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Universidade de Brasília - UnB Faculdade UnB Gama - FGA Engenharia de Energia SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE UM ESCOAMENTO EM UM LEITO EMPACOTADO Autor: Níkolas Heber Nascimento Costa Orientador: Fábio Alfaia da Cunha Brasília, DF 2015

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Universidade de Brasília - UnB Faculdade UnB Gama - FGA

Engenharia de Energia

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE UM ESCOAMENTO EM UM LEITO EMPACOTADO

Autor: Níkolas Heber Nascimento Costa Orientador: Fábio Alfaia da Cunha

Brasília, DF

2015

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NÍKOLAS HEBER NASCIMENTO COSTA

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE UM ESCOAMENTO EM UM LEITO

EMPACOTADO

Monografia submetida ao curso de graduação em Engenharia de Energia da Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia de Energia.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Alfaia da

Cunha

Brasília, DF 2015

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CIP – Catalogação Internacional da Publicação*

Costa, Níkolas Heber Nascimento.

Título da Monografia: Simulação numérica de um

escoamento em um leito empacotado / Níkolas Heber

Nascimento Costa . Brasília: UnB, 2015. 52 p. : il. ; 29,5

cm.

Monografia (Graduação) – Universidade de Brasília

Faculdade do Gama, Brasília, 2015. Orientação: Fábio

Alfaia da Cunha.

1. Leito empacotado. 2. Escoamento. 3. Dinâmica dos

fluidos I. Cunha, Fábio Alfaia. II. Simulação numérica de um

escoamento em um leito empacotado.

CDU Classificação

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SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE UM ESCOAMENTO EM UM LEITO EMPACOTADO

Níkolas Heber Nascimento Costa

Monografia submetida como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia de Energia da Faculdade UnB Gama - FGA, da Universidade de Brasília, em 30/11/2015 apresentada e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

Prof. (Dr.):Fábio Alfaia da Cunha, UnB/ FGA Orientador

Prof. (Dr.): Luciano Gonçalves Noleto, UnB/ FGA Membro Convidado

Prof. (Dr.): Augusto César de M. Brasil, UnB/ FGA Membro Convidado

Brasília, DF 2015

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Esse trabalho é dedicado a todos aqueles que

um dia ousaram em sonhar.

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AGRADECIMENTOS.

A Deus.

Pelo seu imenso amor e seu cuidado, me mantendo em pé mesmo quando nem eu achava

que estivesse.

Aos meus Pais e Irmãos.

Que sempre me incentivaram na continuação do curso. Pais que sempre carregaram o

verdadeiro significado deste dom divino que lhes foi atribuído quando nasci, o dom do

cuidado. Irmãos que ao longo de todos os dias de convivência, me encorajam com um sorriso,

uma história, uma partida de futebol, uma saída, uma caminhada, uma piada, um abraço. Deus

acertou em cheio quando colocou sob o mesmo teto nós cinco.

A vocês serei eternamente grato, mesmo muita das vezes não demonstrando

explicitamente, a minha imaturidade muitas vezes impede que isto aconteça. Sempre me

instruindo e alertando sobre o caminho a ser trilhado. Vocês nunca saberão a importância de

suas vidas na construção da minha vida.

Ao professor Fábio Alfaia.

Que dedicou seu tempo e com muita paciência me orientou na construção deste trabalho.

Estando sempre acessível e disposto a me ajudar. Estimulando-me a pensar, refletir e agir. Seu

compromisso para que eu pudesse realizar este trabalho serve como modelo para o resto de

minha vida. De minha parte saibas que tem um amigo, serei eternamente grato.

Ao meu primo Guilherme Lelis.

Que me disponibilizou do seu tempo para muitas vezes poder me ajudar na realização

deste trabalho. Saiba que comigo você sempre poderá contar.

Ao meu amigo indiano Vinay Prasad.

Que de forma incomum conheci e que me ajudou na análise dos resultados obtidos neste

trabalho. São pessoas como você que me fazem ter esperança no futuro

Aos amigos, colegas, conhecidos e estranhos.

Saibam que todos vocês não passaram por acaso na minha vida. Ao longo dessa longa

jornada aprendi a dar valor ao que acontece antes de todo fato. Agradeço a vida dada por

Deus, que tão generosa comigo veio me apresentar cada um de vocês Todos vocês se

tornaram pontes para que eu chegasse até aqui.

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“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o

conforme tuas forças, porque na sepultura, para

onde vais, não há obra nem projeto, nem

conhecimento, nem sabedoria alguma salva o

mundo inteiro.”

(Eclesiastes 9:10)

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RESUMO.

Neste trabalho é realizado um estudo de um escoamento em um leito empacotado de

esferas através de simulação numérica. O trabalho tem como motivação o melhoramento de

estudos e práticas que se utilizam de escoamento em leitos empacotados. Inicialmente será

feita uma revisão bibliográfica com trabalhos já realizados. Durante o trabalho será

apresentado um estudo do leito empacotado de Cruz (2014) e suas peculiaridades, leito que

será o foco deste trabalho. Para as análises serão considerados dois casos: uma célula única

CS e um setor correspondente a um oitavo do leito. A geometria do leito empacotado será

gerada no software Gambit e a simulação do escoamento no software Fluent. Toda

metodologia utilizada para o desenvolvimento da simulação será descrita: esquemas de

solução das equações do escoamento, modelagem matemática, linearização, geração e refino

das malhas. A avaliação dos resultados obtidos por simulação será realizada através de

comparação com os resultados experimentais de Cruz (2014). Ao final será feita uma

conclusão acerca da utilidade de cada um dos casos analisados para uma aproximação do leito

como todo.

Palavras-chave: Leito empacotado. Fluent. Gambit. Porosidade.

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ABSTRACT.

The following work consists of a study of flow in a packed bed of spheres by means of a

numerical simulation. The purpose of the study is to improve studies and practices utilized in

this field. First, a bibliographical revision of works already performed will be made. During

the work will be presented a study of Cruz (2014) packed bed and its unique features, packed

bed that will be the focus of this work. For the analysis will consider two cases: a single cell

CS and an eighth of the bed. The geometry of the packed bed will be generated in the Gambit

software and simulation in Fluent software. The whole methodology used for the development

of the simulation will be described: solution schemes of the flow equations, mathematical

modeling, linearization, generation and refining the mesh. The evaluation of the results

obtained by simulation will be performed by comparison with the experimental results of

Cruz (2014). At the end will be a conclusion about the usefulness of each of the cases

reviewed for an approximation of bed as whole.

Keywords: Packed bed. Fluent. Gambit. Porosity.

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LISTA DE FIGURAS.

