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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO
MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA CORPORAL PARA O EQUILÍBRIO DO HOMEM
LARA SEIDLER DE OLIVEIRA
Rio de Janeiro,
Junho/2003
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA CORPORAL PARA O EQUILÍBRIO DO HOMEM
Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho
Co-Orientador: Fátima Alves Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação de Psicomotricidade da Faculdade Cândido Mendes como requisito parcial de obtenção do título de especialização
Rio de Janeiro,
Junho/2003
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, a minha família, a professora orientadora Fátima Alves, a
Elen e ao Fabio por toda ajuda e apoio.
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RESUMO
A presente monografia mostra a relação entre o desenvolvimento
de uma consciência corporal através da vivência corporal e o alcançar de um
equilíbrio físico, mental e emocional do homem na relação consigo mesmo e
com seu meio.
O proposto estudo parte de uma análise dos vários aspectos que
contribuem para a busca do equilíbrio do homem através da linguagem
corporal. Estes aspectos tentam abranger o corpo de um homem que mais do
que uma manifestação física, é o foco referencial de todas relações do
Universo. É compreendido como parte integrante de um Todo e por isso, a
análise de sua manifestação consciente é norteada por vários aspectos
importantes.
A questão do conhecimento que envolve o corpo físico, foi
abordada com base na Psicomotricidade, onde a ênfase de análise recai na
área psicomotora que abrange o esquema corporal e lateralidade,
complementados por elementos diversificadores da ação corporal. A partir daí
o corpo é visto como meio relacional, dinâmico, comunicativo e expressivo,
onde seus limites vão além do movimento puro e simples, integrando aspectos
do sentimento e da imaginação.
A importância da vivência e da experienciação também são
colocadas como fatores essenciais para o desenvolvimento da consciência
corporal, estimulando a aquisição de uma técnica entendida a partir do domínio
gestual.e inencional.
Por último, a manifestação corporal consciente, percorre
caminhos mais profundos que mostram a importância do envolvimento sensível
e interiorização da ação, para a busca da potencialidade do homem Neste
ponto, trata-se da questão da intuição, onde se dá a mais profunda relação do
ser consciente e inconsciente, tendo como fruto manifestação ato criador no
movimento.
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SUMÁRIO
Introdução ---------------------------------------------------------------6
Capítulo I: Psicomotricidade:
1.1 – Conceito -----------------------------------------------------14
1.2 - Seus objetivos ----------------------------------------------15
1.3 - Esquema corporal -----------------------------------------16
Capítulo II: O corpo, o movimento e o meio:
2.1 - O movimento interno e externo ------------------------18
2.2 – Conhecimento e vivência do corpo ------------------19
2.3 – Imaginação e sentimento -------------------------------21
2.4 - Movimento consciente e criativo ----------------------23
Capítulo III:Consciência corporal e equilíbrio do homem
3.1 – O homem potencial --------------------------------------24
3.2 – A visão da Terapia holística ---------------------------31
3.3 – A visão transpessoal ------------------------------------32
Conclusão -------------------------------------------------------------34
Referências bibliográficas -----------------------------------------36
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INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como objeto de investigação a análise da
importância da consciência corporal para o equilíbrio do homem. A partir de
estudos realizados sobre o corpo e o movimento, desenvolvidos por criadores e
teóricos das áreas da ciência, artísticas e filosóficas, há a busca por uma
reflexão profunda sobre o equilíbrio do homem, pautado num diálogo com a
linguagem corporal, no sentido de contribuir para um desenvolvimento de uma
consciência do ser para com ele mesmo e com seu meio.
Esta monografia visa dar uma abordagem dos aspectos e uma maior
fundamentação acerca da exploração criativa do movimento corporal, tomando-
se então, como um instrumento estimulador no labor de estudiosos do corpo
em movimento.
A revisão de literatura nos indicou uma necessidade de promover uma
análise e relação neste campo de estudo, constatando uma abordagem
relevante, (Chazaud1976) em ”Introdução à psicomotricidade” e em estudo de
Earp, apresentam com abordagens pontuais acerca das áreas psicomotoras
em especial a que se refere aos elementos do esquema corporal aplicados ao
movimento. A análise da bibliografia acerca da análise relacional do corpo e do
movimento tais como (Lapierre, 2002), (Ostrower, 1998), (Laban, 1971),
apontam os aspectos do corpo sensível envolvendo o entrelaçamento entre o
movimento externo e interno na comunicação gestual plena; além, das
abordagens essenciais acerca do conhecimento e da vivência.
A presente monografia, propõem então, um pensar do homem a partir da
manifestação corporal em sua totalidade, buscando uma visão ampla e ao
mesmo tempo detalhada, enquanto um processo relacional que vai além das
perspectivas da execução do movimento pura e simples, uma manifestação
consciente.
Sendo assim, senti-me estimulada a desenvolver este estudo, tendo em
vista a necessidade de propor uma visão mais penetrante que envolve
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atualmente as áreas que utilizam a linguagem corporal e que propõe uma
preocupação maior com a consciência do homem.
Então, para fundamentar a investigação deste processo de forma
detalhada, esta monografia aponta que os estudos de (Earp, 2000),
(Capra,1983) e (Rodhen, 1984), acerca do movimento, espaço e da forma,
especificadamente aplicados ao desenvolvimento de uma consciência e
supraconsciência. Estes estudos, fornecem suportes para o vislumbrar de
como a possibilidade gestual integra uma gama de relações que envolvem a
interiorização do eu, evocação de questões inconscientes e de capacidades
potencializadoras que podem causar ressonâncias muito mais profundas nas
entranhas do inconsciente individual e na transformação do universo.
A opção por associar ao estudo as pesquisas de Rohden e Capra,
justificam-se por fornecerem, numa linha de correlação com as de Earp, pois
também abordam a questão do movimento dinâmico, transformador e
integrado. Os estudos de Fritjof Capra demonstram a interação pontuada por
Rohden, promovendo um envolvimento ao nível da supraconsciência, onde o
homem representa a essência do universo em sua manifestação potencial.
Helenita de Sá Earp, em seus estudos acerca do movimento na arte da dança,
relaciona essas idéias trazendo uma abordagem específica e formal na
manifestação corporal plena. A partir dessa correlação, é possível a análise do
equilíbrio do todo (equilíbrio do homem), pela integração dos aspectos da
particularidade (movimento consciente).
