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UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO FCFFEAFSP
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Interunidades em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada ndash PRONUT
EDNA HELENA DA SILVA MACHADO
Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008
Tese para obtenccedilatildeo do grau de
Doutor
Orientador Profordf Drordf Ceacutelia Colli
Satildeo Paulo
2011
UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO FCFFEAFSP
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Interunidades em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada ndash PRONUT
EDNA HELENA DA SILVA MACHADO
Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008
Tese para obtenccedilatildeo do grau de
Doutor
Orientador Profordf Drordf Ceacutelia Colli
Satildeo Paulo
2011
Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na sua
forma impressa como eletrocircnica Sua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida
exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que na reproduccedilatildeo
figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da tesedissertaccedilatildeo
Ficha Catalograacutefica
Elaborada pela Divisatildeo de Biblioteca e
Documentaccedilatildeo do Conjunto das Quiacutemicas da USP
Machado Edna Helena da Silva
M149a Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da regiatildeo administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008 Edna Helena da Silva Machado -- Satildeo Paulo 2011
71p Tese (doutorado) ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da USP Faculdade de Economia Administraccedilatildeo e Contabilidade da USP Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da USP Curso Interunidades em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada
Orientador Colli Ceacutelia 1 Ferro Carecircncia Medicina 2 Anemia 3 Nutriccedilatildeo Gestaccedilatildeo Ciecircncia dos
alimentos 4 Poliacutetica de sauacutede I T II Colli Ceacutelia orientador 6411 CDD
EDNA HELENA DA SILVA MACHADO
Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008
Comissatildeo Julgadora da Tese para obtenccedilatildeo do grau de Doutor
_______________________________________________
Profa Dra Ceacutelia Colli
OrientadoraPresidente
_______________________________________________
1ordm examinador
_______________________________________________
2ordm examinador
_______________________________________________
3ordm examinador
_______________________________________________
4ordm examinador
Satildeo Paulo _______ de ______________ de 2011
Dedico este trabalho
A meus pais Joseacute (in memorian) e Helena e a meus queridos irmatildeos pela motivaccedilatildeo compreensatildeo e
forccedila com que sempre me acompanharam
a meus filhos Daniel e Clarissa e a meu genro Marcelo que propiciam alegrias agrave minha vida
e a todas as gestantes que em seu ventre nutrem e aconchegam seus filhos
AGRADECIMENTOS
Agrave minha orientadora Professora Ceacutelia Colli pela competecircncia e seriedade com
que me transmitiu seus conhecimentos Pela dedicaccedilatildeo e paciecircncia na orientaccedilatildeo
desse trabalho de notaacutevel rigor teoacuterico e metodoloacutegico fundamental a sua
referecircncia como professora e pesquisadora
Agrave Professora Sophia Cornbluth Szarfarc por sua capacidade de despertar nas
pessoas a vontade de fazer pesquisa
Ao Professor Joseacute Maria Pacheco de Souza por prontamente concordar em
desenvolver a anaacutelise estatiacutestica de meu trabalho apresentando sugestotildees cuja
pertinecircncia contribuiu para a construccedilatildeo e finalizaccedilatildeo desta tese ldquoGrande
mestrerdquo Meu muitiacutessimo obrigado
Agraves Professoras Flaacutevia Mori Elizabeth Fujimori e Josefina Braga cujas valiosas
criacuteticas no exame de qualificaccedilatildeo trouxeram consistecircncia ao desenvolvimento
desta pesquisa
Ao PRONUT seus professores e funcionaacuterios em especial ao Jorge de Lima e agrave
Elaine Ychico
Agraves estagiaacuterias Fernanda Holanda Fernanda Lima Ariane Renata Cristina
Andreacutea e Acircngela Pacheco Mariana Figueiredo pela colaboraccedilatildeo no resgate das
informaccedilotildees dos prontuaacuterios e em outros momentos
Agrave Cristiane Hermes Sales Cassiana Ganem Vivianne Rocha Fernanda Brunacci
Alexandre Lobo Laila Sangaletti Isabel Giannichi Jessica Silva Eduardo
Gaievsky grupo do laboratoacuterio de Nutriccedilatildeo Bloco 14 o meu carinho
Agrave Coordenadora Regional de Sauacutede Centro Oeste Dra Maacutercia Gadargi e sua
assessoria por acreditar em minhas potencialidades oportunidade de
compartilhar com as atividades na Coordenadoria
Agraves supervisoras do Butantatilde gestoras das UBS e demais funcionaacuterios por
acreditarem no projeto e pelo auxiacutelio prestado durante sua implantaccedilatildeo
Ao Evaldo Kuniyoshi que me ensinou o caminho para a pesquisa em unidades de
sauacutede
Agrave Lucia Morita e demais funcionaacuterios do Laboratoacuterio Lapa pela presteza em
muitos momentos
Aos amigos e colegas do CEInfo e CRSCO Adriana Barbosa Ana Uliana Branca
Vaidergorn Denise Barbuscia Draacuteusio Camarnado Jr Eliana Bonilha Evani
Marzagatildeo Generosa Pereira Issa Mercadante Ivani dos Santos Joseacute Otaacutevio
Cunha Lanise Silva Mafalda Hemmann Marci Vescio Maacutercia Aoki Maacutercia
Borner Maria Teresa Suraacutenyi Maria Aparecida Lucarelli Michelli Lombardi
Regina Sanches Rita Labella Selma Banzato e Sheila Busato
A todos os amigos dos quais subtraiacute minha companhia Clarice Kato Denise
Venturi Elaine Rizzo Eliana Torresi Elisa Eloisa Silva Fava Glacilda Pedroso
Inecircs Endo Inecircs Lancarote Inecircs Endo Leila Bonadio Luacutecia Pacheco Luacutecia Ueno
Madalena Ferreira Maacutercia Farias Maria Carmen Carvalho Mello Marcos Vieira
Mocircnica Krauter Nadir Lopes Neder Valdeci Cantanhede Vera Figueiredo Vera
Perdigatildeo e em especial Solange Mandelli
ldquoHaacute quem diga que todas as noites satildeo de sonhos Mas haacute tambeacutem quem garanta que nem todas soacute as de veratildeo
Mas no fundo isso natildeo tem muita importacircncia O que interessa mesmo natildeo satildeo as noites em si satildeo os sonhos
Sonhos que o homem sonha sempre Em todos os lugares em todas as eacutepocas do ano dormindo ou
acordadordquo
Shakespeare
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO FCFFEAFSP
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Interunidades em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada ndash PRONUT
EDNA HELENA DA SILVA MACHADO
Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008
Tese para obtenccedilatildeo do grau de
Doutor
Orientador Profordf Drordf Ceacutelia Colli
Satildeo Paulo
2011
Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na sua
forma impressa como eletrocircnica Sua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida
exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que na reproduccedilatildeo
figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da tesedissertaccedilatildeo
Ficha Catalograacutefica
Elaborada pela Divisatildeo de Biblioteca e
Documentaccedilatildeo do Conjunto das Quiacutemicas da USP
Machado Edna Helena da Silva
M149a Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da regiatildeo administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008 Edna Helena da Silva Machado -- Satildeo Paulo 2011
71p Tese (doutorado) ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da USP Faculdade de Economia Administraccedilatildeo e Contabilidade da USP Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da USP Curso Interunidades em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada
Orientador Colli Ceacutelia 1 Ferro Carecircncia Medicina 2 Anemia 3 Nutriccedilatildeo Gestaccedilatildeo Ciecircncia dos
alimentos 4 Poliacutetica de sauacutede I T II Colli Ceacutelia orientador 6411 CDD
EDNA HELENA DA SILVA MACHADO
Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008
Comissatildeo Julgadora da Tese para obtenccedilatildeo do grau de Doutor
_______________________________________________
Profa Dra Ceacutelia Colli
OrientadoraPresidente
_______________________________________________
1ordm examinador
_______________________________________________
2ordm examinador
_______________________________________________
3ordm examinador
_______________________________________________
4ordm examinador
Satildeo Paulo _______ de ______________ de 2011
Dedico este trabalho
A meus pais Joseacute (in memorian) e Helena e a meus queridos irmatildeos pela motivaccedilatildeo compreensatildeo e
forccedila com que sempre me acompanharam
a meus filhos Daniel e Clarissa e a meu genro Marcelo que propiciam alegrias agrave minha vida
e a todas as gestantes que em seu ventre nutrem e aconchegam seus filhos
AGRADECIMENTOS
Agrave minha orientadora Professora Ceacutelia Colli pela competecircncia e seriedade com
que me transmitiu seus conhecimentos Pela dedicaccedilatildeo e paciecircncia na orientaccedilatildeo
desse trabalho de notaacutevel rigor teoacuterico e metodoloacutegico fundamental a sua
referecircncia como professora e pesquisadora
Agrave Professora Sophia Cornbluth Szarfarc por sua capacidade de despertar nas
pessoas a vontade de fazer pesquisa
Ao Professor Joseacute Maria Pacheco de Souza por prontamente concordar em
desenvolver a anaacutelise estatiacutestica de meu trabalho apresentando sugestotildees cuja
pertinecircncia contribuiu para a construccedilatildeo e finalizaccedilatildeo desta tese ldquoGrande
mestrerdquo Meu muitiacutessimo obrigado
Agraves Professoras Flaacutevia Mori Elizabeth Fujimori e Josefina Braga cujas valiosas
criacuteticas no exame de qualificaccedilatildeo trouxeram consistecircncia ao desenvolvimento
desta pesquisa
Ao PRONUT seus professores e funcionaacuterios em especial ao Jorge de Lima e agrave
Elaine Ychico
Agraves estagiaacuterias Fernanda Holanda Fernanda Lima Ariane Renata Cristina
Andreacutea e Acircngela Pacheco Mariana Figueiredo pela colaboraccedilatildeo no resgate das
informaccedilotildees dos prontuaacuterios e em outros momentos
Agrave Cristiane Hermes Sales Cassiana Ganem Vivianne Rocha Fernanda Brunacci
Alexandre Lobo Laila Sangaletti Isabel Giannichi Jessica Silva Eduardo
Gaievsky grupo do laboratoacuterio de Nutriccedilatildeo Bloco 14 o meu carinho
Agrave Coordenadora Regional de Sauacutede Centro Oeste Dra Maacutercia Gadargi e sua
assessoria por acreditar em minhas potencialidades oportunidade de
compartilhar com as atividades na Coordenadoria
Agraves supervisoras do Butantatilde gestoras das UBS e demais funcionaacuterios por
acreditarem no projeto e pelo auxiacutelio prestado durante sua implantaccedilatildeo
Ao Evaldo Kuniyoshi que me ensinou o caminho para a pesquisa em unidades de
sauacutede
Agrave Lucia Morita e demais funcionaacuterios do Laboratoacuterio Lapa pela presteza em
muitos momentos
Aos amigos e colegas do CEInfo e CRSCO Adriana Barbosa Ana Uliana Branca
Vaidergorn Denise Barbuscia Draacuteusio Camarnado Jr Eliana Bonilha Evani
Marzagatildeo Generosa Pereira Issa Mercadante Ivani dos Santos Joseacute Otaacutevio
Cunha Lanise Silva Mafalda Hemmann Marci Vescio Maacutercia Aoki Maacutercia
Borner Maria Teresa Suraacutenyi Maria Aparecida Lucarelli Michelli Lombardi
Regina Sanches Rita Labella Selma Banzato e Sheila Busato
A todos os amigos dos quais subtraiacute minha companhia Clarice Kato Denise
Venturi Elaine Rizzo Eliana Torresi Elisa Eloisa Silva Fava Glacilda Pedroso
Inecircs Endo Inecircs Lancarote Inecircs Endo Leila Bonadio Luacutecia Pacheco Luacutecia Ueno
Madalena Ferreira Maacutercia Farias Maria Carmen Carvalho Mello Marcos Vieira
Mocircnica Krauter Nadir Lopes Neder Valdeci Cantanhede Vera Figueiredo Vera
Perdigatildeo e em especial Solange Mandelli
ldquoHaacute quem diga que todas as noites satildeo de sonhos Mas haacute tambeacutem quem garanta que nem todas soacute as de veratildeo
Mas no fundo isso natildeo tem muita importacircncia O que interessa mesmo natildeo satildeo as noites em si satildeo os sonhos
Sonhos que o homem sonha sempre Em todos os lugares em todas as eacutepocas do ano dormindo ou
acordadordquo
Shakespeare
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
59
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na sua
forma impressa como eletrocircnica Sua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida
exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que na reproduccedilatildeo
figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da tesedissertaccedilatildeo
Ficha Catalograacutefica
Elaborada pela Divisatildeo de Biblioteca e
Documentaccedilatildeo do Conjunto das Quiacutemicas da USP
Machado Edna Helena da Silva
M149a Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da regiatildeo administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008 Edna Helena da Silva Machado -- Satildeo Paulo 2011
71p Tese (doutorado) ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da USP Faculdade de Economia Administraccedilatildeo e Contabilidade da USP Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da USP Curso Interunidades em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada
Orientador Colli Ceacutelia 1 Ferro Carecircncia Medicina 2 Anemia 3 Nutriccedilatildeo Gestaccedilatildeo Ciecircncia dos
alimentos 4 Poliacutetica de sauacutede I T II Colli Ceacutelia orientador 6411 CDD
EDNA HELENA DA SILVA MACHADO
Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008
Comissatildeo Julgadora da Tese para obtenccedilatildeo do grau de Doutor
_______________________________________________
Profa Dra Ceacutelia Colli
OrientadoraPresidente
_______________________________________________
1ordm examinador
_______________________________________________
2ordm examinador
_______________________________________________
3ordm examinador
_______________________________________________
4ordm examinador
Satildeo Paulo _______ de ______________ de 2011
Dedico este trabalho
A meus pais Joseacute (in memorian) e Helena e a meus queridos irmatildeos pela motivaccedilatildeo compreensatildeo e
forccedila com que sempre me acompanharam
a meus filhos Daniel e Clarissa e a meu genro Marcelo que propiciam alegrias agrave minha vida
e a todas as gestantes que em seu ventre nutrem e aconchegam seus filhos
AGRADECIMENTOS
Agrave minha orientadora Professora Ceacutelia Colli pela competecircncia e seriedade com
que me transmitiu seus conhecimentos Pela dedicaccedilatildeo e paciecircncia na orientaccedilatildeo
desse trabalho de notaacutevel rigor teoacuterico e metodoloacutegico fundamental a sua
referecircncia como professora e pesquisadora
Agrave Professora Sophia Cornbluth Szarfarc por sua capacidade de despertar nas
pessoas a vontade de fazer pesquisa
Ao Professor Joseacute Maria Pacheco de Souza por prontamente concordar em
desenvolver a anaacutelise estatiacutestica de meu trabalho apresentando sugestotildees cuja
pertinecircncia contribuiu para a construccedilatildeo e finalizaccedilatildeo desta tese ldquoGrande
mestrerdquo Meu muitiacutessimo obrigado
Agraves Professoras Flaacutevia Mori Elizabeth Fujimori e Josefina Braga cujas valiosas
criacuteticas no exame de qualificaccedilatildeo trouxeram consistecircncia ao desenvolvimento
desta pesquisa
Ao PRONUT seus professores e funcionaacuterios em especial ao Jorge de Lima e agrave
Elaine Ychico
Agraves estagiaacuterias Fernanda Holanda Fernanda Lima Ariane Renata Cristina
Andreacutea e Acircngela Pacheco Mariana Figueiredo pela colaboraccedilatildeo no resgate das
informaccedilotildees dos prontuaacuterios e em outros momentos
Agrave Cristiane Hermes Sales Cassiana Ganem Vivianne Rocha Fernanda Brunacci
Alexandre Lobo Laila Sangaletti Isabel Giannichi Jessica Silva Eduardo
Gaievsky grupo do laboratoacuterio de Nutriccedilatildeo Bloco 14 o meu carinho
Agrave Coordenadora Regional de Sauacutede Centro Oeste Dra Maacutercia Gadargi e sua
assessoria por acreditar em minhas potencialidades oportunidade de
compartilhar com as atividades na Coordenadoria
Agraves supervisoras do Butantatilde gestoras das UBS e demais funcionaacuterios por
acreditarem no projeto e pelo auxiacutelio prestado durante sua implantaccedilatildeo
Ao Evaldo Kuniyoshi que me ensinou o caminho para a pesquisa em unidades de
sauacutede
Agrave Lucia Morita e demais funcionaacuterios do Laboratoacuterio Lapa pela presteza em
muitos momentos
Aos amigos e colegas do CEInfo e CRSCO Adriana Barbosa Ana Uliana Branca
Vaidergorn Denise Barbuscia Draacuteusio Camarnado Jr Eliana Bonilha Evani
Marzagatildeo Generosa Pereira Issa Mercadante Ivani dos Santos Joseacute Otaacutevio
Cunha Lanise Silva Mafalda Hemmann Marci Vescio Maacutercia Aoki Maacutercia
Borner Maria Teresa Suraacutenyi Maria Aparecida Lucarelli Michelli Lombardi
Regina Sanches Rita Labella Selma Banzato e Sheila Busato
A todos os amigos dos quais subtraiacute minha companhia Clarice Kato Denise
Venturi Elaine Rizzo Eliana Torresi Elisa Eloisa Silva Fava Glacilda Pedroso
Inecircs Endo Inecircs Lancarote Inecircs Endo Leila Bonadio Luacutecia Pacheco Luacutecia Ueno
Madalena Ferreira Maacutercia Farias Maria Carmen Carvalho Mello Marcos Vieira
Mocircnica Krauter Nadir Lopes Neder Valdeci Cantanhede Vera Figueiredo Vera
Perdigatildeo e em especial Solange Mandelli
