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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
DANIEL PACHECO DE MENEZES
“Universidade Brasileira: uma interface entre o ensino
universitário e a sociedade”.
Rio de Janeiro, RJ.
1° Semestre/2010
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DANIEL PACHECO DE MENEZES
“Universidade Brasileira: uma interface entre o ensino
universitário e a sociedade”.
Monografia apresentada ao Instituto a Vez do Mestre junto a Universidade Cândido Mendes, como requisito à obtenção do título de pós-graduado no
curso Docência do Ensino Superior.
Orientador:
Professor Marcelo Saldanha.
Considerando que o destino da educação converge para um único foco- o desenvolvimento harmônico do homem, este trabalho possui como objetivo geral enumerar e explicar os propósitos mais relevantes da universidade: universalização da cultura, socialização do saber, formação de profissionais e formação de pesquisadores.
Como objetivo específico, a pesquisa procura explicar o papel do professor e qual a contribuição deste para que os propósitos centrais da universidade sejam alcançados.
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Agradecimentos
Em primeiro, lugar agradeço ao meu Senhor Jesus Cristo, aquele que é tudo
pra mim e ocupa o primeiro lugar em minha vida. Muito obrigado meu Deus.
Gostaria de agradecer a todos aqueles que compartilharam comigo nessa
caminhada.
Aos meus pais, Carlos e Margareth, meu irmão André, que investiram e
confiaram em meu potencial.
A minha prima e amiga Bianca. Sua ajuda foi fundamental para concretização
dessa pesquisa.
Aos amigos, todos! Muito obrigado a cada um de vocês. Todos fazem parte
desse projeto.
Ao professor Marcelo Saldanha por me acompanhar durante esta caminhada.
Seus conhecimentos foram preciosos em todos os momentos.
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Resumo
Ao situar-se no contexto da sociedade, o desafio da universidade é colaborar
na organização e na construção de uma nação que busque, efetivamente, sua
soberania.
É notório no Brasil que a universidade não está voltada para a construção de
uma sociedade mais igualitária. Também é claro que não há uma
democratização do conhecimento, ou seja, apenas a minoria da população tem
o acesso ao conhecimento no nível superior de ensino.
Os professores realizando sua tarefa de facilitadores e articuladores do
processo de construção e reconstrução do conhecimento podem contribuir para
que os objetivos da universidade, que são universalização da cultura,
socialização do saber, formação de profissionais e formação de pesquisadores,
sejam atingidos.
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Metodologia
A pesquisa recorrerá a dados obtidos por meio de pesquisas em textos
especializados, com assuntos correlatos ao tema proposto.
A literatura baseia-se em referências teórico-conceituais que relatam os
principais objetivos da universidade e a importância do professor para que tais
objetivos sejam alcançados.
Também serão utilizados dados visuais, tais como a apresentação gráfica de
informações, extraídos de sítios eletrônicos, pois a linguagem verbal, em
alguns casos, apresenta-se insuficiente.
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Sumário
Introdução................................................................................................. 7
CAPÍTULO I – Histórico de formação da universidade brasileira............... 9
Os objetivos da universidade..................................................................... 13
CAPÍTULO II – O papel do professor
universitário............................................................................................... 21
Limitações a prática docente...................................................................................................... 28
Considerações Finais............................................................................... 32
Referências Bibliográficas......................................................................... 35
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Introdução
Ao tratar da representatividade universitária brasileira se expressa uma
das estratégias fundamentais na configuração de uma sociedade justa e
igualitária, uma vez que os interesses da universidade estão direcionados para
a formação da democracia no país. O arranjo institucional do ensino superior
reflete o grau de organização da sociedade e o quanto ela pode influenciar na
resolução de problemas cotidianos através de sua correspondente
representatividade.
Assuntos relacionados à educação brasileira têm freqüentado o
noticiário, os editoriais e os artigos da imprensa, além de estarem sempre
presentes nas discussões dos próprios professores e alunos, ou daqueles
inseridos no contexto universitário, e entender esses assuntos, muitas vezes
constitui-se uma tarefa com certo grau de dificuldade. Devido a essa realidade,
a pesquisa acadêmica, no campo do ensino superior não tem ficado alheia.
Recentemente no Brasil, cresceram consideravelmente os estudos, teóricos e
empíricos, sobre este tema.
Seguindo o exponencial crescimento dessa vertente da ciência
educacional que se origina a vocação para a realização desse estudo: a
compreensão dos objetivos dos diferentes níveis de ensino no Brasil, mais
especificamente, a realidade do ensino superior, sabendo-se que o desafio da
universidade é, ao situar-se no contexto da sociedade, colaborar na
organização e na construção de uma nação que busque, efetivamente, sua
soberania.
O presente estudo tem como principal objetivo identificar os objetivos
centrais da universidade. No tocante a crise social que assola o país, o foco
principal desses objetivos é transformar a universidade brasileira em um
instrumento que rompa com a segregação social de modo a promover uma
sociedade integrada e eficiente.
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A fim de elucidar as informações a respeito do tema proposto, foram
empregadas algumas informações visuais. Os diferentes tipos e habilidades de
comunicação são cruciais para a realização de trabalhos acadêmicos. A
comunicação verbal mostra-se insuficiente quando surge a necessidade da
apresentação de informações quantificáveis – é imprescindível a utilização da
representação gráfica e visual. Por isso, nesse trabalho surgiu a necessidade
da apresentação de documentos em forma de apresentações gráficas, cujo
objetivo é representar, de maneira fidedigna fenômenos reais por meio de
figuras geométricas buscando gerar a compreensão e entendimento daqueles
usuários que lançarão mão deles.
