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1 Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Odontologia Especialização em Odontologia em Saúde Coletiva ROSANE GONTIJO DE SOUZA UM OLHAR CUIDADOSO SOB RE O DENTISTA: Síndrome de Burnout em dentistas que trabalham em cent ros de saúde da Prefeit ura de Belo Horizonte A careful look at the dentist: Burnout Syndrome among dentists working in Municipal Health Centers of Belo Horizonte Belo Horizonte 2009

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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Odontologia

Especialização em Odontologia em Saúde Coletiva

ROSANE GONTIJO DE SOUZA

UM OLHAR CUIDADOSO SOB RE O DENTISTA:

Síndrome de Burnout em dentistas que trabalham em centros de saúde da Prefeitura

de Belo Horizonte

A careful look at the dentist: Burnout Syndrome among dentists working in Municipal Health Centers of Belo Horizonte

Belo Horizonte 2009

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ROSANE GONTIJO DE SOUZA

Um olhar cuidadoso sobre o dentista: Síndrome de Burnout em dentistas que trabalham em centros de saúde

da Prefeitura de Belo Horizonte

Orientadoras: Estela Aparecida Oliveira Vieira Viviane Elisângela Gomes

Belo Horizonte 2009

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Especialização em Odontologia em Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito para obtenção do título de Especialista.

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A todas as pessoas especiais presentes na minha vida que, de alguma forma, contribuíram para meu crescimento e me ensinaram novas formas de ver o mundo.

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AGRADECIMENTOS

As Professoras Estela Vieira e Viviane Gomes, pelo incentivo, apoio, compreensão e confiança com que conduziram todos os momentos na orientação deste trabalho. A Coordenação do Curso e a Coordenação de Saúde Bucal da PBH por tornarem possível a realização deste curso tão esperado pelos dentistas da PBH. A todo o Corpo Docente, pela dedicação, conhecimentos transmitidos e empenho no decorrer do curso. Em especial, a Ana Cristina Borges de Oliveira, pela ajuda com o programa de estatística. A todos os participantes da pesquisa. A minha grande amiga Beatriz de Moura, pela amizade, presença e por ser minha eterna “orientadora”. Ao Christovam e aos meus filhos Thadeu e Arthur pela paciência e carinho durante esse processo. A todos que me apoiaram neste momento.

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Se eu pudesse deixar algum presente a vocês, deixaria acesso ao sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora... Lembraria os erros que foram cometidos, para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para vocês, se pudesse, o respeito aquilo que é indispensável: Além do pão, o trabalho. Além do trabalho, a ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: O de buscar no interior de si mesmo, A resposta e a força para encontrar a saída. Mahatma Gandhi

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RESUMO

A Síndrome de Burnout é uma doença ocupacional caracterizada como um fenômeno

multidimensional que inclui aspectos do trabalhador, variáveis sociais e ambientais como

elementos atuantes no desenvolvimento desse fenômeno. A síndrome é constituída por três

dimensões relacionadas, mas independentes: exaustão emocional, despersonalização e

baixa realização profissional. Com as significativas mudanças que ocorrem atualmente no

mercado de trabalho, o estresse é uma grande questão em praticamente todas as

organizações. Nem sempre os indivíduos conseguem lidar com esse problema, e isso acaba

refletindo na saúde, no próprio rendimento do trabalhador e conseqüentemente na

produção e qualidade do trabalho. A presente pesquisa foi realizada com o objetivo de

estudar a prevalência e verificar os níveis da síndrome de Burnout presentes nos dentistas

que trabalham nos Centros de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Este estudo

consistiu em uma pesquisa quantitativa – qualitativa, tendo como instrumentos de coleta de

dados o inventário Maslach Burnout (MBI) e um questionário de perfil do profissional.

Para seleção da amostra foi utilizado o método de estimativa de proporção, considerando-

se o padrão de 50%, nível de significância de 95% e erro de 10% com base no universo

finito de 306 cirurgiões dentistas que trabalham em Centros de Saúde na Prefeitura de Belo

Horizonte. Foram entrevistados 96 cirurgiões dentistas, sendo 80,2% do sexo feminino;

com a idade variando de menos de 30 anos até mais de 50 anos; e 63,5% casados. Os

resultados da análise do MBI apresentaram a seguinte distribuição de níveis associados

com as variáveis aplicadas: Exaustão Emocional alta (64,5%), Despersonalização baixa

(61,5%) e Realização Profissional alta (42,7%). Estes dados representam um grau

significativo da Síndrome de Burnout nos dentistas da PBH, ou seja, apresenta-se um

processo de instalação da síndrome nestes profissionais, o que justifica um projeto de

intervenção e prevenção da saúde destes profissionais. A informação deve ser a primeira

ação a ser adotada, pois, pelo conhecimento dos sintomas e agentes deflagradores da

síndrome, os profissionais comprometidos com a saúde laboral poderão adotar ações

preventivas adequadas. Nos casos onde a síndrome já esteja em curso, há a possibilidade

de propor medidas para solucionar o problema por meio de estratégias de enfrentamento

por parte do profissional, procurando também minimizar ou eliminar os agentes estressores

envolvidos e buscar restabelecer condições saudáveis de trabalho no ambiente ocupacional,

bem como ajuda médica e psicológica quando necessário. A proposta constitui-se de três

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graus de atuação: um de caráter individual, outro em nível institucional e finalmente

enfocando a inter-relação indivíduo/instituição. Sem o empenho e comprometimento da

instituição com o objetivo em questão, as propostas acabam por se situar apenas na esfera

pessoal. Cabe aqui, como intervenção maior, o alerta aos dentistas comprometidos com a

sua própria saúde e a de quem eles cuidam. Essa intervenção viria para difundir e alertar os

potenciais envolvidos, a fim de que a legislação e os programas de prevenção em saúde

laboral possam ser utilizados com critério, e, assim, resgatar os direitos do trabalhador,

bem como sua dignidade como cuidadores e cidadãos.

Palavras chaves: Síndrome de Burnout, Maslach Burnout Inventory (MBI), Cirurgiões

Dentistas, Qualidade de vida, Odontologia.

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ABSTRACT

The Burnout syndrome is an occupational illness characterized as a multidimensional

phenomenon that includes worker’s aspects, social and environmental variations as

elements that act on the development of this phenomenon. The syndrome is constituted by

three related and independent dimensions: emotional exhaustion, depersonalization and

low professional accomplishment. Nowadays, stress has become a great issue in almost

all organizations, due to significant changes that have been happening in the labor market,

and many individuals have not been able to deal with it successfully, which reflects on

their health and consequently in their production and quality of work. The aim of the

current research was to study the prevalence of Burnout syndrome among the dentists

who work at the Municipal Health Care Centers of Belo Horizonte and to identify the

levels of the illness among the same group. This study consisted in a quantitative-

qualitative research. The methods used to collect data were the Maslach Burnout

Inventory (MBI) and a professional’s profile questionnaire. To select the sample it was

used the ratio method of estimation, considering the standard of 50%, level of

significance of 95% and error of 10% on the basis of the finite universe of 306 dental

surgeons who work at the Municipal Health Care Centers of Belo Horizonte. A total of 96

dental surgeons had been interviewed. From this amount, 80.2% were women with less

than 30 years of age up to more than 50 years of age; and 63.5% were married. The

results of the analysis of the MBI had indicated the following distribution of levels

associated with the applied variation: High Emotional exhaustion (64.5%), low

Depersonalization (61.5%) and high Professional Accomplishment (42.7%). These data

represent a significant level of the Burnout Syndrome among the dental surgeons of the

Municipal Health Care Centers of Belo Horizonte. In other words, the process of the

Burnout Syndrome has been spread among these professionals, which justifies an

intervention and prevention project based on the health of these professionals. The

information must be the first action to be adopted because with the knowledge of the

symptoms and the causing agents of the syndrome, the professionals compromised to the

labor health will be able to adopt appropriated preventing actions. In the cases which the

syndrome has been already in process, there is the possibility of proposing measures to

solve the problem by means of individual confrontation strategies as well as strategies

that minimize or eliminate the involved stressors, besides the reestablishment of healthful

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work conditions in the occupational environment, and when it is necessary medical and

psychological aid. The proposal consists of three steps of performance: one of individual

character, another one of institutional level and a last one that focus on the interrelation

between institution and individual. The institution plays a key role because without its

persistence and compromising with the proposal, it stays only in the personal sphere. An

alert must be done to the dentists who are compromised to their own health and the health

of those they take care of. This alert is to inform and to tell about the involved potentials,

so that the legislation and the programs of labor health prevention can be used with

criterion, and, thus, to rescue the rights of the worker, as well as their dignity as health

professionals and citizens.

Key words: Burnout syndrome, Maslach Burnout Inventory (MBI), dentist, Life Quality, Dentistry

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LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

GRÁFICO 1- Distribuição dos profissionais de acordo com a idade

GRÁFICO 2- Distribuição dos profissionais de acordo com o gênero

GRÁFICO 3- Distribuição dos profissionais de acordo com o estado civil

GRÁFICO 4- Distribuição dos profissionais de acordo com as horas diárias de trabalho

GRÁFICO 5- Distribuição dos profissionais de acordo com o tempo de serviço

GRÁFICO 6- Distribuição dos profissionais de acordo com o tempo das últimas férias

GRÁFICO 7- Distribuição dos profissionais de acordo com a influência da atividade

profissional sobre a vida pessoal

GRÁFICO 8- Distribuição dos profissionais de acordo com o pensamento de mudar de

profissão

TABELA 1- Frequência absoluta e relativa dos profissionais de acordo com as variáveis

individuais

TABELA 2- Frequência absoluta e relativa dos profissionais de acordo com os níveis do

instrumento MBI

TABELA 3- Frequência absoluta e relativa das variáveis individuais dos profissionais de

acordo com o nível Exaustão Emocional do instrumento MBI.

TABELA 4- Freqüência absoluta e relativa das variáveis individuais dos profissionais de

acordo com o nível Despersonalização do instrumento MBI.

TABELA 5- Freqüência absoluta e relativa das variáveis individuais dos profissionais de

acordo com o nível Realização Pessoal do instrumento MBI.

ANEXO 1 - Questionário MBI (Maslach Burnout Inventory)

ANEXO 2 - Questionário Perfil do profissional

ANEXO 3 - Termo de Consentimento Livre Esclarecido

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2 OBJETIVOS 17

2.1 Objetivo Geral 17

2.2 Objetivos Específicos 17

3 METODOLOGIA 18

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 21

5 CONCLUSÃO 35

6 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO 36

7 REFERÊNCIAS 50

8 ANEXOS 55

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1 INTRODUÇÃO

Com as significativas mudanças que ocorreram no mercado de trabalho tem sido exigida a

melhoria das habilidades técnicas e sociais dos profissionais. Além disso, as mudanças

sociais e econômicas ocorridas em nosso país assim como o maior controle social e o

exercício da cidadania pelo usuário dos serviços de saúde em suas inúmeras dimensões,

repercutem nos profissionais dentistas durante o exercício laboral a necessidade de

constantes atualizações e busca de adaptação (Costa, 2006).