Figura 1- Modelo de leito.........................................................................................................13

Figura 2- Esquemático de um leito empacotado.......................................................................18

Figura 3- Esquemático sobre a velocidade de Darcy e a velocidade média intrínseca............19

Figura 4- Leito poroso em estudo.............................................................................................21

Figura 5- Direções adotadas para o diâmetro médio................................................................21

Figura 6- Discretização em um volume de controle.................................................................25

Figura 7- Geometrias de Malha Não-Conforme e Conforme em 3D.......................................30

Figura 8- Geometrias CS,CCC,CFC respectivamente..............................................................32

Figura 9- Comportamento da porosidade de acordo com a variação da altura do leito............33

Figura 10- Escolha do tipo de célula a ser utilizada.................................................................33

Figura 11- Quatro métodos analisados para a modificação do contato....................................34

Figura 12- Dimensões da célula................................................................................................35

Figura 13- Vista frontal do leito considerado e vista superior do setor analisado....................36

Figura 14- Malha com setor de oitavo do leito e 1298437 volumes.........................................37

Figura 15- Malha de uma célula única CS e 291504 volumes.................................................37

Figura 16- Periodicidade na entrada e na saída e simetria nas faces restantes.........................39

Figura 17- Velocidade versus gradiente de pressão para a célula única CS.............................41

Figura 18- Velocidade versus gradiente de pressão para um oitavo de leito............................41

Figura 19- Velocidade versus gradiente de pressão, simulação e experimentação..................42

Figura 20- Velocidade versus gradiente de pressão, simulação e experimentação..................42

Figura 21- Geometria do um oitavo de leito considerado.........................................................43

Figura 22- Contornos de velocidade para um gradiente de pressão de 22 pa/m.......................44

Figura 23- Contornos de velocidade para um gradiente de pressão de 125 pa/m.....................45

Figura 24- Contornos de velocidade para um gradiente de pressão de 1000 pa/m.................. 45

Figura 25- Zoom nos na zona de recirculação indicada pelos vetores de azul.........................46

Figura 26- Contorno de pressão para a célula CS.....................................................................46

Figura 27- Contorno de velocidade para o setor de um oitavo.................................................47

Figura 28- Vista lateral do contorno de velocidade para o setor de um oitavo........................47

Figura 29- Contorno de pressão para o setor de um oitavo......................................................48

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LISTA DE TABELAS.

Tabela 1 - Valor dos diâmetros médios adotados.....................................................................21

Tabela 2- Tabela 2- Dimensões da célula unitária CS..............................................................36

Tabela 3 – Valores de velocidade média obtidos para um a célula CS.....................................40

Tabela 4 – Valores de velocidade média obtidos para um oitavo de leito................................40

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 13

1.1 VISÃO GERAL ................................................................................................................................................... 13

1.2 JUSTIFICATIVAS DO TRABALHO ................................................................................................................. 13

2. OBJETIVO .............................................................................................................................. 15

2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................................................ 15

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................................... 15

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................... 16

3.1 TRABALHOS REALIZADOS ............................................................................................................................ 16

4. LEITO EMPACOTADO DE ESFERAS ............................................................................... 18

4.1 DEFINIÇÃO ........................................................................................................................................................ 18

4.2 TRABALHO DE REFERÊNCIA ........................................................................................................................ 20

5. MODELAGEM MATEMÁTICA .......................................................................................... 22

5.1 EQUAÇÕES GOVERNANTES .......................................................................................................................... 22

6. METODOLOGIA.................................................................................................................... 24

6.1 CÓDIGO DE FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL ................................................................................. 24

6.2 TÉCNICAS NUMÉRICAS .................................................................................................................................. 25

6.2.1 Esquemas de solução das equações de escoamento ................................................................................ 26

6.2.2 Discretização da Equação da Quantidade de Movimento Linear ....................................................... 26

6.2.3 Interpolação da pressão .......................................................................................................................... 27

6.2.4 Discretização da Equação da Continuidade .......................................................................................... 28

6.2.5 Acoplamento pressão-velocidade ............................................................................................................ 28

7. MALHAS ................................................................................................................................. 29

7.1 GERAÇÃO DE MALHAS .................................................................................................................................. 29

7.2 REFINO DE MALHAS ....................................................................................................................................... 29

8. CASO DE ESTUDO ................................................................................................................ 31

8.1 DEFINIÇÃO DE CASO DE ESTUDO ............................................................................................................... 31

8.1.1 Escolha da célula ...................................................................................................................................... 31

8.1.2 Cúbica de Face Centrada (CFC).. .......................................................................................................... 32

8.1.3 Cúbica Simples (CS) ................................................................................................................................ 32

8.1.4 Cúbica de Corpo Centrado (CCC) ......................................................................................................... 32

8.1.5 Contato entre as esferas .......................................................................................................................... 34

8.2 SIMULAÇÃO DO CASO DE ESTUDO ............................................................................................................. 35

8.2.1 Geração das malhas ................................................................................................................................. 35

8.2.2 Condições de contorno do escoamento ................................................................................................... 38

8.2.3 Resultados e Comentários ....................................................................................................................... 39

9. CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 49

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 50

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1. INTRODUÇÃO.

Nesta seção será apresentada uma breve introdução acerca do que será realizado neste

trabalho e sobre as justificativas apresentadas para a execução do mesmo.

1.1. VISÃO GERAL.

O escoamento em leito fixo se caracteriza quando um fluido incide nas partículas e não

consegue promover a movimentação destas, de tal forma que estas partículas possam atingir a

velocidade crítica de fluidização. Neste caso o fluido apenas percorre os espaços (poros)

existentes no leito. Para a realização de uma avaliação do escoamento e para a determinação

da queda de pressão é necessário estabelecer as dimensões do leito e a vazão de ar incidente.

A altura ou tamanho do leito irá influenciar na queda de pressão resultando também no regime

de escoamento (Cruz, 2014).

Figura 1- Modelo de leito. (Faculty of Washington,2004)

1.2 JUSTIFICATIVAS DO TRABALHO.

Os estudos de escoamentos aplicados em engenharia podem ser realizados através de três

métodos: experimental, teórico e de simulação. O método experimental pode vir a exigir

equipamentos com preços elevados e apresentar certa limitação para a realização de testes

para diferentes problemas, tornando este método muitas vezes inviável (Souza, 2010). O

método teórico utiliza as equações existentes no problema para obter relações entre elas

através do cálculo diferencial e outras ferramentas a fim de que uma análise coerente possa

ser bem realizada.

Já o método de simulação computacional conta com o auxílio de algoritmos complexos e

computadores com grande capacidade de armazenamento de dados, tornando as simulações

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cada vez mais próximas das soluções reais e diminuindo o custo no desenvolvimento da

solução (Souza, 2010).