A seguir fazem-se necessárias certas questões especificas que orientam
a abordagem do nosso objeto de estudo:
• Como o movimento humano pode se tornar um ato consciente
verdadeiramente expressivo?
• Que fatores se colocam como essenciais neste processo de
desenvolvimento da consciência a partir da linguagem corporal?
• De que maneira pode-se pensar em que o homem em sua manifestação
gestual, produz uma ressonância tal que faça transformar o Universo?
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Cabe a esta monografia tentar elucidar da maneira mais clara e eficiente
possível estas questões pertinente a relação da consciência do movimento e
do equilíbrio do homem, promovendo um processo de conhecimento e análise
dos vários descoberta através das várias experimentações e investigações dos
elementos.
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CAPÍTULO I: Psicomotricidade
1.1: Conceito
O interesse pela Psicomotricidade é relativamente recente. Surgiu
inicialmente em Anvers, na Bélgica em 19947, mas foi na França que se
desenvolveram as pesquisas mais importantes e onde também foram criados
os primeiros cursos de graduação e pós-graduação.
Psicomotricidade é a ciência que estuda o homem através do seu corpo
em movimento na relação do seu mundo interno e externo, bem como suas
possibilidades de perceber, atuar, agir consigo mesmo, com o outro e com seu
meio. É um termo empregado para uma concepção de movimento organizado
e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é
resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.
Sendo assim, o movimento não é visto de forma isolada, pura e
simplesmente, o tempo todo o mundo interno está acompanhando as
manifestações corporais.
A psicomotricidade busca as relações do consciente e inconsciente
levando em consideração o indivíduo como ser em constante transformação
em seus aspectos cognitivo, comportamental e afetivo/emocional. Para isso,
ela propõe uma riqueza de vivências motoras, onde haja descoberta de si
próprio.
As suas aplicação são chamadas de campos de atuação que são três: o
primeiro recai na reeducação psicomotora que lida diretamente com o sintoma,
ou com problemas já instalados, como em casos de crianças hiperativas, com
distúrbios de aprendizagem, portadoras de síndome de Down, deficientes
auditivas e visuais; o segundo se refere a terapia psicomotora, onde há uma
preocupação com a origem do problema, procurando resolver dificuldades
emocionais ou físicas através de uma abordagem corporal, como por exemplo
em um caso de uma criança com gagueira atribuída a relação de hostilidade e
agressão dos pais para com ela; e o terceiro campo psicomotor se refere à
educação psicomotora , em geral utilizadas nas escolas, que tem como objetivo
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oferecer diferentes possibilidades de expressão para que as crianças tenham
um crescimento mais harmonioso.
1.2: Objetivos
Todo este trabalho visa ajudar as pessoas a conviverem melhor com
elas mesmas e conseqüentemente com o mundo em volta, ensinando-as a se
movimentar melhor. Mas o que significa movimentar-se melhor?
Movimentar-se melhor é desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o
que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, ou seja,
tomar consciência, aperfeiçoando o seu equilíbrio como ser total.
Para isso, a psicomotricidade visa normalizar o comportamento total do
indivíduo através da consciência e controle do esquema corporal, domínio do
equilíbrio, controle e eficácia das diversas coordenações globais e
segmentarias, correta estruturação espaço-temporal; desenvolver melhores
possibilidades de adaptação ao mundo exterior através de suas percepções e
orientações espaço-temporais, além de desenvolver um trabalho constante
sobre todas as condutas do indivíduo, sejam elas motoras, sensório-motoras e
percepto-motoras.
A psicomotricidade é divida em áreas que, embora citadas isoladamente,
agem quase sempre vinculadas umas às outras, até porque não podemos
compreender o corpo como partes dissociáveis o corpo é um todo integrado.
As áreas são: comunicação e expressão, onde a linguagem é função de
expressão e comunicação do pensamento e função de socialização, permitindo
ao indivíduo trocar experiências e atuar verbal e gestualmente no mundo;
percepção - que é a capacidade de reconhecer e compreender estímulos
recebidos e está diretamente ligada à consciência, à atenção e à memória. No
processo desta área, os estímulos que chegam até nós provocam uma
sensação que possibilita a percepção e a discriminação. Estas sensações são
proprioceptivas: vindas de uma parte ou conjunto do corpo chegando ao nível
consciente, como a rigidez, flexibilidade, peso, calor ou frio, sensações
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interoceptivas: advindas dos órgãos internos e as sensações exteroceptivas:
vindas do mundo exterior através dos órgãos do sentido, que são o tato,
audição, visão, olfato e paladar. A partir daí, percebemos, realizamos uma
mediação entre o sentir e o pensar e por fim, discriminamos, reconhecendo as
diferenças e semelhanças entre estímulos e percepções.
Coordenação motora, que é mais ou menos instintiva e ligada ao
desenvolvimento físico. Entendida como a união harmoniosa de movimentos, a
coordenação supõe integridade e maturação do sistema nervoso e é dividida
em: dinâmica global, envolvendo movimentos amplos com todo o corpo
(cabeça, ombros, braços, pernas, pés, tornozelos etc.) e desse modo,
colocando grupos musculares diferentes em ação simultânea, com vistas à
execução de movimentos voluntários mais ou menos complexos; coordenação
visomanual, que engloba movimentos dos pequenos músculos em harmonia na
execução de atividades utilizando dedos, mãos e pulsos e a coordenação
visual referindo-se a movimentos específicos com os olhos nas mais variadas
direções.
Outras áreas se referem à orientação ou estruturação espacio/temporal
que é importante no processo de adaptação do indivíduo ao ambiente, já que
todo corpo, animado ou inanimado, ocupa necessariamente um espaço em um
dado momento; habilidades conceituais onde a matemática pode ser
considerada uma linguagem cuja função é expressar relações de quantidade,
espaço, tamanho, ordem, distância, etc. E por último, o conhecimento corporal
englobando o esquema corporal e lateralidade, no qual será o ponto de
referência para o estudo proposto.
