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6 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA CORPORAL PARA O EQUILÍBRIO DO HOMEM LARA SEIDLER DE OLIVEIRA Rio de Janeiro, Junho/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO

MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA CORPORAL PARA O EQUILÍBRIO DO HOMEM

LARA SEIDLER DE OLIVEIRA

Rio de Janeiro,

Junho/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA CORPORAL PARA O EQUILÍBRIO DO HOMEM

Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho

Co-Orientador: Fátima Alves Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação de Psicomotricidade da Faculdade Cândido Mendes como requisito parcial de obtenção do título de especialização

Rio de Janeiro,

Junho/2003

8

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a minha família, a professora orientadora Fátima Alves, a

Elen e ao Fabio por toda ajuda e apoio.

9

RESUMO

A presente monografia mostra a relação entre o desenvolvimento

de uma consciência corporal através da vivência corporal e o alcançar de um

equilíbrio físico, mental e emocional do homem na relação consigo mesmo e

com seu meio.

O proposto estudo parte de uma análise dos vários aspectos que

contribuem para a busca do equilíbrio do homem através da linguagem

corporal. Estes aspectos tentam abranger o corpo de um homem que mais do

que uma manifestação física, é o foco referencial de todas relações do

Universo. É compreendido como parte integrante de um Todo e por isso, a

análise de sua manifestação consciente é norteada por vários aspectos

importantes.

A questão do conhecimento que envolve o corpo físico, foi

abordada com base na Psicomotricidade, onde a ênfase de análise recai na

área psicomotora que abrange o esquema corporal e lateralidade,

complementados por elementos diversificadores da ação corporal. A partir daí

o corpo é visto como meio relacional, dinâmico, comunicativo e expressivo,

onde seus limites vão além do movimento puro e simples, integrando aspectos

do sentimento e da imaginação.

A importância da vivência e da experienciação também são

colocadas como fatores essenciais para o desenvolvimento da consciência

corporal, estimulando a aquisição de uma técnica entendida a partir do domínio

gestual.e inencional.

Por último, a manifestação corporal consciente, percorre

caminhos mais profundos que mostram a importância do envolvimento sensível

e interiorização da ação, para a busca da potencialidade do homem Neste

ponto, trata-se da questão da intuição, onde se dá a mais profunda relação do

ser consciente e inconsciente, tendo como fruto manifestação ato criador no

movimento.

10

SUMÁRIO

Introdução ---------------------------------------------------------------6

Capítulo I: Psicomotricidade:

1.1 – Conceito -----------------------------------------------------14

1.2 - Seus objetivos ----------------------------------------------15

1.3 - Esquema corporal -----------------------------------------16

Capítulo II: O corpo, o movimento e o meio:

2.1 - O movimento interno e externo ------------------------18

2.2 – Conhecimento e vivência do corpo ------------------19

2.3 – Imaginação e sentimento -------------------------------21

2.4 - Movimento consciente e criativo ----------------------23

Capítulo III:Consciência corporal e equilíbrio do homem

3.1 – O homem potencial --------------------------------------24

3.2 – A visão da Terapia holística ---------------------------31

3.3 – A visão transpessoal ------------------------------------32

Conclusão -------------------------------------------------------------34

Referências bibliográficas -----------------------------------------36

11

INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objeto de investigação a análise da

importância da consciência corporal para o equilíbrio do homem. A partir de

estudos realizados sobre o corpo e o movimento, desenvolvidos por criadores e

teóricos das áreas da ciência, artísticas e filosóficas, há a busca por uma

reflexão profunda sobre o equilíbrio do homem, pautado num diálogo com a

linguagem corporal, no sentido de contribuir para um desenvolvimento de uma

consciência do ser para com ele mesmo e com seu meio.

Esta monografia visa dar uma abordagem dos aspectos e uma maior

fundamentação acerca da exploração criativa do movimento corporal, tomando-

se então, como um instrumento estimulador no labor de estudiosos do corpo

em movimento.

A revisão de literatura nos indicou uma necessidade de promover uma

análise e relação neste campo de estudo, constatando uma abordagem

relevante, (Chazaud1976) em ”Introdução à psicomotricidade” e em estudo de

Earp, apresentam com abordagens pontuais acerca das áreas psicomotoras

em especial a que se refere aos elementos do esquema corporal aplicados ao

movimento. A análise da bibliografia acerca da análise relacional do corpo e do

movimento tais como (Lapierre, 2002), (Ostrower, 1998), (Laban, 1971),

apontam os aspectos do corpo sensível envolvendo o entrelaçamento entre o

movimento externo e interno na comunicação gestual plena; além, das

abordagens essenciais acerca do conhecimento e da vivência.

A presente monografia, propõem então, um pensar do homem a partir da

manifestação corporal em sua totalidade, buscando uma visão ampla e ao

mesmo tempo detalhada, enquanto um processo relacional que vai além das

perspectivas da execução do movimento pura e simples, uma manifestação

consciente.

Sendo assim, senti-me estimulada a desenvolver este estudo, tendo em

vista a necessidade de propor uma visão mais penetrante que envolve

12

atualmente as áreas que utilizam a linguagem corporal e que propõe uma

preocupação maior com a consciência do homem.

Então, para fundamentar a investigação deste processo de forma

detalhada, esta monografia aponta que os estudos de (Earp, 2000),

(Capra,1983) e (Rodhen, 1984), acerca do movimento, espaço e da forma,

especificadamente aplicados ao desenvolvimento de uma consciência e

supraconsciência. Estes estudos, fornecem suportes para o vislumbrar de

como a possibilidade gestual integra uma gama de relações que envolvem a

interiorização do eu, evocação de questões inconscientes e de capacidades

potencializadoras que podem causar ressonâncias muito mais profundas nas

entranhas do inconsciente individual e na transformação do universo.

A opção por associar ao estudo as pesquisas de Rohden e Capra,

justificam-se por fornecerem, numa linha de correlação com as de Earp, pois

também abordam a questão do movimento dinâmico, transformador e

integrado. Os estudos de Fritjof Capra demonstram a interação pontuada por

Rohden, promovendo um envolvimento ao nível da supraconsciência, onde o

homem representa a essência do universo em sua manifestação potencial.