ldquoHaacute quem diga que todas as noites satildeo de sonhos Mas haacute tambeacutem quem garanta que nem todas soacute as de veratildeo
Mas no fundo isso natildeo tem muita importacircncia O que interessa mesmo natildeo satildeo as noites em si satildeo os sonhos
Sonhos que o homem sonha sempre Em todos os lugares em todas as eacutepocas do ano dormindo ou
acordadordquo
Shakespeare
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
EDNA HELENA DA SILVA MACHADO
Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do Butantatilde municiacutepio de Satildeo Paulo em 2006 e 2008
Comissatildeo Julgadora da Tese para obtenccedilatildeo do grau de Doutor
_______________________________________________
Profa Dra Ceacutelia Colli
OrientadoraPresidente
_______________________________________________
1ordm examinador
_______________________________________________
2ordm examinador
_______________________________________________
3ordm examinador
_______________________________________________
4ordm examinador
Satildeo Paulo _______ de ______________ de 2011
Dedico este trabalho
A meus pais Joseacute (in memorian) e Helena e a meus queridos irmatildeos pela motivaccedilatildeo compreensatildeo e
forccedila com que sempre me acompanharam
a meus filhos Daniel e Clarissa e a meu genro Marcelo que propiciam alegrias agrave minha vida
e a todas as gestantes que em seu ventre nutrem e aconchegam seus filhos
AGRADECIMENTOS
Agrave minha orientadora Professora Ceacutelia Colli pela competecircncia e seriedade com
que me transmitiu seus conhecimentos Pela dedicaccedilatildeo e paciecircncia na orientaccedilatildeo
desse trabalho de notaacutevel rigor teoacuterico e metodoloacutegico fundamental a sua
referecircncia como professora e pesquisadora
Agrave Professora Sophia Cornbluth Szarfarc por sua capacidade de despertar nas
pessoas a vontade de fazer pesquisa
Ao Professor Joseacute Maria Pacheco de Souza por prontamente concordar em
desenvolver a anaacutelise estatiacutestica de meu trabalho apresentando sugestotildees cuja
pertinecircncia contribuiu para a construccedilatildeo e finalizaccedilatildeo desta tese ldquoGrande
mestrerdquo Meu muitiacutessimo obrigado
Agraves Professoras Flaacutevia Mori Elizabeth Fujimori e Josefina Braga cujas valiosas
criacuteticas no exame de qualificaccedilatildeo trouxeram consistecircncia ao desenvolvimento
desta pesquisa
Ao PRONUT seus professores e funcionaacuterios em especial ao Jorge de Lima e agrave
Elaine Ychico
Agraves estagiaacuterias Fernanda Holanda Fernanda Lima Ariane Renata Cristina
Andreacutea e Acircngela Pacheco Mariana Figueiredo pela colaboraccedilatildeo no resgate das
informaccedilotildees dos prontuaacuterios e em outros momentos
Agrave Cristiane Hermes Sales Cassiana Ganem Vivianne Rocha Fernanda Brunacci
Alexandre Lobo Laila Sangaletti Isabel Giannichi Jessica Silva Eduardo
Gaievsky grupo do laboratoacuterio de Nutriccedilatildeo Bloco 14 o meu carinho
Agrave Coordenadora Regional de Sauacutede Centro Oeste Dra Maacutercia Gadargi e sua
assessoria por acreditar em minhas potencialidades oportunidade de
compartilhar com as atividades na Coordenadoria
Agraves supervisoras do Butantatilde gestoras das UBS e demais funcionaacuterios por
acreditarem no projeto e pelo auxiacutelio prestado durante sua implantaccedilatildeo
Ao Evaldo Kuniyoshi que me ensinou o caminho para a pesquisa em unidades de
sauacutede
Agrave Lucia Morita e demais funcionaacuterios do Laboratoacuterio Lapa pela presteza em
muitos momentos
Aos amigos e colegas do CEInfo e CRSCO Adriana Barbosa Ana Uliana Branca
Vaidergorn Denise Barbuscia Draacuteusio Camarnado Jr Eliana Bonilha Evani
Marzagatildeo Generosa Pereira Issa Mercadante Ivani dos Santos Joseacute Otaacutevio
Cunha Lanise Silva Mafalda Hemmann Marci Vescio Maacutercia Aoki Maacutercia
Borner Maria Teresa Suraacutenyi Maria Aparecida Lucarelli Michelli Lombardi
Regina Sanches Rita Labella Selma Banzato e Sheila Busato
A todos os amigos dos quais subtraiacute minha companhia Clarice Kato Denise
Venturi Elaine Rizzo Eliana Torresi Elisa Eloisa Silva Fava Glacilda Pedroso
Inecircs Endo Inecircs Lancarote Inecircs Endo Leila Bonadio Luacutecia Pacheco Luacutecia Ueno
Madalena Ferreira Maacutercia Farias Maria Carmen Carvalho Mello Marcos Vieira
Mocircnica Krauter Nadir Lopes Neder Valdeci Cantanhede Vera Figueiredo Vera
Perdigatildeo e em especial Solange Mandelli
ldquoHaacute quem diga que todas as noites satildeo de sonhos Mas haacute tambeacutem quem garanta que nem todas soacute as de veratildeo
Mas no fundo isso natildeo tem muita importacircncia O que interessa mesmo natildeo satildeo as noites em si satildeo os sonhos
Sonhos que o homem sonha sempre Em todos os lugares em todas as eacutepocas do ano dormindo ou
acordadordquo
Shakespeare
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Dedico este trabalho
A meus pais Joseacute (in memorian) e Helena e a meus queridos irmatildeos pela motivaccedilatildeo compreensatildeo e
forccedila com que sempre me acompanharam
a meus filhos Daniel e Clarissa e a meu genro Marcelo que propiciam alegrias agrave minha vida
e a todas as gestantes que em seu ventre nutrem e aconchegam seus filhos
AGRADECIMENTOS
Agrave minha orientadora Professora Ceacutelia Colli pela competecircncia e seriedade com
que me transmitiu seus conhecimentos Pela dedicaccedilatildeo e paciecircncia na orientaccedilatildeo
desse trabalho de notaacutevel rigor teoacuterico e metodoloacutegico fundamental a sua
referecircncia como professora e pesquisadora
Agrave Professora Sophia Cornbluth Szarfarc por sua capacidade de despertar nas
pessoas a vontade de fazer pesquisa
Ao Professor Joseacute Maria Pacheco de Souza por prontamente concordar em
desenvolver a anaacutelise estatiacutestica de meu trabalho apresentando sugestotildees cuja
pertinecircncia contribuiu para a construccedilatildeo e finalizaccedilatildeo desta tese ldquoGrande
mestrerdquo Meu muitiacutessimo obrigado
Agraves Professoras Flaacutevia Mori Elizabeth Fujimori e Josefina Braga cujas valiosas
criacuteticas no exame de qualificaccedilatildeo trouxeram consistecircncia ao desenvolvimento
desta pesquisa
Ao PRONUT seus professores e funcionaacuterios em especial ao Jorge de Lima e agrave
Elaine Ychico
Agraves estagiaacuterias Fernanda Holanda Fernanda Lima Ariane Renata Cristina
Andreacutea e Acircngela Pacheco Mariana Figueiredo pela colaboraccedilatildeo no resgate das
informaccedilotildees dos prontuaacuterios e em outros momentos
Agrave Cristiane Hermes Sales Cassiana Ganem Vivianne Rocha Fernanda Brunacci
Alexandre Lobo Laila Sangaletti Isabel Giannichi Jessica Silva Eduardo
Gaievsky grupo do laboratoacuterio de Nutriccedilatildeo Bloco 14 o meu carinho
Agrave Coordenadora Regional de Sauacutede Centro Oeste Dra Maacutercia Gadargi e sua
assessoria por acreditar em minhas potencialidades oportunidade de
compartilhar com as atividades na Coordenadoria
Agraves supervisoras do Butantatilde gestoras das UBS e demais funcionaacuterios por
acreditarem no projeto e pelo auxiacutelio prestado durante sua implantaccedilatildeo
Ao Evaldo Kuniyoshi que me ensinou o caminho para a pesquisa em unidades de
sauacutede
Agrave Lucia Morita e demais funcionaacuterios do Laboratoacuterio Lapa pela presteza em
muitos momentos
Aos amigos e colegas do CEInfo e CRSCO Adriana Barbosa Ana Uliana Branca
Vaidergorn Denise Barbuscia Draacuteusio Camarnado Jr Eliana Bonilha Evani
Marzagatildeo Generosa Pereira Issa Mercadante Ivani dos Santos Joseacute Otaacutevio
Cunha Lanise Silva Mafalda Hemmann Marci Vescio Maacutercia Aoki Maacutercia
Borner Maria Teresa Suraacutenyi Maria Aparecida Lucarelli Michelli Lombardi
Regina Sanches Rita Labella Selma Banzato e Sheila Busato
A todos os amigos dos quais subtraiacute minha companhia Clarice Kato Denise
Venturi Elaine Rizzo Eliana Torresi Elisa Eloisa Silva Fava Glacilda Pedroso
Inecircs Endo Inecircs Lancarote Inecircs Endo Leila Bonadio Luacutecia Pacheco Luacutecia Ueno
Madalena Ferreira Maacutercia Farias Maria Carmen Carvalho Mello Marcos Vieira
Mocircnica Krauter Nadir Lopes Neder Valdeci Cantanhede Vera Figueiredo Vera
Perdigatildeo e em especial Solange Mandelli
ldquoHaacute quem diga que todas as noites satildeo de sonhos Mas haacute tambeacutem quem garanta que nem todas soacute as de veratildeo
Mas no fundo isso natildeo tem muita importacircncia O que interessa mesmo natildeo satildeo as noites em si satildeo os sonhos
Sonhos que o homem sonha sempre Em todos os lugares em todas as eacutepocas do ano dormindo ou
acordadordquo
Shakespeare
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Sato APS Anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de preacute-natal das
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ferro [Dissertaccedilatildeo de Mestrado] Satildeo Paulo Escola de Enfermagem da
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Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
AGRADECIMENTOS
Agrave minha orientadora Professora Ceacutelia Colli pela competecircncia e seriedade com
que me transmitiu seus conhecimentos Pela dedicaccedilatildeo e paciecircncia na orientaccedilatildeo
desse trabalho de notaacutevel rigor teoacuterico e metodoloacutegico fundamental a sua
referecircncia como professora e pesquisadora
Agrave Professora Sophia Cornbluth Szarfarc por sua capacidade de despertar nas
pessoas a vontade de fazer pesquisa
Ao Professor Joseacute Maria Pacheco de Souza por prontamente concordar em
desenvolver a anaacutelise estatiacutestica de meu trabalho apresentando sugestotildees cuja
pertinecircncia contribuiu para a construccedilatildeo e finalizaccedilatildeo desta tese ldquoGrande
mestrerdquo Meu muitiacutessimo obrigado
Agraves Professoras Flaacutevia Mori Elizabeth Fujimori e Josefina Braga cujas valiosas
criacuteticas no exame de qualificaccedilatildeo trouxeram consistecircncia ao desenvolvimento
desta pesquisa
Ao PRONUT seus professores e funcionaacuterios em especial ao Jorge de Lima e agrave
Elaine Ychico
Agraves estagiaacuterias Fernanda Holanda Fernanda Lima Ariane Renata Cristina
Andreacutea e Acircngela Pacheco Mariana Figueiredo pela colaboraccedilatildeo no resgate das
informaccedilotildees dos prontuaacuterios e em outros momentos
Agrave Cristiane Hermes Sales Cassiana Ganem Vivianne Rocha Fernanda Brunacci
Alexandre Lobo Laila Sangaletti Isabel Giannichi Jessica Silva Eduardo
Gaievsky grupo do laboratoacuterio de Nutriccedilatildeo Bloco 14 o meu carinho
Agrave Coordenadora Regional de Sauacutede Centro Oeste Dra Maacutercia Gadargi e sua
assessoria por acreditar em minhas potencialidades oportunidade de
compartilhar com as atividades na Coordenadoria
Agraves supervisoras do Butantatilde gestoras das UBS e demais funcionaacuterios por
acreditarem no projeto e pelo auxiacutelio prestado durante sua implantaccedilatildeo
Ao Evaldo Kuniyoshi que me ensinou o caminho para a pesquisa em unidades de
sauacutede
Agrave Lucia Morita e demais funcionaacuterios do Laboratoacuterio Lapa pela presteza em
muitos momentos
Aos amigos e colegas do CEInfo e CRSCO Adriana Barbosa Ana Uliana Branca
Vaidergorn Denise Barbuscia Draacuteusio Camarnado Jr Eliana Bonilha Evani
Marzagatildeo Generosa Pereira Issa Mercadante Ivani dos Santos Joseacute Otaacutevio
Cunha Lanise Silva Mafalda Hemmann Marci Vescio Maacutercia Aoki Maacutercia
Borner Maria Teresa Suraacutenyi Maria Aparecida Lucarelli Michelli Lombardi
Regina Sanches Rita Labella Selma Banzato e Sheila Busato
A todos os amigos dos quais subtraiacute minha companhia Clarice Kato Denise
Venturi Elaine Rizzo Eliana Torresi Elisa Eloisa Silva Fava Glacilda Pedroso
Inecircs Endo Inecircs Lancarote Inecircs Endo Leila Bonadio Luacutecia Pacheco Luacutecia Ueno
Madalena Ferreira Maacutercia Farias Maria Carmen Carvalho Mello Marcos Vieira
Mocircnica Krauter Nadir Lopes Neder Valdeci Cantanhede Vera Figueiredo Vera
Perdigatildeo e em especial Solange Mandelli
ldquoHaacute quem diga que todas as noites satildeo de sonhos Mas haacute tambeacutem quem garanta que nem todas soacute as de veratildeo
Mas no fundo isso natildeo tem muita importacircncia O que interessa mesmo natildeo satildeo as noites em si satildeo os sonhos
Sonhos que o homem sonha sempre Em todos os lugares em todas as eacutepocas do ano dormindo ou
acordadordquo
Shakespeare
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Agraves supervisoras do Butantatilde gestoras das UBS e demais funcionaacuterios por
acreditarem no projeto e pelo auxiacutelio prestado durante sua implantaccedilatildeo
Ao Evaldo Kuniyoshi que me ensinou o caminho para a pesquisa em unidades de
sauacutede
Agrave Lucia Morita e demais funcionaacuterios do Laboratoacuterio Lapa pela presteza em
muitos momentos
Aos amigos e colegas do CEInfo e CRSCO Adriana Barbosa Ana Uliana Branca
Vaidergorn Denise Barbuscia Draacuteusio Camarnado Jr Eliana Bonilha Evani
Marzagatildeo Generosa Pereira Issa Mercadante Ivani dos Santos Joseacute Otaacutevio
Cunha Lanise Silva Mafalda Hemmann Marci Vescio Maacutercia Aoki Maacutercia
Borner Maria Teresa Suraacutenyi Maria Aparecida Lucarelli Michelli Lombardi
Regina Sanches Rita Labella Selma Banzato e Sheila Busato
A todos os amigos dos quais subtraiacute minha companhia Clarice Kato Denise
Venturi Elaine Rizzo Eliana Torresi Elisa Eloisa Silva Fava Glacilda Pedroso
Inecircs Endo Inecircs Lancarote Inecircs Endo Leila Bonadio Luacutecia Pacheco Luacutecia Ueno
Madalena Ferreira Maacutercia Farias Maria Carmen Carvalho Mello Marcos Vieira
Mocircnica Krauter Nadir Lopes Neder Valdeci Cantanhede Vera Figueiredo Vera
Perdigatildeo e em especial Solange Mandelli
ldquoHaacute quem diga que todas as noites satildeo de sonhos Mas haacute tambeacutem quem garanta que nem todas soacute as de veratildeo
Mas no fundo isso natildeo tem muita importacircncia O que interessa mesmo natildeo satildeo as noites em si satildeo os sonhos
Sonhos que o homem sonha sempre Em todos os lugares em todas as eacutepocas do ano dormindo ou
acordadordquo
Shakespeare
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
ldquoHaacute quem diga que todas as noites satildeo de sonhos Mas haacute tambeacutem quem garanta que nem todas soacute as de veratildeo
Mas no fundo isso natildeo tem muita importacircncia O que interessa mesmo natildeo satildeo as noites em si satildeo os sonhos
Sonhos que o homem sonha sempre Em todos os lugares em todas as eacutepocas do ano dormindo ou
acordadordquo
Shakespeare
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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59
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
ix
RESUMO
Machado EHS Anemia em gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regiatildeo Administrativa do Butantatilde do municiacutepio de Satildeo Paulo em
2006 e 2008 Satildeo Paulo 2011 Tese (Doutorado em Nutriccedilatildeo Humana Aplicada)
PRONUT ndash FCFFEAFSP Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
O presente estudo verificou a prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde-SP
Trata-se de estudo transversal com dados secundaacuterios de prontuaacuterios de 772
gestantes agrave primeira consulta do preacute-natal nos anos de 2006 (387) e de 2008
(385) Foram incluiacutedas no estudo as gestantes cujos prontuaacuterios apresentavam os
seguintes dados idade peso trimestre gestacional concentraccedilatildeo de
hemoglobina e RDW na primeira consulta de preacute-natal e ausecircncia de doenccedilas
crocircnicas De acordo com o estado nutricional preacute-gestacional observaram-se
maiores prevalecircncias de eutrofia (61 ) seguidas por 215 de sobrepeso e por
108 de obesidade A prevalecircncia de anemia foi de 100 em 2006 e de 88
em 2008 sem diferenccedila estatisticamente significativa entre os valores (p gt 005)
Como esperado a prevalecircncia aumentou com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo Em 2006
as meacutedias de Hb diminuiacuteram de 126 (10) gdL no I trimestre para 122 (11) gdL
no II trimestre e 115 (10) gdL no III trimestre gestacional Os valores foram
similares no ano de 2008 A distribuiccedilatildeo das meacutedias de Hb e RDW nos dois anos
natildeo mostrou diferenccedilas estatiacutesticas significativas (p gt 005) As gestantes que
estavam no II trimestre apresentaram risco de anisocitose maior em 41 quando
comparadas agraves que fizeram sua primeira consulta no primeiro trimestre Esse
niacutevel de prevalecircncia de anemia eacute classificado como associado a um risco
populacional leve segundo a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
Palavras-chave anemia carecircncia de ferro gestaccedilatildeo poliacutetica de sauacutede
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
59
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
x
ABSTRACT
Machado EHS Anemia in pregnant women assisted at Health Basic Units
of Butantatilde Administrative Region city of Satildeo Paulo in 2006 and 2008 Satildeo
Paulo 2011 Dissertation (Doutorrsquos Degree in Applied Human Nutrition) PRONUT
ndash FCFFEAFSP University of Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2011
The present study verified the prevalence of anemia among pregnant women
assisted in 13 Health Basic Units of the Health Technical Supervision in Butantatilde-
SP This is a cross-sectional study with secondary data from medical charts of 772
