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UNIVERSIDADE DE SOROCABA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Cecília Lopes Godinho Rodrigues ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS GESTORES DAS ESCOLAS ESTADUAIS DE PIEDADE SOBRE O CURSO DE GESTÃO EDUCACIONAL DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNICAMP (2005/2007) Sorocaba/SP 2010

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  • UNIVERSIDADE DE SOROCABA

    PR-REITORIA ACADMICA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

    Ceclia Lopes Godinho Rodrigues

    ESTUDO SOBRE A PERCEPO DOS GESTORES DAS ESCOLAS ESTADUAIS DE PIEDADE SOBRE O CURSO DE GESTO

    EDUCACIONAL DA FACULDADE DE EDUCAO DA UNICAMP (2005/2007)

    Sorocaba/SP

    2010

  • Ceclia Lopes Godinho Rodrigues

    ESTUDO SOBRE A PERCEPO DOS GESTORES DAS ESCOLAS ESTADUAIS DE PIEDADE SOBRE O CURSO DE GESTO

    EDUCACIONAL DA FACULDADE DE EDUCAO DA UNICAMP (2005/2007)

    Dissertao apresentada Banca Examinadora do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade de Sorocaba, como exigncia parcial para obteno do ttulo de Mestre em Educao

    Orientador: Professor Doutor Wilson Sandano

    Sorocaba/SP

    2010

  • Ficha Catalogrfica

    Rodrigues, Ceclia Lopes Godinho

    R612n Estudo sobre a percepo dos gestores das escolas estaduais de Piedade sobre o curso de gesto educacional da Faculdade de Educao da UNICAMP (2005/2007) / Ceclia Lopes Godinho Rodrigues. -- Sorocaba, SP, 2010.

    163 f. Orientador: Prof. Dr. Wilson Sandano Dissertao (Mestrado em Educao) - Universidade de

    Sorocaba, Sorocaba, SP, 2010. 1. Diretores escolares Piedade(SP). 2. Escolas Organizao

    e administrao. 3. Educao permanente. 4. Educao e Estado. I. Sandano, Wilson, orient. II. Universidade de Sorocaba. III. Ttulo.

  • Dedico o sucesso deste estudo aos meus pais, que me deram

    o bem mais precioso que algum poderia almejar que a vida

    e o exemplo de virtude, os quais merecem todo o meu carinho

    e respeito eternos, pois tudo o que sou devo a eles!

    Aos meus irmos e ao primo Hugo, eternos companheiros e

    mos amigas nos momentos de incerteza.

    E em especial aos meus filhos, genro e nora, anjos de luz e

    razo de ser da minha existncia e querida netinha Beatriz

    que despertou novos sonhos e apontou novos horizontes para

    a famlia, enchendo de paz e reacendendo de muito amor o

    meu corao!

  • AGRADECIMENTOS

    Neste momento de superao de muitos obstculos encontrados e de

    comemorao de mais uma etapa vencida, agradecemos a Deus pela proteo e

    por nos carregar quando pensvamos nos encontrar s.

    Ao Professor Dr. Jos Luiz Sanfelice por aceitar prontamente o convite de

    fazer parte desta banca e aos mestres da Universidade de Sorocaba que

    aprofundaram com sabedoria o nosso conhecimento, nos conduzindo nesta longa

    caminhada.

    Ao Professor Dr. Wilson Sandano pela segurana e tranquilidade que sempre

    transmitiu em suas orientaes; pela pacincia, apoio e amparo nos inesperados

    momentos difceis e tambm, pela idntica energia de que possuidor para

    despertar dos estados de letargia...

    Aos colegas do Mestrado, funcionrios da Uniso, aqueles amigos especiais

    de todos os momentos, sempre to prximos, independente da distncia, do tempo

    e das aparentes dificuldades, que nos estendendo as mos nos momentos difceis

    desta jornada e a todos aqueles que contriburam direta ou indiretamente para a

    realizao deste estudo.

    Aos alunos Andr e Kinara, jovens amigos que compartilharam conosco muito

    cansao e passaram muitas horas, debruados sobre os teclados dos

    computadores.

    amiga Ellen por estar sempre por perto e presente, no medindo esforos

    em ajudar em todos os sentidos.

    amiga Malu, companheira de muitas batalhas, que iniciaram nos trabalhos

    do PEC - Formao Universitria pela PUC e continuaram durante as discusses de

    desenvolvimento deste estudo.

    querida sobrinha Clessa que prontamente contribuiu com a sua importante

    e maravilhosa corroborao.

    Ao primo Hugo e meus irmos que me acompanharam e apoiaram em todas

    as horas, desde as mais difceis at aquelas de descontrao e companheirismo.

    E, principalmente querida amiga e eterna Mestre Dr Maria Lcia de Amorim

    Soares, que sempre se esmerou na arte de incentivar, instigar e despertar

    conhecimentos; enfim, de efetivamente ensinar!

  • A gesto escolar um meio e no um fim em si

    mesmo, uma vez que o objetivo final da gesto a

    aprendizagem efetiva e significativa dos alunos.

    Helosa Luck

  • RESUMO

    Este estudo desvela a percepo das gestoras das escolas estaduais de

    Piedade, por meio de reflexo sobre o contedo, os exerccios e a prxis de

    apropriao dos mesmos, no decorrer do Curso de Ps-Graduao com

    Especializao Lato Sensu em Gesto Educacional em que participaram, entre

    novembro de 2005 a maro de 2007, quando da sua oferta pelo Governo do Estado

    e a referida Secretaria, ambos em parceria com a FE-UNICAMP que o desenvolveu.

    Para tanto, descreveu-se o curso em todas as suas etapas, analisou-se os principais

    pontos focados e discutidos no mesmo, bem como, revelou-se a tica dessas

    profissionais que dele participaram, evidenciado em pesquisa de campo, pela

    categorizao de dois instrumentos de pesquisa, um escrito e outro por entrevista

    direta e pessoal entre as envolvidas nesse percurso. Este perodo denotou as

    inquietaes das alunas gestoras participantes no sentido de apreenderem as novas

    propostas e vises da prxis gestora, despertando-as a se preocuparem com a

    prpria formao continuada, destacando a importncia da Gesto Democrtica na

    construo coletiva do Projeto Poltico Pedaggico e o envolvimento e a aplicao

    da educao comunitria na comunidade local. Percorreu-se com elas o caminho da

    transposio didtica em suas escolas, at o ponto de chegada das suas

    concluses, sobre o referido curso e a interferncia do mesmo e seus fazeres em

    suas prprias prticas gestoras e respectivas Unidades Escolares. Aps reflexes e

    anlises sobre alguns paralelos entre as respostas recolhidas, percebeu-se uma

    preocupao geral entre as gestoras de atualizao profissional, bem como, da

    conscincia da necessidade de formar em servio seus docentes.

    Palavras-chaves: Gesto Democrtica. Formao Continuada. Educao

    Comunitria. Prxis Gestora. Funo Gestora. Construo Coletiva.

  • ABSTRACT

    This tractate attend the Piedades states schools directors perception, through

    reflection about the content, the exercises and the praxis of the appropriation, during

    the Post graduation in Educational Management Master Lato Sensu in which they

    were part, when offered by the State Government and its Bureau, both in partnership

    with FE-UNICAMP which developed the study. So far, the study was related in all its

    stages, the substantial matters focused and discussed were analyzed, as well as the

    point of view of the professionals involved was reveled, made evident in field

    research by the categorization of two research tools, a written one, and another by

    direct and personal interview with the professionals involved in this study. This period

    denoted the directors students apprehension about the learning of the new

    proposals and the management praxis point of view, awaking them about the

    concern of their own development, emphasizing the Democratic Management

    account in the Political Pedagogical Project common construction and the

    involvement and the application of the communitarian education in the local

    community. With them, it was possible to view the way of the didactics transposal in

    their schools, until theirs conclusions about this study and the studys interference

    and acts in their own management practice inside their School Units. After

    reflections and analysis about some parallels between the answers received, it was

    possible to note a general preoccupation within the professional development

    directors, as well as the realizing of a need in working development of their teachers.

    Keywords: Democratic Management. Development. Communitarian Education.

    Management Praxis. Management Function. Common Construction.

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    APAE: Associao de Pais e Amigos dos Excepcionais.

    APM: Associao de Pais e Mestres.

    APM/FDE: Convnio entre a Associao de Pais e Mestres e a Fundao de

    Desenvolvimento Escolar.

    ATP: Assistentes Tcnico-Pedaggicos.

    BM: Banco Mundial

    CC/S: Conselho de Classe e Srie.

    CD: Compact Disc, que em portugus significa Disco Compacto.

    CENP: Coordenadoria das Normas Pedaggicas.

    CEETEPS: Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza.

    CF: Constituio Federal.

    CHATS: eram os ambientes virtuais onde os alunos podiam se comunicar e interagir

    em tempo real durante o curso.

    CONSED: Conselho Nacional de Secretrios de Educao.

    DOE SP: Dirio Oficial do Estado de So Paulo.

    DVD: Digital Video Disc, que em portugus significa Disco Digital de Vdeo.

    EAD: Educao Distncia.

    EC: Emenda Constitucional.

    ECA: Estatuto da Criana e do Adolescente.

    EE: Escola Estadual.

    ETEC: Escola Tcnica Estadual

    FE-UNICAMP: Faculdade de Educao da Universidade Estadual de Campinas.

    FUNDAP: Fundao do Desenvolvimento Administrativo Paulista.

    FUNDEB: Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de

    Valorizao dos Profissionais da Educao.

    HTPC: Hora de Trabalho Pedaggico Coletiva.

    IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

    IC-UNICAMP: Instituto de Computao da Universidade de Campinas.

    IDESP: ndice de Desenvolvimento da Educao do Estado de So Paulo.

    INEP/MEC: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas/Ministrio da Educao e

    Cultura.

  • Km: Quilmetro.

    LDB: Lei de Diretrizes e Bases.

    NIED: Ncleo de Informtica Aplicada Educao.

    ONG: Organizao no Governamental.

    PCN: Parmetros Curriculares Nacionais.

    PCP: Professor Coordenador Pedaggico.

    PDG G3: Curso de Desenvolvimento Gerencial G3.

    PPGGE: Programa de Ps Graduao em Gesto Educacional.

    PPP: Projeto Poltico Pedaggico.

    PROGESTO: Programa de Capacitao a Distncia para Gestores Escolares.

    PUC/SP: Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.

    SAEB: Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Mdio.

    SAI: Sala Ambiente de Informtica.

    SARESP: Sistema de Avaliao do Rendimento Escolar do Estado de So Paulo.

    SEADE: Sistema Estadual de Anlise de Dados.

    SEE-SP: Secretaria de Estado da Educao do Estado de So Paulo.

