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Universidade do Extremo Sul CatarinensePrograma de Pós-Graduação em Ciências Ambientais
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO BENTO COM BASE NOS CONCEITOS DA ECOLOGIA DE PAISAGEM
Patrícia Medeiros Scarpato
Criciúma, SC2008
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Patrícia Medeiros Scarpato
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO BENTO COM BASE NOS CONCEITOS DA ECOLOGIA DE PAISAGEM
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense para obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais.
Área de Concentração:Ecologia e Gestão de Ambientes Alterados
Orientador: Prof. Dr. Jairo Jose Zocche
Criciúma, SC2008
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AGRADECIMENTO
A Deus pela proteção e força em todos os momentos para a realização deste
trabalho.
Aos meus pais, pela tolerância, apoio e compreensão durante todo o Mestrado, bem
como meu noivo Fabio pela paciência por minha ausência em muitos momentos.
Ao professor Dr. Jairo Jose Zocche, pela orientação segura e objetiva, pela atenção,
tolerância e ensinamentos dedicados no desenvolvimento do trabalho.
A todo corpo docente da universidade por suas contribuições durante todo o curso.
A UNESC pela oportunidade de desenvolvimento deste trabalho.
Ao IPAT pela contribuição nas fotografias aéreas utilizadas neste trabalho.
Aos colegas de mestrado pelo compartilhamento de informações e aprendizados e
pelos momentos maravilhosos divididos durante o curso.
Aos convidados da banca, professores Álvaro Back e Fátima Elizabeti Marcomin,
pelo aceite na participação deste processo. Em especial à professora Fátima pelo apoio e
amizade durante a realização deste trabalho.
A todos aqueles que de certa forma contribuíram para a realização deste trabalho,
meu muito obrigado.
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RESUMO
A bacia hidrográfica do rio São Bento situa-se no sul do estado de Santa Catarina, abrangendo os municípios de Bom Jardim da Serra, Treviso, Siderópolis, Nova Veneza e Forquilhinha com área aproximada de 160Km2. Esta bacia, a exemplo de outras tem sido alvo de constantes alterações ambientais, decorrentes de atividades antrópicas como o desmatamento, a agricultura em encostas íngremes e a agricultura irrigada. A última e mais intensa alteração, diz respeito à construção da Barragem do Rio São Bento (BRSB), cujo barramento do rio gerou o alagamento de aproximadamente 4,5 km2. O presente estudo buscou caracterizar a bacia hidrográfica do rio São Bento com base nos conceitos da Ecologia de Paisagem, com vistas a subsidiar o plano de manejo ambiental da Área de Preservação Permanente (APP) da Barragem do Rio São Bento (BRSB) e o seu entorno imediato, utilizando-se técnicas de fotointerpretação e geoprocessamento com o auxílio do software IDRISI 32.. Para tal elaborou-se mapas temáticos de hidrografia, hipsometria, clinografia e uso da terra, sendo este último cruzado com os demais mapas, para a definição de áreas de Preservação Permanente de acordo com a legislação vigente. A partir dos dados levantados, pôde-se perceber que a bacia em questão apresenta em sua maior parte vegetação arbórea (69,55%) o que representa um ponto positivo em termos de qualidade ambiental. As áreas consideradas como APPs também apresentaram vegetação arbórea em sua maior parte, no entanto, observou-se que à jusante da Barragem a cobertura vegetal da área se apresenta muito fragmentada, com pouca vegetação ciliar no entorno dos rios e uma extensa área de cultivo de arroz irrigado. A montante da Barragem, a matriz paisagística pode ser caracterizada como de floresta e a jusante, como matriz agrícola com a ocorrência disseminada de manchas de vegetação arbustivo-arbórea, de plantio de Eucaliptos spp. e de campo antrópico. Os corredores presentes na paisagem estão representados pelas matas ciliares, e por conjuntos de pequenos fragmentos, dispostos na forma de stepping stones. A reduzida cobertura vegetal observada a jusante da Barragem, resultante de desmatamentos antigos e atuais, juntamente com a extensa área ocupada pelo cultivo de arroz irrigado, são os principais fatores responsáveis pela degradação ambiental da bacia, comprometendo a qualidade dos cursos de água bem como as potencialidades ambientais do solo.
Palavras – chave: Ecologia de Paisagem, Uso da Terra, Geoprocessamento, Área de Preservação Permanente
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ABSTRACT
The basin of the Rio São Bento is located in the southern state of Santa Catarina, covering the municipalities of Bom Jardim da Serra, Treviso, Siderópolis, Nova Veneza and Forquilhinha with approximate area of 160Km2. This basin, like other has been subject to constant environmental changes caused by human activities such as deforestation, agriculture on steep slopes and irrigated agriculture. The last and most intense change, concerns the construction of a Barragem Rio São Bento (BRSB), which barring the river has led to flooding of approximately 4,5 km2. This study sought to characterize the basin of the river São Bento based on concepts of Landscape Ecology, in order to subsidize the plan for environmental management of the Permanent Preservation Area (APP) Barragem Rio São Bento (BRSB) and its surroundings immediately, using techniques of photointerpretation and geoprocessing with the aid of software IDRISI 32. To this end has prepared itself thematic maps of hydrography, hipsometria, clinografia and use of land, the latter being crossed with other maps, for the definition of areas for permanent preservation under the existing legislation. From the data collected, was able to see that the seat in question presents in its most trees (69.55%) which represents a positive point in terms of environmental quality. The areas considered to APP also provided trees for the most part, however, observed that the downstream of the dam area of the plant cover is very much fragmented, with little riparian vegetation around the rivers and a vast area of cultivation of rice. The amount Dam, the matrix can be characterized as a landscape of forest and downstream, such as agricultural matrix with the widespread occurrence of patches of vegetation arbustivo-tree, planting of Eucalyptus spp. And field man. The corridors in the landscape are represented by the gallery forests, and by clusters of small fragments, arranged in the form of stepping stones. The low vegetation cover observed downstream of the dam, deforestation resulting from current and former, together with the large area occupied by the cultivation of rice, are the main factors responsible for environmental degradation of the basin, compromising the quality of watercourses and the environmental potential of the soil.
Key – words: Landscape Ecology, Soil User, Geoprocessing, Permanent Preservation Area
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01. Localização geográfica da Bacia Hidrográfica do Rio São Bento..........23
Figura 02. Rede hidrográfica da bacia do rio São Bento...........................................34
Figura 03. Hipsometria da bacia do rio São Bento.....................................................35
Figura 04. Clinografia da bacia do rio São Bento......................................................38
Figura 05. Uso da terra na bacia do rio São Bento.....................................................39
Figura 06. Mapa da zona de amortecimento (buffer) no entorno dos rios e da Barragem.........................................................................................................................................43
Figura 07. Mapa temático resultante do cruzamento do mapa de uso e cobertura da terra com o mapa dos buffers.......................................................................................44
Figura 08. Mapa temático resultante do cruzamento do mapa de uso e cobertura da terra com o mapa das zonas de amortecimento (buffers)..........................................47
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01. Área ocupada por cada uma das classes hipsométricas da bacia do rio São Bento...............................................................................................................................36
Tabela 02. Área ocupada pelas classes clinográficas da bacia do rio São Bento.....37
Tabela 03. Área ocupada pelas diferentes classes de uso da terra da bacia do rio São Bento...............................................................................................................................40
Tabela 04. Área ocupada pelas diferentes classes de uso da terra na zona de amortecimento (buffer) de entorno dos rios................................................................45
Tabela 05. Área ocupada pelas diferentes classes de uso da terra na zona de amortecimento ( buffer) de entorno da barragem......................................................46
Tabela 06. Área ocupada pelas respectivas classes de uso da terra nas diferentes classes de declividade.................................................................................................................48
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................09
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................10
3 METODOLOGIA.......................................................................................................23
3.1 Localização e descrição da área de estudo............................................................23
3.2 Descrição da área de estudo....................................................................................24
3.2.1 Geologia.................................................................................................................24
3.2.2 Geomorfologia.......................................................................................................24
3.2.3 Solo.........................................................................................................................25
3.2.4 Hidrografia............................................................................................................27
3.2.5 Clima......................................................................................................................28
3.2.6 Vegetação...............................................................................................................29
3.3 Procedimentos Metodológicos................................................................................31
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES..............................................................................33
CONCLUSÃO................................................................................................................51
REFERÊNCIAS.............................................................................................................53
ANEXOS.........................................................................................................................58
Anexo 01 Modelo de Elevação Digital do Terreno.....................................................59
Anexo 02 Cruzamento entre o mapa de uso da terra com o mapa de declividade nas
classes entre 0 e 10º .......................................................................................................60
Anexo 03 Cruzamento entre o mapa de uso da terra com o mapa de declividade nas
classes entre 10 e 25º......................................................................................................61
Anexo 04 Cruzamento entre o mapa de uso da terra com o mapa de declividade nas
classes entre 25 e 45º......................................................................................................62
Anexo 05 Cruzamento entre o mapa de uso da terra com o mapa de declividade nas
classes superiores a 45º..................................................................................................63
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1 INTRODUÇÃO
Desde tempos muito remotos, o ser humano, além de lutar pela sobrevivência,
busca novos horizontes. E na ânsia de dominar, de ocupar todo o planeta, devastou-o. Em
busca de melhores condições de vida, transformaram o ambiente, com a exploração
desordenada de recursos naturais para a utilização como alimentos, combustíveis ou matéria-
prima para a indústria. Toda essa busca por recursos levou à modificações na topografia, na
paisagem, perda de solo e contaminação das águas, assim como a alteração do fluxo natural
da matéria e energia nos ecossistemas, o que têm gerado desequilíbrios ambientais.
Segundo Burin (1999), no Brasil o aumento da produção levou o homem a intensa
exploração da terra. A ocupação populacional diversificada em certas áreas levou à
intensificação do uso do solo pelo emprego de novas tecnologias. Em outras, a ocupação se
fez de maneira precária e sem estudos prévios, causando sérios problemas ao ambiente.
A crescente industrialização concentrada em cidades, a mecanização da agricultura e
sua transformação em sistemas de monocultura, a generalizada implantação de pastagens, a
intensa exploração de recursos energéticos e matérias-primas como o carvão mineral,
petróleo, recursos hídricos, minérios, têm alterado, de modo irreversível, o cenário ambiental
e levado a natureza a processos degenerativos profundos (CUNHA; GUERRA, 1996).
Ainda segundo os autores supracitados, a ocupação desordenada do solo em certas
bacias hidrográficas, como resultado por exemplo, das rápidas mudanças decorrentes das
políticas de incentivos governamentais, têm agravado os desequilíbrios no ambiente.
O entendimento das relações espaciais, das interações e das mudanças estruturais de
um ambiente provocada pela ação antrópica, nas mais diferentes escalas, tem sido o objeto de
estudo de uma relativamente nova linha da Ecologia, a Ecologia de Paisagem. O aumento dos
estudos em Ecologia de Paisagem deve-se a capacidade dessa ciência de quantificar a
estrutura da paisagem, que é um pré-requisito para compreensão das funções e mudanças que
ocorrem em uma paisagem (VALENTE, 2001).
Segundo Metzger (2001) a Ecologia de Paisagem pode contribuir para a solução dos
problemas ambientais, pois se propõe a lidar com paisagens antropizadas, em escala na qual o
homem está modificando o seu ambiente. O tratamento de tais problemas pode se dar sob dua
formas de abordagem: a geográfica e a ecológica. Na “abordagem geográfica”, mais do que
uma análise detalhada de impactos locais, a Ecologia de Paisagem procura entender as
modificações estruturais e, portanto funcionais, trazidas pelo homem à paisagem como um
todo, incorporando de forma explícita toda a complexidade das inter-relações espaciais de
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seus componentes, tanto naturais quanto culturais. Já na “abordagem ecológica”, apesar de
focar mais as unidades “naturais”, mais uma vez a Ecologia de Paisagem situa-se na escala
correta para responder aos principais problemas ambientais, tanto relacionados à
fragmentação de hábitats quanto ao uso inadequado dos solos e da água. Para compatibilizar
uso das terras e sustentabilidade ambiental, social e econômica, é necessário planejar a
ocupação e a conservação da paisagem como um todo.
