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( http://www.assine.abril.com.br/portal/assinar/revista- exame?origem=sr_ex_selo_novo&campanha=DTQ5&utm_source=editoriais& utm_medium=sites_editoriais&utm_campaign=sr_ex_selo_novo ) São Paulo - Dois anos atrás, a Maplink, empresa brasileira especializada em digitalização de mapas, colocou em xeque a credibilidade dos anúncios da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da cidade de São Paulo. A MapLink começou a calcular o volume de trânsito na capital paulista, tarefa então exclusiva da estatal. Nas primeiras horas de um feriadão, ao mesmo tempo que a CET divulgava os 200 quilômetros habituais de ruas congestionadas, as rádios que usavam o serviço da MapLink informavam 420 quilômetros. Alguém estava errando a conta, e não foi difícil descobrir quem era. Enquanto a CET utiliza câmeras espalhadas pelas principais vias da cidade e o “olhômetro” de seus fiscais de trânsito para calcular o índice de congestionamento nos horários de pico, o software da MapLink, usado por empresas ( http://exame.abril.com.br/topicos/empresas )de rastreamento por satélite, cruza, em tempo real, as informações enviadas por cerca de 400 000 veículos espalhados pela cidade. Se eles estão parados, há congestionamento. Andando em velocidade baixa, trânsito. Se a velocidade for plena, a pista está livre. A precisão é tanta que hoje, além dos mapas, a Map-Link vende informações sobre o trânsito para companhias de logística decidirem os melhores horários e rotas para suas entregas. Esse é um dos muitos exemplos de uso do que se convencionou chamar de big data, ou “grandes informações”, numa tradução livre. Nos últimos anos, os especialistas em TI viram a emergência de dois novos fenômenos. A produção de informações continuou aumentando a uma velocidade espantosa — taxa de 50% de crescimento ao ano —, mas, ao contrário do que acontecia no passado, não se tratava de mais do mesmo. Os dados mudaram. Não são somente textos e números dos 640 milhões de sites. Passaram a ser informações vindas dos sensores de localização em veículos (como os usados pela MapLink), dos GPSs e das antenas dos 6 bilhões de celulares em uso no mundo e dos 2,7 bilhões de comentários feitos no Facebook diariamente. Essa mudança veio acompanhada de outra igualmente importante. Os computadores, graças a novas tecnologias, como a inteligência artificial, aumentaram a capacidade de entender as informações — e é essa nova conjunção de fatores que está transformando companhias de setores totalmente distintos, do varejo ao de petróleo e gás. Revista Exame 06/10/2012 08:00 Um fenômeno chamado big data | EXAME.com http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1025/noticias/para-na... 1 de 5 7/5/2015 12:57

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  • (http://www.assine.abril.com.br/portal/assinar/revista-exame?origem=sr_ex_selo_novo&campanha=DTQ5&utm_source=editoriais&utm_medium=sites_editoriais&utm_campaign=sr_ex_selo_novo) So Paulo

    - Dois anos atrs, a Maplink, empresa brasileira especializada em digitalizao de mapas,colocou em xeque a credibilidade dos anncios da Companhia de Engenharia de Trfego(CET) da cidade de So Paulo. A MapLink comeou a calcular o volume de trnsito na capitalpaulista, tarefa ento exclusiva da estatal.

    Nas primeiras horas de um feriado, ao mesmo tempo que a CET divulgava os 200 quilmetroshabituais de ruas congestionadas, as rdios que usavam o servio da MapLink informavam 420quilmetros. Algum estava errando a conta, e no foi difcil descobrir quem era.

    Enquanto a CET utiliza cmeras espalhadas pelas principais vias da cidade e o olhmetro deseus fiscais de trnsito para calcular o ndice de congestionamento nos horrios de pico, osoftware da MapLink, usado por empresas (http://exame.abril.com.br/topicos/empresas)derastreamento por satlite, cruza, em tempo real, as informaes enviadas por cerca de 400 000veculos espalhados pela cidade.

    Se eles esto parados, h congestionamento. Andando em velocidade baixa, trnsito. Se avelocidade for plena, a pista est livre. A preciso tanta que hoje, alm dos mapas, aMap-Link vende informaes sobre o trnsito para companhias de logstica decidirem osmelhores horrios e rotas para suas entregas.

