universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · e é importante que se leve as pessoas à...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS ESPECIFICIDADES NATURAIS DE ILHA DE GUARATIBA E OS
IMPACTOS AMBIENTAIS PROVENIENTES DO PROCESSO DE
URBANIZAÇÃO
Por: Raquel Fassini Esperança de Queiroz
Orientador
Prof. Maria Esther Araujo
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS ESPECIFICIDADES NATURAIS DE ILHA DE GUARATIBA E OS
IMPACTOS AMBIENTAIS PROVENIENTES DO PROCESSO DE
URBANIZAÇÃO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Educação Ambiental
Por: Raquel Fassini Esperança de Queiroz
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AGRADECIMENTOS
A Deus, que me fortalece em todos os
momentos, aos amigos do curso pelo
apoio e compreensão e aos
professores do curso de Educação
Ambiental da AVM Faculdade
Integrada.
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DEDICATÓRIA
À Deus, por tudo;
À minha mãe Elza José Fassini
Esperança, pelo incentivo;
À minha filha Giovanna Fassini Esperança
de Queiroz, pela alegria de todos os dias;
Ao colega de trabalho Marcio Luis
Fernandes, pelo suporte;
À amiga Damiana Elias da Silva Souza,
por todos os momentos de ajuda;
À amiga Queila de Freitas Souza Moreira,
pela amizade incondicional;
A todos que acreditam que é possível a
prática da Educação Ambiental.
5
EPÍGRAFE
“Quando o homem aprender a respeitar
até o menor ser da criação, seja animal
ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a
amar seu semelhante”.
Albert Schweitzer (1952)
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RESUMO
O presente trabalho abordará as especificidades naturais de Ilha de Ilha
de Guaratiba, sub-bairro de Guaratiba localizado na Zona Oeste do Rio de
Janeiro e os impactos oriundos do processo de urbanização provenientes da
especulação imobiliária.
E é importante que se leve as pessoas à reflexão da importância de se
cuidar do ambiente e de manter os recursos naturais renováveis, já que os
mesmos são finitos e precisamos deles para termos qualidade de vida.
Através deste trabalho, mostraremos todas as belezas do lugar, suas
riquezas, seus recursos e as personalidades (conhecidas e anônimas) que
contribuíram para a difusão desta parte do Rio de janeiro ainda por muitos
desconhecida, mas que abriga belezas singulares, e também todo o processo
de metamorfose sofrido ao longo dos anos por conta das mudanças espaciais
e sociais através de pesquisa informal realizada com moradores apontaremos
as principais mudanças espaciais e os impactos sofridos ao longo dos anos.
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METODOLOGIA
O presente trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa, cujo tema
são as especificidades naturais de Ilha de Guaratiba, localizada na Zona Oeste
do Rio de Janeiro e os impactos ambientais provenientes do processo de
urbanização sofridos pelo lugar ao longo dos anos.
Servirão também de suporte pesquisa informal com os moradores locais,
que auxiliarão no alcance de objetivar as metamorfoses sofridas nesta porção
espacial da nossa cidade, buscando salientar as belezas do lugar e os
cuidados necessários à sua manutenção e conservação.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - Características naturais 11
CAPÍTULO II - Ilha de Guaratiba ontem e hoje 22
CAPÍTULO III – Os impactos ambientais no bojo do processo de
urbanização 33
CONCLUSÃO 45
ANEXOS 47
BIBLIOGRAFIA 52
NDICE 56
9
INTRODUÇÃO
Ilha de Guaratiba, sub-bairro de Guaratiba no município do Rio de
Janeiro, é uma área com verde amplo e exuberante, cercada em grande parte
pelo Maciço da Pedra Branca (Serra geral de Guaratiba). Esse maciço começa
junto ao mar, seguindo por montanhas e grotões florestados e contorna
praticamente todo o bairro, fazendo do mesmo uma verdadeira “ilha”, cercada
de verde e de morros por todos os lados – com exceção da parte sul, onde
localiza-se o mangue (FERNANDES, 2003).
Quando de fala de área verde, Ilha de Guaratiba pode ser considerada
privilegiada. No bairro ainda podemos encontrar importantes áreas de
preservação ambiental e significativos trechos de Mata Atlântica. No local, é
possível avistarmos várias espécies de animais silvestres, principalmente nas
áreas próximas aos grotões florestados.
Nas elevações superiores – representadas pelas florestas das serras e
morros – bem como em suas mediações, ainda é possível encontrar espécies
(vegetais e animais) raras, endêmicas e ameaçadas de extinção. A mata
encontra-se bem estratificada, podendo-se – em alguns pontos – notar um
dossel que atinge até 30 metros de altura. Porém, há de se dar uma atenção
especial ao processo de urbanização que cerca o bairro por conta
principalmente da obras de duplicação de vias no seu entorno e da construção
do Túnel da Grota Funda.
Este sub-bairro passa por mudanças consideráveis em sua área no
que tange à especulação imobiliária e o consequente surgimento de vários
condomínios horizontais na configuração territorial representada pela parte
leste da baixada de Guaratiba.
O local bucólico, visitado por proprietários de sítios e casas apenas nos
finais de semana, passa por um rápido e crescente processo de valorização
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imobiliária e, em virtude disso, ocorre um aumento considerável em sua
população residente.
É de suma importância conhecer essa área de vasta riqueza ambiental
que se localiza na Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro, região que vem
sofrendo intenso processo de especulação imobiliária, acarretando degradação
ambiental em todo o município desde o século passado. Ao se explorar
indiscriminadamente essas terras na baixada de Guaratiba, pode ocorrer a
destruição e/ou a degradação do patrimônio natural do lugar.
A abordagem das características físicas de Ilha de Guaratiba se faz
relevante para a comunidade local deste sub bairro, haja vista a diversidade de
recursos naturais ainda disponíveis, como os mananciais do lugar utilizados
como fonte de recursos públicos (CEDAE) e privados ( poços artesianos e
captação direta dos rios).
A metamorfose espacial que o local vem sofrendo tem mudado sua
estrutura interna, bem como o modo de viver dos moradores. Através desse
trabalho, pretende-se mostrar que Ilha de Guaratiba, por sua importância
estratégica – baseada em sua localização e nas especificidades de sua área -
e também do ponto de vista ambiental, merece uma atenção maior por parte
das autoridades, mediante políticas públicas que viabilizem um crescimento
qualitativo.
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CAPÍTULO I
CARACTERÍSTICAS NATURAIS
O biossistema da Baixada de Guaratiba caracteriza-se pela extensa
cobertura de manguezais, local de abrigo e reprodução para muitas espécies,
até mesmo ameaçadas de extinção. A área em estudo foi o último local de
ocorrência no Rio de Janeiro dos Guarás (ave que originou o topônimo
Guaratiba – abundância de Guarás).
Por se tratar de uma área com tradição agrícola, Ilha de Guaratiba
sempre dependeu de solos que permitissem a manutenção desta atividade. O
próprio histórico do lugar ratifica a sua aptidão agrícola, pois o mesmo já
vivenciou a riqueza do café (séc. XVIII) em suas encostas e elevações, e o
vicejar da cana-de-açúcar, principalmente no vale entre as serras.
De uma maneira geral, a fauna e a flora do local podem ser
subdivididas em dois subespaços distintos, uma vez que parte da baixada se
caracteriza por representar um biossistema tipicamente litorâneo, formado por
manguezais. A outra porção representada pelas serras e morros forma um
biossistema diferenciado em relação ao encontrado na baixada, típico de Mata
Atlântica.
Basicamente, a geologia local é composta por rochas intrusivas como o
granito cinza porfirítico com diques de alanita granito e granito rosa (Serra
Geral de Guaratiba) e por sedimentos recentes como aluvião, dunas, mangues
e aterros (Baixada de Guaratiba). As rochas intrusivas que compõem a
estrutura do Maciço da Pedra Branca são do Pré-cambriano, já os sedimentos
da Baixada de Guaratiba são bem mais recentes, datando da Era Cenozóica
(TARGINO E MONTEIRO, 2000).
12
A ocorrência de paredões constituídos de afloramentos rochosos, a
grande amplitude do relevo e os fortes declives de encostas nas áreas mais
elevadas, são condições potencialmente favoráveis à mobilização de águas e
sedimentos (MARQUES, 1990).
As temperaturas do ar da região são típicas das áreas litorâneas
tropicais. As médias mensais situam-se sempre acima de 20ºC e a média anual
alcança 23,7ºC. Em fevereiro ocorre a maior temperatura média mensal
(26,8ºC) e, em agosto, a menor ( 20,9ºC).
Praticamente 37% de toda a precipitação média anual ocorre no verão,
quando os dias chuvosos são em torno de 40. As chuvas são intensas,
normalmente de curta duração e provocam uma grande quantidade de
descargas elétricas. Já foram observadas num intervalo de 24h precipitações
superiores a 100 mm, acarretando inundações, principalmente nos locais mais
baixos. Os meses de inverno são mais secos, onde ocorrem apenas 15% da
precipitação média anual, distribuída em torno de 21 dias.