pregnant women upon the first prenatal visit to the doctor in 2006 (387 women)
and 2008 (385 women) The study included pregnant women whose medical
charts contained the following data age weight gestational quarter hemoglobin
concentration and RDW upon the first prenatal visit and lack of chronic diseases
According to the gestational nutritional status the largest prevalence of eutrophic
women (61 ) was observed followed by 215 overweight and 108 obese
The prevalence of anemia was 100 in 2006 and 88 in 2008 with no
statistically significant difference between the values (p gt 005) As expected the
prevalence increased with the evolution of gestation In 2006 the mean Hb values
decreased from 126 (10) gdL in the first quarter to 122 (11) gdL in the second
quarter and 115 (10) gdL in the third quarter of pregnancy The values were
similar in 2008 The mean Hb distribution and RDW in both years showed no
statistically significant differences (p gt 005) The pregnant women who were in the
second quarter of pregnancy showed a 41 larger risk of anisocytosis when
compared to the ones who attended the first medical visit in the first quarter of
pregnancy This level of prevalence for anemia is classified as associated to a
slight risk for the population according to the World Health Organization
Keywords anemia iron deficiency gestation health policy
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
59
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma do estudo 36
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 43
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008 46
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
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A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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59
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia em gestantes e accedilotildees recomendadas 17
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010 23
Quadro 3 - Custo econocircmico de exames indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica de ferro 28
Quadro 4 - Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano 34
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 41
Tabela 2 - Classificaccedilatildeo antropomeacutetrica de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 42
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008 43
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 44
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 45
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 47
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008 48
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CGPAN Coordenaccedilatildeo Geral da Poliacutetica de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
Fe Ferro
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Meacutedia
Ht Hematoacutecrito
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IMC Iacutendice de Massa Corporal
INACG International Nutritional Anemia Consultative Group
INAN Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo
ISA Inqueacuterito de Sauacutede ndash Capital 2008
MS Ministeacuterio da Sauacutede
OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede
PAG Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante
PHPN Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-natal e Nascimento
PIB Produto Interno Bruto
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Sauacutede da Crianccedila e da Mulher
POF Pesquisa de Orccedilamentos Familiares
PPC Paridade do Poder de Compra
PSF Programa Sauacutede da Famiacutelia
RDW Red Cell Distribution Width (Amplitude da Dispersatildeo dos Tamanhos das Hemaacutecias)
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SEHAB Secretaria de Habitaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo
SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento
SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede
UBS Unidade Baacutesica de Sauacutede
VCM Volume Corpuscular Meacutedio
WHO Worth Health Organization
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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and anemia evaluation during pregnancy in the highlands of Tibet a hospital-
based study BMC Public Health 2009 9336
Zimmermann MB Zeder C Muthayya S Chaouki N Aeberli I Hurrell RF
Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 16
2 REVISAtildeO DA LITERATURA 17
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco 18
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro 21
23 Paracircmetros hematimeacutetricos 24
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro 28
3 OBJETIVOS 31
31 Geral 31
32 Especiacuteficos 31
4 MATERIAL E MEacuteTODO 32
41 Delineamento 32
42 Local do estudo e caracteriacutesticas 32
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede 32
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde 33
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano 33
424 Tamanho amostral 35
425 Atendimento de preacute-natal 37
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas 37
427 Dados antropomeacutetricos 38
428 Idade gestacional 38
429 Dados hematoloacutegicos 38
4210 Anaacutelise dos dados 39
4211 Aspectos eacuteticos 39
5 RESULTADOS 40
6 DISCUSSAtildeO 49
7 CONCLUSAtildeO 58
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 59
ANEXOS 69
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Introduccedilatildeo
16
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente estudo fez parte de um projeto maior intitulado ldquoConcentraccedilatildeo
de hemoglobina e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees
atendidos em Centros de Educaccedilatildeo Infantil do Municiacutepio de Satildeo Paulo
efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e milho fortificadas com ferrordquo que foi
ampliado para tambeacutem avaliar gestantes um dos grupos vulneraacuteveis indicadores
de anemia
A regiatildeo administrativa do Butantatilde foi escolhida por ter cerca de 465
de seus 377000 habitantes (2006) dependentes do Sistema Uacutenico de Sauacutede
Fazem assistecircncia de sauacutede a essa populaccedilatildeo o Hospital Universitaacuterio da
Faculdade de Medicina da USP o Centro de Sauacutede Escola Samuel Barnsley
Pessoa e treze Unidades Baacutesicas de Sauacutede cinco das quais incorporaram o
Programa de Sauacutede da Famiacutelia
Foram obtidos dados de concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW de 772
gestantes que em 2006 e 2008 frequentaram o Programa de Preacute-natal
Humanizado Esses dados obtidos agrave primeira consulta antes do iniacutecio da
suplementaccedilatildeo profilaacutetica com ferro e que tambeacutem refletem a situaccedilatildeo de anemia
da mulher em idade reprodutiva foram cotejados com idade peso e trimestre
gestacional Os resultados mostraram que natildeo haacute alteraccedilatildeo na prevalecircncia de
anemia nessa regiatildeo desde o ano de 2003 e que estaacute ao niacutevel de 10
considerado de risco leve pela Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS)
Esses resultados mostram que apesar de efetivamente implantada a
fortificaccedilatildeo de farinhas de trigo e milho com ferro pouco contribuiu para a reduccedilatildeo
da prevalecircncia da anemia em gestantes Uma das explicaccedilotildees pode ser o baixo
consumo do alimento agrave base de farinha de trigo fortificaccedilatildeo com ferro de baixa
biodisponibilidade nas farinhas Outra explicaccedilatildeo pode ser a presenccedila de outros
tipos de anemia que natildeo respondem agrave fortificaccedilatildeo com ferro
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
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Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
17
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
A anemia eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica global afetando
tanto paiacuteses desenvolvidos como em desenvolvimento com consequecircncias para
a sauacutede humana assim como para o desenvolvimento social e econocircmico
Estimativas da OMS apontam que a anemia afeta dois bilhotildees de pessoas no
mundo concentrando-se em mulheres em idade reprodutiva (30 ) gestantes
(418 ) e tambeacutem em lactentes (474 ) de paiacuteses em desenvolvimento A
Aacutefrica apresenta a maior prevalecircncia de anemia entre gestantes (558 ) seguida
pela Aacutesia (416 ) Ameacuterica Latina-Caribe (311 ) Oceania (304 ) Europa
(187 ) e Ameacuterica do Norte (61 ) (WORLD HEALTH ORGANIZATION ndash WHO
2007)
As gestantes representam um dos grupos mais vulneraacuteveis agrave deficiecircncia
do ferro devido agrave elevada necessidade desse mineral exigida pelo crescimento
acentuado dos tecidos para o desenvolvimento do feto da placenta e do cordatildeo
umbilical (SOUZA et al 2002)
Dada essa condiccedilatildeo as categorias de risco populacional para a anemia
tecircm como base a prevalecircncia desse distuacuterbio em gestantes (Quadro I)
Quadro 1 - Categoria de risco populacional segundo prevalecircncia de anemia e accedilotildees recomendadas
Categoria de risco
Hb lt 110gdL Accedilotildees
Grave ge 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Moderada 200 400 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo terapecircutica seguida de fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica
Leve 50 200 Orientaccedilatildeo nutricional fortificaccedilatildeo de alimentos e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
Normal lt 50 Orientaccedilatildeo nutricional e suplementaccedilatildeo profilaacutetica para gestantes
WHO 2007
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
Vitolo MR Baixa escolaridade como fator limitante para o combate agrave anemia entre
gestantes Rev Bras Ginecol Obstet 2006 28(6)331-339
World Bank Enriching Lives overcoming vitamin and mineral malnutrition in
developing countries Whashington World Bank 1994 73p
World Health Organization (WHO) Guidelines on food fortification with
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World Health Organization (WHO) Who Global Database on Child Growth and
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Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
18
A OMS assume que somente 50 dos casos de anemia se devem agrave
deficiecircncia de ferro No entanto a proporccedilatildeo pode variar conforme grupo
populacional e diferentes aacutereas em funccedilatildeo das condiccedilotildees locais justificando os
resultados inesperados conseguidos com uma intervenccedilatildeo baseada na
fortificaccedilatildeo de alimentos com ferro As intervenccedilotildees realizadas consideraram
apenas a deficiecircncia de ferro alimentar como causa da endemia natildeo levando em
consideraccedilatildeo diversas outras causas que acarretam a diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina em niacuteveis abaixo do normal (WHO 2007)
Mesmo conhecendo a relevacircncia de outras causas que acarretam a
diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo de hemoglobina entre as quais a deficiecircncia de
folatos vitamina B12 hipovitaminose A infecccedilotildees agudas ou crocircnicas aleacutem das
anemias geneacuteticas como a talassemia menor (WHO 2007) o conhecimento
acumulado com os resultados obtidos atraveacutes do aumento da ingestatildeo de ferro
permite manter esse criteacuterio como base das intervenccedilotildees que vecircm sendo
adotadas no Brasil Pode-se acrescentar que se 50 dos casos de anemia
estiverem controlados isso significaraacute um grande avanccedilo no atendimento do
compromisso firmado pelo Brasil para o controle da anemia nutricional
21 Anemia ferropriva e gestantes como grupo de risco
A anemia ferropriva afeta indiviacuteduos de todos os grupos populacionais e
se apresenta com maior prevalecircncia nos paiacuteses em desenvolvimento Eacute
conceituada exclusivamente pelo valor da concentraccedilatildeo de hemoglobina inferior a
valores padronizados pelas organizaccedilotildees internacionais considerando sexo idade
e situaccedilatildeo fisioloacutegica dentre as quais a gestaccedilatildeo constitui o periacuteodo de maior
vulnerabilidade para a doenccedila (DEMAYER et al 1989 STOLTZFUS 2001 WHO
2007) Sua ocorrecircncia estaacute associada agrave baixa condiccedilatildeo socioeconocircmica ao baixo
niacutevel de escolaridade a multiparidade e baixas reservas de ferro (MARTINS
1985 PIZZARRO 2003 VITOLO 2006)
A anemia causada pela deficiecircncia de ferro eacute resultado do desequiliacutebrio
entre a quantidade do mineral biologicamente disponiacutevel e a necessidade
orgacircnica (COOK 1992 BOTHWELL 1995) A eritropoiese deficiente de ferro eacute
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
59
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
19
responsaacutevel por 95 das anemias na gravidez A deficiecircncia de ferro com ou
sem anemia traz importantes consequecircncias para a sauacutede e para o
desenvolvimento humano Indiviacuteduos anecircmicos tecircm capacidade de trabalho
reduzida e deacuteficit de atenccedilatildeo e de trabalho intelectual Os efeitos deleteacuterios
causados pela anemia por deficiecircncia de ferro atingem especialmente o binocircmio
matildee-feto A gestante anecircmica cansa-se facilmente pois estaacute submetida a maior
esforccedilo cardiacuteaco para manter o aporte adequado de oxigecircnio para a placenta e
para o feto estaacute menos disposta ao trabalho fiacutesico ao rendimento intelectual e
apresenta maiores riscos de infecccedilotildees com diminuiccedilatildeo da funccedilatildeo imunoloacutegica
risco de preacute-eclacircmpsia alteraccedilotildees cardiovasculares alteraccedilotildees na funccedilatildeo da
glacircndula tireoide queda de cabelos enfraquecimento das unhas e probabilidade
de maior perda sanguiacutenea no parto (COOK 1992 DALLMAN 1993 ALLEN
1997 WHO 2001 LOZOFF et al 2003) Com relaccedilatildeo ao feto desde o primeiro
relatoacuterio da OMS (WHO 1968) a respeito do tema vem sendo ressaltado que a
anemia na gestante leva agrave maior incidecircncia de abortamentos hipoacutexia fetal
prematuridade baixo peso ao nascer com consequente risco para sobrevida do
concepto (REZENDE FILHO MONTENEGRO 2008 ZUGAIB 2008)
A gravidez eacute caracterizada por mudanccedilas fisioloacutegicas e metaboacutelicas que
alteram os paracircmetros bioquiacutemicos e hematoloacutegicos maternos resultando em
diminuiccedilatildeo ou aumento deles Por essa razatildeo a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo representa
um risco diferenciado para a manifestaccedilatildeo do estado de carecircncia de ferro
observado mesmo entre gestantes que iniciam a gravidez sem anemia (HITTEN e
LEITCH 1947) Estudo apresentado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2010)
aponta que 15 receacutem-nascidos com asfixia morrem diariamente no Brasil
Gestantes com diabetes hipertensatildeo ou preacute-eclacircmpsia e anemia satildeo as mais
propensas a esse desfecho desfavoraacutevel O feto de matildee anecircmica tambeacutem pode
ficar mais exposto agrave menor oferta de mineral para a formaccedilatildeo de seus tecidos e
estoques tornando-se mais propenso agrave manifestaccedilatildeo de um quadro de carecircncia
de ferro no primeiro ano de vida (MARTINS 1985)
Um desfecho desfavoraacutevel pode ocorrer em 30 a 40 de gestantes
anecircmicas e seus conceptos tecircm menos da metade da reserva de ferro podendo
apresentar anemia jaacute nos seus primeiros meses de vida (SCHOLL 2000
RASMUSSEN 2001 WHO 2001)
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Brasil Cad Sauacutede Puacuteblica 1992 4(1)7-26
Viana JML Tsunechiro MA Bonadio IC Fugimori E Santos AU Sato APS
Szarfarc SC Adequaccedilatildeo do consumo de ferro por gestantes e mulheres em idade
feacutertil atendidas em um serviccedilo de preacute-natal Mundo Sauacutede 2009 33(3)286-293
Vicari P Figueiredo ME Diagnoacutestico diferencial da deficiecircncia de ferro Rev Bras
Hematol Hemoter 2010 32(supl2)29-31
Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
Vitolo MR Baixa escolaridade como fator limitante para o combate agrave anemia entre
gestantes Rev Bras Ginecol Obstet 2006 28(6)331-339
World Bank Enriching Lives overcoming vitamin and mineral malnutrition in
developing countries Whashington World Bank 1994 73p
World Health Organization (WHO) Guidelines on food fortification with
micronutrients Geneva WHO 2006
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prevention and control a guide for programme managers Geneva
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World Health Organization (WHO) Who Global Database on Child Growth and
Malnutrition Geneva WHO 2007
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68
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Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
20
O periacuteodo gestacional eacute o mais criacutetico do ponto de vista de necessidades
orgacircnicas de ferro pois a elevada demanda do mineral deve ser atendida em
curto periacuteodo de tempo que natildeo ultrapassa seis meses Sendo assim somente
mulheres que iniciam o processo com uma boa reserva do mineral conseguem
atravessar esse periacuteodo sem se tornar anecircmicas por deficiecircncia de ferro
(INTERNATIONAL NUTRITIONAL ANEMIA CONSULTATIVE GROUP ndash INACG
1977 BEARD 1994)
A gravidez normal envolve diversas modificaccedilotildees fisioloacutegicas no