Este trabalho propõe a simulação de um escoamento em meio empacotado de esferas,

baseando-se no trabalho realizado por Cruz (2014). Cruz (2014) realiza uma prática

experimental que tem como um dos objetivos avaliar a queda de pressão ao longo do leito.

Este leito é formado por caroços de açaí. A escolha de um leito formado por caroços de açaí

se deve ao fato de que este seja uma biomassa residual da fruta, de bom valor energético,

poder calorífico próximo de 4.500 kcal/kg e pode ser utilizado em um processo de

gaseificação. Neste processo, os caroços são colocados dentro do cilindro interno de um

gaseificador, constituindo assim o meio poroso do estudo. Os caroços são expostos durante o

processo de gaseificação a um fluxo de ar para sua oxidação (uma das reações químicas

necessárias para a gaseificação). O trabalho presente propõe uma simulação numérica e

análise de um escoamento delimitado por uma malha. Este estudo visa auxiliar a compreensão

do comportamento de um escoamento, podendo este escoamento estar fazendo parte de um

processo de gaseificação ou não. O processo de gaseificação citado anteriormente surge

apenas como sugestão, do autor deste trabalho, para a geração de energia elétrica através de

um processo sustentável.

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2. OBJETIVO.

Nesta seção serão apresentados os objetivos deste trabalho e que ao final deverão ser

alcançados.

2.1. OBJETIVO GERAL.

O objetivo geral deste trabalho é realizar um estudo do escoamento em regime

permanente em um meio empacotado de esferas, através de simulação numérica.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.

Os objetivos específicos deste trabalho são:

1. Descrição da metodologia de simulação utilizada pelo Fluent no escoamento;

2. Geração da geometria de um leito empacotado de esferas no Gambit (versão 2.4.6);

3. Simulação do escoamento no meio empacotado no Fluent;

4. Avaliação dos resultados de queda de pressão obtidos;

5. Conclusão sobre a eficácia do uso das configurações de leito consideradas.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.

Nesta seção serão apresentados alguns trabalhos referentes à Dinâmica dos Fluidos

Computacional (CFD) em leito empacotado, com ênfase a uma abordagem sobre a queda de

pressão e a porosidade do leito.

3.1. TRABALHOS REALIZADOS.

Keyser et al. (2005) aborda o papel da distribuição do tamanho da partícula de carvão na

queda de pressão de um leito, quando este leito é atravessado por um fluxo de gás. Para esta

abordagem foram utilizada técnicas de CFD, os resultados obtidos na simulação foram

comparados com os resultados obtidos através da equação de Ergun. A comparação entre os

dois métodos mostrou que para distribuições com mesmo diâmetro médio, porosidade e

esfericidade os valores de queda de pressão apresentam o mesmo resultado dado pela equação

de Ergun. As estruturas dos leitos de carvão foram simuladas assumindo que as partículas de

carvão são representadas por poliedros convexos dispostos de forma aleatória no espaço

tridimensional. Sendo assim foram simulados dois leitos compostos por poliedros de formas

randômicas, manipulados para obter a mesma esfericidade, porosidade e mesma distribuição

de tamanho de partícula, porém com faixa de distribuição granulométrica diferente. A

utilização da equação de Ergun deveria ser feita sob algumas modificações, já que o leito era

composto por partículas não uniformes. Deste modo foi utilizado um método de cálculo para

se obter o diâmetro da partícula média (Diâmetro de Sauter). Os autores concluíram que o

leito com faixa mais larga causa uma maior queda de pressão, para a mesma esfericidade e

porosidade. Concluíram, ainda, que a simulação em CFD pode ser usada para ajustar as

constantes empíricas da equação de Ergun e que esta não é adequada para faixas largas de

distribuição de tamanho de partículas.

Com o mesmo objetivo de analisar um método para determinar a queda de pressão

através de um leito empacotado, Louw et al. (2013) utiliza de técnicas de CFD para simular

um leito poroso de partículas esféricas uniformes. O trabalho se baseia em um sistema de

armazenamento de energia térmica através do fluxo de ar sob um leito de rocha. Para

caracterizar os meios porosos, três parâmetros principais foram determinados: a condutividade

térmica, coeficiente de transferência de calor da partícula e do fluido, a queda de pressão e

porosidade. De acordo com Lotenburg (1998), montagens estão limitadas nas suas

capacidades para determinar os parâmetros de transferência de calor em um leito fixo. Esta

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limitação é devido às técnicas de medição que perturbam a geometria do leito. A queda de

pressão de um leito compactado é significativamente influenciada (Eppinger et al., 2010).

Foram utilizados três arranjos diferentes de partículas (CS, CFC, CCC) e um arranjo de

partículas dispostas de forma aleatória, todos estes foram confinados em um domínio

cilíndrico. Desta forma Louw et al. (2013) conclui a cerca do aumento da porosidade a

medida que a razão diâmetro da partícula-diâmetro do cilindro aumenta, para todos arranjos

citados anteriormente. Também conclui que para os casos propostos a utilização de CFD se

tornou extremamente útil, os valores encontrados através da simulação se aproximaram muito

dos valores encontrados através da equação de Eisfeld/Schnitzlein para a queda de pressão.

Comiti e Renaud (1989) questionam o uso de equações gerais para leitos de partículas

não esféricas e de tamanhos não uniformes. Para Comiti e Renaud (1989) este tipo de

estrutura possui duas particularidades que não foram consideradas. Uma parte significativa da

área superficial das partículas não pode ser alcançada pelo fluxo porque elas se sobrepõem

mutuamente. Outro ponto abordado é o fato de que para leitos firmemente empacotados em

uma coluna cilíndrica vertical, a orientação principal das partículas é quase horizontal,

parecendo uma estrutura de linhas. Deste modo, o trajeto do fluido, para uma dada espessura,

é mais longo através deste tipo de leito do que através de um leito de partículas isotrópicas.

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4. LEITO EMPACOTADO DE ESFERAS.

Nesta seção serão apresentadas as características mais relevantes relacionadas a um leito

empacotado.

4.1 DEFINIÇÃO.

Estas características estão aliadas a um estudo que servirá de base para este trabalho. Um

leito empacotado pode ser definido como uma matriz sólida fixa (ou quase fixa) com espaços

vazios conectados através da qual um fluido possa fluir por meio deste constitui um meio

poroso (Pop e Ingham, 2002).

Figura 2- Esquemático de um leito empacotado (Asl e Khajenoori, 2004).

