disponibilizadas ao longo das trilhas lhe pareceram:
( ) Excessiva ( ) Adequada ( ) Escassa
Em sua opinião a infraestrutura (mirantes, recepção e banheiros) oferecia ao visitante é:
( ) Excelente ( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( )Ruim, por quê? ______________________________________________________________
Em sua opinião, qual o número máximo de visitantes simultâneos no mirante sem que a sua satisfação
na visita seja afetada?
( ) 1 visitante ( ) 10 visitantes ( ) 20 visitantes ( ) 20 visitantes ( ) 40 visitantes ( ) 80 visitantes ( ) 138 visitantes
Você tem algum comentário ou sugestão que possa contribuir com a gestão do Parque Natural Municipal do Morro da Atalaia?
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Obrigado pela colaboração
10 APÊNDICE 02: CHECK LIST UTILIZADO NO CÁLCULO DA CAPACIDADE DE
MANEJO DO PNMA, ITAJAÍ-SC.
Recursos Humanos Quantidade atual (A)
Quantidade manejo de excelência (B)
Relação (A/B)
Fator
Administrador
Recepcionista
Motorista
Monitor
Auxiliar para contabilidade
Educador ambiental
Socorrista
Agente de defesa florestal
Vigia noturno
Serviços gerais
Condutores/guias
Infraestrutura
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Recepção
Deposito
Garagem
Dependência para pesquisadores
Centro de Atendimento ao visitante
Lanchonete
Sistema drenagem nas trilhas
Estacionamento
Centro de Educação ambiental
Torre de Observação
Sanitários
Áreas de descanso na trilha
Áreas para piquenique
Lixeiras
Placas informativas
Placas de sinalização no entorno do PNMA
Equipamentos
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Computadores
Projetor
Televisores
Dvd
Som
Sistema de rádio Comunicação
GPS
Binóculos
Lanterna
Motoserra
Kit basico de ferramentas para manutenção
Equipamento de combate a incêndio
Kits de Primeiros Socorros
Veiculo utilitário
Veiculo de transporte coletivo
Motocicleta