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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM O PAPEL DO GESTOR PARTICIPATIVO COMO AGENTE TRANSFORMADOR Por: Alda Maria Lima Reis Orientador Prof. Mary Sue Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O PAPEL DO GESTOR PARTICIPATIVO COMO AGENTE

TRANSFORMADOR

Por: Alda Maria Lima Reis

Orientador

Prof. Mary Sue Carvalho Pereira

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O PAPEL DO GESTOR PARTICIPATIVO COMO AGENTE

TRANSFORMADOR

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Administrador

e Supervisão Escolar

Por: . Alda Maria Lima Reis

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AGRADECIMENTOS

.......São tantos e tão especiais....

mas em primeiro lugar a DEUS que

sem ele eu não estaria aqui, ao meu

marido pelo incentivo de estar sempre

buscando novos conhecimentos, minha

mãe, irmã e amigos por conseguir

alcançar mais esse objetivo aos

professores desta Instituição que tanto

me ajudaram para que eu crescesse

como profissional e em especial a

minha Profª orientadora Mary Sue pela

sua paciência de me orientar para a

conclusão dessa pesquisa.....

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DEDICATÓRIA

.....dedico esse trabalho aos profissionais

da educação que contribui em seu dia-a

dia para uma educação brasileira de

qualidade.

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RESUMO

O presente trabalho é uma reflexão acadêmica sobre o papel do gestor

participativo como agente transformador no processo amplamente participativo

de inserção social da escola, em face da mudança paradigmática que vem

ocorrendo no contexto dos sistemas de ensino, de um modo especial as

resultantes dos avanços tecnológicos. São quatros segmento que serviram de

organização discursiva: utopia da gestão democrática na escola pública;

participação da comunidade na gestão democrática da escola pública; o papel

do gestor como articulador do processo democrático.

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METODOLOGIA

Para a realização dessa pesquisa, partimos de duas bases de

observação. A primeira é uma base empírica de observação e análise de

nossos próprios ambientes de atuação: o ambiente de atuação profissional,

que é a escola, e o ambiente de formação acadêmica, que é a universidade

em que transcorreu o curso de pós-graduação. Em ambos os ambientes, o

resultado final na qualidade do ensino – que por conveniência não se espoe

aqui – reflete a relação entre gestão vigente e os recursos tecnológicos.

Através dessa primeira base de observação, uma conclusão se pode tirar

inequivocamente: não é possível promover uma inserção social de uma escola,

se esta não estiver satisfatoriamente contextualizada com esses avanços

tecnológicos. Isto porque a sociedade, em seus diversos segmentos, já se

encontra contextualizada com esses avanços.

A formação de um cidadão capaz de se comunicar satisfatoriamente e

de coligir conclusões mínimas, satisfatória, para sua sobrevivência cultural

deve considerar também a necessidade que esse cidadão tem de ser

relacionar com ambientes como, por exemplo, o ambiente bancário ou de uma

empresa. Em termos práticos, uma preparação como esta mostrar um pouco

do objetivo principal do empreendimento pedagógico que é a integração social

da escola e melhora da qualidade de ensino.

A segunda base de observação para a realização dessa pesquisa foram

as pesquisas bibliográficas, que foram os recursos de que mais nos utilizamos.

Toda a nossa análise está baseada numa interpretação que fizemos de alguns

aspectos de obras dos mais importantes especialistas no assunto de que

tratamos.

Nossas pretensões são limitadas de acordo com as exigências de um

trabalho monográfico, feito com a finalidade de demonstrar o nível de nosso

aproveitamento das aulas e o modo como somos capazes de discutir o

assunto, arriscando uma pequena contribuição reflexiva. As dificuldades que

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enfrentamos ficaram concentradas nas busca de um consenso na riqueza da

variedade bibliográfica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Utopia da gestão democrática

na escola pública 11

CAPÍTULO II - Participação da Comunidade na

Gestão Democrática da Escola Pública 20

CAPÍTULO III – O papel do gestor como articulador

do processo democrático 39

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

ÍNDICE 55

FOLHA DE AVALIAÇÃO 58

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INTRODUÇÃO

O trabalho em questão analisa a mudança paradigmática que vem

ocorrendo no contexto dos sistemas de ensino no que se refere a

administração centralizadora e gestão democrática.

O conceito de gestão democrática apresentado nessa monografia é a

sua dimensão no que tange a melhoria do ensino público brasileiro.

A história da educação em nosso país é marcada por ideologias

dominantes, que sistematizaram atividades administrativas e centralizadoras

de gestores escolares que cumpram o protocolo determinado por lei,

esquecendo-se que cumpram o protocolo determinado por lei, esquecendo-se

que o principal objetivo da escola, é a promoção ao conhecimento, como lócus

privilegiado de produção e apropriação do saber.

Porém, no princípio da década de oitenta, iniciou-se o movimento em

favor da descentralização e da democratização e da democratização da gestão

das escolas, encontrando apoio nas reformas legislativas.

Nesse momento histórico a concepção da educação é entendida como

prática social, constitutiva das relações sociais, efetivando a reconstrução

social e formando indivíduos capazes de mudar sua realidade e da sociedade

que os cerca.

Para efeito desta análise, a educação é entendida como processo amplo

de socialização do conhecimento e da cultura. Porém, para tanto, faz-se

necessário o entendimento de uma prática participativa que seja capaz de

proporcionar aos sujeitos deste processo oportunidades de se desenvolverem

como cidadãos críticos, conhecedores de seus direito de deveres, cumpridores

de suas obrigações e transformadores de sua realidade, obtendo, através da

transformação de informações em conhecimentos, o necessário para uma vida

digna, desenvolvendo o gosto pela pesquisa e pela comprovação das

informações que recebe. Desta forma,salienta-se o papel da gestão

participativa que exige dos indivíduos que a praticam em busca pelo alcançe

de tais critérios, formando esse caráter de envolvimento com a problemática e

sua resolução, pois a gestão participativa cultiva relações democráticas,

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fortalecendo princípios comuns, norteadores da construção da autonomia

competente.

Tendo como base os aspectos acima abordados e análises e estudos

bibliográficos relativos ao tema em questão, esta pesquisa pretende delinear

uma prática administrativa baseada em um processo democrático , como

ferramenta de gestão voltada a todos os membros da comunidade escolar em

vários níveis, para a construção de propostas coletivas de práticas

educacionais com um único sentido:

Promover uma educação de qualidade e a autonomia da escola, melhorando a

qualidade e a autonomia da escola, melhorando a qualidade da participação de

todos os segmentos da mesma, promovendo a redistribuição das

responsabilidades, objetivando intensificar a legitimidade do sistema escolar.

Devido à sua posição central na escola o desempenho do diretor exerce

forte influência sobre todos os setores. Sendo assim o papel principal do gestor

democrático é atuar em conjunto com os discentes, os docentes, com a

comunidade escolar e todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem,

inspirando professores a mudarem a realidade dessa escola pública que temos

hoje.

Segundo Lück (2002): “ A gestão emerge para superar, dentre outros

aspectos, a carência de orientação e de liderança clara e compete, exercida a

partir de princípios educacionais democráticos e participativos”.

A Monografia será dividida em três capítulos, assim organizados:

O primeiro fundamentará a gestão democrática atual como sendo uma

utopia, algo que não existe, mas que não possa existir.

O segundo capítulo abordará a participação da comunidade escolar na

construção do P.P.P. Da escola como parte integrante do processo.

E, por fim, o terceiro capítulo fechará com o real papel e atribuição do

gestor como agente transformador e articulador do processo de ensino-

aprendizagem da unidade escolar.

Em seguida apresentarei as considerações finais da pesquisa

apresentada.