Helenita de Sá Earp, em seus estudos acerca do movimento na arte da dança,

relaciona essas idéias trazendo uma abordagem específica e formal na

manifestação corporal plena. A partir dessa correlação, é possível a análise do

equilíbrio do todo (equilíbrio do homem), pela integração dos aspectos da

particularidade (movimento consciente).

A seguir fazem-se necessárias certas questões especificas que orientam

a abordagem do nosso objeto de estudo:

• Como o movimento humano pode se tornar um ato consciente

verdadeiramente expressivo?

• Que fatores se colocam como essenciais neste processo de

desenvolvimento da consciência a partir da linguagem corporal?

• De que maneira pode-se pensar em que o homem em sua manifestação

gestual, produz uma ressonância tal que faça transformar o Universo?

13

Cabe a esta monografia tentar elucidar da maneira mais clara e eficiente

possível estas questões pertinente a relação da consciência do movimento e

do equilíbrio do homem, promovendo um processo de conhecimento e análise

dos vários descoberta através das várias experimentações e investigações dos

elementos.

14

CAPÍTULO I: Psicomotricidade

1.1: Conceito

O interesse pela Psicomotricidade é relativamente recente. Surgiu

inicialmente em Anvers, na Bélgica em 19947, mas foi na França que se

desenvolveram as pesquisas mais importantes e onde também foram criados

os primeiros cursos de graduação e pós-graduação.

Psicomotricidade é a ciência que estuda o homem através do seu corpo

em movimento na relação do seu mundo interno e externo, bem como suas

possibilidades de perceber, atuar, agir consigo mesmo, com o outro e com seu

meio. É um termo empregado para uma concepção de movimento organizado

e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é

resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.

Sendo assim, o movimento não é visto de forma isolada, pura e

simplesmente, o tempo todo o mundo interno está acompanhando as

manifestações corporais.

A psicomotricidade busca as relações do consciente e inconsciente

levando em consideração o indivíduo como ser em constante transformação

em seus aspectos cognitivo, comportamental e afetivo/emocional. Para isso,

ela propõe uma riqueza de vivências motoras, onde haja descoberta de si

próprio.

As suas aplicação são chamadas de campos de atuação que são três: o

primeiro recai na reeducação psicomotora que lida diretamente com o sintoma,

ou com problemas já instalados, como em casos de crianças hiperativas, com

distúrbios de aprendizagem, portadoras de síndome de Down, deficientes

auditivas e visuais; o segundo se refere a terapia psicomotora, onde há uma

preocupação com a origem do problema, procurando resolver dificuldades

emocionais ou físicas através de uma abordagem corporal, como por exemplo

em um caso de uma criança com gagueira atribuída a relação de hostilidade e

agressão dos pais para com ela; e o terceiro campo psicomotor se refere à

educação psicomotora , em geral utilizadas nas escolas, que tem como objetivo

15

oferecer diferentes possibilidades de expressão para que as crianças tenham

um crescimento mais harmonioso.

1.2: Objetivos

Todo este trabalho visa ajudar as pessoas a conviverem melhor com

elas mesmas e conseqüentemente com o mundo em volta, ensinando-as a se

movimentar melhor. Mas o que significa movimentar-se melhor?

Movimentar-se melhor é desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o

que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, ou seja,

tomar consciência, aperfeiçoando o seu equilíbrio como ser total.

Para isso, a psicomotricidade visa normalizar o comportamento total do

indivíduo através da consciência e controle do esquema corporal, domínio do

equilíbrio, controle e eficácia das diversas coordenações globais e

segmentarias, correta estruturação espaço-temporal; desenvolver melhores

possibilidades de adaptação ao mundo exterior através de suas percepções e

orientações espaço-temporais, além de desenvolver um trabalho constante

sobre todas as condutas do indivíduo, sejam elas motoras, sensório-motoras e

percepto-motoras.

A psicomotricidade é divida em áreas que, embora citadas isoladamente,

agem quase sempre vinculadas umas às outras, até porque não podemos

compreender o corpo como partes dissociáveis o corpo é um todo integrado.

As áreas são: comunicação e expressão, onde a linguagem é função de

expressão e comunicação do pensamento e função de socialização, permitindo

ao indivíduo trocar experiências e atuar verbal e gestualmente no mundo;

percepção - que é a capacidade de reconhecer e compreender estímulos

recebidos e está diretamente ligada à consciência, à atenção e à memória. No

processo desta área, os estímulos que chegam até nós provocam uma

sensação que possibilita a percepção e a discriminação. Estas sensações são

proprioceptivas: vindas de uma parte ou conjunto do corpo chegando ao nível

consciente, como a rigidez, flexibilidade, peso, calor ou frio, sensações

16

interoceptivas: advindas dos órgãos internos e as sensações exteroceptivas:

vindas do mundo exterior através dos órgãos do sentido, que são o tato,

audição, visão, olfato e paladar. A partir daí, percebemos, realizamos uma

mediação entre o sentir e o pensar e por fim, discriminamos, reconhecendo as

diferenças e semelhanças entre estímulos e percepções.

Coordenação motora, que é mais ou menos instintiva e ligada ao

desenvolvimento físico. Entendida como a união harmoniosa de movimentos, a

coordenação supõe integridade e maturação do sistema nervoso e é dividida

em: dinâmica global, envolvendo movimentos amplos com todo o corpo

(cabeça, ombros, braços, pernas, pés, tornozelos etc.) e desse modo,

colocando grupos musculares diferentes em ação simultânea, com vistas à

execução de movimentos voluntários mais ou menos complexos; coordenação

visomanual, que engloba movimentos dos pequenos músculos em harmonia na

execução de atividades utilizando dedos, mãos e pulsos e a coordenação

visual referindo-se a movimentos específicos com os olhos nas mais variadas

direções.

Outras áreas se referem à orientação ou estruturação espacio/temporal

que é importante no processo de adaptação do indivíduo ao ambiente, já que

todo corpo, animado ou inanimado, ocupa necessariamente um espaço em um

dado momento; habilidades conceituais onde a matemática pode ser

considerada uma linguagem cuja função é expressar relações de quantidade,

espaço, tamanho, ordem, distância, etc. E por último, o conhecimento corporal

englobando o esquema corporal e lateralidade, no qual será o ponto de

referência para o estudo proposto.