organismo materno com destaque para as alteraccedilotildees nos paracircmetros
hematoloacutegicos Em gestaccedilatildeo com um uacutenico feto as necessidades maternas
variam de 800 a 1000 mg de ferro sendo de 300 a 350 mg para a formaccedilatildeo da
unidade fetoplacentaacuteria aleacutem da quantidade disponiacutevel para a expansatildeo da
massa de hemoglobina materna (GROTTO 2008)
Durante o primeiro trimestre gestacional o volume plasmaacutetico comeccedila a
aumentar por accedilatildeo do estroacutegeno e da progesterona sob a influecircncia do sistema
renina-angiotensina-aldosterona A hipervolemia no organismo materno estaacute
associada ao aumento de suprimento sanguiacuteneo nos oacutergatildeos genitais em especial
na aacuterea uterina cuja vascularizaccedilatildeo encontra-se aumentada na gestaccedilatildeo Em
geral esse aumento eacute da ordem de 45 a 50 dos valores da mulher natildeo
gestante enquanto o volume de eritroacutecitos eleva-se 33 estabelecendo a
hemodiluiccedilatildeo Consequentemente haacute diminuiccedilatildeo da viscosidade sanguiacutenea o que
reduz o trabalho cardiacuteaco Essas adaptaccedilotildees se iniciam no primeiro trimestre por
volta da sexta semana gestacional com expansatildeo mais acelerada no segundo
trimestre estabilizando seus niacuteveis nas uacuteltimas semanas do ciclo gestacional
(HITTEN e LEITCH 1947)
Cerca de 90 da demanda total de ferro eacute utilizada somente no uacuteltimo
trimestre da gestaccedilatildeo o que significa que aproximadamente 6 mg de ferro
deveratildeo ser absorvidos por dia nesse periacuteodo No terceiro trimestre a gestante
necessita de maior aporte de ferro para aumento da sua hemoglobina que faraacute o
transporte ao feto compensando assim a perda de sangue que ocorre no parto
Desta forma conclui-se que o ferro dieteacutetico mesmo sendo somado ao mineral
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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59
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
21
de reserva eacute insuficiente para suprir a necessidade do nutriente tornando
portanto indispensaacutevel a suplementaccedilatildeo (WHO 2001 MA et al 2004)
22 Programas de intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia de ferro
Em 1977 pela primeira vez no Brasil frente agrave elevada prevalecircncia de
anemia o extinto Instituto Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo do Ministeacuterio da
Sauacutede (INAN) organizou uma reuniatildeo teacutecnica para discutir o problema da
deficiecircncia de ferro no paiacutes Os estudos de diagnoacutestico ateacute entatildeo desenvolvidos
eram poucos e pontuais poreacutem permitiam concluir que a anemia ocorria em
proporccedilatildeo endecircmica Nessa mesma ocasiatildeo foi reforccedilado que a consequecircncia
ocasionada por esse distuacuterbio era prejudicial para a qualidade de vida da
populaccedilatildeo em especial das gestantes e seus conceptos (BRASIL 1977) Como
resultante dessa reuniatildeo foi implantada (198283) para as usuaacuterias do Programa
de Atenccedilatildeo agrave Gestante (PAG) atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede a
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar
Um levantamento de prevalecircncia de anemia entre gestantes atendidas
nos poucos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Estado de Satildeo Paulo que mantinham
a dosagem da concentraccedilatildeo de hemoglobina na rotina do PAG foi realizado trecircs
anos apoacutes a implantaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo do suplemento de ferro Neste estudo
verificou-se que 351 das gestantes apresentavam anemia o que de acordo
com a OMS caracterizava um grave risco nutricional reforccedilando ainda mais a
necessidade de intervenccedilatildeo (VANNUCCHI FREITAS e SZARFARC 1992)
Embora reconhecidos a importacircncia epidemioloacutegica e os elevados custos
puacuteblicos associados agrave anemia natildeo houve nenhuma manifestaccedilatildeo de interesse do
governo brasileiro no controle da anemia antes da Reuniatildeo de Cuacutepula de Nova
Iorque em 1990 Nessa reuniatildeo o Ministeacuterio da Sauacutede assumiu o compromisso
conforme documento assinado em 1992 de reduccedilatildeo de 13 da prevalecircncia da
anemia em gestantes ateacute o ano 2000 (BATISTA FILHO et al 2008) Esse prazo
foi postergado para 2003 e ampliado para crianccedilas em idade preacute-escolar Embora
modesto nas suas metas este compromisso teve o meacuterito de proporcionar a
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
22
intensificaccedilatildeo de estudos de diagnoacutestico e intervenccedilatildeo no controle da deficiecircncia
do ferro (FUJIMORI et al 2000 DANI et al 2008 CORTES 2009)
Dados da deacutecada de 2000 (Quadro 2) realizados entre gestantes de
serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Brasil mostram a diversidade de prevalecircncias e os
valores elevados presentes entre as mulheres de todas as regiotildees brasileiras
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
23
Quadro 2 - Prevalecircncia de anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de sauacutede 2000-2010
Regiatildeo
cidade
Ano de
estudo
Idade
(anos) Local n
Prevalecircncia
()
Hb lt 110gdL
Autores
Norte
Manaus 2006 17-29 UBS 92 261 Costa et al 2009
Nordeste
Recife 2000-2001 - Ambulatoacuterio 318 566 Bresani et al
2007
Feira de
Santana 2005-2006 15-45 UBS 326 319
Santos e
Cerqueira 2008
Centro- Oeste
Cuiabaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 954 255 Fujimori et al
2009
Sudeste
Santo Andreacute 2000 lt20 CS 79 140 Fujimori et al
2000
Satildeo Paulo 2001-2003 gt16 Ambulatoacuterio 74 214 Papa et al 2003
Satildeo Paulo 2003 lt20 e gt20 CS Escola 390 92 Sato et al 2008
Satildeo Paulo 2006 lt20 e gt20 CS Escola 360 86 Sato et al 2008
Sul
Maringaacute 2007 lt20 e gt20 UBS 780 106 Fujimori et al
2009
Adolescentes
Como demonstraccedilatildeo da sintonia do governo brasileiro com as
recomendaccedilotildees internacionais estabeleceu-se em 2000 o Programa de
Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal e Nascimento (PHPN) lanccedilado pelo Ministeacuterio da
Sauacutede no mesmo ano em que foram definidos os procedimentos assistenciais
miacutenimos a serem oferecidos a todas as gestantes que fazem o preacute-natal na rede
do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) ou seja nas Unidades Baacutesicas de Sauacutede
(UBS) ou nas unidades com Programa de Sauacutede da Famiacutelia (PSF) dos
municiacutepios promovendo a sauacutede da matildee e do bebecirc Entre as atividades
propostas destaca-se a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico de anemia na primeira
consulta aleacutem do estiacutemulo para a captaccedilatildeo precoce das graacutevidas (BRASIL
2005)
Em dezembro de 2002 com prazo final de implementaccedilatildeo em todo paiacutes
ateacute junho de 2004 implantou-se a poliacutetica puacuteblica de Fortificaccedilatildeo de Farinhas de
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Sato APS Anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de preacute-natal das
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como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
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Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
24
Trigo e de Milho para todos os fins com oferecimento de 42 mg de ferro e 150
ug de aacutecido foacutelico para cada 100 g de farinha (BRASIL 2002 20052009) A
fortificaccedilatildeo eacute a estrateacutegia que apresenta melhor custo-efetividade em meacutedio e
longo prazos Vaacuterios paiacuteses da Ameacuterica do Sul e da Ameacuterica Central tais como
Chile Costa Rica El Salvador Honduras Meacutexico Nicaraacutegua Panamaacute Porto
Rico Guatemala instituiacuteram a fortificaccedilatildeo no combate a deficiecircncias nutricionais
apoacutes decisotildees poliacuteticas que culminaram na implantaccedilatildeo compulsoacuteria da
intervenccedilatildeo (ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007)
23 Paracircmetros hematimeacutetricos
A diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da hemoglobina a niacuteveis abaixo do normal
que indica a presenccedila da anemia constitui o uacuteltimo estaacutegio do processo de
deficiecircncia de ferro No primeiro deles ocorre a depleccedilatildeo nos estoques de ferro
corporal podendo ser detectado pela queda da concentraccedilatildeo da ferritina
plasmaacutetica O segundo eacute denominado eritropoiese normociacutetica ferrodeficiente
estaacutegio em que a protoporfirina eritrocitaacuteria eleva-se contudo a hemoglobina
permanece em seus niacuteveis normais em 95 dos casos No terceiro estaacutegio da
deficiecircncia os niacuteveis de hemoglobina estatildeo diminuiacutedos e as hemaacutecias se
apresentam microciacuteticas e hipocrocircmicas (INACG 2002)
A anemia ferropriva eacute caracterizada pela diminuiccedilatildeo do volume
corpuscular meacutedio geralmente acompanhada pela diminuiccedilatildeo da hemoglobina
corpuscular meacutedia e da concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia
caracterizando a presenccedila de hipocromia associada (VICARI e FIGUEIREDO
2010)
A importacircncia dada no Brasil para a anemia da mulher eacute comprovada pela
obrigatoriedade de seu diagnoacutestico nos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede como parte
das primeiras atividades do Programa de Humanizaccedilatildeo do Preacute-Natal oferecido agrave
Gestante Sendo assim embora a melhor comprovaccedilatildeo da deficiecircncia de ferro
como determinante de anemia seja a resposta positiva a um suplemento do
mineral alguns dos paracircmetros hematimeacutetricos que fazem parte do hemograma
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
25
(VCM HCM) realizado na rotina do atendimento de preacute-natal satildeo indicadores
tardios de uma possiacutevel alteraccedilatildeo no estado de ferro
A automaccedilatildeo laboratorial obtida atraveacutes da utilizaccedilatildeo de equipamentos
permitiu agilizar a interpretaccedilatildeo do hemograma inclusive para a contagem de
ceacutelulas sanguiacuteneas e para auxiliar no diagnoacutestico da anemia (NASCIMENTO
2005)
Esses contadores tecircm como objetivo contar e medir o tamanho das
ceacutelulas de forma exata e reprodutiacutevel por meio de fotometria fornecendo
informaccedilotildees sobre o niacutevel sanguiacuteneo de hemaacutecias hemoglobina (Hb)
hematoacutecrito (Ht) volume corpuscular meacutedio (VCM) hemoglobina corpuscular
meacutedia (HCM) concentraccedilatildeo de hemoglobina corpuscular meacutedia (CHCM) nuacutemero
de plaquetas e leucograma A interpretaccedilatildeo dos dados contidos no eritrograma
associada do VCM HCM e RDW passou a ser mais fidedigna para observar
anemias em estaacutegios iniciais (NASCIMENTO 2005) A dosagem de Hb e os
valores hematimeacutetricos satildeo os indicadores que sinalizam a alteraccedilatildeo do estado de
ferro
Hemoglobina (Hb) ndash a hemoglobina indica a concentraccedilatildeo de gloacutebulos
vermelhos presentes em um determinado volume do fluido Em locais onde a
anemia ocorre em proporccedilotildees endecircmicas a anemia eacute sinocircnimo de anemia
ferropriva (WHO 2001 2007) Sendo que na praacutetica meacutedica o primeiro exame
realizado diante de uma suspeita de anemia eacute o hemograma (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006) Embora universalmente utilizada para conceituar a anemia a Hb
tem baixa sensibilidade para detectar a deficiecircncia de ferro decorrente do
prolongado tempo de meia vida (120 dias) dos gloacutebulos vermelhos Sua
especificidade depende do criteacuterio a ser utilizado para diagnoacutestico da deficiecircncia
de ferro (FAILACE 2009) O valor criacutetico utilizado para esse diagnoacutestico eacute
especialmente importante entre as gestantes dado que entre elas ocorre a
reduccedilatildeo na concentraccedilatildeo da hemoglobina devido agrave mobilizaccedilatildeo do nutriente para
o feto em crescimento e desenvolvimento
Volume Corpuscular Meacutedio (VCM) ndash medido em fentolitros (fL) e em
indiviacuteduos adultos pode ser classificado em normal indicando normocitose
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
26
aumentado (macrocitose) e diminuiacutedo indicativo da microcitose A anemia
ferropriva eacute caracterizada por ser microciacutetica com Volume Corpuscular Meacutedio
(VCM) diminuiacutedo (KUMAR 2005)
Hemoglobina Corpuscular Meacutedia (HCM) ndash este eacute um indicador funcional
que identifica a hipocromia Ela pode natildeo ser notada quando o valor da Hb estaacute
proacuteximo do normal poreacutem o indiviacuteduo jaacute estaacute diagnosticado como anecircmico
(Hbgt10gdL) (LEWIS et al 2006)
RDW (Red Cell Distribution Width) ndash eacute outro paracircmetro constante do
hemograma realizado nos serviccedilos de sauacutede para as gestantes Eacute uma
informaccedilatildeo que soacute pode ser obtida atraveacutes de metodologia por automatizaccedilatildeo
Todos os eritroacutecitos (mesmo os normais) natildeo apresentam padronizaccedilatildeo no seu
tamanho existindo um limite para a sua variaccedilatildeo Esse indicador tambeacutem informa
o volume apresentado em cada eritroacutecito Isso significa que quanto maior a
heterogeneidade dos tamanhos dos eritroacutecitos maior seraacute o valor do RDW Ele eacute
uma medida que indica a anisocitose ou seja mede a amplitude da variaccedilatildeo do
tamanho dos eritroacutecitos Eacute importante para distinguir entre a anemia ferropriva
que tem RDW geralmente aumentado a fraccedilatildeo talassecircmica quando o RDW se
apresenta normal e a anemia megaloblaacutestica na qual o RDW na maioria das
vezes estaacute aumentado (LEWIS et al 2006) A informaccedilatildeo do RDW pode ser
utilizada como auxiliar no diagnoacutestico diferencial da anemia microciacutetica Eacute o
indicador de anisocitose que diferencia a anemia ferropriva da beta talassemia
(XING et al 2009) A alteraccedilatildeo do volume plasmaacutetico que ocorre na gestaccedilatildeo
interfere na interpretaccedilatildeo do eritrograma e os valores que natildeo sofrem
interferecircncia da hemodiluiccedilatildeo satildeo VCM HCM e RDW (LEWIS et al 2006)
Outros indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro que natildeo fazem parte
dos exames de rotina da atenccedilatildeo preacute-natal satildeo utilizados em situaccedilotildees
especiacuteficas Entre os exames mais solicitados na praacutetica cliacutenica encontra-se
Ferro Seacuterico ndash estaacute vinculado agrave transferrina e tem valores na mulher
entre 50 e 170 gdL A utilizaccedilatildeo desse paracircmetro isolado respeita a variaccedilatildeo
durante o dia sendo seu valor maior pela manhatilde e dependendo do horaacuterio de
sua coleta ocorre alteraccedilatildeo de seu resultado Tambeacutem niacuteveis inferiores ao normal
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
27
natildeo significam carecircncia de ferro pois outros quadros patoloacutegicos como as
anemias de doenccedila crocircnica tambeacutem tecircm ferro seacuterico baixo (MILLER e
GONCcedilALVES 1995)
TransferrinaCapacidade Total de Ligaccedilatildeo de Ferro e Saturaccedilatildeo da
Transferrina ndash esse exame pode auxiliar nos diagnoacutesticos de ferropenia e de
excesso de ferro em algumas anemias Entretanto vaacuterios fatores podem
influenciar os valores finais entre eles a avitaminose A a desnutriccedilatildeo os
processos infecciosos e inflamatoacuterios recentes natildeo sendo um marcador ideal
para o diagnoacutestico precoce da carecircncia de ferro (MILLER GONCcedilALVES 1995
MA et al 2004)
A determinaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de ferritina eacute um dos testes mais
especiacuteficos na avaliaccedilatildeo do ferro no organismo uma vez que o meacutetodo
representa o estado de depleccedilatildeo ou excesso de ferro em tecidos de depoacutesito
como baccedilo fiacutegado e medula oacutessea Quadros agudos ou crocircnicos tambeacutem podem
influenciar um falso resultado Valores normais ou alterados natildeo descartam o
estado de ferropenia Outros fatores como a idade o sexo a gestaccedilatildeo e algumas
doenccedilas podem influenciar a concentraccedilatildeo de ferritina (BRAGA AMANCIO
VITALLE 2006 PAIVA RONDOacute 2007)
Protoporfirina Eritrocitaacuteria Livre (PEL) ndash em situaccedilotildees de deficiecircncia do
nutriente ferro haacute tendecircncia de aumentar a PEL Em processos infecciosos ou
inflamatoacuterios assim como intoxicaccedilatildeo por chumbo ou doenccedila hemoliacutetica pode
haver elevaccedilatildeo da PEL ficando o exame menos especiacutefico para o diagnoacutestico
(PAIVA et al 2003 WHO 2006)
O uso desses indicadores da situaccedilatildeo orgacircnica do ferro acrescenta valor
consideraacutevel no custo dos exames laboratoriais de rotina no atendimento preacute-
natal (cerca de seis vezes mais caros)
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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World Health Organization (WHO) Who Global Database on Child Growth and
Malnutrition Geneva WHO 2007
Referecircncias Bibliograacuteficas
68
Xing Y Hong Y Shaonong D Zhuoma B Xiaoyan Z Wang D Hemoglobin levels
and anemia evaluation during pregnancy in the highlands of Tibet a hospital-