Como objetivos específicos a monografia, procura construir uma
interface entre o papel do professor e a formação de alunos participantes do
processo de construção de saberes, visando atender o objetivo principal, que é
alcançar os quatro objetivos centrais da universidade no Brasil; a partir do
mesmo arcabouço metodológico verificar e projetar tendências de
comportamentos do corpo docente, apontando as principais dificuldades
encontradas por professores do ensino superior; e por fim, mostrar que as
dificuldades dos mestres geram um ciclo vicioso, um obstáculo para o
desenvolvimento de um sistema educacional de excelência. Esses possíveis
resultados futuros serão desenvolvidos tomando como base o panorama
educacional brasileiro, que enfrenta, há algumas décadas, uma crise estrutural
e a falta de investimentos.
A pesquisa recorreu exclusivamente a dados secundários, que foram
obtidos por meio de pesquisas em textos especializados, com assuntos
correlatos ao tema proposto e no banco de imagens digitais disponíveis no
endereço eletrônico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A
literatura baseia-se em referências teórico-conceituais que relatam a
configuração do ensino superior brasileiro, bem como as potencialidades e
dificuldades da universidade no Brasil.
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A fim de atender os objetivos propostos a monografia foi composta em
dois capítulos interligados que procuram relacionar o papel da universidade e a
sociedade. Em virtude das considerações acima mencionadas, procurou-se a
partir do primeiro capítulo: “Histórico de formação da universidade brasileira”
expor as principais características da formação do ensino superior do país,
apresentar suas principais características e expor os objetivos centrais da
universidade brasileira mostrando quais deles já foram ou não alcançados.
No segundo capítulo: “O papel do professor universitário”, a intenção é
explicar como o professor deve agir na transmissão de conhecimentos a seus
alunos visando à formação de sujeitos ativos, capazes de transformar a
realidade em que estão inseridos. Também nesse capítulo, são apresentadas
algumas limitações a prática docente, tais como: a péssima formação do
professor e a falta de descomprometimento dos mesmos, constantemente
presos a métodos tradicionais e ineficazes de ensino.
Quais objetivos já foram atendidos pela universidade? O ensino
brasileiro é segmentado e voltado para a elite? Qual a representatividade do
professor na configuração de uma sociedade democrática e mais igualitária?
Essas e outras perguntas serão respondidas no decorrer deste trabalho, para
que assim se possam construir análises do atual comportamento da educação
no país e suas implicações no cenário nacional.
Histórico de Formação da Universidade Brasileira
É notório no Brasil que a universidade não está voltada para a
construção de uma sociedade mais igualitária. Também é claro que não há
uma democratização do conhecimento, ou seja, apenas a minoria da
população tem o acesso ao conhecimento no nível superior de ensino. Para a
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compreensão desse fato torna-se necessário explorar o início do processo de
formação do ensino superior brasileiro antes de debater seus principais
objetivos.
A universidade brasileira nasceu em uma sociedade marcadamente
segmentada e ao longo de sua história estabeleceu estreitos laços com a
comunidade em que se tem inserido.
A transferência da família real para o Brasil transformou o país em sede
da coroa portuguesa. Essa mudança impulsionou a implementação de medidas
administrativas, econômicas e culturais para estabelecimento da infra-estrutura
necessária ao funcionamento do império. A criação dos primeiros
estabelecimentos de ensino superior buscava formar quadros profissionais
para os serviços públicos voltados à administração do país. As áreas
privilegiadas eram: medicina, engenharia e direito. Em 1808, foram criados os
primeiros estabelecimentos de ensino médico-cirúrgico de Salvador e do Rio de
Janeiro. O Rio de Janeiro foi cenário de outras iniciativas culturais e científicas,
como a criação da Imprensa Régia, da Biblioteca Nacional e dos primeiros
periódicos científicos.
A criação de universidades foi amplamente discutida por grupos sociais
diversos no país, porém, apenas no século XX surge a primeira universidade
brasileira criada pelo governo federal brasileiro na cidade do Rio de Janeiro em
1920, que aglutinou as Escolas Politécnica, de Medicina e de Direito já
existentes.
Reunir faculdades já fundadas tornou-se uma marca do desenvolvimento
do sistema de ensino universitário brasileiro. Baseadas na universidade do Rio
de Janeiro foram criadas as universidades federais nos Estados. A presença de
oligarquias na criação das universidades, e os diversos acordos realizados
entre o poder federativo e os estados são apontados como fatores intimamente
relacionados aos diversos caminhos trilhados pelas universidades brasileiras
desde a sua criação. Como estratégia para a canalização de verbas, a
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instauração de muitas universidades significou o desvio de recursos financeiros
para os estados, local de prestígio político e de emprego para os filhos das
elites.
Evidentemente, o propósito central do desenvolvimento do ensino
superior no Brasil estava voltado aos interesses das classes dominantes do
país. A democratização do ensino e o interesse em conquistar sua soberania
por meio de uma sociedade tecnicamente desenvolvida figuravam como
objetivos secundários dentro do contexto da proliferação das instituições de
nível superior brasileiras.
As contradições e discussões surgidas durante esse período não se
limitavam aos benefícios concedidos a poucos grupos da sociedade. Além
disso, elas geravam dúvidas e incertezas a respeito da ideologia que seria
assumida pelo ensino superior. Durante o século XIX, pelo menos três forças
políticas atuavam no país, divulgando seus interesses e projetos: a alta
hierarquia do clero católico, as lideranças civis liberais e os pensadores
positivistas. Estes grupos apresentavam idéias conflitantes sobre o papel da
universidade na vida política e social brasileira.
Para a igreja católica, a criação de uma universidade com hegemonia
religiosa ajudaria a aumentar os quadros intelectuais a serviço do projeto
religioso. A universidade nos moldes católicos privilegiaria disciplinas como:
Filosofia, a Tomista, que era adotada oficialmente pela Igreja Católica e que se
caracterizava pela tentativa de conciliar o aristotelismo com o cristianismo;
Teologia; Direito, com base na doutrina social da igreja; Letras; Artes; e, quem
sabe no futuro, alguns poucos setores tecnológicos. Já os liberais definiam um
programa totalmente diverso dos católicos, privilegiando os setores jurídicos de
estudo, as áreas humanísticas e a medicina. O projeto seria desvinculado de
compromissos religiosos e buscaria assegurar as formas de autoridade, e de
pensamentos, gerados pela Revolução Francesa e Revolução Industrial.