Na primavera e outono, onde o número médio de dias chuvosos em
cada estação é praticamente igual e em torno de 21, acontecem os 48%
restantes do total da precipitação média anual (MATTOS, 2005).
A umidade relativa do ar durante todo o ano fica próxima a 81%,
diminuindo um pouco no inverno. Esses altos valores de umidade são
consequência da posição geográfica da área, que sofre a influência da
proximidade com o mar e das brisas sempre úmidas sobre o local. Este índice
altíssimo de umidade refere-se principalmente à parte sul do bairro, que é
influenciado pela Praia da Marambaia (Restinga da Marambaia).
Os ventos predominantes da região entre os meses de janeiro a julho
são os provenientes do norte, com velocidade média entre 2,2 a 2,7 m/s,
embora também ocorram ventos do sul e do sudeste em março. Nesse período
também são frequentes épocas de calmarias. Entre agosto e dezembro
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predominam ventos sul com velocidades um pouco superiores, atingindo
valores de 3,2 m/s na primavera.
A vegetação local também é reflexo das condições naturais do solo e
do clima do lugar, uma vez que os elementos climáticos (principalmente a
temperatura e a umidade) são determinantes para o tipo de vegetação de uma
área, pois o clima, a fauna, a flora e o relevo são denominados fatores de
formação dos solos (PALMIERI E LARACH, 2003). Os elementos da natureza
podem ser separados para uma análise mais pormenorizada após serem
sintetizados, para que possamos entender toda a dinâmica ambiental
envolvida.
1.1 – Topografia / relevo / geomorfologia
A topografia de Ilha de Guaratiba é composta basicamente por uma
área de planície (Planície da Maré de Guaratiba), onde algumas “barreiras”
aparecem sob a forma de relevos arredondados.
O relevo é o elemento fundamental da paisagem física e, por isso, suas
formas são estudadas, pois elas fornecem muitas vezes a explicação de certos
tipos de paisagens culturais (GUERRA, 1993). Ilha de Guaratiba não foge a
esta regra, pois a morfologia local sempre mostrou uma influência notória sobre
a formação do lugar, no decorrer da história. Este sub-bairro de Guaratiba é
fortemente caracterizado por seu relevo, sendo este o grande influenciador da
paisagem atual do lugar.
No quadro hipsométrico local, destacam-se o Morro da Toca Grande
(577 m), o Morro dos Caboclos (696 m), o Morro de Santo Antonio da Bica
(482m (CASTRO, 2002; TARGINO E MONTEIRO,2000), além de elevações
menores como o Morro do Engenho Novo e o Morro da Ilha (XXVI R.A., 2005).
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Sob o ponto de vista geomorfológico, o Maciço da Pedra Branca é um
maciço montanhoso residual, pertencente a um dos compartimentos tectônicos
mesocenozóicos, integrantes da série de blocos falhados da Serra do Mar, com
escapamentos fortemente dissecados para o sul.
Sua morfologia é distinta dos demais maciços litorâneos da Cidade do
Rio de janeiro: seu relevo é escarpado, de encostas convexas e retilíneas, e
vales em forma de “V”, típicos das calhas fluviais esculpidos em áreas
montanhosas. Ao contrário do Maciço da Tijuca, possui vertentes
predominantemente simétricas, indicando uma relação de equilíbrio entre o
entalhamento e o alargamento do vale, devido às condições litológicas da
região.
O quadro lito-estrutural dominante é marcado pela presença de rochas
graníticas pertencentes ao batólito da Pedra Branca e de um sistema de
lineamentos e fraturamentos (típico dos corpos ígneos) predominantemente e
determinantes na configuração morfológica de suas encostas e vales (COSTA,
2002).
A morfologia local se confunde com a vegetação das encostas e
maciços e também com a dos morros da baixada, proporcionando assim, uma
vista privilegiada, tanto do alto do maciço – de onde pode-se observar a
baixada em seu exuberante verde – quanto da baixada ao se olhar a cadeia
montanhosa, depara-se com a paisagem belíssima que se faz representada
pelo “mar de morros”, que caprichosamente contorna o lugar.
É importante salientar que a baixada de Guaratiba tem sofrido, ao
longo dos anos, uma espécie de metamorfose, uma vez que sua morfologia
natural tem sido alterada pelos inúmeros desmanches de barreiras (relevos
arredondados isolados) para o aterramento de mangues nas áreas situadas ao
seu entorno.
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1.2 – Hidrografia
Ilha de Guaratiba faz parte da bacia hidrográfica da Baía de Sepetiba e
tem como o seu divisor de águas o Maciço da Pedra Branca - Serra Geral de
Guaratiba e Serra do Cabuçu (TARGINO E MONTEIRO, 2000).
O principal rio, o Portinho, assim como os demais, nasce no grande
divisor de águas e é “alimentado” por vários influentes (CASTRO, 2002). Este
rio – ao longo da história – exerceu um importante papel econômico em Ilha de
Guaratiba. De acordo com PINTO (1986), há relatos sobre o naufrágio de
alguns barcos (ao final do século XVIII), quando estes escoavam a produção
de açúcar do antigo Engenho do Morgado – hoje Alambique dos Mudinhos
(FERNANDES, 2003).
Este mesmo rio, no início do século XIX era utilizado para escoar os
produtos dos engenhos do interior do lugar – através de embarcações de
médio porte. Hoje encontra-se praticamente assoreado e não-navegável
(CASTRO, 2002). Sua piscosidade era abundante, principalmente no Canal da
Maré. Hodiernamente, encontra-se comprometida pelo aumento da deposição
de resíduos líquidos e sólidos (esgoto), propiciado pela proliferação de
moradias.
Já o Rio Lavras – um dos mais extensos da região - nasce no alto do
vale formado pelas Serras do Cabuçu e Geral de Guaratiba, recebendo assim
afluentes de ambos os lados – desembocando no Rio Portinho, já no Canal da
Maré.
A importância desse rio se dá principalmente pelo abastecimento de
água potável para os que moram no sopé do Maciço e regiões mais afastadas
que não têm acesso ao abastecimento comum de água feito pela CEDAE. Este
rio é importante também como supridor de recursos para irrigação de diversas
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plantações espalhadas ao longo de suas margens e que são a base da
economia de diversas famílias do local.
O Rio Piracão é o terceiro rio da região e tem em comum com os dois
supracitados (Portinho e Lavras) o fato de ter suas nascentes no grande divisor
de águas que é a Serra Geral de Guaratiba. Estas nascentes descem a
planície através de pequenos córregos que, ao se encontrarem, já na Baixada,
formam o Rio Piracão, já próximo ao Canal da Maré. Este rio recorta a parte
sudoeste da Baixada de Guaratiba desembocando no manguezal, próximo à
Restinga da Marambaia, já na Baía de Sepetiba.
Assim como no Maciço da Tijuca, a história da proteção das florestas
do Maciço da Pedra Branca esteve associada à preservação do potencial
hídrico. A devastação que ocorreu no Estado para ceder espaço a diversas
culturas agrícolas também incidiu sobre o local. O eventual comprometimento
de tais recursos impulsionou a iniciativa de proteção em 1908. Nestas
condições, na primeira metade do século XX, o Governo Federal instituiu as
florestas protetoras de Guaratiba, Caboclos, Engenho Novo de Guaratiba, entre
outras, com o objetivo de proteger os recursos hídricos (Atlas das Unidades de
Conservação da Natureza do Estado do Rio de Janeiro, 1990).
A utilização dos mananciais como recurso hídrico para o consumo
humano (como água potável) sempre foi uma atividade comum para os que
residem ao sopé dos morros do lugar. Através do represamento de pequenas
nascentes, a água é captada na cabeceira dos córregos e utilizada nas
residências através de encanamentos próprios, construídos pelos próprios
moradores.
Em elevações intermediárias do morro dos Caboclos (ao final da
Estrada das Tachas) a Companhia de Águas e Esgotos do estado do Rio de
Janeiro (CEDAE) mantém instaladas três represas que captam água para o
fornecimento à população ao redor.
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No tocante à hidrografia de Ilha de Guaratiba, a existência do Maciço
da Pedra Branca e a manutenção / preservação do que resta de sua vegetação
é determinante para que o local continue a possuir a abundância de recursos
hídricos disponíveis.
A utilização das águas subterrâneas através da perfuração de poços
artesianos é bastante comum em Ilha de Guaratiba. O lençol freático estende-
se por todo o bairro e é utilizado pela maioria das famílias residentes na parte
norte (mais próxima aos maciços e morros), onde a maioria das residências
possui seu poço artesiano. Já na parte sul do bairro a ocorrência de poços
artesianos é menor devido ao fato de a mesma estar sobre um terreno mais
arenoso e com a incidência de águas salobras (Planície da Maré de Guaratiba).
A utilização dos recursos hídricos subterrâneos se dá principalmente
através do uso residencial, para a irrigação de inúmeras plantações e chácaras
e para o suprimento de água em criadouros e fazendas locais.
A existência do Maciço da Pedra Branca e a manutenção de sua
vegetação são fatores fundamentais para a continuidade da abundância dos
recursos hídricos de Ilha de Guaratiba – principalmente das represas da
CEDAE – que supre de água potável uma parte da população local.
