tratamento de sementes
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL
DEPARTAMENTO DE FITOSSANIDADE
TRATAMENTO DE SEMENTES
Prof. NERI MAUCH
PELOTAS, RS Dezembro de 2003
TRATAMENTO DE SEMENTES
Prof. NERI MAUCH1
INTRODUÇÃO
O tratamento de sementes é, provavelmente, a medida mais antiga,
barata e, às vezes, a mais segura e a que propicia os melhores êxitos no
controle das doenças de plantas.
CONCEITO
Designa-se por tratamento de sementes ao conjunto de práticas especiais
a que as mesmas são submetidas e que tem por fim principal torná-las ou
mantê-las indenes à ação dos patógenos.
HISTÓRICO
A mais antiga referência sobre tratamento de sementes é encontrada 60
anos depois de Cristo, quando Plínio o Antigo recomendava a imersão de
sementes de trigo em vinho ou suco de folhas de cipreste para controlar o
“Míldio” (provavelmente o CARVÃO COBERTO).
A literatura chinesa de 900 anos depois de Cristo menciona
recomendações sobre o uso de arsênico, para controlar as pragas e doenças
causadas por seres vivos habitantes do solo. Mas o tratamento de sementes
somente foi intensificado a partir de 1663-1670, quando sementes de trigo,
1 Engenheiro Agrônomo, Professor Adjunto do Departamento de Fitossanidade da Faculdade de Agronomia “Eliseu Maciel”, Universidade Federal de Pelotas.
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recolhidas de um barco oriundo da Austrália e que naufragou no canal de
Bristol, próximo à Inglaterra, foram recolhidas por agricultores e, por estarem
salgadas (imprestáveis para outro uso), plantaram-nas e, como resultado, as
culturas delas originadas apresentaram-se livres do “carvão” (Tilletia foetida)
em comparação com aquelas das sementes normais, devido à ação fungicida
da água salgada.
Em 1733, na Inglaterra, JETHRO TULL recomenda imersão de sementes
de trigo em salmoura, seguida de mistura com cal.
No ano de 1755, os alemães estudaram o uso do arsênico e do sublimado
corrosivo (cloreto mercúrio). Igualmente, neste ano TILLET, na França,
descreveu a redução da “cárie” do trigo pelo tratamento das sementes com
uma mistura de sal e cal e propôs outros processos de tratamento, como: lavar
as sementes com água, aplicar soda cáustica e polvilhá-las com cal. O
resultado foi tão positivo que o rei da França ordenou a publicação e
distribuição das recomendações propostas por TILLET, em todo o reino,
tornando-se assim a primeira recomendação oficial em nível de governo, para o
tratamento de sementes, visando o controle de doenças.
Em 1761, começaram as derivações do tratamento de sementes com sal
e cal.
No ano de 1807, PREVOST demonstrou as propriedades fungistáticas e
fungicidas do CuSO4 a uma concentração de 1:10.000, na qual matava os
esporos de Tilletia sem prejudicar as sementes de trigo, explicando
cientificamente as bases do controle da doença. Porém, seus trabalhos foram
rejeitados pela Academia Francesa, pois ia de encontro à teoria da geração
espontânea que predominava na época.
O uso do sulfato de cobre se tornou popular, a partir de 1858, época em
que KUHN publicou um livro sobre FITOPATOLOGIA, no qual descrevia o seu
uso com as recomendações.
JENSEN, em 1889, descreveu o uso da água quente no tratamento de
sementes, o qual se mostrou eficiente no controle dos carvões de trigo e
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cevada. Consistia em imergir as sementes em água a 55oC, durante 15
minutos, e a seguir espalhá-las em camadas finas para secarem.
GEUTHER, em 1895, na Alemanha, e BOLLEY, em 1897, nos EE.UU.,
introduziram o formaldeído para controlar o “carvão voador” da aveia, tendo
sido amplamente difundido apesar de causar alguns danos na semente.
TUBEF, em 1902, dado ao incômodo tratamento de sementes com água
quente e solução de sulfato de cobre, usou carbonato de cobre em pó, para o
tratamento visando a cárie do trigo, iniciando assim a era do tratamento de
sementes a seco, com fungicidas.
REIHM, na Alemanha, por volta de 1917, introduziu o primeiro mercurial
orgânico líquido, o clorofenol mercúrio. Com o advento da Segunda Guerra
Mundial, e com medo de faltar mercúrio, os organomercuriais foram
substituídos por outros grupos de compostos não mercuriais.
O primeiro composto, o cloranil, com nome comercial de “SPERGON” foi
lançado no mercado em 1938 e logo foi seguido pelo tiram com o nome
comercial de “ARASAN”, lançado em 1942, recomendado para o tratamento de
sementes sensíveis a danos provados pelos mercuriais.
Em 1946, a DU PONT CHEMICALS introduziu o método de tratamento
denominado “SLURRY” (será visto com detalhes posteriormente em métodos
especiais), resolvendo as desvantagens do tratamento a seco.
Como o tegumento da semente pode romper e desprender-se no
tratamento úmido, houve a necessidade de se desenvolver um método que
pudesse tratar as sementes a seco e propiciasse a sua cobertura uniforme e
que, por difusão, o fungicida atravessasse a casca da semente, conferindo
ação interna contra o patógeno.
Em 1970, pesquisadores da Universidade de Illinois, nos EE.UU.,
experimentaram o diclorometano como solvente para fungicidas e descobriram
que as sementes de soja poderiam ser tratadas com fungicidas, sem as
desvantagens apresentadas pelo tratamento em meio aquoso. Neste mesmo
período, pesquisadores da UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, MG,
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descobriram que acetona, clorofórmio, benzeno e etanol podem ser utilizados
como veículos para fungicidas, no tratamento de sementes de soja, feijão e
hortaliças. Verificaram que a tolerância das sementes aos solventes orgânicos
varia com o tipo de sementes, bem como entre cultivares.