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Os positivistas defendiam idéias contrárias às duas posições anteriores,
argumentando que o Brasil não precisava de universidades, mas de ensino
fundamental para as massas, sobretudo no campo tecnológico. Nessa
perspectiva, seria um absurdo a preocupação com o ensino universitário
quando tudo ainda estava por fazer, entre nós, em matéria de ensino primário e
secundário. Para os positivistas, o controle das universidades pela igreja
prejudicaria o advento da idade científica e técnica no Brasil e, se fossem
dominadas pelos liberais, transformariam o país em uma anarquia social e
política, com os devaneios metafísicos que imperaram na Revolução Francesa.
Defendiam, por sua vez, a criação de escolas técnicas e científicas que
ensinassem as leis da natureza, e os meios de aproveitá-las em favor da
humanidade.
Os interesses de alguns grupos da sociedade continuaram aparecendo
durante o século XX. Em meados desse período foi a vez dos militares da
ditadura imprimirem suas marcas na universidade brasileira.
A reforma universitária, gestada pelo governo militar em 1968, é
considerada um grande marco na história das universidades brasileiras. O
objetivo da reforma era modernizar a universidade para um projeto econômico
em desenvolvimento, dentro das condições de segurança que a ditadura
pretendia para si e para os interesses do capital que o representava. A Lei
5540/68 introduziu a relação custo-benefício e o capital humano na educação,
direcionando a universidade para o mercado de trabalho, ampliando o acesso
da classe média ao ensino superior e cerceando a autonomia universitária.
Diversas medidas foram tomadas para alcançar tais metas, entre elas: a
unificação do vestibular por região; o ingresso por classificação; o
estabelecimento de limite no número de vagas por curso; a criação do curso
básico que reunia disciplinas afins em um mesmo departamento; o
oferecimento de cursos em um mesmo espaço, com menor gasto de material e
sem aumentar o número de professores; a fragmentação e dispersão da
graduação; o estabelecimento de matrícula por disciplina. Entre os resultados
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obtidos, o mais grave foi elitização do ensino universitário, que impede até hoje
o acesso de grande parte da população à universidade pública.
O debate que surge com as cores da incerteza e da falta de
comprometimento social gira em torno do papel da universidade para o país.
Existe um grande abismo entre o que deveria ser e o que é a universidade
brasileira, abismo crescente desde a época de institucionalização do ensino
superior. Nas últimas décadas, ingressar em instituições públicas de ensino
superior é tarefa árdua. Somado a este fato, surge a discussão a respeito da
intensa multiplicação de instituições privadas, que por meio de ofertas
tentadoras acrescentam um número cada vez maior de estudantes em seus
registros de matrículas. O bom senso mostra que a dificuldade de acesso e os
privilégios concedidos a menor parte da população é o mesmo das décadas
passadas, porém não é mais o único tema a ser tratado. Com cores intensas
figura outro problema: a degradação do ensino superior brasileiro.
Não se trata obviamente de debater a qualidade do ensino oferecido nas
universidades privadas, porém é fundamental ressaltar que, caso a
universidade pública no Brasil não fosse intencionada desde sua fundação, não
priorizasse apenas alguns segmentos da sociedade e buscasse eliminar a
segregação social, haveria sem dúvidas a formação de uma sociedade
integrada e eficiente, que contribuiria para o maior desenvolvimento político,
econômico e social do país.
Há séculos, o Brasil convive com a segregação social e com a
desigualdade. Até mesmo no período de formação do território nacional,
grandes lotes de terras foram doados a ricos influentes ligados a coroa
portuguesa. Séculos depois, esse modelo apenas se repetiu nas recém
surgidas universidades brasileiras, ratificando a concessão de privilégios e a
busca em atender interesses das camadas mais altas da sociedade.
Frente a essa crise social que assola o país, a universidade possui a
capacidade de alterar as estruturas que confrontam o ensino democrático. Para
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isso, é imprescindível ficar claro o papel da universidade para todos os que
nela atuam. Ao situar-se no contexto da sociedade, o desafio da universidade é
colaborar na organização e na construção de uma nação que busque
efetivamente sua soberania. Tal desafio exige uma cuidadosa sintonia dos
projetos científicos e tecnológicos com os projetos de interesse do país.
Os Objetivos da Universidade
Para obter seus objetivos a universidade precisa romper com as
dificuldades que ao longo de sua história dificultam seu pleno funcionamento.
São vários os aspectos questionados e discutidos atualmente, chegando até a
se questionar a pertinência da universidade no mundo atual. Uma das questões
centrais é a adoção de uma postura universitária com novo ponto de vista,
integrado ao futuro da nação, do mundo e da humanidade.
Ao ter consciência de seu papel a universidade é a instituição que mais
tem condições de preservar a cidadania e de buscar o progresso. Para isso
deve adotar uma postura aberta para integrar o conjunto do país, abandonar o
apego ao presente para se comprometer com o futuro e neutralizar a visão
dependente para formular um pensamento nacional consciente com o
progresso. Partindo desses pontos é que nascem os objetivos mais relevantes
da universidade, que são: a universalização da cultura, a socialização do saber,
a formação de profissionais e a formação de pesquisadores.
A constituição de uma sociedade forte está inteiramente ligada à
universalização da cultura promovida pela universidade. É fundamental
destacar como o ensino superior possui uma das ferramentas fundamentais na
formação de uma nação forte e coesa.