Estes espaços vazios chamados de poros possuem diferentes disposições, dando a ideia

de não uniformidade nos caminhos em que o fluido percorre. A porosidade nada mais é do

que a porcentagem de volume não ocupado pelas partículas, em relação à todo volume do

leito. A taxa de fluxo de fluido que atravessa a área A do leito é Q. A existência de poros

dentro do leito reduz a área para escoamento do fluido. Para preservar a continuidade do fluxo

de fluido com o fluxo que entra na área superficial do leito, o fluido terá de se “espremer”

através de uma área menor. Deste modo a velocidade (Vm) no interior do leito será maior que

a superficial, também chamada velocidade de Darcy DV .

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Figura 3 – Esquemático sobre velocidade de Darcy e velocidade média intrínseca.

A velocidade de Darcy não e uma velocidade física, esta é uma velocidade superficial baseada

na seção transversal completa do meio, não só na seção transversal do fluido. A velocidade de

Darcy e a velocidade média intrínseca do fluido, Vm, estão relacionadas com a porosidade do

leito (𝜀) da seguinte forma:

mD VV . (1)

Os problemas decorrentes de um escoamento atravessar um leito empacotado são bastante

comuns em diversos ramos da indústria, a utilização de materiais particulados, pós ou sólidos

são amplamente utilizados. Um parâmetro de grande importância na avaliação de um

escoamento é a queda de pressão. Quando um fluido escoa de um ponto para outro no interior

de um tubo, haverá sempre uma perda de energia, denominada queda de pressão. Esta perda

de energia é devida ao atrito do fluido com a superfície interna da parede do tubo e

turbulências no escoamento do fluido. Portanto quanto maior for a rugosidade da parede da

tubulação ou mais viscoso for o fluido, maior será a perda de energia. Em alguns casos essa

perda de energia, chamada também de perda de carga (h) é diferente da queda de pressão. A

perda de carga será igual à queda de pressão se:

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O fluido for incompressível ( =constante);

A área de entrada da seção for igual à área de saída (A1= A2) e estiver na mesma altura

(Z1= Z2).

Desta forma sabendo que V1 e V2 são as velocidades na entrada e saída respectivamente e

que o fluxo volumétrico na entrada deve ser igual ao da saída da seção:

2211 .. AVAV (2)

Consequentemente V1 é igual a V2. A partir da Equação de Bernoulli, Eq. (3), infere-se

que a perda de energia é igual à queda de pressão, Eq. (4):

hVVZZgPP )(2

1)( 212121 (3)

hPP 21 (4)

4.2. TRABALHO DE REFERÊNCIA.

O leito estudado por Cruz (2014) servirá de referência para o presente estudo. Tal leito

possui 0,525m de comprimento e 0,15m de diâmetro. A metodologia de estudo empregada

por Cruz (2014) foi experimental. Foram realizadas coletas de dados de queda de pressão para

a análise de perda de carga, antes de o escoamento incidir no leito e logo após o escoamento

deixá-lo. Foram realizadas diversas leituras das tomadas de pressão para diferentes

comprimentos de leitos, descrevendo o processo conforme esta variação. Para que pudesse ter

a disponibilização de diferentes comprimentos de leito, foram montados pequenos leitos de

comprimento equivalente a metade do diâmetro do tubo de PVC (0,075 m), sobrepostos e

separados apenas por telas de aço, ou seja, a cada interposição do comprimento de leito foi

colocado uma tela para a separação do leito. Partindo do tubo vazio, chegando a um total de

sete leitos em função do diâmetro do tubo na razão de 0,5 D, como mostrado na Fig. (4),

totalizando no final com 0,525 m de comprimento de leito.

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Figura 4- Leito poroso em estudo (Cruz, 2014).

A partir de uma amostra de 230 caroços, Cruz et al. (2010) aferiu o diâmetro médio do

caroço de açaí, conforme indicado na Fig. (5). Os dados obtidos podem ser observados na

Tab. (1). Após obter o diâmetro médio, obtido em cada direção, tirou-se uma média dos três

diâmetros. O resultado é um diâmetro de 1,03 centímetros, sendo este valor aproximado para

1,0 centímetros para o caso principal deste trabalho.

Figura 5- Direções adotadas para o diâmetro médio (Cruz et al., 2010).

Tabela 1 - Valor dos diâmetros médios adotados.

Direções X Y Z

Diâmetro médio (cm) 1,1554 0,9737 0,9649

Desvio Padrão (cm) 0,0684 0,0834 0,0644

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5. MODELAGEM MATEMÁTICA.

5.1. Equações governantes.

Para a análise do escoamento, são utilizadas equações que governam o problema físico:

Equações de Conservação de Massa e de Quantidade de Movimento.

0).(

v

t

(5)

Onde é a densidade e v é o vetor velocidade.

A Eq.(5) é a forma geral da equação da conservação de massa e é válida para

escoamentos compressíveis e incompressíveis. A Equação de Conservação de Massa, ou

Equação da Continuidade, corresponde à soma da “taxa de variação de massa dentro desse

volume de controle” e do “fluxo de massa que cruza a superfície de controle” igual à zero.

Como no nosso caso, se trata de um fluido incompressível, a densidade não é uma função do

tempo ou do espaço, assim sendo, 𝜕𝜌⁄𝜕𝑡 ≅ 0. No segundo termo do lado esquerdo pode-se

retirar o (constante) do operador divergente. Assim a Eq. (5) reduz-se a:

0

z

v

y

v

x

v zyx (6)

Já a Equação da Conservação da Quantidade de Movimento é expressa da seguinte forma:

FgTvvvt

).().()( (7)

Onde p é a pressão estática, T é o tensor de tensão, g e F são a força gravitacional e a

força externa que atua sobre o corpo respectivamente.

O lado esquerdo da Eq. (7) representa a taxa de variação da quantidade de movimento

que cruza o volume de controle, por unidade de volume. O lado direito da Eq. (7) representa o

somatório das forças externas, por unidade de volume, atuantes no volume de controle. Neste

caso representadas pelo tensor de tensões do fluido, T , devido ao campo hidrostático e às

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deformações do fluido, pela força de campo gravitacional g . O tensor T pode ser escrito de

acordo com a Eq.(8).

IpT (8)

Onde I é a matriz identidade, p a pressão estática e é o tensor extratensão que

representa a parte viscosa do tensor de tensão. Ao cessar o movimento este termo iguala à

zero.

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6. METODOLOGIA.

Nesta seção será apresentada a metodologia utilizada para que o problema de interesse

possa ser estudado. Primeiramente será apresentada a estrutura básica do Fluent e descrita a

técnica numérica utilizada por este software para que escoamentos possam ser resolvidos.

Posteriormente será abordado sobre a geração e refino de malhas.