1.3 – Solos
Por se tratar de uma área tradicionalmente agrícola, Ilha de Guaratiba
sempre dependeu de solos que permitissem a manutenção desta atividade. Ao
longo de sua história, o lugar sofreu o impacto do Ciclo do Café (século XVIII) -
principalmente nas encostas da Serra geral de Guaratiba – e do ciclo da cana-
de-açúcar – principalmente no vale que se forma entre as serras. Ainda nos
dias atuais, muitas famílias dependem da qualidade dos solos do lugar para
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garantirem o êxito de suas atividades agrícolas tradicionais (verduras e
legumes).
Devido ao seu passado agrícola, o local se caracterizou como um dos
últimos remanescentes rurais do Município do Rio de Janeiro. A eventual
habilidade dos guaratibanos no trato com a terra fez de Ilha de Guaratiba,
durante décadas, um verdadeiro “cinturão verde” (grande produtor de
hortaliças). Os alimentos produzidos eram vendidos no CEASA, no próprio
local de cultivo e, principalmente, nas feiras livres espalhadas pelo Rio de
Janeiro. Em Ilha de Guaratiba o dia do descanso semanal era a segunda-feira,
pois no domingo, o dia era de feira (FERNANDES, 2003). Mesmo nos dias
atuais, é comum encontrar muitas plantações cultivadas por famílias
dependentes de atividades agrícolas tradicionais.
Ilha de Guaratiba é hoje um dos maiores produtores de plantas
ornamentais do Município, denotando com isso sua aptidão agrícola peculiar
quanto à boa qualidade e quantidade de seus solos.
Segundo o mapa de aptidão das terras do anuário estatístico da
Cidade do Rio de janeiro (Prefeitura, 1998), as terras concernentes à área da
Serra Geral de Guaratiba, terras com aptidão apenas regular; no entanto, todo
o entorno do maciço possui terras com boa aptidão agrícola. De um modo
geral, as terras do lugar são de boa qualidade no que diz respeito á sua
fertilidade.
A classificação do solo leva em conta a sua utilização e também sua
conservação. Devemos observar em relação ao solo, além de suas
potencialidades, suas limitações. Traçando um paralelo entre a utilização e a
conservação dos solos do lugar, a má utilização do solo em algumas áreas de
Ilha de Guaratiba tem comprometido a conservação de sua qualidade
ambiental.
Na Serra Geral de Guaratiba há a incidência de terras bem
conservadas. Pontualmente, Na Baixada de Guaratiba, podemos encontrar
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terras ligeiramente degradadas. No entorno do Maciço e em áreas da Baixada
encontramos, esporadicamente, terras moderadamente destruídas. No lugar,
não há incidência de terras fortemente degradadas e muito menos de terras em
estado de degradação extremo. O que existe no lugar é uma área de alerta –
representada pelo manguezal – onde os constantes aterramentos para a
construção de condomínios tem comprometido a qualidade ambiental da
Planície da Maré de Guaratiba.
O aspecto do relevo local – uma vez que o lugar é cercado
naturalmente pelo intrincamento das Serras Geral de Guaratiba e do Cabuçu –
exerceu uma forte influência na evolução e no desenvolvimento dos solos. As
condições hídricas e térmicas e, por conseguinte, as condições climáticas do
solo refletem a influência do relevo, do microclima e da vegetação natural sobre
as características e as propriedades dos solos existentes em Ilha de Guaratiba.
1.4 – Fauna e flora
Ilha de Guaratiba pode ter sua fauna e flora subdivididas, uma vez que,
na parte sul do bairro, encontramos espécies animais e vegetais característicos
da Baixada de Guaratiba e na parte norte – representada pela Serra Geral de
Guaratiba e adjacências – encontramos um biossistema também específico.
De acordo com vários estudos científicos em andamento, pode-se
constatar a riqueza da fauna local, com registro de muitas espécies raras e
ameaçadas. Entre os mamíferos, destacam-se a Preguiça – considerada
ameaçada no Município do Rio de Janeiro, o Furão, o Ouriço-cacheiro, o
Cachorro-do-mato, o Tamanduá-de-colete, a Paca, a Mão-pelada, a Cutia, o
Gato-do-mato e o Gato-maracajá (ambos ameaçados) entre outros que vêm
despertando o interesse de caçadores da região.
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A avifauna é riquíssima. Por se tratar de uma área de nidificação de
aves paludícolas e ponto de repouso e alimentação de aves migratórias, em
ilha de Guaratiba podem se encontrados com frequência o Sebinho-do-
mangue, o Pica-pau-anão, a Viuvinha e o Socó do brejo.
Os pesquisadores já identificaram mais de 180 espécies importantes.
Entre as ameaçadas de extinção, destacam-se o Tucano-do-bico-preto, a
Araçari, o Gavião-pomba, o Gavião-pega-macaco, o Papagainho e a
Jacupemba.
Quanto aos répteis, podem ser observadas serpentes como a Jararaca,
a Cobra-verde e a Jiboia, além de outros répteis como o Teiú e o Lagarto
verde.
Nos meandros dos rios, há vegetação de manguezal de porte arbóreo.
As espécies frequentes são o Mangue-vermelho (na faixa mais próxima da
água), o Mangue-branco (localizado na faixa intermediária do manguezal),
além do Mangue-siriúba (que se fixa nas áreas mais próximas da terra firme).
Na zona de transição entre mangue e terra firme, surgem espécies típicas de
matas alagadas ou de restingas, como Taboa e Pau-de-tamanco, entre outros.
Nos substratos mais sólidos ocorrem espécies de fauna como o Mexilhão e
crustáceos típicos, como Guaiamu, siris e caranguejos.
No meio das árvores introduzidas pelo homem como, por exemplo, o
cafeeiro, a jaqueira e a mangueira – que testemunham o passado de ocupação
e exploração econômica da região – encontram-se várias espécies de
madeiras de lei, muitas raras e endêmicas como o raro Jequitibá, Tapinhoã (a
endêmica noz-moscada silvestre (somente encontrada no Município do Rio de
Janeiro) e o Vinhático.
De uma maneira geral, tanto a fauna quanto a flora de Ilha de
Guaratiba estão estreitamente atreladas à questão do Maciço da Pedra Branca
que, através da Serra Geral de Guaratiba e da Serra do Cabuçu, cerca o bairro
pelos lados leste, norte e oeste. Na parte sul, a fauna e a flora local são
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influenciadas pelo biossistema característico da grande Baixada de Guaratiba,
representada pela Planície da Maré de Guaratiba e por uma vegetação típica
de alagados.
Ilha de Guaratiba tem um bioma rico, mas com o decorrer dos anos
sofrendo metamorfoses espaciais e impactos oriundos dos processos de
valorização – decorrentes das especulações imobiliárias e as grandes obras no
seu entorno – merece uma tenção especial no que diz respeito à manutenção
dos seus recursos naturais, já que os mesmos são de suma importância para a
população local. Apesar de nos dias atuais ser um produtor em grande escala
de plantas ornamentais, há de se ter um cuidado com a utilização dos recursos
do solo e hidrográficos, e também com a flora e a fauna locais, para que este
lugar não perca suas riquezas naturais e deixe de ter suas características tão
particulares, que fazem deste sub-bairro de Guaratiba um ambiente saudável e
bom para se viver.
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CAPÍTULO II
ILHA DE GUARATIBA ONTEM E HOJE
Ilha de Guaratiba, porção periférica da Zona Oeste da Cidade do
Rio de janeiro, passa atualmente por um processo de mudança de função, uma
vez que sua pretérita estrutura rural-agrícola, devido a uma crescente
especulação imobiliária – que teve seu início na década de 70 e intensificou-se
nos últimos anos da década de 90 – vem sendo restituída pela hodierna
estrutura urbano-residencial (FERNANDES, 2006). O evento em questão tem
estimulado uma considerável mobilidade em direção ao lugar. O local bucólico,
visitado esporadicamente por proprietários de residências secundárias –
tradicional produtor agrícola – passa por um aumento considerável em sua
população residente.
A localidade em tela há anos é apresentada como o mais provável alvo
sobre o qual incidirá o volátil capital especulativo imobiliário na região. Muitos
especialistas no assunto apontam que a cidade do Rio de Janeiro crescerá em
direção à Guaratiba, notadamente os segmentos mais abastados (LESSA,
2001).
Todo este processo de mudança espacial em que a pretérita estrutura
rural-agrícola de Ilha de Guaratiba vem atravessando culmina na substituição
gradativa por uma estrutura urbano-residencial que, obviamente, tem
modificado suas formas espaciais, a função da terra – uma vez que esta,
deixando de produzir alimentos – passa a representar uma opção de moradia
ou uma gleba de valor imobiliário e, principalmente, a existencial maneira de
viver dos guaratibanos. Também muitos solos onde eram produzidos legumes
e verduras tiveram seus cultivos substituídos por grandes hortos, onde há
produção em larga escala de plantas ornamentais, pois com a decadência das
feiras livres (atualmente são poucas e bem menores que outrora), os
cultivadores já não estavam retirando deste meio seu sustento, haja vista que
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os alimentos cultivados eram altamente perecíveis e as plantas ornamentais
têm uma durabilidade bem maior.
