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Universidade de Lisboa Instituto de Geografia e Ordenamento do Território O TURISMO MÉDICO EM PORTUGAL: PERSPETIVAS NO CONTEXTO EUROPEU Ana Rita Pires Garcia Dissertação de Mestrado orientado pelo Prof.º Doutor Carlos Cardoso Ferreira e co-orientada pela Prof.ª Doutora Eduarda Marques da Costa Mestrado em Políticas Europeias 2015

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Universidade de Lisboa

Instituto de Geografia e Ordenamento do Território

O TURISMO MÉDICO EM PORTUGAL: PERSPETIVAS NO CONTEXTO

EUROPEU

Ana Rita Pires Garcia

Dissertação de Mestrado orientado pelo Prof.º Doutor Carlos Cardoso Ferreira

e co-orientada pela Prof.ª Doutora Eduarda Marques da Costa

Mestrado em Políticas Europeias

2015

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ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................................v

ÍNDICE DE QUADROS ..............................................................................................................v

RESUMO ................................................................................................................................... vi

ABSTRACT .............................................................................................................................. vii

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. viii

LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................................... ix

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................1

PARTE I ......................................................................................................................................5

CAPÍTULO I - TURISMO MÉDICO - DO CONCEITO ÀS SUAS CARATERÍSTICAS .....7

1.1. DO CONCEITO DE TURISMO DE SAÚDE AO TURISMO MÉDICO ................7

1.2. GÉNESE, EVOLUÇÃO E SEGMENTAÇÃO DO TURISMO MÉDICO ............. 11

1.3. CARACTERÍSTICAS DO TURISMO MÉDICO .................................................. 15

1.3.1. FATORES DE MOTIVAÇÃO ....................................................................... 16

1.3.2. CUIDADOS MÉDICOS ................................................................................. 23

1.4. GEOGRAFIA DO TURISMO MÉDICO À ESCALA MUNDIAL ....................... 25

1.4.1. PRINCIPAIS PAÍSES EMISSORES .............................................................. 27

1.4.2. PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO ............................................................ 30

1.5. PERFIL DA PROCURA DO TURISMO MÉDICO .............................................. 42

CAPÍTULO II - O TURISMO MÉDICO NAS POLÍTICAS EUROPEIAS E NACIONAIS. 47

2.1. POLÍTICAS EUROPEIAS ..................................................................................... 47

2.1.1. O TURISMO NAS POLÍTICAS EUROPEIAS .............................................. 47

2.1.2. A SAÚDE NAS POLÍTICAS EUROPEIAS .................................................. 54

2.1.3. TURISMO MÉDICO - UMA ABORDAGEM RELACIONAL ENTRE OS

SETORES DO TURISMO E DA SAÚDE ..................................................................... 57

2.2. POLÍTICAS NACIONAIS ..................................................................................... 59

2.2.1. POLÍTICAS SETORIAIS: TURISMO E SAÚDE ......................................... 59

2.2.2. ABORDAGENS REGIONAIS: ESTRATÉGIAS E POLÍTICAS .................. 63

2.2.3. UMA ABORDAGEM RELACIONAL NO QUADRO DO TURISMO

MÉDICO.. ...................................................................................................................... 69

PARTE II ................................................................................................................................... 77

CAPÍTULO III - TURISMO MÉDICO EM PORTUGAL ..................................................... 79

3.1. PORTUGAL NO MERCADO DO TURISMO MÉDICO: EVOLUÇÃO .............. 79

3.2. A OFERTA ............................................................................................................ 82

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3.2.1. REDES DE CUIDADOS MÉDICOS ............................................................. 82

3.2.2. ATORES CHAVE DO TURISMO MÉDICO ................................................ 83

3.3. A PROCURA ......................................................................................................... 85

3.3.1. DIMENSIONAMENTO E PERFIL ............................................................... 85

3.3.2. PRINCIPAIS REGIÕES EMISSORAS DE TURISTAS MÉDICOS ............. 86

3.3.3. PRINCIPAIS CUIDADOS DE SAÚDE PROCURADOS PELOS TURISTAS

MÉDICOS ...................................................................................................................... 89

CAPÍTULO IV – O FUTURO DO TURISMO MÉDICO: DESAFIOS E

OPORTUNIDADES .............................................................................................................. 91

4.1. FORÇAS, FRAQUEZAS, OPORTUNIDADES E AMEAÇAS ............................. 91

4.2. CONCLUSÕES E PERSPETIVAS ........................................................................ 93

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 98

ANEXOS ................................................................................................................................. 111

ANEXO I – GUIÃO DE ENTREVISTA ............................................................................. 113

ANEXO II – HOMEPAGES DOS WEBSITES EXEMPLIFICATIVOS .............................. 115

ANEXO III – REDE ORGANIZACIONAL DO TURISMO MÉDICO EM PORTUGAL . 118

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema concetual ......................................................................................................9

Figura 2 – Etapas que constituem o processo do Turismo Médico ............................................. 10

Figura 3 - Síntese da evolução do Turismo Médico ................................................................... 12

Figura 4 - Síntese dos fatores de motivação e dos fatores inibidores do Turismo Médico.......... 23

Figura 5 – Fluxos turísticos do Turismo Médico ........................................................................ 26

Figura 6 - Principais regiões/países emissores e de destino no Turismo Médico e respetivos

motivos....................................................................................................................................... 26

Figura 7 - Possíveis perfis dos turistas médicos ......................................................................... 45

Figura 8 - Políticas de Turismo elaboradas pela UE ................................................................... 48

Figura 9 - Matriz de produtos vs destinos ................................................................................... 61

Figura 10 – Análise SWOT ........................................................................................................ 92

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro I – Definições e subcategorias de Turismo Médico e de Turismo de Bem-Estar .............8

Quadro II - Destinos de Turismo Médico em África e no Médio Oriente ..................................31

Quadro III - Destinos de Turismo Médico na América Latina ...................................................33

Quadro IV - Destinos de Turismo Médico na Ásia ....................................................................35

Quadro V - Destinos de Turismo Médico na Europa ..................................................................37

Quadro VI - Meios de promoção do Turismo Médico ................................................................40

Quadro VII - Hospitais que cumprem os requisitos para prestarem cuidados de saúde aos utentes

não SNS .....................................................................................................................................63

Quadro VIII - Oportunidades em relação aos mercados e cuidados de saúde em que Portugal

poderá constituir um destino de Turismo Médico ......................................................................88

Quadro IX – Cuidados de saúde mais procurados nas entidades entrevistadas...........................90

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RESUMO

A realização de viagens com o objetivo de receber cuidados de saúde não é

completamente uma novidade. Porém, o termo Turismo de Saúde e Bem-Estar era

utilizado para, sobretudo, se referir a viagens realizadas com a finalidade de se receber

tratamentos terapêuticos com recurso a águas termais.

Perante o aumento, que se tem vindo a verificar nos últimos anos, do fluxo de

turistas que procuram submeter-se a tratamentos médicos ou a receber cuidados de

saúde por diversas razões, entre as quais se destacam os custos elevados nos países de

origem/residência, surgiu o termo Turismo Médico para melhor descrever esta nova

realidade turística. Ao longo dos anos, este fenómeno tem evoluído significativamente,

principalmente, nos países em desenvolvimento, estando os principais destinos

localizados no continente asiático. O mercado emissor é constituído por pacientes

provenientes, sobretudo, de países desenvolvidos, embora exista, simultaneamente, um

mercado regional. Contudo, talvez por ser um fenómeno turístico onde existe distorção

de dados por parte de alguns destinos deste segmento, os dados estatísticos sobre os

fluxos de turistas médicos não são consensuais.

Em Portugal, este fenómeno ainda não atingiu proporções significativas como as

verificadas em destinos consolidados, podendo estes serem especializados em

determinados procedimentos médicos ou serem alvo de procura em diversas

especialidades. Porém, são visíveis os esforços de promoção de Portugal, tanto na esfera

pública (estratégias regionais e nacional de turismo) como na esfera privada (unidades

hospitalares), enquanto destino de Turismo Médico. A verdade é que o governo e as

unidades hospitalares, principalmente, privadas já se aperceberam que o Turismo

Médico tem potencial para ser desenvolvido em Portugal, estando a ser realizadas,

atualmente, apostas para fomentar o seu crescimento. No entanto, os poucos dados

estatísticos não permitem dimensionar este segmento no país, nomeadamente, enquanto

destino. Neste sentido, pretende-se perceber quais os fatores que podem impulsionar,

com destaque para as políticas europeias em complementaridade com os fatores

atrativos de Portugal, o desenvolvimento do Turismo Médico no país.

Palavras-chave: Turismo Médico; Saúde; Políticas europeias; Portugal;

Competitividade.

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ABSTRACT

The realization of travel in order to receive health care is not completely new.

However, the term Tourism Health and Wellness was first used to refer to trips made

for the purpose of receiving therapeutic treatments using thermal waters.

Faced the increase that has been observed in recent years, the flow of tourists

looking to undergo medical treatment or receiving health care for different reasons

including most importantly the high costs in the country of origin/residence, came the

term Medical Tourism to better describe this new tourist reality. Over the years, this

phenomenon has evolved significantly, especially in developing countries, with the

main destinations located in Asia. The source market is made up of patients coming

mainly from developed countries, although there is both a regional market. Perhaps

because it is a tourist phenomenon where there is distortion of data by some destinations

in this segment, statistical data on flows of medical tourists are not consensual.

In Portugal, this phenomenon has not yet reached significant proportions as

those found at established destinations, and they may be specialized in certain medical

procedures or are searching for targets in various specialties. However are noticeable

efforts for the promotion of Portugal, both public (regional and national tourism

strategies) and private (hospitals) sphere as medical tourism destination. The truth is

that the government and hospitals, mainly private, have realized that medical tourism

has the potential to be developed in Portugal and is being held currently bets to foster

their growth. However the few statistical data does not scale this segment in the

country, such as destination. In this direction, we intend to understand what factors can

boost, especially European policy complementing the attractive factors of Portugal, the

development of medical tourism in the country.

Keywords: Medical Tourism; Health; European policies; Portugal; Competitiveness.

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AGRADECIMENTOS

A realização da presente dissertação de mestrado é o culminar, também, do

contributo, esforço e apoio demonstrado por algumas pessoas que estiveram envolvidas

direta ou indiretamente no desenvolvimento do trabalho. Desta forma, os meus

agradecimentos:

- Aos meus pais e à minha irmã por terem sido o grande suporte para que conseguisse

desenvolver esta dissertação, bem como a alguns familiares pelo apoio;

- Aos meus orientadores Prof. Dr. Carlos Cardoso Ferreira e Profª Dr.ª Eduarda

Marques da Costa pela disponibilidade e pelas críticas e sugestões dadas no decorrer da

presente dissertação;

- À Dra. Belén de Vicente (Medical Port), Dra. Eve Jokel (Luz Saúde), ao Dr. Humberto

Barbosa (Clínica do Tempo), Dr. João Bacalhau (Grupo Hospital Particular do

Algarve), Dr. João Micaelo (Turismo de Portugal), Dr. Luís Afonso (Centro Hospitalar

da Cova da Beira), Dr. Luís Fareleiro (GlamHealth), Dr. Miguel Quirino (Wide

Healthcare Services), Prof. Dr. Nuno Gustavo (Escola Superior de Hotelaria e Turismo

do Estoril), Dr. Paulo Novais (Travel Health Experience), Dr. Pedro Sinval (José de

Mello Saúde), Dr. Sérgio Franco (Malo Clinic Group) e, por fim, ao Eng. Sérgio

Ribeiro (Exertus Consulting, responsável pelo estudo sobre o Turismo Médico em

Portugal elaborado pela AEP e pelo HCP) pelo tempo disponibilizado e pelos

testemunhos concedidos;

- Finalmente, a alguns amigos, especialmente à Sara Alves, Catarina Mendonça e Joana

Rebelo pelas críticas e sugestões.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AEP - Associação Empresarial de Portugal

CCDR - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional

CCE - Comissão das Comunidades Europeias

CE - Comissão Europeia

EM - Estado-Membro

ERS - Entidade Reguladora da Saúde

EUA - Estados Unidos da América

HCP - Health Cluster Portugal

JCI - Joint Commission International

OMS - Organização Mundial da Saúde

PENT - Plano Estratégico Nacional de Turismo

POR - Programa Operacional Regional

SNS - Serviço Nacional de Saúde

UE - União Europeia

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INTRODUÇÃO

A presente dissertação é o culminar de uma intensa pesquisa sobre a temática do

Turismo Médico, numa primeira parte, numa perspetiva mais ampla e generalista sobre

este tema, e numa segunda parte, centrado no caso de Portugal enquanto destino de

Turismo Médico. A opção por se desenvolver esta temática deve-se ao interesse que me

suscitou enquanto um segmento relativamente recente e que gera ainda algumas

controvérsias em vários aspetos.

No decorrer das pesquisas e respetivo tratamento de informação foi percetível

que a informação a nível internacional é relativamente abundante, mas a nível nacional

é ainda relativamente escassa, com pouca informação estatística que permita um

diagnóstico mais detalhado sobre este segmento em Portugal. Existem, ainda assim,

alguns estudos com informação relevante para o caso nacional, em resultado do

interesse que este tema tem suscitado no meio político, empresarial e académico.

Com esta dissertação pretende-se responder a duas questões de partida: "De que

forma as políticas europeias e nacionais de saúde e de turismo constituem um elemento

importante para a afirmação de Portugal como destino de Turismo Médico?" e "Quais

os fatores atrativos que permitem tornar Portugal um importante destino de Turismo

Médico no quadro europeu?".

Para o desenvolvimento da dissertação foram definidas três hipóteses de partida:

"A procura de cuidados médicos em Portugal por estrangeiros no quadro do designado

Turismo Médico decorre da existência de uma boa rede de cuidados de saúde",

"Existem outros fatores que favorecem a competitividade de Portugal enquanto destino

de Turismo Médico" e "As políticas nacionais e europeias favorecem o

desenvolvimento deste produto em Portugal".

Deste modo, pretende-se, com a presente dissertação, analisar o Turismo Médico

em Portugal, enquanto destino neste segmento, bem como estabelecer uma relação entre

as políticas europeias e nacionais de saúde e de turismo, visto serem os dois setores que

integram o Turismo Médico. Para além destes objetivos principais, tentar-se-á

responder aos seguintes objetivos específicos:

Compreender a importância da criação de políticas direcionadas para o Turismo

na União Europeia e em Portugal;

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Conhecer a oferta de equipamentos e serviços médicos em Portugal mais

relevante para o Turismo Médico;

Compreender quais os fatores que levam os turistas estrangeiros a optarem

pelos cuidados médicos em Portugal;

Conhecer o perfil da procura do Turismo Médico em Portugal;

Identificar os atores-chave (oferta de cuidados de saúde, operadores turísticos,

decisores políticos) e compreender o seu desempenho no contexto do Turismo

Médico em Portugal;

Conhecer medidas e aposta do Governo Português para os setores da Saúde e do

Turismo que visem reforçar a posição e a competitividade de Portugal no

Turismo Médico.

O presente trabalho encontra-se estruturado em duas partes, sendo realizada, numa

primeira parte, uma abordagem ao conceito e às caraterísticas do Turismo Médico, bem

como às políticas europeias e nacionais/regionais de turismo e de saúde; numa segunda

parte, uma abordagem mais específica ao Turismo Médico no contexto nacional.

A primeira parte encontra-se dividida em dois capítulos. O primeiro aborda o

conceito, a génese, evolução e segmentação do Turismo Médico, os fatores de

motivação em que assentam os fluxos turísticos deste produto, os cuidados médicos

mais procurados, os principais países emissores e de destino e o perfil desta procura

turística. O segundo capítulo refere-se às políticas europeias de turismo e de saúde, com

destaque para as que têm potencial contributo para o desenvolvimento do produto em

estudo, e às políticas nacionais de turismo e de saúde e estratégias regionais, tendo sido

apenas realizada uma análise mais detalhada para as que abordavam o produto “Turismo

Médico”.

Ainda no que respeita à estrutura da dissertação, a segunda parte, à semelhança da

primeira parte, tem, também, dois capítulos. O primeiro refere-se à posição de Portugal

no Turismo Médico e à oferta, a qual inclui a rede de cuidados médicos e os atores

chave a atuarem neste mercado, e procura turística (dimensionamento e perfil, as

principais regiões emissoras e os principais cuidados médicos procurados) deste produto

no contexto nacional. No segundo capítulo foi realizada uma análise SWOT e as

conclusões e perspetivas.

Para o desenvolvimento da presente dissertação foi necessário recorrer a

diversas metodologias de investigação. Indubitavelmente, a metodologia principal

assenta na recolha e leitura de uma vasta bibliografia nacional e internacional sobre a

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temática nas mais diversas formas de estudo de que foi alvo. Posteriormente, procedeu-

se ao tratamento de informação estatística, ainda que não exista documentos estatísticos

sobre a temática em análise, tendo-se, por isso, que recorrer à informação estatística

disponibilizada pela bibliografia recolhida.

Para o caso nacional, além da leitura de bibliografia, foi necessário realizar-se

entrevistas a alguns atores chave a atuarem em Portugal para, assim, complementar a

informação bibliográfica, nomeadamente, as características que cada entidade

entrevistada detém e as estratégias adotadas no mercado do Turismo Médico em

Portugal (Anexo I). Neste contexto, foram realizadas 12 entrevistas a um conjunto de

atores chave que desempenham funções em várias atividades, bem como uma reunião

com um representante do Turismo de Portugal:

Dra. Belén de Vicente (CEO) - Medical Port (facilitador de Turismo Médico).

Entrevista realizada via email no dia 31 de julho de 2015.

Dra. Eve Jokel (Diretora responsável pela International Patients Services) - Luz

Saúde (prestador de cuidados de saúde). Entrevista realizada presencialmente na

sede do grupo Luz Saúde no dia 7 de agosto de 2015.

Dr. Humberto Barbosa (CEO) - Clínica do Tempo (prestador de cuidados de

saúde). Entrevista realizada via email no dia 27 de julho de 2015.

Dr. João Bacalhau (Diretor de Marketing) - Grupo Hospital Particular do

Algarve (prestador de cuidados de saúde). Entrevista realizada via email no dia 1

de setembro de 2015.

Dr. João Micaelo (responsável pelo produto Turismo de Saúde) – Turismo de

Portugal. Reunião realizada no dia 12 de outubro de 2015.

Dr. Luís Afonso (Coordenador do Gabinete de Internacionalização e Turismo

Médico) - Centro Hospitalar da Cova da Beira (prestador de cuidados de saúde).

Entrevista realizada via email no dia 28 de julho de 2015.

Dr. Luís Fareleiro (CEO) – GlamHealth (facilitador de cuidados de saúde

transfronteiriços). Entrevista realizada via telefone no dia 16 de outubro de

2015.

Dr. Miguel Quirino (Responsável pela Wide Healthcare Services) - Wide

Healthcare Services (facilitador de Turismo Médico). Entrevista realizada

presencialmente nas instalações da empresa no dia 25 de maio de 2015;

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Prof. Dr. Nuno Gustavo - Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

Entrevista realizada presencialmente nas instalações da instituição no dia 14 de

maio de 2015.

Dr. Paulo Novais (Fundador) - Travel Health Experience (facilitador de Turismo

Médico. Entrevista realizada via email no dia 30 de agosto de 2015.

Dr. Pedro Sinval (Marketing Manager responsável pelo Turismo Médico) - José

de Mello Saúde (prestador de cuidados de saúde). Entrevista realizada

presencialmente nas instalações da sede do grupo no dia 11 de maio de 2015.

Dr. Sérgio Franco (Administrador da Malo Clinic Group, responsável pela Malo

Clinic Spa Termas Luso e Vice-Presidente na Associação Portuguesa de

Turismo de Saúde e Bem-Estar) - Malo Clinic Group (prestador de cuidados de

saúde). Entrevista realizada presencialmente nas instalações da sede do grupo no

dia 17 de agosto de 2015.

Eng. Sérgio Ribeiro (Responsável pelo estudo encomendado pela Associação

Empresarial de Portugal e pelo Health Cluster Portugal no âmbito do Projeto

"Healthy'n Portugal') - Exertus Consulting (empresa de Consultoria). Entrevista

realizada via email no dia 8 de setembro de 2015.

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PARTE I

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CAPÍTULO I - TURISMO MÉDICO - DO CONCEITO ÀS SUAS

CARATERÍSTICAS

1.1. DO CONCEITO DE TURISMO DE SAÚDE AO TURISMO MÉDICO

Para iniciar esta dissertação, e tendo em conta que o produto turístico alvo do

presente estudo está relacionado com os conceitos de saúde e de turismo, é essencial

apresentar as definições deste dois conceitos. Para tal, recorreu-se às definições oficiais

das duas entidades governamentais:

Organização Mundial da Saúde (OMS) – “saúde é um estado de completo bem-

estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou

enfermidade".

Organização Mundial do Turismo (OMT) - "um fenómeno social, cultural e

económico relacionado com o movimento dos indivíduos a lugares que se

encontram fora do seu lugar de residência habitual por motivos pessoais ou de

negócios/profissionais. Estes indivíduos denominam-se visitantes (que podem

ser turistas ou excursionistas; residentes ou não residentes) e o turismo tem a

ver com as suas atividades, das quais algumas implicam um gasto turístico".

Abordando, agora, o conceito de Turismo de Saúde, os estudos sempre

demonstraram existir uma forte interligação entre o Turismo de Saúde e o que mais

tarde, veio a considerar-se, individualmente, Turismo de Bem-Estar. Contudo, esta

conotação permitiu, durante muitos anos, a junção dos dois conceitos, dando origem ao

Turismo de Saúde e Bem-Estar. Recentemente, esta perspetiva alterou-se; surgiram

novos conhecimentos que permitiram separar os dois conceitos, acrescentando mais um

segmento turístico ao Turismo de Saúde.

O Turismo de Saúde pode, assim, ser definido como o ato de viajar, sendo que o

principal motivo é receber cuidados ou submeter-se a tratamentos que beneficiem a

saúde do turista, melhorando o bem-estar físico e mental, aliadas à componente turística

no seu sentido mais convencional (Cunha, 2006; Grupo de Trabalho Interministerial,

Pereira, 2014). Desta forma, o Turismo de Saúde integra o Turismo Médico e o Turismo

de Bem-Estar, sendo necessário distinguir cada produto para evitar eventuais confusões

(Quadro I).

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Quadro I – Definições e subcategorias de Turismo Médico e de Turismo de Bem-Estar (Fonte: Elaboração própria)

Turismo Médico Turismo de Bem-Estar

Devido às motivações, cada vez mais diversas, que

levam os turistas a viajar por motivos de saúde,

surgiu o conceito de Turismo Médico, o qual define-

se como o ato de viajar do local de residência para

outro local dentro do país (Turismo Médico

Doméstico) ou para fora do país de residência

(Turismo Médico Internacional) com o objetivo

primário de receber cuidados médicos e,

simultaneamente, usufruir da parte turística do

destino. (ex.: Caballero-Dannell e Mugomba,

Connell, 2006; Deloitte, 2008; Connell, 2011;

AEP/HCP, 2014a/c; Medical Tourism Association)

Define-se como o ato de viajar para fora do local de

residência com a finalidade de realizar atividades

que visem manter ou melhorar a saúde e o bem-

estar do indivíduo, bem como fomentar a harmonia

física, mental e emocional. (Global Spa Summit,

2011; Grupo de Trabalho Interministerial, 2014;

AEP/HCP, 2014c)

Segundo a AEP/HCP (2014c) e o Grupo de Trabalho

Interministerial (2014), subdivide-se em:

Turismo Médico Reativo - viagem

realizada por um indivíduo para fora do

local ou país de residência com a finalidade

de receber tratamento médico primário,

usualmente pré diagnosticado por um

profissional de saúde (ex.: cirurgia às

cataratas, prótese do joelho, angioplastia

coronária).

Turismo Médico Proactivo - viagem

realizada por um indivíduo para fora do

local ou país de residência, por vontade

própria, com a finalidade de receber

tratamento médico, podendo existir

diagnóstico ou conselho médico (ex.:

cuidados dentários, estéticos, check-ups,

tratamentos de fertilidade).

Presume-se que o Turismo Médico Proactivo pode

originar um maior fluxo de potenciais turistas

médicos (2/3) comparativamente ao Turismo

Médico Reativo (1/3), ainda que não existam dados

que possam comprová-lo. (Grupo de Trabalho

Interministerial, 2014)

Segundo a AEP/HCP (2014a) subdivide-se em:

Bem-Estar Geral - onde o objetivo é

alcançar o equilíbrio e harmonia mental,

emocional, física e espiritual.

Bem-Estar Específico - cujo objetivo é a

realização de um tratamento específico

como forma de conseguir o bem-estar

físico e psíquico.

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Indubitavelmente, o Turismo Médico e o Turismo de Bem-Estar distinguem-se

também no tipo de tratamentos/cuidados de saúde que compõem a sua oferta e nas

instalações/infraestruturas onde são realizados (Figura 1).

Figura 1 – Esquema concetual (Fonte: Elaboração própria)

Todavia, nem todos os procedimentos médicos integram o Turismo Médico

(Lunt et al., 2011b). De acordo com a Associação Portuguesa de Saúde e Bem-Estar

(2013) e Bacalhau (2014), os procedimentos estéticos devem estar integrados no

segmento Turismo Estético, o qual se define como o ato de viajar com a finalidade de

submeter-se a procedimentos estéticos, sendo as razões apontadas para esta separação o

facto de estar mais ligada a razões estéticas e não à reconstrução, não estando, desta

forma, integrada na área da saúde (OCDE, 2010 cit in. Lunt et al., 2011b). Neste

sentido, Connell (2011) salienta que definir os cuidados médicos que integram o

Turismo Médico é difícil.

No Turismo Médico, o paciente torna-se agora cliente, demonstrando a

preocupação que tem com a sua saúde através da realização de uma viagem, cuja

finalidade é receber um cuidado de saúde (Lunt et al., 2011b) (Figura 2). No contexto

do Turismo Médico, Novo (2014) salienta que a componente da saúde é mais

importante que o turismo em si, existindo, no entanto, procedimentos não invasivos que

permitem ao turista médico usufruir das férias, atrações locais e atividades de lazer.

Turismo de Saúde

Turismo Médico

Cuidados médicos invasivos e não

invasivos

Unidades hospitalares e

clínicas

Turismo de Bem-Estar

Medicina complementar

Spas, resorts, termas e retiros

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Figura 2 – Etapas que constituem o processo do Turismo Médico (Fonte: German Healthcare Services, 2015)

Este produto encontra-se, segundo Connell (2011), Rodrigues (2013) e Novo

(2014), associado ao transporte aéreo, às atividades de lazer, às infraestruturas turísticas,

bem como aos hotéis (ou outras formas de alojamento) pois o paciente e seus

acompanhantes necessitam normalmente de um período de estadia após a realização do

tratamento médico. Neste ponto, os hotéis podem oferecer condições ideais e favoráveis

à recuperação, nomeadamente através da disponibilidade de quartos concebidos

especialmente para os pacientes e de serviços/cuidados de saúde pós-operatórios, para

além do facto de ser importante que se localizem perto e/ou tenham boa acessibilidade

aos hospitais.

Em suma, o Turismo Médico é definido como a realização de viagens, quer

dentro quer para fora do país de origem/residência, com a finalidade de receber

cuidados de saúde aliados a férias ou visitas a atrações ou locais turísticos. Deste modo,

este segmento encontra-se, também, associado a setores complementares, tais como a

hotelaria, restauração e lazer.

Salienta-se ainda que, para efeitos do Turismo Médico, apenas se consideram

turistas médicos quando viajam para um local dentro do país ou para fora do país de

origem/residência, com o objetivo primário de receber cuidados de saúde, não devendo,

por isso, incluir-se expatriados ou turistas que se encontram no país temporariamente e

que necessitaram dos cuidados de saúde por diversos motivos não relacionados com as

caraterísticas do produto em análise.