based study BMC Public Health 2009 9336
Zimmermann MB Zeder C Muthayya S Chaouki N Aeberli I Hurrell RF
Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
28
Quadro 3 - Valores de referecircncia de exames segundo o SUS
Exames Valores (doacutelar)
Ferro seacuterico US$ 200
Hemograma US$ 235
Transferrina US$ 235
Ferritina US$ 891
SIGTAP ndash Sistema de Gerenciamento de custos do SUS (DATASUS 2010) Valor do doacutelar= $175 em 5 de agosto de 2010
24 Perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro
As perdas econocircmicas decorrentes da deficiecircncia de ferro natildeo satildeo
despreziacuteveis Relatoacuterio do Banco Mundial de 1994 (WORLD BANK 1994)
destacou que apesar da dificuldade em se quantificar o custo econocircmico
decorrente de deficiecircncias nutricionais especiacuteficas cerca de 5 do PIB de paiacuteses
em desenvolvimento eacute desperdiccedilado com os gastos em sauacutede decorrentes da
anemia por deficiecircncia de ferro Transpondo esses caacutelculos para o ano de 2008
pode-se dizer que o Brasil com PIB estimado em R$ 23 trilhotildees gastou nesse
ano R$ 116 bilhotildees para tratar problemas de sauacutede decorrentes dessa
deficiecircncia
Horton e Ross (2003) em extensa revisatildeo sobre as consequecircncias
econocircmicas decorrentes da anemia em paiacuteses em desenvolvimento discutem a
proporccedilatildeo em que elas ocorrem e as perdas de recursos financeiros delas
decorrentes Esses autores pretendem por meio de equaccedilotildees matemaacuteticas
mensurar em que medida a deficiecircncia de ferro se associa agraves perdas econocircmicas
Por exemplo em relaccedilatildeo agrave prematuridade calculou-se o custo anual de serviccedilos
meacutedicos devidos a partos prematuros relacionados agrave deficiecircncia de ferro e agrave
anemia ferropriva a partir da seguinte relaccedilatildeo
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
29
Cprem = GMg ppr times Rppr DFe times NV times Pppr times Cparto
Onde
Cprem = custo da prematuridade
GMg ppr = incremento proporcional do gasto de atenccedilatildeo ao parto prematuro
Rppr DFe = risco de prematuridade devido agrave deficiecircncia de ferro na populaccedilatildeo
NV = nuacutemero de nascidos vivos
Pppr = proporccedilatildeo de nascidos antes da 37ordf semana gestacional
Cparto = custo da atenccedilatildeo a um parto
Em 2005 ao aplicar essa equaccedilatildeo aos dados da Argentina Drake e
Bernztein (2009) obtiveram o valor de US$ 3233x 106 (Cprem = 100x 036x
700000x 0076x US$ 170) ou seja haveria economia de US$ 323 milhotildees de
doacutelares com a prevenccedilatildeo dos partos prematuros devidos agrave deficiecircncia de ferro ou
agrave anemia por deficiecircncia de ferro equivalendo a 035 do PIB da Argentina agrave
eacutepoca
Natildeo pode ser desprezado o custo indireto da deficiecircncia de ferro na
infacircncia a qual pode tem consequecircncias irreversiacuteveis sobre o desenvolvimento
cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta Outro custo social
relacionado agrave deficiecircncia marcial eacute o da mortalidade materna Ambos podem ser
estimados por meio de modelos econocircmicos matemaacuteticos (HORTON e HOSS
2003)
Horton e Ross (2003) avaliaram a importacircncia da intervenccedilatildeo para o
controle dessa morbidade e concluiacuteram que tanto a fortificaccedilatildeo de alimentos
habituais na alimentaccedilatildeo da populaccedilatildeo alvo quando a suplementaccedilatildeo
medicamentosa se efetivamente implantadas constituem pequeno investimento
em relaccedilatildeo ao PIB (inferior a 03 do PIB de paiacuteses em desenvolvimento)
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
59
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Revisatildeo da Literatura
30
Para diagnosticar anemia o hemograma tem sido o exame de triagem
que apresenta custo aproximado de dois doacutelares Para verificar a deficiecircncia de
ferro outros exames satildeo solicitados gerando custo de ateacute 11 doacutelares
As gestantes satildeo as que oferecem a condiccedilatildeo ideal para se avaliar a
anemia pois o hemograma faz parte do protocolo de atendimento nas Unidades
Baacutesicas de Sauacutede como uma das atividades iniciais do Programa de Atenccedilatildeo
Preacute-Natal Humanizado e Qualificado que estabelecem os objetivos deste
trabalho
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Objetivos
31
3 OBJETIVOS
31 Geral
Determinar a prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Administrativa do Butantatilde municiacutepio de
Satildeo Paulo ndash SP em 2006 e 2008
32 Especiacuteficos
Caracterizar a populaccedilatildeo de gestantes segundo dados
sociodemograacuteficos e de preacute-natal
Avaliar a prevalecircncia de anemia e anisocitose nas gestantes
Determinar e comparar medidas de tendecircncia central dos valores de
concentraccedilatildeo de hemoglobina e RDW por trimestre gestacional
Analisar fatores de risco associados agrave anemia
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Material e Meacutetodo
32
4 MATERIAL E MEacuteTODO
Este estudo fez parte do projeto intitulado ldquoConcentraccedilatildeo de hemoglobina
e prevalecircncia de anemia de preacute-escolares e de suas matildees atendidos em creches
da rede do municiacutepio de Satildeo Paulo Efetividade da ingestatildeo de farinhas de trigo e
de milho fortificadas com ferrordquo
41 Delineamento
O estudo foi delineado como retrospectivo de corte transversal descritivo-
analiacutetico e desenvolvido nas 13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regiatildeo
Administrativa do ButantatildeSP Os dados utilizados foram obtidos dos prontuaacuterios
das gestantes atendidas nas Unidades
42 Local do estudo e caracteriacutesticas
421 Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede
A Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde integra a Coordenadoria
Regional de Sauacutede Centro Oeste do Municiacutepio de Satildeo Paulo com aacuterea de 561
km2 compreendendo os distritos administrativos do Butantatilde Morumbi Raposo
Tavares Rio Pequeno e Vila Socircnia onde se situam as UBS As Unidades Baacutesicas
de Sauacutede da regiatildeo participam do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) sendo
vinculada a Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede Butantatilde uma das trecircs supervisotildees da
Coordenadoria Regional de Sauacutede ndash Centro Oeste da Secretaria Municipal de
Sauacutede da Prefeitura Municipal de Satildeo Paulo
As atividades desenvolvidas atendem agraves diretrizes da Atenccedilatildeo Baacutesica do
Ministeacuterio da Sauacutede e satildeo caracterizadas por um conjunto de accedilotildees de sauacutede no
acircmbito individual e coletivo que abrangem a promoccedilatildeo e proteccedilatildeo da sauacutede a
prevenccedilatildeo de agravos o diagnoacutestico o tratamento e a reabilitaccedilatildeo de doenccedilas
visando agrave manutenccedilatildeo da sauacutede
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Material e Meacutetodo
33
As accedilotildees satildeo desenvolvidas por meio de praacuteticas gerencias e de sauacutede
puacuteblica que satildeo dirigidas a populaccedilotildees nos seus proacuteprios territoacuterios
Cerca de 3718 gestantes receberam atenccedilatildeo nas UBS da Supervisatildeo
Teacutecnica Administrativa do Butantatilde em 2008 Compete agraves UBS prestar assistecircncia
preacute-natal e realizar paralelamente agrave orientaccedilatildeo de rotina a identificaccedilatildeo
prevenccedilatildeo eou controle de fatores de risco que possam comprometer a qualidade
do processo reprodutivo Todas as UBS tecircm o Programa de Atenccedilatildeo ao Preacute-Natal
implantado nas atividades rotineiras da Unidade
422 Populaccedilatildeo do Distrito Administrativo do Butantatilde
Segundo estimativas da Secretaria Municipal de Sauacutede (PREFEITURA
DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2007) a populaccedilatildeo da Subprefeitura do Butantatilde
totaliza 383061 pessoas em que indiviacuteduos de 0 a 14 anos representam 245
de 15 a 29 anos correspondem a 219 de 30 a 49 anos totalizam 299 de 50
a 64 anos perfazem 156 e as pessoas inseridas na terceira idade com mais
de 65 anos 81 Analisando a distribuiccedilatildeo populacional por sexo observa-se
que o contingente feminino constitui-se maioria com 199830 pessoas ou seja
522 do total
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo da Cidade de
Satildeo Paulo (SEHAB 2008) e da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA
2008) foram detectadas 66 favelas na regiatildeo correspondendo a
aproximadamente 69 do total de favelas existentes na Coordenadoria Centro
Oeste (SEHAB 2008 SEMPLA 2008)
423 Iacutendice de Desenvolvimento Humano
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) na regiatildeo tambeacutem foi
verificado Em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) que considera apenas
a dimensatildeo econocircmica do desenvolvimento o IDH tambeacutem leva em conta dois
outros paracircmetros a longevidade e a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo Para aferir a
longevidade o indicador utiliza valores de expectativa de vida ao nascer para a
PMSPSMSCEINFOTABNET 2007
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Material e Meacutetodo
34
educaccedilatildeo satildeo avaliados o iacutendice de analfabetismo e a taxa de matriacutecula em todos
os niacuteveis de ensino (PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO ndash PNUD 2010)
A renda mensurada pelo PIB eacute per capita e em doacutelar PPC (paridade do
poder de compra que elimina as diferenccedilas de custo de vida entre os paiacuteses)
Esses indicadores tecircm o mesmo peso no iacutendice que varia de zero a um e eacute
considerado dos Objetivos das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento do
Milecircnio No Brasil tem sido utilizado pelo Governo Federal e por administraccedilotildees
municipais o Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
Quadro 4 ndash Distritos Administrativos e o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Distrito Administrativo Iacutendice de Desenvolvimento Humano ndash IDH
Raposo Tavares 0819
Rio Pequeno 0855
Vila Socircnia 0895
Butantatilde 0928
Morumbi 0938
Fonte IDH Atlas do desenvolvimento da cidade de Satildeo Paulo (2003)
Atraveacutes desse iacutendice verificamos que a regional administrativa do Butantatilde
eacute heterogecircneo em seu IDH variando de 0819 no distrito administrativo Raposo
Tavares a 0938 no distrito do Morumbi
A populaccedilatildeo dispotildee ainda das seguintes Unidades de Sauacutede para seu
atendimento
4 Assistecircncias Meacutedicas Ambulatoriais ndash AMA (Jardim Satildeo Jorge Paulo
VI Jardim Peri-Peri e Vila Socircnia)
13 Unidades Baacutesicas de Sauacutede ndash UBS (Butantatilde2 Caxingui2 Jardim
Boa Vista1 Jardim DrsquoAbril1 Jardim Jaqueline2 Jardim Satildeo Jorge1 Joseacute
Marciacutelio Malta Cardoso2 Paulo VI1 Real Parque1 Rio Pequeno2 Vila
Borges2 Vila Dalva1 Vila Socircnia2)
1 Unidades Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia
2 Unidades Baacutesicas de Sauacutede
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Material e Meacutetodo
35
1 Ambulatoacuterio de Especialidades ndash AE Peri-Peri
1 Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Adulto ndash CAPS Butantatilde
1 Centro de Convivecircncia e Cooperativa ndash CECCO Previdecircncia
1 Cliacutenica Odontoloacutegica Especializada Especializado ndash COE Butantatilde
(AE Peri Peri)
1 Serviccedilo de Atendimento Especializado DSTAIDS ndash SAE Butantatilde
1 Centro de Sauacutede Escola ndash CSE Butantatilde (Faculdade de Medicina da
Universidade de Satildeo Paulo)
2 Residecircncias Terapecircuticas ndash SRT Pirajussara SRT Jd Previdecircncia
1 Nuacutecleo Integrado de Reabilitaccedilatildeo ndash NIR Jardim Peri Peri
1 Nuacutecleo Integrado de Sauacutede Auditiva ndash NISA Jardim Peri Peri
1 Hospital e Maternidade ndash Hospital Municipal Mario Degni
1 Pronto Socorro Municipal ndash Pronto Socorro Dr Caetano V Neto
424 Tamanho amostral
Dois grupos de gestantes foram formados por amostra proporcional agrave
demanda universal de gestantes que se inscreveram nos serviccedilos de preacute-natal
nos anos de 2006 e 2008 Para o sorteio das gestantes utilizou-se do banco geral
de dados de gestantes matriculadas nas UBS de 2006 e 2008 centralizado na
Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede ndash Butantatilde
O tamanho amostral para estimar a prevalecircncia de anemia em cada ano
foi calculado usando a foacutermula n = p q z2d2 onde p = proporccedilatildeo de mulheres com
anemia q = proporccedilatildeo de mulheres sem anemia (q = 1-p) z = percentil da
distribuiccedilatildeo normal e d = erro maacuteximo em valor absoluto Considerando p = 050
d = 5 confianccedila de 95 tem-se que n = 050 050 19620052 = 384 em 2006 e
em 2008 Esses tamanhos satildeo tambeacutem suficientes para comparar os paracircmetros
obtidos nos dois anos via regressatildeo linear As gestantes participantes desse
estudo natildeo satildeo as mesmas nos anos e trimestres gestacionais
Para compensar perdas sortearam-se 500 prontuaacuterios de gestantes para
cada ano de estudo distribuiacutedos entre as 13 UBS Foram utilizados somente os
dados daqueles prontuaacuterios que tinham todas as informaccedilotildees necessaacuterias ao
estudo
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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59
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Material e Meacutetodo
36
Foram excluiacutedas do estudo gestantes que natildeo apresentaram os
resultados completos do hemograma a idade gestacional por ocasiatildeo do exame
de sangue e as gestantes que apresentavam doenccedilas crocircnicas (diabetes
hipertensatildeo hepatopatias e doenccedilas renais) eou que declaravam fazer uso de
algum suplemento agrave base de ferro
Figura 1 ndash Fluxograma do estudo
Total de gestantes atendidas = 3015
Amostra inicial 500
Amostra final 387
Total de gestantes atendidas = 3712
Amostra inicial 500
Amostra final 385
2006
n = 772
n = 966
2008
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Vannucchi IH Freitas MLS Szarfarc SC Prevalecircncia de anemias nutricionais no
Brasil Cad Sauacutede Puacuteblica 1992 4(1)7-26
Viana JML Tsunechiro MA Bonadio IC Fugimori E Santos AU Sato APS
Szarfarc SC Adequaccedilatildeo do consumo de ferro por gestantes e mulheres em idade
feacutertil atendidas em um serviccedilo de preacute-natal Mundo Sauacutede 2009 33(3)286-293
Vicari P Figueiredo ME Diagnoacutestico diferencial da deficiecircncia de ferro Rev Bras
Hematol Hemoter 2010 32(supl2)29-31
Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
Vitolo MR Baixa escolaridade como fator limitante para o combate agrave anemia entre
gestantes Rev Bras Ginecol Obstet 2006 28(6)331-339
World Bank Enriching Lives overcoming vitamin and mineral malnutrition in
developing countries Whashington World Bank 1994 73p
World Health Organization (WHO) Guidelines on food fortification with
micronutrients Geneva WHO 2006
World Health Organization (WHO) Iron deficiency anemia assessment
prevention and control a guide for programme managers Geneva
WHOUNICEF 2001
World Health Organization (WHO) Who Global Database on Child Growth and
Malnutrition Geneva WHO 2007
Referecircncias Bibliograacuteficas
68
Xing Y Hong Y Shaonong D Zhuoma B Xiaoyan Z Wang D Hemoglobin levels
and anemia evaluation during pregnancy in the highlands of Tibet a hospital-
based study BMC Public Health 2009 9336
Zimmermann MB Zeder C Muthayya S Chaouki N Aeberli I Hurrell RF
Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Material e Meacutetodo
37
425 Atendimento de preacute-natal
A gestante pode chegar ao serviccedilo de sauacutede espontaneamente ou por
encaminhamento atraveacutes da indicaccedilatildeo de um agente de sauacutede do Programa
Sauacutede da Famiacutelia (PSF) que visita os domiciacutelios na aacuterea geograacutefica da UBS
A gestante que busca o serviccedilo para certificar-se da gravidez eacute recebida
com acolhimento pela auxiliar de enfermagem que realiza o teste pregnosticon
(urina) confirmando ou natildeo a presenccedila de iniacutecio de gestaccedilatildeo Confirmado o
diagnoacutestico a auxiliar de enfermagem encaminha a gestante para abertura de um
prontuaacuterio especial Na recepccedilatildeo a gestante eacute cadastrada no Programa Gerencial
Municipal chamado SIGA que gera um nuacutemero para a gestante no Programa
Sisprenatal do Ministeacuterio da Sauacutede Com o prontuaacuterio aberto ela eacute encaminhada
para consulta com a enfermeira de plantatildeo
O protocolo para o primeiro atendimento com a enfermagem tem previsto
orientaccedilotildees educativas pesagem da gestante e medida da estatura Na mesma
consulta eacute aferida a pressatildeo arterial (PA) e satildeo solicitados os exames de rotina do
preacute-natal de acordo com a normatizaccedilatildeo da SMS (Programa de Atenccedilatildeo Baacutesica)
que segue o padratildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Nessa consulta a gestante eacute
orientada para a realizaccedilatildeo dos exames no dia seguinte agrave consulta e realiza o
agendamento da primeira consulta meacutedica Tambeacutem eacute agendada a sua