    TCC: Trabalho de Concluso de Curso.

    TelEduc: Ambiente Virtual do curso Gesto Educacional, onde eram realizadas as

    suas atividades on line.

    TESAURO: Listas ou dicionrio de palavras, que so agrupadas por temas.

    TIC: Tecnologias de Informao e Comunicao.

    UDEMO: Sindicato de Especialistas de Educao do Magistrio Oficial do Estado de

    So Paulo.

    UNESCO: Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.

    http://www.seade.gov.br/

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................. 19

    2 ESCLARECIMENTOS CONCEITUAIS ............................................................ 23

    2.1 Educao e Escola ........................................................................................... 23

    2.2 Viso Legalista e Funo da Escola no Mundo Contemporneo ................ 25

    2.3 Gesto Escolar ................................................................................................. 26

    2.3.1 Gesto Democrtica ...................................................................................... 27

    2.4 Formao Continuada ...................................................................................... 30

    2.5 O Municpio de Piedade ................................................................................... 32

    3 O CURSO ........................................................................................................... 34

    3.1 Cenrio da Educao na poca do Curso ..................................................... 34

    3.2 Poltica Educacional da SEE de So Paulo ................................................... 43

    3.3 O curso e as Polticas Pblicas ...................................................................... 46

    3.4 O Curso Propriamente Dito ............................................................................. 47

    3.5 A Organizao do Curso ................................................................................. 49

    3.5.1 Materiais Didticos Utilizados no Curso ................................................... 50

    3.5.2 TelEduc ......................................................................................................... 51

    3.5.3 Ferramentas dos Coordenadores da EAD ................................................. 58

    3.5.4 Componentes Curriculares e as Prxis Gestoras .................................... 58

    a) Gesto Escolar ......................................................................................... 61

    b) Planejamento e Avaliao ....................................................................... 68

    c) Estado, Polticas Pblicas e Educao .................................................. 78

    d) Gesto, Currculo e Cultura ..................................................................... 80

    e) Relaes de Trabalho e Profisso Docente ........................................... 85

    f) Tecnologias de Informao e Comunicao na Educao .................. 92

    g) Escola, Gesto e Cultura ......................................................................... 99

    h) O Cotidiano da Escola ........................................................................... 102

    i) Gesto Escolar: Abordagem Histrica ................................................. 109

    j) A Escola e a Educao Comunitria .................................................... 110

    k) Trabalho de Concluso de Curso ......................................................... 110

  • 4 PESQUISAS, REFLEXES E RESULTADOS ................................................ 113

    4.1 Primeiro Momento da Pesquisa .................................................................... 114

    4.2 Segundo Momento da Pesquisa ................................................................... 128

    4.3 Resultado do Curso Segundo a Equipe da FE-UNICAMP .......................... 132

    4.4 Resultado do curso segundo a Coordenadora da CENP/SEE-SP.............. 136

    4.5 O Curso sob a tica dos Gestores Piedadenses ........................................ 137

    4.6 O curso e a Superviso de Ensino de Piedade ........................................... 138

    5 CONSIDERAES FINAIS ...............................................................................142

    REFERNCIAS ...................................................................................................... 154

    APNDICE ............................................................................................................. 159

    APNDICE A Primeiro Instrumento de Pesquisa ........................................... 159

    APNDICE B Segundo Instrumento de Pesquisa .......................................... 161

  • 19

    1 INTRODUO

    Este trabalho tem como tema, o aprendizado dos profissionais do Municpio

    de Piedade, ao frequentar o Curso de Ps-Graduao com Especializao Lato

    Sensu em Gesto Educacional, oferecido aos gestores da rede estadual de ensino

    da Secretaria de Estado da Educao, pelo Governo do Estado de So Paulo e a

    referida Secretaria, ambos em parceria com a Faculdade de Educao da UNICAMP

    onde foi ministrado.

    O objetivo deste estudo fazer uma reflexo sobre o supracitado curso,

    contemplando o seu contedo, os exerccios e prxis de apropriao dos alunos

    gestores da rede estadual de educao do municpio de Piedade, durante o seu

    decorrer, bem como, mostrar os seus resultados sob a tica desses profissionais.

    O curso ocorreu no perodo compreendido entre novembro de 2005 a maro

    de 2007, movimentando os gestores de toda a rede pblica estadual de ensino, em

    um vai e vem constante aos sbados na Universidade, diariamente com a realizao

    de atividades virtuais on-line, suas constantes discusses e comentrios em todos

    os ambientes educacionais.

    Apesar de ter sido oferecido a todos os gestores e profissionais que dirigem o

    ensino em geral, como Dirigentes, Supervisores, Assistentes Tcnico Pedaggicos,

    Diretores e alguns Vice-diretores que se interessaram e puderam preencher as

    vagas existentes, o seu foco e pblico alvo principal foi o Diretor de Escola.

    O objetivo do curso foi ajudar a alterar a antiga funo do diretor de escola,

    burocrtica e administrativa, para a atual funo de Gestor Educacional, agora mais

    abrangente, envolvendo a rea pedaggica e comunitria.

    A construo do novo perfil do diretor de escola, muito esperado pelo governo

    do Estado de So Paulo foi de grande importncia, agora visto sob outro olhar, o de

    gestor educacional com funes mais complexas das praticadas at ento.

    Percebemos ento, como condio sine qua non do governo, treinar e

    formar seus gestores para atuarem como lderes, de forma mais abrangente e

    empresarial, do que a administrativa que praticavam, para que atrassem a

    comunidade local e acompanhassem tambm o pedaggico, garantindo a elevao

    dos ndices de aprendizagem esperados pelos governantes.

  • 20

    O ento Secretrio de Educao Professor Chalita, no incio do curso enviou

    uma carta de boas vindas aos participantes, colocando os gestores como

    empreendedores sociais, chamando-os para dirigirem e harmonizarem a escola com

    seu bairro, cidade e mundo. Reproduzimos abaixo trecho da carta:

    Caro educador(a)! Bem-vindo oportunidade de vivenciar algo singular em seu processo de formao contnua. [...] A idia desse curso especfico possibilitar aos gestores o contato direto com novas formas de estudar, de aprender, de trocar idias sobre as tradies e as inovaes que giram em torno das atividades de gesto educativa. [...] Sabemos que a escola um mundo vasto, complexo, de carter coletivo. Um espao de natureza mutante por onde transitam diariamente milhes de crianas, jovens e adultos que impulsionam e compem a locomotiva dinmica do processo ensino-aprendizagem. So educadores, educandos, profissionais das reas administrativas, pais, voluntrios e demais atores sociais que participam, de alguma forma, do dia-a-dia do ambiente escolar. Nesse contexto, cabe a ns sociedade, governo e representantes do setor discutir as melhores formas de instituir uma educao verdadeiramente integrada nesse meio onde impera a diversidade de opinies, ideologias, crenas, valores, raas, culturas. Da mesma maneira, precisamos propiciar subsdios para associar discurso, teoria e prtica pedaggica nas salas de aula, nas orientaes, coordenaes e supervises que perfazem o cotidiano das unidades de ensino. Mais do que nunca temos de debater sobre o papel do gestor educacional no comando dessa nau, cuja viagem precisa seguir, sempre na direo da propagao de conhecimento. Um gestor apto a ser um empreendedor social capaz de ser a ponte entre sua escola, a cidade, o bairro e o mundo em que ela est situada. [...] Lembremos que a escola o palco onde nascem, crescem e se desenvolvem cidados crticos, conscientes, talentosos. E o educador/gestor assume, nesse sentido, a funo de diretor, de organizador desse espetculo grandioso. Temos a expectativa e o desejo sincero de que esse curso faa a diferena na vida de cada um dos seis mil gestores que participaro desse empreendimento. Assim, que essas aulas simbolizem preciosos mapas, Instrumentos raros que apontam os melhores caminhos, rotas e trajetrias. Uma boa viagem a todos! (TELEDUC, 2005, grifos nossos)

    As propores deste curso nos levaram ao interesse de pesquis-lo um pouco

    mais a fundo e refletir sobre os seus resultados, entre os gestores escolares do

    municpio de Piedade, devido participao em massa de aproximadamente 6.000

    (seis mil) gestores da rede pblica de todo o estado de So Paulo e saber se o

    mesmo atingiu os seus objetivos, de acordo com o proposto e acordado entre

    governo, SEE1 e UNICAMP:

    1 Secretaria de Estado da Educao.

  • 21

    Pensar sobre as mltiplas dimenses das aes que os gestores realizam em suas escolas, considerando serem elas atravessadas por inmeras demandas institucionais, por inmeros engajamentos pessoais, sem esquecer que essas aes se voltam construo de uma escola singular e das pessoas que no interior dela atuam. Refletir sobre as possibilidades encontradas pelas pessoas que esto na funo de gestores, em lidar cotidianamente com seus sonhos, suas limitaes, seus constrangimentos e desassossegos, seus afetos e desafetos com os demais personagens que agem na escola, tendo que fazer-se e refazer-se constantemente, ao mesmo tempo em que faz e refaz a escola que dele espera alguma liderana. Ampliar os conhecimentos dos gestores de unidades escolares no que se refere aos mltiplos aspectos envolvidos no planejamento e gesto como processo de construo coletiva, estimulando a realizao e o aprofundamento de estudos na perspectiva de uma formao continuada. Valorizar a prtica profissional concreta dos gestores de unidades escolares e incrementar o intercmbio de experincias sobre a gesto de projetos sociais, as de mbito curricular e as relacionadas ao Projeto Poltico Pedaggico da escola. (TELEDUC, 2005)

    Observando os objetivos supracitados e a complexidade da fala do

    Secretrio, acreditamos que, implicitamente, o governo desejaria transformar os

    diretores da sua rede pblica, em gestores educacionais num sentido maior do que

    administrar burocraticamente, mas, gerir a partir de uma viso mais ampla,

    socioeducativa e pedaggica, como participantes ativos do processo de ensino-

    aprendizagem nas suas Unidades Escolares, inclusive, fora dos muros escolares se

    necessrio.

    Portanto, inquietou-nos saber a percepo sobre o curso pelos diretores do

    municpio de Piedade, se estes se preocupam com a prpria formao continuada e

    se o referido curso trouxe benefcios e/ou avanos nas suas atuaes, gerando

    mudana nas suas prticas.

    Pretendemos ao realizar este estudo, partir de reflexes sobre pesquisa

    realizada entre os participantes piedadenses, desvelando assim, se os seus

    objetivos foram atingidos, tendo por base a descrio do mesmo e os seus

    exerccios para darmos maior sustentabilidade s nossas hipteses.