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1.2. GÉNESE, EVOLUÇÃO E SEGMENTAÇÃO DO TURISMO MÉDICO

A génese do Turismo Médico remonta às viagens realizadas por peregrinos

gregos à cidade de Epidauria (localizada na Grécia), possivelmente o primeiro destino

para esta finalidade, com o objetivo de receberem tratamentos médicos (Bookman e

Bookman, Muzaffar e Hussain, 2007; Barbacena, 2010; Pereira, 2014). Já durante o

século XIX, foi a vez das "cidades spa" serem destinos para fins médicos, sendo

procuradas, sobretudo, pelas classes médias (Lunt et al., 2011b). Nos séculos XIX e

XX, assistiu-se a um fluxo de cidadãos ricos proveniente de países menos

desenvolvidos que viajavam para países desenvolvidos com o objetivo de terem acesso

a melhores condições, tecnologia, profissionais qualificados e cuidados médicos não

disponíveis nos países de origem/residência (ex.: Horowitz et al., 2007; Lunt et al.,

2011b; Grupo de Trabalho Interministerial, 2014).

No entanto, o seu crescimento tem vindo a ser mais evidente desde os anos 90,

década a partir da qual começou a aumentar o número de pessoas que procuram obter

tratamentos médicos em países estrangeiros, conciliando estes com a prática de férias,

onde desfrutam de atividades de lazer e de desporto (AEP/HCP, 2014a). Atualmente, os

turistas médicos são provenientes, principalmente, de países desenvolvidos que

procuram receber tratamentos de qualidade, mais baratos e com tempos de espera

reduzidos nos países em desenvolvimento. Porém, as elites, particularmente oriundas de

países em desenvolvimento, optam pelos cuidados médicos prestados em países

desenvolvidos. Simultaneamente, existem fluxos regionais, ou seja, de cidadãos

provenientes de países limítrofes (ex.: Chanda, 2002; Herrick, 2007; Connell, 2011;

Lunt et al., 2011b; Labonté, 2013; Fisher e Sood, 2014) (Figura 3).

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Figura 3 - Síntese da evolução do Turismo Médico (Fonte: Elaboração Própria)

Este crescimento é possibilitado devido a um conjunto de fatores que têm

impulsionado a procura de tratamentos médicos prestados fora do local ou país de

residência: (1) a globalização; (2) os custos elevados dos cuidados de saúde e as longas

listas de espera, principalmente, nos países desenvolvidos; (3) a oferta de tratamentos

que estão indisponíveis nos países de residência; (4) o envelhecimento da população,

especialmente da geração do pós-2ª Guerra Mundial ('Baby Boomers'), associado ao

aumento da esperança média de vida e das doenças crónicas; (5) uma maior

consciencialização e preocupação em ter um estilo de vida saudável por parte da

população; (6) o investimento no setor da saúde em alguns países em desenvolvimento,

apostando na formação de profissionais de saúde, em infraestruturas e equipamentos de

alta tecnologia, com o objetivo de prestarem cuidados de saúde de qualidade e a custos

mais baratos relativamente aos países desenvolvidos; (7) o aumento do número de

acreditações e certificações de unidades hospitalares e clinicas que permitem transmitir

confiança em relação à qualidade dos cuidados de saúde prestados, nomeadamente, em

países onde este problema era mais visível; (8) o crescimento do setor privado de saúde

que constitui uma alternativa para a resolução de problemas e aproveitamento de

oportunidades que o setor público não é capaz de corresponder; (9) o surgimento de

produtos financeiros (ex.: Contas Poupança Saúde) no mercado mundial como forma de

garantir aos cidadãos a prestação de cuidados de saúde, sobretudo no setor privado; (10)

Viagens realizadas por peregrinos gregos à cidade de Epidauria.

Século XIX - "Cidades Spa" procuradas pela classe média.

Século XIX e XX - Fluxos de cidadãos ricos provenientes de países menos desenvolvidos para países desenvolvidos. Crescimento mais acentuado a partir dos anos 90.

Século XXI - Turistas médicos provenientes, principalmente, de países desenvolvidos que viajam para países em desenvolvimento, existindo, simultaneamente, movimentos regionais.

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a falta de seguro e a crescente procura por seguros de saúde que abrangem tratamentos

no estrangeiro; (11) o aumento da procura por cuidados de saúde prestados no

estrangeiro por parte de residentes em países que possuem um número reduzido de

técnicos e profissionais no setor da saúde ou que não conseguem cumprir os prazos,

estabelecidos por lei, para a prestação de determinados cuidados de saúde; (12) a

Diretiva da União Europeia (UE) relativa ao exercício dos direitos dos doentes em

matéria de cuidados de saúde transfronteiriços; (13) o crescimento do spa médico; (14)

a insatisfação com os cuidados prestados nos países de residência e a qualidade

semelhante ou superior dos cuidados de saúde nos países de destino; (15) fatores

políticos, legais, culturais e linguísticos que existem em alguns países; (16) a procura de

privacidade e confidencialidade em relação a determinados tratamentos; (17) o

crescimento de viagens aéreas a baixo custo (low-cost); (18) a possibilidade de usufruir

do tempo livre para realizar viagens onde se alia os cuidados médicos a férias (ex.:

Khan, 2010; Connell, 2011; Wendt, 2012; AEP/HCP, 2014a; Fisher e Sood, Grupo de

Trabalho Interministerial, 2014).

Importa, também, referir que, de acordo com diversos estudos (Turner, 2007;

Deloitte, 2008; AEP/HCP, 2014a; Novo, 2014), o Turismo Médico é impulsionado com

o notório aumento do poder de decisão do turista médico, nomeadamente, na escolha do

país de destino, do procedimento médico que pretende receber, quando realizá-lo e do

médico/equipa médica para o efeito, sendo este poder possibilitado porque tem acesso a

informação sobre doenças, tratamentos, serviços e países onde se pode realizá-los. No

entanto, Healy (2009), ainda que se refira especificamente aos turistas cirúrgicos,

menciona que o acesso destes a informação sobre instalações hospitalares, profissionais

médicos e testemunhos de pacientes não é regulado nem analisado de acordo com as

normas médicas, podendo significar que a informação disponibilizada é errada e, por

isso, prejudicar os potenciais turistas médicos.

No entanto, a globalização é, claramente, um aspeto muito importante no

desenvolvimento deste segmento a vários níveis:

Possibilita a mobilidade de pacientes e profissionais de saúde, a exportação de

equipamentos, o acesso ao processo clínico do turista médico e a realização de

consultas em qualquer parte do mundo através da telemedicina, podendo esta

tecnologia permitir, também, o acompanhamento do turista médico após o

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regresso ao país de residência (Chanda, 2002; Bookman e Bookman, Herrick,

2007);

Permite que as barreiras geográficas, económicas, culturais e linguísticas não

sejam obstáculos para os turistas médicos. Assim, os cuidados de saúde não

estão confinados à população local que, também, beneficia da abertura do seu

país à entrada de novos conhecimentos e práticas, bem como de tecnologias

médicas e de profissionais de saúde das mais variadas especialidades clínicas,

com a possibilidade das receitas geradas no âmbito do Turismo Médico

permitirem melhorar as instalações (ex.: Chanda, 2002; Caballero-Dannell e

Mugomba, 2007; Cortez, 2008; Lunt et al., 2011b);

Constitui um elemento importante no que se refere à promoção e acesso a

informação através da Internet ou da comunicação social (ex.: Paffhausen et al.,

2010; Grupo de Trabalho Interministerial, 2014).

Por outro lado, devido ao aumento de pacientes estrangeiros nos hospitais e

clínicas dos países de destino de Turismo Médico, alguns autores (ex.: Chanda, 2002;

Mattoo e Rathindran, 2006; Turner, 2007; Wendt, 2012) alertam para a possibilidade

dos custos de saúde e as disparidades entre os pacientes estrangeiros e locais e entre os

pacientes ricos e pobres aumentarem, tornando mais difícil o acesso para os pacientes

mais pobres, principalmente nos principais países que promovem este produto.

O mercado do Turismo Médico poderá, contudo, ser maior de acordo com

Ehrbeck et al. (2008), sobretudo, em relação ao fluxo de turistas médicos, se alguns

obstáculos desaparecerem. Entre os obstáculos identificados constam a resistência de

algumas companhias de seguro nos Estados Unidos da América (EUA) em integrarem

os destinos de Turismo Médico nos seguros, a perceção pouco clara nos dados relativos

à qualidade e aos resultados, bem como na competência legislativa em matéria de má

prática médica e as complicações em adquirir autorização para viajar para alguns países.

Os autores salientam, também, que esta procura é vulnerável à ocorrência de episódios

geopolíticos ou naturais, que podem influenciar a decisão dos turistas médicos.

Com o crescimento rápido que se tem verificado à escala mundial e os

benefícios que traz para alguns países (ex.: redução da sazonalidade, rentabilização dos

investimentos em equipamentos/serviços de saúde, maior oferta e consumo turísticos), é

notória a aposta que se tem feito neste âmbito (ex.: Hopkins et al., 2010; Lunt et al.,

2011b; Iordache e Ciochina, 2014). Esta aposta é, ainda, reforçada com as previsões que

têm sido realizadas ao longo dos anos, embora variem consoante as fontes. Ainda assim,

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segundo a consultora McKinsey&Company (2012), referenciada na literatura sobre a

temática em análise, o mercado do Turismo Médico encontrava-se, em 2009, avaliado

entre os 14 e os 18 biliões de euros. Já a AEP/HCP (2014a) referem que é previsível que

a taxa anual de crescimento deste segmento varie entre os 10% e os 20% (dependendo

das fontes), mas que permitem perceber que o Turismo Médico representa muitas

oportunidades para os países que pretendem tornar-se destinos deste fluxo turístico.

Apesar das perspetivas positivas relativamente à evolução desta procura, é

realçado por alguns autores (ex.: Horowitz e Rosensweig, 2007; Connell, 2011; Lunt et

al., 2011b; Grupo de Trabalho Interministerial, 2014) a falta de dados que permita

compreender melhor a sua evolução e características, bem como o fluxo de pacientes

entre países e continentes. A dificuldade em haver consenso em relação à sua dimensão,

em matéria de fluxos de pacientes, está fortemente relacionada com o facto de alguns

países incluírem expatriados e turistas que estão nos países por motivos não

relacionados com a vontade própria de receber cuidados de saúde e que, por algum

motivo, tiveram que se deslocar ao hospital/clínica (ex.: Lunt et al., 2011a/b; AEP/HCP,

2014a). Para Lunt et al. (2011a/b), os cidadãos que obtiveram cuidados de saúde ao

abrigo da Diretiva relativa aos cuidados de saúde transfronteiriços não devem também

ser considerados turistas médicos, por ser um direito estabelecido na UE. No entanto, os

dados de 2003 evidenciam que cerca de 350 mil pacientes deslocaram-se para Cuba,

Índia, Jordânia e países do Sudeste da Ásia com o objetivo de receberem cuidados de

saúde (Mattoo e Rathindran, 2006).

Perante os dados e a informação relativa a este fenómeno turístico, Connell

(2011), Lunt et al. (2011a) e Iordache e Ciochina (2014) consideram que o Turismo

Médico é, essencialmente, regional. A proximidade linguística, geográfica e cultural é

uma questão essencial e com forte peso para compreender os padrões de mobilidade

geográfica associada ao Turismo Médico.

1.3. CARACTERÍSTICAS DO TURISMO MÉDICO

Apesar da procura de cuidados de saúde no estrangeiro estar no cerne do

Turismo Médico, existem fatores que condicionam a escolha da unidade hospitalar e do

destino onde obter esses cuidados. Estes fatores compreendem, sobretudo, os preços, as

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listas de espera e a qualidade, não obstante o facto de existirem obstáculos ao

desenvolvimento deste produto.

Deste modo, serão apresentados os fatores de motivação e alguns problemas que

lhe estão associados, podendo ser considerados importantes para o seu

desenvolvimento, nomeadamente a nível de influência na tomada de decisão do turista

médico. No final do subcapítulo é apresentado um quadro (Figura 4), o qual resume os

fatores de motivação e os problemas/fatores inibidores no Turismo Médico.

1.3.1. FATORES DE MOTIVAÇÃO

A literatura sobre a temática em análise é consensual no que se refere ao motivo

principal. Os turistas médicos procuram receber cuidados de saúde a preços inferiores

aos que são praticados nos países de origem/residência, especialmente, nos países

desenvolvidos (ex.: Horowitz et al., 2007; Grupo de Trabalho Interministerial, Iordache

e Ciochina, 2014). Este fator torna-se relevante para os pacientes que não possuem

cobertura ou estão apenas parcialmente cobertos por seguros de saúde (ex.: EUA),

sendo, no entanto, necessário que os turistas médicos, nestes casos, possuam meios

financeiros que lhes permitam pagar a viagem e o procedimento médico (ex.: Horowitz

e Rosensweig, 2007; Cohen, 2010; Connell, 2011; McMahon, 2013; Wong et al., 2014).

Um fator que influencia a procura e compra de tratamentos médicos mais baratos, de

acordo com Barbacena (2010), é a crise financeira e consequente diminuição de poder

económico da classe média dos países desenvolvidos. No entanto, alguns turistas

médicos podem incorrer em dívidas que contraíram para financiarem os cuidados de

saúde (Lunt et al., 2011b).

Os custos elevados nos países desenvolvidos fazem-se acompanhar pelas longas

listas de espera em determinados tratamentos ou cirurgias (ex.: Lagiewski e Myers,

2008; Connell, 2011; Lunt et al., 2011b), sendo este fenómeno, particularmente, visível

nos países com Serviços Nacionais de Saúde (SNS), como, por exemplo, o Reino Unido

e o Canadá (ex.: Bookman e Bookman, 2007; Healy, 2009; McMahon, 2013). Além

disso, alguns países (ex.: Alemanha e Canadá), por lei, são obrigados a prestar

determinados cuidados num prazo específico, sendo necessário recorrer aos cuidados de

saúde noutro país quando o prazo estabelecido por lei não é respeitado (Nossa e

Caldeira, 2014). Os países onde se verificam listas de espera demoradas para alguns

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procedimentos médicos seriam beneficiados com o Turismo Médico, pois ao recorrer

aos cuidados de saúde no estrangeiro, as listas de espera diminuiriam e não seria

necessário proceder-se ao aumento da capacidade dos hospitais (Helble, 2011).

A qualidade dos profissionais de saúde, dos serviços médicos e das unidades

hospitalares e clínicas são, também, fatores importantes e com forte peso na tomada de

decisão. Segundo Ehrbeck et al. (2008) incumbe aos prestadores de cuidados de saúde

garantirem a qualidade dos seus serviços, a formação dos seus profissionais de saúde e

os resultados dos tratamentos prestados. Por isso, assiste-se a uma crescente aposta na

formação de profissionais de saúde - sendo esta obtida, muitas das vezes, em países

ocidentais - e na aquisição de equipamentos de alta tecnologia, que juntos permitem

prestar cuidados de saúde de qualidade. Assiste-se, também, ao regresso de

profissionais de saúde aos países de origem devido às oportunidades que o Turismo

Médico representa em termos de empregabilidade, mas também à fuga interna de

profissionais de saúde do setor público para o setor privado e das áreas rurais para as

áreas urbanas, o que pode constituir um grave problema nos sistemas de saúde dos

países de destino, tendo em conta que este movimento interno de profissionais de saúde

contribui para que o acesso a cuidados de saúde pelas populações locais, sobretudo as

mais desfavorecidas, se torne mais difícil (ex.: Chanda, 2002; Cortez, 2008; Chen e

Flood, 2013). A qualidade culmina na acreditação internacional de muitas unidades

hospitalares e clínicas, sendo, também, por isso, um objetivo para os países de destino,

pois este processo permite transmitir aos turistas médicos confiança em relação aos

cuidados prestados. A Joint Commission International (JCI) é a entidade mais

requisitada para a obtenção de acreditação das unidades de saúde, apesar dos custos

elevados que exige, podendo ser considerado um entrave para as unidades de saúde que

possuem poucos meios financeiros mas que pretendem obter ou manter a acreditação.

(ex.: Turner, 2007; Deloitte, 2008; Connell, 2011; Bento e Almeida, 2015).

Neste seguimento, existem hospitais, e até mesmo países de destino, que optam

por especializar-se em determinados procedimentos médicos, através dos quais são

reconhecidos internacionalmente (Bento e Almeida, 2015). A reputação e a

especialização tornam-se, assim, importantes para o sucesso do Turismo Médico, bem

como para a opção do turista médico (ex.: Bookman e Bookman, 2007; Iordache e

Ciochina, 2014). Por este motivo, a Global Spa Summit (2011) defende que as unidades

hospitalares/clínicas ou os próprios países devem apostar na promoção dos serviços

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onde já são especializados e reconhecidos, ao invés de tentarem promover uma ampla

gama de serviços.

Um fator complementar à motivação associada a esta procura é a qualidade das

férias e a possibilidade de conjugar o tratamento e o turismo no seu verdadeiro sentido,

bem como poderem viajar para um país com locais exóticos e onde possam ter umas

férias num ambiente de luxo mas a preços acessíveis (Connell, 2006; Pereira, 2014). No

âmbito do Turismo Médico, de acordo com a AEP/HCP (2014b), quer a hotelaria quer

os serviços complementares (como a animação turística, o transporte e tradutores) são

elementos essenciais para atrair os turistas médicos. Ainda que as unidades prestadoras

dos cuidados de saúde tenham, por vezes, excelentes condições (comparáveis, até, ao

ambiente que normalmente se encontra nas unidades hoteleiras) (Khan, 2010), os

pacientes e seus acompanhantes procuram ficar alojados nas unidades hoteleiras (Lee e

Spisto, 2007), sobretudo, as mais próximas das unidades hospitalares/clínicas onde irá

ser prestado o cuidado pretendido, e que reúnem as condições necessárias para os

turistas médicos (Novo, 2014). Além disso, os turistas médicos e os acompanhantes

procuram usufruir da componente de lazer (atrações culturais e turísticas, estadias

luxuosas, atividades de lazer, praias, medicinas tradicionais, como a ayurveda, yoga e

acupuntura - algumas das quais integram os pacotes oferecidos pelos facilitadores de

Turismo Médico) aliada a climas amenos (favoráveis à recuperação) e à gastronomia,

embora, devido ao período de recuperação que alguns procedimentos exigem, o turista

médico não possa usufruir da oferta turística disponibilizada no país de destino

(Caballero-Danell e Mugomba, 2006; Khan, 2010; Connell, Ferreira, 2011; Lunt et al.,

2011b).

Um dos motivos que também impulsiona a vontade do paciente em procurar

cuidados de saúde prestados no estrangeiro é a legislação que proíbe a prática de

determinados procedimentos médicos, nomeadamente, a medicina reprodutiva

(tratamentos de fertilidade), o aborto, as mudanças de sexo, o transplante de órgãos e de

células estaminais, a xenotransplantação e a eutanásia, ou que restringe o acesso a

determinados pacientes que reúnam certos critérios para a realização do procedimento

(ex.: Horowitz e Rosensweig, 2007; Connell, 2011; Lunt et al., 2014). Neste contexto,

alguns países encontram-se dotados de tecnologias e de uma oferta de procedimentos

que não estão disponíveis noutros países, nomeadamente, nos países de origem dos

turistas médicos (Connell, 2006; Khan, 2010; Labonté, 2013; Fisher e Sood, 2014).

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Para além destes fatores, existem ainda outros que, embora pesem menos na

tomada de decisão do turista médico, não deixam de ser, também, importantes. Como

referido anteriormente, o mercado do Turismo Médico é, essencialmente, constituído

por fluxos regionais, onde se prima pela localização do país de destino mais próximo do

país de residência (Bookman e Bookman, 2007; Grupo de Trabalho Interministerial,

Iordache e Ciochina, 2014). Porém, em determinados procedimentos, como a mudança

de sexo, a cirurgia plástica e a reabilitação de drogas e álcool, sobretudo no que se

refere a personalidades famosas, a localização do país de destino eleva-se a um grau de

maior importância, nomeadamente, pelo anonimato e pela confidencialidade

proporcionadas, dando-se, nestes casos, preferência a destinos mais longínquos dos

países de residência (ex.: Horowitz e Rosensweig, 2007; Fisher e Sood, 2014).

O Turismo Médico encontra-se, também, ligado às relações familiares e

culturais, tornando-se para um turista médico uma forma de receber um cuidado de

saúde num país onde se possa visitar familiares e amigos ou onde se sinta mais

confortável devido à afinidade cultural. Neste contexto, é exemplificado o caso indiano,

onde a diáspora indiana é apontada como o ponto inicial para o Turismo Médico no país

(Bookman e Bookman, 2007). É importante, também, que o turista médico se sinta

compreendido, sendo essencial que os profissionais de saúde falem várias línguas (ex.:

Bookman e Bookman, 2007; Grupo de Trabalho Interministerial, Lunt et al., 2014).

Assim, as questões culturais e linguísticas são também uma componente do processo

motivacional, podendo ser consideradas obstáculos no Turismo Médico (Grail

Research, 2009; Khan, 2010). A segurança e a confiança que o destino transmite

apresentam-se como outros dois fatores, ainda que não muito importantes, que podem

integrar o quadro motivacional dos turistas médicos (Lagiewski e Myers, 2008;

AEP/HCP, 2014a).

Porém, realça-se que este mercado tem problemas que podem constituir entraves

ao seu desenvolvimento. Logo à partida, existem riscos associados, devendo, na opinião

de Freitas (2010), os potenciais turistas médicos estarem cientes destes riscos e, por

conseguinte, tomarem as devidas precauções, nomeadamente a realização de uma

procura e avaliação cuidada da instituição onde decorrerá o procedimento médico e dos

profissionais de saúde que vão integrar a equipa responsável pela realização do

tratamento. É essencial que o potencial turista médico se encontre devidamente

informado e aconselhado até porque poderá ter outros problemas de saúde, cuja

medicação poderá influenciar o tratamento pretendido (Lunt et al., 2011a). Os riscos

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podem ainda referir-se, de acordo com Freire (2012), à falsificação e comercialização de

produtos, como próteses ou medicamentos, ou de equipamentos de baixa qualidade. No

caso dos medicamentos, os turistas podem tentar comprá-los através de formas ilegais e

no caso dos equipamentos e próteses como forma de assegurar, por parte do prestador

de cuidados de saúde, que os custos são baixos para o turista médico.

Sendo um mercado que integra a componente de saúde, é referido que poderá

contribuir para o tráfico de órgãos. O "Turismo de Transplantes", como designam

Bookman e Bookman (2007) e Connell (2011), tem aumentado, sendo acompanhado

pela diminuição do número de órgãos disponíveis face à procura. A predisposição para

recorrer ao 'mercado negro' para adquirir os órgãos é uma realidade acentuada nos

países em desenvolvimento, onde existe uma proporção significativa de cidadãos mais

carenciados e que vêem no 'mercado negro' uma forma de obter recursos financeiros,

embora, em alguns países, a legislação condene tal prática (Barbacena, Freitas, 2010;

Helble, 2011; Freire, 2012).

Estes riscos são acentuados com a crescente competitividade entre os países de

destino de Turismo Médico, podendo estes sentirem-se pressionados e, assim,

recorrerem a práticas ilegais (Novo, 2014). Segundo Cortez (2008), estes países

procuram especializar-se em tratamentos que não se encontram disponíveis noutros

países, vendo nos procedimentos ilegais ou na experimentação de

tratamentos/procedimentos um meio para resolver este problema e, assim, prestar estes

cuidados. Esta situação acentua-se com a existência de práticas polémicas, como a

transplantação de órgãos ou a utilização de células, tecidos ou órgãos de animais em

pessoas (xenotransplantação), ou que levantam problemas éticos, como o Turismo

Cosmético, Turismo de Fertilidade, Turismo de Transplante, Turismo de Células

Estaminais e o Turismo de Eutanásia (Connell, 2011; Lunt et al., 2011b).

O desconhecimento que ainda se tem relativamente a determinados

procedimentos médicos e à qualidade de alguns profissionais de saúde são, também,

uma das razões para que alguns médicos dos países desenvolvidos não proponham a

realização de um procedimento no estrangeiro ou, até mesmo, os próprios turistas

médicos não optem por viajar (Horowitz e Rosensweig, 2007; Pafford, 2009). Também

as leis existentes em alguns países visam impedir que os seus cidadãos recebam

cuidados de saúde prestados no estrangeiro, como, por exemplo, o Reino Unido, onde,

apesar dos pacientes terem esse direito, existem critérios rígidos, os quais se tornam

obstáculos para os potenciais turistas médicos (AEP/HCP, 2014a).

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Lunt et al. (2011b) destacam o desconhecimento dos resultados como um aspeto

importante que pode dificultar a perceção da qualidade dos tratamentos oferecidos no

estrangeiro. Os resultados dos tratamentos a que são sujeitos os turistas médicos são,

geralmente, desconhecidos do público em geral, sendo difícil aceder-se a relatórios

publicados, bem como verificar a veracidade dos mesmos. Este desconhecimento é,

também, relevante no que se refere ao acompanhamento de curto ou longo prazo dos

turistas médicos quando estes regressam aos seus países de origem. Também Turner

(2007) refere que os cuidados de saúde obtidos no estrangeiro a preços baixos podem

ser acompanhados por problemas na divulgação de informação e na ausência de dados

relativos à qualidade dos tratamentos oferecidos nas unidades de saúde, nomeadamente,

os prestados a pacientes estrangeiros. A falta de estudos sobre as complicações para a

saúde pública que possam advir de tratamentos no estrangeiro, designadamente quanto a

doenças infeciosas que os turistas médicos possam contrair e ser portadores, é apontada

como outro problema, para o qual existe escassa informação (Lunt et al., 2011b). Os

autores defendem, como solução a ser adotada, a criação de um sistema que permitisse

aceder a dados sobre a qualidade e segurança dos cuidados prestados, os quais teriam

influência na comparação dos resultados.

As más práticas clínicas poderão significar custos extras para os turistas

médicos, em particular para os que têm falta de recursos financeiros ou de cobertura de

seguros de saúde, devendo, por este motivo, os turistas médicos terem precauções

especiais (ex.: Lee e Spisto, 2007; Khan, 2010; Freire, 2012; Nossa, 2014). Por outro

lado, Muzaffar e Hussain (2007) e Ehrbeck et al. (2008) alertam para a possibilidade de

existirem tratamentos que requerem uma permanência prolongada no país de destino,

acompanhamento ou até mesmo operações suplementares que devem ser realizadas pelo

médico original. Deste modo, torna-se importante que os turistas médicos estejam

cientes do período de recuperação, sendo aconselhável efetuar uma análise cuidada em

relação aos pacotes que oferecem acompanhamento durante este período para que este

não seja interrompido após o regresso ao país de origem (Lagiewski e Myers, 2008;

Connell, Ferreira, 2011; Pereira, 2014). Como forma de colmatar o problema da falta de

acompanhamento pós-tratamento, Lunt et al. (2011b) defendem a partilha de dados

referentes aos registos médicos, sendo esta, no entanto, dificultada devido ao sistema de

proteção de dados em determinados países, como, por exemplo, dos Estados-Membros

(EM) da UE.

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Também a questão dos seguros de saúde é um dos obstáculos mais referidos na

literatura, sobretudo para os pacientes que se encontrem sem cobertura ou parcialmente

cobertos (ex.: Caballero-Danell e Mugomba, 2006; Bookman e Bookman, 2007;

Paffhausen et al., 2010). Muitos dos seguros de saúde não abrangem cuidados de saúde

no estrangeiro, ou quando abrangem, os custos totais são suportados pelo paciente,

sendo, posteriormente, reembolsado parcialmente (Mattoo e Rathindran, 2006). Esta

opção funciona como defesa das companhias de seguro face aos excessivos cuidados de

saúde que, normalmente, os clientes procuram usufruir e aos tratamentos no estrangeiro

que se revelem ser de má qualidade (Freitas, 2010; Novo, 2014). Por outro lado, os

custos poderão aumentar para a companhia de seguros, caso o tratamento agrave o

estado de saúde do cliente (Freitas, 2010). Connell (2006) defende que o Turismo

Médico pode ser incentivado pelas seguradoras como forma de diminuírem as suas

despesas, aumentando o valor das prestações pagas pelos pacientes que realizem os

procedimentos no estrangeiro (Novo, 2014). Porém, Helble (2011) e Lunt et al. (2011b)

salientam que começam a aparecer companhias de seguro em vários países que

abrangem; (i) os tratamentos médicos; (ii) os custos de tratamentos necessários após a

realização da cirurgia no estrangeiro devido a problemas causados por este

procedimento ou à insatisfação em relação ao resultado do procedimento médico; (iii)

apoio financeiro e jurídico nos casos de negligência médica. Atualmente, alguns

empregadores e algumas companhias de seguro procuram incentivar os clientes a

receberem cuidados de saúde no estrangeiro, tornando-se uma solução viável e com a

qual se pretende diminuir os custos relacionados com a saúde (ex.: Horowitz et al.,

2007; Cohen, 2010).