O uso de solventes orgânicos representa um certo perigo para o ambiente
e para a saúde do operador. O grupo da Universidade de Illinois introduziu
então o uso de um veículo para fungicidas e antibióticos, considerado atóxico,
que é o polietilenoglicol, para tratar sementes de soja, enquanto na
Universidade Federal de Viçosa desenvolveram um tratador de sementes,
utilizando um método seguro, em que o operador não fica exposto aos
solventes orgânicos.
DISSEMINAÇÃO DOS PATÓGENOS ATRAVÉS DAS SEMENTES
É fundamental conhecer e entender o modo de transmissão do patógeno
através da semente para adotar medidas eficientes de controle dos mesmos.
a) Externamente como patógenos na semente
O patógeno fica aderido à superfície da semente sem infectá-la, onde
produz estruturas que aderem à mesma durante a colheita e trilha. A Tilletia
caries e Tilletia foetida, em trigo, e células bacterianas de Corynebacterium
fascians, em ervilha, são exemplos.
Os patógenos podem colonizar os frutos, nos espaços entre as sementes
e outras estruturas, como no caso da Peronospora manschurica (míldio da
soja) ou então se moverem até a semente como Ditylenchus dipsasi em
alface e cebola ou Ditylenchus angustus que é transportado entre as glumas
e o grão do arroz.
Pelo fato do patógeno se encontrar situado na superfície da semente,
torna-se relativamente fácil controlá-lo pelo tratamento das sementes com
fungicidas protetores.
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b) Patógenos que vão em companhia da semente
O patógeno não está intimamente associado com a semente em si, sendo
transportado junto estruturas do mesmo, como escleródios, esporos, galhas e
cistos de nematóides, etc., as quais vêm geralmente nos detritos de hastes,
colmos, folhas, partículas de solo, etc., misturadas às sementes e até mesmo
em sacos ou pacotes que servem como embalagem.
Como exemplos podemos citar: escleródios de Sclerotinia sclerotiorum,
Claviceps purpurea, Typhula sp. e Sclerotium rolfsii; cistos de Heterodera
glycines em partículas do solo, galhas causadas por Angüina tritici e
Angüina agrostis.
Se eliminadas as impurezas e/ou efetuado tratamento com produtos
adequados, há um perfeito controle da disseminação.
c) Patógenos de sementes transmitidas internamente
Neste grupo estão aqueles patógenos que sobrevivem no interior das
sementes, ficando assim protegidos da maioria dos tratamentos que controlam
com eficiência os patógenos de sementes transmitidos externamente. O
patógeno pode estar internamente em qualquer parte da semente. Como
exemplos, temos: Colletotrichum dematium f. sp. truncata ou Cercospora kikuchii na casca da semente de soja; Sclerospora philippinnenses ou
Diploidia zeae em sementes de milho; Drechslera oryzae em endosperma de
arroz; os carvões geralmente são encontrados no embrião na forma de micélio
dormente; os vírus geralmente se localizam no embrião, mas também no
endosperma, casca e na superfície das sementes podem ser encontrados;
Nematospora coryli ocorre sob o tegumento das sementes de feijoeiro,
causando destruição dos cotilédones.
O mesmo patógeno pode ser encontrado em todas as partes da semente.
Emprega-se geralmente para esses casos fungicidas sistêmicos, os quais
podem ser absorvidos pelas sementes durante o processo de germinação e
técnicas especiais de tratamento de sementes, tais como: água quente, vapor
arejado, radiações, etc.
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OBJETIVOS E FUNDAMENTOS EM QUE SE BASEIA O TRATAMENTO DE
SEMENTES
A qualidade da semente é o fator fundamental na agricultura, tendo
reflexos diretos na produção; sem uma boa semente dificilmente teremos êxito
na nossa lavoura. Muitas epifítias têm início com inóculo contido na semente.
a) Os patógenos presentes nas sementes, tanto externa como
internamente, tornam-se ativos tão logo sejam elas semeadas e o solo tenha
umidade, apodrecendo-as antes de germinarem, como acontece nos ataques
de Phomopsis sojae, em soja, e Fusarium semitectum, em sementes de
feijão vagem.
b) Os patógenos poderão não atacar as sementes mas atacarão a
plântula, durante a emergência das mesmas, causando-lhe “crestamentos”.
Como exemplo, pode ser citado o Colletotrichum dematium f. sp. truncata,
em sementes de soja. Quando a “antracnose” da soja e do feijoeiro não
causam “crestamentos” das plântulas, produzem lesões nos cotilédones, onde
o patógeno esporula, produzindo inóculo secundário, o qual irá infectar as
plantas originárias de sementes sadias, ou seja, uma semente infectada origina
uma planta doente que por sua vez contamina as sadias.
Nos casos vistos até agora, poderá ocorrer uma redução na população de
plantas por área, criando assim a necessidade de um replantio ou um aumento
na densidade de semeadura para se ter uma população adequada de plantas.
Além do fato deste procedimento onerar os custos da lavoura, proporciona um
elevado potencial de inóculo inicial para as plantas, posteriormente, no estágio
adulto ou na época de maturação.
c) Alguns patógenos não afetam a semente ou a emissão das plântulas,
mas infectam-na sistematicamente, reduzindo seu vigor e só manifestando
sintomas quando as plantas estiverem adultas ou amadurecendo.
Algumas das principais doenças desse grupo são: o “míldio” da soja
(Peronospora manschurica), cujos sintomas aparecem nas folhas de plantas
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adultas; “carvões” e “cáries” dos cereais, cujos grãos, ao serem formados, têm
muitas vezes seu conteúdo substituído por estruturas patogênicas.
O plantio de sementes sadias, porém não tratadas, não oferece garantia
de uma boa densidade de plantas se, no solo onde as mesmas forem
semeadas, houver infestação de patógenos que provoquem apodrecimento das
sementes, morte das plântulas em pré-emergência ou pós-emergência.
Os patógenos mais freqüentes geralmente são espécies de Rhizoctonia,
Pythium, Phytophthora, Fusarium, Sclerotium e de algumas bactérias,
sendo portanto necessário proteger as sementes sadias do ataque desses
patógenos, até o ponto em que os vegetais tenham desenvolvido um bom
sistema radicular, capaz de suportá-las ou tenham a capacidade de crescer ou
de tolerar o ataque desses patógenos, sem que haja prejuízos consideráveis.
De um modo bem sintético, podemos dizer que os objetivos do tratamento
de sementes são:
- Controle de doenças transmitidas por sementes;
- Proteção às sementes contra podridões e tombamento;
- Propiciar uma melhor germinação e vigor;
- Proteção contra insetos e fungos na armazenagem;
- Economia de sementes;
- Uniformização das dimensões das sementes;
- Redução do inóculo potencial dos patógenos;
- Evitar a disseminação de patógenos;
- Proteção nos estágios iniciais das plantas (plântulas).
O tratamento de sementes se fundamenta em três princípios que são a
DESINFESTAÇÃO, a DESINFECÇÃO e a PROTEÇÃO, dependendo de onde
ocorram os patógenos, em relação à semente, se sobre elas, misturados às
mesmas ou no interior delas e, também, no solo, como já foi visto
anteriormente.
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De acordo com a natureza dos agentes em que se fundamentam os
métodos de tratamento, são esses divididos em FÍSICOS, FISIOLÓGICOS e
QUÍMICOS.
PROCESSOS FÍSICOS
Fundamentam-se no emprego de meios mecânicos, envelhecimento e
calor (termoterapia). São empregados em casos especiais, particularmente
naqueles em que os processos químicos não são viáveis.
a) MEIOS MECÂNICOS: têm por fim a separação de sementes atacadas
das sadias, a limpeza de sementes infestadas, bem como a remoção de
sementes de espermatófitas parasitas misturadas às dos suscetíveis.
Esses meios são diversos, baseados nas diferenças de densidade das
sementes a separar, tamanho, forma e outras peculiaridades das mesmas,
como se observa nos processos de decantação (em soluções líquidas),
levigação (corrente líquida), ventilação e no emprego de máquinas
separadoras. Destacam-se as máquinas como meios de desinfestação de
sementes contaminadas, em que são combinados diferentes processos.
Merecem atenção especial as descuscutadeiras modernas, que têm um campo
eletromagnético, onde é separada a mistura de sementes de alfafa, de cipó
chumbo e limalha de ferro, ficando livres as sementes de alfafa em virtude da
aderência da limalha às sementes rugosas do cipó chumbo, o que determina a
atração das últimas pelo ímã.
b) ENVELHECIMENTO: é empregado nos casos em que a longevidade
dos patógenos nas sementes é menor do que a dos suscetíveis. Em sementes
de algodão, cuja viabilidade se conserva durante mais de 2 anos, o fungo
causador da “Antracnose” (Colletotrichum gossypii) somente subsiste 2
anos.
Ao cabo de 3 anos, sementes de aipo ficam livres do inóculo de Septoria
apii.
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Sementes de sorgo atacadas pelo “míldio” (Sclerospora sorghi) ficam
livres do patógeno após um período de armazenamento superior a 3 meses.
c) TERMOPERAPIA: o princípio básico do tratamento pelo calor
fundamenta-se na sensibilidade diferencial entre o patógeno e o hospedeiro.
Quanto maior a diferença entre o ponto térmico letal do hospedeiro e do
patógeno, maiores são as possibilidades de sucesso na termoterapia.
Os organismos parasitas geralmente são mais sensíveis ao calor do que
os saprófitos.
A semente a ser tratada por termoterapia deverá receber o máximo calor
que lhe cause os menores danos. Quase todos os tipos de sementes e
unidades de propagação vegetativa podem ser tratadas por alguma forma de
aquecimento desde que se conheça o que tratar, quando tratar, como tratar e
como modificar o material para tolerar a quantidade máxima de calor.
A termoterapia é utilizada como medida erradicativa de patógenos
(externos ou internos) de sementes de cereais e hortaliças, bem como partes
vegetativas de propagação, como toletes de cana-de-açúcar, etc. Ela pode ser
através da água quente, calor seco, vapor arejado e calor solar.
Embora a termoterapia tenha comprovado ser uma das medidas mais
eficientes de controle de algumas doenças importantes, não é de uso
generalizado devido possivelmente a algumas razões:
a) o tratamento com água quente é de uso menos generalizado em
culturas perenes do que os fungicidas;
b) o tratamento à quente não propicia proteção residual contra fungos do
solo;
c) há necessidade de complementar esse tratamento com uso de
fungicidas de proteção;
d) a termoterapia é ampla e incorretamente considerada como perigosa;
e) a termoterapia não tem apoio das grandes organizações comerciais,
tendo por isso pequeno valor de venda.
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Alguns fatores que determinam a diferença entre o ponto térmico letal do
patógeno e do hospedeiro são:
1 – TEOR DE UMIDADE: em geral, quanto maior o teor de umidade de
um material vivo, maior é sua sensibilidade à temperatura letal. Portanto, os
tratamentos que aumentam o teor de umidade das sementes matam-nas à
temperatura mais baixa do que aquelas que não o aumentam. Assim,
diminuindo-se o teor de umidade da semente, a diferença entre o ponto de
inativação térmica do hospedeiro e do patógeno poderá ser aumentada.
As sementes de trigo com 3% de umidade morrem em 60 minutos a
114,4oC, enquanto outras com 35% de umidade morrem dentro do mesmo
tempo a 58,8oC.
2 – DORMÊNCIA DO MATERIAL: o nível de dormência do material a ser
tratado pelo calor está diretamente relacionado com sua tolerância térmica.
Assim, as sementes quando em estado de dormência, são mais resistentes ao
calor do que as em atividade fisiológica ativa.
3 – IDADE E VIGOR DA SEMENTE: as sementes são mais tolerantes ao
calor durante os primeiros meses após a colheita, diminuindo sensivelmente
sua tolerância após o primeiro ano.
4 – INTEGRIDADE DA CAMADA EXTERNA DA SEMENTE: o tegumento
das sementes geralmente sofre danos durante a colheita e trilha, os quais são
bastante acentuados pela água quente e pelos produtos químicos.
Possivelmente, os danos não se dêem pela maior transferência do calor mas
sim pelo aumento da hidratação e extravasamento de materiais solúveis na
água.
5 – CONDIÇÕES DE TEMPERATURA DURANTE O CRESCIMENTO: a
temperatura requerida para matar um organismo depende das condições sob
as quais o mesmo tenha se adaptado. Portanto, plantas de clima quente são
mais tolerantes ao calor do que as de climas temperados e subtemperados.
6 – DIFERENÇAS VARIETAIS: os cultivares de determinada espécie
vegetal podem diferir quanto a sua tolerância ao calor. Sendo importante
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verificar separadamente a tolerância de cada cultivar ao calor, em pequenas
amostras, à temperatura recomendada, antes de se tratar o lote de sementes.
O tratamento pelo calor pode prejudicar as sementes de várias maneiras.
Os prejuízos podem variar desde um raquitismo, crescimento lento e debilitado
até a morte da semente, porém o mais comum é um retardamento na
germinação das sementes (1 a 15 dias).
Imersão em água de material suculento ou poroso pode predispô-lo a
podridões causadas por bactérias.
Sementes de leguminosas como feijão, soja, ervilha, que absorvem água,
podem sofrer rachaduras no tegumento e até desprendimento do mesmo.
Para solucionar o problema de prejuízo às sementes pela termoterapia,
RALPH sugeriu a imersão de sementes em solução de polietileno-glicol (305
g/kg de água) durante 14 dias a 15oC aumentando assim a germinação.
TRATAMENTO COM ÁGUA QUENTE
Foi o primeiro tipo de termoterapia aplicado às sementes, desenvolvido
primeiramente por JENSEN, em 1887, visando controlar o “carvão voador” do
trigo. Tem sofrido diversas variações mas é um dos mais utilizados na
termoterapia e compreende várias etapas:
1a) SELEÇÃO E PREPARAÇÃO DO MATERIAL: o material a ser tratado
deverá ser precondicionado ou selecionado para um conteúdo de umidade
adequado, dormência, condições da camada externa, tamanho, etc. O material
para o tratamento deverá estar limpo, bem vigoroso, sem partes podres
(estacas vegetativas), enfim livre de impurezas.
2a) PRÉ-AQUECIMENTO: o material deve ser colocado e imerso em um
tanque separado, contendo água a 5-6oC, menos do que a temperatura de
tratamento durante 1 minuto, evitando assim a necessidade de compensar a
queda da temperatura.
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3a) EMBEBIÇÃO COM ÁGUA: deve-se dar preferência para um maior
volume de água quente por peso de sementes, aumentando o contato com as
mesmas, assegurando a transferência do calor e diminuindo a queda da
temperatura da água do recipiente. O vasilhame contendo as sementes a
serem tratadas não deverá ser de metal, preferentemente de plástico (rouba
menos calor). As sementes deverão ficar soltas dentro do recipiente (saco
poroso ou caixas teladas), a fim de garantir o máximo de água em contato com
elas.
Existem tanques especiais onde é feito o tratamento; têm uma hélice no
fundo ou bomba de alto volume e baixa rotação, para a água circular
rapidamente. Há necessidade de um termômetro de precisão e marcação
rigorosa do tempo de imersão.
Após o tratamento, a semente deverá ser resfriada rapidamente (imergi-
las em água fria) e em seguida colocadas a secar o mais rápido possível para
evitar danos, podendo ser utilizada ventilação forçada, a 37-38oC, através de
uma coluna de sementes.
Após a secagem, recomenda-se a aplicação de fungicidas protetores.
É recomendado o tratamento com água quente para as seguintes
hortaliças: aipo, alface, cenoura, crucíferas, espinafre, pepino, pimenta e
tomate.
O pré-aquecimento é feito mergulhando as sementes por 10 minutos em
água a 43oC e depois à temperatura indicada para cada caso.
As sementes de couve de Bruxelas, espinafre, pimentão, repolho e tomate
são imersas por 25 minutos a exatamente 50oC; brócolos, cenoura, couve-flor,
couve galega, nabo, pepino, rábano e repolho chinês, 20 minutos; mostarda e
rabanete por 15 minutos; pimenta por 30 minutos a 51,6oC exatos; alface e salsão
por 30 minutos a exatamente 49oC.
A relação entre peso de sementes e da água não deve ser inferior a 1:5. O
resfriamento deve ser efetuado logo após o tratamento e em seguida secar as
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sementes na sombra à temperatura de 21 a 25oC. Para as crucíferas, é
necessário complementar o tratamento com fungicidas de proteção.
TRATAMENTO COM AR QUENTE OU CALOR SECO
Dos métodos que utilizam calor, é o menos eficiente devido a menor troca
de calor e de alguns patógenos serem mais sensíveis ao calor úmido do que ao
calor seco, por isso é menos utilizado embora seja mais fácil de aplicar e cause
menos danos à semente.
Durante o tratamento das sementes com ar quente ou calor seco, é
essencial o uso de uma estufa com controle de temperatura que não sofra
variação superior a 0,5oC, não sendo necessárias outras precauções.
Alguns exemplos do emprego deste método:
O Colletotrichum gossypii (antracnose do algodoeiro) é controlado em
duas etapas: inicialmente, as sementes são pré-desidratadas a 60-65oC, por 20
a 24 horas, diminuindo a umidade a 3,6% ou menos, e depois tratadas de 95 a
100oC, por 12 horas.
Cistos do nematóide da beterraba açucareira (Heterodera schachtii)
presentes nos lotes de sementes são controlados por tratamento a 65-70oC,
por um período de 5 a 10 minutos.
VAPOR AREJADO
Visando sanar as desvantagens dos tratamentos de sementes, pela água
quente e ar quente, BAKER experimentou um processo que poderia ser
considerado intermediário: tratamento com vapor arejado. Eis algumas
vantagens em relação ao tratamento com água quente:
- as sementes não absorvem tanta água;
- não há extravasamento de substâncias solúveis em água;
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- não há desprendimento da casca da semente;
- a germinação não é tão reduzida;
- é mais simples, menos enfadonho e causa menos sujeira;
- é mais fácil o controle da temperatura.
A temperatura do vapor é controlada por reguladores de entrada de ar e
vapor que comporão a mistura. O meio mais simples é colocar um registro de
válvula em cada tubulação, separadamente. Regulando-se o fluxo de ar e/ou
vapor, obtém-se a temperatura desejada.
Apesar do equipamento utilizado ser relativamente simples, há certos
requisitos que deverão ser observados.
A temperatura deverá ser corretamente ajustada, mantida e, juntamente
com o tempo, ser precisa.
A quantia de sementes deve ser tal que permita o aquecimento rápido,
atingindo a temperatura desejada em menos de 2 minutos. Começa-se a
contagem do tempo quando a temperatura do vapor de saída for quase igual
àquela na entrada, diferindo no máximo em 1,5oC. O vapor arejado precisa ser
movido sob pressão, de cima para baixo, através da semente. Assim, o
aquecimento de toda massa de sementes é uniforme e toda condensação de
vapor é forçada a escapar para baixo, deixando as sementes secas até o final
do tratamento.
Após o tratamento, a válvula do vapor é fechada, mantendo-se o fluxo do
ar para resfriamento rápido das sementes até que a temperatura baixe para
32oC, continuando o fluxo de ar para secá-las. Este ar preferentemente deve
ser filtrado a fim de não contaminar as sementes com patógenos existentes no
mesmo.
Este tratamento poderá ser mais eficiente para algumas sementes, se
forem mantidas em ambiente fechado, com ar saturado de umidade, à
temperatura ambiente, por 1 a 3 dias, antes de tratá-las. Aparentemente,
alguns patógenos se tornam mais sensíveis após este período.
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O vapor arejado tem sido empregado com sucesso:
Alternaria zinnie em zínia, a 57oC por 30 minutos para sementes não
hidratadas.
Phoma betae (beterraba açucareira); Phoma lingum e Alternaria
brassicae (sementes de repolho) a 56oC por 30 minutos, com sementes
hidratadas por 3 dias.
Botrytis cinerea (beterraba açucareira) a 52oC a 10 minutos sem pré-
hidratação.
TRATAMENTO COM ENERGIA SOLAR
Empregado geralmente para sementes de cereais, em países com verão
quente, onde a temperatura por volta do meio dia é superior a 40oC.
Os grãos são imersos em água, durante 4 horas, na sombra, à
temperatura ambiente. Ao meio dia, as sementes são espalhadas em camadas
finas, sobre folhas de papel e sob a ação da luz solar, aí permanecendo até as
4 horas da tarde.
O método obteve sucesso no controle do “carvão voador” em trigo e
cevada no norte da Índia e no Paquistão e para o “carvão” do sorgo e painço
na Índia, Burma e Tanzânia.
PROCESSOS BIOLÓGICOS – FERMENTAÇÃO ANAERÓBICA
O método teve início em 1953 e, de tempos em tempos, sofre
modificações. Causa menos danos do que a termoterapia, porém seu uso
ainda é bastante restrito; controle do “carvão” do trigo e da cevada.
As sementes são colocadas em um saco de pano de algodão poroso, até
a metade de sua capacidade. A seguir, é imerso em água à temperatura de
21oC ou pouco menos, durante 4 horas. Após, o saco é pendurado para
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escorrer o excesso de água, durante cerca de 30 minutos. Posteriormente, é
colocada em um barril seco, o qual deverá ser bem fechado e nele permanece
por um período de 30 a 80 horas, dependendo da temperatura média. As
relações do binômio tempo-temperatura são:
80 horas à temperatura média de 18oC;
70 horas 21oC;
60 horas 24oC;
50 horas 27oC;
40 horas 29oC e
30 horas 32oC.
As sementes deverão ser secadas à sombra, em camadas finas sobre
folhas de papel ou, então, submetê-las a uma corrente de ar cuja temperatura
deverá ser inferior a 35oC.
Após a secagem, deve-se proceder o tratamento com fungicidas de
proteção.
No controle de Corynebacterium michiganense (cancro bacteriano), em
sementes de tomateiro, também é eficiente o uso da fermentação. Os frutos
são fermentados anaerobicamente, por 96 horas, a 21oC. Durante o processo
de fermentação, há produção de ácido que inativa a bactéria. O método é
utilizado quando se espera que grande porcentagem das sementes esteja
contaminada e seja feita semeadura direta no campo.
PROCESSOS QUÍMICOS
É o método mais comumente utilizado, pois é fácil de ser aplicado em
condições onde os outros métodos não podem ser utilizados ou são
ineficientes.
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O método se fundamenta na ação química das substâncias
genericamente conhecidas como fungicidas e tem como finalidade REDUZIR
ou ELIMINAR PATÓGENOS DE SEMENTES E PROTEGÊ-LAS, BEM COMO
AS PLÂNTULAS, do ATAQUE DE PATÓGENOS HABITANTES NO SOLO.
Os fungicidas sistêmicos, que são absorvidos pelas sementes durante a
germinação, controlam infecções profundas e, na maioria das vezes,
proporcionam uma boa proteção às plântulas contra o ataque de fungos do
solo e patógenos que nelas atuam sistematicamente. São os mais avançados
produtos existentes e não só esses, mas também os outros pertencentes aos
diferentes grupos, são influenciados por vários fatores.
FATORES QUE INFLUENCIAM
Os fatores que influenciam o emprego de fungicidas são:
1 – MEIO: A influência do meio nos efeitos dos tratamentos químicos tem
sido verificada por diferentes pesquisadores.
WRIGHT observou que ataques dos fungos Pythium ultimum e
Rhizoctonia solani são mais intensos em solos ricos em nitrogênio. No solo,
os produtos químicos podem ficar retidos, por adsorção, pelas partículas
coloidais, diminuindo sua atividade tóxica. Eles podem também ser reduzidos
em compostos atóxicos por reações, ou destoxificados pelos microorganismos
do solo.
OLIVEIRA conclui que os tratamentos de sementes, em espécies
olerícolas, são benéficas sob condições de elevada umidade e temperatura
amena, isto é, sob condições que ocorrem, nesta região, do outono a princípios
da primavera.
2 – NATUREZA E CONCENTRAÇÃO DO INÓCULO: existe uma alta
correlação entre a quantidade de inóculo do patógeno na semente e a dose
requerida do fungicida. Quanto mais alta a concentração do inóculo da
semente, mais elevada deverá ser a dose para se obter um perfeito controle.
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Porém, há um limite onde o excesso poderá ser fitotóxico, ou não ficar retido na
superfície da semente, sendo então desperdiçado dinheiro.
PORTER et al. observaram que os tratamentos em sementes de trigo com
forte inóculo de Gibberella zeae são menos eficientes que em sementes com
inóculo comum. Por outro lado, em se tratando de preservar as sementes do
ataque de patógenos do solo, são os tratamentos tanto mais necessários
quanto mais freqüentes forem os fungos do gênero Pythium, considerados os
mais temíveis patógenos que habitam o solo, para sementes e plantas novas.
3 – SENSIBILIDADE DOS SUSCETÍVEIS: alguns hospedeiros são
sensíveis a diferentes fungicidas. O cobre tem ação daninha nas crucíferas, o
mesmo acontecendo com óxido de zinco, em ervilha. ALLISON e TORRIE, que
verificaram o dito fenômeno em diversas espécies, observaram também a ação
estimulante em outras, de acordo com o processo enzimático das mesmas.
4 – CONCENTRAÇÃO, MANEIRA DE APLICAR E DURAÇÃO DOS
TRATAMENTOS: o ideal é ser letal ao inóculo e não causar fitotoxidez. Certas
sementes, como as leguminosas, não podem ser tratadas via úmida porque
sofrem ruptura do tegumento, enquanto outras, como linho, tornam-se
mucilaginosas e embolam causando problemas.
Sementes em geral, tratadas com solvente orgânico mais fungicida, não
devem ser submetidas ao tratamento por um período superior a 30 minutos
pois o solvente é fitotóxico e mata o embrião das mesmas.
5 – PRÁTICAS CULTURAIS: os tratamentos de sementes não devem
interferir negativamente com outras importantes práticas culturais.
ALLISON e TORRIE verificaram que em alfafa Phygon e Arasan
estimularam a formação de nódulos nas plantas oriundas de sementes
inoculadas, enquanto LEACH e HOUSTON, empregando sais de cobre, zinco
ou mercúrio em ervilha, verificaram a inibição dos nódulos.
A fricção entre sementes pode ser aumentada com o emprego dos
fungicidas em pó, com inconvenientes para as sementes miúdas, o que pode
ser evitado pela adição de grafite em pó.
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6 – ASPECTOS TOXICOLÓGICOS: deve-se dar preferência a produtos
que atendam as necessidades, porém que sejam o menos tóxico possível para
a vida animal.
7 – MAQUINÁRIO AGRÍCOLA: os tratamentos devem levar em conta o
tipo de máquinas existentes, tanto para efetuar o mesmo como posteriormente
na ocasião da semeadura.
Os tratamentos a seco tornaram-se ineficientes devido ao surgimento de
máquinas semeadeiras com jato de ar.
8 – ASPECTOS ECONÔMICOS: deverá ser levado em consideração
aquele que tiver um menor custo, se comprovada a mesma eficácia.
Um produto químico para tratamento de sementes que preenchesse todos
os requisitos mencionados a seguir seria o fungicida ideal:
a) altamente eficiente e de amplo espectro, atividade para controlar
patógenos na parte aérea nos estágios iniciais da cultura;
b) baixa toxicidade;
c) baixa fitotoxicidade, mesmo quando usado em doses dobradas;
d) ser estável, capacidade para ser armazenado sem deteriorar;
e) dar boa cobertura às sementes, com efeito residual longo;
f) ser fácil de usar;
g) ser econômico;
h) não atrapalhar o fluxo das sementes em plantadeiras;
i) não ser corrosivo para os equipamentos;
j) aderência e tenacidade boas.
A praticabilidade dos tratamentos químicos varia com os métodos de
aplicação que podem ser: via úmida, via seca e métodos especiais.
VIA ÚMIDA: o método não é adequado para o tratamento de sementes de
leguminosas; absorvem água muito rapidamente ocasionando ruptura do
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tegumento e também para sementes de linho, as quais tornam-se
mucilaginosas, aglomeram-se, formando bolos compactos.
É um método que despende tempo, muito trabalho e espaço para
secagem das sementes.
Pode o tratamento por via úmida ser por imersão e pulverização.
1 – IMERSÃO: este tratamento envolve a imersão das sementes em uma
solução ou suspensão aquosa de um fungicida, por tempo definido, após o que
as sementes são removidas e postas a secar antes de serem plantadas ou
armazenadas.
2 – PULVERIZAÇÃO: difere do anterior, pois ao invés das sementes
serem imersas na solução fungicida elas são pulverizadas com a mesma.
VIA SECA: o método consiste essencialmente na mistura de um fungicida
em pó, nas sementes, revolvendo ou agitando-se até que fiquem recobertas
completa e uniformemente com o fungicida, o que nem sempre é fácil de se
obter. Não se recomenda esse método para sementes cujo tegumento seja
extremamente liso (cana-de-açúcar) ou muito piloso, podendo nesse caso
haver uma superdeposição de produto na superfície, requerendo por isso
precauções especiais e também pelo fato de serem, os pós, nocivos aos
operadores, uma vez inalados.
As sementes tratadas com pó deverão ser armazenadas em sacos de
pano de algodão grosso, com malhas bem fechadas.
Os tratamentos via seca podem ser efetuados em recipientes de vidro,
tambores giratórios (rotativos) e máquinas especiais.
MÉTODOS ESPECIAIS
1 – “SLURRY METHOD”
Este método é também conhecido como método da suspensão viscosa. O
fungicida é aplicado às sementes na forma de uma pasta dispersível
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(consistência semelhante à do mel de abelha) que é misturado em uma
máquina especial. Utilizam-se produtos que tenham um agente molhante na
formulação: fungicida do tipo pó molhável. Esse método admite variações:
- Uma delas consiste na mistura do fungicida seco com as sementes, na
máquina adequada para esse processo, seguindo-se a adição de 5 a 20 ml de
água por quilo de semente, visando garantir uma melhor cobertura, porém
aumentando muito pouco a umidade das mesmas.
- Outra variação, a qual funciona bem quando se tem pequenas quantias
de sementes a serem tratadas, consiste, após feito os cálculos e pesagens do
(s) produto (s) e semente (s), colocar as últimas em sacos plásticos ou
recipiente equivalente (usando no máximo metade da capacidade do
recipiente), adicionar mais ou menos 1% de água, que poderá inclusive conter
um adesivo diluído, agitando-as levemente, de modo a distribuir bem a água e
a seguir adicionar o pó molhável. Fechar o recipiente e agitar até verificar uma
perfeita cobertura das sementes pelo produto.
O método, bem como as suas variações, dispensam a secagem posterior
das sementes.
2 – FUMIGAÇÃO, LÍQUIDOS VOLÁTEIS OU FUNGICIDAS XAROPOSOS
Este método é baseado na volatilização do (s) produto (s) utilizado (s) e
consiste na aplicação direta do mesmo sobre as sementes. Logo após a
aplicação, começa a volatilização e os vapores do produto dão uma total
cobertura às sementes, eliminando desta forma os patógenos alojados em sua
superfície, bem como nos detritos vegetais ou na terra misturada a elas.Por
isso, deverá ser realizado em ambientes ou recipientes hermeticamente
fechados.
Dispensa posterior secagem, uma vez que praticamente não aumenta o
teor de umidade da semente, porém tem o inconveniente de não oferecer
proteção às sementes, quando plantadas em solos infestados.
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O brometo de metila é exemplo de produto utilizado. No passado foram
muito usados alguns fungicidas mercuriais, tais como Panogen, Tillex e outros.
3 – PELETIZAÇÃO
É um método de aplicação de produtos químicos às sementes, onde
primeiramente elas são envolvidas com um adesivo e a seguir são agitadas
com um fungicida protetor em pó, de tal modo que cada semente fique
envolvida por uma camada de pó (zona protetora), obtendo-se uma
regularização na forma das mesmas. Como adesivo, pode-se utilizar uma
solução diluída de acetato de celulose (methocel) ou solução de metil celulose
a 2,5%, onde as sementes são imersas. O leite também pode ser utilizado
como adesivo na preparação de ½ a 1 litro/100kg.
O fungicida em pó poderá ser misturado com hiperfosfato fino ou calcário
fino, geralmente na proporção de até 40%, desde que não ocorram reações
que possam ser prejudiciais às sementes.
4 – USO DO SOLVENTE ORGÂNICO
Como todos os tratamentos apresentam inconvenientes, nos EE.UU., na
Universidade de Illinois, J.B. SINCLAIR e um estudante introduziram o uso do
solvente orgânico para solucionar o problema. O solvente orgânico
permeabiliza a semente; o fungicida penetra na semente. Como exemplos de
solventes, temos o diclorometano, o clorofórmio e tetracloreto de carbono, os
quais permeabilizam as sementes aos fungicidas sistêmicos e protetores. Por
outro lado, acetona, benzeno e etanol não propiciaram penetração aos
fungicidas protetores como PCNB e clorotalonil.
O método é um tanto perigoso pois, além do problema de intoxicação do
operador, há perigo de incêndio e explosão, pois os solventes são muito
voláteis e também pelo fato de todos eles, uma vez colocados em contato com
o embrião, matarem-no.
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O tempo de tratamento não deverá ser superior a 30 minutos e deve-se
testar anteriormente as sementes para verificar a sensibilidade das mesmas ao
solvente.
CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS FUNGICIDAS PARA TRATAMENTO DE SEMENTES
1 – CAPTAN
- largo espectro;
- proteção por um período de 3-4 dias no solo;
- compatível com a maioria dos pesticidas;
- indicado para milho, sorgo, ervilha e forrageiras na quantidade de 0,2-
0,5%;
- usado em hortaliças na dosagem de 15 a 20 gramas por quilo de
semente;
- nomes comerciais: CAPTAN 50 WP; CAPTAN 75 SP; ORTHENE 50
Pó molhável.
2 – CLORANIL
- instável à luz;
- indicado para leguminosas, milho, algodão na dosagem de 0,2 a 0,3%;
- nome comercial: SPERGON.
3 – DICHLONE
- provoca irritação na pele;
- indicado para trigo (cárie), cereais, amendoim, olerícolas na dosagem
de 0,1 a 0,3%.
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4 – THIRAM
- irrita a garganta e mucosa nasal;
- indicado para cereais, ervilha, linho na dosagem de 0,2 a 1% e para
hortaliças 15 a 20 gramas por quilo de sementes;
- nome comercial: RHODIAURAN.
5 – PCNB
- indicado para controlar fungos dos gëneros Rhizoctonia, Sclerotium,
Sclerotinia, Aspergillus, na dosagem de 0,2 a 0,6%. Para o controle
de Fusarium e Pythium mistura-se com o THIRAM.
- produtos comerciais: BRASSICOL 75 PM; TERRACLOR; TERRA-
COAT; SEMETOL; LESAN.
6 – MANEB
- causa irritação na garganta e pele;
- produtos comerciais: MANZATE D; DITHANE M-45
7 – BENOMIL
- produto de ação sistêmica;
- não tem ação sob COMYCETES (Pythium);
- produto comercial: BENLATE; BENOMIL 50 PM.
8 – TIOFANATO METÍLICO
- produto de ação sistêmica;
- produtos comerciais: CERCOBIN; CERCONIL PM.
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9 – CARBOXIN
- produto de ação sistêmica;
- produtos comerciais: VITAVAX 75 PM e VITAVAX 200.
10 – TIABENDAZOLE
- produto de ação sistêmica;
- indicado para controle de Fusarium; como possui pouca atividade
contra Phytophthora, Pythium e Rhizopus, pode-se misturá-lo com
outro sistêmico, o RIDOMIL.
- produtos comerciais: TECTO e RIDOMIL.
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Ação do germicida antes e depois da semeadura, de acordo com o método de
aplicação.
Método de aplicação
Depósito sobre a semente tratada
pronta p/semeadura
Efeito pré-semeadura (primário)
Efeito posterior à semeadura
(secundário)
Tratamento por infusão. Empregado numa solução ou suspensão
Pouca ou nenhuma. Alguma absorção pode ocorrer em algumas preparações
Praticamente todo efeito durante a impregnação, alguma reação das sementes e do patógeno durante o armazenamento
Sem ou pouco efeito do material absorvido
Slurry tratamento Considerável quantidade, segundo a adesividade do material
Efeito principalmente durante o tratamento e armazenamento através da ação e difusão de vapor
Algum ou efeito considerável
Líquido concentrado usualmente volátil
Material ajustável ao nível de concentração aplicado
Efeito principalmente durante o tratamento e armazenamento através da ação de vapor
Algum ou efeito considerável
Tratamento com pó. Sementes misturadas com pó seco
Quantidade considerável dependendo da adesividade e adequada concentração aplicada
Praticamente sem efeito, exceto pela ação do vapor do material volátil
Praticamente todo o efeito ocorre sob influência da umidade do solo
Peletização Grande Sem efeito Todo o efeito Fumigação sementes submetidas à ação do vapor
Nenhum Todo o efeito durante o tratamento
Sem efeito
Tratamento com água quente
Nenhum Efeito exclusivamente durante o tratamento
Sem efeito
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LITERATURA CONSULTADA
A.B.F.T.A. Manual de fungicidas. São Paulo, 1974. 108p. APOSTILAS DE FITOPATOLOGIA do Curso de Engenharia Agronômica da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel – UFPel (mimeo), 278. ARRUDA, M.P. Compêndio de defensivos agrícolas. Guia prático de produtos fitossanitários para uso agrícola. São Paulo: Organização Andrei, 1985. 448p. BAKER, K.F. Seed pathology. In: KOZLOWSKI, Seed biology. V. 2, p. 317-416. New York: Academic Press, 1972. CARDOSO, C.D.N. et al. Guia dos fungicidas. 2. ed., [s.l.]: Summa Phytopathologica, 1979. 229p. DHINGRA, O.D.Ç; MUCHOVEJ, J.J.; CRUZ FILHO, J.C. Tratamento de sementes (controle de patógenos). Viçosa: UFV, 1980. 121p. FERNÁNDEZ VALIELA, M.F. Introducción a la fitopatologia. Vol. 2, 3. ed., Buenos Aires: INTA, 1975. 821p. FRAZÃO, A. Fungicidas sistêmicos. [s.l.]: Revista Agronômica, [s.d.], p. 274-284. GALLI, F. et al. Manual de fitopatologia. Princípios e conceitos. Vol. 1, 2. ed., São Paulo: Agronômica Ceres, 1978. 372p. HORSFALL, J.G.; DIMOND, A.E. Plant pathology. The diseased population, epidemies and control. Vol. III. [s.l.]: Academic Press, 1959. 674p. MARSH, R.W. Systemic fungicide. New York: John Wiley & Sons, 1972. 321p. NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES. Desarrollo y control de las enfermedades de las plantas. V. 1, México: Editorial Livraria, 1978. 223p. NEERGAARD, P. Seed pathology. Vol. 1 e 2, London: The MacMillan Press, 1977. 1187p. SARASOLA, A.A.; ROCCA DE SARASOLA, M.A. Fitopatologia. Curso Moderno. Tomo I. Fitopatologia general – control. Buenos Aires: Hemisferio Sur, 1975. 364p. ZAMBOLIN, L.; CHAVES, G.N. Fungicidas. Defensivos agrícolas, utilização, toxicologia, legislação específica. Curso de Aperfeiçoamento por Tutoria à Distância. Brasília: ABEAS, 1983. p. 84-384.