    Este curso trouxe inmeros dificultadores, que sabemos, existem em qualquer

    curso distncia, como a falta de proficincia em informtica, que provocou a

    demora na realizao e postagem das atividades para o andamento do curso e, o

    excesso de longas leituras, por este hbito estar adormecido at ento entre estes

    profissionais.

  • 22

    Acreditamos que, independente dos gravames e dos aproximados 1800 (um

    mil e oitocentos) gestores que receberam apenas certificado de participao neste

    curso por no atigirem a nota mnima para concluso da especializao, as escolas

    estaduais de Piedade ganharam e muito, em termos de gesto escolar, hipteses

    estas sobre as quais discorremos durante o trabalho, num movimento constante de

    pesquisa e reflexo, inclusive sobre as suas descries, exerccios realizados e

    pareceres dos gestores piedadenses.

    No item dois tecemos alguns esclarecimentos conceituais sobre vrios termos

    e assuntos usados com frequncia no trabalho, partindo da educao, escola, sua

    funo no mundo contemporneo, a gesto escolar e suas tendncias, a importncia

    da formao continuada para os profissionais da rea da educao, encerrando com

    uma breve apresentao do municpio de Piedade.

    Tratamos no terceiro item, o cenrio educacional que antecedeu o curso, a

    poltica educacional da SEE-SP, a relao do curso com as polticas pblicas, seu

    perfil, origem e ponto de partida, bem como a sua organizao com os respectivos

    componentes curriculares, inclusive, a prxis dos gestores piedadenses.

    O momento das pesquisas surge no quarto item, onde apresentamos as

    entrevistas realizadas entre os participantes do curso, e as reflexes geradas por

    meio das suas respostas, considerando, o grau de suas apropriaes em relao ao

    curso em questo, evidenciando os seus resultados, segundo a equipe da FE-

    UNICAMP2, da SEE-SP, bem como dos gestores de Piedade e da Superviso de

    Ensino atuante em suas Unidades Escolares.

    E, para o encerramento apresentamos no quinto item, as consideraes finais

    em relao ao presente estudo.

    2 Faculdade de Educao da Universidade Estadual de Campinas.

  • 23

    2 ESCLARECIMENTOS CONCEITUAIS

    O Programa de Ps Graduao em Gesto Educacional, com especializao

    Lato Sensu ministrada na FE-UNICAMP, que foi oferecida pelo Governo e Secretaria

    da Educao do Estado de So Paulo aos profissionais que ocupam funes

    diretivas na rede pblica estadual de educao, envolveu vrios conceitos e reas

    relacionadas educao, levando-nos a fazer alguns esclarecimentos, os quais

    pontuaro este captulo.

    2.1 Educao e Escola

    A educao sempre acompanhou as mudanas dos modos de produo da

    histria da humanidade e para termos uma rpida viso dessas mudanas, Vieira

    (2002) divide em trs momentos as grandes mudanas da educao:

    A primeira marcada pela agricultura, pois, possuir uma grande quantidade de

    terra era um indicador de riqueza e de poder de uns sobre os outros. Sendo o

    domnio das tcnicas de agricultura, ou seja, do cultivo de alimentos, um divisor de

    guas na histria da humanidade, quando o homem abandona o hbito nmade e

    passa a se fixar a terra, surgindo as grandes organizaes sociais que deram origem

    s primeiras civilizaes.

    A segunda pela revoluo industrial, principalmente com o descobrimento da

    eletricidade, das mquinas a vapor e da mudana da utilizao do tempo da

    natureza, pelo tempo de relgio, levando soberania do capital, gerado pela compra

    do trabalho dos operrios.

    E, a terceira por avanos tecnolgicos e informacionais, to profundos que

    continuam ocorrendo vertiginosamente, mais rpido que a humanidade pode

    acompanhar, gerando grandes mudanas na vida pessoal e da sociedade em geral.

  • 24

    A educao um fenmeno social e, funciona como base estrutural em

    processos de crise, sendo a primeira a ser atingida e, num segundo momento,

    tambm utilizada para provocar as transformaes econmicas necessrias a sua

    estabilidade, por meio do acesso das massas a ela, proporcionando alm de

    conhecimentos, apropriao de cultura.

    A escola um espao de construo de relaes, onde a criana amplia o

    campo famliar e exercita fora dela a cidadania, integrando-se realmente numa

    comunidade maior, sem vnculos de parentesco, vivendo em comum e sob as

    mesmas regras, com pessoas diferentes.

    na escola que o aluno aprende o respeito ao outro, a solidariedade, a

    socializao e o respeito aos direitos e deveres prprios e do prximo e,

    posteriormente, continua aplicando esse aprendizado no decorrer da prpria vida,

    sendo ela, ferramenta importante nos processos identitrios individuais e coletivos.

    Cada escola possui uma identidade prpria, com sua histria e seu modo de

    ser dentro da comunidade em que est inserida; infelizmente, em muitas

    comunidades, a escola ainda como uma caixa preta, pois, os pais no sabem o

    que se passa nela, nem mesmo acompanham o ensino e a aprendizagem de seus

    filhos, prtica esta que interfere negativamente nos seus rumos e na vida escolar

    dos seus alunos.

    Segundo Paro na segunda videoaula do CD nmero 1 do curso, a escola

    deve passar por uma reorganizao estrutural, em que diretor, pais, alunos e

    professores utilizem um caminho que realmente a leve ser um importante

    instrumento para a construo e a defesa da cidadania, onde o diretor deixa de ser o

    heri e o vilo de cada escola e passa a dividir o direito e a responsabilidade de

    decidir democraticamente com sua equipe, pais e alunos.

    Portanto, muito importante a participao das famlias no cotidiano escolar,

    no planejamento do ano letivo, nas tomadas de deciso e deliberaes conjuntas,

    pois, para a escola se fazer realmente pblica, imprescindvel a criao de

    mecanismos que a tornem verdadeiramente, democrtica e participativa.

  • 25

    2.2 Viso Legalista e Funo da Escola no Mundo Contemporneo

    Ao nos referirmos educao temos de rever constantemente as funes

    sociais da escola, estudando seus limites e possibilidades, sempre que se fizerem

    necessrias, no nos mantendo indiferentes em decorrncia das mudanas atuais

    neste mundo globalizado.

    O direito de todos educao ficou realmente estabelecido com as

    mudanas na Constituio de 1988, afirmando que

    Art. 205 - A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. (CONSTITUIO FEDERAL, 1988)

    E, confirmado pela LDB3, o qual tambm coloca a promoo da educao

    como um dever do Estado e da famlia,

    Art. 5 - A educao, dever da famlia e do Estado, inspirada nos princpios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. (LEI DE DIRETRIZES E BASES, 1996)

    E, reafirmado pela Emenda Constitucional de 2000, que coloca a educao

    como direito social:

    Art. 6 - So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio. (EMENDA CONSTITUCIONAL 26, 2000)

    Sendo o papel da educao na sociedade muito importante na/para a

    consolidao da democracia, em relao aos direitos humanos e a promoo da

    paz, preparando os alunos para o exerccio da cidadania, garantindo-lhes o pleno

    desenvolvimento da pessoa humana e cidad, levando-os a um bom atendimento do

    contexto atual em que vivem e ao bom desempenho do trabalho escolhido.

    3 Lei de Diretrizes e Bases n 9394 publicada em 1996.

  • 26

    Da escola espera-se um novo modo de ensinar e de aprender, bem como, do

    jovem espera-se no apenas um diploma ou domnio da nova tecnologia, mas, da

    sua excelncia de conhecimento e finalmenta, dos educadores a sensibilidade de

    criar o hbito de repensar a maneira de passar os conhecimentos, de organizar a

    escola, de utilizar a metodologia de ensino, a didtica, de rever o aproveitamento do

    espao, atendendo prioritariamente a sua funo.

    As escolas necessitam de discusses aprofundadas sobre o que nelas se

    passa, pois, os educadores so os construtores da cultura e da histria das escolas

    em que trabalham. Mesmo sem perceberem, muitas vezes encaram como rotina, as

    suas aes na sala de aula e na escola, assim como seus alunos e respectiva

    comunidade, os quais, no fazem idia da fora que tm, ao fazerem valer a sua

    cidadania.

    Atualmente os pais j percebem que o conhecimento extremamente

    necessrio para enfrentar os problemas do presente e, consequentemente, preparar

    nossos jovens para o futuro, estando mais convencidos de que o conhecimento

    muito mais valioso do que os bens materiais.

    E, estes j vm sendo orientados pelas escolas da necessidade de propiciar

    outras maneiras de conhecimento aos seus filhos, alm da Educao Bsica que

    recebem em suas escolas, portanto, muitos alunos j vm frequentando cursos de

    informtica e lngua estrangeira, entre outros, pagos pelos seus genitores.

    2.3 Gesto Escolar

    Ganzeli (2005, p. 13) aponta que o conceito de Gesto Escolar veio mudando

    com o passar dos anos, da evoluo conceitual de administrao, do sentido

    econmico da capacidade administrativa de produzir o mximo de resultados com o

    mnimo de recursos, e depois, da capacidade administrativa escolar de organizar e

    coordenar com racionalidade as atividades subalternas.

  • 27

    Hoje, a descentralizao do trabalho do gestor importante para atender as

    necessidades da escola em moldar-se para no se tornar um corpo estranho em um

    mundo real, dinmico, de mudanas vertiginosas, portanto, este tem a difcil misso

    de contextualizar sua escola no ambiente que a cerca, como tambm, inser-la no

    mundo global.

    Na mesma proporo em que as mudanas ocorrem na sociedade,

    influenciam a escola, que tambm as sofre, precisando alterar seus conceitos e

    prticas e, em virtude da sociedade atual controlar mais o Estado, os profissionais

    da educao tiveram que mudar suas posturas, no sentido de agora, gerirem a

    educao como um todo, e tudo o que diz respeito a ela, como o ensino, a

    aprendizagem, as relaes comportamentais nas instituies, inclusive, os gastos

    pblicos.

    2.3.1 Gesto Democrtica

    Como vimos nos esclarecimentos acima, ao gestor, no cabe mais se ater a

    apenas administrar, mas, atuar e criar em conjunto com sua Equipe Gestora4,

    composta pelo seu respectivo vice e professores coordenadores, atuando em co-

    parceria e co-responsabilidade nos direcionamentos pedaggicos a serem

    desenvolvidos em suas Unidades Escolares, com seus docentes, funcionrios,

    alunos, pais e comunidade local, bem como, no acompanhamento do trabalho

    pedaggico das mesmas, conjugando os mesmos ideais.

    indubitvel a sua importncia, como um recurso de participao humana e

    de formao para a cidadania e, inquestionvel a sua necessidade para construir

    uma sociedade mais justa, humana e igualitria, e, como fonte de humanizao.

