uma questão de competitividade

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O que faz melhorar ou piorar a reputação? “Tudo”, será a resposta mais próxima da verdade, já que todas as variáveis relacionadas com o universo de uma determinada empresa condicionam o resultado final da “equação” a que chamamos reputação. O “braço” ibérico do Reputation Institute acaba de divulgar quais as empresas mais bem reputadas no mercado português. A Actualidade conversou com alguns dos seus responsáveis para perceber como alcançaram essa posição e como ela condiciona o presente e o futuro da empresa. Reputação, uma questão de competitividade GRANDE TEMA GRAN TEMA Textos Susana Marques [email protected] Fotos DR S e, em última análise, o que mais interessa numa empresa são os resultados, importa ter em conta que os resul- tados variam também em função da reputação. Não é menos verdade que uma sólida reputação pode servir de almofada, quando os resultados desiludem, ou quando alguma coisa corre mal… Mas afi- nal de que falamos quando falamos de reputação corporativa? Produtos, serviços, marca, comunicação, lide- rança, resultados, inovação, condi- ções de trabalho dos colaboradores, relação com os fornecedores, impac- to ambiental e social da atividade em causa, mercados, etc. Tudo isto, como sugere Charles Fombrun, autor do livro “Reputação” e fundador do Reputation Institute (1999) ao definir a reputação corporativa como “uma representação da perceção motivada pelas ações de uma empresa e pelas expectativas futuras que ela gera”, acrescentando ainda que a reputação “descreve o poder de atração geral da empresa sobre os seus principais sta- keholders quando comparada com a concorrência”. O tema esteve em discussão na con- ferência realizada em Lisboa, no pas- sado dia 10 de abril, pela sucursal para a Península Ibérica e América Latina do Reputation Institute. Enrique Jonhson, vice-presidente desta sucur- sal, sintetizou a definição: “A repu- tação de uma empresa explica o que os diferentes stakeholders sentem relativamente à mesma”. A boa notí- cia é que estes sentimentos podem ser medidos e traduzidos em núme- ros. Essa é a proposta do Reputation Institute, que mede a reputação das empresas em vários países, nomeada- mente em Portugal (ver caixa na pág. ao lado), elaborando o que chamou de Rep Trak Pulse. Para concluir em que ponto está a reputação de uma empresa, há que analisar, por um lado, o impacto pessoal que o emprego, os produtos, o investimento ou a atenção ao clien- te têm nos stakeholders inquiridos, por outro, o impacto da comunica- ção (branding, publicidade, relações públicas e ações de marketing) e ainda as perspetivas de terceiros (internet, media, social network e as considera- ções de líderes de opinião). O vínculo emocional entre a empre- sa e os seus stakeholders manifesta-se através da “estima, admiração, con- fiança e sentimento positivo”, assina- la Enrique Johnson. O Reputation Institute sustenta que a reputação assenta em sete pilares: produtos e serviços, performance, governance, liderança, inovação, condições de 38 ACTUALIDAD€ JUNHO DE 2019

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O que faz melhorar ou piorar a reputação? “Tudo”, será a resposta mais

próxima da verdade, já que todas as variáveis relacionadas com o universo de uma determinada empresa condicionam o resultado final da “equação”

a que chamamos reputação. O “braço” ibérico do Reputation Institute acaba de divulgar quais as empresas mais bem reputadas no mercado português. A Actualidade conversou com alguns dos seus responsáveis para perceber

como alcançaram essa posição e como ela condiciona o presente e o futuro da empresa.

Reputação, uma questão

de competitividade

grande temagran tema

Textos Susana Marques [email protected] Fotos DR

Se, em última análise, o que mais interessa numa empresa são os resultados, importa ter em conta que os resul-tados variam também em

função da reputação. Não é menos verdade que uma sólida reputação pode servir de almofada, quando os resultados desiludem, ou quando alguma coisa corre mal… Mas afi-nal de que falamos quando falamos de reputação corporativa? Produtos, serviços, marca, comunicação, lide-rança, resultados, inovação, condi-ções de trabalho dos colaboradores, relação com os fornecedores, impac-to ambiental e social da atividade em causa, mercados, etc. Tudo isto, como sugere Charles Fombrun, autor do livro “Reputação” e fundador do Reputation Institute (1999) ao definir a reputação corporativa como “uma representação da perceção motivada

pelas ações de uma empresa e pelas expectativas futuras que ela gera”, acrescentando ainda que a reputação

“descreve o poder de atração geral da empresa sobre os seus principais sta-keholders quando comparada com a concorrência”.

