transtornos mentais maternos graves e riscos para o bebe
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Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 27(12):2287-2298, dez, 2011
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Transtornos mentais maternos graves e riscode malformao congnita do beb:uma metanlise
Severe mental illness in mothers and congenitalmalformations in newborns: a meta-analysis
1 Instituto de Estudos em
Sade Coletiva, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, Brasil.
Correspondncia
P. K. Pereira
Instituto de Estudos emSade Coletiva, Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Praa Jorge Machado
Morei ra, I lha do Fund o,
Cidade Universitria, Rio de
Jane iro, R J 2194 4-97 0, Bra sil.
Priscila Krauss Pereira 1
Lcia Abelha Lima 1
Mnica Maria Ferreira Magnanini 1
Leticia Fortes Legay 1
Giovanni Marcos Lovisi 1
Abstract
The risk of congenital malformations appears
to be higher in infants of mothers with mental
disorders as compared to those of mothers with
no history of psychiatric illness. This article pres-
ents a meta-analysis of studies on the association
between maternal mental illness and congeni-tal malformations. The review consisted of an
article search in the MEDLINE, ISIWEB, Scopus,
and SciELO databases, using the following key
words: mental disorders OR mental health
OR psychotic disorders OR schizophrenia
AND congenital abnormalities OR birth de-
fects. A total of 108 studies were identified, and
five articles were selected according to the estab-
lished criteria. These articles were included in a
meta-analysis, involving a total of 4,194 children
of mothers with mental illness and 249,548 chil-
dren of mothers with no such disorders. Pooled
relative risk showed a significant association be-tween exposure to mental illness in mothers and
risk of malformations in newborns (RR = 2.06,
95%CI: 1.46-2.67). The study highlights the rela-
tionship between maternal mental health during
pregnancy and its effects on the infants health.
Congenital Abnormalities; Mental Disorders;
Schizophrenia; Meta-Analysis
Introduo
A associao entre transtornos mentais mater-
nos e malformaes congnitas do beb, embora
h muito estudada, ainda no conclusiva. No
entanto, o risco de ter anomalias congnitas pa-
rece ser maior em bebs de mes com transtor-
nos psiquitricos, principalmente esquizofrenia,em comparao com bebs de mes sem hist-
rico de transtornos mentais 1,2,3,4,5,6. Estudos so-
bre os desfechos nas gestaes de mulheres com
transtornos psicticos tm mostrado um aumen-
to no s na incidncia de malformaes como
tambm de complicaes obsttricas em geral e
mortalidade perinatal entre seus recm-nascidos2,3,4,6,7,8,9. Os mecanismos causais dessa relao
ainda so desconhecidos, mas suspeita-se que
esse risco possa estar associado administrao
de medicamentos antipsicticos durante a gravi-
dez 10,11, ao abuso de substncias (lcool, tabaco
e outras drogas) 12, aos fatores relacionados aoestilo de vida (dieta e cuidado pr-natal insatisfa-
trios) 5e s precrias condies socioeconmi-
cas nas quais vivem essas mulheres 12.
Ambos os temas desse estudo, malformaes
congnitas e transtornos mentais maternos,
possuem relevncia clnica e epidemiolgica.
Por malformao, anomalia ou anormalidade
congnita entende-se a alterao morfolgica
ou estrutural, isolada ou mltipla, presente ao
nascimento, sendo internacionalmente classifi-
cada segundo critrios anatmicos, funcionais
REVISO REVIEW
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ou genticos e categorizada ainda como maiores
e menores, segundo o grau de importncia m-
dica, cirrgica ou cosmtica, e impacto sobre a
morbiletalidade do recm-nato 13. A prevalncia
de malformaes congnitas na populao est
em torno de 4% 14,15, sendo mais frequente nas
gestantes mais jovens e naquelas acima de 35
anos, nas tabagistas ou que fazem uso abusivode lcool e outras drogas, e nas gestantes com
poucas consultas pr-natais e desprovidas socio-
economicamente 5,12,14,15,16.