    4 Equipe composta pelo diretor, seu respectivo vice e os dois professores coordenadores

    responsveis, um pelo Ensino Fundamental e outro pelo Mdio, com a funo de proporcionar apoio tcnico aos docentes para garantir efetiva aprendizagem discente, trabalhando em parceria na elaborao, desenvolvimento e avaliao da proposta pedaggica, bem como, na coordenao e acompanhamento pedaggico.

  • 28

    Inclusive, de acordo com as citaes abaixo, a gesto democrtica prevista

    e afirmada na Constituio Federal, preconizando-a e reafirmando-a na LDB como

    democrtica na forma da lei e, como democrtica e participativa, na definio das

    normas e princpios escolares, com a participao da comunidade local e escolar, na

    elaborao do Projeto Poltico Pedaggico e nos Conselhos Escolares.

    [...] Art. 206 - O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios: [...] VI - gesto democrtica do ensino pblico, na forma da lei. [...] (CONSTITUIO FEDERAL, 1988) [...] Art. 14 - Os sistemas de ensino definiro as normas da gesto democrtica do ensino pblico na educao bsica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princpios: I - participao dos profissionais da educao na elaborao do projeto pedaggico da escola;

    II - participao das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. [...] (LEI DE DIRETRIZES E BASES 9394, 1996, ATUALIZADA PELA LEI N 12.014, 2009)

    Atualmente, com as mudanas visveis no que dizem respeito s prticas

    educacionais, as escolas tendem a ser mais democrticas e participativas, dando

    aos seus professores a liberdade de levarem os alunos a construrem

    conhecimentos e mostrarem suas diferenas e, comunidade de compartilhar as

    suas decises e, de participar do acompanhamento educacional e da evoluo das

    nossas crianas e jovens.

    Quando os alunos so envolvidos com a escola, so vistos como futuros

    promissores e, os pais que se preocupam com ela, como futuros colaboradores da

    educao, e havendo esse real envolvimento, todos se transformam em constructos

    de uma sociedade mais justa, comprometida com o desenvolvimento educacional do

    pas.

    Somente com transparncia nos resultados, prestaes de contas dos

    recursos financeiros pblicos e notrios, direcionamento conjunto dos rumos

    escolares, desempenho tico e lisura de postura nas aes que a atuao escolar

    vista por todos com eficincia5, eficcia6 e efetividade7.

    5 Excelncia da maneira ou mtodo utilizado para atingir um objetivo.

    6 Quando atinge o objetivo proposto.

    7 Garantia de qualidade com que se atingiu o objetivo proposto.

  • 29

    Havendo compartilhamento de decises, comprometimento e compromisso

    em atitudes tomadas, sensibilizao coletiva na busca de soluo de problemas

    enfrentados, haver tambm, uma trajetria consciente e responsvel na formao

    dos alunos, jamais suscitando dvidas quanto ao trabalho executado.

    Reflexes conjuntas so importantssimas para reconhecer erros mtuos e

    criar intervenes para retomadas e/ou mudanas urgentes, com intensa

    participao e esforos coletivos entre os envolvidos, pois, sempre que faltarem

    olhares sob todos os prismas, as decises sero falhas, porque s quem est fora

    do problema, tende a enxerg-lo totalmente.

    Estas atitudes e interaes so imprescindveis nas reunies de

    Planejamento Escolar, onde ocorre a construo do PPP8, e nas do CC/S9, onde

    devem ser decididos os rumos do ensino-aprendizagem de cada aluno, numa

    relao de confiana, valorizao e respeito mtuo, desde o planejamento at a

    efetivao de todos os resultados educacionais, eventos culturais e desportivos da

    respectiva Unidade Escolar.

    Um jargo muito usado no meio educacional, diz toda escola tem a cara do

    diretor, porque a figura do diretor que define a sua identidade e personaliza o

    sistema de ensino, sendo, de extrema importncia a postura profissional da sua

    equipe de trabalho, bem como, a constncia e a coerncia dos valores que estes

    demonstram.

    Pela relevncia que a escola representa na sociedade, o conjunto das

    aes da sua equipe gestora, escolar, alunos, pais e comunidade local, que criam e

    desenham a cultura especfica de cada Unidade Escolar, sendo todos co-

    responsveis pela construo da sua histria de sucesso ou de fracasso.

    Portanto, faz-se necessrio que essa equipe atue sempre em harmonia e em

    consonncia com a comunidade na qual est inserida, na busca de solues e

    intervenes para a soluo de problemas detectados, por meio de reflexes

    constantes e avaliaes conjuntas.

    8 Projeto Poltico Pedaggico.

    9 Conselho de Classe e Srie - Conselho de Classe para as turmas do Ensino Fundamental

    do Ciclo I e Srie para as turmas do Ensino Fundamental do Ciclo II.

  • 30

    2.4 Formao Continuada

    As mudanas exigidas pelas reformas educacionais incidem tambm, como

    no poderia deixar de ser, na formao continuada dos profissionais da educao,

    pois, o mundo globalizado exige aprender a aprender e continuar aprendendo

    durante toda a vida profissional, no s para os alunos da educao bsica, mas,

    para todas as pessoas que esto inseridas no mundo do trabalho.

    Visto as atualizaes da LDB em redao dada pela Lei 12.014, de 2009,

    temos a afirmao em consonncia com a demanda atual do mundo do trabalho,

    que os sistemas de ensino devero promover a valorizao dos profissionais da

    educao, assegurando-lhes aperfeioamento profissional continuado e um perodo

    includo na carga horria de trabalho, reservado aos estudos, planejamento e

    avaliao.

    E, voltando um pouco mais, na Constituio Federal, constatamos que a

    mesma tambm, j previa a valorizao dos profissionais da educao da rede

    pblica.

    [...] Art. 206 - O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios: V - valorizao dos profissionais da educao escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso pblico de provas e ttulos, aos das redes pblicas; [...] (CONSTITUIO FEDERAL, 1988 ALTERADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N 53, 2006)

    H algumas dcadas acreditava-se que ao trmino da graduao, o

    profissional estaria apto a atuar na sua rea para o resto da vida, porm, hoje a

    realidade diferente para qualquer profissional, principalmente, da rea

    educacional, inclusive a gestora, que dever ser consciente da importncia de sua

    formao permanente, continuada e integrada ao seu dia a dia, na escola em que

    atua.

    Portanto, citamos tambm a LDB que prev a necessidade da formao

    continuada em servio e da referida valorizao e plano de carreira, os quais

    estabelecem respectivamente que:

    [...] Art. 61. Consideram-se profissionais da educao escolar bsica os que, nela estando em efetivo exerccio e tendo sido formados em cursos reconhecidos, so:

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12014.htm#art1http://www.dji.com.br/constituicao_federal/ec053.htmhttp://www.dji.com.br/constituicao_federal/ec053.htm

  • 31

    Pargrafo nico. A formao dos profissionais da educao, de modo a atender s especificidades do exerccio de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educao bsica, ter como fundamentos: I a presena de slida formao bsica, que propicie o conhecimento dos fundamentos cientficos e sociais de suas competncias de trabalho; II a associao entre teorias e prticas, mediante estgios supervisionados e capacitao em servio; [...] (LEI DE DIRETRIZES E BASES 9394, 1996 ATUALIZADA PELA LEI N 12.014, 2009)

    O gestor, mais do que qualquer educador, deve primar pela prpria

    atualizao, porque aquele que no aprender com prazer, jamais passar seus

    ensinamentos com o mesmo encantamento aos seus professores, ou estes aos

    seus alunos, com o mesmo entusiasmo com que aprenderam, devendo, o prazer

    pelo estudo e pela leitura serem premissas fundamentais e evidentes entre

    quaisquer educadores.

    Revelando o trabalho em equipe, interdisciplinar e as decises conjuntas,

    muito importantes, ao desfavorecerem de certa forma a resistncia s mudanas e,

    passando todos a serem vistos como os responsveis pelo sucesso da

    aprendizagem nas suas escolas. Como atualmente com a fluidez do mundo

    globalizado, as verdades deixam de ser verdade com as novas descobertas a cada

    segundo, as quais geram incertezas e vulnerabilidades na cincia, tecnologia e nos

    relacionamentos, enfim, na maneira de ensinar, para qu e para quem ensinar,

    levam o professor/educador a sentir necessidade de mudar sua prtica e

    acompanhar a evoluo, que se mostra cada vez, mais galopante.

    Nossas crianas e jovens tm a sua disposio uma infinidade de novos

    letramentos, equipamentos e informaes, que chegam sempre de maneira muito

    agradvel e rpida, gerando um consequente desinteresse dos alunos pelas aulas

    convencionais e/ou tradicionais.

    Em decorrncia disto, o educador em geral deve procurar por incansvel

    atualizao, dentro de sua prpria autonomia cognitiva, se preparando de maneira

    contnua e eficaz, e, se porventura estes no se demonstrem favorveis a essa

    busca de novos conhecimentos, cabe ainda, prpria equipe gestora capacit-los

    nas suas prprias Unidades Escolares, quando das HTPC10.

    10 A HTPC (Hora de Trabalho Pedaggico Coletivo) um espao oferecido aos educadores, o qual

    favorece a troca de experincias, a busca de solues para dirimir as possveis deficincias de aprendizagem dos alunos e estabelecer possveis intervenes pedaggicas, dando apoio e suporte aos docentes no dia a dia de trabalho.

  • 32

    Tendo em vista as mudanas perenes do mundo em que vivemos e atuamos,

    imprescindvel a formao continuada e a reflexo do gestor sobre sua prtica,

    direcionando-a aos interesses, necessidades e realidade da comunidade local,

    fortalecendo e enriquecendo o seu aprendizado gestor, enquanto formador de

    formadores das suas equipes gestora e docente.

    Bem como, otimizar os espaos escolares e manter um relacionamento

    harmonioso durante as capacitaes em servio nas HTPC, levando sua equipe

    docente a adotar novas metodologias educativas e tecnolgicas, na busca de um

    ensino/aprendizagem de qualidade para os seus alunos.

    Portanto, estar em formao contnua, permanente e profissional um

    desafio nos dia de hoje, principalmente na rea de gesto educacional, diretamente

    envolvida com a aprendizagem e com atribuies que no mais se limitam s

    questes administrativas, mas tambm, s pedaggicas, favorecendo o exerccio do

    repensar e criar, sempre disposto a introduzir mudanas no processo educacional

    por ele gerido.

    2.5 O Municpio de Piedade

    Piedade um dos maiores municpios da regio sudeste do Estado de So

    Paulo, com uma rea de 745,52 km2 e 53.492 habitantes, sendo que o permetro

    urbano ocupa apenas 14,34 km com 23.537 habitantes e os restantes 714,66 km

    correspondem zona rural com 29.955 habitantes, de acordo com o censo de 2000.