1.3: Esquema corporal
O esquema corporal é estudado pela psicomotricidade a onde
representa ser a imagem do corpo um intuitivo que o indivíduo tem de seu
próprio corpo. O corpo do homem ocupa um espaço no ambiente em função do
tempo, capta imagens, recebe sons, sente cheiros e sabores, dor e calor,
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movimenta-se. A entidade corpo é centro, o referencial. A noção do corpo está
no centro da relação entre o vivido e o universo. É nosso aparelho afetivo-
somático entre uma imagem de nós mesmos, do outro e dos objetos. A
elaboração e o estabelecimento desse esquema parecem ocorrer relativamente
cedo, uma vez que a evolução está praticamente terminada por volta dos
quatro anos.
Como já foi mencionado anteriormente, o conhecimento dos elementos
do esquema corporal terão maior enfoque na análise, para a consciência
corporal.
Os elementos que se referem ao esquema corporal, partem do
conhecimento básico do corpo: movimentos liberados (que são visualizados em
trajetória pelo espaço) e em potencial (movimentos latentes), rotações e
translações das partes do corpo e do corpo como um todo, movimentos de
partes isoladas e/ou combinadas, contato das partes do corpo no mesmo
indivíduo, entre indivíduos e na relação com objetos. E movimentos que tem
uma orientação espacial e lateralidade: são os referenciais espaciais dos
planos frontal, sagital, diagonal e transverso; trajetórias do movimento, retas,
angulares, curvas e mistas; níveis, alto, médio e baixo; sentidos e direções,
como direita/esquerda, frente/trás e cima/baixo, diagonais.
O conceito corporal, que é o conhecimento intelectual sobre partes e
funções; e o esquema corporal que em nossa mente regula a posição dos
músculos e partes do corpo. O esquema corporal é inconsciente e se modifica
com o tempo.
Dentro do conhecimento corporal pode ser tratada também a
lateralidade, já que é a bússola do nosso corpo e assim possibilita nossa
situação no espaço. Ela diz respeito às relações de direita e esquerda e da
atividade desigual de cada um desses lados, visto que sua distinção será
manifestada ao longo do desenvolvimento da experiência.
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Segundo Earp1, esse Espaço, é um campo de relações de corpo que
abrange o físico, mental e o emocional. O espaço é um campo mole, maleável,
não é rígido nem um campo preparado, ele sim permite as metamorfoses do
corpo em movimento. Onde há disponibilidade para a relação das formas com
o meio exterior e interior.
Não podemos pensar num espaço sem que não pensamos em seus
limites e o que os ocupa - isso nos dá referenciais - assim, nada existiria. Não
podemos pensar no espaço de uma sala sem que imaginemos suas paredes
que lhe possam dar uma dimensão, ou no seu país sem que pensemos nas
suas fronteiras ou até mesmo no planeta sem que o limitemos pela sua própria
forma no sistema. Não é possível desvinculá-lo do corpo, pois sua percepção
só existiria a partir da sua delimitação espacial.
CAPÍTULO II: O corpo, o movimento e o meio
2.1 - O movimento interno e externo
O corpo é o meio de comunicação do homem com seu meio e aonde se
manifestam as funções psicomotoras que abrangem diferentes formas de
linguagem. Uma delas é o movimento corporal.
Segundo Lapierre, o movimento exprime a primariedade das reações do
homem, ou seja, é uma vivência do tipo primária por estar mais próximo do
inconsciente. A linguagem corporal é universal e transmitida de geração em
geração, onde cada espécie humana, assim como a animal, tem seus códigos
gestuais, pode ser aprendida e modificada. O gesto representa vontades,
sentimentos e desejos de um homem que vive, pensa e sente.
Ainda segundo Lapierre, o movimento corporal não fornece informações
objetivas e sim comunica. Desta forma, comunicação tem um sentido mais
profundo, próximo do latim communicare (colocar em comum), aproximando-se
1 Ana Célia de Sá Earp, professora e coordenadora do curso de Dança na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Organizadora dos Fundamentos da Dança, estudos acerca do movimento em dança.
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ao sentido de partilhar, comungar, relacionar: “Quando falamos de
comunicação em análise corporal, é para designar o estabelecimento de uma
relação profunda, com uma partilha de sentimentos de forte carga emocional,
com uma união em troca íntima.” (Lapierre, 2002)
As mensagens não-verbais ou gestuais (através do movimento),
representam dois terços desta relação do corpo e seus sentimentos, portanto
percebe-se a importância desta forma de linguagem e de sua estimulação pois
esta relação é fundamental para o alcançar de uma maior consciência
corporal.
Quando falamos nesta relação, estamos falando da existência de dois
aspectos que integram o todo do homem: o mundo interno e externo. O mundo
externo se refere á forma corporal, ao movimento exterior e o mundo interno
que diz respeito ao movimento interior. A compreensão desses dois mundos é
de suma importância para que se possa haver a relação proposta por Lapierre,
pois não há relação de algo que não se tem o conhecimento.
O movimento corporal deve ser apresentado tanto em seu aspecto
quantitativo, pela sua própria corporeificação e delimitação de uma
possibilidade de manifestação como em seu aspecto qualitativo, que advém da
expressão plena e viva do seu conteúdo expressivo. A qualidade do movimento
ou da sua expressão é conseguida a partir da abertura aos canais sensitivos do
indivíduo que o leva, a uma escuta interior e sensitiva. O 'Eu' é considerado e é
determinante para uma integração no gesto, possibilitando que sua
expressividade possa expressar a síntese.
2.2: Conhecimento e vivência
Os limites da forma corporal, permitem não só que estes se tornem
vivos. Eles unem conteúdos internos significativos e conteúdos externos
organizados em uma composição. O corpo e o espaço portanto, apresentam
tanto suas noções objetivas como também seu aspecto subjetivo alinhavado às
sensações e aos jogos de tensão, de maneira não somente superficial, mas
profunda: "Tudo aquilo que nos afeta intimamente em termos de vida precisa
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assumir uma imagem espacial para poder chegar ao nosso consciente."