Como resultado desse processo surgem novas exigências e condições para o exercício

profissional. Estas adaptações passam também pela organização do trabalho no sentido de

evitar a geração de forças que levam o profissional ao sofrimento. Maslach e Leiter (1999)

apontam que nos últimos anos o nível de desgaste físico e emocional dos trabalhadores tem

atingido elevadas proporções e o ambiente profissional torna-se um espaço que não

propicia satisfação pessoal. Por outro lado, muitas empresas preferem ignorar o sofrimento

de seus funcionários, pois temem que, reconhecendo o problema serão obrigados a investir

em programas dispendiosos de melhoria da qualidade de vida. Os empregadores não vêm o

desgaste dos trabalhadores como conseqüência e responsabilidade da empresa, mas sim

como um problema individual.

Entretanto, quando acontece uma discrepância entre as exigências - físicas, mentais,

cognitivas, psicológicas, sociais etc. - do posto de trabalho e a capacidade de resposta do

trabalhador - motivação, satisfação, qualificação, conhecimento, competências técnicas,

humanas e relacionais, potencial de saúde, gênero, biologia, história de vida - é muito

provável que surjam problemas de saúde (Graça, 1999).

Segundo Dejours (1992), “Do choque entre um indivíduo dotado de uma história

personalizada, e a organização do trabalho portadora de uma injunção despersonalizante,

emergem uma vivência e um sofrimento...”. Para este mesmo autor o sofrimento emerge

quando a relação homem-organização está bloqueada, ou seja, quando o indivíduo usou

todas as suas faculdades, sejam elas intelectuais, psicoafetivas, de aprendizagem ou de

adaptação, para tentar diminuir a frustração sentida.

Para Maslach & Leiter (1999) o problema do desgaste dos trabalhadores é um problema do

ambiente de trabalho e da maneira como ele está organizado. Muitas são as estratégias

intervencionistas que buscam melhorias baseando-se somente em ações sobre o indivíduo.

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“Esse enfoque na pessoa e na auto-ajuda encaixa-se bem na filosofia individualista de

nossa sociedade. Desse ponto de vista, as pessoas são responsáveis por aquilo que

produzem, são as únicas culpadas por seus fracassos”. Fatores como excesso de trabalho,

falta de controle, falta de recompensa, falta de união, falta de equidade e conflito de

valores dentro de uma organização, são apenas alguns dos acontecimentos que vem

afetando o bem estar físico e mental dos trabalhadores, deixando-os suscetíveis ao

aparecimento de estresse ocupacional e burnout, o que tem gerado grandes preocupações

nos ambientes organizacionais em virtude das conseqüências, tanto para o indivíduo como

para a instituição.

Segundo Poi e Tagliavini (1998) a odontologia é uma profissão rica em oportunidades sob

o aspecto da satisfação pessoal e profissional. Por ser a procura pela excelência um pré-

requisito para o sucesso, é fácil entender porque os dentistas buscam sempre alcançar a

perfeição.

No entanto, a odontologia apresenta riscos ocupacionais em virtude de hábitos, postura

profissional e patologias advindas do exercício da profissão. Também tem sido considerada

uma profissão estressante tendo em vista a pressão emocional significativa que os

profissionais sofrem. Esse estresse advém da natureza inerente ao trabalho odontológico

que exige freqüente interação do profissional relacionada com o cuidado com pessoas. O

sentido da palavra cuidado (Boff, 1999), cogitare-cogitus, é o mesmo da cura: cogitar,

pensar, colocar atenção, mostrar interesse, revelar uma atitude de desvelo e de

preocupação.

Dentro deste contexto, a profissão passa por atitudes de cuidado para com o outro. A

atitude de cuidado pode provocar preocupação, inquietação, ansiedade e sentido de

responsabilidade (Boff, 1999). O cuidado somente surge quando a existência de alguém

tem importância e há a preocupação com o outro, implicando em solicitude, desvelo.

Observando os aspectos históricos da medicina a partir da segunda metade do século XIX,

a respeito do médico-cuidador, quando este passou a ser o detentor do poder de curar e

cuidar da saúde do outro (paciente/sociedade), nota-se o início de uma supervalorização

dos aspectos técnicos e científicos em detrimento dos aspectos emocionais e não-

científicos na medicina, que nos fazem refletir sobre a constituição da identidade desse

profissional, que traz na sua essência o peso e a dor de ser curador/cuidador, como relata o

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mito de Quíron. Entende-se, neste sentido, que existe a mesma correlação quanto ao

dentista como curador/cuidador, uma vez que lida também com questões de saúde que

envolvem as mesmas características médicas no cuidado com o paciente. Essas questões

relacionadas ao sofrimento do profissional de saúde podem ser simbolizadas através da

figura mitológica de Quíron, o curador ferido (Rodrigues, 2007).

O mito narra a história do Centauro Quíron, metade animal e metade homem, que

dominava a arte da cura. Um dia, ao tentar ajudar o seu amigo Hércules (outra figura

mitológica), numa batalha, é ferido acidentalmente pelo mesmo. Essa ferida não cicatriza e

ele tem a perspectiva de passar a eternidade sofrendo pela dor da ferida. Sem conseguir

suportar tal destino, o centauro resolve trocar a sua imortalidade pela mortalidade. Assim

ele morre e dá origem a uma constelação estrelar. A ferida do Centauro é uma imagem

arquetípica grega precursora da ciência médica e que representa o conhecimento da doença

ligada à participação existencial do médico através do seu próprio sofrimento como pessoa.

Quíron traz em si a ferida e a cura, pois na medida em que vivenciamos nosso sofrimento e

desamparo, tornamo-nos mais inteiros e curados, porque mais sábios e mais humildes.

Com sua história trágica, Quíron resume a natureza do curador ferido como aquele que

desenvolve o dom de curar a partir do sofrimento de sua própria ferida incurável. “O

princípio que subjaz a mensagem de Quíron é o conhecimento vivencial de uma ferida

constantemente presente naquele que cura” (Penna, 2005).

O médico como cuidador/curador pode ser muitas vezes “ferido” por aquele de quem

cuida. A dor e a sombra estão na imagem primordial do médico, o que explica o lema:

“médico, cura-te a ti mesmo”. Essa “ferida” pode simbolizar o adoecimento físico,

psíquico e emocional dos profissionais de saúde que no exercício de sua função muitas

vezes são atingidos “inconscientemente” e/ou “conscientemente” por seu ambiente de

trabalho (Kovács, 2002, Rodrigues, 2007). O mito de Quíron vem reforçar a necessidade

de aceitar nossa ferida como pré-requisito para qualquer cura que possa advir; mostra

também de que maneira a sabedoria da psique pode nos trazer a cura por caminhos que

temos dificuldade em reconhecer.

Atualmente os chamados profissionais de “alto contato”, nos quais o dentista está incluído,

aliam às longas jornadas o inevitável envolvimento com os “problemas dos outros” e a

excessiva carga de trabalho em ambientes potencialmente geradores de conflitos (Mallar e

Capitão, 2004).

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Em acréscimo, a falta de reconhecimento profissional, a alta exposição do profissional a

fatores psíquicos, físicos, químicos e biológicos, bem como o contato constante com o

sofrimento e a dor, aumentam a necessidade de controle mental e emocional do

profissional. Assim, estressores ocupacionais quando persistentes podem levar à síndrome

de burnout. Essa síndrome é considerada uma resposta emocional à situação de estresse

crônico em função de relações intensas em situações de trabalho com outras pessoas

(França e Rodrigues, 1997).

Não há uma definição única para designar burnout, mas um consenso entre estudiosos do

assunto que definem burnout como uma resposta ao estresse laboral crônico, desencadeada

pela falha ou insuficiência dos métodos de enfrentamento utilizados para lidar com os

agentes estressores (Codo, 1999; Benevides – Pereira, 2002; Gil-Monte, 1999).

O termo burnout vem do inglês e refere-se à junção de burn e out, significa “queimar para

fora”, “queimar até a exaustão”, caracterizando um tipo de estresse ocupacional durante o

qual a pessoa consome-se física e emocionalmente resultando em exaustão e em um

comportamento agressivo e irritadiço. É como se a energia que move e que dá vida ao ser

humano fosse “jogada para fora”, fosse perdida e, nesse perder a energia, o sujeito chegaria

ao seu extremo, praticamente sem possibilidades físicas ou mentais de seguir no seu fazer

diário (Angst et al., 2008).

“Burnout não é um problema do indivíduo, mas do ambiente social no qual ele trabalha”

(Maslach e Leiter, 1997).

A síndrome de burnout é um processo de adoecimento que ocorre em resposta à

cronificação emocional do estresse laboral, manifestando-se pela junção de três aspectos: a

exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização pessoal (Guimarães, 2002;

Carlotto e Palazzo, 2006). Para analisar essa síndrome se fazem necessárias a sua

identificação e contextualização, pois, entende-se que as condições ambientais associadas

às características de personalidade podem levar o indivíduo a desenvolver essa doença

laboral (Peñacoba e Moreno, 1998).

O trabalho pode ser fonte de adoecimento quando contem fatores de risco para a saúde e o

trabalhador não dispõe de instrumental suficiente para se proteger destes riscos (Murta e

Trócolli, 2004).

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Diante desses aspectos pretende-se abordar a síndrome de burnout como uma manifestação

do adoecer do homem em sua relação com o trabalho em saúde. O interesse na abordagem

desse assunto vai ao encontro da necessidade urgente em rever a relações existentes no

trabalho, entender melhor as nuances que envolvem os temas saúde e adoecimento e

sofrimento psíquico em profissionais da odontologia visando a melhora no cuidado do

cuidador-dentista. Assim, além de verificar os níveis da síndrome de burnout presentes nos

dentistas que trabalham nos Centros de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte, este

trabalho visa contribuir para o conhecimento, divulgação, sensibilização e compreensão da

Síndrome de Burnout, levantando propostas de intervenção em relação à saúde do

profissional nos quesitos informação, prevenção e tratamento.

.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Contribuir para a divulgação, sensibilização e compreensão da Síndrome de Burnout que

possa estar presente no trabalho dos cirurgiões dentistas atuantes nos serviços de

odontologia da PBH.

2.2 Objetivos Específicos:

2.2.1 Caracterizar a prevalência de síndrome de Burnout em cirurgiões dentistas em

Centros de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte através da aplicação do

inventário de Maslach Burnout (MBI);

2.2.2 Identificar as três dimensões do inventário: a exaustão emocional, a

despersonalização e a realização profissional na população estudada;

2.2.3 Contribuir para uma melhoria na qualidade da atenção aos cirurgiões- dentistas,

servidores públicos da PBH.

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3 METODOLOGIA

3.1 O campo da pesquisa

O sistema de saúde bucal de Belo Horizonte, segundo informação da Gerência de

Planejamento e Acompanhamento de Recursos Humanos (GPARH), em agosto de 2009

contava com 469 postos de trabalho (não pessoas), sendo 357 ocupados pelo sexo feminino

e 112 pelo sexo masculino. Os profissionais perfazem um total de 375 dentistas (segundo

informação da Coordenação de Saúde Bucal da Prefeitura de Belo Horizonte [PBH]),

sendo que 306 são os profissionais que trabalham em Centros de Saúde da PBH.

3.2 Desenho do estudo

Trata-se de uma pesquisa quantitativa – qualitativa com a utilização do inventário

Maslasch Burnout (MBI) e questionário de perfil do profissional adaptado do questionário

de Mallar e Capitão (2004).

3.3 População do estudo

Para seleção da amostra foi utilizado o método de estimativa de proporção, considerando-

se o padrão de 50%, nível de significância de 95% e erro de 10% com base no universo

finito de 306 cirurgiões dentistas, que trabalham em Centros de Saúde na Prefeitura de

Belo Horizonte. Assim, a amostra constou de 96 entrevistados.

Critérios de elegibilidade

• Pertencer ao quadro de cirurgiões dentistas que atuam em Centros de Saúde da

Prefeitura de Belo Horizonte;

• Apresentar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido devidamente assinado.

3.4 Instrumentos de coleta de dados

Para a coleta dos dados foram utilizados dois instrumentos, sendo o primeiro denominado

Perfil dos profissionais da área de Odontologia, adaptado de Mallar e Capitão (2004).

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O segundo construto aplicado foi o Inventário de Maslach Burnout (MBI), que tem a

tradução validada para a língua portuguesa por Benevides-Pereira (2001).

3.4.1 Questionário sobre o Perfil dos profissionais da área de Odontologia

O questionário Perfil profissional foi adaptado do questionário sociodemográfico

elaborado por Mallar e Capitão (2004). Trata-se de um conjunto de oito perguntas fechadas

de múltipla escolha. Essa ferramenta abrange esferas diferentes da vida do sujeito como:

idade, estado civil, gênero; dados ocupacionais e profissionais: turnos de trabalho, tempo

de serviço, há quanto tempo tirou suas últimas férias, acredita que sua atividade

profissional interfere em sua vida pessoal e se tem pensado em mudar de profissão (Anexo

2). O questionário original envolve em acréscimo condições pessoais (lazer, sono,

medicamentos que toma, e outras), as quais não foram incluídas neste estudo.

3.4.2 Inventário de Maslach Burnout (MBI)

O MBI trata-se de um questionário auto- aplicado tendo em sua estrutura 22 itens para ser

respondido através de uma escala do tipo Likert cuja freqüência da resposta é avaliada

através de pontuação que varia de 0 a 6 ,sendo 0 (nunca), 1(uma vez ao ano ou menos), 2

(uma vez ao mês ou menos), 3 (algumas vezes ao mês ), 4 (uma vez por semana), 5

(algumas vezes por semana) e 6 (todos os dias).

Para a realização da análise considerou-se os 22 itens do MBI (Benevides-Pereira, 2001),

que se encontram no Anexo 1.

Este inventário avalia como o sujeito vivencia o seu trabalho de acordo com as três

dimensões estabelecidas pelo modelo teórico de Maslach: exaustão emocional (EE)-9

itens, despersonalização (DE)-5 itens e realização profissional (RP)-8 itens.

As questões relacionadas à exaustão emocional envolvem os itens 1, 2, 3, 6, 8, 13, 14, 16 e

20. A despersonalização é referente às questões 5, 10, 11, 15 e 22; e a baixa realização

profissional (RP) envolve as questões: 4, 7, 9, 12, 17, 18, 19 e 21 (Rodrigues, 2007; Cruz,

2007).

O primeiro fator, designado por Exaustão Emocional, inclui itens relacionados com

problemas emocionais e dificuldades de confronto dos dentistas com as relações

interpessoais. O fator 2, Despersonalização, contém itens relacionados com as dificuldades

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dos profissionais na relação com seu clientes. O fator 3, Realização Pessoal, avaliou o grau

de capacidade e realização do profissional no trabalho. Na literatura científica foram

encontradas duas terminologias para esta questão, baixa realização pessoal e baixa

realização profissional, ambas abordando o mesmo nível de burnout, o que não

compromete o contexto nem a avaliação deste nível, uma vez que as duas terminologias

pretendem ter o mesmo significado, ou seja, realização pessoal no trabalho é igual a

realização profissional. Na maioria das citações deste estudo, o termo adotado será

realização profissional, que é usado por Benevides-Pereira (2002).

3.5 Considerações Éticas

Foram observados os procedimentos éticos conforme Resolução 196 do Conselho Nacional

de Saúde (CNS), de 10 de outubro de 1996, por se tratar de um estudo envolvendo seres

humanos. O termo de consentimento livre e esclarecido encontra-se no anexo 3.

3.6 Processamento dos dados

Os dados coletados foram tabulados e analisados por meio do software Statistical Package

for Social Science-SPSS (versão 16.0). O processamento incluiu codificação, digitação,

edição dos dados e análise estatística.

Foram realizadas as análises univariada e bivariada. O teste estatístico utilizado foi o teste

do X², considerando-se um nível de significância de 10%. As variáveis dependentes foram

os níveis do Instrumento MBI: exaustão emocional, despersonalização e realização

profissional. As variáveis independentes analisadas foram: idade, gênero, estado civil,

horas diárias de trabalho, tempo de serviço, tempo das últimas férias, interferência da vida

profissional na vida pessoal e pensamento em mudar de profissão.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A descrição do perfil dos profissionais pode ser visualizada nos gráficos 1 a 8,

respectivamente.

Idade do participante

Mais de 50 anos de idade

41 a 50 anos de idade

31 a 40 anos de idade

Até 30 anos de idade

Gráfico 1- Distribuição dos profissionais de acordo com a idade. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

80,2%

19,8%FemininoMasculino

Gráfico 2- Distribuição dos profissionais de acordo com o gênero. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

2 (2,1%)

17 (17,7%)

41 (42,7%)

36 (37,5%)

77 (80,2%)

19 (19,8%)

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22

Estado civil do participanteOutroCasadoSolteiro

Gráfico 3- Distribuição dos profissionais de acordo com o estado civil. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

Horas diárias de trabalho12 horas8 horas4 horas

Gráfico 4- Distribuição dos profissionais de acordo com as horas diárias de trabalho. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

21 (21,9%)

61 (63,5%)

14 (14,6%)

17 (17,7%)

72 (75,0%)

7 (7,3%)

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23

Tempo de serviço

Mais de 15 anos

11 a 15 anos

6 a 10 anos2 a 5 anosMenos de 2 anos

Gráfico 5- Distribuição dos profissionais de acordo com o tempo de serviço. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

Tempo das úl timas férias

Mais de 12 meses6 meses a 12 meses

Menos de 6 meses

Gráfico 6- Distribuição dos profissionais de acordo com o tempo das últimas férias. Belo Horizonte, 2009 (n=96).

2 (2,1%) 4 (4,2%) 2 (2,1%)

22 (22,9%)

66 (68,8%)

41 (42,7%)

54 (56,3%)

1 (1,0%)

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8,3%

91,7%

NãoSim

Gráfico 7- Distribuição dos profissionais de acordo com a influência da atividade profissional sobre a vida pessoal. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

78,1%

21,9%NãoSim

Gráfico 8- Distribuição dos profissionais de acordo com o pensamento de mudar de profissão. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

88 (91,7%)

8 (8,3%)

75 (78,1%)

21 (21,9%)

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A Tabela 1 mostra a frequência relativa (%) e absoluta (n) dos profissionais de acordo com

todas as variáveis individuais pesquisadas.

Tabela 1- Freqüência absoluta e relativa dos profissionais de acordo com as variáveis individuais. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

Variável Freqüência absoluta (n) Freqüência relativa (%) Idade Até 40 anos 19,0 19,8 41 anos ou + 77,0 80,2

Gênero Masculino 19,0 19,8 Feminino 77,0 80,2 Estado civil Solteiro 21,0 21,9 Casado 61,0 63,5 Outro 14,0 14,6

Horas diárias de trabalho 4 horas 17,0 17,7 8 horas 72,0 75,0 12 horas 7,0 7,3

Tempo de serviço Até 10 anos 8,0 8,3 11 anos ou + 88,0 91,7

Tempo das últimas férias < de 6 meses 41,0 42,7 6 meses ou + 55,0 57,3

Interferência da profissão na vida pessoal

Sim 88,0 91,7 Não 8,0 8,3

Pensamento de mudar de profissão

Sim 21,0 21,9 Não 75,0 78,1

Do total de 306 dentistas dos Centros de Saúde da PBH foram entrevistados 96, sendo a

maioria do sexo feminino (80,2%). O presente estudo confirma a tendência à feminilização

que tem ocorrido dentre os cirurgiões-dentistas (Rosa e Madeira,1980; Cornack,1988).

A faixa etária encontrada variou de menos de 30 anos até mais de 50 anos. De acordo com

o estado civil, 63,5% dos profissionais são casados.

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A maioria dos dentistas trabalha no serviço 8 horas por dia (75%), tem mais de 15 anos de

tempo de serviço (68,8%) e tiraram férias nos últimos 6 a 12 meses (56,3%).

A grande maioria dos dentistas (91,7%) relatou que a atividade profissional interfere na

vida pessoal. 78,1% dos profissionais não apresentaram o desejo de mudar de profissão.

O instrumento MBI mostrou-se de fácil compreensão e o tempo médio de realização foi de

15 minutos, tendo sido respondido de forma individual e voluntária.

A Tabela 2 apresenta a frequência absoluta e relativa dos profissionais de acordo com os

níveis do instrumento MBI aplicado aos profissionais.

Tabela 2- Freqüência absoluta e relativa dos profissionais de acordo com os níveis do instrumento MBI. Belo Horizonte, 2009. (n=96) Variável Freqüência absoluta (n) Freqüência relativa (%) Exaustão emocional Baixo (< 19) 11,0 11,5 Médio (19 a 26) 23,0 24,0 Alto (> 27) 62,0 64,5

Despersonalização Baixo (< 6) 59,0 61,5 Médio (6 a 9) 17,0 17,7 Alto (> 10) 20,0 20,8

Realização profissional Baixo (< 33) 24,0 25,0 Médio (34 a 39) 31,0 32,3 Alto (> 40) 41,0 42,7

Pode-se observar na tabela acima um nível alto de exaustão emocional (EE) (64,5%), nível

baixo de despersonalização (DE) (61,5%) e um nível alto de realização profissional (RP)

(42,7%).

O burnout é conceitualizado como variável contínua, variando entre os níveis classificados

de baixo, médio e alto, baseando-se na norma americana. Um nível de burnout baixo

reproduz-se em escores baixos nas sub-escalas de EE e DE e escores elevados na RP. Um

nível médio é representado por valores médios nas três sub-escalas. Por último um nível

alto de burnout traduz-se em escores altos para EE e DE e baixos para RP (Cruz, 2007).

Percebe-se que os resultados encontrados neste estudo e representados na tabela 2, não

corroboram com a conceitualização da norma americana para as três sub-escalas, uma vez

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que não foi encontrado como resultado um alto nível de DE na amostra pesquisada e nem

nível baixo de RP para que fosse caracterizado como alto nível de burnout nesta

população. O dado referente ao alto nível de EE encontrado na população pesquisada

sugere que a síndrome de burnout encontra-se no início da instalação. Para autores como

Gil-Monte e Peiró (1997), Martinez (1997) e Mendes (2002) a classificação média em EE

já reflete o início da síndrome de burnout. Segundo estes autores, a síndrome se inicia por

essa dimensão, seguida pela despersonalização e sentimento de baixa realização pessoal.

Há também alguns autores que relacionam a exaustão emocional com o estresse laboral

crônico (Carlotto e Gobi, 2000).

Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) citam que a impossibilidade de concretizar a vinculação

afetiva e o desenvolvimento do trabalho levam o profissional a um desgaste e exaustão

emocional, pois o individuo não possui a energia que tinha antes, sentindo-se

sobrecarregado e esgotado física e mentalmente.

Para Tamayo e Trócolli (2002), a EE é também a dimensão aceita pelo profissional com

mais facilidade e que expressa aspectos consistentes do burnout.

Segundo Rossi (2005), o profissional que sofre de burnout apresenta exaustão física e

mental, sente-se sem recursos para dar continuidade aos seus projetos, relata forte cansaço,

desencadeando problemas emocionais e de relacionamento na vida pessoal e profissional.

Maslach e Leiter (1997) confirmam que, ao se sentirem exaustos, os profissionais relatam

um sentimento de sobrecarga física e emocional acompanhada de dificuldade para relaxar,

referindo um estado de fadiga diário. Schaufeli e Buunk (2003) complementam que,

quando exaustos, os recursos internos dos profissionais para enfrentar as situações

vivenciadas no trabalho, assim como a energia para desempenhar as atividades encontram-

se reduzidos.

Há uma prática profissional voltada, quase que exclusivamente para a eficácia do

atendimento ao paciente, e muitas vezes, percebe-se uma menor valorização das condições

de trabalho essenciais para a saúde do trabalhador, que permanecem expostos por um

período prolongado a situações que exigem alta demanda emocional (Maslach & Jackson,

1981).

A insatisfação com o ambiente físico, com a função exercida, com a falta de participação

nas tomadas de decisão e com a supervisão eleva o sentimento de desgaste emocional.

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Nesse sentido, Cherniss (1989) destaca os fatores organizacionais que incluem sobrecarga

laboral, falta de inovação e estímulo, pouca autonomia, relações interpessoais negativas

entre colegas e entre estes e os superiores, interações problemáticas com os clientes, e

ainda pressões burocráticas e falta de feedback como elementos organizacionais

importantes para o surgimento do Burnout.

Para Benevides-Pereira (2002), as características pessoais tais como idade, gênero, estado

civil, personalidade, etc., não são em si mesmas desencadeantes do fenômeno de EE, mas

facilitadores ou inibidores da ação dos agentes estressores.Por exemplo, uma pessoa com

alto nível de resiliência, em uma organização com características predisponentes ao

estresse ocupacional, pode vir a resistir um maior tempo quando comparada a outro colega

de trabalho. No entanto, através do tempo, ou diante do aumento dos fatores negativos na

instituição, ou vindo a sofrer dificuldades em nível pessoal, este equilíbrio pode se romper.

Referente à questão gênero, não tem ocorrido unanimidade quanto à possibilidade de maior

incidência no sexo masculino ou feminino. Mas já é observada por alguns pesquisadores a

prevalência de burnout em mulheres médicas (Rodrigues, 2007). Em nosso estudo

encontrou-se que 64,9% das mulheres e 63,2% dos homens apresentaram alta EE.

Outra variável observada refere-se ao estado civil que, segundo Mendes (2002),

geralmente atribui-se ao casamento ou ao fato de se ter um companheiro estável, uma

menor propensão ao burnout, ou seja, os maiores valores na síndrome tem sido

identificados nos outros estados civis, aspecto que na nesta pesquisa não se destaca, pois os

casados mostram níveis altos de EE (70,5%).

Quanto à variável carga horária, o que nossa amostra evidencia é que a maior incidência de

EE está com o grupo que trabalha 20 horas semanais, o que nos faz refletir sobre os

mecanismos de enfrentamento em que se apoiam os profissionais. Pode-se auferir também

que estes profissionais de 20 horas exerçam a atividade profissional em outro local,

completando sua jornada de trabalho. Também se pode hipotetizar, de acordo com a

literatura, que aqueles profissionais que conciliam sua jornada com outro trabalho vivem

uma situação de maior esforço e adaptação entre ambientes diferentes, aumentando o

sentimento de sobrecarga laboral (Soratto e Oliver-Heckler, 1999). Gelfrand et al. (2004)

relata não haver diferença significativa na incidência de burnout antes e após redução da

carga horária de trabalho, num trabalho realizado em um Centro Cirúrgico na Universidade

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da Califórnia, em 2004. Há que se ter cautela com a generalização dos resultados obtidos

quanto à jornada de trabalho e carga horária, pois este estudo foi realizado com dentistas, e

a amostra (médicos, enfermeiros, profissionais de UTI e outros) pesquisada por outros

autores não foi a mesma desta pesquisa. Isto pode se traduzir em algumas diferenças em

relação ao tipo de trabalho exercido e em virtude de questões “culturais” que se fazem

presentes no cotidiano da realidade profissional dos dentistas dos Centros de Saúde de

Belo Horizonte, influindo com relevância no significado dos resultados.

Nas tabelas a seguir será apresentada uma análise bivariada dos dados referentes às

variáveis individuais do perfil profissional e os níveis de burnout de acordo com o

inventário MBI, respectivamente: Exaustão emocional (Tabela 3), Despersonalização

(tabela 4) e Realização profissional (tabela 5).

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Tabela 3- Freqüência absoluta e relativa das variáveis individuais dos profissionais de

acordo com o nível Exaustão Emocional do instrumento MBI. Belo Horizonte, 2009.

(n=96)

Variáveis Individuais

Exaustão Emocional Valor p*

Baixo (< 19) n (%)

Médio (19 a 26) n (%)

Alto (> 27) n (%)

Total n (%)

Idade Até 40 anos 41 anos ou +

2 (10,5) 9 (11,7)

5 (26,3) 18 (23,4)

12 (63,2) 50 (64,9)

19 (100) 77 (100) 0,97

Gênero Masculino Feminino

3 (15,8) 8 (10,4)

4 (21,1) 19 (24,7)

12 (63,2) 50 (64,9)

19 (100) 77 (100)

0,68

Estado civil Solteiro Casado Outro

2 (9,5) 8 (13,1) 1 (7,1)

7 (33,3) 10 (16,4) 6 (42,9)

12 (57,1) 43 (70,5) 7 (50,0)

21 (100) 61 (100) 14 (100)

0,94

Horas diárias de trabalho

4 horas 8 horas

12 horas

2 (11,8) 8 (11,1) 1 (14,3)

2 (11,8) 20 (27,8) 1 (14,3)

13 (76,5) 44 (61,1) 5 (71,4)

17 (100) 72 (100) 7 (100)

0,61

Tempo de serviço

Até 10 anos 11 anos ou +

1 (12,5) 10 (11,4)

4 (50,0) 19 (21,6)

3 (37,5) 59 (67,0)

8 (100) 88 (100)

0,23

Tempo das últimas férias

< de 6 meses 6 meses ou +

6 (14,6) 5 (9,1)

13 (31,7) 10 (18,2)

22 (53,7) 40 (72,7)

41 (100) 55 (100) 0,08

Interferência da profissão na vida pessoal

Sim Não

9 (10,2) 2 (25,0)

19 (21,6) 4 (50,0)

60 (68,2) 2 (25,0)

88 (100) 8 (100)

0,02

Pensamento de mudar de profissão

Sim Não

0 (0,0) 11 (14,7)

5 (23,8) 18 (24,0)

16 (76,2) 46 (61,3)

21 (100) 75 (100) 0,06

* Teste X2 (nível de significância de 10%)

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Considerando-se a tabela 3, ao relacionarem-se as variáveis individuais com o nível

exaustão emocional do instrumento MBI, verificou-se uma relação estatisticamente

significativa com as seguintes variáveis: tempo das últimas férias, interferência da

profissão na vida pessoal e pensamento em mudar de profissão. Dentre os profissionais que

relataram férias há menos de 6 meses, 53,7% deles foram classificados como exaustão

emocional alta, enquanto aqueles profissionais que afirmaram ter tirado férias há 6 meses

ou mais, 72,7% deles foram classificados como exaustão emocional alta, sendo esta uma

diferença estatisticamente significativa (p= 0,08). O fato de o profissional ter tirado férias

recentes ou há mais de 6 meses não interferiu positivamente no seu nível de exaustão

emocional. Qualidade de vida, mudança de hábitos, prática de esportes, atividades lúdicas

e de lazer, resignificação dos sentimentos é mais importante que tirar férias.

Ao considerar a interferência da vida profissional na vida pessoal (tabela 3), 68% dos

participantes tiveram exaustão emocional classificada como alta, ao passo que entre

aqueles profissionais que afirmaram que a vida profissional não interfere na vida pessoal,

25% deles forma classificados como exaustão emocional alta, 25% como baixa e 50%

como média, sendo este um resultado estatisticamente significativo (p=0,02). Mesmo com

o relato de que a vida profissional não interfere na vida pessoal a exaustão emocional é alta

em 25%, sugerindo que o desgaste profissional e o estresse laboral não tem relação direta

com a interferência do trabalho na vida particular e talvez, com a forma com que as

pessoas lidam com esta interferência, já que o maior número das pessoas que dizem que a

profissão não interfere na vida pessoal (50%) classificou-se com uma média EE.