    O maior gerador de emprego do municpio a agricultura e a principal fonte

    de renda o agronegcio, em virtude da produo de 117 tipos de produtos

    hortifrutigranjeiros, de diversos tipos de cogumelos comestveis, vrios criadores de

    Nesse espao tambm uma excelente oportunidade para que a formao do professor ocorra em servio, aliando a teoria prtica, sob a orientao do diretor e do professor-coordenador de forma que o processo de educao continuada ocorra dentro da prpria escola, com comprometimento e interesse por parte dos educadores. Devem ser sistematicamente registradas pela equipe de professores e coordenao, com o objetivo de orientar o grupo quanto ao replanejamento e continuidade do trabalho escolar, e serem realizadas semanalmente, por no mnimo durante duas horas consecutivas e, eventualmente, na Oficina Pedaggica ou num outro espao educacional, previamente definido, atravs da utilizao de parte ou do total de horas previstas para o ms em curso.

    http://profcoordenadorpira.queroumforum.com/viewtopic.php?p=71##

  • 33

    camaro da Malsia ps-larva, inmeros haras, aprios, estaes experimentais,

    sem contar a pecuria e a existncia de algumas indstrias.

    Alm desses direcionamentos, atualmente a Prefeitura Municipal vem

    incentivando o turismo, em decorrncia da proximidade de apenas 98 km com So

    Paulo, a capital do Estado, e tambm, pelo municpio apresentar clima agradvel de

    montanhas, ter muitas cachoeiras e paisagens lindssimas.

    A rede estadual de ensino do municpio de Piedade tem dez escolas

    estaduais, vinculadas Diretoria Regional de Ensino da Regio de Votorantim, com

    apenas trs delas localizadas no permetro urbano e, sete distribudas na zona rural

    do municpio, perfazendo um total de 5.810 alunos; e segundo os dados

    correspondentes ao ms de janeiro de 2010, colhidos na referida Diretoria de

    Ensino, os alunos esto assim distribudos:

    - 201 alunos11 do 1 ao 5 ano do Ensino Fundamental - ciclo I;

    - 3.290 alunos do 6 ao 9 ano do Ensino Fundamental - ciclo II;

    - 2.117 alunos no Ensino Mdio;

    - 187 alunos na Educao de Jovens e Adultos (Ensino Fundamental e Mdio);

    - 15 alunos na Educao Especial;

    A Diretoria Regional de Ensino de Votorantim, tambm supervisiona em

    Piedade nove escolas particulares, como: APAE12; Escola Profissionalizante

    Tatoos; Escola Criativo com Berrio, Infantil e Ensino Fundamental Ciclo I;

    Escola Monteiro Lobato/Anglo com Educao Bsica; Escola Favo de Mel com

    Berrio, Infantil e Ensino Fundamental Ciclo I; Escola Objetivo com Educao

    Bsica; Escola Recanto da Vov Xanda do Bairro do Piratuba com Infantil, Creche

    e Pr Escola; Creche Projeto Desafio; e ETEC do Centro Estadual de Educao

    Tecnolgica Paula Souza (CEETEPS) com Ensino Mdio, Profissionalizante,

    Tcnico e Concomitante.

    J a rede pblica municipal de ensino abrange dezesseis escolas de Ensino

    Fundamental do Ciclo I e nove escolas de Educao Infantil.

    11 Em decorrncia da municipalizao do ciclo I do Ensino Fundamental, o municpio tem

    apenas duas escolas estaduais com a respectiva modalidade de ensino, o que justifica o pequeno nmero de alunos apresentados neste ciclo.

    12 Associao de Pais e Amigos dos Excepcionais.

  • 34

    3 O CURSO

    Neste captulo faremos uma descrio do Curso de Ps-Graduao Lato

    Sensu com Especializao em Gesto Educacional, ministrado na Faculdade de

    Educao da Universidade de Campinas e, oferecido pelo governo do Estado de

    So Paulo e Secretaria de Estado da Educao, em parceria com a UNICAMP.

    Para tanto, na sequncia percorreremos o perodo do seu incio, bem como,

    do que o antecedeu.

    3.1 Cenrio da Educao na poca do Curso

    O cenrio da educao nos primeiros anos da dcada de 2000 revelava a

    realidade vivida pelos diretores de escola, que se demonstravam desgastados por

    enfrentarem muitos problemas e desenvolverem vrias tarefas desafiadoras da

    rotina administrativa, pois, h muito se manifestavam insatisfeitos e,

    consideravelmente defasados em relao s exigncias do mundo globalizado,

    realidade esta, que culminou no decorrer do ano letivo de 2004.

    Nas reunies de diretores das escolas vinculadas Diretoria de Ensino da

    Regio de Votorantim, estes se surpreendiam com as novas cobranas pelas quais

    respondiam, sendo que muitos direcionamentos eram voltados mais para empresas

    do que para as escolas propriamente ditas, agora vistas sob outros olhares, alm do

    burocrtico, que ora, vinham desenvolvendo.

    Como toda mudana gera insegurana e receio do novo, esse sentimento de

    surpresa surgiu como caracterstica comum do novo processo, principalmente, por

    serem agora chamados de gestores, ou seja, gestores escolares ou gestores

    educacionais, com muitas mudanas e cobranas, no sabendo mais o que fazer

    primeiro, como fazer, porque fazer, entre tantas perguntas que lhes acometiam e,

    que no queriam se calar; mas, sem alternativa ouviam e tentavam dar conta desse

    turbilho de afazeres, que achavam nem serem seus.

  • 35

    Sentiam-se margem das constantes capacitaes que vinham sendo

    realizadas aos docentes e Professores Coordenadores das suas Unidades

    Escolares, por meio da Secretaria de Estado da Educao, alm do mais, eles nem

    sequer passavam por treinamentos e capacitaes mais aprofundadas.

    Muitos sentiam necessidade de participar de cursos de aperfeioamento,

    mas, a maioria deles, se encontrava impossibilitada de arcar com os custos de

    cursos de especializao e atualizao por conta prpria, pela falta de recursos

    financeiros em decorrncia dos baixos salrios percebidos, muito aqum das suas

    necessidades de vida. No bastasse isso tudo, os diretores reclamavam tambm, da

    realidade das suas escolas, porque na maioria das vezes trabalhavam com mdulo

    defasado de funcionrios, alta rotatividade de professores, grande evaso de alunos

    e falta de equipamentos.

    Os supervisores se desdobravam para orient-los, mas nem sempre o

    conseguiam em virtude da enorme burocracia que estes enfrentavam, como, as de

    ordem pedaggica, financeira e administrativa, comunitrias, inclusive, em relao

    aos relacionamentos interpessoais.

    Em contrapartida, os docentes tambm se queixavam aos Assistentes

    Tcnico-Pedaggicos durante as capacitaes e orientaes tcnicas, da dificuldade

    de pr em prtica o aprendido, porque muitos encontravam resistncia por parte dos

    seus diretores, os quais no encontravam significado em tais prticas.

    Os desafios realmente eram muitos e o excesso de trabalho constante,

    levando os diretores a reclamarem que at estavam perdendo a prpria identidade,

    pelo frequente desvio de funo e acmulo delas, que sequer eram suas, fazendo-

    os sentirem-se inteis quando iam para casa, aps um dia estafante, com a

    sensao de que nada tinham feito na/pela escola.

    Alegavam tambm que estava difcil o acompanhamento da prtica

    pedaggica nas suas Unidades Escolares, pois, tinham que atuar analogicamente

    como psiclogos, assistentes sociais, agente de sade e at mesmo como juiz de

    luta livre, em decorrncia da invaso da violncia em suas escolas.

  • 36

    Durante as reunies, desabafavam figurativamente, que muitas vezes se

    sentiam verdadeiros bombeiros por viverem apagando fogo por todos os lados,

    pois quando combatiam um, j havia outro foco de incndio se formando em outro

    local, em relao ao intenso trabalho diversificado que constantemente realizavam

    fora da sua prpria funo, inclusive, fora do seu horrio e, que infelizmente no

    tinham como se esquivar.

    Um dos inmeros problemas enfrentados por estes profissionais era a falta de

    infra-estrutura nas escolas, por exemplo, a maioria delas foi agraciada entre os anos

    de 1996 e 2000 com a Sala Ambiente de Informtica SAI, recebendo

    computadores, mas, no verba para a manuteno dos mesmos, que em

    pouqussimo tempo ficaram obsoletos e as SAI completamente abandonadas nas

    escolas.

    Alm da falta de atualizao dos equipamentos, as escolas no possuam

    programas educativos e, se at os tinham adquirido com recursos prprios, faltavam

    professores habilitados para manipul-los; se conseguiam um tcnico voluntrio

    para configurar os computadores, ainda a grande maioria dos professores era leiga

    em informtica e no sabia como manipul-los.

    Se alguns docentes tinham habilidades em informtica e conseguiam o

    funcionamento dos equipamentos, muitas vezes, a escola ainda enfrentava

    problemas com sinistros de furto, to comuns na poca nas Unidades Escolares, em

    reflexo ao aumento da marginalidade do mundo atual.

    Tal cenrio descrito foi vivenciado pelos gestores, gerando um efeito

    cascata, sendo necessria a elaborao e consequente execuo de estratgias de

    repaginao do aparelho educacional para acompanhar as demandas

    socioeconmicas da atualidade.

    Aps essas ocorrncias impactantes, quando conseguiam refazer-se e at

    atender a parte burocrtica, o tempo j havia decorrido e grande parte da

    programao escolar passado, ficando em segundo plano o acompanhamento

    pedaggico, os remetendo novamente fase inicial.

    Quando percorriam e chegavam ao final dessa maratona, a escola j no

    estava mais no mesmo nvel em que se encontrava, pois que, quando paramos

    nunca nos mantemos no mesmo patamar, e sim, um pouco retrgrados em relao

    ao que nos encontrvamos na ocasio da parada.

  • 37

    Essa era a rotina dos Diretores de Escola e, em virtude disso, as cobranas

    dos sindicatos de classe eram muito frequentes, tanto ao governo do Estado de So

    Paulo, quanto Secretaria da Educao, reivindicando valorizao desses

    profissionais e melhores condies de trabalho.

    Os gestores reclamavam tambm de grande sobrecarga de trabalho, que por

    sua vez, acabavam sobrecarregando suas equipes escolares, que alm das

    atividades cotidianas e do trabalho desgastante prprios da funo de educadores,

    ainda tinham que realizar constantes festas e eventos no af de levantar recursos

    prprios para pagar funcionrios extras pela defasagem do mdulo de funcionrios

    de suas escolas ou at para cobrir despesas urgentes cotidianas.