Esta atividade de ornamentais se intensificou através da influência do
paisagista Roberto Burle Marx, que com as projeções de seus jardins,
precisava de novos espaços para a produção de determinadas espécies, já que
seu sítio – antes chamado Santo Antônio da Bica – já não comportava mais a
demanda, tamanha era a diversidade de exemplares. Burle Marx era tão
apaixonado por Guaratiba que se mudou do Leme para este bairro por causa
da afinidade que possuía com a localidade e principalmente com o sítio, de
onde só saía em casos extremos.
Em relação ao processo de mudanças espaciais que ocorre em Ilha de
Guaratiba há algumas décadas, verifica-se, no seu transcorrer, a construção de
símbolos de outrora e hodiernos – materiais e imateriais – que estreitam ainda
mais a relação do guaratibano com seu universo vivido.
2.1 – A pretérita estrutura rural-agrícola
Na época do descobrimento do Brasil, a floresta cobria 97% do Estado
do Rio de Janeiro. De lá para cá, a cobertura vegetal sofreu grandes
modificações e as matas costeiras foram sendo devastadas, inicialmente pela
extração de pau-brasil e depois para o fornecimento de material de construção
e intensa exploração agrícola. Das primeiras décadas do século XVIII até as
primeiras do século XIX, a lavoura de cana-de-açúcar dominava a baixada
fluminense em todo o contorno da Baía de Guanabara até Araruama.
Na Baixada de Guaratiba além da lavoura de cana criava-se gado
bovino, atividade intimamente ligada ao cultivo e processamento da cana, pois
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o boi era necessário para o transporte e moagem da mesma em algumas
áreas.
Essas atividades, junto com a cultura do café e, mais tarde de bananas
nas encostas das montanhas e nos morros contribuíram para modificar
sensivelmente a vegetação natural da região, tanto na planície quanto na parte
acidentada (ARAÚJO, 1985).
Os escritos compilados pelo saudoso Rivadávia Pinto, exímio
historiador do recorte espacial em questão, constituem um acervo relevante a
respeito da história de Ilha de Guaratiba. Após o aludido pesquisador ser
vitimado por um acidente automobilístico, sua obra passou às mãos do seu
sobrinho Nilson Pinto.
Embasado nas pesquisas do seu tio, Nilson assegura que os registros
da história de Guaratiba remontam a 1579, anos após a fundação da Cidade
de São Sebastião do Rio de Janeiro. Segundo este artigo, o lugar era habitado
por Tupis-guaranis. A rotina destes só veio a ser alterada com a chegada de
Manoel Velloso que junto com a esposa, Jerônima Cubas – filha de Brás Cubas
– vieram morar na recém-construída sesmaria de Guaratiba com sua família e,
a partir de então, passou a construir e administrar engenhos de produção de
açúcar e aguardente para exportação (PINTO, 1986).
Por meio de sua fala, Nilson relata que, nessa época, a expansão de
Guaratiba fazia-se rapidamente graças ao trabalho árduo dos descendentes de
Velloso. Ao final do século XVIII muitos engenhos multiplicavam-se, dentre eles
o Engenho Novo, o Engenho de Guaratiba e o Engenho do Morgado, hoje
Alambique dos Mudinhos, outrora pertencente ao Padre João pereira de
Cerqueira. Para escoar a produção, abriu-se caminho mangue adentro, uma
vez que o Rio Portinho precisava ser desobstruído a fim de conferir suporte a
esta demanda.
Nilson que, além de ativista ambiental é também pescador, mostrou um
texto datilografado por seu tio que remontava à época em que o trabalho nos
25
antigos engenhos do lugar era desenvolvido por escravos, a maioria deles
fornecidos pela Família Breves, residente na Restinga da Marambaia. De
acordo com esse texto, pode-se dizer que a partir da descoberta do ouro e do
diamante, a mão-de-obra escrava foi deslocada para as minas e o cultivo de
cana-de-açúcar foi aos poucos declinando. Ainda no século XVIII, a cultura
cafeeira também incidiu sobre o local, principalmente nas encostas da Serra
Geral de Guaratiba. Nesse contexto, o café provocou uma verdadeira
devastação nas matas do Rio de Janeiro e, particularmente em Guaratiba,
onde ainda hoje se verifica nas encostas dos morros, espécimes isolados
oriundos dessa época. O apogeu e o declínio das riquezas dos setores
canavieiro e cafeeiro introduziram no local especificidades e particularidades
que lhe imprimiram características que persistem até hoje (PERFIL DE
GUARATIBA, 2005).
Entre as décadas de 30 e 40, Ilha de Guaratiba era um grande laranjal,
com exceção dos morros, onde predominava a banana. Haviam diversas
fazendas que cultivavam a laranja para exportar para os Estados Unidos. Com
a Segunda Guerra, a exportação do produto caiu bastante. Por conta disso, o
apodrecimento das frutas antes de serem colhidas originou uma praga que deu
início a um processo de decadência dessa cultura. No pós-guerra, a laranja
produzida em Ilha de Guaratiba deixou de ser exportada e passou a ser
comercializada apenas no CEASA e nas feiras livres. Neste ínterim, muitos
laranjais foram substituídos por hortas e pelo cultivo de outros produtos como
mamão, legumes e verduras, iniciando assim um processo de diversificação da
produção agrícola, tendo em vista o comércio interno desses produtos. Nessa
época, os bondes saíam dessa região lotados de produtos da roça tudo para
Campo Grande, onde eram vendidos.
A produção citrícola caiu como grande freio à onda loteadora até a
metade do século passado, impedindo que alguns municípios da Baixada
Fluminense e bairros da Zona Oeste tradicional do Rio de Janeiro fossem
atingidos pela febre imobiliária de então. Entretanto, com a eclosão do conflito
mundial, as exportações entraram em colapso, pois toda a laranja era
exportada em navios frigoríficos estrangeiros, que não mais aportavam no Rio
26
de Janeiro. Ademais, a falta de armazéns frigoríficos e o transporte rodoviário
deficiente das chácaras para a ferrovia conduziram ao apodrecimento das
frutas nos pés, originando uma prega citrícola que dizimaria grande parte das
plantações. Ao findar a guerra, com a produção não atendendo mais ao
mercado interno, a exportação da laranja foi proibida, conferindo o golpe de
misericórdia nos que conseguiram conservar seus laranjais durante a crise. A
partir de então, os laranjais foram substituídos pelos loteamentos em
municípios como Nova Iguaçu e bairros como Campo Grande.
Essa marcha urbanizadora, no entanto, não ocorreu em Ilha de
Guaratiba, uma vez que muitos dos seus laranjais foram mantidos para atender
à demanda interna, e os demais foram substituídos por uma diversificação de
culturas agrícolas, que passou a caracterizar o lugar como um verdadeiro
cinturão-verde – grande produtor de hortifrutigranjeiros – que passaram a ser
comercializados nas diversas feiras livres da cidade (FERNANDES, 2003,
2006, 2009).
Há em Ilha de Guaratiba vários exemplos de pessoas e famílias que,
ao virem para o local, trouxeram consigo vários hábitos preservacionistas e
tornaram-se ferrenhos protetores da natureza. A população local de um modo
geral, têm se conscientizado da necessidade de cuidar do ambiente do qual ela
está inserida e depende para uma melhor qualidade de vida.
2.2 – A decadência das feiras livres
A estrutura agrícola de Ilha de Guaratiba de outrora e sua dependência
em relação às feiras livres a partir da década de 50, passaram a representar
uma espécie de âncora para muitos guaratibanos, sendo responsável pela
manutenção da produção agrícola do lugar.
27
Na época áurea das feiras livres iniciou-se em Ilha de Guaratiba um
torneio de futebol chamado “Ruim de Bola”, que acontecia toda segunda-feira.
O bairro todo participava desta grande festa semanal, e seus organizadores
eram os antigos produtores, que também eram feirantes. Só a partir de terça-
feira a semana começava, pois na segunda era feriado para os moradores
locais. Como a principal feira da maioria dos produtores acontecia no domingo,
decretou-se no lugar a segunda-feira como o dia do descanso semanal, uma
vez que neste dia ocorriam poucas feiras pela cidade e o movimento de
fregueses era pequeno. De terça a sábado era necessário dar duro na roça, a
fim de garantir as mercadorias para mais uma semana de feiras.
Até a década de 80, ser feirante em Ilha de Guaratiba era sinal de
status. Todavia, a decadência das feiras livres rompeu radicalmente com o
modo de viver dos guaratibanos. O início deste processo ocorreu devido ao
encarecimento de implementos agrícolas e a posterior invasão de produtos
vindos de outras regiões do estado, como Petrópolis e Nova Friburgo e até
mesmo de São Paulo. Consequentemente, muitos dos feirantes da localidade
deixaram de produzir o que vendiam, tornando-se feirantes atravessadores,
uma vez que passaram a comprar no CEASA os produtos que seriam
posteriormente revendidos por eles nas feiras livres.