participaccedilatildeo em grupo educativo de gestantes conforme o trimestre gestacional I
II ou III
426 Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
Os dados pessoais coletados foram estratificados da seguinte forma
Idade 15 a 19 anos de 20 a 35 anos e gt que 35 anos (IBGE 2010)
Corraccedila branca preta amarela e parda (autoreferida)
Situaccedilatildeo conjugal solteira casadauniatildeo estaacutevel
Escolaridade (anos escolares completos) lt de 8 de 8 a 11 e ge12
Tipo de residecircncia alvenaria (tijolo) ou outro tipo
Ocupaccedilatildeo remunerada ou natildeo remunerada
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Material e Meacutetodo
38
427 Dados antropomeacutetricos
Os dados antropomeacutetricos que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos
por pesagem da gestante (kg) realizada por enfermeiras ou auxiliares de
enfermagem em balanccedila padratildeo tipo Filizola de ateacute 150 kg A medida da
estatura foi feita com estadiocircmetro acoplado agrave balanccedila
O peso preacute-gestacional e a altura foram obtidos dos prontuaacuterios Os
iacutendices de massa corporal (IMC) das gestantes foram calculados e classificados
de acordo com o Ministeacuterio da Sauacutede (MS) em baixo peso quando o IMC foi lt
185 peso adequado gt185 a 249 sobrepeso de 25 a lt 30 e obesidade quando
IMC ge 30 (BRASIL 2005)
428 Idade gestacional
A idade gestacional de ingresso no preacute-natal foi calculada pela diferenccedila
entre a data do ingresso no programa e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo A idade
gestacional por ocasiatildeo do diagnoacutestico de anemia foi calculada pela diferenccedila
entre a data do exame e a data da uacuteltima menstruaccedilatildeo (ATALAH 1997)
429 Dados hematoloacutegicos
Todos os eritrogramas que constavam dos prontuaacuterios foram obtidos com
o equipamento SYSMEX-XE-2100D da Roche calibrado diariamente no
laboratoacuterio de referecircncia da Regional Butantatilde O sangue foi colhido por auxiliares
de enfermagem das mulheres em jejum de pelo menos 8 horas Do eritrograma
foram avaliados hemoglobina (Hb) e volume e amplitude da variaccedilatildeo do tamanho
das hemaacutecias (Red Cell Distribution Width ndash RDW)
O ponto de corte para diagnoacutestico de anemia adotado segundo os
criteacuterios propostos pela OMS (WHO 2001) foi de Hb lt 110 gdL De acordo com
a amplitude de variaccedilatildeo do volume das hemaacutecias (RDW) foi diagnosticada a
presenccedila de anisocitose quando RDW gt 14 e normal entre 115 a 14
(CENTERS FOR DISEASE CONTROL ndash CDC 1998)
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
59
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Material e Meacutetodo
39
4210 Anaacutelise dos dados
A anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada por meio dos softwares
EpiInfo e Stata A amostra foi descrita por meio de frequecircncias absolutas e
relativas medidas de tendecircncia central (meacutedias) e dispersatildeo (valores miacutenimos e
maacuteximos desvio padratildeo e intervalos de confianccedila de 95 ) A comparaccedilatildeo entre
os grupos foi feita com a utilizaccedilatildeo dos testes qui-quadrado ( 2) e regressotildees
linear e logiacutestica com niacutevel de significacircncia de 5
4211 Aspectos eacuteticos
O estudo foi autorizado pelos gerentes das Unidades Baacutesicas do Butantatilde
pela Supervisatildeo Teacutecnica de Sauacutede do Butantatilde e pela Coordenadoria Regional de
Sauacutede Centro Oeste Foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da
Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas da Universidade de Satildeo Paulo e pelo
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Sauacutede (CAAE no
0210162000-07)
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
40
5 RESULTADOS
A tabela 1 mostra as caracteriacutesticas sociodemograacuteficas da populaccedilatildeo
estudada A maior parte dela tinha idade ideal para o processo reprodutivo entre
20 e 35 anos de idade (meacutedia de 26 plusmn 6) e cerca de 20 eram adolescentes Das
que tinham registradas as caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser da
raccedilacor branca e em segundo lugar da cor parda A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi
informada em 41 (316) dos prontuaacuterios sendo que houve aumento da
proporccedilatildeo de gestaccedilatildeo entre mulheres solteiras de 439 para 515
Com relaccedilatildeo agrave escolaridade como vem acontecendo em todo paiacutes houve
aumento na proporccedilatildeo de mulheres que completaram ou ultrapassaram o ensino
fundamental (Tabela 1) Vinte e nove por cento das gestantes moravam em
residecircncias coletivas (favelas ou corticcedilos) e dentre as que informaram ocupaccedilatildeo
nos dois anos 30 natildeo informaram esse dado
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
41
Tabela 1 - Caracteriacutesticas sociodemograacuteficas de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional de Sauacutede do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Caracteriacutesticas
2006 2008
Total n 387
n
385
Idade (anos)
15 ndash 20 78 201 76 197 154 199
20 ndash 35 270 698 267 694 537 696
gt35 39 101 42 109 81 105
Total 387 100 385 100 772 100
CorRaccedila
Branca 142 546 155 500 297 521
Preta 17 65 30 97 47 82
Parda 101 389 122 393 223 391
Amarela 0 00 03 10 3 05
Total 260 100 310 100 570 100
Situaccedilatildeo Conjugal
Solteira 98 439 120 515 218 478
CasadaUniatildeo estaacutevel 125 561 113 485 238 522
Total 223 100 233 100 456 100
Escolaridade (anos)
lt 8 anos de estudo 138 580 110 369 248 463
de 8 anos a 11 anos de estudo
34 143
147 493 181 338
12 anos de estudo ou mais 66 277 41 138 107 199
Total 238 100 298 100 536 100
Tipo de residencia
alvenaria (casa apto) 271 709 250 704 521 707
Outro (favela corticcedilo) 111 291 105 296 216 293
Total 382 100 355 100 737 100
Ocupaccedilatildeo
Remunerada 196 834 141 566 337 696
Natildeo remunerada 39 166 108 434 147 304
Total 235 100 249 100 484 100
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
42
A Tabela 2 apresenta a distribuiccedilatildeo das mulheres segundo avaliaccedilatildeo
nutricional (IMC) Os resultados do IMC embora com muitas perdas assinalam
reduccedilatildeo de eutrofia e aumento dos extremos baixo peso e obesidade
Tabela 2 - Avaliaccedilatildeo nutricional (Iacutendice de Massa Corporal - IMC) de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde na primeira consulta Satildeo Paulo 2006 e 2008
IMC (kgm2)
2006 2008 Total
n n
Baixo peso lt 185 1 19 17 76 18 65
Eutroacutefico (peso adequado) gt 185 e lt 25 36 692 132 592 168 611
Sobrepeso ge 25 lt 30 11 212 48 215 59 215
Obesidade ge 30 4 77 26 117 30 109
Total 52 100 223 100 275 100
As perdas amostrais estavam relacionadas a ausecircncia e dados
incompletos do eritrograma Dos 500 protocolos analisados em 2006 ocorreram
perdas em 226 e em 2008 23
A maior parte das gestantes realizou o hemograma no I ou II trimestre da
gestaccedilatildeo (Tabela 3) Este fato natildeo garante que esse exame tenha sido realizado
agrave primeira consulta conforme a orientaccedilatildeo preconizada pelo Ministeacuterio da Sauacutede
(BRASIL 2005)
Tabela 3 - Distribuiccedilatildeo de hemogramas realizados segundo o trimestre gestacional (nuacutemero e ) e ano do estudo Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
Hemograma
Total 2006 2008
N n
I 183 473 156 405 339 439
II 170 439 180 468 350 453
III 34 88 49 127 83 108
Total 387 100 385 100 772 100
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
43
A Figura 2 mostra que a prevalecircncia da anemia foi de 10 em 2006 e de
88 em 2008 com meacutedia de 95 (p = 027)
10088
0
5
10
15
20
2006 2008
O valor de p refere-se ao teste qui-quadrado para diferenccedila de distribuiccedilatildeo de gestantes com anemia (Hb lt 110 gdL) entre os anos de 2006 e 2008
Figura 2 - Prevalecircncia de anemia () de gestantes atendidas em Unidades
Baacutesicas de Sauacutede da Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006-2008
A proporccedilatildeo de gestantes com Hb lt 110 gdL no I trimestre foi menor do
que no II ndash e menor do que no III em 2006 e 2008 respectivamente (Tabela 4)
Tabela 4 - Prevalecircncias de anemia (Hb lt 110 gdL) de acordo com o trimestre gestacional de gestantes atendidas em Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde segundo o ano do estudo Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre
2006 2008 Total
Total Anecircmicas Total Anecircmicas n
I 183 10 55 156 7 45 17 50
II 170 17 10 180 16 90 33 94
III 34 12 353 49 11 225 23 277
Total 387 39 101 385 34 88 73 95 p=027
p = 027
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
44
A Tabela 5 apresenta valores de concentraccedilatildeo de hemoglobina segundo
ano de estudo e trimestre gestacional Como pode ser observado as meacutedias
diminuem com a evoluccedilatildeo do trimestre gestacional
Tabela 5 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo da concentraccedilatildeo de hemoglobina (gdL) segundo ano do estudo e trimestre gestacional em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006
n=387
2008
n=385 p
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 126 (1) 94 151 156 125 (1) 95 147
II 170 122 (1) 86 154 180 121 (1) 94 142
III 34 115 (1) 97 139 49 116 (1) 95 137
Total 387 123 385 122 0276
Legenda ( ) meacutedia (S) desvio padratildeo
p=regressatildeo logiacutestica entre os anos 2006 e 2008
A regressatildeo linear muacuteltipla mostra que as alteraccedilotildees das concentraccedilotildees
de hemoglobina em gestantes estatildeo associadas ao fato de estarem nos II e III
trimestres gestacionais (Tabela 6)
Tabela 6 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel dependente a concentraccedilatildeo de hemoglobina em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Coeficiente EP t p (IC 95)
I trimestre (referencia) 0 II - 042 007 - 554 lt0001 - 057 - 027 III - 097 012 - 798 lt0001 - 121 - 073 Idade (anos) 0001 000 123 022 - 0004 002 Peso (kg) 000 000 144 015 - 0001 0012 Ano do estudo ndash 2006 (referencia)
0
Ano do estudo ndash 2008 007 007 - 098 0332 - 021 007 Interceptaccedilatildeo 1212 023 5248 000 1166 126
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
59
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
45
As gestantes no II trimestre apresentaram odds duas vezes maior do que
o do I ndash e esse valor aumenta para aproximadamente 76 no III trimestre Quando
se examina a idade verifica-se que o aumento de um ano de vida resulta
aumento em 1 do odds ratio (OR = 101) Ao avaliar os anos do estudo
verifica-se que em 2008 as gestantes apresentaram diminuiccedilatildeo de odds para
anemia em 24 (OR = 076) (Tabela 7) sem significacircncia estatiacutestica
Tabela 7 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados agrave anemia em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis Trimestre
Odds ratio (OR)
EP z Valor de p
(IC 95)
I (referecircncia) 1
II 200 062 224 002 109 367 III 757 266 575 000 379 1510 Idade (anos) 101 002 042 067 097 104 Peso(kg) 099 001 -031 075 097 102 Ano do estudo ndash 2006(referecircncia)
1
2008 076 019 -109 027 046 124
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
46
A prevalecircncia de anisocitose (RDW gt 14) em gestantes anecircmicas foi
praticamente o dobro da prevalecircncia nas natildeo anecircmicas (p lt 0 001) (Figura 3)
2006
2008
Teste qui-quadrado comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 (p=0 642)
Figura 3 - Distribuiccedilatildeo e porcentagem () de gestantes natildeo anecircmicas e
anecircmicas segundo Red Cell Distribution (RDW) e ano do estudo nas
Unidades Baacutesicas de Sauacutede da Regional Butantatilde Satildeo Paulo 2006-
2008
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
47
A meacutedia de RDW nas gestantes atendidas nas Unidades Baacutesicas de
Sauacutede da Regional do Butantatilde em 2006 e 2008 foi de 136 com variaccedilatildeo de
113 a 203 Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores meacutedios de RDW ()
os quais foram similares nos dois anos estudados
Tabela 8 - Distribuiccedilatildeo meacutedias (desvios padratildeo) miacutenimo e maacuteximo de RDW () segundo trimestre gestacional e ano do estudo em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Trimestre 2006 2008
ano n (s) min maacutex n (s) min maacutex
I 183 135 (1) 116 172 156 136 (1) 121 195
II 170 137 (1) 113 203 180 137 (1) 116 189
III 34 135 (1) 119 153 49 138 (1) 124 16
Total 387 136 385 137
Legenda meacutedia (s) desvio padratildeo
p=regressatildeo linear entre os anos 2006 e 2008 (p=066)
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
59
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Resultados
48
A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla mostrou que as gestantes que
estavam no II trimestre gestacional aumentaram de forma significante o RDW em
016 (p = 002) Esse iacutendice foi similar nos dois periacuteodos estudados (p = 066)
(Tabela 9)
Tabela 9 - Regressatildeo linear muacuteltipla considerando como variaacutevel independente o RDW de gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre coeficiente EP t p gt | t | (IC 95)
I (referecircncia) 0
II 016 007 226 002 002 030 III 015 011 130 020 - 008 037 Idade (anos) 0005 000 104 030 -0005 002 Peso (kg) - 000 000 - 058 056 - 0008 0004 Ano do estudo ndash 2006 (referecircncia)
2008 0029 07 044 066 - 010 016 Interceptaccedilatildeo 1350 022 6188 000 1307 1392
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
O risco de aumento de RDW eacute 141 vezes maior no II trimestre (p = 005)
De acordo com a anaacutelise de regressatildeo logiacutestica fatores como idade peso preacute-
gestacional e ano de avaliaccedilatildeo natildeo interferem no iacutendice (p = 006) (Tabela 10)
Tabela 10 - Regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW em gestantes de Unidades Baacutesicas de Sauacutede Regional do Butantatilde Satildeo Paulo 2006 e 2008
Variaacuteveis
Trimestre
Odds ratio
(OR) EP t p (IC 95)
I (referencia) 1 1 II 141 024 196 005 100 197 III 132 036 100 032 077 226 Idade (anos) 102 001 187 006 01 105 Peso(kg) 100 0001 - 057 057 098 101 Ano do estudo 2006(referencia)
2008 103 016 017 086 075 142
n=772 IC= Intervalo de confianccedila EP = Erro padratildeo
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
49
6 DISCUSSAtildeO
A populaccedilatildeo avaliada neste estudo constituiu-se de 772 gestantes
atendidas em 13 UBS da regional de sauacutede do Butantatilde nos anos de 2006 e 2008
A faixa etaacuteria do grupo estudado variou de 20 e 35 anos de idade em sua maioria
sendo que cerca de 20 eram adolescentes Entre as que tinham registradas as
caracteriacutesticas pessoais 52 autorreferiram ser de cor branca ou de cor parda
(39 ) (Tabela 1) A situaccedilatildeo conjugal natildeo foi registrada em 41 (316) dos
prontuaacuterios sendo que houve aumento da proporccedilatildeo de gestantes solteiras de 44
para 51 Entre 2006 e 2008 tambeacutem houve aumento da escolaridade das
gestantes (Tabela 1)
Berquoacute e Cavenaghi (2005) destacam que o comportamento reprodutivo
varia segundo os grupos sociais e que existem diferenccedilas conforme a condiccedilatildeo
socioeconocircmica das mulheres sendo a fecundidade mais precoce nos grupos
menos instruiacutedos bem como nos grupos com menor renda Aleacutem disso a
demanda nutricional eacute aumentada para o desenvolvimento fiacutesico e quando
adolescente a gestante tem maior necessidade nutricional de vitaminas e
minerais para o crescimento do feto
Entre os determinantes da anemia a escolaridade exerce um papel
fundamental Assim o baixo niacutevel de escolaridade tem sido apontado em estudos
epidemioloacutegicos como um indicador de risco no que se refere agrave sauacutede e agrave
nutriccedilatildeo da populaccedilatildeo O indiviacuteduo com maior escolaridade tem maiores
oportunidades de emprego entende os problemas relacionados agrave sua qualidade
de vida e em consequecircncia disso pode evitar situaccedilotildees desfavoraacuteveis agrave sua
sauacutede (MONTEIRO SZARFARC MONDINI 2000 NEUMAN et al 2000)
Assim a escolaridade qualifica a gestante para um trabalho mais bem
remunerado e que pode levar a uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel Elas estatildeo
expostas a menor risco de deficiecircncias nutricionais como eacute a deficiecircncia de ferro
que eacute a mais referida pelas consequecircncias deleteacuterias a ela associadas
A elevada proporccedilatildeo de gestantes residentes em favelas (29 ) era
esperada considerando o nuacutemero desses agrupamentos sociais na regional do
Butantatilde Na populaccedilatildeo de gestantes que informaram sua ocupaccedilatildeo observa-se
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
50
que em 2008 566 exerciam atividade remunerada valor inferior ao de 2006
(Tabela 1) Em resumo o niacutevel de escolaridade e a atividade remunerada satildeo
indicadores importantes na avaliaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida de uma populaccedilatildeo
No caso avaliando-se esses dois fatores houve entre 2006 e 2008 melhoria nas
condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo avaliada
No presente estudo a perda da informaccedilatildeo da estatura inviabilizou a
anaacutelise do estado nutricional preacute-gestacional de todas as gestantes Somente
356 (n=275) da populaccedilatildeo avaliada tinha dados de peso e estatura e as