1.3: Esquema corporal

O esquema corporal é estudado pela psicomotricidade a onde

representa ser a imagem do corpo um intuitivo que o indivíduo tem de seu

próprio corpo. O corpo do homem ocupa um espaço no ambiente em função do

tempo, capta imagens, recebe sons, sente cheiros e sabores, dor e calor,

17

movimenta-se. A entidade corpo é centro, o referencial. A noção do corpo está

no centro da relação entre o vivido e o universo. É nosso aparelho afetivo-

somático entre uma imagem de nós mesmos, do outro e dos objetos. A

elaboração e o estabelecimento desse esquema parecem ocorrer relativamente

cedo, uma vez que a evolução está praticamente terminada por volta dos

quatro anos.

Como já foi mencionado anteriormente, o conhecimento dos elementos

do esquema corporal terão maior enfoque na análise, para a consciência

corporal.

Os elementos que se referem ao esquema corporal, partem do

conhecimento básico do corpo: movimentos liberados (que são visualizados em

trajetória pelo espaço) e em potencial (movimentos latentes), rotações e

translações das partes do corpo e do corpo como um todo, movimentos de

partes isoladas e/ou combinadas, contato das partes do corpo no mesmo

indivíduo, entre indivíduos e na relação com objetos. E movimentos que tem

uma orientação espacial e lateralidade: são os referenciais espaciais dos

planos frontal, sagital, diagonal e transverso; trajetórias do movimento, retas,

angulares, curvas e mistas; níveis, alto, médio e baixo; sentidos e direções,

como direita/esquerda, frente/trás e cima/baixo, diagonais.

O conceito corporal, que é o conhecimento intelectual sobre partes e

funções; e o esquema corporal que em nossa mente regula a posição dos

músculos e partes do corpo. O esquema corporal é inconsciente e se modifica

com o tempo.

Dentro do conhecimento corporal pode ser tratada também a

lateralidade, já que é a bússola do nosso corpo e assim possibilita nossa

situação no espaço. Ela diz respeito às relações de direita e esquerda e da

atividade desigual de cada um desses lados, visto que sua distinção será

manifestada ao longo do desenvolvimento da experiência.

18

Segundo Earp1, esse Espaço, é um campo de relações de corpo que

abrange o físico, mental e o emocional. O espaço é um campo mole, maleável,

não é rígido nem um campo preparado, ele sim permite as metamorfoses do

corpo em movimento. Onde há disponibilidade para a relação das formas com

o meio exterior e interior.

Não podemos pensar num espaço sem que não pensamos em seus

limites e o que os ocupa - isso nos dá referenciais - assim, nada existiria. Não

podemos pensar no espaço de uma sala sem que imaginemos suas paredes

que lhe possam dar uma dimensão, ou no seu país sem que pensemos nas

suas fronteiras ou até mesmo no planeta sem que o limitemos pela sua própria

forma no sistema. Não é possível desvinculá-lo do corpo, pois sua percepção

só existiria a partir da sua delimitação espacial.

CAPÍTULO II: O corpo, o movimento e o meio

2.1 - O movimento interno e externo

O corpo é o meio de comunicação do homem com seu meio e aonde se

manifestam as funções psicomotoras que abrangem diferentes formas de

linguagem. Uma delas é o movimento corporal.

Segundo Lapierre, o movimento exprime a primariedade das reações do

homem, ou seja, é uma vivência do tipo primária por estar mais próximo do

inconsciente. A linguagem corporal é universal e transmitida de geração em

geração, onde cada espécie humana, assim como a animal, tem seus códigos

gestuais, pode ser aprendida e modificada. O gesto representa vontades,

sentimentos e desejos de um homem que vive, pensa e sente.

Ainda segundo Lapierre, o movimento corporal não fornece informações

objetivas e sim comunica. Desta forma, comunicação tem um sentido mais

profundo, próximo do latim communicare (colocar em comum), aproximando-se

1 Ana Célia de Sá Earp, professora e coordenadora do curso de Dança na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Organizadora dos Fundamentos da Dança, estudos acerca do movimento em dança.

19

ao sentido de partilhar, comungar, relacionar: “Quando falamos de

comunicação em análise corporal, é para designar o estabelecimento de uma

relação profunda, com uma partilha de sentimentos de forte carga emocional,

com uma união em troca íntima.” (Lapierre, 2002)

As mensagens não-verbais ou gestuais (através do movimento),

representam dois terços desta relação do corpo e seus sentimentos, portanto

percebe-se a importância desta forma de linguagem e de sua estimulação pois

esta relação é fundamental para o alcançar de uma maior consciência

corporal.

Quando falamos nesta relação, estamos falando da existência de dois

aspectos que integram o todo do homem: o mundo interno e externo. O mundo

externo se refere á forma corporal, ao movimento exterior e o mundo interno

que diz respeito ao movimento interior. A compreensão desses dois mundos é

de suma importância para que se possa haver a relação proposta por Lapierre,

pois não há relação de algo que não se tem o conhecimento.

O movimento corporal deve ser apresentado tanto em seu aspecto

quantitativo, pela sua própria corporeificação e delimitação de uma

possibilidade de manifestação como em seu aspecto qualitativo, que advém da

expressão plena e viva do seu conteúdo expressivo. A qualidade do movimento

ou da sua expressão é conseguida a partir da abertura aos canais sensitivos do

indivíduo que o leva, a uma escuta interior e sensitiva. O 'Eu' é considerado e é

determinante para uma integração no gesto, possibilitando que sua

expressividade possa expressar a síntese.

2.2: Conhecimento e vivência

Os limites da forma corporal, permitem não só que estes se tornem

vivos. Eles unem conteúdos internos significativos e conteúdos externos

organizados em uma composição. O corpo e o espaço portanto, apresentam

tanto suas noções objetivas como também seu aspecto subjetivo alinhavado às

sensações e aos jogos de tensão, de maneira não somente superficial, mas

profunda: "Tudo aquilo que nos afeta intimamente em termos de vida precisa

20

assumir uma imagem espacial para poder chegar ao nosso consciente."