Amplamente dispersas pelo Rio de Janeiro, as feiras livres vieram
desempenhando, ao longo do tempo, um importante papel no abastecimento
urbano, sobretudo no setor alimentício (verduras, legumes, frutas e pescado).
Dos bairros de elite da Zona Sul aos subúrbios da Zona Oeste, essa reunião
periódica encontrava-se integrada ao cotidiano carioca.
A partir da década de 70, no entanto, uma nova modalidade de varejo
entrava em cena: os supermercados. Sua rápida expansão na cidade
inaugurava um período de forte concorrência com os tradicionais mercados
periódicos, comprometendo seu desempenho e modificando radicalmente sua
distribuição espacial (MASCARENHAS, 1991).
28
Segundo informações do Departamento de Feiras Livres – RIO-
FEIRAS (órgão da Secretaria Municipal de Fazenda encarregado de
administrar as feiras da cidade) – existiam, em 1989, nada menos que 206
feiras livres que funcionavam nos mais diversos pontos da malha urbana, em
diferentes dias da semana. Naquele ano, feirantes encontravam-se
devidamente matriculados na municipalidade, havendo, do mesmo modo,
clandestinos. Junto a esses, ajudantes e outros auxiliares compunham o
universo da feira livre carioca (MASCARENHAS, 1991).
Hodiernamente, persistem 182 feiras livres espalhadas por todo o
município do Rio de Janeiro, empregando diretamente feirantes devidamente
licenciados e garantindo a sobrevivência indireta de outros. Ademais, as feiras
livres ainda movimentam um considerável volume de mercadorias, sendo o
pescado (40%) e os hortifrutigranjeiros (42%) os produtos mais vendidos nesta
reunião periódica que faz parte da identidade do povo carioca
(MASCARENHAS, 1991, RIO-FEIRAS).
A feira livre de Paciência, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro
que hoje não consta na relação oficial da RIO-FEIRAS era o sustentáculo
econômico para muitos dos produtores e feirantes de Ilha de Guaratiba. Até o
final da década de 80, impulsionava a multidão de fregueses que irrompia
aquele mercado provisório logo ao amanhecer. O café ou lanche precisava ser
ingerido às pressas e bem cedo, porque após às sete da manhã não havia
tempo para mais nada a não ser para atender o corre-corre da freguesia até às
treze horas, onde – muitas vezes – não havia mais mercadoria para vender. Os
feirantes que ali trabalhavam, em sua maioria, moravam em Ilha de Guaratiba.
Das centenas de barracas existentes nos tempos de auge, restaram poucas
dezenas, e os atuais feirantes já não são os mesmos. Os milhares de
populares que faziam a alegria dos comerciantes reduziram-se a poucas
centenas, isso no horário de maior movimento.
Apesar das visíveis mudanças como a venda de produtos eletrônicos,
vestuário e quinquilharias em setores distintos, a feira de Campo Grande
mantém alguns sinais de vitalidade, com expressiva frequência e a existência
29
de várias barracas de pescado. Segundo MASCARENHAS (1991), as barracas
de peixe estão para as feiras livres assim como as lojas-âncoras estão para os
Shoppings Centers. Este fato talvez explique o sucesso da atual feira de
Campo Grande em comparação à de Paciência, que, mesmo em seus bons
tempos, não possuía barracas de pescado.
Mesmo com as transformações decorrentes da crise da pretérita Ilha
de Guaratiba – representadas pelas antigas atividades econômicas – muitas
marcas do passado ainda persistem. Exemplo disso é o futebol “Ruim de Bola”,
que continua acontecendo às segundas-feiras; agora empresários e
comerciantes do lugar como participantes, não mais como agricultores e
feirantes. Outra marca é representada por alguns agricultores que até hoje
persistem com pequenas plantações de verduras e legumes.
Outros produtores passaram a produzir plantas ornamentais. Esse foi o
caso de Evanir de Souza, que após ter vivenciado a decadência da feira livre e
da agricultura local tornou-se paisagista por meio da influência de Roberto
Burle Marx, com quem trabalhou – sendo hoje um dos maiores produtores de
plantas ornamentais do Rio de Janeiro, proprietário do Horto Rio Verde
(FERNANDES, 2003, 2006, 2009).
A decadência das feiras livres foi iniciada com o advento dos
supermercados a partir da década de 70 e o golpe de misericórdia foi dado
pela proliferação das quitandas populares (sacolões) a partir de 1990, uma vez
que esse tipo de comércio recebia produtos com preços que representavam
uma concorrência desleal para os feirantes produtores, deixando-os sem
mercado consumidor para seus produtos, fazendo com que essa atividade
ruísse vertiginosamente no local. Daí em diante, todo o lugar começou a
mudar, desde sua paisagem e configuração espacial até as pessoas e seus
modos de viver.
30
2.3 – A influência de Roberto Burle Marx
Da mesma forma que a produção de hortifrutigranjeiros substituiu a
citricultura após sua crise nos anos de 1940 a 1950, garantindo a aptidão
agrícola dos guaratibanos, a floricultura – principalmente após 1990 – veio
substituindo as tradicionais roças de Ilha de Guaratiba. Este fenômeno, no
entanto, não seria tão bem sucedido se não fosse o prestígio de Roberto Burle
Marx.
Evanir, como já foi mencionado, migrou da agricultura e da referida
reunião periódica para o ramo paisagístico e, consequentemente, para o
comércio de ornamentais, sendo diretamente influenciado pelo paisagista
Roberto Burle Marx, com quem trabalhou. Tal influência ocorreu como um
efeito cascata, uma vez que seus discípulos diretos – representados por
aqueles que com ele trabalhavam – passaram a produzir ornamentais em suas
propriedades, a fim de complementar a produção do sítio, que não dava mais
conta da demanda. Esses antigos aprendizes são hoje proprietários das
maiores chácaras e hortos de Ilha de Guaratiba, influenciando assim
produtores, jardineiros e paisagistas que hoje vivem dessa atividade.
Se estivesse vivo, Roberto Burle Marx teria comemorado seu
centenário em agosto de 2009. Mas foi abatido por um câncer abdominal em
junho de 1994, aos 84 anos. Ao morrer, deixou dois mil jardins projetados.
Nascido em São Paulo e transferido com a família para o Rio de Janeiro em
1913, cresceu em um ambiente cercado de verde no Leme, onde desde
menino ajudava sua mãe a cultivar espécies no jardim da família.
Estudante de arquitetura e pintura, o futuro paisagista seguia como
artista plástico, até que o vizinho Lúcio Costa, admirado com as plantas que
cultivava, o convidou para fazer o paisagismo de um de seus projetos. Foi
assim que, em 1932, Roberto Burle Marx assinou seu primeiro jardim – para a
casa da Família Schwartz, em Copacabana – conferindo fama ao jovem de 23
31
anos. O último trabalho de Burle Marx foi um projeto para Kuala Lumpur, na
Malásia, que estava em sua prancheta quando morreu, sendo concluído pela
equipe de seu escritório (CALS, 1995; SÁ, 2008).
Para dar conta da grande quantidade de plantas que demandavam
seus muitos jardins, em 1949 o referido paisagista adquiriu o antigo Sítio Santo
Antônio da Bica – hoje Sítio Roberto Burle Marx – com mais de 35 mil metros
quadrados, localizado aos pés da Serra Geral de Guaratiba, onde passou a
produzir, ambientar e colecionar centenas de espécies ornamentais.
Devido às muitas amizades que fez e à grande afinidade que possuía
com o lugar, além da necessidade de estar mais próximo de seu trabalho, Burle
Marx mudou-se em definitivo para Guaratiba em 1973, intensificando assim sua
influência sobre o local (CALS, 1995; SÁ, 2008).
Roberto Burle Marx representou um marco, um divisor de águas entre
uma segmentação econômica (a agricultura) e outra (o paisagismo). Neste
aspecto, Ilha de Guaratiba era de um jeito antes dele e se tornou outra depois
dele. Os hortos mais antigos do local começaram a ganhar visibilidade depois
que Burle Marx começou a difundir Guaratiba pela cidade. Ilha de Guaratiba é
hoje um grande pólo produtor de plantas ornamentais conhecido até fora do
estado, graças a ele.
Além de ter possibilitado uma alternativa viável de trabalho à
comunidade guaratibana, Roberto Burle Marx é uma das principais referências
da localidade, sendo constantemente lembrado. Exemplo disso é a adoção de
seu nome pelo maior colégio do local – do qual faço parte do corpo docente – e
a substituição do nome da Antiga Estrada da Barra de Guaratiba por estrada
Roberto Burle Marx.
Por ser apaixonado pela natureza e pelo bucolismo de suas paisagens,
Burle Marx – que também era pintor – escolheu Ilha de Guaratiba para viver,
trabalhar e produzir suas telas, utilizando seu belíssimo cenário como pano de
fundo e inspiração. Foi assim que esse eclético artista produziu centenas de
32
pinturas, magnetizado pela beleza cênica do lugar que escolheu como âncora e
também para viver suas experiências.