    Sem contar a alta rotatividade do corpo docente que ocorria em suas escolas,

    inclusive em decorrncia do ltimo concurso, onde muitos deles se encontravam em

    licena mdica, por adoecer de tristeza e saudades da famlia ou de estresse por

    morarem longe, muitos a 500 km ou mais de distncia da escola.

    Talvez, como resposta do governo, no incio do ano de 2005 foi divulgada aos

    profissionais do quadro do magistrio, a notcia de que todos eles poderiam evoluir

    funcionalmente; alm da formao na rea de atuao e do tempo de servio, que

    teriam a alternativa de melhorarem seus salrios com a Evoluo Funcional via no

    acadmica, regulamentada pelo Decreto de nmero 49.394/05, publicado no Dirio

    Oficial do Estado de So Paulo em 22 de fevereiro de 2005.

    Artigo 4 - Consideram-se como componentes do Fator Atualizao todos os estgios e cursos de formao complementar e continuada, promovidos por entidades de reconhecida idoneidade e capacidade institucional, de durao igual ou superior a 30 (trinta) horas, realizados pelos integrantes do Quadro do Magistrio com o objetivo de ampliao, aprimoramento e extenso dos conhecimentos, no respectivo campo de atuao. 1 - Constituem-se em entidades promotoras dessas atividades: 1.instituies de ensino superior devidamente reconhecidas; 2.rgos da estrutura bsica da Secretaria de Estado da Educao; 3.entidades representativas das Classes do Magistrio; 4.instituies pblicas estatais; 5.instituies pblicas no estatais e entidades particulares, desde que credenciadas pela Secretaria de Estado da Educao. 2 - Para fins de evoluo funcional, os cursos de que trata o "caput" deste artigo devero ser homologados pela Secretaria de Estado da Educao, observados os critrios a serem definidos em instruo complementar. (DECRETO 49.394, 2005; D.O.E SP, 2005)

  • 38

    Esta evoluo ocorreria por meio de cursos de especializao, os quais

    ofereceriam alta pontuao para atingir tal patamar especificado em legislao e,

    que uma vez atingida, os mesmos subiriam de nvel na escala de vencimentos,

    deixando as suas remuneraes mais elevadas.

    Logo aps, em 22 de maro do mesmo ano, foi publicada a Resoluo SE

    21/05, a qual estabelecia as normas e procedimentos para o atendimento da referida

    Evoluo Funcional no Acadmica aos integrantes do quadro do magistrio pblico

    do Estado de So Paulo,

    [...] conforme pontuao estabelecida para cada um dos componentes dos fatores Atualizao, Aperfeioamento e Produo Profissional definidos pela presente resoluo, com pontuao dos componentes correspondentes aos Fatores de Atualizao, Aperfeioamento e Produo Profissional, assim como a validade dos respectivos ttulos e da pontuao dos componentes do Fator Atualizao e do componente extenso universitria/cultural do Fator Aperfeioamento, calculada com base na carga horria indicada no certificado do curso realizado pelo profissional, sendo considerados para fins de pontuao, os cursos do Fator Atualizao e do componente extenso universitria/cultural do Fator Aperfeioamento quando autorizados e homologados nos termos da legislao que rege a matria. Esses crditos de cursos de ps-graduao, s podero ser utilizados uma nica vez. Os cursos promovidos por rgos da Pasta realizados em horrio de trabalho do profissional, somente sero considerados para fins de pontuao, quando o respectivo ato de autorizao, expedido pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas - CENP, assegurar aos concluintes direito certificao. Quadro II - FATOR APERFEIOAMENTO COMPONENTES PONTOS VALIDADE: Ps-graduao em rea no especfica Doutorado 14,0 aberta; Mestrado 12,0; Ps graduao - Especializao/ (com o mnimo de 360 horas), inclusive MBA 11,0 01/02/98; Aperfeioamento (com o mnimo de 180 horas) 9,0; Extenso universitria/cultural De 30 a 59 horas 3,0; De 60 a 89 horas 5,0; Mais de 90 horas 7,0; Crditos de cursos ps-graduao 1,0 por crdito at 8,0. [...] (RES. SE 21, 2005)

    No decorrer daquele mesmo ano, a SEE atendendo ao clamor destes

    profissionais da rede pblica estadual, ofereceu vrios cursos destinados aos

    diretores, seus respectivos vice-diretores e aos professores coordenadores de todas

    as escolas estaduais, todos frequentados em conjunto por esses profissionais, nos

    plos de capacitao das Oficinas Pedaggicas das Diretorias Regionais de Ensino,

    sendo que tambm, todos foram realizados concomitantemente.

  • 39

    O primeiro deles foi o curso de PROGESTO13, um Programa de Capacitao

    a Distncia para Gestores Escolares, oferecido pelo Conselho Nacional de

    Secretrios de Educao CONSED, e realizado nos polos das Diretorias de Ensino

    da SEE do Estado de So Paulo, com a orientao dos prprios Supervisores de

    Ensino, os quais foram previamente capacitados para tal prtica, pela

    Coordenadoria das Normas Pedaggicas CENP.

    O objetivo geral deste curso era formar lideranas escolares comprometidas

    com a construo de um projeto de gesto democrtica da escola pblica, focada no

    sucesso dos alunos de Ensino Fundamental e Mdio.

    Realizado por mdulos, seu ponto mais significativo foi a formao e o

    fortalecimento da equipe gestora de todas as escolas, descobrindo cada um a seu

    modo, um jeito eficiente de tornar o trabalho mais eficaz; incentivando a realizao

    de reunies peridicas de reflexes e decises conjuntas para pontuao de

    problemas, busca de tarefas, sistematizao das atuaes e resultados, abrangendo

    todos os segmentos da escola.

    Movimentou toda a equipe de gestores de todas as Unidades Escolares da

    rede pblica de ensino do Estado de So Paulo e, no caso dos diretores do

    municpio de Piedade em conjunto com seus vice-diretores e professores

    coordenadores, que participaram desta capacitao na Oficina Pedaggica da

    Diretoria de Ensino de Votorantim.

    O segundo, chamado de PDG G314, foi idealizado pela Casa Civil e realizado

    pela Fundap15, oferecido aos funcionrios ocupantes de cargos diretivos de vrias

    reparties estaduais, acompanhados dos seus respectivos assessores diretos.

    Abrangeu um universo de 7.500 gerentes pblicos e teve como objetivo,

    elevar os padres de gesto da administrao pblica do Estado de So Paulo;

    desenvolver novos padres de gesto pblica; profissionalizao e capacitao dos

    servidores para a mudana de cultura do setor pblico e, melhoria da prestao dos

    servios ao cidado.

    13 PROGESTO, Programa de Capacitao a Distncia para Gestores Escolares, um curso

    de atualizao que foi realizado no perodo de 01/01/2005 a 31/10/2007 e certificado conforme homologao expedida pela portaria CENP de 09/01/2008, publicada no D.O.E. de 11/01/2008, com carga horria de 300hs, realizada pela CENP/SEE e Governo do Estado de So Paulo.

    14 O curso de Desenvolvimento Gerencial G3, com carga horria de 76 horas, foi realizado

    no perodo de 19/09 a 27/10/2005 pela FUNDAP, em parceria com a CASA CIVIL e o Governo do Estado de So Paulo.

    15 Fundao do Desenvolvimento Administrativo Paulista.

  • 40

    Este foi opcional, por adeso e desenvolvido no perodo de 19 de setembro a

    27 de outubro de 2005, com carga horria de 76 horas e orientaes ao uso da

    internet para sanar dvidas do dia a dia na gesto escolar, no havendo a

    participao dos Professores Coordenadores, por ser direcionado apenas para a

    rea administrativa das reparties estaduais.

    No caso dos diretores do municpio de Piedade e seus respectivos vice-

    diretores, os interessados participaram do curso no municpio de Sorocaba, na

    Escola Tcnica Dr. Fernando Prestes de Albuquerque.

    O terceiro, Gesto Escolar e Tecnologias16 com o tema Contribuio das

    Tecnologias de Informao e Comunicao no Projeto de Gesto Escolar da

    Secretaria da Educao. Foi oferecido equipe gestora de todas as escolas da

    rede pblica do Estado de So Paulo e, realizado no Ambiente de Aprendizagem da

    Rede do Saber dos Polos das Diretorias de Ensino da SEE, em parceria com a

    PUC/SP17 e com a MICROSOFT/Brasil.

    Consistiu na preparao dos educadores para incorporar as tecnologias ao

    seu fazer profissional, de modo que os artefatos tecnolgicos pudessem agregar

    valores s atividades escolares, auxiliando na execuo de muitos projetos, com o

    objetivo de adquirir novos conhecimentos e poder incrementar novas formas de

    trabalho na escola.

    Como tambm, envolver toda a equipe escolar, favorecendo um trabalho

    coletivo de qualidade, efetivo, eficiente e eficaz, garantindo a incluso digital e a

    interao das Tecnologias de Informao e Comunicao no Projeto Poltico

    Pedaggico da escola.

    No caso dos profissionais da educao estadual do municpio de Piedade,

    participaram na Rede do Saber instalada na EE Prof. Daniel Verano, vinculada

    Diretoria de Ensino de Votorantim, com as mesmas equipes de gestores

    participantes da PROGESTO, tambm, sob a gide dos Supervisores de Ensino

    designados para exercer tal funo, que passaram por treinamento na

    CENP/SEE/PUC-SP.

    16 Gesto Escolar e Tecnologias, um curso de Extenso Cultural (Atualizao), com carga

    horria de 80 horas, realizado entre 01/03/2006 a 30/06/2006, conforme homologao expedida pela Portaria CENP de 05/12/2006, publicada no D.O.E. de 06/12/2006. Este curso foi elaborado e ministrado em sistema de parceria com a MICROSOFT/Brasil, Pontifcia Universidade Catlica - PUC/SP e SEE/SP, Tecnologias de Informao e Comunicao - TIC.

    17 Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.

  • 41

    Aps a participao nestes cursos, os diretores de escola j estavam

    comeando a acostumar com a nova nomenclatura gestores, que vinham sendo

    chamados ao invs de diretores, inclusive, em relao a sua equipe de trabalho,

    tambm, com a nova terminologia Equipe Gestora.

    Em outubro do mesmo ano, ou seja, de 2005, para alegria de muitos

    diretores, que alimentavam h tempos o desejo de frequentar um curso de ps-

    graduao e, no o podiam por motivo financeiro, como j citado, fora oferecido o

    curso chamado Gesto Educacional18.