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CAPÍTULO I

UTOPIA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA

PÚBLICA

Uma abordagem da questão da utopia na política educacional precisar

iniciar-se com o desfazimento de um mal-entendido. A noção de utopia não

está ligada necessariamente à inaplicabilidade de uma proposta ou de gestão

ilusória. Desde a abertura em 1985, o processo democrático vem avançando

nas gestões escolares que se desenvolveram assimilando elementos das

gestões empresariais. Não tem sido um processo fácil, mas mentalidade de

participação já se instalou de certa forma, ainda que se limitasse durante certo

tempo a uma mera fiscalização de contas públicas. Na década de 1990, já se

falava em gestão mais participativa. A própria Lei de Diretrizes e Bases 9.394,

de 1996, faz menção a essa gestão democrática. A Lei prevê “participação dos

profissionais da educação na elaboração do projeto” e “participação das

comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes” (Art. 14,

I, II). Essa referência da Lei de Diretrizes e Bases é lembrada por LÜCK

(2006:2). Segundo esta professora

É importante destacar que a democratização efetiva da

educação é promovida não apenas pela democratização da

gestão da educação, conforme definido pela Lei de Diretrizes de

Base da Educação Nacional (9.394/96). O fundamento dessa

democratização é o processo educacional e o ambiente escolar

serem marcados pela mais alta qualidade [...]

Em sua nova versão, os modelos atuais de gestão trazem em essência

uma visão libertária a respeito da escola e do modelo de educação. Essas

gestões escolares da década de 1990, embora não fossem idealmente

participativas, eram basicamente participativas, em oposição ao modelo

fechado das escolas do tempo da ditadura militar. Não havia razão para se

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supor que o processo não iria avançar. Na década seguinte, a filosofia de

gestão iria defender a socialização da escola, com gestões amplamente

democráticas, em que participasse a própria comunidade que envolvia a

escola.

...”Na medida em que se conseguir a participação

de todos os setores da escola – educadores, alunos,

funcionários e país – nas decisões sobre seus objetivos

e seu funcionamento, haverá melhores condições para

pressionar os escalões superiores a dotar a escola de

autonomia e recursos.” (PARO, 2000)

A utopia da gestão democrática está na dissociação entre referencial

teórico dessa gestão e realidade da escola e de sua comunidade. Alguns

referenciais teóricos trazem a sofisticação de alguns modelos europeus que

poderiam até funcionar em algumas escolas que servem à classe dominante,

mas não na realidade da maioria das escolas públicas. Muito dessa visão

utópica se pode ver na relação entre a limitação natural do aluno da escola

pública e os enunciados de alguns livros didáticos, maiormente os de língua

portuguesa. Há itens de alguns dos Projetos Político-Pedagógicos se perdem

nessa utopia, porque nascem de retórica pedagógica e não de uma

consideração da realidade do alunado. Além da questão do livro didático, outro

fatores que podem gerar uma utopia de gestão escolar são: a questão da

especialização de professores e o métodos pedagógicos; a questão da

informatização sem critério dos conteúdos e a questão dos registros

linguísticos estrangeiros, todos comentado mais adiante.

De resto, pode ser utópico qualquer projeto que não leve em

consideração a realidade da escola e da comunidade que circunda a escola.

Sem essa contextualização, estas gestões escolares da década de 1990

sinalizam a tendência burocrática e centralizadora da cultura organizacional da

escola, comentada na análise de diversos especialistas da atualidade.

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Utopia dissimulada

O livro didático

A dissociação entre referencial teórico e realidade indica que a utopia

pode ultrapassar os planejamentos mirabolantes para se dissimular em

empreendimentos menos suspeitos como o livro didático, por exemplo. O livro

didático é um empreendimento pedagógico que considera uma experiência de

mundo que só se encontra na classe A e, provavelmente, na classe B da

população escolar. São raros nos ambiente de escola públicas estaduais e

municipais estudantes que colijam conclusões nos enfrentamentos dos

enunciados de um desses livros, maiormente o de português/literatura,

referendados pelo Ministério de Educação para o ensino médio.

Não é nossa intenção introduzir aqui uma contestação ao uso o livro de

didático. Entendemos que esse instrumento pedagógico é uma conquista

histórica e um complemento importante da atividade do professor. O que se

deseja é constatar um pressuposto utópico de que uma clientela de limitada

experiência com o mundo culto vá transformar em conhecimento informações

sofisticadas como as que são veiculadas nesses instrumentos didáticos desde

a Grécia antiga. Esse instrumento chegou até, mas desvinculado dos valores

que o ambientavam na antiga Grécia. As escolas gregas eram locais de prazer

e convivência, que incluía eventualmente o ensino formal. Diferentemente do

que ocorre hoje, não era o ensino, mas a convivência profunda entre os

diversos cidadãos – desde o menino novo até os idosos - que caracterizam a

escola grega.

Desse contexto de inclusão surge o pedagogo, um escravo grego

encarregado de acompanhar uma criança em todos os procedimentos

convencionais da civilização grega. Esse conjunto de procedimentos era, em

rigor, a formação. Durante esse período expunham-se os estudantes à

convivência mútua e à convivência com os diversos segmentos sociais. Era

também de convivência a relação deles com a música, a dança, as artes, a

poesia e a educação física. Esse contexto socializado era sim de ensino, mas

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não na concepção que temos hoje do termo. A escola era basicamente um

lugar de convivência prazerosa que incluía o ensino de astronomia, gramática

e retórica. O livro didático era um instrumento pedagógico inserido e

contextualizado, que previa essa organicidade escolar.

Se o livro se apresenta desatrelado dessa convivência, ou seja, dessa

experiência criada de mundo, ele corre o risco de se sofisticar em alguns

segmentos, como o de algumas escolas públicas, e assim dissimular uma

utopia. Os alunos não chegam a produzir conhecimento no contato com suas

páginas, porque não sabem lidar com os entraves sintáticos e semânticos.

A especialização do professor e novos métodos pedagógicos

A especialização de docentes tem um reflexo imediato na atividade

pedagógica do professor. O professor especializado se atualiza de acordo com

uma tendência indicada pelas pesquisas de sua área e, em geral, repensa

pontos de vista considerados tradicionais no ensino e os abandona. Exemplo

disso é o tratamento que se dá hoje em dia à prescrição gramatical que hoje se

põe de lado em favor uma visão descritiva, como recurso ao ensino mais

humano da norma culta. Como não existe uma proposta alternativa de

substituição da reflexão gramatical, duas situações inusitadas despontam. A

primeira ocorre com os demais professores ainda não suficientemente

especializados que se perdem diante dos novos programas de aula por não

saber exatamente o que ensinar depois na ausência das lições paradigmáticas

de gramática. O próprio professor não tem teorização confiável, nem uma

orientação bibliográfica com que se possa redimir.

A segunda situação inusitada ocorre com o alunado, sobretudo os da

classe D e E, que são as classes que frequentam as escolas públicas e que

não têm a seu favor a convivência comum de pessoas com refino cultural.

Embora aceitem com melhor disposição a nova abordagem da língua, não são

capazes de transformar as informações em conhecimento, pela falta total de

intimidade explicações e justificações que com que precisam trabalhar. No

ensino crítico, descritivo, os itens explicações e justicação transferem-se com

frequência do discurso do professor para as práticas comuns do aluno, que

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agora devem enfrentar os enunciados através desses itens. Ainda que um dia

se complete com sucesso essa transição pedagógica, é oportuno registrar que

no momento em que escrevemos essa reflexão estamos diante de uma utopia

dissimulada.