6.1. CÓDIGO DE FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL.

Neste trabalho o código comercial de fluidodinâmica computacional Fluent será utilizado

para simulação do escoamento. O Fluent é um software, escrito na linguagem C, que possui

os principais modelos de CFD. Segundo o manual do software, é possível efetuar a

modelagem de escoamento de fluidos, transferência de calor, combustão, escoamentos

multifásicos e reações químicas em múltiplos sistemas de referência com geometrias

complexas. Para resolver o escoamento, o código do software utiliza uma técnica numérica

baseada nos volumes de controle da malha, aos quais aplica o princípio de conservação de

uma determinada grandeza escalar, ou seja, o código resolve as equações governantes do

escoamento para cada volume finito. As equações discretizadas são obtidas integrando a

equação governante sobre cada um dos volumes de controle no domínio.

Segundo Carcangiu (2008), o método dos volumes finitos consiste na:

Divisão do domínio computacional em uma malha composta por volumes de controle

discretos.

Integração das equações governantes sobre cada volume de controle resultando em

equações que contém variáveis discretas como: velocidade, pressão, temperatura, etc

Linearização das equações discretizadas e solução do sistema de equações lineares.

Os valores das variáveis são armazenados no centro dos volumes de controle. Nas faces

desses volumes os valores das variáveis discretas são expressos por meio de funções de

interpolação (Patankar, 1980).

Entre os esquemas de interpolação se destacam: o esquema Upwind de primeira ordem

(Upwind Differencing Scheme, UDS) que assume que os valores das variáveis nas faces de um

elemento são iguais aos valores armazenados no centro dos mesmos; o Esquema de

Diferenças Centrais (Central Differencing Scheme, CDS) que utiliza interpolação linear; o

Quadratic Upwind Interpolation for Convective Kinematics (QUICK) que é baseado na média

ponderada de um esquema Upwind de segunda ordem e diferenças centrais.

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6.2. TÉCNICAS NUMÉRICAS.

O Fluent usa a técnica de volumes finitos para converter as equações diferencias de

conservação em um conjunto de equações algébricas. Esta técnica de volumes finitos consiste

em integrar a equação de transporte em cada volume de controle, produzindo uma equação

que expressa a lei de conservação para um volume de controle. A discretização das equações

para um escalar e um volume de controle V é mostrada na Eq.(9).

VVdVSAdAdvdV

t

. (9)

Onde é a densidade, é o coeficiente de difusão, v é o vetor velocidade, A é o vetor

área, é o gradiente de e S é o termo de geração de .

A Eq. (9) é aplicada para cada volume de controle e posteriormente aplicada resulta em:

VSAAvVt

f

Nfaces

f

ff

Nfaces

f

fff

. (10)

Onde Nfaces é o número de faces que cercam a o volume de controle, .f é o valor do

termo convectivo para a face f, ff v fA é o fluxo de massa através da face, fA é a área

da face, f e o gradiente de na face f e V o volume do volume de controle.

Figura 6- Discretização em um volume de controle (Fluent Guide, 2009)

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6.2.1. Esquemas de solução das equações do escoamento.

O Fluent permite escolher entre dois esquemas de solução das equações de conservação

da massa e conservação de quantidade de movimento: segregado ou acoplado. Através de

qualquer método, o Fluent integra as Equações da Conservação de Massa, da Conservação da

Quantidade de Movimento, da energia e dos parâmetros de turbulência se necessário. Nos

dois esquemas de solução, o mesmo processo de discretização (volumes finitos) é empregado,

mas a maneira de discretizar as equações é diferente. No esquema segregado as equações

governantes são resolvidas para uma variável (por exemplo, a velocidade) em todos os

volumes de controle de cada vez e armazenadas na memória para os cálculos iterativos, deste

modo há pouca exigência de memória computacional. Já o método acoplado resolve as

equações governantes para todas as variáveis (velocidade, pressão, temperatura...) em todos

os volumes de controle simultaneamente e possui uma velocidade de convergência dos

cálculos mais rápida que a do método segregado. No modelo acoplado a requisição de

memória aumenta de 1,5 a 2 vezes em relação ao modelo segregado (Ansys, 2009). Devido às

limitações do computador utilizado decidiu-se escolher o método segregado.

6.2.2. Discretização da Equação da Quantidade de Movimento Linear.

Por padrão, o Fluent armazena valores discretos de escalar, , nos centros das células (c0

e c1). Entretanto o valor em cada face é necessário para os termos de convecção na Eq. (9) e

devem ser interpolados a partir dos valores do centro da célula. Isto é realizado utilizando um

esquema chamado upwind. Este esquema se baseia na lógica que o valor na face f é igual ao

valor do termo convectivo do centro da célula à montante (relativo ao sentido da velocidade

normal).

Para as Equações de Conservação de Quantidade de Movimento, não é permitido

escolher o esquema de discretização dos termos viscosos. O Fluent utiliza um esquema de

segunda ordem. Entretanto, para os termos convectivos, é possível escolher que o tipo de

esquema que será utilizado. Como padrão do algoritmo segregado, todas as equações são

resolvidas usando o esquema de primeira ordem para a convecção. Neste trabalho foi

utilizado o esquema First-Order Upwind para discretização dos termos viscosos da equação

de conservação da quantidade de movimento.

No esquema First-Order Upwind Scheme o valor nominal do termo convectivo da face é

igual ao valor do termo convectivo do centro da célula à montante (relativo ao sentido da

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velocidade normal). Se o campo de pressão e os fluxos mássicos da face forem conhecidos, a

discretização da Equação da Quantidade de Movimento fornece a Eq. (11)

V

dVFAdAdIAdvv .. (11)

Esta equação pode ser integrada, sobre o volume de controle, para fornecer uma equação

discreta, conforme a Eq.(12):

nb

fnbnbp SiApvava^

. (12)

Onde pa é o coeficiente linearizado de , nba é o coeficiente linearizado de nb , fp é a

pressão na face nbu é a velocidade na célula vizinha.

Entretanto, inicialmente o campo da pressão e os fluxos mássicos da face não são

conhecidos e devem ser obtidos como parte da solução. O Fluent utiliza um esquema em que

os valores de pressão e velocidade são armazenados nos centros das células. A Eq.(12) exige

o valor da pressão na face entre as células adjacentes. Logo, é necessário um esquema de

interpolação para computar os valores nominais da pressão dos valores da célula.

6.2.3. Interpolação da pressão.

O esquema padrão do FLUENT interpola os valores da pressão nas faces usando

coeficientes da equação da quantidade de movimento. Desta forma a pressão na face é

interpolada da seguinte forma:

1,0,

1,

1

0,

0

11

cpcp

cp

c

cp

c

f

aa

a

p

a

p

p

(13)

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6.2.4. Discretização da Equação da Continuidade.

A Equação da Continuidade em regime permanente, Eq. (14).

