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Revista O Fóton | 1 o fóton revista Volume 2 • Fevereiro de 2017 UMA ANÁLISE CIENTÍFICA DE “A GRANDE SÍNTESE ” AFIRMAÇÕES CIENTÍFICAS CONTIDAS NA OBRA “A GRANDE SÍNTESE”, DE PIETRO UBALDI, SÃO ANALISADAS AQUI COM BASE EM CONHECIMENTOS ATUAIS DA CIÊNCIA.

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o fótonrevista

Volume 2 • Fevereiro de 2017

UMA ANÁLISE CIENTÍFICA DE “A GRANDE SÍNTESE ”AFIRMAÇÕES CIENTÍFICAS CONTIDAS NA OBRA “A GRANDE SÍNTESE”, DE PIETRO UBALDI, SÃO ANALISADAS AQUI COM BASE EM CONHECIMENTOS ATUAIS DA CIÊNCIA.

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PRIMEIRAS PALAVRAS

Pesquisa Espírita não é algo do passado

Engana-se quem acha que a pesquisa espírita é algo do século XIX ou do início do século XX. Hoje, com uma riqueza ad-mirável de estudantes e pesquisadores, inúmeros grupos es-píritas almejam, cada um com certas características próprias, uma aproximação séria, entre a Doutrina Espírita e as Ciên-cias Clássica e Moderna. Nos dias 26 e 27 de agosto de 2017, por exemplo, ocorrerá o 13º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - ENLIHPE, em São Paulo. Até o dia 30 de abril, diversos trabalhos serão submetidos sobre o tema “Preces e Curas Espirituais”. Nesta edição, também, conheceremos o IPCE - Instituto de Pesquisa em Ciência Es-pírita, um grupo, de Fortaleza, preocupado em esclarecer o aspecto científi co da Doutrina Espírita. Ainda em nossa revis-ta de fevereiro, um resumo do início dos estudos e práticas do grande Franz Mesmer. Nossa capa trará um artigo do físico Alexandre Fontes da Fonseca, analisando algumas afi rmações da obra A Grande Síntese, de Pietro Ubaldi.

por Editor

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DANIEL DOUGLAS HOMEO MÉDIUM VOADOR

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“O Senhor Daniel Dun-glas Home nasceu em 15 de março de 1833, perto de Edim-bourg (Escócia). Tem, pois, hoje, 24 anos (artigo escrito por Allan Kardec em fevereiro de 1858). Descende da antiga e no-bre família dos Douglas da Es-cócia, outrora soberana. É um jovem de talhe mediano, louro, cuja fisionomia melancólica nada tem de excêntrico; é de compleição muito delicada, de costumes simples e suaves, de um caráter afável e benevolente sobre o qual o contato das gran-dezas não lançou nem arrogân-cia e nem ostentação.Dotado de uma excessiva mo-déstia, jamais exibiu a sua ma-ravilhosa faculdade, jamais falou de si mesmo, e se, na ex-pansão da intimidade, conta coisas que lhe são pessoais, é com simplicidade, e jamais com a ênfase própria das pessoas com as quais a malevolência procura compará-lo. Vários fa-tos íntimos, que são do nosso conhecimento pessoal, provam nele nobres sentimentos e uma grande elevação de alma; nós o constatamos com tanto maior prazer quanto se conhece a in-fluência das disposições morais sobre a natureza das manifesta-ções.O Senhor Home é um médium do gênero daqueles que produ-zem manifestações ostensivas, sem excluir, por isso, as comu-nicações inteligentes; mas as suas predisposições naturais lhe dão, para as primeiras, uma aptidão mais especial. Sob a sua influência, os mais estranhos ruídos se fazem ouvir, o ar se

agita, os corpos sólidos se mo-vem, se erguem, se transportam de um lugar a outro através do espaço, instrumentos de música fazem ouvir sons melodiosos, seres do mundo extra-corpó-reo aparecem, falam, escrevem e, freqüentemente, vos abraçam até causar dor. Ele mesmo foi visto, várias vezes, em presença de testemunhas oculares, ele-vado sem sustentação a vários metros de altura.Do que nos foi ensinado sobre a classe dos Espíritos que pro-duzem, em geral, essas espé-cies de manifestações, não se-ria preciso disso concluir que o Sr. Home não está em rela-ção senão com a classe íntima do mundo espírita. Seu caráter e as qualidades morais que o distinguem, devem, ao contrá-rio, granjear-lhe a simpatia dos Espíritos Superiores; ele não é, para esses últimos, senão um instrumento destinado a abrir os olhos dos cegos por meios enérgicos, sem estar, por isso, privado de comunicações de uma ordem mais elevada. É uma missão que aceitou; mis-são que não está isenta nem de tribulações e nem de perigos, mas que cumpre com resigna-ção e perseverança, sob a égide do Espírito de sua mãe, seu ver-dadeiro anjo guardião.A causa das manifestações do senhor Home é inata nele; sua alma, que parece não prender--se ao corpo senão por fracos laços, tem mais afinidade pelo mundo espírita do que pelo mundo corpóreo; por isso ela se prepara sem esforços, e entra, mais facilmente que em outros,

em comunicação com os seres invisíveis. Essa faculdade se re-velou nele desde a mais tenra infância. Com a idade de seis meses, seu berço se balançava inteiramente sozinho, na au-sência de sua babá, e mudava de ligar. Nos seus primeiros anos, era tão débil que tinha dificul-dade para se sustentar, sentado sobre um tapete, os brinque-dos que não podia alcançar, vi-nham, eles mesmos, colocar-se ao seu alcance. Com três anos teve as suas primeiras visões, mas não lhes conservou a lem-brança. Tinha nove anos quan-do sua família foi se fixar nos Estados Unidos; aí os mesmos fenômenos continuaram com uma intensidade crescente, à medida que avançava em idade, mas a sua reputação, como mé-dium, não se estabeleceu senão em 1850, por volta da época em que as manifestações espíritas começaram a se tornar popula-res nesse país.Em 1854, veio para a Itália, nós o dissemos, por sua saúde; es-panta Florença e Roma com verdadeiros prodígios. Conver-tido à fé católica, nessa última cidade, tomou a obrigação de romper as suas relações com o mundo dos Espíritos. Durante um ano, com efeito, seu poder oculto parece tê-lo abandona-do; mas como esse poder es-tava acima de sua vontade, a cabo desse tempo, assim como lhe havia anunciado o Espírito de sua mãe, as manifestações se produziram com uma nova energia. Sua missão estava tra-çada; deveria distinguir-se en-tre aqueles que a Providência