Informatizações de conteúdo

Uma questão social importante no que diz respeito à informatização de

conteúdo nas escolas está situada na contradição entre o avanço implacável

dos recursos tecnológicos e a ausência de fácil acesso aos computadores

pessoais por parte dos alunos. Neste caso temos outra transição importante: a

prática do aluno transfere-se de repente de uma prática convencional de

estudos para uma prática de registros on line, inteiramente conduzido pela

rede de computadores. Até que se completem os projetos de governo para a

informatização da escola pública, inclusive com o fornecimento de

computadores e recursos de conexão para os alunos, há um caso configurado

de utopia de gestão escolar.

Registro linguísticos estrangeiros

A esses itens geradores de utopia, acrescente-se o modelo de ensino

de língua estrangeira no atual sistema de ensino nas escolas públicas.

Esclarecemos logo de início que não partilhamos a ideia de que o ensino de

língua no ensino público seja irrelevante. O que se pretende aqui analisar o

estilo de avaliação e assim uma dimensão utópica na funcionalidade desse

ensino específico e na relação dele com a área de linguagens, códigos e sua

tecnologia.

Essa crítica não é nova, conforme se pode constatar pelo seguinte

comentário que destacamos dos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino

Médio:

No âmbito da LDB, as Línguas Estrangeiras

Modernas recuperaram, de alguma forma, a importância

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que durante muito tempo lhes foi negada. Consideradas,

muitas vezes e de maneira injustificada, como disciplina

pouco relevante, elas adquirem, agora, a configuração de

disciplina tão importante como qualquer outra no currículo,

do ponto de vista da formação do indivíduo (PCN,

Conhecimento de Língua Estrangeira Moderna, 1999:147)

De que pressuposto parte o Ministério da Educação para fazer tal

afirmação? A mais provável das hipóteses é a de que tenha confiado na

solidez dos projetos de sua Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Com

base nesses projetos, o ensino de língua estrangeira tem funcionado com

sucesso nos colégios federais das grandes capitais, dentro de seus objetivos

básicos, delimitados pelo próprio PCN. Os recursos humanos e materiais dos

colégios federais, a motivação de professores bem remunerados, são algumas

das coisas que permitiram uma reação contra o que o PCN, tratando do ensino

prático da língua estrangeira, chamou de “feição monótona e repetitiva”.

O Ministério fala de um Centro de Estudos de Línguas Estrangeiras, em

que os alunos – que alunos? – têm a oportunidade de aprender outras línguas.

Acompanhemos o que diz o PCN:

Experiência importante [...] é a dos Centros de Estudos de

Línguas Estrangeiras, como os existentes nos Estados de São

Paulo e Paraná, por exemplo. Nesses Centros, os alunos têm a

oportunidade de aprender outra(s) Língua(s) Estrangeira(a), à sua

livre escolha entre as opções que o entro oferece, além daquela

que figura na grade curricular (1999:149)

Salvo exceções honrosas, os modelos das escolas públicas estatuais e

municipais não se equiparam ao modelos federais, se bem que uma reação

nesse sentido já tenha começado através de recursos tecnológicos e

qualificação de professores. Sem as estruturas adequadas e sem a motivação

dos professores, resta a essas escolas a monotonia e repetição quase que

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completamente estéril. Se as escolas desconsideram essa realidade e aplicam

avaliações baseadas nos livros didático – inclusive reprovando estudantes da

comunidade por falta de tato com a gramaticalidade ou a semântica francesa –

ele cria uma utopia, embora não deixe de agir com honestidade intelectual.

...” de nada adianta continuarmos falando da escola como

algo que possa contribuir para a transformação social

e, definitivamente, devemos deixar cair as mascaras

e as ilusões com relação à escola que aí esta a partir

para outras soluções, ou então cruzar os braços e

esperar passivamente que os grupos dominantes,

por meio de suas “reformas” e “acomodações”

de interesses, continuem nos fazendo engolir

as soluções paliativas que os mantêm

perenemente no poder” (PARO,2000).

Todos esses casos de utopia remetem a uma parte significativa da

gestão escolar, naquela dimensão em que é consensualmente definida pela

gestão escolar. Entendemos que, afora os casos de gestão mirabolante, com

dissociação entre sua proposta básica e a realidade da escola, é através dessa

análise de pontos pedagogicamente interligados que se pode falar de uma

utopia da gestão democrática em escolas públicas.

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CAPÍTULO II

PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NA GESTÃO

DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA

A expressão gestão escolar tem sido apresentada sob uma

diversidade de enfoques, de modo que os desdobramentos teóricos do tema

têm sido igualmente diversos na reflexão de especialistas e profissionais da

educação. Não obstante a diversidade conceitual, nota-se facilmente que a

necessidade humana permanece comum a todos os conceitos como um

garantidor do processo social e educacional das escolas

Segundo a paranaense Heloísa Lück, que tem abordado o tema em

níveis ou abrangências, uma das formas de conceituar gestão é vê-la com uma

mobilização da competência e da energia de pessoas coletivamente

organizadas, empenhadas em realizar os objetivos educacionais mais

importantes. Para a especialista

A gestão escolar é uma dimensão, um enfoque de

atuação, um meio e não um fim em si mesmo, uma vez que o

objetivo final da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa

dos alunos, de modo que, no cotidiano que vivenciam na escola,

desenvolvam as competências que a sociedade demanda. (2000:

v. 17, n. 72)

Em seu livro Gestão participativa na escola (2000:21), Lück

circunstancia esse conceito, apresentando-o como noção que pressupõe

necessariamente a ideia de participação. A gestão escolar traz em sua

essência o trabalho associado e cooperativo de pessoas envolvidas na análise

de situações, tomadas de decisão e ações em tais situações, tudo em torno de

objetivos organizacionais comuns, abraçados por todos.

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Meneses E. T. e Santos T. H. entendem gestão escolar como

Expressão relacionada à atuação que objetiva promover a

organização, a mobilização e a articulação de todas as condições

materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos

processos socioeducacionais dos estabelecimentos de ensino,

orientados para a promoção efetiva da aprendizagem pelos

alunos. (2000, s.v. gestão escolar).

Esses dois pontos de vista, representativos de vários outros, bastam

para indicar com suficiente clareza – ao menos dentro das dimensões do

presente trabalho – que o êxito de uma organização social [escolar] depende

de uma mobilização de ação construtiva. Se não há uma reciprocidade e uma

vontade coletiva, não há gestão eficaz nem êxito. Das lições desses autores,

entende-se que gestão escolar sintetiza uma superação de limitações do termo

administração escolar. Como motivos básicos, a reflexão tem a promoção de

valores ligados à liberdade e à autonomia escolar, e a ampla participação

social nas organizações, mobilizações e articulações das condições materiais e

humanas necessárias para os avanços dos estabelecimentos de ensino.

Historicamente, a reflexão se pode ver como um dos frutos da abertura política

do país, em oposição aos conceitos centralizados da ditadura.

A partir desses novos conceitos de gestão escolar, as instituições de

ensino público passam a ser vistas como sistemas abertos, eficazmente

ajustados ao contexto social em que se inserem, sem, no entanto, perder seus

princípios identitários.

Nesse contexto, compreende-se a afirmativa de MENEZES, E. T.;

SANTOS, T. H de que

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A gestão escolar aponta questões concretas da escola e de sua

administração, baseadas no que se convencionou chamar de

“escolas eficazes”. Estas possuem características como

orientação para resultados, liderança marcante, consenso e

coesão entre funcionários a respeito dos objetivos da escola,

ênfase na qualidade do currículo e elevado grau de envolvimento

dos pais (opt cit)

No entanto, a gestão escolar não é um fim em si mesma. Seus

princípios visam a uma forma complexa de orientação e promoção da

aprendizagem. Nisto ela se transfere de um contexto puramente técnico para

um contexto social que valoriza de um modo mais abrangente as “diferentes

dimensões interativas e interfluentes” (LÜCK , 2006: 49).