Neste seguimento, é importante a existência de um quadro legislativo que

proteja os turistas médicos. Contudo, este mercado ainda regista problemas a este nível,

havendo falta de legislação de proteção dos pacientes em caso de negligência nos

cuidados prestados e que permita apurar responsabilidades, principalmente em relação

aos prestadores por atos que possam questionar a segurança e a saúde do paciente (ex.:

Caballero-Danell e Mugomba, 2006; Hopkins et al., 2010). Os turistas médicos, de

acordo com Deloitte (2008) e Lunt et al. (2014), que pretendem iniciar um processo

legal devido a complicações pós-cirúrgicas, têm que recorrer ao sistema legal do país de

destino, o que poderá aumentar os custos. Com a criação de leis internacionais para este

mercado, não só os padrões de confiança dos pacientes iriam aumentar, como também

poderia diminuir o número de problemas devido à qualidade dos cuidados prestados.

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Porém, Healy (2009) indica que o surgimento de organizações que regulam os cuidados

médicos e cirúrgicos, como a JCI, são alternativas face à falta de um quadro regulatório

que incida sobre os cuidados médicos internacionais.

Figura 4 - Síntese dos fatores de motivação e dos fatores inibidores do Turismo Médico (Fonte: Elaboração própria)

1.3.2. CUIDADOS MÉDICOS

Devido ao crescimento do setor privado, Bookman e Bookman (2007) defendem

que o mercado do Turismo Médico deve ser alvo de uma tributação intermédia para que

a contribuição seja expressiva para as receitas públicas, mas, simultaneamente, não

comprometa a atividade do setor privado. Segundo os autores, outro incentivo para

aumentar as receitas económicas do setor público passa pela utilização dos hospitais

públicos pelos pacientes estrangeiros, embora a oferta seja ainda residual.

No contexto do Turismo Médico, o setor privado é o principal prestador de

cuidados de saúde, havendo um pequena expressão de unidades hospitalares públicas

que atuam no âmbito do Turismo Médico (Lunt et al., 2014). Os cuidados de saúde

podem ser prestados em clínicas de pequena dimensão que trabalham sozinhas ou em

parcerias, mas que têm uma grande variedade de tratamentos, ou em hospitais que

•Baixos custos

•Listas de espera reduzidas ou inexistentes

•Qualidade das unidades hospitalares/clínicas, dos cuidados de saúde prestados e dos profissionais de saúde

•Conjugação do serviço médico com a componente turística (férias)

•Localização geográfica do país de destino, optando-se, em alguns casos, pelos mais longíquos dos países de origem/residência

•Tratamentos indisponíveis no país de origem

•Visitar familiares e amigos/afinidade cultural

Fatores de motivação

•Transplante de órgãos (Mercado Negro)

•Desconhecimento da informação relativa a alguns procedimentos e à qualidade dos serviços prestados

•Período de recuperação (pacotes follow-up)

•Falta de cobertura ou cobertura parcial dos seguros de saúde

•Falta de leis de proteção do paciente

Fatores inibidores

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podem pertencer a grandes grupos e cuja sede se encontra, sobretudo, em países

desenvolvidos e de onde é proveniente a maioria dos pacientes (Lunt et al., 2011b).

Os cuidados médicos procurados no âmbito do Turismo Médico são divididos

em duas categorias, de acordo com a perspetiva do Grupo de Trabalho Interministerial

(2014):

Cuidados médicos ambulatórios, onde não é necessário o internamento do

paciente para a realização do tratamento pretendido que, geralmente,

corresponde a tratamentos não invasivos e cuja presença do paciente no hospital

é inferior a um período de 24 horas. Os serviços ambulatórios mais procurados

no Turismo Médico são a medicina dentária, os cuidados oftalmológicos, a

medicina desportiva e de reabilitação, os diagnósticos e check-ups, a medicina

reprodutiva e os tratamentos estéticos e anti envelhecimento (ex.: Horowitz et

al., 2007; Grupo de Trabalho Interministerial, 2014; Patients Beyond Borders);

Cuidados médicos que implicam o internamento do paciente no hospital num

período superior a 24 horas e que correspondem a procedimentos invasivos,

podendo envolver, por vezes, uma grande complexidade e riscos elevados. Neste

tipo de tratamentos destaca-se a procura pela cirurgia plástica, cirurgia de

mudança de sexo, cirurgia bariátrica, cirurgia ortopédica, cirurgia cardíaca,

cardiologia de intervenção, transplante de órgãos, tecido e células estaminais e

tratamentos oncológicos (ex.: Horowitz et al., AEP/HCP, 2014b; Grupo de

Trabalho Interministerial, 2014; Patients Beyond Borders).

Embora o Turismo Médico se encontre fortemente relacionado com os

procedimentos seletivos, como a cirurgia plástica e a cosmética dentária, esta perspetiva

tem vindo a mudar pois os procedimentos não seletivos, entre os quais estão a

neurocirurgia e os tratamentos cardíacos, registam uma ascensão, podendo, brevemente,

superar os procedimentos seletivos (Barbacena, 2010).

Relativamente aos procedimentos invasivos, de acordo com Bookman e

Bookman (2007), nos países em desenvolvimento destaca-se o tratamento dentário não

apenas por ser o mais popular devido à rapidez, quer do tratamento em si quer da

recuperação, mas também em virtude dos custos serem raramente cobertos pelos

seguros de saúde. Outro procedimento muito comum é a cirurgia plástica que também

não é coberta pelos seguros de saúde. Contudo, outros procedimentos começavam a

registar um crescimento nestes países, como a cirurgia aos olhos ou os tratamentos

oncológicos.

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Num contexto global, Horowitz et al. (2007) referem que a Ásia é procurada

para procedimentos ortopédicos e cirurgia cardíaca. Já alguns países da América Central

e do Sul são reconhecidos pela cirurgia estética e plástica, pelos procedimentos

bariátricos e cuidados dentários (Horowitz et al., 2007, Barbacena, 2010), sendo este

continente considerado o segundo mercado que aposta neste segmento, logo a seguir ao

continente asiático, nomeadamente em serviços cirúrgicos, cosméticos e reprodutivos

(Hopkins et al., 2010). Salienta-se, ainda, que Cuba, apesar de se tornar um destino

eleito para os procedimentos médicos supracitados, é um destino já antigo para as

comunidades portuguesas, nomeadamente, em relação a tratamentos de doenças raras ou

graves (Novo, 2014). A nível europeu, os países da Europa Oriental são reconhecidos

destinos para tratamentos dentários e cirurgia plástica (Connell, 2006). Por fim, alguns

países do continente europeu, como a Holanda e Suíça, são ainda procurados para a

eutanásia, ou Turismo de Suicídio (Bookman e Bookman, 2007; Connell, 2011), por

praticarem políticas liberais nesta matéria e a quem Connell (2011) designa "death

tourists" os turistas que procuram este procedimento.

No entanto, de acordo com Chanda (2002), alguns países em desenvolvimento

estão a apostar na diversificação da sua oferta, estando a expandi-la para áreas como a

educação médica e paramédica, o Turismo de Saúde e tratamentos e medicinas

alternativas. Cuba é um desses países ao fornecer treino a especialistas, paramédicos e

estudantes de países com os quais estabeleceu acordos. O país tem, ainda, uma oferta

combinada que inclui cuidados de saúde, turismo e atividades de lazer. A Índia está a

apostar na oferta de tratamentos tradicionais, como, por exemplo, Ayurveda e Unani.

1.4. GEOGRAFIA DO TURISMO MÉDICO À ESCALA MUNDIAL

Apesar de se desconhecer a verdadeira dimensão do segmento em termos de

fluxos de turistas médicos, sabe-se que, atualmente, estes fluxos dão-se, principalmente,

de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, existindo, no entanto, países

que são, simultaneamente, emissores e destinos de turistas médicos (Figura 5). Estes

movimentos bilaterais são de elites de alguns países em desenvolvimento para países

desenvolvidos, sendo estes também países emissores de turistas médicos para países

com menores níveis de rendimento (Lunt et al., 2011a/b).

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Figura 5 – Fluxos turísticos do Turismo Médico (Fonte: Ehrbeck et al., 2008)

O mercado emissor está essencialmente localizado no continente norte-

americano e europeu e o mercado de destino concentra-se no continente asiático, onde

se localizam os principais destinos de Turismo Médico, nomeadamente, a Índia, a

Tailândia e a Malásia que, segundo Horowitz e Rosensweig (2007), estão dotados de

instalações modernas e de profissionais de saúde de qualidade. A Figura 6 resume o

mercado do Turismo Médico, designadamente, mostrando quais os principais países

emissores e respetivos países de destino e os motivos em que assentam estes

movimentos.

Regiões

emissoras/Principais

países emissores

Estados Unidos

da América

Reino

Unido/Norte da

Europa

Médio Oriente África

Principais destinos México

Costa Rica

Tailândia

Malásia

Singapura

Alemanha

França

Turquia

Europa do Leste

Turquia

Índia

Estados Unidos da

América

Alemanha

África do Sul

Índia

Brasil

Principais motivos Preço Redução de listas

de espera

Acesso a

especialistas e à

tecnologia

Acesso a

cuidados de

saúde de

qualidade

Figura 6 - Principais regiões/países emissores e de destino no Turismo Médico e respetivos motivos (Fonte:

Modificado de Grupo de Trabalho Interministerial, 2014)

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No culminar da leitura sobre a temática em estudo, são apresentadas, de seguida,

informações recolhidas relativamente aos principais países emissores e de destino.

1.4.1. PRINCIPAIS PAÍSES EMISSORES

Embora o mercado emissor seja constituído, em grande parte, por cidadãos

ocidentais, Freire (2012) refere que o Turismo Médico é composto, também, por

pacientes de todo o mundo. Desta forma, para além dos movimentos entre países

desenvolvidos e países em desenvolvimento, existem também movimentos entre países

desenvolvidos e entre países em desenvolvimento (McMahon, 2013). Contudo, é da

Europa Ocidental, América do Norte e do Médio Oriente que a maioria dos turistas

médicos é proveniente (Novo, 2014), nomeadamente, de países desenvolvidos,

destacando-se como principais países emissores a Alemanha, o Canadá, o Reino Unido,

a Austrália e, ainda, alguns países do Médio Oriente (AEP/HCP, 2014a).

Na América do Norte destaca-se os EUA como o principal emissor de turistas

médicos, com tendência a aumentar devido ao envelhecimento induzido pelos "Baby

Boomers" que estão agora a atingir os 65-70 anos. Estimava-se que, em 2007, segundo a

Deloitte (2008), 750 000 americanos haviam viajado para o estrangeiro a fim de

obterem cuidados médicos, podendo este número aumentar nos anos seguintes. Entre os

principais destinos de Turismo Médico do mercado americano constam o Canadá,

Reino Unido e a Alemanha (Ypartnership, 2010 cit in. AEP/HCP, 2014a), mas também

os países das Caraíbas e da América do Sul, como, por exemplo, o México e a Costa

Rica, devido à sua proximidade geográfica (Mi et al., 2009; Connell, 2011; Galliani,

2013). No caso do México, alguns dos turistas médicos são cidadãos mexicanos que

residem ou trabalham nos EUA (Paffhausen et al., 2010; Labonté, 2013). Porém, Cuba

poderá começar a ser um destino eleito devido à sua proximidade geográfica e às

relações políticas retomadas com os EUA (Pafford, 2009). Os tratamentos dentários,

cosméticos, ortopédicos, cardiovasculares, de fertilidade, de células estaminais e as

cirurgias bariátricas são as especialidades mais procuradas pelos americanos

(AEP/HCP, 2014a).

Barbacena (2010) explica, ainda, que no caso dos EUA, as razões assentam nos

níveis de desemprego que quando aumentam, fazem também aumentar o número de

cidadãos que não são abrangidos pelos planos de saúde das empresas e que, na maioria

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das vezes, não possuem meios financeiros que lhes permita adquirirem seguros de

saúde, procurando os cuidados médicos prestados no estrangeiro. Com este enorme

mercado emissor, alguns países que promovem o Turismo Médico, têm como alvo o

mercado americano, podendo ter como entrave, as recentes reformas na saúde, aplicadas

pelo presidente norte-americano, Barack Obama. Tais reformas poderão, ainda assim,

não ser suficientes para evitar os elevados fluxos de saída de cidadãos, uma vez que, de

acordo com Youngman (cit in. AEP/HCP, 2014a), as companhias de seguro e os

empregadores poderão incentivar a escolha por cuidados de saúde no estrangeiro sem

que haja qualquer impedimento, apesar de não receberem nenhum estímulo do governo.

Estas reformas incluem, segundo a AEP/HCP (2014a), a obrigação de todos os cidadãos

terem um seguro de saúde, tendo que pagar uma multa caso não o tenham. Segundo a

AEP/HCP (2014a) e Connell (2011), esta medida, em particular, que está relacionada

com um dos principais fatores de motivação no Turismo Médico, terá um impacte

significativo, diminuindo o número de cidadãos (49 milhões no total) que não se

encontram cobertos por um seguro, prevendo-se que entre 16 a 19 milhões de cidadãos

permanecerão sem seguro de saúde (por opção própria ou indocumentados). Outra

medida é que os seguros de saúde passem a abranger mais serviços de saúde,

nomeadamente, os que se referem à saúde preventiva (ex.: tratamentos de perda de peso

e check-ups de rotina) e à saúde mental. No entanto, as especialidades de odontologia e

as cirurgias de cosmética continuam sem cobertura de seguros. Por fim, os baixos

custos, a segurança e a qualidade dos cuidados de saúde prestados no estrangeiro são,

também, tidos em conta na tomada de decisão dos turistas médicos americanos.

Contudo, o Canadá começa a dar sinais de ser, também, um grande mercado

emissor, embora o seu sistema de saúde seja muito desenvolvido, estando os seus

cidadãos a procurarem cuidados médicos a preços mais baixos e atrativos como os

praticados nos países sul-americanos e asiáticos (Barbacena, 2010).

Também, segundo a AEP/HCP (2013a) e Labonté (2013), a Alemanha, apesar

de ser um destino eleito por muitos turistas médicos (holandeses, franceses, austríacos,

polacos, belgas e russos), é um dos principais emissores de turistas médicos,

correspondendo a 63% do total de viagens realizadas no âmbito do Turismo Médico na

Europa, embora se espere que este número aumente significativamente. À semelhança

dos EUA, os turistas médicos alemães procuram os cuidados de saúde no estrangeiro,

principalmente, porque não se encontram cobertos pelas seguradoras. Os tratamentos

mais procurados são as artroplastias da anca e do joelho, procedimentos pulmonares e

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cardíacos, oftalmológicos, cosméticos e dentários, sendo estes dois últimos procurados

por pacientes que não estão cobertos pelo seguro. Os destinos eleitos para os turistas

médicos alemães são a República Checa, Polónia e Hungria. No entanto, destaca-se que

as previsões apontam para o crescimento do Turismo Médico no país, enquanto destino,

nos próximos anos, sendo a área da cardiologia, oncologia e ortopedia as mais

procuradas pelos turistas médicos, mas também os tratamentos experimentais (ex.:

terapia de células estaminais).

O Reino Unido é outro forte mercado emissor, nomeadamente para a Turquia,

Espanha e França. Segundo a AEP/HCP (2013c), as razões para a opção por este último

país prendem-se com a proximidade geográfica, os acessos entre os dois países e os

preços acessíveis dos cuidados de saúde, sendo inferiores aos que são praticados no

Reino Unido. Em 2006, 77.000 ingleses procuraram cuidados de saúde no estrangeiro,

tendo este valor caído para 72.000, em 2007, e 50.000, em 2008. Contudo, em 2009,

houve um aumento residual para 52.000 e, em 2010, para 61.000. Os tratamentos mais

procurados pelos turistas médicos provenientes do Reino Unido são os oftalmológicos,

cosméticos, dentários, a cirurgia de obesidade e as artroplastias da anca e do joelho.

O Reino Unido e a Alemanha representam, segundo a AEP/HCP (2014a/b),

aproximadamente, 82% do mercado emissor europeu deste turismo, num total de cerca

de 278.700 turistas médicos, nos quais não se incluem os serviços de cuidados de saúde

concedidos no âmbito dos acordos entre países e os movimentos -, sobretudo, na área da

odontologia entre a Hungria, Polónia e Turquia e os países vizinhos -, que não são, na

maior parte das vezes, contabilizados.

Segundo os dados divulgados no relatório "Medical tourism facts and figures

2012" (Youngman, 2013 cit in. AEP/HCP, 2014a), em 2012, os 12 principais países

emissores de turistas médicos a nível mundial foram, por ordem decrescente, a

Indonésia (500.000), EUA (450.000), Alemanha (200.000), Arábia Saudita (200.000),

Iémen (200.000), Lesoto (140.000), China (80.000), Reino Unido (60.000), Myanmar

(50.000), Suazilândia (47.000), Qatar (50.000), Bangladesh (40.000) e Ucrânia

(40.000). Os autores apontam como principal causa para a emissão de turistas médicos,

na maioria dos países mencionados, a inexistência de prestação de cuidados de saúde a

nível local.

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1.4.2. PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO

Os autores são consensuais no que se refere aos principais países recetores. Estes

são, essencialmente, países em desenvolvimento localizados nos continentes asiático e

sul-americano. No entanto, Novo (2014) salienta que existe um aumento no número de

países de destino a atuarem no Turismo Médico. O surgimento de novos destinos num

mercado onde, por exemplo, a Índia, Tailândia, Cuba e o Brasil já estão ativos há alguns

anos, vem reforçar a competitividade já existente. Os países de destino apostam,

sobretudo, na melhoria e acreditação internacional das suas unidades hospitalares e

clínicas e na formação de profissionais, alguns dos quais com formações académicas

obtidas em universidades estrangeiras conceituadas.

Horowitz e Rosensweig (2007) referem que a existência de hospitais bem

equipados e com equipamentos modernos em algumas partes do mundo desempenham

papéis importantes a dois níveis: tornam-se referências para os pacientes provenientes

de países vizinhos e, simultaneamente, são preponderantes para tornar o país um destino

de Turismo Médico, ao oferecer cuidados de saúde a baixo custo, nomeadamente, para

os pacientes provenientes de países mais desenvolvidos. Porém, existem países

desenvolvidos, como o Canadá, Alemanha, Israel e Itália, que recebem pacientes

estrangeiros oriundos de vários países com níveis de desenvolvimento económico

diferentes.

Com base na leitura de documentos relacionados com a temática, são abordados

apenas alguns países, nomeadamente, os principais destinos de Turismo Médico. A

opção por abordar apenas um conjunto selecionado deve-se ao facto dos autores

apresentarem uma grande diversidade de destinos que consideram ser os principais

neste mercado, tendo-se escolhido os que reúnem mais consenso.

África e Médio Oriente

Nesta região, o desenvolvimento do Turismo Médico começa a ser notado com a

África do Sul, Israel, Emirados Árabes Unidos e Jordânia (Quadro II) a destacarem-se,

esperando-se que o número de pacientes aumente. Estes países procuram ser mais

competitivos, melhorando a qualificação dos seus profissionais de saúde e investindo

em infraestruturas.

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Quadro II - Destinos de Turismo Médico em África e no Médio Oriente (Fonte: Elaboração própria)

Países de destino Descrição

África do Sul

(ex.: Caballero-

Danell e Mugomba,

2006; Deloitte, 2008;

Jagyasi, 2009;

Barbacena, 2010;

Connell, Global Spa

Summit, 2011; Crush

et al., 2013;

AEP/HCP, 2013b;

AEP/HCP, 2014c;

Patient Beyond

Borders)

Relativamente ao continente africano, a África do Sul tem vindo a ganhar

relevância neste segmento desde 2004, ao aliar os cuidados médicos a preços

competitivos (apesar de serem superiores aos que podem ser encontrados nos

principais destinos asiáticos, são ainda inferiores aos praticados nos EUA e na

Europa), às atividades turísticas, sendo considerado um dos principais destinos

de Turismo Médico a nível mundial.

Segundo dados de 2006, o país recebeu 327.000 turistas médicos; em 2008,

estima-se que tenha recebido 410.000; em 2009, o número aumentou para mais

de 500.000. No entanto, pode atrair mais porque proporciona um período de

recuperação agradável, taxas de câmbio benéficas, clínicas com reconhecimento

internacional (embora o país não tenha nenhuma instituição acreditada pela JCI),

e profissionais de saúde qualificados (com percursos académicos obtidos em

escolas de topo do país ou em países ocidentais, designadamente, nos EUA e no

Reino Unido) e fluentes em inglês, aliados à promoção deste segmento turístico

pelo governo sul-africano e pelo setor privado e ao desenvolvimento

significativo do sistema de saúde do país.

O seu mercado emissor é constituído por pacientes provenientes de países

europeus (ex.: Reino Unido, a Alemanha, Áustria e Itália), dos EUA, da

Austrália e de países vizinhos, principalmente, do Lesoto, do Zimbabwe, da

Suazilândia e de Moçambique.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia bariátrica, cirurgia

ortopédica, cirurgia plástica/cosmética/reconstrutiva, oftalmologia, odontologia,

transplantes de órgãos, tratamentos de fertilidade.

Emirados Árabes

Unidos

(ex.: Barbacena,

Paffhausen et al.,

2010; Connell,

Deloitte, 2011;

Medical Tourism

Association, Patients

Beyond Borders)

Têm vindo a investir nas suas infraestruturas de saúde, nomeadamente, em

equipamentos médicos de alta qualidade e instalações com qualidades

semelhantes às das melhores infraestruturas de saúde no Ocidente, como parte

do seu esforço para crescer no mercado do Turismo Médico e cumprir os

requisitos internacionais. O país possui 115 instituições acreditadas pela JCI,

não sendo ainda suficiente para se afirmar neste mercado. Para tal, o Dubai

associou-se à Harvard Medical School e a alguns dos melhores hospitais a nível

mundial, tendo resultado desta parceria a criação do Dubai Healthcare City que

visa atrair os turistas médicos provenientes do Médio Oriente. No entanto, os

principais fatores atrativos para os pacientes estrangeiros, ou seja, a qualidade e

o preço, não são requisitos ainda cumpridos pelo país, embora o seu mix cultural

(culturas do Oeste e do Leste e islâmicas) permita ser acolhedor para os

pacientes ocidentais. Dubai foi destino para 107.500 turistas médicos em 2012.

Especialidades mais procuradas: cirurgia cosmética e reconstrutiva,

oftalmologia, odontologia, ortopedia e tratamentos de fertilidade.

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Israel

(ex.: Barbacena,

2010; Connell, 2011;

Medical Tourism

Magazine, 2014;

Patients Beyond

Borders)

Tornou-se um destino no Turismo Médico devido, em grande parte, à sua

liderança mundial na Investigação e Desenvolvimento (I&D) e nas aplicações de

alta tecnologia na área da saúde. O Turismo Médico tem registado um

crescimento significativo devido ao reconhecimento mundial de alguns

tratamentos médicos, aos excelentes resultados verificados em muitas

especialidades médicas, às 18 instituições acreditadas pela JCI e aos baixos

custos (65% mais baixos relativamente aos dos EUA). Deste modo, o país é

considerado um dos principais destinos de Turismo Médico no cenário mundial.

O mercado emissor é constituído por pacientes judeus (o que demonstra a

importância da afinidade cultural), pacientes provenientes de países limítrofes,

da antiga União Soviética e dos EUA. É deste último país que se verifica o

incentivo por parte das empresas aos seus empregados para que estes recebam os

cuidados de saúde de qualidade e a preços mais baixos em Israel, sendo que as

viagens estão incluídas nos seguros de saúde.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia plástica, gravidez de alto

risco, oftalmologia, oncologia, ortopedia, reabilitação de lesões, tratamentos de

fertilidade (fertilização in vitro) e de obesidade.

Jordânia

(ex.: Connell, 2006;

Bookman e

Bookman, 2007;

Barbacena, 2010;

Global Spa Summit,

2011)

Ainda no Médio Oriente, destaca-se a Jordânia como um dos principais destinos

de Turismo Médico nesta região. Considerado acolhedor pelo Ocidente e com

médicos com qualificações elevadas (muitas obtidas nos EUA e no Reino

Unido) e tratamentos a preços baixos, aos quais se alia a fácil comunicação em

inglês e outros idiomas, o país tem sido destino desde os anos 70 para os

pacientes árabes, tendo recebido cerca de 250.000 turistas médicos em 2007.

No entanto, o país poderá estar muito dependente do mercado emissor limítrofe,

tendo em conta que é um destino eleito para os pacientes provenientes do Médio

Oriente (muçulmanos) e do Norte de África, nomeadamente, do Iémen, Iraque,

Sudão, Argélia, Tunísia, Síria, Palestina e Líbia, estando, simultaneamente, a

atrair pacientes dos EUA, do Canadá e do Reino Unido. A promoção do

Turismo Médico no país envolve entre 55 a 60 hospitais privados, tendo o país 9

instituições acreditadas pela JCI, bem como a própria intervenção do governo

através, por exemplo, do Ministério da Saúde.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia plástica, odontologia,

oncologia, ortopedia.

América Latina

A América Latina apresenta-se como uma região com grande potencial para o

desenvolvimento deste segmento, sendo considerada por Freitas (2010), o principal

concorrente dos países asiáticos. A região atrai um número crescente de pacientes

provenientes de países desenvolvidos devido a um conjunto de fatores atrativos que

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compreendem os preços baixos (ainda que sejam, em média, superiores aos preços

asiáticos), a proximidade geográfica com a América do Norte, a formação ocidental e a

fluência na língua inglesa de muitos profissionais de saúde, os locais paradisíacos e uma

cultura apreciada por muitos europeus e norte-americanos (Vequist et al., 2009;

Paffhausen et al., 2010). Segundo Hopkins et al. (2010), os países sul-americanos

apostam em serviços que têm como mercados-alvo os cidadãos que falam inglês,

sobretudo os americanos. Porém, é de salientar que existe um número reduzido de

hospitais certificados pela JCI. Neste continente destacam-se três países: Brasil, Costa

Rica e Cuba (Quadro III).

Quadro III - Destinos de Turismo Médico na América Latina (Fonte: Elaboração própria)

Países de destino Descrição

Brasil

(ex.: Deloitte, 2008;

Global Spa Summit,

2011; AEP/HCP,

2014c; Patients

Beyond Borders)

No país há registo de 49 instituições acreditadas pela JCI, tornando-se, assim, no

país com mais hospitais acreditados pela JCI na América Latina. Devido à

especialidade mais procurada (cirurgia plástica), o país é conhecido como a

"capital mundial da cirurgia plástica", sendo que muitos dos cirurgiões

obtiveram formação nos EUA. Os custos dos procedimentos médicos no país

são inferiores aos que podem ser encontrados nos EUA, mas superiores aos que

são praticados nos destinos asiáticos (ex.: Tailândia e Índia) ou até mesmo da

América Latina (ex.: Costa Rica).

Estima-se que, em 2005 e 2006, o Brasil foi destino para 48.000 turistas

médicos, tendo este número aumentado para 180.000 em 2009. Prevê-se,

também, que este produto tenha um crescimento de 35% durante os próximos

anos. Os turistas médicos são provenientes, principalmente, dos EUA, Angola,

Itália, França, Portugal, Reino Unido, Japão, Holanda e Alemanha. No entanto,

o país depara-se com um grande obstáculo: a língua - não existe fluência em

inglês.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia bariátrica, cirurgia

plástica/cosmética/reconstrutiva, dermatologia, odontologia, oftalmologia,

ortopedia, neurocirurgia, transplantes de cabelo e tratamentos de fertilidade.

Costa Rica

(Deloitte, 2008;

AEP/HCP, 2014c;

Patients Beyond

Borders)

Tem vindo a registar um crescimento nos últimos anos, tendo mesmo

transformado-se num dos principais países eleitos pelos turistas médicos,

sobretudo dos EUA. O país é procurado por oferecer tratamentos médicos de

qualidade a preços baixos, locais turísticos e menor tempo de viagem para os

turistas médicos norte-americanos, devido à sua proximidade geográfica.