(Ostrower, 1998p.30)

A partir do conhecimento dos referenciais da linguagem corporal, o

corpo pode executar inúmeras possibilidades de movimentos das partes do

corpo e do corpo como um todo. E isso, é importante. O conhecimento deve

ser aliado à experimentação, pois o movimento é parte integrante da totalidade

do homem. A vivência corporal, de forma diversificada, contribui de forma

decisiva para a maior e melhor compreensão do corpo, visto que, compreender

é perceber a fundo, é interiorizar o conhecimento e fazer dele um alicerce na

busca pela integração do homem.

A experienciação promove o desenvolvimento de diferentes aspectos

neuromotores, estimulando atividades cerebrais como as do córtex

somestésico responsáveis pelas sensações somestésicas, áreas associativas

visuais, área de Wernicke (integrativa comum), responsável pela linguagem e

pela integração das informações para posterior resposta motora e área reticular

bulbar do tronco cerebral onde são processadas as informações sobre o

equilíbrio do corpo e orientação espacial. Além disso há a estimulação da área

da memória fundamental para o domínio gestual.

As experiências é que nos permite conhecer as possibilidades de

movimentos do nosso corpo, a economia de nossos esforços, as dimensões

de espaço e tempo e de nosso movimento. Podem ainda promover a relação

com o corpo do outro, objetos e dotadas se um sentido abstrato. Elas

apresentam a etapa elementar da consciência corporal, o que reflete

diretamente na aquisição da técnica corporal.

A técnica corporal pode ser entendida na compreensão e prática dos

princípios do movimento e integra o conhecimento da técnica com a habilidade

criativa. Independente de qualquer tarefa específicas de manifestação corporal,

sejam esportivas, artísticas, profissionais e etc; o corpo, apresenta seus

elementos fundamentais, princípios geradores da ação corporal, que servem de

alicerce para a expressão. A técnica prevê a utilização consciente do

movimento para expressar idéias, pensamentos e emoções de forma mais

21

eficiente e harmoniosa; além disso, esse estágio de domínio, proporciona um

aspecto relevante e estimulante: o prazer.

A busca pelo prazer no movimento é algo que o homem persegue em

todas as formas de manifestações corporais. Desde a antiguidade, até os dias

de hoje: seja nos antigos rituais, como os dionisíacos, nas atividades

esportivas, nas atividades culturais como dança, mímica, teatro, no trabalho,

enfim, nas relações do homem com seu meio: “Cada exercício, dizia ela, devia

não apenas ser um meio para chegar a um fim, mas ser um fim em si mesmo,

o de fazer de cada dia de vida uma obra completa e feliz.” (Bourcier,1987,p.70)

2.3: Imaginação e sentimento

Mas, consciência corporal vai além do movimento físico e mecânico

experienciado, como já mencionado, ela integra a percepção, compreensão e a

sensibilidade. Lapierre pontua a importância do sentimento no gesto numa

relação harmônica. O movimento, segundo ele, deve expressar exatamente o

sentimento vivido, caso contrário tem-se a uma mensagem errônea e

distorcida, (dupla mensagem), para isso, as modulações tônicas geradas pelas

tensões psíquicas graduam a dinâmica gestual, ou seja, dão a tonalidade ao

movimento.

Essas modulações tônicas podem ser entendidas como a intenção do

movimento, que o faz, verdadeiro e transformador. Segundo Earp, o movimento

é a expressão do ser e é repleto de intenção, sentimento e significado, é

alcançar o plano do Movimento Integral é conquistar a consciência pela

liberdade, integração, através do conhecimento.

A relação entre o vivido e o pensado, contará também com a presença

da imaginação. Ela é a mediadora entre a presença bruta do objeto, no caso o

movimento exteriorizado e a representação de tal, entre a acolhida dada pelo

corpo (órgãos dos sentidos) e a ordenação do espírito (pensamento analógico).

A imaginação faz suscitar imagens do mundo, que estimulam nossos

pensamentos, nos fazendo percorrer outras imagens semelhantes ocasionando

a síntese criativa. O mundo imaginário é real, e o antecede, pois aponta suas

22

possibilidades em vez de fixa-lo numa forma cristalizada. A imaginação amplia

o campo real percebido preenchendo-o de outros sentidos. “A imagem é

aprendida não como uma construção subjetiva sensório-intelectual, como

representação mental, fantasmática, mas como acontecimento objetivo,

integrante de uma imagética, evento de linguagem.” (Bachelard, 1970)

Na experiência corporal a imaginação manifesta o acordo entre a

natureza e o sujeito e nesta integração a via de acesso é o sentimento. O

sentimento, no gesto exterioriza as potencialidades do ‘eu’ numa imagem

singular. O sentimento vigente, não é apenas o sentimento de um movimento,

mas de um mundo que descortina em toda sua profundidade, abrangendo a

personalidade e um horizonte interior. Portanto, este sentimento “não é

emoção, é conhecimento”2.

Emoção, refere-se a agitação psicológica ou física e é reservado para os

níveis profundos de agitação. Ela rompe a estabilidade afetiva. O sentimento,

por outro lado, é uma reação cognitiva de reconhecimento de certas estruturas

do mundo, cujos critérios não são explicados. Ou seja é a percepção das

tensões, expressadas e comunicadas pela forma e suas qualidades. Sendo

assim, o sentimento esclarece o que motiva a emoção, na medida em que são

percebidas essas tensões que causam a agitação psicológica.

A emoção é uma resposta, é uma maneira de lidarmos com o

sentimento, por exemplo, a alegria expressada pelo, movimento de sorrir, é o

modo pelo qual lidamos com o sentimento do cômico. Com isso, podemos dizer

que, o sentimento é conhecimento, pois esclarece o que motiva a emoção, e

esse conhecimento é emoção porque supõe uma certa disponibilidade para

acolher o afetivo.

O sentimento, na sua função de conhecimento, alcança para além da

forma plástica do movimento, a expressão. A expressão é possibilidade de

emitir signos e de exteriorizar uma interioridade.

2 M. Dufrenne. Phenomenologie de l’ expérience esthétique, p.471.

23

2.4: Movimento consciente e criativo

Movimentar-se é comunicar através da linguagem corporal, onde o corpo

é o limite formal de nossa particularidade. O corpo em movimento, assume

diferentes formas no espaço, forma espaços e manifesta seu espaço interior.

Formar é dar forma a algo novo, é criar. Isto significa, estabelecer novas

coerências que se estabelecem para a mente humana.