Cabe a universidade preservar as conquistas culturais da humanidade,
contribuindo para a harmonização das barreiras ideológicas que segmentam os
povos. Se, de um lado, a cultura se propaga a uma velocidade superior a dos
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meios de transportes mais modernos da atualidade, de outro, quase que em
sua totalidade, essa cultura, dominante e exploradora de países e povos, tem
sua origem em nações desenvolvidas, localizadas confortavelmente acima do
mundo pobre e periférico. Para nutrir seu desenvolvimento cultural ao ponto de
obter a propagação planetária, as universidades desses países investiram
maciçamente na produção intelectual de sua gente.
Para ilustrar o que foi mencionado anteriormente, pode-se citar o modelo
de ensino superior dos Estados Unidos da América. Enquanto a América do
Sul conservou-se mais ligada a padrões e formas européias de vida, a América
do Norte avançou para uma experiência cultural nova. Desde cedo, a nação
revela a mais viva preocupação pela escola. Esta surge como instituição local,
tão obrigatória quanto a capela, ou a igreja. Nenhuma comunidade podia existir
sem escola.
Como a escola americana se desenvolveu sob a direção de conselhos
populares, escapou, graças a isso, ao pedagogismo. Seria simples, mas não
era pedante. Mas, como o povo era prático e estava a construir nova
civilização, a escola se fez prática e devotada ao presente, às necessidades
reais e vivas do povo americano. Livrou-se, desse modo, dos dois mais
terríveis defeitos da escola: o intelectualismo e o pedagogismo. Nem se
destinou a formar intelectuais, nem se esterilizou na rotina da aprendizagem de
métodos e fórmulas sem conteúdo. Em suma, escapou ao intelectualismo, ao
verbalismo e à alienação cultural, que resultariam inevitáveis, caso se
devotasse, como seria de esperar e como sucedia em todo o planeta, a
transmitir uma cultura alheia ao meio, ou seja, a cultura do passado, ou a dos
povos e nações de que provinha o povo americano.
Também é um objetivo da universidade a socialização do saber, que
significa estender os conhecimentos produzidos na academia até a
comunidade, contribuindo para a resolução tanto dos crônicos problemas
sociais quanto dos que vierem a surgir.
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Nesse contexto, mais uma vez a educação universitária brasileira difere-
se em muito da norte-americana. A educação dos Estados Unidos destinava-
se a todos, por isso mesmo, não ensinava algo de especial destinado apenas a
alguns, mas aquilo de que cada um e todos viessem a precisar. A inteligência
não era uma espécie de talento que uns poucos possuíssem, mas algo a todos
distribuído e que se exercia em toda e qualquer atividade.
No caso brasileiro o objetivo da formação do conhecimento é totalmente
diferente. A academia está voltada ao mercado de trabalho, que se mostra
cada vez mais exigente no tocante ao domínio de conhecimentos, capacidade
de aplicá-los criativamente, espírito de liderança e adaptabilidade à mudança
tecnológica. Visa-se formar profissionais para abastecer os quadros
profissionais das empresas que gerarão a riqueza do país.
A produção de ciência e desenvolvimento tecnológico no Brasil são
temas ainda pouco abordados. Os questionamentos são muitos quando se fala
em custos e gastos públicos destinados a pesquisa científica, já que as
finanças públicas se tornam cada vez mais limitadas, complexas e
problemáticas. No Brasil, aplicar dinheiro em educação ainda desperta mais
sentimento de gasto do que de investimento. E, se há dúvidas quanto aos
resultados, as coisas ficam ainda mais difíceis. O quadro não é muito diferente
quanto às instituições privadas e seus usuários e mantenedores.
Ainda assim, nos últimos anos, o Brasil vem experimentando
crescimento significativo na esfera da produção e desenvolvimento científico
(P&D). Segundo informações do IBGE, o Governo Federal tem dado apoio à
criação de atividades inovativas, notadamente os oferecidos por instituições
federais, por meio de financiamentos, incentivos fiscais, subvenções, bolsas,
aporte de capital de risco, etc.
Da análise das informações relativas aos totais apresentadas pelos
gráficos seguintes, depreende-se, em primeiro lugar, que os serviços de P&D
ostentam a mais elevada proporção (90,2%) entre os setores pesquisados.
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Outra evidência, também geral, é que as empresas com 500 ou mais pessoas
ocupadas – com 40,9%, na indústria; 16,7%, nas telecomunicações; 25,1%, na
informática; e 100%, na P&D – são as maiores beneficiárias dos programas
governamentais. Por último, os financiamentos à compra de máquinas e
equipamentos destacam-se como o tipo de programa mais utilizado pelas
empresas inovadoras, e a Lei de P&D como o de menor uso.
Além de 90,2% das 41 instituições inovadoras dos serviços de P&D terem
recebido suporte do governo para desenvolverem suas atividades, ele registra
proporção bem superior aos demais setores, em todos os tipos de programas.
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A maior (73,2%) é observada nos financiamentos a projetos de pesquisa
que estimulam a aproximação entre o setor empresarial e os centros de
pesquisa e universidades, efetuados através dos fundos setoriais. Por faixa de
tamanho, este é o programa mais usado pelas instituições de médio (85,0%) e
grande porte (100%); enquanto as de pequeno porte (40,0%) fazem maior uso
dos recursos provenientes da Lei de Informática. De fato, a produção científica
está crescendo no Brasil e a universidade é o lócus dessa expansão.
É importante citar também que a universidade deve acompanhar os
movimentos do mercado de trabalho, contribuindo para o atendimento da
demanda de mão-de-obra profissionalmente especializada. Além disso, tem o
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papel de formar pesquisadores que se dediquem a produção do conhecimento
em todas as áreas de conhecimento.
Atualmente, o desemprego no Brasil experimenta expressivo declínio.
Desde o ano de 2002 a oferta de postos de trabalho e a necessária
qualificação do trabalhador para a admissão estão crescendo
harmoniosamente. Analisando os dados extraídos do sítio eletrônico do IBGE,
pode-se constatar que uma das causas da redução do desemprego no país é o
número maior de pessoas ingressando no sistema universitário.
Taxas de Desemprego - 2003-2007
FONTE: IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego.
Relacionando as informações dadas anteriormente com os números do
Ministério da Educação (MEC), fica claro que o maior ingresso de estudantes
no nível universitário está contribuindo para a diminuição do desemprego no
país. De 1998 a 2002 foram criados 7.449 novos cursos, um crescimento de
107%. Em 2002, 3.479.913 alunos matriculados nos cursos presenciais,
destes, 70% estão em instituições privadas, lembrando que em 1998 esse
percentual correspondia a 62%, o que indica um crescimento de 84% das
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matrículas nas instituições privadas contra um crescimento de 31% verificado
nas públicas.
Do ponto de vista dos quatro objetivos da universidade
apresentados a universidade brasileira tem desempenhado dois deles com
sucesso: a formação de profissionais para o mercado e trabalho e em um ritmo
menor de desenvolvimento, a formação de pesquisadores, graças ao apoio
dado pelo Governo Federal.
Contudo, quanto à universalização da cultura e a socialização do
saber, o sistema universitário brasileiro ainda deixa a desejar. A conseqüência
desse processo é a dominação cultural, tecnológica e científica sofrida pelo
Brasil e exercida pelas grandes potências mundiais e a manutenção dos
constantes problemas sociais brasileiros tais como péssima distribuição da
renda, exclusão social, crise habitacional, precariedade no sistema de saúde e
educação, dentre outros.
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O Papel do Professor Universitário
No contexto universitário estão presentes vários atores que atuam em
diferentes ramos. Porém, este elenco baseado na multiplicidade converge para
um único objetivo, podendo ser descrito como o sucesso do processo de
ensino e aprendizagem.
Diante disto, emerge a figura do professor como facilitador da
transmissão de saberes e participante fundamental na formação de
profissionais competentes e bem qualificados.
Contudo, o papel do professor apresenta-se extremamente sensível. Ele
é uma figura essencial na formação de seus alunos, mas se não conhecer as
bases e pressupostos de seus objetivos, pode atuar como dificultador do
processo de ensino e aprendizagem.
O primeiro passo consiste em o professor encarar a aprendizagem como
saber pensar e aprender a aprender e não limitar este processo na mera
transmissão de conhecimentos. É claro que o professor detém informações e
conteúdos ainda não apreendidos por seus alunos. Porém, não deve restringir
suas aulas a exposições orais. Agindo assim, o propósito ético-político se
constitui na razão de ser desse processo e a manipulação do conhecimento
bem como o ensino voltado para a lógica do mercado permanecem,
simplesmente, como meio e não como fins.
Embora o professor seja visto como detentor de saberes é necessário
compreender que ainda há muito por conhecer. Tal compreensão permite ao
professor adotar uma postura de modéstia e só assim poderá ver os alunos
como sujeitos capazes de observar, de descobrir caminhos próprios.
Quando não há essa postura inovadora cria-se uma dicotomia entre
professores e alunos, postura esta adotada por inúmeros mestres nas
universidades brasileiras. Muitos profissionais almejam ser vistos como
guardiões do conhecimento científico, o qual, pretensamente, tem resposta
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para todas as questões que permeiam a humanidade. Este tipo de autoridade
se impõe devido à cumplicidade dos alunos. As palavras do professor são as
que expressam a verdade científica e alunos, julgando-se ignorantes, jamais
poderiam questioná-lo, ou seja, falta ao aluno a ousadia de questionar o saber
do professor. Ainda que este ou aquele professor seja inquirido neste ou
naquele ponto, a sua autoridade estará resguarda pela posição que ocupa na
instituição. Como escreve Bourdieu:
“A especificidade do discurso de autoridade (curso, sermão, etc.) reside no fato
de que não basta que ele seja compreendido (em alguns casos, ele pode
inclusive não ser compreendido sem perder seu poder), é preciso que ele seja
reconhecido enquanto tal para que possa exercer seu efeito próprio.”
(BOURDIEU, 1998, p.91).
Ou também segundo Weber:
“No campo das ciências, a intuição do diletante pode ter significado tão grande
quanto a do especialista e, por vezes maior. Devemos, aliás, muitas das
hipóteses mais frutíferas e dos conhecimentos de maior alcance a diletantes.
Estes não se distinguem dos especialistas (...) senão por ausência de
segurança no método de trabalho e, amiudamente, em conseqüência, pela
incapacidade de verificar, apreciar e explorar o significado da própria intuição”.
(WEBER, 1993, p.26).
Muitos estudantes ficam extasiados com a erudição do mestre. Em
certos casos, quanto mais incompreensível for o discurso do professor mais ele
parecerá inteligente. Em geral, passa despercebido o fato de que a
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universidade legitima o discurso do professor. Assim, o docente não precisa
saber, mas sim aparentar que sabe.
Se, na sala de aula o professor define tudo o que deve ser feito, controla
o tempo e as falas, desvaloriza o que o aluno ainda não sabe e expõe seus
conhecimentos como verdade absoluta estará concebendo alunos como meros
sujeitos, ou seja, apenas como ouvintes passivos, moldados segundo seus
interesses e objetivos.
A universidade brasileira conta com um alto número de professores
soberbos que utilizam os próprios conhecimentos em seus projetos
acadêmicos e pesquisas científicas repassando aos seus alunos informações
já construídas, inibindo dessa forma, qualquer chance de construção de novos
saberes. Contudo, mesmo dentro dessa realidade, existem no Brasil teóricos
atuantes na área da educação que nas últimas décadas vem sinalizando que a
educação brasileira, não só a nível universitário, mas sim em todos os
segmentos de ensino, necessita de radicais mudanças.
Nesse contexto é imprescindível citar a figura do professor Paulo Freire
e sua definição de Educação Bancária. Entende-se por pedagogia em Freire, a
ação que pode e deve ser muito mais que um processo de treinamento ou
domesticação; um processo que nasce da observação e da reflexão e culmina
na ação transformadora. Embora não seja um conceito aplicado originalmente
ao ensino superior, tal medida pode ser tomada sem nenhum problema, já que
em todos os segmentos de ensino a relação professor-aluno apresenta-se
conflituosa e insuficiente.
Segundo Freire:
“O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o educador é
o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os
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educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos, os
que a escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os
disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos
os que seguem a prescrição; o educador é o que atua; os educandos, os que
têm a ilusão de que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os
educandos se acomodam a ele; o educador identifica a autoridade do saber
com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos
educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; o educador,
finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos”. (FREIRE,
1983, p.68).
Vale à pena ressaltar que Freire não utiliza a expressão aluno e sim
educando. A diferença dos termos está na própria definição. A palavra aluno
significa não iluminado, ou seja, aquele que não possui luz, uma metáfora para
o conhecimento, a inteligência e os saberes. Já o conceito de educando
transmite uma idéia dinâmica, não cristalizada. É aquele que faz parte do
processo de educação, porém de forma ativa. Sua participação é fundamental
para a formação do conhecimento. Seus saberes, experiências e vivências são
levadas em consideração neste processo.
“Na visão "bancária" da educação, o "saber" é uma doação dos que se julgam
sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das
manifestações instrumentais da ideologia da opressão - a absolutização da
ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo
a qual esta se encontra sempre no outro” (FREIRE, 1983. p. 67).
Segundo essa visão, o conhecimento é algo imposto por alguém, no
caso o professor, que está em uma posição de superioridade e é absorvido de
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maneira passiva por aqueles que estão em posição de inferioridade, nesse
caso seriam os alunos.
De fato, é possível visualizar o poder do educador sobre o educando e
como conseqüência à possibilidade de formar sujeitos ativos, críticos e não
domesticados. A Educação Bancária se alicerça nos princípios de dominação,
de domesticação e alienação transferidas do educador para o aluno através do
conhecimento dado, imposto, alienado.
É nesse contexto que emerge o papel fundamental do professor, que
deve romper com os métodos tradicionais e abolir a relação de dominação para
com os alunos. Deve haver uma relação de troca horizontal entre professores e
alunos, exigindo-se nesta troca, atitude de transformação da realidade
conhecida estabelecendo acima de tudo uma educação conscientizadora, na
medida em que além de conhecer a realidade, busca transformá-la, ou seja,
tanto o professor quanto o aluno aprofundam seus conhecimentos em torno do
mesmo objeto para poder intervir sobre ele.
Neste sentido, quanto mais se articula o conhecimento frente ao mundo,
mais os alunos se sentirão desafiados a buscar respostas, e
conseqüentemente quanto mais incitados, mais serão levados a um estado de
consciência crítica e transformadora frente à realidade. Para obter esses
resultados, profesores e alunos devem figurar como sujeitos do processo.
Se os professores forem rígidos demais, ou tiverem uma crença
doutrinária de que seus métodos são certos e os de qualquer pessoa que
discorde deles são errados, estarão privando seus alunos de uma gama de
possíveis experiências de aprendizado, para desvantagem de todos. A maioria
dos professores nunca para de aprender e está sempre pronta a considerar os
méritos de novas idéias e novas técnicas. Em educação ninguém tem o
monopólio da verdade, e as pessoas que fecham seus ouvidos a debates
sensatos e a visões alternativas ficam mais empobrecidas com isso.
27
Para compreender melhor o papel do professor, primeiramente deve-se
reconhecê-lo não só como transmissor ou talvez produtor de conteúdos, mas
como produto de uma estrutura educacional extremante limitadora. Em seu
processo de formação Ariovaldo Umbelino de Oliveira nos aponta que
“os professores estão envolvidos num processo dialético de dominação, qual
seja o professor foi educado a ensinar sem pôr em questão seu conteúdo [...],
sem que o produto final de sues ensinamentos fosse ferramentas com as quais
eles e seus alunos vão transformar o ensino que praticam e, certamente, a
sociedade em que vivem. Ou, por outras palavras, os professores e os alunos
são treinados a não pensar sobre o que é ensinado e sim, a repetir pura e
simplesmente o que é ensinado. Significa dizer que eles não participam do
processo de produção do conhecimento” (OLIVEIRA, 1988: 28).
Se o professor atua como um simples repetidor de conhecimentos ele
não pretende de forma alguma transformar a sua realidade e menos ainda a
dos seus alunos. Na maioria dos casos ele se apóia em um livro didático e
desconsidera tudo que aluno vivência além dos muros da escola.
Quanto à falta de investimentos nesse profissional, são gritantes os
descompassos entre a produção acadêmica e os conteúdos ministrados. A
produção das faculdades de licenciatura está muito mais voltada para dentro,
com a elaboração de artigos trabalhos de congresso seletistas que trafegam no
meio acadêmico, não atingindo a esfera da formação do profissional docente.
Muitos professores universitários também são grandes pesquisadores.
Em seus trabalhos científicos atuam executando a curiosidade e o ineditismo,
característicos do conhecimento científico. Da mesma maneira, esses
professores precisam desejar alunos inquietos, curiosos, questionadores. Caso
28
contrário, torna-se visível uma contradição: professores vistos como inovadores
e criativos, sem permitir que os alunos o sejam. Muitos ainda acreditam que
ensinar é uma transferência de conhecimento de quem sabe para quem não
sabe. Estas eliminam a possibilidade de formar alunos curiosos: não querem
realmente que o aluno pergunte, mas sim que ele repita.