Interatividade e interfluência

Nas reflexões de Heloísa Lück, os termos interatividade e interfluência

sinalizam que a comunidade é base real de observação que deve ser

considerada pelos gestores na reanálise – que lhe seja pertinente – dos

fundamentos da educação. A interatividade revela assim uma gestão

democrática sinalizadora de que o Estado já não deve ser o protagonista

absoluto na garantia de serviços essenciais de educação.

Não se trata de interpretar a participação da comunidade com forma de

assumir o destino da escola, mas como uma correlação de compromissos

imprescindíveis para a manutenção do caráter social e pedagógico do contexto

da educação. Enfim, nem a gestão escolar nem a participação da comunidade

são um fim em si mesmas. O fim são os resultados que se obtêm da

interfluência, em termos de organização escolar e qualidade de ensino.

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Ao comentar dos objetivos da participação como ação social, Lück

afirma:

A participação, é importante destacar, não se constitui um

fim em si mesma. No entanto, tal situação parece existir nas

práticas de muitas escolas que indicam haver em seu ambiente

um elevado espírito de colaboração, em que as decisões são

tomadas de forma compartilhada, em que os pais e professores

auxiliam na construção do projeto pedagógico da escola [...]

Portanto, cabe alertar que a promoção da participação

deve ser orientada e se justifica na medida em que seja voltada

para a realização de objetivos educacionais claros e

determinados, relacionados à transformação da própria prática

pedagógica da escola e de sua estrutura social, de maneira a se

tornar mais efetiva na formação de seus alunos e na promoção

de melhorias de seus níveis de aprendizagem. Estes indicadores

da qualidade de ensino e efetividade das participações

promovidas [op. cit p. 51]

Na compreensão de Lück, entre os objetivos gerais da interfluência

gestão escolar-participação da comunidade, estão a promoção do

desenvolvimento humano como ser social; a transformação da escola como

unidade social dinâmica e aberta à comunidade; o desenvolvimento do

comunitarismo e o espírito de coletividade escolar. Tais objetivos representam

uma gestão escolar com suas atribuições plenas e históricas, mas

humanizada, que partilha o protagonismo. A ela cabe trazer estabilidade

estrutural à educação, mas à comunidade cabe também cultivar tal

estabilidade, ao lado governo e da própria escola.

Já entre os objetivos específicos daquela interfluência, destacam-se: a

garantia de significado social às ações práticas pedagógicas, no contexto

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escolar; elevação de padrões de qualidade da organização escolar e dos

resultados de seu trabalho educacional; envolvimento das famílias no processo

político-pedagógico escolar; promoção do sentido de corresponsabilidade e

compromisso coletivo dos participantes da escola por suas ações;

estabelecimento de maior integração entre currículo escolar/aprendizagem e a

realidade; criação de ambiente formador de cidadania e aprendizagem de

habilidades participativas.

Contexto democrático

Nota-se que nesse processo, que se pode chamar de decentralização, a

política de gestão escolar segue a pendor da política geral, ao se valer da

democracia não como uma opção ideológica, mas como autêntico fundamento

de direitos humanos. As pessoas que integram o contexto social orientado pela

gestão não têm apenas bens e serviço aí produzidos, mas também o dever de

assumir responsabilidades por parte da produção desses bens e serviços,

exercendo assim sua cidadania.

Em outras palavras, muito além de mera fiscalização de contas pública

a comunidade torna-se parte integrante da gestão, sem, no entanto, a

manipular ou pôr-se equivocamente acima dela. Num contexto social em que

diretores e professores assumem alternativamente funções que os pais dos

alunos não são capazes de assumir, a gestão escolar assume uma dimensão

curiosa de economia doméstica. Por isso não pode prescindir da participação

dos pais no sentido próprio ou próximo da palavra. Numa paráfrase, poder-se-

ia dizer que a legitimidade e o poder da gestão só podem ganhar ampla

autenticidade na interação.

Esse entrelaçamento social não remete apenas – nem principalmente –

à completude e autenticidade da gestão escolar. Remete a aspectos

identitários da escola que ficaram para trás, num tempo distante em que a

interação fazia da escola um espaço autenticamente democrático e de prazer.

É oportuno recordar aqui o modelo do mundo antigo, quando a gestão

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democrática, fundada na interatividade fazia da escola um lugar de prazer que

incluída o ensino, e não um lugar de ensino que eventualmente inclui o prazer.

Entre os pedagogos gregos existiam aquele com qualificação específica

de gerir, ou seja, de manter a escola antes um lugar de prazer que um lugar de

ensino técnico. Ainda que esse rumo se nos afigure ilusório, é observável, no

entanto, que a escola não pode se afastar totalmente dele sem emperrar o seu

próprio crescimento. Quando se fala em gestão participativa fundamentada é a

isto que se faz alusão, ainda que não tão direta e explicitamente. É com base

nessas noções implícitas, nunca inteiramente perdidas, que Lück expõe os

princípios da participação. Afirma essa autora que

A gestão participativa se fundamenta em, e reforça, uma

série de princípio interligados, que se expressam de forma

subjacente nos vários momentos e expressões da participação.

Estes princípios [...] são a democracia como uma vivência social

comprometida com o coletivo, a construção do conhecimento da

realidade escolar como resultado da construção da realidade em

si, e a participação como uma necessidade humana (op. cit. p.

54).

Interação afetiva e prática de ensino

É possível que a noção de escola com local apenas para ensino

advenha de um modelo conservado da baixa e alta Idade Média que excluía a

interatividade social como recurso de construção da aprendizagem, sobretudo

no que diz respeito a gestão econômica. Caracterizava-se aquela antiga fase

da história pela centralização de poder, e assim seriam marcados também

seus legados para a escola moderna, ainda que esta tratasse teoricamente da

questão da interatividade. Em grande parte das discussões teóricas, a

interatividade se resumia num empenho de fiscalização e vigília, que previne a

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malversação do dinheiro público. A participação da comunidade na gestão

escolar era enfim mais um aspecto funcional, limitado, do que um princípio de

participação, conforme o entende Lück. Nesse sentido, a gestão escolar

chegava sim a levar em consideração uma participação de pais e amigos da

escola na comunidade, mas excluía uma ingerência fundamental ou essencial.

A natureza de uma gestão inclui uma economia autônoma, sem a

anuência ética daqueles que confiaram à escola uma parte específica da

educação de seus filhos. Por anuência ética se entende aqui não uma

anuência artificial, que indica mera inversão de papéis. Os gestores escolares

são em geral pedagogos qualificados que lideram o processo até à finalização

dele. Por anuência ética indicamos a legitimação da tarefa dos gestores pela

participação efetiva e fundamental da comunidade, numa forma de democracia

que Lück chama de “vivência social comprometida com o coletivo”. A

democratização da gestão é a participação efetiva das partes envolvidas, já

que não é possível separar democratização e participação.

A concepção pedagógica da Idade Média dissociou essas duas

realidades, de acordo com sua concepção político-educacional. Tudo era

tendenciosamente centralizado numa pessoa ou num grupo fechado de

pessoas. Os últimos resquícios da democracia grega – falamos evidentemente

de democracia do sistema escolar – parou nos portões do Império Romano.

Daí por diante, a noção de democracia escolar, como ideário, iria rarear até

desaparecer por completo, mesmo na sanidade pedagógica dos mosteiros.

Estava enfim estabelecida uma visão política que serviria de fundamento

organizacional da comunidade educacional. Cedo a noção de escola migraria

de local de prazer para instituição de ensino, com pouca ou quase nenhuma

consideração da participação da comunidade.