(Ostrower, 1998p.30)
A partir do conhecimento dos referenciais da linguagem corporal, o
corpo pode executar inúmeras possibilidades de movimentos das partes do
corpo e do corpo como um todo. E isso, é importante. O conhecimento deve
ser aliado à experimentação, pois o movimento é parte integrante da totalidade
do homem. A vivência corporal, de forma diversificada, contribui de forma
decisiva para a maior e melhor compreensão do corpo, visto que, compreender
é perceber a fundo, é interiorizar o conhecimento e fazer dele um alicerce na
busca pela integração do homem.
A experienciação promove o desenvolvimento de diferentes aspectos
neuromotores, estimulando atividades cerebrais como as do córtex
somestésico responsáveis pelas sensações somestésicas, áreas associativas
visuais, área de Wernicke (integrativa comum), responsável pela linguagem e
pela integração das informações para posterior resposta motora e área reticular
bulbar do tronco cerebral onde são processadas as informações sobre o
equilíbrio do corpo e orientação espacial. Além disso há a estimulação da área
da memória fundamental para o domínio gestual.
As experiências é que nos permite conhecer as possibilidades de
movimentos do nosso corpo, a economia de nossos esforços, as dimensões
de espaço e tempo e de nosso movimento. Podem ainda promover a relação
com o corpo do outro, objetos e dotadas se um sentido abstrato. Elas
apresentam a etapa elementar da consciência corporal, o que reflete
diretamente na aquisição da técnica corporal.
A técnica corporal pode ser entendida na compreensão e prática dos
princípios do movimento e integra o conhecimento da técnica com a habilidade
criativa. Independente de qualquer tarefa específicas de manifestação corporal,
sejam esportivas, artísticas, profissionais e etc; o corpo, apresenta seus
elementos fundamentais, princípios geradores da ação corporal, que servem de
alicerce para a expressão. A técnica prevê a utilização consciente do
movimento para expressar idéias, pensamentos e emoções de forma mais
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eficiente e harmoniosa; além disso, esse estágio de domínio, proporciona um
aspecto relevante e estimulante: o prazer.
A busca pelo prazer no movimento é algo que o homem persegue em
todas as formas de manifestações corporais. Desde a antiguidade, até os dias
de hoje: seja nos antigos rituais, como os dionisíacos, nas atividades
esportivas, nas atividades culturais como dança, mímica, teatro, no trabalho,
enfim, nas relações do homem com seu meio: “Cada exercício, dizia ela, devia
não apenas ser um meio para chegar a um fim, mas ser um fim em si mesmo,
o de fazer de cada dia de vida uma obra completa e feliz.” (Bourcier,1987,p.70)
2.3: Imaginação e sentimento
Mas, consciência corporal vai além do movimento físico e mecânico
experienciado, como já mencionado, ela integra a percepção, compreensão e a
sensibilidade. Lapierre pontua a importância do sentimento no gesto numa
relação harmônica. O movimento, segundo ele, deve expressar exatamente o
sentimento vivido, caso contrário tem-se a uma mensagem errônea e
distorcida, (dupla mensagem), para isso, as modulações tônicas geradas pelas
tensões psíquicas graduam a dinâmica gestual, ou seja, dão a tonalidade ao
movimento.
Essas modulações tônicas podem ser entendidas como a intenção do
movimento, que o faz, verdadeiro e transformador. Segundo Earp, o movimento
é a expressão do ser e é repleto de intenção, sentimento e significado, é
alcançar o plano do Movimento Integral é conquistar a consciência pela
liberdade, integração, através do conhecimento.
A relação entre o vivido e o pensado, contará também com a presença
da imaginação. Ela é a mediadora entre a presença bruta do objeto, no caso o
movimento exteriorizado e a representação de tal, entre a acolhida dada pelo
corpo (órgãos dos sentidos) e a ordenação do espírito (pensamento analógico).
A imaginação faz suscitar imagens do mundo, que estimulam nossos
pensamentos, nos fazendo percorrer outras imagens semelhantes ocasionando
a síntese criativa. O mundo imaginário é real, e o antecede, pois aponta suas
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possibilidades em vez de fixa-lo numa forma cristalizada. A imaginação amplia
o campo real percebido preenchendo-o de outros sentidos. “A imagem é
aprendida não como uma construção subjetiva sensório-intelectual, como
representação mental, fantasmática, mas como acontecimento objetivo,
integrante de uma imagética, evento de linguagem.” (Bachelard, 1970)
Na experiência corporal a imaginação manifesta o acordo entre a
natureza e o sujeito e nesta integração a via de acesso é o sentimento. O
sentimento, no gesto exterioriza as potencialidades do ‘eu’ numa imagem
singular. O sentimento vigente, não é apenas o sentimento de um movimento,
mas de um mundo que descortina em toda sua profundidade, abrangendo a
personalidade e um horizonte interior. Portanto, este sentimento “não é
emoção, é conhecimento”2.
Emoção, refere-se a agitação psicológica ou física e é reservado para os
níveis profundos de agitação. Ela rompe a estabilidade afetiva. O sentimento,
por outro lado, é uma reação cognitiva de reconhecimento de certas estruturas
do mundo, cujos critérios não são explicados. Ou seja é a percepção das
tensões, expressadas e comunicadas pela forma e suas qualidades. Sendo
assim, o sentimento esclarece o que motiva a emoção, na medida em que são
percebidas essas tensões que causam a agitação psicológica.
A emoção é uma resposta, é uma maneira de lidarmos com o
sentimento, por exemplo, a alegria expressada pelo, movimento de sorrir, é o
modo pelo qual lidamos com o sentimento do cômico. Com isso, podemos dizer
que, o sentimento é conhecimento, pois esclarece o que motiva a emoção, e
esse conhecimento é emoção porque supõe uma certa disponibilidade para
acolher o afetivo.
O sentimento, na sua função de conhecimento, alcança para além da
forma plástica do movimento, a expressão. A expressão é possibilidade de
emitir signos e de exteriorizar uma interioridade.
2 M. Dufrenne. Phenomenologie de l’ expérience esthétique, p.471.
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2.4: Movimento consciente e criativo
Movimentar-se é comunicar através da linguagem corporal, onde o corpo
é o limite formal de nossa particularidade. O corpo em movimento, assume
diferentes formas no espaço, forma espaços e manifesta seu espaço interior.
Formar é dar forma a algo novo, é criar. Isto significa, estabelecer novas
coerências que se estabelecem para a mente humana.
O ato de criar pressupõe relação, ordenação, significação e integração.