O tema esteve em discussão na con-ferência realizada em Lisboa, no pas-sado dia 10 de abril, pela sucursal para a Península Ibérica e América Latina do Reputation Institute. Enrique Jonhson, vice-presidente desta sucur-sal, sintetizou a definição: “A repu-tação de uma empresa explica o que os diferentes stakeholders sentem relativamente à mesma”. A boa notí-cia é que estes sentimentos podem ser medidos e traduzidos em núme-ros. Essa é a proposta do Reputation Institute, que mede a reputação das empresas em vários países, nomeada-mente em Portugal (ver caixa na pág.

ao lado), elaborando o que chamou de Rep Trak Pulse.

Para concluir em que ponto está a reputação de uma empresa, há que analisar, por um lado, o impacto pessoal que o emprego, os produtos, o investimento ou a atenção ao clien-te têm nos stakeholders inquiridos, por outro, o impacto da comunica-ção (branding, publicidade, relações públicas e ações de marketing) e ainda as perspetivas de terceiros (internet, media, social network e as considera-ções de líderes de opinião).

O vínculo emocional entre a empre-sa e os seus stakeholders manifesta-se através da “estima, admiração, con-fiança e sentimento positivo”, assina-la Enrique Johnson. O Reputation Institute sustenta que a reputação assenta em sete pilares: produtos e serviços, performance, governance, liderança, inovação, condições de

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trabalho e cidadania. O que faz a empresa nestas áreas (os atributos da empresa) determinará o parecer dos stakeholders. No caso dos produtos e serviços, estamos a falar de atributos como a qualidade, a relação entre o preço e a qualidade ou adequabili-dade do produto às necessidades dos clientes. No domínio da performance, interessa se os resultados são bons, se superam as expetativas e quais as perspetivas de crescimento. Atributos como a ética, a transparência e a leal concorrência dizem respeito ao capítulo da governance (governo da empresa). Na liderança, analisam-se atributos como a visão e a capacidade de inspirar do líder ou líderes, bem como a sua capacidade de organização e de gestão. Quando se analisa a ino-vação de uma empresa, consideram-se a sua capacidade de propor novos produtos ou serviços, bem como a sua capacidade de adaptação ao mercado. As condições de trabalho medem-se através do bem-estar dos colaborado-res, da justiça salarial e da igualdade de oportunidades. Por último, os atri-butos relacionados com a cidadania, conferem qual o impacto social e ambiental que a atividade da empresa produz, bem como o maior ou menor grau em que a empresa apoia a sus-tentabilidade e a comunidade em que se insere.

Enrique Jonhson sublinha que atual-mente “70% a 80% do valor de mer-cado de uma empresa provém de ativos intangíveis”, pelo que “as orga-nizações são especialmente vulnerá-veis a qualquer aspeto que prejudique a sua reputação”. A revolução digital em curso corresponde a um ponto de inflexão estratégica global: “A internet das coisas, os sistemas físicos cibernéticos, a inteligência artificial, o ambiente, a tensão do comércio mun-dial, a mudança dos valores humanos e o desejo de conetividade alimentam essa mudança. Há um risco aumenta-do para as empresas.”

O que a empresa comunica ou faz, o que outros dizem sobre a empresa, as

experiências dos clientes com a empre-sa condicionam as perceções, ou seja o grau de estima, admiração, confiança e sentimentos positivos sobre a empre-sa. Essa reputação, por sua vez, condi-ciona os chamados comportamentos de apoio relativamente à empresa, o que poderá interferir nos resultados. Logo, as empresas têm todo o inte-resse em promover comportamentos de apoio dos seus stakeholders. Para tal, devem medir a sua reputação para perceber em que áreas precisam de

trabalhar de modo a melhorar esses comportamentos de apoio. Enrique Johnson realça que “há uma relação forte entre a reputação e os comporta-mentos de apoio”. A sucursal do Reputation Institute,

sedeada em Espanha, tem feito esse trabalho de medição no mercado espa-nhol, onde opera desde 2005, recorda Enrique Johnson: “Trabalhamos com a maior parte das grandes compa-nhias em Espanha”. O gestor avança que o objetivo é trabalhar também

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As empresas mais bem reputadas em Portugal

- O Top 10 das empresas com melhor reputação em Portugal, de acordo com o Rep Trak Pulse do Reputation Institute*: 1º Nestlé, 2º RFM, 3º Rádio Comercial, 4º Sony, 5º Delta, 6º Microsoft, 7º Luso, 8º Lidl, 9º Porto Editora e 10º BMW.