Não se trata aqui de comparar ingenuamente aquela sociedade com a

que temos hoje em dia, em termos absolutos. É evidente que as sociedades

não são as mesmas. Estamos falando de legado político que explique a

posição de gestão escolar que não considere a interatividade ampla, e então

se considera legítima sem uma anuência ética, ou seja, sem um poder

advenha legitimamente do povo envolvido na vida da escola. Construída

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assim, uma gestão é ainda uma gestão, mas o seu produto não envolve, como

ensina Lück, a “consciência de construção do conjunto da unidade social e de

seu processo de melhoria contínua como um todo”. No fundo, uma gestão

assim não reflete uma realidade escolar.

No processo ideal de gestão escolar, o processo democrático vai além

de interpessoalidade e participação; é legitimação da atividade e do caráter

pedagógicos. Agora a base da qualidade do ambiente escolar – incluindo aí a

qualidade do ensino, é claro – está baseada não propriamente numa estratégia

vaga que ainda precisa resistir ao tempo, mas na legitimação de uma das mais

importantes sustentações da atividade pedagógica e no caráter.

Essa potencialidade legitimizante do processo democrático singulariza a

participação da comunidade na gestão escolar, porque o que se tem é mais do

que simples participação. Legitimada desse modo, a gestão escolar, ao

mesmo tempo que resgata a escola, pressupõe o seu destino. Essa é uma

leitura do enfoque objetivo da gestão escolar na sua atuação para promover,

organizar, mobilizar e articular todas as condições materiais e humanas

necessárias para o avanço dos processos socioeducacionais da escola. Nesse

objetivo da gestão, inclui-se de modo especial a promoção autêntica da

aprendizagem pelos alunos “de modo a torná-los capazes de enfrentar

adequadamente os desafios da sociedade globalizada e da economia centrada

no conhecimento” (MENESES E. T. E SANTOS T. H, opt. cit).

Pelo que se pode deduzir da generalidade teórica sobre o assunto de

que estamos tratando, a participação democrática da comunidade na gestão

escolar não é propriamente uma opção, visto que, se fosse, poderia ser

eventualmente recusada sem risco essencial de sobrevivência. A participação

da comunidade desponta na teorização dos especialistas como uma

necessidade vital. Uma gestão escolar sem uma visão global, circunscrita a

uma equipe central, já nem se admite. São os níveis de abrangência de que

fala Lück.

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Frutos e resultados

A gestão participativa nas escolas é um dos temas centrais da ampla

discussão sobre a melhoria da qualidade do ensino no Brasil. Supõe-se que,

na migração da escola pública de um ambiente seletivo das décadas de 1950

e 1960 para um ambiente mais amplo, não tenha havido igual transformação

da gestão escolar, que permaneceu com suas tendências centralizadoras,

próprias da opção política dominante, sobretudo entre 1964 e 1985. Faltava

uma consciência mais profunda da representatividade do elemento humano e

comunitário nas organizações educacionais, assim como faltava uma distinção

clara entre a atividade educativa propriamente dita e a condução administrativa

dessa atividade.

Com a nova interpretação dos especialistas e teóricos da educação,

feitas com base nas novas exigências sociais, os rumos da mentalidade

pedagógica mudaram significativamente, e com eles as gestões escolares.

Ainda que não se possa falar de uma mudança manifesta no inteiro conjunto

da escola pública no Brasil, percebe-se a disposição pedagógica que passa a

atingir, mesmo que pontualmente, um número expressivo de escolas que

destoam das outras em qualidade, e mesmo na materialidade, do ensino. O

real ponto de partida do crescimento é um investimento humano em gestão

participativa, que transcorre ao lado de outros investimentos. É este ponto de

partida que garante o aproveitamento dos demais investimentos. Alguns

daqueles importantes investimentos se perdem no tempo e no espaço escolar

por falta de gestão participativa. Assim, um dos frutos da gestão amplamente

participativa é o reencaminhamento ético das verbas públicas.

Esse reencaminhamento traz a reboque a melhoria na qualidade dos

ensinos que surge independentemente do fenômeno de desinteresse do

alunado que vem preocupando a metodologia escolar. Esse fenômeno, de

raízes sociais dispersas e profundas, dissimula a melhoria da qualidade

produzida pela gestão participativa, porque é comum ver-se o desinteresse

como consequência única e inequívoca de um ensino de baixa qualidade e

ultrapassado. Esta visão está no centro dos debates mais freqüentes da

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atualidade. No entanto, numa etapa distinta, a gestão participativa tem

reencaminhado de fato o processo ético da melhoria do ensino, com reflexos

que são pontuais, mas paradigmáticos.

Desde a ditadura militar, venceu-se numa primeira etapa a gestão

centralizada, e em seguida venceu-se uma gestão ineficaz, sem condições de

mudar os rumos da formação que piorava progressivamente, tornando a

escola pública um espaço que instrui menos que um shopping. Em casos mais

extremos, uma gestão ineficaz torna a escola até mesmo um espaço de

antieducatvo. Seja como for, os defeitos de gestão pesam mais nas avaliações

da baixa qualidade do ensino do que, por exemplo, mediocridade na formação

dos professores. A boa formação de professores tem-se apresentado em

muitos casos, mas ainda que se apresentasse igualando ostensivamente a

qualidade pedagógica do Brasil àquela dos países europeus, tudo se

perderiam numa gestão ineficaz, suspeita e ultrapassa.

A este respeito, é oportuno introduzir aqui outra reflexão de Heloísa

Lück a respeito de níveis ou abrangências da gestão participativa, para

demonstrar distintamente os frutos de uma gestão participativa. Segundo esta

especialista [2009], num determinado nível a gestão é legitimamente

conduzida por uma equipe circunscrita ao diretor, ao vice-diretor ou assistente

de direção, ao coordenador ou supervisor pedagógico e ao orientador

educacional. Nesse nível, virtudes profissionais com “uma liderança exercida

em conjunto e com responsabilidade sobre os resultados da escola” são

indispensáveis. Os resultados positivos indicam um entendimento contínuo

entre os profissionais envolvidos. O poder de gerir não é centralizado, nem

oligárquico, porque vai depender de uma prática num sentido ainda mais

amplo em que a gestão compartilhada vai envolver professores, alunos,

funcionários e pais de alunos, numa maneira mais aberta de dirigir a

instituição. Para que tudo isso funcione, afirma Lück [2009] é preciso que todos

os envolvidos assumam e compartilhem responsabilidades nas múltiplas áreas

de atuação da escola. Num contexto como esse, as pessoas têm liberdade de

atuar e intervir e, por isso, se sentem à vontade para criar e propor soluções

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para os diversos problemas que surgem, sempre no intuito de atingir os

objetivos da organização.

Esta gestão participativa cria os meios mínimos necessários para o

encaminhamento das “condições vivenciadas” produzidas pela pró-atividade

escolar. É pró-ativa uma escola que age com criatividade diante de obstáculos,

desenvolvendo projetos baseados numa pedagogia situada, ou seja, ajustada

à realidade da comunidade em que atua. Sem a pró-atividade proporcionada

pela gestão participativa, fica fácil perceber que não será possível o produto

final e mais importante que é melhora de qualidade do ensino.

Uma gestão assim dinamizada pelo processo democrático pressupõe

naturalmente o fortalecimento da figura do diretor e o coloca acima de qualquer

questionamento ou suspeita. Esse fortalecimento se faz na relação que existe

entre democracia e liderança bem-sucedida, e em seguida se encaminha pelo

relacionamento diretor-professor. É boa a possibilidade de reflexo em todos os

sentidos na escola, desde o cumprimento dos horários até os modelos

utilizados pelos professores em sala de aula. Como estão envolvidos os

diversos segmentos da escola, decorre daí o funcionamento orgânico positivo

pode refletir em todo o setor administrativo. O resultado final dessa gestão é

exatamente aquele que se espera como objetivo principal, que é a melhora na

qualidade do ensino.