O ato de criar pressupõe relação, ordenação, significação e integração.

O ser humano é dotado do dom de estabelecer relacionamento entre os

inúmeros eventos e fenômenos que ocorrem ao o redor e dentro dele.

Relacionando os eventos, ele os configura em sua experiência do viver e lhes

dá um significado, pois, sendo nós mesmos o ponto focal de referência, nos

orientamos de acordo com expectativas, desejo, medos, e de acordo com uma

atitude do nosso se mais íntimo, uma ordenação interior.

Os processos de criação ocorrem no âmbito da intuição, embora,

interajam com toda experiência possível ao indivíduo, inclusive a racional, se

tornam conscientes a medida que são expressos.

A percepção de si mesmo dentro do agir é um aspecto importante no

movimento criativo, pois a percepção consciente na ação humana, faz com que

se possa resolver situações imediatas e ainda antecipar-se a elas. Desta

maneira, podemos falar da intencionalidade humana, onde ela pressupõe

existir uma mobilização interior, não necessariamente consciente, que é

orientada para determinada finalidade, antes mesmo de existir situação latente

seletiva.

A percepção delimita o que somos capazes de sentir, compreender,

portanto corresponde a uma ordenação seletiva dos estímulos e cria uma

barreira entre o que percebemos e o que não percebemos. Nessa ordenação

das informações sensitivas, o movimento consciente, permite ao apreender o

mundo, o homem apreenda também o próprio ato de apreensão, o que permite

ao homem, compreender.

O ser cultural, então se faz presente; o homem consciente com seu

meio. Os valores culturais vigentes constituem o clima mental para o seu agir,

24

criando possibilidades culturais e representando a individualidade subjetiva de

cada um. A consciência representa a sua cultura: “...a cultura orienta o ser

sensível, ao mesmo tempo que, orienta o ser consciente.” (Ostrower,1978p.17)

O movimento consciente abre canais contribuindo para a fluidez de

sentimentos, ampliando a relação homem-universo, relação esta, que pode ir

além da exteriorização de um simples vontades ou sentimento, para a

revelação dos sentimentos mais profundos e inconscientes. Segundo Fritjof

Capra, o domínio dessa relação, ainda pode alcançar patamares mais

aldaciosos e prazerosos, como os da supra consciência onde se atinge um

nível mais alto, o da intuição, promovendo-se a integração e o equilíbrio pleno

do homem.

CAPÍTULO III: Consciência corporal e equilíbrio do

homem

3.1: O homem potencial

Earp, em seus estudos desenvolvidos a cerca do movimento na dança,

contribui bastante para uma visão de movimento pleno e harmônico, unindo

concepções de arte, aspectos da física quântica e aspectos da filosofia

oriental. Segundo ela, a linguagem corporal, proveniente do verdadeiro gesto,

deverá contribuir para o conhecimento do homem e a busca pela integração

num ato fundamental para o desenvolvimento da criação.

Os fundamentos desenvolvidos serão explicados a partir do conceito de

movimento primordial na arte da dança remetendo também, a uma abordagem

mais filosófica e mais abrangente em relação à linguagem corporal como

interação harmônica, dinâmica e plena do homem em seu meio.

Segundo a Teoria da Relatividade, desenvolvida na Ciência Moderna que

uniu os conceitos de campo elétrico e magnético (Campo eletromagnético),

chegou-se à conclusão de que nada é estático, tudo está em constante

movimento. Isso quer dizer que todos os corpos estão interagindo, de forma

25

não representar uma matéria e sim uma condensação de partículas

transitórias, o seja, em constante transformação:

“O mundo é concebido em termos de movimento, fluxo e mudança (...)

A teia cósmica é viva; move-se, cresce e se transforma

incesantemente. A física moderna também concebe, hoje em dia, o

universo como essa teia de relações e , à semelhança do misticismo

oriental, acabou por reconhecer que essa teia intrinsecamente

dinâmica.” (Capra,1983p.148)

No corpo, esse conceito de movimento, é aplicado pelo fato de que ele

promove um processo dinâmico do desvelar em cada gesto, fruto da integração

do físico, mental e emocional.

O movimento, terá tanto aspectos quantitativos como qualitativos. Em

sua compreensão profunda, despertar-se-á um gesto totalizador em diferentes

aspectos que envolvem o impulso criador pleno. Isto, entretanto, nos leva a

perceber que ambos podem estar desvinculados em simples atos

automatizados, porém não representaria o verdadeiro movimento consciente

integrado.

A integração é um pensar na totalidade que leva a percepção de mundo

que interage constantemente: “o todo é mais do que a soma das suas partes

(...) o todo resulta da integração de suas partes. O todo constitui sempre uma

síntese.” (Ostrower,1994p.70)

Mais particularmente no movimento, esta interação se faz presente num

ato pleno e integrado de consciência e supraconsciência. A consciência,

alcançada pelo conhecimento, no caso específico da linguagem corporal, e

supraconsciência que é a intuição ou impulso interno para criação.

A consciência do movimento, em suas inúmeras contribuições para com

o homem, pode ser estimulada através de pensamentos instigantes e criativos,

aspectos, estes que condizem com a própria natureza humana: de ser

transformador e desvelador. O homem, ao contrário dos animais, tem a

26

liberdade de alterar sua capacidade de esforço, em adequação ao seu objetivo

e as condições mutáveis do meio, ao contrário dos animais especialistas em

uma determinada qualidade de esforço e desprovidos da capacidade de inovar

ou criar.

“Esses estranhos hábitos do homem, que não podem ser inteiramente

explicados como adaptação às circunstâncias e ao meio ambiente, são

o resultado de um refinamento consciente do esforço. Os animais

fazem uma escolha instintiva de qual esforço manifestar em resposta ao

seu impulso inato para assegurar sua vida individual e racial.”

(Laban,1973, p.29)

O homem é dotado de vida, assim como todos os seres da natureza,

porém dentro da qualidade de ser auto-determinante, nele está presente o bios

(vida), o nóos (inteligência - nível de percepção além do instintivo) e,

dependendo de seu nível de integração e totalidade, o lógos (razão e intuição).

Esta última qualidade só pode ser alcançada pelo homem, o que faz dele, o

único ser que possui a capacidade de chegar ao máximo da potencialidade da

natureza, devido a sua capacidade de inteligência manifestada pelo nóos e

pela sua capacidade de intuição manifestada pelo lógos. Por isso, o homem

completa a natureza do Universo, fazendo com que ela chegue a manifestar a

Potência Original ou Essência do Universo.

A alo-determinação é determinada apenas pelo bios (vida) que se

manifesta no instinto - caraterística animal, que obedece a uma compulsão

externa, automatizada. Correspondem aos objetos exrtra-hominais que se

manifestam automaticamente a uma causa alheia.

O homem, ao contrário dos seres extra-hominais, que obedecem a uma

causa extrínseca, pode exercer seus princípios naturais de transformação e

criação de consciência supramental na manifestação do lógos. Esse aspecto

de integração só poderá ser alcançado se o homem tiver a vontade, fruto da

liberdade de escolha (característica do livre arbítrio dos seres humanos). O

27

homem é o único ser da natureza que possui essa capacidade de escolher sua

própria evolução para um ser integrado, liberto e representando sua natureza

como emanação do Espírito Universal.

O homem, então, poderá ou não, em seus atos, manifestar-se em sua

total potencialidade. No trabalho artístico em dança, pode-se fazer uma

referência a essa questão, por exemplo, em face à pura reprodução e

automatismo, de modelos ou particularizações de movimentos consideradas

como fins e não como manifestações de todo. Assim, tem-se a escolha por

uma arte estagnada e contrária a novas descobertas, a consciência e a

reflexão, ou seja, a própria ruptura e afastamento do homem em relação aos

seus próprios princípios originais e naturais de ser transformador e potencial.

Outro exemplo, pode ser citado em atividades esportivas desenvolvidas

por atletas de alto nível. Como no caso de um atleta de ciclismo, seus

movimentos repetitivos e extenuantes de pedalar exigem muito da capacidade

de interiorização durante treinos e competições. O aspecto da superação

engloba a questão da repetição qualitativa, ou seja, cada movimento trás uma

nova perspectiva, uma nova relação, um movimento nunca é igual ao outro,

desde que feito com prazer. A busca pelo prazer no movimento é mais um

estímulo que o atleta pode cultivar em seu árduo treinamento. O prazer é o

resultado do domínio corporal, desejo de penetrar no gesto, de fazer daquele

movimento de membros inferiores o movimento de um todo, abrangendo o

psíquico e no emocional em prol de um objetivo.

Segundo Laban, o esforço qualitativo, é conseguido quando a consciência

da execução leva ao domínio da mesma. Assim o dispêndio de energia

necessário para o movimento se torna menor e sua fluidez e eficiência se

tornam maior. A técnica a partir daí pode ser ampliada pois a criação e o

conhecimento caminham juntos na expressão da linguagem corporal.

Em nível apenas do nóos intelectual, o homem, estará manifestando

apenas através do ego, tolhindo sua capacidade de criar e transformar,

mantendo-se numa etapa de desarmonia, desequilíbrio e estaticidade:

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“O ego personal sucumbiu à ilusão do separatismo-e até hoje todo o

homem nasce nesta ilusão de separação do Todo (...) o conflito entre a

ilusão do ego e a verdade do Eu formam o campo de batalha da

evolução ascensional do homem. A liberdade herdada deve ser

transformada pelo homem numa liberdade adquirida, numa auto-

libertação.” (Rohden,1984p.98)

Na união do bios (vida), nóos (intelecto) e logos (razão e intuição), o

homem se manifesta em harmonia plena do ser com seus princípios naturais. A

partir de então, se dá a síntese, consciência cósmica, na total integração no

gesto.

“Na síntese da alteridade existencial com a identidade essencial

consiste toda a missão terrestre do homem e sua auto-realização.

Quem não realizar essa grande síntese entre o Ser do Eu e o Existir do

Ego não realizou o porquê da sua existência terrestre. A sua realização

existencial acabará em frustração existencial.” (Rodhen,1984 p.99)

Há três tipos de consciência: a consciência objetiva, que se dá na

manifestação instintiva (característica dos alo-determinantes / extrahominais);

consciência subjetiva, manifestada através do ego (capacidade de

discernimento, diferenças e discriminações - proveniente da personalidade) e

a consciência cósmica que se manifesta na união da objetividade e da

subjetividade, ou seja, as potencialidades nas particularidades - contidos e

contendo a Potência Máxima.

Não se pode chegar a infinitude a partir de finitudes, pois não se chega

nunca ao infinito ou à potencialidade máxima pela quantificação de finitudes. A

essência do infinito, sim é alcançada pela qualificação de finitude. A parte não

pode ser o todo ela pode conter o todo e está contido no máximo.

O corpo é algo primordial e fator originário do gesto. Sua compreensão e

apropriação, leva à integração plena, ao verdadeiro ato criador e à afirmação

da existência como parte do Uno. Essa busca pela presentificação no

movimento que faz com que o gesto seja transformador a cada instante além

29

de ser um instrumento para o exercício de sua potencialidade e evolução de

ser nuos chegando à manifestação do lógos.

É importante a consciência da potencialidade do ser na manifestação

criativa e plena, que vai além do determinismo, assim com a compreensão de

que a essência do Uno é a origem primeira de qualquer manifestação corporal.

Esta visão se dá no sentido de que nada pode ser definido e classificado como

algo estático e fechado. Tudo são possibilidades em constante transformação e

compostos pela Essência de uma Potência inalcançável e infinita. O homem é

uma manifestação dessa essência do todo e também está em constante

transformação. Sua personalidade, a partir dessa compreensão da essência

que origina e que não define, leva ao alcance da plenitude ilimitada, isso faz do

homem um ser enigmático, pois a cada instante é um instante outro e

renovador.

A definição degenera a manifestação do ego e o coloca como um fator

estagnador e limitante da capacidade criadora do homem e artista. Ela leva à

discriminação e preconceito na relação das diferenças e não faz com que a

partir destas, possa ser elevada à idéia de aceitação das particularidades como

forma de organização das coisas, que não deixam de ser manifestações de

um todo. Sem as diferenças não seriam possíveis a diversificação, as

particularizações e manifestações:

“E, como toda a creatura auto-consciente é ulteriormente realizável, o

homem cósmico continua a sua evolução ascensional, realizando cada

vez mais o seu Eu central através das atividades do seu ego periférico,

tornando-se assim um homem integral (...) o homem cósmico auto-

realizado, espiritual-corporal realizou a grande síntese, harmonizando

as antíteses complementares do sujeito-Eu e do objeto-ego.”