O ser humano é dotado do dom de estabelecer relacionamento entre os
inúmeros eventos e fenômenos que ocorrem ao o redor e dentro dele.
Relacionando os eventos, ele os configura em sua experiência do viver e lhes
dá um significado, pois, sendo nós mesmos o ponto focal de referência, nos
orientamos de acordo com expectativas, desejo, medos, e de acordo com uma
atitude do nosso se mais íntimo, uma ordenação interior.
Os processos de criação ocorrem no âmbito da intuição, embora,
interajam com toda experiência possível ao indivíduo, inclusive a racional, se
tornam conscientes a medida que são expressos.
A percepção de si mesmo dentro do agir é um aspecto importante no
movimento criativo, pois a percepção consciente na ação humana, faz com que
se possa resolver situações imediatas e ainda antecipar-se a elas. Desta
maneira, podemos falar da intencionalidade humana, onde ela pressupõe
existir uma mobilização interior, não necessariamente consciente, que é
orientada para determinada finalidade, antes mesmo de existir situação latente
seletiva.
A percepção delimita o que somos capazes de sentir, compreender,
portanto corresponde a uma ordenação seletiva dos estímulos e cria uma
barreira entre o que percebemos e o que não percebemos. Nessa ordenação
das informações sensitivas, o movimento consciente, permite ao apreender o
mundo, o homem apreenda também o próprio ato de apreensão, o que permite
ao homem, compreender.
O ser cultural, então se faz presente; o homem consciente com seu
meio. Os valores culturais vigentes constituem o clima mental para o seu agir,
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criando possibilidades culturais e representando a individualidade subjetiva de
cada um. A consciência representa a sua cultura: “...a cultura orienta o ser
sensível, ao mesmo tempo que, orienta o ser consciente.” (Ostrower,1978p.17)
O movimento consciente abre canais contribuindo para a fluidez de
sentimentos, ampliando a relação homem-universo, relação esta, que pode ir
além da exteriorização de um simples vontades ou sentimento, para a
revelação dos sentimentos mais profundos e inconscientes. Segundo Fritjof
Capra, o domínio dessa relação, ainda pode alcançar patamares mais
aldaciosos e prazerosos, como os da supra consciência onde se atinge um
nível mais alto, o da intuição, promovendo-se a integração e o equilíbrio pleno
do homem.
CAPÍTULO III: Consciência corporal e equilíbrio do
homem
3.1: O homem potencial
Earp, em seus estudos desenvolvidos a cerca do movimento na dança,
contribui bastante para uma visão de movimento pleno e harmônico, unindo
concepções de arte, aspectos da física quântica e aspectos da filosofia
oriental. Segundo ela, a linguagem corporal, proveniente do verdadeiro gesto,
deverá contribuir para o conhecimento do homem e a busca pela integração
num ato fundamental para o desenvolvimento da criação.
Os fundamentos desenvolvidos serão explicados a partir do conceito de
movimento primordial na arte da dança remetendo também, a uma abordagem
mais filosófica e mais abrangente em relação à linguagem corporal como
interação harmônica, dinâmica e plena do homem em seu meio.
Segundo a Teoria da Relatividade, desenvolvida na Ciência Moderna que
uniu os conceitos de campo elétrico e magnético (Campo eletromagnético),
chegou-se à conclusão de que nada é estático, tudo está em constante
movimento. Isso quer dizer que todos os corpos estão interagindo, de forma
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não representar uma matéria e sim uma condensação de partículas
transitórias, o seja, em constante transformação:
“O mundo é concebido em termos de movimento, fluxo e mudança (...)
A teia cósmica é viva; move-se, cresce e se transforma
incesantemente. A física moderna também concebe, hoje em dia, o
universo como essa teia de relações e , à semelhança do misticismo
oriental, acabou por reconhecer que essa teia intrinsecamente
dinâmica.” (Capra,1983p.148)
No corpo, esse conceito de movimento, é aplicado pelo fato de que ele
promove um processo dinâmico do desvelar em cada gesto, fruto da integração
do físico, mental e emocional.
O movimento, terá tanto aspectos quantitativos como qualitativos. Em
sua compreensão profunda, despertar-se-á um gesto totalizador em diferentes
aspectos que envolvem o impulso criador pleno. Isto, entretanto, nos leva a
perceber que ambos podem estar desvinculados em simples atos
automatizados, porém não representaria o verdadeiro movimento consciente
integrado.
A integração é um pensar na totalidade que leva a percepção de mundo
que interage constantemente: “o todo é mais do que a soma das suas partes
(...) o todo resulta da integração de suas partes. O todo constitui sempre uma
síntese.” (Ostrower,1994p.70)
Mais particularmente no movimento, esta interação se faz presente num
ato pleno e integrado de consciência e supraconsciência. A consciência,
alcançada pelo conhecimento, no caso específico da linguagem corporal, e
supraconsciência que é a intuição ou impulso interno para criação.
A consciência do movimento, em suas inúmeras contribuições para com
o homem, pode ser estimulada através de pensamentos instigantes e criativos,
aspectos, estes que condizem com a própria natureza humana: de ser
transformador e desvelador. O homem, ao contrário dos animais, tem a
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liberdade de alterar sua capacidade de esforço, em adequação ao seu objetivo
e as condições mutáveis do meio, ao contrário dos animais especialistas em
uma determinada qualidade de esforço e desprovidos da capacidade de inovar
ou criar.
“Esses estranhos hábitos do homem, que não podem ser inteiramente
explicados como adaptação às circunstâncias e ao meio ambiente, são
o resultado de um refinamento consciente do esforço. Os animais
fazem uma escolha instintiva de qual esforço manifestar em resposta ao
seu impulso inato para assegurar sua vida individual e racial.”
(Laban,1973, p.29)
O homem é dotado de vida, assim como todos os seres da natureza,
porém dentro da qualidade de ser auto-determinante, nele está presente o bios
(vida), o nóos (inteligência - nível de percepção além do instintivo) e,
dependendo de seu nível de integração e totalidade, o lógos (razão e intuição).