A despeito de manter a função primeira da terra, a produção de
ornamentais está comprometida com uma nova estrutura que se delineia na
localidade relacionada ao mercado imobiliário. Atualmente, sua principal função
é o suprimento da demanda crescente dos condomínios e construtoras que têm
no “paisagismo fetiche” uma de suas estratégias para a transformação da terra
em mercadoria imobiliária. Em Ilha de Guaratiba, no entanto, este processo
especulativo teve seu marco na década de 70 através, inicialmente, da
aquisição de sítios e terrenos que deram origem às primeiras residências
secundárias da localidade.
33
CAPÍTULO III
OS IMPACTOS AMBIENTAIS NO BOJO DO PROCESSO
DE URBANIZAÇÃO
A especulação imobiliária em Ilha de Guaratiba delineou a
influência no processo de valorização do espaço por parte dos guaratibanos e
a sua virtual transformação em “lugar”.
Ilha de Guaratiba hoje passa por uma metamorfose espacial no que
tange à valorização imobiliária e a consequente proliferação dos condomínios
residenciais em sua área. Entretanto, o processo de mudança que vem
modificando constantemente sua configuração teve o seu início logo nos
primeiros anos da década de 90, e decorrência do declínio da antiga estrutura
sócio-espacial do lugar.
Como foi abordado no capítulo II, a estrutura do lugar estava
embasada em um modo de produção que privilegiava a agricultura, onde a
maioria das terras cultiváveis era utilizada por seus proprietários para a
produção de verduras e legumes a serem vendidos nas diversas feiras da
cidade, que foi sendo substituído pelo comércio de ornamentais.
Ao perceberem que o antigo ofício não era mais compatível com suas
reais necessidades econômicas, muitos dos agricultores e feirantes
abandonaram de vez sua função vendendo parte de suas terras e abrindo seus
próprios negócios. Por possuírem espírito empreendedor e vasta experiência
profissional, os antigos feirantes continuaram a investir no setor comercial por
meio da construção de sacolões, padarias, açougues e mercadinhos que
ajudaram a incrementar o comércio local. Mas não foi apenas a vida de um
segmento de antigos agricultores e feirantes que mudou aos poucos. Porções
de terras que os mesmos tiveram que vender para dar suporte aos seus novos
empreendimentos, depois de ficarem por algum tempo ociosas nas mãos dos
34
novos proprietários aguardando valorização, aos poucos foram mudando de
função e de feição.
Toda mudança de função configura-se em um processo de
transformação de uma certa estrutura que – desfeita ou refeita – termina por
modificar também a forma (aparência) de um determinado lugar. No caso
específico de Ilha de Guaratiba, a desarticulação da antiga estrutura rural-
agrícola, culminou no desencadeamento de um processo de transformação
sócio-espacial que vem mudando de forma considerável a sua feição espacial.
A mudança da função da terra em Ilha de Guaratiba cedeu lugar aos
primeiros condomínios no início da década de 90. Apesar de terem sido o alvo
inicial da especulação imobiliária e de terem representado o “estopim” do
processo de mudança espacial, as antigas áreas destinadas ao cultivo de
verduras e legumes, não foram os responsáveis pela continuidade do
processo. A fertilidade do solo e a intensificação do cultivo e a comercialização
de plantas ornamentais no local, aliado ao alto valor das terras advindas da
agricultura e a sua constante valorização, representaram os fatores limitantes
para a continuidade do processo nas áreas onde o mesmo se originou.
Por serem potencialmente produtivas, as terras de Ilha de Guaratiba
agregam um grande valor de uso que lhes conferem maior valor de troca, se
comparada a outras áreas improdutivas do local, como as da planície da Maré
de Guaratiba, representada por uma grande área de baixada, formada,
sobretudo, por manguezais. Foi a partir do aterro de grandes áreas da planície
e da destruição de vastas áreas de mangues que o processo de proliferação de
moradias da classe média – representada pelos condomínios residenciais –
começou a se consolidar e a se notabilizar como o fator mais relevante para a
observação e a análise das transformações espaciais, que dia após dia vem
mudando a paisagem do local. Os maiores condomínios têm se instalado na
baixada plana, onde o manguezal tem sido destruído e por meio de aterros o
terreno tem sido preparado para ceder lugar a este tipo de empreendimento
imobiliário.
35
3.1 – A especulação imobiliária e as residências secundárias
Ao relacionar o fenômeno da aquisição das residências secundárias à
análise do processo de urbanização do Rio de Janeiro, não há como
desconsiderar a atuação do capital especulativo imobiliário no processo de
produção de moradia, sendo este um dos grandes responsáveis pelo
espraiamento da malha urbana carioca (ABREU, 2008; RIBEIRO, 1997).
O surgimento das novas formas de morar dirigidas pelo capital
imobiliário às classes de maior poder aquisitivo, que por sua amplitude no meio
urbano, tem contribuído para a reestruturação espacial e expansão das
metrópoles. Como exemplos materializados espacialmente, podemos citar os
condomínios residenciais. No entanto, essa lógica relacionada à produção do
espaço urbano, muitas vezes, inicia-se a partir do processo de aquisição de
residências secundárias pelas classes economicamente privilegiadas como nos
aponta ASSIS (2003) para um contexto geral e FERNANDES (2003, 2006,
2009) para um contexto específico, baseando-se no processo de urbanização
de Ilha de Guaratiba.
Em sua análise sobre as repercussões espaciais do fenômeno da
segunda residência, ASSIS (2003) salienta que, a partir do processo de
metropolização de certas cidades, cada vez mais se fazia necessário que o
homem urbano saísse das áreas centrais superpovoadas em direção às
periferias metropolitanas na busca do reencontro com a natureza. Essa era
uma forma de aliviar os estresses cotidianos e renovar suas energias. O
espaço urbano, que outrora fora o centro de atração das habitações e do
homem do campo em busca do trabalho, agora, apesar de concentrar diversas
funções, leva seus moradores a buscar novas áreas que lhes ofereçam as
condições necessárias para uso do tempo livre em contato com a natureza.
Assim sendo, devido às proximidades das áreas centrais, as periferias
metropolitanas passaram a ser os principais alvos dos especuladores
imobiliários, que procuravam valorizar os atributos naturais e culturais desses
36
espaços, ofertando-os aos segmentos sociais específicos que dispunham de
renda excedente para adquirir uma residência secundária.
É proposto também por ASSIS (2003) que o fenômeno da segunda
residência é um dos responsáveis pelo processo de urbanização da periferia,
uma vez que determinado capital migra para as áreas periféricas,
materializando-se por meio de imóveis que passam a representar também uma
reserva de valor imobiliário. Ao pressupor a disponibilidade de uma renda
excedente, a residência secundária deixa de ser apenas uma alternativa de
lazer, passando a ser também uma opção de investimento. A partir do
momento em que a segunda habitação passa a agregar também um valor de
troca, entra em cena o maior responsável pela transformação do espaço
urbano: o especulador imobiliário. Estes especuladores, por meio de
propagandas, tiveram por objetivo a transformação dos atributos naturais e das
amenidades da periferia metropolitana em verdadeiros chamarizes
residenciais. No início dos anos 90, uma das imobiliárias do local relatou em
um prospecto:
“Enfim, chegou sua vez de viver no paraíso! Aqui na
Terra mesmo.
Gambás e preás aos montes atravessam desconfiados o
asfalto. Micos em penca fazem macaquices nos galhos
das árvores e nos quintais das casas. Garças e patos
selvagens, em sua leveza, desenvolvem coreografias
cênicas, sobre lagos e córregos em vôos espetaculares...
Assim é a vida por aqui. Parece que o tempo parou...”
Nesta citação podemos observar a ênfase conferida a algumas
peculiaridades locais, como a paisagem natural e a localização privilegiada, por
exemplo, usadas neste caso como chamarizes residenciais. Ainda neste
mesmo prospecto, fazem comparação a bairros em crescimento e caros e aos
moradores:
37
“É, sem dúvida, o novo Recreio! A diferença é que aqui
você ainda negocia com caipiras decentes a preços
baixos.
Mini sítios para você morar, junto ao bom e ao melhor,
“longe e perto” de áreas caras e saturadas.”
Podemos inferir consequentemente que, nessa época, eram
comercializadas no local apenas propriedades tradicionais individualizadas
(mini sítios). Ilha de Guaratiba era vendida como um verdadeiro paraíso,
perdido em meio à metrópole carioca. Esta propaganda imobiliária revela a
gênese de uma prática muito comum nos dias atuais: o romantismo, que se
justificou pela conjuntiva do lugar naquele momento.
Na realidade, neste período, Ilha de Guaratiba não passava de uma
localidade caracterizada pelas atividades rurais – pautadas principalmente na
agricultura e nos muitos sítios – visitada por seus proprietários nos momentos
de lazer. Era o típico fim de semana na roça. Estes anúncios tinham como
público alvo, pessoas interessadas em uma área relativamente grande, onde
pudessem construir um sítio que, na maioria dos casos, abrigava uma
habitação secundária. A partir destes anúncios, novas agências imobiliárias
passaram a oferecer às camadas privilegiadas economicamente um produto
diferenciado e as habitações secundárias aos poucos cederam lugar aos
condomínios, onde a habitação passou a ser permanente.