Segundo dados de 2006, o país foi procurado por 150.000 estrangeiros para

receberem cuidados de saúde. O mercado emissor deste país é constituído por

turistas médicos provenientes dos EUA, Canadá, da América Central, Colômbia,

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Venezuela e Espanha. O país tem, contudo, apenas dois hospitais acreditados

pela JCI.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, check-ups, cirurgia bariátrica,

cirurgias plástica/cosmética/reconstrutiva, odontologia, ortopedia, serviços de

geriatria e transplantes de rins.

Cuba

(ex.: Chanda, 2002;

Caballero-Dannell e

Mugomba, 2007;

Barbacena, 2010;

Connell, 2011)

É um país relevante (e antigo) no panorama do Turismo Médico. Os turistas,

provenientes não só da América Latina, mas também das Caraíbas, da Rússia e

do Reino Unido, procuram este destino turístico para realizarem tratamentos

médicos mais baratos (por exemplo, em relação aos realizados na América do

Norte e na Europa) e de qualidade. Os dados apontam para cerca de 20.000

turistas médicos em 2006. Contudo, não existem hospitais que possuam

equipamentos de alta tecnologia como os que existem noutros países a atuarem

neste mercado, nem há registo de hospitais acreditados pela JCI. O país foi dos

primeiros países da América Latina a desenvolver um programa para o Turismo

Médico, o qual tem vindo a ter sucesso em resultado de um dos principais

objetivos do governo cubano desde o final dos anos 80, que pretendia tornar o

país importante na área da saúde.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia estética, dermatologia

(vitiligo), neurologia e neurotransplantes, oftalmologia (retinose pigmentária),

ortopedia e reabilitação (drogas e álcool).

Ásia

A Ásia destaca-se por dominar o mercado do Turismo Médico, sendo alguns dos

seus países - Índia, Tailândia, Malásia e Singapura - os principais destinos desta procura

(Quadro IV). Esta região detém como fatores atrativos os preços mais baixos, a grande

variedade de tratamentos, os hospitais de elevada qualidade, os locais turísticos e a

especial atenção dada à hospitalidade e bem-estar dos pacientes (Vequist et al., 2009).

Muitos dos pacientes estrangeiros que recebem tratamentos médicos nestes países são

oriundos de países vizinhos, atraindo, ainda assim, muitos pacientes de países

desenvolvidos, sobretudo americanos e britânicos (Barbacena, Freitas, Paffhausen et al.,

2010). De acordo com a Renub Research (cit in. Medical Tourism Association), estima-

se que o número de turistas médicos no continente asiático seja superior a 10 milhões

até 2015, sendo a Tailândia, Índia e Singapura os principais destinos (80% da quota do

mercado). No entanto, segundo Wong et al. (2014), a Índia, Tailândia e Malásia

enfrentam problemas que podem contribuir para denegrir a sua imagem enquanto

destino turístico, nomeadamente as taxas de crime (Índia), a instabilidade política

(Tailândia) e os desastres aéreos (Malásia).

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Quadro IV - Destinos de Turismo Médico na Ásia (Fonte: Elaboração própria)

Países de destino Descrição

Índia

(ex.: Chanda, 2002;

Connell, 2006;

Deloitte, 2008;

Global Spa Summit,

2011; Chanda, 2013;

Patients Beyond

Borders)

Destaca-se como sendo um dos principais destinos de Turismo Médico, estando

a registar um aumento desta procura. Segundo os dados de 2007, o país recebeu

450.000 turistas médicos. O mercado é constituído por muitos cidadãos indianos

emigrados que optam por cuidados médicos no país de origem, conciliando estes

com as visitas aos familiares e amigos. Os turistas médicos são, sobretudo, do

sul da Ásia (Sri Lanka, Bangladesh, Nepal, Butão, Paquistão e Maldivas), do

Médio Oriente, da América do Norte, da Europa e da África.

O país encontra-se dotado de equipamentos de alta tecnologia, profissionais de

saúde com um percurso académico realizado em universidades estrangeiras,

sobretudo dos EUA, tratamentos médicos a preços baixos, 25 instituições

certificadas pela JCI e não existem barreiras linguísticas. No entanto, ainda se

verificam problemas na rede de transportes e nas condições de higiene que não

correspondem às normas ocidentais. Também os níveis de confiança dos

pacientes estrangeiros são menores em relação aos hospitais indianos,

nomeadamente, no que se refere aos preços e às normas. Outro fator que

também pode contribuir para a imagem do destino e decisão do turista médico é

o aumento da taxa de crime no país.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia bariátrica, cirurgia

plástica/cosmética/reconstrutiva, endocrinologia, maternidade de substituição,

nefrologia, neurologia, odontologia, oftalmologia, oncologia, ortopedia,

transplantes de medula óssea, transplantes de órgãos e urologia.

Malásia

(ex.: Connell, 2006;

Deloitte, 2008;

Kandasamy e

Rassiah, 2010;

Deloitte, 2011;

Wong et al., 2014;

Malaysia Healthcare

Travel Council,

2015; Patients

Beyond Borders)

O Turismo Médico neste país começou a ser desenvolvido a partir de 1998, após

a crise que atingiu o continente asiático. O país recebeu, em 2011, 641.000

turistas médicos; em 2012, 728.800 turistas médicos; em 2013, 881.000 turistas

médicos; em 2014, 882.000. Os pacientes são provenientes do Médio Oriente e

Norte de África, Reino Unido e da Ásia, nomeadamente, a Índia e a Indonésia.

Como fatores atrativos constam os preços, o tempo de espera reduzido, a

qualidade dos cuidados de saúde prestados (condições médicas modernas e

profissionais com formação estrangeira), a hospitalidade, poucos obstáculos

linguísticos, a estabilidade política e as atrações turísticas. O país tem, ainda, 13

instituições acreditadas pela JCI.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia bariátrica, cirurgia

cosmética e reconstrutiva, cirurgia geral, cirurgia de transplante,

gastroenterologia, hematologia, neurologia, odontologia, oftalmologia,

oncologia, ortopedia e tratamentos de fertilidade.

Singapura

(ex.: Herrick, 2007;

É também um país com cuidados médicos de qualidade, sendo um forte

concorrente para os dois principais destinos asiáticos (Índia e Tailândia). Porém,

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Deloitte, 2008;

Barbacena, 2010;

Connell, Deloitte,

2011; Patients

Beyond Borders)

os preços praticados são elevados em relação aos dos principais concorrentes

asiáticos, mas, ainda assim, mais baixos que os dos EUA.

O país recebeu, em 2006, mais de 410.000 turistas médicos, sendo procurado

por pacientes da Ásia, principalmente da Indonésia, da Austrália, do Médio

Oriente, do Reino Unido e dos EUA. A qualidade reconhecida dos

equipamentos de tecnologia avançada e dos cirurgiões que receberam formação

no estrangeiro é também um fator atrativo, juntamente com a fluência no inglês,

o ambiente de estabilidade política e a acreditação de 21 instituições pela JCI.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia cosmética e reconstrutiva,

cirurgia geral, ginecologia, odontologia, oftalmologia, oncologia, ortopedia,

transplante de órgãos e de células estaminais e urologia.

Tailândia

(ex.: Wolfe, 2006;

Herrick, 2007;

Deloitte, 2008;

Paffhausen et al.,

2010; Connell,

Deloitte, Global Spa

Summit, 2011; Wong

et al., 2014; Patients

Beyond Borders)

A Tailândia é considerada a líder no mercado do Turismo Médico, sendo já

reconhecida, desde 1970, pela realização de cirurgias de mudança de sexo e

cirurgia estética. O país recebe cerca de 1 a 1,5 milhões de turistas médicos, por

ano, sendo provenientes da Ásia, nomeadamente, do Japão, do Médio Oriente

(Barém, Kuwait, Omã, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos), dos

EUA, da Europa Ocidental (Reino Unido) e Austrália. Os dados de 2006

mostram que o país foi destino para 1,2 milhões de turistas médicos.

O país encontra-se dotado de profissionais de saúde qualificados (muitos deles,

especializados nos EUA, Canadá, Austrália e Reino Unido), hospitais de

qualidade e com equipamentos de alta tecnologia, os quais resultaram na

acreditação internacional de 43 instituições certificadas pela JCI. Possui, ainda,

o primeiro hospital asiático certificado pela JCI e líder mundial no mercado do

Turismo Médico - Hospital Bumrungrad International - localizado em

Banguecoque.

A Thailand Board of Investment implementou uma medida que consiste num

regime de exceção de pagamento de impostos, num período de 3 a 8 anos, para

as novas unidades hospitalares que respeitem um conjunto de requisitos (ex.:

certificação).

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia bariátrica, cirurgia

cosmética e reconstrutiva, mudança de género, odontologia, oftalmologia,

oncologia e ortopedia.

Europa

A Europa encontra-se dotada de hospitais que estão na vanguarda da

investigação médica, a nível mundial. Nos últimos 20 anos, a Europa do Leste tem

vindo a despontar, principalmente a Hungria e a Polónia, tornando-se destinos eleitos

para os pacientes provenientes da Europa Ocidental (Iordache e Ciochina, 2014), sendo,

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também, procurados por pacientes de todo o mundo. Estes países reúnem as condições

necessárias para desenvolver o Turismo Médico com os cuidados médicos a serem 40%

a 80% mais baixos que os dos EUA. A estes dois principais destinos de Turismo

Médico na Europa, acrescenta-se, ainda, a Turquia (Quadro V).

Quadro V - Destinos de Turismo Médico na Europa (Fonte: Elaboração própria)

Países de destino Descrição

Hungria

(ex.: Deloitte,

2008; Deloitte,

Global Spa

Summit, 2011;

AEP/HCP,

2014a/c; Patients

Beyond Borders)

Na Hungria, este fenómeno não é recente, sendo já procurada, desde os anos 80,

por austríacos e alemães. Porém, esta procura tem vindo a crescer, tornando-se,

hoje em dia, o principal destino na Europa, registando 350.000 turistas médicos

(International Medical Tourism Journal cit in. AEP/HCP, 2014a), devido aos

preços mais baratos quando comparados com a maioria dos países europeus e à

qualidade dos seus cirurgiões que são reconhecidos internacionalmente. O país

possui, ainda, uma instituição certificada pela JCI.

Tendo em conta que é procurado pela sua especialidade em tratamentos dentários

(46% do mercado europeu), segundo dados de 2013, o país recebeu 72.500

turistas dentários, sendo que o principal país emissor foi o Reino Unido, seguido

da Áustria e da Alemanha. Os turistas médicos que procuram este país são da

Alemanha, Áustria, Rússia e do Reino Unido.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia plástica, dermatologia,

odontologia, oftalmologia, ortopedia e tratamentos de fertilidade.

Polónia

(ex.: Herrick, 2007;

AEP/HCP,

2014a/c; Skowron

e Ska-Skowron,

2014)

A Polónia tem vindo a tornar-se um destino preferido para os turistas médicos da

Europa Ocidental, nomeadamente do Reino Unido, da Alemanha, Suécia,

Noruega, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Irlanda, Rússia, Itália e dos EUA devido

à sua localização geográfica, à elevada qualidade dos serviços de saúde prestados,

às clínicas com equipamentos de alta tecnologia, à qualificação elevada e fluência

linguística dos seus profissionais de saúde, às listas de espera reduzidas nas

clínicas privadas, aos preços baixos dos tratamentos e ao mais recente surgimento

de voos low cost que acentuou este tipo de turismo, possibilitando aos pacientes

europeus realizarem viagens mais baratas.

De acordo com a International Medical Tourism Journal (cit in. AEP/HCP,

2014a), o país é o segundo principal destino de Turismo Médico na Europa, ao

registar 300.000 turistas médicos. Contudo, muitos emigrantes polacos (diáspora

nos EUA e no Canadá) optam por receber tratamentos médicos no seu país,

aliados a visitas às famílias e aos amigos.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia bariátrica, cirurgia

cosmética, odontologia, oftalmologia, ortopedia, reabilitação e tratamentos de

fertilidade.

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Turquia

(ex.: Barbacena,

2010; Connell,

2011; AEP/HCP,

2013d; Medical

Tourism Magazine,

2013; AEP/HCP,

2014a; Patients

Beyond Borders)

Devido a um conjunto de fatores que incluem a sua posição geográfica estratégica,

a excelente qualidade dos seus cuidados médicos a preços baixos, a diversidade

paisagística, a proximidade com o Mar Mediterrâneo, a facilidade em adquirir

vistos de entrada (os cidadãos europeus estão isentos desta medida para períodos

superiores a 90 dias), o clima, o fácil acesso (aeroportos, portos marítimos) e as 45

instituições acreditadas pela JCI, é, também, um destino para muitos turistas

médicos. Os dados apontam para 74.093 turistas médicos em 2008, 91.952 em

2009 e 109.678 em 2013, sendo provenientes da Alemanha, Holanda, França,

Irlanda, dos Balcãs, EUA, do Reino Unido (devido, em parte, à diáspora), mas

também da Rússia, Ucrânia, do Médio Oriente e do Norte de África. Os pacientes

provenientes da Alemanha, Bélgica e Holanda constituem a maior parte do

mercado emissor de turistas médicos do país, sendo apontada como principal

razão para que tal aconteça, a morosidade dos seus sistemas de saúde. No caso dos

pacientes provenientes de países menos desenvolvidos, optam pela Turquia

devido aos seus médicos e às suas instalações.

No entanto, para quem é estrangeiro e procure os cuidados de saúde deste país,

terá um acréscimo de 15% (em relação aos preços domésticos) no preço dos

tratamentos. O país possui, ainda, carência de médicos nos hospitais estatais, falta

de solidez na oferta de cuidados por especialidades e falta de coordenação na

promoção do Turismo Médico entre o governo e os principais players turcos.

Salienta-se também que, com o processo de tentativa de adesão à UE a decorrer, o

governo turco e o setor privado de saúde têm-se empenhado em melhorar a

qualidade do seu sistema de saúde, com muitos hospitais a terem acreditação

nacional e internacional (JCI, International Organization for Standardization e

Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations) e vinculações

com grupos ocidentais.

Especialidades mais procuradas: cardiologia, cirurgia bariátrica, cirurgia

plástica/cosmética/reconstrutiva, diálise renal, distúrbios do sono, fisioterapia,

odontologia, oftalmologia, oncologia, ortopedia, terapia de oxigénio e tratamentos

de fertilidade e esterilidade.

Para se projetarem no mercado do Turismo Médico, os países têm recorrido a

vários meios de promoção (Quadro VI). A principal mensagem que estes destinos

pretendem transmitir refere-se a um conjunto de fatores baseados nas características e

elementos únicos e diferenciadores que incluem a qualidade dos cuidados de saúde

prestados, dos profissionais de saúde (sendo que, alguns, dão particular destaque para a

formação académica realizada em países ocidentais) e dos equipamentos de alta

tecnologia na vertente médica, as listas de espera reduzidas ou inexistentes, a

acessibilidade, a cultura, o clima, entre outros (Cook, 2008; Novo, 2014).

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Para além de promoverem os fatores supracitados, existe um conjunto de

estratégias identificadas por Iordache e Ciochina (2014) que podem ser adotadas pelo

Estado para igualmente promover o desenvolvimento do Turismo Médico:

Redução das tarifas para os hospitais que pretendem adquirir equipamentos

provenientes do estrangeiro;

Atrair o investimento do setor privado;

Cooperação entre ministérios (ex.: saúde e turismo);

Criação de parcerias entre os setores público e privado.

O interesse a que se assiste por parte dos Estados no Turismo Médico, assenta

em razões económicas, sendo visto como um potencial contributo para o

desenvolvimento económico do país, optando por estabelecerem cooperações com

entidades privadas (Mainil, 2012; Labonté, 2013).

Neste contexto, importa salientar que os destinos beneficiam das suas

potencialidades turísticas, pois o Turismo Médico permite desenvolver a economia local

e nacional, designadamente, a saúde e o turismo (Hopkins et al., 2010), tornando-se

necessário a existência de um plano estratégico e coordenação entre os principais atores

chave, bem como de estratégias de promoção direcionadas para os pacientes, direta e

indiretamente, através dos operadores turísticos. Barros (2012) defende, também, a

estruturação da oferta dos prestadores de cuidados de saúde, devendo estar adequada

aos mercados geográficos que pretendem alcançar, bem como a criação de clusters, os

quais devem contribuir para a promoção e divulgação da região ou país, quer no

mercado nacional, quer no mercado internacional.

No que se refere aos meios de promoção, destaca-se a Internet, por ser

considerada a principal ferramenta de promoção através da qual é possível ao potencial

turista médico aceder a informações fundamentais para a tomada de decisão (Connell,

2011). De acordo com a AEP/HCP (2014a), a Internet é o meio mais utilizado pelos

turistas médicos para pesquisa de informação, nomeadamente, sobre a doença, os

tratamentos e os locais onde podem ser realizados, sendo esta informação utilizada para

sugerir tratamentos aos seus médicos. Por este motivo, as entidades envolvidas neste

mercado criaram websites, através dos quais é possível contactar o médico, proceder à

marcação do diagnóstico e dos tratamentos e realizar visitas virtuais às instalações das

unidades hospitalares ou clínicas (Bookman e Bookman, 2007; Lunt et al., 2011b).

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Para além da promoção efetuada pelos próprios prestadores de cuidados de

saúde, existem facilitadores de Turismo Médico, como a MedSolution e a Globe Health

Tours (Caballero-Dannell e Mugomba, 2007), que desempenham funções semelhantes

aos operadores turísticos, sendo que a sua atividade é centrada no Turismo Médico. Os

facilitadores têm websites próprios, onde é possível ao turista médico aceder, também, a

um conjunto de informações importantes, designadamente, os acordos e parcerias

estabelecidas com entidades cruciais para o desenvolvimento do Turismo Médico

(hotéis, hospitais, clínicas). Para além disso, dão a conhecer questões como a segurança,

o seguro e as estadias; organizam a logística necessária, como o transporte e a

documentação; organizam o período de recuperação; estabelecem uma ligação entre o

médico do paciente e o médico do hospital onde se realizará o tratamento; fornecem

tradutores; procuram atenuar as diferenças culturais entre os turistas médicos e a cultura

local (Connell, 2011; AEP/HCP, 2014b). Realça-se, no entanto, que a atividade de

facilitador não se encontra regulada, embora os setores da saúde e do turismo tenham

quadros regulatórios próprios e pelos quais o Turismo Médico se rege (Grupo de

Trabalho Interministerial, 2014).

Outras formas de promoção são as que países como a Tailândia, Índia,

Singapura e Malásia, no continente asiático, a Croácia, Polónia, Hungria, Malta e

Turquia, na Europa, utilizam. Estes países recorrem às feiras internacionais, às

conferências, à publicidade a nível internacional e ao apoio às atividades de

desenvolvimento nos setores da saúde e do turismo, pretendendo com estes meios

promover o Turismo Médico no país (Lunt et al., 2011b, 2014).

Contudo, existem outros meios de comunicação: revistas, brochuras e o "Word

of Mouth", sendo este último importante porque o paciente transmite as suas opiniões,

experiências e informações aos amigos e famílias, tal como acontece no meio médico

entre os profissionais de saúde (Connell, 2011; Wendt, 2012).

Quadro VI - Meios de promoção do Turismo Médico (Fonte: Elaboração própria)

Promoção do Turismo Médico

Participação do governo

(e.g. Caballero-Dannell e

Mugomba, 2007; Freitas, 2010;

AEP/HCP, 2014c; Novo, 2014)

- A estratégia desenvolvida pelo governo cubano passava por

tornar o país numa potência médica a nível mundial, centrando-se

no mercado da América Latina. No país, o processo de promoção é

realizado através da Servimed, empresa que organiza, juntamente

com os operadores turísticos e as agências de viagens, a criação de

pacotes que incluem cuidados de saúde e férias, onde, geralmente,

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41

a viagem é realizada pela Companhia Aérea Nacional de Cuba,

assistência 24 horas, acompanhamento permanente ao paciente

(quer de fornecimento de um acompanhante quer de

acompanhamento após o regresso ao país de residência). O

governo cubano dava, também, benefícios diretos (recompensas

orçamentais) aos hospitais que dessem prioridade aos pacientes

estrangeiros sobre os pacientes locais.

- Na Índia, a aposta neste mercado remonta a 2002, quando a

Confederação da Indústria Indiana (CII), juntamente com os

consultores da McKinsey, realizou um estudo sobre o Turismo

Médico, concluindo que este segmento tinha enorme potencial.

Assim, desenvolveu-se no país uma política nacional de saúde que

determinava o papel do Turismo Médico e, em 2003, o ministro

das Finanças pretendia tornar o país um destino de saúde a nível

mundial, o que deu início às políticas do governo em promover o

Turismo Médico. O país criou benefícios, os quais incluíam

direitos de importação mais baixos sobre os equipamentos

essenciais para esta atividade. Uma das medidas criadas e mais

relevante é o Medical Visa que permite aos pacientes, que

procuram realizar viagens somente com o intuito de receber

cuidados médicos, entrar no país e permanecer para a duração do

tratamento, e o MxVisa destinado para os acompanhantes dos

pacientes.

Websites (Anexo II)

(Medicaltourism -

http://www.medicaltourism.com/?

AspxAutoDetectCookieSupport=1)

(ArabMedicare -

http://www.arabmedicare.com/)

(Bookman e Bookman, 2007)

- O medicaltourism.com é gerido pela Medical Tourism

Association e tem como objetivo ajudar os pacientes, prestadores

de Turismo Médico, hospitais, clínicas, companhias de seguro e

entidades patronais no âmbito do Turismo Médico (no qual se

incluiu o Turismo Dentário) e Turismo de Saúde. No website estão

disponíveis alguns tratamentos e 46 países de destino localizados

em todo o mundo, sendo apresentadas as suas características

geográficas, o clima, o idioma oficial, as companhias aéreas

disponíveis no país e, no caso português, os contactos do INEM, da

Cruz Vermelha Portuguesa e dos CTT, e mencionado que o país se

encontra dotado de equipamentos médicos de alta tecnologia e de

profissionais de saúde qualificados. É, ainda, possível, a quem

visite a página, comparar preços de alguns tratamentos.

- Outro website indicado é a ArabMedicare.com que se tornou o

principal meio de informação sobre a saúde no mercado árabe,

fornecendo informação sobre as instalações médicas e tratamentos

médicos e ajuda aos clientes com as companhias de seguro e

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prestadores de cuidados de saúde.

Brochuras, conferências, feiras

internacionais, publicidade e

revistas

(ex.: Lunt et al., 2011b; AEP/HCP,

2014c; Lunt et al., 2014)

Países como a Tailândia, Índia, Singapura, Malásia, Polónia,

Hungria, Malta, Croácia, Turquia recorrem às feiras internacionais

(no caso da Tailândia, criou-se a feira internacional Thailand

Medical Hub Export), às brochuras, às revistas a bordo, à

publicidade a nível internacional, às conferências e ao apoio às

atividades de desenvolvimento nos setores da saúde e do turismo.

Facilitadores

(Caballero-Dannell e Mugomba,

2006: 40)

- A MedSolution (http://www.medsolutions.com/) (norte-

americana) "atua como intermediária entre o mercado norte-

americano e médicos da região asiática, europeia e sul-americana,

através de parcerias com os hospitais", tendo como critérios para as

parcerias médicas nos destinos de Turismo Médico, por exemplo,

as inspeções de segurança e de saúde e profissionais fluentes em

inglês.

- A Globe Health Tours (http://www.globehealthtours.com/wp/)

(britânica) é constituída por profissionais médicos que pretende

ajudar as pessoas na organização dos tratamentos médicos nos

destinos e com a logística necessária para a realização da viagem,

bem como na organização de discussões entre o paciente e os

médicos, fornecendo tradutores quando necessário.

1.5. PERFIL DA PROCURA DO TURISMO MÉDICO

Os turistas médicos são pessoas que recebem cuidados médicos ao abrigo de

acordos ou que por livre vontade optam por viajar para um país estrangeiro (Lunt et al.,

2011b), contrariamente ao que é defendido por Bacalhau (2014), o qual considera

apenas turistas médicos aqueles que viajam por livre vontade, sendo que os que recebem

cuidados ao abrigo de acordos são "pacientes terciarizados".

O perfil do turista médico sofreu alterações nos últimos anos. Inicialmente, os

pacientes eram essencialmente provenientes de países em desenvolvimento que

procuravam receber tratamentos médicos de elevada qualidade em países desenvolvidos

por estarem indisponíveis nos seus países de origem (Herrick, Horowitz et al., 2007).

Estes fluxos ainda se mantêm, tratando-se sobretudo de tratamentos "caros, exclusivos e

sob anonimato" e prestados em "destinos reconhecidos (Londres, Nova Iorque, Berlim)"

(Nossa, 2014: 14). Contudo, atualmente existem, também, fluxos de sentido inverso aos

anteriormente mencionados, cujos turistas médicos procuram receber tratamentos

médicos a custos acessíveis e com um tempo de resposta mais rápido (Barros, 2012).

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43

Esta mudança deve-se, de acordo com Novo (2014), ao aumento dos custos dos

cuidados de saúde, às longas listas de espera, ao envelhecimento da população, à

globalização, aos cuidados de saúde a custos inferiores e à qualidade das unidades de

saúde nos países em desenvolvimento. A estes fatores de motivação acrescem a

existência de acordos entre países - que permitem o envio de pacientes para outro país

devido às longas listas de espera – ou a falta de especialistas e de equipamento

especializado que se verificam no país de origem. Segundo Nossa (2014) existem,

ainda, turistas médicos migrantes que escolhem o seu país de origem para obterem

cuidados médicos devido a ligações culturais, políticas, religiosas e económicas.

Sob o ponto de vista de Bookman e Bookman (2007), o perfil do turista médico

é variado devido ao seu país de origem, cuidado médico pretendido e motivo da procura

do tratamento. Torna-se necessário, assim, distinguir os cidadãos que se encontravam à

altura no país e, tendo ficado doentes, procuraram os cuidados médicos do país, dos

cidadãos que realizam viagens apenas com o objetivo de receber os tratamentos médicos

pretendidos.

Os autores explicam que no caso do primeiro grupo identificado, os cuidados

médicos procurados pelos turistas, durante a sua estadia ou logo após a mesma acabar,

são necessários devido a doenças comuns (ex.: malária), doenças respiratórias

espontâneas contraídas durante a viagem de avião ou ao contacto com outras doenças

que não existam no ambiente a que estão habituados e a acidentes no destino, que

determinaram o recurso a cuidados médicos no local. Portanto, são turistas que não se

encontram doentes à partida e que o respetivo tratamento não foi planeado. Deste modo,

o objetivo principal da viagem não era receber cuidados médicos. É o caso dos

estudantes e trabalhadores estrangeiros que se encontram temporariamente no país e que

ficam doentes durante a sua estadia a longo prazo ou dos turistas que permanecem no

país por um curto período de tempo com o objetivo de visitar, por exemplo,

locais/atrações turísticas.

No que concerne ao segundo grupo, os turistas médicos que procuram

tratamentos nos países em desenvolvimento possuem uma característica distinta: os

níveis de rendimento. Estes permitem a um turista médico com níveis de rendimento

mais elevados receber cuidados médicos de elevada qualidade ao mesmo tempo que

usufruem de umas férias exóticas (medicina de luxo). Para rendimentos mais reduzidos,

temos o caso dos turistas médicos que atravessam a fronteira para apenas usufruir dos

cuidados médicos de outro país (medicina de fronteira). Estes turistas médicos com

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rendimentos mais baixos, recebem os cuidados/tratamentos mais básicos, recorrem às

unidades de saúde mais próximas no país vizinho e não desfrutam de férias quer antes

quer após o tratamento. Os autores exemplificam o caso da Índia que recebe pacientes

provenientes de regiões/países geograficamente próximos (Golfo Pérsico, Bangladesh,

Ilhas Maurícias, Nepal e Sri Lanka). Também o Chile e a Argentina prestam cuidados

médicos aos pacientes provenientes de países limítrofes por possuírem sistemas

médicos mais sofisticados e modernos.

Para Lunt et al. (2011a/b) existem, ainda, turistas médicos que são cidadãos que

podem usufruir dos seus direitos de cidadania europeia, sob a Diretiva relativa aos

cuidados de saúde transfronteiriços, para acederem aos cuidados de saúde prestados

noutro EM da UE, sendo, posteriormente, reembolsados pelo EM de residência. No

entanto, na opinião de Mainil (2012), não são diferentes dos cidadãos que procuram

cuidados de saúde no estrangeiro, tendo em conta que viajam também com a finalidade

de receberem cuidados de saúde noutro EM devido a vários fatores, tais como os custos

mais baratos. Rodrigues (2013) para além de fazer referência também à Diretiva,

menciona que as motivações dos doentes para a realização de tratamentos no estrangeiro

são diversas, sendo, a nível europeu, relacionadas com a disponibilidade, acessibilidade,

familiaridade e qualidade.