Esta última qualidade só pode ser alcançada pelo homem, o que faz dele, o
único ser que possui a capacidade de chegar ao máximo da potencialidade da
natureza, devido a sua capacidade de inteligência manifestada pelo nóos e
pela sua capacidade de intuição manifestada pelo lógos. Por isso, o homem
completa a natureza do Universo, fazendo com que ela chegue a manifestar a
Potência Original ou Essência do Universo.
A alo-determinação é determinada apenas pelo bios (vida) que se
manifesta no instinto - caraterística animal, que obedece a uma compulsão
externa, automatizada. Correspondem aos objetos exrtra-hominais que se
manifestam automaticamente a uma causa alheia.
O homem, ao contrário dos seres extra-hominais, que obedecem a uma
causa extrínseca, pode exercer seus princípios naturais de transformação e
criação de consciência supramental na manifestação do lógos. Esse aspecto
de integração só poderá ser alcançado se o homem tiver a vontade, fruto da
liberdade de escolha (característica do livre arbítrio dos seres humanos). O
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homem é o único ser da natureza que possui essa capacidade de escolher sua
própria evolução para um ser integrado, liberto e representando sua natureza
como emanação do Espírito Universal.
O homem, então, poderá ou não, em seus atos, manifestar-se em sua
total potencialidade. No trabalho artístico em dança, pode-se fazer uma
referência a essa questão, por exemplo, em face à pura reprodução e
automatismo, de modelos ou particularizações de movimentos consideradas
como fins e não como manifestações de todo. Assim, tem-se a escolha por
uma arte estagnada e contrária a novas descobertas, a consciência e a
reflexão, ou seja, a própria ruptura e afastamento do homem em relação aos
seus próprios princípios originais e naturais de ser transformador e potencial.
Outro exemplo, pode ser citado em atividades esportivas desenvolvidas
por atletas de alto nível. Como no caso de um atleta de ciclismo, seus
movimentos repetitivos e extenuantes de pedalar exigem muito da capacidade
de interiorização durante treinos e competições. O aspecto da superação
engloba a questão da repetição qualitativa, ou seja, cada movimento trás uma
nova perspectiva, uma nova relação, um movimento nunca é igual ao outro,
desde que feito com prazer. A busca pelo prazer no movimento é mais um
estímulo que o atleta pode cultivar em seu árduo treinamento. O prazer é o
resultado do domínio corporal, desejo de penetrar no gesto, de fazer daquele
movimento de membros inferiores o movimento de um todo, abrangendo o
psíquico e no emocional em prol de um objetivo.
Segundo Laban, o esforço qualitativo, é conseguido quando a consciência
da execução leva ao domínio da mesma. Assim o dispêndio de energia
necessário para o movimento se torna menor e sua fluidez e eficiência se
tornam maior. A técnica a partir daí pode ser ampliada pois a criação e o
conhecimento caminham juntos na expressão da linguagem corporal.
Em nível apenas do nóos intelectual, o homem, estará manifestando
apenas através do ego, tolhindo sua capacidade de criar e transformar,
mantendo-se numa etapa de desarmonia, desequilíbrio e estaticidade:
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“O ego personal sucumbiu à ilusão do separatismo-e até hoje todo o
homem nasce nesta ilusão de separação do Todo (...) o conflito entre a
ilusão do ego e a verdade do Eu formam o campo de batalha da
evolução ascensional do homem. A liberdade herdada deve ser
transformada pelo homem numa liberdade adquirida, numa auto-
libertação.” (Rohden,1984p.98)
Na união do bios (vida), nóos (intelecto) e logos (razão e intuição), o
homem se manifesta em harmonia plena do ser com seus princípios naturais. A
partir de então, se dá a síntese, consciência cósmica, na total integração no
gesto.
“Na síntese da alteridade existencial com a identidade essencial
consiste toda a missão terrestre do homem e sua auto-realização.
Quem não realizar essa grande síntese entre o Ser do Eu e o Existir do
Ego não realizou o porquê da sua existência terrestre. A sua realização
existencial acabará em frustração existencial.” (Rodhen,1984 p.99)
Há três tipos de consciência: a consciência objetiva, que se dá na
manifestação instintiva (característica dos alo-determinantes / extrahominais);
consciência subjetiva, manifestada através do ego (capacidade de
discernimento, diferenças e discriminações - proveniente da personalidade) e
a consciência cósmica que se manifesta na união da objetividade e da
subjetividade, ou seja, as potencialidades nas particularidades - contidos e
contendo a Potência Máxima.
Não se pode chegar a infinitude a partir de finitudes, pois não se chega
nunca ao infinito ou à potencialidade máxima pela quantificação de finitudes. A
essência do infinito, sim é alcançada pela qualificação de finitude. A parte não
pode ser o todo ela pode conter o todo e está contido no máximo.
O corpo é algo primordial e fator originário do gesto. Sua compreensão e
apropriação, leva à integração plena, ao verdadeiro ato criador e à afirmação
da existência como parte do Uno. Essa busca pela presentificação no
movimento que faz com que o gesto seja transformador a cada instante além
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de ser um instrumento para o exercício de sua potencialidade e evolução de
ser nuos chegando à manifestação do lógos.
É importante a consciência da potencialidade do ser na manifestação
criativa e plena, que vai além do determinismo, assim com a compreensão de
que a essência do Uno é a origem primeira de qualquer manifestação corporal.
Esta visão se dá no sentido de que nada pode ser definido e classificado como
algo estático e fechado. Tudo são possibilidades em constante transformação e
compostos pela Essência de uma Potência inalcançável e infinita. O homem é
uma manifestação dessa essência do todo e também está em constante
transformação. Sua personalidade, a partir dessa compreensão da essência
que origina e que não define, leva ao alcance da plenitude ilimitada, isso faz do
homem um ser enigmático, pois a cada instante é um instante outro e
renovador.
A definição degenera a manifestação do ego e o coloca como um fator
estagnador e limitante da capacidade criadora do homem e artista. Ela leva à
discriminação e preconceito na relação das diferenças e não faz com que a
partir destas, possa ser elevada à idéia de aceitação das particularidades como
forma de organização das coisas, que não deixam de ser manifestações de
um todo. Sem as diferenças não seriam possíveis a diversificação, as
particularizações e manifestações:
“E, como toda a creatura auto-consciente é ulteriormente realizável, o
homem cósmico continua a sua evolução ascensional, realizando cada
vez mais o seu Eu central através das atividades do seu ego periférico,
tornando-se assim um homem integral (...) o homem cósmico auto-
realizado, espiritual-corporal realizou a grande síntese, harmonizando
as antíteses complementares do sujeito-Eu e do objeto-ego.”
