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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Por: Cíntia Milena Xavier Ferreira
Orientador Prof. Edla Trocoli
Niterói 2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Educação
Infantil e desenvolvimento.
Por: Cíntia Milena Xavier Ferreira.
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AGRADECIMENTOS
A minha mãe que sempre me apoiou em todos os
momentos de minha vida acadêmica, aos
professores que muito contribuíram para a
construção do meu saber.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, minha irmã,
meu filho, minha tia Lucinda e Daniel, por todo o
amor e dedicação para comigo, por terem sido a
peça fundamental para que eu tenha me tornado a
pessoa que sou.
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RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar a importância das atividades
lúdicas no processo de aprendizagem em educação infantil. Foi desenvolvido a
partir do relato de atividades lúdicas vivenciadas em sala de aula com alunos
entre cinco e seis anos de idade. Nesta pesquisa buscou-se primeiramente
entender como surgiu o conceito de criança tal como conhecemos hoje, falando
das diferentes visões sobre infância ao longo da história. Posteriormente,
discutiu-se de que modo as atividades lúdicas foram inseridas na prática
docente em diferentes épocas. Finalmente, pensou-se em uma maneira de
despertar o interesse dos alunos propondo aulas mais atrativas de forma a não
criar dicotomia entre conteúdo e atividade lúdica. Ou seja, fazer do lúdico
instrumento pedagógico capaz de promover o desenvolvimento integral do
educando. Esta atitude exigiu profundas mudanças na postura do professor,
pois coube ao mesmo pesquisar formas de tornar suas aulas atrativas e
prazerosas, preparando sujeitos mais críticos do mundo e de suas próprias
ações.
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METODOLOGIA
Este trabalho utilizou-se da pesquisa bibliográfica fundamentada na
leitura de diversos autores conhecedores do tema. Por isso, foi apresentada
uma abordagem qualitativa analisando-se a influência de atividades lúdicas no
desenvolvimento integral da criança. Para isso, foram realizadas observações e
intervenções em sala de aula em uma turma de seis e cinco anos de idade.
Segundo Minayo, a pesquisa qualitativa visa a construção da realidade,
utilizando as ciências sociais em um nível de realidade que não pode ser
quantificado, trabalhando com o universo de crenças, valores, significados e
outros construtos profundos das relações que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.
“considera o ambiente como fonte direta dos dados e o
pesquisador como instrumento chave; possui caráter
descritivo; o processo é o foco principal de abordagem e não o
resultado ou o produto; a análise dos dados foi realizada de
forma intuitiva e indutivamente pelo pesquisador; não requereu
o uso de técnicas e métodos estatísticos; e, por fim, teve como
preocupação maior a interpretação de fenômenos e a
atribuição de resultados”.
Godoy (1995, p.58)
Baseando-se nestas idéias deu-se a realização desta pesquisa.
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SUMÁRIO
Introdução 08
Capítulo I_ A Infância como construção histórica 10
social.
Capítulo II_ A inserção do lúdico no cotidiano da 18
Educação infantil.
Capítulo III_ A realização de atividades lúdicas 27
como ferramenta pedagógica na educação infantil.
Conclusão 36
Bibliografia 37
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INTRODUÇÃO Vivemos na era da informação e da revolução cibernética. Este novo
cenário tecnológico modificou também as brincadeiras infantis. As cantigas de
roda, a amarelinha, a queimada e o pique-pega, entre outros, foram
substituídos pela televisão e jogos eletrônicos. Nestas atividades, as
informações já vêm prontas e por isso, pouco desenvolve o potencial
imaginativo das crianças.
As atividades lúdicas foram pouco a pouco perdendo espaço no
cotidiano infantil e muitas vezes são vistas como perda de tempo no âmbito
escolar. Porém, o brincar facilita o processo de desenvolvimento e
aprendizagem da criança, logo precisa ser resgatado pelos educadores da
atualidade.
Segundo Teixeira (2010) jogos, brinquedos e brincadeiras sempre
estiveram presentes na história da humanidade, na construção social e cultural.
Na antiguidade as atividades lúdicas não eram exclusividade das crianças. Na
sociedade egípcia, os jogos, os esportes e o divertimento eram valorizados. As
crianças brincavam com bola de couro e bonecas e os adultos apreciavam
jogos semelhantes à dama e xadrez.
Na Grécia, Platão (427-348 a.C) se preocupava com a questão da
formação do bom cidadão desde o período da infância através das
brincadeiras. Assim, o brincar das crianças, a natureza de suas brincadeiras e
jogos, traziam repercussões para a fase adulta, as quais poderiam assegurar a
ordem ou então perturbar a vida social. Além dos gregos, os romanos e os
maias também utilizavam os jogos para transmitir às novas gerações valores,
conhecimentos e normas sociais.
Na idade Média, segundo Friedmann (2006) o jogo era visto como um
facilitador do estudo e do desenvolvimento da inteligência. Por isso, foi
utilizado como meio didático na aprendizagem de conteúdos escolares, morais
e éticos.
Segundo Pinto (2003), até o século XIX não havia uma indústria dos
brinquedos, estes eram fabricados por artesãos e oficinas. Somente a partir da
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Revolução Industrial os brinquedos passaram a ser objeto de consumo pelas
crianças em maior escala.
Como podemos perceber o lúdico esteve presente em todas as
sociedades, cada hora cumprindo uma função social diferente. Atualmente
tornou-se objeto de estudo de diversos autores sendo apontado como algo
inerente ao ser humano. Lúdico tem sua origem da palavra “ludus” e significa
jogo, mas atualmente a atividade lúdica não se restringe apenas aos jogos,
pois faz parte da atividade humana como um todo.
A atividade lúdica promove ações espontâneas e criativas que
constituem ferramenta essencial para o professor de educação infantil. Hoje
em dia, a construção do conhecimento não se dá mais por meio de
“condicionamentos”, exercícios repetitivos e decorebas. No mundo globalizado
e de um turbilhão de informação ao alcance de todos, torna- se necessário
ensinar o aluno a pensar e a buscar as informações nas fontes certas, é o
famoso: “aprender a aprender”.
O lúdico aplicado à prática pedagógica não apenas contribui para uma
aprendizagem mais ampla da criança, mas também torna as aulas mais
dinâmicas e interessantes. Enquanto recurso pedagógico deve ser aplicado
com certa intencionalidade, pois é responsabilidade do educador, na educação
infantil, auxiliar a criança a ampliar suas possibilidades de ação no mundo.
O lúdico não deve ser entendido apenas como uma atividade de prazer
e diversão, mas como uma ação dirigida com finalidade pedagógica. Neste
contexto, torna-se interessante analisar a relação entre o brincar e o processo
de aprendizagem na educação infantil. Por isso, este trabalho pretende
investigar de que maneira a atividade lúdica pode facilitar o processo de
ensino- aprendizagem e influenciar na formação do sujeito.
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CAPÍTULO I
A INFÂNCIA COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRICA SOCIAL
O conceito de infância tal como conhecemos em nossa sociedade
capitalista nem sempre existiu. Antes do advento da modernidade, a infância
não era percebida como uma fase específica do desenvolvimento humano.