É fundamental compreender que, ensinar é partir de hipóteses que o
aluno já traz consigo para levá-lo a construir novos conhecimentos. É assim
que irão aprender; confrontando as idéias que já possuem com as que serão
apresentadas. Se o professor não se acomodar em idéias preconcebidas ele
pode sinalizar diferentes caminhos pelos quais conhecimentos podem ser
elaborados e reconstruídos, avaliando a lógica e a evidência dos mais variados
pontos de vista. O aluno submetido a esse modelo de ensino tem despertado
em si o desejo permanente pela busca do conhecimento e compreende os
problemas concernentes ao seu cotidiano podendo buscar soluções por meio
da aplicação dos princípios trabalhados em sala de aula.
Ao conceber a aprendizagem como um processo de construção e
reconstrução do conhecimento, o professor altera o seu papel. Sua principal
função passa a ser criar condições para o desenvolvimento de competências,
política e tecnicamente instrumentalizadas, estimular o saber pensar e o
aprender a aprender, substituir o olhar único pelo olhar plural. Mais ainda,
torna-se suficientemente crítico para identificar e rever os posicionamentos
cristalizados.
Por isso, manter os alunos acesos e interessados é essencial. Na sala
de aula, o trabalho intelectual não é prerrogativa do professor, mas um
exercício comum a todos. Ao estar atento à aprendizagem, o aluno passa a
valorizar o conhecimento e a ter o compromisso de aprender. Além disso,
aprende a admirar e a respeitar o mundo dos conceitos, do pensamento, das
idéias.
29
A atuação do professor deve estimular um posicionamento crítico e não
passivo dos alunos, levando-os a busca de informações que serão as bases de
seus argumentos. As receitas prontas são dissolvidas, oportunizando tentativas
e erros. Porém, nesse caso, os erros são desmistificados e sinalizam
deficiências que necessitam ser aprimoradas.
O professor universitário competente, que busca atingir os objetivos da
universidade já mencionados anteriormente no primeiro capítulo desse
trabalho, deve adotar uma estratégia que enfatize a manipulação e não mera
aquisição de saberes. É imprescindível tratar o conhecimento como um
processo, retomando-o, superando-o e transformando-o em novos
conhecimentos.
Finalmente, as estratégias do trabalho do professor não podem ser
casuais. Este deve incorporar a sua prática situações que definam a relevância
de um problema não pela experiência que o professor possui, mas sim
segundo a capacidade que tal problema possui de propiciar o saber pensar do
alunos, incorporando a este fato a argumentação e a contra-argumentação
como comprovação de pontos de vista.
Limitações a Prática Docente
Um primeiro obstáculo a prática docente que pode ser analisado diz
respeito à péssima formação de professores no Brasil. O professor não teve a
oportunidade de formar sua condição de produtor de conhecimentos, o que o
torna um mero transmissor de um material didático, abolindo progressivamente
seu pensamento crítico sobre a realidade. Ele não se torna um juiz crítico de
seus próprios materiais de trabalho e menos ainda do contexto sócio-especial
em que está inserido.
30
Reconhecendo que as limitações e dificuldades são amplas, de forma
alguma a falta de comprometimento dos professores pode ser ignorada.
Sabendo que essas dificuldades existem, mesmo antes de ingressar no Ensino
Superior, cabe ao professor a responsabilidade de driblar as adversidades da
educação brasileira. Se ele não está preparado para assumir essa
responsabilidade, então por que à aceita? Claramente pode-se observar que
existe uma nítida acomodação em não querer mudar esse quadro. Da mesma
forma que ele não encontra auxílios concretos também não costuma haver
quem o regule ou o avalie no exercício de sua profissão. Essa postura
dominante de sua sala isento de possíveis críticas, estimula ainda mais a
omissão e falta de profissionalismo desses professores, melhor dizendo,
aulistas.
O resultado de toda essa junção de fatores é uma perda significativa da
qualidade do ensino. Se os professores são vítimas desse processo, os alunos
com certeza são os maiores prejudicados. Poucos são os professores que
assumem seu papel de educadores visando superar as barreiras impostas,
buscando seus próprios meios para transformar suas aulas em um exercício de
aprendizado e produção do conhecimento. Não deixam de lado o
enciclopedismo e a decoreba descritiva dos métodos tradicionais e relativizam
como as sociedades produzem o espaço, de acordo com seus interesses em
determinados momentos históricos, e que essas transformações no espaço se
processam de forma contínua, em múltiplas escalas, onde o aluno é
condicionante e condicionado pelo espaço.
Outra dificuldade enfrentada por muitos professores é a repetição de
suas aulas aliada a falta de ineditismo. Profissionais que utilizam
repetitivamente os mesmos métodos de trabalho, geralmente tradicionais, não
conseguem despertar a curiosidade dos alunos. Uma forma de solucionar essa
questão surge com o emprego de inovações tecnológicas na sala de aula.
Da mesma forma que as inovações tecnológicas estão presentes na vida
dos alunos, cada vez mais elas vem ganhando espaço no ensino universitário.
31
Ao se utilizar os recursos tecnológicos nas aulas, modifica-se a estrutura
tradicional do tripé cadeira, quadro e giz e confere-se certo dinamismo às
aulas. Mas os novos recursos não são capazes de auto-explicar um conteúdo,
são apenas instrumentos para o professor, que quando mal empregados
distorcem os eventos, já que podem apresentar visões deturpadoras da
realidade.
Se o professor simplesmente se apropria desses elementos para ser o
cerne de suas aulas ao invés de compô-las adotando esses elementos como
auxiliares, construirá um saber errôneo e enganador. Claro que para os
professores omissos, utilizar tais recursos é muito conveniente, pois quanto
mais vídeos, apresentação de slides ou outros tipos de imagens menos aulas
eles terão que preparar.
“As tecnologias atuais, veiculadoras de informações, não tem a finalidade de
desenvolver o saber pensar o espaço ou realizar o raciocínio espacial” (SILVA,
2007, p.37).