    Curso este, que trataria de vrios temas relacionados a esta rea e seria

    ministrado na Faculdade de Educao da UNICAMP, realizado nos dois polos da

    UNICAMP, o de Campinas e o do Morumbi em So Paulo, com 25% de atividades

    presenciais e 75% de atividades distncia, num total de 360 horas.

    O diferencial deste curso que daria nfase liderana comunitria,

    chamando a ateno dos participantes para O Diretor de Escola como Lder

    Comunitrio e Empreendedor Social, assunto que ocuparia todo um mdulo com

    trinta horas e a contribuio da ONG19 Cidade Escola Aprendiz, e do seu fundador o

    jornalista Gilberto Dimenstein.

    Este fato foi publicado no site da SEE no dia 11 de outubro de 2005, quando

    foi divulgada a inaugurao do Centro de Capacitao Prof. Andr Franco Montoro,

    divulgando tambm, que a CENP20 abriria vagas para seis mil gestores em efetivo

    exerccio, para o curso de ps-graduao em Gesto Educacional.

    Dois dias depois da referida publicao, a SEE divulgou tambm em seu site,

    este curso para os profissionais da rede estadual, onde todos poderiam participar de

    uma videoconferncia pela Rede do Saber nos polos das respectivas Diretorias

    Regionais de Ensino, no qual, o Secretrio da Educao, Professor Chalita falara

    sobre o referido curso, que seria direcionado ao diretor de escola, dizendo que:

    18 Gesto Educacional o primeiro Curso de Especializao Ps-Graduao Lato Sensu,

    criado pela Deliberao CONSU n 378/2005 de 29/11/2005, do Conselho Universitrio da Universidade de Campinas UNICAMP e ministrado pela Faculdade de Educao FE UNICAMP. Este curso ocorreu em parceria com a SEE/Governo do Estado de So Paulo.

    19 Organizao no Governamental.

    20 Coordenadoria Estadual de Normas Pedaggicas.

  • 42

    O primeiro passo gostar do que faz, o segundo ter entusiasmo. O seguinte ter instrumentos e estrutura, para que o diretor saiba administrar sua escola com competncia, isso que o Estado est fazendo agora. [...] Hoje, o diretor j no administra mais uma escola como antigamente. O burocrata, que ficava resolvendo tudo dentro da sua prpria sala, deu lugar ao gestor, que hoje participa ativamente de todos os acontecimentos dentro da sala, no ptio, nos corredores e nos arredores da escola. (CHALITA, 2005, grifo nosso)

    Na oportunidade, o secretrio enfatizou como aprimoramento, a importncia

    da troca de experincias entre os diretores e da quebra de paradigmas, para tornar a

    escola mais prazerosa.

    Ainda na videoconferncia, o reitor da UNICAMP, Jos Tadeu Jorge,

    destacou o pioneirismo e a experincia inovadora da referida universidade, em

    parceria com a Secretaria da Educao do Estado de So Paulo, para capacitar os

    seis mil gestores no primeiro Lato Sensu oferecido para a rede pblica de ensino.

    Tambm, no dia 13 de outubro foi publicado no site da SEE, um artigo

    divulgando o curso de Ps-graduao e indicando as vertentes que seriam

    abordadas no referido curso, com o ttulo Secretaria de Educao abre o primeiro

    curso Lato Sensu para diretores de escolas estaduais e manchete Ps-graduao

    vai formar seis mil gestores como lderes comunitrios e empreendedores sociais.

    Seis mil diretores de escola da rede pblica de So Paulo comearo, em novembro, o primeiro curso de ps-graduao oferecido pela Secretaria de Estado da Educao. A formao latu sensu O Diretor de Escola como Lder Comunitrio e Empreendedor Social acontecer em dois plos da Unicamp, em Campinas e no Morumbi, com 75% de atividades distncia e 25% de atividades presenciais, fora do horrio de trabalho. As duas grandes vertentes do programa vo abordar as Relaes Humanas e as Funes do Gestor, tendo como foco principal a figura do lder comunitrio e do empreendedor de iniciativas sociais. Com esta ps-graduao, que teve na sua origem formulaes do jornalista Gilberto Dimenstein e do Programa Aprendiz, o gestor ter disposio ferramentas que o qualificaro ainda mais para lidar com a comunidade e suas necessidades. (DANTAS, 2005, grifos nossos)

    3.2 Poltica Educacional da SEE de So Paulo

    Prximo aos anos 2000 e 2004, em meio de muita instabilidade, inmeras

    exigncias sociais, econmicas e de grande incidncia de desemprego, a

  • 43

    sociedade brasileira se atenta para a necessidade de uma educao nacional

    voltada para o desenvolvimento de valores necessrios ao convvio humano.

    Clamavam ao Governo, que o mesmo proporcionasse uma poltica educacional

    prtica e contextualizada, direcionando o ensino ao pleno desenvolvimento do

    educando, preparando-o para o exerccio da cidadania e qualificao para o

    trabalho.

    E que atendesse a Constituio Brasileira e a LDB, as quais preconizam a

    educao como inspirada nos princpios de liberdade, no pluralismo de idias, de

    concepes pedaggicas e ideais de solidariedade humana. Que a mesma deveria

    ser ministrada com equidade, garantindo criana e ao jovem, o acesso e a

    permanncia na escola, bem como, o oferecimento de oportunidades que

    permitissem a incluso dos mesmos, no mundo globalizado da cincia, da cultura,

    do trabalho e da arte.

    Tendo em vista tais colocaes e, no af de buscar o atendimento de tais

    anseios, o Poder Pblico implementou medidas na rede pblica em todos os nveis

    da administrao pblica, visando transformao do sistema educacional em um

    conjunto de instituies democrticas, capazes de gerarem a incluso social e de

    promoverem a aprendizagem bem sucedida da populao escolarizada.

    A SEE enfatizou a importncia dos princpios educativos, do bom

    relacionamento e, do dilogo educador entre a equipe gestora, escolar, supervisora

    e professores coordenadores da oficina pedaggica, nas diversas situaes de

    ensino e aprendizagem dos alunos, administrativas ou em qualquer outro tipo de

    ao.

    Outro ponto tambm enfatizado foi que as aes educativas s constituem

    conhecimento pessoal quando correspondem ao resultado final, pois, a

    aprendizagem no ocorre somente na sala de aula, mas tambm nos exemplos,

    portanto importante a postura do dia a dia dos educadores e o correspondente

    comprometimento com o ensino para alcanar a eficcia do ensino e os efetivos

    bons resultados institucionais.

    Para tanto, que seria necessrio um aperfeioamento constante desses

    profissionais para o aprimoramento das suas prticas escolares e, consequente

    melhora na qualidade da educao e na aprendizagem dos alunos.

  • 44

    Como ferramentas para atingirem esses objetivos, colocariam o Programa de

    Formao Continuada a todos que atuassem na rede pblica estadual, promovendo

    assim, uma insero social democrtica e realmente participativa, como constava no

    site da educao21.

    Por meio dessa aprendizagem constante, a SEE pretende implementar um modelo didtico-pedaggico e de gesto educacional capaz de adaptar-se simultaneamente s transformaes da sociedade e mesmo influenciar essas transformaes. Por essas razes, na medida em que se constitui em um programa de operacionalizao macro-poltica, o Programa de Formao Continuada ganha a mais alta relevncia entre as aes da SEE. O planejamento do Programa de Formao Continuada definir prioridades e sistemticas de capacitao, buscando aliar o trabalho de fundamentao terica com as vivncias efetivas da rede, preferencialmente com momentos de implementao e desenvolvimento de atividades no local de trabalho (DANTAS, 2005).

    Por sua vez, o sindicato de classe da categoria - UDEMO22 vinha combatendo

    todos os eventos com finalidade de suprir despesas de obrigao do Estado, por

    meio de publicao e divulgao do declogo do diretor nos respectivos jornais da

    categoria e site prprio, desde a poca do curso, que ainda hoje permanece

    publicado, o qual segue em anexo:

    Declogo a ser seguido pelos gestores para a soluo dos problemas de infra-estrutura das Escolas Pblicas Estaduais 1.Se no houver merendeira na escola, no ser fornecida a merenda; 2.Se no houver pessoa responsvel pela Biblioteca, ela permanecer fechada; 3.Se no houver escriturrios e secretrio, de acordo com o mdulo, no haver entrega de documentos na DE; 4.Se no houver verba para compra de material e manuteno da sala de informtica, o local no ser utilizado; 5.Se no houver recursos para reparos e vazamentos no prdio escolar, no haver consertos; 6.Se no houver recursos para pintura do prdio, o prdio no ser pintado; 7.Se no houver verba para a contratao de contador para a escola, no haver prestao de contas FDE; 8.Se no houver verba suficiente para a contratao de funcionrios pela CLT, o dinheiro ser devolvido; 9.Se a mo-de-obra provisria no for qualificada, ser recusada; 10.Se as festas no tiverem o objetivo de integrar a escola comunidade, no sero realizadas. (JORNAL/SITE DA UDEMO

    23, grifos nossos)

    21 www.educacao.sp.gov.br.

    22 Sindicato de Especialistas de Educao do Magistrio Oficial do Estado de So Paulo.

    23 www.udemo.org.br.

  • 45

    Alm da constante publicao deste declogo, explicava nas reunies da

    categoria e eventos de participaes sindicais que os gestores eram amparados

    pela constituio, prevendo que o ensino deveria ser gratuito e pblico, e que as

    escolas deveriam ser custeadas pelos cofres pblicos.

    O sindicato orientava tambm, que qualquer omisso do Estado, com relao

    a cada um dos itens do declogo, deveria ser oficiada s respectivas Diretorias

    Regionais de Ensino, pelos diretores, a fim de se isentarem de possveis

    responsabilidades administrativas.

    Alertava inclusive, que os dirigentes escolares associados, no deveriam

    temer qualquer ameaa de punio por tomarem tais atitudes, pois, receberiam

    defesa jurdica do Sindicato, bem como, que o mesmo se encarregaria de

    encaminhar propositura de Aes Civis Pblicas contra o Estado, ao Ministrio

    Pblico, por no cumprirem com suas obrigaes, causando prejuzos em relao s

    suas respectivas Unidades Escolares.

    Tais eventos e festas s deveriam ser realizados com finalidades e objetivos

    nicos, de estreitar os vnculos da escola com os alunos, pais e comunidade local e

    jamais para levantar recursos para cobrir despesas de responsabilidade do Estado,

    como consta no item 10 do declogo citado.

    3.3 O curso e as Polticas Pblicas

    A Secretaria da Educao do Estado de So Paulo ofereceu aos gestores da

    sua Rede Estadual de Ensino, o Curso de Ps Graduao, Lato Sensu com

    especializao em Gesto Educacional.