“a verdade é que, se houve sempre crianças, não houve sempre infância. A consideração das crianças como um grupo etário próprio, com necessidades e direitos genuínos, é muito recente, é mesmo um projeto inacabado da sociedade”. (SARMENTO, 2001, p.13)
Logo, a idéia de infância como um momento próprio da vida humana não
é uma condição inerente ao ser humano. A infância atual foi sendo construída à
medida que a atuação da criança foi mudando no meio social.
Segundo Philippe Áries, essa maneira de compreender o ser criança
teria nascido no final da idade média. Até o século XVII, a criança era vista
como um adulto em miniatura, e assim que pudesse realizar algumas tarefas já
era inserida no mundo adulto. Até mesmo suas roupas eram idênticas as dos
adultos. Não havia a adolescência como um período de transição. A arte
medieval representava a criança como a miniatura de um adulto, ou seja, a
iconografia da época manifestava a adultização da criança pintando rostos
infantis em corpos de adultos.
Além disso, a socialização da criança e a transmissão de valores e de
conhecimentos não eram asseguradas pelas famílias. A criança era afastada
cedo de seus pais e passava a conviver com outros adultos, ajudando-os em
suas tarefas. Nesse contato, a criança passava dessa fase direto para a vida
adulta. ( Áries, 1978 ). Outra questão era a alta mortalidade infantil da época
que acabava fazendo com que os adultos não se apegassem tanto aos
pequenos. A perda da criança era vista como algo rotineiro e logo esta seria
substituída por outra, já que as mulheres tinham muitos filhos. Assim, até certa
idade a criança era tida como um ser facilmente substituível.
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Não havia um sentimento de infância, pois este período passava muito
rápido e logo era esquecido.
.... a passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade.... (ARIÉS, 1981, p. 10).
A história da criança contada por Áries nos mostra que os adultos se
dirigiam à criança sem censura, falavam lhe obscenidades, realizavam
brincadeiras grosseiras, todos os tipos de assuntos eram discutidos na
presença do menor, e havia também a participação em jogos sexuais. A
infância não era vista como a fase da inocência, logo não existia diferença
entra adulto e criança: “... no mundo das fórmulas românticas, e até o fim do
século XIII, não existem crianças caracterizadas por uma expressão particular,
e sim homens de tamanho reduzido...” (ARIÈS, 1981, p. 51).
Posteriormente a criança passou a ser objeto de paparicação dos
adultos, hábito muito criticado por Montaigne(1533-1592). O infante passou a
ser visto como um ser inocente, frágil e divertido. A mortalidade infantil que
antes era tão banalizada, passou a ser vivenciada com sofrimento pelos
adultos. Pois a família passou a adquirir novos hábitos de higiene e saúde que
resultaram na diminuição dos altos índices de mortalidade infantil.
A pesquisa de Ariès constatou que existiram diferentes maneiras de
representar a cronologia da vida humana. Tais representações baseavam-se
em uma visão mística, pois utilizavam principalmente elementos da natureza,
astrologia, crenças populares, fenômenos naturais e sobrenaturais e teologia.
O autor ao pesquisar relatos dos séculos XII ao XVIII, constatou que a primeira
fase vivida pela criança ia até os sete anos, era chamada de a infância que
planta os dentes.
...a primeira idade é a infância que planta os dentes, e essa idade começa quando nasce e dura até os sete anos, e nessa idade aquilo que nasce é chamado de enfant (criança), que quer dizer não falante, pois nessa idade a pessoa não pode falar bem nem formar perfeitamente suas palavras.... (ARIÉS, 1981, p. 36).
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Assim, a criança era vista como um ser desprovido de fala e de razão,
ao contrário do adulto tido como ser falante racional com capacidade de
atuação na sociedade e no mundo.
Áries relata seis etapas de vida existentes na época. A primeira idade ia
do nascimento até os 7 anos, a segunda idade era compreendida dos 7 aos 14
anos e a terceira idade começava aos 14 terminando aos 21 anos. Tais etapas
não eram valorizadas pela sociedade. Somente a partir da quarta idade, a
juventude (21 - 45 anos), as pessoas começavam a ser reconhecidas
socialmente. Ainda existiam a quinta idade (a senectude), considerando a
pessoa que não era velha, mas que já tinha passado da juventude; e a sexta
idade (a velhice), dos 60 anos em diante até a morte. Tais etapas alimentavam,
desde esta época, a idéia de uma vida dividida em fases (Ariès, 1973).
Segundo Ariès, a partir do século XVII surge uma concepção de infância
pautada em um viés moral e psicológico. As reformas religiosas católica e
protestante trouxeram um novo olhar sobre a criança e sua aprendizagem. A
educação sob forte influência da Igreja e do Estado passou a destinar um local
específico para aprendizagem : a escola. Assim, a aprendizagem que antes se
dava na convivência das crianças com os adultos em suas tarefas cotidianas,
passou a dar-se neste espaço.
Nesta época, não havia a preocupação em organizar o ensino
separando os alunos por faixa etária. A escola era destinada a clérigos ou a
aprendizes de qualquer idade, não havia a educação infantil como uma
especialidade. Assim, um adulto que estivesse interessado em aprender um
ofício poderia ser integrado em uma turma infantil. Logo, a educação se
caracterizava por apresentar uma função prática, disciplinar e técnica.
A partir do século XVII, a criança passou a ser vista como um ser
incapaz e irracional, logo a primeira preocupação com a infância estava
relacionada a disciplina e a difusão da cultura existente (Levin, 1997). Neste
período houve um aumento do número de escolas, e surgiu também o castigo
corporal, onde o chicote era utilizado pelos mestres como instrumento de
correção dos alunos. As crianças de todas as classes sociais passaram a ser
submetidas a este tipo de castigo tanto na escola como no ambiente familiar. A
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família tornou-se uma instituição educadora. O corpo da criança passou a ser
contido, limitando as formas de prazer e aprendizado. Houve uma rigidez
considerável da disciplina infantil:
Quem não usa a vara, odeia seu filho. Com mais amor e temor castiga o pai ao filho mais querido. Assim como uma espora aguçada faz o cavalo correr, também uma vara faz a criança
aprender (Levin, 1997, p. 230).
Ariès em seus estudos constata que com o aparecimento da burguesia
surge uma nova concepção de infância. Segundo Kramer a sociedade
burquesa foi a primeira a identificar a necessidade de cuidados, escolarização
e preparo para o futuro das crianças.
A família passou a ser preocupar com a educação de seus filhos, pois
nascia o modelo de família conservadora, símbolo da continuidade parental e
patriarcal que marca a relação pai, mãe e criança. Os pais passaram a se
responsabilizar pela educação das crianças, impondo-lhes regras de disciplina
para assim melhor prepará-las para a sociedade que emergia. Desta forma, a
criança passou a ser controlada pela família e pela sociedade.
Com o advento da modernidade, surgem as primeiras instituições
educacionais, assim os adultos: “compreenderam a particularidade da infância
e a importância tanto moral como social e metódica das crianças em
instituições especiais, adaptadas a essas finalidades...” (ARIÈS, 1981, p. 193).
A partir das transformações ocorridas nas relações sociais, a criança
passou a ocupar um lugar de importância familiar e social. A nova configuração
social possibilitou o estreitamento dos laços afetivos entre pais e filhos. A
criança passou a ser vista como um ser integrante da sociedade.