O impacto dos defeitos congnitos, definio
mais ampla de malformaes congnitas que
inclui anomalias funcionais no aparentes no
recm-nascido e manifestadas tardiamente 17,
vem aumentando progressivamente no Brasil,
tendo passado da quinta para a segunda causa
dos bitos em menores de um ano entre 1980
e 2000 18,19,20. Em parte, esse aumento deve-se
diminuio do nmero de bitos nesse grupo
por causas infecciosas, resultando, assim, noaumento proporcional de mortes atribuveis s
malformaes 19. Alm da mortalidade, as ano-
malias congnitas tambm esto relacionadas
maior morbidade, risco de complicaes clni-
cas, nmero de internaes e gravidade das in-
tercorrncias. Estudos sobre morbidade infantil
indicam que os transtornos genticos e as mal-
formaes congnitas so responsveis por at
25% das hospitalizaes em algumas cidades da
Amrica Latina 21.
Os transtornos mentais, por sua vez, afetam
atualmente cerca de 10% da populao mundial,
com prevalncia durante a vida de mais de 25%,e esto entre as principais causas de anos de vi-
da vividos com incapacidade (Years Lived with
Disability YLDs), sendo a depresso lder neste
indicador 22,23. Embora os transtornos mentais
acometam tanto os homens quanto as mulhe-
res, alguns tipos como a depresso, por exem-
plo, so mais frequentes em mulheres. O perodo
gravdico-puerperal o perodo de maior preva-
lncia desses transtornos na vida da mulher e a
depresso o transtorno mais frequente nesse
perodo 24,25,26, afetando cerca de uma em cada
cinco mes 27,28,29,30,31.
A importncia da sade mental materna aospoucos vem sendo clinicamente reconhecida,
visto que os impactos dos transtornos mentais no
perodo de gravidez e ps-parto no se restrin-
gem sade e bem-estar maternos, mas afetam
tambm a sade e o desenvolvimento do beb.
Sendo assim, o objetivo do presente artigo rea-
lizar uma reviso sistemtica com metanlise dos
resultados encontrados pelos principais estudos
epidemiolgicos da ltima dcada que investiga-
ram a associao entre transtornos mentais ma-
ternos e malformao congnita do beb.
Mtodos
Foi realizada uma reviso sistemtica a respeito
dos principais estudos epidemiolgicos sobre a
associao entre transtornos mentais maternos
e malformaes congnitas do beb, segundo a
metodologia descrita no PRISMA Statement 32.
Para tanto, foram consultadas as seguintes ba-ses de dados bibliogrficos: PubMed/MEDLINE,
ISIWEB, Scopus, LILACS e SciELO. A busca no
foi restrita por idioma, mas os critrios de inclu-
so dos resumos para busca do texto completo
foram: artigos publicados nos ltimos dez anos
(de 2000 a 2010) em ingls, espanhol e portugus;
com desenho de estudo epidemiolgico (seccio-
nal, caso-controle e coorte) e que estimaram me-
didas de associao entre os fatores estudados
(exposio transtornos mentais maternos e
desfecho malformaes do beb). A escolha da
ltima dcada como perodo para a busca dos ar-
tigos deve-se ao objetivo deste estudo de avaliaras pesquisas mais recentes sobre o tema e, alm
disso, o que se tem observado que somente nos
ltimos dez anos a literatura debruou-se sobre
a investigao cientfica da hiptese em questo,
antes restrita a estudos de casos clnicos e sem
amostras representativas.
Na estratgia de busca nas bases LILACS e
SciELO foram utilizados os seguintes descritores,
de acordo com sua definio no DeCS (Descri-
tores em Cincias da Sade): mental disorders
OR mental health OR psychotic disorders OR
SchizophreniaAND congenital abnormalities.
