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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DISLEXIA: DIFICULDADE OU DISTÚRBIO?
UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO
Por: Dalvina Silva de Oliveira
Orientadora:
Profª. Maria da Conceição Poppe
Manaus
2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DISLEXIA: DIFICULDADE OU DISTÚRBIO?
UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO
Por: Dalvina Silva de Oliveira
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia Institucional, por Dalvina
Silva de Oliveira.
Manaus
2009
AGRADECIMENTOS
Todos, que direta ou indiretamente, contribuíra para a concretização e
finalização de mais uma etapa acadêmica.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho acadêmico a Deus, que tem sido fiel em todos os
momentos de minha vida e a família que esteve do meu lado em todo o
processo de confecção da monografia.
Dalvina Silva de Oliveira
RESUMO
Estima-se que a Dislexia acometa entre 10% e 15% da população mundial. Este transtorno da aprendizagem aparece claramente na escola, durante a alfabetização, e alguns dos seus sintomas, anterior a ela. É hereditária e congênita, sem causas culturais, intelectuais e emocionais, onde a criança falha no processo de aquisição da linguagem. Os disléxicos têm nível de inteligência normal, muitas vezes superior, e grande habilidade em determinadas áreas, mas suas dificuldades de aprendizagem resultam em uma discrepância entre o seu potencial intelectual e seu desempenho escolar. As dificuldades na aprendizagem, causadas pela dislexia, podem causar implicações emocionais quase inexistentes e a criança mais confiante e segura frente a sua realidade e necessidades. (SAMPAIO, Simaia, 1998). Nesta perspectiva, a psicopedagogia institucional contribui significativamente com todos os atores envolvidos no processo de aprendizagem, pois exerce seu trabalho de forma multidisciplinar, numa visão sistêmica. A partir de uma visão interdisciplinar, a psicopedagogia observou que o fracasso escolar deixou de ser algo patológico, deixou de ser tratado como “doença˝. Segundo Cypel, (1986) a impressão que causava ao atender crianças com dificuldade de aprendizagem, na época em que havia a crença de que o fracasso estava associada a problemas genéticos e físicos, era a de que vivíamos em nossas salas de aulas com uma população de anormais, visto que, ao serem avaliados pelos médicos de disfunção cerebral chegava a índices de 40%.Na atuação institucional, junto com educadores, o psicopedagogo, através de discussões e atividades lúdicas, contribui para o esclarecimento das dificuldades escolares, que podem ser decorrentes da organização administrativa do sistema escolar e familiar, das relações truncadas entre professor e aluno, das exigências pedagógicas inadequadas, das expectativas familiares, das formas de circulação do conhecimento do professor e da família e das modalidades de aprendizagem que, segundo Alicia Fernandez, são passadas de pai para filho, determinando como serão as relações do sujeito aprendente com o saber, levando em consideração as crenças, os mitos, as mensagens repassadas na comunicação familiar. O psicopedagogo institucional poderá também, auxiliar o professor “in loco”, ou seja, no ambiente escolar, investindo numa pratica pedagógica que seja respaldada na visão psicopedagógica de educar. Palavras – Chave: Dislexia, dificuldade, distúrbio, família, escola,
psicopedagogo.
METODOLOGIA
A pesquisa dar-se-á através da coleta de textos bibliográficos, retirados
da internet, leitura de livros, entre outros materiais bibliográficos coletados no
decorrer da monografia. Com autores reconhecidos e outros que ainda estão
buscando seu espaço na literatura sobre Dislexia e sua diversa abordagem no
âmbito clinica e escolar. Desse modo referenciamos Giselle Massi, Andrew W.
Ellis, Prof. Vicente Martins (Lingüista), Jaime Luiz Zorzi, entre outros que
estarão presentes na bibliografia do trabalho.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I- O Surgimento da Escrita 14
1.1-O Reconhecimento hábil de palavras
1.2-Habilidades fundamentais
CAPÍTULO II - Dificuldades na aprendizagem da leitura 19
CAPÍTULO III – Compreendendo a Dislexia 25
3.1- Definição de Dislexia
3.2- O que é Dislexia?
3.3- Como a lingüística explica a Dislexia
3.4- O ensino para Disléxicos
CAPÍTULO IV – O valor da consciência fonológica e o reconhecimento das
palavras 35
CAPÍTULO V – Papel do Psicopedagogo Institucional – Contribuição para
aprendizagem 45
CONCLUSÃO 49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53
ÍNDICE 57
FOLHA DE AVALIAÇÃO 59
INTRODUÇÃO
Dislexia é uma dificuldade específica da linguagem, que se apresenta na
leitura e na escrita. A dislexia vai emergir nos momentos iniciais da
aprendizagem da leitura e da escrita, mas já se encontrava subjacente a este
processo. É uma dificuldade específica nos processamentos da linguagem para
reconhecer, produzir, identificar, associar e ordenar os sons e as formas das
letras, organizando-os corretamente.
O bom desempenho na leitura provém do equilíbrio entre o
desenvolvimento das operações da leitura, decodificação e compreensão,
interagindo com os estágios de desenvolvimento do pensamento e da
linguagem. É necessário não esquecer a importância dos vínculos afetivos
estabelecidos com aprendizagem.
Segundo Giselle Massi (2007, p.134), em seu livro A dislexia em
questão, convém esclarecer que a dislexia tem sido tradicionalmente divulgada
pela literatura nacional e internacional como distúrbio de aprendizagem
manifestado por um conjunto de alterações “patológicas” que se evidenciam na
aprendizagem da escrita. Conforme Hout e Estienne (2001), desde a primeira
descrição, elaborada em 1896 pelo médico inglês Pringle Morgan, até os dias
atuais, a dislexia é objeto de estudo e publicações em diferentes áreas:
neurologia, genética, oftalmologia, psicologia, ciências cognitivas,
fonoaudiologia, educação, entre outros.
O sucesso da operação inicial de leitura, a decodificação, vai depender
da habilidade linguística para transformar um sinal escrito, a letra, num sinal
sonoro, o som e vice-versa. A leitura só deixa de ser complexa quando
automatizamos. Como somos diferentes, temos maneiras diferentes de
reconhecer as palavras escritas e, assim, temos diferenças fundamentais no
processo de aquisição de leitura durante a alfabetização. Esse automatismo
leitor exige domínios na fonologia da língua materna, especialmente a
consciência fonológica, isto é, a consciência de que o acesso ao léxico (palavra
ou leitura) exige conhecimentos formais, sistemáticos, escolares, gramaticais e
metalinguísticos do princípio alfabético do nosso sistema de escrita, que se
caracteriza pela correspondência entre letras e fonemas (vogais semivogais e
consoantes).
As pessoas com dislexia têm dificuldade de aprendizagem, porque tem
dificuldades específicas de linguagem, não emocionais, lógico-operatórias ou
sócio-culturais, mas a leitura, como sabemos, seja para disléxicos ou não, é
uma habilidade complexa. Não nascemos leitores ou escritores. O módulo
fonológico é o único, no genoma humano, que não se desenvolve por instinto.
Realmente, precisamos aprender a ler, escrever e a grafar corretamente as
palavras, mesmo porque as três habilidades linguísticas são cultural e
historicamente construídas pelo homo sapiens.
Entretanto, as dificuldades de aprendizagem, presentes na dislexia, são
alterações decorrentes das dificuldades específicas no processamento
linguístico, que tem a leitura e a escrita como suas ferramentas principais.
Sendo assim, o valor da intervenção precoce, no caso de suspeitarmos da
presença de fatores disléxicos, fala por si mesma, mas só podemos considerar
que alguém é disléxico, após dois anos de vivências leitoras. Antes deste
período podemos detectar “dificuldades ou transtornos de leitura”, que já
necessitam de cuidados especiais numa postura preventiva.
A intervenção do psicopedagogo institucional vai variar conforme o tipo
de dislexia: fonológica, lexical ou mista. A intervenção dirige-se aos déficits
específicos do disléxico, auxiliando a melhorar a capacidade para operar com
as regras que relacionam fonologia – ortografia e trabalhando a compreensão
de textos. O psicopedagogo institucional trabalha com as habilidades nucleares
da leitura: reconhecimento de palavras e compreensão. Partindo de um
trabalho com consciência fonológica necessário para a reconstituição do
sistema de correspondência fonologia – ortografia, visando maior precisão.
Buscando ampliar o vocabulário visual - gráfico e, paralelamente, realizando
leitura conjunta.
O trabalho com a escola deve ser continuado. Os professores
necessitam de ajuda para usar estratégias especiais para os disléxicos sem
que isso implique “favorecimento” de qualquer ordem. É na escola que a
dislexia, de fato, aparece. Há disléxicos que revelam suas dificuldades em
outros ambientes e situações, mas nenhum deles se compara à escola, local
onde a leitura e a escrita são permanentemente utilizadas e, sobretudo
valorizadas. Sempre houve disléxicos nas escolas. Não é por acaso que muitos
portadores de dislexia não sobrevivem à escola e são por ela preteridos.
Ainda estamos longe de um ideal de proposta da intervenção escolar
pelo psicopedagogo institucional. Somente ir às escolas e fazer diagnóstico
tem se mostrado insuficiente. Visto que o ideal seria a presença constante do
psicopedagogo institucional dentro da instituição de ensino, visando o
levantamento de resultados concretos e relevantes, no que diz respeito à
participação efetiva de pessoas disléxicas em atividades regulares como ler,
interpretar e escrever.
Desse modo, é nossa intenção estabelecer, alguns dos requisitos
cognitivos que estão presentes no ato de ler, como também abordar o
desenvolvimento cognitivo de uma criança que inicia a aprendizagem de
leitura.
Em suma, a facilidade e o pouco rigor que caracterizam o modo como,
por vezes, surge utilizado o termo dislexia e a observação do comportamento
de crianças em idade escolar designadas por disléxicos levam-me a tecer
algumas considerações acerca das perturbações de leitura e de escrita.
A questão da identificação da dislexia tem provocado um grande volume
de debates e de argumentação. O critério de definição mais freqüentemente
aceito é o da discrepância entre desempenho de leitura e de escrita em relação
à inteligência e às oportunidades educacionais, ou seja, consideram-se
disléxicas as crianças que, embora aparentemente normais ou superiores em
muitas áreas do funcionamento intelectual, e a despeito de encorajamento e
oportunidades educacionais, ainda assim encontram extrema dificuldade na
aprendizagem da leitura e da escrita.
Estima-se que, no Brasil, cerca de 15 milhões de pessoas tem algum
tipo de necessidade especial. As necessidades especiais podem ser de
diversos tipos: mental, auditiva, visual, física, de conduta ou deficiências
múltiplas. Deste universo, acredita-se que, pelo menos, noventa por cento das
crianças, na educação básica, sofram com algum tipo de dificuldade de
aprendizagem relacionada à linguagem: dislexia, disgrafia e disortografia.