Quanto à variável pensamento em mudar de profissão (tabela 3), 76,2% dos participantes

que relataram desejo de mudar de profissão foram classificados como exaustão emocional

alta, enquanto aqueles que afirmaram não querer mudar de profissão: 61,3% foram

classificados como exaustão emocional alta, sendo esta diferença estatisticamente

significativa (p=0,06). Dentre aqueles que não querem mudar de profissão a alta exaustão

emocional pode estar relacionada ao estresse laboral presente e a outros fatores

desencadeantes da síndrome, embora se sintam satisfeitos profissionalmente.

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Tabela 4- Freqüência absoluta e relativa das variáveis individuais dos profissionais de

acordo com o nível Despersonalização do instrumento MBI. Belo Horizonte, 2009. (n=96)

Variáveis Individuais

Despersonalização valor p*

Baixo (< 6) n (%)

Médio (6 a 9) n (%)

Alto (> 10) n (%)

Total n (%)

Idade Até 40 anos 41 anos ou +

11 (57,9) 48 (62,3)

3 (15,8) 14 (18,2)

5 (26,3) 15 (19,5)

19 (100) 77 (100) 0,58

Gênero Masculino Feminino

10 (52,6) 49 (63,6)

2 (10,5) 15 (19,5)

7 (36,8) 13 (16,9)

19 (100) 72 (100)

0,13

Estado civil Solteiro Casado Outro

14 (66,7) 38 (62,3) 7 (50,0)

3 (14,3) 12 (19,7) 2 (14,3)

4 (19,0) 11 (18,0) 5 (35,7)

21 (100) 61 (100) 14 (100)

0,28

Horas diárias de trabalho

4 horas 8 horas 12 horas

9 (52,9) 45 (62,5) 5 (71,4)

4 (23,5) 12 (16,7) 1 (14,3)

4 (23,5) 15 (20,8) 1 (14,3)

17 (100) 72 (100) 7 (100)

0,43

Tempo de serviço Até 10 anos 11 anos ou +

4 (50,0) 55 (62,5)

2 (25,0) 15 (17,0)

2 (25,0) 18 (20,5)

8 (100) 88 (100)

0,57

Tempo das últimas férias

< de 6 meses 6 meses ou +

23 (56,1) 36 (65,5)

8 (19,5) 9 (16,4)

10 (24,4) 10 (18,2)

41 (100) 55 (100) 0,35

Interferência da profissão na vida pessoal

Sim Não

54 (61,4) 5 (62,5)

16 (18,2) 1 (12,5)

18 (20,5) 2 (25,0)

88 (100) 8 (100) 0,91

Pensamento de mudar de profissão

Sim Não

11 (52,4) 48 (64,0)

4 (19,0) 13 (17,3)

6 (28,6) 14 (18,7)

21 (100) 75 (100) 0,28

* Teste X2 (nível de significância de 10%)

Em relação ao nível despersonalização (tabela 4), nenhuma das variáveis individuais

analisadas apresentou relação estatisticamente significativa (p<0,10) com a variável

dependente em questão. A despersonalização é caracterizada pela visão do outro não como

ser humano, e sim como um objeto, passando a trabalhar com frieza, irritabilidade,

insensibilidade, cinismo e atitudes negativas diante das outras pessoas com quem lida.

Existe ainda insatisfação com as atribuições no trabalho, tendendo ao afastamento da

clientela como forma de enfrentamento da situação estressante, o que influencia

negativamente o sentimento de envolvimento com os usuários de seu trabalho. Isto não foi

encontrado dentre os profissionais da PBH.

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33

Tabela 5- Freqüência absoluta e relativa das variáveis individuais dos profissionais de

acordo com o nível Realização Profissional do instrumento MBI. Belo Horizonte, 2009.

(n=96)

Variáveis Individuais

Realização Profissional Valor p*

Baixo (< 33) n (%)

Médio (34 a 39) n (%)

Alto (> 40) n (%)

Total n (%)

Idade Até 40 anos 41 anos ou +

5 (26,3) 19 (24,7)

7 (36,8) 24 (31,2)

7 (36,8) 34 (44,2)

19 (100) 77 (100) 0,66

Gênero Masculino Feminino

7 (36,8) 17 (22,0)

3 (15,8) 28 (36,4)

9 (47,4) 32 (41,6)

19 (100) 77 (100) 0,66

Estado civil Solteiro Casado Outro

4 (19,0) 18 (29,5) 2 (14,2)

6 (28,6) 19 (31,1) 6 (42,9)

11 (52,4) 24 (39,4) 6 (42,9)

21 (100) 61 (100) 14 (100)

0,71

Horas diárias de trabalho

4 horas 8 horas 12 horas

4 (23,5) 19 (26,4) 1 (14,2)

6 (35,3) 22 (30,6) 3 (42,9)

7 (41,2) 31 (43,0) 3 (42,9)

17 (100) 72 (100) 7 (100)

0,84

Tempo de serviço Até 10 anos 11 anos ou +

2 (25,0) 22 (25,0)

2 (25,0) 29 (33,0)

4 (50,0) 37 (42,0)

8 (100) 88 (100) 0,79

Tempo das últimas férias

< de 6 meses 6 meses ou +

8 (19,5) 16 (29,1)

12 (29,3) 19 (34,5)

21 (51,2) 20 (36,4)

41 (100) 55 (100) 0,14

Interferência da profissão na vida pessoal

Sim Não

22 (25,0) 2 (25,0)

31 (35,2) 0 (0)

35 (39,8) 6 (75,0)

88 (100) 8 (100)

0,08

Pensamento de mudar de profissão

Sim Não

8 (38,1) 16 (21,3)

6 (28,6) 25 (33,3)

7 (33,3) 34 (45,4)

21 (100) 75 (100) 0,09

* Teste X2 (nível de significância de 10%)

Ao associar-se a Realização Profissional (RP) (tabela 5) com as variáveis individuais,

encontrou-se uma relação estatisticamente significativa apenas com as variáveis:

interferência da vida profissional na vida pessoal e pensamento em mudar de profissão. Em

relação à interferência da vida profissional na vida pessoal, 39,8% daqueles profissionais

que afirmaram que a profissão interfere na vida pessoal, foram classificados como RP alta,

enquanto que 75 % daqueles que afirmaram que a vida profissional não interfere na vida

pessoal, também apresentaram RP alta, sendo esta diferença estatisticamente significativa.

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34

Pode-se constatar a partir destes resultados que, mesmo aqueles profissionais que relataram

interferência profissional em sua vida pessoal estão realizados profissionalmente, não

sendo que este dado excludente para o nível Realização Profissional. A RP relaciona-se

com a satisfação, com os benefícios e políticas organizacionais, e com o conteúdo do

trabalho. Esse resultado parece sinalizar que o trabalhador está satisfeito com suas

atribuições, com sua chefia e com a política organizacional. Este dado é um elemento

importante como fator de proteção ao burnout. Isto pode se dever ainda a que as

instituições de saúde possuem uma cultura caritativa e assistencial e os profissionais

percebem e seu trabalho como uma “prática de ajuda” que obtem como recompensa a

“experiência de gratificação pessoal”. Esta crença, não raro, impede que o trabalhador

identifique os estressores profissionais que podem causar danos a sua saúde mental (Rosa e

Carlotto, 2005).

Ainda em relação à RP, ao considerar-se a variável pensamento em mudar de profissão,

encontrou-se que daquelas pessoas que pensam em mudar de profissão, 38,1% foram

classificadas como RP baixa, enquanto que 45,4% daqueles profissionais que afirmaram

não querer mudarem de profissão, a RP foi alta, sendo este um resultado estatisticamente

significativo (p=0,09). Estes dados se auto-justificam.

Segundo Gil-Monte (2005), uma pessoa é diagnosticada com a síndrome de burnout se esta

possuir altos escores em exaustão emocional e despersonalização e baixo escore em

realização pessoal. Dentre os profissionais da PBH o resultado de exaustão emocional alta

indica um estágio inicial de instalação da doença.

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6 CONCLUSÃO

Dentre os cirurgiões dentistas dos Centros de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte

encontrou-se:

• um índice de exaustão emocional alto, que indica a Síndrome de Burnout

em fase de instalação;

• a maioria dos profissionais acometidos pela exaustão emocional era do sexo

feminino;

• alta realização profissional presente na maioria;

A partir dos resultados foram planejadas estratégias que poderão contribuir para uma

melhoria na qualidade da atenção aos cirurgiões- dentistas, servidores públicos da PBH.

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7 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Obter o maior rendimento possível sem prejuízos para a saúde. Este é o grande desafio do

homem moderno. Numa época em que a competitividade e a busca por metas - às vezes

irreais - alavancam as engrenagens no âmbito organizacional, é cada vez mais difícil

encontrar equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, produtividade e saúde. E, quando um

desses elementos não está em harmonia, a qualidade de vida fica prejudicada. Sofre a

pessoa. Perde a instituição.

As organizações estão continuamente mudando e assim, também, a Odontologia da PBH.

Os enxugamentos, as fusões, os avanços tecnológicos, a sobrecarga de trabalho colocam os

profissionais freqüentemente na corda bamba. Como preservar a saúde das pessoas e

manter as metas propostas? O relacionamento interpessoal, a forma de lidar com as

pressões diárias, a organização temporal são caminhos para melhorar o desempenho. Saber

impor limites e, principalmente, desfrutar de momentos de ócio e lazer são atitudes que

ajudam profissionais e instituições a alcançar resultados e desenvolver a criatividade e a

intuição para o trabalho. Relaxar é também produzir. Devido às tendências crescentes nos

últimos anos com relação ao capital humano, tornou-se relevante a abordagem sobre a

exaustão emocional (primeira manifestação do burnout) já que o estresse tornou-se uma

fonte de preocupação na sociedade, sendo reconhecido como um dos mais sérios riscos à

saúde do trabalhador. Estamos perante um assunto extremamente sério e relevante

(Amaral, 2007). A saúde é um bem essencial, é o amor pela vida. Entendemos a saúde

como um construto multidimensional composto por uma dimensão externa constituída pelo

ambiente ou contexto onde estamos inseridos e pelo grupo social ao qual pertencemos,

com suas normas, suas crenças sobre o que é normal e patológico, suas formas de ser e se

relacionar. A saúde não se tem, se conquista todos os dias. A síndrome de burnout ainda é

desconhecida por grande parte dos profissionais de saúde. É necessária maior divulgação,

pois, se as pessoas desconhecem as manifestações e causas, não podem buscar formas

efetivas de tratamento, bem como prevenção e intervenção. Assim, é importante que sejam

desenvolvidos conhecimentos acerca de burnout, de modo que maiores informações

possam ser transmitidas aos profissionais, na tentativa de uma melhoria na qualidade de

vida no ambiente de trabalho. Na esfera institucional, os efeitos do burnout se fazem sentir

tanto na diminuição da produção como na qualidade do trabalho executado, no aumento do

absenteísmo, no incremento de acidentes ocupacionais, trazendo inclusive prejuízos

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financeiros. À medida que a sociedade passa a estudar e valorizar a relevância de propiciar

melhores condições laborais, também começam a brotar investigações que passam a

embasar as modificações necessárias para que tais condições se instalem. Os profissionais

tem de fazer com que o mundo do trabalho possa se instituir num espaço de prazer, além

de subsistência de vida e não apenas de sofrimento e perda da saúde, podendo constituir-se,

consequentemente, como parte de uma existência de qualidade.

É importante considerar que a modalidade de trabalho atual na Prefeitura de BH, em grupo

e equipes também tem exigido contatos mais freqüentes e intensos. Percebe-se, pois, hoje

que pela própria natureza e funcionalidade do cargo, que a profissão de saúde, pelo grande

contato interpessoal é de alto risco para a saúde do trabalhador. A saúde coletiva volta-se

cada vez mais para os aspectos psicossociais envolvidos no processo saúde- doença e hoje

é evidente a constatação de que o trabalho, sob determinadas condições, provoca desgaste

e adoecimento (Jacques e Codo, 2002).

As evidências deste estudo revelam a necessidade de um olhar mais cuidadoso sobre o

assunto, conferindo maior importância ao tema, já que se mostrou um campo pouco

conhecido e explorado e, mesmo assim, apresentou-se como de relevância significativa nos

resultados apresentados, embora as dificuldades que emergem do trabalho são

naturalizadas como se fossem parte inerente das atividades de produção.

A apresentação da pesquisa provocou uma surpresa para a grande maioria da amostra, pois

os profissionais não sabiam da existência da síndrome de burnout e do que se “tratava”,

indicando um desconhecimento na classe odontológica, e parece ser mesmo um parco

conhecimento dos profissionais de saúde diretamente envolvidos com a temática. Este fato

dificulta seu diagnóstico, medidas preventivas e possibilidades de intervenção que

poderiam ser adotadas pelos próprios profissionais, assim como pela instituição na qual

prestam serviço.

A informação sobre o assunto é significativa para o entendimento do quanto esse tema é

novo para a classe odontológica, o que leva à reflexão sobre certo descaso com a saúde

mental dessa categoria.

Essa questão necessita atenção especial, para que se possam pensar ações de prevenção e

intervenção em saúde do trabalhador de forma mais ampla. Estudos epidemiológicos

devem estar na pauta das investigações de burnout, pois é de grande importância esse tipo

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de estudo para um mapeamento maior desta síndrome e também para aumentar as

possibilidades de intervenção.

Com o avanço da ciência neste campo da saúde que envolve mais que a manifestação de

uma doença ocupacional (refletindo-se em um contexto mais amplo, de relações de

trabalho, saúde e produção), poderá existir a credibilidade para que se possa, num futuro

próximo, influir sobre as políticas de trabalho no plano estrutural.

Necessário um planejamento estruturado do exercício profissional da odontologia para

eliminar ou minimizar os efeitos do stress e, devido a que os aspectos emocionais e

psicológicos da prática odontológica tem grande significado, são requeridas mais

ferramentas para aprender a manejar a ansiedade e o stress profissional.

Seria recomendado identificar os riscos tanto físicos, biológicos, ambientais como

psicológicos que implicam no exercício da profissão, pois isso ajudaria a minimizar os

efeitos estressantes e “adoecedores”.

A melhoria das condições físicas e ergonômicas dos ambientes e das condições de trabalho

é muito significativa, bem como a interrupção regular das tarefas (pausas) e a revisão da

organização e das relações, visando a redução das pressões e das tensões do trabalho.Estes

são fatores importantes que se agregam à rede de causalidades responsável pela doença

(Poi, 1998).

Uma vez que se trata de doença relacionada no CID- Grupo V da CID-10 (Síndrome do

esgotamento profissional)- Z73. 0, classificada como acidente de trabalho, é preciso criar

programas de prevenção do burnout, para evitar que profissionais que promovem a saúde

adoeçam. É necessário também dar continuidade a esse tipo de pesquisa e desenvolver

modelos mais complexos para o entendimento do burnout neste contexto laboral

específico.

Garantir a saúde dos servidores públicos é fundamental para o governo, para os sistemas de

saúde, para a população em geral e para os próprios servidores e suas famílias. Dessa

máxima, sugere-se aos órgãos governamentais responsáveis pela política de saúde do

servidor público o investimento em ações que promovam a saúde dessa população, bem

como a viabilização de medidas de reabilitação e reintegração ao trabalho, prevenindo

aposentadorias precoces decorrentes de invalidez e possibilitando ao profissional trabalhar

sem necessariamente adoecer. Recomenda-se, ainda, o investimento em pesquisas que

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permitam compreender melhor as relações entre o processo de adoecimento no serviço

público e suas interfaces com o trabalho, com abordagem intersetorial e multidisciplinar e

com a participação do principal sujeito desse processo, o profissional de saúde, neste caso

específico, o cirurgião dentista.

Ressalta-se que, nos quadros de manifestação de burnout, as variáveis relativas à

personalidade tem demonstrado forte interferência no desencadeamento da síndrome.

Segundo Benevides-Pereira, as características pessoais têm o papel de facilitadores ou

inibidores da ação dos agentes estressores. Elas interagem de modo complexo com estes

agentes, inibindo, eliminando ou intensificando o quadro. Pessoas mais competitivas,

esforçadas, impacientes, com excessiva necessidade de controle, dificuldade de tolerar

frustração, baixa auto-estima em geral apresentam maior propensão ao desenvolvimento da

síndrome. Desta forma, pessoas muito envolvidas com seu trabalho e que tem as

características de personalidade citadas acima apresentam risco para desenvolvimento da

síndrome. Segundo alguns autores, somente indivíduos que atribuem grande significado a

seu trabalho são suscetíveis ao burnout, pois estão envolvidos de forma intensa com o que

realizam, podendo sofrer uma ruptura da adaptação no confronto com os estressores. Já os

profissionais com menor grau de envolvimento com suas atividades laborais, sem grandes

expectativas em relação a elas, sofreriam apenas de estresse ocupacional. O estresse é uma

parte natural da vida do profissional, e, em baixos níveis, pode até ser positivo, dando ao

indivíduo energia e estímulo para que ele faça o seu melhor. Para Schaufeli e Buunk, o

estresse ocupacional ocorre quando há um confronto entre as demandas do trabalho e os

recursos adaptativos da pessoa. O termo é genérico e se refere a um processo temporário de

adaptação, acompanhado de sintomas físicos e mentais. A exaustão emocional é a primeira

reação ao estresse gerado pelas exigências do trabalho e é também a característica central

do burnout, a manifestação mais óbvia, sendo a principal queixa dos indivíduos que sofrem

desta síndrome. Exatamente este foi o resultado apresentado na amostra de dentistas dos

Centros de Saúde da PBH: um alto nível de EE.

Instrumentos jurídicos disponíveis

Diferentemente de outros países onde prosperam muitas pesquisas e estudos sobre o

burnout, mas que até o momento não possuem uma lei que contemple esta síndrome como

uma doença laboral, no Brasil o Decreto 3048/99, que regulamenta a Previdência Social,

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ao tratar em seu Artigo II dos Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais ou

do Trabalho, aponta a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional

como um agente etiológico ou como um dos fatores de risco de natureza ocupacional,

tendo como causa o ritmo de trabalho penoso (Z56.3 ). O profissional tem direito a afastar-

se uma vez que tenha sido diagnosticada a Síndrome. “É preciso que as empresas se

conscientizem da urgência de reavaliar a cultura de exigir dos funcionários metas, às vezes,

impossíveis para um ser humano”.

O diagnóstico de um caso de síndrome de esgotamento profissional deve ser abordado

como evento sentinela e indicar investigação da situação de trabalho, visando avaliar o

papel da organização do trabalho na determinação do quadro sintomatológico. Podem estar

indicadas intervenções na organização do trabalho, assim como medidas de suporte ao

grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio. (Brasil Ministério da Saúde, 2001,

p.194).

Entretanto, apesar de possuirmos legislação que garanta o direito à assistência ao

empregado, a mesma não é utilizada. Entre nós, comumente justifica-se o não enquadre

dos transtornos apresentados como relativos à síndrome de burnout devido à dificuldade

em estabelecer o nexo causal e, desta forma o trabalhador deixa de se beneficiar dos

direitos mencionados. Cabe a todos os profissionais comprometidos com a saúde do

trabalhador, difundir a alertar os colegas sobre as causas e sintomas presentes nesta

síndrome, a fim de que a lei possa ser utilizada com critério, e, desta forma, permitir o

resgate dos direitos do trabalhador, bem como sua dignidade (Benevides, 2004).

É importante ressaltar que a síndrome não traz conseqüências negativas apenas para o

indivíduo, pois com a perda na qualidade do trabalho executado, constantes faltas, atitudes

negativas para com os que o cercam, estas acabam por atingir também os que dependem do

serviço deste profissional, os colegas de trabalho e a instituição.

Sintomas e fatores desencadeantes

Há que se considerar que as causas e sintomas não são universais. Dependendo das

características da pessoa e das circunstâncias em que se encontre, o grau e as

manifestações são diferentes (Benevides-Pereira, 2001). No material educativo sugerido

aos dentistas da PBH como parte desta proposta de intervenção estão apresentados,

didaticamente, num quadro explicativo, os sintomas mais comuns presentes no burnout.

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Em um levantamento bibliográfico, realizado por Tamayo e Tróccoli (2000) constataram-

se as possíveis manifestações do burnout, considerando que podem ser de ordem afetiva,

cognitiva, física, comportamental, social, atitudinal e organizacional. Alguns fatores

levantados por outros autores que influenciam fortemente a noção de suporte

organizacional são: sinceridade e intensidade de como os elogios e as aprovações são

expressos, além de aspectos relacionados ao salário e às políticas de organização. A

evolução ou não do estresse vai depender do apoio social, do grau de interação social,

emocional e de confiança existente entre os colegas de trabalho, supervisores e

chefes/gerentes. Dentre os fatores mais agudos para o desenvolvimento de burnout

destacam-se os que estão ligados à postura da chefia, de como ela media e soluciona os

problemas no ambiente, tanto relativo ao serviço laboral, quanto às relações interpessoais

de sua equipe. Desta maneira pode-se concluir-se, que uma boa postura da chefia, permite

à equipe uma melhor convivência e maior segurança no desempenho dos seus devidos

papéis. As maiores dificuldades são as de que nem sempre a chefia consegue mediar

possíveis conflitos dentro da equipe, necessitando desta maneira medidas mais drásticas

por parte da administração, como transferências, ou afastamentos destes profissionais, que

se encontram sobre freqüente pressão. Na tentativa de lidar com este estresse, podem surgir

dificuldades no relacionamento com a família e com os amigos, e o consumo de álcool e o

uso de drogas, bem como sintomas depressivos podem se tornar freqüentes.

O médico sueco Lennart Levi, presidente da International Stress Management Association

(ISMA) e consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS), indicou, em 2003, o alto

esforço e a baixa remuneração como algumas das causas do burnout. Afirmou que a

solução para enfrentar esta situação estaria em ações integradas, que vão do

comprometimento de cada um ao envolvimento da política de saúde, devendo ser traçadas

políticas de prevenção para os altos níveis de estresse.

Na administração pública, a preocupação com os custos gerados pelo absenteísmo-doença,

por vezes, supera a significação do processo adoecimento-afastamento do trabalho, dando

ênfase às políticas de controle de benefícios. Emerge a necessidade de visualizar as cifras

do absenteísmo, na sua representatividade maior, de pessoas que estão adoecendo de forma

crescente e alarmante, desprovidas de políticas de saúde.

Estratégias de enfrentamento e regulação dos problemas

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Com o intuito de contribuir para a divulgação do conhecimento e criação de estratégias de

enfrentamento e regulação dos problemas, privilegiando a saúde e qualidade de vida no

contexto laboral sugere-se:

- a sensibilização da organização (PBH) em relação à necessidade de medidas preventivas

e terapêuticas para a síndrome de burnout. Segundo Dejours (1992), “o alívio da carga de

trabalho permite a intensificação da produtividade”. Na vivência dos trabalhadores, a

inadaptação entre as necessidades provenientes da estrutura mental e o conteúdo laboral

traduz-se por uma insatisfação ou por um sofrimento, ocasionando desordens no corpo. O

estresse físico ou externo é mais fácil de ser identificado, já o estresse emocional ou

psicológico pode parecer menos concreto, mas relevante para a saúde e o bem-estar das

pessoas.

O poder de ação de que a administração dispõe sobre o destino do sofrimento a investe ao

mesmo tempo de uma responsabilidade cívica. Hoje conferimos à empresa, cada vez mais,

novas responsabilidades em relação aos riscos que ela apresenta para o ambiente (reinos

mineral, vegetal e animal). Não é impossível a emergência, um dia, da noção de

responsabilidade empresarial em relação à saúde mental das populações que dependem

afetivamente e socialmente dos trabalhadores que ela emprega (Dejours, 1992).

O imprescindível é que o trabalho tenha significado e sentido para quem o desenvolve, e

que principalmente saiba aonde ele o conduzirá, sendo claros os objetivos; desta maneira

os resultados terão um valor maior para quem o realiza. Recursos como presença de

desafios, autonomia e mecanismos de feedback ajudam no desempenho para o

desenvolvimento das tarefas. A organização do trabalho deve oferecer a possibilidade de

realizar algo que tenha sentido e que os trabalhadores possam se desenvolver e exercerem

livre arbítrio de conhecimento e evolução de desempenhos.

-transformar o Centro de Saúde em um contexto saudável não só para o usuário, mas

também para o trabalhador, desenvolvendo as modificações necessárias no âmbito das

relações, das condições laborais e da organização do trabalho;

-propiciar o fortalecimento (empowerment) pessoal e coletivo, desenvolvendo capacidades

de lidar com o estresse, valorização pessoal e grupal, controle das situações de conflito,

modificando o contexto e canalizando necessidades e aspirações (Montero, 2003).

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-desenvolver redes de apoio, formando grupos de discussão entre os profissionais,

oportunizando reflexões entre os líderes institucionais (gerentes, referências técnicas e

coordenação de saúde bucal), para apresentação das dificuldades, troca de experiências e

propostas de modelos relacionais, e criar novas formas de lidar com os problemas,

chamando os dentistas para participar mais ativamente da organização, tendo-os como

aliados, criando fóruns permanentes de diálogo e co-responsabilidade preventiva em

relação à sua saúde.

- Quanto às relações de trabalho, o clima da administração participativo e democrático,

longe de representar um perigo institucional, gera bem-estar, saúde, compromisso, sentido de

pertencimento, identidade com os objetivos da Instituição. A relação do trabalho são todos os

laços humanos criados pela organização do trabalho: relações com a hierarquia, chefias,

supervisão, com os outros trabalhadores e que são às vezes desagradáveis, até insuportáveis.

Os problemas de desempenho organizacional dependem da organização do trabalho e, na

realidade, do grau de correspondência entre as características das pessoas e as propriedades das

atividades desempenhadas. O princípio-guia da organização do trabalho é modificar

comportamentos, fazendo com que os trabalhadores sejam conduzidos a desenvolver atitudes

positivas com relação às funções executadas. É de extrema importância que a organização das

tarefas e atividades seja favorável e eficiente em relação aos objetivos e resultados esperados,

de forma clara e significativa para as pessoas que as realizam, de modo a neutralizar, reduzir

ou minimizar a discrepância entre as exigências impostas pelo trabalho e a capacidade de

resposta do indivíduo. Um trabalho torna-se obsoleto quando não desperta nenhum interesse

humano, num ambiente de relações superficiais.

-Implementar recursos, pessoais e ambientais, que propiciem melhoria na qualidade de vida

dos dentistas.

-E, para concluir, com Maslach e Leitter (1997/1999), uma das principais estratégias para

prevenir a síndrome, é a de enfatizar a promoção dos valores humanos no ambiente de

trabalho. Se quisermos não somente ‘sobreviver’ no trabalho e sim fazer do trabalho uma

fonte de saúde e realização cabe a cada um de nós, mais do que chorar e lamentar, iniciar um

processo de mudança pessoal e institucional, com propostas construtivas e participativas, ou,

se os nossos ambientes são mais fechados e resistentes, administrar a própria saúde e buscar

aliados para iniciar um movimento que leve à construção de espaços mais saudáveis no

contexto de trabalho.

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Tratamento

O mais importante é ter autoconhecimento, saber qual a sua capacidade e seu nível de

tolerância às situações. É essencial saber a frequência cardíaca, pressão arterial e como é

sua respiração, que é a medida mais importante em termos fisiológicos e emocionais.

Na maioria dos casos, o tratamento é essencialmente psicoterápico (terapia cognitiva

comportamental para mudar ações e comportamentos pode ajudar, segundo informação da

ISMA). Medicamentos, para atenuar crises de ansiedade e depressão, sendo sempre

necessária a avaliação e, no caso medicamentoso, a prescrição feita por um médico

especialista, pois a síndrome não acontece subitamente e as pessoas precisam estar atentas

para evitar que o pior aconteça. No processo psicoterapêutico, além do enfoque individual

para o alívio das dificuldades sentidas, é necessário a reflexão e um redimensionamento

das atitudes relativas à atividade profissional, objetivos de vida e cuidados com a auto-

estima e com sentimentos mais profundos de aceitação. "Os pensamentos geram os

comportamentos. É preciso começar a se enxergar de outro jeito, resignificando os

pensamentos para mudar a qualidade de vida. O psiquiatra Paulo Pavão (Hospital

Universitário Pedro Ernesto-RJ) salienta que a primeira medida a ser tomada é afastar o

profissional de seu ambiente de trabalho. A legislação permite que portadores de burnout

tenham direito a licença médica e, em casos mais graves, até aposentadoria por invalidez.

A melhora do paciente está condicionada à mudança de seu estilo de vida.

Outras terapias indicadas incluem sessões de relaxamento, respiração, atividade física,

reeducação alimentar e, principalmente, estratégias emocionais para trabalhar a auto-

estima da pessoa. "Em casos iniciais é possível combater a síndrome com uma ou duas

palestras, que permitem ao trabalhador perceber o que lhe está acontecendo"

(Ribeiro, 2008) .

Saúde do trabalhador

A saúde do trabalhador surge como grande possibilidade de discutir todas essas questões

relativas ao processo de trabalho. É necessário, portanto, fazer uma ponte entre os órgãos

gestores de prestação de serviços à comunidade e a vigilância de saúde do trabalhador do

serviço público, pesquisando mais profundamente a realidade dos servidores e implantando

programas de promoção de saúde no ambiente de trabalho.

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Os serviços de saúde do trabalhador devem:

� desempenhar uma função de iniciação ou de apoio na organização de ações de prevenção

e de reintegração no local de trabalho,

� apoiar a direção/gerência na integração das ações de promoção da saúde, na política e na

prática da organização,

� aumentar a cooperação com os médicos de clínica geral e com outros especialistas

pertinentes na área da saúde para apoiar a reabilitação das pessoas após períodos de licença

de longa duração.

� reforçar a capacidade de trabalho através de medidas preventivas de valorização da

saúde, como por ex., exames médicos periódicos, vacinação, formação, educação para a

saúde, política de incentivos.

A qualidade de vida significa muito mais do que apenas viver. Entendemos que viver é

bom e compensador em pelo menos quatro áreas: social, afetiva, profissional e a que se

refere à saúde; sendo que o viver bem se refere a estar equilibrado em todas as áreas (LIPP,

1994). É primordial que as instituições tenham consciência das perdas significantes que

sofrem por causa do estresse laboral excessivo (incluindo aqui o burnout), resultando no

absenteísmo, uso de drogas, doenças constantes, e até mortalidade prematura.

Reconhecer a situação que o trabalhador vive no seu cotidiano torna possível pensar

enfoques que privilegiam a promoção da saúde. Deve-se pensar sempre em gerar

condições de vida e trabalho seguras, estimulantes, satisfatórias e agradáveis. Pensar na

saúde do trabalhador nos remete à Carta de Ottawa, quando diz que a "saúde é construída e

vivida pelas pessoas dentro daquilo que fazem no seu dia-a-dia: onde elas aprendem,

trabalham, divertem-se e amam".

Isto posto, com esta proposta de intervenção, supõe-se agregar novos conceitos e valores a

respeito do cuidado com a saúde dos profissionais dentistas da PBH, e, em continuidade, é

feita uma sugestão de cartilha educativa a ser distribuída a estes profissionais, que podem

já estar acometidos, ou potencialmente em risco de desenvolver a síndrome de burnout.

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O sonho de voltar a cantar no trabalho vale a pena ser sonhado. Talvez não mais através do ‘socialismo utópico’ de 100 anos atrás ou de outras‘utopias’. Mas o sonho antecede a realidade, e esta somente pode ser transformada se houver o sonho. E a ação. Aqui o sonho é trabalhar sem necessariamente adoecer ou morrer em decorrência do trabalho. Isto é mais que uma crença, um sonho. É uma possibilidade concreta, num mundo em rápida transformação.

René Mendes

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DENTISTA! VOCÊ SABE O QUE É SINDROME DE BURNOUT???

Burn + Out (“queimar para fora”, desgastar-se até a exaustão).

Esta é uma síndrome relacionada à cronificação de estresse ocupacional, e que se constitui

por 3 níveis: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho

e que pode acometer profissionais de “alto contato”, que lidam com pessoas.

Com este material educativo pretendemos trazer até você a informação, visando torná-lo

consciente dos sintomas presentes na síndrome, e assim ajudá-lo no desenvolvimento de

estratégias, para melhor lidar com este problema.

(Fonte: Benevides-Pereira, 2002)

É importante identificar os elementos que provocam o estresse e quais as estratégias de

enfrentamento estão sendo adotadas. Algumas recomendações são relevantes para a

prevenção da síndrome de burnout:

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�Adotar hábitos saudáveis de vida- Cuidar para que a alimentação seja balanceada e em

horários regulares, não “pulando” refeições. Manter um mínimo de 6 horas de sono, ou

mais. Praticar um programa de exercícios regulares (caminhada, natação...)

�Utilizar o tempo livre- para atividades de lazer, prazerosas, agradáveis e não preenchê-las

com mais trabalho.

�Desenvolver talentos pessoais- Dedicar um tempo para habilidades que sempre quis

aprender ou desenvolver, como pintura, artesanato, música, dança de salão ou outra que

traga satisfação pessoal.

�Aprender a dizer NÃO! - Não fazer mais que suas possibilidades reais. É de fundamental

importância saber distinguir e respeitar os próprios limites.

�Administração do tempo- Distribuir as atividades diárias de forma compatível com a

realidade, levando em consideração não só as relativas ao trabalho, mas também as

dedicadas às questões e cuidados pessoais e de lazer.

�Planejamento ambiental- Organizar o ambiente de maneira que transmita sensação de

conforto e bem estar, com todos os elementos que necessite para o desenvolvimento de

suas atividades dispostos de forma prática, sem deixar de lado os componentes estéticos,

que proporcionam prazer aos sentidos.

�Comunicação- Procurar relacionar-se com colegas de trabalho, usuários do serviço,

familiares e amigos, informando-os do que lhes é pertinente de forma clara, precisa,

utilizando-se de termos que lhes permitam inteirar-se adequadamente do que necessitam

saber. Nem sempre o que deve ser comunicado é agradável, no entanto, distorcer

informações, omitir ou simplesmente deixar de fornecê-las em nada irá minimizar as

dificuldades. Sempre há uma forma apropriada para isto, convém buscá-la.

� Neutralização dos agentes estressores- Uma vez identificadas as situações que provocam

o estresse, verificar e avaliar as estratégias que estão sendo utilizadas no sentido de

eliminá-las ou minimizá-las. Buscar outros recursos de enfrentamento no caso da

percepção da ineficácia das táticas empregadas. No caso de impossibilidade de manejo da

situação, procurar distanciar-se ou evitar os contextos estressores.

� Apoio social- Cultivar o relacionamento interpessoal. Dispor de uma rede de amigos é

um dos mais saudáveis e relevantes dispositivos de enfrentamento nos momentos de

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dificuldade; verbalizar suas emoções, e cultivar uma crença religiosa para ter um suporte

espiritual. Poder partilhar as inquietações, conflitos, obstáculos, dúvidas, possibilita

ampliar a percepção da situação permitindo uma visão mais abrangente, aumentando as

chances de resolução, ou, ao menos, a perspectiva de alívio e consolo.

� Relaxamento- Aprender e utilizar técnicas de relaxamento (ioga, reiki, meditação,

massagens e outras) ajuda no controle psicofisiológico dos agentes estressores, permitindo

um distanciamento necessário para recobrar as forças, uma trégua para que se possa

recobrar as energias. Por outro lado, pode fornecer o distanciamento necessário para uma

percepção e análise mais adequada da situação.

�Psicoterapia pessoal- Um profissional habilitado é a pessoa mais indicada na ajuda

necessária para o enfrentamento dos casos de estresse e burnout. Para os casos de burnout,

seria conveniente que o mesmo possuísse conhecimento profundo sobre a síndrome assim

como as possíveis técnicas para seu controle. Em casos específicos, medicamentos para

ansiedade e depressão deverão ser usados por indicação de um psiquiatra.

.No plano institucional- um profissional capacitado em desenvolver ações em saúde

ocupacional é a pessoa mais indicada. Este terá condições de efetuar uma avaliação dos

aspectos saudáveis e/ou prejudiciais da organização, assim como propor medidas no

sentido de potencializar as variáveis positivas, bem como eliminar ou minimizar as

negativas implicadas. Para tanto, deverá contar com o apoio genuíno dos gerentes e

responsáveis pela instituição, bem como da disponibilização dos recursos necessários para

sua consecução.

Cabe a todos os profissionais comprometidos com a saúde do trabalhador, difundir e

alertar os colegas sobre as causas e sintomas presentes nesta síndrome (CID10-Z73. 0), a

fim de que a lei possa ser utilizada com critério e, desta forma, permitir o resgate dos

direitos do trabalhador, bem como de sua dignidade.

Este material foi elaborado por:

Rosane Gontijo de Souza - cirurgiã dentista do Centro de Saúde Nossa Senhora de Fátima

Regional Centro-Sul- Belo Horizonte, 2009.

Referência:

Benevides-Pereira, 2004

http://www.prt18.mpt.gov.br/eventos/2004/saude_mental/anais/artigos/2.pdf.

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QUESTIONÁRIO MASLACH BURNOUT INVENTORY (MBI – HSS, 1986) Por favor, leia atentamente cada um dos itens a seguir e responda se já experimentou o que é relatado, em relação a seu trabalho. Caso nunca tenha tido tal sentimento, responda “0” (zero) na coluna ao lado. Em caso afirmativo, indique a freqüência (de 1 a 6) que descreveria melhor seus sentimentos, conforme a descrição abaixo 0. Nunca 4. Uma vez por semana 1. Uma vez ao ano ou menos 5. Algumas vezes por semana 2. Uma vez ao mês ou menos 6.Todos os dias 3. Algumas vezes ao mês 1. Sinto-me esgotado/a ao final de um dia de trabalho.

2. Sinto-me como se estivesse no meu limite. 3. Meu trabalho deixa-me exausto/a emocionalmente. 4. Sinto-me frustrado/a com meu trabalho. 5. Sinto-me esgotado com meu trabalho. 6. Sinto que estou trabalhando demais neste emprego. 7. Trabalhar diretamente com pessoas me deixa muito estressado/a. 8. Trabalhar com pessoas o dia todo me exige um grande esforço. 9. Sinto-me cansado/a quando me levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho. 10. Sinto-me cheio de energia. 11. Sinto-me estimulado/a depois de trabalhar em contato com os pacientes. 12. Sinto que posso criar um ambiente tranquilo para os pacientes. 13. Sinto que influencio positivamente a vida dos outros através do meu trabalho. 14. Lido de forma adequada com os problemas dos pacientes. 15. Posso entender com facilidade o que sentem os pacientes. 16. Sinto que sei tratar de forma tranquila os problemas emocionais no meu trabalho. 17. Tenho conseguido muitas realizações em minha profissão. 18. Sinto que os pacientes culpam-me por alguns de seus problemas. 19. Sinto que trato alguns pacientes como se fossem objetos. 20. Tenho me tornado mais insensível com as pessoas desde que exerço este trabalho. 21. Não me preocupo realmente com o que ocorre com alguns de meus pacientes. 22. Preocupa-me o fato de que este trabalho esteja me endurecendo emocionalmente.

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PERFIL DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE ODONTOLOGIA Este instrumento tem a finalidade de analisar o perfil dos profissionais da Odontologia. É um instrumento que não possui qualquer tipo de identificação pessoal e tem caráter confidencial. São questões referentes a dados sócio-demográficos, profissionais e ocupacionais. DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS 1. Sexo: a ( ) M b ( ) F 2. Faixa etária: a ( ) até 30 anos b ( ) de 31 a 40 anos c ( ) de 41 a 50 anos d ( ) mais de 50 anos 3. Estado civil: a ( ) solteiro b ( ) casado c( ) outros DADOS OCUPACIONAIS E PROFISSIONAIS 1. Turnos de trabalho: a ( ) manhã b ( ) tarde c ( ) noite 2. Tempo de serviço: a ( ) menos de 2 anos b ( ) de 2 a 5 anos c ( ) de 6 a 10 anos d ( ) de 11 a 15 anos e ( ) mais de 15 anos 3. Há quanto tempo tirou suas últimas férias? a ( ) menos de 6 meses b ( ) de seis meses a um ano c ( ) mais de um ano 4. Acredita que sua atividade profissional interfere em sua vida pessoal? a ( ) sim b ( ) não 5. Tem pensado em mudar de profissão? a ( ) sim b ( ) não

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Termo de Esclarecimento Você compõe o quadro de cirurgiões dentistas, servidores da Prefeitura de Belo Horizonte e está sendo convidado a participar do estudo “A Síndrome de Burnout em cirurgiões dentistas da Prefeitura de Belo Horizonte”. Os avanços na área da saúde ocorrem através de estudos como este, por isso a sua participação é importante. Este estudo tem o objetivo de quantificar os níveis da Síndrome de Burnout, avaliando seus impactos sobre a saúde do profissional em questão , com a finalidade de ampliar a visão sobre as questões de saúde ocupacional e o stress profissional. Caso você queira participar, será necessário responder ao questionário em anexo. Você tem direito a receber todas as informações que desejar, poderá recusar-se a participar da pesquisa ou retirar seu consentimento a qualquer momento. Seu nome não aparecerá em qualquer momento do estudo, pois sua identificação será feita apenas através de um número. Termo de Consentimento Eu, ______________________________________________________, li o termo de esclarecimento acima e concordo em participar do estudo sabendo que sou livre para interromper minha participação a qualquer momento, sem justificar minha decisão. Sei que meu nome não será divulgado, que não terei despesas e que não receberei dinheiro por participar do estudo. Belo Horizonte, de de 2009. ___________________________________ _______________________________ Assinatura do voluntário Assinatura do pesquisador Pesquisador responsável e contato: ROSANE GONTIJO DE SOUZA Centro de Saúde Nossa Senhora de Fátima Regional Centro Sul - PBH Fone: 9991-7221 Email: [email protected]