proporccedilotildees de baixo peso sobrepeso e obesidade foram respectivamente 65
21 11 e 61 de eutrofia (Tabela 2) Esses resultados estatildeo concordantes
com os obtidos no Inqueacuterito de Sauacutede da Cidade de Satildeo Paulo (ISA) realizado
em 2008 em que foi avaliado o estado nutricional de adultos (20-59 anos)
(PREFEITURA DA CIDADE DE SAtildeO PAULO 2008)
Os resultados da POF 20082009 ao mostrar a tendecircncia secular da
evoluccedilatildeo do estado nutricional de mulheres adultas no paiacutes apontam que o
excesso de pesoobesidade entre as mulheres que estavam no quinto inferior de
renda aumentou de 80 em 19741975 para 15 em 20082009 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE 2010) Um aumento de
quase o dobro em duas deacutecadas
Zimmermann et al (2008) em estudo feito na Tailacircndia Iacutendia e Marrocos
examinaram a relaccedilatildeo entre IMC e absorccedilatildeo de ferro Os autores observaram
que nas mulheres avaliadas independentemente do status de ferro maior IMC
associou-se com a diminuiccedilatildeo da absorccedilatildeo de ferro porque altera o niacutevel de
absorccedilatildeo hepaacutetica Em crianccedilas maior IMC foi preditor de pior status de ferro e
menor resposta agrave intervenccedilatildeo (fortificaccedilatildeo de alimentos) No presente estudo ao
se avaliar os 275 prontuaacuterios com registro de IMC nos anos de 2006 e de 2008
identificamos 30 gestantes obesas e dessas 6 anecircmicas Possivelmente a
prevalecircncia de anemia seja maior entre essas mulheres
No periacuteodo gestacional o atendimento agraves recomendaccedilotildees nutricionais
tem grande influecircncia no ganho de peso Aleacutem disso o estado nutricional
materno durante a gestaccedilatildeo interfere no peso ao nascer da crianccedila jaacute que as
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
51
boas condiccedilotildees do ambiente uterino favorecem o desenvolvimento fetal adequado
(BARROS et al 1987) A relaccedilatildeo entre peso e altura da gestante eacute um forte
indicador da adequaccedilatildeo do peso do concepto ao nascimento Quando o IMC eacute
baixo o risco do concepto nascer com baixo peso eacute elevado com consequentes
riscos de morbidades e mortalidade Obter esse indicador e orientar a mulher para
que atinja o peso adequado tambeacutem satildeo aspectos que devem fazer parte da
assistecircncia preacute-natal e que pode ser garantido com o registro de peso e altura
nos prontuaacuterios no momento da consulta
Todos os prontuaacuterios selecionados apresentaram resultados de
hemogramas realizados em sua maioria entre o primeiro e segundo trimestres
gestacionais (Tabela 3) Observado melhor qualidade de preenchimento dos
dados constantes dos prontuaacuterios nas unidades com Estrateacutegia de Sauacutede da
Famiacutelia
Sato et al (2008) ao trabalharem com dados secundaacuterios de prontuaacuterios
de gestantes do Centro de Sauacutede Escola da mesma regiatildeo observaram captaccedilatildeo
mais precoce de gestantes (cerca de 65 ) para a realizaccedilatildeo desse exame ndash no
iniacutecio do preacute-natal Esse fato eacute possivelmente relacionado com a melhor dinacircmica
de atendimento do Centro de Sauacutede Escola Neme e Zugaib (2006) e Zugaib et al
(2008) destacam que eacute importante iniciar o preacute-natal no primeiro trimestre de
gestaccedilatildeo para diminuir os riscos associados
Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade de se
aumentar a captaccedilatildeo das mulheres para o preacute-natal no I trimestre de gestaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo principalmente dos exames de rotina As UBS estatildeo
capacitadas a prover esse atendimento mas nem sempre haacute garantia de que a
gestante atenda a recomendaccedilatildeo Essa compreensatildeo possivelmente se relaciona
com a escolaridade da gestante a rotina extenuante com tarefas no lar e fora dele
e se faltarem ao trabalho podem perder o emprego ou natildeo recebem o valor da
diaacuteria caso sejam diaristas
A prevalecircncia da anemia entre gestantes que atenderam os requisitos
fixados neste estudo foi de 10 em 2006 e 88 em 2008 sem diferenccedila
estatiacutestica (p = 027) entre os valores (Figura 2)
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
52
Sato et al (2008) analisaram retrospectivamente prontuaacuterios do Centro
de Sauacutede Escola do Butantatilde e obtiveram 92 de prevalecircncia em 2003 e 86
em 2006 tambeacutem sem diferenccedila estatisticamente significativa na prevalecircncia
nesses dois anos Embora esses estudos natildeo sejam complementares eles
assinalam a estabilizaccedilatildeo dos valores nessa regiatildeo no niacutevel de 9 de
prevalecircncia
Por outro lado a mesma autora observou reduccedilatildeo estatisticamente
significante (p lt 0001) de 25 para 20 na prevalecircncia de anemia em estudo
multicecircntrico que avaliou 12119 gestantes nas cinco regiotildees do paiacutes (nordeste
norte sul sudeste centro-oeste) Apesar da variaccedilatildeo entre as regiotildees ocorreu
aumento na concentraccedilatildeo de Hb no total da amostra sugerindo efeito positivo da
fortificaccedilatildeo das farinhas no controle da anemia Destaca-se ainda que no estudo
natildeo foram verificadas variaacuteveis macroeconocircmicas ou poliacuteticas puacuteblicas
implementadas no periacuteodo que contribuiacutessem para esse resultado (SATO 2010)
Considerando os fatores dieteacuteticos e sua relaccedilatildeo com os niacuteveis de
hemoglobina Viana et al (2009) verificaram por inqueacuterito alimentar que o
consumo meacutedio de ferro de mulheres acima de 18 anos assistidas na
Maternidade Social Amparo Maternal em Satildeo Paulo era de 106 (51) mgd entre
as natildeo gestantes e de 130 (51) mgd entre as gestantes Lembrando que a
Necessidade Meacutedia Estimada de ferro eacute de 22 mgd (IOM 2001) conclui-se que
possivelmente a ingestatildeo de ferro eacute inadequada para esse grupo nessa regiatildeo
Os uacutenicos trabalhos que apresentam o consumo de Fe em gestantes na
regiatildeo do Butantatilde satildeo os de Cruz em 2004-2006 e de Sato em 2010 jaacute citado
A meacutedia de ingestatildeo de Fe por gestante da regiatildeo natildeo sendo considerado Fe da
fortificaccedilatildeo foi de 106 mgd obtidos em trecircs inqueacuteritos recordatoacuterios de 24 horas
(CRUZ 2010) Tambeacutem Sato et al (2010) comparando o consumo de alimentos
habituais e fortificados por mulheres em idade reprodutiva e gestante de 20 a 49
anos verificaram que a principal fonte de ferro era o feijatildeo e as hortaliccedilas de
folhas verdes e a ingestatildeo de Fe era de 136mgd Essa diferenccedila na meacutedia de
ingestatildeo de ferro possivelmente estaacute relacionada com o aumento do aporte
dieteacutetico do ferro pela fortificaccedilatildeo da farinha
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
53
Considerando a importacircncia de fatores sociodemograacuteficos na ocorrecircncia
da anemia fica destacado o estudo desenvolvido para avaliar a efetividade da
intervenccedilatildeo com a fortificaccedilatildeo da farinha de trigo e de milho realizada em duas
localidades com Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) similares em 2007
Cuiabaacute com IDH = 0821 e Maringaacute com IDH = 0841 A desigualdade social
existente entre esses dois municiacutepios foi evidente mas natildeo se refletiu nos valores
de IDH As condiccedilotildees sociodemograacuteficas em Cuiabaacute eram mais precaacuterias e a
prevalecircncia de anemia foi significativamente maior (255 ) quando comparada
com Maringaacute (106 ) O fator que mais refletiu essa relaccedilatildeo foi a razatildeo entre a
renda dos 10 mais ricos e os 40 mais pobres (FUJIMORI et al 2009) Esses
resultados mostram a importacircncia de se rever os indicadores e a forma de
calculaacute-los
Na aacuterea da sauacutede coletiva os determinantes da anemia ferropriva
originam-se de uma cadeia de fatores que nos paiacuteses em desenvolvimento satildeo
liderados por condiccedilotildees socioeconocircmicas desfavoraacuteveis e pela escassez de
poliacuteticas puacuteblicas dirigidas a controlar essa deficiecircncia nutricional Os estudos
realizados no Brasil associam a anemia a populaccedilotildees de baixa renda de aacutereas
urbanas e rurais agraves condiccedilotildees precaacuterias de habitaccedilatildeo e saneamento baacutesico e
como jaacute comentado ao baixo niacutevel de escolaridade (ASSIS et al1997 SPINELLI
et al 2005 SANTOS et al 2004)
Conforme esperado a prevalecircncia da anemia aumentou com a evoluccedilatildeo
da gestaccedilatildeo sendo cerca de 5 no primeiro trimestre 95 no segundo e
variando de 22 a 35 no terceiro trimestre (p = 0001) (Tabela 4) A
hemoglobina variou entre 86 gdL e 150 gdL em distribuiccedilatildeo normal com meacutedia
de 123 gdL Verificou-se diminuiccedilatildeo de valores meacutedios de hemoglobina de 126
gdL no primeiro trimestre para 122 gdL no segundo trimestre e 115 gdL no
terceiro trimestre (Tabela 5) A anaacutelise de regressatildeo linear muacuteltipla (Tabela 6)
tambeacutem destaca a relaccedilatildeo entre idade gestacional e o valor da concentraccedilatildeo de
Hb da gestante Pode-se dizer que no segundo trimestre a concentraccedilatildeo de
hemoglobina diminuiu em 042 gdL e no terceiro trimestre em 097 gdL em
relaccedilatildeo ao I trimestre (p = 0 001) A principal causa da diminuiccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de hemoglobina refere-se a hemodiluiccedilatildeo periacuteodo em que ocorre
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
54
aumento do volume plasmaacutetico (de 45 a 50) enquanto o volume dos eritroacutecitos
eleva-se em 33
A anaacutelise de regressatildeo logiacutestica muacuteltipla (Tabela 7) confirma odds ratio
significativamente maior para a anemia com o aumento da idade gestacional
(Tabela 7) O odds aumenta 2 vezes do primeiro trimestre (I) para o segundo (II) e
76 vezes do primeiro para o terceiro (III) Outros fatores como idade peso e ano
do estudo natildeo influenciam na concentraccedilatildeo de hemoglobina Eacute interessante notar
que embora natildeo estatisticamente significante o odds ratio em 2008 eacute 24 menor
do que o observado em 2006 Esse resultado sugere que a fortificaccedilatildeo das
farinhas jaacute teve um efeito positivo no controle da anemia ferropriva e que seraacute
significativo possivelmente em mais alguns anos
Esses resultados foram similares aos observados por Vanucchi et al
(1992) Guerra (1992) CDC (1998) Cassella et al (2007) e Sato et al (2008) que
avaliaram gestantes Eacute importante considerar que a dificuldade de diagnoacutestico da
anemia na gravidez como jaacute mencionado estaacute ligada aos pontos de corte
adotados e que devem considerar a hemodiluiccedilatildeo fisioloacutegica nesse periacuteodo
(LEWIS 2006)
Allen (2000) revendo os efeitos da anemia e deficiecircncia de ferro entre
gestantes e a duraccedilatildeo da gestaccedilatildeo verificou risco relativo de 118 a 175 de parto
prematuro e de baixo peso ao nascer quando os niacuteveis de hemoglobina estavam
abaixo de 104 gdL no primeiro trimestre por ocasiatildeo do primeiro diagnoacutestico
Relaccedilatildeo similar foi observada entre mulheres da aacuterea rural do Nepal onde a
anemia e deficiecircncia de ferro estavam associadas ao alto risco de preacute-termo no
primeiro e segundo trimestre gestacional (KLEBANOFF et al 1991 DREIFUSS
1998 PERRY GS YIP R ZYRKOWSKI C1995)
No presente estudo verifica-se a ocorrecircncia de 009 (n = 7) de
mulheres anecircmicas (Hb lt 104mgdL) ainda em risco apesar da fortificaccedilatildeo
Seriam necessaacuterias a orientaccedilatildeo nutricional dirigida agrave adequaccedilatildeo de ferro e uma
avaliaccedilatildeo cliacutenica dirigida a outras causa de anemia Nesse aspecto a prevalecircncia
de anemia em niacuteveis considerados leves pela OMS (5 a 199 ) exigiria uma
avaliaccedilatildeo de outras causas identificaacuteveis com outros exames bioquiacutemicos
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
55
complementares (BRAGA AMANCIO VITALLE 2006 WHO 2006) Se de um
lado o custo elevado desses exames muitas vezes poderia inviabilizar a sua
realizaccedilatildeo na maior parte dos estudos epidemioloacutegicos por outro lado eles fazem
parte da relaccedilatildeo de exames do Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2010) e dessa
forma deveriam ser solicitados em algumas condiccedilotildees Por exemplo o fato de se
ter uma prevalecircncia de anemia relativamente baixa jaacute possibilitaria a realizaccedilatildeo
desses exames complementares que sem duacutevida auxiliariam no diagnoacutestico de
outras causas de anemia (BRESANI et al 2007)
Satildeo poucos os estudos que tratam da utilizaccedilatildeo dos iacutendices morfoloacutegicos
no diagnoacutestico da anemia em gestantes (MCCLURE BESMAN 1983 CASELLA
et al 2007 XING et al 2009) Dentre os indicadores auxiliares no diagnoacutestico
diferencial dos diversos tipos de anemia para anaacutelise do estado corporal de ferro
destacam-se o VCM e o RDW De acordo com CDC (1998) a medida do RDW
estaraacute sempre elevada na presenccedila da anemia ferropriva (GROTTO 2008) No
presente estudo 46 e 56 das gestantes anecircmicas apresentaram anisocitose
em 2006 e 2008 respectivamente A presenccedila de anisocitose foi nas gestantes
anecircmicas praticamente o dobro do valor encontrado nas gestantes natildeo anecircmicas
independente do periacuteodo avaliado (p = 0001) (Figura 3) As meacutedias de RDW
obtidas no I II e III trimestres gestacionais foram respectivamente de 135 (1
) 137 (1 ) e 135 (1 ) em 2006 com valores similares em 2008
(Tabela 8) Natildeo houve diferenccedilas estatisticamente significativas na distribuiccedilatildeo
das meacutedias nos dois periacuteodos (p = 0 66)
Por outro lado a regressatildeo linear muacuteltipla mostrou diferenccedila significativa
entre os valores de RDW do I e II trimestres gestacionais Essa diferenccedila natildeo foi
observada quando foram consideradas idades peso e ano de estudo (Tabela 9)
O RDW-CV eacute uma medida derivada da curva de distribuiccedilatildeo dos
eritroacutecitos e expressa numericamente a variaccedilatildeo de seu tamanho em
porcentagem (BROLLO TAVARES 2010) Os estudos que referem valores de
RDW em gestantes no Brasil satildeo poucos Os valores meacutedios variam de 135 a
155 e aparentemente quanto maior a prevalecircncia de anemia maior o valor da
meacutedia de RDW (NASCIMENTO 2005 SOARES 2008 CASELLA et al 2007
XING et al 2009)
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
Considerando que no I trimestre as profundas alteraccedilotildees fisioloacutegicas da
gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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59
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
56
Villas Boas et al (2003) referem ser o RDW um iacutendice pouco sensiacutevel
mas altamente especiacutefico para a presenccedila de anisocitose (RDW gt 14) Assim
valores anormais de RDW satildeo altamente sugestivos de alteraccedilotildees na
homogeneidade da populaccedilatildeo eritrocitaacuteria necessitando a anaacutelise morfoloacutegica
acurada dos eritroacutecitos Se considerarmos por exemplo aquelas mulheres
anecircmicas que tinham RDW gt 14 a prevalecircncia seria de cerca de 5 de
anemia por deficiecircncia de ferro ou seja 50 do total de anecircmicas
A regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados ao RDW
mostra que no II trimestre gestacional a gestante apresenta odds 141 vezes
maior do que o do III trimestre que eacute de 132
O peso preacute-gestacional e o ano do estudo natildeo influenciaram
significantemente o valor do odds (Tabela 10)
A demanda suplementar de ferro durante o ciclo graviacutedico eacute
extremamente elevada Como descrito por Hitten e Leitch (1947) a necessidade
de ferro suplementar durante os trecircs primeiros meses da gestaccedilatildeo eacute baixa pouco
se diferenciando da necessidade basal preacute-gestacional podendo ser compensada
pela ausecircncia da menstruaccedilatildeo e ocorre de forma natildeo homogecircnea no decorrer do
periacuteodo gestacional passando de 1 para 25 mgdia no II trimestre e 65 mgdia no
III trimestre Entretanto a demanda de ferro dieteacutetico dificilmente supriraacute esta
necessidade sem a ingestatildeo de ferro suplementar
Data de 1985 a inclusatildeo no Programa de Atenccedilatildeo agrave Gestante da
distribuiccedilatildeo de ferro suplementar Em 2005 a medida foi reforccedilada com programa
destinado agraves lactentes e novamente agraves gestantes (BRASIL 2010) Obviamente
mulheres que iniciam a gestaccedilatildeo com reservas adequadas do mineral poderiam
atravessar o ciclo gestacionalpuerperal sem necessidade de ferro suplementar
no entanto segundo o INACG (1977) apenas 5 das mulheres no mundo
consegue tal situaccedilatildeo Esse fato ressalta que a deficiecircncia de ferro mesmo sem a
anemia ocorre de forma endecircmica entre a populaccedilatildeo feminina e a gestaccedilatildeo
somente faz acirrar a presenccedila da deficiecircncia nutricional
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gestaccedilatildeo ainda natildeo ocorreram adotando-se como exerciacutecio o ponto de corte de
Discussatildeo
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120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