(Rodhen,1984p.100)
A discriminação pura, exercida na manifestação corporal, se dá na
relação ao apego aos modelos formais, a limitação à liberdade de criação, a
praticidade e o comodismo. Estes limitam a compreensão verdadeira e
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totalizadora do homem. Neste caso, o movimento é tido como fim e como a
verdade absoluta, não enxergando o seu caráter de possibilidade como
essência que se manifesta, se transforma e faz transformar. O corpo em
movimento é mais do que possibilidades formais, é a compreensão da
totalidade que leva à criação do novo a cada momento e faz do homem um ser
aberto, pleno e consciente de sua capacidade potencializadora.
Um exemplo prático pode ser observado na manifestação corporal na
arte da dança onde se dá a relação dos modelos de movimentos pré-
estabelecidos e liberdade de criação. A manifestação do ego limita a
compreensão verdadeira e totalizadora da dança. o homem coloca, neste caso
a possibilidade como fim e como a verdade absoluta, não enxergando o seu
caráter de possibilidade como essência que se manifesta, se transforma e faz
transformar. A dança é mais do que possibilidades formais é a compreensão da
totalidade que leva à criação do novo a cada momento e faz do artista um ser
aberto, pleno e consciente de sua capacidade potencializadora.:
“Em sua busca de uma dança não mais decorativa e acrobática, mais
expressiva, de uma dança ‘que fosse a expressão divina do espírito
humano pelos movimentos do corpo’, Isadora se perguntou como teria
sido possível pela deformação dos hábitos corporais e mesmo mentais,
fabricar ‘aqueles monstros encantadores’. Observou que aquela
perversão começava, do ponto de vista técnico, com a escolha do que
constitui a base de todos os movimentos. ‘Acabei descobrindo a mola
central de todo movimento, o núcleo da potência motora...a escola do
balé ensina que essa mola se encontra no centro das costas, na coluna
vertebral. É deste eixo, dizem os maitres de balés, que partem os livres
movimentos dos braço, das pernas, do tronco, e o resultado dá a
impressão de uma marionete articulada. Este método produz um
movimento mecânico, artificial, indigno da alma.”(Bourcier, 1987,p.166)
Einstein coloca que o valor ou a essência é que deve ser colocada como
origem primordial de qualquer coisa, pois eles levam a qualquer manifestação
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na idéia de infinitude, não limitando como no caso da valorização da parte
como verdade absoluta. A partir desse pensamento, é possível dizer que a
verdadeira criação se dá no fluxo da integração e plenitude do gesto, onde
através do conhecimento podem ser abertos os canais para a descoberta do
novo.
A descoberta de novas combinações e meios de construção para um
objetivo amplia o conhecimento e modificam as coisas, pois nada é constante,
tudo é transformável: uma forma pode ser explorada de várias maneiras ou
ainda, de várias formas pode se chegar a uma..., basta que se procure o
princípio gerador das articulações formais, que se coloca como um aliado muito
importante para a não adestração e descoberta consciente de novas
possibilidades.
3.2 – A visão da Terapia Holística
A Terapia Holística é um sistema avançado de terapias integradas e
progressivas com método personalizado, que trabalha com uma somatória de
técnicas milenares e modernas de altíssima vibração energética, que pode ser
utilizada para tratamentos bastante profundos. A Terapia Holística nos remete
à origem dos nossos problemas, sejam eles físicos, mentais ou espirituais,
ensinando-nos a vê-los, compreendê-los, e termos uma atitude
comportamental pró-ativa.
A Terapia Holística é utilizada somente de maneira ética e técnica
sempre sob o ângulo terapêutico em níveis sutis a profundos de consciência.
atua direta e integralmente na solução de distúrbios e traumas, estagnação e
dificuldade pessoal, bloqueio criativo, dificuldade de concentração, tensões e
pulsões.
Este procedimento terapêutico visa compreender profundamente o
indivíduo como um todo, tendo como foco: o Corpo, a Mente e o Espírito, em
toda sua forma de atuação e maneira de viver. Ajudando a liberar energia vital
e canalizá-la de maneira correta, respeitando seu ritmo de vida (biorítmo).
Assim pode-se atingir os níveis necessários de estrutura mental e física,
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responsáveis pela sua saúde, através da qualidade de vida que passará a
levar. Assim, entrando em harmonia física, psíquica e espiritual, conseguindo
obter disciplinadamente resultados satisfatórios, sabendo de seus valores e
fortalecidos por eles.
3.3: A visão Transpessoal
A visão transpessoal analisa os rumos da ciência e da tecnologia, desde
longa data, e os caminhos que seguem nos dias de hoje, conjugando-os com
os princípios transcendentais que norteiam o ser humano na atualidade.
Princípios,com características peculiares, quando se fala de tradições orientais,
mais antigas, que divergem daquelas com traços ocidentais.
Nós os ocidentais, estamos sempre nos enganando, pois achamos que
conhecemos tudo da ciência, da tecnologia, da sociedade, da nossa mente, de
nós mesmos. Pisamos em nosso próprio satélite, mergulhamos no átomo,
deciframo-nos através de nosso próprio código, mas ainda não nos
descobrimos de verdade, isto é, não nos revelamos a nós mesmos, não
conhecemos nossos mistérios psíquicos, nossas capacidades criativas, nossos
estados de consciência. O tão propalado autoconhecimento ainda é uma
incógnita.
Reconhecemos que tivemos nos últimos tempos muitos incentivos para
buscá-lo, mas nossa postura materialista nos impede de alcançá-lo.
Atualmente,com a evolução da consciência do homem, temos a possibilidade
de iniciar uma nova caminhada rumo a novas descobertas transpessoais, que
nos proporcionarão liberdade de consciência e uma nova visão do planeta
Terra e da natureza que nos cerca, colocando-nos com eles,
por eles e a serviço deles (Terra e natureza), a caminho da evolução.
Existe um paralelo entre os filósofos ocidentais e os
transpessoais, notadamente os das tradições asiáticas. Os primeiros se
satisfazem com a análise e a formação intelectual, que acham suficientes
para ter acesso à real compreensão. Já os transpessoais, aceitam a formação
intelectual, todavia acham-na insuficiente e alegam que a mente deva ter uma
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formação multidimensional iogue ou contemplativa que atinja a ética, as
emoções a motivação e a atenção. Essa segunda corrente entende que essa
formação mais profunda destina-se a cultivar o "olho da contemplação". Com
ela, conseguimos nos transformar e atingir a sabedoria oculta e os graus de
significação mais elevados das tradições transpessoais.
Fritjof Capra questiona, a seguir, se a ciência moderna não estaria
redescobrindo a milenar sabedoria oriental. Os cientistas atuais estão
abandonando o método científico e buscando a meditação ou estão
sintetizando ambos? Capra entende que os dois meios de aquisição de
conhecimento estão se completando, com manifestações racionais e intuitivas,
sem atingir a síntese um do outro. Porém, deve haver uma interação dinâmica
entre a intuição dinâmica e a análise científica.
A noção do Tao, expressão chinesa que significa a harmonia mais
profunda, um ponto de equilíbrio, um desdobramento padronizado da
realidade.Em consonância com essa visão de realidade,a essência da
sabedoria consiste em agir em harmonia com o Tao ou ritmo natural do
universo.Nesse sentido, a proposta é buscarmos um novo caminho,um novo
Tao, uma alternativa de transformação social, que nos coloque de volta na
histórica trajetória de crescimento material, sabendo que a abundância de
energia e matéria não existe mais. Vivemos uma nova escassez desses
recursos, por isso devemos voltar à simplicidade de outras eras, quando
tínhamos mais acesso aos aspectos espirituais, mais sabedoria, mais contato
entre as pessoas, do que hoje, em que somos medidos pelo nível de tecnologia
que utilizamos para "simplificar" nosso dia-a-dia.
Da mesma forma, devemos encontrar o Tão da transformação pessoal
que inverta duas situações presentes na atualidade.Hoje há uma ausência de
evolução"interna" que neutralize a evolução material/externa e uma
incapacidade de reconhecer que o crescimento "interior" é imprescindível aos
processos evolutivos humanos. Nós não temos noção da imensa capacidade
de nossas faculdades interiores e de como desenvolvê-las e, por
isso,permanecemos atados ao crescimento tecnológico.
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É preciso corrigir esse desequilíbrio, inverter essa situação, e nesse
aspecto, os ocidentais têm muito a aprender com a cultura oriental. Como o ser
humano está muito, timidamente, ainda, descobrindo essa situação de
desequilíbrio, estamos iniciando uma corrida entre a auto descoberta e a
autodestruição. As forças que possuímos podem determinar a vitória de uma
ou de outra, porém o caminho da descoberta exige primeiro que aprendamos o
caminho do universo, o próprio caminho do Tao.
Todavia, parece estar renascendo um interesse pelas antigas tradições
espirituais e pela busca mística. Isso denota um abandono das
características destrutivas da personalidade e a busca pelo crescimento
individual e coletivo. Enfim, parece estar havendo uma mudança de
consciência da humanidade com o objetivo de reverter o caminho da
autodestruição.
CONCLUSÃO
Dalai Lama, ao receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1989, salientou a
premente necessidade que temos de aprender a viver em paz e harmonia uns
com os outros. Não temos escolha, precisamos cultivar o senso de
responsabilidade universal, tema central de seu discurso, porque hoje somos
uma família verdadeiramente global. Somos diretamente afetados pelo que
sucede longe de nós, seja nos períodos de guerra entre continentes, seja nos
momentos de paz.
Todavia, há um aspecto muito forte a se salientar. A paz, entendida
como ausência de guerra, tem um valor quase nulo na ótica daqueles que
estão morrendo de fome ou de frio. Ela não conforta aqueles que são vítimas
de um desflorestamento irracional num país vizinho. O valor da paz
só aparece quando os direitos humanos são respeitados efetivamente, as
pessoas são alimentadas, os homens e as nações são livres. Enfim, a paz
deve começar dentro de cada um de nós. A paz interior implica em paz entre
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os que nos cercam e assim vai se ampliando como as ondas de um lago
quando atiramos uma pedra em suas águas.
Existe um paralelo entre as duas formas de se conduzir diante dos
problemas atuais do mundo. Quando entramos em sua vibração, sentimos
dor,reagimos com desespero e sem forças, racionalizamos para proteger o
coração. Nossas ações são inócuas e por mais que trabalhemos, os resultados
são quase nulos e nos sentimos fatigados e esgotados. Por outro lado, se nos
calamos e nos recolhemos a profundos momentos de meditação, sentimos que
chega até nós uma sabedoria inspiradora e móvel de todas as formas do
universo.
Nesse momento, compreendemos que a sabedoria instalada no
sofrimento faz parte da perfeição da natureza evolutiva do espírito. Essas duas
formas de encarar o mundo trazem a marca da verdade e o nosso papel é
encontrar o ponto de equilíbrio entre elas. Esse é o momento deserenar nossa
mente, abrir o coração e abraçar a todos os seres. Aqui repousa um aspecto
importante: reconhecemos que a mágoa de nosso coração diante da dor alheia
é parte da perfeição e que o anseio pelo bem do próximo também é certo.
O momento é de permitir que a consciência se aventure e que o homem
total esteja no momento certo para detectar, avaliar e se utilizar das
descobertas que a aventura da consciência possa proporcionar. Hoje, não
conhecemos apenas um estado de consciência - a vigília. Sabemos da
existência de diversos estados alterados de consciência, que podemos
alcançar com a integração do homem consigo mesmo e com o meio e essas
alterações de consciência pode nos levar a encontrar muitas
respostas para as perguntas que nos perseguem ao longo dos séculos. Apenas
devemos dar a chance à nossa consciência de deixar aflorar, pesquisar e
investigar os diversos mundos e corpos, através das manifestações corporais
conscientes.
Temos em nossas mãos, neste rico momento da humanidade, a
possibilidade de caminhar além do ego, aventurar-se na consciência e seguir a
luz do equilíbrio do homem.
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