0 Adu (14)

Pode ser integrada, sobre o volume de controle, para fornecer a equação discreta:

Faces

f

ff Aj 0 (15)

Onde fj é o escoamento mássico na face f.

As Equações da Quantidade de Movimento e da Continuidade são resolvidas

sequencialmente, onde a equação da continuidade é usada como uma equação para a pressão.

Entretanto, para escoamentos incompressíveis, a pressão não aparece explicitamente na

Eq.(14), desde que a densidade não esteja diretamente relacionada à pressão. Logo, é

necessário um método para acoplamento entre pressão e velocidade.

6.2.5. Acoplamento pressão-velocidade.

Para escoamentos incompressíveis há a necessidade de se utilizar um método para

acoplamento entre pressão e velocidade. O Fluent utiliza os métodos SIMPLE, SIMPLEC ou

PISO para introduzir a pressão na equação da continuidade. Este trabalho utilizou o método

SIMPLE (Semi-Implicit Method for Pressure-Linked Equations) para acoplamento entre

pressão e velocidade. O SIMPLE utiliza uma relação entre a velocidade e correções da

pressão para reforçar a conservação de massa e obter o campo da pressão.

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7. MALHAS.

Nesta seção serão abordados os tipos de malhas numéricas geradas e a finalidade de cada

uma, além da importância do refino de uma malha para que resultados com maior precisão

possam ser alcançados.

7.1. GERAÇÃO DE MALHAS.

Gerar uma malha representa delimitar o domínio computacional onde o software irá

atuar. As malhas usadas no Fluent são geradas no Gambit. O Gambit permite que possam ser

executados três tipos de malhas: malhas estruturadas, não estruturadas e híbridas. Para

geometrias bidimensionais uma malha estruturada é formada por células com quatro arestas,

onde cada célula é especificada de forma única por um par de índices (i, j) nas duas direções

de coordenadas. Já numa malha não estruturada as células podem assumir as mais diversas

formas, geralmente combinam-se triângulos e quadriláteros no caso de geometrias

bidimensionais. Ao contrário da malha estruturada, não é possível identificar de forma única

as células da malha não estruturada pelos índices i e j, em vez disso, as células são numeradas

de alguma outra forma internamente no Gambit. As malhas híbridas combinam blocos de

malhas estruturadas e não estruturadas, sendo muito usadas para permitir alta resolução junto

de uma parede, sem exigir tanta resolução longe da parede. Outra vantagem importante que é

permitir o alinhamento da malha com o escoamento, que trás óbvias vantagens para a redução

do erro numérico. As malhas estruturadas possuem vantagens ao nível da precisão de cálculo

e rapidez, mas é naturalmente mais difícil representar geometrias complexas. As malhas não

estruturadas não apresentam esta limitação geométrica, mas conduzem as células

computacionais mais complexas, que levam a superiores custos computacionais (Swenson et

al., 2010). Nas camadas limite, onde as variáveis de escoamento mudam rapidamente na

direção normal à parede, as malhas estruturadas permitem uma resolução mais refinada que as

malhas não estruturadas para o mesmo número de células.

7.2. REFINO DE MALHAS.

Os resultados obtidos pelos modelos simulados através de softwares de análise

fluidodinâmica e sua similaridade com os resultados provenientes de experimentos realizados

em laboratórios depende diretamente do tamanho e formato da malha construída

computacionalmente. Assim, o refino de malhas computacionais tem sido empregado

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frequentemente em casos de dinâmicas dos fluidos computacionais. Quanto mais refinada é

uma malha os resultados da simulação tendem a uma maior precisão, de forma a atingir uma

semelhança esperada dos resultados experimentais, com a condição de que seja usado um

modelo que descreve os fenômenos presentes em cada uma das situações abordadas. Apesar

dessa grande vantagem, o refino de malhas computacionais exige uma maior capacidade

computacional e um maior tempo de simulação.

Figura 7- Geometrias de Malha Não-Conforme e Conforme em 3D (Deskeng, 2008).

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8. CASO DE ESTUDO.

Nesta seção será realizado o caso principal, que se baseará no trabalho de Cruz (2014).

Caso composto por um escoamento de ar em um leito empacotado de esferas, que será

realizado de uma simulação numérica 3D. Ao final serão apresentados os resultados e feitos

os devidos comentários.

8.1. DEFINIÇÃO DO CASO DE ESTUDO.

Como já citado a simulação é realizada através de dois softwares, Gambit e Fluent.

Primeiramente foi construída a geometria do leito empacotado. Entende-se por geometria todo

processo de criação da estrutura, conexão de faces e vértices da geometria, definição do tipo

das zonas de contorno e geração das malhas. Posteriormente foi utilizado o software Fluent, o

qual define o modelo de viscosidade, o tipo de fluido e as condições de contorno para que a

simulação possa ocorrer e os dados desejados possam ser obtidos.

No trabalho de Cruz (2014) é difícil definir a disposição esferas ao longo de todo leito

empacotado, as esferas se arranjam de acordo com os espaços vazios existentes, não

obedecendo a nenhum padrão, ou seja, estão distribuídas de forma aleatória. A dificuldade de

se obter um padrão no arranjo das partículas dificulta a análise do escoamento.

O comportamento da porosidade (𝜀) do leito pode ser mais bem compreendido se

levarmos em conta de que à medida que as partículas vão se amontoando ao longo do

comprimento do leito o arranjo, o arranjo dessas partículas muda.. Considerando o leito

formado por camadas, cada camada obedecerá a um padrão e o volume dos espaços existentes

também irá variar.

8.1.1. Escolha da célula.

Para a simulação numérica é necessário definir um tipo arranjo, minimizando a

complexidade de todo desenvolvimento. Foram selecionados três tipos de arranjos (CFC, CS,

CCC). Cada arranjo é formado por unidades básicas e repetitivas chamadas células unitárias,

que possuem características próprias.

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8.1.2. Cúbica de Face Centrada (CFC).

No arranjo CFC há um oitavo de esfera em cada vértice e metade de uma esfera no centro

de cada face do cubo. Em cada célula há quatro esferas e porosidade igual a 0,26. Neste tipo

de célula a aresta L do cubo possui 2√2 vezes o raio R da esfera.

8.1.3. Cúbica simples (CS).

Neste tipo de empacotamento há um oitavo de cada esfera em cada vértice do cubo. Ou

seja, a célula aloca um átomo. A aresta L do cubo possui duas vezes o raio R da esfera e

porosidade igual a 0,48.

8.1.4. Cúbica de Corpo Centrado (CCC).

O arranjo CCC possui 1/8 de esfera em cada vértice e uma esfera no centro do cubo. Em

cada célula há duas esferas. Neste tipo de célula A aresta L do cubo possui 4/√3 vezes o raio

R da esfera e porosidade igual a 0,32.

Figura 8- Geometrias CS, CCC, CFC respectivamente (Bu et al., 2014).

Observou-se através da Fig. (16) que a porosidade ao longo do comprimento do leito

tendia a um valor próximo de 0,5.

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Figura 9 - Comportamento da porosidade de acordo com a variação da altura do leito.

Deste modo decidiu-se utilizar a célula CS, com valor de porosidade mais próximo do

leito, para representar o próprio leito na simulação numérica.

Figura 10 – Escolha do tipo de célula a ser utilizada.

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8.1.5. Contato entre as esferas.

O ponto de contato entre os materiais de empacotamentos é uma região importante,

devido a grande dificuldade que existem gerar malhas computacionais de alta qualidade

nesses pontos (entre partículas ou entre a parede e partícula) (Bezerra, 2015). A geometria da

malha próxima dos pontos de contato seria distorcida o que pode levar a problemas de

convergência e de simulação computacional afetando a precisão. Para diminuir esse efeito,

foram avaliados quatro métodos que visam alterar os pontos de contato: lacunas

(encolhimento das partículas), área de sobreposição (aumento da partícula), pontes (pontes

cilíndricas) e bonés (remoção de uma capa da esfera).

Figura 11 – Quatro métodos analisados para a modificação do contato (Bu et al. , 2014).

De acordo com Dixon et al.(2013) os métodos de lacunas e sobreposições mudariam a

porosidade do leito, afetando de forma negativa nos resultados das simulações. Já os métodos

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de pontes e bonés fariam pequenos desvios na porosidade gerando simulações melhores,

como consequência geram melhores resultados de queda de pressão. Além disso, entre os

métodos de pontes e bonés, o método de pontes apresentou o melhor resultado computacional

para o contato entre partículas e partícula parede para queda de pressão. Segundo Bu et al.

(2014) a dimensão do diâmetro da ponte deve ser entre 16% a 20% do diâmetro da partícula,

pois diâmetros menores resultam em queda de pressão maiores em relação a dados

experimentais. O diâmetro da ponte (p) que será adotado no trabalho é o de 16% do diâmetro

da partícula. Para a construção das células no Gambit serão adotados todos os procedimentos

realizados no trabalho de Bezerra (2014).

8.2. SIMULAÇÃO DO CASO DE ESTUDO.

8.2.1. Geração das malhas.

A construção das geometrias se baseou no trabalho de Bezerra (2014), a partir das

construções utilizando células CS com contato tipo ponte. Foram feitos ajustes e modificações

no trabalho de Bezerra (2014) a fim de que fossem obtidas as geometrias desejadas. Segue

abaixo na Tab. (2) as dimensões da célula CS utilizada como base.

Figura 12 – Dimensões da célula.

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Tabela 2- Dimensões da célula unitária CS.

L (x) C (z) A (y) 𝜺 p

1 cm 1 cm 1 cm 0,48 0,16 cm

Para a realização das simulações verificou-se que a geração de uma malha do domínio

completo, apresentada na Fig. (3), demandaria muito tempo e exigiria um computador com

muita memória. Para tornar a tarefa possível de ser executável somente parte do domínio foi

considerada. Simetria e periodicidade do domínio foram adotadas. Dois casos foram

apreciados: o primeiro considerando um setor de um oitavo de todo leito, disposto em CS,

conforme figura abaixo, e o um segundo considerando uma única célula unitária CS.

Figura 13- Vista frontal do leito considerado e vista superior do setor analisado.

Para ambos os casos as esferas foram representadas com dimensão próxima ao do caroço

de açaí, raio igual a 0,5 cm. A condição periodicidade deve ser imposta de forma que o fluido

possa escoar apenas em uma direção e sentido, eixo x. Essa condição foi satisfeita através do

comando link edges existente no Gambit. Dessa forma os vértices da seção de área de entrada

e saída foram ligados e assim o Gambit compreende o sentido e direção adotados para o

escoamento. Para as duas malhas somente a altura de um caroço foi considerada, pois a

simulação utilizará fluxo de ar periódico na direção do escoamento. As duas malhas

utilizaram elementos tetraédricos de tamanho aproximado 0,025 m

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A malha com setor de um oitavo do leito ficou com 1298437 volumes e a malha de célula

única ficou com 291504 volumes. As malhas podem ser vistas nas Fig. (14) e Fig.(15).

Figura 14 – Malha com setor de oitavo do leito e 1298437 volumes.

Figura 15- Malha de célula única CS e 291504 volumes.

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8.2.2. Condições de contorno do escoamento.

Para a resolução do escoamento Fluent foi utilizada uma versão 3ddp (three dimensional

double precision). Ou seja, foi especificada a dimensão do problema proposto (3D) e o tipo de

precisão que o usuário quer que seja utilizada, neste caso uma precisão dupla. Foi escolhido o

modelo de escoamento laminar em regime permanente. Neste caso o Fluent resolve as

equações da conservação de massa e de quantidade de movimento sem os termos de

transientes, de forma iterativa e segregada. As seguintes condições de contorno foram

impostas:

Não escorregamento nas superfícies das paredes sólidas: 0 wvu .

Simetria, que consiste em gradiente e fluxo de massa no contorno.

Periodicidade do escoamento

O escoamento foi tratado como sendo periódico, ou seja, os padrões da geometria física

analisada e do fluxo de ar se repetem periodicamente. Ao assumir a periodicidade do

escoamento considera-se que as componentes do vetor velocidade v (vx, vy, vz) se repetem ao

longo do espaço:

...)2()()( LrvLrvrv xxx (16)

...)2()()( LrvLrvrv yyy (17)

...)2()()( LrvLrvrv zzz (18)

Onde r é o vetor posição e L é o vetor de comprimento periódico do domínio

considerado.

Já a pressão não é periódica, como acontece para a velocidade nas Eqs. (16), (17) e (18),

mas a queda de pressão pode ser considerada periódica. Desta forma o Fluent analisa o

escoamento periódico.

...)2()()()( LrpLrpLrprpp (19)

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Desta forma definiu-se como tipo de condição periódica o gradiente de pressão (Pa/m) ao

longo do escoamento, podendo optar entre o gradiente de pressão e a taxa de massa de ar. O

fluido escoará ao longo do eixo x, recebendo a condição de periodicidade, as outras faces da

célula receberão condição de simetria.

Alguns detalhes da imposição das condições de contorno são apresentados na Fig.(16)

abaixo:

Figura 16 –Periodicidade na entrada e saída e simetria nas faces restantes.

8.2.3. Resultados e Comentários.

Para cada simulação foi usado um valor diferente de gradiente de pressão. Para cada

simulação foram necessárias pelo menos 3000 iterações. O critério de convergência adotado

implica que os resíduos normalizados são menores que 10-5

. O cálculo da velocidade

intrínseca média foi realizado de acordo com a Eq.(20).