Referecircncias Bibliograacuteficas
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Discussatildeo
57
120 g de HbdL para anemia (o mesmo de mulheres adultas natildeo graacutevidas) a
porcentagem de anecircmicas seria de cerca de 25 configurando um risco
moderado
Quando se utilizou para o I trimestre gestacional o ponto de corte de
120 gdL o mesmo que para mulheres natildeo graacutevidas a prevalecircncia de anemia foi
de 224 em 2006 e de 282 em 2008 valores tambeacutem natildeo
significativamente diferentes (p = 0219) e superiores aos 5 encontrados
quando o ponto de corte foi de 110 gdL Haacute que se considerar ainda que no
primeiro trimestre de gestaccedilatildeo a mulher deva ser menos anecircmica porque eacute
amenorreica e ainda natildeo ocorreu a expansatildeo do volume plasmaacutetico que eacute
fisioloacutegica na gravidez Portanto a utilizaccedilatildeo do ponto de corte de 11 g HbdL
pode diminuir a sensibilidade desse indicador para anemia Os dados sugerem
portanto que possa ser interessante adotar pontos de corte diferentes para cada
trimestre gestacional como alguns autores recomendam (CDC 1998 LEWIS
2006)
Apesar deste estudo natildeo avaliar diretamente o impacto da fortificaccedilatildeo
seria de se esperar de acordo com a literatura que em dois anos nesse niacutevel de
prevalecircncia natildeo houvesse reduccedilatildeo da prevalecircncia de anemia nessa populaccedilatildeo
em resposta ao ferro suplementar veiculado pelas farinhas de trigo e de milho
(WHO 2006 ASSUNCcedilAtildeO SANTOS 2007) Entretanto verifica-se atraveacutes da
regressatildeo logiacutestica muacuteltipla para fatores de risco associados a anemia que
embora natildeo significativo estatisticamente o odds ratio em 2008 eacute 24 menor do
que o observado em 2006 (p = 027) o que poderia indicar uma tendecircncia de
reduccedilatildeo da anemia
Conclusatildeo
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7 CONCLUSAtildeO
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ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
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761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Conclusatildeo
58
7 CONCLUSAtildeO
[1] A prevalecircncia de anemia de gestantes atendidas nas 13 UBS da regional
do Butantatilde nos anos de 2006 e de 2008 foi de 100 e 88
respectivamente sem diferenccedila estatisticamente significativa entre esses
valores e considerada leve segundo a OMS
[2] A anisocitose nas anecircmicas foi o dobro das natildeo anecircmicas o que merece
ser investigada
[3] Na comparaccedilatildeo dos anos de 2006 e 2008 os niacuteveis de Hb e de RDW
foram similares em todos os trimestres A idade das gestantes e os anos
em que foram feitas as anaacutelises natildeo interferiram nesse indicador
[4] A concentraccedilatildeo de hemoglobina diminuiu com a evoluccedilatildeo da gestaccedilatildeo
sendo que os maiores decreacutescimos ocorreram no II e III trimestres nos
dois periacuteodos
[5] O II e III trimestres satildeo fatores de risco para anemia
Sugestotildees
A partir deste extenso trabalho de captaccedilatildeo de dados e de contato com as
UBS o que fica claro eacute que no municiacutepio de Satildeo Paulo haacute infraestrutura bem
construiacuteda para o atendimento agrave gestante ndash e que pode ser aprimorada sem
grandes custos Seria importante que ocorresse a captaccedilatildeo precoce dessas
mulheres para esse atendimento que as medidas de peso e estatura fossem
sempre registradas e ainda que no caso de ser diagnosticada anemia fossem
feitos exames complementares para diagnosticar tambeacutem a deficiecircncia de ferro
Esses dados possibilitariam avaliaccedilotildees de outras causas de anemia como por
exemplo aquela relacionada com sobrepesoobesidade
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Anexo
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
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Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
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Vannucchi IH Freitas MLS Szarfarc SC Prevalecircncia de anemias nutricionais no
Brasil Cad Sauacutede Puacuteblica 1992 4(1)7-26
Viana JML Tsunechiro MA Bonadio IC Fugimori E Santos AU Sato APS
Szarfarc SC Adequaccedilatildeo do consumo de ferro por gestantes e mulheres em idade
feacutertil atendidas em um serviccedilo de preacute-natal Mundo Sauacutede 2009 33(3)286-293
Vicari P Figueiredo ME Diagnoacutestico diferencial da deficiecircncia de ferro Rev Bras
Hematol Hemoter 2010 32(supl2)29-31
Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
Vitolo MR Baixa escolaridade como fator limitante para o combate agrave anemia entre
gestantes Rev Bras Ginecol Obstet 2006 28(6)331-339
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developing countries Whashington World Bank 1994 73p
World Health Organization (WHO) Guidelines on food fortification with
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Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
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Vicari P Figueiredo ME Diagnoacutestico diferencial da deficiecircncia de ferro Rev Bras
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Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
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Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Referecircncias Bibliograacuteficas
63
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Papa ACE Furlan JP Pasquelle M Guazzelli CAF Figueiredo MS Camano L
Mattar R A anemia por deficiecircncia de ferro na graacutevida adolescente comparaccedilatildeo
entre meacutetodos laboratoriais Rev Bras Ginecol Obstet 2003 25(10)731-8
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ferro [Dissertaccedilatildeo de Mestrado] Satildeo Paulo Escola de Enfermagem da
Universidade de Satildeo Paulo 2010
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Soares NN O impacto da gravidez e do parto na ocorrecircncia de anemia ferropriva
e sobre o estado corporal do ferro em adolescentes e adultas [tese] Satildeo Paulo
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2001 131(2S-2)697S-700S
Vannucchi IH Freitas MLS Szarfarc SC Prevalecircncia de anemias nutricionais no
Brasil Cad Sauacutede Puacuteblica 1992 4(1)7-26
Viana JML Tsunechiro MA Bonadio IC Fugimori E Santos AU Sato APS
Szarfarc SC Adequaccedilatildeo do consumo de ferro por gestantes e mulheres em idade
feacutertil atendidas em um serviccedilo de preacute-natal Mundo Sauacutede 2009 33(3)286-293
Vicari P Figueiredo ME Diagnoacutestico diferencial da deficiecircncia de ferro Rev Bras
Hematol Hemoter 2010 32(supl2)29-31
Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
Vitolo MR Baixa escolaridade como fator limitante para o combate agrave anemia entre
gestantes Rev Bras Ginecol Obstet 2006 28(6)331-339
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World Health Organization (WHO) Guidelines on food fortification with
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World Health Organization (WHO) Iron deficiency anemia assessment
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Referecircncias Bibliograacuteficas
68
Xing Y Hong Y Shaonong D Zhuoma B Xiaoyan Z Wang D Hemoglobin levels
and anemia evaluation during pregnancy in the highlands of Tibet a hospital-
based study BMC Public Health 2009 9336
Zimmermann MB Zeder C Muthayya S Chaouki N Aeberli I Hurrell RF
Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Referecircncias Bibliograacuteficas
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status of Chinese pregnant women with anemia and nonanemia in the last
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McClure S Custer E Bessman JD RDW is the earliest predictor of iron
deficiency Blood 1983 62(suppl1)51
Miller O Gonccedilalves R Laboratoacuterio para o cliacutenico 8ordf ed Satildeo Paulo Ateneu 1995
Monteiro CA Szarfarc SC Mondini L Tendecircncia secular da anemia na infacircncia na
cidade de Satildeo Paulo (1984-1996) Rev Sauacutede Puacuteblica 200034(6)62-72
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Neme B Zugaib M Assistecircncia preacute-natal In ______ Obstetriacutecia baacutesica 3 ed
Satildeo Paulo Savier 2006 cap12 p 104-9
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Mattar R A anemia por deficiecircncia de ferro na graacutevida adolescente comparaccedilatildeo
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peso atual e comportamento relacionado ao desejo de emagrecer na cidade de
Satildeo Paulo (ISA) Satildeo Paulo Ceinfo 2010
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em gestantes e a fortificaccedilatildeo de farinhas com ferro Texto amp Contexto
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cinco regiotildees brasileiras antes e apoacutes a poliacutetica de fortificaccedilatildeo das farinhas com
ferro [Dissertaccedilatildeo de Mestrado] Satildeo Paulo Escola de Enfermagem da
Universidade de Satildeo Paulo 2010
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA 15 bebecircs morrem com asfixia por dia
[acesso em 2010 Mar 29] Disponiacutevel em
httpwwwsbpcombrshow_item2cfmid_categoria=52ampid_detalhe=3487amptipo_d
etalhe=s
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Rev Bras Hematol Hemoter 2002 24(1)29-36
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Brasil Cad Sauacutede Puacuteblica 1992 4(1)7-26
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Szarfarc SC Adequaccedilatildeo do consumo de ferro por gestantes e mulheres em idade
feacutertil atendidas em um serviccedilo de preacute-natal Mundo Sauacutede 2009 33(3)286-293
Vicari P Figueiredo ME Diagnoacutestico diferencial da deficiecircncia de ferro Rev Bras
Hematol Hemoter 2010 32(supl2)29-31
Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
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Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
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2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Referecircncias Bibliograacuteficas
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sauacutede na cidade de Satildeo Paulo [Internet] Satildeo Paulo 2009 [citado 2010 maio 5]
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Prefeitura da Cidade de Satildeo Paulo Secretaria Municipal da Sauacutede Coordenaccedilatildeo
de Epidemiologia e Informaccedilatildeo Estado nutricional insatisfaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao
peso atual e comportamento relacionado ao desejo de emagrecer na cidade de
Satildeo Paulo (ISA) Satildeo Paulo Ceinfo 2010
Prefeitura da Cidade de Satildeo Paulo Secretaria Municipal de Habitaccedilatildeo [Internet]
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em gestantes e a fortificaccedilatildeo de farinhas com ferro Texto amp Contexto
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cinco regiotildees brasileiras antes e apoacutes a poliacutetica de fortificaccedilatildeo das farinhas com
ferro [Dissertaccedilatildeo de Mestrado] Satildeo Paulo Escola de Enfermagem da
Universidade de Satildeo Paulo 2010
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e sobre o estado corporal do ferro em adolescentes e adultas [tese] Satildeo Paulo
UNIFESP 2008
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA 15 bebecircs morrem com asfixia por dia
[acesso em 2010 Mar 29] Disponiacutevel em
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Souza AI Batista Filho MB Ferreira LOC Alteraccedilotildees hematoloacutegicas na gravidez
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Spinelli MGN Marchioni DML Souza JMP Souza SB Sazarfarc SC Fatores de
risco para anemia em crianccedilas de 6 a 12 meses no Brasil Rev Panam Salud
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Brasil Cad Sauacutede Puacuteblica 1992 4(1)7-26
Viana JML Tsunechiro MA Bonadio IC Fugimori E Santos AU Sato APS
Szarfarc SC Adequaccedilatildeo do consumo de ferro por gestantes e mulheres em idade
feacutertil atendidas em um serviccedilo de preacute-natal Mundo Sauacutede 2009 33(3)286-293
Vicari P Figueiredo ME Diagnoacutestico diferencial da deficiecircncia de ferro Rev Bras
Hematol Hemoter 2010 32(supl2)29-31
Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
Vitolo MR Baixa escolaridade como fator limitante para o combate agrave anemia entre
gestantes Rev Bras Ginecol Obstet 2006 28(6)331-339
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Zimmermann MB Zeder C Muthayya S Chaouki N Aeberli I Hurrell RF
Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Referecircncias Bibliograacuteficas
66
Santos PNP Cerqueira EMM Prevalecircncia de anemia nas gestantes atendidas em
Unidades de Sauacutede em Feira de Santana Bahia entre outubro de 2005 e marccedilo
de 2006 Rev Bras Anal Clin 2008 40(3)219-23
Sato APS Fujimori E Szarfarc SC Borges ALV Tsunechiro MA Food
consumption and iron intake of pregnant and reproductive aged women Rev
Latinoam Enferm 2010 18(2)p247-54
Sato APS Fujimori E Szarfarc SC Sato JR Bonadio IC Prevalecircncia de anemia
em gestantes e a fortificaccedilatildeo de farinhas com ferro Texto amp Contexto
Enfermagem 2008 17(3)474-81
Sato APS Anemia em gestantes atendidas em serviccedilos puacuteblicos de preacute-natal das
cinco regiotildees brasileiras antes e apoacutes a poliacutetica de fortificaccedilatildeo das farinhas com
ferro [Dissertaccedilatildeo de Mestrado] Satildeo Paulo Escola de Enfermagem da
Universidade de Satildeo Paulo 2010
Scholl TO Reilly T Anemia iron and pregnancy J Nutr 2000 130(2)443S-447S
Soares NN O impacto da gravidez e do parto na ocorrecircncia de anemia ferropriva
e sobre o estado corporal do ferro em adolescentes e adultas [tese] Satildeo Paulo
UNIFESP 2008
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA 15 bebecircs morrem com asfixia por dia
[acesso em 2010 Mar 29] Disponiacutevel em
httpwwwsbpcombrshow_item2cfmid_categoria=52ampid_detalhe=3487amptipo_d
etalhe=s
Souza AI Batista Filho MB Ferreira LOC Alteraccedilotildees hematoloacutegicas na gravidez
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based study BMC Public Health 2009 9336
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Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Referecircncias Bibliograacuteficas
67
Stoltzfus RJ Iron-deficiency anemia reexamining the nature and magnitude of the
public health problem Summary implications for research and programs J Nutr
2001 131(2S-2)697S-700S
Vannucchi IH Freitas MLS Szarfarc SC Prevalecircncia de anemias nutricionais no
Brasil Cad Sauacutede Puacuteblica 1992 4(1)7-26
Viana JML Tsunechiro MA Bonadio IC Fugimori E Santos AU Sato APS
Szarfarc SC Adequaccedilatildeo do consumo de ferro por gestantes e mulheres em idade
feacutertil atendidas em um serviccedilo de preacute-natal Mundo Sauacutede 2009 33(3)286-293
Vicari P Figueiredo ME Diagnoacutestico diferencial da deficiecircncia de ferro Rev Bras
Hematol Hemoter 2010 32(supl2)29-31
Villas Boas MVC Araujo FMO Gilberti MFP Grotto HZW Utilidade do RDW-SD
como auxiliar na interpretaccedilatildeo das alteraccedilotildees morfoloacutegicas dos eritroacutecitos Roche
Diagnoacutestica 2003 apud Monteiro L Valores de referecircncia do RDW-CV e do
RDW-SD e sua relaccedilatildeo com o VCM entre os pacientes atendidos no ambulatoacuterio
do Hospital Universitaacuterio Oswaldo Cruz ndash Recife PE Rev Bras Hematol Hemoter
201032(1)34-9
Vitolo MR Baixa escolaridade como fator limitante para o combate agrave anemia entre
gestantes Rev Bras Ginecol Obstet 2006 28(6)331-339
World Bank Enriching Lives overcoming vitamin and mineral malnutrition in
developing countries Whashington World Bank 1994 73p
World Health Organization (WHO) Guidelines on food fortification with
micronutrients Geneva WHO 2006
World Health Organization (WHO) Iron deficiency anemia assessment
prevention and control a guide for programme managers Geneva
WHOUNICEF 2001
World Health Organization (WHO) Who Global Database on Child Growth and
Malnutrition Geneva WHO 2007
Referecircncias Bibliograacuteficas
68
Xing Y Hong Y Shaonong D Zhuoma B Xiaoyan Z Wang D Hemoglobin levels
and anemia evaluation during pregnancy in the highlands of Tibet a hospital-
based study BMC Public Health 2009 9336
Zimmermann MB Zeder C Muthayya S Chaouki N Aeberli I Hurrell RF
Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Referecircncias Bibliograacuteficas
68
Xing Y Hong Y Shaonong D Zhuoma B Xiaoyan Z Wang D Hemoglobin levels
and anemia evaluation during pregnancy in the highlands of Tibet a hospital-
based study BMC Public Health 2009 9336
Zimmermann MB Zeder C Muthayya S Chaouki N Aeberli I Hurrell RF
Adiposity in women and children from transition countries predicts decreased iron
absorption iron deficiency and reduced response to iron fortification Int J Obes
2008 321098ndash1104
Zugaib M Zugaib obstetriacutecia Barueri Manole 2008 cap 11-1 p 195 212 760-
761
Anexo
69
ANEXOS
Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Anexo
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Anexo 1 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash Faculdade de Ciecircncias Farmacecircuticas
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71
Anexo
70
Anexo 2 - Parecer do Comitecirc de Eacutetica ndash Secretaria Municipal de Sauacutede SP
Anexo
71