Metzger (2001) assinala ainda que o homem está na origem dos problemas
ambientais, mas é parte também das soluções. Resolver o problema da perda da
biodiversidade excluindo o homem da paisagem é apenas um paliativo, e não uma solução.
Portanto, a Ecologia de Paisagem visa entender o funcionamento e as relações existentes na
natureza da qual o homem é integrante, para planejar a preservação da imensa bio e
geodiversidade geradas em milhões de anos, a sobrevivência da própria espécie humana e, o
equilíbrio da “Gaia”, ser dinâmico e único pertencente ao imenso universo hoje conhecido
(TROPPMAIR, 2002).
Dia após dia, a demanda por recursos naturais nos obriga cada vez mais a
explorarmos o ambiente e nos dirigirmos às áreas mais conservadas, movimento perigoso,
pois se corre o risco de ultrapassar a capacidade homeostática dos sistemas biológicos. A
utilização dos conceitos e teorias da Ecologia de Paisagem para o manejo de ecossistemas,
elaboração de planos de manejo, planos diretores, ou para restaurar ecossistemas degradados,
é uma prática que vem tomando corpo, que está saindo dos laboratórios científicos das
Universidades e ganhando espaço na sociedade.
A bacia hidrográfica do rio São Bento, a exemplo de outras bacias hidrográficas
brasileiras, vem sofrendo, ao longo de várias décadas alterações ambientais. É uma área que
vem sendo submetida a grandes influencias antrópicas, sobretudo o desmatamento para
exploração madeireira e agropecuária. Grande parte das margens do rio São Bento e seus
tributários encontram-se com pouca vegetação ciliar. As partes mais preservadas estão
restritas as áreas de difícil acesso, localizadas junto aos cumes dos morros e aos aparados da
serra.
Uma das últimas e mais expressivas alterações está representada pela construção da
Barragem do Rio São Bento (BRSB), cujo lago formado pelo barramento do rio ocupa uma
área de aproximadamente 450 hectares e armazena 53,2 hm³ de água. A implantação dessa
barragem teve como objetivo principal o abastecimento público e a regularização da vazão do
rio, a fim de diminuir o conflito pelo uso da água que é utilizada para a cultura do arroz
irrigado e para o abastecimento público. A escolha do rio São Bento para a implantação da
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barragem deveu-se ao fato de que este rio, em termos de manancial era o que apresentava
condições satisfatórias de preservação natural, além da topografia favorável (CASAN, 2004).
No entanto, tal obra, modificou radicalmente a paisagem da área, alterando os
ecossistemas aquáticos e terrestres, comprometendo as relações ecológicas naturais em função
da inundação das áreas. É importante que se faça, portanto, um estudo detalhado da dinâmica
da paisagem atual, para que se possam criar planos de manejo adequados para a área, que
venham gerir seus recursos naturais e que possam permitir o retorno de sua qualidade
ambiental.
Assim sendo, o presente estudo buscou caracterizar a microbacia do rio São Bento
com base nos conceitos da Ecologia de Paisagem, com vistas a subsidiar o plano de manejo
ambiental da Área de Preservação Permanente (APP) da Barragem do Rio São Bento (BRSB)
e o seu entorno imediato, tendo como objetivos específicos: descrever a paisagem da
microbacia; quantificar as categorias de uso e cobertura da terra; gerar mapas temáticos da
hidrografia, hipsometria, clinografia, uso da terra, cobertura vegetal e das áreas de
preservação permanente; além de contribuir para a formação do banco de dados ambientais da
Barragem e seu entorno imediato.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Antes de nos propormos a utilizar os conceitos e teorias da Ecologia de Paisagem,
para planejar o manejo da microbacia do rio São Bento e da Barragem do Rio São Bento
propriamente dita, faz-se necessário entender a origem, o significado e a evolução do conceito
de “Paisagem”.
Para as línguas de origem romana, o termo paisagem deriva da palavra Pagus, que
significa país, território. Já para os povos germânicos a origem do termo paisagem (landscape,
landschaft), associa-se à palavra land, relativa a um espaço territorial delimitado. Em ambas
as formas de origem, o conceito surge fortemente ligado à questão espacial, ao conjunto do
território (FIGUEIRÓ, 1997).
Durante a Renascença, a paisagem passou a ser muito utilizada nas expressões
artísticas do séc. XVI influenciando a arquitetura, a literatura e principalmente a pintura além
de outras formas de expressões artísticas. O termo paisagem somente foi introduzido como
científico-geográfico no séc. XIX por Alexander Von Humboldt, o pioneiro da geobotânica e
geografia física moderna, que a definiu como “as características totais de uma região da
Terra” (POLLETE, 1997).
Para Naveh (1987 apud VALENTE, 2001) a paisagem totaliza as entidades físicas,
ecológicas e geográficas, integrando os processos naturais e humanos. Numa conceituação
mais abrangente, Sanchez e Silva (1995) definem a paisagem como uma porção da superfície
terrestre, na qual existe um certo nível de organização de um conjunto de componentes
específicos, sendo que a tipologia, dinâmica e inter-relações da diversidade biológica, física e
cultural desse sistema podem ser, individual ou integradamente, mapeadas com diferentes
graus de abstração.
A paisagem, na concepção de Forman e Godron (1986) e Turner (1989), também
pode ser definida como uma unidade distinta, definida de acordo com seu tamanho e por suas
interações ecossistêmicas através de agrupamentos repetitivos, geomorfologia e regime de
distúrbios.
Polette (1997; 1999) define a paisagem como um sistema territorial composto por
componentes e complexos de diferentes amplitudes formados a partir da influência dos
processos naturais e da atividade modificadora da sociedade humana, as quais se encontram
em permanente interação e se desenvolvendo historicamente.
A paisagem, ao longo da história da humanidade, é tida como uma entidade
complexa para ser analisada, pois esta ultrapassa questões ligadas à percepção, ao sentimento,
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a estética, a cultura, e até mesmo a política. Deve ser continuamente analisada e discutida pelo
homem, que é, ao mesmo tempo, um observador e um agente das mudanças que nela se
evidenciam (POLETTE, 1999).
Numa conceituação mais abrangente em relação às definições anteriores, Metzger
(2001) propõe que a paisagem seja definida como um mosaico heterogêneo formado por
unidades interativas, sendo esta heterogeneidade existente para pelo menos um fator segundo
um observador e numa determinada escala de observação. Neste sentido, o estudo da
heterogeneidade da paisagem é importante, pois se pode compreender o quanto à ação
antrópica está afetando a estrutura de uma determinada paisagem.
Segundo Polette (1997; 1999) o termo paisagem tem sido utilizado sob vários
aspectos, mas é na Ecologia de Paisagem que este atinge sua dimensão mais ampla,
contribuindo, assim, para o seu real entendimento quanto a estruturas, funcionamento e
mudanças que ocorrem ao longo do tempo na paisagem. Para este autor, estudos nesta linha
implicam na: identificação dos principais tipos de uso do solo que caracterizam a paisagem;
identificação dos principais impactos ambientais gerados pelos diferentes tipos de uso do
solo; análise espacial do padrão do ecótopo com atenção especial para os ecótopos naturais;
análise da intensidade, duração e distribuição do impacto, com especial atenção à hierarquia
das esferas espaciais; análise das conexões espaciais (conectividade) entre todos os tipos de
ecótopos ou conjunto de ecótopos de uma região com especial atenção para sua
interdependência.
O conceito inicial de Ecologia de Paisagem foi concebido por Troll em 1935, sendo o
mesmo aprimorado mais adiante por Bunce et al. (1993). Troll, em 1939, definiu a Ecologia
de Paisagem como o estudo dos relacionamentos físico-biológicos que governam as diferentes
unidades espaciais de uma região (LORINI e PERSON, 2001). Muito do amplo campo da
Ecologia, no entanto, particularmente nas décadas passadas, focava-se na concepção vertical,
que é a relação entre plantas, animais, ar, água e solo, vendo a paisagem como uma unidade
espacial relativamente homogênea. Em contraste, o que toma a Ecologia de Paisagem única é
o foco no plano horizontal, que é a relação entre as unidades espaciais (FORMAN e
GODRON, 1986). Troll considerava o nascimento da Ecologia de Paisagem como sendo o
resultado do casamento entre Geografia e Biologia (CHRISTOFOLETTI, 1999).
Farina (1998) cita conceitos de alguns autores como Green, que considera a Ecologia
de Paisagem como uma configuração particular da topografia, cobertura vegetal, uso do solo e
modelo instalado, o qual delimita algumas coerências dos processos naturais, culturais e
atividades humanas, e Haber que afirma que a Ecologia de Paisagem surge como uma parte
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da terra na qual distingui-se ao nosso redor, sem fixar-se num único componente, sendo um
olhar familiar.
De acordo com O’Neil et al. (1988), a Ecologia de Paisagem é o estudo dos padrões
espaciais do ecossistema. Segundo Zonneveld (1990) a Ecologia de Paisagem é uma ciência
emergente com um caráter complexo e conteúdo heterogêneo, mas com um fundo claramente
epistemológico. Para Naveh e Lieberman (1994) a Ecologia de Paisagem trata das inter-
relações entre o homem e a ampla paisagem que ele ocupa.
Os conceitos da Ecologia de Paisagem são empregados no intuito de mitigar os
efeitos negativos do uso antropogênico do solo e desenvolver uma estratégia ecológica para
um desenvolvimento cultural harmônico para o futuro. Objetivos básicos, como por exemplo
o uso sustentável ou desenvolvimento, controle do aumento populacional, regulação da
intensidade do uso do solo, redução da expansão urbana, diminuição do lixo e a preservação
dos elementos naturais, para serem alcançados requerem um “input”, que pode ser guiado
através da Ecologia de Paisagem (HABER, 1990, apud POLETTE, 1997).
Farina (1998) apud Haber (1990) op. cit., considera ainda que estudos em Ecologia
de Paisagem implicam na: identificação dos principais tipos de uso da terra que caracterizam
a paisagem; identificação dos principais impactos ambientais gerados pelos diferentes tipos de
uso da terra; análise espacial do padrão do ecótopo com atenção especial aos ecótopos
naturais; análise da intensidade, duração e distribuição do impacto, com especial atenção à
hierarquia das esferas espaciais e; análise das conexões espaciais (conectividade) entre todos
os tipos de ecótopos ou conjunto de ecótopos de uma região com especial atenção para sua
interdependência.
Segundo Formam e Godron (1986) e Turner (1989), a Ecologia de Paisagem leva em
consideração três características da paisagem: estrutura; função e; mudanças. A estrutura
refere-se a relação espacial entre diferentes ecossistemas ou elementos presentes na paisagem,
ou seja, é a distribuição da energia, matéria e espécies em relação ao tamanho, forma, número,
tipo e configuração dos ecossistemas; a função refere-se à interação entre os elementos
espaciais, que são o fluxo de energia, materiais e espécies e entre os componentes dos
ecossistemas; e as mudanças, referem-se a alterações na estrutura e função de mosaicos
ecológicos ao longo do tempo.
A paisagem possui uma estrutura bastante particular, inerente aos seus
componentes. Esta estrutura pode ser dividida em vertical e horizontal. A estrutura vertical
consiste na organização de seus componentes em estratos que podem ser agrupados em quatro
níveis: nível aéreo, nível de cobertura do solo, nível do solo e da água e, finalmente, nível da
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rocha. Já a estrutura horizontal consiste da sucessão de paisagens formadas basicamente pela
variação espacial e temporal dos estratos (REFOSCO, 1995).
A estrutura da paisagem trata dos padrões e relações de distribuição entre
elementos espaciais (SANTOS, 2004). Segundo Turner (1989) a estrutura da paisagem pode
ser identificada e quantificada de diversas maneiras de acordo com a interação entre os
elementos da paisagem e os processos ecológicos. Os elementos espaciais observados na
paisagem são resultados de complexas interações entre forças físicas, biológicas e sociais da
natureza.