- Os setores que gozam de melhor reputação, em Portugal, são os dos bens de consumo, tecnologia e alimentar (F&B), atingindo valores de reputação considerados bons. Os setores financeiro, de transportes e de telecomunicações são os que apresentam a média mais fraca.

- Entre os melhores, nos bens de consumo, lidera a Renova; na tec-nologia, a Microsoft; F&B: Nestlé; Automóvel: BMW; Retalho: Lidl; Indústria: Siemens; Informação e Média: RFM; Serviços: ACP; Setor aéreo: TAP; Energia: Repsol; Telecomunicações: Vodafone

- Os melhores em cada um dos pilares da reputação: Produtos e serviços: Nestlé; Inovação: Google; Governance: Delta; Workplace: Micro-soft; Cidadania: RFM; Liderança: Google; Performance: Microsoft

*O estudo é baseado num painel de consumidores online, sobre um conjunto de em-

presas selecionadas da seguinte forma: 1. Em todos os estudos, há uma pergunta

que pede ao inquirido que refira três empresas com boa reputação e três com uma

má reputação. Isso permite gerar uma longa lista de empresas "nomeadas" 2. Desta

lista, elegem-se as empresas com um nível suficiente de nomeações (varia um pou-

co de ano para ano) 3. A partir dessa seleção, os consumidores são questionados

sobre o grau de familiaridade que possuem com essas empresas (grau de conheci-

mento sobre o que a empresa está a fazer). No caso de Portugal, foram selecionadas

empresas com um grau de familiaridade superior a 50%.

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de forma consistente com o mercado português e para tal associou-se com a consultora de comunicação portu-guesa Lift. Dessa parceria resultou já o primeiro estudo de reputação no mer-cado português (caixa nesta página).

O especialista assinala que o Reputation Institute nasceu pela mão de dois académicos, Charles Fombrum e Cees Van Riel, os primei-ros a escrever livros sobre Reputação Corporativa: “Esta componente aca-démica mantém-se no Reputation Institute. Todos os anos, o nosso estu-do mede cerca de 7.000 empresas, em 40 países. Esse investimento permite--nos conhecer muitas das tendências mundiais de reputação corporativa em todo o mundo e partilhar esse conhecimento”.

Na apresentação que fez, em Lisboa, Enrique Johnson perguntou aos ges-tores presentes se as empresas que representam estão preparadas para o desafio da reputação. O especialista

considera que a maioria das empre-sas têm ainda muito que fazer a este nível: “Em todo o mundo e Espanha e Portugal não são uma exceção, 85% das empresas estão dentro das três primeiras fases (de cinco fases) no que chamamos de Jornada de Reputação. Estas três primeiras fases contem-plam a compreensão da importância da reputação, a reputação torna-se uma prioridade para a organização em todos os seus departamentos e começa-se a ligar a reputação aos resultados económicos. Isso significa que as empresas ainda precisam tra-balhar em muitos aspetos antes de serem consideradas prontas para gerir e trabalhar a reputação.”

No caso português, Enrique Johnson destaca três pilares que sustentam a reputação, do ponto de vista das empresas. Primeiro, “a oferta de pro-dutos e serviços, que pesa 17,8% da reputação das empresas em Portugal”. Valor modesto, “se tivermos em conta

que é a área em que as empresas, em regra, mais investem e se dedicam a comunicar”; em segundo lugar, a integridade: “a ética e a transparência sobre o que a empresa faz e comunica pesa 15,9% da construção da reputa-ção das empresas em Portugal”; em terceiro lugar vem a cidadania: “o trabalho que as empresas fazem em termos de melhorar a sociedade e o ambiente pesa 13,6%”. Logo de segui-da, surgem a liderança (13,3%), a per-formance (13,2%), a inovação (13,2%) e as condições de trabalho (13%).Também é verdade que “em todo o

mundo, há setores que normalmente são percebidos com uma pior repu-tação” e são justamente “as empresas desses setores as que mais trabalham em termos de reputação”, nomeada-mente, empresas de “utilities, bancos e do setor de energia tendem a ser as que mais trabalham e medem sua repu-tação”. No entanto, “a comparação de empresas entre diferentes setores