O relatório desenvolvido pela AEP/HCP (2014a: 26) evidencia que o turista

médico recorre, principalmente, à Internet para obter informações relacionadas com o

Turismo Médico. "O país de destino é sempre o primeiro fator a ser considerado, sendo

dada importância ao clima político, às condições de segurança e à afinidade entre

países". Após a escolha do país de destino, são procuradas as informações sobre os

cuidados médicos, dando "especial importância à reputação do quadro clínico, às

Acreditações e Certificações do prestador médico, à casuística, [às] redes

internacionais". Posteriormente, procura informações adicionais sobre o transporte,

alojamento e atividades de lazer.

Realça-se que a decisão por adquirir um determinado procedimento num país

varia consoante a importância que é dada pelo turista médico às motivações para

adquirir esse procedimento, mas também em função do nível de risco associado ao

procedimento e do contexto socioeconómico. A AEP/HCP (2014a: 27) concluem,

assim, que a procura por cuidados de saúde, preços e qualidade não é uniforme, ou seja,

estes fatores variam consoante os turistas médicos e existe uma interligação "entre o

valor percebido dos serviços de saúde e os preços que o turista de saúde está disposto a

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pagar", sendo que o serviço tornar-se-á mais caro se o valor percebido for, também,

elevado. De seguida é apresentado, resumidamente, os possíveis perfis dos turistas

médicos (Figura 7).

Figura 7 - Possíveis perfis dos turistas médicos (Fonte: AEP/HCP, 2014a)

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CAPÍTULO II - O TURISMO MÉDICO NAS POLÍTICAS EUROPEIAS E

NACIONAIS

2.1. POLÍTICAS EUROPEIAS

Neste subcapítulo aborda-se as políticas europeias de Turismo e de Saúde na sua

generalidade, dando-se particular destaque às mais relevantes para o desenvolvimento

do Turismo Médico. Devido à, ainda, recente segmentação do Turismo Médico e à

ausência de relatórios que abordam esta temática do ponto de vista das políticas

europeias, foi elaborada uma pesquisa intensiva e estabelecida, sempre que possível,

uma relação entre as políticas europeias com mais relevância ou que tivessem, de

alguma forma, uma relação mais intrínseca com o Turismo Médico.

2.1.1. O TURISMO NAS POLÍTICAS EUROPEIAS

O turismo tem vindo a tornar-se mais relevante no contexto europeu,

nomeadamente na UE, desde 21 de Junho de 1999, na discussão do tema "Turismo e

Emprego" durante o Conselho Europeu, na qual se reconheceu a importância do setor

para a criação de emprego na Europa (Parlamento Europeu, 2015). Por conseguinte,

assumiu-se a necessidade de existirem políticas europeias de turismo, as quais

resultaram na publicação de vários documentos ao longo dos anos. Assim, entre 2001 e

2015 foram publicadas oito comunicações pela Comissão Europeia (CE), as quais

apresentavam as orientações políticas que tinham como objetivo desenvolver o turismo

(Figura 8).

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Figura 8 - Políticas de Turismo elaboradas pela UE (Fonte: Elaboração própria)

Assim, o COM(2010) "Europa, primeiro destino turístico do mundo - novo

quadro político para o turismo europeu" dá conta da importância do turismo para o

crescimento económico e do emprego, mas também da harmonização entre uma

atividade económica importante e o desenvolvimento sustentável. Por conseguinte, urge

a necessidade de criar-se um novo quadro político para esta atividade, o qual pretende

"reforçar a competitividade do setor e o seu crescimento sustentado" (CE, 2010: 2),

tendo-se sugerido várias iniciativas, de caráter europeu ou plurinacional, de forma a

utilizar as competências da UE em matéria de turismo definidas no Tratado de Lisboa.

2001 - "Uma abordagem cooperativa para o futuro do turismo europeu", na qual a Comissão sugeria a criação de um quadro operacional e de medidas com vista a promover o setor do turismo na Europa.

(Centro das Comunidades Europeias - CCE -, 2001)

2003 - "Orientações de base para a sustentabilidade do turismo europeu", cujo objetivo da Comissão era tornar o turismo sustentável através da implementação das medidas apresentadas e da ação conjunta dos intervenientes. (CCE, 2003)

2006 - "Uma política de turismo europeia renovada - Rumo a uma parceria reforçada para o turismo na Europa", documento com o qual a Comissão dava a conhecer uma política que visava tornar o setor do turismo europeu mais competitivo e capaz de gerar mais emprego, passando pelo crescimento sustentável que se pretendia para o turismo quer a nível europeu, quer a nível mundial e pela ação cooperativa entre as partes interessadas. (CCE, 2006)

2007 - "Agenda 21 para um Turismo Europeu Sustentável e Competitivo", na qual apresentava-se a sustentabilidade como um meio para alcançar a competitividade do setor do turismo a longo prazo. (CCE, 2007a)

2010 - "Europa, primeiro destino turístico do mundo - novo quadro político para o turismo europeu", cuja finalidade foi apresentar os desafios e as oportunidades e como poderiam ser aproveitados para desenvolver o turismo, quer em relação à competitividade, quer em relação à sustentabilidade do setor. (CE, 2010)

2012 - "Execução e desenvolvimento da política comum de vistos para promover o crescimento na UE", na qual pretendeu-se demonstrar o potencial contributo da política comum de vistos para o crescimento dos fluxos turísticos em relação a países terceiros. (CE, 2012)

2014 - "Uma estratégia europeia em prol do crescimento e do emprego no setor do turismo costeiro e marítimo", estratégia com a qual a Comissão pretendia impulsionar o crescimento sustentável e a competitividade do turismo costeiro e marítimo. (CE, 2014)

2015 - "Diretiva relativa às viagens organizadas e aos serviços de viagem conexos" que visa abranger mais turistas ao abrigo das regras definidas no âmbito da Diretiva da UE relativa às Viagens Organizadas de 1990. (CE, 2015)

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O turismo tem um enorme contributo na criação de emprego e no crescimento

económico e integração social, especialmente, nas regiões rurais e de montanha e nas

regiões costeiras e ilhas. É um setor que conta com a participação, principalmente, de

pequenas e médias empresas (1,8 milhão de empresas, aproximadamente) e de 5,2% de

empregados (cerca de 9,7 milhões de empregos), gerando mais de 5% do PIB da UE,

que pode ainda crescer. Torna-se, assim, na terceira atividade socioeconómica com mais

relevância para a UE, depois dos setores do comércio e da distribuição e da construção.

Porém, a sua dimensão torna-se, ainda, maior se considerar-se os setores relacionados:

mais de 10% do PIB da UE e 12% (aproximadamente) do emprego total. A UE é o

principal destino turístico no mundo de acordo com dados de 2013 (ano em que registou

566 milhões de chegadas de turistas estrangeiros, gerando receitas de cerca de 370

biliões de euros) (OMT, 2015).

Assim, a importância do turismo é reconhecida no Tratado de Lisboa, tendo-se

definido as competências da UE com o objetivo de "apoiar, coordenar e complementar a

ação dos EM" no domínio do turismo. No artigo 195.º do Tratado sobre o

Funcionamento da União Europeia consta as competências da UE em matéria de

turismo: "promover a competitividade das empresas deste setor e criar um

enquadramento favorável ao seu desenvolvimento, fomentar a cooperação entre os EM,

nomeadamente através do intercâmbio de boas práticas, e desenvolver uma abordagem

integrada do turismo, assegurando a tomada em consideração deste setor nas suas outras

políticas" (CE, 2010: 4).

No entanto, existem desafios e oportunidades que o turismo europeu deve saber

aproveitar. Um dos desafios corresponde às mudanças sociais que tem impacte na

procura, devendo, deste modo, adaptar-se a estas mudanças, bem como à crise

económica e financeira que a Europa enfrenta. Devido a esta crise, os cidadãos europeus

continuaram a realizar viagens, mas optaram por destinos turísticos mais próximos e por

diminuírem o número de dias de estadia e as despesas. Isto repercutiu-se na atividade

turística europeia, tendo esta diminuído 5,6%, aproximadamente, em 2009, com

especiais impactes a nível regional, principalmente na Europa Oriental, que teve uma

redução de 8% de turistas.

O turismo europeu enfrenta, também, a crescente competitividade que outros

países apresentam, estando estes a registarem um crescimento no número de turistas.

Como tal, é essencial que a Europa apresente "uma oferta turística sustentável e de

qualidade", utilize as vantagens que possui, nomeadamente, a diversidade paisagística e

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cultural, e fomente a cooperação com os países que podem tornar-se fontes emissoras de

turistas para o continente europeu (CE, 2010: 5).

As mudanças demográficas constituem outro desafio para a Europa, a par da

alteração dos comportamentos turísticos. Destaca-se, neste novo contexto demográfico,

o aumento do número de cidadãos com mais de 65 anos (prevê-se que representará 20%

da população em 2020), sendo que este grupo etário, em particular, tem poder de

compra e disponibilidade para viajar, constituindo, assim, um mercado relevante, com

necessidade, no entanto, de adaptação do setor. Esta situação é também aplicável aos

turistas que têm mobilidade reduzida.

A oferta turística deve ainda considerar as alterações climáticas, a carência de

recursos hídricos e energéticos, a pressão exercida na biodiversidade e no património

cultural devido ao aumento de visitas turísticas. Deste modo, a política europeia e as

políticas nacionais de turismo devem ter em conta estas alterações.

Salienta-se, também, a importância das tecnologias de informação e

comunicação para o setor do turismo e outros desafios que se referem às dificuldades de

adaptação das empresas deste setor (sobretudo das pequenas e médias empresas, por

motivos financeiros e de qualificação dos seus empregados) à sazonalidade, entre

outros.

Tendo em conta estes desafios e oportunidades e o Tratado de Lisboa, a política

europeia de turismo visa promover a competitividade do setor mas de forma sustentável,

estando este objetivo em conformidade com a estratégia Europa 2020, sobretudo com a

iniciativa "Política industrial na era da globalização", não descurando a contribuição que

o setor do turismo poderá ter para as iniciativas "A União da Inovação", "Uma Agenda

Digital para a Europa" e "Novas competências para novos empregos". A Declaração de

Madrid foi, ainda, adotada pelos ministros da UE, a qual determina recomendações para

que a política europeia de turismo seja aplicável, realçando a importância da

competitividade sustentável no setor e da atuação complementar da UE no domínio do

turismo. Para tal, foram definidos quatro eixos que constam no novo quadro de ação de

turismo elaborado pela CE:

Promover a competitividade do setor do turismo na Europa ao fomentar a

inovação no setor, apostar na qualidade e na variedade da oferta turística (ex.:

património cultural, locais naturais protegidos, Turismo de Saúde e Bem-Estar),

melhorar as aptidões profissionais, procurar combater a sazonalidade existente

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na procura e tornar os dados e as análises estatísticas referentes ao turismo de

melhor qualidade.

Fomentar a atividade turística sustentável, responsável e de qualidade tendo em

conta que os destinos turísticos estão intrinsecamente relacionados com os

aspetos naturais e culturais das populações locais. Deste modo, é essencial que

se tome consciência da valorização e utilização adequada dos recursos, dos

impactos ambientais derivados das atividades turísticas, do património natural e

cultural, da qualidade e permanência de empregos relacionados com o turismo,

dos impactos económicos na economia local e da qualidade dos

estabelecimentos hoteleiros.

Apostar na promoção de destinos turísticos europeus sustentáveis e de

qualidade, a qual poderá resultar na atração de mais turistas internacionais e

consequente aumento do impacto económico. Esta promoção deverá ser

realizada em determinados mercados de países terceiros, tais como os EUA, o

Japão, a China, a Rússia, a Índia e o Brasil, recorrendo-se, por exemplo, a feiras

turísticas ou a eventos à escala europeia e mundial, como os Jogos Olímpicos ou

a Capital Europeia da Cultura.

Aproveitar o potencial das políticas e dos instrumentos financeiros da UE para

desenvolver o setor do turismo, nomeadamente, porque a política de turismo

encontra-se presente, ainda que indiretamente, em outras políticas que neste

setor têm impacto. São exemplo as políticas europeias de "transportes

(mobilidade sustentável, direitos e segurança dos passageiros e qualidade dos

transportes), da concorrência (concentração de empresas, nomeadamente na

oferta turística em linha, integração vertical e ajudas públicas), do mercado

interno (livre estabelecimento e livre prestação dos serviços ligados ao turismo,

promoção da qualidade dos serviços, desenvolvimento do comércio eletrónico),

da política fiscal (obstáculos de natureza fiscal ao bom funcionamento do

mercado interno, regime fiscal das empresas do setor, como por exemplo, as

agências de viagens, deduções fiscais), de defesa dos consumidores (direitos

contratuais, práticas comerciais desleais, vendas à distância), do ambiente, do

emprego e da formação, da cultura ou ainda da política de desenvolvimento

regional e rural". Em termos de instrumentos e programas de apoio comunitários

são de referir, por exemplo, o FEDER e FSE e o programa-quadro para a

inovação e a competitividade (PIC) (CE, 2010: 13).

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O mais recente COM(2012), intitulado de "Execução e desenvolvimento da

política comum de vistos para promover o crescimento na UE", teve como objetivo

analisar o impacto económico gerado pela política de vistos na economia da UE,

particularmente no setor do turismo. Este setor registou um crescimento, tendo, em

2011, gerado cerca de 18,8 milhões de empregos. Também, no mesmo ano, as receitas

geradas pelos turistas alcançaram, aproximadamente, os 423 mil milhões de dólares. As

previsões, também, são otimistas, estimando-se que o número de empregos gerados no

setor do turismo alcance os 20,4 milhões até 2022 e os gastos dos turistas estrangeiros

atinjam os 547 mil milhões de dólares em 2022.

Neste fluxo de turistas destacam-se os mercados emergentes, nomeadamente o

Brasil e a Rússia, que duplicaram nos últimos anos, e a Índia e a China. Estes países

apresentam, também, um aumento de número de vistos emitidos para o espaço

Schengen: na Índia registou-se um aumento de 340.000 vistos emitidos em 2007 para

460.000 em 2011; na China, o aumento foi mais significativo, de 560.000 em 2008 para

1.026.000 em 2011; na Rússia, o aumento foi de 3.500.000 em 2007 para 5.152.000 em

2011. A facilitação de vistos, defendida pelos Ministros do Turismo da Itália e da

Irlanda, é vista como um contributo para aumentar os fluxos turísticos na Europa,

designadamente, em países que têm boas condições para serem fortes mercados

emissores de turistas e com poder de compra que se prevê que aumente. No entanto, os

vistos tornam-se obstáculos e motivos de desistência para 21% dos potenciais turistas

provenientes de países emergentes e que pretendem visitar a Europa.

Na sequência deste obstáculo, segundo estudos realizados pela Tourism

Economics (2012) (cit in. CE, 2012), que abordam precisamente a questão da facilitação

de vistos e os seus impactos na criação de emprego nos países do G20, demonstram que

a facilitação de vistos permitiu um crescimento de 5 a 25% relativamente a entradas de

turistas internacionais neste conjunto de países do G20, originando receitas e empregos.

A mesma entidade revela que esta medida teria um impacte positivo no espaço

Schengen da UE, permitindo registar 8 a 46 milhões de novos turistas estrangeiros até

2015 e gerar receitas entre 11 e 60 mil milhões de euros e empregos diretamente ligados

ao setor entre 100.000 e 500.000, podendo este número ascender se se contabilizar,

também, os empregos indiretamente ligados a este setor, estimando-se que, em

conjunto, alcançariam entre 200.000 e 1,1 milhões de empregos até 2015.

Esta questão foi abordada pela CE em 2010, a qual estava disposta a estudar as

várias possibilidades e os instrumentos relacionados com a política de vistos e de

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passagem nas fronteiras externas com o objetivo de aproveitar o melhor possível a sua

utilidade, tendo sido convidada pelo Parlamento Europeu para "apresentar um

procedimento de concessão de vistos mais coordenado e simplificado", e pelos

Ministros do Turismo da UE em Madrid (2010) e em Cracóvia (2011), tendo sido nestas

reuniões analisados os impactos gerados pela política de vistos nos fluxos turísticos

(CE, 2012:4).

Contudo, a facilitação de vistos não se resume a benefícios económicos;

possibilita, também, a visita de familiares nacionais de países terceiros aos cidadãos da

UE, bem como a sua livre circulação no espaço da UE.

É salientado, também, a importância da tecnologia para a emissão de vistos. A

existência de um sistema de vistos eletrónicos é, segundo a Organização Mundial do

Turismo das Nações Unidas (cit in. CE, 2012), considerado vantajoso para a segurança

e facilitação de vistos, tendo que ser, contudo, posto em prática rigorosamente.

Em julho de 2013 surgiu a proposta de uma nova legislação, no âmbito da

Diretiva da UE relativa às Viagens Organizadas de 1990, tendo a CE sido apoiada pelo

Parlamento Europeu em março de 2014. Recentemente, no decorrer do Conselho

«Competitividade» (28 de maio de 2015), os ministros emitiram parecer positivo,

encontrando-se, assim, os pacotes de férias tradicionais e cerca de 120 milhões de

pessoas que recorrem a outro tipo de serviços de viagem combinados (pacotes pré-

organizados, pacotes personalizados e organização de viagens vinculadas) abrangidos

pela nova legislação.

Os consumidores terão direito, deste modo, a obter informações mais claras

sobre o pacote de férias, nos quais se inserem os preços e custos adicionais; a

cancelamentos gratuitos antes da partida (ex.: em situações de desastres naturais no

destino); a erros de reserva suportados pelo comerciante; a obter informações sobre os

seus direitos junto dos organizadores das viagens, tais como os serviços de saúde e

prestação de auxílio por parte do cônsul; a devolução do dinheiro e repatriação em caso

de insolvência do organizador do pacote, estando as empresas vinculadas à organização

do pacote (ex.: companhias aéreas) envolvidas no processo de devolução e repatriação.

No culminar das políticas alvo de uma análise mais detalhada, por ser uma

atividade relevante no contexto económico da UE, existe um conjunto de ideias que

podem contribuir para o desenvolvimento do Turismo Médico na UE:

Mudança demográfica e económica dos cidadãos europeus e a opção por

países mais próximos dos países e origem/residência - o Turismo Médico

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encontra-se associado a fluxos turísticos constituídos, em parte, por idosos e

cidadãos com predisposição a escolher destinos mais próximos e onde os custos

dos cuidados de saúde são inferiores aos praticados nos países de

origem/residência, pelo que as recomendações políticas mencionadas estão em

conformidade com as caraterísticas da atividade do Turismo Médico.

Sustentabilidade e qualidade da atividade turística (oferta) – por o Turismo

Médico estar associado a destinos com qualidade e atrativos do ponto de vista

dos aspetos naturais e culturais, torna-se relevante garantir que a oferta seja

sustentável (para, assim, continuar a receber turistas), mas também de qualidade,

aspeto este que é mencionado como um dos principais motivos nos quais assenta

a procura turística do produto.

Facilitação de vistos para aumentar os fluxos turísticos – a implementação

desta medida pode representar uma oportunidade para que o Turismo Médico na

UE se possa desenvolver, originando ganhos económicos para os EM.

As mais recentes alterações efetuadas na Diretiva relativa às Viagens

Organizadas e aos Serviços de Viagem Conexos - sendo o Turismo Médico

um produto composto por diversas atividades que possibilitam a um turista

médico adquirir um pacote integrado, estas alterações podem traduzir-se no

aumento desta procura turística na UE.

2.1.2. A SAÚDE NAS POLÍTICAS EUROPEIAS

O setor da Saúde foi alvo de constantes discussões, tendo sido elaborados

documentos, os quais destinavam-se a definir estratégias comunitárias, programas

contínuos e diretivas ao longo dos anos, sendo realizada, por esta ordem de lógica, as

abordagens aos documentos, programas e diretivas mais relevantes para o Turismo

Médico.

No que concerne a políticas de saúde definidas pela UE, destaca-se o documento

"Livro Branco - Juntos para a saúde: uma abordagem estratégica para a UE 2008-2013"

(CCE, 2007b). Com base nos resultados das consultas a partes interessadas em que foi

identificado um conjunto de ideias sobre a atuação da Comunidade Europeia na área da

saúde, criou-se o Livro Branco. Este definia uma estratégia comunitária para o domínio

da saúde, tendo sido estabelecidos três objetivos estratégicos assentes em quatro

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princípios, referentes aos valores (universalidade, cuidados de saúde de qualidade,

equidade e solidariedade); à valorização e importância da saúde para o bem-estar dos

cidadãos e da sociedade; à integração da saúde em todas as políticas europeias; ao

aumento do papel da UE em matéria de saúde a nível mundial.

Entre os objetivos estratégicos constavam a promoção da saúde e prevenção de

doenças na Europa, devido ao envelhecimento da população e consequente procura por

cuidados de saúde, e a sustentabilidade dos sistemas de saúde e a promoção das novas

tecnologias nos cuidados de saúde, nomeadamente a e-Saúde, a genómica e as

biotecnologias que podem contribuir para a prevenção e tratamento de problemas de

saúde (doenças).

Já em 2013, o documento "Investing in Health" publicado pela CE dava especial

atenção a problemas que a Europa enfrenta em matéria de saúde (CE, 2013). Assim, o

documento apelava à utilização dos fundos disponibilizados pela UE para apoiarem os

investimentos na saúde, que devem concretizar-se a vários níveis: na sustentabilidade

dos sistemas de saúde devido à evolução demográfica (envelhecimento da população),

às doenças que atingem a população europeia e à crise económica; na melhoraria da

saúde dos cidadãos e, assim, contribuir para a sua empregabilidade; na redução das

desigualdades no acesso a cuidados de saúde tendo em vista a sua contribuição para a

coesão social e redução da pobreza e exclusão.

Dando continuidade aos programas em matéria de saúde que têm vindo a ser

implementados na UE, em 2014 foi lançado o terceiro programa "Saúde para o

Crescimento: programa da União Europeia no domínio da saúde (2014-2020)"

(Parlamento Europeu e Conselho, 2014). Este programa resume-se, essencialmente, a

quatro objetivos específicos (artigo 3.º, Capítulo II): promover estilos de vida saudáveis

e prevenir doenças; garantir a proteção dos cidadãos face a ameaças sanitárias

transfronteiriças; criar instrumentos e mecanismos que visem a inovação, eficiência e

sustentabilidade dos sistemas de saúde dos EM da EU; facultar o acesso a cuidados de

saúde de qualidade e seguros aos cidadãos da UE. No entanto, realça-se que a ação da

UE em matéria de saúde, à semelhança do setor do turismo, é complementar às políticas

de saúde criadas e implementadas por cada EM (alínea 19).

Devido à importância das novas tecnologias na área da saúde, nomeadamente a

telemedicina, a CCE publicou em 2008 um documento no qual realçava-se os benefícios

da telemedicina em matéria de saúde (CCE, 2008). O contributo desta tecnologia refere-

se à possibilidade de melhorar a vida dos doentes e dos profissionais de saúde e de

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solucionar alguns problemas existentes nos sistemas de saúde. Esta tecnologia torna-se

ainda mais relevante para as populações das áreas isoladas ou que necessitam de

determinadas especialidades e onde a prestação de cuidados de saúde é de difícil acesso.

Os benefícios da telemedicina são, também, visíveis na economia europeia,

nomeadamente porque a Europa encontra-se dotada de um número elevado de pequenas

e médias empresas neste setor. Contudo, a utilização desta tecnologia era ainda

diminuta. Os EM reconheceram, deste modo, a importância e vantagem da utilização da

telemedicina, tendo o apoio da CE na utilização desta tecnologia como um importante

contributo para a resolução de problemas existentes nos sistemas de saúde.

Na UE prevalece a prestação de cuidados de saúde pelos próprios EM aos seus

cidadãos, podendo estes, no entanto, obtê-los noutro EM. Neste contexto, existem duas

modalidades que permitem aos cidadãos da UE receberem cuidados de saúde num EM

diferente: o Cartão Europeu de Seguro de Doença e a recente Diretiva sobre os cuidados

de saúde transfronteiriços. As duas distinguem-se devido à forma como podem ser

utilizadas.

O Cartão Europeu de Seguro de Doença permite aos cidadãos europeus receber

cuidados de saúde necessários, somente durante uma estadia temporária, num dos 28

EM da UE, bem como na Noruega, Islândia, Liechtenstein e Suíça, com custos e

condições iguais aos cidadãos que se encontram cobertos pelo sistema de saúde público

do país em questão. Contudo, este cartão não abrange cuidados de saúde privados,

custos no caso de os cidadãos viajarem para um dos países mencionados a fim de

receber somente tratamentos médicos, nem outros custos, como indemnizações por bens

perdidos ou roubados, e não assegura que os cuidados de saúde sejam gratuitos, pois

devido aos diferentes sistemas de saúde presentes em cada país, não é garantido que um

serviço que seja gratuito no país de residência, o seja também no país onde se encontra

(CE).

No entanto, numa forma de proporcionar cuidados de saúde de qualidade e

igualitários aos seus cidadãos noutro EM, a UE publicou uma Diretiva (2011/24/UE do

Parlamento Europeu e do Conselho, de 9 de Março de 2011) sobre o exercício dos

direitos dos doentes em matéria de cuidados de saúde transfronteiriços, encontrando-se

esta em conformidade com a legislação do Tribunal de Justiça Europeu.

Embora esta Diretiva permita ao paciente optar pelos cuidados de saúde num dos

EM abrangidos pela Diretiva, é da responsabilidade dos EM de residência assegurar a

"prestação de cuidados de saúde seguros, de elevada qualidade, eficazes e em

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quantidade suficiente aos cidadãos no respetivo território", não devendo esta diretiva ser

considerada, perante o quadro legislativo nacional e a sua implementação, um estímulo

para os doentes receberem tratamentos noutro EM da UE (alínea 4) (Parlamento

Europeu e Conselho, 2011: 1).

Uma das questões que mais dúvidas suscita é o reembolso. A Diretiva esclarece

que este pode ser limitado consoante a escolha do EM de afiliação devido a questões

relacionadas "com a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde prestados", devendo

primar a saúde pública (alínea 11) (Parlamento Europeu e Conselho, 2011: 2).

Torna-se necessário esclarecer que não abrange os cuidados continuados, não

devendo, assim, ser considerada para estes efeitos, em termos de objetivo principal, o

auxílio a pacientes que requerem uma assistência frequente no âmbito dos cuidados

domiciliários, residências assistidas e lares. A mesma também não inclui "o acesso a

órgãos e a sua atribuição para efeitos de transplante" (alínea 15) (Parlamento Europeu e

Conselho, 2011: 2). Os EM devem, ainda, garantir a proteção dos doentes, bem como a

resolução de problemas derivados dos cuidados de saúde prestados no país, devendo ser

adequados ao problema do doente.

Os fluxos de doentes entre os EM são limitados, dado que a maioria dos doentes

da UE opta por receber os cuidados de saúde prestados nos seus países de residência.

Porém, poderão procurar alguns tratamentos noutro EM, designadamente, os cuidados

de saúde altamente especializados ou os cuidados que são prestados em zonas

fronteiriças, onde existem os cuidados de saúde apropriados e mais próximos. Podem,

também, optar por cuidados de saúde no estrangeiro devido à presença de familiares

nesse EM ou a um tratamento diferente do que poderiam receber no EM de afiliação ou,

ainda, por pretenderem receber cuidados de saúde de melhor qualidade noutro EM.

2.1.3. TURISMO MÉDICO - UMA ABORDAGEM RELACIONAL

ENTRE OS SETORES DO TURISMO E DA SAÚDE

Como referido anteriormente, assiste-se à ausência de uma política europeia

direcionada, unicamente, para o Turismo Médico. Neste contexto, a literatura e a

opinião dos entrevistados revelaram ser importantes para, de alguma forma, construir

uma ideia sobre a importância de uma política europeia que incida no desenvolvimento

deste produto.

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A Diretiva relativa ao exercício dos direitos dos doentes em matéria de cuidados

de saúde transfronteiriços é considerada a política europeia, contextualmente, mais

próxima do Turismo Médico, podendo originar movimentos de pacientes provenientes

de países europeus ocidentais para países da Europa do Leste, nomeadamente a Polónia

e Bulgária, países estes que registam melhorias na qualidade dos serviços de saúde

prestados (AEP/HCP, 2014a).