Rousseau, filósofo do século XVIII, defendia a idéia de que a criança não
deveria ser tratada como um adulto em tamanho reduzido. Ele enfatizou as
necessidades da criança e a necessidade de condições favoráveis para seu
desenvolvimento sadio. Considerava a criança como um ser com
características específicas, logo seus interesses e sua maneira de
compreender o mundo deveria ser diferente do adulto. A partir do pensamento
de Rousseau, a educação deixou de ser entendida como um processo de
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simples transmissão de conteúdos armazenados pela civilização, pois o
educando passou a ter possibilidade de modificar e adaptar os conhecimentos
recebidos de acordo com o contexto social em que estivesse inserido.
Rousseau foi o primeiro pensador a mostrar a importância das fases do
desenvolvimento da vida para a educação.
A primeira fase, até os 5 anos, era como uma fase animal, com o
aparecimento do primeiro sentimento de si mesmo; aos 12 anos, o indivíduo
torna-se consciente de si mesmo, é o momento da vida em que o racional
desperta; sendo um ser isolado, a criança não desfruta ainda da vida moral. E
na fase seguinte, a puberdade, o sexo é visto por Rousseau como o fator mais
importante da vida do indivíduo; com isso, surge a vida social do indivíduo.
Com o surgimento dos mais altos sentimentos, a vida moral evolui
naturalmente.
As suas ideias “pedagógicas” encontram-se ligadas aos seus ideais
políticos:
“uma criança que cresce numa sociedade civilizada é
ensinada a refrear os seus instintos naturais, a reprimir os seus
verdadeiros sentimentos, a impor as categorias artificiais do
pensamento conceptual sobre os seus sentimentos e a fingir
que pensa e sente coisas que não sente nem pensa. Por
conseguinte, a civilização é corruptora e castradora dos valores
verdadeiros”. (ROUSSEAU, 1999)
Rousseau defendia a educação sem repressão das tendências naturais
da criança, e incentivava sua expressão e desenvolvimento. A principal
ferramenta educativa deveria ser o exemplo e não a instrução verbal ou os
castigos. Defendia o seio familiar como a base para uma boa educação e não a
escola. Os seus incentivos naturais seriam o amor e a simpatia e não as regras
ou punições.
Ao final do século XVIII ocorre a Revolução Industrial na Europa
marcando o início da sociedade capitalista. Com a instalação das fábricas, a
creche surgiu como instituição assistencialista que ocupava o lugar da família
nas mais diferentes formas de ausência, por maus tratos ou abandono devido a
necessidade dos pais trabalharem nas indústrias.
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No final da década da Revolução francesa surgiu o romantismo que
muito influenciou as idéias sobre infância. Neste contexto, Froebel criou em
1837 o primeiro jardim de infância destinado a crianças menores de seis anos.
Neste as crianças eram consideradas plantinhas de um jardim, cujo jardineiro
seria o professor. A criança se expressaria através das atividades de
percepção sensorial, da linguagem e do brinquedo. A linguagem oral se
associaria à natureza e à vida. Froebel foi o primeiro educador a utilizar o
brinquedo como atividade pedagógica. A educação se baseava na evolução
natural das atividades das crianças por meio de atividades espontâneas.
No pós- Segunda Guerra Mundial surgiu uma série de teóricos do
desenvolvimento motor, psicológico e afetivo da criança. Dentre eles podemos
citar: Wallon, Vygotsky e Piaget.
Henry Wallon defendia a educação integral da criança (intelectual,
afetiva e social). Esta teoria revolucionou a pedagogia da época, pois a
memória e a erudição eram os fatores mais importantes para a aprendizagem.
Para ele, as emoções eram muito importantes para o desenvolvimento da
pessoa. Fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se
interligam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a
formação do eu como pessoa.
Jean Piaget dedicou-se às áreas da psicologia e educação. Em seus
estudos Piaget determinou quatro estágios do desenvolvimento cognitivo do
indivíduo. O primeiro estágio foi denominado como sensório motor,
correspondente aos dois primeiros anos de vida. Neste, a inteligência se
manifesta de modo empírico, exploratório e não-verbal. A criança constrói seu
conhecimento por meio de experiências exploratórias do ambiente em que está
inserida.
O segundo estágio, Pré- operacional, compreende o período dos dois
aos sete anos. No início desta etapa a criança começa a representar os objetos
por meio das palavras. Logo, a característica mais importante deste período é o
surgimento da função simbólica, manifestada por meio da linguagem. Logo, o
desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência.
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No terceiro estágio, dos sete aos doze anos, as primeiras operações
lógicas ocorrem e o indivíduo é capaz de classificar objetos conforme suas
semelhanças ou diferenças. É um período caracterizado por um egocentrismo
intelectual e social, no qual a criança apresenta dificuldade em se colocar no
lugar do outro, há uma dificuldade em coordenar pontos de vista distintos.
Nesta fase a criança é capaz de interiorizar suas ações, ou seja, realiza
operações mentalmente. Porém ainda não apresenta a capacidade de
reversibilidade.
A partir dos doze anos, no quarto estágio, período das operações
formais, a criança amplia as capacidades conquistadas na fase anterior,
conseguindo raciocinar sobre hipóteses na medida em que é capaz de formar
esquemas conceituais abstratos e através deles executar operações mentais
dentro de princípios da lógica formal.
Os estudos de Vygotsky têm como ponto chave a Zona de
Desenvolvimento Proximal, no qual afirma que a aprendizagem se dá entre o
conhecimento real e o potencial. Ou seja, ZPD seria a distância existente entre
o que o sujeito já sabe e aquilo que ele tem potencialidade de aprender. Logo,
caberia ao professor intervir neste campo. Assim, a interação torna-se
fundamental pois o sujeito aprende também com o outro. Logo, cabe ao
educador avaliar o que o sujeito é capaz de fazer sozinho e o que ele consegue
realizar com a ajuda de alguém.
Tais estudos do desenvolvimento infantil demonstram como a criança foi
conquistando um novo olhar. À medida que esta foi ganhando importância na
sociedade, passou a ser vista como um ser em formação com características
que lhe são próprias. Na sociedade contemporânea existe toda uma
preocupação em separar o mundo da criança do mundo do adulto. A criança
passou a ser vista como um ser em desenvolvimento com suas
especificidades, isso significa, por exemplo, limitar o acesso desta aos jogos,
brincadeiras e espaços tidos como destinados aos adultos, além de censurar
os adultos em sua conduta em relação à mesma.
Por outro lado, vivemos no mundo da informação, no qual as crianças
são bombardeadas por milhares de notícias diariamente, seja pela televisão,
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pelo computador ou pelos próprios adultos. As crianças passaram a participar
mais do mundo dos adultos. Podemos perceber um novo adultecimento das
crianças por meio das vestes ou do comportamento. Muitas recebem tarefas
que exigem alto nível de amadurecimento como cuidar da casa e dos irmãos
menores enquanto os pais trabalham.
Com o crescimento dos grandes centros urbanos a rua deixou de ser um
local seguro para o lazer das crianças, perdeu o status de espaço coletivo para
as brincadeiras lúdicas infantis. As crianças foram confinadas em seus lares e
passaram a substituir as brincadeiras ao ar livre por televisão e jogos
eletrônicos. Logo a natureza da brincadeira infantil sofreu uma significativa
modificação, pois passou a ser alimentada pelo consumo de produtos de última
geração oferecidos pela própria propaganda da televisão.
A ausência dos pais também agravou esta lógica do consumo
exagerado. Como forma de compensar a ausência, muitos pais compram
brinquedos oferecidos pela mídia sem qualquer reflexão.