Por fim, vale observar que a gestão participativa estabelece um ponto

ideal de equilíbrio, evitando tanto uma administração permissiva – como

aquelas que têm levado a pique escolas públicas que parecem sem saída –

quanto uma administração autoritária que cria às vezes um impasse que

emperra de tal maneira o funcionamento da escola que nem mesmo os

melhores esforços de gestão podem desemperrar.

Esses são alguns dos resultados que se apresentam numa realidade de

escola pública como a do Brasil. As possibilidades da gestão participativa são

muito maiores. Basta lembrar aqui, sem se estender muito, o que esse modelo

de gestão democrática fez nos primórdios da escola, na antiga Grécia. A

participação democrática na gestão era de tal maneira ampla e intensa que a

escola era vista como um lugar de prazer que incluía o ensino. Nessa

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complexidade, temos os dois polos de realização da gestão participativa que

vão desde uma escola com ensino de alta qualidade, que é o objetivo buscado

hoje em dia pela escola pública, até uma escola como local antes de prazer

que de ensino.

Não há nada de utópico nessa comparação entre o sistema público

escolar de nossos dias e aquele da antiguidade grega, se considerarmos que o

que se deseja é aclarar a grandeza dos objetivos. Uma gestão dinamizada,

como a que nos referimos, não estará jamais relacionada com a acomodação.

“O segredo – conclui Lück – é nunca ficar satisfeito com o que já foi

conseguido. A satisfação leva à acomodação, o que deixa o gestor

impossibilitado de perceber perspectivas para alcançar novos patamares”

(2009).

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CAPÍTULO III

O PAPEL DO GESTOR COMO ARTICULADOR DO

PROCESSO DEMOCRÁTICO

A construção de uma gestão escolar democrática está em relação com

a construção de uma escola democrática, ou de um espaço democrático, com

recursos sociais que reambientem e favoreçam a produção e a troca de

conhecimentos. Nesse empreendimento mobilizam-se os diversos agentes e

profissionais da educação, sob a figura de um gestor. Comumente, considera-

se o gestor um dos mais importantes articuladores do processo de

democratização da escola, já que passa por ele uma parte importante da

estratégia de organização desse processo.

Teoricamente, a organicidade pode parecer simples e clara, mas na

prática não é nem simples nem clara. Não é simples porque a complexidade

do processo de democratização do espaço escolar exige o enfrentamento de

barreiras crônicas que vêm desde as primeiras interpretações que se fizeram

do Plano de Estudos da Companhia de Jesus, conhecido como Ratio

Studiorum, documento publicado oficialmente em 1599, pelos padres jesuítas,

com um conjunto de regras para o modelo de ensino adotado na época.

Segundo alguns especialistas, o modelo Jesuíta pode ter influenciado tanto o

segmento pedagógico quanto o segmento administrativo das escolas. Há teses

que defendem a possibilidade de que, já naquela época, as atividades do

Plano da Companhia de Jesus já se estruturassem em torno da figura de um

reitor, um diretor e de uma espécie de prefeito com qualificações específicas,

que se pode identificar com um gestor escolar. Dessas três figuras, interessa-

nos neste capítulo, de um modo especial, a figura do gestor e seu papel no

processo participativo, quer seja ele especificado, quer seja identificado com a

figura do reitor ou do diretor.

No início da década de 1990, os termos administração escolar

começaram a ceder lugar ao termo gestão, nome que, segundo alguns

especialistas, traduzia melhor uma alteração conceitual produzida na época

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pela espécie de assimilação que a escola começava a fazer da administração

extraescolar. Um modelo administrativo como o empresarial, por exemplo,

poderia orientar a administração escolar, com a criação de um gestor escolar.

Assim como o administrador empresarial se distingue do presidente ou

do diretor da empresa, do mesmo modo o gestor – desde as noções históricas

da Ratio Studiorum – se diferencia funcionalmente do reitor ou do diretor da

escola. A essa distinção funcional acrescentava-se o argumento da

participação da comunidade nas decisões da escola.

Segundo os esclarecimentos de BARROSO (2001: 10), ao gestor

caberia a tarefa de executar políticas previamente definidas no sentido de

atualizar a escola e inseri-la socialmente, em termos pedagógicos, humanos e

administrativos.

Em termos pedagógicos

No centro dos desafios está o de inserir socialmente a escola em termos

pedagógicos. A questão é complexa porque não basta mapear uma

necessidade básica do alunado. Mapeada a necessidade, restam ainda duas

grandes barreiras.

A primeira delas encontra-se na dissociação entre teoria e prática.

Constata-se de um modo geral que os projetos político-pedagógicos, mesmo

elogiáveis em si mesmos, mostram um referencial teórico sofisticado com

exagero e frequentemente sem aplicação à realidade existente. Não raro, em

virtude da sofisticação de fontes bibliográficas que o instruíram, o referencial

teórico reflete realidades escolares europeias. Nessas condições, o referencial

teórico está descontextualizado não apenas em relação à realidade do

alunado, mas também em relação ao saber pedagógico da equipe que atua

junto ao gestor. A não aplicabilidade do projeto político-pedagógico é uma

forma de desafinação em relação à partitura de que fala Vieira (2000:88).

Em sua reflexão sobre esses desafios, a professora Sofia Lerche Vieira,

da Universidade Estadual do Ceará, deixa a seguinte ilustração:

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É preciso que todos funcionem como uma orquestra: afinados em

torno de uma partitura e regidos pela batuta de um maestro que

aponta como cada um entra para obter um resultado harmônico.

Esse maestro é o gestor. E a partitura, o projeto pedagógico da

escola, um arranjo sob medida para os alunos e que é referência

para todos. (VIEIRA, 2002, p.88)

A segunda grande necessidade depois de mapeada as necessidades

básicas do alunado é o ajuste do Projeto Político-Pedagógico à realidade

da escola. Isto representa um segundo passo importante, depois da eliminação

de distância entre o referencial teórico e prática. Quando se fala em busca de

socialização pela escola deve-se entender – ao menos entender também

assim – a socialização da escola com a sua realidade política aceitável. É

sobretudo sob esse ponto de vista que a escola é espaço livre de articulação

de ideias e um indicador quase infalível de que o trabalho do gestor não pode

ter êxito sem as adaptações contextuais. Note-se a escola já apresenta certo

grau de comprometimento político que deve ser aproveitado como ponto de

partida para a interpretação de carências na elaboração do Projeto Político-

Pedagógico. Nesse sentido, a escola socializa o saber a partir da socialização

de seu saber. Ela própria revela parte das demandas sociais que vão ocupar o

Projeto Político-Pedagógico.

Em termos humanos

A gestão escolar vai colocar a figura do gestor diante dos desafios do

capital humano, ou seja, diante das pessoas humanas que compõem equipe e

atuam auxiliarmente no processo de democratização, dinamização e

contextualização da escola. A gestão passa pela fase de gestão humana, para

então ocupar-se apropriadamente de funções ligadas à capacitação e

qualificação de pessoal, desempenho funcional e comportamental, ambiente

de trabalho.

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Não temos aqui a intenção de simplesmente reproduzir o obvio de que

qualificação pessoal e desempenho funcional são atribuições de gestão

escolar. O que se deseja é estudar os desdobramentos dessas atribuições

diante das novas exigências tecnológicas, uma vez que já não tem sido fácil

conceber uma pedagogia eficiente sem as conexões de rede e sem os

recursos digitais. As mudanças de direção ocorreram irremediavelmente, a

ponto de deixar sem opção os profissionais envolvidos.

A administração da escola estará inserida ou então marginalizada e sem

condições reais de produzir contextualmente. Semelhantemente ao que

deixamos dito no capítulo anterior a respeito de a participação democrática da

comunidade na gestão escolar não ser mera opção, entendemos que a

inserção da escola na era tecnológica também não é mera opção, visto que, se

fosse, poderia ser recusada sem riscos de sobrevivência.

Em termos administrativos

No contexto atual, uma gestão administrativa ultrapassada raramente

será vista apenas como mero mecanismo retrógrado. Em geral será vista como

um entrave que pode isolar, mesmo fatalmente, uma instituição escolar. Os

próprios órgãos superiores, com seus departamentos tecnologicamente

equipados e atualizados, vão esperar das administrações escolares ligadas a

eles nada menos que uma atualização tecnológica, sob pena de já não haver

entre elas comunicação satisfatória num futuro bem próximo. As comunicações

imediatas por correios eletrônicos e anexos de arquivo é uma imposição

circunstancial, e não luxo da modernidade como supõe alguns que o resistem

por opção pessoal.

Não há administração eficaz sem os recursos da rede de computador, e

a prova disso é que já não se encontram escolas que não tenham sido ao

menos minimamente iniciadas nesses recursos. Os governos se empenham

em equipar as escolas públicas com computadores, conexões de internet,

roteadores para comunicações sem fio e outros recursos de agilização, de

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modo que a cada dia vão se encerrando as chances de subsistência de um

modelo antigo de administração, já modificado a partir do modelo centralizador

dos anos da ditadura.

A necessidade de uma competência contextualizada com as mudanças

tecnológica já havia sido sentida desde o início da década de 2000 pelo

professor José Carlos Libâneo. De acordo com esse professor, a formação dos

profissionais de uma escola precisaria, no mínimo, de uma cultura geral mais

ampliada, capacidade de aprender a aprender, competência para saber agir na

sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem informacional,

saber usar meios de comunicação e articular as aulas com as mídias e

multimídias (2002:28)

Reaproveitamos aqui a metáfora utilizada por Vieira, da batuta e do

maestro, para descrever a figura do gestor nesta nova circunstância. Ele

precisa atuar justamente como um maestro para gerenciar adequadamente

uma complexidade inevitável, com visão de médio e longo prazo. A escola

mudou potencialmente, e com ela mudou o seu modelo perspectivo de gestão.

A complexidade do processo pressupõe a importância do gestor no ato de

conduzir a escola aos seus objetivos e amplia sua responsabilidade dele na

análise das novas características imposta à gestão pelas circunstâncias.

Uma descrição do avanço do modelo escolar desde a segunda metade

da década de oitenta – datas da abertura política – é importante na delimitação

do papel do gestor como articulador do processo democrático. O primeiro

passo foi o de decentralização de poder. Nesta primeira fase, gestor estava

voltado para a transformação de sua personalidade administrativa, numa

espécie de reavaliação a partir de uma autoavaliação. A gestão escolar migra

de um modelo centralizador para um modelo participativo, democrático. Numa

segunda fase, a gestão avança de um modelo meramente participativo para

um modelo globalizado. Daí por diante, os recursos não teriam mais limites. A

própria qualidade do ensino, objetivada no empreendimento fundamental da

gestão precisa ser reinterpretada. A instalação de computadores e conexões

de rede, para cada estudante, é já uma realidade. Isto representa uma

mudança na transmissão e recebimento das informações em sala de aula.

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O surgimento de outro espaço virtual de aprendizagem, em oposição ao

espaço da sala de aula, redimensiona a reflexão sobre o papel da escola e

papel do gestor como articulador do processo democrático. Além de um

processo comum, interno, o articulador precisa administrar uma nova transição

para uma escola praticamente recriada pelo surgimento do referido espaço

virtual. A articulação do gestor no novo processo democrático é uma

articulação de grandezas em potenciais que não pode mais pensar um Projeto

Político-Pedagógico sem a chamada informática educacional que vai trazer à

reboque, mais cedo ou mais tarde, um coordenador de informática que vai

integrar a equipe primária de articulação ao lado de diretores, agentes

administrativos, coordenadores pedagógicos e professores.

Essa realidade transforma a necessidade de atuação em equipe, que é

uma das formas mais significativas de sustentação de um processo

democrático. Por consequência, transforma também a capacidade de

gerenciamento de ambiente que então deve ser outro, completamente

recontextualizado. A diferença é agora a recontextualização advém muito mais

de acordo com uma exigência incontornável do que de acordo com uma mera

necessidade. A escola mudou; o espaço da escola mudou.

O papel do gestor

Feita essa descrição do avanço do modelo escolar, fica mais fácil

delimitar o papel – ou o novo papel – do gestor na organização, mobilização e

articulação de todos esses recursos materiais e humanos imprescindíveis para

garantir os processos socioeducacionais da nova perspectiva de

aprendizagem.

Na definição que fazem de gestão escolar, Meneses e Santos lembram,

já no início da década de 2000 a necessidade de uma gestão empenhada em

tornar o aluno “capaz de enfrentar adequadamente os desafios da sociedade

globalizada e da economia centrada no conhecimento”. Note-se que os

desafios que descrevemos acima já haviam sido previsto na iluminação teórica

de Meneses e Santos. Segundo esses autores a escolar precisava pôr-se em

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relação com uma sociedade “centrada no conhecimento”. O ensino desses

autores sinaliza uma gradação importante para uma abordagem como essa

que estamos fazendo. O que antes polarizava a especialização era uma mão

de obra semi especializada, centrada na produção de bens. Era a fase da

qualificação técnica não especializada, baseada num conhecimento

circunscrito. Posteriormente adveio o conhecimento necessariamente

especializado, de uma sociedade centrada no conhecimento tecnológico.

Sem uma utilização adequada dessa tecnologia em suas atividades

pedagógicas, a escola pós-moderna praticamente não terá como exercer sua

função básica de garantir acesso às informações, por falta de uma formação

básica ajustada aos mecanismos tecnológicos. O gestor deve conduzir essa

complexidade informatizando adequadamente a instituição escolar para que

esta se beneficie de resultados imediatos, tais como organização de operações

administrativas, agilidades de arquivos e registros documentais,

intercomunicação entre funcionários administrativos e entre professores,

intercomunicação entre a direção e órgãos oficiais, agilidade de contato entre a

escola e os responsáveis pelos alunos, funcionalidades de tarefas de

secretaria, eliminação de entraves burocráticos, apresentação pública do perfil

escolar através de sítio eletrônico, reforço escolar em rede (on line).

Em sua reflexão sobre Gestão inovadora da escola com tecnologia

(apud Vieira, 2003: 151-164), José Manuel Moran, Professor de Novas

Tecnologias na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São

Paulo, afirma o seguinte:

Há um segundo nível de comunicação do colégio pela Internet,

que é com a comunidade local: com as famílias dos alunos, com

as associações, empresas, grupos organizados, igrejas e outras

instituições que estejam localizadas perto da escola. Cada vez é

mais importante que a escola se integre na comunidade local, que

crie laços com pessoas e grupos significativos, que traga os pais

para o colégio, que abra seus espaços para atividades de lazer e

culturais, principalmente nos fins de semana e nas férias. E a

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página na Internet pode ser um espaço privilegiado de informação

e de comunicação. Não basta só informar quais atividades

existem, mas criar caminhos de comunicação, principalmente

através de e-mail, listas de discussão, fóruns e chats.

Note-se que estamos tratando não apenas de evolução tecnológica,

mas também de evolução circunstancial administrativa. Neste contexto, todas

as pessoas evolvidas, desde o gestor e sua equipe até o mais simples

componente humano da engrenagem escolar, se veem obrigadas a investir em

sua própria formação técnica. Em termos relativos, ocorre com a escola o que

ocorreu com o sistema bancário: tornou-se um risco geral para todos os

envolvidos, desde o presidente até o mais simples correntista, a ausência de

uma contextualização tecnológica mínima. Confirma-se uma vez mais que a

organicidade digital não veio como mera opção, senão como necessidade vital

de sobrevivência. Não é diferente com a escola, porque esta existe em função

das mesmas exigências em seu contexto próprio. A organicidade digital já não

é mera opção em lugar algum.