Estratégias para ganhar vantagens competitivasDe acordo com um estudo desen-volvido pelo Reputation Institute a nível mundial, estas são as 10 ma-cro tendências que orientam a re-putação corporativa e que podem ajudar as empresas a melhor se po-sicionarem face ao julgamento dos stakeholders:

1- As empresas devem ter um pro-pósito superior e agir em con-formidade com o mesmo, forta-lecendo assim o vínculo emocio-nal com os seus stakeholders.

2- A segurança de dados deve ser uma das prioridades de uma empresa, já que os riscos de vio-lação de privacidade colocam em causa a confiança dos sta-keholders. Em caso de fuga de informação, a empresa deve agir com rapidez e transparência.

3- Os influencers: a capacidade de

uma empresa se aliar aos influen-ciadores de mercado certos é uma arma poderosa a favor da reputação, gerando retornos muito positivos.

4- Empresas onde se quer traba-lhar: as boas condições de tra-balho não só favorecem a repu-tação como atraem os melhores talentos, favorecendo a compe-titividade da empresa.

5- O ativismo dos CEO alinhado com os valores e posicionamen-to da empresa é uma mais-valia para a reputação.

6- Transparência e coerência: numa altura em que a confiança é minada pela proliferação da falsa informação, é imperioso que a comunicação das empre-sas seja transparente e as suas ações coerentes e tangíveis.

7- As empresas com dimensão ou ambição internacional devem

saber pensar global e agir lo-cal, privilegiando a genuinidade.

8- A polaridade política representa um risco, pelo que as empresas devem evitar as agendas políticas e dar prioridade a políticas públi-cas e questões sociais globais.

9- As empresas devem liderar a mudança de mentalidades e ma-terializar a igualdade de opor-tunidades, bem como ter tole-rância zero ao assédio sexual em contexto laboral.

10- O (in)direto impacto na reputa-ção da empresa da perceção re-lativa à soberania do país de ori-gem dessa empresa. A empresa deve ser capaz de equilibrar a visibilidade da sua origem, de modo a proteger-se dos efeitos colaterais que a reputação do seu país possa ter noutros mer-cados.

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Nestlé, a inovação ao serviço do sabor, da saúde e da sustentabilidadeO estudo do Reputation Institute em Portugal coloca a Nestlé como a empresa mais bem cotada (84,0), com pontuações excelentes nas categorias de produtos, inovação e performance e boas nas categorias de liderança, condições de trabalho, governance e cidadania. Gonçalo Granado, diretor de comunicação e marketing do grupo em Portugal, considera que “este é o reconheci-mento por parte dos consumidores portugueses de que a Nestlé está a dar um valioso contributo para a melhoria da sua qualidade de vida e das suas famílias, partilhando si-multaneamente valor com a socie-dade”. Há 96 anos em Portugal, a Nestlé re-gistou um volume de vendas de 500 milhões de euros, em 2018, revela o gestor, explicando como se alcan-çam estes resultados: Na base des-te sucesso está, como é habitual na Nestlé, a inovação e, em especial, todos os esforços para oferecer aos consumidores escolhas mais sabo-rosas e saudáveis, porque é este o papel de uma companhia como a Nestlé, que tem o propósito de melhorar a qualidade de vida dos portugueses e contribuir para um futuro mais saudável. É para nós um motivo de orgulho ver reconhecido o trabalho das nossas pessoas com o mais alto nível de reputação cor-porativa. Este reconhecimento é um valioso prémio de confiança e uma renovada responsabilidade para a companhia em Portugal.” Gonçalo Granado frisa que a Nes-tlé procura “permanentemente, escutar as necessidades dos con-sumidores portugueses”, fazendo “um investimento contínuo nas suas operações em Portugal, nomeada-mente nas suas fábricas de Avanca e do Porto de onde saem marcas muito acarinhadas pelos consumi-