“Em família de classe média, sobretudo nos grandes
centros, é comum os adultos quererem compensar o tempo
que passam longe de seus filhos, comprando tudo pra eles”
(CASTRO, 1999, p.58).
A questão é que este brinquedo pouco estimula criatividade da criança já
que traz informações prontas, carrinhos de controle remoto e bonecas falantes
que limitam a atividade da criança. Além disso, estas atividades pouco
exploram a interação social, tão rica antigamente como as brincadeiras
coletivas tipo: bandeirinha, queimada, etc.
Neste cenário, a escola ou a creche ainda pode ser um local que
possibilite a interação entre as crianças. Através de atividades pedagógicas
lúdicas e coletivas, o educador pode auxiliar no processo de construção do
conhecimento, identidade e autonomia do aluno.
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CAPÍTULO II
A INSERÇÃO DO LÚDICO NO COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
O brincar esteve presente na vida do homem desde os tempos mais
primitivos em todas as sociedades. Podemos encontrar registros de brinquedos
infantis desde a pré-história, logo o ato de brincar pode ser compreendido
como atividade inerente à natureza humana. Jogos de demolir e construir, rolar
aros, cirandas, pular obstáculos são exemplos de brincadeiras existentes
desde a Antiguidade (Fundação Roberto Marinho, 1992).
Na Grécia antiga temos vários relatos da importância do lúdico no
processo de formação do sujeito, nesta época havia uma grande preocupação
em formar o cidadão por meio do desenvolvimento de virtudes. Tais virtudes
envolviam os conceitos de bondade, justiça, beleza, o bem falar,
desenvolvimento da razão, o gosto pelas artes, entre outros.
Segundo Platão, este ideal de formação deveria ser cultivado desde a
infância a partir das brincadeiras, pois estas iriam repercutir na fase adulta das
crianças. Assim, seria necessário ensinar a criança a seguir regras, ou seja, a
brincar honestamente a fim de garantir a ordem social futura. Para isso, as
crianças deveriam ter suas brincadeiras supervisionadas pelos adultos para
reprimir conceitos que se afastassem da lei e das virtudes. Além disso, Platão
valorizava atividades lúdicas como forma de tornar o aprendizado mais
interessante, propondo o ensino da matemática por meio de jogos por serem
mais atrativos.
O lúdico também esteve muito presente na Idade Média, em
manifestações como o riso, piadas e brincadeiras. Educadores desta época
utilizam o lúdico como recurso pedagógico em suas práticas. Tomás de Aquino
afirma que o homem precisa de repouso corporal para restabelecer-se, assim
também precisa de repouso para a alma, o que é proporcionado pela
brincadeira. Já Acuíno (730/804), seguidor de Tomás de Aquino e um
importante organizador do ensino da corte e da nobreza ensinava através de
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charadas, anedotas e adivinhas. Deste modo, utilizava a diversão como
ferramenta pedagógica.
É importante salientar a grande influência da religião sobre a educação
deste período. Como exemplos podemos citar: Petrus Alfonsus que escreveu
uma seleção de anedotas para pregação na formação do clero, posteriormente
introduziu a fábula na literatura medieval; Rosvita que reimplantou o teatro por
meio de composição de peças que traziam conteúdos pedagógicos através do
drama e da comédia, como a comédia Dulcício; D. Alfonso que escreveu o
primeiro tratado de xadrez no Ocidente, no qual defendeu a idéia de que os
homens criam jogos de diversão porque Deus quer que os homens tenham
naturalmente todas as formas de alegria.
Mas, foi apenas no período do Romantismo que a brincadeira passou a
ser vista como expressão da criança e a infância a ser compreendida como um
período de desenvolvimento específico e com características próprias. Neste
período as principais brincadeiras eram: piões, cavalinhos de pau, bola etc.
(Kishimoto, 1990). Assim, percebemos que jogos e brincadeiras estiveram
sempre presentes em situações de aprendizagem no decorrer da história.
Foi a partir do século XX, com a reforma do jardim de infância, que a
brincadeira passou a ser aceita como um recurso pedagógico. Pesquisas sobre
crianças realizadas por Friedrich Froebel, Maria Montessori e Ovide Décroly
contribuíram para introdução de olhares diferenciados a respeito de outras
possibilidades de educar. Froebel defendia uma educação baseada no brincar,
Decroly elaborou materiais para educação de crianças deficientes com a
finalidade de desenvolver a percepção, motricidade e raciocínio; e Montessori
que desenvolveu uma metodologia de forma a implementar a educação
sensorial (Kishimoto, 1990).
O alemão Friedrich Froebel foi um dos precursores no pensamento da
infância como uma fase fundamental no processo de formação da pessoa. Ele
comparou o desenvolvimento da criança com o de uma semente que precisa
ser cultivada, consequentemente procurou desenvolver a harmonia entre
homem e natureza. Para ele a natureza tinha um enorme poder de auxiliar a
criança a compreender a si mesmo e aos outros.
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Segundo Froebel, as brincadeiras são o primeiro recurso no caminho da
aprendizagem. Trata-se de um modo de criar representações do mundo
concreto com a finalidade de entendê-lo.
Foi o primeiro educador a usar o brinquedo como recurso pedagógico.
Valorizava atividades que trabalhassem o ritmo e o desenho como forma de
expressão. O autoconhecimento era considerado conteúdo fundamental a ser
trabalhado, começando pelo próprio corpo. Por isso, elaborava atividades de
conhecimento das partes do próprio corpo e posteriormente trabalhava seus
movimentos, tal proposta é muito utilizada nos dias de hoje no cotidiano da
educação infantil. Em atividades de criação fazia uso de blocos de construção,
além de outros materiais como papel, papelão, argila e serragem.
Considerava como fase da meninice a idade dos seis aos dez anos.
Nesta fase as crianças cuidavam de seus jardins de forma coletiva e os
brinquedos possuíam uma característica mais intencional, pois visavam
contribuir para a formação das qualidades morais. As histórias, os mitos, as
lendas, os contos de fadas e as fábulas tinham um enorme valor para a
formação da criança.
A observação era ferramenta fundamental de seu trabalho. Em suas
observações de brincadeiras infantis percebeu que as crianças utilizavam
símbolos na hora de brincar. Assim, um objeto qualquer poderia “ser” ou
simbolizar qualquer outra coisa.
Na obra Pedagogia dos jardins-de-infância (1917), Froebel fala sobre os
seus brinquedos criados para auxiliar a brincadeira infantil sem interferir em
seu desenvolvimento natural. Tais brinquedos eram chamados de “dons”,
porque eles seriam uma espécie de “presentes” dados às crianças, ferramentas
para ajudá-las a descobrir os seus próprios dons, isto é, descobrir os presentes
que Deus teria dado a cada uma delas. O educador entendia que os
brinquedos não poderiam ser escolhidos de maneira aleatória. Deveriam ser
estudados para serem adequados ao nível de desenvolvimento de cada
criança.
Outra grande contribuição para educação foi dada por Maria Montessori,
italiana do século XIX, médica especialista em cuidar de crianças com retardos
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mentais. Ela constatou que os meninos considerados como “ineducáveis” pela
sociedade respondiam de maneira satisfatória ao serem estimulados a realizar
tarefas domésticas que trabalhavam habilidades motoras, desenvolvendo o
potencial de autonomia destes. Destacou-se pela criação de Casas de
Crianças, instituições de educação e vida e não apenas lugares de instrução,
pois visavam a educação completa da criança. Montessori respeitava as
manifestações espontâneas da criança. Considerava as sensações como ponto
chave da educação. Para isso, desenvolveu os jogos sensoriais com o intuito
de exercitar e desenvolver cada um dos sentidos. Sua pedagogia se baseava
na utilização de jogos e materiais pedagógicos capazes de desenvolver nas
crianças o sentido de ordem, ritmo, forma, cor, tamanho, movimento, simetria,
harmonia e equilíbrio.
Já Decroly médico belga e grande pensador da educação que viveu
entre os séculos XIX e XX, foi de fato um inovador. Desenvolveu sua
pedagogia a partir das teorias do globalismo no qual, a criança aprende o todo
para depois organizá-lo em partes, caminhando do complexo para o simples.
Suas ideias estão muito presentes nas posturas atuais sobre o método
analítico de alfabetização.
Desenvolveu também os centros de interesse onde a criança passava
por três momentos distintos: observação, associação e expressão. Nestes
centros as crianças desenvolviam atividades do cotidiano, e no final da tarde,
expressavam suas experiências em pranchetas na classe. Além disso,
incentivava a organização dos alunos sempre em grupos na sala de aula. Para
ele, não adiantava armazenar os conteúdos, mas sim saber o que fazer com
eles. Ou, seja era importante aprender a aprender e gostar de aprender. Em
sua pedagogia, transformou os jogos sensoriais e motores em jogos cognitivos,
iniciando por meio destas atividades intelectuais.
Desta forma, as atividades lúdicas foram se tornando ferramentas
legítimas para a aprendizagem da criança. O lúdico foi se evidenciando como a
maneira mais eficaz de envolver e despertar o interesse do aluno nas
atividades, pois a criança trabalha, reflete e explora o mundo a partir da
brincadeira.
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A capacidade de brincar da criança constitui um momento de resolução
de seus problemas interpessoais e intrapessoais. Por meio de brincadeiras, a
criança reproduz muitas atividades vividas em seu cotidiano que são
reelaboradas pelo faz-de-conta.
Segundo Santos (1999), do ponto de vista sociológico, o brincar auxilia
na inserção da criança na sociedade, pois através das brincadeiras esta vai
assimilando as regras, a cultura, as crenças e costumes de seu meio.
“Quando a criança brinca, está manipulando sua
realidade, modificando-a, interagindo diretamente com os
objetos; é uma relação íntima de construção e desconstrução
do real para fantasia.”
(PINTO, 2003)
A palavra ludicidade tem sua origem do latim “ludus” que significa jogo,
de maneira simplificada uma atividade lúdica seria aquela que diverte ou
distrai. Porém, quando falamos do lúdico como instrumento pedagógico nos
referimos a certa intencionalidade. Não é o brincar pelo brincar. Pois neste
contexto a brincadeira é entendida como a forma mais completa de
comunicação e expressão da criança com seu mundo interno e externo.
O ato de brincar pode incorporar valores morais e culturais, pois
“Brincando a criança irá pouco a pouco aprendendo a se conhecer melhor e a
aceitar a existência dos outros, organizando suas relações emocionais e,
conseqüentemente, estabelecendo suas relações sociais.”. Leontiev (1991, p.
79).
Para Oliveira, as atividades lúdicas são a essência da infância, sendo
uma necessidade básica assim como a nutrição, a saúde e a educação.
Através da brincadeira a criança se desenvolve de maneira afetiva, cognitiva,
psicológica e social. Esta atividade contribui para a integração da criança na
sociedade e para a construção de seu próprio conhecimento.
Segundo kishimoto, as atividades lúdicas seriam objetos ou ações nas
quais as crianças aprendem algo ao mesmo tempo em que se divertem, ou
seja, o aluno é motivado a aprender por meio da brincadeira. Desta forma,
23
surge a dimensão educativa quando as situações lúdicas são provocadas pelo
adulto com o objetivo de promover alguma aprendizagem.
A sociedade vem se modificando, assim como a maneira de educar.
Atualmente, as crianças iniciam cada vez mais cedo sua vida escolar, sendo
delegada à escola responsabilidades que antes eram da família. Logo, cabe a
escola proporcionar um ambiente adequado e estimulante para a
aprendizagem global da criança.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
(1998) a educação envolve cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas
de forma integrada, mais uma vez é reforçada a importância do brincar para a
educação infantil.
Em uma concepção sociocultural, a brincadeira mostra como a criança
interpreta e assimila o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos das
pessoas, sendo um espaço característico da infância (Wajskop, 1995).
Porém, muitas escolas não exploram o potencial presente nas
brincadeiras infantis, isso porque em nossa cultura estamos habituados a
distinguir a hora da brincadeira da hora de trabalhar ou estudar.
“reflexo da nossa cultura, em que brincar e trabalhar
são consideradas atividades opostas. Na concepção popular,
trabalho é atividade séria e importante, e brinquedo é lazer.”
(HARRES, PAIM e EINLOFT, 2001)
Vivemos em um mundo no qual a criatividade vem sendo cada vez mais
valorizada, não se trata mais de acumular informações, pois estas estão a
disposição de todos devido à globalização proporcionada pelos atuais meios de
comunicação, como a internet, rádio e televisão. É necessário ter um
diferencial, ou seja, ser capaz de criar a partir das informações obtidas.
Embora haja a necessidade de pessoas criativas no mundo atual,
Wechsler (2001) afirma que a criatividade é um fator pouco explorado nas
escolas. Ainda há muita dificuldade em se estimular a criatividade dos alunos,
seja por deficiência na formação docente, seja pela extensão do currículo a
cumprir.
24
Alencar e Fleith (2003) enfatizam elementos que dificultam ou inibem e
desenvolvimento e a expressão da capacidade de criar, seriam eles: a simples
reprodução do conhecimento e a memorização de ensinamentos, a indicação
de apenas uma resposta correta para um problema e a pouca ênfase à
imaginação e à fantasia.
A criança é um ser criativo, porém este potencial pode ser desenvolvido
ou adormecido, vai depender das oportunidades de expressão que esta puder
vivenciar. Para isso, torna-se essencial uma educação que valorize e trabalhe
este aspecto do sujeito.
“Quando as crianças vão para a escola, são pontos de
interrogação; quando saem, são frases feitas”.
Neil Postman (educador).
Segundo Rodulfo (1990), todas as teorias do jogo e da brincadeira,
apontam para a importância do lúdico como meio privilegiado de expressão e
de aprendizagem infantil, percebendo assim que não existe nada significativo
na estruturação e no desenvolvimento da criança que não passe pelo brincar.
Através das brincadeiras a criança explora toda sua capacidade de
imaginar e criar. Logo, torna-se importante incentivar a criança a expressar
suas fantasias, a usar a imaginação e a manifestar seus desejos por meio de
brincadeiras criativas. Por isso, as brincadeiras do faz-de-conta são tão
importantes.
As crianças muito pequenas têm seu comportamento baseado em
características de situações concretas que vivenciam. Mais tarde quando
adquirem a linguagem passam a utilizar a representação simbólica sendo
capazes de agir num mundo imaginário. Desta forma, no caso da brincadeira
do faz-de-conta, a situação passa a ser definida pelo significado estabelecido
pela brincadeira e não pelos elementos concretamente presentes.
“A imaginação é um modo de funcionamento psicológico
especificamente humano, que não está presente nos animais
nem na criança muito pequena. É, portanto, impossível a
participação da criança muito pequena numa situação
25
imaginária. Ela tende querer satisfazer os seus desejos
imediatamente, ninguém jamais encontrou uma criança muito
pequena, com menos de três anos de idade, que quisesse
fazer alguma coisa dali a alguns dias no futuro (...)”
(VYGOTSKY, 1984, p.110).
Segundo Vygotsky (1984), no jogo do faz-de-conta a criança passa a
guiar seu comportamento pelo mundo imaginário, o pensamento começa a se
dissociar dos objetos possibilitando a idéia antes da ação. Assim, este jogo
possibilita o desenvolvimento do pensamento infantil que caminha para um
sentido mais abstrato. O brinquedo é capaz de criar na criança uma zona de
desenvolvimento proximal e através dele a criança obtém as suas maiores
aquisições.
A medida que a criança se desenvolve ela passa a reger os jogos e suas
brincadeiras por meio de regras que ela mesma cria. A criança tende a seguir
modelos existentes no meio social em que está inserida. Por exemplo, ao
brincar de professora, ela tomará como modelo os exemplos reais conhecidos,
selecionando as características mais comuns que compreendam a categoria
professora. Por meio de representações a criança amplia sua expressividade e
criatividade, construindo seu conhecimento tanto do ponto de vista lingüístico
como psicomotor.
Através do ato de brincar, ocorre um processo que envolve troca,
partilha, confronto e negociação gerando situações de aprendizagem. Para a
criança, a brincadeira é fonte de prazer e conhecimento, pois através desta ela
vai assimilando e se apropriando da cultura em que está inserida. A criança se
integra ao mundo criando mecanismos de adaptação e socialização.
Nesta perspectiva, desenvolver o mundo imaginário na Educação Infantil
é contribuir para a construção da identidade da criança, e cabe ao professor
proporcionar espaços e momentos que possibilitem a aprendizagem de forma
lúdica.
Embora a brincadeira seja muitas vezes encarada como passatempo,
percebemos como é importante a inserção de atividades lúdicas no cotidiano
26
da educação infantil. Por meio das brincadeiras o professor pode observar as
crianças em suas relações individuais e interpessoais, aprimorando seu
conhecimento a respeito do desenvolvimento social, afetivo e cognitivo de seus
alunos.
27
CAPÍTULO III
A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES LÚDICAS COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL.
O relato das experiências pedagógicas deste trabalho foi realizado por
meio de observações em uma turma de educação infantil formada por quinze
alunos com idade entre cinco e seis anos, no município de Duque de Caxias/
RJ.
Diante das dificuldades encontradas em despertar nos alunos o
interesse pelas aulas, percebeu-se a necessidade de aprimorar a metodologia
que estava sendo utilizada. Foi preciso pensar em maneiras de trabalhar os
mesmos conteúdos de forma diferenciada, sem ser cansativo e sem significado
para os alunos. Sabemos que existem conteúdos importantes que precisam ser
desenvolvidos na educação infantil, a questão é de que forma estes poderão
ser melhor assimilados. Pensando nisto, o lúdico passou a ser uma importante
ferramenta pedagógica por possibilitar atividades alegres e dinâmicas.
O lúdico já era trabalhado em sala de aula, por meio de jogos,
brincadeiras, contação de história, cantigas de roda, teatro de fantoche, dentre
outras. Porém, tais atividades eram realizadas objetivando a recreação, ou
seja, havia hora para estudar e hora para brincar, como se aprendizado e
brincadeira não pudessem estar relacionados. Assim, a atividade lúdica
passava a ser uma recompensa para os alunos que executassem as tarefas de
maneira satisfatória. Porém, alguns alunos apresentavam muita resistência em
realizar as atividades tradicionais demonstrando um interesse muito maior
pelas atividades lúdicas. Por esta razão o lúdico passou a ser uma
possibilidade de estratégia de ensino.
A primeira preocupação que o educador deve ter ao planejar uma atividade
pedagógica está relacionada à contextualização. É preciso garantir que o
conhecimento não seja aprendido por meio de mecanizações e tarefas sem
significados. Assim, torna-se de suma importância a elaboração de atividades
28
que estimulem a reflexão do aluno a partir da sua capacidade de compreensão
do mundo.
No caso das crianças desta faixa etária, os contos de fada tornam-se
importantes instrumentos para que se desenvolva um trabalho interdisciplinar.
A primeira história da literatura infantil selecionada como atividade foi a dos
“três porquinhos”. A história foi contada de maneira bem dramática e
posteriormente alguns alunos se candidataram a encená-la. Os alunos
mostraram-se muito empolgados e interessados. Neste momento pôde-se
trabalhar algarismos, quantidades, tipos de moradia. As crianças discutiram
qual das três casinhas possuía o material mais resistente, logo precisaram criar
argumentos que justificassem suas hipóteses. Neste momento, coube ao
educador incentivar a criança a expressar suas ideias, problematizar as
situações vivenciadas com questionamentos, desafiando-a a avançar. Foi uma
atividade muito produtiva em que os alunos tiveram muita participação e
interesse.
Outro conto utilizado foi o da “Chapeuzinho Vermelho”. A história foi lida por
meio de um livro bem ilustrado que muito despertou a curiosidade dos alunos.
Após a leitura houve a encenação da história que precisou ser repetida várias
vezes, para que todos os interessados pudessem participar. A encenação ficou
mais interessante porque foram utilizados objetos tais como capa vermelha,
cesta de doces, touca e óculos para vovozinha, máscara para o lobo, desta
forma, as crianças mostraram-se muito mais entusiasmadas. Logo depois
foram explorados os sentidos como audição, paladar, tato e olfato que
aparecem no conto. As crianças tiveram seus olhos vendados, uma de cada
vez, para que pudessem sentir e descobrir que objetos estavam manuseando.
Também foram utilizados cheiros: café, perfume, limão, tangerina, entre outros.
Além de objetos sonoros: sino, flauta, celular; e alimentos para serem
saboreados: sal, açúcar, suco de laranja e outros. Posteriormente foi
construído um cartaz coletivo com figuras pesquisadas de revistas que
pudessem representar cada um dos cinco sentidos humanos. As crianças
compreenderam muito bem o conteúdo abordado que pôde ser avaliado
29
através das escolhas das imagens que representaram cada um dos sentidos
trabalhados.
Outros temas também foram abordados a partir de “Chapeuzinho
Vermelho”. Foi elaborado pelos alunos coletivamente o bilhete para a mãe de
chapeuzinho comunicando que a vovó não estava bem de saúde, tendo a
professora como escriba. Desta forma as crianças foram percebendo a função
social da escrita, sendo capazes de construir um bilhete mesmo sem saberem
ler e escrever de maneira convencional. Além disso, as crianças realizaram
leitura de ajuste da música: “Pela estrada a fora eu vou bem contente...”,
escrita em um cartaz.
O tema característica dos animais também foi desenvolvido a partir da
figura do lobo, os alunos responderam sobre as seguintes questões: o lobo
caminha com quantas patas? Então ele é quadrúpede? Existem animais que
caminham com menos patas? Quais? São bípedes? O lobo se alimenta de
que? E quando nasce ele mama? Então é mamífero?