Ao se trabalhar com inovações tecnológicas é necessário revolucionar a
maneira com que serão exploradas, para que os alunos sejam capazes de
interpretar suas informações de acordo com seus objetivos. Da mesma forma
que o professor, o aluno também deve estar capacitado para ser um usuário
pleno desses meios. Os professores devem compreender que as inovações
tecnológicas fornecem acesso uma gama informações que podem facilitar a
leitura e a compreensão. Devem construir novos raciocínios com a ajuda
desses elementos, fazendo com que eles se enquadrem nos propósitos de
suas aulas.
A utilização correta dessas ferramentas permite que os alunos trabalhem
em equipes, compartilhando conhecimentos, resolvendo problemas por meio
do diálogo, da indagação, da tentativa, do erro, descobrindo relações, revendo
32
padrões, tecendo novas compreensões sobre a sociedade a qual estão
inseridos.
33
Considerações Finais
O presente trabalho buscou associar os objetivos da universidade
brasileira e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária no país. A
formação dessa população ocorrerá a partir da prática eficaz dos objetivos que
são a universalização da cultura, a socialização do saber, a formação de
profissionais e a formação de pesquisadores.
A fim de estabelecer essa relação, alguns conceitos foram discutidos no
que diz respeito ao histórico da universidade brasileira, demonstrando o
quanto, desde sua fundação, esta é segmentada e voltada aos interesses da
elite do país. Foram abordados os objetivos do sistema superior de ensino
brasileiro, remetendo a realidade contemporânea da universidade brasileira,
entendendo que alguns objetivos já foram atingidos e outros ainda não.
Também foi analisado o papel do professor e a imprescindível
participação deste na articulação de um ensino superior voltado para as
diferentes classes sociais, capaz de formar cidadãos que irão lançar mão, em
sua sociedade, dos conhecimentos adquiridos visando minimizar, ou porque
não, encerrar os problemas que assolam a nação brasileira.
Finalmente, foram discutidas as principais dificuldades encaradas pelos
professores, obstáculos que há muitos anos não foram superados, e a causa
principal é a falta de empenho e comprometimento dos docentes,
desatualizados e tradicionais, que foram mal formados devido à péssima
estrutura física e educacional das academias de licenciatura do país.
A partir desse estudo foi possível constatar que alguns fenômenos da
educação brasileira voltados ao nível superior de ensino, mais precisamente a
ramo da produção e desenvolvimento científico (P&D) são passíveis de serem
representados visualmente, por meio de gráficos elaborados com destreza que
permitiram o melhor entendimento do panorama técnico-científico formado nas
instituições universitárias do país.
34
Em vista disso, percebeu-se que os investimentos em pesquisas e
desenvolvimento científico no Brasil vêm crescendo consideravelmente nos
últimos anos e é observado que grande parte dos financiamentos a projetos de
pesquisa estimulam claramente a aproximação entre o setor empresarial e os
centros de pesquisa e universidades.
Considerando o atual papel da universidade brasileira, tornou-se
fundamental apresentar que há relação entre o ensino universitário e a
formação de profissionais visando preencher os postos as vagas de trabalho
oferecidas. Foi visto que o desemprego no Brasil experimenta o maior
decréscimo da história desse país. Isso ocorre graças à maior qualificação do
profissional oferecida pelas diferentes faculdades.
Sendo assim, os trabalhadores apresentam-se mais qualificados e
capazes de assumir as mais variadas funções, pois possuem as competências
e as habilidades exigidas pelo mercado de trabalho. Uma das principais causas
da redução do desemprego no país é o número maior de pessoas ingressando
no sistema universitário.
Outro fato de suma importância foi a análise do papel do professor
universitário, este atuando não como mero detentor de saberes, mas sim como
a figura capaz de proporcionar a seus alunos um ambiente de mútua troca de
conhecimentos e capaz de estimulá-los a buscar novos conhecimentos, cujo
ponto de partida são as experiências vividas por cada aluno.
Para elucidar essa questão foram apresentados alguns fragmentos da
obra de Paulo Freire, um dos maiores autores do tema educação no Brasil. A
idéia de Educação Bancária, onde os alunos figuram simplesmente como
recipientes ou depósitos de conhecimentos foi criticada nesse trabalho, pois se
entende aqui que cada aluno, ou melhor, cada educando, possui experiências
peculiares capazes de originar novos saberes e não simplesmente reproduzir
os conhecimentos ministrados por seus professores.
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Ao longo dos resultados dessa pesquisa, claramente foi demonstrado
que o professor não dever definir tudo que será feitos em sala de aula, não
deve controlar o tempo, as fala e muito menos desvalorizar o que não sabe. O
professor apenas expõe verdades em que acredita, porém os alunos são
sujeitos ativos, não ouvintes passivos e terão a oportunidade de discordar
daquilo que for falado pelo professor.
Por fim, se concluiu que existem muitas dificuldades a prática docente. A
primeira e mais grave diz respeito ao próprio descomprometimento dos
professores, na maior parte das vezes acomodados e reprodutores das
mesmas aulas ao longo de vários anos. Companheiros inseparáveis dos
métodos tradicionais de ensino, não abrem mãos de suas ultrapassadas
estratégias a fim de tentarem estabelecer novos rumos a suas aulas.
A segunda dificuldade abordada aponta para péssima formação dos
professores no país. As faculdades de educação caminham para a extinção.
Para elucidar essa colocação é importante dizer que nos últimos anos, as
carreiras de licenciatura são as menos procuradas pelos jovens que ingressam
no ensino superior.
Infelizmente o que ocorre é um ciclo vicioso. A péssima estrutura da
universidade brasileira forma péssimos profissionais, que por sua vez também
formaram professores incompletos e descomprometidos. O reflexo serão
alunos reprodutores de conhecimentos, incapazes de modificarem a realidade
onde estão inseridos. As mudanças precisam ocorrer urgentemente para que
esse ciclo seja interrompido e todas as esferas educacionais no país,
envolvendo o Ensino Superior, obtenham o êxito proposto.
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