Nas bases PubMed/MEDLINE, ISIWEB e Scopusforam utilizadas palavras-chave definidas con-
forme sua descrio no MeSH (Medical Subject
Headings), buscando-se: mental disorder OR
mental health OR psychotic disorders OR
SchizophreniaAND congenital abnormalities
OR birth defects. Diferentes palavras-chave fo-
ram utilizadas em cada base de dados devido s
definies que cada uma das bases prope para
os descritores. Com esse procedimento, possvel
que um maior nmero de artigos relacionados ao
tema de interesse tenha sido capturado em cada
base. Tambm foram revisadas as referncias bi-
bliogrficas dos principais artigos encontrados elivros especializados. Dois revisores avaliaram os
estudos de forma independente.
Estes artigos foram avaliados e pontuados
conforme os critrios metodolgicos propostos
por Downs & Black 33, aplicveis ao delineamen-
to dos artigos para avaliao de sua qualidade.
Tais critrios avaliam a qualidade da informao,
a validade interna (vises e confundimentos), a
validade externa e a capacidade de deteco de
efeito significativo do estudo. O presente artigo
utilizou a verso composta por 27 itens, sendo
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excludos os itens relacionados a estudos expe-
rimentais. Deste modo, ao final, foram avaliados
17 itens, pontuando, no mximo, 18 pontos. Tais
critrios foram utilizados por autores em artigos
de reviso nacional 34,35.
Os artigos foram ento analisados quanto
qualidade metodolgica, considerando-se os
seguintes itens: hipteses ou objetivos clara-mente descritos; desfecho claramente descrito
na introduo ou metodologia; caractersticas
dos participantes includos; distribuio das
principais variveis de confuso; principais re-
sultados claramente descritos; informao sobre
estimativas da variabilidade aleatria dos dados;
caractersticas das perdas; informaes sobre
valores de probabilidade do desfecho; represen-
tatividade dos indivduos includos no estudo;
informao clara sobre resultados que no te-
nham sido baseados em hipteses estabelecidas
a priori; informao sobre ajuste na anlise para
diferentes duraes de acompanhamento emestudos de coorte; igualdade do tempo entre a
interveno e o desfecho para casos e contro-
les em estudos de caso-controle; adequao dos
testes estatsticos; acurcia das medidas utiliza-
das para os principais desfechos; recrutamento
dos participantes em diferentes grupos na mes-
ma populao e no mesmo perodo de tempo;
incluso adequada de variveis de confuso na
anlise; e considerao das perdas de partici-
pantes durante o acompanhamento.
Foram includos no estudo somente os arti-
gos (texto completo) que obtiveram pelo menos
50% da pontuao mxima da escala Downs &Black (9 pontos). Foram extradas as seguintes
informaes dos artigos selecionados: ano de
publicao, local do estudo, tipo de dados (pri-
mrios ou secundrios), desenho de estudo, ta-
manho da amostra, instrumentos utilizados na
avaliao dos transtornos mentais, prevalncia
de transtornos mentais, medidas de associao
com malformaes congnitas, e escore de ava-
liao metodolgica.
A partir das estatsticas de associao refe-
ridas nos artigos, razo de chances (OR) e risco
relativo (RR), bem como as respectivas medi-
das de variao (intervalos de confiana IC),foram calculadas as medidas combinadas (RR e
IC) atravs do modelo de efeitos fixos. Embora
alguns artigos tenham fornecido o OR, esta me-
dida foi considerada como um bom estimador do
RR, j que ambos, desfecho e exposio, se trata-
vam de eventos raros. A heterogeneidade entre
os resultados dos estudos foi avaliada atravs da
estatstica I2que expressa a proporo da varia-
o total que se deve variao entre os estudos36. Foi realizada anlise de influncia, excluindo-
se da metanlise o nico artigo com desenho de
estudo diferente dos demais. O vis de publica-
o foi avaliado pelo grfico de funil 37. O pacote
estatstico Stata verso 9.0 (Stata Corp., College
Station, Estados Unidos) foi utilizado na anlise
de dados.