Em face dessas mudanças, a figura do gestor é mais importante do que

nunca na condução e orientação do paradigma que deve sustentar a escola no

contexto atual. Em rigor, falou-se até aqui de disponibilidade de recursos e

informações, e não de disposição orgânica desses bens de modo a fazer com

que produzam frutos. Os recursos tecnológicos devem ser organizados de

acordo com uma estratégia de gestão que deve indicar modelos ideais de

transmissão, monitores especializados, nivelamento, regras, quantidades,

tempo de exposição, aplicabilidade em diretorias, secretaria e sala de aula.

A perspectiva é a de que a escola vai avançar de um paradigma a outro, no

que vem sendo chamado de novo paradigma, criado com a mudança que afeta

profundamente tanto a sociedade como a educação. A questão agora é como

é como ela será conduzida em suas dificuldades no processo de mudança,

tanto como instituição social quando como instituição educacional. Esse

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processo redimensiona o papel do Gestor Escolar, que, além de sua cultura

educacional baseada na experiência do passado, precisa ser capaz de

produzir resultados com a utilização de novas tecnologias. Importa, no

entanto, observar que o acréscimo de novas tecnologias não representa

necessariamente uma melhora automática de qualidade do ensino. É preciso

evitar uma leitura positivista do avanço tecnológico. Por leitura positivista se

entende aqui a leitura que considera as coisas apenas de um lado prático, com

ausência total de crítica. O acúmulo de recursos não exclui a habilidade

essencial, administrativa do gestor que vai atuar orientando o processo

educacional para a busca de resultados finais. As inovações tecnológicas

criaram o educador tecnológico, na figura do professor que atua na escola

privilegiando os recursos dos softwares, a velocidade dos correios eletrônicos,

os sítios eletrônicos e os blogs pessoais. Não raro, essa postura educacional

coloca os educadores tecnológicos em oposição aos professores humanistas

que, por sua vez, sem ignorar as vantagens tecnológicas, privilegiam a

comunicação e a interação na construção do conhecimento. Para os

humanistas é importante a criação de comunidades de aprendizagem com o

necessário cuidado para que não se desfaça o relacionamento humano, que é

visto como um fator importante da educação. Não há propriamente um

impasse no confronto dos dois modelos de desempenho, mas há um ponto

frágil que carece da nova visão do gestor. Importa que o gestor conduza o

processo de organização da escola, orientando sua gestão por uma proposta

fundada no conhecimento da realidade. Segundo Alonso (2002:176), é a partir

desse conhecimento que se definem os propósitos e se preveem os meios

necessários para se realize uma gestão com metas, rumos e

encaminhamentos necessários, sem esquemas rígidos, para que possam ser

alterados de acordo com a necessidade. Cabe ao Gestor liderar nesse

contexto amplo os que estão encarregados de atentar de modo especial para o

que Lück chamou de interação entre concepções educacionais e realidade

(LÜCK 2006:120)

CONCLUSÃO

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39

No decorrer deste trabalho foi possível o aprimoramento do conceito da função

do gestor participativo que visa o desenvolvimento significativo do caráter

crítico dos envolvidos no processo educacional, pois assim viabiliza a

participação de todos no que se refere a um planejamento coletivo e que

expressa a realidade da comunidade escolar em que se está inserido, fazendo

parte de uma sociedade globalizada, onde as informações e conceitos mudam

a todo instante.

O sistema escolar necessita ser efeito quanto a seu valor na formação

cidadã, que prepara indivíduos críticos, reflexivos, participativos, capazes de

influenciar os que estão ao redor a construir seus conhecimentos aprendendo

a aprender, investigar, opinar e assumir responsabilidades.

O ser humano é um ser social e se desenvolve a partir da interação

produtiva com outras pessoas. A educação é um processo interativo-social

designado para a formação de pessoas como seres sociais sendo assim, nada

mais indicado que o ambiente escolar para o acolhimento, o aproveitamento da

pluralidade e diversidade dos indivíduos, como condições de desenvolvimento

pessoal e também das organizações.

A escola possui um papel decisivo na transformação das formas

sociabilidade, ou seja, o papel que um indivíduo assume diante da sociedade

por ser motivado pelo trabalho da escola.

O modelo de gestão democrática surge como um caminho real para a

melhoria do ensino, promovendo objetivos comuns para a ascensão do

sistema educacional em suas várias faces. Convém lembrar que para isto, é

necessário que existir vontade coletiva capaz de transformar as práticas

pedagógicas existentes, ampliando a participação popular na administração

escolar e fazendo-a valer na prática conforme o amparo legal da Lei de

Diretrizes e Bases que embasa e incentiva a troca de experiências, a decisão

conjunta e a postura para que todos assumam a responsabilidades para

promoção da educação nacional.

Pensando na necessidade da efetivação de uma gestão democrática no

contexto educacional e no seu funcionamento através das várias formas de

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participação da comunidade escolar, compete ao gestor promover a criação e

a sustentação de um ambiente propício `a participação plena, no processo

social escolar, dos seus profissionais, de alunos e de seus pais, assim como

de toda a comunidade, uma vez que se entende que é por essa participação

que os mesmos desenvolvem consciência social crítica e sentido de cidadania.

Entendendo a educação como processo de (re) construção social capaz

de intervir na formação dos indivíduos, a elaboração do referido trabalho

cooperou para uma formação crítica e esclarecida a respeito dos

planejamentos e objetivos traçados para a educação. Objetivos estes,

capazes de transformar conceitos e desenvolver o trabalho em equipe, tendo

ciência de que todos são possuidores de saberes e totalmente capacitados

para colaboração e investimento em um processo educativo de qualidade e de

comprometimento.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALONSO, Myrtes. A supervisão e o desenvolvimento profissional do professor.

Apud Supervisão Educacional para uma escola de qualidade: da formação à

ação. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2002

BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas

normas: limites e possibilidades da Constituição Brasileira. 5. ed. ampliada e

atualizada. Rio de Janeiro: Renovar, 2001

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências

educacionais e profissão docente. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2002

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN,

1999

LÜCK, H. Et al. Apresentação. In: Gestão Escolar e Formação de Gestores.

Publicado on line por Em Aberto, Brasília, v. 17, n. 72, 2000),

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/em_aberto_72.pdf

LÜCK,Heloísa,Entrevista,http://educarparacrescer.com.br/gestãoescolar/entrevi

sta-heloísa-luck-475081.shtml,2009

LÜCK, Heloísa, Gestão participativa na escola, 8ª Ed. Editora Vozes, 2006

MENEZES, E. T.; SANTOS, T. H., Dicionário interativo da educação brasileira -

EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, s.v. gestão escolar, 2000).

Paro, Vitor Henrique, Gestão Democrática da Escola Pública. SP: ed.Atica -

3ed.,2008

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VIEIRA, Alexandre (org.).Gestão educacional e tecnologia. São Paulo,

Avercamp, 2003.

VIEIRA, S. Gestão da escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A,

2002.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I – A Utopia da gestão democrática

na escola pública 11

CAPÍTULO II - Participação da Comunidade na

Gestão Democrática da Escola Pública 18

CAPÍTULO III – O papel do gestor como articulador

do processo democrático 30

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

ÍNDICE 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Faculdade Integrada AVM - UCAM

Título da Monografia: O PAPEL DO GESTOR PARTICIPATIVO COMO

AGENTE TRANSFORMADOR

Autor: Alda Maria Lima Reis

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: