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Resistência e Elasticidade de
Materiais de Pavimentação
Universidade do Estado de Santa Catarina
Pós-Graduação em Engenharia Civil – Mestrado Acadêmico
Profa. Adriana Goulart dos Santos
Os efeitos dos esforços externos aplicados por rodas
de veículos, em termos de respostas estruturais,
dependerão dos materiais que constituem as camadas
de pavimentos
Pressões ou tensões verticais (compressão vertical)
Flexão (dobramento)
Confinamento (compressão horizontal)
Cisalhamento (com resultado das pressões verticais)
As solicitações ocorridas nessas
camadas são:
FLEXÃO – Dobramento das camadas
As cargas de rodas de veículos aplicadas sobre a
superfície do pavimento e distribuídas entre as
camadas subjacentes causam, na maioria dos
materiais empregados em revestimentos e em bases
(misturas asfálticas, concretos e materiais
estabilizados com asfalto ou ligantes hidráulicos)
Uma tendência de
Dobramento das camadas
Denominado de FLEXÃO
FLEXÃO – Dobramento das camadas
Os esforços de flexão são mobilizados para
resistirem aos deslocamentos verticais impostos
pelas cargas por meio da compressão atuante.
A compressão vertical aplicada pelas cargas
causa o afastamento entre as partículas (grãos)
do material, ocasionando tração/compressão nas
zonas de contato entre agregados e ligantes
asfálticos ou hidráulicos.
Ocasiona deformações plásticas ou microfissuras
nessas zonas
===Levando o material a um estado de fadiga
ou de ruptura.
Fonte: Balbo, 2007
CONFINAMENTO HORIZONTAL – Contenção lateral
Quando uma camada de material é limitada em sua
face inferior ou superior por material de rigidez
maior, ela se encontra como se estivesse travada
entre as outras camadas.
Há limitações para a sua mobilidade horizontal====
existindo uma contenção lateral do mesmo material.
Fonte: Balbo, 2007
Compressão vertical e cisalhamento das
camadas
As pressões aplicadas sobre a superfície
do revestimento do pavimento são
dissipadas ao longo de sua profundidade
e de suas camadas.
Os esforços de compressão vertical
vão diminuindo ao longo da profundidade
do pavimento.
Fonte: Balbo, 2007
Devido aos mecanismos de flexão e
de confinamento ===quando as reações horizontais
aos esforços transmitidos pelas cargas são mobilizadas.
Compressão vertical e cisalhamento das
camadas
A redução de pressões é delimitada por
linhas curvas de atuação de esforços ==
distribuição de parabólicas ou trechos de
circunferências
A compressão vertical dos materiais
componentes das camadas mobiliza esforços
de cisalhamento (resultantes do deslocamento
ou escorregamento entre as partículas dos
materiais)
Fonte: Balbo, 2007
Formação de bulbos de tensões pela
aplicação das cargas:
Escorregamento entre as partículas
após compressão por cisalhamento
Fonte: Balbo, 2007
Compressão vertical e cisalhamento das
camadas
Com relação à grande maioria dos materiais de pavimentação, para
os quais significativos esforços de cisalhamento verticais são
mobilizados === o material em dado ponto transfere deformações ao
ponto vizinho por forças cisalhantes
A ocorrência de deformações plásticas cumulativas torna-se
importante no decorrer do tempo===causando formações de
trilhas de rodas nas zonas superficiais do pavimento, mais
solicitadas pelo tráfego.
Compressão vertical e cisalhamento das
camadas
Tais problemas são decorrentes também pela plasticidade natural
das camadas dos pavimentos, como solo e materiais granulares,
====deformação plástica total na superfície do pavimento é
determinada pelo contribuição individual de cada camada.
PROBLEMA DE DIMENSIONAMENTO DE
PAVIMENTOS
Definição das espessuras das camadas sobre o subleito,
para que as pressões aplicadas sobre a sua superfície do
pavimento e distribuídas ao longo dessa camada,
chegassem ao subleito com taxas compatíveis, não
excedendo sua capacidade de resistir a tais esforços
verticais.
Resistência de um material diz respeito à medida do
valor da força ou pressão que causa a sua ruptura,
ou seja, que impõe um nível de deformação de
ruptura do material
Fonte: Balbo, 2007
Índice de Suporte Californiano (ISC) ou California
Bearing Ratio (CBR)
Criado em 1929 como alternativa de teste, em
laboratório, simular as condições observadas em
campo, fossem de umidade, fossem de massa
específica após a compactação, fossem de
carregamento.
Para avaliar o potencial de ruptura do subleito, uma vez que era o
defeito mais frequentemente observado nas rodovias do estado da
Califórnia naquele período ===California Division of
Highway===engenheiros Porter e Proctor;
O ensaio foi concebido, portanto, para avaliar a resistência do material
frente a deslocamentos significativos, sendo obtida por meio de ensaio
penetrométrico em laboratório;
Foram selecionados os melhores materiais granulares de bases de
pavimentos com bom desempenho à época da pesquisa de campo
californiana e a média de resistência à penetração no ensaio CBR foi
estabelecida como sendo o valor de referência ou padrão, equivalente a
100%.
Índice de Suporte Californiano (ISC) ou California
Bearing Ratio (CBR)
A resistência no ensaio CBR é uma resposta que combina indiretamente
a coesão com o ângulo de atrito do material;
O CBR é expresso em porcentagem, sendo definido como a relação
entre a pressão necessária para produzir uma penetração de um pistão
num corpo-de-prova de solo ou material granular e a pressão necessária
para produzir a mesma penetração no material padrão referencial.
Fonte: Pavimentação asfáltica – formação básica para engenheiros (2008)
O CBR é calculado para as penetrações de 2,54mm e 5,08mm seguindo
as expressões:
Onde:
P0,1”= pressão correspondente à penetração de 2,54mm (ou 0,1”) em kgf/cm²
P0,2”= pressão correspondente à penetração de 5,08mm (ou 0,2”) em kgf/cm²
Os valores 70 e 105 correspondem, respectivamente, aos valores de pressão padrão
do material de referência à penetração de 0,1” e 0,2”. O CBR é o maior valor entre
os dois calculados CBR0,1” e CBR0,2”.
Curva-padrão do ensaio de CBR
Para agregado graduados e de
Qualidade (1929)
Valores típicos de CBR para solos finos
tropicais
Fonte: Balbo (2007)
Os solos LA, LA´, LG´ apresentam as menores perdas de resistência
devido à sua saturação quando imersos em água, embora possuindo
fração argilosa;
Os tipos LA´ e LG´ são solos que apresentam boa e rápida
drenabilidade, tornando-se questionável, nesses casos, o emprego de
valores de resistência após imersão para finalidades de
projeto====deve ser estudado caso a caso.
O CBR de solos granulares e misturas solo-
agregado
Observação: É importante ressaltar que materiais granulares de boa
resistência como, por exemplo, a BGS, podem sofrer perda de resistência
expressiva de até 75%, após saturação
CONCEITUAÇÃO DO MÓDULO DE
RESILIÊNCIA E SUA DETERMINAÇÃO
A integração carga-estrutura, com suas consequências sobre a
deformação e a ocorrência de tensões nas camadas de pavimentos deve
ser abordada obrigatoriamente dentro do conceito de que tal estrutura
constitui um conjunto de camadas sobrepostas === com espessuras e
propriedades distintas === respondendo aos esforços aplicados
pelos veículos.
Estrutura de camadas
com comportamento elásticos
distintos
Fonte: Balbo, 2007
CONCEITUAÇÃO DO MÓDULO DE
RESILIÊNCIA E SUA DETERMINAÇÃO
As constantes elásticas (parâmetros) empregados habitualmente e
mais pesquisadas para a formalização de análises de sistemas de
camadas são:
• Módulo de elasticidade ou Módulo de Resiliência
(a capacidade de o material não resguardar
deformações depois de cessada a ação da carga)
• Seus respectivos coeficiente de Poisson, estes
para a consideração dos efeitos advindos da Lei
de Hooke generalizada
O comportamento tensão-deformação
dos materiais de pavimentação pode ser
expresso por:
CONCEITUAÇÃO DO MÓDULO DE
RESILIÊNCIA E SUA DETERMINAÇÃO
Em laboratório, experimentalmente, o Módulo Resiliente é
determinado pela relação entre tensão aplicada (σ) e a respectiva
deformação sofrida (ε):
M𝐑 =σ
ε = E
O material raramente
apresenta comportamento
elástico linear,
apresentando mais
comumente
resposta elástica não linear
Google imagens, 2016
Um parâmetro importante
para o entendimento do
comportamento
tensão-deformação
dos materiais de
pavimentação
CONCEITUAÇÃO DO MÓDULO DE
RESILIÊNCIA E SUA DETERMINAÇÃO
A recomendação de substituir o CBR e outros valores de
resistência de materiais pelo módulo de resiliência (MR) foi
baseada nas seguintes razões:
• O MR indica uma propriedade básica do material que
pode ser utilizada na análise mecanística de sistemas
de múltiplas camadas;
• O MR é um método aceito internacionalmente para
caracterizar materiais para o projeto de pavimentos e
para sua avaliação de desempenho;
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
Para a determinação do módulo de resiliência de materiais de
pavimentação, têm-se utilizado equipamentos de carga repetida
em laboratório.
Fonte: Pavimentação asfáltica – formação básica para engenheiros (2008)
Esquema do primeiro equipamento triaxial de carga repetida do Brasil (Medina,
1997)
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
Fonte: Pavimentação asfáltica – formação básica para engenheiros (2008)
Exemplo de equipamento de ensaio triaxial de carga repetida
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
Fonte: Pavimentação asfáltica – formação básica para engenheiros (2008)
Tensões aplicadas e deslocamentos no ensaio de carga
repetida:
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
Módulo de resiliência (MR), em Mpa, é o módulo elástico obtido
em ensaio triaxial de carga repetida cuja definição é dada pela
expressão:
M𝐑 =σ𝒅
ε𝑹
É usado para obtenção dos parâmetros que caracterizam a resposta
elástica dos materiais componentes do pavimento
Usado para prever o desempenho do pavimento frente à atuação
repetitiva das cargas veiculares
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
A aplicação de carga é semi-senoidal por se aproximar da
forma de carregamento correspondente à passagem de roda;
O tempo de duração de aplicação total de carga é de 0,1
segundo e o repouso de 0,9 segundo;
São utilizadas diferentes tensões de confinamento σ3, dada por
pressão de ar dentro da célula, e tensões solicitantes σ1,
aplicadas por célula de carga;
No repouso, restam apenas as tensões de confinamento, sendo
retirada a tensão desvio σd, que é a diferença entre as tensões
principais maior e menor, respectivamente, representadas por
σ1 e σ3;
Uma combinação variada de tensões é normalmente aplicada;
Uma parcela é deslocamento recuperável e a outra é
acumulada ou permanente.
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
É desejável que os deslocamentos permanentes sejam de
pequena magnitude;
Os deslocamentos são medidos por transdutores mecânicos
eletromagnéticos (linear variable differential transducers,
LVDT), ao longo de uma determinada altura ou espessura (L)
do corpo-de-prova;
O MR é usado como entrada de dados para o cálculo de
tensões e deformações nos diferentes pontos do pavimento;
Ressalta-se que os materiais de pavimentação não são
elásticos, sendo o uso da teoria da elasticidade uma
aproximação ==== alguns materiais de pavimentação pode ser
aproximado como elástico não-linear.
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
1° etapa: Condicionamento
Na fase de condicionamento são aplicados 3 pares de tensões distintos
(confinante e desviadora), aplicando 500 repetições para cada tensão
aplicada;
Eliminar as grandes deformações permanentes que ocorrem nas
primeiras aplicações de tensão desviadora e reduzir o efeito da história de
tensões no valor do módulo de resiliência.
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
O modelo constitutivo para o módulo resiliente dos materiais de
natureza granular é dado pela expressão:
𝑴𝑹=𝒌𝟏*𝝈𝟑
Quanto maior a tensão de
confinamento σ3, maior será
o módulo resiliente do
material.
Ensaios triaxiais dinâmicos
(confinamento):
Fonte: Pavimentação asfáltica – formação básica para engenheiros (2008)
MÓDULO DE RESILIÊNCIA
O modelo constitutivo para o módulo resiliente dos materiais de
natureza coesiva é dado pela expressão:
Ensaios triaxiais dinâmicos (confinamento):
Fonte: Pavimentação asfáltica – formação básica para engenheiros (2008)
DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE
POISSON:
É dado pelo inverso da relação entre a deformação vertical imposta
ao material pela deformação horizontal sofrida no corpo de prova
durante um ensaio de compressão uniaxial
Fonte: Balbo (2007)
Valores típicos de coeficientes de Poisson:
Fonte: Balbo (2007)
MÓDULOS DE RESILIÊNCIA DOS MATERIAIS
DE PAVIMENTAÇÃO MAIS COMUNS
Desde meados de 1980, muitos estudos têm sido realizados no
Brasil, tanto em laboratórios de pesquisa como em campo, para a
determinação dos módulos de resiliência típicos de materiais de
pavimentação no país.
Anais Reuniões Anuais de Pavimentação (RAPv) da
Associação Brasileira de Pavimentação;
Congresso de Ensino e Pesquisa em Transportes da Anpet.
Brita Graduada Simples
A AASHTO (1993) descreve modelos de comportamento de
materiais granulares entre os quais se encaixa a BGS, para bases e
sub-bases de pavimentos:
Onde:
θ = primeiro invariante de tensão = σ1+2.σ3
No Brasil, para agregados de natureza granítica (BGS) compactados na
energia intermediária, foi obtida a seguinte relação (Segundo ITA (1985) apud
Balbo (2007)):
Solos finos lateríticos e não lateríticos e
solos lateríticos concrecionados
Samuel Hantequeste Cardoso (1987) apud Balbo (2007) estimou o
valor do MR de solos argilosos finos lateríticos a partir da seguinte
expressão:
Ernesto Preusller (1983) apud Balbo (2007) também correlacionou
o valor de MR do solo e o valor de CBR de solos solos argilosos
finos lateríticos, para um nível de tensão desvio de 0,2MPa:
Solos finos lateríticos e não lateríticos e
solos lateríticos concrecionados
Valores médios de MR para diversos tipos de solos localizados em
SP para valores constantes de σ3 = 0,02 MPa e de tensão-desvio σd
= 0,03 MPa:
Fonte: Franzoi (1990) apud Balbo (2007)
Solos finos lateríticos e não lateríticos e solos
lateríticos concrecionados
Comportamento resiliente de solos granulares do Estado de Santa
Catarina:
Fonte: Nilton Valle (1996) apud Balbo (2007)
Solos finos lateríticos e não lateríticos e solos
lateríticos concrecionados
Comportamento resiliente de um solo laterítico concrecionado
coletado na BR 316 no Estado do Pará.
Lateritas com pedregulhos argiloarenosos === comportamento resiliente
dependente da tensão desvio (modelo bi-linear) === MR entre 300 MPa a
600MPa
Fonte: Preussler (1983) apud Balbo (2007)
Misturas de Solo-agregado ou de Solo-brita
Estudos apontaram melhorias no comportamento resiliente
de um solo LG´ com adição de areia em torno de 30%, em
massa=== o valor de MR foi alterado de 100MPa para 200MPa
e o valor de CBR de 11% para 40%, na energia intermediária.
Já a adição de brita ao solo LG´, em 30% em massa, resultou
na duplicação do CBR do material, que aumentou para 60%, na
energia intermediária (solos LG´ apresentam CBR entre 12% e
30%).
Misturas de SAFL com agregados resultam no aumento do
CBR do material e pouco influenciam no comportamento
resiliente obtido para o próprio solo (50% SAFL e 50% agregado)
Misturas de Solo-cimento
Exemplo de faixas de valores de módulos de resiliência de misturas solo-
cimento=== resultados de estudos de Ceratti (1991) apud Balbo (2007):
Os resultados deixam claro a interferência da natureza do solo na
estabilização com cimento: solos arenosos, com menor consumo de
cimento, resultam em materiais mais rígidos que os demais
Estimativas de módulos de resiliência para
diversos materiais
Prefeitura de São Paulo (2004), em sua Instrução de Projeto 08, indica:
Fonte: Balbo (2007)
Ensaio de compressão diametral – Brazilian
Test (tração indireta)
Determinação do Módulo de Resiliência de misturas asfálticas (capa) e
cimentadas (DNER-ME 133/94)
Fonte: Balbo (2007)
Força aplicada na direção diametral da amostra;
É realizado registro do deslocamento horizontal sofrido pela amostra em
suas extremidades, a cada aplicação de carga resultando no MR do
material, bem como a sua resistência à tração indireta.
𝑀𝑅=𝐹
𝑡∗𝛿*(𝜗 + 0,2734)