No caso específico de Ilha de Guaratiba, a desarticulação da estrutura
rural-agrícola, anterior ao processo de consolidação do lugar como reserva de
valor imobiliário, desencadeou um processo de transformação local que vem
mudando sua feição espacial. Percebe-se neste lugar, a existência de
elementos representativos de fases anteriores ao processo em questão que
ainda resistem em meio às inovações. Como exemplo, ainda há resquícios das
atividades rurais do passado e a persistência de muitos sítios que ainda são
utilizados como opção de lazer nas férias e nos finais de semana (segunda
residência). Uma vez que o processo é a ação contínua que implica tempo,
continuidade e mudança, entende-se que o fenômeno da segunda habitação
38
representou a gênese da metamorfose pela qual Ilha de Guaratiba vem
passando ao longo dos anos.
3.2 – A valorização imobiliária e o advento dos condomínios
Criado sobretudo nas áreas novas da metrópole dotadas de
amenidades naturais, o condomínio exclusivo horizontal é o resultado de um
processo de efetiva valorização fundiária e promoção imobiliária. Constituindo-
se no “eldorado” para uma alta classe média, oriunda em parte das antigas
áreas nobres da cidade, os condomínios caracterizam-se pela auto-segregação
de grupos sociais que, dispondo de renda, podem residir se lhe aprouver. E a
escolha da nova residência é influenciada pela maciça propaganda em torno
das amenidades e do novo estilo de vida (CORREA, 1992).
Como fruto da crescente valorização imobiliária, já foi mencionado que
na década de 90 surgiram em Ilha de Guaratiba os primeiros condomínios
residenciais. O local, que durante séculos foi pouco explorado, era dito por
populares ter parado no tempo em relação a outras localidades do município do
Rio de Janeiro, passa então a chamar a atenção de um grande número de
pessoas, em meio a inúmeros problemas metropolitanos. Seus domínios
começaram a ser objeto de desejo no que tange a residir em um local pleno de
amenidades, proporcionando aos que desejam fugir da metrópole, uma
qualidade de vida compatível com seus anseios. Nesse sentido, vale repetir, os
atributos do lugar como montanha, verde, tranquilidade, segurança, entre
outros, são então utilizados como chamarizes para aqueles que desejam estar,
paradoxalmente, próximos e distantes da vida urbana.
Como exposto anteriormente, a gênese da corrida em direção ao
aludido “paraíso perdido” no interior da metrópole ocorreu quando vários
proprietários de segunda residência passaram a residir permenentemente no
39
local. Este fenômeno chamou a atenção de alguns especuladores imobiliários,
que passaram a explorar os encantos da localidade em suas propagandas.
Este tipo de ativismo especulativo persistiu em voga durante a primeira
metade da década de 90 e, como a demanda por imóveis crescia a cada dia,
em 1996 começaram a surgir os primeiros condomínios residenciais
horizontais, que passaram a ocupar parte da área plana do local, sobretudo na
planície da maré, por meio de intensos aterramentos de manguezais e canais
aluviais.
Ana Cláudia – uma das atuais moradoras do lugar – comprou um
terreno no Condomínio Parque das Garças de mil metros quadrados em 1997
por R$ 15.000,00, que hoje já está valendo R$ 150.000,00. Em dez anos, os
terrenos deste condomínio tiveram uma valorização de 1000%. Em outros
condomínios também foi constatada a variável, porém constante, valorização
de seus lotes. Vejamos alguns:
• Condomínio Estrela da Tarde – iniciou o loteamento em 1999 com
preço inicial de R$ 8.000,00 o lote de quinhentos metros quadrados,
que em 2004 já custava R$ 40.000,00;
• Condomínio Pedra de Ilha – iniciou a venda de lotes no ano 2000,
com preço inicial de R$ 10.000,00 (terreno com quinhentos metros
quadrados); em 2004 já estava valendo R$ 40.000,00;
• Condomínio Ilha de Guaratiba Green – iniciou seu loteamento em
2000 com preço inicial de R$ 28.000,00 pelo lote de quinhentos
metros quadrados, em 2004 já valia R$ 61.000,00;
• Condomínio Pouso dos Guarás – iniciou seu loteamento em 2001
com preço inicial de R$ 9.000,00 o lote com quinhentos metros
quadrados, e, cinco anos depois, já estava sendo vendido por R$
50.000,00.
40
Tanto o preço dos lotes quanto à sua progressiva valorização variam
conforme a localização dos condomínios e a sua infra-estrutura interna (grau
de urbanização – asfaltamento, água, esgoto...). Na relação acima, o
Condomínio Ilha de Guaratiba Green é o único que não está localizado nas
imediações da Estrada da Ilha de Guaratiba. Portanto, não está inserido no
“coração” do sub-bairro. Esse asfaltamento geográfico, alcança até cinco
quilômetros, representando uma valorização bem menor de suas áreas (20%
ao ano) em relação aos demais (66 a 110% ao ano) que se localizam nas
proximidades do centro local, carregado de etnocentrismo (MELLO, 2001). A
adoção do nome sub-bairro, justamente pelo condomínio mais distante do seu
“centro”, em si já denota a relevância do nome “Ilha de Guaratiba” como fator
de valorização imobiliária.
Até o ano de 2005, ao se passar pela Estrada da Ilha de Guaratiba,
pouco ou nada se percebia de novidade, pois as grandes mudanças ocorriam
nas ruas paralelas a esta. No entanto, grandes empreendimentos imobiliários,
fomentados por poderosos grupos como o do gigantesco Condomínio Reserva
das Garças veio produzindo mudanças significativas nas feições de parte
considerável do local. Ao se instalar às margens do Rio Portinho, este
condomínio abarcou uma área de considerável dimensão, tendo seu início nos
primeiros quinhentos metros da Rua Professor Brante Hora, penetrando
quilômetros mangue adentro.
A quantidade de aterro, feiro de um material bem mais oneroso que o
saibro comum – conhecido como “areóla” – gasto na terraplanagem dessa área
que está assentada metros abaixo do nível dos calçamentos (que foram
pavimentados no interior do maior condomínio do local) é impressionante. Um
ano após a sua instalação, a primeira medida tomada por seus
empreendedores foi o asfaltamento da Rua Professor Brante Hora. Em
seguida, estes mesmos grandes modeladores do espaço providenciaram
muros para todas as residências da rua, do início até o final. Só depois que
todas as humildes casas da rua estavam devidamente “escondidas”, ocorreu a
41
divulgação do condomínio residencial através de enormes e numerosos
outdoors espalhados por toda a cidade.
A chegada dos novos moradores, notabilizado pelo surgimento e
proliferação dos condomínios, culminou com uma mudança brusca de
concepção em parte considerável dos antigos residentes. Muitos guaratibanos
nutriam pelo sub-bairro uma espécie de desprezo, justificado por seu
isolamento histórico e pela falta de importância que delegava ao local a
desonrosa condição de “espaço”, com a chegada de novos moradores e com o
crescimento e a valorização que se seguiu a essa “invasão”, passaram aos
poucos, a mudar sua postura com relação ao local transformado em lugar. Para
diversos indivíduos que entendiam se tratar de um “espaço”, na realidade Ilha
de Guaratiba passou a configurar-se um “lugar” (FERNANDES, 2003).
Por ser um tipo de empreendimento que necessita de grande extensão,
e sendo erguidos sobre áreas de preservação ambiental, os condomínios
residenciais horizontais, além de representar o pilar de uma nova tendência
urbano-residencial, figuram como os maiores responsáveis pela reprodução de
inúmeros impactos ambientais. Uma vez que a infra-estrutura que poderia dar
um melhor suporte ao processo de urbanização na área estudada inexistiu, a
degradação ambiental passou a denotar uma preocupação constante para
muitos guaratibanos.
3.3 – A hodierna tendência urbana e os impactos ambientais
Ao atingir sua meta, trazendo para a localidade muitas famílias
oriundas de outros bairros da cidade, as investidas dos promotores imobiliários
fomentavam também no bojo deste fluxo, uma verdadeira metamorfose
espacial, considerando que essa mobilidade pressupunha mudanças
estruturais para abrigá-la. Sendo assim, aos poucos, a natureza foi cedendo
lugar aos empreendimentos imobiliários, estes promovendo uma série de
42
impactos ambientais, um problema rechaçado por vários guaratibanos, que
evidenciaram a preocupação em relação aos impactos à natureza do lugar,
causados pela implementação dos novos empreendimentos imobiliários e pelo
incremento populacional. Também salientaram a ausência de um suporte infra-
estrutural que, se existisse, poderia minimizar os citados abalos ao meio físico-
natural.