dores como Cerelac, Nestum, Cho-capic, Estrelitas, Mokambo, Brasa, Bolero, Buondi, Sical, entre muitas outras”. Marcas que “fazem parte da história das famílias portugue-sas, que com elas vão evoluindo na sua ligação emocional, um atributo também associado por este estudo às marcas da Nestlé”. Os bons resultados não significam que todo o trabalho está feito, escla-rece o responsável de comunicação em marketing da Nestlé: “O maior desafio que temos pela frente é o de continuar o nosso trabalho a fa-vor dos consumidores, oferecendo--lhes as soluções nutricionalmente adequadas aos seus estilos de vida e mantendo as mesmas caracterís-ticas organoléticas que tanto apre-ciam nos nossos produtos. Esta é uma das áreas de maior investi-mento da companhia, quer a nível global, através dos centros de in-

vestigação científica de que dispõe, quer a nível local (nacional), através do desenvolvimento de novos pro-dutos e novas receitas nas nossas fábricas de Avanca e do Porto."A sustentabilidade é outro grande desafio, acrescenta Gonçalo Gra-nado: "O contínuo cuidado com a sustentabilidade das nossas opera-ções, em particular a nossa preocu-pação com as questões ambientais e com a redução da utilização de plástico. A este respeito a Nestlé anunciou no ano passado o com-promisso de tornar as suas emba-lagens 100% recicláveis ou reutili-záveis até 2025. Resultados deste compromisso podem já ser vistos no mercado, exemplo disso foi o lançamento, já este ano, da primeira embalagem em papel da Nestlé, no Nesquik All Natural que Portugal foi um dos cinco primeiros mercados a receber.”

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Delta Cafés e Renova: grupos portugueses que apontam o caminho

Quando se começou a falar de responsabilidade social corporati-va e de sustentabilidade (uma das suas componentes), em Portugal, os nomes Delta e Renova figura-vam quase sempre como exemplo. Estratégia que não abandonaram, como se confirma através dos re-sultados do estudo do Reputation Institute, que coloca o grupo Delta Cafés no quinto lugar, do índice geral, com 81,7 pontos e a Renova em 15º, com 79,2 pontos. Acres-ce que a Delta lidera a categoria de Governance e integra o Top 10 das restantes seis categorias que avaliam reputação (performance, liderança, cidadania, workplace, inovação e produtos). Com forte pre-sença interna-cional, o grupo Nabeiro-Delta Cafés tem vindo a crescer em re-sultados e em reputação. Com origem na década de 60, o grupo fundado por Rui Nabeiro registou em 2018 um volume de negócios de cerca de 400 milhões de euros e apresentou recentemente a sua

estratégia para continuar a crescer sustentavelmente, aprofundando os seus “compromissos nas ver-tentes económica, social e am-biental, com o objetivo de reforçar o seu papel na construção de um mundo cada vez mais sustentável”. O grupo apresentou a nova cápsu-la de café Delta Q (na foto), 100% orgânica e biodegradável, desen-volvida pelo Diverge (Centro de Inovação do Grupo Nabeiro), em conjunto com parceiros externos e centros de investigação nacio-nais e a lançar no mercado no 2º semestre de 2019: “É uma cápsu-la com 0% plásticos, 0% micro--plásticos e 0% alumínio. É feita de

BioPBS, ou seja, de um material de base biológica e vege-tal, constituído por

cana-de-açúcar, mandioca e milho.” Também a embalagem deste produto é feita em cartão to-talmente reciclável.Rui Miguel Nabeiro, administrador do grupo Nabeiro – Delta Cafés, disse na apresentação que “o ca-minho de sustentabilidade é priori-

tário para o grupo e para todas as suas marcas. Com estas iniciativas da-mos continuidade ao tra-balho que desenvolvemos na área social e em prol da comunidade. Preten-demos continuar com um papel ativo na construção de valor para a socieda-de, contribuindo para a adoção de comportamen-tos mais responsáveis, acrescentando simulta-neamente valor aos vários momentos de consumo e de partilha proporciona-dos pelo café.”Esta conduta está na