Resultados
A busca bibliogrfica, segundo a estratgia esta-
belecida, resultou em 108 artigos (Figura 1). No
entanto, apenas seis foram selecionados, segun-
do os critrios pr-estabelecidos (Tabela 1). Os
demais foram excludos por serem revises de
literatura, pesquisas qualitativas, estudos repe-
tidos nas diferentes bases de dados ou por no
serem referentes ao tema (muitos estudos en-
contrados pela busca eram pesquisas sobre as
malformaes e outras complicaes obsttricas
como fatores de risco para o desenvolvimento
da esquizofrenia na vida adulta). Seis artigos fo-ram excludos por avaliarem transtornos mentais
maternos como desfecho do diagnstico de mal-
formao congnita do beb e no como fator de
risco para tal.
Os seis estudos analisados eram provenientes
dos seguintes pases: Sucia, Dinamarca, Austr-
lia e Israel. Quanto ao idioma, todos os artigos
foram escritos em lngua inglesa. Com relao ao
desenho de estudo, a maioria dos estudos apre-
sentados eram pesquisas baseadas em dados
secundrios, de base populacional, realizadas
atravs do relacionamento entre bases de dados
obsttricas e psiquitricas, com exceo de umestudo longitudinal com dados primrios.
No que se refere avaliao metodolgica
dos estudos selecionados, destaca-se que todas
as pesquisas analisadas obtiveram a pontuao
mxima da escala Downs & Black 33. Conside-
rando que algumas questes eram especficas
para determinados desenhos de estudos, o valor
mximo da escala variou com a excluso de um
ou dois itens quando o estudo em anlise no se
enquadrava em tais critrios, sendo 18 pontos o
escore mximo.
Com relao aos desenhos de estudo, pos-
svel observar que em todos eles as amostraseram compostas tanto por crianas de mes com
transtornos mentais como por um grupo de com-
parao de crianas de mes sem histrico de
transtornos mentais. Nesses estudos, a avaliao
dos transtornos era baseada nos registros mdi-
cos e de internaes psiquitricas, sendo que em
apenas um estudo tais registros foram validados
em uma amostra de 180 mulheres atravs de uma
entrevista diagnstica estruturada 2.
O principal transtorno mental avaliado em
tais pesquisas era a esquizofrenia, embora alguns
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estudos inclussem tambm transtornos afe-
tivos 2,5. Algumas pesquisas estimaram a preva-
lncia de esquizofrenia materna em coortes de
nascimentos de base populacional, encontrando
frequncias abaixo de 1% 1,5. No que diz respeito
relao entre transtornos mentais maternos e
malformao congnita da criana, os estudos
utilizaram diferentes medidas de associao, OR
ou RR. No entanto, todos encontraram signifi-cncia estatstica, principalmente para esqui-
zofrenia materna e risco de malformao, e em
menor efeito para os transtornos afetivos.
Todos os artigos selecionados na reviso sis-
temtica foram includos na metanlise, envol-
vendo um total de 4.801 crianas de mes com
transtornos mentais e 430.420 crianas de mes
sem histrico de transtornos psiquitricos. A Fi-
gura 2 mostra que os resultados foram homog-
neos, com todos os estudos revelando associao
estatisticamente signiticativa entre transtornos
mentais maternos e malformaes congnitas
do beb. A medida combinada tambm revelou
associao estatisticamente significativa entre
exposio a transtornos mentais maternos e ris-
co de malformaes (RR = 1,63, IC: 1,27-1,99).
Detaca-se que, apesar da homogeneidade dos
estudos (I2= 0,0%; p = 0,43), foi realizada anlise
de influncia, excluindo-se da metanlise o ni-
co artigo com desenho de estudo diferente dosdemais 3. Entretanto, no foram observadas al-
teraes significativas nas medidas combinadas,
como pode ser observado na Figura 3, optando-
se por incluir o estudo na anlise. O grfico de
funil no sugere vis de publicao (Figura 4), no
entanto, vale ressaltar que a anlise fica limita-
da pelo pouco nmero de estudos encontrados,
apenas seis, e os testes de Egger e Begg no foram
utilizados, j que possuem baixo poder estatsti-
co para amostras relativamente pequenas (me-
nos do que 20 estudos) 37.
Figura 1
Fluxograma do resultado da busca nas fontes de informao, da seleo e incluso dos artigos originais na reviso
sistemtica.
106 estudos foram identificados atravs
da busca pelas bases de dados
2 estudos foram identificados atravs
de outras fontes (referncias,pesquisa manual)
41 artigos foram removidos por estarem duplicados
67 estudos foram triados
12 artigos completos foram elegveispara serem avaliados
6 estudos foram includos parareviso sistemtica e metanlise
55 artigos foram excludos porserem revises de literatura,
pesquisas qualitativas ou por noserem referentes ao tema
6 estudos com texto completoforam excludos por avaliaremtranstornos mentais maternos
como desfecho do diagnstico demalformao congnita do beb
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Discusso
Os resultados do presente estudo confirmam a
associao entre exposio a transtornos men-
tais maternos e risco de malformaes cong-
nitas no beb: crianas de mes com transtor-
nos mentais maiores tiveram risco 63% maior
de nascer com malformaes em comparao
com crianas de mes sem transtornos mentais
(RR = 1,63, IC: 1,27-1,99). Sendo assim, estes acha-
dos corroboraram a hiptese de uma associao
entre sade mental materna durante o perodo
gravdico e suas repercusses na sade do beb,
o que torna o tema de fundamental considerao
para o campo da sade materno-infantil.
Alm da significativa homogeneidade dos es-
tudos observada na anlise, pode-se dizer que
os resultados encontrados por estas pesquisas
Tabela 1 (continuao)
Estudo
(Ano)
Local Tipo de dados Desenho do estudo Amostra Instrumentos
(avaliao dos
transtornos
mentais)
Prevalncia de
transtornos mentais
maternos
Associao com
malformaes
Bennedsen
et al. 4
(2001)
Dinamarca Secundrios Coorte de
nascimentos de base
populacional (linkage
de bases de dados)
746 crianas de mes
com esquizofrenia e
56.106 crianas na
populao em geral
Registros
psiquitricos
nacionais (mes
com pelo menos
uma internao
psiquitrica
por transtornos
psicticos)
NI Esquizofrenia e
malformaes
congnitas:
RR = 1,70; IC95%:
1,04-2,77
CID: Classificao Internacional de Doenas; NI: no informado; OPCRIT: Inventrio de Critrios Operacionais para Doenas Psicticas.
Figura 2
Risco relativo (RR) de malformaes congnitas em crianas de mes com transtornos mentais em comparao com crianas de mes sem transtornos mentais,
com intervalo de 95% de confiana (IC95%).
0-13,9 13,9
Total (I = 0,0%, p = 0,427)2
Estudo
Bennedsen et al. 4
Hizkiyahu et al. 1
Webb et al. 5
Jablensky et al. 2
Schneid-Kofman et al. 6
Schubert & McNeil3
Ano
2001
2010
2008
2005
2008
2004
1,63 (1,27-1,99)
OR (IC95%)
1,70 (1,04-2,77)
2,30 (1,30-4,40)
2,34 (1,45-3,77)
2,55 (1,19-5,64)
1,40 (1,01-1,90)
4,74 (1,61-13,80)
100,00
Peso (%)
17,15
5,34
9,54
2,82
64,81
0,34
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Figura 3
Forest plotdas medidas isoladas e combinadas e respectivos intervalos de 95% de confiana, excluindo-se o estudo de Schubert & McNeil 3.
Figura 4
Grfico de funil dos estudos sobre transtornos mentais maternos e risco de malformaes congnitas do beb.
Total (I = 0,0%, p = 0,417)2
Webb et al. 5
Estudo
Schneid-Kofman et al. 6
Bennedsen et al. 4
Hizkiyahu et al. 1
Jablensky et al. 2
2008
Ano
2008
2001
2010
2005
1,63 (1,27-1,99)
2,34 (1,45-3,77)
1,40 (1,01-1,90)
1,70 (1,04-2,77)
2,30 (1,30-4,40)
2,55 (1,19-5,64)
100,00
9,57
Peso (%)
65,03
17,21
5,36
2,83
-5,46 0 5,46
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
2 4 6 8
Grfico em funil com intervalo de 95% de confiana
Erro
-pa
dr
o
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podem ser considerados de boa fidedignidade,
j que apresentaram metodologias semelhantes
e bem delimitadas, com amostras de base popu-
lacional e avaliao tanto da exposio (transtor-
nos mentais) quanto do desfecho (malformaes
congnitas), baseada no diagnstico mdico pre-
sente nos registros hospitalares, obtendo inclusi-
ve o escore mximo na avaliao metodolgicasegundo os critrios de Downs & Black 33. Apenas
um desses estudos utilizou uma metodologia di-
ferente, baseada em dados primrios, com dese-
nho longitudinal e amostras menores, no entan-
to esse estudo tambm obteve escore mximo
na referida escala de avaliao metodolgica e
sua excluso da anlise no modificou a medida
combinada, j que teve um peso pequeno devi-
do ao reduzido tamanho amostral 3. Embora, o
grfico de funil no apresente indcios de vis de
publicao, preciso destacar que foram poucos
artigos encontrados e todos encontraram algum
grau de associao entre os fatores estudados, oque pode comprometer a anlise.
Com relao aos transtornos mentais avalia-
dos, observou-se que mesmo naqueles estudos
que analisaram vrios transtornos mentais maio-
res, a esquizofrenia se destacou, apresentando
significativa associao com malformaes con-
gnitas, sendo o risco ou a chance encontrada
de ter algum tipo de malformao pelo menos
duas vezes maior em crianas de mes esquizo-
frnicas 2,3,4,5. Apenas dois estudos analisaram
conjuntamente esquizofrenia e transtornos afe-
tivos encontrando da mesma forma associao
significativa com o desfecho em questo 1,6.De uma maneira geral, no houve restrio
quanto aos tipos de malformaes investiga-
das nos estudos, apenas uma pesquisa avaliou
somente malformaes do sistema nervoso 3.
Aqueles estudos que estratificaram a anlise por
tipos de malformaes encontraram maiores
frequncias de malfomaes cardiovasculares e
de defeitos congnitos fatais entre as crianas de
mes esquizofrnicas, comparadas s crianas
de mes sem o transtorno 2,5. No entanto, a alta
frequncia encontrada de malformaes cardio-
vasculares pode se dever ao fato de estas serem
umas das mais comuns entre as malformaes.Ainda no h hipteses plausveis para a associa-
o da esquizofrenia materna com um ou outro
determinado tipo de malformao.
As pesquisas analisadas encontraram asso-
ciao tambm da esquizofrenia e transtornos
afetivos maternos com outras complicaes obs-
ttricas, alm das malformaes fetais. Hemor-
ragias, anormalidades placentrias e sofrimento
fetal foram significativamente mais frequentes
em gestantes esquizofrnicas e com transtornos
afetivos 2, enquanto que a mortalidade perina-
tal e o baixo peso estiveram associados apenas
esquizofrenia materna 1,2,4,6. Entretanto, na lite-
ratura j existem vrios estudos que revelaram a
associao da prematuridade e do baixo peso ao
nascer com outros transtornos mentais duran-
te a gravidez, principalmente com a depresso e
transtornos de ansiedade 38,39,40.
Os possveis mecanismos causais da associa-o entre transtorno mental materno e compli-
caes obsttricas e malformaes congnitas
destacados pelos estudos analisados incluem os
efeitos teratognicos do uso de antipsicticos e
de substncias como lcool, tabaco e outras dro-
gas durante a gravidez 10,11,12. Alm disso, fatores
relacionados ao estilo de vida dessas mulheres
com transtornos psiquitricos, como dieta pre-
cria, vida sedentria e maus hbitos de sade
em geral tambm podem estar envolvidos 5.