(Rodhen,1984p.100)

A discriminação pura, exercida na manifestação corporal, se dá na

relação ao apego aos modelos formais, a limitação à liberdade de criação, a

praticidade e o comodismo. Estes limitam a compreensão verdadeira e

30

totalizadora do homem. Neste caso, o movimento é tido como fim e como a

verdade absoluta, não enxergando o seu caráter de possibilidade como

essência que se manifesta, se transforma e faz transformar. O corpo em

movimento é mais do que possibilidades formais, é a compreensão da

totalidade que leva à criação do novo a cada momento e faz do homem um ser

aberto, pleno e consciente de sua capacidade potencializadora.

Um exemplo prático pode ser observado na manifestação corporal na

arte da dança onde se dá a relação dos modelos de movimentos pré-

estabelecidos e liberdade de criação. A manifestação do ego limita a

compreensão verdadeira e totalizadora da dança. o homem coloca, neste caso

a possibilidade como fim e como a verdade absoluta, não enxergando o seu

caráter de possibilidade como essência que se manifesta, se transforma e faz

transformar. A dança é mais do que possibilidades formais é a compreensão da

totalidade que leva à criação do novo a cada momento e faz do artista um ser

aberto, pleno e consciente de sua capacidade potencializadora.:

“Em sua busca de uma dança não mais decorativa e acrobática, mais

expressiva, de uma dança ‘que fosse a expressão divina do espírito

humano pelos movimentos do corpo’, Isadora se perguntou como teria

sido possível pela deformação dos hábitos corporais e mesmo mentais,

fabricar ‘aqueles monstros encantadores’. Observou que aquela

perversão começava, do ponto de vista técnico, com a escolha do que

constitui a base de todos os movimentos. ‘Acabei descobrindo a mola

central de todo movimento, o núcleo da potência motora...a escola do

balé ensina que essa mola se encontra no centro das costas, na coluna

vertebral. É deste eixo, dizem os maitres de balés, que partem os livres

movimentos dos braço, das pernas, do tronco, e o resultado dá a

impressão de uma marionete articulada. Este método produz um

movimento mecânico, artificial, indigno da alma.”(Bourcier, 1987,p.166)

Einstein coloca que o valor ou a essência é que deve ser colocada como

origem primordial de qualquer coisa, pois eles levam a qualquer manifestação

31

na idéia de infinitude, não limitando como no caso da valorização da parte

como verdade absoluta. A partir desse pensamento, é possível dizer que a

verdadeira criação se dá no fluxo da integração e plenitude do gesto, onde

através do conhecimento podem ser abertos os canais para a descoberta do

novo.

A descoberta de novas combinações e meios de construção para um

objetivo amplia o conhecimento e modificam as coisas, pois nada é constante,

tudo é transformável: uma forma pode ser explorada de várias maneiras ou

ainda, de várias formas pode se chegar a uma..., basta que se procure o

princípio gerador das articulações formais, que se coloca como um aliado muito

importante para a não adestração e descoberta consciente de novas

possibilidades.

3.2 – A visão da Terapia Holística

A Terapia Holística é um sistema avançado de terapias integradas e

progressivas com método personalizado, que trabalha com uma somatória de

técnicas milenares e modernas de altíssima vibração energética, que pode ser

utilizada para tratamentos bastante profundos. A Terapia Holística nos remete

à origem dos nossos problemas, sejam eles físicos, mentais ou espirituais,

ensinando-nos a vê-los, compreendê-los, e termos uma atitude

comportamental pró-ativa.

A Terapia Holística é utilizada somente de maneira ética e técnica

sempre sob o ângulo terapêutico em níveis sutis a profundos de consciência.

atua direta e integralmente na solução de distúrbios e traumas, estagnação e

dificuldade pessoal, bloqueio criativo, dificuldade de concentração, tensões e

pulsões.

Este procedimento terapêutico visa compreender profundamente o

indivíduo como um todo, tendo como foco: o Corpo, a Mente e o Espírito, em

toda sua forma de atuação e maneira de viver. Ajudando a liberar energia vital

e canalizá-la de maneira correta, respeitando seu ritmo de vida (biorítmo).

Assim pode-se atingir os níveis necessários de estrutura mental e física,

32

responsáveis pela sua saúde, através da qualidade de vida que passará a

levar. Assim, entrando em harmonia física, psíquica e espiritual, conseguindo

obter disciplinadamente resultados satisfatórios, sabendo de seus valores e

fortalecidos por eles.

3.3: A visão Transpessoal

A visão transpessoal analisa os rumos da ciência e da tecnologia, desde

longa data, e os caminhos que seguem nos dias de hoje, conjugando-os com

os princípios transcendentais que norteiam o ser humano na atualidade.

Princípios,com características peculiares, quando se fala de tradições orientais,

mais antigas, que divergem daquelas com traços ocidentais.

Nós os ocidentais, estamos sempre nos enganando, pois achamos que

conhecemos tudo da ciência, da tecnologia, da sociedade, da nossa mente, de

nós mesmos. Pisamos em nosso próprio satélite, mergulhamos no átomo,

deciframo-nos através de nosso próprio código, mas ainda não nos

descobrimos de verdade, isto é, não nos revelamos a nós mesmos, não

conhecemos nossos mistérios psíquicos, nossas capacidades criativas, nossos

estados de consciência. O tão propalado autoconhecimento ainda é uma

incógnita.

Reconhecemos que tivemos nos últimos tempos muitos incentivos para

buscá-lo, mas nossa postura materialista nos impede de alcançá-lo.

Atualmente,com a evolução da consciência do homem, temos a possibilidade

de iniciar uma nova caminhada rumo a novas descobertas transpessoais, que

nos proporcionarão liberdade de consciência e uma nova visão do planeta

Terra e da natureza que nos cerca, colocando-nos com eles,

por eles e a serviço deles (Terra e natureza), a caminho da evolução.