Desta forma os alunos foram auxiliados pela professora na construção de um
cartaz contendo várias características dos animais. Todos os alunos se
interessaram, pois estavam participando ativamente do processo fosse falando,
desenhando, recortando ou colando.
Outro conto desenvolvido com os alunos foi “Cachinhos Dourados e os três
ursos”. Esta história fala sobre a menina que fugiu de casa e encontrou a casa
da família urso que tinha ido passear na floresta, a menina percebe que todos
os objetos da casa encontram-se em três tamanhos pequeno, médio e grande
e começa a explorá-los. A história foi contada por meio de ilustrações bem
coloridas que contribuíram pra uma maior concentração das crianças. Por meio
deste conto foi possível trabalhar classificação e seriação. Explorou-se a
classificação por cor, tamanho e forma dos objetos. Apresentou-se as roupas
da família de ursos em cores diferentes, as três camas, cadeiras e poltronas
também em cores diferentes.
A estrutura de seriação foi trabalhada levando a criança a entender que o
tamanho médio é aquele que fica entre o pequeno e o grande. As crianças
30
precisaram compreender que a mamãe urso é menor que o pai, mas maior que
o filho, portanto ela é intermediária entre pequeno e grande.
Para que os alunos pudessem compreender concretamente este conceito
tiveram seus tamanhos comparados em trios a fim de classificá-los em
pequeno, médio e grande. Posteriormente, os alunos desenharam o contorno
dos corpos uns dos outros em folhas de jornal coladas de maneira que
coubesse o corpo da criança inteiro. Recortaram e foi feito um varal de
“corpinhos” em ordem crescente com o nome de cada aluno. Esta atividade foi
muito produtiva e estimulante para os alunos, pois discutiram a todo o
momento qual deveria ser a ordem dos “corpinhos” de jornal.
O tema família também foi trabalhado a partir da história. Neste conto,
aparece uma família nuclear formada por pai, mãe e filho, então foi perguntado
às crianças se suas famílias eram assim, se não como eram? Cada criança
falou de sua família depois produziu um desenho representando- a para
exposição no mural. Foi importante explicar aos alunos a existência de vários
tipos de família, que não existe família pior ou melhor, cada uma tem suas
características que devem ser respeitadas. Assim, trabalhamos valores e
diferenças. Nesta atividade foi percebida a grande mudança do conceito de
família na atualidade, pois as crianças retrataram os mais diferentes tipos de
configuração familiar.
Estes exemplos retratam algumas possibilidades de se trabalhar os
conteúdos básicos da educação infantil de maneira mais lúdica e interessante.
Cabe ao educador a tarefa de inventar e reinventar maneiras de atrair o aluno
para o conhecimento que pretende explorar.
Os contos de fada são caminhos que possibilitam conhecer e explorar o
mundo. Pois oferecem um universo ficcional que retrata a cultura e os valores
sociais. Segundo Piaget, as crianças adquirem valores morais não só por
internalizá-los ou observá-los de fora, mas por construí-los interiormente
através da interação com o meio ambiente. Logo, ouvir contos viabiliza o
desenvolvimento e a aprendizagem da criança.
Ao ouvir a história lida ao invés de contada, a criança entra em contato com
a linguagem escrita, que envolve gênero, estrutura textual e regras gramaticais.
31
Desta forma, ela vai se preparando para o processo de leitura e escrita, que
virá mais adiante, através deste ambiente alfabetizador que a leitura da história
proporciona.
Além dos contos infantis também foram utilizados vários jogos e
brincadeiras com o objetivo de trabalhar alguns conteúdos, tais como: atenção,
numeração e socialização. Para isso foi desenvolvida a seguinte atividade: as
crianças andaram pelo pátio de forma aleatória e depois obedeceram aos
comandos: formar duplas, trios, grupos de quatro crianças, grupos de cinco
crianças e assim por diante. Como resultado, foi observado que alunos que
antes não sabiam a sequência numérica até dez, rapidamente a memorizaram
e passaram relacionar algarismos às quantidades correspondentes através de
uma simples brincadeira.
Brincadeiras como amarelinha, coelhinho sai da toca, pular corda e morto-
vivo, foram muito utilizadas no decorrer das aulas com o objetivo de
desenvolver a coordenação motora e o equilíbrio das crianças. Além destas,
circuitos formados por caixas, cones, cordas e bambolês serviram como base
para o trabalho psicomotor. Desta forma, as aulas passaram a enfocar a
brincadeira como princípio norteador das atividades didático- pedagógicas,
possibilitando às manifestações corporais encontrarem significado pela
ludicidade presente na relação que as crianças mantêm com o mundo. Porém
essa perspectiva não foi tão fácil de ser adotada na prática. Colocar em prática
uma proposta de educação infantil em que as crianças desenvolvam,
construam conhecimentos e se tornem autônomas e cooperativas, exigiu muito
estudo, pesquisa e dedicação por parte do professor.
Em educação infantil a psicomotricidade tem o objetivo de trabalhar o
indivíduo com toda sua história de vida, e esta está retratada em seu próprio
corpo. Quando o desenvolvimento psicomotor acontece de maneira
harmoniosa, prepara a criança para uma vida social saudável, pois através do
domínio do próprio corpo ela pode se relacionar com o outro de maneira
equilibrada. Este fato é importante porque as dimensões afetivas e da
aprendizagem psicomotora estão estritamente relacionadas.
32
De acordo com Lapierre, para aprender a criança necessita de uma
organização de si, do espaço e do tempo que lhe permita aprender; uma
organização mental que lhe permita compreender; e uma organização
psicoafetiva que lhe permita desejar aprender. Logo, a psicomotricidade
contribui muito para o trabalho em educação infantil.
Outra experiência positiva do trabalho por meio do lúdico ocorreu ao
desenvolver a atividade relacionada ao tema animais. As crianças assistiram a
um DVD sobre animais, e cada um comentou sobre o que mais lhe chamou
atenção durante o filme. A seguir, foram confeccionadas diferentes máscaras
de animais, por meio de recorte, pintura e colagens. Cada criança escolheu o
seu animal e depois o apresentou para turma usando a máscara e
descrevendo suas principais características: número de patas, tipo de
alimentação, tamanho, etc. Logo após, foi realizado o jogo alerta dos animais
no qual cada criança foi um animal. Um monitor ficou com a bola nas mãos no
meio do círculo formado pelas crianças. Quando o monitor gritava o nome de
um animal jogava a bola para cima, e as crianças deveriam tentar ficar o mais
distante possível da criança que "tinha o nome do animal", esta deveria pegar a
bola gritando "ALERTA" (assim, nenhuma criança poderia mais se mover). Ela
tinha então o direito a dar três passos para tentar se aproximar de alguém,
acertá-lo com a bola e eliminá-lo.
Os alunos mostraram-se muito atentos e participativos e passaram a fazer
muitas perguntas sobre o assunto. Desta forma, começaram a se interessar por
uma enciclopédia sobre animais que havia no cantinho da leitura, o que não
ocorria anteriormente. Sem dúvida, o lúdico desperta o interesse e a vontade
de aprender do educando.
Outro recurso fundamental utilizado com as crianças foi o trabalho com
artes. A importância do fazer artístico não se limitou ao simples papel
recreativo, tratou-se de um instrumento pedagógico que viabilizou o
desenvolvimento da criança em sua maneira de ver o mundo.