A Diretiva mencionada é vista, também, como a política europeia que contribui

para o desenvolvimento do Turismo Médico, ainda que não corresponda às expetativas

inicialmente criadas nem esteja a ser implementada em todos os EM (Dra. Eve Jokel;

Dr. Luís Afonso; Dr. Pedro Sinval; Eng. Sérgio Ribeiro). Simultaneamente, registam-se

obstáculos burocráticos, particularmente, em países com sistemas menos organizados

(Dr. João Bacalhau), e falta de capacidade económica para proceder aos reembolsos

exigidos (Dr. Paulo Novais). No entanto, nem todos os entrevistados consideram que a

Diretiva em causa tem sido importante para o desenvolvimento do Turismo Médico

(Dra. Belén de Vicente), existindo, mesmo, falta de alusão a alguma política europeia

que revele ser importante para o setor (Prof. Dr. Nuno Gustavo; Dr. Sérgio Franco).

Perante as opiniões dos entrevistados, a informação bibliográfica e a inexistência

de um relatório destinado, especificamente, para esta realidade, sugere-se o

desenvolvimento de um estudo acerca das características gerais do Turismo Médico, das

questões relacionadas com o perfil dos turistas médicos (para que a oferta a nível

europeu seja mais adequada e melhor estruturada) e dos principais destinos e mercados

emissores a nível europeu, em especial da UE, áreas onde se verifica, ainda, algum

desconhecimento.

Para além deste relatório, deve ser, também, elaborada uma política que regule

este mercado a nível europeu, nomeadamente, na UE, visto ser um forte mercado

emissor de turistas médicos, ao mesmo tempo que atrai pacientes, sobretudo, de classes

mais abastadas e provenientes de países em desenvolvimento, que procuram cuidados

de saúde de elevada qualidade, não sendo os custos associados impeditivos da

predileção por países desenvolvidos.

A criação de tal política não só poderia ser vista como um acréscimo de

benefícios económicos gerados por esta atividade, como também aumentaria os níveis

de confiança que estão na base das motivações dos turistas médicos que escolhem os

países europeus para receberem cuidados de saúde. No entanto, para os turistas médicos

que procuram cuidados de saúde de qualidade a preços mais baratos, existe a oferta

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disponibilizada nos países do leste ou, até mesmo, do sul da Europa, como, por

exemplo, Portugal, que cumprem estes requisitos.

2.2. POLÍTICAS NACIONAIS

À semelhança das políticas europeias, neste subcapítulo é realizado o mesmo

exercício, ou seja, aborda-se mais minuciosamente as políticas ou programas

nacionais/regionais com mais relevância para o Turismo Médico. A nível nacional

verifica-se uma ausência de estratégia nacional que vise o desenvolvimento deste

produto, embora o interesse tenha aumentado nos últimos anos através dos estudos

elaborados no âmbito do Projeto "Healthy'n Portugal' e do relatório elaborado pelo

Grupo de Trabalho Interministerial, cuja iniciativa está a cargo do Estado.

2.2.1. POLÍTICAS SETORIAIS: TURISMO E SAÚDE

Turismo

Devido à evolução positiva do setor do turismo e à posição de Portugal enquanto

destino turístico no panorama internacional - crescente procura de turistas estrangeiros,

com especial destaque para os últimos anos - o setor tem integrado a lista de interesses

do Estado através da criação de políticas, quer direta quer indiretamente, ligadas ao

turismo.

Deste modo, no programa do XIX Governo é definida uma estratégia para o

turismo que consiste na aposta em serviços e produtos distintos e autênticos para atrair

novos mercados e, assim, diminuir a dependência existente em relação a poucos e

tradicionais mercados emissores e a um leque restrito de produtos turísticos.

Para tal, foram definidas medidas que incluem a aposta no apoio às empresas

que atuam neste setor; na atratividade no setor do turismo através da articulação entre

políticas de setores relacionados, tais como o ordenamento do território, o ambiente, os

transportes, a saúde, o mar e a cultura; na atração de novos mercados; na regulação e

partilha de ideias entre entidades públicas e privadas; no desenvolvimento do turismo

sénior, turismo para emigrantes, turismo para cidadãos com deficiências e

incapacidades, turismo religioso e turismo de saúde; em dar mais importância ao

aumento da receita por turista em detrimento do crescimento do número de turistas; em

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60

incorporar a legislação do setor do turismo num Código do Turismo e das Atividades

Turísticas.

A política desenvolvida pelo governo inclui, ainda, desenvolver a "Marca

Portugal", apostar no mercado interno e na reconquista de mercados para os quais

Portugal deixou de ser destino e tornar o país num destino através da utilização de

novos produtos em conjunto com as indústrias criativas (Presidência do Conselho de

Ministros: 51).

No entanto, destaca-se o papel do Plano Estratégico Nacional de Turismo

(PENT) para o horizonte 2013-2015 que identifica o Turismo de Saúde, incluindo a

componente médica, como um dos produtos turísticos no qual Portugal deve apostar,

aliando a componente médica ao turismo. A prioridade recai em atrair os principais

mercados emissores de turistas, nomeadamente, o Reino Unido, a Alemanha, França,

Holanda, Suécia, Rússia e, ainda, a China, o Brasil e os Emirados Árabes Unidos, que

são considerados novos mercados (Turismo de Portugal, 2013).

No continente europeu destacam-se como principais países emissores de turistas

de saúde a Alemanha, Bélgica, Itália, Áustria, Suíça, Escandinávia, Espanha e o Reino

Unido, que representam, no seu todo, 81% do mercado europeu, sendo, deste modo,

considerados países importantes para se desenvolver este produto em Portugal.

Contudo, outros países (Holanda, França e EUA), a diáspora portuguesa e os cidadãos

provenientes dos PALOP representam também oportunidades para Portugal desenvolver

o Turismo de Saúde.

Segundo as estatísticas apresentadas no PENT 2013-2015, as viagens de

Turismo de Saúde têm vindo a aumentar desde 2000, sendo previsto que em 2015

alcance as 6,9 milhões de viagens e, em 2020, as 9,3 milhões de viagens. Estas

previsões vêm reforçar o potencial deste produto turístico, bem como sustentar o facto

de Portugal considerar este como um produto de aposta, uma vez que o país reúne as

condições necessárias para atrair os turistas de saúde.

A estratégia passa pela aposta no Turismo Médico no Algarve, nas cidades de

Lisboa e do Porto e na região Centro, sendo considerado, em todas elas, um produto

emergente (Figura 9), precisando-se, assim, de organizar a estratégia de atuação a

médio prazo. Na região Norte, tendo em conta os principais produtos nos quais deve-se

reforçar a oferta, o Turismo Médico requer a realização de uma análise relativa à

ligação entre os serviços médicos e o setor do turismo e à competitividade do país,

determinando-se a estratégia mais adequada para os serviços de turismo. Esta, também,

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é a estratégia adotada para a região Centro e cidade de Lisboa. Já no Algarve, dado que

este segmento já se encontra em desenvolvimento, a estratégia passa pelo

desenvolvimento e aumento da oferta a nível dos serviços médicos incluídos nos

serviços de turismo, bem como pela sua promoção a fim de posicioná-lo no mercado.

Contudo, é importante realçar que a estratégia adotada visa respeitar e contribuir para o

desenvolvimento sustentável dos destinos.

Figura 9 - Matriz de produtos vs destinos (Fonte: Turismo de Portugal, 2013)

Para finalizar as políticas nacionais de turismo, o documento “Turismo 2020:

Plano de Ação para o desenvolvimento do Turismo em Portugal 2014-2020” refere que

as mudanças demográficas e socioculturais, nas quais se inclui o envelhecimento

populacional e o cuidado com a saúde, irão repercutir-se no setor do Turismo. Assim,

haverá uma potencial procura por cuidados de saúde a preços inferiores em outros

países, mas também por serviços de bem-estar.

A nível regional, apenas a região Centro tem como um dos objetivos

estratégicos, desenvolver o Turismo Médico e o Turismo de Bem-Estar, aposta esta que

é reforçada com o facto da região ser considerada “de referência para o envelhecimento

ativo e saudável (grandes potencialidades na atração de idosos para o turismo de saúde,

médico e de bem-estar)”. Porém, as regiões do Algarve e da Madeira consideram

também que existem condições para se desenvolver o produto Turismo de Saúde,

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estando, no caso do Algarve, a oferta concentrada no Litoral Sul e Barrocal e na Serra

(Turismo de Portugal, 2015).

Saúde

À semelhança do que acontece em outros países, o SNS português, apesar de

estar bem visto no panorama internacional, evidencia alguns problemas, nomeadamente,

no que se refere à sua sustentabilidade financeira. Por conseguinte, é crucial que se

assegure a sua sustentabilidade, bem como o direito à proteção da saúde, através do uso

mais correto dos recursos que dispõe (Presidência do Conselho de Ministros).

Entre as medidas adotadas pelo XIX governo consta tornar mais eficaz os

cuidados de saúde prestados e o acesso a estes; promover a qualidade dos cuidados de

saúde; regular o setor; proceder à acreditação dos serviços prestados no SNS; assegurar

a sustentabilidade financeira do SNS; melhor utilização dos recursos; assegurar a

igualdade no acesso aos medicamentos; promover o papel ativo dos cidadãos no SNS;

entre outras.

Estas medidas visam responder aos objetivos estratégicos definidos, os quais

referem-se à melhoria da qualidade dos cuidados de saúde prestados e o acesso a estes;

assegurar a sustentabilidade financeira do SNS; promover a livre escolha do cidadão em

relação ao seu direito em matéria de cuidados de saúde; desenvolver uma colaboração

na área da saúde com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

No que concerne ao Turismo Médico em Portugal, o governo, mais

concretamente através do Ministério da Saúde, procura ampliar o número de utentes que

podem ser atendidos nos hospitais públicos, ou seja, os não utentes do SNS e os

cidadãos estrangeiros (Entidade Reguladora da Saúde – ERS-, 2014). Esta medida pode

ser vista, também, como uma forma de contribuir para a sustentabilidade dos hospitais

públicos, bem como demonstrar que os serviços prestados no setor público são de

qualidade. Assim, segundo o parecer emitido pela ERS, a pedido do Ministério da

Saúde, são 15 os hospitais públicos que reúnem as condições necessárias para prestarem

cuidados médicos aos cidadãos supramencionados em cinco especialidades: cirurgias de

cardiologia, cirurgias plásticas e reconstrutivas, cirurgias de oftalmologia, cirurgias de

oncologia e cirurgias de ortopedia. Importa ressalvar que a abertura destes hospitais a

novos mercados não deve prejudicar o acesso dos utentes do SNS aos cuidados de saúde

e numa lógica de prioridades, os hospitais que registam baixos tempos de espera devem

prestar cuidados de saúde aos utentes do SNS, em casos onde se verifiquem tempos de

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espera muito elevados em hospitais que se encontram dentro da área de influência, ou

seja, que estão geograficamente próximos.

Os critérios utilizados pela ERS na escolha destes 15 hospitais foram a taxa de

ocupação de camas por internamento nos serviços médicos analisados e o tempo médio

de espera dos pacientes para receberem esses tratamentos. Concluiu-se que estes

hospitais registam capacidade instalada e baixo tempo de espera. De seguida é

apresentado um quadro (Quadro VII) onde se evidenciam os hospitais que reúnem as

condições para atenderem utentes fora do SNS.

Quadro VII - Hospitais que cumprem os requisitos para prestarem cuidados de saúde aos utentes não SNS (Fonte: Elaboração própria)

Unidades Hospitalares

Especialidades (Cirurgias)

Car

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(13 a

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isad

os)

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os)

Onco

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(12

anal

isad

os)

Ort

oped

ia (

34

anal

isad

os)

Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, EPE X

Hospital Espírito Santo de Évora, EPE X

Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, EPE X

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE X

Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE X X X

Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE X

Centro Hospitalar do Algarve, EPE X

Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, EPE X

Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE X

Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, EPE X

Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE X

Centro Hospitalar de Leiria, EPE X

Hospital Garcia de Orta, EPE X

Centro Hospitalar do Oeste X

Hospital de Vila Franca de Xira, PPP X

2.2.2. ABORDAGENS REGIONAIS: ESTRATÉGIAS E POLÍTICAS

Para além do PENT 2013-2015, existem outros documentos com relevância a

nível regional elaborados pelas entidades regionais competentes, tais como as

Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR). Neste subcapítulo,

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seguiu-se a mesma lógica de análise efetuada anteriormente, sendo realizada uma

abordagem mais intensiva ao setor do Turismo de Saúde e o Turismo Médico consoante

as Estratégias Regionais de Especialização Inteligente, os Programas Operacionais

Regionais (POR) para o horizonte temporal 2014-2020 e os Planos Regionais de

Turismo.

No POR Norte destaca-se o crescimento no setor turístico que a região tem

alcançado, pretendendo-se, no entanto, aproveitar os recursos naturais e culturais para

desenvolver o Turismo Cultural, os City Breaks, o Turismo de Natureza e o Turismo de

Saúde e Bem-Estar. No que se refere ao Turismo de Saúde e Bem-Estar, a região é

considerada o primeiro destino neste produto a nível nacional devido à água mineral

natural e aos estabelecimentos termais modernos que dispõe (CCDR do Norte, 2014).

No POR Centro, a crescente importância que tem sido adquirida pelas atividades

económicas relacionadas com o turismo é identificado como um ponto forte da região,

havendo potencial para se desenvolver produtos que estão já consolidados, mas também

novos produtos: o Turismo de Natureza, o Turismo de Aventura, o Turismo Cultural, o

Turismo Religioso, o Turismo Residencial e o Turismo Médico e de Bem-Estar. A

região pretende fortalecer a contribuição da investigação, desenvolvimento e inovação

para o setor do Turismo, nomeadamente, na aposta em mercados específicos, na criação

de produtos turísticos com vista a valorizar o património territorial, na criação de

conteúdos culturais, artísticos e de multimédia e no desenvolvimento de novas formas

de promover a região enquanto destino turístico (CCDR do Centro, 2014).

Estabeleceu-se como estratégia o "desenvolvimento de dispositivos médicos e

sistemas de monitorização, apostas em medicina personalizada, terapia celular,

medicina de translação e ensaios clínicos, assim como na consolidação de práticas

clínicas de excelência (e.g. oncologia, oftalmologia, cardiologia/cirurgia cardíaca,

transplante de órgãos, tecidos e células)" com o objetivo de desenvolver o Turismo

Médico na região. Pretende-se também desenvolver o Turismo de Bem-Estar através da

medicina preventiva e de reabilitação, das atividades ligadas ao bem-estar, ao

termalismo e ao bioclimatismo e da promoção do envelhecimento ativo e saudável

(CCDR do Centro, 2014: 13).

O produto Turismo Médico está, também, referenciado no Plano de Marketing

para a Região Centro de Portugal, tendo sido considerado um produto emergente e com

a oferta centrada em Coimbra através do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

(Turismo Centro de Portugal, 2013). No Plano de Atividades e Orçamento de 2014, é

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especificado o valor atribuído ao desenvolvimento de várias atividades, tendo sido

definido um orçamento de 28.000 euros para o desenvolvimento do “Programa de

Estruturação do Turismo de Saúde, Médico e Bem-Estar”, o qual inclui o

“desenvolvimento e promoção do Turismo Médico e a Saúde, Bem-Estar & Spa”

(Turismo Centro de Portugal, 2014: 40).

Relativamente à região de Lisboa, o primeiro interesse pelo Turismo de

Saúde/Turismo Médico surgiu no documento "Especialização Inteligente de Lisboa

2014-2020". A região possui um conjunto de elementos potencialmente fortes para

atrair turistas médicos, designadamente "a existência de unidades hospitalares privadas

com elevada qualificação clínica e de acolhimento/estadia, a boa acessibilidade para

nacionais de outros países potencialmente emissores ou a boa possibilidade de constituir

"pacotes" competitivos (cuidados médicos + hotel + turismo)". No entanto, é essencial

construir-se uma estratégia que inclua a participação de entidades públicas com o

objetivo de promover os produtos que se pretende 'vender' e, assim, ultrapassar

obstáculos ao desenvolvimento deste produto, tais como a falta de valorização das

equipas médicas pelo público estrangeiro e da divulgação de resultados clínicos, bem

como a pouca competitividade que o país apresenta em relação aos preços praticados,

para os quais os elevados honorários têm contribuído. Apesar destes obstáculos é

possível identificar alguns serviços que podem ser comercializados para um conjunto de

potenciais países emissores, sendo necessário promovê-los internacionalmente (CCDR

de Lisboa e Vale do Tejo, 2015: 98).

No POR Lisboa e Vale do Tejo, o turismo é considerado uma atividade com

relevância para a região ao contribuir para a criação de receitas e de emprego e a

valorização dos elementos naturais, culturais e patrimoniais que a região detém. Os

produtos turísticos que têm vindo a contribuir mais significativamente para a

notoriedade turística da Região de Lisboa são os City Breaks, o Turismo de Negócios, o

Turismo de Cruzeiros, Turismo de Natureza, o Turismo de Sol e Mar e o Golfe. Porém,

destaca-se a importância dos recursos que têm contribuindo para afirmar a região como

destino turístico no que se refere ao Turismo Urbano. Para além destes recursos, são

enaltecidos outros fatores que contribuem para o aumento dos fluxos turísticos,

nomeadamente, o clima e os elementos ambientais. Por fim, pretende-se estabelecer

apoios à contratação de profissionais altamente qualificados em empresas ligadas ao

setor do turismo (CCDR de Lisboa e Vale do Tejo, 2014).

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No mais recente plano de turismo, intitulado “Plano Estratégico para o Turismo

na Região de Lisboa 2015-2019”, o Turismo de Saúde, que inclui a componente médica

(Turismo Médico), surge, também, como um dos produtos turísticos nos quais deverá

ser realizada uma aposta. Contudo, é em Cascais que existe um maior foco no

desenvolvimento deste produto. Pretende-se posicionar Cascais enquanto destino de

turismo de saúde, conjugando a aposta em especialidades médicas de excelência (ex.: a

ortopedia), e as condições que proporciona durante o período de convalescença. Além

disso, é enaltecida a sua proximidade à cidade de Lisboa, a qual acrescenta mais

especialidades médicas à oferta no contexto do Turismo Médico, a par das

caraterísticas/atividades complementares a este segmento (ex.: o sol e mar, a natureza e

a cultura) (Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa e Turismo de Lisboa,

2014).

O turismo é apontado no POR Alentejo como uma das atividades que pode

aproveitar os recursos que a região detém, nomeadamente, o património natural,

paisagístico e cultural. O setor turístico encontra-se em crescimento, registando-se um

aumento significativo no que se refere às dormidas, sobretudo, por parte dos turistas

nacionais. A oferta turística da região é diversa decorrente dos recursos naturais,

culturais e patrimoniais que apresenta e que proporcionam o desenvolvimento da oferta

para vários produtos turísticos: Turismo de Natureza, Turismo de Sol e Mar, Turismo

Náutico, Turismo de Aventura, Turismo Ativo, Turismo Cultural, Turismo

Gastronómico e Enoturismo. É com base na valorização e divulgação dos recursos

naturais e histórico-culturais que assenta a estratégia de tornar a região como destino

turístico, construindo uma oferta qualificada e adequada às suas características de forma

a criar produtos turísticos de qualidade e atrair novos tipos de turistas. Realça-se, ainda,

que se pretende aproveitar as zonas balneares (Alentejo Litoral) não só para o

desenvolvimento do Turismo Náutico, mas também do Turismo de Saúde e Bem-Estar

(CCDR do Alentejo, 2014).

À semelhança de Lisboa, também na região do Algarve a "Estratégia Regional

de Investigação e Inovação para a Especialização Inteligente" referente ao período de

2014-2020 considera o Turismo de Saúde como um dos produtos turísticos a apostar,

tendo em conta que existe a possibilidade de se combinar os equipamentos turísticos

disponíveis com os avanços tecnológicos que permitem o acesso aos processos clínicos

dos cidadãos, bem como a interação e ação conjunta entre as equipas clínicas de vários

países. Deste modo, existe um potencial enorme para o desenvolvimento do Turismo de

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Saúde, podendo ainda contribuir para a diminuição dos efeitos da sazonalidade na

atividade económica da região (CCDR do Algarve, 2015).

O Algarve é uma região com uma posição consolidada no turismo, sendo este

setor considerado a base económica da região. O setor contribui significativamente para

a criação de emprego e de receitas na região, quer por si só quer através do conjunto de

atividades complementares, enfrentando, no entanto, problemas devido aos efeitos da

sazonalidade e uma forte dependência em relação aos mercados tradicionais como

referido no POR Algarve. Ainda assim, possui uma oferta diversificada que compreende

o Turismo de Sol e Mar, Turismo de Golfe, Turismo Residencial, nos quais tem uma

oferta sólida, o Turismo de Saúde, Turismo Sénior, Turismo de Natureza, Turismo

Náutico e Turismo de Negócios que são exemplos de produtos que se encontram em

desenvolvimento (CCDR do Algarve, 2014).

Para combater a sazonalidade, a região algarvia pretende apostar na valorização

e divulgação dos recursos naturais e culturais que devem ser aproveitados quer para

aumentar a cadeia de valor da região ao ajudar a construir uma posição sólida do

Turismo Cultural e de Natureza, quer para desenvolver atividades que tenham

importância a nível socioeconómico. A região quer ainda apostar na formação

qualificada das pessoas empregues no setor, contribuindo, assim, para melhorar a

qualidade da oferta turística da região e torná-la mais competitiva.

A aposta no Turismo Médico é mais evidente e pormenorizada no “Plano de

Marketing Estratégico para o Turismo do Algarve 2015-2018”, onde é referido um

conjunto de elementos importantes para o seu desenvolvimento, nomeadamente, a oferta

hospitalar direcionada para a vertente do Turismo Médico composta por seis unidades

hospitalares privadas pertencentes a dois grupos (Grupo Lusíadas Saúde com três

unidades hospitalares e o Grupo Hospital Particular do Algarve com as restantes três

unidades hospitalares), bem como “a qualidade, comodidade e higiene das instalações;

rapidez na marcação da consulta/exame/cirurgia; qualidade e rapidez do diagnóstico e

na execução da intervenção; possibilidade de acordos com subsistemas de saúde/seguros

de saúde: tecnologias de última geração; humanização dos recursos humanos, simpatia e

profissionalismo dos colaboradores; disponibilidade de diversas valências médicas e

cirúrgicas; acreditação/certificação segundo as normas internacionais/nacionais de

qualidade” que estão na base das opções dos turistas que optam por receber os cuidados

de saúde na região algarvia (Região de Turismo do Algarve, 2014: 229).

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Contudo, o plano elaborado faz alusão à entrada tardia de Portugal no mercado

do Turismo Médico que, conjugado com a inexistência de seguros internacionais que

cobrem cuidados de saúde e os custos elevados dos procedimentos médicos (explicado

pelos elevados honorários dos profissionais de saúde), condicionam a captação de mais

turistas. No caso do Algarve, os custos elevados dos procedimentos médicos podem ser

contornados com a construção de pacotes que incluam uma diversidade de serviços e

atividades distintas da oferta já existente no mercado.

Além disso, a região algarvia - que já conquistou uma posição no setor do

turismo, devido ao reconhecimento internacional e nacional de uma série de

caraterísticas, tais como, o clima, as praias e a oferta hoteleira - pode desenvolver o

Turismo Médico recorrendo, precisamente, a estas características, sendo, no entanto,

necessário adaptar a oferta hoteleira a este produto turístico. Esta necessidade constitui

assim, um dos problemas que fragilizam o posicionamento da região no mercado do

Turismo Médico, a par da “perceção negativa dos serviços públicos de saúde na região;

escassez de recursos humanos qualificados (tanto no bem-estar, como na vertente

medicinal especializada); [dos] tratamentos e serviços oferecidos [que] não se

diferenciam dos destinos concorrentes” (Região de Turismo do Algarve, 2014: 373).

No POR dos Açores, o setor do turismo encontra-se numa fase de crescimento,

tendo capacidade para se desenvolver ainda mais. O setor contribui para a criação,

direta e indiretamente, de receita e emprego. É no Turismo de Natureza, Turismo Ativo,

Turismo Rural, Turismo Náutico e Turismo de Cruzeiros que a região está disposta a

apostar devido às características que detém. A aposta que se tem efetuado no setor do

turismo tem culminado no reconhecimento dos turistas e de entidades e na atribuição de

prémios, nomeadamente, o segundo lugar a nível mundial no turismo sustentável pela

National Geographic Traveler e do primeiro lugar, em 2013, a nível europeu, no melhor

destino turístico "verde" pela European Coastal & Marine Union. Assim, a região

pretende, em 2020, tornar-se um destino reconhecido em alguns produtos turísticos,

existindo uma ação estruturada dos atores regionais, com o objetivo de criar uma oferta

qualificada, sem esquecer a sustentabilidade das características singulares que se

pretende manter. Contudo, a região enfrenta alguns problemas, nomeadamente, na

animação turística e sazonalidade, sendo considerado prioritário combatê-los (Direção

Regional do Planeamento e Fundos Estruturais, 2014).

Embora seja reconhecida a importância do turismo para a criação de receitas e

emprego, o POR da Região Autónoma da Madeira refere que, atualmente, existe uma

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forte dependência em relação a este setor e que impede a diversificação da rede

económica da região por ter uma cadeia de valor diminuta, sendo necessário procurar

integrar atividades na sua rede e retirar os benefícios que o mar e o património cultural

apresentam para o turismo. Ainda assim, a existência de uma rede de oferta turística

moderna, mas cuja capacidade não tem sido devidamente utilizada, é considerada um

elemento com forte potencial para tornar o setor do turismo da região mais competitivo.

Destaque, ainda, para o Turismo de Saúde, o qual pode vir a contribuir para a cadeia de

valor do setor turístico da região através do aproveitamento dos equipamentos de saúde

que dispõe e que podem ser destinados ao desenvolvimento deste produto. Para

concluir, a região da Madeira enfrenta problemas a nível da sua localização geográfica

que influencia os custos associados à deslocação e, por conseguinte, a sua capacidade de

atração e acessibilidade, os quais têm repercussão na geração de receitas nas atividades

mais relevantes para a região, como, por exemplo, no turismo (Instituto de

Desenvolvimento Regional (IP-RAM), 2014).

2.2.3. UMA ABORDAGEM RELACIONAL NO QUADRO DO

TURISMO MÉDICO

Se, no caso das políticas europeias, considerou a Diretiva sobre o exercício dos

direitos dos doentes em matéria de cuidados de saúde transfronteiriços como a política

mais próxima do contexto do Turismo Médico, a nível nacional a situação tem registado

evoluções, nomeadamente através da publicação de estudos, ainda que não se tenha

elaborado uma política/estratégia nacional. Deste modo, urge desenvolver uma política

que adapte a legislação portuguesa a esta nova realidade turística.

A realização de estudos elaborados quer pela ação conjunta da Associação

Empresarial de Portugal e o Health Cluster Portugal, quer pelo Grupo de Trabalho

Interministerial demonstram um interesse em desenvolver este produto, maximizando a

capacidade de oferta do país e construindo um quadro legislativo favorável ao

desenvolvimento do Turismo Médico. São estes estudos que, de acordo com a opinião

de alguns entrevistados (Dr. Humberto Barbosa; Dr. Luís Afonso; Dr. Miguel Quirino;

Eng. Sérgio Ribeiro), têm sido importantes para o desenvolvimento do Turismo Médico

em Portugal.

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Para outros entrevistados, cuja opinião é mais crítica, não existe nenhuma

política/estratégia nacional que vise desenvolver o Turismo Médico em Portugal (Dra.

Belén de Vicente; Dr. João Bacalhau; Dr. Pedro Sinval; Dr. Sérgio Franco; Prof. Dr.

Nuno Gustavo), prejudicando o posicionamento do país enquanto destino de Turismo

Médico (Dr. Paulo Novais). No entanto, existem algumas entidades, tais como o

Turismo de Portugal e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal

(AICEP), que podem ser importantes para a promoção de Portugal enquanto destino de

Turismo Médico (Dra. Eve Jokel).

Ainda assim, o relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho Interministerial,

criado na sequência do despacho do Ministério da Economia e do Ministério da Saúde,

contou com a participação dos representantes não só dos ministérios mencionados,

sendo que, no caso do Ministério da Economia, a representação coube à Secretaria de

Estado do Turismo, mas também de outras entidades igualmente importantes,

nomeadamente a Direção-Geral da Saúde, Administração Central do Sistema de Saúde,

Confederação do Turismo Português, a Medical Tourism Association – Portugal, o

Turismo de Portugal e o Health Cluster Portugal. Neste relatório identificou-se as

matérias legislativas, nas quais o Governo deve intervir para, assim, possibilitar o

desenvolvimento do Turismo Médico:

Facilitadores - Enquanto atores importantes no desenvolvimento do Turismo

Médico, devem ter um quadro regulatório a nível nacional. Assim, a intervenção

do Governo, segundo o Grupo de Trabalho Interministerial (2014: 34), deve

concretizar-se através da "criação de um sistema de registo (prévio) obrigatório

dos facilitadores de Turismo Médico, o qual deverá ser efetuado junto de uma

entidade de natureza regulatória do setor da saúde", para a qual se propõe a ERS.

Este sistema de registo deverá incluir informações sobre o facilitador, bem como

"a vinculação/adesão a um 'estatuto profissional' ou 'manual de boas práticas'",

onde constaria os deveres fundamentais para os facilitadores, tais como os

deveres de sigilo profissional e de confidencialidade. A existência deste sistema

de registo prévio poderia traduzir-se em vantagens, quer para o mercado em si,

quer para o setor, como, por exemplo, impedir os operadores não profissionais e

com menos capacidade de exercerem a sua atividade e aceder-se mais facilmente

aos dados para fins estatísticos e elaboração de estudos.

IVA - Visto que o Turismo Médico integra a componente médica (geralmente,

encontra-se isenta de IVA) e a componente turística (encontra-se abrangida pelo

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IVA), surgem dúvidas em relação ao regime de IVA que deve ser aplicado: (i)

regime geral, no qual as componentes médica e turística são abrangidas pelo

IVA, sendo que este seria aplicado na totalidade da fatura, dando origem ao

aumento do custo do 'produto'; (ii) regime de isenção, ou seja, a isenção seria

aplicada na totalidade da fatura, resultando na diminuição do custo do 'produto' e

no aumento da competitividade; (iii) regime de refaturação, onde somente a

componente turística seria abrangida pelo IVA e o facilitador teria a

possibilidade de "(i) faturar a sua comissão (com IVA) aos operadores de saúde

e turísticos, ou (ii) faturar a sua comissão (com IVA) ao seu cliente" (Grupo de

Trabalho Interministerial, 2014: 36).

Proteção de dados - No mercado do Turismo Médico, existe circulação de

dados clínicos dos pacientes, sendo, por este motivo, submetida a regras

especiais, previstas na Lei da Proteção de Dados Pessoais. Assim, a lei estipula

um conjunto de regras que respeitam o direito do paciente, estando o acesso e

tratamento de dados relativos à saúde sob sua autorização e os profissionais de

saúde envolvidos neste processo sujeitos a sigilo profissional. No entanto, o

sigilo médico deve ser, também, aplicado a qualquer profissional de saúde

envolvido no tratamento, medida esta a pensar nos operadores, sobretudo os

facilitadores, que estão inseridos no processo do Turismo Médico e que lhes

possibilitaria o tratamento de dados relativos à saúde.

Regime de vistos - A emissão de vistos médicos torna-se relevante para o

Turismo Médico, daí ser uma matéria na qual o Governo deve prestar atenção.

Portugal já possui uma lei (Lei n.º 23/2007 de 4 de julho, regulamentada pelo

decreto regulamentar n.º 84/2007 de 5 de novembro), mais concretamente a

alínea n.º 1 do artigo 54.º, onde consta a possibilidade de emitir vistos a cidadãos

estrangeiros, bem como aos seus acompanhantes, com a finalidade de receberem

tratamento médico no país, num período de 120 dias. Contudo, deve-se ponderar

o prolongamento do período de permanência do turista médico e seu

acompanhante em território nacional, à semelhança do que acontece com os

vistos de trabalho, os quais dependem do período de contrato, devendo-se ter em

conta o tratamento médico em si, o período de recuperação e a emissão da

autorização do médico responsável para o turista médico poder regressar ao seu

país, mas também uma possível modificação que deve prever o

acompanhamento de terceiros não familiares.

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Certificação/acreditação - Como foi possível constatar anteriormente, a

certificação/acreditação internacional constitui um dos fatores mais importantes

no Turismo Médico, pelo que torna-se importante que os prestadores em

Portugal tenham certificação internacional, para a qual é necessário custos

elevados para obter e mantê-la, devendo-se recorrer às entidades internacionais

que mais têm sido requisitadas por instituições com uma posição sólida no

Turismo Médico.

Médicos estrangeiros a exercerem medicina em Portugal – A recomendação

de um médico estrangeiro para que os seus pacientes procurem receber cuidados

de saúde em Portugal poderá não só contribuir para o desenvolvimento do

Turismo Médico no país, mas também construir a imagem do país enquanto

destino para este produto com um elemento diferenciador, na medida em que

poderá existir a possibilidade destes médicos poderem participar, direta ou

indiretamente, no processo do Turismo Médico. A concretizar-se esta ideia,

poderão os médicos estrangeiros contribuir para o aumento de turistas médicos

em Portugal através da recomendação do destino Portugal para a realização de

cuidados de saúde, consequente da sua experiência positiva de uma intervenção,

no âmbito do Turismo Médico. Confere ainda a possibilidade de os médicos

portugueses virem a participar em iniciativas do género noutros países,

“aumentando, assim, a exposição dos médicos portugueses no estrangeiro e,

consequentemente, gerando, pela qualidade percecionada, interesse no mercado

do Turismo Médico em Portugal” (Grupo de Trabalho Interministerial, 2014:

45). Os hospitais podem construir parcerias com médicos estrangeiros

reconhecidos, com o intuito de estes poderem vir a Portugal e praticarem atos

médicos; o potencial turista médico pode querer ser acompanhado por um

médico do seu país de origem durante a estadia em Portugal, podendo o médico

auxiliar e prestar, também, atos médicos (ex.: consulta, diagnóstico, definição do

tratamento); o médico do país de origem pode querer comunicar, através de

serviços telemáticos, com o potencial turista médico e com a equipa clínica

responsável em Portugal.

Regimes de responsabilidade e cobertura de riscos – A existirem riscos, os

turistas médicos, no decorrer da sua pesquisa e escolha por um destino para

receber cuidados de saúde, procuram perceber de que forma serão assumidas as

responsabilidades. Por este motivo, o país de destino deve, no seu sistema

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jurídico, incluir normas que esclareçam como a atribuição de responsabilidades

deverá ser efetuada entre os agentes envolvidos. O sistema jurídico português

não só tem definidas as normas que apuram as responsabilidades por más

práticas clínicas, como também determina a obrigatoriedade das unidades

privadas de saúde, agências de viagem e turismo, unidades hoteleiras e unidades

termais possuírem seguros. Nesta cadeia de atores no mercado do Turismo

Médico, apenas os facilitadores não são abrangidos por esta lei devido ao seu

recente aparecimento, mas devem, também, ser sujeitos à obrigatoriedade de

possuírem seguros. Salienta-se, ainda, que, em Portugal, não existe uma oferta

seguradora que abrange, na totalidade, as operações de Turismo Médico,

devendo-se procurar, com a Associação Portuguesa de Seguradores, criar uma

oferta de seguros deste género à semelhança do que já se pode encontrar em

alguns destinos de Turismo Médico.

Resolução de litígios – No contexto do Turismo Médico é importante a

existência de sistemas judiciais credíveis, eficientes e rápidos para, desta forma,

tornarem-se aprazíveis para os facilitadores e seguradoras internacionais a

atuarem neste mercado. Em Portugal, embora o sistema judicial seja credível,

peca pela morosidade na resolução dos processos, podendo, consequentemente,

denegrir a imagem do país enquanto destino para este produto. Por conseguinte,

recomenda-se: (i) a criação de um centro de arbitragem onde dar-se-ia uma

atenção mais pormenorizada a processos resultantes de uma operação de

Turismo Médico, prevendo-se uma decisão mais rápida e especializada

comparativamente a que seria providenciada pelos tribunais judiciais; (ii) a

criação de um provedor específico para o Turismo Médico que, a ser

concretizada, será uma figura crucial no “esclarecimento e promoção dos

direitos e interesses dos pacientes” (Grupo de Trabalho Interministerial, 2014:

49), podendo, ainda, interceder, por meio de publicação de pareceres e

recomendações, em conflitos; (iii) a criação de um mediador, na figura de um

terceiro com imparcialidade, somente em casos onde é desnecessária

investigação dos acontecimentos e que implicam operadores institucionais (ex.:

hospitais, seguradoras e facilitadores), o qual teria como função resolver os

problemas recorrendo ao diálogo e acordo entre os envolvidos, não havendo,

deste modo, necessidade de se recorrer a centros de arbitragem (com a qual

poderá existir uma articulação) nem a meios judiciais, onde os custos seriam

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maiores; (iv) desenvolver um fundo de garantia através do qual seria possível

assegurar a indeminização aos lesados em consequência do incumprimento de

deveres de um operador no decorrer do processo de Turismo Médico, medida

esta que seria bem vista por a garantia de atribuição de indemnizações em caso

de má prática clínica, ainda mais por os erros cometidos significarem custos

avultados para os pacientes; porém, a criação deste fundo deve avançar após a

existência de um mercado garantido para Portugal, evitando-se, desta forma,

investimentos avultados desnecessários.

Para além da intervenção do Estado nas matérias supramencionadas, Freitas

(2010) e AEP/HCP (2014c) sugerem, ainda, que o Estado deve, à semelhança das

medidas adotadas por outros destinos de sucesso, atribuir benefícios fiscais a entidades

que querem promover o Turismo Médico; as entidades públicas devem ser responsáveis

pela promoção do produto, bem como pelo orçamento para esta ação de campanha

promocional.

Contudo, não deve haver, unicamente, uma ação interventiva por parte das

entidades públicas. A AEP/HCP (2014c) sugere, também, que as entidades privadas

devem autopromover-se e estruturar a sua oferta no mercado do Turismo Médico. De

seguida, são apresentadas as medidas sugeridas pela AEP/HCP (2014c):

A nível da oferta hospitalar – As unidades hospitalares devem tornar público

algumas informações importantes para os potenciais turistas médicos,

nomeadamente, os indicadores e parâmetros de saúde, as credenciais dos seus

profissionais de saúde, parcerias com unidades hospitalares reconhecidas e as

normas de privacidade dos pacientes, estando comprovado que existe uma maior

probabilidade em atrair turistas médicos por unidades hospitalares que

disponibilizam mais informações;

A nível da oferta clínica – À semelhança da medida anterior mencionada,

também deve ser tornada pública informação referente aos profissionais de

saúde (médicos) que atuem no mercado do Turismo Médico (ex.: acreditação

profissional, formação académica, percurso profissional, especialização clínica,

idiomas falados e artigos publicados);

Funções operacionais – As unidades hospitalares devem constituir uma equipa

direcionada para o Turismo Médico, a qual seria responsável por estabelecer

contactos com os potenciais turistas médicos a fim de obter informações sobre o

seu processo clínico e as soluções mais adequadas, fornecer informações acerca

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dos procedimentos disponíveis para o tratamento pretendido, estabelecer

contactos entre os potenciais turistas médicos ou os seus médicos do país de

origem e os médicos na unidade hospitalar em Portugal, organizar a logística

necessária, acompanhar o turista médico quer se encontre em Portugal quer após

o regresso ao país de residência, desenvolver um plano de marketing que vise

promover a unidade hospitalar no mercado do Turismo Médico, determinar os

mercados e segmentos alvo, definir a oferta e estabelecer acordos com vários

agentes de Turismo Médico (ex.: facilitadores e companhias de seguros).

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PARTE II

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CAPÍTULO III - TURISMO MÉDICO EM PORTUGAL

3.1. PORTUGAL NO MERCADO DO TURISMO MÉDICO: EVOLUÇÃO

Portugal, enquanto destino de Turismo Médico, ainda não conquistou uma

posição relevante, nem, provavelmente, deverá conseguir se não se desenvolver uma

estratégia nacional que envolva entidades públicas e privadas com importantes

contributos para o desenvolvimento deste produto em Portugal.

No entanto, existe uma convergência de opiniões dos entrevistados no que diz

respeito à aposta no desenvolvimento deste produto e às condições reunidas. Portugal

possui um conjunto de caraterísticas que são importantes no contexto do Turismo

Médico, nomeadamente, a localização geográfica, o clima favorável a períodos de

recuperação, a hospitalidade proporcionada pela sociedade portuguesa, a fluência em

alguns idiomas, aos quais se acrescentam, como fatores críticos de sucesso, a qualidade

dos cuidados de saúde oferecidos e dos profissionais de saúde e os custos mais baratos

relativamente a alguns países europeus ou norte-americanos.

Ainda que o país reúna as condições necessárias para se afirmar neste mercado

de acordo com a opinião de quase todos os entrevistados (Dra. Belén de Vicente; Dra.

Eve Jokel; Dr. Humberto Barbosa; Dr. João Bacalhau; Dr. Luís Afonso; Prof. Dr. Nuno

Gustavo; Dr. Paulo Novais; Dr. Pedro Sinval), falta, ainda, mudar a perceção dos

cidadãos estrangeiros em relação ao setor da saúde em Portugal, através da construção

da reputação do setor (Dr. Luís Fareleiro; Dr. Sérgio Franco; Eng. Sérgio Ribeiro), e

apostar na formação linguística dos profissionais dos setores envolvidos no Turismo

Médico (Dr. Miguel Quirino).

É certo que o país tem alcançado um crescente reconhecimento internacional

enquanto destino turístico, nomeadamente, através de notícias em revistas e jornais

internacionais de renome, bem como da atribuição de prémios, nos quais se destacam os

considerados "óscares do turismo" - World Travel Awards. A acrescentar a esta

crescente visibilidade, têm sido enaltecidas diversas valências turísticas, as quais têm

atraído, de ano para ano, mais turistas. São estas valências que podem e devem ser

utilizadas para, também, promover o país enquanto destino de Turismo Médico,

complementando a oferta médica e turística.

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No que se refere às valências médicas, o SNS conquistou a 12ª posição no

ranking mundial dos sistemas de saúde elaborada pela OMS e tem havido, nos últimos

anos, um crescente reconhecimento internacional dos profissionais de saúde

portugueses, culminando na atribuição de prémios e distinções internacionais a médicos

e investigadores portugueses. Além disso, os resultados obtidos em alguns indicadores

de saúde; a crescente procura em contratar profissionais de saúde portugueses por países

como o Reino Unido, a Espanha, a Alemanha e a Bélgica, sendo-lhes reconhecidas as

suas qualidades, a sua simpatia, o serviço personalizado prestado aos pacientes e a sua

facilidade em comunicarem noutro idioma, sobretudo dos potenciais mercados

emissores para o país; a aposta, pelos setores público e privado, em modernizarem as

suas instalações e equipamentos e em obterem acreditação internacional, na qual se

destaca a JCI, são fatores relevantes para o desenvolvimento do Turismo Médico no

país. Perante o exposto, a construção e estratégia de promoção do país enquanto destino

de Turismo Médico deve basear-se na reputação adquirida pelo SNS a nível

internacional e nas características que têm sido reconhecidas e contribuído para a

consolidação de Portugal enquanto destino turístico no panorama internacional

(Turismo de Portugal, 2013; Grupo de Trabalho Interministerial, 2014).

Neste contexto, importa salientar que, no que se refere à acreditação pela JCI, e

sendo este um elemento importante no desenvolvimento do Turismo Médico, Portugal

tem 17 unidades hospitalares acreditadas, estando classificadas em três categorias:

Programa de Cuidados Prolongados: Unidade de Cuidados Continuados da

Misericórdia de Águeda, Unidade de Cuidados Continuados da Misericórdia de

Guimarães, Unidade de Cuidados Continuados da Misericórdia de Mora,

Unidade de Cuidados Continuados da Misericórdia de Murça, Unidade de

Cuidados Continuados da Misericórdia da Póvoa de Varzim, Unidade de

Cuidados Continuados da Misericórdia do Santiago do Cacém, Unidade de

Cuidados Continuados Integrados de Santa Comba Dão.

Programa de Hospital: Centro Hospitalar de Leiria, Centro Hospitalar do Alto

Ave, Hospital de Vila Franca de Xira, Hospital Beatriz Ângelo (Loures),

Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, Hospital Lusíadas Lisboa, Hospital

Lusíadas Porto, Hospital São Gonçalo (Lagos).

Programa de Hospital de Centro Médico Académico: Centro Hospitalar da

Cova da Beira.

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Embora o país ofereça cuidados médicos de elevada qualidade e a preços inferiores

aos principais países emissores de turistas médicos (ex.: Reino Unido e EUA), os custos

são mais elevados em relação aos praticados em destinos já consolidados neste

segmento, devido, em parte, aos elevados honorários médicos (AEP e HCP, 2014b), o

que poderá traduzir-se numa desvantagem para Portugal. No entanto, as soluções para

este entrave variam: num caso é defendido que Portugal poderá reduzir os custos das

cirurgias (Freitas, 2010), noutro defende-se que os clientes e os seus acompanhantes

obtenham benefícios económicos, nomeadamente, 50% de desconto no bilhete de avião

para o acompanhante do turista médico, preços especiais no hotel para o turista médico,

consoante o número de dias que fica hospedado e os pacotes obtidos pelo cliente

incluírem os custos das deslocações entre o hotel e o hospital (Novo, 2014).

Se a nível das valências médicas, Portugal ainda não tem reconhecimento

internacional no que se refere à perceção dos cidadãos estrangeiros, a nível das

valências turísticas, o cenário é o oposto. Nos últimos anos, têm sido enaltecidas uma

série de características singulares que têm sido fulcrais para a crescente visibilidade e

reconhecimento de Portugal como destino turístico internacional e que contribuem para

a construção da imagem e promoção do país enquanto destino de Turismo Médico: (a) a

atribuição de prémios e ocupação de posições em rankings internacionais, sendo a título

exemplificativo, a 15ª posição no ranking mundial no índice de competitividade de

viagens e turismo 2015 da World Economic Forum; (b) a amabilidade e acolhimento

proporcionado pelo povo português; (c) a fluência em vários idiomas por parte dos

portugueses, com destaque para a língua inglesa; (d) a posição geográfica estratégica do

país, associado a ligações regulares entre Lisboa, Faro e Porto e as principais cidades

mundiais, tornam o país um destino acessível e relativamente próximo em relação aos

principais mercados emissores de turistas tradicionais para o país; (e) o clima favorável

a períodos de recuperação e ao bem-estar físico e mental; (f) a diversidade paisagística e

cultural; (g) os elevados padrões de qualidade ambiental e a acessibilidade das praias;

(h) a diversidade de atividades de lazer (ex.: golfe) e atrações turísticas; (i) as águas

termais, que são elementos complementares para a recuperação física e mental; (j) a

generalidade das unidades turísticas são modernas, oferece serviços de qualidade e são

capazes de corresponder às necessidades dos potenciais turistas médicos conforme o seu

estado de saúde; (k) a excelente gastronomia; (l) a 11ª posição, entre 162 países, como

um dos países mais pacíficos do mundo, segundo o Global Peace Index 2015; (m) a 32ª

posição no Transparency International, num total de 182 países, de acordo com a

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Corruption Perception Index 2011; (n) o aumento da presença de companhias aéreas,

com destaque para as low-cost, a atuarem no país. (ex.: AEP e HCP, 2014b; Grupo de

Trabalho Interministerial, 2014; Institute for Economics & Peace, World Economic

Forum, 2015)

Contudo, e como referido anteriormente, é por parte das entidades privadas que mais

desenvolvimentos e esforços se têm visto em receber pacientes internacionais no âmbito

do Turismo Médico. Estas entidades privadas são procuradas por pacientes

internacionais, algumas com uma procura consolidada há mais anos (o caso da Malo

Clinic), outras com uma procura mais recente resultante da aposta em atrair estes

pacientes, tendo até sido criados gabinetes de apoio aos clientes internacionais.

Embora Portugal não tenha alcançado, ainda, reconhecimento internacional no

mercado do Turismo Médico, salienta-se que aparece como um destino de Turismo

Médico no continente europeu, de acordo com Horowitz et al. (2007), bem como em

websites, nomeadamente, a Medical Tourism e a Medical Tourism Magazine nos EUA e

o Treatment Abroad no Reino Unido (AEP/HCP, 2014c).

3.2. A OFERTA

3.2.1. REDES DE CUIDADOS MÉDICOS

Em Portugal, os cuidados de saúde são assegurados pelo SNS que prevalece sob

o setor privado. Quanto a este último, realça-se a forte presença dos grupos José de

Mello Saúde, Luz Saúde, Lusíadas Saúde, Trofa Saúde e Hospital Particular do Algarve

(Bacalhau, 2014). No entanto, Eira (2010) refere que o setor privado está a crescer,

sendo apontadas como causas para este crescimento, a elevada qualidade dos cuidados

hospitalares no setor privado, os investimentos realizados na aquisição de tecnologias

hospitalares, o aumento do número de médicos no setor privado, a crescente oferta dos

hospitais privados, nomeadamente, na realização de tratamentos complexos, sendo estes

fatores, na opinião da autora, ajustáveis à situação portuguesa. A estes fatores acresce a

procura de melhor conforto hospitalar, a rapidez na prestação dos cuidados de saúde, a

oferta de cuidados especializados como a medicina dentária que não se encontram

disponíveis no setor público, a crescente procura de tratamentos estéticos e o número de

utentes sem médico de família (Ribeiro, 2009 cit in. Eira, 2010).

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No que se refere ao Turismo Médico, os principais grupos privados (José de

Mello Saúde, Lusíadas Saúde, Luz Saúde e Hospital Particular do Algarve) e algumas

unidades hospitalares privadas (British Hospital, Clínica Saúde Atlântica - através da

marca Porto Surgical Tourism - e Hospital Soerad) criaram gabinetes unicamente

destinados aos clientes internacionais a fim de facilitarem a vinda destes ao país quando

pretendem receber cuidados de saúde. Para além destas unidades hospitalares, existem

unidades privadas de saúde (Clínica do Tempo e Malo Clinic Group) que têm, também,

uma procura estrangeira, sendo que, nestes casos, não existem gabinetes de apoio aos

clientes internacionais, mas sim parcerias e acordos com partes interessadas (ex.:

unidades hoteleiras) e protocolos que incluem acompanhamento clínico.

Apesar de se assistir a uma promoção mais ativa dos grupos privados de saúde

no âmbito do Turismo Médico, um estudo elaborado pela AEP/HCP (2014b) refere que

existem entidades hospitalares públicas que mostram interesse em desenvolver esta

oferta. Assim, o Centro Hospitalar de São João - que já estabeleceu parcerias com países

e instituições localizadas na América do Norte, América do Sul, África e Europa -,

prevê criar um Gabinete de atendimento destinado a clientes estrangeiros.

Também o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, prestador público de

cuidados de saúde, criou o Núcleo de Internacionalização - International Relations

Centre, o qual oferece uma gama de serviços aos pacientes internacionais que

compreendem a cirurgia ortopédica, a cirurgia cardíaca, a cardiologia de intervenção, a

transplantação de órgãos e reatribuição sexual (Nunes, 2013).

Por fim, o Centro Hospitalar da Cova da Beira, através da marca Medical Center

Portugal em que foram estabelecidas parcerias e acordos com unidades hoteleiras,

facilitador e a Universidade da Beira Interior, procura posicionar-se no mercado de

Turismo Médico através do gabinete de internacionalização e Turismo Médico.

3.2.2. ATORES CHAVE DO TURISMO MÉDICO

Na aposta do Turismo Médico surgem, em primeiro lugar, os principais grupos

privados na área da Saúde: Lusíadas Saúde, José de Mello Saúde e Luz Saúde, não

descurando a aposta também efetuada pelo grupo Hospital Particular do Algarve que

atua, somente, na região do Algarve. Contudo, existe já uma rede constituída por vários

agentes (prestadores de cuidados de saúde, facilitadores de Turismo Médico, entre

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outras), apresentada no Anexo 3 com base não só na bibliografia consultada, mas

também nas entrevistas realizadas, que complementaram, em alguns casos, a

informação disponibilizada nos respetivos websites. Importa, no entanto, salientar que

esta rede exclui as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira por não se encontrar

informação que permita concluir que o Turismo Médico está a ser desenvolvido.

Deste modo, são várias as entidades existentes que procuram desenvolver o

Turismo Médico em Portugal:

Prestadores de cuidados de saúde - British Hospital, Centro Cirúrgico de

Coimbra, Centro Hospitalar da Cova da Beira, Centro Hospitalar e Universitário

de Coimbra, Clínica do Tempo, Grupo Hospital Particular do Algarve, Grupo

José de Mello Saúde, Grupo Lusíadas Saúde, Grupo Luz Saúde, GSD Dental

Clinics, Hospital Soerad, Idealmed, Malo Clinic Group, Porto Surgical Tourism

e Sanfil.

Facilitadores de Turismo Médico - Medical Port, Travel Health Experience e

Wide Healthcare Services (Wide Travel).

Outros - Unidades hoteleiras, entidades institucionais, empresas de tecnologia,

transporte e lazer.

Para captar os turistas médicos, as entidades supramencionadas desenvolveram

algumas estratégias, sendo, aqui, referenciadas apenas as adotadas pelos representantes

das entidades entrevistadas. Os grupos Luz Saúde e Hospital Particular do Algarve, bem

como o Centro Hospitalar da Cova da Beira e a Wide Healthcare Services, optaram por

estabelecer contactos com entidades que, de alguma forma, contribuem para incentivar

os cidadãos a procurarem os cuidados de saúde prestados no estrangeiro,

nomeadamente, as companhias de seguros, os operadores turísticos, governos e as

unidades hospitalares e clínicas que, por não disporem de determinados cuidados de

saúde, recorrem aos cuidados de saúde prestados no estrangeiro.

No caso da GlamHealth, empresa que atua no mercado europeu transfronteiriço, a

presença de cidadãos provenientes de outros países nas unidades hospitalares

portuguesas (com as quais a GlamHealth tem acordo) resulta dos acordos estabelecidos

com seguradoras dos países de origem dos turistas.

Outras entidades (Clínica do Tempo, Grupo José de Mello Saúde e a Travel Health

Experience) adotaram estratégias diferentes: publicidade, word of mouth, eventos,

revistas (ex.: companhias aéreas), entrevistas, redes sociais, conferências e missões

empresariais realizadas no estrangeiro.

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Já a Malo Clinic Group, devido à sua expansão internacional iniciada em 2008, tem

estabelecido contatos diretos com os pacientes, não descurando, no entanto, a hipótese

de, mais tarde, vir a ser desenvolvida uma estratégia que vise promover o grupo no

mercado do Turismo Médico.

3.3. A PROCURA

3.3.1. DIMENSIONAMENTO E PERFIL

Ao nível das estatísticas do Turismo Médico, nomeadamente, em relação aos

turistas médicos, as dificuldades são mais visíveis. Neste sentido, dimensionar e

elaborar o perfil dos turistas médicos que optam por Portugal para receberem cuidados

de saúde torna-se difícil.

No entanto, a AEP/HCP (2014b) referem que, de acordo com algumas notícias,

foram contabilizados, em 2013, 124.959 cidadãos estrangeiros que receberam cuidados

de saúde em Portugal, não se conseguindo percecionar se tais cuidados foram prestados

em regime de urgência, se são cidadãos que residem no país ou se são turistas médicos.

Porém, o grupo Luz Saúde recebeu 18.000 turistas médicos, tendo gerado uma receita

de 13 milhões de euros; o grupo Lusíadas Saúde recebeu 19.500 turistas médicos,

representando uma taxa de crescimento anual de 15%. Em relação ao grupo JMS, desde

a criação do Gabinete do Cliente Internacional em 2012, foram atendidos, até 2013,

mais de 2000 pacientes internacionais (+Vida, 2013).

Para além destes grupos privados, a Malo Clinic Group tem registado um

aumento na procura internacional, tendo sido, em 2013, contabilizados 878 pacientes

estrangeiros de diversos países, representando um aumento de 26% relativamente a

2012. O grupo refere que, nos últimos 3 anos, registou pacientes provenientes de 57

países, sendo 28 países europeus (AEP/HCP, 2014b). De acordo com um artigo

publicado pela Up Magazine - TAP Portugal (2011), 60% dos casos mais complexos

que o edifício em Lisboa atende são de pacientes que residem no estrangeiro. Entre os

pacientes que atendem, encontram-se cidadãos africanos e europeus e chefes de Estado.

No entanto, segundo a perspetiva do Grupo de Trabalho Interministerial (2014),

o mercado potencial para Portugal poderá registar um crescimento no número de

clientes, tendo em conta o crescimento atingido por destinos já consolidados neste

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segmento - mais de 100.000 clientes por ano -, apesar de depender de vários fatores,

como a ação conjunta desenvolvida entre os agentes económicos nos setores da saúde e

do turismo. Assim, e face ao volume de turistas médicos alcançando em destinos de

Turismo Médico que tentam posicionar-se neste mercado (entre 20.000 e 50.000),

estima-se que Portugal registará um aumento do número de clientes que, no quadro

temporal elaborado pelo Grupo de Trabalho Interministerial (2015-2017), deverá ser de

10.000 em 2015, 15.000 em 2016 e 20.000 em 2017.

3.3.2. PRINCIPAIS REGIÕES EMISSORAS DE TURISTAS

MÉDICOS

Num estudo elaborado por Faria (2010) especificamente sobre a reprodução

medicamente assistida e os fluxos de pacientes provenientes dos PALOP, é referido que

os pacientes que procuram obter tais tratamentos em Portugal, ainda que sejam

residuais, são provenientes, sobretudo, de Angola e pertencem à classe média alta.

Também Bento e Almeida (2015) referem que são os cidadãos provenientes dos

PALOP, principalmente de Angola, que mais procuram Portugal para receberem

cuidados de saúde.

A Clínica Espregueira Mendes, situada no Estádio do Dragão (Porto) e

reconhecida internacionalmente na vertente da medicina desportiva, embora tenha uma

vasta oferta de tratamentos/cuidados médicos, procura também colocar a cidade do

Porto no mapa dos destinos de Turismo Médico, através da marca "Porto Surgical

Tourism" tendo como fator adicional, a certificação obtida pela FIFA. Devido ao seu

reconhecimento internacional, no que se refere à traumatologia desportiva, a clínica

recebe pacientes provenientes dos cinco continentes, como, por exemplo, dos Emirados

Árabes Unidos, do Omã, da Índia, de Angola, de Espanha, de Itália, da Austrália, do

Reino Unido e do Brasil (Espregueira Mendes, n.d.).

Face aos níveis residuais de turistas médicos e às diversas fontes emissoras e

classes sociais a que pertencem, algumas entidades entrevistadas não conseguiram

elaborar um perfil desta procura turística nas respetivas unidades, como é o caso da

Medical Port e do Centro Hospitalar da Cova da Beira.

Ainda assim, o grupo Luz Saúde tem uma procura essencialmente proveniente

de países africanos, dos quais se destaca Angola, seguida de Moçambique e Cabo

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Verde, mas também de emigrantes portugueses da Europa, dos EUA e da África. Os

turistas médicos pertencem à classe média-alta e a idade média é de cerca de 50 anos.

Além deste tipo de turistas médicos, o grupo regista, também, uma procura de famílias

com crianças para Check-Ups, sobretudo no Verão.

Também no grupo José de Mello Saúde, a procura é constituída, essencialmente,

por cidadãos dos PALOP, sobretudo o mercado angolano, não obstante a procura por

parte de cidadãos provenientes de vários países do mundo, e pertencem à classe média-

alta ou alta (muito alta).

No grupo Hospital Particular do Algarve a procura é mais diversa, devido,

também, ao facto de ter um mercado permanente de cidadãos estrangeiros que,

juntamente, com os cidadãos provenientes do norte da Europa, dos PALOP e de países

com problemas étnicos e/ou culturais mas localizados próximos da região, representam

cerca de 40% da faturação total anual do grupo. À semelhança do Grupo Hospital

Particular do Algarve, também a Wide Healthcare Services regista uma procura de

cidadãos provenientes do norte da Europa e pertencem à classe média.

Já a Clínica do Tempo tem uma procura diferente. Os clientes internacionais que

procuram os seus serviços reconhecidos mundialmente são de várias origens sociais,

geralmente, pertencendo a uma classe etária mais velha, existindo, no entanto, clientes

com menos de 50 anos de idade, e têm diferentes capacidades financeiras.

No caso do Malo Clinic Group, a procura é, essencialmente, constituído por

cidadãos, maioritariamente de uma classe etária mais velha (acima dos 65 anos),

provenientes de diversos países e pertencem à classe média-alta que lhes permite pagar

os tratamentos com custos mais elevados e que, geralmente, não estão cobertos pelas

companhias de seguro.

Embora não tenha sido elaborado um perfil dos turistas médicos que recorreram

à Travel Health Experience, na respetiva entrevista é referido que o público-alvo da

entidade em questão é constituído por turistas estrangeiros e emigrantes portugueses

com poder de compra médio ou alto e que procuram cirurgias, exames complementares

de diagnóstico ou check-ups.

Em relação à GlamHealth, que atua no mercado dos cuidados transfronteiriços, a

procura é constituída por cidadãos estrangeiros provenientes de EM da UE (ex.:

Alemanha) que se encontram em Portugal e que, por algum motivo, necessitam de

cuidados de saúde, recorrendo-se às unidades hospitalares protocoladas com a

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GlamHealth, na sequência dos acordos estabelecidos entre a empresa e as companhias

de seguro dos cidadãos em questão.

De uma forma geral, e segundo o Eng. Sérgio Ribeiro, o mercado do Turismo

Médico em Portugal é constituído, sobretudo, por cidadãos provenientes do continente

africano e dos PALOP, sendo que os motivos assentam na inexistência de cuidados de

saúde nos países de origem.

As oportunidades em relação aos mercados e cuidados de saúde são apresentadas

no Quadro VIII, tendo sido realizado com base nas perspetivas dos entrevistados e na

bibliografia consultada. Porém, pressupõe-se que, para África, PALOP e comunidades

de emigrantes e luso-descendentes, Portugal apresenta-se como um destino para todos

os cuidados de saúde. Na elaboração do quadro foram considerados vários parâmetros:

proximidade geográfica, afinidade cultural, mercado emissor tradicional de turistas para

Portugal e custos competitivos em relação aos que são praticados no país de origem.

Quadro VIII - Oportunidades em relação aos mercados e cuidados de saúde em que Portugal poderá constituir um

destino de Turismo Médico (Fonte: Elaboração própria)

MERCADOS

África (exceto os PALOP) Potencial mercado localizado no Norte de África.

América

EUA - As oportunidades são restritas, tendo sido

consideradas a odontologia e ortopedia como as principais

especialidades com maior potencial de procura.

Comunidade de emigrantes e luso-

descendentes

Podem aliar os cuidados médicos às visitas à sua terra

natal e aos seus familiares e amigos.

Europa - a aposta deve ser feita nos países

dada Europa do Norte e Central

(Alemanha, Áustria, França, Holanda,

Irlanda, Reino Unido e Suécia) mas

também na Rússia, devido às vantagens

que Portugal representa nos custos dos

cuidados de saúde.,.

Destaca-se, ainda, a oportunidade que a

Diretiva dos cuidados transfronteiriços

poderá representar para Portugal, atraindo

pacientes provenientes dos países que se

encontram ao abrigo desta.

Reino Unido - Cirurgia estética e odontologia, seguidas

da oftalmologia, ortopedia e tratamentos de fertilidade.

Hemodiálise é outro produto no qual Portugal poderá

apresentar-se como um destino, oferecendo segurança e

comodidade aos turistas médicos que necessitam destes

tratamentos.

Alemanha - Odontologia e ortopedia são as grandes

oportunidades, seguidas da dependência química e

reabilitação.

França - Cirurgia estética e tratamentos de fertilidade

Holanda - Dependência química e odontologia são

consideradas as principais oportunidades, seguidas da

oftalmologia e tratamentos de fertilidade.

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PALOP - sendo que, neste caso, a

afinidade cultural e as relações históricas

são fatores relevantes, além de existir uma

comunidade constituída por cidadãos

provenientes destes países em Portugal e

apresentarem uma rede de cuidados de

saúde ainda débil.

Para Angola e Moçambique, todas as

especialidades (cirurgia de obesidade,

cirurgia estética, dependência química,

odontologia, oftalmologia, ortopedia,

reabilitação, tratamentos de fertilidade) são

consideradas oportunidades para Portugal.

Angola - possui um acordo, o qual permite a Portugal

prestar cuidados médicos a 200 pacientes por ano,

aproximadamente. Mas, para além deste acordo, existe já

um fluxo habitual de cidadãos angolanos que procuram

receber cuidados de saúde em Portugal.

Moçambique - não possui um acordo direcionado para a

área da saúde. No entanto, tendo em conta que existem

acordos económicos entre Moçambique e Portugal, a

estratégia poderá passar por determinar quotas de

pacientes moçambicanos a serem tratados em Portugal.

3.3.3. PRINCIPAIS CUIDADOS DE SAÚDE PROCURADOS PELOS

TURISTAS MÉDICOS

À semelhança do que acontece com o perfil dos turistas médicos que procuram

Portugal enquanto destino para a realização de um procedimento médico, também existe

pouca informação no que refere aos principais cuidados de saúde procurados no âmbito

do Turismo Médico no país, embora Almeida (2013) mencione que a área da estética é a

que regista mais procura, estando, no entanto, a aumentar o interesse na área da

ortopedia, oftalmologia e, ainda, outras áreas mais específicas.

Novo (2014) refere que, no caso dos pacientes provenientes dos PALOP, existe

uma procura por tratamentos de medicina reprodutiva prestados em Portugal. Já no caso

do Algarve, Noronha (2013) noticia que existe uma procura relevante por transplantes

de cabelo, de acordo com um especialista (Dr. Pedro Cruz Diniz) que já atendeu

pacientes de várias nacionalidades (ex.: Reino Unido, Irlanda e Suíça).

Para além destas informações, as entrevistas realizadas possibilitam-nos verificar

que tipos de cuidados são mais procurados no contexto do Turismo Médico em cada

uma das entidades prestadoras de cuidados de saúde entrevistadas, excetuando os casos

da Medical Port e do Centro Hospitalar da Cova da Beira, onde a procura é ainda

residual ou diversa, pelo que inviabiliza esta análise (Quadro IX).

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Quadro IX – Cuidados de saúde mais procurados nas entidades entrevistadas (Fonte: Elaboração própria)

Entidades entrevistadas Cuidados de saúde mais procurados

Clínica do Tempo Tratamentos de perda de peso e anti envelhecimento.

Hospital Particular do Algarve Ortopedia, oftalmologia, cirurgia geral e check-ups.

José de Mello Saúde Procura muito vasta devido ao difícil acesso aos cuidados de

saúde primários de qualidade prestados nos países de origem.

Luz Saúde Ainda que se refira ao mercado angolano, por ser a sua principal

fonte emissora de turistas médicos, os cuidados mais procurados

são a urologia, obstetrícia, genecologia, cirurgia geral,

oftalmologia, ortopedia, oncologia e os check-ups.

Malo Clinic Group A procura assenta nos casos dentários mais complexos, como,

por exemplo, a técnica All-on-4®, existindo, ainda que em

menor número, uma procura por cuidados dentários mais

simples e que estão disponíveis nos países de origem, mas

optaram por Portugal para receber tais cuidados.

Travel Health Experience Cirurgia ortopédica, estética e medicina dentária.

Wide Healthcare Services A diálise é a especialidade mais procurada.

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CAPÍTULO IV – O FUTURO DO TURISMO MÉDICO: DESAFIOS E

OPORTUNIDADES

Perante a informação bibliográfica recolhida e as perspetivas dos entrevistados,

neste capítulo é realizada, em primeiro, uma análise SWOT do Turismo Médico em

Portugal, analisando as suas forças, fraquezas, oportunidades e ameaças identificadas.

Posteriormente, e no culminar da informação recolhida sobre a temática,

elaborou-se um subcapítulo sobre as conclusões, nas quais dar-se-á resposta às questões

de partida e aos objetivos principais apresentados no início da dissertação. Ainda no

subcapítulo mencionado, são referidas algumas perspetivas para o Turismo Médico,

sobretudo no caso nacional.

4.1. FORÇAS, FRAQUEZAS, OPORTUNIDADES E AMEAÇAS

Como referido anteriormente, neste subcapítulo é apresentada uma análise

SWOT (Figura 10), a qual visa melhorar o posicionamento de Portugal enquanto

destino de Turismo Médico. Desta forma, ao longo do trabalho foi possível identificar

alguns aspetos positivos que constituem forças, mas também algumas fraquezas que o

produto ainda regista no contexto nacional. Assim, o futuro do Turismo Médico em

Portugal implica também um conjunto de oportunidades que podem afetar a sua

evolução, mas sendo um produto em afirmação existe um conjunto de ameaças.

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Figura 10 – Análise SWOT (Fonte: Elaboração própria)

FORÇAS

- Parcerias estabelecidas entre stakeholders do Turismo Médico;

- Criação de website sobre o Turismo Médico em Portugal;

- Oferta de uma vasta gama de cuidados de saúde de qualidade;

- Reconhecimento do Turismo Médico enquanto um produto a ser desenvolvida a nível nacional e regional;

- Valências turísticas;

- Crescente reconhecimeno internacional dos profissionais de saúde portugueses.

FRAQUEZAS

- Ausência de uma estratégia conjunta entre entidades públicas (sobretudo do Estado) e privadas, que vise desenvolver este produto e promover o país enquanto destino de Turismo Médico;

- Aposta tardia efetuada pelo país no Turismo Médico;

- Pouca promoção internacional de Portugal enquanto destino de Turismo Médico;

- Pouco reconhecimento do setor da saúde português;

- Falta de benefícios fiscais atribuídos a investidores e promotores de Turismo Médico.

OPORTUNIDADES

- Comunidade de emigrantes e luso-descendentes, PALOP e Europa do Norte e Central e Rússia;

- Clima de instabilidade política e social e de guerra que assola o continente africano;

- Oferta de cuidados de saúde de qualidade e mais baratos comparativamente a determinados países;

- Diretiva comunitária de cuidados de saúde transfronteiriços;

- Complementar os pacotes de Turismo Médico com a oferta termal, de bem-estar e turística.

AMEAÇAS

- Emigração de profissionais de saúde portugueses contribui para a debilidade do setor da saúde;

- Potencial forte dependência do mercado tradicional de turistas europeus;

- Consolidação de destinos de Turismo Médico (sobretudo europeus - Espanha, Turquia e países do leste);

- Oferta mais competitiva de alguns destinos de Turismo Médico (cuidados de saúde mais baratos);

- Morosidade do sistema judicial português.

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4.2. CONCLUSÕES E PERSPETIVAS

Com o atual cenário em que a prestação de cuidados de saúde, geralmente

garantida pelo Estado Social, enfrenta problemas, são cada vez mais os pacientes que

procuram os cuidados de saúde prestados no estrangeiro. Embora estes fluxos remontem

há alguns séculos, este fenómeno começou a ter dimensões mais significativas nos

últimos anos, dando origem a uma nova realidade turística designada de Turismo

Médico.

Se, no início, estes movimentos internacionais de pacientes estavam assentes na

procura por cuidados de melhor qualidade prestados nos países desenvolvidos - os quais

continuam a ser destinos para muitos cidadãos provenientes de países em

desenvolvimento – atualmente, assiste-se a uma procura diversa constituída por

cidadãos provenientes de países desenvolvidos e de países limítrofes (movimentos

regionais). Contudo, devido às alterações ocorridas ao longo dos anos no setor da saúde,

as viagens são motivadas com base nos custos onerosos, nas longas listas de espera, na

falta ou cobertura parcial de seguro, nos tratamentos indisponíveis, na possibilidade de

aliar os tratamentos a visitas a familiares e amigos e, ainda, na possibilidade de conjugar

os tratamentos com o turismo no seu verdadeiro sentido, embora estejam dependentes

do tipo de tratamento prestado.

Porém, é um mercado com perigos inerentes, alguns já conhecidos de há muitos

anos, mas que com a proliferação desta nova realidade turística, podem atingir

contornos mais visíveis, nomeadamente, o tráfico de órgãos e as questões éticas em

relação a determinados tratamentos que ainda não são aceites totalmente pela

comunidade científica e médica. Simultaneamente, surgem preocupações relacionadas

com a prestação de cuidados de saúde nos países em desenvolvimento, sobretudo nos

principais destinos de Turismo Médico, que pode contribuir (ou já contribui) para o

aumento das disparidades no acesso aos cuidados de saúde entre os pacientes

estrangeiros e nacionais e entre os pacientes ricos e pobres.

É no continente asiático que se localizam os principais destinos de Turismo

Médico, liderança esta justificada, possivelmente, pela forte aposta em desenvolver e

promover este segmento e que surgiu como uma alternativa económica perante a crise

financeira que assolou o continente durante os anos 90. Contudo, existe a possibilidade

de incorrer-se no erro de sobredimensionar não só o mercado nestes países, mas também

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o mercado em geral devido à adulteração das estatísticas do número de turistas médicos

por parte de alguns países que não distinguem o tipo de paciente que recorre aos

cuidados de saúde prestados nas unidades hospitalares e clínicas.

No contexto europeu, os turistas médicos são provenientes de países com maior

poder económico, sobretudo dos países do norte da Europa, mas que face aos custos

elevados dos cuidados de saúde e às listas de espera morosas procuram os cuidados de

saúde oferecidos em países da Europa do Leste, especializados em cuidados dentários e

estéticos, mas também do sul da Europa.

O presente estudo permitiu, ainda, compreender que, em Portugal, o produto

encontra-se numa fase embrionária, pelo que existe pouca informação relativamente a

alguns aspetos, nomeadamente quanto à dimensão do mercado e o perfil geral da

procura, tendo sido importante a realização de algumas entrevistas a atores-chave que

atuam no mercado em Portugal.

Contudo, a informação recolhida permite perceber que existe uma conotação

entre turistas médicos - provenientes dos PALOP e das comunidades de emigrantes e

luso-descendentes - e Portugal enquanto destino. No caso dos PALOP, para além da

afinidade cultural, os respetivos serviços de saúde nacionais revelam ter algumas

debilidades, sendo fatores de motivação para os turistas médicos escolherem Portugal.

Além destes mercados emissores, o país apresenta-se também como destino de Turismo

Médico para pacientes provenientes da Europa do Norte e Central, possivelmente

explicada pela presença de alguns desses cidadãos durante uma parte do ano no país e

que, tendo uma perceção positiva sobre os cuidados de saúde prestados nas unidades

hospitalares e clínicas portuguesas, optam por Portugal.

Embora o país tenha uma rede de cuidados de saúde e profissionais de saúde

reconhecidos internacionalmente, ainda não se afirmou no mercado do Turismo Médico,

pelo que é necessário desenvolver/consolidar uma estratégia nacional que permita

posicionar o país neste mercado.

Paralelamente, o país possui um conjunto de valências turísticas que podem

complementar a oferta do Turismo Médico. Portugal tem caraterísticas particulares que

têm contribuído para o aumento do número de turistas internacionais, sendo que o

crescimento do setor do Turismo tem culminado na atribuição de prémios internacionais

e de artigos em revistas/jornais de renome.

No presente estudo foram definidas duas questões de partida: “De que forma as

políticas europeias e nacionais de saúde e de turismo constituem um elemento

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importante para a afirmação de Portugal como destino de Turismo Médico?” e “Quais

os fatores atrativos que permitem tornar Portugal um importante destino de Turismo

Médico no quadro europeu?”.

Relativamente à primeira questão de partida mencionada, embora a Diretiva

relativa ao exercício dos direitos dos doentes em matéria de cuidados de saúde

transfronteiriços seja considerada a política europeia, contextualmente, mais próxima do

Turismo Médico, a verdade é que não existe uma política europeia destinada para este

produto e que é importante para promover e desenvolver este mercado à escala

europeia, como demonstra o sucesso das políticas elaboradas por alguns dos principais

destinos de Turismo Médico.

No entanto, defende-se que esta política, a ser criada, pode e deve ser

complementada com as políticas de turismo e de saúde implementadas, das quais se

destacam o COM(2010) “Europa, primeiro destino turístico do mundo – novo quadro

político para o turismo europeu”, a "Execução e desenvolvimento da política comum de

vistos para promover o crescimento na UE" e a Diretiva relativa às viagens organizadas

e aos serviços de viagem conexos (2015), em matéria de turismo, e a Diretiva de

cuidados transfronteiriços, ainda que centrada no mercado europeu e não num mercado

mais amplo, e os benefícios da telemedicina que, contribui, essencialmente, para

facilitar e melhorar a vida dos pacientes, especialmente, das áreas isoladas ou de locais

de difícil acesso. As políticas mencionadas poderiam influenciar (positivamente) o

desenvolvimento do Turismo Médico a nível europeu, sendo necessário efetuar algumas

alterações, como, por exemplo, abranger um mercado mais amplo e não somente

europeu.

Realça-se que uma política europeia centrada no Turismo Médico, além de

proporcionar o desenvolvimento deste produto nos Estados-Membros da UE,

contribuiria para promover a UE no seu todo, como um destino turístico alargando,

assim, o horizonte de produtos turísticos. A criação de tal política pode significar um

acréscimo de benefícios económicos gerados por este produto e o aumento dos níveis de

confiança dos turistas médicos.

A política sugerida para o caso da UE deve ser também, à escala nacional, criada

pelo Governo Português, pelas mesmas razões mencionadas para o caso europeu. A

nível nacional, existe uma carência no que se refere a uma política consistente

direcionada para este produto, embora tenha sido realizado um estudo que se centrava

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na identificação de determinados parâmetros em que o Estado poderia intervir para

desenvolver e promover Portugal enquanto destino de Turismo Médico.

No entanto, embora o Turismo Médico tenha sido reconhecido no PENT 2013-

2015 como um dos produtos a serem desenvolvidos, é a nível regional, nomeadamente,

através dos Programas Operacionais Regionais, que mais interesse tem havido em

apostar neste produto, ainda que não seja comparável às políticas desenvolvidas por

destinos consolidados e sejam implementadas numa escala mais reduzida. Não obstante,

em alguns dos casos, tem sido feita uma abordagem (ainda que diminuta) mais

específica nas Estratégias Regionais de Especialização Inteligente e não no Programa

Operacional Regional em si, o que leva a considerar que a importância dada ao Turismo

Médico ainda não é relevante como serão outros produtos turísticos.

Assim, não só é urgente criar-se uma política nacional específica para o Turismo

Médico, até porque existem benefícios económicos que, no atual cenário de austeridade,

são relevantes para aumentar as receitas económicas, mas também elaborar-se

estratégias regionais, porque certamente existem áreas mais propícias ao

desenvolvimento deste segmento que outras, não descurando o facto de, eventualmente,

as áreas mais isoladas serem também importantes para determinados tratamentos.

Sugere-se que a política proposta poderia incluir medidas adotadas já por alguns

dos destinos de Turismo Médico mais importantes, bem como as medidas defendidas no

relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho Interministerial, nomeadamente: a

possibilidade de ajustar a duração dos vistos, quer para o paciente quer para o

acompanhante, consoante o tratamento; incentivar as unidades hospitalares e clínicas a

obterem acreditações internacionais; incentivar os profissionais de saúde portugueses

que emigraram à procura de melhores condições de trabalho a retornarem ao país

devido ao seu papel fundamental neste segmento; criar um quadro regulatório para este

segmento que seja esclarecedor no que se refere a casos de negligência médica; criar um

quadro fiscal benéfico para as entidades envolvidas.

Já relativamente à segunda questão de partida definida, no contexto do Turismo

Médico, é ainda importante a componente turística, devendo o país aproveitar a

crescente visibilidade internacional. Existe, atualmente, um conjunto de valências

turísticas que podem ser complementares à componente de saúde: o clima favorável a

períodos de recuperação e ao bem-estar físico e mental; a simpatia do povo português; a

fluência em idiomas estrangeiros pela população portuguesa (no geral) e dos

profissionais de saúde (em específico); a localização geográfica que torna o país um

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destino acessível para os principais mercados emissores de turistas tradicionais para o

país; a diversidade paisagística e cultural; a qualidade e a acessibilidade das praias; a

diversidade de atividades de lazer e atrações turísticas; as águas termais enquanto

elementos complementares para a recuperação física e mental; as unidades turísticas

modernas (na sua generalidade) que oferecem serviços de qualidade e são capazes de

corresponder às necessidades dos potenciais turistas médicos conforme o seu estado de

saúde; a gastronomia; os prémios atribuídos em matéria de turismo, com destaque para

os "óscares do turismo"; o aumento do número de companhias aéreas, sobretudo as low-

cost, no país; as excelentes posições alcançadas no Global Peace Index 2015 e

Corruption Perception Index 2011.

Embora determinados procedimentos médicos invasivos possam condicionar o

usufruto das valências turísticas que o país oferece, a maioria dos turistas médicos

viajam com acompanhantes, pelo que estes procuram usufruir da componente turística

e, portanto, as caraterísticas supramencionadas, tornam-se fatores influentes na tomada

de decisão no que se refere ao destino de Turismo Médico. Assim, conclui-se que

devido à sua rede hospitalar e à sua valia e notoriedade turística, Portugal reúne as

condições necessárias para se tornar um destino de Turismo Médico, sendo fundamental

que sejam implementadas, no entanto, algumas medidas mencionadas que visam

incentivar o seu desenvolvimento no nosso país.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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em 3 de Setembro de 2014]

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Associação Empresarial de Portugal/Health Cluster Portugal (2013d) Atlas de Oportunidades -

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ANEXOS

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ANEXO I – GUIÃO DE ENTREVISTA

Guião de entrevista

Entrevista realizada no âmbito do Mestrado em Políticas Europeias, ministrado

pelo Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (Universidade de Lisboa), no

qual me encontro a desenvolver uma dissertação, cujo título é "O Turismo Médico em

Portugal: perspetivas no contexto europeu". Esta dissertação tem como objetivos

perceber a importância das políticas europeias e nacionais de saúde e de turismo e

identificar os fatores atrativos que permitem tornar Portugal um importante destino de

Turismo Médico no quadro europeu. Deste modo, pretende-se que a presente entrevista

contribua para o desenvolvimento da dissertação, nomeadamente, no que se refere ao

Turismo Médico em Portugal.

1. Com base nas informações de que disponho, são vários os autores que defendem

que o Turismo Médico constitui uma oportunidade devido ao seu potencial

crescimento. Deste modo, considera que Portugal deve apostar neste segmento

turístico?

2. No seu entender, Portugal reúne as condições necessárias para afirmar-se como

destino de Turismo Médico? Porquê?

3. A nível nacional existe pouca informação relativamente ao perfil desta procura

turística (Turismo Médico). Deste modo, gostaria de saber quais os perfis dos

turistas estrangeiros que usufruíram dos cuidados médicos (no contexto do

Turismo Médico)?

4. Relativamente ao Turismo Médico, quais os cuidados de saúde e bem-estar mais

procurados pelos estrangeiros em Portugal? Existe alguma especialização?

5. A sua organização dispõe de alguma estratégia de promoção e captação destes

turistas? Se sim, qual?

6. A sua organização possui acordos/parcerias com entidades ligadas, de alguma

forma, ao Turismo Médico (ex.: unidades hospitalares, facilitadores, operadores,

hotéis)?

7. Tem conhecimento de alguma política nacional que tem contribuído para o

desenvolvimento do Turismo Médico em Portugal?

8. Na sua opinião, existe alguma política europeia que se possa destacar pelo seu

contributo para o desenvolvimento do Turismo Médico?

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9. Na sua perspetiva, quais os elementos diferenciadores e mercados-alvo em que

Portugal deveria apostar para atrair e destacar-se no mercado do Turismo

Médico?

10. Para concluir, na sua opinião, quais os principais desafios (oportunidades e

ameaças) que Portugal poderá enfrentar para se tornar um destino de Turismo

Médico reconhecido?

Obrigado pela sua disponibilidade e contributo!

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ANEXO II – HOMEPAGES DOS WEBSITES EXEMPLIFICATIVOS

Homepage do website da MedicalTourism (http://www.medicaltourism.com/):

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Homepage do website da ArabMedicare (http://www.arabmedicare.com/):

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ANEXO III – REDE ORGANIZACIONAL DO TURISMO MÉDICO EM

PORTUGAL

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