De acordo com Forman e Godron (1986) a paisagem possui uma estrutura
fundamental composta por fragmento, corredor e matriz. O fragmento é o elemento básico
que forma a paisagem e pode ser definido como uma superfície não-linear que difere
aparentemente de outras ao seu redor. Estas variam grandemente quanto ao seu tamanho,
forma, tipo, heterogeneidade e características de borda. É importante ressaltar que estas estão
sempre dentro da matriz, uma área de entorno que possui uma estrutura e composição de
espécies diferentes. Normalmente os fragmentos na paisagem são comunidades de plantas e
animais, no entanto, muitos fragmentos não possuem vida, ou ainda contém apenas
microorganismos.
Farina (1998) destaca que a estrutura da paisagem é considerada primeiramente
como uma série de fragmentos, circundados por uma matriz com composição diferente. Os
fragmentos podem ser naturais de uma paisagem ou terem surgido como resultado de ações
antrópicas. Quando o processo de fragmentação dos ecossistemas naturais é decorrente de
ação antrópica, torna-se uma ameaça á sua biodiversidade.
Quanto à matriz, Pollete (1997) salienta que é o mais extenso e conectivo tipo de
elemento da paisagem, e que possui o papel predominante da dinâmica da mesma. A matriz
difere do fragmento, pois é muito maior na área total. Para Metzger (2001) essa unidade pode
ser reconhecida por recobrir a maior parte da paisagem, ou por ter maior grau de conexão de
sua área. Numa outra definição, muito utilizada em estudos de fragmentos, a matriz é
entendida como um conjunto de unidades de não-hábitat para uma determinada comunidade
ou espécie estudada.
A matriz é o elemento que tem domínio ou controle sobre a dinâmica da paisagem.
Em geral é reconhecida pelo predomínio de área ocupada no espaço, com menor grau de
fragmentação (SANTOS, 2004). Podemos ter como exemplo de matriz, uma paisagem
dominada por pastagem. Neste caso, a pastagem é considerada a matriz desta paisagem por
ser o elemento mais abundante.
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Numa paisagem é necessário que se analise a importância da conectividade de
fragmentos numa matriz. A conectividade tem um efeito significante. De acordo com Forman
e Godron (1986) quando um elemento da paisagem é perfeitamente conectado com outro, ele
pode ser considerado a matriz. No entanto, geralmente a matriz não é completamente
conectada, mas, “quebrada” por diversos fragmentos. Portanto, é importante começar a
análise de uma paisagem identificando cada elemento presente antes de decidir qual elemento
é a matriz e que tipo de elemento são os fragmentos e corredores.
Os autores op. cit. salientam ainda que, antes de determinar qual elemento é a matriz
numa paisagem não familiar, deve-se, primeiramente, calcular a área relativa e o nível de
conectividade de todos os elementos da paisagem. As matrizes que permitem a maior
conectividade entre os fragmentos florestais são consideradas as de maior porosidade, fator
que terá influência direta na conservação e preservação dos remanescentes florestais
(VALENTE, 2001).
Os corredores, por sua vez, são pequenas faixas de terra as quais diferem da matriz
em ambos os lados, podendo ser isolados em faixas ou ligados à fragmentos (FORMAN e
GODRON, 1981, 1986). Podem ser definidos segundo Farina (1998) como estreitas faixas de
hábitats, envolvidas por outros tipos de hábitats. Plantas e animais se movem facilmente
através de um corredor, mas, a grande variabilidade de espécies encontra-se no interior dos
corredores.
Segundo Forman (1995) os corredores podem servir como abrigo para espécies
herbívoras que se alimentam nas plantações, predadores que controlam as espécies infestantes
das culturas, animais que dispersam semente, e aves que caçam na matriz. Os corredores
variam no comprimento e na função. Os que assumem a forma linear são resultantes de
atividade humana, geralmente são estreitos e têm como função o movimento de espécies
características do interior de um fragmento florestal e, na maioria dos casos, são grandes o
bastante para apresentarem um efeito de borda e um microambiente em seu interior.
Atualmente, as paisagens que observamos resultam das interações de processos
geológicos, geomorfológicos, climáticos, biológicos e antrópicos que ocorreram
anteriormente. A estrutura da paisagem está submetida a processos contínuos de troca de
energia e matéria entre seus compartimentos, os quais definem seu funcionamento e resultam
em uma dinâmica que pode ser representada por processos distintos como a estruturação da
cadeia alimentar e a formação de solos.
As mudanças que ocorrem na estrutura da paisagem modificam o seu funcionamento.
Portanto, a estrutura presente é resultado do funcionamento anterior, mas também determina o
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funcionamento futuro da paisagem (FORMAN e GODRON, 1986). Uma paisagem, como
qualquer outro sistema natural, pode comportar-se de modo diferente quando afetada por
estresse natural ou humano. Estímulos internos ou externos podem produzir mudanças no
sistema e na dinâmica da paisagem (FARINA, 1998).
A dinâmica da paisagem depende de quatro fatores principais, segundo o autor
supracitado: freqüência da perturbação; taxa de recuperação da perturbação; a extensão da
área da perturbação; a extensão da área da paisagem.
As perturbações podem ser definidas como qualquer evento relativamente distinto no
tempo que rompe a estrutura dos ecossistemas, comunidades ou populações e altera os
recursos, substratos ou ambiente físico (TURNER, 1989). As perturbações humanas, como
desmatamentos, poluição, contaminaçao de rios, entre outros, são as que provocam grande
efeito na estrutura e dinâmica da paisagem. Segundo Pires et al (2004) as perturbações,
realizadas para satisfazer as necessidades econômicas, culturais, intelectuais, estéticas e
espirituais estão determinando mudanças ambientais e ecológicas de significado global. Por
intermédio de uma variedade de mecanismos, essas mudanças globais relacionadas,
principalmente, às alterações nos ciclos biogeoquímicos e aos tipos e intensidade no uso da
terra tem alterado a biodiversidade, a qual interfere na sustentabilidade do ambiente, no que se
refere à invasão de espécies.
Para o autor, paisagens com baixa integridade ecológica perdem a capacidade de
realizar plenamente os processos ecológicos básicos e de absorver os impactos resultantes das
atividades humanas, tornando-se economicamente fragilizadas. Com base nessas evidências, o
grau de degradação torna a recuperação dos ecossistemas naturais um processo extremamente
lento ou economicamente dispendioso.
Neste sentido, Santos (2004) salienta que a observação das interações entre a
estrutura da paisagem e seus processos ecológicos permite que vários fenômenos sejam
averiguados, como: a capacidade do meio em recuperar-se e continuar em equilíbrio apesar de
uma mudança; o tempo de sobrevivência de um sistema ou de alguns de seus componentes; a
resistência às mudanças, aos efeitos de barreira; as conseqüências das mudanças dos
movimentos e transporte de agentes entre os elementos da paisagem; a medida de facilidade
de ocorrência de fluxos biológicos; a permeabilidade da matriz; a evolução da fragmentação
relacionada aos tipos de perturbação; os efeitos de borda dos fragmentos; os pontos de
ligação, que facilitam os fluxos entre fragmentos e; a variação da diversidade na paisagem.
Além disso, a observação da mudança ao longo do tempo também permite deduções a
respeito dos efeitos ou impactos cumulativos no meio.
17
De acordo com Farina (1998) um entendimento da dinâmica da paisagem tem grande
implicação no gerenciamento da mesma e no planejamento ambiental. Segundo Santos e
Paese (2004) questões decorrentes das alterações ambientais relativas à fragmentação de
hábitat, à seleção de áreas para conservação, ao manejo dos recursos naturais, ao
desenvolvimento sustentável à manutenção da diversidade biológica, cujas respostas deveriam
guiar os tomadores de decisão, não são facilmente respondidas, sendo muitas vezes envoltas
em incertezas.
O entendimento da dinâmica da paisagem permite a compreensão do grau de
fragilidade da mesma e oferece subsídio para o planejamento adequado do uso e ocupação do
solo, bem como uma gestão eficiente na busca pela qualidade ambiental. No entanto, para que
ações de manejo sejam efetivamente realizadas é importante que estejam fundamentadas nas
leis ambientais brasileiras vigentes. Neste sentido, têm-se como principais legislações para
áreas de proteção ambiental o Código Florestal Brasileiro e as Resoluções do CONAMA que
se complementam nas suas definições.
De acordo com a resolução CONAMA 303/2002 (BRASIL, 2002) e com o Código
Florestal Brasileiro - Lei Nº 4.771, de 15 de Setembro de 1965 - (BRASIL, 1965),
consideram-se como Áreas de Preservação Permanente:
I - faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal, com
largura mínima, de:
a) trinta metros, para o curso d’água com menos de dez metros de largura;
b) cinqüenta metros, para o curso d’água com dez a cinqüenta metros de largura;
c) cem metros, para o curso d’água com cinqüenta a duzentos metros de largura;
d) duzentos metros, para o curso d’água com duzentos a seiscentos metros de
largura;
e) quinhentos metros, para o curso d’água com mais de seiscentos metros de largura;
II – faixa marginal ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com
raio mínimo de cinqüenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica
contribuinte;
III – faixa marginal ao redor de lagos e lagoas naturais, com metragem mínima de: a)
trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas;
b) cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d`água com até
vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüenta metros;
IV – faixa marginal em vereda em projeção horizontal, com largura mínima de
cinqüenta metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado;
18
V - topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em relação à base;
VI - linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva de nível correspondente
a dois terços da altura, em relação à base, do pico mais baixo da cumeada, fixando-se a curva
de nível para cada segmento da linha de cumeada equivalente a mil metros;
VII - encosta ou parte desta, com declividade superior a cem por cento ou quarenta e
cinco graus na linha de maior declive;
VIII – escarpas, bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da linha de ruptura em
faixa nunca inferior a cem metros em projeção horizontal no sentido do reverso da escarpa;
IX - restingas:
a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar
máxima;
b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com função
fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues;
X - manguezal, em toda a sua extensão;
XI - duna;
XII - altitude superior a mil e oitocentos metros, ou, em Estados que não tenham tais
elevações, a critério do órgão ambiental competente;
XIII - locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias;
XIV - locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaçados de
extinção que constem de lista elaborada pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal;
XV - praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.
A resolução CONAMA 302/2002 (Brasil, 2002) também faz considerações sobre os
reservatórios artificiais. Em seus artigos segundo e terceiros assim se manifestando:
Art. 2º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:
I - Reservatório artificial: acumulação não natural de água destinada a quaisquer de
seus múltiplos usos;
II - Área de Preservação Permanente: a área marginal ao redor do reservatório
artificial e suas ilhas, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem estar das populações humanas;
III - Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial:
conjunto de diretrizes e proposições com o objetivo de disciplinar a conservação, recuperação,
19
o uso e ocupação do entorno do reservatório artificial, respeitados os parâmetros estabelecidos
nesta Resolução e em outras normas aplicáveis;
IV - Nível Máximo Normal: é a cota máxima normal de operação do reservatório;
V - Área Urbana Consolidada: aquela que atende aos seguintes critérios:
a) definição legal pelo poder público;
b) existência de, no mínimo, quatro dos seguintes equipamentos de infra-estrutura
urbana:
1. malha viária com canalização de águas pluviais,
2. rede de abastecimento de água;
3. rede de esgoto;
4. distribuição de energia elétrica e iluminação pública;
5. recolhimento de resíduos sólidos urbanos;
6. tratamento de resíduos sólidos urbanos; e
c) densidade demográfica superior a cinco mil habitantes por km2.
Art 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área com largura mínima, em
projeção horizontal, no entorno dos reservatórios artificiais, medida a partir do nível máximo
normal de:
I - trinta metros para os reservatórios artificiais situados em áreas urbanas
consolidadas e cem metros para áreas rurais;
II - quinze metros, no mínimo, para os reservatórios artificiais de geração de energia
elétrica com até dez hectares, sem prejuízo da compensação ambiental;
III - quinze metros, no mínimo, para reservatórios artificiais não utilizados em
abastecimento público ou geração de energia elétrica, com até vinte hectares de superfície e
localizados em área rural.
§ 1º Os limites da Área de Preservação Permanente, previstos no inciso I, poderão ser
ampliados ou reduzidos, observando-se o patamar mínimo de trinta metros, conforme
estabelecido no licenciamento ambiental e no plano de recursos hídricos da bacia onde o
reservatório se insere, se houver.
Como exposto, tais conhecimentos levam a um melhor entendimento das relações
espaciais da paisagem e vem contribuir de maneira efetiva na busca pela qualidade ambiental.
Com este intuito, no Brasil, diversos grupos de pesquisadores vem trabalhando na linha da
Ecologia de Paisagem utilizando-a como ferramenta para o manejo dos recursos naturais, para
a ordenação do uso do solo, para o planejamento da restauração de áreas degradadas e
sobretudo, fornecendo subsídios para auxiliar o poder público na tomada de decisões. Dentre
20
esses grupos, destacam-se os da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o
Laboratório de Análise e Planejamento Ambiental da Universidade Federal de São Carlos
(LAPA – UFSCAR), o Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação da Universidade
de São Paulo (LEPaC - USP), o departamento de Ecologia da Paisagem da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os grupos de pesquisa do CNPq e WWF, entre outros.
Os estudos na linha da Ecologia da Paisagem têm a contribuição de ferramentas
importantes para o desenvolvimento de pesquisas de análise, caracterização e diagnóstico
ambientais. Os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), Geoprocessamento e
Sensoriamento Remoto, são muito utilizados em estudos em Ecologia de Paisagem
fornecendo auxílio e banco de dados ambientais permitindo uma qualidade na análise de
dados.
O geoprocessamento é o processamento informatizado de dados georeferenciados.
Utiliza programas de computador que permitem o uso de informações cartográficas (mapas e
plantas) e informações a que se possa associar coordenadas desses mapas ou plantas (VAZ,
1997).
Segundo o autor, na ecologia, o geoprocessamento é útil para monitorar áreas com
maior necessidade de proteção ambiental, acompanhar a evolução da poluição da água, do ar,
e os níveis de erosão do solo, a disposição irregular de resíduos e para o gerenciamento dos
serviços de limpeza pública (acompanhando, por área da cidade, o volume de resíduos
coletado e análise de roteiros de coleta).
O Sensoriamento Remoto pode ser definido como sendo a utilização conjunta de
modernos sensores, equipamentos de processamento de dados, além de outras, com o objetivo
de estudar o ambiente terrestre através de registro e análise das interações entre a radiação
eletromagnética e as substâncias que compõem a superfície terrestre (NOVO, 1989, 1992).
As imagens digitais de sensoriamento remoto que podem ser obtidas por satélites ou
aeronaves representam a forma de captura indireta de informação espacial. As informações
são armazenadas como matrizes, sendo que cada elemento da imagem, denominado pixel, tem
um valor proporcional a energia eletromagnética refletida ou emitida pela área da superfície
terrestre correspondente (CÂMARA e MEDEIROS, 1998 apud VALENTE, 2001).
Segundo Cavalli (1999), a grande massa de informações proporcionadas pelas
técnicas de sensoriamento remoto, bem como aquelas produzidas por outros tipos de
documentação, têm levado os pesquisadores, da área de recursos naturais, a utilizar programas
computacionais que possibilitem o armazenamento e manuseio daqueles dados. Tais
programas para análise integrada de dados são chamados Sistemas de Informações
21
Geográficas (SIG). Os SIGs apresentam um conjunto de funções de amplas aplicações
espaciais, voltadas para a integração de dados, que agrupam idéias desenvolvidas em
diferentes áreas, tais como agricultura, botânica, computação, economia, matemática,
fotogrametria, cartografia e, principalmente na geografia.
Na Ecologia de Paisagem os SIGs são uma ferramenta fundamental, especialmente
se usados na manipulação de modelos e dados reais e transferência de informações implícitas
para análises explícitas (Farina, 1998). É ferramenta importante também na identificação e
quantificação da heterogeneidade da paisagem, permitindo que se possa inferir os impactos
sobre os ambientes e que mapas-síntese possam ser produzidos para expressar esses
resultados (MARCOMIN, 1996).
Farina (1998) ainda destaca que os SIGs são indispensáveis para a maioria das
investigações da paisagem, por permitirem avaliar: mudanças de uso de solo; padronagem de
vegetação; distribuição de animais ao longo da paisagem; relação do sensoriamento remoto
com topografia; modelagem de processos ao longo da paisagem.
Um software muito utilizado em SIGs é o IDRJSI, que reúne ferramentas nas áreas
de processamento de imagens, sensoriamento remoto, SIG, geoestatística, apoio a tomada de
decisão e análise de imagens geográficas (IDRISI, 2004).
No Brasil, diversos trabalhos vêm sendo desenvolvidos com a utilização dos
conceitos em Ecologia de Paiagem com autilizaçao de SIGs e o software IDRISI. Marcomin
(2002) fez uma análise ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Pinheiros, caracterizando e
diagnosticando os elementos da paisagem e da perda de solo por erosão laminar, onde as
perdas de solo, os fatores componentes da mesma e os elementos estruturais da paisagem
foram gerados no SIG — IDRISI v. 2.0.
Este recurso também foi utilizado por Tonial (2003) para realizar a classificação dos
usos da terra servindo como ferramenta para o tratamento, interpretação e análise das imagens
LANDSAT TM 5 e produção de mapas temáticos para análise da dinâmica da paisagem da
região noroeste do estado do Rio Grande do Sul.
Cemin, Perico e Rempel (2005), utilizaram os Sistemas de Informações Geográficas
para a análise da estrutura da paisagem no município de Arvorezinha – RS, analisando e
quantificando as mudanças estruturais da paisagem, durante os períodos de 1995 e 2002, por
meio de índices da Ecologia de Paisagem.
22
3 METODOLOGIA
3.1 Localização e descrição da área de estudo
A bacia do rio São Bento localiza-se entre as coordenadas 28°29’/28°44’ Norte e
49°20’/49°30’ Oeste (Figura 01), abrangendo parte dos municípios de Bom Jardim da Serra,
Treviso, Siderópolis, Nova Veneza e Forquilhinha, região do extremo sul do estado de Santa
Catarina, com uma área aproximada de 160km² (CASAN, 2004).
Figura 01 – Localização geográfica da Bacia Hidrográfica do Rio São Bento (Fonte: CASAN, 2004)
23
3.2 Descrição da área de estudo.
3.2.1 Geologia
A formação geológica encontrada na bacia hidrográfica do rio São Bento inclui-se no
grupo São Bento. Segundo Epagri (2005) este grupo é representado pelas intrusões de
diabásio e pelas seguintes formações: Formação Botucatu - de idade Jura-Cretáceo, esta
unidade é constituída por arenitos eólicos, finos a médios, avermelhados, com estratificação
cruzada. Esta formação assenta discordantemente sobre as da Formação Rio do Rasto, e são
recobertas, também discordantemente, pelas lavas da Formação Serra Geral; Formação Serra
Geral - pouco mais de 50% da área do território catarinense acha-se recoberta por rochas
desta unidade, constituída por uma seqüência vulcânica, compreendendo desde rochas de
composição básica até rochas com elevado teor de sílica e baixos teores de ferro e magnésio.
A seqüência básica ocupa a maior parte do planalto catarinense, sendo constituída
predominantemente por basaltos e andesitos. Em praticamente todo o estado, recortando as
rochas mais antigas, ocorrem diques e “sills” de diabásio, alguns deles com área superior a
100km2, como é o caso do “sill” do Montanhão, entre Siderópolis e Urussanga.
3.2.2 Geomorfologia
A bacia hidrográfica do rio São Bento assentada em sua maior parte sobre a Unidade
Geomorfológica Patamares da Serra Geral, encontra-se localizada entre as Unidades
geomorfológicas da Depressão da Zona Carbonífera Catarinense e Serra Geral (EPAGRI,
1999).
A unidade geomorfológica Patamares da Serra Geral desenvolve-se como uma faixa
estreita e descontínua, associada à dissecação das redes de drenagem dos rios Araranguá e
Mampituba. Os patamares representam testemunhos do recuo da linha de escarpa, conhecida
como Serra Geral, a qual se desenvolveu nas seqüências vulcânicas e sedimentares da Bacia
do Paraná. A leste, as formas de relevo alongadas e dissecadas ultrapassam a Unidade
Geomorfológica Depressão da Zona Carbonífera Catarinense e avançam sobre a Unidade
Geomorfológica Planícies Litorâneas como verdadeiros esporões interfluviais (JUSTUS et al
1986; KAUL, 1990).
De acordo com CASAN (2004) a unidade Serra Geral, caracteriza-se por encostas de
alta declividade com interflúvios estreitos de topo anguloso, em forma de cristas ou tabular,
24
apresentando vales bem fechados em “V”, que atingem profundidades superiores a 500m e
com forte controle estrutural. Predominam as classes de relevo escarpados e montanhosos,
com declividades que variam de 45 a mais de 100%.
Esta Unidade constitui-se nos terminais escarpados do planalto dos Campos Gerais,
desenvolvida sobre rochas efusivas básicas, intermediárias e ácidas com desníveis acentuados
de até 1.000m. As formas de relevo bastante abruptas apresentam vales fluviais com
aprofundamentos superiores a 500m em suas nascentes desenvolvendo verdadeiros
"canyons", a exemplo do Itambezinho, na divisa do Estado do Rio Grande do Sul. As
características do relevo desta unidade geomorfológica são propícias ao desenvolvimento e
preservação de uma vegetação do tipo florestal (SANTA CATARINA, 1991).
A Unidade Depressão da Zona Carbonífera Catarinense mostra duas feições bem
marcantes de relevo. Da cidade de Siderópolis para o norte, o relevo apresenta-se colinoso,
com vales encaixados, as vertentes são íngremes, com espesso manto de intemperismo que
favorece a ocorrência de processos de solifluxão e ocasionalmente movimentos de massa
rápidos. Da cidade de Siderópolis para o sul, as formas são côncavo-convexas com vales
abertos, sendo os processos fluviais os responsáveis pela dissecação. Altimetricamente este
relevo se posiciona entre 500 a 600m; cotas mais elevadas verificam-se nos relevos residuais,
de topos planos, mantidos por rochas mais resistentes, remanescentes de antiga superfície de
aplanamento (SANTA CATARINA, 1991).
3.2.3 Solo
Os solos derivados do arenito Botucatu ocorrem segundo uma estreita faixa
contornando a escarpa da Serra Geral. Os mais comuns são o Argissolos e os Cambissolos. As
rochas efusivas básicas são responsáveis pela formação de extensas áreas de solos argilosos,
arroxeados, avermelhados ou brunados, com altos teores de Fe2O3. Já as rochas efusivas
intermediárias e ácidas deram origem a solos argilosos ou de textura média, alguns com
gradiente textural bem acentuado, com teores variáveis de Fe2O3, em geral inferior a 18%
(EPAGRI, 2005).
Os solos presentes na área, segundo Epagri (2005) são representados, em sua maior
parte, pelos Argissolos/Alissolos, Cambissolos, Neossolos litólicos e Gleissolos.
Os Argissolos compreende solos constituídos por material mineral, que têm como
características diferenciais argila de atividade baixa e horizonte B textural (Bt),
imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte superficial, exceto o hístico.
25
Os Alissolos são solos minerais e tem como características diferenciais argila de
atividade >20 cmolc/kg de argila, baixa saturação por bases, alto conteúdo de alumínio
extraível (Al3+ > 4 cmolc/kg de solo), conjugado com saturação por alumínio > 50% e/ou
saturação por bases <50%. Podem apresentar horizonte A moderado, proeminente ou húmico
e/ou horizonte E sobrejacente a um horizonte B textural ou B nítico.
Os Cambissolos são constituídos por material mineral, que apresentam horizonte A
ou horizonte hístico com espessura inferior a 40 cm seguido de horizonte B incipiente e que
satisfaça demais requisitos especificados quanto a sua ocorrência e constituição. Estes solos
ocorrem tanto em relevo praticamente plano a relevo montanhoso, apesar de predominarem os
cambissolos em relevo forte ondulado, ondulado e suave ondulado.
Os Neossolos Litólicos são solos com horizontes A ou O hístico com menos de 40
cm de espessura, assentado diretamente sobre a rocha ou sobre um horizonte C ou Cr ou
ainda, sobre material com 90% (por volume), ou mais de sua massa constituída por
fragmentos de rochas com diâmetro maior que 2 mm (cascalho, calhaus e matacões) e que
apresentam um contato lítico dentro de 50cm da superfície do solo. Admitindo ainda um
horizonte B. Por serem solos que ocorrem em sua maioria em locais de topografia acidentada,
normalmente em relevo forte ondulado, montanhoso e ondulado, e devido à pequena
espessura dos perfis, são muito suscetíveis a erosão. (EPAGRI,1999).
Os Gleissolos por sua vez, são solos constituídos por material mineral com horizonte
glei imediatamente abaixo do horizonte A, ou de horizonte hístico com menos de 40 cm de
espessura; ou horizonte glei começando dentro de 50 cm da superfície do solo. Anteriormente
estes solos eram denominados Solos Glei Húmico e Glei Pouco Húmico. Em condições
naturais estes solos apresentam condições mínimas de utilização, não só pela deficiência
química e teores elevados de alumínio trocável, como também, e principalmente, pelas
restrições impostas pelo excesso de água no solo, impedindo ou limitando o uso de máquinas
e implementos agrícolas (EPAGRI, 1999).
Segundo os autores op. cit, ocorrem na área da microbacia do rio São Bento, às
seguintes variações dos grandes grupos de solos acima descritos:
• Re3 (associação de Solos Litólicos Eutróficos + Cambissolo Eutrófico +
Afloramentos Rochosos em relevo escarpado) que ocupam maior parte da
microbacia, estando associados às encostas e cristas de morros;
• HGPd5 (associação Glei Pouco Húmico Distrófico + Cambonissolo
Eutrófico) restritos as áreas de inundação das planícies dos rios) e; Ra9
(associação de Solos Litólicos Alico + Cambissolo Álico + Afloramentos
26
rochosos) que ocorre em pequenas porções restritas à zona de contato
entre os campos de Cima da Serra e os Aparados da Serra;
• PVa6 (Podzólico Vermelho-Amarelo Álico e Distrófico Tb A moderado
textura média/argilosa fase floresta tropical perenifólia relevo suave
ondulado);
• Ca13 (Associação Cambissolo Álico e Distrófico Tb A moderado textura
argilosa fase pedregosa relevo forte ondulado + Terra Bruna/Roxa
Estruturada Álica e Distrófica A moderado textura argilosa relevo
ondulado e forte ondulado ambos floresta tropical perenifólia);
• Cd4 (Associação Cambissolo Distrófico Tb A moderado textura argilosa
fase floresta tropical perúmida relevo praticamente plano e suave
ondulado + Glei Pouco Húmico Distrófico Ta textura argilosa fase
floresta tropical perenifólia de várzea relevo plano).
Essas três últimas variações ocorrem nas encostas dos divisores de água, localizados
na margem esquerda da bacia hidrográfica do rio São Bento (EPAGRI, 1999).
3.2.4 Hidrografia
As bacias hidrográficas que desembocam para o Oceano Atlântico formam o sistema
sul brasileiro de vertentes do Atlântico. Por serem nascentes encravadas nos Aparados da
Serra e acompanharem o sistema de falhamentos são classificados como rios encaixados
(JUSTUS et al., 1986; Kaul, 1990).
O rio São Bento, pertencente à bacia do rio Araranguá, nasce nos contrafortes da
Serra Geral, desenvolvendo-se por cerca de 40km até a confluência com o rio Mãe Luzia, do
qual é o principal afluente. Seus principais formadores são os rios da Serra e da Mina,
recebendo ainda contribuição dos rios Guarapari e Serrinha. Sua bacia hidrográfica totaliza
uma área de aproximadamente 160 km2 (sendo a área de drenagem na seção de barramento de
112,2 km2), com vazões médias de 3,12 m3/s e mínima de 0,83 m3/s, apresentando altas
declividades, principalmente em seu trecho superior, bastante montanhoso (CASAN, 2004).
A área de entorno imediato da Barragem do Rio São Bento situa-se adjacente às
escarpas da Serra Geral, região onde a cobertura basáltica já foi totalmente removida pelos
efeitos da erosão, deixando exposta quase que a totalidade da coluna de rochas sedimentares
gonduânicas, em forma de morros com vertentes ainda bastante íngremes. Dentro deste pacote
27
de rochas sedimentares, intrudiu um espesso corpo de lavas basálticas, com o formato de um
sill de composição diabásica, que hoje em dia, por força de processos erosivos, aflora em
ampla área (EPAGRI, 1999), inclusive nas adjacências da área em estudo.
Nos vales dos rios São Bento, Serrinha, Serra e da Mina, pode-se observar que ocorre
uma deposição de seixos e cascalhos rolados de basalto. Este aspecto mostra que as calhas dos
dois rios e parte da planície de inundação são revestidas por este tipo de sedimento aluvionar,
imersos em uma matriz argilo arenosa. A deposição de material aluvionar e coluvionar se
estende na região à jusante do barramento, no trecho compreendido entre a barragem do rio
São Bento e a comunidade de São Bento Alto.
Em função das suas características, o rio São Bento era o manancial utilizado para
abastecimento da cidade de Criciúma, antes da instalação da Barragem do Rio São Bento
(BRSB), através de uma derivação em seu baixo vale, que suplementava a capacidade hídrica
do ponto de captação da CASAN, situado junto à barragem reguladora de nível do rio
Guarapari. Nos dias de hoje, a água é captada na BRSB e conduzida até a ETA de São
Defende e distribuída para as cidades de Criciúma, Içara, Nova Veneza, Forquilhinha e
Maracajá. Além do abastecimento público, o rio São Bento fornecia ainda água para a cultura
do arroz irrigado, o que gerava conflitos pelo uso.
O rio São Bento no local de captação, antes da implantação da Barragem do Rio São
Bento, apresentava cobertura vegetal abundante, que contribuía para uma boa qualidade das
águas (COTESA, 2001). Com a formação do lago foi inundada uma área de 450 hectares (4,5
Km2), totalizando um volume útil acumulado de 53,2 hm3. Este armazenamento de água no
reservatório possibilita, além do abastecimento público à população alvo do projeto, a
irrigação de uma área de 2.000 hectares, com uma vazão firme de 1,01 m3/s durante sete
meses do ano (CASAN, 2004).
3.2.5 Clima
Segundo a classificação de Koeppen (1948), de acordo com EPAGRI (1999) o clima
na região é classificado como Cf, (subtropical úmido). A bacia hidrográfica do rio São Bento
encontra-se em uma área de transição entre a variedade específica Cfa (junto à área de
ocorrência da Floresta Ombrófila Densa Submontana) e a variedade específica Cfb (junto às
altitudes mais elevadas da Floresta Ombrófila Densa Montana, nos Campos de Cima da Serra
e na Floresta Ombrófila Mista).
28
Na variedade Cfa, a temperatura média normal anual para a área oscila de 17,0 a 19,3
ºC. A temperatura média normal das máximas varia de 23,4 a 25,9 ºC e das mínimas de 12,0 a
15,1 ºC. A precipitação pluviométrica total normal anual pode oscilar de 1.220 a 1.660 mm,
com o total anual de dias de chuva entre 102 e 150 dias (EPAGRI, 1999).
Nos locais de ocorrência da variedade específica Cfb, a temperatura média normal
anual varia de 11,4 a 17,9 ºC, sendo que a temperatura média normal das máximas oscila de
16,9 a 25,8 ºC e a mínima de 7,6 a 12,9 ºC. A precipitação pluviométrica total anual pode
variar de 1.360 a 1.820 mm, com o total anual de dias de chuva oscilando entre 123 e 144 dias
(EPAGRI, 1999).
3.2.6 Vegetação
A cobertura vegetal original da bacia hidrográfica do rio São Bento pertence à
formação Floresta Ombrófila Densa (Domínio Mata Atlântica) que se estende ao longo da
costa atlântica, dentro do espaço subtropical, por 10.062 km2, ocupando desde as planícies
cenozóicas até as áreas de relevo bem dissecado das encostas e escarpas da Serra do Leste
Catarinense da Serra Geral (TEIXEIRA et al., 1986).
De acordo com Santa Catarina (1986) a área representa as formações de Floresta
Ombrofila Densa que compreende as planícies e serras da costa catarinense, com ambientes
marcados intensamente pela influência oceânica, traduzida em elevado índice de umidade e
baixa amplitude térmica.
Segundo o autor op. cit., a Floresta Ombrófila Densa no sul de Santa Catarina,
apresenta-se formada por agrupamentos vegetais de composição florística distinta, que varia
de acordo com a altitude. Observa-se a ocorrência de três formações distintas de acordo com a
variação da altitude: Floresta de Terras Baixas (do nível do mar até 30 m); Floresta
Submontana (de 30 a 400 m); Floresta Montana (em altitudes superiores a 400 m): Floresta
Ombrófila Mista (campos de cima da Serra). Na área em estudos, pelo fato de estar localizada
acima da cota altimétrica 30 m, não ocorre a formação vegetal Floresta Ombrófila Densa de
Terras Baixas.
As excepcionais condições ambientais da região permitiram o desenvolvimento de
uma floresta com fisionomia e estrutura peculiar grande variedade de formas de vida e
elevado contingente de espécies endêmicas. De acordo com Veloso e Góes Filho (1982), a
Floresta Ombrofila Densa apresenta-se bem desenvolvida, com formações densas e vistosas e
copas largas na qual forma um microclima bem característico. Na Floresta Ombrofila Densa
29
Submontana observa-se à presença de agrupamentos vegetais bem desenvolvidos, formados
por árvores altas e com copas densas e largas, dando à vegetação o aspecto da floresta
climáxica ombrofila. O elevado nível de epifitismo, principalmente de bromélias dos gêneros
Vriesia e Tillandsia, bem como as aráceas dos gêneros Philodendron e Athurium são uma
particularidade desta floresta. Entre as espécies arbóreas latifoliadas ocorrentes nesta
formação têm-se Ocotea catharinenseis (canela-preta), Sloanea guianensis (laranjeira-do-
mato), Aspidosperma olivaceum [parvifolia] (peroba-vermelha), Talauma ovata (baguaçu),
Schizolobium parahyba (guarapuvu) e Didymopanaz angustissimum (pau mandioca), entre
outras (TEIXEIRA et al., 1986).
Segundo o autor acima citado, o estrato das arvoretas é bastante homogêneo e
caracterizado pelas espécies: Actinostemon concolor (laranjeira-do-mato), Pera glabrata
(seca-ligeiro), Sorocea bonplandii (carapicica), Esenbeckia grandiflora (cutia) e de Euterpe
edulis (palmito), que muito contribuem para o aspecto fisionômico desta floresta. Estas
formações sofreram grandes influencias antropicas, restando apenas formações primárias em
áreas íngremes.
No âmbito da Floesta Ombrofila Densa Montana, observa-se que a composição
florestal é bastante diversificada destacando-se as espécies: Ocotea catharinenseis (canela-
preta), Alchornea sidifolia (tanheiro), Capaifera trapezifolia (pau-óleo), Coccoloba
warmingii (racha-ligeiro), Ocotea pretiosa (canela-sassafrás) e um grande número de
mirtáceas dos gêneros: Eugenia, Myrceugenia e Calyptranthes, que caracterizam
principalmente o estrato médio da floresta. Nota-se a gradativa diminuição de Euterpe edulis
(palmito), bem como epífitas e lianas (TEIXEIRA et al., 1986).
A inexpressiva ação antrópica nas áreas dessa é representada pela ocorrência de áreas
de vegetação secundária em diversos estágios de desenvolvimento, como capoeirinha,
capoeira e capoeirão, e de uma reduzida agricultura cíclica em rotação com a pecuária
ocorrente nas áreas mais planas. Ao longo da crista da Serra Geral, segundo Rambo (1994),
ocorre um filete de vegetação Auto-Montana denominada “matinha nebular”, uma vez que
durante grande parte do ano se encontra entre densa neblina.
A vegetação florestal primária hoje existente na bacia hidrográfica do rio São Bento
restringe-se quase que exclusivamente às encostas da serra geral, em locais de difícil acesso,
ou impróprias à agricultura. Nas partes mais baixas e aplainadas, é intenso o uso do solo para
práticas agrícolas, onde a vegetação resultante apresenta-se em diversos estádios de
conservação.
30
3.2 Procedimentos Metodológicos
Para a caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio São Bento foram
utilizadas as folhas SH – 22 – X – A – III – 4 (Bom Jardim da Serra), SH – 22 – X – A – IV –
2 (São Bento Baixo), SH – 22 – X – B – IV – 1 (Criciúma) da Secretaria de Planejamento da
Presidência da República – Superintendência de Cartografia do IBGE (BRASIL, 1976), na
escala de 1:50000.
A partir das folhas topográficas foi gerado o polígono da microbacia, que foi
digitalizado em tela, com o auxilio do software CARTALINX v.2.0 (CLARK LABS, 1999).
Os arquivos vetoriais da rede hidrográfica e curvas de nível foram obtidos on-line dos
arquivos digitais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (www.ibge.gov.br)
(2007), sendo estes, os primeiros parâmetros necessários para a caracterização da bacia. Os
arquivos vetoriais obtidos foram exportados para o software IDRISI 32 (CLARK
UNIVERITY, 1999) para a geração de mapas temáticos dos referidos parâmetros, assim como
do MDT (modelo digital do terreno).
A vetorização das diferentes formas de uso e cobertura da terra, também foram
digitalizadas em tela, com o auxílio do software CARTALINX (CLARK LABS, 1999) a
partir de fotografias aéreas datadas de novembro de 2006 (AEROFOTO CRUZEIRO, 2006),
utilizadas como imagem de fundo (backdrop). Os arquivos vetoriais foram exportados para o
software IDRISI 32 (CLARK UNIVERSITY, 1999), onde foi obtido o parâmetro de uso da
terra, assim como as respectivas cartas temáticas, conforme sugestões de Easteman (1999).
Tais cartas foram importantes para a obtenção de dados ambientais detalhados da
bacia no que se refere ao uso e cobertura da terra, permitindo uma analise clara das ocupações
em áreas de APP, imprescindíveis à sua caracterização. O Modelo de Elevação do Terreno
obtido por meio da rotina ORTHO, permitiu analisar com maior detalhamento a estrutura do
relevo da área, auxiliando na identificação de áreas consideradas de Preservação Ambiental de
acordo com a legislação vigente, em função da declividade.
Num segundo momento, o mapa de declividade foi reclassificado a partir da
ferramenta RECLASS em função da legislação ambiental vigente, sendo destacadas as áreas
com declividades superiores a 45°. De acordo com a Resolução CONAMA 303/2002
(BRASIL, 2002), estas áreas devem ser consideradas como de Preservação Permanente,
merecendo especial atenção.
31
Visando o estudo mais detalhado da paisagem foi efetuado o cruzamento do mapa de
uso da terra com o mapa de declividades, por meio do módulo CROSSTAB, fornecendo
subsídios adequados para descrever a paisagem e identificar os possíveis riscos ambientais em
função de seu uso inadequado.
Assim, com as informações obtidas em tais cruzamentos foram determinadas as áreas
de Preservação Permanente para a bacia hidrográfica e para a Barragem do Rio São Bento em
função da legislação (Código Florestal Brasileiro e Resolução CONAMA 303/2002), assim
como, foi estabelecida uma zona tampão (buffer) para a rede hidrográfica da bacia,
considerando a distância mínima das margens de 30 metros para os rios e de 100 metros para
o entorno do lago. Em seguida, o mapa de uso da terra foi cruzado como o mapa de áreas de
preservação permanente, com o objetivo de verificar os tipos de usos na área de abrangência
legal destas APP’s.
32
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A bacia do Rio São Bento ocupa uma área de, aproximadamente, 160Km2, apresenta
padrão de drenagem dendrítica que, segundo Christofoletti (1980), os ramos formados pelas
correntes tributárias distribuem-se em todas as direções do terreno e se unem formando
ângulos agudos de graduações variadas (Figura 02). As nascentes localizam-se nos
contrafortes da Serra Geral a noroeste da bacia, tendo algumas origem nos campos de cima da
serra, ocorrem em classes hipsométricas superiores a 1000 m e em declividades superiores a
25º. O rio São Bento desenvolve-se por cerca de 40km das nascentes até a confluência com o
rio Mãe Luzia (CASAN, 2004) que está localizado a sudeste da bacia ocorrendo em classes
hipsométricas inferiores a 80m e em declividades inferiores a 10º.
Nas nascentes predomina vegetação arbórea típica de Floreta Ombrófila Densa
Montana (TEIXEIRA et al., 1986) em função das cotas em que se encontram. Já em sua foz
há a predominância de áreas de cultivo e campo antrópico (Figura 05). A predominância de
vegetação nas nascentes é de extrema importância para a bacia uma vez que atenua processos
erosivos, reduz o assoreamento e, como conseqüência, impede o desaparecimento dos corpos
d’água. No entanto, observa-se que alguns corpos d’água acima da barragem apresentam
cultivo agrícola e campo antrópico em seu entorno, o que poderá representar problemas
futuros para a bacia, podendo levar à extinção destes corpos d’água caso não sejam tomadas
medidas que visem o manejo de tais áreas.
O lago da Barragem do Rio São Bento localiza-se ao centro da bacia com uma área
de aproximadamente 4,5Km², tendo como principais formadores o rio Serrinha e rio São
Bento. Encontra-se em classe hipsométricas em torno de 160m e declividade inferior a 25º.
33
Figura 02. Rede hidrográfica da bacia do rio São Bento
As classes hipsométricas foram distribuídas pela área da bacia com intervalos de de
10m até as altitudes de 100m e com intervalos de 100m para as altitudes superiores a 100m.
De acordo com os dados obtidos, verifica-se que a bacia apresenta todas as classes
hipsométricas, incluindo desde áreas com altitudes inferiores a 80m, localizadas na porção sul
da bacia, até áreas com altitudes superiores a 1200m (Figura 03), localizados nos campos de
cima da Serra.
34
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
LEGENDA
Figura 03. Mapa hipsométrico da bacia do rio São Bento
A maior parte da área total a bacia encontra-se nas classes inferiores a 30m, cerca de
11% (Tabela 01), sendo as maiores freqüências observadas nas altitudes entre 100 e 1000m.
Tabela 01. Área ocupada por cada uma das classes hipsométricas da bacia do rio São Bento
Classes (m) Área (Km2) Área (%)1 0 - 30 18,57 11,632 30 - 40 0,13 0,083 40 - 50 4,43 2,774 50 – 60 4,95 3,105 60 – 70 8,52 5,346 70 – 80 7,33 4,597 80 – 90 6,58 4,128 90 – 100 2,50 1,569 100 - 200 2,04 1,2710 200 – 300 9,74 6,1011 300 – 400 10,78 6,7512 400 – 500 12,58 7,8813 500 – 600 11,85 7,4214 600 – 700 12,67 7,9515 700 – 800 13,25 8,3016 800 – 900 11,18 7,0017 900 – 1000 6,84 4,3018 1000 – 1100 5,16 3,2319 1100 – 1200 4,00 2,5020 1200 – 1300 5,00 3,1321 1300 – 1400 1,29 0,8022 1400 – 1500 0,19 0,12TOTAL 159,55 100,0
35
LEGENDA
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
Com base no proposto por Teixeira et al. (1986), em função das cotas altimétricas
que se apresentam na bacia, a vegetação presente pode ser representada pela Floresta
Ombrófila Densa Submontana (cota entre 30 e 400m) e Floresta Ombrófila Densa Montana
(cotas superiores a 400m), sendo a máxima cota registrada de 1500m.
De acordo com Rosa e Brito (2003), os dados hipsométricos possibilitam conhecer o
relevo, que por sua vez interfere decisivamente no processo erosivo, principalmente por meio
do escoamento superficial da água. A configuração topográfica de uma área de drenagem está
estritamente relacionada com os fenômenos de erosão que se processam em sua superfície.
Dentro da Ecologia de Paisagem, a hipsometria nos oferece dados estruturais do
ambiente que servirão, em conjunto com os dados de ocupação da terra, para caracterizar a
bacia e elencar suas fragilidades. Juntamente com os estudos hipsométricos da bacia, os dados
de declividade também são fundamentalmente importantes nas análises ambientais em razão
36
de sua relação com o grau de comprometimento da qualidade do solo, devido sua má
utilização. Neste sentido, a legislação brasileira estabelece as devidas utilizações do solo em
função da declividade que uma área apresenta.
De acordo com os dados observados, cerca de 6% da área encontra-se em
declividades superiores a 45º. A maior percentagem da área encontra-se nas classes entre 0º e
10º (37,69%) (Tabela 02).
Tabela 02. Área ocupada pelas classes clinográficas da bacia do rio São Bento.Classes (graus ) Área (Km2) Área (%)
1 0 – 10 60,15 37,702 10 – 25 38,80 24,303 25 – 45 50,49 31,654 > 45 10,10 6,25TOTAL 159,55 100,0
De acordo com o estabelecido pela legislação vigente (Resolução 302 do CONAMA
e Código Florestal Brasileiro), exposto anteriormente, as áreas com declividades superiores a
45º devem ser consideradas como áreas de Preservação Permanente e, portanto, impróprias
para utilização antrópica, pois aumentam o risco de erosão e perda de solo. Esta perda de solo
pode vir seguida por lixiviação de material particulado e contaminantes para os rios,
comprometendo a qualidade ambiental da área.
Como observado na Figura 04, a bacia apresenta uma parte de sua área enquadrada
na categoria de APP (>45º), merecendo especial atenção. Contudo, mesmo declividades
inferiores à estabelecida pela legislação devem ser protegidas face ao tipo do solo, a formação
vegetal e a proximidade dos corpos d’água, dentre outros fatores. Porém, é oportuno enfatizar
que não se deve estabelecer um parâmetro apenas para análise e gestão da paisagem, mas a
integração de vários parâmetros.
37
Figura 04. Mapa de clinográfia da bacia do rio São Bento
O uso da terra da bacia foi categorizado de acordo com o que foi possível ser
identificado nas fotografias aéreas. Tais categorias podem não representar fielmente o
ocorrido de fato no campo, apesar das fotografias estarem em uma escala apropriada para este
tipo de análise. Pelo fato da maior parte da bacia estar localizada nas encostas da Serra Geral,
onde a declividade é muito acentuada, as faces internas dos vales sofrem interferências de luz
e sombra que, de certa maneira podem comprometer as interpretações. Nestas condições, foi
38
LEGENDA
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
possível identificar e diferenciar 11 categorias de uso para a área, conforme apresentado na
Figura 05.
Figura 05. Mapa de uso da terra na bacia do rio São Bento
Como é possível observar na Tabela 03, a área da bacia apresenta, em sua maior
parte, vegetação arbórea, representado 69,55%. Tal vegetação encontra-se, quase que em sua
totalidade na porção norte-noroeste da bacia onde se encontram as cotas mais elevadas. Isto
39
LEGENDA
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
representa um ponto positivo para a área, o que significa maior proteção ao solo e aos corpos
d’água no sentido de que a vegetação evita escoamento superficial do solo, mantendo a
fertilidade do mesmo pelas relações ecológicas ali presentes. Além disso, oferece abrigo e
alimento à fauna local, sendo esta essencial para a manutenção de espécies.
Tabela 03. Área ocupada pelas diferentes classes de uso da terra da bacia do rio São Bento.
Classes Área (Km2) Área (%)1 Vegetação de entorno de rio 0,80 0,502 Cultivo irrigado 21,56 13,513 Cultivo de sequeiro 2,06 1,294 Corpos de água 5,28 3,305 Vegetação arbórea 110,98 69,556 Solo exposto 0,84 0,527 Estradas e caminhos 0,09 0,058 Ocupação urbana 0,39 0,249 Campos de Cima da Serra 3,28 2,0510 Campo antrópico 14,87 9,3211 Plantio de Eucalyptus spp. 0,19 0,12TOTAL 159,55 100,0
No entanto, em observações em campo anteriores ao desenvolvimento do estudo,
percebeu-se que, no entorno da barragem e à sua jusante, a vegetação presente é de caráter
secundário e com intenso uso pela população das proximidades. Isto representa efeitos
negativos na estrutura e dinâmica da paisagem. Como salientou Turner (1989), estas
perturbações humanas rompem a estrutura dos ecossistemas e alteram os recursos, diminuindo
a integridade ecológica da paisagem. Neste caso, Pires (2004) coloca que estas paisagens
perdem a capacidade de realizar suas funções básicas tornando-se fragilizadas, o que dificulta
sua recuperação. Portanto, como lembra Farina (1998), o entendimento da dinâmica da
paisagem tem grande implicação no gerenciamento e planejamento ambiental de áreas.
Além disso, foi possível observar também na área, uma intensa fragmentação
destas matas, embora não tenha sido possível identificar tal fato nas fotografias aéreas. Esta
fragmentação resulta da influência antrópica nos mosaicos da paisagem, podendo contribuir
para a modificação destas paisagens, o que acarreta problemas na dinâmica e funcionamento
das mesmas. Kurasz et al (2005) apud Silva e Martins (2001) salientam que Os fragmentos
remanescentes, às vezes pequenos e muito alterados, estão normalmente ilhados em meio a
grandes áreas agrícolas e sofrem assim forte pressão antrópica, onde as principais formas de
distúrbios referem-se a extração de lenha, de plantas medicinais e ornamentais, fogo, invasão
de espécies animais e vegetais exóticas e isolamento de outras florestas. Como conseqüência
40
disso, têm-se alterações profundas nas funções ecológicas destas florestas, como extinção
local de espécies, desequilíbrio nas taxas de reprodução e crescimento, o que afeta populações
de espécies arbustivo-arbóreas; problemas na estrutura genética das populações arbóreas,
como conseqüência do baixo fluxo gênico entre fragmentos, retardamento do processo
sucessional pela ausência de fontes naturais de propágulos de espécies tardias e prejuízos nas
interações planta-animal, com o desaparecimento de dispersores e polinizadores. Estes
distúrbios tendem a ser mais drásticos quanto menor o fragmento e quanto maior o seu
isolamento e são mais intensos nas suas bordas. Portanto, é necessário um trabalho intenso de
educação ambiental com as comunidades próximas e o manejo das áreas visando a
conservação das mesmas, além de um planejamento ambiental da região que envolva tanto
entidades governamentais e privadas quanto a população.
A jusante da barragem encontra-se a maior heterogeneidade da paisagem (figura
05). Observa-se uma elevada quantidade de manchas de vegetação esparsa entre as áreas
agrícolas, sendo a matriz da paisagem caracterizada pelo cultivo irrigado. Algumas das
manchas de vegetação presentes na área são totalmente isoladas o que conduz a uma baixa
conectividade entre os fragmentos, influenciando nas relações ecológicas dos seres ali
presentes. Segundo Muchailh (2007) apud Campos (2006), A fragmentação da cobertura
vegetal, especialmente nas áreas de preservação permanente, reduz a conectividade, pois
divide o ambiente em numerosas ilhas, provocando a interrupção de corredores, rompendo
fluxos gênicos, acarretando no empobrecimento da cadeia alimentar e na extinção de espécies.
E, como ressalta Farina (1998), sendo esta fragmentação de origem antrópica, torna-se uma
ameaça à biodiversidade da área.
Muchailh (2007) relaciona ainda que a fragmentação tem relação direta com a
sobrevivência das populações, intensificação das competições, isolamento dos fragmentos,
efeitos de borda e perda de biodiversidade. O que se percebe nesta parte da bacia é que os
fragmentos de vegetação ainda presentes encontram-se em áreas elevadas, o que dificulta o
acesso às mesmas. No entanto, com a ocupação desenfreada atual é possível que estas áreas
sejam ocupadas futuramente. Portanto, torna-se urgente ações de gestão ambiental da área,
evitando a perda completa destes habitats remanescentes. Nesse sentido, a introdução de
corredores entre estes fragmentos seria importante para enriquecer biologicamente a
paisagem. Isto aumentaria a conectividade entre os mesmos, permitindo as trocas ecológicas
entre populações. Este aspecto é fundamentalmente importante em paisagens fragmentadas,
pois promovem dispersão das espécies pela matriz aumentando as chances de sobrevivência
das mesmas.
41
Medina e Vieira (2007), salientam que a diminuição da conectividade ao limitar a
dispersão dos organismos, pode ter conseqüências negativas nas populações já que reduz o
fluxo genético entre elas podendo levar a endocruzamentos e perda de diversidade genética.
É importante destacar, também, com relação aos fragmentos da paisagem, a
estrutura da matriz para analisar se as mesmas oferecem algum grau de conectividade para os
fragmentos.
Muchail (2007) salienta que é importante avaliar a influência da matriz e formas
de minimizar os efeitos negativos. A intensidade das atividades desenvolvidas na matriz afeta
a sobrevivência das populações, tanto de espécies de plantas como de animais. Atividades
agrícolas intensivas podem ser altamente nocivas, pois envolvem o uso indiscriminado de
fertilizantes e, principalmente, de agrotóxicos. Além de afetar diretamente os organismos, os
agrotóxicos podem ser transportados pelo vento e pela água, afetando os organismos dentro
dos fragmentos e também contaminando mananciais de água, levando perigo às populações,
inclusive, às humanas.
Com relação à bacia é possível observar, também, nesta parte da bacia, que
13,50% da área apresenta cultivo irrigado, predominantemente rizicultura. À jusante da
barragem onde há maior fragmentação, esta rizicultura representa a matriz da paisagem.
Portanto, como lembrado anteriormente, representa uma matriz com baixa permeabilidade,
dificultando a conectividade entre os fragmentos. Alem disso, a rizicultura representa ainda,
uma série de problemas em termos de qualidade ambiental como: monocultura - a rizicultura
representa a monocultura onde o risco se torna grande quando em caso de alterações
climáticas ou qualquer outro fator ambiental que possa prejudicar a atividade; compactação
do solo - com o aplainamento do relevo e compactação do solo, a água não infiltra, sendo
transportada para os rios, levando parte dos sedimentos e materiais nutritivos, deixando o solo
infértil; contaminação da água - a utilização de fertilizantes e agrotóxicos na rizicultura faz
com que o excesso destes poluentes chegue aos rios e penetrem no subsolo contaminando o
lençol freático. A mudança do padrão de drenagem e morfologia do terreno, pela construção
de canchas o que facilita o transporte de agentes químicos (JACQUES et al, 2008).
Portanto, é fundamental uma atenção especial a estas áreas e um planejamento
adequado da utilização da terra na bacia. Nestes tipos de análise é importante estabelecer uma
relação entre as áreas consideradas de Preservação Permanente e suas possíveis ocupações.
Portanto, para um estudo mais detalhado destas áreas estabeleceu-se um buffer no entorno dos
rios e da Barragem como mostra a Figura 06. No entorno dos rios, estabeleceu-se uma
distancia de 30 m para cada lado das margens, enquanto para o entorno da barragem o buffer
42
foi de 100m, conforme a exigência mínima da legislação vigente (Resolução CONAMA e
Código Florestal Brasileiro).
Figura 06. Mapa da zona de amortecimento (buffer) no entorno dos rios e da Barragem.
E para melhor descrição da situação destas APP’s, realizou-se o cruzamento dos
buffers com o mapa de uso da terra, no intuito de averiguar a utilização destas áreas (Figura
07).
43
LEGENDA
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
Figura 07. Mapa temático resultante do cruzamento do mapa de uso e cobertura da terra
com o mapa das zonas de amortecimento (buffers).
Segundo os dados apresentados para a área (Tabela 04), verifica-se que a maior
porcentagem da área ocupada pela zona de amortecimento (buffers) (74,24%), apresenta
vegetação arbustiva arbórea. Sendo estas áreas de Preservação Permanente, esta situação é de
extrema importância no que se refere á qualidade ambiental destas áreas, uma vez que esta
vegetação desempenha papel importante de retenção de encostas, de escoamento de áreas de
entorno, mantém o ciclo de nutrientes entre os ecossistemas aquático e terrestre, servem de
alimento para diversos seres e retém energia solar controlando a temperatura do ambiente.
Além disso, como ressalta Dutra (2005) também é importante avaliar a influência da matriz e
formas de minimizar os efeitos negativos. A intensidade das atividades desenvolvidas na
44
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
LEGENDA
matriz afeta a sobrevivência das populações, tanto de espécies de plantas como de animais.
Atividades agrícolas intensivas podem ser altamente nocivas, pois envolvem o uso
indiscriminado de fertilizantes e, principalmente, de agrotóxicos. Além de afetar diretamente
os organismos, os agrotóxicos podem ser transportados pelo vento e pela água, afetando os
organismos dentro dos fragmentos e também contaminando mananciais de água, levando
perigo às populações, inclusive, às humanas. Nesse sentido, o fato de maior parte da área
possuir esta vegetação constitui uma boa qualidade ambiental.
Tabela 04. Área ocupada pelas diferentes classes de uso da terra na zona de amortecimento (buffer) de entorno dos rios
Classes de uso da terra Área (Km2) Área (%)1 Vegetação de entorno de rio 0,01 0,032 Cultivo irrigado 2,53 9,843 Cultivo de sequeiro 0,32 1,245 Vegetação arbórea 19,08 74,246 Solo exposto 0,06 0,237 Estradas e caminhos 0,007 0,028 Ocupação urbana 0,06 0,239 Campos de Cima da Serra 0,28 1,1010 Campo antrópico 2,05 8,0011 Plantio de Eucalyptus spp. 0,08 0,01TOTAL 25,70 100,0
No entanto, cabe ressaltar que, aproximadamente 10% destas APP’s estão ocupadas
por cultivo irrigado e cerca de 8% por campo antrópico. De acordo com a legislação
brasileira, estas áreas não deveriam ter qualquer tipo de ocupação. Isto representa um risco
para o rio, estando este, sujeito a contaminação por agentes químicos provenientes da
rizicultura, bem como possível desmoronamento de suas margens ocasionando assoreamento
nestes locais, o que pode prejudicar o curso do rio. Observa-se na figura 07, que esta
percentagem refere-se à área jusante à barragem onde é possível perceber praticamente a
inexistência de vegetação no entorno dos rios, devendo ser intensificado os trabalhos de
conservação nesta parte da microbacia representando sua área mais crítica. Os únicos trechos
de APP da jusante que possuem vegetação referem-se as áreas mais elevadas e que, portanto,
ainda não foram ocupadas pela dificuldade de cultivo.
Quanto as APP’s de 100m no entorno da barragem (Figura 08), observa-se, também,
o predomínio de vegetação arbustivo arbórea, cerca de 47% da área. Uma porcentagem
considerável de 29% apresenta campo antrópico, podendo representar riscos de infiltração e
escoamento superficial do solo para o lago. Chama atenção, também, que 11% da área
45
apresentam solo exposto, o que pode ocasionar escoamento para os rios e assoreamento do
lago.
Tabela 05. Área ocupada pelas diferentes classes de uso da terra na zona de amortecimento ( buffer) de entorno da barragem
Classes de uso do solo Área (Km2) Área (%)4 Corpos d’água 0,01 0,785 Vegetação arbórea 0,60 47,246 Solo exposto 0,14 11,027 Estradas e caminhos 0,02 1,5710 Campo antrópico 0,50 39,46TOTAL 1,27 100,0
Figura 08. Mapa de uso e cobertura do solo da zona de amortecimento (buffer) no entorno da Barragem do Rio São Bento
Numa área de grandeza da BRSB é importante a conservação da vegetação ciliar do
lago, tendo estas contribuições importantes como: proteção dos cursos d`água contra o
assoreamento e a contaminação por defensivos agrícolas, poluentes e sedimentos que seriam
46
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
LEGENDA
transportados, além de afetar diretamente a qualidade da água; conservação da fauna, sendo
também importantes como corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais.
Como mencionado anteriormente, considera-se APP as áreas com declividade
superior a 45º. De acordo com os dados obtidos pelo cruzamento dos mapas de uso do solo e
declividade (Anexo 02) (Tabela 06), observa-se um percentual insignificante de áreas de
cultivo nestas declividades. Dos 6% da área com declividade superior a 45º, cerca de 96%
apresenta vegetação arbórea.
Tabela 06. Área ocupada pelas respectivas classes de uso do solo nas diferentes classes de classes de declividade
Relação uso | clinografia Área
(Km2)
Área (%)
1 | 1 Vegetação entorno de rio | 0 a 10º 0,08 0,052 | 1 Cultivo irrigado | 0 a 10º 21,17 13,253 | 1 Cultivo sequeiro | 0 a 10º 2,02 1,264 | 1 Corpos d’água | 0 a 10º 4,74 2,975 | 1 Vegetação arbórea | 0 a 10º 16,70 10,466 | 1 Solo exposto | 0 a 10º 0,48 0,307 | 1 Estradas e caminhos | 0 a 10º 0,07 0,048 | 1 Ocupação urbana | 0 a 10º 0,39 0,249 | 1 Campos de Cima da Serra | 0 a 10º 0,74 0,4610 | 1 Pasto Antrópico | 0 a 10º 13,56 8,4911 | 1 Plantio de Eucalyptus spp | 0 a 10º 0,15 0,092 | 2 Cultivo irrigado | 10 a 25º 0,36 0,223 | 2 Cultivo sequeiro | 10 a 25º 0,03 0,014 | 2 Corpos d’água | 10 a 25º 0,46 0,285 | 2 Vegetação arbórea | 10 a 25º 35,56 22,286 | 2 Solo exposto | 10 a 25º 0,18 0,117 | 2 Estradas e caminhos | 10 a 25º 0,02 0,019 | 2 Campos de Cima da Serra | 10 a 25º 1,25 0,7810 | 2 Pasto Antrópico | 10 a 25º 0,90 0,5611 | 2 Plantio de Eucalyptus spp | 10 a 25º 0,03 0,012 | 3 Cultivo irrigado | 25 a 45º 0,02 0,014 | 3 Corpos d’água | 25 a 45º 0,08 0,055 | 3 Vegetação arbórea | 25 a 45º 48,82 30,596 | 3 Solo exposto | 25 a 45º 0,16 0,107 | 3 Estradas e caminhos | 25 a 45º 0,008 < 0,019 | 3 Campos de Cima da Serra | 25 a 45º 1,01 0,6310 | 3 Pasto Antrópico | 25 a 45º 0,36 0,2211 | 3 Plantio de Eucalyptus spp | 25 a 45º 0,005 < 0,012 | 4 Cultivo irrigado | > 45º 0,001 < 0,014 | 4 Corpos d’água | > 45º 0,01 < 0,015 | 4 Vegetação arbórea | > 45º 9,78 6,12
47
6 | 4 Solo exposto | > 45º 0,01 < 0,019 | 4 Campos de Cima da Serra | > 45º 0,26 0,1610 | 4 Pasto Antrópico | > 45º 0,04 0,02TOTAL 159,55 100,0
De acordo com Ramalho-Filho e Beeck (1995 apud PERICO; SEMIN, 2006), as
classes de declividade de 0 a 9° são áreas em que a suscetibilidade à erosão varia desde áreas
não suscetíveis, em locais planos, à suscetibilidade forte nas áreas com relevo ondulado, onde
a declividade está próxima a 9°. As terras de relevo plano a suave ondulado, apresentam
declividade variando de 0° a 3°, sendo representadas por áreas com baixos riscos de erosão
quando utilizadas práticas conservacionistas simples. Já as áreas com as classes de
declividade entre 9° a 20°, compreendem as áreas em relevo forte ondulado e com alta
suscetibilidade à erosão.
O que se observa na bacia é que sua maior ocupação antrópica encontra-se nas
categorias inferiores a 10º, podendo ser consideradas aptas as práticas agrícolas, mas com
ressalvas as práticas conservacionistas, podendo estas mesmas áreas apresentar perdas de solo
por escoamento superficial.
Rosa e Brito (2003), também relacionam a declividade com as aptidões de uso do
solo e estabelecem a seguinte classificação: categoria Menor do que 6º - são as áreas de relevo
plano ou quase plano onde o escoamento superficial é lento ou muito lento. O declive do
terreno não oferece dificuldades aos implementos e máquinas agrícolas; categoria 6 a 18º -
são as áreas de relevo suave ondulado, com interflúvios extensos e aplainados e vales abertos.
O declive por si só não impede o uso de implementos e máquinas agrícolas, porém exigem
práticas agrícolas para a conservação dos solos; categoria 18 a 26º - são também áreas de
relevo medianamente ondulado, com as mesmas características da categoria 6 a 8º. No
entanto, este tipo de declive pode oferecer restrições a algum tipo de implemento agrícola,
além de exigir práticas agrícolas complexas de conservação; categoria 26 a 45º - são áreas de
relevo ondulado dissecado, vales abertos a fechados. O escoamento superficial é rápido.
Exigem práticas agrícolas complexas;. categoria maior 45º - são áreas de relevo fortemente
ondulado, topografia movimentada, formada por morros, com declives fortes. Impróprias para
o uso agrícola.
Com relação a classificação adotada pelos autores acima citados, observa-se que na
categoria entre 10 e 25º estabelecida para a bacia estudada, tem-se uma quantidade
numericamente insignificante de cultivo agrícola, mas, que qualitativamente pode representar
perdas de solo significativas e comprometimento da paisagem. Neste sentido é
48
fundamentalmente importante um manejo adequado destas áreas no intuito de minimizar os
riscos de perda de solo por erosão laminar o que pode comprometer a qualidade ambiental da
área.
CONCLUSÃO
49
A bacia do rio São Bento, apresenta, em termos gerais boas condições ambientais,
principalmente em sua porção à montante da Barragem do Rio São Bento. No entanto, à sua
jusante o comprometimento da paisagem se acentua, sendo necessária atenção especial e
planejamento.
A maior porcentagem da área encontra-se em declividades inferiores a 10º , enquanto
as declividades superiores a 45º que são consideradas de preservação permanente pela
legislação vigente, apresentam-se em 10% da área. Observa-se, portanto, que a maior parte da
bacia está enquadrada nas declividades consideradas aptas ao cultivo agrícola. No entanto, é
necessário relacionar a declividade com os demais parâmetros da paisagem para que se possa
avaliar o nível de comprometimento, quando do manejo inadequado dessas áreas. Além disso,
mesmo declividades inferiores a estabelecidas pela legislação, devem ser protegidas face ao
tipo de solo ou proximidade dos corpos d’água.
Com o auxílio do software IDRISI 32, pôde-se analisar a estrutura da bacia com
maiores detalhes no que se refere aos parâmetros da paisagem. Como observado, a região
apresenta uma área considerável de cultivo, inclusive no entorno de rios. Desta forma,
percebe-se a necessidade de um planejamento racional do uso do solo, pois a tendência deste
é sofrer um desgaste intenso, com perdas tanto ambientais quanto sociais, no sentido de trazer
prejuízos futuros às comunidades que ali se estabelecem.
Pelas observações realizadas, cerca de 25% das áreas consideradas de Preservação
Permanente estão ocupadas irregularmente por alguma ação antrópica (cultivo, pastagem, solo
exposto, dentre outros). Em termos qualitativos isto representa um comprometimento
ambiental de grandes proporções podendo acarretar problemas futuros para a área. A
proximidade do cultivo aos corpos d’água representa possíveis contaminações e aumentam a
instabilidade do solo fazendo com que as áreas de entorno dos rios possam sofrer erosões
intensas o que pode levar ao assoreamento dos cursos de água. O mesmo se aplica ao entorno
da barragem que ainda apresenta uma percentagem considerável de ocupação.
As análises evidenciaram que a bacia do Rio São Bento apresenta uma boa qualidade
ambiental em sua porção superior, onde se encontram as declividades mais altas, cuja área é
legalmente considerada de Preservação Permanente. No entanto, em sua porção inferior à
jusante da Barragem do rio São Bento a bacia encontra-se completamente fragmentada,
apresentando o cultivo irrigado como matriz da paisagem.
Para tal, é importante desenvolver um trabalho intenso de Educação Ambiental com
a população local para que se possa melhorar as condições deste ambiente. Sabe-se que há
50
uma nítida relação entre os aspectos físicos e humanos na dinâmica do uso da terra, portanto,
é essencial este tipo de trabalho com os agricultores; promovendo-se a proteção da vegetação
ao longo dos corpos d’água, encostas, topos de morro bem como a utilização de práticas
agrícolas que viabilizem a sustentabilidade da área.
Por apresentar um grande potencial hídrico e ser detentora de uma Barragem de
grande importância para o local, sugere-se que se realize um Planejamento Ambiental para a
área no intuito de reorganizar a paisagem na sua porção mais antropizada recuperando áreas
consideradas mais críticas ambientalmente, bem como a conservação dos remanescentes
florestais ali presentes.
Além disso, no intuito de se obter um maior detalhamento da área, estudos futuros
em séries temporais visando subsidiar ações na direção da Gestão Ambiental, devem
contemplar um novo mapeamento da área com a utilização de fotografias aéreas recentes ou
imagens de satélite de alta resolução a fim de avaliar a evolução da qualidade ambiental da
bacia. Trabalhos de levantamento fitossociológico para a área também podem contribuir
significativamente para um detalhamento da qualidade ambiental juntamente com análises de
água dos principais formadores da barragem e o Rio São Bento à sua jusante.
51
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52
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18. FARINA, Almo. Principles and methods in landscape ecology. Londres: Chapman & Hall, 1998. 235 p.
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53
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41. ______. Paisagem: uma reflexão sobre um amplo conceito. Revista Turismo: visão e ação, n. 3, p. 38-94, abr/set 1999.
54
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43. RAMBO. A Flora de Cambará. Anais Botânicos do Herbário “Barbosa Rodrigues”, Itajaí, 1949.
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46. SANCHEZ, Roberto O.; SILVA, Tereza C. Zoneamento ambiental: uma estratégia de ordenamento da paisagem. Cadernos de Geociência, n. 14, abr/jun 1995. IBGE.
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52. TURNER, Mônica G. Landscape ecology: the effect of pattern on process. Readings in Ecology, n. 20, p. 171-197, 1989.
53. VALENTE, Roberta O. A. Análise da estrutura da paisagem na bacia do Rio Corumbataí – SP. Piracicaba: USP, 2001. Dissertação de Mestrado. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
54. VELOSO, H. P.; GOES FILHO, L. Fitogeografia brasileira, classificação fisionômica ecológica da vegetação neotropical. Projeto RADAMBRASIL, Sér. Vegetação, Salvador: 1982, 80 p.
55. VAZ, José Carlos. Geoprocessamento. n. 94, 1997.
55
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56
ANEXOS
Anexo 01 – Modelo de Elevação Digital do Terreno
57
ANEXO 2 – Cruzamento entre o mapa de uso do solo com o mapa de declividade nas classes entre 0 e 10º
58
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
Anexo 03 Cruzamento entre o mapa de uso do solo com o mapa de declividade nas classes entre 10 e 25º
59
LEGENDA
Anexo 04 Cruzamento entre o mapa de uso do solo com o mapa de declividade nas classes entre 25 e 45º
60
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
LEGENDA
LEGENDA
Projeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
Anexo 05 Cruzamento entre o mapa de uso do solo com o mapa de declividade nas classes superiores a 45º
61
LEGENDAProjeção Universal Transversa de MercatorDatum horizontal: Córrego Alegre - MGOrigem da quilometragem UTM: Equador e meridiano 51o W. GrAcrescidas as constantes 10.000 km e 500 km respectivamente
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