Vff

m dVvV

V .1

(20)

Onde fV é o volume de fluido contido em um volume elementar representativo, V .

A integral apresentada na equação (20) é resolvida numericamente pelo Fluent.

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A Tab. (3) Tab. (4) mostra os valores de velocidade obtidos para cada gradiente de

pressão.

Tabela 3 – Valores de velocidade média obtidos para uma célula CS.

P/L(kPa/m) Vm (m/s)

1,0 3,501276

0,5 2,367194

0,25 1,540338

0,125 0,9935072

0,625 0,692714

0,22 0,30156488

Tabela 4 – Valores de velocidade média obtidos para um oitavo de leito.

P/L(kPa/m) Vm (m/s)

1,0 4.58

0,5 3.24

0,125 1.5807

0,005 0.2072

Os dados apresentados nas Tab. (3) e (4) também são apresentados de forma gráfica nas

Fig.(16) e (17). Os valores foram obtidos através da simulação numérica para uma célula

unitária CS e para o um oitavo de leito respectivamente, sendo mostrados separadamente a

fim de que se tenha uma visualização mais clara do efeito causado pelas dimensões da

geometria considerada na queda de pressão do leito.

As velocidades obtidas por simulação, para cada queda de pressão, também são

comparadas com os valores obtidos experimentalmente por Cruz (2014). Foram considerados

os dados experimentais para os leitos de comprimento de 1,5 D e 3,5 D, sendo D igual ao

diâmetro do leito, 0,15m. Para os leitos simulados considera-se um comprimento infinito,

produto da condição de periodicidade do escoamento.

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Figura 17- Velocidade versus gradiente de pressão para a célula única CS.

Figura 18- Velocidade versus gradiente de pressão para um oitavo de leito.

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Figura 19- Velocidade versus gradiente de pressão, simulação e experimentação.

Figura 20- Velocidade versus gradiente de pressão, simulação e experimentação.

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As Fig. (19) e (20) representam os dados obtidos através da simulação juntamente com os

dados experimentais, desta forma visa-se comparar os resultados e explanar de forma clara e

objetiva. Valores de queda de pressão estão expressos em unidades de pressão por unidade de

comprimento (kPa/m).

Com relação aos resultados de queda de pressão apresentados na Fig. (19), verifica-se que

à medida em o leito aumenta, os dados experimentais se aproximam dos valores simulados de

velocidade. Lembrar que o leito simulado retrata um leito de comprimento infinito. O mesmo

ocorre para Fig. (20), cujos resultados estão associados a geometria do um oitavo de leito

considerado.

Os resultados de simulação para uma célula única Fig.(19) são melhores que os

resultados da geometria do um oitavo de leito Fig.(20). De acordo com a Fig. (9) a porosidade

do leito se estabiliza em um valor próximo de 0,48. Com relação à simulação, as esferas do

setor de um oitavo não preenchiam totalmente o espaço, existiam vazios na região próxima a

parede lateral, como pode ser visto na Fig. (21), e a porosidade calculada neste caso foi de

0,535. Para a célula única, CS, a porosidade calculada foi de 0,476. Ou seja, A porosidade

para célula única se aproxima mais do valor experimental. Os melhores valores de

velocidades preditos para a célula única devem estar associados a melhor aproximação de

porosidade do leito, uma vez que a porosidade está associada com a resistência ao escoamento

do fluido. Quanto mais poroso for o leito menor resistência o fluido encontrará para escoar,

gastando menos energia ao longo do comprimento.

Figura 21- Geometria do um oitavo de leito considerado.

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Pode-se observar o comportamento do escoamento, através dos campos de velocidade e

da pressão, ao longo de toda célula unitária nas Fig. (22), (23), (24), (25), (26), (27) e (28).

Para apresentação destas figuras foi criado um plano xy para uma melhor visualização dos

resultados. Nota-se o comportamento do escoamento à montante e à jusante da variação de

área existente no centro da célula. Quando o fluido percorre a região central da célula, o

aumento da área induz zonas de recirculações, que devem estar associadas à perda de energia

do escoamento dentro da célula. Na Fig. (25) é aproximada a zona de recirculação. À medida

que a velocidade do escoamento aumenta percebe-se o aumento dessas zonas e

consequentemente uma maior queda de pressão.

Figura 22- Contornos de velocidade para um gradiente de pressão de 22 pa/m.

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Figura 23- Contornos de velocidade para um gradiente de pressão de 125 pa/m.

Figura 24- Contornos de velocidade para um gradiente de pressão de 100 pa/m.

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Figura 25-Zoom nos na zona de recirculação indicada pelos vetores de azul.

Figura 26- Contorno de pressão para a célula CS.

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Para o caso do setor de um oitavo foram observadas algumas diferenças. Observou-se

aumento de velocidade na região próxima da parede devido à existência de vazios em tal

região, Fig. (27), (28) e (29). O escoamento longe da parede apresenta o mesmo padrão já

discutido para á célula única.

Figura 27- Contorno de velocidade para o setor de um oitavo.

Figura 28- Vista lateral do contorno de velocidade para o setor de um oitavo.

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Figura 29- Contorno de pressão para o setor de um oitavo.

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9. CONCLUSÃO.

Neste trabalho de conclusão de curso foi apresentado um estudo sobre o escoamento em

um leito empacotado de esferas. Foi apresentada uma revisão sobre o assunto e o leito

empacotado foi devidamente descrito.

Na parte de modelagem foram descritas as equações utilizadas pelo Fluent, as técnicas

utilizadas para a resolução do escoamento e uma breve explicação acerca das malhas geradas

pelo Gambit. Foi apresentado o caso de estudo, definindo qual o problema que deveria ser

solucionado. A resolução do caso se baseou na escolha do tipo de célula bem como toda

metodologia utilizada para a geração das malhas e a obtenção dos resultados de queda de

pressão, para as duas situações propostas, célula única CS e o um oitavo de setor considerado.

Ao final, foi possível concluir que os resultados obtidos apresentaram uma concordância

qualitativa com os resultados experimentais de Cruz (2014). Para o leito de maior

comprimento observou-se uma maior semelhança da curva gerada em relação à curva obtida

através das simulações. Este fato deve-se ao comprimento infinito do leito simulado, imposto

pela periodicidade do caso.

A porosidade do caso de célula única CS foi mais próxima do valor experimental e os

valores de velocidades preditos também foram melhores.

Finalmente, uma melhor análise deste problema poderia acontecer caso as esferas do leito

pudessem estar dispostas de forma aleatória, preenchendo todo o espaço.

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