A arte estimula o potencial cognitivo e criativo, fazendo com que a criança
se perceba atuante no processo de construção de sua própria aprendizagem.
33
Segundo Pillotto, a arte na educação infantil está em processo de
transformação e ruptura com a concepção tradicional de ensino, exigindo das
políticas educacionais, dos cursos de Formação de Professores, especialmente
das Licenciaturas em Arte, um comprometimento com os aspectos cognitivos,
sensíveis e culturais. Deste modo, a arte não pode ser tratada de forma
simplista e mecânica, como exercício que apenas desenvolve a coordenação
motora, é preciso desenvolver a reflexão, o gosto pelas artes e o conhecimento
efetivo deste campo. Assim, cabe ao professor ser um eterno pesquisador que
saiba contextualizar o conteúdo que está sendo abordado, entendendo as
produções artísticas como resultado de um determinado período histórico.
Educar o olhar da criança para a apreciação artística constituiu um exercício
que deve ser realizado desde a educação infantil, pois “não podemos entender
a cultura de um país sem conhecer sua arte. Por essa e outras razões, nunca é
cedo para despertar nos alunos a sensibilidade do seu olhar para a Arte”.
Barbosa (1998, p. 16).
Desde a pré-escola o professor deve despertar o interesse da criança pelas
artes, por meio de atividades que ampliem o repertório artístico e cultural da
mesma.
(...) é necessário começar a educar o olhar da criança desde a Educação Infantil, possibilitando atividades de leitura para que,
além do fascínio das cores, das formas, dos ritmos, ela possa
compreender o modo como a gramática visual se estrutura e
pensar criticamente sobre as imagens.
Pillar (2003, p. 81)
Neste cenário, buscou-se trabalhar a arte de maneira contextualizada. Para
isto, foi realizada a atividade “trabalhando as diferenças” baseada na lei 10.639
na qual institui a obrigatoriedade do ensino da cultura afro descendente.
Foi lida a história Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado e
posteriormente foram confeccionados pelas próprias crianças fantoches de
vara com os personagens da história. A história trata das diferenças raciais e
miscigenações: um coelho branco que desejava ser pretinho tal como a menina
34
bonita do laço de fita, tenta a qualquer custo ser pretinho como ela, mas não
consegue. Ao final se casa com uma coelha pretinha e tem muitos filhotes um
de cada cor ficando muito feliz. Após a confecção dos fantoches as crianças
montaram um teatro para ser apresentado para as outras turmas.
As crianças foram incentivadas a participar da discussão da história
perguntando e observando a cor de olhos, pele e cabelo de todas presentes,
valorizando a diferença existente entre elas. Posteriormente, foi apresentada às
crianças a obra “A Negra“ de Tarsilla do Amaral, 1923. Neste momento, os
alunos foram questionados sobre o que estavam vendo, que nome dariam à
obra, as cores utilizadas, e foi explicado às mesmas o motivo e contexto em
que a obra foi produzida. Posteriormente foram apresentadas imagens de
diversas obras de Aleijadinho, um negro na arte brasileira, para que as crianças
pudessem expressar suas impressões. Sem deixar de falar da vida e do
contexto histórico vivido pelo artista, tendo o cuidado de adaptar a linguagem à
da criança.
Nesta fase, entre cinco e seis anos de idade, as estruturas de pensamento
da criança segundo Piaget, são concreto-operatórias. Logo as gravuras
condizem melhor com as possibilidades de aprendizagem deste período de
desenvolvimento. Posteriormente, foi oferecido a cada aluno telas de papelão,
pincéis e tinta para que pudessem construir uma figura humana.
Lembrando que nenhuma criança foi levada a copiar fielmente a obra de
Tarsilla do Amaral, esta serviu apenas de inspiração.
(...) a obra observada é suporte
interpretativo e não modelopara os alunos copiarem. Assim
estaremos preservando a livre expressão, importante conquista
do modernismo que caracterizou a vanguarda do ensino da
arte no Brasil, de 1948 aos anos setenta, e nos tornando
contemporâneos.
BARBOSA, (1991, p. 107),
Foram atividades muito produtivas onde se percebeu um avanço
significativo na capacidade cognitiva, afetiva e social das crianças. Estas
35
passaram a expressar suas idéias com maior clareza e as aulas tornaram-se
mais estimulantes.
Este trabalho só foi possível devido a uma mudança de postura. O
professor precisa antes de tudo se perceber como um pesquisador que
está sempre revendo sua prática. Logo, pesquisar significa conhecer a
realidade para transformá-la, aprimorando desta forma, seu trabalho
pedagógico. Investir na formação do profissional de educação como um
pesquisador capaz de refletir sobre sua prática é fundamental para a formação
de alunos pensantes. Por isso, a formação continuada do profissional docente
constituiu condição essencial para a melhoria da qualidade da educação
brasileira.
36
CONCLUSÃO
Brincar é um fenômeno natural que pode ser observado em todas as
crianças de diferentes épocas e culturas. Por isso, a brincadeira é uma forma
de linguagem que permite a criança se expressar enquanto ser atuante no
mundo. A brincadeira deve estar presente na escola desde a educação infantil
para que o aluno possa manifestar seus desejos e ideias através deste tipo de
atividade. O professor deve priorizar atividades que valorizem a
espontaneidade das crianças, tais como: brincadeiras, jogos, músicas, a arte,
leitura de contos de fada e trabalho de expressão corporal. Porém, deve haver
um objetivo em cada atividade proposta pelo docente, não se trata de
improvisar, mas de estudar, planejar e rever sua prática cotidianamente. Os
conteúdos não podem ser esquecidos, precisam ser trabalhados através de
atividades que priorizem o lúdico.
Nos tempos atuais, as propostas de educação infantil dividem-
se entre as que reproduzem a escola elementar com ênfase na
alfabetização e números (escolarização) e as que introduzem
a brincadeira valorizando a socialização e a re-criação de
experiências. No Brasil, grande parte dos sistemas pré-
escolares tende para o ensino de letras e números excluindo
elementos folclóricos da cultura brasileira como conteúdos de
seu projeto pedagógico. As raras propostas de socialização
que surgem desde a implantação dos primeiros jardins de
infância acabam incorporando ideologias hegemônicas
presentes no contexto histórico-cultural. (OLIVEIRA, 2000).
O professor que ousar utilizar o lúdico em sua prática deve saber que cabe
a ele o planejamento, a organização do ambiente e dos materiais e
principalmente ter conhecimento da sua clientela (BARROS, 1998). Este deve
ter também conhecimento exato da funcionalidade motivadora do lúdico para o
desenvolvimento de seus alunos. Desta forma, o lúdico se apresenta como um
importante recurso na construção do conhecimento e no desenvolvimento
afetivo, social e psicomotor da criança.
37
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VYGOTSKI, L. Luria, A. e Leontiev. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo. Ícone/USP, 1988.
39
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I_ A Infância como construção histórica 10
social.
CAPÍTULO II_ A inserção do lúdico no cotidiano da 18
Educação infantil.
CAPÍTULO III_ A realização de atividades lúdicas 27
como ferramenta pedagógica na educação infantil.
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 37 ÍNDICE 39
40
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: AVM FACULDADE INTEGRADA
Título da Monografia: A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Autor: Cíntia Milena Xavier Ferreira
Data da entrega: 26/07/2011
Avaliado por: Conceito: