trecho do livro "horizonte"

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Page 1: Trecho do livro "Horizonte"
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Guia dos espíritos animais

Coelho

O Coelho representa a criatividade, a fertilidade e a nova vida. Ele nos en-sina a planejar e a colocar os planos em ação. Comumente caçado, o Coe-lho cria túneis na terra, abertos nas duas extremidades e usados para fuga, lembrando-nos de que nunca devemos nos permitir ser acuados em um canto. Com a habilidade de passar de uma postura imóvel a outra de gran-de velocidade, de fazer curvas rápidas e de dar meia-volta, o Coelho nos encoraja a tirar vantagem das oportunidades fugazes. Ativo no amanhecer e no entardecer, os Coelhos são guias para o mundo místico, mostran do-nos como reconhecer ensinamentos ocultos, mensagens intuitivas e sinais no uni-verso ao nosso redor.

Carneiro

O Carneiro representa novos começos, o equilíbrio e a imaginação. Ele nos ensina a confiar na nossa habilidade de aterrissar em segurança enquanto aproveitamos novas oportunidades e perseguimos novos empreendimen-tos. Capaz de se manter em pé em um pedaço pequeno de rocha, o espí-rito do Carneiro garante coragem e equilíbrio durante o tempo em que se-guimos pela vida e pelo caminho espiritual. O chifre em espiral é um símbolo de criatividade e imaginação, e o Carneiro nos capacita a ser es-pontâneos e a buscar grandes aventuras.

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Bisão

O Bisão representa a abundância, a gratidão e a vida sagrada. Ele nos en-sina a trabalhar em ritmo natural, a seguir o caminho mais fácil e a não forçar nosso percurso pela vida. Sua cabeça imensa e seus ombros corcun-das são símbolos de poder armazenado e abundância. O espírito do Bisão nos lembra de que, ao combinar nossos esforços com os do divino, pode-mos desfrutar da plenitude do universo. Seu tamanho enorme nos adver-te que precisamos permanecer ligados à terra e percorrer um caminho sa-grado, sempre ser humildes e gratos pelos presentes que aparecem no nosso caminho e honrar a nós mesmos e aos demais.

Tartaruga

A Tartaruga representa a perseverança, a determinação e a longevidade. Ela nos ensina a autoproteção por intermédio da defesa não violenta. Criatu-ra da costa, que vive tanto na terra quanto na água, a Tartaruga nos incen-tiva a proteger a natureza, para que ela possa continuar a nos nutrir e pro-porcionar abundância. Um dos répteis mais antigos do planeta, o espírito da Tartaruga nos instrui a permanecer em contato com nossa essência pri-mal, a nos recolher dentro de nós mesmos, a desacelerar e a expressar nos-sas ideias apenas quando elas estiverem maduras. Com a habilidade agu-da de sentir vibrações por meio da pele e da carapaça, a Tartaruga nos encoraja a despertar nossos sentidos, tanto física quanto espiritualmente.

Lince

O Lince representa a paciência, o discernimento e a solidão. Ele nos ensi-na a estar sozinhos conosco mesmos, sem ficarmos solitários. Caçador rea-lizado, que depende da estratégia, da discrição e da paciência, o Lince nos lembra de que, para alcançarmos nossos desejos, temos de planejar bem, ser ágeis e, acima de tudo, pacientes. Com orelhas peludas sensíveis e vi-são aguda, o espírito do Lince nos encoraja a explorar o mundo invisível e a buscar os significados ocultos, a fim de entender melhor o caminho es-piritual que percorremos. Sua cauda curta, negra na ponta e branca em-baixo, é o símbolo do seu poder de convocar ou não as forças criativas da vida conforme necessário.

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Nosso temor mais profundo não é sermos inadequados. Nosso temor mais profundo é termos poder além da medida.

É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos assusta. – Marianne Williamson

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espírito do cavalo

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Um

Daire

Já faz meses desde a última vez que tive o sonho.Meses desde que fiquei presa em suas garras inflexíveis.E embora eu tente resistir, tente forçar meu caminho de volta à segu-

rança da consciência, continuo a escorregar.Estou ciente, mas não lúcida.Não consigo controlar o sonho.Como sempre, começa na floresta. Uma floresta que existe no Mundo

Inferior – aquela dimensão invisível que se abre sob este mundo, o Mun-do Mediano, com o Mundo Superior espalhando-se acima.

É um lugar que visitei muitas vezes, tanto acordada quanto em sonhos. Um lugar que consiste principalmente em compaixão, amor e luz.

Principalmente.Mas não inteiramente.Ou, pelo menos, não esta noite.O Corvo me guia. Ele voa sobre uma paisagem imutável de ar fresco

puro e amplos campos verdejantes, com viçosas folhas elásticas que bro-tam sob os pés. Seus olhos púrpura brilham, incentivam-me a passar por um bosque de árvores altas, cobertas com folhas tão grossas que só o mais leve traço de luz as atravessa.

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O Corvo é impulsionado por um propósito.Sou impulsionada pela necessidade.Junto a um desejo irreprimível de me reunir ao garoto que espera por

mim.Um garoto que não é mais um estranho. Não é mais sem rosto nem sem

nome.Agora que assistimos à morte um do outro, agora que somos íntimos,

não há segredos entre nós.No sonho, Dace tem o mesmo cabelo escuro brilhante e a pele casta-

nha reluzente da vida real. Os mesmos olhos surpreendentes, azul-gelo, com a borda dourada, que refletem minha imagem mil vezes.

Olhos caleidoscópicos.Ele é predestinado a mim, assim como certamente sou predestinada a

ele.E, mesmo assim, com muitas respostas garantidas, a questão permane-

ce: Neste sonho em particular, qual de nós morrerá?O Corvo me leva por um vale de rochas – passando por um riacho que

se move rapidamente, repleto de vívidos peixes azuis –, só para desapare-cer no momento em que chegamos à clareira. Ele me deixa sozinha, pas-sando a mão ansiosamente pela frente do meu vestido. Um vestido que, antes, parecia inexplicável, mas que, agora, reconheço como aquele que usei no meu retorno do Mundo Superior.

As peças deste quebra-cabeça estranho e surreal finalmente começam a se encaixar.

Embora como isso vá terminar ainda seja uma incógnita.– Daire.Ele fala meu nome em algum lugar bem atrás de mim e, por um doce

momento, fecho os olhos e inalo seu odor profundo, terroso. Estendo o momento o máximo que posso, sabendo muito bem o quão breves esses instantes serão.

Ele coloca a mão no meu ombro e me vira para que eu possa encará-lo. E, embora eu tenha interpretado este papel inúmeras vezes, não é de sur-preender que eu fique sem fôlego quando meu olhar encontra os ângulos e as curvas impecáveis do seu rosto. A sobrancelha forte e macia que pode de-monstrar raiva, diversão ou desejo só com a mais leve mudança; as maçãs do rosto altas, elegantes; o queixo quadrado e a mandíbula forte; o nariz reto e confiante; os lábios carnudos e atraentes. Ele fica parado diante de

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mim, em oferenda, seu torso magro e desnudo. Mostra os ombros largos e fortes e o abdômen bem desenhado que se estreita em quadris finos e ele-gantes, onde uma calça jeans desbotada está assentada precariamente baixa.

Ele estende o braço na minha direção, coloca a mão no meu rosto. Pas-sa os dedos pelo contorno da minha mandíbula e me dá um olhar que pre-tende me assegurar de que ele está no clima também. Conhecedores do po-tencial do perigo adiante, mas determinados a desfrutar desta cena até que outra tome seu lugar, vamos para o outro lado da floresta e entramos nas águas nebulosas e agitadas da Fonte Encantada. Nós dois estamos bem cientes de que é aqui que o sonho tem uma reviravolta; mesmo assim, como peças que somos nesse jogo, nos fundimos um no outro, incapazes de des-viar do roteiro.

Os dedos de Dace deslizam pela minha carne, deixando rastros de ca-lor no caminho, enquanto seus lábios são pressionados urgentemente con-tra os meus. O beijo dele é tão fascinante que me deixa sem fôlego, em-briagada com seu toque, ansiando por mais.

Ele pega as alças finas do meu vestido, fazendo o tecido escorregar pe-los meus ombros, pela minha cintura, até que fico nua diante dele. Então ele abaixa a cabeça e leva a boca até meus seios. A sensação de sua língua brincando com minha carne faz minhas pernas enfraquecerem, minha co-luna se render. Nós dois estamos presos no doce e glorioso prazer de estar-mos juntos, até que ele levanta o queixo e diz:

– Chegou a hora. – Seus olhos são ardentes, profundos, e estão fixos nos meus.

Concordando rapidamente, aceno com a cabeça em resposta. Sinto a ver-dade por trás das suas palavras, embora não tenha ideia do que querem dizer.

– Não há como voltar. Você está destinada a ser minha.Voltar?Por que eu iria querer isso?Eu nasci para encontrá-lo – disso tenho certeza.Deixo meus pensamentos de lado e o puxo para mais perto de mim.

Meus lábios inchados, desejosos, só para descobrir que Dace não está mais diante de mim – alguém tomou seu lugar.

Alguém que tem o mesmo corpo magro e forte – o mesmo rosto escul-pido. E, ainda que os olhos tenham a mesma cor, salpicados de faixas bri-lhantes de ouro, a similaridade termina aí.

Esses olhos são frios.

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Cruéis.E, em vez de refletir, eles absorvem como o vazio que sinto que são.Cade.Meu inimigo jurado. O irmão gêmeo idêntico de Dace.Aquele que nasci para matar. Isso se ele não me matar primeiro.Puxo meu vestido com força, em uma tentativa desesperada de me co-

brir, enquanto empurro a mão em seu peito e luto para afastá-lo. Mas ele é incrivelmente forte e permanece onde está.

– Aonde ele foi? O que você fez? – meu olhar dispara ao redor.Minha questão é respondida com uma inclinação de sua cabeça, a so-

brancelha erguida e um absurdamente murmurado:– Quem?– Dace! Onde ele está? O que você fez? – As palavras saem agudas e gri-

tadas, embora não sejam páreo para o latejar frenético do sangue que cor-re em meus ouvidos, para meu coração disparado dentro do peito.

– Eu sou Dace. – Ele sorri. – E Dace é eu. Somos um e o mesmo. Pen-sei que soubesse disso agora. – Ele sorri, e assisto horrorizada ao momen-to em que seu rosto se transforma para parecer com o de Dace, antes de voltar ao rosto sinistro de Cade. Transmutando entre um e outro, uma vez e outra, até que acerto o punho em seu ombro, lutando para me libertar.

Não é assim que o sonho acontece.Não gosto deste novo final.– A luz e a escuridão. O yin e o yang. O negativo e o positivo. Estamos

conectados, ligados de maneiras místicas. Um não pode existir sem o ou-tro, como você já sabe.

– Vocês podem estar conectados, mas não são o mesmo. Dace não tem nada a ver com você. Você é um demônio, um trapaceiro, um… – O ros-to se transforma novamente em Cade, e eu, por fim, me liberto. Desespe-rada para alcançar a terra firme, só para descobrir que a paisagem mudou.

A Fonte Encantada se metamorfoseou em um platô estreito no alto de uma montanha que se projeta acima da terra.

Diante de mim há um abismo infinito. Atrás de mim está Cade.Prefiro morrer nos meus próprios termos, do meu jeito, e avanço até

que os dedos dos meus pés alcançam a beirada.

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– Daire, por favor. O jogo acabou. Não dá mais para fugir – ele declara.Seguro o vestido nas mãos, só para descobrir que ele também mudou.

Não é mais o vestido branco que usei no Mundo Superior, mas um vesti-do vermelho escuro, com uma saia rodada, as costas desnudas e um deco-te profundo na frente.

Sem hesitação, levanto os braços para o lado e os balanço precariamen-te. Permito que o vento me pegue, me torne esvoaçante e sem peso en-quanto flutuo pelo éter, tão leve quanto uma pena do Corvo.

Uma sensação gloriosa que tento desesperadamente prolongar – embo-ra o efeito seja breve quando Cade segura a parte detrás do meu vestido e me puxa de volta para ele.

Passando um braço ao redor da minha cintura, ele me aperta com for-ça e diz:

– Pare de lutar comigo. Goste ou não, este é seu destino. Chegou o mo-mento de finalmente fazermos isso.

Tento responder, mas minha voz não sai.Tento me esquivar de seu toque, mas estou paralisada no lugar.Capturada no abismo infinito do seu olhar, estou impotente, sob seu

comando.Observo quando ele levanta minha mão e coloca um brilhante anel de

turmalina azul no meu dedo.

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