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escolheu para nos revelar, por sinais patentes, a força que do-mina todas as grandezas huma-nas.Para o senhor Home, os fenô-menos se manifestam, algu-mas vezes, espontaneamente, no momento em que menos são esperados. O fato seguinte, tomado entre mil, disso é uma prova. Desde há mais de quinze dias, o senhor Home não tinha podido obter nenhuma mani-festação, quando, estando a al-moçar na casa de um dos seus amigos, com duas ou três pes-soas do seu conhecimento, os golpes se fazem súbito ouvir nas paredes, nos móveis e no teto. Parece, disse, que voltaram. O senhor Home, nesse momen-to, estava sentado no sofá com um amigo. Um doméstico trás a bandeja de chá e se apressa em colocá-la sobre a mesa, situada no meio do salão; esta, embora fosse pesava, se eleva subita-mente e se destaca do solo em 20 a 30 centímetros de altura, como se tivesse sido atraída pela bandeja; apavorado, o cria-do deixa-a escapar, e a mesa, de pulo, se atira em direção do sofá e vem cair diante do senhor Home e seu amigo, sem que nada do que estava em cima ti-vesse se desarrumado. Esse fato, sem contradita, não é o mais curioso daqueles que teríamos a relatar, mas apresenta essa particularidade, digna de nota, de ter se produzido espontane-amente, sem provocação, num círculo íntimo, onde nenhum dos assistentes, cem vezes tes-temunhas de fatos semelhan-tes, tinha necessidade de novos

testemunhos; seguramente, não era o caso para o Senhor Home de mostrar as suas habilidades, se habilidades havia.” (1)

Outras manifestações:

O que distingue Daniel Dou-glas Home é sua mediunidade excepcional. Enquanto outros médiuns obtém golpes leves, ou o deslocamento insignificante de uma mesa, sob a influência do senhor Home os ruídos, os mais retumbantes, se fazem ou-vir, e todo o mobiliário de um quarto pode ser revirado, os móveis montando uns sobre os outros.Igualmente os objetos iner-tes, ele próprio é elevado até o teto (levitação), depois desce do mesmo modo, muitas vezes sem que disso se aperceba.De todas as manifestações pro-duzidas pelo Sr. Home, a mais extraordinária é a das apari-ções, segundo análise de Allan Kardec. Do mesmo modo sons se produzem no ar ou instru-mentos de música tocam sozi-nhos.“Seguramente, se alguém fosse capaz de vencer a incredulidade por efeitos materiais, este seria o senhor Home. Nenhum mé-dium produziu um conjunto de fenômenos mais surpreenden-tes, nem em melhores condi-ções de honestidade.” (2)O senhor Home realizou várias experiências perante o Impera-dor Napoleão II. Durante essas experiências, obteve-se uma prova concreta da assinatura de Napoleão Bonaparte, com a presença da Imperatriz Eugê-

nia, cujo fato aumentou gran-demente sua fama.Jamais esse excepcional mé-dium mercadejou seus pre-ciosos dons mediúnicos. Teve inúmeras oportunidades, mas sempre se recusou. Dizia ele: “Fui mandado em missão. Essa missão é demonstrar a imorta-lidade. Nunca recebi dinheiro por isso e jamais receberei.”Como todo o médium, o senhor Home foi caluniado e ferido em sua dignidade, mas nunca lhe faltou, nas horas mais difíceis, o amparo de seus mentores es-pirituais.

Bibliografia:

(1) Narração de Allan Kardec - Revista Espírita de 1858, mês de fevereiro.

(2) Narração de Allan Kardec - Revista Espírita de 1863, mês de setembro.

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Espiritismo e Neurociência

Mineiro de Uberaba, Nubor Orlando Facure nasceu em 16 de janeiro de 1940. Formou-se em Medicina em Uberaba, em 1961, mas optou por fazer sua especialização em neurologia e neurocirurgia no Hospital das Clínicas de São Paulo. Traba-lhou durante 30 anos na Uni-versidade Estadual de Campi-nas (Unicamp), onde se tornou professor titular de neuroci-rurgia. Em 1990, criou no De-partamento de Neurologia da Unicamp o primeiro curso de pós-graduação sobre “Cérebro e Mente”, com enfoque espiritu-alista.Hoje é diretor do Instituto do Cérebro de Campinas, que fun-

dou em 1987 com o propósito de integrar profi ssionais das áreas de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia interessados em estudar o dilema da interação cérebro - mente tendo como paradigma a existência da alma.Espírita desde criança, frequen-tou o Centro Espírita Ubera-bense, o Sanatório Espírita de Uberaba e as famosas peregri-nações de Chico Xavier. É co-nhecido no meio espírita de Campinas como pesquisador e expositor de temas da Ciência Espírita, tendo desenvolvido estudos pioneiros aliando Me-dicina e Espiritismo. Também publicou artigos e livros sobre mediunidade, ciência da alma e

o cérebro e a mente.Com 50 anos de especialização em Neurologia e Neurocirurgia – e sendo espírita desde criança -, o Dr. Nubor Orlando Facure vem estudando minuciosamen-te a relação do cérebro com a mediunidade. Tendo convivido com grandes mestres espíritas, como Inácio Ferreira, Waldo Vieira, Elias Barbosa, Marlene Nobre e, principalmente Chico Xavier, ele pôde, desde os seus primeiros estudos na Faculdade de Medicina, estabelecer uma relação das lições acadêmicas materialistas com os mecanis-mos dos fenômenos espíritas. Ele defende que toda dinâmica do desenvolvimento dos nossos

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neurônios, com seus apêndices e conexões, obedece a uma or-denação do Espírito. Portanto, tudo que estimula o Espírito re-sulta em mudanças neuronais.Agora, o famoso médico cam-pineiro, que já tem outros livros e inúmeros artigos escritos a respeito, reúne as conclusões desses estudos e experimentos em duas grandes obras, lança-das pela Editora Allan Kardec:

“Um espírito perturbado é um corpo doente. Um corpo doen-te é um espírito em resgate. Um espírito em resgate é uma oportunidade de evolução”

Em Mediunidade, Um Ensaio Clínico, o autor oferece uma visão mais ampla da mediu-nidade, fazendo uma grande contribuição à Ciência Espírita. Como ele diz na Introdução do livro, “Estudaremos (...) a me-diunidade, analisada do ponto de vista clínico, porque ela é um fenômeno que se manifesta num ser humano possuidor de uma história de vida, de uma personalidade e de toda uma série de condições médicas. Po-demos descrever vários aspec-tos que se revelam clinicamente na mediunidade: a sua apresen-tação antropológica, seu modo de início, sua distribuição quanto ao gênero e à idade,

sua duração e constância, seus desencadeantes, suas complica-ções, seu possível diagnóstico e como diferenciá-la dos quadros comuns da psicopatologia hu-mana, como a histeria e as psi-coses.” Dr. Nubor Facure ilustra a obra com exemplos clínicos

coletados em seu consultório no Instituto do Cérebro em Campinas, que fundou e dirige há quase 30 anos.Já em Neuropílulas, o autor dis-seca a mente e seus mistérios.

Num estilo leve e direto, o li-vro traz 26 capítulos com temas bem convidativos, tais como: “teimosia e presunção no cére-bro”, “memória e afeto”, “meu cérebro, meu fiel escudeiro”, “a linguagem – para que serve”, “memórias? não dá para acredi-tar nelas”, “anatomia poética do cérebro”, “neurologia popular”, “onde o nosso cérebro ‘falha’?” seu bebê já sabe falar?”Na obra, o leitor vai entender como funciona o cérebro e sua relação com o comportamen-to emocional, com a memória, o processo de aprendizagem, a percepção, e, logicamente, com a mediunidade.

Matéria cedida pela editora Allan Kardec www.allankardec.org.br

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Dr. Nubor Facure

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por Alexandre Fontes da Fonseca

UMA ANÁLISE CIENTÍFICA DE “A GRANDE SÍNTESE ”

I INTRODUÇÃO

Na década de 30 do sé-culo passado, a obra A Grande Síntese [1], de Pietro Ubaldi (1886-1972), causou grande repercussão no movimento es-pírita brasileiro [2]. A obra cha-mou a atenção dos intelectuais espíritas da época porque pro-punha uma teoria para a natu-reza e processo de evolução de todas as coisas no Universo, seja matéria, seja espírito. A obra se apresentou bastante pretensiosa ao se declarar a “Síntese e Solu-ção dos Problemas da Ciência e do Espírito”. Porém, as discor-dâncias entre os conceitos de A Grande Síntese e do Espiritismo foram logo percebidas [2], e o furor inicial deu lugar apenas ao respeito a um pensamento diferente. José Herculano Pires, que inicialmente se entusias-mou com a obra, demonstrou firmeza em tomar a defesa do Espiritismo perante críticas sé-

rias de Pietro Ubaldi [2]. Nos dias de hoje, embora bem reduzido, ainda existe interesse de alguns grupos espíritas pelo conteúdo das obras de Ubaldi. A Grande Síntese, de fato, esti-mula e orienta à prática do bem, porém o faz com base em con-ceitos científicos ousados a res-peito de Deus, matéria, espírito, e dos processos de evolução de coisas e seres no Universo. A obra cita fenômenos diversos, da formação das estrelas e sis-temas solares, até fenômenos de radioatividade, para dar su-porte à sua proposta filosófica. Em razão de estarmos vivendo numa época onde, ao mesmo tempo, a ciência é muito valo-rizada e diversas doutrinas es-piritualistas buscam basear seus conceitos nos da Ciência, e da Física em particular, é natural que os companheiros espíritas se interessem por obras que se consideram científicas, que uti-lizem de conceitos da Física, e

que apresentam novidades. Afi-nal, Kardec deixou claro que o Espiritismo deve assimilar os progressos da Ciência (item 55 do cap. I de A Gênese [3]). Há, também, uma motivação adi-cional para o estudo e conside-ração dessa obra. No prefácio de A Grande Síntese (a edição que foi consultada por nós foi a 11.ª) consta a informação de que Emmanuel, mentor espiri-tual do médium Francisco Cân-dido Xavier, houvera conside-rado a obra como o “Evangelho da Ciência”. O espírita tem como dever perscrutar tudo usando o bom senso e a razão. Como disse Kardec, a assimilação de no-vos progressos da Ciência pelo Espiritismo não pode ocorrer sem que tais progressos “hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o do-mínio da utopia, sem o que ele [o Espiritismo] se suicidaria.” (Item 55 do cap. I de A Gêne-

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se [3]). E, por se tratar de uma obra com forte cunho científi-co, é preciso seguir a recomen-dação de Kardec em seu artigo intitulado “Observação Geral” publicado na Revista Espírita de Julho de 1860 [4]: “Assim, é sobretudo nas teorias científicas que precisa haver muita prudência e evitar dar precipitadamente como ver-dades sistemas por vezes mais sedutores que reais e que, mais cedo ou mais tarde, podem re-ceber um desmentido oficial.” A preocupação de Kardec com as novidades de todo o tipo pode ser vista, também, na Re-vista Espírita de Dezembro de 1968 [5], ao analisar o proble-ma dos cismas que poderiam nascer no movimento espírita: “O segundo ponto é não sair do círculo das ideias práticas. Se é certo que a utopia de ontem seja, muitas vezes, a verdade de amanhã, deixemos ao amanhã o trabalho de realizar a utopia de ontem; mas não embaracemos a doutrina com princípios con-siderados como quimeras e que fariam que os homens positivos a rejeitassem.” Assim, em que pese o respeito à Emmanuel, é importante se perguntar se o conteúdo de A Grande Síntese poderia, de fato, ser considera-do científico. Passados mais de 80 anos da publicação de sua 1.ª edição, é relevante analisar se as afirmações e revelações feitas pelo seu autor espiritual, deno-minado “Sua Voz”, se verificam perante o avanço da ciência e do conhecimento na atualidade. Se “fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em to-

das as épocas da Humanidade.” (Kardec, item 7, cap. XIX, de O Evangelho Segundo o Espiritis-mo [6]), conseguiria A Grande Síntese encarar a razão de fren-te em nossa época atual? Aqui, nos propomos responder essa questão. Adiantamos que, in-felizmente, com todo o respei-to aos adeptos e seguidores de Ubaldi, A Grande Síntese não se sustenta perante os conhe-cimentos atuais da Ciência. Ela apresenta erros científicos mui-to grosseiros, o que desqualifica o autor espiritual como Espíri-to superior. A Grande Síntese orienta o leitor para a prática do bem, mas suas bases e justifica-tivas de ordem científica estão erradas. Não pode, portanto, ser um “Evangelho da Ciência”. Este artigo apresenta uma aná-lise resumida de alguns dos pontos principais de A Grande Síntese [1]. Escolhemos pon-tos que evidenciam claramen-te a falta de conhecimentos da “Voz” em contraponto a sua pretensão de detentora da ver-dade. A análise completa e com mais de- talhes será publicada em breve na Coletânea de tra-balhos apresentados no 10.º Encontro da Liga de Pesquisa-dores de Espiritismo (LIHPE) [Campinas, São Paulo]. II ANÁLISE CIENTÍFICA DE A GRANDE SÍNTESE Um dos pontos contraditó-rios de A Grande Síntese [1] é a opinião da “Voz” sobre a re-lação entre fé e razão. Em um momento, a “Voz” declara que se utilizará de argumentos pró-

prios da ciência, para “buscar vencê-la e superá-la com suas próprias armas” (cap. I da obra [1], pág. 21). Mas, em outros momentos, a “Voz” declara que o conhecimento legítimo ad-vém da intuição (pág. 25). Um ponto infeliz da obra é o tom constrangedor que a “Voz” se utiliza para com o Leitor ao defender suas teorias. Ela diz, por exemplo, (cap. III, pág. 29): “Concluindo: ou tendes pureza d’alma, sinceridade de intenções e, então, sentireis em minhas palavras a Verdade, sem neces-sidade de provas exteriores (eis a intuição), ..., ou permaneceis de má-fé, ..., por tedes coloca-do acima de toda discussão o preconceito do vosso interesse ou gozo, e então vos encontrais armados para rejeitar qualquer prova.” Em outras palavras, a “Voz” diz que aquele que não acreditar nas suas verdades está agindo “de má-fé”, ou não tem “pureza d’alma”. Isso é constran-gimento! É induzir o Leitor a se sentir envergonhado quando não entende ou não aceita algu-ma afirmação da “Voz”. Como o espírita sabe que deve sempre ter fé raciocinada e tem o aval dos bons Espíritos de que “É melhor repelir dez verdades do que admitir uma única fal-sidade, uma só teoria errônea” (item 230 de O Livro dos Mé-diuns [7]), então não há com o que se intimidar perante esse tipo de comentário da “Voz”, nem com conceitos estranhos e de verificação difícil.A seguir apresentamos a análise de algumas afirmações científi-cas da “Voz” na construção de

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sua teoria. II. 1 Matéria e energia Na pág. 43 do cap. VIII de A Grande Síntese [1], a “Voz” afirma que “O universo resul-ta constituido por uma grande ondulação que, de α, o espíri-to, puro pensamento, a lei, que é Deus, vai para uma contínua mutação, que é movimento fei-to de energia e vontade (β), a fim de alcançar o último termo, γ, a matéria ou forma.” Diz tam-bém: “Existe, pois, o movimen-to inverso pelo qual a matéria se desmaterializa, se desagrega e se expande sob a forma de energia, ...” Essa é a proposta fundamental da teoria contida em A Gran-de Síntese [1]. Primeiramente, é fácil perceber que as afirma-ções acima não tem respaldo no Espiritismo, porque espírito e matéria são criações divinas e, portanto, não podem se trans-formar um no outro, nem ambas em Deus. Mas o erro científico dessa proposta está em afirmar que matéria se transforma em energia (ver também pág. 48 da obra). A “Voz” comete um erro que é banal na atualidade, de se interpretar a equação de Eins-tein (abaixo) como represen-tando o conceito de que matéria se transforma em energia. E = mc2 , (1) onde E é energia, m a massa de um corpo, e c a velocidade da luz. Na verdade, essa equação mos-tra apenas a relação direta que existe entre a energia de um

corpo e a medida de sua inér-cia, que é a sua massa (ver ex-plicações dadas nas Referên-cias [8–10]). O que a “Voz” não compreendia é que como a energia total de um sistema, em qualquer processo físico, sem-pre se conserva, nem matéria se transforma em energia (senão a energia iria aumentar, não se conservando), nem energia se transforma em matéria (senão energia iria diminuir, não se conservando). Energia não é, portanto, uma substância que pode se transformar em outras coisas, mas sim uma grandeza abstrata matemática que re-presenta uma lei da natureza, a lei de conservação de ener-gia. Dessa forma, a proposta da “Voz” de uma equação da subs-tância, ω (cap. IX, pág. 45 de A Grande Síntese [1]), onde ω “re-presenta o universo, o todo. (...) Este é o conceito mais completo de Deus (...): a grande Alma do universo, centro de irradiação e de atração; Aquele que é tudo - o princípio e suas manifesta-ções.” não tem base científica na atualidade. II. 2 Urânio, radioatividade e densidade No cap. XII (pág. 52) de A Gran-de Síntese [1], a “Voz” fala dos elementos conhecidos da tabela periódica, que, na época, iam do hidrogênio ao urânio. Em-bora a “Voz” mencionasse que esses elementos eram decompo-níveis em estruturas menores, ela demonstrou desconhecer a constituição íntima do núcleo dos átomos, já que em nenhu-

ma parte da obra ela menciona a existência de prótons e nêu-trons. Isso é importante, pois o fenômeno de radioatividade é explicado em termos do nú-mero de prótons e nêutrons de um elemento. No cap. XVIII (pág. 65) a “Voz” propôs que “A condensação leva, pois, à radioatividade, isto é, à desa-gregação.” Como a “Voz” não conhecia a constituição íntima do núcleo, ela não tinha como compreender que a radioativi-dade decorre da instabilidade decorrente do jogo de intera-ções entre próton-próton, nêu-tron-próton e nêutron-nêutron e não da densidade do material. Prótons tem carga positiva e, no núcleo, que é 100.000 vezes menor que o átomo, permane-cem muito próximos uns dos outros. Para superar a repulsão eletrostática dos prótons, há uma força chamada força forte que mantém prótons e nêutrons unidos. Como a força forte di-minui com a distância entre os núcleons, e há diferenças na intensidade da força dentre as interações próton-próton, nêu-tron-próton e nêutron-nêutron, na medida em que os núcleos atômicos possuem números di-ferentes de prótons e nêutrons, o equilíbrio entre a força ele-trostática de repulsão e a força forte de atração começa a se tornar instável. Esta instabilida-de leva à emissão de radiação. O erro da afirmação da “Voz” decorre do fato de que não é a condensação que leva à radio-atividade, primeiro pois a den-sidade nuclear é aproximada-mente constante para todos os

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elementos [11]. Segundo que mesmo levando-se em con-ta que a “Voz” considerou que núcleos mais pesados seriam radioativos (cap. XVI, pág. 60) “Considerando o peso atômico como índice do grau de conden-sação, ...”, (talvez o conhecimen-to que se tinha na época), para um Espírito que se considerava conhecedor de todas as coisas, faltou o conhecimento de que não é somente os elementos mais pesados que são radioati-vos. Citamos como exemplo, o Carbono-14 e o trítio que é um isótopo radioativo do átomo de hidrogênio, que é o elemento mais leve que existe. Portanto, contrário ao que a “Voz” pensa-va, é possível o átomo mais leve (ou de menor condensação na linguagem da “Voz”) ser radio-ativo. No caso do Carbono-14, na década de 40 (mais de 10 anos depois da publicação de A Grande Síntese) o prof. Willard Libby desenvolveu o método de datação por carbono-14. Pos-teriormente, ele ganhou o prê-mio Nobel por essa descoberta. A ideia de Libby foi mostrar que corpos vivos mantinham uma razão constante entre a quanti-dade de carbono-12 (natural e estável) e carbono-14. Com os corpos mortos, a percentagem de carbono-14 se reduzia à me-tade a cada 5730 anos. Assim, era possível estimar a idade de um fóssil pela concentração de carbono-14 relativa à concen-tração de carbono-12. Um Es-pírito superior certamente sa-bia da existência do carbono-14 não só pelo conhecimento em si, mas por poder perceber ra-

diações que a olho nu o ser hu-mano não consegue perceber. Essa é uma falha de fundamen-tos da “Voz”.

II. 3 Órbitas dos planetas No cap. XXXII (pág. 115), a “Voz” afirma que “O vosso sis-tema solar já foi uma nebulosa, (...), e os planetas, (...), recai-riam sobre o Sol se não estives-sem se desagregando por efeito da radioatividade.” Não faz nenhum sentido a afir-mação acima de que é a radioa-tividade dos elementos em nos-so planeta que impede-o de cair sobre o Sol. Como a radiação emitida pelos elementos radio-ativos são absorvidos no pró-prio planeta, um resultado bá-sico da Física mostra que forças internas de um sistema são in-capazes de alterar o movimento do centro de massa do mesmo [12]. Em outras palavras, ne-nhum fenômeno físico interno ao planeta é capaz de alterar a sua órbita. A afirmativa acima é um exemplo de absurdo cientí-fico. II. 4 Combustível das estre-las e desagregação do Sol No cap. XXXII (pág. 116), de A Grande Síntese [1], a “Voz” afirma que “A graduação conti-nua e abrange estrelas de hélio, sempre cálidas e jovens, sempre próximas da Via Láctea; de-pois as estrelas de hidrogênio, em que H se acentua e o hélio tende a desaparecer.” A realida-de é justamente o contrário: ao consumir o hidrogênio, o hélio

se forma no interior de estrelas como o Sol. Logo, o hélio ten-de a aparecer e se concentrar, e não o contrário. Mas a “Voz” também disse (cap. XLVI, pág. 164): “Sabeis que o Sol se en-contra em estado de completa desagregação atómica pela ra-dioactividade”. O Sol, como se sabe, é formado por hidrogênio que é o elemento mais leve e simples, isto é, seu núcleo pos-sui apenas um próton. Em si, o Sol não pode estar se desagre-gando pois não é sólido. Nem pode estar sofrendo desagre-gação atômica pois é formado de hidrogênios. Na verdade, o Sol está formando elementos mais pesados, isto é, ele está permitindo reações nucleares de fusão, que agrega núcleons formando núcleos de hélio. As-sim, o Sol não está em estado de desagregação atômica. II. 5 Éter Segundo a “Voz” (cap. XLVI, pág. 167), “O éter, pois, é com-posto de núcleos sem eléctrons. (...) Tirai a esse núcleo [do áto-mo de hidrogênio] o seu único eléctron, e tereis o éter ...”O núcleo de um átomo de hi-drogênio não é nada além de um próton. O núcleo dos ou-tros átomos consistem de pró-tons e nêutrons. Um átomo com adição ou falta de elétrons, são chamados de íons [13]. Os íons são simplesmente matéria comum, com a propriedade de possuírem excesso ou falta de carga elétrica negativa. Portan-to, o conceito de éter não pode ser algo formado por átomos

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sem os elétrons. II. 6 Hereditariedade e DNA No capítulo LXXIII (págs. 279 e 280) a “Voz” diz: “Só ele [o psi-quismo] vos fornece a chave do fenômeno da hereditariedade, fenômeno inexplicável se ob-servado isoladamente em seu aspecto orgânico, como o faz a ciência. Para ser compreendido, tem ele de ser completado com o conceito de uma hereditarie-dade psíquica. Como podem órgãos sujeitos a uma contínua renovação até final e definitivo desfazimento, conservar inde-finidamente características es-truturais, e transmitir atitudes pré-natais a outros organismos? (...) Não se está a ver que a he-reditariedade segue outras vias, as vias psíquicas, pelas quais o material recolhido é confiado, para sobrevivência, ao princí-pio espiritual, com preferência sobre as vias orgânicas da re-produção?” Esses comentários mostram que a “Voz” não tinha conhe-cimento da existência da mo-lécula do DNA. O ácido deso-xirribonucleico ou ADN (DNA na sigla em inglês) é uma mo-lécula complexa que sabemos conter em sua sequência de nucleotídeos o código genético de cada ser vivo. Através dela, se explica como um ser vivo transmite todas as suas caracte-rísticas físicas para sua prole ou descendentes. Portanto, a he-reditariedade é um fenômeno muito bem explicado pela ciên-cia, dentro de parâmetros pura-mente materiais. Existem casos

que parecem desafiar as regras bem estabelecidas da genética. Nesses casos, sem violar as leis materiais, a explicação advém da influência espiritual [14]. Na época em que a obra foi es-crita, dentre os anos de 1932 e 1935, ninguém podia explicar com precisão o mecanismo molecular do fenômeno da he-reditariedade pois o DNA só foi descoberto na década de 50. Porém, a “Voz” se apresenta como um Espírito de altíssima elevação, capaz até mesmo de se colocar acima do tempo e do espaço, e perceber o passado e o futuro conforme diz na pág. 130 do cap. XXXVII: “Estou nesse plano mais alto de consciên-cia volumétrica, de onde todo o tempo é dominado, mesmo o futuro, porque se está fora e acima do vosso tempo; onde a concepção é instantânea visão global de tudo o que vós conce-beis sucessivamente; onde pos-suo, por visão directa, a síntese que agora vos apresento.” Se a “Voz” podia ver o passa-do e o futuro, como não “viu” que a molécula do DNA iria ser descoberta e explicar bioquimi-camente, os genes e a heredita-riedade? Note que isso é um co-nhecimento que já era comum aos bons Espíritos. A obra Mis-sionários da Luz [15], de André Luiz pela psicografia de F. C. Xavier, foi primeiramente pu-blicada em 1945, mais de 5 anos antes da descoberta do DNA. No capítulo 13, entretanto, a obra descreve a atuação dos bons Espíritos na seleção de um espermatozóide que continha os cromossomos adequados

para formação do corpo físico que Segismundo precisava em sua reencarnação. Isso signifi-ca que os bons Espíritos, além do conhecimento da existência da molécula que continha o có-digo genético, podiam vê-la a ponto de identificar os códigos e os genes. O desconhecimen-to e incapacidade demonstrada pela “Voz” com relação a esse ponto mostra que ela não era um Espírito superior. É digno de nota, também, que o Espiritismo, quase 90 anos an-tes, deixou claro que a heredita-riedade é apenas um fator ma-terial (questão 207 de O Livro dos Espíritos [16]). Isso mostra o valor e atualidade da Doutri-na dos Espíritos. III CONCLUSÕES É importante dizer novamen-te que as teorias contidas nas obras de Ubaldi orientam as pessoas a fazer o bem, o que mostra que o Ubaldismo em si não é uma doutrina má e tem potencial para ajudar os ho-mens a se melhorarem. Assim, o presente trabalho não con-siste de atacar os adeptos das obras de Ubaldi, nem tentar demovê-los de suas crenças. Ao apresentar uma análise cien-tífica de A Grande Síntese [1], desejamos tão somente forne-cer subsídios para o movimento espírita se posicionar perante a obra. Embora, nossa conclusão seja pela invalidade científica da obra, respeitamos as pessoas e o direito delas crerem naquilo que consideram o melhor. Além dos erros destacados nes-

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te artigo, há outros pontos equi-vocados e contraditórios con-forme apontado em um artigo mais detalhado a ser publica-do na Coletânea dos trabalhos apresentados 10.º Encontro da Liga de Pesquisadores de Espi-ritismo (LIHPE). Nesse artigo completo, o Leitor interessado encontrará, além de mais deta-lhes do presente trabalho, uma lista de pontos e conceitos de A Grande Síntese que estão em desacordo com o Espiritismo. Uma obra que se apresenta como uma grande revelação de natureza espiritual, não poderia jamais deixar de citar e valori-zar a Doutrina dos Espíritos. Isso pois, é incoerente ver um Espírito superior apresentar revelações espirituais sem men-cionar as revelações anteriores que foram realizadas pelos pró-prios Espíritos superiores. Isso fere um critério fundamental da verdade que é o consenso universal entre os Espíritos su-periores. Um Espírito superior não pode contradizer o que os outros Espíritos superiores dizem. Caso contrário, forço-samente, um deles estará sem razão. A Grande Síntese [1] não contém nenhuma citação ou menção ao Espiritismo. Como pode um Espírito elevado não conhecer a doutrina dos Espí-ritos elevados? O Espiritismo é a Doutrina dos bons Espíritos, revelada a Kardec através de duplo caráter de uma revelação: científico e divino (item 13 do cap. I de A Gênese [3]). No ca-pítulo V de A Grande Síntese [1], a “Voz” fala da necessidade de uma revelação, como se já

não existisse uma revelação (o Espiritismo) que houvera sido apresentada aos encarnados aproximadamente 80 anos an-tes dessa obra. No capítulo XX, ela fala de filosofia da ciência, e novamente não menciona o esforço científico e filosófico de Kardec na descoberta e caracte-rização do objeto de estudo da ciência espírita: o espírito. Na pág. 73, a “Voz” diz que “Meu sistema não despreza a ciência, como as vossas intuições filo-sóficas; (...) e vos respondendo aos últimos porquês, é capaz de vos guiar no caminho das vos-sas vidas e de indicar uma meta às vossas ações.” Mas, o Espiri-tismo, 80 anos antes, já houve-ra proposto uma doutrina que além de não desprezar a ciência, nos guia pelo caminho de nos-sas vidas. A “Voz” indaga (cap. XLIII) “Onde, pergunto, está na Terra uma força que verda-deiramente vos abale e vos de-mova do incessante cálculo de todos os interesses humanos?” E respondemos: na Doutrina Espírita. E, para eliminar de vez qualquer dúvida, o seguinte co-mentário da “Voz” deixa claro que ela desconhecia a existên-cia do Espiritismo: (cap. LIX, pág. 220): “As vossas filosofias, a vossa ciência, as próprias religi-ões não vos sabem dar uma res-posta exaustiva; não vos sabem dizer o porquê de certos desti-nos de seres puros e inocentes, destinos de condenação e sem esperanças, que parecem acu-sar de inconsciência a criação e de injustiça a divindade.” Os espíritas sabem desde 1857 que o Espiritismo fornece as res-

postas mais sólidas, profundas e justas a essas e muitas outras questões fundamentais sobre a vida e os seres. A “Voz”, portan-to, não conhecia o Espiritismo. Com todos esses erros e falhas, a “Voz” não pode ser considera-da um Espírito superior e a obra A Grande Síntese não pode ser o Evangelho da Ciência. REFERÊNCIAS [1] P. Ubaldi, A Grande Sínte-se, tradução de M. Corboli, 11.ª Edição, Lake, São Paulo (1979).[2] J. Rizzini, J. Herculano Pires, O Apóstolo de Kardec, EditoraPaidéia, São Paulo (2001).[3] A. Kardec, A Gênese, Edito-ra FEB, 36.ª Edição, Rio de Ja-neiro (1995).[4] A. Kardec, “Observação Ge-ral”, Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos Julho, p. 229 (1860), reproduzido pela Editora Edicel, Sobradinho - DF.[5] A. Kardec, “Dos Cismas”, Revista Espírita, Jornal de Es-tudos Psicológicos Dezembro p. 373 (1868), reproduzido pela Editora Edicel, Sobradinho - DF.[6] A. Kardec, O Evangelho Se-gundo o Espiritismo, Editora FEB, 112.ª Edição, Rio de Janei-ro (1996).[7] A. Kardec, O Livro dos Mé-diuns, Editora FEB, 1.ª Edição, Rio de Janeiro (2008).[8] A. F. da Fonseca, “Um En-saio sobre Matéria e Energia”, FidelidadESPÍRITA 91, p. 6 (2010); idem 92, p. 20 (2010).[9] J. A. Valadares, “O Conceito de Massa. I. Introdução Históri-

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ca”, Revista Brasileira de Ensino de Física 15, 110 (1993).[10] J. A. Valadares, “O Con-ceito de Massa. II. Análise do Conceito”, Revista Brasileira de Ensino de Física 15, 118 (1993).[11] R. Eisberg e R. Resnick, Física Quântica - Átomos, Mo-léculas, Sólidos, Núcleos e Par-tículas, Editora Campus, 21.ª Reimpressão (1979).[12] K. R. Symon, Mecânica, Editora Campus, 2.ª Edição, Rio de Janeiro (1988).[13] D. R. Askeland, P. P. Fu-lay, e W. J. Wright, Th e Science and Engineering of Materials, Cengage Learning, 6.ª Edição, Stamford (2011).[14] A. F. da Fonseca, A. C. L. Leite e C. Torchi, “Refl exões Críticas sobre o Perispírito e sua Infl uência na Formação e Ma-nutenção do Corpo Físico”, Jor-nal de Estudos Espíritas 1, art. n. 010304 (2013). Link: https://sites.google.com/site/jeespiri-tas/ volumes/Volume-1---2013/resumo---art-n-010304, acessa-do em 19 de Janeiro de 2014.[15] A. Luiz, psicografi a de F. C. Xavier, Missionários da Luz, Ed. FEB, 26a Edição, Rio de Ja-neiro (1995).[16] A. Kardec, O Livro dos Es-píritos, Editora FEB, 76.ª Edi-ção, Rio de Janeiro (1995). NOTAS:

1 http://www.lihpe.net/wor-dpress/?p=12582 A numeração de páginas cita-das neste artigo está relaciona-da à edição da obra consultada por nós. Outras edições podem conter outras numerações.

3 Wikipedia, “Carbono-14”, http://pt.wikipedia.org/wiki/Carbono-14, acessado em 23 de junho de 2014.4 Wikipedia, “Trítio”, http://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%-C3%ADtio, acessado em 23 de junho de 2014.5 Wikipedia, “Sol”, http://pt.wi-kipedia.org/wiki/Sol, acessado em 17 de fevereiro de 2014.6 Idem.7 http://www.lihpe.net/wor-dpress/?p=1258

LINK PARA O ARTIGO

http://dx.doi.org/10.22568/jee.v2.artn.010203

JORNAL DE ESTUDOS ESPÍ-RITAS (JEE)

https://sites.google.com/site/je-espiritas/

13º ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO

ESPIRITISMOTema central: “Preces e Curas

Espirituais”26 e 27 de agosto de 2017

São Paulo-SP

O Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiri-tismo (EnLihpe) é um espaço privilegiado no contexto bra-sileiro para apresentação e dis-cussão de propostas e trabalhos de investigação científi ca sobre a temática espírita. O sucesso alcançado nos anos anteriores tem atraído pesquisadores de todo o Brasil, interessados na divulgação e discussão de seus estudos.Um dos diferenciais do EN-LIHPE é o seu formato, o qual incentiva a formação de redes de pesquisa e promove a apro-ximação de estudiosos de dife-rentes áreas do conhecimento. Instruções aos autores: A data fi nal para submissão de trabalhos é 30 de ABRIL de 2017. A avaliação será feita utilizando-se o sistema Double Blind Review, no qual o traba-lho é avaliado anonimamente por 2 por membros da Comis-são Científi ca do encontro. Sai-ba mais em www.lihpe.net

“Mais vale rejeitar dez verda-des do que admitir uma úni-ca mentira, uma única teoria falsa.”

ERASTO

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INSTITUTO DE PESQUISA EM CIÊNCIA ESPÍRITAA revista O Fóton entrevistou Maurício Mendonça e Eduardo Lima, ambos funda-dores do IPCE.

Maurício e Eduardo, o que é o IPCE e quais são os seus propósitos?

O IPCE é uma entidade autô-noma sem fins lucrativos, de caráter cientifico, cuja preocu-pação principal é o estudo dos fenômenos espíritas (ou para-normais ou anômalos) a saber:A existência e a comunicabili-dade dos espíritos; A mediuni-dade; A reencarnação; A expe-riencia de quase morte.

Quando, onde e porque foi fundado o IPCE?

O Instituto foi fundado em 2005, em Fortaleza/CE, dada a escassez de grupos no Movi-mento Espírita para tratar desse tema específico. Dessa forma, um grupo de amigos resoveu fundar esse grupo, entre eles: Eduardo Lima, Mauricio Men-donca, Ana Claudia Mendonça, Marcos Felipe e Geyson Silva.

Vocês já falaram sobre a finalidade do grupo. Mas quais são os objetivos des-ses estudos? Como essas

pesquisas serão feitas? Existe algum método para essas investigações?Procurar seguir o exemplo do criador da Doutrina Espirita é um caminho. E contribuir para que o paradigma sobrevi-vencialista seja aceito é a nossa meta. Faremos isso atraves de pesquisas, divulgação e inte-gração de pessoas do mesmo modo como fez Allan Kardec.Na verdade, é bom que se enfa-tize que faremos isso sem nun-ca perder de vista duas coisas: a moral do Cristo e os funda-mentos epistêmicos de Allan Kardec as quais, no limite, se integram harmoniosamente compondo a Doutrina Espírita.Abaixo nossos principais obje-tivos: Debater sobre os aspec-tos científicos do espiritismo;A existência e a comunicabili-dade dos espíritos; Promover e facilitar o desenvolvimento de projetos de pesquisas; Divulgar pesquisas atuais sobre a sobre-vivência da alma; Integrar as pessoas interessadas em estu-dos nessa área.

O IPCE considera o Espiri-

tismo uma Ciência?

A Academia, no geral, não con-sidera o espiritismo uma Ciên-cia. E com razão, pois o conceito atual da “Ciência” não compor-ta muitos dos seus principios e práticas. Consideramos, en-tretanto, que os chamados fe-nômenos espiritas (já citados) podem e devem ser pesquisa-dos de forma estritamente cien-tifica, e podem até apontar para um novo paradigma em que se inclua a sobrevivencia da alma como principal postulado.

O trabalho de Kardec, quando da elaboração da Doutrina Espírita, pode ser considerado científico?

Todo o trabalho de elaboração da Doutrina Espírita foi feito de um modo que pode ser consi-derado acadêmico. De fato, a simples observação da forma-ção e da trajetória intelectual de Allan Kardec, assim como do seu caráter extremamente racional e lúcido, pode nos le-var a concluir que ele não po-deria ter feito de outro jeito. E

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aqui, as palavras “todo o traba-lho” indicam que, não somente as suas pesquisas, mas o modo como ele integrou as pessoas ou divulgou os seus resultados, fo-ram igualmente permeados pe-los mesmos rigores teórico-me-todológicos. A consequência é que os fundamentos epistêmi-cos da Doutrina Espírita, quan-do bem entendidos, são capazes não somente de confrontar os paradigmas materialistas, mas de oferecer uma visão de mun-do que reestrutura radicalmen-te as demandas e os conflitos dos saberes humanos.Isso significa que mesmo os cientistas mais céticos, desde que desejem, podem encontrar no trabalho de Kardec uma porta aberta ao diálogo.

Vocês possuem algum lo-cal para estudo, para reu-niões?

Sim. Alugamos um amplo es-paço (andar superior) em um centro espírita.Como vocês enxergam a crescente onda de infor-mações científicas equivo-cadas, sendo transmitidas nas tribunas e periódicos espíritas? Isto se explica pela falta de um estudo mais profundo das obras de Kardec e dos clássicos?

Concordamos, mas achamos que isso é uma consequência. A causa verdadeira é exatamente a baixa preocupação do movi-mento espírita em geral com o estudo do aspecto cientifico e não cnhecimento do que seja realmente ciência (com base na filosofia da ciência). Kardec deve ser melhor estudado sim, mas de uma forma correta, entendendo o verdadeiro ca-ráter cientifico de sua obra. Se não, corre o risco de se formar

correntes quase fanáticas de-fendendo uma “pseudo pureza doutrinária” , não autorizada por Kardec, inclusive. Isso não quer dizer absolutamente, que tenhamos que aceitar como verdadeiro tudo que é “inova-ção” e que isso seja assim pro-pagado no movimento espírita. Tudo deve passar pelo crivo da razão e do bom senso, e por que não dizer... da ciência?

Por favor, gostaríamos de uma indicação de livro, ou texto, que trate a relação entre ciência e espiritis-mo.

Indico a série de artigos do filó-sofo Silvio Chibenni e do meu amigo epistemólogo Eduardo Lima.

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O Início das atividades de

MesmerMesmer nasceu em 1734, na Alemanha; dizem uns, em Vie-na, outros, em Weiller e, ainda outros, em Mersebourg.Em 1766, doutorou-se em Me-dicina na Faculdade de Viena. O tema de sua tese era: Da In-fl uência dos Planetas sobre o Corpo Humano.Como os planetas infl uencia-vam uns aos outros e a Lua atua diretamente em nossos mares, ele concluiu que esses grandes corpos também infl uem nos corpos animados, particular-mente sobre o sistema nervoso, por meio de um fl uido muito sutil, que em tudo penetra.Esse fl uido sutil, assemelha-se,

por suas propriedades, a um imã, por atrair e repelir, e, em consequência, se chamará mag-netismo animal.Em 1774, Mesmer foi ao en-contro do padre Hell, jesuíta, professor de Astronomia, que, estabelecido em Viena, cura-va enfermidades por meio de ferros imantados. Ele havia curado, especialmente, uma se-nhora de uma doença cardíaca crônica e ele próprio se curou de um reumatismo agudo.Paracelso, lembremos, reco-mendara esse remédio, havia dois séculos, contra as dores de dente. Mesmer, impressio-nado com as experiências que

presenciava, e achando nesses efeitos a confi rmação de suas teorias astronômicas, fundou uma casa de saúde na qual se propunha a tratar as doenças, gratuitamente, pelos mesmos processos. Magnetizando e ele-trizando, ele mandou construir lâminas e anéis imantados que remeteu a seus colegas, em di-versas partes da Alemanha, e publicou, nos jornais de Vie-na, as curas que realizava. Inú-meras pessoas atestaram que haviam sido curadas de várias enfermidades. Pouco a pouco, Mesmer se emancipou e quis dispensar os aparelhos do padre Hell. Sustentou a existência do

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magnetismo animal, essencial-mente distinto do imã, assim, como da eletricidade, e renun-ciou, completamente, em 1773, ao emprego desses dois últimos agentes.Mesmer vai para Paris, em 1778, onde publica Memórias sobre a descoberta do Magnetismo (1779), livro meio astronômico e meio médico que anuncia a descoberta da panaceia univer-sal. As relações de Mesmer com os sábios foram desagradáveis. Teve demandas, sucessivamen-te, com a Academia das Ciên-cias, a Sociedade Real de Medi-cina, a Faculdade de Medicina, sem resultado prático. Mesmo com tantas lutas, Mesmer, sem desanimar, segue fi rme em suas convicções: contando que co-nheça e saiba dirigir o fl uido magnético, o médico “julgará, seguramente, a origem, a natu-reza e o progresso das doenças, mesmo das mais complicadas, impedindo seu avanço e provi-denciando sua cura, sem qual-quer perigo. Ele curará, direta-mente, as doenças dos nervos e, indiretamente, todas as demais. A arte de curar chegará, assim, à sua última perfeição. A Natu-reza oferece um meio universal de curar e de preservar os ho-mens”.

Resumo feito por Elton Rodri-gues, utilizando os primeiros capítulos do livro “Mesmer e o Magnetismo Animal”, de Ernest Bersot, editora CELD.

www.edicoesleondenis.com.br/

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ASSOCIAÇÃO DE FÍSICA E ESPIRITISMO DO RIO DE [email protected] facebook\fi sicaeespiritismo