A mulher com transtornos mentais no per-
odo gestacional, devido aos prprios sintomas
psiquitricos, pode apresentar muitas vezes umamenor preocupao com seu estado de sade,
tendo dificuldades para seguir as orientaes
mdicas e realizar adequadamente o acompa-
nhamento pr-natal, o que por si s j est as-
sociado a inmeros riscos obsttricos e neona-
tais 41. Outra questo importante ressaltada o
fato de que essas pacientes psiquitricas vivem
na maioria das vezes em precrias condies so-
cioeconmicas, contando com poucos recursos
materiais e sociais, o que pode ter repercusses
diretas no bom andamento da gravidez e no de-
senvolvimento do beb 12.
Pelo fato de esses estudos se basearem em da-dos secundrios, o controle das variveis de con-
fuso pode ser prejudicado, j que muitas vezes
no esto disponveis informaes sobre o status
socioeconmico das mulheres, o uso de lcool,
tabaco e outras drogas durante a gravidez, bem
como informaes sobre o tratamento psicofar-
macolgico. Alm disso, um estudo revelou que
as mes esquizofrnicas tinham em mdia mais
idade que as mes sem o transtorno, e ainda que
doenas como diabetes e hipertenso eram mais
frequentes em mulheres com transtornos men-
tais severos, como a esquizofrenia, em compa-
rao com mulheres sem transtornos mentais 1.Tais doenas, bem como a idade materna avan-
ada, so fatores de risco j reconhecidos para
complicaes obsttricas e malformaes con-
gnitas do beb.
Um outro achado desses estudos diz respei-
to prevalncia de esquizofrenia, encontrada
abaixo de 0,5%, estando prxima frequncia
conhecida para este transtorno na populao
geral, que varia de 0,5 a 1,5% 42, sendo dessa for-
ma substancial se considerarmos que se trata
de uma populao especfica de mes. Embo-
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ra esta prevalncia possa parecer pequena, no
se pode esquecer que os perodos de gravidez e
ps-parto alm de constiturem uma fase de ris-
co para transtornos mentais na vida da mulher,
compreendem ainda um momento crucial para
a formao e o desenvolvimento da criana. Um
dos estudos avaliados acompanhou os descen-
dentes de mes com transtornos psicticos e demes sem histria de transtornos psiquitricos
do nascimento at a vida adulta, encontrando
inclusive uma associao significativa entre a es-
quizofrenia materna e distrbios do neurodesen-
volvimento na criana 3.
Dessa forma, transtornos mentais maternos
no afetam s a sade e o bem-estar da me,
podendo interferir diretamente no autocuidado
materno, tendo com isso repercusses negativas
na sade e desenvolvimento do feto durante a
gravidez. Alm disso, tambm podem compro-
meter o vnculo afetivo da me com seu beb 43e
a capacidade materna de cuidado, aumentandoinclusive o risco de infeces e desnutrio in-
fantil 44, de comprometimento do crescimento
da criana, expresso no baixo peso e altura para
a idade 40,45, e at mesmo problemas comporta-
mentais e transtornos mentais na vida adulta 46.
Essa questo torna-se ainda mais delicada
quando se trata de um beb com malformao
congnita, que inevitavelmente necessitar de
maior ateno e assistncia materna. O cuida-
do materno adequado nesse caso pode ser de
fundamental importncia para a sobrevivncia
e desenvolvimento da criana. Embora alguns
estudos revelem que as mes tendem a mantero apego em relao ao beb mesmo diante do
diagnstico de malformaes 47,48, a presena de
transtornos mentais maternos pode interferir di-
retamente na vinculao afetiva da me com o
beb, o que poder dificultar o cuidado materno,
agravando uma situao que j crtica.
Apesar da relevncia dessa questo e de to-
do esforo empreendido na busca por artigos
sobre o tema nas diferentes bases de dados, fo-
ram encontrados poucos artigos. A avaliao da
qualidade metodolgica dos artigos, com base
nos critrios estabelecidos por Downs & Black 33,
permitiu orientar os revisores quanto s limita-
es de cada artigo avaliado, possibilitando uma
leitura mais crtica dos estudos publicados. Com
isso, possvel destacar as principais limitaes
dos estudos analisados, permitindo apontar no-
vas perspectivas para futuras pesquisas sobre o
tema, principalmente em termos nacionais.
So necessrias mais pesquisas que testem
a associao entre os fatores em questo, comdesenhos de estudo diferenciados, que inclu-
am dados primrios, permitindo o controle de
possveis variveis de confuso, e que avaliem
tambm transtornos mentais menores e outros
possveis desfechos na gravidez, assegurando a
confirmao do diagnstico, tanto da exposio
quanto do desfecho, atravs de instrumentos
padronizados e validados, j que no se pode
afastar as possibilidades de erros nos registros
das bases de dados. Como proposta para novos
estudos enfatiza-se a necessidade de pesquisas
que investiguem associaes entre esquizofrenia
materna e malformaes especficas e tambmque identifiquem o mecanismo pelo qual tal as-
sociao opera. Cabe destacar ainda a ausncia
de estudos brasileiros sobre o tema.
Assim, o presente artigo traz tona a dis-
cusso de uma importante questo no que diz
respeito sade materno-infantil: a sade men-
tal materna. Como j comprovado em estudos
anteriores, os transtornos mentais afetam pelo
menos 10% das mes 24, sejam eles anteriores ou
decorrentes do perodo de gravidez e puerprio,
repercutindo no apenas na sade materna co-
mo tambm no desenvolvimento do beb. Tendo
em vista a escassez de estudos sobre o tema, no-vas pesquisas so necessrias para aprimorar o
conhecimento da prevalncia desses transtornos
antes e durante a gestao e de sua associao
com o risco de malformao e de outras com-
plicaes obsttricas, visando fundamentar po-
lticas pblicas de sade materno-infantil, que
contemplem novas prticas assistenciais, como a
implementao da assistncia em sade mental
na ateno pr-natal, o que permitiria a deteco
precoce, adequado tratamento e manejo dessas
pacientes e mesmo a preveno dos transtornos
mentais maternos posteriores, minimizando
com isso os riscos sade da criana.
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Resumo
O risco de ter malformaes parece ser maior em bebs
de mes com transtornos mentais em comparao com
bebs de mes sem histrico de transtornos psiquitri-
cos. O objetivo deste artigo foi realizar uma metan-
lise dos estudos sobre a associao entre transtornos
mentais maternos e malformaes congnitas. A revi-
so consistiu na busca de artigos nas bases MEDLINE,ISIWEB, Scopus, LILACS e SciELO, utilizando-se os
descritores: mental disorders OR mental health OR
psychotic disorders OR schizophrenia AND con-
genital abnormalities OR birth defects. Foram loca-
lizados 108 estudos, sendo selecionados cinco artigos
de acordo com os critrios estabelecidos. Estes artigos
foram includos na met anlis e, envol vendo um total
de 4.194 crianas de mes com transtornos mentais e
249.548 crianas de mes sem tais transtornos. A me-
dida combinada revelou associao significativa entre
exposio a transtornos mentais maternos e risco de
malformaes (RR = 2,06, IC95%: 1,46-2,67). O presen-
te estudo evidencia a relao entre sade mental ma-
terna durante a gravidez e suas repercusses na sade
do beb.
Ano rma lidades Cong nitas; Tran stornos Menta is ;
Esquizofrenia; Metanlise
Colaboradores
P. K. Pereira contribuiu com a concepo e projeto,
anlise e interpretao dos dados, redao do artigo, e
aprovao final da verso a ser publicada. L. A. Lima, M.
M. F. Magnanini e L. F. Legay contribuiu com a anlise
e interpretao dos dados, reviso crtica do contedo
e aprovao da verso final do manuscrito. G. M. Lo-
visi contribuiu com a concepo e projeto, anlise einterpretao dos dados, reviso crtica do contedo e
aprovao da verso final do manuscrito.
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Recebido em 13/Dez/2010
Verso final reapresentada em 10/Ago/2011
Aprovado em 29/Ago/2011