    Para tanto, firmou parceria com a Faculdade de Educao da Universidade

    Estadual de Campinas, na certeza de obter adeso em massa, a qual realmente

    ocorreu, com a participao dos seis mil gestores da rede pblica estadual.

    Partindo desses pressupostos, queria o governo garantir a atualizao da

    funo gestora desses profissionais, se pautando na necessidade premente de

  • 46

    atingirem a pontuao necessria elevao de nvel na tabela de vencimentos,

    preconizada em legislao recente e anterior divulgao do curso, efetivando

    assim, a promessa de Evoluo Funcional no Acadmica? Transparecer

    atendimento de aumento salarial, to reivindicado pelos sindicatos da categoria, por

    meio da referida evoluo funcional?

    Ou teria o governo, a inteno em convenc-los da necessidade de

    participarem dessa capacitao de gestores, para atender apenas aos interesses e

    ideologias dos seus representantes? Independente das proposies do governo,

    lembramos que na poca do curso, o Secretrio Professor Chalita era tratado mais

    como um dolo, devido tietagem que sofria pelas diretoras de escola, enquanto

    que, na gesto da anterior secretria24 ocorria o contrrio, visto esta classificar as

    escolas da rede estadual por cores25, em funo do nvel de ensino atingido,

    submetendo-as, bem como, seus respectivos diretores a tal rotulao.

    Talvez a inteno fosse tranquiliz-los, por terem conscincia de que seus

    gestores foram obrigados a passarem por capacitao extra e especfica, no curso

    chamado Circuito Gesto26, correspondente ao mdulo V27, criado para que os

    diretores recuperassem o nvel de ensino esperado para suas escolas, pela ento

    Secretria.

    Atualmente, verificamos por meio da pesquisa emprica, que os gestores

    consideram que tal prtica, ao invs de valorizar os diretores das escolas

    consideradas boas, inversamente, acabou por prejudic-los e at mesmo les-los

    profissionalmente, pois, estes foram dispensados desse ciclo de estudos por

    dirigirem escolas de cor verde, consideradas excelentes, no recebendo tais

    certificados, nem a pontuao equivalente a eles.

    24 Professora Rose Neubauer.

    25 Neste perodo, o nvel de ensino das escolas era classificado e relacionado com as

    respectivas cores, da seguinte maneira: cor verde: o nvel da escola era excelente e indicava satisfatoriedade; cor amarela: a escola se encontrava num nvel de alerta; a cor laranja: significava que a escola se encontrava num nvel sofrvel e a cor vermelha: correspondia a um nvel sofrvel, apontando que a escola era considerada pssima. O baixo nvel de ensino de grande parte das escolas, foi o disparador do curso Circuito Gesto V: Uso dos Indicadores Educacionais no qual os gestores foram chamados para analisar os ndices e o significado dos mesmos, na avaliao que o governo estadual de So Paulo realizou sobre o aprendizado e o trabalho nas escolas pblicas - o Saresp.

    26 O curso Circuito Gesto ocorreu em quatro mdulos para todos os diretores de escola.

    27 Exceo do curso Circuito Gesto, o mdulo V foi uma continuidade apenas para os

    diretores das escolas classificadas com cores consideradas abaixo do esperado, ou seja, das cores laranja e vermelha. O mdulo V tratou do "Uso dos Indicadores Educacionais".

  • 47

    Posteriormente, numa situao de classificao em concurso de provimento

    de cargos para admisso efetiva ou mesmo de remoo, ficaram em desvantagem

    perante os outros diretores que participaram forosamente desses cursos extras,

    para corrigir as deficincias de aprendizagem dos alunos das suas escolas,

    recebendo um certificado a mais do que os colegas considerados bons.

    Muitas das atitudes e decises tomadas por cada equipe governante de

    partidos polticos diversos, muitas vezes levam os educadores revolta e

    insegurana, gerando fragmentaes entre os mesmos, os quais veem muitos dos

    seus esforos jogados margem e todo o trabalho dedicado e despendido em vo,

    devido a ideologias governamentais contrrias. No intuito de deixarem gravadas as

    suas marcas, umas autoritrias, outras afetuosas e carismticas, enfim, de linhas

    totalmente opostas.

    Por isso mesmo, acreditamos que se a educao fosse perene, como

    Poltica de Estado e no poltica de governo, que temporria e atende aos ideais

    de cada equipe eleita, com certeza, j teramos galgado muitos nveis de avano na

    to sonhada qualidade da educao.

    3.4 O curso propriamente dito

    O Curso de Ps-Graduao Lato Sensu com especializao em Gesto

    Educacional oferecido aos gestores da rea da educao da rede pblica do Estado

    de So Paulo foi composto por doze mdulos, com carga horria distribuda em

    duas aulas por disciplina, com durao aproximada de trs semanas, cada disciplina

    ou mdulo.

    As aulas presenciais por mdulo foram realizadas em encontros quinzenais,

    com quinze horas, divididas em sete horas e meia por sbado. As atividades dirias

    realizadas on-line distncia, num total de 15 (quinze) horas de atividades eram

    acompanhadas por Monitores de Turma responsveis permanentemente por cada

    uma delas, sendo tambm acompanhadas por um ou dois Monitores de Disciplina e

    um Supervisor.

  • 48

    A carga horria distncia sugeria que cada participante dedicasse no

    mnimo uma hora diria para a realizao das atividades, num total de quinze dias

    teis, perodo este, contendo atividades reflexivas sobre a prtica do gestor e

    definidas de acordo com o projeto do referido Curso de Especializao, dando

    oportunidade de reinventar suas aes e reconstruir suas prticas.

    Participaram desse curso quase que a totalidade dos Diretores de Escola e

    alguns Vice-diretores da rede pblica do Estado de So Paulo, como tambm,

    Dirigentes Regionais e Supervisores de Ensino, Assistentes Tcnico-Pedaggicos,

    os quais foram distribudos entre os dois campus da UNICAMP, o de So Paulo e o

    de Campinas de acordo com a proximidade de acesso de cada participante.

    Todos os gestores foram mobilizados numa verdadeira maratona de

    atividades on-line e presenciais, envolvendo toda a comunidade escolar e local, de

    cada Unidade de Ensino do gestor envolvido, atendendo Lei de Diretrizes e Bases

    da Educao Nacional, a qual diz ser funo do Estado capacitar seus profissionais.

    As aulas tericas, oficinas e atividades complementares do Curso de Gesto

    Educacional foram desenvolvidas sob a gide de uma equipe de doutores do quadro

    de docentes da FE-UNICAMP, integrantes da Equipe de Coordenao,

    assessorados por pesquisadores dos Grupos de Pesquisa e por estudantes do

    Programa de Ps-Graduao da mesma Instituio, com titulao mnima de mestre.

    A Equipe de Coordenao indicou cada Coordenador de Disciplina, o qual,

    consequentemente ficou responsvel por todas as atividades presenciais e

    distncia de cada uma das disciplinas.

    Logo no incio do curso, os Coordenadores Executivos enviaram uma

    mensagem de boas vindas, aos alunos gestores participantes do mesmo,

    demonstrando cincia da enorme responsabilidade que enfrentavam e do desafio de

    oferecerem a todos, um Curso de Especializao em Gesto Educacional, em nvel

    de ps-graduao com seis mil vagas.

    Os coordenadores da UNICAMP afirmaram que o desafio s lhes pareceu

    possvel e aceitvel, ao pensarem que, alm da oportunidade nica em

    compartilharem os seus saberes, os seus resultados de pesquisa e suas

    experincias, teriam tambm, a oportunidade de compartilhar dvidas, apreenses e

    incertezas.

    Declararam no oferecer propostas mgicas, para soluo de problemas que

    ultrapassavam em muito o universo escolar, mas, que se propunham a refletir, a

  • 49

    estudar, criar, elaborar e discutir um curso de ps-graduao cuja perspectiva

    estaria assentada na reflexo conjunta e no dilogo com autores de diversas linhas

    de pensamento e de reas correlatas educao.

    3.5 A Organizao do Curso

    O curso de Ps-Graduao com Especializao em Gesto Educacional foi

    montado num total de doze mdulos, mais um destinado realizao do Trabalho

    de Concluso de Curso TCC, no necessariamente seguindo a mesma ordem em

    todas as turmas, mas, com revezamento entre elas e os docentes da FE

    UNICAMP.

    A distribuio dos mdulos, das disciplinas e das correspondentes Cargas

    Horrias, ocorreu da seguinte maneira:

    Quadro 1 Mdulos, Disciplinas e Carga Horria

    Mdulos Disciplina Carga Horria

    M01 Gesto Escolar 30

    M02 M03 Planejamento e Avaliao 60

    M04 Estado, Polticas Pblicas e Educao 30

    M05M06 Gesto, Currculo e Cultura 60

    M07 Relaes de Trabalho e Profisso Docente 30

    M08 Tecnologias de Informao e Comunicao 30

    M09 Escola, Gesto e Cultura 30

    M10 O Cotidiano da Escola 30

    M11 Gesto Escolar: Abordagem Histrica 30

    M12 A Escola e a Educao Comunitria 30

    M00 Trabalho de Concluso de Curso 30

    Total da Carga Horria 390 horas

    Fonte: Ambiente TelEduc Fig. 1 - Quadro alterado pelo autor

  • 50

    3.5.1 Materiais Didticos Utilizados no Curso

    Para que os mdulos fossem ministrados aos alunos gestores foram

    distribudos aos mesmos, uma coleo de livros em trs volumes, com o ttulo

    Estudo, Pensamento e Criao, os quais serviriam de apoio durante todo o curso,

    complementados por leituras divididas em dois grupos: obrigatrias e

    complementares, ambas disponibilizadas no TelEduc28, o qual vem melhor

    detalhado no prximo subitem deste captulo.

    Tambm foram encaminhados aos alunos, periodicamente, quatro CDs com

    aulas virtuais gravadas por professores, para os mesmos assistirem, fornecendo

    subsdios para poderem realizar as atividades on-line, contendo os trs primeiros,

    contedos programticos e o quarto, especificamente direcionado s orientaes do

    TCC29.

    Alm de todo este material, foi enviado um livro extra, para melhor embasar e

    dar sustentao ao Mdulo 12 A Escola e a Educao Comunitria, ltimo mdulo

    a ser estudado neste curso, intitulado Bairro-Escola: uma nova geografia do

    aprendizado - a tecnologia da Cidade Escola Aprendiz para integrar escola e

    comunidade.

    A coleo de livros, como j afirmado, em nmero de trs volumes, trouxe

    uma coletnea de textos escritos exclusivamente para este programa de ps-

    graduao, com o adicionamento de alguns artigos j publicados e selecionados

    pelos organizadores, unicamente para esse fim.

    Bittencourt (2005)30 afirmou que a coleo ofereceu uma coletnea de textos