Existe um paralelo entre os filósofos ocidentais e os

transpessoais, notadamente os das tradições asiáticas. Os primeiros se

satisfazem com a análise e a formação intelectual, que acham suficientes

para ter acesso à real compreensão. Já os transpessoais, aceitam a formação

intelectual, todavia acham-na insuficiente e alegam que a mente deva ter uma

33

formação multidimensional iogue ou contemplativa que atinja a ética, as

emoções a motivação e a atenção. Essa segunda corrente entende que essa

formação mais profunda destina-se a cultivar o "olho da contemplação". Com

ela, conseguimos nos transformar e atingir a sabedoria oculta e os graus de

significação mais elevados das tradições transpessoais.

Fritjof Capra questiona, a seguir, se a ciência moderna não estaria

redescobrindo a milenar sabedoria oriental. Os cientistas atuais estão

abandonando o método científico e buscando a meditação ou estão

sintetizando ambos? Capra entende que os dois meios de aquisição de

conhecimento estão se completando, com manifestações racionais e intuitivas,

sem atingir a síntese um do outro. Porém, deve haver uma interação dinâmica

entre a intuição dinâmica e a análise científica.

A noção do Tao, expressão chinesa que significa a harmonia mais

profunda, um ponto de equilíbrio, um desdobramento padronizado da

realidade.Em consonância com essa visão de realidade,a essência da

sabedoria consiste em agir em harmonia com o Tao ou ritmo natural do

universo.Nesse sentido, a proposta é buscarmos um novo caminho,um novo

Tao, uma alternativa de transformação social, que nos coloque de volta na

histórica trajetória de crescimento material, sabendo que a abundância de

energia e matéria não existe mais. Vivemos uma nova escassez desses

recursos, por isso devemos voltar à simplicidade de outras eras, quando

tínhamos mais acesso aos aspectos espirituais, mais sabedoria, mais contato

entre as pessoas, do que hoje, em que somos medidos pelo nível de tecnologia

que utilizamos para "simplificar" nosso dia-a-dia.

Da mesma forma, devemos encontrar o Tão da transformação pessoal

que inverta duas situações presentes na atualidade.Hoje há uma ausência de

evolução"interna" que neutralize a evolução material/externa e uma

incapacidade de reconhecer que o crescimento "interior" é imprescindível aos

processos evolutivos humanos. Nós não temos noção da imensa capacidade

de nossas faculdades interiores e de como desenvolvê-las e, por

isso,permanecemos atados ao crescimento tecnológico.

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É preciso corrigir esse desequilíbrio, inverter essa situação, e nesse

aspecto, os ocidentais têm muito a aprender com a cultura oriental. Como o ser

humano está muito, timidamente, ainda, descobrindo essa situação de

desequilíbrio, estamos iniciando uma corrida entre a auto descoberta e a

autodestruição. As forças que possuímos podem determinar a vitória de uma

ou de outra, porém o caminho da descoberta exige primeiro que aprendamos o

caminho do universo, o próprio caminho do Tao.

Todavia, parece estar renascendo um interesse pelas antigas tradições

espirituais e pela busca mística. Isso denota um abandono das

características destrutivas da personalidade e a busca pelo crescimento

individual e coletivo. Enfim, parece estar havendo uma mudança de

consciência da humanidade com o objetivo de reverter o caminho da

autodestruição.

CONCLUSÃO

Dalai Lama, ao receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1989, salientou a

premente necessidade que temos de aprender a viver em paz e harmonia uns

com os outros. Não temos escolha, precisamos cultivar o senso de

responsabilidade universal, tema central de seu discurso, porque hoje somos

uma família verdadeiramente global. Somos diretamente afetados pelo que

sucede longe de nós, seja nos períodos de guerra entre continentes, seja nos

momentos de paz.

Todavia, há um aspecto muito forte a se salientar. A paz, entendida

como ausência de guerra, tem um valor quase nulo na ótica daqueles que

estão morrendo de fome ou de frio. Ela não conforta aqueles que são vítimas

de um desflorestamento irracional num país vizinho. O valor da paz

só aparece quando os direitos humanos são respeitados efetivamente, as

pessoas são alimentadas, os homens e as nações são livres. Enfim, a paz

deve começar dentro de cada um de nós. A paz interior implica em paz entre

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os que nos cercam e assim vai se ampliando como as ondas de um lago

quando atiramos uma pedra em suas águas.

Existe um paralelo entre as duas formas de se conduzir diante dos

problemas atuais do mundo. Quando entramos em sua vibração, sentimos

dor,reagimos com desespero e sem forças, racionalizamos para proteger o

coração. Nossas ações são inócuas e por mais que trabalhemos, os resultados

são quase nulos e nos sentimos fatigados e esgotados. Por outro lado, se nos

calamos e nos recolhemos a profundos momentos de meditação, sentimos que

chega até nós uma sabedoria inspiradora e móvel de todas as formas do

universo.

Nesse momento, compreendemos que a sabedoria instalada no

sofrimento faz parte da perfeição da natureza evolutiva do espírito. Essas duas

formas de encarar o mundo trazem a marca da verdade e o nosso papel é

encontrar o ponto de equilíbrio entre elas. Esse é o momento deserenar nossa

mente, abrir o coração e abraçar a todos os seres. Aqui repousa um aspecto

importante: reconhecemos que a mágoa de nosso coração diante da dor alheia

é parte da perfeição e que o anseio pelo bem do próximo também é certo.

O momento é de permitir que a consciência se aventure e que o homem

total esteja no momento certo para detectar, avaliar e se utilizar das

descobertas que a aventura da consciência possa proporcionar. Hoje, não

conhecemos apenas um estado de consciência - a vigília. Sabemos da

existência de diversos estados alterados de consciência, que podemos

alcançar com a integração do homem consigo mesmo e com o meio e essas

alterações de consciência pode nos levar a encontrar muitas

respostas para as perguntas que nos perseguem ao longo dos séculos. Apenas

devemos dar a chance à nossa consciência de deixar aflorar, pesquisar e

investigar os diversos mundos e corpos, através das manifestações corporais

conscientes.

Temos em nossas mãos, neste rico momento da humanidade, a

possibilidade de caminhar além do ego, aventurar-se na consciência e seguir a

luz do equilíbrio do homem.

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