Assim, o estudo da fonologia é essencial, pois evidenciando que a
dislexia é a capacidade parcial da criança ler compreendendo o que lê,
acreditando que crianças na educação básica sofram com algum tipo de
dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem, a dislexia é a de maior
incidência, merecendo assim, toda atenção por parte dos gestores de política
educacional, pais e sociedade.
O sucesso na reeducação de um disléxico está baseado numa terapia
multisensorial (aprender pelo uso de todos os sentidos), combinando sempre a
visão, a audição e o tato para ajudá-lo a ler e soletrar corretamente as
palavras. O disléxico precisa olhar atentamente, ouvir atentamente, atentar aos
movimentos da mão quando escreve e prestar atenção aos movimentos da
boca quando fala. Assim sendo, a criança disléxica associará a forma escrita
de uma letra tanto com seu som como com os movimentos da mão para
escrevê-la (NICO. 2002).
Para ler com eficiência a criança necessita dominar as técnicas de
reconhecimento das palavras, de modo que, possa aplicá-las de maneira
automática e instantânea. O reconhecimento da palavra implica
preferentemente no domínio dos elementos fonéticos e estruturais das
palavras, regras de acentuação, silabação e aquisição de um amplo
vocabulário visual.
A leitura e escrita em crianças são tema predominante nos meios
educacionais, mas também têm sido foco de pesquisas em áreas como
psicologia do desenvolvimento, psicologia cognitiva, linguística e
fonoaudiologia. Visando conhecer as estratégias de leitura e escrita utilizadas
como requisito essencial para a prevenção, identificação e tratamento das
dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita.
Este trabalho será organizado em cinco capítulos׃ Capítulo I ׃
contextualiza o surgimento da escrita, o reconhecimento hábil das palavras e
as habilidades fundamentais no estudo sobre Dislexia; Capítulo II ׃ Destaca as
dificuldades na aprendizagem da leitura; Capítulo III ׃ Enfoca a compreensão
sobre Dislexia, a definição de Dislexia, o que é Dislexia, como a linguística
explica a Dislexia e o ensino para os Disléxicos; Capítulo IV ׃ Aborda o valor da
consciência fonológica e o reconhecimento das palavras; Capítulo V ׃ Ressalta
o papel do psicopedagogo institucional – contribuição para aprendizagem, bem
como, conclusão geral e referências.
CAPÍTULO I
SURGIMENTO DA ESCRITA
Os sistemas de escrita emergiram pela primeira vez, quando foram
usados para representarem palavras da língua, ao invés de objetos ou
conceitos. Este importante avanço, provavelmente, foi assumido
independentemente em diversos locais, em diferentes momentos. Isto, não
quer dizer que a escrita por desenhos extinguiu- se em determinadas culturas
onde a escrita desenvolvera-se.
Os linguístas referem – se ao sistema de escrita usado por língua como
sua ortografia e à estrutura sonora dessa língua como sua fonologia. Os
diferentes sons usados para a distinção de palavras com significados distintos
são conhecidos como fonemas do idioma. Uma linguagem falada contém
muitos sons diferentes, mas apenas alguns deles são usados na diferenciação
entre as palavras. Se solicitados a relacionar alguns dos usos da escrita,
estamos propensos a pensar em “altas” realizações culturais, tais como׃
romances, peças teatrais, poesia e grandes trabalhos científicos.
As coisas podem estar mudando um pouco, com o desenvolvimento de
outras tecnologias para o registro do som e da visão, mas a alfabetização ainda
abre as portas para uma vasta gama de experiências sociais e culturais
proibidas a uma pessoa analfabeta. É vital compreendermos a natureza da
habilidade de leitura e descobrimos melhores modos de ajudarmos os
membros de nossa sociedade para que a adquiram e se beneficiem de seu uso
através da escrita. (ELLIS, Andrew W. 1995 p.7-15).
A escrita, muito além de simples habilidade motora, constitui um sistema
particular de símbolos que se impõe como crucial em todo o desenvolvimento
cultural da criança. Para Vygotsky, a linguagem escrita configura-se como um
simbolismo de segunda ordem relacionado nos sons da fala e, por isso, é
secundário à linguagem oral.
Nesse processo, portanto, é por meio da linguagem oral que aspectos
da escrita passam a ser internalizados. A linguagem escrita acaba por
constituir-se como um sistema simbólico de primeira ordem, independente da
oralidade. A escrita, ao ser internalizada, transforma-se, assim como a própria
linguagem oral, passando a constituir as funções internas da criança. Vygotsky
para esclarecer o processo de internalização, propõe a noção de
desenvolvimento proximal, apontando para a existência de dois níveis de
desenvolvimento: o real e o potencial.
Cabe ressaltar que o não-entendimento de questões como essas, que
integram a internalização da escrita como um objetivo de conhecimento tem
levado educadores, médicos, psicólogos a interpretações equivocadas que
culminam com a noção de dislexia ou distúrbio de aprendizagem da escrita.
Nessa visão, antes de a criança iniciar o aprendizado formal, ela deve
ser treinada para a aquisição do código escrito. As alterações que surgem
durante esse treinamento são, em geral, consideradas para indicar a
possibilidade de a criança apresentar o que é tomado como um distúrbio
cognitivo capaz de debilitá-lo na aprendizagem da leitura e da escrita.
Todavia, conforme já apontado em nosso panorama teórico, é por meio
da própria linguagem que os sujeitos atuam sobre o mundo estruturando a
realidade. Por conta disso, a atividade linguística desempenha um papel
fundamental na constituição da percepção, da memorização, do
reconhecimento de noções de lateralidade, entre outras funções, ou seja,
essas funções e conhecimentos dependem da mediação da linguagem.
Sabemos que a apropriação da escrita é um processo complexo e não
pretendemos negar que são muitos os fatores envolvidos nesse processo.
Afinal, além da impossibilidade de vincular apropriação da escrita com
questões referentes a lateralização, esquema corporal, organização espaço –
temporal, entre outras, os anos de “treinamento de prontidão” não se
mostraram efetivos na minimização do aparecimento de “erros” tomados como
sinais ou sintomas disléxicos.
1.1 – O Reconhecimento hábil de palavras
A leitura é uma habilidade – e habilidade difícil, aliás. Um extenso
aprendizado é necessário, para que seja completamente dominada. A leitura é
a habilidade linguística mais difícil e complexa, no entanto, só a escola será
capaz de oferecer ao educando o ensino – aprendizagem ou a mídia façam sua
intervenção precoce, é no meio escolar o momento de desenvolvimento da
leitura hábil.
A leitura é, pois, uma habilidade a ser adquirida, não nascemos leitores,
pois o processo de aquisição da linguagem compreende duas operações
fundamentais: decodificação e a compreensão.
A decodificação é a capacidade que temos como escritores-leitores-
aprendendentes da língua, de identificar um signo gráfico por um nome ou por
um som da letra “fonema”.
As vogais, as consoantes e as semivogais são exemplos de fonemas. As
letras são grafemas. Fonemas e grafemas, juntos, dão – nos a metalinguagem
necessária à leitura.
A compreensão, outra etapa do processo lecto escritor e, decerto, a
maior aquisição da linguagem, é a captação do sentido ou conteúdo das
mensagens escritas. A decodificação é a base para a compreensão.
Na leitura, fixamos, inicialmente, nossa olhada nos símbolos impressos,
isto é, nas palavras e nos seus grafemas, e se não analisamos em
profundidade o que realmente ocorre pode parecer que os olhos percebem as
palavras de uma linha ou um texto de forma continua. Ler, a rigor, não é
apenas ler palavras nas linhas, na sua dimensão linear sintagmática, mas ler
as entrelinhas, o subjacente, o paradigmático, o ausente, o dito não explícito no
texto – interpretar. (MARTINS, Vicente, 2007).
1.2-Habilidades fundamentais
As escritas de natureza alfabética envolvem um jogo de relações entre
sons, letras e significados. Por um lado, temos as palavras, que são compostas
por sons, ou seja, os fonemas. Por outro, temos as letras do alfabeto, cuja
função é a de representar tais fonemas. Desse modo, para escrever uma
palavra se deve pensar em quais sons a compõem e associar cada um deles à
letra apropriada, formando assim uma seqüência de letras que representa a
estrutura sonora da palavra falada. Contrariamente, para ler, as letras da
palavra escrita devem ser juntadas para formar sílabas, e as sílabas devem ser
unidas para formar a palavra falada.
De modo resumido para decidirmos com que letras escreverão a palavra
“bola”, devemos pensar em quais sons devemos associar uma letra: para o
som ⁄b⁄, a letra “bê”, para o som ⁄o⁄, a letra “o”, para o som ⁄l⁄, a letra “ele” e, para
o som ⁄a⁄, a letra “a”. Ao juntar todas as letras se obtém a palavra “bola”, escrita
de forma completa. No caso da leitura da palavra “bola”, o procedimento será
inverso, de modo que cada letra se transformará em um som específico para
formar a palavra completa: ⁄b⁄o⁄l⁄a⁄ = “bola”.
Isso é um exemplo da “consciência fonológica”, a qual permite perceber
ou identificar os sons presentes nas diferentes palavras, podendo transformá–
los em letras e vice – versa.
Para tanto, a criança deve dominar o alfabeto, estabelecendo as
correspondências apropriadas entre letras e sons. Essas habilidades são
fundamentais para o domínio da leitura e da escrita, que são pouco
desenvolvidas nas crianças disléxicas. (ZORZI, JAIME LUIZ, 2007, p.50).
A troca de fonemas, como p/b, p/q, f/v, entre tantas unidades sonoras e
distintas do sistema consonantal do português, por exemplo, reflete nessa fase
uma deficiência de ordem linguística e não um déficit neurolinguística, e não
um déficit neurolinguística, na formação linguística inicial (alfabetização e
letramento da criança).
Uma criança que troca fonemas na fala ou que faz confusão na
correspondência entre grafema-fonema e fonema-grafema parece sugerir, para
os educadores e linguísticas, que há uma deficiência na formação pedagógica.
Daí, ser o método lectoescritor um dos objetos da chamada linguística
educacional ou pedagógica.
Na escola é ensinado que no sistema fonológico do português, há
apenas cinco vogais, dando bases precárias, de ordem metalinguística, para a
leitura, o que acaba por levar o educando a aquisição de uma dislexia
pedagógica, entendendo dislexia como termo estritamente linguístico
pedagógica e não transtorno à luz do psicólogo ou déficit neurológico.
Sabemos, porém que são doze as vogais, sendo sete as vogais orais:
/a/, /é/, /ê/, /i/, /ó/, /ô/ e /u/ e cinco nasais: /an/, /en/, /in/, /on/ e /un/. Vogais são
os sons da fala, vogais não são letras, vogais são fonemas, isto é, unidades
sonoras distintivas da palavra. Vogais têm a ver com a leitura. Nos casos em
que crianças apresentam a troca de letras, podemos supor uma dificuldade por
motivação.
Segundo Andrew W. Ellis (1995, p.50), algumas pessoas ao verem uma
palavra escrita, podem pecorrê-la laboriosamente, identificando as letras uma
de cada vez antes de tentarem dizer a palavra completa. É importante
apreciarmos o fato de essas pessoas não estarem lendo fonicamente, eles
convertem as letras em seus nomes, por exemplo, (agá – H; vê – V) não em
seus sons (“huh”; “vuh”). Embora seu reconhecimento de palavras seja lento e
propenso a erros, eles lêem palavras irregulares (“y, a, c, h, t. yacht”) com tanto
sucesso quanto as palavras regulares (“s, h, i, p. ship”).
Os leitores de letra –por- letra, em comparação, estão reduzidos a um
processo de identificação serial, de uma letra por vez (embora ainda não esteja
claro exatamente como identificam palavras, e que papel os nomes das letras
exercem na identificação).
CAPÍTULO II
DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM DA LEITURA
Os termos dificuldades e distúrbios de aprendizagem têm gerado muitas
controvérsias entre os profissionais, tanto da área da educação quanto na
saúde. Neste sentido, o termo dificuldade estaria mais relacionado aquelas
manifestações escolares decorrentes de uma situação problemática mais geral,
como, por exemplo, inadaptação escolar, proposta pedagógica e
desenvolvimento emocional.
Conforme Castaño (2003), o termo dificuldade de aprendizagem pode
ser caracterizado por alterações no processo de desenvolvimento do
aprendizado da leitura, escrita e raciocínio lógico- matemático, podendo estar
associados ou não a comprometimentos da linguagem oral.
A distinção feita entre os termos dificuldade e distúrbios de
aprendizagem está baseada na concepção de que o termo “dificuldade” está
relacionado a problemas de ordem pedagógica e⁄ou sócioculturais, logo, o
problema não está centrado apenas no aluno, sendo que essa visão é mais
freqüentemente utilizada em uma perspectiva preventiva.
Sendo assim sabemos que a leitura está tão presente que acaba por nos
parecer uma atividade “natural”, como a visão e audição. A leitura precisa de
um longo e em certa medida laborioso processo de aprendizagem, no que
devemos adquirir e automatizar um amplo número de habilidades que tem de
operar de uma forma ordenada.
A leitura envolve a conversão de uma representação visual em uma
representação fonológica. A leitura requer compreensão da linguagem oral e da
estrutura da língua, que pode se dar desde o texto até um único
fonema/grafema, este com sentido próprio. Variáveis linguísticas relacionadas
à palavra interferem no desenvolvimento da leitura, bem como, interagem com
alterações neste desenvolvimento e nas dificuldades resultantes.
Segundo Sally Shaywitz (2006, p.47-51), os leitores em potencial devem
dominar o princípio alfabético para que aprendam a ler, mas uma em cada
cinco crianças não consegue fazê-lo. Pela facilidade e pela fluidez, a linguagem
verbal tem tudo a ver com o porquê de a leitura ser algo tão difícil para as
crianças disléxicas. Embora tanto a fala quanto a leitura dependam da mesma
partícula, o fonema, há uma diferença fundamental׃ falar é natural, e ler não é.
Aqui reside a dificuldade. Ler é algo que se adquire, uma invenção do homem
que se deve aprender em nível consciente. E é a própria naturalidade da fala
que faz a leitura ser algo tão difícil.
Nas crianças disléxicas, uma falha do sistema de linguagem no nível do
módulo fonológico, prejudica a consciência fonêmica e, assim, a capacidade de
segmentar a palavra verbalizada em seus sons subjacentes. Os fonemas são
menos precisamente definidos. Como resultado desse problema, as crianças
têm dificuldades para descobrir/dominar o código de leitura.
Segundo Sisto (2002), os problemas relacionados à comunicação, com
problemas de atenção, memória, raciocínio, coordenação, adaptação social e
problemas emocionais, podem ocasionar a chamada dificuldade de
aprendizagem. Entretanto, ressalta que esta se manifesta por meio de atrasos
ou dificuldades de leitura, soletração, cálculo, em crianças com inteligência
potencialmente normal ou superior, sem deficiências sensoriais, motoras ou
cognitivas e desvantagens culturais. Por tudo isso, ao fracassar na leitura,
trunca um amplo conjunto de possibilidades expressivas e receptivas que são
decisivas para adquirir tudo quanto nossa cultura reclama a seus membros.
O campo de estudos das dificuldades de aprendizagem é uma pesquisa
vasta, entretanto, gostaríamos de destacar a dislexia, dada sua singularidade e
importância de seu conhecimento para aplicação de ações eficazes para
auxiliar na avaliação e tratamento. Os indícios dessa dita dificuldade, porém,
relacionados na maioria das vezes a troca, omissões, adições de letras ou
sílabas, escrita pautada na transcrição fonética, segmentação inadequada de
vocábulos, quando investigados linguisticamente, não apontam para um
distúrbio, mas desvendam o próprio processo de aquisição da linguagem
escrita.
Segundo Giselle Massi (2004, p.70-71), a partir da análise linguística de
dados da escrita inicial, é possível afirmar que a dislexia não se sustenta como
um distúrbio vinculado à aquisição da escrita, mas, antes disso, evidencia a
concretização da aprendizagem dessa modalidade de linguagem.
Problemas de aprendizagem são as muitas varetas de um amplo
guarda-chuva. Dislexia é uma delas, mas muito especial, pois a dislexia é uma
dificuldade específica de linguagem que se apresenta na língua escrita.
A dislexia vai emergir nos momentos iniciais da aprendizagem da leitura
e da escrita, mas já se encontrava subjacente a este processo. É uma
dificuldade específica nos processamentos da linguagem para reconhecer,
reproduzir, identificar, associar e ordenar os sons e as formas das letras,
organizando-os corretamente. É frequente encontrar outras pessoas com
dificuldades semelhantes nas histórias familiares.
Cabe aqui ressaltar a importância da responsabilidade e da função do
professor frente a esse distúrbio, e que é prioritária a compreensão deste
profissional sobre a dimensão implicada na dislexia, a consciência de que
ninguém aprende da mesma forma, por isso a importância de se respeitar as
individualidades e de diversificar as estratégias de ensino, bem como, o modo
de se avaliar esse aluno.
Ao entender a importância da leitura e escrita no processo de ensino –
aprendizagem delineia-se a ideia de que a dislexia interfere significativamente
na vida escolar do aluno que tenha o distúrbio, dessa forma, o papel que a
família e a escola exercem no auxílio ao individuo que apresente tal disfunção,
é de suma importância para o bom desempenho escolar do disléxico.
A leitura pode ser concebida em partes, sendo elas: o reconhecimento, a
decodificação e compreensão daquilo que se ler, e é de fundamental
importância, tanto no reconhecimento das letras quanto na decodificação,
quanto nos dois processos anteriores.
Crianças que possuem habilidades fonológicas deficientes não
entendem o “principio alfabético” apresentando dificuldade em aprender as
relações entre som e letra dificultando a leitura além de acarretar erros
ortográficos.
É comum no início dos anos escolares a leitura costumar ser lenta, com
pouca precisão principalmente diante de palavras tão usuais, a raiz do
problema mais uma vez é fonológica, pois fonologicamente competentes
adquirem habilidades de decodificação enquanto as que apresentam
dificuldades não aprendem as representações sonoras que os grafemas
contêm, dificultando a leitura.
Os déficits de leitura podem ser identificados por meio de atividades que
utilizem repetição de trocadilhos, pronuncia de palavras polissílabas e de não-
palavras, ou até leitura de palavras isoladas além de palavras em um contexto
analisando os resultados, vendo as dificuldades o professor será capaz de
perceber quais alunos, apresentam leitura irregular.
Alguns pontos que podem ser avaliados; se o vocabulário visual é
limitado, se há erros visuais, se ocorre à identificação apenas em parte na
palavra, se há dificuldade na decodificação, quais letras são conhecidas e
quais ainda precisam ser mais trabalhadas, como se dá correspondência entre
letras e sons, se utilizam um contexto na obtenção da compreensão do
significado, se utilizam ou não-correção, se o leitor consegue responder
perguntas sobre o conteúdo do texto, se ele é capaz de descrever (após a
leitura) características dos personagens, valores, comportamento, até mesmo
sobre a velocidade da leitura se é lenta ou demasiadamente rápida, se eles
entendem o que estão lendo, se podem memorizar o conteúdo, se podem fazer
analogias com ocorrência cotidianas.
Na identificação de problemas relacionados a dificuldades de aquisição
da leitura são fundamentais as observações de fatores etiológicos,
neuropsicológicos, psicomotores e sensoriais, cognitivos, condutuais e de
linguagem. Esses fatores interferem diretamente na identificação do disléxico
através da observação de problemas de linguagem de base em sala de aula.
A dificuldade de leitura pode ser problema identificado em sala de aula
pela comparação da leitura ou atividade leitora de crianças que não
apresentam dificuldades cuja leitura é rápida, clara, com ritmo, fluidez e mesmo
diante de palavras não familiares elas fazem em pausa, mas por fim
conseguem ler em oposição as que sofrem distúrbios que apresentam leitura
não clara, muito lenta, lendo, soletrando, confundindo e trocando algumas
letras, fazendo pausas mais longas, com tom de voz baixo, trêmulo, angustiado
ou ainda “lendo” tão velozmente embaralhando as palavras anteriores com as
seguintes, ou pulando palavras, “engolindo” letras.
Até mesmo em situações de fala espontâneo falam “F” em lugar de “V”
(FIDA em vez de VIDA) ou “T” em vez de “C” (Patote=pacote), um caso comum
fala de “cebolinha” (clalo x claro) ou ainda confunde letras parecidas “p, q, b, d”.
A compreensão do valor da leitura em nossas vidas, especialmente, na
sociedade do conhecimento, é base para desmistificarmos o conceito
inquietamente da dislexia e do cérebro dos disléxicos.
A leitura, seja para disléxicos ou não, é uma habilidade complexa, não
nascemos leitores ou escritores. A leitura só deixa de ser complexa quando a
automatizamos, esse automatismo leitor exige domínios na fonologia da língua
materna, especialmente a consciência fonológica, isto é, a consciência de que
o acesso ao léxico (palavra ou leitura) exige conhecimentos formais,
sistemáticas escolares, gramaticais e metalingüísticas do principio alfabético do
nosso sistema de escrita, que se caracteriza pela correspondência entre letras
e fonemas (vogais semivogais e consoantes).
Torna-se custoso a um disléxico armar contas, seguir as linhas do
caderno, respeitar margens e por vezes, confundem as formas das letras e
números e seus sons (d com t; v com f; b com d; p com q), tais problemas
acompanham muitas crianças no inicio do aprendizado, contudo as crianças
disléxicas não as superam.
Quando precisa ler silenciosamente, a pessoa disléxica não consegue
deixar de mover os lábios ou murmurar; costuma acompanha a leitura, palavra
por palavra, com os dedos, pois precisa pronunciar cada palavra para poder
entender o seu significado e ir construindo o pensamento.
Da mesma forma que as crianças disléxicas parecem abordar a leitura
de modo diferente, as outras crianças quando comparadas entre si. A questão
é descobrir se as crianças se dificuldade na alfabetização mostram exatamente
os mesmos padrões de erro, ou parecendo abordar a leitura como uma tarefa
fonológica e, por conseguinte, cometendo muitos erros visuais, ou abordando a
leitura como uma tarefa visual, cometendo, consequentemente, muitos erros
fonológicos.
Como vimos à identificação da dislexia depende da demonstração de
que existe uma defasagem entre o desempenho esperado de uma criança em
leitura e escrita a partir de seu nível intelectual e o desempenho efetivamente
observado. Esse procedimento ao nível individual deve ser complementado por
outras considerações, uma vez que as correlações entre testes de inteligência
e desempenho em leitura não são perfeitas.
Em síntese, as dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita foram
tratadas como relacionadas ao nível intelectual ou à motricidade, ainda que
surgissem indicações sobre a troca de fonemas na fala, como foi salientado,
não dispomos de estudos amplos que descrevam, em linhas gerais, que
progresso se pode esperar das crianças no decorrer de alguns anos de
instrução em leitura e escrita.
CAPÍTULO III
COMPREENDENDO A DISLEXIA
3.1 - Definições de Dislexia
A palavra Dislexia é derivada do grego “Dis” (Dificuldade) e “Lexia”
(Linguagem) sendo definido como uma falta de habilidade na linguagem que se
reflete na leitura (Associação Nacional de Dislexia; 2005; Ianhez, 2002).
Entretanto, ela não é causada por uma baixa de inteligência. O que
ocorre é uma lacuna inesperada entre a habilidade de aprendizagem e o
sucesso escolar.
A Dislexia torna-se evidente na época da alfabetização, embora alguns
sintomas já estejam presentes em fases anteriores. Apesar dessa alta
incidência, considerada por alguns autores como uma das mais comuns
deficiências de aprendizado o diagnóstico ainda não é facilmente realizado, o
que faz com que os portadores de dislexia sejam erroneamente rotulados por
pais e professores de preguiçosos, pouco inteligentes ou mal - comportados
visto que essa criança com inteligência, geralmente, acima da média, enxerga
e ouve bem, expressa - se com fluência oralmente, no entanto, seu
desempenho escolar não combina com seu padrão geral de atuação,
apresentando dificuldade na leitura e na escrita, letra ruim, troca de letras e
lentidão (GONÇALVES, 2005).
Outro ponto a ser considerado quando se fala em dislexia é que existem
crianças que apesar de todas estas dificuldades, conseguem aprender a ler,
mas vão carregando a sua dislexia camuflada.
Os sintomas – chaves na dislexia são dificuldades para ler e soletrar,
com desempenho melhor em matemática. De acordo com Gonçalves (2005),
grande parte da intervenção psicopedagógica estará em buscar os talentos do
disléxico, afinal os fracassos, sem dúvida, ele já os conhece bem. Outra tarefa
do psicopedagogo é ajuda essa pessoa a descobrir modos compensatórios de
aprender. Jogos, leituras compartilhadas, atividades específicas para
desenvolver a escrita e habilidades de memória e atenção fazem parte do
processo de intervenção.
Os professores que conseguem suspeitar dos sintomas e sugerir um
encaminhamento clínico para a criança precisam ir além. O problema pede que
eles se dediquem muito ao aluno em sala de aula ao longo do tratamento que
envolve em partes iguais a escola, família e profissionais de saúde.
Estudantes comprovadamente disléxicos não conseguem decorar coisas
nem ler ou escrever textos longos. Mas têm inteligência acima da média,
apesar de aparentar o contrário. Os professores descobrem isso assim que
começam a olhar para eles com mais atenção. Cabe ao professor recorrer a
diversas atividades e técnicas de ensino e descobrir qual delas melhor se
adapta a cada estudante e a cada situação.
A tecnologia também ajuda muito. É possível utilizar programas
oferecidos no mercado para montar uma metodologia de apoio ao aprendizado.
O disléxico é uma pessoa que tem dificuldades no processamento das
informações. E o computador é um processador, um facilitador entre a criança
e a linguagem, não é fácil encontrar a medida certa no trato com o disléxico. O
professor deve ajudar, mas não superproteger. O ideal é trabalhar a autonomia
da criança para que ela não comece a achar que é dependente em tudo.
Por toda complexidade do que, realmente, é dislexia; por muita
contradição derivada de diferentes focos e ângulos pessoais e profissionais de
visão, porque os caminhos de descobertas científicas que trazem respostas
sobre essas específicas dificuldades de aprendizado têm sido longos e
extremamente laboriosos, necessitando, sempre de consenso, é imprescindível
um olhar humano, lógico e lúcido para o entendimento maior do que é dislexia.
3.2– O que é Dislexia?
A Dislexia é uma diferença na forma em que algumas pessoas
processam informações. Isso significa que ler corretamente, pausadamente,
pode ser muito difícil, assim como também pode ser complicado manter a
ortografia correta das palavras e escrever de uma maneira estruturada. Os
indivíduos com dislexia podem se tornar confusos quando muitas instruções
são dadas de uma só vez, e podem, ainda, ter uma memória de curto prazo
precária, dificuldades com orientação direcional, ou seja, em identificar direita e
esquerda, e até dificuldades na leitura de mapas.
Eles podem, também, ter dificuldades em encontrar as palavras
adequadas durante discussões e, em conversas, podem usar palavras
impróprias – talvez usar uma que pareça, ou seja, semelhante com outra –
como “onde” e “bonde” e “uma” e “uva”. “Quando estão escrevendo, eles
podem confundir as sílabas das palavras ou, quando estão conversando,
entender as sílabas na ordem errada, em palavras como “preliminar” ou
elefante”. (Revista Real Lancashire, 2002, p. 40-41).
A dislexia não é uma doença como sarampo, que possa ser claramente
diagnosticada ou não. Existe um gradiente, indo desde boa até má leitura, e o
ponto onde podemos traçar uma linha e dizer que as crianças com o QI abaixo
da média, são candidatas ao rótulo de “disléxicas”, sendo demasiadamente
arbitrário.
Sendo a dislexia uma específica dificuldade de aprendizado da
linguagem: em leitura, soletração, escrita, em linguagem expressiva ou
receptiva, em razão e cálculo matemáticos, como na linguagem corporal e
social. Não tem como causa falta de interesse, de motivação, de esforço ou de
vontade, como nada tem a ver com acuidade visual ou auditiva como causa
primária. Dificuldades no aprendizado da leitura, em diferentes graus, é
característica evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos. (CRISTOVAM
BUARQUE, produzido em 25/10/08 – www.cristovam.org.br).
A palavra dislexia foi o primeiro termo genérico utilizado para designar
vários problemas de aprendizagem. A dislexia é uma palavra estranha, mas o
problema é mais comum do que a gente imagina: é um distúrbio hereditário, e
que não é uma doença, é uma disfunção neurológica: a informação faz um
caminho mais longo e demora um pouco mais para ser processada.
Segundo Jaime Zorzi (2003), muitas crianças são marginalizadas em
consequência do sistema econômico que é mal administrado levando as
crianças a padecerem em seu aprendizado que implicará em perdas graves
futuramente.
Para a autora a dislexia foi descoberta a mais de um século e até hoje
surgem discursões a cerca do assunto, o que realmente a dislexia afeta, é a
leitura ou a escrita? Ou os dois? Isso é motivo de dúvidas para todos que não
tem conhecimento do distúrbio de aprendizagem. A falta de conhecimento nos
educadores contribui para que os alunos disléxicos acabem por abandonar a
escola. A dislexia é uma dificuldade que se bem trabalhada pode ser superada
e o disléxico terá uma vida normal com apenas uma dificuldade em
determinada área.
A dificuldade de conhecimento e de definição do que é dislexia, faz com
que se tenha criado um mundo tão diversificado de informações, que confunde
e desinforma e causa ainda ignorada evasão escolar em nosso país, e uma
das causas do chamado “analfabetismo funcional” que, por permanecer envolta
no desconhecimento, na desinformação ou na informação imprecisa, não é
considerada como desencadeante de insucessos no aprendizado.
3.3 – Causas e conseqüências da Dislexia
O “nome” dislexia pode, muitas vezes, rotular e criança, estigmatizando-
a como um problema a ser resolvido e, como consequência, passa a enfrentar
muitas dificuldades, decorrentes desta discriminação.
A falta de informação dos profissionais causa ao disléxico falta de
interesse pelos estudos, muitas vezes até evasão. A dislexia apesar de ser
considerada a “mãe dos distúrbios”, ainda passa despercebida em inúmeros
portadores que ainda estão sendo rotulados por educadores e os próprios
colegas que não são preparados para conviver com este problema, uma vez
que o professor não esta apto para receber o disléxico, e também para
preparar os colegas para contribuírem com o desenvolvimento do portador do
distúrbio.
A dislexia se define como sendo uma dificuldade na leitura e escrita. Na
atualidade a definição mais usada é que a dislexia é um dos diversos distúrbios
de aprendizagem, ela não é considerada doença, portanto, não devemos falar
em cura. Antes de atribuir a dificuldade de leitura à dislexia, os pais,
professores, entre outros deverão descartar os fatores a seguir juntamente com
um parecer clínico: imaturidade para aprendizagem, problemas emocionais,
métodos defeituosos de aprendizagem, ausência de cultura e incapacidade
geral para aprender.
A dislexia sem causa definida é um problema neurológico, genético e
geralmente hereditário, caracteriza-se pela dificuldade acentuada na leitura,
escrita, soletração e ortografia. Normalmente diagnosticada durante a
alfabetização, é responsável por altos índices de repetência e abandono
escolar.
Se tratado em tempo o disléxico pode contornar sua dificuldade na
leitura e na escrita, mas não deixará de ser disléxico. A criança disléxica tem
dificuldade de compreender o que esta escrito e de escrever o que está
pensando. Quando tenta expressar-se no papel o faz de maneira incorreta
fazendo com que o leitor não compreenda suas ideias.
3.4 – Como a linguística explica a Dislexia.
Para educadores linguístas um dos gargalos para o diagnóstico e
tratamento das dificuldades específicas de leitura, no ambiente escolar, reside
na compreensão de conceitos e operatórios como dislexia e mau leitor. Como
saber a diferença que há entre o conceito de dislexia e dizer que uma criança é
mau leitor.
Para os pedagogos, psicopedagogos e profissionais de ensino, dislexia
é uma dificuldade de aprendizagem de leitura (DAL), denominada de
Dislectogenia dislexia dita pedagógica, assim poderíamos dizer que todo
disléxico é realmente um mau leitor, mas nem todo mau leitor é disléxico. Uma
má leitura não deve ser uma pista final para o reconhecimento do mau leitor,
mas é uma pista preciosa para o diagnóstico do disléxico.
Nos estudos, a hipótese de um déficit lingüístico para a dislexia, leva a
um tipo de dislexia ou dislectogenia, a pedagógica, responsável, pela maioria
dos casos das chamadas dislexias, no meio escolar, resultado da dificuldade
que o aluno tem, durante a leitura, de fazer a correspondência grafema –
fonema, isto é, de entender que ler é um mistério, porque não consegue a
correspondência adequada do grafema ou letra ao fonema ou som da fala. É
nesse caso, o pedagógico que está, pois o verdadeiro mau leitor, que deixa de
fazer uma boa leitura porque aprendeu a ler mal, devido à metodologia de
ensino de leitura (global ou sintético) foi mal aplicada. (www.artigos.com.br –
VICENTE MARTINS).
Professores, psicólogos, psicopedagogos e os veículos de mídia têm se
voltado principalmente nos últimos anos, para os processos de identificação e
dificuldades leitoras em crianças, a dislexia.
A dislexia resulta de um processo de dificuldade aquisitiva de leitura,
incapacidade de compreensão de que se lê, nessas condições, a criança
consegue ler, contudo experimenta fadiga e sensações desagradáveis pela
falta de assimilação do texto, apresentando um déficit de reconhecimento do
mesmo. É importante a identificação precoce desta deficiência, pois quanto
mais cedo identificado o problema melhor a aplicação do tratamento.
A identificação da dislexia costuma acontecer na observação de crianças
em torno dos sete anos de idade, geralmente no primeiro ciclo do ensino
fundamental. Identificar as deficiências de leitura é de suma importância, pois
ao detectar o quanto antes fica mais fácil criar métodos eficazes para auxiliar
as crianças que apresentam tais problemas.
As habilidades de processamento fonológico em crianças continuam
sendo importantes quesitos na identificação de um diagnóstico inicial para os
casos de dislexia.
Há várias formas para identificar sucesso ou fracasso na leitura (testes
de QI, aptidões de fala, de linguagem, de atenção, processos de memória,
habilidades motoras, de aptidões fonológicas).
Alguns estudos demonstram que poucas crianças, na pré-escola,
conseguem segmentar palavras em fonemas, sendo mais comum para elas
segmentarem em sílabas, quando isso ocorre é devido ao não conhecimento
da correspondência entre letra e som, essa concepção ou habilidade fonológica
está intimamente ligada à aprendizagem da leitura.
Os distúrbios de linguagem envolvem fracasso na leitura, problemas de
sintaxe, deficiências fonológicas que prejudicam o desenvolvimento escolar
afetando até mesmo a motivação da criança. Assim, alunos que apresentam
dificuldades de leitura, quando é proposta uma atividade de paráfrase, ou seja,
recontar o texto com suas próprias palavras (testando habilidades de memória׃
entendimento, organização e competência linguística), apresenta dificuldades
em ler, pronunciar, mas eles decodificam sem obter nenhuma extração de
sentido daquilo que estão lendo.
3.5 – O Ensino para Disléxicos.
Infelizmente, embora muito esforço seja dispendido na tentativa de se
ensinar disléxicos a ler e a escrever, existem poucos estudos sistemáticos dos
efeitos deste tipo de ensino, de acordo com Andrew W. Ellis, autor do livro
Leitura, Escrita e Dislexia.
Os métodos de ensino usados com os disléxicos tendem a colocar
grande ênfase sobre a fonética, isto é, eles dirigem-se ao que é, para muitos
disléxicos, a maior área de dificuldades. Vários estudos demonstraram que os
disléxicos podem fazer um progresso razoável, quando recebem instrução
sistemática.
Vimos assim, que um leitor que adquire uma compreensão razoável da
fonética está em uma melhor posição para fazer progresso, porque terá uma
chance de identificar palavras encontradas por escrito pela primeira vez. O
leitor que não possui um entendimento fonético apenas pode adivinhar ou
indagar. Pode ser que existam alguns disléxicos cujos déficits fonológicos são
tão severos que nenhuma quantidade de instrução poderá permitir que
desenvolvam e usem as correspondências sublexicais de letras-sons
(fonemas).
A dislexia, segundo o linguísta Jean Dubois (1993), é um defeito de
aprendizagem da leitura caracterizada por dificuldades na correspondência
entre símbolos gráficos, às vezes mal reconhecidos, e fonemas, muitas vezes,
mal identificados. De acordo com o linguista, a dislexia interessa de modo
preponderante tanto à discriminação fonética quanto ao reconhecimento dos
signos escritos em signos verbais.
As características linguísticas, envolvendo as habilidades de leitura e
escrita, mais marcantes das crianças disléxicas, são: a acumulação e
persistência de seus erros de soletração ao ler e de ortografia ao escrever,
confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia.
Conforme a AID (International Dislexia Association, 1994), a dislexia é
um distúrbio de linguagem, de origem constitucional, caracterizado pela
dificuldade em decodificar palavras simples. Mostrando uma insuficiência no
processo fonológico, sendo que essas dificuldades em decodificar palavras
simples não são esperadas. Apesar da instrução convencional, adequada
inteligência e oportunidade sóciocultural.
Diferentes métodos de ensino também podem esta propensos a seguir
lado a lado com diferentes modos de organização das salas de aula, com o uso
da fonética sendo encontrada em salas de aula tradicionais, “centradas no
professor”, e métodos de palavra completa, baseados no significado, em salas
de aula mais frouxamente organizadas e “centradas nos estudantes”.
As abordagens “fonéticas” ensinam deliberadamente a correspondência
de letras-sons às crianças, que aprendem as pronúncias tipicamente dadas às
letras e grupos de letras. Os métodos de “palavra inteira” encorajam as
crianças a reconhecer as palavras diretamente, como unidades visuais. O
“método linguístico” é algo similar, mas envolve a apresentação de histórias a
leitores iniciantes nas quais correspondências mais particulares entre letras e
sons são repetidas.
Desse modo, a situação dos disléxicos se torna mais complexa porque
muitas pessoas, inclusive professores, desconhecem o distúrbio. O cuidado na
avaliação é prioridade, uma vez que a existência de uma ou duas
características não significa que a criança é disléxica.
O diagnóstico preciso só pode ser feito após a alfabetização, entre a 1ª e
a 2ª série. Muitos pais ficam preocupados com o que chamamos de falsa
dislexia, quando, por exemplo, a escola alfabetiza precocemente, e a garotada
não acompanha porque não tem maturidade neurológica suficiente.
No caso em que as suspeitas procedem, o primeiro passo é excluir as
possibilidades de outros distúrbios. Há problemas de origem neurológica,
sensoriais, emocionais ou mesmo dificuldades de aprendizagem por falta de
ensino adequado ou de um meio sociocultural satisfatório.
Através de entidades como ABD (Associação Brasileira de Dislexia) e o
CAD (Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento tem-se a possibilidade de
obter laudos clínicos após a realização de uma bateria de exames. Esses
laudos são aceitos, inclusive, para que os candidatos tenham condições
especiais (sala e tempo diferenciados) para realizar provas como o Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou vestibular.
Na ótica do psicopedagogo institucional, o termo dislexia, bem como as
estratégias utilizadas para desenvolver o plano de trabalho psicopedagógico
com disléxicos, ressalta que a dislexia é um dos vários distúrbios de
aprendizagem relacionado à leitura e à escrita que deve ser diagnosticado por
uma equipe multidisciplinar.
Para Jaime Zorzi (2003), estudos indicam a necessidade de que
busquemos conhecer e respeitar as diferenças culturais e linguísticas
apresentada pelos alunos e exercitar a nossa compreensão sobre as
inaplicações orais e escritas das crianças e jovens dentro da escola. A
existência dessas diversas possibilidades explicativas para o fracasso escolar
indica a necessidade de sermos cautelosos ao “diagnosticar” as “dificuldades”
e os “problemas” apresentados pelos alunos – não existe uma explicação única
para todos os casos, cada caso tem sua história e é necessário intervir
examinando que consequências essa intervenção trará para a vida dos alunos.
CAPITULO IV
O VALOR DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E O
RECONHECIMENTO DAS PALAVRAS
Para Andrew W. Ellis (1995, p.16-19), em seu livro Leitura, Escrita e
Dislexia: Uma análise cognitiva, a familiaridade é um fator que determina,
influencia e afeta a facilidade ou dificuldade do reconhecimento de palavras na
leitura hábil, isto é, a leitura em voz alta.
Todas as crianças que aprendem a falar, inclusive as disléxicas, têm
habilidades fonológicas importantes e desenvolvem essas habilidades muito
rapidamente e, também, muito antes da alfabetização. As palavras podem ser
analisadas em termos de pequenas unidades sonoras chamadas fonemas. As
crianças usam esses fonemas como informações relevantes para sua
linguagem com grande habilidade e distinguem palavras com base em um
único fonema.
Usar fonemas para discriminar palavras é muito diferente de fazer
julgamentos específicos sobre a análise de palavras em fonemas. Estudos
mostram que todas as crianças encontram dificuldades iniciais em fazer esse
tipo de julgamento explícito.
Tais dificuldades são muito interessantes porque, quando as crianças
aprendem a ler, elas precisam descobrir que letras individuais representam
fonemas isolados. Assim, se as crianças têm dificuldade em reconhecer
explicitamente que as palavras podem ser analisadas em fonemas, é provável
que tenham também dificuldade em aprender a ler. Esse é um obstáculo que
parece afetar todas as disléxicas. No entanto, é interessante perguntarmos se
existiria, em relação à consciência fonológica, uma dificuldade maior no caso
das crianças disléxicas.
O fato de que crianças disléxicas são piores na leitura de palavras, não
demonstra, que elas têm uma consciência menos clara da estrutura fonológica
das palavras quando ouvem ou falam. É necessário obter uma avaliação mais
direta desse fato para se estabelecer que, de fato, a consciência fonológica das
crianças disléxicas mostra-se deficiente.
Consideremos em primeiro lugar a questão da consciência fonológica,
uma vez que os estudos relevantes a essa questão são mais numerosos.
Esses estudos parecem indicar que as diferenças entre as crianças disléxicas e
as outras crianças quantitativas, e não qualitativas, no que se refere à
consciência fonológica.
Essa dificuldade pode explicar as diferenças entre as crianças quanto a
sua maior ou menor facilidade na alfabetização, uma vez que já se demonstrou
que a consciência fonológica é essencial à compreensão do código alfabético.
Quanto melhor as crianças se saem em alguns testes de consciência
fonológica, melhor seu desempenho em leitura e escrita.
Portanto, pode-se concluir que há uma diferença quantitativa, e não
qualitativa, entre as crianças disléxicas e as outras crianças em relação à
consciência fonológica e à leitura. (NEVES, BUARQUE, BRYANT, 2007, p. 39 -
47)
Fonologia é a parte da linguagem que se refere aos sons das palavras e
que nos permite segmentos a corrente sonora da fala em sílabas, consoantes
iniciais (aliteração), consoantes finais (rimas) e fonemas, habilidade
denominada consciência fonológica ou fonêmica. A visão mais generalizada é
de que a dislexia decorre de uma desordem de decodificação grafema-fonema
resultante de um déficit fonológico subjacente que deve ser estritamente
separado do comportamento observado: fraca consciência fonológica, lentidão
e imprecisão no reconhecimento de palavras.
A dislexia é uma desordem do desenvolvimento que deve ser explicada
a partir de uma origem biológica, que causa um déficit cognitivo, o qual, por sua
vez, resulta em padrão particular de comportamento em relação à leitura e
escrita. A dificuldade observada na aprendizagem da leitura e da escrita e o
fraco desempenho nos testes de leitura e de escrita pertencem ao nível do
comportamento, enquanto as causas subjacentes a esse desempenho estão
situadas no nível cognitivo – que também inclui fatores emocionais, e o nível
biológico referem-se a observações e fatos relacionados ao cérebro.
Portanto, consideram-se disléxicas as pessoas que, embora
aparentemente normais ou superiores em muitas áreas do funcionamento
intelectual, ainda encontram extrema dificuldade na aprendizagem da leitura e
escrita, isso é o que a fonologia vem demonstrando. Sendo assim, atentaremos
para o estudo do reconhecimento e pronúncia das palavras, pois esta é uma
das primeiras tarefas do educando nos primeiros anos de escola.
Uma pessoa que tem consciência fonológica, ou seja, capaz de
reconhecer as letras e discriminar os fonemas, será capaz de gerar o que
chamo de lectogenia (neologismo do autor), uma decodificação, manifesta na
pronúncia corrente ou escorreita da palavra, seguida da compreensão, ou seja,
da assimilação do significado que o signo encerra na sua forma linguística.
Assim, como a consciência fonológica e a decodificação são pré-requisitos
para o domínio da linguagem escrita, pessoas com dificuldades para
desenvolver a consciência fonológica (como ocorre com grande parte dos
disléxicos) apresentam dificuldades na alfabetização.
A consciência fonológica é a percepção do som da fala. É uma
capacidade cognitiva a ser desenvolvida, a qual contribui no processo de
aquisição da leitura e da escrita. Sua importância está ligada a compreensão
do principio alfabético e ao desenvolvimento de habilidades como o
reconhecimento de sílabas e fonemas numa palavra.
Diversas formas linguísticas que uma criança tem contato estando
inserida numa cultura contribuem para a formação de sua consciência
fonológica, dentre elas pode-se destacar as músicas, cantigas de roda,
poesias, parlendas, jogos orais e a fala, propriamente dita (NASCIMENTO,
2006).
Segundo Guimarães (2006), o uso da consciência fonológica por
professores alfabetizadores é de grande importância, visto que esta ajuda no
desenvolvimento de habilidades pelo aprendente estão relacionadas à
correspondência grafonêmica, onde o sistema alfabético de escrita associa um
componente auditivo fonêmico a um componente visual gráfico.
E para compreender o sistema alfabético são necessárias algumas
habilidades como “a consciência de que é possível segmentar a língua falada
em unidades distintas e a consciência de que essas mesmas unidades
repetem-se em diferentes palavras faladas”, isso corresponde a consciência de
palavras. Podendo-se então, para se ter “o conhecimento geral dos segmentos
que compõe a fala (rimas, aliterações, sílabas e fonemas.)”
No caso dos disléxicos, a literatura tem mostrado que a (re) educação
pode ajudar na obtenção de habilidades de leitura e de escrita suficientes para
o sucesso acadêmico, mas o déficit fonológico subjacente parece persistir,
pois, os disléxicos ainda mantêm certa dificuldade na leitura e escrita de alguns
fonemas.
Por ser a dislexia um profundo déficit fonológico que se manifesta, mas
não exclusivamente, na leitura e na escrita, pode ser definida fora do âmbito
dessas habilidades. Uma criança disléxica encontra dificuldades de ler e as
frustrações acumuladas podem conduzir a comportamentos anti-sociais, à
agressividade e a uma situação de marginalização progressiva.
Assim a presença do déficit fonológico poderia ser nessas condições,
revelada em problemas sutis com o processamento dos sons da fala. Alguns
estudos examinaram o nível de habilidades fonológico em diversas crianças, e
também identificaram as dificuldades daquelas que obtém esse domínio,
diferenças consistentes foram encontradas entre leitores normais e leitores
com dificuldade nessa habilidade.
Em descoberta mais consistente, verificou-se que tanto no estudo
psicológico como na neurociência, é que o principal problema de leitura dos
disléxicos é vagaroso e impreciso reconhecimento de palavras, e nessa área a
dificuldade reside no processo de decodificação fonológica: a transformação de
letras e padrões de letras em um código fonológico. Esse código é que permite
o acesso a pronuncia da palavra e também ao seu significado.
Em contraste, os disléxicos não apresentam problemas na compreensão
de leitura, o que confirma ser a decodificação fonológica o fenômeno
preponderante na dislexia e no reconhecimento de palavras. Sendo fator
principal nos modelos de desenvolvimento da aquisição da leitura equivale à
fase alfabética, que é um pré-requisito para se atingir a fase ortográfica:
leitura/escrita competente.
A dislexia, não é uma condição progressiva, ao contrário da maioria dos
casos, a tendência é melhorar, mesmo com o decorrer do tempo, advindo a
maturidade e com a assistência de especialistas na área, para as dislexias
mais graves, aconselha-se tratamento especial com uso de medicamentos em
alguns casos.
Segundo o professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do
Acaraú (UVA) de sobral (CE), poderíamos dizer que todo disléxico é realmente
um mau leitor, mas nem todo mau leitor é disléxico. Uma má leitura não deve
ser uma pista final para o reconhecimento do mau leitor, mas é uma pista para
o diagnóstico do disléxico. E nesse caso, o pedagógico, que está o verdadeiro
mau leitor, que deixa de fazer uma boa leitura porque aprendeu a ler mal, e a
metodologia de ensino de leitura (global ou sintética) foi mal aplicado.
De acordo com o professor Martins, a dislexia é uma condição de nossa
humanidade, se diagnosticada corretamente e tratada com paciência, pode ser
superada. Martins não é disléxico, mas tem dois filhos com dislexia e
comprovou pessoalmente a falta de informação que pais e, principalmente,
professores têm a respeito da disfunção. “Por trás da dislexia, sempre há uma
despedagogia, um total desconhecimento de pais, professores e amigos. Ás
vezes chego a comparar a dislexia a AIDS: ouvimos falar, vemos alguma
propaganda, mas parece que nunca tem a ver com a gente, ou com as
pessoas mais próximas da gente”, comenta o professor Vicente Martins.
A dislexia passou a ter uma explicação mais plausível com a vinculação
da linguagem à cognição, no chamado cognitivismo. A aquisição e o
desenvolvimento da linguagem são processos advindos da teoria cognitivista.
Quanto aos procedimentos de avaliação, estudos têm mostrado que as
habilidades de consciência fonológica, especialmente manipulação,
transposição silábica, fonêmica e a consciência sintática, que avalia a
capacidade da criança de refletir sobre a sintaxe da língua, são as mais
fortemente abordadas durante a avaliação do disléxico.
É importante ressaltar que, a criança passa por três estágios no
processo de domínio da linguagem escrita: logográfico, alfabético e ortográfico.
Tais processos se dão com a maturidade da criança, desde o crescente
contato com o material escrito e as instruções sobre a linguagem escrita, a
criança ingressa no estágio alfabético. Com a prática, a criança passa a
processar agrupamentos de letras individuais, chegando a processar palavras
inteiras, lendo-as de memória, neste ponto, a criança entra no estágio
ortográfico.
O processo de decodificação fonológica contribui para que a criança
forme a representação ortográfica da nova palavra, permitindo que essa nova
palavra seja lida pela rota lexical. Portanto, é o processo fonológico que
permitirá à criança, posteriormente, realizar leitura pela rota lexical, ou seja,
leitura com significado, a aprendizagem da leitura é um processo complexo que
requer múltiplas habilidades cognitivas, principalmente a metalingüística, ou
seja, a capacidade de refletir sobre a linguagem.
A leitura permite não só o exercício do poder individual de análise como
também da tomada de decisão e possibilidade de um entendimento mais amplo
da realidade, exigindo um aprendizado contínuo. No estágio ortográfico o
sistema de leitura da criança pode ser considerado completo e maduro,
conseguindo ler as palavras familiares com rapidez e fluência, por meio do
reconhecimento visual direto, isto é, pela estratégia lexical.
Uma das tarefas dos psicopedagogos na avaliação da compreensão
leitora é comparar o reconhecimento das palavras familiares com o
reconhecimento de palavras não – familiares.
A aprendizagem de qualquer outra palavra esdrúxula ou não – familiar
ou mesmo uma não – palavra requer da criança, durante o processo de leitura,
pelo menos três “representações internas”: a) aparência, b)significado, c)som,
presentes na estrutura da palavra e a ligação dessas representações umas as
outras. A aparência linguística leva o leitor hábil ao reconhecimento da palavra.
O significado e o som de uma palavra, por seu turno, são revelados pela
consciência fonológica, alcançada no processo de aquisição da habilidade
lectoescritora na escola. (MARTINS, Vicente 2003)
Uma palavra torna–se familiar para os educandos e para os já
escolarizados, quando ela, a palavra, realmente, é percebida, isto é, a
comunidade linguística é capaz de fazer a identificação visual ou auditiva da
palavra e pode lhe atribuir algum grau de significado. No mundo da leitura, fora
ou dentro da escola, a tendência, quase sempre é a facilidade de identificar as
formas linguísticas que são verdadeiramente palavras, isto é, signos
linguísticos, dotados de significados (conceito, ideia) e significante (estrutura
fônica).
Segundo Gisele Massi (2007), em seu livro A dislexia em questão,
observar a relação do aluno com a própria escrita é mais importante do que
apontar erros e muito mais efetivo do que rotulá-lo como portador de um
distúrbio.
Vale lembrar que saber escrever vai além da aquisição da ortografia
correta. Aspectos textuais, como coerência, utilização e manipulação de
referências e construção lógica de ideias, evidenciam a capacidade de uso da
escrita. Apesar de serem centrais na avaliação do nível de compreensão que
cada criança tem da linguagem, esses elementos muitas vezes são ignorados.
Por exemplo, quando um aluno troca letras pode apresentar outras qualidades
em seu texto e, portanto, não deve ser tachado de doente, sem apelação.
Para a leitura se desenvolver é necessário associar símbolos auditivos,
visuais e significados. Envolvem processos complexos, diversas vias
neuronais, processos psicológicos e socioambientais. Quando há alteração em
um desses processos, corre-se o risco de gerar uma dificuldade na aquisição
da leitura. As dificuldades podem ser visuais, auditivas, de linguagem,
emocionais, familiares, sociais, de professores inadequados, do sistema de
ensino. Mas, não estão presentes nos distúrbios, como dislexia, quando ocorre
uma falha na aquisição da leitura.
Na dislexia essa falha não está associada às convenções, mas sim as
dificuldades cognitivas. Se o processo de aprendizagem da escrita baseia-se
em uma fundação que consiste de outras habilidades cognitivas, então
deveríamos descobrir que as crianças que chegam à escola com essas
habilidades estão bem preparadas e devem fazer o maior e mais rápido
progresso.
Podemos dizer, portanto, que os disléxicos têm problemas na conversão
da palavra escrita para a fala e vice-versa, mas que sua compreensão da
linguagem é normal.
Ainda segundo Andrew W. Ellis (1995, p.124), os transtornos do
desenvolvimento da leitura e escrita, são vistos através de alguns conceitos e
definições sobre variedades de dislexia, sendo dislexia do desenvolvimento e
as variedades da dislexia adquirida, comparações entre a dislexia do
desenvolvimento e a dislexia adquirida devem ser feitas, entretanto com grande
cautela. Em termos puramente teóricos poderíamos esperar, por exemplo, que
os déficits cognitivos na dislexia do desenvolvimento fossem maiores do que
aqueles vistos na dislexia adquirida.
Notamos que a leitura de alguns disléxicos do desenvolvimento é
caracterizada por uma dificuldade particular com a fonética, enquanto outros
têm uma dificuldade particular com a leitura de palavras inteiras. A maioria tem
problemas com ambos, mas é interessante descobrimos se a ortografia e a
escrita desses disléxicos com problema fonético ou lexical particular na leitura
combina com seu perfil de leitura.
Os indivíduos com dislexia fonológica do desenvolvimento podem
aprender gradualmente a grafar as palavras, mas fazem isso em uma base de
palavra completa. Sua grafia de não-palavras é tão deficiente quanto sua
leitura de não-palavras, implicando que seus problemas fonológicos
subjacentes retardam a aprendizagem de correspondência entre as letras e
fonemas em ambas as direções (letras para fonemas na leitura; fonemas para
letras na ortografia).
Os erros ortográficos dos discentes com dislexia fonológica do
desenvolvimento raramente são “fonéticos”, isto é, soam como a palavra-alvo,
mas contêm várias das letras corretas, mesmo quando essas palavras
irregulares que não podem ser previstas com base em sua pronúncia.
Finalmente, os disléxicos do desenvolvimento, geralmente, escrevem
mal no sentido de mostrarem fraca execução até mesmo daquelas palavras
que podem ser corretamente grafadas. Podem ser que existam alguns
disléxicos cujos déficits fonológicos são tão severos que nenhuma quantidade
de instrução poderá permitir que desenvolvimento e usem as correspondências
sublexicais de letras-sons.
Vimos então, que a criança com dificuldade de aprendizagem não deve
ser “classificada” como deficiente. Trata-se de uma criança normal que aprende
de uma forma diferente, a qual apresenta uma discrepância entre o potencial
atual e o potencial esperado, visto que existem tipos diferentes de dislexia.
Segundo alguns autores nem a escola pública, nem a particular têm
assumido a responsabilidade de tornar a leitura e a escrita significativas. As
práticas pedagógicas atuais tratam leitura e a escrita como se ela fosse uma
atividade – fim. As crianças lêem para praticar a leitura e escrevem para
praticar a escrita, desperdiçando-se, assim, as oportunidades de colocar o
aluno em contato direto com os mais variados usos que a língua escrita
oferece.
Se a leitura e escrita fossem pensadas na escola como atividades –
meio, os professores se utilizariam de uma enorme gama de situações de uso
da língua escrita em sala de aula desde o inicio da alfabetização. O uso da
língua escrita em diversas situações, desde a alfabetização, pode mostrar ao
aluno que a língua escrita tem várias utilidades.
Salienta-se, nesse contexto, que a escola não tem considerado o papel
que o ensino pode ter no desenvolvimento do discente.
Em síntese, vimos que o sistema escolar está hoje concebido de tal
forma que ser pratica, implicitamente, a seletividade social. Em conseqüência,
fracassam em proporções muito maiores na alfabetização do que aquelas
crianças que já dominam um dialeto mais próximo da norma padrão e já
tiveram oportunidade de encontrar a leitura e a escrita.
O conceito de dislexia relacionava-se a diferenças individuais
independentes de escassez de oportunidade de aprendizagem, e não a
diferenças no nível de conhecimento da língua que grupos socioculturais
distintos possam mostrar ao iniciar o processo de alfabetização.
CAPÍTULO V
PAPEL DO PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL –
CONTRIBUIÇÃO PARA APRENDIZAGEM
Nesta área relativamente recente e tão importante para a compreensão
dos problemas de desempenho de alunos, a aprendizagem está em evidência,
seja porque o psicopedagogo lida diretamente com as dificuldades de
aprendizagem, seja porque ele também está constantemente aprendendo.
A noção da fonêmica se faz necessária no programa de intervenção
psicopedagógica. Fonêmica é definida como ramo da análise linguística que
estuda a estrutura de uma língua no que se relaciona aos fonemas segmentais
e sua distribuição na cadeia fônica.
A consciência fonêmica é o dar-se conta dos sons (fonemas) que
formam as palavras faladas. Esta conscientização não aparece quando as
crianças pequenas aprendem a falar. Esta capacidade não é necessária para
falar e entender a língua (gem) falada. Todavia, a consciência fonêmica é
importante no aprendizado da lectoescrita (leitura, escrita e ortografia).
A intervenção psicopedagógica deve levar em conta as dificuldades dos
disléxicos, disgráficos e disortográficos no tocante a solução destes tipos de
transtornos depende da gravidade, tendo em vista, que se for um caso leve, de
identificação em primeira fase, a intervenção é suficiente para a superação do
problema, não restando sequelas na idade adulta. Contudo, se for um caso
mais grave, sem rápida observação, é possível que ocorram manifestações
posteriores mesmo com aplicação do tratamento.
Na maioria dos casos de dislexia a abordagem mais eficaz no
atendimento aos educandos é a psicopedagógica (ou psicolinguística, para
linguístas) em que o profissional que irá lidar com as dificuldades das crianças
aplicará à sua prática educacional aportes teóricos – práticos da
psicopedagogia institucional ou clínica aliados à pedagogia e à psicologia
cognitiva e a psicologia da educação. São os psicolinguístas que se voltam
para a explicação da dislexia e suas dificuldades correlatas (disgrafia, dislexia).
A atenção dos psicopedagogos deve dirigir-se à avaliação das
dificuldades em aquisição da linguagem escrita, pois entender mais sobre
dislexia é dar especial atenção à avaliação das dificuldades lectoescritoras. A
avaliação deve ser trabalhada como ato ou processo de coletar dados a fim de
se melhor atender os pontos fortes e fracos do aprendizado da leitura, escrita e
ortografia dos disléxicos, nesse sentido, um caminho seguro para a avaliação
da dislexia é pela via do reconhecimento da palavra.
O reconhecimento da palavra começa pela identificação visual da
palavra escrita. Depois do reconhecimento da palavra escrita, deve ser feita a
avaliação da compreensão leitora, especialmente no tocante à inferência
textual, de modo que levando a efeito tais procedimentos, ficarão mais
explícitas as duas etapas fundamentais da leitura e de suas dificuldades:
decodificação e compreensão leitoras. Cada caso é um desafio e o profissional
precisa dispor de consistente e sólida formação que lhe permita a vinculação
entre a teoria e a prática.
Assim, o aprendizado é contínuo, possibilitando – lhe a análise de
conceitos e teorias que irão embasar o treinamento do olhar e da escuta a fim
de distinguir no comportamento de cada cliente os aspectos intervenientes que
estão prejudicando sua aquisição de conhecimentos, sua forma de
relacionamento com o mundo e com as pessoas, nas diferentes situações.
Cabe ao psicopedagogo identificar os bloqueios existentes, fazendo uma
relação entre o que é declarado pelo aluno, família, escola e o que está velado.
Para tanto é indispensável a obtenção, análise e compreensão do maior
número possível de dados acerca do atendido, dentre estes, há que se
destacar os relativos ao organismo: como deram, principalmente, seus estágios
pré – natal e pós – natal.
Segundo Vicente Martins (2008), para uma eficaz intervenção
psicopedagógica nos casos de dislexia, disgrafia e disortografia, há
necessidade de o profissional descrever a situação para poder explicar ao país
e à escola o que ocorre no cérebro das crianças com necessidades
educacionais específicas. O psicopedagogo pode intervir quando o profissional
se sentir seguro teoricamente para praticar atividades que atuem diretamente
nas dificuldades dos educandos disléxicos, disgráficos e disortográficos.
Esta intervenção psicopedagógica é uma capacidade advinda da
experiência, de fazer algo com eficiência. Em geral, é um período em que
alunos deixam, em algumas horas do seu tempo regular de estudo escolar, na
própria instituição de ensino, a sala de aula e passam a receber treinamento
específico para a superação de suas dificuldades.
Um verbo a ser conjugado pelo psicopedagogo é o de avaliar para
intervir e a partir dai solucionar ou compensar a dificuldade do educando.
Assim, descrito e explicado o caso psicopedagógico, o profissional que atua
com as crianças, jovens ou adultos com dislexia, disgrafia ou disortografia
poderá verificar, objetivamente, os dados das dificuldades levantados junto aos
professores, pais dos alunos e os próprios alunos. As avaliações escolares
tradicionais também não podem ser descartadas ou negligenciadas uma vez
que são verificações que objetivam determinar a competência do educando.
Felizmente, muitas crianças não são, na verdade, disléxicas no sentido
correto do termo o qual se pode definir como uma “incapacidade persistente
para a leitura” devido a problemas neurológicos como a deficiência da
percepção visual (não da “visão”), entre outros. Outras têm “deficiência motora
fina” que gera dificuldade em controlar os pequenos músculos das mãos, o que
as leva a ter “disgrafia”, o que não ajuda na aprendizagem da leitura (se
escreverem mal, leem mal).
Quanto às dislexias convêm alertar que existem as “dislexias
superficiais”, as “dislexias profundas” advindas das dislexias adquiridas.
Dislexias superficiais: É normal apresentar os sintomas de uma
determinada espécie de transtorno e depois discutir a interpretação, mas para
esta variedade de dislexia adquirida, é mais fácil assumir a abordagem inversa
– apresentando a interpretação e depois indo aos sintomas.
Os disléxicos de superfície mostram um alto uso de procedimento
sublexical ao lerem em voz alta, isto é, na conversão de letra-som, usando a
via que conecta o sistema de análise visual ao nível do fonema.
Dislexias Profundas: Os disléxicos profundos consideram palavras não-
familiares e não-palavras, que têm referenciais concretos e imagináveis, mais
fáceis de ler do que palavras abstratas.
O alto grau de abstração das funções gramaticais pode ser o que as
torna difíceis para disléxicos profundos. A incapacidade quase completa dos
disléxicos profundos para lerem não palavras em voz alta, sugere que eles
também perderam a capacidade para a conversão sublexical de letra para som;
isto é, as conexões entre o sistema de análise visual e o nível do fonema
perderam-se.
A dislexia fonológica é de muitos modos, uma imagem espelhada da
dislexia de superfície. O procedimento sublexical que media grande parte do
desempenho da leitura de um disléxico de superfície é precisamente o
procedimento prejudicado na dislexia fonológica. O resultado é uma forma leve
de dislexia adquirida, que poderia ser facilmente ignorada, se não estivesse
sendo procurada, um fato que pode explicar por que apenas recentemente foi
notada e tem sido relatada.
Os disléxicos fonológicos não mais são capazes de fazer uso afetivo do
procedimento de leitura sublexical pela conexão entre o sistema de análise
visual e o nível do fonema (ELLIS, Andrew W. 1995 p.109-110).
CONCLUSÃO
A dislexia tem sido conceituada como um distúrbio, congênito e
hereditário de aprendizagem caracterizado por uma falha no funcionamento da
linguagem, ou seja, estabelecer associações entre sinais gráficos (grafemas) e
os sinais auditivos (fonemas). A dislexia é identificada geralmente na fase da
alfabetização. A ciência está contribuindo muito para que se possa fazer o
diagnóstico mais precoce, mesmo antes da criança ir para a escola.
A título de (in) conclusão parece-nos útil relacionar, segundo Fonseca,
V.(1984) alguns dos dados que foram descritos, abordamos a dislexia, como
dificuldade na leitura referindo-nos à sua etiologia, definição e seus tipos. Com
base no que foi descrito, percebemos também que uma criança com dislexia é
uma criança que funciona segundo o seu próprio padrão de aprendizagem,
constatamos também, que existem mais ou menos características cognitivas
comuns entre crianças com dislexia.
Segundo Clécia Argolo Estil (2008), fonoaudiólogo e psicopedagoga, as
dificuldades de aprendizagem presentes na dislexia, são alterações
decorrentes das dificuldades específicas no processamento linguístico, que tem
a leitura e a escrita como suas ferramentas principais.
O valor da intervenção precoce, no caso de suspeitarmos da presença
de fatores disléxicos, fala por si mesma, mas só podemos considerar que
alguém é disléxico, após dois anos de vivências leitoras. Antes deste período
podemos detectar “dificuldades ou transtornos de leitura”, que já necessitam de
cuidados especiais, numa postura preventiva.
Sem refletir sobre a lacuna que envolve a conceituação dos chamados
distúrbios de aprendizagem da escrita ou dislexia, vários profissionais se
propõem a atuar na “cura” ou na minimização dos efeitos dessa suposta
patologia. Ou seja, apesar de o conceito de dislexia manter-se, desde a sua
primeira descrição – em 1896 – obscuro, existe um espaço resguardado para
reabilitar, reeducar ou recuperar algum “defeito” de alunos tomados como
portadores desse distúrbio de aprendizagem.
O objetivo do que chamam de tratamento reeducativo é solucionar as
dificuldades especificadas na avaliação/diagnóstico. Por isso, apresentam um
planejamento organizado em itens, dentre os quais ressaltamos:
reconhecimento de palavras e compreensão da leitura, sugerindo uma série de
exercícios que tomam como necessários para auxiliar a criança a reconhecer
palavras, tais como: discriminação de vogais, discriminação de letras com
grafia similar, de consoantes, de sílaba com ditongos, de grupos consonantais.
Portanto, a proposta de intervenção em uma perspectiva mecanicista, afasta da
criança a possibilidade de a mesma compreender a escrita como linguagem.
Se entendermos a linguagem como mero código, e a compreensão
como decodificação mecânica, a reflexão pode ser dispensada, se a
entendermos como uma sistematização aberta de recursos expressivos cuja
concretude significativa se dá na singularidade dos acontecimentos interativos,
a compreensão já não é mera decodificação e a reflexão sobre os próprios
recursos utilizados é uma constante em cada processo. (GERALDI, 1995,
p.18).
Nesse processo, conforme Geraldi (1996), quanto mais à criança estiver
exposta a diversidade de interações de significados, maiores serão as
categorias com que ela vai construir suas interpretações da realidade. Por isso,
a unidade linguística básica para os processos de ensino/aprendizagem não é
sílaba, nem a palavra ou a frase, mas o discurso em sua materialidade social e,
também, textual.
Assim sendo, cabe ao psicopedagogo institucional identificar os
bloqueios existentes, fazendo uma relação entre o que é declarado pelo aluno,
família, escola e o que está velado. Para tanto é indispensável à obtenção,
análise e compreensão do maior número possível de dados acerca do
atendido.
Claro, o ideal seria contar também, com a ajuda de um profissional de
letras ou de linguística, um pedagogo ou psicopedagogo que entenda bem do
assunto e assim, possa orientar melhor os professores e, a própria escola
como um todo sobre o método de leitura mais adequado para seus alunos.
Desse modo, a atuação do psicopedagogo é uma busca constante
ladeada por diversos teóricos, visando maior capacitação e compreensão do
cliente/paciente disléxico. Essa busca de técnicas e estratégias de trabalho
visa o que mais fará sentido ao disléxico; “objetiva em suas sessões conhecer,
entender e esclarecer o mecanismo manifesto junto dele, seja através de jogos,
de vivências e de discussões de temas pertinentes, buscando e permitindo o
conhecimento”.
Por outro lado, a abordagem de trabalho associa o estímulo e o
desenvolvimento através de métodos multissensoriais, que partem da
linguagem oral à estruturação do pensamento, da leitura espontânea à
discussão temática, da elaboração crítica e gerativa das ideias à expressão
escrita, incorporando o processo de aprendizagem.
Com esse estudo procuramos apontar para a necessidade de uma
análise crítica em torno de procedimentos que abordam a linguagem escrita
como o código encerrado em si mesmo e a sua aquisição pautada em
atividades mecânicas e distanciadas de um contexto significativo. Buscamos
evidenciar que algumas propostas de acompanhamento terapêutico
apresentadas em manuais voltados ao tratamento de crianças consideradas
portadoras de dificuldade para aprender a ler e escrever segue uma proposta,
inócua na medida em que, tal proposta, toma a linguagem afastada de seu
conteúdo ideológico e vivencial.
Devido a isso consideramos fundamental a realização de estudos e
pesquisas que analisem criticamente as atividades de escrita apresentadas ao
aprendiz, as quais tendem a ser atravessadas pela artificialidade de métodos
desenvolvidos segundo concepções fragmentadas da linguagem,
transformando o aluno em um mero codificador/passivo de letras, sílabas ou
frases.
A responsabilidade e seriedade do trabalho psicopedagógico com
clientes disléxicos, faz com que muitos alunos propensos ao fracasso escolar
sejam resgatados, através de um plano de trabalho individualizado e
comprometido com o sucesso em todos os âmbitos׃ escolar, emocional e
social.
Ao longo do nosso texto acreditamos que pessoas são disléxicas e não
estão disléxicas, esta é uma condição natural, pessoas nascem disléxicas ou
não-disléxicas, e assim permanecem por toda a vida, assim como os canhotos
sofreram durante muitos anos discriminação e tentativas de “tratamento”:
colocar gesso na mão dominante é hoje considerado um crime, mas não era
assim há alguns anos atrás. As bancas escolares eram feitas apenas por
destros, depois foram adaptadas para canhotos também, assim é ser disléxico.
O sistema escolar atual é desenvolvido para maioria, que é não
disléxica. Os disléxicos ficam à margem de um sistema educacional que os
exclui e os aprisiona.
Em síntese, sabemos que o sistema escolar está hoje concebido de tal
forma que se pratica, implicitamente, a seletividade social. As crianças das
camadas populares, que vem à escola com menos conhecimento da norma
padrão e com menos oportunidades anteriores de se envolver em diversos
usos de leitura e escrita, não encontram na escola atividades que lhes possam
proporcionar esse conhecimento.
Em consequência, fracassam em proporções muito maiores na
alfabetização do que aquelas crianças que já dominam um dialeto mais
próximo da norma e já tiveram oportunidades de encontrar a leitura e a escrita
significativamente. No entanto, salientamos que esse desconhecimento de
alguns aspectos da língua não pode, de forma alguma, ser interpretado como
dificuldade de aprendizagem.
O conceito de dislexia relaciona-se as diferenças individuais
independentes da escassez de oportunidades de aprendizagem, e não as
diferenças no nível de conhecimento da língua que grupos socioculturais
distintos possam mostrar ao iniciar o processo de alfabetização.
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INDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
Surgimento da Escrita 14
1.1 – O reconhecimento hábil de palavras 16
1.2 – Habilidades fundamentais 16
CAPÍTULO II
Dificuldades na aprendizagem da leitura 19
CAPÍTULO III
Compreendendo a Dislexia 25
3.1. – Definição de Dislexia 25
3.2. – O que é Dislexia? 26
3.3. – Causas e conseqüências da Dislexia 27
3.4. – Como a linguística explica a Dislexia 28
3.5. – O ensino para disléxicos 31
CAPÍTULO IV
O valor da consciência fonológica e o reconhecimento
das palavras 35
CAPÍTULO V
Papel do Psicopedagogo Institucional – contribuição
Para aprendizagem 45
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53
ÍNDICE 57
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: