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Universidade de Aveiro
2016
Departamento de Economia, Gestão, Engenharia
Industrial e Turismo
MARIANA DE LEMOS FREITAS
TURISMO, PARCERIAS E DESENVOLVIMENTO
LOCAL: O CASO DA FIGUEIRA DA FOZ
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II
Universidade de Aveiro
2016
Departamento de Economia, Gestão, Engenharia
Industrial e Turismo
MARIANA DE LEMOS FREITAS
TURISMO, PARCERIAS E DESENVOLVIMENTO
LOCAL: O CASO DA FIGUEIRA DA FOZ
Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gestão e Planeamento
em Turismo, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor Carlos
José de Oliveira e Silva Rodrigues, Professor Auxiliar do Departamento de
Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro.
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III
O júri
Presidente Professora Doutora Margarita Matias Robaina,
Professora Auxiliar, Universidade de Aveiro
Professor Doutor Carlos José de Oliveira e Silva Rodrigues,
Professor Auxiliar, Universidade de Aveiro (orientador)
Professor Doutor Gonçalo Alves de Sousa Santinha,
Professor Auxiliar, Universidade de Aveiro (arguente)
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IV
Agradecimentos
Agradeço especialmente aos meus pais e familiares
por todo o apoio prestado e por me terem sempre
incentivado a continuar. Um agradecimento especial
aos meus amigos que me ajudaram na realização
deste projeto. Quero ainda agradecer às funcionárias
da Biblioteca Municipal da Figueira da Foz que se
disponibilizaram para me ajudar na recolha de
informação relativa à cidade. Por fim, um
agradecimento especial ao professor Carlos
Rodrigues que sempre se mostrou disponível para
ajudar em tudo o que fosse necessário.
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Palavras-chave
Resumo
Parcerias, desenvolvimento sustentável, turismo,
Figueira da Foz, planeamento
O turismo desempenha um papel fundamental no
desenvolvimento económico, social e ambiental de
muitos países do Mundo. A importância da
atividade turística para o desenvolvimento local é,
também, consensualmente reconhecida.
A promoção da atividade turística e a sua
transformação em alavanca para o desenvolvimento
local, requer a criação de parcerias entre a variedade
de agentes envolvidos nessa atividade, sendo esta a
vertente que a presente dissertação analisa.
O estudo incide no município da Figueira da Foz.
Para a sua realização foram efetuadas entrevistas
com o objetivo de perceber como é que os
principais empresários do setor promoviam as
parcerias e como estas contribuíam para o
desenvolvimento. Numa análise geral percebeu-se
que os empresários da Figueira da Foz não
estabelecem parcerias entre si e que não estão
interessados que isso se realize. Relativamente ao
desenvolvimento, a grande maioria coloca como
principal obstáculo a Câmara Municipal, dizendo
que esta não contribui de forma eficaz para o
desenvolvimento do turismo na região.
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II
Keywords
Abstract
Partnership, Sustainable development, tourism,
Figueira da Foz, planning
Tourism plays a prominent part in the economic,
social and environmental development of most
countries in the World. The importance of tourism-
related activity is consensually acknowledged also
in terms of its role in local development.
The promotion of tourism and its leverage effect on
local development require the creation of a network
of collaborative links among the variety of
stakeholders. This is the dimension tackled in this
dissertation.
The study focuses on the municipality of Figueira
da Foz. It was developed with basis on interviews,
aiming at knowing more about the way the main
entrepreneurs deal with the setting up of
partnerships and the effect which these
collaborative arrangements could benefit the
development trajectories. The results show that the
entrepreneurs do not promote partnerships and have
little interest in doing so. Moreover, they blame
local government.
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II
Índice Índice ................................................................................................................................ II
Índice de figuras ............................................................................................................. IV
Capítulo 1 – Introdução ................................................................................................. 1
1.1 Relevância e objetivos do estudo ......................................................................................... 1
1.2 Estrutura da dissertação ....................................................................................................... 2
Capítulo 2 – Turismo ...................................................................................................... 5
2.1 Introdução ............................................................................................................................ 5
2.2 Turismo: o conceito e a evolução da oferta .......................................................................... 5
2.3 O turismo de massas .......................................................................................................... 10
2.4 O turismo em Portugal ....................................................................................................... 13
2.5 Conclusão ........................................................................................................................... 15
Capítulo 3 – O desenvolvimento local e o turismo ..................................................... 17
3.1 Introdução .......................................................................................................................... 17
3.2 Desenvolvimento................................................................................................................ 17
3.3 Desenvolvimento sustentável ............................................................................................. 18
3.4 Desenvolvimento local ....................................................................................................... 20
3.5 O turismo como fator de desenvolvimento ........................................................................ 23
3.6 Planeamento em turismo ................................................................................................... 25
3.7 Plano Estratégico Nacional de Turismo ............................................................................... 27
3.8 Conclusão ........................................................................................................................... 30
Capítulo 4 – As parcerias no setor do turismo promotoras do desenvolvimento ... 33
4.1 Introdução .......................................................................................................................... 33
4.2 Conceito de parcerias ......................................................................................................... 33
4.3 Parcerias em turismo .......................................................................................................... 36
4.4 O lugar das parcerias no sistema turístico .......................................................................... 40
4.5 Conclusão ........................................................................................................................... 46
Capítulo 5 – Metodologia ............................................................................................. 47
5.1 Fases de realização de um projeto em ciências sociais ....................................................... 47
5.2 Entrevistas .......................................................................................................................... 50
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III
Capítulo 6 – Figueira da Foz: parcerias para o desenvolvimento local? ................. 53
6.1 Introdução .......................................................................................................................... 53
6.2 Caracterização do território................................................................................................ 53
6.3 Plano Estratégico de desenvolvimento da Figueira da Foz .................................................. 56
6.4 Análise SWOT ..................................................................................................................... 57
6.5 O turismo como fator de desenvolvimento ........................................................................ 62
6.6 Conclusão ........................................................................................................................... 69
Capítulo 7 – Análise das entrevistas ........................................................................... 71
Desenvolvimento turístico da Figueira da Foz .................................................................... 71
As parcerias como atividade fundamental .......................................................................... 72
Capítulo 8 – Conclusões ............................................................................................... 75
8.1 Limitações, contribuições recomendações ......................................................................... 78
Referências bibliográficas ............................................................................................ 79
Anexos ............................................................................................................................ 83
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IV
Índice de figuras Figura 2 1 Ciclo do boom turístico. Adaptado de Matias (2005) .................................................. 6
Figura 2 2 Efeitos diretos, indiretos e induzidos do turismo. Fonte: Cunha (2013) ...................... 7
Figura 2 3 Evolução do turismo mundial de 1981 a 2010. Fonte: Cunha (2013) .......................... 9
Figura 2 4 Contributos diretos do turismo para o PIB em biliões, de 2006 a 2026. Fonte: WTTC
(2016). ........................................................................................................................................... 9
Figura 2 5 Tipo de viajante. Elaboração própria. 2016 ............................................................... 10
Figura 2 6 Estada média nos alojamentos por tipo de estabelecimento. Fonte: INE ................. 15
Figura 4 1 Modelo do ciclo de vida das parcerias no turismo. Fonte: Neves (2007, p. 99) ........ 39
Figura 4 2 Sistema de inter-relações do turismo. Fonte: Cunha (2003) ..................................... 43
Figura 4 3 Sistema desenvolvido por Mário Beni – SISTUR. Fonte: Beni (2007) ......................... 45
Figura 5 1 Etapas do processo de investigação. Fonte:
http://sociologiaemaccao.blogspot.pt/2011/11/etapas-do-processo-de-investigacao.html .... 47
Figura 6 1 Pirâmide etária referente à população do município da Figueira da Foz no ano de
2014. Fonte: INE .......................................................................................................................... 54
Figura 6 2 Comparação entre o nível de escolaridade e o valor de população desempregada e
empregada no ano de 2014. Fonte: INE ..................................................................................... 55
Figura 6 3 Análise SWOT da Figueira da Foz. Fontes: PEDFF e INE. 2016 ................................... 58
Figura 6 4 Chegadas de turistas provenientes da China e do Japão ao posto de turismo de
Coimbra, de 2012 a 2015. Fonte: Turismo do Centro, 2016 ....................................................... 61
Figura 6 5 Chegada de turistas internacionais ao posto de turismo da Figueira da Foz. Fonte:
Turismo do Centro, 2016............................................................................................................. 62
Figura 6 6 Ciclo de vida do destino Figueira da Foz. Fonte: adaptado do esquema de Butler
(1980) .......................................................................................................................................... 63
Figura 6 7 Estada média dos turistas no município da Figueira da Foz entre 2004 e 2014. Fonte:
INE ............................................................................................................................................... 68
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
1
Capítulo 1 – Introdução
1.1 Relevância e objetivos do estudo
Nas últimas décadas, o turismo tem vindo a tornar-se um sector económico central ao
crescimento de muitos países, incluindo Portugal. O país beneficiou nos últimos anos de
um aumento da atividade turística, impulsionado por um crescimento das visitas de
turistas vindos de fora do país, mas também por uma alteração nos padrões do turismo
dos cidadãos nacionais. Embora ainda existam zonas com uma forte expressão de
turismo de massas nas zonas balneares e que têm afirmado esse estatuto
internacionalmente, como o Algarve, têm vindo a emergir diferentes ofertas turísticas,
que têm ganho expressão pelas diferentes experiências que proporcionam. Neste
contexto, muitas zonas turísticas enfrentam um duplo desafio: por um lado, estão a
transitar para um período pós-turismo de massas, caracterizado pelo decréscimo do
volume de negócios associado ao turismo de massas na zona, e alteração no perfil dos
turistas que as visitam, e, por outro lado, procuram reinventar a oferta turística por
forma a dinamizar este sector da economia local. Neste sentido, é necessário que as
empresas e organizações de uma cidade ou vila trabalhem em parceria, unindo recursos
financeiros, tecnológicos e humanos, que garantam a prestação de serviços mais
completos e experiências mais enriquecedoras para um turista cada vez mais exigente.
Ainda que a necessidade destas parcerias no setor turístico seja assumida como
condição necessária num setor mais exigente e que quer ainda chegar mais longe,
assumindo-se como alternativa a outros destinos turísticos, a forma como estas parcerias
se estabelecem e funcionam localmente necessita de reflexão. Importa também
compreender qual o impacto que estas parcerias podem ter localmente, principalmente
em locais onde os agentes turísticos estão a adaptar-se.
A presente dissertação pretende contribuir para esta discussão, ao olhar para a relação
entre o turismo e o desenvolvimento local na Figueira da Foz. A questão que orienta
este estudo é: “qual o impacto que as empresas do setor turístico têm no
desenvolvimento local?”. Este trabalho procurará responder a esta questão analisando as
parcerias no setor do turismo estabelecidas na Figueira da Foz, e de que forma estas
parcerias contribuem ou não para o desenvolvimento local. Para além deste objetivo
geral, este trabalho tem como objetivos específicos: (1) perceber a relação entre turismo
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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e desenvolvimento local; (2) analisar as parcerias entre atores privados, e entre atores
públicos e privados no setor do turismo e como é que estas parcerias poderão contribuir
para o desenvolvimento local; (3) analisar as expectativas das empresas do setor em
relação ao seu envolvimento no planeamento turístico local e (4) identificar boas
práticas e/ou lacunas e obstáculos.
1.2 Estrutura da dissertação
Para alcançar estes objetivos, o presente trabalho analisará estes conceitos à luz da
realidade da Figueira da Foz. Conhecida como a Rainha das Praias, desde o século XIX,
atraía milhares de banhistas durante o Verão e tinha os valores mais altos de chegada de
turistas de todo o país. Porém ao longo dos anos esta situação tem vindo alterar-se,
havendo uma diminuição do número de turistas. Neste quadro de declínio, mas também
de necessidade de readaptação da oferta turística, considerou-se que a cidade seria o
estudo de caso adequado para alcançar os objetivos definidos. Assim, o presente
trabalho procurou compreender que tipo de relacionamento existe entre empresas e
outros agentes que compõem o setor do turismo da Figueira da Foz, e que impacto este
relacionamento tem ou poderá ter no desenvolvimento da região.
Para a realização da presente dissertação foram utilizadas fontes secundárias e fontes
primárias. No que diz respeito às fontes secundárias, foram recolhidos dados
bibliográficos relativos aos temas que compõem o estudo. O turismo, como principal
área de estudo, e o desenvolvimento local, como área interrelacionada com o tema,
foram os dois pontos base para a consulta de fontes secundárias e consequente
elaboração do estado da arte sobre os conceitos em discussão, que permitiu,
posteriormente, analisar o caso da Figueira da Foz à luz desses conceitos. Considerou-se
igualmente necessário recolher dados bibliográficos sobre um terceiro tema: as
parcerias. Estas são essenciais para perceber se no caso do turismo os diferentes setores
se relacionam e por isso poderá levar ao desenvolvimento local. Numa segunda fase,
foram recolhidos dados estatísticos e históricos relevantes sobre o território em análise,
a Figueira da Foz. Nesta recolha tentou-se recolher dados sobre o território, como a
localização, a população, a economia e os recursos existentes. A recolha de dados
bibliográficos citados acima foi feita em bases de dados como a SCOPUS, a B-ON, a
RIA.UA e o RCAAP. Também foram consultados livros científicos e páginas da
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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Internet como a WTTC e WTO. Para a recolha de informação estatística foi consultada
a página oficial do INE e da PRODATA.
Como forma de complementar a análise teórica, este trabalho recorreu ainda a fontes
primárias, através da realização de entrevistas a agentes locais do sector do turismo,
como os hotéis, restaurantes, agências de viagens e agentes de animação turística. Desta
forma reuniu-se o conhecimento dos agentes locais e assim aprofundou-se a análise
proposta neste trabalho.
Com base nos objetivos definidos e na proposta de análise apresentada, o presente
trabalho está estruturado em 7 capítulos: no capítulo 2 é discutido o conceito de turismo
que posteriormente; no capítulo 3, discute-se o seu potencial impacto no
desenvolvimento local, através do conceito de sistemas; o capítulo 4 analisa as parcerias
no caso da Figueira da Foz e a relação entre turismo e desenvolvimento local à luz
destas parcerias; o capítulo 6 pretende relacionar todo o conhecimento teórico aprendido
anteriormente com o caso de estudo, a Figueira da Foz; e finalmente, o último capítulo
será dedicado às conclusões que resultam desta análise.
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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Capítulo 2 – Turismo
2.1 Introdução
O turismo atualmente é um pilar muito importante para as economias do mundo. Trouxe
infraestruturas essenciais ao desenvolvimento, como bancos, hospitais, escolas,
restaurantes, comunicações, entre outras. É possível afirmar que o turismo surgiu com o
interesse de estudantes queriam aprofundar os seus conhecimentos. Atualmente, estas
são realizadas por quase toda a população que deseja fugir da sua rotina.
Neste capítulo serão apresentadas algumas definições de turista desenvolvidas por
vários autores e o que se entende por turismo, como é que ele é praticado e como
influencia algumas economias no mundo.
2.2 Turismo: o conceito e a evolução da oferta
As origens do conceito de turismo remontam ao início do século XVIII, quando, de
acordo com Cunha (2012), as viagens dos ingleses pela Europa, por curiosidade ou
como um elemento adicional na sua educação, ganharam tal importância que passaram a
ser conhecidas por Grand Tour. No início do século XIX, as famílias e pequenos grupos
deslocavam-se já a estâncias balneares e terapêuticas, às montanhas e às zonas de clima
temperado, como Brighton, Ostende, Deauville, Biarritz e Riviera, para repousarem e se
curarem das suas doenças. O livro “Mémoires d’un touriste de Stendhal”, de 1838,
acaba, nesta altura, por disseminar a palavra turista. À disseminação do termo sucedeu-
se alguns anos depois a emergência de nichos de mercado ligados a esta nova figura,
como o golfe, turismo de aventura, turismo de saúde, cruzeiros, entre outros.
O turismo mostrava assim uma tendência de crescimento, apenas perturbada em 1914
com o início da Primeira Guerra Mundial, e posteriormente, pela Crise de 1929, que se
iniciou com o Crash da Bolsa americana e que se arrastou até 1935, e pela Segunda
Guerra Mundial. Com o fim deste conflito surge um boom turístico, potenciado pela
existência de mais tempo livre por parte dos trabalhadores, que podiam assim, procurar
novas atividades e de conhecer novos espaços, e pela criação de novos produtos
turísticos pelos empresários, que assim respondiam a uma procura crescente e criavam
emprego no setor. O aumento do emprego levou também a reivindicações para melhores
condições de trabalho e melhores ordenados o que, juntamente com a disponibilidade
dos trabalhadores para conhecer novos locais, criaram um ciclo de crescimento no setor
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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Aumento da necessidade
de procura de destinos turísticos
Aumento da oferta nos destinos
Aumento da oferta de emprego
Aumento das reivindicações
dos trabalhadores
Mais tempo livre e mais rendimento
(figura 2-1) (Matias, 2005; Cunha, 2012). A verdade é que a melhoria do nível de vida –
proporcionado por melhores salários, menos horas de trabalho - aliada ao
desenvolvimento dos meios de transporte, tanto aéreo como ferroviário, que tornaram as
viagens mais rápidas e a preços mais acessíveis, e o facto de as famílias serem cada vez
mais pequenas permitiu que muitas pessoas desejassem viajar para locais que nunca
antes tinham conhecido, o desejo de conhecer novos países e novas culturas (Dantas,
2005).
O turismo tornou-se assim, uma das atividades socioeconómicas mais relevantes nas
economias nacionais, motivado pelos benefícios económicos do turismo. De acordo
com Inskeep (1991), o impacto económico do turismo passa pela criação de emprego,
uma vez que a chegada de turistas implica a criação de um conjunto de estruturas que
necessitam de recursos humanos para o seu funcionamento, e pela entrada de dinheiro
estrangeiro na economia do país através de um aumento da receita turística. O autor faz
ainda referência às taxas turísticas que já são aplicadas em alguns países como sendo
essenciais para o desenvolvimento das infraestruturas e dos serviços de uma
comunidade.
Figura 2 1 Ciclo do boom turístico. Adaptado de Matias (2005)
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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Cunha (2013) cria um esquema onde salienta os efeitos do turismo na economia de um
país (figura 2-2). Este divide-os em diretos, indiretos e induzidos. No primeiro tipo de
efeitos, fala-se dos que são primeiramente influenciados pela atividade turística, como o
alojamento, a restauração, os transportes, as diversões e outros elementos que
caracterizam diretamente a atividade. Por conseguinte, para o funcionamento dos
setores referidos anteriormente é necessário que haja uma inter-relação com outros
setores que produzem todas as matérias que serão consumidas diretamente pelo setor
turístico. Neste caso, fala-se dos efeitos indiretos do setor do turismo. Por fim, os efeitos
induzidos resultam do pagamento que é feito aos produtores de bens e serviços, que
posteriormente pagam aos seus empregados. Em suma, a cadeia turística funciona como
um todo, pois os gastos turísticos criam receitas para o alojamento, para a restauração e
para os transportes, que anteriormente foram criados como forma de satisfazer as
necessidades dos turistas e que criaram emprego e rendimento para as famílias e as
empresas (Cunha, 2013).
Figura 2 2 Efeitos diretos, indiretos e induzidos do turismo. Fonte: Cunha (2013)
A capacidade de criação de emprego pelo sector é aliás, um dos fatores que explica a
sua relevância socioeconómica. Em muitos locais, que vivem principalmente do
turismo, o principal emprego da população está relacionado, diretamente ou
indiretamente com este setor. É o caso do Chipre com 25% da população ligada ao
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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sector. Para países que têm poucos recursos naturais ou que dependem de financiamento
estrangeiro, o turismo pode representar a única forma de ganhar algum dinheiro, atrair
mais investidores e assim criar emprego. Por exemplo no Gambia, o turismo representa
11% do Produto Interno Bruto (PIB) e cria mais de 7000 empregos relacionados
diretamente ou indiretamente com o setor do turismo. No caso dos países desenvolvidos
o turismo é visto também como um fenómeno que provocou alterações económicas e
políticas. Em muitos casos o turismo permitiu colmatar algumas falhas que existiam
entre as áreas urbanas e as áreas rurais.
Obviamente, o setor também está exposto às crises que afetam os países. De acordo com
Tse (2005), as crises turísticas são eventos imprevisíveis que influenciam a confiança
dos turistas no destino e que posteriormente interfere com a capacidade de operação
normal.
Dantas (2005) faz referência às maiores crises turísticas do século XXI, salientando a
primeira provocada pelos ataques às Torres Gémeas no dia 11 de setembro de 2001, que
fez com que muitos turistas tivessem receio de viajar para outros países ou mesmo
andar de avião, e a segunda, mais recente, que surge após a crise económica que se
inicia nos Estados Unidos da América que se estende a toda a Europa, reduzindo o
número de turistas provenientes da Alemanha, Estados Unidos da América e o Japão.
Recentemente, os ataques bombistas nas principais cidades do mundo também
provocaram uma quebra pontual do número de viajantes. O impacto destas crises é bem
visível na figura 2-3, onde fica evidente a quebra nas receitas geradas pelo setor após
2008, quando os efeitos da crise começam efetivamente a notar-se à escala global. Com
este gráfico também é possível comprovar o crescimento que este setor tem sofrido ao
longo dos anos: em 1981 gerava 106.1€ milhões em receitas e em 2010 já gerava 919€
milhões.
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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Figura 2 3 Evolução do turismo mundial de 1981 a 2010. Fonte: Cunha (2013)
Apesar destas crises, a WTTC estima que em 2015 o turismo tenha criado 14.229.000
empregos diretos na Europa, correspondendo a 3,6% dos postos de trabalho na Europa.
Em 2026 estima-se que o turismo crie aproximadamente 17.646.000 empregos. Para
além dos empregos gerados, e de acordo com a WTTC (2015), os impactos diretos que
o turismo tem sob o PIB dos países na Europa são muito elevados, fazendo uma
previsão para 2025 com números ainda mais elevados (figura 2-4). De acordo com os
dados apresentados, e pese embora a quebra significativa do contributo do turismo para
o PIB em 2009, em resultado da crise económica, tem-se vindo a verificar nos anos
seguintes um aumento lento até 2016. A Organização Mundial do Turismo prevê ainda
que em 2026 esses valores sejam bastante mais elevados, registando-se contributos
nunca antes vistos.
Figura 2 4 Contributos diretos do turismo para o PIB em biliões, de 2006 a 2026. Fonte: WTTC (2016).
0 €
100 €
200 €
300 €
400 €
500 €
600 €
700 €
800 €
900 €
1 000 €
Milh
ões
Evolução do turismo mundial
Receitas
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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2.3 O turismo de massas
A este tipo de turismo está necessariamente associado um perfil de turista. Para que se
classifique alguém como turista, é necessário que exista uma viagem que implique a sua
estada fora da sua residência habitual por 24 horas ou mais, sendo também necessário
considerar o destino nesta classificação – dentro do próprio país é considerado turista
doméstico, caso seja para fora do seu país é considerado turista internacional (Weaver e
Oppermann, 2000; Cunha, 2003).
Figura 2 5 Tipo de viajante. Elaboração própria. 2016
No entanto, a preponderância do turismo de massas em zonas balneares bem como o
perfil de turista que lhe está associado, tem vindo a ser progressivamente questionada.
Por um lado, no que diz respeito ao perfil do turista, importa referir que, o turista de
hoje em dia é um turista diferente do de há 30 anos. De acordo com Poon (1993), o
novo turista tem hábitos opostos ao turista de massas: procuram novas experiências, são
independentes, flexíveis e por isso quando procuram pacotes querem apenas voo e
alojamento, são mais experientes e têm um estilo de vida diferente do turista de massas,
sendo normalmente mais cultos e com maior poder de compra. O novo turista procura
atividades diversificadas e que o enriqueça. Este novo turista procura formas de turismo
alternativo, como é o caso do turismo ecológico, rural, pedagógico ou de aventura
(Barros, 2004), onde as características do meio ambiente e a forma como são
preservados os recursos começam a ser fatores importantes na escolha do destino.
Por outro lado, e no que diz respeito ao turismo de massas, e apesar da sua importância
socioeconómica nas zonas balneares, esta forma de turismo acarreta também riscos e
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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consequências que têm vindo a manifestar-se ao longo dos anos. Inicialmente, o turismo
nestas regiões não tinha qualquer planeamento, levando a graves desastres ecológicos,
provocados pelo uso excessivo de recursos e do solo. Por outro lado, e ainda que o
rendimento per capita tenha aumentado assim como o número de empregos, não houve
um aumento da qualidade dos serviços locais (Dantas, 2005). Deste modo estão sempre
associados vários fatores negativos relacionados com este tipo de turismo,
nomeadamente o impacto ambiental, com a poluição das águas, o aumento do lixo, o
impacto para a população local, ou o aumento do trafego, e mesmo o impacto
socioeconómico, com a subida dos preços para a população local e o aumento do crime
(Poon, 1993).
Os riscos associados a este tipo de turismo explicam alterações mais recentes nos
padrões turísticos. Para Santos (2012), a partir dos anos 80 o mundo entrou
progressivamente num novo tipo de turismo onde o ambiente é colocado em primeiro
plano. Isto não significa que o turismo de massas tenha desaparecido – este modelo
continua ainda presente em países em desenvolvimento, onde o turismo de massas é o
motor do desenvolvimento e crescimento económico (Beni, 2012). No entanto,
emergem novas formas de turismo, paralelas ao turismo de massas, em que a
consciencialização ambiental, a escala mais limitada, e o envolvimento da população
local contribuem para que o turista conheça melhor a cultura e os estilos de vida locais
(Beni, 2012). É neste sentido que surge o turismo rural que tem uma preocupação
crescente com as características naturais do território, preservando-as e conservando-as
e que assim, vem apresentar uma oferta turística adequada a um perfil de turista
diferente.
O turismo de massas em zonas balneares contribuiu, e continua a contribuir de forma
substancial, para o volume de negócios no setor. Claro que nem sempre as zonas
costeiras viveram do turismo. A pesca, agricultura, artesanato e outras atividades
garantiam a subsistência das populações nesta zona. No entanto, estes setores
apresentavam níveis de rendimento baixos quando comparados com a atividade
turística. Quando a atividade turística surge nestas regiões, as populações rapidamente
perceberam que tinham um rendimento mais elevado no setor e assim trocaram muitas
das suas atividades tradicionais por atividades relacionadas com o turismo, desde
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
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alojamento, restauração, entre outros. Estas alterações provocaram necessariamente
modificações a nível económico, social e mesmo demográfico (Dantas, 2005).
Mas o impacto destas transformações não se restringia à ocupação laboral das
populações. Na década de 70 do século XX surge a necessidade de criar um conjunto de
infraestruturas para albergar um número crescente de turistas (Dantas, 2005). Nesta
fase, as férias eram estandardizadas e rígidas, algo considerado como uma boa prática, e
surgem na Europa vários operadores turísticos, voos charter e pacotes para o
Mediterrâneo (Poon, 1993). Esta tendência, que integra serviços estandardizados, com
um preço fixo, e se associa a uma concentração elevada de pessoas, constitui a base de
um fenómeno designado como turismo de massas (Poon, 1993). Para Poon (1993) este
tipo de turismo tem as seguintes características: férias estandardizadas; pacotes rígidos,
onde, caso seja necessário alterar alguma atividade ou serviço são pagos valores muito
elevados; os pacotes são copiados de outros, não havendo muita variação de ano para
ano; não existe personalização, por isso estão direcionados para todo o tipo de clientes;
e as férias são passadas em grandes resorts. Para além destas dimensões, e de acordo
com Burkart e Medlik (1974, citado por Bramwell, 2004), o turismo de massas é um
conceito baseado na quantidade de pessoas que o praticam e no volume de atividade de
uma região. Para Bramwell (2004), o turismo de massas é praticado nos meses de verão,
pois têm mais sol e não chove tão frequentemente como no inverno e também é a altura
das férias escolares. Os praticantes deste tipo de turismo preferem normalmente os
resorts de luxo com os pacotes de tudo incluído, entenda-se pequeno-almoço, almoço e
jantar.
A afirmação deste turismo de massas está, assim, inegavelmente associada ao turismo
nas zonas balneares. De acordo com Bramwell (2004) o turismo de massas, quando
praticado em zonas costeiras, pode incluir o produto sol e mar e tem como principal
característica a forte sazonalidade. Hall (2001, citado por Papageorgiou, 2016) afirma
que existem dois tipos de turismo relacionados com as zonas costeiras: um classificado
como turismo costeiro que, para além das várias atividades que se podem realizar no
mar, também envolve a zona da costa; e um outro, designado de turismo marinho e que
envolve apenas as atividades que se realizam no mar, como é o caso dos cruzeiros, da
vela, entre outros. De acordo com a autora, este tipo de turismo correspondia a 10% do
turismo do mundo em 2005. Papageorgiou (2016) refere ainda que estas são as formas
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
13
de turismo mais antigas e têm um grande impacto na economia mundial,
correspondendo a 1/3 da economia europeia e empregava cerca de 3.2 milhões de
pessoas, em 2005.
2.4 O turismo em Portugal
Em Portugal o turismo não surgiu ao mesmo tempo que noutros países da Europa. No
final do século XIX o país vivia uma grave crise financeira, os bancos entravam em
falência e as fábricas fechavam com falta de produção. Por outro lado, e de acordo com
Matias (2005), Portugal tinha no início do século XX, um fraco desenvolvimento ao
nível dos transportes que levava a que os viajantes não se sentissem seguros. Para além
disto, os trabalhadores não tinham tempo livre, pelo que apenas os mais ricos viajavam
e por motivo de reuniões de trabalho e não por prazer.
O período de ditadura (1926-1974) influenciou fortemente o setor. Durante os primeiros
anos não houve oportunidade para a livre iniciativa e os hotéis existentes eram
antiquados e pobres (Cunha, 2012). Porém, nos anos 40, Portugal iniciou um
movimento de crescimento económico quando integrou a OCDE, e com a entrada de
recursos financeiros estrangeiros na economia nacional, permitiu também a chegada de
turistas americanos e o aumentou de financiamento para a formação profissional
(Cunha, 2012). É nos anos 50 que, segundo Matias (2005), se iniciou um período em
que o turismo ganhou importância e se iniciou um investimento neste setor. O autor
afirma que nos anos 60 Portugal já contava com cerca de 1 milhão de turistas
estrangeiros por ano que tinham como principal destino as zonas costeiras.
Com a revolução de 1974 há uma alteração na organização institucional do setor, onde
pequenas repartições com autonomia passam a regular o setor. Esta alteração permitiu
também uma valorização crescente do interior e consequentemente do seu património e
do ambiente. Ao longo da década de 80, e com o crescimento no setor, vão surgindo
inevitavelmente mais destinos em Portugal, como resposta à diversidade na procura,
uma vez que também no país o perfil dos turistas estava a mudar e estes não procuravam
apenas o turismo de sol e mar, mas também começavam a procurar o turismo cultural,
de natureza, entre outros. Com este crescimento sentia-se uma necessidade crescente de
regular todo o sistema turístico e desta forma foi criado, ainda na década de 80, o
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
14
primeiro Plano Nacional de Turismo que pretendia regular e desenvolver todo o setor
(Cunha, 2012).
Ao longo dos anos, estes novos tipos de turismo, que tendem a ser caracterizados pela
consciencialização ambiental e pela preocupação com a população e com os recursos
locais, têm vindo a ganhar expressão no setor em Portugal. Paralelamente, também se
tem verificado um aumento no investimento na publicidade, como forma de atrair mais
visitantes aos diferentes destinos, e a organização institucional tem vindo a adaptar-se a
um setor em crescimento, que procura diversificar a sua oferta através da promoção do
que caracteriza as diferentes zonas do país. Atualmente, o Turismo de Portugal é a
entidade nacional que regula o setor. Este organismo está ainda subdividido em
diferentes delegações, nomeadamente o Turismo do Porto e Norte, Turismo do Centro,
Turismo do Alentejo, Turismo de Lisboa, Turismo do Algarve e Turismo dos Açores e
da Madeira, para que cada uma destas delegações possa concentrar-se na promoção da
sua oferta turística dentro e fora do país.
Estas alterações acompanharam ainda um esforço nacional e local de adaptação e
modernização de infraestruturas fundamentais para a diversificação da oferta turística,
como a criação de novos hotéis, parques temáticos, operadores turísticos, modernização
das linhas férreas mais percorridas e em algumas locais a criação de estradas para
aumentar a acessibilidade entre os locais.
Não surpreende por isso que, em 2010, o turismo tenha sido responsável por 9,2% do
PIB nacional, tornando-se assim um dos setores mais importantes na economia
portuguesa (Cunha, 2012). A diversificação da oferta turística, aliada a um esforço de
modernização do setor, e a estratégias de promoção do país como destino turístico quer
em Portugal quer no estrangeiro, têm vindo a traduzir-se em números significativos para
a economia portuguesa. E esta preponderância tem-se consolidado nos últimos anos
com o setor turístico a crescer no país mesmo num contexto de crise económica
internacional.
De acordo com os dados do INE a estada média nos alojamentos em Portugal é de
aproximadamente 3 noites, sendo que é nos aldeamentos turísticos que se verifica a
estada mais elevada, explicado pelo facto de que as pessoas que vão para este tipo de
alojamento permanecem mais tempo aí hospedadas, pois estes são locais que
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
15
proporcionam um conjunto de atividades aos seus clientes. A figura 2-8 demonstra os
diferentes valores da estada média nos alojamentos em Portugal. Os motéis são os que
possuem a estada média mais baixa, seguindo-se as pousadas, as estalagens, as pensões
e só depois os hotéis.
Embora ainda existam zonas com uma forte expressão de turismo de massas nas zonas
balneares e que têm afirmado esse estatuto internacionalmente, como o Algarve, têm
vindo a emergir diferentes ofertas turísticas, que têm ganho expressão pelas diferentes
experiências que proporcionam. Neste contexto, muitas zonas turísticas enfrentam um
duplo desafio: por um lado, estão a transitar para um período pós-turismo de massas,
caracterizado pelo decréscimo do volume de negócios associado ao turismo de massas
na zona, e alteração no perfil dos turistas que as visitam, e, por outro lado, procuram
reinventar a oferta turística por forma a dinamizar este sector da economia local.
2.5 Conclusão
Neste momento, o setor turístico tem uma preponderância cada vez maior na economia
mundial, pois é dos setores que gera mais receitas na economia de um país. Enquanto
cresce tem vindo a acontecer duas transformações fundamentais. No lado da oferta a
diversificação é cada vez maior. Atualmente o turista pode usufruir de variados
alojamentos, restaurantes, de agências de viagens que têm diferentes focos de interesse,
Figura 2 6 Estada média nos alojamentos por tipo de estabelecimento. Fonte: INE
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
16
entre outros. Mas paralelamente a estas alterações é necessário salientar a coexistência
entre turismo de massas e outras formas de turismo num só território.
Face a estas transformações, as zonas balneares que deixam de estar no centro deste
turismo de massas, enfrentam um duplo desafio: por um lado, enfrentam as
consequências associadas à diminuição da atividade económica no turismo, como
também os problemas que este tipo de turismo deixa para trás e a falta de perspetivas
futuras.
A segunda transformação faz referência ao perfil da procura que se tornou mais
complexo e por isso procura diferentes atividades que não sejam unicamente as
praticadas pelo turismo de sol e mar, mas que o instruam e que garantam que da sua
estava retiram mais do que o simples relaxamento.
É fundamental alargar a reflexão sobre o turismo e o que o setor traz para as
comunidades locais para além do crescimento económico. Neste sentido, este trabalho
introduz na análise do impacto do turismo o conceito de desenvolvimento local que será
discutido no próximo capítulo.
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
17
Capítulo 3 – O desenvolvimento local e o turismo
3.1 Introdução
O turismo é o maior fenómeno social e económico da sociedade moderna (Petrillo e
Swarbrooke 2004). Em muitos países, o turismo traduz-se em novas oportunidades de
emprego, novos negócios e tem contribuído para encurtar a diferença entre alguns
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ainda que este potencial pareça apontar
para claros benefícios económicos, com um conjunto de estatísticas realizadas pelo
instituto nacional de estatística e estudos feitos pela organização mundial de turismo
que sustentam esta perspetiva, a forma como o setor contribui para o desenvolvimento
local, algo que vai além do crescimento económico, necessita ainda de reflexão.
O presente capítulo estabelece os conceitos fundamentais para esta reflexão. Assim, são
revistos os conceitos de desenvolvimento, desenvolvimento sustentável e
desenvolvimento local com o objetivo de mapear as dimensões deste conceito que nos
permitirão, posteriormente, analisar a relação entre turismo e desenvolvimento local.
3.2 Desenvolvimento
De acordo com Carvalho (2009) o conceito de desenvolvimento está relacionado com
diversos âmbitos: social, económico, territorial e tecnológico. Para que exista
desenvolvimento é necessário antes de mais que exista crescimento. Lopes (2002)
afirma que este crescimento não pode ser desmedido, isto é, tem que haver políticas de
desenvolvimento para se crescer de forma sustentável. Este autor defende, no entanto,
que o conceito de desenvolvimento não pode abarcar apenas o nível económico, mas
outros essenciais para se definir uma sociedade como desenvolvida, sejam eles a
“liberdade, a justiça, o equilíbrio e a harmonia” (Lopes, 2002 p. 17).
Nesta mesma perspetiva, Silva e Silva (2005) enfatizam que o conceito de
desenvolvimento é polissémico, isto é, tem vários significados. A sua componente
económica, à qual se associa o rendimento per capita e o PIB coexiste com outras: uma
perspetiva com base em questões socioeconómicas, como a análise da esperança média
de vida e a qualidade de vida da população; ou uma perspetiva social em que a
diminuição da pobreza, o bem-estar da população, e a exclusão social são aspetos
centrais no momento de avaliar o nível de desenvolvimento de um país ou comunidade.
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
18
A introdução destas últimas duas perspetivas dá-se apenas após os anos 60, pois até
então o desenvolvimento apenas se resumia a crescimento económico.
3.3 Desenvolvimento sustentável
O conceito de desenvolvimento necessita atualmente de ser complementado pelo
conceito de sustentabilidade. A associação entre os dois conceitos e a sua utilização
conjunta ficou claramente marcada pelo relatório Brundtland que definiu os princípios
básicos do desenvolvimento sustentável, dizendo que “humanity has the ability to make
development sustainable to ensure that it meets the needs of the present without
compromising to meet their own needs” (CMAD, 1987, pag. 24)1. É nesta altura que em
vários países se começa a pensar em medidas sustentáveis, não só para o turismo, mas
para todos os outros setores (Cicerchia, 2016). O conceito foi posteriormente
consagrado em 1992, na Cimeira da Terra e na Declaração do Rio de Janeiro sobre
Ambiente e desenvolvimento. A criação da Agenda 21 está associada ao objetivo
fundamental de criar programas locais como forma de garantir a cooperação entre os
diferentes atores e envolver a comunidade local.
O respeito pela cultura local, pelas tradições e pelos estilos de vida é outro dos
princípios fundamentais deste conceito o que se explica pela centralidade que as
populações locais têm num modelo de desenvolvimento sustentável. Neste
enquadramento, as populações locais têm um papel fundamental nos processos de
tomada de decisão na sua região, para garantir um benefício partilhado proveniente do
desenvolvimento de qualquer atividade (Williams, 1998 e Wall e Mathieson, 2006).
De acordo com Wall e Mathieson (2006) existem cinco princípios básicos relacionados
com o desenvolvimento sustentável que se caracterizam pela conservação da
diversidade ecológica, que implica a conservação de todas as espécies, a satisfação das
necessidades humanas básicas, como a alimentação, condições sanitárias, segurança e
conforto, garantindo que as gerações futuras terão acesso aos mesmos recursos e com a
mesma qualidade, sendo que é necessário que haja uma redução do desperdício; r um
aumento da autodeterminação.
1 Relatório desenvolvido pela comissão mundial sobre o ambiente e desenvolvimento
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
19
Para que estes princípios referidos anteriormente se concretizem é necessário que exista
crescimento económico, todavia o padrão e forma de crescimento registados têm que ser
alterados. Para além disso, a população tem que ter acesso a água potável, trabalho,
comida, energia e condições sanitárias e é fundamental que haja uma preservação dos
recursos existentes naquele território.
Anderson, Bakir e Wickens (2014) referem um elemento fundamental no conceito de
sustentabilidade: a conexão entre as necessidades presentes dos stakeholders e da
comunidade local e a importância de proteger os recursos culturais e naturais que
servirão as necessidades futuras. Com base nisto, estes autores identificam também três
dimensões do conceito de sustentabilidade: ambiental, económica e sociocultural.
Estas dimensões de sustentabilidade são fundamentais para refletir sobre determinados
destinos turísticos, especialmente em destinos de turismo de massas, locais onde
tipicamente, a atividade do setor se desenvolveu sem uma perspetiva integrada sobre as
necessidades das populações, e uma gestão de recursos a pensar numa sustentabilidade
ambiental, económica e sociocultural. Outro exemplo evidente são as cidades que
procuraram maximizar o retorno proveniente do setor turístico sem considerar a sua
capacidade de carga, isto é, a capacidade total de pessoas que um destino pode ter sem
provocar alterações a nível económico, social, ambiental e cultural e sem diminuir a
qualidade de prestação de serviços (Wall, 2006). Williams (1998) afirma que a
capacidade de carga é o limite que qualquer ambiente natural ou não natural tem para
que o nível de satisfação turístico seja mantido. Quando este limite é ultrapassado a
satisfação diminui e os impactos negativos aumentam. Nesta lógica Anderson, Bakir e
Wickens (2014) afirmam que a introdução de formas de turismo alternativo leva a que
haja uma diminuição dos impactos nos destinos mais frágeis, como é o caso de cidades
ou vilas do interior.
Neste sentido, o conceito de desenvolvimento sustentável permite não só refletir sobre a
oferta do sector turístico como, e de acordo com Ruhanen (2012), os seus pressupostos
poderão promover mudanças políticas e económicas fundamentais para melhorar as
condições económicas, socioculturais e ecológicas que promovem a criação de formas
de desenvolvimento turístico que respeitem e estejam adequadas ao ambiente onde estão
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
20
inseridas. Esta associação entre turismo e desenvolvimento sustentável leva à discussão
de outro conceito fundamental: o desenvolvimento local.
3.4 Desenvolvimento local
Neste contexto de desenvolvimento sustentável percebeu-se que era necessário a
introdução de um novo conceito: o desenvolvimento local, pois na presente dissertação
pretende-se perceber qual a influência que o turismo tem no desenvolvimento de um
local.
Calheiros (2005) afirma que existem duas correntes relacionadas com o
desenvolvimento local. A primeira foi desenvolvida entre a década de 60 e a década de
70, afirmava que o desenvolvimento era promovido desde o exterior, isto é, iniciava-se
em grandes áreas e setores e posteriormente era introduzido em áreas mais pequenas.
Porém, a partir dos anos 70, esta abordagem começa a ser questionada e tende a
afirmar-se uma perspetiva que entende que o desenvolvimento pode começar no próprio
território através da utilização eficaz dos seus recursos materiais e humanos. Esta
abordagem, identificada como a corrente territorialista sobre o desenvolvimento, tinha
como base a não utilização de forma insustentável de uma área em benefício de outra.
Para Henriques (1990, citado por Calheiros, 2005) as necessidades básicas da população
têm que ser satisfeitas com os recursos existentes no território, isto é, ao contrário da
corrente anterior, esta abordagem defende que seria possível sobreviver com os recursos
de um território.
Henriques (1990, citado por Calheiros, 2005) estabeleceu os principais valores do
desenvolvimento local: (1) satisfação das necessidades básicas, como a segurança,
justiça, alimentação; (2) um modelo de desenvolvimento impulsionado pela população
local onde o desenvolvimento e o crescimento económico possam estar associados e
não beneficiem apenas um grupo restrito; (3) um desenvolvimento focado na população
e não no território, onde as necessidades da população são a prioridade e onde as
populações locais estão envolvidas no processo de tomada de decisão. A estes
princípios, Bailly (1999, citado por Silva e Silva, 2005) acrescenta a necessidade de não
diferenciação entre centro e periferia, isto é, o desenvolvimento local exige uma atenção
igual aos problemas e dificuldades destes dois espaços. O autor refere ainda o princípio
da equidade social, referente à igualdade salarial e à igualdade de oportunidades para a
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
21
população, e ao qual associal a justiça ambiental que impede disparidades no mesmo
espaço.
Silva e Silva (2005) afirmam que o desenvolvimento local e regional diminui as
disparidades dentro territoriais, com base na aplicação da distribuição uniforme da
riqueza gerada pela economia daquela região. As autoras esclarecem ainda que o
desenvolvimento local implica também uma valorização do território no seu todo, sejam
os recursos naturais e construídos, seja a população que nele reside. Também a forte
ligação entre toda a população é essencial para o desenvolvimento local. As autoras com
base nas referências de outros autores afirmam ainda que o desenvolvimento local
implica ainda que haja um crescimento estável da população.
O que fica claro da discussão deste debate é que território e população são pilares
fundamentais do conceito de desenvolvimento local, dimensões às quais Pecqueur
(2000) acrescenta a durabilidade do desenvolvimento e a proteção ambiental.
Efetivamente, este modelo de desenvolvimento parte de uma base clara, de acordo com
as políticas de um determinado espaço, como uma freguesia ou município.
Reis (1994) estabelece as quatro condições que os territórios têm que possuir para
favorecer o desenvolvimento local. A primeira refere-se à delimitação da população,
uma vez que o autor considera que em territórios com baixa densidade populacional as
condições para o desenvolvimento local não são tão fortes, como é o caso de muitos dos
territórios do Norte, Centro e Alentejo, e principalmente no interior de Portugal. A
segunda é o estabelecimento de inter-relações entre todos os elementos que compõe a
sociedade. A terceira está relacionada com a anterior, uma vez que o autor considera ser
essencial que a capacidade técnica seja articulada com as instituições locais. Por fim, a
quarta condição implica que o território tenha a capacidade de comunicar com os
territórios externos, não se fechando dentro de si.
Para Benko (1996, citado por Beni, 2012) para que haja desenvolvimento local é
necessário que não haja uma centralização dos níveis de decisão política, económica e
financeira, isto é, o desenvolvimento local requer uma concentração local dos poderes e
não regional. Os principais dinamizadores do desenvolvimento local são os agentes
locais que têm a responsabilidade de formular estratégias e tomar decisões com base nos
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
22
recursos locais que controlam e que poderão beneficiar a região onde estão inseridos
(Stöhr’s,1990 citado por Syrett, 1995).
No caso particular do setor do turismo o poder local, ou seja, as Câmaras Municipais
têm um papel muito importante em todo o setor. De acordo com Nunes (2008) estas
autoridades interagem com o setor em três níveis. O primeiro tem como base o governo
local, que planeia, dirige e promove os seus recursos naturais e culturais que são a base
do sucesso do turismo. O segundo diz respeito às autoridades locais que estão
responsáveis pelos mecanismos como as vias de comunicação, a iluminação das ruas, os
esgotos, o sistema de transporte público, entre outros. As autoridades locais estão
igualmente responsáveis pelas infraestruturas como os restaurantes e hotéis. E também
são responsáveis pelo desenvolvimento e criação de atrações como museus, galerias de
arte, parques, jardins, entre outros. O terceiro diz respeito ao desenvolvimento de
estratégias de marketing que permitem uma promoção do destino turístico.
Para além do poder político local, e de acordo com Almeida e Blós (1997), citados pelo
mesmo autor, as decisões relativamente ao desenvolvimento local têm de começar na
comunidade e depois ir subindo de nível. Mas esta participação nem sempre é garantida,
apesar de ser fundamental na promoção do desenvolvimento local.
Jerkins (1993, citado por Böhm, 2009) afirma que existem sete obstáculos que fazem
com que a participação da população local no processo de planeamento não seja tão
notada ou seja inexistente:
1. A população não compreende o planeamento mais complexo;
2. A população não consegue perceber como são tomadas as decisões;
3. A população é pouco participativa;
4. A colocação em prática de todas as formas de pensar da população é inexistente;
5. Torna-se dispendioso estabelecer uma relação entre todas as pessoas que fazem
parte da organização do local;
6. A tomada de decisão demora mais tempo e não é instantânea;
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
23
7. A demora no processo de tomada de decisão pode levar à diminuição da
eficiência do planeamento.
3.5 O turismo como fator de desenvolvimento
De acordo com Rogerson (2015) o turismo pode ser considerado essencial para o
crescimento económico, especialmente nas áreas periféricas. A partir dos anos 80 do
século XX o turismo começou a ser considerado um meio para a promoção do
desenvolvimento económico regional. É possível afirmar que apenas existe
desenvolvimento regional do turismo se houver procura por parte dos estrangeiros ou
nacionais e se estes participarem nas mais diversas atividades que uma determinada
cidade/região pode proporcionar. Neste sentido, quando há uma elevada procura o
número de infraestruturas aumenta, como é o caso dos hotéis, dos transportes ou dos
restaurantes (Kang et al, 2014, citado por Rogerson, 2015).
Em casos como Portugal, Espanha, França ou Itália o turismo é visto como um fator de
desenvolvimento de áreas periféricas ou rurais. Permitindo que estas áreas se tornem
potenciais atrativos turísticos. Em Portugal esta realidade é bem visível, por exemplo,
no interior, especificamente nas zonas das Aldeias Históricas de Portugal, o turismo
veio trazer uma nova vida a estas aldeias que estavam a ficar degradadas. Em muitas
situações é o turismo que faz renascer estas comunidades que atualmente não possuem
muitos recursos que sejam exploráveis.
Como refere Rogerson (2015), o turismo irá introduzir recursos a determinadas
comunidades, como é o caso dos recursos financeiros, que levarão a um investimento
noutros recursos da comunidade. É de salientar que apenas é possível que haja
desenvolvimento se forem integrados alguns recursos e a comunidade local.
Para Marujo e Carvalho (2010) o turismo pode trazer efeitos negativos e positivos.
Dentro dos positivos salienta-se o facto de poder contribuir para o melhoramento da
economia de uma região, mas em contrapartida pode degradar o ambiente. De acordo
com Neves (2007) o planeamento turístico pode provocar efeitos positivos no destino
turístico. Entre eles salienta-se o facto de poder diminuir os impactos potencialmente
negativos e aumentar os retornos económicos dos destinos. Consequentemente, a
comunidade local irá aceitar melhor os turistas que visitam o destino.
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
24
A importância do turismo para o desenvolvimento de uma região recai sobre alguns
aspetos, muito relacionados com a economia como é o caso da chegada de turistas
internacionais que contribuem para a balança de pagamentos, que é a principal razão
para os governos investirem no desenvolvimento deste setor. Petrillo e Swarbrooke
(2004) afirmam que em 1998 os turistas internacionais do Reino Unido introduziram na
economia £12.7 milhões, representando 4.6% do total das exportações. Wall e
Mathieson (2006) afirmam que há autores que consideram que existem empresários que
defendem que o turismo é um meio fácil para atingir o nível desejado de
desenvolvimento económico.
Petrillo e Swarbrooke (2004) afirmam que nos países desenvolvidos o turismo não é
visto unicamente como estímulo para o desenvolvimento, mas também como
potenciador das alterações económicas e políticas. Estes autores também definem o
conceito de desenvolvimento, dizendo que se refere a um processo através do qual a
sociedade se move de um estado para outro.
O caso das ilhas do Índico, Seychelles e Maldivas são exemplos do poder económico do
turismo. Na Índia, por exemplo, o turismo contribui apenas 0.8% para o PIB, já no
Chipre contribui 20%. No caso do Chipre o turismo contribui em larga escala para o
desenvolvimento de algumas regiões, pois os recursos deste país são mais favoráveis à
atração de novos turistas e este setor emprega muitos residentes.
Scheyvens (2011, citado por Farmaki 2014) afirma que as políticas do turismo deveriam
contemplar os princípios de sustentabilidade económica, social e ambiental. Deste
modo, às gerações futuras não estariam condicionadas ao acesso a determinados
recursos. Isto é, os planos de desenvolvimento local para além de estarem interligados
com todas as empresas do setor do turismo, também deveriam estar enquadrados nos
princípios de sustentabilidade. Desta forma, o turismo de massas não seria um tipo de
turismo preferencial para estas regiões.
É nesta ideia que surge a integração do conceito de turismo sustentável, que segundo os
autores requer que haja uma satisfação das necessidades dos turistas tendo em atenção
que terão que ser protegidas e potenciadas novas oportunidades para o futuro daquela
região. Inicialmente o turismo sustentável era considerado uma alternativa ao turismo de
massas. Inskeep (1991, citado por Marujo e Carvalho, 2010) afirma que o turismo
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
25
sustentável requer que haja um conhecimento e satisfação das necessidades presentes
protegendo e garantindo as oportunidades futuras. Deste modo, Lopes (2002) afirma
que é impensável definir uma sociedade como desenvolvida quando o uso dos recursos
presentes pode não ser garantido para as sociedades futuras.
Butler em 1980 cria o ciclo de vida dos destinos como forma de demonstrar a evolução
dos destinos turísticos ao longo do tempo. Numa primeira fase classificada como
emergência/introdução o destino começa a penetrar no mercado, podendo surgir como
uma nova marca. A sua viabilidade está sujeita a técnicas de marketing e a sua aceitação
por parte do mercado alvo. Nesta fase há um grande investimento a nível monetária e se
se tornar um projeto de sucesso haverá retorno.
A segunda fase é o crescimento, nesta fase o destino já está consolidado no mercado, já
se tem retorno do investimento inicial, mas é necessário continuar a investir, pois o
produto ainda se encontra numa fase de crescimento. A terceira fase é designada por
maturidade, onde o destino já conquistou o mercado e já se encontra definido o seu
público-alvo. Nesta fase a chegada de visitante já não é tão elevada, comparativamente
à fase anterior, logo o retorno financeiro começa a diminuir. Nesta fase é necessário ter
particular atenção, pois o crescimento pode estagnar. A quarta fase designa-se por
declínio ou rejuvenescimento. Nesta fase o destino ou entra em declínio ou surgem
novos produtos que o vão fazer crescer novamente. É nesta fase que muitos dos destinos
conhecidos pelo turismo de massas passam a investir em outras formas de turismo,
como forma de atrair outros segmentos de mercado. Este rejuvenescimento é apenas
possível através do planeamento responsável.
3.6 Planeamento em turismo
O planeamento é um aspeto essencial no setor do turismo porque é uma forma de
controlar o desenvolvimento e uma forma de distribuir e redistribuir os investimentos.
No caso do controlo do desenvolvimento, o planeamento permite que tanto serviços
como infraestruturas sejam analisadas e geridas da melhor forma possível (Williams,
1998).
O planeamento é um processo contínuo, permanente e dinâmico cujos objetivos irão
contribuir para o desenvolvimento de uma região. Integrando assim todos os setores que
compõem aquela comunidade. Deste modo o planeamento resulta num estudo
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Turismo, parcerias e desenvolvimento local: o caso da Figueira da Foz
26
aprofundado dos recursos existentes numa região. Resultando numa identificação dos
principais problemas, forças, oportunidades e ameaças da região.
Designado de planeamento estratégico, este pode contribuir para garantir a qualidade,
sustentabilidade e competitividade de um destino (Silva, 2014), uma vez que permite
uma oferta diversificada maximizando os efeitos positivos e combatendo os efeitos
negativos. De acordo com a mesma autora, as zonas costeiras carecem normalmente de
planeamento adequado, o que provoca desequilíbrios tanto ao nível da oferta como da
procura. A autora salienta algumas das consequências deste não planeamento: oferta
concentrada numa pequena área geográfica, o que origina uma sobrecarga de
construção; a falta de produtos complementares o que conduz a uma elevada
sazonalidade; o destino fica dependente de um número restrito de mercados emissores; e
por fim, a imagem do destino é pouco estruturada e baseia-se no produto sol e mar.
Silva (2014) refere-se ao modelo Produto- Espaço desenvolvido por Costa, C., Panyik,
E. & Buhalis, D. (2014) para explicitar o desenvolvimento de um território através do
seu planeamento. Primeiramente, para um bom planeamento, é necessário que se faça
uma inventariação de todos os recursos existentes no território e depois dividi-los em
clusters. Desta inventariação sairão os produtos estruturais, conhecidos como honey
pots que definem a marca de um destino. Para um planeamento eficaz é necessário que
exista inter-relação com os stakeholders para trabalharem em redes. Através destes
mecanismos é possível criar estratégias/políticas que combatam alguns dos problemas
dos destinos e levaram ao desenvolvimento local.
No caso do planeamento turístico local, este concentra-se mais nos serviços locais e
infraestruturas de apoio ao turismo, controlo do desenvolvimento e gestão das
atividades dos visitantes. Os planos de desenvolvimento locais são mais pequenos que
os regionais e são mais direcionados para uma região específica (Williams, 1998).
Para Middleton (1990, citado por Neves, 2007) o planeamento pretende: “enquadrar o
desenvolvimento do turismo numa estratégia atendendo a várias envolventes, valorizar
o potencial dos recursos, explorar as oportunidades do futuro de forma pró-ativa e
sustentada, garantir a sustentabilidade do desenvolvimento, articular o turismo com o
ordenamento do território e o planeamento urbanístico, defender posicionamentos claros
e diferenciadores e construir uma matriz estratégica”.
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De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT) (2002, citado por Neves,
2007) um plano de desenvolvimento regional de turismo tem que ser específico para
uma determinada região e este levará a uma orientação dos pressupostos do seu
desenvolvimento. Desta forma, este plano deve ser específico e integrar diversos fatores
que condicionam o desenvolvimento, tais como: “acessos regionais e rede de
transportes; necessidades das atrações turísticas e sua localização; localização das áreas
de desenvolvimento turístico e de resorts; quantidade e qualidade das facilidades e
serviços turísticos; impactos socioeconómicos, culturais e ambientais do turismo;
educação e formação turística na região; estratégias de marketing e programas
promocionais; organização, gestão e implementação do plano de desenvolvimento
turístico” (OMT, 2002, citado por Neves, 2007, p. 82).
3.7 Plano Estratégico Nacional de Turismo
Em Portugal o Plano Estratégico Nacional de Turismo Horizonte 2013-2015 (PENT)
procurou dar resposta às necessidades exigidas pelas mudanças a nível económico que
se registaram, incluindo no setor turístico em Portugal. Num mundo globalizado, a
concorrência entre destinos turísticos é alta e os destinos turísticos têm que ter a
capacidade de gerir todos os seus recursos de forma a torna-los competitivos. No caso
do turismo de sol e mar a concorrência é muito elevada, pois Portugal é constituído a
ocidente e a Sul pelo Oceano Atlântico e desta forma tem inúmeras praias classificadas
que atraem os mais diversos tipos de turistas. No caso das praias do Algarve, um dos
destinos de maior potencial atrativo em Portugal, a competição entre as diferentes praias
é elevada. Comparativamente às praias localizadas no Norte de Portugal, o Algarve
conseguiu reunir todos os seus recursos como forma de atrair mais turistas. Aquando do
aparecimento de outros destinos turísticos estrangeiros, como Saïdia em Marrocos, o
destino Algarve sofreu uma quebra muito acentuada. Já no caso dos destinos mais
distantes, como Caraíbas e Seicheles, a inovação fez com que muitos turistas
preferissem apostar em férias mais longas e mais caras, mas com outras condições e
clima que na Europa não teriam.
O PENT tem como principal meta o aumento do número de dormidas e o aumento da
receita turística. É a Madeira que regista o maior número das dormidas de 2010 a 2013,
seguindo-se o Algarve com uma média de 4,7 dormidas entre 2010 e 2013. A região que
regista as dormidas mais baixas é o Norte de Portugal com uma média de 1,7 dormidas.
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O Alentejo é igualmente uma região que regista um número muito baixo de dormidas. A
região do Norte, Centro, Lisboa e Alentejo são regiões de passagem e não de
permanência dos turistas, pois o número de noites que os turistas permanecem nestas
regiões é bastante baixo.
O PENT destaca dez produtos estratégicos para Portugal:
Sol e mar
Circuitos turísticos
Dinamização das estadias de curta duração em cidades
Turismo de negócios
Promoção do Algarve como destino de golfe de classe mundial
Estruturar a oferta de turismo de natureza
Turismo náutico
Turismo residencial
Turismo de saúde
Gastronomia e vinhos
Na presente dissertação é apenas tido em conta o produto sol e mar. Este produto
necessita de ser valorizado através da melhoria das condições dos “recursos,
equipamento, serviços e envolvente paisagística” (PENT-2013-2015, p. 10). Uma das
principais características deste produto é a sua forte sazonalidade, deste modo é
necessário que se integrem outras ofertas de forma a complementar a oferta destes
destinos.
Os principais mercados emissores de turistas de sol e mar para Portugal são a
Alemanha, o Reino Unido, Escandinávia, Rússia, França, Holanda, Itália e Áustria
(PENT 2013-2015). Como é natural o principal país concorrente de Portugal é Espanha,
devido à sua proximidade e a um conjunto de fatores que torna as praias espanholas tão
bem conceituadas como as portuguesas. De acordo com a publicação feita pelo Turismo
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de Portugal, 10 produtos estratégicos para o desenvolvimento do turismo em Portugal –
Sol e Mar, a principal motivação para quem viaja para um destino de sol e mar é o
relaxamento e a realização de atividades de baixa intensidade. De acordo com o estudo
levado a cabo pela THR, publicado pelo Turismo de Portugal, o produto sol e mar é
responsável por 5 milhões de viagens por ano, dentro do mercado europeu,
correspondendo a 2% do total de viagens por eles realizadas e 7% das viagens do
mundo.
No estudo salientado anteriormente são realçados apenas quatro destinos em Portugal de
sol e mar: Algarve, Lisboa, Alentejo e Madeira. No Algarve salientam-se os seus
200km de costa e o facto de um terço das praias ter Bandeira Azul. Nesta região o
planeamento do território iniciou-se em 1991, onde a proibição de construção de hotéis
e resorts fora dos núcleos populacionais, o investimento do setor público em
infraestruturas, a melhoria do aeroporto de Faro, a criação e melhoramento da rede
ferroviária e viária e com a criação de parques temáticos capazes de atrair visitantes fora
da época alta. Já no caso de Lisboa é dado destaque à Costa do Estoril, nesta região
salienta-se o facto do setor público e do setor privado funcionarem separadamente. O
Alentejo, com os seus 180 km de costa ainda é pouco procurado se comparado com o
Algarve, embora possua onze praias com Bandeira Azul. Por fim a Madeira, possui
umas das praias mais fantásticas situada em Porto Santo que possui Bandeira Azul.
Nesta região existem, porém, alguns problemas que o planeamento tenta resolver como
é o caso da valorização que recursos que atualmente não estão a ser explorados
complementando assim a oferta existente. A abertura do arquipélago aos voos low-cost
fez com que mais pessoas se interessassem em visitá-lo.
Marujo e Carvalho (2010) afirmam que o planeamento tem um papel relevante no
desenvolvimento turístico de uma região que resultará no desenvolvimento e
revitalização social e cultural. Desta forma apenas é possível haver planeamento quando
há crescimento do turismo. Este depende das políticas de cada região ou de cada país.
De acordo com Gunn (1994, citado por Marujo e Carvalho, 2010, p. 148) o
planeamento é “estratégico, integrador, participativo e pluralista”. Em Portugal todos os
municípios têm um plano de desenvolvimento, que estabelece regras e objetivos.
Contudo, apenas alguns têm integrado o setor do turismo. A Figueira da Foz, região
estudada ao longo da dissertação, é um exemplo de um município que integrou o
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turismo como um dos seus principais pilares de desenvolvimento, no seu plano
estratégico, que será desenvolvido e analisado de seguida.
3.8 Conclusão
Ao longo dos anos ao conceito básico de desenvolvimento foram se agregando outros
conceitos, pois as preocupações tanto a nível ambiental como social foram aumentando.
Atualmente já não é possível se pensar em desenvolvimento de um território sem se
pensar em todas as suas amplitudes sejam sociais, ambientais, políticas e económicas.
Assim o desenvolvimento local requer que haja uma participação ativa de toda a
população que constitui o território, pois é quem tem o conhecimento mais aprofundado
dos recursos e que em muito casos consegue dinamizar melhor todo o espaço.
Todo o processo de desenvolvimento local necessita a inclusão dos atores políticos.
Estes são responsáveis pela regulamentação que define os objetivos, as regras e as
medidas de ação. No caso de Portugal este é feito a nível nacional pelo Estado e a nível
local pelas Câmaras Municipais. Contudo esta participação por vezes torna-se difícil
pois a população ou não é ouvida ou caso seja cria um conjunto de impedimentos
poderão atrasar todo o processo de desenvolvimento.
É necessário dar especial atenção aos tipos de turismo que poderão surgir quando se
pensa no desenvolvimento de um território. É fundamental que haja a integração de
todos os setores de atividade que dele fazem parte e que o turismo praticado naquele
território tenha como base o desenvolvimento sustentável da região.
Quando a nível local se considera a integração de um dos setores que atualmente
maiores receitas gera na economia do país, é necessário que surjam um conjunto de
medidas regulamentares que estimulem o crescimento do setor e simultaneamente
estabeleçam limites a potenciais efeitos negativos que promovam o crescimento
sustentável do setor. Porém o planeamento que é praticado em Portugal nem sempre é
efetivo pois em alguns locais não é tido em conta todo o potencial turístico da região
desenvolvendo-se apenas pequenos segmentos.
Em suma, o turismo é um dinamizador económico que garante em muitos países a
criação de emprego e o melhoramento de serviços. Todavia é necessário ter em atenção
que todo o processo de desenvolvimento deste setor pode levar a um uso desajustado
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dos recursos existentes no território ou à perda de identidade. Deste modo, é
fundamental ter em atenção todas as características de um território aquando a intenção
do desenvolvimento do turismo. É essencial que a população local seja ouvida e que
seja integrada em todo este processo, bem como todos os setores locais que compõe a
economia de uma região.
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Capítulo 4 – As parcerias no setor do turismo promotoras do
desenvolvimento
4.1 Introdução
Como foi visível no capítulo anterior, o contributo do turismo para o desenvolvimento
local, assente na sustentabilidade, requer um planeamento cuidado, para que as ações
dos diferentes atores convirjam para o resultado esperado. Assim, e dada a
interdependência dos diferentes atores para alcançar os objetivos contemplados no
planeamento, poderia assumir-se que as diferentes entidades tendem a trabalhar em
conjunto na promoção de um desenvolvimento local sustentável, e que garanta que o
destino turístico é competitivo.
No entanto, num sector fortemente fragmentado como o turismo, onde o planeamento e
implementação das estratégias definidas requerem a participação de diferentes entidades
– como câmaras municipais, associações do setor, empresas – com lógicas de
funcionamento, necessidades, objetivos e enquadramento legais distintos, esta
coordenação poderá ser um desafio. Neste sentido, e se a relação entre turismo e
desenvolvimento local é mediada pela existência de um planeamento, as parcerias
estabelecidas são peças centrais para compreender como este planeamento é definido e
implementado. Assim, e para responder à pergunta de partida deste trabalho, este
capítulo explorará, num primeiro momento, o conceito de parcerias, sendo
posteriormente explorado o seu potencial impacto no setor turístico bem como os
limites e obstáculos identificados na literatura. Por fim, o conceito de parcerias será
articulado com o sistema turístico, por forma a mapearmos a teia de interações
associadas ao setor
4.2 Conceito de parcerias Erkus e Eraydin (2008) referem que na década de 90 emergiram estudos que
enfatizavam o aumento de parcerias colaborativas como fator chave para a resolução de
problemas ambientais. Para estes autores as parcerias eram estabelecidas quando era
identificado um problema numa situação de crise sendo resolvido através de ações
proactivas, como novos projetos.
Para Ndou e Passiante (2005) as parcerias são um sistema complexo onde as empresas
fazem parte de um serviço ou produto e interagem com o objetivo acrescentar valor ao
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seu produto. Dredge (2004) refere que as interações se baseiam em relações formais e
informais que resultam da colaboração entre os governos, setor dos serviços/indústria e
a sociedade, incluindo assim no seu conceito outras entidades para além das empresas.
Desta forma, a descentralização impulsiona o estabelecimento de parcerias, que podem
ser formais ou informais, exemplo de parcerias formais são as associações, as
cooperativas, as agências de desenvolvimento e as fundações. Estas só podem ser
estabelecidas quando os membros têm interesses e objetivos comuns (Barbosa, 2012).
Porém quando são criadas para a concretização de um projeto deverão ter características
específicas que levem à sua união. Para a autora a base para o estabelecimento de
parcerias de uma empresa é a sua capacidade de relacionamento com outras empresas.
De acordo com Araújo e Bramwell (2002) os principais benefícios das parcerias passam
pela partilha de conhecimento entre os diferentes representantes de cada
empresa/organização, a partilha de experiências, o aumento do capital, a introdução de
novos recursos e a implementação de políticas mais eficientes.
Como foi referido anteriormente, a descentralização do poder é essencial para o
estabelecimento de parcerias. Desta forma um regime democrático proporciona o seu
estabelecimento de forma eficaz entre o setor público e privado (Augustyn e Knowles,
2000). Neste caso são estabelecidas conforme um acordo legal e são baseadas no
estabelecimento de ligações formais. Quando são organizadas horizontalmente, as
empresas são do mesmo ramo de atividade. Para os autores há vários fatores para
compreender se a parceria é eficiente, não podendo ser apenas analisados os fatores
económicas, mas também os sociais, tecnológicos, entre outros.
Gray (1986, citado por Neves, 2007) cria um modelo onde identifica as fases do
processo de criação de uma parceria, bem como o seu desenvolvimento. Na primeira
fase, designada de “definição do problema” o autor identifica alguns dos aspetos