    Esse um dos muitos exemplos de uso do que se convencionou chamar de big data, ougrandes informaes, numa traduo livre. Nos ltimos anos, os especialistas em TI viram aemergncia de dois novos fenmenos. A produo de informaes continuou aumentando auma velocidade espantosa taxa de 50% de crescimento ao ano , mas, ao contrrio do queacontecia no passado, no se tratava de mais do mesmo.

    Os dados mudaram. No so somente textos e nmeros dos 640 milhes de sites. Passaram aser informaes vindas dos sensores de localizao em veculos (como os usados pelaMapLink), dos GPSs e das antenas dos 6 bilhes de celulares em uso no mundo e dos 2,7bilhes de comentrios feitos no Facebook diariamente.

    Essa mudana veio acompanhada de outra igualmente importante. Os computadores, graasa novas tecnologias, como a inteligncia artificial, aumentaram a capacidade de entender asinformaes e essa nova conjuno de fatores que est transformando companhias desetores totalmente distintos, do varejo ao de petrleo e gs.

    Revista Exame 06/10/2012 08:00

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  • Para as empresas, o surgimento do big data uma revoluo comparvel massificao daweb registrada no comeo da dcada de 90, diz Adam Daum, analista-chefe da CanalysResearch, empresa inglesa de pesquisas em tecnologia.

    Hoje, 90% do volume de dados digitais produzidos globalmente ainda no so digeridos, masessa uma situao que comea a mudar. A americana Walmart, a maior varejista do mundo, considerada uma referncia por conseguir colher dados online para impulsionar as vendasde suas lojas fsicas.

    Os softwares desenvolvidos pela empresa conseguem, por exemplo, monitorar quando adiscusso sobre o campeonato de futebol americano se intensifica na internet em diferentescidades dos Estados Unidos. Sabendo disso, em questo de horas os gerentes de lojasdessas regies passam a expor nas vitrines produtos de determinados times.

    Hoje, o Walmart tem mais de 12 sistemas diferentes que processam, diariamente, cerca de 300milhes de atualizaes de internautas em redes sociais, como o Facebook e o Twitter. Ademanda interna por solues de big data levou a varejista a criar em 2011 a WalmartLabs,uma subsidiria de tecnologia que nasceu da compra da Kosmix, uma startup americana.

    A Kosmix ganhou fama em 2010 ao desenvolver um sistema que ajuda no gerenciamento deestoques das varejistas durante a black friday (sexta-feira negra), em novembro, principal diade queima de estoques do varejo nos Estados Unidos. O software da Kosmix detecta, pelalocalizao dos celulares dos clientes, o nmero de pessoas em cada loja. Com essainformao, os estoques de unidades que esto com vendas em baixa so enviados para asque esto vendendo mais.

    Big demand

    Casos como o do Walmart inspiraram varejistas no Brasil. A Lojas Renner, uma das maioresredes de vesturio do pas, investiu em 2010 em um sistema que comparava, em tempo real,as vendas de suas mais de 150 lojas. Com isso, foi possvel identificar nmeros fora dopadro.

    Nos dias em que as unidades localizadas em lugares frios vendiam muitos casacos, osgerentes das lojas com desempenho abaixo da mdia recebiam um aviso do sistema paramudar a posio do produto na vitrine. Em uma fase mais recente, o projeto ficou maissofisticado.

    Ao lanar uma coleo, a Renner posta fotos de algumas peas no Facebook e verifica aaceitao do pblico. Isso ajuda na hora de prever o estoque necessrio de cada produto.Diariamente, os gerentes das lojas recebem relatrios que consolidam dados como a previsodo tempo e comentrios em redes sociais. O software no ajuda s a reunir as informaes.Tambm seleciona o que confivel, afirma Leandro Balbinot, diretor de TI da Renner.

    O mercado de big data j movimenta 26 bilhes de dlares em todo o mundo. Das 500 maiorescompanhias globais, 450 tm projetos nessa rea. Como a partir de agora empresas de menorporte devem passar a usar essa ferramenta, estima-se que o mercado de big data chegue a 38bilhes de dlares em 2015.

    uma realidade que deve perdurar pelos prximos anos. A necessidade no foi inventadapelas fornecedoras de TI, que querem vender seu peixe, afirma Anderson Figueiredo, analista

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  • da consultoria americana de tecnologia IDC. Empresas de diferentes setores querem usarmelhor os dados disponveis.

    Confiantes nesse cenrio, as grandes da rea de tecnologia esto investindo para atender demanda. S a IBM aplicou 14 bilhes de dlares nos ltimos cinco anos para comprar 24empresas de anlise de dados. A americana EMC, especializada em tecnologia dearmazenamento, investiu recentemente 100 milhes de dlares em um centro de pesquisas noRio de Janeiro.

    O objetivo dar apoio a empresas do setor de petrleo e gs, como a Petrobras. A estatalbrasileira usa softwares de big data que analisam milhares de dados sobre o desempenho desuas mquinas e as condies dos poos. Em junho, a Petrobras anunciou investimento de 15milhes de reais em um supercomputador para processar as informaes colhidas na camadado pr-sal.

    O Grifo04, o nmero 68 da lista dos 500 computadores mais poderosos do mundo e o primeiroda Amrica Latina, foi desenvolvido pela Itautec para ter capacidade de fazer 1 quatrilho deoperaes matemticas por segundo.

    Sem o big data seria impossvel planejar a explorao do pr-sal, com os seus milhares devariveis relacionadas a reas como segurana e resistncia dos equipamentos, afirma KarinBreitman, diretora do centro de pesquisa da EMC.

    Um estudo recente da consultoria McKinsey sobre o setor mostra que, com a implantao detecnologias de big data, possvel diminuir o nmero de funcionrios dedicados a anlise dedados em 15% e aumentar a produtividade 5%.

    At mesmo o setor financeiro, j altamente informatizado, est interessado na novidade. Deacordo com a empresa irlandesa Experian, especializada em servios de anlise de crdito emarketing, o interesse dos bancos crescente. H dois anos, a unidade brasileira do grupo, aSerasa Experian, aplicou 7 milhes de dlares em computadores que conseguiram acelerar 30vezes a velocidade de processamento de dados.

    So essas mquinas que tm permitido empresa prestar novos servios de administrao decarteiras de crdito principalmente para bancos mdios. Agora a Serasa Experian conseguefazer o monitoramento dirio do perfil de correntistas, varrendo 150 milhes de variveis, entrenotcias de sites, dados de cartrios e de eventuais compras no varejo.

    Segundo a empresa, isso permite captar com mais preciso os nomes de maus e bonspagadores e ajudar os bancos a reduzir a inadimplncia. Com o acesso a informaespblicas, conseguimos comparar e avaliar mais de 100 fontes, diz Lisias Lauretti, diretor de TIda Serasa.

    Apesar de todo o entusiasmo gerado pelo big data, h quem diga que as previses estomuito otimistas. Na opinio do americano Peter Fader, professor de marketing da escola deadministrao Wharton, da Universidade da Pensilvnia, as companhias precisam tomarcuidado para no superestimar a tecnologia.

    Segundo ele, as empresas esto criando uma falsa iluso de que basta apertar um boto eesperar que as mquinas digam o que tem de ser feito. A anlise sempre vai depender detrabalho e raciocnio humanos, diz. Pelas estimativas da consultoria McKinsey para 2018,

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  • somente no mercado americano haver um dficit de at 190 000 profissionais com habilidadesprofundas de anlise e de 1,5 milho de gerentes aptos a tomar decises com base emrelatrios dos sistemas.

    Um dos maiores obstculos para a consolidao do big data diz respeito ao debate em tornoda privacidade. Muitos dos dados processados so informaes pessoais disponibilizadaslivremente na web por parte de seus cerca de 2 bilhes de usurios. O Facebook, que renequase 1 bilho de pessoas, ganha dinheiro com quem no se importa em contar sua vida eseus hbitos em troca de um servio de comunicao gratuito.

    Hoje, a exibio pblica tamanha que h quem fale numa ressignificao do conceito deprivacidade. Mas a possibilidade de uma eventual reao negativa ao atual nvel de exposiono est de todo descartada. Para muita gente, soa invasivo um supermercado ter acesso localizao de uma pessoa pelo GPS para poder enviar uma mensagem assim que ela entranuma loja.

    Esse um debate que deve durar uma dcada, diz Scott Anthony, diretor da consultoria deinovao americana Innosight. Por enquanto, a elite mundial, reunida anualmente no FrumEconmico Mundial, em Davos, na Sua, mantm o otimismo. No relatrio do ltimo evento, aopinio da maioria foi resumida da seguinte forma: Os riscos e os desafios do big data novo superar as oportunidades. Nos 5 segundos que se leva para ler a frase acima, 144 000posts e 17 000 fotos so publicados no Facebook.

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