Dentre os espaços considerados impróprios ou improváveis ao
espraiamento da malha urbana carioca, estavam – além dos maciços e
montanhas – também os canais aluviais, áreas de restingas, bem como
manguezais e florestas. Todos estes antigos fatores limitantes, no entanto, não
representaram empecilho ao crescimento metropolitano. Sendo assim, desde
os primeiros séculos de colonização, os aterros contribuíram para a
organização do espaço urbano carioca. Com o crescimento da cidade, houve a
necessidade de rompimento das elevações com a perfuração de túneis desde
1887 (CARVALHO, 2002). Mais recentemente, a Barra da Tijuca e o Recreio
dos Bandeirantes ganharam expressão em meio ao espraiamento do tecido
urbano carioca. Nas últimas décadas, o Rio de janeiro cresce em direção à
planície de Guaratiba (LESSA, 2001; FERNANDES, 2006), em meio ao receio
de seus residentes com a consequente deteriorização dos biossistemas
naturais que caracterizam seu lugar.
As preocupações dos moradores representando a coletividade do
referido lugar se justifica, pois sendo uma área de baixada com um verde
amplo e exuberante, cercada em grande parte pelo Maciço da Pedra Branca
(Serra Geral de Guaratiba), Ilha de Guaratiba tem como marcas mais
importantes sua belíssima paisagem natural, sendo este o pano de fundo
utilizado pelos agentes imobiliários, a fim de atrair adeptos de um estilo de vida
baseado em um contato mais próximo com a natureza.
O lugar é composto basicamente por duas unidades de conservação: a
Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba (localizada na planície da
maré) e o Parque Estadual da Pedra Branca, do qual as elevações da Serra
Geral de Guaratiba também fazem parte (ATLAS DAS UNIDADES DE
43
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 1990).
Além disso, segundo o Sindicato e a Prefeitura do Rio de Janeiro, Ilha de
Guaratiba representa uma importante área de preservação rural e ambiental.
Quanto mais despreparada estiver uma área no que tange uma infra-
estrutura básica que dê suporte às modificações desejadas, maiores serão os
impactos ambientais. Esse é o caso de Ilha de Guaratiba. Como se já não
bastasse as mudanças representadas pelo fluxo de novos residentes e pelas
construções de moradias, a carência infra-estrutural de sua área ampliam ainda
mais os danos à natureza.
A “febre imobiliária” que se abateu sobre Ilha de Guaratibanas últimas
décadas, fez com que o lugar sofresse as primeiras intervenções externas por
meio da instalação das residências secundárias. Nesse ínterim, foi crescente o
desmatamento nas encostas da Serra Geral de Guaratiba e também em alguns
relevos isolados da baixada, a fim de ceder lugar aos sítios que abrigavam as
casas utilizadas nas férias e finais de semana. Muitos dos córregos que
desciam o maciço, levando água cristalina para a parte plana, passaram a ser
represados à montante para a formação de lagos e piscinas naturais nas novas
propriedades; esses rios, que eram povoados por peixes – como traíras,
caraúnas, piabas, etc. – e por crustáceos – como lagostas e pitus (grande
camarão de água doce) – vão aos poucos perdendo sua piscosidade.
Posteriormente, o aumento do fluxo propiciou um impacto ainda maior,
uma vez que muitos dos antigos riachos passaram a receber esgoto sem
tratamento, transformando-se em verdadeiros valões negros. No desenrolar
deste processo, muitos morros passaram a serem demolidos, contribuindo para
a especulação fundiária e imobiliária, cedendo lugar a novas residências e
servindo de aterro para os novos loteamentos tomados de uma área que até
então não havia sofrido um grande impacto: a planície da maré.
Foi a partir da década de 90 que a degradação ambiental tomou
impulso. Os constantes aterramentos de áreas de manguezais e canais
aluviais, tendo por fim a implantação de condomínios, causaram um impacto
44
sem precedentes ao biossistema mangue, que redundou na brusca diminuição
da população de caranguejos e guaiamus, que além de serem considerados
símbolos do lugar, representa também uma fonte de renda para muitas famílias
de catadores.
Devido à ausência de planejamento e base estrutural, as mudanças
espaciais aqui abordadas não representam uma nova estrutura urbana de fato,
e sim uma mudança radical, apontada pelos guaratibanos como uma das
grandes responsáveis pela degradação do quadro natural do lugar. Este
fenômeno, no entanto, ao mudar a espacialidade em questão, pode modificar
também a vida das pessoas, uma vez que as influências entre as pessoas e
seus lugares são recíprocas.
Para CORREA (2000), a necessidade de maior consumo de espaço
em decorrência da valorização fundiária responsável pela valorização dos
imóveis nas áreas centrais, aponta, ao mesmo tempo, condições bem mais
vantajosas nas periferias distantes dotadas de amenidades. Sob estas
circunstâncias, o processo de urbanização de uma porção periférica da cidade
do Rio de Janeiro como Ilha de Guaratiba, muito mais que uma mera mudança
espacial, representa transformações subjetivas nas quais seus residentes
passam a vivenciar um diferente estilo de vida.
Para se analisar o espaço, há de se investigar o processo histórico que
lhe deu origem, pois aí estão, muitas vezes, os segredos da sua boa
interpretação. Nessa busca do passado, entretanto, não devemos nos ater
apenas aos vestígios concretos que ele deixou, isto é, as formas materiais que
ainda subsistem na paisagem. Pensar o passado do espaço significa buscar
em tempos já idos as chaves da interpretação do presente, passo fundamental
para que possamos pensar com segurança no espaço do futuro.
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CONCLUSÃO
O Rio de Janeiro , como se sabe, cresceu em diversos eixos. Sendo
assim, desde os primeiros séculos de colonização, os aterros contribuíram para
a organização de espaço urbano carioca . Com o crescimento da cidade, houve
a necessidade de rompimento dos elevações, com a perfuração de túneis
desde 1887. Mais recentemente, a Barra da Tijuca e o Recreio dos
Bandeirantes ganharam expressão em meio ao espreaiamento do tecido
urbano carioca. A cidade cresceu em direção à Guaratiba, fazendo com que
Ilha de Guaratiba, um sub-bairro até então desconhecido por muitos, foi se
tornando alvo da especulação imobiliária, sendo visto por muitos como o
“paraíso” para descanso.
Este espaço, com feição rural-agrícola, foi aos poucos substituindo
seus hábitos e formas de subsistir (agricultura) por cultivo de ornamentais, a
partir do momento em que as feiras livres entraram em decadência com o
advento dos sacolões. Ilha de Guaratiba passou a ter residência secundárias,e,
por conta do capital e das propagandas por parte dos especuladores
imobiliários, passou a ter condomínios residenciais horizontais, mas devido à
ausência de infra-estrutura e planejamento, teve o comprometimento de seus
rios (com a deposição de esgoto sem tratamento) e manguezais (devido aos
constantes aterramentos) para a construção das residências permanentes.
O local, que outrora era tido, como bucólico, agora e repleto de
condomínios residenciais horizontais, e teve suas terras supervalorizados em
decorrência da especulação imobiliária que se abateu sobre , este sub-bairro,
até então desconhecido por muitos que hoje lá residem e que o escolheram
para viver por buscarem um lugar mais tranqüilo, um local onde um novo estilo
de vida em contato mais próximo com a natureza e o campo pudesse aflorar
sem que fosse necessário se desvencilhar por completo da cidade.
46
Por não ser considerado oficialmente um bairro , Ilha de Guaratiba –
sub-bairro de Guaratiba – é freqüentemente ignoto, sendo com isso inserido no
bairro ao qual compõe. No entanto os insiders , desbravadores e profundos
conhecedores de seu universo vivido, sentem-se ofendidos quando seu lugar é
acoplado a outro (espaço), com o qual não se identificam. Muitos guaratibanos
fazem questão de salientar que o seu lugar se denomina Ilha de Guaratiba.
47
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Mapa mostrando a Ilha de Guaratiba em Guaratiba e seus bairros
adjacentes;
Anexo 2 >> Quadro de observação da localização espacial da Ilha de Guaratiba e bairros vizinhos em relação ao Maciço da Pedra Branca ;
Anexo 3 >> Questionário ( Antigos Moradores ) ;
Anexo 4 >> Questionário ( Novos Moradores ) .
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ANEXO 1
49
ANEXO 2
50
ANEXO 3
51
ANEXO 4
52
BIBLIOGRAFIA
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TARGINO, Tânia; Monteiro, Neide Carvalho. Atlas.
56
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
EPÍGRAFE 5
RESUMO 6
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
CARACTERÍSTICAS NATURAIS 11
1.1 – Topografia / relevo / geomorfologia 13
1.2 – Hidrografia 15
1.3 – Solos 17
1.4 – Fauna e flora 19
CAPÍTULO II
ILHA DE GUARATIBA ONTEM E HOJE 22
2.1 – A pretérita estrutura rural – agrícola 23
2.2 – A decadência das feiras livres 26
2.3 – A influência de Roberto Burle Marx 30
CAPÍTULO III
57
OS IMPACTOS AMBIENTAIS NO BOJO DO PROCESSO DE
URBANIZAÇÃO 33
3.1 – A especulações imobiliárias e as residências secundárias 35
3.2 - A valorização imobiliária e o advento dos condomínios 38
3.3 – A hodierna tendência e os impactos ambientais 41
CONCLUSÃO 45
ANEXOS 47
BIBLIOGRAFIA 52
ÍNDICE 56