base da boa reputação do grupo, confirmada pelo estudo do Repu-tation Institute. À Actualidad€, Rui Miguel Nabeiro destaca um traba-lho alicerçado há cinco décadas: “A melhoria nos resultados da re-putação, apenas reflete a confian-ça que os clientes e consumidores sempre tiveram na Delta. E é essa confiança que nos dá força para continuarmos a crescer, investin-do continuamente em produtos e serviços de excelência manten-do sempre o foco no consumidor. Queremos continuar a desenvolver um trabalho focado e objetivo to-dos os dias para levarmos o melhor dos cafés aos nossos consumido-res. Esta é a base da confiança que nos motiva para fazer todos os dias mais e melhor, proporcionando no-vos momentos de consumo, por via da forte aposta do grupo em inovação, qualidade e expertise."A coerência e a autenticidade aju-dam a explicar o sucesso do gru-po: "O nosso modelo de gestão, assente na autenticidade das rela-ções com as partes interessadas, contribui para uma relação contí-

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nua de proximidade e de confian-ça com os clientes e parceiros. É assente nestes pilares que acre-ditamos todos os dias que conse-guimos contribuir para uma maior sustentabilidade da marca. Somos uma marca portuguesa em que os consumidores confiam diariamen-te. E queremos continuar a mere-cer a sua confiança. São mais de 50 anos de história e crescimento. Para isso trabalhamos todos os dias, com a qualidade que nos ca-racteriza. Este é o maior compro-misso que podemos levar a todos os nossos parceiros, desde clien-tes a consumidores, reforçando esta nossa forte ligação e cons-tante preocupação em acrescentar valor ao seu dia a dia.” No estudo por setores, a Renova destaca-se à frente do setor de bens de consumo, tendo as pon-tuações mais elevadas nas ava-liações de produtos, inovação e cidadania. Luís Saramago, diretor de Comu-nicação da Renova, assinala que é para isso que o grupo trabalha: “a reputação está muito ligada à con-fiança na organização e na marca e essa confiança resulta do facto de cumprirmos os compromissos que assumimos com todos os stakeolders: respeito pelos recur-sos naturais, transpa-rência e resposta às necessidades, não de-fraudar as expetativas. Estamos nisto desde 1939 e temos vindo a construir essa relação de confiança. A repu-tação tem que ser alimentada, ou seja, tem que ser mantida, tem que haver coerência, transparência e respeito pelos agentes económi-cos. O que aparentamos tem que

coincidir com a realidade. Gasta-mos as nossas energias em man-ter a boa reputação e em ir cada vez mais ao encontro das expetati-vas da sociedade em geral.”O grupo sempre apostou na “glo-balização pela diferenciação”, as-sente “no conhecimento do que interessa às pessoas e na transfor-mação dessa informação em pro-dutos e serviços, que criam uma ligação forte e apaixonada com os clientes”, nota Luís Saramago, evi-denciando que “é preciso arriscar e estar sempre aberto a absorver o que é importante para as pes-soas”.Uma das mais recentes novidades

consiste em “embalagens de pa-pel para rolos de papel higiénico e rolos de cozinha” (na foto) , em vez de plástico, o que tem sido “muito bem recebido pelos consumidores

em Inglaterra, Portugal e em Espa-nha”. Luís Saramago recorda que a sustentabilidade está entre as prioridades do grupo, nomeada-mente através da reciclagem (55 mil toneladas de papel por ano), no tratamento de toda a água utilizada na produção, bem como na ener-gia usada (cogeração). A Renova foi a primeira empresa do setor, na Península Ibérica, a merecer em alguns dos seus produtos a Eco-label, atribuída pela Comunidade Europeia.Os resultados também são favorá-veis: no ano passado, o grupo fatu-rou perto de 170 milhões de euros, crescendo, face a 2017. “Mais de 50% da faturação deve-se ao merca-do internacional”, salienta Luís Sara-mago, sublinhando que a boa repu-tação do grupo também ultrapassa fronteiras. “Os nossos stakeholders sabem que não vão ter problemas comerciais, financeiros, de fiabilida-de ou relacionados com o ambiente, com os nossos produtos”, observa, acrescentando que os grupos com quem a Renova se relaciona (Sonae, El Corte Inglés, Carrefour, Walmart ou Tesco, entre outros) “obrigam ao cumprimento de normas que são em si mesmas garantia de confiança para outros potenciais clientes”.

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não é a mais adequada”, ressalva este responsável do Reputation Institute:

“Há sempre setores que geralmente têm uma reputação melhor do que outros. Os setores tecnológico, de alimentos e de retalho, por norma, têm uma boa reputação. O que dis-tingue as empresas com boa ou má reputação não é tanto a comparação entre setores, mas sim ver como as empresas do mesmo setor estão em termos de reputação. Isso nos dá uma medida mais adequada.”

No entanto, a relação entre reputa-ção e resultados pode ser surpreen-dente, como sucedeu com o caso do grupo Facebook, que apesar de envolto em polémica relacionada com falhas de segurança e de privacidade e com falsa informação, anunciou um volume de negócios de cerca de 48 mil milhões de euros, relativo a 2018, o que traduz um aumento de 38% face ao ano anterior, e um crescimen-to dos lucros de 39%.

Como Enrique Johnson esclarece, a reputação é uma emoção: “é a nossa perceção de como a empresa opera no mercado. Isso é medido com quatro perguntas: eu estimo, admiro, confio e gera-me uma boa impressão? Como acontece com a reputação das pessoas, quanto mais reputação (confiança, admiração, respeito, etc.) tem uma empresa, maior é a nossa disposição para comprar os seus produtos, reco-mendar a empresa, etc. Naturalmente,

um bom produto é fundamental. Na verdade, é o que mais pesa quando se trata de construir uma reputação de uma empresa, mas é essa perce-ção que nos predispõe a comprar os seus produtos. Sem essa predisposição, não haveria o ato de compra em si.” O especialista acrescenta que “as empre-sas com boa reputação, em termos gerais, sabem trabalhar os diferentes pilares que constroem a reputação”, ou seja trabalham “produtos e ser-viços e aspetos relacionados com a cidadania e integridade”.

Relativamente à Península Ibérica, Enrique Johnson comenta que “as empresas em Portugal e em España estão em linha com os restantes países no que concerne à preocupação com temas relacionados com a reputação”, admite porém que “em Espanha, as empresas já trabalham há mais tempo estes temas”.

O estudo feito em Portugal também revelou algumas particularidades do mercado, salienta Enrique Johnson:

“A primeira coisa que nos chamou a atenção é que metade das 10 maiores empresas em Portugal são portugue-sas. Isso nem sempre acontece em todos os mercados. Outra questão que nos chamou a atenção é o quanto são valorizados os produtos e serviços das empresas e, ao contrário, a fraca perceção sobre o que as empresas estão a fazer em termos de cidadania e integridade, sendo dois dos três

principais motores na construção da reputação.”

Enrique Johnson acredita na cres-cente recetividade do mercado portu-guês às questões envolvidas na repu-tação corporativa: “O Reputation Institute, enquanto líder na medição e gestão de reputação, procura sem-pre parcerias com empresas líderes em todos os mercados. É por este motivo que decidimos associar-nos à Lift, uma vez que é uma das poucas empresas em Portugal que entende o processo de gestão de reputação. Juntos, poderemos trabalhar melhor, no sentido de ajudar as empresas em Portugal. Com esta parceria, espera-mos crescer no mercado para níveis semelhantes aos de Espanha e posi-cionar o mercado português como referência no mundo da medição e posterior gestão da reputação.” A Lift Consulting, na qualidade de

representante do Reputation Institute lançou uma plataforma online, a Rep.Circle - The Reputation Platform (https://repcircle.com), para dinami-zar a discussão e o estudo da reputa-ção corporativa em Portugal. A pri-meira iniciativa está a decorrer e con-siste num questionário online sobre

"O presente e o futuro da reputação corporativa em Portugal".

Enrique Johnson: "Quanto mais

reputação (confiança, admiração,

respeito) tem uma empresa, maior é a nossa disposição para comprar os

seus produtos, recomendar a empresa, etc."

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Rackets Pro EUL

LOCAL: Rackets Pro EUL, Azinhaga Galhardas 18, 1600-209 Lisboa, GPS: 38.753519, -9.164267 Para mais informações contactar: CCILE · Tel. 213 509 310 / Fax 213 526 333 • e-mail: [email protected]

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